revista atuação - edição 3 - março de 2012

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Revista Atuação, uma publicação da Federação dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul (FETEMS). Redação e Produção:Íris Comunicação Integrada; Diretora de Criação: Nanci Silva; Diretor de arte: José Henrique G. Oliveira; Jornalista responsável e editora: Laura Samudio Chudecki (DRT-MS 242); Revisão: Fabiana Silvestre (DRT-MS 087), Mário Márcio Cabreira (DRT-MS 109);Colaboraram nesta edição: Gesiel Rocha, Maria Irene Zardo, Paula Maciulevicius; Fotos:Wilson Jr.; Gesiel Rocha; Elis Regina; Maria Irene Zardo; Rua Chafica Fatuche Abussafi, 200; Vila Nascente - CEP 79036-112; Campo Grande;Mato Grosso do Sul; Brasil

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EXPEDIENTE

Redação e Produção Íris Comunicação IntegradaRua Chafica Fatuche Abusafi, 200Parque dos Poderes - 79036-112Campo Grande/MS+ 55 67 3025.6566

Diretora de criação: Nanci SilvaDiretor de arte: José Henrique G. OliveiraJornalista responsável e edição: Laura Samudio Chudecki (DRT-MS 242)Revisão: Fabiana Silvestre (DRT-MS 087), Mário Márcio Cabreira (DRT-MS 109)

Colaboraram nesta ediçãoGesiel RochaMaria Irene ZardoPaula Maciulevicius

FotosWilson Jr.Gesiel RochaElis ReginaMaria Irene Zardo

Os textos assinados são de responsabilidade dos autores e não representam, necessariamente, a opnião da revista.

WWW.FETEMS.ORG.BRRua 26 de Agosto, 2.296, Bairro Amambaí - Campo Grande - MS

CEP 79005-030. Fone: (67) 3382.0036 – E-mail: [email protected]

DiretoriaPresidente: Roberto Magno Botareli Cesar Vice-Presidente: Elaine Aparecida Sá Costa Secretaria-Geral: Deumeires Batista de Souza Secretaria-Adjunta: Maria Ildonei de Lima Pedra Secretaria de Finanças: Jaime Teixeira Sec. Adjunta de Finanças: José Remijo Perecin Sec. de Assuntos Jurídicos: Amarildo do Prado Sec. de Formação Sindical: Joaquim Donizete de Matos Sec. de Assuntos Educacionais: Edevagno P. da Silva Sec. dos Funcionários Administrativos: Idalina da Silva Sec. de Comunicação Social: Ademir Cerri Sec. de Administração e Patrimônio: Wilds Ovando Pereira Sec. de Políticas Municipais: Ademar P. da Rosa Sec. dos Aposentados e Assuntos Previdenciários: José Felix Filho Sec. de Políticas Sociais: Iara G. Cuellar Sec. dos Especialistas em Educação e Coord. Pedagógica: Sueli Veiga Melo Dep. dos Trabalhadores em Educação em Assent. Rurais: Rodney C. da Silva Ferreira Dep. dos Trabalhadores em Educação Antirracismo: Edson Granato Dep. da Mulher Trabalhadora: Leuslânia C. de Matos

Suplentes: Suplente (1): Adilson B. Gonçalves; Suplente (2): Marileide P. Ferreira; Suplente (3): Ana Maria Coelho Belo; Suplente (4): Irene Barbosa; Suplente (5): Anderci da Silva; Suplente (6): Ivarlete Pinheiro.

Vice-presidentes Regionais: Amambai: Humberto Vilhalva; Aquidauana: Francisco Tavares da Câmara; Campo Grande: Paulo César Lima; Corumbá: Raul Nunes Delgado; Coxim: Thereza Cristina Ferreira Pedro; Dourados: Admir Candido da Silva; Fátima do Sul: Manoel Messias Viveiros; Jardim: André Luiz M. de Matos; Naviraí: Nelfitali Ferreira de Assis; Nova Andradina: Maurício dos Santos; Paranaíba: Sebastião Serafim Garcia; Ponta Porã: Vitória Elfrida Antunes; Três Lagoas: Maria Aparecida Diogo.

Conselho Fiscal da FETEMS: Miranda: Robelsi Pereira; Fátima do Sul: Adair Luis Antioniete; São Gabriel do Oeste: Milton Zimerman Pinto; Dourados: Nilson Francisco da Silva; Navirai: José Luis dos Santos.

Assessoria de Imprensa da FETEMS: Karina Villas Boas e Azael Júnior

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ÍNDIcE

DESTAQUES

Alimentação Escolar 05

Agricultura familiar enriquece merenda escolar e gera renda no município de Itaquiraí.

Síndrome de Burnout 44

Profissionais da Educação estão sujeitos a desenvolver síndrome do trabalho.

Paralisação 32

Marcha reuniu 15 mil trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul.

Especial Mulher 16

Lei Maria da Penha começa a mudar o cenário de proteção à mulher no Brasil.

Material Pedagógico 08

Coletâneas de livros estimulam aprendizado dos alunos de Corumbá.

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EDITORIAL

Atuação de todos nós

“E minha alma, sem luz nem tenda,passa errante, na noite má,à procura de quem me entendae de quem me consolará...”

Na realidade dos versos de Cecília Meireles, do início de 1900, descortina-se a vida nada poética de milhões de brasileiras, que superam desigualdades, discriminação e as marcas da violência. Todos os dias. Dentro e fora de casa.

Mulheres de todas as cores, profissões e idades, que mudam a própria vida, lutam por respeito, igualdade no mercado de trabalho e que avançam na Educação, nas Artes, Economia, Medicina, no Sindicalismo. Na política, alcançaram o cargo máximo no país.

As lutas da mulher brasileira de ontem e de hoje são o tema central desta edição. São mulheres de muitos saberes, mas que, ainda, nos confins da terra brasilis, ou entre quatro paredes nas grandes cidades, amargam dores e buscam a liberdade:

“Liberdade, essa palavraque o sonho humano alimentaque não há ninguém que expliquee ninguém que não entenda...”

Muitos avanços foram alcançados na busca pela liberdade definida por Cecília Meireles, escritora, filha de uma professora e um bancário. O direito ao voto, de ser votada, entre outros, e a Lei Maria da Penha, mais recentemente. A luta pelo direito à livre expressão, protagonizada em Mato Grosso do Sul, por personagens como Lídia Baís, que não se intimidou ante o conservadorismo vigente e mostrou a que veio. Uma mulher à frente de seu tempo.

A revista Atuação é uma iniciativa da Federação dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul (FETEMS), para colocar em debate, de forma mais aprofundada, esses e outros temas importantes e, sempre, urgentes no país e em nosso Estado.

Falamos, também, de Educação. De Itaquiraí, o exemplo da merenda escolar que vem da roça e alimenta nossas crianças. De Corumbá, a utilização inovadora de materiais didáticos regionais, que retratam a vida dos meninos e das meninas na região pantaneira. Falamos, ainda, das dificuldades enfrentadas pelos profissionais em Educação, dentro e fora da sala de aula, e de mobilização. Do engajamento dos educadores nas lutas da categoria. Lutas de ontem e de hoje. Prosseguiremos lutando.

Boa leitura!

Roberto Magno Botareli CesarPresidente da Federação dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul

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Cleiton Alis Silva tem apenas 13 anos de idade e um grande sonho: ser médico. “Assim vou aju-dar as pessoas que precisam”, conta. O estudante da Escola Municipal Jardim Primavera morou na área rural até os 10 anos e gostava de ajudar o avô no plantio. “Ele carpia e eu ia plantando”. Desde pequeno, ele gosta de comer frutas e verduras e mostra que conhece a importância da boa alimen-tação para um desenvolvimento saudável. “Para estudar, tenho que me alimentar bem”, diz.

Com três escolas estaduais, três municipais,

Programa beneficia agricultores com geração de renda e, alunos com alimentação saudável, em Itaquiraí

Alimentação diversificada

aponta resultados

positivos na Educação

três extensões, uma dessas instalada em acam-pamento rural, uma escola agrícola e quatro cen-tros de Educação Infantil, o município de Itaquiraí (MS), localizado na região sul do estado, encon-trou na diversificação da agricultura familiar uma forma de enriquecer a merenda escolar. Assim como Cleiton, 5.656 estudantes de Itaquiraí têm uma alimentação de melhor qualidade, graças a essa diversificação.

O município é agrário, com 65% da população residindo em 12 assentamentos rurais. A maioria

Merenda escolar que vem da roça

ALIMENTAÇÃO

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desses agricultores familiares tira o sustento exclusivamente da terra. A partir de 2005, eles receberam incentivos e apoio da administração municipal para produzir diferentes tipos de ali-mentos. “Iniciamos a diversifi-cação da agricultura, pensando em aumentar a renda dos as-sentados e, consequentemente, melhorar a vida das famílias no campo. Os projetos tiveram um resultado tão positivo que, hoje, estão refletindo na Educação, oferecendo alimentação de qua-lidade aos nossos estudantes”, explica a prefeita de Itaquiraí, Sandra Cassone, que é professo-ra e foi diretora de escola duran-te seis anos.

Parte da merenda escolar vem do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), em que o Governo Federal, por meio da Companhia Nacional de Abas-tecimento (CONAB), adquire produtos da agricultura familiar, com recursos do Ministério do

Desenvolvimento Social e Com-bate à Fome, e doa para institui-ções, entre elas, escolas.

Peixes, hortaliças, frutas, legu-mes e doce de leite são alguns dos produtos da agricultura fami-liar adquiridos por meio do PAA, que estão presentes, atualmente, na merenda escolar em Itaquiraí.

“Alimentos como esses de-vem ser oferecidos desde a Edu-cação Infantil, porque têm muitos nutrientes, e é na escola que se aprende a importância da boa alimentação. Assim, as crianças criam o hábito de se alimentar bem”, explica a nutricionista Pau-la Navarro.

Segundo o diretor Ademir Pe-reira, da Escola Municipal Jardim Primavera, a qualidade da me-renda melhorou muito. “A criança bem alimentada aprende melhor, principalmente, os alunos de bai-xa renda, que, muitas vezes não se alimentam bem em casa. An-tes, na merenda, eram servidos apenas arroz, macarrão e feijão,

por exemplo, mas, hoje, temos frutas e verduras. Isso ajuda os agricultores e favorece os alu-nos”, observa.

Pratos como farofa com le-gumes, bolinho de peixe, cural de abóbora, cural de milho, sopa de espinafre, bolo de mandioca e saladas variadas estão entre as iguarias preparadas pela meren-deira Darci Carvalho, do Centro de Educação Infantil São Carlos Borromeu. “Antes, as crianças comiam mais massa na merenda, hoje, temos fartura de alimentos e crianças mais saudáveis”, afir-ma.

Há 16 anos na profissão, Darci conta que já conhece os pratos preferidos das crianças. “Procu-ramos fazer o que eles comem bem. Todo alimento que vem é bem aproveitado. Eles adoram, por exemplo, comer milho no sa-bugo”, conta.

5.656 estudantes de Itaquiraí têm uma

alimentação de melhor qualidade, graças à

produção diversificada da agricultura familiar

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R$ 4,5 mil. “A renda dos agricul-tores que participam aumentou em 16%, e a proposta é inserir cada vez mais produtores. Temos o sonho de incluir, também, pol-pa de fruta no Programa”, explica a gestora sócio-organizacional rural da AGRAER, Maria Clara Meurer.

Manoel Messias é presidente da Associação 24 de junho, que reúne agricultores do Assenta-mento Sul Bonito. Participantes do PAA. “Uma das grandes van-tagens é que nossas crianças se alimentam da própria produção dos pais. A diversificação da agri-cultura melhorou muito a nossa renda porque dá pra plantar em pouca terra e as épocas de co-lheita são variadas, então é um dinheiro que entra quase todo mês”, ressalta.

PEIxES, hortAlIçAS,

frutAS, lEgumES E docE dE lEItE

São AlgunS doS ProdutoS dA AgrIculturA

fAmIlIArAdquIrIdoS Por

mEIo do PAA, quE EStão PrESEntES,

AtuAlmEntE, nA mErEndA EScolAr

Em ItAquIrAí.

Gerando renda e alimentos saudáveis

O PAA foi implantado em Ita-quiraí, em 2008. A Agência de Desenvolvimento Agrário e Ex-tensão Rural (AGRAER) elabo-ra os projetos dos agricultores que desejam participar e realiza a entrega dos produtos. A Ad-ministração Municipal apoia o processo produtivo, inspeciona produtos de origem animal (por meio da vigilância sanitária) e é responsável pelo transporte dos produtos às escolas mais distan-tes.

Participam do PAA, 74 agri-cultores familiares de Itaquiraí. No início, cada produtor podia comercializar, pelo Programa, va-lor equivalente a R$ 3,5 mil. Mas, atualmente, esse valor subiu para

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Os dois dedinhos ainda delica-dos da mão direita, um à frente do outro, mostram com perfei-ção, sobre a carteira, na sala de aula, o jeito seguro de uma me-nina determinada. Aos 9 anos, é natural que Luany Montenegro Torres, no 5º ano na recém inau-gurada Escola Municipal Profes-sor Djalma de Sampaio Brasil, ainda não tenha se decidido so-bre qual caminho trilhar quando crescer.

Qualquer que seja o caminho, no entanto, Luany e os colegas de sala já expressam uma cer-teza: de um tempo para cá, está mais fácil e prazeroso aprender e fazer todas as atividades. “Até a tarefa de casa ficou mais gosto-sa”, completa a estudante. A mu-dança a que ela, graciosamen-te, se refere é resultado de uma

nova ferramenta, à qual, desde outubro de 2011, professores e alunos das cinco primeiras sé-ries da Rede Municipal de Ensino (REME) de Corumbá (MS) têm acesso: as Coletâneas Pedagógi-cas – Práticas para a Sala de Aula.

“Ficou mais fácil aprender, porque os livros são mais simples e falam das coisas que estão à nossa volta, como o Pantanal, os bichos, as plantas. Foi disso que mais gostei”, acrescenta Claudia-ne da Silva Lima, 10 anos, colega de sala de Luany, afirmando ser a primeira vez que tem conta-to com livros que falam de sua própria cidade, seu próprio meio ambiente. E, no caso da estudan-te, a identificação com o universo escolar a revela um desejo: “Vejo as professoras dando aula e fico morrendo de vontade de ser pro-

fessora um dia”.Trazer a realidade regional

para a sala de aula, proporcionar que o aluno se identifique com símbolos culturais, folclóricos, da fauna e da flora pantaneiras, e inseri-los no ensino das mais di-ferentes disciplinas, das Artes à Matemática, são alguns dos am-biciosos propósitos da Secretaria Municipal de Educação de Co-rumbá, com as coletâneas. Para tanto, uma equipe de mais de 20 educadores debruçou-se, por mais de um ano, sobre o projeto de elaborar um material pedagó-gico cujos conteúdos pudessem ser trabalhados em todas as áre-as do conhecimento, com exem-plos do cotidiano das crianças e, abordando desde os artistas lo-cais ao modo de vida dos ribeiri-nhos do rio Paraguai.

Após um ano de intensa pesquisa e redação, com mais de 20 educadores envolvidos, cinco livros trazem um mundo de cultura, história, folclore e natureza a professores e alunos da região do Pantanal

UM olhar regionalizado

nas escolas MUnicipais de

corUMbá

MATERIALPEDAgógIcO

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O nosso mundo em sala Para a pedagoga Jucilene de Souza Ruiz, 28 anos, tutora do curso de Pedagogia da Univer-sidade Anhanguera-Uniderp de Corumbá, as coletâneas ajudarão a suprir uma necessidade que ela considera ser típica dos edu-cadores locais: trabalhar mais a própria fauna e flora, a natureza e cultura regionais. “Esse mate-rial foi pensado, justamente, com esse propósito, pois o conteú-do é muito rico, contendo tex-tos poéticos, letras de músicas e quadros dos nossos artistas; mas, principalmente, ideias e su-gestões de atividades das quais precisamos constantemente. Todo material que vem auxiliar nesse sentido é bem-vindo, pois nos mostra se estamos no cami-nho certo”, salienta.

trAzEr A rEAlIdAdE

rEgIonAl PArA A SAlA dE AulA, ProPorcIonAr

quE o Aluno SE IdEntIfIquE com SímboloS

culturAIS, folclórIcoS, dA

fAunA E dA florA PAntAnEIrAS, E InSErI-loS

no EnSIno dAS mAIS dIfErEntES

dIScIPlInAS, São AlgunS

doS AmbIcIoSoS ProPóSItoS

dA SEcrEtArIA munIcIPAl dE EducAção dE

corumbá, com AS colEtânEAS.

O resultado do trabalho foi a produção de cinco livros, um para cada um dos cinco anos do ensino Fundamental, dos quais foram impressos 1.200 exempla-res e distribuídos aos educado-res, de acordo com suas séries de atuação, além do kit comple-to entregue às escolas. E, mesmo há tão pouco tempo, nas salas de aula, o resultado da utilização das coletâneas como material de apoio já é amplamente sentido pelos professores.

“Até então, trabalhávamos apenas com o livro didático, que é completamente diferente da nossa realidade. Já as coletâ-neas trazem o nosso mundo e, por isso, os alunos ficam mais à vontade para aprender. Muitos até acrescentam relatos, porque vivenciam situações parecidas no dia-a-dia”, conta a pedago-ga Fátima Aparecida Marques Fontes, 49 anos, professora da REME, que, em 2011, trabalhou o material com os alunos do 2º ano. É o caso do aluno que, du-rante uma aula de Ciências, so-bre as cobras, disse: “Professora, no Pantanal não se pode matar cobra, basta pegar uma vassoura e tirá-la de onde ela está”, relata, enfatizando que a troca de expe-riências enriquece a aula.

A colega Candelária Joyce da Mota Silva, 35 anos, acrescenta que, além de complementar a prática pedagógica, sem prejuízo ao conteúdo previsto pela grade escolar tradicional, as coletâneas proporcionam uma nova postura dos educadores quanto ao modo de alfabetizar. É o que explica a pedagoga, após experimentá-las no 1º ano: “Nós sempre alfabeti-zamos assim: ‘A de abelha, E de elefante’ etc. Mas, esse material nos fornece os elementos certos para inserirmos a vivência dos alunos no processo de ensino. O aumento do interesse é incalcu-lável”.

Transversalidade do conteúdo

É possível que o interesse maior apontado pelas professo-ras ocorra porque, com as co-letâneas, numa aula de Artes, alunos do 1º ano podem estudar a tela São João - Descida da La-deira e aprender sobre o pintor José Ramão Pinto de Moraes, o Jorapimo (1937-2009), cuja obra projetou o Pantanal corumbaen-se no Brasil e no mundo. Enquan-to isso, alunos do 2º ano apren-dem a receita do arroz carreteiro

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na aula de Língua Portuguesa, trabalhando exercícios de voca-bulário e noções de alimentação saudável. Já na aula de Ciências do 5º ano, as crianças estudam um poema de Manoel de Barros e aprendem sobre o funcionamen-to do corpo humano.

Ao falar do pioneirismo da ini-ciativa enquanto proposta peda-gógica, o secretário municipal de Educação, Hélio de Lima, recorre a conceitos que crianças do 1º ao 5º ano entenderiam como outra língua, mas de cujos benefícios estão começando a desfrutar: transversalidade do conteúdo e plurissignificância da aprendi-zagem. Ele traduz: “Em todo o

levantamento que fizemos, nas análises das propostas de outros municípios, não encontramos conteúdo regional. Havia texto de Vigotsky e de Piaget, mas não havia algo que permitisse sentir o chão da escola e como melhorar a aprendizagem dos alunos por meio de sua realidade”.

Nesse sentido, ele enfatiza que as coletâneas representam um avanço sem parâmetros para a Educação de Corumbá, por possibilitar que os educadores aprendam e ensinem seus alunos com base em toda a riqueza cul-tural da cidade, no folclore e na produção artesanal da região. O mais importante, no entanto, é a

“Quando o indivíduo se identifica com o

que estuda, ele passa a se perceber do

local e, quando isso ocorre, ele deixa de

ser um sujeito passivo e se torna um sujeito

ativo, começando a desenvolver o que tanto almejamos no processo

de aprendizagem.”

Ana Cláudia Gonzaga da Silva,

coordenadora-geral de Planejamento do

Sistema Educacional do Município e integrante

da equipe que elaborou o coletâneas

Pedagógicas.

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inserção de todos esses aspectos nos conteúdos de Língua Portu-guesa, Matemática, História, Geo-grafia, Ciências, Artes e Educação Física, de forma multidisciplinar, ou seja, “trabalhando a transver-salidade dos conteúdos, que tan-to o Ministério da Educação de-fende que as escolas trabalhem”.

Para materializar tais concei-tos, o professor de Língua Portu-guesa Fernando Silva da Cruz, 31 anos, coordenador dos progra-mas “Se Liga” e “Acelera Brasil” em Corumbá, menciona a Mate-mática. “Com as frutas e verdu-ras mais comuns no dia-a-dia dos alunos, trabalhamos os números decimais, por exemplo, e mos-

As coletâneas podem ser acessadas, na íntegra, no site da Prefeitura de Corumbá: www.corumba.ms.gov.br

“Ficou mais fácil aprender, porque os livros são mais

simples e falam das coisas que estão à

nossa volta, como o Pantanal, os bichos, as plantas. Foi disso

que mais gostei.”

Claudiane da Silva Lima, 10 anos,

5º ano da Escola Municipal Professor

Djalma de Sampaio Brasil

tramos como esses alimentos são chamados na Bolívia, nosso país vizinho, em Espanhol”, ilus-tra. Na opinião do educador, que compôs a equipe que elaborou o material, os alunos serão capa-zes de observar tais conteúdos em muitas situações de sua vida, seja numa festa, como o Banho de São João, ou na feira de arti-gos bolivianos. “Isso resulta no sentimento de pertencimento”, resume.

“Quando o indivíduo se identi-fica com o que estuda, ele passa a se perceber do local e, quando isso ocorre, ele deixa de ser um sujeito passivo e se torna um su-jeito ativo, começando a desen-volver o que tanto almejamos no processo de aprendizagem”, acrescenta a geógrafa Ana Clau-dia Gonzaga da Silva, 44 anos, coordenadora-geral de Planeja-mento do Sistema Educacional do Município, também, integran-te da equipe. Por se tratar de um instrumento que permite a inves-tigação além dos muros da esco-la, ela está certa de que as cole-tâneas reúnem tudo para tornar o processo de ensino-aprendiza-gem mais eficaz.

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ENTREVISTA

Mulheres no comando do brasilEntrevista com a ministra Eleonora menicucci mostra as conquistas e os desafios na luta das mulheres em busca de igualdade, autonomia política social, econômica, cultural e na vida pessoal

Qual a sua expectativa ao assumir a Secretaria de Políti-cas para as Mulheres? Poderia apontar os principais desafios da pasta para o próximo perío-do?

Eleonora Menicucci – Eu me senti muito honrada com o con-vite da presidenta Dilma Rousse-ff, que me estimula a enfrentar, nesta etapa da minha vida, um dos maiores desafios pessoais e profissionais com os quais me deparei. Este convite traz uma imensa responsabilidade, e res-ponderei com toda a minha leal-dade e o meu compromisso, em consonância com a consolidação das metas de seu Governo assu-midas perante a nação. Na con-

dição de ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres, in-vestirei na força empreendedo-ra das mulheres brasileiras para avançar, somando às conquistas já alcançadas, na direção de no-vos caminhos e novas soluções na esfera do trabalho.

Qual o papel da Educação no enfrentamento das questões de gênero no Brasil?

Eleonora Menicucci – Estáva-mos falando em desafios, e um deles é deixar de tratar apenas dos danos finais e, também, as-sumindo um caráter preventivo em relação a questões de gêne-ro no Brasil. E, para atuar na pre-venção e coibição da violência, por exemplo, é preciso chamar à parceria não só a área de Educa-ção, como também, Assistência Social, Cultura, Saúde e Comuni-cação, contemplando de forma mais ampla as redes de atendi-mento à mulher. Afinal, a disse-minação sorrateira de padrões sexistas entre nós tem sido feita nas salas de aula, nos progra-mas de entretenimento, nos ser-viços básicos de saúde, enfim, nos vínculos sociais corriqueiros. Isso nos leva a incorporar tais padrões sexistas como formas habituais de sermos mulheres e

homens, bem como de nos assim relacionarmos desde a mais ten-ra idade.

As mulheres ainda enfrentam muitos desafios no mundo do trabalho, em relação à carreira, aos salários e às condições de trabalho. Quais ações efetivas, especialmente em políticas pú-blicas, podem contribuir para a transformação dessa realidade?

Eleonora Menicucci – A análise das condições das trabalhadoras tem sido reveladora das formas desiguais que as caracterizam – seja no mundo rural, no urbano ou na floresta. Ainda persistem a invi-sibilidade e o desprezo na formu-lação de políticas públicas em re-lação ao trabalho necessário, mas invisível, de segmentos expressi-vos de mulheres: as trabalhadoras domésticas, as garis, as ribeirinhas, as pescadoras, as mulheres indí-genas, as mulheres ciganas e as mulheres negras, entre outras tan-tas categorias. O desafio, agora, é tornar realidade o que foi propos-to no Plano Nacional de Políticas para as mulheres, com as atualiza-ções discutidas na 3ª Conferência de Políticas para Mulheres, reali-zada em dezembro passado. Na ocasião, a presidenta Dilma citou alguns programas do Governo, como o Bolsa-Família (recebido pelas mulheres), e o Minha Casa, Minha Vida – cuja compra pode ser assinada apenas pela mulher – como questões essenciais nesse processo de autonomia feminina. E garantir condições para a auto-nomia passa, entre outras coisas, pela oferta de creches de qualida-de, por políticas públicas que ga-rantam para as mulheres melho-res condições de participação no mundo público, e, também, pela reafirmação de políticas públicas que garantam o compromisso da sociedade com o cuidado infantil e a responsabilidade sobre tarefas domésticas. Reconhecer e alterar essa realidade atual significa, tam-bém, valorizar a sua contribuição

“Para atuar na prevenção e coibição

da violência, é preciso chamar à

parceria não só a área de Educação, como

também, Assistência Social, Cultura, Saúde

e Comunicação.”

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13Revista ATUAÇÃO | Abril 2012 |

no processo do desenvolvimento nacional, e registrá-la na Econo-mia e nas contas nacionais.

“É fundamental oferecer condições

que possibilitem às mulheres tomar as

rédeas de suas vidas, como cidadãs de fato

e de direito.”

“Necessitamos contar com o poder de controle social e de monitoramento

e com a ação das organizações do

movimento social e sindical”.

Quais são, em sua opinião, as melhores estratégias de atração e estímulo à participação políti-ca das mulheres? Por que é im-portante a atuação feminina em sindicatos, partidos políticos e demais organizações?

Eleonora Menicucci – Porque, como bem disse a diretora execu-tiva da ONU Mulheres e ex-presi-denta do Chile Michelle Bachelet, não há democracia sem as mu-lheres, e não há desenvolvimento sem as mulheres. Um dos maio-res estímulos, no sentido de am-pliar a participação dos espaços de poder e de decisão, na minha opinião, foi com a eleição da pre-sidenta Dilma, que significou um marco na história das conquistas das mulheres no país.

Page 16: Revista Atuação - Edição 3 - Março de 2012

14 | Revista ATUAÇÃO | Abril 2012

Significa que podemos ir mais longe. Mas, falando em termos de estratégias, é fundamental oferecer condições, como os programas de Governo que citei anteriormente, que possibilitem às mulheres tomar as rédeas de suas vidas, como cidadãs de fato e de direito.

Em seu discurso de posse, a Senhora ressaltou a importância da proximidade da Secretaria de Políticas para Mulheres, com a sociedade civil, para fortalecer e avançar nas políticas públicas de gênero. Como as entidades e organizações do movimento social e sindical podem contri-buir?

Eleonora Menicucci – Para que as políticas públicas para as mulheres sejam implantadas e implementadas em todos os ní-veis, com a mais alta qualidade e ética, necessitamos contar com o poder de controle social e de monitoramento, e com a ação das organizações do movimento social e sindical. A 3ª Conferência de Políticas para Mulheres tratou do fortalecimento da participa-ção social das mulheres, para a formulação e avaliação de polí-ticas públicas específicas, com incentivo à criação de conselhos nos municípios e estados, e o apoio à capacitação para forma-ção de lideranças no movimento de mulheres e feministas. O fato é que, como disse no meu dis-curso de posse, não se pode mais

“A vitória no Supremo Tribunal

Federal em relação à Lei Maria da Penha

representa uma enorme conquista

das mulheres em seus direitos.”

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prescindir da incorporação da di-mensão do social e da presença das mulheres como beneficiárias e protagonistas do processo de desenvolvimento sustentável e igualitário que estamos cons-truindo em nosso país.

Qual o impacto da recente decisão do Superior Tribunal Federal em relação à Lei Maria da Penha (que considerou que o suspeito de violência pode ser processado mesmo contra a vontade da vítima) para o com-bate à violência contra a mulher?

Eleonora Menicucci – A vitória no Supremo Tribunal Federal em relação à Lei Maria da Penha re-presenta uma enorme conquista das mulheres em seus direitos. Mas, para que a prática da Lei seja efetivada em sua plenitude, é preciso mais, tornar o atendi-mento e os serviços mais acessí-veis, atuantes, céleres e respeito-sos com as mulheres. Em resumo, ainda há muito a fazer, sobretu-do, em relação à ampliação das políticas relativas aos serviços públicos nas áreas de Segurança, Saúde e Justiça. Temos que esti-mular a criação de mais juizados especializados de violência do-méstica e familiar que, conforme

“Hoje, a noção de que é crime

‘bater em mulher’ está amplamente

assimilada pela sociedade.”

“É inegável a mudança provocada pela Lei Maria da Penha no imaginário

e na vida cotidiana das mulheres.”

prevê a Lei, contemplem equipes multidisciplinares, imprescindí-veis à organização e orientação dos serviços da rede de atendi-mento à mulher.

Após mais de cinco anos de existência da Lei Maria da Penha, qual o balanço que a Senhora faz de seu impacto na luta contra a violência doméstica contra a mulher? O que precisa avançar?

Eleonora Menicucci – A im-plantação da Lei 11.340/2006, Lei Maria da Penha, no Brasil, repre-senta um avanço significativo em relação aos direitos das mulheres no mundo, por tornar crime todo ato de violência física, moral, pa-trimonial, psicológica e sexual contra as mulheres na esfera das relações domésticas e familiares. É inegável a mudança provocada pela Lei Maria da Penha no ima-ginário e na vida cotidiana das mulheres. Hoje, a noção de que é crime “bater em mulher” está amplamente assimilada pela so-ciedade. Não se pode aceitar que, ainda hoje, as mulheres se-jam objeto de qualquer forma ou expressão de violência; que continuem sendo estupradas, ou que sejam assassinadas por seus companheiros, namorados ou maridos.

* Entrevista cedida pela revista Conteúdo, da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino (Contee)

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16 | Revista ATUAÇÃO | Abril 2012

o silêncio COMEÇA A SAIR DE CASA

o Supremo tribunal federal (Stf), a maior corte de Justiça do País, reafirmou a constitucionalidade da lei.

mais uma importante conquista das mulheres e da sociedade.

MULHERESPEcIAL

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17Revista ATUAÇÃO | Abril 2012 |

Você casa para um cuidar do outro”. A declaração é

de uma mulher que viveu durante 20 anos um casamento marcado pela violência física e psicológi-ca. Com os anos de sofrimento, a ideia de cumplicidade deu es-paço à desilusão. “Você aposta sua vida num casamento e, de-pois, vê que as coisas são bem diferentes”. A personagem, que chamaremos de Maria de Lour-des, hoje tem 47 anos e conta que a única coisa boa da relação conturbada foram os três filhos.

A violência entrou na vida da personagem aos poucos. O com-panheiro não tinha aparência de violento. Ao contrário, é estuda-do. Cursou duas faculdades, fala Inglês e vem de uma família de classe média.

Na terceira gravidez, a violên-cia, que antes se limitava a agres-sões verbais, ganhou forma, veio das mãos do marido. Ele passou a agredir a esposa com tapas.

A família passava por dificul-dades financeiras, precisava de comida na mesa e que as contas fossem pagas. Certa noite, até o leite do bebê faltou. Diante das circunstâncias, Maria de Lourdes deu o primeiro passo para mudar de vida. Começou a trabalhar como recepcionista em um hos-pital, no turno da madrugada. A partir daí, as agressões aumen-taram. Em 2005, ela tentou a se-paração. O marido não aceitou. Fez chantagem, usando as crian-ças; depois, pediu perdão e dis-se que iria ser outro homem. As promessas duraram pouco. De-pois de três meses, as agressões voltaram.

cia no lar ganhou uma nova ví-tima. Além da esposa, o marido batia no filho mais velho. Vendo que a violência tomava outro di-recionamento, ela não hesitou. “Decidi ser feliz, era preciso. É esse o objetivo do ser humano”.

Já separada, em 2009, ele a espancou, na frente dos filhos. Naquele dia, ela foi até a delega-cia, onde não teve o tratamento que precisava. “O homem só es-creveu no boletim de ocorrência que meu marido tinha me dado uns três tapas. E, ainda, fez pia-da da minha cara”, disse sobre o policial que a atendeu.

O registro do boletim de ocorrência foi passado à Dele-gacia Especializada de Atendi-mento à Mulher. O ex-marido foi chamado e as ameças pioraram. Em 2011, já separada havia dois anos, ele voltou a agredi-la. Mais uma vez, Maria teve que pres-tar queixa na delegacia, um mo-mento que foi constrangedor. “A gente tem medo de chegar e de

Rosely Aparecida MolinaDelegada

“A violência contra a mulher envolve toda a

sociedade. Quando o caso chega à polícia, é

porque a situação já está insustentável. Em um

feriado do ano passado, tivemos três tentativas de homicídio dentro de casa

e na frente dos filhos”.

falar. Parecia que eu havia feito algo errado, pensei que fosse fi-car presa”.

Em busca de autonomia

O passo seguinte dela foi vol-tar a estudar. Entrou na faculda-de, onde, também, arrumou um emprego, e levava o sustento para casa. “Com isso, ele viu que eu estava crescendo. Aí, acabou. Por eu não o querer mais, ele me chamava de sapatão”. A violên-

Coragem

Contar a história trouxe a sen-sação de reviver o drama. As lá-grimas não deixaram de cobrir o rosto de Maria de Lourdes du-rante a entrevista. Hoje, a mulher que conviveu com a violência aguarda o julgamento do ex-ma-rido e se julga uma atriz. “Porque a gente vive muitos papeis na vida, a força da mulher é infinita. Eu deveria ter saído antes, mas não tinha para onde ir”.

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São agredidas mulheres de to-das as classes sociais e etnias. “A violência doméstica pode acon-tecer no casamento, no namoro e entre os familiares”.

A história de Maria de Lourdes é mais uma entre as inúmeras re-gistradas na 1ª Delegacia Espe-cializada de Proteção à Mulher (1ª DEAM) em Campo Grande (MS). Só em janeiro deste ano, 211 inquéritos policiais narravam histórias como a dela. Segundo dados da Delegacia, em 2005, 2,7 mil vítimas registraram bole-tim de ocorrência.

Em 2006, ano em que a Lei Maria da Penha (Lei 11.340) en-trou em vigor, foram registrados 4 mil boletins de ocorrências. Mais de cinco anos depois da vi-gência da Lei, a delegacia fechou o ano de 2011 com 6,2 mil denún-cias.

Para a delegada da 1ª DEAM, Rosely Aparecida Molina, a vio-lência não aumentou. O que aumentou foi a procura por proteção. “Com mais acesso à informação, a mulher vê que o problema não é só dela, que ou-tras passam pelo mesmo tipo de situação. Elas se sentem encora-jadas”, explicou a delegada.

Em 2004, por exemplo, quan-do os crimes de violência contra a mulher eram julgados pelo Có-digo Penal, as condenações ao agressor se resumiam, na maio-ria dos casos, ao pagamento de cestas básicas e serviços comu-nitários. Naquele ano, apenas 1,7 mil mulheres prestaram queixa. Em comparação a 2006, houve um aumento de denúncias de 128%.

“A violência contra a mu-lher envolve toda a sociedade. Quando o caso chega à polícia, é porque a situação já está insus-tentável. Em um feriado do ano passado, tivemos três tentativas de homicídio dentro de casa e na frente dos filhos”, contou a dele-gada.

De acordo com Rosely Apa-recida, não existe um padrão que defina o perfil das vítimas.

De acordo com a Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM), desde a criação da lei, 110,9 mil processos, de um total de 331,7 mil, foram sentenciados. Segundo dados do Conselho Na-cional de Justiça (CNJ), divul-gados em março de 2011, foram decretadas 1.577 prisões preven-tivas, 9.715 prisões em flagrante e 120.099 audiências designa-das. Do restante, foram 93.194 medidas protetivas, 52.244 in-quéritos policiais e 18.769 ações penais. Entre os registros, estão casos de violência física, violên-cia psicológica, violência moral, violência patrimonial, violência sexual, cárcere privado e tráfico de mulheres.

Ordenamento das UF por taxa de homicídio feminino. Brasil. 1998/2008

do m

Denúncias em MS

Realidade em Mato Grosso do Sul

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Maria da Penha, a personificação da justiça

Brasileira, cearense, guerreira e vítima de violência doméstica. Essa é Maria da Penha Maia Fer-nandes, uma mulher que lutou, incansavelmente, por justiça. Uma luta que virou lei, Lei Maria da Penha, que protege e garan-te direitos a mulheres vítimas de violência doméstica e familiar.

Em 1983, dentro do próprio lar, enquanto dormia, Maria da Penha recebeu um tiro disparado pelo marido, o professor univer-sitário Marco Antônio Heredia. Com sequelas, ficou paraplégica e passou a viver com a ajuda de uma cadeira de rodas.

O marido, não satisfeito, vol-tou a agredi-la, dessa vez, com choques. Diante das circunstân-cias, Maria da Penha pediu ajuda aos familiares e conseguiu sair de casa. Logo depois, começou sua jornada em busca de justiça e segurança.

O autor das agressões passou por dois julgamentos, um de-les anulado. Maria da Penha só conseguiu fazer justiça em 1996. Quando o ex-marido foi conde-nado a 10 anos de prisão, dos quais apenas dois foram cumpri-dos em regime fechado.

A vontade de fazer justiça não se resumia à prisão do ex-mari-do. Significava ampliar o direito de proteção a todas as mulheres vítimas da violência doméstica ou familiar. Direito que ficou as-segurado com a promulgação da Lei 11.340/2006, que dá cum-primento, finalmente, às disposi-ções contidas no §8º, do artigo 226, da Constituição Federal de 1988, que determina a criação de mecanismos para coibir a violên-cia no âmbito das relações fami-liares, bem como à Convenção para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência Contra à Mulher, da Or-ganização dos Estados America-nos (OEA), ratificada pelo Esta-do Brasileiro há 11 anos e, ainda,

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à Convenção para Eliminação de Todas as Formas de Discrimina-ção Contra a Mulher (CEDAW) da Organização para as Nações Unidas (ONU).

A lei foi considerada uma das três melhores do mundo, pelo Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher.

a ser responsável pelo processo, mesmo que a mulher queira reti-rar a denúncia e, ainda, o crime pode ser denunciado por outra pessoa que não seja a mulher, como, por exemplo, amigos e fa-miliares.

“Antes dessa mudança na Lei, quando o agressor tomava co-nhecimento da denúncia contra ele, passava a ameaçar a mulher. Sob tortura emocional, a víti-ma acabava retirando a queixa. Agora, isso não é mais possível”, explicou o promotor da 47ª Pro-motoria da Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher, Sílvio Amaral Nogueira de Lima.

Segundo dados da Promoto-ria, o número de processos em andamento entre 2011 e início de 2012 é de 6 mil. “A violência en-volve todas as classes sociais. “A classe C é a que mais denuncia. A classe A reluta um pouco em tor-nar pública a situação. A decisão do STF veio para fortalecer a Lei. Quando uma mulher é agredida, é a dignidade de todas as mulhe-

res que está em jogo”, ressaltou o promotor Sílvio Amaral.

A decisão do STF foi comemo-rada, também, pela Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional Mato Grosso do Sul (OAB/MS). “É uma conquista proveniente da luta histórica das mulheres”, disse a presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB/MS, Kelly Cristiny de Lima Garcia. “No entanto, ainda há muito o que fazer, o poder público falha na ação contra o agressor, por exemplo, não dá para conceber a delegacia não funcionar nos fi-nais de semana. Por outro lado, há seis anos não havia promo-tores nem juízes especializados nessa área. Daqui para frente, precisamos aprimorar os servi-ços, enfatizou Kelly.

Em Campo Grande, a Delega-cia da Mulher tinha uma exten-são nas Moreninhas (bairro na periferia da cidade, com mais de 70 mil habitantes). Desde 2007, a extensão está fechada por falta de efetivo.

Silvio AmaralPromotor

“A violência envolve todas as classes sociais. “A classe C é a que mais

denuncia. A classe A reluta um pouco em

tornar pública a situação. A decisão do STF veio

para fortalecer a Lei. Quando uma mulher é

agredida, é a dignidade de todas as mulheres que

está em jogo”.

Avanços na LeiQuase seis anos após a pro-

mulgação da Lei Maria da Pe-nha, o Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu, no dia 9 de fevereiro de 2012, a constitu-cionalidade dos Art. 1, 33, e 41 da legislação, o que dá poderes ao Ministério Público para iniciar uma ação penal, sem necessida-de de representação da vítima nos casos de crime de violência doméstica. Isso significa que o delegado, ao tomar conheci-mento da prática do crime con-tra a mulher, deve instaurar in-quérito independentemente da vontade da vítima.

Simplificando, o Estado passa

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A violência atinge todas as mulheres, sem distinção de cor,

Mulheres negras são princi-pais vítimas de violência

“É preciso romper com o machismo, que continua forte e

vitimiza também os homens.”

Lucimar Rosa DiasProfessora Doutora da UFMS - Três Lagoas

classe social, religião ou grau de escolaridade. Contudo, uma pesquisa realizada em 2009, no estado do Rio de Janeiro, pelo Instituto de Segurança Pública,

MULHERnEgrA

intitulada “Dossiê Mulher 2010”, revela que as mulheres pretas e pardas (negras, segundo classi-ficação do IBGE) são a maioria entre as vítimas de homicídio. Os

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números mostram que as negras representam 55,1% das vítimas de homicídio, 51% das vítimas de tentativa de homicídio e 52,1% das vítimas de lesão corporal. A mesma pesquisa mostra que o percentual de mulheres negras vítimas de estupro e atentado violento ao pudor é de 54%.

Outro estudo, apresentado no artigo “5 Anos de Lei Maria da Penha”, da consultora Ana Cláudia Pereira, do Centro Fe-minista de Estudos e Assessoria (CFEMEA), mostra que, somen-te, em 2008, morreram 45,7% mais mulheres negras do que brancas. Essa diferença retrata a urgência da aplicação de leis e políticas públicas para proteção diferenciada à mulher negra.

A professora doutora Luci-mar Rosa Dias, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), que coordena o Gru-po de Estudos e Pesquisas em Educação, Diversidade e Inclu-são (GEPEDI), disse que a reali-dade da mulher negra no Brasil só mudará a medida em que o Estado reconhecer que o racis-mo é um fator institucional que afeta a vida de todas as pesso-as, independente da sua cor ou raça. “Não temos um problema do negro ou da negra, e sim um problema social que penaliza uma parcela significativa da po-pulação brasileira”, comentou.

Para ela, a Lei Maria da Penha é o fruto da luta contínua das mulheres por justiça e um meio de inibir a violência doméstica. “O homem, muitas vezes, deixa de agredir, porque fica preocu-pado com a punição. Mas, preci-samos de mais, a Lei ajuda, mas não dá conta. É preciso romper com o machismo, que continua forte e vitimiza também os ho-mens. Precisamos educar nossos homens para uma masculinidade em que caiba a sensibilidade, a gentileza, desarticular a virili-dade da guerra, da violência e construir novos valores”.

Ano

2003

BrancasNegras

2004 2005 2006 2007 2008

Núm

ero

de h

omic

ídio

s de

m

ulhe

res

por r

aça

Fonte: SIM/SVS/MS.

2.500

2.000

1.500

1.000

500

0

BrancasN egras

Taxas em 100 mil Vitimização

45,74,73,2

(Indica em % a proporção em que morreram mais mulheres negras do que brancas).

Taxa de homicídios femininos por raça/core Índices de Vitimização, segundo UF. Brasil. 2008.

Número de homicídios de mulheres, por raça 2003 - 2008

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23Revista ATUAÇÃO | Abril 2012 |

O poeta já cantou “Mas é pre-ciso ter força, é preciso ter raça, é preciso ter gana sempre”. Sim, quem tem traz no corpo e na alma a marca de ser mulher, tem uma história de dor e alegria. E, para celebrar as conquistas das lutas feministas e denunciar os preconceitos, a violência, as de-sigualdades e a discriminação, foi instituído em 1910, durante a II Conferência Internacional de Mulheres Socialistas, realizada na Dinamarca, o 8 de Março como o Dia Internacional das Mulheres. A partir de então, a data passou a se firmar no mundo, como um marco da luta contra a opressão feminina. Um grande desafio nos dias atuais é não permitir a sua banalização como um dia em que as mulheres devem apenas rece-ber flores. Deve ser um momen-to para fortalecer a mobilização contra as barreiras da desigual-dade que ainda persistem.

As mulheres brasileiras, nas últimas décadas, conquistaram o mercado de trabalho, ocuparam a maioria das vagas nas univer-sidades, conquistaram uma lei que pune a violência doméstica e, pela primeira vez na história da República, elegeram uma mu-lher presidenta. Mas, nem tudo são flores. Ainda existem muitas desigualdades no mercado de trabalho, nos espaços públicos e no ambiente doméstico, tanto no Brasil como no mundo.

Apesar de representarem 55% da população mundial, as mulhe-

res ficam com apenas 10% da renda do planeta. A pobreza no mundo tem, portanto, sexo. No Brasil, as mulheres representam 51% da população, estão próxi-mas de alcançar os 50% da po-pulação economicamente ativa e chefiam 1/3 das famílias brasilei-ras, mas, ainda, recebem 70% do salário dos homens.

Estudo da OIT, ligada à Or-ganização das Nações Unidas (ONU), revela que as mulheres - principalmente, as mulheres ne-gras - possuem rendimentos mais baixos que os dos homens. Ain-da que, em média, tenham níveis de escolaridade mais elevados. A pesquisa do organismo inter-nacional identificou que homens ocupados gastam 9,2 horas se-manais com afazeres domésticos (reprodução social), enquanto as mulheres ocupadas dedicam 20,9 horas semanais para o mes-mo fim.

Violência

Pesquisa feita pela Fundação Perseu Abramo, em 2010, pro-jeta uma chocante estatística: a cada dois minutos, cinco mulhe-res são violentadas no Brasil. E, já foi pior: há 10 anos, eram oito as mulheres espancadas no mes-mo intervalo de tempo. Estima--se que 1,3 milhão de brasileiras apanham dentro de casa, a cada ano. Isso significa mais de 3,5 mil agressões por dia, que deixam marcas, cortes ou fraturas. Mais do que números, os dados mos-tram o quanto a cultura machista está enraizada na nossa socieda-de, deixando feridas profundas na vida e na alma das mulheres.

Política

Na política, as desigualdades são ainda maiores. A bancada feminina na Câmara Federal cor-responde a apenas 8,77% do total da Casa. Na Assembleia Legislati-

va de Mato Grosso do Sul, as mu-lheres ocupam apenas duas das 24 cadeiras parlamentares. Essa desigualdade se espalha pelas câmaras de vereadores. Mesmo com números que demonstram a exclusão das mulheres do po-der político, é bom lembrar que somente em 1932 foi garantido o voto feminino no Brasil. Até en-tão, as mulheres nem sequer po-diam votar ou serem votadas. E, graças a essa conquista, hoje, o país é governado pela primeira mulher presidenta, eleita demo-craticamente.

Foi com esperança e deter-minação que a presidenta Dilma Roussef, durante a 3ª Conferên-cia Nacional de Políticas para as Mulheres, realizada em Brasília, em dezembro do ano passado, reafirmou o seu compromisso com as lutas das mulheres: “Nós não podemos, de maneira al-guma, concordar que mulheres, ainda neste século 21, não sejam protagonistas, e sim, vítimas. Nós não somos vítimas, nós quere-mos ser sujeitos da nossa própria história. Por isso, é importante a conquista da representação po-lítica das mulheres condizente com o papel central que ocupam na sociedade brasileira. Os resul-tados que vocês vão obter aqui, contribuindo para que continue-mos resgatando a dívida histórica do Brasil com as brasileiras, são, de fato, muito importantes e es-tratégicos.

Nós estamos no caminho cer-to. Estamos dando aqui um novo e importante passo. Quero dizer para vocês que nós vamos em frente. E, para encerrar, quero reafirmar que as brasileiras têm, em sua presidenta, uma aliada in-condicional na construção de um Brasil mais igual, em que as mu-lheres sejam cidadãs de primeira classe”.

nEm tudo São

florES8 de Março é um dia de luta

Nanci SilvaJornalista

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24 | Revista ATUAÇÃO | Abril 2012

Com uma mente inquieta e bri-lhante, a artista plástica sul-

-mato-grossense Lídia Baís foi uma mulher à frente do seu tem-po. Defendia ideias feministas, levantava as bandeiras da igual-dade de gênero e racial, escan-dalizando a sociedade da época. Revolucionou não somente as artes plásticas, mas, também, foi pioneira na música, no teatro e na poesia.

Lídia nasceu em 1900, estudou no Rio de Janeiro, morou em São Paulo e percorreu a Europa. Re-cebeu a influência dos modernis-tas, expressionistas e surrealistas, inclusive da pintora mexicana Fri-da Kahlo. Foi aluna de Henrique Bernadelli e de Osvaldo Teixeira, quando passou pela Escola Na-cional de Belas Artes.

Depois de vivenciar toda a in-fluência das artes plásticas Brasil afora, foi obrigada, pela família, a voltar a Campo Grande, em

1930, para uma época em que só restavam às moças os afaze-res domésticos e o casamento. Mas, a exemplificação da mulher moderna estava em todo o seu 1,45m de altura. Lídia chegou a se casar. Uma união que durou pou-co mais de 15 dias.

Suas ideias e seus trabalhos iam além da compreensão e da sensibilidade de um povoado de 25 mil habitantes. Com a morte do pai, Bernardo Franco Baís, sua inspiração para as artes passou a ser o abstrato. Deus, astros e questões existenciais ganhavam vida pelas mãos da artista, que expressava em suas telas o sa-grado e o profano. Por volta de 1960, escreveu o livro “História de T. Lídia Baís”, em que repas-sava a própria vida e tentava se disfarçar sob o codinome Maria Tereza Trindade.

Mais viva do que nunca, Lídia Baís deu sentido a frase que tan-

to falava aos familiares: “Por mi-nha causa vocês vão ficar na his-tória”. Ela ficou. A maior artista sul-mato-grossense encaixotou os próprios quadros, viveu reclu-sa da sociedade, cercada de ani-mais, vindo a falecer em 1985.

Hoje, parte das suas obras está exposta na Morada dos Baís, em Campo Grande. Casarão onde a família Baís morou até 1979, quando foi transformado na Pen-são Pimentel. O primeiro prédio de alvenaria da Capital abriga um centro cultural, localizado na ave-nida Afonso Pena, esquina com a Noroeste.

ArtIStA com InfluêncIAS modErnAS,

SofrEu com AS rESIStêncIAS dE um tEmPo

mArcAdo PElo conSErvAdorISmo

cULTURA

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25Revista ATUAÇÃO | Abril 2012 |

Falar de mulheres educado-ras é como falar da profissional que cumpre a rotina da jornada de trabalho dupla, tripla e exaus-tiva, pois temos que ter tempo suficiente para preparar aula, corrigir provas, cuidar dos filhos e da casa. Enfim, temos que nos desdobrar para dar conta do dia--a-dia, mas, ao mesmo tempo, sa-bemos que, como mulheres pro-fissionais da Educação, temos um papel essencial. Somos responsá-veis pelas sementes do amanhã, que poderão ser fruto de uma ge-ração de pessoas que conquista-rão a verdadeira democracia.

Segundo Paulo Freire “a de-mocracia é como o saber, uma conquista de todos. Toda a se-paração entre os que sabem e os que não sabem, do mesmo modo que a separação entre as elites e o povo, é apenas fruto de circunstâncias históricas que po-dem e devem ser transformadas”.

À mulher, educadora de hoje, compete o desafio de refazer a Educação, reinventá-la, criar as condições objetivas para que uma Educação democrática seja

Mulheres educadoras na luta, sempre!possível e criar alternativas pe-dagógicas que favoreçam o apa-recimento de um novo tipo de pessoa: solidária, preocupada em superar o individualismo e contri-buir para um novo projeto social e político que construa uma so-ciedade mais justa, mais igualitá-ria.

Estamos em um momento de glória, em que a mulher chegou a um posto de destaque, a Presi-dência da República. E toma con-ta dos principais cargos políticos do nosso país. Isso comprova que somos capazes e damos conta dos desafios impostos.

Em um cenário social, em que a globalização econômica e a in-trodução acelerada de novas tec-nologias passam a exigir apren-dizagens imprescindíveis para o desenvolvimento e a melhoria da vida da população, verifica--se que ainda é tímido o número de mulheres contempladas com a possibilidade de acesso a uma Educação pública de qualidade.

Segundo a União Brasileira de Mulheres, homens e mulheres ainda não têm a mesma inserção

no mercado de trabalho – 43,9% delas estão no mercado, mas, em geral, não têm carteira de traba-lho assinada.

A discriminação é ainda maior quando se trata das afrodescen-dentes, que representam cerca de 56% das trabalhadoras domés-ticas e recebem salários mais bai-xos que as outras trabalhadoras. O IBGE aponta, no último censo, que as mulheres chefiam 1/3 das famílias brasileiras. Dessas chefes de família, 20% são analfabetas e 39,8% têm mais de 65 anos, en-quanto 27,4% têm entre 15 e 19 anos e são mães-solteiras.

Nesse sentido, mulheres edu-cadoras, somos privilegiadas e vitoriosas, pois conseguimos su-perar os desafios que nos foram impostos durante nossa vida de mulher e mostramos que é possí-vel, sim, estudar, ir à luta, sempre, e, ao mesmo tempo, ser mãe e cuidar da nossa família.

maria Ildonei de lima Pedra éSecretária-Adjunta da FETEMS

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26 | Revista ATUAÇÃO | Abril 2012

A igualdade de gênero é uma bandeira universal e agrega con-cepções de solidariedade e paz, com as quais a Educação possui intrínseca relação para a mu-dança das relações preponde-rantemente, de dominação, em-pregadas não só pelo sistema capitalista, mas, também, pelas culturas sexistas que impõem a dominação do homem sobre a mulher, em diversos aspectos.

Diante dessa situação mun-dial, em 1995, no primeiro Con-gresso da Internacional da Edu-cação (IE), realizado em Harare, no Zimbábue, a então recém--criada entidade representativa dos trabalhadores e das traba-lhadoras da Educação, em nível global, assumiu o compromisso de combater a perpetuação de estereótipos culturais e compor-

tamentos sexistas que agravam a desigualdade entre homens e mulheres, basicamente, em três frentes de atuação: no sistema educativo, as entidades filiadas passariam a disputar os conteú-dos curriculares com ênfase na igualdade de gênero; nas organi-zações de trabalhadores em Edu-cação, os compromissos eram (e continuam sendo) por melhores condições de trabalho, jornada compatível com o universo da mulher, equiparação salarial e maior representatividade femi-nina nas direções sindicais; e, na sociedade em geral, os sindicatos da Educação passariam a enfa-tizar ações de combate à discri-minação de gênero, por meio de mobilizações próprias, e em con-junto com os movimentos sociais, visando a transformar os espaços e as políticas públicas.

No Brasil, a agenda da rede de mulheres da IE tem encontra-do ressonância nas políticas de proteção à saúde, de combate à violência – com a Lei Maria da Penha – e de ampliação, embora moderada, da participação das mulheres nos centros políticos

de decisões. E a eleição da presi-denta Dilma, sem dúvida, é a ex-pressão máxima dessa conquista de espaço das mulheres na esfera política.

Sob o aspecto da qualidade da Educação, a luta da sociedade brasileira tem se amparado nas políticas pedagógicas, curricula-res, de gestão e de avaliação que contemplem as dimensões étni-cas, raciais, religiosas, ambien-tais, além das de gênero. E esse processo encontra-se em pleno desenvolvimento, com a dispu-ta do projeto do Plano Nacional de Educação, à luz das delibera-ções da 1ª Conferência Nacional de Educação (Conae), e nas di-versas políticas públicas reivin-dicadas pelas organizações de trabalhadoras(es) em Educação que visam romper com os pa-drões de dominação, sejam eles quais forem.

ações da rede de Mulheres da ieal

fátima Silva é secretária de Relações Internacionais da CNTE e Vice-Presidenta Regional da Internacional da Educação para a América Latina

ARTIgO

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27Revista ATUAÇÃO | Abril 2012 |

A FETEMS está, desde 2011, buscando parcerias para a insta-lação de uma regional do Dieese em Campo Grande. A previsão é que o departamento seja implan-tado até o mês de maio, em uma sala na sede da Federação.

O Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socie-conômicos foi criado pelo mo-vimento sindical, em 1955, para desenvolver pesquisas que fun-damentassem as reivindicações dos trabalhadores. Ao longo de 50 anos, o Departamento con-quistou credibilidade nacional e internacional, sendo reconheci-do como um órgão de produção científica. Realiza assessoria e

dieese intensifica estudos e pesquisas em MsFetems negocia abertura de uma regional do Departamento

Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos em Mato Grosso do Sul

pesquisa no âmbito de empre-go, renda, negociação coletiva, desenvolvimento e políticas pú-blicas.

“Ter o Dieese aqui será bom para o movimento sindical como um todo. É um nome de credi-bilidade para os estudos socioe-conômicos. Para categorias que estão em negociação salarial, o órgão é fundamental, pois avalia o custo de vida da região onde vivem os trabalhadores. Com isso, calcula os índices de rea-justes para as negociações sindi-cais. Hoje, o movimento sindical não pode reivindicar qualquer melhoria laboral caso não este-ja embasado. “Em geral, as ne-

gociações salariais acontecem, hoje, para que se consiga um acordo daqui a três anos e, para isso, precisamos ter argumentos e dados”, explica o tesoureiro da FETEMS, Jaime Teixeira.

“Vamos realizar estudos que vão produzir subsídios para ação dos sindicatos no campo da ne-gociação salarial e outros temas das entidades sindicais, tanto de setor público, como privado”, disse o coordenador de Rela-ções Sindicais do Dieese, José Silvestre Prado de Oliveira.

A sede nacional do Dieese funciona em São Paulo e possui regionais em mais 17 capitais, com 662 entidades filiadas.

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28 | Revista ATUAÇÃO | Abril 2012

“Uma escola que nasceu no Coração e nos Braços do Povo”. O título é do livro que conta a história da Escola Estadual Lino Villachá, no bairro Nova Lima, na periferia de Campo Grande (MS). Inaugurada em 1985, nas proximidades do Hospital São Julião, pioneiro no Estado no tratamento de Hanseníase, a es-

cola foi construída para atender a comunidade local. Eram ex--pacientes do hospital, pessoas que haviam se curado e começa-ram a comprar lotes e terrenos na região para continuar tendo a segurança dos cuidados médi-cos. Aos poucos, o bairro Nova Lima foi formado e, atualmente, tem uma população de mais de

a escola que nasceu

na comunidade

localizada na periferia de campo grande, a Escola Estadual lino villachá surgiu de um ideal repleto de superação e força de vontade

HISTóRIA

35 mil habitantes. Lino Villachá foi internado na

Colônia São Julião, aos 12 anos, com a família, todos vítimas da Hanseníase. Teve as mãos e os pés atrofiados por conta da do-ença. Mas, nem por isso, deixou os sonhos de lado. Tornou-se poeta, escreveu seis livros, que foram traduzidos para o Italia-

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29Revista ATUAÇÃO | Abril 2012 |

no. Trabalhou com Educação e foi o responsável pela constru-ção da escola, que, nos dias de hoje, abriga 1,6 mil alunos.

Em 2011, o casal de profes-sores Luzinete Souza Vilasboas e Olívio Mangolim, que lecio-nam na Lino Villachá, ficaram responsáveis por desenvolver o projeto “Conecta Escola” do Núcleo de Tecnologia Educa-cional de Campo Grande, da Se-cretaria Estadual de Educação. O objetivo do projeto era traba-lhar um tema que pudesse ser desenvolvido por meio do uso das tecnologias da informação e da comunicação.

“Bom, qual assunto iremos trabalhar?” Questionou o pro-fessor Olívio, que defendia um tema que tratasse da realidade local. Foi, então, que o profes-sor lembrou de um Sarau, or-ganizado havia dois anos, por alunos do período noturno. Eles contaram, durante as apresen-tações artísticas, um pouco da história do patrono Lino Villa-chá. A partir daí, o tema ficou definido. Iriam contar a história da construção da Escola, forma-da a partir da iniciativa de um ex-Hanseniano.

Os alunos escolhidos para desenvolver o projeto eram do sexto ano do Ensino Fundamen-tal. A sexta série C. A turma era

considerada a mais terrível da escola. “O que todos achavam que seriam os piores, na verda-de, acabaram sendo os melho-res”, conta o professor Olívio.

Os alunos fizeram um estu-do sobre o histórico do bairro e descobriram que Lino Villachá, no início dos anos 1980, fez uma pesquisa com a comunidade lo-cal e levantou dados, que com-provavam que a região tinha um número de habitantes suficiente para a construção de duas es-colas.

A comunidade do Nova Lima se organizou e fez um mutirão. Tijolo por tijolo, as paredes da escola foram sendo erguidas. Aproximadamente, 588 alunos foram matriculados no primeiro ano.

O propósito de manter a Lino Villachá como uma escola da comunidade é tão forte que, em 28 anos de existência, apenas cinco diretores passaram pela escola.

Entre os escritores da obra, estão os primos Matheus Lopes e Nayara Lopes, ambos com 12 anos, que puderam contribuir com o livro de uma forma es-pecial. Escreveram sobre a avó, que ajudou na construção da es-cola e ainda hoje, trabalha lá.

A avó pedagoga, Maria Fran-celina Lopes, de 64 anos, sem-

pre morou na região, viu a es-cola nascer e, agora, perto de se aposentar, não sabe o que vai fazer sem a Lino Villachá. “Como é que vai ser sem esse compromisso diário na escola?” Questionou Maria Francelina.

Os alunos envolvidos no pro-jeto foram contagiados pela his-tória de superação de Villachá. “Eu mal consigo escrever com todos os meus dedos. Imagina escrever com um lápis amarra-do no braço, por não ter os de-dos?”, diz Matheus Lopes.

“Eu mal consigo escrever com todos os meus

dedos. Imagina escrever com um lápis amarrado

no braço, por não ter os dedos?”

Matheus Lopes, 12 anos,

6ª série da Escola Estadual Lino Villachá

Patrocínio

O projeto foi desenvolvido nos meses de agosto e setem-bro de 2011. O livro foi lança-do em dezembro, com 1,5 mil exemplares. A Federação dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul (Fetems) apoiou o projeto.

A Secretária-Adjunta da Fe-tems, professora Maria Ildonei de Lima Pedra, que lecionou na Lino Villachá por quatros anos, defende a ideia de que o aluno precisa conhecer a própria his-tória e aos poucos ir ampliando seus conhecimentos. “Esse con-ceito foi desenvolvido no livro. A gente não passa pela vida, a gente deixa um legado. É isso que esses alunos fizeram”, co-menta.

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30 | Revista ATUAÇÃO | Abril 2012

cRÉDITO

Desde janeiro de 2012, o servidor pú-blico que recebe pagamento em conta--salário já pode pedir a transferência automática para o banco de sua prefe-rência . É a portabilidade bancária, que pode ser usada por todos os funcioná-rios públicos do Brasil, mas que está dis-ponível para a iniciativa privada desde 2009.

A portabilidade bancária favoreceu a ascensão das cooperativas de crédito, que entraram na disputa para receber as contas-salários e oferecem taxas de juros abaixo da média praticada pelos bancos comerciais.

A partir da medida, a Fetems fechou uma parceria com a Cooperativa de Economia e Crédito Mútuo dos Funcio-nários e Servidores Públicos de Mato Grosso do Sul (Cocresul), que faz parte do Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil (Siccob), ligado ao Banco Coo-perativo do Brasil (Bancoob).

A Cocresul é uma cooperativa de cré-

Fetems e o sistema cooperativo em benefício do professor

dito que tem como objetivo a viabiliza-ção de recursos a custos mais acessíveis ou seja, tem como foco a prestação de serviços a cooperados e não lucro do capital que administra. Os cooperados participam das decisões da cooperati-va e, ainda, recebem um percentual das movimentações feitas ao longo do ano. Em 2010, os cooperados dividiram um montante de R$ 30 mil.

A cooperativa existe em Mato Gros-so do Sul, desde 1988, quando começou com 20 cooperados. Atualmente, conta com mais de 1,5 mil.

Segurança – A Cocresul está vincu-lada ao Fundo Garantidor de Crédito (FGC), que garante proteção aos cor-rentistas, poupadores e investidores, contra instituições financeiras em caso de intervenção, liquidação ou falência. O FGC assegura ao cooperado até R$ 70 mil por CPF. A cooperativa é fiscaliza-da pelo Banco Central (BC) e passa por duas auditorias anualmente.

serViÇos da cocresUl

Abertura de Conta-CorrenteAbertura de Conta-PoupançaAplicações

Linhas de CréditoCrédito Direto ao Consumidor (CDC)Troca de recebíveisAdiantamento da Restituição do Imposto de Renda Adiantamento do 13ª Salário

Financiamento Operação de Crédito do Governo Federal, por meio do BNDES e FCO

Taxas de JurosCrédito Direto ao Consumidor (CDC – Consignado) – Taxa de juros de 2%Crédito Direto ao Consumidor (CCD- Débito em Conta) – Taxa de juros de 4%Cheque Especial – Taxa de juros de 6% ao mêsDesconto de Títulos – Taxa de juros de 3,5% ao mêsAdiantamento do 13º Salário – Taxa de juros de 4%

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Sancionada em 2008, pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a Lei do Piso Salarial (Lei 11.738/2008), que instituiu o Piso Salarial Profissional Nacional para os profissionais do magis-tério público da Educação Bási-ca, já deu muito pano pra manga. Desde o início de sua vigência, entidades representativas e go-vernos estaduais vivem uma acirrada batalha para fazer valer os dispositivos da legislação.

Nos dias 14, 15 e 16 de mar-ço, a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educa-ção (CNTE), com seus sindicatos afiliados, organizou uma parali-sação nacional em prol da Edu-cação. Ao todo, 23 estados e o Distrito Federal (DF) suspende-ram suas atividades escolares na rede pública de ensino. A mo-bilização nacional reivindicou o cumprimento integral da Lei do Piso, em especial, a implantação de 1/3 da jornada de trabalho dos professores para atividades extraclasses, direito estabeleci-do no inciso 4º do artigo 2º da legislação; 10% do PIB para Edu-cação e o Plano de Cargos e Car-

reira.De acordo com um levanta-

mento feito pela Confederação Nacional do Trabalhadores em Educação (CNTE), 17 estados brasileiros não pagam o Piso Sa-larial da categoria, que é de R$ 1.451,00, e 18 não respeitam a jornada extraclasse, que prevê que 33% do tempo de trabalho dos docentes sejam utilizados para atividades como correção de provas, preparação de aulas e capacitação profissional.

A Federação do Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul (FETEMS), em dezembro de 2011, impetrou no Tribunal de Justiça (TJ/MS) mandado de segurança contra o governo do Estado, exigindo a aplicação do § 4º do artigo 2º da lei 11.738/08.

Em janeiro de 2012, o de-sembargador Claudionor Miguel Abss Duarte concedeu liminar favorável à FETEMS e determi-nou que o governo estadual au-mentasse, de 25% para 33%, a carga horária para planejamento de aulas dos professores da rede estadual.

No dia seguinte, o desembar-gador revogou a própria liminar, pois o Governo do Estado alegou que teria grande custo, uma vez que demandaria a contratação de 4 mil educadores. A FETEMS fez um levantamento e concluiu que seria preciso contratar ape-nas 1,5 mil professores.

A Federação recorreu contra a revogação do TJ/MS e aguar-da nova decisão, ainda neste primeiro semestre de 2012. Caso não consiga decisão favorável, a FETEMS irá recorrer ao STF.

lei do piso O DUELO ENTRE ENTIDADES E GOVERNOS

governos estaduais resistem a cumprir a lei do Piso. Entidades protestam, e trabalhadores em Educação de todo o país paralisam suas atividades, por melhores condições no ensino brasileiro

PISO SALARIAL

Resistência

Em 2010, os estados de Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Ceará impetraram uma Ação Direta de Inconstitucionalida-de (ADIN) no Supremo Tribu-nal Federal (STF), contra a Lei do Piso. Mas, em abril de 2011, o STF, por maioria dos votos, con-siderou improcedente a ADIN.

Mesmo diante da constitu-cionalidade da Lei do Piso, mui-tos estados não vêm cumprindo a legislação. O governo de Mato Grosso do Sul é um dos que não cumprem integralmente a Lei.

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32 | Revista ATUAÇÃO | Abril 2012

PARALISAÇÃO

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Unidos por uma educação digna e de qualidade Em um ato histórico, FETEMS mobiliza mais de 15 mil trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul

Seguindo a paralisação nacio-nal organizada pela CNTE, a

Federação dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul (FETEMS) mobilizou os seus 71 sindicatos afiliados e realizou, nos dias 14, 15 e 16 de março, a maior paralisação da história da Educação sul-mato-grossense. Aderiram à greve 85% das esco-las públicas do estado.

No dia 15 de março, uma pas-seata com mais de 15 mil traba-lhadores em Educação percor-reu as principais ruas de Campo Grande. Os trabalhadores pro-testaram por melhores condi-ções de trabalho na rede pública de ensino de Mato Grosso do Sul.

Dos 79 municípios do estado, apenas 16 cumprem integral-mente a Lei do Piso. Trabalha-dores das redes municipais de Educação de 64 municípios re-cebem menos do que o Piso Sa-larial Nacional.

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34 | Revista ATUAÇÃO | Abril 2012

“Graças ao apoio e à compre-ensão da população, que foi pos-sível realizar essa grande mobili-zação. Essa luta é de todos os que reconhecem nos profissionais em Educação pessoas importantes para a construção de uma so-ciedade cidadã, ética e justa. A escola e os trabalhadores, que constituem o cenário do ensino,

são fundamentais para a forma-ção de um mundo sem diferenças sociais. E, para que isso aconteça, esses profissionais que dedicam suas vidas a ensinar, precisam ser reconhecidos, valorizados e res-peitados. É por isso, que estamos aqui e não abrimos mão das nos-sas lutas”, disse o presidente da

goas e Sete Quedas são os que garantem 1/3 da hora-atividade dos professores para elaboração de aulas e pagam o valor do Piso Nacional (R$ 1.451,00).

Comunicação

lizar os trabalhadores à aderirem à paralisação. O resultado desse esforço coletivo foi uma parali-sação que ganhou destaque em todos os veículos de comunica-ção estadual. “Isso demonstra a credibilidade e a força da nossa categoria”, comentou Roberto Magno.

vEJA como oS

munIcíPIoS dE mAto groSSo do Sul

PAgAm SEuS EducAdorES

dos 79 municípios de

mS, apenas 16 cumprem

o Piso

l E g E n d AEsses municípios cumprem integralmente a Lei do Piso Salarial, garantindo, inclusive, 1/3 de hora-atividade.

*Na carreira do magistério desses municípios, não está previsto o professor de nível Médio.

1 CAMPO GRANDE 40 2085,42 NÃO

2 CARACOL 40 2067,80 NÃO

3 PARANAÍBA 40 2019,60 SIM

4 ÁGUA CLARA 40 1780,00 SIM

5 BATAGUASSU 44 1777,06 NÃO

6 NAVIRAÍ 40 1771,32 SIM

7 PARANHOS 40 1762,70 NÃO

8 CORUMBÁ 40 1719,20 NÃO

9 LADÁRIO 40 1701,80 NÃO

10 DOIS IRMÃOS DO BURITI 40 1626,68 NÃO

11 BANDEIRANTES 40 1623,22 NÃO

12 JUTI 40 1620,00 NÃO

13 CASSILÂNDIA 40 1598,84 NÃO

14 FIGUEIRÃO 40 1596,58 NÃO

15 RIBAS DO RIO PARDO 40 1587,30 NÃO

16 SIDROLÂNDIA 44 1557,92 SIM

17 ANGÉLICA 40 1549,20 NÃO

18 ANTÔNIO JOÃO 40 1523,54 SIM

19 REDE ESTADUAL 40 1489,67 NÃO

20 CORONEL SAPUCAIA 40 1484,13 SIM

21 CHAPADÃO DO SUL 40 1477,82 NÃO

22 NOVO HORIZONTE DO SUL 40 1465,31 NÃO

23 BONITO 44 1465,22 NÃO

24 CAARAPÓ 40 1461,33 NÃO

25 AQUIDAUANA 40 1453,00 SIM

26 PORTO MURTINHO 40 1453,00 NÃO

27 NIOAQUE 40 1452,00 SIM

28 JARAGUARI 40 1451,92 NÃO

29 SETE QUEDAS 40 1451,47 SIM

30 AMAMBAI 40 1451,54 NÃO

31 BRASILÂNDIA 40 1451,00 SIM

SÃO GABRIEL DO OESTE 40 1451,00 SIM

INOCÊNCIA 40 1451,00 SIM

MIRANDA 40 1451,00 SIM

CAMAPUÃ 40 1451,00 SIM

NOVA ALVORADA DO SUL 40 1451,00 SIM

TRÊS LAGOAS 40 1451,00 SIM

TERENOS 40 1451,00 NÃO

RIO NEGRO 40 1451,00 NÃO

ANAURILÂNDIA 40 1451,00 NÃO

ITAQUIRAÍ 40 1451,00 NÂO

DOURADINA 40 1451,00 NÃO

ELDORADO 44 1451,00 NÃO

ARAL MOREIRA 40 1451,00 NÃO

ITAPORÃ 40 1451,00 NÃO

PONTA PORÃ 40 1451,00 NÃO

32 JAPORÃ 40 1440,00 NÃO

33 ALCINÓPOLIS 40 1425,82 NÃO

34 TACURU 40 1409,82 NÃO

35 TAQUARUSSU 40 1404,72 NÃO

36 COXIM 40 1400,00 NÃO

37 COSTA RICA 40 1379,05 NÃO

38 VICENTINA 40 1360,00 NÃO

39 DEODÁPOLIS 40 1337,46 NÃO

40 GUIA LOPES DA LAGUNA 44 1294,40 NÃO

41 MUNDO NOVO 40 1280,92 NÃO

42 IGUATEMI 40 1264,88 NÃO

43 LAGUNA CARAPÃ 40 1254,68 NÃO

44 RIO BRILHANTE 40 1236,32 SIM

45 BELA VISTA 40 1219,80 NÃO

46 CORGUINHO 40 1214,00 NÃO

47 APARECIDA DO TABOADO 44 1211,36 NÃO

48 SELVÍRIA 40 1211,04 NÃO

49 DOURADOS 40 1198,86 NÃO

50 RIO VERDE DE MT 40 1191,30 NÃO

51 ANASTÁCIO 40 1188,00 NÃO

PEDRO GOMES 40 1188,00 NÃO

52 FÁTIMA DO SUL 44 1187,82 NÃO

MARACAJU 44 1187,00 NÃO

53 BODOQUENA 40 1180,02 NÃO

54 JATEÍ 40 1082,00 NÃO

55 SONORA 40 1071,72 NÃO

56 BATAYPORÃ 40 1064,96 NÃO

57 JARDIM 44 1033,00 NÃO

58 GLÓRIA DE DOURADOS 44* NÃO

IVINHEMA 40* NÃO

NOVA ANDRADINA 40* NÃO

ROCHEDO 40* NÃO

SANTA RITA DO PARDO 40* NÃO

MUNICÍPIO C. H. PISO 1/3 H/AtivMUNICÍPIO C. H. PISO 1/3 H/

Ativ

Cumprem a Lei

Os municípios de Água Clara, Antônio João, Aquidauana, Bra-silândia, Camapuã, Coronel Sapu-caia, Inocência, Miranda, Naviraí, Nioaque, Paranaíba, São Gabriel do Oeste, Sidrolândia, Três La-

Sul, a FETEMS elaborou um pla-no de comunicação que foi exe-cutado em todo o estado. Foram produzidos outdoors, cartazes, panfletos, propaganda de rádio, televisão e anúncios em jornais. A diretoria da FETEMS, em parceria com os SIMTEDs, também, reali-zou reuniões em diversos muni-cípios, com o objetivo de mobi-

Para mobilizar os trabalhadores em Educação de Mato Grosso do

FETEMS, Roberto Magno Botareli Cesar, durante a manifestação.

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35Revista ATUAÇÃO | Abril 2012 |

rEIvIndIcAçõES SImPlES

E JuStAS, quE PodEm

conStruIr umA EducAção dE

quAlIdAdE

o que dizem os manifestantes de

mato grosso do Sul

“Acho um absurdo o descaso com a Edu-cação, a falta de sensibilidade do governo. Hoje, enquanto um senador ganha R$ 26 mil e mais os benefícios, a gente tem o pro-fessor ganhando R$ 1.451,00 por 40 horas. E isso os prefeitos e governadores acham muito, vão lá, em Brasília, reclamar. E o 1/3 da hora-atividade? A gente não consegue fazer tudo, tem que levar provas pra casa, caderno de aluno para verificar se fizeram as atividades. Se tivéssemos a hora-ativida-de, seria possível corrigir provas, arrumar diário e preparar as aulas”.

Professora Maria José de Souza Piazalunga Guerbas, leciona Língua Portuguesa há 29 anos

e mora em Nova Alvorada do Sul

“É necessário paralisar para chamar a atenção. O primeiro passo para melhoria da Educação é a valorização dos trabalhado-res. Falta muito, ainda, para chegarmos lá”.

Professor André César da Costa, leciona história há 2 anos e mora em Campo Grande

“A única forma do professor se fazer ou-vir é protestando. Somos todos graduados e alguns possuem até mestrado. O Piso e 1/3 da hora-atividade já deveriam ter sido im-plantados. Hoje, o professor não tem tempo para se aprofundar. Tem que haver incenti-vos”.

Professora Regina Maura Alves, leciona Artes há 6 anos e mora em Campo Grande

cumPrImEnto IntEgrAl dA lEI

do PISo (lEI 11.738/2008)

1/3 dE horA-AtIvIdAdE

PlAno dE cArgoS E cArrEIrA

10% do PIb PArA A EducAção

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36 | Revista ATUAÇÃO | Abril 2012

PRÊMIO

reconheciMento pelo trabalho sério1º Prêmio Prefeito Educador, instituido pela Fetems, presta homenagem aos

gestores públicos que cumprem a Lei do Piso

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A FETEMS criou o 1º Prêmio Prefeito Educador, com o obje-tivo de reconhecer, a cada ano, o trabalho dos gestores públicos comprometidos com a Educa-ção. O prêmio é uma homena-gem aos prefeitos e às prefeitas que cumprem integralmente a Lei do Piso, garantindo 1/3 da hora-atividade e pagando o va-lor do Piso Nacional.

A entrega da primeira edição do Prêmio aconteceu no dia 15 de março, na sede da FETEMS, em Campo Grande. Ao todo, 15 gestores públicos de Mato Gros-so do Sul foram homenageados pela Federação.

Entre os municípios homena-geados, Paranaíba é o que paga melhor seus educadores, com um piso de R$ 2.019,00. Para o prefeito de Paranaíba, José Gar-cia de Freitas, cumprir a Lei do Piso é uma obrigação do gestor público. “O valor do Piso é o mí-nimo que um prefeito pode fazer pela Educação. É a valorização do professor responsável em cuidar da formação de nossas crianças”, disse.

O município de Três Lago-as foi o primeiro a cumprir a Lei do Piso no estado, desde 2009. A prefeita Márcia Maria de Sou-za afirmou que a mudança no ensino público é visível. “O pa-gamento do Piso e 1/3 da hora--atividade fez com que o ensino melhorasse em nosso município. Hoje, temos mais professores ca-pacitados, especialistas, menos licenças médicas e, com tudo isso, temos a certeza de que se trata de um dos mais importan-tes investimentos feitos em Três Lagoas, pois caminhamos para termos uma Educação pública de qualidade”.

Segundo o presidente da FETEMS, Roberto Magno Botareli Cesar, a intenção da Federação, ao premiar os gestores públicos comprometidos com a Educação, é mostrar à sociedade sul-mato--grossense, e para os demais pre-

feitos, que é possível cumprir a Lei e investir mais recursos no en-sino público”. Ao invés de criticar os prefeitos que não cumprem a Lei, resolvemos reconhecer e va-lorizar quem acredita no ensino digno e de qualidade”.

15 prefeitos de mato grosso do Sul cumprem a lei do Piso Salarial

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38 | Revista ATUAÇÃO | Abril 2012

coMpasso de espera no congresso

PROJETO

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“A escola pública não é dife-rente de 50 anos atrás. O pro-fessor entra na sala de aula e se depara com lousa, giz, apagador e os livros que são fornecidos pelo governo. Essa é a realidade da escola pública hoje. Você en-tra numa escola com 500 alunos e vai encontrar disponível ape-nas 30 computadores. O aluno não se sente atraído para per-manecer na escola. O aluno mu-

dou, a escola precisa estar pre-parada para receber esse novo estudante. Então, o Plano Na-cional de Educação (PNE) vem para suprir essas necessidades, para dar um nova vida à escola. Por isso, precisa ser votado com urgência”. A consideração é do presidente da Federação dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul (FETEMS), Roberto Magno Botareli César,

entidade engajada na luta em defesa de uma escola pública de qualidade.

O projeto-de-lei que cria o PNE aguarda aprovação no Congresso Nacional, desde o início de 2011. O Plano, que de-veria vigorar de 2011 a 2020, dispõe de 10 diretrizes e 20 me-tas para a Educação nacional. A princípio, uma das metas afir-mava que o investimento em

Projeto que regulamenta Plano Nacional de Educação (PNE) aguarda votação dos deputados, desde 2011. Segundo entidades, país precisa investir 10% do PIB para ter uma Educação de qualidade

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40 | Revista ATUAÇÃO | Abril 2012

Educação deveria passar de 5% para 7% do Produto Interno Bru-to (PIB). Porém, entidades repre-sentativas dos trabalhadores em Educação de todo o país alegam que o percentual não é suficien-te para cumprir as metas e pas-saram a reivindicar um aumento para 10% do PIB.

“Pela confiança que temos na luta social, em especial, dos tra-balhadores e das trabalhadoras que almejam uma Educação de qualidade para si e para seus fi-lhos, é que estamos pedindo a ampliação do percentual do PIB para a Educação”, explicou o pre-sidente da Confederação Nacio-nal dos Trabalhadores em Educa-ção (CNTE), Roberto Franklin de Leão.

Leão disse, ainda que, durante reunião com o relator do PNE, na Câmara Federal, Deputado Ânge-lo Vanhoni, a CNTE foi informa-da de que o parecer deverá ser aprovado, com previsão de 8% a 8,2% do PIB. Devem ser compu-tados nesse percentual, os inves-timentos públicos repassados à iniciativa privada, a exemplo, as bolsas do Prouni e do Pronatec.

Caso a previsão do relator se confirme, a CNTE e seus sindi-catos filiados manterão a reivin-dicação dos 10% do PIB. “Não

faltam provas para justificar essa necessidade, a começar pela di-ficuldade que governadores e prefeitos alegam ter em efetuar o pagamento do Piso do Magis-tério vinculado à carreira”, argu-mentou.

Para a secretária de Relações Internacionais da CNTE e vice--presidenta Regional da Interna-cional da Educação para a Améri-ca Latina, Fátima Silva, os valores investidos atualmente em Edu-cação no Brasil são insuficientes para atender a demanda de um país em crescimento econômico. “Não adianta estar entre as maio-res economias do mundo, se não houver justiça social interna e dis-tribuição equitativa das riquezas. A Educação é a única ferramenta capaz de assegurar esse cresci-mento e fazer do Brasil um país realmente soberano e autôno-mo. O valor de 10% do PIB para a Educação é urgente e necessário para fazer acontecer uma Educa-ção de qualidade. No momento, é o primeiro passo e o passo que podemos dar”.

do PNE, para que o Senado ana-lisasse a matéria neste primeiro semestre de 2012. Mas, segundo Leão, a votação pode atrasar mais um pouco, por conta das eleições municipais. “Ao que tudo indica, o pleito eleitoral irá nos prejudi-car, e o projeto não deve ser vo-tado antes do mês de maio. Con-tudo, não iremos admitir que não se vote o PNE este ano. O Bra-sil clama por mais investimentos educacionais. Os orçamentos dos entes federados, em 2013, pre-cisam contemplar as metas e as estratégias do PNE. Além disso, os estados e municípios também precisam aprovar seus planos de Educação. Isso precisa acontecer em 2013”.

Para pressionar a votação do PNE, ainda neste primeiro semes-tre de 2012, a CNTE vem orga-nizando mobilizações nacionais, faz visitas semanais à Câmara dos Deputados, conseguiu recente-mente apoio da ministra de Rela-ções Institucionais, Ideli Salvatti, na aprovação do projeto e, em parceria com o Conselho Nacio-nal de Secretários de Educação (Consed) e União dos Dirigentes Municipais de Educação (Undi-me), encaminhou carta à Câmara Federal, pedindo agilidade na vo-tação do PNE.

Roberto Magno Botareli César,

Presidente da FETEMS

“O aluno mudou, a escola precisa estar preparada para receber esse novo

estudante. Então, o Plano Nacional de Educação (PNE) vem para suprir

essas necessidades, para dar um

nova vida à escola.”

Ano político

A Câmara dos Deputados já deveria ter votado, no ano pas-sado, o texto do projeto-de-Lei

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Como avalia a Educação no Brasil, em relação aos países de primeiro mundo (Eu-ropa, EUA e Japão)? Qual país deve ser citado como modelo educacional? Por quê?

A Educação pública brasileira tem várias fases, contando do Brasil Império até os dias de hoje. Passamos de uma Educação de elite e de poucos, para um processo de Educação mais abrangente e inclusiva, mas que, ainda, tem deficiências no que diz respeito ao acesso e à permanência.

Para fazer uma relação com os países citados, é preciso uma análise histórico--cultural de cada país. Em todos eles, há pontos positivos e negativos. Não existe mo-delo a ser seguido, cada um representa um contexto de país e sociedade. Mas, todos fazem investimentos superiores aos nossos na Educação.

Fátima Silva, Secretária de Relações Internacionais da CNTE e vice-presidenta Regional da Internacional da Educação para a América Latina

Quantos anos serão necessários para o Brasil alcançar um nível educacional satisfatório?

Essa questão depende muito do comprometimento político e de investimentos orçamentários e pedagógicos na área. Somos a 6ª economia do mundo, com tama-nhos índices de desigualdade e deficiência educacional, o PNE vem para mudar esse cenário.

A Educação, conforme consta no artigo 205 da Constituição, é um direito de todos e dever do Estado e da família, e é preciso que o país se una em torno de um pacto pela qualidade da Educação e pela valorização de seus profissionais. Assim aconte-ceu no Japão, na Coréia, nos Tigres Asiáticos e em tantas outras nações desenvolvi-das, e não há de ser diferente com o Brasil.

Roberto Franklin de Leão, presidente da Confederação Nacional do Trabalhadores em Educação (CNTE)

Palavra de quem entende de Educação

“Se não houver investimentos, não há perspectiva de melhora na Educação. Te-mos salas de tecnologia fechadas, falta manutenção. O aluno está no século XXI, e a escola no século XX. Se o recurso do PIB for bem administrado, podemos melhorar. As 20 metas do PNE não são difíceis de serem cumpridas, e a questão de 1/3 da hora--atividade do professor está totalmente relacionada a elas. Para se cumprir o PNE, o professor precisa da hora-atividade, precisa de tempo para preparar as aulas e se capacitar. A Educação precisa ser mais atraente, eficaz, humana e fraterna. O aluno precisa ter prazer em ir para a escola”.

Professor Amarildo Sanches da Silva, leciona história há 21 anos

“Precisamos de mais investimentos. Ainda hoje, usamos lousa com giz, é sujo, dá alergia. Não temos computadores suficientes, nem ao menos nas salas dos professo-res. O laboratório de Química é utilizado uma vez por bimestre, isso quando acontece. São minutos de aula. Até pegar o material, utilizar, guardar, não dá. Não tem um téc-nico, uma pessoa responsável, o Estado não oferece esse tipo de serviço.

É só falar que é aula de Química, que eles já perguntam: a gente vai ao laboratório? É impossível ir e não é só uma disciplina que usa, não dá para deixar arrumado para o outro dia”.

Professora Sandra Françoso, leciona Química há 11 anos

Realidade do Professor

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A Educação se confunde com a história da humanidade. Atra-vés dos tempos, o homem tem desenvolvido processos educa-cionais para passar às novas ge-rações seus saberes, seus conhe-cimentos, suas habilidades, suas experiências e vivências. Segun-do Demerval Saviani, a Educa-ção se confunde com a própria origem do homem, que age so-bre a natureza, para garantir a sua própria existência, através do trabalho. E, para aperfeiçoar cada vez mais seu trabalho, o homem vai desenvolvendo co-nhecimentos e construindo no-vos saberes. O que faz com que a vida do homem seja determi-nada pelo trabalho. Assim, para Saviani, o trabalho é um princí-pio educativo.

Nos tempos primitivos, os ho-mens produziam sua existência de forma coletiva, ou seja, traba-lhavam, produziam e consumiam de forma coletiva e, nesta ação de produzir existência, produ-ziam também, coletivamente, a sua Educação. Não existiam es-colas, e os conhecimentos eram transmitidos pelos mais velhos às gerações mais jovens. À me-dida que o homem se fixa e pas-sa a ter a propriedade da terra, o que era produzido em comum se divide em duas classes, a dos proprietários, e a dos não pro-prietários. Esta nova organiza-ção do trabalho passou a exigir outra forma de Educação. E aí, surge a escola, que vai se conso-lidando através dos tempos.

Qual é a educação que interessa aos trabalhadores(as)?Com o advento da Revolu-

ção Industrial e a passagem do trabalho manual/artesanal para o trabalho em série/industrial e da vida rural para a vida urbana, há uma mudança radical na so-ciedade e, para atender a esta nova realidade de trabalho, a sociedade passa a exigir que a Educação escolar se amplie, e a nova realidade industrial, sobre-tudo urbana, passa a dar a linha da Educação, e a escola se tor-na a forma predominante (quase única) de promover Educação. E, mesmo reconhecendo que existem outras formas de Educa-ção, a sociedade passou a julgar, comparar e conceituar a Educa-ção a partir da Educação escolar. Entretanto, apesar de a escola ser a forma dominante de Edu-cação na sociedade atual, exis-tem outras formas de Educação que não a escolar.

O sistema escolar brasileiro nunca trouxe para seu currícu-lo os saberes dos trabalhadores oriundos da sua vida cotidiana, das suas experiências e vivên-cias, das suas lutas, das suas or-ganizações políticas, sindicais, culturais e sociais. E, é dentro desta concepção que se insere a formação sindical feita pelos sin-dicatos, no nosso caso, pela Fe-tems, CNTE e CUT: uma concep-ção de Educação Integral que deve contemplar as dimensões: social, política, cultural, técnica e o saber acumulado pelos tra-balhadores (as) na vida em geral e no trabalho em especial. Uma Educação e uma escola que te-nham no trabalho seu princípio educativo.

Defendemos uma Educação que leve em conta os interesses e os saberes dos trabalhadores (as), no sentido de despertar a

consciência de classe; que seja um processo contínuo, perma-nente, planejado e sistematiza-do; que seja instrumento de re-flexão crítica e de libertação; que seja um instrumento objetivo de luta por mudanças de valores culturais e comportamentos que signifiquem a discriminação e exclusão de segmentos sociais determinados por condições gê-nero, étnico-raciais, necessida-des especiais, opções sexuais, ideológicas e religiosas; que va-lorize e incentive solidariedade, integração social, luta pela igual-dade de direitos e respeito a to-dos sem distinções, dentre ou-tros valores fundamentais para a sociedade que vivemos.

E fica para nós, educadores (as), uma reflexão fundamental. Se a Educação e a escola, histo-ricamente, foram e continuam sendo tão importantes na nossa sociedade, qual a finalidade da Educação atual? Qual o modelo de Educação para atender as ne-cessidades da sociedade atual? A quais princípios deve atender? Qual Educação é necessária para novas relações éticas e solidá-rias? Qual o modelo de Educação para atender as necessidades concretas dos trabalhadores(as) e de seus filhos(as)? Qual Educa-ção que nós defendemos? Para quem? Com que objetivos? São reflexões que são imperativas para quem produz sua existência como trabalhador(a) da Educa-ção, sob pena de que “os outros” decidam por nós e para nós qual a Educação teremos para as ge-rações futuras.

Sueli veiga melo é secretária dos especialistas em Educação e coordenadora-pedagógica da Fetems.

ARTIgO

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No contexto de desenvolvi-mento do nosso país, a Educa-ção tem assumido um destaque muito significativo. Durante es-ses últimos anos, avançamos bastante na perspectiva de ga-rantir uma Educação de quali-dade para todos. Mudanças es-truturantes foram importantes, como a redefinição do financia-mento da Educação Básica, com a criação do Fundo Nacional de Manutenção e Desenvolvimen-to da Educação Básica e de Va-lorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB); a criação do Piso Salarial Nacional do Ma-gistério, como componente da Valorização Profissional; a mu-dança da legislação em relação à universalização da Educação Básica dos 4 aos 17 anos e a ex-pansão do Ensino Superior e do Ensino Profissional.

E, sem sombra de dúvidas, avançamos em relação à parti-cipação social. Pactuar com o movimento social e o governo a realização de conferências, que culminaram com a Conferência Nacional de Educação, a Conae 2010, foi um marco significativo em relação à Gestão Democráti-ca da Educação.

A Conae deliberou sobre po-líticas públicas, apresentando propostas tanto para a pauta do movimento social, como para a do Governo (federal, estadual e municipal).

As nossas expectativas para 2012, sem hesitação, estão vol-tadas para a aprovação do Pla-

o que esperar da educação em 2012

no Nacional de Educação (PNE). Um plano de Estado e que pau-ta o Planejamento da Educação com objetivos, diretrizes, metas e estratégias, as quais se trans-formam em ações dos governos em todas as esferas.

A aprovação do Plano Nacio-nal de Educação fixa metas para a próxima década, que vão supe-rar os grandes desafios da Edu-cação escolar no Brasil. Estão no Plano e, portanto, estão no desenvolvimento da Educação, para os próximos 10 anos. Den-tre esses desafios, destacamos:

• Financiamento: Chegamos a 5% do PIB, segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira - Inep, em 2009, mas precisamos avançar muito mais, inclusive, em relação às fontes de financiamento, que susten-tem um novo patamar do PIB para a Educação.

• Valorização dos Profissio-nais: A conquista do Piso Salarial Nacional dos Professores, com perspectiva de garantir carreira e formação, precisam ser efeti-vada e implementadas com se-gurança, para que se realize a valorização dos nossos profis-sionais. Nesse particular, tramita no Congresso Nacional um Pro-jeto de Lei sobre correção anual do piso salarial. Portanto, neste ano, espera-se que tal definição ocorra, valorizando os profissio-nais da Educação Básica.

• Gestão Democrática: Rea-lizamos a Conae 2010 e instituí-

mos o Fórum Nacional de Educa-ção, porém, precisamos instalar os fóruns estaduais e municipais e realizar a próxima conferência nacional de Educação, possivel-mente, no primeiro trimestre de 2014. Precisamos avançar em re-lação à democratização em nos-sas unidades escolares.

• Diversidade: O Ministério da Educação incluiu, na sua estrutu-ra técnico-administrativa, a Se-cretaria de Educação Continua-da, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECADI), com políticas afirmativas. Contudo, o pré-con-ceito e a discriminação étnico--racial, de orientação sexual e de gênero, entre outras, ainda se constituem grande desafio a ser superado.

Aprovar o novo PNE signifi-ca termos desafios fortes a se-rem enfrentados e que estão no horizonte da continuidade dos avanços. A sociedade brasilei-ra espera um Plano Nacional de Educação sancionado, que con-sagre, em Lei, como política de Estado, avanços nessa direção, e que haja a continuidade do pro-cesso de participação popular e interfederativo, na construção e na implementação da política nacional de Educação.

ARTIgO

francisco das chagas fernandes éSecretário-Executivo-Adjunto do MECCoordenador do Fórum Nacional de Educação.

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cOMPORTAMENTO

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bUrnoUtA síndrome

da frustração profissional

Os consultórios médicos e psicológicos têm registrado um constante aumento do número de pacientes que se queixam de cansaço físico e emocional, mudanças de comportamento, isolamento, irritabilidade, difi-culdade de concentração, lapsos de memória, ansiedade, pessi-mismo, baixa autoestima e falta de envolvimento nas atividades relacionadas ao trabalho. Os sintomas se assemelham a um quadro de depressão, mas, na verdade, podem ser o prenúncio da Síndrome de Burnout ou Sín-drome do Trabalho.

“A síndrome começou a ser estudada na década de 1970, quando determinados grupos de pessoas começaram a de-sencadear quadros ansiosos e depressivos em decorrência das atividades laborais. Você pode ter depressão ou ansiedade, sem motivo específico, pode ser uma questão hereditária. No caso da Burnout, o objeto específico é o

Excesso de trabalho, aliado à falta de recursos adequados e desvalorização profissional, pode resultar na síndrome do trabalho

trabalho e as condições de tra-balho”, explicou o psiquiatra e diretor do Ambulatório de Saú-de Mental do Hospital Universi-tário em Campo Grande, Juberty Antônio de Souza.

A Síndrome de Burnout é um distúrbio decorrente de um es-tresse laboral crônico que afeta os profissionais em suas relações de trabalho. É mais comum em profissionais que desempenham funções de relação interpessoal, marcado pelo cuidado e pela de-dicação. Tem sido diagnosticada com frequência em profissionais da área da Educação, Saúde, po-liciais e agentes penitenciários. O transtorno está registrado no Grupo V da CID -10 (Classifica-ção Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relaciona-dos à Saúde).

Ainda, segundo o psiquiatra, a pessoa que sofre da síndro-me percebe que seu trabalho vai perdendo o sentido original, e os eventos decorrentes dele

passam a não ter mais importân-cia. “A pessoa faz a tarefa e não vê resultados. Sente-se exausta, cansada, desanimada, magoada e frustrada”.

Foi o que aconteceu com a professora de Geografia, que chamaremos nesta reportagem de Rosemeire. Após 25 anos ensinando na rede pública, des-cobriu que não tinha mais moti-vação para exercer a atividade. Rosemeire está afastada das lou-sas há três anos e vem lutando para voltar ao trabalho que tan-to amava. “Eu lecionava os três períodos, preparava as minhas aulas com vontade, não tinha preguiça. Usava muitos mate-riais de apoio para incrementar as aulas e despertar o interesse dos alunos. Minhas aulas eram dinâmicas, os alunos gostavam. Lecionar, sempre, foi tudo pra mim! É difícil, eu tenho medo de voltar para dentro de uma sala cheia de alunos”, lamentou a professora.

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“Aluno problemático não pode ser obstáculo.

Obstáculo é a escola não dispor de recursos para

lidar com esse aluno. O que temos que entender é que

o estudante mudou, e a escola não está preparada

para receber esse novo perfil. Isso gera frustração

nos trabalhadores em Educação”.

Vânia MariaPsicóloga

Falta de organização institucional gera Burnout

A psicóloga Vânia Maria de-fende a ideia de que a instituição é responsável pela promoção desse bem-estar profissional. “Aluno problemático não pode ser obstáculo. Obstáculo é a escola não dispor de recursos para lidar com esse aluno. O que temos que entender é que o estudante mudou, e a escola não está preparada para rece-ber esse novo perfil. Isso gera frustração nos trabalhadores em Educação”.

A mesma opinião tem a pro-fessora de Língua Portuguesa Jandira, também, um codinome desta reportagem. Jandira apo-sentou-se pela rede municipal de Educação de Campo Grande (MS), no final de 2011. E, assim, como a professora e amiga Ro-semeire, lecionou por muito tem-po, ao todo, 27 anos. Atualmen-te, leciona apenas um período na rede estadual. Os anos de expe-riência permitem que ela consi-dere vários aspectos da Educa-ção no estado. “Precisamos de psicólogos e assistentes sociais exclusivos para atender nas es-colas. Esses profissionais devem desenvolver ações que condi-zem com a realidade da comuni-

dade em que a escola está inse-rida. Nos dias atuais, a direção das escolas não tem autonomia para trabalhar, os alunos são di-fíceis, não respeitam o professor. Nossos problemas não se limi-tam a salários baixos ou falta de infraestrutura. Às oito horas da manhã, tem traficante na frente da escola, oferecendo drogas aos alunos. O que os professores e a direção podem fazer? Cadê a segurança do Estado? Isso causa um desânimo geral no ambiente escolar”, desabafou.

O psiquiatra Juberty Antônio esclarece que o comportamen-to humano é motivado e impul-sionado pelo prazer, pela satis-fação, pelo reconhecimento da pessoa, das suas atividades, da sua forma de ser. “A pessoa pre-cisa sentir que é aceita, valoriza-da, isso faz parte das chamadas necessidades psicossociais. Em um determinado momento, por uma série de fatores, o profissio-nal começa a perceber que nada disso é levado em consideração, ou mais ainda, que o que ele está fazendo não faz a diferença. Se a pessoa é mais frágil, pode de-senvolve quadros como a Bur-nout”.

Para a psicóloga Vânia Maria Mayer, vários fatores contribuem para o desenvolvimento do dis-túrbio. O principal, segundo ela, é a falta de organização da institui-ção, que, nem sempre, está estru-turada adequadamente para que os profissionais exerçam sua fun-ção com qualidade. “Quem é pro-fessor, é professor porque gosta do que faz. Quando a instituição, seja ela pública ou privada, não atende às necessidades do traba-lhador, ele se sente insatisfeito. É importante lembrar que essas ne-cessidades não são pessoais, são organizacionais”.

Também, professor da Univer-sidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), no curso de Me-dicina, o psiquiatra Juberty toma como exemplo a própria reali-dade. “Gosto de ensinar, de ver a evolução dos meus alunos, de chegar à sala de aula e ter condi-ções de trabalho, material dispo-nível e ser tratado com respeito. Contribuir com o aprendizado de uma pessoa me satisfaz profissio-nalmente e pessoalmente”.

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A pessoa precisa sentir que é aceita, valorizada,

isso faz parte das chamadas necessidades

psicossociais. Em um determinado momento,

por uma série de fatores, o profissional começa

a perceber que nada disso é levado em

consideração, ou mais ainda, que o que ele

está fazendo não faz a diferença. Se a pessoa tem maior fragilidade,

pode desenvolver quadros como

a Burnout”.

Juberty Antonio de SouzaPsiquiatra

Uma pesquisa realizada em 2009, pelo psiquiatra Juberty Antonio de Souza, com usuá-rios da Caixa de Assistência dos Servidores de Mato Grosso do Sul (Cassems), demonstrou que 37,5% dos pacientes entrevista-dos eram profissionais ligados à Secretaria de Educação. Do to-tal, 66,5% foram diagnosticados com transtornos depressivos. O estudo demonstra que as mu-lheres são as que mais apresen-tam sintomas depressivos e são maioria entre os pacientes. “Es-ses dados são coerentes com a literatura disponível, as quais apontam para a razão de duas mulheres deprimidas para cada homem”, explica o psiquiatra.

Ainda, segundo Juberty, nos meses de julho, dezembro, janei-ro e fevereiro, há um índice maior de professores à procura de tra-tamento médico em função das férias escolares. “A exaustão, que é uma das características da Burnout, vai ser percebida pelo profissional no período das férias, quando ele relaxa. O dis-túrbio pode se manifestar no or-ganismo, de várias formas, com sintomas como pressão alta, úl-cera, gastrite, labirintite, tontura, falta de ar etc”.

PESQUISA

PESQUISA CASSEMS/2009

Pacientes liga-dos à Secretaria

de Educação

Pacientes do sexo masculino

Total

Pacientes do sexo feminino

Mulheres com diagnóstico

de transtornos depressivos

Homens com diagnóstico

de transtornos depressivos

Pacientes com diagnóstico

de transtornos depressivos

35,7%

131

728

597

73,2% 35,9%

66,5%

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Ensaiamos todos os dias

Para que saibamos a dança

Quando a orquestra tocar

Refletimos todos os dias

Para que saibamos a lição

Quando a prova chegar

Sabemos os passos da luta

Sabemos o sabor da labuta

Sabemos o que é resistir

Sabemos o que é construir

E de nossos braços

E de nossos abraços

Suor, ousadia, coragem

Pavimentamos a estrada

Pavimentamos a jornada

De nossa vitoriosa viagem!

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R E V I S T A

Ademir Cerri, Secretário de comunicação

da FETEMS

CAM

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OS

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