revista médico repórter 107

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médico repórter Jornalística na forma, científica no conteúdo. Informação exclusiva para médicos ano 11 | nº 107 | 2011 Mieloma múltiplo (MM) é a segunda neoplasia hematológica mais frequente, corresponde a 1,0% de todas as doenças malignas e a 10% das doenças malignas hematológicas médicorepórter | | Saúde pública Por dentro Em pauta Atualização educação médica PANORAMA DA educação médica ARTIGO

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Médico repórter é diferente de todas as publicações médicas existentes, aliando medicina com jornalismo e garantindo a leitura integral do seu conteúdo. Aborda as novidades através de entrevistas e seções fixas (Como eu Trato, Tudo Sobre, Atualização Terapêutica), além de informações gerais para o médico

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médicorepórterJornalística na forma, científica no conteúdo. Informação exclusiva para médicos ano 11 | nº 107 | 2011

Mieloma múltiplo (MM) é a segunda

neoplasia hematológica mais

frequente, corresponde a 1,0% de

todas as doenças malignas e a 10%

das doenças malignas hematológicas

dic

orep

órter

ano 11 | nº 107 | 2011

Saúde públicaPor dentroEm pautaAtualização

PAN

OR

AM

A D

A edu

cação méd

ica

PANORAMA DAeducação médica

ARTIGO

capa medico2.indd 1 26/01/11 15:56

1816Invento do

estetoscópio porRené T.H. Laennec

(1781-1826)

1855Invento do

biauricular por Dr. George Cammann

(1804-1863)

2010Estetoscópioeletrônico

NÓS TAMBÉM EVOLUÍMOS

1998Lançamento da revistaMédico Repórter pelo Grupo Lopso. Primeira

revista jornalística científica exclusiva para médicos

2001Sempre na vanguarda, a

revista Médico Repórter inova em seu visual

2010Acompanhando um mercado em constante mudança, a revista Médico Repórter, em

seu nº 106, ganha uma nova roupagem, sempre com a proposta de ser a melhor

publicação para a classe médica

Fique por dentro das novidades que a Médico Repórter traz pra você! A revista que é

sua maior ferramenta de informação sobre medicina no Brasil está de cara nova! Agora

temos uma nova identidade visual, pois queremos oferecer a você uma leitura cada vez mais

agradável. Esperamos que goste. Além disso, contamos com um novo site que trará infor-

mações novas sobre seu setor com muito mais agilidade. Você pode conferir no endereço

www.medicoreporter.com.br Mande suas opiniões sobre os artigos, faça críticas ou dê

sugestões sobre assuntos que gostaria de ler na Médico Repórter. Participe!

acesse: www.medicoreporter.com.br

Faça uma assinatura e garanta suas edições da Nova Médico Repórter*

Prezado médico e leitor, juntamente

com a Nova Médico Repórter,

encartamos algumas gravuras

maravilhosas, para decorar seu

consultório.

médicorepórterJornalística na forma, científica no conteúdo. Informação exclusiva para médicos

*A Revista Médico Repórter é distribuída gratuitamente, porém seu mailing flutuante não assegura o recebimento mensal de todas as edições

anuncio.indd 1 26/01/11 16:01

1816Invento do

estetoscópio porRené T.H. Laennec

(1781-1826)

1855Invento do

biauricular por Dr. George Cammann

(1804-1863)

2010Estetoscópioeletrônico

NÓS TAMBÉM EVOLUÍMOS

1998Lançamento da revistaMédico Repórter pelo Grupo Lopso. Primeira

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2001Sempre na vanguarda, a

revista Médico Repórter inova em seu visual

2010Acompanhando um mercado em constante mudança, a revista Médico Repórter, em

seu nº 106, ganha uma nova roupagem, sempre com a proposta de ser a melhor

publicação para a classe médica

Fique por dentro das novidades que a Médico Repórter traz pra você! A revista que é

sua maior ferramenta de informação sobre medicina no Brasil está de cara nova! Agora

temos uma nova identidade visual, pois queremos oferecer a você uma leitura cada vez mais

agradável. Esperamos que goste. Além disso, contamos com um novo site que trará infor-

mações novas sobre seu setor com muito mais agilidade. Você pode conferir no endereço

www.medicoreporter.com.br Mande suas opiniões sobre os artigos, faça críticas ou dê

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consultório.

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*A Revista Médico Repórter é distribuída gratuitamente, porém seu mailing flutuante não assegura o recebimento mensal de todas as edições

anuncio.indd 1 26/01/11 16:01

4 | mr107

Diretora Geral

Ana Maria Sodré

[email protected]

Diretora Administrativa

Carolina dos Santos

[email protected]

Jornalista Responsável

Ana Carolina Addario - DRT 509-MS

[email protected]

Jornalistas

Alessandra Soares

Ana Carolina Addario

[email protected]

Revisora

Isabel Gonzaga

[email protected]

Criação e Diagramação

Alexandre Figueira de Almeida

[email protected]

Comercial

Ana Maria Sodré

[email protected]

As matérias assinadas não refletem a

opinião da Médico repórter.De acordo com a resolução RDC

nº 102 de 30 de novembro de 2000,

a revista Médico repórter não se

responsabiliza pelo formato ou conteúdo

dos anúncios publicados.

É proibida a reprodução parcial ou

total da Médico repórter sem a

devida autorização do Grupo Lopso de

Comunicação.

Médico repórter é uma publicação do

Grupo Lopso de Comunicação.

INPI nº 819.589.888

Final de ano é sempre um momento de reflexão

sobre como agimos durante os 12 meses que

decorreram, quais foram as coisas boas que

marcaram essa passagem, e quais os momen-

tos em que deixamos a desejar em qualquer que seja o

aspecto de nossa existência. Da mesma forma, o início de

ano representa um momento importante na formação das

novas ideias que orientarão a nossa conduta nos próximos

12 meses, o que significa mais 365 dias com consciência

relativa sobre o que acontecerá neste novo ano.

2010 foi um ano repleto de novidades importantíssimas

no setor da medicina, com descobertas determinantes

para a aproximação cada vez mais efetiva de diagnósticos

precisos, oferecendo mais bem-estar e perspectiva de

vidas mais saudáveis e longas para esta gama tão variada

e peculiar de pacientes do nosso amado País, o Brasil. Foi também nesse ano que a medicina

deu passos largos rumo à otimização do serviço médico a fim não só de curar os males deste

país enorme, mas de capacitar cada vez mais nossos profissionais em prol do desenvolvimento

da medicina brasileira, referência nos mais diversos setores de sua atuação.

De carona com o sentimento de otimismo que o início de ano abarca em todo o mundo, a Mé-

dico Repórter do mês de janeiro, que chega à sua 107a edição, pensou: como proporcionar

aos profissionais da medicina o surgimento de horizontes ainda mais definidos e promissores

no novo ano que entra? Fácil, precisamos discutir sobre o futuro da educação em medicina -

afinal, é com acesso a informações sempre atualizadas e com o incentivo ao desenvolvimento

de estudos que aprimoramos nossa maneira de cuidar do mundo.

Pensando nisso, a primeira edição de 2011 traz uma reportagem especialíssima sobre o

panorama da educação em medicina no Brasil, a fim de fazer da pauta um assunto cada vez

mais presente na agenda do médico brasileiro, até que as tais reivindicações abordadas em

nossa edição passada sejam encaradas como passado mesmo, de modo que daqui pra frente,

quando o assunto for educação médica em nosso País, só restem comentários satisfeitos e um

cenário inspirador para nossos países vizinhos e em todo o globo.

Além das previsões otimistas quanto ao panorama da educação no Brasil, a edição deste mês

da Médico Repórter discute com especialistas dos mais gabaritados do País os temas relacio-

nados a este período maravilhoso do ano que é o verão, mas sem deixar de se preocupar com

os riscos que a diversão garantida pela estação mais alegre do ano pode provocar.

Recheada de entrevistas repletas de conteúdo e verdade, a primeira edição do ano da sua

revista favorita sobre medicina espera entrar com o pé direito em seu consultório, levando

todas as vibrações positivas que todo início representa. Esperamos que, mais uma vez, nosso

conteúdo contribua para disseminar ainda mais a importância da profissão de médico, e a

satisfação em fazer parte de um país reconhecido pela consistência de seu corpo médico em

todo o mundo. Que em 2011trabalhemos mais uma vez juntos para colocar o Brasil ainda mais

alto nesse ranking de competência e honestidade.

Um feliz 2011 de toda a equipe da revista Médico Repórter, temos mais um ano pela frente!

Muito obrigada por compartilharem de tantas alegrias conosco e, mais uma vez, boa leitura!

Ana Maria Sodré

editorialmédicorepórter

Jornalística na forma, científica no conteúdo.Informação exclusiva para médicos

ano 11 | nº 107 | 2011

www.medicoreporter.com.br

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2010

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6 | mr107

índice

08 MATÉRIA DE CAPA: PANORAMA DA EDUCAÇÃO MÉDICAComo o boom das universidades de medicina se contrapõe à ação efetiva das associações médicas na expansão do conhecimento profissional

14 POR DENTRODoenças antigas, epidemias recentes

18 ENTREVISTAHá 50 anos, uma pílula revolucionou a vida da mulher e a sociedade

20 EM PAUTANovos rumos para a psiquiatria

ATUALIZAÇÃO TERAPÊUTICA24 Atualização terapêutica noacidente vascular cerebral28 Diabetes mellitus gestacional32 Hemorroidas

SEÇÕES

DESTAQUES

SAÚDE PÚBLICA36 Dia mundial do combate ao diabetes:educar para prevenir40 Tabagismo, medicina e engajamento44 Qual o custo de uma vida para o Estado brasileiro?

46 DESCOBERTAMohs e a solução para o câncer de pele

ARTIGO48 Testosterona e câncer de próstata50 O tratamento pré-hospitalar do infarto do miocárdio no Brasil já é uma realidade?

54 Hipertensão arterial: a importância das evidências para a prática clínica diária

60 FITOMEDICINABeterrraba, surpreendente para tratar miomas?

62 NA PRATELEIRALançamentos em literatura médica

64 PANORAMANotícias médicas

ATUALIZAÇÃO TERAPÉUTICA30 A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) é uma enfermidade respiratória prevenível e tratável

ARTIGO58 Mieloma múltiplo (MM) é a segunda neoplasia hematológica mais freqüente, corresponde a 1,0% de todas as doenças malignas e 10% das doenças malignas hematológicas

colaboradores.indd 6 26/01/11 19:15

mr107 | 7

colaboradores

Dr. Marcello D. Bronstein,

chefe da Unidade de

Neuroendocrinologia da

Disciplina de Endocrino-

logia e Metabologia do

Hospital das Clínicas da

Faculdade de Medicina da

Universidade de São Paulo

(FMUSP)

Dr. Carlos A. C. Pereira,

ex-presidente da Sociedade

Brasileira de Pneumologia e

Tisiologia, doutor em Pneu-

mologia pela Universidade

Federal de São Paulo (UNI-

FESP), diretor do Serviço de

Doenças Respiratórias do

Hospital do Servidor Público

Estadual de São Paulo

Dr. Eduardo de Oliveira

Duque-Estrada, médico

do corpo de saúde da

Marinha do Brasil e profes-

sor universitário até 2007,

MBA em Estratégia Em-

presarial, presta assessoria

à indústria farmacêutica

Dra. Denise Steiner, pro-

fessora de Dermatologia

da Faculdade de Medicina

de Mogi das Cruzes, em

São Paulo

Dr. Marcelo Chiara Berto-

lami, diretor científico do

Instituto Dante Pazzanese

de Cardiologia da Secreta-

ria de Estado da Saúde de

São Paulo

Dr. Mario Peres, médico

neurologista, com dou-

torado pela Universidade

Federal de São Paulo

(UNIFESP), pós-doutorado

pela Thomas Jefferson

University, Philadelphia

Dr. Décio Chinzon, assis-

tente doutor da Disciplina

de Gastroenterologia

Clínica da Faculdade de

Medicina da Universidade

de São Paulo (FMUSP)

Dr. Manoel Jacobsen

Teixeira, chefe da Liga

de Dor do Hospital das

Clínicas da Faculdade de

Medicina da Universidade

de São Paulo (FMUSP)

Dra. Ceci Mendes Car-

valho Lopes, presidente

da Associação Médica

Brasileira de Fitomedicina

(SOBRAFITO)

Dr. Eduardo B. Bertero,

fellow pela Universida-

de de Boston (EUA),

mestre em Ciências pela

Faculdade de Medicina da

Universidade de São Paulo

(FMUSP), médico assisten-

te do Departamento de

Urologia do Hospital do

Servidor Público Estadual

de São Paulo

Dr. Mário Santoro Junior,

membro da Academia

Brasileira de Pediatria, pre-

sidente da Sociedade Bra-

sileira de Pediatria (gestão

94-96), vice-presidente da

Associação Latino-Ameri-

cana de Pediatria (gestão

2003-2004)

Dr. Sérgio Timerman,

diretor do Laboratório de

Treinamento, Simulação

e Pesquisa do Instituto

do Coração (InCor) do

Hospital das Clínicas da

Faculdade de Medicina da

Universidade de São Paulo

(HC-FMUSP), diretor da

Fundação Interamericana

do Coração e presidente

do Comitê de Ressuscitação

da Associação de Medicina

Intensiva Brasileira (AMIB)

Dr. César Eduardo

Fernandes, professor livre-

-docente, chefe da Clínica

Ginecológica da Disciplina

de Ginecologia e Obs-

tetrícia da Faculdade de

Medicina do ABC (FMA-

BC), professor colaborador

da Pós-Graduação em

Ginecologia, Obstetrícia e

Mastologia da Faculdade

de Medicina de Botucatu

– Universidade Estadual

Paulista (UNESP)

Dr. Prof. Eliasz Enge-

lhardt, professor titular

da Universidade Federal

do Rio de Janeiro (UFRJ),

coordenador do Setor de

Neurologia Cognitiva e

do Comportamento do

Instituto de Neurologia

Deolindo Couto da UFRJ,

coordenador de pesquisa

do Centro para Doença de

Alzheimer do Instituto de

Psiquiatria da UFRJ

colaboradores.indd 7 26/01/11 19:15

PANORAMAda educação médica por ANA CAROLINA ADDARIO

COMO O BOOM DAS UNIVERSIDADES DE MEDICINASE CONTRAPÕE À AÇÃO EFETIVA DAS ASSOCIAÇÕES MÉDICAS NA

EXPANSÃO DO CONHECIMENTO PROFISSIONAL

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mr107 | 9

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O médico é um profissional que nunca

se forma. A máxima representa o

estado de constante atualização pelo

qual o profissional da medicina deve

passar durante toda a sua carreira, a

fim de proporcionar diagnósticos e

tratamentos cada vez mais rápidos,

eficientes e sem prejuízos para a

saúde de seus pacientes – é para a

felicidade do mundo que a medicina

não para. Todos os dias, novos

estudos e métodos de tratamento

são elaborados em torno do mundo,

ampliando a gama de conhecimentos

que os médicos devem adquirir para

estar a par da evolução da ciência,

afinal de contas, salvar vidas requer

dedicação, comprometimento, e

muito, mas muito conhecimento sobre

o assunto.

No entanto, ainda que o

conhecimento esteja de fato sendo

produzido em larga escala no

âmbito acadêmico da medicina,

as fronteiras entre a investigação

e a prática no consultório podem

levar meses ou mesmo anos para se

dissolver, impossibilitando o acesso

do profissional às atualizações

necessárias em sua área de atuação.

O alcance e o incentivo à educação

em medicina são um dos assuntos

mais polêmicos que envolvem

a área da saúde atualmente no

Brasil e no mundo, e a dificuldade

de verticalização na carreira,

praticamente uma unanimidade entre

os profissionais da área.

QUANTIDADE NÃO É QUALIDADE

Dentro do cenário mundial, a

quantidade de faculdades que

oferecem o curso de Medicina

no Brasil só é menor que as 222

instituições na Índia, informam

dados revelados pelo 11º Encontro

Nacional das Entidades Médicas

(ENEM), realizado em Brasília no

ano de 2007. Até aquele ano, o

número de instituições no País era

de 167, mas com o investimento

maciço do segundo mandato do

governo Luiz Inácio Lula da Silva na

ampliação da rede pública de ensino

superior por meio de programas

como a Reestruturação e Expansão

das Universidades Federais (REUNI)

e o Programa Universidade para

Todos (ProUni), esse número tende

a ganhar ainda mais projeção nos

próximos anos, sobretudo com a

continuidade do partido do ex-

presidente no poder. Na sequencia

do ranking, China, Estados Unidos e

México aparecem com 150, 125 e 84

instituições, respectivamente.

No entanto, quando o assunto é

ensino especializado e recursos

para o desenvolvimento de técnicas

aprimoradas e constante atualização

do setor, o número expressivo de

instituições não garante competência,

e vice-liderança no ranking dos países

com mais escolas médicas, à frente

da superpotências também não é dos

maiores motivos de comemoração.

RANKING PAÍS CURSOS

1º Índia 222

2º Brasil 167

3º China 150

4º Estados Unidos 125

5º México 84

6º Japão 80

7º Colômbia 58

8º Rússia 58

9º Coreia do Sul 51

10º França 47

11º Irã 46

12º Alemanha 37

13º Turquia 36

14º Paquistão 33

15º Indonésia 32

16º Itália 32

17º Reino Unido 31

Fonte: Hoje em Dia (MG)

BRASIL SÓ PERDE PARA A ÍNDIAem número de faculdades de Medicina

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Especialistas apontam a fraca

estrutura de ensino da maioria das

faculdades de Medicina abertas no

País como um perigo para a saúde

pública.

Durante a década de 1970,

62 faculdades de Medicina

funcionavam no Brasil – o número

era relativamente baixo em relação à

demanda do período, e atendia um

contingente já selecionado para atuar

no setor. De 1971 a 1976 e de 1979

a 1987, nenhum novo curso recebeu

autorização de funcionamento. A

partir dos anos 90, essa situação

mudou. Apenas nessa década foram

criadas 17 faculdades, número igual

ao acumulado nas décadas de 1970

e 1980. Daí pra frente, o crescimento

foi exponencial.

Em nota oficial divulgada no ano de

2009, a Associação Médica Brasileira

(AMB) e a Associação Paulista de

Medicina (APM) afirmam que a maior

urgência da educação médica no

País está relacionada à qualidade do

ensino oferecido, e não à quantidade

de escolas disponíveis. De acordo

com o documento, temos uma

média de um profissional por 600

habitantes no Brasil, proporção muito

superior à preconizada como ideal

pela Organização Mundial da Saúde

(OMS), que é de um médico por

1.000. Em grandes centros como São

Paulo, a média é de um profissional

de medicina por 250 habitantes.

AS MUITAS FACES DA EDUCAÇÃO EM MEDICINA

Por um lado, o crescente número de

instituições oferecendo educação

superior em medicina com o intuito

de atender ao grande número de

jovens interessados em ingressar na

profissão, bem como o de prover o

desenvolvimento do Brasil nesta área

de pesquisa, representava um cenário

bastante otimista e promissor para

o setor da saúde no País. Além do

acesso a um contingente mais elevado

à educação superior, o crescimento

dos canais de educação em medicina

implicaram no desenvolvimento de

regulações mais específicas a fim de

otimizar o nível de conhecimento

direcionado aos novos alunos.

Algumas normas para autorização

dos cursos de Medicina mudaram

com a Portaria nº 147, do Ministério

da Educação (MEC), publicada em

fevereiro deste ano. De acordo com o

novo texto, as escolas que receberam

parecer negativo do Conselho Nacional

de Saúde (CNS) terão de apresentar

nova documentação para comprovar a

existência de hospital-escola, próprio

ou conveniado, por período mínimo

de dez anos. Além desse requisito

básico, a faculdade deve contar com

um corpo docente comprovadamente

qualificado e o curso deve estar

integrado com a gestão local e regional

do Sistema Único de Saúde (SUS).

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Para a surpresa de todo o setor, o

MEC baixou essa portaria depois de

um longo período em que muitas

escolas de Medicina eram abertas com

professores itinerantes, que davam aula

em diversas faculdades em cidades

diferentes. As novas normas exigem,

ou ao menos tentam, uma relação mais

próxima e dedicada do professor com a

universidade.

No entanto, junto da maré de

possíveis vantagens trazidas por esse

momento de crescimento rápido do

setor da saúde no Brasil, uma série de

problemas relacionados justamente

a essa expansão começam a sujar a

educação superior em medicina do

País, reduzindo sua até então intacta

credibilidade dentre os próprios

profissionais da área.

Um dos pontos críticos da criação de

infindáveis instituições é a abertura

de faculdades de Medicina em todo o

território nacional, com mensalidades

de até R$ 4 mil, transformando

a educação em medicina em um

negócio lucrativo. Ao longo dos anos,

temos visto em sucessivas gestões do

MEC prevalecerem os interesses dos

empresários da indústria da educação

superior sobre o ponto de vista técnico

do especialista. A mercantilização da

profissão, segundo especialistas, foi

um ponto determinante para que as

escolas começassem a se interessar

cada vez mais pela expansão desse

novo negócio, multiplicando o número

de salas de aula, e subtraindo no nível

de qualidade do ensino oferecido.

“Nosso problema, não é de

quantidade, é, sim, de qualidade.

Temos atualmente 167 faculdades,

sendo que parte delas oferece ensino

insuficiente, pois visa apenas a

amealhar lucros. São, enfim, cursos que

prestam um desserviço social, agindo

de má fé com estudantes que sonham

em servir ao próximo e colocando em

risco a saúde dos cidadãos”, revela

o documento oficial divulgado pela

Associação Médica Brasileira (AMB) e

Associação Paulista de Medicina (APM).

De acordo com o levantamento

apresentado pela AMB, os 167 cursos

oferecem 17.836 vagas todos os anos,

sendo 58% em faculdades privadas.

Isso significa que milhares de médicos

recém-formados chegam ao mercado

de trabalho todos os anos. Dos 13.400

cursos avaliados até o ano de 2007

pelo MEC no Exame Nacional de

Desempenho do Estudante (ENADE),

apenas três cursos de Medicina

obtiveram nota máxima na avaliação e

no índice que mede o conhecimento

agregado ao aluno durante o curso

- Indicador de Diferença entre os

Desempenhos Observado e Esperado

(IDD). São duas escolas federais e uma

privada: Universidade Federal do Rio

de Janeiro, Universidade Federal de

Goiás e Faculdade de Medicina do

Vale do Aço, em Ipatinga (MG).

Os profissionais saídos dessa nova

e numerosa leva de faculdades,

que estão chegando ao mercado

de trabalho diante desse cenário,

são os profissionais que mais

enfrentam a dificuldade de acesso

à especialização e expansão de seu

próprio conhecimento, uma vez que a

educação médica no Brasil vê poucas

possibilidades de verticalização

de conhecimento, geralmente

provenientes da atuação efetiva das

organizações independentes, o carro-

forte do avanço da medicina do País.

UM CENÁRIO INDEPENDENTE

O surgimento das sociedades sem

fins lucrativos é um movimento

essencialmente moderno, e dentro da

medicina, o fenômeno desencadeou

uma onda positiva em todas as

especialidades, na busca legítima por

desenvolvimento, discussões sobre

os temas polêmicos que envolvem a

prática da medicina, e a qualidade do

serviço oferecido ao cidadão brasileiro.

Nesse cenário, as mais diversas

associações auxiliam, hoje, o profissional

médico a atualizar seu repertório de

técnicas, diagnósticos e tratamentos, de

modo que o próprio setor da medicina

nacional incentive e desponte como

referência no contexto mundial.

Exemplo desse fenômeno, a

Associação Médica Brasileira (AMB),

fundada em 1951,  possui 27

associações médicas estaduais e 396

associações regionais. Compõem o

seu Conselho Científico, 53 sociedades

médicas que representam as

especialidades reconhecidas no Brasil.

Para o próximo ano, a AMB realizará

com seus diversos parceiros,

congressos, eventos de discussões, e

cursos de atualização do conhecimento

para 57 diferentes especialidades da

medicina. Para tomar conhecimento dos

eventos, basta acessar o site da AMB e

conferir a agenda. Assim, ainda com o

inchaço no número de universidades de

medicina com baixa qualificação, o setor

médico no Brasil aprendeu sozinho a

promover seu próprio desenvolvimento,

promovendo o acesso dos profissionais

à continuidade de sua formação.

Torçamos para que 2011 continue com

o bom trabalho.

DE ACORDO COM O LEVANTAMENTO APRESENTADO PELA AMB, OS 167 CURSOS OFERECEM

17.836 VAGAS TODOS OS ANOS, SENDO 58% EM FACULDADES PRIVADAS"

12 | mr107

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DOENÇAS ANTIGAS,epidemias recentes por SÁLUA DE OLIVEIRA

AS DOENÇAS TROPICAIS NEGLIGENCIADAS (DTN)AFETAM UM BILHÃO DE PESSOAS NO MUNDO, DE ACORDO COM

RELATÓRIO DIVULGADO EM OUTUBRO DESTE ANO, PELA OMS. AINDA

ASSIM, ELAS NÃO RECEBEM A ATENÇÃO DEVIDA DAS AUTORIDADES E

PRINCIPALMENTE DOS GRANDES LABORATÓRIOS MÉDICOS.

Países pobres são os que mais sofrem

com as doenças infecciosas, devido

à falta de planejamento habitacional,

à má e à falta de alimentação e

à precariedade do saneamento

básico. Nos países desenvolvidos

doenças como hanseníase, cólera,

malária, pólio, sarampo, entre outras,

desapareceram por conta de melhorias

nessas políticas públicas.

As regiões tropicais e algumas áreas

subtropicais são de difícil acesso

e nelas é mais difícil prevenir e

controlar. Algumas facilidades como

OS GRANDES LABORATÓRIOS

GLAXOSMITHKLINE E MERCK DERAM O CHUTE

INICIAL NAS DOAÇÕES, COM 400 MILHÕES DE

DOSES ADICIONAIS DO MEDICAMENTO

ANTIVERMÍFUGO ALBENDAZOLE"

14 | mr107

mrpor dentro

por dentro.indd 14 26/01/11 16:08

viagens de avião, fazem com que

haja um aumento frequente de

visitantes nessas áreas e consequente

contaminação e disseminação de tais

doenças, principalmente a malária e a

hepatite.

O primeiro relatório da agência de

saúde da ONU sobre as DTN, enfatiza

o pedido para governos e doadores

investirem mais no combate de 17

dessas enfermidades. Os grandes

laboratórios GlaxoSmithKline e Merck

deram o chute inicial nas doações,

com 400 milhões de doses adicionais

do medicamento antivermífugo

albendazole, para o tratamento

de crianças africanas. O custo do

tratamento da filariose linfática

(doença transmitida por mosquitos

e que desfigura membros e órgãos

genitais) com os medicamentos

ivermectin e albendazole, varia de 5 a

10 centavos de dólar.

No caso da filariose linfática, é de 1,3

bilhão de dólares por ano o prejuízo

com perda de produtividade dos

trabalhadores africanos e do sudeste

asiático. Muito para uma doença

com custo tão baixo de tratamento.

Pesticidas usados com cautela

também se mostram eficientes no

combate a moléstias causadas por

insetos.

Apesar de o tratamento ser barato, a

população que sofre com a doença de

Chagas só na América Latina atinge 10

milhões. Já a dengue, além de ser um

problema de saúde pública no Brasil,

tem se espalhado rapidamente entre

os países desenvolvidos.

Esses fatos deveriam ser incentivos

para os laboratórios farmacêuticos

aprimorarem a pesquisa de

medicamentos, mas como grande

parte dos pacientes é pobre, o

mercado ainda não ampliou as

opções de remédios para aqueles que

padecem de infecções tropicais.

DOENÇAS QUE VÃO E VÊM

A atenção a epidemias de doenças

tropicais deve ser redobrada nos

sistemas públicos de saúde. De acordo

com relatório da OMS, as mudanças

de padrões das doenças por conta

de fatores climáticos e ambientais,

como desastres naturais, pedem maior

coordenação de agentes de saúde

pública e veterinários.

Prova disso é que, de outubro a

dezembro deste ano, 1186 pessoas

morreram de cólera no Haiti. A

capital do país abriga vários campos

de refugiados de um terremoto que

ocorreu no dia 12 de janeiro. São

milhares de pessoas vivendo sob as

condições mais precárias de higiene

e o número de mortos tende a

aumentar.

O Brasil, por sua vez, tem o maior

número de doenças tropicais que

preocupam a Organização Mundial de

Saúde. São 11 doenças presentes no

mr107 | 15

por dentro.indd 15 26/01/11 16:08

DENGUE:

A transmissão se faz pela picada da fêmea contaminada do

mosquito Aedes aegypti/Aedes albopictus.

Prevenção: O controle é feito basicamente através do

combate ao mosquito vetor, principalmente na fase larvar

do inseto. Deve-se evitar o acúmulo de água em possíveis

locais de desova dos mosquitos. Quanto à prevenção

individual da doença, aconselha-se o uso de janelas

teladas, além do uso de repelentes.

DOENÇA DE CHAGAS:

É transmitida através do inseto triatomíneo (barbeiro).

A doença também pode ser passada por transfusão de

sangue, transplante de órgãos, ou por via placentária.

Prevenção: Está centrada no combate ao vetor, o barbeiro,

principalmente através da melhoria das moradias rurais a

fim de impedir que lhe sirvam de abrigo.

RAIVA:

O vírus está presente na saliva de animais selvagens e

é introduzido nos tecidos após sua integridade ter sido

comprometida por alguma mordida.

Prevenção: A vacina utilizada nos programas de saúde

pública no Brasil desde 2003 é a Vacina Purificada de

Células Vero.

LEISHMANIOSE:

Os parasitas são transmitidos pela picada dos mosquitos

flebotomíneos (mosquito palha ou birigui).

Prevenção: Usar repelentes quando estiver em região

com casos de leishmaniose visceral e armazenar

adequadamente o lixo orgânico (a fim de evitar a ação do

mosquito). O tratamento das pessoas doentes e eutanásia

dos cães contaminados são outras importantes formas

para evitar a doença.

CISTICERCORSE:

Adquire-se comendo carne mal cozida infectada com ovos

maturados de Taenia solium. A larva se aloja no intestino

dando origem a uma tênia adulta.

Prevenção: Através da melhoria de higiene e do controle

da alimentação de suínos e bovinos e do consumo de

carne de porco exclusivamente bem cozida.

país. A leishmaniose, antes comum em

áreas rurais, aparece desde 1999 em

regiões urbanas, devido à migração de

pessoas para as cidades e ao fato de

os cães serem hospedeiros do parasita

da doença. A dengue ressurgiu há

alguns anos porque medidas de

controle para erradicar o mosquito

Aedes aegypti, iniciadas nos anos 60,

não foram adiante.

O TRATAMENTO

Formas de diagnóstico através da

pele para alguns tipos de doenças

infecciosas foram o tema do Simpósio

de Dermatologia Infecciosa, entre os

dias 21 e 24 de julho, na Fundação

de Medicina Tropical (FMT), no

Amazonas. Uma das palestras

mostrou arboviroses (transmitidas

por artrópodes) já disseminadas no

Amazonas, e cujos sintomas são

frequentemente confundidos com a

dengue. O vírus Mayaro, cujo vetor é

o mosquito Aedes aegypti, o mesmo

da dengue, e vírus Oropouche,

transmitido pelo mosquito maruim,

provocam sintomas semelhantes à

dengue, e não são identificados a

partir do exame de sangue comum,

por isso a ausência de casos

diagnosticados. Solicitar o tipo de

exame mais coerente e o tratamento

mais adequado só é possível

quando o médico pensa em todas as

possibilidades.

O mesmo acontece com as chamadas

viroses exantemáticas (produzem

pintas pelo corpo), doenças como o

sarampo e a rubéola. Elas precisam ser

identificadas o mais rápido possível

para evitar uma epidemia. O uso

de antibióticos tópicos e sistêmicos

para o tratamento tem de ser feito na

quantidade necessária de forma que

o corpo humano não crie resistência

ao medicamento.

PRINCIPAIS DOENÇAStropicais no Brasil

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INFORMAÇÕES PARA PRESCRIÇÃO: OMEPRAMIX. omeprazol. claritromicina. amoxicilina triidratada. Ms - 1.0573.0282. Indicações: erradicação de H. Pylori para reduzir o risco de recorrência de úlcera duodenal. Contraindicações: OMEPRAMIX é contra-indicado em pacientes que apresentem hipersensibilidade a quaisquer dos componentes de sua fórmula. A administração concomitante de omepramix com cisaprida, pimozida ou terfenadina é contra-indicada. Deve-se dedicar atenção à possível sensibilidade cruzada com outros antibióticos betalactâmicos, como por exemplo, cefalosporinas. Precauções e advertências: omeprazol: na presença de úlcera gástrica, a possibilidade de malignidade da lesão deve ser precocemente afastada. O omeprazol só deve ser administrado durante a gravidez e a lactação em caso de extrema necessidade. Amoxicilina: antes de iniciar o tratamento com amoxicilina, deve-se fazer uma investigação cuidadosa com relação a reações prévias de hipersensibilidade a penicilinas ou cefalosporinas. Quando o tratamento com antibióticos for necessário durante a gravidez, a amoxicilina pode ser considerada apropriada, quando os benefícios potenciais justifi carem os riscos potenciais associados ao tratamento. A amoxicilina pode ser administrada durante a lactação. Claritromicina: a claritromicina não deve ser usada em mulheres grávidas exceto em circunstâncias clínicas onde nenhuma terapia alternativa é apropriada. A claritromicina é excretada pelo leite materno e a segurança durante a lactação não foi ainda estabelecida. Colite pseudomembranosa foi relatada com quase todos os agentes antibacterianos, incluindo claritromicina, e pode variar em severidade, de moderada a potencialmente grave. O tratamento com agentes antibacterianos altera a fl ora normal do cólon e pode permitir supercrescimento de clostrídios. Gravidez: efeitos teratogênicos. Categoria c de gravidez. Omepramix deve ser usado durante a gravidez somente se o benefício potencial justifi car o risco potencial ao feto. Uso na nactação: Omepramix só deve ser usado durante a lactação, após análise do risco/benefício, pois a segurança do uso na lactação ainda não foi estabelecida. Uso geriátrico: pacientes idosos podem sofrer de disfunção hepática e renal assintomáticas. Cuidado deve ser tomado quando administrar omepramix a esta população de pacientes. Interações medicamentosas: omeprazol: o omeprazol pode aumentar o tempo de eliminação de fármacos metabolizados por oxidação hepática, tais como: diazepam, varfarina e fenitoína. amoxicilina: a probenecida reduz a secreção tubular renal de amoxicilina. A amoxicilina pode reduzir a efi cácia de contraceptivos orais. A administração concomitante de alopurinol durante o tratamento com amoxicilina pode aumentar a probabilidade de reações alérgicas da pele. O prolongamento do tempo de protrombina foi relatado raramente em pacientes recebendo amoxicilina. claritromicina: o uso da claritromicina em pacientes que estão recebendo teofi lina, pode ser associado com um aumento das concentrações séricas da teofi lina. A administração concomitante de doses únicas da claritromicina e carbamazepina mostrou resultar em concentrações plasmáticas aumentadas da carbamazepina. Quando a claritromicina e a terfenadina foram co-administradas, as concentrações plasmáticas do metabólito ácido ativo da terfenadina foram três vezes mais elevadas, em média, que os valores observados quando a terfenadina foi administrada isolada. A administração concomitante da claritromicina e de anticoagulantes orais pode potencializar os efeitos dos anticoagulantes orais. Concentrações séricas elevadas de digoxina em pacientes recebendo claritromicina e digoxina concomitantemente, foram também observadas. A administração oral simultânea de claritromicina e zidovudina a pacientes adultos infectados com hiv resultou em concentrações diminuídas do estado de equilíbrio da zidovudina. A administração concomitante de fl uconazol e claritromicina aumentou o estado de equilíbrio da claritromicina. A administração concomitante de claritromicina e ritonavir (resultou em importante inibição no metabolismo da claritromicina). O uso concomitante da claritromicina e ergotamina ou diidroergotamina foi associado em alguns pacientes com toxicidade aguda do ergot. A claritromicina pode aumentar o efeito farmacológico do triazolam. A administração concomitante da eritromicina e astemizol é contra-indicada. Houve relatos de interações da eritromicina e/ou claritromicina com a carbamazepina, ciclosporina, tacrolimo, hexobarbital, fenitoína, alfentanila, disopiramida, lovastatina, bromocriptina, valproato, terfenadina, cisaprida, pimozida, astemizol e colchicina. A claritromicina e a colchicina não devem ser prescritas concomitantemente, especialmente para pacientes com insufi ciência renal; visto que a claritromicina aumenta o risco de toxicidade fatal da colchicina. Reações adversas: omeprazol: as seguintes reações foram relatadas; entretanto, na maioria dos casos não foi possível estabelecer relação consistente com o tratamento. Reações cutâneas: erupções e/ou prurido; fotossensibilidade, eritema multiforme e alopecia. Sistema músculo-esquelético: artralgia, fraqueza muscular e mialgia. Sistema nervoso central e periférico: cefaléia. Raramente tontura, parestesia, sonolência, insônia e vertigem. Gastrintestinais: diarréia, constipação, dor abdominal, náusea, vômitos e fl atulência. Relatos isolados de estomatite e candidíase gastrintestinal. Hepáticas: raramente ocorre aumento das enzimas hepáticas. Endócrinas: relatos isolados de ginecomastia. Hematológicas: relatos isolados de leucopenia e trombocitopenia. Outras: raramente mal-estar. Podem ocorrer reações de hipersensibilidade, por exemplo, raramente urticária e, em casos isolados, angioedema, febre, broncoespasmo. Casos isolados de aumento da transpiração, edema periférico, turvação da visão, alteração do paladar. Amoxicilina: reações de hipersensibilidade: ocasionalmente, foram relatados erupções de pele, prurido e urticária. Raramente, reações de pele, tais como: eritema multiforme e síndrome de stevens-johnson, necrólise epidérmica tóxica e dermatite bolhosa e esfoliativa foram relatadas. Pode ocorrer raramente nefrite intersticial. Reações gastrintestinais: os efeitos incluem náusea, vômito e diarréia. Efeitos hepáticos: um aumento moderado em ast e/ou alt foi ocasionalmente observado, hepatite e icterícia colestática foram relatadas raramente. Efeitos hematológicos: leucopenia reversível (incluindo neutropenia grave ou agranulocitose), trombocitopenia reversível e anemia hemolítica foram relatadas raramente. O prolongamento do tempo de sangramento e do tempo de protrombina também foram relatados raramente. Efeitos sobre o snc: raramente foram verifi cados hipercinesia, vertigem e convulsões. Efeitos diversos: descoloração superfi cial dos dentes foi relatada raramente e em sua maioria, com a suspensão oral. Geralmente pode ser removida pela escovação. Claritromicina: os eventos mais frequentemente relatados em adultos foram diarréias (3%), náusea (3%), paladar anormal (3%), dispepsia (2%), dor/desconforto abdominal (2%) e cefaléia (2%). A maioria destes eventos foram descritos como leves ou moderados em severidade. Dos eventos adversos relatados, somente 1% foi descrito como severo. Posologia: tomar 1 cápsula de omeprazol, 2 cápsulas de amoxicilina e 1 comprimido revestido de claritromicina, compondo 4 unidades de manhã e 4 unidades à noite antes das refeições, por uma semana, conforme critério médico. Caso seja necessário, após o tratamento tríplice, tomar 1 cápsula de omeprazol de manhã por 14 dias ou 28 dias. Se o paciente mantiver-se helicobacter pylori positivo, um esquema quádruplo poderá ser empregado, a critério médico.

VENDA SOB PRESCRIÇÃO MÉDICASE PERSISTIREM OS SINTOMAS O MÉDICO DEVERÁ SER CONSULTADO.

MB_08 Sap 4097004 10/08Referências Bibliográfi cas: 1)COELHO, Luiz Gonzaga Vaz. et al. II Consenso Brasileiro sobre Helicobater pylori. Arq Gastroenterol, v.42, n.2, p.128-32, 2005. 2) CHEY, William D. American college of gastroenterology guideline on the management of Helicobater pylori infection. American Journal of Gastroenterology, v. 102, p.1808-25, 2007. 3) MALFERTHEINER P. et al. Guidelines for the management of Helicobacter pylori infection. Business Briefi ng: European Gastroenterology Review: 2005.

Tem horas que você precisa acertar de primeira.

INFORMAÇÕES PARA PRESCRIÇÃO: OMEPRAMIX. omeprazol. claritromicina. amoxicilina triidratada. Ms - 1.0573.0282. Indicações: erradicação de H. Pylori para reduzir o H. Pylori para reduzir o H. Pylori

Esquema tríplice de 1ª escolha para tratamento do H. pylori segundo os principais consensos mundiais.1,2,3

Material Técnico Científi co de distribuição exclusiva à classe médica. DEZ/2010

anuncio_omepramix_nov10.indd 1 20.12.10 16:24:16

HÁ 50 ANOS,uma pílula revolucionou a vida da mulher e a sociedade

PARA O PSIQUIATRA FLÁVIO GIKOVATE, APÍLULA ANTICONCEPCIONAL, AO LADO DA TECNOLOGIA,

FOI UM DOS PRINCIPAIS FATORES QUE DESENCADEARAM AS

MUDANÇAS COMPORTAMENTAIS E SOCIAIS A QUE O MUNDO

TEM ASSISTIDO NAS ÚLTIMAS CINCO DÉCADAS

O lançamento da pílula

anticoncepcional, no início dos anos

60, deu às mulheres a opção de

decidir quando e quantos filhos gerar.

Esse fator, aliado à série de inovações

tecnológicas e culturais em andamento

na época, aceleraram o processo de

transformação social e mudaram o

comportamento das pessoas. 

Exatos 50 anos depois de sua estreia

no mercado farmacêutico, existem

atualmente mais de 60 pílulas anticon­

cepcionais disponíveis para as pacientes,

com diferentes tipos e dosagens

hormonais. Quanto mais baixa for a

dose, menor a chance de elas sofrerem

com os temíveis efeitos colaterais.

No Brasil, o Enovid (primeiro

anticoncepcional aprovado pela

Agência de Medicamentos e Alimentos

dos Estados Unidos) começou a

ser vendido em 1962. A partir de

então, a fórmula do remédio passou

a ser desenvolvida para melhorar

consideravelmente os efeitos colaterais.

Já no ano de 1978, o governo brasileiro

deu início ao seu programa de saúde

maternidade que prevê a distribuição

gratuita de pílulas.

De acordo com o psiquiatra e

psicoterapeuta Flávio Gikovate,

a autonomia que as pílulas

anticoncepcionais deram à

mulher, que daquele momento

em diante passariam a poder

escolher o melhor momento de

ingressar na maternidade, mudou

completamente a posição da mulher

na sociedade – sinais claros de

como a medicina pode interferir

de maneira positiva nas relações

interpessoais.

“A possibilidade de programar

a gravidez deu à mulher a

possibilidade de postergar a

maternidade para um período

de mais maturidade, quando ela

já tem uma carreira profissional

consolidada”, afirma o Dr. Flávio

Gikovate. Essas mudanças

repercutem até hoje no estilo de vida

feminino.

Nesta entrevista, o psiquiatra Flávio

Gikovate conta como os pequenos

comprimidos mudaram os rumos da

história feminina e da humanidade

nos últimos 50 anos, e como podem

mudar ainda mais.

Enovid vinha em duas doses, 10 mg e 5 mg.

Como todas as pílulas até hoje, ela era embalada

em um pequeno frasco. Quando a Food and

Drug Administration aprovou-a para o uso no

controle de natalidade em 1960, ela já estava

no mercado havia quase dois anos, como um

tratamento para irregularidades menstruais.

18 | mr107

*É médico formado pela USP no

ano de 1966. Desde 1967 trabalha

como psicoterapeuta, tendo

atendido mais de 8000 pacientes. Se

dedica principalmente às técnicas

breves de psicoterapia. Em 1970

foi Assistente Clínico no "Institute

of Psychiatry" da Universidade de

Londres.

mrentrevista

entrevista.indd 18 26/01/11 16:10

HÁ 50 ANOS,uma pílula revolucionou a vida da mulher e a sociedade por FLÁVIO GIKOVATE*

Quais foram os principais impactos do surgimento da pílula

anticoncepcional em relação aos costumes da sociedade?

Dr. Flávio Gikovate: A pílula criou condições muito favoráveis

para a efetiva emancipação sexual da mulher. A liberdade

sexual, ao lado da emancipação financeira que as mulheres

começaram a galgar durante a 2º Guerra Mundial, foram

preponderantes para afrouxar a dependência da mulher em

relação ao homem em todos os aspectos. Em paralelo a isso,

a mudança na forma de o casal dançar – com a introdução

do rock ‘n roll, agora dançam separados – e o apelo da

tecnologia – TV, computadores etc. – trouxeram à tona com

muita força o aspecto da individualidade. Mas realmente não

sei se as coisas teriam andado da forma como andaram se a

pílula anticoncepcional não tivesse sido criada.

É possível comparar a revolução que a pílula

proporcionou para a mulher com algum outro marco

histórico na vida feminina?

Dr. Flávio Gikovate: Acredito que a revolução causada pela

pílula possa se comparar ao que significou a 2ª Guerra

Mundial para as mulheres. Naquela época, a ida dos

homens para os campos de batalha forçou as mulheres

a ocuparem postos no mercado de trabalho aos quais

antes não tinham acesso. Elas passaram a experimentar a

independência financeira e, mesmo com o fim da guerra,

não deixaram de trabalhar fora. Isso tornou a sociedade

mais igualitária. E essa independência econômica se tornou

ainda mais marcante com a pílula, anos mais tarde. Isso

porque, com a pílula, a mulher passou ter oportunidade de

adiar a maternidade para priorizar a carreira profissional.

Como exatamente a pílula anticoncepcional influenciou a

vida profissional das mulheres?

Dr. Flávio Gikovate: A possibilidade de programar a gravidez

deu à mulher a possibilidade de postergar a maternidade

para um período de mais maturidade, quando ela já tem

uma carreira profissional consolidada. Além disso, poder

optar por quando ter filhos abriu para as mulheres as portas

de universos profissionais antes restritos aos homens.

Basta vermos que, há 50 anos, apenas 10% dos alunos de

Medicina da Universidade de São Paulo (USP) eram mulheres.

Na turma em que me formei eram pouquíssimas médicas.

Hoje, nas faculdades de medicina, temos cerca de 60% de

mulheres. Na Poli (escola de engenharia da USP), apenas

1% das vagas do curso de engenharia eram ocupadas por

alunas. Atualmente, são 33%. Creio que alcançando níveis de

formação cada vez mais avançados, em 20 anos as mulheres

passarão a ganhar mais que os homens. 

O que significou a pílula anticoncepcional para o papel

da mulher na família?

Dr. Flávio Gikovate: O que posso dizer é que cada vez mais

mulheres optam por adiar ao máximo a maternidade ou

escolhem não ter filhos. Isso impacta a família. Podemos

olhar o caso da Itália, onde cerca de um terço das mulheres

não tem filhos. E isso é uma tendência mundial. Por outro

lado, as mudanças dos últimos 50 anos foram muito radicais

e grande parte dos indivíduos não conseguiu acompanhar

essas mudanças do ponto de vista psicológico. Daí vermos

o aumento desenfreado da obesidade e do consumo de

drogas e álcool, por exemplo.

De acordo com o IBGE, a taxa de fecundidade brasileira

decresceu da média nacional de 6,3 filhos em 1960

para 5,8 filhos em 1970, chegando ao patamar de 2,3

filhos em 2000. Na sua opinião, qual foi o papel da

pílula anticoncepcional nesse caso? Você acredita que o

comportamento da brasileira está evoluindo de forma a

diminuir ainda mais a taxa de fecundidade?

Dr. Flávio Gikovate: As brasileiras estão seguindo a

tendência mundial e tendo cada vez menos filhos.

Atualmente, a taxa de fecundidade nacional já está em

menos de dois filhos por mulher. Acredito que essa

tendência já tenha se consolidado no Brasil.

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entrevista.indd 19 26/01/11 16:10

NOVOS RUMOS PARAa psiquiatria

por ANA CAROLINA ADDÁRIO

TRATAMENTO BASEADO NO ESTÍMULO MAGNÉTICOTRANSCRANIANO REPETITIVO PROMETE TRAZER RESULTADOS MAIS

RÁPIDOS E SEM EFEITOS COLATERAIS PARA PACIENTES COM QUADROS

DE TRANSTORNO PSIQUIÁTRICO

1 milimetro

*Dra. Marina Odebrecht

Rosa é psiquiatra formada pela

Universidade Federal do Paraná e

médica graduada pela Pontifícia

Universidade Católica do Paraná.

Realizou extensão Universitária em

ECT (Eletroconvulsoterapia) no

Instituto de Psiquiatria do Hospital

das Clínicas de São Paulo. Possui

mestrado em Psiquiatria pela USP

(Universidade de São Paulo) e título

de especialista pela Associação

Brasileira de Psiquiatria e Associação

Médica Brasileira.

Fundou e dirige o

IPAN – Instituto de Pesquisas

Avançadas em Neuroestimulação-

Eletroconvulsoterapia e Estimulação

Magnética Transcraniana Repetitiva

20 | mr107

mrem pauta

em pauta.indd 20 26/01/11 16:12

Algumas das discussões mais

delicadas que a medicina

trava atualmente implicam no

questionamento dos métodos e da

eficiência de tratamentos direcionados

a pacientes com diagnóstico

comprovado de doenças psíquicas,

justamente pela margem para

interpretações que as diversas frentes

da medicina podem proporcionar

em transtornos como depressão,

transtorno de stresse pós-traumático,

bipolaridade, entre outros.

O denominador comum entre todas

as frentes de medicina dedicadas

ao diagnóstico desse gênero de

transtorno é a busca constante por

métodos de tratamento cada vez mais

avançados, que visem trazer resultados

mais eficientes, com menos efeitos

colaterais aos pacientes.

Inovações no tratamento dessas

doenças surgem nas mais diversas

especialidades da medicina, e uma das

mais interessantes presentes atualmente

no mercado é a chamada Estimulação

Magnética Transcraniana repetitiva

(EMTr). Baseada no estímulo provocado

por pulsos magnéticos de regiões

específicas do cérebro responsáveis

por diversas doenças psíquicas, como

a depressão e a bipolaridade, o

tratamento promove o controle dos

neurônios, ativando-os ou inibindo-os,

de acordo com o objetivo terapêutico.

De acordo com a Dra. Marina

Odebrecht Rosa, fundadora do

Instituto de Pesquisas Avançadas

em Neuroestimulação (IPAN) e

pesquisadora da técnica, “através de

uma bobina, pulsos magnéticos focais

são aplicados no escalpe e induzem

uma corrente elétrica cortical”

que, por sua vez, ocasiona uma

despolarização (ativação) neuronal e,

se aplicada repetidamente, modula a

excitabilidade cortical. O tratamento

conta com sessões diárias de 30

minutos, exceto nos finais de semana,

e estudos já apontam para uma taxa

de eficácia em torno de 60 a 70%.

Além disso, o método vem sendo

estudado como tratamento para

doenças como esquizofrenia, síndrome

do pânico, transtorno obsessivo

compulsivo (TOC), transtorno do

stresse pós-traumático (TSPT),

síndrome de Tourette, epilepsia,

zumbido, doença de Parkinson,

transtorno bipolar e demências.

Na entrevista abaixo, realizada com

a Dra. Marina Odebrecht Rosa, você

confere com mais profundidade

as minúcias de um tratamento que

começa a ganhar força no Brasil,

com métodos muito mais objetivos

e localizados para o tratamento de

doenças psíquicas, diminuindo o risco

do surgimento de efeitos colaterais

nos pacientes e trazendo resultados

em prazos mais curtos do que em

tratamentos tradicionais.

EM NEUROESTIMULAÇÃO (IPAN), PIONEIRA NA APLICAÇÃO DA

ESTIMULAÇÃO MAGNÉTICA TRANSCRANIANA REPETITIVA (EMTR) NO

BRASIL E PESQUISADORA COM PRÊMIOS INTERNACIONAIS, EXPLICA

COMO FUNCIONA A EMTR

Que doenças podem ser tratadas

com o método? Alguma doença tem

mais resultados do que outras?

A estimulação magnética transcraniana

repetitiva (EMTr) tem o seu uso

aprovado pela FDA (Food and Drug

Administration) para o tratamento da

depressão.  Ela é utilizada com sucesso

em depressões leve e moderada. Pode

ser realizada para quadros refratários e

em pacientes intolerantes aos efeitos

colaterais das medicações.

Também pode ser utilizada em outras

condições tais como: zumbido,

esquizofrenia, transtorno obsessivo

compulsivo (TOC), síndrome do

pânico, transtorno do stresse pós-

traumático, quadros ansiosos,

transtorno bipolar e em alguns casos

de demências.

De que maneira a EMTr age no

cérebro do paciente promovendo

o tratamento para doenças

psiquiátricas? Dê um exemplo

sobre como ela age em função de

determinada doença.

A EMTr se refere à administração

de uma série de pulsos magnéticos

cerebrais, de uma forma não invasiva,

com o propósito de alterar o

funcionamento cerebral. Através de

uma bobina, pulsos magnéticos

focais são aplicados no escalpe

e induzem uma corrente elétrica

cortical (tecido cerebral). Essa

corrente elétrica ocasiona uma

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em pauta.indd 21 26/01/11 16:12

despolarização (ativação) neuronal e,

se aplicada repetidamente, modula

a excitabilidade cortical. Ou seja, ela

pode inibir ou excitar determinada

área cerebral dependendo da

combinacão de parâmetros utilizada.

Estudos de neuroimagem na

depressão, por exemplo, mostram

que o córtex pré-frontal esquerdo

tem o seu metabolismo reduzido. A

EMTr produz estímulos excitatórios

para aumentar esse metabolismo

reduzido, e dessa forma, melhora o

funcionamento cerebral.

Em que sentido esse tratamento

difere dos métodos tradicionais

alopáticos, destinados a quem

possui diagnóstico de algum

transtorno psíquico?

O perfil benigno de efeitos colaterais

é a principal diferença entre o

tratamento com medicamentos

alopáticos e a EMTr. As medicações

se espalham pelo corpo e pelo

cérebro, produzindo efeitos que são

indesejados. Podem, por exemplo,

causar ganho de peso ou disfunções

sexuais. A EMTr tem a sua ação bem

mais localizada. Seu principal efeito

colateral é a dor de cabeça de fácil

manejo.

A EMTr descarta a necessidade do

uso de alopatia para o tratamento

dessas doenças?

Depende muito de cada caso.

Em quadros  leves a moderados,

pode-se utilizar apenas a EMTr.

No entanto, a combinação das

duas modalidades é utilizada,

principalmente em casos mais graves,

refratários e de difícil controle.

Qual é o período médio de

tratamento para uma doença

psiquiátrica? Algum remédio ou

terapia acompanham o tratamento

ou ele é feito singularmente?

As aplicações de estimulação

magnética são realizadas diariamente

até se atingir o efeito terapêutico.

O número de aplicações não é

padronizado. Há um certo consenso

de que não deve ser previamente

fixado, pois depende de vários

fatores como: diagnóstico, gravidade,

refratariedade e cronicidade. A

maioria dos pacientes requer entre 10

e 20 sessões. Na maioria dos casos,

15 aplicações são suficientes para

alcançar o resultado desejado. 

O ideal é realizar o tratamento

singularmente, mas muitas vezes

(principalmente em casos graves,

refratários), é necessário combinar

com medicações para otimizar o

resultado da mesma. No IPAN temos

centenas de pacientes tratados com

sucesso com EMTr tanto combinada

com alopáticos como singularmente.

Existe algum índice de eficácia do

tratamento?

A eficácia da estimulação magnética

está diretamente relacionada com

diversos fatores, tais como: indicação

correta, diagnóstico, gravidade,

cronicidade, refratariedade de cada

caso, entre outros.  Ou seja, quanto

mais grave, crônico e refratário,

a resposta tende a ser menos

satisfatória. Em média, a taxa de

eficácia está em torno de 60 a 70%.

A EMTr é uma técnica que já pode

ser considerada bem estabelecida

no Brasil ou ainda existe resistência

em relação a sua prática?

Desde a sua aprovação pela FDA

(2008) e ANVISA (2007), a EMTr

vem se estabelecendo cada vez

mais, porém ainda existe um grande

desconhecimento por parte da

população em geral e também

de médicos. É preciso destacar

a importância da técnica entre a

comunidade médica, além de enfatizar

que a EMTr seja aplicada sempre por

um médico psiquiatra preparado, que

fará o acompanhamento correto do

paciente e sua evolução.

Qualquer pessoa com transtorno

psiquiátrico diagnosticado pode ser

tratada por EMTr? Se não, como

avaliar qual paciente está apto a

receber esse tipo de tratamento?

A princípio, determinados

casos são favorecidos pela

EMTr. Por isso, o mais

adequado é fazer uma

avaliação psiquiátrica

antes de realizar esse

tratamento, como

também acontece

nos tratamentos

alopáticos.

Participo de

pesquisas aqui

nos Estados

Unidos que

avaliam a eficácia

da EMTr em diversos

transtornos. Investir nas

pesquisas e trabalhar em

estudos para desenvolver e

aprimorar cada vez mais as

técnicas de neuroestimulação é

missão do IPAN, instituto do qual

sou fundadora.

22 | mr107

em pauta.indd 22 26/01/11 16:12

O método tem alguma contra-

indicação ou pode provocar alguma

sequela no paciente?

A estimulação magnética é um método

extremamente seguro. Porém é

importante ter em mente que deve ser

realizada por médicos

especialistas nessa técnica para que

seja evitado qualquer tipo de risco.

Ela está contraindicada para pessoas

que usam algum tipo de clip metálico

localizado próximo ao local da região

a ser estimulada e em epilepsia

não tratada caso seja realizada a

estimulação de alta frequência. A

maior preocupação com o uso desse

método é o risco da indução de

convulsões. Casos raros aconteceram

no passado mas, quando os limites

de segurança são seguidos, o

risco é praticamente zerado.

Até o momento, não foi

relatado nenhum tipo

de sequela. Ela é

praticamente isenta de

efeitos colaterais, sendo

bem tolerada pelos

pacientes. Algumas

pessoas podem ter

dor de cabeça, mas

que melhora com

analgésicos comuns.

Desconforto na orelha

pode surgir em decorrência

do barulho produzido pelo

estimulador. Isso pode ser

evitado com a utilização de

protetores auriculares.

Do ponto de vista financeiro,

custa caro adquirir os aparelhos

necessários para o procedimento?

Que aparelhos são esses?

O aparelho necessário para o

procedimento é o estimulador

magnético. Seu custo é alto, entre

60 e 70 mil reais. Esse é um dos

motivos que nos levou a trabalhar em

parceria com médicos psiquiatras de

todo o país. Hoje, esses profissionais

enviam seus pacientes ao IPAN para

tratamento e fazemos uma avaliação

conjunta para assegurar e acompanhar

a evolução do tratamento. Temos tido

bastante sucesso nesse trabalho em

parceria.

Onde e como desenvolver as

técnicas necessárias para a aplicação

do tratamento?

O desenvolvimento desta técnica

pode ser realizado através de

cursos, palestras, atualizações e

conferências. A equipe do IPAN

(Instituto de Pesquisas Avançadas

em Neuroestimulação) contribui com

profissionais da área fornecendo

cursos sobre essa técnica (http://ipan.

med.br/cursos.php). Outros locais:

Hospital das Clínicas, UNIFESP.

Existe educação especializada nesse

sentido no Brasil? Em sua opinião,

existe algum incentivo no setor

de educação em medicina no país

que invista na verticalização da

carreria, facilitando a apreensão de

conhecimento sobre técnicas como

essa?

Ao meu ver, técnicas como essa

deveriam ser incorporadas ao

programa de residência médica de

psiquiatria. Além disso, de grande

importância seria o desenvolvimento

de um programa de educação

continuada a ser oferecido

aos profissionais da área. Assim,

todo psiquiatra seria familiarizado e

atualizado com essa técnica.

mr107 | 23

em pauta.indd 23 26/01/11 16:12

ATUALIZAÇÃO TERAPÊUTICA NO acidente vascular cerebral por SHEILA

CRISTINA OURIQUES MARTINS*

*Neurologista Vascular

Coordenadora do Programa

de AVC do Hospital de Clínicas de

Porto Alegre

Coordenadora do Centro de

AVC do Hospital Moinhos de Vento

Presidente da Rede Brasil AVC

Representante da América do

Sul/Central na Organização Mundial

de AVC

INTRODUÇÃO

O acidente vascular cerebral (AVC) é a doença que mais

mata os brasileiros e é a principal causa de incapacidade

no mundo. A falta de conhecimento da doença pela

população, hospitais superlotados e sem capacitação para

atendê-la fazem dessa doença um problema ainda maior.

Nos últimos 20 anos ocorreram muitos avanços na medicina

nessa área e aos poucos, principalmente nos últimos 3 anos,

o Brasil vem se estruturando para melhorar a assistência aos

seus pacientes e diminuir a morbimortalidade pelo AVC.

Na década de 90 ficou comprovado que as unidades de

AVC, áreas físicas específicas com equipe multidisciplinar

treinada para atender ao AVC dentro do hospital, diminuem

a mortalidade e a incapacidade com um conjunto de

ações simples e objetivas, como, por exemplo, manejar

adequadamente a pressão arterial, evitar febre, evitar

hipoxemia, evitar hipo ou hiperglicemia, mobilizar

precocemente o paciente e evitar aspiração. Apesar disso,

pouquíssimos hospitais no país oferecem esse atendimento

simples e barato mas que necessita organização e

treinamento da equipe.

No AVC isquêmico (AVCI), o grau da lesão isquêmica é

proporcional à duração e à severidade da redução do

fluxo sanguíneo cerebral, e também depende da presença

de circulação colateral. A rápida restauração da perfusão

pode limitar a lesão isquêmica e diminuir ou até evitar as

sequelas. Portanto, o aspecto mais importante do manejo

do AVCI é o rápido diagnóstico e início do tratamento

de reperfusão. Em 1995 ficou demonstrado que o rtPA

35 Centros de AVC

Implantados antes do Projeto Nacional

73 Centros de AVC

Implantados antes do Projeto Nacional

Implantados depois do Projeto

Em implantação

24 | mr107

mratualização terapêutica

Atualização AVCI.indd 24 28/01/11 09:49

(ativador do plasminogênio tecidual recombinante), também

chamado de alteplase, quando aplicado endovenosamente

até 3 horas depois do início dos sintomas, é capaz de

desobstruir o vaso ocluído durante o AVCI. Esse tratamento,

chamado trombólise, é o único tratamento efetivo aprovado

para o AVC e aumenta muito as chances de recuperação

completa do paciente. Recentemente, com a publicação

do Estudo Europeu ECASS III, em setembro de 2008,

a janela terapêutica foi extendida e, desde então, as

diretrizes internacionais e nacionais têm sido modificadas,

recomendando-se o tratamento com rtPA até 4,5 horas

depois do início dos sintomas do AVCI, lembrando-se que

quanto antes o paciente iniciar o tratamento, maior a chance

de recuperação completa. Outros tratamentos, como a

trombólise intra-arterial, trombólise mecânica, trombectomia

(retirada mecânica do trombo) ou angioplastia intracraniana

são procedimentos disponíveis em alguns centros, como

protocolos institucionais, para utilização em pacientes com

oclusão de grandes vasos até 6 horas após o início dos

sintomas. Essas opções de tratamento podem ser utilizadas

em casos de contraindicação para o tratamento endovenoso

(por exemplo, cirurgia extensa recente, AVC com mais de

4,5 horas de evolução) ou em casos de falha do tratamento

endovenoso (resgate intra-arterial). Eventualmente,

quando avaliados por ressonância com difusão e perfusão,

a trombectomia ou angioplastia podem ser opções

terapêuticas até 8 horas depois do início dos sintomas. A

terapia trombolítica intravenosa, em casos elegíveis, não

deve ser preterida em relação à terapia trombolítica intra-

arterial.

O AVC hemorrágico, infelizmente, não tem um tratamento

específico. Os cuidados na fase aguda são gerais, já

descritos acima, e o fundamental é o controle da pressão

arterial que deve ser diminuída para evitar expansão do

hematoma ou ressangramento. Portanto, passaremos a falar

agora do manejo específico do AVC isquêmico agudo.

MANEJO DO PACIENTE COM AVCI AGUDO

Institutes of Health Stroke Scale (NIHSS) que pontua de zero

(sem déficit) a 42 (maior déficit).

Todos os pacientes devem realizar, no início da avaliação,

eletrocardiograma, hemograma, plaquetas, tempo de

protrombina (TP), tempo de tromboplastina parcial ativada

(KTTP), eletrólitos, creatinina, ureia, enzimas cardíacas e

glicemia. Nos pacientes candidatos a trombólise não é

necessário aguardar o resultado dos exames laboratoriais

para iniciar o tratamento, exceto se o paciente tiver

história de sangramento, doença hematológica, suspeita

de plaquetopenia ou se o paciente estiver em uso de

anticoagulantes orais ou heparina não fracionada em dose

de anticoagulação plena.

A tomografia de crânio (TC) sem contraste é indispensável

na avaliação de emergência do paciente com AVCI agudo.

Ela identifica 90-95% das hemorragias subaracnoides e

quase 100% das hemorragias intraparenquimatosas, além

de ajudar a excluir causas não vasculares de sintomas

neurológicos. Sinais precoces de isquemia estão presentes

na TC em aproximadamente 60% dos pacientes com 2

horas de evolução, mas é necessário treinamento específico

para reconhecer esses sinais e definir a extensão da área

comprometida. A TC é o exame de escolha na maioria

dos centros que utilizam tratamento trombolítico mas a

ressonância magnética (RM) com difusão e eco-gradiente

também pode ser utilizada auxiliando, principalmente, nas

apresentações pouco usuais quando houver dúvidas quanto

ao diagnóstico de AVC. O início da trombólise não deve ser

atrasado para a realização de RM.

O Doppler transcraniano é útil para o diagnóstico de

oclusões de grandes artérias cerebrais e pode ser utilizado

para monitorizar os efeitos da terapia trombolítica na fase

aguda, além de servir como tratamento, aumentando a

chance de reperfusão com o rtPA.

MEDIDAS DE SUPORTE

Manter a pressão arterial e a saturação de oxigênio

adequadas, temperatura menor que 37,5°C e

normoglicemia são as medidas de suporte mais importantes

no manejo do AVCI agudo. Recomenda-se a monitorização

cardíaca contínua para detectar precocemente sinais

eletrocardiográficos de isquemia ou arritmias.

Nos pacientes não submetidos a trombólise, é consenso

que somente seja utilizado anti-hipertensivo se a pressão

arterial sistólica (PAS) atingir medidas maiores que

220mmHg ou a pressão arterial diastólica (PAD), medidas

maiores que 120mmHg (nível V). Deve-se evitar a utilização

AVALIAÇÃO NA FASE AGUDA

É fundamental definir o momento exato do início dos

sintomas. O horário de início é assumido como o último

momento em que o paciente foi visto sem sintomas. Se

o paciente acorda pela manhã com um AVC, o início é

considerado como o último horário em que ele foi visto sem

sintomas antes de deitar. Na avaliação neurológica, a escala

mais utilizada para a quantificação do déficit é a National

mr107 | 25

Atualização AVCI.indd 25 28/01/11 09:49

de nifedipina sublingual devido à rápida absorção e

diminuição abrupta da pressão arterial.

No paciente candidato à trombólise, o tratamento com rtPA

não deve ser iniciado se, no momento da administração,

o paciente apresentar pressão arterial acima de

185/110mmHg. A pressão arterial deve ser monitorizada

atentamente antes, durante e depois da utilização do

rtPA e mantida sempre abaixo de 180/105 mmHg. Se o

paciente apresentar hipotensão com o tratamento anti-

hipertensivo, iniciar infusão de solução fisiológica e, se

esta não for efetiva, iniciar vasopressor. Evitar a infusão de

soluções contendo glicose para repor volume pelo risco de

hiponatremia dilucional.

TROMBÓLISE ENDOVENOSA

Para que o tratamento agudo do AVCI com rtPA seja

seguro, é fundamental que as recomendações do protocolo

sejam estritamente seguidas. Apesar de apresentarem uma

evolução menos favorável, pacientes idosos (>80 anos),

diabéticos e com déficit grave (NIHSS >20) também se

beneficiam do tratamento.

REGIME DE TRATAMENTO DO AVCI AGUDO COM RTPA ENDOVENOSO

CRITÉRIOS DE INCLUSÃO PARA O TRATAMENTO

• Possibilidade de se iniciar a infusão do rtPA dentro de 4,5 horas do

início dos sintomas;

• TC de crânio ou RM sem evidência de hemorragia;

• Idade superior a 18 anos;

• Critérios de Exclusão;

• Uso de anticoagulantes orais com RNI>1,5;

• Uso de heparina nas últimas 48 horas com TTPa elevado;

• Uso de anticoagulação plena com heparina de baixo peso molecular

(o uso profilático de heparina de baixo peso não contraindica o

tratamento);

• AVCI ou traumatismo crânioencefálico grave nos últimos 3 meses;

• História pregressa de hemorragia intracraniana ou de malformação

vascular cerebral;

• TC de crânio com hipodensidade precoce ≥ que um terço do território

da artéria cerebral média;

• PA sistólica ≥185 mmHg ou PA diastólica ≥110 mmHg (em 3 ocasiões,

com 10 minutos de intervalo) refratária ao tratamento anti-hipertensivo;

• Melhora rápida e completa dos sinais e sintomas no período anterior ao

início da trombólise;

• Déficits neurológicos leves (sem repercussão funcional significativa);

• Cirurgia de grande porte ou procedimento invasivo nas últimas 2

semanas;

• Hemorragia geniturinária ou gastrointestinal (nas últimas 3 semanas);

• Punção arterial em local não compressível na última semana;

• Coagulopatia com RNI>1,5, TTPa elevado, ou plaquetas <100000/mm3 ;

• Glicemia < 50 mg/dl com reversão dos sintomas após a correção;

• Infarto do miocárdio recente (3 meses);

• Suspeita clínica de hemorragia subaracnoide ou dissecção aguda de

aorta.

• Transferir o paciente para unidade monitorada;

• Iniciar a infusão de rtPA endovenoso 0,9 mg/kg administrando 10% em

bolo em 1 minuto e o restante em 1 hora. Não exceder a dose máxima

de 90 mg;

• Não administrar heparina, antiagregante plaquetário ou anticoagulante

oral nas primeiras 24 horas do uso do trombolítico;

• Manter o paciente em jejum por 24 horas pelo risco de hemorragia e

necessidade de intervenção cirúrgica de urgência;

• Exame neurológico (escore NIHSS) a cada 15 minutos durante a infusão,

a cada 30 minutos nas próximas 6 horas e, após, a cada hora até

completar 24 horas;

• Monitorizar a pressão arterial a cada 15 minutos nas primeiras 2 horas e

a cada 30 minutos até completar 24 horas de tratamento;

• Se a pressão arterial estiver acima de 180/105 mmHg: iniciar esmolol

endovenoso contínuo ou metoprolol para manter a PAS entre 160 e 170

mmHg. Alternativa: nitroprussiato de sódio (0,5mg/kg/min);

• Monitorizar a pressão a cada 15 minutos durante o tratamento com anti-

hipertensivos. Observar hipotensão;

• Se houver qualquer suspeita de hemorragia intracraniana, suspender o

rtPA e solicitar uma TC de crânio com urgência, hemograma, TP, KTTP,

plaquetas e fibrinogênio;

• Após as 24 horas do tratamento trombolítico, o tratamento do AVC

segue as mesmas orientações do paciente que não recebeu trombólise,

isto é, antiagregante plaquetário ou anticoagulação.

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Atualização AVCI.indd 26 28/01/11 09:49

TRATAMENTO AGUDO EM PACIENTES SEM INDICAÇÃO

DE TRATAMENTO DE REPERFUSÃO

Pacientes com contraindicações ao uso de trombolíticos

devem receber, na fase aguda do AVC, antiagregante

plaquetário: ácido acetilsalicílico, na dose de 100-325 mg,

ou na impossibilidade deste, clopidogrel 75 mg/dia.

Pacientes com AVC isquêmico causado por embolia

cardíaca, trombose venosa cerebral, síndrome do trombo

intraluminal, dissecção arterial extracraniana de carótidas e

vertebrais são frequentemente tratados com anticoagulação

plena com heparina seguida por anticoagulação oral.

Nenhum ensaio clínico comprovou a superioridade

desse tipo de tratamento em relação ao antiagregante

plaquetário, apesar do racional teórico (estudos em

andamento). Nos pacientes com AVC isquêmico embólico,

nos quais o risco de transformação hemorrágica é

maior, deve-se avaliar o melhor momento para iniciar a

anticoagulação com heparina, considerando-se o tamanho

do AVC (3 a 7 dias após o íctus em AVCs moderados, 14

dias em AVCs extensos).

ORGANIZAÇÃO DAS REDES ASSISTENCIAIS PARA ATENDER O AVC

Há pelo menos 15 anos os neurologistas trabalham para

mudar o cenário do AVC no país. A Rede Brasil AVC

é resultado da preocupação de modificar o impacto

econômico e social do AVC no país, criando uma força-

tarefa com a missão de organizar e qualificar a assistência

ao AVC em todos os níveis de atenção: alerta da população,

prevenção, tratamento e reabilitação, atuando para

melhorar a educação, pesquisa e assistência aos pacientes

com AVC e seus familiares em todo o país. A Rede foi

fundada em junho de 2008 por neurologistas, associados

a outros especialistas médicos, outros profissionais da área

da saúde, gestores de saúde e profissionais de outras áreas

com interesse em melhorar a situação do país. O primeiro

passo da Rede foi criar um Programa Nacional de AVC,

desenhado de acordo com as evidências científicas e os

melhores modelos de atendimento no país, com o suporte

das Sociedades Médicas e das Secretarias Municipais

e Estaduais de Saúde. O programa foi iniciado pela

organização do atendimento hospitalar e pré-hospitalar

e vem progressivamente sendo implantado em diversas

cidades do país, já apresentando excelentes resultados na

melhora da assistência, aumento do número de unidades

de AVC e aumento do número de pacientes que recebem

terapia trombolítica. Antes do Programa Nacional, o

país contava com 35 centros de AVC distribuídos em 9

estados. Atualmente, o programa está implantado em 62

hospitais do Brasil, em 17 dos 26 Estados. Mais informações

sobre o Programa, como participar dele e informações

complementares a este artigo, como as escalas citadas,

podem ser encontradas no site www.redebrasilavc.org.br.

REFERÊNCIAS

1. Adams HP Jr., del Zoppo G, Alberts MJ, Bhatt DL, Brass L, Furlan A,

Grubb RL, Higashida RT, Jauch EC, Kidwell C, Lyden PD, Morgenstern

LB, Qureshi AI, Rosenwasser RH, Scott PA, Wijdicks EF. Guidelines

for the early management of adults with ischemic stroke: A guideline

from the American Heart Association/American Stroke Association

Stroke Council, Clinical Cardiology Council, Cardiovascular Radiology

and Intervention Council, and the Atherosclerotic Peripheral Vascular

Disease and Quality of Care Outcomes in Research Interdisciplinary

Working Groups: The American academy of Neurology affirms the

value of this guideline as an educational tool for neurologists. Stroke.

2007;38:1655-711.

2. The ATLANTIS, ECASS, and NINDS rt-PA Study Group Investigators.

Association of outcome with early stroke treatment: Pooled analysis

of ATLANTIS, ECASS, and NINDS rt-PA stroke trials. Lancet.

2004;363:768-74.

3. Raffin CN, Fernandes JG, Evaristo EF, Siqueira Neto JI, Friedrich

M, Puglia P, Darwich R. Revascularização clínica e intervencionista

no AVC isquêmico agudo: Opinião nacional. Arq Neuropsiquiatr.

2006;64:342-8.

4. Hacke W, Kaste M, Bluhmki E, Brozman M, Davalos A, Guidetti D,

Larrue V, Lees KR, Medeghri Z, Machnig T, Schneider D, von Kummer

R, Wahlgren N, Toni D. Thrombolysis with alteplase 3 to 4.5 hours after

acute ischemic stroke. N Engl J Med. 2008;359:1317-29.

ANTES DO PROGRAMA NACIONAL, O PAÍS CONTAVA COM 35 CENTROS DE AVC DISTRIBUÍDOS

EM 9 ESTADOS. ATUALMENTE, O PROGRAMA ESTÁ IMPLANTADO EM 62 HOSPITAIS DO BRASIL, EM 17 DOS

26 ESTADOS

mr107 | 27

Atualização AVCI.indd 27 28/01/11 09:49

DIABETES MELLITUSgestacional

por CARLOS ANTONIO NEGRATO*

*Endocrinologista, diretor

clínico da Associação dos Diabéticos

de Bauru, e Coordenador do

Departamento de Diabetes na

Gestação da Sociedade Brasileira

de Diabetes, doutor em Ciências

Médicas pela Faculdade de

Medicina de Botucatu-UNESP

Diabetes mellitus gestacional (DMG)

é a intolerância aos carboidratos

diagnosticada pela primeira vez

durante a gestação e que pode ou não

persistir após o parto. É o problema

metabólico mais comum na gestação

e tem prevalência entre 3% e 13% das

gestações. A incidência de diabetes

gestacional está aumentando, em

paralelo com o aumento do diabetes

tipo 2. Existem fatores de risco para o

diabetes gestacional:

• idadede35anosoumais;

• sobrepeso,ouobesidadeou

ganhoexcessivodepesona

gravidezatual;

• deposiçãocentralexcessivade

gorduracorporal;

• históriafamiliardediabetesem

parentesdeprimeirograu;

• baixaestatura(menosde1,5m);

• crescimentofetalexcessivo,

polidrâmnio,hipertensãooupré-

eclâmpsianagravidezatual;

• antecedentesobstétricosde

abortamentosderepetição,

malformações,mortefetal

ouneonatal,macrossomiaou

diabetesgestacional;

• síndromedeováriospolicísticos.

28 | mr107

mratualização terapêutica

diabetes.indd 28 26/01/11 16:16

RASTREAMENTO E DIAGNÓSTICO

Indica-se o rastreamento a todas as gestantes, mesmo as

que não apresentem fatores de risco com a dosagem da

glicemia de jejum.

Gestantes com glicemia de jejum alterada, ou seja ≥ 85

mg/dl, ou com fatores de risco realizam imediatamente

o procedimento diagnóstico, que consiste em teste oral

de tolerância à glicose com sobrecarga de 75 g; caso o

resultado seja normal, o teste deverá ser repetido entre

as 24ª e 28ª semanas de gestação. Deve-se realizar teste

oral de tolerância à glicose com dieta sem restrição de

carboidratos ou com no mínimo ingestão de 150 g de

carboidratos nos três dias anteriores ao teste e com jejum

de oito horas.

Recentemente, a International Association of the Diabetes

and Pregnancy Study Groups (IADPSG) decidiu que os

critérios diagnósticos do diabetes gestacional deveriam

basear-se nos resultados do estudo HAPO (Hyperglycemia

and Adverse Pregnancy Outcomes), um estudo observacional

que tinha como meta encontrar o exato ponto de corte que

liga a hiperglicemia materna a eventos perinatais adversos.

Foram propostos, então, novos pontos de corte para o jejum,

em uma e duas horas, que são iguais ou superiores a 92 mg/

dl, a 180 mg/dl e a 153 mg/dl, respectivamente. Segundo

esses novos critérios, um valor anormal já leva ao diagnóstico

de diabetes gestacional. A Sociedade Brasileira de Diabetes,

seguindo a tendência mundial, sugere a utilização desses

novos critérios internacionais.

TRATAMENTO

Evidências recentes sugerem que a intervenção em

gestantes com DMG pode diminuir a ocorrência de eventos

adversos na gravidez.

O tratamento inicial do DMG consiste em orientação

alimentar que permita ganho de peso e controle

metabólico adequados. O cálculo do valor calórico total

da dieta pode ser feito de acordo com o índice de massa

corporal (IMC) da paciente e visa permitir ganho de peso

em torno de 300 a 400 g por semana, a partir do segundo

trimestre de gravidez. Pode-se fazer uso de adoçantes

artificiais (aspartame, sacarina, acessulfame-K e neotame)

com moderação.

A prática de atividade física deve fazer parte do tratamento

do DMG, respeitando-se as contraindicações obstétricas

que porventura existam.

É importante realizar controle glicêmico com uma

glicemia de jejum e duas pós-prandiais semanais, quando

não for possível monitorização domiciliar, a qual se

recomenda de quatro a sete vezes por dia, antes e uma

hora após as refeições, especialmente nas gestantes

que usam insulina. Se após duas semanas de dieta os

níveis glicêmicos permanecerem elevados (jejum igual ou

superior a 95 mg/dl e uma hora pós-refeição ≥ a 140 mg/

dl ou duas horas pós-refeição ≥ a 120 mg/dl), deve-se

iniciar tratamento farmacológico, geralmente com o uso

de insulinoterapia. Existe uma polêmica muito grande

quanto à segurança do uso dos antidiabéticos orais na

gestação.

PARTO

As gestantes com ótimo controle metabólico e que não

apresentam antecedentes obstétricos de morte perinatal,

macrossomia (crianças com mais de 4 kg ao nascer), ou

complicações associadas, como hipertensão, podem

aguardar a evolução espontânea para o parto até o termo.

Não se indica cesariana pelo simples fato de a paciente ter

diabetes gestacional, sendo a via de parto uma decisão do

obstetra. É fundamental a presença de um neonatologista

na sala de parto.

PÓS-PARTO

Nos primeiros dias após o parto, os níveis de glicemia

devem ser observados, e as doses de insulina suspensas.

Orienta-se a manutenção de uma dieta saudável. A maioria

das mulheres apresenta normalização das glicemias.

Deve-se estimular o aleitamento natural e, caso ocorra

hiperglicemia durante esse período, a insulina é o

tratamento indicado. Deve-se evitar a prescrição de dietas

muito restritivas durante o período de amamentação.

É recomendado reavaliar a tolerância à glicose a partir de

seis semanas após o parto através da glicemia de jejum

ou com um teste oral de tolerância à glicose com 75 g

de glicose anidra. Nas revisões ginecológicas anuais, é

fundamental recomendar a manutenção do peso adequado,

revisando as orientações sobre dieta e atividade física, e

medir-se a glicemia de jejum. Em torno de 15% a 50% das

mulheres com DMG desenvolvem diabetes ou intolerância à

glicose após a gestação.

mr107 | 29

diabetes.indd 29 26/01/11 16:16

por ROBERTO STIRBULOV*

A DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA (DPOC) É UMAENFERMIDADE RESPIRATÓRIA PREVENÍVEL E TRATÁVEL, CARACTERIZADA PELA

PRESENÇA DE OBSTRUÇÃO CRÔNICA DO FLUXO AÉREO, QUE NÃO É TOTALMENTE

REVERSÍVEL E É GERALMENTE PROGRESSIVA.

NOS ÚLTIMOS ANOS HOUVE AUMENTO

DO INTERESSE DOS PESQUISADORES E DA INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

PELA DPOC, E ISSO LEVOU AO MELHOR

ENTENDIMENTO DOS MECANISMOS CELULARES

E MOLECULARES ENVOLVIDOS NA

INFLAMAÇÃO"

*Dr. Roberto Stirbulov é médico

pneumologista, professor adjunto

da Faculdade de Ciências Médicas

da Santa Casa de São Paulo e

presidente da Sociedade Brasileira

de Pneumologia e Tisiologia (SBPT)

A DPOC está associada a uma

resposta inflamatória anormal dos

pulmões à inalação de partículas ou

gases tóxicos, causada principalmente

pelo tabagismo. Embora a DPOC

comprometa os pulmões, ela

também pode apresentar efeitos

extrapulmonares significativos, que

podem contribuir para a gravidade

e evolução desfavorável da doença.

A prevalência no Brasil foi estimada

pelo estudo Platino em 15,8% entre

indivíduos acima de 40 anos de idade.

Com essa prevalência, estima-se

que existam mais de sete milhões de

portadores de DPOC no Brasil.

Nos últimos anos houve aumento

do interesse dos pesquisadores e da

indústria farmacêutica pela DPOC, e

isso levou ao melhor entendimento dos

mecanismos celulares e moleculares

envolvidos na inflamação, da alteração

estrutural e dos mecanismos de

reparo aberrantes que caracterizam

a patofisiologia da DPOC, com a

identificação de novos alvos com

potenciais terapêuticos, possibilitando

a descoberta de novos tratamentos.

Os broncodilatadores inalados de

longa ação (beta-2-agonista de longa

ação e anticolinérgicos de longa

ação) são a base da terapêutica atual

da DPOC e são comumente usados

na clínica diária. Adicionalmente,

broncodilatadores de rápido

início de ação e curta duração,

por exemplo, salbutamol (beta-2-

agonista), brometo de ipratrópio

(anticolinérgico) ou sua associação,

são fundamentais no manejo dos

sintomas e são ministrados por via

inalatória em forma de demanda,

para alívio de sintomas (terapia de

resgate). Os beta-2-agonista de

longa ação, salmeterol e formoterol,

promovem broncodilatação

sustentada por 12 horas, e são

usados continuamente para prevenir

ou reduzir sintomas. Novos beta-2-

agonistas de longa ação, com dose

única diária, como o indacaterol e

o carmoterol, apresentam-se em

avançado desenvolvimento clínico. O

indacaterol, por exemplo, apresenta

potente ação broncodilatadora das

vias aéreas, com rápido início de

30 | mr107

mratualização terapêutica

ATUALIZAÇÃO TERAPÊUTICAfarmacológicaem DPOC

atualizacao DPOC.indd 30 26/01/11 16:20

ação e que se prolonga por 24 horas, sem apresentar

evidências de tolerância e efeitos colaterais significantes.

O anticolinérgico de longa duração brometo de tiotrópio

foi um grande avanço na terapia da DPOC, mantendo

broncodilatação sustentada pelo mínimo de 24 horas.

Novos agentes dessa classe estão em desenvolvimento,

como o brometo de clidínio e o glicopirrolato. Quando

usadas como monoterapia, ambas as classes de

broncodilatadores inalados de longa ação conferem

benefícios similares, reduzindo o risco de exacerbação em

15 - 20% e esse pode ser o principal benefício clínico.

A combinação dessas classes apresenta efeitos aditivos, e

estão sendo desenvolvidas estas combinações para serem

utilizadas em um único dispositivo inalatório.

Os efeitos dos corticoides oral e inalado na DPOC são

bem menos dramáticos que na asma, e sua indicação

no manejo da DPOC estável é limitada a situações

específicas. Tratamento regular com corticoides inalados

não modifica o declínio a longo prazo da função pulmonar

em pacientes com DPOC. Entretanto, o tratamento regular

com corticoides inalados é apropriado para pacientes

sintomáticos com volume final expirado no primeiro

segundo (VEF1) < 50% do previsto (Estádio III: DPOC Grave

e Estádio IV: DPOC Muito Grave) e exacerbações repetidas

(por exemplo, 3 nos últimos 3 anos). Esse tratamento

mostrou reduzir a frequência de exacerbações e assim

melhorar o estado de saúde, e a sua retirada pode levar a

exacerbações em alguns pacientes. Um corticoide inalado

combinado com um beta-2-agonista de longa ação é mais

eficiente que qualquer dos componentes isolado em reduzir

o número de exacerbações, melhorar a função pulmonar

e o estado de saúde. Deve ser sempre lembrado que o

corticoide oral tem sua indicação apenas no período de

exacerbação, estando seu uso proscrito como medicamento

de manutenção terapêutica da DPOC.

Com os modestos resultados da utilização da corticoterapia

na DPOC, uma nova abordagem anti-inflamatória se fez

necessária. Uma nova classe de drogas foi desenvolvida

especificamente para tratar a inflamação na DPOC, cujo

componente ativo, denominado roflumilaste, é um potente

e seletivo inibidor da fosfodiesterase 4. Essa enzima

apresenta importante papel na inflamação da DPOC, pois

é expressa em células importantes e envolvidas nesse

processo, como os neutrófilos e macrófagos. Inibindo a

fosfodiesterase 4 nessas células, diminui-se a degradação

do AMP cíclico intracelular, aumentando os seus níveis, com

consequente redução da atividade inflamatória. Essa nova

opção terapêutica quando adicionada à terapia de primeira

escolha (broncodilatadores), como por exemplo salmeterol

ou brometo de tiotrópio, promove benefícios adicionais,

como a redução de exarcebações e aumento da função

pulmonar em pacientes com DPOC grave com sintomas de

tosse crônica associada à produção de catarro e história de

exarcebações frequentes.

Novas opções terapêuticas estão sendo desenvolvidas,

porém há muita preocupação com a segurança, uma vez que

essas drogas agem em alvos que são largamente distribuídos

no organismo, o que aumentaria seus efeitos colaterais.

Esperamos que, em breve, novas terapias estejam disponíveis

para o tratamento específico da DPOC.

mr107 | 31

Pulmão com DPOC

atualizacao DPOC.indd 31 26/01/11 16:20

Hemorroidaspor ALEXANDRE SAKANO*

QUANDO SE FALA EM HEMORROIDAS, OPRECONCEITO VEM À TONA E MUITAS PESSOAS

QUE POSSUEM SINTOMAS RELACIONADOS COM A

DOENÇA NÃO PROCURAM AUXÍLIO MÉDICO. NÃO

EXISTEM DADOS SOBRE A INCIDÊNCIA DA DOENÇA

HEMORROIDÁRIA NO BRASIL, MAS ESTIMA-SE QUE 5%

A 12% DA POPULAÇÃO SOFREM COM A DOENÇA.

* Cirurgião do Aparelho

Digestivo

Mestre e Doutor pela Faculdade

de Medicina da Universidade de São

Paulo (FMUSP);

Figura 1: Anatomia da região anal / doença hemorroidária

HemorroidaInterna

Linha Pectínea

Prolapso

HemorroidaExterna

32 | mr107

mratualização terapêutica

hemorroida.indd 32 26/01/11 16:21

Nos Estados Unidos, a estimativa é que 50% dos

americanos acima de 50 anos apresentam sintomas, mas

apenas 5% destes procuram ajuda profissional.

A doença hemorroidária ocorre pela dilatação dos

plexos vasculares da região anal, os chamados plexos

hemorroidários, e pode causar sintomas variados.

A dilatação dos plexos vasculares leva a uma perda de

sustentação dos tecidos e consequente distensão da

mucosa retal, provocando a sensação de volume ou peso

na região anal, e nos casos mais avançados, pode levar ao

prolapso mucoso.

A hemorroida pode ser interna, quando ocorre acima da

linha pectínea, ou externa, quando surge abaixo da linha

pectínea. No caso da hemorroida interna, pode ocorrer o

prolapso que é a exteriorização dos mamilos hemorroidários

através do orifício anal (figura 1).

As hemorroidas internas podem ser classificadas em

diferentes graus, sendo que no grau I ocorre apenas a

dilatação dos plexos venosos, sem prolapso; no grau II

ocorre prolapso às evacuações com retorno espontâneo

após o esforço; no grau III ocorre prolapso aos esforços

que necessita manobras para sua redução e no grau IV, o

prolapso é permanente, não sendo possível a redução.

Os sintomas são muito variados em tipo e intensidade,

podendo se manifestar como uma sensação de volume,

evacuação incompleta, dor às evacuações ou aos esforços,

sangramento e prolapso.

Pode ocorrer ainda a trombose hemorroidária, evento

agudo que causa grande edema local, com aumento

significativo de um ou mais mamilos hemorroidários que se

torna entumescido, volumoso e bastante doloroso.

controle da doença, porém não estabelece a cura do

problema, portanto os sintomas frequentemente voltam

após o tratamento.

Nos casos agudos de trombose hemorroidária, a conduta

pode ser clínica, com medidas para amenizar a intensidade

dos sintomas, ou cirúrgico, que consiste em retirar os trombos

presentes nos mamilos hemorroidários para reduzir o volume

dos mamilos hemorroidários afetados e reduzir a dor.

Os resultados do tratamento clínico são bastante satisfatórios

com relação ao controle dos sintomas, principalmente nos

quadros agudos de trombose ou sangramento, porém não

há a cura da doença, e na imensa maioria dos casos, os

sintomas voltam após algum tempo.

Nos casos de prolapso, o tratamento clínico não tem nenhum

efeito, e o prolapso não diminui com medidas clínicas.

Para o tratamento definitivo, a cirurgia é a melhor

escolha, mas a decisão deve partir de comum acordo

entre o paciente e o médico, de acordo com o grau de

comprometimento da doença.

EXISTEM VÁRIOS TIPOS DE TRATAMENTO CIRÚRGICO DISPONÍVEIS HOJE, ENTRE OS QUAIS PODEMOS DESTACAR:

• Ligadura elástica: Indicada para as hemorridas internas

graus I e II, consiste em realizar uma ligadura dos plexos

venosos através da colocação de um elástico na base

do plexo, causando necrose e redução significativa

do volume da hemorroida. Não está indicada para

hemorroidas maiores, graus III e IV e a chance de

recorrência é grande (figura 2).

Figura 2: Ligadura elástica

O tratamento da doença

hemorroidária vai depender da

intensidade dos sintomas e do grau de

comprometimento. Vale ressaltar que

hemorroidas não sofrem degeneração

e não são fatores predisponentes para

doença neoplásica.

O tratamento pode ser clínico,

utilizando-se medicações anti-

inflamatórias para alívio da dor,

pomadas anestésicas e anti-

inflamatórias e medidas locais como

banhos de assento, e tem por objetivo

minimizar os sintomas e manter o

Ligadura

HemorroidaInterna

mr107 | 33

hemorroida.indd 33 26/01/11 16:21

• Fotocoagulação com laser infravermelho: segue o

mesmo princípio da ligadura elástica, porém em vez de

ligadura mecânica, promove a cauterização do plexo

com laser infravermelho e consequente redução do

volume do mamilo hemorroidário (figura 3).

• THD, ou Transanal Hemorrhoidal Dearterialization:

método novo que segue o mesmo princípio da ligadura

elástica ou laser infravermelho, utiliza um transdutor

com Doppler que localiza as artérias dos plexos

hemorroidários e, através de dispositivo especial,

permite a sutura das artérias, causando isquemia e

consequente necrose dos mamilos hemorroidários com

melhora dos sintomas e redução do prolapso.

• Hemorroidectomia clássica: consiste na retirada das

hemorroidas através de incisões na borda do ânus,

seccionando-se os mamilos hemorroidários junto com os

plexos vasculares. Indicada para os casos de doença mais

avançada,oferece bons índices de resolução da doença

e baixos índices de recorrência, mas provoca dor intensa

no pós-operatório e recuperação lenta. A incisão pode

ser feita com bisturi comum, bisturi elétrico ou laser,

porém a técnica é semelhante em todos os métodos, e o

resultado bastante similar (figura 4).

Figura 3: Fotocoagulação com laser infravermelho

• Hemorroidectomia com grampeador circular PPH:

indicada para hemorroidas internas com prolapso, a

técnica utiliza um grampeador capaz de seccionar a faixa

de mucosa interna do ânus onde se localizam os plexos

hemorroidários, acima da linha pectínea, retirando-se

Figura 4: Hemorroidectomia clássica

por completo todo o tecido hemorroidário, e ao mesmo

tempo suturando o tecido sadio com grampos de titânio

dispostos de maneira circular no reto. A sensibilidade

à dor na região anal se dá abaixo da linha pectínea, e

como a cirurgia é feita acima da linha pectínea e não

requer corte externo, a dor é significativamente menor,

não deixa feridas externas e o tempo de cicatrização é

mais curto (figura 5).

Os tratamentos cirúrgicos oferecem bom controle dos

sintomas quando bem indicados, com índices de cura e

recorrência bastante satisfatórios.

Os procedimentos menos agressivos como a ligadura

elástica e a fotocoagulação são alternativas bastante

interessantes nos casos menos avançados, com ótimos

resultados sem o desconforto intenso do pós-operatório, e

podem ser feitos em regime ambulatorial, sem necessidade

de anestesia ou internação hospitalar.

Os procedimentos mais complexos têm a desvantagem da

necessidade de estrutura hospitalar, anestesia, internação

e o desconforto maior no pós-operatório, mas apresentam

resultado superior em relação ao controle da doença.

A decisão do melhor tratamento deve ser discutida caso

a caso, de acordo com o grau de comprometimento,

e a opinião do paciente deve ser sempre o fator mais

importante na decisão da melhor terapêutica.

Figura 5: Hemorroidectomia com grampeador circular

Faixa de tecido retirado

Linha de grampeamento

34 | mr107

hemorroida.indd 34 26/01/11 16:21

Evolução sensorial em fotoproteção.

Proteção imediata1

À prova d’ água1

Não comedogênico1

Sem fragrância1

Hipoalergênico1

Para todos os tipos de pele1

A fotoproteção evoluiu onde mais precisava.

Antioxidantes: complexo F, A, C, E de vitaminas1

FPS 30 FPS 45

Mar

ço/2

010

Referência Bibliográfica: 1. Data on file Mantecorp.

antibrilho

1

suav

idad

e1

toque seco1

anuncios.indd 8 26/01/11 16:26

<

> IDF Diabetes Atlas, 4th ed. © International Diabetes Federation, 2009

Estimativas de prevalência* (%) do diabetes (20-79 anos), 2010*prevalência comparativa

DIA MUNDIAL DO COMBATE A DIABETES:educar para prevenirpor SÁLUA DE OLIVEIRA

Dr. Rubens Sargaço,

endocrinologista e coordenador

do Núcleo Multidisciplinar de

Atendimento ao Diabético, do

Hospital Samaritano de São Paulo.

Dr. José Carlos Pareja é

Gastroenterologista, especialista

em Cirurgia da Obesidade,

Cirurgia Digestiva, Professor

Doutor da Universidade Estadual

de Campinas – UNICAMP e

Diretor do Centro de Cirurgia da

Obesidade de Campinas (CCOC).

Dr. Walter Minicucci, especialista em endocrinologia pela

Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia

Mestre em Medicina pela UNICAMP

Doutorando de Clinica Medica da Faculdade de Medicina da

Unicamp

Vice-presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes (2006-2007)

e 2010-2011

Editor chefe da revista da Sociedade Brasileira de Diabetes (2007).

14 DE NOVEMBRO, DIA MUNDIAL DA PREVENÇÃO DO DIABETES. ADOENÇA É TRATADA COMO EPIDEMIA VISTO O AUMENTO EXPRESSIVO NOS ÚLTIMOS

ANOS, OCASIONADO PRINCIPALMENTE PELA MUDANÇA NA ALIMENTAÇÃO E PELA

VIDA SEDENTÁRIA. OS NÚMEROS MOSTRAM DISPARIDADE, ENQUANTO 10% DOS

PACIENTES NO MUNDO HERDARAM A DOENÇA GENETICAMENTE (DIABETES TIPO

1), DO OUTRO LADO, 90% DOS DOENTES ADQUIRIRAM DIABETES JÁ ADULTOS

36 | mr107

mrsaúde pública

saúde pública.indd 36 26/01/11 19:33

<

> IDF Diabetes Atlas, 4th ed. © International Diabetes Federation, 2009

Estimativas de prevalência* (%) do diabetes (20-79 anos), 2010*prevalência comparativa

São quase oito milhões de doentes no Brasil e o mesmo

número de pessoas ainda não diagnosticadas. De acordo

com pesquisa da Federação Internacional de Diabetes (IDF),

no Brasil, 7,6 milhões de pessoas entre 20 e 79 anos de idade

devem apresentar quadro da doença ainda em 2010. Nos

próximos 20 anos, esse número pode chegar aos 12,7 milhões.

Principal causa de uma lista de outras doenças, o diabetes

atinge cada dia mais os países desenvolvidos e em

desenvolvimento. A taxa cresce proporcionalmente à

inserção de comida e hábitos ocidentais como fast food,

massas e alimentos industrializados, semiprontos e com alto

teor de sal e açúcar. Falta de exercícios na rotina diária é

outro fator importante.

Mundialmente, a maioria dos casos de insuficiência renal,

amputação de membros inferiores e cegueira, é causada

pelo diabetes. Os problemas se dão principalmente pela

falta de sintomas; quanto mais tempo de doença, maiores

os riscos de eles se desenvolverem.

NOVIDADES NO TRATAMENTO

Vários tratamentos e novas tecnologias já estão disponíveis

para atenuar a ação do diabetes. A cegueira oriunda da

doença é causada por um inchaço na mácula. Edema surge

principalmente entre os pacientes de diabetes tipo 2, o

mais comum e de maior preocupação pública.

Como controle, é necessário monitorar a pressão arterial,

principalmente entre as pessoas com altas taxas de glicemia,

pois os vasos sanguíneos retinianos ficam frágeis e podem

ocorrer vazamentos. Exames como tomografia óptica e

angiofluorescência apresentam a localização dos danos.

Fotocoagulação a laser cicatriza os vasos para casos menos

graves, e injeção em cavidade vítrea e corticoides ajudam a

recuperar a visão em estágios mais avançados da doença.

Um aparelho em fase de testes nos Estados Unidos recobre

artérias renais e pode ser uma alternativa para o tratamento

da pressão alta. Em casos em que a medicação não resolve,

mr107 | 37

saúde pública.indd 37 26/01/11 19:33

DE IMEDIATO

2010 2030

População mundial total (bilhões) 7,0 8,4

População adulta (20-79 anos, bilhões) 4,3 5,6

DIABETES E IGT (20-79 ANOS)

Diabetes

Prevalência global (%) 6,6 7,8

Prevalência comparativa (%) 6,4

285

7,7

Número de pessoas com diabetes (milhões) 438

IGT

Prevalência global (%) 7,9 8,4

Prevalência comparativa (%) 7,8 8,4

Número de pessoas com IGT (milhões) 344 472

IDF Diabetes Atlas, 4th ed. © International Diabetes Federation, 2009

PAÍS2010

MILHÕES MILHÕES PAÍS2030

0,78Índia18,05aidnÍ16.2,6China22,34anihC2

3 Estados Unidos8.3,1Paquistão46,9 Federação Russa47.2,1Brazil56,7lisarB50.2,1Indonésia65,7Alemanha69.1,1México71.7,Paquistão74.0,1Bangladesh81,7Japão83.0,1 Federação Russa90,7aisénodnI96.8,Egito018,6ocixéM01

26,8 3 Estados Unidos 36,0

IDF Diabetes Atlas, 4th ed. © International Diabetes Federation, 2009

Número de pessoas com diabetes (20-79 anos), 2010 e 2030

PAÍS2010

MILHÕES MILHÕES PAÍS2030

0,78Índia18,05aidnÍ16.2,6China22,34anihC2

3 Estados Unidos8.3,1Paquistão46,9 Federação Russa47.2,1Brazil56,7lisarB50.2,1Indonésia65,7Alemanha69.1,1México71.7,Paquistão74.0,1Bangladesh81,7Japão83.0,1 Federação Russa90,7aisénodnI96.8,Egito018,6ocixéM01

26,8 3 Estados Unidos 36,0

IDF Diabetes Atlas, 4th ed. © International Diabetes Federation, 2009

Número de pessoas com diabetes (20-79 anos), 2010 e 2030

PAÍS2010

MILHÕES MILHÕES PAÍS2030

0,78Índia18,05aidnÍ16.2,6China22,34anihC2

3 Estados Unidos8.3,1Paquistão46,9 Federação Russa47.2,1Brazil56,7lisarB50.2,1Indonésia65,7Alemanha69.1,1México71.7,Paquistão74.0,1Bangladesh81,7Japão83.0,1 Federação Russa90,7aisénodnI96.8,Egito018,6ocixéM01

26,8 3 Estados Unidos 36,0

IDF Diabetes Atlas, 4th ed. © International Diabetes Federation, 2009

Número de pessoas com diabetes (20-79 anos), 2010 e 2030

transplantes e cirurgias do estômago e intestino.

O diabetes tipo 2, que atinge público adulto com

sobrepeso e obesos, está sendo atenuado por intervenções

cirúrgicas, como redução de estômago e intestino. Por

serem órgãos endócrinos, que estimulam hormônios a

produzir substância necessária ao organismo deficiente, o

sucesso da cirurgia é quase certo e nos primeiros meses já é

possível abandonar as doses diárias de insulina.

Na UNICAMP, o coordenador e professor do Laboratório de

Investigação em Metabolismo e Diabetes (LIMED), Dr. José

um cateter implantado na virilha é conectado a uma

máquina que gera ondas de radiofrequência que cortam a

ação de nervos causadores da pressão.

Novidades também no âmbito de aplicação da insulina:

versões orais e para inalação são um suspiro de alívio para

quem necessita de remédio diário. Os preços por enquanto

são altos, mas tendem a cair gradativamente, seguindo

aceitação de consumidores.

A saúde pública, através do SUS, tenta proporcionar

medicação gratuita. A resolução atende projeto de lei,

aprovado em 2006, garantindo remédios para todos. O

Brasil segue tentando se adaptar, pois além de ser um

grande país, não tem cultura de prevenção de doença

alguma e a conta segue aumentando. A dificuldade é maior

no atendimento em Estados sem tanta arrecadação como

os do Sudeste do Brasil.

INTERVENÇÕES CIRÚRGICAS

Outras boas notícias vêm do pioneirismo da pesquisa

em universidades públicas do interior do Estado de São

Paulo. A USP de Ribeirão Preto possui um departamento

voltado a doenças autoimune e nele foi realizado o primeiro

transplante mundial de células-tronco para pacientes de

diabetes tipo 1. De 25 já transplantados, durante os seis anos

de existência do departamento, 21 nunca mais precisaram

usar insulina. Apenas dieta rigorosa e exercícios continuam.

Apesar de não existir uma cura, a doença pode ser encarada

muito mais facilmente depois de descobertas envolvendo

38 | mr107

saúde pública.indd 38 26/01/11 19:34

Carlos Pareja, fala sobre os avanços

nas pesquisas com grupo de obesos

diabéticos que se prepara para cirurgia

de redução do estômago: “Nós temos

um programa de emagrecimento e em

quatro, cinco meses, além de perder

peso, eles aprendem a se alimentar

corretamente, fazer exercícios e são

operados. Quem não emagrece ou

comparece às aulas tem de sair do

grupo. Funciona melhor que antes,

quando a espera demorava de 2 a

4 anos e pacientes morriam na fila.

Infelizmente, ainda é assim na maioria

dos grandes hospitais que realizam a

cirurgia”.

O LIMED também está fazendo

pesquisas de cirurgia de redução do

estômago para não obesos diabéticos.

Se ela for aprovada será um marco

para os pacientes, já que eles poderão

seguir tratamento sem a necessidade

de aplicação de insulina.

De acordo com Pareja, o diabetes tipo

2 é corriqueiro no caso de gordos,

não só obesos, mas os que sofrem

de síndrome metabólica (quando o

diâmetro da cintura é maior que o

do quadril), e gordura acumulada

traz colesterol alto, aumento do

triglicérides e hipertensão arterial.

Transplantes de órgãos como o

pâncreas e rins também estão sendo

usados para tratar diabetes tipo 1.

Nesse caso, a espera é maior e o

sucesso depende da adaptação do

organismo do paciente.

EDUCANDO E PREVENINDO

Entre os dias 07 e 14 de novembro, a Sociedade

Brasileira de Diabetes promoveu ações a fim de

informar sobre os fatores de risco, sintomas e

prevenção da diabetes. Profissionais da saúde

organizaram uma série de eventos em todo o

País para educar a população e alertar sobre essa

doença silenciosa: “Nós iluminamos com luz azul

os monumentos mais importantes das principais

cidades e Estados para chamar a atenção da

sociedade”, comentou o vice-presidente da SBD,

Dr. Walter Minicucci, que também ministra a

matéria de Endocrinologia na UNICAMP.

Um elo azul é o símbolo da campanha “Educar

para prevenir”, tema da luta contra a doença

ano passado, este ano e os próximos três, em

uma ação a longo prazo que pretende frear o

aumento de pessoas doentes.

O Dr. Rubens Sargaço, especialista em

clínica médica e endocrinologia do Hospital

Samaritano, explica como foi o evento

de prevenção realizado dia 13, com as

comunidades dos bairros da Lapa e Perdizes,

em São Paulo: “O objetivo do encontro foi

sensibilizar a população a respeito da doença.

Fizemos teste de glicemia papilar em 400

pessoas e oito foram diagnosticadas com

a doença, todas já sabiam que sofriam de

diabetes."

Uma epidemia mundial traz muitos custos

sociais a prevenção é importante para todos,

diz o Dr. Rubens: "A previsão é de que em

2020 existam 400 milhões de diabéticos no

mundo, não há como pagar essa conta. Temos

que correr."

Evento diabetes Hospital Samaritano -

Dr. Sargaco e sua equipe

mr107 | 39

saúde pública.indd 39 26/01/11 19:34

TABAGISMO,medicina e engajamento

por ANA CAROLINA ADDARIO

SOCIEDADE CIVIL E UNIVERSO MÉDICO SE UNEM PARACOMBATER UM DOS MAIORES MALFEITORES DA SAÚDE PÚBLICA

MODERNA: O TABAGISMO

40 | mr107

mrsaúde pública

tabagismo.indd 40 26/01/11 19:22

Na abertura da 4ª sessão da

Conferência das Partes, no Uruguai,

foi inaugurado um contador chamado

“Relógio da Morte”, designado para

a trágica missão de contabilizar o

número de mortes ocorridas em torno

do mundo em função do consumo de

tabaco a partir do dia 25 de outubro

de 1999, quando as negociações para

a Convenção-Quadro para o Controle

do Tabaco começaram. Segundo o

relógio, a cifra passa dos 50 milhões

de pessoas. Os índices de tabagismo

estão intimamente relacionados

à maneira como a sociedade se

organiza para disseminar o consumo

e, dentre seus maiores vilões, está a

propaganda tabagista.

O poder de influência da propaganda

sobre o consumo de cigarros

é um senso comum no Brasil,

principalmente quando o assunto é a

corrida pela diminuição do ato entre

jovens e adultos. Prova disso é como

o próprio governo se apropriou do

poder da propaganda para veicular

suas campanhas antitabaco – a

polêmica das imagens veiculadas

pelo Ministério da Saúde no verso

das caixas de cigarro repercutiu por

algum tempo, e de alguma forma

chamou a atenção da população

fumante, mas depois deixou de ser

discutida.

A necessidade de discussões sobre

o consumo de cigarros no país

está relacionada não apenas à

quantidade de tabaco adquirido,

mas principalmente às medidas de

prevenção que o vício, sobretudo nas

populações mais jovens, demanda. Da

mesma forma que a venda de cigarros

depende da veiculação certa da

imagem do produto, a prevenção do

tabagismo depende, de certa forma,

do poder da propaganda negativa

sobre a substância para se fortalecer,

bem como da coibição de ações que

promovem o vício a cada esquina que

passamos.

Estudo realizado pelo Instituto

Datafolha de pesquisas, sob

encomenda da Aliança de Controle

ao Tabagismo, revela que a maioria

da população brasileira concorda

que a exposição dos cigarros nos

pontos de venda (PDV) influencia tanto

crianças e adolescentes como adultos

a aderirem ao tabagismo. De acordo

com dados do levantamento, 74% dos

entrevistados acham que a exposição

dos cigarros influencia a  iniciação de

crianças e adolescentes, enquanto

que 66% acreditam que influencia a

compra de cigarros por adultos, sendo

que  54% dos que responderam eram

fumantes.

Um dos fatores que, segundo o

estudo, leva ao consumo de cigarro

por jovens e adultos no Brasil é a

exposição massiva do produto nos

pontos de venda (PDV). Das 2.544

pessoas entrevistadas para o painel,

64% são de opinião de que “os

cigarros devem ficar escondidos da

visão do público em geral”. Mesmo

entre os fumantes, essa posição tem

adesão da maior parcela (51%). Os

fumantes leves, de até 10 cigarros

por dia, são mais favoráveis ao

“ocultamento” das marcas de cigarros,

enquanto os fumantes pesados

discordam: 45%.

Em maio deste ano, outra pesquisa

realizada pela parceria Aliança de

Controle do Tabagismo (ACT)/

Datafolha revelou que a maioria dos

estabelecimentos de São Paulo que

comercializam cigarros está próxima de

alguma escola de nível fundamental ou

médio, num raio de até um quilômetro,

e mais de um terço tem faculdade nas

proximidades.  A pesquisa revelou

que a visibilidade dos cigarros e do

material promocional para crianças é

mais acentuada nos estabelecimentos

localizados em áreas com IDH elevado,

de grande porte e nas padarias em

geral.  Ela também é mais acentuada

nos estabelecimentos que possuem

escola perto (85%, em comparação

com 73% entre os que não possuem

escolas nas proximidades).  

DIGA NÃO À PROPAGANDA!

“Esconder” produtos derivados de

tabaco nos PDV são uma tendência

mundial. Várias províncias e territórios

do Canadá, além da Tailândia e

da Irlanda, têm legislações nesse

sentido. Na Inglaterra, a publicidade

em pontos de venda será proibida

a partir de 2011 para grandes lojas

e, a partir de 2013, para pequenas.

Estados australianos como Tasmânia,

New South Wales,  Australian

Capital Territory, Victoria e Western

Australia também seguem essa

legislação. Outras jurisdições dentro

da Austrália propuseram o mesmo. A

Escócia também discute projeto de

lei similar.

OS ÍNDICES DE TABAGISMO ESTÃO INTIMAMENTE RELACIONADOS À MANEIRA COMO A SOCIEDADE SE ORGANIZA PARA

DISSEMINAR O CONSUMO E, DENTRE SEUS MAIORES VILÕES, ESTÁ A PROPAGANDA TABAGISTA"

mr107 | 41

tabagismo.indd 41 26/01/11 19:22

A proibição total da publicidade de

produtos de tabaco, incluindo em

PDVs, é uma das medidas previstas na

Convenção-Quadro para Controle do

Tabaco, tratado internacional do qual

o Brasil é signatário. A partir de 2011,

prazo legal previsto quando de sua

adesão, o país deve proibir totalmente

a publicidade de cigarros sob pena de

descumprir os compromissos a que se

obrigou internacionalmente. 

No Brasil, a campanha “Propaganda

Sem Cigarro”, uma iniciativa da ACT,

elabora atualmente uma petição que

pretende impulsionar mudanças na

lei sobre publicidade de produtos de

tabaco. Esse é um exemplo de como

a sociedade vem se organizando para

combater o vício em tabaco.

O PAPEL DA SOCIEDADE

De acordo com a socióloga Paula

Johns, diretora executiva da ACT

e membro do conselho diretor da

Framework Convention Alliance

(FCA) e do Conselho Estadual

de Entorpecentes de São Paulo

(CONEN-SP), historicamente, o

movimento do controle do tabagismo

foi impulsionado pela comunidade

médica, mas hoje, por possuir

interface com várias questões e

temas, é um movimento que vai

muito além da comunidade médica.

“Em nível populacional, a prevenção

é a principal e a mais efetiva medida

de controle do tabagismo, dentre

elas vale enfatizar os ambientes

fechados 100% livres de fumo, a

proibição de publicidade, promoção

e patrocínio, inclusive nos pontos

de venda; a política de preços e

impostos; as imagens de advertência

nas embalagens de cigarro. Para

avançar nesses temas, o apoio da

comunidade médica é fundamental”,

afirma.

Para ela, a comunidade médica pode

apoiar esse tipo de estratégia de

várias formas, seja através de artigos

de opinião, através da mobilização

e sensibilização de formadores de

opinião. “A credibilidade dos médicos

é uma ferramenta importante para

fazer frente à falta de ética da indústria

do tabaco, que necessita novos

consumidores para responder às suas

obrigações junto aos acionistas. Não é

ético promover e divulgar um produto

que causa dependência, adoecimento

e morte. Temos uma campanha em

andamento e quanto mais o debate

aparecer na sociedade, mais podemos

avançar. É preciso que as pessoas

saibam que a publicidade de cigarros

não acabou, ela somente mudou de

veículo”, conta.

O ponto de luz no cenário brasileiro

na luta contra o tabagismo mora no

fato de o país ter adotado a questão

como uma política de Estado - nada

mais justo, uma vez que o tabagismo

é mesmo um problema de saúde

pública.

As ações que imprimiram a

obrigatoriedade das imagens de

advertência nos maços do cigarro

comercializados no país, por exemplo,

fazem parte de uma estratégia de

prevenção comprovadamente eficaz

tanto no Brasil quanto em outros locais

do mundo onde foi adotada. Hoje,

a medida já é adotada em 39 países

e faz parte da Convenção-Quadro

para o Controle do Tabaco, primeiro

tratado internacional de saúde pública,

negociado entre os países membros

da Organização Mundial da Saúde

(OMS), adotado mundialmente em

2003, e já ratificado por 172 países.

Segundo levantamento realizado pelo

“Projeto Internacional de Avaliação

das Políticas de Controle do Tabaco”,

as imagens da campanha ajudam a

promover a reflexão sobre os riscos

de saúde que o fumante corre.

“Outro objetivo das imagens é se

contrapor à publicidade de cigarro

feita ostensivamente via embalagem.

A embalagem e a marca se relacionam

com o consumidor e são parte

imprescindível do marketing do

produto - se não fossem as embalagens

sedutoras associadas ao poder de

causar dependência, teríamos muito

menos fumantes no mundo hoje”,

completa a socióloga Paula Johns.

Em um cenário em que o consumo de

tabaco está relacionado, da maneira

enganosa como é veiculada pela

publicidade, ao status e ao estilo de

vida vencedor, lutar contra a força do

mercado capitalista é uma tarefa árdua

e que deve ser, obrigatoriamente,

para executada em parceria entre a

sociedade civil e setores preocupados

com a saúde pública, como a

medicina. Organizações como a

Aliança de Controle ao Tabagismo e

a Sociedade Brasileira de Pneumonia

e Tisiologia são referências no que

diz respeito à luta, mas ainda é

preciso fazer mais, tanto no que diz

respeito à conscientização, quanto

no quesito tratamentos. “Precisamos

ampliar o acesso aos tratamentos.

E tratamento para o tabagismo não

significa tomar um remédio, significa

lidar com a dependência de uma

forma interdisciplinar através do que

é conhecido como terapia cognitiva comportamental. Não existe pílula

mágica para deixar de fumar”,

completa.

A CREDIBILIDADE DOS MÉDICOS É UMA FERRAMENTA IMPORTANTE PARA FAZER FRENTE À

FALTA DE ÉTICA DA INDÚSTRIA DO TABACO"

42 | mr107

tabagismo.indd 42 26/01/11 19:22

RETEMIC® UD cloridrato de oxibutinina FORMA FARMACÊUTICA, VIA DE ADMINISTRAÇÃO E APRESENTAÇÃO: Uso oral Comprimidos revestidos de liberação controlada de 10 mg. Caixa com 30 comprimidos. USO ADULTO E PEDIÁTRICO. INDICAÇÕES DO MEDICAMENTO: RETEMIC® UD (cloridrato de oxibutinina) é um antiespasmódico urinário, indicado para o alívio dos sintomas urológicos relacionados com a micção, tais como: incontinência urinária, urgência miccional, noctúria e incontinência em pacientes com bexiga neurogênica espástica não-inibida e bexiga neurogênica reflexa. Coadjuvante no tratamento da cistite de qualquer natureza e na prostatite crônica. Nos distúrbios psicossomáticos da micção. Em crianças de 5 anos de idade ou mais, para a redução dos episódios de enurese noturna. CONTRAINDICAÇÕES: Em pacientes que apresentam hipersensibilidade ao cloridrato de oxibutinina. O produto é contraindicado para pacientes com glaucoma, bem como em casos de obstrução parcial ou total do trato gastrointestinal, íleo paralítico, atonia intestinal dos idosos, ou em pacientes debilitados, megacolon, megacolon tóxico com complicação de colite ulcerativa, colite severa e miastenia grave. Também é contraindicado em pacientes com estado cardiovascular instável em hemorragia aguda e, nos que apresentam uropatia obstrutiva.O produto é contraindicado durante a gravidez e em crianças com menos de 5 anos de idade. PRECAUÇÕES E ADVERTÊNCIAS: Devem ser tomadas precauções quanto ao uso de RETEMIC® UD (cloridrato de oxibutinina) nos idosos e em todos os pacientes com neuropa tias relacionadas com o sistema nervoso autônomo, ou com afecções hepáticas ou renais. A administração de RETEMIC® UD (cloridrato de oxibutinina) a pacientes com colite ulcerativa pode suprimir a motilidade intestinal até o ponto de produzir um íleo paralítico, precipitando ou agravando um megacolon tóxico, uma séria complicação da doença. A oxibutinina pode agravar os sintomas do hipertireoidismo, distúrbios cardíacos de origem coronária, insuficiência cardíaca congestiva, arritmia cardíaca, taquicardia, hipertensão e hipertrofia da próstata. É necessário administrar o produto com cuidado em pacientes com hérnia de hiato associada à esofagite de refluxo, pois este distúrbio pode ser agravado pelos fármacos anticolinérgicos. Gravidez O produto não deve ser administrado em mulheres grávidas, a menos que o médico julgue que o benefício clínico provável justifique os possíveis riscos. Lactação Não foi determinado se a droga é excretada no leite materno. Como muitas drogas são excretadas através do leite materno, cuidados especiais devem ser tomados se for indicado o produto em mulheres que estejam amamentando. Pediatria RETEMIC® UD (cloridrato de oxibutinina) não deve ser administrado em crianças com idade abaixo de cinco anos. INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS: O uso simultâneo com medicamentos antimuscarínicos potencializa este efeito, bem como o efeito sedativo é aumentado quando do uso com depressores do SNC. REAÇÕES ADVERSAS: Após a administração do cloridrato de oxibutinina, podem ocorrer os sintomas comuns ao uso de outros agentes anticolinérgicos: secura da boca, diminuição da transpiração, retenção urinária, visão turva, taquicardia, palpitações, midríase, cicloplegia, aumento da pressão ocular, sonolência, debilidade, vertigens, insônia, vômitos, constipação, impotência, supressão da lactação, reações alérgicas (incluindo urticária). POSOLOGIA: Adultos: A dose usual é de um comprimido de 10 mg, uma vez ao dia. Crianças acima de 5 anos de idade: A dose usual é de um comprimido de 5 mg, uma vez ao dia. A dose pode ser aumentada para 1 comprimido de 10 mg, observando a efetividade e tolerância. VENDA SOB PRESCRIÇÃO MÉDICA. Reg. MS nº 1.0118.0108. APSEN FARMACÊUTICA S/A

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Diminui os episódios de incontinência1

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Diminui as visitas ao sanitário1

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27%222%

Custo acessível que aumenta a adesãC í l d ão 2

Primeira escolha no tratamento da BHa 3,4

Liberação prolongada 1,5

Baixo índice de efeitos colaterais

INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS: O uso simultâneo com medicamentos antimuscarínicos potencializa este efeito, bem como o efeito sedativo é aumentado quando do uso com depressores do SNC. CONTRAINDICAÇÕES: Em pacientes que apresentam hipersensibilidade ao cloridrato de oxibutinina. O produto é contraindicado para pacientes com glaucoma, bem como em casos de obstrução parcial ou total do trato gastrointestinal, íleo paralítico, atonia intestinal dos idosos, ou em pacientes debilitados, megacolon, megacolon tóxico com complicação de colite ulcerativa, colite severa e miastenia grave. Também é contraindicado em pacientes com estado cardiovascular instável em hemorragia aguda e, nos que apresentam uropatia obstrutiva. O produto é contraindicado durante agravidez e em crianças com menos de 5 anos de idade.RETEMIC® UD (CLORIDRATO DE OXIBUTININA) É UM MEDICAMENTO. DURANTE SEU USO, NÃO DIRIJA VEÍCULOS OU OPERE MÁQUINAS, POIS SUA AGILIDADE E ATENÇÃO PODEM ESTAR PREJUDICADAS.

Referências Bibliográficas: 1- Appell RA, Sand P, Dmochowski R, et al. Prospective randomized controlled trial of extended-release oxybutynin chloride and tolterodine tartrate in the treatment of overactive bladder: results of the OBJECT study Mayo Clin Proc 2001 76: 358-63. 2- ABCFarma, março/2010. 3- Diokno A, Ingber M Oxybutynin in detrusor overactive Urol Clin N Am 2006 33: 439-45. 4- Andersson KE, Chapple CR Oxybutynin and the overactive bladder World J. Urol 2001 19(5) págs. 319-323. 5. Comer AM, Goa KLExtended-release oxybutynin Drugs & Aging 2000 16(2) p. 149-55.

Material cientifico de distribuição exclusiva para a classe médica.

701.0

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QUAL O CUSTO DE UMA VIDApara o Estado brasileiro?

por JARBAS J. DINKHUYSEN*

A RAZÃO POR QUE PERGUNTO ESTÁ NA MINHA INDIGNAÇÃO,COMO CIRURGIÃO CARDIOVASCULAR, EM ACEITAR CANDIDATOS PARA

TRANSPLANTES DE CORAÇÃO, INSCREVÊ-LOS NA LISTA ÚNICA DE RECEPTORES E

NEM SEQUER CHEGAR A REALIZAR OS PROCEDIMENTOS PORQUE OS PACIENTES

FALECERAM ANTES MESMO DE SURGIR UM DOADOR COMPATÍVEL

Ou pior, porque o Sistema Único de

Saúde (SUS) não aceita dar cobertura

financeira pela terapia alternativa,

como a colocação de ventrículos

artificiais, que pode garantir que

esses doentes vivam o suficiente para

aguardar a doação do órgão. Afinal,

segundo a Constituição brasileira,

saúde é direito de todos e dever

do Estado, e isso se aplica inclusive

aos portadores de doenças mais

dispendiosas.

Os dados são contundentes. A

taxa de mortalidade de pacientes à

espera de transplante de coração é

persistentemente superior a 50%. No

ano passado, na lista de espera da

Central de Notificação, Captação e

Distribuição de Órgãos (CNCDO) do

Estado de São Paulo, esse porcentual

chegou a 57%. É inaceitável nos

depararmos com informações como

essa, num país que está entre os

seis mais respeitados em cirurgias

cardíacas no mundo, ficando atrás

apenas de Estados Unidos, Alemanha,

França, Inglaterra e Turquia.

Aliado a isso, a cada dez pacientes

que chegam ao ambulatório com

insuficiência cardíaca terminal, apenas

um consegue entrar na fila de espera,

pois a maioria tem contraindicações

ao transplante. Esses nove doentes

vão morrer certamente, pois não lhes

é dado o direito de passar por um

tratamento alternativo, como, por

exemplo, a implantação dos já citados

ventrículos artificiais.

E por que não dar aos doentes

cardíacos a mesma chance de vida

que se dá aos que aguardam por

transplantes de rins e fígados? Afinal,

estes últimos têm já garantida a

possibilidade de fazer hemodiálise e

hepatodiálise enquanto estão na fila de

espera dos órgãos de que precisam.

Os ventrículos artificiais, comumente

já utilizados e consagrados

universalmente, têm como função

ajudar o coração a bombear o sangue

do corpo e podem ser empregados

em três modalidades. A primeira é

chamada ponte para transplante,

a qual dá ao paciente chance de

aguardar o surgimento de um doador

compatível. A segunda, que é aplicada

em casos de anomalias transitórias do

órgão, é a ponte para recuperação, em

que o aparelho não só mantém a vida

do doente, mas permite a recuperação

das funções do seu coração, sendo

retirado subsequentemente. E,

finalmente, a chamada terapia de

destino, em que a aplicação é feita

em caráter definitivo quando o doente

tem contraindicações ao transplante,

como incompatibilidade imunológica,

infecções crônicas e idade avançada.

Podem auxiliar o ventrículo esquerdo

ou ambos os ventrículos, ou mesmo

substituir totalmente o coração nativo.

O bombeamento do sangue pode

ser axial ou pulsátil por acionamento

eletromecânico ou pneumático, e

eles são implantados por meio de

operações específicas em posição

externa do tórax ou intratorácicos,

junto ao coração, por implante parcial

ou total.

O coração é o órgão transplantável

mais sensível do corpo humano e a

seleção do doador deve ser criteriosa,

pois, caso contrário, os índices de

mortalidade podem ser elevados.

Isso não ocorre com outros órgãos,

pois a margem de aceitação é mais

maleável. Assim, o porcentual de

aproveitamento de corações doados

é menor, em torno de 20%, sendo

um fator determinante para o número

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mrsaúde pública

saude publica 2.indd 44 26/01/11 16:34

QUAL O CUSTO DE UMA VIDApara o Estado brasileiro?

*Livre-docente da Faculdade de

Medicina da USP, , é médico-chefe

da Seção Médica de Transplantes

do Instituto Dante Pazzanese de

Cardiologia de São Paulo

elevado de óbitos na fila de espera.

Com a implantação dos ventrículos

conseguiríamos resgatar

aproximadamente 80% dos pacientes

e transplantá-los com segurança.

Atualmente, o número de transplantes

no Brasil está ao redor de 200 por ano

e esse número poderia praticamente

dobrar caso os procedimentos para

a implantação do dispositivo fossem

regulamentados pelo SUS, com

dotação orçamentária para esse fim.

O governo alega que esse

procedimento é muito caro e

beneficiaria poucas pessoas, afinal, são

milhares os receptores renais, centenas

os de fígado e os de coração, apenas

dezenas.

Há, porém, fortes argumentos a serem

defendidos. Hoje o Estado não gasta

diretamente com a colocação do

ventrículo, mas indiretamente acaba

arcando com os custos altíssimos de

internações e todos os tratamentos

envolvidos, por tempo indeterminado.

Explico: os pacientes da fila de espera

de um coração que passam ao estado

crítico – que estão na iminência da

morte e não podem aguardar em casa

– ficam no hospital, sendo custeados

pelo SUS. Além disso, ao iniciar a

implantação dos ventrículos no Brasil,

e com o uso cada vez maior desse

procedimento, o custo do aparelho

seria reduzido, segundo regras de

mercado, semelhante ao que ocorreu

nos Estados Unidos e na Europa.

Certamente não estamos distantes

do momento em que a aplicação

dos ventrículos artificiais venha a ser

realizada coercitivamente, ou seja, por

força de medidas liminares deferidas

pelo Poder Judiciário, atendendo ao

preceito constitucional do direito à

vida e à saúde.

É importante ressaltar que já há

tecnologia desenvolvida para fazer

essas operações no Brasil. O Instituto

do Coração de São Paulo (INCOR-

SP) já concluiu o programa chamado

Dispositivo de Assistência Ventricular,

que tem sido aplicado clinicamente

como ponte para transplante, ainda

sem a cobertura pelo SUS. E no

Instituto Dante Pazzanese estão

sendo desenvolvidos projetos que

se encontram em fase de avaliação

experimental.

Falta agora o SUS cumprir o que a

Constituição determina e agregar esse

tratamento à lista de modalidades

atendidas pelo sistema, dando

cobertura à colocação dos ventrículos

artificiais.

mr107 | 45

saude publica 2.indd 45 26/01/11 16:34

MOHS E A SOLUÇÃO PARAo câncer de pelepor LUIZ ROBERTO TERZIAN*

TÉCNICAS DE CIRURGIA MICROGRÁFICAS SÃO SUCESSONO MUNDO INTEIRO E CARECEM DE PROFISSIONAIS ESPECIALIZADOS

NO BRASIL

Dr. Mohs não poderia imaginar que

sua técnica de retirada de tumores de

pele nos anos 30 se tornaria sinônimo

de sucesso até os dias de hoje. Um

estudo completo das margens do

tumor possibilita a extração mínima

de tecido, sem a necessidade da

margem de segurança das cirurgias

tradicionais.

Após retirar uma fina camada do

tumor e analisá-la microscopicamente

após congelamento no criostato,

durante a cirurgia, é possível constatar

se a lesão se estende por outra área

e retirar a quantidade exata de tecido

comprometido na mesma hora.

Na cirurgia convencional, a margem

estabelecida é maior que o tumor e

só após o ferimento ser fechado o

tecido retirado é enviado para um

*Mestre pelo HCFMUSP,

professor e coordenador da cirurgia

micrográfica de Mohs da Faculdade

de Medicina do ABC

laboratório, procedimento que pode

levar até uma semana.

Em entrevista, o Dr. Luiz Roberto

Terzian, mestre pelo Hospital das

Clínicas da Faculdade de Medicina da

Universidade de São Paulo (HCFMUSP),

professor e coordenador da cirurgia

micrográfica de Mohs da Faculdade de

Medicina do ABC, explica as vantagens

da técnica e mostra um mercado ainda

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mrdescoberta

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pouco explorado por dermatologistas

brasileiros, uma área que requer

estrutura laboratorial, trabalho conjunto

e é bem diferente da área cosmética,

coqueluche na especialidade. As

novidades em cirurgias dermatológicas

têm foco no aprendizado,

especialização e investimento.

Como foi o início da cirurgia

micrográfica mundialmente? E no

Brasil?

A cirurgia micrográfica de Mohs foi

criada na década de 30 pelo Dr.

Frederic Mohs nos Estados Unidos e

se tornou popular após a década de

70, quando passou a ser feita com

congelação intraoperatória, como é

feita nos dias de hoje.

Na década de 90, tornou-se padrão

para o tratamento dos tumores de

pele e anexos nos Estados Unidos.

No Brasil, o método começou no

fim dos anos 80, e apenas na última

década vem tendo um crescimento

progressivo no número de cirurgiões

habilitados. Assim mesmo, não chega

a 30 cirurgiões em todo o País. Ainda

é muito pouco conhecida pelos

médicos e pacientes e surge como

uma “excelente novidade”, tendo

ainda ineditismo na mídia.

Como a técnica de cirurgia

micrográfica mais difundida

funciona?

A técnica de Mohs é utilizada para a

remoção de tumores de pele, na qual

se faz mapeamento e exame histológico

por congelação da totalidade das

margens do tecido retirado.

Se há tumor nas margens, sua

localização exata é detectada e uma

nova remoção é realizada apenas

neste local. O material também

é totalmente examinado e fases

sucessivas são realizadas até a

extirpação total do tumor.

Quais são as vantagens desse tipo

de técnica?

A chance de recidivar com a cirurgia

micrográfica de Mohs é a menor,

quando comparada com todas as

outras técnicas disponíveis. Nas

outras técnicas, as margens do tecido

removido não são avaliadas na sua

totalidade, nem no ato operatório,

nem depois. Isso leva a maiores

índices de recidiva mesmo quado o

exame mostra margens livres, pois

ilhas de tumor residual podem passar

despercebidas no exame histológico

convencional.

Ela também permite remover o

tumor com pequenas margens, uma

vez que será totalmente mapeado e

examinado no ato operatório. Isso

evita a remoção de grandes “margens

de segurança”, o que precisa

ser realizado nas outras técnicas

cirúrgicas que não conseguem

examinar totalmente o material

removido. Para evitar recidivas

nas outras técnicas, preconiza-se

a retirada de grandes margens de

segurança, o que leva a maiores

danos estéticos e funcionais. Essa

preservação é fundamental nos

tumores faciais, especialmente em

áreas como as pálpebras, nariz, lábios

e orelhas, onde a remoção de muito

tecido (muitas vezes desnecessária)

leva a danos estéticos e funcionais

muito importantes.

Na cirurgia de Mohs, é o próprio

cirurgião que faz a retirada do tumor,

o mapeamento, o preparo do material

para congelação, a análise histológica

das lâminas, a marcação no mapa das

áreas com tumor residual, a retirada

de fases adicionais e a reconstrução

da ferida.

Ele realiza todas as etapas da

cirurgia, o que leva a uma perfeita

correlação entre a clínica, a cirurgia e a

histopatologia, além do mapeamento

minucioso, com a exata localização

dos pontos onde ainda houver tumor.

Com isso se obtêm os maiores índices

de cura com o mínimo dano estético e

funcional.

Na quase totalidade dos casos a ferida

operatória é fechada no mesmo ato

cirúrgico com total segurança, pois

todas as margens foram avaliadas.

A cirurgia pode ser realizada em

hospital ou ambulatório, com

anestesia local ou sedação e alta no

mesmo dia.

Quais são os cuidados pré e pós-

operatórios da cirurgia?

Iguais aos das outras técnicas

cirúrgicas. Pré: exames de sangue,

biopsia para confirmar o tumor,

avaliação clínica e cardiológica.

Pós: troca de curativos, analgésicos

e antibióticos quando necessário

e retirada de pontos em até duas

semanas.

Quais são as desvantagens do

procedimento?

A necessidade de um bom preparo e

treinamento do cirurgião micrográfico,

que deve dominar várias áreas:

oncologia cutânea, dermatologia,

cirurgia dermatológica avançada, a

técnica da cirurgia micrográfica de

Mohs (corte, preparo do material

e mapeamento), histopatologia e

técnicas de reconstrução de feridas

operatórias.

A cirurgia é mais demorada e

minuciosa e precisa do aparelho

crióstato na sala cirúrgica ou anexo

a ela, para realizar a congelação. Os custos iniciais também são mais altos,

porém por ter maior cura e menor

índice de reoperação, tem custos

finais semelhantes aos da cirurgia

convencional.

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TESTOSTERONAe câncer de próstata por EDUARDO B. BERTERO*

NO ANO DE 2006 FOI LANÇADO AQUI NO BRASIL E EMMUITOS LUGARES NO PLANETA UMA NOVA FORMULAÇÃO DE

REPOSIÇÃO HORMONAL MASCULINA (TRT) QUE CONSISTE EM UMA

INJEÇÃO INTRAMUSCULAR A CADA 90 DIAS OU 4 VEZES AO ANO.

Molécula de testosterona

*Fellow pela Universidade de

Boston, EUA

Mestrado em Ciências

pela Faculdade de Medicina da

Universidade de São Paulo

Médico Assistente do

Departamento de Urologia do

Hospital do Servidor Público

Estadual de São Paulo, SP

e-mail: [email protected]

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mrartigo

artigo Bertero.indd 48 26/01/11 16:45

A REPOSIÇÃO HORMONAL MASCULINA QUANDO BEM INDICADA PELO MÉDICO É SEGURA, EFICAZ E

CONFIÁVEL"

fins competitivos ou até mesmo por

narcisismo e acabam tomando doses

muito acima dos níveis fisiológicos.

Gosto sempre de esclarecer que

esse mau uso pode levar a sequelas

graves como infertilidade e eventos

cardiovasculares e que, muitas vezes,

podem ser irreversíveis.

Tudo começou em 1941 quando um

cientista chamado Charles Huggins

descobriu que, ao frear a produção de

testosterona em homens portadores

de câncer de próstata avançado,

conseguia-se o regresso do tumor.

Em outras palavras, inibindo-se a

produção de testosterona parava-

se o crescimento do tumor de

próstata. Pois bem, essa teoria é

bem aceita e não posso negar que

muitos tumores de próstata regridem

ao bloquearmos a produção desse

se as estatísticas nos mostram que

nos homens mais maduros existe

uma diminuição de testosterona

circulante naturalmente?

Vários pesquisadores já têm mostrado

inclusive que homens com níveis de

testosterona muito baixos têm maior

chance de ter câncer de próstata

que homens com níveis normais do

hormônio masculino circulante. Além

do mais, cientistas já mostraram

que quanto mais baixo o nível de

testosterona mais agressivo e maligno

poderá ser aquele tumor de próstata.

Alguns médicos mais atrevidos têm

administrado reposição hormonal

de testosterona em homens que já

foram tratados de câncer de próstata,

seja por braquiterapia ou cirurgia

convencional. Isso é um sinal de que a

TRT é segura e não traz consequências

hormônio. O problema é que ninguém

conseguiu provar o contrário ou seja:

que administrar testosterona em

homens com próstatas normais irá

produzir câncer de próstata nesta

população. Criou-se, mesmo assim,

um paradigma, de que reposição

hormonal masculina poderia causar

câncer de próstata.

Na verdade, a incidência de câncer

de próstata aumenta conforme a

população masculina envelhece e

é na faixa etária mais avançada que

encontramos a maior frequência

de homens com diminuição de

testosterona e DAEM. Então não

é contraditório? Como podemos

afirmar que a reposição de

testosterona causa câncer de próstata

maléficas com respeito a doenças da

próstata.

Um estudo publicado recentemente na

revista internacional The Journal of the

American Medical Association (JAMA),

uma das mais respeitadas no mundo

científico e de pesquisa, mostrou

através de biopsias em próstatas de

homens submetidos a TRT que não

ocorria nenhuma alteração relevante

na próstata, muito menos, formação

de câncer nos pacientes estudados.

Em suma, a reposição hormonal

masculina quando bem indicada pelo

médico é segura, eficaz e confiável,

mas todo homem acima de 45 anos

deverá continuar a fazer exames

anuais. Como rastreamento para

doenças da próstata.

Como a procura e utilização desse

produto têm se intensificado nos

últimos meses por homens que sofrem

de “andropausa” ou deficiência

androgênica do envelhecimento

masculino (DAEM), também tem

aumentado a discussão sobre os

efeitos adversos que a reposição

hormonal poderia causar sobre o

corpo humano. O mais polêmico é

um eventual efeito cancerígeno na

próstata.

Gostaria de esclarecer que a reposição

hormonal da qual sou defensor em

nada se compara ao uso abusivo

de testosterona por jovens em

academias esportivas espalhadas pelo

país. Essa é uma forma criminosa

de uso indevido do hormônio para

fins puramente anabolizantes. São

jovens que estão à procura do

aumento da massa muscular para

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artigo Bertero.indd 49 26/01/11 16:46

O tratamentopré-hospitalar do infarto do miocárdioNO BRASIL JÁ É UMA REALIDADE?por FÁBIO AUGUSTO DE LUCA*

AS DOENÇAS CARDIOVASCULARES SÃO AS PRINCIPAISRESPONSÁVEIS PELA MAIOR TAXA DE MORBI-MORTALIDADE NÃO SÓ

NO BRASIL COMO NO RESTO DO MUNDO, DADOS DA WORLD HEART

FEDERATION ESTIMAM QUE CERCA DE 17,1 MILHÕES DE CASOS POR

ANO NO PLANETA SÃO CAUSADOS POR ESSE GRUPO DE DOENÇAS.

* Médico Especialista em

Clínica Médica e Cardiologia

Doutorado pela Universidade

de São Paulo

Professor de Cardiologia e

Clinica Médica da Universidade de

Santo Amaro

Chefe do Setor de Clínica

Médica do Hospital Estadual do

Grajaú – SP

Responsável Técnico e

coordenador do Setor de

Cardiologia da Casa da Esperança

de Santo André e do Hospital Alta

Complexidade Vida’s

Coordenador Executivo

do Projeto TIME (Treinamento

Integrado em Medicina de

Emergência)

Com isso determina-se que cerca

de 30% do número total de mortes

no mundo ocorre por doenças

cardiovasculares e nesse grupo o

infarto agudo do miocárdio (IAM) é

a causa mais incidente com cerca de

7,2 milhões de óbitos, seguido dos

acidentes vasculares cerebrais com

cerca de 5,7 milhões.

Em nosso país cerca de 300 mil mortes

por ano são atribuídas ao IAM. Nesse

contexto o infarto agudo do miocárdio

com supradesnivelamento do

segmento ST (IAMST), caracterizado

pela oclusão total da artéria coronária,

apresenta dados ainda mais

preocupantes, pois a mortalidade

antes do atendimento hospitalar

primário chega a taxas próximas a

50%. Esse dado é muito significante

pois demonstra claramente o principal

inimigo após o início do quadro: o

tempo.

Em relação aos dados do estudo

GREAT (1999), observa-se a

preocupação dos autores na época em

relacionar a evolução da doença ao

tempo. Nesse estudo ficou evidenciado

que cada minuto perdido até tomarem-

se medidas para reperfusão coronária

nas 3 primeiras horas custa ao

paciente um decréscimo de 11 dias

na expectativa de vida. Portanto, um

retardo de 30 minutos por indecisão ou

por falta de ferramentas terapêuticas

pode significar praticamente um ano

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mrartigo

artigo.indd 50 26/01/11 19:23

a menos de vida, contando com a

hipótese de que o paciente esteja

no grupo de 50% que conseguem

aguentar o quadro até a chegada ao

hospital.

Diversos estudos demonstraram ao

longo dos anos que a intervenção

coronariana percutânea - angioplastia

(ATC) primária -, quando comparada

à trombólise, apresenta menores

taxas de mortalidade e de eventos

combinados como reinfarto e

necessidade de revascularização de

urgência. Esse dado é confirmado

principalmente quando temos um

tempo entre o início do atendimento e

a insuflação do balão de angioplastia

menor que 90 minutos, tempo esse

denominado porta-balão.

No entanto, significativos atrasos

que ocorrem desde o atendimento

emergêncial (hospitalar ou pré-

hospitalar) até a chegada aos setores

de hemodinâmica, modificam

totalmente o prognóstico do paciente

e determinam a necessidade do

desenvolvimento de uma cadeia de

procedimentos que vise viabilizar

a rápida chegada desses pacientes

aos centros de hemodinâmica ou

que promova a implementação do

tratamento farmacológico efetivo e

rápido, de preferência em âmbito pré-

hospitalar.

O embasamento do uso da terapia

trombolítica pré-hospitalar foi

confirmado por importantes estudos

clínicos como: CAPTIM, PRAGUE 2 e

VIENNA; nos quais a administração

pré-hospitalar da terapêutica

fibrinolítica promoveu desfechos

clínicos semelhantes ou superiores

à ATC primária, principalmente em

pacientes tratados no período das

duas primeiras horas após o início

dos sintomas. Confirmando esses

dados o registro do SAMU francês

(estudo FAST-

MI) apresentou

dados similares

(figura 1),

com índice de

mortalidade

do tratamento

pré-hospitalar

abaixo das taxas

encontradas com

ATC primária.

Na figura 2

observamos, no

mesmo estudo

FAST-MI, o

tempo de retardo

promovido por

cada modalidade

terapêutica,

dado relacionado

diretamente

como o resultado

do estudo e

determinando

mais uma vez

a necessidade

da abordagem

precoce e

redução do

tempo para ínicio

da estratégia de

reperfusão.

Dados mais

recentes

apresentados

pelo Dr. Timothy

em consideração as chances de o

paciente atingir as metas de tempo

para a realização da revascularização

da coronária, seja essa por trombólise

ou por ATC. A conclusão do estudo

destaca a segurança da realização

da trombólise no pré-hospitalar e

em setores de emergência de áreas

afastadas (rurais). O autor enfatiza que

a prática da trombólise não inviabilizou

a posterior realização sistemática de

cateterismo cardíaco seguido ou não

Figura 1 – Dados de mortalidade de acordo com a terapêutica, dados do

estudo FAST-MI.

Figura 2- Tempo médio para a realização dos métodos de reperfusão no

estudo FAST-MI.

Estudo: FAST - MI(French Registry on Acute ST-elevation and non ST-elevation MI)

Estudo: FAST - MI(French Registry on Acute ST-elevation and non ST-elevation MI)

Mortalidade – 30 dias

Tempo de reperfusão

PTCA

Hospitalar

Pré-Hospitalar

13%

ConservadorHospitalarPré-Hospitalar

Danchin, N ESC 2006

Danchin, N ESC 2006

PTCA

7,6%8,8%

4:55 h

3 h

3,1%

1:42 h

D. Henry estimam que nos Estados

Unidos da América menos de 25%

dos hospitais do país são capazes de

receber pacientes com IAM e realizar

angioplastia primária 24 horas/dia. Em

artigo publicado no Journal of America

College of Cardiology (JACC), o autor

destaca a importância de estudos

regionais para a implementação

de estratégias que determinem o

melhor tratamento na fase aguda

do infarto do miocárdio, levando

mr107 | 51

artigo.indd 51 26/01/11 19:23

de ATC, estratégia essa denominada

como farmacoinvasiva.

Pensando em termos nacionais,

destaca-se que em nosso país o

número de hospitais com serviço

de hemodinâmica é bem menor

em relação aos EUA (algo em torno

de 4-6%) e que as características

geográficas do Brasil, como a

sua grandeza territorial, grandes

distâncias (entre pacientes no interior

do país e os centros de excelência),

o trânsito intenso (principalmente nas

grandes metrópoles) e a escassez de

recursos na maioria das cidades do

país, culminam em número elevado de

pacientes que não recebem nenhum

tratamento efetivo de reperfusão

coronária.

Uma das possíveis soluções para

as altas taxas de pacientes que

não recebem nenhum tratamento

de reperfusão é a trombólise pré-

hospitalar. Para a implemetação dessa

forma terapêutica foram necessários

alguns avanços tecnológicos,

entre eles: o desenvolvimento

de transmissão de dados de

eletrocardiograma (para confirmação

a distância do diagnóstico por uma

central), capacitação profissional, e

principalmente o desenvolvimento

de um trombolítico que reunisse

características para uso pré-hospitalar.

Sendo assim, o trombolítico que

demostrou um perfil farmacológico

com ação fibrino-específica, com boa

porcentagem nas taxas de reperfusão

(o mais alto quando comparado a

todos os outros trombolíticos), e

com facilidade posológica através de

ajuste de dose conforme peso e a

possibilidade de infusão intravenosa

em bolus foi o tenecteplase

(METALYSE®).

Com o avanço de política pública

de saúde focada em unidades de

atendimento

de emergência

como as atuais

UPAs (Unidades

de Pronto

Atendimento)

e AMAs

(Atendimento

Médico

Ambulatorial),

tem-se

observado a

regionalização do

atendimento dos

casos de infarto

do miocárdio,

muitas vezes

pela dificuldade

de locomoção

(distância ou

tráfego intenso)

os pacientes

em vez de

procurarem

hospitais

especializados

em cardiologia

buscam socorro

próximo. E

nesses casos o

atendimento,

na sua grande

maioria, é feito

por médicos

que não são

cardiologistas

de formação. O

foco atual deve

ser, então, dar

suporte para

que o clínico

acetilsalicílico, clopidogrel, nitratos,

betabloqueadores, morfina e

enoxaparina (respeitando em todos os

casos suas contraindicações). Por se

tratarem de unidades não hospitalares,

os pacientes devem ser submetidos à

medida de reperfusão o mais rápido

possível. A preferência é o uso do

Figura 3 – Gráfico dos estudos sobre estratégia farmacoinvasiva: CARESS, o

NORDISTEMI e o TRANSFER-AMI

Estudos com Estratégia Farmacoinvasiva

0.3

0.2

0.1

0.060 120 180 240 300 360

NORDISTEMI

Early invasive group

Conservative group

Log rank p=0.01

DiMario C. Lancet 2008; Canto WJ. N. Engl J Med 2009; Bohmer E. J Am Coll Cardiol 2009

geral ou qualquer outro especialista de

plantão, com o auxílio a distância de

centrais que confirmem o diagnóstico

eletrocardiográfico, possam iniciar o

tratamento-padrão imediatamente,

com a monitorização do paciente,

acesso venoso, oxigenoterapia e de

forma sequencial ministrar o ácido

0.20

0.15

0.10

0.05

0.005 10 15 20 25 30

P=0.004 Standard treatment

Routine early PCI

TRANSFER-AMI

12

10

8

6

4

2

0

Standard care/rescue PCIImmediate PCI

Log rank p=0.004

CARESS-in-AMI

52 | mr107

artigo.indd 52 26/01/11 19:23

tenecteplase; salienta-se que outros

trombolíticos com estreptoquinase e

alteplase não têm seu uso aprovado

no pré-hospitalar.

Nesse contexto, observa-se nos

últimos 3 anos um aumento

considerável do uso de terapia

trombolítica pré-hospitalar no

Brasil, destacando-se os excelentes

resultados nas UPAs do Rio de

Janeiro coordenadas pelo Coronel Dr.

Fernando Suarez, da mesma forma

a ação de alguns SAMUs (Serviço de

Atendimento Móvel de Urgência),

exemplificados neste texto pelo

extraordinário trabalho desenvolvido

pelo Dr. Francisco Saraiva e Dr. Hansen

em Campinas e pelo Dr. Ivan Paiva em

Salvador.

No que tange à evolução terapêutica

e aos caminhos a seguir futuramente,

acreditamos que o Brasil vem

evoluindo e acompanha a tendência

de novos estudos com o uso precoce

dos trombolíticos, principalmente

no campo pré-hospitalar, sendo a

estratégia farmacoinvasiva um dos

principais conceitos em evolução.

Resultados de vários estudos nos

últimos anos, como o CARESS,

o NORDISTEMI e o TRANSFER-

AMI (Figura 3), apontam para o

benefício de uma estratégia que

não exclui a associação do método

farmacológico e hemodinâmico, e

pode assim associar a redução de

tempo no tratamento promovida

pela trombólise pré-hospitalar e

as taxas de reperfusão e patência

do vaso promovidas pelo método

hemodinâmico.

Apesar das vantagens da

angioplastia primária no IAMST,

a trombólise é o tratamento

mais realizado no Brasil, devido

à disponibilidade e dificuldade

de acesso aos serviços de

hemodinâmica em tempo hábil.

Metanálise recém-divulgada pelo

European Journal of Cardiology

sugere que a intervenção coronária

percutânea (ICP) rotineira em

menos de 24 horas após tratamento

trombolítico é segura e efetiva.

Os autores destacam que muitas

condições clínicas dos pacientes nas

primeiras horas de um IAMST como:

disfunção ventricular, arritmias ou

instabilidade hemodinâmica devem

ser avaliadas antes de considerar

o transporte para a realização do

procedimento percutâneo.

Atualmente, a indicação de ICP com 3

a 24 horas pós-trombólise é classe IIa,

com nível de recomendação A, pelo

consenso americano. A IV Diretriz da

Sociedade Brasileira de Cardiologia

sobre Tratamento do Infarto Agudo

do Miocárdio com Supradesnível do

Segmento ST, baseada em estudos

prévios que comparavam < 24 h com

>72 h pós-trombólise, indica como

classe I em pacientes com evidência

de isquemia miocárdica espontânea

(por exemplo, angina em repouso pós-

infarto) e classe IIa em pacientes com

lesão residual significativa e presença

de viabilidade miocárdica.

Como dito anteriormente, a

capacitação profissional é nosso foco

evidentemente. No Brasil, o projeto

TIME (Treinamento Integrado em

Medicina de Emergência) promove

há 3 anos um curso de imersão para

a evolução terapêutica do IAMST.

O foco é a atualização de médicos

e enfermeiros emergencistas e

do SAMU, para que a decisão do

profissional se torne mais rápida e

precisa para a reperfusão coronariana,

aumentando assim as chances de

sobrevida dos pacientes.

Apresentando resultado

extremamente significativo na

capacitação desses profissionais de

saúde, o projeto TIME já ultrapassou

a marca de 2000 profissionais

treinados em mais de 25 cidades

visitadas. Com a idealização e

coordenação geral do Prof. Dr. Sérgio

Timerman (INCOR-SP), o projeto

tem o apoio da SBCM e o apoio

institucional da Boehringer-Ingelheim

e deve, em 2011, promover mais 25

cursos, contando com a presença de

cardiologistas renomados como o Dr.

Silvio Pantaleão, Dr. André Feldman,

a enfermeira Vivianne Spinola, o

Dr. João Moraes, entre outros. Irá

capacitar aproximadamente mais

1000 profissionais.

Desse modo, a trombólise pré-

hospitalar no Brasil já é uma realidade,

que no entanto tem um longo e árduo

caminho pela frente e que conta com

algumas respostas que poderão ser

dadas por estudos em andamento,

como o STREAM, e a participação

ativa da classe médica apoiada por

diversas entidades, tendo destaque

a SBC (Sociedade Brasileira de

Cardiologia) na figura do presidente

Dr. Jorge Ilha, que tem desenvolvido

ações seguras e fundamentais para

o combate ao infarto agudo do

miocárdio.

Referências:

Cardiovascular interventions. JACC [On-line].

2009;2(10):931-3.

J Amer Coll Cardiol. 1997 Nov 1.

NEJM.2009 Jun 25;360(26):2705-18.

The Lancet. 371(9612):559-68.

N Engl J Med. 2009;360:2779-81.

J Am Coll Cardiol. 2010;55:102-10.

N Engl J Med. 1997;337:1159-61.

Eur Heart J. 2010 Oct 28. [Epub ahead of print].

mr107 | 53

artigo.indd 53 26/01/11 19:23

HIPERTENSÃO ARTERIAL:a importância das evidências para a prática clínica diária por JOSÉ CESAR

BRIGANTI*

O TRATAMENTO DA HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA(HAS) ASSUMIU ORIENTAÇÕES DIVERSAS AO LONGO DE DÉCADAS

E DETERMINADOS CONCEITOS, TIDOS COMO VERDADEIROS NUM

PERÍODO, À LUZ DOS QUAIS SE EXERCIA A BOA PRÁTICA MÉDICA E SE

CALÇAVA PRATICAMENTE TODA A TERAPÊUTICA, POR VEZES CAÍRAM

EM DESUSO NA MESMA VELOCIDADE EM QUE FORAM ANUNCIADOS,

INDO PRECOCEMENTE DORMIR NO BAÚ DA HISTÓRIA DA MEDICINA.

54 | mr107

mrartigo

artigo hipertensão.indd 54 26/01/11 16:58

por JOSÉ CESAR BRIGANTI*

EM 1967, UM ESTUDO O VETERAN ADMINISTRATION COOPERATIVE STUDY TORNARIA-

SE, A PARTIR DE ENTÃO, NÃO SOMENTE UM DOS BALIZADORES DE TRATAMENTO, MAS TAMBÉM, E PRINCIPALMENTE, UM PRECURSOR DA CHAMADA

MEDICINA BASEADA EM EVIDÊNCIAS.

*Cardiologista

Vice-presidente da SOCESP -

Regional São Carlos

Médico preceptor da Faculdade

de Medicina da UFSCar

Nas primeiras décadas do século

passado (1920-30) não havia sequer

consenso quanto ao nível pressórico

ideal no ser humano e a realização de

flebotomias (sangrias) sucessivas era

uma prática aceita e estimulada, à falta

de melhores alternativas.

Os anos seguintes não se mostraram

mais promissores, a gênese da

hipertensão permanecia desconhecida

e demoraria ainda décadas para vir

a ser parcialmente decifrada, sendo

regra a prescrição de substâncias

sem qualquer embasamento

fisiopatológico e absolutamente

inócuas terapeuticamente, tais

como os sedativos barbitúricos

ou as teobrominas. A cirurgia de

simpatectomia bilateral trazia benefício

quando realizada em portadores de

HAS maligna ou em insuficiência

cardíaca franca, mas a recrudescência

de níveis pressóricos elevados com o

passar do tempo era inevitável.

Por volta dos anos 50, os melhores

clínicos só podiam lançar mão com

alguma eficácia terapêutica do

repouso no leito e de uma dieta

praticamente isenta de sal – baseada

em arroz, frutas e açucarados – que de

tão insípida e de difícil aceitabilidade

fazia o doente optar por conviver com

a hipertensão e seus males.

Não tardaram a surgir, embaladas no

sucesso da simpatectomia, as drogas

que produziam uma “simpatectomia

farmacológica”, cujo último

representante vivo no mercado hoje,

ainda que moribundo, é o trimetafan.

Aparecem nos anos seguintes os

alcaloides de rauvólfia, representados

pela reserpina, que durante anos

foi largamente utilizada às expensas

de seus indesejáveis e múltiplos

efeitos colaterais. Datam dessa

época também a hidralazina, a

acetazolamida e a alfametildopa,

esta a droga de escolha até os dias

atuais no tratamento da hipertensão

específica da gestação. O surgimento

dos diuréticos tiazídicos – drogas de

boa tolerabilidade, baixa incidência

de efeitos colaterais graves, custo

acessível e comprovada ação

terapêutica benéfica – foi um marco no

tratamento da HAS e, não sem razão,

esse grupo de drogas é ainda hoje

reconhecido como de importância

capital e indispensável na terapêutica.

Os betabloqueadores, representados

primeiramente pelo propranolol,

na década de 60, foram

entusiasticamente recebidos e

imediatamente ocuparam, na

terapêutica, lugar de destaque

juntamente com os diuréticos. No

início dos anos 60, preconizava-se

como boa prática terapêutica da

HAS o tratamento somente daqueles

hipertensos com uma pressão arterial

(PA) diastólica de 130 mmHg e com

lesões na retina configurantes da

retinopatia hipertensiva. Os médicos

costumam denominar de PA sistólica

e diastólica as chamadas pressões

máxima e mínima, respectivamente,

sendo considerado nível de

normalidade uma PA de 120/80

mmHg (ou popularmente 12 por 8 ).

Portanto, só aqueles com níveis muito

elevados de pressão arterial, pelo seu

risco conhecido, eram candidatos a

receberem medicamentos. Enquanto

os outros hipertensos menos graves

não se enquadravam no contexto

dentro do qual o tratamento resultaria

em algum benefício. Morria-se

predominantemente em decorrência

desse estado patológico ou por

insuficiência cardíaca congestiva,

coronariopatia, insuficiência renal ou

ruptura da aorta.

Em 1967, um estudo, o Veterans

Administration Cooperative Study

tornaria-se, a partir de então,

não somente um dos balizadores

de tratamento, mas também, e

principalmente, um precursor da

chamada medicina baseada em

evidências. Desenhado para estudar

143 pacientes com uma pressão

arterial diastólica >130 mmHg,

exclusivamente homens com idade

média de 50 anos, que foram

divididos em dois grupos, um dos

quais submetido a tratamento com

as drogas anti-hipertensivas então

disponíveis, e o outro com placebo.

A diferença de resultados entre os

grupos foi tão discrepante a favor do

grupo tratado com medicamentos

mr107 | 55

artigo hipertensão.indd 55 26/01/11 16:58

que o estudo foi precocemente

interrompido e tratar-se pacientes

com quadro semelhante passou a ser

mandatório.

O tratamento da HAS nunca mais

seria o mesmo. A evolução clínica

dos hipertensos tratados e a visão de

tratamento dos médicos, também não.

As evidências começaram a modificar

o curso da terapêutica e as pesquisas

passaram a ter o poder, outrora

pertencente ao professor-doutor, de

influenciar na prescrição dos médicos.

Os estudos se sucederam (HDFP,

ANBP, IPPPSH, MRC, SHEP, STOP,

SystEur, MAPHY, HAPPHY, HOT) e

incluíram número progressivamente

maior de pacientes – mulheres,

idosos, negros, diabéticos, renais

crônicos, coronariopatas, portadores

de hipertensão sistólica isolada,

miocardiopatas. Deu–se início a um

reinado, no território terapêutico, das

dinastias betabloqueador e tiazídica,

que se mantiveram alternadamente

no poder por anos, ora uma, ora

outra, ora associadas. Entretanto,

as evidências (sempre elas) não

reservariam aos betabloqueadores

a mesma sorte reservada à dinastia

tiazídica e agora as mesmas se

encarregariam de desbancar os

betabloqueadores, roubando-lhes

títulos outrora outorgados.

De medicamentos de primeira linha no

tratamento passaram para a quarta ou

quinta posição, de santos a pecadores,

de reis a plebeus, sendo acusados

de não somente piorarem o perfil

metabólico de pacientes diabéticos

como causarem o aparecimento

de novos quadros de diabetes em

hipertensos sob o seu uso. E ainda

foram responsabilizados por não

conferirem na realidade o benefício de

evitar infartos, derrames na magnitude

que se acreditava.

Era o começo do fim da dinastia

betabloqueador. O lugar de destaque

ainda hoje ocupado pelos tiazídicos

é o maior exemplo de como uma

droga eficaz pode persistir no arsenal

terapêutico de gerações de médicos

e ainda ser reverenciada, em especial

após ter referendadas as evidências de

seu beneficio no estudo ALLHAT.

Novas drogas, como os bloqueadores

de canal de cálcio e os interventores

no sistema renina-angiotensina,

passaram a desfrutar do prestígio

de serem agora as prediletas

dos prescritores. À luz das novas

evidências, foi-lhes confiada a

capacidade de conferir verdadeira

proteção aos riscos cardiovasculares

a que os pacientes hipertensos estão

submetidos.

Com as novas drogas vieram novos

estudos marcantes e influentes,

como HOPE, RENAAL, IDNT, VALUE,

LIFE, ASCOTT-BPLA, ACCOMPLISH,

e com eles, as novas evidências.

Estas trouxeram a reboque o

conceito de “mais baixa é melhor”,

preconizando que pacientes com AVC

prévio, diabetes, doença renal ou

coronariopatas, beneficiavam-se mais

quando níveis de PA mais próximos

ou inferiores a 120/80 mmHg fossem

obtidos no tratamento.

O início do século 21 traz novos

estudos, e as evidências mais recentes

de grandes estudos como ACCORD,

HYVET têm questionado alguns

dogmas do passado recente. Ao

demonstrarem que o conceito “mais

baixa é melhor”, quando buscado

intensivamente, pode carregar consigo

efeitos indesejáveis e provocar até

mesmo aumento da mortalidade em

grupos de hipertensos específicos

(como os diabéticos, idosos ou

coronarianos), acenderam um sinal

vermelho para níveis de PA muito

baixos. Novas evidências, novas

mudanças de conceito.

Sir Arthur Conan Doyle, um médico

cuja maior colaboração talvez tenha

sido a criação do magistral detetive

Sherlock Holmes, valeu-se da medicina

para compor seu personagem que

vivia sempre em busca de evidências.

Consta que tal criação baseou-se na

personalidade de um outro médico,

seu professor na faculdade, Joseph

Bell. Este era notável no meio

científico por ser um sagaz observador

que, utilizando dessa sua característica

ímpar, buscava já ao olhar para

seus pacientes, antes mesmo de

examiná-los, as evidências da doença.

Embora nunca tenha proferido tal

frase em qualquer de suas histórias

(procurem, não há qualquer evidência

dela), consta que Sherlock Holmes

dirigia-se a seu colega, não por mera

coincidência, também médico e

disparava, após formar todo corpo de

evidências:

- Elementar, meu caro Watson!

Em medicina, entretanto, as

evidências não podem nem devem

ser traduzidas sempre como verdades

absolutas e imutáveis, cabendo

a nós, médicos, embasar nossos

preceitos conhecendo detalhes de

estudos bem delineados, analisá-

los profundamente e só então

transpor a evidência anunciada

para a prática clínica diária.

Uma tarefa, enfim, nada elementar.

O INÍCIO DO SÉCULO 21 TRAZ NOVOS ESTUDOS, E AS EVIDÊNCIAS MAIS RECENTES DE GRANDES

ESTUDOS COMO ACCORD, HYVET TÊM QUESTIONADO ALGUNS DOGMAS DO PASSADO RECENTE"

56 | mr107

artigo hipertensão.indd 56 26/01/11 16:58

Contraindicação: CRESTOR™ é contraindicado a pacientes com hipersensibilidade à rosuvastatina cálcica ou aos outros componentes da fórmula. Interação medicamentosa: genfi brozila.

Referências Bibliográfi cas: 1. Jones PH et al. Comparison of the effi cacy and safety of rosuvastatin versus atorvastatin, simvastatin, and pravastatin across doses (STELLAR* Trial). Am J Cardiol 2003;92(2):152-60. 2. Cholesterol Treatment Trialists’ (CTT) Collaborators.Effi cacy and safety of cholesterol-lowering treatment: prospective meta-analysis of data from 90 056 participants in 14 randomized trials of statins. Lancet 2005; 366(9493):1267-78. 3. Olsson AG et al. Effects of rosuvastatin and atorvastatin compared over 52 weeks of treatment in patients with hypercholesterolemia. Am Heart J 2002;144(6):1044-51. 4. Brown WV et al. Effi cacy and safety of rosuvastatin compared with pravastatin and simvastatin in patients with hypercholestolemia : a randomized, double-blind, 52-week trial. Am Heart J 2002;144(6)1036-43. 5. Law MR et al. Quantifying effect of statins on low density lipoprotein cholesterol, ischaemic heart disease and stroke: systematic review and meta-analysis. BMJ 2003;326:1423-29. 6. Crouse III JR et al. Effect of rosuvastatin on progression of carotid intima-media thickness in low-risk individuals with subclinical atherosclerosis : the METEOR trial. JAMA  2007; 297: 1344-53. 7. Nissen SE et al. Effect of very high-intensity statin therapy on regression of coronary atherosclerosis: the ASTEROID trial. JAMA 2006;295:1556-65.

CRESTOR™ ROSUVASTATINA CÁLCICA. CRESTOR™ (ROSUVASTATINA CÁLCICA) É UM SELETIVO E POTENTE INIBIDOR COMPETITIVO DA HMG-COA REDUTASE. INDICAÇÕES: CRESTOR™ DEVE SER USADO COMO ADJUVANTE À DIETA QUANDO A RESPOSTA À DIETA E AOS EXERCÍCIOS É INADEQUADA. EM PACIENTES COM HIPERCOLESTEROLEMIA CRESTOR™ É INDICADO PARA: REDUÇÃO LDL-COLESTEROL, COLESTEROL TOTAL E TRIGLICÉRIDES ELEVADOS; AUMENTAR O HDL-COLESTEROL EM PACIENTES COM HIPERCOLESTEROLEMIA PRIMÁRIA E DISLIPIDEMIA COMBINADA (MISTA); CRESTOR™ TAMBÉM DIMINUI APOB, NÃO-HDL-C, VLDL-C, VLDL-TG, E AS RAZÕES LDL-C/HDL-C, C-TOTAL/HDL-C, NÃO-HDL-C/HDL-C, APOB/APOA-I E AUMENTA APOA-I NESTAS POPULAÇÕES; TRATAMENTO ISOLADO DE HIPERTRIGLICERIDEMIA, REDUÇÃO DO COLESTEROL TOTAL E LDL-C EM PACIENTES COM HIPERCOLESTEROLEMIA FAMILIAR HOMOZIGÓTICA, TANTO ISOLADAMENTE, QUANTO COMO UM ADJUVANTE À DIETA E A OUTROS TRATAMENTOS DE REDUÇÃO DE LIPÍDIOS, SE TAIS TRATAMENTOS NÃO FOREM SUFICIENTES, E RETARDAR OU REDUZIR A PROGRESSÃO DA ATEROSCLEROSE. CONTRA-INDICAÇÕES: CRESTOR™ É CONTRA-INDICADO A PACIENTES COM HIPERSENSIBILIDADE À ROSUVASTATINA CÁLCICA OU AOS OUTROS COMPONENTES DA FÓRMULA. CRESTOR™ É CONTRA-INDICADO A PACIENTES COM DOENÇA HEPÁTICA ATIVA. CRESTOR™ É CONTRA-INDICADO DURANTE A GRAVIDEZ E A LACTAÇÃO E A MULHERES COM POTENCIAL DE ENGRAVIDAR, QUE NÃO ESTÃO USANDO MÉTODOS CONTRACEPTIVOS APROPRIADOS. CUIDADOS E ADVERTÊNCIAS: ADVERTÊNCIAS: FÍGADO: DEVE SER USADO COM CAUTELA EM PACIENTES QUE CONSOMEM QUANTIDADES EXCESSIVAS DE ÁLCOOL E/OU QUE TENHAM UMA HISTÓRIA DE DOENÇA HEPÁTICA. SISTEMA MÚSCULO-ESQUELÉTICO: O TRATAMENTO COM CRESTOR™ DEVE SER INTERROMPIDO SE OS NÍVEIS DE CK ESTIVEREM NOTADAMENTE ELEVADOS (>10 VEZES O LIMITE SUPERIOR DE NORMALIDADE, LSN) OU SE HOUVER DIAGNÓSTICO OU SUSPEITA DE MIOPATIA. CRESTOR™ DEVE SER PRESCRITO COM PRECAUÇÃO EM PACIENTES COM FATORES DE PRÉ-DISPOSIÇÃO PARA MIOPATIA, TAIS COMO, INSUFICIÊNCIA RENAL, IDADE AVANÇADA E HIPOTIREOIDISMO, OU SITUAÇÕES ONDE PODE OCORRER UM AUMENTO NOS NÍVEIS PLASMÁTICOS. O USO DE CRESTOR™ DEVE SER TEMPORARIAMENTE INTERROMPIDO EM QUALQUER PACIENTE COM UMA CONDIÇÃO AGUDA GRAVE SUGESTIVA DE MIOPATIA OU QUE PREDISPÕE AO DESENVOLVIMENTO DE INSUFICIÊNCIA RENAL SECUNDÁRIA À RABDOMIÓLISE (POR EXEMPLO: SÉPSIS; HIPOTENSÃO; CIRURGIA DE GRANDE PORTE; TRAUMA; ALTERAÇÕES METABÓLICAS, ENDÓCRINAS E ELETROLÍTICAS GRAVES; OU CONVULSÕES NÃO-CONTROLADAS). USO DURANTE A GRAVIDEZ E A LACTAÇÃO: CATEGORIA DE RISCO NA GRAVIDEZ: X. MULHERES COM POTENCIAL DE ENGRAVIDAR DEVEM USAR MÉTODOS CONTRACEPTIVOS APROPRIADOS (OUTRAS INFORMAÇÕES VIDE BULA COMPLETA DO PRODUTO). INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS: PODE HAVER INTERAÇÃO MEDICAMENTOSA DE CRESTOR™ COM OS SEGUINTES MEDICAMENTOS: VARFARINA, CICLOSPORINA, GENFIBROZILA, INIBIDORES DA PROTEASE E ANTIÁCIDOS. EM ESTUDOS CLÍNICOS, CRESTOR™ FOI CO-ADMINISTRADO COM AGENTES ANTI-HIPERTENSIVOS, ANTIDIABÉTICOS E TERAPIA DE REPOSIÇÃO HORMONAL. ESSES ESTUDOS NÃO DEMONSTRARAM EVIDÊNCIA DE INTERAÇÕES ADVERSAS CLINICAMENTE SIGNIFICATIVAS (PARA MAIORES INFORMAÇÕES VIDE BULA COMPLETA DO PRODUTO). REAÇÕES ADVERSAS: CRESTOR™ É GERALMENTE BEM TOLERADO. OS EVENTOS ADVERSOS OBSERVADOS COM CRESTOR™ SÃO GERALMENTE LEVES E TRANSITÓRIOS, OS MAIS COMUNS SÃO: CEFALÉIA, MIALGIA, ASTENIA, CONSTIPAÇÃO, VERTIGEM, NÁUSEA E DOR ABDOMINAL (OUTRAS REAÇÕES ADVERSAS VIDE BULA COMPLETA DO PRODUTO). POSOLOGIA: A FAIXA DE DOSE RECOMENDADA É DE 10 MG A 40 MG, ADMINISTRADOS POR VIA ORAL EM DOSE ÚNICA DIÁRIA, COM ÁGUA, INDEPENDENTE DO HORÁRIO DAS REFEIÇÕES, DE PREFERÊNCIA NO MESMO HORÁRIO TODOS OS DIAS. A DOSE MÁXIMA DIÁRIA É DE 40 MG. HIPERCOLESTEROLEMIA PRIMÁRIA (INCLUINDO HIPERCOLESTEROLEMIA FAMILIAR HETEROZIGÓTICA), DISLIPIDEMIA COMBINADA, HIPERTRIGLICERIDEMIA ISOLADA E TRATAMENTO DA ATEROSCLEROSE: A DOSE INICIAL HABITUAL É DE 10 MG UMA VEZ AO DIA. PARA PACIENTES COM HIPERCOLESTEROLEMIA GRAVE (INCLUINDO HIPERCOLESTEROLEMIA FAMILIAR HETEROZIGÓTICA), PODE-SE CONSIDERAR UMA DOSE INICIAL DE 20 MG. HIPERCOLESTEROLEMIA FAMILIAR HOMOZIGÓTICA: RECOMENDA-SE UMA DOSE INICIAL DE 20 MG UMA VEZ AO DIA. SUPERDOSE: NÃO HÁ UM TRATAMENTO ESPECÍFICO PARA A SUPERDOSAGEM. NO CASO DE SUPERDOSAGEM, O PACIENTE DEVE SER TRATADO SINTOMATICAMENTE E DEVEM SER INSTITUÍDAS MEDIDAS DE SUPORTE CONFORME A NECESSIDADE. APRESENTAÇÕES: EMBALAGENS COM 10 OU 30 COMPRIMIDOS REVESTIDOS DE 10 MG E EMBALAGENS COM 30 COMPRIMIDOS REVESTIDOS DE 20 MG E 40 MG. USO ADULTO/USO ORAL. VENDA SOB PRESCRIÇÃO MÉDICA. PARA MAIORES INFORMAÇÕES, CONSULTE A BULA COMPLETA DO PRODUTO (CRE002). ASTRAZENECA DO BRASIL LTDA., ROD. RAPOSO TAVARES, KM 26,9 - COTIA - SP - CEP 06707-000 TEL.: 0800-0145578. WWW.ASTRAZENECA.COM.BR. CRESTOR™. MS – 1.1618. 0200 / CDS 03/09 – MAIO/2009

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Silva, 42 anos, tabagista, hipertenso, colesterol elevado.

João, 50 anos, hipertenso, já teve um infarto.

A única estatina com indicação na

aterosclerose.6,7

AZCR-0029-EC11-PF03 - Anúncio Dislipidemia (CRESTOR)• Formato: 21 x 28 cm • 4 x 0 cores• 28.07.2009

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indicação na aterosclerose.6,7aterosclerose.qualquer

horário.

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mieloma múltiplo por VANIA HUNGRIA*

MIELOMA MÚLTIPLO (MM) É A SEGUNDA NEOPLASIAHEMATOLÓGICA MAIS FREQUENTE, CORRESPONDE A 1,0% DE

TODAS AS DOENÇAS MALIGNAS E 10% DAS DOENÇAS MALIGNAS

HEMATOLÓGICAS, COM INCIDÊNCIA APROXIMADAMENTE DE 4 POR

100.000. NOS ESTADOS UNIDOS, APROXIMADAMENTE 20.000 CASOS

NOVOS OCORRERAM EM 2009.

COM A INCORPORAÇÃO DAS

NOVAS DROGAS AO TRATAMENTO DO MM

HOUVE AUMENTO SIGNIFICANTE NA

SOBREVIDA DESTES PACIENTES"

Há pouco conhecimento sobre a

incidência e os aspectos clínicos do

mieloma múltiplo na América Latina.

No Brasil, por exemplo, a incidência

de mieloma múltiplo é praticamente

desconhecida, uma vez que a doença

não aparece nas estimativas anuais

fornecidas pelo Instituto Nacional de

Câncer.

Hungria e cols. avaliaram o perfil do

mieloma múltiplo em 16 instituições

brasileiras. Dos 1.112 pacientes

avaliados, no período de 1998 a

2004, havia 49,7% do sexo feminino e

50,3% do sexo masculino, com idade

mediana de 60,5 anos, sendo que a

maioria dos pacientes apresentava

doença avançada (76,2% em estádio III

de Durie & Salmon).

Anemia, fadiga e dores ósseas

constituem a tríade que sugere o

diagnóstico de mieloma múltiplo. Os

critérios mínimos para o diagnóstico

de mieloma múltiplo consistem em

medula óssea com mais de 10% de

plasmócitos ou plasmocitoma, e pelo

menos um dos seguintes achados: (1)

proteína M no soro (geralmente > 3 g/

*Professora Adjunta da Disciplina

de Hematologia e Oncologia da

Faculdade de Ciências Médicas da

Santa Casa de São Paulo, Diretora

Técnica e Presidente do Comitê

Científico da International Myeloma

Foundation da América Latina (IMF),

Membro do Comitê Diretor da

International Myeloma Society

dl); (2) proteína M na urina, e (3) lesões

ósseas líticas.

Apesar de o MM ainda ser considerado

uma doença incurável, o grande

progresso no conhecimento da

58 | mr107

mrartigo

artigo mieloma.indd 58 26/01/11 16:50

patogênese do mieloma está auxiliando

o desenvolvimento de novos agentes

dirigidos ao alvo com potente atividade

antimieloma. Essas novas drogas

estão alterando a história natural do

MM, trazendo melhores resultados ao

tratamento, inclusive aumentando a

sobrevida dos pacientes com MM.

Para estabelecer a estratégia

terapêutica é importante considerar

a idade, performance, status e

presença de comorbidades. Para os

pacientes com boas condições clínicas,

devem ser propostas altas doses de

quimioterapia (melfalano) com resgate

com células precursoras da hemopoese

(transplante autólogo).

O bortezomibe (Velcade®) já foi

incorporado a vários esquemas de

indução que demonstraram altas

taxas de respostas completas e

respostas parciais muito boas, pré

e pós-transplante. O Intergroupe

Français du Myélome (IFM)

investigou a combinação de

bortezomibe+dexametasona versus vi

ncristina+adriblastina+dexametasona

(VAD) como terapia de indução, num

estudo randomizado fase III com 482

pacientes, enquanto que o grupo Italian

Myeloma Network (GIMEMA) está

investigando a eficácia de bortezomibe

em combinação com a talidomida e

a dexametasona (VTD), comparada

com o esquema de TD, administrados

antes e após o duplo transplante.

Em ambos os estudos, a combinação

contendo bortezomibe demonstrou

uma vantagem significante em termos

de resposta completa comparada ao

grupo controle. Além disso, em ambos

os estudos, um benefício significante

foi observado com a combinação

contendo bortezomibe em termos de

sobrevida livre de progressão.

A combinação de bortezomibe,

ciclofosfamida e dexametasona

também está sendo investigada como

regime de indução pelo grupo alemão.

Os resultados da análise interina

demonstraram uma taxa de resposta

global elevada com altas taxas de

resposta completa e resposta parcial

muito boa.

Os pacientes que não são candidatos

às altas doses de quimioterapia,

devem receber combinações com o

melfalano, que desde a sua introdução

em 1962, é o agente quimioterápico

mais utilizado para o tratamento de

mieloma múltiplo.

Na era das novas drogas, assim

como novos agentes têm sido

combinados nas estratégias com

transplante autólogo, também há

novas associações com melfalano e

prednisona para pacientes não elegíveis

às altas doses de quimioterapia.

O estudo randomizado do grupo

italiano que incluiu 331 pacientes

acima de 60 anos, com MM recém-

diagnosticados que receberam

melfalano, prednisona e talidomida

(MPT) ou melfalano e prednisona

(MP) mostrou que os pacientes que

receberam o esquema MPT atingiram

taxas de resposta de 76% (15,5% de

resposta completa) versus 47,6% do

MP (2,4% de resposta completa). A

sobrevida livre de eventos (SLE) em

2 anos com o MPT foi de 54% e do

MP foi 27% (p = 0,0006). Porém, a

sobrevida global (SG) em 3 anos com

o MPT foi de 80% e com o MP, 64%

(p = 0,19). A toxicidade graus 3-4 no

grupo MPT foi significantemente maior

do que no grupo tratado com MP (48%

e 25%, respectivamente, p=0,0002),

sendo os efeitos colaterais mais

graves nos pacientes que receberam

MPT: tromboembolismo, infecções

e neuropatia periférica. Apesar do

aumento da taxa de resposta e

aumento da SLE, o esquemas MPT

apresenta maior incidência de efeitos

adversos graves, sem aumento da

sobrevida global (SG).

O estudo randomizado, fase III (VISTA)

que comparou melfalano, prednisona e

bortezomibe ao melfalano e prednisona,

mostrou que os resultados do braço que

recebeu bortezomibe foram superiores

quanto ao tempo de progressão,

sobrevida livre de progressão, sobrevida

global, tempo para o próximo

tratamento e taxa de resposta completa.

As respostas foram mais rápidas para os

pacientes que receberam bortezomibe.

Com um acompanhamento mediano

de 36 meses, a análise da sobrevida

global aos 3 anos foi de 68,5% para

o braço que recebeu bortezomibe e

de 54% para os que não receberam,

apesar de os pacientes que receberam

melfalano e progrediram terem

recebido bortezomibe na progressão. A

frequência de eventos adversos foi maior

no braço que recebeu bortezomibe

(46% versus 36%). Não houve diferença

quanto à toxicidade hematológica

e os eventos mais frequentes foram

gastrintestinais (20% versus 6%) e

neuropatia periférica (13% versus 0%).

Com a incorporação das novas drogas

ao tratamento do MM houve aumento

significante na sobrevida desses

pacientes.

Apesar de todos esses avanços,

ainda existem grandes desafios para

o tratamento da doença no Brasil.

Ainda precisamos enfrentar a barreira

de acesso a essas novas drogas,

pois essas tecnologias têm um custo

muito alto. Também é preciso difundir a doença e seus sintomas para a

população e para a comunidade

médica, para melhorar o diagnóstico,

já que geralmente os pacientes

demoram cerca de dois anos para

chegarem até o hematologista.

mr107 | 59

artigo mieloma.indd 59 26/01/11 16:50

Beterrraba,SURPREENDENTE PARA TRATAR MIOMASPESQUISADORES EM NOVA YORK, ESTADOSUNIDOS FIZERAM LEVANTAMENTO PROCURANDO

PESQUISAR AS PLANTAS MEDICINAIS UTILIZADAS PELA

POPULAÇÃO CARIBENHA

Fitomedicinapor CECI M C LOPES* NILO BOZZINI**

Órgão oficial da:

Consultoria Científica

Dr. Cezar Bazzani

Conselho Editorial

Dra. Ceci Lopes

Dr. Dagoberto Brandão

Dr. Eduardo Pagani

Dr. José Roberto Lazzarini

Dra. Mônica Menon

Prof. Dr. Paulo Chanel D. Freitas

Como a variedade encontrada era

muito ampla, e muitas das plantas

tinham nomes diferentes conforme

o local investigado, restringiram

o estudo a vários preparados

herbáceos utilizados por imigrantes

dominicanas nos Estados Unidos

para alívio de várias condições

relacionadas, tais como miomas,

menorragia, endometriose e calores

da menopausa. Foram anotadas

ainda outras aplicações, descritas

nos estudos, como emenagogos

(reguladores menstruais) e

abortifacientes (e muitas vezes

essas duas aplicações significavam

o mesmo). Como muitas plantas

não são fáceis de obter nos centros

urbanos, e mesmo em alguns lugares

na própria República Dominicana,

os curandeiros muitas vezes acabam

adaptando suas prescrições às

disponibilidades, incluindo até, em

algumas circunstâncias, plantas não

60 | mr107

mrfitomedicina

fitomedicina ok.indd 60 28/01/11 07:45

Beterrraba,SURPREENDENTE PARA TRATAR MIOMAS

nativas da região caribenha, europeias

e africanas. Foram relacionadas 87

plantas, dentre as quais algumas

se destacaram. Espécies de Agave

foram mencionadas no tratamento

de miomas uterinos, cólica menstrual

e regulação menstrual. Aloe vera

também foi referida como adequada

para remover miomas e limpar o

corpo, com sugestão de que regule

a quantidade menstrual, e também

como abortivo. E os entrevistados

mencionaram enfaticamente a

beterraba (Beta vulgaris L.). Dezenove

plantas eram de uso corrente em Nova

York, e foram citadas especificamente

no tratamento de miomas, seis delas

sendo consideradas adequadas

para tratar menorragia também. Os

autores consideram que, embora

todas tenham algum tipo de estudo,

ao menos na literatura local, há

necessidade de mais investigação1.

O uso, por parte de curandeiros, de

preparado à base de beterraba (Beta

vulgaris L, Chenopodiaceae) e melaço

(produzido a partir de Saccarum

officinarum, a cana-de-açúcar) é

considerado um tratamento bom não

só para os miomas, como também

para endometriose, menorragia e

calores da menopausa.

Os autores explicam as prováveis

formas de ação. Dizem que a

quantidade de fibras vegetais contida

na beterraba pode afetar, ao menos

teoricamente, os níveis estrogênicos,

pois altos níveis de fibras reduzem

a recirculação enteroepática de

estrogênios, aumentando a excreção

urinária e fecal. Como os estrogênios

influem sobre o crescimento dos

miomas, a sua redução seria um fator

inibidor. Além disso, as folhas de

beterraba contêm fitoestrogênios que,

durante a menacma, atuam como

antiestrogênios, e já foi demonstrado

que gado alimentado com essas

folhas apresentou infertilidade e

que houve crescimento do volume

uterino em camundongas (atuação

estrogênica). Por outro lado, a

beterraba é rica em carotenoides,

que também se sabe podem reduzir

o crescimento de miomas, uma vez

que se demonstrou em culturas de

tecidos que as células do músculo liso

contêm receptores do ácido retinoico,

e que há redução dose-dependente

de seu crescimento com ácido

transretinoico. E observou-se que a

anemia tem uma relação interessante

com a beterraba. A coloração da

urina após ingestão dessa raiz é mais

comum em pacientes anêmicos, e

já se demonstrou que a coloração

diminui com a suplementação de

ferro, sugerindo que esse dado possa

ser usado, inclusive, como indicador

da redução da deficiência de ferro em

pacientes tratados. Como os miomas

podem causar anemia ferropriva,

em função do sangramento genital,

essa seria mais uma aplicação da

beterraba, especialmente se associada

ao melaço, rico em ferro. Os autores

comentam que, apesar de inexistirem

estudos clínicos que confirmem o

benefício desse tratamento popular,

ele merece ser considerado e, como

tal, estudado2.

Não encontramos outros estudos,

mas acreditamos que seja um assunto

interessante para ser pesquisado.

Referências

1. Ososki A, Lohr P, Reiff M, Balick M,

Kronenberg F, Fugh-Berman A, O’Connor B.

Ethnobotanical literature survey of medicinal

plants in the Dominican Republic used for

women’s health conditions. 2002; 79: 285-98.

2. Fugh-Berman A, Balick MJ, Kronenberg F,

Osoki AL, O´Connor B, Reiff M, Roble M,

Lohr P, Brosi BJ, Lee R. Letter to the editor. J

Ethnopharmacol. 2004; 92: 337-9.

*Assistente-doutora da Clínica

Ginecológica do HCFMUSP, chefe

do Setor de Fitoginecologia

**Professor livre-docente da

Clínica Ginecológica do HCFMUSP,

chefe do Setor de Miomas

OS AUTORES EXPLICAM AS PROVÁVEIS

FORMAS DE AÇÃO. DIZEM QUE A QUANTIDADE DE FIBRAS VEGETAIS

CONTIDAS NA BETERRABA PODE AFETAR, AO MENOS

TEORICAMENTE, OS NÍVEIS ESTROGÊNICOS,

POIS ALTOS NÍVEIS DE FIBRAS REDUZEM

A RECIRCULAÇÃO ENTEROEPÁTICA

DE ESTROGÊNIOS, AUMENTANDO A

EXCREÇÃO URINÁRIA E FECAL"

mr107 | 61

fitomedicina ok.indd 61 28/01/11 07:45

A coleção Otorrinolaringologia – Cirurgia de Cabeça e

Pescoço é um clássico da especialidade. Adotada pelas

melhores instituições de ensino de medicina do mundo, foi

originalmente publicada em dois volumes. Em sua quarta

edição, está sendo lançada pela primeira vez no Brasil. Para

facilitar o manuseio, a consulta e o aprendizado, foi dividida

nos quatro volumes abaixo descritos:

Volume 1: Otorrinolaringologia Geral – Rinologia, Alergia,

Otologia, Miscelânea

Volume 2: Vias Aéreas, Deglutição, Voz

Volume 3: Otorrinolaringologia Pediátrica

Volume 4: Cirurgia Plástica Facial Estética e Reconstrutora,

Cirurgia de Cabeça e Pescoço, Trauma

A obra completa foi desenvolvida por um experiente grupo

de médicos-cirurgiões-professores, cujo desafio foi criar

um tratado abrangente de otorrinolaringologia, capaz

de ajudar residentes e otorrinolaringologistas a adquirir

domínio cognitivo da especialidade. Em lugar de relacionar

cada novo achado, a informação foi organizada em torno

de um sistema de aprendizado que torna fácil aos médicos

alcançar competência clínica em um mundo em constante

evolução.

OtorrinolaringologiaCIRURGIA DE CABEÇA E PESCOÇO

OTORRINOLARINGOLOGIA GERAL,RINOLOGIA,

ALERGIA, OTOLOGIA, MISCELÂNEA

Quarta Edição – Volume 1

Byron J. Bailey • Jonas T . Johnson

1.376 Páginas – Papel Couché

Formato 21 x 28 cm – Encadernação de Luxo

Ricamente Ilustrado

Editora Revinter

Especialidade: Otorrinolaringologia

VIAS AÉREAS, DEGLUTIÇÃO, VOZ

Quarta Edição – Volume 2

Byron J. Bailey • Jonas T . Johnson

284 Páginas – Papel Couché

Formato 21 x 28 cm – Encadernação de Luxo

Ricamente Ilustrado

Editora Revinter

Especialidades: Otorrinolaringologia e Fonoaudiologia

OTORRINOLARINGOLOGIA PEDIÁTRICA

Quarta Edição – Volume 3

Byron J. Bailey • Jonas T . Johnson

408 Páginas – Papel Couché

Formato 21 x 28 cm – Encadernação de Luxo

Ricamente Ilustrado

Editora Revinter

Especialidades: Otorrinolaringologia e Pediatria

CIRURGIA PLÁSTICA FACIAL ESTÉTICA E

RECONSTRUTORA, CIRURGIA DA

CABEÇA E PESCOÇO, TRAUMA

Quarta Edição – Volume 4

Byron J. Bailey • Jonas T . Johnson

1.192 Páginas – Papel Couché

Formato 21 x 28 cm – Encadernação de Luxo

Ricamente Ilustrado

Editora Revinter

Especialidades: Otorrinolaringologia,

Cirurgia Plástica e Traumatologia

62 | mr107

mrprateleira

prateleira.indd 62 28/01/11 07:49

HérniasDA PAREDE ABDOMINALDIAGNÓSTICO E TRATAMENTOSegunda Edição

Juan Carlos Mayagoitia Gonzáles

534 Páginas – Papel Couché

Formato 21 x 28 cm – Encadernação de Luxo

Ricamente Ilustrado em 4 Cores

Editora Revinter

Especialidades: Cirurgia, Gastroenterologia

A cirurgia herniária, como parte da formação do

cirurgião geral, é, atualmente, uma das áreas em grande

desenvolvimento na pesquisa clínica e tecnológica, tanto por

parte de cirurgiões interessados no tema, como da indústria

de dispositivos e próteses para hernioplastias a céu aberto

e por laparoscopia. Nesta nova edição, foram atualizados os

conceitos básicos das técnicas livres de tensão e adicionadas

novidades no tratamento integral avançado dos problemas

herniários, entre eles: prevenção, fatores predisponentes,

manejo adequado do fechamento de laparotomias e

abdomens abertos, diagnóstico pré-operatório correto,

técnica cirúrgica, manejo ambulatorial integral, prevenção e

reconhecimento de complicações pós-operatórias.

Ergometria,REABILITAÇÃOCARDIOVASCULAR &CARDIOLOGIA DESPORTIVAWashington Araujo

671 Páginas – Papel Couché

Formato 21 x 28 cm – Encadernação de Luxo

Ricamente Ilustrado em 4 Cores

Editora Revinter

Especialidade: Cardiologia

Ergometria, Reabilitação Cardiovascular & Cardiologia

Desportiva foi a obra que norteou a formação de um

grande número de ergometristas durante muitos anos.

Nesta nova edição, praticamente toda reescrita, o autor

manteve os objetivos da edição anterior, que tornava o

leitor apto a realizar e interpretar o teste ergométrico após

concluir a leitura. Com a colaboração dos mais destacados

nomes na especialidade, esta obra volta a ocupar seu

espaço na literatura médica brasileira e na mesa de trabalho

de todo profissional interessado no assunto.

mr107 | 63

prateleira.indd 63 28/01/11 07:49

SOCIEDADE DE CARDIOLOGIA DEFENDEMUDANÇAS NA DIRETRIZ SOBRE COLESTEROLA Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC),

que representa 12 mil especialistas, enviou

documento à Secretaria de Atenção à Saúde

(SAS), em Brasília, em que pede que sejam feitas

alterações nas “Diretrizes de Dislipidemias”

(índice elevado de colesterol no sangue), relativas

à Consulta Pública nº 42, que foi preparada no

âmbito da SAS / Ministério da Saúde.

A entidade maior dos cardiologistas, que não

foi consultada ou ouvida quando da redação

das diretrizes, lembra que a evolução do

conhecimento sobre os efeitos do colesterol e

de outras gorduras no sangue tem acontecido

muito rapidamente, principalmente no ano que

terminou e lembra que a recente “IV Diretriz

Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da

Aterosclerose”, da SBC, faz recomendações

que podem levar à redução expressiva dos

eventos cardiovasculares, como infarto e

derrame cerebral, principais causas de morte

em nosso País, mas essas recomendações não

foram contempladas no documento gerado em

Brasília.

Um dos argumentos dos cardiologistas é

que na “Consulta Pública” o nível ótimo do

LDL-colesterol (colesterol ruim) é apontado

como inferior a 100 miligramas por decilitro de

sangue, enquanto os cardiologistas consideram

o nível ótimo muito mais baixo, inferior a 70

mg/dL, em muitas situações, mesmo índice

aceito pela American Heart Association. Os

cardiologistas também discordam de certas

recomendações sobre estatinas, medicamentos

usados para baixar o nível do colesterol, citando

a necessidade, em certas condições, de uso de

estatinas mais potentes e até sua combinação

com outros hipolipemiantes.

Outro ponto de discordância é que o

documento da Secretaria de Atenção à Saúde

não analisa a hoje tão discutida dislipidemia de

base genética, em função da qual há tendência

a altos níveis de colesterol numa mesma família.

Calcula-se que essa tendência esteja presente

em 400 mil brasileiros, na maioria indivíduos

jovens, que correm portanto um risco maior de

eventos cardiovasculares e precisam ter acesso à

medicação adequada.

A proposta da SBC é que pacientes com

hipercolesterolemia familiar deveriam ser

incluídos no protocolo de dispensação gratuita

de medicamento, “devido ao alto risco de

eventos cardiovasculares precoces”, e esse

é apenas um dos muitos pontos em que os

cardiologistas defendem uma posição diferente

da que foi adotada no documento oficial.

Como a validade da Consulta Pública se

encerra no dia 16 de janeiro, a SBC enviou

suas considerações a Brasília num documento

assinado conjuntamente pelo diretor da

Sociedade Internacional de Aterosclerose, Raul

Santos, pelo coordenador de Normatizações

e Diretrizes da SBC, Jadelson P. de Andrade, e

pelo próprio presidente da Sociedade Brasileira

de Cardiologia, Jorge Ilha Guimarães, e

disponibilizou a íntegra do texto no seu portal,

www.cardiol.br.

DOC Press - Vanessa [[email protected]]

Quem prometeu emagrecer como resolução de

ano novo pode ter uma grande novidade em

breve. A Zafgen, uma empresa farmacêutica de

Cambridge, nos Estados Unidos, anunciou o

sucesso dos primeiros testes em humanos de

um medicamento que fez com que 24 mulheres

obesas perdessem, em média, um quilo por

semana durante um mês sem efeitos colaterais

danosos.

Segundo a empresa, os testes não puderam

ser feitos por mais tempo porque após um

mês de dosagem é necessário avaliar como a

medicação agiu no corpo das pessoas antes de

o tratamento ter continuidade. Os resultados

serão apresentados, em uma conferência sobre

REMÉDIO CONTRA OBESIDADE É TESTADO COM SUCESSO NOS EUA

obesidade na cidade de Keystone, Colorado,

nos Estados Unidos.

O resultado do uso do medicamento, com

nome provisório de ZGN-433, mostra uma

impressionante taxa de perda de peso,

principalmente porque as mulheres testadas

comeram normalmente e não realizaram exercícios

físicos. Um quilo por semana é quase a quantidade

máxima de peso que pode ser perdida com

segurança, e quase tão eficaz quanto a cirurgia

para reduzir o tamanho do estômago.

Muitas empresas estão à procura de

medicamentos para combater a epidemia

de obesidade no mundo desenvolvido,

especialmente nos Estados Unidos, mas os

pesquisadores dizem que nenhum outro

medicamento testado até o momento funcionou

tão bem quanto o ZGN-433.

“De fato, parece que a droga aumenta a

quebra de gordura”, embora o mecanismo

completo ainda não seja conhecido, explica

Alan Cherrington, da Vanderbilt University em

Nashville, Tennessee, que já trabalhou em uma

droga parecida, mas com animais. “Este é

apenas o primeiro teste desse medicamento,

mas certamente os resultados até agora são

extremamente encorajadores”, disse.

Revista Galileu

64 | mr107

mrpanorama

panorama.indd 64 26/01/11 17:05

WORLD ALLERGY ORGANIZATION INTERNATIONAL SCIENTIFIC CONFERENCE5 A 8 DE DEZEMBRO DE 2010

Embora, na infância, a asma seja mais comum entre os meninos, parece

que, após os 6 anos de idade, são as mulheres que sofrem mais da doença

respiratória, segundo estudo apresentado em dezembro na Conferência

Científica Internacional da Organização Mundial de Alergia. E, de acordo

com os especialistas, além da taxa de asma após os 6 anos ser 1,73 vezes

maior entre as mulheres, é muito comum que a doença seja acompanhada

de atopia.

“A asma é mais prevalente em pessoas do sexo masculino antes da

adolescência, e mais comum entre mulheres adultas. O início da asma mais

tarde é, frequentemente, associado com atopia”, escreveram os autores

em publicação do evento. “Exploramos a incidência de asma específica por

gênero em uma coorte de nascimentos, estratificando por status atópico”,

explicaram.

Os pesquisadores avaliaram dados do Detroit Childhood Allergy Study,

com 565 pessoas (53% eram mulheres) com idades entre 6 e 20 anos. Foram

considerados relatos dos pais e diagnósticos médicos para definir asma; e

foi definido como atopia um IgE específico maior ou igual a 0,35 para, pelo

JUSTIÇA NEGA LIMINAR CONTRA SELO DE SEGURANÇA EM MEDICAMENTOS

A 9ª Vara da Seção Judiciária do Distrito Federal

negou uma liminar contra a decisão da Agência

Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA)

que obriga o uso de selos de segurança em

embalagens de medicamentos.

A ação foi impetrada pelo Sindicato da

Indústria de Produtos Farmacêuticos no

Estado de São Paulo (SINDUSFARMA), pela

Associação da Indústria Farmacêutica de

Pesquisa (INTERFARMA) e pela Associação

dos Laboratórios Farmacêuticos Nacionais

(ALANAC), que alegaram vícios de origem.

Pelo menos mais duas entidades do setor

farmacêutico já haviam se manifestado

contrárias à criação do selo de autenticidade

para medicamentos. A Associação Brasileira da

Indústria de Medicamentos Isentos de Prescrição

(ABIMIP) e a Associação Brasileira das Indústrias

de Medicamentos Genéricos (Pró-Genéricos)

classificam a medida como equivocada e

estimam que, se for mantida, deverá provocar

um aumento médio de 2,58% nos preços ao

consumidor. Para os genéricos, a alta pode variar

de 6,3% a 23,1%.

O então diretor-presidente da ANVISA, Dirceu

Raposo, garantiu, à época do lançamento do

selo, que o governo não ia autorizar aumento

nos preços dos medicamentos. “Isso será

absorvido pela cadeia produtiva. O impacto é

irrisório, em torno de 0,01% em produtos acima

de R$ 5”, explicou.

A decisão da ANVISA foi publicada em

novembro do ano passado, por meio da

Instrução Normativa nº 11. A previsão é que,

a partir de janeiro deste ano, as caixas de

medicamentos comecem a receber a etiqueta.

Os fabricantes terão o prazo de um ano para

se adaptar e, em janeiro de 2012, todos os

remédios em circulação no País deverão

apresentar o selo. Nas drogarias, uma leitora

ótica fará o reconhecimento de produtos

verdadeiros por meio de uma luz verde e de um

sinal sonoro.

Agência Brasil

Após os 6 anos de idade, asma é mais comum entre as mulheres, aponta estudo

menos, um de sete alérgenos comuns. Os especialistas realizaram teste

log-rank para determinar a associação do tempo de asma entre homens e

mulheres atópicos e não atópicos, e uma regressão de Cox com homens

não atópicos.

E as análises mostraram que as mulheres teriam 73% mais chances de

desenvolver asma após os 6 anos de idade, comparadas aos homens; com

a proporção de atopia sendo de 69% para as mulheres asmáticas e de

70% para os homens com a doença. Além disso, segundo os autores, as

mulheres atópicas seriam duas vezes mais propensas a desenvolver asma,

comparadas àquelas não atópicas.

“Entre as idades de 6 e 20 anos, as mulheres desenvolvem asma em uma

maior taxa do que os homens, e atopia associada é mais comum em novo

início de asma nas mulheres”, destacaram os pesquisadores. “Em jovens

adultos, a asma atópica foi similarmente prevalente em homens e mulheres,

e mais de duas vezes mais comum do que asma não atópica”, concluíram.

Fonte: WAO International Scientific Conference.

mr107 | 65

panorama.indd 65 26/01/11 17:05

Viagra® (citrato de sildenafila) é uma terapêutica oral para a disfunção erétil. A sildenafila é um inibidor seletivo da fosfodiesterase-5 (PDE-5), específica do GMPc. O mecanismo fisiológico responsável pela ereção do pênis envolve a liberação de óxido nítrico nos corpos cavernosos durante a estimulação sexual. A sildenafila é rapidamente absorvida. Indicações: tratamento da disfunção erétil, que se entende como sendo a incapacidade de atingir ou manter uma ereção suficiente para um desempenho sexual satisfatório. Para que Viagra® seja eficaz, é necessário estímulo sexual. Contra-indicações: hipersensibilidade conhecida ao fármaco ou a qualquer componente da fórmula, ou ainda a pacientes usuários de qualquer forma doadora de óxido nítrico, nitratos orgânicos ou nitritos orgânicos. Advertências e Precauções: os agentes para tratamento da disfunção erétil devem ser utilizados com precaução em pacientes com deformações anatômicas do pênis (tais como angulação, fibrose cavernosa ou doença de Peyronie) ou em pacientes com condições que possam predispor ao priapismo (tais como anemia falciforme, mieloma múltiplo ou leucemia). Os agentes para o tratamento da disfunção erétil não devem ser utilizados em homens para os quais a atividade sexual esteja desaconselhada. O uso da associação de Viagra® com outros tratamentos para disfunção erétil não foi estudado e não é recomendado. Foram relatados eventos cardiovasculares graves pós-comercialização, incluindo infarto do miocárdio, morte cardíaca repentina, arritmia ventricular, hemorragia cerebrovascular e ataque isquêmico transitório em associação temporal com o uso de Viagra®. Com o uso de todos os inibidores da PDE5, incluindo a sildenafila, foi raramente relatada neuropatia óptica isquêmica anterior não-arterítica (NAION) (póscomercialização) e; também pequeno número de pacientes com diminuição ou perda repentina de audição (pós-comercialização e estudos clínicos). Não foi identificada relação causal entre o uso de inibidores de PDE5 e NAION ou; de inibidores de PDE5 e diminuição ou perda repentina da audição. Os pacientes devem ser advertidos a consultarem o médico imediatamente em caso de perda repentina da visão ou, diminuição ou perda repentina da audição. Recomenda-se cautela na administração concomitante de sildenafila em pacientes recebendo α-bloqueadores, pois a co-administração pode levar à hipotensão sintomática em alguns indivíduos suscetíveis. A fim de diminuir o potencial de desenvolver hipotensão postural, o paciente deve estar estável hemodinamicamente durante a terapia com α-bloqueadores principalmente no início do tratamento com sildenafila. Deve-se considerar a menor dose de sildenafila para iniciar a terapia. Não existem também informações relativas à segurança da administração de Viagra® a pacientes com distúrbios hemorrágicos ou com úlcera péptica ativa. Por esse motivo, Viagra® deve ser administrado com precaução a esses pacientes. Não existem informações relativas à segurança da administração de Viagra® a pacientes com retinite pigmentosa. Viagra® não é indicado para mulheres e crianças (< 18 anos). Interações medicamentosas: Viagra® potencializa o efeito hipotensor da terapêutica com nitratos, tanto de uso agudo como crônico; portanto, o uso concomitante com estes medicamentos é contra-indicado. Interações clinicamente significativas na farmacocinética do sildenafila foram observadas com saquinavir e ritonavir. Interações clinicamente nãosignificativas foram observadas com anti-hipertensivos. Os dados em estudos clínicos indicaram diminuição do clearance da sildenafila quando co-administrada com o cetoconazol, eritromicina ou cimetidina. Nenhuma interação significativa foi observada com tolbutamida, varfarina, inibidores seletivos da recaptação de serotonina, antidepressivos tricíclicos, tiazidas e diuréticos relacionados, inibidores da ECA, bloqueadores de canais de cálcio, ácido acetilsalicílico, álcool e antiácidos (vide bula completa do produto). Reações adversas: os eventos adversos foram em geral, transitórios e de natureza leve a moderada. As reações adversas mais comumente relatadas foram cefaléia e rubor. Outras reações incluíram tontura, alterações visuais (visão turva, sensibilidade aumentada à luz), cromatopsia (leve e transitória, predominantemente distorção de cores), palpitação, rinite (congestão nasal) e dispepsia. Os seguintes eventos adversos foram relatados durante o período pós-comercialização: reação de hipersensibilidade (incluindo rash cutâneo), convulsão, convulsão recorrente, taquicardia, hipotensão, síncope, epistaxe, vômito, dor ocular, olhos vermelhos, ereção prolongada e/ou priapismo (vide bula completa do produto). Posologia: Adultos: 50 mg em dose única, administrada quando necessário, aproximadamente uma hora antes da relação sexual. De acordo com a eficácia e a tolerabilidade, a dose pode ser aumentada para 100 mg ou diminuída para 25 mg. A dose máxima recomendada é de 100 mg. A freqüência máxima recomendada de Viagra® é de uma vez ao dia. Insuficiência hepática ou renal: uma dose de 25 mg deve ser considerada. Crianças: Viagra® não é indicado para crianças (< 18 anos). Idosos: o ajuste de dose não é recomendado para pacientes idosos. Superdosagem: medidas gerais de suporte deverão ser adotadas conforme a necessidade. Não se espera que a diálise renal possa acelerar o clearance da sildenafila. Apresentações: comprimidos revestidos de 50 mg em embalagem com 2, 4 ou 8 unidades e 25 mg e 100 mg em embalagens com 4 unidades. USO ADULTO. USO ORAL. VENDA SOB PRESCRIÇÃO MÉDICA. A persistirem os sintomas, o médico deverá ser consultado. Para maiores informações, consulte a bula completa do produto. (vgr11) Documentação científica e informações adicionais estão à disposição da classe médica mediante solicitação. Laboratórios Pfizer Ltda., Rua Alexandre Dumas, 1860 – Chácara Santo Antônio, São Paulo, SP – CEP 04717-904. Tel.: 0800-16-7575. Internet: www.pfizer.com.br Viagra®. MS – 1.0216.0065.

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Laboratórios Pfi zer Ltda.Rua Alexandre Dumas, 1860 - São Paulo - SP - CEP 04717-904CNPJ 46.070.868/0019-98 - © Copyright Pfi zer Ltda. 2010Todos os direitos reservados. www.pfi zer.com.br. Produzido em Fevereiro/2010.Material destinado ao público médico.Bula do Produto no verso deste anúncio.

CONTRAINDICAÇÃO: TODOS OS INIBIDORES DE PDE-5 SÃO CONTRAINDICADOS QUANDO ASSOCIADOS AO USO DE NITRATO.8 INTERAÇÃO MEDICAMENTOSA: PODE HAVER DIMINUIÇÃO DO CLEARANCE DA SILDENAFILA QUANDO COADMINISTRADA COM INIBIDORES DO CITOCROMO CYP3A4 TAIS COMO: CETOCONAZOL, ERITROMICINA OU CIMETIDINA.8

referências Bibliográfi cas: 1. Berner MM, Althof SE, Goldstein I, et al. Relationship Between Erection Hardness and Confi dence in Men With Erectile Dysfunction Treated With Sildenafi l Citrate. ESSM Poster MP-026, Joint Congress of the European and International Societies for Sexual Medicine December 2008, Brussels,Belgium. 2. Mulhall J, Althof SE, Brock GB, et al. Erectile Dysfunction: Monitoring Response to Treatment in Clinical Practice—Recommendations of an International Study Panel. J Sex Med 2007;4:448–464. 3. King R, Juenemann K-P, Levinson IP, et al. Correlations between increased erection hardness and improvements in emotional well-being and satisfaction outcomes in men treated with sildenafi l citrate for erectile dysfunction. International Journal of Impotence Research 2007;19:398–406. 4. Gingell C, Sultana SR, Wulff MB, et al. Duration of Action of Sildenafi l Citrate in Men with Erectile Dysfunction. J Sex Med 2004; 1: 179–184. 5. Eardley I, Ellis P, Boolell M, et al. Onset and duration of action of sildenafi l citrate for the treatment of erectile dysfunction. J Clin Pharmacol, 2002; 53: 61S-65S. 6. Jackson G et al. Sildenafi l - A decade of safety and tolerability data. ESSM Poster UP-100, Joint Congress of the European and International Societies for Sexual Medicine December 2008, Brussels, Belgium. 7. Park NC, Park HJ, Nam JK, et al. Effi cacy and side effects of the PDE-5 inhibitors sildenafi l, vardenafi l, and tadalafi l: results of open label study of patient preference in Korea. J Sex Med. 2005; vol 2 suppl 1: MP 5-3. 8. Bula do produto.

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