revista fé para hoje número 6, ano 2000

35

Upload: editora-fiel

Post on 26-Mar-2016

220 views

Category:

Documents


2 download

DESCRIPTION

Editora Fiel

TRANSCRIPT

Page 1: Revista Fé para Hoje Número 6, Ano 2000
Page 2: Revista Fé para Hoje Número 6, Ano 2000

SANSÃO E A SEDUÇÃO DA CULTURA 1

Fépara

Hojeé para Hoje é um ministério da Editora FIEL. Como

outros projetos da FIEL — as conferências e os livros— este novo passo de fé tem como propósito semearo glorioso Evangelho de Cristo, que é o poder de Deuspara a salvação de almas perdidas.O conteúdo desta revista representa uma cuidadosaseleção de artigos, escritos por homens que têmmantido a fé que foi entregue aos santos.Nestas páginas, o leitor receberá encorajamento a fimde pregar fielmente a Palavra da cruz. Ainda que estamensagem continue sendo loucura para este mundo,as páginas da história comprovam que ela é o poderde Deus para a salvação das ovelhas perdidas —“Minhas ovelhas ouvem a minha voz e me seguem”.Aquele que tem entrado na onda pragmática queprocura fazer do evangelho algo desejável aos olhosdo mundo, precisa ser lembrado que nem Paulo, nemo próprio Cristo, tentou popularizar a mensagemsalvadora.Fé para Hoje é oferecida gratuitamente aos pastores eseminaristas.

F

Editora FielCaixa Postal 160112233-300 - São José dos Campos, SP

www.editorafiel.com.br

Page 3: Revista Fé para Hoje Número 6, Ano 2000

Conteúdo

O Declínio da Pregação Contemporânea ......... 1John F. MacArthur, Jr.

Ovelhas não Pastoreadas .............................. 4Maurice Roberts

Conhecimento Ineficaz ................................. 9John Newton

Alimentando as Ovelhas ou Divertindo os Bodes .. 15C. H. Spurgeon

A Igreja: Crescimento e Sucesso .................... 17Iain Murray

Oração de um Profeta Menor ....................... 29A. W. Tozer

Opinião do Leitor ....................................... 32

Page 4: Revista Fé para Hoje Número 6, Ano 2000

O DECLÍNIO DA PREGAÇÃO CONTEMPORÂNEA 1

O Declínio da PregaçãoContemporânea

John F. MacArthur, Jr.

ocê já percebeu como diversoscomerciais de televisão não falamespecificamente sobre os produtosque anunciam? Um anúncio de jeansapresenta um comovente drama arespeito da infelicidade dos ado-lescentes, mas não se refere ao jeans.Um comercial de perfumes mostrauma coletânea de imagens sensuaissem qualquer referência ao produtoanunciado. As propagandas de cervejasão algumas das mais criativas datelevisão, mas falam muito poucosobre a própria cerveja.

Esses comerciais são produzidoscom o objetivo de entreter, criar dis-posição e apelar às nossas emoções,mas não para transmitir informações.Com freqüência, eles são os maiseficientes, visto serem os que fazemmelhor proveito da televisão. Sãoprodutos naturais de um veículo decomunicação que promove uma visãosurrealista do mundo.

A televisão mescla sutilmente avida real com a ilusão. A verdade é

irrelevante. O que realmente importaé se estamos sendo entretidos. Aessência não significa nada; o estilode vida é o que mais interessa. Naspalavras de Marshall McLuhan, oinstrumento é a mensagem.

Amusing Ouselves to Death(Divertindo-nos até à morte) é umlivro perceptivo mas inquietanteescrito por Neil Postman, professorda Universidade de Nova Iorque. Eleargumenta que a televisão nos temmutilado a capacidade de pensar ereduzido nossa aptidão para a ver-dadeira comunicação.

Postman assegura que, ao invésde nos tornar a mais informada eerudita de todas as gerações daHistória, a televisão tem inundadonossas mentes com informaçõesirrelevantes, sem significado. Elanos tem condicionado apenas aoentretenimento, tornando obsoletasoutras formas de interação humana.

Postman ressalta que até osnoticiários são uma apresentação

V

Page 5: Revista Fé para Hoje Número 6, Ano 2000

Fé para Hoje2

teatral. Jornalistas simpáticos relatamcalmamente breves notícias sobreguerras, assassinatos, crimes edesastres naturais. Essas históriascatastróficas são intercaladas porcomerciais que banalizam suasinformações, isolando-as de seucontexto. Em seu livro, Postman re-gistra um noticiárioem que um almi-rante declarou queuma guerra nuclearmundial seria ine-vitável. No próximosegmento da pro-gramação, houve umcomercial do Rei dosHamburgers. Não seespera que nossa reação seja racio-nal. Nas palavras de Postman, �osespectadores não reagirão com umsenso da realidade, assim como a au-diência no teatro não sairá correndopara casa, porque alguém no palcodisse que um assassino estava soltona vizinhança�.1

A televisão não pode exigir umaresposta sensata. As pessoas ligam-na para se divertir, não para seremdesafiadas a pensar. Se um programaexige que pensemos ou demandamuito de nossas faculdades inte-lectuais, ninguém o assiste.

A televisão tem diminuído oalcance de nossa atenção. Por exem-plo, alguma pessoa de nossa socie-dade ficaria de pé, entre uma sufo-cante multidão, durante sete horaspara ouvir os debates dos candidatosa presidente da República? Sin-ceramente, é muito difícil imaginarque nossos antepassados possuíamesse tipo de paciência. Temos per-mitido a televisão nos fazer pensar

que sabemos mais agora, enquanto naverdade estamos perdendo nossa to-lerância na área de pensar e aprender.

Sem dúvida, a mensagem maisvigorosa do livro de Postman está emum capítulo sobre religião. Essehomem não-crente escreve comprofundo discernimento a respeito do

declínio da prega-ção. Ele contrasta apregação contem-porânea com o mi-nistério de homenscomo JonathanEdwards, GeorgeWhitefield e outros.Estes homens con-tavam com um pro-

fundo conteúdo, lógica e conhe-cimento das Escrituras. Em contraste,a pregação de nossos dias é superfi-cial, com ênfase no estilo e nasemoções. Na definição moderna, a�boa� pregação tem de ser, antes detudo, breve e estimulante. Consisteem entretenimento, não em ensino,repreensão, correção ou educação najustiça (2 Tm 3.16).

O modelo da pregação modernaé o evangelista esperto que exageraas emoções, traz consigo um micro-fone, enquanto anda pomposamenteao redor do púlpito, levando osouvintes a baterem palmas, mo-vimentarem-se e fazerem aclamaçõesem voz bem alta, ao tempo em queele os incita a um frenesi. Não existealimento espiritual na mensagem,mas quem se importa, visto que aresposta é entusiástica?

É lógico que a pregação emmuitas das igrejas conservadorasnão se realiza de maneira tão exa-gerada assim. Mas, infelizmente, até

A pregação de nossosdias é superficial,

com ênfase no estiloe nas emoções.

,

,

Page 6: Revista Fé para Hoje Número 6, Ano 2000

O DECLÍNIO DA PREGAÇÃO CONTEMPORÂNEA 3

algumas das melhores pregações denossos dias contêm mais entre-tenimento do que ensino. Muitasigrejas têm um sermão característicode meia hora, repleto de históriasengraçadas e pouco ensino.

Na verdade, muitos pregadoresconsideram o ensino de doutrinascomo algo indesejável e sem utilida-de prática. Uma grande revista evan-gélica recentemente publicou um ar-tigo escrito por um famoso pregadorcarismático. Ele utilizou uma páginainteira para falar sobre a futilidadetanto de pregar quanto de ouvir ser-mões que vão além de mero entre-tenimento. Qual foi a sua conclusão?As pessoas não recordam aquilo quevocê pregou; por isso, a maior parteda pregação é perda de tempo.�Procurarei fazer melhor no próximoano�, ele escreveu, �isto significadesperdiçar menos tempo ouvindosermões demorados e gastando maistempo preparando sermões curtos. Aspessoas, eu descobri, perdoarão umateologia pobre, se o culto matinalterminar antes do meio-dia�.2

Isto resume com perfeição a ati-tude que predomina na igreja mo-derna. Existe uma semelhança entreesse tipo de pregação e os comerciaisde jeans, perfume e cerveja na te-levisão. Assim como os comerciais,a pregação moderna tem o objetivode criar uma disposição íntima,evocar uma resposta emocional eentreter, mas não o de comunicar ne-

cessariamente algo da essência dasEscrituras. Esse tipo de pregação éuma completa acomodação a umasociedade educada pela televisão.Segue o que é agradável, porémrevela pouca preocupação com averdade. Não é o tipo de pregaçãoordenada nas Escrituras. Temos depregar a Palavra (2 Tm 4.2); falar�o que convém à sã doutrina� (Tt2.1); ensinar e recomendar �o ensi-no segundo a piedade� (1 Tm 6.3).É impossível fazer estas coisas senosso alvo é entreter as pessoas.

O futuro da pregação expositivaé incerto. O que um pastor sincerotem de fazer para alcançar pessoasque se mostram indispostas e in-capazes de ouvir com atenção eraciocínio exposições da verdadedivina? Este é o grande desafio paraos líderes da igreja contemporânea.Não devemos nos render à pressãopara sermos superficiais. Temos deencontrar maneiras de fazer co-nhecida a Palavra de Deus a uma ge-ração que não apenas recusa-se aouvir, mas também não sabe comoouvir.

Notas:1. Neil Postman, Entertaining

Ouselves to Death (Nova Iorque, Pen-guin, 1984), p. 104.

2. Jamie Buckinham, �WastedTime�, Charisma (dezembro de1988), p. 98.

Um sermão deve ser a proclamação da verdade divinamediada através do pregador.

D.Martyn Lloyd-Jones

Page 7: Revista Fé para Hoje Número 6, Ano 2000

Fé para Hoje4

serem capazes de levantar as mãos ebalançarem-nas, assim como as fo-lhas de uma palmeira ao vento, eserem fluentes em falar palavrasincompreensíveis. Possuir uma men-te capaz de avaliar essas coisas é umadesvantagem positiva, visto que co-loca a pessoa que a possui na inde-sejável posição de compreender quãoridícula e sem proveito é essa situa-ção.

Igrejas em confusão

Devem existir diversos fatoresque levaram igrejas evangélicas, nopassado grandes e firmes, a deci-direm-se por uma adoração infantil.Um desses fatores é a necessidade quemuitos sentiram quanto ao cuidadopelos jovens. Entre 1960 e 1970 ficouevidente que a geração em cres-cimento estava se tornando desin-teressada em ir às igrejas. Os jovensnão eram mais atraídos aos cultospelos velhos hábitos das geraçõesanteriores, mas foram envenenadosem relação às coisas de Deus por meio

Ovelhas não PastoreadasMaurice Roberts

Se não estamos enganados, háum crescente número de crentesinfelizes. Sua infelicidade não resultade uma natural indiferença ou de umdescontentamento temperamental, esim de sua insatisfação com aquiloque, em suas igrejas, lhes está sendooferecido sob o nome de adoração epregação. Sentimos profunda com-paixão por esses crentes. Eles me-recem atenção especial, e devemosorar com regularidade em seu favor.

Nas últimas décadas, têm existidotantos ventos de doutrina soprandosobre as igrejas, que com justiça po-demos dizer: tais ventos de doutrinasatingiram proporções de um tufão.Mas o problema não se limita àdoutrina. Estende-se a formas e es-tilos de adoração pública. Se têmfundamento os rumores que chegamaos nossos ouvidos, parece quemetade das igrejas que outrora eramsaudáveis e evangélicas entraram emuma segunda infância. Com fre-qüência, a única qualificação ne-cessária para que os adoradores re-cebam aceitação de seus líderes é

Page 8: Revista Fé para Hoje Número 6, Ano 2000

OVELHAS NÃO PASTOREADAS 5

da música popular daquela época epor meio da galopante influência datelevisão e dos esportes.

Esse fenômeno levou muitos lí-deres de igrejas evangélicas a sepreocuparem inten-samente a respeito desua �imagem� aosolhos dos jovens. Pen-sava-se que não eramais possível aos paiscrentes disciplinaremseus lares ou preser-varem seus filhos in-contaminados pelomundo. A culpa, di-zia-se, era da própriaigreja, que permanecia �antiquada�e não proporcionava �empolgação�ou �atrativos�. Se os jovens deveriamser preservados do mundo, novos emais estimulantes estilos de adora-ção precisavam ser introduzidos naigreja. Desse modo, o argumento sepropagou.

Sem dúvida, esse tipo de ra-ciocínio resultou em uma boa medidade incredulidade. Os líderes, emmuitos casos com bons motivos epressentimentos íntimos, cederamaos jovens a maneira de conduzir aadoração na igreja. Pouco a pouco, aconfusão se espalhou. Seriedade eordem, antes sustentadas como vir-tudes elementares na adoração aoTodo-Poderoso, foram ridiculari-zadas como arqui-inimigas da ado-ração espiritual. �Liberdade e es-pontaneidade� tornaram-se as novasregras da adoração. Afinal de contas,onde está o Espírito do Senhor, aí háliberdade; e não deveria tal liberdadeestar disponível a todos os crentes?Acabemos com os grilhões que pren-

diam as gerações anteriores! Fi-nalmente, chegara a época da ado-ração. Homens, mulheres, criançase jovens, todos deveriam ter liberda-de de participarem ativa e audi-

velmente. Os resul-tados estão conoscoaté hoje. Os frutosde uma anarquia ge-ral de adoração sãoestes: o barulho su-planta a reverência ea superficialidadesubstitui a maturi-dade espiritual, en-quanto outras coisasmenos importantes

reduzem o tempo da pregação daPalavra. Como alguém tem dito, oadorador típico bem poderia deixarem casa a sua cabeça ao vir à igreja,porque essa parte de seu corpo éirrelevante enquanto participa dessetipo de culto.

Grande prejuízo aosverdadeiros crentes

Nosso propósito ao salientar essesmales é procurar mostrar quão pre-judicial eles são ao verdadeiro reba-nho de Cristo. Aqueles que desejamalimentar sua alma e vêm à igreja cominteresse podem ficar alarmados eofendidos diante dessa adoraçãosuperficial. Os filhos da graça sabemque Deus é glorioso em santidade.Eles vão à casa do Senhor com re-verência e temor. O Espírito Santolhes ensina que precisam ter umaatitude sublime e reverente emrelação a qualquer coisa e a tudo quese refere à adoração a Deus. Anelamsentir a presença de Deus em seus

O barulho suplantaa reverência e asuperficialidade

substitui amaturidade espiritual.

,

,

Page 9: Revista Fé para Hoje Número 6, Ano 2000

Fé para Hoje6

corações e desejam muito que averdade de Deus se torne poderosae clara em suas mentes. Ficam in-dignados em seus corações, quandovêem outros crentes adorando mo-tivados por coisas irrelevantes, querna adoração, quer na pregação.Sentem-se tristes, pois sabem que oEspírito do Senhor está sendo en-tristecido.

Infelizmente, isso é o que estáacontecendo em igrejas evangélicasde todas as denominações. Crentessérios, que seriam capazes de dar asua vida por Cristo, se lhes fosse exi-gido, estão sendo levados a sentirem-rem-se mal aco-lhidos em suas pró-prias igrejas. Suaespiritualidade éconsiderada comodesajeitada. Gran-de parte dos crentesmaduros na igrejaestão sentindo-seisolados por seuscompanheiros, pornão poderem en-toar canções fes-tivas que os outrosutilizam em nomeda �adoração�. As-sim, existe uma situação em que oculto é freqüentemente um teste depaciência, ao invés de ser um tempode devoção para o povo de Deus. Oscrentes maduros não querem criarproblema, mas suas consciênciasagravadas não podem aprovar asnovas músicas, cânticos e hinos, asgesticulações e a nova atmosfera noslugares onde anteriormente eles e seuspais adoravam a Deus com santotemor.

A espiritualidade em jogo

Sem dúvida, essa não é umasimples questão de época ou degeração. Mais do que isso, é umaquestão de espiritualidade, ma-turidade e conhecimento. Existemcrentes velhos que se comportamcomo crianças. Mas, graças a Deus,também existem crentes novos quetêm feito bom uso das Escrituras, delivros evangélicos e confissões de féao ponto de serem já crentes firmes ebem instruídos.

Pessoas espirituais vêm à igrejapara encontrar-se com Deus; não de-

sejam que entrete-nimento lhes sejaoferecido. Aquelesque desejam entre-tenimento podemobtê-lo a qualquerhora, indo a teatroe lugares de di-versão, onde lhesserá abundante-mente oferecidopor pessoas domundo. Na vidacristã, existe lugarpara diversão e ale-gria saudável e pu-

ra. O povo de Deus precisa tempo desorrir, assim como as outras pessoas.Enquanto eles evitam formas deentretenimento mundanos, não serecusam a ocasionalmente desfru-tarem de alegria e despreocupação.Mas o povo de Deus não vai à igrejaem busca de divertimento. Não pro-cura entretenimento, tampouco sen-te-se tranqüilo ao encontrá-lo naigreja. Adoração e entretenimentonunca andam juntos; adoração e

Seriedade e ordem,antes sustentadas como

virtudes elementaresna adoração ao

Todo-Poderoso, foramridicularizadas como

arqui-inimigas daadoração espiritual.

,

,

Page 10: Revista Fé para Hoje Número 6, Ano 2000

OVELHAS NÃO PASTOREADAS 7

é uma traição a Cristo. A liderançaabaixa os padrões de santidade paraatrair grande número de pessoas. Emum ponto crítico desse processo dediluição, a adoração deixa com-pletamente de ser reconhecida comoadoração por aqueles que andam emintimidade com Deus. O número demembros talvez aumente, mas ocrente espiritual e solitário, que tes-temunha esse declínio, receia queo Espírito Santo esteja sendo abafa-do e Se retraindo. �Icabode� é overdadeiro nome de tal igreja. Équase impossível acharmos comu-nhão espiritual. Os poucos crentesrealmente santos que restam isolam-se e mantêm-se solitários.

Nenhuma solidão é tão difícil deser suportada quanto a solidão ex-perimentada em meio a multidões.Quantos crentes percebem essasituação em suas próprias igrejas!São os últimos a falarem sobre isso,porque são pessoas pacientes, dedi-cadas a oração e longânimes. Não ébom para seus pastores e líderespermitirem que situações como estapermaneçam em suas igrejas. Aodiluírem a adoração, atraíram à igre-ja multidões inconstantes, e en-tristeceram o coração dos justos.

Prejuízos resultantesda mudança

Existem prejuízos visíveis re-sultantes desse tipo de mudança so-bre a qual já falamos. Um destesprejuízos é o tratamento cruel de-monstrado ocasionalmente à ove-lhas fiéis que se recusam a mudar.Devido ao fato que eles não podem,em boa consciência, seguir a deban-

leviandade jamais caminham lado alado.

O que está em jogo em tudo issoé aquela preciosa coisa que chama-mos espiritualidade. O homem es-piritual treme diante da Palavra deDeus e possui um elevado conceitosobre cada aspecto e elemento daadoração a Deus. Ele não apenasexige espiritualidade na pregação;também exige e espera vê-la naleitura da Bíblia, nas orações públi-cas e na mensagem e tonalidade doscânticos espirituais. Ele anela con-templar espiritualidade na casa deDeus e tem todo o direito de encontrá-la ali.

Solidão espiritual

Não é difícil perceber porquemuitos do povo de Cristo hoje sãocrentes solitários no meio da multi-dão reunida na igreja. Eles se alegramquando o templo está repleto de pes-soas, mas ficam perturbados se per-cebem que nada existe na igreja,exceto uma multidão barulhenta.Estão propensos a questionar, comadmiração, se, afinal de contas, cemadoradores � ou mesmo vinte e cin-co � não é preferível a uma multidãoirreverente. Isto não deve ser con-fundido com uma mentalidade de�pequeno rebanho�. Não aplaudi-mos a teoria de que as igrejas devemsempre ser pequenas. Pelo contrário,em nossa opinião elas devem sergrandes. Pensamos que igrejas commil membros não são grandes dema-is. Desejamos que nosso país se enchadesse tipo de igrejas.

No entanto, ter muitos membrosapenas por amor a números em geral

Page 11: Revista Fé para Hoje Número 6, Ano 2000

Fé para Hoje8

da geral para �abrilhantar� a adora-ção a Deus, bons ministros doevangelho têm de abandonar suasigrejas. Não se leva em conta que elespassaram vinte ou trinta anos expon-do com fidelidade e devoção aPalavra de Deus aos seus rebanhos.Seu crime é resistirem ao clamoruniversal por inovações. Portanto,esses homens bons têm de ceder lugarao menu de aprimoramentos quepastores jovens e líderes fracosinsistem em oferecer à igreja.

Outro fruto menos agourentodesse novo estilo de vida da igreja éo surgimento, em nossa época, darejeição da lei de Deus na vida práti-ca. Alguém pode evitar referir-se aisso em detalhes; mas o fato evidenteé que os novosmembros de igrejatêm se revelado me-nos felizes em re-sistir à tentação doque os crentes anti-gos costumavam ser.Sem dúvida houveexcesso de severida-de na adoração pra-ticada por igrejas do passado. Masos crentes sentiam-se seguros. Elesnão brincavam com a tentação. Nãoapelavam à carne. As pessoas vinhamà casa de Deus com roupas estri-tamente adequadas e decoro com-pleto. Infelizmente, isso não pode serdito sobre muitos dos cultos mo-dernos. Uma grande multidão di-versificada na casa de Deus abaixatodo o nível da adoração. Todo pastorsabe que existem prejuízos moraisresultantes dessa falta de santidadeprática. Não deveria ser assim.

É uma consolação para as ovelhas

de Cristo não pastoreadas saberemque nos céus elas têm um Pastor quecontempla seu estado. Precisam re-cordar sua verdadeira posição, re-tratada pelo Pastor em passagensbíblicas como Ezequiel 34. Estãosolitárias por causa da incompetên-cia e inaptidão de seus líderes. Osoutros crentes não as amam nemdesejam sua companhia, porque sãomuito espirituais para sua geração.Mas um dia Cristo exigirá de seuspastores negligentes uma explicaçãopara essa negligência. Além disso, opróprio Senhor Jesus tomará para Simesmo seu povo solitário e des-prezado, outorgando-lhes sua graciosapresença, nesta e na vida por vir.

Os crentes solitários de nossosdias devem meditarnessas palavras ma-ravilhosas: �Estoucontra os pastores edeles demandarei asminhas ovelhas�(Ez 34.10); �Eisque eu mesmo pro-curarei as minhasovelhas e as busca-

rei� (v. 11); �livrá-las-ei de todos oslugares para onde foram espalhadasno dia de nuvens e de escuridão� (v.12); �apascentá-las-ei de bons pastos,e nos altos montes de Israel será asua pastagem� (v. 14). �Eis quejulgarei entre ovelhas e ovelhas, entrecarneiros e bodes� (v. 17); �Eu, oSenhor, lhes serei por Deus, e o meuservo Davi [Cristo] será príncipe nomeio delas; eu, o Senhor, o disse�(v. 24).

Com tais promessas, quem nãodesejaria estar sozinho com Cristo porbreve tempo nesse mundo?

A liderança abaixa ospadrões de santidadepara atrair grandenúmero de pessoas.

,

,

Page 12: Revista Fé para Hoje Número 6, Ano 2000

CONHECIMENTO INEFICAZ 9

Conhecimento IneficazJohn Newton

Ser capacitado a formular umaconsistente, ampla e clara opiniãosobre as verdades reveladas nasEscrituras é um grande privilégio.Mas aqueles que o possuem estãosujeitos à tentação de pensaremexageradamente a respeito de simesmos e menosprezarem os outros,em especial aqueles que não somenterecusam adotar tais opiniões, mastambém se opõem a elas. Existempoucos escritos sobre assuntos con-troversos que, embora excelentes emoutros aspectos, não estão maculadospor este espírito de superioridade.

E, se aqueles que não foramchamados para esse ministério (deescrever) examinarem atentamente asi mesmos, também perceberão esteespírito de superioridade agindo emseus próprios corações. E, na medidaque prevalece em nós, somos obri-gados a reconhecer nossa culpa deignorância e inconsistência, as quaisestamos sempre dispostos a lançarsobre nossos oponentes. Para nosajudar a corrigir este mal, não co-

nheço coisa melhor do que ponderarseriamente a respeito da admiráveldiferença que existe entre uma opiniãoadquirida e nossa conduta atual. Emoutras palavras, quão pouca in-fluência nosso conhecimento ouopiniões exercem sobre nosso com-portamento. Isto confirma a verdadee a conveniência da observação doapóstolo Paulo: �Se alguém julgasaber alguma coisa, com efeito, nãoaprendeu ainda como convém saber�(1 Co 8.2). Não que, necessariamen-te, nos tornamos insensíveis àquiloque o Senhor nos tem ensinado. Nemseria possível que assim fosse.Todavia, se julgarmos nosso co-nhecimento pelos seus resultados emnossas vidas, avaliando-o somentepelo seu valor experimental e prático(que é o padrão correto pelo qualdevemos julgá-lo), descobriremosque ele é tão frágil e pobre; por isso,dificilmente merece ser considerado.

Por exemplo, com muita con-vicção estamos persuadidos de queDeus é onipresente. Ainda que en-

Page 13: Revista Fé para Hoje Número 6, Ano 2000

Fé para Hoje10

olhos de um tolo, por todos os lugaresda terra. O que devemos pensar dealguém que, ao ser recebido na pre-sença de um rei, para tratar de umimportante assunto, interromperá a

audiência para caçaruma borboleta? Se ti-vermos tal momentode fraqueza, ela ser-virá apenas como umfrágil exemplo das in-consistências com asquais se acusam, naoração, aqueles queconhecem seus pró-

prios corações. Eles não são comple-tamente ignorantes do fato que ati-tude de espírito é necessária para queo pecador se aproxime de Deus, di-ante de Quem os anjos foram repre-sentados como seres que cobrem suasfaces.

Entretanto, desafiando este nobreconceito sobre Deus, a atenção de taispessoas é desviada dAquele comquem terão de prestar contas para asmais insignificantes trivialidades.Incapazes de reconhecer a Presençada qual confessam estar cercados,falam como se estivessem proferindopalavras ao ar. Além disso, se nossosenso de que Deus está sempre pre-sente fosse, em boa medida, pro-porcional àquilo que professamos,este senso nos preservaria comeficiência de muitos temores ino-portunos e sem fundamento, com osquais às vezes somos afligidos! Deusdisse: �Não temas, eu estou contigo�;Ele prometeu ser um escudo e guardartodos que confiam nEle. Porém, em-bora professemos crer em sua Palavrae esperar que Ele seja nosso protetor,raramente nos sentimos seguros, ao

contremos grande dificuldades emnossas idéias sobre este assunto,poucos a ele se opõem. Em geral, aonipresença de Deus é admitida porpessoas incrédulas e, podemos acres-centar, muito freqüen-temente pelos crentes,como se tanto estes co-mo aqueles não a co-nhecessem. Se os olhosdo Senhor estão emtodos os lugares, estepensamento deveriaconstituir uma grandeproteção para a condutadaqueles que professam ouvi-Lo.Sabemos como regularmente mo-dificamos nossas atitudes quandoestamos na presença de uma pessoada qual dependemos ou que possuiuma posição de superioridade sobrenós. Em tal circunstância, somoscuidadosos em corrigir nosso com-portamento, evitando o que é im-próprio ou ofensivo!

Não achamos estranho que, setemos extraído das Escrituras nossosconceitos sobre a majestade, a purezae santidade divina, nos mostramosinsensíveis na indizível obrigação deregular tudo que dizemos e fazemosde acordo com os seus preceitos? Nãoé estranho que em muitas ocasiõessomos traídos por atitudes incorretasque não cometemos na presença depessoas importantes e, talvez, mesmode crianças? Inclusive quando es-tamos orando, por meio do queprofessamos nos aproximar do Se-nhor, a consideração de que os olhosdo Senhor estão sobre nós manifestater pouca capacidade de prender nossaatenção ou impedir que nossos pen-samentos vagueiem, à semelhança dos

Atitude de espíritoé necessária paraque o pecador se

aproxime de Deus.,

,

Page 14: Revista Fé para Hoje Número 6, Ano 2000

CONHECIMENTO INEFICAZ 11

enfrentar qualquer perigo, mesmoquando estamos cumprindo nossosdeveres. Temos pouca razão paravalorizar nosso conhecimento sobreesta inquestionável verdade, quandoela não exerce uma eficaz e habitualinfluência sobre nossa conduta.

De maneira semelhante, a dou-trina da soberania de Deus, ainda quereceba menos atenção do que aanterior, não é menos aceita entre osque se chamam calvinistas. Em nos-sos debates com os arminianos,defendemos com zelo este assuntodoutrinário, estando dispostos a nosadmirarmos de que alguém seja tãoendurecido de coração, ao ponto dequestionar o direito do Criador parafazer o que deseja com aquilo que Lhepertence. Enquanto estamos enga-jados em defender a eleição in-condicional, convencidos pelosargumentos que as Escrituras nosoferecem em apoio a esta verdade enutridos pela confortável esperançade que nós mesmos pertencemos aonúmero dos eleitos, dificilmente evi-tamos acusar nos-sos inimigos, cha-mando-os orgu-lhosos, perversose obstinados, por-que se opõem àeleição incondi-cional. Sem dú-vida, esta oposiçãose fundamenta noorgulho do cora-ção humano, maseste maldoso princípio não está li-mitado apenas a um grupo; tambémocasionalmente surge quando aquelesque contendem em favor da soberaniadivina são mais influenciados pelo

orgulho do que seus oponentes. Estahumilhante doutrina requer sub-missão à vontade de Deus, em todasas circunstâncias da vida, bem comodemanda nossa anuência ao propósitodivino em demonstrar sua mi-sericórdia. Mas, infelizmente, commuita freqüência nos vemos com-pletamente incapazes de aplicá-la anós mesmos, de modo a conciliarnossos espíritos com as aflições queDeus se agrada em nos conceder.Quando somos capazes de afirmar,sendo exercitados na pobreza ou emgraves perdas e sofrimentos: �Fiqueicalado e não abri meus lábios, por-que Tu fizestes estas coisas�, somenteentão, e não antes, mostramos estarrealmente convencidos de que Deustem o soberano direito de dispor nos-sa vida e todas as suas circunstânciasconforme Lhe agrada. Em tais oca-siões, o argumento que habitual ecorretamente oferecemos aos outros,como suficientes para silenciar todasas suas objeções, recai sobre nós:�Quem és tu, ó homem, para dis-

cutires com Deus?!Porventura, podeo objeto perguntara quem o fez: Porque me fizeste as-sim?� Esta é umaprova evidente deque nosso conhe-cimento é maisnocional do queexperimental. Queinconsistência de-

monstramos ao achar difícil nossujeitarmos àquilo que Deus permitepara nós mesmos, em questões indi-zivelmente menos importantes, en-quanto pensamos que Ele é justo e

Esta humilhante doutrinarequer submissão

à vontade de Deus,emtodas as circunstâncias

da vida.,

,

Page 15: Revista Fé para Hoje Número 6, Ano 2000

Fé para Hoje12

correto em reter dos outros as coisasque contribuem ao eterno regozijodeles!

As circunstâncias que o Senhorenvia para os que O temem nãoapenas procedem de sua soberania,mas também de sua sabedoria e graça.Deus uniu o bem-estar dos salvos àsua própria glória, estando com-prometido, por sua própria promessa,a fazer todas as coisas cooperaremjuntas para o benefício deles. Deusescolhe para o seu povo circunstânciasmelhores do que eles mesmos po-deriam escolher. Se estão passandopor aflições, existe uma razão de serpara estas; e nada Ele retém de seupovo, exceto aquilo que, no âmbitogeral, é melhor eles não possuírem.Assim nos ensinam as Escrituras, eassim nós professamos crer.

Com estes princípios em nossoscorações, não erramos ao sugerirmotivos que trazem consolo e pa-ciência ao nossos irmãos que seencontram em aflições; podemosassegurar-lhes, sem hesitação, que,se confiam nas promessas, suaspreocupações estão em mãos seguras;também podemos dizer-lhes que ascircunstâncias presentes, que nãotrazem alegria e sim tristeza, nodevido tempo produzirão os frutospacíficos de justiça; e o consolo e amisericórdia são tão certos quanto asprovações. Através da história deJosé, Davi, Jó e outras relatadas nasEscrituras, podemos provar-lhes que,apesar de quaisquer situações te-nebrosas do presente, com certeza ascoisas sairão bem para o crente. Deuspode retificar os caminhos es-cabrosos, e, com freqüência, Eleproduz o maior benefício utilizando

eventos que consideramos ruins.Disto podemos inferir não apenas apecaminosidade mas também a tolicede encontrar erro em qualquer dascircunstâncias que Deus nos concede.Podemos dizer aos que estão pas-sando por aflições que os piores so-frimentos do tempo presente não sãodignos de ser comparados com aglória que será revelada; portanto,estando sob grandes pressões, elesdevem chorar como pessoas queesperam em breve ter enxugadastodas as suas lágrimas. Mas, quandonós mesmos estamos passando porprovações, sendo atribulados portodos os lados ou afligidos em umaárea muita querida de nossas vidas,quão difícil é sentirmos a força destesargumentos, embora saibamos quesão verdadeiros! Por conseguinte, amenos que sejamos capacitados comnovo vigor procedente do alto, es-tamos sujeitos a lamentar e desa-nimar, como se pensássemos quenossas aflições surgiram da terra e queo Senhor esqueceu-se de ser gracio-so.

É possível mostrar a diferençaentre nosso discernimento, quando seencontra bastante iluminado, e nossaatual experiência em relação a todaverdade espiritual. Sabemos que nãoexiste proporção entre o tempo e aeternidade, Deus e suas criaturas, ofavor do Senhor e o desagrado ebondade do homem. Entretanto,quando estas coisas são colocadas emíntima competição, temos de per-manecer firmes no caminho do dever;mas, se não recebermos novasprovisões de graça, estejamos certosde que cairemos na hora da provação,e nosso conhecimento não terá outro

Page 16: Revista Fé para Hoje Número 6, Ano 2000

CONHECIMENTO INEFICAZ 13

Deus uniu o bem-estar dos salvos à

sua própria glória.

efeito além de tornar nossa culpa ma-is injustificável. Parecemos estarcertos de que somos criaturas fracas,pecadoras, imperfeitas; no entanto,somos propensos a agir como sefôssemos sábios e bons. Em resumo,não podemos negar que grande partede nosso conhecimento, conforme jádescrevemos, assemelha-se à luz dalua, destituída de calor e influência.E dificilmente podemos evitar pen-samentos elevados a respeito de nósmesmos por causa de tal conhe-cimento.

Assim como o salmista, devemosperguntar: �Senhor, que é o ho-mem?� Sim, que enigma, que cria-tura inconsistente é o crente! Eleconhece a si mesmo; ele conhece aoseu Senhor. Seu entendimento foiiluminado para assimilar e con-templar os grandes mistérios doevangelho. O crente tem idéiascorretas sobre a malignidade dopecado, a vaidade do mundo, a bele-za da santidade e a na-tureza da felicidade.Ele era trevas, masagora é luz no Senhor;tem acesso ao Pai porintermédio de JesusCristo, ao qual o cren-te está unido e nElevive pela fé. Enquantoos princípios que ele recebeu sãorenovados pela agência do EspíritoSanto, ele pode fazer todas as coisas.Ele é humilde, gentil, paciente, fiel.Regozija-se nas aflições, triunfa nastentações, vive em harmonia com asantecipações da glória eterna e nãoconsidera nada como precioso nestemundo, desde que possa glorificar aDeus, seu Salvador, e terminar sua

vida com alegria. Mas a sua força nãoestá em si mesmo; ele é abso-lutamente dependente, cercado porenfermidades e afligido por umanatureza corrompida. Se o Senhorretirar o Seu poder, o crente se tornafraco como qualquer outro homem eafunda, assim como uma rocha caisobre a terra por causa de seu própriopeso. O conhecimento íntimo docrente pode ser comparado à janelade uma casa, que pode transmitir luz,mas não pode retê-la. Sem as reno-vadas e constantes comunicaçõesprovenientes do Espírito Santo, ocrente é incapaz de resistir a menortentação, suportar a mais leve pro-vação, realizar o mais insignificanteserviço da maneira correta ou mesmonutrir bons pensamentos. O crentesabe disso, porém o esquece comfreqüência. Mas o Senhor o faz re-cordar-se, por suspender aquela as-sistência sem a qual o crente nadapode fazer. Então, ele percebe o que

realmente é e, comfacilidade, se previnecontra a atitude de agircontra o seu melhorconhecimento. Essaconstante percepção desua própria fraqueza oensina progressiva-mente onde sua força

se encontra: ela não está em qualquercoisa que ele mesmo já conquistouou possa declarar que lhe pertence;está na graça, poder e fidelidade doSalvador. O crente aprende a deixarde confiar em seu próprio raciocínio,a se envergonhar de seus própriosesforços, a aborrecer a si mesmo, nopó e na cinza, e a glorificar apenas oSenhor.

,

,

Page 17: Revista Fé para Hoje Número 6, Ano 2000

Fé para Hoje14

Disto podemos observar o se-guinte: os crentes que possuem maisconhecimento não são, necessa-riamente, os mais espirituais. Defato, alguns são capazes e realmen-te vivem de maneira mais honrável etranqüila com dois talentos do queoutros que têm cinco talentos. Aque-le que conhece sua própria fraquezae depende somente do Senhor, comcerteza florescerá, embora sejampequenas suas realizações e habi-lidades já conseguidas. E aquele que

possui os maiores dons, discer-nimentos mais claros e amplo co-nhecimento, se alimentar pen-samentos elevados acerca de suasvantagens, está no iminente perigode errar e cair, pois o Senhor nãopermitirá que seus amados gloriem-se em si mesmos. Ele guia os hu-mildes, supre os famintos com coisasboas e despede com mãos vazias osabastados. E aquele que se humilhaEle exalta.

Fé e VisãoJohn Owen

enhum homem jamais contemplará a futura glória deCristo por meio de seus olhos, exceto aquele que pela fé acontempla agora neste mundo. A graça é um requisitonecessário para desfrutarmos da glória vindoura; e a fé, paraa contemplarmos. A pessoa que não está previamente ha-bilitada pela graça e pela fé não será capaz de desfrutar econtemplar a glória eterna. Não! Pessoas que não forampreparadas para aquela glória são incapazes de desejá-la,mesmo que pretendam; apenas iludem suas próprias almasimaginando que desejam aquela glória. Muitas pessoasafirmam com segurança que desejam estar com Cristo econtemplar sua glória; todavia, são incapazes de apresentaros motivos por que desejam tal coisa � apenas imaginam queisto é melhor do que estarem naquela terrível condição deserem lançados no inferno para todo o sempre, quando nãoestiverem mais nesta vida. Se alguém alega desejar inten-samente ou estar fascinado por algo que jamais viu ou lhe foiapresentado, tal pessoa vangloria-se em suas própriasimaginações. E os pretensiosos desejos que algumas pessoasalegam possuir no que se refere a contemplarem a glória deCristo no céu, sem a terem visto pela fé, enquanto encontram-se neste mundo, são apenas imaginações ilusórias.

N

Page 18: Revista Fé para Hoje Número 6, Ano 2000

ALIMENTANDO AS OVELHAS OU... 15

Existe um mal entre os queprofessam pertencer aos arraiais deCristo, um mal tão grosseiro em suaimprudência, que a maioria dos quepossuem pouca visão espiritualdificilmente deixará de perceber.Durante as últimas décadas, esse maltem se desenvolvido em proporçõesanormais. Tem agido como o fer-mento, até que toda a massa fiquelevedada. O diabo raramente crioualgo mais perspicaz do que sugerir àigreja que sua missão consiste emprover entretenimento para as pes-soas, tendo em vista ganhá-las paraCristo. A igreja abandonou a pre-gação ousada, como a dos puritanos;em seguida, ela gradualmente ame-nizou seu testemunho; depois, passoua aceitar e justificar as frivolidadesque estavam em voga no mundo, eno passo seguinte, começou a tolerá-las em suas fronteiras; agora, a igrejaas adotou sob o pretexto de ganhar asmultidões.

Alimentando as Ovelhasou Divertindo os Bodes

C. H. Spurgeon

Minha primeira contenção é es-ta: as Escrituras não afirmam, emnenhuma de suas passagens, queprover entretenimento para as pesso-as é uma função da igreja. Se esta éuma obra cristã, por que o SenhorJesus não falou sobre ela? �Ide portodo o mundo e pregai o evangelho atoda criatura� (Mc 16.15) � isso ébastante claro. Se Ele tivesse acres-centado: �E oferecei entretenimentopara aqueles que não gostam doevangelho�, assim teria acontecido.No entanto, tais palavras não seencontram na Bíblia. Sequer ocor-reram à mente do Senhor Jesus. Emais: �Ele mesmo concedeu uns paraapóstolos, outros para profetas,outros para evangelistas e outros parapastores e mestres� (Ef 4.11). Ondeaparecem nesse versículo os queprovidenciariam entretenimento?O Espírito Santo silenciou a respei-to deles. Os profetas foram per-seguidos porque divertiam as pessoas

Page 19: Revista Fé para Hoje Número 6, Ano 2000

Fé para Hoje16

ou porque recusavam-se a fazê-lo? Osconcertos de música não têm um rolde mártires.

Novamente, prover entreteni-mento está em direto antagonismo aoensino e à vida de Cristo e de seusapóstolos. Qual era a atitude da igrejaem relação ao mundo? �Vós sois osal�, não o �docinho�, algo que omundo desprezará. Pungente e curtafoi a afirmação de nosso Senhor:�Deixa aos mortos o sepultar os seuspróprios mortos� (Lc 9.60). Ele es-tava falando com terrível seriedade!

Se Cristo houvesse introduzidomais elementos brilhantes e agra-dáveis em seu ministério, teria sidomais popular em seus resultados,porque seus ensinos eram pers-crutadores. Não O vejo dizendo:�Pedro, vá atrás do povo e diga-lheque teremos um culto diferenteamanhã, algo atraente e breve, compouca pregação. Teremos uma noiteagradável para as pessoas. Diga-lhesque com certeza realizaremos esse ti-po de culto. Vá logo, Pedro, temosde ganhar as pessoas de alguma ma-neira!� Jesus teve compaixão dospecadores, lamentou e chorou poreles, mas nunca procurou diverti-los.Em vão, pesquisaremos as cartas doNovo Testamento a fim de encontrarqualquer indício de um evangelho deentretenimento. A mensagem dascartas é: �Retirai-vos, separai-vos epurificai-vos!� Qualquer coisa quetinha a aparência de brincadeiraevidentemente foi deixado fora dascartas. Os apóstolos tinham confiançairrestrita no evangelho e não uti-lizavam outros instrumentos. Depoisque Pedro e João foram encarcerados

por pregarem o evangelho, a igrejase reuniu para orar, mas não su-plicaram: �Senhor, concede aos teusservos que, por meio do prudente ediscriminado uso da recreação le-gítima, mostremos a essas pessoasquão felizes nós somos�. Eles nãopararam de pregar a Cristo, por issonão tinham tempo para arranjarentretenimento para seus ouvintes.Espalhados por causa da perseguição,foram a muitos lugares pregando oevangelho. Eles �transtornaram omundo�. Essa é a única diferença!Senhor, limpe a igreja de todo o lixoe baboseira que o diabo impôs sobreela e traga-nos de volta aos métodosdos apóstolos.

Por último, a missão de proverentretenimento falha em conseguir osresultados desejados. Causa danosentre os novos convertidos. Permitamque falem os negligentes e zom-badores, que foram alcançados porum evangelho parcial; que falem oscansados e oprimidos que buscarampaz através de um concerto musical.Levante-se e fale o alcoólatra paraquem o entretenimento na forma dedrama foi um elo no processo de suaconversão! A resposta é óbvia: amissão de prover entretenimento nãoproduz convertidos verdadeiros. Anecessidade atual para o ministro doevangelho é uma instrução bíblicafiel, bem como ardente espiritua-lidade; uma resulta da outra, assimcomo o fruto procede da raiz. Anecessidade de nossa época é adoutrina bíblica, entendida e ex-perimentada de tal modo, que produzdevoção verdadeira no íntimo dosconvertidos.

Page 20: Revista Fé para Hoje Número 6, Ano 2000

A IGREJA: CRESCIMENTO E SUCESSO 17

A Igreja:Crescimento e Sucesso

Iain Murray

(Será um dos preletores da XVI Conferência Fiel - ano 2000)

odos os crentes concordam coma verdade de que a igreja foi instituídapara crescer. Ela tem de crescer emnúmero. Jesus estabeleceu essa missãopara a igreja, quando disse: �Sereisminhas testemunhas tanto em Je-rusalém como em toda a Judéia eSamaria e até aos confins da terra�(At 1.8); ou: �Será pregado esteevangelho do reino por todo omundo� (Mt 24.14). E, à medida queo evangelho é pregado, cumpre-se apromessa de que a igreja se mul-tiplicará. Deus, o Pai, disse ao Cabeçada Igreja: �Pede-me, e eu te darei asnações por herança e as extremidadesda terra por tua possessão� (Sl 2.8).�Nele sejam abençoados todos oshomens, e as nações lhe chamembem-aventurado� (Sl 72.17). Onúmero final dos redimidos seráimenso, estupendo � mais do que asestrelas do céu ou a areia na praia domar � �De todas as nações, tribos,povos e línguas� (Ap 7.9).

Ao mesmo tempo que todos os

crentes concordam que a igreja temde crescer, não existe a mesma con-cordância quanto à maneira comoocorre esse crescimento e progresso.Nos últimos vinte anos, muito se temdito a respeito desse assunto, e muitoslivros foram escritos sobre �comofazer a igreja crescer�. Freqüen-temente tais livros começam rela-tando a história de uma igreja ondetem ocorrido um notável crescimentonumérico e, em seguida, apresentamorientações sobre como o mesmopode se realizar em outras igrejas. Àsvezes, nesses livros, a psicologia étão importante quanto o evangelho.Lembro-me de haver lido um artigoem determinada revista evangélicaque afirmava: se temos de ganhar osoutros para Cristo, a principal coisaa fazer é despertarmos seu interessepor aquilo que temos. Ao afirmarisso, o autor argumentou, o maiorobstáculo a ser vencido é atrair aatenção de homens e mulheres queno momento estão ocupados e preo-

T

Page 21: Revista Fé para Hoje Número 6, Ano 2000

Fé para Hoje18

cupados com outras coisas. Portanto,temos de conquistar a atenção deles,e o caminho para fazê-lo é utilizarmosuma das quatro chaves que cor-respondem às quatro coisas que aspessoas mais desejam: (1) felicida-de e auto-preservação; (2) dinheiro;(3)amor; (4) re-conhecimento.�Uma dessas�,ele garantiu, �se-rá a grande ra-zão para alguémouvir aquilo quevocê está procu-rando comuni-car�.

Existem inu-meráveis varia-ções desse tipode conselho.Uma quinta cha-ve, bastante po-pular hoje, é a música. Todos os tiposde instrumentos musicais foramintroduzidos subitamente no cultode muitas igrejas. E a esperança é queesses instrumentos serão um auxíliopara atrair os incrédulos aos cultosde nossas igrejas.

Minha sugestão é que a presenteconfusão sobre o que se pensa arespeito de crescimento da igrejasurgiu porque, com freqüência, ocrescimento é abordado como umassunto isolado. Mas o crescimentode igreja não deve ser discutido,enquanto não houver primeiramen-te um entendimento daquilo que aigreja é e de como alguém se tornaum de seus membros. Quando essasverdades fundamentais não ocupama prioridade, os conceitos sobre cres-cimento de igreja seguem na direção

errada. Um famoso evangelista ame-ricano, ao falar por que os crentesdevem utilizar publicidade, disse:�Temos o melhor produto do mundopara vendermos � a salvação dasalmas dos homens, por intermédiode Cristo. Porque não deveríamos

vendê-lo de ma-neira tão efici-ente quanto opromover a ven-da de barras desabão?� Consi-derada por simesma, tal afir-mativa parecemuito razoável.Somente quan-do levamos emconta uma ques-tão prioritária,percebemos quealgo está errado:

O que é um crente e como alguém setorna um verdadeiro crente? Eis aresposta do Novo Testamento: umcrente é alguém que chegou aexperimentar o infinito poder doSenhor Jesus Cristo, perdoando-o econcedendo-lhe uma nova vida. O queestá impedindo as pessoas de che-garem a tal conhecimento? O terrívelpoder da depravação humana. Algomuito diferente de apenas interessaras pessoas a comprarem barras desabão está envolvido neste assunto.Homens e mulheres são escravosespontâneos dos poderes demonía-cos; amam as trevas, e não a luz.Quando falamos sobre crescimentode igreja, não estamos discorrendoprimariamente a respeito da vidahumana e dos interesses por coisasnaturais. Estamos confrontando um

,

,

O crescimento de igreja não deve ser discutido,enquanto não houver

primeiramente umentendimento daquilo

que a igreja é e de comoalguém se torna umde seus membros.

Page 22: Revista Fé para Hoje Número 6, Ano 2000

A IGREJA: CRESCIMENTO E SUCESSO 19

adversário sobrenatural; por con-seguinte, precisamos ter poder so-brenatural. A conversão significa sertrazido �das trevas para a luz e dapotestade de Satanás para Deus� (At26.18). Onde se crê nessa verdade,haverá o mesmo efeito prático namaneira como evangelizamos, assimcomo houve no ministério do após-tolo Paulo: �Porque, embora an-dando na carne, não militamos se-gundo a carne. Porque as armas danossa milícia não são carnais [armascomuns à natureza humana caída], esim poderosas em Deus, para destruirfortalezas� (2 Co 10.3-4).

Ao tratarmos do crescimento deigreja, devemos salientar um temaimportante. Quando abordamos esteassunto, temos a tendência inicialde pensar em líderes, pregadores emissionários eminentes que foramlevantados para fazer avançar a cau-sa de Cristo. Esses homens desem-penharam um papel importante noprogresso da igreja e deveríamosorar para que Deus nos concedessemais homens desse tipo. No entanto,podemos colocar ênfase excessivaem tais pessoas e menosprezar umfato muito evidente no Novo Tes-tamento.

1. O crescimento e o progresso daigreja dependem amplamente de to-da a comunidade de crentes.

Atos dos Apóstolos demonstraisso constantemente. Na igrejaapostólica de Jerusalém havia pre-gadores poderosos. O que, então,fizeram os demais crentes? Seu mi-nistério era apenas ouvir, ser es-pectadores? Absolutamente, não.Conforme nos mostra Atos 2.40-47,

cujo título poderia ser �Um Cres-cimento Vital da Igreja�, todos oscrentes de Jerusalém eram ativos,compartilhavam e adoravam a Deus.Não acontecia que alguns falavam etodos os outros simplesmente as-sistiam às reuniões. Todos eramparticipantes e cooperadores. Omesmo pode ser visto em Atos 4. E agrande importância de que elestivessem tais atitudes se torna evidenteem Atos 8.1: �Naquele dia, le-vantou-se grande perseguição contraa igreja em Jerusalém; e todos, excetoos apóstolos, foram dispersos pelasregiões da Judéia e Samaria�. Nessaocasião, houve uma crise para aigreja. Os crentes repentinamenteficaram sem os seus líderes, massabemos qual foi o resultado � �Iampor toda parte pregando a palavra�.Isto não significa que eles erampregadores oficiais; eram homens emulheres fazendo aquilo que esti-veram fazendo antes: testemunhan-do, testificando, servindo a Cristo,falando sobre a Palavra de Deus. Oresultado foi que a igreja de Jerusa-lém multiplicou-se em outros lugares:�A igreja, na verdade, tinha paz portoda a Judéia, Galiléia e Samaria,edificando-se e caminhando no temordo Senhor, e, no conforto do EspíritoSanto, crescia em número� (At9.31).

Quando o evangelho alcançou osgentios pela primeira vez, a mesmacoisa se repetiu. Paulo não viajou deum lugar ao outro, ficando satisfeito,se houvesse conversões individuais.Ele almejava ver igrejas estabe-lecidas, comunidades de crentes queem si mesmas seriam capazes de le-var avante a obra de evangelização,

Page 23: Revista Fé para Hoje Número 6, Ano 2000

Fé para Hoje20

quando ele estivesse ausente. Paulodesejava ter igrejas que multi-plicariam a si mesmas; não pretendiaestabelecer assembléias estáticas eimóveis, e sim centros doadores devida espiritual, fontes de onde riosde bênçãos espirituais fluiriam paraos outros. E foi isso mesmo queaconteceu. Atos 16.5 nos diz:�Assim, as igrejas eram fortalecidasna fé e, dia a dia, aumentavam emnúmero�. Em Tessalônica havia umaigreja desse tipo. Paulo disse que umagrande oportunidade lhe fora ofe-recida na Grécia, porque o teste-munho da igreja havia se espalhado,pelos lábios dos crentes, em muitosquilômetros além: �Porque de vósrepercutiu a palavra do Senhor nãosó na Macedônia e Acaia, mastambém por toda parte� (1 Ts 1.8).O apóstolo não precisou relatar o queDeus havia feito, as notícias che-garam antes dele. �Por toda parte sedivulgou a vossa fé para com Deus�,escreveu Paulo, �a tal ponto de nãotermos necessidade de acrescentarcoisa alguma� (1 Ts 1.8).

O quadro que o Novo Testamentonos apresenta não é o de Cristo agindoatravés de alguns poucos homens,oficialmente chamados para pregar,e sim através de todos os membrosde seu corpo. Encontramos outro vis-lumbre dessa verdade na maneiracomo Paulo descreve pessoas, aotérmino de sua epístola aos romanos.Ele enviou saudações a diversoshomens e mulheres que ele já co-nhecia e considerava cooperadoresno reino de Deus: �Saudai Priscila eÁqüila, meus cooperadores em CristoJesus... Saudai Maria, que muitotrabalhou por vós... Saudai Urbano,

que é nosso cooperador em Cristo...Saudai Trifena e Trifosa, as quaistrabalhavam no Senhor. Saudai aestimada Pérside, que também muitotrabalhou no Senhor.� (Rm 16.12.)

Esse mesmo princípio tem sidoadmiravelmente demonstrado nahistória da igreja. Não há crescimentoem igrejas que dependem de algumaspoucas pessoas e os demais membrossão espectadores. Sempre existe pro-gresso e multiplicação em igrejascujos membros são vibrantes e in-tentam servir a Cristo. Citamos umexemplo dessa realidade:

A evangelização de milhares deilhas do sul do Pacífico iniciou-secom a conversão de John Williamsem 1814, na igreja de GeorgeWhitefield, em Londres. Alguns anosdepois, John Williams viajou para asremotas ilhas dos canibais no Pa-cífico, onde receberia o nome de o�Apóstolo da Polinésia�. Apóssemear com paciência o evangelho,ele foi maravilhosamente abençoadonas ilhas Cook, Samoa e Tonga. MasWilliams sempre pensava nos povosmais distantes e, em 1839, decidiuchegar às ilhas das Novas Hébridas(atualmente, Vanuatu), onde intensospoderes demoníacos reinavam semperturbação. John Williams aportouna ilha de Erromanga em 20 denovembro de 1839; mas, em menosde uma hora, os canibais o matarame comeram seu corpo. De que maneiraessa terrível perda afetou as igrejasestabelecidas por Willimas na Po-linésia? Encheu-lhes de grande com-paixão por aqueles servos de Satanás,que eram seres humanos semelhantesa eles. Mais de cem crentes nativosse ofereceram como voluntários para

Page 24: Revista Fé para Hoje Número 6, Ano 2000

A IGREJA: CRESCIMENTO E SUCESSO 21

alcançar as ilhas onde seu pastor haviasido morto. Admite-se que, no espaçode dezesseis anos, entre cinqüenta esessenta dos voluntários forammortos, por enfermidades ou por as-sassinato, nas Novas Hébridas.

Como resultado de muita fide-lidade e de um valioso testemunho,durante onze anos, finalmente foiestabelecido um ponto de pregaçãona ilha de Aneityum e, em 1852, seformou uma igreja. Aneityum era aque estava mais ao sul de todas as ilhasdas Novas Hébridas, possuía oitentaquilômetros de circunferência e umapopulação de 4.000 pessoas. Em seucaráter moral, essas ilhas eram iguais.O povo era animista, adorava os espí-ritos, vivia em temor dos espíritos etinham medo uns dos outros. Lu-tas entre as triboseram freqüentes.Todo homemcarregava umaarma, pois ódioe vingança eramas atitudes emque viviam. Avida não tinhavalor. Pratica-vam o aborto; eos doentes e ido-sos poderiam ser sepultados vivos. Avida das mulheres era completamentedegradada. Poderiam ser estran-guladas por ocasião da morte de seusmaridos. O marido não dormiriaem sua choça, à noite, com suamulher, e sim entre os porcos, vistoque estes eram símbolo de grandestatus. Acreditava-se que a posiçãode um homem no mundo por vir de-pendia da quantidade de porcos quefossem mortos por ocasião de sua

morte; e os espíritos dos porcos iriamadiante do falecido.

Podemos imaginar que, se umaigreja seria estabelecida a partir dessetipo de pessoa, isto aconteceria so-mente depois de alguns anos, apósseus membros se tornarem coo-peradores e testemunhas eficazes. Masnão foi assim. Logo que homens emulheres se tornavam novas criaturasem Cristo, desejavam compartilharsua fé com os outros; e isso ocorreude maneira admirável na recém-formada igreja de Aneityum. Emmenos de trinta anos após sua for-mação, ela enviou às demais ilhas decanibais mais de duzentos missio-nários, homens e mulheres. Essa no-bre igreja, em anos recentes, recebeuum nome honroso; foi correta-

mente chamadade �Antioquia doPacífico�.

Precisamosprosseguir paraum segundo prin-cípio de cresci-mento da igreja.Não basta afir-mar que a igrejatem de propagara si mesma; de-

vemos também perguntar: por queisso não acontece sempre? Existemigrejas que parecem ser comple-tamente incapazes de multipli-carem-se; têm pouca ou nenhumainfluência sobre os incrédulos.Parecem estáticas e imperceptíveispelo mundo ao seu redor. Comopodemos explicar isso?

2. Igrejas que crescem possuem vidaespiritual sustentada pela constante

Paulo desejava ter igrejasque multiplicariam a simesmas;não pretendiaestabelecer assembléiasestáticas e imóveis...

,

,

Page 25: Revista Fé para Hoje Número 6, Ano 2000

Fé para Hoje22

que os tornou mais do que pessoas�simples�.

Atos 4.3 nos informa que toda aigreja orava e, �tendo eles orado...todos ficaram cheios do EspíritoSanto�. E o resultado visível na vidados crentes foi unidade e ousadia.Lucas nos diz que �em todos eles

havia abundantegraça�. Isto nãosignifica que to-dos os crentes pos-suíam a mesmamedida dos dons eda capacitação doEspírito Santo,mas a sua presençacaracterizava to-

dos eles. Encontramos a mesma coisanas igrejas novas que surgiram dadispersão da igreja de Jerusalém. Atos9.31 relata que �a igreja, na verdade,tinha paz por toda a Judéia, Galiléiae Samaria, edificando-se e ca-minhando no temor do Senhor, e, noconforto do Espírito Santo, cresciaem número�. De modo semelhante,Lucas vincula a eficácia do ministériode Barnabé, em Antioquia, ao fatode que ele �era homem bom, cheiodo Espírito Santo e de fé� (At11.24).

Estas passagens nos ensinam queo crescimento numérico nunca foiabordado, no Novo Testamento, co-mo o interesse primário da igreja. Avida espiritual da igreja tinha aprioridade. A igreja participava davida de Cristo. O mais poderosotestemunho da igreja ao mundo é oresultado da vida que ela desfruta; e,quanto mais profundamente desfrutaessa vida, tanto mais a igreja causaráimpressão no mundo. Em Atos 4.13,

comunhão com Cristo, por intermédiodo Espírito Santo.

É falso todo ensino que prometecrescimento, se os crentes apenasutilizarem certos métodos. A vidacristã inicia de maneira sobrenaturale somente produz fruto e utilidadequando o próprio Senhor Jesus a sus-tém. Quanto a esteassunto, John L.Nevius, fundadorde várias agênciasmissionárias naChina, apresentaalguns conselhossábios e relevantesem seu livro so-bre igrejas mis-sionárias. Ele afirma: �Devemosprocurar o melhor método detrabalho. Porém, o melhor métodosem a presença do Senhor Jesus e oEspírito da verdade será inútil. Ummétodo ruim pode ser tão ruim, quese torna ilógico esperar que receba abênção de Deus. Um método corretoe bíblico, se confiarmos nele comonosso principal fundamento de es-perança, pode ser utilizado durantemuito tempo sem que produza qual-quer bom resultado�.

Cristo tem em suas mãos o poderpara abençoar e expandir sua igreja.Para que nossas vidas sejam eficientesem trabalhar para sua glória, per-manecemos em constante necessi-dade de novas capacitações do Espíri-to Santo; e foram justamente taiscapacitações que caracterizaram aigreja apostólica. Já falei sobre oespírito de utilidade que identifica-va a vida dos membros simples daigreja, mas nas Escrituras somosconstantemente lembrados acerca do

Quanto mais o crenteprocura conhecer aCristo e viver nEle,tanto maior seráa sua utilidade.

,

,

Page 26: Revista Fé para Hoje Número 6, Ano 2000

A IGREJA: CRESCIMENTO E SUCESSO 23

Lucas nos mostra que, ao verem osdiscípulos, os judeus �reconheceramque haviam eles estado com Jesus�.Em 2 Coríntios 4, Paulo nos falasobre os crentes como �vasos debarro�. No entanto, ele afirma que opropósito de Deus é que a vida deJesus �se manifeste [torne-se evi-dente] em nosso corpo�. Este é omesmo ensino notável que en-contramos na pregação do próprioSenhor Jesus. Ele disse que, por meioda maneira como os crentes vivem,Deus será glorificado (Mt 5.16). E aeficiência de nossas vidas no servi-ço de Cristo resulta daquilo querecebemos: �Quem crer em mim,como diz a Escritura, do seu interiorfluirão rios de água viva� (Jo 7.38).Quanto mais o crente procuraconhecer a Cristo e viver nEle, tantomaior será a sua utilidade.

Portanto, no Novo Testamento,santidade e frutificação andaminseparavelmente juntas. Por exem-plo, pense sobre a igreja de Filipos.Paulo disse que o testemunho evan-gélico era uma característica de todaa igreja; �na defesa e confirmação doevangelho�, todos os crentes deFilipos eram participantes da graçajuntamente com ele (Fp 1.7). Einsistiu que continuassem �lutandojuntos pela fé evangélica�; a grandemaneira de fazer isso era viverem,�acima de tudo, por modo digno doevangelho de Cristo� (Fp 1.27). Istosignifica, Paulo adiante lhes disse,viver de conformidade com a mentede Cristo, o que não é uma im-possibilidade, �porque Deus é quem�age em vós. Os crentes de Filiposprecisavam dessa segurança. A cidadeem que moravam se encontrava nas

trevas do paganismo. Ali havia adi-vinhadores, ambiciosos e pessoasdispostas ao suicídio. Ali haviam sidocolocados aqueles crentes como�filhos de Deus inculpáveis no meiode uma geração pervertida e cor-rupta, na qual resplandeceis comoluzeiros no mundo� (Fp 2.15); aigreja cresceria por meio do res-plendor daqueles luzeiros iluminan-do as trevas de Filipos. Conformedisse R. L. Dabney: �A luz de umviver santo é o maior argumento doevangelho�.

Abordando este mesmo assunto,Floyd E. Hamilton escreveu em umartigo sobre �O Crescimento So-brenatural da Igreja�:

�Até ao tempo em que chegou aser a principal religião do império,pouco antes de Constantino tornar-se imperador, o cristianismo nuncapropagou-se por meio da força.Começando com um pequeno ehumilde grupo de seguidores deCristo, desde o início o cristianismofoi propagado de maneira pessoal, nocontato individual entre os crentes eos incrédulos. Onde quer que oscrentes fossem, levavam consigo amensagem do evangelho, transmitidatanto por suas vidas e exemplo quantopelos seus lábios. Todo crente era ummissionário em cada minuto de suavida. O fogo sagrado, aceso noscorações de muitos escravos, es-palhou-se, à semelhança de umincêndio florestal, atingindo oscorações dos mais elevados membrosda sociedade romana; e espalhou-sede um modo tão silencioso e de-simpedido, que o governo romano foiincapaz de perceber seu crescimento.As vitórias do cristianismo foram

Page 27: Revista Fé para Hoje Número 6, Ano 2000

Fé para Hoje24

conquistadas por meio do persuasivopoder dos lábios e das vidas dos cren-tes, encontrando uma resposta cor-respondente nos corações vivifica-dos pelo Espírito de Deus�.

Agora desejamos observar duascaracterísticas peculiares das igrejasque são utilizadas por Deus paramultiplicarem a si mesmas; pre-tendemos ilustrar essas característi-cas citando exemplos da história daigreja.

(1) O constrangedor amor deCristo está sempre poderosamentepresente onde os crentes são dotadoscom o Espírito Santo. O Senhor Jesusestá cheio de compaixão; e, ondehabita o seu Espírito, ali existe amor.O fruto do Espírito é amor. Quantomais houver da graça de Cristo emnossos corações, tanto mais fervorososerá esse amor.

Como isso é verdadeiro nas igre-jas mencionadas no livro de Atos dosApóstolos! O sacrifício e os sofri-mentos deles por Cristo eram frutodesse amor. Estêvão, por exemplo,era �cheio do Espírito Santo� (At7.55). Isto resultou em que, quandoestava para ser apedrejado até mor-rer, ele se ajoelhou e orou por seusperseguidores. Essa mesma atitudesempre caracterizou todos os avançosmissionários da igreja. Isso foiexemplificado com beleza na históriade evangelização da ilhas NovasHébridas. Dr. Graham Miller, ummissionário que trabalhou naquelasilhas, escreveu sobre o extraordiná-rio espírito da primeira igreja emAneityum (uma das ilhas):

�Possivelmente em nenhum lu-gar do mundo uma igreja tão pequena

enviou tanto obreiros, tendo o amorde Cristo como sua grande mo-tivação... Esses obreiros foramhomens e mulheres de posição, osmelhores que a igreja poderia ofe-recer. Todos partiram... enviadospela Fonte daquele amor, de modoque sua obra missionária foi es-pontânea, firme e bem-sucedida. Foium amor que não conheceu em-pecilhos, não levou em conta asdificuldades, foi bondoso e sofredor,não se comportou de maneira in-conveniente e suportou tudo. E,quando lhes foi exigido o maiorsacrifício de amor, eles o deram�.

Poderia citar numerosos exem-plos. Mencionarei apenas doismissionários americanos, John eBetty Stam, que foram executadospelos comunistas na China em 1934.Betty Stam expressou sua opiniãonessas palavras:

�Ninguém pode forçar um cristãonominal ou um pagão a se convertera Cristo. Tudo que os seguidores deCristo têm de fazer, tudo que podemfazer, é exaltá-Lo diante do mundo,trazendo-O aos cantos mais obscurosda terra, onde Ele é desconhecido,apresentá-Lo àqueles que não Oconhecem, falar sobre Ele a todos oshomens e viverem em profundaintimidade com Ele, a fim de que osoutros percebam que Jesus realmenteexiste, porque algumas pessoas ocomprovam por serem semelhantes aEle�.

(2) Se, ao considerar as epístolasdo apóstolo Paulo, alguém ainda nãosabe qual é o segundo fruto doEspírito, creio que logo o descobriráem todas as épocas em que a igreja

Page 28: Revista Fé para Hoje Número 6, Ano 2000

A IGREJA: CRESCIMENTO E SUCESSO 25

está crescendo; e esse segundo frutoacompanha o amor. �O fruto doEspírito é... alegria.� Esse fruto ce-lestial sempre se encontra em umaigreja que está crescendo. �A alegriado Senhor é a vossa força� (Ne 8.10).Comentando essa verdade, C. R.Vaughan escreveu: �Com certeza, setodos os crentes fossem tão felizesquanto deveriam ser, não haveriaqualquer resistência à propagação deuma fé tão visivelmente rica em podere bênçãos�.

3. Enquanto a propagação doevangelho é uma obra de toda aigreja, os pastores e mestres têm umaresponsabilidade especial.

É possível exagerar ou sub-estimar a obra do ministro cristão.Se a exageramos, invariavelmentedesaparece o conceito de que toda aigreja é uma agência evangelística.Os membros dasigrejas se tornamum pouco mais doque ouvintes pas-sivos de sermões.Esse perigo tem seespalhado ampla-mente e ainda pre-valece em nossasigrejas. Entretanto, em reação a essaatitude, outros crentes têm atribuídotanta ênfase ao que eles chamam de�ministério corporativo�, que se tor-na duvidoso se o papel tradicional dopastor ou pregador é realmente ne-cessário. Qual deve ser, então, afunção dos pastores no que se refereao crescimento da igreja? Se a prin-cipal obra tem de ser realizada portoda a comunidade de crentes, ondese encaixa a pessoa do pregador?

Estas são perguntas importantes.Creio que as respostas estão apre-sentadas em Efésios 4. Essa passagemnos mostra que os pastores e en-sinadores são dons concedidos à igre-ja por Cristo. Ninguém pode acre-ditar nessa verdade e, ao mesmotempo, menosprezar a vocação deles.Mas o grande propósito da obra dospastores e mestres, conforme lemos,é o �aperfeiçoamento dos santos parao desempenho do seu serviço, para aedificação do corpo de Cristo� (Ef4.12). Em outras palavras, a tarefado ministro cristão consiste emconduzir a igreja a um ministériomuito mais amplo; consiste em serum canal de bênçãos, de modo queoutros sejam capacitados e se tornemtestemunhas brilhantes e úteis.

É uma consideração bastantesensata para muitos pastores opensamento de que a vida espiritual

de uma igreja ad-quirirá suas carac-terísticas daquelesque a ela minis-tram. A saúde dorebanho está rela-cionada ao pastoaos quais os pas-tores conduzem as

ovelhas. E, novamente, encon-tramos isso em Atos dos Apóstolos.O que tornou os crentes tão cris-tocêntricos naquela época? Sabemosque foi o Espírito Santo, mas Ele é oEspírito da verdade que opera pormeio de homens que pregam aPalavra de Deus. Igrejas cristo-cêntricas são igrejas onde existe umapregação bíblica, ungida pelo EspíritoSanto. Nosso Senhor afirmou: �Eleme glorificará� (Jo 16.14). Isso é o

,

,

Cristo tem em suasmãos o poder para

abençoar eexpandir sua igreja.

Page 29: Revista Fé para Hoje Número 6, Ano 2000

Fé para Hoje26

que encontramos no livro de Atos.Os crentes em Jerusalém cons-tantemente ouviam a respeito de Je-sus, de sua glória e seu amor. Lucasnos fala sobre os pregadores: �E todosos dias, no templo e de casa em ca-sa, não cessavam de ensinar e depregar Jesus, o Cristo� (At 5.42). Demaneira semelhante, a obra deBarnabé, que era cheio do Espírito,consistia em �pregar a Jesus�, emAntioquia. Não é uma surpresa queali os crentes foram chamados de�cristãos�. Esse princípio é ver-dadeiro em todos os lugares.

Em anos recentes, Samuel Lambministrou como pastor da IgrejaSubterrânea na China. Grande partede seu ministérioconsistiu em pre-parar o povo deDeus para perma-necer firme em meioaos sofrimentos; e,para fazer isso, o teorde seu trabalho nãose concentrava empregar sobre o as-pecto árduo das cir-cunstâncias. Uma desuas ovelhas lhe dis-se em certa ocasião: �Jamais po-deremos agradecer suficientemen-te a Deus por seu ministério, pastorLamb; você nos preparou para o re-gozijo e não para a tristeza�. A isto,Lamb respondeu com as palavras deTiago: �Tende por motivo de todaalegria o passardes por várias pro-vações� (Tg 1.2).

Portanto, temos de afirmar que,onde uma comunidade de crentes nãoestá crescendo em graça e influência,a primeira coisa que precisa ser auto-

examinada é a natureza do ministériopastoral sob o qual estão esses crentes.�Quem, porém, é suficiente para estascoisas?� (2 Co 2.16).

Conclusões

1. Se o que dissemos é verdade,então o mundanismo em todas as suasformas � orgulho, incredulidade,falta de amor, egoísmo, imoralidade� é um inimigo certo do crescimentoda igreja. Essa é a grande razão porque a igreja nas épocas mais brilhan-tes de sua existência sempre foicuidadosa em precaver-se quanto àadmissão de pessoas à sua membre-

sia e em disciplinaraqueles que não vi-viam de maneira dig-na do evangelho.

Em conexãocom isso, precisamosenfatizar que orarnão é um substitu-to para a obediência.É fútil dizer a umaigreja que orar é asolução para a fal-ta de crescimento,

quando não existe qualquer interes-se em ver a Palavra de Deus serobedecida, e não há qualquer dis-ciplina na igreja.

2. Do que temos considerado,também concluímos que o dinheiro eas condições financeiras nunca cons-tituem o verdadeiro problema para aexpansão da igreja. Uma igreja vivanão depende de construções e de umaequipe de líderes remunerada. Issotem sido comprovado inúmeras vezes.

A saúde dorebanho está

relacionada ao pastoaos quais os

pastores conduzemas ovelhas.

,

,

Page 30: Revista Fé para Hoje Número 6, Ano 2000

A IGREJA: CRESCIMENTO E SUCESSO 27

As palavras de Archibald Ale-xander, de Princeton, são muitorelevantes: �Em vão procuramosdespertar em nossas igrejas o zelo pormissões como algo independente.Para sermos corretos, o zelo pormissões flui de nosso amor a Cristo.Quando tivermos um senso mais ele-vado de comunhãopessoal com Cristo,estaremos mais ca-pacitados para aobra missionária,quer para irmos nósmesmos, quer paraenviarmos outros.Se permitirmos quemissões se torneuma questão de di-nheiro e investimento financeiro, nãoveremos qualquer resultado. �En-contrem pregadores como DavidBrainerd�, disse John Wesley, �enenhum obstáculo prevalecerá diantedeles; mas, sem esse tipo de obreiro,o que podem fazer o ouro e a prata?�Uma afeição efusiva pelo SenhorJesus deve tornar-se a paixão que nosgoverna; e esse tipo de afeição trans-mite o entusiasmo do zelo evan-gelístico a cada membro da igreja.Uma igreja que possui pastores emembros desse tipo será uma igrejaapostólica, uma igreja celestial�.

3. Outra conclusão segura é averdade de que o crescimento daigreja não se fundamenta prima-riamente na multiplicação do númerode membros. O crescimento espiritualna graça de Cristo vem em primeirolugar. Onde esse crescimento é me-nosprezado em troca da busca deresultados, pode haver sucesso, mas

será de pouca duração e, no final,diminuirá a eficácia genuína da igre-ja. A dependência de número demembros ou a preocupação comnúmeros freqüentemente tem seconfirmado como uma armadilhapara a igreja. Também é verdade queum grande progresso espiritual

habitualmente temresultado das vi-das e do testemunhode um remanes-cente. O princípiode Gideão � �Hápovo demais� (Jz7.4) � permaneceverdadeiro. �Deusescolheu as coisashumildes do mun-

do, e as desprezadas, e aquelas quenão são, para reduzir a nada as quesão� (1 Co 1.28).

4. Se este ponto de vista sobrecrescimento da igreja está correto,precisamos guardá-lo em nossoscorações e nos esforçarmos para nãoperpetuar os erros dos quais somosculpados. Os ministros do evangelhoque possuem convicções bíblicas têmespecial necessidade de reconside-rar o ponto central de seu ministério.Um dos mais famosos evangelistasda Inglaterra no século XVIII foiHenry Venn. Quando estava idoso,escreveu uma carta ao seu filho,também ministro do evangelho;escreveu sobre �Os Enganos quePastores Novos Estão Propensos aCometer�. A carta apresentava oseguinte reconhecimento, fruto dopróprio ministério de Henry Venn:

�Estou consciente de que não fuitão insistente quanto deveria ao

Uma igreja vivanão depende deconstruções e deuma equipe de

líderes remunerada.

,

,

Page 31: Revista Fé para Hoje Número 6, Ano 2000

Fé para Hoje28

instruir aqueles que professam sercrentes, mostrando-lhes quão grandeera seu dever, visto que eles mesmoshaviam recebido o conhecimento dascoisas de Deus e tinham capacidadepara começarem a trabalhar juntocom seu pastor. Deveria ter lhes dito,com clareza e freqüência, que grandebenefício pode ser feito por um únicohomem que ensina a verdade�.

5. A lição final tem de ser que ahumilde dependência de Deus é nos-sa suprema necessidade. Podemosorganizar muitas coisas, mas nãopodemos organizar o crescimentoespiritual verdadeiro. Conforme

disse Samuel Lamb, o pastor chinês,a um jovem crente, nosso dever étestemunhar, �enquanto o Espíritonos guia. Ele não é uma arma emnossas mãos. Nós somos instru-mentos nas mãos dEle�. Terminocom uma palavra de John Nevius:

�Se, em alguma forma, estamosnutrindo um sentimento de confian-ça em nós mesmos, Deus pro-vavelmente nos humilhará, antes denos usar. Devemos sentir que, sealguma coisa for realizada paraCristo, isso acontecerá por meio dapresença e do poder do Santo Espíri-to de Deus, e estejamos prontos paraatribuir a Deus toda a glória�.

As pessoas Carecem Ouvirdas Grandezas de Deus

John Piper

(...) Muitas pessoas não admitirão este diagnóstico emsuas vidas atribuladas. A majestade de Deus é um remédiodesconhecido. Existem excessivas receitas populares nomercado, mas o benefício de qualquer outro remédio é super-ficial e momentâneo. A pregação que não tem o aroma damajestade de Deus pode entreter-nos por um tempo, porémnão satisfará o secreto clamor de nossas almas: �Mostra-me atua glória�.

Estou persuadido de que a visão da grandeza de Deus é osegredo da vida da igreja, tanto no ministério pastoral quantona expansão missionária. Nosso povo precisa ouvir mensagensque o deixe maravilhado quanto à pessoa de Deus. Carecemde alguém que, pelo menos uma vez por semana, levante asua voz e magnifique a supremacia de Deus.

Page 32: Revista Fé para Hoje Número 6, Ano 2000

ORAÇÃO DE UM PROFETA MENOR 29

Oração de um Profeta MenorA. W. Tozer

Esta oração é pronunciada por um homem chamado a sertestemunha ante as nações, e foram estas as palavras que disse ao seuSenhor no dia em que foi ordenado. Depois de os anciãos e ministrosterem orado e pousado sobre ele as suas mãos, retirou-se para estar asós com o seu Salvador, no silêncio, mais além do que os seus irmãosbem intencionados o podiam levar. E disse:

Senhor, escutei a tua voz e tivemedo. Chamaste-me a uma tarefasolene numa hora grave e perigosa.Em breve abalarás todas as nações, aterra e também o céu, para que fiquesó aquilo que é inabalável. Senhor,nosso Senhor, aprouve-Te honrar-mechamando-me a ser teu servo. Sóaceita esta honra aquele que échamado a ser teu servo, visto ter deministrar junto àqueles que sãoobstinados de coração e duros deouvido. Eles Te rejeitaram, a Ti, queés o Amo, e não posso esperar queme recebam a mim, que sou o servo.

Meu Deus, não vou perder tempoa deplorar a minha fraqueza ou aminha incapacidade para o trabalho.A responsabilidade é tua, não minha,pois disseste: �Conheci-te, ordenei-te, santifiquei-te�, e também: �Irás

a todos aqueles a quem Eu te enviar,e falarás tudo aquilo que Eu teordenar�. Quem sou eu para argu-mentar contigo ou para pôr emdúvida a tua escolha soberana? Adecisão não é minha, mas sim tua.Assim seja, Senhor; cumpra-se a tuavontade e não a minha.

Bem sei, Deus dos profetas e dosapóstolos, que, enquanto eu Tehonrar, Tu me honrarás a mim.Ajuda-me, portanto, a fazer este vo-to solene de Te honrar em toda aminha vida e trabalho futuros, querganhando quer perdendo, na vida ouna morte, e a manter intacto esse votoenquanto eu viver.

É tempo, ó Deus, de agires, poiso inimigo entrou nos teus pastos e asovelhas são dilaceradas e dispersas.Abundam também falsos pastores que

Page 33: Revista Fé para Hoje Número 6, Ano 2000

Fé para Hoje30

negam o perigo e se riem das ameaçasque rodeiam o teu rebanho. Asovelhas são enganadas por estesmercenários e seguem-nos comfidelidade, enquanto o lobo se acercapara matar e destruir. Imploro-Teque me dês olhosbem abertos paradescobrir a presençado inimigo; que medês compreensão pa-ra distinguir entre ofalso e o verdadeiroamigo. Dá-me vi-são para ver e co-ragem para declararfielmente o que ve-jo. Torna a minhavoz tão parecida coma tua que até as ove-lhas doentes a reconheçam e Tesigam.

Senhor Jesus, aproximo-me de Tiem busca de preparação espiritual.Pousa a tua mão sobre mim. Unge-me com o óleo do profeta do NovoTestamento. Impede que eu metransforme num religioso e percaassim a minha vocação profética.Salva-me da maldição que pairasombriamente sobre o sacerdóciomoderno; a maldição da transi-gência, da imitação, do profis-sionalismo. Salva-me do erro dejulgar uma igreja pelo número deseus membros, pela sua popularidadeou pelo total de suas ofertas anuais.Ajuda-me a lembrar-me de que eu souprofeta, não um animador, não umgerente religioso, mas um profeta.Que eu nunca me transforme numescravo das multidões. Cura a minhaalma das ambições carnais e livra-medo prurido da publicidade. Salva-me

da servidão das coisas materiais.Impede-me de gastar o tempo en-tretendo-me com as coisas da minhacasa. Faze o teu terror pousar sobremim, ó Deus, e impele-me para olugar de oração onde eu possa lutar

com os principados,e potestades, e prín-cipes das trevas destemundo. Livra-me decomer demais e dedormir demais. En-sina-me a auto-disci-plina para que eupossa ser um bomsoldado de JesusCristo.

Aceito trabalhoduro e pequenascompensações nesta

vida. Não peço um cargo fácil. Pro-curarei ser cego aos pequenos pro-cessos de facilitar a vida. Se outrosprocuram o caminho mais plano, euprocurarei o caminho mais árduo,sem os julgar com demasiada se-veridade. Esperarei oposição eprocurarei aceitá-la serenamentequando ela vier. Ou se, como porvezes sucede aos teus servos, o teupovo bondoso me obrigar a aceitarofertas expressivas de gratidão,conserva-Te ao meu lado e salva-meda praga que a isso freqüentementese segue; ensina-me a usar o queporventura receber de tal modo quenão prejudique a minha alma nemdiminua o meu poder espiritual. E sea tua providência permitir que meadvenham honras da tua Igreja, queeu não esqueça naquela hora que souindigno da mais ínfima das tuasmisericórdias, e que, se os homensme conhecessem tão intimamente

Salva-me do erro de julgar uma igreja

pelo número de seusmembros, pela sua

popularidadeou pelo total de suas

ofertas anuais.

,

,

Page 34: Revista Fé para Hoje Número 6, Ano 2000

ORAÇÃO DE UM PROFETA MENOR 31

como eu me conheço a mim próprio,me retirariam tais honrarias para asdarem a outros mais dignos delas.

E agora, Senhor do céu e da ter-ra, consagro-Te o resto dos meusdias, sejam eles muitos ou poucos,consoante a tua vontade. Quer eu meerga perante os grandes quer ministreaos pobres e humildes, essa escolhanão é minha, e eu não a influenciaria,mesmo que pudesse. Sou teu servopara cumprir a tua vontade. Ela émais doce para mim do que a posição,ou as riquezas, ou a fama, e escolho-a acima de tudo o mais na terra ou nocéu.

Embora eu tenha sido escolhidopor Ti e honrado por uma alta e santavocação, que eu nunca esqueça quenão passo de um homem de pó e cinzacom todos os defeitos e paixõesnaturais que atormentam a hu-manidade. Rogo-Te, portanto, meu

Senhor e Redentor, que me salves demim próprio e de todo o mal que eupuder fazer a mim mesmo enquantoprocuro ser uma bênção para osoutros. Enche-me do teu poder peloEspírito Santo, e eu caminharei natua força e proclamarei a tua justiça -a tua tão somente. Anunciarei amensagem do teu amor redentorenquanto tiver forças.

E, Senhor amado, quando eu forvelho e estiver fatigado, demasiadocansado para prosseguir, prepara-meum lugar lá em cima e conta-me entreo número dos teus santos na glóriaeterna. Amém.

(Originalmente publicado emPortuguês pela Revista Teológica,Seminário Teológico Batista,Leiria, Portugal, Vol III, Abril-Junho 1964, No. 2)

Entre as muitas coisas que são motivadoras para o crente existemtambém aquelas que afligem e trazem desânimo mesmo para o maispiedoso observador. Entre estas, contemplamos uma estranhacombinação de zelo com mundanismo; intensa atividade em favor daexpansão do reino de Deus na terra mesclada com uma lamentávelindiferença quanto ao estado espiritual da alma; em resumo, vemosum aparente esforço nas coisas exteriores misturado a um crescentetorpor no coração. Milhares de crentes estão substituindo a piedadepelo zelo; a mortificação, pela liberalidade; e a vida cristã pessoal,por uma religião social. Qualquer leitor dedicado do Novo Testamentoe observador do presente estado da igreja não deixará de convencer-sede que o que agora falta aos crentes é uma sublime espiritualidade.

O testemunho cristão rebaixa-se a este nível de piedade; a linhade separação entre a igreja e o mundo está se tornando cada vez menosperceptível; e o caráter do verdadeiro cristianismo, apresentado dospúlpitos e descrito nos livros, raramente se reflete na vida e no espíritodaqueles que professam ser crentes.

Estranha PiedadeJohn Angell James

Page 35: Revista Fé para Hoje Número 6, Ano 2000

CONHECIMENTO INEFICAZ 1

Foi um prazer o contato com aRevista �Fé para Hoje�, quetiveram a amabilidade de me en-viar... muito apreciei e me parecede muita utilidade a sua leitura.Fico grato... em poder me bene-ficiar da leitura de tão edificantee espiritual revista. Continuoaguardando pelos futuros exem-plares... cujos artigos sejam paraedificação da minha vida e degrandes bênçãos para o meuministério. R. M. P. F.

Setúbal, Portugal

A revista número 5 é muitoedificante. Gostei muito do artigoUma palavra aos Pais. Gostariaque tratassem mais deste assunto,principalmente filhos de paisseparados... toda a revista é umabênção. Já passei para outras ir-mãs da minha igreja e creio já estásendo muito útil. H. S.

Itú, SP

Desejo que a primeira carta nestenovo ano seja dirigida à �Fé paraHoje�, tendo em vista, o bem queme fez esta publicação e, creio,há de continuar fazendo... Creio

que todo professor de ED, evan-gelista, ministro de ER, se-minarista, pastor, etc, deveriaestar comprometido com �Fépara Hoje�... Vou colocar aquinome e endereço de um colega.

E. S. M.Engenho Novo, RJ

Trabalho como carteiro e, por-tanto, manipulo uma série decorrespondências...Sempre ficoatento...Uma agradável surpresafoi encontrar a revista �Fé paraHoje�. S. M.

Blumenau, SC

Esta revista tem sido uma bênçãopara minha vida, mas a leio porempréstimo. Gostaria de tê-la emminha coleção. Sou pastor...

A. A D. F.Atibaia, SP

...Revista �Fé para Hoje�, umaedição surpreendentemente boapara os cristãos de várias deno-minações de nossos tempos.Gostei muito do conteúdo destematerial. R. L. O.

Rio Negro, PR

Opinião do Leitor