revista contexto - 2ª edição

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1 Setembro 2013 CONTEXTO contexto 2ª Edição setembro 2013 Que fazer?

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Revista online sobre política, movimentos sociais e cultura, escrita por jovens.

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Page 1: Revista Contexto - 2ª edição

1Setembro 2013 CONTEXTO

contexto2ª Edição setembro 2013

Que fazer?

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2 CONTEXTO Setembro 2013

ÍNDICEEXPEDIENTE

Editora chefePriscila Bellini

JornalistasTiel LiederThiago CordeiroMarcela ReisAndressa Vilela

PoesiaLucca Maziero

IlustraçãoJúlia Dolce

DesignValeska Garcia

FotografiaBrunno Marchetti

TraduçãoPriscila Bellini

Editorial Pag.3

Ilustrações Julia Dolce Pag.4

Por um país e mídia laicos Pag.6

O Estatuto de ausências Pag.8

Ciência da Discórdia Pag.10

Poemas Lucca Maziero Pag.13

Protestos no Egito Pag.14

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3Setembro 2013 CONTEXTO

#EDITORIAL

Que fazer?

As revoltas por todo o mundo têm mudado a vida de muitas pessoas, direta ou indiretamente. Os refugiados sírios chegam a ser milhões, os conflitos no Egito banham as ruas com sangue, os protestos no Brasil continuam duramente reprimidos. Que fazer? É essa questão que o mundo tem trazido – e o panorama que você encontra nessa edição da revista Contexto nada mais é do que a ajuda para entender o que ocorre nessas situações de conflito. Evitar um julgamento maniqueísta das situações expostas, além de contar com as informações diretamente das áreas em que ocorrem são atitudes necessárias para evitar manipulação e distorção dos fatos. O período de instabilidade atual traz novos questionamentos ligados à democracia, à questão da soberania, aos conflitos que envolvem grupos religiosos. Nesta edição, você encontra fotos dos conflitos no Egito como destaque e uma série de fotos e a entrevista com uma jovem síria em sua viagem para a terra natal mesmo durante o massacre na região. As ilustrações trazem a questão “Cadê o Amarildo?” e outros temas sociais por Júlia Dolce Ribeiro, e as matérias incluem críticas ao Estatuto da Juventude aprovado recentemente, a polêmica gerada pela Marcha das Vadias no Rio de Janeiro, assim como a não menos polêmica declaração de Richard Dawkins sobre muçulmanos. Todas as matérias foram escritas pelos repórteres e fotógrafos da Contexto e contam com tradução também feita pela equipe.

Para esta edição, cabem agradecimentos ao jornalista Wladyr Nader pela orientação de vários membros da equipe, além da ajuda da Qatar Foundation International. A Contexto quer ser também a sua voz – e mais uma forma de luta.

Seja bem-vindo à Contexto! Welcome! Ahla wa sahla!

Priscilla Bellini Editora-Chefe

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4 CONTEXTO Setembro 2013

#ILUSTRA#ILUSTRA

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5Setembro 2013 CONTEXTO

{ Julia Dolce é aluna de Jornalismo da PUC-SP e apresenta seus trabalhos voltados a temáticas sociais.

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A vinda do Papa Francisco ao Brasil aconteceu devido à Jornada Mundial da Juventude (JMJ), realizada no Rio de Janeiro de 23 a 28 de julho. Trata-se de um evento com duração média de uma semana, que foi proposto e assumido desde o papa João Paulo II, em 1985. Seu objetivo é conectar a Igreja Católica com os jovens católicos de todo o mundo, possuindo, assim, um caráter massivo, popular e religioso. É um novo modo da Igreja Católica interagir e dialogar com as juventudes e com suas utopias e ações evangelizadoras. A JMJ de 2013 reuniu cerca de 3,7 milhões de jovens, sendo a segunda maior concentração da história do evento. O acontecimento é um marco na história da Igreja brasileira e foi potencializado por ser primeira viagem internacional do novo Papa. Jorge Mario Bergoglio, que é o primeiro papa sul-americano da História, substituiu o Papa Bento XVI, após esse ter abdicado ao papado em fevereiro deste ano. Para fiéis e especialistas de todo o mundo, o novo Papa representa uma verdadeira renovação da Igreja Católica. Demonstrando humildade e proximidade com o povo, Francisco renunciou a vários luxos que sua posição permitia, além de mostrar-se intim mente conectado aos jovens e crianças. ‘’Ao contrário do que se afirma, o papa argentino era o grande nome do conclave, mas não dos vaticanistas ou da mídia. Já fora o nome de 2005, e creio que foi eleito por representar uma nova forma

#BRASIL

Por um Estado e mídia laicos

A organização da Jornada Mundial da Juventude suscitou debates sobre os limites entre religião e governo

Por Andressa Vilela e Marcela Reis

de pastor que irá trabalhar a colegialidade, a prioridade do diálogo e, sobretudo, a vida dos empobrecidos como critério ético e evangélico’’ afirma o mestre e doutor Fernando Altemeyer, atualmente professor do Departamento de Ciências da Religião da PUC-SP.Por outro lado, em sua última entrevista coletiva no país, o pontífice pronunciou-se sobre temas polêmicos e, quando perguntado sobre o papel da mulher dentro da Igreja, foi categórico ao dizer que as portas para o sacerdócio feminino estão fechadas. Sobre isso, Altemeyer acredita que as mudanças em relação ao papel da mulher certamente virão, apesar de resistências seculares. Ele diz que há muito que fazer, estudar e debater, já que se trata de um tema marcado pelo machismo cultural e por estruturas obsoletas. “Isto vai mudando em processos internos e externos à própria Igreja”, afirma. Durante as movimentações da JMJ, a grande mídia procurou reiterar a imagem de que Papa Francisco representa uma nova

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7Setembro 2013 CONTEXTO

fórmula revolucionária para a Igreja Católica do século XXI. Jornais e revistas conservadores apontaram todos os holofotes para a figura do pontífice, fazendo dos veículos um canal de propaganda religiosa e ofuscando, assim, as manifestações que ocorriam a favor de um Estado Laico e contra os gastos excessivos com a vinda do novo Papa. Além disso, desde o término do conclave, a grande imprensa não questionou a escolha, pela primeira vez, de um sul-americano para o cargo, levando em conta o contexto de crise que a Igreja enfrenta atualmente e a conjuntura na qual a América do Sul está inserida. Cresceram os escândalos sobre pedofilia e corrupção e é nesse continente que governos progressistas e populares estão cada vez mais consolidados. Tudo aponta para a perda crescente de fiéis - e o Papa Francisco vem com a missão de recuperar neles a credibilidade da Igreja, focando seu discurso nos pobres. -Um grito de revolta.A manifestação que ganhou mais espaço na mídia foi a Marcha das Vadias do Rio de Janeiro, que aconteceu pelo terceiro ano consecutivo. No dia 27 de julho, durante a visita do papa Francisco, cerca de mil manifestantes saíram de Copacabana em protesto contra o machismo, o patriarcado e a cultura do estupro - que legitima os abusos sexuais sofridos pelas mulheres ao alegar que elas são as culpadas pela violência devido a seu comportamento ou vestimenta. A Marcha defendia também a laicização do Estado, o fim da truculência da polícia do governador do estado, Sérgio Cabral, e perguntava a ele: “onde está o Amarildo?”.Em certo momento, dois manifestantes nus quebraram e simularam práticas sexuais com imagens católicas em protesto, o que causou atrito com fiéis que no momento seguiam para um evento religioso. Segundo uma nota divugada na página do Facebook das responsáveis pela Marcha, a quebra das imagens não teve relação alguma com a organização – sendo apenas um exemplo de arte performática e contestadora.Muitos acreditam, principalmente veículos conservadores, que a ação deslegitimou todo o movimento, pois colocou em prática um comportamento intolerante e desrespeitoso. Como contraponto, os setores progressistas da

sociedade consideram o protesto uma resposta aos séculos de opressão exercida pela Igreja, inclusive contra outras religiões.De acordo com o artigo 208 do Código Penal, quem ‘’vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso’’ deve cumprir pena de um mês a um ano. Para Altemeyer, “são malditas todas as opressões que negam a dignidade da pessoa humana e suas representações simbólicas. Nada justifica machucar e desprezar pessoas e imagens sagradas’’.

Em contrapartida, a ação pode ser vista como legítima, se for considerado o fato de que a Igreja Católica é extremamente conservadora e opressora por perpetrar o discurso machista, ser intolerante em relação à diversidade sexual e posicionar-se contra o aborto e a eutanásia. Além disso, repudiar a ação torna-se contraditório, visto que a pluralidade religiosa raramente é tolerada e aceita por fiéis católicos - uma vez que a maioria da sociedade brasileira é católica e foi firmada sobre tais preceitos. Vale ressaltar que as imagens quebradas foram compradas e levadas pelas próprias pessoas que realizaram a ação, não foramroubadas, e o ato não foi realizado em frente ao público da JMJ, mas sim durante a Marcha. A mídia e a Igreja, portanto, tentaram transformar em espetáculo a ação.

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8 CONTEXTO Setembro 2013

O Estatuto de ausências

A limitação da meia-entrada e a ausência de ações eficazes para educação e transporte marcam o Estatuto da Juventude

Por Thiago Cordero

Aprovado pelo congresso nacional no começo de Julho, o Estatuto aguardava a avaliação da presidente Dilma Rousseff, que acabou por sancioná-lo no dia 5 de agosto, em cerimônia

no Palácio do Planalto. O projeto de lei nº4529, apresentado pelo deputado Benjamim Maranhão (PMDB/PB) em 2004, institui o Estatuto da Juventude e versa sobre as disposições e diretrizes das políticas públicas voltadas aos direitos da população entre 15 e 29 anos. Apesar da aprovação, dois itens foram vetados pela presidente: o art. 11, que garantiria meia-passagem nos transportes interestaduais para jovens estudantes, e o §2º do art. 45, referente à lei orçamentária do conselho de juventude. O veto do artigo 11, um dos mais defendidos pela população, foi justificado pelo impacto financeiro que a sua aplicação causaria, mas foram estabelecidos dois assentos gratuitos e duas meias-passagens para jovens de baixa

renda - números pífios e irrelevantes diante da enorme quantidade de usuários.Ainda pelo estatuto, o direito de meia-entrada aos estudantes, conquistado pelos movimentos

estudantis na década de 1930, foi atacado e violado ao ser limitado, a 40% do total de ingressos disponíveis para cada evento. Ironicamente, a lei que contém esta definição tem o apoio da UNE, instituição que carregou o direito a meia-entrada em suas bandeiras de lutas por mais de 70 anos.Fundada em 1938, no II congresso Nacional de Estudantes, a União Nacional dos Estudantes (UNE) passou a coordenar as atividades das organizações estudantis no Brasil, visando defender e lutar por seus direitos, e hoje figura como a principal entidade estudantil brasileira. A UNE classifica o estatuto, cujo art. 23 desrespeita uma das principais políticas públicas conquistadas por seus próprios

esforços, como uma grande vitória para a valorização da juventude, conquistada graças à “voz das ruas”. Coincidentemente – ou não -, este mesmo estatuto concede uma “preferência” à emissão das carteirinhas por parte da UNE ou instituições filiadas a ela. Até 2001, a instituição detinha o monopólio no fornecimento da CIE - Carteira de Identificação Estudantil -, mas uma medida provisória do governo concedeu o direito de emissão da “carteirinha” a qualquer associação, agremiação estudantil ou estabelecimento. A partir disso, a falsificação do documento passou a se intensificar, desagradando, com razão, as empresas e produtoras ligadas a cultura e entretenimento. Essas entidades passaram a pressionar o governo para criação de uma

#BRASIL

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legislação, ou de cotas para a venda da meia-entrada e, ao não terem respaldo, iniciaram um aumento sucessivo dos preços. Gerou-se, portanto, um ciclo vicioso de encarecimento do acesso à cultura no Brasil.Socialmente, a meia-entrada surgiu com o objetivo de buscar uma “justiça social” na área do entretenimento: aqueles que trabalham subsidiando aqueles que estudam. Entretanto, o grande problema concentra-se no fato de que o setor cultural no Brasil não pode ser considerado homogêneo, sendo que ocorre uma divisão bem clara entre os artistas e produções de grande público, subsidiados por leis de incentivo, e os pequenos e independentes, que usam da meia-entrada para atrair o público.Sobre os preços de ingresso, alguns empresários afirmam que há casos em que ele é dobrado em grandes produções para compensar os prejuízos de uma bilheteria composta quase que em sua totalidade por meias-entradas, sendo que grande parte delas é falsificada. Agora, com o Estatuto da Juventude, a emissão de carteirinhas volta para o comando da UNE - o que traz um questionamento: formação de monopólio com fins puramente comerciais ou uma tentativa bem intencionada de centralização para evitar fraudes? Talvez um pouco dos dois, ainda que centralizar não seja a solução mais adequada a longo prazo. Por conta dessas medidas centralizadoras, diversos grupos e entidades estudantis posicionaram-se contra o Estatuto, criticando a “máfia das carteirinhas” e afirmando uma priorização de interesses dos empresários do entretenimento. A Assembleia Nacional dos Estudantes Livre (ANEL), grupo de estudantes que discorda do modo como as políticas estudantis estão sendo conduzidas pelas instituições representantes, declarou em seu site acreditar que “a UNE vendeu nosso direito [a meia-entrada] em troca do monopólio das carteirinhas”. Na mesma semana de sanção do projeto de lei, a ANEL promoveu uma petição online e um abaixo-assinado para exigir a revogação do Estatuto da Juventude.

Com a aprovação do Estatuto, mais uma vez enxergamos um Estado com falhas estruturais, ainda que possa ter medidas “bem intencionadas” – mas que não têm sucesso na prática. Um projeto de lei que tinha como objetivo definir princípios e diretrizes para o fortalecimento e organização das políticas da juventude tornou-se uma reafirmação abstrata de direitos já garantidos, sem proporcionar nenhuma melhora significativa para as condições sociais ou econômicas dessa classe. Não há como existir uma “justiça social” no entretenimento enquanto os centros de cultura estiverem longe da população de baixa renda. Com a cultura concentrando-se em zonas da elite, infelizmente os preços são nivelados de acordo com o poder aquisitivo da região, dificultando ainda mais o acesso para os outros. Disso, surgem propostas de novas soluções, como a bolsa-cultura - uma forma de transferência direta de renda muito mais viável e sustentável. Enquanto a meia-entrada é algo setorizado, a bolsa-cultura poderia ajudar a florescer e incentivar a cultura na periferia. Ainda há muito em que se pensar no contexto de estrutura cultural no Brasil. O fato é que o Estatuto da Juventude, com suas medidas

centralizadoras e excludentes, não resolve os antigos problemas e ainda ampliará a exploração exercida por empresários e produtores culturais. Os preços não diminuirão e a cultura sofrerá com a perda de público. Está aí mais uma oportunidade de o gigante mostrar sua força: os protestos de junho foram uma resposta da sociedade a um governo incapaz de responder as demandas de mudança no Brasil. Talvez agora seja o momento de mostrarmos que as medidas tomadas não foram satisfatórias. Vamos pra rua?

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10 CONTEXTO Setembro 2013

Ciência da discórdia

Polêmica declaração de Richard Dawkins expõe preconceito contra muçulmanos

Por Tiel Lieder

Uma postagem no Twitter do biólogo britânico Richard Dawkins gerou reações, reflexões, apoios e ataques. Conhecido por advogar em prol do ateísmo, Dawkins escreveu o seguinte: “Todos os muçulmanos do mundo têm menos prêmios Nobel que o Trinity College, Cambridge. Eles fizeram grandes coisas na Idade Média, no entanto”. A frase não pode ser considerada um ato falho, já que o biólogo, autor de “Deus, um delírio”, é um polemista contumaz, que em março deste ano já havia dado sua parcela de colaboração para “uma maior proximidade e compreensão” entre duas entidades reais, apesar de etéreas, os ditos “mundo muçulmano” e “mundo ocidental”, ao declarar que “o Islã é a maior força do mal, hoje, no mundo”.As reações contrárias e favoráveis à frase brotaram rapidamente. "Você está comparando uma instituição acadêmica especializada com um grupo escolhido arbitrariamente", escreveu a sudanesa Nesrine Malik no diário inglês "Guardian". "Ele teria tuitado outro fato, o de que Trinity também tem duas vezes mais Nobel que todas as pessoas negras somadas?", questionou Tom Chivers, no também britânico "Telegraph".

Dawkins, incansável, não se deu por rogado e seguiu provocando: "Muçulmanos [nos deram] alquimia e álgebra. De fato. Onde nós estaríamos sem alquimia?", ironizou o biólogo.A discussão ganhou contornos próprios no Brasil. Hélio Schwarstman, articulista de um dos mais influentes jornais brasileiros, a Folha de São Paulo, abordou e, segundo suas palavras, aumentou a polêmica ao comparar

percentualmente o número de Prêmios Nobel obtidos em toda a história por muçulmanos (1,2% do total), em comparação com os obtidos por judeus (22% do total) – em especial os judeus “ashkenazim”, originários da Europa Central.A partir daí, artigos foram divulgados para rebater a teoria de que os judeus poderiam ser mais

inteligentes do que os muçulmanos. Editor do site da revista Carta Capital, o jornalista José Antonio Lima publicou o artigo Preconceito disfarçado de ciência, para contra-argumentar as hipóteses levantadas por Dawkins e Schwarstman, como neste trecho:

“De qualquer forma, espera-se de um mundo civilizado que a ciência seja usada para resolver problemas, e não para criar rankings de quais ‘raças’ são melhores ou mais inteligentes. No caso particular dos judeus, uma questão biológica particularmente útil seriam as pesquisas genéticas (ambas em inglês) feitas por Michael Hammer na Universidade do Arizona, dos EUA, (no ano 2000) e por Almut Nebel na Universidade Hebraica, de Israel (em 2001), mostrando que os judeus e árabes, em especial os palestinos, são, em termos genéticos, essencialmente a mesma população. Quem sabe, ao ter isso em mente, ficaria mais fácil para os líderes israelenses colocarem fim à atroz ocupação imposta aos palestinos.”

Já o presidente do Instituto da Cultura Árabe, Salem Hikmat Nasser, escreveu o artigo O Nobel

#INTERNACIONAL

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11Setembro 2013 CONTEXTO

e a superioridade racial, no qual salienta:“Qual é exatamente a biologia dos membros do Trinity College? E o que dizer da biologia dos muçulmanos, que estão em todos os lugares, distribuídos em povos e etnias as mais diversas? E mais, o que terá acontecido à biologia dos muçulmanos entre a Idade Média, quando, segundo Dawkins, eles fizeram grandes coisas, e os dias que correm? Nenhuma história, nenhuma sociologia, nenhuma ciência política para explicar os números. Apenas o fator biológico. Ao afirmar a superioridade biológica de um grupo - em essência é o que faz, ainda que não tenha tido a coragem de encarar o tabu -, Hélio Schwartsman coloca seu discurso a serviço de uma agenda política de dominação.”

Schwarstman, por sua vez, defendeu-se da acusação, e manteve o seu ponto de vista em dois outros artigos: Ciência e Preconceito e O mundo como ele é.No primeiro, ele se preocupa em demonstrar ter em mente que “a experiência histórica ensina que a combinação de estereótipos raciais e ambições políticas pode ter consequências terríveis, repugnantes mesmo”. Porém, ele mantém a argumentação de que, sim, há evidências sobre as diferentes “inteligências” de diferentes grupos populacionais, ou “raças”, que deveriam ser estudadas mais a fundo, e que não o são pelo patrulhamento do “politicamente correto”. Ele salienta o exemplo dos judeus “ashkenazim”: “Não faria muito sentido falar em raça negra ou branca, já que são supercategorias que incluem um número muito grande de grupos, mas, se pensarmos em ‘ashkenazim’ ou zulus, ou hausas e demais populações que tenham se mantido em relativo isolamento por alguns séculos, a coisa talvez mude de figura. Bem, a hipótese polêmica aventada por Cochran e colaboradores é a de que as moléstias típicas dos ‘ashkenazim’ são subproduto de genes que foram mantidos ao longo da história evolutiva do grupo porque foram selecionados por aumentar a inteligência. E, especialmente para os judeus europeus, que só podiam exercer determinados ofícios como o de banqueiros, comerciantes e intermediários, a inteligência tinha valor adaptativo. (...) É errado prejulgar pessoas, de todas as cores e

orientações sexuais, religiosas ou filosóficas, pela prosaica razão de que não gostaríamos de sofrer tal tratamento se estivéssemos em seu lugar, não porque a igualdade esteja inscrita na natureza. Não está”.

No segundo, o articulista insere a religião na discussão, ao trazer pesquisas que mostram a correlação entre a falta de inteligência e a fé religiosa. Uma tese, ou provocação, dispensável. Mesmo porque, se formos considerar a inteligência, uma das mentes mais brilhantes da história da humanidade, o físico Albert Einstein declarou certa vez: “A ciência sem a religião é manca; a religião sem a ciência é cega”.

Somos todos um só

Postos os fatos, vamos à análise, sob um ponto de vista fundamental nos dias atuais, tão repletos de intolerância, ódio e violência entre “raças”, “gêneros”, “classes sociais”, “religiões”, “torcedores de futebol”.

A frase de Dawkins foi de extrema infelicidade, como em geral costumam ser suas proposições, que muitas vezes buscam a polêmica pela polêmica, como uma forma de publicidade bastante peculiar. Infeliz porque irresponsável, ao tratar com desrespeito e ironia um assunto que, diariamente, afeta pessoas de todo o mundo: a cisão entre os ditos mundos “oriental” e “ocidental”. Não vou entrar no mérito da discussão sociológica, sobre qual sociedade é melhor,

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pelo simples fato de estar inserido no mundo ocidental, numa grande cidade (São Paulo), de um país como o Brasil, capitalista (na verdade, composto por uma minoria que vive no fausto do primeiro mundo, uma classe média cada vez mais endividada e uma maioria que sobrevive, apenas), essencialmente católico, mas na prática essencialmente ecumênico (sou espírita, por exemplo). Mesmo de posse de pesquisas, torna-se difícil, para mim, definir de longe se minha sociedade é mais “culta” ou mesmo “melhor” do que uma de maioria muçulmana. Nem no mérito da discussão científica, pois mesmo entre os cientistas há opiniões totalmente divergentes no que tange à raça. v E no que tange à religião, a discussão é ainda mais complexa, pois até hoje não se provou a existência de Deus, Alá ou de uma força superior, mas também não se determinou a sua inexistência, apesar de 11% da população mundial declarar-se ateísta. Muito menos é possível determinar qual das religiões (islâmica, católica, budista, xintoísta, protestante, hindu, espírita, judaica, confucionismo, religiões tribais africanas, etc, etc...) é a detentora da verdade absoluta.

O que essa polêmica estimulou foi a diferenciação de pessoas em níveis de qualidade, o que, numa análise subliminar, pode validar discursos excludentes, políticas opressivas, preconceitos. Exemplos não faltam na história - alguns até bastante recentes e que oprimiram, dentre outros grupos, exatamente os judeus.

Tais pensamentos fomentam não a evolução da sociedade mundial como um todo, e sim as disputas, os ódios étnicos, as teorias de higienização social, a desigualdade social travestida na falácia do mérito, que permite aos mais inteligentes ou capazes, um darwinismo como determinismo histórico, todas as benesses, e ao restante da humanidade, algumas migalhas.Mesmo porque a inteligência está ligada, sobretudo, ao ambiente em que a pessoa está inserida, e, mesmo assim, é uma palavra, ou conceito, que pode ter diversos matizes e interpretações, dependendo, novamente, da

realidade a que é relacionada.As pesquisas científicas, obviamente, são fundamentais para o desenvolvimento da sociedade como um todo. Entretanto, são totalmente dispensáveis quando utilizadas com o fim de segregar, através de um suposto mérito, inato ou adquirido.Ou será que se mais muçulmanos estudassem no Trinity College (imagino que existam estudantes muçulmanos no Trinity College), eles teriam condições de levar um Prêmio Nobel para casa? Ou seriam preteridos por conta de um suposto caráter político da premiação? Será que nós, brasileiros, somos burros como um todo, por nunca termos ganhado um Nobel? Ou será que o contexto histórico no qual estamos inseridos, como país de Terceiro Mundo, subjulgado e espoliado durante séculos, ou mesmo nossa incompetência em priorizar as pesquisar cientificas como uma política de estado foram os fatores que impediram a láurea de aportar por essas plagas?

Nesse sentido, vale ressaltar que, de 863 premiações concedidas pela academia sueca, somente os EUA levaram 338 prêmios. Se incluirmos nações como Alemanha (101), Reino Unido (118) e França (65), atinge-se o número de 622 Prêmios Nobel, divididos entre quatro países. Se ampliarmos ainda mais o espectro, agrupando outras nações desenvolvidas como Suécia (29), Rússia (27), Suíça (26), Canadá (20), Japão (20), Itália (20), Holanda e Bélgica, ou Países Baixos (19), Dinamarca (14), Austrália (13), Noruega (11), Israel (10) e Espanha (8), teremos 839, divididos entre 17 países, num universo de 202 países no mundo.

Mesmo que alguns digam que esses números não são exatos, eles se aproximam sobremaneira da realidade, e por tal razão são ilustrativos. E, com tal Demografia do Nobel, fica a pergunta: isso significa que a população destes países é mais inteligente que as do resto do mundo? Ou significa que tiveram melhores condições sociais, econômicas e políticas para desenvolver-se nas variadas áreas do conhecimento humano?

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v

O Homem Moderno

Homem ModernoEm combustão procrio cifrão Em lentidão, substituição. A inação não traz redenção, A produção é a salvação. Coração não tenho não, Em meu peito há um vão, Preenchido com carvão. O meu tesão é a máxima consumação. O botão de interrupção Não faz parte de minha construção.Sou são, cristão e meu deus é o patrão. Aqui, meu irmão, Para o que não há solução, Logo se cria remediação. Tentei gritar mas foi em vão, O barulho das máquinas É alto como fornicação. A vida é tensão, Focada na exploração. Poluição envenena meu pulmão, Antes dos cinquenta tô no caixão

Paranoia

paranoia de viver,sentir e ver, ser, olhar e prever, falar e reter, na babilônia de aço e poder. paranoia de tudo saber(?), mas nada entender. paranoia das contradições e instituições, das ilusões e da ditadura dos cifrões. paranoia dos medos criados que subjuga-nos escravos. paranoia cultural pandêmica e visceral. paranoia existencial, de ser e estar sem ar em meio ao mar.Nossa visão ordinária de mundo é tão grande quanto a paranoia em que vivemos Nossa visão ordinária de mundo é tão grande quanto a paranoia em que vivemosNossa visão ordinária de mundo é tão grande quanto a paranoia em que vivemos

#PROSA E POESIA

Lucca Maziero estuda Ciências Sociais na Universidade de São Paulo e escreve poemas e músicas.

Poemas...Lucca Maziero

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#FOTOCONTEXTO

PROTESTOS NO EGITO

Brunno Marchetti estuda Jornalismo na PUC-SP e foi ao Egito durante os protestos. Tirou fotos dos dois "lados" dos conflitos.

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"A utopia está no horizonte. Eu sei muito bem que não a alcançarei: que se eu caminho dez passos, ela se afasta dez passos. Quanto mais caminho, menos a alcanço, porque ela vai se afastanto à medida que me aproximo. A utopia serve para isso, para caminhar."

Por Fernando Birri.

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