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Rocha Lima SUBSÍDIOS PARA O ESTUDO DA PARTÍCULA E EM ALGUMAS CONSTRUÇÕES DA LÍNGUA PORTUGUESA Rio de Janeiro, 2010

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Rocha Lima

SUBSÍDIOS PARA O ESTUDODA PARTÍCULA

EEM ALGUMAS CONSTRUÇÕES

DA LÍNGUA PORTUGUESA

Rio de Janeiro, 2010

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EM ALGUMAS CONSTRUÇÕES DA LÍNGUA PORTUGUESA

A fonte desta edição é o exemplar doado a sua filha

Ângela, pertencente ao Acervo da Família do Prof. Rocha

Lima, com a seguinte dedicatória:

Para a minha Ângela,

coautora afetuosa e inteligente, com o beijo

agradecido deseu Pai.

25.1.975

2 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA

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SUBSÍDIOS PARA O ESTUDO DA PARTÍCULA E

SUBSÍDIOS PARA O ESTUDO DA PARTÍCULA E

EM ALGUMAS CONSTRUÇÕESDA LÍNGUA PORTUGUESA

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 3

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EM ALGUMAS CONSTRUÇÕES DA LÍNGUA PORTUGUESA

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA

SUBSÍDIOS PARA O ESTUDO DA PARTÍCULA E

EM ALGUMAS CONSTRUÇÕESDA LÍNGUA PORTUGUESA

Tese apresentada à Universidade Federal Fluminense em prova de habilitação a livre-docência.

Rio de Janeiro1975

4 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA

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SUBSÍDIOS PARA O ESTUDO DA PARTÍCULA E

Ao Futuro:BRUNO e PALOMA, meus netos.

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 5

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EM ALGUMAS CONSTRUÇÕES DA LÍNGUA PORTUGUESA

SUMÁRIO

PROPOSIÇÃO.........................................................................9

DEMONSTRAÇÃO: OS FATOS..........................................14

I. O “e” intraoracional e o interoracional:....................14

1. Os doze de Inglaterra e o seu Magriço.................14

2. Há mulheres, e mulheres......................................19

3. Tosco e rudo.........................................................22

4. Não nascemos para ser marido e mulher.............25

5. Italiano, espanhol, russo e até sueco....................30

6. Uma decepção, e funda........................................34

7. Aquela triste e leda madrugada............................37

8. Esbombardeia, acende e desbarata.......................40

9. Experimentai, e vereis..........................................44

10. Sentiu-se desambientado e sofreu........................47

11. Este cálix (e enchia-o novamente) este

cálix é um breve estribilho.................................50

12. Mais quis dizer, e não passou daqui.......................54

6 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA

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SUBSÍDIOS PARA O ESTUDO DA PARTÍCULA E

13. E em negócios do mundo pouco acerta..................59

14. Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!................61

II. O “e” inicial de frase:.................................................65

A) afetivo: ...............................................................65

15. E o corvo disse: ‘Nunca mais.’....................66

16. E agora, José?..............................................67

17. E dizer que se matara por mim!...................69

B) arquitetural: .....................................................71

18. ...E as Caravelas de Cabral vieram um dia . 73

19. E cravou o punhal no coração .....................74

20. E a palavra do homem: eu sou o Verbo.

E o espírito do homem: eu sou o Verbo ....76

CONCLUSÕES .....................................................................81

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................88

ÍNDICE (de lugares do e) ......................................................97

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 7

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EM ALGUMAS CONSTRUÇÕES DA LÍNGUA PORTUGUESA

Um sentir é o do sentente, mas outro é do sentidor.

(ROSA, 1972, p. 237)

8 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA

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SUBSÍDIOS PARA O ESTUDO DA PARTÍCULA E

P R O P O S I Ç Ã O

Na esfera dos morfemas de coordenação, cabe ao e, pela

extensão e frequência de seu uso, ofício dos mais relevantes.

Para dar a medida das dificuldades por ele suscitadas,

vale a pena trazer à colação, logo ao liminar deste nosso

trabalho, o denso artigo de Lester Beberfall, “The conjunction

e in the Cid”, publicado na revista Hispania, v. XLVI, n. 3, de

setembro de 1963, no qual o autor debate o comentário de

Menéndez Pidal à construção “yo ruego a Dios e al Padre

Spirital”, figurante no Poema de mio Cid. Para o sábio

hispanista, esse e não quer dizer que se invoque a duas pessoas

distintas, senão que a uma só; e, com a opulência de erudição a

que nos habitou, Dom Ramón sustenta ser aquele esquema

sintático um caso de aposição. Contrapondo-se-lhe, Beberfall

interpreta a partícula como aditiva, à luz também de copiosa

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EM ALGUMAS CONSTRUÇÕES DA LÍNGUA PORTUGUESA

argumentação, esteada principalmente em textos religiosos; e,

partindo da discussão do papel do e, envereda pelos terrenos

transcendentes da teologia, com incursões na doutrina da

Igreja Católica Romana e da Igreja Ortodoxa Grega.

Ventilando a questão sob o único aspecto que nos

interessa aqui, o linguístico (pois que, evidentemente, jamais

nos abalançaríamos a penetrar no mérito do problema

teológico), o nosso desígnio é reafirmar a importância do

estudo da partícula e, cuja dupla possibilidade de

entendimento na construção em apreço – que encontra paralelo

em português – pôde dar margem a controvérsia tão alta.

De fato: relacionando termos de oração, orações entre

si, e figurando ainda em início de frase, ela integra boa parte

de estruturas-tipos, em cada uma das quais reveste um valor1

particular.

Portadora de significação puramente virtual, encorpa-se

de significação real em cada uma dessas estruturas, por força

do poder imantador do contexto. E muitas vezes passa a

assumir o papel de polo semântico da construção onde se

encrava – e de modo tão avassalador, que não pode ser desta

suprimido.

1 Entendemos por “valor”, aproximadamente, aquilo que Herculano de Carvalho (1972, I, p. 207) denomina “significação atualizadora.”

10 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA

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SUBSÍDIOS PARA O ESTUDO DA PARTÍCULA E

A partir do seu valor primário aditivo (se há um

esquema essencial assim à marcha do pensamento como à da

linguagem, esse é o que se traduz pela fórmula A e B), viu a

nossa partícula alargar-se-lhe a área significativa por

contaminação de elementos que seria lícito chamar

paracoordenativos – os advérbios de enlace, a entoação, as

pausas melódicas –, tudo a gerar, em função do contexto, um

efeito de sentido especial, que a colora de variadíssimos

matizes.

Como fator paralelo de seu enriquecimento, há de

apontar-se, decerto, o natural desdobrar do mecanismo de

associação de ideias. E sob esse aspecto, salta aos olhos ser o

valor temporal aquele imediatamente solidário do valor básico

aditivo do e. Com efeito, exceto quando se trate de

enumeração pura e simples de seres, nenhuma adição se

processa concretamente sem estar subordinada à ideia de

tempo – que implica forçosamente a de sucessividade e

conduz à de concomitância, a qual, por sua vez, sugere a de

acúmulo, desentranhando-se desta, quando nimbada de

afetividade, as de encarecimento e superlativação. Mas termo

que se adiciona vem não raro corrigir, contradizer, ou anular

aquele que o precede – e por esta via se transita para a ideia de

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EM ALGUMAS CONSTRUÇÕES DA LÍNGUA PORTUGUESA

oposição, com a sua gama adversativa, concessiva e de

contraste.

A razão disso é porque, segundo nos recorda Boer,

Le nombre très restreint de signes est loin d’être suffisant pour exprimernettement, clairement et complètement chacune des milliers de nuances de la pensée et du sentiment que ces signes ont comme tâche de faire comprendre – ce qui fait que beaucoup de signes ont de multiples valeurs à côté de leur founction primaire. (1954, p. 43)

Posto a serviço, alguma vez, da exteriorização psíquica

do falante, o e avulta em carga afetiva, desbotadas já as suas

características fundamentais de liame intraoracional e

interoracional.

Outras vezes, em início de frase, figura como partícula

meramente arquitetural, a estabelecer transição entre os

parágrafos, com papel formal por excelência.

Dentro desta linha cardeal de pensamento, ou seja,

procurando interpretar o nosso morfema à luz de tríplice

aspecto – o semântico, o psicológico e o estilístico – é que

tentaremos esboçar a presente pesquisa, em que se recolhem

vinte estruturas-tipos – selecionadas entre os esquemas

fundamentais de coordenação com e, a saber:

A, B, C ... e N / A e B e C ... e N / A, B, C.

12 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA

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SUBSÍDIOS PARA O ESTUDO DA PARTÍCULA E

Le lecteur ne devra pas être surpris – adverte logo Antoine (1958, II, p. 718)2 – de retrouver dans le chapitre consacré à l’histoire de et la mention d’une structure juxtaposée: a, b, c. En effet, surtout à partir du moment ou les valeurs des types a, b et c (1) / a et b et c (2) se fixent définitivement l’une par rapport à l’autre, a, b, c prend nettement figure de concurrent stylistique à leur côté, et ne saurait être séparé d’eux. Si l’on veut, on dirá qu’il représente le degré zéro de la coordination avec et, le type (1) en représentant le degré normal et le type (2) le degré plein.

Depois destas sucintas considerações, vamos

diretamente à verdade dos fatos; a sua lição é que porá de

manifesto as peculiaridades e as sutilezas da Língua.

2 Nessa obra monumental encontrou o nosso trabalho a sua fonte maior de sugestões, sem prejuízo da orientação personalíssima que a ele imprimimos.

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EM ALGUMAS CONSTRUÇÕES DA LÍNGUA PORTUGUESA

D E M O N S T R A Ç Ã O : O S F A T O S

I. O E INTRAORACIONAL E O INTERORACIONAL:

1. OS DOZE DE INGLATERRA E O SEU MAGRIÇO

De matização estilística muito sutil, este e não adiciona

um termo a outro: inclui o segundo no primeiro, para destacá-

lo. Vale, então, mais ou menos, por esta ideia geral

globalizadora: – inclusive + principalmente.

Encontra-se ele, por exemplo, nos conhecidos versos de

Camões:

Pois polos doze Pares dar-vos queroOs doze de Inglaterra e o seu Magriço;

(CAMÕES, 1916-18, I, 12)

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SUBSÍDIOS PARA O ESTUDO DA PARTÍCULA E

Na expressão doze de Inglaterra incorpora-se, sem

somar a eles, o Magriço – o qual vem, assim, por seleção,

posto em relevo no conjunto.3

Herança da sintaxe latina, esse tipo de construção já fora

apontado por Epifânio (1933, § 328, b.), que também a ele se

refere na sua edição do poema, em comentário à estanca em

exame.

É o caso, note-se, da denominação oficial de uma das

disciplinas do curso secundário, numa das nossas reformas de

ensino: História Geral e do Brasil.

Simples questão de um todo de que se desentranha uma

das partes, para dar-lhe, a esta, destaque particular.

Dela se utilizou Manuel Bandeira, neste lanço de sua

prosa:

Mais nos ensinou de Literatura, a mim e mais dois ou três colegas que o cercávamos depois das aulas de sua cadeira que era a História Universal e do Brasil, o velho João Ribeiro (ainda não o era àquele tempo).

(BANDEIRA, 1958, p. 19)

Parece enquadar-se também aí esta passagem de

Guimarães Rosa:

3 Finas observações de ordem literária em torno dos Doze de Inglaterra no episódio camoniano podem ler-se em Le Gentil (1969, p. 74-9).

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EM ALGUMAS CONSTRUÇÕES DA LÍNGUA PORTUGUESA

... tomando-a um tédio de tudo ali, e daquela casa, que parecia impedir os movimentos do futuro. Do Buriti Bom, que se ancorava, recusando-se ao que deve vir.

(ROSA, 1965, p. 191)

Ao núcleo tédio subordinam-se dois complementos

coordenados por e, o último dos quais (daquela casa) contido

na extensão maior do primeiro (de tudo ali). De modo

aparentemente anômalo, o escritor passa a caminhar da parte

para o todo, transportando para o período seguinte, com elipse

do núcleo de que depende e valorizado pela pontuação

estilística de pausa conclusa, o complemento Do Buriti Bom –

com o quê faz crescer a poesia do contexto:

... tomando-a um tédio de tudo ali, e (inclusive e principalmente) daquela casa ... / (Um tédio) do Buriti Bom, que se ancorava, recusando-se ao que deve vir.

Esta a interpretação que, salvo melhor juízo, espelha à

justa, aquele fugidio instante de depressão de Lalinha, a

complexa personagem central da novela Buriti: esmagava-a

um tédio do Buriti Bom e de tudo quanto nele havia,

nomeadamente daquela casa, portas dentro da qual “as

pessoas envelheceriam, malogradas, incompletas, como

cravadas borboletas;” (id., ibid., p. 191)

A construção em apreço é puro latinismo – não

recolhido, aliás por Correa da Silva no seu Ensaio sobre os

latinismos dos Lusíadas. Talvez por isso não tenha encontrado

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SUBSÍDIOS PARA O ESTUDO DA PARTÍCULA E

agasalho além da fase clássica, dentro da qual começaria a

declinar o seu uso após aquele movimento de latinização do

Idioma, característico do século XVI.

Em duas preciosíssimas notas às redondilhas de Camões

iniciadas com o verso Sôbolos rios que vão, Sousa da Silveira

(1945, p. 33-4 e 42) aduz os seguintes exemplo, que interpreta

com a sabedoria habitual:

Órgãos, e frauta deixava, Despojo meu tão querido, No salgueiro, que ali estava, Que para troféu ficavaDe quem me tinha vencido. (v. 116-20)

Que os olhos, e a luz que ateaO fogo que cá sojeita, Não do sol, nem da candea, É sombra daquela idea, Qu’em Deus está, mais perfeita. (v. 221-25)

E em outros autores cultistas dos séculos XVI e XVII:

Diversas ervas, flores e boninasEm que o cheiro melhor se misturava.

(FERREIRA, Lusitano, f. 81, v.)4

Aqui nesta floresta celebrada, Semeada de flores e boninas

(LOBO, 1928, p. 110)

4 Há duas remissões a FERREIRA, mas esse autor não foi incluído nas referências bibliográficas. Esta, referindo-se aos Lusitanos e outra, referindo-se a Castro, que devem ser as obras de Antônio Ferreira, A Castro e Poemas Lusitanos, reeditados em 1997 pela Editorial Presença. [N.E.]

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EM ALGUMAS CONSTRUÇÕES DA LÍNGUA PORTUGUESA

Em nossas leituras, por mais que diligenciássemos

encontra-la, jamais topamos tal construção a partir do

Romantismo. Se ela sobreviveu aos séculos aludidos, será,

certamente, muito rara depois deles.

De qualquer modo, que esse valor inclusivo do e não se

perdeu de todo, prova-o a sua serventia em torneios do tipo

“História Geral e do Brasil”, “Geografia Geral e do Brasil”,

etc., se bem que aí se trate de expressões mais ou menos

petrificadas – caso, portanto, de sintaxe fixa.

Nem é de causar surpresa a reaparição dele em plena

segunda metade do século XX, na pena erudita de Guimarães

Rosa; pois, como toda a gente sabe, o que caracteriza o estilo

desse romancista é o amálgama de forma de todas as idades e

de todos os níveis do Idioma – linguagem a um só tempo

arcaizante e neológica, regionalista e clássica, cultista e

coloquial –, numa prosa encharcada de ludismo por vezes

extravagante, mas sempre trabalhadamente artística.

E não se aponte por solitário o exemplo rastreado na

novela Buriti; pelo menos mais um lugar de sua obra,

socorreu-se o escritor da mesma construção:

Revi todos e Diadorim que era uma cortesia de bondade.

(ROSA, 1972, p. 297)

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SUBSÍDIOS PARA O ESTUDO DA PARTÍCULA E

A ressurreição de tal torneio servirá apenas de

comprovar – disso estamos convencido – a vitalidade de um

dos traços da língua literária: o seu caráter ácrono.

2. HÁ MULHERES, E MULHERES.

MULHERES E MULHERES...

Entre duas palavras iguais, em contextos como o

seguinte:

Há mulheres, e mulheres. –,

a partícula e, de envolta como o efeito de sentido criado pela

entoação e pela pausa melódica, marca a diferença de pontos

de vista com que encaramos pessoas e coisas: uma

comparação, em suma. Opõe-se, assim, um julgamento

meliorativo a um julgamento pejorativo – um encarecimento a

uma depreciação. Dir-se-ia que aí subjaz, latente (ou como

preferiria Amado Alonso, mentada), uma adjetivação

antitética:

Há mulheres (de grande expressão humana, ou mental, ou social – a quem amamos, ou admiramos)

e

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EM ALGUMAS CONSTRUÇÕES DA LÍNGUA PORTUGUESA

mulheres (inferiores, mesquinhas, rasteiras; ou apenas para o prazer carnal).

Ou vice-versa? – isto é, a adjetivação (meramente

subjetiva) que ilustra o exemplo proposto deverá ter trocada a

ordem em que a dispusemos? Porque, realmente, não será fácil

decidir, de plano, sobre qual dos dois membros recai o juízo

lisonjeiro. Posto que o senso da Língua pareça inculcar, à

primeira vista, a valorização do primeiro dos termos,

sobretudo pela posição dele em começo de frase –, a intenção

do falante, condicionada a determinada situação e revelada

pelo tom de voz, é que irá propiciar, em última análise, a

inteligência do enunciado.

Nesses sistemas de teor comparativo, a conjunção

funciona como o centro semântico da construção; e com tal

força, que não pode ser omitida.

Forma-se, então, uma complexa unidade sintática,

semântica e prosódica, na qual a presença obrigatória do liame

(fator sintático), o valor significativo de que ele se reveste

(fator semântico), a entoação e a pausa melódica (fatores

prosódicos) se entrelaçam e confundem para a valoração do

sentido total.

Releva ressalvar que pode, ou não, haver pausa entre os

dois termos – o que reflete leves diferenças de intenção do

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SUBSÍDIOS PARA O ESTUDO DA PARTÍCULA E

falante. Este fato se assinala na língua escrita pela ausência ou

presença de vírgula.

O imenso Rui, por exemplo, não a dispensa no seu estilo

oratório (e, podemos afirmá-lo, de modo sistemático):

Há estudar, e estudar. Há trabalhar, e trabalhar.

(BARBOSA,1947, p. 43)

Já não o fizeram, pelo menos nos passos a seguir, dois

excelentes escritores de nossos dias (Manuel Bandeira e Alceu

Amoroso Lima):

Agora sei que os prefácios são inúteis, e entre apanhar e apanhar, antes apanhar sem prefácio.

(BANDEIRA, 1958, p. 89)

Se há silêncio e silêncio, também há revoluções e revoluções.

(ATHAYDE, JB, 9/5/1974)

A mudança do ritmo frasal pela mudança dos fatores

prosódicos apontados gera significação de todo em todo

diferente – e, pois, outra frase:

Por sua vida têm passado mulheres e mulheres...(Vale dizer: grandíssimo número de mulheres).

É o caso de exemplos como estes:

Sobre os mestres, os sábios e os estudantes de agora pesam montanhas e montanhas mais de questões, problemas e estudos que quantos, há três ou quatro séculos, se abrangiam no saber humano.

(BARBOSA, 1949, p. 39)

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EM ALGUMAS CONSTRUÇÕES DA LÍNGUA PORTUGUESA

A imaginação foi a companheira de toda a minha existência, viva, rápida, inquieta, alguma vez tímida e amiga de empacar, as mais delas capaz de engolir campanhas e campanhas, correndo.

(ASSIS, 1966, p. 108)

Capitu passou a ser a flor da casa, o sol das manhãs, o frescor das tardes, a lua das noites; lá vivia horas e horas, ouvindo, falando e cantando.

(ASSIS, 1966, p. 189)

E esses desejos provocados, mas não satisfeitos me deixam com um sentimento de frustração e angústia que às vezes duram dias e dias.

(VERISSIMO, 1963, III, p. 886-87)

Eu ficava horas e horas de olhar pregado numa penugem de nuvem ou na fumaça que a fábrica de Abadia jogava no céu.

(CARVALHO, 1974, p. 81)

3. TOSCO E RUDO

Tampouco tem valor lógico aditivo (senão que papel

gramatical meramente copulativo) o e que enlaça dois termos

pertencentes à mesma série sinonímica, entendendo-se como

tal

un ensemble d’unités lexicologiques (mots isolés ou locutions composées) groupées par la communauté du sens et appartenant toutes à une seule et même subdivision de la rubrique idéologique. (BALLY, I, § 159).

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SUBSÍDIOS PARA O ESTUDO DA PARTÍCULA E

Insistindo-se na mesma ideia por meio de palavras ou

expressões que por igual a representam, reforça-se, por sem

dúvida, o pensamento –, porém nada se acrescenta de novo ao

que já fora dito, o que configura, pois, um processo

pleonástico.

Exemplos:

(Se de humano é matar uma donzela, Fraca e sem força, só por ter sujeitoO coração a quem soube vencê-la, )

(CAMÕES, 1016-18, III, 127)

Porque dos feitos grandes, da ousadiaForte e famosa, o mundo está guardandoO prêmio lá no fim, bem merecido, Com fama grande e nome alto e subido.

(CAMÕES, 1916-18, IX, 88)

Aquele chamo só, de quem esperoA vida que se espera em fim de tudo.Ele fará meu Verso tão sinceroQuanto fora sem ele tosco e rudo.

(TEIXEIRA, 1972, II, 3-6)

Não sei se diga, que as paixões são umas espécies de viventes, que moram em nós, cuja vida, e existência, semelham a nossa,

(MATIAS AIRES, 1948, p. 8)

No entanto o velho exânime e sem forçasCurtia amargos transes.

(DIAS, 1910, II, 11)

Nos excertos trazidos à balha, a representação mental é

a mesma – situação, por sem dúvida, idêntica à destes pares de

sinônimos:

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EM ALGUMAS CONSTRUÇÕES DA LÍNGUA PORTUGUESA

“divinos triunfos, e vitórias”

“perpétuo assento, e morada”

“grande medo e temor”,

colhidos por Sousa da Silveira (1945, p. 100, nota 524) –, os

dois primeiros em Frei Tomé de Jesus, e o último em

Bernardim Ribeiro. Aí, temos a condição pleonástica

rigorosamente cumprida.

Mas nem sempre a representação mental é a mesma,

assim como, muitas vezes, sendo ela uma só, vêm, contudo,

modificá-la levemente a expressão e o apelo – e aqui estamos

pensar nas três funções primordiais da linguagem,

preconizadas por Bühler.

Na presente passagem do Crisfal (FALCÃO, Apud

SOUSA DA SILVEIRA, 1945, vs. 521-25):

Cuberta era a fontede tam fresco arvoredo, que não sei como o conte, mui quieto e mui quedopor ser antre monte e monte: –,

o citado Sousa da Silveira, com aquela sensibilidade à flor da

pele de que era dotado para a interpretação de textos, sente no

primeiro dos adjetivos a significação de sossegado, parado, e

no outro a de calado, mudo.

Fato de coloração estilística (antes do domínio da

expressão e apelo do que da esfera da pura representação

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SUBSÍDIOS PARA O ESTUDO DA PARTÍCULA E

mental) talvez se possa ver também neste lugar de Camões (1916-

18):

Qual parida leoa, fera e brava, .................................................Corre raivosa e freme e com bramidosOs montes Sete Irmãos atroa e abala:Tal Joane, com outros escolhidos Dos seus, correndo acode à primeira ala:

(IV, 36-7)

Dada a sua polissemia, brava pode entender-se como

feroz, mas também – o que parece preferível – com o sentido

de corajosa, o que daria à qualidade certa conotação afetiva.

Nesta última hipótese, fera e brava pertenceriam a

séries sinonímicas diferentes – e já então o e deixaria de ser

simples cópula, para adquirir valor aditivo.

4. NÃO NASCEMOS PARA SER MARIDO E MULHER

Habitualmente, os termos enlaçados por e aditivo estão

no mesmo nível de equilíbrio e importância.

A sequência a + b identifica-se, no plano abstrato do

raciocínio matemático, com a sequência b + a. Realmente,

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EM ALGUMAS CONSTRUÇÕES DA LÍNGUA PORTUGUESA

tanto monta dizer Comprei cravos e rosas como Comprei

rosas e cravos.

Por artifício de estilo – muito caro a Rui, por exemplo –,

vê-se não raro, nesses casos de adição aritmética, sucederem

uma à outra, com variação ou inversão da ordem dos termos

respectivos, duas ou mais séries coordenadas em paralelismo

rítmico:

Não vos mistureis com os togados, que contraíram a doença de achar sempre razão ao Estado, ao Governo, à Fazenda; por onde condecora o povo com o título de ‘fazendeiros’. Essa presunção de terem, de ordinário, razão contra o resto do mundo, nenhuma lei a reconhece à Fazenda, ao Governo, ou ao Estado.

(BARBOSA, 1949, p. 66-7)

Mas, do ponto de vista psicológico, a + b não se

equipara a b + a. Aí estará, talvez, a razão de, em certas

sequências, a língua impor uma ordem fixa, em que os

elementos componentes se dispõem hierarquicamente – o que

Secheaye (SAUSSURE, 1926, p. 22) atribui a uma razão

social. Para Antoine (1958, p. 258), construções que tais

representam um caso-limite, em que, sob a capa de uma

coordenação formal, se realiza uma verdadeira subordinação

psicológica.

Como quer que seja, não se poderá negar que – salvo

em situações especiais de galanteria, ou naquelas em que se

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busca efeito caricatural – construções como as que se seguem

requerem uma ordenação hierarquizada de seus termos:

Pareceu a el-rei e aos seus que lhes acudia o Céu com socorro.

(SOUSA, 1946, I, p. 10)

não lhes acudiu a ideia de um casamento àquela hora, e nas circunstâncias em que se achavam o dono e moradores da Oiticica.

(ALENCAR, 1973, p. 277)

Falamos e escrevemos instintivamente assim:

Convidamos para jantar o Sr. Fulano de Tal e Senhora.

Apresentamos nossos pêsames a V. Ex.ª e Família.

Sr. e Srª Fulano de Tal cumprimentam e oferecem sua nova residência.

Deponham os escritores:

Ao sair do Arquivo, passei pelo Telégrafo, ali deixando o telegrama de boas-festas. Mas não o enderecei a Gabriela, e sim ao Dr. Azevedo e Ex.ma Família.

(ANJOS, 1965, p. 134)

Chegou, por fim, o momento sensacional.

– Senhores e senhoras! – disse Seu Matias. – Tenho a honra de vos apresentar um número sensacional. O Elefante Basílio dançando uma valsa!

(VERÍSSIMO, 1965, p. 171)

Na linguagem oficial da diplomacia, é obrigatório

redigir deste modo o endereço do destinatário:

Excelentíssimo Senhor Embaixador do Brasil e Senhora Fulano de Tal.

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EM ALGUMAS CONSTRUÇÕES DA LÍNGUA PORTUGUESA

Estando em jogo a expressão marido e mulher (ou

equivalente), a primazia concedida ao cabeça de casal leva a

uma forma padronizada:

Colocaram-se ambos, marido e mulher, de um e outro lado da porta.

(ALENCAR, 1973, p. 275)

naquele bom tempo em que um capitão-mor julgaria derrogar da sua gravidade e importância, se fossem vistos na estrada, ele e a esposa, sem o decoro que reclamava sua jerarquia.

(ALENCAR, 1973, p. 15)

Duma coisa, porém, tenho certeza: não nascemos para ser marido e mulher.

(VERÍSSIMO, 1963, III, p. 884)

Que ela e padrinho Rodrigo não vivem como marido e mulher, não é mais segredo, embora o assunto seja tabu na família.

(VERÍSSIMO, 1963, III, p. 924)

Por que terceiros, por que intermediários entre eles, se eram marido e mulher?

(AMADO, 1962, p. 355)

O mesmo acontece com pai e mãe, pai e filho, mãe e

filho etc.:

A perfeição seria nascer um casal. Assim os desejos do pai e da mãe ficariam satisfeitos.

(ASSIS, 1973, p. 70)

E o silêncio que de novo se faz, pai e filho pensam ao mesmo tempo naquela noite de 3 de outubro de 1930.

(VERÍSSIMO, 1962, II, p. 578)

No mesmo andar, que era o quinto, e onde se instalaram mãe e filha, foram morar, no apartamento de fundos, dois rapazes.

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(RACHEL, 1963, p. 68)

Nessas fórmulas, sentimos, de modo flagrante, o

desnivelamento (psicológico) existente entre a e b.

Curiosa situação, outrossim, de desnivelamento

psicológico (desta vez, porém, sem fixidade de estrutura),

documentam-na as construções em que, com ruptura do

paralelismo semântico, se ajoujam ideias surpreendentemente

desirmanadas, para fins de efeito irônico ou satírico. Foi, sem

dúvida, o que governou, com notável tino estilístico, o senso

de humor de Machado de Assis, nestas duas passagens:

Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada menos.

(ASSIS, 1960, p. 142)

Uma noite destas, vindo da cidade para o Engenho Novo, encontrei no trem da Central um rapaz aqui do Bairro, que eu conheço de vista e de chapéu.

(ASSIS, 1966, p. 1)

Outros tipos de ordem obrigatória não se justificam

senão à luz de hábitos da língua – casos daquela syntaxe figée,

na qual tanto insiste Boer (1954, p. 48).

Entre variadas expressões, anotem-se:

Que de cidades, povoados, A ferro e fogo assolou?

(LOBO, 1928, p. 33)

Prometeu à Virgem jejuar três dias a pão e água

(HERCULANO, s/d., I, p. 5)

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EM ALGUMAS CONSTRUÇÕES DA LÍNGUA PORTUGUESA

5. ITALIANO, ESPANHOL, RUSSO E ATÉ SUECO

Advérbios e locuções aplicados como sucedâneos

coordenativos – também, ainda, outrossim, ademais, além

disso, além do mais, finalmente, todavia, por conseguinte,

entre outros – podem fazer-se acompanhar de e, constituindo-

se, destarte, instrumentos gramaticais redundantes,

especialmente adequados para pôr termo a uma cadeia

coordenada, ou para soldar uma frase a outra.

Nesses grupos-ligamentos, tais advérbios e locuções,

assim meio gramaticalizados, já encerram, por si sós, o sentido

nuclear dos blocos respectivos, assim como o e isolado já seria

suficiente, em alguns casos, para estabelecer as relações por

ele indicadas. Daí o caráter redundante da maioria de tais

expressões; mas impende ressaltar que a presença da

conjunção concorre, quase sempre, para comunicar ao

conjunto certa matização semântica particular.

Que os advérbios e locuções em causa podem assumir o

ofício de liames coordenativos, é matéria pacífica. (Cf., a

propósito, ANTOINE, 1958, I, p. 651-698; e KENISTON,

1937, p. 659-661). Em sua combinação com e, eles se

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enriquecem, todavia, irisando-se, alguma vez, de leves

tonalidades expressivas.

Assim, ao grupo-ligamento e ainda, por exemplo,

reserva-se o papel principal de introduzir um termo com certo

retardamento, como se houvera sido involuntariamente

omitido e de repente lembrado.

Depois de haver enumerado algumas das alcunhas –

Brinquinho, Rolete, Chico-Chato – que Sete de Ouros, o

burrinho pedrês, tinha recebido pela vida fora, ocorreu a

Guimarães Rosa que faltara mencionar uma delas, que ia

ficando esquecida; e, então, apressou-se em completar o rol:

e, ainda, Capricho, visto que o novo proprietário pensava que Chico-Chato não fosse apelido decente.

(ROSA, 1971, p. 3-4)

E também, e outrossim, e ao demais, e por sobre isso

etc., frisam uma inclusão mais ou menos enfática:

Um tanto para não criar o mau precedente de intervirem as alunas na formação do corpo docente, e também por ter notícias favoráveis a meu respeito, Mère Blandine repeliu secamente a sugestão, recomendando a Vanda que tratasse de estudar com mais afinco.

(ANJOS, 1965, p. 46)

Não consultara dona Flor, por não querer incomodá-la com tal nonada, quando ela se consumia aflita ao pé da enferma, e, ao demais, por dever expulsar incontinenti a mal-agradecida, não se dispondo a ouvir abuso ou desaforo de doméstica.

(AMADO, 1962, p. 339)

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EM ALGUMAS CONSTRUÇÕES DA LÍNGUA PORTUGUESA

Unidos os dois morgadios, ficou sendo a casa de Calisto a maior da comarca; e, com o rodar de dez anos, prosperou a olho, tendo grande parte neste incremento a parcimônia a que o morgado circunscreveu seus prazeres, e, por sobre isto, o gênio cainho e apertado de D. Teodora.

(CAMILO, 1953, p. 18)

Enquanto e até sugere o acréscimo de algo um tanto

inesperado, de envolta, por isso, com uma ponta de surpresa:

Podemos ir juntos; veremos as terras estrangeiras, ouviremos inglês, francês, italiano, espanhol, russo e até sueco.

(ASSIS, 1966, p. 76)

Eu via o meu filho médico, advogado, negociante, meti-o em várias universidade e bancos, e até aceitei a hipótese de ser poeta.

(ASSIS, 1966, p. 243)

Já em e todavia, e no entanto, o sentido opositivo se

acumula de modo pleonasticamente mais acintoso, o mesmo

acontecendo com o sentido consecutivo/conclusivo de e pois, e

portanto, e por conseguinte, etc.:

A noite é sem silêncio e no entanto onde os sinosDo meu Natal sem sinos?

(BANDEIRA, 1973, p. 218)

Tens naturalmente lido os jornais. Sabes do que vai por Itália, e os alistamentos de voluntários Garibaldinos. Ainda que o Congresso que se projeta desate tudo em boa ou má paz, aquela gente não desarma, e, por conseguinte, não se morre de fome.

(ANTERO, 1942, p. 170)

Em alguns destes casos, dá-se uma como atrofia

expressiva do e, em associação a esses aliados semanticamente

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SUBSÍDIOS PARA O ESTUDO DA PARTÍCULA E

todo-poderosos; no entanto, ainda que sem o auxílio deles,

pode a partícula (conforme acima dissemos) suportar sozinha a

responsabilidade de expressar as mesmas relações indicadas

pelos grupos-ligamentos:

e = e também:

A casaca antiga, e o restante da roupa trazida de Miranda, tolhiam-lhe a elegância das posturas e movimentos, nos primeiros discursos.

(CAMILO, 1953, p. 101)

– Que será de nós? – perguntou um deles, distraído.Que seria deles? Não sabiam, e não se incomodavam.

(SABINO, 1956, p. 44)

e = e além do mais, e acima de tudo:

Um só no meio de tantos! ... um só e desarmado!...

(HERCULANO, s./d., I, p. 246)

Caiu o anjo, e ficou simplesmente o homem, homem como quase todos os outros, e com mais algumas vantagens que o comum dos homens.

Dinheiro a rodo!

Uma prima que o preza muito!

Dois meninos que se lhe cavalgam do costado!

Saúde de ferro!

E barão!

(CAMILO, 1953, p. 180)

Não devia estar analisando meu irmão dessa maneira, mas sim procurando aceitá-lo tal como ele é. Sim, e amá-lo. Principalmente amá-lo.

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EM ALGUMAS CONSTRUÇÕES DA LÍNGUA PORTUGUESA

(VERÍSSIMO, 1962, II, p. 560)

e = e até:

jurando fidelidade ao rei, injuriavam-no nas gazetas; jurando fidelidade à Nação, avexavam-na de tributos, e alguns a queriam fundir na Espanha.

(CAMILO, 1953, p. 33)

e = e todavia:

Ainda agora chegastes, e já estás a falar na ida para Lisboa.

(CAMILO, 1953, p. 158)

Mário e Helena ainda nem se haviam avistado, e as velhas, meio bruxas, meio sibilas, já proclamavam com segurança: – Quem não está vendo que o príncipe dela chegou?.

(MACHADO, 1969, p. 161)

6. UMA DECEPÇÃO, E FUNDA

Vem de tempos já recuados a denominação de “e de

encarecimento” (et d’enchérissement) com que Vaugelas

batizou, de modo muito apropriado por sinal, certo uso do

liame em construções deste jaez:

Vate, e louvado, fui, mas sempre de ótimoModelo venusino

(ELÍSIO, 1941, p. 260)

Mulheres há, e não poucas, que nisto são tenazes, e duríssimas de reduzir de seus pontos ou caprichos.

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(MELO, 1954, p. 130)

A palavra, esse Verbo criador, Há de fazer que um dia, e não distante, Só o nome de império inspire horror.

(DEUS, Soneto a Antero, nos “Sonetos” de Antero de Quental, p. 228)

Foi-me uma decepção, [o embarque de Jandira para Pernambuco] e funda.

(RACHEL, 1973, p. 95)

Em casos assim, o e separa o adjetivo do substantivo

determinado, assegurando-lhe àquele uma independência que

já o realça; e, formando com ele um bloco semântico de

entoação característica, contribui para transfundir no conjunto

densa conotação superlativadora.

Eis outro esquema fortemente expressivo: há dupla

adjetivação, com o segundo dos qualificativos valorizado a um

só tempo pela posição e pela partícula:

Como era bela a noite, e grandiosa.

(MACHADO, 1969, p. 175)

Trata-se de um processo de intensificação, o qual se

pode armar também usando-se o adjetivo, não sozinho, porém

a-companhado de preposição de e artigo – tudo antecedido de

e:

Duarte era rico, e dos mais fidalgos;

(CAMILO, 1953, p. 72)

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EM ALGUMAS CONSTRUÇÕES DA LÍNGUA PORTUGUESA

Uma dessas, sensações e das primeiras, quisera contá-la aqui em latim.

(ASSIS, 1966, p. 142)

Neste último caso, o nome é, então, encarado “como

pertencendo a um grupo de outros da mesma espécie e que, tal

como ele, possuem qualidade em alto grau”. (OLIVEIRA,

1962, p. 56).

Variante desse modelo é aquele em que o acréscimo

encarecedor se constrói com e + o substantivo anterior +

adjetivo (ou vice-versa):

Criava-o a mãe a seus peitos com cuidados de mãe, e mãe de grande virtude.

(SOUSA, 1946, I, p. 13)

Minha mãe sorriu para mim, cheia de amor e de tristeza, mas respondeu logo:

– Há de ser padre, e padre bonito.

(ASSIS, 1966, p. 97)

A possibilidade de político foi consultada, e cri que me saísse orador, e grande orador.

(ASSIS, 1966, p. 243)

Dentro do mesmo espírito, o e pode introduzir advérbio

– para intensificar verbo:

Agora o que te ordeno é o repouso. Careces dele: e muito.

(HERCULANO, s./d., II, p. 219)

A barba é que não chegou aos cinquenta; ele pintava-a de negro, e mal, provavelmente por não ser a tinta de primeira qualidade e não possuir espelho.

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SUBSÍDIOS PARA O ESTUDO DA PARTÍCULA E

(ASSIS, 1973, p. 95-6)

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EM ALGUMAS CONSTRUÇÕES DA LÍNGUA PORTUGUESA

Pedro iria, e é natural que dançasse, e muito, não obstante o afinco e paixão dos seus estudos.

(ASSIS, 1973, p. 133)

Maneira esquisita de começar um diário. Decerto um jeito de dizer a mim mesma que não estou levando a sério este negócio. Mas estou, e muito.

(VERÍSSIMO, 1963, III, p. 881)

Já com um matiz mais acentuado de explicação enfática

(e junto a uma categoria nominal), será porventura pertinente

incluir neste grupo o e muito eu da celebrada passagem de Um

apólogo:

– Você ignora que quem os cose sou eu, e muito eu?

(ASSIS, 1903, p. 229)

Bem como este vigoroso modo de dizer:

Mirandão nascera praticamente em mesa de jogo e tudo quanto podia garantir é que ele era homem e muito homem; nunca ouvira falar que jogo afrouxasse ninguém.

(AMADO, 1962, p. 214)

7. AQUELA TRISTE E LEDA MADRUGADA

A ideia de tempo, que, como vimos, se liga à de adição,

implica – entre outras – a de concomitância.

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SUBSÍDIOS PARA O ESTUDO DA PARTÍCULA E

Eis aí o e de simultaneidade, em que sobressai, quando

se relacionam coisas opostas, um valor intermediário de adição

e contradição.

Este esquema, de estirpe latina, pode exemplificar-se

magnificamente com o famoso dístico de Catulo encetado

pelas palavras odi et amo, cujo contexto esclarece bem o

sentido daquela antinomia inicial:

Odi et amo. Quare id faciam, fortasse requiris.Nescio, sed fieri sentio et excrucior.

(CATULO, 1978, poema 85)

Ou com isto, de Antero:

Fantasma a quem odeio e a quem amo?

(ANTERO, 1942, p. 231)

Esta associação de contrários por meio de e, muito da

índole da língua, tem recebido, por isso mesmo, gasalhosa

hospedagem dos escritores de todas as épocas:

Aquela triste e leda madrugadaCheia toda de mágoa e de piedade, Enquanto houver no mundo saüdadeQuero que seja sempre celebrada.

(CAMÕES, 1932, p. 120)

Quem sois vós, meus irmãos e meus algozes?

(ANTERO, 1942, p. 148)

Deus, dizia-se há perto de 2000 anos, é o Alfa e o Omega:

(ANTERO, 1942, p. 236)

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EM ALGUMAS CONSTRUÇÕES DA LÍNGUA PORTUGUESA

A própria sensação não era nítida. Era uma mistura de opressivo e delicioso, de turvo e claro, e o mais que puderes achar no capítulo das contradições.

(ASSIS, 1973, p. 183-4)

Vejo-me longe e perto, em meus nítidos moldes,em tantas viagens, tantos rumos prisioneira,a construir o instante em que direi teu nome!

(MEIRELES, 1973-74, IV, p. 115)

[A vida] É encanto e confusão, delícia e miséria, doçura e violência, ordem e caos.

(VERÍSSIMO, 1940, p. 63)

Vale notar ser costume juntar-se ao e um elemento de

reforço (advérbio ou locução adverbial, quase diríamos

pleonásticos) para frisar o sentido especial da partícula:

Sem causa juntamente choro e rio.

(CAMÕES, 1932, p. 121)

Quem te faz juntamente leda e triste?

(FERREIRA, A Castro, v. 17)

Amo e desamo, sofro e deixo de sofrerao mesmo tempo, nas mesmas circunstâncias.

(MEIRELES, 1973-74, IX, p. 138)

Na passagem abaixo, o escritor, tendo usado do reforço

ao mesmo tempo num dos membros da coordenação, julgou

desnecessário repeti-lo no subsequente – ficando o e, sozinho,

com toda a carga do valor de concomitância e contradição:

Porque o homem moderno mistura poesia com batatas; é poeta e ao mesmo tempo pedreiro; romancista e representante comercial.

(VERÍSSIMO, 1970, p. 182)

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SUBSÍDIOS PARA O ESTUDO DA PARTÍCULA E

8. ESBOMBARDEIA, ACENDE E DESBARATA

O valor do e figurante numa série de fatos sucessivos é

convizinho do seu valor fundamental aditivo. Aliás, nenhuma

adição se pode processar concretamente (já o dissemos) sem

estar subordinada à ideia temporal; de tal sorte que a sucessão

mesma não se apresenta senão como uma adição projetada ao

tempo.

Em frases como estas:

Gonçalo Lourenço entendeu-o. Beijou a mão a el-rei e saiu.

(HERCULANO, s./d., II, p. 28)

[O lavrador] mete primeiro o machado, corta, derruba, queima, arranca, alimpa, cava e depois planta e semeia.

(VIEIRA, 1838, p. 49)

Não se contenta a gente portuguesa, Mas seguindo a vitória estrui e mata;A povoação sem muro e sem defesaEsbombardeia, acende e desbarata.

(CAMÕES, 1916-18, I, 90)

as orações enfileiram segundo a ordenação lógica dos fatos.

Atente-se para a seguinte observação de João Ribeiro

(1909, p. 227):

As orações coordenadas são dispostas conforme o sentido e a sucessão verídica dos fatos:

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EM ALGUMAS CONSTRUÇÕES DA LÍNGUA PORTUGUESA

a) Deus fez a luz; depois criou a natureza; e finalmente for-mou o homem.

b) Entrou em combate, lutou heroicamente e morreu.

A ideia obriga a colocação em circunstâncias como estas, de sorte que seria impossível dizer: morreu, entrou em combate e lutou heroicamente. Não menos absurdo seria inverter a ordem do primeiro exemplo, dizendo: Deus finalmente formou o homem, depois criou a natureza, etc. Assim, todas as vezes que os fatos têm ordem histórica, a narração deve também seguir em lugares sucessivos os momentos sucessivos do tempo.

Só muito raramente – e sobretudo em poesia – se nos

deparam exemplos de certo desalinho na enumeração de fatos

que se deveram concatenar em sequência natural. Mas quase

sempre essa falta de ordem, que vai ao arrepio do curso lógico

do pensamento, é apenas aparente. E tão aparente, que levou

um autor do quilate de Cláudio Brandão5 a cair num engano,

ao carrear como exemplo de inversão insólita este verso de

Camões:

Mas o mau de Tioneu, que na alma senteAs venturas que então se aparelhavamÀ gente lusitana, delas dina, Arde, morre, blasfema e desatina.

(CAMÕES, 1916-18, VI, 6)

Ora, nenhum embargo se pode opor ao referido verso,

pois que o verbo morrer não está empregado no sentido

próprio, e sim numa bela metáfora hiperbólica, que assim se

5 Cf Cláudio Brandão, 1963, § 396 – que menciona um exemplo de Virgílio (Eneida, II, v. 353): “moriamur et in media arma ruamur”, assim traduzido por Odorico Mendes: “morramos, rompamos pelas armas.” A isso os retóricos chamavam “histerologia.”

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SUBSÍDIOS PARA O ESTUDO DA PARTÍCULA E

há de interpretar: Arde (de raiva), morre (de raiva), blasfema e

desatina.

Também este outro lanço da epopeia (CAMÕES, 1943,

III, 67) vem amiúde apontado por amostra de violação de boa

ordem no dispor as ações:

Desta arte Afonso, súbito mostrado, Na gente dá, que passa bem segura;Fere, mata, derriba, denodado;Foge o Rei Mouro e só na vida cuida.

Todavia, e ainda uma vez, é de supor uma intenção

estilística.

[Descrevendo combates e pelejas], – eis a perspicaz

exegese do citado João Ribeiro – “nota o poeta ações

múltiplas, simultâneas e confusas, exercendo-se sobre

múltiplos sujeitos; pode então dizer: Fere (a uns), mata (a

outros) e põe por terra (a outros)". (1909, p. 228)

Concluída esta breve digressão, tornemos à linha-mestra

de nossas considerações: o que há de importante para notar,

especialmente nos exemplos formulados por João Ribeiro bem

como nos excertos de Vieira e de Camões (uns e outros acima

transcritos), é que o e “fecha” a cadeia coordenativa – e eis aí,

no caso em apreço, o seu papel maior.

Do ponto de vista psicológico, vai imensa distância

entre uma sequência como as que estamos apreciando e uma

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EM ALGUMAS CONSTRUÇÕES DA LÍNGUA PORTUGUESA

sequência não encerrada por e, assim como entre cada uma

destas e uma série polissindética.

A razão é porque, nas séries assindéticas, as coisas ou os

fatos que se encandeiam como que sugerem uma impressão de

incompletude, ou, pelo menos, de algo passível de continuar

ou prolongar-se; sobre isto, tais coisas ou fatos surgem

destacadamente, um por um, ao contrário do que ocorre com o

polissíndeto, em que sobreleva o sentimento de globalização

do quadro, cujos elementos se visualizam como cimentados

por uma quase interdependência, que os amarra uns aos outros.

No monossíndeto, ao contrário do que acontece no assíndeto, a

série, porque se apresente conclusa, oferece uma modulação

final diferente da modulação da série inconclusa.

Comparem-se, respeito aos dois últimos tipos, o efeito

diverso do seguinte par:

a) Um municipal de punho alçado correu, gritou, injuriou o cavalheiro gordo.

(EÇA, 1941, I, p. 398)

b) Invoca no perigo o Céu piedoso;Ao ver que a fúria horrível da procelaRompe a nau, quebra o leme, e arranca a vela.

(DURÃO, 1881, I, XI)

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9. EXPERIMENTAI, E VEREIS

À estrutura de um período hipotético iniciado por se

pode corresponder, entre várias outras construções, um

esquema coordenativo com e. Neste caso, a segunda oração

encerra a consequência da condição (ou da hipótese provável)

expressa na primeira, que traz sempre o verbo no imperativo; a

oração que se coordena tem o verbo no futuro, ou no seu

sucedâneo coloquial, o presente:

Lede a Divina Escritura, tomai na mão os livros dos santos doutores, e vereis claramente quão grande conta devemos ter com as palavras,

(PINTO, 1940, II, p. 52)

Tirai do mundo a mulher, e a ambição desaparecerá de todas as almas generosas.

(HERCULANO, 1871, p. 74)

O mau português principia a sê-lo, desde que mareia a pureza de sua língua. Deem-me portugueses de língua, e eu me bandearei com eles, como com portugueses de coração.

(CAMILO, 1953, p. 61)

Lançai – a esmola, e colhereis – a prece!...

(ALVES, 1947, p. 19)

Convence-te de uma ideia, e morrerás por ela, escreveu Aires por esse tempo no Memorial.

(ASSIS, 1973, p. 196)

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Curtos se fizeram os dias, para que nós os dobrássemos, madrugando. Experimentai, e vereis quanto vai do deitar tarde ao acordar cedo.

(BARBOSA, 1949, p. 40)

Doma-o, e serás rainha! Ela sorria...

(BILAC, 1902, p. 132)

(Quem fala é Aristipo, com o propósito de induzir Laís,

a cortesã siciliana, a seduzir Xenócrates, o sábio).

Cria, e terás com que exaltar-teNo mais nobre e maior prazer.

(BANDEIRA, 1973, p. 19)

Interpretando, com aguda penetração, o seguinte trecho

de Machado de Assis (1960, p. 183):

– Não falta mais nada. Quer a sege, quer o boleeiro, quer a prata, quer tudo. Olhe, é muito mais sumário citar-nos a juízo e provar com testemunhas que Sabina não é sua irmã, que eu não sou seu cunhado, e que Deus não é Deus. Faça isto, e não perde nada, nem uma colherinha. –,

Ângela Vaz Leão (1961, p. 58-9) escreve: “(= ‘Se fizer

isto, não perde nada...’. A última frase de Cotrim a Brás

Cubas, na discussão da herança, tem um tom de desafio que

não teria o período hipotético comum.)”

O torneio é muito próprio da linguagem coloquial, como

se vê na saborosíssima prosa de Carlos Drummond de

Andrade, igualmente citado por aquela distinta professora:

– Deita, e mamãe te traz água.

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Outra construção, equivalente, consiste na supressão do

índice hipotético se, com a paralela valorização do subjuntivo

por sua antecipação para o rosto do período –, introduzindo-se,

então, a apódose pela conjunção e:

Não fosse ele [o sexo feminino], e este livro seria talvez uma simples prática paroquial,

(ASSIS, 1966, p. 155)

Ganhasse um pouco mais de espessura [o vento], e o agarraríamos com a mão.

(MACHADO, 1969, p. 28)

Não fora o apoio que em ti encontrou, [...] – e nossa história literária jamais teria a solução definitiva do problema das ‘Cartas Chilenas’,

(ANJOS, 1965, p. 17)

Fossem menos vasqueiras suas finanças e com frequência ele repetiria rabada e sarapatéis, maniçobas e vatapás.

(AMADO, 1962, p. 197)

Como interpretar frases que tais? Falar de coordenação,

ou de subordinação? Anote-se, de passagem, que, nelas, o e

pode dispensar-se e também trocar-se por que.

Uma ou outra conjunção – morfemas coordenativos

ambos – parece pôr-se antes em obséquio da organização

rítmica do período do que de qualquer cambiante de expressão

do pensamento. Colocado exatamente no ponto em que se

alcança o ápice da tensão tonal e se prepara a distensão, o e aí

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EM ALGUMAS CONSTRUÇÕES DA LÍNGUA PORTUGUESA

viria à guisa de uma cavilha, como que a preencher um hiato

sintático, para articular o salto da prótase para a apódose.

Como quer que seja, depara-se-nos uma fronteira:

coordenação formal, vá lá! – mas subordinação lógica.

10. SENTIU-SE DESAMBIENTADO E SOFREU

Muito típica do ponto de vista da organização do

pensamento, a correlação causa/consequência também aceita a

estrutura coordenativa com e:

Assim foi; porque, tanto que chegaramÀ vista delas, logo lhe falecemAs forças com que dantes pelejaram, E já, como rendidos, lhe obedecem.

(CAMÕES, 1916-18, VI, p. 88)

Todavia, o horrível prelado era demasiado poderoso e o seu poder pesava demasiado na balança das questões políticas,

(HERCULANO, s./d., I, p. 137)

O Capitão Marcos Fragoso, ainda moço, ... não estava no cãs de um desses potentados do sertão, e não podia julgar-se com direito e força de entrar em competência com o Capitão-mor Gonçalo Pires Campelo, cujo nome era temido desde o Exu até os confins do Piauí.

(ALENCAR, 1973, p. 177)

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Estou sonhando, e não quero que me acordem.

(CAMILO, 1953, p. 135)

Tabas, serralhos, tendas e solares ...Ninguém lhe abriu a porta de seus lares

E o triste seguiu só.

(ALVES, 1947, p. 25)

Ora, como tudo cansa, esta monotonia acabou por exaurir-me também. Quis variar, e lembrou-me escrever um livro.

(ASSIS, 1966, p. 22)

minha mãe achou o dia quente e não consentiu que eu fosse a pé; entramos no ônibus, à porta de casa.

(ASSIS, 1966, p. 69)

a fonte era distante – e eu fiquei horas numa agonia, rondando o pote, com brasas na língua.

(RAMOS, 1952a, p. 119)

Juanita nunca vira ninguém morrer, e pensava que sua mãe fosse eterna.

(MACHADO, 1969, p. 154)

Ao entrar Noel para a academia, um ano mais tarde, sentiu-se desambientado e sofreu.

(VERÍSSIMO, 1970, p. 10)

Eis-nos em face de um par de conceitos interdependen-

tes: se o evento determinante de outro é a sua causa, esse outro

é a sua consequência (não preconcebida). Daí a possibilidade

estilística de dar relevo ora à ideia causal, ora à consecutiva –

pela posição de realce na oração principal:

a) consequência na oração subordinada:

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A rã inchou tanto, que estourou!

b) consequência na oração principal:

A rã estourou, porque inchou muito.

c) Agora, com a construção coordenativa:

A rã inchou muito (causa) e estourou! (consequência).

d) Poder-se-ia construir o período também assim:

A rã inchou muito: estourou

E oferecer-se-ia, então, nova oportunidade para dúvida,

como no tópico anterior: coordenação, ou subordinação? Ou,

acaso, parataxe?

Dentro da mesma esfera semântica6, merece consignado

o emprego de e com sentido consecutivo-conclusivo, caso em

que costuma aparecer reforçado por expressões como por isso,

com isto etc.:

Dissecou-a, a tal ponto, e com tal arte, que ela Rota, baça, nojenta, vil,

Sucumbiu; e com isto esvaiu-se-lhe aquelaVisão fantástica e sutil.

(ASSIS, 1902, p. 316)

6 Lúcidas observações sobre meios de expressão de “consequência, fim, conclusão” leem-se em Garcia (1973, p. 51-7).

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11. ESTE CÁLIX (E ENCHIA-O NOVAMENTE)

ESTE CÁLIX É UM BREVE ESTRIBILHO

Em exaustivo estudo acerca da construção por inserção

incidente, o professor belga Maurice Dessaintes (1960, p. 81-

3) chama a atenção para o valor simultaneamente copulativo e

afetivo de e em construções que tais:

Por isso vós, ó Rei, que por divinoConselho estais no régio sólio posto, Olhai que sois (e vede as outras gentes)Senhor só de vassalos excelentes.

(CAMÕES, 1916-18, X, 146)

De Mafra já descubro as grandes torres– e que nova alegria me arrebata –De Cascais a muleta já vem perto,

(GONZAGA, 1957, p. 102)

Mas, meu amigo, tu tomaste – e com muito gosto meu e de seu pai, – um ascendente no espírito de Maria... tal que não ouve, não crê, não sabe senão o que lhe dizes.

(GARRET, 1943, p. 23)

Telmo não lhe diz nada por certo; eu já lhe asseverei – e acreditou-me – que a mãe estava melhor,

(GARRET, 1943, p. 115)

Vai assim o doce Raul desperdiçar o tempo, que a Sociedade lhe marcou para adquirir ideias e noções (e a Sociedade a um rapaz da sua fortuna, do seu nome e da sua beleza, apenas concede, para esse abastecimento intelectual, estes anos, dos onze aos dezoito) – em quê?

(EÇA, 1947, p. 430)

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Não mofes dos meus quinzes anos, leitor precoce. Com dezessete, Des Grieur (e mais era Des Grieux) não pensava ainda na diferença dos sexos.

(ASSIS, 1966, p. 92)

Este cálix (e enchia-o novamente) este cálix é um breve estribilho.

(ASSIS, 1966, p. 39)

Enquanto o doutor estivesse na farmácia (e ele saía antes das oito, vinha para o almoço e a sesta, voltava, lá se demorando até depois das seis da tarde), era a Escola agradável e lucrativa ocupação.

(AMADO, 1962, 343)

Quando [Luciano] quer se referir ao Colégio, e só se refere o menos que pode, diz constrangidamente: – Lá.

(RACHEL, 1973, p. 80)

A inserção incidente interrompe a marcha sintática da

frase e a sua linha melódica, pronunciando-se como se fora um

aparte, assim com um tom menor de confidência, mas um

pouco aceleradamente – o que corresponde à nossa

consciência de termos introduzido no enunciado alguma coisa

acessória, ou, pelo menos, aparentemente acessória.

De fato, só aparentemente é o inciso acessório. Quoi

qu’il en soit, – ensina Boer (1954, p. 25) – l’incise n’est pas un

élément qu’on ajoute à la phrase, mais qui en fait partie.

Porque, ainda que possa, sem prejuízo da integridade

gramatical da frase onde se insere, ser retirado do corpo dela –,

o certo é que sua supressão mutila a unidade conceptual do

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SUBSÍDIOS PARA O ESTUDO DA PARTÍCULA E

conjunto. E mutila-a porque o inciso desempenha, no plano do

pensamento, saliente papel semântico e psicológico.

Assim que, ora se relaciona ao conteúdo da frase-mestra

por força do contexto verbal, ora a ela se prende pela

indicação da presença do locutor.

Belo exemplo do primeiro caso (relacionamento ao

contexto verbal), encontrá-lo-emos no soneto Antígona de

Bilac, cujo primeiro verso assim reza:

A terra treme. Rola o trovão. Brilha o espaço.

Adiante, nos tercetos, o poeta vale-se da inserção

incidente – de todo o ponto desligada sintaticamente da frase

onde se intercala – para memorar algo que, todavia, se faz

necessário para a inteligência do enunciado global:

É o ninho (a terra treme...) amparando o carvalho, A flor sustendo o tronco! Édipo (o espaço brilha...)Sorri, como um combusto areal bebendo o orvalho.

É o fim (rola o trovão...) da miseranda sorte:O cego vê, fitando o céu do olhar da filha, Na cegueira o esplendor, e a redenção na morte.

(BILAC, 1919, p. 100-1)

Toma-se aqui a expressão contexto verbal com o

alcance que lhe dá Ullmann (1962, p. 49), ao ensinar que o seu

conceito is no longer restricted to what immediately precedes

and follows, but may cover the whole passage, and sometimes

the whole book, in wich the word occurs.

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EM ALGUMAS CONSTRUÇÕES DA LÍNGUA PORTUGUESA

O segundo caso pode fundamentar-se com qualquer dos

exemplos citados no início deste tópico e ainda com estes:

Chamo-me (pouca gente o sabe) João Batista Ribeiro de Andrade Fernandes, nome tamanho para tão curto indivíduo.

(RIBEIRO, 1937, p. 8)

A poesia (não tires poesia das coisas)elide sujeito e objeto.

(ANDRADE, 1958, p. 84)

Em tais construções, os elementos parentéticos

assinalam a presença do locutor, que, associando-se ao seu

enunciado, intervém nele para aduzir um esclarecimento ou

explicação; para apresentar uma reflexão pessoal com o

propósito de despertar a atenção do ouvinte para algum ponto

digno de relevo; ou para exprimir as suas próprias reações

acerca do conteúdo do enunciado.

Segundo Dessaintes (1960, p. 58),

l’essence de l’insertion incidente reside dans ce doublé fait: d’une part, la réaction du locuteur à propos de ce qu’il énonce, et d’autre part la présence du locuteur à propos de ce qu’il énonce, et d’autre part la présence d’un autre, auditeur ou lecteur, à convaincre, à persuader, à éclairer. Et c’est dans cette perspective psychologique qu’il faut interpréter les incidentes que nous avons appelées objectives: c’est par souci d’éclairer l’autre et de prévenir ses objctions ou ses réactions que le locuteur est amené à interrompre la marche discursive de son énoncé pour y insérer des détails circonstanciels, objectifs en soi, mais subjectifs par rapport au mobile qui pousse à les introduire à cette place insolite.

E acrescenta o mesmo autor, quanto à conjunção:

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Il est incontestable que l’introduction de l’incidente par et marque un mouvement affectif; la valeur conjonctive est conservée en ce sens que le locuteur a conscience que ce mouvement affectif s’ajoute à l’énoncé pour l’appuyer, le renforcer. Et est un déclencheur; avec une certaine vivacité, il introduit un élément donc l’interlocuteur doit tenir compte, sur lequel son attention est fortment attirée (incidemment). (id., p. 82).

12. MAIS QUIS DIZER, E NÃO PASSOU DAQUI

Dispõe a língua de recursos variados e riquíssimos para

a expressão do pensamento opositivo,7 com suas gradações de

concessão, compensação e contraste.

No plano da coordenação, realiza-se esse pensamento

por meio das conjunções adversativas próprias e pela partícula

e, cujo emprego com tal valor ascende ao latim (cf. TOVAR,

1946, § 295; e BERGER, 1942, § 61).

A transição do sentido aditivo, básico, para o de

oposição ter-se-ia processado, primeiro, pela possibilidade de

se ligar um termo positivo a outro negativo (e vice-versa);

fixado no subconsciente esse esquema de construção, haver-

7 Ver, especialmente, Bechara (1958, p. 11-7) –, onde se estudam os complexos cruzamentos concessivo/condicional, concessivo/causal, concessivo/temporal.

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EM ALGUMAS CONSTRUÇÕES DA LÍNGUA PORTUGUESA

se-ia ele de generalizar ao caso de união de termos positivos –

desde que o contexto favorecesse franca representação

antitética.

Les oppositions peuvent résulter de la nature des choses: blanc et noir; énergie et faiblesse; se souvenir et outblier. Le plus sou vent, c’est l’esprit qui, suivant les circonstances, de simples distinctions fait des contrastes. Il n’y a pas d’opposition entre une robe de laine et une de coton. Mais si on les compare dans leur usage, leur prix etc., les oppositions naissent. (BRUNOT, 1936, p. 855).

O uso de e nas oposições é corrente na Bíblia,

reminiscência evidente dos Salmos: “óculos habent, e non

videbunt” (CXIII, 5)

Exemplos:

Mais quis dizer, e não passou daqui, Porque as lágrimas já, correndo a pares, Lhe saltaram dos olhos,

(CAMÕES, 1916-18, VI, 34)

Viam a Eliseo, e não viam a Eliseo: viam a Samaria, e não viam a Samaria: viam os caminhos, e não viam os caminhos: viam tudo e não viam.

(VIEIRA, 1682, p. 634)

Nesse bom sec’lo [o de Quinhentos] as letras portuguesasTomaram praça entre as nações mais cultasE hoje os que tomam tudo dos francesesNem terão um só canto em que se metam.

(ELÍSIO, 1941, p. 64)

me está dando cuidado a demora de meu marido em Lisboa; que me prometeu de vir antes de véspera, e não veio.

(GARRET, 1943, p. 36)

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SUBSÍDIOS PARA O ESTUDO DA PARTÍCULA E

O Sentimento não se define: é indefinido; vago; misterioso aspira, e não sabe o que quer; sonha, e não vê as visões do sonho; chora, e mal sabe o que são lágrimas; corre, e não conhece a terra que pisa; ora, e não sabe que Deus escuta a prece; exulta, ri, entristece, cisma, e não conhece quem lhe deu tristeza ou alegria.

(ANTERO, 1942, p. 175)

Não aprendeu nada, e sabe tudo.

(BARBOSA, 1949, p. 27)

Uns nos querem mal, e fazem-nos bem. Outros nos almejam o bem, e nos trazem o mal.

(BARBOSA, 1949, p. 27)

Julguei-te – estrela, e eras pirilampoEm meio à cerração...

(ALVES, 1947, p. 139)

Minha Maria enfermeira, Tão forte e morreu de gripe, Tão pura e não teve sorte, Maria do meu amor.

(BANDEIRA, 1973, p. 167)

Se o cuspo alcançasse o terreiro, a cama seria comprada antes do fim do ano. Encheu a boca de saliva, inclinou-se – e não conseguiu o que esperava. Fez várias tentativas inutilmente.

(RAMOS, 1952, p. 57)

Nos excertos citados, o e poderia substituir-se, sem

prejuízo do sentido, por mas. Precioso exemplo dessa

dualidade, oferece-no-lo Herculano, neste lanço:

Quis falar, e a língua seca e tolhida não podia maneiá-la; desejara fugir, mas sentia-se como grudado ao pavimento.

(HERCULANO, s./d., I, p. 240)

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EM ALGUMAS CONSTRUÇÕES DA LÍNGUA PORTUGUESA

A título de reforço, pode o e fazer-se acompanhar de um

advérbio de sentido adversativo, como todavia, contudo:

O coração do próprio Fernando Afonso bateu mais rápido ao ouvi-la [a palavra “leal”]; e contudo, buscou esconder a sua perturbação.

(HERCULANO, s./d., I, p. 180)

Conúbio incomum, de gosto eminentemente literário, é

o que de e mas, que se lê, por exemplo, em certo passo do I-

Juca-Pirama:

Nem tão alta cortesiaVi eu jamais praticadaEntre os tupis – e mas foramSenhores em gentileza.

(DIAS, 1958, p. 40)

Outro meio – e mais enérgico – de expressar oposição

de ideias pelo processo de coordenação consiste no emprego

da nossa partícula com tonalidade concessiva, caso em que ela

vale por e apesar disso:

Contra uma dama, ó peitos carniceiros, Feros vos amostrais e cavaleiros?

(CAMÕES, 1916-18, III, 130)

enfim, ainda ao pobre defunto o não comeu a terra, e já o tem comido toda a terra.

(VIEIRA, 1682, p. 326)

Alevantais-vos com a esmola e é a nós outros que chamais vilãos-ruins?

(HERCULANO, s./d., II, p. 249)

Faz horas e horas que estou escrevendo, e a mão não me dói.

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SUBSÍDIOS PARA O ESTUDO DA PARTÍCULA E

(VERÍSSIMO, 1963, III, p. 908)

O giro de frase trabalhado pelo príncipe dos românticos

portugueses no lanço abaixo ilustra uma variante ainda mais

enérgica de traduzir o pensamento polar:

– Pois aí está a minha tristeza: é esse cuidado em que vos vejo andar sempre por minha causa. Eu não tenho nada, e tenho saúde, olhai que tenho saúde.

(GARRET, 1943, p. 40)

Na primeira redação do drama (o manuscrito A, assim

denominado pelo Professor Rodrigues Lapa em sua primorosa

edição crítica), o escritor havia preferido justapor

simplesmente as orações e empregar uma vírgula após o

segundo tenho. O que lá se lê é isto:

Eu não tenho nada, tenho, saúde, olhai que tenho saúde.

(É o trecho em que a débil Maria, já meio delirante de

febre, tenta, contudo, espancar os sobressaltos da mãe,

procurando iludir a esta quanto ao seu estado de saúde.)

Ao retocar o texto em segunda versão (o manuscrito B)

e, depois, em sua forma definitiva (impressa em 1844), o

dramaturgo houve por bem acentuar o contraste de ideias, e,

então, substituiu a fórmula de simples retificação por um

esquema opositivo enfático, posto em relevo, decerto, na

linguagem oral de seu teatro, pela entoação típica dessas

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 59

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EM ALGUMAS CONSTRUÇÕES DA LÍNGUA PORTUGUESA

estruturas, em que a conjunção e tem o valor aproximado de

pelo contrário.

60 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA

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SUBSÍDIOS PARA O ESTUDO DA PARTÍCULA E

13. E EM NEGÓCIOS DO MUNDO POUCO ACERTA

Estamos diante daquele e chamado ilógico, de raízes

mergulhadas na sintaxe latina popular, o qual pode às vezes

suprimir-se, ou equivale aproximadamente a também, ou por

isso, por isso mesmo, exatamente por isso.

Dele tratou, com singular perspicácia, o Dr. José Maria

Rodrigues (Os Lusíadas, edição nacional, páginas CLXX e

CLXXXIV), ao comentar a passagem do poema (VII, 70),

onde se lê:

Porque eles, com virtude sobre-humana, Os deitaram dos campos abundososDo rico Tejo e fresca Guadiana, Com feitos memoráveis e famosos.E não contentes inda, e na AfricanaParte, cortando os mares procelosos, Nos não querem deixar viver seguros, Tomando-nos cidades e altos muros.

O ilustre exegeta fez remissão para outra estrofe

camoniana (VIII, 55) em que ocorre o mesmo fato:

Nem tam pouco direi que tome tantoEm grosso a consciência limpa e certa, Que se enleve num pobre e humilde mantoOnde a ambição acaso ande encoberta.E, quando um bom em tudo é justo e santo, E em negócios do mundo pouco acerta;Que mal com eles poderá ter contaA quieta inocência, em só Deus pronta.

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 61

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EM ALGUMAS CONSTRUÇÕES DA LÍNGUA PORTUGUESA

e apontou exemplos semelhantes na Crônica de D. João I e no

Palmeirim de Inglaterra.

Retomou o assunto – e enriqueceu-o com farta

documentação e observações magistrais – o Professor Sousa

da Silveira (1933, nota 33), que chamou a atenção para o

costume de suprimirem os editores do poema o segundo e do

5º verso (e na Africana) que vem na edição príncipe de 1572,

correção já antiga, aceita até por Epifânio Dias e por D.

Carolina Michaëlis na sua edição da Biblioteca Românica. A

suposta correção foi também por ambos adotada na estanca

VIII, 55: Em negócios.

As passagens a seguir, igualmente do século de

Quinhentos, parece entroncarem no mesmo tipo da de

Camões:

E vendo Deus que o metalem que vos pôs a estilar, pera merecer, que era muito fraco e mortal, e por talme manda a vos ajudare defender.

(VICENTE, Apud SOUSA DA SILVEIRA, 1945, vs. 113-19)

Já o sol se encobriaa esse tempo e maisficando a terra sombria, e o gado aos curraisjá então se recolhia;

(FALCÃO, Apud SOUSA DA SILVEIRA, 1945, vs. 371-75)

62 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA

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SUBSÍDIOS PARA O ESTUDO DA PARTÍCULA E

No período arcaico esse e já tinha voga, consoante se vê

nos exemplos abaixo de Virgeu de Consolaçon:

Quanto crece o amor de Deos em mim, tanto crece a caridade na alma e a fremosura. E, porque a caridade é fremosura na alma, e, se a eu amar, serei limpo e claro.

(IV, 313-15)

Nõ pode a esmola remir aquele que, roubando o pobre e fazendo-lhe toda soberva e mal que pode, e depois faz esmola; tal esmola nõ parece ante a face de Deos.

(IV, 668-70)

Tudo leva a crer que – precisamente por seu ilogismo –

a construção tenha desaparecido no século XVI, talvez sob a

influência da disciplina gramatical do idioma processada

naquela época.

14. TRABALHA, E TEIMA, E LIMA, E SOFRE, E SUA!

É naquele grau pleno de coordenação referido a página

9 que se situa o polissíndeto – fato de reiteração cujo papel

intensivo se funda na expectativa de que, depois da cópula,

venha, como de hábito, o último dos membros da enumeração,

com a pausa característica de fim de frase.

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 63

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EM ALGUMAS CONSTRUÇÕES DA LÍNGUA PORTUGUESA

A surpresa decorrente da sustentação da linha tonal,

juntamente com a ênfase dado ao conectivo –, ambas estas

causas concorrem para criar um efeito de totalização que

solidariza mais intimamente os elementos adicionados em

cadeia, sem prejuízo, contudo, do caráter individual deles.

La multiplication des coordonnants: Mais tout dort, et l’armée, et les vents, et Neptune. (Racine) à laquelle on attribue improprement une valeur disjonctive, totalise les éléments, tout en maintenant à chacun son caractere individuel. (CRESSOT, 1947, p. 202).

A despeito de cada qual manter sua individualidade, o que

avulta é o sentimento da inteireza do quadro.

Serve o polissíndeto para cimentar membros de orações,

ou orações:

Tam formosa no gesto se mostravaQue as Estrelas e o Céu e o Ar vizinhoE tudo quanto a via, namorava.

(CAMÕES, 1916-18, II, 34)

Pendura a um verde tronco as várias penas,E o arco, e as setas, e a sonora aljava;

(GAMA, 1941, p. 52)

Fui cisne, e lírio, e águia, e catedral!

(ESPANCA, 1962, p. 59)

Bem negra avulta aqui, na paz do vale,A imagem desse povo, que refluiDas moradas à rua, à praça, ao templo;Que ri, e chora, e folga, e geme, e morre, Que adora a Deus, e que o pragueja, e o teme...

(HERCULANO, 1878, p. 59)

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SUBSÍDIOS PARA O ESTUDO DA PARTÍCULA E

À tarde [eu] corria pela relva com os outros moços da minha idade e travava lutas e gritava e ria e suava e tripudiava nos jogos e brinquedos que são próprios daquela idade.

(HERCULANO, s./d., II, p. 59)

No aconchegoDo claustro, na paciência e no sossego, Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!

(BILAC, 1902, p. 315)

Um pouco diferente do polissíndeto, se bem que

consanguíneo dele, é o chamado “e de movimento”, que,

atando termos de orações, orações, frases e até os vários

parágrafos de um enunciado, comunica, a este, singular

colorido e relevo no sugerir continuidade – às vezes

vertiginosa – de aspectos que se sucedem um tanto

atropeladamente.

É bem verdade que não há outro movimento senão o do

próprio contexto, a espelhar a movimentação mesma do

pensamento; mas é por igual verdadeiro que a presença do e

contribui, em grande escala, para a visão dinâmica do texto,

como nos mostra esta forte estilização de Eça de Queirós, na

qual os verbos, artisticamente distribuídos por duas séries

ideológicas (faiscar/rebrilhar/refulgir;

cair/erguer/abater/embeber), retratam, cada um de per si e no

seu conjunto, subitaneidade e rapidez de ação:Eis que, de repente, do quarto negro surge um negro vulto, uma voz furiosa brada: – ‘vilão, vilão’ – e uma lâmina de adaga

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EM ALGUMAS CONSTRUÇÕES DA LÍNGUA PORTUGUESA

faísca, e cai, e outra vez se ergue, e rebrilha, e se abate, e ainda refulge, e ainda se embebe!...

(EÇA, 1942, p. 239)

Com a força poderosamente evocativa do seu estilo,

Érico Veríssimo, na descrição de um sonho meio kafkiano, em

que as imagens se sucedem um tanto fragmentárias e

entrecortadas, mas rigorosamente cosidas umas às outras –,

valeu-se de um “e de movimento” que se avizinha um pouco

daquela multiplicação de conectivos muito do gosto da

linguagem anteclássica:

[Rodrigo] Teve aquela noite um sono agitado, povoado de imagens aflitivas, obsessivas como as dos sonhos de febre. Estava numa interminável marcha, com uma coluna de homens a cavalo, carregando um defunto, que ora estava dentro dum esquife, sobre um dos cavalos; E o cadáver caía, e tinham de levantá-lo, e ele tornava a cair... e houve um momento em que andaram a puxar o caixão com cordas, e depois o próprio defunto se ergueu, e lívido, de olhos vidrados, pôs-se a andar, acompanhando a coluna, e o vento batia nele e espalhava no ar um cheiro de podridão misturado com o de fenol... E a marcha continuava, não tinha fim, e o cadáver inchava, tornava-se mais pesado, tombava, e de novo o erguiam, e outra vez caía, e agora seus pedaços – orelhas, pés, mãos, nacos de carne – iam ficando pelo caminho, presos aos craguatás, às barbas-de-bode e também agarrados por mãos que brotavam da terra e que ele, Rodrigo, obscuramente sabia que eram mãos de outros defuntos...

(VERÍSSIMO, 1961, I, p. 271).

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SUBSÍDIOS PARA O ESTUDO DA PARTÍCULA E

II. O E INICIAL DE FRASE:

A) AFETIVO

Chamemos alocutivo (tomando o nome por empréstimo

a Antoine, à falta de melhor designação em português) ao e

que encabeça a tomada da palavra por uma personagem, seja

depois de outra pessoa que já falou, seja diante de determinada

situação. Ele ocorre não só nas respostas, mas também nas

interrogações e exclamações.

Em qualquer dos casos, sobre-excele o seu valor afetivo

– uma vez que a partícula põe sempre em relevo o elemento

mais importante do enunciado: nas respostas, dá destaque ao

autor da réplica, ou à pessoa a quem se endereça a frase; nas

interrogações, faz avultar o termo que é objeto do que se

indaga; nas exclamações puras, finalmente, lastreia toda a

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EM ALGUMAS CONSTRUÇÕES DA LÍNGUA PORTUGUESA

construção de uma tão forte carga emocional, que Nyrop

(1930, p. 148) o aproxima da classe das interjeições.

Vejamos por partes essa gama de funções – que são,

sobretudo, de ordem psicológica, se bem que não deixem de

possuir certa ressonância formal:

a) nas respostas:

15. E O CORVO DISSE: ‘NUNCA MAIS'

Boa abonação-tipo para o e que assinala quem responde

a pergunta ou a ordem (conselho, ou súplica) de interlocutor,

elegemo-la no sombrio diálogo de The Raven, magistralmente

traduzido por Machado de Assis:

– Como te chama tu na grande noite umbrosa?

– E o corvo disse: Nunca mais.

– Eia, esquece, eia, olvida essa extinta Lenora.

– E o corvo disse: Nunca mais.

(ASSIS, 1902, p. 158-62)

Eis agora exemplo do e a iniciar resposta, não a este ou

àquele interlocutor que houvesse interrogado alguém –, mas

sim provocada por uma situação que leva o falante a

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SUBSÍDIOS PARA O ESTUDO DA PARTÍCULA E

manifestar-se. É, ao parecer, o que se nota no vigoroso

discurso do Adamastor:

– E disse: Ó gente ousada, mais que quantasNo mundo cometeram grandes cousas, ......................................................................Ouve os danos de mim que apercebidos Estão a teu sobejo atrevimento,

(CAMÕES, 1916-18, V, 41-2)

b) nas interrogações:

16. E AGORA, JOSÉ?

Aqui, há uma gradação de valores bastante

diferenciados.

Um deles, muito peculiar, insinua uma como lembrança

que repentinamente vem à tona:

Depois, pesado e risonho, [o Grã-Duque] veio apertar a mão às senhoras que mergulhavam nos veludos e sedas, em mesuras de Corte. E imediatamente, batendo com carinhosa jovialidade no ombro de Jacinto:

– E o peixe?... Preparado pela receita que mandei, hem?

(EÇA, 1935, p. 64)

O Pé de Anjo era especialista em assaltar trincheiras a peito descoberto, e tivera o corpo quatro vezes furado por balas.

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EM ALGUMAS CONSTRUÇÕES DA LÍNGUA PORTUGUESA

E o Zé Viúvo? Esse era um voluntário maranhense, e ficara aleijado em consequência dum ferimento recebido na linha de fogo.

(VERÍSSIMO, 1962, II, p. 541)

Outro, mais complexo, acorrenta o e aos advérbios

então, agora, para confederá-los nas expressões de situação

interrogativas-exclamativas e então?, e agora? – esta a denotar

angustiosa perplexidade, e aquela a transmitir, entre diversos e

delicados matizes, o de menoscabo e certo ar de desafio:

O desgraçado Melchior arregalava os olhos miúdos, que se embaciavam de lágrimas. Os caixotes?! Nada chegara, nada aparecera!... E na sua perturbação mirava pelas arcadas do pátio, palpava na algibeira das pantalonas.

Os caixotes?... Não, não tinha os caixotes!

– E agora, Zé Fernandes?

(EÇA, 1935, p. 155)

...........................................o dia não veio, o bonde não veio, o riso não veio, não veio a utopiae tudo acaboue tudo fugiue tudo mofou, e agora, José?

(ANDRADE, 1958, p. 74)

Ao contrário de que Eduardo esperava, não fez da descoberta um grande problema: sim, Deus existia, era claro, evidente, indiscutível que Deus existia – e então?

(SABINO, 1956, p. 40)

Nas interrogações diretas, o e valoriza o conteúdo

inteiro da pergunta, se a interrogação é total; ou, no caso de ser

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SUBSÍDIOS PARA O ESTUDO DA PARTÍCULA E

parcial, adere, para dar-lhe ênfase, ao termo sobre o qual recai

a indagação:

E é preciso odiar para ser justo?!

(CORREA, 1910, p. 121)

– Mas, eu não matei ninguém, gritou num esforço a infeliz.

– Não negues... Eles te acusam...

– Eles são maus...

– E quem matou?... Anda... responde... suplicou angustiado Milkau.

(ARANHA, 1902, p. 312)

– E porque o velho não se casa agora com a professora?

– Por uma razão muito simples: M.me de Nangis é casada...

(AZEVEDO, 1940, p. 215)

Aparece Cupido; então soltandoem ar de zombaria uma risada:– E que tal – me pergunta – esteve a peça?Não foi bem pregada?

(GONZAGA, 1957, p. 130)

c) nas exclamações:

17. E DIZER QUE SE MATARA POR MIM!

Àquele e que Nyrop, como vimos, chegou a incluir na

classe das interjeições, é que se ajusta, mais

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EM ALGUMAS CONSTRUÇÕES DA LÍNGUA PORTUGUESA

caracteristicamente, o apelido de afetivo com que o têm

batizado os tratadistas.

Ele se entranha de maneira tão integral na atmosfera

psicológica do contexto, que não pode ser deste retirado.

Exemplos:

– El-rei preso! ... E não se levanta este Minho a livrá-lo!...

(CAMILO, 1883, p. 170)

Era ela: era Leonor! Pendia-lhe da cabeça um longo capuz de vaso, flutuando sobre a túnica de almafega alvacenta, que se arrastava até o chão. Chorava e soluçava pelo morto! E eu ali; traído, esquecido, miserável, criminoso por ela!

(HERCULANO, s./d., I, p. 55)

E eu caía, único vencido! E o tropel, de volta, vinha sobre mim, todos sobre mim!

(POMPEIA, s./d., p. 46)

o ingrato agora a enganava com a americana. E não negava, o cínico!

(VERÍSSIMO, 1965a, p. 224)

[Aluísio] Nem me viu, nem me conheceu. E dizer que se matara por mim!

(RACHEL, 1973, p. 118-19)

Este valor já fora pressentido pela sensibilidade dos

trovadores da Idade Média:

Ay Deus, se sb’ora meu amigoCom’eu senheyra estou em Vigo!

E vou namorada!

(CODAX, 1956, v. 45)

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SUBSÍDIOS PARA O ESTUDO DA PARTÍCULA E

Irey a lo mar vee’ lo meu amado;pregunta-lo-ey se querrá viver migo:E vou-m’ eu namorada!

(PORCO, p. 1127)

Não percebendo o sentido mais profundo dos fatos,

Keniston (1937, p. 662) interpreta simplesmente como

redundante (!) o y das exclamações e das interrogações-

exclamações em espanhol. Mas, pelo menos, não lhes

reconhece função conjuntiva: The conjunction y is used in

certain cases without any real value as a connective.

Notaremos, para finalizar, que um traço comum irmana

– em diferentes graus de intensidade, é certo – o e de resposta,

o de interrogação e o de exclamação: esse traço comum é o

impulso afetivo.

Celle-ci se traduit normalment par une intonation exclamative plus ou moins marquée et plus ou moins pure. Mais surtout, elle est à l’origine inséparable du fait que la question, lá réponse, l’impératif ou le souhait engage (o grifo é nosso) avec véhémence la personne de celui qui prend la parole ou de celui à qui elle est adressée. (ANTOINE, 1958, II, p. 931).

B) ARQUITETURAL

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EM ALGUMAS CONSTRUÇÕES DA LÍNGUA PORTUGUESA

Com papel predominantemente formal (esmaecidos,

embora nem sempre de todo ausentes, os valores psicológico e

lógico), acerta o e de coser várias frases entre si, num processo

de ligação meramente exterior e decorativo.

Anulada, assim a função conectiva stricto sensu, passa

ele a valer como simples partícula denotativa de início de

frase, chegando até a ocupar a posição de elemento

desencadeador do enunciado, em rosto de período de abertura.

Uma vez aí instalado, não lhe é difícil adaptar-se, de maneira

brusca, ao termo de uma série de considerações – e

notadamente de uma narrativa –, à guisa de fecho do

enunciado.

Porém, no particular, o mais assíduo de seus empregos é

para estabelecer, depois de ponto, transição entre uma frase e

outra no corpo do mesmo parágrafo, ou entre parágrafos: eis

um dos aspectos já mencionado “e de movimento”, em cujo

quadro se emoldura, pelo seu interesse literário, o tão falado “e

bíblico.”

Temos, portanto – e passemo-los em revista brevemente

–, os seguintes tipos de construção com a nossa partícula nesse

ofício sobremodo ornamental:

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SUBSÍDIOS PARA O ESTUDO DA PARTÍCULA E

a) – “e” de abertura:

18. ...E AS CARAVELAS DE CABRAL VIERAM UM DIA

Destina-se a causar certo choque ao leitor (ou ouvinte),

despertando-lhe a atenção inopinadamente com a retomada do

fio de uma narrativa cujo início não lhe foi apresentado, mas

de que se presume tenha ele conhecimento, ou que se admite

possa intuir em face do que se diz depois.

Vem de molde, como ilustração de hábil manejo desse

e, o soneto Terra de Santa Cruz de Olegário Mariano, que

começa deste modo:

...E as Caravelas de Cabral vieram um dia.De repente, na irradiação da luz solar:Que terra é aquela terra opulenta e braviaQue sobe para o céu como um gesto do mar?.........................................................................

(MARIANO, 1957, II, p. 460)

Ou estoutro soneto de Manuel Bandeira, cujo primeiro

verso surpresa o leitor, desta maneira:

E de súbito n’alma incompreendidaEsta mágoa, esta pena, esta agonia;

(BANDEIRA, 1973, p. 169)

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EM ALGUMAS CONSTRUÇÕES DA LÍNGUA PORTUGUESA

Há autores, como é o caso de Jorge de Lima, que votam

quase obsessiva predileção a esse feitio tão golpeantemente

súbito de atacar o leitor. Baste consignar-se que em sua Obra

poética (edição completa, em um volume, até 1949) aparecem

nada menos de trinta (30!) poemas com e de abertura, a

exemplo deste:

E ouvirás em cada século que passaum ruído que se perde no tempo;

(LIMA, 1949, p. 413)

Alinha-se nesta família o uso do e em títulos de livros:

E as chuvas chegaram.

E o vento levou...

b) – “e” de encerramento:

19. E CRAVOU O PUNHAL NO CORAÇÃO

Iniciando o último dos períodos de uma narrativa, o e se

aparenta, até certo ponto, àquele outro que pões fim a uma

série coordenativa monossindética normal. Mas acresce a essa

função um poder particular: o de reavivar no espírito do leitor

(ou ouvinte) os episódios da trama novelesca, devolvendo-o à

76 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA

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SUBSÍDIOS PARA O ESTUDO DA PARTÍCULA E

atenção, acaso distraída, para entender como tais episódios

conduziram a determinado desfecho.

Muito frequente no happy end de racontos infantis do

gênero deE foram muito felizes.

E tiveram muitos filhos.

No livro Fábulas, adaptado à língua portuguesa por

Monteiro Lobato, dez das historietas trazem fecho assim:

– Que espiga! Pois não é que se o mundo fosse arrumado por mim a primeira vítima teria sido eu? Eu, Américo Pisca-Pisca, morto pela abóbora por mim posta no lugar de jabuticaba? Hum! Deixemo-nos de reformas. Fique tudo como está, que está tudo muito bem

E Pisca-Pisca continuou a piscar pela vida em fora, mas já sem a cisma de corrigir a Natureza.

(LOBATO, 1964, p. 20)

É também muito encontradiço – com a intenção de criar

impacto – no final de lances revestidos de dramaticidade,

como na descrição da morte do Caçador de Esmeraldas:

Fernão Dias Paes Leme os olhos cerra. E morre.

(BILAC, 1902, p. 267)

Ou no epílogo do conto A Aia de Eça de Queirós:

Agarrara o punhal, e com ele apertado fortemente na mão, apontando para o céu, onde subiam os primeiros raios do sol, encarou a rainha, a multidão, e gritou: – Salvei o meu príncipe, e agora – vou dar de mamar ao meu filho!

E cravou o punhal no coração.(EÇA, 1942, p. 429)

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EM ALGUMAS CONSTRUÇÕES DA LÍNGUA PORTUGUESA

c) – “e” bíblico:

20. E A PALAVRA DO MOMEM: EU SOU O VERBO.

E O ESPÍRITO DO HOMEM: EU SOU O VERBO.

Em sua minuciosa tese a respeito do estilo de Vieira,

Raymond Cantel (1959, p. 337) oferece um elenco de

exemplos em que o e “sert à relier de très nombreuses phrases

entre elles.” E, citando a Yves Le Hir, comenta:

Il faut encore songer, pour la plupart de ces emplois, à l’influence biblique, car la Vulgate rend à peu près uniformément par et le waw dont l’hébreu use à chaque instant pour relier les propositions.

Passa, logo depois, a mencionar outro caso de articulação

expressiva da partícula – aquilo que tem sido nomeado “e de

movimento”.

Procurando caracterizar este último, Da Cal (1954, p.

256) diz dele que aparece muy a menudo al frente de varias

frases del mismo párrafo, e incluso a la cabeza de la primera

aun cuando no existia secuencia o ligazón alguna de idea con

el anterior.

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SUBSÍDIOS PARA O ESTUDO DA PARTÍCULA E

Ao contrário de Cantel, que separa os dois casos, Da Cal

os engloba num só, admitindo – e aí é que bate o ponto – possa

o segundo proceder de una influencia bíblica, u homérica [...].

Acompanhando, mais uma vez, a Antoine, que, por sua

vez, se apoia em conclusões de Sophie Trenkner (Apud

ANTOINE, 1958, II, p. 939), temos por discutível a filiação do

“e de movimento” à linguagem bíblica. Os próprios helenistas

– informa aquele mestre da Sorbonne – se mostram reservados

neste particular, pois que, coexistindo o uso da mesma

partícula no estilo bíblico e na parataxe narrativa popular,

torna-se muito delicado decidir em que medida, na linguagem

dos Evangelistas, aparece o uso bíblico puro, de un difuso

carácter épico o religioso segundo Da Cal, e o uso corrente e

espontâneo da língua geral.

Por outro lado, é sabido que a lição da Sagrada

Escritura, antes de ser escrita, transmitiu-se durante séculos

por tradição oral, que os Evangelistas recolheram, ordenaram e

interpretaram.

Não será, talvez, muito mais provável (a ilação é nossa)

que, ao contrário do que pensa Da Cal, o chamado “e bíblico”

represente tão só uma estilização literária do uso tão natural da

partícula na língua corrente?

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 79

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EM ALGUMAS CONSTRUÇÕES DA LÍNGUA PORTUGUESA

Por este processo de ligação, que é antiquíssimo em

português, tem predileção a linguagem popular, a modo do que

acontece com o aí, ou o então que, soldando período a

período, imprimem continuidade e vivacidade ao discurso.

Encetando, muita vez, construções paralelas, o e

favorece, pela repetição a intervalos mais ou menos isócronos,

o encadeamento rítmico das unidades do parágrafo, máxime

quando empregado no começo de vários versos consecutivos.

Daí, porventura, a sua utilização estilística, como neste poema

de Jorge de Lima, de feição misticamente cristã:

Naquele momento de angústia, o homem não sabia se era o mau ou o bom ladrão.E quando a mais amarga das estrelas o oprimia demais, eis que a sua boca ia dizendo:eu sou um anjo.E os pés do homem: nós somos asas.E as mãos: nós somos asas.E a testa do homem: eu sou a lei.E os braços: nós somos cetros.E o peito: eu sou o escudo.E as pernas: nós somos as colunas.E a palavra do homem: eu sou o Verbo.E o espírito do homem: eu sou o Verbo.E o cérebro: eu sou o guia.E o estômago: eu sou o alimento.E se repetiram depois as acusações milenárias.E todas as alianças se desfizeram de súbito.E todas as maldições ressoaram tremendas.E as espadas de fogo interceptaram o caminho da árvore da vida.E as mãos abarcaram o pescoço do homem:nós te abarcaremos.E o sopro do homem: denunciar-te-ei ao Senhor que renovará a maldição de Caim.

80 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA

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SUBSÍDIOS PARA O ESTUDO DA PARTÍCULA E

E os pés do homem o levaram até à aba da montanha empi-da na treva.

................................................................................................

(LIMA, 1947, p. 382-3)

Antes de pingar o ponto final, eis pequeno excerto da

Vulgata acompanhado da redação em português do mesmo

excerto – em tradução direta do original grego, realizada por

competente biblista brasileiro:

1. Et cum appropinquárent Jesosó-lumae et Bethániae ad montem Olivárum, mittit duos ex discipulis suis,

1. E quando eles se aproximam de Jerusalém, de Betfagé e de Betânia, no Monte das Oliveiras, Ele (Jesus) envia dois de seus discípulos

2. et ait illis: It in castéllum, quod contra vos est, et statim introeún-tes illuc, inveniétis pullum ligátum, super quem nemo adhuc hóminum sedit: sólvite illum, et addúcite.

2. e lhes diz: “Ide ao povoado que está diante de vós, e logo ao entrar-des nele, encontrareis um jumentinho amarrado e no qual ninguém ainda montou. Desamarrai-o e trazei”.

3. Et si quis vobis díxerit: Quid fácitis? Dícite, quia dómino neces-sárius est: et continuo illum dimít-tet huc.

3. E se alguém vos disser: “Por que fazeis isso?”, então direis: “O Senhor precisa dele e logo o devolverá para cá.”

4.Et abeúntes invenérunt pullum ligátum ante jánuam foris in bívio: et solvunt eum.

4. E eles se foram e encontraram um jumentinho amarrado perto de uma porta, na rua, do lado de fora, e eles o desamarraram

5. Et quidam de illic stántibus dicébant illis: Quid fácitis solven-tes pullum?

5. E alguns que estavam ali diziam-lhes: “Que estais fazendo aí a desa-marrar o jumentinho?”

6. Qui dixérunt eis sicut praecépe- 6. Mas eles lhes responderam assim

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 81

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EM ALGUMAS CONSTRUÇÕES DA LÍNGUA PORTUGUESA

rat illis Jesus, et dimisérunt eis. como Jesus lhes havia falado e eles os deixaram.

7. Et duxérunt pullum ad Jesum: et impónunt illi vestimenta sua, et se-dit super eum.

7. Então levam o jumentinho a Jesus e põem em cima dele os seus mantos e Ele montou nele.

8. Multi autem vestimenta sua stravérunt in via: álii autem fron-des caedébant de arbóribus, et sternébant in via.

8. E muitos estenderam seus mantos no caminho, e outros, folhagem, ten-do-a cortado dos campos.

9. Et qui praeíbant, et qui seque-bántur, clamábant, dicéntes: Ho-sánna:

9. E os que caminhavam adiante e os que o seguiam clamavam: “Hosana!

10. benedictus qui venit in nómine Dómini:

(Mc 11, 1-10)

10. Bendito seja aquele que vem em nome do Senhor!8

(BURNIER, 1969, p. 64)

8 No original impresso de 1975, este fragmento está junto com o de número 9, nesta coluna.

82 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA

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SUBSÍDIOS PARA O ESTUDO DA PARTÍCULA E

C O N C L U S Õ E S

1. No campo sintático, o ofício exclusivo da conjunção e é

servir de cópula intraoracional e interoracional,

quaisquer que sejam as relações lógicas ou psicológicas

existentes entre os elementos linguísticos por ela unidos.

Realiza, portanto, muita vez, coordenação meramente

formal.

2. A tradicional designação de copulativa exprime, de

maneira melhor do que a de aditiva, o único papel

gramatical da conjunção e.

3. Em certas estruturas subordinativas, a partícula e figura

menos como liame entre orações do que como esteio

rítmico da frase.

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 83

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EM ALGUMAS CONSTRUÇÕES DA LÍNGUA PORTUGUESA

4. No terreno semântico, reveste-se de variadíssimos

valores, por força do contexto verbal.

5. O enriquecimento desses valores, a partir do sentido

primário aditivo, decorre não só da irradiação do

contexto, senão também do mecanismo natural de

associação de ideias.

6. Anexado a sucedâneos coordenativos, o e concorre para

a formação de grupos-ligamentos pleonásticos, aos

quais transmite, quase sempre, delicados matizes

expressivos.

7. Como partícula denotativa de início de frase, ora marca

um movimento afetivo, ora comparece à guisa de elo de

transição entre um parágrafo e outro, com papel

predominantemente ornamental.

84 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA

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SUBSÍDIOS PARA O ESTUDO DA PARTÍCULA E

R E F E R Ê N C I A S

B I B L I O G R Á F I C A S

ALENCAR, José de. O sertanejo. 10. ed. Reprodução fiel do

texto da 1. ed. (1875). São Paulo: Melhoramentos, 1973.

ALVES, Castro. Espumas flutuantes. Rio de Janeiro: INL,

1947.

AMADO, Jorge. Dona Flor e seus dois maridos. São Paulo:

Martins, 1966.

ANDRADE, Carlos Drummond de. 50 poemas escolhidos

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______. Fala, amendoeira. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1957.

ANJOS, Cyro dos. Abdias. 4. ed. Porto Alegre: Globo, 1965.

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 85

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EM ALGUMAS CONSTRUÇÕES DA LÍNGUA PORTUGUESA

ANTERO de Quental. Sonetos completos e poemas

escolhidos. Rio de Janeiro: Livros de Portugal, 1942.

______. Sonetos. Edição organizada, prefaciada e anotada por

Antônio Sérgio. Obras de Antero de Quental. Lisboa: Couto

Martins, 1943, v. I.

ANTOINE, Gérald. La coordination em français. Paris:

Editions D’Artrey, 1958, 2 v.

ARANHA, Graça. Canaã. Paris: Garnier, 1902.

ASSIS, Machado de. Dom Casmurro. São Paulo:

Melhoramentos, 1966.

______. Esaú e Jacob. Brasília: J. Aguilar/MEC, 1973.

______. Memórias póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro:

INL, 1960.

______. Poesias completas. Rio de Janeiro: Garnier, 1902.

______. Quincas Borba. Rio de Janeiro: Garnier, s/d.

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AZEVEDO, Aluízio. O coruja. 6. ed. Rio de Janeiro: Briguiet,

1940.

86 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA

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SUBSÍDIOS PARA O ESTUDO DA PARTÍCULA E

BALLY, Ch. Traité de stylistique française. 2. ed. Heidelberg:

Carl Winters Universitats-Buchhandlung; Paris: C.

Klincksieck, s/d., 2 v.

BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira. 3. ed. Rio de

Janeiro: J. Olympio, 1973.

______. Poesia e prosa: v. II Prosa Itinerário de Pasárgada.

Rio de Janeiro: J. Aguilar, 1958.

BEBERFALL, Lester. The conjuction “e” in the Cid. Na

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BECHARA, Evanildo. Estudos sobre os meios de expressão

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1958. [Há uma edição em cd-rom em SILVA, José Pereira da

Silva (Org.). Cinco teses de Evanildo Bechara. Rio de Janeiro:

Botelho, 2008].

BERGER, Ernst. Stylistique latine. Traduite de l’allemand et

remaniée par Max Bonnet et Ferdinand Gache. 4. ed. Paris: C.

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edição de 1706. São Paulo: Anchietana, s/d.

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EM ALGUMAS CONSTRUÇÕES DA LÍNGUA PORTUGUESA

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BURNIER, Martinho Penido (Frei). Perscrutando as

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CAMÕES, Luís de. Lírica de Camões. Edição crítica pelo Dr.

José Maria Rodrigues e Afonso Lopes Vieira. Coimbra:

Imprensa da Universidade, 1932.

88 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA

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SUBSÍDIOS PARA O ESTUDO DA PARTÍCULA E

______. Os lusíadas. Edição comentada por Augusto

Epiphanio da Silva Dias. 2 v. Porto: Porto Editora, 1916-18.

______. Os lusíadas. Edição nacional, que reproduz o texto da

edição princeps de 1572, com a ortografia e a pontuação

reformadas. Feita por iniciativa de Afonso Lopes Vieira e

revista pelo Dr. José Maria Rodrigues. Imprensa Nacional de

Lisboa, 1931.

______. Os lusíadas. Reprodução fac-similada da 1. ed. de

1572. Com prefácio e notas de Cláudio Basto. Ed. da Revista

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CANTEL, Raymond. Les sermons de Vieira. Étude du style.

Paris: S.F.I.L. – Poitiers, 1959.

CARVALHO, José Cândido de. Olha para o céu, Frederico!

4. ed. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1974.

CARVALHO, José G. Herculano de. Teoria da linguagem.

Natureza do fenômeno linguístico e a análise das línguas.

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Paris: Les Belles Lettres, 1958.

CODAX, Martin. O cancioneiro de Martin Codax. Edição de

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EM ALGUMAS CONSTRUÇÕES DA LÍNGUA PORTUGUESA

CORRÊA, Raymundo. Poesias. 3. ed. Parceria Antonio Maria

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CRESSOT, Marcel. Le style et ses techniques. Précis d’analy-

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DA CAL, Ernesto Guerra. Lengua y estilo de Eça de Queiroz:

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DESSAINTES, Maurice. La construction par insertion

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D’Artrey, 1960.

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90 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA

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SUBSÍDIOS PARA O ESTUDO DA PARTÍCULA E

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José Pereira Tavares. Lisboa: Sá da Costa, 1941.

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GAYA, Sanuel Gili y. Curso superior de sintaxis española. 2.

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EM ALGUMAS CONSTRUÇÕES DA LÍNGUA PORTUGUESA

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GRACILIANO, Ramos. Infância. 3. ed. Rio de Janeiro: J.

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______. Vidas secas. 3. ed. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1952.

HERCULANO, Alexandre. Eurico, o presbítero. Lisboa:

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______. Lendas e narrativas. 4. ed. Lisboa, 1877.

______. O monge de Cister. Edição definitiva conforme as

edições da vida do Autor. Dirigida por David Lopes. Lisboa:

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LE GENTIL, Georges. Camões. Tradução, prefácio e notas de

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SUBSÍDIOS PARA O ESTUDO DA PARTÍCULA E

LIMA, Jorge de. Obra poética. Edição completa, em um

volume, organizada por Otto Maria Carpeaux. Rio de Janeiro:

Getúlio Costa, 1949.

LOBATO, Monteiro. Fábulas. 20. ed. São Paulo: Brasiliense,

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LOBO, Francisco Rodrigues. Églogas. Conforme a edição

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Janeiro: J. Olympio, 1957, 2 v.

MATIAS AIRES, Ramos da Silva de Eça. Reflexão sobre a

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MEIRELES, Cecília. Poesias completas. Rio de Janeiro:

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MELO, Francisco Manuel de (D.). Carta de guia de casados.

Com estudo crítico, notas e glossário por Edgar Prestage.

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PINTO, Heitor (Frei). Imagem da vida cristã. Com prefácio e

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QUEIROZ, Eça de. A capital. Porto: Lello & Irmão, 1925.

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QUEIROZ, Rachel de. As três Marias. 6. ed. Rio de Janeiro: J.

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EM ALGUMAS CONSTRUÇÕES DA LÍNGUA PORTUGUESA

SILVA, Carlos Eugênio Correa da. Ensaio sobre os latinismos

dos Lusíadas. Coimbra: Imprensa da Universidade, 1931.

SOUSA DA SILVEIRA, A. F. Curioso emprego de “e”.

Revista de Cultura, Notas soltas de linguagem, nota 33, fasc.

81. Rio de Janeiro, 1933, p. 124-130.

______. Textos quinhentistas. Faculdade Nacional de

Filosofia. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1945.

SOUSA, Luís de (Frei). Vida de Dom Frei Bartolomeu dos

Mártires. 3 v. Com prefácio e notas do prof. Augusto Reis

Machado. Lisboa: Sá da Costa, 1946.

TEIXEIRA, Bento. Prosopopeia. Com introdução,

estabelecimento do texto e comentário por Celso Cunha e

Carlos Duval. “Coleção de literatura brasileira”, v. 6. Rio de

Janeiro: INL, 1972.

TOVAR, Antonio. Gramática histórica latina: Sintaxis.

Madrid: S. Aguirre, 1946.

ULLMANN, Stephen. Semantics: Na introduction to the

science of meaning. Oxford: Basil Blackwell, 1962.

VERÍSSIMO, Érico. Caminhos cruzados. 2. ed. Porto Alegre:

Globo, 1970.

______. Clarissa. 3. ed. Porto Alegre: Globo, 1965.

96 CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA

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SUBSÍDIOS PARA O ESTUDO DA PARTÍCULA E

______. Gente e bichos. Porto Alegre: Globo, 1965.

______. O arquipélago, terceira parte de “O tempo e o vento”.

(1 t.: 1. ed. , 3. imp., 1970; 2 t.: l. ed. , 2. imp., 1962; 3 t.; l.

ed., 2. imp., 1963). Porto Alegre: Globo.

______. O senhor embaixador. 2. ed. Porto Alegre: Globo,

1965a.

______. Saga. 2. ed. Porto Alegre: Globo, 1940.

______. Um lugar ao sol. 2. ed. Porto Alegre: Globo, 1969.

VICENTE, Gil. Auto da alma. In: SOUSA DA SILVEIRA,

1945.

VIEIRA, Antônio (Padre). História do futuro. Bahia, 1838.

______. Sermoens do P. Antonio Vieira. Segunda parte.

Reprodução fac-similar da edição de 1682. São Paulo:

Anchietana, s/d.

VIGOUROUX, F. La sainte Bible polyglotte. Paris: R. Roger

er Chernoviz, 1908.

VIRGEU de consolaçon. Edição crítica de um texto arcaico

inédito. Introdução, gramática, notas e glossário por Albino de

Bem Veiga. [Salvador]: Publicações da Universidade da

Bahia; Liv. do Globo, 1959.

CARLOS HENRIQUE DA ROCHA LIMA 97

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EM ALGUMAS CONSTRUÇÕES DA LÍNGUA PORTUGUESA

ZORRO, Joan. O cancioneiro de Joan Zorro. Edição de Celso

Ferreira da Cunha. Rio de Janeiro, 1949. [Há uma edição

recente em CUNHA, Celso. Cancioneiros dos trovadores do

mar. Edição preparada por Elsa Gonçalves. Lisboa: Imprensa

Nacional-Casa da Moeda, 1999].

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SUBSÍDIOS PARA O ESTUDO DA PARTÍCULA E

Í N D I C E(de lugares do e, com a terminologia aqui adotada)

Ae (de) abertura9, ............................57e = acima de tudo (e congêneres), ......................................................25e aditivo, ......................................18e afetivo, ..........................38, 51, 54e agora?, ......................................53e ainda, ........................................23e alocutivo, ..................................51e = apesar disso, ...........................44e (de) apoio rítmico, .........35 in finee arquitetural, ...............................56e até, ............................................24

Be bíblico, ......................................59

Ce copulativo, ................................16e (na) correlação causa/consequência, ....................36

Ee = e até, .......................................25e (de) encarecimento, ..................26e (de) encerramento, ....................58e então?, .......................................53e (nas) estruturas fixas, ................18e = e também, ..............................24e = e todavia, ...............................25e (nas) exclamações, ....................54

Ge (nos) grupos-ligamentos, ..........23

Ie ilógico, ......................................45e (de) inclusão, ............................10e (na) inserção incidente, .............38e (nas) interrogações, ...................52

Me mal, ...........................................27e mas, ...........................................44e (no) monossíndeto, ...................33e (de) movimento, ........................49e muito, ........................................27e muito eu, ...................................28

Oe (de) oposição, ............................41

Pe (entre) palavras iguais, ..............13e = pelo contrário, ........................45e (no) período hipotético, ............33e (no) polissíndeto, ......................48

Re (nas) respostas, ..........................51

Se (de) simultaneidade, ..................28e (de) sucessividade, ....................30

Te = todavia (e congênere), ...........24

9 Em casos assim, a ordem alfabética é a dos substantivos que vêm depois dos parênteses.Esse índice se torna dispensável na edição eletrônica, visto que a busca também pode ser eletrônica. Por isto a paginação indicada é a da edição impressa, de 1975.

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