revista saúde são paulo

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ANO 4 | NUMERO 12 | DEZEMBRO DE 2008 Uma vida Positiva Como vivem as pessoas infectadas com o vírus HIV 25 anos após o surgimento da aids no Brasil Cardiologia Entrevista com Adib Jatene Verão Proteja-se contra o câncer de pele Tecnologia Hospitais oferecem o que há de mais moderno

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Publicação da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo

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Page 1: Revista Saúde São Paulo

ANO 4 | NUMERO 12 | DEZEMBRO DE 2008

Uma vidaPositiva

Como vivem as pessoas infectadas com o vírus HIV25 anos após o surgimento da aids no Brasil

CardiologiaEntrevistacom Adib Jatene

VerãoProteja-se contra

o câncer de pele

TecnologiaHospitais oferecem o que

há de mais moderno

Page 2: Revista Saúde São Paulo

Editorial

Entrevista: Adib Jatene

Tire suas dúvidas

Por dentro da Secretaria: Hospital Regional de Osasco

Por dentro da Secretaria: Fazenda São Roque

Cuidados no verão

Saúde em dois tempos: Darcy Vargas

Bem-estar

Matéria de capa: Pessoas que vivem com o vírus HIV

Mitos e verdades

Vigilância sanitária

40anos do AI-5

Apoio psicológico

Recomendo

Fique ligado

Inovações tecnológicas

Alimentação e humor

Artigo

10 perguntas

Como vivem osportadores do vírus HIv

este ano, o programa estadual dst/aids chegou aos seus 25 anos com

muito que comemorar. além de ser reconhecido pela organização Mundial

de saúde (oMs) e servir de exemplo para todo o mundo, garante qualidade

de vida a cerca de 70 mil pacientes que tomam os medicamentos que fazem

parte do famoso coquetel anti-aids.

e é para entender um pouco como é viver assim que esta edição da

revista traz o depoimento de pessoas que vivem com o vírus HIv.

Mesmo diante do preconceito, dificuldades em aderir à terapia e outras

adversidades, como os efeitos colaterais e a lipodistrofia, eles garantem

que levam uma vida normal.

Nossa entrevista é com ninguém menos que adib Jatene. Considerado

um dos melhores cardiologistas do mundo, ele fala sobre sua experiência

na administração da saúde pública, a polêmica em torno da CpMF e sua

contribuição para o desenvolvimento da cardiologia no Brasil.

a revista também traz reportagens sobre a importância do apoio psicológico

na recuperação de doenças, a interferência dos alimentos em nosso estado

de humor e os cuidados que devemos tomar durante a estação mais quente

do ano para evitarmos o câncer de pele.

Vanderlei FrançaCoordenador de Comunicação

EDITORIAL | SAÚDE SÃO PAULO

edição 12 / dezembro de 2008 / janeiro de 2009

Expediente

Saúde SP é uma publicação produzida pela Assessoria de Comunicação Social da Secretaria de Estado da Saúde

Coordenador de Comunicação: Vanderlei França

Coordenadora de Imprensa: Vanessa Silva Pinto

Editor: Denilson Oliveira (Mtb 044747)

Coordenador de Marketing: Denis Zanini Lima

Direção de Arte: Flávio Hypólito e Gustavo Palladini

Fotos:Paulo Alexandrowitsch

Redação: Arthur Chioramital, Fernanda Mizzin, Pâmela Kometani, Ricardo Liguori, Roberta Rodrigues e Thais Mirotti

Contatos: (11) 3066-8701 - [email protected]

Fotolito, impressão e acabamento: Imprensa Oficial

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Postura correta Vigilância sanitária Apoio psicológico

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ENTREVISTA | ADIB JATENE

Denilson oliVeira

aos 79 anos, ainda em plena atividade profissional, Adib Jatene é considerado um

dos maiores nomes da cardiologia brasileira, e, sem exageros, facil-mente figuraria entre os melhores do mundo no assunto.

Em 2000, foi apontado como um dos brasileiros mais influentes do século 20 numa relação feita pela revista “Isto É”. Seu nome aparece ao lado de ícones da política, literatura e cultura, como Juscelino Kubitschek, Machado de Assis e Tom Jobim.

Natural da cidade de Xapuri, no estado do Acre, mas paulistano de coração, como ele mesmo se define, Jatene criou cirurgias revolucioná-rias, como a que leva seu nome e hoje é feita em todos os continen-tes, trabalhou na criação de dois ti-pos de corações/ pulmões artificiais e ajudou no desenvolvimento de dois grandes centros de cardiolo-gia: o Instituto do Coração do Hos-pital das Clínicas e o Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia.

Mas não foi só na medicina brasileira que ele deixou sua mar-ca. Em 1979, entrou na adminis-tração pública ao assumir o cargo de secretário de Estado da Saúde. Depois disso, comandou o Minis-tério da Saúde por duas vezes e foi o criador da CPMF, polêmica taxa

que foi extinta neste ano.Conseguir um horário no con-

sultório dele não é tarefa das mais fáceis, mesmo que para uma entre-vista. Foram meses de tentativas de um “encaixe” em seus horários. Com uma agenda cheia de pacientes, compromissos profissionais, confe-rências e reuniões nos quatro cantos do Brasil, Dr. Adib Jatene recebeu a equipe da Saúde São Paulo em sua sala no Hospital do Coração, onde ocupa o cargo de diretor geral.

E a tarefa de entrevistá-lo pode assustar. Não só pelo currículo e his-tória do especialista. Mas também pelo ar sério que ele e dezenas de di-plomas e troféus na parede impõem a princípio. Porém, o mesmo tratou de quebrar o gelo ao ver o repórter atrapalhado com o gravador. “Você sabe mexer nisso?”, brincou. “Sei sim. É nervoso. Se isso aqui não funcio-nar, tenho um infarto e o senhor terá que tratar de mim”, respondi.

Nessa entrevista, ele fala sobre sua passagem na política. Diz que não voltaria a assumir um cargo na área. “Não tenho vontade nenhuma de voltar para a administração pú-

blica”. E também sobre sua contribui-ção para a cardiologia brasileira.

saúde são Paulo - Quando ainda era estudante, imaginava realizar tanta coisa na medicina?Jatene - Na verdade cursei medici-na para voltar para o Acre. Não estudei medicina para fazer cirurgia cardíaca. Isso foi um acidente de percurso. Por-que quando estudante comecei a tra-balhar com o professor Zerbini numa época em que estava começando a cirurgia cardíaca. Acabei ficando com ele vários anos e virei cirurgião cardí-aco. E como eu entendo que o impor-tante é você gostar do que faz e fazer bem feito, deu certo.

saúde são Paulo - Como o senhor começou as pesquisas do cora-ção artificial?Jatene - Em 1958, depois de uma temporada em Uberaba, voltei a tra-balhar com o Dr. Zerbini no Hospital das Clínicas de São Paulo. Lembro que ele tinha importado duas máquinas e eu montei um departamento que chamava Oficina Experimental de Pes-quisas. Adaptei esses equipamentos e

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no consultóriodo Dr. Jatene

“NãO ESTUDEI MEDICINA PARA

FAZER CIRURGIA CARDíACA. ISSO

FOI UM ACIDENTE DE PERCURSO”

Prestes a completar 80 anos, Adib Jatene esbanja vitalidade, diz o que pensa sobre a saúde pública no Brasil e afirma que só vai aposentar o bisturi quando as mãos não obedecerem mais a cabeça

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fiz o primeiro coração/ pulmão artifi-cial do hospital, que foi fornecido para várias equipes do país. Já em 1961, fui de dedicação exclusiva do Instituto Dante Pazzanese e construí uma nova oficina, que hoje é uma grande divisão de bioengenharia. Foi lá que também fiz outro modelo de coração/ pulmão artificial. O do HC tinha oxigenador de discos, consumia muito sangue. O do Dante, oxigenador de bolhas, que eu podia trabalhar com pouco ou até sem sangue. Depois fiz o oxigenador descartável de bolhas. Em seguida, o descartável de membrana. Esses dois, inclusive, eu tenho a patente. Eles fo-ram fabricados durante muitos anos sob licença, dando royalties e apoio científico para o Instituto. Isso funcio-nou muito bem. Ali, fiz em 1964, a vál-vula cardíaca artificial. Depois, fizemos o marcapasso e todos os dispositivos que usávamos nas operações e tam-bém desenvolvemos um grande ser-viço de cirurgia cardíaca.

saúde são Paulo - Como o se-nhor chegou à administração pública? Como foi essa experiência?Jatene - Em 1979, fui convidado pelo governador Paulo Maluf para ser secretário de saúde. Até hoje não sei porquê fui chamado. Não tinha nenhuma ligação com ele, nem com o partido. Mas foi um período muito interessante. Conseguimos que toda a estrutura da Secretaria se dedicasse. Trabalhei com gente absolutamente envolvida e que lutou muito para con-seguir alguma coisa. Naquela época, criamos o plano metropolitano de saúde. Com esse projeto, consegui-mos convencer o Banco Mundial, que

até então nunca tinha aplicado em saúde nas áreas metropolitanas, que nosso problema não estava na área rural. Queríamos fazer só na Grande São Paulo 490 centros de saúde e 40 hospitais. O banco forneceu US$ 50 milhões que ajudou um pouco. Mas, infelizmente, até hoje o plano não foi totalmente colocado em prática. De-pois disso, passei por outros cargos e assumi o Ministério da Saúde por duas oportunidades.

saúde são Paulo - Como o se-nhor vê a saúde pública no Brasil?Jatene - É só ver o que aconte-ceu com a rede pública no Rio de Ja-

neiro, que nas décadas de 50 e 60 re-presentava os grandes hospitais do Brasil. Junto com o HC de São Paulo, eles tinham a liderança total na as-sistência médica. O que aconteceu a partir da saída da previdência social foi que esses hospitais ficaram sem orçamento e passaram a funcionar com que o SUS paga. Ora, é sabido que o dinheiro vindo do SUS não dá nem para o custeio dessas unidades. Como a rede ficou dependendo ex-clusivamente disso, o que aconteceu é o que nós vemos hoje pelo Brasil: prédios deteriorados, equipamentos obsoletos, leitos fechados. Aí, numa epidemia de dengue, é preciso colo-car barraca de campanha para tratar os doentes.

saúde são Paulo - Pode-se di-zer que a rede privada assumiu a função da rede pública com os planos de saúde empresariais?Jatene - A iniciativa privada se organizou nesse período. Criaram um sistema de pré-pagamento. Então a medicina de grupo, cooperativas mé-dicas, auto-gestão e seguros saúde mobilizam um volume de recursos absolutamente desproporcional com o que é colocado à disposição do po-der público e isso infelizmente gerou uma inversão de responsabilidades. Quem comandava a medicina no passado eram os hospitais públicos, universitários ou não.

saúde são Paulo - E em São Paulo, como o senhor vê a saúde pública?Jatene - Nesse panorama da rede publica, São Paulo é uma exceção porque conseguiu sustentar sua rede publica. O HC, o Incor, o Dante e vários outros grandes hospitais da rede foram sustentados seja pelo

governo do estado, seja pelos muni-cípios. Embora com deficiências, con-seguiu-se manter seu atendimento. Além disso, os hospitais filantrópicos e as santas casas foram suportadas pelo orçamento do Estado para su-prir aquilo que a remuneração do SUS não consegue fazer.

saúde são Paulo - Mas mes-mo com tantas deficiências, o que a saúde brasileira conquistou de bom nos últimos anos?Jatene - O Brasil tem o melhor programa de imunização do mundo. A pólio foi erradicada. Temos um dos melhores programas de combate à aids do mundo, que está servindo de modelo para a OMS. Lutamos contra as endemias. A doença de chagas hoje é uma lembrança, já se foi a época em que essa doença era um emblema. E também reduzimos a mortalidade in-fantil de maneira significativa.

saúde são Paulo - Como

criador da CPMF, o senhor concordou com o fim do imposto?Jatene - A CPMF foi um recurso que a princípio era para ter só dois ou três anos de vigência. A partir daí ela foi sofrendo modificações e passou a ser uma das principais fontes de renda da saúde brasileira. O Ministério tinha parcela do Cofins, do PIS/ Pasep, da participação no lucro líquido e alguns outros tributos. A CPMF fazia parte do orçamento, mas não era a responsável por tudo. Quando consegui aprovar o imposto, pretendia aumentar o orça-mento em 30%. Eu não conseguiria com a CPMF resolver o orçamento da saúde. Eu tinha 70% que vinha de outras fontes. O problema é que em vez da CPMF representar esses 30% de aumento, não representou nada. Tudo porque a área econômica do governo retirou parte das fontes que o Ministério tinha em valor até maior do que a CPMF trouxe. Muitos acham que o imposto resolveria o problema da saúde e foi desviado. Não, era um recurso complementar que iria suprir parte do que foi retirado de recursos da previdência social. Só que quando se conseguiu esse recurso, a área eco-nômica do governo retirou fontes que o Ministério tinha em valor superior ao que a CPMF trouxe. O que tornou o imposto absolutamente inválido.

“EM 1979, FUI CONVIDADO PARA

SER SECRETáRIO DE SAúDE. ATÉ

HOJE NãO SEI POR QUÊ”

“MUITOS ACHAM QUE A CPMF

RESOLVERIA A SAúDE. NãO, ERA

UM RECURSO COMPLEMENTAR”

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saúde são Paulo - Voltaria para a administra-ção pública?Jatene - Não tenho von-tade nenhuma de voltar para a administração públi-ca. Várias vezes eu brinquei com isso quando me con-vidaram para algum cargo. Dizia: “Agora só aceito o Mi-nistério da Fazenda. Porque é quem decide a aplicação dos recursos”. Mas para mim não adianta ser ministro da saúde se não há dinheiro e nem como buscar. Mas tudo isso digo de brinca-deira. Porque nunca vão me convidar para essa pasta.

saúde são Paulo - O senhor se considera uma cele-bridade da medicina?Jatene - Nunca me con-siderei celebridade da me-dicina. Cada um tem que fazer o melhor possível no nicho de serviço em que se colocar. Isso eu tenho consciência. Fiz o melhor que pude ao longo do tem-po. Criei residências, serviços, prepa-rei gente que trabalha no país inteiro, contribui com o desenvolvimento da biotecnologia no Brasil, desenvolvi técnicas cirúrgicas. Tudo dentro da minha responsabilidade e da possibi-lidade que eu tinha. Mas eu não com-puto isso apenas à minha dedicação e sim à possibilidade que eu tive de ser suportado por estruturas sólidas ao longo desses anos.

saúde são Paulo - Como está hoje a cardiologia no Brasil?Jatene - Tem muita gente com-petente e criativa na área. Há vários serviços como o Incor, Dante, Es-cola Paulista de Medicina e alguns no Rio de Janeiro que prepararam cardiologistas para atuarem no país inteiro. Além disso, a Sociedade Bra-sileira de Cardiologia cuida da edu-cação continuada e dá o certificado de especialista. Hoje o Brasil tem

mais de 200 hospitais que realizam cirurgias cardíacas rotineiramente. A população brasileira, sob o ponto de vista de cardiologia, está muito bem suportada.

saúde são Paulo - O brasileiro sabe cuidar de seu coração?Jatene - O brasileiro está bem informado sobre esse assunto. As campanhas que têm sido feitas pelas secretarias e a Sociedade Brasileira de Cardiologia têm demonstrado ou levado ao conhecimento das pesso-as que a doença que mais mata no Brasil, que é o infarto. A causa não se sabe bem, mas sabe-se quais são os fatores agravantes. Então, o brasileiro sabe que o excesso de peso, vida se-dentária, hipertensão, fumo, gorduras e diabetes são fatores que contribuem para o desenvolvimento da doença.

saúde são Paulo - Mas mes-mo assim o brasileiro ainda morre de doenças cardíacas.

Jatene - O grande pro-blema é fazer com que as pessoas utilizem o conhe-cimento existente. Você sabe que o cigarro faz mal e é um fator de risco. Mas conseguir que um sujeito deixe de fumar é muito difícil. O excesso de peso também faz mal ao cora-ção. Medimos a circunfe-rência abdominal do pa-ciente. Se estiver acima de 90 cm nos homens e 80 nas mulheres é um fator de risco. Mas fazer com que as pessoas mudem seus hábi-tos alimentares também é complicado.

saúde são Paulo - E como anda o coração do Dr. Adib?Jatene - Faço tudo que mando meu paciente fazer. Mantenho meu peso. Te-nho 83 quilos e meço 1,83 metro. Tinha 1,87, mas ago-

ra encolhi um pouco. Com o tempo nós encolhemos Também faço exer-cícios, controlo a pressão, as gordu-ras do sangue, não fumo. E, com isso, cheguei aos 79 anos fisicamente bem e trabalhando.

saúde são Paulo - O senhor pensa em parar de vez com a medicina?Jatene - Já estou aposentado do Estado e da universidade. Mas, o cirurgião é um artesão. Enquanto a cabeça pensar direito, e a mão obe-decer, continuo trabalhando. Por que vou parar? Quando eu sentir que a mão não acompanha o que a cabeça manda, aí eu paro.

saúde são Paulo - E fora do consultório, o que costuma fazer?Jatene - Fora do consultório, gosto de me dedicar à minha fazenda. Quan-do pude, comprei uma propriedade. Foi há quase 40 anos, em 1971. Lá, tenho al-gumas criações. É o que costumo dizer: “Tudo que dá prejuízo eu tenho”.

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Leitor: por que uma pessoa com menos de 50 quilos não pode doar sangue?Maria Rita de Moraes – Catanduva/SPDoutor: para garantir a eficácia do processo, são coletados entre 400 e 500ml durante a doação. esse número corresponde a 10% da quantidade de sangue que possuímos no corpo. Mas, pessoas com menos de 50 quilos possuem um volume de sangue menor do que 4 litros. por exemplo: uma mulher com 45 quilos tem aproxima-damente 3,6 litros de sangue em seu corpo. assim ela poderia doar somente 360ml, um valor abaixo do qual a bolsa de coleta foi padronizada.César de Almeida Neto é hematologista da Fundação Pró-Sangue

A revista Saúde São Paulo reservou este espaço para o leitor tirar qualquer tipo

de dúvida em relação à saúde. Sinta-se à vontade para perguntar sobre doenças, tratamentos,

medicamentos, alimentos, etc. Especialistas estão prontos para ajudá-lo a ter uma vida mais saudável

Envie uma pergunta para [email protected]. Sua dúvida, será publicada nas próximas edições da revista Saúde

São Paulo. O espaço é todo seu. Aproveite.

Leitor: por que só os idosos são vacinados contra o vírus da gripe?Marcelo Almeida Pavanni – Rio Claro/SP

Doutor: a vacina contra a gripe pode ser tomada por todas as pessoas a partir dos seis meses de idade. Mas, o pro-grama Nacional de Imunização, criado pelo Ministério da saúde, contempla somente pessoas com mais de 60 anos. esses indivíduos são mais suscetíveis ao vírus da gripe. além disso, pessoas com o sistema imunológico comprometido também podem tomar a vacina na rede pública.andréia sanajota é médica da divisão de Imunização da secretaria de estado da saúde

Leitor: o que é e quais são as causas do soluço?Carolina Duarte – São Paulo/SPDoutor: o soluço nada mais é que contrações involuntárias do diafragma e dos músculos respiratórios auxi-liares. acontece, na maioria das vezes, de forma irregular e seguida pelo fechamento da glote, produzindo a típica inspiração em soluço. pode surgir fisiologicamente desde a fase intra-uterina, acreditando-se tratar de um reflexo gastrintestinal originado no sistema nervoso central. o soluço agudo distingue-se do crônico, que persiste por um tempo superior a 48 horas ou em episódios agudos. existe, aproximadamente, uma centena de causas para o soluço, sendo que as mais comuns são encontradas no próprio trato gastrointestinal.Eduardo Antônio André é gastroenterologista do Hospital das Clínicas de São Paulo

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CONSTRUíDA PARA SER UM COMPLExO TURíSTICO A UNIDADETORNOU-SE MAIOR REfERêNCIA DA REgIÃO OESTE DA gRANDE SÃO PAULO

Atualmente, o hospital conta com 212 leitos. A área de psiquiatria é a mais recente. O HRO faz cerca de 300 cirurgias por mês, como neurologia, geral, ortopedia, plástica, ginecologia e de politrauma, sendo esta última a mais realizada, já que a unidade está próximo à rodovia Castelo Branco e atende a maioria das vítimas de aci-dentes na estrada. Além disso, é re-ferência local em hemodiálise. Com 25 máquinas que realizam o proce-dimento e atende cerca de 600 pesso-as todos os meses.

O Regional foi construído em blo-cos e tem seis pa-vimentos. No pri-meiro, se encontra o pronto-socorro infantil e adulto, semi-intensiva (ob-servação), unidade de saúde mental (masculino), sala de emergência, pólo estomizados, ambulatório, tomogra-fia, farmácia, lavanderia e almoxarifa-do. No segundo, a diretoria, compras, finanças, recursos humanos, raio-X e ultra-som, laboratório, ambulatório, recepção, banco de sangue, ouvidoria, unidade de Saúde Mental (feminino) e humaniza-ção. No terceiro, material cirúrgico, UTI pediátrica e adulta, centro cirúrgico e ginecologia e obstetrícia. No quarto, UTI neonatal, berçário, ortopedia, en-doscopia, colonoscopia e broncoscopia. No quinto, clínica cirúrgica, clínica neurocirúrgica, UTI neuro-lógica, vacinação Hepatite C e educação continuada. No sexto, clínica médica, infectologia e pediatria.

Embora não faça tra-balhos de parto, a unida-de acolhe prematuros de

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outros hospitais em estado grave e cuida de sua saúde. “Um diferencial que vejo aqui dentro do Regional de Osasco é o reconhecimento das pessoas, como um casal que veio me agradecer o atendimento prestado ao seu filho”, ressalta doutor Maurízio.

A Unidade de Osasco tem muito

material que a iniciativa privada não tem. “A briga aqui é fazer igual a um hospital particular”, afirma o diretor do hospital que conta com cerca de 1.600 funcionários, entre eles enfer-meiros, profissionais de administra-ção, biólogos, fisioterapeutas, médi-cos e estagiários de convênios com

POR DENTRO DA SECRETARIA | SAÚDE SÃO PAULO

CAPITAL

FernanDa Mizzin

O prédio do Hospital Regional de Osasco “Dr. Vivaldo Mar-tins Simões” foi elaborado

para ser um hotel quando, em 1988, a empresa que o construía faliu e o

imóvel foi repassado para o governo do Estado. Em 1989, depois de uma série de adaptações, a unidade co-meçou a funcionar.

Situado na região oeste da Gran-de São Paulo, além de atender a po-pulação da cidade sede, o Regional serve de base para os seguintes mu-

nicípios vizinhos: Barueri, Carapicuí-ba, Cotia, Embu, Embu-Guaçu, Itapevi, Jandira, Juquitiba, Pirapora do Bom Jesus, Santana de Parnaíba e Taboão da Serra. “Nós vemos o que cada mu-nicípio precisa e ajudamos no que está ao nosso alcance”, conta o diretor da unidade Maurízio Dana.

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escolas técnicas e faculdades. Outro destaque do hospital é a uni-

dade de tomografia computadorizada. O moderno aparelho utiliza o sistema de cortes tomográficos. Isso quer dizer que o equipamento constrói imagens internas das estruturas do corpo e dos órgãos através de cortes transversais,

de uma série de se-ções fatiadas, que são posteriormen-te montadas pelo computador para formar um quadro completo. O co-mando de laudo é feito por relatórios online, que são en-viados ao Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia.

A organização é uma forte caracte-rística do Regional de Osasco, o dire-tor se preocupa em observar se cada

serviço prestado está sendo realiza-do com qualidade, e procura conver-sar com os diretores de todas as áreas para saber sobre os acertos, erros, fa-lhas e assim então poder achar uma solução para os problemas.

Um diferencial é a preocupação com a opinião de seus usuários, que

vêm de municípios vizinhos e de Osasco para ter o trata-mento que precisam. Graças a isso, o hospital tem a pre-ocupação de saber o que o paciente está pensando sobre o seu atendimento. Numa enquête, o usuário avalia vários quesitos e tam-bém diz se indicaria o hos-pital a outras pessoas. No mesmo formulário, também é possível dar sugestões ou fazer críticas.

“A missão da unidade é prestar assistência mé-dica e hospitalar de qua-lidade à toda população”, garante o diretor.

REgIONAL DE OSASCO:

o hoTel queVirou hosPiTal

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versas tarefas, como horta, padaria, lavanderia e oficina de artesanato. Todas, com geração de renda. “Assim eles se motivam e se sentem reco-nhecidos”, completa Jussara.

A horta é uma das grandes atra-ções do projeto. Na área, são plan-tadas verduras como alface, couve e rúcula, além de legumes como ce-noura e beterraba. A maioria do que é colhido no lugar é consumido na própria fazenda. O excedente é co-mercializado num posto de venda aberto a funcioná-rios e visitantes.

Duas vezes por semana, os moradores vão até Franco da Rocha vender suas verduras e legu-mes. “O produto é muito bem aceito porque não contém agrotóxico”, con-ta a diretora. A fama e qualidade dos produtos da horta já chegaram aos ouvidos dos produtores agrícolas da região. Tanto que alguns moradores da fazenda foram convi-dados para trabalhar em propriedades privadas. Além das hortaliças, há também uma criação de suínos e outra com cer-ca de 80 coelhos (carne rica em ômega 3).

A Fazenda São Ro-que também conta com um serviço de panifi-cação, feito em parce-ria com a prefeitura de Franco da Rocha. Nele, são produzidos pães para consumo interno. Mas alguns moradores já fazem seus próprios produtos para comercialização. É o caso de Antônio Carlos Ribeiro, de 63 anos. Na resi-dência terapêutica onde mora, ele transformou a cozinha em uma pe-

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quena fábrica de bolos e biscoitos de polvilho. Cada pacote de biscoito sai por R$ 1 e vende que nem água. “Eu nunca tinha feito isso na vida. Agora tenho uma profissão e acho

algo bacana”, diz ele enquanto pre-para uma nova fornada.

Na mesma casa, o pessoal tam-bém se encontra para lavar a roupa suja. Mas no bom sentido. Lá, tam-bém funciona a lavanderia da fazen-da. A maioria dos moradores enviam suas vestimentas para o lugar. Além

de receberam suas roupas limpas, eles também podem pedir para os encarregados pelo serviço passá-las. O preço é mais que camarada: calças e camisa saem por R$ 1 e outras pe-

POR DENTRO DA SECRETARIA | SAÚDE SÃO PAULO

INTERIOR

Denilson oliVeira

Apesar de estar a pouco mais de 40 minutos de São Paulo, o Centro Pioneiro em Atenção

Psicossocial, mais conhecido como Fazenda São Roque, no mu-

nicípio de Franco da Rocha,

tem cara e jeito de interior.Logo na entrada, quem recebe os

visitantes é um morador do próprio lugar. A diferença em relação a ou-tras unidades de saúde mental é que a fazenda não funciona como um hospital. Lá, todas as pessoas aten-didas pelo projeto são ex-pacientes psiquiátricos. Portanto, moradores.

“Todos já receberam alta. Aqui, um ex-paciente é capaz de retornar

à comunidade e, para isso, con-ta com um ambiente

a p r o p r i a d o

que garante qualidade de vida a eles”, diz Jusssara Chavarsqi, diretora técnica da Fazenda São Roque, que conta com cerca de 140 moradores, todos homens.

Um dos principais objetivos do projeto é garantir independência a essas pessoas. Todos que têm condi-ções recebem orientações de auto-gestão, tomam seus medicamentos sem a ajuda de enfermeiros, cuidam da aparência, aprendem a adminis-trar seus próprios recursos financei-ros e freqüentam as cidades mais próximas. A rotina no local começa

cedo. Logo após o café da manhã, os moradores se divi-

dem em di-

UNIDADE DA SECRETARIA, LOCALIZADA EM fRANCO DA ROCHA, APOSTANA vIDA EM COMUNIDADE PARA RECUPERAR Ex-PACIENTES PSIqUIáTRICOS

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FAzENDA SãO ROquE:

ValorizanDoa inClusão soCial

ças por R$ 0,50.Com o trabalho da lavanderia, os

internos que trabalham lá compram bens de consumo com os próprios recursos. Paulo José Martins de Sou-

sa, de 40 anos, chega a ganhar R$ 120 por mês lavando e pas-sando as roupas. “Com esse dinhei-ro compro perfu-me, tênis e até já consegui um CD player”, conta ele, orgulhoso.

Já Antonio Sa-tílio, de 45 anos, é conhecido na Fa-zenda São Roque por sua destreza com os pincéis e tintas. Autodidata, ele pinta há alguns

anos. “É um dom de Deus. Aprendi so-zinho”, garante. Seus quadros já são conhecidos na região. Por duas vezes, suas obras foram expostas no Centro Cultural de Franco da Rocha. Graças a isso, Satílio freqüenta um curso de pintura ministrado pelo Museu de Arte Moderna (MAM), no Parque do

Ibirapuera.O material feito pelo

artista também é ex-posto e vendido na ofi-cina de artesanato do projeto. Lá, os quadros de Satílio dividem espa-ço com outros produtos feitos por moradores da fazenda, que ganharam até uma grife: a Empó-rio da Serra.

No começo da tarde, cerca de 20 moradores cruzam a fazenda para irem à escola instalada no local. Por cerca de

quatro horas, eles têm aulas de por-tuguês, matemática, ciências e estu-dos sociais. “Aqui aprendo a ser um cidadão”, diz Satílio, um dos alunos mais aplicados.

Jussara (no centro) e a equipe do projeto

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PÂMela KoMeTani

Nem tudo são flores no verão. O desejo de ficar com um bron-zeado lindo e incrível pode

não combinar com uma pele saudável e bem cuidada. A exposição aos raios solares em excesso, pode causar gra-ves doenças, queimaduras, manchas, envelhecimento precoce, rugas e até mesmo câncer de pele.

Pouco comentado, esse tipo de câncer é o que possui a maior incidên-cia no Brasil, cerca de 25% de todos os tumores malignos. Entretanto, quando detectado precocemente, apresenta altos percentuais de cura.

Ele possui duas formas: o pele me-lanoma e o pele não melanoma. O pri-meiro é o mais grave, pois tem origem nos melanócitos (células produtoras de melanina, substância que determina a cor da pele) e pode espalhar-se por ou-tras regiões do corpo (metástase). O se-gundo é subdivido em carcinomas basocelulares (têm início na epiderme e nos apên-dices cutâneos

acima da camada basal, como os pêlos) e carcinomas epidermóides (têm ori-gem na epiderme, podendo surgir no epitélio, células justapostas que reves-tem a superfície externa das mucosas).

O câncer de pele não-melanoma é o mais comum. Cerca de 70% dos diag-nósticos são de carcinoma basocelular e 25% de carcinoma epidermóide, e apresenta altas taxas de cura quando diagnosticado precocemente. Já o me-lanoma, tem uma incidência menor, representa apenas 4% desse tipo de do-ença, e possui uma letalidade elevada.

Segundo dados do Instituto Nacio-nal de Câncer (Inca), há uma estimativa para 2008 de 5.920 casos de câncer de pele melanoma e 115.100 pele não-me-lanoma no Brasil. No Estado de São Paulo, seriam 2.140 ocorrências de pele mela-noma e 32.140 não-melanoma.Prevenção sempre!

As marcas de nas-

Carlos Eduardo dos Santos, chefe do serviço de dermatologia do Inca.

Como em todos os casos a pre-venção é sempre a melhor escolha e para isso, alguns cuidados não podem ser esquecidos, como não se expor excessivamente ao sol das 10h às 16h, utilizar protetor solar, no mínimo, com fator 30 e roupas adequadas para pro-teger a pele e a cabeça.

Existem alguns fatores de risco que também devem ser lembrados como: ruivos, loiros e pessoas com olhos claros precisam tomar mais cui-dado com as radiações solares, tempo

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CuIDADOS NO VERãO | SAÚDE SÃO PAULO

de exposição ao sol e doenças genéti-cas, que configuram uma tendência a desenvolver o tumor.

Para Antônio Barcellos, oncologista do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo “Octavio Frias de Oliveira” (Icesp), é preciso estar atento para ver as altera-ções do corpo. “O câncer de pele possui 90% de possibilidade de cura, quando detectado no início, por isso, deve-se observar pintas e manchas e a qualquer sinal de mudanças, o dermatologista precisa ser consultado”, afirma.

Os fatores que desencadeiam essa doença são variados e muito

o perigo está mais pertodo que você imagina

conhecidos pela população. Entre-tanto, não é apenas um deles que pode causar o câncer e sim, o so-matório dos mesmos, das atitudes que representam um grande perigo para a pele.

Também é preciso iniciar esse cui-dado logo na infância. “A criança preci-sa se acostumar a se proteger quando tiver contato com o sol. A fotoproteção é a principal forma de prevenção. Ela precisa criar esse hábito desde peque-na”, completa o especialista do Inca.Quando o perigo se instala

O diagnóstico de câncer é feito por um dermatologista através de um exame clínico e de base celular, que analisa a pele. Se a doença for detectada, o próprio médico poderá tratá-la ou encaminhar o paciente para um oncologista, dependendo da gravidade da lesão. Nesses casos, a biópsia é o procedimento mais in-dicado para esclarecer ou confirmar a suspeita.

Após a confirmação da existên-cia do câncer, é preciso verificar qual é o tipo, qual seu estágio de desen-volvimento e se houve propagação para outros órgãos, no caso do pele melanoma. Quando detectado preco-cemente, existe um alto grau de cura, para as duas modalidades.

Atualmente, existem os seguintes tratamentos para a doença: cirurgia, radioterapia (para lesões não operá-veis), quimioterapia e imunoterapia (quando o tumor atinge outras regi-ões do corpo).

“Depois que a doença se espalha, ela pode atingir o pulmão, o cérebro, os ossos e o fígado. Nesses casos a quimio-terapia e a imunoterapia são indicadas, porém, elas apresentam baixa eficácia, por isso o diagnóstico precoce é muito importante”, reitera Barcellos.

Todos os cuidados apresentados não devem ser tomados apenas no verão, e sim, durante o ano inteiro, mesmo que o dia esteja nublado ou chuvoso, pois as radiações UVA e UVB atravessam a camada de ozônio e atingem a pele, por isso a prevenção deve ser constante.

A estação mais quente do ano apresenta muitas belezas, mas também possui uma ameaça:

o câncer de pelecença não podem ser esquecidas e precisam ser analisadas freqüen-temente. “Essas lesões devem ser examinadas anualmente por espe-cialista tanto do ponto de vista clí-nico, quanto dermatoscópico. Se tais lesões forem suspeitas de transfor-mação maligna devem ser retiradas através de cirurgia”, ressalta José Ro-berto Pegas, médico do serviço de dermatologia do Complexo Hospita-lar Padre Bento.

Qualquer sinal de mudança na pele deve ser levado em consideração. O aparecimento de manchas, o aumento do tamanho e do número das pintas ou sardas e a variação da coloração dessas marcas precisam ser observados.

“O câncer pode aparecer em peles aparentemente normais ou em locais

que possuam lesões pré-existen-tes. Por isso, coceira, sangramen-tos, mudança de tamanho e de cor desses sinais, são indícios de que um especialista deve

ser procurado”, diz

Fique atento!

Preste atenção em manchas que coçam, ardem ou sangram;

Use filtro solar com fator mínimo de proteção15, mesmo que o dia esteja nublado

Evite exposição prolongada ao sol entre10h e 16h;

Procure usar camisas de manga longa, calçacomprida, chapéus de abas largas, bonése óculos escuros

Procure um dermatologista quando detectaralguma mudança na pele

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a responsabilidade pelo hospital. Em 1988, por meio do convênio SUDS, celebrado como Governo do Estado e a União Federal, passou a ser subordinado à Secretaria de Estado da Saúde.

O Hospital Estadual Infantil Darcy Vargas está ade-quado ao Estatuto da Criança e do Adolescente, estan-do de acordo com as diretrizes do programa de ações integrais de saúde à criança e adolescente com referên-cia hospitalar especializada.

Hoje, o Darcy Vargas é considerado um hospital de ponta, com equipamentos modernos e é referência no atendimento infantil, com especialidades como pediatria geral, pneumologia, alergia e imunologia, dermatologia e infectologia. Além disso, conta com um serviço ambu-latorial especializado em oncohematologia e nefrologia pediátricas e 28 leitos de UTI neonatal e infantil.

Outro destaque é que todos os andares possuem brinquedotecas e estão disponíveis na instituição pro-jetos especiais de educação no leito, musicoterapia, contadores de história, arteterapia e o Projeto da Ale-gria com o Grupo Arco-íris.

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Governo do Estado para lá, com a cons-trução do Palácio do Governo.

Criado para ser o hospital infan-til mais moderno e importante do Brasil, o Darcy Vargas foi inaugurado oficialmente em 1958. Mas só passou a funcionar meses depois, já que aos

poucos as equipes de pro-fissionais de saúde foram se estruturando e montando cada serviço gradativamen-te. Para ajudar nessa forma-ção, a diretoria contou com o apoio de médicos e en-fermeiros do Hospital das Clínicas de São Paulo.

A partir de abril de 1978, o Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (Inamps), autarquia vinculada ao Mi-nistério da Saúde, assumiu

No próximo dia 25, a cidade de São Paulo comemora os 50 anos de uma das unidades de

saúde mais importantes do Estado: o Hospital Infantil Darcy Var-gas. Para comemorar a data, foi preparada uma exposi-ção com fotos históricas que contam sua trajetória.

Projetado para ser um hospital particular, acabou sendo encampado pela Le-gião Brasileira de Assistên-cia (LBA), instituição federal que cuidava de dezenas de hospitais pelo país.

Naquela época, o nome da instituição era Hospital Infantil do Morumby. Mas

logo seu nome foi mudado em home-nagem à Darcy Vargas, mulher do ex-presidente Getúlio Vargas. Já o bairro do Morumbi começava a despontar como uma das regiões mais nobres da Capital, com o estádio que leva o nome do bairro e a transferência da sede do

Denilson oliVeira

SAÚDE EM DOIS TEMPOS | SAÚDE SÃO PAULO

Meio século de Darcy Vargas

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PÂMela KoMeTani

BEM-ESTAR | SAÚDE SÃO PAULO

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Cuidados simples e diários que po dem ajudar e prevenir as tão temidas dores lombares

Quem nunca sofreu com do-res? Na coluna, pescoço, om-bros, cabeça e até mesmo nas

articulações? Quem já sentiu aquele incômodo que atrapalha, e muito, as atividades do dia-a-dia? Provavelmen-te a grande maioria da população já sofreu com esses males e tem alguma história para contar.

Sintomas que muitas vezes não são levados a sério e atitudes que po-dem render um problema para o resto da vida, são elementos comuns em pessoas que sentem dores recorren-tes e não procuram um profissional para ter o atendimento correto.

Todos sabem que qualquer sinal de desconforto que persiste durante certo período é um indício de que é necessário procurar ajuda. E quando a dor começa a fazer parte do cotidia-no, já é uma grande evidência de que algo está errado.

“A dor é um sinal de alerta de que alguma coisa está acontecendo. Então, é preciso procurar um especialista para obter o diagnóstico”, afirma Anita Wei-gand de Castro, chefe do grupo de rea-bilitação de lesão medular e coluna do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas de São Paulo.O dia-a-dia

As atitudes tomadas durante a rotina diária são imprescindíveis para evitar um problema no futuro. Vítima dos erros do cotidiano e também dos

excessos que cometemos, a coluna é uma das mais prejudicadas e a postura é uma grande vilã nesse caso, já que ela influência nossos movimentos, além de possuir uma participação ativa quando estamos parados ou em descanso.

Para Carlos Calmona, fisioterapeu-ta do Programa Agita SP, ficar mui-to tempo na mesma posição é um problema.“Passar longos períodos na mesma postura sobrecarrega a região lombar, pois a gravidade age, inevita-velmente, sobre ela. É preciso alternar o apoio sobre os pés e fazer pausas para se alongar”, diz.

As rotinas do escritório, o corre-cor-re das lojas e de quem trabalha na rua, são situações bem conhecidas. Nesses locais, a atenção com a postura deve ser redobrada, pois ela pode ser esquecida enquanto as tarefas são realizadas.

Também é preciso utilizar corre-tamente os móveis disponíveis, ade-quando-os as necessidades físicas de

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cada pessoa. A proporção entre mesa e cadeira, a altura do monitor e o apoio das costas e pés devem ser observa-dos para um maior conforto.

Nesses casos, a ginástica laboral tor-na-se um grande aliado dos funcioná-rios da empresa, evitando afastamentos por DORT (dores musculares relaciona-das ao trabalho) e LER (lesão por esfor-ços repetitivos), além das já conhecidas lombalgias (dores lombares).

Os problemas mais comuns ligados à má postura são as dores musculares relacionadas à musculatura de suporte do tronco, podendo chegar aos mem-bros inferiores. E quando comprometem de forma mais acentuada a estrutura da coluna, levam a lesões degenerativas como as discopatias (comprometimen-to dos discos intervertebrais).

A hérnia de disco é causada es-pecialmente pelo mau uso da coluna vertebral e a postura inadequada. Ou-tros agravantes são: obesidade, falta de

exercícios e movimentação incorreta.Deve-se lembrar que a cifose e a

lordose são normais, o problema está no aumento delas. Quando há uma acentuação nessas curvaturas, na re-gião dorsal e lombar, respectivamen-te, é preciso procurar um especialista para evitar o agravamento da doença.

As paradas durante o horário de trabalho para o relaxamento e os exercícios localizados são indicados. “É muito importante que as empresas adotem a ginástica laboral, pois nesse intervalo, o corpo descansa e recebe uma ajuda, um fôlego para continuar o resto do dia”, conta Calmona.

“Não podemos esquecer que tam-bém existe um desgaste natural que traz a artrose. Entre os 40 e 50 anos, os sinais da idade começam a aparecer”, salienta Castro. Por isso a prevenção, através das atividades físicas e do estilo de vida sau-dável, é uma grande ferramenta para garantir um envelhecimento seguro.Carregando o mundo nas costas e nas bolsas

Crianças também devem ser orien-tadas para não carregarem mais peso do que o necessário em suas mochilas. Tam-bém é preciso alertá-las sobre a postura durante o lazer e na hora de estudar.

“A questão dos materiais esco-lares é muito importante quando tratamos das deformidades de co-luna na infância e adolescência. Re-comendamos que a mochila tenha uma carga máxima de 10% do peso corporal da criança”, diz Luiz Antonio Pellegrino, ortopedista e coordena-

dor da Unidade de Reabilitação do Hospital Estadual de Bauru.

Carregar uma bolsa pequena pa-rece impossível, já que a maioria das pessoas sai cedo de casa e só volta à noite, porém, o esforço vale a pena. “É muito freqüente o uso de bolsas grandes na posição errada, sem uti-lizar os dois ombros. É preciso trocar os lados. Com as mochilas pesadas, há uma tendência de jogar o corpo para frente. Carregar pouco peso ajuda a manutenção de uma boa postura”, re-lata Castro.

Os pais não podem esquecer que os filhos possuem uma tendência de copiá-los. Então eles também devem dar exemplos ao carre-gar corretamente suas bolsas e pastas, usando as duas alças e, quando houver uma só, alternando o peso entre os ombros, além de levar somente o que vão utilizar. Ao longo do tempo, esse uso incorreto pode causar uma escoliose, quando ocorre uma deformidade lateral.

As dores causadas pela má postura afetam o corpo inteiro, de regiões iso-ladas como pescoço e ombros, podem chegar até as extremidades, afetando mãos e pés e até mesmo articulações como pulso e joelho. “Inicialmente os problemas dão seus primeiros sinais através de dores na região dorsal ou lombar, principalmente após atividades da vida diária, progressivamente podem surgir limitações da mobilidade e dores irradiadas para os membros superiores e/ou inferiores”, salienta Pellegrino.

Postura firme e forte

Às vezes, essas dores também po-dem ser sinais de estresse e preocupa-ções. Por isso, o repouso com colchões e travesseiros adequados não podem ser esquecidos para a manutenção de uma boa postura durante o descanso.

Mas, se não houver jeito, se a dor já estiver insuportável e a doença instala-da, o médico será o responsável por fa-zer o diagnóstico e indicar o tratamen-to mais adequado para cada paciente, que vai desde medicação, passando por fisioterapia e atividades de baixo impacto e chega até em cirurgias, nos

casos mais graves.

Ombrosrelaxados

Coxas levementeinclinadas

Cotovelos e mãosalinhados

Nível dos cotovelosou levementeinclinados

Parte inferior das costas apoiada

Topo da tela no níveldos olhos ou poucoabaixo

Tela posicionada paraevitar brilhos

Espaço abaixo daárea de trabalhodesobstruído

Pés paralelos ao chãoou em um descanso

45-70cm(18-28 in.)

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MATÉRIA DE CAPA | SAÚDE SÃO PAULO

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Levando uma vida positiva25 anos depois do surgimento da epidemia da aids no Brasil, pessoas que vivem com o vírus HIV contam como conseguem

ter uma rotina normal mesmo diante do proconceito, da dificuldade em aderir à terapia anti-retroviral e outras adversidades

Desde o surgimento da aids em todo o mundo, os números e as histórias cada vez assustam mais.

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), atualmente cerca de 33 milhões de pessoas estão infectadas pelo HIV em todo o mundo. Desse índice, ape-nas 2 milhões têm acesso à medicação anti-retroviral, que garante uma sobrevi-da maior e melhor qualidade de vida aos portadores do vírus. Ainda segundo a ins-tituição, aproximadamente 7 mil pessoas se infectam e 6 mil morrem por dia por causa da aids.

Mesmo com números tão desanima-dores, muito se tem feito na luta contra essa epidemia. No Brasil, o fantasma da aids aportou em 1983, quando surgiram os primeiros casos em São Paulo. A partir daí, Estado e profissionais da área da saú-de se mobilizaram e criaram um programa de prevenção e combate à doença que chegou aos seus 25 anos como exemplo para todo o mundo.

E foi graças ao Programa Estadual DST/Aids que houve uma expressiva redução da mortalidade dos pacientes com HIV no Estado, que chegou a 56,5% nos últimos 10 anos, uma queda do número de inter-nações de pacientes com HIV, bem como o aumento da sobrevida média dos porta-dores do vírus e a diminuição da transmis-são vertical (mãe para filho) de Aids.

São Paulo também foi pioneiro na utilização e distribuição gratuita de me-dicamentos para pessoas infectadas com HIV. Atualmente 18 anti-retrovirais, em 30 diferentes apresentações, são oferecidos a cerca de 70 mil pacientes soropositivos em todo o Estado.

E é justamente, para saber como vi-vem hoje essas pessoas, que a Saúde São Paulo entrevistou três pacientes do Pro-grama Estadual de DST/Aids, que garan-tem que mesmo diante do preconceito, dificuldade para aderir à terapia anti-re-troviral e outras adversidades, levam uma vida normal.

Aos 46 anos, o jornalista Paulo Giaco-mini, vive há aproximadamente 24 anos como o vírus HIV. Provavelmente, ele se

infectou durante uma relação que teve em meados de 1984, quando morava na cidade do Rio de Janeiro.

“Foi quando eu tive um namorado que morreu de aids. Mas só fui descobrir sobre o que aconteceu com ele meses depois, quando já tínhamos terminado”, lembra. Segundo Giacomini, ao ligar para a casa de seu ex-parceiro, recebeu a notícia. “Mi-nha primeira reação foi dar uma gargalha-da. Mas depois perdi o chão.”

Preocupado com sua saúde, o então estudante e aspirante a ator procurou o ambulatório da Secretaria de Estado da Saúde que cuidava dos primeiros casos. Como ainda não havia o exame Elisa, que aponta a presença do vírus no sangue, o diagnóstico era feito através de uma lon-ga entrevista e a presença de alguns sinto-mas característicos.

“Ficaram umas duas horas me fazen-do um monte de perguntas. Eu não tinha certeza se havia me infectado. Mas algum tempo antes eu tinha passado pelos sinto-mas da soroconversão”, conta.

Durante dois anos, o rapaz passou por monitoramento médico para ver como a

Denilson oliVeira

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doença evoluía. “Chega-ram a me dar seis meses de vida”. Mas como não apresentava nenhum sintoma mais grave nem doenças oportunistas, chegou a desistir do acompanhamento. “Eu pensava da seguinte ma-neira: se aquilo era uma sentença de morte, se eu realmente ia morrer, por que seria uma cobaia?”.

Mas foi em 1992 que a situação mudou. Giacomini sentiu-se mal du-rante uma prova na faculdade de jor-nalismo. Teve febre alta e suava frio. Resultado: ele passava por um quadro de gastroenterocolite, uma grave in-fecção intestinal, e ficou internado por cinco dias.

Foi então que começou a tomar a medicação para combater o vírus HIV. “Eu tinha que ingerir 12 comprimidos de AZT por dia”. Além das reações ad-versas que o remédio causava em seu organismo, o jornalista lembra que o efeito maior foi a depressão. “Tudo foi um impacto. Eu não queria ver nin-guém. Não queria ser visto. Não tinha vontade de viver. Tive que mudar todos os meus projetos”, diz.

A situação só começou a mudar

quando Giacomini foi demitido da empresa onde trabalhava. Ao procurar uma ONG para informar-se sobre seus direitos, ele começou a se envolver com o ativismo. “O que começou a fa-lar mais alto dentro de mim foi minha sobrevivência. Sempre tive vontade de me perpetuar e isso só se conse-gue se escrevemos um livro ou temos um filho. No meu caso, mudei minha vida para poder ajudar as pessoas que sofrem com a aids. Não sei o que seria hoje se eu não tivesse o HIV”.

Hoje, Giacomini leva uma vida nor-mal. O esquema que toma é bem mais simples (são quatro comprimidos por dia, sempre às 21h) e ele não deixa sua vida social por conta disso. “Se te-nho um jantar ou um evento, levo os comprimidos comigo. Se sei que vou tomar alguma bebida alcoólica, tomo a medicação uma hora antes”. Para ele,

a receita de uma boa adesão ao tratamento é a seguinte: “É preciso to-mar os remédios corre-tamente, alimentar-se de uma maneira saudável e tentar dormir bem.”

Atualmente, divide seu tempo entre o traba-lho na ONG Gapa (Grupo

de Apoio e Prevenção à Aids) e o blog “Saudaids” (http://saudaids.blogspot.com) que criou para discutir notícias sobre o assunto.

Giacomini ainda conta que ao se relacionar com outra pessoa, faz questão de falar sobre sua condição. “Já dou a oportunidade da pessoa não me querer logo de cara. Já passei mui-to por essa rejeição. No começo, ficava baqueado. Mas com a elevação da mi-nha auto-estima, sinto-me mais segu-ro em dizer”. Para ele, a vantagem disso é o fato dele não se enganar nem ali-mentar a esperança de ser aceito so-mente depois de um tempo. “Preciso manter elevado o nível do meu CD4, que hoje gira em torno de 700”, brinca o jornalista, que também desde que faz o controle de carga viral, mantém a mesma indetectável.

Há uma década, o divulgador cul-

tural Laerte da Silva Vicente sabe que é soropositvo. Ele descobriu ser por-tador do HIV quando teve uma tuber-culose ganglionar e ficou internado durante seis meses. “E foi só quando me recuperei dessa doença que o mé-dico me disse que eu também tinha o vírus da aids. A partir daí foram meses pensando que eu ia morrer no dia se-guinte”, lembra.

Segundo Vicente, ele nem foi avi-sado quando começou a fazer o trata-mento com os anti-retrovirais. “Lem-bro que a enfermeira me trazia por dia uns 30 comprimidos. Mas eu não perguntava nada.”

A princípio, Vicente não aceitava sua condição. Como trabalhava numa rádio comunitária do centro de São Paulo e apresentava um programa so-bre prevenção, acreditava que aqui-lo nunca aconteceria com ele. Na época, vivia com uma companheira há oito anos, que o abandonou. “Ela disse que nunca teve o vírus. Não fez a sorologia e nunca mais tive notí-cias dela, já que uma das providên-cias que tomou foi trocar as chaves de casa e me deixar na rua”, conta.

A partir disso, ele passou a pro-curar ajuda em uma ONG. “Fui a um grupo de terapia onde só tinha ho-mens heterossexuais. Mas muitos não aceitavam a doença. Pensavam que aids era só coisa de homossexual. Eu mesmo tinha isso em mente. Achava que iam me chamar de gay só pelo fato de estar ali”.

Com o tempo, o coquetel de medicamentos que Vicente tomava para combater a infecção pelo HIV começou a mostrar seus efeitos cola-terais. Ele emagreceu muito e passou a sofrer de lipodistrofia facial. “Me tranquei em casa por conta disso. Me achava muito feio e todo mundo que me conhecia queria saber o que esta-va acontecendo”.

A situação só mudou quando pro-curou uma dermatologista e fez um tratamento de preenchimento facial. Segundo ele, isso melhorou sua auto-estima. “Também voltei a freqüentar um grupo de auto-ajuda. Dessa vez, fui

a uma reunião do Grupo de Apoio pela Vida (GIV). Fui lá bem no dia de uma festa de aniversário e vi todo mundo feliz. Pensei: se eles estão na mesma situação que eu e estão rindo, por que não posso fazer o mesmo? E olha que antes eu passei três vezes na porta até decidir entrar”.

Desempregado há cerca de quatro meses, Vicente afirma que leva uma vida normal na medida do possível. “Conti-nuo saindo, viajando, fazendo tudo o que sempre fiz. Sou um sonhador tam-bém. Meu próximo projeto é escrever um livro de poesias”, diz o divulgador cultural que mora em Guarulhos com sua mulher e duas sobrinhas dela.

Alías, foi ao conhecer Maria Lucia da Silva, de 55 anos, há dois anos e meio, que Vicente teve um estímulo a

mais. “Fazia anos que não me relaciona-va com ninguém. Estar ao lado dela me motiva muito, mesmo porque desde que eu descobri que tenho HIV, muitos amigos desapareceram.”

Vicente e Maria Lúcia se conhece-ram numa reunião do Instituto Diet, de Guarulhos. Soropositiva há quatro anos, a bancária aposentada trabalha como voluntária na instituição. Mas, ao contrário de seu parceiro, ela não está se adaptando à medicação e todos os seus efeitos. “Eu tento viver bem. Mas não é sempre que me sinto assim. Há dias que acordo com mal estar e tenho problemas de estôma-go. Só quem toma esse coquetel sabe o que eu passo.”

Maria Lúcia foi infectada durante um relacionamento que manteve por

“MUDEI MINHA VIDA PARA

PODER AJUDAR AS PESSOAS

QUE SOFREM COM A AIDS”PAULO GIACOMINI

“CONTINUO SAINDO, VIAJANDO,

FAZENDO TUDO O QUE SEMPRE FIZ.

SOU UM SONHADOR”LAERTE VICENTE DA SILVA

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2� | Dezembro de 2008 Dezembro de 2008 | 2�

dez anos. Quando descobriu a soro-logia positiva, a discriminação interna foi a primeira reação. “É aquela velha história: você acha que nunca terá isso. Fiquei uns dois anos muito deprimida, me isolei em casa, chorava sempre e comecei a perder peso. Mas mudei mi-nha maneira de pensar e melhorei meu ânimo. Se eu própria me discriminava, como conseguiria superar tudo isso? Hoje se fala muito da sobrevida de pes-soas com HIV. Mas prefiro pensar que quando mudei minha postura, acho melhor chamar de adesão à vida.”

Já para a telefonista Silvia Almeida, de 44 anos, o fantasma da aids apare-ceu em sua vida no final de 1993. Na

época, ela era casada e seu marido adoeceu. “Ele passou por problemas de saúde anos antes, teve uma neu-ropatia e um problema de estômago. Como a mãe dele trabalhava na área de saúde, ela mesma desconfiou que o filho poderia ter HIV”, conta.

Após o resultado positivo do mari-do, Silvia fez o exame meses depois, em 1994. “Nós estávamos casado há 14 anos e tínhamos dois filhos. A confirmação dos exames desestruturou totalmente a família. Perguntávamos por que aconte-ceu conosco, quem errou e onde”.

Mesmo com toda a reviravolta em sua vida, o casal não se separou. “Me doía ver que ele estava doente e so-

frendo. Já o conhecia há 20 anos e, num momento como aquele, não eu podia simplesmente viras as costas para o meu marido”, diz. Em 1996, ele morreu.

Naquela época, Silvia ainda não tinha aderido à terapia anti-retroviral. A morte do marido a deixou abalada física e mentalmente e isso passou a in-terferir em seu desempenho profissio-nal. A solução que encontrou foi contar para uma amiga de trabalho, cujo pri-mo havia morrido vítima da aids. “Logo em seguida, ela conversou com um di-retor que entendeu meu caso”, diz.

A primeira providência no traba-lho foi manter o sigilo com relação aos outros colegas. Segunda ela, naquela época o preconceito era maior ainda. Mas, como tem sede na áfrica do Sul, a empresa já tinha uma política de aids para seus funcionários. “Talvez eu tenha sido o primeiro caso a se expor aqui no Brasil”, diz.

Com isso, como ainda não havia a distribuição gratuita do coquetel anti-aids em nosso país, a empresa passou a comprar a medicação para Sílvia. Ela tomava uma combinação entre AZT e ddI. Mas o esquema mudou completa-mente sua rotina. “Tinha que tomar uns comprimidos enormes a cada oito ho-ras. Aquilo atrapalhava meu dia-a-dia e me deixava mais doente. Eu tinha diar-réia crônica, anemia e lipodistrofia.”

Silvia está com o esquema atual há dois anos. Por dia ela toma um total de sete comprimidos e garante que com isso se sente muito melhor. “Nas pri-meiras semanas que comecei a tomar esses novos remédios eu sentia um formigamento na boca, enjôo e mal-estar. Mas depois que o organismo se acostumou, perdi a noção do quanto tudo isso é ruim. Hoje, não me consi-dero mais uma escrava da medicação. Às vezes, sou obrigada a colocar o ce-lular para tocar e assim não esquecer de tomar os comprimidos”, brinca.

Prestes a ser promovida em sua empresa para o departamento de responsabilidade social, Silvia tem um cotidiano normal. “Não falto ao trabalho e faço meu curso de inglês”, diz. Ela também participa do proje-

to “2Segunda Pessoa” (www.giv.org.br/segundapessoa) feito em parceria com o GIV. Nesse programa, ela gravou pequenas mensagens para a internet e fala sobre prevenção e como viver com o HIV através de sua trajetória. Além disso, ela mantém a disposição com muito exercício físico. “Pratico musculação e natação e faço tudo isso com o acompanhamento de uma nu-tricionista. Alías, acho que a nutrição é uma baita parceira para quem toma medicação anti-retroviral.”

Depois da morte de seu marido, Sil-via já teve outros dois relacionamentos sérios. O primeiro, com um rapaz que também é soropositivo. O segundo, com um que não tinha o vírus HIV.

Ela garante que na primeira re-lação o fato dos dois passarem pela mesma situação era algo mais fácil de lidar. “Um sabia das limitações do outro. Da medicação, do uso da ca-misinha. Mas cada um se relacionava de uma forma com o vírus. Eu nunca tive problema em falar sobre isso. Ele, sim”, lembra.

Já com seu outro parceiro, ela con-ta que o vírus nunca atrapalhou sua relação: “Tudo o que ele sabia sobre HIV/Aids era através de mim. Era uma pessoa muito esclarecida. É uma pos-tura que todos deveriam ter. Infeliz-mente terminamos o namora porque ele se mudou para outra cidade”.

Agora, Sílvia está sozinha. Mas se

pinta alguma paquera, ela só fala de sua condição ao se sentir à vontade com seu pretende ou se o assunto vier à tona. “Mesmo porque não saio per-guntando se ele também tem algo, até onde ele tem informações sobre HIV e quais são seus medos”. Para ela, as pes-soas têm que se conscientizar que to-dos são vulneráveis ao vírus.

Hoje, 15 anos depois, a telefonista afirma que leva uma vida normal, mes-mo com sua condição de soropositiva. “Não coloquei o HIV como uma prio-ridade na minha vida. Tudo isso que aconteceu até me trouxe coisas boas. Conheci muitas pessoas, aprendi a di-vidir problemas e antes eu nem tinha essa veia mais solidária.”

Não se isoleProcure desfrutar da companhia de sua família, amigos e colegas de trabalho. A vida em grupo evita o estresse, depressão, solidão e isolamen-to que o estigma do HIV/Aids pode causar.

Para quem contar?Você não precisa sair falando para todo mundo que é portador do vírus HIV. Conte sobre sua situ-ação apenas para pessoas que você confie e tenha certeza de que poderá contar com o apoio delas.

Não interrompao tratamentoMesmo com os efeitos colaterais ou dificul-dade de adesão à medicação, interromper o tratamento faz com que o HIV fique mais forte em seu organismo. Isso pode enfra-quecer mais rapidamente suas defesas e aumentar o risco de ficar doente. O melhor é procurar o seu médico e conversar sobre suas dificuldades.

Alimente-se bemVocê deve se alimentar em períodos regulares, várias vezes ao dia, mesmo que esteja sem apetite. Consuma frutas, legumes e verduras. Carnes, ovos e peixe devem ser ingeridos pelo menos uma vez ao dia. Procure evitar alimen-tos gordurosos e frituras. Doces e massa devem ser consumidos com moderação.

Álcool, cigarro e drogasProcure não fazer uso de bebidas alcoólicas, fumo ou drogas de qualquer tipo, pois podem prejudicar a saúde como um todo e dificultar a ação dos medicamentos de tratamento da aids.

Exercite-seCaminhada, corrida, ginástica, bicicleta, nata-ção e musculação são boas opções. Os exercí-cios estimulam suas defesas, ajudam a comba-ter a depressão, a ansiedade, são bons para o funcionamento do coração e pulmão, além de manter a massa muscular e o seu corpo saudá-vel. Também ajudam a manter baixos os níveis de colesterol e triglicerídeos e ajudam a redu-zir outros efeitos colaterais que podem ocorrer com o tratamento, como a lipodistrofia.

Vista-se sempreA camisinha protege você e o seu parceiro do ví-rus da aids. Ela evita um novo contato com o HIV, o que pode aumentar a quantidade de vírus em seu organismo ou uma infecção com um vírus já resistente ao medicamento. Além disso, usando o preservativo você também evita outras DST (Doenças Sexualmente Transmissíveis).

Dicas para o dia-a-dia

Fonte: Ministério da Saúde

“NãO COLOQUEI O HIV COMO

UMA PRIORIDADE NA MINHA VIDA”SILVIA ALMEIDA

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VIgILâNCIA SANITáRIA | SAÚDE SÃO PAULO

Fatia indigesta

Estudo da Secretaria detectou que pizzarias são as campeãs de falta de higiene em todo o Estado

As pizzarias lideram o ranking da falta de higiene entre os estabelecimen-tos que vendem comida industrializada no Estado de São Paulo. Um estu-do da Secretaria de Estado da Saúde encontrou problemas relacionados

à manipulação de alimentos em 31% dos locais que servem pizza visitados por equipes de vigilância sanitária estadual e municipais.

Foram inspecionados 467 estabelecimentos comerciais no Estado entre os anos de 2005 e 2006. As churrascarias ficaram com a segunda pior co-

locação no quesito higiene, com 19% de reprovação no quesito “ma-nipulação e manipuladores”, que avalia as condições de higiene e o

estado de saúde dos funcionários, além das fases do pré-prepa-ro e preparo dos alimentos, como seleção, higiene, congela-

mento, descongelamento e cozimento. Entre as pastelarias avaliadas, 14% tiveram proble-

mas relacionados à higiene, assim como 13% das padarias, 11% dos supermercados, 8% dos res-

taurantes e 6% das mercearias. Os estabeleci-mentos foram orientados para corrigirem

o problema e, em casos mais graves, penalizados com medidas punitivas previstas pela legislação sanitária.

“Nos últimos anos houve ex-pressiva proliferação de pizzarias nos

municípios paulistas, especialmente de estabelecimentos menores que realizam

entregas em domicílio. Nesses locais é comum que os ingredientes fiquem expostos em potes

abertos por longos períodos, em temperaturas inade-quadas”, afirma Maria Cristina Megid, diretora do Centro

de Vigilância Sanitária (CVS) da Secretaria. “Os funcionários desses locais também precisam ser orientados sobre a higiene

pessoal e o correto preparo dos alimentos”, alerta. Segundo a diretora do CVS, os profissionais podem contaminar ali-

mentos por estarem doentes, terem hábitos inadequados de higiene ou re-alizarem operações de manipulação que provoquem a contaminação dos pro-

dutos, expondo os consumidores ao risco de doenças, especialmente de diarréia. Para o consumidor que pede pizza em casa a dica é conhecer o estabelecimento,

verificar a higiene do local, o acondicionamento dos ingredientes, a limpeza dos reci-pientes e o modo como os produtos são manipulados. Também vale observar se os funcionários usam uniformes limpos e se há pias para que lavem as mãos.

riCarDo liguori

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Pode haver uma mudança na textura do cabelo da mulher durante

a gestação?Sim, modificações no cabelo podem ocorrer durante a gravidez. Os efeitos vão desde

secura, fios quebradiços e quedas de cabelos. Mas também vale lembrar que algumas

mulheres podem ter as madeixas mais encorpadas e brilhantes no período de gestação.

Mauro Sacovski é gerente de ginecologia e obstetrícia do Hospital Maternidade Interlagos

O hábito de comer chocolate pode se tornar um vício?Não. A pessoa pode comer diariamente uma pequena quantidade de chocolate, desde

que esteja com o peso adequado, não seja diabética e não tenha os níveis de colesterol

e triglicérides elevados.

Karin Klack é nutricionista da Divisão de Nutrição e Dietética do Hospital das Clínicas de São Paulo

O que cravos e espinhas têm a ver com a ovulação?Existem problemas ginecológicos, como a suspensão da ovulação crônica, que podem

causar espinhas. Mas a acne não está necessariamente relacionada a problemas

menstruais. Esse problema tem maior incidência na adolescência e independe do sexo.

Claudia Bortoletto é gerente de ginecologia do Hospital Pérola Byington

a revista saúde são paulo reserva este espaço para colocar os “pingos nos is” em certos boatos sobre saúde. se você tem

alguma dúvida e gostaria de solucioná-la, envie-nos um e-mail para o seguinte endereço: [email protected].

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profissionais da saúde lembram o regime militar e da épocaem que o aI-5, que completa 40 anos, foi decretado

LEMBRANÇAS DE

�0 ANOS DO AI-� | SAÚDE SÃO PAULO

Há 40 anos o Brasil vivia o auge da Ditadura Militar. Em de-zembro de 1968, o governo do

general Costa e Silva baixou o Ato Ins-titucional nº 5, conhecido como o mais duro golpe do regime. A partir disso, os governantes receberam poderes de exceção e podiam punir arbitrariamen-te os que fossem inimigos do sistema ou considerados como tal. Foi nesse período que a ouvidora da Secretaria de Estado da Saúde, Elza Ferreira Lobo, foi presa na porta de sua casa, em São Paulo. “Até hoje não sei dizer por que fui levada”. Ela tinha um histórico de trabalho social, porém nenhum era de resistência ao governo.

Foram dois anos de detenção divi-didos entre o Departamento de Opera-ções de Informações – Centro de Ope-rações de Defesa Interna (DOI/Codi) de São Paulo, o Departamento de Ordem

Política e Social (Dops) e o Presídio Tira-dentes. A tortura era prática comum no período e atingia homens e mulheres. Daquela época, Elza prefere lembrar da solidariedade das presas. “A vida no presídio precisa de organização e por isso tínhamos grupos responsáveis pela limpeza, pela cozinha e por ou-tras demandas”. Segundo ela, uma das coisas mais terríveis do período foi a maneira como a sociedade passou por ele. “Algumas pessoas não têm a menor idéia do que aconteceu na ditadura mi-litar. Os jovens de hoje não conhecem a história do país”.

Para a historiadora e professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Maria Aparecida de Aquino, a falta de informação é reflexo da censura que a mídia sofreu durante o período mili-tar. “Vários assuntos eram censurados. Mas para se ter idéia da gravidade, até informações epidemiológicas eram censuradas. As pessoas desconheciam

surtos de meningites”, exemplifica. O AI-5 foi o ato definitivo do go-

verno militar. “O habeas corpus foi quebrado naquele momento. Pessoas que praticavam crimes que o gover-no entendia como contrários à lei de segurança nacional não tinham mais a garantia de preservação do corpo”, explica Maria Aparecida. Segundo ela, nesse momento o país teve a demo-cracia destroçada. “O que chamáva-mos de Estado democrático de direito deixou de existir. O ato é um divisor de águas dentro do regime militar. É a consolidação da ausência de um esta-do de direito no Brasil”.

As prisões e as sessões de tortura do regime aconteceram do início do governo militar até pelo menos 1976.

Pessoas não ligadas às “células de oposição” foram presas, mas de acor-do com a Maria Aparecida elas foram exceção. “O regime torturou e matou pessoas que acreditava ser inimigas. Não escolhia aleatoriamente. De uma maneira ou de outra elas eram consi-deradas contrárias ao sistema.”

O assessor técnico de gabinete da secretaria, José Carlos Seixas, viu as conseqüências do AI-5 passar à mar-gem de sua vida. Um dos fundadores da Ação Popular (AP), ele não sofreu diretamente os efeitos do ato institu-cional porque deixou de ser membro da organização quando viu nela uma busca pela clandestinidade. “Ajudei na criação do que era um instrumento para promoção da vida cristã, mas ela perdia esse compromisso”, garante. A Ação Popular ficou conhecida como um dos maiores movimentos de resis-tência ao governo militar.

Seixas é categórico ao afirmar que “não tinha esse grau de generosidade ou alienação” para enfrentar o regime. “Era violência gerando violência. Quan-tas pessoas não morreram?”. Segundo ele, o AI-5 é ocorrência de um governo

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que entendia que tinha plenos pode-res. “Era violência e arbitrariedade”, diz. Ele acredita que se não houvesse resis-tência armada, a violência poderia ter sido menor. “Isso é uma interpretação histórica. Não é resultado.”

Otávio Mercadante, diretor do Ins-tituto Butantan, também se desligou do movimento estudantil antes da ocorrência do AI-5 para dedicar-se à residência médica no Hospital das Clí-nicas. Em 1968, Mercadante já era pro-fessor de Medicina Social e Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Ele diz que hoje a “memória é seletiva”, mas lembra que ajudou alguns médi-cos no Centro de Saúde da Barra Fun-da. “Alguns vinham da clandestinida-de e conseguiam trabalhar no centro porque trabalhávamos com regime CLT e os trabalhadores não precisa-

roberTa roDrigues

vam ser vinculados ao Estado”. Mercadante avalia que apesar do

regime militar, a Secretaria de Estado da Saúde tinha uma tradição de manter a autonomia. “Houve e ainda há um com-prometimento com a saúde pública.”

Seixas divide opinião semelhante: pós-graduado em Saúde Pública, ele afir-ma que pôde contribuir para construir o que hoje é o Sistema único de Saúde (SUS). “À distância do que acontecia na resistência ao governo eu podia pensar nas dificuldades que eram enfrentadas e pensar numa maneira diferente de re-solver os problemas da saúde.”

A ouvidora Elza Lobo também destaca o importante trabalho que foi realizado após o início do processo de redemocratização do país. “A Consti-tuição de 1988 tem um capítulo dedi-cado à saúde. Trabalhamos muito para chegar lá”. A parte que diz respeito à Ordem Social traz estampado no capí-tulo II, seção II que saúde é direito de todos e dever do Estado.

Elza destaca ainda a união para uma conquista única. “São três níveis de governo trabalhando no Sistema único de Saúde”. O trabalho da so-ciedade também foi importante em todo o processo de redemocratiza-ção do País. “O marco foi o movimen-to Diretas Já!”.

��AS PRISõES E AS SESSõES

DE TORTURA DO REGIME

ACONTECERAM DO INíCIO

DO GOVERNO MILITAR

ATÉ PELO MENOS 1976

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Rosane viveu durante 28 anos na Argentina e voltou para o Brasil em março de 2007. Tudo começou com uma pequena mancha em suas costas, eque não recebeu a atenção devida na época de surgimento. Hoje, aos 49 anos, ela terá de enfrentar um desafio pela frente.

“Sinto muito medo do que vai acontecer comigo. Fico a todo o mo-mento pensando no tratamento, se vou sentir dores, se meu cabelo vai coemçar a cair, mas sei que não posso ficar sofrendo por antecipação, mas é muito difícil, a cabeça da gente não para”, revela.

A carioca, que participou do Gru-po Acolhida, disse que o suporte que recebeu foi muito importante. “Saí da sala entendendo um pouco mais da minha doença e vi que outras pesso-as também estão passando por coi-sas semelhantes. Tem um poema que apresentam no grupo que não vai sair da minha cabeça”, desabafa.

O poema a que Rosane se refere é de Charles Chaplin e é apresentado diariamente, sempre no fim de cada sessão do grupo. E diz assim: “Bom mesmo é ir à luta com determinação, abraçar a vida e viver com paixão, perder a classe e viver com ousadia, pois o triunfo pertence a quem se atreve, e a vida é muito bela para ser insignificante”.

do projeto, Carolina Luchetta, quan-do se está emocionalmente abalado, o que é normal com a revelação de alguma doença, o corpo reage de tal maneira e podem aparecer outros sintomas que muitas vezes agravam o que a pessoa já possui. Isso, que na maioria das vezes é totalmente psi-cológico devido ao abalo emocional, é conhecido como somatização, que é justamente somar o psíquico com o corpo, ou seja, os sentimentos que não são possíveis de expressar em forma de palavras ou atitudes vão para o corpo em forma de sintomas.

“Se o psicológico não vai bem, o corpo também não funciona da me-lhor maneira. Nesses casos, podemos afirmar que muitas vezes a mente controla. Ou seja, se o paciente está muito deprimido com a doença, seu corpo fisicamente vai reagir também, o que pode acabar influenciando dire-tamente na doença”, afirma.

E o projeto vem colhendo frutos. Para a psicóloga, é visível a diferença com que pacientes e familiares saem após passar pelo grupo. “Nota-se que a pessoa está mais preparada e oti-mista para enfrentar seu problema. Ela passa a conhecer os tratamentos a que vai ser submetida, conhece mais sobre a própria doença que desenvol-veu e acima de tudo, percebe que não está sozinha”, revela Carolina.

Um outro ponto a ser trabalhado no caso da descoberta de uma doença são os familiares do paciente. Muitas vezes, o próprio doente não está tão assustado quanto sua família, e por isso, o suporte para quem acompanha de perto essa difícil fase é essencial.

“Quando um ente querido adoece, os familiares ficam doentes junto. Toda a rotina muda e é algo novo na vida de todos. Alguns têm mais estrutura para lidar com as dificuldades, outros não, e são esses que também temos que ajudar”, completa Carolina.

E é esse apoio que a carioca Rosa-ne Angimahtz espera receber, junto com seus familiares. Em abril deste ano ela descobriu que estava com um melanoma (câncer de pele) maligno nas costas. “Foi como se minha vida ti-vesse desmoronado de uma hora para outra”, conta.

Thais MiroTTi

Há cerca de um ano e meio, a vida da dona-de-casa Maria Lopes nunca mais foi a mes-

ma. Aos 73 anos ela descobriu que estava com câncer no intestino. A ro-tina ativa e a cabeça despreocupada deram lugar ao sofrimento e ao de-sespero com a notícia da doença. “No momento em que soube que estava com câncer, foi como se meus dias estivessem literalmente contados. Imaginar possibilidades de cura e qualidade de vida naquele momento eram coisas que nem passavam pela minha cabeça”, lembra.

A partir daí, uma luta para ajudar o

lado psicológico a enfrentar o proble-ma e ao mesmo tempo dar o suporte necessário para que a família ajudasse nesse processo, estava iniciada.

Histórias como essa se repetem inúmeras vezes a cada grave doen-ça diagnosticada. Fora a dificuldade da enfermidade por si só, um outro contratempo vem junto: a maneira com que o paciente e a família rea-gem à notícia. E os médicos sabem que para se conseguir resultados vitoriosos, além dos tratamentos, é muito importante oferecer a es-sas famílias e ao paciente terapias alternativas e apoio psicológico. Dessa forma é mais fácil evitar que ele fique muito agitado ou entre em depressão, circunstâncias que

APOIO PSICOLÓgICO | SAÚDE SÃO PAULO

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colaboram significativamente para a progressão da doença.

O Instituto do Câncer do Estado de São Paulo possui um projeto voltado exatamente para pacientes e familia-res que sofrem com a notícia de uma grave doença e têm que enfrentar esse período com força e otimismo.

Batizado de Grupo Acolhida, o programa conta com uma equipe multidisciplinar formada por enfer-meiros, assistentes sociais, psicólo-gos, farmacêuticos, fisioterapeutas e nutricionistas que realiza o primeiro atendimento às pessoas que vão ini-ciar o tratamento na unidade. Diaria-mente, cerca de 30 pessoas passam pelo ambulatório.

Para a psicóloga e coordenadora

O suporte psicológico é fundamental na luta contra doenças. Além disso,a maneira de agir e pensar pode influir na melhora ou evolução do problema

QUANDO UM ENTE

QUERIDO ADOECE, OS

FAMILIARES FICAM DOENTES

JUNTO. TODA A ROTINA

MUDA E É ALGO NOVO

NA VIDA DE TODOS

APOIO MÚTUO: As reuniões do Grupo Acolhida ajudam pacientes e famílias a superarem dificuldades

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RecomendoAqui, você pode conhecer algumas dicas de livros sugeridos por profissionais.

Nome: Jean Gorinchteyn Cargo: Infecologista do Hospital Emílio RibasLivro: Antes de Morrer (Editora Agir)Sinopse: Tessa é uma menina de 16 anos que tem uma doença incurável. Diante de seu imutável destino, ela organiza uma lista com o que gostaria de fazer antes de sua morte e parte em busca de coloca-la em prática. Es-crito por Jenny Downham.

Nome: Mário Cavagna Cargo: Coordenador do Centro de Fertilização do Hospital Pérola ByingtonLivro: As Benevolentes (Editora Alfaguara)Sinopse: Nesse livro, Jonathan Littel fala dos horrores da Segunda Guerra Mundial sob a ótica do carrasco. São as memórias de Maximilien Aue, jovem alemão de origem francesa que, como oficial nazista, participa de momentos sombrios da recente história mundial: a execução dos judeus, as batalhas no front de Stalingrado, a organização dos campos de concentração e a derro-cada final da Alemanha, em 1944.

Nome: Clélia Aranda Cargo: Diretora da Coordenadoria de Controle de DoençasLivro: Uma Breve História do Mundo (Editora Fundamento)Sinopse: Nas páginas temos o relato da história da humanidade, com lei-tura fácil e dinâmica. O texto reflete uma conversa do autor com uma pes-soa mais jovem e vinculando os acontecimentos históricos caminha desde a antiguidade até os dias atuais. Ótimo para “refrescar a memória” de fatos relevantes que aprendemos nos bancos escolares.

Nome: Maurízio DanaCargo: Diretor do Hospital Regional de OsascoLivro: Cartas a um jovem atleta (Editora Campus)Sinopse: Ao longo dos últimos anos, Bernardinho, técnico da seleção masculina de vôlei, tem se dedicado a trabalhar no desenvolvimento pleno das potencialidades e do talento de atletas de alto desempenho, protagonistas de competições de nível máximo, como olimpíadas e cam-peonatos mundiais.

Atividade física protege os homens contra o mal de Parkinson

Os homens que praticaram exercícios físicos intensos de forma regular na juventude têm

menos chance de sofrer da doença de Parkinson quando comparados com os que não

praticaram. Esse é o resultado de uma pesquisa realizada por especialistas da Uni-

versidade de Harvard, no Estados Unidos. O estudo acompanhou mais de 48 mil

homens e mais de 77 mil mulheres, previamente saudáveis, desde 1968. Os

homens com atividade física regular desde o início do estudo apresentaram

uma diminuição do risco de sofrer de Parkinson de 50%. Praticar atividades

físicas intensas regularmente trouxe o benefício de diminuir o risco em 60%.

As mulheres também apresentaram uma diminuição do risco de so-

frer de Parkinson, porém essa diminuição não foi estatisticamente

significativa. O mal de Parkinson é uma doença neurológica pro-

gressiva que atinge as pessoas geralmente após os cinqüenta

anos e afeta cerca de 1% da população mundial com mais de

sessenta anos de idade.

Felicidade no casamento ‘influi na pressão arterial’

Adultos satisfeitos com o casamento têm pressão arterial mais baixa do que solteiros, sugere um estudo reali-

zado por pesquisadores americanos e publicado na última edição da revista científica Annals of Behavioral Me-

dicine. Realizada na Universidade Brigham Young, em Utah, nos Estados Unidos, a pesquisa fez uma avaliação da

pressão arterial de 204 adultos casados e 99 solteiros durante um período de 24 horas. Os participantes usaram

um monitor que media a pressão arterial cerca de 72 vezes ao longo do dia - mesmo durante o sono. Os resulta-

dos indicam que adultos felizes com o casamento têm a pressão arterial até quatro pontos mais baixa do que os

solteiros. De acordo com o estudo, mesmo entre os solteiros que possuem uma vida social ativa e se encontram

com amigos com freqüência, a pressão arterial continua mais elevada do que entre os participantes casados.

exercícios aeróbicos podem combater a depressão

Segundo pesquisadores americanos, a prática de exercícios aeróbicos regulares pode diminuir a depressão

pela metade. O estudo, realizado pelo Centro Médico Southwestern, da Universidade do Texas, é o primeiro a

avaliar os exercícios como tratamento isolado da depressão, sem associação com medicamentos. Foram acom-

panhados 80 pacientes, durante três anos, que foram selecionados para treinamento aeróbico três ou cinco vezes

por semana ou para fazer exercícios de alongamento somente. O grupo que praticou exercícios aeróbicos cinco

vezes por semana reduziu seus sintomas em 47% após três meses de treinos. O grupo que se exercitava três vezes

por semana melhorou seus sintomas em 30%.

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Hospitais Estaduais reúnem o que há de mais moderno em equipamentos de saúde

FernanDa Mizzin

A palavra tecnologia vem do gre-go e é um termo que envolve o conhecimento técnico e científi-

co, e também as ferramentas, processos e materiais criados e utilizados a partir de tal conhecimento. No caso da saúde pública, as ferramentas e as máquinas estão nos ajudando a ter melhores re-sultados na luta para salvar vidas.

INOVAÇÕES TECNOLÓgICAS | SAÚDE SÃO PAULO

Na era daMoDerniDaDe

tórico na instituição, setores pelos quais passou, medicamentos que utilizou ou está tomando e imagens dos exames digitalizados. Para isso, basta o médico passar um leitor na pulseira com código de barras que o paciente usa. Também vale lembrar que todo o prédio do Instituto tem infra-estrutura para transmissão de dados pelo sistema wireless (internet sem fio).

Além desses serviços, o Instituto do Câncer conta com ambiente “filmless”, ou seja, sem o uso de filmes para a revelação de exames de diag-nóstico por imagem, como por exemplo raio-X, tomografia computadorizada e ultra-som. As imagens captadas por esses equipamentos são digitalizadas e enviadas a um servidor de ima-gens que permite aos técnicos o acesso as ima-gens em qualquer computador do hospital, ou mesmo fora dele.

O hospital também realiza tomografia com-putadorizada de 40 canais, que permitem que exames sejam realizados num menor tempo. O equipamento ainda conta com uma poderosa unidade computacional que realiza reconstru-ções em 3D das regiões anatômicas de interesse.

A sala cirúrgica do Icesp também está volta-da para o futuro. Nela, os equipamentos como mesa cirúrgica, focos e até a iluminação são con-trolados por computador. Ela conta ainda com um sofisticado sistema de vídeocirurgia, em alta definição, que permite o acesso e a transmissão de imagens médicas em tempo real para locali-dades remotas permitindo ao Instituto participar de videoconferências com os mais importantes centros médico-oncológicos do mundo.

O Instituto do Coração (Incor) também está dentro da lista dos hospitais públicos mais modernos do páis. Além de ser um dos três maiores institutos de cardiologia do mundo em volume de atendimento e número de es-pecialidades reunidas, é também o maior cen-tro de ciência cardiológica da América Latina e o melhor hospital do Brasil na área, segundo pesquisa do Datafolha.

Com 75 mil m2 de área construída em dois prédios e 535 leitos, o Incor disponibiliza a seus pacientes tecnologias de última geração. O hospital realiza tomografia multislice de 64 cortes; ressonância magnética de alta perfor-mance, ecocardiograma com microbolhas, além de eletrocardiograma de esforço com microalternância da Onda.

Além desses serviços, o hospital reali-za por ano 260 mil consultas médicas, 37 mil atendimentos multiprofissionais, 13 mil in-

ternações, 5 mil cirurgias, 2 milhões de exames de análises clínicas e 330 mil exames de diagnóstico de alta complexidade.

Modernidade também é pa-lavra de ordem no Instituto Dante Pazzanese. Além de ser referência por sua assistência cardiológica, clí-nica e cirúrgica, o hospital também é reconhecido por suas pesquisas pioneiras e importantes técnicas cria-das, como a correção anatômica das grandes artérias (Cirurgia de Jatene) e reconstrução geométrica de aneurisma do ventrículo esquerdo.

A divisão de bioengenharia do hospital também merece destaque. O setor realiza pes-quisas, desenvolvimentos, produção e comercia-lização des equipamentos, além de possuir um projeto de formação de profissionais da área de bioengenharia através de estágios e orientações em programas de graduação e pós-graduação.

Inicialmente, o segmento foi denominado “Oficina Experimental”, posteriormente trans-formou-se em “Centro Técnico de Experimentos (CTE)” e por fim, intitulou-se “Divisão de Bioenge-nharia”. Hoje, com um grupo formado por 45 pro-fissionais, entre bioengenheiros, tecnólogos em saúde e biofísicos, possui três áreas de atuação: Biomecânica, Eletrônica e Pesquisa.

Entre as máquinas já criadas pela equipe da divisão estão a de circulação extracorpórea, hemodializadores, válvulas cardíacas artificiais, marca passos, monitores de ECG, desfibriladores cardíacos, bomba de infusão de drogas, monitor de apnéa e próteses traqueais.

Mas uma das pesquisas mais importantes dentro da divisão é a tecnologia para fabricar corações artificiais para uso em pacientes que aguardam transplante. Se, no início, o objetivo era a substituição integral do coração natu-ral, hoje esses aparelhos visam à sobrevida, e até possível recuperação, de quem apre-senta insuficiência cardíaca terminal para levá-lo ao transplante cardíaco e permitir que receba o órgão definitivo.

O projeto está em desenvolvimen-to há dez anos. Inicialmente, em 1999, o experimento era feito em carnei-ros, e em 2002, passou a ser testa-do em bezerros, uma vez que os bovinos possuem características hemodinâmicas parecidas aos humanos.

E por falar nisso, os hospitais da Secretaria de Estado da Saúde estão investindo cada vez mais em equipa-mentos modernos e de última gera-ção. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), saúde não é apenas a ausência de doença, mas consiste no completo bem estar físico, mental, psi-cológico e social das pessoas. Graças à evolução da tecnologia, hoje temos condições de lutar para que todas as áreas do nosso organismo funcionem

bem. Para isso, contamos com algu-mas máquinas que auxiliam o profis-sional da saúde a executar o seu tra-balho com maior precisão e rapidez, possibilitando um maior número de atendimentos.

O Instituto do Câncer de São Pau-lo “Octavio Frias de Oliveira” hoje con-ta com vários serviços tecnológicos que visam atender com maior rapidez seus usuários. Com 580 leitos, o hospi-tal investiu na construção de bunkers subterrâneos para abrigar seis equipa-

mentos de radioterapia e um de braquitera-

pia, técnica onde o material radioativo é colocado direta-

mente em contato com o tecido tumo-

ral, que estão previs-tos para chegarem em

2009, assim, ele será o maior centro de radiote-

rapia da América Latina. A unidade também possui

dois aparelhos de tomogra-fia computadorizada com

emissão de pósitrons. Com esse equipamen-to, é possível fazer um exame de diagnóstico

por imagem de última geração para identificação e

localização de tumores.Uma novidade do Icesp é

o prontuário digital dos pacien-tes internados. Com uma pequena

tela fixada no braço do profissional de saúde é possível ter acesso a todos os dados do paciente, como seu his-

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arThur ChioraMiTal

A relação entre a comida, o que ingerimos e nosso humor não é nenhuma novida-de. O que muitos nem imaginam é que a

influência entre o que a gente põe no prato e as nossas emoções é bem maior do que a preguiça pós almoço ou um caso de má digestão.

Uma prova disso é o resultado de uma pesqui-sa realizada em 2008 pelo Instituto da Comida e Humor, da Grã-Bretanha. O estudo acompanhou os hábitos alimentares de 200 pessoas que aceita-ram alterar suas dietas para que os pesquisadores pudessem avaliar a relação entre o estado de espí-rito e a alimentação. Cerca de 88% dos participan-tes afirmou que uma alimentação mais saudável produziu efeitos positivos nas suas emoções.

Os responsáveis pela pesquisa classifica-ram os alimentos como “promotores de stress” e “promotores do humor”. Açúcar (em um índice de 80%), cafeína (79%), álcool (55%) e chocolate (53%)são os campeões de desenvolvimento de estímulos negativos. água (80%), verduras (78%) frutas (72%) e peixes oleosos (52%) são os que mais estimulam o bem estar. As pessoas que par-ticiparam do estudo revelaram que ao eliminar o consumo de alimentos que produzem estresse, melhoraram seu humor e alcançaram um estado de espírito mais descontraído.

Mas como será que as nossas refeições cau-sam efeitos além daqueles combatidos pelos an-tiácidos vendidos em todas as farmácias? A res-posta pode ser resumida em uma única palavra: neurotransmissores. Esse palavrão, que nada tem a ver com os ingredientes misturados na panela, se refere a um conjunto de substâncias respon-sáveis pela comunicação entre os neurônios.

Para desenvolver a sensação de felicidade e bem-estar é imprescindível que essas substâncias estejam presentes em níveis adequados no nosso cérebro. É nesse ponto que uma alimentação mais

ALIMENTAÇãO E HuMOR | SAÚDE SÃO PAULO

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Como uma alimentação equilibrada pode interferir em nosso estado de humor

desempenham importantes papéis na manutenção do humor. O ácido fólico, presente no feijão, ervilha, espinafre e leite é essencial para o combate ao de-sânimo. “Estudos clínicos têm demons-trado que pacientes com depressão apresentam baixas concentrações de ácido fólico e isso pode estar associa-do a uma baixa resposta ao tratamento com antidepressivos. Vários estudos têm demonstrado também que a su-plementação com ácido fólico em pacientes deprimidos pode melhorar o efeito terapêutico de drogas anti-depressivas. Além disso, o ácido fólico participa da síntese de serotonina e no-radrenalina”, afirma a neurocientista da Universidade Federal de Santa Catari-na, Patrícia Brocardo. Já a vitamina B12, encontrada em ostras, mariscos e em carne vermelha magra é uma impor-tante aliada na luta contra a depressão. Por último, vem a vitamina B1, encon-trada na carne de porco, no pistache e no caju. Ela atua fortemente na produ-ção de neurotransmissores ligados à sensação de bem-estar.

Amêndoas, nozes, amendoins e castanhas são ricos em magnésio, que garante o abastecimento de energia para as células do cérebro, e cobre, peça chave na formação das moléculas de ATP, o combustível celular. Além dis-so, elas também apresentam grandes concentrações de selênio, nutriente encontrado em níveis mais baixos no organismo de pessoas com comporta-mento depressivo.

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saudável faz uma baita diferença. Ao escolhermos direito o que comer, abas-tecemos o organismo com nutrientes capazes de garantir que a comunicação entre as células cerebrais aconteça de forma satisfatória.

De acordo com o neurocientista e professor da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, Ivan Araújo, os três prin-cipais neurotransmissores responsáveis pelo bom humor são os aminoácidos serotonina, dopamina e noradrenalina. O primeiro é derivado do triptofano e os dois últimos são produzidos com a ajuda da tirosina. Eles podem ser en-contrados em maiores concentrações no grão-de-bico, na ervilha, nos feijões, carnes, peixes, ovos e leite

O triptofano funciona como tijolos no processo de montagem molecu-lar do neurotransmissor. “O consumo desses alimentos garante a presença de serotonina e, com isso, o organismo desenvolve uma tendência bioquímica a se sentir feliz”, explica Araújo.

“Já a tirosina está ligada ao con-trole de suas reações a estímulos de conteúdo emocional. É por causa dela que a gente encara de melhor ou pior forma os sorrisos e caras feias ao lon-go o dia”, afirma.

Mas nem só de aminoácidos e pro-teínas se faz o cardápio da felicidade. Os carboidratos também têm papel importante e merecem um espaço es-pecial em todas as refeições. Eles são os principais responsáveis pelo aumento nas taxas de insulina. Com maior insu-

lina circulando, aumenta a captação de aminoácidos que competem com o triptofano para entrar no cérebro. Ou seja, quanto maior a quantidade de insulina, menor a concorrência para a ação da serotonina e maiores as chan-ces do cérebro “enxergar” as coisas com uma lente cor-de-rosa.

E para aqueles que são vítimas co-tidianas do famigerado mau humor matinal, fica uma dica: invista em cere-ais integrais no café da manhã. Quando acordamos, nosso cérebro precisa repor o estoque de açúcar. A falta desse nu-triente representa uma ameaça ao fun-cionamento normal do cérebro, o que pode gerar reações como a ansiedade.

“Outro ingrediente importante para um dia mais feliz é o ômega-3, en-contrado em peixes como atum e sal-mão. Diversos trabalhos apontam que essa gordura é muito para a produção de neurotransmissores”, diz o professor de nutrição da Universidade Federal de São Paulo, Cícero Galli.

Vitaminas do Complexo B também

o cardápioda felicidade

SEGUNDO ESTUDO

BRITâNICO, UMA

ALIMENTAçãO SAUDáVEL

PRODUZ EFEITOS

POSITIVOS EM NOSSAS

EMOçõES

Bebida alcoólica Frut

as açucar Água

Café peixe

Chocolate Legumes e verduras

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Quando não está trabalhando, o que faz nas horas de lazer? adoro assistir a um bom filme, depois tomar um café num lugar bem charmoso.

tem algum hobby?acho que não. Mas, adoro viajar, conhecer novos lugares.

Qual sua formação acadêmica? exerceu quais cargos até chegar na ses?sou enfermeira e antes de chegar na secretaria trabalhei na santa Casa de são paulo, em terapia intensiva, terapia renal substitutiva e um pouco na área administrativa da gestão da enfermagem do hospital como um todo.

Que notícia de saúde gostaria de ler nos jornais?Que temos recursos financeiros, estruturais, tecnológicos e humanos, suficientes para atender toda a ne-cessidade do sistema Único de saúde e consequentemente atingiremos os melhores índices de saúde.

se não fosse enfermeira, o que seria? sou enfermeira e gosto muito.

Qual seu prato predileto? doces, principalmente chocolate amargo.

a senhora é vaidosa?acredito que sim. Mas quem não é?

tem algum ídolo? vários, meu filho andré e todas as pessoas do bem.

Qual filme marcou sua vida? são vários, mas “elsa e Fred” é muito especial.

Que lugar considera especial?primeiro, minha casa. depois veneza.

ARTIgO | SAÚDE SÃO PAULO

Em 1987, a Assembléia Mundial de Saúde elegeu o dia 1º de dezembro como Dia Mundial de Luta Contra a Aids. A data foi criada para reforçar a so-lidariedade e a compaixão para com as pessoas infectadas pelo HIV. Nesse dia a homenageamos todos aqueles que foram vítimas de uma das piores epide-mias enfrentadas pela humanidade.

Claro que a luta contra o vírus e contra a doença não é uma batalha de um dia só. Aqui no Estado de São Pau-lo ela vem sendo travada, cotidiana-mente, ao longo dos últimos 25 anos. O Programa Estadual de DST/Aids, pio-neiro na resposta brasileira à epidemia e que serviu de modelo para o resto do país, existe desde 5 de setembro de 1983. De lá para cá muita coisa mudou e a população paulista pode contabi-lizar muitas vitórias nessa história que, infelizmente, está longe do fim.

A política de enfrentamento da doença passou por grandes transfor-mações ao longo do tempo. Na medi-

da em que novos conhecimentos fo-ram surgindo, novas diretrizes foram sendo criadas para melhor responder aos anseios e necessidades da popu-lação. A aids mostrou-se uma doença que não escolhia sexo, idade, classe social ou orientação sexual.

Menos de um ano depois do diag-nóstico do primeiro paciente, no con-sultório de uma dermatologista em São Paulo, já havia 10 casos notifica-dos na cidade. A aids ganhava o mun-do e desembarcava, definitivamente, no Brasil. Diante disso um grupo de profissionais da saúde elaborou um ofício com sugestões ao Secretário de Saúde da época, João Yunes. Nascia ali o primeiro programa público brasilei-ro de atenção às vitimas da doença.

O primeiro desafio foi esclarecer a população sobre as formas de contá-gio. Essa foi uma tarefa difícil, porque no início da epidemia pouca coisa se sabia sobre o vírus e sobre como ele agia no organismo. Criou-se, então, um serviço de atendimento por telefone, que possibilitava que as pessoas tiras-sem suas dúvidas, atuante até hoje – o Disque/Aids: 0800 16 25 50.

A doença ainda não tem cura, é verdade. Mas já existem inúmeras armas no combate aos seus efeitos devastadores. A mortalidade por Aids tem apresentado queda acentuada desde 1996; a taxa de transmissão ver-tical caiu mais de oito vezes no mesmo período; cerca de 70 mil pacientes em todo o Estado recebem medicamen-tos anti-retrovirais, distribuídos por 165 unidades dispensadoras.

Claro que os desafios estão longe do fim. A cada solução encontrada ou-tra gama de questões se apresenta. No início da epidemia, o grande desafio a ser enfrentado era as doenças opor-

tunistas e o conseqüente enfraque-cimento do organismo. Hoje em dia, com os medicamentos anti-retrovirais, as doenças que atingiam os pacientes no passado podem ser controladas – desde que os remédios sejam to-mados diariamente. A grande questão que se apresenta hoje é a qualidade de vida das pessoas que vivem e con-vivem com o HIV/aids.

Outro ponto importante nessa fase de enfrentamento da doença é a questão da prevenção. Os novos remé-dios e tratamentos deram a impressão de que a aids pode ser encarada como uma doença crônica, como tantas ou-tras. Não é verdade. Nossos jovens não presenciaram a face mais cruel da epi-demia. Eles não tiveram que se despe-dir prematuramente de amigos e par-ceiros. Eles não sabem que a doença que hoje pode ter um curso crônico graças ao tratamento também pode representar um alto custo em termos profissionais, afetivos e pessoais para quem convive com ela.

Não podemos esmorecer. Novos e antigos desafios se misturam no com-bate à aids. É importante ter em mente que já tivemos muitos avanços, mas que ainda não há cura para a doença. Podemos celebrar a vitória daqueles que convivem com o vírus há mais de duas décadas, mas não podemos es-quecer os reflexos indisfarçáveis que o tratamento com anti-retrovirais traz consigo. É preciso deixar claro que a aids não é nenhum bicho de sete cabe-ças. Que podemos viver com a doença, mas que é bem melhor viver sem ela. E que para isso é preciso se proteger.

Maria Clara Gianna, médica sa-nitarista, é coordenadora do Programa Estadual de DST/Aids da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo

Aids:mais um ano de luta

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