revista papo reto - 3ª edição

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Material da CUFA-RS referente ao Projeto Papo Reto 2013 - novembro

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Page 1: Revista Papo Reto - 3ª Edição
Page 2: Revista Papo Reto - 3ª Edição

Inaugurada no dia 3 de setembro, a República Junto atende 24 usuários em tempo integral. O intuito é proporcionar serviços que ofereçam proteção, apoio e moradia subsidiada a grupos de pessoas entre 18 e 59 anos em estado de abandono, situação de vulnerabilidade e risco pessoal e social, com vínculos familiares rompidos ou extremamente fragilizados e sem condições de moradia.

Distribuído em espaços escolares e instituições de ensino desde 2009, o livro O Escudeiro da Luz em: Os Zumbis da Pedra é uma ferramenta importante e pertinente na luta contra as drogas. Por meio de uma linguagem simples aborda assuntos delicados de forma natural, provocando a reflexão dos leitores quanto às formas de abordagem e educação necessárias para a conscientização e prevenção ao uso de drogas.

Criada a partir de uma brincadeira em uma cesta de lixo, a Liga Internacional de Basquete de Rua (LIIBRA) é o maior evento de cultura de rua da América Latina. São dez anos de basquete embalado com o break, os MC’s e o hip hop, que compõem o espírito do torneio. Realizada em diversos estados do Brasil, a atração conecta esporte e música, estimulando a criatividade dos jogadores e explorando suas habilidades físicas.

Com o objetivo promover a integração das comunidades por meio do esporte, a CUFA-RS criou o Torneio Bola Comunitária. O projeto consta em um torneio de futebol entre jovens de 15 a 17 anos, todos moradores de comunidades da região metropolitana. A intenção também é de levar debates e serviços para estes locais, garantindo novas oportunidades para os jovens que as integram e dando visibilidade aos talentos esportivos.

Projetos

Papo Reto |02| novembro

Page 3: Revista Papo Reto - 3ª Edição

03

Acesse o nosso site: www.cufars.org.br

@CufaRS_

Cufa-RS

CufaRS

Page 4: Revista Papo Reto - 3ª Edição

O que vem por aí

p.6

Entrevista com o mestreConheça a história de Rosa Lang, a professora/pintora que está se despedindo das aulas na EMEM Emílio Meyer

MV BillO rapper e fundador da CUFA encerrou as atividades do Projeto Papo Reto Porto Alegre com um show no Gasômetro

A equipe da CUFA fez um levantamento que aponta uma grande proximidade entre os jovens e as drogas

Matéria Especial

PerfilJovem narra as dificuldades para superar as drogas. Ele tem planos de estudar psicologia para ajudar outras pessoas

Expediente

Manoel Soares/Coordenador da CUFA-RSIvanete Pereira/Coordenadora InstitucionalLisandra Félix/Coordenadora do Papo RetoDinora Rodrigues/Coordenadora AdministrativaMariana Soares/Coordenadora de ComunicaçãoDanilo Santos/Coordenador de AudiovisualPaulo Daniel Santos/Pres. Conselho Estadual CUFA-RS

Alexandre Bertolazi/FotografiaAiran Albino/Diagramação e RevisãoEduardo Bertuol/Reportagem, Foto e RevisãoIgor Grossmann/Reportagem e FotoBianca Oliveira/ReportagemCarolina Reck/Reportagem

Papo Reto |04| novembro

p.11

p.30p.8

Page 5: Revista Papo Reto - 3ª Edição

Em um primeiro momento, executei oficinas de

fotografia nas escolas, e em 2008/2009 participei do

projeto PPV (Programa de Prevenção a Violência) em 12

cidades do estado do Rio Grande do Sul.

Em 2010, integrei a equipe de coordenação do

projeto Criança Esperança no morro Santa Tereza, onde

se encontrava na época a base da CUFA. Esse projeto

alcançava jovens da comunidade por meio de aulas de

teatro e de audiovisual, com o objetivo de gravar um

curta-metragem, idealizado pelos jovens e totalmente

produzido por eles.

A partir do ano de 2010, passei a fazer parte da

equipe de palestrantes da CUFA, juntamente com Manoel

Soares e Ivanete Pereira, desenvolvendo palestras em

diversas cidades nas associações de moradores, feiras

do livro e em escolas locais.

Já em 2011, em consequência de uma parceria

com o Instituto OI Futuro, pude voltar a fazer oficinas

de fotografia em 14 cidades do estado, projeto esse

que era executado nas escolas. Ainda nesse mesmo

ano a instituição desenvolveu uma iniciativa chamada

“Circuito Papo Reto”, a primeira cidade a receber e

novo formato de trabalho social foi Canoas.

Seguindo esse mesmo modelo, em 2012 o projeto

Papo Reto foi inserido nas escolas do município de Porto

Alegre, acrescentamos oficinas de teatro e intervenções

nas comunidades. No final de 2012, em paralelo com o

Projeto Papo Reto, a CUFA lançou o primeiro Torneio de

Futebol composto por 32 comunidades periféricas do

Rio Grande do Sul, nesse projeto também pude integrar

a coordenação. A CUFA entendendo o tamanho da

repercussão dentro do estado viu que necessitava de

um representante que pudesse falar pela instituição em

veículos de comunicação, e a partir desse momento

assumi essa função.

Atualmente, no ano de 2013, o projeto Papo Reto

tomou outra proporção. A CUFA começou a fazer bem

mais que levar oficinas para as escolas. A CUFA executou

também um seminário que dá formação exclusiva para

os professores da rede municipal de Porto Alegre.

Nessa nova roupagem, eu assumi o papel de mestre de

cerimônia desses seminários juntamente com as oficinas

de desenhos em três escolas e as palestras.

Atualmente eu tenho 21 anos, tenho formação de

Audiovisual pela CUFA-RS, e, na área do desenho,

tenho formação pelo estúdio Dínamo.

E como desenhista ilustrei o livro “Escudeiro da Luz

em Os Zumbis da Pedra”, que foi escrito pelo Manoel

Soares, coordenador da CUFA-RS e jornalista da RBS TV

e Marco Cena, capista e presidente da editora Besouro

Box. Nos dois últimos anos essa publicação tem sido

usada como ferramenta de prevenção dentro das

escolas da rede municipal de Porto Alegre.

Alexandre Bertolazi/FotografiaAiran Albino/Diagramação e RevisãoEduardo Bertuol/Reportagem, Foto e RevisãoIgor Grossmann/Reportagem e FotoBianca Oliveira/ReportagemCarolina Reck/Reportagem

05

Especial

Daniel foi mestre de cerimônia nos seminários em 2013

Multiplicador

Arquivo Pessoal | Daniel Santos

por Paulo Daniel SantosPresidente do Conselho Estadual CUFA-RS

Page 6: Revista Papo Reto - 3ª Edição

MV Bill

Papo Reto |06| novembro

Para selar o final de mais um ano de trabalho e prevenção, o rapper MV Bill veio a Porto Alegre para o show de encerramento do Projeto Circuito Papo Reto Porto Alegre 2013. A apresentação aconteceu no dia 23 de outubro na Usina do Gasômetro. Cerca de 400 pessoas curtiram as músicas do rapper, e da sua irmã, Kmila CDD. Para completar, o grupo Latitude fez uma participação especial. Além disso, o evento foi transmitido ao vivo pela TVCOM.

Eduardo Bertuol | CUFA

Eduardo Bertuol | CUFA

Eduardo Bertuol | CUFA

Eduardo Bertuol | CUFA

Eduardo Bertuol | CUFA

Alexandre Bertolazi | CUFA

Alexandre Bertolazi | CUFA

Alexandre Bertolazi | CUFA

Page 7: Revista Papo Reto - 3ª Edição

Alexandre Bertolazi | CUFA

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Eduardo Bertuol | CUFAAlexandre Bertolazi | CUFA

Alexandre Bertolazi | CUFA

Alexandre Bertolazi | CUFA Alexandre Bertolazi | CUFA

Alexandre Bertolazi | CUFA

Alexandre Bertolazi | CUFA

Alexandre Bertolazi | CUFA

Page 8: Revista Papo Reto - 3ª Edição

Papo Reto |08| novembro

Há 18 anos como professora na Escola Municipal de

Ensino Médio (EMEM) Emílio Meyer, Rosa Maria Accorsi

Lang está se aposentando. Formada em artes visuais

pelo Departamento de Artes da Universidade Federal

do Rio Grande do Sul (UFRGS), ela lecionou durante

um quarto de século. “Não pensava em ser professora.

Queria ser artista”, revela Rosa. Ela conta que fez o

concurso pra secretaria municipal de educação “meio

por acaso”. “Comecei a trabalhar em sala de aula e

gostei”, diz.

INÍCIO

Rosa iniciou como professora de artes (desenho e

pintura) na escola Larry José Ribeiro Alves, no bairro

Restinga. Após breve passagem, foi transferida para

o colégio Gabriel Obino, em Teresópolis. Lá, foi

convidada para substituir uma professora na EMEM

Emílio Meyer e passou a trabalhar nas duas, já que a

Emílio tinha aulas apenas no turno da noite. “Eu adorei.

E os alunos passaram a reinvindicar aulas também no

período da tarde”. Quando iniciaram as aulas pela

tarde, Rosa passou a lecionar em tempo integral na

escola onde irá se aposentar.

SUPERVISÃO

Após nove anos como professora na Emílio Meyer,

Rosa decidiu que era hora de ir além. Fez uma

especialização em supervisão escolar na Faculdade

Porto-Alegrense (Fapa) mas nunca deixou de ensinar.

“Jamais quis abandonar a sala de aula, pois é onde

acontecem as maiores realizações”, conta. Ela exalta a

estrutura da escola, que dispõe de uma sala adaptada

para cada forma de arte trabalhada: música, cerâmica,

teatro e, é claro, desenho. Já são nove anos de Rosa

Entrevista com o mestrepor Igor Grossmann

Educação e desafio são sinônimos

Fotos: Igor Grossmann | CUFA-RS

Page 9: Revista Papo Reto - 3ª Edição

09

na supervisão da escola, sendo os seis últimos como

supervisora de ensino médio.

DESAFIOS

Ela conta que o maior desafio que encarou nos seus

25 anos como professora é ir evoluindo conforme as

gerações foram passando. “É preciso se modificar,

adequar-se e evoluir. A vida é muito dinâmica e

precisamos acompanhar as mudanças”, diz. Rosa conta

que sua grande paixão é o prazer de ensinar. “No início

do ano, vejo eles falando que não sabem pintar, que

não vão conseguir, mas na Mostra em dezembro eles

apresentam trabalhos fantásticos”, conta sorridente.

Ela afirma que ensinar é algo mágico, mas também

traz apredizagens como tolerância e paciência.

OFICINA DE PINTURA

Um dia, pensando em como poderia tornar a sua

profissão e arte mais próximas das pessoas, Rosa -

que é pintora - percebeu que a maioria dos cursos

de pintura disponíveis no mercado são caros. Então,

há cerca de quatro anos decidiu oferecer uma oficina

aberta à comunidade na escola Emílio Meyer. Com

foco na pintura à óleo, o grupo se desenvolve e gera

trabalhos incríveis (ver fotos). Seus alunos possuem uma

média de idade de 50 anos, porém alguns chegam

perto dos 80. “Na oficina, as pessoas ficam durante

anos estudando e se aperfeiçoando, e isso gera um

entrosamento legal no grupo”, fala.

APOSENTADORIA

2013 foi o último ano de Rosa Maria como

professora. Pelo menos remunerada. É que ela pretende

seguir trabalhando com o grupo da oficina de pintura

à óleo, só que agora como parceira-voluntária da

escola. Foram os próprios alunos que pediram para

Rosa continuar. “No fim do ano, fizemos um churrasco

de confraternização na minha casa. Percebi o trabalho

de professor é um ato de convivência, por isso muitos

ficam tristes quando se aposentam, pois perdem isto”,

reflete. Ela conta que uma colega passou o último

semestre lhe aconselhando a praticar o desapego,

enquanto uma ex-diretora lhe dizia que “o Emílio

Meyer é uma paixão para toda vida”. Rosa concorda

com tudo, mas diz não se arrepender de se aposentar.

DICAS

Antes de se retirar das salas de aulas e aproveitar

a aposentadoria no litoral catarinense, onde já está

montando seu novo ateliê para se dedicar à pintura

com o mar servindo de inspiração, Rosa deixa algumas

dicas para aqueles que iniciam ou pretendem ser

professores. “Primeiro de tudo: tem que gostar muito.

Depois, é necessário ser flexível, estar sempre aberto,

estudar bastante, se atualizar e aceitar certas coisas que

não se pode mudar”, atesta. E sempre estar preparado

para vencer as barreiras que aparecem pela frente.

“Educação e desafio são sinônimos”, completa. O

filósofo grego Sócrates, se vivo fosse, concordaria com

Rosa pois, há mais de dois mil anos, ele já dizia que

uma vida sem desafios não vale a pena ser vivida.

A Emílio Meyer monta uma mostra com os trabalhos dos alunos

Page 10: Revista Papo Reto - 3ª Edição

Lisandra Félix Coordenadora-Executiva Papo Reto

Penso que o primeiro espaço educacional da criança

é a sua casa, recebendo as orientações dos pais para

quando inciarem a trajetória de formação escolar

a criança tenha um senso de obediência, seja um

adolescente educado, jovem participativo e adulto

consciente dos seus direitos e deveres.

A minha primeira infância na década de setenta

foi toda na região leste no morro da cruz e meus pais

sempre deram exemplo como pessoas trabalhadoras

e honestas e se sacrificaram para que eu estudasse

e me empenhava para não desapontá-los e na

primeira oportunidade minha mãe com sua sabedoria

e sensibilidade me inscreveu com 7 anos nas aulas

de Ballet Clássico na escola, e hoje posso dizer que

a disciplina e senso de responsabilidade que vivenciei

nestas nas aulas foram essenciais para minha vida

pessoal e profissional, nem passei perto de colocar

sapatilhas de ponta, mas aprendi que o que realmente

importa é a vontade de superar desafios todos os dias

para atingir uma meta.

Atualmente as crianças e jovens de qualquer

classe social estão sem limites por causa que os

pais não conseguem dar atenção, brincar, dialogar

e também repreender quando necessário, criando

um abismo na relação com os filhos, transferindo

consciente ou inconscientemente para os professores a

responsabilidade de educar seus filhos.

Outro aspecto importante que merece destaque é que

as famílias especialmente dos moradores das periferias

não são mais nucleares, sendo a mãe a grande gestora

de todos os problemas familiares, provocando uma

vulnerabilidade emocional na família, neste contexto

estão todas as interferências externas que podem

influenciar um jovem nas suas escolhas que pode ser

um programa de televisão que motiva a gurizada a ter

coisas caras da moda que não pode comprar, os apelos

violentos à disposição na redes sociais, acrescentado

as conversas com os “amigos” que já estão trilhando

um caminho minado e querem levar todos para o

mundo do crime e das drogas, somado a dificuldade

dos pais que não conseguem lidar com suas próprias

frustrações e acabam descontando no filho que por sua

vez desconta no professor se transformando naquele

aluno violento ou então completamente desligado.

Vejo que cada vez mais precisamos dar atenção à

família que está doente que agoniza pedindo socorro e

sua forma de expressar muitas vezes é se afundando na

drogadição, no crime, na depressão, no alcoolismo e

cabe a nós educadores sociais criarmos estratégias para

decodificarmos os sinais que estão aí escancarados e

cada vez mais trabalharmos com a prevenção através

de tecnologias sociais que venham de encontro com as

necessidades das famílias.

Papo Reto |10| novembro

Palavra

Precisamos daratenção à família

Alexandre Bertolazi | CUFA-RS

Page 11: Revista Papo Reto - 3ª Edição

A Central Única das Favelas preza, acima de tudo, o

indivíduo na condição de protagonista para fazer o bem ao

outro e a si mesmo. Acreditamos que o próprio ser humano

quer evoluir, mas, muitas vezes, ele não tem portas de acesso

à evolução tão sonhada pelas pessoas. As nossas ações

querem que o indivíduo se olhe no espelho e se enxergue

como esse agente transformador da sua realidade e da

realidade a sua volta. Um agente transformador e, acima

de tudo, multiplicador das ações e projetos da CUFA.

A instituição lida com a prevenção às drogas. Trabalhamos

nas comunidades dentro das escolas, com alunos e

professores, levando o assunto para dentro do ambiente

escolar. A CUFA acredita que o ensino e a conscientização

deve começar desde cedo e da melhor maneira possível: a

prevenção.

Para termos uma ideia de como os estudantes enxergam

as drogas, o crime e a questão da internação, resolvemos

realizar um levantamento. Entre os dias 2 e 30 de outubro

de 2013 fomos em 16 escolas da rede municipal de ensino

para fazer essa coleta de dados. Crianças de 10 a 16 anos

responderam 10 perguntas.

O nosso objetivo é saber como os jovens lidam com a

questão da drogadição e qual o conhecimento deles sobre os

diferentes tipos de droga. Além disso, o levantamento serve

como base de dados para uma pesquisa ainda maior e mais

abrangente, que pode ser feita por institutos especializados

no ramo. Confira na página a seguir o resultado desse

trabalho.

Impacto

100% dos alunos conhecem algum

tipo de droga

87% conhece alguém que já

se envolveu com drogas

22% já experimentaram

drogas

45% já teve um parente preso

por Mariana Soares

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Page 12: Revista Papo Reto - 3ª Edição

Papo Reto |12| novembro

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6

5

43

2

1 DROGASCem alunos responderam as questões do

levantamento. Destes, 54% são do sexo feminino e 46%

do sexo masculino. A primeira pergunta diz respeito

ao conhecimento de drogas – “Você já ouviu falar em

drogas?“. As respostas mostraram que 100% delas

responderam “sim”. Isso mostra que o tema está no

cotidiano dos jovens.

QUAL VOCÊ CONHECE?Essa questão pedia para os alunos citarem quais

drogas eles já ouviram falar. Eles podiam escrever mais

de um tipo. A maconha foi citada por 70% dos alunos.

O crack, por 52% e a cocaína por 29%. Depois, em

menos escala, apareceram loló (5%), ecstasy (2%), oxi

(2%), cigarro (1%) e heroína (1%). Vale ressaltar que

apenas um jovem apontou o cigarro como droga.

FAMÍLIAA terceira pergunta abrange os familiares dos jovens.

“Alguém da sua família já se envolveu com drogas?”.

54% dos alunos responderam que sim o que mostra o

alcance indireto das drogas na vida destes jovens.

AMIGOS E CONHECIDOSQuarta pergunta: “Você conhece alguém que já se

envolveu com drogas?” Assim como a anterior, essa

surpreendeu ainda mais. 87% dos alunos responderam

“sim”, que sabe de alguma pessoa que já tenha

experimentado algum tipo de entorpecente. Já 13%

responderam “não”, que não conhecem ninguém que

tenha usado drogas.

E VOCÊ?Como essa pergunta era pessoal, os alunos tinham

a opção não responder, porém, todos eles assinalaram

uma alternativa para a questão “Você já experimentou

algum tipo de droga?”. 22% afirmou que sim, que já

havia usado algum tipo de droga.

Page 13: Revista Papo Reto - 3ª Edição

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987

6 INTERNAÇÃOA próxima pergunta trata de internação. Procuramos

saber se os jovens conhecem pessoas que já foram

internadas para se tratar de algum vício. A questão

era “Você conhece alguém que já foi internado?”. O

resultado foi que 40% dos jovens responderam que

“sim”, que conhecem alguém. Já 60% dos entrevistados

disseram que “não”, não conhecem nenhuma pessoa

que foi internada em razão do vício.

PRISÃOA questão carcerária também esteve presente no

levantamento. A pergunta “Alguém da sua família já foi

preso?” apontou 45% dos alunos afirmando que sim e

55% assinalaram a opção não. Outro ponto tratado foi

a violência.

MORTEA oitava pergunta diz respeito à morte: “Você já viu

alguém morto?”. Com as alternativas pré-estabelecidas,

os jovens podiam marcar “sim” ou “não”. Como

resultado, 63% dos alunos responderam que já tinham

visto alguém sem vida. E os outros 37% negaram,

dizendo que nunca viram uma pessoa morta.

PAISA pergunta de número nove aponta a questão da

proximidade familiar. “Como é o seu relacionamento

com os seus pais”. Os alunos tinham três opções de

resposta: “bom”, “regular” e “ruim”. Destes, 83%

consideraram que o relacionamento com os pais é bom,

17% acham que é “regular” e nenhum acredita que tem

um relacionamento ruim com os pais.

DIÁLOGOA última questão do levantamento fala sobre o

diálogo entre os alunos e seus pais. Com a pergunta

“Você já conversou com seus pais ou responsáveis

sobre esse tema?”. O resultado foi que 66% dos alunos

disseram que sim, que já trataram do assunto com os

parentes. Já 34% dos jovens responderam que nunca

discutiram o tema das drogas com os pais.

Page 14: Revista Papo Reto - 3ª Edição

Papo Reto |14| novembro

Mural do Professor

Aqui é o espaço onde o professor pode dar a sua opinião sobre o Circuito Papo Reto. Nos seminários, os docentes tem um espaço para preencher avaliando as palestras. Essa é a hora de se expressar e mostrar como é válida essa troca de experiência. E de que maneira essa iniciativa mudou a sua forma de pensar.

Importante para conhecer a rede de apoio no município e que podem ajudar na relação com as famílias.

Legal poder ter contato maior/mais profundo com a realidade

social.

Uma das melhores

partes do seminário

devido aos professores

escutarem as histórias

de vida. Pura realidade

a verdade que o mundo

não quer aceitar.

Muito bom. Bem objetivo apresentando e pontuando questões centrais que podem nos ajudar na sala de aula.

Bom para relembrar questões como a necessidade de vínculos para atingir a criança ou o adolescente, assim como o uso de elementos

como funk e hip hop para essa aproximação.

Discussão interessante sobre as questões de leis sobre drogas, ineficiência das mesmas, recuperação e prevenção.

Adorei! Papo direto, super claro, esclarecedor

Volume de informações muito bom, articulação bem feita entre as áreas da educação e da assistência social.

Excelente abordagem quanto a ações multidisciplinares em rede na atenção, cuidando alunos em risco.

Uma boa abordagem, ampla, sobre os recursos sociais a que podemos recorrer no caso de problemas com alunos em situação de vulnerabilidade.

Temática muito interessante e que traz à tona a importância da prevenção que engloba muitas ações que não estão sendo oferecidas pelo estado e a sociedade.

A palestra foi ótima, esclarecendo os aspectos jurídicos em relação às drogas. Foi didático e objetivo. A reflexão sobre a sistema prisional foi ótima.

Page 15: Revista Papo Reto - 3ª Edição

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escolasolução

Em Porto Alegre, a iniciativa de prevenção ao crack nas escolas foi pioneira. Abrangendo os alunos de 51 escolas municipais da capital, a CUFA-RS realiza desde 2012 o Projeto Circuito Papo Reto Porto Alegre, projeto em parceria com a Prefeitura de Porto Alegre através da Secretaria Municipal de Saúde e Educação e que neste ano ganhou outro parceiro importante: o Hospital Divina Providência. Em 2013 o objetivo é superar em 30% o número de atendimentos dos ano passado, através das ações realizadas nos pátios e salas de aula, com palestras, oficinas e atividades culturais inspiradas na ferramenta de prevenção “O Escudeiro da Luz em os Zumbis da Pedra“. Nesta edição, destacamos as seguintes escolas:

Page 16: Revista Papo Reto - 3ª Edição

Papo Reto |16| novembro

Victor Issler por Carolina Reck

“A educação é um direito e um dever”. A frase

estampada em meio às artes em grafite está no muro

frontal da EMEF Vitor Issler. Com cerca de 1.500 alunos

e 25 anos de história, disponibiliza em turnos inversos

atividades como oficina de teatro, dança, futebol,

rádio, grêmio estudantil e robótica. Conta também

com o programa Mais Educação, do Governo Federal,

o Cidade Escola e acontecimentos como a exposição

anual dos trabalhos realizados pelos alunos.

ESCOLA COMO ALAVANCA

“A sociedade só se transforma quando a escola for

a alavanca”, assegura a diretora Sandra Hass. Para ela

a rotina equilibrada desenvolve habilidades sociais nos

alunos. “Escola não tem que desenvolver habilidades

necessárias apenas para o ensino e aprendizagem,

mas para o desenvolvimento do ser humano completo,

capaz de encarar a realidade”, elucida. Além disso, a

Issler se propõe a estabelecer elos com a comunidade.

“Buscamos para monitores as pessoas da comunidade

também, ex-alunos, pais... Tentamos a proximidade”,

explica a professora Luciene Borba Sobotyk, mentora

do projeto de robótica.

ROBÓTICA

Implantado pela Prefeitura de Porto Alegre, a

robótica tem seis anos de existência e garantiu aos

alunos a oportunidade de participação em eventos

como a Olimpíada Brasileira de Robótica, a First Lego

League (FLL), em que ganharam dois prêmios de mentor

de equipe. “Trabalho em equipe é fundamental. Se

sucesso aconteceu é graças a todos. Procuro trabalhar

a questão de que estamos aqui para dar o melhor e

aproveitar tudo que é possível”, resume Luciene.

PAPO RETO

A participação da CUFA RS na escola se dá por

meio da oficina de teatro. Trabalhando a prevenção

às drogas, a oficina conta com exercícios variados, que

juntamente com ensaios levam à apresentação de uma

peça final. “No começo perguntei o que era respeito

para os alunos. A partir disso montamos um mural.

Toda aula conversamos sobre a questão do respeito,

civilidade, a não violência. Temos que aprender a

trabalhar juntos e levar através dessa peça, que é um

símbolo, a mensagem para os pequenos de que não

devem usar drogas”, esclarece Aloísio.

Os cerca de 1.500 alunos podem participar de oficinas de teatro, dança, futebol, rádio, grêmio estudantil e robótica

Carolina Reck | CUFA-RS

Page 17: Revista Papo Reto - 3ª Edição

17

A Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF)

Wenceslau Fontoura abriga cerca de 900 alunos,

divididos nos três turnos. Desde 1996 educando

no bairro Rubem Berta, na zona norte da Capital, a

escola chegou a ser incendiada neste ano. Mas, com

a ajuda da comunidade e do poder público, as salas

atingidas foram recuperadas e entregues aos alunos

em tempo de não prejudicar as atividades letivas. A

CUFA participou da “Muvuca de Reconstrução”, evento

solidário que ocorreu em frente à escola.

REALIDADE DAS DROGAS

Para a orientadora educacional Marlise Zarpelon,

é bastante importante o trabalho desenvolvido pela

CUFA, visto que a comunidade em que está inserida

a escola vive a realidade das drogas, do tráfico e

da violência, segundo ela. “Esse trabalho tem que

continuar, se expandir e ser mais abrangente. Aqui

a realidade é difícil, e trabalhar a prevenção ao uso

de drogas com os alunos é importante por isso, para

que eles tenham uma vida plena pela frente”, conta a

orientadora.

OUTROS PROJETOS

Na Wenceslau Fontoura, todo sábado é dia de

Escola Aberta, onde todos da comunidade são bem-

vindos para desenvolver atividades esportivas no local.

Além disso, os alunos podem usufruir de oficinas de

judô, karatê e dança - fora os esportes. A educadora

Marlise busca desenvolver monitorias também, como

na biblioteca e na hora do recreio, com brincadeiras

no pátio. Ela agora busca tornar monitores os alunos

que desenvolveram as atividades teatrais na oficina

da CUFA. “É importante, eles vão poder ajudar

no desenvolvimento de colegas com necessidades

especiais”, finaliza.

Wenceslau Fontourapor Igor Grossmann

Mesmo depois do incêndio, alunos se mobilizaram para recuperar o tempo perdido e correr atrás de um bom resultado

Igor Grossmann | CUFA-RS

Page 18: Revista Papo Reto - 3ª Edição

Papo Reto |18| novembro

Pepita de Leão por Igor Grossmann

No bairro Passos das Pedras, na zona norte de Porto

Alegre, a Escola Municipal de Ensino Fundamental

Pepita de Leão educa gerações de alunos há 53 anos.

A instituição atende cerca de 550 estudantes. Muitos

são netos de ex-alunos, conta o diretor João Willy

Schmidt Cerski.

TRADIÇÃO EM PROJETOS

Na Pepita de Leão, historicamente há projetos extra-

curriculares. “Uma larga tradição”, como define o

diretor João. O grupo de dança existe há 15 anos e o

coral há 12. João entende que a escola muitas vezes

é vista como um ambiente chato para os alunos e que

cabem aos professores tentar torná-la mais atraente

aos olhos dos jovens. Por isso as atividades fora do

horário de aula.

TEMPLO SAGRADO

A CUFA RS desenvolve oficina de desenho na

EMEF Pepita de Leão. Para o diretor João, “este

trabalho enriquece a escola e os alunos com novas

ideias e propostas”. Ele percebe o colégio como

um tempo sagrado, onde os professores têm uma

missão civilizatória ao centralizar debates e permitir a

transmissão de conhecimento.

MEDIANDO CONFLITOS

Além da oficina da CUFA, há projetos como

Laboratório de Inteligência do Ambiente Urbano (LIAU),

que trabalha ecologia e sustentabilidade, robótica,

esportes, orquestra de flauta, entre outros. A escola

também se preocupa com a mediação de conflitos.

“Aqui não toleramos violência”, relata o diretor.

PAPO RETO

Para João, o seu trabalho consiste em melhorar o

desempenho escolar e manter os jovens estudando.

“Muitos aqui estão em situação de vulnerabilidade

familiar, material e social. Se um aluno pratica esporte

e não evade, já é uma vitória”, afirma o diretor. Ele

entende que se um estudante abandona a escola, este

aluno está a um passo de se envolver com drogas e até

com o tráfico.

João ainda destaca o seminário Circuito Papo

Reto promovido pela CUFA RS para os professores da

rede municipal. “É uma oportunidade de municiar os

educadores para tratar este tema de maneira horizontal

em sala de aula”, afirma.

Na escola Pepita de Leão a CUFA desenvolve oficina de desenho com os alunos oferecendo novas ideias e propostas

Igor Grossmann | CUFA-RS

Page 19: Revista Papo Reto - 3ª Edição

19

Timbaúva

A escola Timbaúva já existe a 12 anos sendo muito

conhecida e admirada por todos no bairro. Ao chegar,

já se pode notar tamanha organização. Rodrigo

e Douglas os professores de teatro da Cufa RS

apresentaram a Aleteia que é supervisora do 1º ciclo e

a Juliana Selau, que tem acompanhado o trabalho da

Cufa na escola.Aleteia relatou como tem funcionado

a pareceria da instituição e como tem influenciado na

mudança de cada aluno.

OFICINA

O professor Rodrigo iniciou a sua oficina com a

primeira turma no centro da sala, fazendo uma roda

com uma breve conversa como de costume. Após o

dialogo, começou a primeira atividade com Douglas

no comando do radio e Rodrigo no comando da turma

era hora de trabalhar. A primeira atividade era referente

a concentração. Com todos sentados no chãoao som

da musica tiveram que passar a bola um para o outro

em silencio.

PAPO RETO

“A chegada da Cufa tem sido bastante positiva, pois

eu tenho visto os professores acreditarem nos alunos e

era disso que eles estavam precisando, de alguém que

mostrasse que eles tem talentos e que bastava apenas

acreditarem em si mesmos” relata Aleteia.

SATISFAÇÃO

Os dois oficineiros da CUFA falam sobre a

experiência em dar aulas de teatro na escola. “Para

nós é uma satisfação ver um sorriso no rosto do aluno

e ouvir que eles gostam de nossas aulas”, conta o

oficineiro Douglas Castro. “Fico feliz quando vejo que

meu trabalho está dando certo, quando vejo cada

aluno atuando percebo que nada tem sido em vão”,

fala Rodrigo Reis.

ALUNOS ESPECIAIS

Os alunos que participam das atividades são da

turma do reforço escolar (alunos que tem dificuldades

em acompanhar algumas matérias). Para Juliana, a

oficina tem sido importante. “Mesmo sendo alunos

de reforço, quando eles chegam na oficina de teatro

eu consigo perceber uma grande mudança, não só

no comportamento mais também na evolução e na

capacidade de aprender e decorar os textos” relata

Juliana.

PROFESSORES DE PARABÉNS

Ela ainda conta que os professores estão de parabéns

pois raramente faltam e nunca chegaram atrasados. A

Cufa chegou na escola em agosto desse ano fazendo

assim uma grande diferença. “A chegada da Cufa foi o

ponto certo, era o que faltava para a nossa escola estar

completa. Eu não tenho que reclamar. O projeto está

aprovado. Acho que poderia ter mais aulas na semana

já que os alunos gostam tanto”, diz Juliana.

por Bianca Oliveira

Os alunos que fazem as oficinas são da turma de reforço

Bianca Oliveira | CUFA-RS

Page 20: Revista Papo Reto - 3ª Edição

Papo Reto |20| novembro

Décio Martins Costa

Completando o 50º aniversário neste ano, a EMEF

Décio Martins Costa apresenta alguns problemas de

infraestrutura. Na manhã chuvosa de segunda-feira,

as goteiras no corredores e na sala de aula mostravam

que o prédio já sentia o peso da idade. Apesar disso,

as comemorações de aniversário são realizadas com

atividades que buscam resgatar a história da escola.

OFICINAS

Na sala da direção, a professora e a atual diretora

do local, Clarice Menegaz Mezzomo, destaca que

apesar deste ano as atividades serem mais voltadas à

escola, o local possui outros projetos no cronograma

dos alunos. “No contra-turno dos estudantes nós

temos o Laboratório de Aprendizagem e a parceria

com a Fundação de Educação e Cultura do Sport

Club Internacional, o FECI, que atende 50 crianças no

turno da manhã e 50 na tarde”, destaca a diretora.

Ela também afirma que os oficineiros da instituição

costumam trabalhar com a música e o esporte. “Temos

bastante torneios, mas quando temos atividades fora é

a música que marca o exercício. Além disso, possuímos

uma oficina musical realizada pela nossa professora

que atende o coral”, ressalta Clarice. A escola ainda

conta projeto como o Laboratório de Inteligência do

Meio Ambiente, Grêmio Estudantil e Rádio Escolar.

A IMPORTÂNCIA DE PREVENIR

Neste ano, Clarice relata o comprometimento

não apenas dos alunos, mas do oficineiro Rodrigo

nas aulas de teatro. “Por trabalhar em contra-turno,

as crianças se adaptaram melhor. Além disso, o

Rodrigo costuma chegar com antecedência e mostra

compromisso com as atividades realizadas”, conta a

diretora. Ela também destaca que o tema prevenção

faz muitos pais não deixarem os alunos participarem

da oficina. “Embora a prevenção seja algo importante,

os pais acham desnecessário falar disso cedo. Tivemos

alguns familiares que mandaram de volta o livro, pois

não queriam que os filhos lessem aquilo”, relata.

A PROBLEMÁTICA DAS DROGAS

Professora a mais de 30 anos, Clarice avalia

negativamente a reação dos pais quanto ao livro. “Na

nossa região possuímos um problema sério em relação

às drogas e a prevenção é algo muito importante”,

afirma. Ela conta que a escola já apresentou este

problema entre os estudantes. “Já tivemos alguns

alunos que pegamos com droga dentro da escola e

encaminhamos para o DECA, mas infelizmente não

conseguimos resgatar nenhum deles”, revela. “Eles

tentam trazer para dentro da escola, alguns trazem e a

gente leva um tempo até descobrir. Possuímos também

alunos que a gente sabe que usam, pois já chegam

de manhã demonstrando isso”, conta. “A questão da

droga é o pior problema que nós temos”, completa a

diretora.

PAPO RETO

Há 9 anos na direção, Clarice avalia positivamente

o Projeto Papo Reto, que vem sendo realizado desde

o ano passado. “As atividades oferecidas pela CUFA

são muito legais, hoje temos pela escola o grafiti com

nome Papo Reto e figuras realizadas no ano passado”,

conta. “A gente costuma ver paredes riscadas, mas o

mais legal de ver é que o grafiti feito não possui um

risco em cima, ninguém riscou”, completa a diretora

que trabalha há 23 anos na escola.

por Eduardo Bertuol

Nem todos alunos puderam participar do Projeto Papo Reto

Eduardo Bertuol | CUFA-RS

Page 21: Revista Papo Reto - 3ª Edição

21

Grande Oriente

Com uma página do Facebook com frequentes

atualizações, a EMEF Grande Oriente do Rio Grande

do Sul traz inúmeros projetos para manter o aluno com

educacional integral. Com a parceria da prefeitura, a

instituição possui programas como o Cidade Escola,

Vivências com Música, além do Projeto Caminhando

Para a Paz, que engloba rádio web, o teatro e oficinas

de vídeo. A professora e coordenadora do Cidade

Escola, Alessandra Felício, destaca a aceitação das

crianças. “Os estudantes costumam abraçar os

projetos idealizados dentro da escola, eles participam

com frequência. Nos finais de semana é que existem

demandadas”, conta.

PROJETOS EM PROL DA EDUCAÇÃO

O local também possui parceria com o Programa

Mais Educação e o Escola Aberta, do qual pessoas da

comunidade realizam oficinas em turno integral nos

sábados. Nelas são realizadas atividades de artesanato,

hip-hop, karatê, capoeira e futsal. “Desta forma, não

apenas os alunos, mas toda a comunidade conhece

a escola e começa a abraçar a ideia da educação”,

revela Alessandra.

PAPO RETO

A coordenadora Alessandra avalia o Projeto Papo

Reto como um programa muito bem aceito entre os

alunos e os professores. “O trabalho realizado é

excepcional, pois trabalha com o tema da prevenção

utilizando diversos fatores importantes na formação de

uma criança, como a leitura com o livro O Escudeiro

da Luz, o desenho com as aulas de grafitti do ano

passado, e a atuação com as oficinas de teatro”, conta.

MÚSICA CONTRA AS DROGAS

Na sala de computação, o oficineiro Gilmar Colares

conta com aproximadamente sete alunas agitadas e

dispostas a ensaiar as cenas. No ritmo do rap, elas

decoram a música composta pelo oficineiro e que faz

referência a prevenção às drogas. Além de treinar a

coreagrafia de “Thriller”, música de Michael Jackson, e

ensaiar as cenas do livro O Escudeiro da Luz.

ATENÇÃO AO COMPORTAMENTO

A diretora da escola, Elaine Gregory, revela que o

Papo Reto é importante, pois a instituição se encontra

em uma região de risco. Ela conta que este ano a

escola está começando a ter problemas durante o

período noturno. “Em relação as drogas, na parte da

noite ocorre mais, mas já pegamos alguns alunos no

dia com maconha”, revela a diretora. Preocupados, o

local solicitou um intensivo da guarda municipal no

período da noite, principalmente nos recreios e com

algumas regras.

CONFLITOS NO ENTORNO

O entorno da escola também mostra ser perigoso

para os estudantes do local. Segundo a diretora Elaine,

uma briga entre traficantes no núcleo da comunidade

e os tiroteios são frequentes. “Por causa disso, muitos

alunos têm pedido para sair mais cedo das aulas,

pois estipularam o toque de recolher depois das dez

horas da noite”, conta Elaine. A escola tem acionado a

Brigada Militar quando possível, afirma a diretora que

conta que o seminário Papo Reto tem colaborado para

os professores entenderem mais os alunos e o mundo

em que vive a comunidade em que eles moram.

por Eduardo Bertuol

O livro do Escudeiro da Luz é bastante trabalhado nas oficinas

Eduardo Bertuol | CUFA-RS

Page 22: Revista Papo Reto - 3ª Edição

n

Papo Reto |22| novembro

Ildo Meneghetti por Bianca Oliveira

A EMEF Governador Ildo Meneghetti localiza-se na

Vila Nova Santa Rosa, Bairro Rubem Berta. A escola

conta com espaços diferenciado para o estudo como

laboratório de informática e de aprendizado, além

de ma biblioteca com diversas obras que agregam

conhecimento dos alunos.

BEM VINDOS

Era segunda-feira, dia de aula de teatro da oficina

do Projeto Papo Reto da CUFA RS. Do pátio da escola,

indo em direção às salas, foi possível perceber o quanto

a CUFA é bem-vinda. A professora Maria Bernadete

prova esse fato e diz que o convênio com a instituição

tem sido ótimo para o aprendizado dos alunos. “Abrir

a minha turma para a CUFA foi a melhor coisa que eu

poderia ter feito. Essa parceria tem dado certo desde o

ano passado”, fala.

HORA DA VERDADE

Os alunos estavam montando suas apresentações

para a última aula. Já era reta final, correria para todos

os lados, ensaio daqui e dali para se fechar um grande

espetáculo. “Estamos na reta final agora é a hora de

fazer tudo acontecer.” conta o oficineiro Douglas.

TURMA CHEIA

A turma é muito grande e tem bastante alunos, a

ponto de ter que dividi-los em dois grupos. Mesmo

assim, a oficneira do Projeto Papo Reto Carolina

de Oliveira confia em seus alunos e no ensino de

qualidade que é possível ter nas duas turmas. “Eles têm

se superado muito. Eu acredito que estão prontos para

a apresentação final”, relata Carol.

QUASE NO FIM

O tempo estava passando, os ensaios chegando ao

fim, era hora de partir e deixar como tema de casa os

ensaios para que tudo ocorra bem na apresentação

final.

Alunos da oficina de teatro do Projeto Papo Reto atentos nas últimas orientações dos oficineiros Carolina e Douglas

Bianca Oliveira | CUFA-RS

Page 23: Revista Papo Reto - 3ª Edição

23

Jean Piagetpor Igor Grossmann

Há 21 anos educando no bairro Rubem Berta, na zona

norte de Porto Alegre, a Escola Municipal de Ensino

Fundamental (EMEF) Jean Piaget, conta hoje com 750

alunos nos três turnos: manhã, tarde e noite. Além do

ensino fundamental, educação de jovens e adultos (EJA)

preenche a grade escolar da instituição. O nome do

colégio homenageia um pensador e educador suíço que

propunha uma nova filosofia na educação e criticava o

método tradicional de ensino, onde o professor dita e o

aluno copia e repete.

ENVOLVIMENTO E INTEGRAÇÃO

Para a supervisora do segundo e terceiro ciclos da

instituição de ensino, Vera Lúcia Santiago, a CUFA se

insere neste contexto de uma abordagem diferenciada.

“O projeto Papo Reto, com a oficina de teatro, é

produtivo e interessante. O resultado é muito bom, os

alunos se envolvem. Isto ajuda no desenvolvimento e

integração do grupo”, relata.

ABORDAGEM ADEQUADA

A Jean Piaget também enfrenta problemas

relacionados com as drogas. Por isso, ressalta Vera,

o trabalho dessenvolvido pela CUFA, de prevenir o

uso de drogas, se torna ainda mais importante. “O

que acontece na comunidade acaba respingando na

escola. Buscamos promover atividades saudáveis para

evitar que o jovem se envolva com coisas que não são

as ideais”, diz. “O Papo Reto nos auxilia nessa missão,

que já que aborda este tema de maneira apropriada,

de um jeito que talvez a escola sozinha não conseguisse

fazer”, completa.

Diretora e professores acreditam que o trabalho desenvolvido pela Cufa, de prevenir o uso de drogas, é importante

Igor Grossmann | CUFA-RS

Page 24: Revista Papo Reto - 3ª Edição

Papo Reto |24| novembro

por Carolina ReckJoão Antônio Satte

Com 1200 alunos, a escola João Antônio Satte atende

aos bairros Parque dos Maias, Rubem Berta, Sarandi e

proximidades. O espaço escolar também garante vagas

para alunos que provém da cidade de Alvorada. Entre

oficinas de esporte, leitura e escrita, Laboratório de

Aprendizagem e Cidade Escola, tem como diferencial

a iniciativa de um grupo de professores: o grupo de

teatro. Mesclando ao figurino e facetas caricaturizadas

a literatura e alfabetização, o grupo busca entreter e

incentivar os alunos culturalmente.

ALUNOS SÃO PLATEIA PARA O APRENDIZADO

“O que pensamos foi em dar um presente para

os alunos. Em geral eles não têm um momento para

assistir esse movimento mágico de dar vida aos

personagens. Vendo nossas peças eles têm postura de

plateia. Apreciam, participam e interagem”, ressalta a

professora Sandra Rejane Claro do Santos, responsável

pela projeto. Inicialmente poucos educadores se

engajaram na causa, com o tempo foram necessários

novos papéis para os interpretes que surgiam,

formando um grupo com 12 integrantes. As peças e

danças são apresentadas em datas relevantes, como

o dia da consciência negra e das crianças. Além do

potencial para entreter e até mesmo conscientizar os

alunos, o teatro ajudou professores a se relacionarem e

tornarem o espaço em que convivem mais harmônico.

“Integrou muito os professores, nos divertimos muito”,

ilustra Sandra.

EMBARQUE NA HISTÓRIA

“Essa interação entre professores é muito importante.

O grupo cria vínculos bons, fortes com o teatro”, alega

a coordenadora pedagógica do 1º e 2º ciclos da

escola, Helenara de Oliveira. A reação dos jovens ao

prestigiarem apresentações como “ A Dona Baratinha”

é de diversão e despertar para o senso crítico. “Os

pequenos embarcam muito na história. Esses dias,

um dos meninos perguntou para a professora se ela

era a dona baratinha. Ao ouvir que sim, disse que

ela chorava muito bem, mas que sabia que era tudo

atuação”, informa Helenara.

OUTROS PROJETOS

A escola também oferece oficinas como a de

esportes e de literatura, que ocorrem no turno inverso,

duas vezes por semana. No caso da segunda, os alunos

leem textos específicos, produzem conteúdo em aula e

realizam tarefas em casa. “É um período a mais dentro

da escola, em que desenvolvem a questão da oralidade,

de se colocar no lugar do outro, se posicionar, ficarem

mais educados”, resume a coordenadora.

PAPO RETO

Na oficina de teatro do Projeto Papo Reto, da CUFA

RS, a vez de atuar foi dos alunos. Trabalhando a temática

da prevenção ao uso de drogas, a oficineira Melissa

Dornelles desenvolveu um rádio. Os cinco alunos que

fizeram a intervenção cultural representavam diferente

estações, e surpreenderam alunos de quatro turmas

com notícias, anúncios e músicas.

Melissa procura realizar atividades que cativam a turma

Carolina Reck | CUFA-RS

Page 25: Revista Papo Reto - 3ª Edição

25

Lauro Rodrigues

“Pequenas coisas constroem a relação da escola

com a comunidade”, pronuncia o diretor da EMEF

Lauro Rodrigues, Silvio Luís Capaverde, ao explicar

a influência do arquiteto Antoni Gaudí nos muros

da Lauro. A escola localizada no bairro Jardim Ingá,

atende a moradores de sete bairros da região. Com

700 alunos, busca em atividades extracurriculares

preencher lacunas na educação.

MÚSICALIDADE, BANDA E RÁDIO

Para aqueles que apreciam a música, disponibiliza

a banda e uma rádio. A reunião da Rádio Escolar

ocorre uma vez por semana, na manhã, e neste espaço

diferentes estilos musicais são difundidos. Outro dos

projetos com diferencial é o xadrez, incluso como

modalidade dos jogos escolares que ocorrem em

agosto. Há também o projeto de educação ambiental,

em que um terreno baldio foi apropriado para a

criação de um bosque. Os alunos com dificuldades

em sala de aula recebem auxílio de projetos como a

brinquedoteca, o Laboratório de Aprendizagem e Sala

de Integração e Recursos (SIR).

INTEGRANDO RECURSOS

O novo projeto da escola, que iniciou as atividades

neste ano, é a Sala de Integração e Recursos (SIR). O

espaço é para jovens com necessidades especiais e

dificuldades em sala de aula. Trabalhando com a lógica,

desafios, jogos e produção de textos, ocorre em turno

inverso e atende as necessidades individuais de cada

aluno. “Isso envolve também problemas familiares,

sociais e a história de vida de cada um”, reitera a

orientadora educacional e educadora especial Simone

Moraes, responsável pela iniciativa. Efetivamente 23

alunos participam, do 1º ao 9º ano. “É um trabalho

de formiguinha. São pequenos progressos que para as

crianças são imensos”, informa a professora.

LABORATÓRIOS ENVOLVENTES

No caso da brinquedoteca, o diretor afirma que vai

além de entretenimento. Existente há dez anos, envolve

o acompanhamento de pedagogos e jovens do jardim

ao 5º ano. “A hora de brincar é reveladora. As vezes

um aluno não quer falar de seus problemas, se formos

fazer uma leitura de seu modo de agir brincando

podemos identificar isso”, consta Silvio. No contra

turno também ocorrem atividades do Laboratório

de Aprendizagem, que trabalha com a superação

de dificuldades de crianças a partir de atividades

de informática, consciência corporal, auto-estima,

linguagem oral, escrita e leitura. As aulas são feitas

com seis grupos, que têm em média quatro alunos

cada.

PAPO RETO

Em agosto deste ano se iniciaram as oficinas de

teatro do Papo Reto na Lauro Rodrigues. O momento

é proporcionado pelo oficineiro Gildo Carvalho.

Juntamente com os alunos, o profissional está

montando uma peça baseada na história do “Escudeiro

de Luz em Os Zumbis da Pedra”, e cerca de 22 alunos

participam. “A oficina é muito importante pela questão

da comunicação que gera com eles. Aborda questões

relevantes de forma lúdica; o bullyng, o preconceito,

o gênero. A ferramenta teatro é fundamental na

educação das crianças”, expõe o oficineiro. De acordo

com Carvalho a oficina também trabalha com a

liberdade dos jovens, seus medos e timidez.

por Carolina Reck

Alunos aprendem e se divertem nas aulas de teatro

Carolina Reck | CUFA-RS

Page 26: Revista Papo Reto - 3ª Edição

Papo Reto |26| novembro

Liberato Salzano por Igor Grossmann

No bairro Sarandi, zona norte de Porto Alegre, a Escola

Municipal de Educação Básica (EMEB) Dr. Liberato

Salzano Vieira da Cunha forma gerações de estudantes.

A instituição, que fará 60 anos em 2014, é uma das

poucas que oferece ensino completo na Capital. Nela,

há educação infantil, ensinos fundamental e médio,

além de ensino técnico profissionalizante e educação

de jovens e adultos (EJA). 1.600 alunos estudam no

local.

AMOR PELA ESCOLA

A vice-diretora do turno da noite é um exemplo de

alunos que completaram sua formação na Liberato.

Dinara Bittencourt se formou na escola e, 13 anos

depois, voltou para lecionar. O pai, o irmão e o

marido de Dinara também estudaram neste colégio.

“Tenho muito amor pela Liberato. Quando voltei como

professore, fiquei encantada por trabalhar ao lado

daqueles que me deram aula. Eles me acolheram

muito bem. Digo para os alunos estudarem bastante

para alcançarem seus sonhos”, relata com um sorriso

nos lábios.

FORMAÇÃO SEM EVASÃO

Para a diretora Cleusa Maria Leite, o fato de a

instituição proporcionar uma formação básica completa

diminui a evasão, principalmente após o aluno concluir

o ensino fundamental. “O estudante tem a opção de

continuar aqui e cursar o ensino médio. Diferente de

escolas que oferecem só o fundamental, aqui o jovem

pode continuar com a sua turma até o fim da vida

escolar”, argumenta.

PAPO RETO

A Cufa/RS está presente na escola pelo segundo

ano consecutivo. A diretora Cleusa imaginava

que seria um projeto passageiro, mas se disse

surpreendidapela retorno dos alunos. “Em 2012, foi

trabalho o livro Escudeiro da Luz. Então, neste ano, os

estudantes já conheciam o tema, se impressionaram

mas se interessaram bastante. É um projeto muito

interessante”, conta.

VIDA PLENA

Com foco na prevenção às drogas, a oficina de

teatro comandada pelo educador da Cufa, Gil Colares,

trabalha o texto do livro Escudeiro da Luz com os

jovens. Para a diretora Cleusa, é importante abordar

esta temática, visto que no durante a sua gestão ela

perdeu quatro alunos envolvidos com drogadição.

Gil e suas alunas depois de mais um dia de ensaio para a apresentação final onde o foco é o combate às drogas

Igor Grossmann | CUFA-RS

Page 27: Revista Papo Reto - 3ª Edição

27

Migrantes

A Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF)

Migrantes deve seu nome às pessoas que migraram

para a região onde hoje está a Vila Dique, próximo

ao aeroporto internacional Salgado Filho. Ali se

estabeleceram famílias que vieram do interior do Rio

Grande do Sul e Paraná, segundo conta a diretora

Milene d’Avila Eugênio, que desde 1996 integra o

corpo docente do colégio. A construção da escola

se deu a partir do anseio desses migrantes e ele se

realizou em 1992.

REMOÇÃO

A Escola Municipal de Ensino Fundamental Migrantes

atende cerca de 160 alunos. Em 2012, eram 400. A

redução no número de estudantes se dá porque parte

da população que habitava a comunidade foi removida

pela prefeitura para que se pudesse ampliar a pista

do aeroporto. A solução encontrada pela Secretaria

Municipal de Educação para não fechar a escola foi

promover o turno integral.

TURNO INTEGRAL

Agora os alunos chegam às 7h e ficam no colégio

até as 17h. Neste tempo, são servidas cinco refeições:

café da manhã, lanche, almoço, café da tarde e janta.

A Cufa/RS está presente na escola neste ano com

oficina de teatro. “Essa atividade prende a atenção dos

alunos”, relata a diretora Milene. Para ela, as atividades

precisam ser criativas para seduzir os alunos. “Não

pode ser algo maçante”, sentencia.

DESISTIR JAMAIS

Para Milene, a escola muitas vezes assume papeis

que não são seus, como saúde e família. Ela conta que

já perdeu vários alunos para os vícios das drogas e

expõe a sua visão de como este problema deve ser

enfrentado. “É preciso falar claramente e nunca desistir

do jovem”, finaliza.

por Igor Grossmann

Os alunos chegam às 7h e ficam na escola até às 17h. Neste tempo, eles participam de diferentes atividades extra-classe

Igor Grossmann | CUFA-RS

Page 28: Revista Papo Reto - 3ª Edição

Papo Reto |28| novembro

Antônio Giúdice por Eduardo Bertuol

Situada no bairro Humaitá, a EMEF Vereador Antônio

Giúdice possui destaque por ter bons resultados no

Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).

Cálculo criado pelo Inep/MEC que busca representar

a qualidade da educação a partir da observação de

dois aspectos: o fluxo (progressão ao longo dos anos)

e o desenvolvimento dos alunos (aprendizado). A

escola possui uns dos melhores índices das instituições

municipais de Porto Alegre. O professor e coordenador

de projetos da escola, José Antônio Meister, ressalta

que por apresentar bons resultados, o local não possui

as oficinas realizadas pelo Programa Mais Educação.

“É bom termos este destaque como instituição, mas

acredito que projetos de incentivo a educação nunca

são demasiados”.

PROJETOS CONTRA INCONSTÂNCIA

O local possui muitos projetos para ajudar no

aprendizado e evolução do aluno. “Possuímos oficinas

com aulas de tênis, laboratório de aprendizagem,

laboratório de meio ambiente, além das parcerias

com a Fundação de Educação e Cultura Sport Club

Internacional, o FECI, e a CUFA”, relata Meister. Há

18 anos na escola e há 30 como professor de ciências

sociais, Meister conta que a aceitação dos alunos é

variável, mas no geral possui uma boa ocupação

das vagas. “Como todo estudante, eles costumam

ser bastante inconstantes e querem toda hora ter um

projeto novo com algo diferente. Eles estão todo hora

buscando alguma coisa nova”, relata Meister.

COMPROMISSO COM OFICINAS

A maior dificuldade verificada pela escola é a

fidelização do aluno com as oficinas oferecidas.

“Geralmente, o aluno começa dentro de um projeto

e depois busca outro, faz esse outro mais um tempo e

procura outro. Desta forma, ocorre uma rotatividade

dos estudantes nas oficinas”, conta. “O aluno possui

essa dificuldade de perceber que o projeto precisa ter

continuidade e por se trabalhar no contra turno das

aulas, eles acreditam que este processo é algo mais

livre, como se não tivesse compromisso, e algumas

vezes acabam prejudicando as oficinas”, acrescenta

Meister.

PAPO RETO

“O projeto é muito bom, os professores que fizeram a

formação só elogiaram e afirmaram ser bem completa

com uma avaliação super positiva”, conta Meister sobre

o a opinião dos educadores sobre o projeto Papo Reto.

“Quanto aos alunos, a dificuldade nossa foi chamá-

los para participar em uma segunda-feira de manhã”,

revela. As oficinas ministradas por Robson Machado

para os estudantes contam com atividades para

descontrair. Os poucos alunos se divertem e apresentam

ao oficineiro suas propostas do trabalho que gostariam

de realizar. Com base no livro “O Escudeiro da Luz

em O s Zumbis da Pedra”, Robson debate as questões

apresentados na obra com os estudantes participantes.

COMUNIDADE LIGADA À ESCOLA

Questionado sobre a violência na escola, o professor

Meister afirma que como qualquer outro lugar isso existe.

“Mas as próprias famílias possuem um controle do que

ocorre, pois a escola é muito ligada à comunidade e

poucos alunos vêm de fora dela”, acrescenta. Meister

fala que o problema do tráfico existe, mas não é um

problema que afeta os alunos.

A opinião dos alunos influencia as atividades da oficina

Eduardo Bertuol | CUFA-RS

Page 29: Revista Papo Reto - 3ª Edição

29

Chico Mendes

Localizada no bairro Mário Quintana, a Escola

Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Chico Mendes

procura adquirir o máximo de projetos educacionais

para os alunos da escola e manter o turno integral. A

professora Kátia Leitune, responsável pela organização

dos programas do local, apresenta uma pequena

cartilha com a maioria dos projetos da escola. A

seleção dos projetos ocorre por meio de votação. Este

ano o destaque ficou para a dança folclórica gaúcha. A

escola ainda conta com projetos de rádio, robótica e o

LIAU (Laboratório de Inteligência do Ambiente Urbano).

PROJETOS DESENVOLVEM HABILIDADES

Além disso, o local possui convênio com o Projeto

Social Futebol Clube (PSFC) junto da Secretaria

Municipal de Esporte (SME). “É um convênio firmado

com a Secretaria, oferecendo atividades de futebol

fora do espaço da escola”, explica Kátia. O Social

Futebol Clube conta com 16 ex-jogadores de futebol

profissional que trabalham com crianças entre sete

e 15 anos em nove campos de futebol da periferia e

bairros mais pobres da cidade. Os ex-atletas, reunidos

em uma cooperativa, além de ensinar futebol para

os garotos, realizam oficinas, palestras e cursos.

A escola ainda possui o projeto de Laboratório de

Aprendizagem, espaço destinado a auxiliar os alunos

com dificuldades na aprendizagem e para potencializar

suas habilidades.

OFICINAS ENVOLVEM ALUNOS

Kátia lembra que a aceitação dos projetos por parte

dos alunos é boa, mas alguns problemas familiares

acabam afastando alguns deles. “A gente possui

muitos estudantes realizando as oficinas, mas não

conseguimos manter um grupo fixo, pois, por exemplo,

uma mãe consegue um emprego em algum lugar

e daí quem tem que ficar cuidando dos irmãos é o

nosso aluno e assim acaba se afastando do projeto”,

conta. A professora lembra de alunos que depois das

oficinas começaram a faltar menos nas aulas. “Os

projetos modificam para melhor os alunos, além de

se interessarem mais nas aulas, eles mostram uma

resposta positiva no conhecimento e aprendizagem”,

relata Kátia.

PAPO RETO

Ainda com registros do projeto Papo Reto realizado

com a grafitagem no ano passado, desta vez é a sala

de multimídia da EMEF Chico Mendes que recebe as

oficinas de teatro dos oficineiros Robson Machado e

Carolina Mattos. Lá, os alunos tiveram a liberdade

de montar um roteiro próprio baseado na obra “O

Escudeiro da Luz em Os Zumbis da Pedra”. Após lerem

o livro, os estudantes debateram entre si a melhor

forma de representar. Os ensaios, ainda tímidos,

eram casualmente parados pelos próprios estudantes

quando entendiam que podiam melhorar as cenas.

“Além de aprenderem a contracenar, é importante eles

interpretarem e utilizarem nas suas vidas o recado que

o livro quer passar”, destaca Carolina.

por Eduardo Bertuol

Os oficineiros Carol e Robson com as alunas de teatro

Eduardo Bertuol | CUFA-RS

Page 30: Revista Papo Reto - 3ª Edição

Papo Reto |30| novembro

Lucas Santos tem 23 anos. Aos doze, ele começou a

fumar cigarro com alguns colegas mais velhos. Logo,

começou a usar maconha. Com 14 anos, passou a

abusar do álcool e a cannabis não era mais suficiente,

segundo suas palavras. Aos 15, lhe oferecem cocaína,

para que pudesse beber e curtir mais. “Era milagroso.

Eu bebia sem cair”, relata. “O jovem busca a loucura

suprema, e esse não é o caminho da felicidade, por

mais que se pense na hora que é”, reflete hoje. Certo

dia, Lucas foi comprar maconha e não tinha. Só havia

crack. Foi o primeiro passo no rumo tortuoso da pedra.

“Senti muito prazer, mas essa sensação tem um custo,

uma dor. São apenas alguns segundos. Tu nunca mais

vais sentir aquilo. Aí inicia a busca do prazer inexistente”,

fala com a propriedade de quem já experimentou o

prazer fictício e a dor verdadeira causados pelo uso de

drogas.

CRACK

Formado pela combinação de pasta de cocaína com

bicarbonato de sódio, o crack é chamado assim devido

ao som que produz ao ser queimado. Ao fumar, a

droga é rapidamente absorvida pelos pulmões. Em

menos de dez segundos, a substância é bombeada pelo

coração através das veias e chega até o cérebro. Então,

a concentração da dopamina – hormônio responsável

pela sensação de prazer humano – dispara. Ela, por sua

vez, ativa o sistema de recompensa cerebral. A sensação

é descrita como semelhante a um orgasmo. Porém, em

menos de cinco minutos a ilusão se vai e o que resta é

vazio. A mente, dominada pelo encantamento do gozo

súbito, automaticamente pede mais.

CAMINHO TORTUOSO

Entre os 15 e os 17 anos de idade, Lucas percorreu

o caminho tortuoso trilhado pela maioria dos usuários

de crack. Ele cursava o ensino fundamental à noite em

uma escola estadual que fica na sua rua, no bairro

Guarujá, zona sul de Porto Alegre. Seu pai trabalhava

no período noturno, como guarda municipal. Sua mãe

estava doente, em tratamento contra a hepatite C. “Eu

não tinha amor nenhum, só queria a droga”, confessa.

Lucas relata que passou por momentos críticos, como

quando teve uma arma apontada para a sua cabeça

por um traficante que não queria mais lhe vender, pois

ele não tinha mais dinheiro e já não era mais horário

do comércio de entorpecentes naquele local. Ou

quando foi buscar crack e se viu em meio a um tiroteio.

RECUPERAÇÃO

Com 17 anos, Lucas trabalhava com um advogado

amigo do seu pai. Um dia, seu chefe efetuou a venda

de um imóvel e recebeu uma grande quantia em

dinheiro vivo. “Passei a maquinar como iria roubar

parte do valor”, conta. Passada uma semana, Lucas

pegou escondido cerca de 10 mil reais. “Durou 15

dias”, relata e explica que gastou tudo com drogas,

A volta por cima da ilusãotexto e foto: Igor Grossmann

Perfil

Lucas conta como foram os passos para conseguir ficar limpo

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amigos e mulheres. “Não comprei nada pra mim, pois

não podia chegar em casa com coisas novas, pois meus

pais iriam desconfiar”. Porém, quem desconfiou foi seu

chefe, que comunicou ao pai de Lucas. Indignado,

seu pai registrou a ocorrência em uma delegacia. O

delegado de plantão, consternado com a situação,

deu duas opções ao garoto: ser recolhido à Fase

(Fundação de Atendimento Socioeducativo) ou buscar

um tratamento para a dependência química. O jovem

ficou com a segunda opção.

REINSERÇÃO

Lucas passou onze meses em uma fazenda no

município de Viamão. Lá, ele seguiu os doze passos

do tratamento dos Alcoólicos

Anônimos e os outros doze dos

Narcóticos Anônimos. Além disso,

havia rodízio de tarefas entre os

moradores-pacientes, como capinar

o pátio, cuidar dos animais, faxinar

a casa e cozinhar. Maria Lenira Santos, mãe de Lucas,

diz que ele amadureceu muito após o tratamento. E

conta que se agarrou em um tripé para se recuperar:

família, trabalho e espiritualidade. Lucas é médium

na Umbanda e não tem vergonha em contar pelo que

passou, pois espera poder auxiliar outros dependentes

a se recuperarem. “Não existe ex-drogado. O que se

tem são dependentes químicos em recuperação”, diz

ele, que, nesses anos “limpo”, nunca teve uma recaída.

Questionado sobre sua maior motivação para parar se

usar drogas, ele confessa. “Não tive vontade de parar.

Queria me esconder. Iria pra fazenda e quando saísse,

iria voltar pra rua.”

MÃE

Maria Lenira, mãe de Lucas, conta que foi muito

difícil para ela, pois estava tratando de uma doença

séria, a hepatite C. Ela diz que nunca pensou em desistir

do seu primogênito. “Fui muito guerreira. Eu dizia pra

ele que eu estava lutando contra a minha doença e

queria ver ele lutando contra a dele”, relata. Há dois

anos, ela conseguiu controlar a hepatite e hoje leva

uma vida normal, enquanto Lucas está há seis anos

longe das drogas. Ambos sentem-se vencedores. Há

um ditado que diz que ser mãe é padecer no paraíso.

Maria Lenira concorda. Ela jamais desistiu de ajudar

o seu filho. “No dia que meu marido levou meu filho

para a fazenda, foi junto uma parte de mim. Eu ia todas

as sextas-feiras nas reuniões do Amor Exigente. Hoje,

estou pensando em ir novamente para auxiliar mães

que estão passando pelo que passei e que certamente

necessitam de apoio”, diz.

ESCOLA

Na escola, Lucas repetiu algumas séries do ensino

fundamental, o que levou ele a concluir esta fase

escolar no EJA (educação de jovens

e adultos). Ele conseguiu o diploma

poucos meses antes de ir para a

fazenda terapêutica. Ao sair, foi

cursar o ensino médio regular, aonde

chegou a se tornar presidente do

grêmio estudantil. No entanto, Lucas cursou somente

até o segundo ano. “A pessoa que já usou drogas e se

encontra limpo tem uma rapidez de raciocínio diferente

e dinâmica. Não conseguia ficar preso em uma sala

de aula”, explica. Ele pretende finalizar o terceiro ano

para então cursar uma faculdade.

FUTURO

Lucas sabe o que quer. Desde que saiu da fazenda,

ele lê muito sobre psicologia e mente humana,

principalmente textos que abordam a relação com as

drogas. Ele quer ingressar na universidade para cursar

psicologia e ajudar outras pessoas a lidarem com seus

problemas. Hoje, ele trabalha em uma empresa que

presta serviços à Caixa Econômica Federal. Lucas faz

suporte técnico de maneira remota aos computadores

do banco em todo o Estado. Ele sabe que jamais será

curado de sua doença. “É algo genético”, fala. “Dizem

que a maconha é a porta de entrada para as drogas.

Não é. Para mim, o álcool foi o começo de tudo”,

reflete. E conclui dizendo que o trabalho de prevenção

deve ser realizado contra as drogas e em favor da vida.

Não existe ex-drogado. O que se tem são

dependentes químicos em recuperação

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