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Tiragem: 16669 País: Portugal Period.: Diária Âmbito: Economia, Negócios e. Pág: 4 Cores: Cor Área: 23,00 x 27,72 cm² Corte: 1 de 5 ID: 56928024 04-12-2014 Regresso das deduções no IRS beneficia famílias Paula Cravina de Sousa [email protected] O PSD e o CDS apresentaram na passada terça-feira um conjun- to de propostas de alteração à reforma do IRS que terá um im- pacto significativo no orça- mento familiar dos contribuin- tes, no que é considerado um volte-face na reforma do IRS. Afinal, as deduções à colecta com despesas com a casa e com a educação vão manter-se, mas retira-se a cláusula de salva- guarda e reduz-se a dedução à colecta com as despesas gerais. Além disso, voltam também os tectos globais às deduções con- soante os rendimentos. No fi- nal, a generalidade dos contri- buintes deverá esperar um alí- vio na carga fiscal face ao regi- me actual de IRS, de acordo com as contas da consultora EY. O objectivo, segundo o Go- verno, foi responder às críticas do PS, de que a reforma benefi- ciava quem tem rendimentos mais altos e de aumentar a complexidade do sistema, por causa da cláusula de salvaguar- Reforma A maioria PSD/CDS apresentou na passada terça-feira um conjunto de propostas de alteração à reforma do IRS. Na prática, regressa-se ao regime actual de deduções à colecta. da. No entanto, aquelas altera- ções não deverão ser suficientes para conseguir o acordo com os socialistas (ver pág. 6). Mas, como ficam os contri- buintes? Melhor ou pior face ao sistema actual? O resultado é, de acordo com as contas da consultora EY, um alívio da car- ga fiscal. No universo das simu- lações pedidas pelo Diário Eco- nómico, que dão uma primeira indicação sobre o efeito geral das medidas, um casal que re- ceba 2.500 euros cada um e que tenha um filho terá um impacto positivo de 982,45 euros no seu rendimentos anual. Numa fa- mília monoparental, em que o contribuinte receba 1.400 eu- ros, o benefício será de 707,50 euros no seu rendimento anual. Nos casais sem filhos, o efeito no rendimento é mais modesto, mas ainda assim positivo: mais 309,19 euros (ver simulações). Reforma com avanços e recuos A reforma do IRS tem já uma história longa e fica, no final, bem diferente do que o seu dese- nho inicial. A reforma - tal como D DESTAQUE REFORMA DO IRS DEDUÇÃO CASA 296 euros Os contribuintes poderão deduzir 15% das despesas com a casa até um limite de 296 euros para quem comprou casa e de 502 euros para quem arrenda. 800 euros Os contribuintes voltam a poder deduzir 30% das despesas de educação até um limite de 800 euros. DEDUÇÃO EDUCAÇÃO MANUEL FAUSTINO Ex-director de serviços do IRS QUATRO PERGUNTAS A... “Medidas são positivas porque tornam o IRS mais barato para os contribuintes” Para Manuel Faustino as propostas da maioria acabam por ser positivas, mas não chega para reduzir a carga fiscal dos contribuintes face ao que existia em 2013. As propostas de alteração da maioria são positivas? São positivas pela razão simples de que fazem um imposto mais barato para a generalidade dos contribuintes. Haverá um alívio da carga fiscal com a manutenção das deduções à colecta? Por essa via. Mas não há um alívio da carga fiscal se considerarmos a situação anterior a 2013. Contudo, há uma atenuação, nomeadamente através da reposição, ainda que limitada, das deduções em todos os escalões. Ainda que no que diz respeito aos sujeitos passivos não se tenha reposto a sua dedução pessoal. Algum alívio que se possa ter é através destas medidas que praticamente se reconduzem a retomar tudo o que existia antes. Concorda com a eliminação da cláusula de salvaguarda? Era o próprio contribuinte a escolher e isso era de facto uma tarefa mastodôntica, porque ninguém sabe naturalmente calcular o seu IRS. Portanto é preferível esta situação. É importante o acordo com o PS para garantir a tal estabilidade de que se fala? Seria muito importante porque poderia garantir alguma estabilidade mas, ao mesmo tempo, encontro um receio. Isto é, é possível imaginar que um acordo com o PS, neste momento, praticamente congelaria, em nome da estabilidade para os próximos anos, mexidas eventualmente mais profundas ao nível do que é verdadeiramente importante no IRS neste momento que é nos escalões e nas taxas. P.C.S. proposta pela comissão de peri- tos que a fez - previa alterações importantes no sistema fiscal. Entre outras mudanças, o quo- ciente conjugal daria lugar ao fa- miliar e o sistema de deduções à colecta seria muito simplificado e passaria a uma dedução fixa de 300 euros. Esta opção foi muito criticada por levantar problemas de constitucionalidade e por, como se reconhecia, poder pre- judicar alguns contribuintes como os solteiros sem filhos, que teriam de pagar mais IRS. Esta acabou por não ser a op- ção do Governo, que manteve o quociente familiar, mas preferiu excluir a dedução específica, uma das sugestões mais polémi- cas. Na sua versão final, o Exe- cutivo introduziu um conjunto de mudanças como a dedução à colecta para despesas gerais ou a cláusula de salvaguarda que impedia um agravamento do imposto a pagar. Isto é, no míni- mo, os contribuintes viam a sua carga fiscal inalterada. Mas, na passada terça-feira somaram-se novas alterações que, na práti- ca, implicam um regresso ao ac- tual sistema de deduções fiscais, mantendo-se contudo o quo- ciente familiar, em que o núme- ro de filhos e ascendentes passa a contar para o cálculo do im- posto. E como foram mantidas as deduções actuais - com des- pesas de educação e casa - reti- rou-se a cláusula de salvaguar- da, por já não ser necessária. Qual será o impacto orçamental destas mudanças? O Governo garante que o im- pacto é neutro e mantém-se nos 150 milhões de euros já previstos para o quociente familiar, sendo que as deduções são autofinan- ciadas. Fonte governamental explicou ao Diário Económico que o facto de as deduções pas- sarem a depender das facturas comunicadas vão permitir um controlo maior da despesa fis- cal. No entanto, o PS tem dúvi- das sobre o impacto orçamental da reforma (ver pág. 6).

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Tiragem: 16669

País: Portugal

Period.: Diária

Âmbito: Economia, Negócios e.

Pág: 4

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Área: 23,00 x 27,72 cm²

Corte: 1 de 5ID: 56928024 04-12-2014

Regresso das deduçõesno IRS beneficia famíliasPaula Cravina de [email protected]

O PSD e o CDS apresentaram napassada terça-feira um conjun-to de propostas de alteração àreforma do IRS que terá um im-pacto significativo no orça-mento familiar dos contribuin-tes, no que é considerado umvolte-face na reforma do IRS.Afinal, as deduções à colectacom despesas com a casa e coma educação vão manter-se, masretira-se a cláusula de salva-guarda e reduz-se a dedução àcolecta com as despesas gerais.Além disso, voltam também ostectos globais às deduções con-soante os rendimentos. No fi-nal, a generalidade dos contri-buintes deverá esperar um alí-vio na carga fiscal face ao regi-me actual de IRS, de acordocom as contas da consultora EY.

O objectivo, segundo o Go-verno, foi responder às críticasdo PS, de que a reforma benefi-ciava quem tem rendimentosmais altos e de aumentar acomplexidade do sistema, porcausa da cláusula de salvaguar-

Reforma A maioria PSD/CDS apresentou na passada terça-feira um conjunto de propostas dealteração à reforma do IRS. Na prática, regressa-se ao regime actual de deduções à colecta.

da. No entanto, aquelas altera-ções não deverão ser suficientespara conseguir o acordo com ossocialistas (ver pág. 6).

Mas, como ficam os contri-buintes? Melhor ou pior face aosistema actual? O resultado é,de acordo com as contas daconsultora EY, um alívio da car-ga fiscal. No universo das simu-lações pedidas pelo Diário Eco-nómico, que dão uma primeiraindicação sobre o efeito geraldas medidas, um casal que re-ceba 2.500 euros cada um e quetenha um filho terá um impactopositivo de 982,45 euros no seurendimentos anual. Numa fa-mília monoparental, em que ocontribuinte receba 1.400 eu-ros, o benefício será de 707,50euros no seu rendimento anual.Nos casais sem filhos, o efeitono rendimento é mais modesto,mas ainda assim positivo: mais309,19 euros (ver simulações).

Reforma com avanços e recuosA reforma do IRS tem já umahistória longa e fica, no final,bem diferente do que o seu dese-nho inicial. A reforma - tal como

D DESTAQUE REFORMA DO IRS

DEDUÇÃO CASA

296 eurosOs contribuintes poderão deduzir15% das despesas com a casa atéum limite de 296 euros paraquem comprou casa e de 502euros para quem arrenda.

800 eurosOs contribuintes voltam a poderdeduzir 30% das despesas deeducação até um limite de 800euros.

DEDUÇÃO EDUCAÇÃO

MANUEL FAUSTINO

Ex-director de serviços do IRS

QUATRO PERGUNTAS A...

“Medidas são positivasporque tornam o IRSmais barato paraos contribuintes”Para Manuel Faustino aspropostas da maioria acabam porser positivas, mas não chega parareduzir a carga fiscal doscontribuintes face ao que existiaem 2013.

As propostas de alteração damaioria são positivas?São positivas pela razão simples deque fazem um imposto mais baratopara a generalidade doscontribuintes.Haverá um alívio da carga fiscalcom a manutenção dasdeduções à colecta?Por essa via. Mas não há um alívioda carga fiscal se considerarmos asituação anterior a 2013. Contudo,há uma atenuação, nomeadamenteatravés da reposição, ainda quelimitada, das deduções em todos osescalões. Ainda que no que dizrespeito aos sujeitos passivos nãose tenha reposto a sua deduçãopessoal. Algum alívio que se possater é através destas medidas quepraticamente se reconduzem aretomar tudo o que existia antes.Concorda com a eliminação da

cláusula de salvaguarda?Era o próprio contribuinte aescolher e isso era de facto umatarefa mastodôntica, porqueninguém sabe naturalmentecalcular o seu IRS. Portanto épreferível esta situação.É importante o acordo com oPS para garantir a talestabilidade de que se fala?Seria muito importante porquepoderia garantir algumaestabilidade mas, ao mesmo tempo,encontro um receio. Isto é, épossível imaginar que um acordocom o PS, neste momento,praticamente congelaria, em nomeda estabilidade para os próximosanos, mexidas eventualmente maisprofundas ao nível do que éverdadeiramente importante noIRS neste momento que é nosescalões e nas taxas. P.C.S.

proposta pela comissão de peri-tos que a fez - previa alteraçõesimportantes no sistema fiscal.Entre outras mudanças, o quo-ciente conjugal daria lugar ao fa-miliar e o sistema de deduções àcolecta seria muito simplificadoe passaria a uma dedução fixa de300 euros. Esta opção foi muitocriticada por levantar problemasde constitucionalidade e por,como se reconhecia, poder pre-judicar alguns contribuintescomo os solteiros sem filhos, queteriam de pagar mais IRS.

Esta acabou por não ser a op-ção do Governo, que manteve oquociente familiar, mas preferiuexcluir a dedução específica,uma das sugestões mais polémi-cas. Na sua versão final, o Exe-cutivo introduziu um conjuntode mudanças como a dedução àcolecta para despesas gerais oua cláusula de salvaguarda queimpedia um agravamento doimposto a pagar. Isto é, no míni-mo, os contribuintes viam a suacarga fiscal inalterada. Mas, napassada terça-feira somaram-senovas alterações que, na práti-ca, implicam um regresso ao ac-tual sistema de deduções fiscais,mantendo-se contudo o quo-ciente familiar, em que o núme-ro de filhos e ascendentes passaa contar para o cálculo do im-posto. E como foram mantidasas deduções actuais - com des-pesas de educação e casa - reti-rou-se a cláusula de salvaguar-da, por já não ser necessária.

Qual será o impacto orçamentaldestas mudanças?O Governo garante que o im-pacto é neutro e mantém-se nos150 milhões de euros já previstospara o quociente familiar, sendoque as deduções são autofinan-ciadas. Fonte governamentalexplicou ao Diário Económicoque o facto de as deduções pas-sarem a depender das facturascomunicadas vão permitir umcontrolo maior da despesa fis-cal. No entanto, o PS tem dúvi-das sobre o impacto orçamentalda reforma (ver pág. 6).■

Tiragem: 16669

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Period.: Diária

Âmbito: Economia, Negócios e.

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Corte: 2 de 5ID: 56928024 04-12-2014

Confusão noprocesso legislativocompromete reformaPara os especialistas, o trabalhoda comissão de IRS ficacomprometido.

Reviravolta, confusão e volte--face são algumas das expres-sões mais utilizadas nos últimosdias para classificar a reformado IRS, apesar de os contribuin-tes poderem vir a sair benefi-ciados com as alterações.

Esta é a opinião dos fiscalis-tas ouvidos pelo Diário Econó-mico. Samuel Fernandes de Al-meida considera que “este pro-cesso legislativo caracteriza-sepor uma profunda confusão edenota uma falta de linhaorientadora que garanta umareforma legislativa passível deperdurar no tempo”. No mesmosentido, João Espanha afirmaque os avanços e recuos e a pró-pria negociação política “são opior que podia ter acontecido”.

E Samuel Fernandes ressalvaque é necessário aguardar pelavotação final, mas não crê quese possa “falar sobre uma «Re-forma do IRS», mas antes umconjunto desarticulado de alte-rações ao regime actual, o que aconfirmar-se é lastimável”.

Já Leonardo Santos reconhe-ce que houve “um volte-face nasdeduções à colecta, em que sevolta ao regime actual”, masnota que as alterações agora pro-postas pela maioria mostram que“o Governo ouviu as críticas” e“há mais contribuintes que saembeneficiados”. Não deixa derealçar, contudo, que “a lógicade simplificação poderá ter fica-do comprometida”.

Contactado, o presidente dacomissão que fez a reforma doIRS, Rui Duarte Morais, remeteuos comentários para depois daaprovação da reforma.■ P.C.S.

JOÃO ESPANHAFiscalista

Quando Sua Exa. o Sr. SEAF lan-çou a “Reforma” do IRS, tiveoportunidade de criticar o ‘ti-ming’ de tão nobre intento: emambiente de crise financeira,mexer com alguma profundida-de num imposto que, a par doIVA, é o sustento do Orçamentode Estado, dificilmente poderiater resultado palpável.

A Comissão trabalhou bem. Oresultado, porém, adivinha-sedeplorável.

As curvas e contracurvas dopróprio Governo que encomen-dou o trabalho (refiro-me, porexemplo, à cláusula de salva-guarda), associadas à politiquicetípica de um ambiente de pré--campanha a que vimos assistin-

do nestes últimos dias, são o piorque podia ter acontecido.

Como é possível debater seria-mente uma opção tão fulcralcomo a adopção de um quocientefamiliar para a determinação dorendimento tributável com umfundo musical de ‘sound-bytes’do género: “o filho de um rico nãopode valer mais do que o filho deum pobre”? E não, não foi ummembro/a do BE que disse isto, foium ilustre deputado de um dospartidos cujo acordo político ésempre necessário para que umaalteração fiscal seja estável.

Como é possível andar a pe-chinchar deduções, recuperarabatimentos, exigir o fim ime-diato da sobretaxa sem alterna-tivas, enfim, como se pode an-dar a brincar até à 25ª hora coma vida das pessoas, seja na pers-pectiva individual (o que cadaum de nós paga) seja na colecti-va (o impacto orçamental)?

Este processo fica, para mim,como um ‘case-study’ de comotransformar um trabalho sérionum triste espectáculo. A pagarpelo cidadão. ■

ANÁLISE

Brincar com coisas sérias

Infografia: Mário Malhão | [email protected]

O fiscalista Samuel Fernandes de Almeida afirma queé necessário esperar pelo diploma final, mas recusa“falar sobre uma «Reforma do IRS», mas antes sobreum conjunto desarticulado de alterações ao regimeactual, o que a confirmar-se é lastimável”.

Para o fiscalista Leonardo Santos trata-se de“um volte-face” na reforma do IRS em que se volta“ao regime de deduções à colecta actual”, masadmite que “a lógica de simplificação poderá ficarcomprometida”.

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Âmbito: Economia, Negócios e.

Pág: 6

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Corte: 3 de 5ID: 56928024 04-12-2014

D DESTAQUE REFORMA DO IRS

PS resistea acordo como GovernoMarta Moitinho [email protected]

O PS prepara-se para votarcontra a proposta de reformado IRS se a maioria parlamen-tar mantiver o quociente fami-liar. PSD e CDS dizem que fize-ram tudo para ir ao encontrodas críticas dos socialistas eque não podem deixar cair oquociente familiar.

“Aprovaremos algumas me-didas, como as de simplifica-ção, mas se se mantiver o quo-ciente familiar votaremos con-tra na votação final global” queestá marcada para sexta-feira,disse ontem ao Diário Econó-mico o deputado do PS João Ga-lamba. O quociente familiar fazcom que o número de filhos eascendentes conte para o cálcu-lo do imposto a pagar. Porém, oPS considera que esta normatorna o IRS regressivo. “Em ter-mos práticos, se tivermos duasfamílias com o mesmo númerode filhos, mas com rendimentosdistintos, resulta da aplicaçãodo quociente familiar que umfilho da família com rendimen-tos mais elevados permite-lhes

Parlamento Votação na especialidade da reforma doIRS deve ficar fechada só hoje.

ter uma vantagem superior,comparativamente com um fi-lho da família com rendimentosmais baixos”, lê-se na exposi-ção de motivos das propostas dealteração do PS.

“Demagogia barata”. É esta areacção do deputado do PSDDuarte Pacheco, que explicouontem que as 37 propostas de al-teração que a maioria entregoutinham como objectivo conse-guir um consenso o mais alarga-do possível. “A dedução únicafoi uma das críticas feitas peloPS”, disse Duarte Pacheco aosjornalistas para justificar o factode a maioria ter deixado cair adedução única. Contudo nãomostrou abertura para ir maisalém. “Não poderíamos deixarde lado esta medida [o quocien-te familiar]”, acrescentou.

O deputado do PSD justificouainda o facto de a maioria ter al-terado significativamente a re-forma em cima do momentovotação na especialidade com osinal dado pelo PS na votação nageneralidade. “Se se absteve [oPS] entendemos que era nossodever ir ao encontro” dos socia-listas, disse Duarte Pacheco.

O elevado número de pro-postas de alteração ao IRS porparte da maioria provocou umadiamento na votação na espe-cialidade. Ontem, ao final datarde, os deputados começarama votar na especialidade as alte-rações à fiscalidade verde, po-dendo ainda votar alguns arti-gos do IRS. A votação na espe-cialidade do IRS fecha-se hoje.Para amanhã está prevista a vo-tação final global. Ontem a opo-sição criticou os prazos aperta-dos para votar esta legislação - oPCP marcou para hoje umagendamento potestativo, for-çando um novo debate em ple-nário sobre o IRS -, mas a maio-ria quer que os dois diplomas si-gam para Belém o mais cedopossível. A maioria argumentaque é preciso dar tempo paraque as tabelas de retenção nafonte acomodem as alteraçõesao coeficiente familiar. ■ P.C.S.

SÉRGIO VASQUESEx-secretário de Estadodos Assuntos Fiscais

A estabilidade da lei fiscal nãodepende das boas intenções daclasse política, depende domérito das próprias leis. Quan-do são boas, duram. Quando

não, melhor que mudem.O consenso, esse, exige es-

forço. O IRS foi preparado poruma comissão de que a oposiçãoesteve ausente. As principaismedidas têm cunho fortementeideológico. A apresentação pú-blica foi atribulada e a discussãoagendada para um período depoucos dias apenas.

No termo deste ziguezaguefica um projecto melhor que ooriginário mas ainda assim comfragilidades evidentes. O novoIRS complica tanto quanto sim-plifica. Suscita questões de direi-to comunitário nas deduções àcolecta, dúvidas de constitucio-

nalidade nas sanções para a en-trega em atraso e mantém into-cado um modelo de financia-mento sobrealimentado pelasretenções na fonte, a gerar reem-bolsos milionários todos os anos.

Mais do que isso, deixa porresolver a questão maior das ta-xas de imposto, mortificantespara a classe média e insusten-táveis para os profissionais qua-lificados. Sobre essa questão e arelação que ela tem com as ta-xas do IRC e do IVA, esquerda edireita terão com certeza quevoltar a discutir nos próximosanos. Mas essa é toda uma outrareforma. ■

ANÁLISE

Ziguezague no IRS

O PSD justificou o factode a maioria ter alteradosignificativamentea reforma em cima domomento com o factode o PS se ter abstido navotação na generalidade.“Era nosso dever ir aoencontro” dos socialistas,disse Duarte Pacheco.

Paulo Alexandre Coelho

PS duvida decontas do GovernoO PS tem dúvidas sobreo impacto orçamental daspropostas da maioria dealteração à reforma doIRS. Por isso, propôs on-tem que a UTAO faça ascontas ao custo das 37propostas da maioria. “Amaioria faz alguma ideiade quanto custa agora areforma do IRS?”, pergun-tou João Galamba. DuartePacheco garantiu que asalterações novas mantêmo custo da reforma nos 150milhões de euros. “As pro-postas são neutras”,acrescentou o deputadocitando o secretário de Es-tado dos Assuntos Fiscais.

Tiragem: 16669

País: Portugal

Period.: Diária

Âmbito: Economia, Negócios e.

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Área: 23,00 x 27,86 cm²

Corte: 4 de 5ID: 56928024 04-12-2014

D DESTAQUE REFORMA DO IRS

Mantêm-se benefícios dos PPRAfinal, os benefícios fiscais à subscrição de novos produtos já não têm os diascontados. A proposta de lei da reforma do IRS previa a manutenção deste benefícioapenas para as entregas feitas até 31 de Dezembro de 2014, com uma dedução de20% dos valores aplicados. A medida acabou por ser eliminada nas propostas dealteração do PSD/CDS-PP. A proposta inicial pretendia ainda que o resgate de PPR,fora das condições previstas na lei, fosse agravado. A medida é agora retirada pelamaioria parlamentar que elimina o agravamento da carga fiscal aplicada no resgatedos PPR fora de qualquer uma das situações definidas na lei (20%, 16% e 8% deacordo com prazos do produto). A proposta de Outubro previa aqui uma tributaçãode 28%, em vez dos actuais 21,5%.

Senhorios terão de declararrendas anualmenteEntre o vasto lote de propostas de alteração à reformado IRS, a maioria PSD-CDS quer obrigar os senhoriosa entregar ao Fisco, até 31 de Janeiro, uma declaraçãoque discrimine o valor de renda pago por cada inquilino.Uma obrigação anual que visa combater os arrendamentosparalelos. Os recibos electrónicos serão apenas exigidosaos senhorios que optem por ser tributados pelaCategoria B e os recibos em papel podem ser enviadospelos senhorios que declaremas rendas como rendimentosprediais (Categoria F).

Lígia Simõ[email protected]

Os partidos da maioria parla-mentar apresentaram na terça--feira passada um conjunto dealterações à Reforma do IRS quemanterão várias deduções à co-lecta, eliminam a cláusula doregime mais favorável e recupe-ram o limite global às deduções.

São, assim, repostas as dedu-ções à colecta com despesas deeducação, bem como os benefí-cios fiscais com novas subscri-ções de PPR e as deduções dosprémios de seguros de saúde. E,em 2015, quem tem emprésti-mos à habitação contraídos atéfinais de 2011 vai conseguir con-tinuar a abater os juros no IRS(15% dos montantes despendi-dos até o limite de 502 euros nocaso das rendas e de 296 eurospara o caso dos juros com o em-préstimo da casa). Alteraçõesque para o Governo reforçam aprogressividade da reforma, re-clamada pelo PS. O Executivo

defende ainda que a introduçãodestas deduções, através do sis-tema e-factura, “reforça a sim-plificação do novo IRS”, tam-bém pedida pelo PS, permitindoo pré-preenchimento total dasdeclarações de IRS . É o regressodas deduções à colecta que, diz,o Governo, permite prescindir acláusula travão. Isto porque, aomanter as deduções à colectaassegura-se, por uma via alter-nativa, o princípio de que as fa-mílias sem filhos não serão pre-judicadas.

O Governo tinha propostouma mudança radical nas dedu-ções que reduzem a factura fis-cal. Eliminou as despesas comempréstimos à habitação, asdespesas de educação passa-riam a abater ao rendimento edesapareceu a dedução à colectapor sujeito passivo (213,75 eu-ros) e, em sua substituição,criou-se uma categoria de des-pesas gerais e familiares com li-mites que são agora alteradosem baixa. ■

8Governo elimina travão ao IRS e repõe as deduçõesà colecta com despesas de educação, rendas

e empréstimos à habitação.

SAIBA O QUEMUDA NO

PRÓXIMO ANO

Mais deduções fixaspara filhos até três anos

Os deputados do PSD e do CDS--PP propuseram reforçar amajoração atribuída em sedede IRS aos dependentes commenos de três anos de idade.Na proposta do Governo paraa reforma do IRS já se previaa atribuição de deduçõesfixas de 325 euros por cadadependente e de 300 eurospor cada ascendente desde queeste não ganhasse mais do que apensão mínima do regime geral.Agora, prevê-se a atribuiçãocumulativa de uma dedução de125 euros por cada dependentecom menos de três anos deidade e outra dedução de 110euros no caso de haver apenasum ascendente que viva como agregado familiar e aufiramenos do que a pensão mínima.

Despesas de educação abatem ao IRSA maioria parlamentar recupera o sistema actualmente em vigor, que prevêque as despesas de educação possam ser dedutíveis à colecta do IRS, ouseja, depois de já ter sido determinada a taxa de imposto a que o contribuinteestá sujeito, e introduz-se um limite de 800 euros (contra actuais 760 euros).As despesas de educação continuam com uma dedução à colecta em sede de IRSem vez de serem consideradas como um abatimento ao rendimento que, no limite,podia chegar aos 2.250 euros por declaração de rendimentos, como foi propostoinicialmente pelo Governo e que tinha um alcance menor do que uma deduçãoà colecta. A proposta de alteração prevê uma dedução correspondente a 30%do valor suportado a título de despesas de formação e educação por qualquermembro do agregado familiar.

Normas anti-abusopara vales de educaçãoA maioria pretende ainda introduzir regras de controlonos vales educação, destinados ao pagamentode estabelecimentos de ensino, sejam eles públicosou privados, e outros serviços de educação comoexplicações, despesas com manuais e livros escolares.Em causa está a obrigatoriedade das entidadesemissoras que receberem as importâncias dasempresas passarem a emitir factura e comunicarem--nas ao Fisco. Uma obrigatoriedade que se estendeaos encargos com lares para os contribuintes poderembeneficiar de uma dedução de 25% com limite globalde 403,75 euros. Neste caso, as facturas terão de terespecificamente dois Códigos de Actividade Económica(actividade de apoio social para pessoas idosase com deficiência, com e sem alojamento)

Corte na dedução dasdespesas gerais familiaresA maioria PSD/CDS-PP propôs uma diminuição dadedução que os contribuintes podem fazer comdespesas gerais familiares face aos valores queestavam previstos na proposta de Reforma do IRSentregue pelo Governo no Parlamento. A propostada maioria prevê que 35% destas despesas sejamdedutíveis à colecta com um limite de 250 euros,contra uma dedução de 40% da despesa com umlimite de 300 euros, prevista na proposta inicial.O Governo criou a dedução de despesas geraisfamiliares, após eliminar as despesas como osencargos com imóveis ou seguros de saúde queacabam por ser novamente repostas.

Novos tectos globaispara todas as despesasNa proposta inicial, o Governo retirou os tectosglobais às deduções à colecta que variamactualmente entre os zero e 1.250 euros, consoanteos rendimentos, sendo que para rendimentos abaixodos sete mil euros não há limites às deduções eacima de 80 mil euros não há deduções. Mantém-seagora a lógica em vigor, mas com limites diferentes:mil euros, para quem está no último escalão. Entresete mil e 80 mil euros, o limite vai diminuindoà medida que o rendimento colectável crescee abaixo de sete mil euros, não há limite.

Vales de infância semlimite para isençãoOs vales de educação para dependentes até 25 anoscontinuam isentos de IRS até 1.100 euros anuais.Tecto que era também aplicado aos vales de infânciana proposta de lei entregue em Outubro e queé agora eliminado. Estes vales sociais (até os seteanos), atribuídos pelas empresas, para pagamentode creches, jardins de infância e lactários deixam,assim, de ter qualquer limite para isenção de IRS.

Tiragem: 16669

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Âmbito: Economia, Negócios e.

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Corte: 5 de 5ID: 56928024 04-12-2014

Maioria PSD/CDS introduziu 37 alteraçõesà reforma do IRS. Na prática, regressa oregime de deduções à colecta. Propostas vãohoje a votos, mas PS tem dúvidas. ➥ P4 A 8

SAIBA COMOREGRESSO DEDEDUÇÕES NOIRS BENEFICIAAS FAMÍLIAS

MANTÊM-SE BENEFÍCIOSFISCAIS AOS PPRNOVOS TECTOS GLOBAISPARA TODAS AS DESPESASENCARGOS COM CASAVOLTAM A CONTARCUSTOS COM EDUCAÇÃOABATEM AO IRS