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www.ssoar.info Conhecendo os caminhos da teoria crítica Antunes, Márcia do Nascimento V.; Ramos, Luís Marcelo Alves Veröffentlichungsversion / Published Version Zeitschriftenartikel / journal article Empfohlene Zitierung / Suggested Citation: Antunes, Márcia do Nascimento V. ; Ramos, Luís Marcelo Alves: Conhecendo os caminhos da teoria crítica. In: ETD - Educação Temática Digital 2 (2000), 1. URN: http://nbn-resolving.de/urn:nbn:de:0168-ssoar-106270 Nutzungsbedingungen: Dieser Text wird unter einer Free Digital Peer Publishing Licence zur Verfügung gestellt. Nähere Auskünfte zu den DiPP-Lizenzen finden Sie hier: http://www.dipp.nrw.de/lizenzen/dppl/service/dppl/ Terms of use: This document is made available under a Free Digital Peer Publishing Licence. For more Information see: http://www.dipp.nrw.de/lizenzen/dppl/service/dppl/

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Conhecendo os caminhos da teoria críticaAntunes, Márcia do Nascimento V.; Ramos, Luís Marcelo Alves

Veröffentlichungsversion / Published VersionZeitschriftenartikel / journal article

Empfohlene Zitierung / Suggested Citation:Antunes, Márcia do Nascimento V. ; Ramos, Luís Marcelo Alves: Conhecendo os caminhos da teoria crítica. In: ETD -Educação Temática Digital 2 (2000), 1. URN: http://nbn-resolving.de/urn:nbn:de:0168-ssoar-106270

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DOCUMENTO

Rev. online Bibl. Prof. Joel Martins, Campinas, SP, v.2, n.1, out. 2000 1

CONHECENDO OS CAMINHOS DA TEORIA CRÍTICA

Márcia do Nascimento Vieira AntunesLuís Marcelo Alves Ramos

ResumoBuscando produzir subsídios para o debate na área da Educação em Saúde, este documento trazuma síntese histórica sobre a Escola de Frankfurt e apresenta o conteúdo da Teoria Crítica por elaproduzida, resgatando elementos das obras de seus mais expressivos membros: Horkheimer,Adorno, Marcuse, Benjamin e Habermas.

Palavras-chaveEscola de Frankfurt; Teoria Crítica; Educação - Teoria; Sociologia Educacional

AbstractAiming to support a discussion on education in health, this paper brings a concise view on thehistory of the Frankfurt School and shows an introduction to the "Critical Theory" highlightingsome aspects of the significant contribution to this school of thought by Horkheimer, Adorno,Marcuse, Benjamin and Habermas.

Key-wordsFrankfurt School; Critical Theory; Education - Theory; Educational Sociology

DOCUMENTO

Rev. online Bibl. Prof. Joel Martins, Campinas, SP, v.2, n.1, out. 2000 2

INTRODUÇÃO

Dada a importância da amplacontribuição para o mundo acadêmico daTeoria Crítica da Escola de Frankfurt noque diz respeito à analise e interpretaçãoda realidade nos seus mais diversosaspectos – político, social, cultural,econômico, estético, etc - , o texto que oraapresentamos é uma síntese, de caráterintrodutório e didático, do que vem a ser aEscola de Frankfurt e a Teoria SocialCrítica por ela produzida. Se numprimeiro momento este texto estevevoltado para os membros do PRAESA1

com o objetivo de indicar umapossibilidade de fundamentação teórica aser utilizada – ou não – pelos integrantesdo grupo em seus Projetos de Pesquisa,neste momento, considerando asreferências positivas de vários leitores2

sobre a qualidade didática do texto, nossoobjetivo é de, através do recurso Online,“socializá-lo” àqueles que como nós seinteressam pela Teoria Crítica da Escolade Frankfurt. Estruturalmente, dividimoseste estudo em três partes: na primeira,conceituamos a “Escola de Frankfurt” e asituamos historicamente (desde a criaçãodo Instituto de Pesquisa Social até ametade da década de 80), além decitarmos os trabalhos de maior relevânciaproduzidos por seus integrantes. Nasegunda, destacamos os principaisconteúdos teóricos das obras de seus maisimportantes membros: Max Horkheimer,Theodor Adorno, Herbert Marcuse,Walter Benjamin e Jürgen Habermas.Apresentados em três eixos temáticos,esses conteúdos estiveram presentes na 1 . O PRAESA (Laboratório de Estudos e Pesquisas em

Práticas de Educação e Saúde), grupo de pesquisa do qualsomos membros, é vinculado à Faculdade de Educação daUNICAMP, sob coordenação da Profa Dra Maria HelenaSalgado Bagnato.

2 . O trabalho foi apresentado em mesa redonda na Faculdadede Educação da UNICAMP em Março de 1999, ficandoaberto à divulgação externa. Assim, outros leitores, alémdos que integram o PRAESA, tiveram acesso a ele.

crítica “frankfurtiana” desde o início doInstituto e até os dias de hoje não foramesgotados. São eles: a dialética da razãoiluminista e a crítica da ciência, a duplaface da cultura e a discussão da IndústriaCultural e a questão do Estado e suasformas de legitimação. Por fim, naterceira parte, situamos as repercussõesda Teoria Crítica sobre algumasformulações teóricas das décadas de 70 e80.

PRIMEIRA PARTE

A “Escola de Frankfurt”3 - Conceito

O termo “Escola de Frankfurt “ procuradesignar:• uma identidade histórica nascida na

década de 20 com a criação doInstituto de Pesquisa Social -composto por “um grupo deintelectuais marxistas não ortodoxosque permaneceram à margem de ummarxismo-lenismo “clássico”, seja emsua versão teórico-ideológica, seja emsua linha militante e partidária”(FREITAG,1988:10) - e que sepropagou através de gerações de novosteóricos até os dias de hoje;

• uma teoria social (originada de umprojeto científico, filosófico e políticodenominado “Filosofia Social”)batizada de “Teoria Crítica”caracterizada: pela tarefa derevitalização do materialismodialético; pela “missão histórica” decontribuir para a emancipação dahumanidade; pelas críticas das ciênciase das filosofias e pelo questionamentoda dinâmica histórica do século 20(marcado por grandes mudançasestruturais e políticas); e pelas diversasposições teórico-filosóficas e prático-

3 . Essa denominação “só viria a ser adotada, e com reservas,por Horckeimer na década de 50” (MATOS: 1993:12).

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políticas dos teóricos que arepresentaram (representam);

• uma unidade geográfica, onde seriacentralizada a produção teórica dosintegrantes da Escola. No entanto,grande parte dessa produção surgiufora de Frankfurt.

“A Escola de Frankfurt” - Histórico

Este histórico está dividido em quatrofases, constando em cada uma asprincipais obras produzidas:Primeira Fase: A criação do Instituto dePesquisa Social (1922-1933);Segunda Fase: O período de emigraçãopara os Estados Unidos (1933-1950);Terceira Fase : A reconstrução doInstituto de Pesquisa Social em Frankfurt(1950-1970);Quarta Fase : O renascimento e asuperação da Teoria Crítica (1970-1985).

PRIMEIRA FASE

A criação do Instituto de PesquisaSocial (1922-1933)

• Antecedentes históricos à criação daEscola de Frankfurt:- 1914:Início da Primeira Guerra

Mundial: disputa entrepotências Imperialistas pelocontrole das matérias-primas edos mercados mundiais;

- 1917:Revolução Russa: Queda doCzarismo e implantação doregime socialista na Rússia;

- 1918:Fim da Primeira GuerraMundial;

- 1919 – 1920: Tratado de Versalhes:os aliados impõem à Alemanhaa perda de territórios, o não-rearmamento e uma pesadadívida de guerra;

- Final da década de 10 e início dadécada de 20: Frente à

ascensão dos movimentosoperários socialistas, diversosEstados europeus aliam-se àburguesia e sufocam liderançase partidos comunistas. É ogerme dos regimes totalitaristasno Oeste Europeu (nazismo efascismo). Esse períodocaracteriza-se por esperançasrevolucionárias e decepçõeshistóricas;

-1922:Mussolini assume o poder naItália e instala o regimefascista;

- 1922:Sob a liderança de Leninsurge a União das RepúblicasSocialistas Soviéticas (URSS)englobando os territórios quepertenciam ao Império Russo;

• O Instituto de Pesquisa Social nasce naTuríngia, em 1922, a partir de umasemana de estudos reunindo entreoutros pensadores marxistas, FélixWeil, Karl Korsh, Lucáks, Pollock eWittfogel. Seu objetivo é adocumentação e teorização dosmovimentos operários da Europa dadécada de 20. É fundado oficialmentepor Félix Weil (seu idealizador) em 3de fevereiro de 1923 e tem, como seuprimeiro diretor, Kurt Albert Gerlach.Vincula-se à Universidade deFrankfurt, mantendo autonomiaacadêmica e financeira (é financiadopor Hermann Weil, pai de Félix Weil,que fez fortuna com a produção decereais na Argentina);

• Com a morte de Gerlach em 1923,Carl Grünberg (historiador emarxólogo) assume a direção doInstituto ocupando o cargo de 1923 a1930. Durante sua direção é editada arevista Arquivo, que tem como tema ahistória do socialismo e do movimentooperário europeu. Nela, os“frankfutianos” procuraram

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documentar e descrever, “dentro datradição marxista, as mudançasestruturais na organização do sistemacapitalista, na relação capital-trabalhoe nas lutas e movimentos operários”(FREITAG,1988:11);

• Em 1924 Stálin assume a liderança daURSS e inaugura um governototalitarista;

• Em 1929 ocorre a quebra da Bolsa deValores de Nova Iorque: início da criseeconômica norte-americana;

• Em 1930 Max Horkheimer (filósofo)torna-se o novo diretor do Instituto,que passa a operar como um centro depesquisas. Horkheimer muda a suaorientação teórico-política e seusmembros partem para a análise dosproblemas do sistema capitalista queenfatiza a superestrutura (razão, arte,cultura, ciência, Estado, etc). Assumetambém diversas funções nainstituição, além de sua direção: éprofessor universitário naUniversidade de Frankfurt; torna-seeditor da Revista de Pesquisa Social; ecomo teórico marxista desenvolvereflexões sobre o capitalismo modernona Europa;

• Horkheimer reúne no Instituto diversoscolaboradores, sendo seus principaisexpoentes Adorno, Marcuse,Benjamin, Fromm, Pollock, Wittfogele Gumperz;

• Antevendo as barbaridades domovimento anti-semita, Horkheimercria filiais do Instituto em Genebra(1931) e em Londres e Paris (1933);

• Em 1932 Roosevelt implanta a políticado New Deal: recuperação econômicados Estados Unidos;

• Ainda em 1932 os nazistas confiscamos arquivos do Instituto e em 1933decretam o seu fechamento;

• Em 1933 Hitler assume a direção daAlemanha e implanta o regime nazista4

PRINCIPAL PRODUÇÃO TEÓRICADESSA FASE

• Revista de Pesquisa Social: contémensaios de vários teóricos que seguemas mudanças teórico-políticaspropostas por Horkheimer;

• Estudos sobre Autoridade e Família(1936): organizados por Horkheimer eFromm, tratam de obter informaçõessobre a estrutura da personalidade daclasse operária européia que,submetida ao domínio capitalista,perdeu seu potencial emancipatório esua consciência histórica, não sendocapaz de levar a cabo a revolução doproletariado postulada por Marx. Essesestudos têm uma sustentação teóricafreudo-marxista retomada do grupoSex-Pol composto especialmente porReich, Bernfeld e Fenichel nos anos20. Parte deles, o material empírico deFromm, revelou dados que poderiamser utilizados para os interesses doemergente movimento nacional-socialista alemão, assim, o Institutooptou por não publicá-los. Essematerial só viria a público em 1980quando foi editado na Alemanha como título Trabalhadores e Empregados

4 . Foram várias as explicações para a ascensão do nazismo:

para Trotsky, sua origem estava na incapacidade políticados partidos de esquerda em firmar alianças entre sociais-democratas e comunistas; para os economistas, a expansãoalemã surgiu devido à crescente inflação e ausência demercado de exportação; os historiadores atribuíram aorigem do totalitarismo alemão ao desfecho da PrimeiraGuerra Mundial: o Tratado de Versalhes ( o rearmamentoalemão foi possibilitado pela razão de ser visto pelosEstados Unidos como uma ameaça ao poderio soviético);outros ainda viam o movimento nacional socialista como oresultado da tradição de formação do Estado alemão; aEscola de Frankfurt não negou o valor de tais abordagens,entretanto, tentou superá-las e atribuiu a gênese dosEstados totalitaristas a uma ordem metafísica: a partir dacrítica marxista viu na racionalidade positivista dominantea origem da irracionalidade ditatorial que resultou naSegunda Guerra Mundial.

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na véspera de Ascenção do III Reich:um estudo em Psicologia Social;

• um ensaio de Horkheimer sobrehistória e psicologia no qual percebe-se sua “preocupação em integrar onível macroteórico (produçãocapitalista), com o nível microteórico(indivíduo sexualmente reprimido),mediatizados pela estrutura familiarautoritária” (FREITAG,1988:14).

De forma geral, esse período écaracterizado pelo pensamento teórico eas convicções políticas de Horkheimer,fundamentados no freudo-marxismo deReich e Fromm. Sua meta é captar adinâmica social dentro de umaperspectiva materialista fundada nasociologia e na psicologia. Ocorretambém uma mudança de interesse doInstituto, que passa da documentação daforma pela qual a classe operáriaenfrentava as crises específicas docapitalismo no início do século 20 parauma análise dos motivos pelos quais elanão assumiu a sua tarefa histórica derevolucionar o sistema vigente. Foi naconjunção específica das macroestruturascapitalistas com as microestruturas dafamília burguesa e proletária que os“frankfurtianos” buscaram estaexplicação.

SEGUNDA FASE

O período de emigração para osEstados Unidos (1933-1950)

• Em 1933 o Instituto é transferido paraGenebra e a redação da Revistadesloca-se para Paris onde permaneceaté a invasão alemã;

• Em 1934 a instituição muda-se paraNova Iorque, vinculando-se àUniversidade de Columbia. Ainstituição mantém sua autonomia

financeira graças a Hermann Weil queainda custeia bolsas de estudos naEuropa para intelectuais e judeusperseguidos pelos nazistas, entre elesBenjamin e Ernest Bloch;

• Em 1937 Horkheimer lança na Revistao ensaio A Teoria Tradicional e aTeoria Crítica contendo osfundamentos da Teoria Crítica daEscola de Frankfurt;

• Em 1939 inicia a Segunda GuerraMundial;

• Em 1940 Adorno e Horkheimerencontram-se na Califórnia comThomas Mann, Berthold Brecht eoutros intelectuais alemães e judeusrefugiados;

• O último volume da Revista, até entãoeditada em alemão, é editada em 1941em inglês;

• A Itália fascista capitula frente à forçaaliada em 1943;

• Em 1945 termina a Segunda GuerraMundial: Berlim é invadida pelossoviéticos e bombas atômicas sãodetonadas em Hiroshima e Nagasaki.A Alemanha e o Japão se rendem;

• Após o fim da guerra, o mundo édividido em dois grandes blocos: ocapitalista, liderado pelos EstadosUnidos, e o socialista, comandado pelaUnião Soviética;

• Em 1947 surge a Doutrina Truman:início da hegemonia norte-americanapelo mundo: ajuda militar e econômicaa todos os países europeus, asiáticos,africanos e latino-americanos que seopuseram ao comunismo;

• São editadas as obras Dialética doEsclarecimento em 1947 e APersonalidade Autoritária em 1950;

• Um grupo de intelectuais deixam oInstituto: Fromm, Marcuse, Wittfogele Newman permanecem nos EstadosUnidos; Bloch aceitará uma cátedra naAlemanha Oriental; Benjamin se

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suicida devido à perseguição nazista;Halbwachs é executado pelo mesmoregime; e, em 1948, após a SegundaGuerra Mundial, Horkheimer eAdorno retornam à Alemanha;

• Em 1949 a Alemanha é dividida:Ocidental (capitalista) e Oriental(socialista);

• Nesse mesmo ano nasce a OTAN:símbolo da supremacia norte-americana sobre o mundo capitalista.

PRINCIPAL PRODUÇÃO TEÓRICADESSA FASE

Nesse período de exílio nos EstadosUnidos, marcado pela tragédia histórica, apreocupação dos “frankfurtianos” volta-separa a solidariedade entre os membros dogrupo e para a solidificação da identidadedo Instituto. Devido a isso, a produçãoteórica torna-se menor, porém maiscontundente. Os trabalhos dessa fase sãomarcados pela impressão que a sociedadeamericana (expressão máxima docapitalismo moderno e da democracia demassa) causou nos pensadores europeus.Horkheimer, por sua vez, procura salvar acrítica dialética do positivismo eempirismo crescentes nas ciências sociais.

As obras mais expressivas dessa fase são:• uma série de artigos da Revista, que

fundaram a Teoria Crítica;• Dialética do Esclarecimento (1947):

Nessa obra, Adorno e Horkheimer aoanunciarem “a morte da RazãoKantiana (a razão libertadora),asfixiada pelas relações de produçãocapitalista” (FREITAG,1988:21)rompem com suas obras anteriores einiciam a construção de críticas maisradicais que levarão Adorno àconcepção de sua Dialética Negativa.O livro ainda traz a crítica da evoluçãoda cultura nas modernas sociedades de

massa, das quais os Estados Unidos é oexemplo mais significativo;

• A Personalidade Autoritária (1950):uma pesquisa empírica elaborada porpsicólogos, psicanalistas e filósofosque procuravam refletir “sobre ainteração entre a dinâmica psíquica doindivíduo e as condições sociais epolíticas da sociedade em que vivemestes indivíduos”(FREITAG,1988:18). Este trabalhosegue a estrutura teórica freudo-marxista utilizada nos Estudos sobreAutoridade e Família (1936) ,entretanto, é coordenado por Adorno,tem como objeto de estudo a realidadeamericana e possui uma maiorsofisticação metodológica e empírica.

TERCEIRA FASE

A reconstrução do Instituto dePesquisa Social em Frankfurt (1950-1970)

• Em 1950 o Instituto passa afuncionar novamente em Frankfurt;• Adorno e Horkheimer assumem

cátedras na Universidade JohannWolfgang Goethe, ministrando aulas etrabalhando em pesquisa até 1969;

• Em 1951 é implantado o Macarthismo:doutrina de “caça às bruxas”: osEstados Unidos perseguem oscomunistas no próprio país epatrocinam a perseguição pelo resto domundo;

• Em 1953 morre Stálin, porém, persisteo regime ditatorial soviético;

• Em 1955 nasce o Pacto de Varsóvia:símbolo da superioridade soviéticasobre o bloco socialista;

• Horkheimer continua sendo o diretordo Instituto, nomeando, em 1955,Adorno como co-diretor. Em 1958com a aposentadoria de Horkheimer,

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Adorno assume a direção. Duranteestes anos a Escola de Frankfurt seresume a estes teóricos;

• Em 1956 inicia-se a RevoluçãoCubana;

• O muro de Berlim é erigido em 1958;• Horkheimer após sua aposentadoria,

em 1958, muda-se para a Suíça e nofinal de sua vida toma o caminho daTeologia;

• A Revolução Cubana termina em1959;

• Nos primeiros anos da década desessenta jovens filósofos ingressam noInstituto: Schmidt, Habermas,Friedeburg, Tiedemann, Pross, Oehler,Weltz e outros;

• Habermas e Friedeburg auxiliados porOehler e Weltz realizam um estudoentre estudantes das Universidades deFrankfurt e Berlim nos moldes dosEstudos sobre a Autoridade e Família(1936) e de A PersonalidadeAutoritária (1950). Interessava aospesquisadores a análise do perfildemocrático e/ou autoritário da novageração estudantil do pós-guerra que,educada por pais autoritários (maiorianazistas), deparava-se com o regimeliberal-democrata, imposto pelosaliados. A pesquisa de Frankfurtaponta para um potencial autoritáriolatente nos estudantes destauniversidade. O estudo de Berlim temsua publicação interrompida pelomovimento estudantil da década de 60que eclodiu nas grandes cidadeseuropéias contra o autoritarismouniversitário e social. Muitos de seuslíderes fundamentaram seu protestonas reflexões críticas de Marcuse,Adorno e Horkheimer, mas em funçãodo caráter violento e radical de suaslideranças, os “frankfurtianos”passaram no final dos anos 60 acombatê-lo. Habermas cria o termo

“fascismo de esquerda” paracaracterizá-lo e procura contestá-locom o debate escrito. Não obtendosucesso, retira-se para Starnberg, ondetrabalha de 1971 a 1983 no InstitutoMax Planck, estudando as condiçõesde vida do homem numa civilizaçãotécnica e industrial. Friedeburg eMarcuse, partidários das reformasradicais na universidade mas contra aspropostas revolucionárias e osmovimentos de guerrilha urbana,procuram um diálogo aberto com asmassas estudantis, mas não obtêmêxito. Como desfecho, os estudantesdo movimento estudantil rejeitam osautores da Teoria Crítica e tomamvários rumos: a carreira universitáriatradicional, a adesão à seitas, a união apartidos, a luta armada de esquerda e odebate com os “frankfurtianos” (Offe,Preuss, Brandt, Senghaas, Altvater,Bürger, Sloterdijk e vários outros);

• Em 1963 inicia-se a Guerra do Vietnã;• Adorno afunda-se num pessimismo

filosófico refletido na DialéticaNegativa (1966) e na Teoria Estética(1970). Morre em 1969.

• Habermas publica vários livros:Lógica das Ciências Sociais (1967),Conhecimento e Interesse (1968) eTécnica e Ciência como Ideologia(1968).

PRINCIPAL PRODUÇÃO TEÓRICADESSA FASE

• Mínima Moralia (1951), de Adorno;• Notas sobre a Literatura (1961), de

Adorno;• Estudante e Política: uma pesquisa

sociológica sobre a consciênciapolítica dos estudantes de Frankfurt(1961), de Habermas, Friedeburg,Oehler e Weltz;

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• Dialética Negativa (1966), de Adorno.Nessa obra o autor leva ao extremo opensamento crítico e dialético,postulando o necessário e permanentequestionamento (negação) de qualqueranálise que proponha uma verdadeinquestionável à realidade social;

• Lógica das Ciências Sociais (1967),de Habermas. Nessa obra o autor tratadas “ciências analíticas, normativas,empírico-analíticas, de abordagemfenomenológica, lingüística ehermenêutica nas ciências sociais e daação, ou seja do positivismopropriamente dito”(FREITAG,1988:169);

• Conhecimento e Interesse (1968), deHabermas. O autor contempla estaobra como a “pré história dopositivismo, tratando de autores comoComte, Mach, Pierce e Dilthey, eprocurando em Hegel, Marx, Kant,Fichte e Freud a unidade doconhecimento e da crítica”(FREITAG,1988:167);

• Técnica e Ciência como Ideologia(1968): Habermas demonstra que aciência e a técnica, transformadas emIdeologia, assumem formas delegitimação do Estado e da economiano Capitalismo Tardio;

• A disputa do Positivismo naSociologia (1969): contém os textobásicos do debate entre Popper eAdorno acerca do Positivismo e daDialética em Tübingen (1961);

• Teoria Estética (1970): escrito porAdorno, foi editado após a sua mortepor sua esposa e por Tiedemann.“Reflete as últimas conseqüências daDialética Negativa, o recolhimento darazão no espaço da arte, para ele oúltimo reduto da crítica. A TeoriaEstética da sociedade pode serconsiderada o casamento e o fim daTeoria Crítica da sociedade, como

inaugurada por Max Horkheimer emseu ensaio de 1937”(FREITAG,1988:157).

QUARTA FASE

O renascimento e a superação daTeoria Crítica (1970 -1985)

• Após a morte de Adorno em 1969,Friedeburg assume a direção doInstituto;

• A Guerra do Vietnã termina em 1973;• Nessa fase os teóricos estão reunidos

em Frankfurt e surgem duastendências: Tiedemann e Schmidtprocuram preservar e resgatar opensamento de Adorno, Horkheimer,Marcuse e Benjamin, editando ereeditando vários de seus trabalhos; eHabermas, Wellmer , Bürger e outrosprosseguem de modo original ecriativo os pensamentos da primeirageração de “frankfurtianos”,procurando criticá-los e superá-los;

• O renascimento da Teoria Crítica tema participação de “toda uma geraçãode novos filósofos, pedagogos,sociólogos e críticos literários que têmusado a teorização dos“frankfurtianos” para novas reflexões ebuscas de apropriação ou superação deseu pensamento” (FREITAG,1988:29).Entre eles (de língua alemã), A.Wellmer, W. Bonss, A. Honneth, CarlDahlhaus, Peter Bürger, RüdigerBubner, Ullrich Oevermann, além deoutros mais.

• Esse período e os anos seguintes sãomarcados:- pelo fim das ditaduras na América

Latina;- pela queda do Muro de Berlim

(1989) simbolizando o fim da GuerraFria e a decadência da hegemoniasoviética sobre o Leste Europeu;

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- pelo desmembramento da UniãoSoviética (1991);

- pela ascensão do regimeneoliberalista na década de 90: aglobalização do capital estrangeiroassegura o domínio político,econômico e cultural dos EstadosUnidos sobre o mundo.

PRINCIPAL PRODUÇÃO TEÓRICADESSA FASE

Habermas lidera a produção teórica dessafase, procurando superar o negativismode Adorno e Horkheimer com um novoparadigma: a Razão Comunicativa. Essemomento ainda está em curso e tem aprodução teórica de Habermas como amais expressiva:

De cunho epistemológico:• Teoria da Sociedade ou Tecnologia

social? (1972): refere-se ao debateentre Habermas (defendendo a Teoriada Competência Comunicativa) eLuhmann (sustentando a TeoriaSistêmica). É visto como um desfechoelegante da disputa em torno doPositivismo, iniciada na décadaanterior por Adorno e Popper.

Em relação às criticas aos“frankfurtianos” da primeira geração:• Perfis Políticos e Filosóficos (1971);• Política, Arte, Religião (1978);• Pequenos Escritos Políticos (1981);• O Discurso Filosófico da

Modernidade (1985): Habermascritica o pensamento pós-moderno deBataille, Foucault e Castoriadis, alémdos filósofos alemães Heidegger,Adorno e Horkheimer. Deixa evidentea diferença entre seu pensamento e odesses dois últimos autores.

Sobre o problema da legitimação do

Estado Moderno:

• A Crise de Legitimação doCapitalismo Tardio (1973): “trata-sede um estudo sobre a crise docapitalismo depois de seu apogeu. Emsua teoria da crise, Habermas destaca acrise econômica, a da racionalidade e ada legitimação (que afetamdiretamente o Estado), e por último acrise da motivação que gera umdesgaste e falta de envolvimento doscidadãos com a vida política e asestruturas de sua sociedade”(FREITAG,1988:168).

Acerca da Teoria da Ação Comunicativa:• Consciência Moral e Ação

Comunicativa (1983): trata-se dabusca de fundamentação científicapara sua Razão Comunicativa nagênese das estruturas cognitivas(Piaget) e morais (Kohlberg) e daTeoria da Ação Comunicativapropriamente dita;

• Teoria da Ação Comunicativa : trazuma nova visão da razão e das relaçõessociais, procurando superar aspropostas da Teoria Crítica e,sobretudo, da teoria Estética. A obra écomposta de três volumes:Racionalidade da Ação eRacionalidade Social (1981), Sobre aCrítica da Razão Funcionalista (1981)e Estudos Prévios e Complementaçãoà Teoria da Ação Comunicativa(1984).

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SEGUNDA PARTE

O conteúdo programático da TeoriaCrítica

Barbara Freitag distingue, para finsdidáticos, três eixos que animam asanálises e críticas dos “frankfurtianos”:

1. A dialética da razão iluminista ea crítica à ciência;

2. A dupla face da cultura e aquestão da Indústria Cultural;

3. A questão do Estado e suasformas de legitimação.

Segundo essa autora, a Escola deFrankfurt envolveu-se com váriastemáticas em suas análises, porém essestrês tópicos marcaram presença em seusquestionamentos desde sua fundação.Vale a pena lembrar que os objetos deestudos focalizados pelo Instituto sãovistos às vezes sob uma perspectivaindividual, outras vezes de formaconjunta, nem sempre apresentandoconsenso quanto aos seus julgamentos. Oque caracteriza a atuação conjunta daEscola de Frankfurt é “a sua capacidadeintelectual e crítica, sua reflexão dialética,sua competência dialógica ou aquilo queHabermas viria a chamar de “discurso”,ou seja, o questionamento radical dospressupostos de cada posição e teorizaçãoadotada” (FREITAG,1988:34).

A Dialética da Razão Iluminista e aCrítica à Ciência

Um dos temas sempre presentes nahistória do Instituto é a crítica aoIluminismo (Esclarecimento) e à ciência,especialmente nas obras de Horkheimer,Adorno e mais recentemente Habermas.A história da Escola de Frankfurtapresenta três momentos em que o tema éanalisado:

1. A contraposição entre o pensamentocartesiano e o pensamento marxistaeditada no ensaio A Teoria Tradicionale a Teoria Crítica em 1937, porHorkheimer. Ainda nesse primeiromomento encontra-se a Dialética doEsclarecimento (1947), de autoria deAdorno e Horkheimer, que descreve o

processo de transformação da Razão

Emancipatória em Razão Instrumental;

2. O debate entre Adorno e Popper em1961, representando a contradiçãoentre a Dialética e o Positivismo, cujostextos-base foram editados em 1969sob o título A disputa do Positivismona Sociologia. Desse debate surgiramos fundamentos da Dialética Negativa,de 1966, escrita por Adorno;

3. A discussão entre a Teoria Sistêmica ea Teoria da Ação Comunicativa,representadas respectivamente porLuhmann e Habermas, que deu origemao livro Teoria da Sociedade ouTecnologia Social? em 1972.Reflexões sobre esse debate sãoretomadas por Habermas, entre 1981 e1984, na Teoria da AçãoComunicativa.

PRIMEIRO MOMENTO

Com seu ensaio A Teoria Tradicional e aTeoria Crítica (1937), Horkheimer lançaos pilares da Teoria Crítica da Escola deFrankfurt. Nele, o autor elabora umacrítica relacionando o pensamentocartesiano (Teoria Tradicional) epensamento marxista (Teoria Crítica).

Para Horkheimer, a Teoria Tradicionaldominada pelo raciocínio lógico-formalde Descartes, que prega a “objetividade”e a “neutralidade científica” no processodo conhecimento, não consegue captar

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aquilo que é permitido ao métododialético: a dinâmica histórica dosindivíduos e da sociedade.Na construção cartesiana, o sujeito doconhecimento é alocado fora dessadinâmica histórica. Seu objeto doconhecimento, a ser apreendido pelacoerência interna do método cartesiano,torna-se um objeto estranho ao sujeito.Esse processo afasta o sujeito do objetodo conhecimento, perdendo-se a crítica àtotalidade da realidade estudada e apossibilidade de transformações sociais.Assim, a Teoria Tradicional encobre umaperspectiva sistêmica e conservadora queconsolida as relações de dominaçãoexistentes na sociedade.

Na construção crítica marxista, o sujeitodo conhecimento esforça-se porestabelecer uma relação orgânica (nainterseção da teoria e da prática) com seuobjeto de conhecimento que, ao contráriodo que ocorre no método tradicional, nãoé visto como um dado externo ao sujeito.Esse sujeito, inserido numa realidadehistórica e social que o condiciona e omolda, procura, através do princípio daorganicidade (crítica e ação), superar asambigüidades dessa realidade. Nessecontexto, a crítica a essa realidadeorganizada como um todo abre passagempara modificações sociais. O método daapreensão do conhecimento da TeoriaCrítica, estruturado na dialética marxista,traz em sua essência uma perspectivahumanística e emancipatória que temcomo objetivo o fim das desigualdades eda injustiça social.

Embora Horkheimer contraponha aTeoria Tradicional à Teoria Crítica, suameta não é anular o pensamento deDescartes em benefício do de Marx.Nesse sentido, sustenta que mesmo ateoria marxista não pode abrir mão dedeterminados instrumentos para a

produção do conhecimento próprios dométodo cartesiano. A tentativa deHorkheimer visa, em última instância,englobar os conceitos cartesianos aosconceitos críticos e dialéticos marxistas.É necessário mencionar que Horkheimernesse escrito segue fielmente as idéias deMarx e nutre otimismo quanto aodesfecho histórico dos conflitos de classesatravés de uma revolução libertadora pelaclasse operariada. Contudo, a históriatomaria outros rumos e frustraria suasesperanças. Numa obra de 1970, A TeoriaCrítica: ontem e hoje, ao fazer umbalanço de sua produção teórica desde oinício do Instituto até aquele momento,Horkheimer expõe seu equívoco e apontaos enganos da teoria marxista:

Primeiro, a tese da proletarizaçãoprogressiva do operariado não seconfirmou e conseqüentemente nãoocorreu a revolução proletária, tampouco,o ideal comunista legítimo. O excedentede riquezas produzido pelo capitalismodesativou o conflito de classes e o sistemaestabeleceu novas formas de ideologizaras consciências e de aumentar o grau dealienação da classe subjugada;

Segundo, “também não se comprovou atese das crises cíclicas do capitalismo,decorrentes das alternâncias de produçãoexcessiva e a falta de consumo, por umlado, e de consumo excessivo que leva àfalta de produtos, por outro, devido àintervenção da atividade estatal sobre aorganização da economia”(FREITAG,1988:40);

E por último, a expectativa marxista deuma justiça social decorrente da liberdadeconquistada pela revolução tambémnaufragou. O capitalismo crioumecanismos que estabeleceram um graude justiça e bem-estar maior, reduzindo asdesigualdades materiais entre as classes

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sociais. O preço pago, no entanto, foi asubtração da liberdade, a alienação ehomogeneizações generalizadas.

A postura cética adotada por Horkheimera partir da década de 40 resulta de doismarcos históricos: o nazismo alemão esuas conseqüências e a forma de governosocialista praticada pelos países do LesteEuropeu. “Para Horkheimer, ambosrepresentam regimes totalitários queprivilegiaram a Razão Instrumental emdetrimento da Razão Emancipatória,tolhendo a liberdade individual em nomedo bem geral” (FREITAG,1988:41).Também o maccartismo americano seriacontestado por Horkheimer: mesmopregando democracia e liberdade,escondia a exaltação da razão alienadora.No entanto, “apesar da renúncia a certasteses centrais do materialismo-histórico,Horkheimer sustenta a necessidade desobrevivência da Teoria Crítica. Ela devevisar, como no início, o futuro dahumanidade emancipada”(FREITAG,1988:41). Nesse ponto, comoilustração dessa esperança, vale a penacitar as “palavras pronunciadas poucoantes de sua morte: “Nosso princípiobásico sempre foi: pessimismo teórico eotimismo prático.” (FREITAG,1988:43).

A análise dialética da RazãoEmancipatória e da Razão Instrumentalencontra-se em dois livros de 1947:Eclipse da Razão, de Horkheimer(reeditado em 1967 com o título Críticada Razão Instrumental) e Dialética doEsclarecimento, escrito por Adorno eHorkheimer.

O primeiro livro “reúne palestrasproferidas por Horkheimer durante osanos de permanência na Universidade deColumbia, sob forma de seminários, nosquais esboça a sua teoria da sociedade esua concepção de filosofia como

instrumento de reflexão teórica quemediatiza a prática”(FREITAG,1988:173).

Na Dialética do Esclarecimento,Horkheimer parte sua análise do artigo Oque é Esclarecimento?, de Kant. Paraeste último, a razão é um instrumentoinato de emancipação do homem. Com odirecionamento da razão a humanidadetraçaria seu próprio destino, sua própriahistória. Para Horkheimer, ocorreu ocontrário, essa Razão Kantiana conduziua um saber técnico e científico queafundou a humanidade na alienação, narepressão e na dominação.

A Dialética do Esclarecimento, emsíntese, procura provar através dadescrição de uma “dialética da razão”, ocomo a Razão Emancipatória de Kant, denatureza libertadora, converteu-se no seuoposto: uma Razão Instrumental, denatureza ditatorial, que coloca os homense a natureza à serviço de uma eliteexploradora.

Nessa obra, desponta o negativismo e aangústia que marcariam o pensamento deHorkheimer, e especialmente de Adorno,a respeito da potencialidade dahumanidade de emancipar-se.

SEGUNDO MOMENTO

Em 1961 a Sociedade de SociologiaAlemã, em Tübingen, promove um debateentre Popper e Adorno, abrindo umadiscussão entre as bases epistemológicasdo Positivismo e da Dialética.

A marca fundamental do Positivismo dePopper é a defesa do “método”cartesiano como elemento principal daapropriação do conhecimento. Aqui, éresguardada a distância entre o sujeito eobjeto do conhecimento à medida que o

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primeiro deve seguir, entre outros meiosde investigação científica, a“neutralidade científica”, a “objetividade”, a “cientificidade” e aausência de “juízo de valor” tãoenfatizada por Popper. Para este teórico, osujeito do conhecimento deve apreenderobjetivamente a natureza de seu objeto deestudo sem influenciá-lo ou modificá-lo.Em relação ao objeto de conhecimento,Popper, ao contrário dos positivistasamericanos (que apregoavam a identidadeentre as ciências naturais e sociais)postula uma versão mais sofisticada doPositivismo e admite a diferença entre oobjetos das ciências naturais e das sociais.Se nas ciências naturais o método depesquisa utilizado caracteriza-se pelalógica formal cartesiana, nas ciênciassociais Popper estabelece que o métododeve seguir uma nova espécie de lógica: asituacional. A objetividade desse método“consiste em considerar que a ação foiobjetivamente apropriada à situação (...) asituação é analisada até que os elementosque parecem inicialmente serpsicológicos (...) sejam transformados emelementos da situação”(FREITAG,1988:45-46). A lógicasituacional trará à tona uma reconstruçãoobjetiva, racional e teórica dentro dosmoldes cartesianos. A idéia de Popper éque, respeitando o método positivista(regulado pela lógica formal esituacional) o investigador estariaproduzindo ciência de forma correta, istoé, neutra e objetiva, e assim estariaproduzindo a própria verdade.

No tocante à “crítica”, no Positivismo dePopper esta tem apenas a função de testaro trajeto metodológico adotado noprocesso do conhecimento. Serve apenaspara verificar se os princípios cartesianosforam corretamente aplicados, validandoou não a produção teórica final.

Na Dialética de Adorno, é a “crítica” oelemento-chave do processo doconhecimento. Seu sujeito doconhecimento não é um elemento neutronesse processo, é sim um agentequestionador empenhado em reformar ahistória e a sociedade da qual faz parte. Oobjeto do conhecimento, por sua vez, nãoé algo a ser apreendido somente de forma“objetiva” e “científica”, é algo a sertransformado em prol da emancipação dohomem e da sociedade. Adorno aointroduzir a crítica e a dialética nadinâmica do conhecimento estabeleceuma relação não apenas teórica, mastambém prática entre o sujeito e o objetodo conhecimento (que relembra oprincípio de organicidade proposto porHorkheimer). Em Popper, essa práticarestringe-se à atuação do pesquisador àsua especialidade científica.

Acerca da aquisição do conhecimentoAdorno descarta a prerrogativa do métodocartesiano de conduzir à verdade e àobjetividade (como quer Popper) e apontaa crítica dialética, o questionamento e anegação permanentes, como o ponto departida do caminho que leva aoconhecimento da realidade como umtodo. “A crítica, compreendida como oprincípio da negatividade, vem a ser oelemento constituinte do método e daTeoria Crítica que se fundem com oobjetivo político e social a ser alcançado”(FREITAG,1988:47-48). Diferente doque preconizava Popper, a crítica não évista unicamente como meio de avaliar aobjetividade de uma hipótese, ela estápresente em todo o processo doconhecimento e procura compreender atotalidade do objeto observado, captandosua história passada e seu potencial detransformação do futuro.

Num último momento, Adorno discordade Horkheimer que, à princípio,

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acreditava na integração entre opensamento cartesiano e o pensamentomarxista. Para Adorno, devido àincompatibilidade de seusposicionamentos epistemológicos, não hápossibilidade de reconciliação entre ométodo positivista (tradicional ecartesiano) e o método dialético (crítico emarxista).

Desse debate nasceu a Dialética Negativa(1966), onde Adorno apresenta a dialéticacomo elemento constituinte da TeoriaCrítica, representando o “esforçopermanente de superação da realidadecotidiana rotinizada”(FREITAG,1988:48). Consiste na lutacontínua “de evitar as falsas sínteses, dedesconfiar de toda e qualquer propostadefinitiva para a solução de problemas, derejeição de toda visão sistêmica,totalizante da sociedade”(FREITAG,1988:48). Sua função última élibertar os sentidos não revelados darealidade social e individual, “resgatar dopassado as dimensões reprimidas, nãoconcretizadas no presente, transferindo-aspara um futuro pacificado em que aslimitações do presente se anulem”(FREITAG,1988:48).

Terceiro momento

Em 1965 Habermas defende osensinamentos de Adorno e Horkheimer epublica o ensaio Teoria Analítica daCiência e da Dialética: pós-escrito àcontrovérsia entre Popper e Adorno,sintetizando as posições opostas entreteóricos positivistas e teóricos críticosdialéticos. Nele encontra-se a crítica aoreferencial popperiano de o métodocartesiano ser, através de sua“objetividade” e “cientificidade”, ocaminho para a verdade científica.Habermas aponta a fragilidade dessacolocação e explica que a razão não

possui a capacidade de manipular corretae infalivelmente regras formais como asdo método citado por Popper.A identificação de Habermas com asposturas de seus mestres ainda seriamanifestada nas obras Lógica dasCiências Sociais (1967) e Conhecimentoe Interesse (1968).

O último momento da crítica da razão eda ciência surge após esses escritos comum debate sobre Sociologia entreLuhmann e Habermas – publicado em1972 com o título Teoria da Sociedade ouTecnologia Social? O primeiro, aluno deParsons, defende uma versão sofisticadada Teoria Sistêmica, aproximando-se domoderno pensamento positivista. Osegundo defende uma nova teoria parainterpretar a sociedade – a primeiraversão da Teoria da Ação Comunicativa –denominada de Teoria da CompetênciaComunicativa.

Nesse debate, embora preserve vínculocom a Teoria Crítica – defendendo acrítica à realidade e a recusa a falsosdeterminismos – Habermas interrompe aidentificação plena com Adorno eHorkheimer e parte para a superação desuas idéias. Para ele não se trata mais deopor a Teoria Marxista à TeoriaCartesiana, o método dialético ao métodopositivista. Trata-se sim, de elaborar umateoria da sociedade que aponte uma saídapara o pessimismo de seus mentoresintelectuais ao mesmo tempo que sejauma alternativa à Teoria Sistêmica deLuhmann. Buscando superar anegatividade resultante da relaçãodialética entre Razão Emancipatória eRazão Instrumental e criticando oconceito de razão positivista e sistêmicaque exclui a moral e a prática, Habermasprocura conceber um conceito maisabrangente de razão, a RazãoComunicativa, e constrói os alicerces de

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sua Teoria da Ação (Competência)Comunicativa.Sobre o conteúdo do debate, partindo deseu referencial teórico positivista,Luhmann estrutura sua teoria aplicandoconceitos cibernéticos emprestados dabiologia aos estudos da sociedade,procurando captar sua dimensão histórica.Habermas rebate sua posição e apontasuas contradições. Conforme Habermas, atentativa de Luhmann de explicar adinâmica social, apesar de louvável, é malsucedida. Para ele, Luhmann incorre emconceitos ecléticos e incompatíveis com aprópria Teoria Sistêmica e formula idéiasinconciliáveis com a análise efetiva dosfenômenos sociais. Habermas aindacompara a essência da Teoria Sistêmicade Luhmann à Teoria Tradicionalcriticada por Horkheimer e à TeoriaPositivista contestada por Adorno, eaponta três semelhanças entre elas: “aconcepção instrumental da razão, anaturalização dos fenômenos sociais, aexpulsão do conflito e da contradição domundo teórico, o que equivale a negar suaexistência na realidade”(FREITAG,1988,58).

É na contraposição a Luhmann queHabermas apresenta a Teoria da AçãoComunicativa. Esta engloba o conceito deRazão Comunicativa, que constitui não sóum conceito, mas também um novoparadigma para a discussão sociológica.

A Razão Comunicativa diferencia-se daRazão Instrumental, transcende a RazãoEmancipátória – “subjetiva, autônoma,capaz de conhecer o mundo e de dirigir odestino dos homens e da humanidade”(FREITAG,1988:59) – e apresenta umnovo paradigma: “circunscreve um novoconceito para o qual o questionamento e acrítica são elementos constitutivos, masnão sob a forma monológica, como aindaocorria na Dialética do Esclarecimento

ou na Dialética Negativa, e sim de formadialógica, em situação sociais em que averdade resulta de um diálogo entre pares,seguindo a lógica do melhor argumento”(FREITAG,1988:60). Para Habermas issoé racionalidade e “não uma faculdadeabstrata, inata, transcendental, inerente aomundo isolado, mas um procedimentoargumentativo pelo qual dois ou maissujeitos se põem em acordo sobrequestões relacionadas com a verdade, ajustiça e a autenticidade”(FREITAG,1988:59).

“A Razão Comunicativa se constituisocialmente nas interações espontâneas,mas adquire maior rigor através do queHabermas chama de ‘discurso’”(FREITAG,1988:59). Habermas situaessa razão na junção de três mundos: “omundo objetivo das coisas, o mundosocial das normas e o mundo subjetivodos afetos” (FREITAG,1988:60).

A Razão Comunicativa resulta da AçãoComunicativa. Nesta última, “cadainterlocutor suscita uma pretensão devalidade quando se refere a fatos, normase vivências, e existe uma expectativa queseu interlocutor possa, se assim o quiser,contestar essa pretensão de validade deuma maneira fundada, isto é, comargumentos” (FREITAG,1988:59).“Tanto no diálogo cotidiano como nodiscurso, todas as normas e valoresvigentes têm de ser justificados; todas asrelações sociais são consideradasresultado de uma negociação na qual sebusca o consenso e se respeita areciprocidade, fundadas no melhorargumento” (FREITAG,1988:59-60). “Ateoria do consenso da verdade se baseia,para Habermas, na capacidade dedistinguir entre essência e aparência(afirmações verdadeiras); entre ser eilusão (afirmações verazes); e entre ser e

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dever (afirmações corretas)”(FREITAG,1988:60).

Habermas com seu novo paradigmaexpõe um ponto de vista otimista sobre asrelações sociais (que contraria opessimismo de Adorno) revelando “umaconvicção profunda da competêncialingüística e cognitiva dos atores, capazesde, no diálogo, na disputa, noquestionamento radical, produzirem umaRazão Comunicativa que pouco tem emcomum com a Razão Kantiana”(FREITAG,1988:60).

A partir da Razão ComunicativaHabermas elabora uma nova interpretaçãoda sociedade, a Teoria das Sociedades doCapitalismo Tardio, que integra duasdimensões: a Sistêmica, de Parsons eLuhmann (onde impera a RazãoInstrumental, técnica) e a do “MundoVivido”, um conceito emprestado deHusserl (onde domina a RazãoComunicativa).

“A racionalidade técnica decorre daorganização das forças produtivas e visagerar o máximo de produtividade paraassegurar a sobrevivência material doshomens que vivem em sociedade. A visãosistêmica exclui o diálogo, de restonecessário numa sociedade cuja forma decodificação das relações sociaisencontrou no dinheiro uma linguagemuniversal. A validade dessa linguagemnão precisa ser questionada, já que osistema funciona na base de imperativosautomáticos que jamais foram objetos dediscussão dos interessados. Essaregulamentação automática é denominadapor Habermas de “Integração Sistêmica”.Os complexos de ação integradossistematicamente impõem sua lógica (aRazão Instrumental) às outras esferas dasociedade, passando, desta forma, a“colonizá-las”. Essas outras esferas

constituem a outra dimensão da sociedade(...) o Mundo Vivido. Trata-se aqui daperspectiva subjetiva dos atores inseridosem situações concretas de vida. Essavisão de dentro da sociedade permitecompreendê-la a partir do cotidiano deseus atores, de suas vivências eexperiências partilhadas. A objetividadedas relações sociais é dada quando há“Integração Social”, ou seja, quando umnúmero dado de atores teve vivências eexperiências que constituem sua memóriae sua história coletiva”(FREITAG,1988:61-62). Para Habermas,a modernidade criou uma lacuna entre oSistema e o Mundo Vivido. A perspectivado mundo sistêmico (IntegraçãoSistêmica) e a perspectiva do MundoVivido (Integração Social) nãocoincidem, não estão em harmonia.Sistema e Mundo Vivido estão emconfronto, “o Mundo Vivido, regido pelaRazão Comunicativa, está ameaçado emsua sobrevivência pela interferência daRazão Instrumental. Ocorre umaanexação do Mundo Vivido por parte doSistema, desativando as esferas regidaspela Razão Comunicativa e impondo-lhesa Razão Instrumental, tecnocrática”(FREITAG,1988:62). A dimensãosistêmica divide-se em dois subsistemas:o político, regido pelo poder e oeconômico, regido pelo dinheiro. Daintervenção do subsistema político eestatal no Mundo Vivido nasce aburocratização e do subsistemaeconômico, a monetarização. Juntas, aburocratização e a monetarizaçãorespondem pelo desvirtuamento doMundo Vivido. (Esse processo édenominado por Weber de “perda daliberdade do homem”, por Lukács de“alienação” e por Marcuse de“unidimensionalização”).

Para Habermas, “cabe à RazãoComunicativa preservada em certos

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“nichos” da sociedade moderna einstitucionalizada em algumas de suas“esferas de valor” (Weber), isto é, noMundo Vivido (como já é o caso naesfera da pintura, da música, do direito,da ciência e da moral), resgatar o terrenoperdido e reorientar a Razão Instrumental,reconduzindo-a aos limites dentro dosquais é imprescindível e pode forneceruma contribuição inestimável paraassegurar a organização e sobrevivênciadas modernas sociedades de massa.

Segundo Habermas, é na esfera social eda cultura (... Mundo Vivido) que devemser conjuntamente fixados os destinos dasociedade, através do questionamento eda revalidação dos valores e das normasvigentes no Mundo Vivido. Somentequando este reconquistar o terrenoperdido pode ocorrer o que namodernidade se tornou urgente: a“descolonização” do Mundo Vivido peloSistema, a capacidade de agircomunicativamente para todos os atores.A razão dialógica, comunicativa, estaria,desta forma, recolocando em seu devidolugar a Razão Instrumental”(FREITAG,1988:62-63).

Numa análise geral dessas duas teorias (aTeoria da Ação Comunicativa e a Teoriadas Sociedades do Capitalismo Tardio) oque Habermas faz é apontar um novocaminho para o legado pessimista deAdorno e Horkheimer. Com isso, tambémdeixa claro sua discordância com aproposta final de Marx que via narevolução do proletariado a única saídapossível para os conflitos sociais.

Dessas duas teorias, Habermas aindaformula uma Teoria Evolutiva daModernidade, uma reconstrução evolutivadas sociedades passadas e presentes, namedida em que a Teoria da AçãoComunicativa “fornece um conceitual que

permite dar conta da complexidade e dacontradição inerente a nossas modernassociedades” (FREITAG,1988:63). ATeoria Evolutiva da Modernidade surgedo esforço do trabalho hermenêutico deHabermas, com base na Teoria da AçãoComunicativa, de “recuperar através dosclássicos da sociologia os momentos deracionalidade comunicativa soterrados,esquecidos ou não explorados”(FREITAG,1988:63).

Embora a história da modernidade tenharevelado passagens sombrias e perversas,Habermas destaca duas ocasiões quetrouxeram ganhos à humanidade:

• “a competência técnica einstrumental desenvolvida pelos sistemasde reprodução material, graças à ciência eà técnica, permitindo em princípio a plenasatisfação das necessidades de todos oshomens” (FREITAG,1988:64);

• “o grau de racionalidadecomunicativa já conquistada pelo MundoVivido” (FREITAG,1988:64): “acrescente “racionalização” das esferasde valor, substituindo concepçõesreligiosas do mundo por sistemas denormas e valores consensualmenteelaborados pelos atores do sistema emsituações dialógicas livres de repressão”(FREITAG,1988:64).

Com a Teoria Evolutiva da Modernidade,“Habermas acompanha o raciocínio deMarx, ao valorizar a racionalidade eeficácia do sistema de reproduçãomaterial das modernas sociedades demassa, e o de Weber, quando admite a‘racionalização’ de certas esferas de valorque escapam ao controle autoritário dareligião ou do Estado”(FREITAG,1988:64). Porém discordadeste último, quando Weber “afirma quea ‘racionalização’ das concepçõesreligiosas de mundo conduziu ao

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‘desencantamento’ e à alienação”(FREITAG,1988:64).

Apesar de fazer alguns apontamentospositivos na história da sociedade,Habermas percebe “as incongruências einjustiças que ainda ocorrem emconseqüência da organização sistêmicabaseada nas relações de troca eacumulação” (FREITAG,1988:63-63).Novamente põe-se em acordo com Marxquando descreve que “a reproduçãomaterial de bens, destinada a suprir asnecessidades de todos os homens, aindanão encontrou formas racionais e justasde distribuir esses bens efetivamente entretodos os membros da sociedade e,concordaria que a “racionalização domundo” nem sempre trouxe benefícios àsociedade (FREITAG,1988:64).Habermas também percebe a “falta deracionalidade comunicativa em amplasesferas do Mundo Vivido”(FREITAG,1988:65).

Para finalizar, pode-se concluir que esteterceiro momento da crítica da razão e daciência é marcado pelo novo paradigmada “Razão Comunicativa” postulado porHabermas, que busca a reconciliaçãoentre Mundo Vivido e Sistema e asuperação das deduções de Adorno eHorkheimer.

Habermas em última instância apresentaum panorama otimista para o futuro dahumanidade e demonstra uma “féinquebrantável na capacidade doaprendizado dos sistemas sócio-culturaismodernos, que ajustam seus mecanismosde autocontrole e auto-orientação deacordo com os graus de complexidade ediferenciações atingidos”(FREITAG,1988:65).

A dupla face da cultura e a questão daIndústria Cultural

A crítica à cultura surge nos primeirosanos de criação do Instituto com apublicação na Revista de uma série deartigos de Adorno, Horkheimer, Marcusee Benjamin. Esse tema preocupará maistarde a Horkheimer e principalmente aAdorno. Em linhas gerais, esses quatroteóricos imputam à cultura duas funçõescontrárias: uma dimensão conservadora(representar e concretizar a ordemestabelecida) e uma dimensãoemancipatória (criticar e delatar aimperfeição e contradição existentesnessa ordem). Habermas, por fim,desenvolve críticas sobre as conclusões aque chegaram esses pensadores.

A crítica à cultura, de maneira geral, alémde ser assinalada como o estudo maisconhecido da Escola de Frankfurt –principalmente pelas ciências sociais e decomunicação – é um exemplo claro deque os teóricos dessa instituiçãoapresentavam (apresentam) posições àsvezes análogas, às vezes divergentes, eaté superações teóricas sobredeterminadas temáticas abordadas.

É importante distinguir as obrasessenciais que produziram esse espaçohistórico de crítica para acompanhar odesenvolvimento dos vários conceitos quemarcaram a análise cultural da Escola deFrankfurt:

• Na primeira edição da Revista, em1932, Adorno apresenta o ensaio Sobrea situação social da música. Adornodescreve que no sistema capitalista amúsica é produzida para sertransformada em mercadoria, suprir ocírculo comercial, deixando de servalor de uso para tornar-se valor detroca. Como produto da sociedade

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capitalista – que sobrevive às custas daexploração de uma classe social poroutra – traz em si a essência dessasociedade e tem num primeiromomento, a função de reproduzi-la.Mas também possui uma segundanatureza: a denúncia e a contestaçãodo sistema social que a produziu;

• A quinta edição da Revista, de 1936,traz o artigo A obra de arte na era desua reprodutibilidade técnica, deBenjamin. Nesse artigo, o autor tentaresgatar a história da obra de artedesde a Idade Média até sua época,procurando analisar a relação entre seuprodutor e seu consumidor. Para issocunha as categorias de análise “valorde culto” e “valor de exposição deuma obra”.Na Idade Média, a obra de arte eraadmirada pelo seu valor de culto, sua“aura”, e não pelo seu valor deexposição. Na passagem doFeudalismo para o Capitalismo – oinício da sociedade burguesa – ocorrea dessacralização da obra de arte e estaé liberada para os olhos do público.Seu valor de exposição aumenta semque, no entanto, desapareça seu valorde culto, sua “aura”, isto é, seuaspecto cultural. Com a modernizaçãoda sociedade capitalista no século 19, a“aura”, a cultura que envolve a obra dearte, é perdida devido à tecnificaçãocrescente do mundo e àreprodutibilidade técnica da obra dearte, o que tem como conseqüência oconsumo massificado da produçãoartística.Para Benjamin, com a perda da “aura”a obra de arte perde sua originalidade,reduz-se o seu valor de culto, contudo,seu valor de exposição aumenta, o queresulta em um aspecto positivo: a artetorna-se acessível a todos, édeselitizada e adquire um novo valor,o valor de consumo.

Ainda em sua análise, Benjamindestaca que a reprodutibilidadetécnica, além de garantir o consumo daobra de arte por toda a sociedade,transforma a essência da própria obrade arte e também a percepção de quema consome. Seguindo essa linha deanálise, embora guardando certoceticismo, Benjamin associa a“desauratização” da obra de arte àpossibilidade de “politização” doconsumidor. Para ele, a fotografia e ocinema – as artes modernas de suaépoca – eram capazes de provocarmudanças nas percepções e nocomportamento de seus consumidores,o que levaria à modificação destesúltimos. Por isso a obra de arte poderiaser utilizada como ferramenta depolitização de quem as consumia(percebe-se nessa argumentação ainfluência clara das idéias de BertholtBrecht). Em contrapartida, poderiatambém ser utilizada comoinstrumento de “despolitização”, umavez que se tornara uma “válvula deescape” para reduzir as tensões efrustrações da sociedade, reduzindoseu potencial de libertação.

• Em 1937, em sua sexta edição, aRevista traz o artigo de Marcuse,Caráter afirmativo da cultura. Nesseensaio, Marcuse faz – assim comAdorno e Horkheimer – uma distinçãoentre “cultura” e “civilização”.Enquanto a primeira relaciona-se como mundo das idéias, da espiritualidadee dos sentimentos elevados, a segundacaracteriza o mundo da reproduçãomaterial de vida.Marcuse inicia seu artigo analisando ocontexto histórico do início daburguesia européia, onde se completoue perpetuou o processo de cisão entrecultura e civilização: de um lado, acultura significava o âmbito darealização (no presente) ou

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possibilidade de realização (no futuro)da liberdade, da felicidade e daespiritualidade (acessível a umapequena minoria detentora dos meiosde produção e do “ócio” necessário àprodução da cultura), de outro, acivilização indicava o mundo dotrabalho, da satisfação dasnecessidades materiais da sociedade,impondo o sofrimento e privação (anegação ao usufruto dos bensmateriais, logo, do bem-estar e doconforto individual) aos sujeitos quepertenciam a esse mundo (a maioria dapopulação), além, de não lhes permitiro ingresso no universo da produçãocultural.A par desta dicotomização dasociedade burguesa em dois universos,a elite da sociedade burguesa construiuuma Filosofia que salientou asubjetividade, a espiritualidade e adignidade da pobreza. Voltava-se parauma tentativa de sedução e deideologização da populaçãosocialmente excluída, pregando-lhespromessas ou expectativas defelicidade no mundo espiritual semestendê-las ao mundo do trabalho, dascondições materiais de vida. A obra dearte, como parte integrante daideologia e da cultura burguesa, levavaem sua essência o reflexo destasobjetivado em seus temas. A cisão dasociedade burguesa em dois mundos –cultura e civilização – com seudiscurso filosófico possibilitou ajustificativa da exploração e alienaçãoda maioria da população, bem como desuas condições miseráveis deexistência.Ao analisar a função da obra de artenessa época, Marcuse chega a duasconclusões: na primeira, detecta umafunção de alienação, uma vez que aobra de arte procurava adequar oshomens às condições exploratórias da

sociedade, lançando para o futuro arealização da justiça e felicidade –contribuindo, portanto, para aconservação da realidade social. Nasegunda, postula que, à medida que aobra de arte e a cultura eram negadasaos trabalhadores por serem apenasbens de consumo da elite,representavam em sua estrutura aprópria divisão social, transformado-seem denúncia contra a injustiça domodelo social vigente.Retornando ao processo histórico,Marcuse aponta que, com o tempo,principalmente na época da ascensãoburguesa, o modelo que separava asociedade em cultura e civilização, quepregava pobreza externa e riquezaespiritual interna, caducou, não sendomais capaz de manter a ordem dosistema de reprodução material.Tornou-se urgente, então, novasformas, mais radicais e eficientes, deperpetuar a ambigüidade do sistema. Asaída adotada foi “mudar os padrõesde organização da produção culturalque foi sendo gradativamente cooptadapela esfera da civilização, isto é, sendoabsorvida pelo sistema de produção debens materiais que reestruturouinteiramente as formas de circulação econsumo da cultura”(FREITAG,1988:70).À princípio, Marcuse acreditava que aaquisição da cultura pelas camadasmais populares num modelo deprodução socialista traria a felicidadeao mundo do trabalho, tornandodispensável a produção artística. Estateria função apenas numa sociedadealienada, capitalista, fundamentada nadivisão entre modos e meios deprodução, entre trabalho e capital epropriedade privada. No socialismo,onde essa separação é erradicada, aobra de arte perderia seu papel, o demanter a cisão social. Porém, o sonho

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socialista de Marcuse não se tornariarealidade e mais tarde sua concepçãode arte e cultura viriam a se identificarcom a de Adorno e Horkheimer.

• Em 1938 Adorno retoma o tema damúsica e publica o artigo Sobre ocaráter fetichista da música e aregressão da audição, na sétimaedição da Revista. Adorno procuroudemonstrar que a música, comoqualquer outra forma de arte, podevirar mercadoria devido àreprodutibilidade técnica da produçãoartística.

• Em 1941 Horkheimer apresenta, nanona edição da Revista, o ensaio Arte eCultura de Massa, onde cunha o termo“Indústria Cultural”, e em 1947,juntamente com Adorno publica a obraDialética do Esclarecimento, quecontém o ensaio Indústria Cultural:Iluminismo como sedução das massas.O termo “Indústria Cultural” foicriado para distinguir um novoconceito de análise da cultura do“aspecto de uma cultura que surgeespontaneamente das próprias massascomo se fosse uma forma espontâneade arte popular” (PUCCI,1994:154).Muito pelo contrário, esse conceitoindica “cultura produzida para oconsumo de massa, atendendo àsnecessidades de valor de troca (do seuprodutor) e de valor de uso (do seuconsumidor)” (FREITAG,1988:71-72). Nesse sentido, a produção culturaltorna-se mercadoria e é vendida damesma forma como se vende qualqueroutro bem de consumo. Assim, umprimeiro aspecto que se pode abstrairda Indústria Cultural é seu carátermercantil, extremamente útil aosistema capitalista. Nesse panorama, aobra de arte perde sua originalidade,sua “aura”, deixa de ser umaexpressão da criação subjetiva, da

condição singular de seu autor e passaa ser avaliada não pela sua essênciaartística e filosófica, mas pela sualucratividade e aceitação no mercado.Outro aspecto que se destaca é a suacapacidade de reproduzir o sistema, dereproduzir “a ideologia dominante aoocupar continuamente, com suaprogramação, o espaço de descanso ede lazer do trabalhador”(PUCCI,1994:27).Se durante o início da sociedadeburguesa – cindida entre cultura ecivilização – era uma elite a detentorada produção cultural (que remetia aofuturo a realização de felicidade dapopulação explorada), no CapitalismoModerno, a Indústria Culturaldissolveu a produção da cultura entre aclasse dominada, criou uma falsareconciliação entre cultura ecivilização e trouxe para o presente apromessa de concretização dafelicidade humana.Dessa absorção pela classetrabalhadora do conteúdoprogramático da Indústria Cultural,bem como da falsa promessa derealização de felicidade no presente,apresenta-se um outro aspecto dessaIndústria Cultural: a capacidade deeliminar a dimensão crítica das massasque, em conseqüência, perdem opotencial de perceber sua realidadealienada.Da Indústria Cultural, o primeiroaspecto conduz ao consumismodesenfreado da cultura – e de outrosbens – como caminho de “realizaçãopessoal”. O segundo subtrai o tempodos indivíduos de questionarem suarealidade de explorados, além de ser-lhes “tirada a esperança preservadaoutrora em obras culturais de que ofuturo poderia ser melhor”(FREITAG,1988:73). O terceirotambém anula os processos de reflexão

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e crítica da classe assalariada face àsua realidade social.Esses aspectos da Indústria Culturalvisam, acima de tudo, a reproduçãodas relações sociais capitalistas: “seantigamente a separação entre culturae civilização preenchiasatisfatoriamente as funções dereprodução e ideologização da classeoperária, as condições modernas naprodução criaram, com auxílio daciência e da técnica, assimilando, pois,a cultura à civilização, uma novafórmula para consolidar e perpetuar aprodução capitalista: a IndústriaCultural. Essa passa a ser fundamentalpara a sobrevivência do sistema”(FREITAG,1988:74).Chegando a essa conclusão, Adorno eHorkheimer formulam uma concepçãode produção cultural que difere dasposições de Benjamin e Marcuse. Separa Benjamin a perda da “aura” daobra de arte e da produção cultural,através da reprodutibilidade técnica,representava a possibilidade depolitização da classe dominada, paraAdorno e Horkheimer a obra de arte“aurática”, portadora da originalidadede seu criador, preservava aconsciência de uma realidade melhor.Sua dissolução representava aalienação do mundo, o conformismocom o presente. Em relação a Marcuse,a dissolução da cultura em umasociedade socialista tão esperada poreste teórico não foi concretizada. Nacontramão das esperanças de Marcuse,tal dissolução ocorreu da formadescrita por Adorno e Horkheimer emseu conceito de Indústria Cultural. Oresultado é que a reconciliação entrecultura e civilização foi uma farsa,contrariando as expectativas dessecrítico. Entretanto, “Marcuse queadvogara, como vimos, adessublimação da arte, defendendo sua

superação pela equalização dasdesigualdades estruturais da baseeconômica, assume, como autormaduro, as posições defendidas porseus amigos “frankfurtianos”,Horkheimer e Adorno. Em um diálogotravado com Habermas em Starnberg,pouco antes de sua morte, defende apreservação da obra de arte com sua“aura” como única forma de impedirsua unidimensionalização, ou seja, suacooptação pelo sistema capitalista deprodução” (FREITAG,1988:78).A postura de Habermas sobre aprodução artística aproxima-se daconcepção de Benjamin e criticaAdorno, Horkheimer e Marcuse poratribuírem à cultura sentidos detradicionalismo (viam nela apenas umapromessa de felicidade), de limitação(utilizavam um referencial elitista dearte, rejeitando outras manifestaçõesartísticas modernas) e de idealismo(não admitiam “a alteração interna daestrutura e função da arte e cultura queacompanha o desenvolvimento doCapitalismo Tardio. Justamente asalterações ocorridas na base materialdo sistema de produção permitiriamque a obra de arte e a culturaassumissem um novo caráter e outrafuncionalidade”) (FREITAG,1988:78-79).

• Após a publicação da Dialética doEsclarecimento (1947) e a volta àAlemanha (1948), Adorno eHorkheimer desiludidos com o poderda Razão Instrumental em todas asesferas da sociedade, deslocam aênfase no potencial de emancipação daclasse trabalhadora para a populaçãooprimida em geral (todos ostrabalhadores assalariados e pequenosprodutores) e desta para a esfera dasuperestrutura. Deixando a crítica àrazão e à ciência, partem para a análiseda cultura e da Indústria Cultural,

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caracterizadas como formas demanipulação das consciências. Adornoao assumir a co-direção (1955) eposteriormente a direção (1958) doInstituto, produz a “restrição do camposemântico e a abrangência da TeoriaCrítica, abandonando as análises maisconcretas das relações de produção eda repressão das classes inerente àmoderna sociedade de massas, objetooriginal das investigações do Instituto,para enclausurar-se cada vez mais nocampo da música, onde sua crítica eseu protesto seriam compreendidos poruma pequena minoria”(FREITAG,1988:67-68).Seus trabalhos posteriores à Dialéticado Esclarecimento (1947), maisespecificamente Mínima Moralia(1951), Notas sobre a Literatura(1961), Dialética Negativa (1966) eTeoria Estética (1970), apresentamuma nova versão da Teoria Crítica: a“Teoria Estética”. Esta não denota umrompimento com a Teoria Crítica,trata-se sim de levá-la até suas últimasconseqüências, de levar a suadimensão crítica, a negação darealidade, ao seu último refúgio daalienação social: a arte. A TeoriaEstética nasce assim como herdeira daTeoria Crítica.Se com o conceito de IndústriaCultural foi possível captar a dimensãoalienante da produção cultural, com aTeoria Estética, Adorno procuraresgatar sua dimensão crítica eemancipatória contida na arte eprincipalmente na música. ParaAdorno, a arte guarda umapotencialidade humana nãosubordinada ao totalitarismo dosistema social. Considera a estética aúnica portadora da crítica social e nelase encontra a possibilidade da reflexãosocial e de um futuro melhor.

Caberia à Teoria Estética a missão dedecodificar a mensagem críticainserida na música e em outrasrepresentações artísticas,transformando-a em análise e críticada organização social. Na perspectivade Adorno, a música erudita devanguarda, mais especificamente ododecafonismo de Schönberg e AlbanBerg, incorporava essa mensagem. Deum lado, continha na sua composiçãoelementos que representavam abanalização e alienação da própriavida subjugada pelo sistema. De outro,por se prestar menos à reprodução parao consumo de massas, às diretrizes daIndústria Cultural, não se tornariareificada e garantiria em sua essência apreservação da crítica à alienaçãosocial.Adorno, com sua Teoria Estética,alcança o ponto extremo de suaDialética Negativa e aponta para umpessimismo filosófico em que a arte setorna o último reduto da felicidade eliberdade humana. A Teoria Estética,sua decodificadora, em últimainstância identificada com a própriaarte, transforma-se ao lado desta, naúnica arma de luta contra a submissãosocial.Habermas, nesse ponto, censura ocaminho tomado por Adorno edenuncia a incapacidade da DialéticaNegativa e da Teoria Estética de sairde seu impasse. A solução para dilemaseria a forma de prática social a qualdenominou de Ação Comunicativa.

A questão do Estado e a dominaçãotecnocrática

Este terceiro tópico é apresentado em trêsmomentos na história da Escola deFrankfurt:1. Abarca o início do Instituto e de seu

funcionamento em Frankfurt até a

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emigração de seus membros para osEstados Unidos. Nesse momento,destaca-se as análises dos teóricoseconomistas vinculados ao Instituto,entre outros, Pollock, Wittfogel,Baumann, Meyer e Mandelbaum. Ascríticas são dirigidas à crescenteintervenção do Estado na economiadas nações capitalistas e socialistas,captando as alterações ocorridas emsuas estruturas. Marca o início dodebate um artigo de Pollock, Asituação atual do capitalismo e asperspectivas de uma nova ordemplanificada, editado em 1932, noprimeiro número da Revista;

2. As críticas são marcadas peloconvívio, experiências e observaçõesprovenientes da realidade norte-americana (devido ao exílio nosEstados Unidos). Procurou-sedesvendar e explicitar a íntima relaçãoexistente entre a Razão Instrumental(científica e técnica), a racionalidadeeconômica do capitalismo moderno e adominação burocrática(FREITAG,1988:97). Sobressaem-seas apreciações de Horkheimer eMarcuse, principalmente os desteúltimo, contidas em um texto de 1964,Industrialização e Capitalismo naobra de Weber e em um livro, tambémde 1964, Ideologia da SociedadeIndustrial;

3. Abrange as teorizações produzidasapós a reabertura do Instituto emFrankfurt, em 1950. Trata da reflexãosobre o funcionamento e a legitimaçãodo Estado no âmbito atual doCapitalismo Tardio. Merecemdestaque as idéias de Habermas, Offe,Oehler e de outros pensadores.Incluem-se como obras maisimportantes desse momento umapesquisa de Habermas, Friedeburg,Oehler e Weltz, de 1961, Estudante ePolítica: uma Pesquisa sobre a

Consciência Política de Estudantes deFrankfurt; três livros de Habermas:sua Tese de Livre-Docência AsMudanças Estruturais no EspaçoPúblico (1962) , Técnica e Ciênciacomo Ideologia (1963) e A crise deLegitimação do Capitalismo Tardio(1973); e uma obra de Offe:Mudanças Estruturais no EstadoCapitalista (1984).

PRIMEIRO MOMENTO

O debate sobre as questões queenvolvem o Estado é aberto com Meyer,Mandelbaum e Pollock. As reflexõesdesses economistas estão sintetizadas emum artigo de 1932, de autoria de Pollock,A situação atual do capitalismo e asperspectivas de uma nova ordemplanificada. Trata-se da análise dacrescente intervenção do Estado naeconomia de países capitalistas esocialistas, que se associava àmanipulação das crises e ao planejamentoeconômico. Tais intervenções tinham paraos economistas burgueses da época umcaráter simplesmente conjuntural. Essainterpretação interessava à ideologiaeconômica liberal, que estruturada nanoção da livre concorrência como normade mercado, recusava a intervenção doEstado nas bases econômicas dasociedade. Contudo, essa política , queadmite o Estado como mero observadorda dinâmica econômica nacional einternacional, havia conduzido diversospaíses à Primeira Guerra Mundial. Osteóricos de Frankfurt não “viam combons olhos” essa espécie de política etambém nutriam uma visão cética emrelação à economia soviética pós-revolucionária (1917), que sofriacatástrofes seguidas. Alguns defendiam atese de que a presença do Estado eranecessária em qualquer economiamoderna, capitalista ou socialista. Frente

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ao intrincado funcionamento do mercadointernacional que seduzia as nações, oEstado ao marcar presença naadministração da economia nacionalestaria defendendo os interesses daprópria nação e mantendo o equilíbrio domercado internacional. O Estado Liberal,alicerçado na livre concorrência,sucumbiria diante desse mercado. Aanálise indica que, mesmo o EstadoEmpresarial substituindo o EstadoLiberal, ainda assim a forma de produçãocapitalista é mantida, ou seja, éassegurado o poder de uma elite(detentora do capital e dos meios deprodução) sobre uma classe explorada(provedora da força de trabalho). Noentanto, para garantir essa situação oEstado procura “modernizar” seuaparelho de dominação.

Este aparelho demonstra sua sofisticaçãomais notável no exemplo do Estado norte-americano de então, o Welfare State(Estado do Bem-Estar), que atua seguindoduas formas de intervenção social: umaeconômica e outra política. Naeconômica, interfere diretamente naeconomia, manipulando as crises,controlando o mercado, investindo eminfra-estrutura, etc. Na política, formulaintervenções sociais que visam minar aslutas de classe, reduzindo os conflitosentre os trabalhadores e industriais emnome do “progresso econômico” e do“bem-estar social”. Nessa atuação, “ogrande instrumento do Estado CapitalistaModerno passa a ser o planejamentoeconômico-social, que permite a alocaçãoadequada dos recursos para a obtenção decertos fins permitindo maiortransparência e conseqüentemente maiorprevisibilidade dos processoseconômicos” (FREITAG,1988:89). Dessemodo, o Estado Capitalista assemelha-seà política estatal soviética da época, coma diferença de que, no primeiro o estado

desenvolve sua gestão em prol de umaclasse capitalista, e no segundo, aorganização estatal administra “em nomedas massas, mas em proveito de umanova classe emergente, a dos funcionáriose líderes do partido”(FREITAG,1988:89).

Em 1964, na Ideologia da SociedadeIndustrial, Marcuse irá retomar o tema daintervenção estatal ao alegar que “esseintervencionismo ainda aumenta devidoàs mudanças técnicas que ocorrem nabase do sistema produtivo: 1) amecanização e automação do trabalho; 2)a tendência da equiparação crescenteentre trabalhadores de fábricas efuncionários (setor terciário); 3) amudança no caráter do trabalho e dosinstrumentos produtivos, que estariamenfraquecendo a classe trabalhadora,tornando-a vulnerável à cooptação emanipulação pelo Estado”(FREITAG,1988:89).

O primeiro momento da análise doproblema do Estado encerra-se com osteóricos da Escola de Frankfurt atribuindomaior eficiência ao sistema capitalista noque diz respeito ao suprimento dasnecessidades básicas da população e ageração de riqueza. Está excluída dessaanálise a problemática das desigualdadessociais existentes entre os hemisfériosnorte e sul em conseqüência do modo deprodução capitalista.

SEGUNDO MOMENTO

Esse momento, caracterizado pela análisedas relações existentes entre a RazãoInstrumental e a forma de produçãocapitalista, inicia-se com um textopublicado em 1964, Industrialização eCapitalismo na obra de Weber, deMarcuse (já produzindo fora da Escola deFrankfurt), apresentado no 15o Encontro

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de sociólogos em Heidelberg. Nessetexto, Marcuse emprega o conceito RazãoInstrumental utilizado por Horkheimer ecita Weber como o primeiro pensador autilizar esse conceito na análise doModerno Estado Capitalista. Weberclassifica de “racional” toda ação baseadana calculabilidade e previsibilidade queprocura “obter com um mínimo dedispêndio um máximo de efeitosdesejados, evitando-se ou minimizando-se todos os efeitos colaterais indesejados”(FREITAG,1988:90). Essa racionalidadeestá integrada às modernas sociedadesocidentais, garantindo uma definiçãoracional da vida. Sua institucionalizaçãona vida cotidiana manifesta-se pelo“plano econômico, na ação calculada dosagentes econômicos (empresários) e naatuação competente da administraçãoestatal (burocratas)”.

Marcuse conclui que, a racionalidadeweberiana é a própria RazãoInstrumental, a razão capitalista(direcionada para a obtenção de lucropela apropriação da mais valia), edenuncia o sentido ideológico presente nopensamento de Weber quando estedefende na obra Economia e Sociedade a“neutralidade científica” e o tecnicismo.Para Marcuse, Weber em seu discursofaz, em última instância, a defesa da razãocapitalista. Contudo, Marcuse concede aWeber dois méritos: o primeiro, de terdemonstrado que a racionalidadeinstrumental não só se limitou à esferaeconômica (produção e circulação demercadorias) onde a calculabilidade eprevisibilidade são as principaiscaracterísticas, mas atingiu também aesfera política como a “Razão do Estado”,onde, através do aparelho burocrático edos mecanismos de controle (polícia eexército), garantia que suas ordens seriamcumpridas.

O segundo mérito é reconhecido quandoWeber explica que as concepçõesreligiosas de mundo, ao serem“racionalizadas” e transformadas empráticas econômicas cotidianas, tornaram-se condutas alienadas. “A racionalidadeinstrumental no plano econômico,inicialmente considerada a expressão deliberdade do homem de competir nomercado, transformou-se em sua camisade força, a armação de ferro que oaprisiona (...), revelando-se assim airracionalidade do sistema como um todo.Da mesma forma, a dominação racional,baseada na lei e no controle burocráticodos súditos, conduz ao imobilismo e àperda da liberdade do cidadão”(FREITAG,1988:92).

No entanto, Weber procura salvar airracionalidade política e econômica comsuperações que Marcuse designou comosendo outras irracionalidades: no planoeconômico, Weber aponta a salvação nafigura dos empresários, que como líderescombatem a irracionalidade econômicacom a maximização de lucros, e nopolítico, vê a solução na figura do lídercarismático que guia seus adeptos,atropelando a irracionalidade burocrática.Marcuse comenta que essas soluções sãoaparentemente racionais quandoconsideradas no âmbito individual (sãoeficazes para o empresário e para opolítico), mas em seu conjunto, nocontexto da sociedade como um todo, sãocompletamente irracionais. Marcuseacusa Weber de, ao identificar o conceitode racionalidade instrumental com aracionalidade capitalista, imprimir-lheum caráter “estreito, escamoteando asoutras dimensões (da racionalidadematerial ou substancial) que podem levara outros valores que o da calculabilidadee previsibilidade na obtenção de efeitos(lucro e dominação). Também criticaWeber por fundir num único conceito a

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razão da polis e a racionalidade do lucro”(FREITAG,1988:93).

A obra de Marcuse, A Ideologia daSociedade Industrial, de 1964, tambémfaz parte desse segundo momento, e nelaexpõe a tese de que a ciência e a técnicamoderna, além de fazerem parte dasforças de produção (o que já fora dito porMarx) também possuem funçõesideológicas para legitimar o Estado. Apreocupação do Estado ao atuar em nomedo “progresso” (de interesse dos donosdo capital) é investir numa ciênciavoltada à otimização das formas deprodução e recalcar a ciência que busca areflexão e a crítica voltadas para alibertação social. A ciência inicialmenteconcebida para a emancipação do homeme a satisfação de suas necessidadesmateriais da vida torna-seunidimensionalizada no capitalismo,transforma-se em um meio de dominar oshomens, escravizando-os à tecnologia esubjugando-os à crescente aceleração dosmodos de produção. O uso dessa ciência,aliada à moderna técnica, visa a produçãode mercadorias com valor de troca, isto é,que gerem lucro (lógica técnica) e não aprodução de bens imprescindíveis aoatendimento das necessidades primáriasda humanidade. Entretanto, o própriosistema capitalista garante a liberação derecursos que satisfaçam as parte dasnecessidades básicas dos trabalhadores,bem como algumas de suasreivindicações (entre estas, o acesso àmoderna ciência e técnica). Com essemecanismo, o Estado consegue submetera classe trabalhadora à tecnocracia eainda desativar o conflito entre as classes.

Nesse processo, a ciência e a técnica,inseridas no discurso do desenvolvimentoeconômico e do progresso, tornam-seuma “ideologia tecnocrática”, um meio delegitimar o Estado. Com essa ideologia,

as “questões políticas não podem mais serresolvidas politicamente, à base denegociações e lutas, e sim, tecnicamente,de acordo com o princípio instrumentalde meios ajustados a fins”(FREITAG,1988:94). A ciência e atécnica modernas, vistas como “neutras”na perspectiva weberiana, ao legitimar oEstado capitalista tem a função última demanter as desigualdades entre as classessociais.

TERCEIRO MOMENTO

Esse momento traz a definição do EstadoModerno como articulador necessário àmanutenção da economia no CapitalismoTardio e a análise das crises que abalamsua legitimação. Sobressaem-se aqui, asargumentações de Habermas e Offe.

Habermas inicia suas análises sobre oEstado e suas transformações na pesquisaEstudante e Política: uma PesquisaSociológica sobre a Consciência Políticade Estudantes de Frankfurt (1961) e asretoma em sua Tese de Livre-DocênciaAs Mudanças Estruturais no EspaçoPúblico (1962) . Nesses trabalhos, ocrítico aponta que o hiato existente entreo Estado Liberal e a Sociedade Civilreduziu-se com o gradualintervencionismo estatal nas esferaseconômicas e políticas. Em Técnica eCiência como Ideologia (1968),Habermas põe-se em acordo comMarcuse na crítica a Weber e concordacom sua análise sobre a ciência e atécnica ao explicitar que estas,transformadas em formas de produção eideologia, formam realmente um pilar desustentação do Estado e conclui que, paratransformar a sociedade não basta apenasmudanças na teoria e filosofia política, énecessário também mudanças noscaminhos que tomam a ciência e atécnica.

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Para Habermas, a legitimação do Estado,no entanto, não se deve apenas à modernaciência e técnica, também compreende ointervencionismo estatal. O Estado aoassegurar o “progresso econômico” e obem estar material através da ciência, datécnica e de ações econômicas e políticas,garante a sua legitimação e ainda turva aconsciência da classe explorada,imobilizando os conflitos sociais.

Enquanto essa política tecnocráticafuncionar o Estado não se vê obrigado ajustificar-se perante a sociedade. “Essasubstituição do político pelo tecnocráticoserá mais tarde denunciada por Habermascomo sendo a “colonização” do MundoVivido pelo sistema econômico”(FREITAG,1988:96).

Em A Crise de Legitimação doCapitalismo Tardio (1973), Habermasapresenta sua Teoria da Crise. “Entendepor “crises” perturbações maisduradouras da Integração Sistêmica.Essas crises decorrem, a seu ver deproblemas não resolvidos no controlesistêmico” (FREITAG,1988:99).Contudo, as crises também sãoobservadas no universo da IntegraçãoSocial. Quando a Integração Sistêmica(organização da economia e dasinstituições públicas) entra em crise,ameaça a sobrevivência da sociedadecomo um todo. Quando a IntegraçãoSocial (organização do Mundo Vivido)entra em crise, ameaça a ordeminstitucional e o próprio Mundo Vivido.

“Em verdade, Habermas distingue quatroformas de “crise” : a crise econômica, acrise de racionalidade, a crise delegitimação e a crise de motivação. Acrise econômica é a mais diretamenteresponsável pela incapacidade do sistemade produção de atender a todas asnecessidades de sobrevivência dos

membros da sociedade. A crise deracionalidade e a crise de legitimação sereferem ao Estado Moderno e o afetamdiretamente. A crise da racionalidade sedá quando o Estado capitalista se vêforçado a ajustar racionalmente meios afins em função de valores e problemasmuitas vezes não conciliáveis,procurando otimizar os ganhos em todosos casos. Isso ocorre freqüentemente natentativa do Estado de conciliar osinteresses da política interna com os dapolítica externa. A crise de legitimaçãodecorre de o Estado ter de justificar-separa a sua clientela (eleitorado), quandodesenvolve iniciativas contraditórias (...).O insucesso do Estado nessa tentativareflete-se nas crises de motivação. Elas secaracterizam pela circunstância em que osindivíduos, membros de uma sociedade,já não se sentem mais motivados a seguiras instruções e ordens advindas dosistema econômico e político”(FREITAG,1988:100). Essa crise demotivação pode ter sua origem na lacunaaberta pela “racionalização” econômicade antigas concepções religiosas queguiavam a sociedade. Como efeitocolateral, uma considerável parcela dessasociedade procura preencher essa perdacom valores encontrados em gruposalternativos que não pertencem a ordeminstitucionalizada. A descrençageneralizada com os rumos econômicos epolíticos causa a ruptura entre aIntegração Sistêmica e a IntegraçãoSocial.

O Estado Moderno tem assim a complexatarefa de manter o êxito econômico,harmonizar a política interna com aexterna e justificar-se diante dos diversosgrupos de contestação social. Para isso, oEstado lança mão de vários recursos(muitas vezes incoerentes) para atingir oobjetivo (nem sempre bem sucedido) de

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manter o equilíbrio entre o Sistema e oMundo Vivido.

Em Mudanças Estruturais do EstadoCapitalista (1984), Offe mostra que noEstado Liberal a legitimação econômicaera sustentada pela livre concorrência (leida oferta e procura): o Estado estavadesincumbido de qualquer intervenção nomercado. Na ascensão capitalista, dá-se oinício e o gradual aumento dointervencionismo estatal, normatizando aeconomia e a política, e desvirtuando asorganizações políticas públicas medianteauxílio financeiro (suborno).

No seu modelo mais avançado, o EstadoEmpresarial torna-se o Estado do Bem-Estar, que negocia e executa novaspolíticas sociais junto aos trabalhadores eque interpõem-se nas organizaçõessociais contestadoras com a meta deadministrar o movimento do mercado detrabalho e desmantelar as lutas entreclasses, atingindo a finalidade última decontrolar as crises e conservar a estruturado capitalismo. Nessa tarefa, o Estado vê-se na obrigação de gerenciar com êxito aeconomia, de onde retira os recursosnecessários para ser bem sucedido emseus fins.

Habermas empresta as idéias de Offe eaprofunda sua Teoria da Crise postulandoque, na atualidade, o Estado Capitalistaestá imprensado por duas crises, a deracionalidade (advinda das dificuldadesna otimização da produtividade, namaximização de lucros e na atuação nomercado internacional) e a de legitimação(resultado da falência institucional e daincapacidade de atender as exigênciassociais e administrar com sucesso omercado de trabalho), o que tem comoconseqüência severas alterações em suaestrutura.

Offe reconhece duas soluções para odilema em que se encontra o Estado:evolui politicamente tornando-sesocialista ou regride, aderindo aototalitarismo fascista.

Enquanto Offe defende a primeira saída,Habermas sustenta uma terceira solução,a de realocar o Estado no universo doMundo Vivido, ou seja, reinserí-lo nadimensão da polis. A política seriareinscrita na esfera da democracia (comona Grécia antiga), despojando-se datirania da Razão Instrumental. AIntegração Social retomaria seu lugar àfrente da Integração Sistêmica.Entretanto, Habermas não indica adireção a ser seguida pelo sistemacapitalista, mas acredita na superação dascrises de racionalidade e legitimação,“implicando assim, a médio ou longoprazo, uma reestruturação do Estado e dasociedade sobre outras bases”(FREITAG,1988:104).

TERCEIRA PARTE

A Teoria Crítica após Adorno eHorkheimer

A atualidade da Teoria Crítica deve-se aoesforço de vários teóricos em procurarcriticá-la, renová-la e superá-la. Se desseintento surgiram novas reformulações taiscomo a Teoria Estética de Adorno, ATeoria da Ação Comunicativa deHabermas e a Teoria de Vanguarda deBürger, ainda assim essas reformulaçõesguardam em sua essência os principaisteores da teoria da qual originaram: acrítica à realidade e a luta pelaemancipação social.

A seguir, seguindo a mesma estruturadidática de Barbara Freitag, procuramoscaptar esse processo de atualização de

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Teoria Crítica, desde a morte de Adorno eHorkheimer até a metade da década de80, apresentando-o de forma limitada nocontexto da Alemanha, do mundo anglo-saxônico e do Brasil.

Alemanha

Nesse país, berço da Teoria Crítica, suamodernização é devida aos“frankfurtianos” da segunda e terceirageração.

SEGUNDA GERAÇÃO

Destaca-se o trabalho de Alfred Shimidt,Rolf Tiedemamm, Honneth e Bonss deeditar e reeditar obras do Adorno,Horkheimer, Benjamin, Marcuse eFromm, bem como de reeditar a Revista.Cabe-lhes igualmente o mérito dedivulgação e interpretação das idéiasdessa primeira geração de teóricos naAlemanha e em outros países.Salienta-se também o empenho deHabermas voltado à crítica e à superaçãodo legado dos “velhos frankfurtianos”. Jáem 1978, em Diálogos com HebertMarcuse (organizado por Habermas eBovenschen), esse crítico revela seudistanciamento de seus mestres quandodiscorda de Marcuse quanto à natureza darazão. Enquanto Habermas vê naorganização racional dos procedimentossociais a origem da razão, Marcuse, aocontrário, acredita que é a razão inata dosindivíduos que organiza racionalmente omundo. No primeiro volume de Teoria daAção Comunicativa (1981) e em ODiscurso Filosófico da Modernidade(1985), Habermas deixa clara a distânciaentre seu pensamento e os de Adorno eHorkheimer quando critica o impassepessimista por eles deixado e quandoprocura solucionar esse impasse com seunovo paradigma da Razão Comunicativa.Também denuncia esses dois pensadores

como precursores do Pós-Modernismodefendido por Foucault, Derrida, Bataillee Castoriadis. Sustentando o projeto daModernidade, Habermas acusa essesúltimos autores por suas irracionalidadesna crítica da realidade. Em O DiscursoFilosófico da Modernidade (1985),Habermas explica que o Projeto Culturale Sócio-Econômico da Modernidade porele defendido sofre rejeição por três tiposde conservadores:

1. Conservadores Tradicionais:totalmente contrários ao projeto,defendem uma posição pré-capitalista.Gehlen e K. Schimitt são exemplosdessa postura;

2. Jovens Conservadores ou Pós-Modernos de Esquerda: recusam avalidade do projeto, negando a razãoiluminista e aproximando-se de umavisão niilista às vezes apocalíptica eirracional da realidade. A esse grupopertencem a maioria dos teóricoseuropeus, entre eles, Foucault, Derrida,Sloterdijk e Horstmann;

3. Novos Conservadores ou Pós-Modernos de Direita: sustentam odesenvolvimento da ciência e datécnica positivista, mas rejeitam a artee a cultura modernas que destrõem asnormas e os bons costumes, abalando aestabilidade do sistema sócio-cultural.Fazem parte desse grupo Parsons eLuhmann.

De maneira geral, Habermas, em suarenovação e superação da Teoria Crítica,retoma a análise e crítica dos temas porela apreendidos: a crítica à razão e àciência, a cultura e os problemas delegitimação do Estado Capitalista. Na suainterpretação, três déficits conceituaisforam responsáveis pelas falhas deinterpretação da realidade que levaram

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Adorno e Horkheimer às conclusõesnegativas presentes nas obras Dialéticado Esclarecimento (1947), DialéticaNegativa (1966) e Teoria Estética (1970):a razão, a verdade e a democracia.

Razão: Adorno, Horkheimer etambém Marcuse nuncacriticaram, revogaram ousubstituíram o conceitohistórico-filosófico de razãomarxista por eles utilizados.Sempre procuraram nooperariado ou em outrosgrupos alternativos osagentes portadores dessarazão que iriam emancipar ahumanidade;

Verdade: os “velhos frankfurtianos”foram incapazes de formularum conceito de verdade quepudesse satisfazer ascondições científicas eabarcar o conceito deverdade hegeliano (quecompreende a ciência, aprática e a estética). Essedéficit é observado na eternabusca da verdade noconceito de DialéticaNegativa de Adorno;

Democracia: esses teóricos encaravamcom desconfiança ademocracia das sociedadesde massa por vê-la comouma ameaça à razão.Partindo dos exemplos domovimento nazista e dafalsa democracia americana,denunciavam a ausência decrítica das massas, queseguiam com facilidade oscomandos de liderançascarismáticas.

Como respostas a esses déficitsconceituais, Habermas apresenta suaTeoria da Ação Comunicativa. Através doparadigma da Razão Comunicativaempenha-se em revalorizar a democraciae formar uma conceituação de razão everdade estruturada na dinâmica dialógicae intersubjetiva.

TERCEIRA GERAÇÃO

Essa geração retoma da Teoria Crítica osmesmos temas por ela e por Habermasdesenvolvidos.

Crítica à razão e à ciência

Se nos tempos de Adorno e Horkheimer arazão guardava o potencial deemancipação da humanidade, na décadade 80 essa razão transforma-se em des-razão ou numa razão com dupla face (boae má). Surgiu uma revalorização dopensamento de Weber e Nietzsche,sobretudo das suas associações entre osaber e o poder. Essa relação “saber epoder” é utilizada pelos teóricos pós-modernos e marca principalmente a obrade Foucault que, ao analisar o tema doIluminismo, demonstra que nenhumaforma de conhecimento é desinteressada,ao contrário, traz em si a vontade dedominar. Para Foucault, o poder cria osaber e este consolida e legitima o poder.

As obras de Adorno e Foucault marcam opensamento dessa nova geração deteóricos alemães que vêem na razãoiluminista uma razão cínica que seconcretiza no Projeto da Modernidade (oqual é defendido por Habermas). Comoilustração dessa nova linha de teorizaçãovale a pena citar o trabalho de PeterSloterdijk, Crítica da Razão Cínica(1983), uma clara alusão à Crítica daRazão Pura (1783) de Kant. Em seu livro,Sloterdijk utiliza da sátira e do sarcasmo

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para criticar a razão emancipatória.Também convém mencionar o trabalho deUlrich Horstmann, O Monstro: contornosde uma filosofia da fuga humana (1985)que, com base em Além do Princípio doPrazer (1920-1924) de Freud e noconceito “vontade de poder” deNietzsche, apregoa um final apocalípticopara a humanidade.

É necessário explanar a diferença entre asconclusões a que chegou Adorno na suaDialética Negativa (1966) e TeoriaEstética (1970) e as conclusões dessesnovos teóricos: enquanto Adorno nuncaabandonou o conceito de razão iluminista(que se refugiou na arte), esses últimospensadores nutrem uma totaldesesperança para com a razão kantiana,antevendo um final catastrófico para ahumanidade.

Cultura

A crítica à cultura e à Indústria Culturalda Escola de Frankfurt vem sendoassimilada por toda um conjunto deteóricos literários, musicólogos, críticosde arte, teóricos da comunicação ecientistas sociais. Sloterdijk e Horstmann(já citados no tópico anterior), com basena Teoria Estética de Adorno, utilizarama estética como recurso para criticar arazão iluminista.Habermas, em 1979, lança uma coletâneacontendo 32 ensaios dessa nova geraçãode críticos alemães entituladaApontamentos sobre a SituaçãoEspiritual de nosso Tempo. Organizadaem dois volumes (1. Nação e República e2. Cultura e Política), traz em seusegundo tomo as análises sobre a culturade P. Bürger, H. Platschek, K. H. Bohrer,E. Runge, H. Wormveg e outros analistas.Em 1983 Habermas e Friedeburgorganizam a coletânea Conferência sobreAdorno reunindo especialistas sobre esse

autor, que debatem vários assuntos, entreeles, a cultura. Estão entre essesespecialistas, A. Schimidt, A. Wellmer,P. Bürger, W. Bonss, U. Oevermann e H.Dubiel.

A novidade na apropriação da TeoriaCrítica gira em torno da discussão sobre a“Modernidade” e a “Pós-Modernidade”.(Esta última, embora tenha nascido noâmbito da Teoria Estética e da produçãoartística, hoje compreende os campos dafilosofia, literatura, sociologia eeconomia). Sobressaem-se aqui, ostrabalhos de Peter Bürger e AlbrechtWellmer.

Na Teoria de Vanguarda (1974), Bürgerposiciona-se contra Adorno ao refutar suaidéia de que a arte de vanguarda seria oúltimo reduto da razão e da crítica, econtra Benjamin ao negar a validade dasnovas técnicas de reprodutibilidade daarte (cinema e televisão) como um meiode politização da sociedade. Bürgerfinaliza seu livro declarando a perdagradativa da função da obra de arte. Suatese seria contestada por W. H. Cooke eHans Sanders, entre outros estudiosos.

Em Sobre a Dialética da Modernidade eda Pós-Modernidade (1985), Wellmercritica Adorno por radicalizar o discursoda modernidade, o que o levou aoirracionalismo. Tal como Bürger, não vêa arte, em especial a música, como locusde uma racionalidade superior, porém,discorda deste ao negar a perda da funçãoda obra de arte.Para Wellmer, embora não substitua arazão, a arte permite um visão além desta,aumentando os horizontes dasubjetividade, da experiência e dopotencial de comunicação. Wellmer segueo raciocínio de Habermas ao sustentar opotencial emancipatório da razãoiluminista e ao enxergar na arte um meio

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pelo qual essa razão possa se expandir. Seem Adorno a razão crítica encontrou seurefúgio na arte, em Habermas e Wellmeressa razão encontrou na arte não só umrefúgio, mas um meio de transcendência.

Estado

Um dos trabalhos mais importantes narenovação da crítica às formas delegitimação do Estado Capitalista éMudanças Estruturais no EstadoCapitalista (1984) de Offe. Esse livro trazvários ensaios sobre o Estado CapitalistaModerno, principalmente em sua versãosocial-democrata européia.

Para Offe, esse Estado assume as funçõesde preservação das relações de produçãoem defesa dos interesses do capital e dasua própria sobrevivência (uma vez que éformado por capitalistas).

Para isso acontecer, o Estado atua de doismodos: procura ampliar sua produçãopara manter uma boa posição econômicano mercado internacional e adota políticasde bem-estar social (educação, emprego,saúde, habitação, etc) distribuindo partedas riquezas para minar os conflitossociais. Enquanto sua política for bemsucedida, o Estado consegue legitimar-see manter seus objetivos. A necessidade derecursos para manter essa estrutura obrigao Estado a gerir perfeitamente a economiae integrar a produção de bens de formavantajosa no mercado internacional.

Quando essa política falha, surgem ascrises internas e externas que conduzem àcrise do próprio Estado. Essa crise leva aoconflito de classes e à possibilidade dereorganização das forças produtivas emnovas bases. Por isso, a sobrevivência docapitalismo depende da preservação elegitimação do Estado. As mudanças

sociais só são possíveis quando o Estadoenfrenta graves crises.

Se Offe se distancia de Habermas em suaproposta de luta partidária, emcompensação o inspira em sua Teoria dasSociedades do Capitalismo Tardio,quando Habermas explicita a cisão entreSistema e Mundo Vivido.

A atualidade do pensamento de Offerevela-se na sua assimilação em paísescomo a Itália, França, Estados Unidos eBrasil e na sua apreensão por marxistasortodoxos e estruturalistas franceses.

Acerca do debate em torno do Estado sãosignificativas as contribuições de outrosteóricos tais como Altvater, Brandt, OscarNegt e Paul Mattick. Tambémsobressaem-se do primeiro volume(Nação e República) da coletâneaorganizada por Habermas, Apontamentossobre a Situação Espiritual de nossoTempo (1979), os artigos de J. Seiffer, U.Preuss, W. Vogt, D. Senghaas, U. Jaeggi.P. Glotz, W.D. Narr, entre outros.

Mundo Anglo-Saxônico

Durante a emigração para os EstadosUnidos, vários integrantes da Escola deFrankfurt permaneceram nasuniversidades americanas, desvinculando-se do Instituto de Pesquisa Social. Foramos casos de Marcuse e Fromm. Oprimeiro seria visto mais tarde como oideólogo do movimento estudantileuropeu da década de 60 e da New Liftamericana. Na verdade, esses doismovimentos seriam os responsáveis pelareintegração das duas correntes dereflexão teórica: a alemã de Adorno eHorkheimer e a americana de Marcuse.

Nos Estados Unidos, a edição de AImaginação Dialética: a História da

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Escola de Frankfurt e o Instituto dePesquisa Social, em 1973, por MartinJay, estimulam a publicação das obras deAdorno, Horkheimer, Benjamin eHabermas em língua inglesa. Essaassimilação da primeira e da segundageração de “frankfurtianos”, além deoutras linhas de pesquisa, é vista comouma reação da Sociologia Americana àditadura do Positivismo.

Na metade da década de 80, passa a haveruma relação de interação, na apreensãodos conteúdos teóricos, pelos estudiososamericanos e “frankfurtianos” (Habermase a terceira geração). A interação entre asvárias linhas de pesquisa anglo-saxônicas(filosofia analítica, lingüística epragmática) e alemãs (filosofia dialética ehermenêutica) possibilitou uma visão deângulos não explorados, permitindo asuperação de impasses que não seriamresolvidos pela perspectiva de uma únicateoria. Essa interação tem sido maisaprofundada através da mediação dopensamento pós-estruturalista francês.

Os trabalhos mais importantes dessetópico são:

• A Imaginação Dialética: História daEscola de Frankfurt e o Instituto dePesquisa Social (1973), de Martin Jay;

• Origem e Significado da Escola deFrankfurt (1976), de Phil Slater;

• A Origem da Dialética Negativa(1977), de Susan Buck-Morss;

• A Teoria Crítica de Jürgen Habermas(1978), de Thomas MacCarthy;

• A Filosofia Política da Escola deFrankfurt (1981), de GeorgeFriedmann;

• Habermas: debates críticos (1982), deJ. B. Thompson e D. Hekd;

• A Escola de Frankfurt (1984), de TomBottomore;

• Marxismo Ocidental (1986), de JoséGuilherme Merquior.

Brasil

Carlos Nelson Coutinho explica em umartigo (Presença, no 7, 1986, p. 100-112)que a Teoria Crítica chegou ao Brasil emduas etapas:

No final da década de 60, através deMarcuse, tendo uma coloraçãocontracultural, irracionalista e“romântica-anticapitalista”. A rebeldiadevido à ditadura militar favoreceu sualeitura ao lado de Debray, Althusser eMao. Duas publicações brasileiras, alémdas traduções das obras de alguns teóricoscríticos, marcam essa fase:• A Sereia e o Desconfiado (1965), deRoberto Schwarz;• Arte e Sociedade em Marcuse, Adornoe Benjamin (1969), de José GuilhermeMerquior.

No final da década de 70, mediatizada porRouanet, tendo uma conotaçãoracionalista caracterizada pela busca doelemento iluminista original da TeoriaCrítica.As principais obras dessa fase (além dastraduções dos “frankfurtianos”) são:

Sobre a crítica à razão e à ciência:

• os trabalhos de sociólogos e críticosliterários que defenderam suas teses demestrado e doutorado na Alemanha: G.Bayer, W. Bolle, Adélia Bezerra deMenezes, F. R. Kothe, LeandroKonder e Barbara Freitag;

• Teoria Crítica e Psicanálise (1983) eA Razão Cativa: as Ilusões daConsciência de Platão a Freud (1985),ambos de Sérgio Paulo Rouanet.

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Sobre a cultura:

• Édipo e o Anjo: Itinerários Freudianosem Walter Benjamin (1981),Introdução à tradução de A Origem doDrama Barroco Alemão de Benjamin(1983) e As Passagens de Paris(1984), todos de Rouanet;

• Benjamin e Adorno: confrontos(1977), de Flávio Kothe;

• Ao Vencedor as Batatas (1977), deRoberto Schwarz;

• Walter Benjamin: os cacos da história(1982), de Jeanne-Marie Gagnebin.

Sobre cultura e comunicação de massa:

• Comunicação e Indústria Cultural(1971) e Sociologia da Comunicação(1973), ambos de Gabriel Cohn;

• Cultura de Massa e Cultura Popular:Leituras Operárias (1972), de EcléaBosi.

Sobre pedagogia crítica:

• Pedagogia Radical (1983), de HenryGiroux;

• Os trabalhos sobre PolíticaEducacional de Barbara Freitag (1985-1986).

Sobre o Estado:• As coletâneas de Gustavo Bayer

(1974, 1975 e 1986) contendo, entrevários autores, artigos de Habermas,Offe, Senghaas, Narr, Nashold e Lenk.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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SLATER, Phil. Origem e significado daescola de Frankfurt. Rio de Janeiro:Zahar, 1978, 221p.

Márcia do Nascimento Vieira AntunesEnfermeira

Mestranda em Educação pela FE/UNICAMPe-mail: [email protected]

Luís Marcelo Alves RamosPsicólogo

Mestrando em Educação pela FE/UNICAMPe-mail: [email protected]