revista tendências e negócios - fevereiro/2015

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TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS Ed. 34 fevereiro de 2015 :: 1 Brasília, DF, Edição 34, Fevereiro de 2015

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O desempenho dos funcionários no trabalho é um problema encarado diariamente por muitos empresários. A maioria acredita que a resposta está na formação de sua equipe e principalmente na qualificação da mão de

obra - é verdade que, no Brasil, esta é uma ques-tão endêmica e o gargalo no sistema educacional resulta em profissionais incapacitados. Contudo, a solução para a baixa produtividade pode não estar no comportamento do empregado, e sim na forma como a empresa lida com seus funcionários.

Neste mês, para a matéria de capa, procuramos conhecer algumas empresas de Brasília que inovam quando o assunto é o tratamento com a equipe. Os cinco empreendimentos selecionados são de ramos diferentes, mas têm em comum a crença de que os funcionários podem, e devem, ser estimulados por meio de ações diárias e acreditam que a empresa é que tem obrigação de proporcionar ferramentas que incitem a vontade do empregado.

As formas encontradas pelos empreendedo-res para motivar a equipe e estimular a criativida-de dos integrantes são diversas. Mesmo assim, foi possível encontrar alguns pontos em comum entre elas, como atividades para sair da rotina, ambiente de trabalho agradável e descontraído e autonomia e responsabilidade dos colaboradores para criarem e colocarem novas ideias em prática.

Nesta edição da revista, seguimos com matéria exclusiva sobre o evento mundial que chega à ca-pital em março, o TEDx. A matéria conta a história da professora Gina Pontes, vencedora do Prêmio Nacional de Educação em Direitos Humanos de 2014. Conheça o trabalho de valorização da mulher desenvolvido por ela para educar crianças do Centro de Ensino Fundamental (CEF) 12.

Carol Dias - editora-chefe

Estímulocriativo

• Diretor Executivo: Alex Dias • Editora-Chefe: Carol Dias

• Diretora Financeira: Ana Paula Santana • Redação: Eduardo Barretto, Gustavo Lúcio,

Oda Paula Fernandes, Bianca Marinho Carolyna Paiva e Taise Borges

• Diagramação: Alisson Carvalho • Imagens: Alisson Carvalho, Wagner Augusto,

Marcos Paulo, Raphael Farias, Magnun Alexandre e Jonathan Felix

Gestão de Pessoas: Caio Dias

Redação (61) 3964-0626 Comercial (61) 9288-0520 9905-1677

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Editorial

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Sumário

Capa - 20

Resultado - 32

Comportamento - 38 Destaque - 58

Tecnologia - 48

Mercado imobiliário - 56

Descubra como empresas da cidade estimulam a criatividade dos profissionais. Incentivar novas experi-ências e promover atividades para que a equipe saia da rotina são algumas das abordagens.

Conheça a história de como a venda de dez cami-setas foi capaz de se transformar na maior fábrica de brindes do Distrito Federal.

No ano escolhido pela ONU para ser o Interna-cional da Luz, o país enfrenta forte crise elétrica. Em Brasília, empreendedores do setor apostam em alterna-tivas para fugir do apagão.

Segundo o presidente do Creci-DF, Hermes Alcântara, a compra de imóveis para alugar continua sendo uma opção segura de lucro.

Usuários da internet encontram forma inovadora de financiamento de projetos: o crowdfunding. Entenda como funciona essa prática que ganha adeptos.

A conquista da confiança nas instituições e nas empresas parece ser simples, mas o valor milenar po-de ser o grande investimento para enfrentar a crise.

Escritório da Sea Tecnologia,empresa onde os funcionários são estimulados a pensar de forma criativa

Foto: Alisson Carvalho

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TEDx - 42 editorias O evento mundial que promete espa-

lhar ideias pela capital federal confirma a presença da vencedora do Prêmio Nacio-nal de Educação em Direitos Humanos de 2014, a professora Gina Pontes.

Dicas Empresariais 8

Entrevista 10

Prazeres Capitais 16

Empreendedorismo 62

Receita do Chef 66

Foto: da redação

Foto: Wagner Augusto

Preparo Físico - página 76

Entrevista com Renato Rainha,presidente do Tribunal de Contas do DF

A marca Guilda, da designer de moda Meire Morais, veste jornalistas de todo o Brasil.

Foto: José Nunes Diener

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Renegocie contratos. Com o vaivém da economia, taxas, juros e cenários di-ficilmente se mantêm durante um proje-to inteiro. Algumas empresas oferecem desconto de 10% ou mais por pagamento adiantado. Se o projeto em questão envol-

Os equipamentos precisam funcionar – mas não precisam ser novos. Quantos negócios sa-em do mercado a todo tempo? Com certeza, nes-ses lugares, o maquinário fica muito mais bara-to, além da vantagem extra de comprar em larga escala, o que possibilita mais economia ainda. Se nem sempre equipamentos usados são viáveis,

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Reduza o pessoal em períodos duros. O ideal é di-minuir o número de funcionários de tempo integral. Funcionários que trabalham meio período estão mais acostumados com horários flexíveis e tiram da empre-sa o dever de pagar os pesados benefícios trabalhistas. Se a fase é de maré baixa, funcionários de meio perí-odo podem ter a jornada reduzida facilmente e sem burocracia. Contratar alguém para trabalhar dois perí-odos deve ser encarado como um investimento, e me-rece cuidado na decisão – principalmente se há tra-balho o suficiente para manter essa pessoa ocupada e motivada.

Subloque o espaço de escritório. Se a empresa não precisa de todo o espaço disponível, veja se é possível alugá-lo para outro negócio. Por que com-plicar-se com um aluguel oneroso se o local sem-pre pode ser otimizado – e o custo pode ser divi-dido? Além disso, se a empresa está no começo e precisa de poucos metros quadrados, espaços su-blocados de empresas saem mais em conta do que salas separadas.

Diminua o custo do capi-tal. Se a empresa, ao nascer, en-frentou dificuldades para con-seguir crédito, uma boa saída é adequar o poder de barga-nha da empresa à medida que ela alcançar sucesso. Afinal, se a organização conseguiu so-breviver aos primeiros me-ses, provando que pode hon-rar contratos e pagar dívidas sem problemas, taxas meno-res e mais acessíveis vão apa-recer com mais facilidade. Se a empresa pretende ter uma al-ma organizacional de startup, isso não significa que precise ser mantida a dificuldade para conseguir financiamento.

Fonte: Portal INC

ve R$ 10 mil, por exemplo, aí já são R$ 1 mil eco-nomizados. Conversar de modo sincero e frequente com os credores é a melhor solução, em um diálo-go que deve ser encarado como rotineiro e saudá-vel para a empresa – afinal, todos têm interesse em receber valores em melhores condições.

escolha arrendá-lo a comprá-lo totalmente, de uma vez só. Assim, é evitado o desperdício e reduz-se o risco de uma máquina que pode durar anos ser dor de cabeça se a em-presa encontrar dificuldades futuras. Além disso, se o mo-delo for de arrendamento, a empresa responsável fará a manutenção, com mão de obra especializada e confiável – muitas vezes a garantia convencional não passa de um ano.

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Entrevista

“Esperamos que o GDF encontre o rumo que a população deseja”| Carol Dias

Renato Rainha assumiu a presidência do Tribu-nal de Contas do Distrito Federal (TCDF) em janeiro de 2015. Eleito por unanimidade, o conselheiro mal começou o ano e já tem grandes desafios pela fren-te. Sob seu comando, a instituição vai julgar as con-tas do ex-governador Agnelo Queiroz, que segundo o atual governo, autorizou gastos muito maiores do que as arrecadações. De acordo com Rainha, o TCDF não pode dar nenhum parecer, já que ainda não rece-beu toda a documentação. Mas, segundo o presiden-te, há indícios de que o rombo exista. Como exemplo, ele citou o 13º e as férias dos servidores públicos que não foram pagos e também o grande número de for-necedores do Governo do Distrito Federal (GDF) que estão sem receber.

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EntrevistaFotos: Wagner Augusto/Magnum Alexandre

Foto: José Nunes Diener

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EntrevistaHoje, o conselheiro formado em Direito e pós-gradua-

do em Ciência Política fiscaliza as contas do governo dis-trital. Há quase 15 anos, Renato Rainha trabalhava legis-lando pela população da cidade. Em entrevista, ele fala sobre os desafios do Tribunal de Contas do DF diante da crise que Brasília enfrenta.

Com o trabalho no Tribunal, você se afastou da população e da política. O que mudou?

No Tribunal de Contas, o conselheiro some um pou-co da atividade social e completamente da política, já que julgamos as contas do governo. Independentemente do partido ao qual pertence o governador, temos que ava-liar tecnicamente e não politicamente. O trabalho que re-alizamos pode ser percebido pela população no cumpri-mento da fiscalização das despesas do GDF. Além disso, é importante que o Tribunal, dentro da sua área técnica, possa se comunicar bem com a população, com as enti-dades organizadas da sociedade civil e com outras insti-tuições públicas.

O que está sendo feito?Tenho procurado aproximar o TCDF da sociedade

desde o primeiro dia que assumi a presidência. Primeira-mente, investindo no fortalecimento da comunicação so-cial. Em seguida, com o planejamento da escola de con-tas que pretendemos criar para, cada vez mais, capacitar nossos auditores. A ideia é que, no futuro, tenhamos alu-nos servidores do Poder Executivo e possamos abrir tur-mas para que os cidadãos também participem. Às vezes, aquela pessoa que está lá na ponta quer saber como e o que ela pode fiscalizar e, havendo irregularidades, onde denunciá-las.

Houve o rombo nas contas do governador Agnelo?O Tribunal de Contas ainda está analisando toda a do-

cumentação do fechamento das contas com relação ao ano de 2014. Mas há indícios de que o gasto foi bem maior que a arrecadação. Por exemplo, a falta de pagamento do

13º e das férias dos funcionários públicos. O número gran-de de fornecedores (de obras, de serviços e de produtos) que vão ao TCDF e reclamam de dívidas referentes aos meses de outubro, novembro e dezembro de 2014. Outra evidência são as greves e paralisações de servidores que não estão recebendo suas remunerações em dia. Ora, se o GDF tivesse dinheiro ou gasto apenas o que foi arrecada-do, certamente não faltariam recursos para pagar isso tudo. No entanto, só teremos certeza do excesso depois que to-dos os documentos chegarem ao Tribunal.

O deputado Chico Vigilante, do Partido dos Tra-balhadores, afirma que essa dívida é ilusória. Por que ele diz isso?

Na verdade, o que o deputado Chico Vigilante apre-sentou foi uma demonstração contábil. Nesse documen-to, constam todos os créditos, mas temos que considerar também os débitos. Aquele valor não representa o que está na conta, mas sim todo o crédito do GDF. O proble-ma é que muitos recursos do governo são vinculados a diferentes fundos, assim, esse dinheiro só pode ser usa-do de acordo com o objetivo do fundo para o qual ele foi direcionado. Por exemplo, temos quase R$ 3 bilhões no Fundo da Previdência, mas esse dinheiro só pode ser gas-to para pagar aposentadorias e pensões. Portanto, exis-tem recursos em alguns fundos, mas eles não podem ser utilizados para pagamento de pessoal ou para quitar as dívidas com os fornecedores.

Existe algum mecanismo que proteja as pesso-as que prestaram serviço ou que forneceram produ-tos para o GDF para que elas recebam o pagamento?

Recebo todos os dias, no TCDF, fornecedores que prestaram algum tipo de serviço para o governo e que não receberam até hoje. A dívida não é do governo Agnelo ou do governo Rollemberg, o débito é do Distrito Federal. To-dos aqueles que prestaram serviço, desde que ele tenha si-do realizado com a qualidade avançada e no valor de mer-cado, têm direito a receber. O Estado tem obrigação de

“Nesse momento de crise, é importante aquecer o mercado e fazer o dinheiro circular.”

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pagar, ele não pode se furtar de sua obrigação, além de ser-vir de exemplo para o cidadão. Não há possibilidade de ca-lote, o Estado deve pagar o que deve sob pena de grave ofensa à Lei de Responsabilidade Fiscal.

O cancelamento de verbas para a realização de alguns eventos (Carnaval e Corrida de Reis) é uma boa estratégia do governo?

Fui deputado com o atual governador Rodrigo Rol-lemberg durante sete anos na Câmara Legislativa do DF e, já nessa época, via o cuidado que ele sempre teve com questões culturais. Acredito que deva ter sido muito difí-cil adotar essa postura. Mas o que nós vimos, no caso da Corrida de Reis, foi um ato de superação da secretária de Esporte. A Leila Barros esteve no TCDF no primeiro mo-mento e nos colocamos à disposição para tentar ajudar. Ela batalhou e conseguiu captar recursos federais e da iniciativa privada, ou seja, a prova foi realizada sem qual-quer uso de recursos públicos do Distrito Federal.

E a Fórmula Indy? Haverá algum prejuízo?O evento foi iniciado com um processo totalmente er-

rado. O governador Agnelo, ainda em dezembro de 2014, encaminhou uma licitação no valor de R$ 252 milhões para reformar o autódromo. A grande quantidade de obras serviria não apenas para a Fórmula Indy, de acor-do com o projeto. Essa licitação foi suspensa por mim ainda em dezembro, por dois motivos: além de não ha-ver recursos financeiros, encontramos R$ 35 milhões de sobrepreço e várias ilegalidades graves. Quando o atual governo assumiu, orientei os responsáveis a revogar a li-citação e, se eles ainda fossem realizar a prova, que fizes-sem uma reforma gastando o mínimo possível. O governo decidiu cancelar a Fórmula Indy, e o Tribunal de Con-tas vai acompanhar a legalidade desse ato. No entanto, as obras já começaram e foram gastos R$ 18 milhões. Por is-so, vamos fiscalizar o que já foi realizado para que não te-nha desperdício do dinheiro público.

Você acha que o governador tem seguido um bom caminho?

Estou muito preocupado com o parcelamento da re-muneração dos servidores. Esses funcionários já não re-ceberam o 13º e as férias, sendo que eles trabalharam por isso. Por outro lado, entendemos a decisão do gover-nador, porque não existem recursos financeiros para pa-gar essas pessoas. O TCDF sugeriu, ao governo, o adian-tamento da Receita Orçamentária. O projeto, que já está na Câmara Legislativa para ser votado, poderia trazer pa-ra o cofre do GDF R$ 840 milhões. Outra solução se-

ria vender os títulos da dívida ativa do governo. Inclu-sive, o governador Agnelo tentou fazê-lo no último mês de mandato, mas foi impedido por causa de uma resolu-ção do Senado Federal. Esses títulos só podem ser ven-didos 120 dias antes do final do mandato. Ele estava no último mês e não tinha como realizar a venda, mas hoje isso é possível.

Como essas medidas ajudariam?Nesse momento de crise, é importante aquecer o

mercado e fazer o dinheiro circular. As pessoas precisam desses recursos para comprar e movimentar o comércio do DF e com isso, gerar empregos e mais recursos. Outra solução possível que estamos verificando com a Secre-taria de Obras é a identificação das obras prioritárias pa-ra a cidade. Aquelas que apresentarem algum problema no Tribunal de Contas do DF terão os obstáculos identi-ficados rapidamente no edital de licitação. Assim, pode-remos dar celeridade ao processo de análise para que as obras sejam liberadas o quanto antes.

O que você acha desse pacote lançado pelo go-verno, o “Pacto por Brasília”?

Se realmente os pacotes forem aprovados, nós tere-mos um aumento de impostos. Isso é algo que eu con-sidero extremamente sensível, porque a economia já es-tá abalada. Sabemos que a quantidade de impostos que o empresário paga já é excessiva, aqui no DF e em to-do o Brasil. Acredito que aumentar os tributos não seja a melhor solução. O incentivo ao desenvolvimento eco-nômico é importante, mas não por esse caminho. Como o aumento do tributo só será cobrado a partir do próxi-mo ano, a esperança é de que, durante 2015, outras atitu-des e medidas sejam adotadas que permitam ao governo não aumentar os impostos. Os empresários estão preo-cupados, pois terão que repassar o aumento para o con-sumidor.

Qual é sua avaliação do novo governo, nesse pri-meiro momento?

Assim como toda a população, deposito esperança nesse novo governo. Vejo um secretariado muito prepa-rado, alguns com muita experiência, outros nem tanta, o que atrapalha um pouco alguns setores a engrenar de imediato. Mas acredito muito no corpo técnico de servi-dores do DF para dar suporte. Esperamos que o GDF en-contre o rumo que a população deseja. Vejo no governa-dor bons propósitos, uma vontade imensa de acertar. Sou testemunha de que eles estão trabalhando dia e noite em busca de soluções para a crise.

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Mercado de Trabalho no DF *Júlio Miragaya

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A análise dos dados fornecidos pela Pesquisa de Emprego e Desemprego do Distrito Federal (PED/DF) revela que o mercado de trabalho no DF, nos últimos quatro anos, mostra sinais de deterioração. Deve-se salientar que a PED/DF não apura os dados referen-tes à nossa periferia metropolitana,

caso o fizesse, nossa taxa de desemprego passaria de 12% para 14% e o contingente desempregado saltaria de 180 para estimados 270 mil.

Comparando-se os dados referentes aos meses de dezembro, de 2010 a 2014, coincidente com o perío-do de governo Agnelo, observa-se um comportamen-to pouco uniforme. Em 2011 e 2012, a geração de quase 100 mil postos de trabalho resultou em signi-ficativa queda da taxa de desemprego, mas nos dois anos subsequentes, a criação de empregos desace-lerou fortemente, para apenas 30 mil, fazendo a ta-xa de desemprego voltar a crescer, na contramão do que ocorreu no restante do país.

Com taxa em torno de 12%, o desemprego no Dis-trito Federal apresenta acentuadas diferenças sob diversos aspectos: região, gênero, raça/cor e faixa etária. Em relação ao perfil da região pesquisada, o Grupo 3 de RAs, que envolve “cidades” populosas e de baixa renda como Ceilândia, Samambaia, Recan-to das Emas e Planaltina, a taxa em dezembro último chegava a quase 15%. Já nas regiões “ricas”, inseridas no Grupo 1, como Plano Piloto e Lago Sul, a taxa era de pouco mais de 5%.

Quanto ao gênero, verifica-se que, em dezembro último, a taxa entre os homens era de 10,2%. Já entre as mulheres, de 13,4%. A diferença já foi mais acen-tuada e vem diminuindo gradativamente, refletindo a crescente qualificação das mulheres para o merca-do de trabalho.

Em relação à raça/cor, os negros, maioria da po-pulação do Distrito Federal, apresentavam em de-zembro de 2014 taxa de desemprego de 12,5%. Já entre os não negros, essencialmente os brancos, a

taxa era de 9,9%. Nesse caso, não tem havido redu-ção substantiva da diferença, pelo menos nos últi-mos quatro anos.

Por fim, em relação a faixa etária, a taxa é muito alta entre os jovens de 16 a 24 anos, de 26,4%, mas há 10 anos, ultrapassava 40%. Deve-se destacar que quase metade (46%) dos desempregados do Distri-to Federal são jovens.Entre pessoas de 25 a 39 anos, a taxa de desemprego é de 9% e as de 40 a 49 anos, de 6%.

A taxa de desemprego no DF é uma das mais ele-vadas do Brasil, chegando a ser mais que o dobro das de Porto Alegre e de Belo Horizonte. Análise de desempenho do mercado de trabalho nos últimos quatro anos mostra que problemas antigos persis-tem: elevada taxa de desemprego e disparidade entre regiões, pífia participação do emprego industrial e agrícola, acentuada desigualdade nos níveis de ren-dimento.

A mais forte razão para tais problemas é o gigan-tismo do funcionalismo público no Distrito Fede-ral, natural, considerando sua condição de Capital da República, mas que se torna excessivo, ao inibir o crescimento de outras atividades econômicas.

O fato é que esse setor, notadamente por restri-ções de ordem fiscal, já não consegue ampliar de forma substantiva o número de postos de trabalho, embora continue “capturando” os profissionais mais qualificados do setor privado. Dessa forma, resta às empresas, essencialmente comércio e serviços, a res-ponsabilidade de geração de novos empregos na ca-pital, ante a inexpressividade da ocupação na indús-tria de transformação e na agropecuária.

Os empregos de maior qualificação e melhor re-muneração estão fortemente concentrados no setor público, que representa 22% do total, mas por ter re-muneração média mais de 300% superior às demais ocupações, responde por cerca de 55% da massa de rendimentos, restando aos demais 78% de ocupados 45% do total da renda. Urge diversificarmos nossa es-trutura produtiva.

• Júlio Miragaya – Vice-Presidente do Conselho Federal de Economia

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Prazeres CapitaisCarol Dias

O requinte por trás das telas

Todos os dias, assistimos aos jornais televisivos e, naturalmente, as roupas usadas pelas jornalistas não é o que nos prende a atenção. No entanto, o ar-mário de uma Fátima Bernardes, Rena-ta Vascoscellos, Giuliana Morrone pre-cisa ser versátil. Em Brasília, escondida em uma sobreloja do Sudoeste, fica o

ateliê Guilda, que já vestiu todas as globais citadas e, hoje, veste a apresentadora do programa Tendências e Negócios, Marcela Franco.

O espaço foi criado pela designer de moda Meire Morais em junho de 2013. O negócio começou em sua casa dois anos antes, mas acabou se expandindo devido à popularidade. “Não cabia mais uma peça de roupa. O sucesso foi grande, muita gente começou a me procurar, por isso inaugurei no Sudoeste”, conta a empresária. Apesar da enorme demanda, Meire diz não se interessar em abrir uma loja. Ela explica que “o público é selecionado. Conheço todas as minhas clien-tes e faço questão de atender todas pessoalmente”.

No futuro, Meire planeja abrir uma Maison. “Não quero produzir em massa. Gosto de trabalhar com te-cidos nobres” - seu preferido é a seda. Esse é um dos motivos pelo qual se tornou a queridinha das jornalis-tas. Outro, segundo ela, é a gama de cores encontra-da nas araras. “Trabalho com tonalidades diferentes e pouca estampa.” E, além disso, a comodidade que seus modelos proporcionam. “A identidade da minha marca é o conforto, o acabamento, que é primoroso, e a elegância que trago nas peças”, explica.

O primor da designer é passado para sua equipe. Meire conta com cinco ajudantes para a realização das peças. Ela faz questão de identificá-las como alfaiatas. “Minha costura é francesa, trabalho com alfaiataria e

Marcela Franco, apresentadora do programa Tendências e Negócios, veste Guilda

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TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS Ed. 34 fevereiro de 2015 :: 17

Fotos: da redação

treino pessoalmente todas as funcionárias.” Daí surgiu o nome Guilda. Apaixonada por história, a empresária queria uma marca que representasse o conceito das roupas. “Fazendo uma pesquisa, encontrei uma cor-poração de ofício da Idade Média chamada guildas, da qual participavam alfaiates, ferreiros, artesãos, pessoas que zelavam pelo trabalho manual”, explica.

O fascínio de Meire por modelagem e costura é recente, apesar da longa história que a empresária tem com o ramo. Na sua família, a mãe e a avó eram costu-reiras no interior de Goiás. “Quando criança, vivi este mundo. Na minha casa, o trabalho começava desde o plantio do algodão. Mas só fui me interessar depois de adulta.” Antes disso, ela queria ser aeromoça. Foi em uma viagem para Nova York, quando se deparou com a Quinta Avenida, que seu coração bateu mais

forte. “Naquele momento, tive certeza de que queria me dedicar à moda.”

Assim que retornou ao Brasil, a empresária ingres-sou no curso de Design de Moda do Instituto de Edu-cação Superior de Brasília (IESB). Meire conta que foi uma aluna aplicada. “Tenho praticamente uma biblio-teca em casa, estudei muito para encontrar a modela-gem perfeita.” Depois de se formar em 2011, foi para o Rio de Janeiro e para São Paulo se especializar, “ficava um ou dois meses em cada cidade, fiz cinco cursos”.

O maior sonho da empresária é morar em Nova York e ela já caminha para isso. Este ano, Meire rece-beu uma proposta para internacionalizar a empresa. No momento, os cuidados são com a parte burocráti-ca, mas dentro de um ano a marca Guilda estará circu-lando pelos Estados Unidos e pelo México.

A designer de moda Meire Morais exibe as peças feitas em seda

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Quando fui cursar faculdade em São Paulo, na segunda metade dos Anos 80, descobri um admirável mundo novo que jamais ha-via considerado em meus sonhos de ser jor-nalista. Naquela época, estava surgindo no mercado de comunicação brasileiro o que se chamava Assessoria de Imprensa. Até floricultura tinha. E a que primeiro lançou

mão desse recurso enviava flores para Hebe Camargo que, feliz da vida, agradecia o mimo diante de todo o Brasil, em seu programa semanal de TV.

A iniciativa gerava o que chamamos de mídia espon-tânea e, nesse caso, com o imensurável valor de um teste-munhal de Hebe Camargo. Para nós, profissionais da co-municação, atingir resultados é muito satisfatório. Ainda mais gratificante é constatar que os Clientes conseguem, através das iniciativas de comunicação, obter resultados tangíveis, a partir de lucros e novos negócios, e intangí-veis, com o aumento de sua reputação e visibilidade para sua marca.

Naquele momento da evolução da comunicação ins-titucional em nosso país, todas as iniciativas de aproxi-mação com a Imprensa alcançavam êxito. O cenário era de novas liberdades: o movimento das “Diretas Já” havia

artiGo

Sua empresa quer resultados?

contagiado a todos e os veículos de comunicação bebiam as primeiras gotas da liberdade de expressão, devolvida à sociedade a partir da Constituição de 1988. No mun-do corporativo e institucional, o Brasil se espelhava na movimentada indústria atuante de países como Estados Unidos e nações europeias em ações de comunicação.

Desde então, este é um setor que cresce no Brasil. Em metrópoles como São Paulo, Rio de Janeiro e Recife, e em segmentos onde a reputação é um valor tão rele-vante quanto a obtenção de lucros, a assessoria de comu-nicação tem o mesmo peso do setor jurídico e da con-tabilidade das organizações. Em Brasília, este continua sendo um segmento em ascensão. O mesmo dinamismo empreendido pela Internet, pelo crescimento populacio-nal, pelo aumento do poder aquisitivo, pela indústria do conhecimento e o desenvolvimento de novos mercados fez se expandir o rol de serviços prestados pelas agências de comunicação.

A assessoria de imprensa se transformou em uma das ferramentas essenciais no amplo leque da comunicação institucional. O assessor de imprensa entra no universo do Cliente, dimensiona seus diferenciais, converte-os em sugestões de pauta, desenvolve um roteiro em linguagem jornalística e aborda as redações de jornais, revistas, TVs,

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rádios e plataformas digitais sugerindo reportagens sobre esses temas pré-selecionados. O ciclo se conclui quando a sugestão vira notícia e chega à opinião pública.

Principalmente as pequenas empresas centram suas verbas nesse trabalho. Porque dá excelentes resultados – ainda que nem sempre as conquistas possam ser contabilizadas em cifras. Hoje, entretanto, todas as informações devem ser atreladas às estraté-gias de condução da empresa. E ainda há outras opções, como publicidade, comunicação dirigida, eventos, redes sociais, experi-ências etc. O profissional atualizado precisa ter uma visão em 360 graus. Não apenas da comunicação, mas de toda a empresa para que suas estratégias junto à sociedade tragam os retornos espera-dos pelo planejamento estratégico global do cliente.

Entre as organizações que atendemos, há casos em que temos assento nas reuniões de Diretoria. Não se trata apenas de acom-panhar os fatos para termos as informações em primeira mão. O papel do assessor de comunicação começa antes, na hora de se desenhar os fatos. Com o conhecimento técnico, é preciso apoiar as decisões a serem implementadas, auxiliando sob a ótica do impacto perante a opinião pública, do incremento na reputação da empresa e no posicionamento de sua marca e valores.

Para nós, profissionais de comunicação, é um mundo fas-cinante! Isso nos obriga a buscar atualização constante, aplicar as inovações às técnicas da nossa área e utilizar essas técnicas, com foco em resultado, para diferentes segmentos e ramos de negócio. Para o Cliente é surpreendente constatar como seus projetos, ações, marca vão ganhando espaço, se posicionando e sendo mais conhecidos e até mesmo mais admirados. Temos sido testemunhas de muitos episódios em que a comunicação efetivamente atua como uma das alavancas de prosperidade nas organizações, sejam elas pequenas, médias ou grandes.

Há alguns anos, recebemos um feedback maravilhoso de um cliente. Ele já atuava no mercado, direcionado ao varejo, há cerca de uma década. Precisava incrementar seu movimento. Iniciou um trabalho conosco, focado no relacionamento com a Imprensa. Em poucas semanas seu faturamento aumentou. Sua reputação se consolidou. Seu produto passou a ter valor agregado reconhecido pela clientela antiga e referendado por novos consumidores. E, para a surpresa dele, foi procurado por um shopping center, que lhe ofereceu espaço em condições absolutamente favoráveis, únicas, para que levasse sua marca àquele centro comercial.

São muitas as experiências bem-sucedidas, ao longo de duas décadas no mercado. Mesmo quando os resultados não são tão favoráveis, como em gerenciamento de crises de ima-gem, o retorno é favorável, pois representa avanços para o Cliente. Quem quer resultado, a curto, médio e longo prazo, não pode desprezar as ferramentas de comunicação. Lembre-se que há alternativas para várias possibilidades de orçamen-tos. E o principal: em todas as incursões, realizadas por profis-sionais capacitados, com conhecimento comprovado, o retorno é seguro e visível. Bons negócios a todos.

Kátia Cubel é Jornalista e Consultora de Comu-nicação. Diretora da Engenho Comunicação e

do Prêmio Engenho de Comunicação

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Organizações

criativasEmpresas brasilienses contam como estimulam seus profissionais a inovar e os benefícios desse incentivo para a rotina dos negócios | Taise Borges

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Estimular a criatividade entre os funcionários é uma tendência do mercado atual, que requer inova-ções constantes. No entanto, no dia a dia de milhares de empresas, os funcionários são cobrados para atingirem metas, sofrem pressão e têm pouco espaço para inovar. O

desafio do empreendedor moderno, então, é buscar o equilíbrio: oferecer um ambiente or-ganizacional favorável à criatividade e que, a longo prazo, resulte na oferta de serviços e pro-dutos inovadores e em processos internos mais eficientes.

Nesta edição da Tendências e Negócios, reunimos empreendedores que entendem bem a importância de estimular a criatividade dos funcionários. Ao analisarmos o modelo de ne-gócio de suas empresas, encontramos seme-

lhanças nas metodologias utilizadas por elas. São organizações que incentivam novas experi-ências e promovem atividades para que a equi-pe saia da rotina. Nelas, o ambiente de traba-lho foi transformado em um espaço agradável e descontraído, onde o grupo encontra facilidade para se comunicar. Essas empresas destacam-se, também, por dar autonomia e responsabili-dade a seus colaboradores para criarem e colo-carem novas ideias em prática.

Os empreendedores entrevistados partilha-ram, conosco, seus pontos de vista sobre a im-portância da inovação dentro das organizações, deram exemplos de iniciativas que promovem em suas empresas e dicas para os gestores que não se consideram criativos. Confira as ideias! Certamente, algumas podem ser adicionadas à cultura de sua empresa e serão úteis ao estímu-lo da criatividade de sua equipe.

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As sócias Suyene Arakaki e Nazareth Pinheiro (foto) são gestoras da TODO, escritório de arquitetura com seis inte-grantes. As empreendedoras sempre tiveram interesse em iniciativas que despertassem a criatividade dos funcionários, mas costumavam buscar novos conhecimentos em cursos de outras cidades ou até fora do país. “Então, percebemos que não era preciso ir tão longe para buscar capacitação. Tem muita informação circulando por aqui”, ressalta Suyene. Foi a partir de um curso sobre Empreendedorismo Criativo, ofere-cido em Brasília, que o interesse pela inovação cresceu. “De-mos espaço aos membros da equipe para que se sentissem capazes de sugerir novas práticas e inovar dentro da empre-sa”, complementa.

Para oferecer ao grupo de colaboradores a oportunidade de sair da rotina, a TODO organizou, em agosto do ano passa-do, a Fábrica de Brinquedos. A ação social propunha o desen-volvimento de moldes de papelão com os quais as crianças – moradoras de um orfanato escolhido pela equipe – pudes-sem interagir e se divertir. Da atividade lúdica, saíram caste-

Saia da rotina

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los, trens, barcos criativos. “A equipe toda fica muito motivada quando propomos uma atividade diferente do dia a dia do escri-tório”, conta Nazareth.

Pollyane Toschi, integrante da empresa, se dedicou por dois meses ao projeto e confirma a motivação que ações como a Fá-brica de Brinquedos promovem à equipe. “Saímos da frente do computador, da rotina de projetos, para pensar em como seria o dia. Criamos muitas expectativas. Ao chegarmos lá, recebe-mos os abraços das crianças e vimos como tinha valido à pe-na nosso trabalho”, lembra. A identificação com o propósito do projeto, além de unir e estimular os próprios membros da TO-DO, também aumentou o networking da empresa: outras pesso-as e organizações se interessaram por contribuir com a realiza-ção da Fábrica.

A ação social gerou demandas de arquitetura para o escritó-rio, afinal foi preciso projetar os moldes dos brinquedos para que não oferecessem riscos às crianças. Por isso, a iniciativa também serviu de inspiração para o trabalho da equipe, o que refletiu nos resultados da empresa. “Em oportunidades como a da Fábrica de Brinquedos, podemos perceber como as pessoas reagem, o que sentem, quando entram em contato com certos espaços. Essas percepções, nós trazemos para os ambientes – casas, apartamen-tos – que planejamos todos os dias”, explica Pollyane.

Além de tirar a equipe da rotina, a TODO investe em ou-tras iniciativas para estimular a criatividade dos profissionais. No ano passado, transformaram o escritório em um espaço de coworking – metodologia de trabalho em que o ambiente é com-partilhado com outros empreendedores, o que facilita a troca de informações, ideias e contatos com empresários de diferentes ra-mos. A prática deu tão certo que a TODO, em breve, se mudará para um novo escritório, também compartilhado com outra em-presa. O novo ambiente será aberto para designers, fotógrafos, profissionais da moda, artistas. Suyene comemora: “Na casa, te-remos espaço para outras atividades além da arquitetura, como salas de aula e exposições”.

Ao estimular a criatividade dos membros da equipe e dar li-berdade para que sugerissem mudanças internas, a TODO per-cebeu a necessidade de rever a forma como oferecia os próprios serviços. Para as famílias que não têm condições de modificar a casa inteira, a empresa oferece, agora, o projeto de apenas um ambiente e, na reforma, aproveita móveis e outros artigos que o morador já tem. “Hoje, possibilitamos que as pessoas renovem o ambiente da casa que mais desejam e tudo com investimento mínimo”, explica Nazareth.

Para que a criatividade continue sendo estimulada, a TODO adquiriu a cultura da Caixinha de Ideias. Os membros da equi-pe depositam sugestões na caixa e, periodicamente, todos se re-únem para discutir a viabilidade delas. “As ideias abrangem pro-jetos e aspectos internos do negócio, como gestão, prospecção, a direção que a empresa vai assumir, no que iremos investir, en-tre outros. O importante é que todas as sugestões sejam ouvi-das”, reforça Suyene.

Foto: Alisson Carvalho

“Quando saímos da rotina para aproveitar novas experiências, ficamos mais propícios a olhar diferente para os problemas. Por isso, as iniciativas que adotamos na TODO fizeram com que a equipe se tornasse mais participativa. Aumentamos nossa comunicação e, hoje, todos se unem para discutir os projetos e dar ideias.”

Suyene Arakaki

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Na Oni Branding & Design, empresa brasi-liense de gestão de marcas, as sextas-fei-ras são dedicadas à troca de conhecimen-tos entre a equipe. Um dos integrantes da empresa fica responsável por promover um workshop para o restante do grupo. Os te-mas são diversos: vão desde “como falar em público” e “desenvolvimento pessoal” a as-

suntos como “música” e “alimentação saudável”. A promo-ção de novas experiências para a equipe e a transmissão de conhecimentos adquiridos em cursos externos são frentes de aprendizagem estimuladas na empresa.

Aumente seu repertório de experiências

Para Thiago Ramiro, um dos sócios da Oni, criatividade é a capacidade que temos de conectarmos nossas experiên-cias de uma forma não óbvia. Quando possuímos um vas-to repertório de experimentos, convivemos com pessoas que possuem repertórios diferentes e estamos inseridos em uma cultura que estimula essas ligações, nossa criati-vidade é exercitada. “Quanto mais experiências, maiores as possibilidades de conexões entre elas e de desenvol-vermos soluções criativas para os problemas”, explica. He-rick Ferreira, outro dos sócios da empresa, complementa: “A criatividade é inerente ao ser humano. O que existem são pessoas mais estimuladas do que outras – porque têm

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Felipe Marques, Henrique Ayres, Thiago Ramiro e Herick Ferreira são os quatro sócios da Oni Branding

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mais repertório e procuram aumentá-lo, porque são menos tímidas ou exercitam novas conexões”.

Na Oni Branding & Design, o perfil multidisciplinar da equipe também contribuiu para o repertório de experiên-cias do grupo: além de unir profissionais formados em Pu-blicidade, Desenho Industrial, Tecnologia da Informação, a empresa possui uma estrutura horizontal de trabalho, sem a definição de responsáveis por cada uma das áreas. “Temos consultores capacitados para navegar na complexidade do processo como um todo, do atendimento ao cliente à execu-ção do projeto”, conta Thiago.

Soluções criativas também resultaram de duas metodolo-gias adotadas pela Oni: o compartilhamento dos projetos da empresa com todos os membros da equipe e a promoção de discussões sobre a estratégia mais adequada para cada clien-te. “Como temos conhecimentos, referências e pontos de vis-ta diferentes, o resultado é muito mais criativo do que se ape-nas duas pessoas trabalhassem no projeto”, ressalta Herick. Segundo o empreendedor, um bom método para se ter uma nova ideia é o embate: “Quando discutimos, é a ideia mais for-te, a mais inovadora, ou a união das melhores que sobrevive”.

A inovação só ocorre em um ambiente favorável. Por is-so, os membros da Oni valorizam a liberdade de expressão como estímulo à criatividade. Em uma sessão de brainstor-ming, por exemplo, uma ideia pode desencadear a de outra pessoa, até que a equipe chegue à solução ideal. Mas se um diretor limita a autonomia dos estagiários e consultores por meio de julgamentos, o estímulo à criatividade fica preju-

Foto: Wagner Augusto

dicado. “Não importa se uma ideia é viável ou não, se custa muito ou pouco, se é simples ou sofisticada. Só depois é que as melhores sugestões são avaliadas. Não se pode achar uma solução criativa para um problema antes de percorrer todo o processo”, observa Thiago.

A estrutura física da Oni Branding & Design também não é convencional: a empresa possui uma sala para reu-niões, um espaço de colaboração – em que consultores e clientes trabalham juntos para solucionar problemas – uma ampla cozinha e uma sala de produção – espaço aberto on-de toda a equipe é estimulada a participar das discussões so-bre os projetos. Não existe sala do chefe. “Uma empresa que só pensa em espaço para mesas, número de computadores, baias para os funcionários e aumento da produção, perde em criatividade. Não é na frente do computador que a mági-ca acontece”, ressalta Herick.

Para ele, o que limita em grande parte a criatividade den-tro das organizações são os contratos de prestação de servi-ço, que determinam o que a empresa deve entregar ao final do projeto: “É impossível ter uma ideia inovadora partindo de uma solução que já existe. Por isso, prestamos consulto-rias de acordo com os problemas de cada cliente e geramos soluções diferentes daquelas que todo mundo imagina. Pen-samos fora da caixa e inovamos ao trabalhar assim”. Herick complementa com uma dica aos empreendedores que de-sejam estimular a criatividade: “Quando você chega a uma etapa do projeto em que a solução parece perfeita, é preciso parar e pensar: o que fazer para que ela seja ainda melhor?”.

“Se, em um grupo de pessoas que não se consideram criativas, existe uma que consegue caminhar pelo processo da criatividade e liderar as demais, certamente esse grupo será capaz de desenvolver soluções inovadoras. Da mesma forma, se um grupo é liderado por um chefe que julga as novas ideias, a criatividade será reprimida.”

Herick Ferreira

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Oferecer soluções em aplicativos que atendam tanto o cidadão co-mo o governo é a proposta da Sea Tecnologia, empresa brasiliense que, hoje, reúne 15 profissionais. Um deles é Wesley Rocha, desig-ner de interfaces que está há oito anos na empresa. Assim como to-

dos os membros da Sea, Wesley tem liberdade para apoiar decisões relacionadas não apenas ao visual dos projetos que desenvolve, como tam-bém à programação dos aplicativos e à gestão do negócio. “Os membros da Sea têm esse perfil de contribuir em todas as áreas”, explica Wesley.

O escritório reflete a criatividade da equipe: o clima agradável está na cor das paredes e na disposição das mesas que facilita a comunica-ção e integração do grupo. Os funcionários têm autonomia para alterar o ambiente: “A Sea tinha um layout mais simples, até que, em 2010, re-solvemos reformar a sala e dar nossa cara a ela. Ainda hoje, promovemos o Sea Day, dia em que nos reunimos para revisar os trabalhos internos e modificar novamente o espaço”, explica o de-signer. Wesley complementa: “Não é o ambien-te que motiva a criação. Ele reflete o sentimento das pessoas que o habitam”.

Além da autonomia para intervir no ambien-te físico, a equipe da Sea convive com uma hie-rarquia flexível que promove a comunicação e a participação dos membros em decisões estraté-gicas da empresa. “Nossa criatividade está na li-berdade que temos para opinar. Para que as pes-soas sejam criativas, é preciso dar confiança e responsabilidade a elas”, ressalta o designer. Pro-blemas entre os membros – como barulho exa-gerado no escritório – são resolvidos na hora, sem que seja necessária a intervenção de um gestor. Na empresa, a função do gerente, aliás, é

a de facilitador: “Ele não diz o que temos que fa-zer. Seu papel é tirar os empecilhos que encon-tramos ao tentar fazer o que queremos fazer”.

Um ambiente confortável, com independên-cia, contribuiu para que os funcionários se sin-tam à vontade para opinar e trocar ideias. No en-tanto, também pode provocar distrações. Para diminuir a desatenção, a equipe se acostumou a trabalhar em dupla. “Essa metodologia contribui para mantermos o foco no desenvolvimento dos projetos”, ressalta Wesley. A dupla se alterna na manipulação do computador e, com isso, se con-centra melhor. A prática também contribui para a criatividade: são dois olhares diferentes sobre o mesmo problema.

Os profissionais da empresa conhecem as próprias deficiências técnicas. Mas, se essas ne-cessidades de atualização são comuns – se a equipe precisa se capacitar em uma nova fer-ramenta de trabalho, por exemplo – os mem-bros se reúnem para aprenderem juntos. Esses são encontros propícios ao surgimento de novas ideias e desenvolvimento de projetos individu-ais, desvinculados de clientes da Sea. Apesar de autônomos, os projetos recebem apoio da em-presa, que ganha ao estimular a criatividade dos funcionários.

O Mobee é um exemplo de projeto indepen-dente desenvolvido pelos membros da Sea. O aplicativo facilita o acesso a informações sobre o transporte público no Distrito Federal e recebeu suporte da empresa para divulgação. “Nosso dese-jo é que, no futuro, possamos institucionalizar es-se espaço de criação e que a Sea possa apoiar os projetos de maneira mais incisiva, não só na parte financeira, como também na de logística e conhe-cimento empresarial. Queremos que esses produ-tos ganhem, de fato, visibilidade”, deseja Wesley.

A equipe da Sea Tecnologia integra profissio-

Adote uma hierarquia

horizontal

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nais de diferentes áreas: são engenheiros, designers, cien-tistas da computação e até uma psicóloga. A formação aca-dêmica influencia na capacidade individual de enxergar os problemas de formas distintas. As ideias e sugestões, no entanto, se completam para o surgimento de uma solução criativa que agrade a toda equipe. “Nas discussões sobre a entrega de um produto para um cliente, certamente uma pessoa de cada área, pelo menos, estará presente. Do co-mercial e da gerência também”, explica o designer.

Para integrar e motivar ainda mais a criatividade dos membros, a Sea está desenvolvendo um novo projeto: a empresa convida os profissionais a experimentar um dia como membros da área administrativa, comercial, finan-ceira, da diretoria, ou seja, de áreas diferentes das de ori-gem. A experiência propõe que os integrantes entendam o funcionamento da empresa como um todo, conheçam os problemas específicos de cada área e sugiram novas práti-cas para solucioná-los.

“Costumamos dizer que é melhor pedir desculpas do que permissão. Essa filosofia perigosa exige responsabilidade e maturidade dos profissionais. Um ambiente criativo e de liberdade não se sustenta sem pessoas com essa disciplina. Ao mesmo tempo, uma hierarquia rígida reprime as novas ideias. A criatividade que temos na Sea vem dessa responsabilidade e do modelo de negócio horizontal em que trabalhamos.”

Wesley Rocha

Foto: Alisson Carvalho

Equipe de profissionais da Sea Tecnologia

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Tenha um ambiente descontraído

“Não se pode ter um videogame, uma televisão, apenas para deixar o espaço bonito. É preciso mudar a cultura organizacional, dar liberdade para que os recursos sejam utilizados e o funcionário tenha tempo para relaxar. A equipe deve trabalhar com responsabilidade para que os estímulos resultem não só em um ambiente de menos pressão, como também em melhores entregas para os clientes.”

Lucas Mansur

Foto: Alisson Carvalho

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A agência Table, especialista em mídias sociais, nasceu em 2011. Hoje, a empre-sa brasiliense dirigida pelos sócios Die-go Arelano e Lucas Mansur tem 12 inte-grantes: profissionais que convivem em um escritório onde a música e a TV des-contraem o ambiente, afastam a tensão dos projetos e facilitam a manifestação

das ideias criativas. “O som e a televisão deixam o am-biente mais próximo de um lugar onde as pessoas se sintam bem e, assim, relaxadas, é mais propício que a criatividade surja”, explica Lucas. E complementa: “A criatividade exige exercício, mas um espaço confortá-vel, que promova a comunicação entre as pessoas, faci-lita o surgimento de novas ideias”.

A empresa também investe em outras iniciativas para estimular a criatividade dos colaboradores. Uma delas é o Cine Table, quando o grupo se reúne pa-ra assistir a um filme sugerido por um integrante da equipe. A prática, aliás, surgiu da ideia de um funcio-nário. “Com essa ação, ganhamos referências audiovi-suais e aumentamos o repertório criativo dos nossos membros”, ressalta Diego. A sessão de cinema, no en-tanto, não pode atrapalhar o cumprimento dos prazos: na empresa, cada integrante é responsável pela data de entrega do projeto no qual está envolvido e pode adequar seu horário de trabalho à quantidade de de-mandas diárias que possui.

Uma vez por semestre, a equipe deixa o escritó-rio para realizar dinâmicas em um espaço diferen-te e motivar o surgimento de ideias inovadoras – é o Table Day Off. Todos os membros se reúnem para um brainstorming, isto é, para sugerirem ideias livre-mente, sem pensar na viabilidade ou prioridade de-las. Finalizado o processo, as sugestões são avaliadas, unem-se umas às outras, e as mais criativas são colo-cadas em prática. “O intuito é aproveitar o ambiente

para ter ideias novas, tanto para os clientes, como pa-ra a própria empresa. Da última vez, fomos para um hotel fazenda”, lembra Lucas.

Capacitar-se para ser capaz de inovar é uma filo-sofia da Table. Por isso, periodicamente, ela promove as Conversas na Mesa: bate-papos com profissionais especialistas em temas de interesse dos integrantes da empresa. Produtividade no trabalho, desenvolvi-mento de aplicativos, comportamento dos clientes e marketing digital foram alguns dos temas já tratados durante as conversas. Nessas oportunidades, a equi-pe participa de debates e termina o encontro atuali-zada sobre as novidades do ramo em que atua – co-nhecimento que reflete na inovação dos projetos que a Table entrega aos clientes.

Assim como o Cine Table, outras ideias dos colabo-radores já foram acatadas pela empresa. De acordo com os sócios-diretores, sugestões que partem dos funcio-nários devem ser, sempre, apoiadas e testadas. Por is-so, a empresa dá liberdade à equipe para pensar e pro-por novas práticas sem nenhum tipo de repressão. As melhores ideias recebem apoio para serem implemen-tadas. “Deixamos claro que todos podem sugerir novas práticas. Tudo o que pode melhorar nosso trabalho, co-locamos em teste. Se não der certo, voltamos atrás. O importante é não ter medo de arriscar”, ressalta Diego.

A Table valoriza o modelo horizontal de traba-lho: gestores, funcionários e estagiários atuam juntos e possuem liberdade para dar novas ideias. Algumas dessas sugestões vêm dos feedbacks mensais que os profissionais dão aos diretores – conversas em que fa-lam sobre o trabalho individual e do grupo como um todo. “O que é sempre ressaltado pela equipe é o am-biente favorável da empresa, a liberdade dada pela es-trutura horizontal. Nos projetos com os clientes, o sal-do do ambiente descontraído e da liberdade criativa também é positivo”, comemora Lucas.

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Dê liberdade responsável

Não há como dizer se uma ideia é criativa se ela não for colocada em prática. É nisso que acredita a Perestroika, escola de criati-vidade que, no ano passado, chegou a Bra-sília. Para estimular a inovação, a empresa aposta nas sugestões dos colaboradores e em um sistema aberto onde qualquer um consiga testar sua ideia. “Criatividade nada

mais é que colocar ideias em prática. Na Perestroika, temos flexibilidade e liberdade para criar, além de total responsa-bilidade para testar e corrigir o que não deu certo”, expli-ca Guilherme Piletti, gestor da empresa na capital federal.

A Perestroika aborda o novo mundo dos negócios e da comunicação. Um mundo mais fluido e caótico se compa-rado ao da velha economia, em que as empresas prezavam pelo controle, pela organização, pelos processos estagna-dos e combatiam o caos de maneira absoluta – característi-cas eliminadas pelas jovens empresas. “O sistema atual na-vega com mais tranquilidade pelo caos, o que pode ser um modelo estimulante para a inovação. Incentivar a criativi-dade é algo muito mais processual do que estanque. Deve estar no cerne da empresa, como um propósito, um mode-lo de negócio”, ressalta Guilherme.

Segundo o gestor, dar autonomia criativa, confiança e responsabilidade aos funcionários são práticas naturais das jovens empresas, que nascem no contexto atual de liberda-de, estão alinhadas a ela e precisam dessa fluidez para ga-nhar espaço e competitividade: “Se um empreendedor está começando, tem pouco investimento, mas muita vontade, ele precisa estimular a criatividade o tempo todo. As inova-ções podem ser o ‘pulo do gato’ para o negócio”. Guilher-me complementa: “Para cada teste feito dentro da empresa, é preciso mensurar os resultados, criar inteligências a par-tir deles e aprimorar os processos organizacionais”.

Quanto maior o empreendimento, mais difícil é pa-ra ele se modificar. Mas não é impossível. Permitir li-berdade de horários, dar responsabilidades maiores aos colaboradores e incentivar o acesso à cultura são algu-mas práticas em que a empresa pode inovar. Canalizar as novas ideias para que não acabem na gaveta também é importante, afinal, processos engessados frustram pro-fissionais inovadores. “Considerar-se, ou não, criativo é

uma questão de postura. Não existem áreas mais ou menos criativas, mais ou menos artísticas. Criatividade é treino, é se acostumar com ideias novas, é aumentar o repertório”, lembra Guilherme.

A Perestroika nasceu em Porto Alegre, em 2007. Em oito anos, a escola cresceu e se tornou uma empresa com uma característica curiosa: todos os funcionários ocu-

Dario Joffily, Beatriz Chaves e Guilherme Piletti formam a equipe brasiliense da Perestroika

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Foto: Marcos Paulo

“A empresa que deseja ser criativa tem que aprender a navegar no caos, ter coragem de investir em inovação, alte-rar processos, mudar de postu-ra. Essa é a busca de 99% dos gestores atuais: transformar suas empresas em negócios menos burocráticos e mais fluidos. Pode ser que dê erra-do, afinal, criatividade é a ideia em teste constante.” (Guilher-me Piletti)

“A empresa que deseja ser criativa tem que aprender a navegar no caos, ter coragem de investir em inovação, alterar processos, mudar de postura. Essa é a busca de 99% dos gestores atuais: transformar suas empresas em negócios menos burocráticos e mais fluidos. Pode ser que dê errado, afinal, criatividade é a ideia em teste constante.”

Guilherme Piletti

pam o mesmo cargo e têm a capacidade de tomar decisões sobre todo tipo de assunto interno. Hoje, além de Brasília, a escola tem unidades no Rio de Janeiro, São Paulo, Curi-tiba, Belo Horizonte e Recife. Para reunir os integrantes de toda a rede, a Perestroika investe em semanas de imersão. Nesses encontros, os novos membros adquirem um pou-co da cultura da empresa, além de trocar informações so-bre como aprimorar as práticas em cada uma das cidades.

Entre os serviços que a empresa oferece, estão cur-sos, treinamentos corporativos e consultorias para esco-las, universidades e governos que buscam métodos al-ternativos de aprendizagem. Nos cursos, os professores são, sempre, pessoas de destaque no mercado, profissio-nais que inovaram e alcançaram grandes resultados. A troca de informações e os debates entre os participantes são incentivados nesses encontros. “Visões diferentes e contestações saudáveis estimulam a criatividade. Pesso-as que concordam o tempo todo, ao contrário, tendem a estagnar”, afirma Guilherme.

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rESUltado

Em um momento econômico que pede cautela, a solução pode estar dentro da empresa| Eduardo Barretto

2015 é um bom tema para palestras de motivação. Mas em vez de ilustrar paraísos onde tudo é possível, o ano que começa mostra-se um pano de fundo mais adequado para as pausas enérgicas em que o palestrante cobra mais coopera-ção, empreendedorismo e principalmente confiança dos ou-vintes – que desta vez podem ser as próprias empresas.

O primeiro Índice de Confiança do Empresário Indus-trial (ICEI) do DF neste ano bateu o recorde negativo para o período desde que o estudo começou a ser feito, em 1999. Encomendado pela Federação das Indústrias do DF (Fibra) e Confederação Nacional da Indústria (CNI), o levantamen-to, que vai de zero a cem, traz cenários otimistas se a cifra ficar acima dos 50 pontos, e pessimistas nos casos em que o índice não atinge essa margem – como os 43,3 pontos atuais, 1,1 ponto menor que o índice do Brasil, e 13,6 pon-tos abaixo da média da série histórica nacional.

O cenário se repete em vários setores da economia. Ou-tra pesquisa feita pela Fibra, a Sondagem da Indústria da Construção, traz resultados pessimistas para todos os indi-cadores utilizados no estudo.

Frente a um rombo bilionário, o novo governador do DF, Rodrigo Rollemberg (PSB), apresentou já em sua pos-se um pacto para organizar as faturas. Das 21 medidas, sete são para já. Além de despesas com imóveis, obras, aluguéis e carros passarem por pentes finos, os projetos de incen-tivo fiscal estão em revisão – suspensos e com orçamento avaliado. Aí estão o Pró-DF, que fomenta o empreendedo-rismo, e o Ideas, um financiamento para a indústria.

Contas apertadas neste ano não são realidade só para o

Distrito Federal. A economia de todo o país passa por tur-bulências, em um momento em que mandatos de governo são renovados e novas metas surgem. Pelo menos no pa-pel, uma nova gestão pressupõe novos olhares e a necessi-dade de mudança. Cortes de gastos, aumento de impostos e regras mais rígidas para financiamentos e subsídios são receitas para melhorar os números, mas as soluções não vêm em curto prazo – e a população pode confundir o re-médio com a doença. De um lado, o governo tentando re-cuperar a confiança da população. Do outro, o setor produ-tivo receoso com a duração dessa fase dura. Resultado: as empresas não querem dar passos em falso, e veem seus in-vestimentos, contratações e projetos minguarem.

“O setor produtivo está atento, está tenso pelo aumento de taxas. Tudo isso vai influenciar naturalmente no orça-mento das pessoas, das famílias”, reclama Adelmir Santana, presidente da Fecomércio. Na mesma linha, o presidente da Fibra, Jamal Jorge Bittar, explica o ciclo vicioso de fal-ta de confiança no setor. “A falta de um ambiente favorá-vel aos negócios desgasta a confiança do empresário e, por consequência, diminui a intenção de investimentos do in-dustrial, estagnando o setor e afetando diretamente a com-petitividade das empresas, a geração de emprego e renda”.

“No Distrito Federal, 2015 vai ser mais complicado ain-da porque aqui o setor privado depende muito do setor pú-blico. Não é como São Paulo ou outras capitais, que têm a economia mais diversificada, com indústrias, agricultura”, explica o professor de Economia Carlos Alberto Ramos, da Universidade de Brasília (UnB).

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Ilustrações: Walter Carlos

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rESUltado

Se a competitividade atual do mercado é fruto de más conjunturas, deve entrar em cena, para as empresas, a mesma resiliência ensinada a seus funcionários. O objeti-vo e a natureza das medidas do governo não vão se modifi-car, e o jeito é encarar o obstáculo de frente.

“A população tende a preferir soluções de curto pra-zo, que não resolvem a questão. Acaba preferindo medidas paliativas, que só adiam as crises, e as tornam mais fortes”, diz Jorge Fernando Valente, professor de Administração da UnB. O setor produtivo não pode se comportar como a população, lembra o professor, já que o ramo tem um retra-to muito mais fiel da situação, e conhece a fundo o merca-do, além de ter ferramentas de gestão.

Valente ressalta a importância da imagem para o pro-cesso de geração de confiança. Em tempos de portabilida-de e internet, as compras online são exemplos de como avaliações negativas de consumidores anteriores impac-tam em novas compras.

“Existem sites de reclamação com mais resultados do que o Procon. Espalha fácil”, afirma o professor, que tam-bém lembra de empresas que mudam constantemente de nome para continuar cobrando caro por produtos de baixa qualidade. Dessa forma, a imagem manchada é facilmente descartada por uma nova, em uma estratégia questionável.

A confiança está atrelada a uma imagem, e a percep-ção dessa imagem faz com que uma relação confiável seja construída pouco a pouco. É possível verificar esse fato de modo claro nas publicidades, na construção de uma mar-ca, de uma imagem institucional. “Não adianta alguém vir e falar: ‘confia em mim”, compara a professora de Admi-nistração da UnB Débora Barem.

E é por meio de vínculos que isso tudo é feito, se-ja qual for o segmento ou o tamanho da organização. A professora Barem conta como a Feira dos Importados conseguiu crescer e se consolidar com base em simples – mas valiosas – relações de confiança.

“No começo, quando a Feira dos Importa-dos só era conhecida como Feira do Paraguai, os consumidores tinham a certeza de que os produtos com algum problema poderiam ser trocados na barraca, sem a necessidade de re-correr ao Procon ou a tribunais de pequenas causas. Isso gerou um ambiente de pouca preo-cupação e muita confiança”.

Por mais que as propagandas tenham cada vez mais plataformas e suportes para ser vei-

culadas, com alcance crescente, deve-se ter em men-te que o atendimento ao cliente ainda é uma peça es-sencial da engrenagem da confiança.

“Nos anos 90, não havia o SAC (Serviço de Atendimen-to ao Consumidor), mas as empresas contratavam pessoas da terceira idade para ouvir os compradores insatisfeitos. Isso porque elas tinham disposição de ouvi-los. O freguês não tem sempre a razão, mas que pelo menos ele seja ouvi-do”, explica a professora.

“Nos Estados Unidos, o setor automobilístico leva mui-to a sério a questão de você perder a confiança em uma marca. Um cliente que troca de montadora custa muito caro, são famílias inteiras com a mesma marca, por gera-ções”, diz. Em um cenário de maré baixa como o atual, ca-da cliente deve ser valorizado. E se uma indicação pesso-al de marca já vem com confiança agregada, o consumidor não esquece quando tem uma experiência ruim – e vai re-produzir o discurso negativo aos mais próximos.

“Pesquisas mostram: quando o indivíduo troca, ele não volta. A tendência é não voltar, o ser humano é assim. Só vai mudar de ideia se na nova empresa ele sentir um des-conforto fora do comum. Mas ele passa a aceitar melhor os erros dessa nova empresa, para não retornar à situação do desagrado anterior”, afirma Barem, que chama a confiança de “ouro em pó no mercado”.

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O filósofo chinês Confúcio, do século VI a.C., dizia que um chefe precisa de três recursos: armas, alimento e con-fiança. O líder que não puder ter esses itens deve livrar-se primeiro das armas. Depois, da comida. Mas deve se ape-gar à confiança em qualquer condição. “Sem confiança, não podemos ficar”, dizia o sábio oriental.

No século XI, cavaleiros ingleses de partida para as Cruzadas deixavam suas propriedades com amigos confi-áveis para guardá-las o tempo que fosse necessário.

Por que no terceiro milênio ainda é penoso acreditar na confiança como um modelo funcional de trabalho em equipe? Apesar da era do armazenamento na nuvem e do mundo na palma da mão pelo celular, a natureza da con-fiança ainda é a mesma: esse estado de espírito pode de-sencadear um ciclo vicioso – desconfiança gera descon-fiança – ou virtuoso – confiança gera confiança.

“Assim como competência é construída por meio de educação e treinamento, confiança é construída quan-do se confia”, dizem os pesquisadores norte-americanos W. E. Douglas e Raymond Miles no livro Trust in organi-zations (Confiança nas organizações, em tradução livre).

“Em um momento desafiador em que o mercado está, precisamos reter funcionários, fazer todos trabalharem pela mesma causa. O mercado atual só vai exigindo mais, fican-do mais competitivo, e vai evidenciar as falhas. Uma pessoa faz uma diferença muito grande”, diz Minervino Neto, di-

retor executivo da consultoria internacional Dale Carnegie.Antes de esperar ter um ambiente de segurança e re-

ciprocidade na empresa, o gestor deve antes fazer a sua parte. “Gestores são os que planejam a forma geral de or-ganização dos empregados – a combinação de estratégia, estrutura e mecanismos internos que abastecem a lógi-ca de funcionamento, alocação de recursos e mecanis-mos de governança da organização”, explicam Douglas e Raymond. Mas não se trata de um sistema de cobranças de via única.

“As regras precisam estar bem claras desde o início. Na entrevista e depois, no contrato. Para cobrar o desem-penho, a empresa precisa primeiro dar o empenho. Mos-trar do que a empresa precisa, o que a empresa espera. A clareza é a sustentação para uma relação de confiança”, explica Rita Brum, diretora da Rhaiz Soluções em Recur-sos Humanos.

Embora no Brasil haja uma relação mais próxima en-tre colegas de trabalho, esta ainda é muito informal e nem sempre é feita de forma adequada – o lado profissional costuma ser esquecido.

“Não é só na reunião que o trabalhador deve ser ouvi-do. Não dá para misturar tarefas com opiniões, sentimen-tos. A cultura brasileira privilegia as relações sociais no trabalho, mas ainda precisamos buscar a melhor forma de ouvir as pessoas”, explica Jaqueline Gomes, psicóloga e

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Tudo pode ter a confiança mensurada – principalmente ações públicas, que são irrigadas com o dinheiro do contribuinte. Às vésperas do aniversário de 55 anos, a capital federal tem opiniões dividas sobre o transporte coletivo.

Bocão, como é conhecido o motoris-ta de ônibus escolar Wilson Augusto da

conselheira do Conselho Regional de Psicologia do Dis-trito Federal.

Quando alguma mudança é necessária na empresa, o conhecimento técnico é sempre demandado. Contudo, no caso da confiança, é preciso saber não somente o que fazer, mas como fazer, e como lidar com a situação.

“A confiança está nas pequenas coisas. Por exem-plo: um funcionário perde muito tempo com retrabalho por falta de confiança. Fica esperando feedback, respos-ta. Do mesmo jeito, a empresa deixa claro para o clien-te quando ela mesma não acredita na solução que ven-de”, afirma Neto.

Pesquisas mostram que os dois fatores que mais favo-recem o engajamento dos funcionários são a confiança no seu chefe direto e a confiança na empresa. É cada vez mais claro que a confiança é, no corpo da empresa, a co-luna vertebral, que dá sustentação para o crescimento de sistemas, tecidos, órgãos.

Da mesma forma, a transição de sistemas de produ-ção de massa – alto esforço braçal e baixa especialização – para os sistemas de produção baseados no capital inte-lectual é fruto da reciprocidade e da importância do tra-balho em equipe, da criatividade e do pensamento fora da caixa. Assim, não há como fugir da valorização de ca-da profissional dentro de um time – mais que um grupo, mais que uma equipe.

Tampouco existe um tamanho mínimo de negócio pa-ra que ele comece a incentivar a confiança, e colha seus

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frutos – funcionários mais saudáveis, engajados, com mais ambição e sinceridade.

“Independentemente do tamanho da empresa, a con-fiança deve ser estimulada. O gestor deve saber como li-dar com seus funcionários, deve pensar em como vai fa-zer algo, em vez de só executar. O fazer é muito mais importante do que o dizer”, explica o diretor da Dale. São essas habilidades que fazem o conhecimento técni-co, sozinho, parecer insuficiente. Caso o gestor identi-fique que há dificuldades no tratamento dos funcioná-rios, ele deve buscar uma capacitação que estimule uma escuta ativa, que envolve entender mas também inter-pretar – e saber encaminhar – a comunicação dos mem-bros da sua empresa.

“É muito claro que os resultados vão vir por meio das pessoas”, conclui Neto. Da mesma forma, Rita Brum res-salta que as empresas estão dando cada vez mais atenção a essas habilidades e ao ciclo de confiança na empresa, especialmente na última década.

“É um momento de muita preocupação, a crise exis-te sim, e é importante que saibamos disso. Mas o empre-endedor enxerga diferente. Onde todos veem a crise, ele vê a oportunidade, ele vê uma saída, encontra uma for-ma de alavancar o negócio. Acreditamos muito nesse olhar, com capacitação, informação e auxílio”, declara Antônio Valdir Oliveira, presidente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Distrito Fe-deral (Sebrae DF).

TRANSPORTE COLETIVO

A CONFIANCASOBRERODAS E TRILHOS

Foto: Wagner Augusto

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Quando foi que o mundo dos negócios deixou de ser um vale-tudo e passou a depender de laços de confian-ça? Na verdade, a crença de uma “selva” de “cada um por si” não tem respaldo organizacional, especialmente quando se avalia o clima da empresa. É uma tática duvi-dosa e sem pernas. Mesmo os teóricos de Administração questionam esse senso comum.

“Não importa quanto competitiva uma indústria pos-sa ser. Ela sempre se baseia em uma fundação de inte-resses compartilhados e acordos mútuos de conduta, e a competição acontece não em uma floresta, mas em uma sociedade em que se serve e se depende. A vida de negócios, ao contrário na mitológica flores-ta, é antes de tudo fundamentalmente cooperativa”, teorizam os pesquisado-res norte-americanos Shelby D. Hunt e Robert M. Morgan em artigo no Journal of Marketing, da Associação Americana de Marketing.

Se a competição só é possível com preocupações mútuas compartilhadas, e se o negócio depende de uma re-

Costa (foto), é candidato a presidente do Sindicato dos Rodoviários do DF, pela chapa 2, cujo slogan é “Novos tempos, novas ideias”.

“O maior desafio é defender o cumprimento da jor-nada de trabalho. Nesse trânsito louco, como motorista e cobrador vão oferecer um serviço de qualidade à po-pulação, se estão cansados e irritados? Seria um bom começo”, explica Bocão.

Para ele, o maior gargalo do sistema de transporte do Distrito Federal não é a estrutura. “Só falta planejamen-to e organização. Redesenhar rotas, horários. É pela fal-ta de planejamento que a população tem péssima con-fiança no transporte coletivo”. Na madrugada de 5 de março, depois de dois dias de eleição no sindicato, Bo-cão vai saber das urnas se ele mesmo poderá ajudar a

de de relações de confiança, uma empresa competitiva deve investir nessa confiança.

Mesmo em um terreno com pouca estima pública nos últimos tempos, como a política, ainda há exemplos de sucesso. O deputado distrital Julio Cesar, do PRB, foi o que angariou mais votos para esta legislatura – em ou-tras palavras, o que mais obteve a confiança dos brasi-lienses nas urnas.

“A média de andança nossa aqui em Brasília era em torno de 270 quilômetros por dia”, conta o ex-secretá-rio de Esportes do Distrito Federal. Para o mandato que

se inicia com duros entraves, especialmente nas relações com o Poder Executivo e o Pacto pe-

lo DF, que pretende peneirar os gastos públicos, Julio Cesar mostra-se afina-do: “Me sinto muito à vontade de gerir

toda a parte administrativa daque-la casa. Com certeza a gente

vai buscar a questão da eco-nomia, onde está sendo gas-to o dinheiro público, e com certeza vamos fazer um ex-

celente papel. E também vou cobrar”, promete.

dirigir uma parte do transporte público. Para o presidente do Metrô do Distrito Federal,

Marcelo Dourado, a situação está nos trilhos, mes-mo não sendo a ideal.

“Falta muito, mas vamos conseguir”, afirma. O presidente cita, como saídas para a crise financei-ra e de confiança, o investimento em meritocra-cia e comunicação para os funcionários do metrô.

“Queremos ser uma empresa de excelência e de referência nacional, com muita austeridade e simplicidade. Estamos trabalhando para isso”.

Logo depois do Carnaval, já haverá editais para expansão da malha ferroviária: estão pre-vistas novas estações em Ceilândia, Samam-baia e Asa Norte.

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ComPortamEnto

Lançar um produto inovador no mercado, um CD independente ou iniciar um projeto social requer, sempre, capital para investi-mento. Nem todos os artistas e empreende-dores, no entanto, possuem esse valor em caixa ou patrocinadores dispostos a finan-ciar a proposta. Para esses criativos, uma opção tem sido cada vez mais viável: apos-

tar no crowdfunding. O nome em inglês significa financia-mento (funding) por intermédio da coletividade (crowd), ou seja, um financiamento coletivo de novas ideias.

A ferramenta é um método alternativo para obtenção de recursos. Funciona da seguinte forma: o criador do pro-jeto inscreve sua ideia em alguma plataforma virtual de crowdfunding. Entre as informações disponibilizadas, ele coloca o valor que precisa para financiar o projeto e o pra-zo limite para arrecadação da quantia. As pessoas acessam o site, conhecem a ideia e decidem se vão contribuir. Se o

valor necessário não é atingido até a da-ta final, o empreendedor não ganha

nada do que foi arrecadado e os investidores recebem o

dinheiro de volta. Mas se a quantia for alcançada,

um percentual do va-lor é destinado à co-missão do site que promoveu o crowd-funding.

O Catarse é a maior comunida-de de financiamen-

to coletivo do pa-ís. Em parceria com

uma empresa de pes-quisa, a plataforma tra-

çou o panorama do crow-

Ferramenta de financiamento coletivo possibilita arrecadação de verbas para que projetos criativos saiam do papel | Taise Borges

Crowdfunding

Mais de R$ 45 mil foram arrecadados para o financiamento da Vela Bikes

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dfunding entre os anos de 2013 e 2014 no Brasil. O estudo apontou que 63% das pessoas que participam do financia-mento coletivo – seja investindo em ideias ou disponibili-zando projetos inovadores – moram na região Sudeste do país. A maioria desse grupo (31%) pertence à faixa etária de 25 a 30 anos e cursou o nível superior de ensino (39%). A renda mensal de 74% dessas pessoas vai de R$ 1500 a R$ 6 mil. Administração e Negócios, Comunicação e Jorna-lismo, Web e Tecnologia são as três áreas em que a maior parte desses artistas e empreendedores atua.

Os investidores que contribuem com a captação coleti-va de recursos são recompensados com brindes equivalen-tes à quantia investida. A maioria dos financiadores, no en-tanto, se restringe a valores baixos, como R$ 10 ou R$ 20 que, na soma, garantem o sucesso dos projetos. Qualquer pessoa, então, pode ser um financiador, mesmo que dis-posta a doar uma pequena quantia. Segundo o estudo, são três os fatores que mais influenciam investidores a finan-ciarem uma ideia: identificação com a causa vem em pri-meiro lugar, seguido pela confiança no realizador e a qua-lidade de apresentação do projeto.

O Cultura Crowdfunding é o único site brasiliense de financiamento coletivo. Gledson Shiva, responsável pelo portal, destaca outro aspecto capaz de motivar os

investidores: “O idealizador do projeto deve saber exa-tamente o que quer para motivar os financiadores a in-vestir. Por isso, a ideia tem que estar em um nível ma-duro de planejamento”. Ao abordar o financiamento de novas empresas, Gledson explica que “nos Estados Uni-dos e outros países economicamente mais desenvolvi-dos, o incentivo ao empreendedorismo e o costume de apoiar novas empresas por meio do crowdfunding são bem maiores que no Brasil.” Nos EUA, a plataforma mais tradicional de financiamento coletivo é o Kickstarter, que promove desde projetos artísticos, a propostas em-preendedoras e tecnológicas.

A pesquisa do Catarse também abordou a participação de empresas no financiamento coletivo: 74% das pessoas valorizam organizações que apoiam projetos disponíveis nas plataformas de crowdfunding. Quanto aos financiado-res, 52% preferem investir em projetos artísticos e cultu-rais independentes, enquanto 41% dão prioridade aos so-ciais e ambientais, capazes de fortalecer comunidades de forma responsável. Entre esses investidores, 24% ainda preferem a criação de novas empresas e produtos. O es-tudo também indicou que faltam projetos bem estrutura-dos nas áreas de educação e mobilidade urbana – temas de interesse dos investidores.

O projeto Re-Ação incentiva que frutas e hortaliças sejam cultivadas pelos moradores da 206 Norte

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ComPortamEntoComPortamEnto

Foi nesse cenário de apoio em potencial e carência de projetos que propõem alternativas ao transporte nas gran-des cidades que o engenheiro mecânico brasiliense Victor Hugo Cavalheiro Cruz desenvolveu uma bicicleta elétrica repleta de diferenciais e adaptada ao trânsito brasileiro: a Vela Bikes. O projeto ficou disponível para financiamento durante 35 dias. Ao longo do prazo, mais de R$ 45 mil fo-ram arrecadados – verba utilizada para montagem de uma oficina e aquisição de equipamentos necessários à produ-ção das bicicletas em larga escala.

Disponibilizar o projeto para financiamento coletivo também serviu para que Victor mensurasse o interesse do público pela bicicleta elétrica: durante o crowdfunding, de-zenas foram pré-vendidas, o que também contribuiu para viabilizar a ideia. “Não esperávamos tantas reservas. Pude-mos garantir a compra das peças por preços melhores e, as-

Projetos bem-sucedidossim, reduzir o custo final do produto”, explica Victor. A par-ceria com amigos que lançaram, recentemente, marcas de carteiras e camisetas permitiu que os produtos fossem uti-lizados como recompensas e motivassem ainda mais inves-timentos na Vela Bikes.

Victor acredita que a divulgação do projeto – desde a produção do vídeo para o site até a comunicação boca a boca – foi decisiva para que o financiamento alcançasse a meta desejada. O engenheiro apresentou a criação em fei-ras, parques, na porta de faculdades e contou com a aju-da de blogs de tecnologia, que deram mais credibilidade ao projeto. “Apesar da contribuição de familiares e amigos, mais da metade do investimento foi de pessoas desconhe-cidas, que viviam em cidades de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e até Amazonas”, comemora o empreendedor.

A divulgação também era o foco dos criadores do Ca-

Integrante do projeto Re-Ação trança rede de barbantes para sustentar pés de maracujá

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fé Suspenso, que precisavam de um financiamento de, pe-lo menos, R$ 3 mil. O projeto desenvolvido por alunos da Universidade de Brasília (UnB) propunha que as pessoas praticassem o bem doando um café. A ideia era que, ao to-mar uma dose da bebida, o estudante pagasse por duas. A lanchonete teria um café pago a mais – um café suspenso – que qualquer pessoa poderia pegar. Para os alunos com dinheiro contado para o ônibus ou para as cópias de tex-tos, o café gratuito seria a solução para acabar com o sono matinal que atrapalha o rendimento dentro da sala de aula.

O projeto foi financiado e implantado na universidade em outubro de 2014. Os recursos arrecadados foram inves-tidos na impressão de cartazes e folders para divulgação da campanha na UnB. “Até o último dia do prazo, estávamos um pouco distantes da meta. Foi nos instantes finais que conseguimos o dinheiro necessário para o financiamento”, lembra Renan Xavier, coordenador de comunicação digi-tal do projeto. O sucesso do Café Suspenso motiva o dese-jo dos organizadores por expandi-lo, mesmo que, para isso, seja necessário lançar mão do crowdfunding novamente. “Ficamos surpresos e muito felizes com a repercussão do projeto. Por isso, pretendemos estendê-lo para o resto da cidade e, se for preciso, disponibilizá-lo para um novo fi-nanciamento coletivo”, complementa Renan.

A tendência dos apoiadores em investir em projetos de cunho socioambiental também beneficiou os criadores do Re-Ação: eles pretendiam reunir a comunidade da quadra 206 norte e construir, de forma participativa, um espaço modelo de agricultura urbana sustentável, passível de re-plicação em outras localidades. O projeto previa a criação de um jardim comunitário com central de compostagem de resíduos orgânicos, hortas e canteiros e um sistema que combinasse cultivos agrícolas e espécies arbóreas, frutífe-ras e madeireiras. Além disso, propunha a realização de um curso de Agroecologia para a comunidade e oficinas sobre educação ambiental para crianças.

O projeto foi financiado há dois meses, quando os R$ 15.500 necessários foram arrecadados. Parcela importante do investimento veio dos moradores da 206 norte, cujas vi-das seriam impactadas pelo projeto. “Acreditávamos no al-cance da meta mas, para atingi-la, era preciso recolher cer-ca de R$ 250 diariamente. Em alguns dias, a arrecadação era menor, o que nos deixava apreensivos”, lembra Diego Paz, morador da quadra e membro da equipe de idealizado-res do Re-Ação. O projeto já está sendo implantado: foram feitos mutirões para plantio das hortas, manejo e colheita. Hoje, além da liberdade para escolher as mudas que plan-tam, os moradores da quadra conseguem conviver harmo-nicamente com a natureza.

A dificuldade de acesso a financiamentos tradicionais e o aumento do número de investidores dispostos a tirar projetos do papel têm motivado o crescimento do crow-dfunding no país. Vários sites já foram criados para facili-tar o acesso de artistas e empreendedores à ferramenta. Os portais também têm se especializado: alguns privilegiam projetos artísticos, outros, socioambientais. Há sites, ainda, que promovem exclusivamente o financiamento de novas empresas e produtos.

Proteção animal Bicharia – www.bicharia.com.br

Turismo sustentável Garupa – www.garupa.juntos.com.vc

Projetos socioambientais Juntos – www.juntos.com.vc

Empreendedorismo Impulso – www.impulso.org.br

Esporte Salve Esporte – www.salvesport.com

Música Queremos – www.queremos.com.br Embolacha – www.embolacha.com.br Traga seu show – www.tragaseushow.com.br

Variedades Benfeitoria – www.benfeitoria.com Catarse – www.catarse.me Ideame – www.idea.me Sibite – www.sibite.com.br Kickante – www.kickante.com.br Kolmea – www.kolmea.me Partio – www.partio.com.br

Sites brasileiros de crowdfunding

“O idealizador do projeto deve saber exatamente o que quer para motivar os financiadores a investir” Gledson Shiva

Café Suspenso: pague dois e ofereça um deles de cortesia

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GEntE qUE faz

Das salas de aula para o TEDx

O despertar pela educação

Vencedora do Prêmio Nacional de Educação em Direitos Humanos de 2014, Gina Ponte ultrapassou barreiras econômicas e sociais para gerar uma experiência transformadora na vida dos alunos

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Um único evento promete transformar Brasília. Por meio de uma experiên-cia inovadora, o TEDx chega à capi-tal trazendo palestrantes inspiradores do Distrito Federal e Brasil. O TED é uma iniciativa anual que reúne líde-res mundiais e pessoas de ação para espalhar ideias que gerem mudanças.

No espírito de compartilhar essa proposta, o TED criou o TEDx, uma variante local, organizada por grupos independentes.

Para proporcionar um momento de crescimento similar ao TED, os palestrantes são minuciosamen-te escolhidos e têm, no máximo, 18 minutos para exporem suas ideias. A responsabilidade de repre-sentar o evento e gerar essas mudanças é gran-de. Gina Ponte está entre os palestrantes selecio-nados. A professora venceu o Prêmio Nacional de Educação em Direitos Humanos em 2014 e ultra-passou barreiras econômicas e sociais para gerar uma experiência transformadora na vida dos alu-nos. Conheça sua história.

Das salas de aula para o TEDx | Carolyna Paiva

Foto: Wagner Augusto

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GEntE qUE faz

A trajetória da professora Gina Ponte come-ça com a história de Brasília. A mãe mineira e o pai cearense se encontraram na capital em busca de melhores condições de vida. Apesar da dificuldade financeira e da falta de estudo, eles tinham uma característica curiosa: acreditavam no poder da educação. Na infância, Gina costumava ver as amigas

seguindo a carreira das mães, principalmente, como em-pregadas domésticas. As regras da sua casa, no entanto, eram diferentes. Embora as roupas fossem de segunda mão e houvesse só três refeições ao dia, a mãe enfatizava valer a pena privar-se de algo pensando no futuro.

Aos oito anos, Gina teve sua primeira motivação para lecionar. Como criança negra e pobre, observava que os professores eram indiferentes em relação a ela. Entretan-to, a surpresa veio quando uma educadora teve a sensibi-lidade de percebê-la. “Eu já estava tão acostumada a rece-ber xingamentos que eu não esperava afetos. Ela me deu um sonho para sonhar. Acreditou que eu poderia apren-der e vibrava com cada pequena vitória”. A partir disso, Gina passou a ver a educação como o meio de ter suces-so e também decidiu: seria para as outras pessoas como a instrutora foi com ela.

Os próximos anos serviram para intensificar o sen-timento. Alfabetizou os irmãos mais novos e a princi-pal diversão era “brincar” de dar aula. Mais uma vez di-

O despertar pelaeducação

ferenciando-se do meio em que vivia, Gina terminou o segundo grau com 17 anos. Aos 18, fez o concurso da Se-cretaria de Educação e, no ano seguinte, já estava dentro da sala de aula. “A educação pra mim sempre teve conota-ção de transformação. Nunca vi como meio exclusivo de inserção para o mercado de trabalho, mas sim de forma-ção humanística e de cidadania” enfatiza.

Após 24 anos de carreira, a professora sofreu um de-sencanto com a profissão, mas não se acomodou e fez vá-rios cursos oferecidos pelo MEC para se ressignificar. Logo compreendeu que a insatisfação ocorria porque ela insis-tia em um modelo educacional incompatível com a juven-tude atual e que a escola tornou-se um espaço desagradá-vel e desinteressante para os alunos.

Para se inserir à realidade dos estudantes, Gina criou um Facebook com foco pedagógico e, a partir dele, teve o insight para a solução desse problema. Na plataforma, a educadora se deparou com o vídeo de uma aluna dan-çando de forma sensual. Para sua surpresa, as várias cur-tidas e os comentários, mesmo ofensivos, eram valoriza-dos pela estudante. Gina, então, percebeu que diversas meninas tinham a mesma postura como forma de repro-duzir o modelo feminino celebrado pelas grandes mí-dias e concluiu que “se elas estão buscando inspiração, vou oferecer outras mulheres como referência”. O próxi-mo passo foi desenvolver um projeto que levou o nome da ideia: Mulheres Inspiradoras.

“Um aluno, um professor, um livro e uma caneta podem mudar o mundo.”Malala Yousafzai, jovem paquistanesa atacada pelo Taliban, movimento fundamentalista islâmico nacionalista, foi foco dos estudos no projeto Mulheres Inspiradoras.

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Dez personagens femininas foram selecionadas, des-de figuras anônimas até pessoas premiadas. Ainda traba-lharam-se personalidades da mesma idade dos estudantes, como Anne Frank e Malala Yousafzai. A princípio, os alu-nos estudavam as biografias e eram incentivados pelo pro-cesso de leitura e produção de texto autoral. “Descobri que o novo modelo educacional tem que evidenciar o protago-nismo do aluno, tirar o foco do ensino e colocar na apren-dizagem.” No entanto, ainda faltava fortalecer a identifica-ção com pessoas próximas aos estudantes.

“Percebi que o trabalho de ressignificação ia do macro ao micro. Então, vi que tinha chegado a ho-ra deles encontrarem mulheres inspiradoras do con-vívio diário por meio de entrevistas.” Encantada com o resultado, Gina observou o sustentáculo da mulher no núcleo familiar. “Em função do modelo de escola em que todos são massificados, a gente não percebe a particularidade dos alunos”. declara a educadora que, após o projeto, viu a aproximação de pais e filhos, me-lhor rendimento dos discentes e maior conscientiza-ção nas mídias sociais.

Gina também declara que “o fato de eu ter sido parte desta comunidade me dá melhores condições para com-preender a realidade dos meninos. Assim como eu pre-cisava da educação para mudar minha história, essa é a ferramenta para transformar a deles.” Ao final do ano de 2014, o projeto Mulheres Inspiradoras foi classificado em primeiro lugar na quarta edição do Prêmio Nacional de Educação em Direitos Humanos e vencedor no Prêmio Professores do Brasil na categoria de Melhor Experiência Pedagógica Do Centro-Oeste.

O sentimento de realização é grande por perceber que vale a pena fazer um trabalho sério nas escolas públicas. Para este ano, a temática central do projeto tende a ser sobre sexualidade, em decorrência das dúvidas entre os adolescentes. Gina se define como alguém que superou até as próprias expectativas. “Minha mãe dizia que eu so-freria preconceito e racismo, mas que eu tinha que lutar para estar exatamente no lugar onde dissessem que eu não cabia”, afirma ao entender que o sentido da vida é ser parte de outras vidas.

“A gente não faz ideia de como mudou até que a mudança já tenha acontecido.”O Diário de Anne Frank promoveu identificação entre os alunos participantes do projeto por causa dos conflitos familiares e amorosos enfrentados pela jovem.

Entenda o projetoO projeto Mulheres Inspiradoras foi realizado com

alunos dos 9º anos no Centro de Ensino Fundamen-tal 12 de Ceilândia. A tentativa era construir uma práti-ca pedagógica diferente do modelo tradicional que, em vez de utilizar cópias do quadro e do livro didático, privi-legiasse a leitura e a produção de texto.

O projeto surgiu quando a professora Gine Ponte percebeu a constante prática de cyberbullying por jo-vens nas mídias sociais e consistiu no estudo da biogra-fia de 10 mulheres que contribuíram para o crescimen-to do Brasil e da humanidade. Essa prática ocorreu por meio de pesquisas e debates em grupos, com o objetivo de apresentar novos referenciais femininos aos alunos. Ainda, por meio de entrevistas, os estudantes conhece-ram histórias de mulheres de expressão na comunidade em que a escola está inserida.

A fim de ampliar a competência dos adolescentes quanto à oralidade, à leitura, à interpretação e à produ-ção de textos, foram escolhidas seis obras literárias, pa-ra serem lidas ao longo do ano letivo: O Diário de Anne Frank, Eu sou Malala e Quarto de Despejo - Diário de uma favelada. Os alunos ainda leram três livros de Cris-tiane Sobral, escritora de Brasília: Não vou mais lavar os pratos, Só por hoje vou deixar o meu cabelo em paz e Espelhos, Miradouros, Dialéticas da Percepção.

Como parte do projeto, foi realizado um estudo de casos, envolvendo situações similares às identificadas no uso das redes sociais. Os debates refletiram sobre as implicações dos usos da tecnologia e de como se prote-ger ao utilizar tais ferramentas.

Na conclusão do curso, os estudantes foram con-vidados a produzir um texto autoral contando a histó-ria de vida de uma mulher inspiradora de seu círcu-lo social, em que a maioria aproveitou para conhecer melhor a história de suas mães, avós, bisavós, líderes de igrejas e professoras.

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Sem luz, não existiria vida na Terra. Ela possibilita a comunicação in-ternacional por meio da internet, revoluciona a medicina e continua a ser um elo imprescindível entre aspectos culturais, econômicos e políticos da sociedade. Por isso, em 2013, a Assembleia Geral das Na-ções Unidas (ONU) e a Organização das Nações Unidas para a Educa-ção, a Ciência e a Cultura (Unesco) declararam 2015 o Ano Interna-cional da Luz e das Tecnologias baseadas em Luz.

O propósito da declaração é destacar a importância da luz e das tecnologias ópticas para a vida dos cidadãos e o futuro e desenvolvimento da sociedade. Em termos científicos, “luz” abrange toda a gama de radiações ele-tromagnéticas, desde as ondas muito longas (ondas rádio) até às mais energéti-cas, correspondentes a frequências elevadas (como raios X e gama). Toda essa “luz” será abordada no programa, com inúmeras atividades ao redor do planeta.

O problema é que a homenageada está em crise. Os apagões orquestrados afe-tam milhões de brasileiros e ocorrem em um momento de baixo nível dos reser-vatórios das usinas hidrelétricas. Chuvas escassas e forte calor podem justificar o fenômeno. Ao mesmo tempo em que nos aliviam o calor, aparelhos como ar-con-dicionado e ventilador também despontam como vilões.

Não é à toa que os cortes de energia elétrica ocorrem entre duas e quatro da tarde, horário de alto consumo energético. A grande quantidade de apa-relhos plugados na tomada só aumenta a preocupação dos governantes com relação ao fornecimento de energia. A solução, no entanto, pode estar em nossa fonte primária de calor: o sol.

tECnoloGia

Ano Internacionalda (falta de) LuzCom incontestável crise no setor energético, empreendedores brasilienses enxergam na luz do sol uma oportunidade de gerar energia de forma sustentável | Bianca Marinho

Fotovoltaica: Limpa,

abundante e democrática

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Toneladas de energia chegam à Terra diaria-mente de forma gratuita. Se bem aproveitados, os raios solares, além de fornecerem luz e ca-lor, podem gerar eletricidade. Esse é o princípio da energia fotovoltaica. O termo é sugestivo: fo-to tem raiz na língua grega e significa “luz”; vol-taica vem de ‘volt’, que é a unidade para medir o potencial elétrico. A tecnologia prova que é pos-sível a casa de uma família comum gerar, de ma-neira sustentável, boa parte da energia que os moradores necessitam.

Ao atingir as células solares das placas, os fó-tons da luz excitam os elétrons, o que gera ele-tricidade. Portanto, quanto maior a intensidade do sol, maior o fluxo de energia. Além de ter sua própria fonte energética, o consumidor pode fornecer o excedente para a rede de distribuição local. Diferente da forma convencional e centra-lizada de geração de energia, a fotovoltaica não necessita de linhas de transmissão e distribui-ção para que o consumidor final tenha acesso à energia, uma vez que ele é abastecido por fontes menores instaladas nas imediações.

O professor de Engenharia Elétrica da Uni-versidade de Brasília Rafael Shayani aponta al-gumas vantagens da energia fotovoltaica. “É

uma energia limpa, que gera eletricidade apenas com a luz do sol. Não faz barulho, não polui e é bem distribuída geograficamente, o que a torna democrática. O material que compõe as placas é o silício, segundo componente mais abundante da Terra”, explica. O professor ressalta as dife-renças entre o coletor solar e o painel fotovoltai-co: “O coletor serve para o aquecimento da água em residências, enquanto o painel possibilita um processo eletrônico, pois a luz do sol é res-ponsável por fornecer a energia para a célula”.

O maior sistema fotovoltaico de Brasília es-tá no telhado da embaixada italiana – um prédio grande, em que há alto consumo. As 400 placas instaladas têm, juntas, potência para geração de 50 quilowatts. No Brasil, a Resolução Normati-va nº 482/2012 da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) regulamenta a micro e mini geração de energia, o que significa que proprie-tários de residências, comércio e indústria po-dem produzir a própria eletricidade.

Ao instalar um sistema fotovoltaico, é possí-vel medir quanto da energia gerada pelos pai-néis foi consumida e quanto foi injetada na rede local. A eletricidade excedente é transforma-da em “crédito” para o consumidor e, posterior-

Os empreendedores Carlos e Rafael viram na parceria uma oportunidade de criar uma empresa e investir em um mercado em ascensão

Foto: Raphael Frias

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Oportunidade de empreenderO engenheiro eletricista Mateus

De Sordi tem 26 anos e viu, no merca-do da energia fotovoltaica, uma opor-tunidade para abrir a própria empresa. Durante a graduação, Mateus fez um intercâmbio para Portugal, onde en-

trou em contato com a tecnologia, e voltou para o Brasil cheio de

ideias. A partir daí, inves-tiu em cursos e congres-sos na área e procurou

se capacitar em gestão. Hoje, Mateus é sócio-diretor da

Smartly, empresa de instalação de sis-temas fotovoltaicos que, além de pro-jetos residenciais, foi responsável pelo sistema instalado no Tribunal de Con-tas do DF. Ele acredita que 2015 se-rá um ano propício para a expansão da energia fotovoltaica. “O aumen-to da tarifa de energia elétrica incen-tivará a implantação desses sistemas.

mente, seu valor é abatido no cálculo do consumo total. Durante o dia, o sistema gera o crédito e, à noite, o consumidor gasta a ener-gia da companhia elétrica sem gerar eletricidade própria. No final do mês, o resultado chega com conta de luz: quanto foi consumido me-nos o que foi injetado. O consumidor tem até 36 meses para gastar o crédito.

A conta de energia, contudo, não vai zerar. A companhia energéti-ca cobra uma taxa mínima para que o consumidor esteja ligado à re-de. No entanto, se duas contas estiverem cadastradas com o mesmo CPF, é possível gerar crédito em uma e abater na outra. Se, por exem-plo, um comerciante tem uma casa e um galpão com placas fotovol-taicas instaladas e gerar mais crédito, no galpão, do que consome, ele pode ter o valor abatido na conta de luz da casa, se as duas estiverem registradas no mesmo CPF.

O juiz Carlos Augusto Nobre instalou um sistema fotovoltaico em casa em dezembro de 2014 e está satisfeito com o resultado. “O que me motivou a instalar foi a promessa de redução do valor cobrado na conta de luz. Em casa, o sistema é absolutamente silencioso, desliga à noite e religa no primeiro raio de sol”, conta. Se os benefícios da tec-nologia são evidentes, por que seu aproveitamento ainda é tão limi-tado no Brasil? Um dos fatores é o custo elevado. Todas as peças têm alta durabilidade e são feitas com materiais caros.

A falta de financiamento também é um obstáculo para os inves-tidores e o governo ainda não oferece incentivo para fornecedores e consumidores. Nos Estados Unidos, por exemplo, o consumidor tem desconto na compra do equipamento. Na Alemanha, além de a eletri-cidade gerada em casa não precisar ser consumida, o governo incen-tiva a população a injetar a energia na rede.

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tECnoloGia

Com 26 anos, o engenheiro Mateus é sócio-diretor de uma empresa de instalação de sistemas fotovol-taicos e está se capacitando em gestão empresarial

Além disso, os painéis du-ram, pelo menos, 25 anos e são recicláveis. O retorno

Foto: Raphael Frias

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A Câmara de Comércio Brasil-Portugal - associação ci-vil, sem fins lucrativos, constituída por líderes do setor pro-dutivo do Distrito Federal - tem se interessado pelo tema há cinco anos e indicou a indústria Soliker Brasil para se instalar em Luziânia.

A empresa deve inaugurar uma unidade industrial em Goiás até o final de 2015 e começar a produzir painéis fo-tovoltaicos no início de 2017. Será a primeira a fabricar, no Brasil, o filme fino, um painel que pode ser colocado na ja-nela. No futuro, as fachadas de vidro também poderão ge-rar energia. A Soliker, cuja sede brasileira está em São Pau-lo, é formada por uma holding internacional.

De acordo com o presidente da Câmara de Comércio Brasil-Portugal, Fernando Brites, a grande vantagem dessa empresa em Luziânia é que ela vai dominar toda a cadeia produtiva dos painéis de energia fotovoltaica, ou seja, todas as etapas do processo serão realizadas em solo brasileiro.

Muito silício extraído em Cristalina é exportado para a China e para a Alemanha, onde é transformado em fotocé-lulas. Depois, o Brasil as importa, deixando o valor agrega-do lá. “O que pagamos hoje para outros países, vamos pagar para o município de Luziânia, para os profissionais que vão trabalhar nessa empresa e produzirão, pela primeira vez no Brasil, a fotocélula a partir da matéria-prima brasileira”, ex-plica o presidente.

Brites destaca a importância de iniciativas que promo-vam o uso sustentável de energia. “Desde o momento em que acordamos até o momento em que vamos dormir, es-tamos consumindo energia. Sem ela, a atividade humana

econômico e ecológico torna viável a instalação”, explica.Carlos Tiusso e Rafael Sousa são sócios da Voltai-

ca - Energia Solar. Acreditando no potencial do mer-cado de energia fotovoltaica de Brasília, Carlos deixou o cargo público que ocupava há mais de 15 anos para, no final de 2012, abrir a empresa. Pouco depois, Rafael também deixou o emprego para se juntar ao sonho de desenvolver a Voltaica. Para Rafael, engenheiro eletri-cista, a energia fotovoltaica contribui no combater aos apagões: “Com a crise energética, o governo começa a adotar práticas de incentivo a essa tecnologia. Além de não ocupar grandes áreas, como as hidrelétricas, ela gera energia localmente e diminui as perdas em trans-missão e distribuição”.

A casa de Carlos Tiusso foi a primeira, em Brasília, a ter um sistema de placas fotovoltaicas instaladas no te-lhado. Segundo ele, a decisão de empreender foi moti-vada pela carência brasileira no setor elétrico e pela ci-dade estar localizada em um cinturão de luminosidade comparável ao Saara, com grande potencial energético desperdiçado. De acordo com Carlos, a energia fotovol-taica é uma tendência por conta do aumento tarifário da eletricidade. “Em um cenário no qual teremos uma valo-rização da tarifa superior a 40%, o retorno desse investi-mento ocorrerá entre cinco e sete anos. A vida útil des-ses módulos é de mais de 30 anos e só a garantia deles é de 25 anos. O cliente terá mais de 20 anos de utilização gratuita de energia.”

Investimentos na área

O presidente da Câmara de Comércio Brasil-Portugal ressaltaa importância dos investimentos em energia fotovoltaica

não existiria nas condições que conhecemos hoje. Basta dizer isso para reconhecer a importância dos investimen-tos na tecnologia fotovoltaica”, declara.

Foto: Wagner Augusto

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Além de ir, diretamente, do campo para a mesa dos adep-tos de alimentos saudáveis, o cultivo de produtos orgânicos abastece programas de políticas públicas do Governo do Dis-trito Federal (GDF). Para atender a essa demanda cada vez maior, produtores se reúnem em pequenos grupos. A vanta-gem é que o consumidor tem mais variedade de produtos e cada produtor não precisa “plantar de tudo” para atender os clientes.

A produção de orgânicos requer cuidados específicos, co-mo o controle de pragas sem uso de agrotóxicos. Além de custos mais elevados, o desafio é lidar com o tempo maior de produção. Para solucionar essa questão, vi-zinhos de chácaras no Núcleo Rural Capo-eira do Bálsamo, no Lago Norte, os empreendedores rurais Nivardo Galo, Cláudio Farias, Manoel Rosa e Eber Diniz formaram uma associação de produtores rurais de produtos orgânicos. Juntos, produzem cerca de quarenta ti-pos de alimentos or-gânicos, cultivados nas 25 chácaras asso-ciadas. Todos são devi-damente certificados pe-lo Sistema Participativo OPAC-Cerrado.

“O negócio começou por acaso ao atendermos uma ne-cessidade individual. Primeiro, a gente plantava para consumo pró-prio e, depois, começamos a doar pa-ra os amigos no trabalho. Agora, já temos uma associação de produtores de alimentos

Grupo se reúne para atender o crescente mercado de orgânicos e cria associação de produtores| Oda Paula Fernandes

Cresce o cultivo de orgânicos no DF

orgânicos, a Pró-Orgânicos”, revela Eber Diniz, agrônomo e presidente da associação.

O nascimento da Pró-Orgânicos é um reflexo do poten-cial do mercado de alimentos orgânicos no DF. A Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento e Desenvolvimen-to Rural do DF (Seagri-DF) tem investido em equipamentos e corpo técnico para atender mais associações cadastradas. Só em 2014, foram mais de duas mil propriedades atendidas por meio de 16 associações rurais com assistência técnica, refor-

EmPrESa VErdE

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TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS Ed. 34 fevereiro de 2015 :: 53

ma de estradas e maquinário.As compras institucionais feitas pelo GDF, de produtos

cultivados e comercializados por agricultores rurais, em es-pecial da agricultura familiar e de orgânicos, são para abas-tecer programas sociais que atendem pessoas socialmente vulneráveis. O Banco de Alimentos, na Central de Abasteci-mento do Distrito Federal (Ceasa), recebe, processa e distri-bui alimentos de iniciativas como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), do Governo Federal; o Desperdício Ze-ro e o Programa de Aquisição da Produção da Agricultura do Distrito Federal (Papa-DF).

Os alimentos adquiridos pela Ceasa para esses programas são produzidos por agricultores da agricultura familiar e a maioria são orgânicos. Porém, nem todo agricultor consegue fazer parte desses programas como fornecedor, e busca ou-tros caminhos para vender o que produz na roça. As feirinhas, já popularizadas no DF, são uma alternativa viável e confiável. A Pró-Orgânicos é um exemplo de associação que tem pon-to de vendas nas feiras.

E o que esses amigos têm em comum, além do fato de que cada um começou o negócio de modo espontâneo? Por mês, a renda financeira adquirida com os orgânicos atinge R$ 6 mil. Os funcionários contratados – para trabalho tanto no campo quanto nas feiras – conseguem renda de até R$ 2 mil. “A associação está pronta para receber produtores. Cultivar produtos orgânicos não é só plantar sem agrotóxicos, é um estilo de vida e cultivo responsável. É preciso usar de forma

adequada os recursos naturais, que são o solo, a água, e há a preocupação com inclusão social”, completa Diniz.

Tão importante quanto a certificação é a fis-calização sistemática dos produtores que se

declaram orgânicos, porque ela permite que o consumidor possa identificar e con-fiar que consome um produto natural, li-

vre de agrotóxicos. “Se as pessoas sou-

bessem da quantidade de veneno que é usado para cultivar um alimento no modo convencional, e que faz muito mal à saúde, só comeria orgânicos”, declara a nutricionista Lucia-ne Seide.

A nutricionista, assim como os agricultores, fazem um apelo à população para fiscalizar os produtos disponíveis pa-ra venda. “Pense na saúde a longo prazo. Consumir alimentos naturais diminui os riscos de doenças como câncer. É cienti-ficamente comprovado que muitos (cânceres) são provocados pelos agrotóxicos”, lamenta Luciane.

O presidente da associação conta que, quando consegui-ram a certificação dos orgânicos, em 2012, outros agricultores de orgânicos passaram a fazer parte do grupo que começou com seis e hoje já conta com 25 membros. Assim, eles otimi-zaram a variedade de alimentos, cerca de 40 itens, e a quan-tidade de pontos de vendas espalhados pelo DF: Lago Norte, Sobradinho, Lago Sul, Paranoá e Plano Piloto. A expectativa do grupo é atender mais regiões do DF.

“Aqui no grupo, um fiscaliza o outro, um ajuda o outro em tudo, até no investimento das instalações coletivas que têm investimento apenas do grupo. Individualmente, nós não te-ríamos como comprar máquinas para o mini beneficiamento da produção, mas juntos temos muita variedade. Em média, cada um chega a plantar três tipos de produção nas proprie-dades e conseguimos atender bem o mercado”, comemora o produtor de orgânicos Nivardo Galo.

O diferencial na prestação de serviços desses empreen-dedores rurais é o atendimento. Há clientes que são atendi-dos de forma exclusiva, na porta de casa, com cestas elabo-radas que variam de R$ 50 a R$120, com direito, até mesmo, a galinha caipira.

Cada produto é selecionado e as cestas são entregues sábado e segunda-feira. No entanto, para quem não conse-gue consumir todos os produtos e prefere ir ao mercado, o grupo disponibiliza os orgânicos na Comercial Reis do La-go Norte, uma parceria que, segundo eles, vai alavancar as vendas. “Abrir as portas para os produtos naturais é fazer a nossa parte como empresário preocupado com o bem-es-tar do planeta e atender bem os nossos clientes com ali-mentos produzidos de forma sustentável. É nossa parcela de contribuição para a sociedade”, afirma o proprietário da Comercial Reis, José Reis.

“A ideia do dia de hoje foi conhecermos os beneficiá-rios dos programas de compras institucionais de alimentos, assim como as demandas apresentadas por eles”, explica o secretário Leal. Sobre o Cesta Verde, o titular da Agricul-tura, Abastecimento e Desenvolvimento Rural, lembrou a determinação do governador Rodrigo Rollemberg de dar continuidade a programas que já mostraram dar certo. Le-al ressalta ainda a importância de ampliar o volume de ven-das para o próprio governo. “Muitas secretarias e órgãos públicos já compram alimentos, têm essa necessidade; en-tão, que comprem da Agricultura, beneficiando os produ-tores do Distrito Federal”.

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54 :: TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS - Ed. 34 fevereiro 2015

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TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS Ed. 34 fevereiro de 2015 :: 55

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Compra de imóveis para aluguel é boa opção de InVE$TIMEnTOMesmo em período de crise, a locação ainda assegura lucro e é uma oportunidade para construir patrimônio pessoal | Gustavo Lúcio

xxxxxxxxxxFoto:Alisson Carvalho

mErCado imobiliário

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TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS Ed. 34 fevereiro de 2015 :: 57

Hermes Alcântara, presidente do CRECI-DF

O perfil de quem aluga imóveis na capital federal é indefinido. Mas, a maio-ria das pessoas que vem à cidade e optam pela loca-ção de moradias são fun-cionários públicos trans-feridos de outros estados, novos casais e até mesmo brasilienses que buscam moradias mais próximas ao trabalho. Mas, antes de alugar são necessários al-guns cuidados: “A dica mais importante é contra-tar um Corretor de Imóveis para auxiliar na procura e na escolha do melhor in-vestimento. Além disso, o

Há muito tempo, o mercado imobiliário brasilei-ro vem chamando a atenção dos investidores. Há quem considere que comprar imóveis pa-ra alugar a terceiros é um ótimo investimen-to e bem mais lucrativo do que, por exemplo, aplicar no fundo de renda fixa ou na bolsa de valores. Isso porque a taxa referente ao Siste-ma Especial de Liquidação e de Custódia (Se-

lic) tem caindo anualmente, e muitos investimentos passa-ram a ter mais riscos e menos rentabilidade. Isso faz com que os dividendos mensais de locação dos imóveis, mesmo sendo emprego conservador, resultem em mais lucros ao vi-sionário a longo prazo. Especialistas apontam que mesmo com a grande oferta de imóveis, investir em locação ainda é uma boa ideia. A opção oferece retornos mensais de até 1% do valor do imóvel. Além disso, é uma ótima oportunidade para construir o patrimônio pessoal e investir seguramente em algo lucrativo.

“Aluguel sempre foi uma excelente moeda de investimen-to, além de não perecer ou desvalorizar como outros investi-mentos, ainda possui uma valorização anual. Dependendo da região, a valorização consegue ser superior a investimentos bancários”, destacou o empresário e professor de Administra-ção de Carteira de Locação, Hélio Caetano.

No Brasil, de uma forma geral, as facilidades encontradas na liberação de crédito imobiliário, em instituições bancárias e construtoras, têm viabilizado a oferta de imóveis, atraindo a atenção dos empreendedo-res interessados em diversifi-car a carteira de investimen-tos, em especial a carteira de locação. Para Hemes Alcân-tara, presidente do Conselho

Regional de Corretores de Imóveis do Distrito Federal, Creci-DF, mesmo com os preços estagnados, a transação imobiliária beneficia tanto os proprietários quando os locatários: “Apesar do índice oficial de reajuste dos valores dos aluguéis, o IGP-M, ter ficado abaixo da inflação no acumulado do ano, em torno de 3,98%, segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), a locação de imóveis é uma excelente oportunidade de investimento para o morador, que tecnicamente está pagando mais barato para alu-gar um imóvel. E para o Distrito Federal não é diferente”, disse.

Segundo o Boletim da Conjuntura Imobiliária realizado pelo Sindicato da Habitação do DF, Secovi, em parceria com a Universidade de Brasília, UnB, de 49.705 imóveis dispo-níveis para comercialização no Distrito Federal, 12.383 são destinados à locação, ou seja, aproximadamente 25% do to-tal. Segundo Hélio Caetano, a variedade de imóveis disponí-veis no mercado é o que dita os valores de comercialização. “Existem momentos em que acontecem muitos lançamen-tos de determinado produto, que acabam abalando o preço. Por exemplo, quando existe muita entrega de quitinetes em determinado bairro, isso faz com que o preço diminua, devi-do à grande oferta”.

O professor acrescentou também que a quantida-de de habitações desocupadas é reflexo da economia e os imóveis comerciais são os que mais sentem o pe-so da instabilidade econômica: “É comum observar que quando a economia está em crise, a quantidade de imó-veis comerciais desocupados aumenta. Segundo ele, um

exemplo claro disso são as avenidas W3 Norte e Sul localizadas no centro da capital federal”, afirmou.

Corretor de Imóveis é um profissional preparado pa-ra elaborar contratos de ne-gociação imobiliária corre-tamente, de acordo com a Lei, evitando, assim, possí-veis dores de cabeça com problemas judiciais envol-vendo cláusulas do contra-to”, afirmou Alcântara.

“Evite locações direta-mente com o locador. Os poucos conhecimentos dos proprietários acabam fazendo contratos leoni-nos e com exigências ab-surdas, descaracterizando a própria lei do inquilina-to”, concluiu Caetano.

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dEStaqUE

O amor entre um brasiliense e uma gaúcha resultou na criação da Sasse, empresa líder na venda de produtos promocionais no DF. Os protagonistas dessa história, Gabriel e Cátia Sasse, provaram que foco e força de vontade, somados à paixão, são ingredientes essenciais para traçar uma trajetória de sucesso | Carolyna Paiva

Foto: Magnun Alexandre

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No ano de 1992, o estudante de Estatísti-ca da Universidade de Brasília Gabriel Sasse não imaginou que uma greve de cinco meses mudaria completamente os rumos de sua vida. Com a paralisação inesperada, ele aproveitou para visitar o pai em Santa Catarina. Já no primei-ro mês, o universitário “ganhou na me-

ga sena”. Mas o prêmio não veio em dinheiro, e sim na for-ma de uma jovem chamada Cátia. O pedido de casamento aconteceu no mesmo dia em que se conheceram. E a res-posta foi sim.

Apesar de parecer brincadeira, eles levaram a sério. Mas o cenário não era favorável ao casal: ele era mági-co e estudante, enquanto ela era promotora de vendas e, para piorar, o Brasil passava por uma conjuntura de in-flação de 50% ao mês. “Definimos como meta comprar uma casa, mas com a profissão que tínhamos, iria demo-rar muito. Aproveitamos que a Cátia conhecia uma em-presa de confecção e tivemos a ideia de vender camise-tas”, relata o empresário. E assim fizeram. Com cheque pré-datado para trinta dias, compraram dez camisetas e começaram o negócio.

As 28 horas de viagem para Brasília foram suficien-tes para Gabriel vender 70% das camisas. O discurso, se-gundo o empreendedor, era de um menino amargurado de saudade, mas com um desafio pela frente. Na época, ele pensou: “se essa for a ferramenta de financiar o nos-so sonho, eu vou falar realmente o que sinto”. Chegando

a Brasília, já com dinheiro para pagar o cheque, a mãe dele comprou as três camisetas restantes. Na hora, li-gou para a noiva: “Amor, vem para Brasília que o ne-gocio é excelente”.

Sem hesitar, a gaúcha aproveitou o término do segundo grau, comprou mais produtos e deixou o Sul para ajudar nas vendas. No entanto, ela decidiu agilizar o processo, já que “dez pareceu um núme-ro pequeno e o casamento, assim, não sairia nun-ca”, conta. O que o rapaz não esperava era que Cá-tia comprasse mil peças. Com isso, a dupla teve realmente que suar a camisa. Eles batiam depor-ta em porta, iam a feiras e até desenvolveram um esquema de revendedoras. Na época, o sistema de fiscalização precário permitiu a ilegalidade por aproximadamente oito meses.

“Quando a gente pensa nisso, parece insa-no. Mas éramos dois adolescentes, super apai-xonados, que acreditavam ser esse o caminho.

Acho que foi essa a diferença do nosso crescimento”, declara a empresária. Para eles, não importava o que as pessoas falavam. O desejo de ver o sonho realizado era maior do que qualquer comentário ou adversida-de do caminho. Foram os primeiros passos para criar a empresa realmente do zero.

Em março de 1993, foram ao Sebrae e legalizaram a instuição. O capital arrecadado possibilitou a cons-trução de uma barraquinha de latão em frente à casa da mãe de Gabriel no Lago Norte. Dois anos depois, abriram a primeira loja. O negócio ficava no Conjun-to Nacional, ao lado da rodoviária, situação perfeita para aumentar a rede de sacoleiras. A comercializa-ção ocorria da seguinte forma: a jovem ficava na loja enquanto o noivo saía como representante vendendo para outras lojas.

Foi nesse período em que perceberam uma falha no método de varejo: havia sobra de muitos produtos, principalmente em tamanhos específicos e, além dis-so, as peças de estação viravam estoque. Então, de-cidiram fabricar. A decisão, entretanto, fez com que Cátia retornasse à casa nos pais para, com pequeno maquinário, começar as coleções. O processo demo-rava de dois a três meses e, quando terminava a pro-dução, ela retornava a Brasília para ajudar nas ven-das. No mesmo ano, eles perceberam os benefícios da venda promocional e investiram no setor.

A mudança fez com que a empreendedora não precisasse acompanhar de perto o trabalho e, fi-nalmente, eles conseguiram se casar. Em 1998, o casal aprofundou os esforços no mercado promo-cional e houve um crescimento incrível. Três anos depois, mudaram-se para a sede na 710 norte e, em 2003, expandiram os canais, ao construírem outro showroom em São Paulo. Há dois anos, expandiram a empresa criando um parque fabril em Sobradi-nho com rendimento atual de 300 mil peças e um milhão de brindes por mês.

“Estudar estatística foi um paradoxo, porque sempre fomos contra ela: construir uma empresa com inflação alta, trazer uma fábrica para o DF com todo o maquiná-rio necessário”, brinca Gabriel. Na verdade, ele assume ter um carinho pela cidade. Como Brasília não é um po-lo industrial, há muita dificuldade para conseguir mão de obra, mas, para isso, os empresários investem em ca-pacitação. “60% do chão de fábrica é primeiro emprego. Se não temos profissionais prontos, conseguimos que eles aprendam e se engajem”, afirmam.

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dEStaqUE

Hoje, o casal afirma que não mudaria nada na trajetória. “No primeiro momento, abdicamos de sair ou de festas. O nosso programa de domingo sempre era ir à missa e depois à pizzaria” confessa Cátia. E essa é a receita dada aos jo-vens que procuram os empreendedores: acreditar que vai dar certo, ter muita paixão e, principalmente, foco.

É necessário ainda saber que haverá o momento “10 camisetas”. O brasiliense enfatiza que “para empreender precisa-se arregaçar a manga. A maior qualidade do empre-endedor do sucesso é resiliência”. Certa vez, em 1994, de-pois de preparar todo o estoque do natal, um assalto fez a dupla perder todo o material. “Foi um momento muito di-fícil. Mas virei para o Gabriel e disse que tínhamos duas al-ternativas: desistir ou começar tudo de novo. Eu já decidi o que quero”, revelou a empresária.

Em dois meses, recuperaram a mercadoria, pagaram as contas e começaram de novo, com o diferencial de já saberem como fazer. A lição foi assimilada pelo par: “As empresas têm esses momentos. O que difere se ela vai continuar é a capaci-dade de recomeçar e se reinventar. Quanto maior a empresa, é preciso planejamento, dedicação e saber onde quer chegar”.

Depois de enfrentar vários cenários, eles afirmam que o valor principal é o respeito. Como casal, enten-

dem a decisão um do outro e sabem administrar as si-tuações adversas. “Estar com ela todos os dias é ótimo porque eu tenho minha companheira o tempo inteiro”, declara-se o esposo. Cátia complementa: “Sei quando é o Gabriel empresário ou marido falando.”

O diferencial do dueto Sasse é conhecer e valorizar ca-da etapa do serviço, exatamente por terem passado por to-das elas. “Não estamos vendendo o produto. O produto é o meio. Agradar é o principal objetivo”. Além disso, há um valor especial agregado ao produto Sasse. “O brinde no mercado não é sempre visto com bons olhos, mas ele tem intenção tão bonita de presentear. Então aqui vai ser trata-do como joia”, explicam. O cuidado vai desde a iluminação apropriada até a posição na prateleira.

O último desafio enfrentado aconteceu dia 30 de de-zembro. O pai de Cátia, Constantino, que teve papel impor-tante nessa história, faleceu. Apesar disso, a dupla segue forte. “O legado que a gente deixa não é o que construí-mos financeiramente, mas a forma como a gente fez is-so. Com ética, respeito e valorizando cada um”, asseguram. Em 2015, a Sasse expande o canal de venda com a comer-cialização de uniformes personalizados e promete um ano de muito crescimento.

O segredo para o sucesso

Foto: divulgação

Fábrica da Sasse Produtos Promocionais

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EmPrEEndEdoriSmo

Brasília de saboresinternacionaisEspecialistas em culinária estrangeira escolheram a capital federal para trabalhar e, hoje, contam por que consideram a decisão a mais acertada| Taise Borges e Carolyna Paiva

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O gosto da comida internacional con-quistou o paladar dos brasilienses. A cidade de tantos estrangeiros – mui-tos deles representantes diplomáticos dos seus países no Brasil – oferece op-ções gastronômicas variadas, das tradi-cionais, como a italiana, às mais exóti-cas, como a tailandesa. Atualmente, a

capital federal possui restaurantes de marcas con-solidadas, cujos donos se adaptaram bem à cultura brasileira e às preferências do exigente público da cidade. Alguns trouxeram os parentes dos seus paí-ses de origem, outros constituíram suas famílias no Brasil. Entre os que conhecemos, no entanto, um as-pecto é comum: tanto se sentiram em casa que, de Brasília, não querem mais sair.

Rosario Tessier (foto) é um desses que nem pen-sam em voltar para a Europa. O chef veio para a ca-pital em 1994 com a missão de transformar um tra-dicional restaurante da cidade em um típico italiano mediterrâneo. Rosario apresentou programas na TV Brasília e deu aulas de culinária até reunir sua equi-pe e abrir, em 2003, o Trattoria da Rosario, conhecido

restaurante do Lago Sul. A receptividade encontra-da na capital garantiu que o estabelecimento cres-cesse com o passar dos anos. À época da fundação, o restaurante possuía 20 lugares. Hoje, tem capacidade para 180 clientes. A equipe também aumentou: em 2003, o chef tinha seis colaboradores; atualmente, o grupo é formado por 50 profissionais, que atendem em torno de cinco mil pessoas por mês.

Para manter a tradição italiana, os cozinheiros seguem as fichas técnicas dos pratos e contam com a vistoria diária do rigoroso chef. “Quando janto fo-ra, escolho restaurantes que não possuem filiais, só a matriz. Pela experiência que tenho, não acredi-to que um dono consiga administrar corretamente mais de um restaurante”, afirma Rosario. O chef co-nhece as particularidades gastronômicas do norte ao sul da Itália – pães, vinhos, massas, queijos típi-cos. Mas, de acordo com Rosario, que mantém o res-taurante há mais de dez anos, o amor pela profissão é o segredo do sucesso, seja em Brasília ou em qual-quer lugar do mundo: “Se você trabalha por dinhei-ro, nunca será um chef. Ou será dono de um restau-rante que não sobreviverá por muito tempo”.

Foto: Raphael Farias

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Mais de dez anos também possui o Ser-vus, restaurante de cozinha austríaca e ale-mã. No estabelecimento localizado na DF 140, trabalham a matriarca da família, Valeska Fenzl (foto), sua filha Birgit e o neto León. Pa-ra a senhora de 82 anos nascida na Letônia, a dificuldade de adaptação ficou por conta do clima brasiliense. “Tive que me acostumar a viver aqui, porque chove pouco e é mui-to quente. Mas, de todas as cidades que co-nheço do país, Brasília é a mais agradável. As pessoas daqui são muito simpáticas”, ressalta Valeska. O nome do restaurante também re-mete ao idioma de origem da família: “A pala-vra significa ‘seja bem-vindo’, ‘estou a seu dis-por’”, explica Birgit. O nome atraiu até mesmo o embaixador da Áustria que, ao ver a placa

do restaurante, encontrou o espaço onde pôde degustar receitas originais do seu país.

Alguns pratos típicos do leste europeu são in-dispensáveis ao cardápio do Servus. Os doces tra-

dicionais, a salsicha alemã e o chucrute, tipo de conserva de repolho fermentado, são alguns

exemplos. “Pouca gente, no Brasil, sabe pre-parar o chucrute do jeito certo. Até os res-

taurantes alemães que existem por aqui

Restaurante familiar

costumam comprá-lo. Eu prefiro fazer”, destaca Valeska. Tudo é preparado conforme a tradição europeia. A cozinha típica e caseira conquistou vários brasilienses que, hoje, compõem a fiel clientela do restaurante. “Temos capacida-de para 60 pessoas e não pretendemos aumentar o espaço. Queremos melhorá-lo e oferecer mais conforto aos clien-tes, mas sem perder esse clima de ‘casa de amigos’ que te-mos aqui”, explica Birgit Fenzl.

Mercado em expansãoAlém da receptividade dos moradores, os sócios Marco Tú-

lio Pena Costa (dir.) e Benoît Rataboul (esq.) aproveitaram outra oportunidade para alavancar o sucesso da padaria La Boutique: o mercado pouco explorado. “Em 2013, Brasília só tinha uma pada-ria francesa, que ficava distante da Asa Norte, onde escolhemos abrir a La Boutique”, lembra Benoît. “Diferente de muitas novida-des que se iniciam em São Paulo e no Rio e, só depois, chegam a Brasília, nossa padaria começou aqui. A qualidade de vida na ci-dade é muito boa e o público brasiliense sentia falta dessa opção diferenciada de produto”, completa Marco Túlio.

Benoît é mestre em panificação pelo Institut National de la Boulangerie Pâtisserie, principal instituição francesa para forma-ção de padeiros e confeiteiros. O francês conheceu o Brasil em viagens pelo país e foi apresentado ao atual sócio durante uma temporada em Brasília. Na França, Benoît adquiriu conhecimen-tos sobre a típica panificação local. Para transmitir tudo o que aprendeu e manter a qualidade dos produtos oferecidos pela La

Boutique, o padeiro dá cursos aos funcionários, nos quais aborda a origem das receitas, do nome delas, a região de onde provém. “Estou passando, pouco a pouco, o que aprendi”, explica o fran-cês. Hoje, a padaria tem 30 funcionários distribuídos entre cozi-nha, atendimento e administração.

De acordo com os sócios, a La Boutique já tem um pú-blico fidelizado. Entre os clientes, estão pessoas que apre-ciam a cultura francesa, que já estiveram no país europeu e vão à padaria para matar a saudade dos sabores que ex-perimentaram por lá. Os franceses que vivem em Brasília e os curiosos que passam de frente a loja e entram para co-nhecer completam os perfis de clientes da La Boutique. “Quem vem por curiosidade e experimenta nossos produ-tos quer voltar sempre”, garante Marco Túlio. Os clientes da padaria contribuem para manter a tradição da culinária francesa: os produtos mais vendidos na La Boutique são a baguete e o croissant, típicas receitas do país.

Foto: Magnun Alexandre

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O sabor tradicional do Japão também ga-nhou adeptos entre os moradores da capital.

“Meu público tem aumentado a cada dia. Ao co-merem minha comida – original, caseira – as pes-

soas que já visitaram o país se enchem de nostalgia”, brinca Alice Yamanishi (foto), filha de pais japoneses.

Com 22 anos de idade, a jovem foi para o Japão e se es-pecializou na gastronomia local. Mudou-se para Brasí-lia em 1997, onde deu aulas de culinária e cozinhou pa-ra os funcionários da embaixada japonesa. Há três anos, abriu o restaurante do Clube Cultural e Recreativo Nipo Brasileiro e pôde colocar em prática o que aprendeu no país dos seus ancestrais. “Em Brasília, encontro temperos e ingredientes utilizados na culinária japonesa, o que fa-cilita o preparo das receitas típicas”, explica.

Segundo Alice, o saudável costume asiático de se comer peixe com frequência tem sido ado-tado pelos brasilienses, contribuindo, assim, para a popularização da comida japonesa. No entanto, ape-sar da adoção de hábitos parecidos, nem sempre a ori-ginalidade das receitas é mantida: a tradicional comida japonesa feita com pouco óleo, por exemplo, é prepara-da, aqui, de forma diferente. “No Brasil, as pessoas são mui-to criativas. A adaptação das receitas ao gosto do brasileiro era algo esperado.” Mas não foi só o brasiliense que se adap-tou à cultura do Japão. Alice também precisou se acostumar com Brasília, especialmente com o clima da capital. “No co-meço, eu estranhava a cidade: era muito seca e fria. Hoje em dia, adoro esse clima e gosto muito de viver aqui. Os brasi-lienses me receberam muito bem”, conta.

Tempero asiático

Foto: Marcos Paulo

Foto: Alisson Carvalho

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Receita do ChefEste mês, o chef Waldeone, do restaurante La Tambuille, preparou um Espaguete com Frutos do Mar.

IngredientesEspaguete AzeiteCebolaMolho de tomateFrutos do mar (camarão, vôngole, mexilhão, lagostim)Vinho branco

Modo de preparoCozinhe o espaguete com água e sal. Em outra panela, cozinhe os frutos do mar. Separe as cascas do camarão para o molho bisque. Com azeite, refogue a cebola e a casca do camarão, depois acrescente vinho branco e o molho de tomate. Quando o molho estiver pronto, acrescente a massa e os frutos do mar.

Foto: Jonathan Felix

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