revista ideias 103

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Curitibanos gastam R$38,7 bi em 2010 ano VII nº 103 R$ 5,00 www.revistaideias.com.br As estreias de Zanoni e os vinhos e de Distefano e os costumes

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Curitibanos gastam R$ 38,7 bi em 2010

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CuritibanosgastamR$38,7 biem 2010

ano VII nº 103 R$ 5,00www.revistaideias.com.br

As estreias de Zanoni e os vinhos e de Distefano e os costumes

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EDITORIAL

IDEIAS 103Alá é grande e Maomé o seu profeta, diziam os árabes, nos

bons tempos em que o Professor Malba Tahan contava suas histórias.

O Paraná também é grande, mas a verdade é que vamos tendo, graças aos Céus, cada vez menos profetas. Talvez seja esse um indício promissor de maturidade próxima.

Em pouco tempo, as grandes lideranças carismáticas do Paraná desincharam. É o caso do ex-governador Requião. Não desapareceram, certamente, mas reduziram-se a dimensões nor-mais, manejáveis.

Outros líderes novos que pareciam destinados a espocar como rojões no céu da pátria, como o deputado Gustavo Fruet, gastaram-se depressa, graças ao uso intensivo, e se tornaram pedestres, ainda que valentemente pedestres.

O Paraná parece hoje mais capaz de absorver com naturali-dade determinados choques (maiores ou menores) que, ainda há muito pouco tempo, teriam produzido estragos considerá-veis. Veja-se o caso das denúncias e investigação da Assembleia Legislativa.

Assim caminha a humanidade. A política domina a cena, mas o importante é que a economia cresce e se fortalece. Basta ver o potencial de consumo neste ano da graça de 2010. Os curitibanos vão gastar muito mais do que nos anos anteriores, a nossa matéria de capa. Esse é outro indício de que podemos alcançar a contemporaneidade do mundo. Basta acreditar.

ÍNDICEFábio Campana 06

Luiz Geraldo Mazza 09

Gente Fina 10

Carlos Alberto Pessôa 15

Câmara dos vereadores 16

Luiz Fernando Pereira 17

Um dândi no jornalismo

20

Paraná Pesquisas 25

Mirian Gasparin 27

O papel das mídias sociais nas Eleições

28

Curitibanos devem gastar R$38,7 bilhões em 2010

30

Prateleira 34

Cena aberta 36

Marianna Camargo 41

Rogério Distefano 42

Wilson Bueno 44

Luiz Carlos Zanoni 47

Claudia Wasilewski 49

Márcia Toccafondo 50

Pryscila Vieira 54

Revista Ideias: publicação da Travessa dos EditoresISSN 1679-3501 Edição 103 - R$5,00 e-mail: [email protected] de maio de 2010

Editor: Fábio Campana Secretária de Redação: Marianna CamargoColaboradores: Carlos Alberto Pessôa, Josianne Ritz, Karen Lisse Fukushima, Luiz Carlos Zanoni, Luiz Fernando Pereira, Luiz Geraldo Mazza, Márcia Toccafondo, Miriam Karam, Mirian Gasparin, Rogerio Distefano, Pryscila Vieira e Wilson BuenoCapa: Guilherme ZamonerProjeto gráfico, diagramação e ilustração: Clarissa Martinez MeniniConselho Editorial: Aroldo Murá G. Haygert, Belmiro Valverde, Denise de Camargo, Fábio Campana, Lucas Leitão, Paola De Orte, Rubens Campana

Diretora Comercial: Márcia ToccafondoPara anunciar: [email protected]

www.travessadoseditores.com.br Tel.: [41] 3338 9994 / 3079 9997Rua Desembargador Hugo Simas nº 1570cep 80520-250 / curitiba pr

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IDEIAS | maio de 20106

FÁBIO CAMPANA jornalista

O povo não está nem aí para a eleição

Enquanto os políticos para-naenses se debatem entre a definição de candidatu-

ras majoritárias e os escândalos de corrupção, o povo que vai votar em 3 de outubro não está nem aí para eles. Mais da metade ainda não sabe quem são os candidatos a presidente da República e os que sabem não tem noção mínima do que cada qual representa, mostra o Instituto Vox Populi.

As preocupações do povo são outras. Além do desempenho da se-leção de futebol na África do Sul, os cidadãos desta área do planeta vivem imersos no cotidiano que lhes oferece uma realidade dura e problemas que se tornaram crônicos.

Aqui, no Paraná, pesquisa feita por meio da internet em escala am-pliada mostrou que nada menos que 48,28% dos internautas indicaram a falta segurança como maior problema da administração estadual.

A questão do alto preço do pe-dágio, que não baixou e nem acabou, como prometia Requião, ficou em se-gundo lugar, com 34,48%.

A precariedade do sistema de saúde foi lembrada por 17,24% dos visitantes. E a insuficiência do

sistema educacional do Estado por 17,03%.

Ora, pois, esses indicadores pro-vam que o sentimento da população é de total insegurança. Não há polí-cia, o crime se alastra e atinge índices comparáveis aos do Rio de Janeiro. Os serviços públicos que prestam custam caro, como é o caso da manutenção de rodovias, feita com o preço do pedágio mais alto do planeta. E os serviços essenciais de saúde e educação são precaríssimos.

Faz de conta – Mas o gover-no faz de conta que os pro-blemas não existem. Prefere

manter o discurso oficial e jurar que tudo vai bem, no melhor dos mun-dos. Na verdade, o governo confia na memória pouca da população e na força da propaganda oficial. Es-quece que esses problemas afligem o cidadão todo o tempo e não há como esquecê-los ou acreditar que não existem.

As perguntas permanecem. O que está acontecendo com a segu-rança pública no Paraná? Por que os recordes de mortes violentas são que-brados a cada fim de semana? Quem está falhando e como encontrar so-

luções para um problema que afeta a todos nós?

Os especialistas na área dizem claramente, sem rodeios, que o caos na Segurança Pública é parte da he-rança maldita deixada pela incapaci-dade administrativa do governo do PMDB.

O exame minucioso dos indica-dores sociais baseados em pesquisa mostra a fragilidade de um governo que acreditou que poderia enganar a todos durante todo o tempo e agora se vê exposto à execração.

Segundo informações de assesso-res do PDT que analisam as pesquisas de campo os dados conseguidos junto a pessoas do governo, a exemplo do geoprocessamento da criminalidade e dados de reclamações nas áreas de saúde e educação, orientaram o dis-curso de Osmar.

Altos índices de criminalidade, a falta de pessoal nas delegacias do interior, distritos abarrotados de presos, falta de apoio maior aos pro-gramas de educação e qualificação de jovens aprendizes para entrar no mercado de trabalho, falta de pessoal nas unidades de saúde e os piores indicadores sociais da região Sul são alguns dos principais pontos aponta-

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POLÍTICA

dos pela população que embasaram as críticas de Osmar e os seus discursos em eventos.

Para estes assessores, a tendência é a de um discurso critico ao governo estadual, durante a campanha elei-toral. Especialmente nas áreas mais reclamadas pela população, mas ao mesmo tempo em reuniões tem pro-metido a continuidade das chamadas “políticas públicas boas”, entre elas a desoneração tributária para pequenos e médios empresários, o programa luz fraterna, as tarifas sociais da água e o do leite para as crianças.

Dilema de Pessuti – O dile-ma do governador Orlando Pessuti é que ele assumiu um

governo e imediatamente mudou o estilo, passando da truculência de Re-quião para um jeito afável de gover-nar. Isso produziu efeitos imediatos. Não há quem não tenha registrado que a agressividade doentia de Re-quião saiu do jogo de poder para se asilar nos espaços do twitter, último reduto de alguém que não precisa de mais de 150 caracteres para dizer o que pensa.

Pessuti é candidato à reeleição, mas não pode renegar o que fez no

passado como membro do PMDB e do próprio governo, embora nem sem-pre fosse consultado e nem sempre estivesse de acordo com tudo o que Requião fazia.

O certo é que a situação é feia no final de mandato do PMDB. Tanto que a tigrada do partido sua frio nas mãos e experimenta frouxos intesti-nais quando examina os números que informam o tamanho do seu desafio na eleição deste ano.

O coeficiente eleitoral para eleger um deputado estadual é de aproxi-madamente 110 mil votos para cada cadeira. O de deputado federal é de aproximadamente 200 mil votos por cadeira. Ora, pois, não está fácil con-quistar tantos seguidores nesta época de crise e de decadência do partido de Requião.

Na ultima eleição, o PMDB elegeu 17 estaduais e 8 federais. Para isso as chapas de deputados totalizaram aproximadamente 1 milhão e 800 mil votos. É voto que não acaba mais.

Naquele ano, o PMDB tinha um governador candidato à reeleição e por isso mesmo governado compe-titivo. O partido saiu vitorioso. Os cálculos são fáceis e não exigem mais do que duas operações da mais sim-

ples aritmética para concluir.Agora, para eleger 10 estadu-

ais e 4 federais, o PMDB terá que fazer aproximadamente um milhão de votos.

Para deputado estadual o candi-dato do PMDB terá de fazer 60 mil votos. No mínimo. Para deputado fe-deral, a conta dobra. Serão necessários 120 mil votos, por baixo.

Perceberam o drama? É por isso que ninguém quer se coligar com o PMDB. Não há partido de mediano para cima na praça que queira coli-gar na majoritária, muito menos na proporcional.

Na ultima eleição o deputado estadual do PMDB que se elegeu com menos votos fez 37 mil votos e o deputado federal que se elegeu com menos votos fez 85 mil votos. São os números que causam suor frio nas mãos e tremedeira nas juntas. E tiram o sono.

Mas quem diz que esses argumen-tos construídos sobre o fio da lógica convencem o PMDB a desistir de sua fórmula. Para a caterva de Requião, está tudo muito bom. Quanto ao resto, que exploda, diz o próprio Duce ao repetir um comportamento que todos conhecem de longa data.

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luiz geraldo mazza jornalista

OPINIÃO

Caso clássico de anomia para não dizer suicídio

Tenho me dedicado seguidamen-te ao tema da anomia, algo pre-sente em situações como o da

predominância do crime organizado sobre as polícias judiciárias, e que normalmente significa ‘’ausência de referenciais legais’’. Cientistas políti-cos têm se dedicado ao tema pela per-sistência com que na condição atual, ora afetada pelo ciclo do terrorismo, fica extremamente difícil defender o primado do uso da força pelo Estado, tido como o único monopólio plausí-vel num ordenamento regido pela lei e a autorização dos cidadãos.

No campo da antropologia quem melhor conceituou a anomia foi Emile Durkhein que a comparou de forma magistral ao suicídio que para Jean Paul Sartre era o único e verdadeiro problema da reflexão filosófica.

Todavia a anomia pode também configurar-se na própria mecânica do Direito com as concessões e derru-badas sequenciais de liminares que geram, antes de tudo, a inseguran-ça jurídica. Esforços para evitar esse pendularismo passam, por exemplo, pela adoção das súmulas vinculantes que tentam padronizar a exegese, a interpretação dos atos legais, e im-pedir que o caos se instale.

O poder paralelo – Um exemplo refinado de anomia é o que se dá em nossa Assembleia Le-

gislativa com a esdrúxula subordina-ção da Comissão Executiva da Casa, vale dizer a genuína representação do plenário, aos transbordamentos da sua Diretoria-Geral, afinal hierar-quicamente subordinada. Ficou de-monstrado na copiosa denúncia do Ministério Público Estadual, como já havia ocorrido com o MP federal no caso dos Gafanhotos, que se produzia o desvio de dinheiro público em opera-ções manipuladoras em cima de gente humilde, mas também de familiares protegidos, como fantasmas, responsá-veis por circulação de milhões de reais. O surpreendente é que tal como no caso dos atos secretos do Senado, estes devastados pela mídia, percebia-se a existência de uma hierarquia paralela, tolerada e engajada e que aparentava sobrepujar a direção do Poder.

É perceptível que no caso para-naense estamos diante de uma cul-tura, o limo de um comportamento antigo e que a corporação fingia não enxergar e que parecia condicionar se não todos pelo menos a maioria mais determinada e atuante.

Saídas possíveis – Quando a Câ-mara Federal se viu às voltas com o caso dos anões do orça-

mento a patologia foi encarada pelo próprio Poder instituído, embora fi-casse a dúvida, jamais esclarecida, que se tratava de algo orgânico, de vício

sistêmico, que poderia ter atingido as chefias anteriores do Legislativo. É que apenas alguns se envolviam quando, no paradigma paranaense, dá impressão de que a maioria, por ação ou omissão, tinha noção de tudo, o que dificulta agora o ato saneador praticado pela própria Casa. Há uma espécie de paralisia, de algo que impe-de a ruptura da inércia e que permita uma devassa verdadeira e confiável.

Formalmente o legislativo teria pedido a cooperação do Ministério Público a quem teria entregue a do-cumentação solicitada, mas houve e isso é típico dos nossos hábitos a tentativa de comprometer aquele or-ganismo numa sindicância interna. Felizmente a reação de membros do MP, de que não teria sentido alinhar investigados com investigadores per-mitiu a depuração.

Abuso injustificável – O MP cometeu um erro absurdo ao fazer a devassa de documen-

tos na Assembleia sem os cuidados ritualísticos do Estado de Direito De-mocrático. É a anomia, porém, que leva o Legislativo a perder a moral para fazer a sua legítima defesa num caso de violência incontestável. Ago-ra, é claro, haverá a busca de um velho cacoete nacional, o do ‘’viti-malismo’’. Seria o poder político por excelência que estaria no pelouri-nho, o que tentaria desqualificar a gravidade das provas levantadas. A anomia paranaense é classificável no conceito de Durkhein, o de que ela tem tudo do suicídio. O autocídio de um poder que se blindou contra a própria autorregulação que deu para ver nos anões do orçamento da Câmara Federal e nos atos secretos no Senado e que aparenta ser impossível no paradigma paranaense.

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IDEIAS | maio de 201010

Lerner em Nova YorkTodos os meses, durante três dias, Jaime Lerner está em Nova York. É professor convidado da Universidade de Columbia, classificada entre as dez melhores univer-sidades americanas, o que não é de some-nos.

Em Nova York, Lerner é reconhecido como uma das cabeças mais Brilhantes do planeta. Aqui, silêncio e rancor.

A solidão do VampiroO fotógrafo Nêgo Miranda mostra seu novo livro, “A Eterna Solidão do Vampi-ro”. Inédita pesquisa literário-iconográ-fica, marcas de um possível inventário pessoal de Dalton Trevisan.

As fotos ficarão em exposição na Casa Andrade Muricy (Alameda Dr. Muricy, 915, Centro), até o dia 13 de junho.

Paranaense no rankingO Paraná tem 106 escolas de ensino superior e só uma aparece no ranking das melhores do país. É a Estação Busi-ness School e seu MBA, dos melhores do Brasil.

Judas Tadeu Grassi Mendes, que pensou e dirige o projeto lembra que essa conquista se deu em apenas quatro anos.

Gente Fina

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maio de 2010 | IDEIAS 11

Os curtas da MônicaMonica Rischbieter finaliza dois curtas para o domingo da RPC. Os roteiros são da própria Monica e a direção é do sócio Gil Baroni.

Com esses, serão oito os episódios que a dupla produz para a Revista RPC, que vai ao ar depois do Fantástico.

“É o único espaço que temos”, elogia, “pois a vida de produtores de cinema não é muito fácil por aqui.”

Os dois curtas são “Andando para trás” e “Uma santa ajuda.

A bela SabatellaLetícia Sabatella participa do filme “Cir-cular”, filmado em Curitiba e que reúne o ator uruguaio César Trancoso, Marcel Szymanski, Santo Chagas, Luiz Bertazzo, Bruno Ranzani, Débora Vecchi e Gustavo Pinheiro.

São cinco núcleos de personagens, cada um deles dirigido pelos diretores Adriano Esturilho, Aly Muritiba, Bru-no de Oliveira, Diego Florentino e Fábio Allon.

Os personagens se cruzam durante um assalto a ônibus. César Trancoso inter-preta o assaltante, que faz de refém uma artista plástica grávida, interpretada por Letícia Sabatella.

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IDEIAS | maio de 201012

Da insolação ao cinemaPrimeiro a Insolação, depois o Cinema. O diretor Felipe Hirsch dirigiu junto com sua parceira, Daniela Thomas, “Insolação”, filme inspirado em contos russos que falam sobre o amor, rodado em Brasília.

Depois, Felipe Hirsch e a Sutil Compa-nhia de Teatro estrearam a peça “Cinema” em São Paulo, motivados pela experiência de Hirsch atrás das câmeras.

O padre que influencia os que decidemNo começo dos anos 970, padre Giovanni Roccia, 70 anos, deixou sua diocese de Cuneo, Norte da Itália, para servir em Curitiba. Atendia ao grande apelo feito por João XXIII anos antes, para o envio de missionários à América Latina.

Padre Giovanni, que se tornou “bra-sileiro” e conhecido como João Rocha, nos últimos 15 anos está em Guarapuava, onde é reitor do Santuário Divina Ternura.

Mas João e sua fala mansa e cativan-te é mais do que um bom padre. É padre influente, com ex-alunos do seminário de Cuneo hoje em posições chave da Santa Sé.

Um deles é o arcebispo Celestino Mi-gliore, observador permanente do Vatica-no na ONU e diplomata habilidosíssimo. Migliore corresponde-se com João, seu antigo mestre e amigo. Visitam-se.

Dizem os bem informados do mundo clerical que, meses atrás, Migliore pediu a João um dossiê sobre os desvios sexuais do clero brasileiro, com ênfase na vida dupla da homossexualidade & voto de castidade. Também, como que intuindo o que estava para vir, Migliore teria muito interesse num retrato do supremo desvio, a pedofi-lia, entre os religiosos. João não confirma nada do que se diz. Só que é muito amigo desse homem que, aos 57 anos e muito brilhante, tem tudo para ser cardeal. E até poderá virar “papabili”, um dia.

OdisséiaO fotógrafo curitibano Zé Cahue abriu no dia 18 de maio a exposição individual Odisséia, no Jokers (Rua São Francisco, 164). São 30 imagens reunidas de ensaios fotográficos produzidos nos últimos 10 anos em passagens por 26 países.

Gente Fina

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Making ofO diretor e produtor de cinema Gil Baroni foi convidado a fazer o making of da nova minissérie da Rede Globo, que terá dire-ção de Daniel Filho. Gil também realizou o making of do filme Chico Xavier, uma das maiores bilheterias do cinema nacio-nal, também dirigido por Daniel Filho. A minissérie tem o título provisório de As Cariocas.

A estética do olharArquitetura, economia, tecnologia. Com estes conceitos, o estilista paranaense Je-fferson Kullig constrói roupa. Pensamento, liberdade, arte. Com estes conceitos, ele constrói roupa. Não existe paradoxo nesta lógica do vestir, nem contradição do que será visto e usado. Conceito que veste; veste que conceitua, conhecimento que alia imaginação e inteligência. Em seu perfil no twitter está escrito: “as criações do estilis-ta paranaense Jefferson Kullig traduzem a multiplicidade de seus interesses. Arte,

moda e tecnologia se misturam com um toque futu-rista”. Tem lojas próprias em Curi-tiba, na Saldanha Marinho, 1570 e em São Paulo, na Bela Cintra, 1870, além de várias espalhadas pelo Brasil que vendem suas peças. Para

Kullig, o que parece impossível é transfor-mado em moda, para nossa sorte.

Corpos CelestesO longa-metragem paranaense Corpos Ce-lestes, que conta com a direção de Marcos Jorge e Fernando Severo, coordenador do curso de Cinema Digital do Centro Euro-peu de Curitiba, foi um dos filmes selecio-nados pelo Programa Petrobras Cultural – Edição 2010, projeto que visa a difusão e a valorização do cinema nacional.

Filmado nas cidades de Curitiba e São Paulo, Corpos Celestes conta a história do astrônomo Francisco (Dalton Vigh), um homem que se dedicou exaustivamente aos estudos dos astros e acabou deixando de lado diversos outros aspectos fundamen-tais de sua vida. No ano passado, o longa foi indicado em diversas categorias do Fes-tival de Gramado, a principal celebração do cinema nacional, e recebeu o prêmio de melhor Fotografia.

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A propósito

CRÔNICA

CARLOS ALBERTO PESSÔA jornalista

Numa entrevista ao Datena (aonde chegamos, hein?) Serra anunciou que se eleito

criará o Ministério da Segurança.Como se dizia em Irati na aurora

da minha vida/da minha infância não tão querida – ideia de jerico. Não precisamos de mais um ministério. Ao contrário; precisamos reduzir drasti-camente os ministérios. O gravíssimo problema da insegurança pública no

Brasil não tem nada a ver com bu-rocracia, no sentido weberiano ou não. Nem será resolvido com mais burocracia, mais burocratas, outra repartição. Sem esquecer que a res-ponsabilidade cabe muito mais aos estados, às províncias, que ao gover-no federal. Incidentalmente: somos uma federação, não?

O xis da questão – As assim chamadas unidades federati-vas necessitam urgentemen-

te de mais, muito mais PMs nas ruas, becos, quebradas: no mínimo o dobro do número atual! Idealmente, um PM para cada grupo de 250 habi-

tantes. Ou quatro por mil! PMs bem treinados, bem armados, bem pagos, prestigiados, queridos&respeitados pela população, apoiados pela popu-lação. Sem a qual inexiste segurança pública digna do nome. Enquanto a população achar que bandido é herói e o PM, vilão, esqueça. Ora, isto tudo não emplacará com a criação de outro ministério. Incidentalmente, pra que serve o Ministério da Justiça?

Sonho meu – Como estou com a mão na massa; olhe aqui o tamanho do elefante ministe-

rial! Porei negrito nos que deveriam ser eliminados. JÁ! Melhor; que não deveriam ter nascido.

Secretaria Especial de Direitos Humanos, Secretaria Especial de Polí-ticas para as Mulheres, Secretaria de Comunicação Social, Controladoria-Geral da União, Gabinete de Segu-rança Institucional da Presidência, Ministério das Cidades, Ministério do Desenvolvimento Agrário, Secretaria-Geral da Presidência, Advocacia-Ge-ral da União, Secretaria de Relações Institucionais, Banco Central, Secre-

taria de Pesca (ao bagre ou lambari?), Ministério do Turismo, Ministério do Meio Ambiente, Ministério das Comunicações, Ministério das Mi-nas e Energia, Ministério da Saúde, Ministério da Previdência Social, do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, do Desenvolvimento, Planeja-mento, Ciência e Tecnologia, Esporte, Integração Nacional, da Cultura, Tra-balho, Agricultura, Fazenda, Defesa,

Casa Civil, Justiça, Relações Exterio-res, Transportes e Educação.

Efeito demonstração – Entre secretarias e ministérios, 18 iriam pra lata de lixo!

Junto com eles os milhares de car-gos de confiança. E os outros. O efei-to demonstração talvez influenciasse províncias&cidades. A economia não seria de palitos. Porque iria além das pessoas. Incluiria luz-água-telefone-carros-gasolina-avião-segurança-pa-pelada-etc-etc. E nem mencionei a corrupção!!!! Mas quem tem aquilo roxo pra levar ao ar esta imensa re-forma ? Meu nome é Enéas!!!

Enquanto a população achar que bandido é herói e o PM, vilão, esqueça

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IDEIAS | maio de 201016

VEREADORES

Por dentro da CâmaraAcompanhe o trabalho dos vereadores

da Câmara Municipal de Curitiba

CâmaRa munICIPal DE CuRItIba • www.cmc.pr.gov.brR. Barão do Rio Branco, s/nº — cep 80010-902 telefone: (41) 3350-4500 fax: (41)3350-4737

lDO 2011 O projeto da Lei de Diretri-zes Orçamentárias para 2011 foi entregue na Câmara Municipal pelos secretários municipais de Planejamento, Carlos Ho-mero Giacomini, e do Governo Munici-pal, Luiz Fernando Jamur. A LDO prevê receita total de R$ 4,49 bilhões, com in-vestimentos totais de R$ 720 milhões na saúde e R$ 909 milhões em educação.

bOa RElaçãO Durante a entrega da LDO, o presidente da Câmara de Curitiba, vereador João Claudio Derosso (PSDB), elogiou a boa relação entre os poderes Executivo e Legislativo na capital. «A Câmara gostaria de agradecer o respeito com que a prefeitura tem tratado o Le-gislativo. Desejamos que essa parceria continue, pois traz benefícios para a população», afirmou.

lIxO O vereador Denilson Pires (DEM) apresentou projeto de lei que proíbe re-síduos provenientes de outros municí-pios em aterros sanitários de Curitiba. Se aprovada a lei, a punição pode levar até a cassação do alvará de funcionamento do empreendimento.

PROtEçãO Os vereadores aprovaram projeto de lei do vereador João Cláudio Derosso (PSDB) que determina a coloca-ção de placas informativas sobre a pre-venção e combate à pedofilia e ao abuso sexual em todos os veículos de transporte coletivo da cidade. Além de mensagem, o informativo deverá conter o número

do Disque-Denúncia (100).

bEbIDaS Estabelecimentos que des-cumprirem o artigo 243 da lei federal 8.069, que trata sobre a comercialização de produtos que possam causar depen-dência física ou psíquica a crianças e ado-lescentes, poderão ter o alvará cassado, conforme projeto aprovado na Câmara Municipal. A iniciativa é do vereador Tico Kuzma (PSB).

agRaDECImEntO Em reunião com os vereadores Mario Celso Cunha (PSB) e Omar Sabbag Filho (PSDB), o reitor da UFPR, Zaki Akel, anunciou um café de manhã com os parlamentares de Curitiba para agradecer os recursos destinados aos Hospitais de Clínicas e do Trabalhador e para a Mater-nidade Victor Ferreira do Amaral por meio de emendas individuais ao orçamento.

SaúDE Programas de saúde ocupacio-nal da Câmara Municipal de Curitiba fo-ram selecionados para o 14º congresso da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamt). Destaque para o Plena Saúde, de gestão, e para o Pro Ergo, de adequação do mobiliário.

SOka gakkaI Na festa de 80 anos da ONG Soka Gakkai, foi prestada home-nagem póstuma aos primeiro e segundo presidentes da instituição, Tsunessaburo Makiguti e Jossei Toda, respectivamente. A fundação da Soka Gakkai faz parte do calendário oficial da cidade desde 1999,

por iniciativa do ex-vereador Rui Hara.

mEtROPOlItana Para fortalecer o re-lacionamento entre os Legislativos munici-pais da regão metropolitana, os vereadores de Curitiba criaram a Comissão Especial para Assuntos Metropolitanos. O vereador Omar Sabbag Filho (PSDB) será o presiden-te e Algaci Tulio (PMDB), o relator. Aladim Luciano (PV), Dona Lourdes (PSB), João do Suco (PSDB), Jonny Stica (PT), Julieta Reis (DEM), Julião Sobota (PSC) e Tito Zeglin (PDT) completam a equipe.

IDaDE ESCOlaR A vereadora Professora Josete (PT) é contra projeto que reduz de seis para cinco anos a idade de acesso de alunos na primeira série do ensino funda-mental, em trâmite no Senado. A parlamen-tar mobiliza as entidades do setor, por con-siderar que isto descaracteriza a educação infantil e traz prejuízos às crianças.

HOmEnagEm No Dia Nacional da Co-municação, a Câmara Municipal homena-geou o comunicador e ex-governador do Estado, Paulo Pimentel. A iniciativa foi dos vereadores Mario Celso Cunha (PSB), João Cláudio Derosso (PSDB), presidente da Casa, e Francisco Garcez (PSDB).

SEguRança A instalação de vidros laminados resistentes a disparos de armas de fogo nos bancos da cidade de Curitiba, dentro e fora das agências, foi aprovada pelos vereadores da capital. O projeto é do vereador Roberto Hinça (PDT).

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maio de 2010 | IDEIAS 17

O Estado e a “era FHC”

OPINIÃO

LUIZ FERNANDO PEREIRA advogado

O Brasil não consegue se li-bertar de muitas certezas de manual. Nosso ex-presidente

Fernando Henrique Cardoso é vítima frequente da síndrome brasileira da simplificação. A acusação é de ter “desmantelado o Estado”, agora re-cuperado pelo Governo Lula. Nada mais falso.

Fernando Henrique tem muitos méritos, mas quem sabe o maior deles está na coragem que teve na reforma do Estado. Foi em seu Governo que avançamos na redefinição do papel do Estado; saímos de uma Administração Pública inchada e desconjuntada para um modelo esbelto e regulador, onde a tônica não seria mais a prestação direta e estatal de bens e serviços, mas a regulação e a fiscalização sobre os serviços que passariam a ser de-sempenhados pela iniciativa privada. Muito mais capacitados que o Estado para esse fim, os privados, a partir de marcos regulatórios bem definidos e sob um novo modelo de controle estatal (através das agências regula-doras), seriam os gestores dos novos serviços públicos, mais universais e sociais, menos obtusos e anacrônicos. E, principalmente, mais econômicos que os velhos serviços estatizados. Estava, enfim, decretado o fim do “Es-

tado providência” e o surgimento do “Estado regulador”.

Deu certo. Em uma década e meia, podemos comemorar avan-ços impressionantes em áreas como telecomunicações, energia, portos e, inclusive, no setor petrolífero. Os números estão aí. Ou alguém se atreveria a defender o modelo estatal de telefonia, quando as linhas, de tão caras, eram bens declaráveis no imposto de renda?

A reforma de FCH passou tam-bém pela mudança de concepção na própria estrutura funcional da máquina administrativa. Pela pri-meira vez o Brasil ouvia falar de “administração pública gerencial”; “competição administrativa”; “indi-cadores de desempenho e metas do setor público”. O economista Bresser-Pereira, na matriz teórica da reforma, perseguia um modelo em que os re-sultados fossem preponderantes, em certa medida, ao cumprimento cego dos ritos e procedimentos. Além dis-so, experimentamos o enxugamento da estrutura funcional da Adminis-tração: em tempos de PSDB, houve queda dos gastos com funcionário federais de 40% em relação à receita líquida.

O Governo Lula retrocedeu.

Parou o programa de privatizações (embora não tenha revertido nenhu-ma, como ameaçava em campanha); quis castrar a necessária indepen-dência das agências reguladoras; não avançou na reforma administrativa; inchou e aparelhou o Estado. Em sete anos de mandato, o gasto com o funcionalismo dobrou no governo do PT (e explodiu, em consequên-cia, o déficit da previdência do setor público).

Apesar disso, nossa síndrome da simplificação batizou FHC e seu governo de neoliberal (esta pecha maldita e mal compreendida). E não há nada de neoliberal nas reformas de FHC (se é que a expressão diz alguma coisa...). O congresso do Partido Co-munista Chinês de outubro de 1992, ano que deu início à fase de cresci-mento no ritmo atual, concluiu pela “privatização de empresas estatais, reservando ao Estado somente fun-ções de direção macroeconômica e não de gestão de empresas” (Far Eas-tern Economic Review, 27/02/1993). Isso mesmo. Partido Comunista Chi-nês; há quase vinte anos. Lá na Chi-na, portanto, FHC seria comunista. E Lula? Bem, por lá já parece que já não há mais espaço para este tipo de político.

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HISTÓRIAS

Um dândi no jornalismoMIRIAM KARAM

Jornalista diletante enquanto as condições financeiras permitiram, Nêgo Pessôa se tornou um refinado observador da cidade e seus tipos, dos costumes

desta Curitiba futurista e provinciana. Um observador da vida. Hoje, quase um flanneur nos moldes de João do Rio, se deixou seduzir pelas árvores e suas sombras, seus frutos e memória. Não será em vão a espera por uma publicação sobre o mais novo objeto de encanto que possa vir por aí.

Carlos Alberto Pessôa, o Nêgo, não é um jornalista nos moldes tradicionais. Tanto que boa parte do que escreveu foi transformada em livro. Seu trabalho é de um cronista, sofisticado a ponto de seu último livro – modos & modas – ter despertado tal entusiasmo em Luiz Geraldo Mazza que este se empenhou no incentivo à divulgação para fora do estado.

Ele mesmo não se considera um jornalista. Escreve suas colunas com cuidado tal que não se ajusta ao dia a dia de uma redação, com deadlines cada dia mais ves-pertinos e rígidos. A incompatibilidade com horários e limites fez Nêgo desistir de um emprego na TV Globo, no Rio, a convite de Armando Nogueira, nos idos da década 70.

O primeiro choque foi com o tamanho de uma nota para o Jornal Nacional. O assunto ele lembra ainda hoje: golpe de estado na Coreia. A nota caiu nas mãos de Sandra Passarinho, que levou um susto. Nêgo refez no tamanho exigido, mas essa coisa de deadline já era pedir demais.

Nêgo é mais conhecido por seus escritos na área dos esportes, colunas ácidas, irreverentes, ferinas até. Desinteressantes jamais. Está mais para o estilo “ame-o ou deixe-o”. Não poupa gregos nem troianos. Coxa branca notório, foi capaz de escrever profissionalmente no site oficial do Atlético Paranaense.

No fundo o que importa é a paixão pelo esporte, futebol em particular. Uma paixão que começou cedo, moleque de calças curtas em Irati, quando ia de barbeiro em barbeiro para ler jornais e revistas reservados aos clientes. Mas nada de política ou notícias do dia a dia, apenas esporte. Lia os cronistas, Stanislaw Ponte Preta, Nelson Rodrigues, Mário Filho; e a turma do futebol e do humor.

A preferência permanece até hoje, embora, é claro, isso não o restringiu. Do esporte nos jornais passou para a leitura de livros, sem escalas.

Uma paixão singular, no entanto, assim como ele mesmo. Desde Irati, de onde saiu para fazer o científico (segundo grau para os mais novos) no Colégio Estadual, em Curitiba, Nêgo é um fluminense devotado. Agora, quer deixar de lado o time carioca – “é uma perda de tempo, um vício, um desgaste emocional” –, explica, sem deixar claro o motivo – “tem outras coisas de que gosto, tanto livro pra ler, tanta coisa pra fazer”...

Em Irati também ouvia muito rádio, a Rádio Nacional em especial. E pra manter-se bem informado, inventou outra “malandragem”. Ia, com pessoas mais velhas, es-perar o trem noturno, que entregava jornais mais atuais, que as pessoas não recebiam pelo Correio, como a Gazeta Esportiva. “A paixão pelo esporte vem desde piazinho; lembro da Copa do Mundo de 50, quando nem tinha oito anos”.

Tanta informação o tornou conhecido na cidade e o credenciava a discutir com os adultos. “Eu lia e decorava os times. Perguntavam qual é o time do Flamengo cam-peão em 1940, por exemplo. Eu dizia o time completo. Era uma facilidade decorar aquilo”.

Nêgo se utiliza de uma imagem singular para definir o interesse crescente por outros assuntos, a partir da chegada a Curitiba: a matrioska, a boneca russa que tem outra dentro, e mais outra, e outra... A pessoa começa lendo literatura, depois quer saber quem são os auto-res, a origem deles, passa pra sociologia e vai indo, “até acabar com uma biblioteca como essa”, diz, apontando para as inúmeras estantes forradas de livros que fazem a sala do apartamento parecer um casulo formado por cerca de dois mil livros.

A Irati das décadas de 40/50 era uma cidade rica, com madeireiras importantes e indústrias da erva-mate. Mas nem por isso tinha boas escolas. Foi assim que começou a se formar uma crítica que Nêgo vem fazendo ao longo da vida e está no seu último livro modos & modas: o péssimo ensino que o país oferece à população. Escolas sem biblioteca até, o que fez que o ainda moleque lesse os três mosqueteiros uma dezena de vezes.

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Como todo jovem que frequentava o Cineclube Santa Maria, na década de 60, Nêgo também quis fazer cinema. Chegou a trabalhar na Apolo Cinematográfica dos irmãos Rodrigues, então concorrente da Guaíra, produzindo cinejornais, e fez um documentário sobre Curitiba quan-do Omar Sabbag era prefeito (1967-1971). Na estreia, o arquiteto Jaime Lerner, que viria a suceder Sabbag na prefeitura, fez apenas um comentário: “Curitiba não é tão azul”.

“Veja como às vezes a gente demora a encontrar a vocação; meu negócio é escrever, não tinha nada a ver com cinema. Apenas gostava muito”, pondera Nêgo, ad-mitindo influência de toda uma geração fascinada pelo cinema frequentadora da Boca Maldita, onde Nêgo era assíduo.

Afinal, ele dispunha de tempo e recursos para isso. Abandonou a Faculdade de Direito no quarto ano, as-sim que o pai morreu, e recebeu a primeira herança das duas de que desfrutou. “Quando me livrei da canga do meu pai, deixei de estudar aquela ...”, conta, depois de ter avaliado: “Sou maior e o dinheiro é meu; faço o que quiser”.

As letras e a pro-cura nunca saíram de sua vida. Quando “qua-se” trabalhou na Rede Globo, Nêgo estava no Rio a convite do amigo Carlos Nasser, amigo de muitos cariocas famo-sos. Naquele período Nêgo fez a seleção dos textos e crônicas de um livro do então todo-poderoso do jornalismo global, Armando Nogueira, outro apaixonado pelo futebol. Para isso frequentou o arquivo do Jornal do Brasil, o mais cultuado daqueles tempos.

Sem clima para estudos, como ele diz, por falta de professores interessantes e interessados, o hoje intelec-tual reconhecido não esconde que foi um aluno relapso – reprovado no segundo ano do ginásio por negligência; “havia muita malandragem, cola, vagabundagem”... A cultura veio da leitura e da convivência nos mais diversos grupos curitibanos, com quem se entrosou a partir de 64 e conheceu alguns dos jornalistas mais respeitados, como Luiz Geraldo Mazza, Adherbal Fortes de Sá Júnior, Walmor Marcelino, Vinícius Coelho e o ‘capo’ da Boca, Anfrísio Siqueira.

O primeiro editor, conta, foi Cícero Cattani, hoje proprietário do jornal Hora H.Nêgo já havia colabora-do com vários jornais de Irati, mas a vida profissional

começou mesmo com uma história do futebol publicada na revista Panorama. Logo depois, pelas mãos de Carlos Nasser, amigo de Abdo Koudri, Nêgo foi trabalhar no Diário Popular.

Ali já passou a escrever sobre os mais variados as-suntos, incluindo uma coluna sobre cinema que teve os bonecos desenhados por Jaguar. Numa tentativa ingênua, segundo diz, de competir com Aramis Millarch, o jornalista de maior expressão que Curitiba já teve na área cultural, acabou fazendo besteiras de que se arrepende. Aramis era uma figura curiosa e tinha uma forma quase engraçada de falar, e costumava ser motivo de chacota. “Era uma bobagem. Ele era ótimo, foi um gênio do jornalismo cul-tural”, avalia Nêgo. “Me arrependo das palhaçadas que fiz pra ele, até porque não tinha nada contra ele”.

Na sequência da carreira, trabalhou na Tribuna, foi o primeiro correspondente local da revista Placar, passou por várias rádios e emissoras de TV. Durante um ano e meio fez comentários sobre todos os assuntos no jornal Hora H, levado ao ar pela RIC, editado por Cícero Cattani.

As recordações pro-vocam risadas constan-tes durante a entrevista. Nêgo parece se divertir bastante. E conta que “quase” convocou Cou-tinho para a Copa de 70. “Eu amava o Coutinho; era o gênio da lâmpada, companheiro do Pelé”, avalia. O treinador era

João Saldanha, que compareceu a um jogo amistoso no Alto da Glória, entre Santos e Coritiba, para pagamento do passe do goleiro Joel. Ao chegar ao estádio, ouviu o jornalista esportivo Raul Mazza chamá-lo.

“Vem me ajudar na transmissão”, pediu Raul, que estava sozinho por causa de algum problema no Canal 4. Lá foi Nêgo fazer comentários. Coutinho jogou muito bem e os comentários de Nêgo chegaram aos ouvidos de Saldanha, que estava com problemas na convocação de Tostão, por causa de um problema no olho. Saldanha estava com amigos comuns e chegou a avaliar a hipótese. Mas como se sabe, Tostão ganhou a parada.

Reconhecido como um homem de letras, Nêgo não goza de boa fama na disciplina exigida de um profis-sional. Ele mesmo conta que abandonou o emprego na Placar porque não quis fazer uma viagem ao Norte do Paraná. Na Tribuna, se cansou e foi embora. Essa fama foi difícil de desfazer e acabou pesando. Mas nem sempre

Nêgo é mais conhecido por seus escritos na área dos esportes, colunas ácidas, irreverentes, ferinas até. Desinteressantes jamais.

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foi assim, Nêgo faz questão de lembrar. Nas rádios e nas TVs cumpriu rigorosamente o combinado. Aliás, rádio é um veículo que ele adoraria voltar a fazer.

No “Diário da Tarde”, parente pobre Gazeta do Povo, fazia reportagens especiais, mas depois de duas que geraram choro e ranger de dentes, o doutor Francisco recomendou que fosse transferido pra secção de títulos; fez muitos títulos, “na maior irresponsabilidade: como ninguém lia o Diarinho eu me divertia, fazia títulos como “EM FORTALEZA, CEARÁ, O CEARÁ GANHOU DO FORTALEZA”.

Em 1974 esteve no agonizante “DIÁRIO DO PARA-NÁ”, “onde o mês não era de 30 dias, mas de 90, 120; a gente não recebia e pouco se divertia; o pior dos dois mundos”, comenta.

Mais adiante, o professor Aroldo Murá o convidou para escrever uma coluna no “INDÚSTRIA&COMÉRCIO”, coluna de política, economia, mas não de informação, coluna de opinião. Pouco depois passou a ser o editoria-lista da casa: quatro parágrafos de oito linhas, 32 linhas de 65 toques cinco vezes por semana, sempre no rodapé da primeira página: “amava fazer aquilo, dar as minhas opiniões em nome do jornal sob as bênçãos do Aroldo, claro”, confessa.

Divertido, ele lembra das duas vezes em que deixou a Gazeta do Povo. Na primeira vez, ele mesmo se demitiu depois de ter publicado uma coluna crítica ao time do

Coritiba; coluna divertida que não agradou o Alto da Glória. A resposta da direção do Coritiba foi publicada no dia seguinte em substituição à coluna, sem que Nêgo soubesse. “O Dr. Francisco, com aquele temperamento panos quentes, publicou a resposta na minha coluna, ao invés de colocar na carta ao leitor, que era o espaço apropriado; e meu texto não saiu naquele dia. Eu não devia ter feito aquilo, concordo, mas fui impedido de escrever uma resposta. Pedi demissão”.

Mais tarde, Nêgo foi convidado a voltar, mas im-puseram-lhe uma condição: não devia bater boca com leitor. Mas a carne é fraca. “Um dia estava de saco cheio e um gaúcho escreveu que o Felipão era o Brasil na Copa (quando o Brasil fora desclassificado e o técnico dirigia o time de Portugal). Eu disse vão pra puta que pariu. O leitor pegou a resposta, feita por e-mail, e mandou para direção do jornal. Fui demitido. Tudo bem, eu não deveria ter feito aquilo”.

Ele não hesita em afirmar que tem orgulho de duas demissões: “O Paulo Pimentel não entendia meus tex-tos; tinha enxaqueca, vitiligo; e o herdeiro do Jornal do Estado idem”.

Da Rádio Educativa, diverte-se o iconoclasta, foi demitido por ter feito uma peroração contra a esquerda (em termos políticos). “Disse que era analfabeta, burra, um lixo... e o Requião era o governador. Mandou me demitir. Ele perguntou pro Benedito (Pires, assessor): será que ele está se referindo a nós? E me tiraram do ar”.

Hoje ele diz novamente “com razão, eu não deve-ria ter feito aquilo”. “Se eu me opunha que utilizassem a rádio mal e porcamente, politicamente, também não deveria falar em política”.

Dificilmente pode-se encontrar alguma coisa, ligada à escrita, que não tenha sido feita por Nêgo. Ele se or-gulha de ser um escriba, num sentido que não está nos dicionários. Uma coisa que soa como escrever por imenso prazer, mesmo que para outras pessoas.

Nêgo escreveu discursos para políticos e gover-nadores, redigiu introduções de mensagens anuais do Executivo. E se orgulha, particularmente, de um que não foi lido. “E nem podia”, lembra, divertido. O tex-to foi escrito para o encerramento da gestão de Mário Pereira e, hoje, Nêgo concorda que não convinha ao governador: “o texto era totalmente fora dos padrões oficiais; um tour de force de seis minutos. E que come-çava assim: “Não farei um relatório de governo. Também não farei um inventário de obras. Não serei exaustivo. Me esforçarei para não ser tedioso, pecado crônico dos documentos oficiais e burocráticos... “ Amo este texto, conclui.

LIVROS PUBLICADOS

De letra, crônicas sobre esportes; (Tra-vessa dos Editores, 2002).

O Sábio de chuteiras, sobre o cara que mais conheceu futebol no Mundo;(Travessa dos Editores, 2006).

modos & modas, crônicas e textos sobre diversos assuntos (Travessa dos Editores, 2009).

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* Esta pesquisa foi realizada com os habitantes do município de Curitiba maiores de 16 anos.

Para a realização desta pesquisa foram entrevistados 460 habitantes. O trabalho de levantamento dos dados foi feito através de entrevistas pessoais em Curitiba durante os dias 05 a 06 de maio de 2010, sendo acompanhadas 19,57% das entrevistas.

Tal amostra representativa do município de Curitiba atinge um grau de confiança de 95,0% para uma margem estimada de erro de 4,5%.

Como o curitibano encara o homossexualismo

IDEIAS + PARANÁ PESQUISAS

Os casais homossexuais deveriam ter os mesmos direitos dos outros casais?

Você se sente constrangido na presença de casais homossexuais?

Os casais homossexuais devem ter o direito de adotar crianças?

Você acha que os homossexuais se comportam adequadamente perante a sociedade?

5,43% DEPENDE

1,09% NÃO SABE

32,83% NÃO

60,65% SIM

1,3% NÃO RESPONDEU

73,91% NÃO

24,78% SIM

5,43% DEPENDE

1,39% NÃO SABE

40% NÃO

53,26% SIM

27,61% MAIS OU MENOS

1,74% NÃO SABE

28,91% NÃO

41,74% SIM

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MIRIAN GASPARIN jornalista

Planejando melhor os seus negócios, empresários dão

vida longa às empresas

NEGÓCIOS

O número de falências tanto requeridas como decretadas vem caindo. Só no primeiro

trimestre do ano, as falências reque-ridas recuaram 4,2% em relação a igual período de 2009. Já as recu-perações judiciais (antiga concorda-ta) caíram 50,2%, em todo o País, segundo aponta o indicador Serasa Experian de Falências e Recupera-ção. Além da melhora da economia, o que mais tem contribuído para este quadro favorável das empresas, são as iniciativas tomadas por uma boa parte de empreendedores, que antes de se lançarem no mercado vão em busca de informações e participam de programas que os auxiliarão a gerir os seus futuros negócios.

Segundo a consultora do Sebrae/PR em Curitiba, Marcia Giubertoni  Borro, os empresários buscam abrir seus negócios, mas acima de tudo eles querem se manter vivos no merca-do. O Sebrae, por exemplo, coloca à disposição dos empreendedores o Próprio – Programa de Orientação ao Futuro Empresário, que é uma solu-ção para aqueles que buscam a aber-tura de micro e pequenas empresas planejadas. Já a Prefeitura de Curitiba possui o programa Bom Negócio, que é conduzido pela Agência Curitiba de Desenvolvimento, e tem como ob-

jetivo promover o desenvolvimento econômico local dos bairros, através da capacitação, consultoria e acompa-nhamento de empreendedores.

No primeiro trimestre do ano, a procura pelo Programa Próprio, em Curitiba, registrou um crescimento de 43%, se comparado com o mesmo período em 2009. Enquanto no ano passado 1.875 pessoas buscaram o Próprio, neste ano, o Sebrae registrou 2.720 empreendedores participantes. Já o Programa Bom Negócio certificou cerca de 9 mil empreendedores de 66 bairros da Capital desde 2005. Este ano, o programa recomeçou no dia 28 de abril e está capacitando mais 200 futuros empreendedores.

De acordo com Marcia Borro, conhecer a realidade do mercado e organizar um plano de negócios são essenciais para alcançar o sucesso do empreendimento. Neste sentido, o próprio é um programa que dá sub-sídios e ferramentas de planejamento para abrir um pequeno negócio. A consultora do Sebrae/PR diz que parti-cipar do Próprio não significa automa-ticamente abrir uma pequena empresa. “Muitos empreendedores, depois de esclarecidas as dúvidas sobre o fu-turo negócio, adiam o projeto por se sentirem ainda pouco preparados.” No entanto, o aumento de 43% de

participação, registrado em Curitiba, reflete uma nova tendência.

Segundo a coordenadora do Pro-grama Bom Negócio, Joana Lopes, até 2007, os futuros empreendedores tinham de ser convencidos da neces-sidade de capacitação. Hoje, 60% das pessoas que participam do programa vão por indicação, pois viram os re-sultados dos que se qualificaram e buscam o mesmo para si.

Levantamento feito pela Junta Co-mercial do Paraná, analisando o primei-ro trimestre deste ano, mostra que foram abertas 13.083 novas empresas, 96% aproximadamente micro e pequenas. No ano passado, foram abertas 13.517 empresas no mesmo período.

Para a consultora do Sebrae, os dados da Junta Comercial do Paraná mostram que o número de empresas não aumentou. Mas o que parece estar mudando é o comportamento de quem quer abrir um negócio. Hoje, o candi-dato a empresário busca informação para solidificar o futuro negócio. As pessoas estão mais preparadas para entrar no mercado e com condições de sobrevivência. Atualmente, 79% das micro e pequenas empresas que procuram o Sebrae/PR,  antes de mon-tar o negócio, sobrevivem aos dois primeiros anos, que é considerado o período mais crítico.

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As eleições deste ano no Bra-sil prometem uma disputa diferenciada. Depois do fe-

nômeno Barack Obama nas urnas norte-americanas em 2008, todos os políticos aqui também querem a internet como grande aliada. Será possível repetir o sucesso de Obama aqui no Brasil?

As previsões não são tão oti-mistas por aqui. No Brasil o acesso à internet, de acordo com pesquisa Ibope/Nielsen Online divulgada em fevereiro deste ano, chega a aproxi-madamente 67 milhões de brasileiros. É um número considerável, mas re-presenta apenas 34% da população. Enquanto isso, nos Estados Unidos, 75% da população está ligada à rede.

Apesar do alcance relativamen-te baixo, os internautas brasileiros são os que mais tempo permanecem conectados, à frente dos Estados Unidos, com média de 44 horas por mês contra 40 horas dos norte-ame-ricanos.

Os políticos estão cientes dessa realidade. Basta saber que todos os pré-candidatos hoje à presidência da república se utilizam de alguma mídia na internet para expor suas propostas, ouvir e aproximar-se dos eleitores. Seja por meio do microblog

TECNOLOGIA

O papel das mídias sociais nas Eleições A importância do uso correto da internet na campanha eleitoral 

KAREN FUKUSHIMA

Twitter, sites próprios, blogs ou per-fis em canais de relacionamento como o Facebook e Orkut. Todos, sem ex-ceção, estão na internet.

No Paraná, os principais pré-candidatos também já entenderam a importância de estar na internet. Beto Richa, Orlando Pessuti e Osmar Dias estão aprendendo e crescendo na rede. Para o Deputado André Var-gas, Secretário Geral de Comunicação do Partido dos Trabalhadores (PT) a internet é o instrumento mais demo-crático de comunicação e interação. “O eleitor pode, além de se informar melhor, colaborar com o dia a dia das campanhas e principalmente se organizar para atividades políticas eleitorais. Interagir com seus candi-datos e coordenações bem como com os profissionais/veículos que cobrem as eleições”.

Participação Política – A internet e suas ferramentas tornam-se, portanto, meios

que facilitam a interação direta entre os eleitores/internautas e seus can-didatos e podem incitar a participa-ção política. Claudio Soares e Marlon Schluga são sócios-proprietários da Agência CS Revue em Curitiba e tra-balham diretamente com mídias di-gitais. Soares acredita que as pessoas que querem participar politicamente o fariam de qualquer modo, ou seja, com ou sem o auxílio da internet. Por outro lado, atesta que as ferramentas sociais dão voz a todos que queiram se manifestar. Para Schluga a internet proporciona a participação de todos e o debate no mesmo nível. Celebrida-des, políticos, profissionais e estudan-tes podem conversar livremente.

Considerando os números da in-

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ternet brasileira, o debate pré-elei-toral pode tomar proporções jamais vistas em nossa história recente, co-menta Soares com sua experiência na rede: “Somos consumidores vorazes de mídias sociais, temos vontade de contar e compartilhar opiniões e no-vidades com nossos amigos online”. E os números mais uma vez comprovam essa característica de participação e interação dos brasileiros. Segundo pesquisa Ibope/Nielsen Online, os brasileiros são os principais usuários do Orkut e Twitter, batendo nova-mente os norte-americanos.

A impressão que temos ao ana-lisar os números é que o Brasil só precisa de estrutura para alavancar os números da participação na rede. O maior problema hoje é o alcance limitado da internet para todos os brasileiros. Iniciativas como o Eleitor 2010 (veja Box) demonstram que os eleitores estão começando a se or-ganizar para acompanhar de forma online seus candidatos.

Modo de usar – Este é o pri-meiro ano que teremos elei-ções no Brasil reforçadas por

mídias digitais efetivas de comunicação e interação. O Twitter é citado como principal meio de comunicação entre os eleitores e seus candidatos porque é direto e assertivo. E muitas vezes se transforma em uma arena, com discus-sões memoráveis entre seus usuários.

O Deputado André Vargas defen-de o debate político e acha naturais os desentendimentos em espaços de relacionamentos, virtuais ou físicos. “Nada mais democrático que a livre expressão de ideias”, completa. Sobre a forma de utilização dos recursos di-gitais pelos pré-candidatos ao gover-no do estado, Vargas defende que sua geração não cresceu com a internet e ainda tateia no mundo virtual. Mas avalia que todos os candidatos estão ocupando de maneira progressiva os

espaços virtuais disponíveis para o fortalecimento da imagem e mobili-zação de seus respectivos times.

Na visão do publicitário Soares, que criou um painel de pesquisa em tempo real para o monitoramento dos candidatos, há muita superficialida-de nos perfis dos candidatos. “Falta profundidade, falta integração com outros meios onde as informações po-dem ser expandidas e detalhadas. Ser sucinto (140 caracteres no Twitter) e ainda relevante não é fácil para em-

presas e marcas e muito menos para políticos, uma classe tão desacredi-tada e muitas vezes piada pronta na rede”, alfineta Soares.

É difícil traduzir qual a forma correta de utilização das mídias di-gitais. Schluga afirma que é preciso atenção e dedicação, pois estamos na onda crescente onde nem todos sabem o que fazer. “Muita gente es-quece que trabalhar com mídia so-cial é como ir bater na porta de cada vizinho, apresentar-se, ter assunto,

ouvir e se relacionar com ele. Isso dá trabalho”, analisa o empresário que trabalha diariamente com internet.

O que se percebe com as mídias digitais hoje é que elas aproximam o candidato do eleitor e proporcionam um relacionamento. O eleitor sente-se intimamente ligado ao candidato que usa os meios para demonstrar facetas de sua personalidade, seus gostos e suas aflições. Humanizam a figura do candidato e por isso o aproximam do eleitor, por afinidades.

Vargas acredita que é possível traduzir a vida política para o meio digital e mostrar quem é o homem por trás do político. A personalidade e a humanidade do político são as carac-terísticas que Soares cita como gran-des prospectores de votos. E Schluga vê as mídias como o melhor lugar para construir uma relação duradoura do candidato com seu público e para que o eleitor se sinta parte do processo, cobrando respostas diretamente do seu candidato.

MONITORAMENTO VIRTUAL Baseados em experiências de outros países, os brasileiros Paula Góes e Diego Casaes pretendem monitorar

as próximas eleições presidenciais. O projeto Eleitor 2010 irá agrupar denúncias de fraudes, compra de voto e outras infrações em um site e um perfil no twitter, o @eleitor_2010. As informações serão enviadas via e-mail, celular, twitter e outras redes sociais por qualquer pessoa. Os dois são editores da Global Voices Online, comunidade internacional de blogueiros e tradutores.

“Com a internet, o eleitor pode, além de se informar melhor, colaborar com o dia a dia das

campanhas”André Vargas

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ECONOMIA

Até o fim de 2010, os consu-midores curitibanos devem gastar  R$ 38,7 bilhões, se-

gundo o estudo IPC Target. A pesqui-sa indica que o potencial de consumo dos moradores de Curitiba 0,15 p.p. neste ano em relação a 2009, ou seja, serão gastos R$ 5 bilhões a mais. O que mais vai consumir o dinheiro dos curitibanos é o item chamado de manutenção do lar, R$ 9,541 bilhões, seguido de alimentação em casa, R$ 4,350 bilhões, e gastos com veículo próprio, R$ 2,511 bilhões. Logo de-pois, vêm os gastos com a alimentação fora de casa, R$ 1, 627 bilhões, com-pras de roupas e sapatos confeccio-nados, R$ 1, 332 bilhões, e despesas com saúde (fora medicamentos), R$ 1,149 bilhões.

Os números colocam a cidade em 6º lugar no ranking nacional de potencial de consumo para este ano. Embora a cidade mantenha a colocação de 2009, a participação da capital paranaense no potencial nacional cresceu. Em 2009, Curi-

tiba foi responsável por 1,53% de todo consumo brasileiro e  em 2010 deverá será responsável por 1,76%. O consumo dos brasileiros deve girar em torno de  R$ 2,202 trilhões, em 2010, apresentando um crescimento superior a R$ 338 bi-lhões quando comparado com IPC Target  2009.

A servidora pública municipal Maria da Luz de Souza Panzone, 61 anos, é um exemplo da tendência dos curitibanos de gastarem bastan-te na manutenção do lar. Iniciou o ano com gastos em uma reforma da cozinha. Economizou o que conse-guiu na reforma dos armários, com mais de 70 anos, mas teve que gastar com material de construção e a mão de obra dos pedreiros. “Fiz o que consegui com minhas próprias mãos na hora de folga, mas tive gastar bastante na obra, mas que já estava sendo adiada há tempos”, conta a servidora. Nem deu tempo de co-memorar a reforma, já que logo em seguida surgiu um vazamento de

Curitibanos devem gastar R$38,7 bilhões em 2010 Estudo IPC Target indica que manutenção do lar concentra o maior potencial de gastos na capital paranaense 

JOSIANNE RITZ

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água. “A manutenção do lar pesa e muito no bolso do trabalhador e não tem como escapar”, confirma Maria. A professora Patrícia Haboviski, 34 anos, também confirma que a manu-tenção do lar consome boa parte do orçamento, mas, na opinião dela, a alimentação ainda é a grande vilã. “Os preços sobem constantemente. No caso de verduras e frutas, sobem conforme a variação climática e aos consumidores resta comprar. Fora que a alimentação não é um inves-timento, como a manutenção do lar, por exemplo”, diz ela.

Em Curitiba, o porcentual de expectativa de consumo caiu de 2009 para 2010 em quase todas as classes sociais listadas pelo estudo, menos na classe B1,  onde subiu de

25,1% para 30%, A1, que passou de 4,2%  para 5,7% e C2, de 5, 3% para 5,4%. Mas quando são levados em conta os dados nacionais, o IPC Target de 2010 consolida a importân-cia da classe C (C1 e C2) que, mesmo segmentada,  evidencia a potencia-lidade de consumo ao concentrar o maior contingente de domicílios urbanos - quase 23 milhões, ou seja, 48,7% dos domicílios brasileiros –,  respondendo por 27,7% de tudo que será consumido no País,  observa Marcos Pazzini, diretor da IPC Ma-rketing Editora e responsável pelo estudo. Para exemplificar, Pazzini destaca que a classe C vai absor-ver R$ 579,7 bilhões do consumo nacional, elevando o seu poder de compra em relação a 2009 quando essa cifra era de R$ 532 bilhões. Já

os dados dessa tendência de seg-mentação mostra, por sua vez, que a  classe C2 (R$ 211,4 bilhões) espelha comportamento mais próximo dos parâmetros de consumo das classes D e E, de menor poder aquisitivo e base da pirâmide social, gerando uma movimentação expressiva de R$ 329,4 bilhões, equivalente a 15,8% do consumo nacional. 

Classe média praticamente estagnada Levando em con-ta os números nacionais do

estudo IPC Target, a classe média se mantém praticamente estagnada com os seus R$ 863,9 bilhões de consumo puxados  pelas classes B2 – com cerca de  R$ 495,7 bilhões – e  C1 (cerca de R$ 368,2 bilhões). Responde  por

41,4% do total previsto para o País, em  2010, pouco superior à demanda de 2009 quando a participação foi de 41%. Já as classes A1, A2 e B1 (topo da pirâmide social) disputarão o poder de compra com a classe mé-dia com outros R$ 895,8 bilhões, ou seja, 42,9%.

Em termos de mobilidade social nas áreas urbanas, verifica-se ainda crescimento significativo na popula-ção das classes B2 e C1, retomando o cenário pré-crise econômica de 2008. Esse aumento quantitativo de pessoas  provém normalmente das classes C2 e D, que em 2010 representa também expansão de renda para consumo.  Nas classes A1, A2 e B1, entretanto, observa-se um contingente menor de pessoas, mas com aumento no poten-cial de consumo, na comparação de

Em 2010, Curitiba deverá ser responsável por 1,76% de todo o

consumo brasileiro

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2010 com 2009. O maior crescimento ocorrerá na classe B2, representada por domicílios com rendimento mé-dio de R$ 2.950,00/mês, que contém 19.4% dos domicílios urbanos em 2010 (ante 18,0% em 2009) e será responsável por 23,7% do consumo nacional (ante 22.5% em 2009). “Esta movimentação de domicílios entre as diversas classes econômicas signifi-ca oportunidade de mercado para as empresas, por meio do planejamento adequado de produtos e serviços às demandas destes novos consumido-res”, ressalta Pazzini.

Regiões A região Sudeste mantém a liderança, e junto com o Sul do País apresentam

crescimento no consumo nacional. O Sudeste projeta uma participação de 52,7% (no ano passado registrou 51,4%) e o Sul registra 16,5% (em 2009, foi de 16,3%). Nas demais re-giões verifica-se leve declínio par-ticipativo, sendo as do Nordeste e  Centro-Oeste que menos reduziram suas presenças – o Nordeste fica com 17,7% (contra os 18,8, em 2009) e o Centro-Oeste marca 7,7% ante os 7,8% apresentados no ano passado.

A região Norte deve participar com 5,3% (em 2009, marcava 5,7%). No ranking do IPC Target, a região Nordeste continua na 2a posição, a frente da região Sul e atrás da região Sudeste, tradicionalmente a primeira colocada neste ranking. 

Londrina entre as 50 maio-res Além de Curitiba, Lon-drina é a outra cidade pa-

ranaense que aparece na lista das 50 cidades com maior potencial de consumo. A cidade do Norte do Pa-raná está 38º lugar no ranking IPC

POTENCIAL DE CONSUMORanking estadual

1º Curitiba2º Londrina 3º Maringá 4º Foz Do Iguaçu 5º Ponta Grossa 6º Cascavel 7º  Sao Jose Dos Pinhais 8º Colombo 9º Guarapuava10º Paranaguá

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Target. Na verdade, a cidade caiu uma posição em relação à pesquisa de 2009.

Os 50 maiores municípios bra-sileiros responderão por 45,8% do consumo nacional, em 2010. No ano passado, estes municípios eram res-ponsáveis por 43%. São Paulo e Rio de Janeiro lideram o ranking do País e ganharam participação no IPC Tar-get entre 2009 e 2010, fato que não ocorria há muito tempo, devido à des-centralização do consumo das capitais para o interior, na época. Neste ano, São Paulo responderá por 9,64% e o

Rio de Janeiro por 5,87% do consu-mo nacional no ano passado os in-dicativos eram de 8,53% e 5,31%, respectivamente.

Em 2010, Brasília passa a ser a 3ª maior cidade brasileira, com o IPC Target estimado em 2,17749, superan-do Belo Horizonte (com o IPC Target de 2,13816), que cai para a 4ª posição. Destacam-se ainda Porto Alegre (vol-tou a ser 7ª cidade do País, com uma participação de  1,47591 – estava em a 8ª no ano passado), Campinas (SP) passa a ocupar a 9ª posição, com o IPC previsto de 0,99275 (saltando da 13ª,

com  0,84645, em 2009) e Manaus, que subiu para 11º lugar, com um IPC previsto de 0,86110 – em 2009, estava em 14º.

Fortaleza e Recife mantêm-se entre as 10 maiores, mas com leve declínio,  o mesmo ocorreu com Goiânia e Belém (11ª e 14ª do ranking, respectivamente). – Veja gráfico 2010/2009 do IPC Target com as 50 maiores cidades  ou as 500 maiores pelo link www.ipcbr.com – Imprensa / Consumo Brasil IPC Target 2010.

POTENCIAL DE CONSUMORanking nacional

1º São Paulo2º Rio de Janeiro 3º Brasília 4º Belo Horizonte5º Salvador 6º Curitiba 7º  Porto Alegre 8º Fortaleza

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PRATELEIRA

Livros

MARy DEl PRIORE, A PESqUISADORA DO AMOR

Mary del Priore é historiadora e ex-professora da USP e da PUC-RJ, e tem se dedicado à história do amor. Publicou História do amor no Bra-sil, pela Editora Contexto. Também escreveu uma História das crianças no Brasil e uma História das mulhe-res no Brasil (ambos, pela Contexto), tendo recebido, por essa última obra, o Prêmio Jabuti.

“NÃO cONtEM cOM O fIM DO lIvRO” Ora, pois, vozes que contrariam as correntes integradas que adoram anunciar o fim do livro. Umberto Eco e Jean Claude Carriére se unem para argumentar sobre a perenida-de do livro impresso e para garantir que eles não serão substituídos pelos meios eletrônicos.

Os autores defendem o livro como ele é, uma ferramenta indis-pensável na história da humanidade. Uma ferramenta essencial. Editora Recorde, preço R$ 39,00.

MARIO DOMINGUES, O POEtA Mario Domingues é curitibano, autor de Paisagem transitória  e de poemas publicados em Musa Paradisíaca, Me-dusa 8, Pensar, EtCetera e Babel 8. Com Adalberto Muller e Maurício Cardozo, traduziu os poemas de O tigre de velu-do – alguns poemas de E. E. Cummin-gs (Brasília, UnB, 2007). Idealizador e curador do projeto de leituras públicas VozOff e curador de literatura do proje-to Outras Leituras. Domingues prepara agora seu mais recente livro de poemas, Musga, pela Editora Mirabilia. O lança-mento está previsto para julho.

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Música

MARAvIlhOSA ADélIA ISSA

Adélia Issa é a maravilhosa e versátil cantora lírica brasileira que inter-preta as modinhas imperiais com a mesma maestria que empresta a voz para Robert Schumann.

Necessário ouvir os CDs Remei-ros do São Francisco’’, com obras de Ernst Widmer, e “Missa”, onde in-terpreta obras do barroco mineiro (projeto Acervo da Música Brasileira - Petrobras) e o LP Modinhas Imperiais (recolhidas por Mário de Andrade), do selo Eldorado, que um dia desses talvez retorne ao mercado.

SAlvE MARIA JOÃO Maria João Pires nos proporciona nova audição de Chopin. Não há concessão ao sentimentalismo nesta pianista madura, de técnica sobera-na em interpretações de intensidade impar que realça os contrastes.

A gravação moderna de referên-cia da Deutsche Gramophon recebeu merecidos prêmios da crítica inter-nacional. Relançou, em apenas um CD da série Grand Prix, uma seleção dos noturnos aqui gravados.

A portuguesa Maria João Pires é uma grande mestra do repertório clássico e romântico. Após ouvir suas interpretações, fico pensando no quanto ela, Maurizio Pollini e Nelson Freire já acrescentaram a um repertório visitado por todos os monstros do passado, e que apenas são mais formidáveis pelo fato de terem morrido.

OttO, REINvENtANDO O AMOR

Certa manhã acordei de sonhos in-tranquilos é a transcrição da pri-meira frase de A Metamorfose, ro-mance de Franz Kafka em que um homem acorda transformado em barata, e é o nome do 4º álbum do músico Otto, pernambucano radi-cado em São Paulo. Quase todas as músicas falam do amor, do desamor, da ressaca do amor. Amor vivido, expurgado, acabado, amor sentido. Essa estranheza pós-amor é sentida em cada melodia, em cada letra, em cada sonho contido. Gravado de for-ma independente, maneira em que o músico consegue também exercer a liberdade criativa, Otto transborda a dor, de forma delicada e ao mesmo tempo com a rudeza da inadequação à vida como ela é.

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CULTURA

Cena aberta MIRIAM KARAM

Curitiba parece estar à beira de um crescimento importante na área teatral. Não um acontecimento nos moldes do consagrado Festival de Teatro, mas

num jeito “mais cabeça” de ser. O festival tem muitos méritos, não há dúvida. Para cá vem, naqueles dias de março, todos os anos, boa parte da produção teatral bra-sileira, incluindo trabalhos de monstros sagrados. E o festival não deixa de ser uma janela para os curitibanos e paranaenses, que podem ser vistos por críticos, jorna-listas e produtores de outras praças.

O que está por emergir, ou florescer, é toda uma nova geração de dramaturgos, com tudo o que essa palavra implica.”O prognóstico é muito bom”, diz o diretor/au-tor carioca Roberto Alvim, ele mesmo produto de outro momento singular do teatro brasileiro, registrado no Rio de Janeiro pouco mais de uma década atrás.

Alvim orienta a oficina regular do Núcleo de Dra-maturgia Sesi Paraná e, no último festival, dirigiu a peça Como se eu fosse o mundo, escrita por Paulo Zwolinski, um dos 32 aspirantes ao sucesso da primeira turma do núcleo. Ele foi convidado a organizar o conteúdo do curso porque, além de ser um nome já respeitado na cena teatral brasileira, tem boa experiência de ensinar; e conhece, na prática, todas as áreas do teatro. (ver boxes)

Alvim salienta que a peça escolhida para encenação não é melhor, mas a mais representativa do grupo de es-treantes. “Aponta uma visão de mundo muito particular, fora do senso comum”, explica.

Para uma terra com alguma tradição teatral e berço de vários sucessos nacionais, o desabrochar de novos autores não será exatamente uma novidade. Talvez apenas em quantidade. Para o coordenador do Núcleo do Sesi, o autor e diretor Marcos Damaceno, o teatro vive um momento de revalorização da dramaturgia. Ele explica: o silêncio imposto pela ditadura militar alijou o cenário de muitas promessas; e, talvez pior quando se fala em texto teatral, foram as recentes fases do teatro-dança (“todo mundo queria ser Pina Bausch”) e do teatro coletivo, inspirado no Living Theatre.

Texto que é bom – e texto bom –, nada. Coisa que vem se modificando no país há algum tempo e promete mexer com as estruturas curitibanas. Trabalhos do pró-prio Damaceno, autor de “Árvores abatidas ou Para Luís Melo”, já receberam críticas elogiosas de órgãos nacio-nais. A revista Bravo, por exemplo, o destacou na seção Nossa Aposta e afirmou que seu espetáculo “teve ótima repercussão” e se tornou “sucesso de crítica”. Para apre-sentar Damaceno, a jornalista Cecília Arbolave escreveu que “a cidade de onde o ator Luís Melo e o encenador Felipe Hirsch partiram para ganhar relevância nos palcos brasileiros está gerando um novo talento - o diretor e dramaturgo Marcos Damaceno”.

Hirsch e Melo são apenas dois nomes curitibanos respeitados nacionalmente. O número vem crescendo desde o aparecimento do ator Ari Fontoura e conta hoje Ivan Cabral, do grupo Os Sátiros; Érica Mignon, da Sutil Companhia de Teatro (a de Felipe Hirsch e Guilherme Weber, outro curitibano a despontar lá fora). Isso, citan-do apenas criadores, deixando os atores de lado. Porque atores há dezenas. Damaceno realça que Curitiba tem tradição na exportação de atores. “Quando um ator diz que é de Curitiba, já tem um ponto a favor”, conta.

O experiente Edson Bueno, com 28 anos de estra-da, concorda que um dos males causados pela censura durante a ditadura prejudicou em especial a produção de textos para o teatro brasileiro. A televisão chamou para si nomes importantes para o teatro da época, como Dias Gomes e Bráulio Pedroso. A produção de textos brasileiros diminuiu demais e os grupos teatrais tinham de “se resolver internamente”. É o caso, por exemplo, de Antunes Filho e de Gerald Thomas. O próprio Bueno é autor de quase a totalidade dos textos que encena.

Então era isso – os diretores produzindo seus próprios textos ou a encenação de peças estran-geiras. Bueno avalia que apenas cerca de 10% dos

textos levados ao palco em todo o Brasil, ainda hoje, sejam nacionais. Mas ele reforça: embora o processo seja lento,

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a dramaturgia está experimentando grande renovação. Em Curitiba, isso já acontece há cerca de dois anos, com o aparecimento de nomes como Alexandre França e Luiz Felipe Leprevost. “Com o Núcleo do Sesi, mais autores devem aparece”, avalia Bueno.

Nova geração – A nova geração de dramaturgos do Paraná “corre o risco” de ser de alta quali-dade. “É surpreendente o nível de qualidade”,

revela Alvim ao descrever os participantes do Núcleo do Sesi. Acostumado às mais diversas plateias e aos mais diferentes grupos, Alvim diz jamais ter encontrado um grupo que tivesse compreensão tão rápida e intensa ao se deparar com novas estéticas e linguagens teatrais. “Aqui respondem rapidamente, de forma muito orgânica”.

A turma de 2009 é bastante heterogênea; inclui desde pessoas já atuantes na área ou seus arredores até gente de outras profissões – um advogado atuante, por exemplo. E como o resultado é considerado muito satisfatório, a direção do núcleo resolveu, além de abrir a turma normal deste ano, realizar uma espécie de curso avançado para os que já parti-ciparam do primeiro e também aberto a outros nomes com experiência. Uma das inscritas, conta Damaceno, é Fátima Ortiz, que além de se aprimorar será uma multiplicadora desses conhecimentos no ambiente em que atua.

A peça de Paulo Zwolinski apresentada no Festival de Teatro foi escolhida por Alvim por ser “representativa do que o núcleo tem produzido”. Outros cinco textos tiveram leitura dramática. O produtor cultural Zwolinski, de apenas 25 anos, diz que resolveu escrever por ter se frustrado como ator (“eu era muito ruim”, brinca). Depois de um workshop no próprio Sesi, percebeu que tinha muito para conhecer, como conta, e resolveu entrar para o Núcleo. Hoje, além de continuar na turma mais avançada, Zwolinski faz pós-graduação; seu tema: “Ini-ciativas de capacitação e desenvolvimento para novos autores teatrais”.

Aprimoramento e investigação parecem mesmo ser características dos que atuam, com sucesso, em Curitiba ou daqui saíram. O ator Luis Melo, com carreira prin-cipalmente fora de Curitiba, em especial em novelas da Rede Globo, montou um centro de pesquisas num sítio em São Luis do Purunã, próximo a Curitiba. Um dos filhotes, visto há mais de um ano em São Paulo, é a peça O que Eu Gostaria de Dizer, de Marcio Abreu, curitibano que hoje está na Companhia Brasileira de Teatro.

Abreu também é autor do texto final da peça Vida, sobre a obra e a vida de Paulo Leminski. A peça fez sucesso no festival deste 2010 e permanece em cartaz em Curitiba até o dia 2 de maio. Em São Pau-

lo, está em cartaz, até 4 de julho, no Teatro do Sesi a peça Cinema, escrita dirigida por Felipe Hirsch. O Sesi, sempre o Sesi. Em entrevista recente, Hirsch classificou o Sesi como um “bunker” cultural. De fato, a presença da entidade é bastante forte na promoção cultu-ral. Ana Zétola, coordenadora de Cultura do Sesi Paraná, conta que a ideia é preencher uma lacuna nessa área do teatro, já que desde tempos mais negros, politicamente

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Prêmio Bravo! Prime de Cultura no ano passado, Roberto Alvim, hoje com 36 anos, despontou já aos 27 anos, numa movi-mentação que criou com leitura de textos, encenações e cursos de escrita teatral. Uma espécie de laboratório concentrado de formação, que acabou por revelar no-mes como Pedro Brício e Daniela Pereira de Carvalho, no Rio.

Hoje, Alvim e sua mulher, Juliana, diri-gem a companhia paulista Club Noir. Lá, como aqui, na companhia dirigida por Marcos Damaceno, a ideia é apresentar autores contemporâneos inéditos no Brasil. No caso de Alvim, com uma característica especial – tudo é feito na penumbra. Ou quase escuridão.

Foi assim também na peça Como se eu fosse o mundo, na qual o cenário contém apenas um holofote, colocado no chão do palco dirigido à plateia. É impossí-vel ver o rosto dos atores em cena. Sem imagens, a palavra é reforçada de forma extraordinária.

A companhia de Damaceno, dirigida por ele e sua mulher, a atriz Rosana Stavis, apresenta suas peças numa sala montada nos fundos da casa do casal, no bairro São Francisco, próximo ao centro histórico de Curitiba. São cerca de 40 lugares, ao longo de três paredes, permitindo que a plateia se sinta dentro do espetáculo.

falando, “o exercício da escrita é muito pequeno”. Em entrevista ao portal iG, Felipe Hirsch conta que

colocou os atores de sua peça em imersão na cultura curitibana. “Acho que seria uma pena para pessoas de 19, 20 e poucos anos como eles estar em Curitiba e não ler Dalton Trevisan, não saber um pouco sobre Leminski, não conhecer o Beijo AA Força, de falar dessa geração de [Mirando] Miran, de [Luiz Antônio] Solda, de [Jaime] Lerner, pessoas que foram muito importantes nos últimos 20 anos, quando morei aqui. A gente se forma assim, isso é bagagem para outras coisas da vida deles”.

A formação realizada pelo Núcleo de Dramaturgia do Sesi Paraná é formada por uma série de workshops, oficinas, palestras e encontros, com a participação de dramaturgos de renome na-cional. As atividades são realiza-das no Teatro José Maria Santos, em função da parceria com o Centro Cultural Teatro Guaíra.

O projeto é inspirado no Núcleo de Dramaturgia Sesi British Council, de São Paulo, iniciado em 2007. Com isso, Curitiba recebe os dramaturgos trazidos ao Brasil para partici-par das atividades do Núcleo de São Paulo. www.fiepr.org.br/nucleodedramaturgia.

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MARIANNA CAMARGO jornalista

Lewis através do espelho

CRÔNICA

Li recentemente uma notícia de um menino britâ-nico de sete anos que sofre de mutismo seletivo, um raro transtorno de ansiedade que geralmente

é confundido com timidez. Lewis Fawcet só fala com crianças, quando chega um adulto perto ele fica com-pletamente mudo.

Ainda não se sabe por que ele desenvolveu isso, mas segundo os psiquiatras parece ser mais comum do que se pensa.

As crianças usam o imaginário para explicar o mundo, pois ainda não têm todas as referências formadas, com nome e sobrenome, cada coisa em seu lugar. Lacan, em sua teoria o Estádio do Espelho, sugere que os bebês, aos seis meses de idade já conseguem se reconhecer, e que existe anteriormente a esta imagem uma linguagem que vem de um “eu” que não é “racionalizada” ou consciente. O “eu” é situado no registro do imaginário juntamente com fenômenos como amor, ódio e agressividade. É o lugar das identificações e das relações duais. Um trecho da teoria desenvolvida por Lacan diz:

“Este ato da inanidade da imagem, logo repercute, na criança, uma série de gestos em que ela experimenta ludicamente a relação dos movimentos assumidos pela imagem com seu meio refletido, e desse complexo virtual com a realidade que ele reduplica, isto é, com seu próprio corpo e com as pessoas, ou seja, os objetos que estejam em suas imediações.”

Lacan fala da relação da criança com a realidade ao seu redor. Ele mistura metáfora e literal para introduzir sua hipótese de que, assim como a imagem no espelho

é virtual, também o é a relação que a criança estabelece com seu próprio corpo, com as pessoas e objetos.

Utilizando outra metáfora, dessa vez literária, outro Lewis vem à tona, o Carroll. Sua Alice simbolizaria o pequeno Lewis, em Alice através do Espelho. A histó-ria acontece por meio desse reflexo, em que a imagem refletida pode ser outra, carregada de interpretações e significados, e forma, portanto, outra linguagem, outro universo.

Alice criou um universo fantástico, surreal; Lewis emudeceu.

A imagem “real”, formada posteriormente no plano racional, não é mais importante do que aquela onde nos reconhecemos, quando crianças. Imagem e afeto se amalgamam quando desenvolvemos as relações com as pessoas, depois vem a fala. O campo de ação da psicanálise situa-se na fala, onde o inconsciente se manifesta, por meio de atos falhos, esquecimentos, chistes, e de rela-tos de sonhos, naqueles fenômenos que Lacan nomeia como “formações do inconsciente”. A isto se refere o aforismo lacaniano “o inconsciente é estruturado como uma linguagem”.

A primeira memória, seguindo essa linha de pen-samento, é fundamental para desenvolver a linha do imaginário e a narrativa afetiva – linear ou não – com o mundo a nossa volta. A professora de Lewis disse que era possível ver o medo nos olhos dele quando um adulto se aproximava.

Mas apenas nos comunicamos com quem reco-nhecemos, por sobrevivência, por ódio e também por amor. O inconsciente do pequeno Lewis também é o nosso.

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Aqui na mesa, bem em frente, a revista Info/Exame de maio e a Crestomatia de Radagásio Taborda, publicada em 1936 pela Editora da Livraria do

Globo, de Porto Alegre. A Info/Exame traz matéria com o título instigante: “O fim do conhecimento”.

A ideia é interessante, embora algo exagerada: bi-bliotecas inteiras estão sendo digitalizadas, e isso pode provocar a perda do conhecimento acumulado. Porque a digitalização leva à venda do material impresso, livros e revistas, como refugo para reciclagem, e os centros de armazenamento digitais podem se extinguir pelas cau-sas mecânicas a que estão expostos. O que não acontece com os livros ou seus registros anteriores, em pedra, cerâmica, pele de cabra e papiro, que subsistem até hoje.

Grande exagero, pois a reportagem ignora, por exemplo, o incêndio da biblioteca de Alexandria, que destruiu grande parte da produção literária da Antiguidade, mas não impediu o mundo de crescer com o que sobrou. Ou que a filosofia ocidental foi construída sobre fragmentos mínimos de escritos dos pré-socráticos.

Onde entra a Crestomatia de Radagásio Taborda na preservação do conhecimento? Resgatada num sebo, aguen-tou setenta e quatro anos de peregrinação entre estantes. Portanto cumpriu a missão que nenhum arquivo digital ainda superou. O livro continua em bom estado, apesar da má qualidade do papel utilizado nas edições escolares do Brasil daquela época. Capa dura, lombada em tecido, ilustrações em preto-e-branco. Tiragens mínimas, do tempo em que havia vestibular para o ginásio, hoje a quinta série

do ensino fundamental. O texto mais moderno é de Medei-ros de Albuquerque, excelente cronista que encerrou sua carreira dois anos antes do lançamento da Crestomatia. A língua, o português semiparnasiano, das ênclises e mesó-clises. Olavo Bilac pontifica a cada vinte páginas.

Não costumo ler obras digitalizadas, questão de hábito e formação de leitor, que necessita do livro físico, para exa-miná-lo primeiro como produto industrial na encadernação, fontes utilizadas no texto, diagramação e espaçamento de caracteres. Depois percorrê-lo nas indicações de edição, autor, revisor e tradutor, nos índices, na apresentação de capa, sobrecapa e orelhas. Só mais tarde vem o prazer da leitura. Leitores de livros em papel têm sensualidade tátil, também precisam de contato físico com o objeto do desejo.

Mas o futuro visível mostra risco para as bibliotecas de papel, bem diferente daquele que sofreram as bibliotecas em pedra, tábuas de argila e rolos de papiro e pergaminho – que morreram por superveniência de tecnologias mais eficientes, a imprensa e o papel. O risco das bibliotecas de papel não está na superveniência da tecnologia digital e sua inesgotável capacidade de armazenamento da infor-mação. O risco das bibliotecas de papel está na redução da matéria-prima, a madeira, em quase esgotamento pelo uso intensivo do papel não só na imprensa, mas nas atividades em geral – quem não se choca com a infindável distribuição de folhetos publicitários nas ruas, por exemplo?

As variadas técnicas de reciclagem de papel não atendem a demanda crescente de material impresso, pois aqui não pode haver milagre de multiplicação. Portanto,

CULTURA

Livro impresso versus livro digital – a falsa guerra ROGERIO DISTEFANO

FOTO DE EDUARDO REINEHR

“O que me parece importante estabelecer nesse falso confronto livro impresso – livro digital é o

benefício da coexistência de ambos”

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não consigo ver saída senão a aceitação da leitura digital, que já fazemos quanto aos jornais, revistas, sites e blogs. É inevitável, mesmo sob o risco de perda da memória literária. Exagerado, sim, porque a História mostra a hu-manidade se refazendo e recriando em cima daquilo que recebe – mesmo fragmentado – de gerações anteriores.

Como convertido à informática e consumidor de jor-nais digitais saúdo a biblioteca digital. Com uma vantagem pessoal que me permite sugerir aos outros um problema que não afeta: tenho pelo menos mil livros que ainda pre-ciso ler, metade deles em casa, metade a serem adquiridos em sebos (os contemporâneos me dizem pouca coisa). Mas tenho compromisso com o planeta e com a natureza, que cumpro religiosamente ao não assinar jornais em papel, fazer pela internet as operações que dispensam o papel, recusar folhetos nas ruas – e reciclar tudo que puder.

Fica tudo igual em termos de conhecimento, que não vejo possa desaparecer pela digitalização. Queria dizer que o problema é outro, o da qualidade do material impresso, aquilo de “o papel aceita tudo”. Não posso, porque a informática aceita muito mais, haja vista a multiplicação aos milhões de blogs e sites na internet.

Não acredito que o livro impresso acabe de todo. Penso que subsistirá, talvez de modo seletivo, ou até em material diferente do papel. O que me parece importante estabelecer nesse falso confronto livro impresso – livro digital é a complementaridade, o benefício da coexis-tência de ambos. E isso vem desse universo misterioso chamado internet e sua causa, a informática.

Dou um exemplo com o Radagásio Taborda que está aqui em frente. Há vocábulos ali que em 1936 exigiriam do leitor mediano a consulta a um ou mais dicionários. Poucos dispunham de dicionários na época – aliás, o Aurélio só surgiu vinte anos depois – e os disponíveis estavam nas raras bibliotecas ou nos minguados acervos de escolas.

Os dicionários continuam ausentes das casas brasileiras e os brasileiros dificilmente frequentam bibliotecas públicas – há inclusive restrições de higiene a isso. Poucos ainda têm dicionários, mesmo digitais, em casa. Mas a internet está aí, aberta e franca, desde o Google, que diz tudo e mais o que não tem nada a ver, até os inúmeros dicionários digitais.

O que significa esse palavrão – crestomatia – da capa do livro seboso de 1936? Dê um Google, que remete à Wikipe-dia – com os erros eventuais: “(da Grego, Khrestos, “útil”, e mathein, “saber”) é uma coleção de certas passagens literárias usadas especialmente para auxiliar na aprendizagem de uma língua estrangeira. Em filologia, ou no estudo de literatura, é um tipo de leitura ou antologia qual preserva a sequência dos textos exemplares, selecionados para demonstrar o de-senvolvimento da língua ou do estilo literário”.

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IDEIAS | maio de 201044

Mínima AliceFICÇÃO

WILSON BUENO escritor

Muitos dias depois de haver perguntado a Ali-ce quem ela era e esta haver respondido que já não sabia mais a rigor quem era pois havia

mudado muitas vezes desde que acordara aquela manhã, a Lagarta reencontrou nossa heroína. Tão reduzida em seu tamanho, que ela estava, vejam vocês!, firmando-se com dificuldade bem no vértice de um Ás de Copas, isto é, na ponta do coração vermelho no centro da carta do baralho.

Difícil manter-se ali, apesar de mínima. Mas tão mí-nima, que a olho nu, isto é, sem poderosas lentes, jamais seria vista. Nossa! Nossa! A nossa invisível Alice apoiava um dos fios de perna num lado do coração e outro no lado oposto de tal forma que desse modo conseguia se equilibrar, ainda que, muitas vezes, um dos mínimos pezinhos escorregasse e ela ficasse assim meio enviesada na ponta do coração do Ás de Copas. Trêmulas ambas as pernas – tanto a esquerda quanto a direita.

“Será que exagerei na poção mágica que faz a gente diminuir encontrada atrás da poltrona da casa do Coelho?” – pensava Alice, incapaz sequer de pedir socorro, pois a voz era um arremedo de voz, certamente ainda mais fina que a do Mosquito e talvez inaudível mesmo, pois quanto mais pedia socorro, parece que menos a ouviam. A Rainha, caso ouvisse semelhante voz-zumbido, ou ainda mais baixo que um zumbido, mandaria cortar a cabeça de Alice, mesmo que ninguém pudesse lhe enxergar o pescoço. E era fiando-se nisso que Alice gritava e gritava e quanto mais escorregava, mais as pernas tremiam. E ela ainda mais pedia por socorro.

Até que teve a ideia de sentar-se, como quem mon-ta a cavalo, no vértice do coração da carta. Coisa que ligeiro fez, mesmo porque suas perninhas-de-linha não suportariam o desconforto da posição anterior, mais um minuto, e os minutos ali pareciam ser ainda mais breves que os minutos da vida aqui fora.

“Como poderei sair daqui? – pensou Alice – se agora,

de pequena passei a invisível?”Mas aí é que se deu a aparição da Lagarta. Imaginem

vocês, com uns óculos de lentes tão fantásticas e potentes que sugeriam os óculos de um escafandro, desses que mergulham no fundo dos Oceanos para catar minúscu-las pedrinhas destinadas à coleção de gemas raras do Museu Britânico.

E lá vinha ela, a Lagarta, sempre devagar, e sempre cansada, meio que se arrastando, e andou a carta toda até chegar bem próxima do coração do Ás de Copas. Meneou a cabeça muitas vezes e de repente soltou um “ah!” de espanto e perplexidade:

— Não posso acreditar no que minhas lentes veem! – exclamou a Lagarta extremamente surpresa. — Você, Alice?! Mas como pode ter ficado menor que um cisco? Menor que um grão de poeira?

— Pois é, Dona Lagarta, acho que abusei da poção mágica de diminuir gente que encontrei atrás da poltrona do Gato. Também estava tão docinha...

— Sorte a sua, Alice! – ralhou a Lagarta, num misto de impaciência e regozijo. — Não tivesse emprestado esses óculos-lunetas dos irmãos Tledle, nunca sei se do Tledledee ou se do Tledledum, pois são tão parecidos, jamais a encontraria, menina! Jamais!

— E por que essas lentes, Dona Lagarta? Só para me procurar? – perguntou, chorosa, a mínima Alice, agora mais calma, mas ainda enganchada na ponta do coração do Ás de Copas e com muito medo de cair dali. Por mínima, dada a altura, o tombo seria imenso, ou mesmo fatal.

— Claro que não, Alice! Nem sabia... Ando atrás de uma Pulga que roubou 500 libras do Unicórnio. E te confesso que de longe pensei que você fosse a própria Pulga Larápia.

— Graças a Deus! – benzeu-se Alice. E logo se corri-giu, pois com aquela expressão poderia parecer à Lagarta que estava aprovando o feio ato da Pulga. E logo este

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FICÇÃO

de roubar o Unicórnio, aquele animal tão gracioso que fizera um acordo com ela, Alice, aquele acordo que se ela acreditasse nele, ele passaria a acreditar nela e assim, um acreditando no outro, ambos passariam a se ver sob a mais veraz realidade.

Mas tudo indicou que a Lagarta entendeu de pronto o “Graças a Deus!” de Alice. E essa estava tão pálida e trêmula em sua minimez mais mínima, que só as lentes da Lagarta alcançavam perceber. Além disso, a Lagarta, sa-bemos, era muito compreensiva, ademais de generosa.

E foi então que Alice arriscou perguntar o que é que ela vira com tão poderosas lentes, até ali, na caçada atrás da Pulga Larápia:

— Dona Lagarta o que a senhora já viu em sua ca-minhada? – uma curiosa Alicimínima, com voz abaixo da linha do silêncio, enganchada na ponta do coração da carta, quis saber.

— Nem te conto, Alice. Um exército de gérmens ainda há pouco vi subindo uma haste de capim. E incrível foi quando três grandes pulgões, estes visíveis sem as lentes, atacaram os gérmens. Uma guerra sangrenta, mas, quieta em meu canto, assisti à vitória dos pulgões. Parentes da Pulga Larápia, sem dúvida, mas não podemos incriminar alguém só porque guarda parentesco com quem não tem caráter, não é mesmo?

— Sim, siiiimmmmmmmmmmmm – zu-niu Alicimínima, temerosa de ficar ainda me-nor e sumir até mesmo da visão das poderosas lentes da Lagarta.

— Dona Lagarta, estou com medo... Medo de ficar ainda menor...

— Se você ficar ainda menor, não há razão para medo – corrigiu a Lagarta.

— É mesmo – entendeu logo nossa Alicimínima. — Se eu for ficando menor, e menor, e menor ainda, aí eu desapareço e deixo de existir e eu não existindo não poderei ter medo, não é mesmo?

— Justo, Alice. Justo – aprovou a Lagarta. E você então ficaria tão mínima, mas tão mínima, que deixando de existir, não seria nem mais sequer Alice.

— Mas será que eu não ficaria sendo, assim mesmo, uma Alicenada alicimínima, e continuaria com medo? Será que o que é nada não tem medo de nada ? De na-dinha mesmo?

Dona Lagarta não respondeu mas foi logo acalmando Alice:

— Olha, continua aí sentadinha no vértice do co-ração de Copas. Segura firmizíssima com as mãozinhas,

como quem segura num balancim, para não cair, que eu vou ver se encontro a outra poção, a de crescer, que, sei, o Coelho guarda, bem escondida, em sua casa, numa velha cômoda...

Uma chorosinhinhha Alicimínimazinhainha assentiu com a invisivelzinha cabecinhinha que ali aguardaria a Lagarta.

Não demorou muito, retornou a Lagarta com o vi-dro de poção de crescer encontrado, bem escondido, dentro de uma gaveta da cômoda, na casa do Coelho. De pequeníssima bolsa retirou com a boca um conta-gotas tão microscópico que só os olhos-lunetas da Lagarta con-seguiam enxergar. E, com um sopro, o pôs nas mãos da tiquititíssima Alice.

— Abra sua bocazinhazinha Alicinha – pediu Dona Lagarta. E, com extremo cuidado e paciência, como só as lagartas são capazes, com os óculos de poderosas lentes,

que nunca foram tão úteis, ajudou Alice a pingar as partículas-gotículas da poção na lin-guazinhazinha de nossa Aliceminimazinha.

E esta foi de novo crescendo, crescendo, e quando chegou no tamanho suficiente para saltar da ponta do coração, ainda assim teve que se servir do micro conta-gotículas so-prado da boca da Lagarta. Mas logo alcançou escorregar, por si própria, do Ás de Copas e aí, agora a gotículasículas medidas, continuou a aspirar boquita adentro a poção mágica. Desta feita com extremo cuidado. Poderia, quem sabe?, virar uma dessas gigantonas que vão por aí amassando com seus grandes pés casas, árvores e até afundando barcos em alto mar. Deus nos livre a falta de medida, conjeturou

a ainda desmedida Alice.Quando ficou bem maior que a Lagarta, percebeu

que algo lhe subia pela perna. E não é que era a Pulga Larápia!!! Num movimento rápido e certeiro, como só Alice era capaz, grudou entre o polegar e o indicador a bandida, disposta a entregá-la, viva, à Lagarta. Esper-neando muito, a Pulga Larápia, que além de larápia era muito ágil, ou por isso mesmo, escapou, contudo, de entre os dedos de Alice e sumiu na Floresta a gigantescos saltos, a foragida.

A Lagarta ficou olhando, olhando, e decidiu retirar os incômodos óculos de poderosas lentes. Aquela Pulga jamais ninguém encontraria – concluiu.

Mas aí Alice já estava em seu tamanho quase normal e tomando a Lagarta com cuidado na palma da mão, para que não se cansasse no caminho, a levou até o Unicórnio. E junto ao Unicórnio testemunhou todo o ocorrido.

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VINHOS

Curitiba 14o LUIZ CARLOS ZANONI

Curitiba antecipou o inverno para receber Paulo Laureano e seus vinhos. Neste ano, o frio chegou antes, e foi bem-vindo. Nada

como a temperatura nos 14° para saborear tintos raçudos como os feitos no Alentejo. A região foi a mais pobre de Portugal no passado. Desenvolveu-se muito com os investimentos da Comunidade Européia, mas, agora, afunda-se na vertigem do colapso financeiro que abala o país. Teve a ver com isso a passagem do enólogo alentejano por algumas cidades brasileiras, promovendo os ró-tulos de sua autoria. Embora seja um profissio-nal experiente, bem rodado, Laureano criou sua própria vinícola há apenas quatro anos, quando adquiriu 70 hectares de vinhedos em Vidigueira, uma sub-região do Alentejo. A crise o apanhou no momento de consolidação. Créditos bloqueados, mercado interno encolhido, qual a saída? Baixar preços e buscar o consumidor de além mar.

São os tais males que vem para o bem, por-que, afinal, graças a eles podemos apreciar um vinho como o Paulo Laureano Premium Bran-co 2007, de uvas Antão Vaz e Arinto, por R$ 37. Corpo cheio, cítrico, estupendo. Vale cada centavo e cada gota. E os tintos do repertório seguem pela mesma trilha. Laureano preserva duas marcas registradas de Portugal. Uma, o vasto bigode, fios caprichosamente retorcidos, as pontas voltadas para cima. A outra, o apreço pelas uvas nativas do país, com certeza o pa-trimônio maior da vinicultura lusitana. Seus vinhos ostentam caráter e identidade, caso desse Selectio Tinta Grossa 2006 (R$ 114). A uva Tinta Grossa andava em vias de extinção, com apenas 5 hectares de plantas em todo o mundo, metade delas no vinhedo de Laureano. Provar o Selectio mostra o quanto está sendo acertado resgatar e ampliar o parreiral. É um vinho macio, mineral, com enérgica e deliciosa acidez.

O Alentejo, entretanto, tem muitos outros produtores com igual perfil. João Portugal Ramos,

por exemplo. Um pioneiro. Seu Marques de Borba (R$ 42) é clássico, tinto vigoroso, com aromas a vio-letas, fruta poderosa. Para quem prefere sutileza, a linha Quinta do Carmo, propriedade da família Rothschild, do Château Lafite. Os da Herdade do Mouchão duram décadas – caros e especiais. E mais: o Garrafeira dos Sócios DOC, da Carmim, e os tintos da Herdade do Esporão, já tradicionais no Brasil, todos na faixa dos R$ 100.

A província alentejana ocupa um terço do território português. Fica ao sul, após o rio Tejo, como o nome sugere. As terras planas perdem-se no horizonte, cobertas de trigais, vinhedos e sobreiros, a árvore cuja casca nos dá a cortiça. Évora, principal cidade, a 130 quilômetros de Lisboa, é considerada patrimônio mundial pela Unesco. Aí reside Paulo Laureano. Encantado com a culinária do Madero, o restaurante de Curitiba onde seus vinhos foram provados, ele retribuiu com uma relação das casas prediletas em Évora, cultoras da saborosa gastronomia regional das caldeiradas, açordas de bacalhau, cozidos e car-nes de caça. Em primeiro lugar, o Fialho, entre os melhores de Portugal. Depois, o Botequim da Mouraria, o Tasquinha do Oliveira, com apenas quatro mesas, o Dom Joaquim e o Taverna Típica. Neste, não há cardápio. O dono é quem decide o que o cliente vai comer.

Paulo Laureano em visita ao Madero. À esquerda, o vinho Paulo Laureano Premium Branco 2007, abaixo, o Selectio Tinta Grossa 2006

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Por força de Lei Estadual, a taxa de lixo, que antesera cobrada na conta de água, passou a ser cobrada

em carnê próprio que você está recebendo em sua casa.

A taxa já era cobrada pela SANEPAR, a forma decobrança é que mudou e você pode parcelar

em até 8 vezes.

INFORME

PREFEITURA MUNICIPAL DE ALMIRANTE TAMANDARÉ

SECRETARIA MUNICIPAL DA FAZENDA

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CLAUDIA WASILEWSKI cronista

Confiável?CRÔNICA

Me considero muito confiável. Sei guardar segre-dos ou simplesmente silenciar. Muitos amigos sabem que não conto nada nem espetada, e

escuto sem críticas, conselhos ou palpites. Se precisam falar, que falem.

Na minha vida me afastei e me perdi de pessoas, ou-tras me sacanearam, mas mesmo assim não senti vontade de entregar nenhum segredo. Não porque sou boazinha, mas por entender que se abriram comigo, e naquele mo-mento eu fazia parte das suas vidas.

O que me assusta são pessoas que nunca vi, ou tenho relacionamento superficial, no máximo cordial, virem até mim com a certeza que vou ajudá-las. Vejam só.

Fui com o meu marido comprar uma porção de ca-marão. Conversa boba com o cozinheiro, pedi que fosse caprichada, coisas do tipo. Quando estávamos saindo ele me disse: — Preciso falar com você. Pensei que o troco estava errado e ele completou:

— Não sou feliz no meu casamento. O meu marido foi embora rindo, claro que com o camarão na mão. E lá fiquei. Me contou da sogra, cunhadas, cunhados, filhos. Ao longe ouvia o croc croc do camarão. Quanto mais ele falava, mais vermelho ficava. Parecia uma crise de hipertensão. Tentava maneirar, dizendo que uma boa conversa resolve tudo, e que focasse sua vida com a mulher e os filhos. Mas não conseguia parar de pensar no palito espetando o camarão. Quando acabou a con-versa voltei para a mesa, tinha um marido sorridente e um prato vazio. Pobre de mim, não ganhei um bônus do cozinheiro e nem corri o risco de comprar outra e continuar ali.

Vou para a praia totalmente vazia às 07h30 da ma-nhã. Abro o livro do Neruda, Confesso que Vivi. Senta do meu lado uma moça e me diz: — Se eu não falar com

alguém vou me matar. Pronto, fecho o livro. Começa o relato. Ela era de alguma secretaria de saúde do interior e havia comprado medicamentos errados. Estava separada, há poucos meses, e tirou férias para esfriar a cabeça, se divertir. Na noite anterior foi avisada do erro e que sua demissão era inevitável. Nessas alturas nem quis saber qual cidade ou estado. Como poderia aconselhar, con-solar? Foi traída, humilhada, ficaria desempregada com dois filhos pequenos. Respirei fundo e não dei razão a ela. Disse para não interromper as férias e que na volta procurasse conversar com a chefia e explicar o momento que se encontrava. E se mesmo assim não desse certo, que se jogasse no chão, babando e tremendo. Ela riu, me pagou um coco e foi embora.

Toca o telefone de madrugada. Atendo e a voz do outro lado diz: — Estou no orelhão da Praça da Ucrânia e quero me despedir da senhora. Já tomei os remédios e agora é só esperar para morrer. Que susto! Saio correndo de casa com o meu marido junto. Chego na praça, e vejo o porteiro do prédio completamente bêbado, chorando. Nenhuma tentativa de suicídio. Um baita porre. Brigou com a mulher e resolveu me colocar na roda. Chorava e dizia: — Dona Craudia, eu só quero morrer. Confes-so que às 03h30 da manhã nós já tínhamos ímpetos de matá-lo. Quando olho para pista do expresso se desenha a visão do inferno. Meus dois sobrinhos João e Daniel caminhando calmamente pela canaleta, tomando cerveja. Saí da casinha, briguei com os dois, com porteiro e bri-garia com quem mais aparecesse. Hoje acho que a visão do inferno foi deles. Eu sim estava no lugar errado. Me arrependo, estavam certos, e fiz muito dessas. Quanto ao porteiro, continuou chorando e não se matou. Só um caso de bêbado depressivo.

Por que comigo?

Por força de Lei Estadual, a taxa de lixo, que antesera cobrada na conta de água, passou a ser cobrada

em carnê próprio que você está recebendo em sua casa.

A taxa já era cobrada pela SANEPAR, a forma decobrança é que mudou e você pode parcelar

em até 8 vezes.

INFORME

PREFEITURA MUNICIPAL DE ALMIRANTE TAMANDARÉ

SECRETARIA MUNICIPAL DA FAZENDA

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A elegância e a sofisticação da empresária Beatriz Séra são a inspiração para as arquitetas Cristiane Maciel, Sony Luczyszyn e para a designer Gisele Busmayer, que assinam a “Suíte Dela” em homenagem a Beatriz, na Casa Cor Paraná 2010 que começa no dia 20 de maio e será realizada na Casa de Retiros Mossunguê.

Paula Mocellin e Eduardo Pimentel Slaviero trocaram alianças na Igreja São Francisco de Paula, no final de abril. Após a cerimônia, os noivos receberam os convidados com uma grande festa, produzida por Dado Dantas e Ilse Lambach, no Salão Azul do Clube Curitibano. A noiva é filha do médico Marcos Mocellin e Stella Antunes Mocellin e neta do pediatra Irineu Antunes Filho. Na foto com os noivos Cláudio Go-mes Slaviero e Isabel Lunardelli Pimentel, pais do noivo.

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O diretor-presidente da Compe-tence, João Satt Filho, com o diretor-geral da Itaipu Binacional, Jorge Samek, durante o coquetel de abertura da nova sede da Competence Paraná, com estru-tura espaçosa e muito charmosa na Marechal Deodoro.

No lançamento da primeira edição da revista institucional Bergerson, que traz novidades lindas e de tirar o fôlego, que aconteceu na galeria de arte Simões de Assis: Eduardo Jaime, Cynthia Martins, Luciana e Marcelo Bergerson.

A Vinoteca Brasil promoveu degustação harmonizada de 5 ró-tulos da Linha Premium Amplus, conhecidos como a “família dos 90 pontos +”, da Vinícola Santa Ema. Durante o jantar o diretor geral da Vinoteca, Luis Fernando Jativa com a esposa Raquel, o sommelier Ronaldo Bohnenstengel, um dos sócios do saboroso Vin Bistro, e Juarez Fernandes, gerente comercial da Vinoteca Brasil.

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Edoardo Krause, um dos só-cios da Liqüe, e sua esposa Mariana Nicoletti Krause, na concorrida festa da casa noturna para o lançamento do lounge da champanhe Perrier Jouët. Agora as gar-rafas de 750 ml, 1,5 litros e 9 litros da empresa francesa estão disponíveis no cardá-pio. O preço pode chegar a 75 mil reais.

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Simone Porate (se-gunda da esq. para a dir.), representante da marca Monalisa Jóias em Curitiba, recebeu Kitty Pires, Cecília Hauer e Lucia Duraes, para a festa de Dia das Mães da Bazaar Fashion com o lançamento do seu novo catálogo. Tudo lindo!

A mulher ANIMALE é ligada na tecnologia para o inverno 2010 da marca. Tecidos com estam-pas exclusivíssimas, caracterís-tica própria da marca, com re-cortes e aberturas exóticas que evidenciam a silueta feminina. O preto total é a aposta para a estação do frio, recheado de estilo e glamour, com peles belíssimas e ecologicamente corretas. Em Curitiba tem Animale nos Shoppings Mueller e ParkShopping Barigüi.

O autor e empresário Leon Knopfholz comemo-ra o lançamento do seu terceiro livro, Poesias Mafiosas, do Tango ao Rock, que reúne poesias em forma de canto, dança e escrita. Fábio Durão, professor de teoria literária da UNICAMP, prestigiou o escritor no Palacete dos Leões.

Gilson Bette – diretor comercial da RIC Pa-raná, Valter Vanzella – diretor presidente da Frimesa, Pedro Joanir Zonta – presidente da Apras (Associação Paranaense de Supermer-cados) e Leonardo Petrelli, vice-presidente executivo do Grupo RIC Paraná durante a Mercosuper 2010 – 29ª Feira e Convenção Paranaense de Supermercados, em abril.

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O professor de dança de sa-lão da escola de dança Ed-son Carneiro – Filial Jaime Arôxa Curitiba estreou na dança dos famosos do Do-mingão do Faustão. Renato dançou com a apresentado-ra do programa Mais Você, Ana Maria Braga, em ritmo de disco dance, sucesso da década de 70.

A Stock Car movimentou Curitiba no mês de abril e o destaque ficou para a Copa Montana, nova categoria do circo. A AMD Racing seguiu bem representada pelo piloto Júlio Campos que venceu a prova de estreia. Na foto o piloto Giuliano Losacco e o proprietário da M11 Esportes, empresa de marketing esportivo, Marcelo Andrade, durante o evento.

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Os arquitetos Francisca Cury e Léo Pletz, franqueados da mostra de decoração Morar Mais em Curitiba, marcaram presença, mais uma vez, em uma das maiores feiras internacionais de móveis, a iSalone. Na foto Francisca Cury, com os arquitetos Índio da Costa e Lupér-cio Manoel e Souza no evento do Morar Mais, em Milão.

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Silvia Döring (centro) apresentou pessoalmente os detalhes da sua nova coleção para os mais de 200 convidados que passaram pelo seu ateliê. “Coco vai a Portugal” é inspirada na obra de Chanel e nas paisagens artísticas de Portugal. As jóias com pedras brasileiras e rendas portuguesas foram apresentadas ao som da trilha sonora franco-lusitana. N foto, Simone Meirelles, Silvia Döring e Mariane Caponi.

A presidente da F.A.S (Funda-ção de Ação Social), Fer-nanda Richa, João Guilherme Leprevost, leia-se Bar Brahma e CWB Brasil e o responsável pelo Feijão do João, e Eliete Macedo, diretora de even-tos da Fundação Pro Renal, durante a feijoada beneficente com renda total revertida em prol da Fundação Pro Renal.

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Angela Borba (de cinza), uma das sócias do qui-osque da Klaroma, recebe o casal de médicos José Carlos e Claudia de Miranda (à esquerda) e Cleide Sabóia, gerente da Fabrizio Giannone, durante o coquetel de lançamento do primeiro quiosque com produtos da Klaroma em Curitiba, no Shopping Crystal. Beleza levada a sério.

André Berberi, da ADN Eventos (Curitiba), Enio Eidit, presidente do Iguassu Convention & Visitors Bureau, Gilmar Piola, superintendente de comunicação da Itaipu Bina-cional, Sérgio Takao Sato, presidente da Federação de

Convention & Visitors Bureaux do Paraná, e Julio Urban, da Idealiza Eventos (Curitiba), durante o Global Meeting Management (GMM), encontro técnico de imersão na área de eventos, que aconteceu de 25 de abril a 01 de maio em Foz do Iguaçu.

A advogada Bruna Caron Pisani, a empresária das lojas Fabrizio Giannone Gisah Miró Ziliotto e Adriana Cardoso, coordenadora de market-ing do Shopping Mueller no badalado evento de lançamento da coleção Inverno da Aramis Menswear, no Shopping Mueller.

Ao som do DJ João Lago e do duo Hands Up, a Bazaar Fashion promoveu uma disputada festa para imprensa e convidados, para apresentar as novidades das Coleções Inverno 2010 das marcas comercializadas na loja. Posando para a foto durante o evento Solange Elias, Glacy Duarte, Márcia Almeida e Andréia El Omeiri.

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Para estrelar a campanha da coleção da Tyrol para o Dia das Mães, da franqueada Francelli Cavalca, a marca convidou uma dupla de peso – a chef de cozinha Danielle Dahoui e sua filha Noah, fruto de seu relacionamento com o jogador de futebol Raí.

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Os vereadores Mario Celso Cunha (centro) e Omar Sabbag Filho, estiveram visitando o reitor da Universidade Federal do Paraná, Zaki Akel (dir.),quando trataram de assuntos relacionados às emendas dos parlamentares para os Hospitais de Clínicas e Tra-balhador e para a Maternidade Victor Ferreira do Amaral, todos do complexo da UFPR.

Stella Winnikes (centro) comemorou aniversário em maio, cercado de muitos amigos, no Restaurante e Boate Mezza Notte. Posando para a foto, as amigas Karina Zaithammer, Thathielle Fernandes, Paula Santiago, Adriana Oliveira, Débora Veneral, Fátima Borges, Pathy Borin e Fabiane Volpato.

Um coquetel para seletos convidados marcou a inauguração da nova sede do Linnus Institute, na região do Champagnat. A Dra. Grazi, Luiz Augusto Juk, Dra. Ulysséa Menezes da Costa Duarte e Elis C. Glaser, posam para a foto durante o evento.

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Em sua passagem pela Europa, o fotógrafo Braulio Delai aproveita cada instante para eternizar os momentos em suas fotografias. E um desses momentos foi o dia 05 de maio (dia de seu noivado), na Torre Eiffel, com Sibeli Terezin. “Subimos namorados e desc-emos noivos!”, brinca o fotógrafo.

A diretora de estilo e hair stylist do Jacques Janine Curitiba, Izabel Cristina, está com mil novidades em técnicas avançadas de tratamentos capilares internacionais. A ação intensa nos cabelos, proporciona a melhora na estrutura do fio e no bulbo capilar. O mulherio agradece!

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Nicho da elegância e do luxo em Curitiba, a vipérrima Ba-zaar Fashion promoveu uma disputada festa no final de abril, para apresentar as novidades das Coleções Inverno 2010 das marcas comercializadas na loja. São 05 corners: 284, Zeferino, Monalisa Jóias, Visorama e Bergerson, e mais de 50 marcas comercializadas, entre elas, Adriana Degreas, Lita Mortari, Mara Mac, Missoni, Neon, Reinaldo Lourenço, BoBô, Cavali Class, Daslu, Denise Fasano, Die-sel, G – Glória Coelho, Isabela Capeto, Issa London, Jhon Jhon Jeans, entre tantas outras marcas queridinhas e que fazem o olhos do mulherio curitibano faiscar.

• O espaço posudo conta com 900 m² de área con-struída e mobiliário de extremo bom gosto.

• Além de poder comprar diversos tipos de produtos em um só lugar, a loja oferece serviços tais como o Bazaar Anywhere, que leva e traz gratuitamente as peças para as clientes. O serviço se encaixa perfeit-amente para quem não têm tempo de visitar a loja no horário de atendimento, das 10h às 20h. “Outras vezes nós buscamos as clientes em casa ou no hotel e trazemos até a loja”, explica Márcia Almeida, uma das sócias-proprietárias da maison. Para o sucesso do serviço, a loja mantém um cadastro com informa-ções como numeração de calçados e roupas sem-pre atualizados da clientela vip.

• O Espaço Noivas é uma novidade na Bazaar Fashion e que acaba de ser lançado.

Fotos por Kraw Penas.

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Luiz Carlos Borges da Silveira, médico, empresário ex-Ministro da Saúde no governo do Presidente José Sarney, comemorou 70 anos cercado de amigos, no belíssimo Salão Azul do Clube Curitibano, em abril. A or-ganização e o decor levou a assinatura da dupla perfeccionista Dado Dantas e Ilse Lambach. Borges da Silveira fez questão de cuidar de to-dos os detalhes pessoalmente. Com coquetel servido à francesa e jan-tar elegante servido à inglesa para 550 pessoas, a festa contou com a presença de muitas autoridades, entre elas o governador do Estado do Paraná Orlando Pessuti e a esposa Regina. O cantor Jair Rodrigues veio para animar a festa com sua alegria esfuziante e o DJ Gil Nech fez bom-bar até o dia clarear. Tudo um luxo! Fotos por Márcia Toccafondo.

70 anos de Luiz Carlos Borges Da Silveira

1. O casal Maria Inês e Luiz Carlos Borges da Silveira. Maria Inês usou um lindíssimo modelo em tafetá de seda bordado. 2. O ex-governador Jayme Canet em conversa descontraída com o aniversa-riante. 3. O aniversariante Luiz Carlos Borges da Silveira, o governador Orlando Pessuti e a esposa Regina 4. Vânia e Gianni Cochieri com Fernanda e Kielse Crisóstomo 5. O convidado para animar a festa do ex-ministro foi o cantor Jair Rodrigues, que como sempre, agitou o ambiente. 6. Os casais: Mary e Rubens Teig, o ex-prefeito Cassio Taniguchi com Marina Klamas Taniguchi, Guita e Salomão Soifer. 7. Beth Palazzo, Luise Alves, Dado Dantas, Neuza Madalosso e Ilse Lambach. 8. Luiz Car-los Borges da Silveira Filho com a esposa Anelise.

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