revista atuação - edição 4 - agosto de 2012

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1 Revista ATUAÇÃO | Agosto 2012 | EDIÇÃO 04 | AGOSTO 2012 UMA PUBLICAÇÃO DA FEDERAÇÃO DOS TRABALHADORES EM EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO DO SUL REVISTA Pág 22 Entrevista Aos 81 anos, Félix Nunes faz uma retrospectiva da sua atuação no jornalismo sindical brasileiro Pág 16 Saúde Sobrecarga de atividades e más condições de trabalho afetam a saúde dos profissionais da educação LIÇÕES QUE VÊM DO CAMPO Pág 26

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Revista Atuação, uma publicação da Federação dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul (FETEMS). Redação e Produção: Íris Comunicação Integrada; Diretora de Criação: Nanci Silva; Diretor de arte: Ivan Cardeal Nunes; Jornalista responsável e editora: Laura Samudio Chudecki (DRT-MS 242); Revisão: Fabiana Silvestre (DRT-MS 087); Colaboraram nesta edição: Maria Irene Zardo, Karina Villas Boas; Aline dos Santos Fotos: Wilson Jr.; Maria Irene Zardo; João Garrigó; Lucas Coelho Rua Chafica Fatuche Abussafi, 200; Vila Nascente - CEP 79036-112; Campo Grande; Mato Grosso do Sul; Brasil

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Page 1: Revista Atuação - Edição 4 - Agosto de 2012

1Revista ATUAÇÃO | Agosto 2012 |

EDIÇÃO 04 | AGOSTO 2012UMA PUBLICAÇÃO DA FEDERAÇÃO DOS TRABALHADORESEM EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO DO SUL

R E V I S T A

Pág 22

EntrevistaAos 81 anos, Félix Nunes faz uma retrospectiva da sua atuação no jornalismosindical brasileiro

Pág 16

SaúdeSobrecarga de atividades e más condições de trabalho afetam a saúde dos profissionais da educação

LIÇÕES QUEVÊM DO CAMPO

Pág 26

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4 | Revista ATUAÇÃO | Agosto 2012

EXPEDIENTE

Redação e Produção Íris Comunicação IntegradaRua Chafica Fatuche Abusafi, 200Parque dos Poderes - 79036-112Campo Grande/MS+ 55 67 3025.6466

Diretora de criação: Nanci SilvaDiretor de arte: Ivan Cardeal NunesJornalista responsável e editora: Laura Samudio Chudecki (DRT-MS 242)Revisão: Fabiana Silvestre (DRT-MS 087)

Colaboraram nesta ediçãoMaria Irene ZardoKarina Villas BoasAline dos Santos

FotosWilson Jr.Maria Irene ZardoJoão Garrigó - Campo Grande NewsLucas Coelho

Os textos assinados são de responsabilidade dos autores e não representam, necessariamente, a opinião da revista.

WWW.FETEMS.ORG.BRRua 26 de Agosto, 2.296, Bairro Amambaí. Campo Grande - MS

CEP 79005-030. Fone: (67) 3382.0036. E-mail: [email protected]

DiretoriaPresidente: Roberto Magno Botareli Cesar Vice-Presidente: Elaine Aparecida Sá CostaSecretaria-Geral: Deumeires Batista de Souza Secretaria-Adjunta: Maria Ildonei de Lima Pedra Secretaria de Finanças: Jaime Teixeira Sec. Adjunta de Finanças: José Remijo Perecin Sec. de Assuntos Jurídicos: Amarildo do Prado Sec. de Formação Sindical: Joaquim Donizete de Matos Sec. de Assuntos Educacionais: Edevagno P. da Silva Sec. dos Funcionários Administrativos: Idalina da Silva Sec. de Comunicação Social: Ademir Cerri Sec. de Administração e Patrimônio: Wilds Ovando Pereira Sec. de Políticas Municipais: Ademar P. da Rosa Sec. dos Aposentados e Assuntos Previdenciários: José Felix Filho Sec. de Políticas Sociais: Iara G. Cuellar Sec. dos Especialistas em Educação e Coord. Pedagógica: Sueli Veiga Melo Dep. dos Trabalhadores em Educação em Assent. Rurais: Rodney C. da Silva Ferreira Dep. dos Trabalhadores em Educação Antirracismo: Edson Granato Dep. da Mulher Trabalhadora: Leuslania C. de Matos

Vice-presidentes regionais: Amambai: Humberto Vilhalva; Aquidauana: Francisco Tavares da Câmara; Campo Grande: Paulo César Lima; Corumbá: Raul Nunes Delgado; Coxim: Thereza Cristina Ferreira Pedro; Dourados: Admir Candido da Silva; Fátima do Sul: Manoel Messias Viveiros; Jardim: André Luiz M. de Matos; Naviraí: Nelfitali Ferreira de Assis; Nova Andradina: Maurício dos Santos; Paranaíba: Sebastião Serafim Garcia; Ponta Porã: Vitória Elfrida Antunes; Três Lagoas: Maria Aparecida Diogo.

Delegados de base à CNTE: Jardim: Sandra Luiza da Silva; São Gabriel do Oeste: Marcos Antonio da Silveira; Costa Rica: Rosely Cruz Machado.

Conselho Fiscal da FETEMS: Fátima do Sul: Adair Luis Antioniete; Naviraí: José Luis dos Santos; Dourados: Nilson Francisco da Silva; Miranda: Robelsi Pereira.

Assessoria de Imprensa da FETEMS: Karina Villas Boas e Azael Júnior.

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DESTAQUES

Conectados ......................................................................................................................................07

Rede municipal de ensino de Naviraí informatiza 100% das escolas

Capa .....................................................................................................................................................26

Crianças e adolescentes tomam gosto pela educação que vem do campo

Entrevista ..........................................................................................................................................22

Jornalista Félix Nunes fala de sua trajetória no movimento sindical

Saúde ...................................................................................................................................................16

Trabalhadores em educação pedem afastamento das atividades por problemas de saúde

Reivindicação ...................................................................................................................................12

Estado tem déficit de 4.100 funcionários no sistema educacional

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EDITORIAL

Escola de sonhadores

Uma menina que, diante do computador, planeja ser arquiteta e tem na internet uma ferramenta para obter mais conhecimento. Um menino que madruga para não perder a aula na escola rural e aprende a colher da terra a esperança de futuro.

Uma professora que dedicou toda a vida à qualidade de ensino. Todos são personagens da quarta edição da revista Atuação. Um time de sonhadores que nos inspira a seguir lutando pela Educação que todos queremos.

O desafio, aliás, não é dos mais fáceis. As reportagens mostram as dificuldades dos administrativos, que enfrentam falta de condições adequadas de trabalho e sobrecarga nas atividades. Se isso não bastasse, foram atingidos por um duro golpe.

O governo do Estado descumpriu o prometido e cortou o ponto dos servidores que participaram da paralisação contra o reajuste salarial de 6%. A saída, contra a postura autoritária do governo, foi contar com a solidariedade. E a realização de rifas ajudou a repor o salário dos trabalhadores.

Já as salas de aulas superlotadas e a falta de infraestrutura penalizam os professores. As más condições atingem a saúde física e mental dos educadores, levando ao afastamento de suas funções.

Mas, nas dificuldades do dia a dia, belos exemplos, como o de Apolônio de Carvalho, nos animam a prosseguir. Nascido em solo sul-mato-grossense, mais precisamente Corumbá, “o herói de três mundos” representa a luta contra a opressão. O ativista político, que morreu aos 93 anos, deixou um legado de liberdade.

“Quem passa pela vida e não tem nenhum horizonte definido, nenhum ideal que possa e queira lutar, está sujeito à mediocridade”.

O alerta de Apolônio de Carvalho nos lembra da importância de seguir em frente na construção de uma sociedade que nos permita sonhar.

Boa leitura!

Roberto Magno Botareli CesarPresidente da Federação dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul

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maior acesso à in-formática do que os brasileiros. Já na Eu-ropa, Estados Unidos e Japão, mais de 90% têm computador.

Realidade que o município de Navi-raí (MS) conseguiu mudar. Atualmente, todas as seis escolas da rede municipal possuem salas de tecnologia educacional, atendendo a um total de 5.343 estu-dantes do ensino fundamental e da Educação de Jovens e Adultos (EJA).

Todas as turmas do 1º ao 9º ano e do EJA da Escola Municipal Marechal Rondon, onde Vanessa estuda, têm aulas na sala de tecnologia, no mínimo, uma vez por semana. São 885 alunos conectados com o mundo. Além disso, no local, os estudantes podem fazer pesquisas na internet fora do horário de aula. Segundo a diretora Carmem Lúcia Cândi-do de Carvalho, a informatização da escola é mui-to importante. “A maioria dos nossos alunos tem acesso à informática apenas na escola”, contou.

Diferente dos pais, que tiveram pouca formação escolar e pouco acesso à informática, Vanessa, que hoje cursa o 9º ano, terá mais chances de construir um futuro melhor. “Estudantes que têm acesso à

Em um País com grande desigualdade de acesso à informática, Vanessa Alves da Sil-va, de 13 anos, é uma estudante privilegia-

da. Desde que ingressou no ensino fundamental, estuda em uma escola que possui sala de tecnolo-gia educacional. “Com a internet, fico mais conec-tada com o mundo e aprendo muitas coisas no-vas. Assim é mais fácil fazer os trabalhos da escola. Quando não entendo um assunto, tenho interesse em procurar saber mais”, disse.

Decidida, Vanessa já traçou seu futuro. “Vou ser arquiteta”, revelou. Sonho que se torna mais próxi-mo devido a sua intimidade com a tecnologia. Atu-almente, esses profissionais utilizam programas de computador como, por exemplo, o AutoCAD, que dinamiza o trabalho, proporcionando vantagens como cálculos gerados automaticamente pelo computador e visualização de plantas de imóveis em 3D.

Muitos jovens brasileiros, no entanto, não con-tam com a mesma sorte de Vanessa. Segundo da-dos do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA), relativos a 2009, no Brasil, metade dos estudantes não tem acesso a computador e internet. Além disso, o País está em último lugar dentre 38 países avaliados em relação ao número de computadores por aluno.

Ainda de acordo com o levantamento do PISA, estudantes da Romênia, Rússia e Bulgária têm

Jovens têm novas perspectivas com o

uso da tecnologia

CONECTADOS

Em Naviraí, 5.343 estudantes do ensino

fundamental e do EJA têm acesso a

computadorese à internet

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tecnologia estão mais prepa-rados para a vida, para ter uma profissão porque, hoje, tudo é in-formatizado”, explicou Carmem.

Ensino-aprendizagem

A implantação de salas de tec-nologia na rede municipal de ensi-no de Naviraí ocorreu entre 2006 e 2010. De acordo com o gerente de Educação, César Martins da Fonseca, a verba para a aquisição dos equipamentos é proveniente do Fundo Nacional de Desenvol-vimento da Educação (FNDE), vinculado ao Ministério da Edu-cação (MEC), e de recursos mu-nicipais. “Hoje, a criança, quando vai para a escola, já tem acesso à informação. A informática é uma ferramenta que facilita o trabalho do professor. A escola não pode ficar atrás”, ressaltou.

Nas salas de tecnologia, são oferecidas aulas de todas as dis-

ciplinas. O professor responsável pela sala de tecnologia e o pro-fessor da matéria em questão trabalham juntos. Eles participam de capacitações constantes ofe-recidas por meio de uma parce-ria entre o Núcleo de Tecnologia Educacional (NTE), o MEC e o município.

Para se tornar professor espe-cializado, responsável pela sala

de tecnologia educacional, o pro-fissional passa por capacitação e avaliação feita pela escola onde trabalha e pelo NTE.

Patrícia Bortoluzzo Mene-guello, professora responsável pela sala de tecnologia da Escola Marechal Rondon, conhece a im-portância dessa ferramenta para o ensino-aprendizagem. “A tec-nologia amplia o conhecimento

“Com a internet, fico mais conectada com o mundo e aprendo muitas coisas novas. Assim é mais fácil fazer os trabalhos da escola. Quando não entendo um assunto, tenho interesse em procurar saber mais”.

Vanessa Alvesda Silva, de 13 anos, estudante de Naviraí

Segundo dados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA), relativos a 2009, no Brasil, metade dos estudan-tes não tem acesso a computador e internet. Além disso, o País está em último lugar dentre 38 países avaliados em relação ao número de computadores por aluno.

Todas as turmas do 1º ao 9º ano e do EJA da Escola Municipal Marechal Rondon, em Naviraí, têm aulas na sala de tecnologia, no mínimo, uma vez por semana. São 885 alunos conectados com o mundo.

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do estudante, facilita o acesso e a busca constante por infor-mações, e também proporciona ao professor trabalhar de forma mais dinâmica e descontraída, auxiliando no planejamento e execução de atividades”, revelou.

Vantagens

A professora acrescenta que a tecnologia favorece a inclu-são social. “Estudantes de baixa renda que não têm computador e internet em casa passam a ter acesso à tecnologia na escola”, contou.

Segundo a integrante do Sin-dicato Municipal dos Trabalha-dores em Educação (SIMTED) de Naviraí, Antônia Bressa, as capa-citações são oferecidas a todos os professores da rede municipal e eles têm que ministrar aulas nas salas de tecnologia. “Con-teúdos complexos podem ser

transmitidos com mais facilidade e de maneira mais abrangente com o uso de tecnologia. O en-sino torna-se muito mais atrativo do que na educação tradicional”, afirmou.

Antônia cita um exemplo que mostra porque é importante ter acesso à tecnologia desde crian-ça. O filho dela se alfabetizou so-zinho, antes mesmo de ingressar no ensino fundamental, usando computador e internet. “Ele co-meçou a ler com quatro anos. Desde quando nasceu, tenho computador em casa. Hoje, ele me ensina muitas coisas no com-putador”, revelou.

Naviraí possui, ainda, um la-boratório de informática para atender o público em geral, na Escola Professora Maria de Lour-des Aquino, e um curso de infor-mática mantido pelo município.

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CENTENÁRIO

De viver a vida não me fartou... Apolônio de Carvalho

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O sonho de um mundo mais justo e solidário sempre mobilizou ge-

rações, homens e mulheres que acreditaram em ideais e doaram suas vidas por uma causa, para a construção de uma sociedade mais justa e humana. Apolônio de Carvalho foi uma dessas pes-soas que viveram por um ideal, pela liberdade e contra a opres-são.

O libertário nasceu em Co-rumbá (MS), tornou-se oficial formado pela Academia Militar de Realengo, aderiu à Aliança Libertadora Nacional nos anos 1930 e, por isso, foi expulso do Exército brasileiro em 1936. Na Espanha, foi voluntário na guer-ra civil e lutou contra as tropas fascistas do General Franco. Lu-tou na Resistência francesa con-tra a ocupação nazista, durante a Segunda Guerra Mundial, onde ajudou a libertar várias cidades. No fim da guerra, em 1945, foi condecorado pelo governo francês com a medalha “Legião de Honra”.

Na França, conheceu Renée France, uma jovem militante comunista, que tornou-se sua companheira por 62 anos. Vol-tou ao Brasil e à clandestinidade no Partido Comunista. Durante a ditadura foi preso, torturado e exilado. Viveu na Argélia até ser anistiado, prosseguiu com seus ideais de esquerda e foi o pri-meiro inscrito, aos 78 anos, na ficha de filiações do Partido dos Trabalhadores (PT). O militante ficou na direção do PT durante sete anos.

Apolônio de Carvalho foi a expressão do ideal em toda a sua força e em toda a sua pu-reza. Definiu o século XX como o mais cruel e contraditório de todos os séculos.

Sua garra e perseverança ins-piraram o escritor baiano Jorge Amado, que, em “Subterrâneos da Liberdade”, criou um perso-nagem chamado Apolinário, ins-pirado no comunista. O escritor definiu Apolônio como um herói de três pátrias: Brasil, Espanha e França.

O homem que lutou pela de-mocracia, pelo diálogo entre o povo e o governo viveu com simplicidade. Deixou como he-rança a liberdade, a força e o ideal de construir uma socieda-de justa e solidária.

O ativista político morreu aos 93 anos, em 2005, no Rio de Ja-neiro.

Apolônio de Carvalho

“Para viver é preciso merecer viver. A vida é uma coisa extraordinária, é um dom. É preciso valorizá-la. E para isso, é preciso ter um ideal na vida para torná-la melhor, para ter uma sociedade melhor”.

O libertário Apolônio 100 anos de lutas e conquistas

Paris. Final da Guerra. Preparando a volta para o Brasil.Clarice Lispector, o diplomata Maury Gurgil Valente, Apolônio, Samuel Wainer e Daniel, irmão de Renée.

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Sem administrativosa escola não funciona

Para o bom funcionamento de uma escola é preciso um conjunto de pessoas

realizando uma série de tarefas. Além de professores e alunos, a es-cola precisa de secretários, zelado-res, merendeiras, inspetores e um diretor para coordenar toda essa equipe.

Em Mato Grosso do Sul, a rede estadual de ensino possui 6.400 funcionários administrativos na ativa, todos realizando múltiplas tarefas, uma vez que as escolas precisam de pelo menos 10.500 funcionários, ou seja, existe um dé-ficit de 4.100 trabalhadores.

“As faxineiras têm que ajudar na merenda, e, se elas não me ajudas-

sem, não sei como daria conta do trabalho na cozinha. Certamente, as crianças seriam prejudicadas”, contou a merendeira, Arlete de Bri-to Garcia, de 50 anos, moradora do município de Três Lagoas.

“Uma mão lava a outra”, disse Arlete. A merendeira, após termi-nar o serviço na cozinha, ajuda as colegas da limpeza a varrer o pá-tio, limpar as salas e banheiros. Po-rém, a sobrecarga de atividades resultou em problemas de saúde. A hérnia de disco, problema na co-luna que causa fortes dores e limita os movimentos, foi a herança que dona Arlete recebeu depois de 12 anos dedicados às atividades esco-lares.

Na escola estadual João Car-los Flores, no bairro Rita Vieira, em Campo Grande, a situação não é diferente. Existem apenas dois agentes de limpeza para atender os mais de 700 alunos que fren-quentam a escola nos três perío-dos. De acordo com a agente Fá-tima Rosa dos Santos, que trabalha na escola, o ideal seria ter, no míni-mo, quatro funcionários para a lim-peza. “Não recebemos pela ajuda que prestamos a outros setores, o governo ganha em cima da gente. Acabamos trabalhando mais em consideração ao colega”, desaba-fou Fátima.

A falta de condições de traba-lho e a sobrecarga de atividades

Trabalhadores são sobrecarregados para suprir déficit de servidores estaduais

REIVINDICAÇÃO

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não são os únicos problemas en-frentados pelos funcionários de es-cola. A insatisfação aumenta quan-do recebem o pagamento. Muitos precisam complementar a renda de uma outra forma. É o caso da inspetora Otília Nunes, de 55 anos, que há 30 anos é servidora do Es-tado. Otília vende “gelinho” há mui-to tempo para aumentar a renda do lar. Tenho dois filhos, um está formando em Economia e outro em Medicina. Não dá para viver só do salário”.

Reajuste

No primeiro semestre de 2012, os administrativos da Educação es-tiveram mobilizados para que a ca-tegoria recebesse o Piso Salarial do Magistério, no valor de R$ 1.451,00, como os professores. A Federação dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul (FETEMS) vem reivindicando, há mais de dois, anos a reformulação do plano de cargos e carreira da categoria.

Os administrativos pediram um aumento gradativo, de 17%, em 2012, 2013 e 2014. Desta forma, no final de três anos estariam rece-bendo o valor equivalente ao Piso. Contudo, o governo do Estado apresentou uma proposta de rea-juste de 6%, que causou indignação e polêmica entre os trabalhadores durante sessão na Assembleia Le-gislativa, no dia 15 de maio.

Conforme Idalina Silva, secretá-ria dos funcionários administrativos da educação da FETEMS, “a luta da entidade é para que os administra-tivos tenham sua carreira incluída no Estatuto dos Profissionais da Educação Básica de Mato Grosso do Sul, conforme a Lei Comple-mentar 0087/2000. A partir disso, teremos uma carreira unificada”, ressaltou.

O valor do reajuste salarial aca-bou sendo de 6% para todas as ca-tegorias de servidores. Em nego-ciação com a FETEMS, o governo comprometeu-se a incluir os admi-nistrativos no Estatuto dos Profis-

sionais do Magistério. A FETEMS defende a propos-

ta de uma escola unificada, onde professores e administrativos se-jam considerados educadores, pois passam o dia dentro das escolas, lidando diretamente com os alunos e garantindo o bom funcionamen-to do ensino.

Segundo o presidente da FETEMS, Roberto Magno Botareli Cesar, a valorização profissional é um dos principais caminhos para construir uma educação pública de qualidade. “A educação não é gas-to, nem despesa. É investimento, desenvolvimento e qualidade de vida”, disse.

Protesto

Antes dos deputados votarem o reajuste, a categoria, por meio da FETEMS e dos SIMTEDs, esteve

mobilizada nos dias 9, 10, 14 e 15 de maio. Vários municípios paralisa-ram suas atividades.

O SIMTED de Dourados, duran-te assembleia na Federação, disse que, além do trabalho dobrado, os administrativos enfrentam até situ-ações de assédio moral.

Em Nova Alvorada do Sul, os manifestantes exigiram a abertura de concursos públicos e que os tra-balhadores em educação tenham uma data-base única.

“É preciso que todos tenham consciência de que a escola não funciona sem os administrativos e de que eles também são edu-cadores. Esperamos que os pais e alunos venham somar conosco nessa luta”, disse o presidente do SIMTED de Aparecida do Taboado, Joaquim Donizete de Matos.

Com o objetivo de lutar pela qualidade do trabalho e pela va-lorização profissional dos administrativos da educação, a FETEMS, juntamente com seus 71 sindicatos afiliados, lançou a campanha “Cada um no seu quadrado”, uma ação para que os trabalhado-res passem a desempenhar apenas a função para a qual foram aprovados em concurso público.

A campanha está embasada nas Leis Estaduais nº. 2.065 e 2.599, nos Decretos nº. 11.627 e 11.754, na Resolução da Secreta-ria Estadual de Educação nº. 2.443 e nos editais dos concursos realizados em 2006 e 2011.

A FETEMS e os SIMTED’s querem mostrar à sociedade a im-portância dos administrativos e fazer com que o governo do Es-tado abra novos concursos públicos, para suprir a falta de servi-dores nas escolas da rede estadual de ensino.

Insatisfeitos, administrativos lançamcampanha contra sobrecarga de trabalho

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Cada um no seu quadrado

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A Cassems obteve, mais uma vez, o reconhecimento

pelo trabalho que realiza em Mato Grosso do Sul,

no atendimento à saúde dos servidores e

seus familiares e, novamente, está incluída entre

as Melhores e Maiores no ranking da Revista Exame.

Essa conquista rea�rma o empenho da Cassems em fazer

Nossa Vida Melhor.Fonte: Rev. Exame - Edição Especial - Melhores e Maiores | julho 2012

I N S T I T U T O A M B I E N T A L

Destaque Empresarial em Meio Ambientee Desenvolvimento Sustentável

Selo deCertificação Social

Melhores e Maiores2009 | 2010 | 2011 | 2012

O SIMTED de Aquidauana re-alizou uma rifa solidária para res-sarcir mais de 20 administrativos da educação do município, que tiveram um dia de trabalho des-contado do salário do mês de maio por terem participado da paralisação contra o reajuste sa-larial de 6%, pela valorização pro-fissional e melhores condições de trabalho.

Segundo o presidente do SIMTED, Florêncio Garcia Esco-bar, os trabalhadores da rede pú-blica de ensino estão comprando a rifa e ajudando a repor o valor descontado no holerite. “Unidos vamos conseguir atingir nossos objetivos. Ações como essa mos-tram a força do movimento sindi-cal”, ressaltou.

A tesoureira do sindicato, Ja-nete Aparecida Mianutti, explicou que foi enviado para o banco um documento com a relação de no-mes dos administrativos que tive-ram o dia de trabalho desconta-do. “O banco fez a transferência da conta do sindicato para a con-ta de cada um deles”.

A rifa foi vendida pelo valor de R$ 5,00, e o prêmio foi um kit de beleza. O sorteio aconteceu no dia 20 de junho.

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“Existem apenasdois agentes delimpeza para atender mais de 700 alunos que frenquentam a escola nos trêsperíodos”.

“A luta da entidade é para que os administrati-vos tenham sua carreira incluída no Estatuto dos Profissionais da Edu-cação Básica de Mato Grosso do Sul, confor-me a Lei Complementar 0087/2000. A partir dis-so, teremos uma carreira unificada”.

“As faxineiras têm que ajudar na merenda e, se elas não me ajudassem, não sei como daria conta do trabalho na cozinha. Certamente, as crianças seriam prejudicadas”.

Fátima Rosa dos Santos, agente de limpeza em Campo Grande

Idalina Silva, secretáriados funcionáriosadministrativos da FETEMS

Arlete de Brito Garcia,merendeira em Três Lagoas

Rifa solidária ajuda a repor desconto nos salários dos manifestantes Governo do Estado corta dia de trabalho dos administrativos da educação que participaram de paralisação

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A Cassems obteve, mais uma vez, o reconhecimento

pelo trabalho que realiza em Mato Grosso do Sul,

no atendimento à saúde dos servidores e

seus familiares e, novamente, está incluída entre

as Melhores e Maiores no ranking da Revista Exame.

Essa conquista rea�rma o empenho da Cassems em fazer

Nossa Vida Melhor.Fonte: Rev. Exame - Edição Especial - Melhores e Maiores | julho 2012

I N S T I T U T O A M B I E N T A L

Destaque Empresarial em Meio Ambientee Desenvolvimento Sustentável

Selo deCertificação Social

Melhores e Maiores2009 | 2010 | 2011 | 2012

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SAÚDE

Más condições de trabalho e sobre-esforço atingem a saúde física e mental dos trabalhadores em educação. O resultado é um número elevado de licenças médicas.

Lágrimas nos olhos, coriza, dificuldades para respirar, coceiras nas mãos. Esses

foram os sintomas que o profes-sor de Química, José Correia, co-meçou a sentir depois de alguns anos ensinando. O professor Zé Coco, como é conhecido, leciona há 18 anos, mas depois de apro-ximadamente seis anos em sala de aula, sentiu que os incômodos aumentavam a cada dia, até que resolveu procurar um médico e descobriu que tinha desenvolvi-do alergia ao seu instrumento de trabalho, o giz. “Tive que come-çar a usar outro tipo de giz, um antialérgico, que não libera tanto pó, e o meu problema melhorou. Desde então, passei a carregar o meu próprio material”.

O professor conta que o giz é um pouco mais caro. Enquanto uma caixa do comum custa em média R$ 1,00, a caixa de giz an-

tialérgico custa em torno de R$ 2,50. Para ele, a diferença com-pensa. “O giz antialérgico dura muito mais do que o comum e é mais resistente, não quebra com facilidade. Além disso, evita uma série de complicações. As esco-las privadas fornecem esse tipo de material. Já na rede pública, somente em algumas escolas en-contramos o giz antialérgico. Par-ticularmente, penso que é uma economia irrisória do Estado e do município. Todas as escolas da rede pública deveriam comprar somente esse tipo de material. É uma forma de preservar a saúde do professor,” comentou.

Assim como Zé Coco, mui-tos trabalhadores em Educação desenvolvem patologias decor-rentes da atividade profissional. “Entre os profissionais ligados à educação é frequente o diagnós-tico de disfunções músculoesque-léticas: bursite, tendinite, LER/DORT; alergias a giz, complica-ções na coluna, varizes, doenças relacionadas à voz, Síndrome do Túneo do Carpo e transtorno mentais ou de comportamento”,

explicou o médico do trabalho, Luiz Garcia de Oliveira Lima.

Para o doutor Lima, as más condições de trabalho refletem diretamente na saúde do traba-lhador. Segundo ele, a escola pú-blica não oferece condições ao profissional. “As salas de aulas brasileiras não têm infraestrutura. A cadeira e a mesa do professor e dos alunos não são confortáveis. O professor no início da carreira está ótimo, mas depois de um ano em sala de aula apresenta algum diagnóstico de enfermida-de. Não estamos falando aqui só dos professores e, sim, a respei-to de todos os trabalhadores do quadro escolar”.

“Você sabe o que é Síndrome do Túneo do Carpo? É uma infla-mação do nervo mediano no ca-nal do carpo, localizado entre a mão e o antebraço. Por exemplo, o pessoal que trabalha nas secre-tarias das escolas, que passa mui-to tempo digitando com o ante-braço apoiado em mesas que não têm o acabamento arredondado, podem sofrer uma compressão no nervo, ele inflama, causa for-migamento e dor na região”, de-talhou o médico.

A professora de Educação Fí-sica, Kátia Regina Ferreira Garcia, que também leciona há 18 anos, vem, há três anos, convivendo “O giz antialérgico dura muito

mais do que o comum e é mais resistente, não quebra com facilidade. Além disso, evita uma série de complicações”.

João Correia, professor de Química.

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com uma dor constante no braço direito causada por uma tendini-te. “No meu caso, não é a falta de exercício físico, nem o excesso dele, já que o médico disse que minha tendinite é decorrente do estresse. Hoje, nosso maior pro-blema na Educação é a super-lotação das salas de aula. Onde o limite é de 25 alunos por sala, chegam a estudar até 40 crian-ças. Lecionar assim é muito des-gastante, o corpo somatiza”, de-sabafou Kátia.

Dados

A pesquisa “Saúde dos Profes-

sores e a Qualidade do Ensino”, realizada em 2010, pelo Centro de Estudos e Pesquisas (CEPES), subseção do Departamento Inter-sindical de Estudos Socioeconô-micos (Dieese) do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (APEOESP), aponta as principais causas de so-frimento no exercício do trabalho dos professores. A dificuldade de aprendizagem dos alunos apare-ce como a principal causa de so-frimento, com 75,5% das queixas. Em seguida aparecem a superlo-tação das salas de aula, jornada de trabalho excessiva e situação so-cial do aluno.

Para mais de 40% dos partici-pantes da pesquisa, também são causas de sofrimento no exer-cício da profissão os seguintes itens: situação social dos alunos, falta de recursos pedagógicos e de material didático e a dupla jornada de trabalho (trabalho remunerado+doméstico).

No ano de 2003, a APEOESP realizou a mesma pesquisa, e a superlotação das salas de aula apareceu em primeiro lugar, com 72,6% das reclamações, segui-do da falta de material didático. A dificuldade de aprendizagem dos alunos aparecia em terceiro lugar, com 64,9%.

Campo Grande

O Sindicato Campo-Granden-se dos Profissionais da Educação Pública (ACP) divulgou, em 2009, uma pesquisa também relaciona-da à saúde dos profissionais da educação pública do município. O resultado mostra que os edu-cadores da Capital, assim como os demais profissionais do país, enfrentam graves problemas em seu dia a dia, que afetam a saúde física e metal.

Dos entrevistados da Rede Pública de Campo Grande, a so-brecarga de trabalho é indicada em 55% dos profissionais. Mais de 50% dos entrevistados já fo-ram agredidos moralmente por alunos e 95% considera que a su-perlotação das salas contribui ne-gativamente para a qualidade do ensino. Para a maioria dos edu-cadores, o número ideal de dis-centes por turma não deve ultra-passar 30 alunos. Na pré-escola e nos anos iniciais, essa estimativa cai para 25.

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Fonte: APEOESP - Pesquisa Saúde e Condições do Trabalho dos Professores, 2010Elaboração: DIEESE, subseção APEOESP/CEPES Obs: Total de 1.615 questionários

Fonte: Sindicato Campo-Grandense dos Profissionais da Educação Pública, 2009Pesquisa: Saúde dos Profissionais da Educação Pública de Campo Grande (MS)

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18 | Revista ATUAÇÃO | Agosto 2012

Diagnóstico

A mesma pesquisa da APEOESP, revela que, entre os diagnósticos confirmados de doenças, o es-tresse aparece em primeiro lu-gar, com 48,5% de frequência. Os problemas na voz aparecem em segundo lugar, seguido da gripe, resfriado e rinite.

A professora Kátia Regina, desde que recebeu o diagnóstico de tendinite, já pegou várias li-cenças médicas para o tratamen-to. Em 2011, ficou afastada du-rante 30 dias das salas de aula e, este ano, esteve afastada durante três dias. “Eu cheguei ao ponto de perder a força no braço, não conseguia dirigir, nem escrever durante as aulas em sala. O pior é que tenho ainda muito tempo de trabalho pela frente. O médi-co me disse que meu problema é crônico, vamos amenizando a dor com medicamentos, fisiote-rapia, acupuntura e tudo mais”, lamentou.

De acordo com o doutor Lima, a atuação da medicina do traba-lho no setor público ainda é mui-to discreta. “Há pouco tempo o Estado começou a contratar ou abrir concurso para esses profis-sionais”.

O médico explica que a me-dicina do trabalho contribui para resolver até 80% dos problemas decorrentes das atividades labo-rais. Quando uma determinada função causa doença no trabalha-dor, cabe ao médico do trabalho, junto à diretoria da empresa ou órgão competente, alterar aque-le posto, adaptando a função ao funcionário. Quando as melhorias não resolvem o problema, é pre-ciso modificar todo o projeto da empresa. “Isso acontece muito no setor privado. Agora, imagi-ne você, um médico do trabalho que presta serviço ao Estado di-zer que determinada escola pú-blica precisa ser fechada por não oferecer condições adequadas a seus funcionários? Já pensou, fe-

char um escola pública no Brasil? Sem dúvidas, que ele vai ser man-dado embora”.

Para o doutor Lima, o Brasil precisa avançar muito no que diz respeito a condições de trabalho. “Muitos profissionais recebem por insalubridade e periculosi-dade, mas não é o caso do pro-fessor. Nos Estados Unidos, por exemplo, se um empresário qui-ser abrir uma empresa onde os funcionários irão exercer alguma atividade insalubre, ele não con-segue viabilizar a documentação. A lei não permite. A insalubridade e a periculosidade representam a venda de uma parte da vida do trabalhador. Quando ele recebe por isso, ele está vendendo a pró-pria saúde”.

Licenças

A assistente social Mônica Pe-reira Nogueira, do setor psicos-social da Secretaria Municipal de Educação de Campo Grande, tem como função visitar os servidores afastados das atividades profis-sionais em virtude de problemas de saúde. Diante do elevado nú-mero de licenças, Mônica iniciou uma pesquisa que resultou em seu trabalho de pós-graduação: Serviço Social na Área da Educa-ção: Um estudo sobre as licenças médicas dos profissionais das es-colas municipais de Campo Gran-de. “No caminhar do meu estudo, pude perceber que, primeira-mente, os trabalhadores apresen-tam patologias físicas, como do-

“Hoje, nosso maior problema na Educação é a superlotação das salas de aula. Onde o limite é de 25 alunos por sala, chegam a estudar até 40 crianças. Lecionar assim é muito desgastante, o corpo somatiza”.

Kátia Regina Ferreira Garcia, professora de Educação Físicaem Campo Grande

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19Revista ATUAÇÃO | Agosto 2012 |

res nas pernas, dores na coluna, varizes e disfunções osteomus-culares. Com o passar do tempo apresentam transtornos depres-sivos. Os problemas osteomuscu-lares ocupam o primeiro lugar no ranking dos diagnósticos”.

Para Mônica, o ambiente de trabalho não é o único que con-tribui com o surgimento de do-enças. “É preciso analisar todo o contexto de vida do trabalhador. As pessoas têm outros tipos de problemas, de ordem familiar, fi-nanceira, etc. Situações diversas que agravam as enfermidades”, explicou.

Ainda de acordo com a assis-tente social, o ideal, para evitar uma série de problemas na co-munidade escolar (trabalhadores em educação, alunos e pais), é a ação conjunta entre as escolas, rede de saúde e a Secretaria de Assistência Social (SAS).

Mônica realizou o estudo a partir de dados documentais. Em julho de 2007, a médias aproxi-mada de licenças médica por dia, de cinco categorias profissionais que atuam na educação, foi de 1,9.

“Agora, imagine você, um médico do trabalho que presta serviço ao Estado dizer que determinada escola pública precisa ser fechada por não oferecer condições adequadas a seus funcionários? Já pensou, fechar um escola pública no Brasil? Sem dúvidas que ele vai ser mandado embora”.

Luiz Garcia de Oliveira Lima, médico do trabalho emCampo Grande

“É preciso analisar todo o contexto de vida do trabalhador. As pessoas têm outros tipos de problemas, de ordem familiar, financeira, etc. Situações diversas que agravam as enfermidades”.

Mônica Pereira Nogueira,assistente social emCampo Grande

Fonte: APEOESP - Pesquisa Saúde e Condições do Trabalho dos Professores, 2010Elaboração: DIEESE, subseção APEOESP/CEPES Obs: Total de 1.615 questionários

Fonte: DPLAN/SEMED/2007

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Para os cuidados com a saúde, os servidores es-taduais contam com a

assistência médico-hospitalar da Caixa de Assistência dos Servi-dores do Estado de Mato Grosso do Sul (Cassems), que atualmen-te possui 172 mil usuários. Desse total, 40% são trabalhadores em educação.

A Cassems vem ampliando sua rede de atendimento e seus pro-gramas de prevenção. A entidade inaugurou, no mês de março des-te ano, em Campo Grande, o Cen-tro de Prevenção em Saúde “Cás-sio Pereira do Nascimento”. O local dispõe de profissionais das áreas de fisioterapia e nutrição. Também são oferecidas aulas de hidroginástica, hidroterapia, aca-demia e, na cozinha experimental, há cursos de alimentação saudá-vel.

“Quando inauguramos o Cen-tro de Prevenção, nosso foco es-

tava voltado para o público com idade acima de 40 anos. Hoje, o centro atende mais de 400 usuá-rios cadastrados nos programas”, explicou o presidente da Cassems, Ricardo Ayache.

Rede de atendimento

A entidade possui unidades hospitalares nos municípios de Aquidauana, Dourados, Nova An-dradina, Ponta Porã, Naviraí, Para-naíba, Três Lagoas e, até o final de 2012, vai inaugurar mais uma uni-dade em Coxim. “Estamos viabili-zando recursos junto ao governo do Estado para a construção de um hospital em Campo Grande. Esses recursos são da própria Cassems e estão retidos pelo go-verno estadual desde 2006. Po-rém, nos últimos anos nossa prio-ridade tem sido o interior, devido à carência no que diz respeito ao atendimento médico-hospitalar

ASSISTÊNCIA

“Quando inauguramos o Centro de Prevenção, nosso foco estava voltado para o público com idade acima de 40 anos. Hoje, o centro atende mais de 400 usuários cadastrados nos programas”.

Ricardo Ayache, presidente daCassems Campo Grande

nessas localidades. O hospital de Campo Grande vai dispor de aproximadamente 200 leitos e receberá os pacientes do interior que não puderem resolver seus problemas de saúde nos pólos re-gionais”, explicou.

Devido à iniciativa da Cassems em interiorizar o atendimento, os usuários residentes em outros municípios não precisam mais se deslocar a Campo Grande para realizar procedimentos como ci-rurgias por vídeo, tomografias, mamografia e ultrassonografia.

Em outubro do ano passado, a Cassems colocou em circulação o Ônibus da Saúde, com atendi-mento itinerante. Foram realiza-dos exames preventivos de cân-cer de útero e de mama em mais de 15 municípios.

Cassems amplia rede de atendimento e beneficia usuários

Centro de Prevenção em Saúdelocalizado na rua Abrão Júlio Rahe,97, Centro.

Ônibus da Saúde da Cassems percorremunicípios realizando examespreventivos.

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A entidade possui sete unidades hospitalares em Mato Grosso do Sul

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“O bom sindicalista, além de ser comprometido com o projeto democrático-popular em curso no Brasil, não foge do bom combate, pois conhece de perto e como ninguém as distintas realidades, assim como as principais carências e necessidades da cidade, do Estado e do País”.

Ônibus da Saúde da Cassems percorremunicípios realizando examespreventivos.

A eleição de representantes do movimento sindical para as Câmaras de Vereadores, neste ano, tem papel estratégico para a conquista de melhores condições de vida e trabalho com a oxige-nação da própria democracia, que anda meio encoberta pelas teias de aranha do oportunismo.

O bom sindicalista, além de ser comprometido com o proje-to democrático-popular em cur-so no Brasil, não foge do bom combate, pois conhece de perto e como ninguém as distintas rea-lidades, assim como as principais carências e necessidades da ci-dade, do Estado e do País. Isso, é claro, lhe permite contribuir com soluções mais ágeis, precisas e qualificadas.

Vale lembrar que, apesar de constarem nos programas de absolutamente todos os parti-dos como “prioridades número 1”, temas como saúde, educação, cultura, transporte e seguran-ça, com indiscutível relevância e alcance social, acabam sendo reduzidos a meras promessas de palanque, demagogia barata para angariar votos de incautos. Há também os vereadores que se dispõem a acertar, mas que de-vido a insuficiências de formação política e ideológica, logo recuam diante das pressões e chantagens de empresários ou de governos, acabando por contestar práticas descabidas e criminosas contra o erário.

A valorização dos serviços e dos servidores públicos, por

exemplo, tão essencial para o bom funcionamento da máquina administrativa, acaba sendo dei-xada de lado por políticas priva-tistas, de terceirização e precari-zação das relações de trabalho, com resultados desastrosos para o presente e o futuro da cidade e de seus moradores.

Neste sentido, além de forta-lecer a democracia, as decisões tomadas por um parlamentar sindicalista — que honre o seu passado e o seu mandato — deve garantir o respeito à vontade po-pular e abrir novos horizontes à participação política. Porque, como aprendemos no sindicato, a entrada em cena de novos ato-res sociais impulsiona a um maior empoderamento das pessoas, elevando a autoestima e a cons-ciência crítica.

É desta forma que a política começa a deixar de ser compre-endida como a prática do vale tudo ou do toma lá dá cá, para ser incorporada como processo de disputa de hegemonia, de queda de braço, de confronto de ideias. A explicitação de divergências é que torna possível a melhor com-preensão dos diferentes campos. Assim, o tomar partido — a iden-tificação com bandeiras que tra-duzem concepções e convicções — passa a ser encarado como deve ser. Com naturalidade, com elementos de consciência neces-sários à construção de consensos na diversidade para a concretiza-ção do bem comum.

A identidade com o polo que se manifesta em favor do espíri-to coletivo acaba fortalecendo a responsabilidade individual e o poder do conjunto, fazendo com que a ação plural se sobrepo-nha aos mesquinhos interesses de grandes empresas ou de go-vernos reacionários, que tentam

abafar o contraditório pelo poder econômico e o uso da mídia para a manipulação da opinião públi-ca.

Frente à complexidade da luta, é preciso empenho para as-segurar a eleição de sindicalistas comprometidos com a popula-ção, sem o que não haverá o tão necessário reforço da esfera pú-blica, nem o devido contraponto aos oportunistas que infectam e infestam inúmeras Câmaras de Vereadores pelo País.

O fato de um parlamentar co-locar na pauta do Legislativo mu-nicipal as reais necessidades da população, em estreito diálogo com as entidades populares, ele-vará a um novo patamar a ação política, potencializando seus fru-tos. Para o bem de todos.

Vamos às urnas e à vitória!

ARTIGO

Leonardo Wexell SeveroAssessor de Comunicação da CUT Nacionale autor do livro Latifúndio Midiota.

Movimento Sindical: A importância de se eleger representantes no Legislativo

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ENTREVISTA

Antônio Carlos Félix Nu-nes nasceu em 1931, em Itirapina, no interior do

Estado de São Paulo. Filho de gente simples, estudou apenas o primário. Na infância, desenvol-veu uma adoração pela leitura de jornais. Autodidata, tornou--se jornalista e escritor forjado na cartilha sindical do ABC paulista.

O jornalista é considerado um dos pioneiros da comunicação sindical brasileira. Editou jornais, para cerca de 20 sindicatos, no período entre 1964 e 1980. Fun-dou, em 1971, e foi editor por mais de 10 anos do Tribuna Metalúr-gica, jornal considerado respon-sável pela eclosão da primeira greve operária no ABC paulista, que apressaria o fim da ditadura militar no país.

Criou personagens que vira-ram ícones das lutas dos traba-lhadores brasileiros, como o João Ferrador, operário, que foi de-

senhado pelo cartunista Laerte Coutinho. No Tribuna Metalúrgi-ca, o personagem escrevia cartas aos governantes exigindo seus direitos.

Félix é autor dos livros Além da Greve, PC Linha Leste, Fora de Pauta, Bilhetes de João Ferrador, Soprando nossas Ideias, Quando os Pássaros Foram à Luta e Mis-celânia, que está sendo reedita-do.

Em 1995, Félix veio pescar em Aquidauana e apaixonou-se pe-las belezas naturais da região. Resolveu se mudar para o Estado e atualmente reside no município de Anastácio. Aos 81 anos, Félix Nunes continua exercendo o jor-nalismo com paixão.

Por que resolveu ser jorna-lista?

Félix – Quando criança eu acompanhava o meu pai em tudo.

Era filho único e queria fazer tudo que ele fazia. Trabalhei com ele no comércio e fui bóia fria. Mas, depois que eu aprendi a ler e a entender as palavras, passei a adorar a leitura de jornais. Con-tudo, na maioria das vezes, eu ti-nha acesso apenas a publicações velhas. Mesmo assim, lia todas as edições e foi daí que surgiu a mi-nha vontade de ser jornalista.

Como conseguiu atuar como jornalista apenas com o curso primário?

Félix – Naquela época, bastava aprender a usar a máquina de es-crever e ter coragem. Sou autodi-data e foi isso que eu fiz, aprendi a lidar com a máquina. Me filiei ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) e fui ser o redator de um jornal do partido, que se chama-va Notícias de Hoje, a partir disso fui aprendendo no dia a dia. Em

Com apenas o curso primário, Félix Nunes enfrentou as dificuldades da vida e tornou-se um dos maiores jornalistas sindicais do País. Com coragem, escreveu contra à ditadura, caminhou no movimento sindical do ABC ao lado do amigo Lula e idealizou João Ferrador, personagem que tornou-se ícone dos operários brasileiros.

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1960, o jornal do PCB foi fechado por questões políticas. Trabalhei em diversos locais, sempre na de-fesa das lutas dos trabalhadores. A comunicação sindical sempre foi uma das minhas principais li-nhas de atuação.

O que fez quando o jornal do PCB foi fechado?

Félix – Já estávamos vivendo o clima da ditadura militar e, para sobreviver, fui trabalhar com a burguesia. Fui redator do jornal da Associação Comercial de São Paulo, um veículo que é muito forte até os dias de hoje. Depois, arrisquei na grande mídia e con-segui emprego no jornal Notícias Populares, do grupo da Folha de S.Paulo, que naquela época já ti-nha uns seis jornais. Fazia uma coluna sindical diariamente, era o assunto que eu mais entendia. Essa coluna estourou, tinha pes-soas que compravam o veículo só para ler o que eu escrevia. A partir disso, os sindicatos come-çaram a me procurar para escre-ver os seus jornais e a minha car-reira foi se consolidando no meio sindical.

O que o Tribuna Metalúrgi-ca representou na sua vida?

Félix – Eu morava distante de São Bernardo, onde ficava locali-zada a sede do Sindicato dos Me-talúrgicos do ABC Paulista. Um dia, recebi a visita de alguns dire-tores do Sindicato, que me pedi-ram para fazer o jornal. Na época, já fazia mais de 10 jornais sindi-cais, tentei resistir, mas não deu. Então, nasceu o Tribuna Metalúr-gica, em julho de 1971, que surgiu da necessidade de se manter um diálogo com os trabalhadores. No início, houve resistência da parte dos próprios trabalhadores, que muitas vezes não queriam ler o jornal. Eram tempos difíceis, um dos períodos mais repressores da ditadura militar, quando ha-

viam editado o Ato Institucional número 5, o famigerado AI-5. O Tribuna Metalúrgica é extrema-mente importante na minha vida. Ainda lembro, nós do Sindicato, panfletando o jornal nas portas das fábricas, tentando convencer os trabalhadores de que o regime ditador era o que podia existir de pior para o País.

Foi nessa época que surgiu o personagem João Ferra-dor?

Félix – Nós precisávamos pen-sar numa solução para facilitar o contato com os trabalhadores. Dessas conversas, surgiu a ideia de criarmos um personagem, um operário, que dialogasse direta-mente com a categoria. Então, criei o João Ferrador, metalúrgi-

Félix – Era uma época de re-pressão, de censura à liberdade de imprensa. Nós tínhamos que ter muita coragem para continu-ar escrevendo, principalmente os jornais sindicais, que eram críti-cos ao regime ditador e exigiam melhores condições de trabalho para as categorias. Recordo que o AI-5, que foi o quinto de uma série de decretos emitidos pelo regime militar brasileiro, nos anos seguintes ao golpe militar de 1964, dava poderes extraordiná-rios ao presidente da república e suspendia várias garantias cons-titucionais. Além disso, durante a vigência desse decreto, veio a censura prévia, que se estendia à imprensa. Cheguei a ser pre-so para dar informação, vivía-mos tensos, trabalhávamos com medo, sabíamos de amigos que tinham sido presos e estavam desaparecidos, mas, ao mesmo tempo, tínhamos a nossa ideo-logia e uma vontade enorme de ver a democracia restabelecida no Brasil.

“Trabalhei em

diversos locais,

sempre na defesa

das lutas dos

trabalhadores.

A comunicação

sindical sempre foi

uma das minhas

principais linhas

de atuação”.

co, que escrevia bilhetes, geral-mente direcionados à autorida-des do governo, exigindo os seus direitos, como melhores salários, condições de trabalho e assim por diante. Era uma linguagem mais ou menos da fábrica, com ironia. Aí pegou. Na época, o per-sonagem foi desenhado pelo car-tunista Laerte Coutinho.

Como era ser jornalista na ditadura militar?

João Ferrador foi idealizado por Félix Nunes com o objetivo de dialogar com os operários. O personagem fazia parte do jornal Tribuna Metalúrgica e foi desenhado pelo cartunista Laerte Coutinho.

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24 | Revista ATUAÇÃO | Agosto 2012

Como era a sua relação com o ex-presidente Luiz Iná-cio Lula da Silva no Sindica-to dos Metalúrgicos no ABC paulista?

Félix – Quando entrei no Sin-dicato dos Metalúrgicos, o Lula ainda não tinha um cargo de ex-pressão na diretoria, ele estava estudando e trabalhando. Depois de um tempo, ele veio de vez para o Movimento Sindical. Co-meçou a ter contato com o mo-vimento por intermédio de seu ir-mão, José Ferreira da Silva, mais conhecido como Frei Chico.

Em 1969, o Sindicato dos Me-talúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema, no ABC pau-lista, realizou uma eleição para escolher uma nova diretoria. Foi aí que Lula foi eleito suplente. Na eleição seguinte, em 1972, tor-nou-se primeiro-secretário. Em 1975, foi eleito presidente do sin-dicato e eu fui assessor dele nes-sa época. Ele não fazia nada sem me consultar. Lembro que ele lia o Tribuna Metalúrgica antes de qualquer pessoa, antes de enviar-mos para a diagramação. Ele era o primeiro a revisar o jornal. Ca-minhei muito ao lado do Lula, nas portas das fábricas, registrando as mobilizações e as lutas do Sin-dicato.

Fiquei com ele no Sindicato até as coisas apertarem durante a ditadura militar, fiquei um ano trabalhando sem poder produzir o Tribuna Metalúrgica, por cau-sa da repressão. Depois sai de lá, mas até hoje temos contato. Nos-sa história é de companheirismo.

Por que decidiu morar em Mato Grosso do Sul?

Félix – Eu vim pescar em Aqui-dauana e me encantei com as be-lezas daqui, a natureza, a calma e a paz do lugar. Já estava apo-sentado por tempo de serviço, então resolvi fugir da loucura de São Paulo e vim para cá em 1995. Depois de algum tempo, com-prei uma casa aqui em Anastácio, trouxe a minha companheira Ma-ria. Aqui, colaborei esporadica-mente com a Folha de S.Paulo e alguns outros jornais da capital paulista. Aqui nasceu também o jornal O Aroeira, idealizado por um grupo de amigos, inclusive com a participação do professor Roberto Magno, atual presidente da FETEMS. A ideia era termos um veículo mais popular, que combatesse a oligarquia local e dialogasse com os trabalhado-res da região. O nome surgiu por causa da árvore Aroeira, impo-nente pelo seu porte, pela dureza da madeira e que carrega a fama de ser a mais resistente do Brasil.

“Caminhei muito

ao lado do Lula,

nas portas das

fábricas,

registrando as

mobilizações e as

lutas do

Sindicato...

Nossa história é de

companheirismo”.

“É de extrema

importância para o

movimento sindical

investir em

comunicação. Sem

divulgar as ações,

não há fortalecimento

da luta e os sindicatos

não conseguem

avançar nas

conquistas”.

“Nós tínhamos que

ter muita coragem

para continuar

escrevendo,

principalmente os

jornais sindicais,

que eram críticos

ao regime ditador

e exigiam melhores

condições de

trabalho para as

categorias”.

Qual a importância dos sin-dicatos investirem em comu-nicação?

Félix – É de extrema impor-tância para o movimento sindical investir em comunicação, sem divulgar das ações, não há for-talecimento da luta e os sindica-tos não conseguem avançar nas conquistas. É preciso que haja veículos informativos que falem a língua dos trabalhadores, que os mantenham informados sobre o que está acontecendo em rela-ção a sua categoria.

Como analisa os meios atu-ais de comunicação?

Félix – Avançamos em tecno-logia apenas, mas a comunicação que a maioria da população tem acesso continua concentrada nas mãos de poucos. De famílias da oligarquia brasileira, que detêm o poder para informar o que qui-serem e quando quiserem. Esta é a realidade do Brasil há muitos anos. É preciso democratizar a comunicação, para que ela real-mente chegue a todos, de forma verdadeira, informativa e crítica.

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25Revista ATUAÇÃO | Agosto 2012 |

FÉLIX NUNESHistória sindical e paixão

pelo jornalismo

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26 | Revista ATUAÇÃO | Agosto 2012

CAPA

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27Revista ATUAÇÃO | Agosto 2012 |

EDUCAÇÃOQUE VEMDO CAMPO

DESDE CEDO, ALUNOS APRENDEM TÉCNICAS PARA CRIAÇÃO DE ANIMAIS E CULTIVO DE PLANTAS. O RESULTADO É A FORMAÇÃO DE JOVENS PROFISSIONAIS PREPARADOS PARA ATENDER ÀS DEMANDAS DA CADEIA PRODUTIVA DO ESTADO.

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28 | Revista ATUAÇÃO | Agosto 2012

Acordar de madrugada faz parte da rotina dos alunos da Escola Mu-

nicipal Agrícola Governador Ar-naldo Estevão de Figueiredo. Por volta das quatro horas da manhã, os ônibus que fazem o transporte dos estudantes começam a per-correr o itinerário, que tem como ponto final a sede da Fazenda Es-cola, localizada na região da Três Barras, na zonal rural de Campo Grande.

Às 7h30, os 332 alunos já to-maram o café e estão prontos para dar início às atividades do dia. São 22 disciplinas na grade curricular, divididas em aulas teó-ricas e práticas de campo.

Mesmo com o sacrifício de acordar cedo, Jean Carlos de Oliveira, de 11 anos, aluno do 6° ano do ensino fundamental, não desanima, gosta da escola e fala com segurança a respeito do tra-to com as aves. “Eu aprendi so-bre a alimentação das galinhas, o que elas precisam comer para aumentar a produção de ovos. A ração tem que ser apropriada, e a temperatura do aviário deve ser de 37º graus”, explicou o menino, que adquiriu o conhecimento nas aulas de avicultura.

De origens simples, o peque-no Jean mora em uma das fazen-das da região. O pai é capataz e a mãe dona de casa. O menino aplicado gosta de estudar nos fi-nais de semana. “Pego os livros aqui na biblioteca e leio em casa. Quando crescer quero ser veteri-nário e trabalhar na fazenda onde moro”.

O professor de produção ani-mal, Oberdan Tenório, formado em zootecnia e medicina vete-rinária, leciona na escola desde 2008. Para ele, o ensino agrícola é fundamental para quem quer ingressar em cursos universitá-rios da área do campo. “Eu es-tudei em escolas convencionais, não tive a oportunidade de ter essa vivência. Sempre digo aos meus alunos que eles estão na

frente dos outros, têm um conhe-cimento que os meninos da cida-de não têm”.

A escola foi fundada em 1997 oferecendo o ensino fundamental de 5ª à 8ª. Hoje, já dispõe dos três ciclos escolares. O ensino profis-sional integrado ao ensino mé-dio foi implantando em 2006 e, no ano seguinte, veio o primário. “Antes da implantação dos ciclos tínhamos dois problemas. Os alu-nos que ingressavam na 5ª série do ensino fundamental vinham com deficiências de aprendiza-gem, pois completavam o ensino básico naquelas escolas rurais com salas multisseriadas, ou seja, um professor para lecionar várias séries na mesma sala de aula. O outro problema era o aluno que concluía a 8ª série e não tinha como dar continuidade nos estu-dos aqui. Geralmente, os jovens iam embora para outros Estados, onde terminavam o ensino mé-dio também em escolas agríco-las, ingressavam na faculdade e não voltavam mais. As famílias perdiam, o município e o Estado perdiam mão de obra qualifica-

da”, contou o diretor da escola, Moacir José da Silva Borges.

A proposta pedagógica da instituição é formar técnicos em agropecuária por meio da edu-cação profissional integrada ao ensino médio. Apenas alunos mo-radores do campo podem ingres-sar no colégio. A unidade escolar atende as comunidades rurais das regiões do aeroporto Santa Maria, Bom Jardim, Três Barras, Cachoeira e Morada do Sol, uma população equivalente a duas mil pessoas.

Também de origem campeira, o diretor Moacir conhece bem as dificuldades que os alunos rurais enfrentam para estudar. “Sou da-qui, tive que deixar a comunida-de para estudar. Depois de for-mado, retornei com o propósito de lutar para segurar a juventude aqui no campo, de oferecer uma educação pública de qualidade. Vi muitas famílias indo embora para educar seus filhos na cida-de, iludidos com as imagens que a televisão vendia. Chegando lá se deparavam com a realidade, desemprego, aluguel e favelas. O

“Eu aprendi sobre a alimentação das galinhas, o que elas precisam comer para aumentar a produção de ovos. A ração tem que ser apropriada, à base de sorgo, milho ou milheto”.

Jean Carlos de Oliveira, aluno da Escola AgrícolaArnaldo Estevão de Figueiredo

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29Revista ATUAÇÃO | Agosto 2012 |

verdadeiro êxodo rural!”.À frente da escola desde sua

fundação, Moacir ainda tem um sonho a ser realizado. “Quero ver uma extensão da Universidade aqui, com cursos de agronomia, veterinária, zootecnia, biologia, etc. A escola aguça o desejo do aluno em continuar estudando nessa área. Nosso Estado precisa desses profissionais, temos uma economia agropecuária”.

Reforma Agrária e Desen-volvimento Sustentável

Os alunos formados na Arnal-do Estevão de Figueiredo estão aptos a trabalhar nas atividades do campo. São técnicos agrope-cuários. Para o diretor-adjunto Luiz Taíra, as escolas agrícolas são a solução para uma refor-ma agrária consistente. “Aqui, o aluno recebe a técnica e um dos grandes problemas da reforma agrária no País é a distribuição de terras sem assistência técnica especializada. Mesmo com boa vontade, se o agricultor não tem conhecimento ele não consegue produzir,” afirmou.

O diretor Moacir disse que o Brasil precisa repensar também a produção de alimentos, uma vez que a agricultura familiar é res-ponsável por 70% da produção de alimentos do País. Segundo ele, uma das propostas pedagógicas da escola é ampliar o conceito de agricultura familiar, aliada ao desenvolvimento sustentável. “O conceito de agricultura familiar é aquele ainda de pequenas produ-ções, em pequenas propriedades. Isso não existe mais, com conhe-cimento e tecnologia é possível ter uma grande produção, utili-zando espaços menores e sem agredir o meio ambiente. Nossos alunos saem daqui com condi-ções de contribuir com uma nova proposta para produção agro-pecuária, seja ela de pequeno ou grande porte”, garantiu Moacir.

As pequenas propriedades

“Vi muitas famílias indo embora para educar seus filhos na cidade, iludidos com as imagens que a televisão vendia. Chegando lá se deparavam com a realidade, desemprego, aluguel e favelas. O verdadeiro êxodo rural!”.

Moacir José da Silva Borges, diretor da Escola Agrícola

Segundo pesquisa apresentada em 2010, pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), 44% dos assentados do País são jovens com menos de 20 anos e 13% têm entre 21 e 30 anos.

brasileiras são tão produtivas que boa parte dos alimentos vem das propriedades que possuem até 10 hectares de terra. Dos donos de mais de 1.000 hectares, sai uma parte relativamente pequena de alimentos. Ou seja, eles produ-zem menos, embora tenham 100 vezes mais terra.

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Bons frutos No Exame Nacional do Ensino

Médio (ENEM) de 2010, a Escola Municipal Agrícola Governador Arnaldo Estevão de Figueiredo conquistou o 11º lugar entre as 35 melhores escolas do País e ficou na 3ª colocação entre as 17 es-colas rurais que participaram do exame.

Em 2011, dos 26 alunos que concluíram o ensino profissionali-zante integrado ao ensino médio na escola, 10 foram aprovados em universidades públicas, 10 em universidades privadas e o res-tante vai participar de um curso na Embrapa Gado de Corte, em Campo Grande.

Embrapa

A Agroescola é um projeto em parceria com a Universi-dade Federal de Mato Gros-so do Sul (UFMS), Prefeitura Municipal de Campo Grande, Governo do Estado e Embra-pa Gado de Corte. Tem como proposta a formação de pro-fissionais especializados em pecuária de corte. “O curso é destinado apenas para alunos que concluíram o ensino médio em escolas agrícolas”, explicou o coordenador do projeto da Embrapa, Websten Cesário da Silva.

A especialização tem car-ga horária de 1.600 horas e vai formar a primeira turma em 10 meses. São 30 alunos dos mu-

Em 150 hectares de terra, a fa-zenda escola cultiva para a pró-pria subsistência. Alunos, técni-cos, professores e funcionários produzem leite, ovos, carne bovi-na e suína, mandioca, hortaliças, frutas, peixes e muito mais. Os alimentos cultivados são destina-dos para a merenda escolar, que conta com cinco refeições diárias.

Na cozinha experimental, ex--alunos ensinam os novatos. Uma troca de experiência que Idalita Gamba Rodrigues, de 21 anos, faz com prazer. A jovem terminou o ensino médio na Escola Agríco-la e, hoje, é funcionária da uni-dade. Ela conta que aprendeu a fazer de tudo, desde tirar o leite da vaca no mangueiro até fazer o queijo na cozinha. Também sabe vacinar os bovinos e cuidar da horta. “Acho que fui uma privile-giada, quero passar meu conhe-cimento adiante, já sou técnica em agropecuária e pretendo me especializar ainda mais”.

Do campopara a cozinha

nicípios de Campo Grande, Nova Alvorada do Sul, Ivinhema, Aqui-dauana e Amambai.

O processo seletivo foi reali-zado pela Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ci-ência e Tecnologia de Mato Gros-so do Sul (Fundect/MS), no mês de junho. Os alunos matriculados recebem uma bolsa no valor de R$ 550,00.

Os professores são pesquisa-dores da Embrapa e ministram aulas de melhoramento animal, sanidade animal, forragicultura e manejo de pastagens, sistema de produção e ovinocultura. “A qua-lidade do curso é excelente, nos-sos pesquisadores têm mestrado e doutorado. É um curso para profissionais com nível superior, porém fizemos uma adaptação na linguagem, com uma didática

Idalita Gamba Rodrigues,21 anos.

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“Aqui, o aluno recebe a técnica e um dos grandes problemas da reforma agrária no País é a distribuição de terras sem assistência técnica especializada. Mesmo com boa vontade, se o agricultor não tem conhecimento ele não consegue produzir”.

Luiz Taíra, diretor-adjuntoda Escola Agrícola

“Meu avô dizia que eu era a única neta que se parecia com ele, que gostava de cavalo, boi e essas coisas rurais. Ele faleceu há pouco e fiquei com as traias de montaria que eram dele”.

Hélia Nayara Paredes D’Avila, 18 anos, estudante

voltada para o perfil dos jovens”, comentou Cesário.

A professora Rosimar Lo-pes Bezerra trabalhou na Esco-la Agrícola Governador Arnaldo Estevão de Figueiredo durante 10 anos e foi convidada a fazer parte do projeto da Embrapa. Atualmente, Rosimar é diretora da Agroescola e explicou que os alunos formados no curso vão atender às necessidades do mer-cado sul-mato-grossense. “Eu acompanho vários desses jovens desde a infância, sei do potencial deles e posso garantir que serão excelentes profissionais. São alu-nos comprometidos, dinâmicos e dedicados”, afirmou.

Mesmo morando na cidade, Hélia Nayara Paredes D’Avila sempre gostou das atividades do campo, uma vocação que, segun-do ela, herdou do avô, que era administrador de fazenda. “Meu avô dizia que eu era a única neta que se parecia com ele, que gos-tava de cavalo, boi e essas coisas rurais. Ele faleceu há pouco e fi-quei com as traias de montaria que eram dele”, contou.

Hélia ingressou na escola agrí-cola por meio de um processo seletivo para os alunos da cidade. Ela passou por um teste de ap-tidão no campo. Hoje, o proces-so não existe mais, as vagas são destinadas apenas para os mora-dores da zona rural. Com 18 anos, Hélia é aluna do curso da Embra-pa e depois vai se dedicar ao ves-tibular em zootecnia.

84% é o nível de alfabetização dos assentados da reforma agrária. Pesquisa revelou que o principal problema está no ensino médio e superior, com acesso inferior a 10%.

(INCRA 2010)

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Várias personalidades contribuíram para a formação da educação

em Mato Grosso do Sul. Porém, é preciso reconhecer que algumas foram fundamentais e indispen-sáveis para a história educacio-nal do Estado. É o caso da cuia-bana Maria Constança de Barros Machado, professora de conduta firme, que, ao mesmo tempo, não deixava de ser afetuosa com seus alunos. Dedicou sua vida à práti-ca de ensinar e lutou para que o acesso à educação fosse um di-reito de todos.

A professora Constança, como era conhecida, concentrou sua capacidade e energia em solo campo-grandense. Pisou pela primeira vez na cidade More-na em março de 1918. Naquela época, moça que se prezasse não morava sozinha. Foi mo-rar por algum tempo na casa de uma prima. “Campo Grande era um matagal. Ruas enlamea-das, casas isoladas, calçamento só na 14 de Julho”, disse Cons-tança em sua narrativa registra-da no livro Memória da Cultura e da Educação em Mato Grosso do Sul, de autoria da professora Ma-ria da Glória Sá Rosa.

Lecionar, nos anos de 1930, era um grande desafio. Os pro-fessores eram abnegados, traba-lhavam muito e ganhavam pouco. Com as economias, Constança comprava livros para premiar os melhores alunos no final do ano.

Além dos baixos salários e das precárias condições das poucas escolas públicas que existiam na época, os professores lidavam também com a frustração quando os alunos pobres não podiam dar continuidade aos estudos, após

PERSONALIDADE

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Maria Constança de Barros Machado

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terminarem os primeiros anos do primário. Naquele momento, da necessidade de se formar o en-sino do ginásio público na futura capital sul-mato-grossense, Maria Constança surgiu como persona-gem principal.

“Em 1939, propus ao interven-tor Júlio Müller e ao doutor João Ponce de Arruda, secretário de Fazenda do Estado, a criação de um ginásio estadual que pudes-se resolver o problema dos que precisavam continuar o ensino fundamental, mas não podiam pagar”, narrou. Nesse período, a professora já coordenava o Gru-po Escolar Joaquim Murtinho.

Os pais que tinham melhor condição financeira matriculavam seus filhos nos três únicos giná-sios particulares da cidade: o Co-légio Osvaldo Cruz, Dom Bosco e Colégio das Irmãs.

A solicitação da professora foi atendida e, no mesmo ano, foi instalado e organizado o Li-ceu Campo-Grandense, mais tar-de chamado de Ginásio Estadual Campo-Grandense. Entretanto, um ano depois, o Ministério da Educação e Cultura determinou o encerramento das atividades do Ginásio Estadual, alegando que o colégio não atendia às exigências para funcionamento. Muitos alu-nos foram prejudicados e ficaram impossibilitados de continuar os estudos.

Contudo, Constança não desis-tiu e depois de muita luta judicial, em 1943, uma portaria ministerial concedia o retorno das aulas na instituição. O Colégio Estadual funcionou até 1954 no prédio do Grupo Escolar Joaquim Murtinho.

A professora, idealista, incenti-vava a arte e a cultura no ambien-te escolar. Estimulou a criação do Grêmio Literário Machado de Assis, que promovia festas, can-tos, discursos e declamações. Por

meio do Grêmio, os alunos cria-ram o jornal A Pena, que veicula-va artigos dos estudantes.

O Colégio Estadual tornou-se referência no ensino da região sul do Mato Grosso. Embora fosse referência, contava com péssimas instalações, que sacrificavam alu-nos e professores.

Foi então que, no dia 27 de agosto de 1954, foi inaugurado o novo prédio do Colégio Estadual Campo-Grandense, com arquite-tura moderna, projetado por Os-car Niemeyer.

Além do ginásio, foi implanta-do na nova sede o curso colegial. Os alunos que concluíam o cien-tífico no colégio eram aprovados nas melhores universidades do Brasil sem fazer cursinho.

Entre idas e vindas, Maria Constança esteve à frente do Co-légio Estadual até o final dos anos 60. Além da educação, dedicou--se ao trabalho social e à política.

Hoje, o Colégio Estadual leva o nome de Escola Estadual Maria Constança de Barros Machado, uma homenagem justa à profes-sora que dedicou sua vida ao en-sino sul-mato-grossense.

A Escola

A doutora em educação, Euri-ze Caldas Pessanha, da Universi-dade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), na pesquisa Tempo de cidade, lugar de escola: um estudo comparativo sobre a cul-tura escolar de escolas exempla-res constituídas no processo de urbanização e modernização das cidades brasileiras (1880-1970), realizada entre 2005 e 2007, identificou que a Escola Estadual Maria Constança Barros Machado foi referência de qualidade e liga-da à identidade dos grupos sociais que, em determinados momentos históricos, se consideravam eli-

te na cidade. O Maria Constança tornou-se disputado pelas famí-lias e não era fácil ingressar na es-cola porque havia um exame de admissão muito concorrido. Em alguns anos, havia mais de 500 candidatos.

Além dessa pesquisa, já foram concluídas outras 13, entre disser-tações de mestrado e teses de doutorado, referentes à história do então Liceu Campo-granden-se e sua influência na formação do ensino sul-mato-grossense.

No dia 12 de julho, durante o Congresso Luso-Brasileiro de História da Educação, em Lisboa, Portugal, foi lançado o livro Tem-po de cidade, lugar de escola: his-tória, ensino e cultura escolar em escolas exemplares. O livro foi or-ganizado por Eurize Caldas Pes-sanha e Décio Gatti Júnior e inclui os resultados da pesquisa sobre o Maria Constança.

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A Escola Estadual Maria Constança de Barros Machado traz na fachada um livro aberto. Foi projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer na década de 50. O colégio, que está localizado na rua Marechal Cândido Mariano Rondon, passou por uma recente reforma, voltou às cores originais e ganhou jogos de luzes que se destacam na paisagem noturna.

Foto: João Garrigó - Campo Grande News

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Professores da rede mu-nicipal de ensino de Três Lagoas foram os pri-

meiros profissionais do Estado de Mato Grosso do Sul a serem beneficiados pelo cumprimento integral da lei 11.738, de 16 de ju-lho de 2008, que garante o Piso Salarial Nacional de R$ 1.451,00 e 33% da carga horária total para atividades extraclasse. No entan-to, é preciso dizer que a condição atual é resultado de um trabalho prévio entre o Sindicato dos Tra-balhadores em Educação (Sin-ted) de Três Lagoas e Selvíria e a Secretaria Municipal de Educa-ção. Trabalho que durou cerca de um ano e resultou não apenas no cumprimento integral da lei, mas na elaboração e implantação de um plano de cargos e carreiras, além da reestruturação da grade curricular.

Maria Diogo, atual presiden-te do Sinted, conta que quando começaram a noticiar a Lei do Piso, ela estava à frente do de-partamento jurídico do sindicato. O ano era 2008 e ela conta que quando a lei foi sancionada pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, “ninguém acreditou”.

A partir disso, tanto o Sinted quanto a Secretaria Municipal de Ensino dedicaram todo ano de 2009 para implantar uma mudança que fosse além da lei. “Quando começamos a nos reu-nir, em 2009, traçamos metas para chegar ao fim do ano com algo palpável”, explicou o secre-

Com planejamento, Três Lagoas foi o primeiro município de MSa implantar a Lei do Piso

RECONHECIMENTO

ALUNOS E TRABALHADORES FORAM BENEFICIADOS COM A LEGISLAÇÃO, MAS AGORA ENFRENTAM NOVOS DESAFIOS PARA MELHORAR A QUALIDADE DO ENSINO

Foto: Lucas Coelho

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tário municipal de educação, Má-rio Grespan.

“Hoje, muitas cidades que vi-vem o mesmo processo nos pro-curam para saber como fizemos e o que fizemos. Sempre reforço que não foi do dia para a noite. Foi um ano de debate e prepara-ção para que isso acontecesse”, contou.

Desde 23 de fevereiro de 2010, Três Lagoas cumpre a lei na ín-tegra. Na época, o Piso Nacional estipulado era de R$ 950. Pouca coisa acima do valor pago aos professores da rede municipal. O secretário explicou que, com a implantação do Piso Nacional em 2010, os professores receberam a diferença retroativa referente ao período de 2008 e 2009.

Entretanto, Maria Diogo afir-ma que o maior impacto sentido pelos profissionais da educação não foi o financeiro, foi referen-te à hora-atividade. “Na época, tínhamos 25% de hora-atividade e precisávamos crescer 8% para chegar aos 33% determinado por lei. Foi feito um estudo que mos-trou que, para cumprir essa meta, a Prefeitura precisaria contratar um novo professor a cada sete profissionais atuando na rede. Não se tratava apenas de pagar o Piso, era preciso investir. Esse foi o maior investimento”, disse.

Dessa forma, Três Lagoas foi a primeira cidade do Estado a implementar a hora-atividade, conforme previsto em lei. “Du-rante as conversas com os ges-tores, a gente sente que essa é a maior dificuldade de cumprir a lei em sua totalidade. E não se trata apenas da contratação, é preci-so pensar na manutenção desses profissionais, com todos os cus-tos e benefícios inerentes à car-reira, como plano de saúde, por exemplo”, explicou Maria Diogo.

Nova realidade, novos de-safios

A implantação a Lei do Piso

refletiu de várias maneiras na educação de Três Lagoas. Houve uma redução significativa no nú-mero de licenças médicas.

A redução é constatada quan-do conversamos com profissio-nais da rede municipal de ensino. Lecionando Língua Portuguesa há cinco anos na Escola Munici-pal Parque São Carlos, Leide Pa-trícia Dias Traminn afirmou que foram muitos os benefícios e que eles se refletem em sala de aula e na vida pessoal. “A gente não fica mais colado no livro didático. Podemos usar materiais alterna-tivos e isso se reflete na partici-pação do aluno em sala de aula. Mas também melhorou porque a gente não precisa mais levar tra-balho para casa. Antes, tínhamos pilhas e pilhas de atividades e correções. Eu chegava estressa-da na segunda-feira para traba-lhar. Agora não”.

Para a especialista em educa-ção Vanessa Cristina Silva Viana, que está há cinco anos em Três Lagoas, a integralidade da Lei do Piso gerou um problema novo e, de certa forma, inusitado: a bu-rocracia. Cresceu o número de profissionais de ensino, mas não o número de profissionais admi-nistrativos, que continua o mes-mo desde 2008. “Isso gerou uma burocracia, os professores nem sempre são atendidos em tempo

“Durante as conversas com os gestores, a gente sente que essa é a maior dificuldade de cumprir a lei em sua totalidade. E não se trata apenas da contratação, é preciso pensar na manutenção desses profissionais, com todos os custos e benefícios inerentes à carreira, como plano de saúde, por exemplo”.

Maria Diogo, presidentedo Sinted de Três Lagoas

hábil”, comentou Vanessa.Outra dificuldade enfrentada

pelas professoras em relação à hora-atividade é quanto a infra-estrutura. “Aumentou o quadro de professores, mas não o espaço físico da escola. Nesse momento, temos quatro professoras prepa-rando suas aulas e apenas dois computadores. Muitas vezes, os professores usam a sala de in-formática dos alunos. É possível, mas não é o ideal”, contou Vivia-ne da Silva Corrêa, que atuou 11 anos como professora do Parque São Carlos e há três é diretora do local.

A Escola Municipal Parque São Carlos é a maior escola da rede municipal e possui pouco mais de 1.100 alunos e 80 funcionários,

Foto: Lucas Coelho

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“A gente não fica mais colado no livro didático. Podemos usar materiais alternativos e isso se reflete na participação do aluno em sala de aula. Mas também melhorou porque a gente não precisa mais levar trabalho para casa. Antes, tínhamos pilhas e pilhas de atividades e correções. Eu chegava estressada na segunda-feira para trabalhar. Agora não”.

Leide Patrícia Dias Traminn, professora de língua portuguesa em Três Lagoas

Foto: Lucas Coelho

sendo 60 professores. Dados da secretaria municipal de ensi-no mostram que, em 2011, havia 11.300 alunos matriculados na rede municipal de ensino, sendo 3.782 da educação infantil. Nesse último caso, 87% dos alunos de zero a três anos são atendidos pela rede municipal. No caso de alunos de quatro a cinco anos, esse número sobe para 99%. A média nacional é de 40%.

As lutam continuam

Em março deste ano, a Fe-deração dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul (FETEMS) publicou um relatório

“Hoje, muitas cidades que vivem o mesmo processo nos procuram para saber como fizemos e o que fizemos. Sempre reforço que não foi do dia para a noite. Foi um ano de debate e preparação para que isso acontecesse”.

Mário Grespan, secretário municipal de Educação

que mostra os municípios de Mato Grosso do Sul que cumprem integralmente a legislação. Três Lagoas divide o oitavo e último lugar com Brasilândia, São Gabriel do Oeste, Inocência, Miranda e Camapuã. Os três primeiros lugares são ocupados por Paranaíba, que tem um piso de R$ 2.019,80; Naviraí, com piso de R$ 1.7771,32, e Água Clara, com piso de R$ 1.585,00.

“Quando a lei foi sancionada, Três Lagoas tinha o se-gundo maior Piso do Estado e fomos os pioneiros na im-plantação da hora-atividade. Hoje, caímos para oitavo lu-gar se considerados apenas os municípios que cumprem a lei integralmente. No panorama geral, estamos em 25º lugar. Temos a segunda maior arrecadação do Estado. Precisamos reverter isso. A cidade deveria estar, pelo menos, entre os cinco primeiros”, avaliou Maria Diogo.

A Lei do Piso, também conhecida como Lei 11.738, de 16 de julho de 2008, determina o Piso Salarial mínimo para professores com jornada de trabalho de até 40 ho-ras semanais. Em 2009, primeiro ano de vigência da lei, o piso era de R$ 950,00. No seguinte, foi para R$ 1.024,00 e, em 2010, para R$1.187. Atualmente, o valor em prática é de R$ 1.451,00.

Foto: Lucas Coelho

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A Educação Infantil é um direi-to da criança de 0 até 6 anos de idade assegurado na Constitui-ção Federal de 1988 e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDBEN) n° 9394/96. Ou seja, há 15 anos é considerada como 1ª etapa da Educação Básica. No entanto, ainda tem sido palco de discussões controversas devido à sua história e às funções higienis-tas, assistencialistas e compensa-tórias que lhes foram atribuídas ao longo do tempo.

Mesmo com avanços signifi-cativos no campo da pedagogia da infância e na legislação, ainda somos surpreendidos com pro-postas que não são cabíveis no âmbito da Política Educacional para esta faixa etária, se conside-rarmos os avanços conceituais e legais da área. Na LDBEN, o ter-mo creche é usado para designar a faixa etária de 0 a 3 anos, e a expressão pré-escola designa os grupos de crianças de 4 a 6 anos. Logo, a palavra creche não pode ser aqui entendida como sinôni-mo de estabelecimento ou insti-tuição, mas, sim, como Educação Infantil.

Reafirmando o conceito de Educação Infantil, como etapa educacional, o art. 5º da Reso-lução CNE/CEB Nº 5, de 17 de dezembro de 2009, Diretrizes Curriculares de Educação Infan-til, define: “A Educação Infantil,

primeira etapa da Educação Bási-ca, é oferecida em creches e pré--escolas, as quais se caracterizam como espaços institucionais não domésticos, que constituem es-tabelecimentos educacionais pú-blicos ou privados que educam e cuidam de crianças de 0 a 5 anos de idade no período diurno, em jornada integral ou parcial, regu-lados e supervisionados por ór-gão competente do sistema de ensino e submetidos a controle social”.

Portanto, os municípios não devem investir recursos da edu-cação em atendimento, cujos objetivos não podem ser enten-didos como oferta educacional de acordo com a legislação vi-gente. Assim sendo, projetos de lei que trazem propostas que se contrapõem às DCNEI são pro-pósitos de Políticas Públicas para a infância e não restritas à Educa-ção. Nesse contexto, propostas como creche noturna, domicilia-res, atendimento em férias, finais de semana e tantos outros não procedem ao contexto histórico legal atual das Políticas Educa-cionais de Educação Infantil.

Os investimentos públicos de-vem existir para garantir os direi-tos à Educação Infantil. As verbas públicas educacionais devem ser utilizadas para fins de ampliar a oferta de matrícula das crianças de 0 até 6 anos em instituições públicas de educação, atendendo ao direito de frequentar uma ins-tituição de Educação Infantil de qualidade.

Os municípios devem investir na ampliação da oferta de vagas com qualidade, em tempo inte-gral, tanto para as crianças de 4 até 6 anos (pré-escola) — uma

vez que tornou-se matrícula obri-gatória com a Emenda 59/2009 — cumprindo o princípio do di-reito público subjetivo presente na Constituição Federal de 1988; como para a faixa etária de 0 a 3 anos, cumprindo metas do Plano Nacional de Educação.

Um outro aspecto relevante a se discutir é que, na Educação In-fantil, há bebês e crianças peque-nas, que, devido à sua tenra ida-de, são dependentes dos adultos nas rotinas de educação e cuida-dos, realizadas de maneira indis-sociável, em ação complementar à das famílias.

Nesse contexto, é preciso re-afirmar que todas as ações que envolvem o cuidar e o educar nas instituições de Educação In-fantil, independente da classe social das crianças atendidas, de-vem ser exercidas por professo-res habilitados, o que significa a contratação de professores por concursos públicos, pois estes profissionais da educação é que receberam uma formação teó-rico-prática sobre a criança em

ARTIGO

Educação Infantil de qualidade:Direito da criança“Creche não pode ser aqui entendida como sinônimo de estabelecimento ou instituição, mas, sim, como Educação Infantil”.

“Mesmo com avanços significativos no campo da pedagogia da infância e na legislação, ainda somos surpreendidos com propostas que não são cabíveis no âmbito da Política Educacional para esta faixa etária, se considerarmos os avanços conceituais e legais da área.

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Mariéte Félix RosaProfessora da Educação Infantil das redes públicas de ensino do Estado de Mato Grosso do Sul e de Campo Grande. Mestre e Doutora em Educação pela FEUSP; assessora técnica do CME de Campo Grande (MS); integrante do Comitê Diretivo do Movimento Interfóruns de Educação Infantil do Brasil (MIEIB) e da Coordenação Colegiada do Fórum de Educação Infantil de MS.

[email protected]

sua integralidade, para melhor atendê-la.

No sentido de assegurar que sejam professores(as) a atuarem na Educação Infantil, a Política Nacional estabelece em suas me-tas, para que não fiquem dúvidas sobre a questão, que se deve: “Extinguir progressivamente os cargos de monitor, atendente, auxiliar, entre outros, mesmo que ocupados por profissionais con-cursados em outras secretarias ou na Secretaria de Educação e que exercem funções docentes”.

Além disso, a Política Nacional de Educação Infantil explicita que “os sistemas de ensino devem as-segurar a valorização de funcio-nários não-docentes, que atuam

nas instituições de Educação In-fantil, promovendo sua participa-ção em programas de formação inicial e continuada”. E, aqui, es-clarece que os outros profissio-nais são aqueles que não atuam diretamente em salas de ativida-des, junto às crianças.

Pensando nas questões aqui apresentadas, é importante apon-tar que tivemos avanços na Edu-cação Infantil, tanto conceituais como dos preceitos legais, po-rém devemos nos atentar para que estes se materializem cada vez mais na ampliação de vagas, na garantia de oportunidades de formação inicial e continuada para professores, na adequação e aparelhamento dos espaços físi-

cos, na construção de propostas pedagógicas em que se façam presentes a concepção de crian-ça e de infância em uma perspec-tiva plural, ocorrendo em insti-tuições próprias com currículo específico, que coloque a criança no centro do processo educativo.

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Dicas para uma boa leitura

Escrito pela psicolinguistica argentina Emília Ferreiro em 1986, a obra Alfabetização em Processo é um clássico que todos os educadores de-vem ler. A autora analisa, por meio de cinco textos, o processo de cons-trução da leitura e da escrita infantil, faz uma relação entre o todo e as partes que constituem esse processo. Analisa também o ensino de cálculos matemáticos para crianças que ainda estão na fase de alfabe-tização, pesquisando como a criança faz, antes mesmo de aprender na escola, cálculos de somar e subtrair com grande precisão.

Para que a descoberta do caráter simbólico da escrita seja aprendi-da, é preciso oferecer ao aprendiz situações em que a escrita se torne objeto de seu pensamento. É uma teoria que inspirou vários métodos que valorizam os conhecimentos que a criança já tem e o contato dela com o mundo letrado dos jornais, revistas, rótulos, outdoors, permitindo assim uma maior aproximação entre a escola e a realidade.

De autoria de Maria Tereza Maldonado, o livro trata da fronteira entre a brincadeira, agressão e perseguição. Como distinguir entre brincadei-ras saudáveis, em que todos se divertem, e o padrão de ataques repe-titivos no qual apenas alguns se divertem ou levam vantagens à custa de provocar sofrimento em outros? Quais são as manifestações mais comuns da agressividade entre alunos? Como contribuir para o uso res-ponsável da tecnologia e das redes sociais? O trabalho conjunto entre famílias, escolas e comunidades é essencial para criar uma cultura de não tolerância à prática do bullying e do cyberbullying, desenvolvendo a educação com base em valores que permitem a construção de uma rede saudável de relacionamentos em que fique claro para todos que “agressão não é diversão”.

Sobre a autora - Maria Tereza Maldonado nasceu no Rio de Janeiro. Formou-se em Psicologia pela PUC-RJ, onde fez mestrado em Psicolo-gia Clínica. Foi professora da PUC-RJ e da Universidade Santa Úrsula. É membro da American Academy of Family Therapy e da World Asso-ciation for Infant Mental Health. Atualmente, participa de ONGs que de-senvolvem projetos sociais (Pastoral da Criança, Associação Brasileira Terra dos Homens), trabalha como psicoterapeuta de famílias e como conferencista e consultora nas áreas de saúde e educação.

Sobre a autora - Emília Ferreiro é psicóloga e pesquisadora argenti-na, radicada no México, fez seu doutorado na Universidade de Genebra, sob a orientação de Jean Piaget.

Na Universidade de Buenos Aires, a partir de 1974, como docente, ini-ciou seus trabalhos experimentais, que deram origem aos pressupostos teóricos sobre a Psicogênese do Sistema de Escrita, campo não estuda-do por seu mestre, que veio a tornar-se um marco na transformação do conceito de aprendizagem da escrita pela criança.

Alfabetizaçãoem ProcessoEmília Ferreiro,136 páginas,Editora Cortez

Bullying e Cyberbullying - O quefazemos com o quefazem conosco?Maria Tereza Maldonado, 143 páginas,Editora Moderna

Fonte:www.zemoleza.com.br

Fonte:www.skoob.com.br ehttp://professoresdepaulistape.blogspot.com.br

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“Quando não havia sindicatos nem direitos trabalhistas, era o patrão quem decidia o preço da força de trabalho e a duração da jornada. Eram de 14 ou 16 horas diárias e o trabalho das crianças e mulheres não era remunerado”.

Que os sindicatos são institui-ções consolidadas na vida dos trabalhadores, isso já está claro. No entanto, poucas pessoas sa-bem da fundamental importância que eles possuem na conquista dos direitos, defesa da demo-cracia, justiça social. A história do sindicalismo coincide com a história da sociedade e do modo de produção capitalista. Ele sur-giu como resposta à exploração de classe dos capitalistas, na vio-lência de classe que estes impu-seram aos trabalhadores no pro-cesso da Revolução Industrial até os nossos dias.

O capitalismo se baseia na compra da força de trabalho do trabalhador, por meio do assa-lariamento, e o lucro dos capi-talistas é produzido pelo traba-lho não pago (mais-valia) e pela apropriação direta e indireta do que ele produz. O sindicato exis-te para defender os direitos dos trabalhadores. Nossos direitos são frutos de muitas lutas e, para garanti-los, temos que ter um sin-dicato forte e de luta. Hoje, temos emprego, salário, previdência, plano de saúde e tantos outros direitos garantidos. Milhões de trabalhadores não têm.

Amanhã, quem garante que não estaremos sem emprego, vivendo na informalidade, sem salário, sem renda, sem direitos,

sem futuro? É pensando nisso que nos organizamos em sindi-catos. Os direitos que os traba-lhadores têm, hoje, são frutos de muitas lutas, vindas desde o sé-culo XIX. Duros combates e mo-bilizações para melhorar a vida dos trabalhadores se deram não só no Brasil (desde a escravidão), mas no mundo inteiro. A luta pela definição e, depois, pela redução da jornada de trabalho vem de 150 anos.

Quando não havia sindicatos nem direitos trabalhistas, era o patrão quem decidia o preço da força de trabalho e a duração da jornada. Eram de 14 ou 16 horas diárias e o trabalho das crianças e mulheres não era remunerado. Só na década de 1920 os traba-lhadores conquistaram a jornada de 8 horas diárias. E no Brasil foi garantida na lei só em 1932. A vida “produtiva” de um trabalha-dor não passava de 25 anos de trabalho. Viravam bagaços hu-manos nas engrenagens das fá-bricas.

Só a partir de 1910 foram ga-rantidos o descanso aos domin-gos e o direito a férias. E essas conquistas foram a custa de muitas greves, mobilizações de massas, sofrendo repressões vio-lentas, torturas, prisões, desa-parecimentos, mortes. Operárias queimadas vivas numa fábrica de Chicago são prova disso. Os grandes banqueiros e empresá-rios só acumulam lucros porque exploram os trabalhadores. Di-nheiro não nasce em árvore nem cai do céu.

O lucro privado ou estatal é produto da exploração do traba-

lho e do trabalhar, da ausência de políticas sociais de distribuição da riqueza e dos benefícios ge-rados pelo trabalho humano; ou quando o Estado vira um comi-tê de negócios e interesses das classes que dominam a socieda-de e monopolizam a economia.

Tenha certeza que, se depen-desse da empresa ou do governo, você receberia 0% de reajuste sa-larial, seus direitos seriam reduzi-dos e benefícios retirados. Só não nos atacam mais porque lutamos coletivamente e porque o sindi-cato luta com você.

ARTIGO

Helder MolinaHistoriador, mestre em Educação, doutor em Políticas Públicas e Formação Humana, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, educador e assessor sindical.

[email protected]

As lutas do movimento sindical nasconquistas dos trabalhadores brasileiros

“Amanhã, quem garante que não estaremos sem emprego, vivendo na informalidade, sem salário, sem renda, sem direitos, sem futuro?”

Page 41: Revista Atuação - Edição 4 - Agosto de 2012

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Luzes

E lá vamos nós

E estamos nós

Lançando luzes sobre nossos problemas

Clareando nossas necessidades

Esclarecendo nossas reivindicações

Câmeras

E registramos nós

E divulgamos nós

As imagens de nossas lutas

A coragem de nossa gente

A disposição de nossa classe

Ação

E reunimo-nos todos

E aglomeramos nossas forças

E fazemos passeatas,invasões

E pernoitamos fora de nossos lares

E nos alimentamos de nossas forças e

sonhos

E eis que

A ditadura convicta

De percepção restrita

Contrapõe-se aos fatos

E em combate aos nossos atos

Fecham as janelas e portas

E num eco brado e retumbante

Em voz cavernosa e troante

Profere:

Cooooooooooorta!!!

E lá foi nosso dia de ponto

E ponto.

Ponto final??!!!

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