revista fé para hoje número 26, ano 2005

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SANSÃO E A SEDUÇÃO DA CULTURA 1

Fépara

Hojeé para Hoje é um ministério da Editora FIEL. Como

outros projetos da FIEL — as conferências e os livros— este novo passo de fé tem como propósito semearo glorioso Evangelho de Cristo, que é o poder de Deuspara a salvação de almas perdidas.O conteúdo desta revista representa uma cuidadosaseleção de artigos, escritos por homens que têmmantido a fé que foi entregue aos santos.Nestas páginas, o leitor receberá encorajamento a fimde pregar fielmente a Palavra da cruz. Ainda que estamensagem continue sendo loucura para este mundo,as páginas da história comprovam que ela é o poderde Deus para a salvação das ovelhas perdidas —“Minhas ovelhas ouvem a minha voz e me seguem”.Aquele que tem entrado na onda pragmática queprocura fazer do evangelho algo desejável aos olhosdo mundo, precisa ser lembrado que nem Paulo, nemo próprio Cristo, tentou popularizar a mensagemsalvadora.Fé para Hoje é oferecida gratuitamente aos pastores eseminaristas.

F

Editora FielCaixa Postal 160112233-300 - São José dos Campos, SP

www.editorafiel.com.br

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A RA RA RA RA REFORMAEFORMAEFORMAEFORMAEFORMA DADADADADA I I I I IGREJAGREJAGREJAGREJAGREJA EMEMEMEMEM H H H H HARMONIAARMONIAARMONIAARMONIAARMONIA COMCOMCOMCOMCOM ASASASASAS E E E E ESCRITURASSCRITURASSCRITURASSCRITURASSCRITURAS 1

A R A R A R A R A REFORMAEFORMAEFORMAEFORMAEFORMA DADADADADA I I I I IGREJAGREJAGREJAGREJAGREJA

EMEMEMEMEM H H H H HARMONIAARMONIAARMONIAARMONIAARMONIA COMCOMCOMCOMCOM ASASASASAS E E E E ESCRITURASSCRITURASSCRITURASSCRITURASSCRITURAS

Johannes G. VosJohannes G. VosJohannes G. VosJohannes G. VosJohannes G. Vos

A reforma da igreja em harmo-nia com as Escrituras está sempreincompleta na terra. Ecclesia refor-mata reformanda est (“a igreja, tendosido reformada, ainda precisa ser re-formada”). Isto resulta do fato de queas Escrituras são um padrão perfeitoe absoluto, enquanto a igreja, emqualquer ponto de sua história na ter-ra, ainda é imperfeita, envolvida empecado e erro.

Este processo de reforma tem deser contínuo até ao fim do mundo.Em nenhum ponto, a igreja podeparar e dizer: “Cheguei ao final. Atéaqui e não mais adiante”. Somenteno céu a igreja triunfante poderá dizerisso.

No processo de reforma, existemcertos estágios históricos e certosmarcos de progresso alcançado. Porexemplo, os importantes credos econfissões históricas são tais marcosde progresso. A Confissão de Fé deWestminster, por exemplo, marca o

verdadeiro progresso da reforma daigreja até ao tempo em que a confis-são foi elaborada.

Nunca podemos considerar esteprocesso como completo em nossospróprios dias ou em qualquer pontoda História da Igreja na terra. Te-mos sempre de esquecer as coisas queficam para trás e avançar para as queestão no futuro. Temos sempre denos esforçar para conquistar aquilopara o que fomos conquistados porCristo. A doutrina da igreja, a ado-ração, o governo, a disciplina, asatividades missionárias, as institui-ções educacionais, as publicações ea vida prática — todas estas coisastêm de ser progressivamente refor-madas em harmonia com as Escritu-ras.

A reforma sempre tem sido umarealização progressiva e, necessaria-mente, tem de ser assim. Os zelosostentam empreender a reforma de umaúnica vez, mas apenas batem a cabe-

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ça contra um muro de pedras. Deusage por meio de um processo histó-rico — um processo contínuo egradual. E temos de nos conformarà maneira de agir dEle.

AAAAA REFORMAREFORMAREFORMAREFORMAREFORMA BÍBLICABÍBLICABÍBLICABÍBLICABÍBLICA DADADADADA IGREJAIGREJAIGREJAIGREJAIGREJA ÉÉÉÉÉOOOOO FRUTOFRUTOFRUTOFRUTOFRUTO DEDEDEDEDE SUBMISSÃOSUBMISSÃOSUBMISSÃOSUBMISSÃOSUBMISSÃO AOAOAOAOAOEEEEESPÍRITOSPÍRITOSPÍRITOSPÍRITOSPÍRITO S S S S SANTOANTOANTOANTOANTO FALANDOFALANDOFALANDOFALANDOFALANDO NASNASNASNASNASEEEEESCRITURASSCRITURASSCRITURASSCRITURASSCRITURAS.....

Não se exige somente o avançono estudo das Escrituras, um avançoque sobrepuja os marcos do passa-do, mas também uma auto-análiseperscrutadora por parte da igreja. Ospadrões secundários da igreja têmsempre de ser sujeitados à avaliaçãoe reavaliação, à luz das Escrituras.Isto está implícito em nossa confis-são de que somente as Escrituras sãoinfalíveis. Se esta confissão é verda-deira, todas as outras coisas têm deser constantemente examinadas ereexaminadas pelas Escrituras.

Não somente os padrões oficiaisda igreja, mas também a sua vida,os seus programas, as suas ativida-des, as suas instituições e as suaspublicações têm de passar pelaautocrítica perscrutadora com basenas Escrituras. Estas coisas têm deser testadas sempre à luz da Palavrade Deus. Essa autocrítica, por parteda igreja, é o correlativo do auto-exame ao qual Deus, em sua Palavra,exorta todo crente.

Essa autocrítica, por parte daigreja, é árdua. Exige esforço, inte-ligência, aprendizado, sacrifício,muita humildade, auto-renúncia ehonestidade absoluta. Requer lealda-de às Escrituras, uma lealdade quese dispõe a fazer tudo o que for pre-

ciso para ser fiel à Palavra de Deus— uma lealdade verdadeiramenteheróica e radical para com as Escri-turas.

Essa autocrítica, por parte daigreja, pode ser embaraçadora e do-lorosa. Pode significar que a igreja,assim como o Cristão, em O Pere-grino, escrito por John Bunyan, podese achar na Campina do CaminhoErrado e ter de refazer seus passos,dolorosa e humildemente, até queesteja de volta ao Caminho do Rei.Essa autocrítica, por parte da igreja,pode ser devastadora para os interes-ses e projetos especiais de algunscrentes ou grupos da igreja. Podedemonstrar que certas característicasdos padrões, da vida ou do progra-ma da igreja não estão em completaharmonia com a Palavra de Deus; e,portanto, devem ser reconsideradose colocados em harmonia com asEscrituras.

Por estas e outras razões simila-res, a autocrítica, por parte da igre-ja, é freqüentemente negligenciadae, muitas vezes, resistida com vigor.Aqueles que a defendem ou procu-ram vê-la realizada provavelmenteserão vistos como extremistas, faná-ticos, entusiastas, visionários, cria-dores de problemas e coisas seme-lhantes. No entanto, foi por meiodessa autocrítica que as reformas dopassado se realizaram. Homens comoLutero, Calvino, Knox, Melville,Cameron e Renwick estavam preo-cupados apenas com a opinião deDeus em sua Palavra. Eles não fo-ram impedidos pelas opiniões e ati-tudes adversas dos homens.

Quando a igreja ousou realmen-te contemplar-se no espelho da

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A RA RA RA RA REFORMAEFORMAEFORMAEFORMAEFORMA DADADADADA I I I I IGREJAGREJAGREJAGREJAGREJA EMEMEMEMEM H H H H HARMONIAARMONIAARMONIAARMONIAARMONIA COMCOMCOMCOMCOM ASASASASAS E E E E ESCRITURASSCRITURASSCRITURASSCRITURASSCRITURAS 3

Palavra de Deus, com sinceridademortal, ela esteve em seu máximo einfluenciou o mundo. Ela seguiuadiante com novo ânimo e vigor. Poroutro lado, quando a igreja hesitouou se recusou a contemplar-se aten-tamente no espelho da Palavra deDeus, ela se tornou fraca, estagna-da, decadente, ineficaz e seminfluência.

A autocrítica denominacionalconstante, com base nas Escrituras,é um dever de toda igreja. Mas istoé realmente levado a sério? Quantozelo, quanta preocupação — tambémdigo, quanta tolerância — existe hojeem relação à autocrítica?

Em toda igreja, existe uma ten-dência constante de considerar o pre-sente estado das coisas (o status quo)como normal e correto. Assim, oque, na realidade, é um simples cos-tume passa a ter a força e a influên-cia de um princípio, enquanto osverdadeiros princípios chegam a serconsiderados como se fossem merasconvenções ou costumes humanos,possuindo apenas autoridade resul-tante de uso e de aprovação popular.A sanção outorgada pelo uso é con-siderada como suficiente para esta-belecer um assunto como legal,correto ou necessário. E, de modoinverso, a falta de uso é consideradacomo suficiente para provar que umassunto é errado ou impróprio. Estetipo de estagnação, esta atitude deconsiderar o status quo como nor-mal, fecha a porta contra todo o ver-dadeiro progresso na reforma daigreja, visto que o status quo é sem-pre pecaminoso. Sempre fica aquémdas exigências da Palavra de Deus.É sempre menor do que aquilo que

Deus realmente exige da igreja. Umavez que o status quo é pecaminoso,ele nunca pode ser considerado comcomplacência; e, menos ainda, con-siderado como o ideal para a igreja.É um pecado tornar absoluto o statusquo.

Sempre precisamos nos arrepen-der do status quo. Não importa oquão excelente ele seja, ainda é pe-caminoso e precisamos nos arrepen-der dele. Considerá-lo com compla-cência é um dos maiores pecados daigreja contemporânea — um pecadoque entristece o Espírito Santo, umpecado que, com certeza, impede aigreja de realizar seu verdadeiro ecorreto progresso de reformar-seem harmonia com as Escrituras.

Uma igreja dominada por estaidéia não pode avançar realmente.Na verdade, ela pode até cair em de-clínio e apostasia. No máximo, elase moverá em círculo fixo, sempreretornando ao ponto do qual haviapartido.

DDDDDEUSEUSEUSEUSEUS NOSNOSNOSNOSNOS CHAMACHAMACHAMACHAMACHAMA AAAAA BUSCARBUSCARBUSCARBUSCARBUSCAR AAAAAREFORMAREFORMAREFORMAREFORMAREFORMA DADADADADA IGREJAIGREJAIGREJAIGREJAIGREJA EMEMEMEMEM NOSSOSNOSSOSNOSSOSNOSSOSNOSSOSDIASDIASDIASDIASDIAS.....

As igrejas, em sua maioria, semoveram em um círculo fixo atra-vés de sua história passada. Podemosdizer vigorosamente que elas têm semovido em um ciclo vicioso. O pa-drão tem sido este: uma dormênciaseguida por um avivamento, segui-do por uma dormência... O verda-deiro progresso ainda não se realizou.Parece que o melhor a ser feito édescobrir como sair de um abismoapós outro. Nada é mais prevalecen-te do que este tipo de estagnação na

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igreja. Nada é mais difícil do queconseguir realmente avaliar e refor-mar qualquer aspecto da estrutura edas atividades da igreja à luz da Pa-lavra de Deus.

O verdadeiro progresso signifi-ca edificar sobre os alicerces estabe-lecidos no passado; mas não significaser dominado pelas mãos letais do erroe das imperfeições do passado. Existesomente um critério legítimo paraavaliarmos o verdadeiro progresso;este critério é a própria Palavra deDeus. A verdadeira reforma da igre-ja é uma reforma alicerçada nas Es-crituras. É uma reforma que ocorredentro dos limites das Escrituras, nãouma reforma que vai além das Es-crituras.

As instituições, as agências, aspublicações da igreja refletem opi-niões diferentes, daquelas que ocor-rem em nossos dias na igreja? Ouelas têm de assumir sua posição juntoaos padrões oficiais da igreja e man-ter essa postura ao confrontar o pú-blico? Ou devem ser os pioneiros naautocrítica denominacional combase nas Escrituras? Elas têm deabrir um novo caminho e seguir paraum novo território à luz da Palavrade Deus?

Estas são perguntas sérias e difí-ceis. A tendência é deixá-las de ladoe ignorá-las. Elas raramente são en-frentadas. A tendência é considerar-mos o status quo como normal. Ou,se não pensamos assim sobre o statusquo do presente, consideramos comonormais, em algum grau, as realiza-ções do passado. Se pudéssemos tão-somente retornar às coisas como elaseram nos “excelentes dias de outro-ra” e manter aquele padrão, dizem

alguns, tudo seria ótimo.Seria ótimo realmente? O que

aconteceu? Não estamos naquela épo-ca. Como podemos nos desculpar porhavermos falhado em ir além de nos-sos antepassados no entendimento dasEscrituras? Como podemos dizer quea reforma da igreja foi completadaem 1560, em 1638 ou, ainda, em1950? O que temos feito? Nosso ta-lento foi escondido em um guarda-napo?

Não é difícil admitir que naigreja existem alguns males que pre-cisam de correção. A tendência,porém, é dizermos que, se pudésse-mos apenas retornar aos fundamentoscorretos de uma ou duas geraçõespassadas, tudo seria como realmentedeve ser. O que mais alguém per-guntaria? Poderíamos manter aquelaposição por todo o tempo vindouro.Mas isso não seria cumprir os deve-res que Deus nos outorgou. Nossosantepassados reformaram a igreja emseu tempo; Deus nos chama a refor-má-la em nosso tempo. Não podemosdescansar em nossos lauréis. Temosde agir por nós mesmos, pela fé, ali-cerçados na Palavra de Deus.

AAAAA VERDADEIRAVERDADEIRAVERDADEIRAVERDADEIRAVERDADEIRA REFORMAREFORMAREFORMAREFORMAREFORMA BUSCABUSCABUSCABUSCABUSCA AAAAAVERDADEVERDADEVERDADEVERDADEVERDADE EEEEE AAAAA HONRAHONRAHONRAHONRAHONRA DEDEDEDEDE D D D D DEUSEUSEUSEUSEUSACIMAACIMAACIMAACIMAACIMA DEDEDEDEDE TODASTODASTODASTODASTODAS ASASASASAS OUTRASOUTRASOUTRASOUTRASOUTRASCONSIDERAÇÕESCONSIDERAÇÕESCONSIDERAÇÕESCONSIDERAÇÕESCONSIDERAÇÕES.....

Vivemos em uma era pragmáti-ca, impaciente com a verdade, bas-tante interessada em resultadospráticos. É uma época de impaciên-cia com aqueles que consideram averdade acima dos resultados. Nossaera quer resultados e está bastantedisposta a crer que figos nascem em

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A RA RA RA RA REFORMAEFORMAEFORMAEFORMAEFORMA DADADADADA I I I I IGREJAGREJAGREJAGREJAGREJA EMEMEMEMEM H H H H HARMONIAARMONIAARMONIAARMONIAARMONIA COMCOMCOMCOMCOM ASASASASAS E E E E ESCRITURASSCRITURASSCRITURASSCRITURASSCRITURAS 5

cardos, se é que pensa ver algumfigo.

Quando alguém procura trazeralguma característica da igreja aojulgamento crítico da Palavra deDeus, já ouvi a objeção de que o tem-po não é oportuno. “Você está cer-to”, alguns dizem, “mas este é otempo oportuno para você trazer esteassunto à baila?” Devemos compre-ender que a verdade é sempre opor-tuna e correta; e, se esperarmos umtempo oportuno para a trazermos àbaila, esse tempo pode nunca che-gar. Essa época mais convenientepode nunca chegar. Sempre haveráuma razão para sermos instados a nãorealizarmos a reforma da igreja emharmonia com as Escrituras. Deus éo Deus da verdade. Deus é luz, e nãohá nEle treva nenhuma. Cristo é oRei do reino da verdade. Para istoEle veio ao mundo: para dar teste-munho da verdade. Todo aquele queé nascido da verdade ouve a voz deCristo.

A excessiva prontidão de aceitaro status quo como normal é um dosgrandes obstáculos no caminho daverdadeira reforma e progresso daigreja em nossos dias. Esta atitude épecaminosa porque está cega para averdadeira pecaminosidade do statusquo. Falha em reconhecer que ostatus quo é algo do que sempretemos de nos arrepender, algo quesempre precisa ser perdoado pela

graça divina e sempre precisa serreformado pela igreja, na terra. Estaatitude falha em compreender averdade da afirmação de Agostinho:“Todo bem inferior envolve umelemento de pecado”.

No fundo, esta aceitação com-placente do status quo como normalprocede de uma idéia errada a res-peito de Deus, uma idéia que falhaem reconhecer a santidade e a pure-za de Deus, que falha em compreen-der o absoluto caráter das Escriturascomo o padrão da igreja.

Colocar a honra e a verdade deDeus em primeiro lugar, acima dequaisquer outras considerações, exigegrande consagração moral. Nesteassunto, aquilo que é verdadeiro paraum indivíduo também é verdadeiropara a igreja: quem perder a sua vidapor amor a Cristo, esse a achará.

_____________Johannes G. Vos, filho de

Geerhardus Vos, do SeminárioPrinceton, foi pastor na IgrejaPresbiteriana Reformada da Amé-rica do Norte e ensinou as Escri-turas na Faculdade Genebra,durante vários anos. Este artigoapareceu originalmente no jornalBlue Banner Faith and Life, que elecriou e editou. Embora tenha sidoescrito em 1959, este artigo é tãorelevante para a igreja contempo-rânea como o foi naqueles dias.

A verdade de Deus sempre concorda consigo mesma.Richard SibbesRichard SibbesRichard SibbesRichard SibbesRichard Sibbes

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QQQQQUALUALUALUALUAL ÉÉÉÉÉ AAAAA SUASUASUASUASUA F F F F FÉÉÉÉÉ?????C. H. SpurgeonC. H. SpurgeonC. H. SpurgeonC. H. SpurgeonC. H. Spurgeon

Devemos aprender do exemplo de Davi a prudência deconservar armas provadas e eficazes. Muitos têm afirmado serimprovável que Davi matou o gigante utilizando uma pedra.Cumpre-nos usar os mais adequados instrumentos que pudermosencontrar. No que diz respeito às pedras que Davi apanhou no ribeiro,ele não as apanhou ao acaso. Davi as escolheu diligentemente,selecionando pedras lisas que se encaixariam com perfeição em suafunda, o tipo de pedra que ele imaginava serviria melhor ao seupropósito. Davi não confiava em sua funda. Ele nos disse queconfiava no Senhor; todavia, saiu para confrontar o gigante comsua funda, como se estivesse sentindo que a responsabilidade eradele mesmo.

Esta é a verdadeira filosofia da vida de um crente. Você tem derealizar boas obras tão zelosamente como se tivesse de ser salvo pormeio delas e tem de confiar nos méritos de Cristo como se nãotivesse feito nada. Esta mesma atitude deve manifestar-se na obrade Deus: embora você tenha de trabalhar para Ele como se ocumprimento de sua missão dependesse de você mesmo, precisaentender com clareza e crer com firmeza que, afinal de contas, todaa questão, desde o início até ao final, depende completamente deDeus. Sem Ele, tudo o que você planejou ou realizou é inútil.

Deus nunca pretendeu que a fé nEle mesmo fosse sinônimo deindolência. Se a obra depende completamente dEle, não há necessi-dade de que Davi utilize a sua funda. Na realidade, não existenecessidade nem mesmo do próprio Davi. Ele pode virar suas cos-tas, no meio do campo de batalha, dizendo: “Deus realizará a suaobra; Ele não precisa de mim”. Essa é a linguagem do fatalista; nãoé a linguagem que expressa a maneira de agir daqueles que crêemem Deus. Estes dizem: “Deus o quer; portanto, eu o farei”. Elesnão dizem: “Deus o quer; por isso, não há nada para eu fazer”.Pelo contrário, eles afirmam: “Visto que Deus trabalha através demim, eu trabalharei por intermédio de sua boa mão sobre mim. Eleconcederá forças ao seu frágil servo e me utilizará como seu instru-mento, que, sem Ele, não serve para nada”. Se você está disposto aservir a Deus, ofereça-Lhe o seu melhor. Não poupe nenhum mús-culo, nervo, habilidade ou esperteza que você pode dedicar aoempreendimento. Não diga: “Qualquer coisa será proveitosa; Deuspode abençoar minha deficiência tão bem quanto minha competên-cia”. Sem dúvida, Ele pode, mas certamente não o fará.

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AAAAAPELOPELOPELOPELOPELO ÀÀÀÀÀ O O O O ORAÇÃORAÇÃORAÇÃORAÇÃORAÇÃO EMEMEMEMEM F F F F FAVORAVORAVORAVORAVOR DOSDOSDOSDOSDOS P P P P PASTORESASTORESASTORESASTORESASTORES 7

AAAAAPELOPELOPELOPELOPELO ÀÀÀÀÀ O O O O ORAÇÃORAÇÃORAÇÃORAÇÃORAÇÃO

EMEMEMEMEM F F F F FAVORAVORAVORAVORAVOR DOSDOSDOSDOSDOS P P P P PASTORESASTORESASTORESASTORESASTORES

Gardiner SpringGardiner SpringGardiner SpringGardiner SpringGardiner Spring

A importância do ministériopastoral é tão grande, que somoscompelidos a rogar para ele um fa-vor especial. “Orai por nós” é umasúplica em que sentimos profundointeresse pessoal. “Orai por nós” —rogou o apóstolo em 1 Tessalonicen-ses 5.25. “Orai por nós” é o ecosincero de todo púlpito evangéliconeste país e no mundo. Se um ho-mem como Paulo pediu a bonscrentes rogarem por ele e se, comseu elevado intelecto, sua eminenteespiritualidade e sua comunhão ínti-ma com Deus e o mundo invisível,este santo homem precisava de en-corajamento e estímulo para a suaobra, quem não dirá: “Irmãos, oraipor nós, para que a palavra do Se-nhor se propague e seja glorificada”?(2 Ts 3.1.)

Para o jovem que está entrandono ministério da reconciliação, é umdeleite pensar que, embora ele sejaindigno, milhares de orações em seufavor, por parte dos filhos de Deus,

estão constantemente subindo ao seuPai e ao Pai deles, ao seu Deus e aoDeus deles. Este jovem parece ouvira igreja dizendo: “Não podemosentrar neste ministério sagrado, masacompanharemos você com nossasorações”. Ele parece ouvir muitospais crentes falando: “Não temos umfilho para enviar a esta vocaçãosagrada, mas você está indo e nãodeixará de ser o interesse de nossasorações!”

Muitas igrejas deste país têmdesfrutado do sublime privilégio deenviar à seara espiritual um númeroconsiderável de amados jovens dasfamílias de sua membresia. Essasigrejas têm estabelecido a prática dese reunirem (com uma extensão queé gratificante recordar) em cultosespeciais para confiar seus jovens aoscuidados e à fidelidade do Deus quecumpre a aliança. Quão convenien-tes, em qualquer de seus aspectos,são esses cultos! Quão cheios deencorajamento para o coração que

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treme ante a visão das responsabili-dades do ofício sagrado! Quãoprazeroso é este estímulo espiritualpara a mente quase pronta a sucum-bir ao peso de sua própria fraqueza!E quão inefavelmente precioso é opensamento de que todos os que la-butam nesta obra grandiosa, jovensou velhos, são lembrados nas oraçõesdas igrejas!

No coração de cada igreja, deveaprofundar-se o pensamento de queo seu pastorserá um ver-dadeiro mi-nistro do e-vangelho àp r o p o r ç ã oque as ora-ções dela po-dem torná-loum ministrodessa espécie.Se nada, exceto a graça onipotente,pode gerar um crente, nada menosdo que as orações das igrejas podemfazer de um homem um fiel e bem-sucedido ministro do evangelho!

Rogamos às igrejas que conside-rem, com maior determinação edevoção, a grande obra à qual seuspastores se dedicam. Explicar dou-trinas e inculcar os deveres doverdadeiro cristianismo; defender averdade contra toda a sutileza e ver-satilidade do erro; manter no espíritodeles mesmos o senso da presença deDeus e das sanções morais reveladasem sua Palavra; experimentar aque-la profunda e amável impressão dascoisas invisíveis e eternas (tão neces-sárias para dar fervor à pregação),bem como aquela vida e tolerânciaconsistentes que são essenciais para

dar poder à pregação deles — fazeressas coisas de um modo que se adap-tará a diferentes épocas, lugares,ocasiões e pessoas, não se deixandodesanimar pelas dificuldades, vencerpelos inimigos ou fatigar-se do jugoque tomaram sobre si mesmos, nãoé uma tarefa simples!

Se os crentes esperam ouvir ser-mões enriquecedores da parte dopastor de sua igreja, as orações delestêm de supri-lo com os recursos

necessários.Se os crentesesperam ou-vir sermõesfiéis, as ora-ções delestêm de impe-lir o pastor,m e d i a n t euma fiel edescompro-

metida manifestação da verdade, arecomendar-se a si mesmo à consci-ência de todo homem, na presençade Deus (2 Co 4.2). Se o povo deDeus espera ouvir sermões podero-sos e bem-sucedidos, as orações delestêm de fazer com que o pastor se tor-ne uma bênção para a alma doshomens!

Os crentes desejam que o pastorvenha ao encontro deles na plenitu-de da bênção do evangelho da paz,com um coração insistente, olhosperscrutadores, língua ardente e ser-mões regados com lágrimas e ora-ção? Se desejam isso, as suas oraçõesdevem incitar o pastor a orar; e aslágrimas dos crentes devem inspiraro coração sensível do pastor com osfortes anelos da afeição cristã. É emseu quarto de oração que os crentes

Quão inefavelmente precioso é opensamento de que todos os quelabutam nesta obra grandiosa,

jovens ou velhos, são lembradosnas orações das igrejas!

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AAAAAPELOPELOPELOPELOPELO ÀÀÀÀÀ O O O O ORAÇÃORAÇÃORAÇÃORAÇÃORAÇÃO EMEMEMEMEM F F F F FAVORAVORAVORAVORAVOR DOSDOSDOSDOSDOS P P P P PASTORESASTORESASTORESASTORESASTORES 9

desafiam seus amados pastores a aten-tarem ao ministério que receberamdo Senhor Jesus (At 20.24).

Quem e o que são realmente osministros do evangelho? São homensfracos, falíveis, pecadores, expos-tos a todas as armadilhas e a todosos tipos de tentação. E, devido aolugar de observação que ocupam, ospastores são alvo fácil para os dar-dos inflamados do Maligno. Elesnão são vítimas triviais que o gran-de Adversário está procurando,quando deseja ferir e mutilar osministros de Cristo. Tal vítima émais digna da atenção do reino dastrevas do que grande número dehomens comuns. Por esta mesmarazão, as tentações dos pastores sãoprovavelmente mais sutis e severasdo que as enfrentadas pelos crentescomuns.

Se o ardiloso Enganador falha emdestruir os pastores, ele se concentraastuciosamente em neutralizar a in-fluência deles, por meio de abafar ofervor da piedade neles, levando-osà negligência e fazendo tudo o quepode para transformar a obra delesem um fardo insuportável. Quão pe-rigosa é a condição de um pastor cujocoração não é encorajado, que nãotem as mãos fortalecidas e não é sus-tentado pelas orações do seu povo!Não é somente em oração particulare em seus próprios joelhos que o pas-tor encontra segurança e consolação,bem como pensamentos e regozijosque enobrecem, humilham, purifi-cam. Porém, quando os crentesbuscam estas coisas em favor do pas-tor, este se torna um homem melhore mais feliz, um ministro mais útildo evangelho eterno!

Nada proporciona aos crentes tãogrande interesse (da melhor qualida-de) como o orar pelos pastores de suasigrejas. Quanto mais os crentes con-fiarem a Deus os seus pastores, tantomais os amarão e os respeitarão; tan-to mais atenderão, com alegria, aoministério deles e tanto mais se be-neficiarão desse ministério. Oscrentes sentirão maior interesse noministério do seu pastor, se oraremmais por ele. E os filhos dos crentessentirão interesse mais profundo tantono pastor quanto na pregação dele,se ouvirem com regularidade súpli-cas que confiam afetivamente opastor ao trono da graça celestial.

Os resultados da pregação doevangelho estão associados com asmais interessantes realidades do uni-verso. De fato, estes resultadoscumprem grande papel em afetar es-sas realidades. Onde o evangelhopregado não tem livre curso e não églorificado, ali também não ocorrenenhuma exibição brilhante e majes-tosa do Deus sempre bendito eadorável. Essa maravilhosa exibiçãoda natureza divina — esse desenvol-vimento progressivo que é, em simesmo, tão desejável e, em suas con-seqüências, tão querido a toda mentepiedosa — nunca se manifesta comtanta distinção impressionante e comtanto fulgor dominante como quan-do os ouvintes da verdade e da graçade Deus, proclamadas por lábios debarro, tornam visível a manifestaçãoda grandiosa glória de Deus.

Se o povo de Deus na terra ti-vesse mente tão pura como a dos an-jos ao redor do trono de Deus, elesacompanhariam, com grande interes-se, ansiedade e oração, o progresso

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e os labores dos humildes e fiéisembaixadores da cruz, enquanto es-tes proclamam o glorioso evangelho,e veriam quanto os efeitos da prega-ção deles revelam novas e permanen-tes manifestações da Divindade! Osefeitos da pregação dos pastores so-bre a alma dos homens não são nadamenos doque o aromade vida paraa vida, na-queles quesão salvos, eo cheiro demorte para amorte, na-queles que seperdem (2Co 2.15,16).A mesmaluz e motivosque são osmeios de preparar alguns para o céu,quando são pervertidos e usados abu-sivamente, preparam outros para oinferno.

Oh! os pastores estão sempre as-sumindo o púlpito a um custo muitoelevado, não sendo precedidos, a-companhados e seguidos por oraçõesfervorosas das igrejas! Não devemosnos admirar com o fato de que mui-tos púlpitos estejam sem poder e ospastores se encontrem, freqüente-mente, desanimados, quando há tãopoucos a manter erguidas as mãosdeles. A conseqüência de negligen-ciar este dever é vista e sentida nodeclínio espiritual das igrejas e serávista e sentida na eterna perdição doshomens. A conseqüência de ter estedever em alta estima seria o ajunta-mento de multidões no reino de Deus

e novas glórias ao Cordeiro que foimorto!

Por conseguinte, em seu própriobenefício e em benefício do amado erespeitado ministro do evangelho,este escritor roga por um interessenas orações de todos aqueles queamam o Salvador e a alma dos ho-

mens. Somosdespenseirosda verdadede Deus e,no entanto,ficamos a-quém desteglorioso te-ma. Os de-veres de nos-sa chamadarecaem sobrenós a cadasemana. Ta-is deveres

sempre nos sobrevêm com diversasexigências conflitantes. Às vezes,esses deveres impõem exigências so-bre todos os nossos pensamentos,exatamente quando temos perdido acapacidade de pensar. Às vezes, taisdeveres exigem toda a intensidade evigor de nossas afeições, quando so-mos menos capazes de expressá-las.Associadas com estas exigências,existem a tristeza aflitiva e a ansie-dade desanimadora, que exauremnosso vigor, abatem nossa corageme desanimam nosso espírito.

Além de tudo isso, existem tan-tos desapontamentos na obra dopastor, que ele sente desesperada-mente a necessidade de simpatia econsolo das orações dos crentes fiéisdentre o povo de Deus! Às vezes,sentimos o nosso espírito estimulado

Para o jovem que está entrando noministério da reconciliação, é umdeleite pensar que, embora ele

seja indigno, milhares de oraçõesem seu favor, por parte dos filhos

de Deus, estão constantementesubindo ao seu Pai e ao Pai deles,

ao seu Deus e ao Deus deles.

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AAAAAPELOPELOPELOPELOPELO ÀÀÀÀÀ O O O O ORAÇÃORAÇÃORAÇÃORAÇÃORAÇÃO EMEMEMEMEM F F F F FAVORAVORAVORAVORAVOR DOSDOSDOSDOSDOS P P P P PASTORESASTORESASTORESASTORESASTORES 11

e nos dirigimos ao nosso povo reple-tos da esperança de resgatá-los doshorrores eternos; e, em um momen-to infeliz de nossa autoconfiança,imaginamos inutilmente que a obrae o triunfo resultam de nós mesmos.Somos dispostos a tempo e fora detempo (2 Tm 4.2); preparamo-nospara o conflito, polindo, em algu-mas ocasiões, nossas flechas, mas,em outras ocasiões, nós as deixamosásperas e embotadas. Vestimos nos-sa armadura, entramos no campo debatalha com a determinação de usar-mos toda a nossa força e com aabsoluta confiança de que temos derealizar a tarefa designada. Mas, quelição de auto-humilhação! Não po-demos converter uma única alma.“Nós vos tocamos flauta, e nãodançastes; entoamos lamentações, enão pranteastes” (Mt 11.17).

Ensinamos com tanta clareza efreqüência os mandamentos divinos,e os homens menosprezam a autori-dade de Deus. Falamos clara e repe-tidamente sobre os juízos de Deus, eos homens desprezam a justiça deDeus. Pregamos amavelmente sobreas promessas de Deus, e os homensnão atentam à fidelidade dEle. Pro-clamamos o Filho amado de Deus, eos homens ameaçam pisoteá-Lo. Fa-lamos sobre a paciência e a longani-midade de Deus, mas a impenitênciae a obstinação dos homens constitu-em provas contra todos eles. Arra-zoamos e imploramos aos homens,até que os obstáculos para a conver-são deles parecem se tornar cada vezmais elevados por intermédio de cadaesforço que empreendemos para ven-cê-los; até que, finalmente, caímosem desânimo e clamamos: “Que po-

der é capaz de esmigalhar esses co-rações semelhantes a granito? Quebraço onipotente pode resgatar daschamas eternas esses homens conde-nados?” Ó igrejas compradas porsangue, os seus pastores necessitamde suas orações, suplicando a supre-ma grandeza daquele poder que Deusmanifestou em Cristo, ressuscitando-O dos mortos (Ef 1.19,20).

Temos interesse em orar pelosincrédulos, pela Escola Dominical epela bênção de Deus sobre a distri-buição de folhetos evangelísticos. Porque, então, devemos esquecer o gran-de instrumento designado por Deusmesmo para a salvação de pessoas?Não haverá algum tipo de acordo deoração em favor dos ministros doevangelho? Se não houver uma su-gestão melhor, por que não podehaver um entendimento geral entreos homens crentes e suas famílias, afim de separarem um tempo, no do-mingo, para orarem por este assuntoespecial e sublime? Esta era uma prá-tica comum na família de meurespeitável pai; e têm sido a de mi-nha própria família. Além disso, éum privilégio muito precioso.

A manhã do domingo é um tem-po bastante apropriado. Esse minis-tério de oração exerce a influênciaaprazível nos privilégios do santuá-rio. “E será que, antes que clamem,eu responderei; estando eles aindafalando, eu os ouvirei” (Is 65.24).Oh! que Deus se compraza em dar àsigrejas o espírito de oração em favordos pastores — este seria o propósitode respondê-las. Ele atenderá ao de-samparado e não desprezará a suaoração (Sl 102.17). Está escrito:“Criará o SENHOR, sobre todo o mon-

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te de Sião e sobre todas as suas as-sembléias, uma nuvem de dia e fu-maça e resplendor de fogo chame-jante de noite” (Is 4.5). Nem o altarserá profanado, nem o incenso, me-nos fragrante, se estas palavras deesperança estiverem mais freqüente-mente nos lábios daqueles que o ofe-recem — “Vestirei de salvação osseus sacerdotes, e de júbilo exulta-rão os seus fiéis (Sl 132.16).

E isto não é tudo! Os ministrosdo evangelho devem ser lembradostodos os dias no altar doméstico.“Não é algo insignificante”, disse umescritor de nossa cidade, “que umacongregação tenha clamores diários,suplicando a bênção de Deus, pro-venientes de centenas de lares”. Quefonte de refrigério para um pastor!A devoção familiar de oração, nocondado de Kidderminster, sem dú-vida alguma, fez de Richard Baxterum pastor melhor e um homem maisfeliz. É possível que ainda estejamoscolhendo os frutos de tais orações,nos livros O Descanso Eterno dosSantos (The Saints Everlasting Rest)e Pensamentos de Moribundo (DyingThoughts), escritos por Baxter.

Vocês, que fazem lembrado oSenhor, não se mantenham em silên-cio, nem dêem a Ele descanso (Is62.6,7). Quando as igrejas pararemde orar em favor dos pastores, elesnão serão mais uma bênção para asigrejas. Irmãos, orem por nós, paraque sejamos guardados do pecado,andemos prudentemente, não comonéscios, e sim como sábios, remin-do o tempo (Ef 5.16); para que nosso

coração seja mais consagrado a Deuse nossa vida se torne um exemploimpressionante do evangelho quepregamos; para que estejamos maiscompletamente equipados para a obrae o conflito, vestindo toda a arma-dura de Deus; para que sejamos maisfiéis e mais sábios para ganhar almase disciplinemos nosso próprio cor-po, trazendo-o em sujeição, a fim deque, havendo pregado aos outros,não sejamos nós mesmos desqualifi-cados (1 Co 9.27).

Quando volvemos nossos pensa-mentos e contemplamos ordenançasestéreis e um ministério infrutífero,o coração se derrete em nosso ínti-mo; e desejamos nos lançar aos pésdas igrejas, tendo o prazer de implo-rar que sejamos lembrados em suasorações. Se você já entrou na intimi-dade do Altíssimo e se aproximou docoração dAquele que é amado porsua alma, suplique ardentemente queo poder dEle assista aqueles que fo-ram ordenados ministros do evange-lho. Se você já se reclinou ao seio deJesus, lembre-se de nós, por favor!Conte-Lhe seus desejos. Fale comEmanuel sobre o precioso sacrifícioe o maravilhoso amor dEle. Fale comEle sobre o seu poder e a nossa fra-queza, sobre a sua glória indescritívele a angústia eterna que se encontraalém do sepulcro. Com lágrimas desolicitude, insista em seu apelo ediga-Lhe que Ele entregou o tesourode seu glorioso evangelho a vasosterrenos, a fim de que a excelênciado poder seja toda de Deus!

“Irmão, orai por nós. Amém!”

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A CA CA CA CA CARTAARTAARTAARTAARTA DEDEDEDEDE M M M M MEUEUEUEUEU P P P P PAIAIAIAIAI QUEQUEQUEQUEQUE M M M M MARCOUARCOUARCOUARCOUARCOU AAAAA M M M M MINHAINHAINHAINHAINHA VIDAVIDAVIDAVIDAVIDA 13

A CA CA CA CA CARTAARTAARTAARTAARTA DEDEDEDEDE M M M M MEUEUEUEUEU P P P P PAIAIAIAIAI

QUEQUEQUEQUEQUE M M M M MARCOUARCOUARCOUARCOUARCOU AAAAA M M M M MINHAINHAINHAINHAINHA V V V V VIDAIDAIDAIDAIDA

Quando recebi esta carta, era o início de 1944. Eu tinha dezesseisanos e estava a 5.000 quilômetros de casa, estudando em uma escolapreparatória cristã. Normalmente, as cartas que vinham de casa eramescritas por minha mãe, mas daquela vez foi meu pai quem datilografoua carta de duas páginas. Foi preparada em resposta a uma observaçãoque eu tinha feito em carta anterior. Tendo aprendido, em casa, porexemplo e preceito, que o crente deve evitar a influência contaminantedos cinemas, estranhei o fato de que muitos de meus amigos criados emlares cristãos iam com freqüência ao cinema, nas noites de sexta-feira.Minha carta a meu pai foi um desafio à posição que eu aprendera a terenquanto estava em casa.

Não sei o que aconteceu com o original da carta que marcou aminha vida; porém, anos depois que meu pai faleceu, encontrei entreseus escritos a cópia que está reproduzida aqui. Naquela hora, minhamãe compartilhou comigo que ela e meu pai haviam jejuado e orado pordois dias, antes de ele escrever para mim. Mesmo tendo perdido acarta, a sua mensagem permanece comigo até hoje. Eis a carta de meupai:

Querido filho,Alguns perguntam: “Por que o

crente não deve freqüentar o cine-ma?” Visto que não havia tais coisasno tempo de Cristo, ou de Paulo,não existe, portanto, nenhuma exor-tação direta contra essas coisas.Todavia, as seguintes passagens bí-blicas podem ser consideradas:

“E não vos conformeis com esteséculo, mas transformai-vos pela re-novação da vossa mente, para queexperimenteis qual seja a boa, agra-dável e perfeita vontade de Deus”(Romanos 12.2).

“Não vos ponhais em jugo desi-gual com os incrédulos; porquantoque sociedade pode haver entre a jus-tiça e a iniqüidade? Ou que comu-nhão, da luz com as trevas?... Porisso, retirai-vos do meio deles, se-parai-vos, diz o Senhor; não toqueisem coisas impuras” (2 Coríntios6.14,17).

Muitos crentes e até pastoresassistem a filmes. Isso justifica a nossaatitude de assistir filmes?

“Porque não ousamos classifi-car-nos ou comparar-nos com algunsque se louvam a si mesmos; mas eles,

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medindo-se consigo mesmos e com-parando-se consigo mesmos, revelaminsensatez” (2 Coríntios 10.12).

“Julgai todas as coisas, retendeo que é bom; abstende-vos de todaforma de mal” (1 Tessalonicenses5.21,22).

“É bom não comer carne, nembeber vinho, nem fazer qualqueroutra coisa com que teu irmão venhaa tropeçar [ou se ofender ou seenfraquecer]” (Romanos 14.21).

“Por isso, se a comida serve deescândalo a meu irmão, nunca maiscomerei carne, para que não venhaa escandalizá-lo” (1 Coríntios8.13).

“Rogo-vos, pois, eu, o prisio-neiro no Senhor, que andeis de mododigno da vocação a que fostes cha-mados... Isto, portanto, digo e noSenhor testifico que não mais andeiscomo também andam os gentios, navaidade dos seus próprios pensamen-tos... “Nem deis lugar ao diabo”(Efésios 4.1,17,27).

“Pois, outrora, éreis trevas, po-rém, agora, sois luz no Senhor; andaicomo filhos da luz... E não sejaiscúmplices nas obras infrutíferas dastrevas; antes, porém, reprovai-as...Portanto, vede prudentemente comoandais, não como néscios, e simcomo sábios, remindo o tempo, por-que os dias são maus” (Efésios5.8,11,15,16).

“Ora, como recebestes CristoJesus, o Senhor, assim andai nele,nele radicados, e edificados, e con-firmados na fé, tal como fostes ins-truídos, crescendo em ações degraças. Cuidado que ninguém vosvenha a enredar com sua filosofia evãs sutilezas, conforme a tradição dos

homens, conforme os rudimentos domundo e não segundo Cristo”(Colossenses 2.6-8).

“Se fostes ressuscitados junta-mente com Cristo, buscai as coisaslá do alto, onde Cristo vive, assen-tado à direita de Deus. Pensai nascoisas lá do alto, não nas que são aquida terra... E tudo o que fizerdes, sejaem palavra, seja em ação, fazei-o emnome do Senhor Jesus, dando por elegraças a Deus Pai” (Colossenses3.1,2,17).

“Quanto aos moços, de igualmodo, exorta-os para que, em todasas coisas, sejam criteriosos. Torna-te, pessoalmente, padrão de boasobras. No ensino, mostra integrida-de, reverência, linguagem sadia eirrepreensível, para que o adversá-rio seja envergonhado, não tendoindignidade nenhuma que dizer anosso respeito” (Tito 2.6-8).

“Não ameis o mundo nem ascoisas que há no mundo. Se alguémamar o mundo, o amor do Pai nãoestá nele; porque tudo que há nomundo, a concupiscência da carne,a concupiscência dos olhos e asoberba da vida, não procede do Pai,mas procede do mundo” (1 João2.15,16).

“Sujeitai-vos, portanto, a Deus;mas resisti ao diabo, e ele fugirá devós. Chegai-vos a Deus, e ele sechegará a vós outros. Purificai asmãos, pecadores; vós que sois deânimo dobre, limpai o coração”(Tiago 4.7,8).

“Amados, exorto-vos, como pe-regrinos e forasteiros que sois, a vosabsterdes das paixões carnais, quefazem guerra contra a alma” (1Pedro 2.11).

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A CA CA CA CA CARTAARTAARTAARTAARTA DEDEDEDEDE M M M M MEUEUEUEUEU P P P P PAIAIAIAIAI QUEQUEQUEQUEQUE M M M M MARCOUARCOUARCOUARCOUARCOU AAAAA M M M M MINHAINHAINHAINHAINHA VIDAVIDAVIDAVIDAVIDA 15

“Por isso, cingindo o vosso en-tendimento, sede sóbrios e esperaiinteiramente na graça que vos estásendo trazida na revelação de JesusCristo. Como filhos da obediência,não vos amoldeis às paixões quetínheis anteriormente na vossa igno-rância; pelo contrário, segundo ésanto aquele que vos chamou, tornai-vos santos também vós mesmos emtodo o vosso procedimento” (1 Pedro1.13-15).

“Resolveu Daniel, firmemente,não contaminar-se com as finasiguarias do rei, nem com o vinho queele bebia; então, pediu ao chefe doseunucos que lhe permitisse nãocontaminar-se... No fim dos dezdias, a sua aparência era melhor;estavam eles mais robustos do quetodos os jovens que comiam das finasiguarias do rei” (Daniel 1.8,15).

Quais os que têm melhor apa-rência e são mais robustos em suaalma, os crentes que vão ao cinemaou aqueles que não fazem isso?

Sei muito bem que há muitas dificuldades no caminho deum jovem. Admito-o inteiramente. Mas, sempre há dificul-dades no caminho certo. O caminho para o céu é sempreestreito, tanto para o jovem quanto para o velho.

(Extraído do livro "Uma Palavra aos Moços",J. C. Ryle, Editora Fiel, pág. 46)

Durante os sessenta anos seguintes, tenho verificado que os princí-pios bíblicos listados aqui não somente responderam a este questiona-mento, como também têm dado direcionamento em outras áreas da minhavida.

Ricardo DenhamRicardo DenhamRicardo DenhamRicardo DenhamRicardo Denham

“Digo, porém: andai no Espírito ejamais satisfareis à concupiscência dacarne. Porque a carne milita contrao Espírito, e o Espírito, contra a car-ne, porque são opostos entre si; paraque não façais o que, porventura, sejado vosso querer... Se vivemos noEspírito, andemos também no Espí-rito” (Gálatas 5.16,17,25).

“Assim brilhe também a vossaluz diante dos homens, para que ve-jam as vossas boas obras e glorifiquema vosso Pai que está nos céus” (Ma-teus 5.16).

“E não nos deixes cair em tenta-ção; mas livra-nos do mal” (Mateus6.13).

Alguns dizem: “Mas existem fil-mes excelentes”.

Tiago escreveu: “Acaso, pode afonte jorrar do mesmo lugar o que édoce e o que é amargoso? Acaso,meus irmãos, pode a figueira produ-zir azeitonas ou a videira, figos?Tampouco fonte de água salgadapode dar água doce” (3.11,12).

Com amor,seu pai

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Quando falo sobre crescimento na graça, nem por um momentoestou dizendo que os benefícios de um crente em Cristo podem cres-cer; não estou dizendo que o crente pode crescer em sua posição, segu-rança ou aceitação diante de Deus; que o crente pode ser mais justifica-do, mais perdoado, mais redimido e desfrutar de maior paz com Deusdo que desde o primeiro momento em que ele creu. Afirmo categorica-mente: a justificação de um crente é uma obra completa, perfeita, con-sumada; e o mais fraco dos crentes (embora ele não o saiba, nem osinta) está tão completamente justificado quanto o mais forte deles.Declaro com firmeza: a nossa eleição, chamada e posição em Cristonão admitem qualquer progresso, aumento ou diminuição. Se alguémpensa que, por crescimento na graça, estou querendo dizer crescimentona justificação, está completamente enganado a respeito do assunto queestou considerando. Estou pronto a morrer na fogueira (se Deus meassistir), por causa da gloriosa verdade de que, no assunto da justifica-ção diante de Deus, todo crente está completo em Cristo (Cl 2.10).Nada pode ser acrescentado à justificação do crente, desde o momentoem que ele crê, e nada pode ser removido.

Quando eu falo sobre crescimento na graça, estou me referindosomente ao crescimento em grau, tamanho, força, vigor e poder dasgraças que o Espírito Santo implanta no coração de um crente. Estoudizendo categoricamente que todas aquelas graças admitem crescimen-to, progresso e aumento. Estou declarando com firmeza que oarrependimento, a fé, o amor, a esperança, a humildade, o zelo, acoragem e outras virtudes semelhantes podem ser maiores ou menores,fortes ou fracas, vigorosas ou débeis e podem variar muito em ummesmo crente, em diferentes épocas de sua vida. Quando eu falo sobreum crente que está crescendo na graça, estou dizendo apenas isto: ossentimentos dele em relação ao pecado estão se tornando mais profun-dos; a sua fé, mais forte; a sua esperança, mais brilhante; o seu amor,mais abrangente; sua disposição espiritual, mais sensível. Este crentesente mais o poder da piedade em seu próprio coração; manifesta maispiedade em sua vida; está progredindo de força em força, de fé em fé,de graça em graça. Deixo que outros descrevam a condição de tal cren-te, utilizando as palavras que lhe forem agradáveis. Eu mesmo pensoque a melhor e mais verdadeira descrição de tal crente é esta: ele estácrescendo na graça!

FFFFFALANDOALANDOALANDOALANDOALANDO S S S S SOBREOBREOBREOBREOBRE

CCCCCRESCIMENTORESCIMENTORESCIMENTORESCIMENTORESCIMENTO NANANANANA G G G G GRAÇARAÇARAÇARAÇARAÇAJ. C. RyleJ. C. RyleJ. C. RyleJ. C. RyleJ. C. Ryle

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Uma carta escrita por John NewtonUma carta escrita por John NewtonUma carta escrita por John NewtonUma carta escrita por John NewtonUma carta escrita por John Newton

Visto que você está envolvidoem controvérsia e que o seu amorpela verdade está unido a um entusi-asmo natural de temperamento, umamigo me deixou apreensivo a seurespeito. Você está do lado mais for-te, porque a verdade é poderosa e temde prevalecer. Assim, mesmo umapessoa de habilidades inferiores podeentrar na batalha confiante na vitó-ria.

Por essa razão, não estou ansio-so pelo acontecimento da batalha.Mas desejo que você seja mais do quevencedor e triunfe, não somente so-bre o seu adversário, como tambémsobre você mesmo. Se você não podeser vencido, pode ser ferido. A fimde preservá-lo de tais feridas, que lhepoderiam dar motivo de chorar porsuas conquistas, quero presenteá-locom algumas considerações, que,devidamente atendidas, lhe servirãode cota de malha, um tipo de arma-dura do qual você não precisaráqueixar-se, como o fez Davi em re-lação à armadura de Saul, a qual eraincômoda e inútil. Você perceberá

que esta cota de malha foi extraídado grande manual dado ao soldadocristão, a Palavra de Deus.

Estou certo de que você não es-pera qualquer desculpa por minhaliberdade; por isso, não oferecereinenhuma. Por amor ao método, re-duzirei meu conselho a três assuntos:o seu adversário, o público e vocêmesmo.

Quanto ao seu oponente, desejoque, antes de começar a escrever con-tra ele e durante todo o tempo emque estiver preparando a sua respos-ta, você o confie, por meio da oraçãosincera, ao ensino e à bênção do Se-nhor. Esta atitude terá a tendênciaimediata de conciliar seu coração aoamor e à compaixão por seu adver-sário; e tal disposição exercerá boainfluência sobre tudo o que você es-crever.

Se você acha que seu adversárioé um crente, embora esteja grande-mente errado no assunto debatidoentre vocês, as palavras de Davi aJoabe, a respeito de Absalão, lhe sãobastante aplicáveis: “Tratai com

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brandura... por amor de mim” (2 Sm18.5). O Senhor ama e tolera o seuoponente; portanto, você não devemenosprezá-lo ou tratá-lo com aspe-reza. O Senhor tolera igualmente avocê e espera que demonstre ternurapara com os outros, motivado pelosenso de perdão de que você mesmotanto necessita.

Em breve, vocês se encontrarãono céu. Ali, ele lhe será mais queri-do do que o amigo mais íntimo quevocê tem agora neste mundo. Emseus pensamentos, antecipe aqueletempo. E, embora você julgue ne-cessário opor-se aos erros dele,encare-o pessoalmente como um ir-mão, com quem você será feliz, emCristo, para sempre. Mas, se você oconsidera uma pessoa não-converti-da, em um estado de inimizade contraDeus e a graça dEle (esta é uma su-posição que, sem boas evidências,você não deve se mostrar disposto aadmitir), ele é mais um objeto de suacompaixão do que de sua ira.

Infelizmente, “ele não sabe o queestá fazendo”. Mas você sabe quemo tornou diferente. Se Deus, em seusoberano prazer, assim o tivessedeterminado, você poderia ser o queo seu adversário é agora; e ele, emseu lugar, estaria defendendo oevangelho. Por natureza, vocês eramigualmente cegos. Se você atentar aeste fato, não censurará nem odiaráo seu oponente, porque o Senhor seagradou em abrir os seus olhos e nãoos olhos dele.

De todas as pessoas que seenvolvem em controvérsia, nós, quesomos chamados calvinistas, estamosespecialmente obrigados, por nossosprincípios, a exercer gentileza e

moderação. Se aqueles que diferemde nós têm capacidade de mudar a simesmos, podem abrir seus própriosolhos e amolecer seus próprioscorações, então, nós podemos, commenor incoerência, ser ofendidospela obstinação deles. Contudo, secremos no contrário disso, nossodever é não contender, mas instruir,com mansidão, aqueles que se opõem,“na expectativa de que Deus lhesconceda... o arrependimento paraconhecerem plenamente a verdade”(2 Tm 2.25).

Se você escrever com o desejode ser um instrumento de corrigirerros, é claro que terá cautela paranão ser uma pedra de tropeço nocaminho dos cegos, nem utilizarexpressões que podem incendiar aspaixões deles, confirmá-los em seuspreconceitos e, por meio disso,tornar mais impraticável (do pontode vista humano) o convencimentodeles.

Por meio da página impressa,você apela ao público; e seus leitorespodem ser classificados em trêsgrupos. Primeiramente, aqueles quediscordam de você em princípio.Sobre estes posso reportar-lhe o quejá disse antes. Embora você tenha emvista, principalmente, um únicoindivíduo, há muitos com opiniãoidêntica à dele; portanto, a mesmaargumentação poderá atingir uma sópessoa ou milhares.

Também haverá muitos que da-rão pouquíssima consideração aocristianismo, bem como à idéia depertencerem a um sistema religiosoestabelecido, e que estão engajadosna luta em favor daqueles sentimen-tos que são, no mínimo, repugnantes

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às boas opiniões que os homens na-turalmente possuem a respeito de simesmos. Estes são incompetentespara julgar doutrinas, mas podemformular uma opinião tolerável a res-peito do espírito de um escritor. Elessabem que mansidão, humildade eamor são as características do tem-peramento de um crente. E, emboratais leitoresfinjam con-siderar asdoutrinas dagraça comomeras opini-ões e especu-lações que,supondo fos-sem adotadaspor eles, nãoteriam qual-quer influência saudável sobre seucomportamento, eles sempre espera-ram de nós, que professamos estesprincípios, que tais disposições cor-respondam com os preceitos do evan-gelho. Eles discernem imediatamentequando nos afastamos de tal espíri-to, considerando isso um motivo parajustificar o menosprezo deles paracom os nossos argumentos.

A máxima das Escrituras: “A irado homem não produz a justiça deDeus” (Tg 1.20) é confirmada pelaobservação diária. Se tornamosamargo o nosso zelo, por utilizarmosexpressões de ira, injúria, zombaria,podemos pensar que estamos fazendoum serviço à causa da verdade,quando, na realidade, estamos apenaslhe trazendo descrédito.

As armas de nossa milícia, quesozinhas podem destruir as fortale-zas do erro, não são carnais e sim

espirituais; são argumentos extraídoscorretamente das Escrituras, bemcomo da experiência, e reforçadospor uma aplicação compassiva, ca-paz de convencer nossos leitores.Estes argumentos (quer convençamosos leitores, quer não) mostram quealmejamos o bem da alma deles eestamos contendendo tão-somente

por amor àverdade. Sep u d e r m o sconvencê -los de queagimos comestes moti-vos, nossoobjetivo estáparcialmentealcançado.Eles se mos-

trarão mais dispostos a ponderar, comcalma, aquilo que lhes oferecemos.E, se ainda discordarem de nossasopiniões, serão constrangidos a apro-var nossas intenções.

Você encontrará uma terceiraclasse de leitores, que, pensandocomo nós, aprovarão prontamente oque você dirá e, talvez, serão esta-belecidos e firmados em seus pontosde vista sobre as doutrinas das Escri-turas, por meio de uma elucidaçãoclara e magistral do assunto. Vocêpode ser um instrumento para a edi-ficação deles, se a lei da bondade,bem como a da verdade, regularemsua caneta, pois, de outro modo,você lhes causará danos.

Existe um princípio do “eu” quenos leva a desprezar todos aqueles quediscordam de nós. E geralmente nosencontramos sob a influência desteprincípio, quando pensamos estar

De todas as pessoas que seenvolvem em controvérsia, nós,que somos chamados calvinistas,estamos especialmente obrigados,por nossos princípios, a exercer

gentileza e moderação.

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apenas mostrando um zelo conveni-ente na causa do Senhor. Creioprontamente que os principais argu-mentos do arminianismo surgem doorgulho humano — e são nutridos portal orgulho. Todavia, devo me ale-grar se o contrário sempre foiverdadeiro. Também creio que acei-tar o que é chamado de doutrinascalvinistas consiste em um sinal in-falível de uma mentalidade humilde.

Tenho conhecido alguns armini-anos — ou seja, pessoas que, por faltade mais iluminação, têm se mostra-do receosas de abraçar as doutrinasda graça gratuita — que têm dadoevidências de que seus corações es-tavam em profunda humildade diantedo Senhor. E temo que haja calvi-nistas que, enquanto tomam comoprova de sua humildade o fato de queestão dispostos a degradar, em pala-vras, a criatura e dar toda a glória dasalvação ao Senhor, desconhecem otipo de espírito que possuem.

Aquilo que nos faz ter confiançade que, em nós mesmos, somoscomparativamente sábios ou bons, aponto de tratar com desprezo aquelesque não subscrevem nossas doutrinasou seguem o nosso grupo, é umaprova e um fruto do espírito de justiçaprópria. A justiça própria pode sealimentar de doutrinas, bem como deobras. Um homem pode ter o coraçãode um fariseu, enquanto a sua menteestá repleta de conceitos ortodoxossobre a indignidade da criatura e asriquezas da graça gratuita. Sim, eupoderia acrescentar: os melhores doshomens não estão completamentelivres deste fermento. Por isso, elesestão propensos a se satisfazerem comapresentações que podem levar os

nossos adversários ao ridículo e, porconseqüência, bajular as nossasopiniões superiores.

Controvérsias, em sua maioria,são administradas de modo a favore-cer, e não a reprimir, esta disposiçãoerrada. Portanto, falando de modogeral, as controvérsias produzempouquíssimo bem. Elas provocamaqueles aos quais deveriam conven-cer e envaidecem aqueles que elasdeveriam edificar. Espero que seuempreendimento tenha o sabor de umespírito de humildade e seja um meiode promovê-la em outros.

Isto me leva, em último lugar, aconsiderar nosso interesse em seu atu-al empreendimento. Parece um ser-viço louvável defender a fé que umavez foi entregue aos santos. Somosordenados a batalhar diligentementepor esta fé e convencer os que seopõem. Se tais defesas foram conve-nientes e oportunas em tempos pas-sados, parecem que elas também osão em nossos dias, quando errosabundam por todos os lados e cadaverdade do evangelho é negada demodo direto ou apresentada de modogrotesco.

Além disso, encontramos poucosescritores de controvérsia que não têmsido claramente prejudicados por ela— ou por desenvolverem um sensode importância pessoal, ou por ab-sorverem um espírito de contençãoirada, ou por afastarem insensivel-mente sua atenção das coisas queconstituem o alimento e a sustenta-ção imediata da vida de fé e gastaremseu tempo e forças em assuntos que,em sua maioria, são apenas de valorsecundário. Isto nos mostra que, seo serviço é louvável, ele é também

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perigoso. Que benefício um homempode ter em ganhar a sua causa, si-lenciar o adversário, se, ao mesmotempo, ele perde aquele espírito dehumildade e contrição que deleita oSenhor e conta com a promessa desua presença?

Sem dúvida alguma, o seu alvoé bom, mas você tem necessidade devigilância e oração, pois Satanás es-tará à sua mão direita para opor-se avocê. Ele tentará destruir suas opi-niões. E, embora você se levante emdefesa da causa de Deus, ela podetornar-se sua própria causa, se vocênão estiver olhando continuamentepara o Senhor, a fim de ser guarda-do e alertado por Ele, naquelasdisposições que são incoerentes coma verdadeira paz de espírito; isto cer-tamente obstruirá a comunhão comDeus. Esteja alerta contra o permitirque alguma coisa pessoal entre nodebate. Se você acha que foi injuria-do, terá a oportunidade de mostrarque é um discípulo de Cristo, poisEle, “quando ultrajado, não revidavacom ultraje; quando maltratado, nãofazia ameaças” (1 Pe 2.23). Este é onosso padrão; por isso, temos de es-crever e falar por Deus, “não pagandomal por mal ou injúria por injúria;antes, pelo contrário, bendizendo,

pois para isto mesmo fostes chama-dos” (1 Pe 3.9).

A sabedoria que vem do alto nãoé somente pura, mas também pacífi-ca e cordial. A falta destas qualida-des, à semelhança da mosca mortaem uma vasilha de ungüento, estra-gará o sabor e a eficácia de nossoslabores. Se agirmos com espírito er-rado, traremos pouca glória paraDeus, faremos pouco bem ao nossopróximo e não obteremos nem des-canso nem honra para nós mesmos.

Se você puder se contentar como expressar a sua opinião e, assim,conquistar o sorriso de seu oponen-te, isto será uma tarefa fácil. Masespero que você tenha outro alvomais nobre e que, estando sensível àsolene importância das verdades doevangelho e à compaixão pelas al-mas dos homens, você preferirá serum meio de remover preconceitos emuma única ocasião a obter os aplau-sos inúteis de milhares. Portanto, váem frente, no nome e na força doSenhor dos Exércitos, falando a ver-dade em amor. E que o próprioSenhor dê em muitos corações umtestemunho de que você é ensinadopor Ele e favorecido com a unção doEspírito Santo.

As Escrituras nos ensinam a melhor forma de viver,a forma mais nobre de sofrer,

e a forma mais confortável de morrer.John Flavel

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Robert Murray M’CheyneRobert Murray M’CheyneRobert Murray M’CheyneRobert Murray M’CheyneRobert Murray M’Cheyne

Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vosescolhi a vós outros e vos designei para que vades e deis fruto, e ovosso fruto permaneça.

João 15.16

Esta é uma afirmação sobremo-do humilhante e, ao mesmo tempo,bastante abençoadora para o verda-deiro discípulo de Jesus. Foi muitohumilhante para os discípulos ouvi-rem que não haviam escolhido a Cris-to. As necessidades de vocês sãotantas, e seus corações, tão endure-cidos, que vocês não me escolheram.Mas, apesar disso, foi extremamen-te reconfortante para os discípulossaberem que Cristo os havia escolhi-do — “Não fostes vós que me esco-lhestes a mim; pelo contrário, eu vosescolhi a vós outros”. Isto lhes mos-trou que Cristo os amou antes de elesO amarem — Ele os amou quandoainda estavam mortos em pecados.Em seguida, Jesus mostrou aos dis-cípulos que seria o amor que os tor-naria santos: “Não fostes vós que meescolhestes a mim; pelo contrário, euvos escolhi a vós outros e vos desig-nei para que vades e deis fruto, e ovosso fruto permaneça”.

Consideremos as verdades deste

versículo na ordem em que sãoexpressas.

1. OS HOMENS NÃO ESCOLHEM NA-TURALMENTE A CRISTO — “Não fostesvós que me escolhestes a mim”. Istoera verdade a respeito dos apóstolos;também é verdade a respeito de to-dos os que crerão em Jesus, até o finaldo mundo. “Não fostes vós que meescolhestes a mim.” O ouvido natu-ral é tão surdo, que não pode ouvir;os olhos naturais, tão cegos, que nãopodem ver a Cristo. Em certo senti-do, é verdade que todo verdadeirodiscípulo escolhe a Cristo; mas istoacontece somente quando Deus abreos olhos da pessoa, para que ela vejaa Jesus; quando Deus outorga vigorao braço ressequido, para que eleabrace a Cristo.

O significado das palavras deJesus era: “Vocês nunca me teriamescolhido, se eu não os tivesseescolhido”. É verdade que, quandoDeus abre o coração do pecador, este

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escolhe a Cristo e a ninguém mais,somente a Cristo. É verdade que umcoração vivificado pelo Espíritosempre escolhe a Cristo, a ninguémmais, somente a Cristo, e por Elerenunciará o mundo inteiro.

Irmãos, este versículo nos ensi-na que todo pecador despertado semostra disposto a seguir a Cristo,mas não antes de ser tornado dispos-to. Aqueles que dentre vocês foramdespertados, não escolheram a Cris-to. Se um médico viesse à sua casa edissesse que viera para curá-lo de suaenfermidade, e se você sentisse quenão estava doente, diria ao médico:“Não preciso de você; procure o vi-zinho”. Esta é a maneira como vocêage para com o Senhor Jesus: Ele lheoferece a cura, mas você Lhe diz quenão está enfermo; Ele se oferece paracobrir, com a obediência dEle mes-mo, a nudez de sua alma, mas vocêresponde: “Não preciso dessa rou-pa”.

Outra razão por que você nãoescolhe a Cristo é esta: você não vêqualquer beleza nEle. “E como raizde uma terra seca; não tinha aparên-cia nem formosura” (Is 53.2). Vocênão vê qualquer beleza na pessoa deCristo, nenhuma beleza na obediên-cia dEle, nenhuma glória na suacruz. Você não O vê e, por isso, nãoO escolhe.

Outra razão por que você nãoescolhe a Cristo é esta: não quer queEle o torne santo. “Lhe porás o nomede Jesus, porque ele salvará o seupovo dos pecados deles” (Mt 1.21).Mas você ama o pecado, ama os seusprazeres. Por isso, quando o Filhode Deus se aproxima e lhe diz: “Euo salvarei dos seus pecados”, você

responde: “Amo o pecado, amo osmeus prazeres”. Por conseguinte,você nunca pode chegar a um acor-do com o Senhor Jesus. “Não fostesvós que me escolhestes a mim.”Embora eu tenha morrido em favorde vocês, não me escolheram. Te-nho lhes falado por muitos anos, mas,apesar disso, vocês não me escolhe-ram. Tenho lhes dado a Bíblia, parainstruí-los, e ainda assim vocês nãome escolheram. Irmão, esta acusa-ção lhe sobrevirá no Dia do Juízo:“Eu o teria vestido com a minha obe-diência, mas você não o quis”.

2. CRISTO ESCOLHEU SEUS PRÓ-PRIOS DISCÍPULOS. “Eu vos escolhi avós outros”. O Senhor Jesus contem-plou os seus discípulos com umdivino olhar de misericórdia, dizen-do-lhes: “Eu vos escolhi a vósoutros”. Todos aqueles que Jesus trazà glória, Ele os escolheu.

O tempo em que Ele escolheu osdiscípulos. Observamos que foi an-tes de eles crerem — “Não fostes vósque me escolhestes a mim; pelo con-trário, eu vos escolhi a vós outros”.Isto equivale a: “Fui eu que comeceia lidar com vocês, não foram vocêsque começaram a lidar comigo”.Você perceberá isto em Atos 18.9 e10: “Teve Paulo durante a noite umavisão em que o Senhor lhe disse: Nãotemas; pelo contrário, fala e não tecales; porquanto eu estou contigo, eninguém ousará fazer-te mal, poistenho muito povo nesta cidade”.Nesta ocasião, Paulo estava emCorinto, a cidade mais lasciva eímpia do mundo antigo. Os coríntiosse davam a banquetes e à detestável

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idolatria, mas Cristo disse ao após-tolo: “Tenho muito povo nesta cida-de”. Eles não tinham escolhido aCristo; Ele, porém, os escolheu.Aqueles coríntios não se haviam ar-rependido ainda, mas Cristo fixouseus olhos sobre eles. Isto mostra cla-ramente que Cristo escolhe os seusdiscípulos antes que estes O busquem.

Além disso, Cristo os escolheudesde o princípio — “devemos sem-pre dar graças a Deus por vós, irmãosamados pelo Senhor, porque Deusvos escolheu desde o princípio paraa salvação, pela santificação do Es-pírito e fé na verdade” (2 Ts 2.13);“assim como nos escolheu, nele, an-tes da fundação do mundo, parasermos santos e irrepreensíveis pe-rante ele; e em amor” (Ef 1.4).Portanto, irmãos, foi antes da fun-dação do mundo que Cristo escolheuos seus próprios discípulos, quandonão havia sol, nem lua; quando nãohavia mar, nem terra — foi no prin-cípio. Ele podia dizer com certeza:“Não fostes vós que me escolhestesa mim”. Antes que os homens amas-sem uns aos outros, ou que os anjosse amassem mutuamente, Cristo es-colheu os seus próprios discípulos.Agora sei o que significam as pala-vras de Paulo, quando ele disse: “Afim de poderdes compreender, comtodos os santos, qual é a largura, e ocomprimento, e a altura, e a profun-didade e conhecer o amor de Cristo,que excede todo entendimento” (Ef3.18-19).

Agora não fico surpreso com amorte de Cristo. Foi uma expressãode amor tão grande que transbordouos diques que o retinham, um amorque irrompeu no Calvário e no Get-

sêmani. Ó irmão, você conhece esteamor?

Agora falemos sobre a razãodeste amor. “Não fostes vós que meescolhestes a mim; pelo contrário, euvos escolhi a vós outros” (Jo 15.16).Esta é uma pergunta natural: por queEle me escolheu? Respondo que arazão por que Ele escolheu você foio beneplácito da vontade dEle mes-mo. Você pode ver isto ilustrado emMarcos 3.13: “Depois, subiu aomonte e chamou os que ele mesmoquis, e vieram para junto dele”. Ha-via uma grande multidão ao redor deJesus; Ele chamou alguns, mas nãochamou a todos. A razão apresenta-da é esta: “Chamou os que ele mes-mo quis”. Não há qualquer razão nacriatura; a razão está nEle, que es-colhe. Você verá isto em Malaquias1.2 e 3: “Eu vos tenho amado, diz oSENHOR; mas vós dizeis: Em que nostens amado? Não foi Esaú irmão deJacó? — disse o SENHOR; todavia,amei a Jacó, porém aborreci a Esaú”.Eles não eram filhos da mesma mãe?Apesar disso, “amei a Jacó e aborre-ci a Esaú”. A única razão apresenta-da é esta: “Terei misericórdia dequem eu tiver misericórdia” (Êx33.19). Você também pode ver istoem Romanos 9.15 e 16. A única ra-zão que a Bíblia nos oferece paraexplicar porque Cristo nos amou (ese você estudar até à sua morte, nãoencontrará outra) é esta: “Terei mi-sericórdia de quem me aprouver termisericórdia”. Isto é evidente de to-dos aqueles que Cristo escolhe.

A Bíblia nos fala sobre duas gran-des apostasias: uma, no céu; outra,na terra. A primeira, no céu: Lúci-fer, a estrela da manhã, pecou por

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orgulho, e Deus o lançou no infer-no, bem como todos aqueles queacompanharam a Lúcifer em seu pe-cado. A segunda apostasia, na terra:Adão pecou e, por isso, foi expulsodo Paraíso. Tanto Adão como Lúci-fer mereciam a condenação. Deustinha um propósito de amor. Em fa-vor de quem existia este propósito?Talvez os anjos apelaram pelos ou-tros anjos que eram seus companhei-ros. Mas Cristo os deixou de lado emorreu em favor do homem. Por queEle morreu em favor do homem? Aresposta é: “Terei misericórdia dequem me aprouver ter misericórdia”.Isto também é evidente nas pessoasque Cristo escolhe. Talvez você pen-se que Cristo deveria escolher os ri-cos, mas o que disse Tiago? “Nãoescolheu Deus os que para o mundosão pobres, para serem ricos em fé eherdeiros do reino que ele prometeuaos que o amam?” (2.5)

Você também pode imaginar queCristo deveria escolher os nobres;eles não têm os preconceitos que ospobres têm. Mas, o que nos dizemas Escrituras? “Não foram chamadosmuitos sábios segundo a carne, nemmuitos poderosos” (1 Co 1.26). Outalvez você pense que Cristo deveriaescolher os eruditos. A Bíblia estáescrita em linguagem difícil; suasdoutrinas são árduas à compreensão;apesar disso, veja o que Cristo disse:“Graças te dou, ó Pai, Senhor do céue da terra, porque ocultaste estascoisas aos sábios e instruídos e asrevelaste aos pequeninos” (Mt11.25).

Ainda, você pode imaginar queCristo deveria escolher pessoas cheiasde virtudes. Embora não haja nem

um justo, existem algumas pessoasque são mais virtuosas do que ou-tras. Todavia, Cristo disse que pu-blicanos e meretrizes entram no reinode Deus, enquanto os fariseus sãodeixados do lado de fora. “Ó pro-fundidade da riqueza, tanto da sabe-doria como do conhecimento deDeus! Quão insondáveis são os seusjuízos, e quão inescrutáveis, os seuscaminhos!” (Rm 11.33) Por que oSenhor Jesus escolheu os mais ímpi-os? Eis a única razão que encontreina Bíblia: “Terei misericórdia dequem me aprouver ter misericórdiae compadecer-me-ei de quem meaprouver ter compaixão” (Rm 9.15).

Cristo escolhe alguns dos que Obuscam e não outros. Houve um jo-vem rico que veio a Cristo e pergun-tou-Lhe: “Bom Mestre, que fareipara herdar a vida eterna?” (Mc10.17) Este jovem foi sincero, masum obstáculo surgiu entre eles, e ojovem recuou. Uma mulher pecado-ra veio aos pés de Jesus, chorando.Ela também foi sincera, e Cristo lhedisse: “Perdoados são os teus peca-dos” (Lc 7.48). O que causou a di-ferença? “Terei misericórdia de quemme aprouver ter misericórdia.” OSenhor Jesus “chamou os que elemesmo quis”. Ó meu irmão, humi-lhe-se ante a soberania de Deus. SeEle decidiu ter compaixão, Ele terácompaixão.

3. APRESENTO O TERCEIRO EÚLTIMO PONTO: “Eu... vos designeipara que vades e deis fruto, e o vossofruto permaneça” (Jo 15.16). Cristoescolhe não somente aqueles queserão salvos, mas também a maneira

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como isso acontecerá. Escolhe nãosomente o começo e o fim, mastambém o meio. “Deus vos escolheudesde o princípio para a salvação,pela santificação do Espírito e fé naverdade” (2 Ts 2.13). “Assim comonos escolheu, nele, antes da fundaçãodo mundo, para sermos santos eirrepreensíveis perante ele; e emamor...” (Ef 1.4). E lemos emRomanos 8: “E aos que predestinou,a esses também chamou; e aos quechamou, a esses também justificou;e aos que justificou, a esses tambémglorificou” (v. 30). A salvação écomo uma corrente de ouro que uneo céu à terra. Dois elos estão nasmãos de Deus — a eleição e asalvação final. Mas alguns dos elosestão na terra — a conversão, aadoção, etc. Irmãos, Cristo nuncaescolhe um homem para crer e serimediatamente transportado à glória.Ah! meu irmão, como isto removetodas as objeções levantadas contra asanta doutrina da eleição! Algunstalvez digam: “Se sou eleito, sereisalvo, viverei como quiser”. Não, se

você vive em impiedade, você nãoserá salvo. Outros talvez digam: “Seeu não sou um eleito, não serei salvo,viverei como eu quiser”. Se você éou não eleito, eu não sei. Eu sei isto:se você crer em Cristo, será salvo.

Quero perguntar-lhe: você jácreu em Jesus? Está portando aimagem de Cristo? Então, você é umeleito e será salvo. Todavia, existemmuitos que ainda não creram emCristo e não têm uma vida santa.Então, não importa o que vocêspensam agora, descobrirão serverdade que estão entre aqueles queforam deixados de fora.

Oh! meu irmão, aqueles que ne-gam a eleição negam que Deus podeter misericórdia! Esta é uma doceverdade: Deus pode ter misericórdia.No seu coração endurecido não exis-te nada capaz de impedir que Deustenha misericórdia de você. Tomeposse desta verdade no coração: Deuspode ter misericórdia. “Não fostesvós que me escolhestes a mim; pelocontrário, eu vos escolhi a vós ou-tros.”

OOOOORAÇÃORAÇÃORAÇÃORAÇÃORAÇÃO DEDEDEDEDE L L L L LUTEROUTEROUTEROUTEROUTERO EMEMEMEMEM SUASUASUASUASUA ORDENAÇÃOORDENAÇÃOORDENAÇÃOORDENAÇÃOORDENAÇÃO

Ó Senhor Deus, Tu me fizeste um pastor e mestre naigreja. Tu vês quão incapaz eu sou para cumprir adequadamenteeste grande e responsável ofício. Se eu não tivesse a tua ajuda eorientação, há muito tempo eu o teria arruinado. Por isso, euTe invoco. Oh! quão alegremente desejo render-me e consagraro coração e lábios a este ministério! Desejo ensinar a igreja.Também desejo aprender a tua palavra, desejo tê-la como minhacompanheira permanente e meditar nela fervorosamente. Usa-me como teu instrumento, em teu serviço. Não me abandones;pois, deixado sozinho, certamente trarei este ofício à destruição.Amém!

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A CA CA CA CA CRUZRUZRUZRUZRUZ EEEEE OOOOO “E “E “E “E “EUUUUU”””””Arthur W. PinkArthur W. PinkArthur W. PinkArthur W. PinkArthur W. Pink

Então, disse Jesus a seus discípulos: Se alguém quer vir após mim, asi mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me.

Mateus 16.24

Antes de abordarmos o tema des-te versículo, desejamos fazer algumasconsiderações sobre os seus termos.“Se alguém” — o termo utilizadorefere-se a todos os que desejam unir-se ao grupo dos seguidores de Cristoe alistar-se sob a bandeira dEle. “Sealguém quer” — o grego é muitoenfático, significando não somentea anuência da vontade, mas tambémo propósito completo do coração,uma resolução determinada. “Virapós mim” — como um servo sujei-to a seu Senhor, um aluno, ao seuMestre, um soldado, ao seu Capi-tão. “Negue” — o vocábulo gregosignifica negue-se completamente.Negue-se a si mesmo — a sua natu-reza pecaminosa e corrupta. “Tome”— não quer dizer leve ou suportepassivamente, e sim assuma volun-tariamente, adote ativamente. “A suacruz” — que é desprezada pelo mun-do, odiada pela carne, mas, apesardisso, é a marca distintiva de umverdadeiro crente. “E siga-me” —viva como Cristo viveu, para a gló-ria de Deus.

O contexto imediato é ainda mais

solene e impressionante. O SenhorJesus acabara de anunciar aos seusapóstolos, pela primeira vez, a apro-ximação de sua morte de humilhação(v. 21). Pedro, admirado, disse-Lhe:“Tem compaixão de ti, Senhor” (v.22). Estas palavras expressaram apolítica da mentalidade carnal. Ocaminho do mundo é a satisfação e apreservação do “eu”. “Poupa-te a timesmo” é a síntese da filosofia domundo. Mas a doutrina de Cristo nãoé “salva-te a ti mesmo”, e sim sacri-fica-te a ti mesmo. Cristo discerniuno conselho de Pedro uma tentaçãoda parte de Satanás (v. 23) e, imedi-atamente, a repeliu. Jesus disse aPedro não somente que Ele tinha deir a Jerusalém e morrer ali, mas tam-bém que todos os que desejassemtornar-se seguidores dEle tinham detomar a sua cruz (v. 24). Existia umimperativo tanto em um caso comono outro. Como instrumento de me-diação, a cruz de Cristo permaneceúnica; todavia, como um elementode experiência, ela tem de ser com-partilhada por todos os que entramna vida.

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O que é um “cristão”? Alguémque possui membresia em uma igrejana terra? Não. Alguém que afirmaum credo ortodoxo? Não. Alguémque adota certo modo de conduta?Não. Então, o que é um cristão? Éalguém que renunciou o “eu” erecebeu a Cristo Jesus como Senhor(Cl 2.6). O verdadeiro cristão éalguém que tomou sobre si o jugo deCristo e aprende dEle, que é “mansoe humilde de coração” (Mt 11.29).O verdadeiro cristão é alguém quefoi chamado à comunhão do Filhode Deus, “Jesus Cristo, nossoSenhor” (1 Co 1.9): comunhão emsua obediência e sofrimento agora;em sua recompensa e glória no futuroeterno. Não existe tal coisa como opertencer a Cristo e viver parasatisfazer o “eu”. Não se enganenesse ponto. “Qualquer que nãotomar a sua cruz e vier após mim nãopode ser meu discípulo” (Lc 14.27)— disse o Senhor Jesus. E declarounovamente: “Aquele que [em vez denegar-se a si mesmo] me negar diantedos homens [e não para os homens— é a conduta, o andar que está emfoco nestas palavras], também eu onegarei diante de meu Pai, que estános céus” (Mt 10.33).

A vida cristã tem início com umato de auto-renúncia, sendo continu-ada por automortificação (Rm 8.13).A primeira pergunta de Saulo deTarso, quando Cristo o deteve, foiesta: “Que farei, Senhor?” (At22.10.) A vida cristã é comparada auma corrida, e o atleta é chamado adesembaraçar-se “de todo peso e dopecado que tenazmente... assedia”(Hb 12.1) — ou seja, o pecado queestá no amor ao “eu”, o desejo e a

resolução de seguir nosso própriocaminho (Is 53.6). O grande e únicoalvo, objetivo e tarefa colocados di-ante do cristão é seguir a Cristo:seguir o exemplo que Ele nos dei-xou (1 Pe 2.21); e Ele não agradoua Si mesmo (Rm 15.3). Existem di-ficuldades no caminho, obstáculos najornada, dos quais o principal é o“eu”. Portanto, ele tem de ser “ne-gado”. Este é o primeiro passo emdireção a seguir a Cristo.

O que significa negar comple-tamente a si mesmo? Primeiramente,significa o completo repúdio de suaprópria bondade: cessar de confiarem quaisquer de nossas obras pararecomendar-nos a Deus. Significauma aceitação irrestrita do vereditodivino de que todos os nossos me-lhores feitos são “como trapo daimundícia” (Is 64.6). Foi neste pon-to que Israel falhou, “porquanto,desconhecendo a justiça de Deus eprocurando estabelecer a sua própria,não se sujeitaram à que vem de Deus”(Rm 10.3). Esta afirmativa deve sercontrastada com a declaração de Pau-lo: “E ser achado nele, não tendojustiça própria” (Fp 3.9).

Negar completamente a si mes-mo significa renunciar de todo a suaprópria sabedoria. Ninguém podeentrar no reino de Deus, se não setornar como uma “criança” (Mt18.3). “Ai dos que são sábios a seuspróprios olhos e prudentes em seupróprio conceito!” (Is 5.21.) “Incul-cando-se por sábios, tornaram-seloucos” (Rm 1.22). Quando o Espí-rito Santo aplica o evangelho compoder em uma alma, Ele o faz “paradestruir fortalezas, anulando... so-fismas e toda altivez que se levante

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contra o conhecimento de Deus, elevando cativo todo pensamento àobediência de Cristo” (2 Co 10.4,5).Um lema sábio que todo cristão deveadotar é: “Não te estribes no teu pró-prio entendimento” (Pv 3.5).

Negar completamente a si mes-mo significa renunciar suas pró-prias forças: não ter qualquer confi-ança na car-ne (Fp 3.3).S i g n i f i c aprostrar ocoração àafirmativad eCr i s t o :“Sem mimnada podeisfazer” (Jo15.5). Foineste pontoque Pedro falhou (Mt 26.33). “A so-berba precede a ruína, e a altivez doespírito, a queda” (Pv 16.18). Quãonecessário é que estejamos sempreatentos! “Aquele, pois, que pensaestar em pé veja que não caia” (1 Co10.12). O segredo do vigor espiritu-al se encontra em reconhecermosnossa fraqueza pessoal (ver Is 40.29;2 Co 12.9). Sejamos, pois, fortes “nagraça que está em Cristo Jesus” (2Tm 2.1).

Negar completamente a si mes-mo significa renunciar de todo a suaprópria vontade. A linguagem deuma pessoa não-salva é: “Não que-remos que este reine sobre nós” (Lc19.14). A atitude de um verdadeirocristão é: “Para mim, o viver é Cris-to” (Fp 1.21) — honrar, agradar eservir a Ele. Renunciar a nossa pró-pria vontade significa dar atenção àexortação de Filipenses 2.5: “Tende

em vós o mesmo sentimento que hou-ve também em Cristo Jesus”; e istoé definido nos versículos seguintescomo auto-renúncia. Renunciar anossa própria vontade é o reconheci-mento prático de que não somos denós mesmos e de que fomos “com-prados por preço” (1 Co 6.20); édizermos juntamente com Cristo:

“Não seja oque eu que-ro, e sim oque tu que-res” (Mc14.36).

N e g a rcomple ta -mente a simesmo sig-nifica re-nunciar as

suas próprias concupiscências ou de-sejos carnais. “O ego de um homemé um pacote de ídolos” (ThomasManton), e esses ídolos têm de serrepudiados. Os não-crentes amam asi mesmos (2 Tm 3.2 – ARC). Toda-via, alguém que foi regenerado peloEspírito diz, assim como Jó: “Souindigno... Por isso, me abomino”(40.4; 42.6). A respeito dos não-crentes, a Bíblia afirma: “Todos elesbuscam o que é seu próprio, não oque é de Cristo Jesus” (Fp 2.21).Mas, a respeito dos santos de Deus,está escrito: “Eles... mesmo em faceda morte, não amaram a própriavida” (Ap 12.11). A graça de Deusestá nos educando “para que, rene-gadas a impiedade e as paixões mun-danas, vivamos, no presente século,sensata, justa e piedosamente” (Tt2.12).

Este negar a si mesmo que Cris-

Como instrumento de mediação,a cruz de Cristo permanece

única; todavia, como um elementode experiência, ela tem de ser

compartilhada por todosos que entram na vida.

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to exige dos seus seguidores é total.Não há qualquer restrição, quaisquerexceções — “Nada disponhais para acarne no tocante às suas concupiscên-cias” (Rm 13.14). Este negar a simesmo tem de ser contínuo e nãoocasional — “Se alguém quer virapós mim, a si mesmo se negue, diaa dia tome a sua cruz e siga-me” (Lc9.23). Tem de ser espontâneo, nãoforçado; realizado com alegria e nãocom relutância — “Tudo quantofizerdes, fazei-o de todo o coração,como para o Senhor e não para ho-mens” (Cl 3.23). Oh! quão perver-samente tem sido abaixado o padrãoque Deus colocou diante de nós!Como este padrão condena a negli-gência, a satisfação carnal e a vidamundana de muitos que se declaram(inutilmente) “cristãos”!

“Tome a sua cruz.” Isto se refe-re à cruz não como um objeto de fé,e sim como uma experiência na alma.Os benefícios legais do Calvário sãorecebidos por meio de crer, quandoa culpa do pecado é cancelada, masas virtudes experimentais da cruz deCristo são desfrutadas apenas quan-do somos conformados, de modoprático, “com ele na sua morte” (Fp3.10). É somente quando aplicamosa cruz, diariamente, ao nosso vivere regulamos nosso comportamentopelos princípios dela, que a cruz setorna eficaz sobre o poder do pecadoque habita em nós. Não pode haverressurreição onde não há morte; nãopode haver um andar prático, “emnovidade de vida”, enquanto não le-vamos “no corpo o morrer de Jesus”(2 Co 4.10). A cruz é a insígnia, aevidência do discipulado cristão. Éa cruz de Cristo e não o credo dEle

que faz a distinção entre um verda-deiro seguidor de Cristo e os religi-osos mundanos.

Ora, em o Novo Testamento a“cruz” representa realidades defini-das. Primeiramente, a cruz expressao ódio do mundo. O Filho de Deusnão veio para julgar, e sim para sal-var; não veio para castigar, e sim pararedimir. Ele veio ao mundo “cheiode graça e de verdade”. O Filho deDeus sempre estava à disposição dosoutros: ministrando aos necessitados,alimentando os famintos, curando osenfermos, libertando os possessos deespíritos malignos, ressuscitandomortos. Ele era cheio de compaixão— manso como um cordeiro, total-mente sem pecado. O Filho de Deustrouxe consigo boas-novas de gran-de alegria. Ele buscou os perdidos,pregou aos pobres, mas não despre-zou os ricos; e perdoou pecadores.De que modo Cristo foi recebido?Que boas-vindas os homens Lhe ofe-receram? Os homens O desprezarame rejeitaram (Is 53.3). Ele disse:“Odiaram-me sem motivo” (Jo15.25). Os homens sentiram sede dosangue de Jesus. Nenhuma mortecomum lhes satisfaria. Exigiram queJesus fosse crucificado. Por conse-guinte, a cruz foi a manifestação doódio inveterado do mundo para como Cristo de Deus.

O mundo não se alterou, assimcomo o etíope ainda não mudou asua pele e o leopardo, as suas man-chas. O mundo e Cristo ainda estãoem antagonismo. Por isso, a Bíbliaafirma: “Aquele, pois, que quiser seramigo do mundo constitui-se inimi-go de Deus” (Tg 4.4). É impossívelandarmos com Cristo e gozarmos de

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comunhão com Ele, enquanto nãotivermos nos separado do mundo.Andar com Cristo envolve necessa-riamente compartilhar de sua humi-lhação — “Saiamos, pois, a ele, forado arraial, levando o seu vitupério”(Hb 13.13). Foi isso o que Moisésfez (ver Hb 11.24-26). Quanto maisintimamente eu estiver andando comCristo, tanto mais incorretamenteserei compreendido (1 Jo 3.2), tantomais serei ridicularizado (Jó 12.4) eodiado pelo mundo (Jo 15.19). Nãocometa erro neste ponto: é totalmen-te impossível ser amigo do mundo eandar com Cristo. Portanto, tomara cruz significa que eu desprezo vo-luntariamente a amizade do mundo,recusando conformar-me com ele(Rm 12.2). Que me importa a car-ranca do mundo, se estou desfrutan-do do sorriso do Salvador?

Tomar a cruz significa uma vidade sujeição voluntária a Deus. Noque concerne à atitude de homensímpios, a morte de Cristo foi umassassinato. Mas, no que se refere àatitude do próprio Senhor Jesus, a suamorte foi um sacrifício espontâneo,uma oferta de Si mesmo a Deus. Foitambém um ato de obediência aDeus. Ele mesmo disse: “Ninguéma tira de mim [a vida dEle]; pelocontrário, eu espontaneamente a dou.Tenho autoridade para a entregar etambém para reavê-la” (Jo 10.18).E por que Ele a entregou espontane-amente? As próximas palavras doSenhor Jesus nos dizem: “Este man-dato recebi de meu Pai”. A cruz foia suprema demonstração da obedi-ência de Cristo. Nisto, Ele é nossoexemplo. Citamos novamente Fili-penses 2.5: “Tende em vós o mes-

mo sentimento que houve tambémem Cristo Jesus”. Nas palavras se-guintes, vemos o Amado do Pai as-sumindo a forma de um servo e“tornando-se obediente até à mortee morte de cruz”.

Ora, a obediência de Cristo temde ser a obediência do cristão — vo-luntária, alegre, irrestrita, contínua.Se esta obediência envolve vergonhae sofrimento, menosprezo e perdas,não devemos vacilar; pelo contrário,temos de fazer o nosso “rosto comoum seixo” (Is 50.7). A cruz é maisdo que um objeto da fé do cristão, éa insígnia do discipulado, o princí-pio pelo qual a vida do crente deveser regulada. A cruz significa entre-ga e dedicação a Deus — “Rogo-vos,pois, irmãos, pelas misericórdias deDeus, que apresenteis o vosso corpopor sacrifício vivo, santo e agradá-vel a Deus, que é o vosso cultoracional” (Rm 12.1).

A cruz representa sofrimento esacrifício vicários. Cristo entregousua própria vida em favor de outros;e os seguidores dEle são chamados afazerem espontaneamente o mesmo— “Devemos dar nossa vida pelosirmãos” (1 Jo 3.16). Esta é a lógicainevitável do Calvário. Somos cha-mados a seguir o exemplo de Cristo,à comunhão de seus sofrimentos, asermos cooperadores em sua obra.Assim como Cristo “a si mesmo seesvaziou” (Fp 2.7), assim tambémdevemos nos esvaziar. Cristo “nãoveio para ser servido, mas para ser-vir” (Mt 20.28); temos de agir damesma maneira. Assim como Cristo“não se agradou a si mesmo” (Rm15.3), assim também não devemosagradar a nós mesmos. Como o Se-

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nhor Jesus sempre pensou nos outros,assim devemos nos lembrar “dos en-carcerados, como se presos com eles;dos que sofrem maus tratos”, comose fôssemos nós mesmos os maltra-tados (Hb 13.3).

“Quem quiser salvar a sua vidaperdê-la-á; e quem perder a vida porminha causa achá-la-á” (Mt 16.25).Palavras quase idênticas a estas seencontram também em Mateus 10.39, Marcos 8.35, Lucas 9.24; 17.33,João 12.25. Esta repetição certamen-te é um argumento em favor da pro-funda importância de prestarmosatenção e atendermos às palavras deCristo. Ele morreu para que vivês-semos (Jo 12.24); devemos agir demodo semelhante (Jo 12.25). Assim

como Paulo, devemos ser capazes deafirmar: “Em nada considero a vidapreciosa para mim mesmo” (At20.24). A “vida” de satisfação do“eu” neste mundo é perdida na eter-nidade. A vida que sacrifica os inte-resses do “eu” e se rende a Cristo,essa vida será achada novamente epreservada em toda eternidade.

Um jovem que concluíra a uni-versidade e tinha perspectivas bri-lhantes respondeu à chamada deCristo para uma vida de serviço paraEle na Índia, entre as classes maispobres. Seus amigos exclamaram:“Que tragédia! Uma vida desperdi-çada!” Sim, foi uma vida “perdida”para este mundo, mas “achada” nomundo por vir.

Todo comerciante sábio atualizará periodicamente as suas con-tas, examinará seu inventário e descobrirá se seu negócio estáprosperando ou regredindo. Todo homem sábio, no reino de Deus,clamará: “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração, prova-me e conhece os meus pensamentos” (Sl 139.23). O crente sábioseparará tempo para examinar seu próprio coração, a fim de des-cobrir se as coisas estão corretas entre a sua alma e Deus. ODeus a quem adoramos é um grande perscrutador de corações.

Os crentes mais velhos devem considerar bem os fundamen-tos de sua fé, pois cabelos brancos podem esconder coraçõesímpios. Os crentes novos não devem menosprezar esta palavra deadvertência, pois o vigor da juventude pode estar unido com podri-dão de hipocrisia. O inimigo continua a semear joio no meio dotrigo. Não tenho o alvo de lançar dúvidas e temores em sua men-te; todavia, espero que o forte vento do auto-exame os expulse deseu coração. É somente a segurança carnal que desejamos aniqui-lar; não é a confiança em si mesma, e sim a confiança na carne,que pretendemos aniquilar. Não é a paz, e sim a falsa paz quedesejamos destruir. O precioso sangue de Cristo não foi derrama-do para fazer de você um hipócrita, mas para que almas sincerasproclamem os louvores dEle.

(Extraído de “Leituras Diárias”, C. H. Spurgeon, Vol. 1, Editora Fiel)