revista interfacehs edição completa vol. 7 n. 2

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A InterfacEHS é uma Publicação Científica do Centro Universitário Senac que publica artigos científicos originais e inéditos, resenhas, relatos de estudos de caso, de experiências e de pesquisas em andamento nas áreas de Saúde, Meio Ambiente e Sustentabilidade. Confira o dossiê especial RIO + 20 e artigos relacionados aos assuntos: - Economia verde e empregos inovadores - Sustentabilidade de processos produtivos Entre outros! Acesse a revista na íntegra! http://www3.sp.senac.br/hotsites/blogs/InterfacEHS/

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  • 1. Revista de Sade, Meio Ambiente e SustentabilidadeVolume 7, Nmero 2, 2012EDITORIAL A INTERFACEHS Revista de Sade, Meio Ambiente e Sustentabilidade, em sua segunda edio de 2012, publica artigos e resenha relativos Conferncia Rio+20, com temas de interesse da comunidade cientfica e sociedade brasileira. Alm disso, conta-se com artigos relevantes na rea de Gesto em Sade e Meio Ambiente. Neste fascculo, contamos com colaborao relevante do Conselheiro do Conselho Superior de Meio Ambiente da FIESP e diretor de energia do Departamento de Infraestrutura da FIESP - Federao das Indstrias do Estado de So Paulo, com o artigo do Dcio Michellis, sobre o estudo prospectivo de natureza qualitativa sobre a Rio+20 e seus aspectos relacionados a crise econmica, geopoltica do meio ambiente, energia sustentvel, responsabilidade intergeracional e salvaguardas na formulao de polticas pblicas. Remete-nos a uma reflexo sobre o futuro que queremos, mencionando que exige racionalidade no processo de desenvolvimento sustentvel. A Conselheira do Conselho Superior de Meio Ambiente da FIESP e consultora da United Nations Foundation e Organizao das Naes Unidas (ONU), Dra. Flavia Witkowski Frangetto, com seu artigo O esprito Rio +20: Humanidade, uma evoluo do esprito Rio-92 do Desenvolvimento Sustentvel, relatou sobre o evento paralelo realizado pela Federao das Indstrias do Estado de So Paulo, a Federao das Indstrias do Estado do Rio de Janeiro e a Fundao Roberto Marinho, no Forte de Copacabana, entre os dias 11 e 22 de junho de 2012, que influenciou positivamente o processo de desenvolvimento sustentvel, onde foi possvel encontrar a sintonia entre a arte e o conhecimento, a cultura e os idiomas, o homem e a natureza em equilbrio. O artigo do Diretor Cientfico da Sociedade Brasileira de Direito Internacional do Meio Ambiente SBDIMA, Doutor e Professor Fernando Rei, marca importante contribuio com anlise pessoal, de opinio, sendo uma das colocaes, dentre vrias, que a maior contribuio da Rio+20 foi deixar patente e manifesto que para avanar em direo ao desenvolvimento sustentvel fundamental a insero de uma ampla participao pblica na tomada de decises. A resenha desta edio apresentada pelo docente pesquisador do Centro Universitrio SENAC, MSc. Renato Arnaldo Tagnin, trazendo informaes e reflexes relevantes sobre A cpula dos povos na Rio+20: suas demandas e1

2. Revista de Sade, Meio Ambiente e SustentabilidadeVolume 7, Nmero 2, 2012propostas. O debate sobre o profissional em gesto em sade e meio ambiente, apresentado pelos autores Alice Itani, Fernando Rei, Alcir Vilela Junior e Ericka Itokazu, evidenciando a experincia de um programa de formao em Gesto em Sade e Meio Ambiente desenvolvido no perodo entre 2004 e 2010. Os autores consideraram que o desafio da experincia de formao foi acolher profissionais e formar gestores nessa perspectiva, estendendo que, a ousadia de sobrepor programas de ensino profissional se envolver com os desafios. A Seo Traduo destacada sobre a Promoo da responsabilidade social empresarial para uma economia verde e empregos inovadores, traduzindo o artigo intitulado Promoting the corporate social responsibility for agreen economy dos autores Oana Pop, George Christopher Dina e Catalin Martin, publicado em 2011, no volume 15 do Procedia Social and Behavioral Sciences da Editora Elsevier. As contribuies da Seo InterfacEHS so destacadas com os artigos da engenheira e consultora Juliana Eiko Nascimento sobre a proposio de um mtodo capaz de avaliar, em termos monetrios, um processo produtivo em suas dimenses ambientais, sociais e econmicas; e, dos alunos do curso de Ps-Graduao em Sistema de Gesto Integrada da Qualidade, Meio Ambiente, Sade e Segurana no Trabalho e Responsabilidade Social do SENAC, Marcio Roberto da Costa, Claudia Toledo Giovannetti, Claudio Souza Campos e Rafael Mateus Barreto sobre a proposta de incluso da NR 5 (CIPA) no Sistema de Gesto Integrada.Boa leitura! Emlia Satoshi Miyamaru Seo2 3. Revista de Sade, Meio Ambiente e SustentabilidadeVolume 7, Nmero 2, 2012Da Rio+20 a Rio+60: Nosso futuro (in)comum From Rio+20 to Rio+60: our uncommon futureDecio Michellis Jr.1Resumo Estudo prospectivo de natureza qualitativa sobre a Rio+20 e seus aspectos relacionados a crise econmica, geopoltica do meio ambiente, energia sustentvel, responsabilidade intergeracional e salvaguardas na formulao de polticas pblicas. Considera a economia verde inclusiva no contexto da sustentabilidade, erradicao da pobreza, e governana para um avano econmico sustentvel. O futuro que queremos para o Brasil passa por iniciativas cuja efetividade seja inquestionvel, atravs de medidas reais, mensurveis e verificveis e metas com base em parmetros de eficincia que identifiquem padres positivos de referncia. A defesa dos interesses nacionais implica na confrontao em termos no antagnicos, mas autonmicos, rumo ao nosso futuro incomum. Palavras-chave: Rio+20, Sustentabilidade, Meio Ambiente, Geopoltica, Energia. Abstract Prospective study using a qualitative approach to assess the results from Rio +20 and its relations with the economic crises, the geopolitics of environment, sustainable energy, inter-generational responsibility, and safeguards in the formulation of public policies. This article considers an inclusive green economy in the context of poverty eradication, and governance for sustainable economic growth. The future we want for Brazil demands initiatives whose effectiveness 1Conselheiro do Conselho Superior de Meio Ambiente da FIESP e diretor de energia do Departamento de Infraestrutura da FIESP - Federao das Indstrias do Estado de So Paulo3 4. Volume 7, Nmero 2, 2012Revista de Sade, Meio Ambiente e Sustentabilidadeare unquestionable, that could present real, measurable and verified goals, based on performance parameters that provide positive standards and references. The defense of the national interest implies in the autonomic, not antagonic, confrontation, aiming our uncommon future. Keywords: Rio+20, Sustainability, Environment, Geopolitics, Energy Introduo Em continuidade agenda do desenvolvimento sustentvel iniciada na Eco92, h 20 anos, a Rio+20 foi uma conferncia sobre desenvolvimento, e no apenas ambiental, que tratou de temas como economia verde inclusiva no contexto da sustentabilidade, erradicao da pobreza, segurana alimentar, acesso gua, uso de energia e governana para um avano econmico sustentvel. Para seus defensores, os resultados mais concretos da Rio+20 s iro aparecer depois de 2015, quando a ONU espera apresentar metas de desenvolvimento sustentvel a serem perseguidas por todos os pases, assim como a origem do dinheiro para ajudar os pases mais pobres a cumprirem os chamados Objetivos do Desenvolvimento Sustentvel (ODS). Aquestosocioambientalumaquestocomplexaqueimplicainexoravelmente em conflitos. Querer no poder: no basta boa vontade, ideologia ecolgica ou viso ambiental estratgica. Precisamos de solues tcnicas e economicamente viveis, com metas plausveis e eficazes, onde as dimensestecnolgica,econmicaepolticapossamavanaremcontraposio nefasta lgica radical meramente conservacionista do nada pode. Como se financiar a economia verde inclusiva no mundo dos pases mais pobres, no se sabe. Alguns pases so refratrios ao conceito de economia verde, enxergando esta como mais uma manobra para camuflar barreiras protecionistas a produtos "no verdes". Sem instrumentos para garantir a financiabilidade da transio para uma economia verde inclusiva, o4 5. Revista de Sade, Meio Ambiente e SustentabilidadeVolume 7, Nmero 2, 2012compromisso poltico com o desenvolvimento sustentvel sem recursos financeiros mero exerccio de retrica. O relatrio do Panorama Ambiental Global (GEO-5) elaborado pelo Programa das Naes Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) concluiu que entre as 90 metas ambientais globais nos ltimos 40 anos, apenas 4 so consideradas bem-sucedidas: i) O fim da produo de substncias que destroem a camada de oznio; ii) A eliminao do chumbo em comestveis; iii) A melhoria do acesso gua; e iv) O incremento nas pesquisas para reduzir a poluio. Fiat lux! Crise Econmica e Sustentabilidade A volatilidade da dinmica social, poltica, econmica e cultural em relao ao desenvolvimento sustentvel so determinadas pelo grande indutor de todas as polticas: o mundo da economia e das finanas. As tendncias do setor financeiro so as grandes molas alavancadoras das questes socioambientais e de sustentabilidade: a varivel socioambiental na estratgia de negcios considerada fator no mais dissocivel da anlise econmica e das perspectivas de retorno financeiro e valorizao acionria. Porm, a lgica da assuno de compromissos em 2015 sem unanimidade ou consenso na ONU teoricamente possvel, mas ser inevitavelmente sugada pelo buraco negro econmico, sem capacidade de enforcement ou acordos vinculantes. Igualmente, esta lentido ou apatia na evoluo das principais convenes ambientais (clima, biodiversidade, etc.) conseqncia tambm do avano dos grandes grupos transnacionais (160) e seus lobbies que acabam influenciando as decises dos governos. As trs principais superpotncias Estados Unidos, Unio Europia e China, que so o centro do sistema esto responsavelmente mais preocupadas em salvar suas economias do que ocupadas em promover uma economia verde. Mesmo a Unio Europia que timidamente, se orienta para uma economia mais verde. Estados Unidos e China sequer cogitam ceder soberania nacional em resposta lgica radical meramente conservacionista5 6. Revista de Sade, Meio Ambiente e SustentabilidadeVolume 7, Nmero 2, 2012do nada pode. A agenda econmica to importante, que a guerra fiscal parte da estratgia de defesa dos EUA. A Unio Europia est sucessivamente testando seus limites.Asobrevivncia da zona do euro est em questo. Os governos se preparam para o pior. Conseqncias? Investimentos produtivos engavetados, crdito cada vez mais difcil, fuga de ativos de risco, incluindo ativos de "pases emergentes", pnico no setor bancrio, desemprego crescente, ataques especulativos, possveis congelamentos parcial de depsitos bancrios (como na Argentina em 2001), salrios podero deixar de ser pagos, hiperinflao, desabastecimento nos supermercados de alimentos, garantias de pagamento antes de entregar as mercadorias, aumento da violncia e imigrao em massa. Seu desenvolvimento sustentvel corre o risco de afundar junto. Os defensores da de caminhos alternativos buscam outros formatos de uma agenda global que garanta a proteo sustentvel do ambiente e tambm para reduzir a pobreza e promover a igualdade social. Quase todos indignados edesencantadosadeptosdomovimentoaltermundializaoeouantiglobalizao. Igualmente surge o neonacionalismo como resposta a falta de oportunidades de gerao de prosperidade econmica e bem estar social. As alternativas so abundantes: i) Controle do consumo e decrescimento (degrowth): a contrao daqueles que esto abusando e aperfeioamento daqueles que no tm nada, de modo que se busque um padro que o planeta agente, reduzindo a escala de produo e consumo, distribuindo melhor recursos e trabalho, e freando o uso de recursos naturais bem como eliminando a perptua busca pelo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB); ii) Economia solidria: preservao somente com a substituio do modelo atual de desenvolvimento predatrio, baseado na acumulao privada de riquezas; e iii) A raiva social niilista (falta de perspectiva, o nada a perder e nem a esperar): "Seja voc mesmo a mudana que deseja para o planeta"; "O maior perigo que nos ameaa a passividade"; "No, no pagaremos pela sua crise"; "Reformem Wall Street"; "Taxem mais os Ricos"; "Unidos para a6 7. Revista de Sade, Meio Ambiente e SustentabilidadeVolume 7, Nmero 2, 2012mudana global"; "Eles, a crise; ns, a alternativa"; " preciso parar tudo porque no h dinheiro para nada"; "No somos anti-sistema, o sistema contra ns"; A democracia, particularmente a democracia representativa, ineficaz e o capitalismo produtivista e consumista destri a vida futura, porque destri o planeta. Na Rio+20 o presidente do Greenpeace International, Kumi Naidoo, chegou a ameaar com uma onda de desobedincia civil. Na prtica representa a possibilidade de aes de todo tipo, inclusive, as de carter ecoterrorista. Ainda no se sabe como definir isso ou colocar em prtica propostas moralmente indefensveis e emocionalmente insustentveis. Limitam-se a agir como mdicos legistas promovendo a autpsia do nosso estilo de vida e da forma como fazemos uso insustentvel dos recursos naturais, renovveis ou no. O decrescimento para quem pode e no para quem quer; mas quem pode no quer. S o real universalmente inteligvel. No existem caminhos fceis. Seria desejvel observar: i) Foco na financiabilidade da transio para uma economia verde e inclusiva, considerando o desafio da erradicao da pobreza, contemplando princpios de equidade entre geraes, entre pases e dentro de um mesmo pas. Afinal, compromisso poltico com o desenvolvimento sustentvel sem recursos financeiros mero exerccio de retrica; ii) O estabelecimento de incentivos para a partilha de segredos comerciais ligados s tecnologias verdes visando expanso do mercado para bens ambientais e a elevao geral dos nveis de desenvolvimento e progresso aos patamares permitidos pela cincia e pela tecnologia modernas. A economia verde no poder aumentar a desigualdade entre os pases, por exemplo, ao favorecer as tecnologias criadas por pases que j se encontram em patamar mais elevado de desenvolvimento; iii) O desenvolvimento de estratgias que privilegiem os princpios cientficos, o bem comum e o bom senso. Volta realidade como um ato de humildade, honestidade, singeleza, prudncia e da democracia. Pressupe a participao consciente de sujeitos livres (capazes de escolhas morais emocionalmente sustentadas; e iv) Sinais de enfrentamento crise para7 8. Revista de Sade, Meio Ambiente e SustentabilidadeVolume 7, Nmero 2, 2012retomada do crescimento econmico. Time que no joga no tem torcida. O brejo est chegando at a vaca, mesmo a vaca no querendo ir para o brejo. A crise mundial j afeta o Brasil, mesmo que as condies comparativas nos sejam favorveis, nenhuma condio humana permanente. Igualmente no gostaramos de ver: i) A submisso das sociedades s restries tecnolgicas e econmicas absolutamente desnecessrias; ii) O falso paradigma da sustentabilidade: se bom, barato e funciona no sustentvel. Enquanto algum no estiver sofrendo, se sacrificando ou perdendo no estar fazendo um bem para o meio ambiente; iii) O mero denuncismo sem propostas concretas factveis; e iv) O uso de terapias coletivas, pajelana, discursos politicamente corretos recheados de conscincia ambiental, mas desprovidos de aes mensurveis reportveis e verificveis. A globalizao ainda a principal mola da democracia e da prosperidade. Abre novas oportunidades quando conjuga a liberdade econmica, a prosperidade acumulada e a justia social. Isto no significa a ausncia de deficincias sistmicas de funcionamento ou de prticas predatrias. Ambas necessitam de restries e de superviso internacional. Geopoltica do Desenvolvimento Sustentvel O mundo nunca deixou de ser uma arena de competio, ainda que as formas pelas quais elas se manifestem, variem com o tempo. O mundo foi, continua e continuar inseguro, porque a prpria natureza da luta pela sobrevivncia entre as Naes. Ameaadas pelo mesmo problema, no mesmo tempo e com impactos similares, mas com uma nica preocupao: o que melhor para o pas? At mesmo o altrusmo ou bondade entre as naes pode ser compreendido como uma forma de interesse-prprio, quando todas as presses sociais so consideradas. A geopoltica do clima diz respeito s disputas de poder e presses de todos os tipos no espao mundial por meio do poder de influir na tomada de deciso dos Estados sobre o uso do territrio alm dos prprios limites territoriais.8 9. Volume 7, Nmero 2, 2012Revista de Sade, Meio Ambiente e SustentabilidadeImplicam tambm relaes de assimetria que podem ser disputas econmicas, conflitos culturais, ideolgicos, alm de questes sobre mudanas climticas, inovaes tecnolgicas e diferentes aspectos da globalizao. A nova geopoltica do clima envolve questes to complexas e difusas como: capitalismo de carbono, crise energtica, eco-escravido, perpetuao da excluso social, armadilhas energticas, riscos regulatrios, custos ambientaiscrescentes,limitesdocrescimentosustentvel,barreirassocioambientais, biocomplexidade, nveis timos de poluio, esfriamento global, fraudes, destinao do CO2 seqestrado, etc. Por outro lado se observa o incremento da intolerncia dos lderes e organizaes do mundo desenvolvido em face de omisses quanto sustentabilidade do uso dos recursos naturais (renovveis ou no). Neste contexto a megabiodiversidade e o tamanho das reservas hdricas brasileiras fator latente de cobia internacional. O Brasil abriga a maior biodiversidade do planeta. Esta abundante variedade de vida que se traduz em mais de 20% do nmero total de espcies da Terra eleva o Brasil ao posto de principal nao entre os 17 pases megadiversos ou de maior biodiversidade. Por mais que o Brasil faa, nunca est bom, ou suficiente, para satisfazer as cobranas que so feitas por governos, empresas, ONGs, rgos de comunicao ou entidades acadmicas do das principais economias do planeta: i) Desperdia com o plantio de produtos agrcolas como a cana-deacar, mamona, soja, canola, babau, mandioca, milho, pinho-manso para produo de biocombustveis reas preciosas para o plantio de alimentos; ou desperdia, com o plantio de alimentos, reas preciosas de vegetao nativa. Ou utiliza muito pesticida, planta transgnicos demais, tem demasiada agricultura; ii) A carne brasileira item muito importante na pauta de exportaes, mas no rastreada o suficiente, os bois so maltratados e os frigorficos no so fiscalizados o suficiente. Mesmo superadas estas barreiras, o rebanho do Brasil exageradamente grande: responsvel por 22% das emisses de Gases de Efeito Estufa (GEE) e 63,3% das emisses de metano9 10. Revista de Sade, Meio Ambiente e SustentabilidadeVolume 7, Nmero 2, 2012nacional, onde o mundo vai parar, se o rebanho continuar crescendo? iii) Existe trabalho em condio anloga de escravo, jornada exaustiva, ou condies degradantes de trabalho no Brasil, e quando no h trabalho escravo existe trabalho infantil; iv) Os trabalhadores brasileiros ganham muito pouco, e esto afetando a estabilidade do mercado de trabalho do mundo desenvolvido; v) O Brasil no respeita os direitos das mulheres, das minorias, dos ndios, dos semterra, dos quilombolas, dos deficientes fsicos, mesmo tendo uma das legislaes mais avanadas do planeta; vi) Os brasileiros no tm competncia, os meios e a maturidade necessria para cuidarem sozinhos da Amaznia. Resumindo nossas vantagens comparativas na se transformam em vantagens competitivas. O movimento ambientalista internacional , predominantemente, um instrumento poltico a servio de uma agenda de restries ao nosso desenvolvimento socioeconmico, com propsitos especficos: i) Reduzir o impulso pr-industrializao; ii) Manter o controle sobre regies ricas em recursos naturais; iii) O Brasil como uma potncia ambiental, sem a qual no pode haver um acordo climtico significativo (e vinculante com restries s emisses de GEE para o Brasil); iv) Importante ator internacional para a segurana energtica (como grande exportador de matrias-primas); v) Limitar o crescimento demogrfico; vi) Reduzir o "otimismo tecnolgico nacional; e vii) Subordinar agenda ambientalista a utilizao plena dos recursos naturais para o desenvolvimento interno soberano do Pas atravs de presses polticas e miditicas motivadas por argumentos ambientalistas. Nossa soberania pseudo-responsvel est cada vez mais relativa e cada vez mais distante do conceito Ubis pedis ibi patria (onde temos os ps, existe a ptria)? A gesto do meioambiente e dos recursos hdricos atentam contraa integrao nacional. A internacionalizao da Amaznia se materializa atravs da criao de desproporcionais unidades de conservao (25,56% + 23,65% de terras indgenas) e restries do uso do solo (80% de reserva legal) onde apenas 10,69% deste bioma esto disponveis legalmente para a atividade agrcola e industrial para a presente e as futuras geraes de10 11. Revista de Sade, Meio Ambiente e SustentabilidadeVolume 7, Nmero 2, 2012brasileiros. Hoje, h muito mais perguntas sem respostas de como assegurar o uso sustentvel dos recursos naturais. Um Estado contemporneo e seguro, portanto, deve saber identificar seu destino e busc-lo em meio a um caminho de grandes incertezas e indefinies atravs de: i) Valorizao dos recursos naturais como capital de realizao atual e futuro; ii) Ampliao dos mecanismos para estmulo e apoio s iniciativas de conservao e uso sustentvel dos recursos hdricos e da biodiversidade e para inibir aes degradantes dos recursos hdricos, no meio ambiente e da diversidade biolgica e gentica; iii) Combinao de preservao e desenvolvimento sustentvel com alta tecnologia; iv) Internalizar os recursos ambientais como bens estratgicos nacional: interveno estratgica do Estado na proteo do meio ambiente e uso sustentvel dos recursos hdricos, garantindo a soberania sobre o territrio nacional e em especial sobre a Amaznia, o Aqfero Guarani e o Pantanal. No futuro imediato, crucial a neutralizao deste aparato intervencionista, para que o Brasil possa se consolidar como uma verdadeira potncia - promovendo um desenvolvimento socioeconmico harmonioso e duradouro e capaz de exercer uma influncia positiva no cenrio global. Essa imagem ainda difusa, no se sabe exatamente onde e quando o Brasil pode e quer chegar. Porm, verossmil afirmar que a direo esta e que se caminha nesse sentido. preciso, portanto, haver coerncia entre o que se quer e o que se pode. Condutas hostis, de grandes potncias mundiais, so altamente provveis e requerem apropriada resposta. Tais condutas tero, predominantemente, carter econmico-financeiro, tecnolgico e poltico. Contrrio ao interesse nacional, mas sendo inevitvel o avano da governana global, precisamos ocupar espaos estratgicos para garantir a posse e uso sustentvel dos nossos recursos ambientais (renovveis ou no) sob suas varias formas em quantidade, qualidade e preos competitivos. A opo pela autonomia nacional requer se assuma a probabilidade de um longo perodo de confrontao. Uma11 12. Volume 7, Nmero 2, 2012Revista de Sade, Meio Ambiente e Sustentabilidadeconfrontao sustentvel pelo Brasil se, desde logo, se a situar, inequivocamente,emtermosnoantagnicos,massimplesmenteautonmicos. A governana global uma tendncia, mesmo considerando a atual impotncia da ONU para enfrentar problemas ambientais e sociais em curso. O mundo est cada vez mais interconectado de forma que esses desafios podem estar alm da capacidade de qualquer nao de resolv-los sozinha. Inclui a criao de um novo organismo ambiental internacional, que substituir o Programa das Naes Unidas para o Meio Ambiente PNUMA, ao estilo da Organizao Mundial do Comrcio (OMC), com mais oramento e poder e venha definir estratgias normativas, avaliar os pases e eventualmente punir pases que no cumprem os compromissos assumidos. O processo ganhar peso quanto maior forem os riscos socioambientais para a economia global. A pergunta no "se", mas "quando" e "quanto" seremos afetados pelo avano da governana global com um novo organismo ambiental internacional. Como medida sensata de precauo, o Brasil deve desenvolver uma melhor compreenso dos impactos no avano da governana global com um novo organismo ambiental internacional, analisando riscos e quantificando os custos e as diferentes medidas para definio de metas e prazos - respaldada por transferncias de dinheiro e tecnologia - para a converso da produo e do consumo para padres ambientalmente sustentveis. O maior risco remete desindustrializao crescente e seus impactos diretos e indiretos sobre as oportunidades de ocupao e renda, bem estar social, competitividade e inovao. Estamos cada vez mais dependentes da tecnologia para realizar nossas atividades e um novo ciclo de desenvolvimento se avizinha, no qual o nvel de competitividade fica maior. Como nem sempre possvel se privar dos avanos tecnolgicos e das medidas protecionistas, vivemos o desafio dos senes que envolvem unir proteo ambiental e combate pobreza. O risco maior o da procrastinao, ou seja, adiar a decises e aes que12 13. Revista de Sade, Meio Ambiente e SustentabilidadeVolume 7, Nmero 2, 2012julgamos (des)necessrias. Pode ocorrer de subestimarmos a importncia destas aes e colocamos outras como prioridades. Leonard Fuld afirmou que a linguagem secreta da inteligncia competitiva est baseada em dois alicerces. O primeiro a habilidade de encontrar a correta informao a respeito da competitividade. O segundo, e mais crtico, a habilidade de enxergar as disrupes antigas de mercado e imparcialmente interpretar os eventos". Na metas de desenvolvimento sustentvel a serem perseguidas por todos os pases, assim como a origem do dinheiro para ajudar os pases mais pobres a cumprirem os chamados Objetivos do Desenvolvimento Sustentvel (ODS), esperamos iniciativas cuja efetividade seja inquestionvel, atravs de medidas reais, mensurveis e verificveis. Que as metas preferencialmente tenha por base os parmetros de eficincia que identifiquem padres positivos de referncia. A riqueza econmica (sem ela impossvel investir na conservao e recuperao ambiental e numa economia verde includente de baixo carbono) e melhoramento do planeta so faces da mesma moeda, onde a vida humana o seu maior tesouro. Energia Sustentvel Entre as propostas para o desenvolvimento sustentvel por pases que desejam esverdear suas sujas matrizes energticas, no mesmo modelo das Metas do Milnio, esto: i) Garantir o acesso universal a servios energticos modernos; ii) Dobrar a taxa global de melhoria da eficincia energtica; iii) Duplicar a cota das energias renovveis na matriz energtica global; e iv) Reduzir pela metade o consumo de outras fontes, tudo isto at 2030. Porm, os obstculos so enormes: altos custos comparativos; baixa competitividade socioambiental; baixa eficincia; pouca confiabilidade no suprimento de cargas energointensivas como siderurgia, indstrias de base, metalurgia, metr, etc.; e tecnologias no maduras que demandaro anos ou13 14. Revista de Sade, Meio Ambiente e SustentabilidadeVolume 7, Nmero 2, 2012at mesmo dcadas de pesquisa e desenvolvimento para uso comercial. Igualmente no se pode desconsiderar que a taxa de mudana tecnolgica est fortemente relacionada vida til do estoque de capital e de equipamentos das infraestruturas convencionais: trmicas a carvo + 45 anos, turbinas a gs + 25 anos, hidreltricas tm vida til indeterminada, temos usinas funcionando a mais de 120 anos aps sua construo. Na definio da matriz energtica de qualquer nao, vrios so os fatores determinam a sua composio e as diferenas entre pases: disponibilidade das fontes, segurana energtica, disponibilidade de recursos, menores custos de oportunidades socioambientais, potencial para apoiar prioridades; potencial de financiar programas e aes; continuidade das polticas pblicas; taxa de investimento, crescimento populacional, mudana tecnolgica, mudanas estruturais, pobreza, inovao, educao, poupana pblica e custos competitivos, entre outros. O coordenador executivo da conferncia Rio+20, Brice Lalonde, ex-ministro do Meio Ambiente da Frana, afirmou que "o desenvolvimento sustentvel mais importante para o pobre que para o rico. Pode ser caro exigir que os pobres protejam a natureza, mas mais caro no preserv-la." Estas declaraes nos fazem lembrar a frase escrita 271 anos atrs por Rousseau no livro Confisses, em referncia a um evento ocorrido em 1741, e atribuda falsamente a Maria Antonieta em 1775, quando esta ainda no era nascida: "Se o povo no tem po, que coma brioches!" A segurana energtica per si nos orienta a buscar fontes alternativas de energia, maior competio na oferta de energia, eficincia energtica, diversificao energtica, a elaborao de planos de contingncia e outras polticas. As hidreltricas tem sido alvo preferencial de crticas pelos ambientalistas radicais. Os conceitos de racismo ecolgico (atingir deliberadamente as populaes etnicamente minoritrias) ou de sociopatia ambiental (desprezo por normas socioambientais, ausncia de empatia com outros seres vivos ou14 15. Revista de Sade, Meio Ambiente e SustentabilidadeVolume 7, Nmero 2, 2012indiferena aos direitos e sentimentos geraes presentes e futuras e srios prejuzos biodiversidade) no se aplicam a empreendimentos hidreltricos pelo fato de eles existem onde a natureza os proporcionou (vazo e desnvel) com relativa rigidez locacional e escolha das prioridades pela relao custo x benefcio (inclusive socioambientais) e proximidade dos centros de carga. A moratria ou suspenso de qualquer tipo de licena ambiental (LP, LI e LO) a quaisquer empreendimentos hidreltricos que estejam adimplentes com a legislao ambiental, bem com a eventual esterilizao do potencial hidrulico, incompatvel com a responsabilidade intergeracional, uma vez que esta iniciativa no ser acompanhada do decrescimento no consumo da energia eltrica. Para todos aqueles que apiam o desenvolvimento no destrutivo e esto preocupados com a preservao do equilbrio socioambiental, as hidreltricas so parte da soluo em continuar avanando na direo do desenvolvimento sustentvel e na garantia da qualidade de vida das populaes atuais e futuras. Ser verde significa restabelecer a verdade sobre esta forma sustentvel e acima de tudo ambientalmente correta de produzir energia to necessria ao progresso, incluso social e ao desenvolvimento harmnico. A gerao de energia solar, elica, biomassa e outras fontes de reduzida densidade de fluxo energtico, so adequadas para complementar e integrar a matriz eltrica e energtica, mas no atendem grandes demandas urbanas e os grandes blocos de energia industriais necessrias para a manuteno do crescimento sustentado do Brasil. Precisamos na nossa matriz energtica para reduzir a pobreza e melhorar os padres da qualidade de vida: i) O aproveitamento do potencial hidreltrico ainda disponvel; ii) O uso de fontes alternativas ou complementares calcadas em solues tcnicas e economicamente viveis, com metas plausveis e eficazes; iii) O desenvolvimento de uma nova gerao de reatores de fisso nuclear intrinsecamente seguros (inclusive reatores regeneradores capazes de15 16. Revista de Sade, Meio Ambiente e SustentabilidadeVolume 7, Nmero 2, 2012"reciclar" grande parte do combustvel usado); iv) A interligao de redes de energia continentais, para ampliar tanto a eficincia como a segurana energtica; v) A presena da termoeletricidade como uma fonte confivel e flexvel de energia e chave no desenvolvimento de fontes renovveis de energia, fornecendo um produto flexvel e confivel que suporta outros sistemas menos flexveis na matriz eltrica. O carvo, o petrleo e o gs natural continuaro sendo fontes de desenvolvimento por um longo tempo ainda. Paradoxos? Muitos. Veja o caso brasileiro: Em 2011 o uso da gasolina cresceu 19%, enquanto o uso do etanol nos veculos desabou 29%. O Brasil produziu 28 bilhes de litros de etanol na safra (2010/2011). Os EUA 50 bilhes de litros. O Brasil importou 1,1 bilhes de litros de etanol dos EUA. O Brasil lder mundial na tecnologia da produo de etanol de 1 gerao, mas j perdeu a corrida tecnolgica para os EUA no etanol de 2 gerao (celulsico). J est em construo na cidade de Emmetsburg, no Estado de Iowa, a primeira usina de etanol celulsico em escala comercial, um investimento de US$ 250 milhes e produo prevista para 95 milhes de litros/ano. Utiliza cascas, folhas e espigas de milho como matrias primas. Operao prevista para 2013. O caso chins (lder mundial no desenvolvimento de energias limpas e renovveis como a elica e a solar) mais emblemtico: O premier Wen Jiabao, em relatrio publicado em 05/03/12, afirmou que a China ter como foco acelerar as opes nuclear e hidreltrica, alm de se dedicar a desenvolver solues para explorar o gs de folhelhos, com as novas tecnologias que vm sendo desenvolvidas para tal finalidade e por um fim na expanso de indstrias fabricantes de componentes para usinas elicas e solares. Segundo Zhai Ruoyu, ex-gerente geral da China Datang Corp., uma das cinco gigantes chinesas do setor energtico, o maior foco nas usinas hidreltricas e nucleares no planejamento significa o efetivo abandono das opes solar e elica, j que estas falharam em atender as necessidades do pas.16 17. Volume 7, Nmero 2, 2012Revista de Sade, Meio Ambiente e SustentabilidadeOs impactos ambientais provocados por fontes alternativas, em larga escala, podem ser to significativos quanto os decorrentes das fontes convencionais. Isto permite concluir que qualquer fonte deenergia que passe a ter usointensivo, pode gerar impactos socioambientais to graves e intensos quantos as fontes tradicionais que pretende substituir. Cada tipo de fonte de energia tem sua aplicao e lugar na matriz energtica. A escolha deve considerar as especificidades locais e o custo de oportunidade socioambiental. Nenhuma fonte pode ser desprezada. O Brasil precisa garantir o equilbrio e a versatilidade da sua matriz energtica e avanar em reas, tais como as de agricultura e sade, que se beneficiam da tecnologia de energia nuclear. Precisamos empregar a energia nuclear criteriosamente, e sujeit-la aos mais rigorosos controles de segurana e de proteo do meio-ambiente, como forma de estabilizar a matriz energtica nacional, ajustando as variaes no suprimento de energias alternativas renovveis (elica, biomassa e solar) e de origem hidreltrica. O Brasil est desenvolvendo um programa nuclear ps Angra III com avanos modestos e um cronograma relativamente flexvel, onde nos preparamos para o fim da era das hidreltricas, uma energia renovvel e comparativamente mais competitiva que as outras alternativas de fornecimento de energia eltrica. O sucesso do Programa Nuclear Brasileiro ps Angra III depender dentre outros fatores de novas regras de segurana aplicveis a reatores em funcionamento e a serem construdos, o uso em escala comercial de reatores de 3 gerao, o desempenho do PROSUB - Programa de Desenvolvimento de Submarinos (de propulso nuclear) da Marinha do Brasil e a renovao da gerao dos agentes pblicos e lideranas polticas ps revoluo de 1964. Esta gerao ainda guarda um rano ideolgico muito forte, que turva a compreensodopapelestratgicodaenergianuclearquandoosaproveitamentos hidrulicos tecnicamente, econmica e socioambientalmente viveis j tiverem se esgotado.17 18. Revista de Sade, Meio Ambiente e SustentabilidadeVolume 7, Nmero 2, 2012Os legtimos interesses de soberania e independncia energtica do Brasil no futuro, atravs da utilizao dos meios que o Pas dispe, nenhuma fonte pode ser desprezada, particularmente o domnio da energia nuclear. A sorte se encontra na prudncia e o azar na precipitao. Responsabilidade Intergeracional A proteo ambiental parte integrante do processo produtivo do desenvolvimento sustentvel, de modo a assegurar qualidade de vida para todos os cidados e atender equitativamente as necessidades de geraes presentes e futuras. O esgotamento de um recurso natural no renovvel (uma jazida de carvo mineral ou de um reservatrio de petrleo e/ou gs natural) um impacto ambiental negativo, permanente e irreversvel. Portanto necessrio um planejamento integrado no uso dos recursos naturais renovveis ou no, calcado num diagnstico/inventrio nacional/estadual de reservas, que, por sua vez, conduza a uma explorao racional, respeitando a responsabilidade intergeracional e o reconhecimento do que biofisicamente possvel em uma perspectiva de longo prazo. Devemos estabelecer mecanismos que permitam a racionalizao do uso dos recursos naturais no tempo e no espao, de forma a evitar seu esgotamento e ou uma transio segura para alternativas de substituio. Significa obter continuamente condies iguais ou superiores de vida para as geraes futuras em dado ecossistema. Pelo princpio da solidariedade todos respondam pelo custo socioambiental da produo e transmisso da energia eltrica. A crise ecolgica e a necessidade de produo de energia limpa responsabilidade de todos. As externalidades ambientais negativas, caso relevantes, precisam ser valoradas e reconhecidas na legislao e nas polticas pblicas, j que se exige dos empreendedores (pblicos e privados) a extrema e estrita legalidade na conformidade com a legislao e/ou regulamentao ambiental, trabalhista,18 19. Volume 7, Nmero 2, 2012Revista de Sade, Meio Ambiente e Sustentabilidade tributria e fiscal.Nos licenciamentos de significativo impacto ambiental, onde exigida a prvia elaborao do EIA/RIMA, se os danos significativos no forem eliminados, mitigados ou, pelo menos, minorados ao mximo, o licenciamento no ser concedido. Eventuais danos residuais (inclusive sobre eventual instabilidadeclimtica)seroaquelespermitidospelalegislaoquerepresentam, em ltima anlise, a conciliao dos princpios constitucionais do desenvolvimento econmico com a preservao do meio ambiente. Salvaguardas na formulao de polticas pblicas O setor produtivo est refm de extremos. Dentro do conceito de inovatividade, devemos no restringir, mas condicionar o empreendedorismo. Mesmo no cenrio menos otimista, a crise da sustentabilidade pode acabar produzindo a soluo. O que considerado sustentvel hoje pode no ser amanh, j que as cincias ambientais no so exatas. O mximo que podemos garantir que estamosfazendousodasmelhoresprticastcnica,econmicaeambientalmente viveis e disponveis no momento. Ou seja, amanh poderemos no ser o que fomos/nem o que somos sustentveis hoje. O Brasil hoje uma potncia ambiental, com destaque em biodiversidade, potencial alternativo para gerao de energia, produo de alimentos e reservas de guas naturais. A transio para a economia verde inclusiva, em diversos setores, j est em curso no pas. Cabe ao pas cobrar dos pases desenvolvidos a prestao de contas o que aconteceu, de concreto, depois a Rio 92: os respectivos Programas de Metas e Prioridades vinculadas ao desenvolvimento sustentvel (considerando os objetivos, diretrizes, aes, programaseintervenesestratgicaseoutroscontedosconexos,indicadores de desempenho e as metas quantitativas e qualitativas setoriais). Precisamos garantir o direito inalienvel de o Brasil agir para a elevao dos padres de consumo da populao para elevar o seu padro de vida. O acesso19 20. Revista de Sade, Meio Ambiente e SustentabilidadeVolume 7, Nmero 2, 2012a alguns servios pblicos e a certas formas de riqueza depende do aumento do consumo para atender s necessidades e aspiraes bsicas de desenvolvimento humano dos brasileiros, implica em aumentar o uso de recursos naturais (renovveis ou no). Considerando que a poltica ambiental brasileira est sendo consolidada por uma estratgia rumo economia verde, inclusiva e responsvel, imprescindvel assegurar uma transio justa e socialmente aceitvel, defendendo a competitividade e desenvolvimento da nossa base industrial e vantagens comparativas. necessrio o desenvolvimento de um cenrio complementar da avaliao das pegadas hdrica (verde, azul e cinza), ecolgica (biodiversidade e ecossistemas), carbnica e energtica que permita a comparao entre pases (offshored footprint) contando as importaes, exportaes e o transporte internacional, apurando o real valor das pegadas hdrica, ecolgica, carbnica e energtica. Focar no consumo em vez de na produo a nica soluo inteligente, socialmente justa e tica. Na eventual definio dos indicadores de desempenho e as metas quantitativas e qualitativas setoriais considerar apenas a evoluo das inovaes em reduzir a intensidade de recursos naturais renovveis ou no e energia utilizados para o atendimento de uma necessidade especfica (decoupling relativo). Para tano necessrio o veto na obteno de tais resultados para a economia em escala global (decoupling absoluto) considerando a offshored footprint. Precisamos vincular benefcios SMART (especfico, mensurvel, atingvel, relevante e oportuno) para o setor produtivo no estabelecimento de metas de eficincia setoriais e nas definies dos padres positivos de referncia a serem atendidos na eventual migrao macia para uma economia verde inclusiva em detrimento de uma economia nacional pseudo marrom. A inovao tecnolgica a nica rota para desenvolvimento sustentvel. Isto20 21. Volume 7, Nmero 2, 2012Revista de Sade, Meio Ambiente e Sustentabilidadeexige um compromisso de ao sobre o financiamento nacional e internacional, de tecnologia necessria ao desenvolvimento sustentvel. O desenvolvimento sustentvel da Amaznia se far com um novo padro de desenvolvimento baseado na cincia, na tecnologia e na inovao, sendo complementado com iniciativas de preservao da floresta em p (improdutiva) em reas especialmente protegidas, financiando a renncia ao desmatamento. necessria prioridade para o combate pobreza: um fracasso nesta ao permanente conduzir a um incremento das tenses sociais, das presses ecolgicas e das crises econmicas. Riqueza econmica (sem ela impossvel investir em preservao ambiental) e melhoramento do planeta so faces da mesma moeda, onde a vida humana o maior tesouro. impossvel resolver a questo ambiental sem vencer a pobreza. Implica no veto a implementao dos assim chamados "empregos verdes" que signifiquem redues de postos de trabalho na pseudo economia marrom. Exemplo: a taxa de desemprego acima de 18% na Espanha era parcialmente devido s perdas de empregos como resultado das tentativas de substituir a indstria existente com outras formas de energia).A migrao para umaeconomia verde inclusiva dever ser estabelecida de forma harmnica, sem ignorar setores mais pobres da populao, devendo sempre apoiar a reduo das desigualdades. So necessrios incentivos para a partilha de segredos comerciais ligados s tecnologias verdes visando expanso do mercado para bens ambientais. A economia verde no poder aumentar a desigualdade entre os pases, por exemplo, ao favorecer as tecnologias criadas por pases que j se encontram em patamar mais elevado de desenvolvimento. Os mecanismos de incentivo financeiro para uma economia verde inclusiva de baixo carbono precisam estar disponveis antes da implementao do cumprimento das metas. Igualmente precisamos garantir que as iniciativas reconhecidas como redues de emisses j realizadas de maneira voluntria21 22. Revista de Sade, Meio Ambiente e SustentabilidadeVolume 7, Nmero 2, 2012pela indstria sejam consideradas no estabelecimento de novas metas. Adoo de prticas voltadas para uma economia verde inclusiva e aes de mitigao e adaptao climtica convergentes com o interesse nacional. O Brasil nunca ser bom para a estabilidade climtica e sustentabilidade socioambiental global se no for bom primeiro para o brasileiro que mora aqui. Concluses O futuro que queremos exige racionalidade no processo de desenvolvimento sustentvel. Consumo consciente, reduo, reuso e reciclagem parecem no ser suficientes. Idem para a economia verde no contexto da sustentabilidade, erradicao da pobreza e governana para um avano econmico sustentvel. Somos bombardeados constantemente por prognsticos catastrofistas e anncios de limites da capacidade de suporte da vida humana na terra. No se conhecem todos os bens e servios que ecossistemas sadios oferecem, como eles so oferecidos, onde estariam os limites ecolgicos crticos e o que ocorreria se fossem transpassados esses limites em cada caso. Ideologias parte ocorrem que todas as tentativas de fixar os limites de sustentabilidade da terra foram inexoravelmente frustradas. No mximo se consegue estimar os impactos futuros a luz das tecnologias e prticas presentes. Melhorias contnuas, rupturas e revolues tecnolgicas, culturais e socioeconmicas, tem sistematicamente elevado os limites da capacidade de suporte da vida humana no planeta. As responsabilidades so comuns, porm diferenciadas. A defesa do interesse nacional na segurana ambiental o conjunto de medidas e aes do Estado brasileiro, com nfase na formulao de polticas pblicas (econmicas, cincia e tecnologia, agrcolas, socioambientais e outras reas; defesa civil; defesa externa; segurana pblica), planos e programas de governo, para garantia da posse e uso sustentvel dos recursos ambientais (renovveis ou no) sob suas varias formas em quantidade, qualidade, preos competitivos e seus impactos na Soberania incentivando, dissuadindo ou inibindo, atravs dos22 23. Revista de Sade, Meio Ambiente e SustentabilidadeVolume 7, Nmero 2, 2012meios que o Estado dispe, conforme a Constituio contra ameaas internas, externas, potenciais ou manifestas. A defesa dos interesses nacionais implica na confrontao em termos no antagnicos, mas autonmicos. A Nao que no traar seu prprio rumo o ter traado por outra. O futuro que queremos para o Brasil passa por iniciativas cuja efetividade seja inquestionvel, atravs de medidas reais, mensurveis e verificveis e metas com base em parmetros de eficincia que identifiquem padres positivos de referncia. No se trata de prolongar o passado e o presente, de uma viso reducionista, mas de razo criativa humana com audcia, ambies e sentido tico da histria nacional. Sem perder a sustentao econmica, devemos priorizar e proteger investimentos em novas tecnologias. No como ruptura, no apenas pensando grande, mas pensando diferente. Carecemos de um software social e tecnolgico que nos d a esperana e a certeza de um futuro incomum.23 24. Revista de Sade, Meio Ambiente e SustentabilidadeVolume 7, Nmero 2, 2012O esprito rio+20: humanidade, uma evoluo do esprito rio-92 do desenvolvimento sustentvel Flavia Witkowski Frangetto 1A Rio+20 passou. Mas o esprito Rio+20 permanece. O projeto que levou o bonito nome Humanidade 2012 batizou no s o evento paralelo realizado pela Federao das Indstrias do Estado de So Paulo (FIESP), a Federao das Indstrias do Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN) e a Fundao Roberto Marinho, no Forte de Copacabana, entre os dias 11 e 22 de junho de 2012, como tambm influenciou positivamente o processo de desenvolvimento sustentvel. A abordagem integrada do desenvolvimento sustentvel foi, em 1992, o diferencial das negociaes internacionais acerca da questo ambiental. At hoje, referir-se ao esprito Rio-92 tem significncia singular: representa a assertiva da concluso da Comisso Brundtland segundo a qual o desenvolvimento tem que ser sustentvel. Ser sustentvel quer dizer ser melhor a cada nova gerao. Se certa gerao faz uso dos recursos ambientais tem que pensar na gerao subseqente, legando-a o necessrio para acessar igualmente os bens oferecidos pela natureza. Dado o limite desses bens, portanto, h a inarredvel necessidade de economiz-los, de conserv-los, de preserv-los, de recicl-los. Nessa medida, 1Flavia Frangetto ([email protected]), autora e coordenadora de obras de destaquena rea ambiental, advogada, graduada, mestre e doutora em Direito pela PUC/SP. consultora da United Nations Foundation e Organizao das Naes Unidas (ONU); Conselheira do Conselho Superior do Meio Ambiente (COSEMA) da Federao das Indstrias do Estado de So Paulo (FIESP); Presidente do Instituto Brasileiro do Direito Ambiental (IBRADA), Policy Fellow da Smith School of Enterprise and the Environment (SSEE Oxford University) e scia da Frangetto Assessoria e Consultoria (www.frangetto.com), especializada em Direito Ambiental e das Futuras Geraes para um mundo sustentvel.24 25. Revista de Sade, Meio Ambiente e SustentabilidadeVolume 7, Nmero 2, 2012os bens ambientais so cada vez mais valorizados, sem eles no h vida, com a escassez deles a vida piora. Por isso, torna-se fundamental aos usurios dos bens da natureza apenas acessarem-na com respeito manuteno do equilbrio ecolgico. E, como conseqncia de vrias destruies ao meio ambiente terem acontecido nas ltimas dcadas, cabe s geraes de cada momento presente limparem o que foi alvo de degradao ambiental, restaurando o meio ambiente em favor de si e da gerao superveniente. Do contrrio, isto , sem uma limpeza, o legado de uma gerao para outra negativo, ou seja, no lugar da gerao seguinte receber o meio ambiente ecologicamente equilibrado, ela recebe uma herana ruim, um passivo ambiental. Assim sendo, a sociedade atual est de tal modo contaminada em seu entorno que impera uma urgente demanda de que cada gerao entregue um mundo melhor para a seguinte. Esta entrega de mundo melhor, ou, como sinnimo, mundo sustentvel, pode ser feita de vrias formas. Conceitos como livre no ambiente so interessantes para premiar aquele que merece ser tratado de maneira civilizada por ser civilizado. Nas relaes econmicas, em uma campanha livre no ambiente o consumidor de produtos verdes pode ser considerado fiel a determinada marca e, por essa razo de ser sustentvel, receber benefcios de vrios ordens, como direito a descontos, a viagens, a ecobags, a mais produtos, enfim, a uma gama de acordos passveis de serem celebrados com um fornecedor que quer incentivar comportamentos saudveis. Durante a Rio+20, Paulo Skaf e Eduardo Eugenio Gouva Vieira Presidentes das Federaes envolvidas deram, de presente, para a comunidade visitante do Rio de Janeiro, no Humanidade, uma srie de atrativos capazes de encantar qualquer amante da natureza. A temtica ambiental estava nos materiais utilizados, na decorao, no som. Salas de vrias cenografias possibilitaram a insero do pblico (o grande pblico, como se refere Paulo Nogueira-Neto audincia ambiental de todas as origens) num mundo imaginrio refletor da realidade dos ecossistemas e de como a mensagem em favor do Planeta pode ser conquistada com criatividade,25 26. Revista de Sade, Meio Ambiente e SustentabilidadeVolume 7, Nmero 2, 2012sabedoria e amor s espcies. Em uma das salas, por exemplo, focou-se o no ao desperdcio. Eram cenas de reprodues de notas de dinheiro rasgadas estampando as paredes e uma esteira aparentando produo em massa da Revoluo Industrial com notas voando desordenadamente. Uma espcie de um recado do quanto se gasta sem sentido, e do quanto se pode evitar de dano investindo-se no que bom, no que previne desastres, no que traz efetivas melhorias. O impacto maior ficava nos nmeros, quando as reprodues eram intercaladas por nmeros que traziam a notcia de se modificar em tempo real conforme a rapidez de determinado fenmeno, como aumento das terras em deserto, dos resduos, das mortes, dos nascimentos, entre outros. Na capela Espao da Humanidade foi possvel encontrar a sintonia entre a arte e o conhecimento, a cultura e os idiomas, o homem e a natureza em equilbrio. No meio da capela rodeada por livros e inscries de linguagem em vrios idiomas, uma mesa semelhante a um altar com sacrrio horizontalizado, inclua um pndulo que caminhava das bordas circulares ao centro, aps um show no qual pssaros em dobradura pareciam rasgar o universo enquanto os homens e mulheres se concentravam no domnio do conhecimento pacificador. Nas palavras do Paulo Skaf, o esprito do pndulo, que perdurar ps Rio+20. Para sempre. Conforme explicou o prospecto da exposio, l o centro do projeto, onde est exposta a grande potencialidade humana de transmisso do conhecimento a partir da criao da linguagem. Local de reflexo e compreenso da importncia da educao, cultura, tecnologia e da necessidade de nos tornarmos uma humanidade. Uma biblioteca inusitada, formada por 10.000 ttulos selecionados por 120 personalidades brasileiras, est disponvel para consulta do pblico. Uma biblioteca de livros e de pessoas, j que a seleo de cada indivduo indica o percurso intelectual e afetivo que os fizeram ser quem so (prospecto da exposio) Em outro ambiente inusitado, entra-se com a impresso de se ter visto em meio floresta. Uma fauna indicada pela msica at deparar-se com o prprio homem refletido no espelho em meio aos tecidos de fotografias da vegetao: voc mesmo, aquele que chegou tendo a impresso de aparecer26 27. Revista de Sade, Meio Ambiente e SustentabilidadeVolume 7, Nmero 2, 2012desde o comeo. Essa intrnseca relao entre o homem e o meio ambiente foi delicadamente mostrada, e revivenciada na conscincia daqueles que tiveram o privilgio de visitar o Humanidade 2012. E um detalhe, podiam ser todos, pois o evento esteve aberto ao pblico que quisesse penetrar naquelas invenes de amor biodiversidade e sociedade. Calculou-se que foram 200.000 (duzentas mil) as pessoas a percorrerem esses caminhos do Humanidade. Alm disso, discusses com hora marcada ocorreram no interior das salas de debate, tendo as freqentado personalidades que discutiram com profundidade temas como infraestrutura, consumo sustentvel, mudana do clima, biodiversidade, energia, equidade de gnero, entre outros relevantes na pauta ambiental. Foi um foro de incremento das almas que foram ao Rio de Janeiro. No se tratava do evento fechado das negociaes oficiais dos Chefes de Estado, ocorrido no RioCentro nos dias 20, 21 e 22, porm, foi a contribuio da indstria para que no fosse esquecida a abordagem integrada do desenvolvimento sustentvel, estimuladora do equilbrio entre os aspectos ecolgico, econmico e social do meio ambiente. No importa que a Declarao oriunda da Rio+20 tenha sido mais fraca do que se poderia desejar, o mnimo esperado est garantido: os 3 tratados Rio-92 (do Clima, Combate Desertificao e Biodiversidade) ficaram revigorados por aes paralelas como o Humanidade.27 28. Revista de Sade, Meio Ambiente e SustentabilidadeVolume 7, Nmero 2, 2012A Rio + ou 20: consideraes sobre governana Rio + or - 20: considerations on governance Fernando Rei 1 Resumo Quando o mundo retorna ao Brasil depois de vinte anos com o propsito de avaliar as questes ambientais globais na Conferncia Rio +20, h uma nova perspectiva em termos de poltica e discusso sobre o Desenvolvimento Sustentvel presente. O mundo se mexeu no rumo da sustentabilidade e avanou em vrios aspectos nas ltimas dcadas, porm enormes lacunas permanecem na busca de promover e atingir um desenvolvimento econmico e social mais justo e ambientalmente adequado em muitos pases. A agenda internacional dos Estados mudou ao longo dos ltimos cinco anos, e as relaes entre desenvolvimento e sustentabilidade deslocaram-se para o quintal das prioridades da poltica internacional. Este artigo pretende mostrar que o debate internacional sobre a agenda da sustentabilidade est diferente e que o seu futuro depende do engajamento de novos atores. Palavras Chave: Rio+20; sustentabilidade; governana; novos atores.Abstract When the world returns to Brazil, after twenty years, in order to debate global environmental issues in the Rio+20 Conference, a new panorama in terms of policy and debate on sustainable development is present. The world has moved towards more sustainable development patterns in many respects in the last1 Professor Associado do Programa de Doutorado em Direito Ambiental Internacional da UniversidadeCatlica de Santos UNISANTOS e Professor Titular de Direito Ambiental da Faculdade de Direito de Direito da Fundao Armando lvares Penteado FAAP. Diretor Cientfico da Sociedade Brasileira de Direito Internacional do Meio Ambiente SBDIMA. Email: [email protected] 29. Revista de Sade, Meio Ambiente e SustentabilidadeVolume 7, Nmero 2, 2012few decades, yet enormous gaps remain in the quest to promote and attain an economic and social development that is more equitable and more environmentally grounded in many countries. The international agenda has also changed over the last five years, and the relations between sustainability and development have moved to the background of international policy. This article intends to show that the international debate related to the sustainable agenda is quite different, and the future depends on the engagement of the major groups. Key Words: Rio+20; sustainability; governance; major groups.Introduo A cidade maravilhosa, que foi cenrio do encontro que transformou a agenda mundial ambiental do final do sculo 20, recebeu, vinte anos depois, um evento que pretendia ser de igual monta: a Conferncia das Naes Unidas sobre Desenvolvimento Sustentvel, a Rio+20, de 13 a 22 de junho, para debater os rumos de uma nova economia diante das atuais demandas globais. A agenda da Conferncia, pautada inicialmente pelo debate da economia verde, foi ampliada por sugesto do pas anfitrio para incorporar outros temas: erradicao da pobreza, segurana alimentar, gerenciamento seguro de gua, acesso universal a servios modernos de energia, cidades sustentveis, gerenciamento dos oceanos, reduo de riscos a desastres e sistemas de alertas preventivos, assim como, sade pblica, desenvolvimento de recursos humanos, crescimento econmico sustentado, inclusivo e equitativo, com ampla gerao de emprego, em especial para os jovens. Salta inicialmente aos olhos a evidncia de que o mandato oficial da Rio+20 foi demasiado amplo e pouco objetivo, pois a Conferncia o propsito original da Conferncia era avaliar os resultados de diversos acordos internacionais firmados na rea de desenvolvimento sustentvel e, a partir dessa anlise, definir novos compromissos comuns em duas j gigantescas reas: economia29 30. Volume 7, Nmero 2, 2012Revista de Sade, Meio Ambiente e Sustentabilidade verde e governana global do desenvolvimento sustentvel.Este artigo representa uma anlise pessoal, de opinio, sobre a organizao e realizao da Conferncia Rio+20, com uma reflexo sobre os matizes polticos por trs do discurso oficial, com a inteno de identificar alternativas ao modelo de conduo dessas negociaes internacionais.Contextualizao A idia central da Rio+20 era reclamar um destaque, na agenda global, para temas estratgicos, que frente s dificuldades presentes, como a crise financeira na zona do euro, os novos governos oriundos da primavera rabe, a incerta reeleio de Barack Obama,acabam por no habitar, ainda quetemporariamente, a lista de prioridades da agenda internacional dos Estados . Neste sentido, a oportunidade de avaliar os progressos conseguidos (ou no) durante esses 20 anos, e de identificar os dficits de implementao de desenvolvimentosustentvelnosdiversospaseseenfrent-los.Objetivamente, mais uma oportunidade para o trabalho multilateral para buscar solues conjuntas para a soluo desses desafios. Na prtica, entretanto, corria-se o risco da realizao de mais um evento, que renova um diagnstico tcnico j conhecido (e ignorado), que mostra a gravidade e urgncia desses problemas, mas sem qualquer avano na negociao poltica dos mesmos. Um evento que pretendia relanar as bases de uma ampla convergncia poltica na agenda global da sustentabilidade comeou enfraquecido, como j asseverado, pela pluralidade de temas que, ainda que pertinentes, no so prprios para a participao engajada de lideranas mundiais, alis, muitas ausentes. Recorde-se que dos pases do chamado G-7 (Estados Unidos, Frana, Alemanha, Itlia, Japo, Reino Unido e Canad), apenas o novo presidente francs, Franois Hollande, acudiu, enquanto que todos os Chefes30 31. Revista de Sade, Meio Ambiente e SustentabilidadeVolume 7, Nmero 2, 2012de Estado e/ou Governo do G-7 estiveram na Rio92. No se deve ignorar que essas duas dcadas que separam os dois encontros registram uma srie de fatos j histricos em que a sociedade internacional foi chamada a trat-los, conceb-los e equacion-los a partir de uma premissa de que as solues s so exequveis se pensadas e implantadas de maneira integrada, solidria e multilateral. A Europa est verdadeiramente mergulhada numa crise, que no s financeira, pois ter que avaliar cenrios de desenvolvimento sem crescimento econmico, onde as novas lideranas surgem de partidos conservadores em geral menos comprometidos com agendas ambientais progressistas. Os Estados Unidos por mais que sinalizem uma modesta recuperao, e busquem com Barack Obama alternativas diplomticas de negociar a reduo de gases de efeito estufa, enfrentam grandes dificuldades em fazer passar no Congresso uma poltica nacional que permita a transio para uma economia de baixo carbono, ainda que o governo tenha registrado uma recente vitria no Judicirio 2. O Japo, por sua vez, ainda envolvido com a reconstruo do pas e a revitalizao de sua economia aps terremoto e tsunami em 2011, no honra o legado de Quioto, uma vez que insiste na recusa em aceitar um acordo para o segundo perodo de cumprimento do Protocolo. Em outras palavras, o contexto em que aconteceu o evento oficial no emitiu sinais animadores de representao e deciso poltica de primeira linha, enquanto o conjunto de eventos paralelos registrou um nmero recorde de assistncia, na casa dos 50 mil participantes. Pragmaticamente, h uma evidente crise de liderana no mundo e no se registra um envolvimento dessas lideranas em um processo que levou dois 2Um tribunal federal de apelaes dos Estados Unidos confirmou recentemente o direito da Agncia deProteo Ambiental (EPA), rgo regulador do meio ambiente no pas, a impor uma srie de restries indstria para reduzir as emisses de dixido de carbono (CO2).31 32. Volume 7, Nmero 2, 2012Revista de Sade, Meio Ambiente e Sustentabilidadeanos de negociao e em um evento que se props a tratar de economia verde.Diferentemente de 1992, a composio das principais delegaesesvaziou a importncia poltica da Conferncia e a transformou em mais um esforo de bem intencionados diplomatas de terceiro escalo, tcnicos e acadmicos que trabalham a sustentabilidade para chamar a ateno da sociedade internacional sobre a urgncia do tema, identificando os retrocessos vividos no perodo, em virtude de diversas crises inter-relacionadas: financeiras, econmicas, preos volteis de energia e alimentos etc. e alertando, uma vez mais, para algumas problemticas como insegurana alimentar, mudana climtica e perda da biodiversidade, que continuam a afetar negativamente os ganhos de desenvolvimento. E assim reclamar que as novas evidncias cientficas demonstram a gravidade das ameaas que enfrentamos e que, portanto, respostas mais urgente so imperiosas. Diferentemente da Rio-92, a conjuno poltica internacional muito complexa, de crise, e o contexto das agendas multilaterais no favorece novos compromissos. Distintamente dos que vivem a crise financeira, h no mundo outras crises, e a crise brasileira, que tem fundamentos ticos e de valores, tambm colaborou. E sendo bem objetivo: sob a liderana de quem a comunidade internacional injetaria recursos financeiros e alavancaria uma consistente ao poltica para alterar o curso desse transatlntico de casco trincado? E os emergentes BRICS (Brasil, Rssia, ndia, China e frica do Sul)? Como sabida, a agenda da sustentabilidade no prioridade desses governos, que permanecem atrelados a discursos desenvolvimentistas, ainda quefelizmentesepossaidentificariniciativasvoluntriasrelevantes,particularmente no Brasil, em parte de seu empresariado e em alguns de seus governos subnacionais e locais, naquilo que se convencionou classificar como atividades de paradiplomacia 3. 3Veja BUENO DA SILVA DA SILVA, E. (2010). Paradiplomacia contempornea: trajetrias etendncias da atuao internacional dos governos estaduais do Brasil e EUA. Tese de doutorado32 33. Volume 7, Nmero 2, 2012Revista de Sade, Meio Ambiente e SustentabilidadeO papel do Brasil Na qualidade de anfitrio, parece-me que o Pas apenas se preparou para organizar o evento. Perdeu a grande oportunidade de liderar um processo poltico global, no s como potncia econmica emergente, como lder regional, como player estratgico, mas principalmente por ser a potncia ambiental do planeta. sabido que a desarticulao entre os interesses em conflito nas instncias governamentais dificilmente consegue responder adequada e integralmente s diversas questes da sustentabilidade. As contradies do governo brasileiro semanifestaminicialmentenombitodaideologiaqueoorienta,desenvolvimentista, e se confirma na incapacidade de absorver as reais necessidades de se reestruturar a governana ambiental global. Preferiu o governo conduzir o processo pelos trmites da burocracia federal, criando estruturas. Em sntese, uma Comisso Nacional que promoveu a interlocuo entre os rgos e entidades federais, estaduais, municipais e da sociedade civil com a finalidade de articular os eixos da participao do Brasil e um Comit Nacional de Organizao que se encarregou do planejamento e da execuo das medidas necessrias realizao da Conferncia, inclusive a gesto dos recursos e contratos afetos aos eventos oficiais. De fato, com ou sem estruturas, at o momento, o debate sobre os caminhos e desafios da sustentabilidade no ingressou no ncleo duro do governo. Enquanto na conduo do processo de discusso da Conferncia, em seu caminho preparatrio, crescia a contribuio diversa da sociedade civil, apresentada ao Programa de Doutorado em Relaes Internacionais do Instituto de Relaes Internacionais da Universidade de Braslia (IREL/UnB), para a obteno do ttulo de Doutor em Relaes Internacionais, e LUCON, O e GOLDEMBERG, J. (2010). So Paulo The Other Brazil: Different Pathways on Climate Change for State and Federal Governments. Journal of Environment and Development, 19(3), pp/ 335-357.33 34. Volume 7, Nmero 2, 2012Revista de Sade, Meio Ambiente e Sustentabilidadedemonstrando um consenso em muitas pautas, e em especial na expectativa de que a economia deve se transformar para fomentar uma sociedade justa e sustentvel, garantidora de direitos humanos e respeitadores dos limites do planeta, igualmente ficou evidente a distncia para um entendimento comum com Braslia para avanar nessa transio 4. Por outro lado, a interveno da diplomacia brasileira na conduo das negociaes finais para a redao do documento oficial da Conferncia, O Futuro que Queremos 5, mostrou pouca destreza na conduo (e no prestgio) das negociaes multilaterais. Alis, ficou evidente em diversos momentos da realizao da Conferncia o distanciamento que existe do Itamaraty com a agenda multilateral da sustentabilidade, particularmente na qualidade de pas hospedeiro, onde deveria ter buscado honrar o legado de 92 e ter conduzido com habilidade e competncia a aprovao de uma Declarao Final que representasse concretamente avanos e estipulasse algumas metas por atingir, pois sem essas no se pode desenhar qualquer estratgia de futuro. Pelo visto, o tom final do Itamaraty foi o de salvemos o encontro. Pouco, bem pouco, para um pas de quem se espera tanto e que postula um maior protagonismo na comunidade internacional.A Rio+20 provavelmente foi anica reunio da Organizao das Naes Unidas - ONU na qual a presidente Dilma Rousseff esteve como anfitri, e, apesar do seu perfil gerencial no se encaixar no papel de lder e de diplomtica a desempenhar, sua contribuio ficou pela retrica vazia da promessa de que ns no permitiremos que haja uma volta atrs na roda da histria 6 . Diante da realidade de uma Declarao sem expresso, no lhe restou4Veja o documento preparado pelo Vitae Civilis, com apoio da Ford Foundation, Definido uma novaeconomia: questes centrais para a transio, disponvel em www.vitaecivilis.org.br 5Acesse verso em ingls em http://www.uncsd2012.org/content/documents/6Veja no http://blog.planalto.gov.br, de 7 de junho de 2011.34 35. Revista de Sade, Meio Ambiente e SustentabilidadeVolume 7, Nmero 2, 2012alternativa a assumir uma posio de fora de que os 283 pargrafos do documento O Futuro que Queremos representavam uma grande conquista da diplomacia brasileira, quando qualquer leigo identifica que o texto apresenta meras intenes quando deveriam tratar de planos de ao, insistindo no genrico quando o planeta clama pelo especfico. Tamanha a limitao do documento final da Conferncia, que o mesmo foi rejeitado pelas lideranas dos movimentos populares presentes no foro paralelo, a Cpula dos Povos, e reconhecida a sua falta de ambio pelo prprio Secretrio Geral da ONU, o sul coreano Banque Moon. Imediatamente, em decorrncia desse posicionamento impactante, a diplomacia mobilizou um trabalho de imprensa buscando convencer a opinio pblica que o documento final da Conferncia representa sim um grande avano, levando o mesmo Secretrio Geral a rever sua manifestao inicial apenas a jornalistas brasileiros. A desimportncia que o governo emprestou Conferncia alcanou seu pice quando despachou no curso da mesma o chanceler brasileiro para Assuno para avaliar o movimento do impeachment constitucional paraguaio ao Presidente Lugo. Para um bom entendedor, a prioridade estava dada. Sabe o governo que, nos ltimos anos, com o nvel de crescimento econmico e a atrao efetiva de capital para grandes investimentos em obras de infraestrutura, o Brasil tornou-se alvo de uma ansiedade de desenvolvimento e de uma abundncia de consumo jamais experimentadas. E no se pode negar que esse momento da nossa economia teve e continua a ter forte impacto sobre a qualidade do meio ambiente. Se de um lado h crescimento da taxa de empregos e de renda, por outro lado, temas sensveis como a Amaznia e o Cerrado minguam em importncia e so tratados na lgica ruralista de reforma do Cdigo Florestal. Ficou evidente para aqueles que acompanharam a Conferncia que a opo de modelo do governo federal a do crescimento rpido, j que preciso correr para aproveitar ao mximo o momento internacional que lhe favorvel.35 36. Revista de Sade, Meio Ambiente e SustentabilidadeVolume 7, Nmero 2, 2012O insucesso na gesto das obras do Programa de Acelerao do Crescimento PAC deixa evidente que no governo no h tempo nem espao para planejamento de longo prazo, integrado, que promova a sustentabilidade ambiental e social e a considere no processo da tomada de decises. Em outras palavras: em pleno sculo XXI, seguimos um modelo de desenvolvimento predatrio, de carbonizao contnua da nossa economia, literalmente o oposto do que preconiza a ONU em seus documentos e tratados sobre meio ambiente aprovados ao longo de quatro dcadas 7. Finalmente, o governo reclama por uma reforma da ONU e pelo ingresso do Pas como membro permanente do seu Conselho de Segurana, porm continua a focar a reforma apenas no aspecto burocrtico-institucional da Organizao, limitando o debate na sua estruturao e representao, por exemplo, como no caso da transformao ou no do Programa das Naes Unidas para o Meio Ambiente- PNUMA e na reviso do Conselho Econmico e Social ECOSOC, desconsiderando o cerne dos problemas, como a mudana nos processos, na arquitetura dos tratados para criar uma nova dinmica no monitoramento e na gesto dos problemas ambientais globais. O governo da Presidente Dilma considera o desenvolvimento sustentvel como sendo uma meta distante a ser atingida j que ainda restam grandes barreiras e lacunas sistmicas na implementao de polticas internas a partir de compromissos firmados internacionalmente.Consideraes Finais de Governana Sejam problemas do mundo financeiro, da emergncia de processos democrticos no mundo rabe, da sinalizao de retrocessos em processos7Veja-se, alis, que o prprio site da conferncia (www.rio20.info/2012/) enfatiza que o desenvolvimento sustentvel uma abordagem holstica, equitativa e clarividente tomada de decises em todos os nveis. No enfatiza apenas o forte desempenho econmico, mas equidade intrageracional e intergeracional.36 37. Revista de Sade, Meio Ambiente e SustentabilidadeVolume 7, Nmero 2, 2012polticos na Amrica Latina, dos grandes temas ambientais globais, h que se tratar de um conjunto de assuntos, muito complexos, direta ou indiretamente comuns a todos os Estados, ainda que em dimenses diversas, cujo encaminhamento se dirige para um modelo de governana planetria, com a participao de novos atores. Entretanto, as relaes entre esses dois crculos de poder, os governos centrais e a sociedade civil organizada, so historicamente complexas, e, por mais que coincidam em algumas agendas, na agenda internacional da sustentabilidade acalentaram expectativas muito distintas em relao Rio+20. Questo em aberto... O que talvez ainda no esteja claro para os nossos governantes, que essas decises cada vez mais carecem de legitimidade e que novas formas de fazer poltica so necessrias. E novos modelos de governo tambm. A maior contribuio da Rio+20 foi deixar patente e manifesto que para avanar em direo ao desenvolvimento sustentvel fundamental a insero de uma j ampla participao pblica na tomada de decises. Os eventos no oficiais, paralelos Conferncia demonstraram que os Major Groups desempenham um papel mais significativo em diversos nveis. Formalmente ignorados, apesar das atribuies da Comisso Nacional, a sociedade civil, os governos subnacionais e locais, o empresariado comprometido, por meio de redes, seminrios e comits facilitadores, nacionais e internacionais, articularam e facilitaram a participao de novos atores nas suas quotas do evento, salvando a Conferncia, j que somente a os eixos iniciais da proposta da Rio+20 receberam a devida prioridade. Em suma, a crise financeira internacional tornou evidentes sintomas de um fenmeno que j se anunciava: a democracia est em xeque e sua reconstruo ou a formulao de um novo modelo so urgentes e passam por uma priorizao de um mundo sustentvel. Os jovens j esto ocupando as ruas, sinal de que h um despertar que37 38. Volume 7, Nmero 2, 2012Revista de Sade, Meio Ambiente e Sustentabilidadeveio para ficar e crescer. A sociedade do bem-estar no foi capaz de atender s suas demandas e eles no admitem mais os modelos de polticas pblicas experimentadas at agora. Por outro lado, a corrupo em tantos pases e regimes humilha e despreza a todos aqueles que pedem por justia. O Brasil no ignora essa realidade, j que vive um profundo cansao de credibilidade da classe poltica, em razo de incontveis escndalos de governantes, que jamais sabero o verdadeiro significado de honra ou vergonha. Palavras finais: seria este um momento oportuno para se buscar um engajamento real, criativo, para reacender os ideais de construo de uma nova sociedade, plural, diversa, mais justa, sustentvel.Com governana,ainda h tempo.Bibliografia: ALDECOA, F., KEATING M. (2010). Paradiplomacia: Las relaciones internacionales de las regiones. Marcial Pons. Madrid: Barcelona. BODANSKY, D. (1999). The legitimacy of international governance: a coming challenge for international environmental law?. The American Journal of International Law vol.93, n.3, pp.596624. BODANSKY, D.; Brinnee, J.; HEY, E. (2008). The Oxford handbook of international environmental law. Oxford: Oxford University Press. BUENO DA SILVA DA SILVA, E. (2010). Contemporary paradiplomacy: trajectories and trends of international actions by state governments of Brazil and the US. Doctorate thesis submitted to the International Relations Doctorate Program of the International Relations Institute of the University of Braslia (IREL/UnB) for obtaining a doctor degree in international relations.38 39. Volume 7, Nmero 2, 2012Revista de Sade, Meio Ambiente e SustentabilidadeBULKELEY, H. (2005). Reconfiguring environmental governance: towards a politics of scales and networks. Political Geography, n. 24, p.875902. BULKELEY, H., & BETSILL, M. (2003). 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Volume 7, Nmero 2, 2012Revista de Sade, Meio Ambiente e Sustentabilidade RESENHAA cpula dos povos na rio+20: suas demandas e propostas Renato Arnaldo Tagnin 1A Conferncia das Naes Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentvel, a Rio+20, mobilizou representaes de todo o mundo para tratar da transio para a economia verde no contexto do desenvolvimento sustentvel e da erradicao da pobreza, em relao qual, muitos especialistas analisaram potencialidades, riscos e desafios. Dentre esses desafios e riscos para se efetivar as mudanas estruturais necessrias, estaria a superao das assimetrias entre os pases desenvolvidos e os demais - emergentes e perifricos -, inclusive no campo da regulao econmica, desenvolvimento tecnolgico,direitosdeacessoepropriedadeintelectual;almdofortalecimento dos governos - para promoverem intervenes e amplas reformas no campo social, econmico e ambiental -, num nvel muito superior ao que tm tido na sociedade industrial; mais ainda, se considerados os avanos neoliberais das ltimas dcadas.No campo dos movimentos sociais, h forte desconfiana sobre o tipo de mudana que poderia ser promovida pelos mesmos atores governos e corporaes que, alm de agravarem o quadro de insustentabilidade atual, no cumpriram as metas estabelecidas na Agenda 21, nos Objetivos de Desenvolvimento do Milnio, no Protocolo de Quioto e em tantas outras tratativas. Outras evidncias podem ser encontradas tambm no documento que norteou a conferncia 2, onde se verificou que os chamados Objetivos de Desenvolvimento Sustentvel - ODS ainda se baseiam largamente na idia de crescimento econmico nos moldes atuais; alm disso, tanto os Estados1Docente do Centro Universitrio Senac So Paulo. E-mail: [email protected] NATIONS. The future we want. January 10, 2012.41 42. Revista de Sade, Meio Ambiente e SustentabilidadeVolume 7, Nmero 2, 2012Unidos, como a Unio Europia declararam preferir o estabelecimento de compromissos voluntrios e no vinculantes, a serem concretizados de acordo com a capacidade e vontade de cada pas.Em funo de todas essas condicionantes, h o questionamento de estudiosos 3 e movimentos sociais em relao s expectativas colocadas sobre a prpria Economia Verde, caso ela no implique na drstica reduo na desigualdade e na alterao nos padres de consumo, que deve incidir no topo da pirmide social. Isto, caso se pretenda, efetivamente, buscar a sustentabilidade, atendendo com recursos finitos as demandas bsicas e legtimas dos mais pobres, agora e no futuro.Nesse sentido, foi preparada uma pauta da sociedade civil para a Cpula dos Povos, organizada como evento paralelo Rio+20, por meio de um processo amplo de consultas, que envolveu numerosos movimentos sociais e organizaes no governamentais, na abordagem de questes que vm sendo tratadas, tambm, ao longo de diversas edies do Frum Social Mundial 4, como Crise Capitalista, Justia Social e Ambiental. Motivando essa perspectiva, est a constatao de um conjunto de fatores, que incluem, mas no se restringem a: i) crises financeiras globais em curso e a especulao incidente nas commodities em geral, mais fortemente nos alimentos, provocando sua alta, o que piora o acesso j precrio de amplos segmentos sociais em todo o mundo; ii) remdios para essa crise, como as polticas recessivas, fundadas em corte de gastos sociais e reduo de investimentos, sugeridos por instituies econmicas multilaterais e adotados pelos governos, que tm prejudicado at mesmo populaes dos pases mais ricos; iii) difuso3Como o caso de Porto-Gonalves, 2012.4O Frum Social Temtico 2012, realizado em Porto Alegre, teve como pauta a preparao da Cpula dos Povos. Disponvel em: http://www.fstematico2012.org.br/index.php?link=2442 43. Revista de Sade, Meio Ambiente e SustentabilidadeVolume 7, Nmero 2, 2012ainda mais ampla de padres - inerentes a esse sistema - como os de consumo crescente de bens ostentatrios, planejados para serem obsoletos, que requerem quantidades crescentes de energia e recursos, degradando bens indispensveis e; iv) disputa acirrada em torno de condies bsicas de sobrevivncia, como a terra, a gua e os biomas remanescentes, da qual se pode depreender, facilmente, quais so os prejudicados.Esse conjunto de fatores tem motivado manifestaes sociais, em todo o mundo, reivindicando direitos fundamentais e democracia participativa que, na prtica, vo sendo dificultados pelos governos. A Cpula dos Povos, realizada entre 15 e 22 de junho no Rio de Janeiro 5, deu voz a diversas manifestaes, no decorrer de sua realizao e nos documentos finais 6, que evidenciaram as situaes a que so submetidos diversos grupos sociais e etnias 7, em vrios pases, pela desconsiderao de seus valores, preocupaes, dificuldades prementes e, mesmo de condies mnimas de sobrevivncia. No sentido contrrio, identificado que o agravamento dos problemas hoje enfrentados tem como fonte o sistema em torno do qual vm se associando e se fortalecendo os poderes constitudos, a classe poltica e os principais segmentos econmicos.Como fatores decisivos para que essa assimetria e degradao se ampliem no futuro, so identificados diversos fatores absolutamente conectados, como o caso da falta de divulgao inequvoca dos cenrios, suas ameaas para o conjunto da populao e seus protagonistas (em que se destaca o papel da grande mdia); alm da falta de apetite dos segmentos beneficiados para mudanas; a no ser aquelas em que figurem oportunidades de mais ganhos inclusive de imagem - sem alterar sistemas socioeconmicos ou polticos. 5A Cpula se desenvolveu, basicamente, por meio de Atividades autogestionadas (aes organizadas por aqueles que as promovem), plenrias de convergncia pr-assembleias, mobilizao geral e assembleias. 6Acessar os documentos em http://cupuladospovos.org.br/.7Movimentos de mulheres, indgenas, negros, juventudes, agricultores/as familiares e camponeses, trabalhadores/as, povos e comunidades tradicionais, quilombolas, lutadores pelo direito cidade, e religies.43 44. Revista de Sade, Meio Ambiente e SustentabilidadeVolume 7, Nmero 2, 2012Como pertencente a esse ltimo grupo de mudanas, consideradas palatveis, foram destacadas nos testemunhos, discusses e documentos da Cpula como diversas dessas solues avanam sobre populaes tradicionais e biomas, ampliando a degradao e a excluso social, sem deixar de serem consideradas, oficialmente, como sustentveis; como o caso dos agrocombustveis e das barragens para gerao hidroeltrica. Muitas proposies dos grupos se voltaram, tambm, contra diversas formas de apropriao privada dos bens comuns, como a gua 8 e territrios ainda preservados 9. Essas prticas, entre outras, no propiciam grandes expectativas em relao promessa da economia verde, o mote da Rio+20. Esta, na prtica, mostra-se mais voltada gesto do estoque de recursos naturais por meio da adoo de tecnologias e sistemas de gerenciamento, que satisfao de quesitos socioambientais, como o resgate da divida e a reparao dos passivos socioambientais 10; ou a manuteno dos chamados bens comuns em condies de equilbrio ambiental e partilha social, que propiciem o bem viver 11. 8O documento que resultou dos encontros no Pavilho da gua assinalou que compartilhamos coletivamente uma viso de mundo onde a gua um bem comum e no uma mercadoria, onde as guas cristalinas da terra do vida a uma espantosa diversidade de ecossistemas e sociedades humanas. Esta viso afirma a necessidade de relao justa e equilibrada com a me terra, que respeite as leis da natureza, mantenha a integridade do ciclo da gua e garanta a realizao da justia social e ambiental para todas as pessoas na Terra (p.1) 9Na Cpula foi reafirmada a disposio das organizaes e movimentos sociais signatrios do documentofinal, de lutar pela garantia da integridade das reas naturais prioritrias no mundo como forma a defender os direitos da natureza; a existncia obrigatria de consultas prvias e informadas, com mecanismos de participao direta das comunidades em reas de desenvolvimento urbano e rural, que garanta a participao e deciso pblica, inclusive o direito a dizer no a um determinado projeto (Cpula dos Povos, p.11) 10Esse o foco das iniciativas, em diversas partes do mundo e reproduzidas na Cpula pela criao detribunais que possam dar efetividade a princpios como os da Justia Social e Ambiental. 11De acordo com o documento final da Cpula, A economia dos bens comuns a nossa noo de economia, a busca por uma sociedade melhor. A soluo est aqui. (...) A defesa dos bens comuns passa pela garantia de uma srie de direitos humanos e da natureza, pela solidariedade e pelo respeito s cosmovises e crenas dos diferentes povos, como, por exemplo, a defesa do Bem Viver como forma de existir em harmonia com a natureza, o que pressupe uma transio justa a ser construda com trabalhadores/as e povos. (...) Pensar numa Economia dos Comuns, atravs de um processo construdo44 45. Volume 7, Nmero 2, 2012Revista de Sade, Meio Ambiente e SustentabilidadeO rol de propostas encaminhadas na Cpula para enfrentamento dessa situao extenso e inclui a difuso de princpios como o da soberania alimentar, e de solues j praticadas e consideradas exitosas, como a agroecologia, a economia solidria e as tecnologias sociais, entre outras, cuja escala deve ser ampliada em nvel proporcional aos desafios. Muitas outras proposies se voltam luta social contra o sistema poltico e econmico, considerados geradores dos fatores sistmicos citados, que subsistem pela falta de transparncia e democracia nas decises fundamentais ao conjunto da populao, que no figuram no documento oficial da Rio+20.O encontro enfrentou dificuldades em atrair grandes contingentes e se inserir mais amplamente na cidade, tambm em funo da multiplicidade e disperso dos eventos da agenda oficial da Conferncia, contrariamente ao que ocorreu no evento paralelo Rio92. De todo o modo, estabeleceu e fortaleceu conexes entre indivduos, organizaes e movimentos de diferentes etnias e nacionalidades, deu alguma visibilidade a srias questes enfrentadas por pequenos grupos em diferentes regies do planeta e a organizaes que atuam em amplas redes no nvel global. Porm, considerando o que a Conferncia oficial produziu 12, como ser rigoroso na avaliao da representatividade e repercusso social da Cpula? Depois do documento oficial, j se estruturam movimentos e debates 13 expressandoopiniesopostasquelasdodocumentoproduzidonade baixo para cima a partir das experincias locais, vital para os povos retomarem a deciso sobre seu futuro e sua economia. (Cpula dos Povos, p.10-12). Para os participantes do Pavilho das guas, Dada a experincia coletiva, a determinao e ampla solidariedade que temos com outros movimentos da Cpula dos Povos, nos comprometemos a ir alm da economia verde e construir novos modelos de desenvolvimento onde a harmonia com a natureza realmente possvel. (p.2) 12UNITED NATIONS General Assembly. The future we want. 24 July 2012.13Como o promovido pela FAPESP, em 23 de agosto de 2012, intitulado O futuro que no queremos,parodiando o nome do documento oficial da Rio+20.45 46. Volume 7, Nmero 2, 2012Revista de Sade, Meio Ambiente e SustentabilidadeConferncia 14. Cabe acompanhar e participar, de forma ativa, para que se estabelea, a partir de iniciativas como as da Cpula dos Povos, dentre outras que hoje se disseminam pelo mundo, uma correlao de foras menos assimtrica entre movimentos sociais, governos e corporaes que, finalmente, privilegie o interesse pblico e melhore nossas perspectivas e condies de sobrevivncia. Afinal, de acordo com diversos notveis que se manifestaram em reunies da Cpula 15, trata-se de estreitar vrios abismos que esto se ampliando, como aqueles entre povo e natureza, entre economia e ecologia, entre governos e sociedades e entre segmentos sociais, o que requer o exerccio da democracia direta e, consequentemente, uma nova atitude em relao aos governantes. Essa motivao foi sintetizada com preciso nas palavras da clebre Gro Brundtland 16, e por uma integrante da Marcha dos Povos 17, que portava um cartaz com a frase: quando o povo liderar, os lideres seguiro.RefernciasCPULA DOS POVOS. Documentos Finais da Cpula dos Povos na Rio + 20 por Justia Social e Ambiental Em defesa dos bens comuns, contra a mercantilizaodavida.22dejunho,2012.Disponvelemhttp://cupuladospovos.org.br/2012/06/declaracao-final-da-cupula-dos-povos-na14Durante a edio do documento final da Rio+20, diversas organizaes e personalidades manifestaramsua oposio afirmao, nele contida, de que houve ampla participao da sociedade civil nas decises tomadas. 15Como Boaventura Souza Santos e Leonardo Boff, entre outros.16Declarao de Gro Brundtland publicada na Revista Pgina 22: As pessoas so mais importantes que as decises dos governos. Somos ns que devemos chamar os lderes a mudar. Precisamos chacoalhar toda a sociedade. No suficiente apenas apoiar lderes. Precisamos ser os prprios lderes e estamos todos juntos nisso. Disponvel em: http://pagina22.com.br/index.php/2012/07/agora-e-com-a-gente/ 17Trata-se de Tica Minami, que se descreveu como jornalista de formao e ativista de corao, cujaimagem com o cartaz que segurava na Marcha dos Povos foram capa da Revista Pgina 22, que a entrevistou. Disponvel em: http://pagina22.com.br/index.php/2012/07/quem-e-a-garota-da-capa/46 47. Volume 7, Nme