revista manuelzao 21

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Projeto reafirma sua identidade com a Universidade Página 10 Grupos de apoio do Manuelzão incentivam formação de comitês Página 11 Estudantes da Newton Paiva avaliam plano de manejo para gruta de Maquiné Velhas, um rio atrás Velhas, um rio atrás de novas histórias de novas histórias V inte e sete anos separam dois grupos de aventureiros. Em janeiro de 1967, um estudante e um professor de inglês, por aventura e amor à natureza, desceram o rio das Velhas. Mais de mil quilômetros foram percorridos em 15 dias. Em 1994, três amigos médicos também percorreram o Velhas. De novo por amor ao rio e inspirados pelo relato do explorador britânico Richard Burton, que realizou a viagem no século em 1867. Mas o rio que os dois grupos viram traz pouco do encanto visto pelo estrangeiro no século XIX. Engolfado por esgoto doméstico e industrial, secando pelo desmatamento generalizado e o fogo, tomado por lixo de todo tipo, assoreado em boa parte do trecho, a história do Velhas precisa mudar, precisa de histórias como as narradas pelo livro do jornalista Marco Antônio Tavares Coelho. Ele fez outra viagem ao Velhas, partiu de suas memórias e percorreu seus desafios. Confira todas estas histórias nessa edição do jornal, considere-se convidado para narrar as suas histórias na bacia, e sinta-se convocado para escrever uma nova história para o rio das Velhas. Página 05 Participante da expedição que desceu o rio das Velhas em 1994. Ao fundo, Fábrica da Italmagnésio, em Várzea da Palma

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Page 1: Revista Manuelzao 21

Projeto reafirma suaidentidade com a Universidade

Página 10

Grupos de apoio doManuelzão incentivamformação de comitês

Página 11

Estudantes da Newton Paivaavaliam plano de manejopara gruta de Maquiné

VVeellhhaass,, uumm rriioo aattrráássVVeellhhaass,, uumm rriioo aattrráássddee nnoovvaass hhiissttóórriiaass ddee nnoovvaass hhiissttóórriiaass

Vinte e sete anos separam dois grupos deaventureiros. Em janeiro de 1967, umestudante e um professor de inglês, por

aventura e amor à natureza, desceram o rio dasVelhas. Mais de mil quilômetros foram percorridosem 15 dias. Em 1994, três amigos médicos tambémpercorreram o Velhas. De novo por amor ao rio einspirados pelo relato do explorador britânico

Richard Burton, que realizou a viagem no século em1867.

Mas o rio que os dois grupos viram traz poucodo encanto visto pelo estrangeiro no século XIX.Engolfado por esgoto doméstico e industrial,secando pelo desmatamento generalizado e o fogo,tomado por lixo de todo tipo, assoreado em boaparte do trecho, a história do Velhas precisa mudar,

precisa de histórias como as narradas pelo livro dojornalista Marco Antônio Tavares Coelho. Ele fezoutra viagem ao Velhas, partiu de suas memórias epercorreu seus desafios.

Confira todas estas histórias nessa edição dojornal, considere-se convidado para narrar as suashistórias na bacia, e sinta-se convocado paraescrever uma nova história para o rio das Velhas.

Página 05

Participante da expedição que desceuo rio das Velhas em 1994. Ao fundo, Fábricada Italmagnésio, em Várzea da Palma

Page 2: Revista Manuelzao 21

CoordenadoresProfessores da UFMG -Apolo Heringer Lisboa,Antônio Leite Alves, Marcus Vinicius Polignano,Antônio Thomáz da MataMachado, Tarcísio Márciode Magalhães Pinheiro.

Contatos com o Projeto:(31) 3248-9818/19 - Secretaria Geral(31) 3248- 9817 - Manuelzão vai à escolaSite: www.manuelzao.ufmg.brEmail: [email protected]

Envie sua contribuição para o Jornal Manuelzão.

Redação e EdiçãoElton Antunes (MTb 4415 DRT/MG), Sílvia Araújo, Jonas Rodrigues,Louraidan Larsen, Luana Cury, Professora Maria Alice EmboavaTelefone: (31) 3248-9959

Projeto Gráfico e DiagramaçãoProcópio de Castro

FotosArquivo do Projeto Manuelzão, Carlos Eduardo Mascarenhas, CentroUniversitário Newton Paiva, Eliane Iglésias, Paulo Bem, WilsonMayrink, Nasa e 7ª Cia Polícia Militar do Meio Ambiente.

ImpressãoSempre Editora

Tiragem100.000 exemplares

É permitida a reprodução de matérias e artigos, desde que citados afonte e o autor. Os artigos assinados não exprimem, necessáriamente,a opinião dos editores do jornal e do Projeto Manuelzão.

Manuelzão Belo Horizonte, Dezembro / 20022

E d i t o r i a l C a r t a sSugestões ao governo Aécio Neves sobre a questão ambiental

Aquestão ambiental é importante num programa degoverno, não como questão setorial, resolvidapor uma secretaria, mas na integração da totali-

dade dos órgãos de governo nas dimensões social, econômi-ca, obras públicas de infra-estrutura, a construção da cidada-nia, educação, uso e ocupação do solo, saneamento, agricul-tura e construção urbana.

Impõe-se, a partir desta visão, novo fundamento para agestão político-administrativa do Estado, adotando-se a baciahidrográfica como critério para o planejamento das ativi-dades do governo. É a maneira de considerar a partilha doterritório entre as pessoas, os animais, as plantas, a maneiracomo uma civilização faz a sua reprodução, na relaçãoassumida de interdependência com a integralidade dos pro-cessos vitais geo-determinados no planeta Terra.

A equipe de transição para o futuro governo deveria pri-orizar os estudos para encaminhar, à Assembléia Legislativa,projeto de lei reformatando a gestão político-administrativamineira numa mesma lógica territorial, com base nas suasbacias hidrográficas. Hoje, em Minas Gerais, cada secretariade governo e cada autarquia tem uma base administrativa ter-ritorial diferente, que não se superpondo, representam umobstáculo bem concreto ao desenvolvimento de uma açãocomum transinstitucional, transetorial e transdisciplinar dogoverno e da sociedade civil. A bacia hidrográfica está sendoassumida em todo o mundo como território básico de plane-jamento devido às incontestáveis vantagens que este critériotraz. Os corpos d'água refletem, em suas características físi-cas, químicas e biológicas, os aspectos sociais, econômicos,geológicos, civilizatórios, faunísticos e florísticos do conjun-to de uma bacia.

As diversas secretarias e autarquias, na medida queatuem tendo por base as mesmas áreas de gestão político-administrativas, poderão se associar e realizar trabalhos con-juntos, com objetivos convergentes e resultados comuns, emvisão sistêmica. Isto diminui custos, potencializa e qualificaresultados. Sem a visão sistêmica dos fenômenos, sem açãointegrada, os custos operativos se multiplicam, os desencon-tros freiam as iniciativas, e não se dá conta dos problemas.Na medida que os projetos sejam vistos como únicos, inte-grais e integrados, e não apenas no âmbito da administraçãopública, mas associados às comunidades, os aspectos sociaissobressaem por sua importância e a maneira de trabalharaltera completamente o processo e os resultados. Hoje, porexemplo, a Emater tem uma divisão territorial- administrati-va, a Secretaria de Educação outra, a do Trabalho outraainda, a da Saúde não coincide com as anteriores, a Copasadifere também, a Polícia Militar idem e não há exceção. Se o

governo é o mesmo, isto não tem explicação nem justificati-va.

É necessário consolidar o caráter dos órgãos públicosafetos ao meio ambiente, como a secretaria estadual do meioambiente, e os comitês de bacia, como promotores da recu-peração, conservação e preservação do meio ambiente, asse-gurando a independência destas instâncias em relação àsempresas privadas e administrações municipais. Estas instân-cias não podem servir de instrumento político ao fomento daprodução, que cabe às pastas da indústria, comércio, minas eenergia, agricultura e outras, cabendo ao governo estadualresistir à tentação de desvirtuar estas instâncias de suasfunções básicas para aumentar a arrecadação do Estado emdetrimento das questões ambientais.

Integrar as ações ambientais de todas as secretarias doEstado ao sistema de gestão ambiental estadual, sob coorde-nação do órgão ambiental máximo. As pastas da agricultura,educação, saúde, minas e energia, por exemplo, têm várioslinks obturados entre si e com as instâncias dirigentes ambi-entais. Por que não administrar em comum o que é sistemi-camente unido?

Planejar as outorgas de água através dos órgãos gestoresrespectivos, no caso mineiro o Igam e os comitês de baciahidrográfica, compreendendo as águas subterrâneas e super-ficiais, com base nos Planos de Bacia, sem os quaisentraríamos numa aventura cega e irresponsável. Como ou-torgar sem conhecer as projeções?

Priorizar, na gestão dos resíduos sólidos, a meta da com-postagem e da reciclagem, a ser implantado a curto e médioprazos no Estado. As propostas de aterros tendem a ser resi-duais pois são inadequadas socialmente, ultrapassadas tecno-logicamente, e sem sustentabilidade econômica e ambiental.Devemos ter flexibilidade nas alternativas, inclusive aceitan-do a construção de aterros, mas vinculando as licenças a umcronograma legal e publicamente assumido de substituiçãogradativa, com metas anuais, que viabilize num prazo entre 5e 15 anos, conforme critérios técnicos, a adequação aosmétodos já reconhecidos científica e tecnologicamente, dacompostagem, da reciclagem e outros. Este processo vairequerer romper com o atraso tecnológico, incentivarpesquisas e novos métodos de gestão dos resíduos sólidos,incentivar as novas empresas e cooperativas de reciclagem ecompostagem, estimular os consórcios intermunicipais. Amobilização social é básica para o sucesso desta proposta.

Sr. morador,

Gostaríamos de informar que o contrato de aluguelque acordamos há bilhões de anos atrás está vencendo.Precisamos renová-lo, porém temos que acertar algunspontos fundamentais:

Você precisa pagar a conta de energia. Está muitoalta! Como você gasta tanto?

Antes eu fornecia água em abundância, hoje nãodisponho mais desta quantidade.

Por que alguns na casa comem o suficiente e outrosestão morrendo de fome, se o quintal é tão grande? Secuidar da Terra vai ter alimento para todos!

Você cortou árvores que dão sombra, ar e equilíbrio.O sol está quente e o calor aumentou. Você precisareplantar.

Todos os bichos e as plantas do imenso jardimdevem ser cuidados e preservados. Procurei alguns ani-mais e não os encontrei. Sei que quando aluguei a casa,eles existiam....

Precisam verificar que cores estranhas estão no céu!Não vejo o azul!

Por falar em lixo, que sujeira, heim????Não vi os peixes que moram nos rios e lagos. Vocês

pescaram todos? Onde estão?

Bom, é hora de conversarmos. Preciso saber se vocêainda quer morar aqui. Caso afirmativo, o que podefazer para cumprir o contrato? Gostaria de ter você sem-pre comigo, mas tudo tem limite. Você pode mudar?

Aguardo resposta e atitudes.

Sua casa

A Terra

(Texto apresentado pelos alunos da equipe Florescer naII Gincana Cultural da Escola Municipal Professor

Mello Teixeira, em Lagoa Santa, que se realizou no dia1º de novembro de 2002)

CCARTT

A AAOO IINNQUUIILIINNOO

ERRAMOS - Edição nº 19 - Página 20

No mapa da Bacia do Velhas, publicamos o nomeda represa de Três Marias com o nome da represa deFurnas

• OPINIÃO •

Page 3: Revista Manuelzao 21

3Manuelzão Belo Horizonte, Dezembro / 2002

Sempre defendi a regulamentação da profissão de prostitu-tas através da formação de um sindicato nos moldes europeus,onde estas profissionais podem reivindicar seus direitos. Nãosou contra as prostitutas, mas contra a prostituição, pois sei queisto não implica simplesmente em deitar-se com um estranho ese submeter às taras e manias de gente carente ou psicótica. Háuma grande diferença entre ser prostituta ou estar prostituída.

Ser prostituta é conviver com as circunstâncias que a vidalhe impôs e estar prostituída é aceitar as circunstâncias que aconveniência determina.

Tenho observado este comportamento com muita atençãonas relações entre o ambientalismo e o empresariado.

O ambientalismo vive uma crise entre ser prostituta e estarprostituído quando se encontra diante da possibilidade de tercomo parceiro o setor empresarial. Lutam com a consciência,amedrontados ao se depararem com o cachê de um bompatrocínio daquele que combatem - o degradador ambiental.Agem como se estivessem sendo assediados para um ato espúrioe reagem em confronto permanente contra tudo e contra todosque tentam dialogar com os setores produtivos e sensibilizá-lospara as causas ambientais.

Esta postura não colabora para o avanço e a execução dosprojetos tão disputados e denominados com a marca "desen-volvimento sustentável", que pedem a participação do governo,da iniciativa privada e da sociedade civil organizada. Disse bem:organizada. Continuo defendendo a formação do sindicato das

prostitutas, e nem por isso me sinto pros-tituída, leviana, ou colaborando parao aumento da prostituição.

Quando estimulamos a cons-ciência ambiental, interessa-nossensibilizar aquele que está nacontra-mão do que pregamos.Não o contrário. Não pre-cisamos sensibilizar ambienta-listas, nem tampouco sensibi-lizar ativistas dos direitoshumanos para as causas sociais. Sãoos empresários, banqueiros, empre-endedores políticos e governos a serem ossensibilizados.

Que o ambientalismo fique tranqüilo: quando sensibi-lizamos os degradadores para a eco-eficiência, não há como seprostituir - o sindicato das prostitutas não arbitra em causas sen-síveis, somente quando os direitos trabalhistas não estão sendocumpridos.

Não confunda ser prostituta com estar prostituída. Se vocêtiver um bom projeto, comprometido com seus valores morais eéticos, onde as regras e os objetivos estão bem definidos, não hápor que ter crise existencial, o que não quer dizer que você possase deitar com qualquer um!

*Amyra El Khalili é Economista, Presidente da ONG CTA emembro da Diretoria do Sindicato dos Economistas no Estado

de São Paulo. email: [email protected]

Demóstenes Romano Filho, Patrícia Sartini e Margarida Maria Ferreira *

Os estudiosos e os observadores de comportamentohumano sabem que, geralmente, nós somos aexpressão daquilo que acreditamos ser "a ver-

dade"e/ou daquilo que adotamos como mais conveniente aoque julgamos mais confortável a nós nos aspectos emocional,social, econômico e profissional.

Exemplos disso? Quem se compromete com o "clichê"palavra de rei não volta atrás" costuma ser o tipo de pessoaque tem dificuldade em reconsiderar posiçòes, em admitir fa-lhas, em "dar o braço a torcer", sem perceber, em primeirolugar, que ela não é rei; em segundo, que hoje existempouquíssimos reis, talvez porque os muitos que existiam pen-sassem mesmo assim ou deixassem que os súditos acredi-tassem nessa inconveniência; e, em terceiro, o que pode terdado origem à história de que "palavra de rei não volta atrás"é que um rei forte e autoritário sempre fazia valer sua nova eúltima palavra, ainda que ela fosse conflitante e superposta aoque ele havia dito antes, o que o liberava de voltar atrás.

Quem acha que "manda quem pode e obedece quem temjuízo" tende a querer dominar quem ele considera "inferior" ea aceitar dominação de quem ele considera "superior". Estetipo de pessoa tem dificuldade em dialogar, é poucorecomendável para negociar e sofre quando precisa ser mini-mamente liberto ou minimamente libertador.

"Cada macaco em seu galho" e "macaco que mexe querchumbo" são "clichês" comportamentais de quem prefere seomitir e se isolar. E, assim, outros "clichês" se somam a esses,influenciando nossas decisões, moldando nossas ações,padronizando nossas reações.

Como mudar comportamentos? Como "quebrar" clichês? Oque fazer para mudar tanta gente? Em resposta a estas pergun-tas, primeiro devemos ter disciplina metodológica para priorizaro "por quê?" antes do "como?" e o "como?" antes do "o que?"

Então, "por que 'quebrar' clichês? ", "Por que mudar deparadigmas?", "Por que procurar outros jeitos de ver, sentir e

cuidar de gestão de Águas e de gestão de Gente?" As respostassão da Razão e da Emoção, porque os jeitos de ver, sentir ecuidar, vigentes, estão produzindo muito e eliminando poucoangústias, sensação de incompetência, impossibilidades deação, pobreza, violência, poluição, esclerosamento dos sis-temas, descrenças, desconfianças, incredulidade, desesper-anças, etc, etc, etc.

Para quem estiver interessado nas respostas a essas inda-gações e empenhado em mudanças de comportamento, aquivão algumas luzes, ferramentas e referências.

Mais uma vez, raramente são os novos paradigmas que nosdespertam para mudanças e para transformações: a crença emtransformações, a vontade de transformar e o compromissoético, existencial e espontâneo de sermos transformadores é quenos levam a buscar novos paradigmas, novos jeitos de ver, sen-tir e cuidar de gestão de águas e de gestão de projetos sociais.

O processo de mudança não é um ato isolado de mudar,mas, muito antes, ele começa na percepção de que mudar éuma ação contínua, semelhante ao sistema respiratório, noqual eu expiro e inspiro o tempo todo, antes que me falteoxigênio e para que não me falte oxigênio. Como acontececonosco em tantas outras situações, os processos de mudançascostumam necessitar de umas sacudidas para "cair fichas" emnossos jeitos de avançar. Como diz um antigo e sábio ditado,"os homens como tapetes: de vez em quando precisam sersacudidos." Uma forma de sacudir sem dor e sem sofrimentoé ler, ouvir e prestar atenção nas bobagens, nos equívocos enos atrasos dos outros e admitir que alguma bobagem estoufazendo, algum equívoco estou comentendo e algum atrasoestou vivendo. É só uma questão de procurar, sem culpa, semauto-flagelação, com humildade, com honestidade, querendoevoluir.

Demóstenes Romano Filho, Patrícia Sartini e MargaridaMaria Ferreira do Instituto de Resultados em Gestão Social,

Belo Horizonte. Texto do livro Gente Cuidando das Águas,Belo Horizonte, Mazza Edições, 2002

Luzes, fferramentas ee rreferências eemmudanças dde pparadigmas

Amyra El Khalili*

Emiko Kawakami de Resende*

Ao invés de jogar alevinos nos rios, a diminuição deestoques pesqueiros deveria ser combatida naorigem, que é a devastação ambiental nas margens.

É cada dia mais preocupante o modismo que está crescen-do de tentar resolver a falta de peixes nos rios e reservatóriosatravés do repovoamento, isto é, introduzindo alevinos criadosem cativeiro.

Pelo menos dois aspectos fazem com que o "tiro saia pelaculatra", como diz o dito popular. O primeiro deles é que a intro-dução de alevinos criados em cativeiro e colocados nos rios erepresas, quase sempre provenientes de um casal ou poucoscasais, faz com que a variabilidade genética seja muito baixa.

As populações naturais possuem uma grande variabilidadegenética pelo fato de serem provenientes de muitos casais quese reproduzem na natureza, selecionados pelas condições natu-rais do ambiente. Dessa forma, introduções aleatórias, mesmofeitas com as melhores intenções, podem levar à redução dessavariabilidade genética e, eventualmente, comprometer a sobre-vivência da espécie.

O segundo diz respeito à introdução de doenças e parasitas,que antes não existiam no ambiente natural. Isto porque a cri-ação em cativeiro, em alta densidade, é extremamente propíciaao aparecimento de doenças e propagação de parasitas. O casomais clássico e conhecido é a Lernia, uma espécie de crustáceominúsculo, que parasita as brânquias de peixes e pode provo-car mortandades maciças em cativeiro. Onde a Lernia foi intro-duzida em ambientes naturais, por repovoamentos de peixes,tornou-se praga, impossível de ser erradicada.

Ainda, o repovoamento é feito quase sempre usando alevi-nos. Ora, alevinos, como qualquer ser vivo, necessitam de ali-mento. Ao menos nos rios do Pantanal, a criação dos alevinosse dá nas áreas alagadas durante a cheia, localizadas no baixocurso. Soltar alevinos no rio Cuiabá, como já vem sendo feitopor alguns, nas proximidades das cidades de Cuiabá e VárzeaGrande é improdutivo, pois nesse trecho do rio não há alimen-to para eles, além do grande risco de introduzir doenças e pa-rasitas, conforme citado.

O que faz as pessoas quererem promover repovoamentosde rios e represas com peixes? É a percepção de que estão fal-tando peixes! Mas porque faltam? Devido à degradação ambi-ental e ao excesso de pesca, ou pesca inadequada. Assim, aoinvés de combater as conseqüências promovendo repovoamen-tos, cujos resultados poderão causar mais problemas, a batalhadeveria ser em prol da recomposição das condições naturaisdos rios, lutando contra a destruição das matas ciliares e dadegradação de suas águas pela introdução de agrotóxicos,esgoto de cidades e poluição industrial.

A batalha deveria ser também pela conscientização da po-pulação, de que a pesca não pode ultrapassar a capacidade dereposição dos estoques das populações naturais, obedecendoaos limites impostos pela natureza e referendada pela legis-lação, como tamanho mínimo de captura (o que assegura que opeixe se reproduza ao menos uma vez antes de ser pescado),cotas de captura (o que assegura a pesca dentro dos limites dacapacidade de suporte do sistema) e período de defeso dereprodução (para assegurar a reprodução e, dessa forma, a re-novação dos estoques).

Se assim fizermos, ao invés de repovoamentos inúteis, comtodas as suas conseqüências, estaremos efetivamente con-tribuindo para a manutenção dos peixes, que nos fornecem ali-mento e lazer. (Fonte: Rios Vivos)

*Emiko Kawakami de Resende é bióloga, doutora emCiências. É Chefe Geral da Embrapa Pantanal (Corumbá-MS). Foi secretária de Meio Ambiente do Mato Grosso do

Sul. e-mail: [email protected]

SSoobbrree pprroossttiittuuttaass ee ppaattrrooccíínniiooss Peixes: AA uutopia ddorepovoamento

• OPINIÃO •

Page 4: Revista Manuelzao 21

Lagoas de grande importância ambiental passam por umprocesso de contaminação de suas águas nas regiões deConfins, Pedro Leopoldo, Lagoa Santa, Matozinhos eFunilândia. Para dar força ao trabalho de descontaminaçãodo lençol freático e proteção das lagoas cerca de 185 pessoasse reuniram no dia 31 de outubro para avaliar a proposta decriação de um comitê para a região, o Comitê Peter Lund. Areunião ocorreu no povoado de Mocambeiro e teve umaexpressiva participação de representantes de diversos setoresda sociedade e de todos os municípios que compõem aregião da Área de Proteção Ambiental (APA) Carste .

Os participantes da reunião discutiram, além da conta-minação do lençol freático, temas como contaminação do ar,desmatamento, comunicação com o rio das Velhas, algasazuis, turismo, cimenteiras e ictiofauna. Fizeram palestras oshidrogeólogos Ronaldo Deluca Ferraz Gonçalves e PauloPessoa e o biólogo Carlos Bernardo Mascarenhas.

"A proposta, apresentada pelo Projeto Manuelzão eaprovada pelos moradores e comitês da região, acompanha aidéia de não criar os comitês de acordo com os municípios,e sim com as bacias" observa Apolo Heringer Lisboa , coor-denador geral do Projeto Manuelzão. Cada município possuitrês representantes no Comitê Peter Lund entre empresários,fazendeiros, ongs e outros membros da sociedade. Segundo

Francisca de Paula Martins, vereadora em Matozinhos, o iní-cio da atuação deve ser imediato.

Um novo encontro ocorreu no dia 11 de novembro, emPedro Leopoldo, a fim de discutir a constituição do grupo detrabalho e a implementação definitiva da gestão da APACarste. O comitê ficou mesmo nomeado como "Peter Lund".A arqueóloga de Lagoa Santa, Rosângela Albano, foi eleita acoordenadora do comitê. O proprietário da Cantina DomGegê no distrito de Mocambeiro, Geraldo Marcos Maia, vaisecretariar o comitê.

Inácio Paulo Fernandes, engenheiro e coordenador dogrupo técnico do Projeto Manuelzão, participou dos encon-tros e destaca uma outra questão levantada: o compromissodos governos federal e estadual de, quando da implantaçãodo aeroporto de Confins, se constituir um parque estadual naregião. O aeroporto foi inaugurado em 1984. Inácio salienta,ainda, o cuidado com a manutenção dos cursos d'água nolocal: "Na região existem lagoas da mais alta importância,como a de Lagoa Santa, mas que tendem a desaparecer pelaocupação urbana desordenada" afirma o engenheiro.

Pedro Amorim CorrêaEstudante de Comunicação da UFMG

Participantes do encontro que discu-tiu a situação das lagoas da APA Carste

O dinamarquês Peter Wilhelm Lund veio ao Brasil pelaprimeira vez em 1825 para aprofundar seus estudos embiologia e procurar um clima mais benéfico à sua debilita-da saúde. Lund retornou ao Brasil, em definitivo, no anode 1833. Logo após concluir um estudo sobre os Campos

no Brasil, o dinamarquês fixou residência em Lagoa Santa,onde encontrou ossadas fósseis notáveis em cavernas daregião. Visitou centenas de grutas e realizou estudos desuma importância sobre a região. Lund faleceu em 25 demaio de 1880, em completo isolamento.

Comitê rrecém-ccriado vvai ccuidar dde llagoas nna rregião dda AAPA Carste

Peter Lund, o solitário de Lagoa Santa

4 Manuelzão Belo Horizonte, Dezembro / 2002

• COMITÊS •

Carlos Bernardo Mascarenhas e Paulo Pompeu*

Amortandade de peixes ocorrida em 25 de outubrono ribeirão Jequitibá, em Funilândia, alarmoumoradores e mobilizou membros da prefeitura. O

problema foi constatado pelos proprietários da FazendaContagem. De acordo com o laudo da polícia florestal, a mor-tandade atingiu, também, os municípios de Sete Lagoas eJequitibá.

Desconhecidas as causas da morte dos peixes, a prefeituraaguarda análise de amostras enviadas aos biólogos do ProjetoManuelzão pelo fiscal sanitário Elton Dias Barcelos, quepreencheu um formulário desenvolvido pelo Projeto especifi-camente para ocasiões como essa. A população local foi alerta-da para os perigos decorrentes do consumo dos peixes.

Foram encaminhados exemplares de curimatá-pioa, pacu,tabarana, mandi-amarelo, lambari-do-rabo-vermelho, timburé,canivete, piaba e cascudo. A maioria das espécies são carac-terísticas de águas correntes. Indivíduos de poucas gramas atédois quilos de peso, de espécies de couro e de escama, habi-tantes tanto do fundo do rio quanto da coluna d'água constavamdas amostras. Exceto o cascudo, as demais espécies não tole-ram baixas concentrações de oxigênio. Esses dados, aliados aocomportamento observado no momento da mortandade, levama crer que houve diminuição da disponibilidade de oxigêniodissolvido na água. Os peixes estavam mortos ou nadando nasuperfície, tentando obter oxigênio boquejando o ar atmosféri-co.

Essa diminuição do oxigênio dissolvido pode ter sido cau-sada por dois fatores, sendo a primeira a mais provável:

1) aumento da carga orgânica na água: A água estava comforte odor de esgoto e com coloração escura. As chuvas, ocor-ridas nos dias anteriores, podem ter revolvido o fundo do rio edisponibilizado a matéria orgânica depositada no leito do rioatravés do lançamento de esgotos domésticos sem tratamento.Microorganismos que utilizam essa matéria orgânica prolife-ram e consomem rapidamente o oxigênio dissolvido na águaatravés de sua respiração;

2) algum efluente tóxico lançado na água: Um indíciodessa causa é a presença de peixes de vários tamanhos e diver-sos hábitos. Esse fato é comum quando há despejos de eflu-

entes por indústrias ou por carreamento de agrotóxicos ou fer-tilizantes utilizados na agricultura;

Situações como essa devem ser acompanhadas sempre queocorrerem e o Projeto Manuelzão pode auxiliar na análise desuas causas desde que sejam coletados peixes e informações nomomento do evento. Formulários para serem preenchidospodem ser obtidos na sede do Projeto. Os peixes podem sercongelados ou colocados em bombonas plásticas com formol a

10%. Fotografias e filmes também podem auxiliar a desvendaras causas dessas mortandades. Somente com a colaboração dacomunidade é possível chegar às causas.

*Carlos Bernardo Mascarenhas Alves e Paulo dos SantosPompeu são biólogos e Ictiologistas da UFMG e membros do

Grupo Técnico do Projeto Manuelzão. Colaborou CarolinaSilveira, estudante de Comunicação da UFMG

Mortandade dde ppeixes eem FFunilândia

Page 5: Revista Manuelzao 21

5Manuelzão Belo Horizonte, Dezembro/ 2002

Coordenados pelo Manuelzão, comunidade, prefeitura e Uni-BH viabilizam a gestão ambiental na bacia do córrego

Cercadinho: eencontro ssolidário ddo mmeio aambiente

Oprimeiro Encontro Solidário do MeioAmbiente, promovido pelo Comitê Manuelzãodo Cercadinho, em Belo Horizonte, ocorreu

dia 14 de setembro, no Centro de Apoio Comunitário dobairro Havaí. "Fizemos uma macarronada para arrecadarfundos para a nossa Comissão", afirma o Coordenador doComitê, José Maria de Souza. No dia do Encontro, houvea criação e a posse dos membros da Comissão do MeioAmbiente do bairro Havaí.

Segundo José Maria, a principal ação do Comitê, queexiste desde o ano passado, é a revitalização do córregoCercadinho. A Comissão viria para reforçar esse objetivo."Nossa primeira ação será planejar uma caminhada a par-tir do rio Arrudas (Avenida Tereza Cristina) até próximoao bairro Buritis, distribuindo folhetos educativos sobrepreservação dos rios", conta.

O evento contou com o apoio e a participação daprefeitura de Belo Horizonte através de diversos técnicos, do Secretário Regional Oeste, José Flávio Gomes, e doCentro Universitário de Belo Horizonte (Uni-BH). Acomunidade do bairro Havaí, supervisionada pelos profes-sores e alunos dos cursos de Nutrição e de Engenharia deAlimentos, é que fez o macarrão.

ParceriaDesde dezembro de 2001, o UNI-BH desenvolve o

projeto de extensãoManuelzão-Cercadinho,que envolve os cursos deGeografia, Engenharia deAlimentos, Nutrição,Educação Física eFisioterapia. "A idéia éfazer um trabalho socialcom a comunidade dobairro Havaí, por meio datroca de conhecimentos",afirma Maria Paula, pro-fessora da Engenharia deAlimentos.

Cada área possui umaproposta de atuação. Oarticulador do curso deGeografia e AnáliseAmbiental do Uni-BH,Rodrigo Teixeira, contaque está em andamentoum diagnóstico sócio-cul-tural da micro-bacia docórrego Cercadinho. Essapesquisa conta com omonitoramento do ProjetoManuelzão, que tem umconvênio firmado com ocentro universitário.

Louraidan LarsenEstudante de Comunicação da UFMG

Cavalgada ecológica mostra aimportância de preservação

Foram 60 cavaleiros, que percorreram 35km, durante dois dias. Assim ocorreu a primeiraCavalgada Ecológica realizada pelo Comitê doManuelzão em Lassance, 270 Km de BeloHorizonte. O evento contou com o apoio daprefeitura. "Tivemos a oportunidade de mostrar,para quem não conhecia, o córrego do Corrente,afluente do rio das Velhas", afirma "Fiinho",presidente do Comitê.

A Cavalgada iniciou seu percursodurante o desfile de 7 de setembro. Emseguida, os cavaleiros se dirigiram para aSerra do Cabral, passando pela Área dePreservação Ambiental (APA) do municí-pio e pelo Córrego do Corrente, ondemontaram acampamento.

Os cavaleiros foram as próprias pes-soas da comunidade, os estagiários doProjeto Manuelzão e os membros docomitê. Segundo Fiinho, o objetivo eramostrar para a população a importânciade preservar o meio ambiente. "O resulta-do foi muito positivo, discutimos sobredesmatamento e preservação danatureza", diz.

Durante a cavalgada, os participantespuderam ver pinturas rupestres e proble-mas ambientais, como lixo e efeitos dequeimadas na Serra. Ao retornarem aLassance, no dia 8 de outubro, os ca-valeiros foram recepcionados no CentroSocial Cristóvão Colombo com uma"grande" festa, como garante Fiinho.

O Comitê de Lassance existe desde a

criação do Projeto Manuelzão em 1997. Outrasações realizadas pelo comitê são visitas eexcursões às cabeceiras de afluentes do rio dasVelhas, com a finalidade de conscientizar para asua preservação. É comum também receberemdenúncias de desmatamento e queimadas, quesão encaminhadas a órgãos responsáveis domunicípio.

Participantes do encontro solidário do meio ambienteorganizado pelo comitê do córrego Cercadinho

"Rio das Velhas - memória edesafios", livro de autoria do jorna-lista Marco Antônio Tavares Coelho,publicado pela Editora Paz e Terracom apoio da Copasa e do ProjetoManuelzão, foi lançado em BeloHorizonte, São Paulo e no Rio deJaneiro.

Na capital mineira, com a pre-sença de um numeroso público, quelotou inteiramente o auditório daCopasa, a solenidade foi realizada nodia 16 de outubro. A mesa que pre-sidiu a cerimônia foi composta pelasseguintes personalidades: RômuloPerilli, diretor da Copasa; professorGeraldo Brasileiro Filho, diretor daFaculdade de Medicina da UFMG erepresentante da reitora Ana LúciaAlmeida Gazzola; prof. ApoloHeringer Lisboa, coordenador doProjeto Manuelzão; senadorFrancelino Pereira; jornalistaWashington Novaes; além de MarcoAntônio Coelho e da artista plásticaMaria Helena Andrés, que ilustrou olivro.

Após os pronunciamentos dosmembros da presidência da mesa, oautor do "Rio das Velhas - memória edesafios" autografou para os pre-sentes exemplares desse livro e aCopasa ofereceu um coquetel para os

participantes na solenidade.A imprensa mineira assinalou

com destaque o lançamento desselivro, através de notícias e entrevistasnos seguintes meios de comunicação:TV Globo, TV Bandeirante , TVRede Minas, "Estado de Minas","Hoje em Dia" e "O Tempo".

Ex-presidenteO lançamento em São Paulo foi

no dia 28 de outubro, sendo promovi-do pela Editora Paz e Terra e pelaLivraria Cultura, no ConjuntoNacional na Avenida Paulista. NoRio de Janeiro a solenidade foi nodia 7 de novembro, na LivrariaArgumento. Muito concorrida, ànoite de autógrafos comparecerampersonalidades como o ex-presidentede Portugal, Mário Soares, oembaixador José Aparecido deOliveira e o presidente do IBGE,Sérgio Besserman,.

O livro "Rio das Velhas" encon-tra-se à venda nas principais livrariasdo Brasil. Pedidos podem ser feitos àEditora Paz e Terra: Rua do Triunfo,177, São Paulo, SP - CEP 01212-010,fone (011) 337.8399. E-mail - [email protected]

Livro sobre Velhas é destaquena imprensa nacional

• COMITÊS •

Participação histórica do Manuel Nardi - oManuelzão, em cavalgada em Morro da Garça

pouco antes de seu falecimento

Page 6: Revista Manuelzao 21

Uma homenagem a quemprotege a nascente de umriacho. Esse foi o objetivo

das cerca de 50 pessoas que partici-param de uma caminhada ecológica nasproximidades do bairro D. Pedro I, emSão José da Lapa, na manhã de 22 desetembro. Os participantes percorreramaproximadamente três quilômetros atéchegar a uma das nascentes do hojepoluído córrego Carrancas, que passapelo centro da cidade. No local, afamília do proprietário do terreno,Adriano Costa Júnior, responsável pelapreservação da nascente, foi home-nageada pelo grupo.

O evento foi organizado pelaCoordenadora do Comitê do ProjetoManuelzão, Isabel Regina de Souza.Segundo ela, a população é incentivadaa participar dos mutirões de limpeza edas caminhadas ecológicas, tendo emvista a despoluição do córregoCarrancas para o retorno às condições delimpeza e vida que o caracterizavam.

Reconhecimento das boas iniciati-vas, limpeza do córrego e monitoramen-to das nascentes constituem algumas dasfrentes de trabalho do Comitê de SãoJosé da Lapa, criado em setembro de2000. Para realizar um trabalho maisefetivo, em novembro de 2001 tambémse formou um comitê no bairro D. PedroI, onde está a maior parte das nascentes.

"Uma caminhada de mil léguas começa noprimeiro passo, e esse primeiro passo já foidado". Foi assim que o Sr. Luiz Rocha,

membro do Comitê de Vespasiano, definiu o mutirão delimpeza na nascente do Caieiras, ocorrido no dia 28 desetembro, na cidade. A convite do Comitê, a comunidadelocal se reuniu em torno da nascente, recolhendo o lixoespalhado na mata que a cerca.

Além da grande quantidade de lixo, uma recente análiseconstatou a presença de coliformes fecais na água, utilizadapor muitos moradores da região. Um exemplo é o Sr.Domingos Cota, que diz não saber se deixará de consumiressa água, como faz há cinco anos. "Até hoje ninguém lá emcasa se sentiu mal", comenta. De acordo com a juíza Maura

Ferreira, da Comarca de Vespasiano, "muito piorque ter sede e não ter água pra beber é ter águae não poder beber por que ela está poluída".

Mais do que promover a limpeza da região,o evento teve como objetivo conscientizar aspessoas, principalmente os mais jovens, sobre aimportância da conservação e sustentabilidadeambiental. "Quando conservamos uma nas-cente, conservamos também os rios a que elairá se juntar", afirma Newton Jorge, da secre-taria de meio ambiente da prefeitura local.Apesar disso, foi pequena a participação dacomunidade e das crianças das escolas locais.Segundo Newton, seria difícil conduzir o even-to com a presença inquieta dos meninos emeninas.

Jonas Rodrigues e Sara AbreuEstudantes de Comunicação da UFMG

Carolina Silveira e Flávio Henrique LageEstudantes de Comunicação da UFMG

Manuelzão Belo Horizonte, Dezembro / 20026

Comitê ddo CCipó sse rreúne ààs mmargens ddo rrio

Aprimeira reunião do recém-criado Comitê do RioCipó foi realizada em um local no mínimo difer-ente. Ao invés de uma sala fechada ou outro

espaço convencional, o encontro se deu às margens do rioCipó, em um ambiente aconchegante e tranqüilo, onde sepodia ouvir o barulho das águas e sentir o vento balançar osgalhos das árvores.

Estiveram presentes representantes do poder público, deentidades ambientais, além de membros das comunidades deBaldim, Jaboticatubas, Santana do Pirapama e Santana doRiacho, as quatro cidades que participam do comitê.Recepcionados pelo Sr. Reinaldo Soares, eles se reuniram napousada "Ponte Cristais", localizada às margens do rio nomunicípio de Santana de Pirapama.

A reunião, conduzida pelo professor Thomaz MataMachado, teve como objetivo estabelecer encaminhamentospara os problemas levantados na reunião de criação docomitê, em agosto deste ano. Os principais temas abordadosforam o desenvolvimento agro-pecuário sustentável, a cons-trução de fossas, a produção de carvão, o recolhimento delixo e o ordenamento do turismo na região.

O rio Cipó encontra-se em um excelente estado de

preservação ambiental, e possui umpapel fundamental na recuperação do rio das Velhas.Segundo o secretário executivo do Comitê, OswaldoMachado, as diretrizes de trabalho no rio Cipó são dife-rentes da bacia do Velhas. "A proposta para o rio das

Velhas é de recuperar, aqui é de proteger" - afirma.A próxima reunião do comitê está marcada para

fevereiro, na cidade de Baldim, na qual serão tratados osoutros problemas apontados anteriormente.

Jonas Rodrigues/Marcella FurtadoEstudantes de Comunicaçáo da UFMG

Comitê de Vespasiano promove mutirão de limpeza em nascente

Participantes do comitê do Cipó, debatemsolucões para os problemas do rio

Equipe que realizou a limpeza com parte dolixo recolhido

Encontro simboliza importância da presevação do rio para recuperação da bacia do Velhas

Em 16 de Outubro de 1989, através do DecretoEstadual nº 30.264, implantou-se a Área deProteção Ambiental da Cachoeira das Andorinhas -APAAndorinhas no Município de Ouro Preto, localonde se encontram nascentes que dão origem aoRio das Velhas. Com a instituição desta unidade deconservação de uso sustentável, ficaram proibidasna localidade a instalação e o funcionamento deindústrias potencialmente poluidoras capazes deafetar mananciais de água, bem como a promoçãode atividades que possam provocar a erosão do soloou acentuado assoreamento das coleções hídricas.

Na data de 14 de Novembro de 2002, órgãos eentidades dos Poderes Públicos federal, estadual e

municipal, do setor produtivo e das associaçõescivis sem fins lucrativos cujos objetivos estatutáriosincluem a defesa do ambiente indicaram represen-tantes para compor o Conselho Consultivo da APA- Andorinhas durante o biênio 2002/2004. OProjeto Manuelzão, representado por Ronald deCarvalho Guerra, figurará como um dos membrostitulares desse Conselho, que funcionou somentedurante os anos de 1993 e 1994 sob a gestão daFEAM - Fundação Estadual de Meio Ambiente - epassa a funcionar sob a gestão da SEMAD -Secretaria de Estado do Meio Ambiente eDesenvolvimento Sustentável. "A implementaçãodo Conselho é fundamental para que todo o sistemade gestão da APA se efetive de forma democrática",afirma Ronald.

Manuelzão pparticipará ddo CConselhoConsultivo dda AAPA - AAndorinhas

CCaammiinnhhaaddaa mmoobbiilliizzaa SSããoo JJoosséé ddaa LLaappaa

Letícia Fernandes Malloy DinizSubprojeto Manuelzão Legal

• COMITÊS •

Page 7: Revista Manuelzao 21

Alunos do curso de Geografia do Centro UniversitárioNewton Paiva estão trabalhando para preservar e recuperar opatrimônio natural da cidade de Ribeirão das Neves, municí-pio da região metropolitana de Belo Horizonte. Eles farão,juntamente com a ajuda de técnicos e estudantes de arquitetu-ra da PUC-Minas, o diagnóstico do ribeirão das Neves, etraçarão linhas de atuação para a resolução de problemasestruturais do município.

Ribeirão das Neves se estende por uma área de 157 Km2,localizando-se na Zona Norte de Belo Horizonte. A cidade, aaproximadamente 30 quilômetros da capital, encontra-setotalmente contida na bacia do rio das Velhas e convive comvários problemas ambientais e sociais. Pelas ruas é possívelver um contraste gritante entre o meio urbano e o rural, entrecondomínios de luxo e loteamentos sem as mínimas estru-turas de funcionamento.

Os problemas não param por aí: a chegada das peniten-ciárias e a possibilidade de aquisição de lotes a baixo custo fezcom que a cidade crescesse desordenadamente. "Neves temdezenas de loteamentos irregulares, alguns estão sendo regula-mentados pela prefeitura, outros foram embargados", explicaRodrigo Hott, geógrafo, técnico da prefeitura municipal ecoordenador dos comitês do Projeto Manuelzão na cidade.

A expansão desordenada é um agravante para Ribeirãodas Neves, cuja população é, em maior parte, de baixa renda

e empregada em Belo Horizonte ou nascidades vizinhas. "Neves se tornou umacidade dormitório, a maioria dosmoradores passa poucas horas na cidade, oque impede que eles criem vínculos de afe-tividade com a terra e, conseqüentemente,que lutem pela melhoria do ambiente emque vivem", afirma Fernanda de PaulaRosa, estudante de arquitetura que integra acomissão do projeto.

DiagnósticoMurilo Moreira de Barros, de 20 anos,

é uma das poucas pessoas que passa o diaem Neves, fica o dia todo no lixão dacidade à procura de plástico, papel epapelão para vender.Vivendo do lucro deR$ 0,12 em média por quilo de materialvendido, Murilo, que mantém a esposa e dois filhos com oque retira do lixo, sabe que a cidade tem vários pro blemas aresolver, entre eles, a destinação do lixo. "Tem que ensinar opovo a não jogar lixo no chão, jogar na lata de lixo, pra serrecolhido. As ruas ficariam muito mais limpas se cada umfizesse sua parte", fala ele.

O trabalho da equipe consiste em diagnosticar a baciado ribeirão das Neves, começando pelos córregos Café eCacique. "Vamos estudar a ocupação dos entornos dos rios,

a destinação do lixo, o relevo e a percepção ambiental dapopulação, que será decifrada através de questionáriosaplicados pelos alunos", esclarece Marcelino Santos deMorais, coordenador do curso de Geografia da NewtonPaiva . Com base no estudo dos problemas e das poten-cialidades da área, poderão ser feitas intervenções na área."Vamos vender aos moradores a imagem de uma cidadesem poluição, para despertar neles a vontade de agir", diza estudante de arquitetura Christiane Barbosa.

OProjeto Vassouras Ecológicas,implantado em Ribeirão das Neves,município da zona metropolitana de

Belo Horizonte, colabora com o meio ambiente eainda ajuda outros setores da sociedade.Cidadania e ecologia andando juntas. As vas-souras ecológicas são produzidas a partir do plás-tico das garrafas "pet" de refrigerante, que seriamdescartadas na rua ou na natureza. Por mês, são 40mil garrafas que deixam de poluir a cidade e seusrios. A fabricação integra todas as escolas muni-cipais e estaduais de Ribeirão das Neves, aprefeitura, a Fábrica de Vassouras Caprichosa e aPenitenciária José Maria Alkmin, aliando apreservação do meio ambiente à reinserção dosrecuperandos (detentos) na sociedade.

As garrafas são trazidas de casa pelos alunos ,da rua ou do comércio, e depositadas nos "bags"(grandes sacos) instalados nas escolas. Em cada"bag" cabem, em média, 300 garrafas. Caminhõesda prefeitura levam estes sacos para a peniten-ciária José Maria Alkmin, onde foi montada umapequena unidade da fábrica. Lá, o fundo das gar-rafas é cortado e seu frasco desfiado em máquinaespecial. Também na penitenciária é feito o cepode madeira da vassoura (onde os fios são fixados).A montagem termina na sede da fábrica, emContagem.

O Projeto foi implementado há quatro meses,com ampla adesão das 77 escolas do município."Todos os dias as crianças trazem garrafas", contaa diretora de uma das escolas municipais, MariaLuiza Guimarães. Somente sua escola já

arrecadou 6 mil "pets" desde o início do projeto.O plástico de que são feitas essas garrafas é par-ticularmente poluente. Demora de 200 a 450 anospara se decompor na natureza.

São vendidas, em média, 7 mil vassouras pormês. De acordo com a dona da fábrica, RejaneGomes de Paula, este número tende a dobrar nospróximos meses devido à grande aceitação doproduto no mercado.

Trabalho leva a recuperação

A parceria com a penitenciária, além de via-bilizar o projeto por causa da redução de gastos,tem gerado outro resultado bastante positivo: arecuperação dos detentos. Segundo o diretor deprodução, Júlio César Durães, "estas pessoastiveram um desvio de conduta em uma certa hora,mas é preciso que a gente acredite nelas, dê umaoportunidade. São seres humanos como outroqualquer."

A penitenciária possui mais 13 oficinas e emtodas é visível a melhora dos recuperandos. Naseleção para o trabalho, o detento deve apresen-tar bom comportamento e aptidão para o ofício.A cada três dias trabalhados, ganha redução deum dia na pena. Além disso, recebe pela ativi-dade três quartos do salário mínimo, pagos men-salmente pela empresa que os contrata.

Atualmente, cinco recuperandos trabalhamna oficina de vassouras ecológicas, de 7 às 16horas. Entre eles, L.M., 20 anos. Sobre aimportância da atividade ele comenta: "é pralimpar o meio ambiente que está bastante sujo,preservar a natureza".

Manuelzão Belo Horizonte, Dezembro / 2002 7

Estudantes em Neves na defesa do patrimônio natural

OLívia Furtado e Flávio Henrique Lage Estudantes de Comunicação da UFMG

Luana Cury Estudante de jornalismo do Centro Universitario Newton Paiva

Vassouras ecológicas mobilizam estudantes, detentos e poder público

Parceria entre Newton Paiva e PUC reúne alunos de Geografia e Arquitetura para diagnosticar problemas da cidade

Presidiários em recuperação produzemvassouras; abaixo garrafas pet poluindo eassoreando a lagoa da Pampulha

• NOSSA TERRA •

Page 8: Revista Manuelzao 21

Janeiro de 1967. Dois amigos, um estudante e um pro-fessor de inglês, por aventura e amor à natureza,decidem descer o rio das velhas. Derek Walter, filho

de ingleses, hoje com 72 anos, conta que sempre teve "inte-resse pelo máximo de natureza". Era comum tambémpraticar alpinismo e fazer visitas a grutas, mas "descer rioscom essa extensão, ninguém fazia naquela época", diz. O riodas Velhas tem 761 quilômetros de comprimento.

Durante 15 dias, munidos de um caiaque a remo, com-prado numa loja de brinquedos, e uma vela improvisada,feita com cabo de vassoura, eles percorreram centenas dequilômetros, da ponte de Caeté, região metropolitana de BeloHorizonte, até o encontro do rio das Velhas com o rio SãoFrancisco, em Barra do Guaycuí.

"Testamos em outros rios, antes de ir ao Velhas, pra verse o barco iria agüentar", lembra. Segundo o professor, "ocaiaque era feito com uma madeira bem fina, que se batesseem uma pedra furava". Como não tinham mapa sobre o rio,simplesmente seguiam o seu curso. "Íamos por onde ele noslevava", afirma. Nenhum dos dois tinha também idéia dotempo que gastariam até a chegada na foz do rio das Velhas.

CapivarasNos últimos dois dias de viagem, Derek conta que a água

que levava acabou. "Fui beber do rio e peguei uma forte diar-réia", diz. O professor lembra que naquela época o esgoto de

Belo Horizonte já ia todo pro rio das Velhas e que "a água jáera marrom". Embora já houvesse a poluição em 1967, elelembra que o rio ainda era "muito cheio" e havia preservaçãoda mata ciliar.

Além de "muito mato" na margem, o professor viu tam-bém muitas capivaras. Os únicos bichos que encontrarampelo caminho foram os responsáveis pelo maior sustodurante a viagem. Uma vez, quando estava bem perto damargem, Derek não avistou uma capivara que estava próxi-

ma. "Quando ela me viu,levou um susto e pulou, quasecaindo dentro do meu barco,que se quebraria todo com seupeso", conta, sorrindo.

Uma capivara, 27 anosdepois, também foi motivo desusto para um trio de amigos,os médicos Roldão Coelho,Ricardo Faria e WilsonMayrink, que desceram oVelhas de Santa Luzia atéIbiaí, 45 km após Barra doGuaycuí, no rio SãoFrancisco. "Havia um pessoalcaçando capivara com espin-garda, e quase levamos umtiro. Pensaram que éramosfiscais ou algo parecido",

lembra Wilson.O médico diz que o amor pelo rio das Velhas nasceu

das pescarias que os três sempre fizeram juntos. Unindoessa paixão, com a inspiração obtida pelo relato sobre o riodo explorador britânico Richard Burton, os médicos per-correram 880 Km, em fevereiro de 1994. Diferentementede Derek, eles foram em um barco de pesca, com motor,bússolas, mapas e cartas geodésicas, o que facilitou o per-curso.

Durante os quatro dias de viagem, o médicoWilson Mayrink diz que o rio que viram não eramais aquele que o explorador britânico narrou ao

descer o Velhas no século XIX. "É uma visão macabra, todoaquele plástico agarrado debaixo da água e do mato", lembra."O rio praticamente não tem mais mata ciliar, e encontramosdificuldade para passar com o barco em vários locais, mesmosendo época de chuva".

Wilson conta que por causa do assoreamento, "muitomaior" que imaginava, eles gastaram 10 horas para ir deSanta Luzia até Jequitibá. Para ele, esse pedaço, em que o riorecebe principalmente o esgoto jogado do córrego do Onça,foi o mais poluído. Nessa região, ele viu garimpo, coisa que"achava que não existia mais".

O que assustou também os três amigos foram as redesde pescaria e os espinhéis (cabos de aço de uma margem aoutra com anzóis atravessados). "Chegamos a nos machu-car com o cabo de aço e a ficar agarrados em rede". O médi-co lamenta que sobre "a empolgação que Burton descreve

do rio em termos de potencialidade", na verdade, ele sen-tiu exatamente o oposto.

Pessimismo"Começamos a ter muito mais respeito. Passamos mesmo a

fazer a apologia, a pregar a preservação, foi quase uma conver-são mesmo", diz Wilson, após essa experiência, em que viramo impacto da poluição do rio. "Quando passo na rua e vejo umsaquinho de plástico, sei exatamente onde que ele vai agarrar.Vai descer por um bueiro, vai chegar no Arrudas e agarrar naque-le galho que passei pelo rio. Uma coisa muito dramática".

Embora o motivo da viagem fosse mais "a reverência ao rio",e não a denúncia de sua situação, quando voltaram da viagem,assustados com a poluição, os três encaminharam à FundaçãoEstadual do Meio Ambiente um relatório com fotos denuncian-do a degradação do Velhas. "Se não mobilizarmos nós, quesomos apaixonados, quem não é, não se mobilizará mesmo",afirma.

Embora haja uma distância de 27 anos entre a viagem de

Derek e a dos três médicos, uma coisa os une: o pessimismo.Derek não vê boa perspectiva em relação à preservação danatureza, em geral, pois "o Homem só enxerga o dia de hoje, nãovê o amanhã".

Já Wilson acha que "a reversibilidade do processo depoluição e de assoreamento do Velhas será complicadíssimo".Segundo o médico, houve momentos que teve a sensação de"estar descendo pelo esgoto mesmo", devido à alta quantidade deplástico, galão, garrafa, e restos de lixo.

Louraidan LarsenEstudante de Comunicação da UFMG

Manuelzão Belo Horizonte, Dezembro / 200208

Aventureiros ccontam aa ffaçanha dde ddescer oo VVelhas

Plástico, aassoreamento, eespinhel

Barrancamento causando assoreamento emtrecho do rio das Velhas

Os médicos Ricardo Faria e Wilson Mayrink,que desceram o Velhas em 1994

• EXPEDIÇÃO •

Ao todo, foram mais de 2000 Km percorridosem barcos diferentes, apropriados a cada tre-cho do médio e do baixo São Francisco. Esse

foi o percurso realizado durante 37 dias, entre outubro enovembro do ano passado, da Expedição Halfeld.

A Rede Marketing, empresa de comunicação, orga-nizou esse projeto, que movimentou cerca de 40 pessoas,dentre geógrafos, jornalistas, historiadores, ambientalis-tas. "O objetivo maior foi integrar uma campanha gover-namental 'São Francisco, Patrimônio Mundial', visandoao reconhecimento internacional desses acervos históri-cos, arquitetônicos, culturais e naturais quepesquisamos", conta o jornalista Américo Antunes, dire-tor da Rede.

Segundo ele, o objetivo soma-se às iniciativas de

revitalização do São Francisco. O material obtido foitransformado em vários produtos, como um relatório,um banco de imagens sobre a expedição e vídeos. Paraele, de modo geral, "o rio conserva ainda muita vitali-dade, seja do ponto de vista natural ou cultural. Ele con-tinua sendo um elo de integração e de identidade".

Américo conta que já estão trabalhando em outroprojeto, ainda sem data para ocorrer, chamado"Caminhos do Sertão". Serão sete rotas, passando por128 cidades. A idéia é fazer um levantamento sobre osacervos naturais e culturais ao longo das principais rotasde interiorização da colonização portuguesa do séculoXVIII.. "Teremos o prazer de convidar o ProjetoManuelzão para uma participação na expedição, princi-palmente na parte do rio das Velhas", diz Américo.

Foto:

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Encontro do Velhas com o São Francisco

Expedição HHalfeld: VVelho CChico

Page 9: Revista Manuelzao 21

"Ejoga fora no lixo! E joga fora no lixo!", diz amúsica. E depois, leva para onde? Sem sabero que fazer com seu próprio lixo, pessoas em

todo o mundo, das mais variadas culturas, aderem aos lixõescomo forma de descarte. Tal atitude, embora rejeitada porambientalistas, promete se arrastar ainda por muito tempo,enquanto não cessar a incansável busca por uma fórmula efi-caz de destinação dos resíduos. A reunião ampliada doConselho do Projeto Manuelzão, ocorrida em 16 de outubro,procurou discutir a linha de atuação do Projeto para o trata-mento dos resíduos sólidos dentro da bacia do Velhas. Aexperiência e os relatos das viagens do jornalista WashingtonNovaes por países da Europa foram essenciais para sinalizarpossíveis caminhos.

A palavra lixo é abominada desde o momento em que apronunciamos. Lixo lembra algo sujo, mal-cheiroso, quepelo menos à primeira vista, já não serve mais pra nada, por-tanto deve ser levado para a sacola que fica no passeio à

espera do caminhãoda prefeitura. Masnem isso aconteceem centenas decidades brasileiras,onde a baixa rendapersiste e nas quaisse verifica a ausênciade qualquer edu-cação ambiental queoriente população eprefeituras. Nestesvários municípiosbrasileiros, o lixonem costuma serensacado, muitasvezes rola morroabaixo, vai parar noscursos d'água, emalgum lote vago ou nos milhares de lixões que se espalhampelo país.

Condição humanaA destinação inadequada do lixo con-

tribuiu para o alastramento da Peste Negra,que matou um quarto da população européiana Idade Média. No Brasil são produzidas125 mil toneladas de lixo por dia, ou 45milhões de toneladas por ano, sendo queapenas 6,4% das cidades brasileiras reci-clam alguma porcentagem de seu lixo. Aprodução de resíduos é inerente à condiçãohumana, e vem se tornando um problema dedifícil solução, que exige a reeducação e ocomprometimento dos cidadãos e do poderpúblico.

Não há como não produzir lixo, mas épossível reduzir essa produção, minimizan-

do o desperdício, reutilizando sempre que possível e reci-clando os objetos que podem ser usados na elaboração denovos produtos. Assim, ao invés de jogar fora o papel queteve um lado usado na impressão, pode-se usar o verso dafolha para imprimir outro texto. Fácil e ambientalmente cor-reto. Vale lembrar que a natureza gasta de três a seis mesespara decompor este produto.

Não existe uma fórmula universal sobre a melhor soluçãopara o tratamento dos resíduos. Não existe mesmo um con-senso sobre o assunto. Para alguns, cada caso deve ser exa-minado em especial. "Cada município tem suas peculiari-dades e os fatores condicionantes devem ser minuciosamenteestudados para fundamentar a escolha de uma logística", afir-ma a bióloga Jane Pimenta, do grupo técnico do ProjetoManuelzão. E embora as peculiaridades sejam importantes,é incontestável a urgência de um agir coletivo para chegar auma solução. "Hoje existe uma consciência local, não existeuma consciência de bacia", alerta o coordenador do ProjetoManuelzão, Apolo Heringer Lisboa.

Manuelzão Belo Horizonte, Dezembro / 2002 9

Luana CuryEstudante de jornalismo do Unicentro Newton Paiva

Reunião ddo CConselho ddebate oos pproblemas ddo llixo

Para o jornalista e ex-secretário de Meio Ambientedo Distrito Federal, Washington Novaes, énecessário também definir quem é o responsável

pelo lixo, isso em nível nacional. "Quem gera o lixo éresponsável por ele, essa consciência já existe em países daEuropa", diz. O jornalista produziu o especial "O Desafio doLixo", uma série de cinco documentários exibidos em junhoe julho de 2001 pela TV Cultura de São Paulo, que retrata aquestão do Lixo em países como Itália, Alemanha, Noruegae Estados Unidos e os caminhos encontrados por seus gover-nos para lidar com o problema.

Na série, Washington destaca exemplos como o daDinamarca, onde é proibido o uso de latas no armazenamen-to de bebidas alcoólicas e refrigerantes. Além disso, o leite évendido em embalagens de vidro e o uso de embalagensplásticas e das famosas Tetra Pak é proibido. Na Alemanhaos produtores de embalagens são responsáveis por todo ociclo, cabe a eles coletar o lixo e se responsabilizar pela des-tinação final. Os cidadãos têm de separar todo o lixo orgâni-co e pagar taxa equivalente ao volume produzido. No Brasilnão se prevê a adoção de tal medida, já que o Judiciário sóaceita cobrar alguma taxa se houver medição do volume, enão há, por enquanto, meios para fazê-lo.

Outro exemplo é o da cidade de São Francisco, nos EstadosUnidos, que hoje tem uma das melhores legislações no assun-to, reciclando 42,5% do lixo domiciliar. "A idéia é a de que

quanto mais se recicla, menos se paga", explica Washington.Na Noruega, apesar do rei fazer a compostagem de seu própriolixo, a medida de maior impacto até agora tem sido exportarparte do lixo para a Suécia, onde os aterros são mais baratos,apenas transportando o problema. "De uma forma geral, háproblemas em todos os países, e embora algumas alternativasnão possam ser implantadas no Brasil, alguns exemplos podemser adaptados para nosso contexto", afirma o jornalista.

Embora o Brasil ocupe posição de destaque reciclando90% das latinhas produzidas, somente 30% das garrafas Petsão recicladas. A formulação do Plano Nacional de ResíduosSólidos, projeto de lei de autoria do deputado federalEmerson Kapaz, representa um crescimento da preocupaçãocom o assunto. O projeto estipula, entre outras coisas, aresponsabilidade compartilhada entre o poder público, acadeia produtiva e os consumidores e traz o princípio dos3Rs (redução, reutilização e reciclagem) mas corre o risco decair no esquecimento. "A tramitação é morosa, o projeto jápassou por várias modificações e pode ser engavetado com anão-reeleição do deputado", alerta Washington Novaes.

Para a técnica da Fundação Estadual do Meio Ambiente(Feam), Ana Luíza Dolabella, a presença de aterros deveocorrer paralelamente à adoção de outras medidas. "Mesmocom a reciclagem é necessário o aterro, para receber orejeito. No que diz respeito à bacia do Velhas, a melhorsolução seria uma gestão integrada na bacia, com redução do

volume produzi-do e aumento dacompostagem eda reciclagempara se reduzir anecessidade dosa t e r r o s " ,defende.

P a r aW a s h i n g t o nNovaes, o pri-meiro passo éelaborar um dia-gnóstico da situ-ação do lixo nabacia, o que jácomeça a serfeito pelo Ma-nuelzão em par-ceria com aFeam.

"O relatório daria credibilidade a qualquer ação",ressalta Washington. "No segundo momento temos a buscade recursos, que podem ser conseguidos com o FundoNacional do Meio Ambiente ou com a Agência Nacional deÁguas (ANA)", lembra ele.

Lixo na Lagoa da Pampulha em setembro 2002

Jornalista aalerta ppara nnecessidade dde ddefinir rresponsabilidades

O jornalista Washington Novaes, especialista na questão ambiental, auxiliou na discussão de alternativas

Jornalista Washington Novaes

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• POLÍTICAS PÚBLICAS •

Reunião ampliada do Conselho do Projeto Manuelzão debate alterna-tivas para tratamento de resíduos sólidos na bacia do Velhas

Page 10: Revista Manuelzao 21

Asétima Companhia de Polícia Militar de MeioAmbiente adquiriu esse ano equipamentos quetornarão mais eficiente o serviço prestado à

comunidade. A PM agora consegue fazer um banco de dadosque permite uma organização de informações, facilitando aidentificação dos envolvidos nos crimes ambientais mais fre-qüentes.

Entre os equipamentos está o geoprocessador global(GPS) que possibilita o envio de imagens por satélite, faci-litando a localização e diagnóstico dos problemas de qual-quer região de Minas Gerais, inclusive de alguns locais antesinacessíveis. O aparelho fornece ainda as coordenadasgeográficas dos locais onde são identificadas alterações noquadro natural.

Salve o ChicoOs equipamentos facilitam a gestão do Projeto de

Proteção e Revitalização do rio São Francisco "Salve oChico", criado esse ano. Nele estão também inseridas asbacias do Velhas e do Paraopeba por serem importantes aflu-

entes do São Francisco. Haverá o treinamento, na primeirafase do projeto, de 80 militares da sétima Companhia, em umcurso de recuperação de microbacias. Foram treinados tam-bém 120 voluntários chamados "Anjos do São Francisco",que ajudarão no projeto. "O policial de meio ambiente deve

ter uma gama de conhecimentos muito diferenci-ada" explica Juarez ao enfatizar o grande volumede treinamento recebido pelos militares.

O trabalho realizado pela PM na bacia do riodas Velhas e na do rio Paraopeba necessita demaior articulação com órgãos como a FundaçãoEstadual de Meio Ambiente (Feam), o InstitutoMineiro de Gestão das Águas (Igam) e com técni-cos do Projeto Manuelzão, cuja parceria é recente.O major da 7ª Companhia, Aryone Juarez, enfati-za que o trabalho articulado é ainda uma das defi-ciências do sistema: "Apesar de nos entendermoshorizontalmente muito bem é necessária umamelhor articulação".

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dosRecursos Naturais Renováveis (Ibama) forneceucerca de quatro milhões de reais para o projeto

“Salve o Chico”. Depois de saírem os primeiros resultados, asétima Companhia tem a intenção de expandi-los quandopositivos para outras bacias, principalmente as mais ativas,como é o caso do Velhas, junto com o Manuelzão, recente-mente visitado por oficiais da companhia.

Priscila Machado e Marcella FurtadoComunicação da UFMG

Quem conhece o projeto Manuelzão sabe que ele éproduto da Universidade Federal de Minas Gerais.Mas como isso funciona? Como a instituição con-

tribui para a volta do peixe ao rio das Velhas? O coordenadordo projeto, Apolo Heringer Lisboa, responde que o apoio dauniversidade "é grande, mas não o suficiente". A boa notícia éque a atual reitora, Ana Lúcia de Almeida Gazzola, concordacom a colocação. Tanto que no dia 1º de outubro foi realizadaa primeira reunião de trabalho entre representantes do Projetoe da Reitoria.

O Projeto Manuelzão nasceu no Departamento deMedicina Preventiva e Social da Faculdade de Medicina daUFMG, dentro do programa chamado "Internato Rural". Neleestudantes de medicina do 11º período fazem residência de 3meses em pequenas cidades do interior. O Manuelzão foi cria-do, a princípio, com o objetivo de fazer interferências efetivasna vida das pessoas atendidas pelos "futuros médicos". Paraisso o Projeto não se concentrou apenas na área de assistênciamédica, mas também em questões relacionadas a problemasambientais, como a despoluição de córregos, e ao resgate dacidadania.

A escolha por um trabalho amplo fez o projeto crescer den-tro da UFMG. Hoje, além do curso de Medicina, contribuemcom o Manuelzão também as escolas de Engenharia,

Veterinária, Música, Faculdade de Direito, curso deComunicação Social e institutos de Geo-Ciências e deCiências Biológicas. Mas o apoio da Universidade não cresceuno mesmo ritmo. Apolo reclama, por exemplo, de problemasna liberação de bolsas. Segundo ele, na reunião isso foi expli-cado à Reitora, que se comprometeu a buscar soluções imedi-atamente, priorizando as boas iniciativas transdiciplinares.

A organização de reuniões de trabalho entre representantesdo Projeto e da Reitoria foi o maior avanço dessa nova postu-ra da Universidade. "Por meio de reuniões a reitora percebenossas dificuldades e nossos objetivos, dá opinião, discorda eapóia", diz Apolo. Ele avalia que duas reuniões, por ano, játornariam a Reitora mais próxima dos problemas doManuelzão. Outro resultado dessa primeira reunião é queagora qualquer um pode acessar a página na internet do ProjetoManuelzão diretamente pelo site da Universidade.

Manuelzão Belo Horizonte, Dezembro / 200210

Sílvia AraújoEstudante de Comunicação da UFMG

Oprojeto Manuelzão trabalha transdiciplinarmentee integra diversas áreas da UFMG. De acordocom Apolo é um erro considerá-lo apenas como

um projeto de Extensão, nome dado a programas daUniversidade voltados para a comunidade externa. Apoloafirma que "o Projeto Manuelzão rompeu barreiras disci-plinares, departamentais, de unidades e integrou extensão,pesquisa e ensino," resume ele.

O Manuelzão também "rompeu o Campus da UFMG" eestabeleceu contato com outras universidades, escolas públi-cas e particulares, órgãos de governo e setor empresarial.Fora da universidade, trabalha com a população por meio decomitês Manuelzão de bacia. A reitora Ana Lúcia Gazzola

propôs que o Projeto Manuelzão seja transformado em"Programa Institucional Especial" da universidade. Apoloexplica que isso é resultado da necessidade de se consideraro Manuelzão como um núcleo transdiciplinar. "O projeto pre-cisa ter melhor condição de funcionar na UFMG, que temestrutura fundada em disciplinas e departamentos", diz.

Para o vice-reitor, professor Marcos Borato Viana, oManuelzão será tratado pela UFMG “como paradigma do quenós desejamos de um projeto que possui excelência erelevância social, envolvendo, de forma equilibrada, as áreasde ensino, pesquisa e extensão. O que pretendemos é torná-loainda mais abrangente, atingindo o maior número deUnidades e Departamentos da UFMG.”

Manuelzão ppode vvirar pprograma eespecial

Soldado da sétima Companhia de Polícia Militarde Meio Ambiente colhendo dados de campo

O Projeto Manuelzão não é uma ONG,Organização Não-Governamental. Ele está ligado aUniversidade Federal de Minas Gerais. A sua basejurídica e funcional se encontra dentro da UFMG."Porém a questão jurídica não esclarece tudo", comen-ta Apolo Heringer, coordenador geral do Projeto.

Tendo em vista prováveis necessidades futuras, oProjeto Manuelzão criou o "Instituto Guaicuy- SOS Riodas Velhas". O Instituto é uma ONG devidamente re-gistrada, porém virtual. Nenhuma ação financeira oupolítica independente foi realizada por ele. Tanto que onome fantasia do Instituto Guaicuy é também"Manuelzão" .

A ONG apenas dá maior flexibilidade ao ProjetoManuelzão. Ela pode ser necessária, por exemplo, parapermitir a representação do Projeto em órgãos de baciashidrográficas e organismos internacionais de ONGs.Apolo explica que isso também facilita a relação dacoordenação do Projeto com ONGs do interior que par-ticipam dos próprios comitês Manuelzão.

No entanto, ele lembra que o projeto não pode sedesvincular da UFMG e se transformar em uma organi-zação não-governamental. "A força do Manuelzãodeve-se muito ao prestígio e apoio que recebe daUniversidade", afirma. Apolo brinca que "apesar de termuitas caras, o Projeto tem personalidade forte".

Ser ou não ser ONG

Reitora dda UUFMG ppromete mmais aapoio aao PProjetoUniversidade pode transformar Manuelzão em programa especial, paradigma de excelência acadêmica

A Reitora Ana Lúcia Gazzola e o coordenadordo projeto Manuelzão, Apolo Heringer Lisboa

Polícia FFlorestal mmoderniza ssua eestrutura ee aajuda SSão FFrancisco

• UNIVERSIDADE •

Page 11: Revista Manuelzao 21

Manuelzão Belo Horizonte, Dezembro / 2002 11

Grupo TTécnico ddá ssuporte aaos CComitês MManuelzão

Os Comitês do Manuelzãonão são mais organizadospor municípios, distritos ou

bairros. Desde o final de 2001, elespassaram a ser formados seguindo alógica do terreno natural da baciahidrográfica, que é transmunicipal.Segundo Apolo Heringer Lisboa, coor-denador do Projeto Manuelzão, adivisão dos municípios, tal qual aconhecemos hoje, é uma herança dalógica das capitanias hereditárias e ses-marias do período colonial, sendo arbi-trária na questão do meio ambiente.

A antiga divisão dos Comitês repre-sentava uma contradição à metodologiado Projeto, cuja definição teórica é porbacia hidrográfica. "Passamos a ter difi-culdades em efetuar a organização dos

Comitês", afirma Apolo. Uma das con-seqüências dessa mudança é unir osmunicípios mais próximos pelas seme-lhanças físicas do terreno, para que suasações se complementem a partir de umamaior articulação entre eles. A interli-gação dos municípios está de acordocom a ideologia do Projeto, pois todasas ações operacionais práticas doscomitês convergem para um objetivocomum, a volta do peixe ao rio dasVelhas. Apolo acrescenta: "a nossa con-cepção é da gestão completa da baciado rio das Velhas. Todos os comitêsdevem estar interligados como se abacia fosse um único município".

Os comitês não se restringem àscidades ribeirinhas, mas envolvem todaa área geográfica da bacia. Eles são sus-tentados por núcleos, associações demoradores, grupos de pessoas que

implementam pequenas ações em esco-las e bairros. A formação de comissõesde quarteirão, inicialmente em BeloHorizonte, é o próximo objetivo. Anoção de que fazem parte de uma baciahidrográfica pode levar as pessoas acontribuir para sua gestão, fiscalizando,entre outros fatores, os processos deimpermeabilização do solo, que impedeque a água das chuvas infiltre e chegueaos lençóis subterrâneos.

Um sinal positivo dessa mudançana organização dos comitês, de acordocom Apolo, é que a comunidade sesente parte integrante da bacia e desa-parece a idéia de divisão por município,cuja lógica eleitoral leva a conflitossecundários e à prevalência dasquestões partidárias sobre as ambien-tais. "O cidadão começa a ter uma iden-tidade territorial de bacia".

Qualquer pessoa pode participar do ProjetoManuelzão, integrando o comitê de bacia onde mora.

Basta procurar o núcleo de seu bairro, cidade ouregião geográfica. A participação é democrática e aber-ta a todos. É só começar a ir às reuniões.

O Projeto também faz contrato formal de volun-tários. Neste caso, são aceitos estudantes universitáriosde qualquer universidade e área de atuação.

Assinado o contrato, o Projeto encaminha o volun-tário para atividades relacionadas ao curso em que estáse graduando. Ele pode trabalhar na sede do Projeto ouem um dos muitos comitês espalhados pela bacia do riodas Velhas. Muitas áreas de conhecimento sãoaproveitadas, já que o Projeto é transdisciplinar.

Nova oorganização ddos ccomitês ccria iidentidade dde bbacia.

Para saber sobre a existência de comitês em suaregião, ligue (31) 3248-9959 e converse com ReginaMiranda, gerente do Grupo de Articulação e Suporte aosComitês.

Sara Abreu e Priscila MachadoEstudantes de Comunicação da UFMG

Formado por 12 profissionais de diversas áreas, comoengenharia, geologia, veterinária, biologia e direito, o GrupoTécnico do Manuelzão foi criado para assessorar as ações doProjeto e dar suporte técnico aos comitês. O grupo atende asdemandas dos comitês das sub-bacias do rio das Velhas, assimcomo de prefeituras e da comunidade. Segundo o coordenadordo Grupo Técnico, o engenheiro Inácio Paulo Fernandes, asações têm que estar inseridas na gestão integrada de recursoshídricos, não podendo ser isoladas.

O trabalho dos membros consiste na produção derelatórios de aconselhamento sem qualquer custo para osrequerentes, visando à análise dos problemas e dos possíveiscaminhos para resolvê-los. Inácio explica que o projeto nãoconcorre com o mercado de trabalho, pois não atua na exe-cução das obras.

O Grupo surgiu no primeiro semestre deste ano dentro doProjeto para atender as demandas das comunidades. Para ocoordenador, sua criação aconteceu de maneira quase que na-tural, já que a maioria dos membros acumulava experiência nafundação de comitês. Inácio lembra que o grupo não está

fechado, sendo crescente a incorporação de novos membros.O geólogo e ex-diretor do Instituto de Geo-Ciências da

Universidade Federal de Minas Gerais, Edézio Teixeira deCarvalho, ressalta que a técnica qualifica o ProjetoManuelzão. "Temos um diferencial das outras entidades, há na

questão ambiental muito lugar comum, as pessoas falam sema necessidade de confirmar, de dar suporte".

Uma das biólogas do grupo, a consultora da, FundaçãoEstadual do Meio Ambiente (Feam), Jane de Paula Pimenta,afirma que além do amparo técnico, é preciso sensibilizar acomunidade por meio da educação ambiental. "Somente cam-panhas constantes de mobilização da sociedade podem garan-tir a manutenção dos projetos", diz.

O Grupo Técnico só acolhe as demandas de prefeiturasquando estas assumem relação de cooperação com oManuelzão via comitês locais, pois o grupo não pretende seruma empresa de consultoria sem ônus. As primeiras entrevis-tas e definições passam pelo coordenador, que explica que atendência hoje é o grupo concentrar-se em projetos pequenosalternativos e replicáveis, que possam ser incorporados aoshábitos tanto no meio rural quanto urbano.

Danilo Barros e Gésio PassosEstudantes de Comunicação da UFMG

Desde o mês de agosto, o Projeto Manuelzão traba-lha com o Grupo de Articulação e Suporte aosComitês, responsável por fazer o acompanhamen-

to da atuação de todos comitês Manuelzão e servir de canal deinformação dos mesmos com a coordenação do projeto. Aequipe é formada por cinco membros do projeto: DanielaBrandão, Marcílio Castro, Ronald Guerra (Roninho) e Mariado Carmo Brito, e a gerente Regina Miranda.

A idéia surgiu depois da aplicação de questionários avalia-tivos, que mediram a presença e a importância do projeto den-tro dos comitês. O resultado destes questionários apontou queos membros dos comitês, muitas vezes, não tinham uma pessoacomo referência dentro do projeto, além da coordenação, aquem pudessem pedir orientação e repassar informações.

A necessidade de acompanhar e dar suporte aos comitêsimpulsionou a formação do grupo. Segundo Daniela Brandão,"a proximidade dos comitês com o projeto é muito importante,pois evita que eles fujam das propostas do Manuelzão".

Cada um dos membros do grupo é responsável por darassistência a um conjunto de comitês, servindo de "ponte" coma coordenação geral do projeto. "A atuação do grupo tem faci-litado muito o tráfego das informações, pois os comitês têmuma pessoa certa de contato aqui no projeto", afirma Daniela.

O grupo tem auxiliado e orientado os comitês quando énecessário o diálogo com órgãos externos à esfera do Projeto euma melhor articulação com o Grupo Técnico do ProjetoManuelzão. Ele promove ainda diversas atividades, como o II

Encontro de Comitês, (realizado em junho), que teve comoprincipal foco a troca de experiências. No momento está sendoestudada a possibilidade de se realizar cursos de capacitação,em diversas áreas, oferecendo aos participantes dos comitêstambém um conhecimento técnico.

Grupo de Articulação e Suporte aos ComitêsTelefone: 32489959 - Regina MirandaFax: 3248-9819Email:[email protected]

Carolina SaloméEstudante de Comunicação da UFMG

O coordenador do Grupo Técnico,engenheiro Inácio Paulo Fernandes

Grupo dde aarticulação uune ccomitês ee ccoordenação ddo PProjeto

Grupo Técnico do Projeto Manuelzão

Rua Rio Grande do Norte, 57 - salas 806 e 807 - BairroSanta Efigênia. Cep: 30130-130 - Belo Horizonte/ MG .Telefones: 3248-9959 Regina Miranda (gerente)

3273-3162 Marcus Vinícius (estagiário).

• APOIO •

Daniela Brandão Marcílio Castro Ronald Guerra Maria do Carmo Brito Regina Miranda

Como eentrar ppara ooProjeto MManuelzão

Page 12: Revista Manuelzao 21

Manuelzão Belo Horizonte, Dezembro / 2002

Educação ambiental para uma ação transformadora.Este é o objetivo do projeto "Água nossa de todavida", uma parceria entre Copasa, Projeto

Manuelzão e Prefeitura de Belo Horizonte. A proposta temmobilizado a comunidade de bairros próximos à sub-bacia doribeirão do Onça a realizar ações concretas para preservar omeio ambiente, especialmente no que se refere aos recursoshídricos.

Atualmente, participam do curso cerca de 60 pessoas,divididas em duas turmas,uma do Comitê Nossa Senhora daPiedade e outra do Imbiras. Participam líderes comunitários,idosos, jovens e crianças selecionados pelos próprios comitês.O curso aborda tópicos de legislação ambiental, desperdício,esgoto, lixo doméstico e ambiental, relações humanas, preser-vação de matas e mineração. As discussões apresentadas têma água como ponto de partida e referência para os outrostemas. As atividades começaram em agosto e o cronogramavai até o início de dezembro.

Ana Maria Mansoldo, coordenadora do projeto e psicolo-ga do setor de assuntos comunitários da Copasa, ressalta que,no decorrer do curso, os participantes refletem sobre o sig-nificado da água em suas vidas e os problemas do lugar emque vivem. A parte prática tem maior importância, já que opropósito é formar agentes de mudança. Para ela, é precisoestabelecer a conexão do urbano com o natural. "O ambiente

envolve tudo o que está a nossa volta". Destacam-se tambéma percepção global do meio ambiente, a consciência dacidadania e a ação dos comitês na gestão dos recursos hídri-cos.

Intervenção nas comunidadesO curso inclui ainda a apresentação de projetos de inter-

venção no ambiente, focalizando-se especialmente o lixo, orio, a infra-estrutura urbana e as relações interpessoais. Sãorealizadas visitas a estações de tratamento de esgoto e água ea córregos locais. Tais projetos continuarão a ser executadosmesmo após o término do curso, já que as mudanças desejadassomente ocorrerão a médio e longo prazos. Ana Maria cita oexemplo da Praça Cândido Portinari, adotada pela turma doComitê Nossa Senhorara da Piedade que tem feito umapesquisa sobre a percepção do local pela comunidade. Quantoà expansão dos cursos, a coordenadora informa que ainda nãohá nada definido, embora haja convites de outros comitês.

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Parceria lleva eeducação aambiental aaos CComitêsNossa SSenhora dda PPiedade ee IImbiras

Gésio Passos e Flávio Henrique Lage Estudante de Comunicação da UFMG

No dia da árvore, 21 de setembro, ocorreu aabertura do Projeto Vida, na praça do bairroda Estação, no município de Matozinhos, a

50 Km de Belo Horizonte. O projeto foi realizado a par-tir de uma parceria do Comitê Ribeirão da Lapa e daEscola Pé-de-Moleque, localizada no mesmo bairro.Alunos de 7 a 10 anos participaram de uma oficina dereciclagem, com a artista plástica Joana D´arc e da trocade mudas. O evento promoveu a conscientização ecoló-gica e contou, também, com a participação dos profes-sores e comunidade em geral.

Os materiais para a oficina foram levados pelosalunos e eram entre outros, garrafas de refrigerante,embalagens de leite, de ovos e de iogurte. Os objetoscriados com esses materiais variaram de brinquedos autensílios. As mudas, de árvores frutíferas e ornamen-tais, foram doadas pelos alunos, pela comunidade e peloDepartamento Municipal do Meio Ambiente. Elas foramtrocadas entre os participantes do evento e mesmo quemnão doou teve a oportunidade de ganhar uma para plan-tar em casa.

O Projeto Vida é, na verdade, uma continuidade deoutros já realizados pela escola. "O objetivo é criar nacriança a noção que temos que cuidar da natureza, domeio ambiente", explica Patrícia Alvarenga, propri-etária da escola.Chiquinha, coordenadora do ComitêRibeirão da Lapa, completa ressaltando os resultadosobtidos: "Antigamente nem se ouvia falar em meioambiente. Hoje, em Matozinhos, as 27 escolas estãoenvolvidas na questão ambiental, na questão da quali-dade de vida."

Parceria ccom eescola ccriaprojeto eem MMatozinhos

Priscila Machado e Vinícius UtschEstudante de Comunicação da UFMG

Rômulo Perilli, da Copasa, assina convênio queviabilizou o projeto "Água nossa de toda vida"

• MANUELZÃO VAI À ESCOLA •

O “Manuelzão vai à escola” recebeu 65 projetos que atender-am aos pré-requisitos do edital para o 2º concurso “Premiandoa Educação Ambiental na bacia do rio das Velhas.” São proje-

tos de várias cidades no alto, médio e baixo rio das Velhas. A lista dos professores premiados será divulgada na próximaedição do jornal. Confira a listagem dos projetos recebidos :

Premiando aa EEducação

Nome da EscolaEE Afonso Soares de FreitasEM Prof. Edgar da Matta MachadoEE Margarida BrochadoEM Carlos Drummond de AndradeEE José Mendes CorrêaEE Djanira Rodrigues de OliveiraEM Cônego SequeiraEM Antônia FerreiraEE Professor MoraisEM Fernando Dias CostaEM Antonia FerreiraEM José Madureira HortaEE Geraldo Jardim LinharesEM Francisco Magalhães GomesEM Padre Joaquim Saturnino de FreitasEM Padre Joaquim Saturnino de Freitas EM Padre Joaquim Saturnino de FreitasEM Pedro José FerreiraEM Doutor Sabino BarrosoINECAC - Instituto Educacional da Criança e do AdolescenteEM Eduarda Pereira OliveiraEM José Ovídio GuerraEM Tiradentes/Des. Carlos Horta/Victor Viana/Pe.Renato Wan

Gessel/Pedro Pereira MarizEM Cristo ReiEM Nair Lima de AguiarEM Mestra Risoleta LimaEE Bolívar de FreitasEE Irmã Clarentina e E.E.Bolívar de FreitasEE São Vicente de PauloPré Escolar "Pequeno Universo"Pré Escolar "Pequeno Universo"Pré Escolar "Pequeno Universo"EE São Vicente de PauloEE Interventor Alcides LinsAPAE-Curvelo - Escola Especial Padre Paulo Rutten EE Teófilo Alves da SilvaEE Teófilo Alves da SilvaEE de GuaicuíEM Professor Mello TeixeiraEE Prfº Vitiza Octaviano VianaEM Dona Jovina de Mello VeadoEE João Felipe da RochaEM Benvinda Pinto RochaEM Florie Wanderley DiasEE George ChalmersEE Josefina Wanderley AzeredoEE Dom VellosoEM Jeliomar BrandãoEM Dr. Francisco dos Santos CabralEM Sagrado Coração de JesusAPAEEE Maria da Glória AssunçãoEE Pedro de Alcântra NogueiraEE João Corrêa ArmondEM Ilka Maria Munhoz GurgelEM padre Geraldo de SouzaEM Santos DumontEE Geraldo Teixeira da Costa EE Professor Domingos OrnelasEE São João da EscóciaEE Prof. Candido Azeredo EM Thaís Waldolato EM Thaís Waldolato EM Deputado Jorge FerrazEE José Gabriel de Oliveira

MunicípioAugusto de LimaBelo HorizonteBelo HorizonteBelo HorizonteBelo HorizonteBelo HorizonteBelo HorizonteBelo HorizonteBelo HorizonteBelo HorizonteBelo HorizonteBelo HorizonteBelo HorizonteBelo HorizonteCaetéCaetéCaetéCaetéContagemContagemContagemContagemCorinto

CorintoCorintoCorintoCurveloCurveloCurveloCurveloCurveloCurveloCurveloCurveloCurveloEsmeraldasEsmeraldasGuaicui/V. da Palma Lagoa SantaMatozinhosMatozinhosNova LimaNova LimaNova LimaNova LimaNova LimaOuro PretoPrudente de MoraisRapososRapososRapososRibeirão das NevesRibeirão das NevesRibeirão das NevesRibeirão das NevesSabaráSabaráSanta LuziaSanta LuziaSanta LuziaSete LagoasVárzea da PalmaVárzea da PalmaVespasianoVespasiano

Nome do ProjetoÁgua, fonte da vidaVila fazendinhaÁguaEducação ambientalVidaA beleza do meio ambientePreservação da bacia do rio das VelhasViver a "Educação Ambiental" é aprender a ...O rio Arrudas: ontem e hoje. E amanhã como será?Educação ambientalMeio ambienteInterdisciplinar grande sertão veredas Aação ambientalLago do ChiquinhoO homem e suas relações políticas e ambientaisSolo e água fonte de vidaQueremos batata Meio ambienteÁgua: um tesouro em perigoO pequeno jardineiroEcologizarÁguas de contagemLixo - A grande questão ambiental. Meio ambienteRecuperação da nascente do córrego do MimosoColeta seletiva - ArborizaçãoSOS Córrego Santo Antônio5ª etapaVida ao córrego Santo Antônio Conscientização ambientalO novo VelhasÁgua: necessidade vital. Como conservá-la ?Renascer com o Velhas Água - revitalizarÁgua, um tesouro a ser preservadoDespoluir o Córrego Santo AntônioMeio ambiente e cidadaniaCuidando do lixo, preservando a vidaÁgua fonte de vidaPreservação das águas de MinasMeio ambiente, recurso da genteHorta e jardim. Plantas que curamEscolas e o meio ambiente de Nova LimaO que fazer e como tratar o lixo e o esgoto das cidadesMeio ambienteResgatando o meio ambienteEducação ambientalNascentes, o brotar da vida em nossas mãosEducar para preservarMeio ambienteA educação ambiental na bacia do Rio das VelhasÁguaEducação ambiental na escolaEducação ambientalO metro quadradoO leitor proficiente, cidadão consciente, recupera o meio ambienteH2O X natureza, restituindo nossas vidasCaminhada ecológicaPoluição das águasOlhar ambientalUm vale um milhãoVapabuçú - Terra dos lagos encantados, até quando? Recuperação do córrego latrinaMeio ambiente a arte de viver em paz com a naturezaOs recursos naturais e seus extratosSOS bacia do rio das Velhas

Page 13: Revista Manuelzao 21

“Deus criou a natureza commuito amor, para os homens etodo ser vivo. Criou o rio das

Velhas que é importante, principalmentepara a comunidade de Beltrão, porqueele oferece o peixe que sustenta a vidade muitas famílias, a água para o gadobeber, a areia para a construção decasas. Algumas pessoas plantam hortasnas suas margens, todos os animaistomam água no rio das Velhas. Por issoele é importante na comunidade. Masalgumas pessoas não têm respeito, nãotêm amor à natureza, estão acabandocom o rio das Velhas, jogando lixos eassim a água fica poluída e faz mal àsaúde. Então vamos evitar jogar lixos norio e não deixar nada perto das margensporque a chuva leva tudo para dentro dorio.

Vamos evitar a poluição do riodas Velhas porque é uma situaçãotriste para as pessoas que ainda temamor no coração”.

Nailde dos Santos Araújo - 2ª série

“O rio das Velhas é muito impor-tante para o nosso povo deBeltrão, porque muitas famílias

tiram o sustento dele. Elas pescam ospeixes de anzóis, redes, etc.

Na comunidade de Beltrão quasenão tem serviço e com a pesca as pes-soas podem sobreviver, comendo evendendo os peixes.

O rio das Velhas deságua no rio SãoFrancisco e é por isso que não podemospoluí-lo, pois assim estaremos poluindotodos os rios”.

Rozangela Félix de Araújo - 3ª série

“O rio das Velhas faz parte davida do povo de Beltrão e demuitas outras pessoas de ou-

tros lugares que o rio percorre aolongo do seu projeto.

Além de bonito, o rio das Velhasdeságua no rio São Francisco quepossui a hidrelétrica que distribui aenergia para todo o Brasil. Então comisso já temos uma idéia da importân-cia do rio das Velhas na nossa comu-nidade. O que falta para a nossacomunidade e para todos do Brasil éconsciência do quanto o prejudicamosjogando lixo nele.

Por isso fica aqui o meu apelo. Nãopolua os rios. Nós e todos os seresdependemos deles para viver. Cuidebem dele!”

Maria Terezinha Soares Rocha - 4ª série

Manuelzão Belo Horizonte,Dezembro / 2002 13

"A importância do riodas Velhas para a

comunidade de Beltrão"Em cerimônia realizada no dia 12de outubro no distrito de Beltrão,em Corinto, foi oficializado o

Comitê do Rio Bicudo. A reunião foi con-duzida pelo coordenador do comitê, MárioHayden, e pelo professor Tarcísio Pinheiro,que salientou a importância do momento:"a alma do Projeto Manuelzão são oscomitês".

O seminário ocorreu na escolaMunicipal Antônio Maldini, e contou com aapresentação de trabalhos feitos pela comu-nidade local. Um deles foi um concurso deredação entre as crianças da escola, com otema "A importância do rio das Velhas paraa comunidade local".

Mereceu destaque também a presençade membros de Morro da Garça, cidade vi-

zinha à Corinto, onde nasce o Bicudo,e que fazem parte do comitê. Elesforam oferecer seu apoio à comu-nidade de Beltrão. O Comitê seencontra bastante articulado, desen-volvendo atividades que envolvemparcerias com empresas e instituiçõesambientais e a participação dosmoradores. Exemplo disso é ummutirão de plantio de árvores na zonaurbana, planejado para o fim desteano, no qual cada morador irá adotara muda que for plantada em frente àsua propriedade

Um dos coordenadores do comitê,Luiz Felippe, ressalta a importância do rioBicudo para a bacia do rio das Velhas: "OBicudo é um rio que ainda não se encontramuito poluído, e por isso é fundamentalpara a recuperação do Velhas". Segundo

ele, a criação do Comitê do Rio Bicudo éfundamental para facilitar o trabalho depreservação na região. Esteve presente tam-bém o prefeito de Morro da Garça, JoséMaria de Castro Matos

Reunião eem BBeltrão ccria CComitê ddo RRio BBicudoCaroline Delmazo, Ingrid Aguiar e Jonas Rodrigues

Estudantes de Comunicação da UFMG

Tasso Alvarenga*

Eu acordei bem de manhã, 13 de outubroParecia uma bela sexta feira Com o cantar bem tristonho da cauãEu pensei comigo a cauã diz que traz muito azarMas, bobagem, curió, passo preto e curió também estavam a can-tar

Eu tomei meu cafezinho com um pedaço de bolo gostosoDa minha mulher e da filha eu ganhei um beijo bem carinhosoEu tinha que ir bem depressa pegar a conduçãoE atravessar nosso rio, o gigante da região

Eu não sabia o que me esperava na travessia do rioO Sol estava raiando, acabando com o resto do frioEu cheguei lá no barranco para no rio entrarFiquei bastante assustado com os peixes no barco a encostar

O que eu vi foi muito bonito, mas nunca queria ver nãoEu vi piaus, mandis e cascudos, muito mais de um milhãoEu olhei para o meio do rio e vi aguapés e sujeiraToda vez que os vejo, logo penso outra besteiraSerá que já vêm outra vez esses aguapés assassinos?Todo ano eles vêm marcar a morte dos peixes grandes e pequeninos

Eu fui remando bem devagar o meu pequeno barco de pauAí que eu fui entender que o homem tinha feito outro malSoltou outra bomba lá em cima e caiu no rio a fagulhaNão importam com nossos rios, até pra embelezar a PampulhaSó que aqui vivem os fracos, lá governadores e deputadosMas daqui a pouco tempo vão ver que eles são os erradosEles só pensam no dia de hoje, não vêem que têm filho e parentesQue aqui vive um povo pobre, que come peixe, mas são gentesPra muitas vezes matar a fome dos seus por uns diasQuantas ocasiões este rio nos trouxe tanta alegria

Eu olhei mais assustado ainda para o outro lado do rioE senti, meus amigos, foi tristeza e até calafrioAli vi peixes maiores: dourado, pirá, surubimE perguntei a mim mesmo: por que eles pulam assim?

Então eu fui entender por que estavam pulandoEstavam à procura do ar que na água estava faltandoEu olhei para o céu e vi que ele estava escurecendoQuanto mais escurecia mais peixes iam morrendo

Eu pedi a meu grande Deus que mandasse até um temporalPois com a água em grande volume, podia voltar tudo ao normalMas ele me respondeu: E eu, que criei toda esta grandeza,E seu irmão acaba com tudo: com a água, com o ar, com anatureza

Eu tornei a ficar assustado com o vulto que vi no céuParece que Deus me dizia: Passa isso tudo pro papelMas isso era tão grande, não dá para aqui relatarA mortandade era imensa, impossível de enumerar

Pensei comigo outra vez: porque essa situaçãoSerá que o homem não tem amor e nem coraçãoIndefeso naquele inferno tinha aquele pobre peixinhoEra como uma epidemia, que arrasa com o mundo inteirinho

Sem nada poder fazer, também porque eu estava sóFui assistindo à tragédia, chorando e morrendo de dóTentando pegava peixe aqui, peixe ali, peixe acoláEu segurava, de leve, impulsionando, tentando fazê-los nadar

Mas depois eu pensei bem, não adianta mais esta tentativaPra estes milhões de peixe não tem outra alternativaNão foi Deus que lhes enviou esta sina, esta má sorteTodos irão, culpa do homem, de encontro até a morte

Abaixei a cabeça, continuei a chorarChegou bem pertinho do barco uma curvina a me olharCom os olhos parece dizia: "ou, me dê um pouquinho de ar!"E que mal nós fizemos aos homens para eles nos exterminar?

Eu sei os peixes não falam, mas querem saber a verdadeSerá que nunca vão descobrir quem cometeu a maldade?Mas vou escrever pra quem tem amor e emoçãoÉ o pessoal da imprensa que vai arranjar soluçãoPublicando esta mensagem de um pobre sitiante Pra que não aconteça jamais catástrofes desta adianteTomando as providências e dando muitos gritos de alertasPra que nossos rios não transformem em águas imundas e deser-tas

Então, se um dia encontrar um filho ou um neto seuEu passarei muitas horas a relatar tudo o que aconteceuE por fim direi que o rio agonizava como um ente querido dosmeusE o que eu pude fazer foi dizer: adeus, rio das Velhas, adeus.

*Tasso Alvarenga é morador de Beltrão

AAddeeuuss,, rriioo ddaas Velhhaas, adeus

Reunião ocorrida em Beltrão parafundar comitê do rio Bicudo

• MANUELZÃO VAI À ESCOLA •

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Em comemoração ao Dia Internacional da Ecologia,4 de outubro, a Prefeitura de Belo Horizonte realizou oEcopampulha, evento que contou com a presença decerca de 8 mil alunos das escolas municipais, além deoutros visitantes. Durante todo o dia, foram realizadasexposições, oficinas educativas, teatro, música e rua delazer em frente à Igreja de São Francisco da Pampulha,além de um show de Gilberto Gil.

O objetivo foi sensibilizar os moradores, principal-mente as crianças, sobre seu papel na preservação dopatrimônio histórico e cultural. "As crianças sãoagentes multiplicadores da defesa do meio ambiente ena construção de um mundo melhor" - afirmou o pre-sidente da Fundação Zoo-Botânica de Belo Horizonte,Evandro Xavier, que recebeu a visita do prefeitoFernando Pimentel. O professor Apolo Heringer faloupara quase dois mil agentes de saúde (BH Saúde) emevento que lembrou o Sermão da Montanha (sem sis-tema de som). (por Jonas Rodrigues)

Manuelzão Belo Horizonte, Dezembro / 200214

A professora Elza Machado de Melo já completa maisde um mês à frente do Departamento de MedicinaPreventiva e Social da Faculdade de Medicina da UFMG,onde começou e tem sede o Projeto Manuelzão. Ela e onovo Vice-chefe do Departamento, Horácio Pereira deFaria, ambos professores do Internato em SaúdeColetiva, Internato Rural, tomaram posse no dia 30 desetembro, após vitória ocorrida nas eleições do dia 16 domesmo mês.

Monjolos, município pertencente à bacia do baixoVelhas, já participa de um Comitê Manuelzão, criado no dia17 de setembro durante o Primeiro Encontro de Mobilizaçãoda cidade. Estavam presentes o professor da Faculdade deMedicina da UFMG, Antônio Leite, coordenador do projeto,a coordenadora do Projeto Manuelzão em Buenópolis, MariaBeatriz Santana, o Prefeito, Celso Almeida, vereadores, pro-dutores rurais, representantes da Copasa e da área de edu-cação. O comitê irá atuar, dentro do município, na caracteri-zação e manejo da sub-bacia de um afluente do rio PardoGrande. Na região há problemas ambientais como volumereduzido de águas, ausência de proteção às nascentes eassoreamento dos corpos d'água. O engenheiro da Copasa,Aníbal Freire, irá participar a partir do distrito de Barão doGuaicuy, em Gouveia. (por Flávio Henrique Lage)

Prefeitura dde BBHrealiza EEcopampulha

Primeiro EEncontro ddeMobilização eem MMonjolos

Seminário ocorrido no dia 26 de setembro, em BeloHorizonte, deu andamento ao convênio firmado em marçode 2001, entre a Emater e o Projeto Manuelzão. Participaramcoordenadores e outros membros da equipe do Projeto e re-presentantes da empresa. Além da avaliação e definição deum plano de ação conjunta, foram discutidos conceitos emetodologias de trabalho relacionados às bacias hidrográfi-cas. O seminário tratou também da situação atual dos pro-gramas de sub-bacias e de mobilização, que consistem nomanejo integrado das sub-bacias, de forma que estas sejamtrabalhadas como unidades de gestão. Foi uma reunião detrabalho onde a questão central foi como compatibilizargestão ambiental com a base territorial e política (bacias emunicípios).

Emater ee PProjeto MManuelzãofazem sseminário

Em reunião ordinária de 14 de outubro, os membros doComitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas discutiram eaprovaram o Edital de convocação para a eleição do Comitê -mandato 2002/2004. As organizações da sociedade civil(associações de usuários e entidades da sociedade civil ligadasaos recursos hídricos e meio ambiente) interessadas em par-ticipar do processo eleitoral devem possuir pelo menos umano de existência e apresentar, no ato do cadastramento, seuestatuto ou documento equivalente, devidamente registradoem órgão competente. Participarão da eleição também os re-presentantes dos Poderes Públicos Estadual e Municipal e osrepresentantes de empresas usuárias das águas da bacia.

A eleição dos novos membros do CBH Velhas ocorreráem 05/12/2002 - reuniões em separado do Poder PúblicoEstadual e dos usuários - e 06/12/2002 - reuniões em sepa-rado do Poder Público Municipal e da sociedade civil. Amobilização da sociedade civil no Comitê é fundamentalpara efetivação de gestão participativa e descentralizada daságuas e dos ecossistemas pertencentes à bacia hidrográficado rio das Velhas e contribuirá para a compatibilização dodesenvolvimento sócio-econômico com a preservação daqualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico.

Informações sobre a eleição do CBH Velhas: LetíciaFernandes ou Maria do Carmo, (31) 3248-9697, ProjetoManuelzão. Ou procurar o IGAM, à Rua Santa Catarina,1627, Lurdes- BH.

Eleição ddo CComitê dda BBaciaHidrográfica ddo RRio ddasVelhas

No dia 30 de outubro, foi constituído o Comitê de Bacia doJatobá/Barreiro. Participaram do seminário de constituição docomitê aproximadamente 150 pessoas, dentre elas o secretáriode serviços urbanos da regional Barreiro da Prefeitura de BeloHorizonte, o gerente de educação municipal da regional, umrepresentante do Plano de Drenagem do Município (Drenurbs),representantes da Secretaria Municipal de Limpeza Urbana, as

escolas, associações comunitárias, creches e Conselho deSaúde, além dos moradores da região.

O coordenador do Projeto Manuelzão, Antônio Leite,abriu o seminário com uma apresentação sobre o Projeto e suametodologia de trabalho por bacias. Em seguida, a equipe doDrenurbs falou sobre o conceito e metodologia da prefeitura noprocesso de requalificação dos córregos. A equipe da SLUexplicou a coleta de lixo na região, apresentando os seus pon-tos referenciais, o tipo de lixo que está sendo retirado de dentrodos córregos e a importância da conscientização da comu-nidade no que tange à produção do lixo urbano.

Rap da Água

Já a Copasa apresentou o projeto de implantação de inter-ceptores ao longo dos córregos Jatobá, Mineirão e Olaria, queevitará o lançamento de esgoto em suas águas. A EscolaMunicipal Cônego Cerqueira demonstrou o trabalho que rea-liza com as crianças e familiares. Houve leitura de poesias eshow musical com o RAP da Água. O seminário foi encerradocom a apresentação e oficialização dos membros do comitê.

Elza MMelo aassume DDMPS

Criado oo CComitê dda bbacia ddo JJatobá/Barreiro eem BBH

• ACONTECE•

Foi lançado em setem-bro o livro “Comunicaçãoe Estratégias deMobilização Social”,com textos produzidospelos ex-alunos deComunicação RennanMafra, Clara Braga eDaniela Brandão, eo professor MárcioSimeone, todos daUFMG.

A publicaçãoteve como umde seus pilareso trabalho desen-volvido pelos autores para diag-nosticar e planejar as atividades de comuni-cação do Projeto Manuelzão. Esse trabalho apresenta umametodologia que tem como principal função entender ospúblicos e a comunicação a partir de um enfoque diferente.

O trabalho da equipe coordenada pelo professor MárcioSimeone tem obtido reconhecimento nacional na área porapresentar idéias inovadoras para o trabalho com mobiliza-ção social.

Para adquirir o livro, entre em contato com o LARP(Laboratório de Relações Públicas Plínio Carneiro)através do email: [email protected]. ou pelo telefone3499-5078

Estudos iinspirados nnoProjeto MManuelzãoviram llivro

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Manuelzão Belo Horizonte, Dezembro / 2002 15

Os alunos dos cursos de Geografia e Turismo doCentro Universitário Newton Paiva são osmais novos defensores do patrimônio natural

da Gruta de Maquiné. O trabalho dos universitários, alémde colocar em prática os conhecimentos aprendidos emsala de aula, vai contribuir para o incremento da atividadeturística e da conservação de uma das mais belas pai-sagens de Minas Gerais.

A Gruta de Maquiné fica no município de Cordisburgo,terra de Guimarães Rosa, a 130 quilômetros de BeloHorizonte. A gruta é a maior já encontrada em Minas paraacesso público. Foi descoberta pelo botânico e zoólogodinamarquês Peter Lund quando ele peregrinava pela baciado rio das Velhas à procura de espécies animais e vegetais.Maquiné abriga belezas únicas em 650 metros de extensão.Nos 440 metros abertos à visitação revezam-se grandessalões e atraentes galerias, resultantes da atividade erosivamilenar. No salão do urso ou do elefante é possível ver umgrande cogumelo que lembra a bomba atômica.

NecessidadesO turista que vai a Maquiné, depois de desfrutar de

suas maravilhas naturais levado por guias locais, tem àdisposição dois bons restaurantes. Mas pode enfrentaralguns probleminhas se precisar de um banheiro."Precisamos de um banheiro aqui, as pessoas semprepedem, mas para construí-lo é preciso uma autorizaçãodo Ibama, que não é fácil de se conseguir. As coisas pode-riam ser mais fáceis se tivéssemos um plano de manejo",afirma o tesoureiro da Maquinetur e bilheteiro deMaquiné, Gilson Bruno. Outra necessidade é encontrar a

iluminação ideal para a gruta. Segundo o tesoureiro, ficoudifícil deixar a gruta bem iluminada depois que a Cemiginstalou lâmpadas halógenas no local. "Não encontramoslâmpadas para reposição, já procuramos até em SãoPaulo", conta.

O convênio celebrado entre a Fundação deDesenvolvimento da Gruta de Maquiné (Maquinetur) ea Newton Paiva vai permitir um maior conhecimentodas potencialidades da gruta. "Primeiramente vamosreavaliar o patrimônio natural, fazer um inventário dosatrativos da gruta e do município. Depois vamos con-feccionar folders e cartilhas contendo informaçõessobre a gruta, sua evolução, suas especificidades ambi-entais", explica o coordenador do curso de Geografia edo Núcleo do Projeto Manuelzão no CentroUniversitário, Marcelino Morais.

OrientaçãoO trabalho também vai permitir um melhor

aproveitamento turístico do patrimônio. "Nosso objeti-vo é orientar a atividade turística para uma exploraçãoresponsável, sem causar estragos à gruta. Vamos trabal-har através de pesquisas, para sabermos quem é o tur-ista que vai à Maquiné, o fluxo de visitação e de queforma eles aproveitam o local. O próximo passo é criarum plano de manejo para a região", diz Luiz Neves,coordenador do Centro de Documentação e InformaçãoTurística - Ceditur - da Newton Paiva.

Para o Prefeito de Cordisburgo, Geraldo Aguinaldo,a parceria é essencial. "A parceria com uma universi-dade, além de permitir o maior conhecimento técnico ea divulgação das riquezas da gruta, vai viabilizar a me-lhoria da infra-estrutura", afirma.

Parceria prevê plano de manejo para Maquiné

Para a maioria das pessoas, museu é um ambientesério, onde você entra pela porta da frente, observao patrimônio e sai. Em Cordisburgo, uma iniciati-

va da médica Calina da Silveira Guimarães conseguiu rever-ter essa imagem. O Museu Casa Guimarães Rosa possui umatrativo que encanta qualquer turista: dezenas de meninos emeninas contam não só a história da casa, mas inúmerasestórias retiradas das obras do escritor.

Guimarães Rosa dizia que, no sertão, não há nada o quefazer a não ser contar estórias. Baseando-se nessa idéia,Calina, prima do escritor, sugeriu a formação e a preparaçãode um grupo de crianças e adolescentes para que apresen-tassem o museu. Mais do que isso, poderiam contar trechosdos escritos de Guimarães Rosa. Em 1995, já aposentada,Calina, que exercia sua profissão em Juiz de Fora, voltoupara Cordisburgo e colocou em prática o projeto. Com aajuda de professores da USP e da UFMG, ela criou aAssociação dos Amigos do Museu Casa Guimarães Rosa,por meio da qual foi viabilizada a formação da primeiraturma dos Contadores de Estórias Miguilim.

Língua do sertãoTodo o trabalho, tanto dos organizadores quanto dos con-

tadores, é voluntário. Calina percorre as escolas da região econvida os meninos para o curso de preparação. SegundoJosé Osvaldo dos Santos, diretor cultural da associação e

auxiliar do projeto, de cinquenta crianças,geralmente permanecem de cinco a dez.Estas passam, em seguida, por aulas deetiqueta social e de expressão corporal. Éa prima do escritor que seleciona os con-tos a serem narrados. Cada menino esco-lhe o que mais lhe agrada e começa aprepará-lo. De acordo com "Brasinha",como o diretor é conhecido, as criançaspodem demorar de quinze dias a seismeses para memorizar as estórias."Muitas pessoas falam que a obra doGuimarães Rosa é difícil, mas para eles éfácil, porque falam a língua do sertão.Eles encarnam muito bem a oralidade doescritor" - reforça.

Os contadores atuais têm de dez a dezoito anos. Muitosdos que já participaram do projeto hoje estudam nas princi-pais universidades públicas do estado. Calina estimula oestudo dos "ex-contadores", permitindo que morem noapartamento que possui em Belo Horizonte para que fre-qüentem cursinhos pré-vestibular. Na realidade, não se podereferir aos que já participaram do projeto como ex-conta-dores, pois como eles próprios dizem, uma vez contadores,sempre contadores. É uma bagagem que carregam por toda avida. "Contar estória é uma desculpa para que eles se interemda cultura do país" - diz a prima do escritor.

Guimarães Rosa, quando decidiu conhecer o sertão

acompanhando uma boiada, percebeu que os vaqueiros eramdotados de muita sensibilidade, além de serem grandes con-tadores de estórias. Nessa viagem, ele se interessou bastantepelas peculiaridades do meio ambiente e pelas estórias, prin-cipalmente por aquelas contadas por Manuelzão, vaqueiroque se tornou grande amigo e um dos principais personagensde sua obra. Dos contadores de estórias, o escritor tirou grandeinspiração para seus contos, que hoje são narrados pelospequenos contadores de Cordisburgo, dando continuidade aessa arte. Os jovens talentos da narração de Guimarães Rosanão só dão um toque especial ao museu, como também divul-gam a obra do escritor por todo o país.

Contadores dde eestórias rrevitalizam mmuseu eem CCordisburgo

Ana Fazito, Caroline Delmazo, Ingrid AguiarEstudantes de Comunicação da UFMG

Cenários da Gruta de Maquinéresultantes de atividade erosiva milenar

Potencial de gruta no município de Cordisburgo é avaliado por estudantes de Geografia e Turismo da Newton Paiva

Luana CuryEstudante de jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva

Turma de jovens talentos da narração que dão um toque especial ao museu Guimarães Rosa

Fotos

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Crianças narram para os turistas a vida e os contos de Guimarães Rosa, criador do personagem Manuelzão

• “TERRA DE GUIMARÃES •

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Seu envolvimento direto com as causas ambientaiscomeçou há não muito tempo. Marco AntônioTavares Coelho dedicou quase toda sua vida a uma

outra luta. É um comunista. Trabalhou desde a adolescênciapelo fim das ditaduras, pela volta das liberdades individuais epela redução das grandes desigualdades sociais no Brasil. Nolivro "Herança de um sonho - as memórias de um comunista"(editora Record, 2000), ele conta a sua trajetória de sofrimen-tos e esperanças.

No dia 16 de outubro deste ano, Marco Antônio lançouum outro livro. "Rio das Velhas - memórias e desafios" reúnehistórias, fotos, mapas, desenhos e poesias relacionados aomais importante afluente do São Francisco. A obra conta, porexemplo, o cruzamento da história do rio das Velhas com a damina de Morro Velho, em Nova Lima. A companhia inglesa,durante mais de um século, não só explorou seus traba-lhadores como poluiu o rio com arsênio, dizimando peixes eintoxicando populações ribeirinhas.

Marco Antônio, hoje jornalista em São Paulo, realizouvárias pesquisas para construir esse seu último livro. Mas asatrocidades que aconteciam em Morro Velho, ele trazia namemória. Como repórter do "Jornal do Povo", que ajudou afundar em 1946, visitou muitas vezes a mina para conversarcom seus trabalhadores. O lançamento de "Rio das Velhas -memórias e desafios", pela editora Paz e Terra aconteceu noauditório da Copasa e marcou o engajamento do autor emmais uma luta, agora para salvar o rio das Velhas e os seusafluentes, ao lado do Projeto Manuelzão.

"Partidão"Há 60 anos, o calouro Marco Antônio estava no palco de

um outro auditório. Ganhava o primeiro lugar em um famosoconcurso de oratória da Faculdade de Direito da Universidadede Minas Gerais. Apesar disso, nunca se interessou pela área.Faltava muito às aulas e nenhuma vez leu os livros de Direitoque ganhou como prêmio no concurso.

Mas a participação no concurso teve grandes conseqüên-cias em sua vida: um rapaz mais velho, estudante daFaculdade de Filosofia, "de cabeleira esvoaçante e olhosvivos", o procurou. Esse rapaz era o antropólogo DarcyRibeiro. Foi Darcy quem ingressou o jovem de apenas 16anos "nas fileiras clandestinas do Partido Comunista". Dessemomento em diante ele envolveu-se totalmente com os tra-balhos e lutas do "Partidão". Seguiu com ele décadas, viven-do ora momentos mais amenos ora de grande perseguição.

Pelo mesmo PCB, em 1962, foi eleito deputado federal noRio de Janeiro. Teve seus direitos políticos cassados quando,em 1º de abril de 1964, os militares deram o golpe. Durante

os "anos de chumbo", ficou preso durante anos e foi tortura-do várias vezes.

"Vida comum"Passaram-se os anos, veio a abertura política e o retorno à

democracia. Como diz em suas memórias, Marco AntônioTavares Coelho voltou "à vida comum". Antes disso penoupor ser ex-preso político e se encontrar desempregado. Hojeele trabalha como editor executivo da revista do Instituto deEstudos Avançados (IEA) da Universidade de São Paulo. Temum filho e uma filha, e três netos e é casado com Teresa, queesteve com ele por todo esse tempo.

"Em outro patamar prossigo a luta que venho tra-vando em toda a minha existência", escreveu elesobre o seu atual trabalho. No IEA, Marco Antônioentrou em contato com muitos cientistas que dis-cutem os erros que são cometidos em relação àságuas. "Por isso fiquei impressionadíssimo quandotomei conhecimento do Projeto Manuelzão", comen-ta.

Em uma visita a suas irmãs que moram em BeloHorizonte, depois de ler uma notícia sobre oManuelzão, foi até o décimo andar da Faculdade deMedicina (sede da coordenação do Projeto) eprocurou mais informações. "Então eu pensei quetinha que pesquisar mais sobre o rio das Velhas",conta. O resultado foi o seu último livro que, den-tre muitas informações, dedica boa parte do seucapítulo final ao Projeto Manuelzão. O espe-rançoso nome do capítulo é "O Mundo nãopode acabar".

Desaparecimento do peixeA motivação para escrever um livro

sobre o rio das Velhas veio também desuas lembranças da infância ejuventude em Belo Horizonte."Acompanhei muito osproblemas, não só do riodas Velhas, mas doscanais de BH", diz.Marco Antônio cita onome de muitos córre-gos da capital ondebrincou com os amigosdo Colégio Marconi."Hoje isso tudo estásoterrado", lamenta.Ele conheceu e acom-panhou um pouco da

história do Velhas por meio de várias excursões a Sabará queum professor do ginásio promovia.

Marco Antônio lembra, com saudades, de uma BeloHorizonte em que as pessoas não tinham televisão e a diver-são das famílias era organizar piqueniques nas grandes caixasd´água da cidade. "Onde hoje é a praça Milton Campos, tinhaum grande reservatório de água", exemplifica. Ele rememoratambém de um prato que praticamente foi esquecido pelosbelohorizontinos: o peixe. "Aqui em BH era costume comprarpeixe. Toda semana a gente comia surubim, pintado,matrinxã...". O desaparecimento do peixe foi um dos motivosque, segundo ele, o levou a escrever o livro sobre o Velhas.

Manuelzão Belo Horizonte, Dezembro / 200216

Livro sobre o rio das Velhas recupera histórias da bacia e aponta os principais desafios para sua recuperação Silvia Araujo

Estudante de Comunicação da UFMG

Esperanças de um comunista • PERFIL•