revista de janeiro 2011

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Revista de Janeiro 2011 PARABÉNS MARIA DE SOUSA Eugénio de Andrade Elsa Lé Sónia Delaunay Albano Martins Adão Cruz Júlio Brandão Renata Silva Álvaro Domingues

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Revista de Janeiro de 2011 - Correio do Porto: Notícias inspiradoras do e sobre o distrito do Porto (Portugal)... um mundo à parte.

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Page 1: Revista de Janeiro 2011

Revista de Janeiro 2011

PARABÉNS MARIA DE SOUSA

Eugénio de Andrade

Elsa Lé

Sónia Delaunay

Albano Martins

Adão Cruz

Júlio Brandão

Renata Silva

Álvaro Domingues

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Page 3: Revista de Janeiro 2011

Notas do Editor

3Janeiro 2011 Correio do Porto

Edição de Paulo Moreira Lopes, devidamente identificado no site www.correiodoporto.comDesign gráfico: Leunam - Paginação: André Oliveira

A divulgação dos conteúdos e imagens insertos nesta revista virtual não tem fins lucrativos.Todos os textos são acompanhados da identificação do seu autor e alojamento na internet.

A revista foi concebida com recurso ao programa informático Adobe Illustrator.Foi concebida para o tamanho A4 com testes efectuados em suporte de papel, dobrado e agrafado no estabelecimento Dr. Scan

Mr. Print, sito no Arrábida Shopping.

Tonalidades Nadir Afonso

http://www.nadirafonso.com/aniversario-90-anos-nadir-afonso/

As cores originais do Thema Arthemia de Michael Hutagalung estão a ser utilizadas por diversos sites/blogues, entre eles http://orgialiteraria.com/ e http://www.primeiramao.pt/, o que era motivo de confusão com o Correio do Porto. Depois de muitas experiências e comparações (http://www.jornaldenegocios.pt/ e http://sol.sapo.pt/) deparamos com o cartaz comemorativo dos 90 anos do artista Nadir Afonso, o qual contém as quatro cores do site: preto, vermelho, azul e cinzento. O tom daquelas cores está muito próximo do nosso tema original, mas apresenta mais harmonia entre si. O azul é muito vivo, muito brilhante. E o tom cinzento do fundo do cartaz suporta e enquadra na perfeição as restantes cores. Por isso, decidimos adoptar aqueles tons no nosso site a partir de 29 de Dezembro de 2010.

Revista do Ano 2010

Seguindo um critério objectivo - o número de visualizações - reunimos os 10 posts mais vistos durante o ano 2010 numa revista virtual, que pode ser apreciada aqui ou impressa num qualquer estabelecimento de fotocópias. Refira-se que a divulgação dos textos e das fotografias não tem fins lucrativos.

Capa da Revista de Janeiro

O critério de ilustração da capa do mês de Janeiro é meramente subjectivo. Atendendo à dimensão, cor e expressividade da fotografia de Maria de Sousa, foi esta a escolhida.Outros motivos também influíram nesta decisão: a importância da fotografada, a serenidade da pose e, em especial, a candura do sorriso da cientista.

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Cultura

Janeiro 2011 Correio do Porto 4

José da Cruz Santos vai publicar obra completa de Eugénio de Andrade

Por Sérgio Andrade in http://jn.sapo.pt/blogs/babel em 15 de Janeiro de 201115 Visualizações

A editora Modo de Ler assegurou a publicação da obra completa de Eugénio de Andrade, apurou o JN junto do editor José da Cruz Santos. Os primeiros dois volumes chegam às livrarias já em Feve-reiro, apresentando uma nova linha gráfica, a cargo do designer Rui Mendonça.

Com prefácios de, respectivamente, Oscar Lopes e Luís Miguel Queirós, Poesia reunida e Prosa reunida são os títulos inaugurais de uma série de lançamentos que, até final do corrente ano, deverá contemplar mais uma dezena de livros que obedecem à ordem cronológica de publicação.Até final de 2013, a Modo de Ler planeia editar a totalidade dos livros de poesia de Eugénio, além de estar previsto ainda o lançamento de edições especiais relacionadas com a obra do autor de As mãos e os frutos, falecido em Junho de 2005.

“Honrado” com o acordo estabel-ecido com os herdeiros do poeta, José da Cruz Santos salienta “as ligações antigas” que o unem a Eugénio, “autor cimeiro da nossa literatura que não merece o estado de abandono a que chegou a sua obra”. Desde 1966, na Portugália, o editor portuense publicou aproximada-mente três dezenas de títulos de Eugénio de Andrade, incluindo vários álbuns e antologias.

Contactado pelo JN, o presidente da Fundação Eugénio de Andrade (FEA), Arnaldo Saraiva, salien-tou o “carácter ilegal” das anunciadas publicações, porque “os estatutos são bem claros quando atri-buem à FEA a exclusividade das edições”.

Todavia, Arnaldo Saraiva descarta a possibilidade de contestar judicial-mente o acordo. “Não temos dinheiro para tal”, afirmou, criticando ainda os que “querem quiser enriquecer à custa do Eugé-nio”.

Desde Dezembro de 2009 à espera que o Ministério da Presidência se pronuncie sobre o pedido de extinção, a FEA salienta os “enor-mes prejuízos” que o atraso tem provocado, mas não desistiu ainda do projecto de tornar a antiga residência de Eugénio de Andrade “uma casa da poesia aberta à popu-lação”.

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ELSA LÉ - Uma estrela Viaja na Cidade

in http://arvorecoop.pt em 20 de Janeiro de 20118 Visualizações

No dia 7 de Janeiro de 2011, pelas 21h30, realizou-se a sessão de apresentação do livro Uma Estrela Viaja na Cidade de Papiniano Carlos, com ilustrações de Elsa Lé (Ed. Trinta Por Uma Linha).

Em simultâneo foi inaugurada a exposição de aguarelas originais (ilustrações) da autoria de ELSA LÉ, reproduzidas no livro, que estará patente até ao dia 31 de Janeiro.

“Uma Estrela Viaja na Cidade”, é um poema dramático, onde o poeta apela à sensibilidade humana e sonha com a chegada da prima-vera… no coração dos homens.

Elsa Lé

Nasceu em Ovar. Licenciou-se em Artes Plásticas/Pintura, pela Escola Superior de Belas Artes do Porto. Professora de Ed.Visual e Expressão Plástica, na Escola Dr. Augusto César Pires de Lima, Porto.Participou em diversas exposições individuais e colectivas em Portugal e no estrangeiro. Está repre-sentada em diversas colecções particulares e no Espólio do museu da Fundação Eng. António de Almeida, Porto, e no Museu da Cidade, Lisboa. Tem obra integrada no património artístico e cultural do Hospital de S. João, no Porto, sob o tema “São João patrono do hospital e da cidade”. Executou pintura mural, na

Biblioteca/Ludoteca Gulbenkian, em Oliveira de Azeméis. Escreveu e ilustrou: Um milhão de beijinhos/PNL (3ª edição, 2009); Risco, o peixe-aranha/PNL (2006); Os amigos não são para comer (2007);O Coelhinho, a Formiga Rabiga mais a Cabra e a sua barriga (2008), em co-autoria com João Pedro Mésseder. Ilustrou: De um a dez da cabeça aos pés (2007), texto de José Jorge Letria; Versos com todas as Letras (2008), texto de José Jorge Letria; A Viagem de Alexandra (2007), texto de Papiniano Carlos; O Reino Cintilante (2010), texto de Vergilio Alberto Vieira; Uma Estrela viaja na Cidade(2010), texto Papiniano Carlos.

Cultura

Janeiro 2011 Correio do Porto 5

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Sonia Delaunay (1885-1979)

in http://cadernosemcapa.blogspot.com/ em 27 de Janeiro de 201126 Visualizações

Pintora francesa de origem russa, Sara Stern nasceu em Gradizhsk (Ucrânia), em 1885. Em 1910, casou em segundas núpcias com o pintor francês Robert Delaunay, um dos precursores da pintura abstracta, e adoptou o nome de Sonia Dalau-nay. Sonia realizou em 1911 as primeiras obras abstractas, sendo considerada uma das mais repre-sentativas artistas desta corrente. Fugindo da Iª Guerra Mundial, o casal Delaunay veio viver, junta-mente com o filho Charles, para Vila do Conde entre o Verão de 1915 e inícios de 1917, numa casa a que chamaram La Simultané. Aí aprofundaram a amizade com os pintores modernistas Amadeo de Souza-Cardoso, Almada Negreiros e, sobretudo, Eduardo Viana, que claramente influenciaram. Esse período de ano e meio que passou em Vila do Conde foi considerado por Sonia uma fase particularmente feliz e fonte de inspiração ao longo da sua vida. Em Portugal realizou importante obras inspiradas na arte

popular portuguesa. Admiradora dos pintores Van Gogh e Gauguin, assim como dos pintores “fauvistas”, deles recebeu o gosto pela expressividade das cores luminosas.O poeta e crítico de arte Guillaume Apollinaire designou o estilo de Robert e Sonia Delaunay de “Orfismo” ou “Cubismo Órfico”, em referência a Orfeu (o músico supremo da Mitologia Grega, que encantava a natureza com os seus dotes musicais).Na obra «Les Peintres Cubistes», Apollinaire definiu “Orfismo” como "A arte de pintar estruturas novas com elementos emprestados não da realidade visual, mas inteiramente criados pelo artista e dotados por ele de uma potente realidade”.Este conceito identificava semel-hança entre a música e a exaltação da luz e da cor, por meio de contrastes entre tonalidades frias e quentes de cores puras, dispostas em círculos dinâmicos justapostos. Desta forma, a pintura “órfica” –

por vezes, também chamada de “cubismo lírico” - seria um reflexo do desejo de acrescentar um novo elemento de lirismo, cor e luminosi-dade ao cubismo de Picasso, Braque e Gris, alegadamente demasiado austero e intelectual.Depois dum tempo de permanência em Madrid, Sonia Delaunay viveu em Paris a partir de 1921, continu-ando a pintar até à sua morte, em 1979.Considerada um dos vultos mais salientes da Art Déco, Sónia Delau-nay desenhou moda, fez decoração de teatro e bailado, criou tecidos e peças de mobiliário. Chamou aos seus tecidos pintados à mão "con-trastes simultâneos", expressão que reflectia o seu interesse pelas relações cromáticas.Entre os seus figurinos para baila-dos, destacam-se os concebidos para o espectáculo Cleópatra, produzido pelo bailarino e coreógrafo russo Sergei Diaghilev.

Cultura

Janeiro 2011 Correio do Porto6

Mercado no Minho, 1915

Rhythme, 1938Rythmes couleures, 1971 Sem título, 1972

Mercado no Minho, 1915

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Cultura

Janeiro 2011 Correio do Porto 7

Os velhos e os novos de Júlio BrandãoPor Ricardo Esteves in http://cronicas-portuguesas.blogspot.com/ em 16 de Janeiro de 201124 Visualizações

Impressionou-me vivamente este pequeno livro, integrado nas Obras de Júlio Brandão (*) editadas pela Imprensa Nacional. Interessante, principalmente para quem se debruça sobre a cultura portuguesa dos finais do século dezanove e princípios do século vinte. O texto intitulado Os “Velhos” e os “Novos”, é bem demonstrativo da pujança artística e literária nos idos anos de 1890, na cidade do Porto. Era nos cafés como o ‘Camanho’, o ‘Suiço’ ou o ‘Águia de Ouro’ que se reuniam nomes das letras como “(…) António Nobre, D. João de Castro, Alberto de Oliveira, Adolfo e Eduardo de Artayett, D. Alberto Bramão, João Barreira, Raul Brandão, Augusto de Mesquita, José Carlos Lopes, Justino de Mon-talvão, José Sarmento, João Saraiva, Manuel de Moura, os irmãos Lemos (Joaquim e António), Oliveira Passos (…), João Grave e Campos Monteiro (…).” A estes “novos”, juntavam-se os “mais antigos, em plena celebri-dade, Oliveira Martins, Guerra Jun-queiro, que fazia longas estadias no Porto, e acamaradava gentilmente com os rapazes, a quem ia recitando, de quando em quando, algumas das maravilhosas poesias dos Simples, ainda inéditas; Manuel Duarte de Almeida de quem (…) se publicaram as admiráveis poesias completas, Terra Azul; os médicos e

escritores eminentes, Maximiano de Lemos, Júlio de Matos e Ricardo Jorge; Joaquim de Araújo; Henrique Marinho; Basílio Teles; José Pereira de Sampaio (Bruno); Luís de Magalhães, que completava o magnífico poema D. Sebastião; Augusto Gama, seu irmão Guil-herme, cujas Prosas Simples haviam consagrado como um dos nossos contistas mais notáveis.Aparecia ainda António Feijó nas suas férias diplomáticas, e Queiroz Ribeiro, que publicava as Tardes de Primavera, tão floridas e iluminadas de excecional talento. Nas belas-artes, Moreira de Sá, António Arroio, Joaquim de Vasconcelos, Cirilo Carneiro, Manuel Ramos; Miguel Ângelo, cuja ópera Eurico levantara discussões tumultuosas; António José da Costa, o mestre encantador dos frutos e das flores; Marques de Oliveira; o gravador Molarinho; Artur Loureiro; Teixeira Lopes. Ricardo Severo e Rocha Peixoto lançavam magnificamente a sua Portugália.No jornalismo, basta recordar alguns nomes: Rodrigues de Freitas, José Caldas, Emídio de Oliveira, João de Oliveira Ramos, João Chagas, Luís Botelho. Artistas novos, que depois tanto se valorizaram, António Carneiro, Cândido da Cunha, Júlio Ramos, Cristiano de Carvalho, Inácio de Pinho, o malo-grado caricaturista Celso Hermínio…

E são apenas os que me acodem à lembrança, ao traçar estas linhas desordenadas e rápidas.”Alguns destes nomes, têm tido referências aqui no blogue. São os casos de D. Alberto Bramão, Raul Brandão, Campos Monteiro ou António Feijó, outros são bem conhecidos, outros ainda, nunca ouvi falar. Vejamos por exemplo, Marques de Oliveira: os seus quadros podem ser admirados no Museu Soares dos Reis do Porto, que vale a nossa visita por Marques de Oliveira, Silva Porto e claro, Soares dos Reis – para não referir todas as colecções e grandes obras em exposição permanente naquele museu, que justificam visita detalhada. O meu quadro preferido da exposição de Marques de Oliveira é ‘Interior (costureiras trabalhando)’, de 1884, do qual destaco em especial um pormenor que, por si só, daria um quadro notável.

(*) Júlio Brandão: escritor, nasceu em 1869 em Famalicão, e faleceu no Porto em 1947.

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Albano Martins por Adão Cruz

Por Adão Cruz in http://www.aventar.eu/ em 28 de Janeiro de 20116 Visualizações

Como toda a gente sabe, Albano Martins é um grande poeta, reconhe-cido nacional e internacionalmente, tendo realizado também magníficas traduções de poesia grega, italiana, sul-americana e espanhola. Licen-ciado em Filologia Clássica, é professor na Universidade Fernando Pessoa. Tem poemas seus traduzidos em espanhol, francês, inglês, italiano, chinês e japonês.Foi galardoado pela República Chilena com o prémio “Diploma da Ordem de Mérito Docente e Cultural Gabriela Mistral ”, no grau de Grande Oficial. Este galardão chileno, considerado o Nobel da América Latina, foi entregue pelo Embaixador do Chile em cerimónia realizada na Universidade Fernando Pessoa, cerimónia organizada pelo Centro de Estudos latino-americanos, a que tive a honra de assistir.Albano Martins é uma voz maior da nossa poesia, sobretudo pela sua rara qualidade e pela sua coerência estético-literária. Uma poesia discreta, que absorve da vida a sua luminosidade, uma poesia em que o autor se empenha na valorização da palavra, depurando-a e procurando dela extrair a sua essencialidade rítmica e significante.

Pertenço a estageografia, ao lume brancoda resina, ao gumedo arado.

A minha casaé esta: um leitode estevas e uma rosade caruma abrindono tecto do orvalho.

No livro de José Fernando Castro Branco, cuja capa em baixo se mostra, há um capítulo intitulado “A Pintura dos Poetas e A Poesia dos Pintores”, capítulo que sobremaneira me agrada, pois, como diz o autor, se nota que em Albano Martins, a direcção do movimento metamórfico está bem determinada numa poesia visualizante, em que ele procura dar-nos a visão e não o retrato.

Também os olhossão de calcário e a pombados lábios a que apenasfalta um sorrisopara se erguerem em voorasgado sobre as têmporas.E de calcárioé a luz aprisionada no ourodas pupilas, o secretoverniz das pálpebras.

Encimam-lhea cabeça duas luasestreladas e, no rostoe na cinta que lhe modela os cabelos, quem pensaé o próprio pensamento.

O da belezaque de si mesmanasce, a si mesmase contempla ou de si mesmase enamora e a si pertenceunicamente. Ou ao tempo que,discretamente, a possui.

Foi este título “A Pintura dos Poetas e A Poesia dos Pintores”, que me fez lembrar este grande poeta, e trazer aqui, sobre ele, estas minhas singelas palavras. Mas esta lembrança aflorou em mim, sobretudo por haver duas coisas que a ele me ligam particularmente. Sem qualquer tipo de presunção, mas com muita honra e orgulho, permitam-me que aqui as transcreva.

A primeira foi a escolha de um quadro meu para a capa deste livro sobre Albano Martins:

A segunda é um belo texto que Albano Martins escreveu sobre a minha pintura e poesia, texto de que muito me orgulho, vindo de quem vem:

Cultura

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Mercado no Minho, 1915

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Mercado no Minho, 1915Das pinturas de Adão Cruz se poderá dizer com propriedade o que dos desenhos de Federico Garcia Lorca disse um dia Miró: que eles parecem obra de um poeta, sendo esse, nas palavras do pintor catalão, o melhor elogio que pode fazer-se a toda a expressão plástica. No caso de Adão Cruz (como, de resto, no de Garcia Lor-ca), o dito encerra o seu quê de redundante, uma vez que, além de pintor, ele é também autor de alguns livros de poemas, em prosa e verso.

De um poema seu, precisamente “Dedicatória”, é este verso: “Con-tinuo a pintar o vento”. Eis uma declaração que soa como profissão de fé do pintor, mas se serve dos instrumentos do poeta: a linguagem das metáforas. Pintar o vento é acordar “o sonho adormecido”, é dar vida e movimento ao papagaio triste ancorado no chão, à espera do impulso – do vento – que o solte, lhe dê asas e o transforme em

pássaro azul. É pôr na boca de um “deus caído” o grito de revolta contra os “sonhos desfeitos” e sacrificar no “altar da utopia” as últimas reses dum carnaval de sombras e de luzes.

A história que invariavelmente as telas de Adão Cruz contam é esta: a da caminhada do homem em direcção à “utopia do real absoluto”. E se este, como queria Novalis, é a poesia, então é a poesia, isto é, a essência do real, que Adão Cruz busca através das suas criações pictóricas.

Entre a “luz e a sombra”, “a morte da razão” e a “ditadura do tempo”, há uma lua ao alcance da mão. Caída, espera a luz que a restitua ao espaço de onde veio e a que pertence. Tarefa do pintor, essa de, com os instru-mentos da arte, resgatar do luto e do vazio os “sonhos perdidos”.

Consciente do seu destino, mas também da sua força, por reduzida que seja comparada com a grandeza do universo de que é parte integrante, ao artista cabe (sempre coube, ao que supomos) reencontrar – reinventar – os elos perdidos da cadeia, a decifração dos enigmas que sustentam a casa dos homens e interpretar os sinais que todos os dias nos chegam do cosmos onde, afinal, “risível partícula de poeira”, nos situamos e movemos.

Como para Jorge Pinheiro, também para Adão Cruz “não se trata já (…) de procurar um sentido no seio da pintura, mas de, através da pintura, tentar compreender o sentido da vida”. Ou talvez – quem sabe? – inventar “o caminho do sol” com a ajuda de algu-mas tintas e umas gotas de sangue retiradas do coração ferido do real.

Cultura

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Adão Cruz por Albano Martins

O Canto da Arte e da Vida

Page 10: Revista de Janeiro 2011

“A rapariga dos lábios azuis” de Francisco Duarte Mangas

Por Francisco Duarte Mangas in http://diariodelink.blogspot.com/ em 11 de Janeiro de 201121 Visualizações

Dócil matilha, as palavras, ao redor de uma mulher e sua mágoa antiga. Há um livro, herdado de outra mulher, que a ajuda a atravessar o bosque e as ciladas da narrativa. Rente a morte, conta ao neto, ainda menino, a sua história; pede-lhe para guardar as palavras com alma.

Narra devagar, como se tivesse receio de esvaziar o passado, o lado solar da sua vida. A rapariga dos lábios azuis e o fogo de história mais íntimas ficam, todavia, na obscuridade. É a vez do neto intentar reconstruir esse passado indizível através de uma camélia.

Memória de uma mulher segregada de oitocentos, que percorre grande parte do século vinte. Memória também das árvores (“são como homens”), e das palavras – derra-deiro afecto para obstruir a barbari-dade.

Poder-se-á considerar uma espécie de viagem, de um recuar da memória ao tempo, de um outro tem-po, do jornalismo em Portugal. Manuel Dias, jornalista ao longo de cinco décadas, a maioria das quais passadas ao serviço do Jornal de Notícias, lançou recentemente mais um livro. Editado pela Associação de Jornal-istas e Homens de Letras do Porto, a obra narra algumas histórias vividas pelo autor e que simultaneamente assinalam alguns episódios que retratam o quotidiano das redacções sob a tutela do regime salazarista e

posteriormente o ambiente dos primeiros dias da Revo-lução de Abril. No capítulo a que Manuel Dias deu o nome “Entre a paz podre e os anos de brasa…”, o jornalista conta que, em plena baixa portuense, no dia 25 de Abril de 1974, ficou a saber, pela boca do repórter fotográfico Manuel Teix-eira que “estava em curso uma revolução”. Foi uma notícia, refere Manuel Dias, “que recebi com a maior surpresa. Foi o início de um dos mais memoráveis capítulos da história vivida pelos profissionais da Imprensa, que desfrutaram da

possibi-lidade de exteriorizar o seu júbilo por verem derrubada a mais velha ditadura da Europa e, conse-quentemente, por deixarem de estar sujeitos ao arbítrio dos ‘coronéis do lápis azul’, esses implacáveis esquartejadores das prosas ‘suspei-tas’”.

TÍTULO: O Jornal de Papel no Corredor da MorteAUTOR: Manuel DiasEDITOR: Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto

Cultura

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“O Jornal de Papel no Corredor da Morte” de Manuel Dias

Por Agostinho Santos in http://jn.sapo.pt/blogs/babel/ em 11 de Janeiro de 20117 Visualizações

Page 11: Revista de Janeiro 2011

Foi com uma reportagem sobre a Associação de Tutores e Amigos da Criança Africana (ATACA) que Renata Silva se tornou finalista do concurso internacional Young Reporters Against Poverty (YRAP).A Renata é estudante de Mestrado em Ciências da Comunicação da Faculdade de Letras da Universi-dade do Porto. “A importância de 20 euros e de carinho na vida de uma criança africana” foi o título do trabalho da Young Reporters Against Poverty (YRAP), que Renata representou em Bruxelas na fase final. Depois desta fase, a representante portuguesa teve uma semana para escrever a última reportagem da competição. Escreveu sobre a situação das mulheres no Congo: “é uma situação bastante actual e trata-se de um conflito no qual é preciso uma forte intervenção. Apesar dos esforços de várias entidades, a verdade é que a situação não melhora. Há mulheres a serem violadas todos os dias nesse país por pessoas do exército, da polícia, pelos próprios civis. Entrevistei uma mulher congolesa que de facto de um testemunho acerca da situação do país e do que se está ou não a fazer para ajudar.“ Os autores das três reportagens vencedoras (áudio, escrita e criativa), vão ter a possibi-lidade de visitar a Tanzânia e de

conhecer o presidente desse país. “Uma oportunidade única”, diz Renata. Toda a experiência tem sido “rica” em estímulos e conhecimento “tive a oportunidade de ter o apoio e dicas de um jornalista freelancer que trabalha neste momento em Bruxelas e sobretudo pude aprender mais sobre o desenvolvimento e o que se está a fazer para ajudar”, finaliza. De que menos gosta na Universi-dade do Porto? Lentidão no que toca à atribuição de bolsas de estudo aos estudantes. E falta de comuni-cação com os alunos. Falta ouvir mais o que os alunos têm para dizer, tentar melhorar as infra-estruturas, tentar comunicar melhor as infor-mações mais importantes, que por vezes nos chegam de boca em boca. (pelo menos é o que passa, por vezes, ironicamente, no meu curso) Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto? Dar mais espaço e importância à opinião dos alunos, através da realização de reuniões periódicas, por exemplo. Tentar aferir se está tudo a correr bem. Noto que existe muito a chamada “avaliação dos profes-sores”, no caso da Faculdade de Letras, mas a UP não são só os professores. 10- Uma inspiração? A diferença que faz a informação e a mudança que esta pode trazer. Para mim, o jornalismo é uma

inspiração para toda a vida, quando realmente conseguimos fazer um trabalho de qualidade, um jornal-ismo de “serviço público” no qual eu ainda acredito.O que te apaixona neste projecto? Precisamente: “Young Reporters Against Poverty” (YRAP), diz tudo. Sou jovem, a tentar iniciar carreira, sou estudante, sou apaixonada pelo jornalismo e sou 100 por cento contra a pobreza e exclusão social. É um tema que me fascina do ponto de vista jornalístico, porque aí, realmente, o jornalista cumpre a importante missão de contar uma história, divul-gar, sensibilizar, dizer o que está mal e propor soluções, dando voz às pessoas. É de facto algo muito importante. E foi isso que me chamou a atenção. Foi uma experiência única, da qual não me arrependo e que já me deixa muitas saudades. Ao fazer a reportagem que me levou a ser finalista do YRAP, sobre a Ataca, uma associação portuguesa que ajuda crianças africanas, fiz a diferença. Graças à minha reportagem, há mais uma criança que vai poder ter um tutor a ajudar com as suas despesas. Em Bruxelas, o que pudemos fazer (todos os finalistas) foi dar voz aos inúmeros projectos e pessoas que lá estavam a pedir ajuda e soluções.

Sociedade

Janeiro 2011 Correio do Porto 11

Finalista do Young Reporters Against PovertyRenata Silvain http://noticias.up.pt/16 visualizações

Page 12: Revista de Janeiro 2011

Sociedade

Janeiro 2011 Correio do Porto 12

Um mundo imaginado, mas muito realPor António Piedade, Crónica publicada no “Diário de Coimbra“.

in http://dererummundi.blogspot.com/ 27 de Janeiro de 201130 Visualizações

Em 1988, vivi de forma intensa e maravilhado “um mundo imagi-nado”. Uma experiência real de investigação científica através de um livro, com aquele título, então publicado na língua portuguesa pela Gradiva, editora que me ensinou a caminhar na ciência.

Linha após linha, página após página, eu, então jovem estudante de Bioquímica na Universidade de Coimbra, vivi 5 anos de uma

história real e intensa de descoberta científica, num só fôlego, numa noite que se fez dia inúmeras vezes.

Vivi, através do relato rigoroso e apaixonado de June Goodfield, autora do livro, os dias e as noites sem horário, a entrega persistente e lúcida, os avanços e retrocessos, os obstáculos e os recuos, a alegria e o desespero silencioso do processo científico efectuado sob a linha do desconhecido por uma promissora

cientista portuguesa a trabalhar nos Estados Unidos.

A cientista era a Bióloga Maria de Sousa, Professora Catedrática de Imunologia do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, Jubilada em Outubro de 2009 (ver aqui vídeo da sua última aula) e agora hom-enageada pela Universidade de Coimbra com a atribuição do prémio desta instituição.

Page 13: Revista de Janeiro 2011

Sublinho uma das inúmeras frases de referência que, nessa sua aula de jubilação, Maria de Sousa proferiu ao dizer, cito de cor, que ao longo da sua carreira só fez aquilo que sabia fazer: trabalhar!

A investigação em causa, uma caminhada árdua de cinco anos no Cornell Medical College, em Nova Iorque, na segunda metade da década de 70 do século passado e que produziu uma grande desc-oberta relacionada com o sistema imunitário, mais especificamente com o Linfoma de Hodgkin.

Mais do que um relato é um retrato vivo, com molduras que se abrem em novos quadros a cada obstáculo ultrapassado, com nevoeiros densos a dificultar a leitura de algumas derrotas, de becos aparentes que pareciam esfumaçar, com o folhear de uma página, anos de trabalho árduo.

Nesta hora de homenagem e reconhecimento da Universidade de Coimbra a esta sempre discreta mas incontornável referência do melhor da investigação científica, na sua

área a nível mundial, realço a qualidade da sua dedicação ao trabalho científico, as descobertas que fizeram e fazem escola e que aparecem agora facilitados no tempo pela excelência da sua pessoa humana.A enormidade da discrição enquanto pessoa contrasta abismalmente com a importância incontornável do seu trabalho científico. De referir que Maria Sousa produziu, desde 1960, artigos científicos cruciais à definição da estrutura funcional dos órgãos que constituem o sistema imunológico, descobrindo em 1971, um fenómeno que pode ser descrito pela capacidade de células imuni-tárias de diferentes origens migrarem e se organizarem em áreas bem determinadas dos órgãos linfóides periféricos, processo celular que designou e é conhecido por “ecotaxis”. Foi e é pioneiro o seu trabalho sobre a importância da homeostase do ferro no organismo e a relação das suas perturbações com várias patologias.No capítulo da divulgação de ciência e da formação sobre o que é o dia-a-dia de quem faz ciência, deveria ser obrigatório ler este

“Mundo Imaginado”, apesar de esgotado no editor (de June Good-field, Gradiva, coleccção Ciência Aberta nº 9), para mim, e para muitos, um dos melhores livros sobre ciência e talvez o melhor sobre ciência em acção directa.Para progredirmos temos de apren-der com os exemplos dos melhores, independentemente da sua área. E no panorama da realização cientí-fica portuguesa das últimas décadas Maria de Sousa é incontornável. Ou, como ela com certeza corrigiria, o seu trabalho é que é incontornável.

Sociedade

Janeiro 2011 Correio do Porto 13

Muitos Parabéns à Maria de Sousa, professora do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto, pelo merecidíssimo Prémio Universidade de Coimbra que acaba de lhe ser atribuído!

Por Carlos Fiolhais in http://dererummundi.blogspot.com/

Page 14: Revista de Janeiro 2011

Sociedade

Janeiro 2011 Correio do Porto 14

"Só concebo a Universidade como uma esfera de liberdade"Álvaro Domingues

in http://centenario.up.pt/45 visualizações

- Geógrafo e professor universi-tário português- Professor da Faculdade de Arqui-tectura da Universidade do Porto (desde 2000); Investigador no CEAU- Centro de Estudos de Arquitectura e Urbanismo da FAUP- Antigo Estudante e Professor de Geografia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto- Como é que teve origem e se tem vindo a desenvolver a sua ligação à Universidade do Porto? Que principais momentos guarda da sua experiência enquanto estudante, professor e investiga-dor da U.Porto? Como quase todos, a ligação à U.PORTO começou enquanto aluno do Curso de Geografia da FLUP. Ir para a Universi-dade e ir viver para o Porto, coincidiam na minha expec-tativa de então enquanto jovem estudante. O Porto (e não Lisboa, curiosamente, que para mim era a “corte” e os seus grupos e pouco mais…) era a minha geografia mais próxima do que achava ser a “urbanidade” enquanto experiência de cosmopolitismo e experiência de sociabilidade; a outra era Paris, o lugar de residência de quase todos os meus vizinhos de Melgaço e a própria imagem da cidade-mundo.Da vida de estudante guardo o ambiente fantástico da faculdade, a camaradagem entre colegas e um

estilo de professor bastante informal e muito próximo do aluno – as visitas de estudos ou os acampa-mentos eram experiências únicas de geógrafos andarilhos e pessoas interessadas pelas diversas cartogra-fias do mundo e da gente. O Coral de Letras foi outra experiência intensa. O profissionalismo do maestro Luís Borges Coelho exigia rigor e trabalho mas o CLUP foi a descoberta da música, da prática coral enquanto “cantar juntos” e sentir o grupo, as viagens, os concertos, os prémios, as festas… era a tribo. Como professor, tive a sorte de começar a dar aulas na minha faculdade logo depois da conclusão do curso. Era incrível! Ser professor onde meses antes se tinha sido aluno e se tinha aquele espírito de querer mudar tudo, ser inovador, desbravar outros camin-hos para a Geografia. É claro que o bom ambiente existente com os meus ex-professores ajudou a perceber que ruptura e continuidade se misturavam sem traumas ou impedimentos. Encontrei um espaço de liberdade absoluta em matéria de organização de um programa, de uma estratégia pedagógica e de um modo de estar na escola. A investi-gação surgiu ao mesmo tempo (tínhamos a experiência dos “trabal-hos práticos” no curso) e com as

formalizações dos mestrados ou provas públicas. A escola sempre me facilitou (trocas de horários, distribuição de serviço docente, etc.) as condições para a investi-gação e a logística necessária para me possibilitar saídas e presenças em congressos e seminários. Desde cedo também, tive a sorte de trabalhar “fora” da FLUP, na Operação Integrada de Desenvolvi-mento do Vale do Ave (coordenada pela profª. Elisa Ferreira) ou na Câmara de Guimarães (com o arqº Nuno Portas), ou na Quaternaire Portugal, uma empresas privada de assessoria e serviços na área do desenvolvimento regional e local. Até hoje, e desde 2000 na Facul-dade de Arquitectura, considero fundamental esta ligação para fora do mundo académico e a possibili-dade de resolver isso sem grandes obstáculos burocráticos e, no meu caso, sem sequer estar inserido num centro de investigação ao estilo anglo-saxónico. Tudo tem sido trajectórias bastante pessoais e de geometria variável em termos institucionais, fora e dentro da U.PORTO, em Portugal ou algures. Podem-se gerir estratégias d e investigação “por projectos” e, como eu gosto, variando os objectos de estudo, os contextos, os campos científicos e as instituições.

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Sociedade

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- Qual a importância da U.Porto no seu percurso profissional e que modo tem ido de encontro às suas expectativas?A U.PORTO é a minha casa. Não me deixo deslumbrar facilmente com a internacionalização pela internacionalização. O conheci-mento científico é universal, já se sabe, mas há muitas maneiras de garantir a fluidez e a abertura face à informação e à inovação. Na Geografia Humana, de resto, nem tudo é universal ou universalizante; há as especificidades do país e da cultura, do território e da paisagem. No contexto da União Europeia, a U.PORTO facilita-nos bastante a logística das trocas e da circulação no meio académico. Fora da UE, a experiência com o Brasil também tem sido muito boa, coisa que ainda não acontece com os PALOP ou com Macau.

Há hoje um certo fascínio anglo-saxónico mas gostaria mais de aprofundar o universo da cultura portuguesa e, no campo das ciências sociais, com a França onde existe uma imensa comunidade de origem portuguesa. Penso também que se deveria explorar melhor uma plataforma Ibérica-América Latina (incluindo a Galiza, claro). É que às vezes confunde-se o “universal” com o que é universalizado pelas instituições dominantes dos EUA e do mundo anglo-saxónico (o que não é a mesma coisa, pelo menos para as Ciências Sociais, as Artes e as Humanidades). Por mim, uma das manifestações mais interes-santes da globalização são as suas expressões localizadas.

A globalização não é inteligível a partir da estratosfera, mas a partir do mosaico de tensões e combi-nações aos níveis nacionais ou

locais. A globalização é um transgé-nico que assume diferentes reali-dades quando as tendências ditas globais se cruzam com as outras. A U.PORTO é do Porto, portanto, e deve continuar a ser.

- Como avalia o papel desempen-hado pela Universidade no seio da comunidade (cidade, região, país) e de que modo ele se poderá projectar para o futuro, com especial enfoque no campo da investigação e da produção de conhecimento e inovação?Num país macrocéfalo (os meus colegas de Lisboa, com honrosas excepções, ainda dizem que vão ao “Norte” ou à “Província”…, é lamentável), as identidades region-ais e locais encontram mais espaço de expressão pela positiva e pela negativa. Essa situação é favorável à construção de parcerias com a Universidade e a U.PORTO tem muitas e intensas experiências disso.Na minha área sinto isso muito claramente; não têm faltado oportu-nidades de produzir conhecimento com os mais diversos parceiros – empresas, instituições, municípios e suas associações, fundações, escolas, jornais, televisão, etc. -, desde os mais “invisíveis”, aos mais visíveis como Serralves, Casa da Música, CCDR.n., Ordem dos Arquitectos, etc. Ao nível nacional isso é extensível ao governo e à Administração Pública, a outras universidades, a instituições como a Fundação Calouste Gulbenkian e outras que investem na produção e divulgação do conhecimento e da investigação.

Creio que a visibilidade da U.PORTO no mundo da tecnologia e das empresas é bastante boa. Na arquitectura, também. Não penso o mesmo do lado das Humanidades e das Artes. Numa sociedade em crise de crenças e ideologias, faltam lugares de debate sobre o pensamento, sobre a produção artística e as suas múltiplas expressões de interrogar a socie-dade, as suas glórias e angústias. Em matéria de “território”, o Norte é um verdadeiro laboratório de paisagens transgénicas. Gostava que a consciência do território (como a do ambiente, agora tão visível) fosse mais divulgada e discutida. O território é a nossa casa comum e não apenas o que se vê escoar pelo retrovisor do carro, nos mapas e da nossa janela. O futuro (que é uma dimensão do tempo e um planeta desconhecido) só se pode pensar com o território que não é apenas o palco onde se desenrolam os dramas e comédias da história. O território (a forma como é representado e vivido) é uma das melhores formas de entender a síntese e a complexi-dade da sociedade. Como o futuro passa necessariamente por aí, aposte-se no conhecimento e na divulgação sobre o território porque isso escasseia a qualquer dia só sabemos de centros históricos e aldeias típicas ou conversas vagas sobre sustentabilidade e outras palavras que de tanto gastas se reduziram a pura fonética.

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Sociedade

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- Que caminho deverá ser percor-rido para afirmar cada vez mais a Universidade no contexto regional, nacional e internac-ional? Como prevê o papel de uma Universidade do Porto daqui a 100 anos?É difícil fazer futurologia. No tempo longo, a Universidade manteve a sua centralidade na produção do pensamento, da tecnologia, das ideias. Também teve as suas obscuridades quando era apenas a institucionalização de poderes mais ou menos opressores. Se a Aldeia Global se transformar em Selva Global, a Universidade tem que voltar a resguardar-se mais, abandonando parte deste fascínio liberal pela “utilidade” da investi-gação e pela produtividade dos papers alimentadores de uma voragem electrónica que se auto-alimenta sem que se perceba muito bem com que regras. Talvez seja preciso produzir algum conheci-mento inútil e radical, ou seremos emaranhados na lógica universal do dinheiro que faz dinheiro e geridos por alguma instituição de “rating” global que dirá quem faz o quê e com quê. Só concebo a Universi-dade como uma esfera de liberdade e de responsabilidade cívica, de constante vigilância entre ética e

conhecimento científico, de fertili-zação cruzada entre esferas distintas de organização dos saberes e das práticas sociais. Por muito que a sopa global vá inundando o globo, a U.PORTO deverá sempre ser do Porto. É capaz de ser defeito profissional de geógrafo, mas interessa-me o lugar mesmo que seja apenas um site (com muitos links…) no tal hipertexto global. Independentemente da universali-dade do saber, interessa-me saber como é que as instituições e as pessoas que o produzem mudam as sociedades e os lugares onde vivem.- Mensagem alusiva aos 100 anos da Universidade do PortoQuando Yves Klein (1928-1962) reduziu a arte a um azul intenso e monocromático, descobriu o fascínio do conhecimento: de tão saturado ficou vazio e enigmático. Vivemos uma época que só inventam dispositivos de aceleração sem recuo suficiente para saber quanto de descarrilamento impre-visto existe na velocidade. Vivemos no fascínio permanente pela inovação, pela criatividade, pela informação, pela ficção…, mas corremos constantemente o risco de nos perdermos por não haver GPS que nos guie nessa floresta encan-tada. O conhecimento vai-se

ramificando até ao infinito, ao ponto de cada um não saber muito bem o que é que faz, sabe ou pensa o outro ali ao lado. Confunde-se a sociabili-dade Facebook com a riqueza de outras amizades menos efémeras e anónimas. Troca-se a demanda do conhecimento do todo com o poço sem fundo da Wikipedia onde tudo se mistura desde a pureza ao embuste. Pensamos pouco porque nos entretemos muito entre os tempos em que mergulhamos nos nossos pequenos mundos.Já se sabe que a Universidade não é a Torre de Marfim nem o ermitério dos sábios, mas não temos a noção clara do quanto do universo existe na universidade e qual é o seu lugar quando já há muito perdeu o monopólio da legitimação do conhecimento e da sua produção e distribuição. Talvez não fosse mau perder algum tempo reflectindo, como diria António Damásio, sobre a “consciência de si” para melhor conhecer os caminhos a percorrer na relação com as outras instituições da sociedade também elas instáveis e mutantes. Cem anos (que não foram de solidão) são suficientes para perceber que o mundo é composto de mudança – disse Camões -, e “não se muda já como soía”. É esse o desafio.

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Tantas questões sentimentais num só post...

A Rádio Lidador foi a primeira rádio onde entrei, assim uma espécie de primeiro carro onde sentei o traseiro ou de primeira namorada. Nela dei a minha primeira entrevista a uma rádio. Nela gravei o meu primeiro aponta-mento jornalístico radiofónico. Nela fiz a minha última peça como jornalista (e logo um Dakar). Na Rádio Lidador (94.3 FM) conheci pessoas fantásticas e jornalistas de primeira. Sem esquecer os bons amigos que criei – alguns deles sei que serão para a vida.

O mundo avança e está sempre em mudança, rima e é verdade. A Rádio Lidador morreu na passada semana

dando lugar a outra, a Rádio 5. Não existe, da minha parte, qualquer nostalgia mas antes uma grande esperança. A Rádio 5 é a evolução natural de um grupo empresarial de comunicação da Maia que cresceu e ultrapassou as fronteiras do seu território de origem, é uma marca desta forma de ser empreendedora de parte dos nossos empresários. A Rádio Lidador era uma rádio local, a Rádio 5 é uma rádio global. Em suma, cresceu.A Rádio 5 é a fusão de várias rádios locais (Lidador, Trofa, Voz de Santo Tirso, No Ar Viseu, Rádio Fronteira, Rádio Aveiro, Rádio Mar e outras que se irão seguir). É a primeira rádio verdadeiramente regional do Norte e Centro Norte de Portugal, o primeiro projecto regionalista de rádio. Um prenún-cio.

É uma rádio dedicada à Informação, ao Desporto e à Música. Estou certo que vai dar que falar. Aliás, no desporto, já está a ser falada. Os relatos dos jogos do Futebol Clube do Porto são um verdadeiro acon-tecimento – quem nunca os ouviu, independentemente do clube do seu coração, deve experi-mentar, quanto mais não seja para se divertir.Aproveito para saudar toda a equipa da Rádio 5 e desejar toda a sorte do mundo para um projecto empre-sarial de comunicação social que nasce num momento de crise no sector e na economia.Sinceramente, não deixem de ver o vídeo DESTE link para terem um “cheirinho” dos relatos de futebol que vos falei.

Sociedade

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Rádio 5

Por Fernando Moreira de Sá in http://albergueespanhol.blogs.sapo.pt/89 visualizações

Sonae pondera acabar com marca MODELOin http://takeawalkonthebrandside.blogspot.com/66 visualizações

A Sonae está a estudar a fusão das marcas Modelo e Continente. A notícia foi avançada hoje pelo Jornal de Negócios mas ainda não foi confirmada pelo grupo.

A marca única Continente é, segundo informações recolhidas pelo JN, a escolha natural da Sonae, uma vez que identifica já a marca própria vendida também na cadeia

de supermercados Modelo, além de ser também a aposta para a entrada no mercado angolano.

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Comunidade

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O gato que não gosta de peixe

Por Fernando Moreira de Sá in http://albergueespanhol.blogs.sapo.pt/em 13 de Janeiro de 2011

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O telefone tocou.

Era a minha sogra. Ela falou com a filha. A filha falou comigo. A coisa resumidamente era assim: uma amiga recebeu de prenda de anos dos netos um gato. O bichano não se adaptou por causa do cão do vizinho. A senhora estava deses-perada. Alguém teria de ser o Cristo e adoptar o animal. Enfim, venha.

E veio. Eu que sempre tivera gatos e que me orgulhava de os conhecer como a palma das minhas mãos estra-nhei a personalidade deste. O tipo não miava. Por tudo e por nada saltava como se fosse uma cabra.Juro! O tipo saltava na

vertical e caia na vertical com as quatro patas esticadas e hirtas. Uma coisa de outro mundo. Além disso, não gostava de sair de casa. Estra-nho. Ao fim de alguns meses aprendeu a miar (não me pergun-tem como). Mais tarde começou a ganhar coragem para sair de casa. As refeições eram um martírio – os gatos são uns lordes na hora de comer mas este ultrapassava todas as regras conhecidas. Só comia ração e não era uma qualquer.

Um gato que tinha medo de tudo era corajoso com os cães. Desconfio que se vir um rato ele foge a sete pés mas quando vê um cão faz-lhe frente como se fosse um leão. Um

misto de coragem e parvoíce. O certo é que as minhas cadelas respeitam-no. Simpatia minha, é medo, essa é que é essa.Ao fim destes anos, o gato já leva quase oito anos aqui em casa, continua a surpreender-me.

Fiquei a saber que o tipo não gosta de peixe. Um gato que não gosta de peixe! Onde já se viu semelhante. A minha mulher já me tinha dito mas não acreditei. Carinhosamente, hoje, fiz-lhe um prato com pequenos bocaditos de peixe fresco e coloquei-lhe na frente. O tipo olhou para o prato, cheirou-o e a seguir olhou para mim com aquele ar como quem diz: “Ó pá, és parvo? Não sabes que eu não gosto de peixe?”.

Olha-me este! Se calhar queria uma picanha suculenta e uma caipirinha. Francamente, a tradição já não é o que era. Até os gatos estão difer-entes. Vou perguntar ao Al Gore pois cheira-me que este meu gato está apa-nhado pelas transformações climatéricas. É ele e o nosso Primeiro…

Domingo, 9 de Janeiro de 2011

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