revista vox otorrino - nº 141

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Maio/Junho 2014

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Page 1: Revista Vox Otorrino - Nº 141

1Revista VOX OTORRINO |maio / junho 2014 | www.aborlccf.org.br

Editoria

Edição 141 | Ano XX | maio/junho 2014www.aborlccf.org.br

Páginas AzuisProfessor Mário Sérgio Cortella fala sobre ética e moral

Médico PJSaiba o que fazer para abrir seu consultório

Vale a pena ser médico?Anos de estudo, plantões intermináveis, remuneração insuficiente, cansaço, estresse e vida pessoal em segundo plano. Ainda assim, a Medicina é o curso com maior procura no vestibular e menor índice de desistência nas faculdades

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maio / junho 2014 | www.aborlccf.org.br2 | Revista VOX OTORRINO

Editoria

INFORMAÇÕ[email protected] | Telefone: (11) 5053-7502

INSCRIÇÕEShttp://www.aborlccf.org.br

REALIZAÇÃO

COMISSÃO ORGANIZADORAWILMA TEREZINHA ANSELMO-LIMA • MARIANA DE CARVALHO LEAL GOUVEIA • EULALIA SAKANO

Quando:25 e 26 de Julho de 2014

Horário:25/07 • 8h00 às 18h0026/07 • 8h00 às 12h00

Local:Auditório Luc Louis Maurice WeckxSede da ABORL-CCF

OBJETIVO DO CURSOFORNECER AS BASES PARA O ASSOCIADO CONSUMIR E

PRODUZIR REVISÕES SISTEMÁTICAS E META-ANÁLISES

CURSO DE REVISÃO SISTEMÁTICA E META-ANÁLISE

PALESTRANTES: RUI IMAMURA, CRISTIANE RUFINO MACEDO,

RONALDO FRIZZARINI E FÁBIO DE REZENDE PINNA

O QUE O OTORRINO PRECISA SABER PARA LER E ESCREVER

*Vagas limitadas

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Mensagem do Presidente

Dr. Fernando Ganança

Presidente da ABORL-CCF

DIRETORIA 2014

Dr. Fernando Ganança - São Paulo/SPPresidente

Dr. Sady Selaimen Costa - Porto Alegre/RSDiretor Primeiro Vice-Presidente

Dr. Domingos Tsuji - São Paulo/SPDiretor Segundo Vice-Presidente

Dra. Francini Grecco de M. Pádua - São Paulo/SPDiretora Secretária Geral

Dra. Renata Cantisani Di Franceso - São Paulo/SP Diretora Secretária Adjunta

Dra. Renata Dutra de Moricz - São Paulo/SP Assessora Diretora Secretária Geral

Dr. José Eduardo de Sá Pedroso - São Paulo/SPDiretor Tesoureiro

Dr. Felippe Felix - Niterói/RJDiretor Tesoureiro Adjunto

Dr. Paulo Saraceni Neto - São Paulo/SPAssessor do Diretor Tesoureiro

Dr. Edilson Zancanella - Indaiatuba/SP Presidente da Comissão de Comunicações

Dra. Eulália Sakano - Campinas/SPPresidente da Comissão do BJORL

Dr. Fabrízio Ricci Romano - São Paulo/SPPresidente da Comissão de Eventos e Cursos

Dr. José Alexandre Medicis da Silveira - São Paulo/SPPresidente da Comissão de Residência e Treinamento

Dr. Leonardo Haddad - São Paulo/SPPresidente da Comissão de Título de Especialista

Dr. Márcio Fortini – Belo Horizonte/MGPresidente da Comissão de Defesa Profissional

Dr. Otavio Marambaia Santos - Salvador/BAPresidente da Comissão de Ética e Disciplina

Dr. Renato Roithmann - Porto Alegre/RSPresidente da Comissão de Educação Médica Continuada

A ética é uma premissa da condição humana. Só o homem tem a capacidade de discernir o que é certo ou errado. Nesta edi-ção da VOX, cujo tema central é a ética, propomos a discussão sobre nosso comportamento como médicos e cidadãos. Esta-mos dando à nossa vida pessoal o mesmo peso que damos à profissional? Prezamos a qualidade das nossas relações? Es-tamos preparados para as pressões inerentes à nossa escolha profissional? E no trato com nossos pacientes, estamos sendo corretos, prudentes, atenciosos?

Estamos vivendo plenamente nossas vidas ou operando no pi-loto automático? Estas questões se perdem no cotidiano de nossas obrigações, preocupações e afazeres, mas, como o homem pode ser pleno se não atende suas próprias expectati-vas, se não realiza seus projetos, se não consegue deslanchar a carreira como gostaria, se não encontra um tempo para o lazer, a família ou para desenvolver um hobby?

Todas essas questões permeiam esta edição. Propomos a re-flexão para que nos tornemos, sempre, pessoas melhores.

Forte abraço.

A humanidade e a ética

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Páginas Azuis

Carreira

44º Congresso Brasileiro

Perfil

Ética

Defesa Profissional

Professor Mário Sérgio Cortella explica ética e moral

Vale a pena ser médico? Os desafios e gratificaçãoes da carreira

Atividades sociais e Fórum Nacional dos Residentes

As incríveis máquinas do Dr. Pedro Cavalcanti

Dr. Otávio Marambaia e sua definição de ser médico

Negligência, imprudência e imperícia, como se defender em caso de denúncia

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Campanha da Voz

Agenda

Gestão

Tudo o que aconteceu no 16º Dia Mundial da Voz, em abril

Cursos e eventos da ABORL-CCF

Saiba se você está pronto para abrir um con-sultório

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Cartaao Leitor

Caro colega,

Nesta edição da VOX, abordamos um tema que permeia nosso cotidiano, mas nem sempre nos damos conta do quanto ele está presente em cada atitude de nossas vidas: ética.

Como cidadão ou como profissional, a ética é a forma como vivemos e convivemos neste mundo e, para falar sobre isto, convidamos o professor Mário Sérgio Cortella para discorrer sobre o assunto nas Páginas Azuis. Ainda sobre o tema, trazemos um artigo brilhante do colega Otávio Marambaia sobre ser médico e outro, bastante esclarecedor, sobre bioética, do advogado Alexandre Martins.

Ainda discutindo as obrigações da nossa profissão, trazemos uma matéria sobre gestão, no qual orien-tamos como abrir um consultório, o que precisa ser levado em consideração na hora de dar este passo profissional e, em conteúdo digital, um guia comple-to publicado pelo CFM sobre a burocracia envolvida neste processo.

Ser médico não é fácil, nós sabemos. São anos de dedicação e sacrifícios muitas vezes não reconhe-cidos. Diante das dificuldades, questionamos: Vale a pena ser médico? A resposta você encontra na página 26. Também falamos de Defesa Profissio-nal, esclarecendo as diferenças entre negligência, imperícia e imprudência e o que fazer em caso de denúncia.

No perfil deste mês, o colega potiguar Pedro Caval-canti nos conta sobre sua paixão por carros antigos, passado de pai (e mãe!) para filho. E ainda, a cober-tura do 16º Dia Mundial da Voz, informações sobre o curso promovido pela comissão do Brazilian Journal em julho e as datas do curso itinerante da Rinologia.

Boa leitura!

O assunto é ética

Dr. Edilson Zancanella

Presidente da Comissão de Comunicações

EXPED

IENTE

Vox Otorrino

Diretor de Comunicação: Edilson Zancanella

Comissão de Comunicações: Marcelo Piza

Fabio de Rezende PinaJoão Vianney B. de Oliveira

Paulo Roberto LazariniRicardo Jacob Macedo

Allex Itar OgawaMarco Antônio Corvo

Maria Dantas C.L. GodoyVinícius Magalhães Suguri

Renato Marinho Correa

Coordenadora de Comunicação da ABORL-CCFAdriana Santos

Editora-chefe: Eliana Antiqueira / MTB: 26.733

Reportagem: Sheila Godoi e Caroline Correa

Fotos:Vicent Sobrinho / Alexandre Diniz /

Dreamstime / Acervo

Coordenação de Publicação e Diagramação: Julia Candido

Produção: Estação Brasil Produção Editorial

Fone: 11 3542-5264/0472

Impressão: Eskenazi Indústria Gráfica

Periodicidade: Bimestral

Tiragem:6.000 exemplares

Os artigos assinados são de inteira responsabilidade dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião da ABORL-CCF.

Av. Indianópolis, 1.287CEP 04063-002 | São Paulo/SP

Fone: 11 5053-7500Fax: 11 5053-7512

Sugestões de pauta, críticas ou elogios? Fale conosco.

[email protected]

ESPAÇO LEITOR

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PáginasAzuis

Ética é teoria, moral é prática.Cada época, sociedade e cultura tem sua ética própria, mas alguns valores, como honestidade, afetividade e respeito sobrevivem à passagem do tempo. Nesta entrevista, o professor Mário Sérgio Cortella fala com clareza sobre ética e moral, temas que domina e ensina, e propõe a reflexão sobre nosso comportamento social.

Por Eliana Antiqueira

Ética e moral são a mesma coi-sa?

Não. Estão conectadas e se refe-rem à mesma coisa, que é a con-duta humana. Ética é um conjunto de princípios e valores que dirigem a conduta de cada pessoa. A moral é a conduta. Ética é a concepção, moral é a prática. Um exemplo. Estou saindo de um consultório e encontro um celular que um colega esqueceu. Tenho um princípio éti-co: o que não é meu, não é meu. Pegar o celular e devolver, ou levá--lo comigo, ou fingir que eu não vi, é uma conduta moral.

Ética é um valor individual?

Não. A ética é sempre de um grupo, de uma comunidade, de uma so-ciedade, o que existe é uma moral individual. Moral é a prática de seus

princípios e a ética é concepção so-bre eles.

Ética é um inconsciente coletivo ou é formada pela época e cul-tura?

Não é um inconsciente coletivo não, é uma formação de base concreta, são princípios e valores, ou seja, há os meus senões e razões para fazer ou não fazer coisas. Significa que ela não é estática, está ligada à dinâmica da vida, não é exclusiva nem há uma ética universal, que te-nha validade para todas as pesso-as, em todos os lugares, a qualquer tempo. O que mais se aproxima de uma ética universal é a Declaração de Direitos Humanos, de 1948. Al-gumas pessoas se colocam, espe-cialmente no campo das religiões, como portadoras de uma ética uni-versal, ainda assim, a ética é relativa

Mário Sérgio Cortella é uma estrela de primeira grandeza no ensino e discussão da filosofia. Ex-monge, professor com mestrado e doutorado em Educação, seguidor de Paulo Freire, mantém um olhar acurado sobre a sociedade e analisa as mudanças de comportamento inerentes a cada época e explica a diferença entre ética e moral.

Gigi

Kass

is

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PáginasAzuis

à cultura, à sociedade e ao tempo em que ela está, o que não signi-fica que o lema seja “vale qualquer coisa”. Uma coisa do ponto de vis-ta ético só pode ser compreendida se você olha o RG dela, a data de nascimento, o local, a paternidade, a maternidade. Ética não é auto-mática, é aprendida. Aliás, esta é a grande diferença entre nós e os ani-mais. Um animal tem instinto, nós também, só que nossos instintos são domáveis, podemos controlar a tal ponto que, o mais forte instin-to para o ser humano, que é o de sobrevivência, nós o negamos. So-mos capazes de cometer suicídio, como também somos capazes de comer o que nos faz mal, de viver de forma errada, de propositalmen-te nos colocarmos em atividades de risco, o que nenhum outro ani-mal faz. Nenhum outro animal que a gente conheça salta de paraque-das, pratica Fórmula 1, sobe num ringue para receber chutes. A ética não é instintiva, porque se for instin-tiva não é ética.

A medicina é uma profissão uni-versal. A ética médica é univer-sal?

Não. Inclusive, mesmo que se te-nha o Juramento de Hipócrates como um ponto de referência, ele é muito mais um código deontoló-gico, ou seja, uma moral do dever, do que se deve ou não fazer pres-crevendo, do que uma concepção ética universal. A medicina é exer-cida de vários modos, em várias sociedades. Se nós olhamos a me-dicina ocidental, ela tem uma série de pontos de coincidência em seu princípio de conduta, em sua de-ontologia, mas o mesmo não vale para a medicina oriental. Por exem-plo, durante séculos, muitas socie-dades não permitiam a abertura de cadáveres, portanto, aquilo que a gente chamou de anatomo-patolo-gia seria uma impossibilidade tanto na pesquisa quanto no ensino. No século 16, quando Vassali e outros vão começar a lidar com a aber-tura de cadáveres, isso é feito de forma escondida. Parte da socie-dade árabe também não aceitava que se lidasse com corpos mortos. Quem vai introduzir isso é Avice-na. A suposição de uma ética nem mesmo no campo da medicina tem a mesma expressão. Haja vista, por exemplo, que a medicina bra-sileira é mais refratária ao controle da dor do que a medicina norte--americana. O número de fárma-cos, de opiáceos, que podemos usar como cuidado paliativo, mor-fina, por exemplo, é muito maior na sociedade norte-americana do que na nossa. E mesmo no Brasil, aqui-lo que não induz ao risco negativo, que é a possibilidade de cuidados paliativos, só agora está entrando. Nós entendemos um vínculo entre alguns fármacos como drogas, no sentido negativo da expressão. Até no campo da otorrinolaringologia,

em algumas sociedades, o exame para auferir a audição não é feito por um médico é feito por um pro-fissional de saúde, mas não por um otorrino. Em outras se entende que isso é privativo do ato médico. Por isso, insisto: não significa que vale tudo, significa que as coisas valem no seu contexto.

Mas a medicina tem princípios universais?

Evidentemente. No campo médi-co há uma série de princípios que são universalizantes. A atenção ao paciente, a necessidade de cui-dado, a recusa à humilhação, ao atendimento de qualquer modo... Tudo isso são princípios e ganham uma universalidade maior do que a prática que tem outra intervenção. Exemplo final: algumas sociedades admitem a ortotanásia como um indicativo, e nem chamam de euta-násia. Outras entendem isso como agressivo. Há sociedades que per-mitem a interrupção da gravidez por parte do médico, outras conside-ram isso um ato criminoso.

Este comportamento mais calca-do em decisões científicas e não morais são mais observados em sociedades laicas, sem a pres-

“Algumas pessoas se colocam, especialmente no campo das religiões, como portadoras de uma ética universal, ainda assim, a ética é relativa à cultura, à sociedade e ao tempo em que ela está, o que não significa que o lema seja vale qualquer coisa.”

Leitura recomendadaÉtica e vergonha na cara (Papirus 7 Mares)

Mário Sérgio Cortella e Clóvis de Barros Filho

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PáginasAzuis

são de grupos religiosos. Qual a interferência da religião sobre a ética?

A religião tem uma enorme influência. Nenhum de nós é neutro. A ideia de que um médico é neutro é impossí-vel. Ele pode ser objetivo. A neutra-lidade é a suposição de que eu me aproximo de um paciente, de um ob-jeto, de uma pesquisa ou de um cole-ga sem nenhum tipo de juízo anterior. Isso é impossível. A gente tem sim mais simpatia por quem está perto de nós em relação à mesma origem, à mesma prática social ou até mes-mo em relação ao mesmo time de futebol. Temos simpatias e antipatias que precisam ser conscientes para que possamos ser objetivos. Para ser objetivo tenho de ter clareza de quais são os meus conceitos prévios. A melhor forma de afastar um fantas-ma é acender a luz. As sociedades laicas, historicamente, são recentes. Têm, no máximo, 300 anos. Ainda hoje temos teocracias fortes, como os países islâmicos. Nas sociedades teocráticas ela é decisiva, porque a conduta é referenciada pela reli-gião. Nas sociedades laicas, mesmo

que não haja a identificação entre a prescrição religiosa e a prática do ci-dadão, ainda assim a influência exis-te. Não há como a gente lidar com algumas coisas no campo da ação sem ter a nossa história toda junta. Como dizia Miguel de Unamuno, fi-lósofo espanhol, “eu sou eu, soma-do à minha circunstância”. Eu venho com um combo, que é tudo que eu vivi, tudo que eu penso, e a religião tem sim influência. Vamos pegar a Testemunha de Jeová que proíbe a transfusão de sangue. Há uma parte dos médicos que respeita isso até o limite que a lei coloca. Na urgência de salvar a vida, sai de cena o direito do indivíduo e entra o dever do médico. Não é algo tão pacífico, mas é um fato. Há outros que acreditam que o paciente é soberano, e aí há uma discussão sobre soberania. O que eu posso fazer como paciente decido eu mesmo? Será que eu posso recusar um tratamento? Hoje existem várias normatizações sobre isso, e, no Bra-sil mais ainda, porque nós estamos começando a ter agora aquilo que hoje é assustador na medicina norte--americana que é a judicialização da relação médico/paciente. Essa judi-cialização sai do campo da ética e entra no campo do Direito, e o Direi-to nem sempre está lidando com a ética, mas sim com a moral. Há uma expressão incorreta do ponto de vis-ta filosófico que é o código de ética. Existe um código de conduta, um có-digo de moral. Ética é composta de princípios; moral, de direitos e deve-res. Há uma influência forte não só no campo da religião. A maçonaria tem uma presença forte na medicina, em-bora não seja uma religião, mas uma congregação de homens e algumas mulheres para a prática de princípios que entendem adequados. A ideia de irmandade, de fraternidade tem tanto impacto quanto uma religião de qual-quer natureza.

Qual o paradigma ético dos nos-sos tempos? Vivemos uma revo-lução social que mudou nossa forma de ver e viver neste mun-do. A sociedade já entendeu esta nova ética?

Vou dizer uma frase que pare-ce óbvia à primeira vista: todo ser humano sempre viveu na era con-temporânea. Sem exceção. Somos contemporâneos assim como nos-sa ética. Há 50 anos, um pai podia espancar uma criança, podia bater na esposa, podia lavar a honra com sangue. Há 150 anos, uma pessoa que não fosse branca podia ser es-cravizada, vendida, comprada.

E como se codificam essas mu-danças que acontecem de forma tão rápida em termos históricos?

Alguns princípios persistem, como a ideia de afetividade, de respeito recíproco, de honestidade. O que temos hoje é uma sociedade muito mais apressada. Não veloz, apres-sada. Há questões que não exis-tiam antes e não adianta eu recorrer à filosofia e à religião. As redes so-ciais são um exemplo. Tanto Orkut quanto Facebook são de 2004, têm dez anos. Não dava para falar de bullying como é possível hoje, não

“A ideia de que um médico é neutro é impossível. Ele pode ser objetivo. A neutralidade é a suposição de que eu me aproximo de um paciente, de um objeto, de uma pesquisa ou de um colega sem nenhum tipo de juízo anterior.”

“Vou dizer uma frase que parece óbvia à primeira vista: todo ser humano sempre viveu na era contemporânea. Sem exceção. Somos contemporâneos assim como nossa ética.”

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9Revista VOX OTORRINO |maio / junho 2014 | www.aborlccf.org.br

PáginasAzuis

dava para falar de assédio moral como é possível hoje. Hoje, as pla-taformas digitais trouxeram novas formas de comunicação. Posso trabalhar com formas de difama-ção que ultrapassam o campo da fofoca. A ética não acompanha to-das as situações de mudança no mesmo ritmo que esta mudança acontece. A construção não se dá só numa situação em que se muda para melhor. Algumas coisas avan-çaram, outras não. Um exemplo banal: há 20 anos saiu a lei do cinto de segurança. No princípio, as pes-soas usavam para evitar a multa, hoje está incorporado ao cotidiano, é um hábito, a indústria criou carros que não dão partida se o cinto não estiver colocado. A ideia de assep-sia de um ambiente hospitalar era muito relativa, hoje é um princípio de qualidade. Há um movimento de percepção.

Nunca vivemos numa sociedade com tanta oferta de consumo. A ética conflita com o lucro?

Não. Ao contrário. A ideia de lucro, se entendido como a remuneração justa por um trabalho oferecido, um produto vendido, um serviço prestado, não pode ser entendida como antiética. Antiético é o lucro obtido de forma canalha, por meio do engano, da patifaria. O consumo exacerbado é antiético, mas não porque é consumo, mas porque é exacerbado, compulsivo. Nossa geração está fazendo algo extrema-mente perigoso para o futuro, que é um saque antecipado do futuro. Durante séculos da história da hu-manidade, a geração atual se pre-ocupava em criar meios para que a próxima vivesse. Nós não. Esta-mos esgotando o meio-ambiente, a estrutura de capacidade orgânica, os relacionamentos, a segurança... Isso é uma forma de abandono do futuro que virá.

No código de ética da medicina existe o princípio da não malefi-cência, que apregoa, entre outras coisas, “reivindicar infraestrutura adequada”. O que acontece com a ética quando a teoria se depa-ra com a prática em locais nos quais os médicos não têm essa estrutura de trabalho?

Nesta hora, não há solução indi-vidual possível. A prática médica, durante muito tempo, foi exclusi-vamente individualista. O “meu” paciente, o “meu” consultório, na “minha sala”. Essa individualização excessiva, por ser uma profissão liberal na tradição, embora este-ja deixando de ser, fez com que houvesse quase que uma sobera-nia do profissional. Quando houve uma mudança de condições, uma precarização maior no atendimento da saúde coletiva, os médicos esta-vam isolados.

“...: a união desfaz a força! Há uma força negativa que se opõe a melhores condições de saúde na sociedade. Se a união faz a força, também desfaz quando a força é maléfica.”

nhar força. Vamos inverter a frase: a união desfaz a força! Há uma força negativa que se opõe a melhores condições de saúde na sociedade. Se a união faz a força, também des-faz quando a força é maléfica. E a grande questão ética no meio não é agir ou não, mas, como diz uma antiga frase: os ausentes nunca têm razão. A omissão é uma forma de cumplicidade. “Ah, mas o governo”. Lamento, os governos são passa-geiros, e quem lá está não tomou o poder à força, isso acontece em ditaduras, vivemos numa demo-cracia. As entidades de classe hoje estão voltadas para questões pon-tuais, mais ligadas ao exercício da atividade como atividade econômi-ca do que ao exercício da ativida-de como cidadania, de base social. Claro que há de se defender a ati-vidade econômica, seria bobagem não fazer isso. Quando chegamos ao ponto de trazer médicos do ex-terior, - que são importantes para nossa sociedade, não é como que-ríamos que fosse, mas é assim que é, porque como dizia o Betinho, na época da campanha contra a fome, “quem tem fome, tem pressa” -, estamos remando e jogando água. Enquanto a gente não tem, tem que ter alguém que faça e, para o paciente, é indiferente se o médico vem de Cuba, dos Estados Unidos ou da Espanha. A discussão teórica a gente tinha que ter feito antes. O mato tá seco e alguém riscou o fós-foro. Nessa hora, o que houve: uma reação corporativa extremamente perigosa, que quase significou a permissão do abandono por parte da comunidade médica. Os princí-pios hipocráticos como referência inicial precisam continuar tendo va-lidade como concepção.

E a única saída é coletiva. Seja nas associações, nos sindicatos, nas entidades da categoria. É dificílimo reunir pessoas dessa área porque se acostumaram, durante décadas, a ser o profissional no seu consul-tório, com a porta fechada. Alguns continuam isolados e reclamando, em vez de se associar a outros e ga-

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maio / junho 2014 | www.aborlccf.org.br10 | Revista VOX OTORRINO maio / junho 2014 | www.aborlccf.org.br10 | Revista VOX OTORRINO

CongressoBrasileiro

Programe-se para aproveitar o melhor do 44º Congresso Brasileiro de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial.

Por Eliana Antiqueira

Mês a mês, o 44º Congresso Brasileiro de Otorrinolarin-gologia vai ganhando os contornos finais. O evento,

que acontece em novembro, na cida-de de Porto Alegre, deve repetir o êxito dos anos anteriores, com centenas de

Não perca nada!

médicos do Brasil e do exterior reuni-dos em busca do que há de mais mo-derno na especialidade, novidades tec-nológicas apresentadas na exposição paralela, troca de experiências com os colegas e ampliação da rede de relacio-namento. “Será, com certeza, um con-

gresso inesquecível”, diz Dr. Fabrizio Romano, presidente da Comissão de Eventos da ABORL-CCF. “Estamos tra-balhando muito e conseguimos montar uma grade científica de altíssimo nível. Além disso, a parte social promete agradar a todos os gostos!”

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CongressoBrasileiro

Fórum Nacional de ResidentesUm dos eventos mais esperados do Con-gresso é o Fórum Nacional de Residentes. Neste ano, o encontro acontecerá no dia 14 de novembro, das 14h às 17h, na sala 9, do Centro de Convenções da FIERGS. O objetivo do fórum é reunir residentes em otorrino do país todo para promover a troca de conhecimento, a discussão e o debate entre os participantes, proporcionar uma formação complementar e prepará-los para a entrada no mercado de trabalho. A participação é gratuita, mas as vagas são limitadas.

Inscreva-se pelo site

www.aborlccf.org.br/44cbo e garanta seu lugar.

Conheça a programação do Fórum Nacional de Residentes 2014Horário Palestrante Tema

13h30 Abertura

Dr. Fernando Ganança

“Que caminho seguir depois da residência”

13h45 Dr. Arthur Menino Castilho “Especialização em subárea - Devo fazer Fellow? Onde?”

14h05 Dr. Fabrizio Romano “Estágio no exterior. Como, onde e quanto tempo”

14h25 Dr. Ubirajara Sennes “Pós-graduação vale a pena?”

14h45 Dr. Rogério Panhoca “O desafio de continuar apren-dendo sozinho”

15h05 Dr. Reginaldo Fujita “Primeiro(s) trabalho(s): consultó-rio ou prestador?”

15h25 Dr. José Eduardo de Sá Pedroso

“Montando um consultório de otorrinolaringologia: o que devo priorizar?”

15h45 Dr. Jamal Azzam “Credenciamento das operadoras de saúde suplementar: road map”

16h05 Debate com a plateia 

16h25 Considerações finais 

16h30 Encerramento

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maio / junho 2014 | www.aborlccf.org.br12 | Revista VOX OTORRINO

CongressoBrasileiro

Cursos de instruçãoAs inscrições para os cursos de instrução se encerraram em 10 de maio, e os inscritos podem ter cer-teza de que receberão conteúdo de alto nível. Os cursos seguirão o modelo já aplicado em grandes con-gressos promovidos por instituições de referência em Otorrinolaringolo-gia, como a American Academy of Otolaryngology Head and Neck Sur-gery, sempre ministrados no período da tarde em aulas de 45 minutos de duração, com até três instrutores em cada sessão.

Aqueles que atenderam o prazo e incluíram suas propostas de cursos, podem verificar o resultado se foram ou não aprovados a partir de 1º de junho, no site da Associação. As propostas foram avaliadas pela co-missão julgadora que analisou, entre outros quesitos, a experiência dos palestrantes no tema sugerido, o impacto e a atualização do assunto.

Parte socialO Congresso Brasileiro também é um momento de interação so-cial. Tanto a cerimônia de abertura quanto a festa de encerramento são momentos para reencontrar velhos amigos, celebrar e compartilhar.

A cerimônia de abertura terá lugar no Centro de Convenções da FIERGS, às 19 horas do dia 12 de novembro. Após a solenidade oficial, o público

será brindado com a apresentação de dois dos maiores expoentes da pro-dução musical do Rio Grande do Sul: Renato Borghetti e Yamandu Costa.

Borghettinho, como é conhecido, é um dos mais consagrados defen-sores da tradicional música gaú-cha. Antropólogo e folclorista, toca gaita-ponto (um tipo de acordeom) e foi o primeiro músico brasileiro a ganhar um disco de ouro com um álbum instrumental.

O violonista Yamandu Costa é conside-rado um gênio do violão de 7 cordas.

Vencedor de diversos prêmios de mú-sica, nacionais e internacionais, é, atu-almente, o artista brasileiro que mais se apresenta no exterior. Juntos, os músicos prometem um show inesque-cível com a fina flor da nossa música. A animação na festa de encerramento, celebração por mais um ano de suces-so do Congresso Brasileiro, ficará sob a responsabilidade da banda Grinaldos. Conhecidos na cena paulistana, o gru-po leva ao sul, o melhor do pop rock na-cional e internacional e promete colocar todo mundo para dançar.

Yamandu e Borghetti: o melhor da música tradicional gaúcha

Banda Grinaldos: pop rock para animar a festa. Conheça mais em: https://www.youtube.com/watch?v=KR3uGspPHVk

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13Revista VOX OTORRINO |maio / junho 2014 | www.aborlccf.org.br

Editoria

Um mundo de oportunidadesAcessórios de conectividade wireless 2.4 GHz

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maio / junho 2014 | www.aborlccf.org.br14 | Revista VOX OTORRINO

Público que esteve no Parque do Povo visitou estrutura inflável e conheceu mais sobre o funcionamento da laringe.

Por Caroline Correa Fotos: Alexandre Diniz

A 16ª edição da Campanha da Voz promovida pela Academia Brasileira de Laringologia e Voz, com o apoio da ABORL-

-CCF, repetiu o sucesso que a consa-grou como uma das mais reconhecidas e eficientes campanhas de saúde do Brasil. Neste ano, a tradicional boca gi-gante inflável ficou exposta no Parque do Povo, em São Paulo, nos dias 12, 13 e 16 de abril, o Dia Mundial da Voz.

Médicos e residentes em otorrino-laringologia se revezaram nos três dias do evento para atender o público que visitou a megaestrutura. As crianças, como sempre, foram, as que mais se divertiram com o inflável gigante e ouviram atentamente as

explicações dos profissionais sobre o processo de produção da voz, além dos principais elementos da boca e laringe, como dentes, língua, amíg-dalas, úvula e cordas vocais. Além da boca gigante, outras atrações garantiram a diversão do público. Os palhaços Fuska e Gaiato arrancaram gargalhadas de baixinhos e gran-dinhos e os beatboxes Borracha e Mautari fizeram a festa com os jovens que circulavam pelo parque.

Os padrinhos da campanha, a dupla sertaneja Fernando e Sorocaba man-daram seu recado em uma mensa-gem sobre os cuidados com a voz. Os cantores cederam sua imagem gratui-tamente à 16ª Campanha da Voz.

Boca gigante conquista São Paulo

Campanhada Voz

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A ação da Academia, que contou com o apoio da ABORL-CCF, rece-beu destaque de importantes veí-culos de comunicação. O SPTV 1ª edição esteve no local convidando a população a participar da cam-panha e visitar o inflável. A equipe do jornal Repórter São Paulo, da TV Brasil, também foi ao Parque Povo conversar com os visitantes.

Dr. Gustavo Korn, coordenador da Campanha Nacional da Voz, con-cedeu entrevistas às rádios CBN, Globo e Você, falando sobre ação promovida pela ABLV e cuidados vocais. “Esta edição da campanha foi um sucesso. Vale a pena desta-car o apoio da imprensa, com mui-

Recado do Fernando e Sorocaba, padrinhos da Campanha https://www.youtube.com/watch?v=pg-QE6G41iI

Campanhada Voz

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Campanhada Voz

Veja os destaques do Dia Mundial da Voz:

https://www.youtube.com/watch?v=et0qsS10KG0

tas reportagens, e das crianças, que se mostravam realmente interessadas no funcionamento do aparelho fonador e no interior da laringe”, afirma.

“É sempre válido ressaltar a importância de ações de orien-tação e conscientização como a Campanha da Voz, que promove um processo de sensibilização permanente em re-lação aos cuidados vocais. Nossa intenção é destacar essa mensagem constantemente, e construir um legado sobre prevenção de doenças, principalmente o câncer de laringe”, conclui o coordenador.

Dr. Gustavo Korn em entrevista à imprensa

Dr. Gustavo Korn cercado de crianças: público infantil é curioso e interessado no funcionamento da laringe.

Detalhe do interior do inflável gigante

Borracha, Fuska e Gaiato garantiram a diversão do público

16 ANOS

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Editoria

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Editoria

“Um empreendimento é como um filho. Você nunca será dono dele e sim o criador, cuidador, mantenedor, orientador e eternamente o pai”

Dr. Jamal Azzam

Gestão

Sonho de carreira de muitos médicos, o consultório próprio tem muitas vantagens, mas, para dar certo, precisa ser muito bem planejado e estruturado.

Por Sheila Godoi

A medicina existe desde que a hu-manidade se entende assim. E ainda hoje, a informalidade impe-ra para muitos dos profissionais

da saúde. Um colega aluga uma sala den-tro do consultório de outro, muitas vezes sem contrato, e as coisas vão ficando, vão ficando... O médico opta por participar de uma cooperativa, necessariamente como pessoa física, mas acaba enfiando os pés pelas mãos na hora de prestar contas e pagar impostos ao governo. Entra nessa conta também a baixa rentabilidade no vínculo com as operadoras de saúde e as glosas.

A abertura do consultório é o projeto de muitos médicos em início de carreira, en-tretanto, o índice de quebra é alto, em um curto espaço de tempo. O que foi feito de errado? Os especialistas concordam que se existe um caminho “mais seguro” para

se percorrer antes de qualquer CNPJ fi-car pronto, esse caminho é o do plano de negócios.

Processos desenhados e maduros, con-tabilidade saneada, fluxo financeiro diário, painel de controle para suportar decisões estratégicas, gestão de pessoas com recrutamento, seleção, capacitação, in-clusão, treinamento continuado e plano de carreira. Tudo isso leva tempo para acontecer de maneira satisfatória e está totalmente ligado ao projeto corporativo, que nem sempre é tido como prioridade nas empresas de saúde.

O preparo técnico e especializado do mé-dico é fundamental, mas não basta, como explica a consultora do SEBRAE (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empre-sas), Maísa Blumenfeld. “É importante ter a visão de que os pacientes são clientes

Médico PJ

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Gestão

e têm expectativas em relação ao serviço prestado como um todo. O primeiro pas-so é colocar no papel o planejamento do negócio e a viabilização da sua abertura.”

Dr. Jamal Azzam tem uma história curio-sa. Interessado na experiência das pes-soas recorda-se de ter ouvido muitos colegas e professores durante o período de graduação. Uma delas veio de um mé-dico por quem tinha absoluta admiração. “Jamal, fechei meu consultório. É muito difícil ficar contratando secretária, pagan-do, cuidando da limpeza e de tudo mais. Eu não consigo ter paz e ser médico de verdade, então fechei”, disse o colega em certa ocasião. “Isso me fez refletir sobre administração. O segredo estava no su-porte para o exercício do meu trabalho. De que adiantaria ser um grande médico se tudo que gira em torno não funciona?”, perguntou-se e foi aí que ele leu um livro de marketing pela primeira vez. “Li não... Devorei!”, brinca, acrescentando mais títu-los à lista de leitura.

O negócio de estreia era um pequeno

consultório. Logo, ele já estava no co-mando de uma clínica junto de outros dois sócios. Mas a sociedade não com-pletou o primeiro aniversário, uma vez que os interesses eram diferentes. “O duro foi descobrir isto enquanto o barco estava navegando”. Em 1988, abriu a clínica que leva seu nome e da qual é o único dono. Apesar da dedicação inicial ao entendi-mento das estratégias administrativas, Dr. Azzam conta que teve uma espécie de “estalo” ao se reunir com uma opera-dora de saúde para um acerto de contas em aberto. Ele percebeu que a empresa detinha todo tipo de informação sobre

as consultas, procedimentos e cirurgias em aberto, dados dos pacientes, da-tas de atendimento, detalhes de glosas, etc. “Então, pensei: ‘eles sabem tudo de mim. Até mais do que eu mesmo.’ E de-cidi saber mais do meu próprio negócio”, recorda. Hoje, a Clínica Jamal conta com cerca de 50 colaboradores, para as áreas de recepção, segurança, finanças, TI, call center, manutenção, entre outras.

Legalmente empresárioAntes de tudo, é preciso estudar e, princi-palmente, questionar. Quem é o público--alvo do consultório? Onde estão essas

Pergunte(-se)!1. Mercado: há demanda? Quem são e onde estão os concorrentes?

2. Localização: é adequada para atingir o público definido? É viável finan-ceiramente locar uma sala neste bairro ou cidade? O acesso é fácil e estratégico?

3. Equipamento técnico: é adequado às demandas dos clientes? Que outros investimentos devem ser feitos? E em quanto tempo?

4. Colaboradores: a equipe está bem preparada? Há mão de obra sufi-ciente para estabelecer um ciclo de trabalho que se complete?

5. Dimensionamento: o capital a ser aplicado está bem distribuído no mé-dio prazo? Está contabilizando perdas, como furtos e quebras?

6. Sociedade: valerá a pena? São profissionais confiáveis? É um negócio para muitos anos?

7. Atendimento: vai incluir pacientes de convênios? Qual será a rentabili-dade?

8. Você: quanto quer ganhar? Quanto quer se dedicar? Está preparado para lidar com a gestão de pessoas? Tem noções de gestão econômica? Mantém relacionamento com múltiplos fornecedores e parceiros? Sabe-ria como agir se fosse necessário encerrar as atividades?

Guia de bolso O CFM possui um “Manual de Procedimentos Administrativos”, que con-templa todo o processo de abertura de uma empresa médica. Acesse aqui para entender passo a passo:

http://portal.cfm.org.br/images/mpa_pj.pdf

“O segredo do consultório é o dimensionamento.”

Dr. José Eduardo de Sá Pedroso

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Gestão

pessoas? Como chegar a elas? A lista de perguntas pode ser das mais extensas. Para ajudar nas respostas, há consulto-rias especializadas no desenvolvimento de estudos de mercado e sustentabilida-de do negócio. Vale também consultar um escritório de contabilidade para levan-tar quais são as exigências legais, fiscais, contábeis e trabalhistas de determinado tipo de empresa médica. Na dúvida, há ainda os escritórios de advocacia focados no segmento de saúde e que podem aju-dar no campo jurídico e ético da profissão.

A Lei 6.839, de 30 de outubro 1980, de-termina que todas as empresas devem ser registradas nas entidades de fiscaliza-ção, o que significa que, para funcionar, o consultório médico deve estar cadas-trado e atender à normatização do Con-selho Regional de Medicina. Tão impor-tante quanto a prestação de contas e o cumprimento dos processos burocráticos

é a obtenção do alvará sanitário. Para so-licitar, é preciso apresentar alguns docu-mentos e se encaixar nas regras previstas pela ANVISA.

Sonho de formandoIngressar e obter sucesso num mercado que está em pleno funcionamento pode não ser tão fácil como se imagina, mas é a meta profissional de boa parte dos profis-sionais, como foi o caso do Dr. José Edu-ardo de Sá Pedroso. “No início da car-reira, o médico tem que ter outras fontes de renda, trabalhar em outros empregos, mas o lugar mais importante da vida dele, aquele que ele tem que ir atrás e cultivar é o próprio consultório. Tenho isso como premissa desde que me formei”, relata.

Dr. Reginaldo Fujita passou por maus bo-cados até chegar à estrutura sólida que tem hoje. “Primeiro trabalhei em várias instituições como prestador de serviço. Procurei um lugar sem concorrência de otorrino, procurei sócios de outras espe-cialidades e tentei abrir contato com con-vênios para obter credenciamento. Muitas vezes, ia ao consultório para estudar, pois a agenda ficava vazia, mas não desisti”, lembra.

As operadoras de saúde, aliás, são par-te relevante nesse processo. Dr. Pedroso participou de uma sociedade de médicos por quase 20 anos e há cerca de seis me-ses optou por um negócio mais particular, justamente porque pretendia mudar o seu

público-alvo. Hoje, passam pelo consultó-rio, onde atende com a esposa pediatra, apenas pacientes particulares e não mais associados de planos de saúde, como ocorria no modelo anterior de negócio. Ele explica: “Nos convênios, a margem é muito pequena. Dão muito trabalho e pagam muito mal. Além disso, o paciente não tem a menor noção do quanto é re-passado ao médico”. No início, as opera-doras de saúde contribuíram para que ele se posicionasse no mercado. Hoje, a de-cisão foi ter tempo e foco especiais para o atendimento aos pacientes particulares.

Nada de ansiedade (ou utopia)Ninguém disse que seria fácil. Os cinco primeiros anos de consultório, Dr. Pedro-so praticamente pagou para trabalhar. De acordo com Maísa, do SEBRAE, o retor-no do investimento varia bastante depen-dendo do perfil da organização, contudo o tempo médio para se obter esse retorno é de 24 meses.

O importante aqui é não enfiar os pés pe-las mãos. A “megalomania”, nas palavras do Dr. Fujita, é um perigo iminente quando se fala em iniciar um negócio. Sustentar uma empresa tem um preço alto, como

Livro de cabeceiraO segredo de Luisa, de Fernando Do-labela, traz ao leitor o drama vivido por uma jovem que tem a ideia de abrir uma empresa para vender a goiabada produ-zida pela tia. A leitura aborda questões de marketing, plano de negócios, finanças, administração e organização empresarial (Editora Sextante, 304 páginas). A partir de R$ 39,90, na Livraria Cultura.

AgendaA 44ª edição do Congresso Brasileiro de Otorrinolaringo-logia contará com cursos vol-tados para a abertura do con-sultório próprio no Fórum de Residentes, que acontece dia 14 de novembro, das 14h às 17h. (Veja a programação na página 11).

“A melhor propaganda é o paciente bem atendido. Prepare-se e estude bastante. Seja gentil e educado com seu paciente.”

Dr. Reginaldo Fujita

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EditoriaGestão

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Papel e caneta na mãoO SEBRAE oferece alguns cursos para empreendedores. O Empretec é um intensivo realizado durante seis dias para quem já tem um plano de negócios estruturado e quer ganhar um preparo prático. O investimento é de R$ 1.300,00 e o curso é exclusivo para pessoa jurídica. Já a Mode-lagem de Negócios é uma oficina com linguagem moderna e aplicação do método Canvas para futuros empreendedores. O curso tem carga horária de 12 horas e custa R$ 190,00.

Mais informações em www.sebrae.com.br.

Invista!De acordo com a consultora do SEBRAE, Maísa Blumenfeld, os prin-cipais investimentos após a abertura da empresa devem contemplar:

Inovação nos equipamentos

Capacitação e treinamento para os funcionários

Investimento em parcerias técnicas e comerciais

Foco no relacionamento com o cliente

bem lembra Dr. Pedroso: “Não adianta montar um consultório gigante para aten-der dois ou três pacientes por mês. O que você ganha não paga essa estrutura”.

Ops, foi mal!Dizem por aí que se deve aprender com os erros. Ok. O que é preciso colocar na ba-lança é que uma simples falha pode ser fatal para a estrutura de uma empresa. Por isso, é necessário ter muita cautela nos passos.

Não é segredo para ninguém que muitas empresas – e isso não se restringe às de saúde, mas nestas ocorre com frequ-ência – vão por água abaixo por falta de gestão eficiente. A consultora Maísa refor-ça que um dos principais erros, senão o mais grave, ocorre justamente quando o médico possui preparo técnico excepcio-nal, mas deixa de lado as questões geren-ciais do negócio.

Para Dr. Fujita, outra falha comum acon-tece quando o médico contrata uma con-tabilidade para resolver os processos bu-rocráticos da empresa e não acompanha de perto o andamento dos números. “De-ve-se escolher um contador de confian-ça e, mesmo assim, pagar você mesmo todos os impostos, deixando a cargo do contador apenas a emissão do boleto”, aconselha. Maísa concorda com o otorri-no e complementa: “É um erro grave não ter os números do negócio nas mãos. É importante trabalhar com um software de gestão ou manter um profissional para os processos administrativos, mas o médico deve conhecer os números para tomar as decisões estratégicas”.

Dr. Azzam acredita que um negócio é como um filho que, se bem conduzido,

será um sucesso, se mal conduzido, poderá levar a resultados catastróficos. “Ter um filho é criar um ser para o mun-do. Você nunca será dono dele e sim o criador, cuidador, mantenedor, orienta-dor e eternamente o pai. Mas nunca o dono!”, compara.

A divulgação é mais um item que acaba ficando de lado em detrimento de outras prioridades. Estabelecer e executar um plano de marketing pode fazer o negócio tomar importantes proporções no médio prazo. E aqui vale a pergunta: aonde se quer chegar com a empresa nos diferen-tes espaços de tempo?

O paciente é o seu cliente...... E ele, definitivamente, quer ser tratado como tal. Qualidade do serviço técnico e do negócio como um todo não são itens opcionais. São essenciais para fidelizar consumidores de qualquer tipo de serviço. Quem quer chegar a um espaço de saúde e verificar problemas básicos de manuten-ção? Colocar-se no lugar do paciente pode ajudar a identificar pequenos problemas.

Saúde é, de fato, mercadoria? Muita gente concorda que sim. Para o Dr. Pe-droso, a questão não é tão pragmática, nem tão romântica, como é colocada muitas vezes. “Devo pensar como o paciente pensaria. O que ocorre desde a marcação da consulta até a hora em que ele vai embora do consultório? Ele foi bem atendido? Ficou confortável? Teve entretenimento? O médico sorriu? Conversou sobre outros assuntos? Há uma série de detalhes nesse processo”, explica. E é aí que o atendimento se torna a chave da fidelização do, então, cliente. Não é a toa que, atualmente, ou-ve-se falar tanto em CRM, ou Customer Relationship Management, que é, nada menos, do que estratégia de captação e engajamento do consumidor. Tamanha a importância que a palavra atendimen-to tomou.

“O grande desafio do empreendedor é unir conhecimento técnico e empresarial.”

Maísa Blumenfeld

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Artigo

Os avanços científicos da área médica ocorridos nos últimos 40 anos fez surgir uma preocupação crescen-

te com os aspectos éticos da medi-cina, diante dos grandes avanços da biologia molecular, da biotecnologia, do mapeamento genético e acima de tudo, por conta dos inúmeros casos de denúncias de experiências rea-lizadas contra seres humanos sem qualquer consentimento ou mesmo um protocolo a garantir a saúde dos envolvidos. A “bioética”, expressão criada pelo professor Van Potter, da Universidade de Wisconsin, em 1970, vem sendo cada vez mais utilizada por profissionais das áreas da saú-de, filosofia e do direito. Apesar de se considerar o Código de Nuremberg seu precursor, seguido pela Declara-ção de Gijón, a bioética foi o centro das atenções quando também estava em voga o mapeamento do genoma humano. Como ciências, a biologia, a medicina e até mesmo a nanoenge-nharia sempre irão gerar novas pole-micas e novos embates no campo da ética, ficando a sociedade científica sempre a espera de uma nova revolu-ção coperniana.

Dentre os vários princípios sugeridos ou apresentados pela bioética, de-sejamos, nestas poucas linhas a que nos propusemos a escrever, tecer co-mentários sobre o chamado princípio da autonomia, no qual esta garantido o direito de escolha do paciente, o chamado “livre arbítrio”, onde o profis-sional de saúde deve respeitar a von-tade soberana do paciente.

Com efeito, o Código de Ética Médica, em seu art. 24, exige que o médico permita ao paciente decidir livremente sobre sua pessoa e seu bem-estar, vejamos o texto na íntegra:

A bioética e a relação com o paciente

É vedado ao médico:

Art. 24. Deixar de garantir ao pacien-te o exercício do direito de decidir li-vremente sobre sua pessoa ou seu bem-estar, bem como exercer sua autoridade para limitá-lo.

Assim, deverá o médico acatar a decisão do paciente, sob pena de estar cometendo infração ética. So-bre este aspecto, gostaria de citar Paulo Freire, em sua obra Pedago-gia da Autonomia, o qual nos ad-moesta que “O respeito à autono-mia e à dignidade de cada um é um imperativo ético e não um favor que podemos ou não conceder uns aos outros”. Assim, Freire nos remete a um estado social onde um princípio ético, de per si, tem o condão de mudar uma realidade fática, sub-metendo a sociedade a uma exi-gência de comportamento, onde cada ser humano deve ter respeita-da sua individualidade, seu querer e suas ideias. 

Na mesma linha, a ilustre jurista Maria Helena Diniz, no livro “O estu-do atual do biodireito”, ao tratar do princípio da autonomia, nos afirma que tal princípio, em verdade “Re-conhece o domínio do paciente so-bre a própria vida (corpo e mente) e o respeito à sua intimidade, res-tringindo, com isso, a intromissão alheia no mundo daquele que está sendo submetido a um tratamen-to. Considera o paciente capaz de autogovernar-se, ou seja, de fazer suas opções sob a orientação des-sas deliberações tomadas, deven-do, por tal razão, ser tratado com autonomia”.

O Código Civil Brasileiro, em obser-vância do princípio da autonomia, fez incluir em seu texto dois artigos

referentes à liberdade de escolha do paciente. No primeiro deles, podemos enquadrar os pacien-tes acometidos de doenças raras, que queiram após a morte, doar seu corpo para estudos, conforme abaixo transcrito:

Art. 14. É válida, com objetivo cien-tífico, ou altruístico, a disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou em parte, para depois da morte.

Assim, não se tratando de interes-ses econômicos, ou seja, desde que a pessoa não tenha recebido nenhum benefício, poderá dispor do seu corpo, após a morte, para estudos científicos, sendo certo que, tal disposição pode ser revo-gada a qualquer tempo.

No artigo seguinte, o Legislador fez incluir na Lei Civil que ninguém pode ser obrigado a se submeter a procedimento médico que lhe traga risco de vida, como abaixo:

Art. 15. Ninguém pode ser cons-trangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica.

Caro leitor, gostaria que você me enumerasse três, apenas três pro-cedimentos cirúrgicos onde não houvesse nenhum risco de vida, seja por qualquer motivo, reação alérgica, infecção ou qualquer ou-tra intercorrência, com o seu silên-cio, entendo que ninguém pode ser submetido a qualquer intervenção sem o prévio consentimento.

Neste ponto do meu pequeno tex-to, estamos diante de duas realida-des distintas, duas linhas paralelas, que se cruzam no infinito e sobre tal infinito de possibilidades desejo me debruçar. Ora, se por um lado

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Artigo

o princípio da autonomia permite ao paciente escolher o caminho de seu tratamento e por força de lei o médico deve respeitar tal princípio, como saber se a escolha do pacien-te realmente é a melhor para o seu caso? Ou seja, como ofertar auto-nomia sem ofertar conhecimento, como escolher sem conhecer? 

Entendo, como a grande maioria dos seres humanos, que a vida é o bem maior, o qual deve ser tutelado e protegido pelo Estado, através de leis e normas escritas. E acredito ainda que em seguida vem a saú-de, a integridade do funcionamento dos órgãos e o bem estar físico e mental devem também receber lu-gar de destaque. Porém, não con-cordo em retirar do profissional de saúde a responsabilidade de zelar pelo bem estar do paciente e en-tregá-lo ao próprio paciente, o qual poderá, ou por erro ou por ser in-duzido, escolher o pior caminho ou

ainda o caminho errado para sua melhora.

Como diria Leonardo Boff, em “A Águia e a Galinha”: “Cada um lê com os olhos que tem. E interpre-ta a partir de onde os pés pisam. Todo ponto de vista é a vista de um ponto. Isso faz da compreensão sempre uma interpretação. Sendo assim, fica evidente que cada lei-tor é coautor. Porque cada um lê e relê com os olhos que tem. Porque compreende e interpreta a partir do mundo que habita.”

As expectativas e as perspectivas do médico e do paciente e de seus familiares são diferentes, logo, o médico não pode apenas atender a solicitação do paciente, porque agindo assim não estará respeitan-do a sua autonomia, mas sim chan-celando uma escolha que certa-mente estará eivada de inverdades.

O que queremos trazer a lume é a

necessidade de se dialogar com o paciente, criando conjuntamen-te uma escolha, que certamente será a melhor, ouvindo e falando, ponderando e contestando, cons-truindo um caminho, cujos percal-ços podem ser harmonicamente superados, evitando frustrações, desilusões e processos. Dialogar com o paciente é permitir que haja o surgimento de uma vontade, para assim, tal vontade ser respeitada, atendendo-se não só o princípio da autonomia, como também o prin-cípio constitucional da dignidade da pessoa humana, demonstrando a boa-fé do profissional de saúde para com seus assistidos.

Alexandre Martins dos Santos é advogado especializado em Direito Médico, autor do livro

Responsabilidade Civil do Médico (Editora DOC)

NOVO BJORLAgora editado pela Elsevier

BRAZILIAN JOURNAL OF OTORHINOLARYNGOLOGYVOLUME 79, NUMBER 6 – NOV/DEC, 2013

IMPACT FACTOR 2012: 0.545© THOMSON REUTERS JOURNAL CITATION

REPORTS, SCIENCE EDITION (2012)

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DefesaProfissional

Negligência, imprudência e imperícia: três palavrinhas que assombram os médicos. Nenhum ser humano está livre do erro, mas, em se tratando de médicos, exige-se cuidado redobrado em todos os procedimentos.

Por Eliana Antiqueira

“Errare humanum est”, afir-ma o conhecido ditado latino. O que poucos sa-bem é que uma segunda

oração completa seu sentido: “perse-verare autem diabolicum”. Em bom português: errar é humano, mas per-severar no erro é diabólico. O diabo, no caso, esconde-se atrás da falta de informação, de apoio apropriado e de esclarecimentos sobre como evi-tar, sanar, ou pelo menos minimizar, o erro.

Na medicina, o inferno de qualquer profissional é o risco de ser denun-ciado por negligência, imprudência ou imperícia. A negligência se carac-teriza pelo desleixo, o descuido, para com o paciente e seu tratamento. Já a imprudência é a falta de cautela ou das precauções necessárias. A im-perícia é a constatação da inaptidão, da ignorância, da falta de qualificação técnica, teórica ou prática, ou ausên-cia de conhecimentos elementares e básicos da profissão. Um médico sem habilitação em cirurgia plástica que realize uma operação e cause deformidade em alguém pode ser acusado de imperícia, por exemplo.

O médico é passível de julgamento em dois tribunais: o da Justiça co-mum, que segue os preceitos do Có-digo Penal e Civil, e o dos Conselhos de Medicina, cujos julgamentos se baseiam no Código de Ética Médica. O principal artigo do Código de Ética Médica (CEM) que caracteriza o erro médico é o artigo 1º, determinando que “é vedado ao médico praticar atos profissionais danosos ao pa-

ciente, que possam ser caracteriza-dos como imperícia, imprudência ou negligência”.

No Brasil, não existem dados estatísticos sobre o número aproximado de erros médicos cometidos anualmente, mas estima-se que existam, hoje, cerca de dez mil processos tramitando nos tribunais contra profissionais acusa-dos de falta de ética e profissionalis-mo na prática da medicina. “As falhas médicas vêm aumentando em parte justamente por este quadro degene-rado do sistema de saúde do país. A péssima remuneração dos médi-cos e a falta de condições ideais de trabalho são os motivos apontados pelos profissionais, bem como o es-tresse constante, que os torna mais passíveis de falhas e cometimentos enganosos”, explica o advogado Ro-mualdo Flávio Dropa, autor de pre-miadas monografias jurídicas, em seu artigo “Erro Médico”.

Também concorrem para este au-mento, a insatisfatória formação éti-ca do médico, que contribui para a ocorrência de desvios na conduta durante o exercício da profissão. Os pontos fundamentais na prevenção do erro médico que devem ser abor-dados na graduação são: aprimora-mento da relação médico-paciente e da comunicação entre médicos, pacientes e familiares, valorização do compromisso social do médico, ênfase na educação continuada e no trabalho em equipes multiprofis-sionais, além de incentivo ao correto preenchimento dos registros médi-

Errar é humano!

cos em prontuário. “Para atingir es-tes objetivos, é necessário um ensi-no de Ética Médica e Bioética mais abrangente, que não só apresente os artigos do CEM, mas também dis-cuta as questões do dia-a-dia que estão intimamente ligadas à conduta médica e seus dilemas morais. Para isto, o ensino da Ética Médica deve ser ministrado ao longo de todo o curso de medicina, por meio da dis-cussão de casos concretos e com a participação ativa dos alunos”, afirma Dr. Otávio Marambaia, presidente da comissão de Ética e Disciplina da ABORL-CCF.

Da denúncia ao julgamentoDr. Auro Caldeira Valadares, ad-vogado membro da Comissão Estadual de Defesa do Mé-dico da Associação Médica de Minas Gerais (AMMG), explica como acontece o processo de denúncia por erro médico. “A denúncia é apresentada ao CRM, onde um conselheiro nomeado conduzirá a in-vestigação. Caso persis-tam dúvidas na conduta adotada é aberto um pro-cesso ético profissional (conhecido por PEP), e o médico será intimado a apresentar nova defesa, desta vez acompanhado por advogado e indicar testemunhas. O

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25Revista VOX OTORRINO |maio / junho 2014 | www.aborlccf.org.br 25maio / junho 2014 | www.aborlccf.org.br

Defesa Profissional

julgamento ocorrerá em uma seção plenária que contará com a presença de onze conselheiros que avaliarão e julgarão verbalmente os votos de um relator e um revisor, sendo facultada as partes a fazerem as suas defesas orais. Cada conselheiro presente vo-tará nominalmente pela absolvição ou condenação do médico acusado”.

Toda decisão proferida está sujeita a ser reexaminada em instância supe-rior pelo CFM. Às decisões proferidas pela justiça comum, cabem recurso nos Tribunais de Justiça. As penas variam de advertência confidencial em aviso reservado, censura pública, suspensão temporária do exercício da profissão e cassação. O advo-gado, no entanto, recomenda que as partes entrem em acordo, desde que o valor seja inferior às despesas com a condução do processo. “É de notório conhecimento que qualquer ação judicial esbarra na morosida-de da justiça brasileira fazendo com que um processo judicial se arraste por vários anos, o que acarreta num

enorme desgaste emocional para o médico”, diz.

Com vasta experiência na defesa de médicos denunciados por erro médico, Dr. Auro aponta que o erro recorrente é o descaso. “Acompa-nhei médicos que foram condenados no Conselho Regional de Medicina, mesmo tendo agido de corretamente no tratamento do paciente. O pro-blema foi que eles não elaboraram um prontuário para o paciente, não fizeram anotação da conduta, e as-sim o conselho alegou que não havia provas e não atenderam às normas do código de ética médica. Em outro caso, desta vez na justiça comum, o médico foi condenado, mesmo tendo feito tudo correto, porque o perito indicado pelo juiz para avaliar o caso informou que o médico não demonstrou que havia esclarecido ao

paciente sobre os riscos e cuidados que deveriam ser adotados. O médi-co perito alertou para a ausência do termo de consentimento informado e o juiz entendeu que houve negligên-cia por parte do médico”, conta.

Dessa forma, é possível concluir que a desatenção do médico que não preenche um prontuário, que não fornece as informações neces-sárias ao paciente ou mesmo não apresenta um termo de consenti-mento informado - ações simples e inerentes ao cotidiano profissional -, está sujeito a uma denúncia e a toda dor de cabeça que a segue. Logo, advertem os especialistas, prevenir é o melhor remédio para evitar esta enxaqueca.

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Carreira

Sim, vale. Mas não é fácil. Seis anos de faculdade, mais um longo período de residência, atualização constante, sacrifícios na vida pessoal, remuneração questionável e, não raro, comprometimento da saúde. Apesar de todos esses contras, a relação candidato/vaga nos vestibulares é de 32 para um.

Por Eliana Antiqueira

Vale a pena ser médico?

Uma reportagem publicada em abril, no jornal norte-americano The Daily Best, com o sombrio título “Por que ser médico se

tornou uma das profissões mais miserá-veis”, apontou um dado alarmante: nove em cada 10 médicos desencorajam ou-tras pessoas para seguirem a profissão, e 300 médicos cometem suicídio todos os anos naquele país. Considerando--se que os EUA são a maior potência ocidental do planeta, um país rico, com incentivo à pesquisa e ao desenvolvi-mento tecnológico, como será então a situação do médico aqui em terras tu-piniquins?

Existem hoje, no Brasil, cerca de 350.000 médicos (um para cada 543 habitantes).  Segundo a Organização Mundial de Saúde, este número exce-de ao recomendado, que aconselha um profissional da medicina para cada mil habitantes. Anualmente, o país for-ma 16,5 mil médicos em 183 escolas, destas 79 públicas (48 federais, 24 es-taduais e 7 municipais) e 104 privadas. A relação candidato/vaga chega a 32 para um. Ou seja, a medicina ainda lide-ra na preferência do vestibulando. Mas será que esses jovens sabem o que os espera? “Há pelo menos uma década sou membro do Conselho de Medici-na e pude ver o dano que as políticas públicas de saúde, da intermediação buscando o lucro sobre o trabalho mé-dico e as próprias agruras inerentes à profissão têm causado ao médico. Isto

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Carreira

O exercício da medicina no Brasil pode caminhar para que comecemos a nos dedicar cada vez mais a buscar melhorias para a saúde do nosso povo, informando e dedicando-nos às estratégias que visem melhorias.”

Dr. Florentino Cardoso

resulta em muita frustração e até na fuga para o consumo de drogas lícitas e ilícitas. Na maioria dos casos, não é a medicina que os frustra, mas as con-dições dificílimas e até degradantes em que a exercem. Pior agora, com esta aventura inconsequente deste progra-ma eleitoreiro do governo federal”, de-sabafa Dr. Otávio Marambaia, presiden-te da Comissão de Ética e Disciplina da ABORL-CCF.

Mas, calma, não rasgue o diploma ou tranque a matrícula ainda. Há luz no fim do túnel! “Nossa atividade médi-ca experimenta mudanças, evoluções em diferentes aspectos, quer os rela-cionados não somente à assistência, mas também ao ensino e à pesquisa. Também cresce o envolvimento dos médicos na gestão, quer pública ou pri-vada. O exercício da medicina no Brasil pode caminhar para que comecemos a nos dedicar cada vez mais a buscar melhorias para a saúde do nosso povo, informando e dedicando-nos às estra-tégias que visem melhorias”, aposta Dr. Florentino Cardoso, presidente da As-sociação Médica Brasileira.

Medicina é o curso superior que ofe-rece mais vantagens profissionais, se-gundo o estudo Radar: Perspectivas Profissionais - Níveis Técnico e Superior, divulgado em julho de 2013 pelo Insti-tuto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). De acordo com o levantamen-to, baseado em informações de 2009 a 2012 do Cadastro Geral de Empre-gados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego, uma avaliação que considera salário, jornada de trabalho, facilidade de se conseguir um emprego e cobertura previdenciá-ria faz que a carreira médica tenha as condições consideradas as mais inte-ressantes a um futuro profissional.

O salário médio dos médicos ao longo da carreira, ainda segundo o IPEA, é o mais alto: R$ 8,4 mil; seguido pelo dos empregados no setor militar e de se-gurança, R$ 7,6 mil; e dos profissionais em serviços de transporte (engenheiros de trânsito, especialistas em logística, pilotos de aviação, administradores de portos e aeroportos, por exemplo), R$ 6 mil. Mas, obviamente, a medição não

inclui os custos com a formação, com a montagem de um consultório, com os inúmeros impostos e a necessidade constante de atualização profissional.

Não só a remuneração, no entanto, coloca a medicina em primeiro lugar no ranking de profissões do instituto. A facilidade de encontrar um emprego, expresso pela taxa de ocupação de 97% dos médicos formados, também é a maior entre as carreiras e a cobertura previdenciária, de 93,3%, são fatores determinantes.

Os números não mentem. Será? Os médicos e os estudantes de medicina afirmam que o cenário da carreira não é bem esse pintado pelo estudo do IPEA. Eles reclamam das condições de trabalho, dos salários baixos, especial-mente nos primeiros anos de profissão, e das jornadas de trabalho excessivas. As cargas horárias são muito pesadas. Não é raro um médico recém-formado ter de trabalhar 60 horas semanais para ganhar mais ou menos R$ 2 mil.

Além da extensa jornada de trabalho, muitos ainda têm de manter um segun-do emprego, geralmente em forma de plantões, para complementar o salário, especialmente os que fazem a residên-cia fora da cidade de origem e em hos-

pitais públicos, em que recebem uma bolsa de estudos em média no valor de R$ 2,6 mil, incluindo auxílio-moradia.

“Sim, o mercado de trabalho do médi-co mudou”, atesta Dr. Florentino. “Con-tinua tendo grande oferta, mas há uma crescente precarização das relações de trabalho, especialmente no setor públi-co e mais ainda nas pequenas e médias cidades. Claro, que hoje temos mais informação, o que ajuda termos maior conhecimento da realidade da vida do médico em diferentes lugares”.

São vários os fatores que concorrem para essa precarização citada pelo presidente da AMB. “Há um número absurdo de escolas médicas sem ne-nhuma condição de oferecer qualidade de ensino para os alunos, além do alto custo associado a ela e pouquíssimas oportunidades de se cursar uma boa residência médica e complementar a formação profissional adequadamente”, explica Dra. Wilma Terezinha Anselmo Lima, Chefe do Departamento de Oftal-mologia, Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universi-dade de São Paulo.

A médica aponta ainda que as dificul-dades da carreira também afetam o

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Carreira

De acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (Inep), o

índice de desistência nas faculdades de medicina

do país é de apenas 4%, bem distante das profissões consideradas “descoladas”:

processamento da informação (36%),

marketing (35%) e ciências da computação (32%).

profissional no aspecto pessoal. “Acre-dito que, como somos seres humanos afetivos, isso é normal. Vivenciamos o atendimento público e suas precarie-dades; participamos de comissões polêmicas; coordenamos disciplinas, ambulatórios; chefiamos departamen-tos... Todas essas funções administra-tivas, que nos fazem responsáveis por melhorias no ensino e no atendimento, nos tornam vulneráveis. Difícil mesmo, entretanto, é quando nos vemos diante da impossibilidade de resolver o proble-ma do paciente. É impossível conviver com esse tipo de frustração sem mudar o comportamento”, afirma.

Um artigo publicado em 1991, na Re-vista Brasileira de Clínica e Terapêu-tica, de autoria do agora aposentado professor associado do Departamento de Psiquiatria da Unifesp, Luis Antonio Nogueira Martins, destacava, já naque-la época, alguns fatores estressantes associados ao exercício profissional, como sobrecarga horária, privação de sono, contato intenso e frequente com a dor e o sofrimento, contato com a morte, com pacientes difíceis, incer-tezas e limitações do conhecimento médico, o que acarretava o medo do erro médico. Todos esses elementos concorrem para o surgimento de um distúrbio psíquico, precedido de esgotamento físico e mental,

chamado de Síndrome de Burnout (leia mais na página 29). “Ser médico é es-tar médico. Isso interfere na nossa vida de forma intensa e cabal”, confirma Dr. Marambaia.

O otorrino Marco Antônio Corvo con-corda que é preciso saber conciliar a vida pessoal e a profissional. “Muitas vezes acabamos priorizando o traba-lho, pelas nossas inúmeras respon-sabilidades profissionais”. Entre suas responsabilidades, que inclui investir no consultório, depois de 13 anos de es-tudos ininterruptos entre a graduação e o doutorado, está a necessidade cons-tante de atualização. Ele programa-se para participar de pelo menos dois congressos anuais de grande porte e, a cada dois ou três anos, do congresso da Academia Americana. “É um inves-timento, não tem como não se manter atualizado. É uma exigência profissio-nal”, afirma. Dr. Marambaia comple-ta: “De modo permanente e contínuo

me dedico à leitura, a participação em eventos médicos e a realização de pro-jetos de publicação científica no grupo que faço parte”.

Até aqui, as notícias não parecem boas. Mas se existe uma verdade absoluta em relação à medicina, é que quem faz não se arrepende. De acordo com o Insti-tuto Nacional de Estudos e Pesquisas (Inep), o índice de desistência nas facul-dades de medicina do país é de apenas 4%, bem distante das profissões consi-deradas “descoladas”: processamento da informação (36%), marketing (35%) e ciências da computação (32%). “Vim de uma família de poucas posses, fui o primeiro médico da minha família, vivi em uma época em que tudo era difícil. Mas o principal plano da minha vida era, e continua sendo, cuidar de pessoas”, declara Dr. Otávio Marambaia. “A me-dicina nunca deixará de ser nobre, pois lidamos com o bem maior das pessoas: a saúde”, completa Dr. Florentino Car-doso. Quanto ao desânimo que pode surgir diante dos desafios profissionais, Dr. Marambaia recomenda: “sejam mais junco e menos carvalho”.

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Entrevista

Psicóloga com longa experiência na pesquisa sobre a incidência e as causas da síndrome, que é muitas vezes confundida com estresse e depressão, a Dra. Ana Maria falou à VOX Otorrino sobre as características do distúrbio, a incidência e seus desdobramentos.

Síndrome de Burnout: muito além do estresse

Prof. Dra. Ana Maria Teresa Benevides Pereira

Membro do GEPEB - Grupo de Estudos sobre Estresse e Burnout Profa. Adjunta da PUCPR - Pontifícia Universidade Católica do Paraná e Orientadora do Programa de Mestrado e Doutorado em Educação para a Ciência da UEM - Universidade Estadual de Maringá Orientadora do Programa de Doutorado da UAM - Universidad Autónoma de Madrid

Em que consiste a Síndrome de Burnout? Quais seus sin-tomas?

A Síndrome de Burnout é uma reação ao estresse ocupacio-nal que se tornou crônico. Sem possibilidade de lidar com as tensões do ambiente de traba-lho, o profissional busca uma forma de se manter em seu posto laboral e desenvolve o burnout. Assim sendo, esta síndrome vai além do estresse. Esta possui uma dimensão de-nominada exaustão emocional, que é o elemento representativo do estresse na síndrome, com sintomas como ansiedade, irri-tabilidade, cefaleias/enxaque-cas, dores musculares, insônia, dificuldade de relaxar, isolamen-to, crises de choro, instabilida-de emocional, impaciência e/ou outros. Os sintomas podem variar de pessoa para pessoa, pois dependem de característi-cas individuais e situacionais.

Além da exaustão, a pessoa também passa a apresentar um

distanciamento emocional dos demais, denotando atitudes de desumanização. É considerada uma característica defensiva da síndrome, uma forma de se proteger das demandas, em es-pecial as afetivas, do ambiente ocupacional (pacientes, clien-tes, alunos, colegas de traba-lho...). Como, de forma geral, o Burnout sobrevém em profissio-nais idealistas, perfeccionistas, responsáveis, fortemente identi-ficados com seu trabalho, estes se desapontam com suas ativi-dades laborais, sentem-se ine-ficientes e apresentam reduzida realização no trabalho. Esta é considerada por alguns auto-res como a terceira dimensão da síndrome. Há pesquisadores que consideram as duas primei-ras dimensões descritas como as centrais para se caracterizar o Burnout, assim como outros que acrescentam a culpa como uma dimensão viável.

Como diferenciá-la de um simples caso de estresse?

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Entrevista

O estresse ocorre quando a pessoa acredita não possuir re-cursos necessários para fazer frente às demandas, quando sente que algo a ameaça e se percebe sem a capacidade sufi-ciente para o enfrentamento. O Burnout é decorrente de um es-tresse ocupacional, isto é, ne-cessariamente do ambiente de trabalho. É sempre um distres-se, isto é, um estresse conside-rado negativo (diferentemente do eustresse, um estresse po-sitivo como a promoção no em-prego ou a mudança para uma casa nova e desejada). Por ou-tro lado, manifesta a dimensão de desumanização, o que não ocorre no estresse.

Esta é uma doença moderna, reflexo das mudanças da so-ciedade em relação às pres-sões por resultado no traba-lho, por sucesso?

Provavelmente o Burnout sem-pre existiu. No entanto, o mundo moderno se deu conta de que as exigências do trabalho, prin-cipalmente em ambientes que mantinham condições organiza-cionais “tóxicas”, perdiam seus melhores funcionários (vide as características citadas acima) acarretando queda da qualida-de e produtividade, turn over, bem como custos com licenças médicas, novas contratações e treinamentos.

Profissionais da saúde, em geral, são bem atingidos pela síndrome. Por que esta cate-goria é mais afetada?

Inicialmente, nos anos 70 do sé-culo passado, se atribuiu esta síndrome aos profissionais de saúde e educação. Posterior-mente se verificou que qualquer

profissional pode estar sujeito a desenvolver o Burnout, pois as características do local de traba-lho são mais importantes do que a atividade em si. Inclusive, des-de 1999, o Brasil admite o Bur-nout como Doença do Trabalho.

Quem são os mais atingidos, homens ou mulheres?

Independe do gênero. No entan-to, em setores onde a presen-ça masculina é mais marcante, as mulheres podem apresentar índices mais elevados, possi-velmente pela cobrança mais intensa de seus pares, além da dupla jornada de trabalho a que, em geral, estão submeti-das (afazeres domésticos, ma-ternidade).

A síndrome tem tratamento? Qual? Medicação, terapia?

Principalmente nos momen-tos mais agudos da síndrome, a medicalização pode fornecer

Leitura recomendadaBurnout: quando o trabalho ameaça o bem-estar do traba-lhador

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um substancial alívio. Entretan-to, um exame das condições de como o trabalho vem se desen-volvendo e a psicoterapia pes-soal são elementos fundamen-tais.

Quais os possíveis desdobra-mentos da síndrome caso não haja um diagnóstico rápido?

O processo pode ir se agravan-do levando o trabalhador à in-capacidade funcional. Casos de suicídio também têm sido rela-tados.

Há algum estudo que aponte o número de casos no Brasil?

Infelizmente, no Brasil, boa par-te dos casos está mascarada sob o rótulo de “depressão” ou “estresse”. Cheguei a acom-panhar casos que haviam sido diagnosticados como Burnout, mas que no momento da apo-sentadoria foram intitulados como depressão.

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Ética

Por Dr. Otávio Marambaia

Presidente da Comissão de Ética e Disciplina da ABORL-CCF

Desde o surgimento des-ta onda de desconstrução da medicina e dos médi-cos pairou sobre nós todos

uma sombria nuvem. De tanto rece-ber flechadas, vindas e orquestra-das por um governo e um partido que sonham com o totalitarismo, os médicos têm variados motivos para frustrar-se. Se de um lado não vimos as chamadas “forças vivas” da socie-dade saírem em nossa defesa – pelo contrário! –, por outro, nós próprios ficamos desnorteados diante do tsu-nami de críticas e ataques raivosos a revelar que em muitos nichos da co-munidade brasileira, tal qual fogo de monturo, estava a chama da inveja, da raiva até, sobre nós. Enfim perce-bemos também que as nossas enti-dades nunca estiveram preparadas – e precisamos repensar suas estra-tégias para um ataque de tal magni-tude diante do qual ficaram patinando em dúvidas e incertezas.

Que tempos estes! Saímos dos pínca-ros do Olimpo para o Hades da exe-cração pública.

Tal crise revelou rancores contra nós que nunca, nos mais delirantes pen-samentos, poderíamos imaginar. A crise gerou outra: a de identidade. Afinal que profissional emergirá des-ta hecatombe? Humano, já sugerem alguns, como se inumanos fossemos! Despojados e crédulos que a mesma sociedade que nos vê como arrogan-tes e mercantilistas nos proverá de tudo que necessitamos para susten-tar nossas famílias e sonhos? Ge-neralistas quando se reverbera tanto contra o reducionismo especializado? Médicos do SUS e não do sistema privado?

Nesta hora não tenho resposta cabal. Na verdade, perguntas e mais per-guntas giram agora na minha e nas cabeças dos médicos. A principal de-las: o que é ser médico?

Não posso responder de outro modo sem dizer das coisas que sinto e senti durante toda a minha caminhada de vida e de profissão: ser médico é fazer de conta que a dor do outro é a sua própria. E ainda assim não demons-trar para poder tratá-la.

Ser médico é, estando doente, fingir não estar para cuidar dos outros – “ e médico fica doente, doutor”?

Ser médico é ser confundido com o estóico sacerdote, mas ser cobrado como um rei.

Ser médico é não “estar”, mas ser sempre médico em qualquer lugar: “Há algum médico aqui?”...

Ser médico é fazer “ouvidos de mer-cador” quando tantos impropérios lhe são proferidos e tratar com desvelo aquele que lhe injuriou.

Ser médico é estar exausto e ainda assim encontrar forças para continuar no atendimento em detrimento da sua própria vida e dos seus.

Ser médico é sentir-se derrotado e frustrado ao não vencer a doença e não conseguir curar o seu paciente.

Ser médico é estar disponível e aten-der àquele pedido no meio da festa ou do sono.

Ser médico é cuidar da vida e ser mensageiro da esperança!

Quantas vezes fomos ou sentimos isto nas nossas vidas? Fomos médicos em todas as vezes que assim fizemos ou nos fizeram. Ainda assim deve-mos continuar a fazer, independen-temente desta difamante campanha orquestrada por estes incompetentes e oportunistas de plantão, certo que, se em tal atitude perseverarmos, “que nos seja dado gozar felizmente da vida e da minha profissão, honrados para sempre entre os homens; se dele nos afastarmos ou infringir, o contrário aconteça.” (Hipócrates)

Ser Médico

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As formas de rinossinusite crônica que se apresentam com a formação de pó-lipo nasal (RSCcPN) ainda continuam

sendo um grande desafio de tratamento para os médicos otorrinolaringologistas. Apesar dos pólipos nasais estarem comumente as-sociados à asma, doença respiratória exacer-bada pela aspirina (AERD) e pacientes com fibrose cística, ainda não são conhecidos os mecanismos fisiopatogênicos precisos que levam ao desenvolvimento de inflamação crônica na cavidade nasossinusal. Um refle-xo da imprecisão etiopatogênica são as inú-meras alternativas terapêuticas testadas na literatura, que incluem o uso de antibióticos, corticosteroides tópicos e sistêmicos, des-congestionantes nasais, diuréticos, anti-his-tamínicos, anti-leucotrienos, anti-IL5, anti-IgE, lavagens nasais, dessensibilização à aspirina, entre outras formas de tratamento.

Diante de tantas alternativas, torna-se difícil para o otorrinolaringologista geral optar pela melhor forma de tratamento clínico para as RSCcPN. A grande maioria dos autores con-corda que o tratamento das RSCcPN deve

Edwin Tamashiro, Fabiana Cardoso Pereira Valera, Wilma T. Anselmo-Lima

Docentes da Divisão de Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – USP, Serviço de Rinossinusologia do Hospital das Clínicas da FMRP – USP.

O que há de novo?C

aros colegas, pacientes com rinossinusite aguda evoluem para resolução completa dos sintomas e, na  maioria das vezes, têm etiologia bem definida: virus.  Pacientes com rinossinusite crônica (RSC), por definição, naqueles nos quais o proces-so inflamatório persiste por mais de 12 semanas, têm etiologia bem mais difícil de ser esclarecida.   Alguns pacientes com rinossinusite crônica  se apresentam com polipose nasal.  Outros não.  Assim são classificados em dois grupos: RSC com

e sem polipose nasal, o que não resolve a questão da etiologia.  Enquanto os pesquisadores se esforçam para evoluir no melhor co-nhecimento da rinossinusite crônica, diversos tratamentos são empregados, incluindo medicamentos e cirurgia.  Este artigo  é muito importante pois sintetiza as principais formas de manejo clínico da rinossinusite crônica com polipose nasal e discute brevemente as indicações cirúrgicas. Boa leitura.   

Dr. Renato Roithmann

Tratamento Clínico para Rinossinusite Crônica com Pólipo Nasal: o que realmente funciona e o quando indicar cirurgia?

ser primariamente clínico, maximizado, sendo necessária abordagem cirúrgica em alguns casos quando há falha terapêutica. Baseado nessas premissas surge então uma primeira indagação óbvia: o que seria tratamento clí-nico maximizado? Para se definir tratamento clínico maximizado, é preciso primeiro saber o que realmente funciona.

Revisões sistemáticas recentes têm demons-trado que, apesar da euforia e esperança apresentada por alguns estudos, poucas formas de tratamento são realmente eficazes para o tratamento clínico das RSCcPN quan-do avaliadas de modo geral e coletivo (Alobid I, Mullol J. Role of medical therapy in the management of nasal polyps. Curr Allergy Asth Rep 2012, 12(2):144-53. Fokkens et al. EPOS 2012: European Position Paper on Rhinosinusitis and Nasal Polyps. A summary for otorhinolaryngologists. Rhinology 2012; 50(1): 1-12.). Dentre as diversas alternativas acima citadas, apenas o uso de corticosteroi-des tópicos e orais têm sido demonstrados por estudos placebo-controlados (nível de evidência Ia) como eficazes no tratamen-to da RSCcPN, com recomendação A. Os corticosteroides tópicos apresentam boa eficácia no controle ou na redução do póli-

po nasal, melhora na obstrução nasal e nos parâmetros objetivos de patência nasal, me-lhora da rinorreia e na sensação do olfato, além de melhora em escores de qualidade de vida. Dentre os corticoides tópicos, vários deles têm sido eficazes, como dipropionato de beclometasona, budesonida, propiona-to de fluticasona e furoato de mometasona. Quanto aos corticosteroides orais, algumas evidências apontam que para casos de RSC-cPN mais extensa, a administração de cor-ticosteroide sistêmico seguido de aplicação de corticosteroide tópico é mais eficaz em longo prazo do que o uso isolado de corticoi-de tópico. Em virtude da ausência de estudos controlados envolvendo corticosteroides de depósito e da dificuldade de manejo em caso de efeitos adversos, recomenda-se a não utilização dessas formas de corticoide. Entre-tanto, nem todos os pacientes respondem de maneira satisfatória e esperada aos corticos-teroides, configurando muitas vezes falha de resposta terapêutica. Entre outros aspectos a se considerar, temos a dificuldade de adesão do paciente ao tratamento, a extensão da doença impossibilitando o alcance dos me-

EducaçãoContinuada

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EducaçãoContinuada

dicamentos até a cavidade dos seios parana-sais e finalmente a resistência intracelular aos corticoides, um capítulo à parte que tem sido muito estudado nos dias de hoje (Tuncer et al. The effectiveness of steroid treatment in nasal polyposis. Auris Nasus Larynx 2003; 30: 263-268; Valera F, Brassesco MS, Castro-Ga-mero AM, Cortez MA, Queiroz RG, Tone LG, Anselmo-Lima WT. In vitro effect of glucocorticoids on nasal polyps. Braz J Otorhi-nolaryngol. 2011;77(5):605-10. Valera FC, Queiroz R, Scrideli C, Tone LG, Anselmo-Lima WT. Evaluating budesonide efficacy in nasal polyposis and predicting the resistance to treatment. Clin Exp Allergy 2009 Jan;39(1):81-8).

Outra forma bastante popular de tratamento, mas que não apresentam evidências suficien-tes para recomendação generalizada são os antibióticos. Quando administrados em curto prazo (<4 semanas), em casos de RSCcPN não agudizados, alguns estudos apontam resultados controversos em relação ao con-trole dos sintomas e à melhora de parâmetros endoscópicos (ex: doxiciclina, acetil cefuroxi-ma e amoxicilina-clavulanato). No entanto, em casos de agudização, o uso de antibióticos é recomendado para alívio dos sintomas. Em virtude dos poucos dados acumulados até então, seu uso não é recomendado para o tratamento das RSCcPN de maneira genera-lizada. Da mesma forma, o uso de antibióticos por tempo prolongado (>3 meses), especial-mente os macrolídeos, também não tem efi-cácia comprovada.

Outras terapêuticas, como o uso de anti--histamínicos e lavagens nasais, apresentam benefício comprovado em grupos particula-res de pacientes com RSCcPN. Anti-histamí-nicos devem ser usados em pacientes com rinite alérgica e lavagens nasais e devem ser usados em pacientes com rinorreia e conges-tão nasal significativa, desde que não apre-sentem pólipos grandes que obliterem toda a cavidade nasal.

As demais terapêuticas mencionadas, como antifúngicos, descongestionantes, mucolíti-cos, anti-IL-5, anti-IgE, fitoterápicos, imuno-moduladores, bloqueadores de bomba de próton e dessensibilização à aspirina ou não apresentam eficácia ou não apresentam es-tudos suficientes que permitam extrapola-ções seguras.

Assim, os resultados baseados em evidên-cias têm definido e moldado o conceito de “tratamento clínico maximizado” ao longo dos últimos anos. No entanto, quando com-paradas enquetes de otorrinolaringologistas a respeito do que definem “tratamento clínico maximizado” para RSC (Sylvester et al. Int Forum Allergy Rhinol 2013; 3(2):129-32; Dubin et al. Am J Rhinol 2007; 21(4):483-8), percebe-se que mesmo nas

enquetes recentes há uma significativa dis-crepância em relação às recomendações efi-cazes de tratamento das principais diretrizes de RSCcPN. O que há cerca de uma década envolvia múltiplas opções terapêuticas simul-taneamente, hoje “tratamento clínico maximi-zado” baseado em evidência basicamente se concentra no uso de corticosteroide tópico associado ou não ao corticoide sistêmico. Considerando que o tratamento primordial para os pacientes com RSCcPN é clínico e que a falha ao tratamento clínico maximizado seja o principal motivo de indicação cirúrgica para os pacientes com RSCcPN, alguns po-deriam pensar que tem havido uma mudan-ça na filosofia de tratamento desta doença, minimizando tratamento clínico e maximizan-do o tratamento cirúrgico. No entanto, ainda não há na literatura evidências suficientes que diferenciem a eficácia dos diversos tratamen-tos apontados diante de condições distintas de RSCcPN, como em diferentes graus de extensão da doença (como em quadros le-ves, moderados e intensos) ou mesmo em diferentes graus de intensidade de sintomas. Além disso, a dificuldade de caracterização de insucesso terapêutico frente ao tratamen-to clínico, baseada na mensuração de quei-xas subjetivas, continua sendo um grande desafio para quem vai decidir o momento mais apropriado para se indicar a cirurgia. De modo geral, em nosso serviço didaticamente qualificamos três tipos de pacientes que ne-cessitam de momentos e abordagens cirúr-gicas distintas:

Pacientes que necessitam de tratamento clínico “maximizado” para realizar cirurgias “mínimas”. São tipicamente os pacientes com RSCcPN leves, com boa resposta ao corti-coide tópico, que necessitam de poucos ci-clos de corticoide oral, com poucas taxas de agudização e poucos cursos de antiobiotico-terapia. Geralmente não apresentam fatores de risco de mau prognóstico, como asma, doença respiratória exacerbada pela aspirina, fibrose cística ou imunodeficiências. Habitu-almente as indicações cirúrgicas costumam ser feitas após prolongado tratamento clínico, no qual a cirurgia deve ser indicada apenas em doença residual relacionada a incômodo pelo paciente, preservando o máximo possí-vel as estruturas anatômicas sadias.

Pacientes com necessidade de tratamento clínico “maximizado” com cirurgias modera-das, com remoção de todo tecido doente, in-cluindo na maioria das vezes a concha média e a realização de abertura dos óstios sinusais de modo mais amplo que os casos anterio-

res. Exemplos desses pacientes são aqueles com grau de sintomas ou extensão da doen-ça moderada a grave, com resposta parcial a corticoides, que necessitam de múltiplos cursos de corticoide e antibiótico sistêmicos, pacientes com fatores de mau prognóstico como asma e AERD e que foram submetidos a poucos ou ainda não foram submetidos a tratamento cirúrgico. Nos casos em que há associação com doenças pulmonares, como asma moderada ou AERD, é importante res-saltar que o controle dos sintomas de vias aéreas superiores após tratamento clínico e cirúrgico, leva também ao importante contro-le dos sintomas de vias aéreas inferiores, com menor necessidade de corticosteroide sistê-mico e uso de broncodilatadores.

Pacientes que necessitam de tratamento clínico “maximizado” com cirurgias amplas. São tipicamente os pacientes com polipose nasossinusal (RSCcPN acentuada) que não respondem à corticoterapia, que necessitam de múltiplos cursos de antibiótico ou corti-coide sistêmico, que já foram submetidos a múltiplos procedimentos cirúrgicos ou que estão associados a fatores de mau prognós-tico, especialmente fibrose cística e AERD. Nesses indivíduos, provavelmente a indica-ção cirúrgica mais precoce pouparia o pro-longamento de tratamentos clínicos pouco eficazes, abrindo a possibilidade de se tratar a doença sinusal com lavagens e aplicação de medicamentos tópicos (ex. antibióticos em maior concentração, surfactantes, corti-coides tópico em maior concentração, etc). Cirurgicamente, a depender do caso, opções como etmoidectomia anterior e posterior completas com turbinectomia média e/ou superior e megaantrostomia do maxilar são exemplos dessas abordagens mais amplas.

Apesar das revisões sistemáticas a respei-to das evidências de tratamento clínico das RSCcPN apontarem resultados de certa for-ma frustrantes no momento, é preciso enten-der que a RSC apresenta um amplo espectro de apresentação clínica extremamente varia-da, com diferentes combinações de fatores de risco, fatores prognósticos, microbiologia e marcadores biológicos distintos. Apesar das evidências apontarem que a grande maioria das terapias já testadas para RSCcPN não apresentam eficácia comprovada de modo coletivo, é importante frisar que alguns sub-grupos específicos poderiam sim ter bene-fício a algumas dessas terapias. O desafio futuro é compreender a complexidade e a heterogeneidade dessa doença para, assim, melhor tratarmos nossos pacientes.

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Perfil

Dr. Pedro Cavalcanti é otorrino e está satisfeito com os resultados da profissão. Mas também é apaixonado por carros antigos e fez desse hobby o combustível para não tirar o pé da estrada.

Por Sheila Godoi

Quando chegou ao Brasil, na década de 1970, o Ford Ma-verick era o sonho de consu-mo dos jovens. Todo mundo

queria ter o modelo. O carro, que veio ao país para concorrer com o clássico Opala, da Chevrolet, fez sucesso de imediato nas curvas e retas da vida. Mas a fama de beberrão e a crise do petró-leo acabaram desbancando as vendas da máquina. Ao todo, foram produzi-das pouco mais que 108 mil unidades, das quais a maior parte era do modelo Cupê – de duas portas. Quatro desses carros tem um dono muito peculiar. É Pedro Cavalcanti, otorrinolaringologista na maior parte do tempo e amante dos carros antigos nas horas vagas.

A história do médico com os carros antigos existe desde cedo, quando seu pai, o microempresário Pedro de Oliveira Cavalcanti, comprou um Ford 1928. “Esse é um carro com alto ín-dice de originalidade e que nós man-temos na família desde 1968”. Esse foi o primeiro passo no desenvolvi-mento de uma admiração pelo antigo mobilismo e que viria a sobressaltar as demais recentemente, em 2006. “Quando eu completei meus 50 anos, senti a necessidade de alimen-tar um hobby. A primeira coisa que

Infinita highway

me veio à cabeça foi ter carros anti-gos, participar da história do automó-vel e, isso, hoje, é uma paixão, não só minha, mas de toda a minha família, e que eu pretendo passar para os fi-lhos”, garante.

No trabalho ou nas estradas, a famí-lia sempre o acompanha. A adminis-tradora hospitalar Valéria Cavalcanti, com quem é casado há 35 anos, é responsável pela gestão das cinco unidades da Clínica Pedro Cavalcan-ti. Da união, nasceram três filhos: Pe-dro Guilherme, otorrinolaringologista; Paulo Humberto, administrador hos-pitalar; e Priscylla Cavalcanti, estilista.

Mas a lista tem ainda um nome ilus-tre: a matriarca Francisca Dantas Cavalcanti, conhecida como Dona Titi, que aos 88 anos se mantém fre-quentadora assídua dos eventos de automóveis antigos. “Nós temos ao menos um encontro mensal de car-ros antigos. Além disso, todo o fim de semana, eu escolho um dos carros para passear com a minha família, inclusive a minha esposa e a minha mãe”, diz o médico, com satisfação.

Dr. Pedro conta que a viagem mais

“Esses carros têm menos tecnologia, mas, em compensação, possuem uma rusticidade que faz com que seja um prazer dirigir”

Ford 1928: relíquia de família

“A otorrino me deu tudo aquilo que sonhei”

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Perfil

“Para mim, os modelos Maverick eram os mais bonitos, mais musculosos e com motor apaixonante, que era o motor V8, da Ford. Quando eu era jovem, eram sonho de consumo”

Dona Titi Dantas: a matriarca divide a paixão por carros com o resto da família

FavoritoModelo: Maverick

Fabricante: Ford

Lançamento no Brasil: 1973, no Rio de Janeiro – no ano anterior, havia sido exposto no Salão do Automóvel, em São Paulo

Produção no Brasil: 108.106 unidades

especial que realizou com a família para um encontro de carros antigos ocorreu na pequena cidade do in-terior do Rio Grande do Norte, Car-naúba dos Dantas, a cerca de 240 km de Natal. “É uma cidade que tem turismo religioso e, o mais importan-te, é onde minha mãe nasceu. Foi um grande evento na cidade e, para mim, um prazer enorme termos leva-dos o Clube do Carro Antigo do RN até lá”, informa.

Os encontros promovidos pela institui-ção acontecem mensalmente, segundo Dr. Pedro, que também é presidente do clube. Ao todo, são 70 sócios participan-tes de eventos que chegam a reunir 160 automóveis antigos. “As pessoas podem reviver o tempo do carro que foi do pai, de quando ele era jovem e mostrar para os filhos como é a história do automó-vel nesse país.” Um desses momentos ocorreu em paralelo ao 40º Congresso Brasileiro de Otorrinolaringologia e Cirur-gia Cérvico-Facial, realizado em Natal, em 2010. Foram expostos cerca de 60 carros antigos no centro de convenções da cidade.

Apesar dos quilômetros rodados Brasil adentro, ele fala das dificuldades de lo-gística para participar de eventos longín-quos. Um dos objetivos daqui pra frente é trazer os carros para o Encontro Pau-lista de Autos Antigos, o maior do seg-mento no país. Juntos, ele e o irmão, Jar-bas Cavalcanti, têm 12 carros antigos e duas motos. Mas não gostam de se-rem taxados de co-lecionadores. “Parte do acervo foi deixa-da por meu pai. Eu e meu irmão adquiri-

mos alguns. Não somos colecionadores, somos usuários. Nós usamos os carros antigos para andar e passear”, diz.

O favorito, Maverick, foi sua primeira aquisição. “Meu primeiro carro antigo

comprado foi um Maverick, 1978, carro que era o meu sonho, porque eu queria ter o motor V8”, detalha. “Até hoje sou um apaixonado por Maverick. Tenho quatro e cada vez que eu ando em um deles é um prazer, como se fosse um retorno à minha época de adolescente”, assume. Nas palavras de Dr. Pedro, os modelos eram os “mais bonitos, mais musculosos e com motor apaixonante”.

Ao que tudo indica, o gosto é pela his-tória, pelo sentimento de nostalgia, por dirigir clássicos. E qual será a próxima aquisição? “Quem tem carros antigos nunca fica procurando “aquele” carro an-tigo. Eu digo para a minha esposa que não vou mais adquirir carros, mas vez ou outra aparecem carros que nos traz uma lembrança da infância e nós temos o en-tusiasmo de fazer com que esses carros façam parte do acervo”, garante. É tudo uma questão de feeling. “É como quan-do o jovem olha para uma moça bonita, uma paixão que surge e não se pode se-gurar”, finaliza.

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maio / junho 2014 | www.aborlccf.org.br36 | Revista VOX OTORRINO

Otologia

Evento na Bahia reuniu 250 congressistas e já tem data marcada para a próxima edição

Quem perdeu a 16ª edição do Four Otology, que acon-teceu de 10 a 12 de abril, em Salvador (BA), anote aí

na agenda: a 17ª acontecerá de 12 e 14 de maio de 2016.

A edição deste ano do Four Otology contou com a presença de 250 otor-rinolaringologistas de todo o Brasil, sob o comando da Sociedade Bra-sileira de Otologia (SBO), em parceria com a Associação Brasileira de Otor-rinolaringoloia e Cirurgia Cérvico-Fa-cial (ABORL-CCF), o evento foi des-taque na mídia local e consagrou-se como oportunidade de atualização profissional e troca de conhecimento científico.

Prepare-se para o Four Otology 2016!

assistindo a  outras apresentações durante toda a reunião, discutindo informalmente os temas com os otor-rinolaringologistas brasileiros e elo-giando o alto nível científico do Four Otology foi algo notado e comentado entre todos nós”, disse.

Com  mesas redondas, palestras, apresentações de casos clínicos e conferências internacionais de Bruce Gantz, Jaime Hernandez Uribe, Tho-mas Lenarz e Vincent Daurrozet, o Four Otology 2014 discutiu uma série de temas importantes. Implantes au-ditivos no tronco encefálico, diagnós-tico diferencial de tumores do APC, otite média crônica e surdez sensório neural estiveram em pauta durante o congresso.

“Queremos agradecer o empenho, força e entusiasmo com que a equipe de funcionários da ABORL se dedicou ao evento da SBO. O trabalho deles esteve sempre acima do que o pro-fissionalismo exige, o que demonstra o seu grande apego aos nossos as-sociados”, agradeceu Dr. Lazarini.

Marcelo Tepedino, presidente da comissão científica do Four Otology, Paulo Lazarini, presidente da SOB e Fernando Ganança, presidente da ABORL-CCF

Dr. Paulo Lazarini entre palestrantes renomados

Segundo o presidente da SBO, Dr. Paulo Roberto Lazarini, o encon-tro proporcionou importante inter-câmbio de conhecimento. “A pre-sença dos convidados internacionais

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37Revista VOX OTORRINO |maio / junho 2014 | www.aborlccf.org.br

Editoria

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maio / junho 2014 | www.aborlccf.org.br38 | Revista VOX OTORRINO

CursoBJORL

Curso de revisão sistemática e meta-análise é recomendado a todos os otorrinos que produzem artigos científicos.

Nos dias 25 e 26 de julho, o auditório da ABORL-CCF vai receber o curso Revisão Sis-temática e Meta-Análise - O

que o otorrino precisa saber para ler e escrever, promovido pela Comissão organizadora do BJORL, formada pe-las doutoras Wilma Terezinha Ansel-mo-Lima, Eulalia Sakano e Mariana de Carvalho Leal Gouveia.

Com o objetivo de fornecer as bases para o associado consumir e pro-duzir revisões sistemáticas e meta--análises, o curso é uma oportunida-de única para aperfeiçoar o método científico na elaboração de artigos. “Quando comecei a convidar os colegas para escrever assuntos im-portantes de revisão para o BJORL, recebia sempre a mesma resposta: ‘Artigo de revisão simples sim, mas mais complexo é muito difícil, falta conhecimento sobre a metodologia. ’ Fui descobrindo aos poucos que em muitos cursos de pós-graduação de nossa especialidade não existia cursos de revisão sistemática e me-ta-análise”, explica Dra. Wilma.

Com a ideia de criar um curso espe-cífico sobre o tema, saiu em busca de quem pudesse ajudá-la. “Foi des-sa maneira que descobri um otorrino na USP, com formação e participa-ção contínua em Harvard sobre o assunto, o Rui Imamura. Ele aceitou nosso convite prontamente e tem nos ajudado desde o ano passado no Congresso Brasileiro, ministrando o curso sem qualquer compensação financeira. Gostaria, aliás, de deixar aqui nosso agradecimento especial a ele pela disponibilidade, desprendi-mento e colaboração fundamentais”. Também ministrarão o curso os dou-tores Fábio de Rezende Pinna, Ro-naldo Frizzarini e Cristiane Macedo.

O curso de dois dias vai explorar os temas de forma detalhada. A revisão sistemática é uma revisão planejada para responder a uma pergunta es-pecífica e utiliza métodos explícitos e sistemáticos para identificar, selecio-nar e avaliar criticamente os estudos incluídos nessa revisão. A meta-aná-lise é o método estatístico utilizado na revisão sistemática.

Brazilian Journal promove curso em julho

Serviço:Curso de revisão sistemática e meta-análise Data: 25/07 – 8h às 18h

26/07 – 8h às 12h Local: Auditório Luc Louis Mauri-ce Wecx (ABORL-CCF) Inscrições:

www.aborlccf.org.br Informações: [email protected] Telefone: (11) 5053-7502

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39Revista VOX OTORRINO |maio / junho 2014 | www.aborlccf.org.br

Rinologia

Novas técnicas de tratamento, outros formatos de diagnós-tico, mudanças no quesito prevenção e na reincidência

de uma doença. A verdade é que a medicina está em constante evolu-ção. Sob a proposta de atualizar os conhecimentos em rinites e sinusites, a ABORL-CCF e a Academia Brasilei-ra de Rinologia firmaram uma parceria para levar um curso itinerante a qua-tro cidades brasileiras:

Recife Campinas Porto Alegre Rio de Janeiro

O presidente da Comissão de Cursos e Eventos da ABORL-CCF e coorde-nador nacional do projeto, Dr. Fabrí-zio Romano, explica que o objetivo é realizar um update na área de obs-trução nasal. Entre os temas, serão abordados os diagnósticos diferen-

Pé na estrada!Curso Itinerante de Rinologia passa por Recife, Campinas, Porto Alegre e Rio de Janeiro e aborda atualizações em obstrução nasal.

Por Sheila Godoi

ciais e a investigação, os tratamentos clínicos das rinites alérgicas e da po-lipóse nasal e o tratamento cirúrgico da obstrução nasal.

Para Romano, a parceria entre as so-ciedades é rica. “Uma das grandes missões da ABORL-CCF é levar edu-cação médica aos associados e a ABR, como braço científico, tem um importante papel nesse processo”, ressalta. Dr. João Telles, presiden-te da ABR e também coordenador nacional do curso, concorda com o colega: “O projeto itinerante é uma forma de levar informações subs-tanciosas às outras localidades, ele-vando o nível de conhecimento dos rinologistas. Juntas, as sociedades priorizam a formação e a integração”.

Para participar, basta se inscrever gra-tuitamente na data e local de realização do curso. Mais informações podem ser obtidas no telefone (11) 5053-7500.

O Curso Itinerante de Rinologia já tem quatro cidades e coordenadores confirmados. Confira:

Cidade Coordenador

Recife (PE) Dr. Corinto V. Pereira

Campinas (SP) Dra. Eulália Sakano

Porto Alegre (RS) Dr. Renato Roithman

Rio de Janeiro (RJ) Dr. Guilherme Almeida

Boa leitura!Dr. João Telles recomenda o livro Tratado de ORL, que traz um rico embasamento teórico na área de rinologia. À venda na loja virtual da ABORL-CCF, a partir de R$ 750,00 (associados quites) ou R$ 1.180,00 (não sócios).

“Uma das grandes missões da ABORL-CCF é levar educação médica aos associados e a ABR, como braço científico, tem um importante papel nesse processo”

Dr. João Telles

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maio / junho 2014 | www.aborlccf.org.br40 | Revista VOX OTORRINO

Editoria

Centro de Convenções FIERGS

Av. Assis Brasil, 8787 Porto Alegre/RS

Coordenação: Departamento de Eventos da ABORL-CCF

Informações: (71) 2104-3477 (71) 2104-3434 (11) 5053-7500 (11) 5053-7512

Julho 14 a 19 de julho II Curso Teórico e Prático de Formação e Treinamento para Otorrinolaringologistas em Implantes CoclearesCoordenação: Dr. Rodolpho Penna Lima Júnior Local: Rua Auriz Coelho, 235, 2º andar – Natal/RN Informações: (84) 8829-6975

25 a 26 de julho Revisão Sistemática e Meta-AnáliseCoordenação: Dra. Wilma Terezinha Anselmo Lima, Dra. Mariana de Carvalho Leal Gouveia, Dra. Eulália Sakano Local: ABORL-CCF – São Paulo/SP Informações: (11) 5053-7502

31 de julho a 2 de agostoI Congresso de Otorrinolaringologia do Hospital Israelita Albert Einstein VIII Simpósio de Tratamento da Síndrome da Apneia Obstrutiva do SonoCoordenação: Denilson Fomin, Luci Black Tabacow Hidal, Luis Carlos Gregório, Marcio Abrahao, Paulo Marcelo Zimmer, Sergio Luis de Miranda, Marcelo dos Anjos, Pedro Luiz Mangabeira Albernaz, Pedro Wey Barbosa de Oliveira, Rodrigo Oliveira Santos Local: Hospital Israelita Albert Einstein – São Paulo/SPInformações: (11) 2151-5239

Agosto4 de agosto de 2014 a 9 de fevereiro de 2015 Otomaster 2014Coordenação: Prof. Dr. Ricardo Ferreira Bento, Dr. Felipe Fortes e Dr. Luiz Carlos Barboza Júnior Local: Fundação Otorrinolaringologia – São Paulo/SP Informações: (11) 3068-9855

7 a 9 de agosto Rhinoplasty 2014Coordenação: José Antonio Patrocinio, Lucas G. Patrocinio, Tomas G. Patrocinio Local: OTOFACE – Uberlândia/MG Informações: (34) 3215-1143

7 a 9 de agosto Dissecção do Osso TemporalCoordenação: Prof. Dr. Paulo Roberto Lazarini Local: Santa Casa de São Paulo – SP Informações: (11) 2176-7235

11 a 15 de agosto IV Curso de Dissecção do Osso temporal, Eletrofisiologia da Audição e Monitoramento de Nervos Cranianos da Clinica PaparellaCoordenação: Prof. Dr. Luiz Carlos Alves de Sousa Local: Clinica Paparella de Ribeirão Preto – SP Informações: (16) 3610-8459

14 a 16 de agosto 13º Congresso da FORLCoordenação: Prof. Dr. Ricardo Ferreira Bento Local: Centro de Convenções de Goiânia – GO Informações: (11) 3068-9855

15 a 16 de agosto Cursos Teórico-Práticos no Tratamento da SAOS em 2014 – Curso de Cirurgia de Cabeça e Pescoço: Prótese Prototipada e Fixação Interna Rígida Para Reconstrução Mandibular e ATM – ArtroscopiaCoordenação: Dr. José Antonio Pinto e Dr. Nelson Colombini Local: Núcleo de Otorrino, Cirurgia de Cabeça e Pescoço e Medicina do Sono de São Paulo – SP Informações: (11) 5573-1970

20 a 22 de agosto 87º Curso Teórico-Prático de Cirurgia Endoscópica Naso-Sinusal, XVI de Dissecção em “S.I.M.O.N.T.” (Sinus Model Otorhino Neuro Trainer)Coordenação: Dr. Aldo Stamm e Dr. Leonardo Balsalobre Local: Complexo Hospitalar Professor Edmundo Vasconcelos – São Paulo/SP Informações: (11) 5080-4357

20 a 22 de agosto X Curso de Anatomia e Dissecção do Osso TemporalCoordenação: Dr. Iulo Barauna e Prof. Dr. Aldo Stamm Local: Complexo Hospitalar Professor Edmundo Vasconcelos – São Paulo/SP Informações: (11) 5080-4357

22 a 23 de agosto Cursos Teórico-Práticos no Tratamento da SAOS em 2014 – Curso Multidisciplinar: Odontologia do Respirador Oral na Criança e Adolescente. Tratamento Odontológico Junto à OtorrinopediatriaCoordenação: Dr. José Antonio Pinto e Dr. Nelson Colombini Local: Núcleo de Otorrino, Cirurgia de Cabeça e Pescoço e Medicina do Sono de São Paulo – SP Informações: (11) 5573-1970

22 a 24 de agosto 8º Curso Prático de Rinite Alérgica e AlergiaCoordenação: Dr. Sergio Maniglia e Dra. Gisele Kuntze Local: Hospital IPO – Curitiba/PR Informações: (41) 3314-1597

28 a 30 de agosto XLIV Curso de Cirurgia Funcional e Estética do NarizCoordenação: Prof. Dr. José Eduardo Lutaif Dolci e Prof. Dr. Ivo Bussoloti Filho Local: Santa Casa de São Paulo – SP Informações: (11) 2176-7235

28 a 30 de agosto91º Curso de Cirurgias Endoscópicas EndonasaisCoordenação: Prof. Dr. Ricardo Ferreira Bento, Dr. Marcus Miranda Lessa e Prof. Dr. Richard Voegels Local: Hospital Universitário Prof. Edgard Santos – Salvador/BA Informações: (11) 3068-9855

29 a 30 de Agosto Cursos Teórico-Práticos no Tratamento da SAOS em 2014 – Cirurgia de Moldes Para Avanço Maxilo Mandibular e Cirurgia de Modelos em PrototipagemCoordenação: Dr. José Antonio Pinto e Dr. Nelson Colombini Local: Núcleo de Otorrino, Cirurgia de Cabeça e Pescoço e Medicina do Sono de São Paulo – SP Informações: (11) 5573-1970

29 a 30 de Agosto Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono: A-ZCoordenação: Dr. Luis Carlos Gregório e Dra Fernanda Martinho Haddad Local: Hotel Travel Inn Live Lodge Ibirapuera – São Paulo/SP Informações: (11) 5080-4933

30 de agosto XIII Jornada de Otorrinolaringologia em Itaperuna/RJCoordenação: Dr. Paulo Tinoco Local: Auditorio Ayrton Moreira Basto – HSJA – RJ Informações: (22) 99710-3131

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Notíciasda ORL

De 1º a 3 de maio, aconteceu no Hotel Radisson, em Maceió, o XII Congresso Norte Nordeste

de Otorrinolaringologia.

Presidido pelo Dr. Marcos Melo, o evento reuniu cerca de 300 especia-

Em 22 de abril, a Livraria da Vila, em São Pau-lo, recebeu o lançamento da obra Otoneuro-logia Clínica, publicação da Editora Revinter em parceria com a Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial. O livro, que reúne capítulos teóricos e práti-cos sobre o tema, é de autoria dos doutores Denise Utsch Gonçalves, Fernando Freitas Ganança, Marco Aurélio Bottino, Mario Edvin Greters, Maurício Malavasi Ganança, Raquel Mezzalira, Roseli Saraiva Moreira Bittar e Ser-gio Albertino.  Os autores, de forma espon-tânea, cederam todos os direitos, inclusive sobre as receitas decorrentes da comercia-lização da obra, a favor da ABORL-CCF. A publicação já está disponível nas principais livrarias do país ao custo de 169 reais.

XII Congresso Norte Nordeste reúne grandes nomes em Maceió

Palestra do Dr. Lucas Patrocínio, de Minas Gerais

Lançamento do livro Otoneurologia Clínica

Otoneurologia Clínica, obra escrita por oito autores

listas, de todos os estados das regi-ões, e também um grande número de médicos vindos de São Paulo. A programação científica reuniu temas como Otorrinopediatria, Otologia, Plástica Facial, Otoneurologia, La-ringologia, Rinologia, Medicina de Sono, com palestras de profissionais renomados como Oswaldo Laércio, Agrício Crespo, Alexandre Felippu e Lucas Patrocínio. O evento contou ainda com a exposição de pôsteres com trabalhos aprovados pela comis-são científica. Dr. Fernando Ganança, presidente da ABORL-CCF, compa-receu ao congresso para prestigiar o trabalho dos colegas do Norte e Nor-deste, buscando a aproximação com as associações regionais.

Representando a ABORL-CCF nos debates realizados, o Dr. Rodolfo Bor-

saro Bueno Jorge discutiu a organi-zação das cooperativas médicas no painel “Miscelânea – O que o Otorrino deve saber sobre Cooperativas”.

“Os otorrinos se mostraram insatis-feitos com atual realidade de hono-rários médicos e também com re-lacionamento injusto e desigual dos convênios”, disse. “A cooperativa de especialidade médica combate, através da união de todos, a relação nociva ‘mé-dico-convênio’ promovendo honorários mais justos e reajustes anuais com ga-nhos reais”. A palestra do Dr. Rodolfo está disponível para o associado.

Além de contribuir com o debate do Congresso Norte-Nordeste, a ABORL-CCF montou um estande no evento, com publicações e informa-ções sobre a associação.

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HumORL

Tratava-se de uma sala de partos em um grande hospital. A par-turiente em posição e a equipe médica pronta. Recobertos por

aventais de cor verde-claro, o obstetra, a anestesista, a instrumentadora e o pessoal da retaguarda portavam a mes-ma cor dos campos cirúrgicos que co-briam a paciente e as mesas auxiliares. Obviamente, material esterilizado.

Faltava apenas o pai da criança que insistira em presenciar a manobra de

nascimento de sua primeira filha. En-volvido pelas dificuldades em colocar os propés, a máscara facial, o gorro e o avental cujo cinto fazia uma volta completa em seu corpo, atrasara-se para entrar na sala. O grupo, entre-tanto, mantinha-se à espera.

Quando terminou de vestir-se, uma funcionária levou-o até a sala. Já na porta recitou as orientações:

— Não toque em nada, mantenha-se pre-ferentemente com os braços para trás e,

Colega, Aziz Lasmar e José Seligman estão dando andamento ao quinto volume de histórias médicas com bom humor. Se você tem alguma, envie, por favor, para [email protected] e/ou para [email protected]

NÃO TOQUE NO VERDEJosé Seligman

especialmente, não toque em nada verde.

O pai, neste momento, baixou o olhar e deu-se conta de que os ladrilhos do chão formavam figuras coloridas onde imperava a cor verde. Não teve dúvidas, entrou na sala na ponta dos pés cuidando para não tocar nos ladrilhos verdes, dando passos ora pequenos ora largos com todo o cui-dado como se estivesse dançando.

Isto, passado o primeiro instante, sob as gargalhadas da equipe médica.

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43Revista VOX OTORRINO |maio / junho 2014 | www.aborlccf.org.br

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maio / junho 2014 | www.aborlccf.org.br44 | Revista VOX OTORRINO

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