revista fé para hoje número 24, ano 2004

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SANSÃO E A SEDUÇÃO DA CULTURA 1

Fépara

Hojeé para Hoje é um ministério da Editora FIEL. Como

outros projetos da FIEL — as conferências e os livros— este novo passo de fé tem como propósito semearo glorioso Evangelho de Cristo, que é o poder de Deuspara a salvação de almas perdidas.O conteúdo desta revista representa uma cuidadosaseleção de artigos, escritos por homens que têmmantido a fé que foi entregue aos santos.Nestas páginas, o leitor receberá encorajamento a fimde pregar fielmente a Palavra da cruz. Ainda que estamensagem continue sendo loucura para este mundo,as páginas da história comprovam que ela é o poderde Deus para a salvação das ovelhas perdidas —“Minhas ovelhas ouvem a minha voz e me seguem”.Aquele que tem entrado na onda pragmática queprocura fazer do evangelho algo desejável aos olhosdo mundo, precisa ser lembrado que nem Paulo, nemo próprio Cristo, tentou popularizar a mensagemsalvadora.Fé para Hoje é oferecida gratuitamente aos pastores eseminaristas.

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Editora FielCaixa Postal 160112233-300 - São José dos Campos, SP

www.editorafiel.com.br

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Maurice J. RobertsMaurice J. RobertsMaurice J. RobertsMaurice J. RobertsMaurice J. Roberts

A Bíblia nos adverte inúmerasvezes a vigiarmos nosso próprio co-ração. Apesar disso, com grande fre-qüência, os crentes tropeçam e caempor falta de diligência no cumpri-mento deste dever elementar! Não éem vão que a Bíblia nos diz: “Me-lhor é o longânimo do que o heróida guerra, e o que domina o seu es-pírito, do que o que toma uma cida-de” (Pv 16.32).

Muitos homens têm servido seupaís como presidente ou primeiro-ministro, todavia, não têm sido ca-pazes de cuidar de seu própriocoração e vida, protegendo-os de pe-quenas concupiscências e tentaçõescomuns. Muitos líderes distintos têmcomandado exércitos na terra e es-quadras no mar, porém não têm sidocapazes de resistir um ou dois peca-dos assediadores. As batalhas maisintensas não ocorrem fora de nós, esim em nosso íntimo. Esta é a ma-neira como a Bíblia encara o assun-to. Por esta razão, a Palavra de Deus

nos diz: “Sobre tudo o que se deveguardar, guarda o coração, porquedele procedem as fontes da vida” (Pv4.23).

Guardar o coração não é umaobra pela qual os homens nos louva-rão ou nos darão reconhecimento. Éuma atividade secreta da alma, ocul-ta para todos, exceto para Deus. Estaobra não nos proporcionará um títu-lo honroso de Doutor em Divinda-de, tampouco nos levará a algumaposição de prestígio acadêmico. Porconseguinte, é pecaminoso minimi-zar este dever secreto de vigiar o pró-prio coração, vendo-o como uma ta-refa insignificante na qual não deve-mos prender nossa atenção.

Somos propensos, especialmen-te quando crentes novos, a medir aimportância de nossos deveres espi-rituais pelo grau de posição que elesnos proporcionam diante das pesso-as. Talvez isto não seja totalmenteerrado, mas é uma atitude que temos seus perigos. A escada de Satanás

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para a fama e o sucesso geralmentetem degraus podres que os homensnão percebem de imediato.

Somos bastante imaturos no quediz respeito a avaliarmos nossas pri-oridades espirituais. Podemos nospreparar com diligência para reali-zar deveres exteriores e nos apressarnas preparações secretas. Nossos ser-mões estão prontos, mas nosso cora-ção está despreparado. Nossa vidaexterior é impressionante, porémnossa vida particular pode estar emdesordem. Pregamos contra o peca-do com muita ortodoxia, contudo,não lamentamos suficientemente arespeito do pecado em nossa devo-ção particular. De que outra manei-ra podemos explicar as quedas depastores que nos deixam admiradose chocados? De que outro modo po-demos justificar os escândalos repen-tinos e as trágicas apostasias? Ohomem interior do coração foi es-quecido na pressa e afobação de aten-dermos aos deveres públicos.

A Bíblia corrige esta abordagemdesequilibrada a respeito das priori-dades espirituais. Ela nos instrui aolhar para a nossa própria alma, an-tes de colocarmos o mundo ao nossoredor em ordem. A Bíblia nos orde-na a nos certificarmos quanto à raiz,antes de nos preocuparmos com asflores e os frutos. Se a raiz for sau-dável, haverá bom fruto no devidotempo. No entanto, frutos prematu-ros podem murchar e morrer, empouco tempo, quando as raízes daárvore são negligenciadas. “Todoramo que, estando em mim, não derfruto, ele o corta” (Jo 15.2).

A alma é o maior tesouro quepossuímos. Portanto, guardar a alma

e cuidar da saúde dela é a nossa maiselevada sabedoria. Apesar disso,quão raramente o fazemos! Se a so-ciedade reflete as opiniões íntimas dohomem a respeito da vida, que lugarinsignificante a alma ocupa em nos-sos dias! Os pais espirituais edifica-ram igrejas; nós construímossupermercados e estádios. Os paisespirituais liam a Bíblia e estudavamteologia, mas nós lemos — se é quelemos — ficção, fantasia e tolices.Os pais espirituais vigiavam a suaalma e a de seus filhos; todavia, aspessoas de nossa época pensam ape-nas no corpo e seus apetites. Deve-mos esperar que o mundo exteriorsiga o seu ponto de vista pagão a res-peito da vida. O crente, porém, nun-ca pode abandonar suas prioridadesbíblicas. A preocupação com a almatem de vir em primeiro lugar, senossas vidas têm de glorificar a Deus.

O crente deve cuidar de sua almacomo se esta fosse uma propriedadede Deus em seu íntimo. Afinal decontas, a alma é aquilo que nos dis-tingue dos animais. A alma é a parteque originalmente portava a imagemde Deus. Nossa alma é imortal e eter-na. Embora o pecado tenha danifi-cado severamente a imagem de Deusna alma, a regeneração restaura, noverdadeiro crente, esta imagem per-dida. Se conhecemos o valor da alma,devemos mantê-la como uma coroade jóias e colocar em alerta todas asfaculdades que possuímos, a fim deprotegê-la.

Uma das razões para vigiarmosnossa alma deve ser esta: um deslizepode estragar, de uma só vez, todo obem que tivermos realizado. Um ho-

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mem pode ser um missionário ou umpregador fiel durante vários anos.Mas, se ele escorregar e prejudicarsua reputação, por causa de algumtropeço irrefletido, todas as boas coi-sas que ele realizou durante vinte oumais anos serão apagadas da mentedos homens, devido a este tropeço,que foi praticado talvez em um úni-co dia. Essa é a natureza precária davida que desfrutamos como pessoasespirituais. Andamos em uma cor-da-bamba moral em todo o nossocaminho, até chegarmos seguros dooutro lado.

Esta deve ser a segunda razãopara vigiarmos nossa alma: a sutile-za de nosso inimigo. Talvez não lem-bramos co-mo devería-mos o fatoque temosum adversá-rio que nãocessará, emmomento al-gum, de ten-tar levar-nosà queda? Sa-tanás conhece bem nossa fragilida-de e nosso amor pela comodidade.Ele pode adaptar sua isca ao nossogosto. Satanás pode nos oferecer,assim como ofereceu ao apóstoloPedro, um fogo onde poderemosnos aquentar. Ele pode encontrar,assim como o fez a Sansão, umaDalila que nos induza ao sono fa-tal. Satanás pode misturar seu cáli-ce com tanta esperteza, que o be-bedor não acordará, até que suaalma esteja nas chamas do inferno.Aquele que duvida de tudo isso

deve pensar em Balaão, Saul e Ju-das Iscariotes.

Se precisamos de uma terceiraadvertência para não negligenciarmosnossa alma, esta advertência deve ser:o extremo cuidado que nosso bendi-to Senhor demonstrou em relação aSi mesmo. Aos doze anos de idade,Ele se mostrou mais preocupado emadquirir conhecimento da verdade doque em sentir medo de deixar seuspais inquietos. Esta é uma lição quenos ensina como o homem perfeitovaloriza os meios da graça e anelafazer a vontade de Deus. Os nossosqueridos, se for necessário, têm desofrer um pouco de tristeza, mas nadanos deve impedir de nos envolver-

mos nos in-teresses denosso Pai (cf.Lucas 2.49).Portanto, ve-ja o nosso Se-nhor em suastentações nodeserto, en-quanto repe-le a Satanás,

em cada ataque, e vence todas as in-vestidas dele. Veja-O também co-locando Pedro no seu devido lugar:“Arreda” (Mt 16.23). A amizadeera preciosa, mas não podia se in-terpor entre Cristo e sua missão deir à cruz.

Vigiar nossa alma significa,como o Senhor Jesus nos mostra,manter vigilância firme e intensa so-bre o nosso senso de obrigação paracom Deus. Significa colocar a von-tade de Deus em primeiro lugar emtodas as nossas atitudes. Significa

Uma das razões para vigiarmosnossa alma deve ser esta: umdeslize pode estragar, de uma

só vez, todo o bem quetivermos realizado.

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preferir o caminho do dever, em vezdo caminho do prazer. Significa odi-ar todas as influências e todas as su-gestões que podem enfraquecer nos-sa dedicação à vontade de Deus ouenfraquecer nossa resolução cristã decolocar a glória de Deus à frente detodas as outras considerações.

Visto que temos um coração cor-rupto, é possível abandonarmos o“primeiro amor” (Ap 2.4). Quer sejapor mau exemplo, quer seja por en-gano, quer seja apenas por causa deenfraquecimento da determinação, ocrente pode aprender a abaixar o pa-drão de sua obediência. Aquilo queem sua alma começou como ouro setornou prata no decorrer dos anos;depois, bronze, e, por fim, é apenasferro ou ferrugem. Outrora, ele vi-via; agora, porém, tem apenas nomede que vive (Ap 3.1). Sua prata ago-ra é escória, e seu vinho está mistu-rado com água. Isto não acontece emsua totalidade com o verdadeiro cren-te, mas a sua vida cristã pode em certamedida tornar-se assim. O que cau-sou isso? Ele negligenciou a suaalma.

Quando uma casa sofre um afun-damento, toda a sua estrutura é afe-tada. De modo semelhante, quandoum crente negligencia sua alma, to-dos os aspectos de sua vida espiritualentram em declínio visível. Antes,esse crente acreditava na infalibili-dade da Bíblia; agora, ele ri disso,reputando-o uma paixão da juventu-de. Antes, ele se levantava bem cedo,pela manhã, para orar e preparar seucoração para o novo dia; agora, elepula da cama, tendo raros minutospara orar e meditar. Antes, ele tinhaseu lugar na igreja e nunca chegava

atrasado; agora, ele se arrasta até àigreja e nunca chega na hora. O quecausou isso? Ele negligenciou suaalma.

À medida que a fogueira se apa-ga em uma floresta, as feras se apro-ximam furtivamente. De modo se-melhante, à medida que o crente ne-gligencia sua alma, os pecados de seuíntimo começam a enfrentá-lo, commaior perigo. Velhos pecados vol-tam a persegui-lo. Concupiscênciasda juventude, que o crente julgavamortas, ressurgem com novo vigor.Torpor incapacitante e estranha lan-guidez tornam quase impossível aocrente outrora ativo repelir seus ini-migos espirituais. O seu testemunhodefinha. Sua adoração esfria. Seuamor pela comunhão diminui. Talcrente inventa desculpas para a suaausência na companhia dos santos.Ele é apenas uma imagem pálida dohomem que era. O que causou isso?Ele negligenciou a sua alma.

A alma de pregadores e minis-tros do evangelho, assim como aalma de todos os outros crentes, tam-bém está exposta aos tipos de deca-dência sobre os quais acabamos defalar. Nenhum crente deve se enga-nar. Quando a batalha para manter-mos nossa vida espiritual estiver per-dida no lugar secreto, o simples fatode sermos chamados “reverendo”, ou“pastor”, ou de vestirmos roupas es-peciais não nos salvará da queda. Anegligência da alma não reterá pormuito tempo seu amor por sã doutri-na ou adoração evangélica.

O ministro do evangelho quecomeça a negligenciar sua alma aca-bará, se não se arrepender e mudarde atitude a tempo, por negar as dou-

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trinas fundamentais da fé, em secre-to e, depois, em público. A necessi-dade do novo nascimento não é maisconsiderada por ele com seriedade.A aceitação vazia dos artigos da Con-fissão de Fé da Igreja é tudo que eleexige dos membros de sua igreja.Pouco a pouco, toda a mensagem daBíblia foge dele. A expiação, a res-surreição, o nascimento virginal deCristo, a ira de Deus, a segunda vin-da de Jesus e o julgamento por vir —todos estes artigos de fé se removemdo credo pessoal de tal ministro,embora ele não tenha coragem ouintegridade moral para afirmar isso.Como este pregador mudou, deixan-do de ser evangélico e tornando-seum céptico? Ele negligenciou suaalma.

Parece estranho, mas a negligên-cia da alma é algo que freqüentementeocorre com o homem maduro e nãocom o jovem. Foi em sua maturida-de, e não em sua juventude, que Noéfoi vencido pelo vinho. Foi em suamaturidade, e não em sua juventu-de, que Davi contemplou a Bate-Sebacom conseqüências trágicas. Foi emsua maturidade que Salomão multi-plicou o número de suas esposas emanchou sua boa reputação, por to-lerar as divindades de tais esposas.Foi em sua maturidade, e não em suajuventude, que Ezequias mostrouseus tesouros aos embaixadores es-

trangeiros. Estas coisas foram escri-tas para o nosso ensino.

Existem armadilhas e ciladas parao crente velho, assim como existempara o crente novo. Talvez devidoao fato de imaginar que já passou dazona de perigo o crente velho acre-dita que pode aliviar sua vigilância.Grande parte dos conflitos de suaperegrinação ficou para trás. Ele estáquase contemplando a praia de ouro.Mas o peregrino veterano tem de lu-tar até ao fim. Relaxar pode equiva-ler a manchar sua boa reputação eperder uma parte de sua grande re-compensa.

A Palavra de Deus nos apresentao caminho de restauração da negli-gência da alma: “Sê, pois, zeloso earrepende-te” (Ap 3.19). Separe umtempo para orar e jejuar. Aflija a suaalma. Lamente os seus pecados pas-sados. Clame intensamente a Deusque lhe outorgue perdão e um novosenso de seu amor. Odeie a friezapecaminosa que abafou o seu primei-ro ardor por Cristo. Lembre o preçopago em favor de sua alma, no pre-cioso sangue de Cristo. Implore aoTodo-Poderoso que lhe dê um novoderramamento do seu Espírito, parareacender a chama do altar. Talvezmuitos de nós precisemos deste arre-pendimento, mais do que imagina-mos.

A Lei profere ameaças; o evangelho oferece promessas.Thomas AdamsThomas AdamsThomas AdamsThomas AdamsThomas Adams

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Alguns líderes modernos deigrejas imaginam-se a si mesmoscomo homens de negócios, persona-lidades da mídia, promovedores deentretenimento, psicólogos, filósofosou advogados. Essas idéias e concei-tos se contrastam, nitidamente, emtodos os seus detalhes, com o tom dasimbologia que as Escrituras utilizampara descrever os líderes espirituais.

Por exemplo, em 2 Timóteo 2,o apóstolo Paulo empregou 7 metá-foras para descrever os rigores doministério de liderança. Ele apresentao pastor como um mestre (v. 2), umsoldado (v. 3), um atleta (v. 5), umagricultor (v. 6), um obreiro traba-lhador (v. 15), um vaso (vv. 20-21)e um escravo (v. 24). Todas essasfiguras evocam idéias de sacrifício,labor, serviço e arduidade. Elas nosfalam, de modo eloqüente, sobre asresponsabilidades complexas e diver-sas envolvidas no ministério de lide-rar. Nenhuma delas transforma oministério de liderança em algo es-plendoroso.

Esta é a razão por que não deve-

mos supor que o exercer liderançaseja algo espetacular. Liderar a igre-ja (estou falando sobre todos os as-pectos da liderança espiritual, nãosomente da função do pastor) — nãoé um manto de status a ser conferidoà aristocracia da igreja. Não é obti-do pela idade avançada, compradocom dinheiro ou herdado por laçosde parentesco. O ministério de lide-rar não recai necessariamente sobreaqueles que são bem-sucedidos emseus negócios ou em suas finanças.Liderar a igreja não é distribuídocom base na inteligência ou no ta-lento. As exigências para a liderançasão pureza de caráter, maturidadeespiritual e, acima de tudo, disposi-ção de servir com humildade.

A metáfora favorita de nossoSenhor, referindo-se à liderança es-piritual, era a de um pastor — al-guém que cuida do rebanho de Deus.Esta foi uma figura que Jesus utili-zou para descrever a Si mesmo. Todolíder de igreja é um pastor. A pala-vra pastor significa alguém que cui-da de ovelhas. Esta é uma figura

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muito apropriada. Um pastor guia,alimenta, fortalece, consola, corri-ge e protege. Essas são responsabili-dades de todo líder de igreja.

Os pastores não possuem status.Em todas as culturas, eles ocupamos níveis mais baixos da pirâmidesocial. Isto corresponde perfeitamen-te às palavras de nosso Senhor, aodizer: “O maior entre vós seja comoo menor; e aquele que dirige sejacomo o que serve” (Lc 22.26).

No plano que Deus estabeleceupara a Igreja, a liderança é uma po-sição de humildade, amor e serviço.Liderar a igreja é um ministério, nãoum empreendimento administrativo.Aqueles que Deus indica como líde-res não são chamados para seremmonarcas, e sim súditos humildes;não celebridades espertíssimas, e simservos que trabalham com empenho.Aqueles que lideram o povo de Deustêm de ser, antes de tudo, exemplosde sacrifício, devoção, submissão ehumildade.

O próprio Senhor Jesus serviucomo modelo para nós, quando seinclinou para lavar os pés dos discí-pulos — uma tarefa que habitualmen-te era realizada pelos servos mais in-feriores (Jo 13). Se o Senhor do uni-verso agiu assim, nenhum líder deigreja tem o direito de pensar que éum mandachuva.

Pastorear animais é um trabalhoque não exige muita habilidade. Nãoexistem universidades que oferecemgraus de doutorado em pastorear ani-mais. Não é um trabalho difícil. Atéum cachorro pode ser treinado paraguardar um rebanho de ovelhas. Nostempos bíblicos, rapazes (Davi, porexemplo) pastoreavam as ovelhas,

enquanto os homens mais velhos re-alizavam serviços que demandavammais habilidade e maturidade.

Pastorear um rebanho espiritualnão é tão simples. O pastorado espi-ritual requer mais do que uma pessoade pouca instrução e sem objetivos.Os padrões são elevados, e as exi-gências, difíceis de satisfazer. Nemtodos podem preencher as qualifica-ções, e de todos os que as satisfazempoucos parecem ser bem-sucedidosneste ministério. O pastorado espiri-tual exige um homem de integridade,piedade, dons e capacidades múlti-plas. No entanto, ele precisa mantera perspectiva e o comportamento deum jovem pastor de animais.

A tremenda responsabilidade deliderar o rebanho de Deus está acom-panhada do potencial de grande bên-ção ou de grande juízo. Os bons lí-deres são duplamente abençoados (1Tm 5.17), e os péssimos líderes sãoduplamente repreendidos (v. 20),pois “àquele a quem muito foi dado,muito lhe será exigido” (Lc 12.48).Tiago 3.1 nos diz: “Não vos tor-neis, muitos de vós, mestres, saben-do que havemos de receber maiorjuízo”.

As pessoas freqüentemente meperguntam o que eu acho ser o se-gredo do crescimento fenomenal daIgreja Comunidade da Graça, nasúltimas duas décadas. Antes de qual-quer outra resposta, eu lhes digo queé a soberania de Deus que determinaa membresia de uma igreja e que osnúmeros não constituem um critériopara avaliar o sucesso espiritual.Entretanto, em meio ao tremendocrescimento numérico, a espirituali-dade vital de nossa igreja tem sido

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notável. Estou convencido de queDeus nos tem abençoado principal-mente porque nosso povo tem mos-trado forte compromisso com aliderança bíblica. Ao afirmar e pro-curar seguir o exemplo piedoso dosseus líderes, a nossa igreja tem aber-to as portas às extraordinárias bên-çãos das mãos de Deus.

Os líderes da Igreja Comunida-de da Graça têm se esforçado paravencer a preocupação que algumasigrejas parecem ter em relação àauto-estima e ao egoísmo caracterís-ticos da sociedade contemporânea. Oslíderes de nossa igreja tanto seguemo modelo como proclamam a chama-da de Jesus ao discipulado — “Quemnão toma a sua cruz e vem após mimnão é digno de mim.Quem acha asua vida perdê-la-á; quem, todavia,perde a vida por minha causa achá-la-á” (Mt 10.38,39).

Há alguns anos, quando constru-íamos o auditório que agora utiliza-mos como ginásio, alguns fizeram acompra de sete cadeiras em formatode trono, com uma coroa esculpidaem sua parte mais alta. Tais cadeirasserviriam ao propósito de que o cor-po de pastores se assentassem, quan-do subissem à plataforma. Nuncausamos aquelas cadeiras. Nossos pas-tores preferem assentar-se nos ban-cos, com a igreja. Isto é simbólico,

mas reflete a atitude que desejamostransmitir como pessoas chamadaspor Cristo para liderar sua igreja.

Filipenses 2.3-4 nos dá as pres-crições para uma igreja saudável:“Nada façais por partidarismo ouvanglória, mas por humildade, con-siderando cada um os outros superi-ores a si mesmo. Não tenha cada umem vista o que é propriamente seu,senão também cada qual o que é dosoutros”. Como devemos ministrar?Procurando honrar as outras pessoase satisfazer as necessidades delas. Seas pessoas de uma igreja estão bri-gando por posições e autoridade, alihaverá o mesmo tipo de caos quehouve entre os discípulos, quandoperguntavam a Jesus qual deles era omaior (Mt 20.20-21, Mc 9.33-35,Lc 22.24).

Temos de liderar com humilda-de nosso povo. Os pastores determi-nam a direção do rebanho. Nenhu-ma igreja será bem-sucedida, se osseus líderes falharem em sua tarefa.E nenhum rebanho sobreviverá eprosperará, se os seus pastores tenta-rem barganhar seu ministério por tro-nos.

(Adaptado de Shepherdology: AMaster Plan for Church Leadership[Pastorado, um Plano-Mestre paraa Liderança da Igreja].)

A vida não tenciona ser um lugar de perfeição, e sim depreparação para sermos perfeitos.

Richard BaxterRichard BaxterRichard BaxterRichard BaxterRichard Baxter

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DDDDDISCIPLINAISCIPLINAISCIPLINAISCIPLINAISCIPLINA NANANANANA I I I I IGREJAGREJAGREJAGREJAGREJA

Choolwe MwetwaChoolwe MwetwaChoolwe MwetwaChoolwe MwetwaChoolwe Mwetwa

(Pastor na Zâmbia. Preletor na V Conferência Fiel em Moçambique.)

Depois da pregação da Palavra,a administração fiel da disciplina éuma das características da igreja ver-dadeira; mas esta característica estádesaparecendo em nossos dias. Ossermões não atacam os pecados soci-ais e o materialismo. E os pecadosmorais raramente são confrontados.O resultado dessa atitude é uma gra-dual infiltração do mundanismo naigreja. Muitas igrejas pensam queuma estrita aceitação da disciplina naigreja é subversiva ao seu crescimen-to. Para uma época que não vê nadamenos que sucesso em números, adisciplina se torna uma desvantagem.Exceto nos casos de pecados horrí-veis, a disciplina na igreja tem sidoamplamente abandonada por muitos.

Não importa qual seja a sua ten-dência de pensamento, desejo afirmarque o critério de avaliação de umaliderança saudável e bem-sucedida éuma igreja bem disciplinada. Preten-do salientar cinco aspectos dadisciplina que são dignos de nossareflexão. Mateus 18.15-20 nos ofe-rece os princípios mais esclarecedoresa respeito deste assunto. Em vez deapresentar uma exposição completadesta passagem, considerarei de

modo breve os princípios extraídosdeste e de outros textos bíblicos.

1. F1. F1. F1. F1. FORMASORMASORMASORMASORMAS DEDEDEDEDE DISCIPLINADISCIPLINADISCIPLINADISCIPLINADISCIPLINA

Quando nos referimos à discipli-na na igreja, devemos pensar nãosomente na punição do erro. A dis-ciplina bíblica na igreja se inicia comatitudes de prevenção e, por conse-guinte, inclui tanto a disciplinaformativa como a reformativa. A pri-meira envolve todo o processo queresulta em prevenir os crentes de ca-írem no pecado. Todo o processo debatismo, tornar-se membro da igre-ja, submeter-se ao ministério deensino, manter a prática da oração eda comunhão com o povo de Deus,alcançar o perdido, separar o dízimode sua renda para o Senhor e subme-ter-se à liderança dos pastores — essascoisas estão antecipadas na discipli-na formativa da igreja. A disciplinareformativa, assim como nos sugereo termo, se preocupa com o apri-moramento de um crente que sebeneficia pouco da disciplinaformativa, um crente que erra em suajornada cristã. Estaremos nos refe-rindo a esta disciplina sempre que

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utilizarmos o termo disciplina semqualificativos.

Os crentes culpados de algumerro em seu viver, como o “irmão”mencionado no versículo 15, estãosujeitos a diversos modos de atitudereformativa, dependendo do seu pe-cado. Essa atitude é reabilitadora epunitiva em seu propósito. Às vezes,os pastores têm evitado o termo “pu-nição” ao descrever este aspecto dadisciplina. No entanto, o apóstoloPaulo a chama de “punição” em 2Coríntios 2.6. Portanto, a punição éuma parte integral da disciplina. Éclaro que não significa punição físi-ca; tampouco se refere a confiscaçãode bens. É uma disciplina infligidaemocional e psicologicamente pelaterrível vergonha experimentada pelodisciplinado. Quanto menos odiosofor o pecado, tanto menos severadeve ser a punição. Precisamos di-zer que a seriedade do pecado dealguém está mais relacionada à ati-tude da própria pessoa para com opecado cometido do que ao caráterintrínseco do seu pecado. Este é umfato importante na administração dadisciplina. Basicamente, quatro ofen-sas devem estar sujeitas à reprovaçãoimediata da igreja.

A forma mais branda de disci-plina reformativa é a simples repre-ensão entre um crente e outro (Mt18.15). Mas o que realmente nosinteressa neste artigo é o exercícioda disciplina mais formal e pública.Neste caso, a primeira coisa a fazeré a repreensão pública (1 Tm 5.20).Nesta repreensão, o crente errante éordenado a desculpar-se diante dacongregação do povo de Deus e re-preendido publicamente por um pas-

tor ou presbítero. O próximo passoé o isolamento social (Rm 16.17-20).Trata-se do esforço dos membros parareterem sua comunhão, seu amor eseu cuidado para com o irmão quepecou. Este esforço tem o objetivode produzir embaraço ou vergonha(2 Ts 3.14,15). Alguns se referem aisto como suspensão da comunhão.Por último, temos a forma mais se-vera, que é a excomunhão (Mt 18.17;1 Co 5.4,5). Por meio desta formade disciplina, o membro que conti-nua no erro é excluído da igreja, de-clarado contagioso à comunhão daigreja e entregue de volta ao mundo,do qual Satanás é o senhor. Na reali-dade, este membro é declarado e tra-tado como um não-crente, até queprove o contrário. Ao mesmo tempoem que este membro terá permissãode freqüentar os cultos e será enco-rajado a fazer isso, ele o fará na con-dição de réprobo. A membresia daigreja, conforme se pode observar,é um pré-requisito para qualquer for-ma de disciplina.

Não há necessidade de enfatizarque somente os membros da igrejalocal estão sujeitos à disciplina. Oofensor é chamado de “irmão” (Mt18.15), não somente porque mantémum relacionamento social para como ofendido, mas também porque osdois pertencem a um corpo idênticochamado igreja. Todo o contextoressalta isto. Toda igreja verdadeiradeve ter um rol de membros consti-tuído de crentes batizados, com bomtestemunho diante da igreja e domundo. Na freqüência da igreja, ha-verá aqueles que não são membros.Estes serão crentes ou não-crentes.Os não-crentes não devem ser mem-

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bros de uma igreja, em nenhuma cir-cunstância. De modo semelhante,nenhum crente deve, em qualquercircunstância, deixar de fazer parteda membresia de uma igreja local.Na ocorrência de um pecado, a dis-ciplina será aplicada aos membros, enão àqueles que estão fora damembresia da igreja. Embora oscrentes não-membros devam ser ad-vertidos particularmente, por causado seu erro,isto não é umexercício dadisciplina daigreja. Nom á x i m o ,isto equivaleàs admoesta-ções e repre-ensões diri-gidas aosnão-regenerados que ouvem a men-sagem do evangelho na igreja.

Há boas razões que explicam porque a disciplina reformativa dever seraplicada somente aos membros daigreja. Primeiramente, a disciplinaé um privilégio deles. Hebreus 12.5-11 nos recorda que a disciplina é uminstrumento de confirmar a filiação;é uma evidência de ser amado, bemcomo uma preparação da santidadeque compartilharemos com Deus. Emsegundo lugar, são os próprios cren-tes que desfrutam de todos osprivilégios da membresia; e a disci-plina da igreja consiste na perda dealguns desses privilégios. Seria umazombaria retirar privilégios de pes-soas que não os desfrutavam antes.A perda de privilégios peculiares sópode ser aplicada a pessoas que estãono gozo desses privilégios. Por essa

razão, somente os membros de umaigreja local podem ser disciplinados.

Os incrédulos não podem serobjetos da disciplina da igreja, por-que medidas de disciplinas têm oobjetivo de restaurar os crentes queerram e não o de regenerar os incré-dulos, que, em primeira instância,não devem ser aceitos na membresiada igreja. Tais pessoas são insensí-veis aos propósitos disciplinadores da

restauração;por essa ra-zão, nãopodem serobjetos dadisciplina daigreja. ÉDeus quetem de julgaraqueles queestão fora da

igreja, enquanto esta julga os seusmembros (1 Co 5.12,13).

Alguns talvez desejem saber quemedidas devem ser aplicadas a umcrente que erra e não é membro daigreja que ele freqüenta com regula-ridade. As Escrituras desconhecemesse tipo de pessoa. Todo crente temde pertencer à membresia de umaigreja. Visto que tal pessoa não exis-te nas Escrituras, fazer consideraçõeshipotéticas somente daria crédito àpossibilidade inaceitável da existên-cia de tal pessoa.

Na melhor das situações, pode-mos apenas nos referir ao caso de umcrente que é passível de disciplinaenquanto participa de outra igreja,da qual ele não é membro. Alguémque está nesta condição deve ser dis-ciplinado por sua igreja de origemsob a recomendação e superintendên-

A disciplina bíblica na igreja seinicia com atitudes de preven-ção e, por conseguinte, incluitanto a disciplina formativa

como a reformativa.

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cia da igreja onde ele freqüenta. Emoutras palavras, ao receber a infor-mação dos líderes da igreja a qualele freqüenta, os líderes da igreja deorigem decidirão que medidas disci-plinares apropriadas devem ser apli-cadas ao membro errante.

Este foi o princípio que o após-tolo Paulo abordou, quando, ao seencontrar distante da igreja deCorinto, onde o pecado fora come-tido, ele, como presbítero de outraigreja (em Éfeso), disse: “Eu, naverdade, ainda que ausente em pes-soa, mas presente em espírito, jásentenciei, como se estivesse presen-te, que o autor de tal infâmia seja,em nome do Senhor Jesus, reunidosvós e o meu espírito, com o poderde Jesus, nosso Senhor, entregue aSatanás....” (1 Co 5.3-5.) Tudo issodeve nos mostrar com clareza que osmembros da igreja são os objetos dasua disciplina.

2. C2. C2. C2. C2. CASOSASOSASOSASOSASOS PARAPARAPARAPARAPARA DISCIPLINADISCIPLINADISCIPLINADISCIPLINADISCIPLINA

As ofensas passíveis da discipli-na da igreja são: (1) permanência noerro - Mt 18.15-17; (2) conduta ouensino causadores de divisão - Rm16.17; Tt 3.10; (3) comportamentodesordenado - 2 Ts 3.6-15; (4) pe-cado escandaloso - 1 Co 5.1-13; e,(5) desacato à disciplina da igreja -Mt 18.17; Nm 16.12-20.

3. P3. P3. P3. P3. PROPÓSITOROPÓSITOROPÓSITOROPÓSITOROPÓSITO DADADADADA DISCIPLINADISCIPLINADISCIPLINADISCIPLINADISCIPLINA

Embora a vergonha (2 Ts 3.14b), a repreensão (1 Tm 5.20) e ahumilhação (1 Co 5.5) sejam osobjetivos da disciplina, são objetivossecundários. Os propósitos primári-

os da disciplina são a purificação daigreja, a restauração do pecador e aglorificação do nome de Deus.

4.4.4.4.4. OOOOOSSSSS AGENTESAGENTESAGENTESAGENTESAGENTES DADADADADA DISCIPLINADISCIPLINADISCIPLINADISCIPLINADISCIPLINA

A natureza da igreja exige quetodos os membros estejam envolvi-dos na disciplina. Aqueles que vêemum irmão ou uma irmã em pecadose encontram na linha de frente dodever — isto é o que afirma Mateus18.15. Em segundo, o dever recaisobre aqueles que são informados ouaqueles que são chamados a tentarpromover a restauração do crente queestá no erro (v. 16). Em terceiro, aresponsabilidade da disciplina recaisobre os presbíteros ou pastores que,encontrando dificuldade em assegu-rar-se do arrependimento, trazem ocaso à igreja, para que haja uma açãoformal (v. 17).

É muito importante que os mem-bros sejam encorajados a cumprir seupapel de protegerem um ao outro eem insistir que os errantes se arre-pendam. Uma igreja que fecha osolhos ao pecado, deixando que os lí-deres farejem sua existência e oresolvam por si mesmos, essa igrejalogo será dominada por imoralidadee escândalos. Os primeiros passosmencionados em Mateus 18.15,16,envolvendo os membros da igreja,são importantes para que o trabalhopastoral não se faça necessário. Odever dos pastores e líderes deve apa-recer nos últimos estágios. Elesdevem agir no estágio final de pro-curar estabelecer as circunstânciasque cercam o pecado, de validar asexortações ao arrependimento e deexercer a forma ideal de punição, se

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esta for necessária. A exceção, con-forme elucidaremos, ocorre nos casosem que o pecado tem uma naturezaescandalosa.

5.5.5.5.5. PPPPPROCEDIMENTOROCEDIMENTOROCEDIMENTOROCEDIMENTOROCEDIMENTO NANANANANA DISCIPLIDISCIPLIDISCIPLIDISCIPLIDISCIPLI-----NANANANANA

O papel de membros individuais daigreja.

A passagem de Mateus 18, con-forme já a apresentamos, é o proce-dimento que temos de seguir. Maseste procedimento se aplica, fre-qüentemen-te, àquiloque chama-mos de com-portamentodesordenadoe não ao pe-cado escan-daloso. Nocaso especí-fico de um comportamento desorde-nado, o crente pode ser instado aoarrependimento, em particular.Quando há ocorrência de pecado es-candaloso, o culpado não somente éconfrontado com a realidade de seupecado por aqueles que o testemu-nharam, como também está sob aresponsabilidade de contá-lo imedi-atamente aos líderes. Nenhuma con-fissão particular, ou remorso, ouarrependimento manifesto para comos membros comuns termina o pro-cesso de disciplina. Os pastores oupresbíteros devem ter a permissão delidar urgentemente com esse tipo depecado, por causa do dano que podeser causado ao ofensor, à sua igrejae à obra de Cristo (1 Co 5.1-13).Nos casos em que os crentes não têm

certeza a respeito de como classifi-car o pecado, eles são advertidos aprocurar o conselho dos líderes so-bre o pecado, enquanto mantêm suasatitudes particulares.

O papel dos líderes da igreja.Depois de estabelecer as circuns-

tâncias relacionadas ao pecado e aocaráter do arrependimento, se esteocorrer, os líderes decidem a puni-ção apropriada que o ofensor merece,a fim de satisfazer adequadamente ospropósitos para os quais a discipli-

na foi insti-tuída. Elesdevem trazeresta decisãoaos membrosda igreja,para que elesa ratifiquem.Quando o a-póstolo Pau-

lo disse aos crentes de Corinto: “Eu,na verdade, ainda que ausente empessoa, mas presente em espírito, jásentenciei, como se estivesse presen-te, que o autor de tal infâmia seja,em nome do Senhor Jesus, reunidosvós e o meu espírito, com o poderde Jesus, nosso Senhor, entregue aSatanás” (1 Co 5.3-5), ele especifi-cou o papel que um pastor oupresbítero desempenha no processode disciplina. Nesta passagem, oapóstolo deixou claro que os líderestêm de formular o juízo com o qualo restante da igreja deve concordar.Não compete ao membro realizar opapel dos líderes. Àqueles competeapenas ratificar a decisão destes, amenos que a decisão tenha sido umadecisão mal formulada e não esteja

A igreja tem de participar dadecisão disciplinar, porque os

membros tomarão partena aplicação da disciplina.

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em harmonia com a lei de Cristo.As decisões de natureza disciplinarnão são necessariamente atingidas porprocedimentos democráticos ou porconcordância da maioria.

O corpo de presbíteros ou pasto-res que julga um caso de disciplinatem de ser visto como um conselhode juízes que, depois de muita in-vestigação, deliberação e busca daorientação divina, chegam a um ve-redito. Normalmente, eles têm o pri-vilégio de conhecer informaçõesreferentes ao caso com o qual estãolidando, informações que outras pes-soas, devido aos ditames da confi-dência, não podem saber. Este fatomerece grande respeito. É claro queos membros da igreja ouvirão a res-peito dos detalhes relevantes e os dis-cutirão, quando necessário. Asinformações dos membros da igrejasão importantes, porque servem paraeliminar a possibilidade de perderinformações vitais relevantes ao casoem apreciação, informações que osmembros talvez possuam. Isso tam-bém revela, de maneira formal, aopinião, a sabedoria e o dever dosmembros para com Deus, no que serefere àquele caso de disciplina.

Será proveitoso mencionar quehaverá casos com os quais os líderesterão de lidar e resolver em particu-lar. Os membros nunca saberão des-ses casos, até, provavelmente, o Diado Juízo. Nesses casos, o crente er-rante será repreendido e aconselha-do particularmente. Por causa de suaprópria consciência, esse crente podeser advertido a se abster de funçõespúblicas na igreja, tais como liderara música da igreja, orar em público,assumir qualquer função de lideran-

ça e/ou participar da Ceia do Senhor,por algum tempo. A natureza do pe-cado desse crente e o seu estado de-terminarão as restrições. Casos dessanatureza envolvem aqueles cuja con-fissão de erro é imediata e voluntá-ria, cujo remorso e arrependimentosão inconfundíveis e cujo pecado nãotenha causado escândalo público e nãoenvolva implicações legais (Rm13.3,4). A razão para tal procedi-mento, neste caso, é que já se cum-priu o propósito fundamental dadisciplina na igreja — ou seja, a res-tauração do pecador e purificação dacasa de Deus (cf. Pv 28.13; 2 Co2.6-8,10b). O que a igreja deveriater produzido por um ato de censurao Espírito Santo produziu logo queo pecado foi cometido.

O papel da congregação.Se os membros da igreja não têm

razões boas e convincentes para dei-xarem de concordar com as reco-mendações dos líderes, eles têm odever de apoiá-las. A igreja tem departicipar da decisão disciplinar,porque os membros tomarão partena aplicação da disciplina. O levan-tar as mãos é uma maneira segura,embora não indispensável, de ma-nifestar concordância. Por conse-guinte, todo membro de igreja,incluindo aquele que se abstém devotar e aquele que se ausenta da as-sembléia, está obrigado a aplicar adisciplina que a assembléia concor-dou.

Além disso, precisamos enfatizarque os procedimentos na assembléiade membros são confidenciais. Ospronunciamentos dos membros pre-sentes não podem ser ditos aos mem-

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bros ausentes e, menos ainda, à pes-soa cujo caso disciplinar a assembléiaestava considerando. As contribui-ções de cada membro são feitas emconfidência. Sem a autorização pré-via dos autores de tais pronunciamen-tos, citá-los (ignorando o perigo demá interpretação do fato ou do con-texto) a alguém que não se inteiroudos procedimentos da assembléia sig-nifica ser um difamador e pode cons-tituir-se numa quebra dos estatutosda igreja, bem como da aliança deamor (o amor “tudo suporta” — 1Co 13.7). Somente os presbíteros oupastores têm o direito de comunicara decisão da igreja ao membro cul-pado e de responder às suas pergun-tas; e os membros disciplinados têmde mostrar respeito aos pastores epresbíteros nas ocasiões em que lhesdirigem tais perguntas. E os pasto-res e presbíteros, devemos ressaltar,não têm o direito de revelar os no-mes daqueles que lhes forneceraminformações, sem que estes os auto-rizem previamente. Revelar tais no-mes, sem consentimento antecipado,seria uma traição. Se não tivermoseste cuidado, amargura, ódio e cis-mas podem surgir na igreja. E o bemalmejado pela disciplina será arrui-nado.

O lugar do irmão errante.Embora o crente errante possa

estar presente para ouvir as acusaçõescontra ele e o veredito da igreja lhepossa ser anunciado diante dos pre-sentes na assembléia, minha opiniãoé esta: ele deve ser mantido ausentedas deliberações sobre o seu caso. Istopermite que haja liberdade de expres-são e julgamento entre os membros,

assim como protege o irmão de man-ter sentimentos aversivos, contrapessoas específicas, ao fazerem re-velações negativas de sua conduta evereditos dolorosos. Assim como osjuízes deliberam entre si mesmos, naausência do acusado, para chegarema uma decisão, é recomendável quea assembléia faça seu julgamento naausência do crente acusado. Isto ébom para ambas as partes.

Existe a urgente necessidade derestaurarmos a disciplina da igreja aoseu lugar de importância. Freqüen-temente, os líderes se comprometemneste assunto, quando eles mesmosnão vivem corretamente. Quer sejamculpados de suas próprias práticaserradas, as quais exigem disciplina,quer não estejam mantendo um rela-cionamento saudável com osmembros da igreja, ambos os casosenvolvem culpa de cumplicidade. Atimidez é outro fator que enfraquecea disciplina, ou seja, o temor doshomens ou o amor pelo louvor doshomens. O amor por números é ou-tro fator.

Com fidelidade e cuidado, de-vemos pastorear nossas ovelhas damaneira como elas devem ser pasto-readas. Quando errarem de modograve, devemos corrigi-las com amorou discipliná-las sem cairmos emautoritarismo, o qual as Escriturascondenam (1 Pe 5.2,3). Oh! deve-mos meditar sobre o fato de que amedida de uma igreja saudável e deuma liderança bem-sucedida é umaigreja bem-disciplinada! Isto mantéma pureza da igreja, visto que aspira àpureza de Cristo, o seu cabeça, aquem seja a glória para sempre.Amém!

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A UA UA UA UA UTILIDADETILIDADETILIDADETILIDADETILIDADE DASDASDASDASDAS E E E E ESCRITURASSCRITURASSCRITURASSCRITURASSCRITURAS

NONONONONO A A A A ACONSELHAMENTOCONSELHAMENTOCONSELHAMENTOCONSELHAMENTOCONSELHAMENTO

Wayne MackWayne MackWayne MackWayne MackWayne Mack

O que a Bíblia nos ensina? ABíblia nos ensina a respeito da vida;ela nos ensina a própria verdade (Jo17.17). A Bíblia nos ensina a verda-de que precisamos saber para come-çarmos a viver a vida que honra eglorifica a Deus. Ela nos ensina oque é certo e o que é errado; o que éproveitoso, o que é sábio e o que éestultice. A Bíblia nos ensina comopodemos escapar da corrupção queexiste no mundo e em nosso cora-ção. Ela nos ensina como podemosser eficientes no ministério cristão;como ser bons esposos e esposas, paise filhos; como ser bons cidadãos,como amar a Deus e ao nosso próxi-mo (2 Pe 1.3,4). A Bíblia nos ensi-na como resolver nossos problemasà maneira de Deus (1 Co 10.13; Rm8.32-39). Ela nos ensina como teralegria, paz, gentileza, paciência,bondade, amabilidade, autocontrolee dignidade (2 Pe 1.5-7; Gl 5.22,23). A Bíblia nos ensina a res-peito da Divindade, do céu, do in-ferno, da vida presente e da vida porvir. Na verdade, a Palavra de Deus

nos ensina (pelo menos na forma deprincípios) tudo o que necessitamossaber para que tenhamos uma vidaeficaz e bem-sucedida, conformeDeus mesmo define esse tipo de vida(2 Pe 1.8,9; 1 Tm 4.7; Jo 10.10).

As Escrituras são o nosso padrãoinfalível e inerrante em assuntos defé e de prática. A Palavra de Deus é“perfeita e restaura a alma”; é “fiele dá sabedoria aos símplices”; é cor-reta e alegra o coração; é pura e “ilu-mina os olhos”. Seus ensinos são“mais desejáveis do que o ouro, maisdo que muito ouro depurado”. Pormeio deles, o povo de Deus é adver-tido, protegido do erro e de angústi-as, e, “em os guardar, há grande re-compensa” (Sl 19.7-11).

O Salmo 119, o capítulo maislongo da Bíblia, refere-se totalmen-te à Palavra de Deus. Neste salmo,em quase todos os seus 176 versícu-los, o autor exalta a utilidade dosensinos encontrados na Palavra deDeus. Conhecer e praticar os ensi-nos da Palavra de Deus produz umavida abençoada, um coração agrade-

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A UA UA UA UA UTILIDADETILIDADETILIDADETILIDADETILIDADE DASDASDASDASDAS E E E E ESCRITURASSCRITURASSCRITURASSCRITURASSCRITURAS NONONONONO A A A A ACONSELHAMENTOCONSELHAMENTOCONSELHAMENTOCONSELHAMENTOCONSELHAMENTO 17

cido, livramento do opróbrio, pure-za de coração, libertação do pecado,alegria e gozo incomparáveis, livra-mento da reprovação e do desprezo,vigor e fortalecimento interior, ou-sadia e coragem, conforto e refrigé-rio, liberdade e segurança e muitosoutros benefícios. Não devemos nosadmirar des-tas palavrasdo salmista:“Terei pra-zer nos teusmandamen-tos, os quaiseu amo”;“Terei pra-zer nos teusd e c r e t o s ;não me es-quecerei da tua palavra”; “Os teustestemunhos são o meu prazer, sãoos meus conselheiros”; “Lâmpadapara os meus pés é a tua palavra e,luz para os meus caminhos”; “Aminha alma tem observado os teustestemunhos; eu os amo ardentemen-te”; “Tenho por, em tudo, retos osteus preceitos todos” (Sl 119.47, 16,24, 105, 167, 128).

Que bênção é possuirmos o en-sino infalível do Deus infinito e iner-rante, desfrutando deste ensino comoum guia para nossa vida e um auxí-lio para entendermos nossos proble-mas e as soluções para eles! Este en-sino se tornou especialmente real paramim há algum tempo, quando esta-va em meus estudos universitários naárea de psicologia. Enquanto estu-dava na universidade, ouvi muito arespeito de teorias e opiniões de mui-tas pessoas supostamente eruditas noque diz respeito ao homem e seus

problemas. Depois de apresentar asvárias e habitualmente conflitantesteorias a respeito do homem e seusproblemas (teorias ensinadas por lí-deres respeitados no campo da psi-cologia), um dos professores disse:“Não podemos ter certeza se qual-quer destas teorias é completamente

verdadeira.Mas, se vo-cês têm deaconselharoutras pesso-as, estudemestas teoriase decidamqual delaslhes parecemais sensata.Vocês têm

de fazer isso porque, quando as pes-soas vierem para aconselhamento,elas desejarão ouvir algo que lhes es-clareça o porquê dos problemas pe-los quais elas estão passando”. Apre-ciei a sinceridade deste homem, masfiquei triste por reconhecer que pes-soas estariam procurando ajudar ou-tras a entenderem seus problemas e aencontrarem soluções para eles, semterem qualquer razão consistente quelhes daria a certeza de que as coisasem que estavam crendo tinham al-gum valor genuíno. Ao mesmo tem-po, eu me regozijei em saber que aPalavra de Deus é proveitosa para nosensinar, de maneira infalível, “todasas coisas que conduzem à vida e àpiedade” (2 Pe 1.3).

Em outro curso de psicologia, aquestão dos valores estava sendo dis-cutida. Havíamos aprendido que aúnica maneira de alguém determinaro certo e o errado é agir de confor-

Quão infeliz é a situação daque-les que, trabalhando em ajudaroutros, não têm uma base sólidaque lhes capacite a entender aspessoas e seus problemas e aencontrar soluções para eles.

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midade com esta máxima: “O certoé tudo aquilo que é significativo esatisfatório para você e não machucaas outras pessoas”. Em meu papel derespostas daquela aula, afirmei queisso nos deixa em um dilema terrí-vel, relativista e incerto no que serefere a determinar o certo e o erra-do. De maneira tão respeitosa e gen-til quanto possível, escrevi: “Estamaneira de determinar o certo e oerrado é bastante relativista e subje-tiva, pois aquilo que eu penso ser sig-nificativo e satisfatório pode sermuito diferente daquilo que outrapessoa pensa ser significativo e sa-tisfatório. Além disso, como eu possosaber que algo é realmente significa-tivo e satisfatório? Visto que eu souum ser humano limitado, aquilo queeu penso ser significativo e satisfa-tório pode não ser, de maneira algu-ma, uma avaliação exata”.

No mesmo papel de respostas,escrevi as seguintes perguntas a res-peito da declaração de que o certo éaquilo que não machuca as outraspessoas: “Que padrão devo utilizarpara determinar se algo realmente nãomachucará outra pessoa? Como pos-so ter certeza de que outra pessoa nãoserá ferida por aquilo que eu faço ounão faço? Sou finito e falível, e meuentendimento daquilo que machucaos outros pode ser total ou, pelomenos, parcialmente errado”. Emrespostas às minhas perguntas, o pro-fessor escreveu: “Você levantou al-gumas questões sérias e interessan-tes, para as quais não temos respos-tas; mas continuaremos a lutar comtais questões”. Em outras palavras,se esquadrinharmos este padrão docerto e do errado, descobriremos que

não temos realmente nenhum padrão.Quão infeliz é a situação daque-

les que, trabalhando em ajudar ou-tras, não têm uma base sólida quelhes capacite a entender as pessoas eseus problemas e a encontrar solu-ções para eles. Quão agradecidos ehumildes nos deveríamos mostrarpelo fato de que temos a Palavra deDeus, a qual é proveitosa para nosensinar. Meus irmãos, posso dizer-lhes, não com orgulho, e sim comousadia, que realmente temos as res-postas! Temos a verdade na Palavrade Deus. Neste livro, a Bíblia, o Deustodo-poderoso nos revela o que écerto e o que é errado. Quando fun-damentamos nosso entendimento nes-te livro, não precisamos perguntar:“O que eu estou fazendo é certo ouerrado?” Se os ensinos deste livro sãoinspirados por Deus, podemos terpaz, confiança e segurança, se aqui-lo em que cremos, o que dizemos, oque fazemos está de acordo com oque a Bíblia diz. Se o Deus todo-po-deroso, todo-sábio, onisciente e in-falível ensina algo, o que nos impor-tam as coisas ensinadas pelo resto domundo? É de acordo com a lei e como testemunho da Palavra de Deus quefalamos a verdade, e qualquer coisaque contradiz a Palavra de Deus éexpressamente falsa (Is 8.20).

Se uma pessoa não tem a certezaresultante de reconhecer que aquiloem que ela crê é o ensino de Deus,tal pessoa passa a vida toda como umnavio sem âncora. Ela é constante-mente jogada de um lado para o ou-tro, sem qualquer fundamento ver-dadeiro para ter certeza a respeito dequalquer coisa. Quando tal pessoamedita realisticamente a respeito de

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A UA UA UA UA UTILIDADETILIDADETILIDADETILIDADETILIDADE DASDASDASDASDAS E E E E ESCRITURASSCRITURASSCRITURASSCRITURASSCRITURAS NONONONONO A A A A ACONSELHAMENTOCONSELHAMENTOCONSELHAMENTOCONSELHAMENTOCONSELHAMENTO 19

sua situação, o resultado é incerteza,temor, ansiedade, depressão, confu-são, perplexidade e várias outras ex-periências desagradáveis. Ao contrá-rio disso, quando uma pessoa reco-nhece que os ensinos da Bíblia fo-ram inspirados por Deus, e tal pes-

soa entende, crê e aplica esses ensi-nos à sua vida, ela possui os funda-mentos sólidos para desfrutar de paz,confiança, certeza, contentamento,ousadia, coragem, gozo, gentileza,bondade, amabilidade, autocontrolee dignidade.

CCCCCANTARANTARANTARANTARANTAR NANANANANA A A A A ADORAÇÃODORAÇÃODORAÇÃODORAÇÃODORAÇÃO

De acordo com o costume da Festa da Páscoa, nosso SenhorJesus entoa com os seus discípulos, no silêncio da noite, o “Halel”,a grande canção de louvor que consistia dos Salmos 115 a 118. É aprimeira vez que encontramos nosso Senhor cantando — o origi-nal grego não admite qualquer outra interpretação. Por meio dessaatitude, nosso Senhor consagrou para sempre a música vocal emsua Igreja. O cantar — esta linguagem de sentimentos, esta exala-ção de um estado de mente elevado, este impulso de uma almaextasiada — é um valioso dom do céu à terra.

Adotado no serviço do santuário, quão benéfica e abençoadoraé a sua influência! Quem não experimentou o seu poder de elevar-nos acima da atmosfera obscura da vida diária; seu poder detransportar-nos, de modo maravilhoso, aos arredores do céu; seupoder de dilatar e comover o coração; seu poder de repelir a tris-teza e romper os laços de inquietação? E este dom pode realizarcoisas maiores do que estas, quando, do céu, o Espírito Santo mesclacom o cantar o seu sopro. Milhares de vezes, o cantar tem restau-rado a paz em meio às lutas, banido a Satanás e aniquilado os seusprojetos. À semelhança de uma deliciosa brisa da primavera, estedom tem soprado através da planície rija e fria, levando coraçõesendurecidos a se derreterem como cera, tornando-os aráveis ecapazes de receber a semente da eternidade.

Vemos o Senhor da glória cantando com os seus discípulos.Oh! Se Davi, que escreveu aqueles salmos, tivesse imaginado queeles teriam a honra sublime de serem cantados pelos graciososlábios dAquele que era o supremo objeto das suas canções, eleteria deixado a pena cair de suas mãos, em jubilosa admiração!

(F.W.Krummacher; The Suffering Saviour, p. 79)

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CCCCCOMOOMOOMOOMOOMO AAAAA D D D D DOUTRINAOUTRINAOUTRINAOUTRINAOUTRINA

AAAAAFETAFETAFETAFETAFETA OOOOO E E E E EVANGELISMOVANGELISMOVANGELISMOVANGELISMOVANGELISMO

OOOOOSSSSS C C C C CAMINHOSAMINHOSAMINHOSAMINHOSAMINHOS D D D D DIVERGENTESIVERGENTESIVERGENTESIVERGENTESIVERGENTES DEDEDEDEDE

AAAAASAHELSAHELSAHELSAHELSAHEL N N N N NETTLETONETTLETONETTLETONETTLETONETTLETON EEEEE C C C C CHARLESHARLESHARLESHARLESHARLES F F F F FINNEYINNEYINNEYINNEYINNEY

Rick NelsonRick NelsonRick NelsonRick NelsonRick Nelson

Muitos hoje expressam surpre-sa quando ouvem o nome de AsahelNettleton, o último grande evange-lista que expôs as Doutrinas da Graça.Embora Nettleton (1783-1844) tenhavisto trinta mil pessoas convertidasdurante um ministério ativo de dezanos no início do século XIX, seulegado sofre de trágica negligência,talvez até de menosprezo, nas mãosdos historiadores eclesiásticos con-temporâneos.

Por outro lado, Charles G. Fin-ney (1792-1875) tem sido objeto deextensiva abordagem biográfica.Considerado o pai do avivalismomoderno, Charles Finney represen-ta o marco divisor na mudança docalvinismo para o arminianismocomo a teologia predominante noevangelismo. Conservadores gostammuito de Charles Finney por causa

de seu zelo evangelístico, e liberaisse referem com orgulho ao envolvi-mento de Finney na reforma social.Mark A. Noll considera Charles Fin-ney “a figura crucial no evangelica-lismo dos norte-americanos brancos,depois de Jonathan Edwards”, tendoimpacto mais duradouro do que Ral-ph Waldo Emerson, Daniel Webstere Horace Mann, na vida da naçãoemergente.

O legado de Charles Finneymoldou, em muitos aspectos, a teo-logia e a metodologia do evangelis-mo, em especial o evangelismo dosbatistas do Sul. A publicação dasobras mais importantes de Finney,Lectures on Revivals of Religion (Pa-lestras em Avivamentos da Religião)e Lectures on Systematic Theology(Palestras em Teologia Sistemática),causaram um impacto no evangelis-

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CCCCCOMOOMOOMOOMOOMO AAAAA D D D D DOUTRINAOUTRINAOUTRINAOUTRINAOUTRINA A A A A AFETAFETAFETAFETAFETA OOOOO E E E E EVANGELISMOVANGELISMOVANGELISMOVANGELISMOVANGELISMO 21

mo que se estende até aos nossosdias. A ênfase dos batistas do Sul nascruzadas simultâneas, na preparaçãodas cruzadas e no sistema de apelopúblico e a utilização de reuniões deavivamento como estratégia podemser atribuídas à considerável influ-ência de Charles Finney sobre o evan-gelicalismo de seus dias.

Este artigo afirma o ponto devista de que a crença de uma deno-minação, uma igreja ou uma pessoaa respeito da salvação está diretamen-te relacionada ao evangelismo queelas praticam. A soteriologia moldaa metodologia de evangelismo. Opressuposto é que a sã doutrina dasalvação deve produzir uma práticacorreta de evangelismo.

OOOOO AVIVALISMOAVIVALISMOAVIVALISMOAVIVALISMOAVIVALISMO DEDEDEDEDE A A A A ASAHELSAHELSAHELSAHELSAHELNNNNNETTLETONETTLETONETTLETONETTLETONETTLETON — — — — — CENTRALIZADOCENTRALIZADOCENTRALIZADOCENTRALIZADOCENTRALIZADOEMEMEMEMEM D D D D DEUSEUSEUSEUSEUS

Seguindo a linha teológica deJonathan Edwards, que enfatizava aresponsabilidade humana na perspec-tiva calvinista sobre o mundo, AsahelNettleton representava o aprimora-do calvinismo da Nova Inglaterra deseus dias. Enquanto se apegava fir-memente a cada um dos artigos doSínodo de Dort (também conhecidoscomo os Cinco Pontos do Calvinis-mo), conforme o entenderam osteólogos que o antecederam na NovaInglaterra (Jonathan Edwards, Jose-ph Bellamy e Timothy Dwight),Asahel Nettleton acreditava, antes eacima de tudo, que seu sistema dedoutrina era fiel à verdadeira revela-ção bíblica.

As crenças de Asahel Nettletonpodem ser resumidas nas seguintes

afirmações. O homem, sendo total-mente depravado em sua natureza eescolha, não pode salvar a si mes-mo. Pela graça de Deus, alguns foramescolhidos para a vida eterna. Paraos eleitos por Deus, o Senhor Jesusrealizou uma expiação penal e vicá-ria em favor dos pecados deles, nacruz. O eleito, por quem Jesus mor-reu, será atraído pela triunfante graçade Deus ao arrependimento e à fésalvadora em Cristo. Eles serão pre-servados por Deus para a salvaçãoeterna.

Os seres humanos têm de ser re-generados por Deus e precisam tersua natureza humana transformada,antes que se arrependam e confiemem Cristo para a salvação. Na teolo-gia de Nettleton, a capacidadehumana de reagir em cada etapa dasalvação provém de um ato sobera-no de Deus. A menos que Deus oimpulsione, o homem permanecerádesesperadamente perdido.

A metodologia de Nettleton cor-respondia perfeitamente à sua teolo-gia. Ele utilizava a pregação comomeio de trazer os pecadores à con-vicção de seus pecados. Nettletonregava todos os seus esforços evan-gelísticos com ardente e humilde ora-ção a Deus, o único que podiaregenerar uma pessoa perdida. Aosdespertados, que respondiam à cha-mada para se reunirem fora dos cul-tos normais, Nettleton ofereciareuniões de inquirição, que eram es-sencialmente sessões de aconselha-mento evangelístico em grupo.Nestas reuniões, as pessoas podiamreceber ajuda pessoal sem a pressãopública de oferecerem uma respostapositiva.

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Poucos homens chegaram ao ní-vel de perspicácia que Nettletondemonstrou no evangelismo pesso-al. Ele era um habilidoso cirurgiãoda alma. Instava com aqueles que sesentiam despertados a colocarem oassunto da salvação de sua alma di-ante de Deus, em particular. Muitosvieram à fé salvadora em Cristo comoresultado do ministério de Nettletonnos “lugares ermos”, em igrejas detodos os tipos e tamanhos. Poucosdos convertidos de Nettleton aban-donaram sua confissão, retornandoao mundo.

OOOOO AVIVALISMOAVIVALISMOAVIVALISMOAVIVALISMOAVIVALISMO DEDEDEDEDE C C C C CHARLESHARLESHARLESHARLESHARLESFFFFFINNEYINNEYINNEYINNEYINNEY — — — — — CENTRALIZADOCENTRALIZADOCENTRALIZADOCENTRALIZADOCENTRALIZADO NONONONONOHOMEMHOMEMHOMEMHOMEMHOMEM

Nos primeiros dias de sua moci-dade, Charles G. Finney decidiu re-agir contra o que acreditava ser osresultados do evangelismo deficien-te do calvinismo exposto por homenscomo Asahel Nettleton. Acreditan-do ser ele mesmo um corretivo paraa excessiva ênfase na soberania divi-na, Finney enfatizava a responsabi-lidade dos homens como agenteslivres e possuidores de moralidade.

Finney havia sido treinado comoadvogado e, infelizmente, não pos-suía educação teológica formal; porisso, ao ler as Escrituras, ele ficoupersuadido de uma salvação em ter-mos de uma filosofia de legalismo emoralidade. Tal mentalidade exigiaque os responsáveis por obedeceremà lei tinham de ser livres para obede-cer. Enquanto Nettleton enfatizavaa liberdade de Deus, Finney decidiuenfatizar a liberdade do homem.

Finney acreditava que os seres

humanos eram depravados em suavontade e não em sua constituição; aeleição para a salvação resultou doconhecimento antecipado da respos-ta dos homens ao convite do evange-lho; a expiação realizada por Jesusnão pagou a dívida do pecado de nin-guém, como um substituto penal;pelo contrário, a expiação apenaspermitiu que Deus perdoasse peca-dores, sem violar sua própria natu-reza e lei.

Michael Horton resumiu comexatidão as crenças de Finney: “Deusnão é soberano; o homem não é pe-cador por natureza; a expiação não éo verdadeiro pagamento do pecado;a justificação, por imputação, é uminsulto à razão e à moralidade. Onovo nascimento é simplesmente oresultado de técnicas bem-sucedidas.E o avivamento é o resultado naturalde campanhas inteligentes”.

Visto que os seres humanos sãoagentes morais livres, Finney acre-ditava que eles podiam rejeitar agraça de Deus. Mesmo depois de ar-repender-se e professar a fé emCristo, a salvação final de uma pes-soa permanecia incerta, dependentede sua obediência até à morte”.

A teologia de Finney o levou aperceber que somente um inimigo, avontade obstinada, impedia a salva-ção de todas as pessoas. Os métodosque Finney empregava eram avalia-dos com base em sua eficácia dequebrar a vontade obstinada dos pe-cadores. Este pragmatismo dominouo ministério de Finney. Servindo-sede um amálgama de métodos que jáestavam em uso, ele revolucionou oevangelismo e fez surgir o avivalis-mo moderno. Finney popularizou

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uma forma mais dramática de pre-gar, utilizou a oração pública comouma ferramenta para se pressionar ospecadores, permitiu que mulheresorassem em reuniões mistas, denun-ciou oponentes, mudou a tradiçãoaceita nas reuniões de inquirição,organizou as reuniões de oração degrupos pe-quenos e equipes de vi-sitação às ca-sas, fez sur-gir as campa-nhas evange-lísticas e pre-parou o ca-minho parao que maistarde se tor-naria o siste-ma de apelospúblicos. Estas novas medidas cau-saram grande controvérsia, mastambém são reportadas como o meiopara trazer aproximadamente500.000 pessoas ao despertamento.

AAAAAPLICAÇÕESPLICAÇÕESPLICAÇÕESPLICAÇÕESPLICAÇÕES AOAOAOAOAO EVANGELISMOEVANGELISMOEVANGELISMOEVANGELISMOEVANGELISMOCONTEMPORÂNEOCONTEMPORÂNEOCONTEMPORÂNEOCONTEMPORÂNEOCONTEMPORÂNEO

Estas descobertas são aplicáveisao evangelismo moderno em doisníveis. Primeiro, que princípios po-demos aprender desse estudo? Segun-do, que homem pode oferecer melhorexemplo ao futuro do evangelismo,Nettleton ou Finney?

No que se refere aos métodos,os dois podem nos oferecer um ex-celente ponto de partida quanto àsaplicações. Se a pregação for marca-da por paixão, fidelidade às Escritu-ras, aplicação pessoal pertinente,

apresentação clara e poder espiritu-al, o evangelismo será aprimorado.Se ministros do evangelho e mem-bros de igreja assumirem o empenhode orar como o fizeram Nettleton,Finney e seus cooperadores em avi-vamentos, o evangelismo será revo-lucionado. Eles não somente pra-

ticaram aoração pes-soal, mastambém or-ganizaram aoração dasigrejas empreparaçãopara aviva-mentos. Seos interessa-dos foremcorretamen-te aconselha-

dos e não forem publicamente pres-sionados a tomarem decisões prema-turas (e, conseqüentemente,espúrias), os resultados do evange-lismo serão preservados em um graumais elevado. Se os ministros doevangelho e membros de igreja pra-ticassem evangelismo pessoal teolo-gicamente correto, as igrejas seriamtransformadas pela infusão de umanova vida espiritual.

Se considerarmos esses dois ho-mens do passado como exemplo parao futuro do evangelismo, qual delesse tornaria o exemplo mais desejá-vel? Duas razões me levam a escolherNettleton: a) o legado de Finney nãopode resistir a uma avaliação rigoro-sa; b) quanto mais consideramos olegado de Nettleton, tanto mais cla-ramente enxergamos um quadro deequilíbrio doutrinário.

Muitos dos milhares que foramtocados pelo ministério de

Charles Finney retornaram aomundo, depois que desapareceu

a influência local doevangelista carismático.

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O legado de Charles Finney temsido questionado há muito tempo.Alvin L. Reid, professor de evange-lismo do Seminário Batista do Sul,fez a seguinte observação:

Finney recebeu o crédito porhaver produzido o ímpeto quecausou a mudança da obra deDeus para a obra de homens, noavivamento e no despertamentoespiritual.... O convite público,as reuniões prolongadas (hojechamadas “cultos de avivamen-to” ou apenas “avivamentos”) ea preparação para tais reuniõespodem, em grande medida, tersua origem em Charles Finney.Ele tem sido elogiado e conde-nado por esta mudança. Aoavaliarmos Finney, temos delembrar que ele estava reagindoao calvinismo frio, inerte e ex-tremo de seus dias.

Muitos dos milhares que foramtocados pelo ministério de CharlesFinney retornaram ao mundo, depoisque desapareceu a influência local doevangelista carismático. B. B. War-field advertiu que “grande proporçãodaqueles que foram introduzidos nasigrejas, pela excitação do avivamen-to, não eram verdadeiramenteconvertidos, conforme demonstraclaramente a história subseqüente desuas vidas”.

A fim de que ninguém rejeiteWarfield como um calvinista dePrinceton e inimigo de Finney, ostestemunhos dos amigos e colabora-dores de Finney, James Boyle e AsaMahan, oferecem evidências adicio-nais de que o trabalho de Finneyprecisa ser visto com bastante reser-

va e suspeita. James E. Johnson ad-mitiu que esses testemunhos dãocrédito “à acusação de que muitaspessoas introduzidas nas igrejas pelaexcitação das reuniões de avivamen-to nunca experimentaram realmenteuma mudança de coração”. Boyleescreve a Finney, em 1834:

Consideremos os camposonde eu, você e outros trabalha-mos como ministros deavivamento, e qual é o estadomoral de tais campos hoje? Qualera o estado deles alguns mesesdepois que os deixamos? Visiteidiversas vezes alguns desses cam-pos e gemi, em espírito, ao vero estado infeliz, carnal, gélido econtencioso em que as igrejascaíram — e caíram logo depoisque partimos de entre elas.

Em sua autobiografia, Mahanescreveu que muitas pessoas supos-tamente convertidas nos avivamen-tos, os pastores que organizavam asreuniões e até os evangelistas quedirigiam as mesmas subseqüentemen-te sofreram tanto moral como espi-ritualmente. Ele disse:

Eu estava pessoalmente fa-miliarizado com todos eles. Nãoposso recordar um homem se-quer, exceto o irmão Finney e opai Nash, que poucos anos de-pois de nossa partida não tenhaperdido sua unção, tornando-seigualmente desqualificado para oofício de evangelista e de pas-tor.Entre os evangélicos, Michael S.

Horton tem liderado, com vigor, ata-ques ao legado de Charles G. Finney.Horton retrata Finney como o pai

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espiritual do movimento de cresci-mento de igrejas, do pentecostalismoe do avivalismo político. Ele acusaFinney (utilizando as palavras dopróprio Finney) de negar estas dou-trinas cardeais: o pecado original, asubstituição penal como o motivo daexpiação e a natureza divina do novonascimento.

Visto que Finney repudiou mui-tos dos dogmas da fé cristã histórica,Horton o chamou “não somente deinimigo do protestantismo evangéli-co, mas também do cristianismohistórico”. Horton admitiu que Fin-ney estava certo em um ponto: “Oevangelho afirmado pelos teólogos deWestminster, que Finney atacou di-retamente e, de fato, o evangelhoafirmado pela maioria dos evangéli-cos é ‘outro evangelho’, em distinçãoao evangelho proclamado por Fin-ney”. Horton faz uma perguntaembaraçadora aos evangélicos que,inconscientemente, em nome do su-cesso no evangelismo, têm colocadoFinney em um pedestal de herói: “Aolado de qual desses evangelhos vocêse colocará?”

Monte Wilson vincula correta-mente Finney às mudanças noevangelismo e percebe que a estima-tiva incorreta de Finney a respeitoda natureza humana é a raiz de suacrença no fato de que “avivamentospodem ser planejados, promovidos,propagados pelo homem”. A tendên-cia moderna de confiar em técnicasde preparação para avivamentos podeser atribuída a uma adoção desta fal-sa premissa de Finney. Quando oevangelismo é avaliado somente combase nos resultados, a responsabili-dade desta avaliação tem de ser atri-

buída a Finney. Quando ministros doevangelho que não produzem os nú-meros apropriados de membros sãovergonhosamente demitidos de seupúlpito, o observador prudente vê,por trás da tragédia, uma das máxi-mas de Finney — “um ministro sá-bio será bem-sucedido”. Finneyacreditava que, se todos os ministrosdo evangelho seguissem seu exem-plo, o avivamento varreria a terra,introduzindo o milênio. Somenteuma década depois da publicação deseu livro sobre avivamento —Lectures on Revivals of Religion (Pa-lestras em Avivamentos da Reli-gião), Finney queixou-se de que osavivamentos haviam diminuído, tan-to em quantidade como em qualida-de. Wilson comentou com exatidão:“Avaliados pelos padrões do próprioFinney, seus ensinos a respeito damaneira de produzir convertidos eavivamentos, bem como as pressu-posições que fundamentavam taisensinos se comprovaram errados”.Somente a eternidade revelaráquantas das pessoas que começavama experimentar verdadeira convicçãode pecado nos avivamentos de Finneyforam impelidos a tomar uma deci-são espúria de salvação, arriscandoassim a sua alma eterna.

Finney se tornou um grandecatalisador na mudança da teologiaque fundamenta o evangelismo. Vistoque o arminianismo suplantou ocalvinismo, o homem substituiu aDeus como centro da teologia deevangelismo. Robert H. Lesceliusafirmou corretamente que, “desdeaquela época, o arminianismo tempredominado no evangelicalismoamericano”.

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A teologia e o ministério de Fin-ney foram construídos sobre a falsapremissa de que o calvinismo preju-dica o evangelismo. Dois anos antesde Charles Finney ser batizado, ses-senta e quatro pessoas haviam seconvertido na mesma igreja. Finneychegou à fé em Cristo em meio a umavivamento regional, durante umaépoca em que o calvinismo domina-va a atmosfera teológica.

A premissa permanece tão falsahoje quanto o era nos dias de CharlesFinney. Um contemporâneo deFinney na Inglaterra, o pregador ba-tista Charles Haddon Spurgeon,edificou uma grande igreja e estavacomprometido com a soteriologiareformada. O fenomenal e populartreinamento de evangelismo chama-do Evangelismo Explosivo foi criadopor um pastor presbiteriano, D. JamesKennedy, cuja igreja continua a cres-cer fundamentada em uma teologiareformada.O autor e pre-gador JohnMacArthurJr. pastoreiauma igrejapróspera emantém pon-tos de vistareformados. Ninguém pode defendercom sucesso a premissa de que assu-mir uma posição arminiana nasoteriologia significa tornar-se maisevangelístico do que uma igreja quemantém uma teologia reformada.

O legado de Charles Finney temde ser considerado tão perigoso porcausa da natureza antropológica desua teologia e dos métodos resultan-tes dessa teologia. Em seu esforço

de combater o que ele via como umaforma extrema de calvinismo, Fin-ney alterou desordenadamente abalança, ou seja, mudou o agir deDeus para o agir do homem na sal-vação. O evangelismo de Finneycarecia do primeiro ponto do evan-gelho — uma transformação divinados seres humanos, de pecadores asantos. O avivalismo de Finney dei-xou como resultado igrejas queficaram em piores condições porquese dividiram quanto às “novas medi-das” ou porque demitiram ministrospiedosos que não tinham as propen-sões evangelísticas de Finney. Todosos métodos de Finney devem ser re-avaliados sob um ponto de vistacrítico no que diz respeito ao seu ali-cerce doutrinário. Em benefício dasaúde futura do evangelismo, aquiloque é proveitoso tem de ser separadodo que é prejudicial, no que dizrespeito ao ministério de Charles

Finney.Poroutro lado,Asahel Net-tleton de-monstrou op o t e n c i a lsaudável doevangelismofundamenta-

do na teologia sã. O ministério deNettleton não prejudicou as igrejas;em vez disso, proporcionou-lhes edi-ficação. Pastores que trabalharam aolado de Nettleton sentiam que esta-vam sendo abençoados por um co-pastor. Nettleton entendia que aigreja existia antes de chegar o avi-vamento e que continuaria ministran-do ao povo, depois que o evangelistase dirigisse a outro lugar. Ele acre-

Asahel Nettleton entendia que“a teologia determina

a metodologia”.

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ditava que era muito importante man-ter a saúde da igreja.

Comparado com o elevado índi-ce de abandono dos convertidos deFinney, Nettleton obteve uma mar-ca notável na quantidade de pessoasque se mantiveram firmes, como re-sultado de suas reuniões. Pastoresgeralmente testemunhavam que, de-pois de mais de vinte e cinco anos,quase todos os que se haviam decla-rado convertidos permaneciam fiéisseguidores de Cristo.

Embora os números de Nettle-ton não alcancem os números deFinney, temos de perguntar quantossupostamente ganhos por Finney re-tornaram ao mundo. Comparado comFinney, Nettleton trabalhou em umcampo geograficamente menor. Oslugares em que ele ministrou erammenos populosos. Alguém poderiaindagar o que aconteceria se Nettle-ton tivesse ministrado nos centrospopulacionais visitados por Finney.

Asahel Nettleton entendia que “ateologia determina a metodologia”.Ele trabalhou conscientemente compessoas, de um modo que honrou aação divina que produziria conver-sões autênticas. O testemunho deBennet Tyler descreveu o ministériode Nettleton como uma chuva gene-rosa que nutria o solo ressecado eproduzia fruto espiritual permanen-te. James Ehrhard afirmou que “mui-to surpreendente aos leitoresmodernos é a descoberta de que a tre-menda eficácia de Nettleton aconte-ceu sem a instrumentalidade dequalquer dos métodos que os evan-gélicos modernos pensam ser essen-ciais no evangelismo”. AsahelNettleton provou a metodologia pelo

padrão das Escrituras, porque sabiaque qualquer outro procedimentocausaria ruína no final, não impor-tando quão bem-sucedida parecessetal metodologia.

O legado de Asahel Nettletonoferece um fundamento melhor parao futuro do evangelismo. Ele nãoestava certo porque era um calvinis-ta; estava certo porque avaliou o certoe o errado pela revelação bíblica, emvez de fazê-lo utilizando o raciocí-nio humano. Nettleton acreditava queos homens são totalmente deprava-dos em sua natureza, porque a Bíbliao afirma. Acreditava também queDeus tinha de agir inicialmente nasalvação, porque Jesus declarou issocom clareza (Jo 6.44; 6.65). Net-tleton cria que a expiação foi umasubstituição penal, porque ele a viaretratada deste modo nas Escrituras.Nettleton acreditava que as pessoaspodiam ser reconciliadas com Deustão-somente pela fé em Cristo e peloarrependimento para com Deus, por-que a Bíblia ensinava isso. Eleacreditava que os verdadeiros cren-tes seriam conhecidos, em últimainstância, pelo viver santo, porqueeste era um princípio bíblico.

Os batistas do Sul têm jurado sualealdade à revelação bíblica. Elesdeveriam reavaliar seu comprometi-mento com o evangelismo pragmá-tico de Finney, comparando-o comas Escrituras. Descobririam que asopiniões dele a respeito da naturezahumana têm de ser repudiadas.Finney estava errado no que se refe-re à expiação como um pagamentoem favor dos pecados de ninguém,em particular. Ele acreditava que aagência humana cumpria um grande

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papel na salvação, um papel maiordo que as Escrituras lhe permitem.Os erros de Charles Finney referen-tes às Escrituras produziram erros noviver diário, erros que até hoje sãouma praga entre os batistas do Sul,especialmente a baixíssima taxa deretenção dos novos convertidos.

O excelente livro de J. I. Packer,A Evangelização e a Soberania deDeus, representa uma posição maisbíblica. Começando com o pressu-posto de que Deus é soberano emtodas as coisas e, particularmente, nasalvação, Packer descreve a tensãobíblica entre a soberania de Deus e avontade do homem como umaantinomia que tem de ser aceita.Packer adverte aqueles que enfatizama responsabilidade humana em detri-mento da soberania de Deus, afir-mando que tal abordagem leva aoevangelismo “pragmático e calcula-do” com uma filosofia aparentadacom a “lavagem cerebral”. Ele ad-mite que tal evangelismo seria apro-priado, “se o produzir convertidos”,e não a fiel proclamação da verdade,fosse a responsabilidade do crente.Packer também faz uma advertênciaàqueles que negligenciam a respon-sabilidade humana, a fim de exaltara soberania de Deus. A tentação detais pessoas é negligenciar a respon-sabilidade evangelística de todos oscrentes, com base na suposição deque Deus salvará os eleitos. Packercensura essa atitude, chamando-a deapatia evangelística inescusável.

Citando o exemplo de CharlesSpurgeon, que disse nunca haver ten-tado reconciliar amigos, J. I. Packeroferece uma perspectiva sadia e equi-librada que reconhece a dependência

mútua das verdades aparentementecontraditórias. Ele aconselhou comsabedoria: “Na Bíblia, a soberaniadivina e a responsabilidade humananão são inimigos.... São amigos etrabalham juntos”. Isto levou Packerà seguinte conclusão: “O melhormétodo de evangelismo.... é aqueleque torna possível a mais ampla ecompleta explanação das boas-novasde Cristo e de sua cruz, bem como amais exata e perscrutadora aplicaçãodestas boas-novas”.

Visto que os batistas do Sul pro-fessam a crença na autoridade dasEscrituras, eles acreditam na depra-vação humana e, portanto, têm de seposicionar contra Finney, juntamen-te com aqueles que afirmam que oshomens são pecadores e necessitamde salvação, e não de uma reformamoral auto-induzida. Os batistas doSul crêem que a salvação procede docoração de um Deus santo, mas gra-cioso, que providenciou uma expia-ção vicária na morte de seu Filho,Jesus Cristo. Eles crêem que a sal-vação pode ser obtida por meio doarrependimento e da fé em Cristo,como resposta à graciosa chamada deDeus, por intermédio do poder deconvencimento do Espírito Santo.

Essas crenças devem compelir osbatistas do Sul a repudiarem sua as-sociação teológica e metodológicacom Charles Finney, impulsionan-do-os a se aproximarem do modelofornecido por Asahel Nettleton, queincorporou a teologia e a práticasobre a qual a Convenção foiestabelecida. Finney acreditava queseus dias necessitavam de uma mu-dança rumo ao arminianismo, paraque houvesse equilíbrio. A influên-

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cia de Finney causou um mudançaextrema na direção da responsabili-dade humana. Os batistas do Sul pre-cisam contra-balancear a excessivamudança de Charles Finney em di-reção ao homem, atingindo nova-mente o equilíbrio bíblico em suateologia e prática de evangelismo.

Em dias recentes, regozijei-meem ouvir o Dr. Timothy Georgeafirmando ser excelente o fato deque os batistas do Sul estão abrin-do novamente o diálogo a respeitodestes assuntos cruciais. Conformedisse o Dr. George, é positivo queestejamos conversando sobre a dou-trina da salvação nestes dias, em vez

de estarmos falando sobre a orde-nação de homossexuais ao ministé-rio. Isso testemunha a certeza daautoridade bíblica em nossa famí-lia de fé. Portanto, andemos jun-tos, com a Bíblia e o coraçãoabertos, tendo uma conduta contro-lada por Cristo, restabelecendo oequilíbrio correto entre a sobera-nia de Deus e a responsabilidadehumana, na soteriologia.________________

(Extraído do “Founders Journal”,com adaptações e supressão de no-tas. Artigo originalmente dirigidoaos batistas do Sul dos EstadosUnidos.)

O TO TO TO TO TEMOREMOREMOREMOREMOR DEDEDEDEDE UMUMUMUMUM P P P P PASTORASTORASTORASTORASTOR

J. C. RyleJ. C. RyleJ. C. RyleJ. C. RyleJ. C. Ryle

O que eu temo em relação a você? Tudo. Temo quevocê persistirá em continuar rejeitando a Cristo, até queperca a sua alma. Temo que você seja entregue a umamente reprovável e não desperte jamais. Temo que vocêchegue a tal dureza de coração e morte, que nada rom-perá o seu sono, exceto a voz do arcanjo e da trombetade Deus. Temo que você se agarre a este mundo fútil,com tanto apego que nada poderá separá-lo dele, excetoa morte. Temo que você viva sem Cristo, morra semperdão, ressuscite sem esperança, receba julgamento semmisericórdia e seja lançado inevitavelmente no inferno.

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Gilson SantosGilson SantosGilson SantosGilson SantosGilson Santos

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Nos últimos cinco anos, a Edi-tora Fiel vem realizando uma aben-çoada conferência para pastores elíderes em Moçambique. A quintaconferência anual aconteceu nos dias27 a 30 de julho de 2004.

Moçambique é um país de lín-gua portuguesa, localizado na ÁfricaAustral e banhado pelo oceanoÍndico. A população, estimada pelaONU em 2002, era 19 milhões dehabitantes, e a expectativa é que em2050 Moçambique tenha uma popu-lação de mais de 31 milhões. A capitalé Maputo, no sul do país.

O país convive com grande po-breza, e os índices de qualidade devida são baixos, impondo um qua-dro geral bastante precário. Moçam-bique sofreu com a Guerra deIndependência contra a dominaçãoportuguesa. Obtida a independênciaem 1975, o país viu-se mergulhadonuma guerra civil, que lhe trouxegraves conseqüências. O país está em

movimento e experimenta mudanças;percebe-se aqui e ali expressões deotimismo e esperança.

A conferência da Editora Fiel érealizada na cidade de Nampula, ter-ceira cidade do país, localizada aonorte, acima do importante rioZambeze. Em 1997, a populaçãoestimada de Nampula era 315 milhabitantes. Nos últimos anos, a ci-dade vem experimentando um cres-cimento impressionante, e algunssugerem que esse número pratica-mente triplicou.

Em Nampula, há alguns anos,está instalada a Livraria Fiel, que,recentemente, passou por dois mo-mentos difíceis. O primeiro, devidoao retorno de um missionário que acoordenava; ainda não se encontrououtra pessoa para substituí-lo. O se-gundo momento difícil deu-se noúltimo mês de agosto, quando a li-vraria foi assaltada. Um dos seusfuncionários – um crente simples ededicado – foi brutalmente assassi-nado. O assassino já foi identificado,

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e alguns dos bens furtados foram re-avidos.

O trabalho da Editora Fiel é co-ordenado em Moçambique pelomissionário norte-americano KarlPeterson, que tem seu escritório emMaputo. Ele administra todo o pro-cesso de inscrições; gerencia oProjeto Biblioteca do Pastor e esta-belece contatos com os pastores.Durante a conferência, ele ministraalguns workshops, e é muito amadopelos irmãos moçambicanos. O mé-dico e missionário Dr. CharlesWoodrow, que reside em Nampula,coordena toda a parte logística da con-ferência. O Dr. Woodrow, que estáestabelecendo um hospital emNampula, coordena pessoalmente to-dos os detalhes de transporte,hospedagem e cozinha, esforçando-se para que todos tenham acolhidaeficiente, acomodações dignas e boaalimentação.

Muitos dos presentes na confe-rência viajam muitas horas, algunsenfrentando um percurso de quasetrês dias, utilizando barcos, cami-nhões e ônibus. Mesmo assim,quando chegam ao local da confe-rência, aguardam com grandeansiedade o início das reuniões. Es-tas transcorrem de forma bemparticipativa, os ouvintes são bematenciosos, e canta-se bastante, commuita expressividade e alegria. AÁfrica é música! Em 2004, a confe-rência contou com cerca de 150adultos inscritos.

Os preletores deste ano foram osirmãos Pr. Choolwe Mwetwa, daZâmbia, e Pr. Gilson Santos, do Bra-sil. O pastor Mwetwa é o terceiropastor zambiano a pregar na confe-

rência em Moçambique. País vizi-nho de Moçambique, na Zâmbiafala-se o inglês, e o Pastor Mwetwafoi traduzido pelo irmão Tiago San-tos, gerente da Editora Fiel no Brasil.Os preletores trataram diversos as-pectos expositivos e práticos, sobreo tema geral “Cristo Amou a Igre-ja”.

Durante a conferência, os líde-res desfrutam de bom companheiris-mo e promovem frutíferos encontrosde avaliação. A fraternidade entre ospastores impressiona, assim comoentre as esposas.

A livraria cumpre um papelmuito importante durante todo oevento. Os pastores moçambicanostêm sido grandemente influenciadospor uma literatura sã, e a este res-peito dão efusivo testemunho, comações de graça. No presente, 56 pas-tores têm sido beneficiados peloProjeto Biblioteca do Pastor, rece-bendo periodicamente esta revista,livros e, eventualmente, auxíliopara participação nas conferências.É grande a alegria e gratidão quedemonstram pelas igrejas que lhesdão este apoio oportuno. Atualmen-te, 27 brasileiros participam doprojeto, adotando pastores e líderesmoçambicanos; este número, comtoda certeza, poderia ser exponen-cialmente maior.

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Também neste ano foi realizadoum primeiro encontro com algunspastores e líderes em Angola. Esseencontro, realizado nos dias 3 a 5 deagosto, foi um primeiro contato ten-do em vista a implantação dos

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ministérios da Editora Fiel naquelepaís.

Angola é o outro país de línguaportuguesa na África Austral. É ba-nhado pelo oceano Atlântico; ali ainfluência brasileira é muito grande.O país tinha em 2003 uma popula-ção estimada pela ONU em 13milhões e 900 mil habitantes.

O país sofreu muito com a guer-ra pela independência do domínioportuguês. A independência foi ob-tida em 1975, depois de 490 anos deconquista, ocupação e colonizaçãopor parte de Portugal. Depois, o paísviu-se mergulhado em sangrentaguerra civil, cujo armistício deu-seem 2002, com a mediação da ONU.A paz recente ainda traz certa inse-gurança e desconfiança. O interiordo país foi bastante devastado, commuitos terrenos minados e grande nú-mero de mutilados.

Em nossos dias, muitos ango-lanos dispersos pela guerra estãoretornando ao país. A expectativaé que em 2050 Angola tenha umapopulação de mais de 43 milhõesde pessoas. As coisas estão acon-tecendo numa velocidade incrível,com mudanças intensas, a passoslargos. Chegam em Angola mui-tas organizações humanitárias eONGs internacionais.

A capital é Luanda, ao noroestedo país. Em 2001, a cidade contavacom uma população estimada em1.500.000 habitantes. Alguns suge-rem que esta população é mais doque o dobro. A guerra fez a cidadeinchar e acentuou a desorganizaçãosocial. As condições são precárias: o

lixo se acumula nas ruas; bairrosenormes não têm serviços básicos,como água, luz e esgoto; há umanuvem de poeira sobre a cidade; e otrânsito é caótico. O angolano, nãoobstante, é simpático, hospitaleiro edinâmico.

A Editora Fiel deu início emAngola ao Projeto Biblioteca do Pas-tor, entregando seus primeiros livros.Esta revista também tem sido envia-da para diversos pastores.

Este primeiro encontro foi mui-to encorajador, e há grande expecta-tiva pela expansão do ministério daEditora naquele país, onde muitospastores militam em condições degrandes adversidades. Alguns delestêm tido a oportunidade de estudarem instituições teológicas no Brasil,e nutrem grande respeito e gratidãopelas igrejas e missionários brasilei-ros.

A África Meridional é uma dasregiões do mundo mais afetadas pelaAIDS, e é raro uma igreja ali quenão tem de deparar-se com esta rea-lidade. Moçambique e Angola nãosão exceções.

Em toda aquela vasta região,cercados por vizinhos que têm o in-glês como idioma europeu oficial,encontram-se estes dois países de lín-gua portuguesa. Há muitas portasabertas. Moçambique e Angolaconstituem-se numa grande respon-sabilidade para as igrejas do Brasil.Oremos para que Deus prossigaabençoando o ministério da EditoraFiel nestes dois países, trabalho esteque merece o nosso melhor apoio eencorajamento.