revista textando - n°7

16
Como se preparar para uma nova vida, a de aposentado Página 3 A realidade do lucro que vem do lixo Página 10 e 11 Os bastidores dos bailões de Caxias Página 12 Quatro rodinhas e uma paixão: o skate Páginas 14 e 15 Livros com muitas lições de vidas Página 7 Jornal Textando Dezembro/2012 - N o 7 - Jornal-Laboratório da UCS - Universidade de Caxias do Sul Nos finais de semana permitidos, dois por mês, 580 crianças de 0 a 12 anos visitam os pais na Penitenciária Industrial de Caxias do Sul Páginas 8 e 9 pais e filhos Grades que separam

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Revista laboratório do curso de Comunicação Social – Universidade de Caxias do Sul – Textando - N°7

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Page 1: Revista Textando - N°7

Como se preparar para uma nova vida, a de aposentadoPágina 3

A realidadedo lucro quevem do lixoPágina 10 e 11

Os bastidores dos bailões de CaxiasPágina 12

Quatro rodinhas e uma paixão: o skatePáginas 14 e 15

Livros commuitas lições de vidasPágina 7

Jornal TextandoDezembro/2012 - No 7 - Jornal-Laboratório da UCS - Universidade de Caxias do Sul

Nos finais de semana permitidos, dois por mês, 580 crianças de 0 a 12 anos visitam os pais na Penitenciária Industrial de Caxias do Sul Páginas 8 e 9

pais e filhosGrades que separam

Page 2: Revista Textando - N°7

Bem-estar acima de tudo Preparação para a aposentadoria e para a chegada da terceira idade pode ser fundamental para alcançar ou manter a qualidade de vidaPOR ISADORA GUERRA

Depois de longos anos de contribuição com o Institu-to Nacional de Seguro So-

cial (INSS), um dos desejos da massa da população brasileira é conquistar uma aposentadoria digna. Porém, algumas pessoas não se planejam, param de trabalhar da noite para o dia e, muitas vezes, não conseguem se acostumar com a nova rotina.

Para Luciana Mancio Balico, psicó-loga especialista em terapia cogni-tivo-comportamental, a população deve se preparar para a aposenta-doria desde o primeiro dia de tra-balho. “Tem que pensar que tipo e estilo de vida vai querer ter e com que idade. Também deve planejar como chegará lá. Infelizmente, pou-cos pensam nisso e uma proporção menor ainda implementa um plano de ação”, resume Luciana.

Para conscientizar seus colabora-dores, algumas empresas até fazem uma preparação para o afastamen-to do trabalho (PPAT). Geralmente, essa ação começa nos últimos me-ses de colaboração do funcionário e inclui o setor de Recursos Humanos.

No entanto, a aposentadoria ainda não faz parte dos planos da maioria dos trabalhadores.

Conforme a psicóloga, as pessoas que não se antecipam - e que tam-bém não recebem acompanhamen-to de PPAT - são mais propensas a estranhar a nova situação. “Outro ponto importante são os pensa-mentos que invadem a cabeça dos aposentados, relacionados a ser pro-dutivo, útil e valorizado. Eles geram sentimentos que, por sua vez, geram comportamentos e reações, como tristeza”, lembra.

Uma aposentadoria tranquila, de acordo com Luciana, ocorre quan-do a pessoa encontra atividades que lhe dão prazer. O importante é manter corpo e mente saudáveis, com a ajuda de caminhadas, nata-ção, hidroginástica, alimentação adequada e leituras. “Voltar a es-tudar na Universidade da Terceira Idade (UNTI), por exemplo, permite experienciar tarefas e atividades, além de oportunizar outras ativida-des para ver o que gosta ou não de fazer”, indica Luciana.

Ivonete Maria de Lima, 57 anos, recebeu a aposentadoria em 10 de março de 2011. Licenciada em Pe-dagogia, professora de educação infantil e séries iniciais do ensino fundamental, trabalhou 35 anos no município e um com educação para jovens e adultos. Longe da escola, a aposentada sente muita falta do con-vívio com os colegas, pais e alunos. “Tenho saudade de ouvi-los, auxiliá--los nos problemas pessoais ou de educação, além de festejar com as conquistas obtidas, de construir pro-jetos e executá-los”, conta.

Para suprir essa necessidade, Ivone-te procura ligar ou ir à escola conver-sar com as crianças, além de praticar atividades que gosta e que pode fazer

para não entrar na rotina e nem cair na depressão. Suas paixões são o cro-chê e o tricô, assim como as palavras cruzadas. “Também acesso bastante a Internet e assisto filmes com os meus netos. Posso ficar acordada até tarde e levantar a hora que eu quiser”, diz.

Desde março de 2012 Ivonete parti-cipa do Clube de Mães do bairro Ser-rano, local onde ensina e faz crochê com as amigas. Apesar de sentir sau-dades da época em que trabalhava com os pequenos, a professora apo-sentada leva a vida numa boa. “Têm os pontos negativos e os positivos: agora estou presente no crescimento dos meus netos, mas fazer apenas as atividades de casa acaba ficando mo-nótono”, avalia Ivonete.

textando saúde 3

Saudade da escola

FOTO

S: IS

AD

ORA

GU

ERRA

Saiba mais- A aposentadoria por tempo de con-

tribuição pode ser integral ou propor-cional. Para ter direito à aposentadoria integral, o trabalhador homem deve comprovar pelo menos 35 anos de con-tribuição e a trabalhadora mulher, 30 anos.

- Para requerer a aposentadoria proporcional, o trabalhador tem que combinar dois requisitos: tempo de contribuição e idade mínima.

- Os homens podem requerer apo-sentadoria proporcional aos 53 anos de idade e 30 anos de contribuição, mais um adicional de 40% sobre o tempo que faltava em 16 de dezembro de 1998 para completar 30 anos de contribuição.

- Já as mulheres têm direito à pro-

porcional aos 48 anos de idade e 25 de contribuição, mais um adicional de 40% sobre o tempo que faltava em 16 de dezembro de 1998 para completar 25 anos de contribuição.

- Para ter direito à aposentadoria in-tegral ou proporcional, é necessário também o cumprimento do período de carência, que corresponde ao número mínimo de contribuições mensais indis-pensáveis para que o segurado faça jus ao benefício.

- Os inscritos a partir de 25 de julho de 1991 devem ter, pelo menos, 180 contribuições mensais.

- Os filiados antes dessa data têm de seguir uma tabela progressiva, disponí-vel no site www.previdencia.gov.br.

Ivonete começou a fazer tricô depois que parou

de trabalhar fora

textando opinião 2

Um jornal feito por focasNa edição de número sete do

Textando você vai encontrar, mais uma vez, reportagens

que abordam assuntos ligados à co-munidade de Caxias do Sul e que englobam várias áreas sociais. Na página 3, o tema é a aposentadoria. Fato que pode, se não for planejado, passar de uma fase proveitosa da vida para um período problemático. É discutido também o dilema dos comerciantes instalados às margens do desvio do pedágio, que fica entre Farroupilha e Caxias do Sul, e que tem previsão de ser desativado no primeiro semestre de 2013.

Ainda ganha destaque nesta edi-ção a área da educação. Você vai co-nhecer mais sobre uma escola que atende crianças com necessidades especiais e outros menores que es-crevem livros que ajudam a salvar vidas.

Nas páginas 8 e 9 o assunto é a segurança. A reportagem especial

do Textando expõe um drama vi-venciado por crianças filhas de pais que cumprem pena na Penitenciária Industrial de Caxias do Sul. Elas são sentenciadas a viver separadas do convívio e da troca de carinho pro-porcionada entre pais e filhos.

Outro assunto desta edição é a re-ciclagem de lixo. O destaque é para o volume de material reciclável, que aumentou mais de 170% nos últimos sete anos. Vale destacar que o setor gera, em Caxias, emprego e renda para mais de 1,4 mil pessoas.

Nas últimas páginas o enfoque é na cultura, no esporte e na astrono-mia. No campo cultural, abordamos os bailes, que são espaço de diversão para quem mora na cidade. Já no es-porte tem novidades no skate e na escalada. Na astronomia o assunto é curioso: conheça mais sobre o fenô-meno “o segundo sol”. Se fôssemos você, já teríamos virado a página! Boa leitura.

Universidade de Caxias do SulReitor: Isidoro ZorziVice-reitor: José Carlos KöchePró-reitor acadêmico: Evaldo Antonio KuiavaDiretora do Centro de Ciências da Comunicação:Marliva Vanti GonçalvesCoordenador do Curso de Jornalismo:Álvaro Benevenuto JúniorProfessor: Marcelo Miranda

Textando é um produto da disciplina de Laboratóriode Jornalismo Impresso - 2o semestre de 2012

ReportagemBárbara Demetrio, Caroline Dall’Agnol, Cristiano Machado Daros, Dimas Vinícius Ragazzon Dal Rosso, Franciele da Sil-va Duarte, Isadora Birck Guerra, Jéssica de Souza Monteiro, Júlio César Vieira de Souza, Micaela Lüdke Rossetti, Pedro Henrique Zanrosso, Robin Siteneski e Suélen Cristina Bas-tian

Projeto gráficoMicaela Lüdke Rossetti e Robin SiteneskiFoto de Capa: Caroline Dall’Agnol

FOTO

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EL S

CHIM

IDT

Desde que o homem se conhece como tal gosta de contar e ouvir his-tórias. As formas de relatar os casos, no entanto, vem passando por trans-formações ao longo de milênios. Se há algum tempo nossos antepassados se reuniam em torno de uma fogueira para compartilhar fatos ocorridos na aldeia, hoje nos reunimos em torno de jornais impressos, notebook, ta-blet, smartphone e outros, para saber o que se passa no mundo. As propor-ções mudaram, aliás, se agigantaram, mas o processo continua praticamente o mesmo. No entanto, quando muda-mos de lado e pensamos, enquanto jornalistas, em como fazer comunica-ção para esses novos leitores, descobri-mos que talvez o maior impacto acon-tecido tenha, justamente, afetado o processo do fazer jornalistico. E nesse ínterim, o jornal impresso acabou sen-do o mais atingido. E são dois fatores que contribuem para esse susto, (sim, porque ainda estamos no meio do pro-

cesso e não sabemos aonde isso irá pa-rar): primeiro, é o acesso imediato às informações que a internet propicia; segundo, o consumo de papel aliada a ideia de preservação e cuidados com o meio ambiente, começa a ficar cada vez mais próxima.

Mas será que por causa desses as-pectos estaríamos nos tornando reféns da mídia digital? A antropóloga e pro-fessora da ECA-USP Esther Hamburger, lembrou durante um encontro em São Paulo, recentemente, que a passagem do cinema para a televisão também provocou incertezas no universo da co-municação e que esses momentos de instabilidade são normais. Além disso, o impresso continua tendo uma receita maior do que o online (e ainda vai levar algum tempo para mudar), e quem afir-ma isso é a Folha de São Paulo.

Outro aspecto que as mídias digitais estão alterando, e de forma significa-tiva, são as narrativas de linguagem

visual do jornalismo, há um destaque para a importância das fotografias, a infografia e estrutura de apresentação do corpo do texto. Isso é positivo, pois deixa o leitor “respirar” diante de tanta informação. Além disso, o velho jargão jornalístico do “furo” parece ficar cada vez mais restrito aos veículos tradicio-nais, pois nesse oceano de informa-ções que a internet nos oferece, fica cada vez mais difícil detectar quem deu a notícia em primeira mão.

Enfim, o jornal impresso pode ser de-finido como uma síntese do que acon-teceu nas últimas 24h, e por isso, tem obrigação de trazer mais interpreta-ções sobre o fato. Agora, independente do suporte, o que realmente fará a dife-rença é a prática do jornalismo, pois a cada vez que uma pessoa acessa uma informação, no impresso ou no online, realiza o ato simbólico de sentar diante de uma fogueira e ouvir falar de sua al-deia, seja ela aqui ou no mundo.

Expediente

NOTÍCIAS DAMINHA ALDEIAPOR ADRIANA ANTUNES

Artigo

Page 3: Revista Textando - N°7

Bem-estar acima de tudo Preparação para a aposentadoria e para a chegada da terceira idade pode ser fundamental para alcançar ou manter a qualidade de vidaPOR ISADORA GUERRA

Depois de longos anos de contribuição com o Institu-to Nacional de Seguro So-

cial (INSS), um dos desejos da massa da população brasileira é conquistar uma aposentadoria digna. Porém, algumas pessoas não se planejam, param de trabalhar da noite para o dia e, muitas vezes, não conseguem se acostumar com a nova rotina.

Para Luciana Mancio Balico, psicó-loga especialista em terapia cogni-tivo-comportamental, a população deve se preparar para a aposenta-doria desde o primeiro dia de tra-balho. “Tem que pensar que tipo e estilo de vida vai querer ter e com que idade. Também deve planejar como chegará lá. Infelizmente, pou-cos pensam nisso e uma proporção menor ainda implementa um plano de ação”, resume Luciana.

Para conscientizar seus colabora-dores, algumas empresas até fazem uma preparação para o afastamen-to do trabalho (PPAT). Geralmente, essa ação começa nos últimos me-ses de colaboração do funcionário e inclui o setor de Recursos Humanos.

No entanto, a aposentadoria ainda não faz parte dos planos da maioria dos trabalhadores.

Conforme a psicóloga, as pessoas que não se antecipam - e que tam-bém não recebem acompanhamen-to de PPAT - são mais propensas a estranhar a nova situação. “Outro ponto importante são os pensa-mentos que invadem a cabeça dos aposentados, relacionados a ser pro-dutivo, útil e valorizado. Eles geram sentimentos que, por sua vez, geram comportamentos e reações, como tristeza”, lembra.

Uma aposentadoria tranquila, de acordo com Luciana, ocorre quan-do a pessoa encontra atividades que lhe dão prazer. O importante é manter corpo e mente saudáveis, com a ajuda de caminhadas, nata-ção, hidroginástica, alimentação adequada e leituras. “Voltar a es-tudar na Universidade da Terceira Idade (UNTI), por exemplo, permite experienciar tarefas e atividades, além de oportunizar outras ativida-des para ver o que gosta ou não de fazer”, indica Luciana.

Ivonete Maria de Lima, 57 anos, recebeu a aposentadoria em 10 de março de 2011. Licenciada em Pe-dagogia, professora de educação infantil e séries iniciais do ensino fundamental, trabalhou 35 anos no município e um com educação para jovens e adultos. Longe da escola, a aposentada sente muita falta do con-vívio com os colegas, pais e alunos. “Tenho saudade de ouvi-los, auxiliá--los nos problemas pessoais ou de educação, além de festejar com as conquistas obtidas, de construir pro-jetos e executá-los”, conta.

Para suprir essa necessidade, Ivone-te procura ligar ou ir à escola conver-sar com as crianças, além de praticar atividades que gosta e que pode fazer

para não entrar na rotina e nem cair na depressão. Suas paixões são o cro-chê e o tricô, assim como as palavras cruzadas. “Também acesso bastante a Internet e assisto filmes com os meus netos. Posso ficar acordada até tarde e levantar a hora que eu quiser”, diz.

Desde março de 2012 Ivonete parti-cipa do Clube de Mães do bairro Ser-rano, local onde ensina e faz crochê com as amigas. Apesar de sentir sau-dades da época em que trabalhava com os pequenos, a professora apo-sentada leva a vida numa boa. “Têm os pontos negativos e os positivos: agora estou presente no crescimento dos meus netos, mas fazer apenas as atividades de casa acaba ficando mo-nótono”, avalia Ivonete.

textando saúde 3

Saudade da escola

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S: IS

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GU

ERRA

Saiba mais- A aposentadoria por tempo de con-

tribuição pode ser integral ou propor-cional. Para ter direito à aposentadoria integral, o trabalhador homem deve comprovar pelo menos 35 anos de con-tribuição e a trabalhadora mulher, 30 anos.

- Para requerer a aposentadoria proporcional, o trabalhador tem que combinar dois requisitos: tempo de contribuição e idade mínima.

- Os homens podem requerer apo-sentadoria proporcional aos 53 anos de idade e 30 anos de contribuição, mais um adicional de 40% sobre o tempo que faltava em 16 de dezembro de 1998 para completar 30 anos de contribuição.

- Já as mulheres têm direito à pro-

porcional aos 48 anos de idade e 25 de contribuição, mais um adicional de 40% sobre o tempo que faltava em 16 de dezembro de 1998 para completar 25 anos de contribuição.

- Para ter direito à aposentadoria in-tegral ou proporcional, é necessário também o cumprimento do período de carência, que corresponde ao número mínimo de contribuições mensais indis-pensáveis para que o segurado faça jus ao benefício.

- Os inscritos a partir de 25 de julho de 1991 devem ter, pelo menos, 180 contribuições mensais.

- Os filiados antes dessa data têm de seguir uma tabela progressiva, disponí-vel no site www.previdencia.gov.br.

Ivonete começou a fazer tricô depois que parou

de trabalhar fora

textando opinião 2

Um jornal feito por focasNa edição de número sete do

Textando você vai encontrar, mais uma vez, reportagens

que abordam assuntos ligados à co-munidade de Caxias do Sul e que englobam várias áreas sociais. Na página 3, o tema é a aposentadoria. Fato que pode, se não for planejado, passar de uma fase proveitosa da vida para um período problemático. É discutido também o dilema dos comerciantes instalados às margens do desvio do pedágio, que fica entre Farroupilha e Caxias do Sul, e que tem previsão de ser desativado no primeiro semestre de 2013.

Ainda ganha destaque nesta edi-ção a área da educação. Você vai co-nhecer mais sobre uma escola que atende crianças com necessidades especiais e outros menores que es-crevem livros que ajudam a salvar vidas.

Nas páginas 8 e 9 o assunto é a segurança. A reportagem especial

do Textando expõe um drama vi-venciado por crianças filhas de pais que cumprem pena na Penitenciária Industrial de Caxias do Sul. Elas são sentenciadas a viver separadas do convívio e da troca de carinho pro-porcionada entre pais e filhos.

Outro assunto desta edição é a re-ciclagem de lixo. O destaque é para o volume de material reciclável, que aumentou mais de 170% nos últimos sete anos. Vale destacar que o setor gera, em Caxias, emprego e renda para mais de 1,4 mil pessoas.

Nas últimas páginas o enfoque é na cultura, no esporte e na astrono-mia. No campo cultural, abordamos os bailes, que são espaço de diversão para quem mora na cidade. Já no es-porte tem novidades no skate e na escalada. Na astronomia o assunto é curioso: conheça mais sobre o fenô-meno “o segundo sol”. Se fôssemos você, já teríamos virado a página! Boa leitura.

Universidade de Caxias do SulReitor: Isidoro ZorziVice-reitor: José Carlos KöchePró-reitor acadêmico: Evaldo Antonio KuiavaDiretora do Centro de Ciências da Comunicação:Marliva Vanti GonçalvesCoordenador do Curso de Jornalismo:Álvaro Benevenuto JúniorProfessor: Marcelo Miranda

Textando é um produto da disciplina de Laboratóriode Jornalismo Impresso - 2o semestre de 2012

ReportagemBárbara Demetrio, Caroline Dall’Agnol, Cristiano Machado Daros, Dimas Vinícius Ragazzon Dal Rosso, Franciele da Sil-va Duarte, Isadora Birck Guerra, Jéssica de Souza Monteiro, Júlio César Vieira de Souza, Micaela Lüdke Rossetti, Pedro Henrique Zanrosso, Robin Siteneski e Suélen Cristina Bas-tian

Projeto gráficoMicaela Lüdke Rossetti e Robin SiteneskiFoto de Capa: Caroline Dall’Agnol

FOTO

: MA

IQU

EL S

CHIM

IDT

Desde que o homem se conhece como tal gosta de contar e ouvir his-tórias. As formas de relatar os casos, no entanto, vem passando por trans-formações ao longo de milênios. Se há algum tempo nossos antepassados se reuniam em torno de uma fogueira para compartilhar fatos ocorridos na aldeia, hoje nos reunimos em torno de jornais impressos, notebook, ta-blet, smartphone e outros, para saber o que se passa no mundo. As propor-ções mudaram, aliás, se agigantaram, mas o processo continua praticamente o mesmo. No entanto, quando muda-mos de lado e pensamos, enquanto jornalistas, em como fazer comunica-ção para esses novos leitores, descobri-mos que talvez o maior impacto acon-tecido tenha, justamente, afetado o processo do fazer jornalistico. E nesse ínterim, o jornal impresso acabou sen-do o mais atingido. E são dois fatores que contribuem para esse susto, (sim, porque ainda estamos no meio do pro-

cesso e não sabemos aonde isso irá pa-rar): primeiro, é o acesso imediato às informações que a internet propicia; segundo, o consumo de papel aliada a ideia de preservação e cuidados com o meio ambiente, começa a ficar cada vez mais próxima.

Mas será que por causa desses as-pectos estaríamos nos tornando reféns da mídia digital? A antropóloga e pro-fessora da ECA-USP Esther Hamburger, lembrou durante um encontro em São Paulo, recentemente, que a passagem do cinema para a televisão também provocou incertezas no universo da co-municação e que esses momentos de instabilidade são normais. Além disso, o impresso continua tendo uma receita maior do que o online (e ainda vai levar algum tempo para mudar), e quem afir-ma isso é a Folha de São Paulo.

Outro aspecto que as mídias digitais estão alterando, e de forma significa-tiva, são as narrativas de linguagem

visual do jornalismo, há um destaque para a importância das fotografias, a infografia e estrutura de apresentação do corpo do texto. Isso é positivo, pois deixa o leitor “respirar” diante de tanta informação. Além disso, o velho jargão jornalístico do “furo” parece ficar cada vez mais restrito aos veículos tradicio-nais, pois nesse oceano de informa-ções que a internet nos oferece, fica cada vez mais difícil detectar quem deu a notícia em primeira mão.

Enfim, o jornal impresso pode ser de-finido como uma síntese do que acon-teceu nas últimas 24h, e por isso, tem obrigação de trazer mais interpreta-ções sobre o fato. Agora, independente do suporte, o que realmente fará a dife-rença é a prática do jornalismo, pois a cada vez que uma pessoa acessa uma informação, no impresso ou no online, realiza o ato simbólico de sentar diante de uma fogueira e ouvir falar de sua al-deia, seja ela aqui ou no mundo.

Expediente

NOTÍCIAS DAMINHA ALDEIAPOR ADRIANA ANTUNES

Artigo

Page 4: Revista Textando - N°7

textando TRÂNSITO 4

Desvio após fim do pedágioA estrada alternativa poderá sofrer mudanças com a desativação dacobrança na RS-122, acreditam os comerciantes e moradores do localPOR FRANCIELE DUARTE

O fechamento do pedágio de Farroupilha, anunciado em 28 de junho deste ano pelo

governador Tarso Genro, deixou os motoristas e os moradores do bairro Forqueta e da Linha Julieta conten-tes com a notícia. Já os comercian-tes lamentam. Os donos de bancas e de estabelecimentos, que se loca-lizam às margens do desvio, acredi-tam que o movimento do local vai cair e temem “o pior”: o fechamento de seus empreendimentos. Por con-ta disso, estão buscando alternati-vas para garantir o sustento futuro.

O empresário Paulo Jovani Duarte da Silva, proprietário de uma Serra-lheria, explica que trocou o antigo ponto pelo desvio. Mas com a no-tícia do fechamento, pensa, ainda em 2012, mudar a empresa de lu-gar. “Quando decidi transferir minha empresa para as margens do desvio imaginava que eu teria mais clien-tes pela movimentação do local. Até consegui aumentar a clientela, mas com a decisão do governador penso retornar para o antigo local”.

Assim como o proprietário da Ser-ralheria, donos de bancas aguardam a definição de uma data para o fim das atividades da Convias. De acordo com a concessionária, o fim do pedá-gio está previsto para abril de 2013, mas a data ainda não está confirma-da. Enquanto aguardam pelo fecha-mento, os comerciantes procuram soluções para resistir após a extinção do pedágio. “Não queria que fechasse. Todos os comerciantes também não. O nosso sustento sai daqui. A única certeza que temos é que não iremos permanecer no local. O movimento vai cair e as vendas também”, conta o comerciante Nilo Pericles, que há cinco anos mantém banca no desvio com a ajuda da esposa, Maria Pericles.

Para Hildemar Vargas da Silva, outro comerciante que mora e trabalha no desvio, que também aguarda uma decisão da Convias, acredita que o fim do pedágio será o fim do desvio. “Tenho certeza que o final do pedágio será o fim do movimento na Linha Julieta. Por isso, já comecei a procurar outro lu-gar para instalar o meu comércio”.

No dia 14 de janeiro de 2004, o prefeito de Farroupilha, na época Bolívar Pasqual (PMDB), autorizou a pavimentação do desvio do pe-dágio. Foi com o calçamento da rota que a maioria dos comercian-tes começou a se instalar no local.

O TRAJETO

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Faltando um ano para a desativação do pedágio de Farroupilha, os mora-dores da Forqueta e da Linha Julieta esperam melhoras no desvio do pedá-gio. A estudante Letícia Montemezzo (foto acima), 23 anos, moradora da Rua Luis Franciosi Sério, que liga Forqueta a Farroupilha pelo desvio, acredita que o fechamento da praça de pedágio vai diminuir a movimentação do local e a prefeitura de Caxias do Sul enxergará o bairro com outros olhos.

“Espero que o governo melhore as estradas. Forqueta vai além da rota de acesso do desvio. Nos últimos anos, o bairro foi esquecido pela prefeitura”. A estudante ainda explica que, além das ruas esburacadas, o desvio traz in-segurança para os moradores. “Com a pavimentação e o livre acesso na rota, os assaltos aumentaram no bairro. A

violência, assim como a deterioração das ruas, é um dos piores problemas do desvio”.

Para a moradora da Linha Julieta, Deise Perottoni, 22 anos, a rua não sendo mais rota do desvio do pedágio a qualidade de vida dos moradores no local irá melhorar. “Os moradores não enfrentarão mais congestionamentos, o barulho dos carros e dos caminhões irá diminuir, além dos assaltos”, conta Deise. Outra situação que a moradora relatou foi o descaso da prefeitura de Farroupilha com a região. “Depois da pavimentação, a prefeitura não arru-mou mais nada. Tem muitos buracos e é difícil circular pela rua. Mas como não temos alternativa, aguardamos o fechamento do pedágio e, assim, quem sabe podemos reivindicar me-lhoras para a prefeitura”.

Polêmicas

Buracos

A polêmica praça de pedágio de Farroupilha (foto ao lado) foi implantada no ano de 1998, pelo governador Antônio Britto (PMDB).

Em 2001, comandada pela atual concessionária Convias, os administradores do pedá-gio declararam guerra com a prefeitura, com o prefeito da época, Bolívar Pasqual (PMDB), e a comunidade de Farroupilha para impedir a pavimentação do desvio, que teve início em janeiro de 2004.

No mesmo ano, o então go-vernador Germano Rigotto (PMDB) se reuniu com lideran-ças da Serra e descartou a pro-posta de transformar a praça de Farroupilha em pedágio comu-

nitário.

Em 2007, a governadora Yeda Crusius (PSDB) anun-ciou um acordo para retirar os desvios de pedágio na BR-116 e na RS-122. Mas, logo em seguida, voltou atrás e optou por receber novas propostas da Convias e ouvir a comuni-dade antes de fazer mudan-ças.

E, neste ano, o governador Tarso Genro (PT) comunicou não renovar contrato com a Convias.

O fechamento está previsto para 2013. Agora resta aguar-dar para saber se Tarso irá cumprir o prometido e o pe-dágio terá o seu fim.

A situação dos buracos na rota do desvio é uma questão que preocupa os moradores do local. Na Forqueta, as queixas são constantes, mas até hoje não passaram disso. Nada foi resolvido e nada está previsto. De acordo com a Subprefeitura de For-queta, existem projetos para o me-lhoramento das estradas do bairro, mas nenhum, até o momento, foi aprovado.

Segundo a moradora Maria Olivei-ra Caro, o veículo dela quebrou em um dos buracos da Rua Arthur Perot-toni, a principal do bairro. “Reclamei com a Subprefeitura, com a Prefeitu-ra, mas até agora nada. Apenas me falaram que os buracos seriam tam-pados. Mas isso não adianta por mui-to tempo”. Essa situação também foi relatada por outros moradores. De acordo com Pedro Generosi, as ruas do bairro estão quase todas danifi-cadas. “Há alguns meses foi realizada uma recapagem na Rua da Unidade

Insegurança

até a Comunidade de Salete. Talvez, nesse momento, a prioridade, no meu ponto de vista, deveria ser as ruas Arthur Perottoni e Luis Franciosi Sério, mas sei que são rotas do des-vio e não seriam seleciondas para a recapagem. Mesmo assim seria mui-to importante para nós moradores. Isso deveria ser levado em conta”, ex-plica Generosi.

Conforme a Secretaria de Trânsi-to, Transportes e Mobilidade, assim como a Subprefeitura de Forqueta, existem projetos tramitando na Câ-mara de Vereadores, tanto para re-vitalização das estradas da Forqueta quanto para outros bairros. Como Forqueta foi contemplada com o recapeamento, no momento, estão em prioridade outros bairros que ainda não foram atendidos. Ainda de acordo com a secretaria, os bu-racos na rota do desvio sempre são tampados. Sempre há manutenção no local.

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Desvio após fim do pedágioA estrada alternativa poderá sofrer mudanças com a desativação dacobrança na RS-122, acreditam os comerciantes e moradores do localPOR FRANCIELE DUARTE

O fechamento do pedágio de Farroupilha, anunciado em 28 de junho deste ano pelo

governador Tarso Genro, deixou os motoristas e os moradores do bairro Forqueta e da Linha Julieta conten-tes com a notícia. Já os comercian-tes lamentam. Os donos de bancas e de estabelecimentos, que se loca-lizam às margens do desvio, acredi-tam que o movimento do local vai cair e temem “o pior”: o fechamento de seus empreendimentos. Por con-ta disso, estão buscando alternati-vas para garantir o sustento futuro.

O empresário Paulo Jovani Duarte da Silva, proprietário de uma Serra-lheria, explica que trocou o antigo ponto pelo desvio. Mas com a no-tícia do fechamento, pensa, ainda em 2012, mudar a empresa de lu-gar. “Quando decidi transferir minha empresa para as margens do desvio imaginava que eu teria mais clien-tes pela movimentação do local. Até consegui aumentar a clientela, mas com a decisão do governador penso retornar para o antigo local”.

Assim como o proprietário da Ser-ralheria, donos de bancas aguardam a definição de uma data para o fim das atividades da Convias. De acordo com a concessionária, o fim do pedá-gio está previsto para abril de 2013, mas a data ainda não está confirma-da. Enquanto aguardam pelo fecha-mento, os comerciantes procuram soluções para resistir após a extinção do pedágio. “Não queria que fechasse. Todos os comerciantes também não. O nosso sustento sai daqui. A única certeza que temos é que não iremos permanecer no local. O movimento vai cair e as vendas também”, conta o comerciante Nilo Pericles, que há cinco anos mantém banca no desvio com a ajuda da esposa, Maria Pericles.

Para Hildemar Vargas da Silva, outro comerciante que mora e trabalha no desvio, que também aguarda uma decisão da Convias, acredita que o fim do pedágio será o fim do desvio. “Tenho certeza que o final do pedágio será o fim do movimento na Linha Julieta. Por isso, já comecei a procurar outro lu-gar para instalar o meu comércio”.

No dia 14 de janeiro de 2004, o prefeito de Farroupilha, na época Bolívar Pasqual (PMDB), autorizou a pavimentação do desvio do pe-dágio. Foi com o calçamento da rota que a maioria dos comercian-tes começou a se instalar no local.

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Faltando um ano para a desativação do pedágio de Farroupilha, os mora-dores da Forqueta e da Linha Julieta esperam melhoras no desvio do pedá-gio. A estudante Letícia Montemezzo (foto acima), 23 anos, moradora da Rua Luis Franciosi Sério, que liga Forqueta a Farroupilha pelo desvio, acredita que o fechamento da praça de pedágio vai diminuir a movimentação do local e a prefeitura de Caxias do Sul enxergará o bairro com outros olhos.

“Espero que o governo melhore as estradas. Forqueta vai além da rota de acesso do desvio. Nos últimos anos, o bairro foi esquecido pela prefeitura”. A estudante ainda explica que, além das ruas esburacadas, o desvio traz in-segurança para os moradores. “Com a pavimentação e o livre acesso na rota, os assaltos aumentaram no bairro. A

violência, assim como a deterioração das ruas, é um dos piores problemas do desvio”.

Para a moradora da Linha Julieta, Deise Perottoni, 22 anos, a rua não sendo mais rota do desvio do pedágio a qualidade de vida dos moradores no local irá melhorar. “Os moradores não enfrentarão mais congestionamentos, o barulho dos carros e dos caminhões irá diminuir, além dos assaltos”, conta Deise. Outra situação que a moradora relatou foi o descaso da prefeitura de Farroupilha com a região. “Depois da pavimentação, a prefeitura não arru-mou mais nada. Tem muitos buracos e é difícil circular pela rua. Mas como não temos alternativa, aguardamos o fechamento do pedágio e, assim, quem sabe podemos reivindicar me-lhoras para a prefeitura”.

Polêmicas

Buracos

A polêmica praça de pedágio de Farroupilha (foto ao lado) foi implantada no ano de 1998, pelo governador Antônio Britto (PMDB).

Em 2001, comandada pela atual concessionária Convias, os administradores do pedá-gio declararam guerra com a prefeitura, com o prefeito da época, Bolívar Pasqual (PMDB), e a comunidade de Farroupilha para impedir a pavimentação do desvio, que teve início em janeiro de 2004.

No mesmo ano, o então go-vernador Germano Rigotto (PMDB) se reuniu com lideran-ças da Serra e descartou a pro-posta de transformar a praça de Farroupilha em pedágio comu-

nitário.

Em 2007, a governadora Yeda Crusius (PSDB) anun-ciou um acordo para retirar os desvios de pedágio na BR-116 e na RS-122. Mas, logo em seguida, voltou atrás e optou por receber novas propostas da Convias e ouvir a comuni-dade antes de fazer mudan-ças.

E, neste ano, o governador Tarso Genro (PT) comunicou não renovar contrato com a Convias.

O fechamento está previsto para 2013. Agora resta aguar-dar para saber se Tarso irá cumprir o prometido e o pe-dágio terá o seu fim.

A situação dos buracos na rota do desvio é uma questão que preocupa os moradores do local. Na Forqueta, as queixas são constantes, mas até hoje não passaram disso. Nada foi resolvido e nada está previsto. De acordo com a Subprefeitura de For-queta, existem projetos para o me-lhoramento das estradas do bairro, mas nenhum, até o momento, foi aprovado.

Segundo a moradora Maria Olivei-ra Caro, o veículo dela quebrou em um dos buracos da Rua Arthur Perot-toni, a principal do bairro. “Reclamei com a Subprefeitura, com a Prefeitu-ra, mas até agora nada. Apenas me falaram que os buracos seriam tam-pados. Mas isso não adianta por mui-to tempo”. Essa situação também foi relatada por outros moradores. De acordo com Pedro Generosi, as ruas do bairro estão quase todas danifi-cadas. “Há alguns meses foi realizada uma recapagem na Rua da Unidade

Insegurança

até a Comunidade de Salete. Talvez, nesse momento, a prioridade, no meu ponto de vista, deveria ser as ruas Arthur Perottoni e Luis Franciosi Sério, mas sei que são rotas do des-vio e não seriam seleciondas para a recapagem. Mesmo assim seria mui-to importante para nós moradores. Isso deveria ser levado em conta”, ex-plica Generosi.

Conforme a Secretaria de Trânsi-to, Transportes e Mobilidade, assim como a Subprefeitura de Forqueta, existem projetos tramitando na Câ-mara de Vereadores, tanto para re-vitalização das estradas da Forqueta quanto para outros bairros. Como Forqueta foi contemplada com o recapeamento, no momento, estão em prioridade outros bairros que ainda não foram atendidos. Ainda de acordo com a secretaria, os bu-racos na rota do desvio sempre são tampados. Sempre há manutenção no local.

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Rua Luis Franciosi

Sério, em Forqueta

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textando MOSTRA LITERÁRIA 7

Livros que mudam vidas

Rede de Atenção à Criança e ao Adolescente

O Projeto Mostra Literária da Rede Recria realiza todos os anos oficinas objetivando a

capacitação dos educadores e ofici-neiros das entidades, com curso de formação com profissionais da litera-tura local, regional e nacional, sob a coordenação da escritora Helô Baci-chette. Recria trabalha em parceria com a Prefeitura de Caxias do Sul, por meio da Fundação de Assistên-cia Social. Todos os anos realiza junto à Feira do Livro o lançamento oficial do Recriar Textos escrito pelas crian-ças envolvidas com as entidades as-

Recriar Textos transforma sonhos em realidade e revelajovens escritores com apoio de entidades ligadas à FAS

Com a Lei Federal 8.069, de 13 de julho de 1990, a política municipal dos direitos da criança e do ado-lescente passou a ser concebida em um formato de rede, ou seja, articulada através de um conjunto de ações governamentais e não--governamentais.

Desta forma, em 1995, foi cria-da a Rede de Atenção à Criança e ao Adolescente - Recria - , que hoje conta com um número su-perior a 70 entidades dos setores governamentais e não governa-mentais.

A Rede de Atenção à Criança e ao Adolescente de Caxias do Sul é

um conjunto de entidades gover-namentais, conselhos setoriais e poder Judiciário que trabalha de forma integrada, visando atender aos menores e famílias.

Os objetivos da Rede de Aten-ção à Criança e ao Adolescente de Caxias do Sul são facilitar, agilizar, viabilizar, propor e dinamizar ações nas diversas áreas de atenção aos menore e suas famílias (abrigos, centros educativos, saúde mental, dro-gadição, portadores de neces-sidades especiais, maus-tratos, apoio sócio-familiar). Todas es-sas ações são realizadas de for-ma integrada, abrangendo todo o munícipio.

sociadas à rede desde 2008.

O projeto foi fundado por Ana Flá-via Garcez em 2008 e, desde então, continua descobrindo os talentos das crianças através da escrita. O in-centivo é uma premiação para os melhores textos de acordo com a ca-tegoria exigida. Em 2011, ainda teve menção honrosa aos jovens, devido à boa produção de textos das crian-ças e adolescentes. No lançamento do livro, as crianças têm momentos de estrela, com direito a dar autógra-fos, homenagens e coquetel.

De acordo com Lucimara Pereira Lopes, coordenadora da Recria desde junho de 2011, “a Mostra Literária da Rede Recria tem sido uma prazerosa construção coletiva”. Ela explica que começa nas entidades da rede que se empenham em participar, em enviar seus educadores para o curso de capa-citação, perpassa pela Comissão Orga-nizadora, que inclui nós, da FAS, Biblio-teca Pública, Associação Criança Feliz e

demais parceiros, o Comdica, o Ilem e a Fundação Marcopolo. “Culmina na edi-ção do Recriar Textos, escrito com de-dicação e talento pelos nossos jovens escritores” , diz Lucimara. “Muito mais do que um projeto, posso dizer que a Mostra Literária é um sonho que virou realidade, resgatando a autoestima e elevando o conhecimento de nossas crianças, adolescentes e jovens atendi-dos pela Rede Recria”, conclui.

POR SUÉLEN CRISTINA BASTIAN

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Construção coletiva

Em Caxias do Sul há dois locais que atendem os deficientes in-telectuais ou deficientes múlti-

plos: a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) e a Escola Estadual Especial João Prataviera. Professores, pais e amigos comen-tam que a partir do momento que existe o contato com este tipo de deficiência o olhar sobre si próprio, sobre a vida muda literalmente. A escola teve origem junto à Apae, em 1962, e depois se organizou no pré-dio da rua Visconde de Pelotas, nú-mero 2056, no bairro Pio X, em 1998. A partir desta data, a João Prataviera passa a desenvolver atividades no atendimento a alunos com deficiên-cia intelectual.

Segundo Jocelice do Carmo Pessu-to Contini, 44 anos, assessora pedagó-gica no Setor dos Conselhos Escolares e Grêmios Estudantis da Secretaria Municipal de Educação e vice-direto-ra da escola, a organização é feita por classes de atendimento diferenciado, níveis e oficinas pedagógicas. Os alu-nos são matriculados de acordo com a idade e conforme o nível de desen-volvimento em que se encontram, após avaliação psicopedagógica.

Nas oficinas pedagógicas de Ati-vidades de Vida Diária (AVD) eles aprendem culinária, entre outras práticas, preparam a merenda esco-lar, fazem biscoitos, pães e massas para o lanche. Picam os legumes e re-alizam todo o preparo da sopa, que é

O sol brilha para todos

depois levada para o refeitório onde a merendeira finaliza o preparo.

Existe também a oficina de artes onde os alunos fazem os mais diver-sos trabalhos artesanais. Eles reci-clam, pintam, lixam, aplicam texturas em latas. Fazem trabalhos em madei-ra, letreiros e blocos lógicos. Tudo é vendido e os recursos servem para comprar novos materiais.

Ocorrem ainda atividades aquá-

ticas na Raiar, psicomotricidade na água, onde as crianças são benefi-ciadas. São 35 alunos que participam deste projeto. A Secretaria Municipal de Esporte e Lazer, através do Projeto Danças Tradicionalistas, oportuniza aulas de danças gaúchas. O Proje-to Recria oferece diversas oficinas, como teatro, dança, circo e musico-terapia.

Quem vai para a oficina já passou pelos diversos níveis oferecidos pela

escola. A vice-diretora afirma que as atividades têm como intuito prepará--los para a vida. “Desenvolver habili-dades para que eles possam se pre-parar, se defender aí fora e trabalhar uma rotina, capacitando para o mer-cado de trabalho. Para os alunos há uma rotina estabelecida. Temos um início,um meio e um fim”, relata Joce-lice. E é através desta proposta que a instituição encaminha muitos estu-dantes para o mercado de trabalho.

TEXTANDO CIDADE textando Educação 6

A Escola Estadual Especial João Prataviera desenvolveatividades para atender alunos com deficiência intelectual POR BÁRBARA DEMETRIO

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Luta diária pela inclusãono mercado de trabalho

A professora Irene Maria Armiliato Boeira, 60 anos, luta pela inclusão de pessoas com deficiência intelectual no mercado de trabalho na Escola João Prataviera. Ela, quando jovem, tinha o desejo de cursar belas artes, mas abdicou de seu sonho e fez pe-dagogia com ênfase em deficiência intelectual para poder compreender o que acontecia em seu próprio lar. Os seus dois filhos, Cassandra, 38, e Allyson, 29, haviam nascido com esta doença intelectual. “Eu corri atrás. Eu fui pesquisar. Eu não entendia o que era essa deficiência. Por que eles não andavam e não falavam como os ou-tros?”, recorda Irene.

Ela revela que tudo o que viu na teoria pôde vivenciar na prática. Lem-bra que muitas vezes foi vista pelas colegas chorando. “É preciso matar o teu sonho, como diz na psicologia,

para dar vida ao que tu tens. Eu preciso me conformar com o que eles demons-tram. Eu queria uma bailarina, mas nunca consegui colocar a Cassandra no balé. Hoje eu não choro, mas é difícil, porque existe muito preconceito.”

Irene trabalhou dez anos com alfabe-tização de jovens e adultos, depois se dedicou à área da deficiência intelec-tual. Na Escola João Prataviera já foi do Círculo de Pais e Mestres e atualmente preside o Conselho Escolar.

A Marcopolo fez parceria com a escola em 12 de maio de 2009 possibilitando o primeiro emprego para vários alunos. Na primeira turma estavam Cassandra e Allyson. Em 2008, a empresa apre-sentou o projeto e a escola mostrou o que poderia oferecer. Os alunos come-çaram no bairro Reolon em um núcleo com apoio da Fundação de Assistência Social - FAS e do Senai para ensinar na prática o que eles fariam na Marcopolo.

A Escola Especial João Pra-taviera completa 50 anos de

atividades em 2012

A professora Irene Boeira trabalha na inclusão de deficientes intelectuais no mercado de trabalho

Premiados do Centro Educativo da FAS

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textando MOSTRA LITERÁRIA 7

Livros que mudam vidas

Rede de Atenção à Criança e ao Adolescente

O Projeto Mostra Literária da Rede Recria realiza todos os anos oficinas objetivando a

capacitação dos educadores e ofici-neiros das entidades, com curso de formação com profissionais da litera-tura local, regional e nacional, sob a coordenação da escritora Helô Baci-chette. Recria trabalha em parceria com a Prefeitura de Caxias do Sul, por meio da Fundação de Assistên-cia Social. Todos os anos realiza junto à Feira do Livro o lançamento oficial do Recriar Textos escrito pelas crian-ças envolvidas com as entidades as-

Recriar Textos transforma sonhos em realidade e revelajovens escritores com apoio de entidades ligadas à FAS

Com a Lei Federal 8.069, de 13 de julho de 1990, a política municipal dos direitos da criança e do ado-lescente passou a ser concebida em um formato de rede, ou seja, articulada através de um conjunto de ações governamentais e não--governamentais.

Desta forma, em 1995, foi cria-da a Rede de Atenção à Criança e ao Adolescente - Recria - , que hoje conta com um número su-perior a 70 entidades dos setores governamentais e não governa-mentais.

A Rede de Atenção à Criança e ao Adolescente de Caxias do Sul é

um conjunto de entidades gover-namentais, conselhos setoriais e poder Judiciário que trabalha de forma integrada, visando atender aos menores e famílias.

Os objetivos da Rede de Aten-ção à Criança e ao Adolescente de Caxias do Sul são facilitar, agilizar, viabilizar, propor e dinamizar ações nas diversas áreas de atenção aos menore e suas famílias (abrigos, centros educativos, saúde mental, dro-gadição, portadores de neces-sidades especiais, maus-tratos, apoio sócio-familiar). Todas es-sas ações são realizadas de for-ma integrada, abrangendo todo o munícipio.

sociadas à rede desde 2008.

O projeto foi fundado por Ana Flá-via Garcez em 2008 e, desde então, continua descobrindo os talentos das crianças através da escrita. O in-centivo é uma premiação para os melhores textos de acordo com a ca-tegoria exigida. Em 2011, ainda teve menção honrosa aos jovens, devido à boa produção de textos das crian-ças e adolescentes. No lançamento do livro, as crianças têm momentos de estrela, com direito a dar autógra-fos, homenagens e coquetel.

De acordo com Lucimara Pereira Lopes, coordenadora da Recria desde junho de 2011, “a Mostra Literária da Rede Recria tem sido uma prazerosa construção coletiva”. Ela explica que começa nas entidades da rede que se empenham em participar, em enviar seus educadores para o curso de capa-citação, perpassa pela Comissão Orga-nizadora, que inclui nós, da FAS, Biblio-teca Pública, Associação Criança Feliz e

demais parceiros, o Comdica, o Ilem e a Fundação Marcopolo. “Culmina na edi-ção do Recriar Textos, escrito com de-dicação e talento pelos nossos jovens escritores” , diz Lucimara. “Muito mais do que um projeto, posso dizer que a Mostra Literária é um sonho que virou realidade, resgatando a autoestima e elevando o conhecimento de nossas crianças, adolescentes e jovens atendi-dos pela Rede Recria”, conclui.

POR SUÉLEN CRISTINA BASTIAN

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Construção coletiva

Em Caxias do Sul há dois locais que atendem os deficientes in-telectuais ou deficientes múlti-

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Segundo Jocelice do Carmo Pessu-to Contini, 44 anos, assessora pedagó-gica no Setor dos Conselhos Escolares e Grêmios Estudantis da Secretaria Municipal de Educação e vice-direto-ra da escola, a organização é feita por classes de atendimento diferenciado, níveis e oficinas pedagógicas. Os alu-nos são matriculados de acordo com a idade e conforme o nível de desen-volvimento em que se encontram, após avaliação psicopedagógica.

Nas oficinas pedagógicas de Ati-vidades de Vida Diária (AVD) eles aprendem culinária, entre outras práticas, preparam a merenda esco-lar, fazem biscoitos, pães e massas para o lanche. Picam os legumes e re-alizam todo o preparo da sopa, que é

O sol brilha para todos

depois levada para o refeitório onde a merendeira finaliza o preparo.

Existe também a oficina de artes onde os alunos fazem os mais diver-sos trabalhos artesanais. Eles reci-clam, pintam, lixam, aplicam texturas em latas. Fazem trabalhos em madei-ra, letreiros e blocos lógicos. Tudo é vendido e os recursos servem para comprar novos materiais.

Ocorrem ainda atividades aquá-

ticas na Raiar, psicomotricidade na água, onde as crianças são benefi-ciadas. São 35 alunos que participam deste projeto. A Secretaria Municipal de Esporte e Lazer, através do Projeto Danças Tradicionalistas, oportuniza aulas de danças gaúchas. O Proje-to Recria oferece diversas oficinas, como teatro, dança, circo e musico-terapia.

Quem vai para a oficina já passou pelos diversos níveis oferecidos pela

escola. A vice-diretora afirma que as atividades têm como intuito prepará--los para a vida. “Desenvolver habili-dades para que eles possam se pre-parar, se defender aí fora e trabalhar uma rotina, capacitando para o mer-cado de trabalho. Para os alunos há uma rotina estabelecida. Temos um início,um meio e um fim”, relata Joce-lice. E é através desta proposta que a instituição encaminha muitos estu-dantes para o mercado de trabalho.

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A Escola Estadual Especial João Prataviera desenvolveatividades para atender alunos com deficiência intelectual POR BÁRBARA DEMETRIO

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Luta diária pela inclusãono mercado de trabalho

A professora Irene Maria Armiliato Boeira, 60 anos, luta pela inclusão de pessoas com deficiência intelectual no mercado de trabalho na Escola João Prataviera. Ela, quando jovem, tinha o desejo de cursar belas artes, mas abdicou de seu sonho e fez pe-dagogia com ênfase em deficiência intelectual para poder compreender o que acontecia em seu próprio lar. Os seus dois filhos, Cassandra, 38, e Allyson, 29, haviam nascido com esta doença intelectual. “Eu corri atrás. Eu fui pesquisar. Eu não entendia o que era essa deficiência. Por que eles não andavam e não falavam como os ou-tros?”, recorda Irene.

Ela revela que tudo o que viu na teoria pôde vivenciar na prática. Lem-bra que muitas vezes foi vista pelas colegas chorando. “É preciso matar o teu sonho, como diz na psicologia,

para dar vida ao que tu tens. Eu preciso me conformar com o que eles demons-tram. Eu queria uma bailarina, mas nunca consegui colocar a Cassandra no balé. Hoje eu não choro, mas é difícil, porque existe muito preconceito.”

Irene trabalhou dez anos com alfabe-tização de jovens e adultos, depois se dedicou à área da deficiência intelec-tual. Na Escola João Prataviera já foi do Círculo de Pais e Mestres e atualmente preside o Conselho Escolar.

A Marcopolo fez parceria com a escola em 12 de maio de 2009 possibilitando o primeiro emprego para vários alunos. Na primeira turma estavam Cassandra e Allyson. Em 2008, a empresa apre-sentou o projeto e a escola mostrou o que poderia oferecer. Os alunos come-çaram no bairro Reolon em um núcleo com apoio da Fundação de Assistência Social - FAS e do Senai para ensinar na prática o que eles fariam na Marcopolo.

A Escola Especial João Pra-taviera completa 50 anos de

atividades em 2012

A professora Irene Boeira trabalha na inclusão de deficientes intelectuais no mercado de trabalho

Premiados do Centro Educativo da FAS

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9textando segurança 8

POR CAROLINE DALL’ AGNOL

Na manhã cinzenta de sábado, Jo-ana, 24 anos, segura o filho de

8 meses no colo enquanto espera na fila que separa o pai do pequeno Pedro. A distância se resume a uma selva de concreto cercada por mu-ros altos, policiais sempre atentos e cercas de arame farpado por todos os lados. A distância entre o pai e o filho já dura seis meses. No universo de Caxias do Sul, em que 565 pesso-as estão presas, existem 580 crianças na faixa de 0 a 12 anos que visitam os pais todos os finais de semana permitidos. Os nomes nessa repor-tagem são fictícios, mas as histórias são reais.

Mas, para Joana, mais do que mu-ros altos e celas de ferro, são os apro-ximadamente 120 quilômetros que dificultam esse contato quinzenal. Ela pega o ônibus Caxiense que liga Caxias do Sul a Porto Alegre, cidade onde ela e Pedro moram junto com a saudade e a ausência do pai, que se encontra preso em uma cidade estranha para eles. A cada 15 dias, a mãe faz o mesmo trajeto. Desce na rodoviária da cidade da Serra gaúcha e pega o táxi com destino à peniten-ciária Industrial de Caxias do Sul.

Assim como Joana, centenas de mulheres fazem o mesmo trajeto com o mesmo destino. Levam os fi-lhos para visitar os 565 presos que dividem as celas na selva de pedra. Atualmente, são 15 presos para cada cela com capacidade para quatro pessoas. Quinze vidas enjauladas em um mesmo espaço pequeno. Uma

realidade que segue em ritmo nacio-nal. No Brasil, cerca de 500 mil pes-soas encontram-se atrás das grades. Desse número, dados divulgados em 2010 pelo Departamento Penitenci-ário Nacional (Depen) mostram que o País tem 66% de presos a mais do que a capacidade suporta abrigá-los.

Naquela mesma fila, no sábado de manhã cinzenta, onde o sentimento é de ansiedade para ver quem está do outro lado das grades, encontra--se Maria, mãe de quatro meninas. O pai, preso há dois anos e dois meses, vê as pequenas apenas no fim de se-mana liberado para a visita dos me-nores de idade. Mas, naquela manhã, apenas a mãe estava ali, parada, com um sorriso simpático aguardando na fila que aumentava a cada momento. Nas mãos, a mulher segurava uma sacola com comida.

“Não é fácil cuidar das meninas so-zinha. Mas tem que ir levando, né? Fazendo do jeito que dá, a gente vai indo. Elas sabem onde o pai está e também vêm visitar. Agora, estão bem ansiosas, porque o pai vai che-gar em casa”, conta Maria. Segundo ela, todo dia as crianças perguntam pelo pai. “Elas acostumaram, nem viram o que aconteceu no começo”, relata Maria sobre a vida que levava no lar quando essa era completo.

Uma rotina que a sociedade não imagina que existe. Uma realidade cruel para quem vê, para quem sente, e para quem está longe. Longe assim como Pedro, que ainda visitará o pai, atrás das grades, por mais seis anos.

5 anos sem...

José, 52 anos, está preso há cinco anos. Pai de dois meninos e uma me-nina, diz que sofre com essa perda de contato com os filhos, mas entende. “O fato de não ver afasta, com certeza, mas é difícil se deslocar até aqui para me visitar. Eles têm o trabalho e não devem sair das suas atividades pra ver uma vida que eu que tenho que viver”, conta com tristeza.

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Crianças e jovens podem visitar os pais quinzenalmente acompanhados pelosresponsáveis

As grades que separam vidas

A visita constante dos filhos aos pais no presídio mostra a triste realidade de 580 crianças no município de Caxias do Sul

1.825 beijos ao acordar

5 anos sem abraçar e ver o pai em casa

dez presentes por ano em datas especiais

...aniversários com o pai

50 apresentações na escola sem o

pai estar presente

A mãe longe dos filhos

A perda de contato

Ex-presidiário fala sobre a saudade

Os nomes são fictícios,mas as histórias são reais

A pequena Vitória, 6 anos, visita o pai, 29, desde o primeiro ano de vida. Nesses cinco anos, muitas coisas ficaram ausentes no dia-a-dia da menina...

Para a assistente social Cleci Morei-ra Bellaver, que trabalha há 15 anos com a população carcerária, é muito complicado opinar sobre as visitas dos filhos aos pais na prisão. “Aqui é um lu-gar que não seria para as crianças. Não é lugar para eles. Os pais cometeram delito e têm que pagar. Mas também não dá pra gente tirar essa afetivida-de, essa aproximação. Tudo isso é bom para quem está aqui dentro e para o filho também. Eles sentem falta. O sen-timento é para ambos”, explica a assis-tente social.

A agente penitenciária que acom-panha essa realidade há 16 meses diz que percebe o quanto as relações en-tre pais e filhos são fortes. “Os menores saem daqui chorando, querem o pai, querem a mãe. Já vi criança ter que deixar de mamar no peito porque a mãe foi presa. Sensibiliza a gente”. Pau-lo trabalha há seis anos como agente penitenciário e diz que as relações fa-miliares são importantes para o preso. “Crianças, desde muito pequenas, visi-tam o presídio. Há casos de menores de 15 que faz 12 anos que visitam o pai na prisão, porque a pena é muito lon-ga. É importante o contato com o filho, mas aqui não é lugar para crianças.”

João, 46 anos, é ex-presidiário. Du-rante nove meses contou com o apoio e a força dos três filhos que estavam esperando por ele. “Sentar, conversar com eles. Abraçar. Dormia a semana inteira pensando neles: tomara que venham, tomara que venham. A visita dos filhos é muito importante”, conta contente, abraçado ao pequeno Hen-rique, de 8 anos.

O pai de Henrique ainda lembra das conversas que tinha com os colegas de cela. “A gente conversava bastante so-bre os filhos. Falava do cheiro de rua. Eu ficava num cantinho e olhava lá pra fora e pensava: uma hora eu saio.” João agora aproveita a liberdade para curtir os filhos.

Para Sílvia, 27 anos, a realidade dos corredores com grades está presente no dia-a-dia. Presa há três anos, mãe de um casal, uma menina de 10 anos e um menino de 3, conta que ficar longe dos filhos é uma dor diária. “É muito doloro-so estar longe. O pequeno de três anos tinha cinco meses quando eu fui presa. Ele mamava ainda.” O bebê visitou a mãe durante três meses, até a vó conseguir alimentá-lo somente na mamadeira. “Foi muito sofrido, mas sei que eu tenho que me manter calma, porque de 15 em 15 dias eles vêm me ver.”

A mulher que enfrenta essa nova re-alidade diz que tenta passar o aprendi-zado que recebeu da própria mãe para os filhos. “Eu sempre digo para eles: não adianta fazer a coisa errada.” Sílvia reco-nhece o erro grave que fez e ressalta que sabe que a ausência na vida dos filhos está sendo triste para todos. “Minha filha chora muito no Dia das Mães, porque tem apresentação no colégio e todas as mães estão lá, menos eu.” O menino foi criado pelo vó. “Para ele sou como uma mãe distante. Para o meu irmão também foi muito difícil. Ele rodou dois anos na escola. Os dois primeiros anos que eu estava aqui. Não conseguiu se manter firme no colégio.” Sílvia garante que se

pudesse voltar no tempo teria outro destino. “Não teria ficado rebelde com minha mãe, teria seguido os conselhos dela. Eu mudaria tudo. Eu penso todos os dias nos meus filhos, na minha mãe, no meu irmão”, desabafa. “Aqui é um lu-gar ruim, um lugar muito pesado. Mas se eles não viessem me visitar minha situa-ção com certeza seria pior. O que me se-gura viva são meus filhos, minha família”, conclui.

Visitas de menoresdividem opiniões

Arte

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O pai ausenteEntrar no presídio se tornou

uma rotina na vida de Lia e da pequena Vitória, de 6 anos. O pai, 29, está preso há cinco anos. Vitória conhece o presí-dio desde 1 ano de vida. A mãe se preocupa e, com tristeza, recorda as lembranças. “Quan-do eu engravidei ele foi preso. Como ela vem aqui, desde no-vinha, já está acostumada “, diz Lia. Vitória indaga quando o pai sairá da prisão e sente falta dele. Na escola, nas apresen-tações, ela sempre pergunta:

“Meu pai vai vir?” Diz Lia que “é ruim, muito ruim”. Ela conta que a situação é muito triste e que o pai da pequena Vitó-ria também sente muita fal-ta. “Ele pergunta sempre por ela. Às vezes, quando eu não venho visitar, ele manda car-ta perguntando pela menina. Se ela está bem. E pede para que eu traga ela sempre. Não queria que a Vitória passasse por isso! Mas não posso tirar o contato entre os dois. É impor-tante. Ele é pai.”

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POR CAROLINE DALL’ AGNOL

Na manhã cinzenta de sábado, Jo-ana, 24 anos, segura o filho de

8 meses no colo enquanto espera na fila que separa o pai do pequeno Pedro. A distância se resume a uma selva de concreto cercada por mu-ros altos, policiais sempre atentos e cercas de arame farpado por todos os lados. A distância entre o pai e o filho já dura seis meses. No universo de Caxias do Sul, em que 565 pesso-as estão presas, existem 580 crianças na faixa de 0 a 12 anos que visitam os pais todos os finais de semana permitidos. Os nomes nessa repor-tagem são fictícios, mas as histórias são reais.

Mas, para Joana, mais do que mu-ros altos e celas de ferro, são os apro-ximadamente 120 quilômetros que dificultam esse contato quinzenal. Ela pega o ônibus Caxiense que liga Caxias do Sul a Porto Alegre, cidade onde ela e Pedro moram junto com a saudade e a ausência do pai, que se encontra preso em uma cidade estranha para eles. A cada 15 dias, a mãe faz o mesmo trajeto. Desce na rodoviária da cidade da Serra gaúcha e pega o táxi com destino à peniten-ciária Industrial de Caxias do Sul.

Assim como Joana, centenas de mulheres fazem o mesmo trajeto com o mesmo destino. Levam os fi-lhos para visitar os 565 presos que dividem as celas na selva de pedra. Atualmente, são 15 presos para cada cela com capacidade para quatro pessoas. Quinze vidas enjauladas em um mesmo espaço pequeno. Uma

realidade que segue em ritmo nacio-nal. No Brasil, cerca de 500 mil pes-soas encontram-se atrás das grades. Desse número, dados divulgados em 2010 pelo Departamento Penitenci-ário Nacional (Depen) mostram que o País tem 66% de presos a mais do que a capacidade suporta abrigá-los.

Naquela mesma fila, no sábado de manhã cinzenta, onde o sentimento é de ansiedade para ver quem está do outro lado das grades, encontra--se Maria, mãe de quatro meninas. O pai, preso há dois anos e dois meses, vê as pequenas apenas no fim de se-mana liberado para a visita dos me-nores de idade. Mas, naquela manhã, apenas a mãe estava ali, parada, com um sorriso simpático aguardando na fila que aumentava a cada momento. Nas mãos, a mulher segurava uma sacola com comida.

“Não é fácil cuidar das meninas so-zinha. Mas tem que ir levando, né? Fazendo do jeito que dá, a gente vai indo. Elas sabem onde o pai está e também vêm visitar. Agora, estão bem ansiosas, porque o pai vai che-gar em casa”, conta Maria. Segundo ela, todo dia as crianças perguntam pelo pai. “Elas acostumaram, nem viram o que aconteceu no começo”, relata Maria sobre a vida que levava no lar quando essa era completo.

Uma rotina que a sociedade não imagina que existe. Uma realidade cruel para quem vê, para quem sente, e para quem está longe. Longe assim como Pedro, que ainda visitará o pai, atrás das grades, por mais seis anos.

5 anos sem...

José, 52 anos, está preso há cinco anos. Pai de dois meninos e uma me-nina, diz que sofre com essa perda de contato com os filhos, mas entende. “O fato de não ver afasta, com certeza, mas é difícil se deslocar até aqui para me visitar. Eles têm o trabalho e não devem sair das suas atividades pra ver uma vida que eu que tenho que viver”, conta com tristeza.

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Crianças e jovens podem visitar os pais quinzenalmente acompanhados pelosresponsáveis

As grades que separam vidas

A visita constante dos filhos aos pais no presídio mostra a triste realidade de 580 crianças no município de Caxias do Sul

1.825 beijos ao acordar

5 anos sem abraçar e ver o pai em casa

dez presentes por ano em datas especiais

...aniversários com o pai

50 apresentações na escola sem o

pai estar presente

A mãe longe dos filhos

A perda de contato

Ex-presidiário fala sobre a saudade

Os nomes são fictícios,mas as histórias são reais

A pequena Vitória, 6 anos, visita o pai, 29, desde o primeiro ano de vida. Nesses cinco anos, muitas coisas ficaram ausentes no dia-a-dia da menina...

Para a assistente social Cleci Morei-ra Bellaver, que trabalha há 15 anos com a população carcerária, é muito complicado opinar sobre as visitas dos filhos aos pais na prisão. “Aqui é um lu-gar que não seria para as crianças. Não é lugar para eles. Os pais cometeram delito e têm que pagar. Mas também não dá pra gente tirar essa afetivida-de, essa aproximação. Tudo isso é bom para quem está aqui dentro e para o filho também. Eles sentem falta. O sen-timento é para ambos”, explica a assis-tente social.

A agente penitenciária que acom-panha essa realidade há 16 meses diz que percebe o quanto as relações en-tre pais e filhos são fortes. “Os menores saem daqui chorando, querem o pai, querem a mãe. Já vi criança ter que deixar de mamar no peito porque a mãe foi presa. Sensibiliza a gente”. Pau-lo trabalha há seis anos como agente penitenciário e diz que as relações fa-miliares são importantes para o preso. “Crianças, desde muito pequenas, visi-tam o presídio. Há casos de menores de 15 que faz 12 anos que visitam o pai na prisão, porque a pena é muito lon-ga. É importante o contato com o filho, mas aqui não é lugar para crianças.”

João, 46 anos, é ex-presidiário. Du-rante nove meses contou com o apoio e a força dos três filhos que estavam esperando por ele. “Sentar, conversar com eles. Abraçar. Dormia a semana inteira pensando neles: tomara que venham, tomara que venham. A visita dos filhos é muito importante”, conta contente, abraçado ao pequeno Hen-rique, de 8 anos.

O pai de Henrique ainda lembra das conversas que tinha com os colegas de cela. “A gente conversava bastante so-bre os filhos. Falava do cheiro de rua. Eu ficava num cantinho e olhava lá pra fora e pensava: uma hora eu saio.” João agora aproveita a liberdade para curtir os filhos.

Para Sílvia, 27 anos, a realidade dos corredores com grades está presente no dia-a-dia. Presa há três anos, mãe de um casal, uma menina de 10 anos e um menino de 3, conta que ficar longe dos filhos é uma dor diária. “É muito doloro-so estar longe. O pequeno de três anos tinha cinco meses quando eu fui presa. Ele mamava ainda.” O bebê visitou a mãe durante três meses, até a vó conseguir alimentá-lo somente na mamadeira. “Foi muito sofrido, mas sei que eu tenho que me manter calma, porque de 15 em 15 dias eles vêm me ver.”

A mulher que enfrenta essa nova re-alidade diz que tenta passar o aprendi-zado que recebeu da própria mãe para os filhos. “Eu sempre digo para eles: não adianta fazer a coisa errada.” Sílvia reco-nhece o erro grave que fez e ressalta que sabe que a ausência na vida dos filhos está sendo triste para todos. “Minha filha chora muito no Dia das Mães, porque tem apresentação no colégio e todas as mães estão lá, menos eu.” O menino foi criado pelo vó. “Para ele sou como uma mãe distante. Para o meu irmão também foi muito difícil. Ele rodou dois anos na escola. Os dois primeiros anos que eu estava aqui. Não conseguiu se manter firme no colégio.” Sílvia garante que se

pudesse voltar no tempo teria outro destino. “Não teria ficado rebelde com minha mãe, teria seguido os conselhos dela. Eu mudaria tudo. Eu penso todos os dias nos meus filhos, na minha mãe, no meu irmão”, desabafa. “Aqui é um lu-gar ruim, um lugar muito pesado. Mas se eles não viessem me visitar minha situa-ção com certeza seria pior. O que me se-gura viva são meus filhos, minha família”, conclui.

Visitas de menoresdividem opiniões

Arte

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O pai ausenteEntrar no presídio se tornou

uma rotina na vida de Lia e da pequena Vitória, de 6 anos. O pai, 29, está preso há cinco anos. Vitória conhece o presí-dio desde 1 ano de vida. A mãe se preocupa e, com tristeza, recorda as lembranças. “Quan-do eu engravidei ele foi preso. Como ela vem aqui, desde no-vinha, já está acostumada “, diz Lia. Vitória indaga quando o pai sairá da prisão e sente falta dele. Na escola, nas apresen-tações, ela sempre pergunta:

“Meu pai vai vir?” Diz Lia que “é ruim, muito ruim”. Ela conta que a situação é muito triste e que o pai da pequena Vitó-ria também sente muita fal-ta. “Ele pergunta sempre por ela. Às vezes, quando eu não venho visitar, ele manda car-ta perguntando pela menina. Se ela está bem. E pede para que eu traga ela sempre. Não queria que a Vitória passasse por isso! Mas não posso tirar o contato entre os dois. É impor-tante. Ele é pai.”

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11textando reciclagem 10

Quantidade de recicláveis aumenta 172% em Caxias

Atualmente, o material captado todos os dias nos bairros da cidade se transforma em renda para mais de mil e quatrocentas pessoasPOR JÚLIO SOUZA

Todos os dias, as mais de 445 mil pessoas que moram em Caxias do Sul descartam milhares de

quilos de material reciclável. A gran-de maioria delas não faz ideia aonde esse “lixo” vai parar. Desde a caixa de leite, que é descartada, até o refrige-rador que parou de funcionar, tudo é reciclável.

A economia do “lixo” gera, atual-mente na cidade, 450 empregos di-retos e mil indiretos. Diariamente, são captadas 90 toneladas de mate-riais inorgânicos, que são reciclados nas cerca de dez associações de reci-cladores da cidade, ligadas à Compa-nhia de Desenvolvimento de Caxias (Codeca) e em outras 20 apoiadoras da empresa, que também recebem, dos caminhões dela, os dejetos.

Há sete anos eram recolhidas cerca de 33 toneladas de lixo todos os dias

nas ruas da cidade. Em seis anos esse número saltou para cerca de 90 to-neladas por dia. Um aumento de 172 por cento na quantidade de material captado e reciclado. Fato que benefi-cia o meio ambiente e as centenas de pessoas que estão empregadas dire-ta ou indiretamente na área da reci-clagem em Caxias do Sul. Em 2005 foram mais de 7 mil e 780 toneladas de material inorgânico recolhidos. Já em 2011 o número passou para mais de 24 mil e 930 toneladas captadas durante os 12 meses.

Dessa forma, comparando os nú-meros divulgados anualmente e, divulgados desde 2005 pela Code-ca, é possível ter a noção do quanto aumenta, ano a ano, o número de toneladas de resíduos sólidos, cap-tados nas ruas, e reaproveitados por recicladores e sucateiros na cidade.

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“Riqueza está no lixo”Diferentemente do caso dos reci-

cladores do bairro Serrano, que traba-lham reciclando material repassado pela Codeca, Idimis dos Santos ganha a vida reaproveitando sucatas que ele recolhe nas ruas, ou nas cerca de 70 empresas onde capta material. O ex--pedreiro que chegou a Caxias do Sul em 1997, trabalhou na construção civil até maio de 2010. A partir daí, ele re-solveu mudar de profissão. “Eu notei que tinha bastante sucata na rua. Co-mentei com minha esposa que ia fazer um teste. Peguei minha caminhonete e juntei 15 dias. Deu certo. Vi no lixo o meu futuro. A riqueza, hoje em dia, está no lixo”, diz.

No começo, Idimis recolhia a sobra

Idimis conta que ao coletar material foi aprendendo a identificar maneiras de aumentar o lucro. Uma delas é reciclar objetos que têm valor para coleciona-dores. “Eu já encontrei ferro de passar antigo, placa de carro, batedeira manual. Mas lucrei mais em uma bicicleta da dé-cada de 1940 que achei no interior. Ven-di por 500 reais”, conta.

Fique atento à lei- No dia 02 de agosto de 2010 foi

aprovada pelo Congresso brasilei-ro a Política Nacional de Resíduos Sólidos - Lei nº 12.305.

- A proposta é uma lei que visa regulamentar as ações que são adotadas por todas as esferas da sociedade no que se refere ao lixo, seja ele orgânico ou não.

- Antes da sanção da lei, o úni-co responsável pelos resíduos era o município. Agora, não só a Pre-feitura como também empresas e cidadãos comuns tem como dever

Em estudo sobre o mercado de trabalho, análise do IPEA a partir de dados do IBGE, aponta que o brasileiro que trabalha por conta própria está faturando mais. Os autônomos viram seus rendimentos crescerem quase 8% na comparação entre os primeiros cincos meses de 2011 e deste ano. O aumento é maior do que o registrado no salário médio do trabalhador brasileiro, de pouco mais de 5%. Com a renda maior, as famílias consomem mais e quem oferece produtos e serviços tem aumento da clientela.

Autonomia rende mais

de materiais de cinco metalúrgicas e, com o passar do tempo, foi fazendo novos contatos. Como o negócio deu resultado, já nos primeiros meses ele resolveu vender o carro e a caminho-nete que tinha e comprou um peque-no caminhão para aumentar a quan-tidade de material recolhido. “Eu não tenho perda. As empresas doam esse material. Hoje faturo cerca de 6 mil por mês. Quero montar o meu depósito de sucatas pra comprar e revender”, relata.

Atualmente, o sucateiro vende o ma-terial a uma empresa de Caxias do Sul, que após revende o produto, na região metropolitana, para a siderúrgica Ger-dau, onde a sucata passa a ser matéria prima novamente.

cívico cuidar do seu lixo.

- Com a sanção da lei, que dis-tingue resíduo de rejeito, o Bra-sil passou a ter um marco regula-tório nesta área.

- Resíduo é o lixo que pode ser reaproveitado ou reciclado e rejei-to é o que não é passível de apro-veitamento.

- A lei trata de todo tipo de resíduo: doméstico, industrial, construção civil, eletroeletrôni-co, da área de saúde, etc.

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Material reciclado, prensado pelos recicladores e pronto para a venda

Idimis dos Santos, o Jimi, recolhe também material nas ruas

Reciclar significa reaproveitar produtos usados como matéria-prima.

Ou seja, a garrafa PET, uma vez utilizada,transforma-se em uma nova garrafa PET ou em algum outro produto (como cartão mag-nético).

Por isso, quanto mais você reciclar, mais estará contribuindo para pre-servar o meio ambiente.

- Ao fazer a reciclagem você:

- Diminui o volume de lixo jogado no aterro sanitário

- Reduz a poluição ambiental

- Melhora o aspecto visual da cidade

- Ajuda as pessoas que trabalham com reciclagem

- Contribui com uma mudança de comportamento que visa deixar o planeta mais limpo e com maior qualidade de vida

Razões para reciclar

O material antigo é vendido para colecionadores que valori-zam o produto. A placa da foto

vale, em média, oitenta reais

Com a experiência o profissional tam-bém passou a conhecer as normas que regem o trabalho que ele desenvolve. “No começo eu armazenava sucata no meu terreno. Aí fui multado pela Fepam em 1 mil e 200 reais. Hoje sigo a legisla-ção. Sei que faço um trabalho que bene-ficia o meio ambiente. O reciclador é um pulmão da sociedade”, se orgulha.

Um dos exemplos que deu certo na cidade é o trabalho cooperativo que é desenvolvido pela Associação dos Re-cicladores do Bairro Serrano. Há mais de dez anos, com auxílio da Fundação de Assistência Social de Caxias do Sul (FAS), Centro Diocesano, Prefeitura da cidade e Universidade de Caxias do Sul (UCS), dezenas de pessoas con-seguem reciclar material inorgânico, ajudar o meio ambiente e obter o sus-tento.

Otaviano de Moraes, um dos reci-cladores da associação, se orgulha ao contar que está há 11 anos traba-lhando no projeto. Ele, além disso, já foi presidente da entidade e destaca a importância do trabalho cooperativo.

“Aqui todos se ajudam. Hoje temos 25 pessoas na associação. Nos reunimos uma vez por mês para discutir assun-tos de interesse do grupo”, conta.

Entre os temas citados por Moraes, por exemplo, está a decisão que cada associado tem o direito a receber 500 reais de 13o salário ao final do ano e 600 reais de férias ao completar um ano de trabalho. Também decidiram a compra de quatro prensas para en-fardar o material reciclado. “Estamos com faturamento médio de 24 mil reais por mês. Dá quase mil reais de salário. Não temos carteira assinada, mas cada um paga o INSS pra ter se-gurança, caso fique doente”, relata o reciclador.

Trabalho cooperativo é exemplo

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Quantidade de recicláveis aumenta 172% em Caxias

Atualmente, o material captado todos os dias nos bairros da cidade se transforma em renda para mais de mil e quatrocentas pessoasPOR JÚLIO SOUZA

Todos os dias, as mais de 445 mil pessoas que moram em Caxias do Sul descartam milhares de

quilos de material reciclável. A gran-de maioria delas não faz ideia aonde esse “lixo” vai parar. Desde a caixa de leite, que é descartada, até o refrige-rador que parou de funcionar, tudo é reciclável.

A economia do “lixo” gera, atual-mente na cidade, 450 empregos di-retos e mil indiretos. Diariamente, são captadas 90 toneladas de mate-riais inorgânicos, que são reciclados nas cerca de dez associações de reci-cladores da cidade, ligadas à Compa-nhia de Desenvolvimento de Caxias (Codeca) e em outras 20 apoiadoras da empresa, que também recebem, dos caminhões dela, os dejetos.

Há sete anos eram recolhidas cerca de 33 toneladas de lixo todos os dias

nas ruas da cidade. Em seis anos esse número saltou para cerca de 90 to-neladas por dia. Um aumento de 172 por cento na quantidade de material captado e reciclado. Fato que benefi-cia o meio ambiente e as centenas de pessoas que estão empregadas dire-ta ou indiretamente na área da reci-clagem em Caxias do Sul. Em 2005 foram mais de 7 mil e 780 toneladas de material inorgânico recolhidos. Já em 2011 o número passou para mais de 24 mil e 930 toneladas captadas durante os 12 meses.

Dessa forma, comparando os nú-meros divulgados anualmente e, divulgados desde 2005 pela Code-ca, é possível ter a noção do quanto aumenta, ano a ano, o número de toneladas de resíduos sólidos, cap-tados nas ruas, e reaproveitados por recicladores e sucateiros na cidade.

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“Riqueza está no lixo”Diferentemente do caso dos reci-

cladores do bairro Serrano, que traba-lham reciclando material repassado pela Codeca, Idimis dos Santos ganha a vida reaproveitando sucatas que ele recolhe nas ruas, ou nas cerca de 70 empresas onde capta material. O ex--pedreiro que chegou a Caxias do Sul em 1997, trabalhou na construção civil até maio de 2010. A partir daí, ele re-solveu mudar de profissão. “Eu notei que tinha bastante sucata na rua. Co-mentei com minha esposa que ia fazer um teste. Peguei minha caminhonete e juntei 15 dias. Deu certo. Vi no lixo o meu futuro. A riqueza, hoje em dia, está no lixo”, diz.

No começo, Idimis recolhia a sobra

Idimis conta que ao coletar material foi aprendendo a identificar maneiras de aumentar o lucro. Uma delas é reciclar objetos que têm valor para coleciona-dores. “Eu já encontrei ferro de passar antigo, placa de carro, batedeira manual. Mas lucrei mais em uma bicicleta da dé-cada de 1940 que achei no interior. Ven-di por 500 reais”, conta.

Fique atento à lei- No dia 02 de agosto de 2010 foi

aprovada pelo Congresso brasilei-ro a Política Nacional de Resíduos Sólidos - Lei nº 12.305.

- A proposta é uma lei que visa regulamentar as ações que são adotadas por todas as esferas da sociedade no que se refere ao lixo, seja ele orgânico ou não.

- Antes da sanção da lei, o úni-co responsável pelos resíduos era o município. Agora, não só a Pre-feitura como também empresas e cidadãos comuns tem como dever

Em estudo sobre o mercado de trabalho, análise do IPEA a partir de dados do IBGE, aponta que o brasileiro que trabalha por conta própria está faturando mais. Os autônomos viram seus rendimentos crescerem quase 8% na comparação entre os primeiros cincos meses de 2011 e deste ano. O aumento é maior do que o registrado no salário médio do trabalhador brasileiro, de pouco mais de 5%. Com a renda maior, as famílias consomem mais e quem oferece produtos e serviços tem aumento da clientela.

Autonomia rende mais

de materiais de cinco metalúrgicas e, com o passar do tempo, foi fazendo novos contatos. Como o negócio deu resultado, já nos primeiros meses ele resolveu vender o carro e a caminho-nete que tinha e comprou um peque-no caminhão para aumentar a quan-tidade de material recolhido. “Eu não tenho perda. As empresas doam esse material. Hoje faturo cerca de 6 mil por mês. Quero montar o meu depósito de sucatas pra comprar e revender”, relata.

Atualmente, o sucateiro vende o ma-terial a uma empresa de Caxias do Sul, que após revende o produto, na região metropolitana, para a siderúrgica Ger-dau, onde a sucata passa a ser matéria prima novamente.

cívico cuidar do seu lixo.

- Com a sanção da lei, que dis-tingue resíduo de rejeito, o Bra-sil passou a ter um marco regula-tório nesta área.

- Resíduo é o lixo que pode ser reaproveitado ou reciclado e rejei-to é o que não é passível de apro-veitamento.

- A lei trata de todo tipo de resíduo: doméstico, industrial, construção civil, eletroeletrôni-co, da área de saúde, etc.

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Material reciclado, prensado pelos recicladores e pronto para a venda

Idimis dos Santos, o Jimi, recolhe também material nas ruas

Reciclar significa reaproveitar produtos usados como matéria-prima.

Ou seja, a garrafa PET, uma vez utilizada,transforma-se em uma nova garrafa PET ou em algum outro produto (como cartão mag-nético).

Por isso, quanto mais você reciclar, mais estará contribuindo para pre-servar o meio ambiente.

- Ao fazer a reciclagem você:

- Diminui o volume de lixo jogado no aterro sanitário

- Reduz a poluição ambiental

- Melhora o aspecto visual da cidade

- Ajuda as pessoas que trabalham com reciclagem

- Contribui com uma mudança de comportamento que visa deixar o planeta mais limpo e com maior qualidade de vida

Razões para reciclar

O material antigo é vendido para colecionadores que valori-zam o produto. A placa da foto

vale, em média, oitenta reais

Com a experiência o profissional tam-bém passou a conhecer as normas que regem o trabalho que ele desenvolve. “No começo eu armazenava sucata no meu terreno. Aí fui multado pela Fepam em 1 mil e 200 reais. Hoje sigo a legisla-ção. Sei que faço um trabalho que bene-ficia o meio ambiente. O reciclador é um pulmão da sociedade”, se orgulha.

Um dos exemplos que deu certo na cidade é o trabalho cooperativo que é desenvolvido pela Associação dos Re-cicladores do Bairro Serrano. Há mais de dez anos, com auxílio da Fundação de Assistência Social de Caxias do Sul (FAS), Centro Diocesano, Prefeitura da cidade e Universidade de Caxias do Sul (UCS), dezenas de pessoas con-seguem reciclar material inorgânico, ajudar o meio ambiente e obter o sus-tento.

Otaviano de Moraes, um dos reci-cladores da associação, se orgulha ao contar que está há 11 anos traba-lhando no projeto. Ele, além disso, já foi presidente da entidade e destaca a importância do trabalho cooperativo.

“Aqui todos se ajudam. Hoje temos 25 pessoas na associação. Nos reunimos uma vez por mês para discutir assun-tos de interesse do grupo”, conta.

Entre os temas citados por Moraes, por exemplo, está a decisão que cada associado tem o direito a receber 500 reais de 13o salário ao final do ano e 600 reais de férias ao completar um ano de trabalho. Também decidiram a compra de quatro prensas para en-fardar o material reciclado. “Estamos com faturamento médio de 24 mil reais por mês. Dá quase mil reais de salário. Não temos carteira assinada, mas cada um paga o INSS pra ter se-gurança, caso fique doente”, relata o reciclador.

Trabalho cooperativo é exemplo

Page 12: Revista Textando - N°7

Os praticantes da escalada esportiva comparam o esporte com a meditação. Além da força, uma grande dose de concentração é necessária para manter o

corpo firme, seja na rocha em meio à natureza, ou em uma parede de um ginásio indoor. A escalada leva o ser humano ao limite, os músculos dos braços, das costas e das pernas trabalham juntos e a favor da consciência de chegar ao topo e alcançar o objetivo.

Assim como na natação e no atletismo, a comparação com o movimento de animais selvagens é inevitável. Quem se propõe a subir em uma pedra, suando esforço e determinação parece se transformar no mesmo instante em um animal forte e aflito buscando sobrevivência no local mais alto da montanha.

Para encarar a rocha ao ar livre e exercitar a meditação ativa que a escalada proporciona é necessário treino. Na Espanha, onde a geografia permite que o esporte seja referência, e em todo o resto do mundo, escaladores se encontram em ginásios com paredes que imitam a dificuldade da rocha.

É em ambientes como esse que encontramos Jimerson Rangel Martta. Jimão como é chamado por todos é um apaixonado por tudo que envolve a escalada. Praticante do esporte há 23 anos idealizou ao lado de outros dois amigos escaladores o que hoje é um grande centro do esporte em Caxias do Sul. “O nosso círculo de amizade envolve o esporte e as viagens que fizemos juntos. O ginásio é um ponto de encontro”, diz ele.

A área de boulder, como é chamada pelos praticantes e oferecida no ginásio de Jimão, permite que a pessoa escale livre de cordas. Toda a área que envolve as paredes de não mais de cinco metros é protegida por colchões.

A escalada em Boulder na rocha, ao ar livre e em blocos de pedra com pouca altura, é o ramo do esporte que mais cresce no mundo. O escalador pode isolar movimentos e treinar técnicas específicas de escalada, desde movimentos fáceis para aquecimento até lances performáticos de extrema dificuldade.

textando ESPORTE 13

Ginásio imita montanhaO clima não é problema para alpinistas de Caxias do Sul, porque no bairro São Pelegrino a rocha foi recriada nas paredes de prédioPOR PEDRO HENRIQUE ZANROSSO

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Trabalhadores de bailõesFuncionários de bailões de Caxias do Sul trabalham para fazer o divertimento de todos os clientes e ganham muitas histórias POR Dimas dal Rosso

Ao som dos clássicos gauchescos, marchinhas de carnaval e outras músicas

alegres, centenas de pessoas, de todas as idades, cantam e dançam sem parar nos bailões da cidade de Caxias do Sul. Os locais são clássicos do fim de semana, lugar para se divertir, cantar, dançar, fazer amizades, encontrar amores e também para trabalhar. Sim, para trabalhar. Muitas pessoas são empregadas para divertir, proteger e servir os clientes dessas casas de festa.

O baile Fogo de Chão, no bairro de Lourdes, já tem 19 anos de tradição e lota festas todas as semanas. O local é um prédio antigo, mas reformulado depois de um incêndio há cinco anos. O prédio de coloração amarela tem pinturas de símbolos tradicionalistas, como churrascos e fogueiras, nas paredes exteriores. Nas portas há cartazes e folhetos de bandas pouco conhecidas que tocam músicas da região.

A bilheteria e o hall de entrada ficam no mesmo ambiente, uma sala pequena de madeira pintada de marrom, com folhetos que indicam datas dos bailes e preços dos ingressos. A parte interior é relativamente grande, a estrutura é toda feita de madeira pintada de marrom, há um grande cheiro de fumaça no ar. Na parte esquerda do salão, muitas mesas tomam o local, tudo é muito simples. O bar e a chapelaria dividem a mesma sala, onde grandes geladeiras com refrigerantes e bebidas alcoólicas são protagonistas no lugar. O palco é perto da pista de dança. O lugar de apresentação dos artistas tem todos os instrumentos necessários para um concerto musical, desde os de cordas até os de percussão. Atrás da pista de dança há mais mesas, os banheiros e uma área onde é feito churrascos para venda durante as festas.

A dona do baile, Julieta Perini, de 75 anos, trabalha na administração do local, no caixa e ajuda aonde for necessário. Julieta é uma senhora bem vestida, de altura mediana e cabelos brancos. Ela relembra da história do baile, do local que começou como restaurante e é hoje um bailão. “Temos o estabelecimento há muito tempo. Antes isso aqui era um restaurante, depois passou para baile e restaurante e hoje é só baile.”

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Entrada do baile Fogo de Chão

O baile do Calhambeque fica no bairro Pio X e já tem mais de 70 anos de tradição, um dos mais antigos de Caxias do Sul. O prédio, um grande pavilhão amarelo e azul, fica na Avenida Rosseti. O pavilhão da festa possui, na porta de entrada, vários cartazes propagando shows e bailes futuros. A bilheteria é uma sala clara. A parte esquerda do local é reservada para a venda de ingressos e para a sala da administração. Na outra parte há uma espécie de um pequeno lobby, com duas cadeiras de plástico coloridas, um vaso de flores e dois quadros com pinturas de paisagens, elementos que lembram o kitsch, termo alemão usado para caracterizar objetos exagerados ou extravagantes.

Um dos donos do baile, Alberto

Tibora, 56 anos, trabalha na administração do baile e faz bicos de DJ quando necessário. Alberto conta sobre a história do baile. “O clube já existe há mais de 70 anos. Esse baile, com terceira idade mesclada com os mais jovens, já faz parte da noite caxiense”, relata.

Entre as trocas de uma banda por outra, Alberto coloca clássicos da música gauchesca para tocar e explica sobre o público do lugar. “Aqui tem todos os tipos de pessoas. O baile começa às 14 horas e acaba à meia-noite. Em um domingo, por exemplo, o bailão chega a ter um público de 600 a 700 pessoas”, revela. Para controlar todo esse público, Nelson Oliveira, 45 anos, trabalha na urna (o “portal”, relatado na descrição da casa). “Aqui é bem tranquilo, o pessoal

não briga.” Junto dele, o segurança de 20 anos, Roger Prestes, um garoto alto que veste terno e gravata, discursa que nunca viu uma briga. “Nunca vi uma briga nesse baile.”

O gerente da casa, Juliano Perin, 35 anos, é dono do cargo há alguns meses. “Antes eu trabalhava em um clube na cidade de Novo Hamburgo, dava briga todo final de semana. Aqui são muito poucas as confusões. É bem tranquilo”, afirma o gerente.

Os domingos são os dias mais movimentados, os que mais exigem esforço. Com o passar das horas, o público vai embora, a música para, as luzes se apagam e os trabalhadores têm o descanso merecido.

A dona do Fogo de Chão, Julieta Perini, também conta do longo expediente do baile e do grande número de funcionários no local. “Hoje o bailão abre quinta, sexta, sábado e domingo. Para suprir a demanda das festas temos 35 funcionários contando com as duas bandas”, explica Julieta. Uma dessas

funcionárias é a garçonete Flora Muniz, 42 anos. Flora, que trabalha no Fogo do Chão há 15 anos, tem cabelos loiros e encaracolados, nariz levemente adunco e olhos que pareciam esverdeados sob a luz do bailão. A garçonete é graduada em enfermagem, e, pelo ambiente, preferiu trabalhar no baile.

Conta que gosta muito do trabalho, mas tem suas partes chatas. “Eu sou enfermeira, mas preferi trabalhar aqui, é muito bom, gosto bastante. O único problema são alguns homens, que quando bebem demais perdem um pouco da linha. É preciso ter profissionalismo para sair dessas situações”, explica.

A todo vapor nas festas

Tradição há mais de 70 anos Saiba mais

Em Caxias do Sul o crescimento da escalada esportiva é vísivel graças a Jimão e seus amigos. Em pouco tempo dezenas de grupos procuraram o ginásio para conhecer o esporte. Sem diferença de sexo e idade, dezenas de pessoas dividem o espaço. Sentados no grande colchão macio que protege os esportistas, mulheres, crianças e homens olham para o alto enquanto alguém escala. O clima é de amizade e ajuda aos iniciantes. Palavras de incentivo saem a toda hora e naturalmente. Na escalada o grande inimigo é o próprio corpo de quem desafia a parede.

Para Ariel Biazus Ribeiro, 17, mais do que esporte a escalada é estilo de vida. Há três anos praticando em paredes e montanhas, o jovem conta das viagens ao Paraná e Santa Catarina com entusiasmo. Para ele o Buraco do Padre em Ponta Grossa e as rochas de Corupá no interior catarinense são locais ideais para o montanhismo. Nas viagens fez amigos e se identificou com o esporte. “Hoje a escalada é minha vida, de todos os esportes foi o que mais levei a sério, muito por causa da amizade que criei, tratando-os como uma verdadeira família”.

O contato com a natureza e a consciência dos limites do corpo são talvez o grande benefício de quem pratica a escalada. O menor impacto ambiental é regra número um nas viagens que entram mata adentro. Preocupados com o meio ambiente, a maioria deles conserva uma consciência ecológica bastante diferente da rotina urbana e acabam levando para dentro do ginásio o clima tranquilo de onde escalam ao ar livre. Se o objetivo de qualquer esporte é criar cidadãos, o respeito à natureza subjetivo na escalada cumpre com maestria essa função.

Page 13: Revista Textando - N°7

Os praticantes da escalada esportiva comparam o esporte com a meditação. Além da força, uma grande dose de concentração é necessária para manter o

corpo firme, seja na rocha em meio à natureza, ou em uma parede de um ginásio indoor. A escalada leva o ser humano ao limite, os músculos dos braços, das costas e das pernas trabalham juntos e a favor da consciência de chegar ao topo e alcançar o objetivo.

Assim como na natação e no atletismo, a comparação com o movimento de animais selvagens é inevitável. Quem se propõe a subir em uma pedra, suando esforço e determinação parece se transformar no mesmo instante em um animal forte e aflito buscando sobrevivência no local mais alto da montanha.

Para encarar a rocha ao ar livre e exercitar a meditação ativa que a escalada proporciona é necessário treino. Na Espanha, onde a geografia permite que o esporte seja referência, e em todo o resto do mundo, escaladores se encontram em ginásios com paredes que imitam a dificuldade da rocha.

É em ambientes como esse que encontramos Jimerson Rangel Martta. Jimão como é chamado por todos é um apaixonado por tudo que envolve a escalada. Praticante do esporte há 23 anos idealizou ao lado de outros dois amigos escaladores o que hoje é um grande centro do esporte em Caxias do Sul. “O nosso círculo de amizade envolve o esporte e as viagens que fizemos juntos. O ginásio é um ponto de encontro”, diz ele.

A área de boulder, como é chamada pelos praticantes e oferecida no ginásio de Jimão, permite que a pessoa escale livre de cordas. Toda a área que envolve as paredes de não mais de cinco metros é protegida por colchões.

A escalada em Boulder na rocha, ao ar livre e em blocos de pedra com pouca altura, é o ramo do esporte que mais cresce no mundo. O escalador pode isolar movimentos e treinar técnicas específicas de escalada, desde movimentos fáceis para aquecimento até lances performáticos de extrema dificuldade.

textando ESPORTE 13

Ginásio imita montanhaO clima não é problema para alpinistas de Caxias do Sul, porque no bairro São Pelegrino a rocha foi recriada nas paredes de prédioPOR PEDRO HENRIQUE ZANROSSO

Alpinistas escalam parede indoorFO

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textando CULTURA 12

Trabalhadores de bailõesFuncionários de bailões de Caxias do Sul trabalham para fazer o divertimento de todos os clientes e ganham muitas histórias POR Dimas dal Rosso

Ao som dos clássicos gauchescos, marchinhas de carnaval e outras músicas

alegres, centenas de pessoas, de todas as idades, cantam e dançam sem parar nos bailões da cidade de Caxias do Sul. Os locais são clássicos do fim de semana, lugar para se divertir, cantar, dançar, fazer amizades, encontrar amores e também para trabalhar. Sim, para trabalhar. Muitas pessoas são empregadas para divertir, proteger e servir os clientes dessas casas de festa.

O baile Fogo de Chão, no bairro de Lourdes, já tem 19 anos de tradição e lota festas todas as semanas. O local é um prédio antigo, mas reformulado depois de um incêndio há cinco anos. O prédio de coloração amarela tem pinturas de símbolos tradicionalistas, como churrascos e fogueiras, nas paredes exteriores. Nas portas há cartazes e folhetos de bandas pouco conhecidas que tocam músicas da região.

A bilheteria e o hall de entrada ficam no mesmo ambiente, uma sala pequena de madeira pintada de marrom, com folhetos que indicam datas dos bailes e preços dos ingressos. A parte interior é relativamente grande, a estrutura é toda feita de madeira pintada de marrom, há um grande cheiro de fumaça no ar. Na parte esquerda do salão, muitas mesas tomam o local, tudo é muito simples. O bar e a chapelaria dividem a mesma sala, onde grandes geladeiras com refrigerantes e bebidas alcoólicas são protagonistas no lugar. O palco é perto da pista de dança. O lugar de apresentação dos artistas tem todos os instrumentos necessários para um concerto musical, desde os de cordas até os de percussão. Atrás da pista de dança há mais mesas, os banheiros e uma área onde é feito churrascos para venda durante as festas.

A dona do baile, Julieta Perini, de 75 anos, trabalha na administração do local, no caixa e ajuda aonde for necessário. Julieta é uma senhora bem vestida, de altura mediana e cabelos brancos. Ela relembra da história do baile, do local que começou como restaurante e é hoje um bailão. “Temos o estabelecimento há muito tempo. Antes isso aqui era um restaurante, depois passou para baile e restaurante e hoje é só baile.”

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Entrada do baile Fogo de Chão

O baile do Calhambeque fica no bairro Pio X e já tem mais de 70 anos de tradição, um dos mais antigos de Caxias do Sul. O prédio, um grande pavilhão amarelo e azul, fica na Avenida Rosseti. O pavilhão da festa possui, na porta de entrada, vários cartazes propagando shows e bailes futuros. A bilheteria é uma sala clara. A parte esquerda do local é reservada para a venda de ingressos e para a sala da administração. Na outra parte há uma espécie de um pequeno lobby, com duas cadeiras de plástico coloridas, um vaso de flores e dois quadros com pinturas de paisagens, elementos que lembram o kitsch, termo alemão usado para caracterizar objetos exagerados ou extravagantes.

Um dos donos do baile, Alberto

Tibora, 56 anos, trabalha na administração do baile e faz bicos de DJ quando necessário. Alberto conta sobre a história do baile. “O clube já existe há mais de 70 anos. Esse baile, com terceira idade mesclada com os mais jovens, já faz parte da noite caxiense”, relata.

Entre as trocas de uma banda por outra, Alberto coloca clássicos da música gauchesca para tocar e explica sobre o público do lugar. “Aqui tem todos os tipos de pessoas. O baile começa às 14 horas e acaba à meia-noite. Em um domingo, por exemplo, o bailão chega a ter um público de 600 a 700 pessoas”, revela. Para controlar todo esse público, Nelson Oliveira, 45 anos, trabalha na urna (o “portal”, relatado na descrição da casa). “Aqui é bem tranquilo, o pessoal

não briga.” Junto dele, o segurança de 20 anos, Roger Prestes, um garoto alto que veste terno e gravata, discursa que nunca viu uma briga. “Nunca vi uma briga nesse baile.”

O gerente da casa, Juliano Perin, 35 anos, é dono do cargo há alguns meses. “Antes eu trabalhava em um clube na cidade de Novo Hamburgo, dava briga todo final de semana. Aqui são muito poucas as confusões. É bem tranquilo”, afirma o gerente.

Os domingos são os dias mais movimentados, os que mais exigem esforço. Com o passar das horas, o público vai embora, a música para, as luzes se apagam e os trabalhadores têm o descanso merecido.

A dona do Fogo de Chão, Julieta Perini, também conta do longo expediente do baile e do grande número de funcionários no local. “Hoje o bailão abre quinta, sexta, sábado e domingo. Para suprir a demanda das festas temos 35 funcionários contando com as duas bandas”, explica Julieta. Uma dessas

funcionárias é a garçonete Flora Muniz, 42 anos. Flora, que trabalha no Fogo do Chão há 15 anos, tem cabelos loiros e encaracolados, nariz levemente adunco e olhos que pareciam esverdeados sob a luz do bailão. A garçonete é graduada em enfermagem, e, pelo ambiente, preferiu trabalhar no baile.

Conta que gosta muito do trabalho, mas tem suas partes chatas. “Eu sou enfermeira, mas preferi trabalhar aqui, é muito bom, gosto bastante. O único problema são alguns homens, que quando bebem demais perdem um pouco da linha. É preciso ter profissionalismo para sair dessas situações”, explica.

A todo vapor nas festas

Tradição há mais de 70 anos Saiba mais

Em Caxias do Sul o crescimento da escalada esportiva é vísivel graças a Jimão e seus amigos. Em pouco tempo dezenas de grupos procuraram o ginásio para conhecer o esporte. Sem diferença de sexo e idade, dezenas de pessoas dividem o espaço. Sentados no grande colchão macio que protege os esportistas, mulheres, crianças e homens olham para o alto enquanto alguém escala. O clima é de amizade e ajuda aos iniciantes. Palavras de incentivo saem a toda hora e naturalmente. Na escalada o grande inimigo é o próprio corpo de quem desafia a parede.

Para Ariel Biazus Ribeiro, 17, mais do que esporte a escalada é estilo de vida. Há três anos praticando em paredes e montanhas, o jovem conta das viagens ao Paraná e Santa Catarina com entusiasmo. Para ele o Buraco do Padre em Ponta Grossa e as rochas de Corupá no interior catarinense são locais ideais para o montanhismo. Nas viagens fez amigos e se identificou com o esporte. “Hoje a escalada é minha vida, de todos os esportes foi o que mais levei a sério, muito por causa da amizade que criei, tratando-os como uma verdadeira família”.

O contato com a natureza e a consciência dos limites do corpo são talvez o grande benefício de quem pratica a escalada. O menor impacto ambiental é regra número um nas viagens que entram mata adentro. Preocupados com o meio ambiente, a maioria deles conserva uma consciência ecológica bastante diferente da rotina urbana e acabam levando para dentro do ginásio o clima tranquilo de onde escalam ao ar livre. Se o objetivo de qualquer esporte é criar cidadãos, o respeito à natureza subjetivo na escalada cumpre com maestria essa função.

Page 14: Revista Textando - N°7

Um novo local para o skateInaugurada em 2012, a nova pista de skate de Caxias do Sul traz um conceito atualizado para os praticantes do esporte na SerraPOR Cristiano Daros

textando ESPORTE 14

A nova pista de skate de Caxias do Sul, conhecida como “Ska-te Plaza”, tem um formato atu-

alizado e considerado melhor para a prática do esporte. Inaugurada no primeiro semestre de 2012, a pista está localizada na Praça das Casta-nheiras, no bairro Santa Catarina.

Nos anos de 1970, quando os sur-fistas norte-americanos resolveram colocar rodas em suas pranchas e sair andando pela rua, talvez não imagi-navam que isso resultaria em um es-porte e, junto a ele, uma indústria de roupas, tênis, materiais e acessórios muito forte.

Pois a alternativa para dias de ondas ruins e temporadas de seca cresceu, ganhou nome e invadiu as ruas. Atu-almente o skate, ou “carrinho” como é conhecido na gíria dos praticantes, move bilhões de dólares anualmente, possui profissionais bem sucedidos, mídia especializada e campeonatos espalhados pelo mundo inteiro.

Em Caxias do Sul, o esporte come-çou a ganhar força na década de 90. No início do século 21, as reivindi-cações por este esporte levaram a prefeitura a construir algumas pistas.

Estas foram construídas para o que a prática exigia na época, mas como qualquer esporte, o skate evoluiu, os obstáculos mudaram, as ideias se re-novaram. No entanto, esses lugares foram envelhecendo sem novas refor-mas.

O principal local nesta época era no parque Getúlio Vargas, conhecido como macaquinhos. A pista ganhou uma reforma no ano de 2005, mas o formato não foi alterado. Assim, ela continuou desatualizada e os espa-ços para a prática do skate seguiram defasados. Os skatistas nessa época buscavam as cidades vizinhas, nos finais de semana. Locais como Bento Gonçalves, Farroupilha, Carlos Barbo-sa e, principalmente, Porto Alegre, na famosa pista do IAPI.

Em 2008, uma associação foi criada na busca por um local apropriado e utilizável para a prática do esporte. “Caxias do Sul sendo a segunda maior cidade do Estado, com um orçamento de mais de um bilhão de reais, tendo só sete pistas, e nenhuma utilizável, fi-cava complicado para nós”, afirma Vi-nícius Nascimento, conhecido como Iraí, presidente da União dos Skatistas Caxienses (USC).

Criada a União dos Skatistas Caxien-ses (USC), os membros foram atrás da prefeitura para conhecer os procedi-mentos para sugestão de uma obra. Após, começou a luta através dos Or-çamentos Comunitários. Desde 2009, eles se mobilizam buscando recursos financeiros para a construção deste novo espaço “Nós botávamos seis-centas, setecentas pessoas em cada reunião do orçamento participativo” destaca Iraí, presidente da entidade.

Os skatistas tinham um receio de que a pista fosse construída nos mes-mos moldes das outras já existentes. Para prevenir esta situação, eles mon-taram um rifa, arrecadaram fundos e pagaram um projeto, de um arquiteto ligado à Federação Gaúcha de Skate. O projeto custou R$ 3 mil e foi doado à prefeitura. O primeiro local foi o par-que Monteiro Lobato, próximo à an-tiga Maesa, mas um abaixo-assinado por moradores e empresários contra a instalação da nova pista, impossibili-tou a construção.

A segunda opção era o Parque das

Castanheiras, um local que estava abandonado, e que haviam algumas reivindicações para melhoria do lo-cal. Definido este espaço, a obra tinha custo inicial orçado em quase R$ 200 mil. Entretanto, devido ao terreno ser muito encharcado e a necessidade de uma base melhor, o custo final encer-rou em cerca de R$ 240 mil. Hoje, ela é considerada uma das melhores pistas do Rio Grande do Sul. Mesmo com o tamanho reduzido, ela segue padrões nacionais e internacionais.

Segundo Iraí, antes o local era ocu-pado por consumidores de drogas e animais. O único atrativo do parque eram as castanhas e as nozes que as árvores fornecem. “Agora há muita gente praticando esportes e pro ska-te trouxe um crescimento enorme, todo mundo está evoluindo fora do comum”, finaliza Iraí. A pista das Cas-tanheiras possui 300m². Agora a bus-ca da USC é construir uma pista na re-gião central da cidade, para facilitar o acesso de todos, e que agregue mais modalidades para a prática do carri-nho.

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O primeiro desafio de quem busca o skate é o equilíbrio. Uma tábua, conhecida como

shape, dois eixos, chamados de tru-cks, e quatro rodas, de pequeno diâ-metro. Características que dão o ape-lido de “carrinho”.

Algumas músicas retratam o ska-te. O rapper Marcelo D2 define em sua música “1967” que só quem anda de carrinho sabe qual é a sensação de “dar um rolé”. Já outro músico e Skatista, o rapper Kamau, diz na sua música “21|12” que cada impulso é uma nova possibilidade, cada mano-bra significa uma nova habilidade.

Esse sentimento de liberdade e, principalmente, de desafio é o que move os skatistas. É a busca por algo novo, que seja mais difícil que o últi-mo movimento, a evolução que des-perta o interesse. “A questão de estar me superando, aprender uma mano-bra nova, a sensação que isso traz é muito boa”, define Patrick Mazzuchi-ni, 23 anos, e há dez anos andando de skate.

Mazzuchini é atleta amador e dis-putou algumas etapas do circuito mundial de skate, na Europa. Segun-

do ele, Caxias do Sul ainda está atra-sada em relação a outros locais, por ser uma cidade grande e ter apenas uma pista, pequena, em condições de uso.

Porém, a nova pista de skate já auxilia na busca pela evolução do esporte. Com o espaço adequado, a busca pelo aprimoramento depende apenas do atleta. “Eu me identifiquei com o skate por ser um esporte in-dividual, porque depende só de mim estar andando, praticando, não tem cobrança”, resume Mazzuchini.

Outro fator destacado por ele é a forma como o skate abre a maneira de se relacionar com outras pessoas. “Aonde tu vai sempre encontra um skatista e acaba se relacionando com ele, trocando uma ideia. O cara nem te conhece e te leva para dormir na casa dele”, afirma.

Para Marvin Campos, empresário, 23 anos, e há dez no skate, a felicida-de foi determinante para se apaixonar pelo esporte. Segundo ele, nenhum outro esporte transmitiu esse senti-mento. “Isso aqui é um ponto de fuga, eu largo meu estresse no meu suor, nas minhas manobras”, diz Campos.

Quatro rodas e um grande desafio

Por vezes taxados de drogados, de baderneiros, sem educação, ou até mesmo revoltados, todos esses preconceitos acompanham quem pratica o esporte. Para o empresário Marvin Campos, esses “pré-concei-tos” são antigos. “Caxias do Sul é uma cidade grande, com uma renda per capita alta, mas mesmo assim, eles ainda vivem no passado”, critica.

Já Vinicius Nascimento, o Iraí, atri-bui muitas vezes esse preconceito ao estilo dos praticantes. Ele acredita que as pessoas julgam pelas roupas utilizadas pelos skatistas. “Eles não sabem que as nossas roupas são me-lhores para andar (de skate), assim como qualquer outro esporte tem suas roupas apropriadas”, pondera.

Este preconceito com os pratican-tes, muitas vezes, é de quem desco-nhece o esporte. Se hoje ele aparece na grande mídia, campeonatos são transmitidos em rede nacional, no domingo pela manhã, deve-se a uma evolução muito grande, tanto dos atletas, como da indústria do skate.

Grandes nomes que surgiram por aqui, só conseguiram a evolução porque buscaram outros países. Exemplos de atletas bem sucedidos não faltam, como Bob Burniquist, Lincon Ueda, Sandro Dias, além de revelações como Luan de Oliveira. Atualmente o Brasil é considerado a

segunda maior potência do esporte no mundo. Segundo a Confederação Brasileira de Skate, hoje há no País mais de três milhões de skatistas.

Para Marvin Campos, as pessoas não conhecem a realidade do es-porte, tampouco quem são os seus praticantes. “Hoje a gente tem várias pessoas formadas, empresários que andam de skate, estudantes, pessoas que buscam no esporte, um ponto de fuga para o estresse do dia-a-dia”, comenta.

Campos destaca o aprendizado que o esporte gera, também a vi-vência e o trabalho em grupo. “O skate é o único esporte, que eu vejo, que não existe uma competi-ção, cada amigo nosso que apren-de uma manobra nova, a felicidade contagia todo mundo” , afirma. Para ele, o skate é o único esporte onde todos se ajudam, na busca pela evolução.

Para Iraí, quem não conhece um skatista ainda possui uma opinião errada do esporte. Segundo ele, nos arredores, da Skate Plaza, as opiniões com o esporte já mudaram. As pes-soas levam seus filhos para brincar na grama ao redor da pista, tomar chimarrão e assistir os skatistas. “O preconceito diminui para quem vem andar, para quem traz o filho aqui”, encerra.

Um novo conceito de pista facilita a prática do esporte

Com espaço adequado, novos adeptos estão sendo conquistados

pelo skate.

Despejar o estresse em cima do skate colabora para a vida profissional. Segundo o empresário Marvin Campos, após a prática do esporte, ele consegue voltar para sua empresa, muito mais tranquilo e com uma capacidade maior para desenvolver suas atividades.

Com a Skate Plaza, além de ver a evolução de seus amigos no esporte, Campos ressalta o fato de muitos pais estarem levando seus filhos para a prática deste esporte. “Meus pais faziam isso comigo, me incentivaram, me levaram para participar de campeonatos e andar de skate em outras cidades” lembra.

Com uma década praticando o esporte, ele afirma que o skate é um amor, que inclusive já faz parte da sua família. “O skate já nem é mais um esporte, ele faz parte de mim” , conclui.

Para Vinícius Nascimento, o Iraí, advogado, 25 anos, e, também há dez no skate, tudo começou quando um de seus amigos apresentou o “carrinho”. Começaram a andar, devagar, de brincadeira, mas aos poucos foi conquistando a turma. A troca do videogame pelo “carrinho” foi imediata.

A amizade que o esporte gera colaborou para que Iraí se encantasse ainda mais. “A gente

começou a andar (de skate), já conhecemos uma outra turma, de uma rua vizinha, e aquele grupo começou aumentar, conhecemos pessoas de outros bairros” , destaca.

Os primeiros locais onde Iraí andava, eram agências bancárias no Centro da cidade, que possuíam alguns obstáculos. A principal pista na época era no Parque dos Macaquinhos, um local marginalizado e mal visto por grande parte da cidade.

Além da amizade, o desafio foi outro fator que chamou atenção de Iraí. Aprender manobras novas, evoluir, conhecer outros profissionais ajudaram nesta aproximação com o esporte. “Quando o cara aprende as primeiras manobras, não larga mais” , sintetiza ele.

A nova pista de skate, segundo ele, ajudará na aproximação dos jovens com o esporte. Um lugar adequado para a prática atrai mais pessoas interessadas no esporte, e ajuda na evolução, tanto dos atletas, como do próprio skate na cidade de Caxias do Sul.

De acordo com Iraí, a peça fundamental para a prática do esporte é o local. “Tendo um espaço como essa pista (Skate Plaza), fácil de andar, que tu vem se divertir, não larga mais” , conclui.

Benefícios Preconceito

Luta por recursos

Page 15: Revista Textando - N°7

Um novo local para o skateInaugurada em 2012, a nova pista de skate de Caxias do Sul traz um conceito atualizado para os praticantes do esporte na SerraPOR Cristiano Daros

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A nova pista de skate de Caxias do Sul, conhecida como “Ska-te Plaza”, tem um formato atu-

alizado e considerado melhor para a prática do esporte. Inaugurada no primeiro semestre de 2012, a pista está localizada na Praça das Casta-nheiras, no bairro Santa Catarina.

Nos anos de 1970, quando os sur-fistas norte-americanos resolveram colocar rodas em suas pranchas e sair andando pela rua, talvez não imagi-navam que isso resultaria em um es-porte e, junto a ele, uma indústria de roupas, tênis, materiais e acessórios muito forte.

Pois a alternativa para dias de ondas ruins e temporadas de seca cresceu, ganhou nome e invadiu as ruas. Atu-almente o skate, ou “carrinho” como é conhecido na gíria dos praticantes, move bilhões de dólares anualmente, possui profissionais bem sucedidos, mídia especializada e campeonatos espalhados pelo mundo inteiro.

Em Caxias do Sul, o esporte come-çou a ganhar força na década de 90. No início do século 21, as reivindi-cações por este esporte levaram a prefeitura a construir algumas pistas.

Estas foram construídas para o que a prática exigia na época, mas como qualquer esporte, o skate evoluiu, os obstáculos mudaram, as ideias se re-novaram. No entanto, esses lugares foram envelhecendo sem novas refor-mas.

O principal local nesta época era no parque Getúlio Vargas, conhecido como macaquinhos. A pista ganhou uma reforma no ano de 2005, mas o formato não foi alterado. Assim, ela continuou desatualizada e os espa-ços para a prática do skate seguiram defasados. Os skatistas nessa época buscavam as cidades vizinhas, nos finais de semana. Locais como Bento Gonçalves, Farroupilha, Carlos Barbo-sa e, principalmente, Porto Alegre, na famosa pista do IAPI.

Em 2008, uma associação foi criada na busca por um local apropriado e utilizável para a prática do esporte. “Caxias do Sul sendo a segunda maior cidade do Estado, com um orçamento de mais de um bilhão de reais, tendo só sete pistas, e nenhuma utilizável, fi-cava complicado para nós”, afirma Vi-nícius Nascimento, conhecido como Iraí, presidente da União dos Skatistas Caxienses (USC).

Criada a União dos Skatistas Caxien-ses (USC), os membros foram atrás da prefeitura para conhecer os procedi-mentos para sugestão de uma obra. Após, começou a luta através dos Or-çamentos Comunitários. Desde 2009, eles se mobilizam buscando recursos financeiros para a construção deste novo espaço “Nós botávamos seis-centas, setecentas pessoas em cada reunião do orçamento participativo” destaca Iraí, presidente da entidade.

Os skatistas tinham um receio de que a pista fosse construída nos mes-mos moldes das outras já existentes. Para prevenir esta situação, eles mon-taram um rifa, arrecadaram fundos e pagaram um projeto, de um arquiteto ligado à Federação Gaúcha de Skate. O projeto custou R$ 3 mil e foi doado à prefeitura. O primeiro local foi o par-que Monteiro Lobato, próximo à an-tiga Maesa, mas um abaixo-assinado por moradores e empresários contra a instalação da nova pista, impossibili-tou a construção.

A segunda opção era o Parque das

Castanheiras, um local que estava abandonado, e que haviam algumas reivindicações para melhoria do lo-cal. Definido este espaço, a obra tinha custo inicial orçado em quase R$ 200 mil. Entretanto, devido ao terreno ser muito encharcado e a necessidade de uma base melhor, o custo final encer-rou em cerca de R$ 240 mil. Hoje, ela é considerada uma das melhores pistas do Rio Grande do Sul. Mesmo com o tamanho reduzido, ela segue padrões nacionais e internacionais.

Segundo Iraí, antes o local era ocu-pado por consumidores de drogas e animais. O único atrativo do parque eram as castanhas e as nozes que as árvores fornecem. “Agora há muita gente praticando esportes e pro ska-te trouxe um crescimento enorme, todo mundo está evoluindo fora do comum”, finaliza Iraí. A pista das Cas-tanheiras possui 300m². Agora a bus-ca da USC é construir uma pista na re-gião central da cidade, para facilitar o acesso de todos, e que agregue mais modalidades para a prática do carri-nho.

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O primeiro desafio de quem busca o skate é o equilíbrio. Uma tábua, conhecida como

shape, dois eixos, chamados de tru-cks, e quatro rodas, de pequeno diâ-metro. Características que dão o ape-lido de “carrinho”.

Algumas músicas retratam o ska-te. O rapper Marcelo D2 define em sua música “1967” que só quem anda de carrinho sabe qual é a sensação de “dar um rolé”. Já outro músico e Skatista, o rapper Kamau, diz na sua música “21|12” que cada impulso é uma nova possibilidade, cada mano-bra significa uma nova habilidade.

Esse sentimento de liberdade e, principalmente, de desafio é o que move os skatistas. É a busca por algo novo, que seja mais difícil que o últi-mo movimento, a evolução que des-perta o interesse. “A questão de estar me superando, aprender uma mano-bra nova, a sensação que isso traz é muito boa”, define Patrick Mazzuchi-ni, 23 anos, e há dez anos andando de skate.

Mazzuchini é atleta amador e dis-putou algumas etapas do circuito mundial de skate, na Europa. Segun-

do ele, Caxias do Sul ainda está atra-sada em relação a outros locais, por ser uma cidade grande e ter apenas uma pista, pequena, em condições de uso.

Porém, a nova pista de skate já auxilia na busca pela evolução do esporte. Com o espaço adequado, a busca pelo aprimoramento depende apenas do atleta. “Eu me identifiquei com o skate por ser um esporte in-dividual, porque depende só de mim estar andando, praticando, não tem cobrança”, resume Mazzuchini.

Outro fator destacado por ele é a forma como o skate abre a maneira de se relacionar com outras pessoas. “Aonde tu vai sempre encontra um skatista e acaba se relacionando com ele, trocando uma ideia. O cara nem te conhece e te leva para dormir na casa dele”, afirma.

Para Marvin Campos, empresário, 23 anos, e há dez no skate, a felicida-de foi determinante para se apaixonar pelo esporte. Segundo ele, nenhum outro esporte transmitiu esse senti-mento. “Isso aqui é um ponto de fuga, eu largo meu estresse no meu suor, nas minhas manobras”, diz Campos.

Quatro rodas e um grande desafio

Por vezes taxados de drogados, de baderneiros, sem educação, ou até mesmo revoltados, todos esses preconceitos acompanham quem pratica o esporte. Para o empresário Marvin Campos, esses “pré-concei-tos” são antigos. “Caxias do Sul é uma cidade grande, com uma renda per capita alta, mas mesmo assim, eles ainda vivem no passado”, critica.

Já Vinicius Nascimento, o Iraí, atri-bui muitas vezes esse preconceito ao estilo dos praticantes. Ele acredita que as pessoas julgam pelas roupas utilizadas pelos skatistas. “Eles não sabem que as nossas roupas são me-lhores para andar (de skate), assim como qualquer outro esporte tem suas roupas apropriadas”, pondera.

Este preconceito com os pratican-tes, muitas vezes, é de quem desco-nhece o esporte. Se hoje ele aparece na grande mídia, campeonatos são transmitidos em rede nacional, no domingo pela manhã, deve-se a uma evolução muito grande, tanto dos atletas, como da indústria do skate.

Grandes nomes que surgiram por aqui, só conseguiram a evolução porque buscaram outros países. Exemplos de atletas bem sucedidos não faltam, como Bob Burniquist, Lincon Ueda, Sandro Dias, além de revelações como Luan de Oliveira. Atualmente o Brasil é considerado a

segunda maior potência do esporte no mundo. Segundo a Confederação Brasileira de Skate, hoje há no País mais de três milhões de skatistas.

Para Marvin Campos, as pessoas não conhecem a realidade do es-porte, tampouco quem são os seus praticantes. “Hoje a gente tem várias pessoas formadas, empresários que andam de skate, estudantes, pessoas que buscam no esporte, um ponto de fuga para o estresse do dia-a-dia”, comenta.

Campos destaca o aprendizado que o esporte gera, também a vi-vência e o trabalho em grupo. “O skate é o único esporte, que eu vejo, que não existe uma competi-ção, cada amigo nosso que apren-de uma manobra nova, a felicidade contagia todo mundo” , afirma. Para ele, o skate é o único esporte onde todos se ajudam, na busca pela evolução.

Para Iraí, quem não conhece um skatista ainda possui uma opinião errada do esporte. Segundo ele, nos arredores, da Skate Plaza, as opiniões com o esporte já mudaram. As pes-soas levam seus filhos para brincar na grama ao redor da pista, tomar chimarrão e assistir os skatistas. “O preconceito diminui para quem vem andar, para quem traz o filho aqui”, encerra.

Um novo conceito de pista facilita a prática do esporte

Com espaço adequado, novos adeptos estão sendo conquistados

pelo skate.

Despejar o estresse em cima do skate colabora para a vida profissional. Segundo o empresário Marvin Campos, após a prática do esporte, ele consegue voltar para sua empresa, muito mais tranquilo e com uma capacidade maior para desenvolver suas atividades.

Com a Skate Plaza, além de ver a evolução de seus amigos no esporte, Campos ressalta o fato de muitos pais estarem levando seus filhos para a prática deste esporte. “Meus pais faziam isso comigo, me incentivaram, me levaram para participar de campeonatos e andar de skate em outras cidades” lembra.

Com uma década praticando o esporte, ele afirma que o skate é um amor, que inclusive já faz parte da sua família. “O skate já nem é mais um esporte, ele faz parte de mim” , conclui.

Para Vinícius Nascimento, o Iraí, advogado, 25 anos, e, também há dez no skate, tudo começou quando um de seus amigos apresentou o “carrinho”. Começaram a andar, devagar, de brincadeira, mas aos poucos foi conquistando a turma. A troca do videogame pelo “carrinho” foi imediata.

A amizade que o esporte gera colaborou para que Iraí se encantasse ainda mais. “A gente

começou a andar (de skate), já conhecemos uma outra turma, de uma rua vizinha, e aquele grupo começou aumentar, conhecemos pessoas de outros bairros” , destaca.

Os primeiros locais onde Iraí andava, eram agências bancárias no Centro da cidade, que possuíam alguns obstáculos. A principal pista na época era no Parque dos Macaquinhos, um local marginalizado e mal visto por grande parte da cidade.

Além da amizade, o desafio foi outro fator que chamou atenção de Iraí. Aprender manobras novas, evoluir, conhecer outros profissionais ajudaram nesta aproximação com o esporte. “Quando o cara aprende as primeiras manobras, não larga mais” , sintetiza ele.

A nova pista de skate, segundo ele, ajudará na aproximação dos jovens com o esporte. Um lugar adequado para a prática atrai mais pessoas interessadas no esporte, e ajuda na evolução, tanto dos atletas, como do próprio skate na cidade de Caxias do Sul.

De acordo com Iraí, a peça fundamental para a prática do esporte é o local. “Tendo um espaço como essa pista (Skate Plaza), fácil de andar, que tu vem se divertir, não larga mais” , conclui.

Benefícios Preconceito

Luta por recursos

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textando ASTRONOMIA 16

Desde julho de 2011, crescem no mundo os avistamentos de um segundo sol associado a uma profecia apocalípticaPOR jéssica monteiro

Já dizia Cassia Éller em 1999: “Quando o segundo sol chegar, parar realinhar as órbitas dos

planetas”. Difícil de acreditar que em 2012 os dois fenômenos acontece-riam. O segundo sol e o alinhamen-to galáctico são assuntos discutidos no mundo inteiro. O ano de 2012 foi marcado por uma das maiores profe-cias apocalípticas da história.

A partir do calendário Maia, o dia 21 de dezembro de 2012 foi con-siderado o dia mais esperado dos últimos anos. Afinal quase ninguém sabia de fato o que iria acontecer nesse dia. Especialistas em astrono-mia, como Marcelo Godoi, da PUC--RS, relatam que esse dia trata-se de um ciclo que se completa a cada 26 mil anos: o alinhamento galáctico. Como os Maias tinham esse conhe-cimento sobre astronomia, ninguém sabe. Além do calendário, que já ser-ve de motivo e explicações para um provável fim do mundo, surge tam-bém as intermináveis aparições de um segundo sol.

Desde julho de 2011 tem sido visto ao redor do mundo um segun-do sol, ou planeta bem próximo à Terra. De acordo com o astrônomo Cláudio Bevilaqua da Ufrgs, essas aparições estão sendo atribuídas a um planeta descoberto em 1981 que foi denominado Planeta X. Ele está no nosso sistema solar, porém não tem uma órbita igual a dos ou-tros planetas e passa próximo a nós a cada 3600 anos. Ele teria a mesma massa de Júpiter, portanto seria inú-meras vezes maior que a Terra, por isso apareceria tão grande no céu.

Na Internet, o planeta é chama-do de Nibiru e é recordista em aces-sos na pesquisa do Google. Vale dizer que muitas das imagens vistas na Internet são falsas e portanto é mui-to difícil afirmar o que é real ou não. De acordo com Cláudio Bevilaqua, a ideia de colisão está totalmente descartada. Porém, de acordo com várias escrituras antigas, o Nibiru já passou por aqui (a cada 3,6 mil anos) e devastou ou quase extinguiu nossa raça. Bevilaqua contou que a civilização de Atlântida poderia ter sido uma das vítimas de Nibiru, as-sim como o Continente Mu. Nos dois casos, as escrituras contam sobre um planeta que surgiu no céu, chamado de ‘o apavorante’ e ‘o destruidor’, que desencadeou uma série de desastres

naturais que destruiram civilizações inteiras.

Muitos dos fenômenos naturais descritos já acontecem atualmente, e tem aumentado a frequência des-de o ano 2010. Tsunamis, terremotos, vulcões, temperaturas extremas, tudo isso teoricamente faz parte dos efei-tos causados pela passagem de Nibi-ru. Inclusive as atuais explosões sola-res seriam causadas pelo magnetismo de Nibiru. Os estudiosos pessimistas, como afirma Marcelo Godoi, dizem que a data 21 de dezembro de 2012 seria apenas o princípio de uma era de catástrofes. As coisas começariam a piorar a partir de fevereiro de 2013 e iriam até julho do mesmo ano. Desses cinco meses de catástrofes seriam eli-minados 90% da população mundial.

A realidade e a ficçãoSempre que surge um assunto polêmico, uma catástrofe, ou um apocalipse, acaba

virando filme. Dessa vez não foi diferente. As especulações sobre um possível choque entre o Nibiru e a Terra são tão grandes que o diretor de cinema Lars Von Trier já foi logo fazendo um filme chamado Melancolia, que conta a história de um planeta que surge no céu e que, em questão de dias, literalmente, engole a Terra. O filme mostra que os cientistas falam apenas sobre um fenômeno que irá acontecer. O planeta passará muito próximo à Terra. Apenas esquecem de contar que ele está vindo em nossa direção.

Além desse, também foram feitos filmes como Árvore da Vida, que fala sobre o univer-so como um ciclo e que um dia pode terminar, e o famoso 2012, que narra as possíveis catástrofes tão temidas. Não somente esses, nos últimos anos foram produzidos vários outros filmes como O Dia Depois de Amanhã; Presságio; Fim dos Tempos, e outros longas que criam ficções baseadas em previsões apocalípticas que simulam o possível fim do mundo.

Apocalipse?

Quando o segundo sol chegar

Se fosse real?Atividade solar aumenta – falha

na comunicação e inexistência de energia elétrica no planeta.

Atividade vulcânica – vulcões entrariam em erupção liberando milhares de toneladas de fumaça na atmosfera.

Terremotos devastadores destrui-riam continentes inteiros e elimina-riam milhões de pessoas.

Seguidos de imensos tsunamis de até três mil metros de altura cobririam litorais, ilhas e iriam até o meio dos continentes.

Reversão dos polos – após os ter-remotos e tsunamis, as placas tec-tônicas se moveriam 90º inverten-do os polos.

Era glacial instantânea – a partir da reversão, instantaneamente o planeta se cobriria em gelo.

Pestes e doenças – Após o fim da era glacial que duraria cinco meses, as pessoas que sobrevivessem te-riam que lidar com doenças respira-tórias e outras epidemias.

Escassez de alimentos – o plane-ta sobrevivente passaria fome até conseguir se reestabelecer nova-mente.

Tudo isso não representa fatos re-ais. De acorco com os especialistas, esse será apenas mais um “fim do mundo” ao qual todos iremos so-breviver.

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