revista manuelzao 18

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Página 12 Pesquisadores refazem trajeto de expedição realizada no São Francisco no século XIX Páginas 8 e 9 Página 15 Insetos ajudam a monitorar qualidade da água Foto: Marcio Santos Página 4 Aproveitamento de água da chuva beneficia meio ambiente Caiu do céu Aliados da natureza De Pirapora ao Atlântico De Pirapora ao Atlântico Confira os premiados pelo concurso Mostre seu Talento Manuelzão vai à escola

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Página 12

Pesquisadoresrefazem trajeto deexpedição realizadano São Francisco noséculo XIXPáginas 8 e 9

Página 15

Insetos ajudam a monitorarqualidade da água

Foto

: Mar

cio

Sant

os

Página 4

Aproveitamento de água da chuva beneficia meioambiente

Caiu do céuAliados da natureza

De Pirapora ao AtlânticoDe Pirapora ao Atlântico

Confira os premiados pelo concursoMostre seu Talento

Manuelzão vai à escola

Parceiros do Projeto Manuelzão/UFMG: Prefeitura de Belo Horizonte - Copasa -Unicentro Newton Paiva - Ministério do Meio Ambiente - Secretaria de Estado daEducação - Emater (Secretaria de Estado da Agricultura) - Secretaria de Estado doMeio Ambiente - Ministério Público de Minas Gerais - Conselho Regional deEngenharia, Arquitetura e Agronomia (CREA) - Comitê de Bacia Hidrográfica (CBH)do Rio das Velhas - CBH do Rio São Francisco, e o conjunto dos 51 municípios dabacia do Rio das Velhas.

Sede:Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas GeraisCaixa Postal 340 - Av. Alfredo Balena, 190 - 10° andar - sala10.012 - Santa Efigênia - CEP 30130-100 - Belo Horizonte -Minas Gerais - BrasilTelefones: (31) 3248-9817 - 3248-9819 - Fax: (31) 3248-9818 E-mail: [email protected]: www.manuelzao.ufmg.br

CoordenadoresApolo Heringer Lisboa, Antônio Leite Alves, Marcus ViniciusPolignano, Antônio Thomáz da Mata Machado, Tarcísio Márcio de Magalhães Pinheiro (Professores da UFMG).

Coordenador Geral Professor Apolo Heringer Lisboa

Grupo TécnicoMaria Aparecida Santos e Santos - Carlos Rebêlo - Meire Vieira

Redação e EdiçãoElton Antunes (MTb 4415 DRT/MG), Marina Torres, Frederico Vieza, Sílvia Araújo, Adriana Ferreira

Projeto Gráfico e DiagramaçãoProcópio de Castro

Marca do Projeto ManuelzãoCarla Coscareli / Apolo Heringer Lisboa

AdministraçãoNeiliane Marques - Ludmila Lana

FotosArquivo do Projeto Manuelzão, Orbis, UnicentroNewton Paiva, Paulo Bem, Léo Morato eMárcio Santos.

ImpressãoLastro

Tiragem50.000 exemplares

Envie sua contribuição para o Jornal Manuelzão.

É permitida a reprodução de mátérias e artigos, desde quecitados a fonte e o autor.Os artigos assinados não exprimem, necessáriamente, aopinião dos editores do jornal e do Projeto Manuelzão.

Ainda LagoaSantaVenho pela presente solicitar o justo edemocrático direito de resposta ao artigoveiculado pelo jornal Manuelzão, número17 de dezembro de 2001, na colunaopinião, assinado pelo Senhor Gil CésarMoreira de Abreu.

O Senhor Gil César ao comentar aminha apresentação no seminário doManuelzão em Ouro Preto, afirmou que eunão conhecia a mineração e Lagoa Santa. Amineração, de fato, não conheço, mas bastaum pouco de bom senso para saber queuma lavra de calcário não paga umbombeamento de água com volume sufi-ciente para impactar a Lagoa Central deLagoa Santa. Um técnico honesto e mini-mamente formado sabe que uma usina decimento recicla basicamente resíduos e uti-liza minerais de baixo custo. O cimento,por mais nobre que seja, não paga umdesaguamento de grande porte. Devem e-xistir outros impactos potenciais tanto paraa mina em geral quanto para o desagua-mento, mas afirmar que a lagoa grandepoderá vir a "secar" é, de fato, um absurdo.

No tocante ao meu conhecimento técni-co da região, relato que meu primeiro tra-balho como hidrogeólogo do CETEC, em1982, foi justamente no carste de LagoaSanta e arredores. Fui designado para ana-lisar a reclamação de um Deputado contra arodovia, recém construída, para PedroLeopoldo. O reclamante atribuía aodesmonte do corte rodoviário o fechamentodo sumidouro da Lagoa dos Mares. Emcampo, foi determinante a observação deque o corte foi realizado em gnaisse, fora dodomínio do carste.

Antônio Carlos Bertachini - GeólogoCrea 70902D-SP, sócio da empresa

MDGEO Serviços de Hidrogeologia Ltda.

C a r t a s

Nosso Projeto veio à luz há cinco anos, no bojo de dis-cussões conceituais no interior do Internato em SaúdeColetiva da Faculdade de Medicina da UFMG. Coerente

com a definição de que saúde não é uma questão basicamente médi-ca, mas está associada a questões mais amplas como conquista dequalidade de vida, meio ambiente saudável e cidadania, fomos embusca de novos parceiros, dentro da própria UFMG e em outros cen-tros universitários, em instituições governamentais e organizaçõessociais civis. O resultado é uma extensa rede de parcerias com bemsucedida experiência transdisciplinar, transinstitucional e transetorial,com apropriação da organização do Projeto e dos seus objetivos pelapopulação que se mobiliza de forma crescente. Mais que um projetoda UFMG o Manuelzão está se tornando um projeto de UFMG. Asidéias sistematizadas na criação do Projeto, e implementadas nestescinco anos, estão dando contribuição importante na área da políticaambiental e das metodologias de trabalho em bacia hidrográfica emMinas e no Brasil.

Nossa concentração na bacia do rio das Velhas dá resultados e vi-sibilidade social à proposta de trabalhar o espaço, tendo a água comoeixo sistêmico ambiental, avaliada por bioindicadores, simbolizadospelo peixe. Aprendemos a ouvir a voz dos peixes, conseguindo sensi-bilizar a sociedade mineira para a idéia de rios vivos, qualidade devida, cidadania e saúde. Saúde numa visão ampla dos determinantessociais e ambientais existentes no planeta Terra, que tornam possívela vida saudável. Em decorrência deste tipo de atuação o ambientalistaRenato Quintino, diretor do jornal APA SUL, nos honrou em artigopublicado em seu jornal, qualificando o Projeto Manuelzão de insti-tuinte, e aconselhando-nos a evitar o perigo de sua institucionaliza-ção.

Pelas considerações desenvolvidas nessas linhas, e sem quererfazer separações mecânicas entre momentos com características basi-camente diversas mas associados, é que consideramos a contribuiçãomaior do Projeto Manuelzão à sociedade dada no momento mágicode sua criação. A administração do seu crescimento e todos os suces-sos do Projeto até aqui, na sua construção prática, são predominante-mente arte, ciência e ofício. A absorção social dessas idéias, pelacomunicação social e pelos produtos do trabalho realizados até aqui,tornaram-nas não mais uma questão específica do Projeto Manuelzão,o qual poderia até deixar de existir enquanto núcleo impulsionador,mas conhecimento de domínio público. Neste sentido não seremosmais tão necessários, mas fomos essenciais num determinadomomento.

Nesta vida, neste mundo, nada é de ninguém, mas tudo é de todos.Tudo é esperança, tudo é saudade. A vida é um sonho, sendo a Terranosso berço e nosso túmulo no Universo. Devemos preservá-la e con-servá-la enquanto partes que somos do ambiente e para que vivamos

bem e intensamente o privilégio da vida. Sem dúvida transcendemoso nosso significado particular, codificado no DNA e no registro deidentificação civil. Somos partes da história humana, que é parte dahistória natural e do ainda desconhecido, numa estrela que se escreveem mistérios nas infinitas dimensões do espaço e do tempo.

Nossa homenagem ao vaqueiro Manuelzão e ao escritorGuimarães Rosa que o descobriu, aos quais muito devem o ProjetoManuelzão e o Brasil. Eles representam a cultura universal, o ser-tanejo, sua linguagem, a relação do homem com a terra e lembram-nos os rios com peixes, a fauna e a flora.

E d i t o r i a l

Distribuição gratuita

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O p i n i ã o

Projeto Manuelzão e seu significado

Manuelzão Belo Horizonte, Março / 2002

Dengue e políticas urbanas

Adengue está retornando comforça neste verão de 2002,trazendo insegurança e ceifando

vidas no Brasil. Aumentou muito o risco daforma hemorrágica pela circulação do ter-ceiro tipo de vírus numa população já infec-tada anteriormente pelos tipos 1 e 2. Nos mi-lhões de pequenos empoçamentos urbanosde água de chuva o calor libera larvas doAedis aegypti que pode transmitir a febreamarela. O pernilongo carijó tem o instintoda sobrevivência e descobre o vaso de plan-ta, a calha entupida ou sem caimento, obueiro, a latinha e o plástico jogado forapara se reproduzir, desdenhando de nossainteligência e iniciativas. As pessoas esperamem casa, na passividade, a chegada do agenteda dengue para fazer o que eles própriospoderiam fazer. O desenho do pernilongo ofaz parecer um monstro desproporcional, emais confunde que esclarece. Parece que otempo parou, que no país não se acumulanem se transmite conhecimentos. Não hácontinuidade na promoção de saúde e namobilização, enquanto prioridade estratégicapara evitar as doenças. Estamos sempretropeçando e recomeçando quando os prob-lemas recrudescem.

É grave baixar a guarda, pois adengue está avançando no Brasil. Em BH apopulação de Aedes é preocupante e circu-lam três tipos de vírus numa populaçãoextensamente já infectada. Conforme afirmaFernando Brant em sua coluna no Estado de

Minas, BH não tem hoje situação de deses-pero quanto à dengue graças ao caráter daintervenção da secretaria municipal de saúdeem 1998. Mas é urgente a PBH retomar amobilização social inteligente. Três foram osinstrumentos principais nesta política: o jor-nal BH Saúde, com 40 mil exemplares, acampanha “Adote seu Quarteirão”, e umatuante SOS Saúde, capacitado para orientare estimular, por telefone, correspondências evisitas a população na organização dascomissões e das intervenções. A proposta erasistêmica, ou seja, o método não seria útil sópara a dengue, mas para um leque de proble-mas e na promoção de saúde e da qualidadede vida, como instrumento de conquistassociais. Não se pode combater a dengue commétodos que tratam a população como inca-paz de pensar e agir em defesa dos própriosinteresses. Há pessoas com grande capaci-dade de realização e conhecimentos emdiversas áreas do conhecimento, paralisadase esperando o agente da prefeitura fazer oque podiam estar fazendo até melhor. BHtem quase 2.500.000 habitantes, vivendo emaproximadamente 17 mil quarteirões, sendoque aproximadamente 400.000 estão emáreas semi-urbanizadas nas favelas. A idéiaera sugerir aos quarteirões e becos a criaçãode comissões para erradicar a dengue epreservar seus habitantes dos graves riscosda doença. Agentes bem treinados pelaprefeitura iriam às residências entrosada-mente com as comissões locais de cidadãos,deixando tecnologia nos quarteirões e umaorganização social empoderada para umasérie de outras intervenções em benefício dacidade e da qualidade de vida local, numavisão mais abrangente de saúde e cidadania.

Trabalhando com método, de forma

sistêmica e persistentemente, podemosacabar com a epidemia de dengue em curtoespaço de tempo, com muito menos fun-cionários e sem gastar as toneladas deveneno borrifadas na cidade indiscriminada-mente pelos fumacês, que prejudicam todo oecossistema e são o recurso extremo daimprevidência. Desviaríamos dinheiro daindústria da doença e a população elevariaseu nível de compreensão e auto-confiança,diminuindo distâncias reais na administraçãoda cidade. Mas esta ação precisaria se esten-der por todo o Brasil, e além fronteiras.Reafirmamos que saúde não é um problemabasicamente médico nem local, é planetário.O que derrota a dengue é uma populaçãoativa e mais inteligente que o instinto desobrevivência herdado de Deus pela espécieaegypti. O "adversário" merece respeito,conhecendo-se seus mecanismos de repro-dução e transmissão para se eliminar os cri-adouros do pernilongo. O alvo principal nãodeve ser o pernilongo mas as pessoas. Adengue é parte de um leque interligado deproblemas sociais e espirituais. A dengue éindicador social negativo, uma derrota políti-ca do sistema, indicador de mentalidade ci-vilizatória, um questionamento às propostasda saúde pública rompida epistemologica-mente com a saúde coletiva e fonte de lucrosda indústria da doença. Mas pode ser tam-bém um momento de iniciar uma virada. Ametodologia do combate à dengue revelaalguns pontos da ideologia e da política queestão na cabeça dos gestores e no governo dopaís.

Apesar dos redundantes apelos emprol da maior interinstitucionali-dade e da maior interdisciplinari-

dade nos projetos e subprojetos de pesquisa,ambas caíram muito nas fases de elaboração,implantação, execução, validação de resulta-dos e difusão de tecnologias, em todo o ter-ritório nacional.

A meu ver, transdisciplinaridade (muitomais importante que a interinstitucionali-dade) deve ser palavra chave e instrumentoprincipal para nossos pesquisadores e exten-sionistas de todas as áreas.

Muito oportunas as considerações deNatália Coelho, graduada em arquitetura eurbanismo pela Universidade Federal deViçosa, na Revista "Ação Ambiental” AnoIII, Número 14 (out/nov/2000). Clamo poruma leitura atenta para que a transdisciplina-ridade possa potenciar sempre a valorizaçãode nossos projetos de pesquisa.

É essencial assegurar a conquista e/ou areconquista da opinião pública.

"O contexto da transdiscisplinaridade foipreconizado pelas grandes tradições desabedoria da humanidade, prevista por

Basarad Nicolescu (Físico francês que,segundo Roberto Crema, concebeu otermo transdisciplinaridade, que significao encontro da ciência moderna com atradição; esta última entendida comotransmissão de sabedoria), que é, de certaforma, um retorno evolutivo à visãoorgânica integrada dos filósofos pré-socráticos. A transdisciplinaridade vaialém da inter, pluri e multidisciplinari-dade, que apenas empregam as várias dis-ciplinas dos ramos científicos do conheci-mento. Transdisciplinaridade, significa a

união entre os ramosda ciência com os caminhos vivos daespiritualidade.

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Transdisciplinaridade vai além

*Sérgio Mário Regina é engenheiroagrônomo e assessor técnico da EPAMIG

Sérgio Mário Regina*

*Apolo Heringer Lisboa, professor noDepartamento de Medicina Preventiva e

Social da UFMG, Coordenador do ProjetoManuelzão

O p i n i ã oManuelzão Belo Horizonte, Março / 2002

Apolo Heringer Lisboa*

RIO DAS VELHASÂngela Maria da Silva

Lá se vão as corredeirasNum sussurrar sombrio entre as pedreiras

Oh! Homens!Oh! Homens!

Por que tiram-me as árvores Deixando-me seco em um alento indefe-so.

E os peixes? Enfileirados, se foram à distânciaSubmetidos a tais poderesEnvenenados ficaram os estimados seres.

Este olhar contemplativo, inquietoDiz que nada poderá fazer.

Sim, tu podes!Ah! Que saudades tenho de levar Os murmúrios dos corações, tristes, alegresApaixonados e amantes.

O balançar das velhas goiabeiras,As fofocas das lavadeiras, O segredo das moças namoradeiras.

E, por quê? -Por quê! Prepara-te um destino, de um régioCaminho, cruel Triste pedregoso, cheio de entranhas.

Não!Não! Não queiras para mim serEste lamento futuro!

São Bartolomeu, 9 de junho de 2001.

Manuelzão Belo Horizonte, Março / 2002

Belo Horizonte recebe 350 milhões demetros cúbicos de águas pluviais aoano. São 150 mil litros anuais para

cada um de seus habitantes, ou 400 litros por dia.O que fazemos com toda essa água? Nada.Desorientada, depois de cair no chão e, na maio-ria das vezes, não conseguir se infiltrar, a águasegue provocando erosões, assoreamento de riose inundações.

A terra deu lugar ao asfalto, e as matas aoconcreto, a cidade toda impermeabilizada nãopermite que a chuva penetre e reabasteça oslençóis d'água. Também na zona rural os des-matamentos e a degradação dos solos dificultamo caminho da chuva, que deveria fortalecer asnascentes. Ironicamente as mesmas atitudes dohomem provocam enchentes e secas alternadas,o chamado desequilíbrio ecológico.

Para atenuar esses desequilíbrios, um métodoutilizado há quase 2400 anos, desde a Anti-guidade, e que andava meio fora de moda, tem semostrado bastante eficiente. A coleta de água dachuva, que foi usada por gregos e romanos, agorapode amenizar efeitos das desastradas ações dohomem moderno. Segundo o geólogo EdézioTeixeira de Carvalho, os coletores não precisamser construídos, já estão prontos em nossas casas.São os telhados, lajes de cobertura e os pátioscimentados. O que deve ser providenciado são ascalhas para captar água e reservatórios.

AproveitamentosA água coletada pode ter destinos dife-

rentes: ser utilizada para diversos fins, ou sofrerinfiltração forçada para promover recarga delençóis freáticos. No primeiro caso, para açõesque não demandam água potável, como lavarcarros, calçadas e em descargas de sanitários, autilização é direta. Para outros fins, pode serfeita filtragem, através de filtro de brita, areia ecarvão ativado, e correção do PH, como notratamento de águas de piscinas, processos sim-ples e baratos. Se a cisterna for feita de concre-to, já ocorre a neutralização da acidez da água.

A infiltração forçada, por sua vez, é umacompensação pelas interferências que preju-dicam os recursos hídricos. A água vai paraburacos no solo revestidos com manilhasfuradas, ou com tijolos espaçados ou preenchi-dos com material permeável, como cascalho derio. Assim, promove-se a recarga de lençóis sub-terrâneos que irão garantir a vida de nascentesna seca. Projetos assim devem ser aplicados emáreas onde o solo é permeável e espesso, casocontrário a infiltração não ocorre, ou, ao cavar acisterna, o lençol aflora.

Com a ajuda de São PedroProjetos de coleta da água de chuva podem amenizar desequilíbrios ecológicos

Marina Torres Jornalista

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M e i o A m b i e n t e

No meio rural existem outros métodosde coleta das águas pluviais, como barra-ginhas e terraços. Segundo o engenheiroagrônomo Sérgio Regina, existe umainfinidade de técnicas das ciênciasagronômicas para bloquear as enxurradas eaproveitar as águas das chuvas. Ele e ocolega Maurício Roberto Fernandes,através de uma parceria entre a Empresade Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais(Epamig), a Empresa de Assistência

Técnica e Extensão Rural do Estado deMinas Gerais (Emater - MG) e aSociedade Mineira de EngenheirosAgrônomos (SMEA), promovem cursosem pólos de produção agrícola mineirossobre o aproveitamento de chuvas paraprodução de água, recarga de aqüíferos eabrandamento de cheias.

Além das formas de captação men-cionadas, os estudiosos defendemmedidas para permitir a infiltração na-

tural das águas pluviais, o que podereduzir os processos de erosão, assore-amento, inundações e secas. A utiliza-ção de paralelepípedos e outros tiposalternativos de pavimento, ao invés deasfalto em vias públicas, a existênciade áreas verdes em todos os lotes, aconstrução de quarteirões imbricados,para que as enxurradas não percorramgrandes extensões livremente sãoalguns exemplos.

Colhendo chuva e barrando enxurradas

Apesar da tão alarmada escassez daágua, bem fundamental à vida, os des-perdícios são enormes. Gastamos desne-cessariamente e muitas vezes abusamosda água tratada em tarefas que nãodemandam condições de potabilidade.Além da coleta de águas pluviais, a uti-lização mais racional deste importanterecurso é fundamental. O chamado usoseqüencial é um bom exemplo. Consisteem aproveitar a água efluente de um usopara um segundo menos exigente em ter-mos de qualidade. A água do lavatório

pode ser usada na descarga.Além dos gastos excessivos, a inter-

ferência humana no meio ambiente estácausando sérios impactos. Utilizamoságuas provenientes dos lençóis freáticos edificultamos seu reabastecimento, pois osolo está cada vez mais impermeável.Assim, ocorrem secas, desaparecem rios ecórregos. As enchentes são respostas daságuas que não conseguem se infiltrar naterra. Felizmente, algumas ações vêmocorrendo em virtude da preocupaçãocom esse quadro.

Estudiosos realizam pesquisas, divul-gam a relevância de novas atitudes.Membros da comunidade utilizam méto-dos ecologicamente mais indicados eeconômicos. E autoridades têm se cons-cientizado. Em Belo Horizonte já existeum projeto de lei (nº270/2001) que dispõesobre a captação e utilização das águaspluviais, tornando facultativa a construçãode caixa de captação em todos os imóveis,o que deve ser incentivado. Segundo aassessoria da Câmara Municipal, o projetodeverá ir à plenária em breve.

Novos hábitos ajudam o planeta

No rio, uma caixa de madeira usada para reco-lherrestos dos sacolões bóia na espuma branca doArrudas. Ao lado de um dos estabelecimentos, uma'rampa' de cimento que desemboca.no rio. Qual seriaa função dessa 'rampa'?

No bairro Cidade Industrial, em Contagem, naAvenida General David Sarnof, existem dois sacolõesconcorrentes, distantes um do outro por 200 metros.Atrás de ambos, passa o afluente do rio das Velhas, orio Arrudas. Entre um e outro, existem açougues, mer-cearias e uma farmácia. "Eles jogam lixo no rio, sim",asseguram os comerciantes do local.

Ricardo Carvalho do Vale, gerente do Hiper SacolãoABC - Elshada, garante que a maior parte dos restosalimentares de sua venda vai para o lixão do Ceasa, "aoutra parte ou é levada pelo Sistema de LimpezaUrbana (SLU), ou o pessoal do bairro pega paraaproveitar". Antes de 2001, quando era outro o dono do

ABC, o lixo ia direto para o Arrudas, "agora eu não

deixo ninguém jogar lixo aqui"."Você está vendo aquela bica?" aponta para a

'rampa' do Sacolão Ramos, por detrás do seu esta-belecimento, por onde passa o Arrudas. "Por ela,eles derramam lixo mais de dez vezes por dia", afir-ma o proprietário do ABC.

O gerente do Sacolão Ramos, RosevertMilagres, nervoso, em princípio, não quis falar coma reportagem. Conversou primeiro com outra ge-rente do sacolão, pensou muito antes de dizer onome e, por fim, afirmou que os "restos são reco-lhidos pela prefeitura. Nunca jogamos lixo no rio".Completou: "essa acusação é coisa do concor-rente". Além da caixa de madeira, havia tambémmuitas sacolas de lixo naquele pedaço do Arrudas,além de outros entulhos. Com tanta opção para oaproveitamento, ainda se jogam restos nos rios,causando sua poluição e danos para a sociedadeem geral.

Lixo é jogado no Arrudas

Preste atenção aos números:# O Brasil perde, por ano, o equivalente a

1,4% do Produto Interno Bruto, ou seja,R$15 bilhões, o que representa mais de R$ 1bilhão por mês com alimentos que deixam deser aproveitados. Ao mesmo tempo em quemais de 54 milhões de brasileiros sofrem dedesnutrição e de doenças causadas pela faltade alimentação adequada.

# Segundo o IBGE (Fundação InstitutoBrasileiro de Geografia e Estatística), o des-perdício no consumo doméstico de alimentoschega a 20%.

# No Distrito Federal em 1998, perdas detomate chegaram a 14%, as de cenoura a12% e a de pimentão a 18%. O estudo foifeito pela Embrapa (Empresa Brasileira dePesquisa Agropecuária) em quatro lojas deuma grande rede de supermercados deBrasília

#Apenas nas feiras livres da regiãoMetreopolitana de São Paulo, 1.032 tone-ladas de alimentos vão para o lixo todo dia.Destes, 80% poderiam ser reaproveitados.

# 30% de toda a comida que uma dona decasa compra vão para o lixo

Todos pagam pelo que é jogado fora.Pouco se aproveita, devido à falta de conhe-cimento do brasileiro do que pode ser feitocom as sobras alimentares. Para o nutrólogoÊnio Cardillo Vieira, falta conscientizaçãodas pessoas. Para ele, tudo pode seraproveitado. "Não há razão para se jogarnada fora", diz.

Empresas alimentícias, como os restau-rantes, poderiam ter um maior aproveitamen-to de seus restos. Além da questão econômi-ca, um melhor uso desses alimentos poderiamelhorar as condições de vida da população.

Existem dois tipos de sobras alimentaresem restaurantes. Há aquelas que voltam doprato do cliente ("lavagem") e há a parte quevem da cozinha, como os talos e as cascas.Os estabelecimentos particulares não têmuma preocupação em dar um melhor destinopara esses restos. A grande maioria é jogadano lixo, ao invés de ser aproveitada (o quepoderia levar ao barateamento dos custos) oumesmo doada.

É de responsabilidade do proprietário dorestaurante o que venha a ser feito com osrestos doados, de acordo com a Lei número7031, do Código Sanitário. Portanto, se umestabelecimento fizer uma doação a umacreche e essa comida causar algum tipo de

dano às crianças, a responsabilidadecairá sobre o doador.

A partir do momento que o ali-mento sai do restaurante e vai paraoutro lugar, não se sabe em quecondições é transportado, se vaichegar ao local e ser servido ime-diatamente, se irá ficar exposto emtemperatura ambiente, ou se vai sercondicionado em uma geladeira deforma ideal ou não. O risco de ocor-rer uma alteração nesse material émuito alto. "As empresas hojeprocuram evitar doar o alimento jus-tamente para que não haja qualquerproblema de intoxicação alimentar", alerta anutricionista Ana Paula Amorim, doRestaurante Popular de Belo Horizonte,administrado pela prefeitura.

Regra é aproveitarAna Paula acredita que a Lei inibe o pro-

cesso de doação nos restaurantes. No entan-to, ela aponta duas alternativas: ou as empre-sas se dispõem a fazer o acompanhamentodos restos doados, ou o estabelecimento quedoou o alimento será responsável apenas atéo momento que ele saia de seu restau-rante."Quando o alimento entrar na insti-

tuição beneficiada (asilo, creche, escola), elepassaria a ser de responsabilidade técnica deoutra pessoa", conclui.

No Restaurante Popular, o que não seaproveita é armazenado e recolhido peloSistema de Limpeza Urbana (SLU). Depois élevado para o aterro sanitário da prefeitura,onde os restos são transformados em adubo eutilizados em um outro projeto, o de HortasComunitárias, que serve de estímulo à pro-dução própria de alimentos em comunidadescarentes, creches, escolas. O projeto doasemente, adubo, e a pessoa cede o local eproduz sua horta.

Restos precisam ser separados

Louraidan Larsen Estudante de Comunicação da UFMG

"O mais importante é evitar a formaçãodo lixo orgânico", diz o professor de controleambiental da UFMG, Wilfrid Keller. Mas,quando já se tem um acúmulo de restos ali-mentares jogados fora, o que fazer com ele?

O primeiro passo seria a implantação dacoleta seletiva. O alimento chegaria nasindústrias já separado do vidro, do plástico, oque facilitaria o seu uso. Pela compostagem,os restos poderiam ser utilizados como ferti-lizantes na agricultura. Outra solução seriausar o que não for aproveitado para alimen-tação de animais.

O Brasil gera cerca de 20 milhões detoneladas de lixo por ano. Quase um terço éconstituído por material reciclável, e os ou-tros dois terços são compostos por restos ali-

mentares. Desses, muito poderia ser transfor-mado em energia, como a celuligninacatalítica, um combustível sólido que é capazde substituir petróleo e carvão. "A reci-clagem energética funciona, é um modo bomde reduzir o material depositado em aterrossanitários, porém não é econômica, é cara",afirma o professor Keller.

Culturalmente, o país não valoriza equase não aproveita os seus restos alimenta-res. O maior desafio será modificar os cos-tumes da população. O uso melhor da comi-da doméstica, a produção do adubo, a comi-da para animais e o uso energético do ali-mento são caminhos que apontam para omelhor aproveitamento alimentar.

OFICINA OFERTADA PELA PREFEITURA DE BHObjetivo: maior e melhor aproveitamento do alimento.Oficina dada para "comunidades" (20 a 40 pessoas) - é só se mobilizar e entrar em contato.

Existe desde 1994, fazem uma média de 100 oficinas/ano.Ministrada pela Secretaria de Abastecimento de BH - telefone: (31)3277-4747

Restos nossos de cada dia

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M e i o A m b i e n t eManuelzão Belo Horizonte, Março / 2002

Desperdício de alimentos afronta qualidade de vida; reaproveitamento praticamente inexiste

DICAS PARA MELHOR APROVEITAMENTO ALIMENTAR- É muito simples lavar verdura. É só você colocá-la na água com um pouco de águasanitária, depois enxaguar e pôr no vinagre.- Após lavá-la bem, você pode secar a casca do ovo, pulverizar e colocar no mingau-Os talos da verdura previnem contra várias doenças, além de não deixar engordar.

Fonte: Ênio Cardillo.

Córrego Coqueiral Região Noroeste de BHSituação: leito em canal aberto comprometido pelo acúmu-lo de lixo, pontos de lançamento do esgoto no córrego,nascentes em lotes particulares. Parte do córrego estácanalizada.Propostas:

renaturalização do leito do córrego; desocupação das áreas de nascentes;parque linear ao longo do córrego; áreas de encontro, esporte e lazer; implantação de via de pedestres que limite o parque e possibilite o acesso público e a coleta de lixo;renaturalização da parte canalizada do córrego.

Estudante de bairro pobre em BH adota nascente e prova que cuidar da natureza é dever de todos

Quando falamos em arquite-tura, urbanismo e paisa-gismo visualizamos sem-

pre construções, planejamento doespaço urbano e sofisticados jardins.O Projeto Manuelzão trabalha comessas áreas utilizando uma outra pers-pectiva, que alia a estética com a recu-peração ambiental. É o que foi propos-to no córrego São Francisco (região daPampulha), córrego da Rua 13 (regiãoNorte) e córrego Coqueiral (regiãoNordeste), em Belo Horizonte.

Pensar essas áreas voltadas para avertente ambiental pode parecer umapreocupação recente. Realmente, éum trabalho enfatizado após o surgi-mento dos movimentos ambientais,mas isso não quer dizer que tenhasurgido com eles. Segundo a profes-sora de paisagismo da Escola deArquitetura da UFMG, JosanaMatedi, desde o Renascimento, aconstrução do espaço urbano foi alia-da à natureza. Isso se deu com osestudos de Leon Battista Alberti, emsua obra Dez Livros de Arquitetura,principalmente. "A natureza e aestética, juntas, estão sempre pre-

sentes nos conceitos de um arquiteto.Na prática, os interesses de mercadoacabam por marginalizá-los", explicaJosana.

Recuperação dos córregos Áreas de risco, encostas com rede

de esgoto precária e lixo nas margenspodem ser transformadas em parquesverdes e áreas de lazer e convivênciapara a sociedade. O ambiente queantes era inutilizado pode receberinserções de área verde, jardins, play-ground, pontes, bancos e pracinhas. Ofoco principal é a retirada do esgoto,permitindo que a região tenha uma uti-lização pública.

A Orbis, empresa de arquitetura eurbanismo de Belo Horizonte, é umaparceira do Manuelzão desde maio de2001. Seu papel é produzir desenhosque traduzem as idéias de renatura-lização dos córregos. Neles, osarquitetos mostram à população comoaquela área degradada pode se tornarum ambiente de lazer. "A partir dosdesenhos, a comunidade pode vi-sualizar uma outra alternativa deaproveitamento daquele espaçodegradado", fala a arquiteta da Orbis,Juliana Maioli.

"A gente pensa no uso do local, nofluxo de pessoas, na coleta de lixo,como será retirado o esgoto, comoserá a iluminação, enfim, toda a infra-estrutura", explica a arquiteta.Segundo ela, a participação dosmoradores é importante para que suasexpectativas sejam consideradas.Dentro da área trabalhada é possívelreservar locais para pontos comer-ciais, geradores de receita para aimplantação e manutenção do projeto.

"O que se vê muito é a canalizaçãodos córregos. Isso traz uma série degastos futuros com inundações ealagamentos. A solução mais baratahoje é preservar as margens, transfor-mando-as em um local agradável", dizJuliana.

O trabalho de revitalização doscórregos urbanos, realizados peloManuelzão, busca resgatar os va-lores simbólicos, ecológicos e pai-sagísticos desses lugares, apresen-tando alternativas. "É bom para omeio ambiente porque revitaliza olocal. É bom para a prefeituraporque potencializa e valoriza aregião. É bom para a população queganha melhor qualidade de vida",conclui Juliana.

Paisagismo recupera áreas degradadas

Tatiana dos Santos tem 13 anos eestá na sétima série. Ela mora noConjunto Filadélfia, bairro pobre

da região Noroeste de Belo Horizonte, ondeproblemas de infra-estrutura são muitocomuns. Para a família de Tatiana, a faltad'água não é o pior deles. É que ela tem, noquintal de sua casa, uma mina de água cor-rente.

"Esta favela todinha foi construída comessa mina aqui", conta Tatiana, orgulhosa."Todo mundo vem cá, quando acaba a água.Dá até pra beber, porque ela é mais limpa quea da Copasa", garante. Ela diz que muitosvizinhos buscam água na mina quando pre-cisam.

Mas nem sempre foi assim. Quando afamília de Tatiana se mudou pra lá, há noveanos, a mina era suja e mal cuidada. "O pes-soal que morava aqui fazia muita bagunça.

Usava como piscina, jogava lixo dentro dela.Logo que chegamos aqui, começamos a

limpar", lembra Josana dos Santos, mãe deTatiana. A menina, que na época tinha quatroanos, adotou a mina d'água e ajuda a cuidardela até hoje.

"A gente teve muita dificuldade pradeixar ela do jeito que está", conta Josana.Ela mostra que foi preciso cercar a mina comgrades e colocar alguns peixes pra evitar con-taminação de dengue. "Não deixo quejoguem nenhum tipo de lixo e limpo as fo-lhas que caem na água", diz Tatiana.

A menina não se incomoda com as cons-tantes visitas que sua casa recebe. Pelo con-trário, ela fica feliz em mostrar a mina quetem em sua casa. "É importante conhecer praque eles saibam preservar as outras ondetiver", acredita.

Nota dezSeus colegas de escola, que ainda não

viram a mina, ficam curiosos para ir até acasa de Tatiana conhecê-la. "Coloquei umafoto que eu tirei do lado da mina, num tra-

balho de escola, e todo mundo adorou. Erasobre preservação da natureza e das águas.Tirei A", conta, entusiasmada.

A água da mina escorre e cai no córregodo Coqueiral, próximo dali. Tatiana explicaque por causa da nascente a água fica sempreno mesmo nível. "Aqui é água 24 horas. Podetirar, que sobe rapidão", brinca. A abundânciada mina está ligada a locais, que podem estarperto ou longe dali, cujas característicasgeológicas absorvem muito bem as águas daschuvas.

A família de Tatiana nem pensa em semudar de lá. "A gente fica mais preso aqui porcausa da água, que é algo muito difícil. Essamina é uma riqueza pra nós", diz Josana.Tatiana acha que se eles se mudassem, osnovos moradores não iriam cuidar da mina."A natureza é muito importante. Todo mundoprecisa das águas", explica. Tatiana aprendeunaturalmente que a preservação do meioambiente começa em casa. Resistir ao fim deuma bela paisagem natural.

A Mina da MeninaFlávia Mantovani, Milene Migliano

e Sílvia AraújoEstudantes de Comunicação da UFMG

Emanuela São PedroEstudante de Comunicação da UFMG

6 Manuelzão Belo Horizonte, Março / 2002

N o s s a T e r r a

Tatiana ao lado da mina que mantém limpa

7

N o s s a T e r r aManuelzão Belo Horizonte, Março / 2002

Reforma em casa, podas no quintal,a televisão estraga de vez, não sequer mais o velho sofá. Em todos

esses casos, surgem materiais indesejados e apergunta "o que fazer com eles?" Muitasvezes, o destino dado a esse lixo é inadequado.Córregos têm o lugar de suas águas tomadopor entulhos, e lotes vagos viram verdadeirosbota-foras.

Os impactos dessa poluição são graves. Avida dos mananciais fica ameaçada. Leitoscada vez mais rasos e sujos, a qualidade daságuas, cada vez pior. Nos lotes, o lixo é umótimo abrigo para animais transmissores dedoenças se proliferarem. O meio ambiente e asaúde do homem ficam comprometidos.

O lixeiro não leva móveis e eletrodomésti-cos velhos, restos de podas, entulho de cons-trução, pneus, mas isso não é mais desculpapara a poluição de Belo Horizonte com essesmateriais. Foram criadas pela prefeitura asUnidades de Recebimento de PequenosVolumes (URPVs). Em vários pontos dacidade, as URPVs já estão em funcionamentoe recebem bagulhos, terra, podas e entulho empequenas quantidades. Podem ser levados atédois metros cúbicos por pessoa. Entulhos deconstrução e reformas que superam este volu-

me devem ser levados às estações de reci-clagem de entulho. No entanto, é importanteque não haja outros materiais misturados, porisso não se deve jogar lixo doméstico nascaçambas próximas às obras. Outros resíduos,em grande quantidade, devem ser levados aoaterro sanitário.

Os próprios moradores podem levar osmateriais que querem descartar até a URPVmais próxima de sua casa, ou podem solicitaro serviço de carreto, através do disque carroça,uma linha telefônica, pela qual pedidos sãoencaminhados aos carroceiros. A Prefeitura deBH (SLU) e a Universidade Federal de MinasGerais através da Escola de Veterinária vêmatuando junto a esses trabalhadores, pro-movendo um programa de educação ambientalpara carroceiros. São oferecidos diversos cur-sos, vacinação e tratamento dos animais, éfeito cadastro e as carroças são emplacadas. Ostraba-lhadores passam a atuar como agentescomunitários na diminuição da poluiçãourbana e do assoreamento de leitos d'água porresíduos.

Fora com os bota-foras!As URPVs estão sendo instaladas em

locais onde havia depósitos clandestinos delixo ou em suas proximidades. Áreas em que jáexistia o hábito de descartar materiais de forma

inadequada, agora recebem resíduosque são encaminhados para o aterro.

Outro grave problema é a desti-nação de animais mortos. Muitasvezes, as carcaças são deixadas aoar livre ou jogadas em leitos de rios,contaminando águas, atraindo inse-tos e proliferando doenças. No casode morte de animais, a comunidadedeve telefonar para a gerência delimpeza urbana de sua regional nosdias úteis, e solicitar o recolhimento. Nos finsde semana, a gerência da Regional Centro-Sulestá sempre de plantão e atende toda a cidade.

O disque limpeza é também uma linha afavor da despoluição de Belo Horizonte.Reclamações sobre lotes sujos e denúncias

podem ser feitas através do telefone. É impor-tante lembrar que a limpeza dos lotes é respon-sabilidade de seus proprietários. Eles são noti-ficados em caso de poluição da área, mesmoque não sejam quem a está degradando erecebem um prazo para limpar o terreno.

A área do Zoológico, na região da Lagoada Pampulha em Belo Horizonte, tem muitomais dos que bichos e as plantas de um jardimbotânico. No final de 2001 foi descoberta nolocal uma nascente. Soterrada por lixo e entu-lho, numa área usada como bota-fora pela po-pulação, a nascente abandonada provocavamau cheiro e trazia perigo aos moradores."Estava quase desaparecida", explica JoãoBosco Senra, presidente da FundaçãoZoobotânica, órgão de administração indiretada prefeitura que engloba zoológico, jardimbotânico e o trabalho de educação ambiental.

Segundo Senra, a Fundação sempre se pre-ocupou com a questão dos recursos hídricos.Vários estudos já haviam sido feitos emrelação ao abastecimento de água, reciclagem,mata ciliar e nascentes. Foi numa das pesquisasque a nascente abandonada foi descoberta e foielaborado um projeto de recuperação do local.

O projeto de revitalização contou com aparceria da Secretaria do Meio Ambiente,Regional Pampulha, da Superintendência deLimpeza Urbana (SLU), Copasa (Companhiade Saneamento de Minas Gerais ) e do quartoperíodo de Relações Públicas do UnicentroNewton Paiva. Os alunos, com a orientação doprofessor de Comunicação Comunitária eOrganizacional Marcelo Cunha, desenvolve-ram trabalhos de conscientização, auditoria

com cerca de 450 questionários, mutirões delimpeza, além do plantio de mais de 120 milmudas. "Esse projeto foi de grande importân-cia para todos nós porque com ele aprendemoscomo o trabalho de relações públicas pode sertão abrangente e significativo", diz o estudanteVinícius Ambrósio.

A Copasa tem uma estação de esgoto pró-xima à nascente, que sofre a influência devários esgotos clandestinos. A empresa par-ticipou elaborando projetos que já estão sendoaplicados nesta estação para despoluir de vez aárea e atuará, principalmente, no auxílio paraformação de uma trilha de educação ambientalna região da nascente recuperada, contribuindocom informações e material. Além disso, ela seprontificou a fazer o devido tratamento daságuas não provenientes da nascente que, porventura, venham a se juntar ao córrego. Já aSLU desempenhou um importante papel naconscientização dos moradores e limpeza.

As populações dos bairros Confisco,

Itatiaia, Urca e Tijuca também colaboraram,colocando o lixo no local adequado e reduzin-do significativamente o volume de entulho.

Todos estes esforços somados resultaramna limpeza e recuperação da nascente.Atualmente, ela está cercada e com a visitaçãorestrita. O trabalho de monitoramento aindacontinua e o pouco de lixo que chega é retira-do. A recuperação completa levará cerca desete a oito anos e já há estudos de comoreaproveitar a área. Segundo o presidente daFundação Zoobotânica, agora todas asnascentes do local estão recuperadas."Cumprimos nosso dever de casa", diz.

O coordenador do Projeto Manuelzão,Apolo Lisboa, lembra que é preciso verificar seas áreas externas ao zoológico, onde as águasdas chuvas se infiltram no solo, também estãosendo conservadas para que as minas nãosequem. "Para recuperar uma mina é precisocuidar de uma área envolvente maior dosaqüíferos, da vegetação".

Adriana FerreiraEstudante de Jornalismo do Unicentro Newton Paiva

Marina TorresJornalista

E se o lixeiro não leva?Saiba o que fazer com os materiais não recolhidos pela coleta convencional

Parcerias ajudam a recuperar nascente no Zoológico de BH

Telefones úteis:Disque Carroça: 3277-8270Disque Limpeza: 3277-9388Aterro Sanitário: 3277-9810Gerência Regional de LimpezaUrbana Centro-Sul: 3277-4964Leste:3277-5787Norte: 3277-6046Nordeste: 3277-6092Oeste: 3277-9614Noroeste:3277-6810Pampulha: 3277-7331Venda Nova: 3277-5449Barreiro: 3277-5875URPVs:Regional Barreiro: R. Agenor

Nonato Souza, 710 - JatobáRegional Centro-Sul: Av. ArthurBernardes, 3951 - Barragem SantaLúcia/ 3277-8820Regional Leste: Av. dos Andradas,5965 - Pompéia/ 3277-5648; Av. dosAndradas, 7501 - Boa VistaRegional Norte: Av. Basílio daGama, 5 - Tupi/ 3277-6792R. Washington Luiz, 945 - SãoBernardoRegional Nordeste: Av.Esplanada, 72 - São GabrielRegional Noroeste: Av. Pedro II,5081 - Jardim Montanhês/ 3277-8430; Av. João XXIII ao lado do nº510 - São José

Regional Oeste: Av. BarãoHomem de Melo, 300 - NovaSuissa / 3277-7023 e ou Av. SilvaLobo, 01 - Calafate/ 3277-6804; Av.Tereza Cristina c/ R. das Flores -Nova Cintra; Av. Tereza Cristina c/BR 262 - Vista AlegreRegional Pampulha:R. Rita AlvesCastanheira, 50 - Dona Clara; Av.Dep. Anuar Menhen, 550 - SantaAmélia; R. Castelo de Veiros, 315 -Castelo/ 3277-8411Estações de Reciclagem de Entulho:R. Nilo Antônio Gazire, 147 -Estoril/ 3277-7092 e R. PolycarpoMagalhães Viotti, 450 - Pampulha/3277-7912

Trabalho foi realizado pelo Unicentro Newton Paiva, Prefeitura de BH e Copasa com a participação da comunidade

Equipe do Unicentro Newton Paiva queorganizou mutirões de limpeza

População não sabe o que fazer com lixoe transforma córregos em bota-foras

Em junho de 2001foi lançada, nacidade de Pira-

pora, a campanha para sedeclararem patrimôniomundial, pela Organização

das Nações Unidas para aEducação, a Ciência e a

Cultura - UNESCO, os bens culturais e natu-rais existentes ao longo e no entorno do rioSão Francisco.

Iniciativa da Federaminas, coordenadapelo patrimonialista Américo Antunes, umadas principais ações já desenvolvidas no bojoda Campanha foi a Expedição EngenheiroHalfeld, ocorrida entre 14 de outubro e 18 denovembro de 2001, quando foram percorri-dos, principalmente por via fluvial, o médio,submédio e baixo São Francisco, de Piraporaà foz do rio.

O nome da Expedição é uma homenagemao engenheiro alemão Henrique GuilhermeFernando Halfeld, responsável pelo primeiroestudo técnico sobre o rio, elaborado a partirde expedição realizada entre 1852 e 1854,por solicitação do imperador D. Pedro II.Dessa expedição resultou detalhado relatóriodenominado “Atlas e Relatório Concernentea Exploração do Rio de S. Francisco desde a

Cachoeira da Pirapora até o OceanoAtlântico”. Hoje, quase 150 anos depois dahistórica viagem, uma equipe multidisci-plinar, composta por pesquisadores da áreade história, cultura, patrimônio histórico eartístico e meio ambiente e ainda por umgrupo de comunicação e documentação vi-sual que incluiu jornalistas, cinegrafistas efotógrafos, refez o mesmo percurso dopesquisador europeu em 35 dias de jornada.

Foram percorridos e pesquisados aproxi-madamente 2.300 dos 2.700 quilômetros deextensão total do rio. Cinqüenta e seisnúcleos urbanos, dentre cidades, vilas epovoados, dos cinco estados banhados peloSão Francisco foram visitados pelas equipesde pesquisa, computando-se, ao final, o re-gistro de um vasto conjunto de bens históri-cos, artísticos, naturais, arqueológicos e cul-turais de natureza imaterial.

A inscrição dos bens culturais e naturaisdo rio São Francisco e do seu entorno comopatrimônio cultural da humanidade acrescen-tará um item à Lista do Patrimônio Mundialda UNESCO. São hoje 690 bens inscritos naLista, sendo 554 de natureza cultural, 144 decunho natural e 23 de natureza mista. Essesbens estão distribuídos em 124 países, dentreos quais o Brasil, que tem 16 locais declara-

dos patrimônio da humanidade.O título é concedido pela organização

internacional após longo processo de mobi-lização, levantamento e avaliação, em que seenvolvem os mais diversos atores, incluindo-se as comunidades, os governos, técnicoslocais e os avaliadores e demais instâncias dedeliberação da própria UNESCO. Além dogrande significado simbólico, a declaraçãode patrimônio mundial acarreta, de um pontode vista objetivo, fortalecimento dascondições de proteção do bem, facilitação doaporte de recursos financeiros, visibilidadeinternacional e incremento da visitação turís-tica.

Patrimônio cultural

Verificou-se que o patrimônio históricoe artístico existente nos núcleos urbanos eáreas rurais do entorno do rio São Franciscoapresenta grande diversidade quanto ao esti-lo arquitetônico, datação, estado de conser-vação e proteção legal. Acompanhando asgrandes diferenças de formação histórica ede paisagens naturais existentes entre asregiões ribeirinhas, o estilo arquitetônicodas obras humanas também variou enorme-mente ao longo dos séculos de ocupação dovale do rio.

Foram documentados cerca de 160 bensculturais de natureza imaterial, incluindotemplos, museus, centros culturais, fortes,mercados, usinas, pontes, ruas, ruelas,casas, obeliscos e conjuntos urbanos, entreoutros.

Ao longo de todo o rio cinco bens sãotombados como patrimônio cultural pelaUnião. Quatro deles encontram-se na cidadealagoana de Penedo e um no municípiomineiro de Matias Cardoso. O estado deMinas Gerais tombou como patrimônio cul-tural quatro outros bens, dois deles emPirapora, um em Januária e um em Guaicuí,distrito de Várzea da Palma.

Foram documentados cinco sítios ar-queológicos, localizados em Buritizeiro,São Francisco, Parque Nacional Cavernasdo Peruaçu, Sobradinho e Canindé do SãoFrancisco, e ainda o Museu de Arqueologiade Xingó, que vem se tornando referênciana pesquisa da ocupação pré-colonial dobaixo São Francisco.

A riqueza da cultura popular nas comu-nidades ribeirinhas foi também ponto dedestaque no trabalho da equipe. Foram re-gistradas manifestações culturais e simbóli-cas como a Cavalhada de Brejo do Amparo,em Januária, a Folia Reis do Boi, emParatinga, as romarias em Bom Jesus daLapa, o artesanato, as carrancas, as bandasde pífanos, os cantos populares e as festas.

8 Manuelzão Belo Horizonte, Março / 2002

R e p o r t a g e m E s p e c i a l

Capa de um dos quatro exemplares originaisexistentes do atlas de Fernando Halfeld

Barcas no cais de Matias Cardoso/MGPaisagem do São Francisco em

Piranhas, Alagoas

Márcio Santos*, especial para o Jornal Manuelzão

Foto

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Barcas no cais de Matias Cardoso/MG

No campo do patrimônio natural,foram visitadas reservas naturaisde grande valor, como o Parque

Nacional Cavernas do Peruaçu, as lagoas depeixes dos rios Pandeiros e Carinhanha, oRaso da Catarina, os canyons do Baixo SãoFrancisco, a Área de Proteção Ambiental deMarituba do Peixe e a Área de ProteçãoAmbiental de Piaçabuçu, onde está a belíssi-ma foz do rio.

Foi registrada a situação ambiental do rioe do seu entorno, cotejando-a, inclusive, coma realidade descrita pelos viajantes do passa-do. Verificou-se o grave problema da des-truição das matas ciliares e de outras matasprotetoras, que, combinada com a redução dacorrenteza provocada pela retenção daságuas nas represas, é responsável pela ace-leração do assoreamento. O fenômeno temocasionado, ao longo de décadas, a formaçãode coroas e ilhas no leito do rio, que sãoobserváveis em diversos dos seus trechos. Afalta de chuva agrava o problema, diminuin-do o volume de água e expondo as áreasassoreadas.

As matas têm importante papel retentivodo terreno arenoso marginal do rio, dificul-tando o seu descimento para o leito. A"limpeza" das margens do rio, seja para plan-tio, para construção de moradias e ainda parainstalação de hotéis pesqueiros, situaçõespresenciadas durante a viagem, contribuienormemente para o assoreamento.

O ambientalista Apolo Heringer Lisboa,coordenador do Projeto Manuelzão, em con-tato com a equipe da Expedição em Pirapora,falou sobre a importância da ictiofauna comoindicador do estado de conservação do meioambiente no rio. Ainda que resguardadas asgrandes diferenças existentes entre os diver-

sos trechos do rio, a situação da vida aquáti-ca no São Francisco é extremamente negati-va.

O lançamento de esgotos domésticos eindustriais no rio, os despejos de garimpos emineradoras, o uso intensivo de fertilizantese defensivos agrícolas, a irrigação, o asso-reamento, a pesca predatória e os efeitos dasbarragens das usinas hidrelétricas, queprovocam desvio do leito dos rios, reduçãoda vazão, alteração da época das enchentes ea transformação de rios em lagos, são causasmarcantes de um estado de quase esgotamen-to do São Francisco, no que diz respeito àvida aquática.

A ictiofauna está especialmente escassanos trechos mineiro e baiano do rio. Nomédio São Francisco, especialmente acimade Barra, antes portanto de se atingir o lagode Sobradinho, a redução da quantidade depeixes atingiu níveis verdadeiramente assus-tadores. Uma denúncia trazida pelo capitãoda barca Luminar, Lúcio Barreto, é de que osgrandes fazendeiros do trecho mineiro estari-am criminosamente fechando as lagoas na-turais de peixes presentes nas suas terras,impedindo a sua comunicação com o rio. Ospeixes nascidos nas lagoas ficariam assimisolados, acabando por morrer no criatórionatural, sem conseguir atingir o leito do rio.

Outra denúncia, feita por AlfredoSampaio, secretário do Meio Ambiente domunicípio baiano de Gentio do Ouro, é queas lagoas da região - Ipueira, Mangue Fundoe Itaparica - têm sido ameaçadas pelo tráfego

constante de embarcações. Segundo ele,essas embarcações acabam por paulatina-mente alargar os canais de comunicação daslagoas com o rio, facilitando o vazamento daágua e a conseqüente perda do criatório na-tural de peixes.

O assoreamento, ao facilitar a evapo-ração da água, também contribui de maneirasignificativa para a redução da ictiofauna. Eaté mesmo a retirada de troncos do fundo dorio foi apontada como fator de ameaça àvida aquática. Os troncos retirados pelospescadores para facilitar a passagem dasredes de pesca constituem abrigos para ospeixes ("a casa do peixe") e barreiras contrao deslizamento das areias.

Um dado alarmante é o de que a quasetotalidade das cidades ribeirinhas dos tre-chos percorridos pela Expedição despejamos seus esgotos domésticos diretamente noSão Francisco. Seja por via de tubulaçõessubterrâneas, seja através das "lagoas deesgoto", seja, enfim, deixando correr para orio, a céu aberto, os dejetos domésticos, osnúcleos urbanos ribeirinhos fazem do SãoFrancisco o depósito privilegiado do seuesgoto.

A utilização indiscriminada das águasdo São Francisco e dos seus afluentes para airrigação agrícola é outro fator dediminuição do seu volume. Há mesmo casosde exaustão total das águas, como o reg-istrado no rio Salitre. Esse rio, que divide osmunicípios baianos de Sobradinho eJuazeiro, encontrava-se completamente

seco quando ocorreu a visita, situaçãoprovocada pelos diversos projetos de irri-gação instalados nas suas cabeceiras. A uti-lização descontrolada da irrigação agrícolacontribui também para a poluição do rio,devolvendo para o seu leito o excesso deágua aplicada, que arrasta consigo resíduosde fertilizantes, agrotóxicos, herbicidas eoutros elementos tóxicos.

Muito há por ser feito. A salvação do rioSão Francisco, a valorização do seupatrimônio cultural e a recolocação da suaimportância histórica são tarefas de gover-nos, empresas, instituições públicas e dasociedade civil organizada. E, principal-mente, de cada cidadão brasileiro. Todospodem contribuir para reverter o estado dedegradação que ensejou o assustadorprognóstico traçado pelo nonagenário ben-zedor Minervino Pereira da Silva, de Ibiaí,durante entrevista concedida para a equipeda Expedição: “a cama dos peixes vai setornar a cama dos bois”. Evitar esse futurosombrio é o objetivo maior da CampanhaRio São Francisco Patrimônio Mundial, doProjeto Manuelzão, de outros movimentosambientais e dos comitês de bacia.

9Manuelzão Belo Horizonte, Março / 2002

R e p o r t a g e m E s p e c i a l

* Márcio Santos é licenciado em Filosofiapela UFMG, especializado em Formação

Política e Econômica da Sociedade Brasileirapelo Unicentro Newton Paiva.É consultor em

direitos humanos da Assembléia Legislativade Minas Gerais.

Patrimônio natural e degradação ambiental

Lavadeiras no rio em São Romão, Minas Gerais

10

C i d a d a n i aManuelzão Belo Horizonte, Março / 2002

As cavernas que têm infraestruturapara receber turistas em MinasGerais não têm nenhum plano de

manejo turístico. São as conhecidas grutasRei do Mato, em Sete Lagoas, Maquiné, emCordisbugo, Lapinha, em Lagoa Santa, ePalhares, em Sacramento. O plano de mane-jo é um estudo completo que envolve váriosprofissionais e detecta o número de pessoasque a cavidade comporta, qual é o melhorroteiro, a melhor iluminação, quais salõesdevem ser interditados para a visitação.

As organizações responsáveis pelas ca-

vernas têm prazo de um ano, isto é, atéjaneiro de 2003 para apresentar estes planosde manejos. Essa foi uma deliberação doencontro técnico para a regulamentação douso turístico das cavernas de Minas Gerais ea solução encontrada para debater, identificare solucionar os problemas que estavam acon-tecendo devido ao aumento da demanda parauso turístico das cavernas.

O encontro aconteceu em novembro doano passado e reuniu os proprietários de áreasque abrigam cavernas procuradas por turistas,representantes dos grupos de estudo deespeleologia - estudo de cavernas - mineiros,da Sociedade Brasileira de Espeleologia

(SBE) e da União Internacional deEspeleologia (UIS), além da AssociaçãoMineira de Ecoturismo e do Instituto doPatrimônio Histórico e Artístico Nacional(Iphan). A organização foi do Centro deEstudos, Proteção e Manejo de Cavernas(Cecav-MG), órgão ligado diretamente aoInstituto Brasileiro do Meio Ambiente e dosRecuros Naturais Renováveis (Ibama), e daSecretaria Estadual de Turismo.

O encontro decidiu também que énecessário um plano emergencial, antes doestabelecimento do plano de manejo turísti-co, para resolver impactos causados pelodescontrole do número de visitantes por dia e

pela falta de segurança estrutural adequadapara o recebimento destes turistas.

Grutas como a do Carimbado, em SãoTomé das Letras, no Sul de Minas, e outrasencontradas no município de Carrancasestão na mesma situação de impasse: nãosão preparadas para o recebimento de turis-tas, mas é indiscutível o grande número devisitantes que as buscam. Para resolver aquestão um corpo técnico de dezpesquisadores, inclusive turismólogos, estávisitando as cavidades desde o dia 25 dejaneiro, identificando qual das grutas pre-cisa de um plano de manejo, qual tem umreal potencial turístico a ser explorado.Com essas informações será possível me-lhorar o turismo tanto para o ambientequanto para o visitante, disse Hélio Rabelo,diretor de projetos especiais da Secretariade Turismo de Minas Gerais.

As outras cavernas ficaram limitadas aouso para fins científicos com a autorizaçãodo Ibama, apresentação de relatório eanuência do proprietário do local. Ficoudecidido também que as agências de turis-mo ecológico teriam um roteiro alternativoelaborado em discussão com os grupos deespeleologia e a presença do Cecav. Até quea reunião aconteça estão proibidos os cur-sos em áreas não reservadas para o turismo.

Os maiores problemas que este turismodesordenado causa é a visitação em locaisnão apropriados. Como não foi feito ne-nhum zoneamento mostrando até onde oturista pode entrar na caverna, tanto aquestão de segurança pessoal do turista,quedas, risco de escorregões, quanto a dapreservação da caverna ficam ameaçadas.

Na Constituição brasileira as ca-vernas são consideradas bem daUnião e patrimônio cultural. São

ecossistemas frágeis, e por suas condiçõesespeciais de temperatura, luminosidade eumidade, muitas vezes são habitadas porespécies endêmicas, isto é, que só con-seguem viver naquelas condições específi-cas. Se o ambiente sofre alterações, estasespécies podem até ser extintas, como é ocaso da gruta Morena, em Cordisburgo.

Os animais que passam apenas parte davida dentro da caverna, como é o caso dosmorcegos, contribuem para a manutenção doecossistema não só dentro, como fora da ca-verna. Por exemplo, morcegos e aranhasmantêm o equilíbrio ecológico em relação ao

controle do número de insetos. Se eles sãoobrigados a se mudar, haverá toda uma novasituação de readaptação do ecossistema.

Ambiente de estudo geológico, ondepodem ser observados vários fenômenos naformação de espeleotemas - como as estalac-tites e estalagmites, aquelas formações cal-cáreas pontiagudas que tem sua base no tetoou no chão da gruta, respectivamente, - ascavernas são verdadeiros laboratórios para osestudantes de geociências. Muitas vezes estepatrimônio geológico acaba servindo de"lembrancinha": pessoas desavisadas levampara casa formações que demoraram mi-lhares de anos para existir. Cavernas que têmuma importância científica indiscutível, eestavam sem monitoramento de visitação,

podem acabar perdendo dados com o des-gaste provocado pela passagem de turistas.

Quase toda caverna está associada aotipo de relevo chamado carste - baseado emrochas carbonáticas. O carste é uma área derecarga de aqüífero, onde os lençóis freáticossão realimentados. É o que acontece nosmunicípios de Pains e Lagoa Santa; umacontaminação no aqüífero pode comprome-ter a água que abastece uma cidade inteira.

E ainda as cavernas são um espaço quepode guardar pinturas rupestres e outrasinformações arqueológicas, além de dadospaleontológicos importantes, como os fós-seis. O turismo sem guias pode acabar resul-tando em fósseis perdidos e pinturasrupestres alteradas com latas de spray.

Qual a importância da preservação de cavernas? Espelelogia Espeleologia é o estudo dedicado

às cavernas. No Brasil não existe umaregulamentação para esta atividade,mas em países como o México e aFrança existem cursos de graduaçãoem espeleologia e até em bioespelelo-gia.

No Brasil, para ser espeleólogo, ojeito é caminhar nas áreas afins, comoa biologia, a geografia e a geologia,além da engenharia de minas, zootec-nia, agronomia. E depois fazer ummestrado mais direcionado ao ambi-ente caverna.

Os grupos de espeleologia se for-mam pelo amadorismo e desejocomum de estudo e preservação desteambiente. Muitos grupos estão intima-mente ligados a universidades federais,com é o caso do Guano Speleo, ligadoà UFMG, e a SEE, ligada àUniversidade Federal de Ouro Preto.

Especialistas discustem uso turístico de cavernas mineirasMilene Migliano

Estudante de Comunicação da UFMG

Plano de manejo deve preparar visitação

Regulamentação deve proteger insetos quesó sobrevivem no ecossistema das grutas

A visitação desordenada ameaça beleza de grutas, como a de Maquiné em Cordisburgo

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Pilhas e baterias usadas podem ser matéria-prima da indústria

João sai de casa com um saco de pi-lhas usadas, e vai à padaria. Paraele não têm mais serventia e já

ouvira falar que pilhas são um resíduocheio de metais tóxicos para ir pro lixo.João está certo de que elas devem voltarpara o fabricante, que dará um fim eco-logicamente correto ao problema. Para ele,a devolução das pilhas ao fabricante étarefa da padaria, que comercializa o pro-duto. "O máximo que eu posso fazer é ati-rar no lixo", diz a gerente do estabeleci-mento em tom de estranhamento. Joãotelefona para o serviço de limpeza urbana:"Pilha? Vai tudo pro aterro". Mas um acú-mulo dos metais que estão nas pilhas, nosolo, não é perigoso? "Apesar de nãohaver estudos, com certeza há efeitocumulativo desses metais, o que é nocivoao ambiente", responde a professora dodepartamento de Engenharia Sanitária daUFMG, Lizete Celina. João, que nãoexiste mas pode ser um cidadão comoqualquer outro, está confuso e não sabemais o que fazer com o seu lixo, um tantoperigoso.

Sem destinoE o problema já tem até solução legal, mas

ainda longe da realidade. Segundo resolução doConama (Conselho Nacional do MeioAmbiente) de junho de 99, fica proibido olançamento a céu aberto de pilhas e baterias dequalquer tipo, tanto em áreas urbanas quantorurais. Os fabricantes são os responsáveis pelorecolhimento do material e sua destinação final,o que deve ser fiscalizado pelos órgãos públicosambientais. Apenas as pilhas que atenderem aoslimites percentuais de metais pesados descritosna resolução podem ser dispostos, juntamentecom os resíduos domiciliares, em aterros sa-nitários.

A maioria dos fabricantes, para seausentarem da responsabilidade sob a gestão deseus produtos, alega que já cumprem com oslimites percentuais impostos pelo Conama.Dizem ainda que não têm tecnologia própriapara fazer cumprir a destinação final de seusprodutos. O fato é que o prazo de um ano paraimplantação de mecanismos operacionais paracoleta, transporte e armazenamento das pilhas ebaterias descartadas já acabou, e muito poucofoi feito. Segundo dados do IBGE de 1996, oBrasil consome, anualmente, 910 milhões de

pilhas. Algo próximo a seis pilhas por cidadãobrasileiro/ano. Os metais pesados de todo essevolume material, quando aterrados, migrampara partes mais profundas do solo. Com issopodem atingir o lençol freático, contaminandoas águas subterrâneas.

Mas o que é lixo para uns, é matéria-primapara outros. Em Suzano, São Paulo, a IndústriaQuímica Suzaquim recicla baterias de celular epilhas transformando o material em óxido

metálico. Com ele são fabricados corantes usa-dos em vidros, pisos, tintas e cerâmicas. Não háno Brasil uma empresa capaz de fabricar pilhasnovas a partir das esgotadas, como já existe naSuíça. A Suzaquim só recebe material de outrasempresas e indústrias.

Enquanto isso, a decisão é sua. Ou suas pi-lhas vão para o aterro ou você guarda tudo atéque a questão se resolva. Só não vale perder asesperanças, João.

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C i d a d a n i aManuelzão Belo Horizonte, Março / 2002

O Museu de Zoologia daUniversidade de São Paulorecebeu, no início desse ano,

o depósito de exemplares-testemunhos dasespécies de peixes já coletadas na bacia dorio das Velhas para compor a coleção dainstituição. A iniciativa faz parte do S.O.S.Rio das Velhas, trabalho realizado peloProjeto Manuelzão que tem no inventário daictiofauna da bacia uma de suas atividades.A atividade é coordenada pelos biólogosCarlos Bernardo Mascarenhas Alves e Paulodos Santos Pompeu e financiado pelaFundação "O Boticário de Proteção àNatureza", em parceria com o ProjetoManuelzão.

A Coleção de peixes da USP, a maisimportante do Brasil, possui alcance interna-cional, sendo a mais completa em relação àfauna de peixes do país. O depósito no Museufacilita o acesso ao material já coletado nabacia do rio das Velhas desde 1999 apesquisadores especialistas em diversos gru-pos de peixes. A confirmação da identificaçãodas espécies, ou mesmo a descrição de espé-cies novas, fica facilitada, permitindo maiorcredibilidade aos estudos já realizados.

No total foram depositados 200 lotes,com exemplares de cerca de cem espécies.Dessas, pelo menos nove são consideradasespécies novas, ou seja, ainda desconhecidaspela ciência. Algumas delas já são objeto deestudo de alguns especialistas, brasileiros eestrangeiros. Depositadas no Museu,poderão fazer parte da série-tipo - lote deexemplares utilizados para a definição decaracterísticas morfológicas e proporçõescorporais de uma espécie nova durante oprocesso de descrição.

O biólogo Carlos BernardoMascarenhas destaca a relevância científicadessa atitude. Ele lembra que a legislaçãoambiental prevê que, na construção devários empreendimentos, como usinashidrelétricas, é obrigatório o levantamentoem todos os níveis da fauna existente. "Otrabalho é feito mas não se tem acesso a ele.Nem todo mundo deposita o material emmuseu". Minas Gerais não dispõe de museucom esta finalidade.

Na avaliação dos biólogos, após a con-clusão dessa etapa dos estudos, é possívelque a riqueza registrada atualmente na baciado rio das Velhas alcance cerca de 110 espé-

cies, incluindo a calha principal, principaisafluentes e a Lagoa Santa. Este número ébastante representativo, tendo em vista oatual estado de degradação no qual seencontram alguns trechos e por representar

mais da metade de todas as espécies co-nhecidas para a bacia do rio São Francisco.

Saiba mais sobre o Museu de Zoologiahttp://www.mz.usp.br/

Peixes coletados pelo Projeto Manuelzão vão para Museu da

Frederico ViezaEstudante de Comunicação da UFMG

Do total de pilhas e baterias consumidas no país, quase 70% são constituídas principalmente por zinco e cád-mio, aproximadamente 30% por amônia e manganês. Os porcentos restantes são o grupo das baterias de celu-lares, automotivas e industriais. Confira os males no homem que esses metais "pesados" podem provocar:

Na USP, Carlos Bernardo e Paulo Pompeucom o curador da Coleção, Dr. José Limade Figueiredo, Dr. Heraldo Britski, osbiólogos Osvaldo Oyakawa e Flávio Limae a estagiária Vívian

Manuelzão Belo Horizonte, Março / 2002

Salve a naturezaAcontece no BrasilQuanta sacanagem já se viuAs matas vão caindo pela terraAo som da moto-serraAcontece no Brasil (bis)

As árvores estão virando carvãoO alto forno de CubatãoEnfumaça todo o céu.Indústrias com seus ingredientesDeixam o povo tão doenteEnvenenam o nosso mel.

Lavouras estão cheias de pesticidasFazem muitos suicidasEnvenenam a plantaçãoAs frutas, os legumes poluídosNão podem ser ingeridosCausam desidratação.Causam desidratação!Acontece no Brasil....

As aves temem pela sua sorteCom a sentença de morteJá não podem mais voar.Os peixes estão morrendo pelo esgotoAs indústrias com azotoEstão poluindo o mar.

Ai, ai, ai o meu pulmão!Ai, ai, ai, o meu pulmão!Como sofre com a poluiçãoNo ar está faltando oxigênioPara o próximo milênioVai matar o meu irmão.Vai matar o meu irmão!

João Eustáquio Torquato

CCoommoo aa áágguuaa éé

iimmppoorrttaannttee ppaarraa nnoossssaa vviiddaa

As águas garantem a nossa qualidadede vida. Eu descobri nos livros que a águaestá distribuída em grandes partes pelomundo. 97% correspondem a água salgadados mares e oceanos, 2,2% estão nasgeleiras e calotas polares, 0,8% é águadoce, que vem dos rios e é a água queusamos para beber, tomar banho e fazercomida. Por isso é importante nãopoluirmos os rios. Porque os rios poluídoscausam doenças, os peixes morrem e ascrianças não podem nadar e brincar nosrios. Os rios quando ficam sujos são muitofeios, temos que cuidar das águas dos riosporque as águas são muito importantespara nossa vida.

PPoorr qquuee ooss rriiooss ssããoo

iimmppoorrttaanntteess??

Os rios são importantes porque con-duzem a água das nascentes para abasteceras cidades, os campos, as indústrias e asusinas hidrelétricas. A água transportadaalimenta os seres humanos, os animais e asplantas.

Os peixes e outros animais aquáticosprecisam dos rios para sobreviver. Elesestão morrendo porque as águas dos riosestão ficando poluídas. Sabem por quê?Nós, seres humanos, estamos jogando lixonos rios. Com isso prejudicamos nossaprópria saúde!

Viram? Temos que cuidar mais dos rios!Como? Cada um fazendo sua parte, teremosuma paisagem bonita e uma vida saudável!

Viva os rios!!!

DDesenhos, poesias e redações. No "Manuelzão" nº 15, o concurso "Mostre seu talento" propôs que a criançada falasse sobre a importân-cia dos rios em suas produções. A meninada da bacia do Velhas enviou para a redação do Jornal suas obras de arte. Os trabalhos publi-cados são os vencedores e recebem uma camiseta do Projeto como premiação.

MMoossttrree sseeuu ttaalllleennttoo

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M a n u e l z ã o V a i à E s c o l a

Fernanda Machado

Helena Martins

MMMMeennnnççççããããoo hhhhoooonnnnrrrroossss aaaa

RioRioRiachoRiozinhoMeu bom amiguinho

Se me pegas cadêSua mãoQue às vezes me Embala no sono profundo

Me faz sorrirMe faz chorarMe faz feliz,Me faz ficar

Na escuridãoMe faz acalentarMeu bom amigoSeja sempre lindo

Dele tiramos o que precisamosTambém o que amamosA sua amizade é eternaNós estamos de ⁄ aberto.

Wanessa Alves Ribeiro9 anos

7 anos

8 anos

Estes trabalhos não foram feitos porestudantes e, portanto, não concor-reram ao “Mostre seu talento”, masforam publicados pela dedicação de

seus autores

Samara Lúciade Freitas

8 anos

Nathália Horta8 anos

Silvano Melo

Neimar12 anos

Modo dde ffazer ::

1) Deixe de molho numa bacia cheia d`água, durante uma hora,todo o papel picado. Use um só tipo de papel (ou de revista, oujornal, ou...).

2) Coe e acrescente aos pedacinhos umedecidos o dobro de águaque você usou de primeira. O lugar onde você está fazendo opapel deve escoar água com facilidade.

3) Bata tudo no liqüidificador; vai virar uma pasta.

4)Espalhe a pasta num tabuleiro, e acrescente mais água. Misture bem.

5) Mergulhe a tela na mistura e levante rapidamente, na horizontal. Espere a água escorrer.

6) Vire de uma vez só o conteúdo que acumulou na tela* sobre uma mesa, já forrada com o pano de algodão. Vá com calma. O impor-tante é a folha não desmanchar!

7) Coloque outro pano por cima e depois umplástico. Venha com os livros por cima e apertebem, até o resto da água sair.

8) Retire a folha e deixe secar.

UMA DICA: Se você quiser folhas coloridas,acrescente anilina na fase do liqüidificador.

OUTRA DICA: Se você quiser folhas maislisas, peça para um adulto passá-las a ferroquente, com um pano por cima para protegê-las.

A Tela*: Pregue quatro ripas de papel, uma aolado da outra, até formar um quadrado. Essequadrado terá o tamanho de sua folha. Prendano fundo tela de serigrafia, bem esticada. Ela écheia de furinhos para deixar a água escorrer.

Desenhos:Henrique Milen

Manuelzão Belo Horizonte, Março / 2002

Desligar os brinquedosquando acabar de usá-los. Poupe energia!

Usar como rascunho o verso das fol-has de papel usadas.

Evitar a compra de alimentos commuitas embalagens.

Reutilizar latinhas de leite em pó ouextrato de tomate como porta-lápis.

Ter o olho maior que a barriga, eservir-se de mais comida que o necessário.

Jogar no lixo materiais que podem irpara associações de catadores: papelão, gar-rafas, plásticos...

Deixar a torneira aberta enquantoescova os dentes.

Dormir com as luzes do quarto acesas.

Na página 13 do "Manuelzão" nº17,edição de dezembro de 2001, havia umapalavra-cruzada. Para você que tentoupreenchê-la, confira as respostas.

1.SOLAR2.HOMEM3.ÁGUA4.SÃO FRANCISCO5.ARRUDAS6.RIBEIRÃO DA MATA7.ÁRVORE8.EFEITO ESTUFA

Na descida, as águas correm com jeito.nas curvas com alegria corre sobre seu leito.

Maus hhábitosambientais

Reposta dda ppalavra ccruzada

Bons hhábitos aambientais

Dicas ppara uuma VVida SSaudável

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M a n u e l z ã o V a i à E s c o l a

Prefira sempre sucos da fruta a refriger-antes. Os sucos são ricos em vitaminas, saisminerais e contribuem para a proteção doseu corpo. Refrigerantes são feitos basica-mente de açúcar e ácido carbônico, que levamais gás carbônico para dentro de você.Sem falar das garrafasplásticas que sobram nolixo. Elas levam mais oumenos 450 anos para sedecompor! As cascas ebagaços se decompõemmais rapidamente e fazemuma bebida muito maissaudável.

Você vvai pprecisar dde:

Uma sacola de papel picado em pedacinhos de até 3 cm;Uma tela para escorrer;

Liqüidificador;Panos de algodão ou feltro;

Plástico para forrar;Um tabuleiro;

Uma tábua;Água;

Livros bem pesados.

Vamos fazer papel reciclado?

OProjeto Manuelzão, em parceria com o jornal O Tempo e oUnicentro Newton Paiva, começou a produzir em dezembro de

2001 o caderno Tempo da Terra. Abrangentes matérias sobre meioambiente compõem o suplemento mensal, que acompanha o jornal OTempo sempre no dia 5 de cada mês. Não deixe de conferir!

"Uma viagem ao Projeto Manuelzão e àbacia do Rio das Velhas", este é o nome dacartilha lançada em dezembro, que apresentanossa bacia, os fatores responsáveis pela suadegradação, as propostas para sua recupe-ração e um caminho para buscar a partici-pação de todos.

Desenvolvida em parceria com aSecretaria de Estado da Educação trazimportantes informações sobre nosso plane-ta, ciclo hidrológico, degradação ambiental,qualidade de vida, história e ocupação dabacia do Velhas. Também aborda os con-ceitos e objetivos do nosso Projeto e traz ori-entações para o trabalho de educação ambi-ental.

As escolas estaduais e municipais dabacia receberão dez exemplares cada. A dis-tribuição será feita em seminários que acon-tecerão por superintendência regional deensino.

O Projeto Manuelzão registra asmudanças ocorridas na secretaria deEstado de Meio Ambiente eDesenvolvimento Sustentável (SEMAD) eSecretaria de Estado da Agricultura.Paulino Cícero deixou a SEMAD para

assumir o cargo de secretário da agricul-tura. Substituindo Paulino, Celso Castilhoassume como secretário de meio ambientee desenvolvimento sustentável. O ProjetoManuelzão deseja-lhes sucesso nos novospostos de trabalho.

A comunidade de Ouro Preto se mobilizapara proteger a nascente do rio das Velhas. Ocomitê Manuelzão, membros daUniversidade Federal de Ouro Preto (UFOP)e de diversas ONGs e associações domunicípio se unem na luta pela preservação.

Na área da Cachoeira das Andorinhas,considerada de proteção ambiental, aextração de quartzito teve um grande cresci-mento nos últimos meses devido aofechamento de outra pedreira próxima àcidade de Mariana. A exploração desordena-da vinha causando sérios impactos. JoséEduardo, morador do Morro de SãoSebastião, encaminhou uma denúncia aoMinistério Público. A Polícia Florestalesteve na área e barrou a atividade.

O rio Maracujá e o rio Funil, que são osdois principais afluentes do Velhas em suacabeceira, também sofrem com a degradaçãoambiental. A extração de Topázio Imperialestá destruindo as nascentes do rio Maracujá;e o córrego do Arrozal, que deságua no rioFunil, está sendo assoreado, devido a obrasna ferrovia Vitória/Minas.

O Ministério Público e a DelegaciaEspecial de Defesa da Qualidade de Vida eEcologia de Ouro Preto receberam denúnciassobre as intervenções da Companhia Vale do

Rio Doce na ferrovia e os impactos causadosnos mananciais.

Todas essas questões foram debatidas, nodia 13 de dezembro, durante o 3º Encontrodo Comitê Manuelzão de Ouro Preto. Oevento contou com a presença de represen-tantes de escolas, do Conselho de Saúde,associações de moradores, ONGs ambienta-listas, UFOP, Escola Técnica Federal de OuroPreto, Instituto de Patrimônio Histórico eArtístico Nacional (IPHAN), ConselhoEstadual de Política Ambiental (Copam).

O Instituto dos Arquitetos do Brasil(IAB/MG), na IX edição do "Prêmio deGentileza Urbana", contemplou no último dia19 de dezembro dez ações indicadas pela pop-ulação de BH como "exemplares", quando oassunto é melhoria da qualidade de vida. Asurnas para indicação foram colocadas empontos estratégicos da cidade. O ProjetoManuelzão, no seu quarto ano de trabalho emdefesa da bacia do Velhas, foi um dos premi-ados, juntamente com a Associação dosCatadores de Papel e Material Reaproveitávelde Belo Horizonte (Asmare), o Projeto Arteno Ônibus, o Dia "V" (2/12) do ProgramaVoluntário das Gerais, Projeto da Praça AbílioNunes Figueiredo, 1º Festival Mundial deCirco do Brasil, Projeto AC Minas Ano Cem

- Serra do Curral, Programa "Encontro naPraça", Projetos da Fundação Zoobotânica deBH, e Criação do Centro Cultural "MauricioMurgel" - Valorização das Artes Cênicas.

Valdete Cordeiro, 62, moradora do bairroVera Cruz, compôs o júri que selecionou asindicações populares. Há mais de 20 anosValdete luta pela melhoria de sua comu-nidade. "Nós, junto com o Manuelzão, acre-ditamos que saúde é, antes de tudo, pre-venção. Foi com isso na cabeça que con-seguimos melhorar a vida na nossa comu-nidade", confessa a moradora. Segundo opresidente da IAB/MG, Leonardo Castriola, aidéia do prêmio será adotada em Liverpool,Inglaterra. Há nove anos a entidade contem-pla com troféus os vencedores.

No dia 05 de fevereiro, no auditório doCREA (Conselho Regional de Engenharia),o Projeto Manuelzão marcou presença dis-cutindo o tema poluição e seus impactos nabacia do rio das Velhas, a convite doMinistério Público de Minas Gerais.Segundo o coordenador geral do Projeto,Apolo Heringer Lisboa, o meio ambiente nãodeve ser estudado de forma isolada. "Nósnão separamos meio ambiente de transfor-mação política, de ordem econômica interna-cional ou social", disse.

O professor Marcus Vinícius Polignanofalou sobre o saneamento dentro da bacia doVelhas. Segundo ele, a população geralmentese preocupa em captar água, mas muitasvezes não há preocupação em preservá-la."Cerca de 90% dos municípios banhadospelo rio das Velhas possuem algum tipo desistema de abastecimento". Já Ana LuizaDonabela, explicou a metodologia usadapara desenvolver um enquadramento doscorpos d'água no Rio das Velhas. "Oenquadramento é um instrumento de planeja-mento. Ao ser respeitado estamos respeitan-

do os objetivos a serem alcançados", afir-mou.

O biólogo Carlos Bernardo Mascarenhasfalou sobre o atual estado da fauna de peixesno rio das Velhas e os impactos que eles têmsofrido. Os estudos começaram em 1999, comum levantamento das espécies, de algunsimpactos ambientais, comparação com dadoshistóricos e muitos outros estudos.

A platéia, composta em sua maioria porpromotores da bacia do rio São Francisco,demonstrou muito interesse em conhecer aspropostas do Projeto Manuelzão e participouativamente na discussão dos temas. Foisolicitado ao Projeto prestar assessoria técni-ca à ação do Ministério Público, para istodeverá ser assinado convênio ainda emmarço. Para Apolo Lisboa, a situação emque se encontra a bacia do Velhas pode serdiferente. "Nós trabalhamos e acreditamosque podemos mudar isso e essa mudançavirá, e o maior indicador disso será quandoos peixes voltarem à bacia do rio das Velhase pudermos pescar surubim e dourado comoantes".

Informações

Para não morrer no nascedouro

Cartilha do Velhas

Manuelzão e Ministério Público

Gentileza premiada

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A c o n t e c eManuelzão Belo Horizonte, Março / 2002

Mudanças no secretariado

A água tem sido foco de dis-cussão não só entre cientistas,biólogos, ONGs e órgãos

responsáveis, ela ganhou dimensões maisamplas. Hoje é assunto em casa, na escola,nas reuniões de bairros porque a responsabi-lidade de preservação dos recursos hídricos éde todos nós. A poluição, os esgotos, des-matamentos, lixo doméstico e de indústriassão algumas causas da situação em que seencontram vários rios e bacias de MinasGerais. A preocupação em monitorar a quali-dade da água, proteger, conservar e recupe-rar os recursos hídricos é cada vez maior.

Vários métodos são aplicados atualmentepara fazer este monitoramento: os químicos e

físicos, e o uso de bioindicadores - espéciesde insetos aquáticos, moluscos, crustáceos,plânctons e peixes que costumam viver emdeterminado local, com hábitos específicos eque reagem a qualquer tipo de mudança noseu habitat. Essas reações podem ser físicas,morfológicas ou até mesmo comportamen-tais.

Estas duas opções de monitoramentopodem ser usadas individualmente ou juntas.A primeira indica a qualidade de água emdeterminado ponto, no instante em que aamostra é coletada; geralmente os aparelhosusados são muito caros e sofisticados. Já ouso de bioindicadores permite obter dadosmais profundos e específicos. Isso se deve aociclo de vida longa dos organismos usados,ao tamanho - normalmente são grandes, se

movem pouco, por existir grande variedadede espécies e por serem sensíveis à poluição.O uso do biomonitoramento ainda apresentacusto mais baixo.

QualidadeSegundo o coordenador do Laboratório

de Ecologia de Bentos da UniversidadeFederal de Minas Gerais, Marcos Callisto, osbioindicadores usados com maior freqüênciasão os chamados "macroinvertebrados ben-tônicos", ou seja, são aqueles que habitam ofundo dos sistemas aquáticos e podem serfacilmente visualizados, tais como osbesouros aquáticos, libélulas e as moscas depedra. A libélula, por exemplo, vive emlocais de água lenta, junto à vegetaçãoaquática, e os besouros habitam locais onde

há água corrente e limpa, com altas concen-trações de oxigênio.

Outros organismos indicam que determi-nada água é de má qualidade. Um exemplosão as moscas e mosquitos que gostam delocais com alta concentração de matériaorgânica e as minhocas d'água que vivem nofundo, em águas correntes ou paradas.

Os bioindicadores têm sido muitoestudados como instrumentospara avaliar a qualidade de água.

Marcos Callisto, desenvolve muitos projetosnesta área. Além vários artigos publicados,ele está trabalhando atualmente em um pro-jeto de biomonitoramento na Serra do Cipó.O trabalho consiste em avaliar e melhorar aqualidade de rios que fazem parte da Serraatravés do uso de bioindicadores, principal-

mente os insetos. Não só usando os méto-dos acima se pode garantir a qualidade dosnossos recursos hídricos. SegundoCallisto, algumas simples ações podemajudar a garantir a qualidade da água,como preservar a vegetação em torno dosrios, tratamento de esgotos, destino finaladequado do lixo, além de evitar o des-perdício e manter a caixa d´água semprelimpa.

São pequenos gestos que se foremesquecidos podem geram graves conse-qüências como aquisição de váriasdoenças ( giardíase, cólera, dengue). Masse tornando hábitos constantes, ajudam apreservar e a proteger nossos rios e bacias.Afinal, apesar do nosso planeta ser con-hecido como planeta água, apenas 3% dosrecursos hídricos estão disponíveis parauso doméstico.

O peixe como bioindicadorO peixe também é muito usado paraavaliar a qualidade de água em determina-dos rios e em algumas bacias. O projetoManuelzão, atua em cerca de 51 municí-pios da bacia do rio das Velhas com oobjetivo de melhorar a qualidade daságuas. Lá, por exemplo, a ocorrência edistribuição de algumas espécies de pei-xes têm grande importância para avaliar etentar melhorar a qualidade de água.Segundo o coordenador do projeto S.O.SRio das Velhas, biólogo e consultor naárea de meio ambiente do ProjetoManuelzão, Carlos Bernardo Mascare-nhas Alves, o uso do peixe como bioindi-cador têm muitas vantagens. "Além deserem visíveis, palpáveis, são reconheci-dos pela população", diz. Segundo ele, oobjetivo do Projeto Manuelzão é desen-volver um completo programa de biomo-nitoramento usando, além dos peixes,insetos e plânctons.

Bioindicadores: armas da ciênciaO uso de bioindicadores para estudos de qualidade de água se amplia e traz bons resultados

Adriana FerreiraEstudante de Jornalismo do Unicentro Newton Paiva

sComo surgiu o termo bioindicadores?

O uso do termo para indicar plantas como bioindi-cadores já é usado há mais de 400 anos. Já o usodo termo para se referir aos insetos e outros orga-nismos começou no início do século XX.A ciência que estuda o uso de bioindicadores paradeterminar a qualidade de água se chamaLimnologia. Alguns grandes estudiosos da áreaforam Thienemamm, Lenz, Ludeck e Brundin eatualmente o método é conhecido no mundo todo.

Laboratório de Ecologia de Bentos da UniversidadeFederal de Minas Gerais - Site -www.icb.ufmg.br/~limnos. O telefone é: 3499-2576

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C o n s C i ê n c i aManuelzão Belo Horizonte, Março / 2002

UFMG faz biomonitoramento na Serra do Cipó

Exemplos de insetos bioindicadores

Odonata (Libélulas)Gostam de viver nas margens de rios. É encontrada em regiões de água limpa. Plecoptera (Moscas da Pedra)

Quando ninfas habitam águas correntescom grande concentração de oxigênio.

Fonte: Laboratório de Ecologia de Bentos da Universidade Federal de Minas Gerais

Coleoptera(Besouros aquáticos)Habitam rios que possuemgrandes concentrações deoxigênio.

“Hugo Werneck é o dono da carteirinha númerovinte do Conselho Regional de Odontologia deMinas Gerais. Imagine só quantos dentistas

registrados existem hoje no estado. Diplomado em 1939, quan-do tinha apenas 19 anos, o exercício da profissão foi ininterrup-to até 1993. Nos 54 anos dedicados a odontologia, Hugo foi pres-idente do Sindicato Mineiro e professor e integrante do conselhouniversitário da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).Em dezembro de 2000 recebeu uma medalha num prêmio paraex-alunos de destaque da Universidade "pela relevância de suaatuação profissional".

Mas essa não foi a primeira nem a última homenagementregue a Hugo Werneck. Se somados todos os prêmios, meda-lhas, troféus e placas juntam-se mais de quarenta homenagensrecebidas. Mas, de todo esse reconhecimento, só uma ou outraplaca se refere ao seu trabalho como dentista. Hugo Werneckdedicou quase toda a sua vida a uma atividade em que não pos-sui formação profissional: a proteção e preservação do meioambiente.

Desde criança, Hugo é um observador da natureza. Quandotinha três anos de idade, seu pai comprou uma fazenda que, naépoca, ficava fora da cidade. Hoje uma parte dela ainda estápreservada no bairro Tupi, em Belo horizonte. Hugo gosta defrisar quais eram as coisas que mais o encantavam. A primeira éa água que corria em abundância. "Meu pai conservava demaisaquilo. Nunca tive notícia dele desrespeitar uma nascente", lem-bra orgulhoso. Segundo Hugo até hoje existem nascentes preser-vadas no que sobrou da fazenda.

Outro encantamento era com as borboletas. "Lá havia umaquantidade enorme. Aquelas cores lindas me fascinavam" recor-da. Uma vez Hugo perguntou a uma pessoa como poderia fazerpara ter borboletas em casa. Ou melhor, no seu apartamento nodécimo andar de um prédio onde mora, há quase 60 anos, nobairro São Pedro. Essa pessoa lhe recomendou espetar a cabeçadas borboletas em um papelão. "Mas elas vão morrer", elerespondeu escandalizado. "Morrem, mas ficam aí quietinhas",disse o outro. Hoje, rindo, Hugo conta que considerou melhordeixá-las onde estavam mesmo.

O terceiro encanto da infância continua presente na sua vidaaté hoje. Nos quase 83 anos Hugo nunca perdeu a admiraçãopelos passarinhos. "Eu gosto de vê-los, de aprender com eles, vercomo se comportam, como se relacionam com os companheiros

da mesma espécie, como criam os filhos." Hugo afirma aprendermuito sobre paternidade com os pássaros. E, certamente, tevemuitas oportunidades para usar o que aprendeu. Hugo teve 11 fi-lhos com Dona Wanda, sua primeira mulher. O casamento durou54 anos. Wanda morreu em 98.

Hugo conta que, quando viajava com a mulher e os filhos,sempre parava o carro no acostamento para ouvir quais os pás-saros existiam naquela região.E não ficava satisfeito em apenasouvir os cantos, queria ver os passarinhos espalhados por todosos lugares. Começou a estudar os tipos de alimento de cada espé-cie. "Passei a pegar passarinhos e soltá-los em lugares em quesua espécie não existia, mas havia condições para que ele lávivesse".

Humberto Werneck, o filho que é jornalista e escritor, já fezum conto em homenagem ao pai. Nele, Humberto fala doesforço de Hugo em "colher passarinhos onde sejam abundantespara semeá-los onde vão escasseando" e do orgulho que o paitem de nunca ter vendido pássaros e de apenas uma vez ter com-prado um. Tudo isso explica o nome que Humberto deu ao conto:"O Espalhador de Passarinhos".

Luta pela naturezaMais do que contemplar a natureza, Hugo Werneck sempre

trabalhou muito para a sua conservação. "No início quem lutavapelo meio ambiente era chamado de rebelde, louco". Em 1972,na Conferência de Estocolmo, foi recomendado que não só osgovernos, mas também o povo se dedicasse à resolução dosproblemas de cada país. Isso foi um grande estímulo para Hugo.Em maio de 1973, ele e mais 15 amigos "loucos" formaram o"Centro para a Conservação da Natureza". Acredita-se que estapode ser a primeira ONG (Organização Não Governamental)ambiental do estado. Algo como um "avô" do projeto doManuelzão.

Hugo acredita que a denúncia e a punição não são o cami-nho para mudar a mentalidade das pessoas sobre o meio ambi-ente. "Nunca íamos à polícia. Sempre buscávamos convencer osresponsáveis por algum problema ambiental a mudarem de ati-tude". O Centro sugeria a formação de parques ecológicos aogoverno do Estado. Muitas dessas sugestões foram acatadas."Mais ou menos uma meia dúzia de parques foi criada com onosso apoio. Inclusive o Grande Sertão Veredas que fica lá nafronteira de Minas com a Bahia", conta animado.

Toda a atividade feita por Hugo em sua ONG foi voluntária.A primeira vez que recebeu para trabalhar com o meio ambiente

foi em 1993. Aos 74 anos foi convidado para ser presidente daFundação Zoobotânica, que atualmente engloba o Zoológico eum jardim botânico em BH. Uma de suas realizações naFundação foi a criação do borboletário. Trabalhou lá quase oitoanos. Saiu em janeiro de 2001.

No ano passado, Hugo Werneck se casou novamente. Penha,sua mulher, estava com 48 anos e ele com 82. O casal chegou adar entrevistas sobre a diferença de idade e a vida dinâmica domarido. Penha reclama do preconceito contra as pessoas da ter-ceira idade. "Acho que Hugo é um privilegiado porque dirige,trabalha e faz tudo o que quer", diz Penha. Ela ainda acredita queo marido pode ser "um exemplo para as outras pessoas que pen-sam que depois dos 60 é hora de colocar pijama e chinelo e ficaro tempo todo quieto em casa". "Transformar a velhice numaante-sala da morte é um erro", resume Hugo.

Hugo Werneck parece manter ainda hoje a mesma juventudedos tempos em que jogava basquete no Minas. Não abandona aluta pelo meio ambiente e vai começar no próximo mês a traba-lhar com educação ambiental numa grande empresa. O "Centropara a Conservação da Natureza" em breve deve retomar as suasatividades. Para explicar todo este entusiasmo Hugo utiliza umafrase do escritor Alceu Amoroso Lima, o Tristão de Ataíde:"jovem é todo aquele que tem compromisso com o futuro".

Sílvia AraújoEstudante de Comunicação da UFMG

Água, bborboletas ee ppassarinhosÁgua, bborboletas ee ppassarinhos

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P e r f i lManuelzão Belo Horizonte, Março / 2002

"Quem passar hoje pelo Morro do Chapéu, por exemplo, nas vizinhanças de Belo Horizonte, como aquele Chevrolet 39 dasestradinhas dos anos 50, e ouvir cantar um pintassilgo, não saberáque ele pode ter vindo da distante Itamarandiba, no Vale doJequitinhonha, nas asas de um perseverante espalhador de passarinhos." Conto "O espalhador de passarinhos" de Humberto Wernek, jornalista e escritor.