revista atuação - edição 11ª - março de 2015

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1 Revista ATUAÇÃO | Março 2015 | EDIÇÃO 11 | MARÇO 2015 UMA PUBLICAÇÃO DA FEDERAÇÃO DOS TRABALHADORES EM EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO DO SUL

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Revista Atuação, uma publicação da Federação dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul (FETEMS). Redação e Produção: Íris Comunicação Integrada; Diretora de Criação: Nanci Silva; Diretor de arte: Pedro Morato; Jornalista responsável e editora: Laura Samudio Chudecki (DRT-MS 242); Revisão: Greice Maciel; Fotos: Wilson Jr.; Fernando de Brito; FETEMS Rua Chafica Fatuche Abussafi, 200; Vila Nascente - CEP 79036-112; Campo Grande; Mato Grosso do Sul; Brasil

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1Revista ATUAÇÃO | Março 2015 |

EDIÇÃO 11 | MARÇO 2015UMA PUBLICAÇÃO DA FEDERAÇÃO DOS TRABALHADORESEM EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO DO SUL

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EXPEDIENTE

Redação e Produção Íris Comunicação IntegradaRua Chafica Fatuche Abussafi, 200Parque dos Poderes - 79036-112Campo Grande/MS+ 55 67 3025.6466

Diretora de criação: Nanci SilvaDiretor de arte: Pedro MoratoJornalista responsável e editora: Laura Samudio Chudecki (DRT-MS 242)

Revisão: Greice Maciel

FotosWilson Jr.Fernando de BritoFETEMSOs textos assinados são de responsabilidade dos autores e

não representam, necessariamente, a opinião da revista.

WWW.FETEMS.ORG.BRRua 26 de Agosto, 2.296, Bairro Amambaí. Campo Grande - MS

CEP 79005-030. Fone: (67) 3382.0036. E-mail: [email protected]

DiretoriaPresidente: Roberto Magno Botareli CesarVice-presidente: Sueli Veiga MeloSecretária-Geral: Deumeires Batista de Souza Rodrigues de Morais Secretário Adjunto: Marcos Antonio Paz Daz SilveiraSecretário de Finanças: Jaime Teixeira (Licenciado)Sec. Adjunto de Finanças: José Remijo PerecinSec. de Formação Sindical: Joaquim Donizete de MatosSec. para Assuntos Jurídicos: Amarildo do PradoSec. de Assuntos Educacionais: Joscemir Josmar MorescoSec. dos Func. Administrativos: Wilds Ovando PereiraSec. de Comunicação: Ademir CerriSec. de Administração e Patrimônio: Paulo Antonio dos SantosSec. de Política Municipal: Ademar Plácido da RosaSec. de Políticas Sociais: Iara Gutierrez CuellarSec. dos Aposentados e Assuntos Previdenciários: José Felix FilhoSec. dos Espec. em Ed. e Coordenadores Pedagógicos: Sebastião Serafim GarciaSec. de Relações de Gênero: Cristiane de Fátima PinheiroSec. de Combate ao Racismo: Maria Laura Castro dos SantosSec. da Saúde dos(as) Trabalhadores(as) em Educação: Maria Ildonei de Lima PedraDepartamento dos Trabalhadores na Educação no Campo: Leuslania Cruz de MatosSuplente 1: Nilson Francisco da SilvaSuplente 2: Rejane Eurides Sichinel SilvaSuplente 3: Idelcides Gutierres DengueSuplente 4: Elizabeth Raimunda da Silva SigariniSuplente 5: Ivarlete PinheiroSuplente 6: Maria Suely Lima da Rocha

Vice-presidentes regionais: Amambai: Olga Tobias Mariano e Valério LopesAquidauana: Jefersom de Pádua Melo e José de Ávila FerrazCampo Grande: Paulo Cesar Lima e Renato Pires de PaulaCorumbá: Luizio Wilson Espinosa e Antonio Celso M. dos SantosCoxim: Thereza Cristina Ferreira Pedro e Onivan de Lima CorreiaDourados: Anderci Silva e Apolinário CandadoFátima do Sul: Maria Jorge Leite da Silva e Nilsa Maria Bolsanelo SalesJardim: Ludemar Solis Nazareth Azambuja e Sandra Luiza da SilvaNaviraí: Valdecir Roberto Mandalho e Margareti Macena de LimaNova Andradina: Edson Granato e Izabel Silveira da RosaParanaíba: Tânia Mara de Morais Silva e Tânia Aparecida da Silva MarquesPonta Porã: Joel Aparecido Barbosa Pereira e Luiz Carlos Marques ValejoTacuru: Jandir Carlos Dallabrida e Elizeu Gomes da SilvaTrês Lagoas: Maria Aparecida Diogo e Maria Inês Anselmo Costa

Delegados de base à CNTE: Campo Grande: Idalina SilvaMiranda: Robelsi PereiraNova Andradina: Maurício dos Santos

Conselho Fiscal da FETEMS: Anastácio: Rodney Custódio da SilvaCampo Grande: Alceu Wanderley LancineDourados: José Aureliano da SilvaCosta Rica: Rosely Cruz MachadoNova Alvorada do Sul: Irene do Carmo

Assessoria de Imprensa da FETEMS: Karina Vilas Boas e Azael Júnior

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DESTAQUES

Interior ....................................................................................................................................................7

Paraíso das Águas, município mais novo de Mato Grosso do Sul, forma Sindicato Municipal dos Trabalhadores em Educação

Ditadura .............................................................................................................................................52

Comissão da Verdade é um marco libertador para a história do país e para as incontáveis vidas que foram afetadas pelos crimes cometidos na ditatura militar

Capa ....................................................................................................................................................26

No Brasil, cerca de 30% dos estudantes estão envolvidos em casos de bullying, 20,8 % são agressores e 26,1% do sexo masculino

Mulher ...................................................................................................................................................16

Campo Grande ganha Casa da Mulher Brasileira e amplia serviços de atendimento às mulheres vítimas de violência doméstica

Entrevista ............................................................................................................................................10

Vice-presidente da FETEMS, Sueli Veiga Melo, conta sua história de vida e relembra os principais acontecimentos do movimento sindical da educação

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EDITORIAL

Além dos limites da escola

A 11ª edição da revista Atuação, março 2015, aborda em sua reportagem de capa um tema que ultrapassa os limites da escola, mas que tem consequência direta no ambiente da sala de aula. Coordenação pedagógica, professores, alunos e pais estão diretamente envolvidos nos processos do bullying e, na maioria das vezes, não sabem ou não dispõem de recursos assistenciais para lidar com a problemática.

Sabemos que essa pauta já foi abordada diversas vezes pela mídia, e a nossa intenção não é ser redundante, mas chamar a todos para uma reflexão sobre um assunto que persiste no ambiente escolar e que ganhou uma nova perspectiva com o fenômeno das redes sociais. Um problema para o qual ainda não encontramos a solução é sempre atual e motivo de discussão.

Se o bullying ultrapassa os limites do ambiente escolar é preciso refletir sobre ele além dos portões da escola. De quem é a culpa? Da escola, da educação ou da família? No caso do bullying, não existe uma origem certa, não existe um só culpado e nem uma só vítima. É um problema de ordem social, e, assim sendo, é uma questão que diz respeito a todos nós. Não acontece na escola X ou Y, com o filho do fulano ou do sicrano, pode acontecer com qualquer pessoa, em qualquer espaço onde as diferenças convivem.

Podemos ter dentro de casa filhos agressores ou filhos vítimas de agressão. Por isso, é preciso que haja uma comunhão entre as partes envolvidas na busca de alternativas coerentes, respaldadas na civilidade, que possam ser ferramentas de enfrentamento do bullying e suas consequências.

Ainda nesta edição, destacamos a história de pessoas de extrema importância para o movimento sindical da educação de Mato Grosso do Sul, como a entrevista da professora Sueli Veiga Melo, atual vice-presidente da FETEMS, e do professor de matemática José Félix Filho, que dedicou 30 anos de sua vida ao ensino público. A FETEMS acredita que preservar a história é garantir o presente e projetar o futuro.

Em meio a tantos desafios e dificuldades que a educação pública enfrenta, surgem vitórias que merecem ser enaltecidas. Trouxemos a relação dos 112 medalhistas de Mato Grosso do Sul, alunos que conquistaram ouro, prata e bronze nas Olímpiadas Brasileiras de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP). São essas conquistas que nos motivam a continuar lutando por uma educação pública cada vez melhor, capaz de abrir horizontes e promover a dignidade humana.

No mais, desejamos que em 2015 possamos enxergar além dos limites e portões da escola, mudando paradigmas e entendendo que o que acontece dentro e fora do ambiente escolar são questões que dizem respeito a todos nós.

Roberto Magno Botareli CesarPresidente da Federação dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul

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INTERIOR

A Federação dos Traba-lhadores em Educação de Mato Grosso do Sul

(FETEMS) ampliou recentemen-te sua rede de sindicatos filiados. O novo membro é o Simted Pa-raíso das Águas, criado no final de 2014, por meio de assembleia extraordinária.

O município, que politicamen-te é o mais jovem do estado, foi emancipado em 2003, teve seu primeiro pleito eleitoral em 2012 e instalou-se em 1º de janeiro de 2013. Antigo distrito do municí-pio de Costa Rica, Paraíso das Águas está localizado a 275 km de Campo Grande e tem popula-ção estimada em 5,2 mil habitan-tes (TC/MS).

Em fase de constituição, o sindicato ainda não possui sede própria, mas já está atuando em defesa da educação públi-ca. “Nosso objetivo é estruturar o sindicato e manter uma boa relação com o poder público

Município, que foi emancipado em 2003 e teve o primeiro pleito eleitoral em 2012, ganha Sindicato Municipal dos Trabalhadores em Educação, no final 2014

Simted Paraíso das Águas é o mais novo sindicato filiado à FETEMS e já atua em defesa da educação

Conheça a diretoria eleitade Paraíso das Águas

Leonardo CornianiPresidente

Kênia Aparecida HolsbackSecretária Adjunta

Carmo dos Santos PinhoSecretário de Formação Sindical

Edilene de MeloSecretária de Patrimônio

Daniela R. de Souza AmorimSec. de Assuntos Educacionais

Nelson Luiz B. de AlbuquerqueSecretário de Políticas Sociais

Rozilda Pereira da SilvaSecretária Adjunta de Finanças

Josecarla Alves RodriguesVice-presidente

Claudete Rodrigues da SilvaSec. dos Func. Administrativos

Benvinda Maria Metela CostaSecretária dos Aposentados

Valdilene Pereira BorgesSecretária de Comunicação

Jeórgia Patrícia B. T. DiasSec. dos Esp. em Educação

Márcia Fuhr Bombard Secretária-Geral

Luciane Denise BentoSecretária de Finanças

Maria José Mariana de QueirozSecretária de Assuntos Jurídicos

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local. Nós queremos ser vistos como parceiros da gestão públi-ca e não como uma ameaça. Nós queremos trabalhar em equipe”, diz o presidente do Simted, Leo-nardo Corniani.

O sindicato conta com 103 fi-liados e diretoria completa. As metas iniciais da nova entidade visam o pagamento integral do piso salarial por 20 horas sema-nais; a criação de um plano mu-nicipal de cargos e carreira; a inclusão dos funcionários de es-cola na categoria de servidores da Educação; a integração dos trabalhadores em Educação dos distritos próximos (Bela Alvora-

da e Pouso Alto), entre outras prioridades básicas.

Atualmente, o piso salarial dos professores em Paraíso das Águas é de R$ 1.316,96 para 20 horas. O objetivo do sindicato é que a categoria receba o valor integral do piso de R$ 1.917,78 (novo valor). O piso nacional dos professores recebeu reajuste de 13,01% no início de janeiro des-te ano. O aumento foi divulga-do pelo Ministério da Educação e vem de acordo com a meta 17 do Plano Nacional de Educação (PNE), que estabelece prazo de seis anos para equiparação do salário dos professores aos dos

Paraíso das Águas está localizado a 275 km de Campo Grande e tem população estimada em 5,2 mil habitantes

demais profissionais com escola-ridade equivalente.

O presidente do novo sindi-cato, Leonardo Corniani, tem 38 anos, é natural de Ilha Solteira (SP), cursou Ciências Biológicas na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), em Cam-po Grande, e foi aprovado no concurso público estadual para professor em Costa Rica, no ano de 2005. “Desde que assumi a vaga do concurso, já me filiei ao Simted de Costa Rica. Se existem direitos, é porque alguém lutou por eles. Sempre tive essa cons-ciência”.

Leonardo conta que a articu-lação para a criação do Simted começou em 2013. “Era preciso uma representação mais efetiva da categoria”. A eleição aconte-ceu no dia 29 de novembro de 2014, por meio de chapa única e por aclamação unânime.

A diretoria eleita é composta por 15 membros, sendo 12 mulhe-res e três homens.

Para o presidente da FETEMS, Roberto Magno Botareli Cesar, o novo sindicato só confirma que Mato Grosso do Sul é um dos es-tados da federação onde os tra-balhadores em Educação estão mais bem organizados e articu-lados sindicalmente. “Isso é mui-to importante para nós, reforça a nossa força e a nossa credibilida-de diante da sociedade”, diz.

Se existem direitos, é porque alguém lutou por eles. Sempre tive essa consciência”Leonardo Corniani, presidente do Simted de Paraíso das Águas

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nutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental (Fundef). O problema é maior para o municí-pio que busca atender preferen-cialmente os anos iniciais e finais do Ensino Fundamental e deixa de atender com qualidade os alunos da Educação Infantil e da Educação para Jovens e Adultos (EJA) – esta última visa sanar o problema do analfabetismo e do abandono escolar (estima-se em 54 milhões o número de adul-tos que não concluíram o Ensino Médio). A questão não é deixar de atender o Ensino Fundamen-tal, mas estabelecer convênios com os estados para repasses suplementares ao Fundo de Ma-nutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) com relação a essas matrículas.

Financiamento da educação – como dito, a imensa maioria dos municípios não tem condições de atender a demanda priori-tária da Educação Infantil, so-bretudo porque pulveriza parte significativa de seus impostos em matrículas que já foram ou deveriam ser estadualizadas. O prejuízo financeiro para o muni-cípio é direto, pois, ao priorizar mais matrículas no Ensino Funda-mental, o ente municipal deixa de elevar o investimento per capita na Educação Infantil através dos recursos extras que não com-põem a cesta do Fundeb (IPTU, ISSQN, ITBI, IRRF e Dívida Ati-va). Um dos principais desafios do novo PNE consiste em avan-çar largamente nas matrículas de creche e pré-escola, e é pre-ciso também, nos casos que se mostrarem necessários, elevar o percentual de vinculação cons-titucional de 25% para 30% da receita de impostos.

Valorização profissional (professores, especialistas e funcionários) – trata-se de po-lítica ligada à capacidade de arrecadação e à forma como o município atende sua demanda de acordo com as prioridades constitucionais. Atualmente, as condições básicas para a valori-zação consistem em: I) pagar o piso salarial profissional nacional aos professores; II) reconhecer profissionalmente e incluir os(as) funcionários(as) da Educação nos planos de carreira da cate-goria (de forma unificada ou pró-pria); III) investir na profissionali-zação dos(as) funcionários(as) e na formação inicial e continuada de todos os profissionais; e IV) promover avanços nos planos de carreira para motivar o in-gresso de novos profissionais e a permanência dos atuais – evitar achatamentos dos PCCs e con-templar pautas dos sindicatos.

Investimento em infraestrutu-ra – o tema associa-se ao plane-jamento tributário do município e ao atendimento da demanda escolar. Para tanto, é necessário instituir o Custo Aluno Qualida-de, que indicará os insumos (físi-cos, didáticos e profissionais) in-dispensáveis para cada unidade escolar. Muitos gestores alegam falta de recursos para novos in-vestimentos – invocando os limi-tes da Lei de Responsabilidade Fiscal, entre outras justificativas –, mas essa é uma realidade que terá de ser alterada caso quei-ramos uma nova escola pública comprometida com a constru-ção de um país justo e igualitário.

Gilmar Soares Ferreira Secretário de Formação da CNTE

Um dos maiores avanços em termos de educa-ção, previsto na Consti-

tuição Federal de 1988, é o Pla-nejamento Decenal da área, e o novo Plano Nacional de Educa-ção (PNE) estabeleceu prazo até junho de 2015 para que estados e municípios elaborem seus pla-nos decenais.

O vício mais comum nas ad-ministrações públicas consiste em não planejar. E as ações ro-tineiras se voltam sempre ao princípio da economicidade: ar-recadar mais e “gastar” sempre menos.

Um dos resultados perversos desse sistema reflete a concor-rência cega entre estados e mu-nicípios por alunos, ou mesmo, a desresponsabilização do Estado, que transfere matrículas para municípios com baixa capacida-de gestora e fiscal.

Seguindo a orientação do PNE, os planos municipais e es-taduais de educação devem priorizar a universalização das matrículas com qualidade, aten-tando-se, entre outras coisas, para o seguinte:

Novas matrículas – estamos vivenciando nas redes munici-pais de ensino os efeitos de uma política de municipalização/pre-feiturização sem precedentes, desencadeada pela União e os estados desde o Fundo de Ma-

ARTIGO

A implantação dos planos municipais de educação

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ENTREVISTA

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Mulher, professora e sin-dicalista, Sueli Veiga Melo completa 31 anos

dedicados à educação pública. De origem simples, nasceu, cres-ceu e estudou na roça. É a pri-mogênita de uma leva de cinco filhos do casal Adauto Ferreira Melo e Delzuite Veiga. Nasceu no dia 23 de julho de 1965, em Bataguassu, no então estado de Mato Grosso, e, ainda pequena, mudou-se com a família para Ta-quarussu.

Começou a lecionar antes mesmo de completar o Magisté-rio e sempre esteve engajada no movimento sindical da Educação. É filiada ao sindicato desde 1985 e sempre defendeu as principais bandeiras de luta da categoria. Viu várias lutas se consolidarem em direitos, garantindo mais dig-nidade aos(às) trabalhadores(as) em Educação. Esteve presente nos acontecimentos mais im-portantes da educação pública, como a aprovação do Plano de Cargos e Carreira do Magistério Estadual, a criação do Fundeb, a promulgação da Lei do Piso Salarial Nacional e, mais recen-temente, a aprovação do Plano Nacional da Educação (PNE).

Depois de uma longa trajetó-ria no caminho da licenciatura e do sindicalismo, Sueli diz sentir--se realizada, e tem segurança em falar quando o assunto é edu-cação pública. Para ela, a parti-cipação feminina no movimento sindical ainda é singela porque

Incentivada pelos pais, Sueli Veiga Melo venceu as dificuldades da vida, estudou, tornou-se professora e sindicalista, e hoje ocupa a vice-presidência da maior entidade sindical do estado

as mulheres optam pela família e pelos filhos. Veja a entrevista:

Atuação - Onde começa sua história de vida?

Sueli - Sou filha aqui do es-tado mesmo. Meus pais mora-vam em Bataguassu e depois mudamos para Taquarussu. Foi lá que comecei a estudar e de-pois lecionar. Naquela época, a maioria das pessoas morava em sítios, no campo. As crian-ças estudavam apenas nas es-colas rurais, até o 4º ano do Ensino Fundamental, depois paravam de estudar porque era muito difícil ir à cidade. Contu-do, meus pais acreditavam que os filhos precisavam estudar. Minha mãe conseguiu concluir o “Ginásio” e foi professora de escola rural. Meu pai não estu-dou formalmente, ele apren-deu a ler e a escrever com os irmãos mais velhos que tinham estudado. Ele sempre gostou muito de ler. Quando entrei na 5ª série, só tinha aula no perí-odo da noite, na cidade. Então meu pai me levava todas as noites e ficava me esperando dentro de um Fusca que nós tínhamos. Eu saía às 23 horas. Durante um bom tempo foi as-sim. Até que um vizinho que tinha uma Kombi passava para pegar os alunos. Depois que terminei o Ensino Fundamen-tal, logo entrei no Magistério, único curso disponível na cida-de. Quando estava terminando

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o Magistério, comecei a dar au-las, tinha 15 anos. Primeiro, co-mecei a substituir, depois, aos 16 anos, peguei uma sala de aula na zona rural. Eram salas mul-tisseriadas. Em 2015, completo 32 anos como professora. Em 6 de fevereiro de 2015, comemoro 30 anos como efetiva no Estado. Quase tudo o que aconteceu na educação pública de Mato Gros-so do Sul, eu acompanhei.

“Nós tínhamos uma vida funcionaltotalmente desorganizada, não tínhamos

um plano de cargos e carreira, nem adicional, não recebíamos salário em dia, os direitos

não eram líquidos e certos como são hoje. Tudo isso exigia da categoria lutas e

enfrentamentos constantes e nos levava ao movimento sindical com muita disposição”

Atuação - Quando passou no concurso do Estado?

Sueli - Passei em 1984. Eu ainda era estudante do Magis-tério. Em 1985, assumi o cargo de professora. Na minha cidade, passaram apenas três pesso-as, eu e mais dois professores. Eu não sabia que havia passa-do no concurso, fiquei sabendo um mês depois. Naquele tempo, não chegava Diário Oficial e não ficávamos sabendo de nada. O secretário de Educação do mu-nicípio, José Carlos Perigo (apo-sentado e residente em Nova Andradina), foi à escola para me avisar. Estava terminando o Magistério. Trabalhei vários anos com alfabetização, depois co-mecei a trabalhar na educação especial. Em 1992, fiz um curso de especialização para trabalhar com alunos com deficiência au-ditiva. O Estado liberou alguns professores para irem estudar no Rio de Janeiro. Ficamos um ano estudando no Instituto Na-cional de Educação de Surdos. Voltei e continuei trabalhando com educação especial.

Atuação - Como era lecionar há 30 anos?

Sueli - Quando comecei a le-cionar na escola rural, só tinha uma salinha. Muitas vezes não tinha nem água para beber. Ti-nha um poço no pátio da escola e, quando chovia, não dava para beber água porque a enxurrada caía dentro do poço. Imagina, um poço no pátio da escola, a professora com 17 anos, a meni-

nada toda solta, e os pais con-fiavam na gente! Às vezes, eu ou a merendeira levávamos um pouco de água. Eu fazia tantas coisas com aqueles alunos, mui-tas atividades que hoje, até por segurança, não é possível fazer mais. Eu fazia competições, cor-rida de bicicleta, gincanas, fes-tinhas, teatros, etc. Era muito legal.

Atuação - Na época em que você começou a lecionar, o pro-fessor era mais criativo, uma vez que não havia muitos re-cursos?

Sueli - Acho que o termo não seria mais criativo, mas muito “inventivo”. Não existiam os re-cursos audiovisuais e tecnológi-cos de hoje. Todo o material di-dático utilizado para dinamizar o trabalho pedagógico era confec-cionado pelos(as) próprios(as) professores(as): álbum seriado, cartaz, flanelógrafo, gravuras, mapas, mural, ábaco, jogos de encaixe e outros materiais. Lem-bro bem, nós tínhamos muita li-berdade para planejar e criar as

oportunidades e os meios para o ensino-aprendizagem.

Atuação - E a sua vida sindi-cal, como começou?

Sueli - Sempre fui muito par-ticipativa. Participava de vá-rios cursos e também de todas as atividades do sindicato. Vim para Campo Grande em 1996. Foi um ano de muita mobiliza-ção e também foi o ano em que a professora Fátima Silva foi eleita presidente da FETEMS. O Biffi [Deputado Antônio Carlos Biffi – PT/MS] me fez o convite para vir para cá. Eles precisavam de alguém do interior, alguém que conhecesse bem os municípios do estado. Quando cheguei, fui trabalhar com a formação sin-dical. Nas eleições seguintes da FETEMS, assumi a Secretaria de Formação Sindical, onde fiquei por muitos anos. Também já es-tive na Secretaria dos Especia-listas em Educação e agora es-tou na vice-presidência.

Atuação - Que importância a formação sindical tinha para o movimento que se iniciou nos anos de 1980?

Sueli - O estado tem 35 anos, e eu já tenho 32 anos na área de Educação em Mato Grosso do Sul. Tudo que aconteceu aqui, no que diz respeito à Educação, eu e os colegas da minha ge-ração vivenciamos. Somos de uma época em que começáva-mos a trabalhar no início do ano e íamos receber o primeiro sa-lário no mês de setembro. Nós tínhamos uma vida funcional totalmente desorganizada, não tínhamos um plano de cargo e carreira, nem adicional, não re-cebíamos salário em dia, os di-reitos não eram líquidos e certos como são hoje. Tudo isso exigia da categoria lutas e enfrenta-mentos constantes e nos levava ao movimento sindical com mui-ta disposição. A FEPROSUL (que reunia os professores) e depois a

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FETEMS (que reúne professores, funcionários e especialistas em Educação) foi construída assim, à custa de muitas e muitas lutas. Nós lutávamos para garantir os direitos básicos. Tudo que con-seguíamos conquistar era com muita briga e muito sacrifício. Eu me lembro de que no primei-ro governo do Wilson Martins (1983-1986) poucas vezes rece-bemos salários em dia. Quase todos os meses, os salários atra-savam. Nós fazíamos greve para receber, e havia meses em que não recebíamos. Eu participei várias vezes dos comandos de greve da FETEMS.

“Nós ganhávamos muito mal. Quando o Zeca do PT assumiu como governador, ele

organizou a nossa vida. Foi criado o Estatuto dos Profissionais da Educação, ou seja, o

nosso Plano de Cargos e Carreira. Além da categoria dos(as) trabalhadores(as) em

Educação, muitas outras foram valorizadas”Era um movimento baseado

nas necessidades básicas, nós tínhamos que garantir o salá-rio. Isso tudo tornava as pautas mais urgentes, como reivindicar o Piso, o adicional, o recebimen-to do salário até o quinto dia útil do mês, aposentadoria e mais uma série de reivindicações. A formação sindical sempre foi fundamental para a organização dessas lutas. Com o chamado novo sindicalismo, que nasceu no período pós-ditadura, e com a fundação da CUT [Central Úni-ca dos Trabalhadores], investia--se muito em formação sindical. Era preciso porque estávamos nos organizando. As pessoas precisavam entender por que era necessário o movimento, a luta, o sindicato. A CUT foi for-mada com base em três pilares: comunicação, independência fi-nanceira e formação política. A formação sindical ainda conti-nua sendo uma política estraté-

gica para os nossos sindicatos, embora tenha diminuído.

Atuação - O que mudou no movimento sindical nos cená-rios federal e estadual?

Sueli - Quando começamos, era outro momento. Primeiro era preciso acabar com a dita-dura, depois, organizar o movi-mento sindical. A CUT nasceu na raça. Legalmente, era proi-bido esse tipo de organização. Nossos sindicatos foram sendo construídos no dia a dia. Nos-sas lutas estavam calcadas em pautas imediatas e em necessi-dades vitais. O PT [Partido dos

Trabalhadores] também nasceu nesse contexto, um pouco antes da CUT. O PT nasceu em 1980, e a CUT em 1983. Contudo, a CUT nasceu para defender os interes-ses imediatos (salário, jornada de trabalho, reajustes) e histó-ricos (saúde, educação, mora-dia, segurança, trabalho, renda) dos(as) trabalhadores(as) e or-ganizar as lutas corporativas das categorias, além de organi-zar a classe trabalhadora como um todo. Já o PT nasceu para defender as lutas gerais da so-ciedade. Em Mato Grosso do Sul, a eleição do governador Zeca do PT foi de extrema impor-tância, porque mudou a forma como vinha sendo governado o Estado, passando de gover-nos que desrespeitavam total-mente os(as) trabalhadores(as) para uma gestão mais demo-crática e de valorização dos(as) trabalhadores(as). Foi o gover-no de Zeca do PT que deu dig-

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nidade para o servidor público.

Atuação - Como vocês fa-ziam para sobreviver com os salários atrasados?

Sueli - Nós terminamos o ano de 1998 com três meses de sa-lários atrasados mais o 13º. Era muito difícil. Nós vivíamos da solidariedade dos colegas, da família, dos comerciantes, da sociedade. Eu lembro que nos períodos de greve, nós fazíamos vaquinhas, feiras, bazares, rifas e outras arrecadações para aju-dar os colegas. Nós ganhávamos muito mal. Quando o Zeca assu-miu o governo, ele organizou a nossa vida. Foi criado o Estatu-to dos Profissionais da Educa-ção, ou seja, o nosso Plano de Cargos e Carreira. Além da cate-goria dos(as) trabalhadores(as) em Educação, muitas outras fo-ram valorizadas. Lembro-me de que, quando o Zeca assumiu o governo, o professor Biffi assu-miu a Secretaria de Administra-ção, e lá havia 26 mil processos de vida funcional parados, só dos servidores da Educação. A secretaria não implantava os direitos dos servidores. Havia processos de aposentadoria, mudança de letras, mudança de nível, etc. Alguns servidores pe-diam para aposentar e ficavam até três anos esperando, mas trabalhando. O professor Biffi conversou com a FETEMS, e fi-zemos um mutirão com pessoas de vários municípios para orga-nizar esses processos e conce-der os direitos. Os profissionais que vieram depois do governo Zeca acompanharam muitas lutas, mas, de 16 anos para cá, quem entrou na Educação já pegou a casa organizada, salá-rio no quinto dia útil, Plano de Cargos e Carreira e outras con-quistas. Eu penso que muitos dos profissionais que chegaram depois acreditam que sempre foi assim, uma carreira organi-zada. Não conhecem a história

das lutas enfrentadas para ga-rantir o que temos hoje. Não po-demos esquecer que tudo é fru-to de muita perseverança, muita luta, muita mobilização, muitas passeatas e muitas greves. Nem um direito que temos hoje foi ganho, tudo foi duramente con-quistado.

“Quando o Zeca assumiu o governo, o professor Biffi foi para a Secretaria de

Administração, e lá havia 26 mil processos de vida funcional parados, só dos servidores da Educação. A secretaria não implantava os

direitos dos servidores ”Atuação - Quais são as atuais

pautas do movimento sindical da Educação?

Sueli - Penso que a luta mais estratégica é aumentar os re-cursos destinados para a Edu-cação. Recentemente, consegui-mos garantir mais recursos com a aprovação do Plano Nacional de Educação (PNE), que desti-na 10% do PIB para a área. Se analisarmos os últimos 10 anos, os recursos para a Educação au-mentaram apenas de 2% a 3%. Se nos próximos 10 anos subir para 10%, já estamos mais do que dobrando os recursos. Com isso, será possível melhorar os salários, equiparar as carreiras. Mais do que o piso, é importan-te equiparar os salários dos(as) professores(as) aos dos demais profissionais com a mesma for-mação. No caso dos administra-tivos, a luta é pela profissionali-zação de nível médio, e já existe uma reivindicação do Profuncio-nário para nível superior. Desta forma, é possível que os admi-nistrativos tenham um piso sa-larial para nível médio e outro para nível superior.

Atuação - Como é a partici-pação feminina no movimento sindical?

Sueli - Ainda é muito difícil. A

mulher sempre prioriza a famí-lia. No meu caso, sempre pude participar porque era solteira e depois casei com alguém que é do movimento sindical e enten-de o trabalho. Também não te-nho filhos. Já a mulher casada que tem filhos encontra muita dificuldade para se dedicar ao

movimento sindical, que exige de você disponibilidade para viajar e fazer reuniões fora de hora. Além disso, o machismo é muito presente.

Atuação - Existe machismo dentro do movimento sindical?

Sueli - Sim, existe. Os homens que estão no movimento sindi-cal da Educação são homens que têm a mesma formação e cultura da sociedade. Eles não vão cuidar de casa ou dividir as tarefas para a mulher participar ou atuar no movimento. Con-tudo, a mulher cuida da casa e dos filhos para que o homem/marido possa realizar suas ativi-dades. Raramente encontramos um marido que desempenhe esse papel para que a mulher se en-volva em outras atividades fora do lar. Penso que o movimento sindical precisa buscar alternati-vas para que as mulheres possam estar mais presentes. Como, por exemplo, oferecer creche durante as assembleias. A FETEMS sem-pre defendeu a participação das mulheres no movimento, inclusive com cursos e seminá-rios sobre igualdade, Aulas da Cidadania sobre gênero, etc. A presença e a participação das mulheres no movimento vêm aumentando. Temos muitas mu-

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15Revista ATUAÇÃO | Março 2015 |

lheres no movimento sindical como presidentas de sindicatos. Mesmo assim, nas eleições de sindicatos, quando as mulheres precisam ocupar cargos, elas, quase sempre, abrem mão dos cargos em virtude da família e dos filhos.

Atuação - Por que as mulhe-res são maioria na Educação?

Sueli - É uma questão cul-tural. Quando as mulheres co-meçaram a estudar, os pais permitiam apenas que as filhas estudassem cursos na área da Educação, antes era o Curso de Normalista [Magistério]. As mulheres não deviam fazer cur-sos como Direito ou Engenha-ria porque estes eram conside-rados cursos para homens. Elas só podiam ser professoras, por-que ser professora é um papel associado ao trabalho de “cui-dar”. Se as mulheres cuidavam

“De 16 anos para cá, quem entrou na Educação já pegou a casa organizada,

salário no quinto dia útil, Plano de Cargos e Carreira, e outras conquistas. Eu penso

que muitos dos profissionais que chegaram depois acreditam que sempre foi assim, uma carreira organizada. Não conhecem as lutas enfrentadas para garantir o que temos hoje” dos filhos e dos idosos, então, naturalmente, podiam ser professoras ou atuar na área da saúde. Mais uma vez, a cultura do machismo determinando o perfil da sociedade e o papel das mulheres. Quem cuida dos filhos? A mãe. Se a mãe cuida dos filhos em casa, ela pode cuidar na escola também. E tem mais uma situação do passado que reflete até hoje no mercado de trabalho, a disparidade entre os salários de homens e mulheres. A mulher não era vista como a principal

provedora do lar, era o homem que sustentava a casa, sendo assim, quando as mulheres começaram a trabalhar no Magistério, elas não precisavam ganhar muito porque não eram as provedoras, era um salário complementar. E essa cultura de baixos salários continua para as mulheres, não só na Educação, mas em diversas áreas.

Atuação - Olhando para trás, você se sente realizada com sua história de vida?

Sueli - Iniciei como professo-ra e, durante estes anos como servidora pública, professora e sindicalista, passei por inúme-ras experiências que fortalece-ram e fortalecem a minha ação e atuação. Nesse processo e nes-sa caminhada não sei se fui eu que escolhi a profissão de pro-fessora ou se foi a profissão que

me escolheu. Não sei se fui eu que escolhi ir para o movimento sindical ou se foi o movimento que me escolheu. O fato é que sou professora e sindicalista e tenho um imenso orgulho dessa trajetória, das minhas origens, da minha vida, da minha histó-ria e da minha profissão. Além disso, tenho o privilégio de con-tar com familiares, mestres(as), amigos(as) e companheiros(as) que compartilharam comigo seus conhecimentos para que hoje eu pudesse ser quem sou e estar onde estou.

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16 | Revista ATUAÇÃO | Março 2015

MULHER

Casa da Mulher Brasileira agrega DEAM e outros serviços especializados de atendimento à mulher vítima de qualquer tipo de agressão

A primeira Casa da Mu-lher Brasileira inaugu-rada pela presidenta

Dilma Rousseff no início de feve-reiro, em Campo Grande/MS, é um projeto inovador do governo federal, faz parte do programa “Mulher, Viver Sem Violência” e reúne serviços integrados de atendimento à mulher, que vão desde o acolhimento das víti-mas de violência até a assistên-cia jurídica. No local, também funciona uma unidade da De-legacia Especializada de Aten-dimento à Mulher (DEAM) com plantão 24 horas. Antes, o aten-dimento da DEAM era feito em horário comercial, de segunda a

sexta-feira. O programa é coordenado

pela Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República e prevê a construção de mais unidades da Casa da Mulher em todo o país, inclusive nas fronteiras com a Bolívia, a Guiana, o Paraguai e o Uruguai.

Em seu discurso, a presidenta Dilma Rousseff disse que, a par-tir da Casa da Mulher Brasileira, Mato Grosso do Sul não será mais reconhecido pelos altos ín-dices de violência contra a mu-lher, mas, sim, pelo trabalho de excelência realizado no enfren-tamento da questão. Ela des-tacou, ainda, que “o combate à

violência significa o reconheci-mento do papel e da importân-cia da mulher na sociedade”.

Uma caravana de ministras e várias lideranças políticas mar-caram presença na solenidade. Vale destacar a presença de Ma-ria da Penha, personalidade que se tornou símbolo da luta contra a violência feminina no país. Sua luta virou lei, Lei Maria da Penha (nº 11.340/2006), que protege e garante direitos às mulheres ví-timas de violência doméstica ou familiar.

Para a vice-presidente da Fe-deração dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul (FETEMS), Sueli Veiga Melo,

A Casa da Mulher Brasileira está localizada na rua Brasília, s/n, Jardim Imá, perto do Aeroporto Internacional

Mulheres ganham atendimento 24 horas, e combate à violência doméstica é otimizado

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17Revista ATUAÇÃO | Março 2015 |

Maria da Penha, personagem que deu nome à Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha), fez o descerra-mento da placa de inauguração ao lado da presidenta Dilma Rousseff

Mortalidade de mulheres por agressões antes e após a vigência da Lei Maria da Penha

Fonte: Ipea

7,00

6,00

5,00

4,00

3,00

2,002001

5,41 5,46 5,385,24

5,18 5,024,74

5,07

5,38 5,45 5,43

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

Ób

itos

por

100

.00

0 m

ulhe

res

a Casa da Mulher representa uma conquista sem precedentes no enfrentamento da violência doméstica. “A expectativa é de que a Casa, além de ser um local de atendimento, seja uma refe-rência e contribua para a mu-dança de paradigmas na socie-dade, nos valores e na cultura. E, ainda, seja uma ferramenta para afirmar a autonomia feminina. Existe um lema do PT que diz: sem as mulheres, os direitos não são humanos”, sintetizou.

“A Casa é a efetivação de uma política de estado de com-

bate à violência doméstica. É de extrema importância, uma vez que tem o papel de acolher e até mesmo inserir a vítima de violência de forma íntegra na sociedade. Contudo, o que nós mulheres queremos efetivamen-te, e a sociedade precisa cami-nhar para isso, é que homens e mulheres convivam em perfeita harmonia e não haja diferença de gênero, sexismo ou machismo”, disse a secretária de Relações Internacionais da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Fátima Silva.

No estado de Mato Grosso do Sul, presidenta Dilma Rousseff inaugura primeira Casa da Mulher Brasileira do país

Segundo Heloísa Castro Ber-ro, uma das coordenadoras da instituição e representante em Mato Grosso do Sul da Secre-taria Nacional de Políticas para as Mulheres, “a Casa da Mulher Brasileira é um dos eixos do pro-grama do governo federal para atender as mulheres em situa-ção de risco. No momento em que se encontram fragilizadas, em virtude do ato de violência, elas recebem o atendimento hu-manizado e específico e, ainda, o acolhimento e as orientações necessárias”.

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prisões. “Nesse primeiro mo-mento, a proposta da Casa da Mulher Brasileira não é reduzir os números de violência, mas encorajar as vítimas a procu-rar os serviços de segurança e proteção para denunciar, pois nós sabemos que ainda exis-tem muitos casos de violên-cia doméstica subnotificados”, explica a delegada adjunta da DEAM, Marília de Brito Martins.

Feminicídio

Segundo estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Apli-cada (Ipea), estima-se que no Brasil, entre o período de 2001 e 2011, ocorreram mais de 50 mil mortes de mulheres decor-rentes de conflitos de gênero. A maior parte desses óbitos tem

como causa a violência domés-tica e familiar contra a mulher; aproximadamente um terço deles teve o domicílio como lo-cal da ocorrência. Os parceiros íntimos são os principais ho-micidas de mulheres. Cerca de 40% de todos os homicídios de mulheres no mundo são come-tidos por um parceiro íntimo.

O estudo ainda avaliou o impacto da Lei Maria da Pe-nha sobre os índices de mor-tes de mulheres por agressões e constatou-se que não houve redução nas taxas anuais de homicídios com a vigência da lei. A média das taxas de mor-talidade por 100 mil mulheres foi de 5,28 no período de 2001 a 2006, antes da lei, e 5,22 en-tre 2007 e 2011, depois da le-gislação.

Dados

Segundo dados da Central de Atendimento à Mulher (Ligue 180), em 2014, houve aumento de 40% no número de casos de violência contra a mulher. O serviço recebe mais de 1,3 mil ligações por dia com denúncias que envolvem todo o tipo de agressão. A maioria das denún-cias, 51,6%, é de violência física, seguida por 31,8% de violência psicológica e 9,6% de violência moral. As denúncias de violên-cia sexual aumentaram 20% em comparação a 2013, e a central registra, em média, três casos de estupro por dia.

Também no ano passado, a DEAM registrou 5.907 bo-letins de ocorrências, 3.425 inquéritos instaurados e 497

Taxas de feminicídios por 100 mil mulheres. Brasil e unidades federativas brasileiras, 2009-2011.

2,00 4,00 6,00 8,00 10,00 12,000,00

Espírito Santo 11,24Bahia 9,08

Alagoas 8,84Roraima 8,51

Pernambuco 7,81Goiás 7,57

Rondônia 7,42Paraíba 6,99

Mato Grosso 6,95Pará 6,81

Tacantins 6,75Minas Gerais

Paraná6,496,49

Mato Grosso do Sul 6,44Rio Grande do Norte 6,31

Rio de Janeiro 6,03Amapá 5,99

Brasil 5,82

Distrito Federal 5,53Sergipe 5,40

Acre 5,33Ceará 5,26

Amazonas 5,07Rio Grande do Sul

Maranhão4,644,63

São Paulo 3,74Santa Catarina 3,28

Piauí 2,71

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19Revista ATUAÇÃO | Março 2015 |

Marília de Brito Martins, delegada adjunta da DEAM

Nesse primeiro momento, a proposta da Casa da Mulher Brasileira não é reduzir os números de violência, mas encorajar as

vítimas a procurar os serviços de segurança e proteção para denunciar, pois nós

sabemos que ainda existem muitos casos de violência doméstica subnotificados”

Investimentos e Serviços

Em Campo Grande, a União investiu R$ 18,2 milhões no pro-jeto. Cerca de 7,8 milhões com a construção, e os demais R$ 9,5 milhões serão repassados em parcelas à prefeitura, por meio de convênio nos próximos dois anos. O prédio tem uma área de

3.700 m2, construído em um ter-reno de 12 mil m2.

A Casa da Mulher Brasilei-ra tem capacidade para realizar 250 atendimentos por dia. O atendimento começa na triagem, e, a partir daí, a vítima é encami-nhada para os setores especiali-

zados de acordo com o caso. O local agrega juizado, defensoria, promotoria, equipes de psicólo-gos e assistentes sociais, ações para resgate da autoestima, orientação para emprego e ren-da, área de convivência e brin-quedoteca.

Taxas de feminicídios por 100 mil mulheres.Unidades federativas brasileiras, 2009-2011

Elaboração: IPEA/DISETMapa: Base Cartográfica Digital IBGEDados: Elaboração própria com dados IBGE e SIM/DATASUSData: Ago/2013

Feminicídios por 100 mil mulheres.

4,51 a 5,50

5,51 a 6,50

Maior que 6,50

Menor ou igual a 4,50

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20 | Revista ATUAÇÃO | Março 2015

O serviço da equipe de acolhimento e triagem é a porta de entrada da Casa da Mulher Brasileira, pois, por meio dele, forma-se um laço de confiança, agiliza-se o encaminhamento e iniciam-se os atendimentos prestados pelos outros serviços da Casa, ou pelos demais serviços da rede, quando necessário.

A equipe multidisciplinar presta atendimento psicossocial continuado e dá suporte aos demais serviços da Casa. Auxilia a superar o impacto da violência sofrida e a resgatar autoesti-ma, autonomia e cidadania.

Os juizados/varas especializados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher são órgãos da Justiça responsáveis por processar, julgar e executar as causas resultantes de violência doméstica e familiar, conforme previsto na Lei Maria da Penha.

Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM) é a unidade da Polícia Civil para ações de prevenção, proteção e investigação dos crimes de violência doméstica e sexual, en-tre outros.

Acolhimento e triagem

Apoio psicossocial

Juizado/Vara Especializada

Delegacia

Casa daMULHER BRASILEIRA

Fátima Silva, secretária de Rela-ções Internacionais da Confede-ração Nacional dos Trabalhado-

res em Educação (CNTE)

A Casa é a efetivação de uma

política de estado de combate à violência

doméstica. É de extrema importância,

uma vez que tem o papel de acolher e

até mesmo inserir a vítima de violência

de forma íntegra na sociedade.

Contudo, o que nós mulheres queremos

efetivamente, e a sociedade precisa

caminhar para isso, é que homens e

mulheres convivam em perfeita

harmonia e não haja diferença de

gênero, sexismo ou machismo”

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Esse serviço é uma das “portas de saída” da situação de violência para as mulheres que buscam sua autonomia econô-mica por meio de educação financeira, qualificação profissio-nal e de inserção no mercado de trabalho. As mulheres sem condições de sustento próprio e/ou de seus filhos podem so-licitar sua inclusão em programas de assistência e de inclusão social dos governos federal, estadual e municipal.

Acolhe crianças de 0 a 12 anos de idade que estiverem acompanhando as mulheres, enquanto estas aguardam o atendimento.

Possibilita o deslocamento de mulheres atendidas na Casa da Mulher Brasileira para os demais serviços da Rede de Aten-dimento: saúde, rede socioassistencial (CRAS e CREAS), me-dicina legal e abrigamento, entre outros. Os serviços de saúde atendem as mulheres em situação de violência. Nos casos de violência sexual, a contracepção de emergência e a prevenção de doenças sexualmente transmissíveis/aids devem ocorrer em até 72h.

O Núcleo Especializado da Defensoria Pública orienta as mulheres sobre seus direitos, presta assistência jurídica e acom-panha todas as etapas do processo judicial, de natureza.

A Promotoria Especializada do Ministério Público promove a ação penal nos crimes de violência contra as mulheres. Atua também na fiscalização dos serviços da rede de atendimento.

Espaço de abrigamento temporário de curta duração (até 24h) para mulheres em situação de violência, acompanhadas ou não de seus filhos, que corram risco iminente de morte.

Promoção da Autonomia Econômica

Brinquedoteca

Central de Transportes

Defensoria Pública

Ministério Público

Fonte: Secretaria de Políticas Públicas para as Mulheres

Alojamento de passagem

A Central de Atendimen-to à Mulher - Ligue 180 é um serviço ofertado pela Secre-taria de Políticas para as Mu-lheres (SPM), com o objetivo de receber denúncias, relatos de violência, reclamações so-bre os serviços da rede e, ain-da, orientar as mulheres sobre seus direitos e legislação vi-gente, encaminhando-as para os serviços quando necessá-rio. Além da importância de um serviço nacional e gratui-to, que pode constituir uma porta de entrada na rede de atendimento para as mulhe-res em situação de violência, a central tem se revelado bas-tante útil para o levantamen-to de informações que subsi-diam o desenho da política de enfrentamento da violência e para o monitoramento dos serviços que integram a rede em todo o país. Atualmente, a secretaria conta com informa-ções atualizadas mensalmen-te sobre a oferta de serviços especializados em todas as unidades da federação, o per-fil das mulheres que procu-ram os serviços, os principais problemas identificados nos serviços integrantes da rede de atendimento, o número de relatos de violência recebidos por UF, o tipo de violência re-portada, entre outros. (Fonte: Observatório da Igualdade de Gênero)

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ARTIGO

A tramitação do PNE no Congresso Nacional foi importante para aper-

feiçoar o projeto elaborado a três mãos – MEC, Consed e Undi-me – com contribuições de parte das resoluções da Conae 2010.

A pressão social coletiva – por meio do Fórum Nacional de Edu-cação – e individual das entida-des foi decisiva para mudar algu-mas orientações que constituem o eixo do PNE.

O projeto inicial sonegava a institucionalização do Sistema Nacional de Educação (SNE), tentando substituí-lo pelo PDE/PAR para fins de monitoramen-to das metas e estratégias do Plano. Desta forma, o PNE mais parecia um plano de governo do que propriamente de Estado, sem expressão do compromis-so dos demais entes federados. E esta questão não foi resolvida em definitivo, restando penden-tes inúmeras regulamentações de leis, entre elas, as que devem criar o SNE e a Lei de Responsa-bilidade Educacional (LRE).

O PL nº 8.035/2010 não dis-punha de diagnóstico nem es-

tabelecia metas intermediárias que pudessem comprometer os diferentes gestores públicos que assumirão os compromissos do Plano ao longo da década. Além de dificultar o monitoramento das metas, essa lacuna servia de escudo para possíveis ingerên-cias de gestores.

A não vinculação de 10% do PIB para a educação pública aglutinou as entidades e fez eco no parlamento e no próprio go-verno, que acabaram cedendo à pressão, porém mantendo a perigosa concessão de recursos públicos às instituições privadas.

A regulamentação do Custo Aluno Qualidade não havia sido cogitada, e hoje essa política é de extrema importância para ala-vancar os recursos necessários para a promoção da qualidade com equidade nas escolas públi-cas.

Em relação à valorização dos profissionais da Educação, o pro-jeto inicial previa apenas aproxi-mar a remuneração média do Magistério a de outros profissio-nais com mesmo nível de escola-ridade, sem quantificar a “apro-

ximação”; limitava a maior parte da oferta de formação somente aos profissionais do Magistério e não se comprometia em estabe-lecer prazo para a regulamenta-ção do piso nacional previsto no art. 206, VIII, da CF.

Já os critérios restritivos para a regulamentação da gestão de-mocrática nas escolas e nos sis-temas de ensino não consegui-ram ser superados, ficando esta tarefa para os sindicatos durante o processo de regulamentação das leis locais nas assembleias legislativas e nas câmaras de ve-readores.

Desafios das metas e estraté-gias

A participação social no pro-cesso de formulação da Lei nº 13.005 tende a legitimar o PNE perante a comunidade escolar e a sociedade em geral, que de-vem empenhar-se para cobrar dos gestores públicos a conse-cução das metas do Plano.

O PNE carrega forte mensa-gem de inclusão social e escolar – sintetizadas nas diretrizes do

PNE: Lutas e significados para a categoria dos profissionais da Educação

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25Revista ATUAÇÃO | Março 2015 |

Roberto Franklin de LeãoPresidente da CNTE

art. 2º da lei – que é o norte da luta dos movimentos sindical e social.

Elementos da qualidade so-cialmente referenciada, à luz de políticas sistêmicas, integram as metas e estratégias do Plano, não obstante as críticas apresen-tadas à parceria público-priva-da, à meritocracia “desvirtuada” com a qual se pretende remu-nerar os(as) educadores(as) e às limitações impostas à gestão democrática.

Os canais de diálogo entre o poder público e a sociedade de-vem ser priorizados, sobretudo para a continuidade das con-ferências de educação e para a atuação dos fóruns nacional, estaduais, distrital e municipais de educação como protagonis-tas dos processos de avaliação e proposição de políticas públicas. Essas instâncias também são fundamentais para assegurar a implementação das estratégias e o cumprimento das metas dos respectivos planos de educação – incluindo a perspectiva de revi-são do percentual do PIB para in-vestimento na área – e para ela-borar os futuros planos decenais.

O aperfeiçoamento dos indica-dores de aferição da qualidade da educação, em especial o Índi-ce de Desenvolvimento da Edu-cação Básica (Ideb), é tema cha-ve para a mudança conceitual de avaliação em curso no Brasil – e em boa parte do mundo –, pau-tada em testes estandardizados. A luta social sobre este tema funda-se na autonomia dos pro-jetos político-pedagógicos das escolas, inclusive para avaliações dos estudantes, dentro de orien-tações que preservem as carac-terísticas nacionais da educação escolar, a exemplo das diretrizes curriculares emanadas pelo Con-selho Nacional de Educação.

A possibilidade de se avançar na base de dados dos indicado-res socioeducacionais é algo bas-tante significativo, sobretudo na

educação básica, que detém or-ganização descentralizada e que requer maior investimento téc-nico nas redes municipais. Essa condição deve priorizar a trans-parência dos dados financeiros, ainda precária mesmo após a vi-gência da Lei nº 12.527/2011 (Lei da Transparência).

O aumento dos investimentos em educação (meta 20) deve ser acompanhado ao menos de qua-tro pressupostos: maior controle social sobre as verbas públicas, inclusive as que serão destinadas ao setor privado (devendo este se submeter à regulação similar à imposta aos entes públicos); regulamentação do CAQ como política orientadora do financia-mento escolar; regime de coope-ração pautado no equilíbrio en-tre a responsabilidade fiscal dos entes em recolher tributos e o suporte financeiro para que cada um deles cumpra as atribuições pautadas no PNE e aprovação da Lei de Responsabilidade Educa-cional, a fim de conduzir as re-des escolares à boa gestão dos recursos da educação.

O Sistema Nacional de Educa-ção precisa cumprir o papel de orientador e regulador das polí-ticas educacionais, de sorte que sua finalidade concentre-se na institucionalização das políticas indicadas no PNE, visando torná--las obrigatórias a todos os en-tes.

No tocante à valorização pro-fissional, a ampliação de direitos e os investimentos na carreira, nas condições de trabalho e na saúde dos(as) educadores(as) precisam focar na qualidade do trabalho, no bem-estar da cate-goria e no reconhecimento social da profissão, estimulando os atu-ais profissionais e atraindo a ju-ventude para trabalhar na escola pública.

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26 | Revista ATUAÇÃO | Março 2015

CAPA

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27Revista ATUAÇÃO | Março 2015 | 27Revista ATUAÇÃO | Março 2015 |

Leandro, Thayna, Victória, Giova-na, André e Bruno. O que esses seis jovens têm em comum? To-

dos já foram vítimas de bullying na es-cola. Mas o que é o bullying? O psiquia-tra e especialista em Educação Familiar Içami Tiba, no artigo “Bullying: Como Reconhecer Agredido e Agressor?”, define o termo como uma “ação abusi-va de uma pessoa mais forte para uma mais fraca que não se defende, escondi-do dos adultos ou pessoas que possam defendê-la”.

Essa ação abusiva tem motivação evidente e pode ser caracterizada por agressão física ou psicológica, precon-ceito, assédio, discriminação, persegui-ção, exclusão, ofensas e outras situa-ções que causam constrangimentos ou danos às vítimas. A agressão é intencio-nal, constante e repetitiva.

Mas por que o bullying acontece na escola? Segundo a psicopedagoga e mestra em Educação Tânia Maria Filiú de Souza, “o bullying pode acontecer em qualquer contexto social, como uni-

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28 | Revista ATUAÇÃO | Março 2015

versidades, família, vizinhança e locais de trabalho. Contudo, a escola é um ambiente onde as diferenças estão muito presen-tes e se encontram”, explica.

E quem são os agressores? Quem são as vítimas? Tanto agressor como agredido têm ca-racterísticas próprias. De modo geral, o agressor tem um perfil de liderança, está sempre em evidência e possui boa autoesti-ma. Também pode se sobressair fisicamente, podendo ser maior e mais forte. Já o alvo ou o agre-dido costuma ser um indivíduo com baixa autoestima, retraído e tímido. As agressões podem ainda abordar aspectos étnicos, culturais e/ou religiosos.

A Pesquisa Nacional de Saú-de Escolar (PeNSE) de 2012, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revela que cerca de 30% dos estudantes brasileiros estão envolvidos em casos de bullying, seja pratican-do ou sofrendo algum tipo de violência. A maioria desse total, 20,8%, é formada por agresso-res. Ou seja, um em cada cinco jovens com idade entre 13 e 15 anos pratica bullying contra co-legas. Os outros 7,2% são víti-mas desse tipo de abuso.

Ainda de acordo com a PeNSE, os alunos do sexo mas-culino são os que mais praticam bullying, 26,1%, enquanto 16% são do sexo feminino. Também são os meninos que mais so-frem agressão, 7,9%; as meni-nas, 6,5%.

Há mais de 20 anos lecionan-do, a professora Alexandra Pen-teado Escobar Ferreira diz que o bullying começa quando de-terminado aluno não se enqua-dra nos padrões da turma. “Por exemplo, se uma sala tem vários alunos gordinhos, não haverá bullying, mas se houver apenas um aluno com essa característi-ca física, ele vai sofrer bullying. Também acontece quando há diferença socioeconômica. Uma

criança pobre que não têm brin-quedos também é excluída,” afirma.

Alexandra Penteado é pro-fessora do 1º ano do Ensino Fundamental [Alfabetização] e conta que, mesmo entre os pequeninos, já existe bullying. “Acontece em todas as ida-des, dos alunos menores aos maiores, em escolas públicas e privadas. Mas, no meu entendi-mento, as ações decorrentes do bullying têm a ver com a edu-

cação familiar. Atualmente, os pais estão muito fora de casa e muitas vezes não dispõem de tempo para educar e dar aten-ção aos seus filhos.”

A psicopedagoga Tânia Ma-ria explica que “o bullying sem-pre existiu, mas era conheci-do como chacotas, piadinhas e brincadeiras de mau gosto. Sempre houve situações de agressões nas escolas, mas era uma agressão velada, não se fa-lava sobre isso”.

Se uma sala tem vários alunos gordinhos, não haverá bullying, mas se houver apenas um aluno com essa característica física, ele vai sofrer bullying. Também acontece quando há diferença socioeconômica. Uma criança pobre, que não têm brinquedos também é excluída”

Alexandra Penteado Escobar Ferreira,professora do 1o ano do Ensino Fundamental

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29Revista ATUAÇÃO | Março 2015 |

MOTIVAÇÃOO tipo físico é sempre uma

motivação para o bullying, bas-ta ser gordo, magro, baixo, alto, cabeludo, narigudo, negro ou ter qualquer outra característica físi-ca que destoe dos demais. O es-tudante do 2º ano do Ensino Mé-dio André Luís Castro de Oliveira sabe bem o que é isso. Magro e

alto, sempre ganhou apelidos e escutou chacotas a respeito do biótipo. “Palito de fósforo, cabe-çudo e magrelo, era assim que me chamavam. Eu ficava mago-ado, ficava quieto e me isolava. O problema maior era que outros meninos me empurravam no ba-nheiro. Um menino, em especial, me perturbava muito. Um dia não aguentei e bati nele. Não é do meu perfil ser violento, não sou assim e não queria ser. Mas che-guei ao meu limite”, desabafa.

André nunca contou aos pais sobre as agressões que sofreu na escola e da briga com o colega que lhe perturbava. Encontrou no esporte uma alternativa para seu complexo físico, entrou para o time de basquete e foi superan-do os traumas. “Para a galera do basquete, não interessava meu porte físico. Foi como se eu ti-vesse ganhado uma família, pas-

sei a entender o que era um time de verdade. Foi no basquete que comecei a perder o medo, a ter mais segurança em mim”, conta.

Já no caso do também estu-dante do 2º ano do Ensino Mé-dio Leandro Vinícius Gomes dos Reis, as agressões que ainda so-fre estão relacionadas a sua cor

e orientação sexual. “Primeiro porque sou negro e depois por-que sou gay. As pessoas sempre me chamam de escravo ou negri-nho”, diz. Leandro ignora essas situações de preconceito porque tem uma boa relação com a mãe e com a família. “Na minha casa, eu nunca precisei assumir nada sobre minha orientação sexual. Minha mãe sempre soube, sem-pre me tratou com naturalidade. Eu sempre achei que não deveria assumir nada, pois quem assume, assume algo que fez de errado. Eu não fiz nada errado, eu nasci assim. A postura da minha mãe comigo me ajuda a enfrentar as ofensas que vêm dos outros.”

Partindo do princípio de que a família é a base do ser huma-no, a psicóloga Susana Mariusso Targa alerta que os pais contem-porâneos estão preocupados em suprir as necessidades materiais

dos filhos oferecendo-lhes boas escolas, brinquedos, confor-to, e se esquecem dos valores, dos princípios e da educação das crianças. “Muitas vezes, o bullying acontece por deficiên-cia na estrutura familiar, defici-ência de valores, falta de limites, falta de atenção e carinho. Uma

família que não oferece carinho, nem impõe limites para o filho não está acrescentando nada na formação da criança. Ninguém pode oferecer aquilo que não re-cebeu.”

Para Susana, a escola pode colaborar trabalhando temas universais relacionados a valores e comportamento. “Para se viver em sociedade, é preciso obede-cer a regras. Penso que o retor-no de algumas disciplinas como filosofia, sociologia e ética aju-daria nessa perspectiva de for-mação, pois parâmetros de com-portamento que os alunos não recebem em casa podem ser re-passados pela escola. A própria inclusão de pessoas com neces-sidades especiais é uma questão de valores. É aceitar o diferente. Por que acontece o bullying? Porque existe um diferente, e o diferente não é aceito pelo meio.”

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A ESCOLA, OS PROFESSORES,O BULLYING E O CYBERBULLYING

BULLYING

CYBERBULLYING

O termo bullying tem origem na palavra inglesa bully, que sig-nifica valentão, brigão. Não tem denominação na língua portu-guesa, entretanto, é entendido como ameaça, tirania, opressão, intimidação humilhação e mau trato.

Os primeiros estudos sobre bullying foram realizados na Su-écia, nos anos 1970, e, a partir daí, expandiram-se para outros países. No Brasil, os estudos são mais recentes, tendo início na década de 1990. A Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adoles-cência (Abrapia) é uma das re-ferências em pesquisas sobre o tema.

A tecnologia deu uma nova dimensão ao bullying. Decorren-te dele, surgiu o cyberbullying, que tem as mesmas característi-cas do bullying, só que acontece no universo da internet.

São mensagens depreciati-vas em redes sociais (Facebook, Twitter), e-mails ameaçadores,

mensagens negativas em sites, vídeos e fotos que na maioria dos casos comprometem a inte-gridade da vítima.

No bullying tradicional, o constrangimento fica restrito aos momentos de convivência. No cyberbullying, é o tempo todo.

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Como controlar um universo de 1.500 alunos, onde a maioria é jovem? A solução encontrada pela Escola Estadual Joaquim Murtinho, em Campo Grande/MS, foi contar com a parceria dos alunos e dos professores; si-tuações de bullying, indisciplina, violência e uso de drogas são encaminhadas ao conhecimen-to da direção pelos próprios es-tudantes e pelo corpo docente. Além disso, a direção segue cri-teriosamente o Regimento Es-colar da Secretaria Estadual de Educação. “Os alunos têm ciên-cia das suas responsabilidades. Em qualquer um desses casos, o primeiro passo é chamar a famí-lia para conversar”, afirma a di-retora adjunta, Zuleide Lara de Oliveira.

Zuleide conta que no ano de 2013 uma adolescente obesa foi vítima de cyberbullying. “Quan-do a agressão vai parar nas re-des sociais, a escola já não tem controle. Mesmo assim, chama-mos os pais de todos os alunos envolvidos.”

A aluna do 2º ano do Ensino Médio Victória Aparecida Nan-tes Flávio lembra que foi vítima de cyberbullying aos 10 anos de idade, quando cursava o 5º ano

do Ensino Fundamental. “Desde pequena, sempre fui gordinha. Usava calça de cós alto para ficar com cintura. Isso me ren-dia vários apelidos e era perse-guida. Na época, duas colegas criaram um perfil falso na rede social Orkut e lá falavam mal de mim. Eu não suportava mais aquilo e contei para minha mãe. Ela foi atrás dos pais das meni-nas e só assim conseguimos que o perfil fosse desativado.”

As brincadeiras de mau gos-to, os apelidos pejorativos e a exposição na internet desenca-dearam em Victória um proces-so de depressão e insegurança. A jovem precisou procurar a ajuda de um profissional da área de psicologia e, até hoje, man-tém as sessões de terapia.

O cyberbullying ou bullying virtual é quase sempre uma ex-tensão do que os alunos dizem e fazem dentro da sala de aula, mas com o agravante de que as pessoas envolvidas não estão cara a cara. Desta forma, o ano-nimato pode aumentar a cruel-dade dos comentários e das ameaças. O tormento, a agres-são virtual e a humilhação fazem com que as vítimas se sintam in-seguras em todos os momentos

e em todos os lugares.A edição 2014 da pesquisa

“Este Jovem Brasileiro”, reali-zada pelo Portal Educacional, identificou que o cyberbullying praticado entre os colegas da mesma escola vira proble-ma dentro da sala de aula. De acordo com os dados, 64% dos professores afirmam ter visto ofensas pela internet entre os alunos, e 73% dizem que as pu-blicações feitas pelos estudan-tes nas redes sociais provocam problemas de relacionamento entre os colegas.

Já dos alunos, 16% dizem ter sofrido preconceito na internet, 23% revelaram que já sofreram ofensas e outras formas de vio-lência na web, 40% já sentiram medo por alguma situação que aconteceu na rede, e 4% admiti-ram que deixaram de ir à escola ou até sair de casa por causa de ameaças e ofensas sofridas na internet.

A pesquisa, que tem como objetivo traçar um perfil do comportamento dos jovens na internet, foi realizada em 36 es-colas particulares de 14 estados brasileiros, ouviu 4 mil estudan-tes, 300 pais de alunos e 60 professores.

A própria inclusão de pessoas com necessidades especiais é uma questão de valores. É aceitar o diferente. Por que acontece o bullying? Porque existe um diferente, e o diferente não é aceito pelo meio”

Susana Mariusso Targa, psicóloga

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Como não existem regras para combater o bullying, uma vez que os casos são muito específicos, escolas e profis-sionais da Educação têm pro-curado alternativas próprias para lidar com o problema no ambiente escolar. Normalmen-te, o professor é o primeiro a visualizar a situação. “Nos mo-mentos das brincadeiras é que conseguimos identificar as ati-tudes dos alunos. Geralmente, a turma forma as ‘panelinhas’, que se identificam pelas mes-mas preferências e hábitos. E, a partir de daí, exclui os que julga não serem parecidos”, explica a professora Alexandra Pente-ado.

De acordo com a mestra em Educação Tânia Maria, a univer-sidade oferece aos profissionais da área da Educação um emba-samento teórico a respeito do assunto. “A vivência e a inicia-tiva do profissional em se capa-citar é que vão prepará-lo para lidar com as situações adversas que acontecem em sala de aula. Para nós, educadores, é impor-tante entendermos as atitudes dos nossos alunos. Os alunos não podem ser vistos como nú-meros, eles são pessoas. É im-portante conhecê-los e saber quem são”, ressalta.

É preciso, ainda, que a escola e os educadores conheçam as famílias. Para a psicóloga Susa-na Targa, as famílias precisam ser chamadas à responsabilida-de. “É difícil lidar com um pro-blema que pode ser reflexo do que acontece dentro de casa”. Susana diz que, quando a esco-la chama a família, nem sempre encontra um núcleo familiar es-truturado, capaz de entender e analisar a gravidade da situ-

ação. “A família pode achar que aquela situação é nor-mal, que o filho é o mais es-perto ou o mais inteligente. Como explicar para uma mãe que enxerga o filho como in-teligente e forte, que, na ver-dade, ele é um agressor?”

A maioria dos especialis-tas faz as mesmas orienta-ções sobre bullying no am-biente escolar: é importante a escola envolver a equipe e a comunidade em um debate permanente sobre o assunto, criar grupos representativos, capacitar toda a equipe es-colar para acompanhar o comportamento dos alunos durante os intervalos, horários de entrada e saída, identificar os alunos com ten-dências agressi-vas, identificar pontos frágeis da metodologia e da programação es-colar, promover palestras com as famílias e propor possíveis soluções em conjunto.

ALTERNATIVAS

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Não faz parte do perfil das vítimas de bullying falar sobre o assunto, por isso, pais e pro-fessores devem estar atentos às mudanças de comportamento das crianças e dos jovens. Mes-mo sem falar, o agredido de-monstra sintomas de sofrimento, falta de ânimo, queda no rendi-mento escolar, isolamento, recu-sa em participar das atividades do grupo ou até mesmo em fre-quentar os intervalos de aulas, simulação de doenças, falta às aulas, sumiço ou danificação dos materiais escolares. Esses sinto-mas podem se agravar e originar um quadro de depressão. As ví-timas de bullying carregam con-sigo marcas que podem refletir em problemas sociais como di-ficuldades em manter amizades, relacionamentos pessoais e fa-miliares.

O primeiro passo dos pais e professores aos sinais do bullying é sentar e conversar com a crian-ça ou adolescente. Muitas vezes, por medo, a vítima omite o que está acontecendo, contudo, é preciso persistir no diálogo.

Tânia Maria sugere aos pais que não dispõem de tempo para

SINTOMAS E CONSEQUÊNCIAS DO FENÔMENO BULLYING

O bullying pode acontecer em qualquer contexto social, como universidades, família,

vizinhança e locais de trabalho. Contudo, a escola é um ambiente onde as diferenças estão

muito presentes e se encontram”

Tânia Maria Filiú de Souza,psicopedagoga e mestra em Educação

conversar com seus filhos, que se organizem para uma reunião semanal. “Escolham um dia em que estejam todos em casa, no sábado ou no domingo, reúnam os filhos e perguntem sobre as atividades que realizaram duran-te a semana. Mesmo que os filhos ainda sejam pequenos, é preciso conversar. Desta forma, adquire--se o hábito do diálogo. Também é importante convidar os amigos dos filhos para visitas, é bom co-nhecer e saber quem são as ami-zades dos nossos filhos.”

A ajuda profissional não pode ser dispensada. Agredidos e agressores precisam de acom-panhamento psicológico. É pre-ciso analisar todos os contextos. Sempre há um motivo para a agressão, da mesma forma que o silêncio da vítima também tem um motivo. “Não é regra, mas o agressor pode ser uma vítima dentro do lar”, avalia Tânia Maria.

Suzana Targa diz que “ainda existe preconceito da parte dos pais em procurar ajuda profissio-nal para os filhos, não só no caso do bullying como em outras situ-ações relacionadas ao compor-tamento”.

Primeiro porque sou negro e depois

porque sou gay.As pessoas sempre

me chamam de escravo ou

negrinho”

Leandro Vinícius G. dos Reis, aluno do 2º ano do Ensino Médio da

E. E. Joaquim Murtinho

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34 | Revista ATUAÇÃO | Março 2015

Fonte: http://www.tiba.com.br/; Artigo: Bullying: Como Reconhecer Agredido e Agressor?

Estimular a delação saudável, explicando que o silencioso é conivente e cúmplice do agressor. Garantir proteção e sigilo às testemunhas, que permanecerão no anonimato quando indicarem os agressores.

Manter as vítimas sob vigilância “secreta”, sob a atenção de todos os adultos da escola e ado-lescentes voluntários neste ato de civilidade, no combate ao bullying. É perda de tempo esperar que as vítimas venham a reclamar dos seus agres-sores; é também uma forma de conivência e cum-plicidade com o agressor.

Quanto mais se conhece as pessoas, mais elas se envolvem e menos coragem têm para fazer mal umas às outras. A simples mudança desses alunos para outras escolas não é indicada. É por meio da correção dos erros que se aprende.

Içami Tiba é mé-dico e especializou--se em Psiquiatria, no Hospital das Clínicas da USP, onde foi professor assistente por sete anos. Por mais de 15 anos, foi profes-sor de Psicodrama de Adolescentes no Instituto Sedes Sapientiae. Foi o Primeiro Presidente da Federação Bra-sileira de Psicodra-ma (1977-1978) e Membro Diretor da Associação Internacional de Psicoterapia de Grupo (1997- 2006). Em 1992, deixou as universidades para se dedicar à Educação Familiar. É autor de diversos livros, entre eles: “Quem Ama, Educa!” e “Educação Familiar: Presente e Futuro”.

É necessário aplicar o princípio das consequên-cias, ou seja, medidas tomadas pelas autoridades educacionais que favoreçam a educação. O sim-ples castigo não educa. O agressor identificado deve fazer trabalhos comunitários dentro da es-cola, como auxiliar em algum setor que tenha que atender às necessidades das pessoas. Pode ser na biblioteca, na cantina da escola, na enfermaria ou setor equivalente, etc. No lugar de agredir a víti-ma, ele deverá cuidar dela. Quem queima mendi-gos deve trabalhar com queimados, fazendo-lhes curativos e não ir simplesmente para a cadeia. Isso deve ser feito durante o recreio ou intervalo, usan-do o uniforme usual do setor.

ORIENTAÇÕES DE IÇAMI TIBA PARA A PREVENÇÃO E O ATENDIMENTO DE CASOS DE BULLYINGCOM AS TESTEMUNHAS:

COM AS VÍTIMAS:

INTEGRAÇÃO ENTRE ESCOLA E PAIS DO AGRESSOR E DA VÍTIMA:

COM OS AGRESSORES:

Sempre gostei de ler e estudar e, por causa disso, me chamavam de metida. Uma vez, várias meninas me encurralaram no banheiro da escola e me chamavam de neguinha metida”

Thayna da Silva Santos, aluna do 3º ano do Ensino Médio da E. E. Joaquim Murtinho

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Desde pequena, sempre fui gordinha. Usava calça de cós alto para ficar com cintura. Isso me rendia vários apelidos e era perseguida. Na época, duas colegas criaram um perfil falso na rede social Orkut e lá falavam mal de mim”

Victória Aparecida Nantes Flávio,aluna do 2º ano do Ensino Médio da E. E. Joaquim Murtinho

Palito de fósforo, cabeçudo e magrelo, era assim que me chamavam. Eu ficava magoado, ficava quieto e me isolava. O problema maior era que outros meninos me empurravam no banheiro”

André Luís Castro de Oliveira,aluno do 2º ano do Ensino Médio da E. E. Joaquim Murtinho

Eu sempre fui magra e tenho a boca grande. E essas características rendem

comentários maldosos do tipo varapau, perna de sabiá e outros. Mas procuro não

me abalar por essas coisas. Sempre tive minha mãe por perto e isso ajuda”

Giovana Pinho Ramos, aluna do 3º ano do Ensino Médio da E. E. Joaquim Murtinho

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A Escola Municipal Hércules Maymone desenvolveu no ano de 2014 o projeto “Tudo bem ser diferente”, que teve por fi-nalidade incentivar e promover ações e reflexões para cons-

“TUDO BEM SER DIFERENTE”cientizar os alunos de que to-dos são diferentes e precisam ser respeitados pelo que são, permitindo que conhecessem suas habilidades e limites, e, com isso, reconhecer-se como indivíduo único, no meio de tantos outros igualmente úni-cos.

Além disso, as atividades incentivaram o processo de identidade e autonomia do aluno, o desenvolvimento da solidariedade, o estímulo da afetividade, o cuidar um do outro, a aceitação do próprio corpo, a cooperação e, ainda,

a aproximação entre família e escola.

Usando recursos de livros, músicas e brincadeiras, o proje-to foi desenvolvido com os alu-nos do 1º ano do Ensino Funda-mental, sob a coordenação das professoras Alexandra Pente-ado Escobar Ferreira e Adnair Lousada Neves.

Ao final do projeto, cada criança recebeu um portfólio com as atividades realizadas ao longo do ano, com atividades de interpretação de textos, acrósti-cos, textos coletivos, músicas e interpretações.

Sempre fui magro, negro e com o cabelo ruim. Ser negro pesa muito.

Quando tinha uns sete anos, levei uma surra de uns meninos na escola.

Eles não iam com a minha cara”

Bruno Lira Rodrigues,aluno do 3o ano do Ensino Médio da E. E. Joaquim Murtinho

“Juntando os Cacos” é o nome do projeto educacional desenvolvido pela Editora Alvo-rada, em parceria com a Secre-taria de Estado de Educação de Mato Grosso do Sul, e é uma con-tinuidade do projeto “Tosco em Ação”, desenvolvido desde 2009 no estado. O novo projeto foi lançado em julho de 2014 e visa melhorar o diálogo nas escolas, diminuindo problemáticas como a violência e a discriminação.

Assim como o projeto “Tosco

em Ação”, o “Juntando os Cacos” tem como base um livro, “Caco”, também de autoria de Gilberto Mattje. O objetivo é dar continui-dade a uma discussão aberta nas escolas e tratar temas recorren-tes na vida dos estudantes, de maneira mais próxima e eficaz. Para o autor do livro, “Caco é um garoto compulsivo em vá-rios aspectos” e isso possibilita a conversa com os alunos, a par-tir do momento em que eles se identificam com a história, que é

baseada na realidade social do brasileiro.

“O livro permite trabalhar mais temas, como preconceito, homofobia, novas estruturas fa-miliares e não podemos deixar de falar do uso de substâncias psicoativas. O grande objetivo desse projeto é desenvolver um lócus de percepção de autocon-trole para que o aluno seja pro-tagonista da sua história. Com mais esperança e alegria”, expli-ca Mattje.

PROJETO ‘JUNTANDO OS CACOS’

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Dicas para uma boa leitura

Os desafios, as condutas e as soluções para familiares, pais e educa-dores lidarem com a educação de crianças e adolescentes no mundo atu-al estão reunidos no novo livro do psiquiatra e educador Dr. Içami Tiba. Com prefácio do especialista em Educação Corporativa Eugenio Mussak, a obra propõe de maneira clara e eficaz uma conduta educacional equi-librada, atribuindo a devida responsabilidade a pais e educadores na for-mação de seres humanos competentes, éticos e felizes. Pais e Educadores de Alta Performance defende mudanças imediatas e de longo prazo que se iniciam dentro de casa, a fim de que o Brasil consiga se posicionar em escala mundial quando o assunto é educação.

A 30ª obra do psiquiatra trata ainda da grande tarefa e responsabili-dade de pais e educadores ao lidarem com os adolescentes de hoje, cada vez mais informatizados e independentes. O especialista sente a ausência de preparo para orquestrarem uma educação que realmente forme va-lores e competências para filhos e alunos. “Minha orientação terapêutica para os brasileiros é que preparemos as gerações presentes e vindouras para um Brasil que estamos para lhes deixar. A educação aprende com o passado, pratica o presente e presenteia o futuro”, afirma o autor. (Fonte: Editora Integrare)

Após o sucesso do livro “Tosco” nas escolas, Gilberto Mattje escreve mais uma história de narrativa leve e envolvente inspirada no cotidiano de jovens marcados pela procura de um sentido para as suas vidas e dá continuidade à existência do personagem Tosco. O livro instiga a auto-percepção de atitudes, pensamentos, sentimentos e, consequentemente, o entendimento de si e do outro.

No livro, o personagem Caco busca soluções duvidosas para resolver seus problemas de adolescente. Com o psicológico abalado, Caco enfren-ta dificuldades, mas também encontra a compreensão em uma pessoa, o Tosco, que agora é seu professor.

Gilberto Mattje é filósofo, psicólogo especialista em Psicanálise e mes-tre em Psicologia Social e da Saúde. (Fonte: Editora Alvorada)

Pais e Educadores de Alta PerformanceIçami TibaEditora Integrare208 páginas

Caco Gilberto MattjeEditora Alvorada126 páginas

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PERSONALIDADE

Sentado no aconchego da varanda de sua casa, o professor aposentado

José Félix Filho lembrou com ca-rinho os 33 anos de trabalho na educação pública de Mato Gros-so do Sul. Aos 63 anos, suas pa-lavras transmitem tranquilidade, equilíbrio e coerência. Segun-do ele, sempre foi assim, calmo. “Em todos esses anos, nunca tive problemas com alunos, acredi-ta? Quando estava em sala de aula, sempre fui amigo dos meus alunos, tocava violão com eles, conversava e participava das atividades. E quando assumi a direção da escola, nunca centra-lizei nada, reunia a equipe e fa-zíamos uma programação anual de trabalho. Funcionava como uma empresa. Não tinha brigas, ninguém cansava, e, quando uma

pessoa precisava se ausentar, um ajudava o outro”, conta.

Formado em Ciências Físicas e Biológicas, José Félix deixou Tupi Paulista, no interior de São Paulo, e veio se aventurar pelas bandas do estado de Mato Gros-so, ainda uno. Na viagem para a futura capital sul-mato-grossen-se, compartilhou da companhia de duas amigas e um amigo. Num automóvel, os jovens che-garam a Campo Grande com a ideia fixa de ganhar a vida. Na época, contava o ano de 1974.

Félix ficou hospedado na casa de um conhecido. Logo come-çou a lecionar no Colégio Pau-lo VI [atual Escola Estadual Rui Barbosa], que fazia parte da obra social realizada pela Missão Salesiana. Também lecionou no colégio Mace e não parou mais

de trabalhar nem de estudar.Na Universidade Federal de

Mato Grosso do Sul (UFMS) con-cluiu o curso de Matemática no ano de 1996, depois fez pós-gra-duação em Desenho Geométrico e Metodologia do Ensino Supe-rior.

Vida sindical

Em pouco tempo morando em Campo Grande, Félix come-çou a participar do movimento sindical da Educação. “Ainda não existia a FEPROSUL. Participei da ACP [Associação Campo--Grandense de Professores, atual Sindicato Campo-Grandense dos Profissionais da Educação Públi-ca (SIMTEDE)], onde fui Conse-lheiro Fiscal.”

Analisando a história do mo-

Veterano da educação pública diz que o movimento sindical precisa formar novas lideranças e que a escola precisa ser mais interativa

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vimento sindical no estado, Félix diz que a carreira estabilizada que os profissionais da Educa-ção têm hoje se deve à perseve-rança dos militantes que há mais de três décadas vêm lutando por valorização e condições mais dignas de trabalho. Para ele, os jovens profissionais não têm no-ção das dificuldades enfrentadas no passado. “Eu vi esses meni-nos lutarem, o Biffi, a Fátima, o Jaime, o Roberto... e todos aque-les que passaram pela FETEMS e pelo movimento. A dedicação deles garantiu o que temos atu-almente. Somos o único estado do país onde os aposentados ga-nham o mesmo valor do pesso-al da ativa, sem desvalorização. Para mim, eles são verdadeiros heróis. Deixavam a família, o la-zer, tudo para brigar pelos nos-sos direitos, pela carreira e pela valorização. Esse pessoal é pou-co reconhecido pelo trabalho que fizeram. Penso que precisa-vam de mais reconhecimento e consideração.”

Para o veterano, o movimento precisa formar novas lideranças. “A Sueli [Sueli Veiga Melo, atu-al vice-presidente da FETEMS] sempre fez um trabalho exce-lente de formação sindical. “O movimento sindical da Educa-ção de Mato Grosso do Sul conta sempre com as mesmas pessoas. Não tem quase ninguém novo. É difícil um jovem disputar um cargo. O movimento precisa ga-rantir muitas coisas ainda, como melhorar a infraestrutura das es-colas, a relação entre pais e esco-la, o atendimento ao aluno, etc.”

Félix participou da ACP e fez parte da diretoria da FETEMS nas duas gestões do professor Jaime Teixeira e na primeira do professor Roberto Magno Bota-reli Cesar. Recentemente, deixou as atividades sindicais em virtu-de de alguns problemas de saú-de. “Agora já estou bem, não te-nho mais nada”, afirma otimista.

Educação

“No que diz respeito à meto-dologia de ensino, eu não vi ne-nhuma mudança ao longo des-ses anos. A mesma matemática que eu aprendi é a matemática que ainda se aplica. A didática e a metodologia de ensino não evoluíram. O que aconteceu é que o computador foi para as salas. A escola precisa ter mais aulas práticas, ser mais interati-va. As disciplinas deveriam estar interligadas.”

O professor aposentado de-fende uma reforma na Educação. Segundo ele, a escola pública ainda é deficitária, uma vez que os alunos que almejam cursos como Medicina, Direito ou Enge-nharia concluem o Ensino Médio e vão se preparar melhor para o Enem ou vestibular fazendo cur-sinho. “Tive poucos alunos que concluíram o Ensino Médio e já entraram nesses cursos,” conta.

José Félix lecionou por 33 anos no Colégio Paulo VI, foi lá que começou e foi lá que se apo-sentou. De 2000 a 2007 foi dire-tor da escola e depois resolveu se aposentar. “Conheço cada pa-rafuso daquela escola, lá foi mi-nha vida. Se tivesse que começar tudo de novo, eu faria tudo do mesmo jeito, não mudaria nada na minha vida.”

Depois de mais de três déca-das na educação pública, Félix resume a educação com a sa-bedoria de quem cumpriu sua missão de educador: “Educação é tudo. A educação permite que o ser humano veja e conheça o mundo. Com a educação, apren-demos a respeitar o próximo. A educação ajuda a conquistar o que não temos, valorizar o que temos e aprimorar o que con-quistamos. A educação nos ajuda até a ter paz de espírito, é como se fosse uma religião. A educa-ção é fundamental em todos os momentos da nossa vida”.

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OLIMPÍADA

Abraão Atila da Silva de Jesus é um jovem tí-mido e define o futuro

em poucas palavras: “Quero fa-zer Matemática”, diz. Se a timi-dez oculta suas palavras, a sala de aula revela seu talento para os estudos. O que é difícil para a maioria dos alunos, para Abraão, é muito simples, apenas cálculos.

O jovem é um dos medalhis-tas das Olimpíadas Brasileiras de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP), que em 2014 chegou a sua 10ª edição e é realizada pelo Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (IMPA).

No pódio, Abraão vai ocupar o primeiro lugar, medalha de ouro. A premiação oficial deve acontecer ainda no primeiro se-mestre de 2015. No ano passado, a cerimônia de premiação acon-teceu no Rio de Janeiro/RJ, e a presidenta Dilma Rousseff fez a entrega das medalhas aos fina-listas.

Na Escola Estadual Professor Emygdio Campos Widal, onde estuda em Campo Grande/MS, o jovem já recebeu as homena-gens e o reconhecimento por seu empenho e dedicação. Além dele, outros dois colegas do En-sino Fundamental vão receber as medalhas de segundo e tercei-ro lugar, e mais cinco alunos da

A COMPETIÇÃO ONDE CALCULAR VALE

OURO, PRATA E BRONZEEm 2014, alunos da rede pública de ensino de Mato Grosso do Sul conquistaram 112 medalhas durante a 10ª OBMEP

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mesma escola receberão Men-ção Honrosa pelo bom desem-penho nas provas. “É o primeiro ano que isso acontece, três me-dalhas”, conta a diretora Eliane Guidini Castro Teixeira.

O bom resultado da Esco-la Emygdio Campos Widal nas Olimpíadas de Matemática é fru-to de um trabalho coletivo que envolveu alunos, professores e coordenação pedagógica. “Nós fizemos reuniões com os pais e os alunos. Falamos sobre com-prometimento com os estudos para a competição. Além de es-tudar em sala de aula, era pre-ciso que estudassem em casa também. Procuramos incentivar as turmas com a confecção de medalhas para todos que parti-ciparam da primeira fase, organi-zamos a entrega e tudo mais. O resultado mostra que os alunos das escolas públicas são capazes e estão preparados para compe-tir com os demais”, explica Elia-ne.

Em sala de aula, os profes-sores utilizaram vários recursos para facilitar os estudos e tam-bém desenvolveram atividades relacionadas às provas. No site da OBMEP estão disponíveis videoaulas, atividades, provas anteriores e outras ferramentas que foram utilizadas pelos parti-cipantes e professores durante o plano de estudo.

“Esse ano tivemos uma me-lhora significativa no desempe-nho dos alunos, realizamos um trabalho diferenciado, específi-co para as olimpíadas. Cerca de 50% dos estudantes tiveram in-teresse em estudar”, fala o pro-fessor e mestre em Matemática, Eder Regiolli Dias.

A Escola Emygdio Campos Widal levou para a segunda fase da OBMEP 30 participantes. Desse total, a maioria sempre foi estudante de escola pública. Mato Grosso do Sul recebeu 112 medalhas, sendo 9 de ouro, 28 de prata e 75 de bronze.

Abraão Atila da Silva de Jesus

é aluno da rede pública e um dos

medalhistas da OBMEP 2014

Medalhistas

Menção Honrosa

1oLugar Abraão Atila da Silva de Jesus

2oLugar Douglas Kennichi Peixoto Sakurai

3oLugar Daniela Luiza Cunico Lopes

Raissa Gomes e Silva Nóbrega Melissa Wohnrath BianchiMatheus Lessa Valensuela

Mackson da Silva Vianna Júnior Jefferson Henrique de Melo

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OBMEP - Não só alunos, mas professores, escolas e secretarias municipais de educação tam-bém concorrem a prêmios pela OBMEP. A olimpíada é dirigida aos alunos do 6º e do 9º ano do Ensino Fundamental e do Ensino Médio matriculados em escolas municipais, estaduais e federais.

Os participantes da OBMEP são divididos em três níveis, se-gundo o grau de escolaridade.

A competição tem como ob-jetivos o estímulo e a promoção do estudo da Matemática na rede pública de ensino; a melhoria da qualidade da educação básica; o incentivo de jovens talentos ao ingresso nas áreas científicas e tecnológicas; o incentivo ao aperfeiçoamento dos professo-res, contribuindo para sua valo-rização, entres outros.

Os medalhistas têm direito a uma bolsa de estudos no Pro-grama de Iniciação Científica Jr. (PIC), onde terão acesso ao estu-do diferenciado da Matemática. A bolsa é mantida pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e dá direito a vale-transporte e alimentação.

Os bolsistas de Campo Gran-de vão assistir às aulas do PIC uma vez ao mês, na Universida-de Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). As aulas são minis-tradas por professores e mestres do curso de Matemática.

Desde o ano de 2012, a OBMEP oferece também o Programa Ofi-cinas de Formação (PROF) que é destinado ao aperfeiçoamento dos professores de Matemática da rede pública de ensino.

Em 2014, mais de 18,1 milhões de alunos de 46,7 mil escolas de todo o país participaram da OBMEP. Ao todo, foram premia-dos 6.500 alunos com medalhas, sendo 50 de ouro, 1.500 de prata e 4.500 de bronze. Além disso, 46.200 foram premiados com menções honrosas.

“O resultado mostra que

os alunos das escolas

públicas são capazes e

estão preparados para

competir com os demais”

Eliane Guidini Castro Teixeira, diretora da

Escola Estadual Emygdio Campos Widal

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43Revista ATUAÇÃO | Março 2015 |

Gabriel Rosso Fernandes Colégio Militar de Campo Grande Campo Grande

Felipe Flores da Costa Neves Colégio Militar de Campo Grande Campo Grande

Medalha de Prata

Rodrigo Kiyoshi Sauter CardosoColégio Militar de Campo Grande Campo Grande

Nível 1

Maurício Menegatti AndradeEE Dom Aquino CorrêaAmambai

Mateus Berno SerpaEM Padre José de Anchieta Campo Grande

Débora Obregam NogueiraEE Salomé de Melo Rocha Guia Lopes da Laguna

Gabriel C Zanata de Morais EE 13 de Maio Deodápolis

Nível 2

Nível 3

Matheus Alves de SouzaEE Mal. Rondon Nova Andradina

Marcos Antonio Victor ArceColégio Militar de Campo GrandeCampo Grande

Leonardo Santos MatielloColégio Militar de Campo Grande Campo Grande

Abraão Atila da Silva de JesusEE Prof. Emygdio Campos WidalCampo Grande

Nível 1

Medalha de Ouro

“Esse ano tivemos uma

melhora significativa no

desempenho dos alunos,

realizamos um trabalho

diferenciado, específico

para as olimpíadas. Cerca

de 50% dos estudantes

tiveram interesse em

estudar”Eder Regiolli Dias, mestre em Matemática

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44 | Revista ATUAÇÃO | Março 2015

Nível 3

Nível 2

Eric Yuzo Nakasone Colégio Militar de Campo Grande Campo Grande

Rodrigo Bragato Piva Colégio Militar de Campo Grande Campo Grande

Eduardo Welligton Stocco EE Peri Martins Bataguassu

Marcos Pavão Schinelo EE São Francisco Campo Grande

Rafael Aparecido Rodrigues da Paz EM Prof. Aldo de Queiroz Campo Grande

Luiz Davi Siqueira Ribeiro EM José Dorilêo de Pina Campo Grande

Henrique Dagostin Fernandes EE Ernesto Rodrigues Aparecida do Taboado

Ricky Lemes Habegger EE Dom Aquino Corrêa Amambai

Arisa Remi do Prado EM Prof. Nagib Raslan Campo Grande

Thiago Poganski de Souza EE Lino Villacha Campo Grande

Tarciso Vieira de Lima Borges EM Prof. Licurgo de Oliveira Bastos Campo Grande

Halison Felipe Ribeiro Tagara EE Etalívio Pereira Martins Rio Brilhante

Altair Faria da Costa Júnior EE Ten. Aviador Antônio João Caarapó

Douglas Kennichi Peixoto Sakurai EE Prof. Emygdio Campos Vidal Campo Grande

Alisson Santos Bueno EE Prof.ª Hilda de Souza Ferreira Campo Grande

Vagner Monteiro Lopes EE Aracy Eudociak Campo Grande

Guilherme Rother Nantes EM Prof.ª Maria Tereza Rodrigues Campo Grande

Kaue Ortiz Lucas Gomes EE Blanche dos Santos Pereira Campo Grande

Nathalia da Silva Damaceno EM Pref. Álvaro Brandão Dourados

Jepherson da Costa Cinturião EM DR. Eduardo Olímpio Machado Campo Grande

Felipe Alexandre Salicano D Silva EM Prof.ª Danda Nunes Campo Grande

Nicole Iasmin Minante da Silva EE Hilda Bergo Duarte Glória de Dourados

Tainara dos Santos Mareco EM Cel. Antonino Campo Grande

José Antônio de Souza Pereira EM Antônio Henrique Filho – Polo Brasilândia

Nathalia Balan Feitoza Colégio Militar de Campo Grande Campo Grande

Yan Pedro Fernandes Lorencone Colégio Militar de Campo Grande Campo Grande

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45Revista ATUAÇÃO | Março 2015 |

Nível 1

Isabella Sayuri Machado Guenka Colégio Militar de Campo Grande Campo Grande

Nicolas Gabriel da Silva EE Manoel Ferreira de Lima Maracaju

Maria Helena Ponciano Vicente EM Capitão Altino Lopes Paranaíba

Felipe Torres Schowantz Colégio Militar de Campo Grande Campo Grande

Vinicius Crispim Costa EE Dom Aquino Corrêa Amambai

Daniel Muniz de Lima EM Prof.ª Maria Lúcia Passarelli Campo Grande

Vinicius Santos Rezende Catuver EE José Antônio Pereira Campo Grande

Sara Dias Albernaz Colégio Militar de Campo Grande Campo Grande

Gustavo Guilherme de Moura Silva EM Prof.ª Marina Couto Fortes Campo Grande

Daniella Luiza Cunico Lopes EE Prof. Emydio Campos Widal Campo Grande

Kaio Souza da Silva EM Prof.ª Marina Couto Fortes Campo Grande

Leonardo Gomes de Oliveira Piana EM Pedro Aleixo Sidrolândia

Davi Ramos Brandão EM Prof. Múcio Teixeira Júnior Campo Grande

Thalia Guimarães Barroso EM Imaculada Conceição Campo Grande

Tafarel Ramos Francisco EM Irmã Edith Coelho Netto Campo Grande

Ana Beatriz Moto EM Prof. Múcio Teixeira Júnior Campo Grande

Sílvio de Souza Ramos EE Juracy Alves Cardoso Naviraí

Ana Carolina Biaca Palhares EE Juracy Alves Cardoso Naviraí

Akikuni Yoshida EE Salomé de Melo Rocha Guia Lopes da Laguna

Fernando Augusto Obregon Cardoso EM Prof. Múcio Teixeira Júnior Campo Grande

Camili Thaís Fernandes EE Sidrônio Antunes de Andrade Sidrolândia

Lívia Veiga Luchi Colégio Militar de Campo Grande Campo Grande

Gilberto Luiz Bohling Júnior EM Pingo de Gente São Gabriel do Oeste

Medalha de Bronze

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Samuel Ramon de M Peres EM Cyriaco Félix de Toledo Corumbá

Gabriely Abreu da Silva EM Antônio Pinto da Silva Amambai

Natielly dos Santos Castro EE 13 de Maio Deodápolis

Yasmin Recalde Oliveira EM Prof.ª Danda Nunes Campo Grande

Plívio Henrique Almeida Brissov EM Prof. Arlindo Lima Campo Grande

Djerom Delmondes da Silva EE Maria Eliza Bocayuva Corrêa da Costa Campo Grande

Lorena Santana Soares EM Prof.ª Iracema de Souza Mendonça Campo Grande

Edivaldo Cangus Meira Júnior EE Japorã Japorã

Renato Kiomido Barella EE Caetano Pinto Miranda

Marcelo Augusto Magalhães de Arru Colégio Militar de Campo Grande Campo Grande

Anselmo Brito de Brum EE Maria Eliza Bocayuva Corrêa da Costa Campo Grande

Henrique Tonello Pereira EM Prof. Vanderlei Rosa de Oliveira Campo Grande

Sarah Dobes Garcia EM José Rodrigues Benfica Campo Grande

Vitória Regina dos Santos Souza EM Prof. Licurgo de Oliveira Bastos Campo Grande

Gabriella Feilstrecker Balani EE Dom Aquino Corrêa Amambai

Matheus S. Fancheli Fernandes EM Prof.ª Danda Nunes Campo Grande

Nível 2

Juliana Martins Leoncio Eusebio Colégio Militar de Campo Grande Campo Grande

Sara Carvalho da Costa Rezende EM José Rodrigues Benfica Campo Grande

Luis Gustavo Pires de Souza Colégio Militar de Campo Grande Campo Grande

Matheus Queiroz Souza EE São José Cassilândia

Taichi Katsukawa EE São Francisco Campo Grande

Angeli Luiggi de Souza Bazzo EE Prof.ª Eufrosina Pinto Glória de Dourados

Leandro da Silva Araujo EM Neil Fioravanti Dourados

Jorge Luis Freitas Costa EE Romalino Alves de Albres Anastácio

Lenrry Ryuji Shimabukuro Nakasone Colégio Militar de Campo Grande Campo Grande

Luanny Gabriely Martins Peralta EE Vespasiano Martins Amambai

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Camila Emi Iwahata EE Ten. Aviador Antônio João Caarapó

Euller Rafael Carvalho Santos EM Dr. Mitsuro Saito Paranhos

Ana Paula Lapas Leão EM José Rodrigues Benfica Campo Grande

Gabriel Takeo Shirakawa EE Fernando Corrêa da Costa Rio Brilhante

Bruna Vilas Boas Ferreira EM Prof. Múcio Teixeira Júnior Campo Grande

Thiago Luciano Lopes da Cruz EM Professor José de Souza Campo Grande

Larissa da Silva Fukuro EE Cel. Sapucaia Coronel Sapucaia

Nível 3

Eric Tamashiro Kurachi Colégio Militar de Campo Grande Campo Grande

Igor Carlos Souza de Lima EE Aracy Eudociak Campo Grande

Riadh Ferreira Awadalla El Hajjar IFMS – Campus Campo Grande Campo Grande

Renon Queiroz de Aquino EE Maria Constança Barros Machado Campo Grande

Pedro Henrique de A Bitencourt IFMS – Campus Três Lagoas Três Lagoas

Luisa Pezzarico Lima EE Antônia da Silveira Capilé Dourados

Henrique Medici Pontieri Colégio Militar de Campo Grande Campo Grande

Alander Matheus T. de Lima EE Manoel Ferreira de Lima Maracaju

Thais Martins Leôncio Eusébio Colégio Militar de Campo Grande Campo Grande

Murilo Henrique Araújo Ximenes EE Dom Aquino Corrêa Amambai

Bruno José Crispim Costa EE Dom Aquino Corrêa Amambai

Iago Rockel Mourão IFMS – Campus Campo Grande Campo Grande

Lucas Yasutoshi Negrete Bomura EE João Brembatti Calvoso Ponta Porã

Suzane Eberhart Ribeiro da Silva Colégio Militar de Campo Grande Campo Grande

Robert Akira Leandro Matsunaga EE Cel. Pedro José Rufino Jardim

José Aldemir Pereira Júnior IFMS – Campus Ponta Porã Ponta Porã

Luiz Alberto Kerber Alvares EE Cel. Sapucaia Coronel Sapucaia

Alisson Lovatto Colégio Militar de Campo Grande Campo Grande

Jeter Mendes Franco Siqueira EE Sebastião Santana de Oliveira Campo Grande

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ARTIGO

Quando uma criança inicia sua vida escolar, a expectativa de pais e professores é de que ela passe por todos os níveis da educação até conquistar os ban-cos universitários. As universida-des estão repletas de homens e mulheres de várias classes so-ciais e idade, matriculados nos mais diversos cursos, incluindo especializações, mestrados e doutorados. Porém, o que acon-tece quando há uma notória au-sência de cidadãos(ãs) traves-tis e transexuais neste contexto educacional? Onde estão essas pessoas? Por que não estão es-tudando ou trabalhando no mer-cado formal?

Sabemos que as travestis es-tão nas ruas, em pontos das ci-dades onde são conhecidas por profissionais do sexo, dividindo espaço com o comércio de dro-gas, violência e outras situações de periculosidade. Mas será que todas as travestis e transexuais que estão nesses lugares estão

por opção? Por que elas estão nas ruas se prostituindo e não em uma universidade ou até mesmo ser-vindo um café na padaria da sua rua? A resposta é simples: evasão escolar decorrente do preconcei-to.

Segundo estudo realizado por três pesquisadoras da UNESCO no ano de 2010, o ambiente es-colar é hostil e excludente no tratamento com homossexuais, travestis e transexuais, o que con-tribui para os índices de evasão escolar desses(as) cidadãos(ãs). A discriminação não é praticada apenas por alunos, mas também pelos professores que “não ape-nas silenciam, mas colaboram ativamente na reprodução de tal violência” (ABRAMOVAY, 2004, pág. 278).

Em 2012, Luma Andrade foi a primeira travesti brasileira a con-seguir um título de doutorado em Educação pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Apesar de ser uma grande conquista

para a classe, também denuncia a atual problemática educacional brasileira.

“São notáveis as tentativas recentes de incluir o enfrenta-mento às discriminações contra pessoas LGBT nos documentos oficiais nacionais. Entretanto, a timidez com a qual essas pro-postas aparecem sugere que muito mais esforços devem ser empenhados e evidenciados no sentido de garantir o direito ao acesso e a permanência de tra-vestis e transexuais na educação formal” (Ação Educativa. 2013).

Além de Luma, existem várias outras travestis e transexuais que venceram essas barreiras e hoje ocupam diversas profissões, in-clusive dentro de escolas, como professoras e até em cargos de direção pedagógica. Porém, a força de vontade não é o único pré-requisito para uma travesti ganhar espaço no mercado de trabalho. Algumas políticas pú-blicas são fundamentais para a

Pessoas diferentes com direitos iguais: um olhar para a cidadania

“Democracia é oportunizar a todos o mesmo ponto de partida. Quanto ao ponto de chegada, depende de cada um.”

Fernando Sabino

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49Revista ATUAÇÃO | Março 2015 |

inserção e o resgate dessas pes-soas na sociedade.

Recentemente, na cidade de São Paulo, o prefeito Fernando Haddad lançou o Projeto Rein-serção Social Transcidadania, da Coordenadoria da Diversidade Sexual, que consiste em dar as-sistência e uma bolsa de um sa-lário mínimo (R$ 760,20) para travestis que estiverem vivendo em situação de vulnerabilidade social. Para receber o benefício e as demais assistências do pro-grama, é preciso que estejam matriculadas nos cursos ofere-cidos pelo Centro de Combate à Homofobia. O projeto ainda é limitado, mas pode ser conside-rado exemplo de política pública voltada para a promoção da ci-dadania dessa população.

No Rio de Janeiro, a Secretaria de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos (SEASDH), por meio do Programa Estadual Rio Sem Homofobia, coordenado pela Superintendência de Direi-tos Individuais, Coletivos e Di-fusos, e o Conselho dos Direitos da População LGBT lançaram no dia 29 de janeiro a “Ação Educa-tiva de Visibilidade e Cidadania Trans”, com o lema “Respeitar é... reconhecer que as pessoas são diferentes e ao mesmo tem-po são iguais em direitos”. Trata--se de uma campanha educati-va com objetivo de propagar o comportamento de respeito e ci-dadania em relação aos(às) tran-sexuais e travestis.

Enquanto a prefeitura de São Paulo e o governo do estado do Rio de Janeiro resgatam transe-xuais e travestis, promovendo capacitação profissional, aces-

so à educação e promoção da dignidade, o prefeito de Campo Grande/MS ignora uma necessi-dade fundamental e reconhecida pela sociedade. O prefeito Gil-mar Olarte recentemente vetou o Projeto de Lei nº 7.797/14, que asseguraria a travestis e transe-xuais o direito à identificação pelo nome social em documen-tos de prestações de serviços quando atendidos(as) em ór-gãos da administração pública, alegando que: “a competência para legislar sobre nome é do Congresso Nacional”.

Nos estados de Santa Catari-na, Paraná, São Paulo, Rio de Ja-neiro, Bahia, Paraíba, Pará, Goiás e Alagoas, travestis e transexu-ais já podem frequentar esco-las e responder por seus nomes sociais em listas de chamadas. O direito de ser reconhecido na sociedade é tão fundamen-tal quanto desenvolver políticas públicas para a classe. Claro que de nada adianta desenvolver leis que asseguram reconhecimento de nome, utilização adequada de banheiros em locais públicos, entre outras necessidades espe-cíficas, se não houver transfor-mação de valores e paradigmas na sociedade. Esperamos, espe-cialmente, que essa transforma-ção comece dentro das escolas. A educação é a ferramenta mais poderosa para combater o pre-conceito e promover a igualda-de.

“Não raro, o currículo em ação eclode e se explicita nas atitudes dos(as) professores(as) frente à diferença. Com efeito, um(a) docente, ao se recusar a chamar uma estudante travesti pelo seu

AÇÃO Educativa. A EJA no marco de políticas afirmativas para travestis e transexuais. 4 de setembro de 2013. Disponí-vel em: <http://www.acaoeducativa.org.br/index.php/educacao/50-educacao-de-jovens--e-adultos/10004781-a-eja-no-marco-de-poli-ticas-afirmativas-para-travestis-e-transexuais.>

Acesso em: 13 fev. 2015.

JUNQUEIRA, Rogério Diniz. Pedagogia do armário e currícu-lo em ação: heteronormativida-de, heterossexismo e homofobia no cotidiano escolar.

ABRAMOVAY, Miriam; CAS-TRO, Mary Garcia; SILVA, Lore-na Bernadete da. Juventude e Sexualidade. Brasília: UNESCO Brasil, 2004.

nome social, está ensinando e es-timulando os(as) demais a ado-tarem atitudes hostis em relação tanto a ela quanto à diferença/diversidade sexual em geral. Tra-ta-se de um dos meios mais efi-cazes de se traduzir a pedagogia do insulto e o currículo em ação em processos de desumanização e exclusão.” (JUNQUEIRA, 2012. pág. 18)

Além de políticas públicas e do empenho pessoal, precisamos de oportunidades que só são ga-rantidas por meio da educação. Uma educação para todos, livre das barreiras do preconceito e capaz de promover a dignidade humana.

Pamella Yule é fotógrafa, tem 27 anos e é formada em Artes Vi-suais pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Pamella é travesti.

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50 | Revista ATUAÇÃO | Março 2015

DITADURA

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O 10 de dezembro, Dia Internacional dos Direitos Huma-nos, de 2014, foi uma data especialmente importante no Brasil: dois anos e meio depois de instalada, e 30 anos

depois do fim da ditadura militar no país, a Comissão Nacional da Verdade entregou oficialmente seu relatório final à presidenta Dil-ma Rousseff.

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Mais que um documento re-cheado com números, nomes, depoimentos, revelações e con-firmações, o relatório da Comis-são da Verdade constitui um marco libertador para a história do país e para as incontáveis vi-das que foram, de algum modo, afetadas pelos crimes cometidos pelo Estado brasileiro no período da ditadura militar.

Pela primeira vez, estão com-pilados em um documento oficial o nome dos 377 agentes de Esta-do (pelo menos 190 deles ainda vivos) acusados de crimes con-tra os direitos humanos no perí-odo da ditadura, para os quais se pede punição. Mas, para tanto, é preciso que para eles não valha a Lei da Anistia, de 1979, o que não é muito simples de conseguir.

No entanto, a quantidade de depoimentos e informações a respeito das 434 mortes atribuí-das à truculência do regime mili-tar, por si só, tem força suficiente para abalar algumas estruturas e provocar reações que catalisam os efeitos do silêncio por anos imposto sobre o assunto.

O relatório, com mais de 1.300 páginas, detalha métodos de tortura, execuções, ocultação de cadáveres, detenções ilegais e desaparecimentos forçados que, “dada a escala e a sistematicida-de com que foram cometidos, constituem crimes contra a hu-manidade, e não são passíveis de anistia”. Todos os ex-presidentes da República que exerceram mandato durante a ditadura fo-ram responsabilizados por essas ações.

Além de conclusões, o relató-rio da Comissão contém diversas recomendações, que vão desde a suspensão do direito à anistia para os culpados pelos crimes contra os direitos humanos e a retirada de condecorações a vio-ladores, até a mudança de nomes de ruas, praças e avenidas por todo o país e a desmilitarização das polícias militares estaduais.

Concluído o relatório e cum-prido o papel fundamental da Comissão, os próximos passos serão decisivos para que o Bra-sil mude, de fato, sua história de conivência oficial com a “perpe-tuação da impunidade”. Fazer cumprir as recomendações da Comissão, bem como os pactos internacionais dos quais o Brasil é signatário, é um desafio a ser superado para honrar a Consti-tuição Federal.

Um ponto importante a con-siderar é a incompatibilidade entre a Lei da Anistia, que fez perderem efeito os “crimes po-líticos e conexos”, e a decisão da Corte Interamericana de Di-reitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA), da qual o Brasil é membro, que já declarou que a legislação brasileira é incompatível com a Convenção Americana de Di-reitos Humanos, justamente por considerar que ela “perpetua a impunidade”.

Pactos internacionaisEm 2010, o Supremo Tribunal

Federal (STF) julgou uma ação de inconstitucionalidade contra a Lei de Anistia, e considerou que ela se aplica mesmo para casos de tortura e crimes co-muns cometidos por agentes do Estado. Um recurso da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) ainda aguarda julgamento.

A atual composição do Su-premo é diferente da de 2010 e ainda pode ter mudanças. Até o fim de 2018, a presidenta Dilma Rousseff deverá indicar substi-tutos do ministro Joaquim Bar-bosa, que se aposentou, e de ao menos outros cinco magistrados que completarão 70 anos no pe-ríodo e terão de se aposentar compulsoriamente.

O Congresso Nacional teria poder para mudar a situação, editando uma nova lei que subs-tituísse a anterior. Atualmente dois projetos de lei que cance-lam a anistia irrestrita estão pa-rados no Parlamento.

Obstáculos

Comissão Nacional da Verdade - Relatório finalConclusões sobre a repressão e tortura durante a ditadura

Agentesresponsáveis

pela repressão

Fonte: Relatório final da Comissão Nacional da Verdade/ 2014

Sindicatos sobintervenção*

*Entre 1964 e 1970536

6.591377

Militaresque a ditadura

perseguiu

Da Aeronáutica

Da Marinha

Do ExércitoDas políciasestaduais

3.3402.214

800237

434

Mortos edesaparecidos

na ditadura

Desaparecidos

Mortos

Corpos localizados

210

19133

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O relatório final da Comissão Nacional da Verdade propõe 29 medidas relacionadas à punição de autores de violações de di-reitos como detenções ilegais, tortura, execuções, desapare-cimentos forçados e ocultação de cadáveres durante a ditadura militar. “O cometimento de gra-ves violações de direitos huma-nos verificado no passado não foi adequadamente denunciado, nem seus autores responsabili-zados, criando-se as condições para sua perpetuação”, diz um dos trechos conclusivos do re-latório.

As recomendações se divi-dem em três tipos: institucionais; mudanças na lei ou na Constitui-ção; e medidas para continuida-de das investigações e estudos históricos. Confira:

1. Reconhecimento de culpaSegundo a CNV, até agora as

Forças Armadas não negaram que ocorreram abusos de direi-tos humanos em suas instala-ções, cometidos por seus milita-res. Mas isso não seria suficiente. A primeira recomendação do re-latório final é que as forças re-conheçam sua responsabilidade institucional pelos abusos ocor-ridos no período da ditadura.

2. Punição de agentes públi-cos

A CNV entendeu, com base em legislação internacional, que a Lei de Anistia não pode pro-teger autores de crimes contra a humanidade. Por isso reco-menda que os agentes do Es-tado envolvidos com episódios de tortura, assassinatos e outros abusos sejam investigados, pro-cessados e punidos.

Medidas institucionais

3. Acusados de abusos de-vem custear indenizações de ví-timas

O Estado brasileiro já foi con-denado a pagar diversas indeni-zações a vítimas de abusos das forças de segurança durante a ditadura. O documento final da CNV recomenda agora que o Es-tado tome medidas administra-tivas para que os agentes públi-cos cujos atos resultaram nessas condenações sejam obrigados a ressarcir os cofres públicos.

4. Proibição das comemora-ções do golpe militar de 1964

A CNV recomenda a proi-bição de qualquer celebração oficial relacionada ao tema. Associações relacionadas aos militares tradicionalmente co-memoram os aniversários da re-volução de 1964.

5. Alteração dos concursos públicos para as forças de segu-rança

O documento recomenda que os processos de recruta-mento das Forças Armadas e das polícias levem em conta os conhecimentos dos candidatos sobre preceitos teóricos e prá-ticos relacionados à promoção dos direitos humanos.

6. Modificação do currículo das academias militares e poli-ciais

A CNV recomenda alterações no ensino sobre os conceitos de democracia e direitos humanos nas academias militares e de po-lícia do Brasil. Essas entidades deveriam ainda suprimir qual-quer referência à doutrina de segurança nacional.

7. Mudanças nos registros de óbito das vítimas

A alteração de registros de causas de óbitos de vítimas do regime militar é outra das reco-mendações da comissão. O obje-tivo é tornar oficial que diversas pessoas morreram em decorrên-cia de violência de agentes do Estado e não por suicídio.

8. Mudanças no InfosegA CNV recomenda que os re-

gistros criminais de pessoas que posteriormente foram reconhe-cidas como vítimas de persegui-ção política e de condenações na Justiça Militar entre 1946 a 1988 sejam excluídos da rede In-foseg – o banco de dados que tenta integrar as informações de segurança pública dos estados brasileiros. A comissão pede ainda a criação de um banco de DNA de pessoas sepultadas sem identificação para facilitar sua posterior identificação.

9. Criação de mecanismos de prevenção e combate à tortura

Segundo o documento, a tortura continuaria a ser prati-cada em instalações policiais pelo Brasil. Esse entendimento levou a comissão a recomendar a criação de mecanismos e co-mitês de prevenção e combate à tortura nos estados e na Fe-deração.

10. Desvinculação dos IMLs das Secretarias de Segurança Pública

A apuração pela CNV de ca-sos de conivência de peritos com crimes de agentes do Esta-do e a produção de laudos im-precisos durante o regime mili-tar fez a comissão recomendar a desvinculação dos Institutos Médicos Legais das polícias e das Secretarias de Segurança Pública. O objetivo seria melho-

Relatório propõe 29 recomendaçõesde responsabilização civil e criminal

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rar a qualidade de produção de provas, especialmente em casos de tortura.

11. Fortalecimento das Defen-sorias Públicas

Segundo as investigações da CNV, a dificuldade de acesso dos presos à Justiça facilitou a ocorrência de abusos de direitos humanos nas prisões durante o regime. Situação semelhante persistiria no sistema peniten-ciário atual. Por isso, seria ne-cessário melhorar a atuação dos defensores públicos e aumentar seu contato com os detentos.

12. Dignificação do sistema prisional e do tratamento dado ao preso

O relatório final da CNV faz uma série de críticas às condi-ções do sistema prisional e re-comenda ações de combate à superlotação, aos abusos de di-reitos humanos e às revistas ve-xatórias. A comissão critica ain-da o processo de privatização de presídios que já ocorre em alguns estados do país.

13. Instituição de ouvidorias do sistema penitenciário

A comissão recomenda a adoção de ouvidorias no siste-ma penitenciário, na Defensoria Pública e no Ministério Público para aperfeiçoar esses órgãos. Os defensores devem ser mem-bros da sociedade civil.

14. Fortalecimento de Conse-lhos da Comunidade para fisca-lizar o sistema prisional

Os Conselhos da Comunida-de já estão previstos em lei e de-vem ser instalados em comarcas que tenham varas de execução penal. Eles devem acompanhar o que acontece nos estabeleci-mentos penais.

15. Garantia de atendimento às vítimas de abusos de direitos humanos

De acordo com a CNV, as ví-timas de graves violações de direitos humanos estão sujeitas a sequelas que demandam aten-dimento médico e psicossocial contínuo – que devem ser ga-rantidos pelo Estado.

16. Promoção dos valores de-mocráticos e dos direitos huma-nos na educação

Basicamente, os integrantes da comissão pedem que as es-colas ensinem aos alunos a his-tória recente do país e “incenti-vem o respeito à democracia, à institucionalidade constitucio-nal, aos direitos humanos e à di-versidade cultural”.

17. Criação ou aperfeiçoa-mento de órgãos de defesa dos direitos humanos

A comissão recomenda a criação e o apoio a secretarias de direitos humanos em todos os estados e municípios do país. O grupo também pede reformas em órgãos federais já existentes, como o Conselho Nacional dos Direitos Humanos (CNDH), a Co-missão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP) e a Comissão de Anistia.

18. Revogação da Lei de Se-gurança Nacional

A CNV quer a revogação da Lei de Segurança Nacional (que define os crimes contra a segu-rança nacional e a ordem políti-ca e social), adotada na época do regime militar e ainda vigen-te.

19. Mudança das leis para pu-nir crimes contra a humanidade e desaparecimentos forçados

A comissão solicita a incor-poração na legislação brasileira do crime de “desaparecimento forçado” – quando uma pessoa

é detida secretamente por uma organização do Estado – e dos crimes contra a humanidade. Segundo a CNV, esses crimes já estão previstos no Direito Inter-nacional, mas não nas leis bra-sileiras.

20. Desmilitarização das polí-cias militares estaduais

Para a CNV, a estrutura militar da Polícia Militar dos estados e sua subordinação às Forças Ar-madas são uma herança do regi-me, que não foi alterada com a Constituição de 1988. Segundo a comissão, essa estrutura não é compatível com o Estado demo-crático de direito e impede uma integração completa das forças policiais. O grupo recomenda que a Constituição seja alterada para desmilitarizar as polícias.

21. Extinção da Justiça Militar Estadual

Com a desmilitarização das polícias dos estados, a Justiça Militar Estadual deveria ser ex-tinta. Os assuntos relacionados às Forças Armadas seriam trata-dos pela Justiça Militar Federal.

22. Exclusão de civis da juris-dição da Justiça Militar Federal

A comissão recomenda que se acabe com qualquer jurisdi-ção da Justiça Militar sobre civis e que esse ramo do Judiciário tenha atribuições relacionadas apenas aos militares.

23. Supressão, na legislação, de referências discriminatórias da homossexualidade

A CNV recomendou a retira-da da legislação de referências supostamente discriminatórias a homossexuais. O grupo cita como exemplo uma lei militar que descreve um crime como “praticar, ou permitir o militar que com ele se pratique ato li-bidinoso, homossexual ou não, em lugar sujeito a administração militar”.

Reformas constitucio-nais e legais

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55Revista ATUAÇÃO | Março 2015 |

Comissão da Verdade pede devolução de terras indígenas

24. Extinção do auto de resis-tência

A comissão recomenda que as polícias não usem mais clas-sificações criminais como “auto de resistência” ou “resistência seguida de morte”. Geralmen-te essas tipificações são usadas em casos de suspeitos feridos ou mortos pela polícia. A CNV sugere tipificações como “lesão corporal decorrente de inter-venção policial” e “morte decor-rente de intervenção policial”.

25. Introdução da audiência de custódia

A comissão recomenda a in-trodução no ordenamento ju-rídico brasileiro da audiência de custódia. Ou seja, todo pre-so teria que ser apresentado a um juiz até no máximo 24 horas após sua prisão. O objetivo é di-ficultar a prática de abusos.

Entre as recomendações do relatório final da Comissão Na-cional da Verdade, destacam--se a homologação de terras indígenas e a recuperação am-biental de áreas, que no passa-do pertenciam às comunidades tradicionais e viraram pasto ou plantações voltadas para o agronegócio. A recomendação é uma forma de reparar os cri-mes cometidos contra os povos indígenas no período da ditadu-ra militar (1964-1985).

Entre os anos de 1946 e 1998,

28. Preservação da memóriaA comissão sugere uma sé-

rie de ações para preservar a memória dos abusos cometidos durante a época do regime mili-tar. Entre elas estão a criação de um Museu da Memória, em Bra-sília, e o tombamento de imóveis onde ocorreram abusos. Eles também querem que nomes de acusados de abusos deixem de nomear vias e logradouros pú-blicos.

29. Ampliação da abertura dos arquivos militares

A comissão deseja que o pro-cesso de abertura de arquivos militares relacionados ao regime se expanda. O grupo estimulou ainda a realização de mais pes-quisas sobre o período nas uni-versidades.

(Fonte: Revista Fórum e G1)

26. Manutenção dos traba-lhos da CNV

A comissão entendeu que não foi possível esgotar todas as possibilidades de investiga-ção até a sua conclusão. Por isso recomenda que um órgão per-manente seja criado para con-tinuar as apurações e verificar a implementação das medidas sugeridas.

27. Manutenção da busca por corpos

O grupo sugeriu ainda que órgãos competentes recebam os recursos necessários para continuar tentando encontrar os corpos de desaparecidos políti-cos – frente em que a comissão não fez grandes avanços.

Medidas de seguimen-to das ações e recomen-dações da CNV

com a ampliação da fronteira Oeste do país, os povos da re-gião viram seus territórios inva-didos por latifundiários que se beneficiaram da omissão (ou até mesmo do apoio) do governo. A situação intensificou-se a partir da década de 70, com o Plano de Integração Nacional instituí-do pelos militares, com a aber-tura de estradas como a Transa-mazônica.

Um dos exemplos é o do povo Waimiri, que tinha sete mil re-presentantes antes da constru-

ção da rodovia que liga Manaus (AM) a Boa Vista (RR). Hoje, contam apenas 350. Durante a guerrilha do Araguaia, indígenas da tribo Suruí teriam sido escra-vizados pelo governo e usados como guias para a localização dos militantes.

Das 29 medidas da Comissão, três são voltadas para as popu-lações indígenas. A primeira de-las pede que seja criada uma Comissão da Verdade Indígena para continuar a pesquisa. Fo-ram coletadas nessa primeira etapa pelo menos 600 páginas de documentos e relatos apon-tando crimes contra os índios. O documento estima que o regime tenha afetado pelo menos 8 mil indígenas.

(Fonte: Revista Fórum e Portal Participe)

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Vamos dar início à corri-da maluca! A partir de fevereiro, veremos de

novo, nas ruas, estudantes com seus uniformes novinhos (escola privada, é claro!), mochilas chei-nhas de cadernos e livros, maio-ria com rodinhas porque estão pesadas demais com tanta “sa-piência”!

As escolas, com raríssimas exceções, transformaram-se em uma máquina de fazer doidos! É preciso entrar na competição! “A outra escola conseguiu se sair melhor no exame do Enem, não podemos deixar acontecer de novo”. Isso porque, atualmen-te, as escolas são medidas pela quantidade de alunos que con-seguem ENFIAR na universidade e fazem questão de expor isso em outdoors. A última coisa que se pensa é na criança e nesse jo-vem abarrotado de tarefas e si-mulados. Pasmem, desde a Edu-cação Infantil! Estamos como um trem em alta velocidade, sem condutor e sem freios! Fruto da civilização ocidental que induziu no homem o mito do crescimen-to econômico, baseado no binô-mio – ganhar e competir. Esse é o presente envenenado que es-tamos deixando para nossos fi-lhos e netos – competição, lei do mais forte, sem se importar com o outro. O que interessa é se dar bem! No passado, as crianças tra-balhavam nos campos e, depois, nas fábricas da Revolução Indus-trial. O século XX testemunhou a ascensão da Criança sem Limites e agora estamos ingressando na era da Criança Gerenciada. Es-tamos criando a geração mais conectada, mimada e monito-rada da história, com crianças que possuem uma agenda mais

lotada que a dos pais: inglês, na-tação, tênis, Kumon... Recente-mente, as Nações Unidas fizeram um alerta de que uma em cada cinco crianças já sofre de algum distúrbio psicológico, e a Organi-zação Mundial da Saúde estima que, por volta de 2020, a doença mental será uma das cinco maio-res causas de morte ou incapaci-dade entre os jovens. Pesquisas em todo o mundo sugerem que a depressão e a ansiedade infantis, que provocam o abuso de subs-tâncias, a autoagressão e o suicí-dio, agora são mais comuns não só nos bairros pobres, mas nos apartamentos e casas de famílias abastadas, onde a classe média ambiciosa gerencia o projeto de vida de seus filhos.

Estou na corrente contrária há muito tempo. Sempre fui contra essa correria. O respeito ao ser criança sempre foi uma preocu-pação nas minhas formações de professores. Não é possível que os pais continuem coniventes e até corresponsáveis por esse massacre mental dos próprios fi-lhos! Já conversei com diretores, tanto de escolas privadas como públicas, que argumentam ser necessário acompanhar a onda da competitividade, porque se-não terão que fechar a escola. In-felizmente as escolas estão sen-do feitas para agradar aos pais (bolso) e, quase nunca, as crian-ças. Que tipo de gente estamos formando?! Eis a pergunta que precisamos fazer.

Comungo com a ideia de um grupo que vem fazendo um mo-vimento contrário, o movimen-to SLOW, que já há alguns anos desenvolve uma vasta literatura e correntes de pensamento a fa-vor do tema devagar – vagareza

– slow – desaceleração. É possí-vel fazer, assim, baseada nesses princípios, uma reflexão sobre o cotidiano escolar, traçando novas estratégias didáticas e centradas no PERDER TEMPO PARA: conversar com o aluno, e assim conhecê-lo melhor; usar caneta e escrever à mão, com o propósito de escrever bem e ter belas escritas; andar a pé pela cidade, indispensável maneira para se conhecer um território bem e profundamente, tanto his-tórica como geograficamente; trocar as cópias xerocadas por desenhos criativos, recuperando a originalidade e criando suas próprias tabelas, esquemas e or-ganogramas; observar as nuvens no céu e a natureza ao seu entor-no; escrever e desenhar cartas e cartões; ouvir músicas de quali-dade e fazer hortas.

Chegou a hora de os adultos sabidos se retirarem um pouco e permitirem que as crianças se-jam elas mesmas, abrindo espa-ço para que possam respirar, fi-car à toa, relaxar, assumir riscos, cometer erros, sonhar, ter pra-zer com suas próprias coisas. É preciso puxar o freio, e já! Cora-gem de dizer BASTA! CHEGA DE BURRICE NA EDUCAÇÃO!

“Correr pra onde e para quê?”

ARTIGO

Ângela Maria CostaProfessora e doutora da UFMS

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Tempo vira, Anoitece o dia.

Chove chuva,Branda e fria.

Na enxurrada bentaCrianças deleitam-se.

Quanta água!Glamour celeste,

Chuva de setembro primaveril,Água que não se mede,

Vazante permissiva dos deuses.Água que não se perde,

Destino aos rios.

Flamboyants bailam ao som do vento,Manacás contemplam o rejuvenescer,

A terra se fortifica.Anciões e pueris agradecem,

Exorcizando o tormento do póE o desconforto da seca agostina.

Meteoro em sete arcos,Colore o mais azul dos céus.

O pôr-do-sol rutila,Sobre o grande campo

Dessa vivaz terra morena,Jubilando a primavera.

É certo que as águas de março,Encerram o verão.

Mas quando chega setembro,Campo Grande se rende

Aos coloridos Ipês,Aos aglomerados verdes,

Aos passeios serenos, das capivaras.Formas, cores e ritmos,

Estimulam a vida,Favorecem o amor,

Entrelaçam almas,Aculturam povos.

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Lourdelice MoraesArte-educadora da Rede Municipal de

Ensino de Campo Grande - MS

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