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#20REVISTA ONLINE | NOV - DEZ 2019 | #20
O EURO COM VINTE ANOS E UMA CRISE INSOLÚVELOS CUSTOS SOCIAIS DO SNS E COMO SÃO REPARTIDOS
COLABORAM NESTA EDIÇÃO:
ANTÓNIO CARLOS SANTOSA. CRISTINA LINO MARQUESALEXANDRE ABREUEUGÉNIO ROSAFRANCISCO LOUÇÃGONÇALO BRÁSJOÃO RAMOS DE ALMEIDAMARIANA MORTÁGUANUNO SERRARICARDO CABRALRICARDO SOUSA
Crítica - uma revista aberta sobre a economia e a sociedade, o investimento e a dívida, as desigualdades e a pobreza, as políticas públicas e as soluções, Portugal e a Europa
Disponível em: https://criticaeconomica.net/
ECONÓMICA E SOCIAL
https://criticaeconomica.net/
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ÍNDICE
Nesta edição de Crítica Económica e Social, a vigésima, que encerra esta primeira série da revista Crítica, incluímos estudos sobre os recentes Prémio Nobel da Economia (Alexandre Abreu) e sobre as condições estruturais da evolução do euro (Ricardo Cabral, Ricardo Sousa e Francisco Louçã). Outros artigos dedicam-se à evolução económica e política nacional: sobre a evolução dos custos do SNS e o privilégio ao setor privado (Eugénio Rosa), as condições difíceis do investimento público (Gonçalo Brás), o custo da crise bancária (Mariana Mortágua), as escolhas do novo governo (João Ramos de Almeida) e a estratégia de rendimentos de empresas portuguesas (Nuno Serra). Publicamos ainda uma recensão a um livro de Vito Tanzi, por António Carlos Santos e A. Cristina Lino Marques.
ECONÓMICA E SCOCIAL
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ÍNDICE
ArtigosO Nobel para uma pobre economia do desenvolvimento Alexandre Abreu ............................................................................................................... 04
Leviandade João Ramos de Almeida ................................................................................................... 06
A Economia do Pingo Nuno Serra ........................................................................................................................ 07
The Euro at Twenty: Follies of Youth? Ricardo Cabral e Francisco Louçã ................................................................................... 09
Os 20 anos do euro: O problema das lentes a “preto e zero” Ricardo Cabral e Ricardo Sousa ...................................................................................... 19
A parcela da riqueza criada no país que é aplicada na saúde diminuiu, a despesa das família aumentou Eugénio Rosa ................................................................................................................... 25
Investimento Público: Futuro Cativo ou Cativante? Gonçalo Brás .................................................................................................................... 41
Em Queda há Cinco Anos: E Onde Fica o Fundo? Mariana Mortágua ............................................................................................................. 46
Crítica:Recensão da obra de Vito Tanzi, Termites of the State. Why Complexity Leads to Inequality, New York: Cambridge University Press (2018). A. Carlos dos Santos e A. Cristina Lino Marques .......................................................... 47
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01. ARTIGOS
ALEXANDRE ABREU
https://expresso.pt/blogues/bloguet_economia/blogue_econ_sandro_mendonca/2019-10-17-O-Nobel-para-uma-
pobre-economia-do-desenvolvimento
Todos os anos por esta altura são anunciados os vencedores do Prémio do Banco da Suécia para as Ciências Económicas em Memória de Alfred Nobel e todos os anos alguns comentadores assinalam que não se trata de um verdadeiro Prémio Nobel, pois não estava previsto no testamento original de Alfred Nobel e só foi atribuído pela primeira vez em 1969. Esta chamada de atenção tem principalmente um propósito de humildade: recordar que a Economia é uma ciência social e não uma ciência natural como a Física, a Química e a Medicina, o que tem consequências ao nível das abordagens e da validade das inferências – algo que este ano vem a propósito recordar.
Este ano os galardoados foram Abhijit Banerjee e Esther Duflo (ambos do MIT) e Michael Kremer (de Harvard) por, segundo afirma o press release, terem desenvolvido ‘uma nova abordagem para obter respostas fiáveis sobre as melhores formas de combater a pobreza’. Sendo a economia do desenvolvimento a minha própria área, fico naturalmente satisfeito com esta chamada de atenção para os problemas da pobreza e do desenvolvimento, 21 anos depois de Amartya Sen e quatro anos depois de Angus Deaton. Seguramente, este galardão premeia este ano trabalhos socialmente mais relevantes e menos nocivos do que, por exemplo, as teorias sobre a capacidade autoregulatória dos mercados financeiros de um Eugene Fama, premiado em 2013.
Em todo o caso, a comparação com Amartya Sen e Angus Deaton, autores de trabalhos de enorme fôlego em termos teóricos e empíricos, é ela própria ilustrativa do estreitamento que a economia do desenvolvimento dominante tem vindo a sofrer, muito por culpa da crescente dominação dos Randomised Controlled Trials (RCTs), que poderemos traduzir por algo como ‘ensaios clínicos randomizados’ e que são precisamente a abordagem que valeu a Benerjee, Duflo e Kremer o prémio agora atribuído. Em boa parte das instituições de investigação em economia do desenvolvimento, os RCTs são uma enorme porção do que se faz hoje em dia, em detrimento da atenção às muito mais importantes questões estruturais, como a industrialização, as políticas macroeconómicas, a estrutura e dinâmicas dos mercados ou as relações de propriedade, que anteriormente dominavam este campo e que, como argumento mais à frente, são as que realmente importam para as questões do desenvolvimento e da redução da pobreza.
O Nobel para uma pobre economia do desenvolvimento
https://expresso.pt/blogues/bloguet_economia/blogue_econ_sandro_mendonca/2019-10-17-O-Nobel-para-umahttps://expresso.pt/blogues/bloguet_economia/blogue_econ_sandro_mendonca/2019-10-17-O-Nobel-para-uma
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Entretanto, claro que os RCTs não são uma abordagem nova, nem foram introduzidos por estes investigadores; os ensaios clínicos randomizados, com o estabelecimento aleatório de um grupo de tratamento e um grupo de controlo para testar a eficácia de um tratamento, são há muito a abordagem consagrada para os ensaios clínicos em medicina. O que é novo e muito deve a estes três economistas é a sua generalização na microeconomia do desenvolvimento, isto é, a sua aplicação ao estudo das escolhas individuais e à análise da eficácia de diferentes intervenções em contextos caracterizados pela pobreza em países em desenvolvimento.
Será preferível distribuir redes mosquiteiras de graça ou mediante um preço reduzido? Quais as melhores formas de incentivar a assiduidade e prestação dos professores primários? É melhor que certos apoios sociais sejam condicionais à adoção de determinados comportamentos ou incondicionais? Este é o tipo de perguntas a que procuram responder os RCTs no domínio do desenvolvimento, estabelecendo aldeias ou grupos de pessoas a quem o ‘tratamento’ é aplicado e os seus resultados comparados com os do grupo de controlo. Se a amostra for suficientemente grande e (condição crítica mas muitas vezes ignorada) se a resposta ao tratamento por parte da população for relativamente estável e determinística, então o próprio processo aleatório seguido no estabelecimento da amostra permite inferências estatísticas bastante poderosas e rigorosas quanto à eficácia da intervenção. É precisamente por isso, aliás, que em geral confiamos nos medicamentos que foram sujeitos a ensaios clínicos.
O problema, porém, é que ao contrário das respostas biológicas humanas, que são relativamente invariantes de organismo para organismo, os comportamentos e respostas sociais são muito mais complexos e dependentes do contexto. A ‘melhor’ intervenção num determinado contexto (questão que aliás nunca é apenas técnica mas tem sempre uma dimensão política) pode produzir resultados muito distintos noutro contexto por uma infinidade de razões. Por isso mesmo, a presunção de retirar conclusões gerais sobre as ‘melhores’ intervenções num qualquer domínio a partir de uma amostra particular numa região particular do Quénia ou da Bolívia (ou de Portugal...) assenta numa visão mecanicista e sofre de enormes problemas em termos daquilo a que chamamos ‘validade externa’: a aplicabilidade das conclusões a outros contextos. E é precisamente por causa disso que mesmo ao nível do estudo dos microcomportamentos individuais a economia da pobreza não pode limitar-se a uma análise estatística mecanicista de quais as intervenções que ‘funcionam’ e deve procurar compreender o porquê dessas intervenções funcionarem (ou não funcionarem), nomeadamente com recurso a uma bateria muito mais ampla de métodos, incluindo métodos qualitativos.
Em todo o caso, o maior problema da dominação da economia do desenvolvimento por parte desta abordagem é mesmo o facto de, em última instância, ela ter muito pouca relevância para dar respostas ‘sobre as melhores formas de combater a pobreza’ nos países em desenvolvimento. O exemplo da China, onde 850 milhões de pessoas saíram da pobreza extrema entre 1981 e 2015, é esclarecedor, já que esta redução da pobreza sem precedentes na história da humanidade não aconteceu por via de micro-intervenções em torno das escolhas dos indivíduos mas da transformação estrutural da sociedade e de políticas de grande amplitude. Para quem queira realmente responder aos problemas da pobreza e do desenvolvimento, é por isso indispensável estudar as transformações estruturais e as políticas que com elas estão relacionadas (bem como, no caso da China e outros, os problemas e
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01. ARTIGOS
consequências sociais, ambientais e políticos que lhe estão associados), recusando o estreitamento da disciplina de que os RCTs são uma causa e um símbolo maior.
É claro que a aplicação dos RCTs nestes contextos, e o trabalho destes três investigadores em particular, têm muitos méritos. O problema está no facto de terem sido alcandorados à condição de metodologia-rainha para o estudo da pobreza e do desenvolvimento, ignorando que a validade externa é fundamental, que as sociedades humanas são complexas e não determinísticas, que a compreensão é muitas vezes mais importante do que a avaliação da eficácia e que as questões mais importantes da pobreza e do desenvolvimento são estruturais e não individuais.
JOÃO RAMOS DE ALMEIDA
http://ladroesdebicicletas.blogspot.com/2019/10/leviandade.html
Dias antes de 28 de Setembro de 2018, data para uma anunciada greve de tripulantes da Ryanair em cinco países, contra a política laboral da companhia, e quando o Governo reunia com a Ryanair para a pressionar a cumprir a lei laboral portuguesa e não aquela que a companhia gostaria de aplicar, a então secretária de Estado do Turismo, do ministro Siza Vieira, achou por bem usar a sua figura de governante numa fotografia promocional da mesma companhia. E o título da foto era: “Olhar para o futuro”( ver foto na página do Facebook da ministra). Um ano depois, Ana Mendes Godinho voltou a Dublin para se reunir com a Ryanair para resolver a questão da “competitividade” do aeroporto de Faro. Cerca de um mês depois, os tripulantes iniciavam uma greve de cinco dias para cumprimento da legislação laboral nacional. Para fragilizar a divulgada posição de força do Governo, não há melhor... Ver aqui e aqui.
Se a promoção da companhia já era abusiva, a coincidência pode revelar muita coisa da actual... ministra do Trabalho. É, pois, enorme a expectativa para ouvir as primeiras intervenções da detentora de uma pasta que devia ser basilar num governo que diz querer o apoio à esquerda, embora ao mesmo tempo também queira a tranquilidade patronal.
Leviandade
http://ladroesdebicicletas.blogspot.com/2019/10/leviandade.htmlhttps://observador.pt/2018/09/26/sindicato-critica-governo-por-fotografia-com-o-presidente-da-ryanair-e-inaceitavel-e-incompreensivel/https://observador.pt/2018/09/26/sindicato-critica-governo-por-fotografia-com-o-presidente-da-ryanair-e-inaceitavel-e-incompreensivel/https://www.facebook.com/ana.manuelmendesgodinhohttps://www.dinheirovivo.pt/economia/secretaria-de-estado-do-turismo-reuniu-se-com-a-ryanair-com-base-de-faro-na-agenda/https://www.dinheirovivo.pt/empresas/sindicato-greve-de-tripulantes-de-cabine-da-ryanair-com-adesao-de-90/
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Vai a ministra relembrar-se mais das suas antigas funções (página 15) de inspectora do Trabalho e Directora dos Serviços de Apoio à Inspecção do Trabalho entre 2012 e 2015 - período em que o número de inspectores caiu 20% (ver página 17) e o número de visitas se reduziu para metade (ver página 49) - ou da forma como desempenhou as funções na área do Turismo querendo dar toda a força ao sector privado da hotelaria e actividades turísticas onde se aplicam as más práticas da precariedade e baixos salários?
Há uns meses dizia a actual ministra:
“O Turismo é uma arma de transformação, que consegue mobilizar vários players e que tem a capacidade de abrir o mapa de Portugal, alargando-o a todas as regiões e transformando assim o território”. Ou “é essencial não diabolizar o alojamento local”.
Ainda este ano, a actual ministra do Trabalho recebeu o prémio da revista Magazine Imobiliário. “A administradora da empresa, que detém a revista, Palavras Aliadas, referiu que “sem qualquer complexo político ou comercial, para evitar que estejamos a fazer campanha ou atentar dividendos publicitários só podia ser Ana Mendes Godinho”.
Será esta ministra sensível aos efeitos da pressão turística, por exemplo na habitação e, por conseguinte, nos rendimentos disponíveis dos trabalhadores, na sua expulsão para periferias, nos tempos de transportes, na conciliação trabalho/família, enfim, na demografia?
Por que razão António Costa escolheu Ana Mendes Godinho para coordenar a área do Trabalho?
NUNO SERRA
http://ladroesdebicicletas.blogspot.com/2019/09/a-economia-do-pingo-em-versao-empresa.html
A propósito das diversas propostas para combater o fosso salarial obsceno em muitas empresas, o
Expresso desafiou o sociólogo Renato Carmo e o economista Pedro Martins (ex-secretário de Estado
da Economia na anterior maioria de direita), a responder à seguinte questão: «Deve o Estado penalizar
grandes diferenças salariais nas empresas?».
A Economia do Pingo
https://www.portugal.gov.pt/download-ficheiros/ficheiro.aspx?v=2a733928-19e3-4e20-9334-cfdb1ab38b9ehttp://www.act.gov.pt/(pt-PT)/SobreACT/DocumentosOrientadores/RelatorioActividades/Documents/Relatorio%20Atividade%20Inspetiva%202015.pdfhttp://www.act.gov.pt/(pt-PT)/SobreACT/DocumentosOrientadores/RelatorioActividades/Documents/Relatorio%20Atividade%20Inspetiva%202015.pdfhttp://www.act.gov.pt/(pt-PT)/SobreACT/DocumentosOrientadores/RelatorioActividades/Documents/Relatorio%20Atividade%20Inspetiva%202015.pdfhttps://www.noticiasdecoimbra.pt/ana-mendes-godinhi-diz-no-ve-portugal-que-turismo-e-uma-bandeira-do-pais/https://www.jornaldenegocios.pt/empresas/turismo---lazer/detalhe/ana-mendes-godinho-e-essencial-nao-diabolizar-o-alojamento-localhttp://www.magazineimobiliario.com/imobiliario/emocoes-e-alertas-ambientais-marcam-premios-personalidade-2019-4/https://www.oturismo.pt/feiras-e-eventos/41152-ana-mendes-godinho-reconhecida-pela-magazine-imobiliaria.htmlhttp://ladroesdebicicletas.blogspot.com/2019/09/a-economia-do-pingo-em-versao-empresa.htmlhttps://leitor.expresso.pt/semanario/semanario2446/html/primeiro-caderno/a-abrir/duelo/deve-o-estado-penalizar-grandes--diferencas-salariais-nas-empresas--
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01. ARTIGOS
Valor médio do Fosso Salarial2017Salário mensal do CEO
Salário médio mensal do
Trabalhador
Quanto representa o salário do CEO face ao salário médio do Trabalhador?
Jerónimo Martins 143 518€ 895€ 160 vezes maisMota-Engil 52 819€ 1 285€ 41 vezes maisSonae 46 600€ 1 183€ 39 vezes maisEDP 163 448 € 4 201 € 39 vezes maisNavigator 129 853 € 3 486 € 37 vezes maisGalp 121 729 € 3 544 € 34 vezes maisSEMAPA 104 896 € 3 075 € 34 vezes maisIbersol 32 143 € 990 € 32 vezes maisCTT 63 929 € 2 083 € 31 vezes maisEDP Renováveis 116 573 € 5 899 € 20 vezes maisNOS 63 628 € 3 273 € 19 vezes maisBCP 45 077 € 2 395 € 19 vezes maisSonae Capital 21 486 € 1 414 € 15 vezes maisCorticeira Amorim 24 989 € 2 112 € 12 vezes maisAltri 28 018 € 3 327 € 8 vezes maisREN 42 625 € 6 074 € 7 vezes maisRamada 8 786 € 2 141 € 4 vezes mais
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2010 2011
24
2012
25
2013
27
2014
21
2015
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2016
27
2017
33
2018
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Fosso Salarial entre as remunerações dos CEO de empresas cotadas em PSI-20 e o Salário Médio dos seus trabalhadores (2017 e médias 2010-2018)
Fonte: Expresso e Jornal de Negócios
Não resistindo a um truque clássico, que consiste em colocar os termos do debate ao nível do absurdo para que possa não parecer absurdo o que se defende, Pedro Martins começa a sua resposta por questionar «porque é que as empresas não pagam o mesmo salário a todos os trabalhadores». Isto é, desviando-se do que o Expresso perguntou - pelas «grandes diferenças salariais» - para poder defender a ausência de penalizações às empresas que as pratiquem.
Embora se desconheça a verdadeira dimensão do problema, uma vez que não existe informação publicada sobre quantas vezes o rendimento nos níveis de topo supera o salário médio na generalidade das empresas em Portugal (um dos países mais desiguais da Europa, como bem lembra Renato Carmo), vale a pena recuperar o que se passa no universo das grandes empresas cotadas no PSI-20 (com dados trabalhados a partir daqui e daqui).
De facto, nas 17 empresas consideradas a média do diferencial entre o rendimento do dirigente máximo (CEO) e o salário médio dos trabalhadores é de 32 vezes mais em 2018, estando este rácio a acentuar-se desde 2014 e a retomar a dinâmica registada até 2013, tornando evidente a tendência de maior crescimento dos salários de topo face à média salarial. Mais concretamente, verifica-se que entre 2010 e 2017 “os presidentes-executivos (CEO) das empresas cotadas do PSI-20 ultrapassaram o período do resgate da troika com um aumento salarial de 49,7%”, enquanto “os trabalhadores perderam 6,2%” do seu rendimento. Por outro lado, as discrepâncias observadas entre as diferentes empresas são abissais, posicionando num extremo a Jerónimo Martins (com um rendimento do CEO 160 vezes superior à média dos salários dos trabalhadores) e a Ramada (em que esse diferencial é de apenas 4 vezes mais).
https://expresso.pt/economia/2018-09-30-CEO-saem-da-crise-com-50-de-aumentoshttp://daquihttp://2010 e 2017
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Ou seja, dados que obrigam a questionar, entre outros, o argumento (esgrimido por Pedro Martins) de que “a distribuição de salários dentro de uma empresa reflete, em grande medida, as competências dos seus trabalhadores”. De facto, como explicar que tal justifique diferenças tão abissais entre empresas e entre salários? E como explicar alterações expressivas desse diferencial ao longo do tempo numa mesma empresa? Como garantir que se está apenas perante o angélico jogo de oferta e procura, excluindo o efeito de práticas deliberadas de dispersão salarial obscena, ao arrepio até dos níveis de qualificação? Como justificar, em suma, que o rendimento de um CEO possa ser em média 32 vezes superior - sublinhe-se, 32 vezes superior - ao salário médio praticado numa empresa?
Talvez a questão seja de facto outra, significando a rejeição de qualquer mecanismo de penalização das situações de disparidade salarial excessiva uma espécie de defesa da “economia do pingo” à escala da empresa, mimetizando a política de baixos salários e do “empobrecimento competitivo”. Isto é, a lógica imposta, em diversas frentes, pelo anterior governo de direita, de que Pedro Martins fez parte.
RICARDO CABRAL E FRANCISCO LOUÇÃ
em Revista de Economía Crítica, nº27, primer semestre 2019, ISSN 2013-5254
INTRODUCTION
The history of the euro, which just celebrated its twentieth anniversary on 1 January 2019, can be divided in three phases. The first, which spans decades but that grows in intensity and importance in the 1990s, is its design phase, where the euro was idealized and implemented, and new legislation (e.g. The Maastricht Treaty, the Treaty of Amsterdam, and the Statutes of the ESCB and of the ECB) as well as new institutions (e.g. the ECB) were put in place. The second was, to paraphrase the person widely seen as the ‘father of the euro’, Otmar Issing (de Grauwe 2008), its “striking success” phase (Issing (2008: 2)), between its launch on January 1, 1999 and 2009, during which in appearance the euro worked smoothly as the single currency of 11 growing to 16 Eurozone (EZ) Member States, until the outset of the crisis in Greece (Issing 2008, Buti and Gaspar 2008). The third is its post euro-crisis phase, which occurs following the 2010-2012 euro crisis as European authorities in a knee-jerk
The euro at twenty: Follies of youth?
http://economia do pingohttp://empobrecimento competitivo
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01. ARTIGOS
fashion respond not only with the ECB President’s, i.e., Mario Draghi’s, promise to do “whatever it takes to preserve the euro” in July 2012, which led to a very large quantitative easing programme by the ECB, but also by providing lending with strict conditionality to Member States that were unable to refinance their sovereign debt (Cabral 2013), and by changing the EZ institutional and legal framework in a dramatic manner (Cabral 2018) in order to prevent a similar crisis from ever happening again.
In this paper we focus on the third phase and its implications for the future of the euro, but we draw on key elements of the earlier two phases to better understand the constraints faced by the euro as a single currency of 19 EZ Member States, as of the present.
Our key message is that the euro is not only, as widely argued, a straitjacket (Sachs and Larrain 1999, Jespersen 2004, Otero-Iglesias 2017), which, while bringing benefits, also imposes non-trivial unnecessary costs on the economic activity of EZ Member States (McKinnon 2002, Ching and Devereux 2003), but that the euro is also itself in a straitjacket, in that its inherent contradictions, which arise from conflicting and overarching political goals from key EZ decision makers, imperil its use and its survival as the single currency of the EZ.
BRIEF HISTORY
The euro is a political project, as is well known. But it is further the result of political beliefs and the political aims of its architects in the institutions that designed the euro, namely the Monetary Committee (which was later replaced by the Economic and Financial Committee) and the European Monetary Institute (that preceded the ECB).
Of the complex agenda of those negotiations, for the sake of simplicity and focus, we would emphasize the following aspect. The key challenge faced by the architects of the euro was how to design an irreversible single currency while precluding (significant) fiscal transfers.
Thus, we do not focus here on other more often analyzed ‘features’ of the single currency, namely the single mandate on inflation targeting of the ECB, nor the stark independence graced upon the ECB, both equally symptomatic of strongly held political beliefs of the euro architects and ‘features’ on their own right not without implications or consequences, as is well known.
But our argument is that those and other characteristics of the euro architecture are of secondary importance in understanding the key and defining constraints of the euro.
For the architects of the euro the overriding fear was that the single currency might result in monetary financing of ‘profligate’ Member States. An interrelated concern was that the euro might become a means to promote fiscal transfers, as key decision makers in wealthier EZ Member States believed and argued that the EZ, like the EU, had to be a Union without (significant) fiscal transfers.
Thus, the architects set out to design a euro that sought to mitigate those fears by minimizing the risk of sovereign debt monetization and of fiscal transfers between Member States.
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That is, Member States ‘had to be’ forbidden from monetizing government debt, in particular, Member States should not be able to order the new EZ central bank (the ECB) to monetize government debt, and there are various provisions in the European Treaties and in the Statutes of the ESCB and of the ECB to that effect (e.g. Art. 123, 124 and 125 of the TFEU). And the ECB ‘had to be’ forbidden from direct purchases of Member States government debt in the primary markets or from directly monetizing Member States’ government debt (Art. 21 of the Statutes and Art. 123 of the TFEU), though leeway was left in the letter of the law, if not in the spirit, perhaps unintentionally, which allowed for the ECB to conduct outright purchases of Member States’ government debt in secondary markets, an interpretation of ECB powers polemic at first, but that grew consensual (Buiter and Sibert (2005)) even before a ruling on the validity of the Outright Monetary Transactions (OMT) programme of the ECB by the European Court following a case put before the German Constitutional Court.
That constraint imposed on the euro by its architects has been recently popularized by de Grauwe and other authors as the lack of monetary sovereignty explanation of the euro crisis (de Grauwe 2013), de Grauwe and Ji 2013, Cesaratto 2015a, Lavoie 2015, Febrero et al. 2018), in opposition to the thesis that the euro crisis was a balance of payments and external debt crisis (Baldwin and Giavazzi 2015, Cesaratto 2013, 2015a and 2015b, Andini et al. 2016). More on this below.
Thus, using present-day terminology and concepts, the key challenge was how to ensure the euro was irreversible, with an ‘irrevocable’ conversion exchange rate to former national currencies, with no monetary sovereignty of the EZ Member States. The solution devised by the euro architects was ingenious: to use the EZ banking system to achieve the irreversibility of the euro (Cabral 2018).
The EZ approach to the single currency has thus important differences to the monetary union of the US. For one, the US Congress is ultimately able to order the Federal Reserve to monetize federal debt. But also the monetary architecture and monetary policy strategy, instruments and procedures differ. For example, in contrast with the US monetary union, in the EZ there is no federal debt that could be used as collateral in liquidity providing repo operations with the central bank and the Federal Reserve does not set a minimum rating threshold (investment grade or A-) to accepting Federal Government debt as collateral. Further, in contrast to the Federal Reserve, the Eurosystem accepted a wide range of financial assets as collateral, including private-sector debt. Finally, some technical features of the EZ TARGET2 payment system differ in significative aspects from the US Inter-District Settlement Account (ISA) payment system (Cabral 2018).
As a result of the euro design adopted, the EZ Member State banking systems could in theory finance, without limit other than that set by international rating agencies, a restriction only imposed from late 2005 onwards, Member States’ government budget deficits as well as current plus capital account deficits.
Nonetheless, it is obvious that even during the early years of the euro, the impact of this new regime of the euro was particularly felt as increased vulnerability in the peripheral economies (Damásio et al. 2018).
During the ‘striking success’ era of the euro (Issing 2008: 2), in short, the EZ Member States banking systems performed its designed functions, financing, in practice, nearly without limit, large and
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01. ARTIGOS
recurring current account deficits of some Member States (debtor Member States) mostly with loans from the banking systems of EZ Member States with current account surpluses (creditor Member States). Until 2008, these loans were foremost provided directly between banks through the interbank and the repo market. Following the outset of the Global Financial Crisis (GFC) of 2007-2009, the banking systems of the creditor Member States refused to rollover loans or withdrew deposits from the banking system of debtor Member States, with the ensuing funding gap being financed in a growing degree through Eurosystem regular and Emergency Liquidity Assistance (ELA) refinancing facilities (Cabral 2012).
While in debtor Member States, nominal GDP and nominal government expenditure grew robustly in this era (between 1999 and 2008), particularly in Ireland, less so in Italy, in some Member States the current account deficits were accompanied by government budget balances which were, on average, either in surplus or nearly balanced (e.g. Ireland and Spain). In Italy and Portugal, the current account deficits were accompanied by moderately-sized average government budget deficits of 2.9% and 4.2% of GDP, respectively, i.e., close to the 3% of GDP threshold of the Stability and Growth Pact. Greece’s average government budget deficit was higher (6.7% of GDP).
THE EURO CRISIS ILL-ADVISED POLICY DECISIONS
The EZ decision makers were unprepared for the 2010-2012 euro crisis. The very public dithering and division and a nearly autistic belief by Angela Merkel and Wolfgang Schäuble in the ‘no-bailout clause’ of the Maastricht Treaty (Art. 125 of the TFEU), in late 2009 and early 2010, almost lead to a chaotic default by Greece.
But the effects of such a default on the banking systems of creditor Member States likely contributed to a significant policy change from early 2010 onwards, resulting in the first bailout of Greece in April 2010, which were followed by bailouts of Ireland, Portugal, Cyprus, and Spain’s banking system.
Despite the bailout of Greece, the uncertainty about the future of the euro and rise in sovereign debt interest rates resulted in financial contagion foremost to Ireland’s, Portugal’s, Spain’s and Italy’s sovereign debt markets.
The narrative that was imposed and prevailed, in part because the banking system funding crisis was hidden from public view through Eurosystem funding and ELA funding by the national central bank, was that the euro crisis was a sovereign debt crisis, implying that profligate fiscal policy in debtor Member States explained the euro crisis.
Various ad-hoc decisions, namely ECB policy decisions loosely related to ‘monetary policy’, for example the 2012 Securities Market Programme and the decision to authorize the Central Bank of Ireland to monetize 25 billion euro of Irish government long term bonds to substitute ELA financing in February 2013, sought to alleviate financial market conditions or other EZ authorities’ concerns.
But the EZ authorities’ policy response progressively gained structure and evolved towards a three- pronged strategy (Cabral 2013).
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First, bailout programmes consisting of loans with strict conditionality a la IMF, particularly loans by a new multilateral institution that later became the European Stability Mechanism under the control of the Eurogroup.
Second, accommodative monetary policy response and an ECB waiver of the 2005 A- rating requirement rule for Member States under a bailout programme. The accommodative monetary policy of the ECB ultimately led to the adoption of significant non-conventional policy measures, such as a large quantitative easing programme and negative reference interest rates.
Third, changes in EZ governance with the goal of ensuring that the euro crisis would not occur again and that no fiscal transfers between Member States would be necessary. An additional objective was to prevent debtor Member States from unilaterally defaulting or restructuring their sovereign debt, namely sovereign debt restructuring achieved through changes in national laws (Buchheit and Gulati 2010, Gelpern and Gulati 2013). The various governance ‘reforms’ led to a panoply of new legislation and rules, institutions and to further transfer of executive powers from Member States to EZ authorities.
The thrust of the EZ governance changes was to achieve greater central control and command of fiscal policy and of the banking system of debtor Member States.
We focus our analysis on the first and third elements of the EZ authorities’ policy response strategy.
THE AUSTERITY STRATEGY
The austerity strategy that was adopted in response to the euro crisis is evidently a result of political decisions of key EZ policy makers in office at the time of the events. However, these policy makers sought and obtained a scientific rationale for their policy approach, as evidenced by the presence by Alberto Alesina at an Ecofin meeting in April 2010 (Alesina 2010) and by explicit references to his research by key EZ policy makers (Chowdhury 2012). This occurred despite the opposing views of other preeminent macroeconomists who argued that such a macroeconomic policy - the austerity strategy - would be counterproductive (Chowdhury 2012, de Grauwe and Ji 2013, Blyth 2013, Stiglitz 2016) and according to Chowdhury 2012 reflects an “ideological aversion to counter-cyclical fiscal policy” of some EZ policy makers.
In fact, important academic literature contributions have focused on governments’ budgetary adjustments and on external adjustments of a country’s economy. Alesina and other authors (Alesina et al. 1998, Alesina 2010, Alesina and Ardagna 2010) are among the main proponents of the thesis of ‘expansionary fiscal austerity’ arguing, in particular, that “that fiscal corrections relying mostly on spending cuts that are concentrated on government wages and transfers tend to be expansionary, whereas those relying mainly on tax increases are contractionary” (Alesina et al. 1998: 198).
On the other hand, also favoring the adoption of an austerity strategy, Blanchard and other authors (Blanchard and Muet 1993, Blanchard 2007, Blanchard et al. 2013) put forward the thesis of ‘internal devaluation’ known as ‘competitive disinflation’ (Blanchard 2007, Andini 2008), advocating the
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adoption of a policy of nominal wage cuts in order to respond to crises arising from lack of international competitiveness of countries in a monetary union (or closely linked to one) with high current account deficits and high external debt, even though some of the empirical evidence is questionable (Andini 2008).
There was a recent academic debate on whether the euro crisis was a monetary sovereignty crisis or a balance of payments and external debt crisis (see Febrero et al. 2018, for an overview of the debate).
Nonetheless, in the absence of the ability to command the monetization of sovereign debt into euros, in 2010, several of the debtor Member States had a net external debt position that was very negative, much higher than in prior balance of payment crises. These stocks of debt resulted from the accumulation of recurring and large current account deficits.
Thus, the true primary aim of the EZ austerity strategy was to promote a large external adjustment of debtor Member States that would prevent the further accumulation of current account deficits (Andini et al. (2016)). This is the case even if one considers that the adjustment programmes were formally specified in terms of budgetary targets.
On the fiscal front, the Treaty on Stability, Coordination and Governance in the Economic and Monetary Union, TSCG, commonly known as Fiscal Compact, was a intergovernmental treaty quickly put in place. It was signed on 2 March 2012 and went into force on 1 January 2013 (de Grauwe and Ji 2013). It was complemented by additional pieces of regulation and legislation known as Two-Pack and Six-Pack. These new fiscal rules and procedures were imposed in addition to the rules on budget deficits and debt foreseen in the European Treaties and in the Stability and Growth Pact, namely the convergence criteria of the Maastricht Treaty.
In short, the new fiscal rules created four main additional criteria and constraints on the budget balance, on government debt levels, on government expenditure, one or more of which may be a binding constraint at any one time.
The old and the new fiscal criteria and targets create in combination a de facto EZ quasi-constitutional EZ balanced budget regime “in disguise”, which recent EZ reform proposals aim to further strengthen (Bofinger 2018).
The new fiscal rules also translated in a menu a la carte where different Member States were obliged to comply with different fiscal targets, as was seen in the contrasting reaction of the European Commission to the 2019 Budget Proposals of Italy (initial rejection, for a budget deficit proposal of 2.4% of GDP, then negotiated for a slight reduction) and of France (approval, for a budget deficit proposal of 2.8% of GDP, which will likely be revised higher following the ‘yellow-vests’ protests in France).
NO MORE “STEALTH BAILOUTS”
But, importantly, the Banking Union was also a key reform that aimed to correct what some policy makers perceived as a ‘flaw’ or ‘loophole’ of the euro architecture: Member State banking systems
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could finance ‘profligate’ fiscal policy and current account deficits (Cabral 2018), in practice, almost without limit. The Banking Union also aimed to respond to growing criticism in Germany of “stealth bailout” through the Eurosystem TARGET2 payment system (Sinn 2011, Sinn and Wollmershäuser 2011).
The aim was to restrict (debtor) Member States banking systems from promoting excessive credit growth or from financing expansionary fiscal policy, i.e., to finance current account deficits.
This was accomplished by transferring the oversight of the banking systems to a central authority (foremost, the ECB), and by significantly limiting and constraining the policy instruments to respond to failing banks or banks ‘in difficulties’ through new European legislation (Avgouleas and Goodhart 2015, Cabral 2018).
In particular, with the new legislation (foremost, the Bank Recovery and Resolution Directive or BRRD), national government bailouts of banks were starkly hindered and various triggers were created that permit or require the resolution of a bank by public authorities (EZ supervisory or resolution authorities in the case of significant EZ banks, which would be the standard procedure). Moreover, if resolution of the failing bank were not possible or if the bank was deemed by authorities as not having an impact on financial stability, it would have to be liquidated by national authorities (Cabral 2018). This could, in theory, occur regardless of whether the affected bank fully complied with capital requirements regulations.
The liquidation policy instrument should be seen as a ‘stick’ to induce (debtor) Member States to accept the application of a resolution measure (the ‘carrot’) by the EZ authorities. After all, it makes little economic sense to liquidate a functioning large bank with millions of depositors, particularly if the bank is not technically insolvent.
As a consequence of these features of the legislation, the Banking Union has encouraged bank runs in various EZ member states, which have then served as a basis to trigger the application of a resolution measure. Since 2014, the EZ has seen the application of several bank resolution measures, particularly in (debtor) Member States, one of which the second largest resolution measure ever, worldwide (Banco Popular in Spain, favoring the concentration of banking assets in Santander).
In response to the Banking Union, banks in the EZ, and particularly banks in (debtor) Member States of the EZ, have increased capital levels, reduced NPLs, have been acquired by foreign banks, and in at least some Member States, bank credit has fallen. Importantly, EZ banks are subject to regular stress tests where their exposure to EZ Member States sovereign debt is considered, in breach of Basel III capital requirements rules, thus limiting the ability of banks to finance their respective sovereign (Cabral 2018).
In sum, the Banking Union legislation, rules, and institutional framework starkly constrain the ability of banks to provide credit to both the private sector and to acquire Member States sovereign debt, in effect limiting the ability of the banking system to finance current plus capital account deficits and to finance the sovereign.
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IMPLICATIONS AND LIKELY CONSEQUENCES
The austerity strategy adopted by EZ authorities is both a fiscal austerity strategy a la Alesina et al. and an internal devaluation strategy a la Blanchard et al., but its most significant dimension is related to the latter. The thrust of the austerity strategy is to respond to a balance of payments and external debt crisis, which occur as a consequence of the absence of monetary sovereignty by EZ Member States and in the absence of significant fiscal transfers from creditor to debtor EZ Member States (Andini et al. 2016, Febrero et al., 2018).
The focus on maintaining a no fiscal transfers Union with a single common currency means that, for the EZ to function, Member States have to maintain a current plus capital account that is either approximately balanced or in surplus. The austerity strategy adopted by EZ authorities in essence aimed to achieve that goal, thus ensuring no significant fiscal transfers would be necessary.
In fact, the EZ current account balance has risen substantially from -0.1% of GDP in 2010 to +3.2% of GDP in 2017, with most EZ Member States registering a surplus.
That is, the governance reforms implemented following the euro crisis have reinforced the mercantilist character of the EZ, one where all Member States tend to be ‘internationally competitive’ surplus countries, i.e., savers rather than borrowers. Therefore, the EZ austerity strategy is akin to replicating the German mercantilist model to the whole of the Eurozone, i.e., to creating a German Eurozone, with recurring large current account surpluses, an approach that the German writer Thomas Mann prophetically warned against in a famous speech in 1953. The consequences of such a strategy are immense, both economically and politically, and are at the roots of the inability of the national and European authorities to manage the successive crises and, thus, are a major factor for the explanation of the rise of resentment and populism.
Clearly, the EZ authorities’ austerity strategy only worked because China was willing to reduce its current account surplus since 2010, but the current policy strategy, with current account surpluses in excess of 3% of GDP, is unsustainable as the EZ economy is much larger than Germany’s, and before the euro Germany never dared to run very large current account surpluses, namely due to political and commercial pressure from the US government. In the framework of Trump’s current aggressive strategy, this option is clearly in risk.
Furthermore, not only is the austerity strategy foolish and unsustainable but the economic cost and the welfare loss have been immense, particularly in the generally less developed (debtor) Member States of the EZ.
In Portugal’s case, for example, the external adjustment has been extremely large. The trade balance has improved by 11.2 p.p. of GDP between 2008 and 2017. The current and capital account balance has improved by 12.6 p.p. of GDP in the same period. Portugal, a country of recurring trade deficits for centuries, has registered consecutive trade surpluses since 2012, nearly as many yearly trade surpluses as in its entire recorded history. The external adjustment was achieved through a drastic reduction in domestic demand, which fell 4.3% in real terms between 2008 and the year to the third quarter of 2018, with real GDP only in 2018 surpassing the level first reached in 2008.
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Unemployment, particularly among the young, rose dramatically, though it has recently fallen, since this austerity strategy has been challenged and somewhat changed. Emigration of young cohorts rose substantially affecting the country’s demographic prospects.
Still using the Portuguese economy as an example for a simple counterfactual exercise, based on extending the historical nominal GDP growth rate trend of 3% to between 2008 and 2015,10 was it good economic policy to forsake €63bn in nominal domestic demand (€41 bn in nominal GDP) in order to improve nominal net exports by somewhat more than €19bn?
The bang for the euro seems on the low side... suggesting that the austerity strategy was likely not a very efficient economic policy. However, the question that we should be making is what happens if a debtor Member State is unable to maintain sufficiently large current account surpluses to be able to service its large legacy external debt.
Clearly, the escape valve of the past, bank financing with recourse to Eurosystem lending (via TARGET2), has been starkly limited through the Banking Union.11 But as argued above, it is also the irreversibility of the euro that has been further curtailed with the batch of governance reforms implemented since the 2010-2012 euro crisis. Member States have no monetary sovereignty and their banking systems linkage to the euro has been constrained and weakened.
CONCLUSION
The euro always was and still is a political project at twenty. And by this we mean that the political demands on the euro as a currency verge on the impossible.
We are not denying that the euro has had significant successes as a currency. It is used widely, it is trusted as a currency by EZ citizens, it has survived for 20 years and defied its naysayers, particularly in the US. Clearly, it has also had some benefits for economic activity throughout EZ member states, namely greater price transparency, lower transaction costs, better store of value. It may also have anchored inflation expectations better than prior national currencies.
But it has also imposed significant costs, far beyond what was ever anticipated by its critics, and increasingly it seems that the costs may outweigh the benefits, with leading policy makers of Member States, like in the newly elected government of Italy, openly defending exit from the euro, even if still not moving in that direction.
It is not just the argument that the euro is a ‘straitjacket’ on Member States economies, leaving them with no monetary sovereignty, starkly constrained fiscal policy, lack of ability to use exchange rate policy, and now hampered banking systems, to which one should add other EU restrictions such as its competition, state-aid, and industrial policy rules.
It is also the case that the contortions by which EZ policy makers have sought to maintain the euro alive increasingly condition the euro, negatively affecting its normal functions as a currency.
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In sum, our main argument is that the euro at twenty has become more fragile and its future does not look promising.
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RICARDO CABRAL E RICARDO SOUSA
em Jornal Público
O euro entranhou-se na vida dos portugueses. Os “benefícios” que lhe estão associados são conhecidos e continuam a aliciar.
O “discurso pró-euro” e a “sensação de liberdade” convencem: para 64% dos portugueses e dos cidadãos da Zona Euro, o euro é uma “coisa boa” - o suficiente para as autoridades europeias declararem que a moeda única beneficia todos!
Contudo, é surpreendente que a maioria dos decisores políticos continue a ter uma perspectiva “demasiado optimista” em relação ao euro. Essa perspectiva das “elites” tem-se mantido historicamente.
Os 20 anos do euro: O problema das lentes a “preto e zero”
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01. ARTIGOS
Poucos economistas discordaram da adesão de Portugal ao euro, salientando-se aqui João Ferreira do Amaral. Hoje, continua a estar em minoria quem, como Joseph Stiglitz (Prémio Nobel da Economia), chama a atenção para as deficiências do euro desde a sua criação e, mais ainda, quem defende a saída da moeda única.
Não obstante, cada vez mais portugueses têm a noção das dificuldades acrescidas que vieram com o euro. Têm razão nessa avaliação.
UM DESEMPENHO ECONÓMICO MEDÍOCRE...
Entre 1975 e 1998, o PIB per capita português cresceu à taxa real média anual de 3,2%. O país tinha uma posição de investimento internacional líquida de -24,4% do PIB em 1998. A sua dívida pública era de 51,8% do PIB em 1998.
Na primeira década do euro (entre 1998 e 2008), a taxa de crescimento real média do PIB per capita baixou para 1,2%; na segunda década (entre 2008 e 2018), caiu para 0,5%. A taxa de desemprego média dos últimos dez anos foi muito mais elevada (11,6%) do que entre 1976 e 2008 (7,4%). Entre 2011 e 2016, emigraram do país, em termos líquidos, cerca de 147 mil pessoas, tendo a Alemanha se tornado num destino popular para emigrantes qualificados.
Entre 1998 e 2018, a dívida pública subiu para 122,2% do PIB, quadruplicando em termos nominais. A propriedade das grandes empresas portuguesas passou para não residentes e a posição de investimento internacional líquida agravou-se quatro vezes para -100,8% do PIB em 2018. Apesar do enorme ajustamento da procura interna que levou a uma balança corrente ligeiramente excedentária desde 2012, esta passou, novamente, a deficitária em 2018.
A convergência nominal imposta como critério para a adopção do euro não teve qualquer tradução em termos de convergência real. E quando teve, foi conseguida à custa da acumulação de “desequilíbrios macroeconómicos”, como caracterizam as autoridades europeias.
Volvidos 20 anos do euro, o rácio entre o PIB per capita português e o PIB per capita alemão é de cerca de 50%, ou seja, deteriorou-se em 4,7 pontos percentuais (pp) entre 1998 e 2018. O nível de vida dos portugueses divergiu do dos alemães.
O crescimento de outros estados membros confirma a decepção que foi a ausência de convergência real deste período. Em 2018, o PIB per capita grego representava apenas 50,8% do PIB per capita alemão (ou seja, -9,2 pp do que em 1998); o italiano fixava-se em 74,3% (-19.8pp).
Se a “aceitação” do euro pelos cidadãos aparenta ser um sucesso, a divergência acumulada ao longo destes anos coloca em causa essa avaliação.
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PORTUGAL PERDEU COM A MOEDA ÚNICA!
Num estudo recente, Alessandro Gasparotti e Matthias Kullas (Centre for European Policy) concluem que o euro trouxe ganhos e perdas muito diferenciados entre os estados membros.
Do lado dos vencedores, o maior beneficiário do euro foi a Alemanha, com ganhos de cerca de 23 116 euros por habitante (1,9 biliões de euros), tendo estes sido “particularmente elevados depois da crise da dívida soberana”.
Do lado dos perdedores, destacam-se a Itália com uma perda de 73 605 euros por habitante (4,3 biliões de euros).
Portugal sai, igualmente, perdedor: 40 604 euros por habitante (424 mil milhões de euros), ou seja, mais de oito vezes o valor do empréstimo das autoridades europeias no âmbito do resgate de 2011 ao país (52 mil milhões de euros).
O país perdeu ininterruptamente desde 2003; entre 2011 e 2014 (durante o programa de assistência económica e financeira concluído com “sucesso”), perdeu, cumulativamente, 19 716 euros por habitante; e, entre 2015 e 2017 (anos em que as reformas estruturais entretanto encetadas produziriam os efeitos “desejados”), perdeu mais 16 348 euros por habitante. A questão que este estudo suscita é: não teríamos vivido melhor sem o euro?
BEM-VINDOS AO CLUBE DE CREDORES E DEVEDORES.
Antes do euro, as moedas de alguns dos actuais estados membros da união económica e monetária eram, naturalmente, mais fortes em resultado de estruturas produtivas baseadas em sectores de mais alto conteúdo tecnológico e maior produtividade (p. ex., Alemanha ou da Holanda). Outras eram mais fracas, dada a estrutura económica de menor valor acrescentado (p. ex., Portugal, Espanha, Grécia ou Itália).
PIB per capita (em percentagem do PIB per capita alemão)
Fonte: Ameco, Comissão Europeia e cálculos dos autores
http://estudo recentehttp://52 mil milhões de euros
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01. ARTIGOS
A partir de 1 de Janeiro de 1999, o euro tornou-se na média ponderada de moedas com taxas de câmbio (reais) associadas a estruturas produtivas diversas. Ao aderirem a uma moeda demasiado forte, os decisores políticos de países como Portugal aceitaram aplicar um imposto implícito sobre os seus sectores transaccionáveis, transferindo-o todos os anos, sob a forma de subsídio implícito, para os sectores transaccionáveis de países como a Alemanha, para o qual o euro permanece subvalorizado.
A moeda única resulta, assim, num subsídio recorrente aos países com estruturas produtivas mais fortes e num imposto, também recorrente, aos países com estruturas produtivas mais fracas. É, portanto, falacioso o discurso da Alemanha quando, a respeito dos superávites excessivos da sua balança corrente no “procedimento relativo aos desequilíbrios macroeconómicos” (PDM) da Comissão Europeia, invoca não fazer sentido aplicar impostos à sua “competitividade”.
Como refere Jan Priewe (HTW Berlin - University of Applied Sciences), a força da indústria alemã “surge paralelamente à desindustrialização de outros estados membros” e o superávite da balança corrente reflecte as “disfuncionalidades” da União Europeia. É uma “bomba-relógio” para a coesão.
O euro – enquanto sistema de impostos-transferências implícitos – deveria, por isso, ser compensado por um sistema de transferências-impostos explícitos (de estados ricos para pobres).
DA RETÓRICA DO CASTIGO PARA O “ALUNO MAL COMPORTADO”...
O esforço de persuasão da audiência levado a cabo pelas autoridades europeias ignora os enormes “custos” associados ao euro.
Aos supra-mencionados, acrescem outros extremamente importantes:
- A política monetária é uma função da dinâmica da Zona Euro como um todo, na qual pesam mais as economias maiores e menos as menores. Por isso, pode ser “óptima” para alguns e “sub-óptima” para muitos;
- A ausência da política cambial impede que a taxa de câmbio actue como estabilizador automático face a choques. Como enfatizam Enrico Perotti e Oscar Soons (University of Amsterdam), dado que os preços de mercado e fluxos comerciais se ajustam mais rapidamente do que as estruturas produtivas, a união monetária gera efeitos redistributivos persistentes;
- E, no que diz respeito à política orçamental, a maior fragilidade é estrutural: o euro foi desenhado sem um credor de última instância e sem dívida federal.
A ameaça de sanções pelo desrespeito de regras orçamentais, a dependência da política do BCE e a exposição a mudanças na notação do risco pelas agências de rating transformam os estados membros em “presas fáceis” dos mercados financeiros.
Como notam Paul De Grauwe (London School of Economics) e Yuemei Ji (University College of London), numa união monetária, disciplinar um estado soberano através dos mercados financeiros é equivalente a estimular ataques especulativos periódicos à dívida dos membros mais frágeis.
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... À INTRANSIGÊNCIA DO “ALUNO EXEMPLAR” EM MUDAR!
O mau desempenho económico nas últimas duas décadas deve-se à deficiente arquitectura do euro. Esta explica-se pela inflexível oposição alemã a reformas que promoveriam uma mais justa distribuição dos ganhos do euro.
Décadas depois do lançamento deste, uma união de transferências que garanta a convergência estrutural continua a ser “assunto-tabu” para os países ricos e o orçamento europeu que está a ser projectado é uma versão “light” sem capacidade de estabilização.
De igual modo, a União Bancária só avançou de forma faseada e desprovida de um esquema comum de garantia de depósitos (o “terceiro pilar”) por manifesta falta de vontade de partilha do risco dos países credores.
Finalmente, a criação de um activo sem risco europeu e a subsequente mutualização da dívida pública não se materializarão num futuro próximo. Mais, a sua potencial introdução faseada desestabilizaria os mercados de dívida, transformando (ainda mais) as obrigações alemãs em activos refúgio e afugentando (ainda mais) os investidores de obrigações de outros países.
Hoje, como no passado, “o aluno exemplar” considera-se – nas palavras de Wolfgang Streeck (Max Planck Institute) – um “poder hegemónico benevolente, que mais não faz do que que distribuir bom senso e virtudes morais aos seus vizinhos” desse “império liberal” chamado União Europeia!
Mas, hoje, contrariamente ao passado, assistimos, como frisa Peter Ramsay (London School of Economics), àquele império “... que mais não é do que uma forma de governo improvisada pelas elites nacionais... relutantes ou incapazes de aceitar a autoridade política que advém da democracia...” e que se desdobram “... no estabelecimento de arranjos intergovernamentais supra-nacionais para alimentar essa autoridade.”.
Os efeitos da estratégia alemã são claros: impõem uma pressão crescente, limitam as transferências a um nível negligenciável e estão na origem do clube de credores e devedores em vigor na Zona Euro.
A HISTÓRIA REPETE-SE, “PRIMEIRO COMO TRAGÉDIA, DEPOIS COMO FARSA” (KARL MARX)
Num texto publicado no Project Syndicate, Robert Skidelski (Warwick University) argumenta que a Alemanha está a fazer aos países devedores o que os Aliados lhe fizeram a seguir à Primeira Guerra Mundial, quando impuseram enormes reparações de guerra àquela que, em resultado, ficou com uma dívida externa elevada.
Entre 1929 e 1931, na sequência da Grande Depressão, o governo alemão adoptou uma política de austeridade, de forma pró-cíclica, para tentar reembolsar aquela dívida. A economia encolheu 25%, o desemprego disparou para 35% e os Nazis (os “populistas” da altura) chegaram ao poder.
A maior parte da dívida acabou por ser perdoada na sequência de várias reestruturações, tendo a Alemanha pago apenas uma ínfima parte.
http://poder hegemónico benevolente, que mais não faz do que que distribuir bom senso e virtudes morais aos seus vizinhoshttp://poder hegemónico benevolente, que mais não faz do que que distribuir bom senso e virtudes morais aos seus vizinhoshttp://... que mais não é do que uma forma de governo improvisada pelas elites nacionais... relutantes ou incapazes de aceitar a autoridade política que advém da democracia...http://... que mais não é do que uma forma de governo improvisada pelas elites nacionais... relutantes ou incapazes de aceitar a autoridade política que advém da democracia...http://... no estabelecimento de arranjos intergovernamentais supra-nacionais para alimentar essa autoridade.http://... no estabelecimento de arranjos intergovernamentais supra-nacionais para alimentar essa autoridade.http://Num texto publicado no Project Syndicatehttp://argumenta
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01. ARTIGOS
A 1 de Outubro de 2012, Paolo Savona (até há alguns meses, Ministro Italiano para os Assuntos Europeus) escreveu uma carta aos amigos alemães e italianos. Relembrou que o objectivo do avanço civilizacional europeu é o de garantir “felicidade para o maior número de pessoas”.
Argumentou ainda que o comportamento da Alemanha se assemelhava ao Plano de 1936 de Walther Funk (destacado membro do partido Nazi e, a partir de 1938, Ministro da Economia de Adolf Hitler).
Esse Plano visava fazer com que:
i) as diversas moedas nacionais “convergissem para a zona do Marco Alemão”;
ii) o desenvolvimento industrial prevalecesse na Alemanha (e na França); e
iii) os restantes países se dedicassem à agricultura e ao turismo.
Na visão de Savona, organismos “bio-jurídicos” como o euro e as políticas orçamentais europeias parecem revitalizar o Plano de Funk. Caberia, assim, à Alemanha clarificar as suas reais intenções quanto ao projecto europeu.
20 ANOS A NÃO REPETIR!
O enquadramento actual e as reformas em curso promovem a divergência entre estados ricos e pobres e asseguram que países como Portugal irão, lentamente, definhar.
Estarão os portugueses conscientes da rede de interações entre elites nacionais (que os governam) e elites supra-nacionais (que governam aquelas)?
Seremos capazes de perceber o que esse percurso representa para o futuro do país e mudar de rumo?
Para que estes 20 anos não se repitam, é necessário deixar de olhar para o euro através de lentes “schwarze null”, estabelecendo, de forma informada e inconformada, linhas vermelhas em relação ao status quo.
Ricardo Cabral é professor auxiliar de Economia da Universidade da Madeira.Ricardo Sousa é professor associado na Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho.
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EUGÉNIO ROSA
A situação do setor público da saúde em Portugal tem-se agravado como consequência das dificuldades crescentes que enfrenta o SNS sujeito à ditadura do défice orçamental e da política de proteção dos grandes grupos de saúde privados. Os dois gráficos seguintes, com dados da OCDE (“Health at a Glance”), revelam uma realidade preocupante, a saber: enquanto em Portugal a parcela da riqueza criada (PIB) aplicada na saúde dos portugueses diminuiu entre 2006 e 2017, na União Europeia sucedeu precisamente o contrário; em média aumentou sendo
já superior à do nosso país.
A parcela da riqueza criada no país que é aplicada na saúde diminuiu, a despesa das família aumentou
Gráfico 1- A despesa com saúde (publico + privada) em percentagem do PIB, em Portugal e nos países da União Europeia em 2006(PT) ou 2007
Fonte: Health at a Glance- 2010
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01. ARTIGOS
Gráfico 2- A despesa com saúde (publico + privada) em percentagem do PIB, em Portugal e nos países da União Europeia em 2017
Fonte: Health at a Glance- 2018
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Em 2006, a despesa total (pública+ privada) em Portugal representava 9,9% do PIB, enquanto a média na União Europeia era de 8,3% do PIB, ou seja, menos 1,6 pontos percentuais.
Mas em 2017, a parcela da riqueza criada no nosso país (PIB) destinada à saúde dos portugueses diminuiu para 9% do PIB (em 2006, era 9,9%), enquanto a média da União Europeia aumentou para 9,6% (em 2007, era apenas 8,3% do PIB). No período 2006/2017 verificou-se em Portugal um retrocesso, enquanto nos países das U.E, registou-se precisamente o contrário, ou seja, investiram na saúde dos seus nacionais uma percentagem maior da riqueza criada. E tenha presente que uma redução de 0,9% do PIB na parcela aplicada na saúde, que foi o verificada em Portugal entre 2006/2017, corresponde atualmente no nosso pais a menos 1.800 milhões € para a saúde.
A REDUÇÃO NA SAÚDE NÃO FOI MAIOR PORQUE A DESPESA COM SAÚDE SUPORTADA PELAS FAMILIAS CRESCEU MUITO NESTE PERÍODO
O quadro 1, com dados da Conta Satélite da Saúde do INE, mostra que no período 2000/2018 a despesa com saúde suportada pelas famílias em Portugal cresceu muito mais do que a despesa pública com a saúde dos portugueses (SNS+ Serviços Regionais dos Açores e Madeira).
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Entre 2000 e 2018, a despesa total corrente com a saúde aumentou no país em 70,5% segundo o INE, mas a despesa corrente do SNS e dos Serviços Regionais de Saúde dos Açores e da Madeira subiu apenas 66,2%. Como consequência a despesa com saúde das famílias aumentou 86,7%, ou seja, mais 20,7 pontos percentuais que a subida na despesa pública.
O aumento verificado na despesa publica com a saúde dos portugueses nem foi suficiente para compensar o aumento de preços. Se consideramos o período 2010/2018, e deduzirmos aos valores de 2018 o efeito do aumento dos preços verificado neste período, ou seja, se calcularmos os valores de 2018 a preços de 2010, concluímos que, a preços de 2010, a despesa corrente total de 2018 foi inferior à de 2010 em -5,7%; a despesa do SNS e dos Serviços Regionais de saúde de 2018 foi inferior à de 2010 em -9,4%, mas as das Famílias aumentou em +5,1%. Como consequência do subfinanciamento cronico do SNS e dos Serviços Regionais as famílias portuguesas têm sido obrigadas a suportar uma parcela crescente da despesa com a saúde. Esta é a verdade que os números oficiais do INE revelam.
Como consequência a percentagem da despesa das famílias com saúde na despesa total de saúde é em Portugal muito mais elevada que a média da U.E. como revela o gráfico 3.
ANO Despesa corrente de Saúde Total M€SNS + Serviços Regionais de
Saúde de Açores e Madeira - M€Despesa das famílias
com Saúde - M€
2000 10 758 798 6 306 973 2 687 8492001 11 414 934 6 626 220 2 791 3502002 12 206 461 7 104 734 2 755 0502003 13 010 302 7 485 835 3 023 2572004 14 163 666 8 113 980 3 262 2432005 14 966 348 8 609 589 3 488 5502006 15 188 768 8 490 615 3 817 5062007 15 907 572 8 715 161 4 083 5482008 16 729 079 9 162 818 4 319 2602009 17 332 440 9 715 227 4 265 4472010 17 668 162 10 507 205 4 338 4602011 16 790 717 9 640 572 4 415 7712012 15 742 270 8 991 885 4 435 5192013 15 476 704 9 070 198 4 173 4292014 15 615 760 9 086 268 4 325 5402015 16 132 190 9 238 315 4 473 1042016 16 853 780 9 593 111 4 684 0842017Po 17 456 492 9 932 487 4 806 3592018Pe 18 345 065 10 484 715 5 018 116Var. 2000 / 2018 70,5% 66,2% 86,7%2018 - preços 2010 16 663 650 9 523 740 4 558 181Var. 2018 p2010/2010 -5,7% -9,4% 5,1%
Fonte: Conta Satélite da Saúde - 2018 - INE
Quadro 1- Despesa corrente com saúde em Portugal – 2000/2018- INE
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01. ARTIGOS
Gráfico 3- A despesa das famílias em percentagem da despesa total com saúde nos diferentes países
Gráfico 4- Transferências do OE para o SNS e despesa anual do SNS
Fonte: Health at a Glance- 2018
Fonte: Notas explicativas do Ministro da Saúde durante o debate anual dos O.E.
Segundo a OCDE, em 2016, a percentagem que a despesa das famílias com a saúde em Portugal representava do total da despesa corrente com saúde (28%) era superior em 55,6% à média dos países da União Europeia (apenas 18%). Esta é uma realidade que os discursos oficiais procuram ocultar mas que é importante conhecer.
O SUBFINANCIAMENTO CRÓNICO, QUE GERA MÁ GESTÃO E PROMISCUIDADE PÚBLICO-PRIVADO ESTÁ A DESTRUIR o SNS. A NECESSIDADE DE INTRODUZIR UMA “NORMA TRAVÃO”
O gráfico 4, construído com dados disponibilizados pelo Ministério da Saúde aos deputados aquando do debate dos orçamentos do Estado, dá uma ideia clara da dimensão do subfinanciamento crónico do SNS pelo Orçamento do Estado.
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Quadro 2 – Dados da Demonstração de Resultados e dos Balanços do SNS referentes aos anos 2017 e 2018 apurados com base na “especialização dos exercícios” - Contabilidade Patrimonial
Fonte: Relatório e Contas do Ministério da Saúde e do Serviço Nacional de Saúde 2018
No período 2010/2019, a despesa do SNS somou 94.769 milhões €, mas as transferências do Orçamento do Estado para o SNS foram apenas 88.277 milhões €, ou seja, menos 11.492 milhões €. A diferença foi coberta com receitas das taxas moderadoras, com serviços prestados pelo SNS a entidades privadas e com uma enorme divida.
No entanto, a verdadeira dimensão do subfinanciamento crónico do SNS ainda não é verdadeiramente revelada pelos dados do gráfico anterior, pois uma parte das transferências feitas em cada ano não são para pagar os gastos desse ano, mas sim para amortizar a enorme divida do SNS que transita de ano ara ano. Só uma conta baseada no princípio contabilístico designado por “especialização do exercício” é que permite fazer a uma verdadeira avaliação do subfinanciamento do SNS verificado em cada ano.
O “Relatório e Contas do Ministério da Ministério da Saúde e do Serviço Nacional de Saúde de 2018”, recentemente divulgado, inclui as Demonstrações de Resultados do Serviço Nacional de Saúde feitas com base nos principio da “especialização dos exercícios, em que se imputa a cada ano os rendimentos e os gastos que dizem respeito apenas a esse ano.
E segundo as contas desse Relatório, em 2017, os prejuízos reais do SNS foram de 345,6 milhões €, e, em 2018, os prejuízos reais subiram para 848,2 milhões € (+145,4%) ou seja, neste ano os gastos reais foram superiores aos rendimentos deste ano em 848,2 milhões € (um aumento de 502,6 milhões € de prejuízos num único ano). Não há SNS que resista assim.
É precisamente da Demonstração de Resultados e do Balanço do SNS desses anos( págs. 49, 50, 51 do referido Relatório) que retiramos os dados que constam do quadro 2 que a seguir se apresenta para que o leitor possa ficar com uma informação mais clara da gravidade da situação.
RÚBRICAS 2017 (M€) 2018 (M€) VARIAÇÃO (M€) VARIAÇÃO (%)RENDIMENTOSTransferência do OE 8 866,2 8 815,1 - 51,0 - 0,6%Prestação de Serviços 309,9 162,2 - 147,7Impostos e taxas (moderadoras) 1,9 280,3 278,4SOMA 9 178,0 9 257,5 79,6 0,9%GASTOSMercadorias e matérias consumidas 1 732,0 1 815,5 83,5 4,8%Fornecimentos e serviços externos 3 806,1 4 036,4 230,3 6,1%Gastos com Pessoal 3 844,4 4 064,2 219,7 5,7%Imparidade e provisões 0,0 37,2 37,2Outras perdas 90,8 80,5 -10,3Amortizações 165,7 164,5 - 1,2SOMA 9 639,1 10 198,3 559,2DÍVIDAS DO SNSFinanciamentos obtidos 14,9 221,1 206,2Dívidas a fornecedores 2 117,6 1 931,4 - 186,2Fornecedores de investimentos 45,9 53,5 7,6Adiantamento de clientes 10,9 48,9 38,0Outras contas a pagar 615,3 1 108,7 493,4SOMA DAS DÍVIDAS 2 804,6 3 363,6 559,0 19,9%
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01. ARTIGOS
Como se conclui rapidamente, as transferências do OE para o SNS, em percentagem do PIB nominal, têm variado de ano para ano de acordo com o arbítrio dos sucessivos governos. E tenha-se presente que nas percentagens anteriores estão incluídas uma parcela para pagar a enorme divida do SNS que tem passado de ano para ano como revela o gráfico seguinte.
Entre 2017 e 2018, as transferências reais do Orçamento do Estado para o SNS destinadas a pagar os gastos desses anos, e não as dividas acumuladas do passado, diminuíram, a preços correntes em 51 milhões € (-0,6%), pois passaram de 8.866,2 milhões € para 8.815,1 milhões €. E se se incluir os rendimentos que tem como origem as taxas moderadoras e a prestações de serviços a outras entidades (por ex. seguradoras) o aumento de rendimentos, entre 2017 e 2018, foi apenas de 0,9% pois passaram de 9.178 milhões € para 9.257,5 milhões e, como mostra o quadro.
Enquanto isto sucedeu em relação aos rendimentos (receitas na linguagem comum), os principais gastos reais do SNS (Mercadorias e Matérias consumidas, Fornecimentos e serviços externos, e gastos com Pessoal) aumentaram em 5,7%. Só estas três rubricas de despesa do SNS aumentaram, entre 2017 e 2018, em 533,6 milhões €, mas o SNS tem mais gastos daí que os prejuízos do SNS tenham atingido, em 2018, 848,2 milhões €. Esta realidade grave, e suas consequências, foi ignorada no debate e aprovação da nova Lei de bases da saúde, pois não se encontra nela qualquer medida concreta para por um travão à destruição que o SNS está ser sujeito por esta via, a não ser bonitas declarações de intenções esperando que os governos as oiçam.
A NECESSIDADE DE INTRODUZIR NA LEI DE BASES DA SAÚDE UMA “NORMA TRAVÃO” QUE IMPEÇA O SUBFINANCIAMENTO CRÓNICO DO SNS
Em percentagem da riqueza criada anual no país (PIB) a parcela transferida para o SNS através do Orçamento do Estado tem variado de ano para ano.
ANOS PIB a preços correntes(M€)
Transferências do OE para SNS a preços correntes
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% que as transferências do OE para o SNS representam em relação ao PIB de cada ano
2008 178 873 7 900 4,4%2009 175 448 8 200 4,7%2010 179 930 8 849 4,9%2011 176 167 8 254 4,7%2012 168 398 7 762 4,6%2012
(Inclui pagar dívida acumulada) 168 398 7 762 4,6%
2013 170 269 7 874 4,6%2014 173 079 7 738 4,5%2015 179 809 7 878 4,4%2016 185 494 8 179 4,4%2017 193 049 8 628 4,5%
2018 (P) 199 222 8 594 4,3%
Quadro 3 – Transferências do Orçamento do Estado para o SNs em percentagem do PIB nominal
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Para acabar com o arbítrio dos governos, que têm utilizado o SNS como instrumento para reduzir o défice orçamental a zero, destruindo-o, defendemos a introdução na lei de bases da saúde de uma norma, que designamos por “norma travão ao subfinanciamento crónico do SNS”, que poderia ter a seguinte redação: “as transferências do OE para o SNS para fazer face aos gastos de cada ano não podem ser inferiores a 5% do valor do PIB nominal desse ano”.
Se se tivesse sido introduzido na nova Lei de Bases da Saúde, como na altura defendemos esta a “norma travão” (propusemos esta norma à comissão presidida pela Dra. Maria de Belém e aos diversos partidos mas nem a comissão nem nenhum partido se mostrou interessado em debater e defender esta questão vital para a defesa do SNS). O que ficou na nova lei de bases da saúde não dá garantia nenhuma que o subfinanciamento cronico do SNS não continue pois o que consta do nº3 da Base 23 da Lei de bases da saúde é apenas o seguinte: “O financiamento deve permitir que o SNS seja dotado dos recursos necessários ao cumprimento das suas funções e objetivos” . Não há um financiamento mínimo assegurado, tudo fica dependente da boa vontade e do arbítrio dos governos, e a experiência já mostrou de uma forma cabal que são más conselheiras. A vontade de Mário Centeno de reduzir a zero o défice orçamental e assim brilhar em Bruxelas para assegurar uma carreira internacional vai continuar a imperar embora à custa da destruição dos serviços públicos, de que o SNS é uma parte essencial.
Se essa “norma travão” já existisse, em 2017, o SNS teria recebido do Orçamento do Estado mais 931,2 milhões € e, em 2018, mais 1.379,7 milhões €. Desta forma acabar-se-ia com o subfinanciamento crónico a que o SNS tem sido sujeito a longo dos sucessivos governos para reduzir o défice orçamental. Neste aspeto fundamental para a defesa do SNS a nova Lei de bases da saúde de 2019 (Lei 95/2019) nada acrescentou de novo, não acrescentado nada de concreto.
Gráfico 5-– Evolução da divida e pagamentos em atraso (mais de 90 dias) do SNS
Fonte: ACSS
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01. ARTIGOS
Entre 2011 e 2019, o número de profissionais de saúde nas Administrações Públicas, inclui SNS e Serviços Regionais de Saúde, aumentou em 9.735, sendo apenas 32 durante o governo PSD/CDS e 9.703 no governo PS. Os profissionais que mais aumentaram foram os médicos – 5.466 - sendo 3601 durante o governo PS.
No entanto, as suas condições de trabalho e de vida agravaram-se enormemente durante este período, a começar pelos seus ganhos como se mostra no quadro seguinte, o que está a contribuir fortemente para a degradação do SNS, ignorado e não compreendido por muitos.
O AUMENTO DO NÚMERO DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE DO SNS, A PROMISCUIDADE PÚBLICO-PRIVADO, O FINANCIAMENTO DOS PRIVADOS E A BAIXA PRODUTIVIDADE E A MÁ GESTÃO.
O número de profissionais de saúde tem aumentado como revelam os dados da DGAEP constantes do quadro seguinte
Quadro 4- Variação do numero de profissionais de saúde no período 2011-2019
Fonte: Direção Geral da Administração e Emprego Público (DGAEP) - 2º Trim. 2019 - Ministério das Finanças
ADMINISTRAÇÕESPÚBLICAS
31 Dez.2011
30 Set.2015
30 Jun.2019
2011 / 2015GOVERNO PSD / CDS
2015 / 2019GOVERNO PS 2011 / 2019
Médicos 25 049 26 914 30 515 1 865 3 601 5 466
Enfermeiros 42 769 41 338 47 075 - 1 431 5 737 4 306
Téc Diag. e Terapêutica 8