resumos hri

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IjtuÈsjb!ebt!Sfmb³Îft!Joufsobdjpobjt! JOUSPEV—¸P!˙!QSPCMFN¨UJDB!EBT!SFMB—¬FT!JOUFSOBDJPOBJT! As relações Internacionais sempre existiram desde a antiguidade, não sendo apenas um fenómeno que se inicia com a I Guerra Mundial. Huntzinger considera que internacional é um vocábulo equívoco já que abrange uma série de situações muito diferentes: - relações diplomáticas - relações entre partidos - guerras civis (ocorrem dentro de um Estado mas envolve muitas vezes pessoas de diferentes nacionalidades) - relações entre povos de nacionalidades diferentes - troca de ideias (ex. difusão das ideias da Revolução Francesa) - conflitos entre estados - correntes sentimentais Embora as RI apenas tenham sido reconhecidas como uma ciência autónoma num passado relativamente recente, são ao mesmo tempo uma matéria já muito estudada, no âmbito de outras disciplinas como o Direito e a História. As relações internacionais podem ser estudadas por vários pontos de vista: teórico (procurando perceber a natureza e funcionamento da sociedade internacional), sociológico (as regularidades da sociedade internacional) e histórico (desenrolar da vida internacional e e a sua evolução ao longo dos anos), sendo que nesta disciplina de “História das Relações Internacionais” se privilegia a perspetiva histórica. Estadistas e Políticos com Responsabilidades todos os países possuem políticos com responsabilidades, mas serão eles estadistas? Os políticos têm a possibilidade de influenciar as decisões no plano internacional, devendo atuar tendo em conta os efeitos a pequeno e médio prazo (“pensam no futuro”). As RI são muito vastas e diversificadas, englobando o plano político, económico, os problemas estratégicos, etc. Tal como alguns intelectuais referem “tudo é internacional”. Para além daquilo que já foi anteriormente referido, as RI também abrangem: - estratégias financeiras das empresas multinacionais - programas como o ERASMUS (que permitem a livre circulação de pessoas, fomentando a solidariedade entre os países). Assim, apesar dos Estados continuarem a ser atores muito relevantes no plano internacional, a base das RI é o indivíduo comprometidos numa ação/situação internacional. Página de 1 29 definição de Jacques Huntzinger: ligações e fluxos de várias espécies que atravessam fronteiras e que escapam sempre à influência de um só estado IjtuÈsjb!ebt!Sfmb³Îft!Joufsobdjpobjt IjtuÈsjb!Ejqmpn¾ujdb as RI tendem a separar-se cada vez mais da história e do Direito, embora estes sejam essenciais para a compreensão e resolução de eventuais conflitos é parte da História das RI, abordando as negociações, decisões, governantes e diplomatas, etc. no entanto, não é esta que define a História das RI

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Resumos História das Relações Internacionais

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  • As relaes Internacionais sempre existiram desde a antiguidade, no sendo apenas um fenmeno que se inicia com a I Guerra Mundial.

    Huntzinger considera que internacional um vocbulo equvoco j que abrange uma srie de situaes muito diferentes:

    - relaes diplomticas - relaes entre partidos - guerras civis (ocorrem dentro de um Estado

    mas envolve muitas vezes pessoas de diferentes nacionalidades)

    - relaes entre povos de nacionalidades diferentes

    - troca de ideias (ex. difuso das ideias da Revoluo Francesa)

    - conflitos entre estados - correntes sentimentais

    Embora as RI apenas tenham sido reconhecidas como uma cincia autnoma num passado relativamente recente, so ao mesmo tempo uma matria j muito estudada, no mbito de outras disciplinas como o Direito e a Histria. As relaes internacionais podem ser estudadas por vrios pontos de vista: terico (procurando perceber a natureza e funcionamento da sociedade internacional), sociolgico (as regularidades da sociedade internacional) e histrico (desenrolar da vida internacional e e a sua evoluo ao longo dos anos), sendo que nesta disciplina de Histria das Relaes Internacionais se privilegia a perspetiva histrica.

    Estadistas e Polticos com Responsabilidades todos os pases possuem polticos com responsabilidades, mas sero eles estadistas?

    Os polticos tm a possibilidade de influenciar as decises no plano internacional, devendo atuar tendo em conta os efeitos a pequeno e mdio prazo (pensam no futuro). As RI so muito vastas e diversificadas, englobando o plano poltico, econmico, os problemas estratgicos, etc. Tal como alguns intelectuais referem tudo internacional. Para alm daquilo que j foi anteriormente referido, as RI tambm abrangem:

    - estratgias financeiras das empresas multinacionais - programas como o ERASMUS (que permitem a livre circulao de pessoas, fomentando a

    solidariedade entre os pases). Assim, apesar dos Estados continuarem a ser atores muito relevantes no plano internacional, a base das RI o indivduo comprometidos numa ao/situao internacional.

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    definio de Jacques Huntzinger: ligaes e fluxos de vrias espcies que atravessam fronteiras e que escapam sempre influncia de

    um s estado

    as RI tendem a separar-se cada vez mais da histria e do Direito, embora estes sejam essenciais para a compreenso e resoluo de eventuais conflitos

    parte da Histria das RI, abordando as negociaes, decises, governantes e diplomatas, etc.

    no entanto, no esta que define a Histria das RI

  • O surgimento das RI como cincia independente e a evoluo

    Embora os intelectuais sempre se tivessem interessado pela realidade internacional, s depois da I Guerra Mundial comearam a surgir escolas americana vocacionadas para o estudo destas matrias. O surgimento das RI como cincia independente foi impulsionado por uma srie de factores:

    - novas preocupaes, como a segurana coletiva, a paz, o desarmamento (W. Wilson apela/cria a SDN, destinada a manter a paz e estabilidade mundiais);

    - mudanas no plano internacional: surgimento de novas potncias como os EUA, URSS e Japo (este ltimo tendo ganhado em poucos anos uma grande relevncia econmica e tecnolgica devido ao elevado nvel de alfabetizao e cultura, embora fosse ainda nesta altura um pas muito fechado ao exterior);

    - desenvolvimento das cincias sociais em geral; - o sculo XIX praticamente inaugurado com o Congresso de Viena (1814-1815); - no sculo XX assiste-se a uma passagem da Sociedade Internacional - desintegrada,

    regionalizada e sem interesses comuns - para uma Sociedade Mundial onde as problemas e estruturas ultrapassam as fronteiras dos estados e os interesses comuns so precisamente a razo da unio (nota: no sculo XXI temos uma sociedade universal planetria/ globalizao).

    Com a passagem do sculo XIX para o sculo XX, a violncia deixa de ser vista como a forma ideal de resoluo de conflitos, sendo que se comea a valorizar a cooperao (criao de Organizaes Internacionais). De certa forma, isto tambm uma resposta para o surgimento de armas de destruio macia, que revolucionaram o conceito clssico de guerra. Como bvio, os conflitos no desapareceram por completo para darem lugar a um clima de paz permanente. No entanto, e embora por vezes a cooperao internacional possa no ser muito evidente, trata-se de um processo em aberto que registou j grandes avanos. O estudo das relaes internacionais de forma sistemtica demonstra o esforo e a preocupao dos seres humanos em se entenderem e solucionarem os grandes problemas da Humanidade (como problemas ambientais, guerras, desigualdades entre pases desenvolvidos e em desenvolvimento, etc.). At I Guerra Mundial os EUA mantinham uma posio de isolacionismo, no intervindo nos assuntos externos dos outros pases. No entanto, aps o fim do conflito, ao se tornarem uma grande potncia econmica, poltica, e militar, assumem que tm responsabilidades mundiais (Mensagem em 14 pontos, W. Wilson). O objeto das relaes internacionais foi moldado por vrios fatores:

    - I Guerra mundial e os seus 13 milhes de mortos; - ideia de que o ocidente tinha uma misso civilizadora; - ausncia da participao dos EUA na SDN, devido a retificaes por parte do Senado

    americano. Em 1989, com a queda do muro de Berlim, as condies em que acabou a Guerra Fria e os novos fenmenos mundiais - foram aproveitados pelas RI para melhorar a sua forma de anlise/os seus mtodos / o seu objeto. No entanto, as RI foram incapazes de prever o fim da bipolaridade e os fenmenos internacionais que viriam a acontecer, pois esta disciplina tinha ideias um pouco dogmticas, estudando os fenmenos sem tendo em conta o resto: o meio envolvente, o contexto histrico.

    Marcas importantes na Histria das Relaes Internacionais

    1989: queda do muro de Berlim 1991: reunificao da Alemanha; desmembramento da URSS; fim do mundo bipolar2001: ameaa do terrorismo no mundo.

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  • Fatores a ter em conta aquando o estudo das RI

    O facto de um Estado ser martimo e ter uma longa costa (como Portugal) muito diferente de ser um pas continental, afastado do mar. A proximidade da costa martima um fator muito positivo, sendo por vezes at mais vantajoso do que a prpria dimenso territorial.

    ex. a Holanda, um pas pequeno, sempre aproveitou os seus recursos, dedicando-se explorao martima, o que a levou a alcanar um grande potencial econmico. a Monglia, por outro lado, um pas enorme mas que se encontra de certa forma esquecido, uma vez que no tem acesso ao mar e est cercado por duas potncias gigantes - a China e a Rssia

    Importncia do mar: - explorao econmica; - transporte mais econmico de mercadorias pesadas; - fuga a um inimigo mais fcil por mar (aquando das invases napolenicas, em 1807, a famlia real

    fugiu para o Brasil atravs do mar)

    por estas razo os pases procuraram sempre o acesso ao mar, o que acabou at por originar conflitos. a verdade que as principais cidades do Mundo tm portos de mar ou acessos facilitados

    ex. Nova Iorque, Rio de Janeiro, Londres, Berlim, Lisboa, Amesterdo

    Ilha vs Estado Continental As ilhas so, e sempre foram, da mxima importncia pois representam postos de abastecimento para as tripulaes. as ilhas mais afastadas do continente tendem a ser independentes (Chipre e Malta) e a receberem menos influncias do exterior (no Pacfico existem certas ilhas - como a Ilha de Pscoa - onde se desenvolveu uma civilizao arcaica, onde s comearam a chegar influncias externas com o turismo

    Dimenso Territorial

    Demografia

    No passado, o nmero de habitantes era determinante para um pas porque significava a capacidade de mobilizao de homens para a defesa do territrio. A emigrao tem consequncias positivas como a diminuio da presso demogrfica, do desemprego e do nmero de descontentes, assim como o desenvolvimento econmico e industrial dos pases de origem devido ao envio de remessas por parte de emigrantes, mas tambm negativas como a aculturao, a discriminao, a xenofobia, o aumento da criminalidade, etc.

    Os estados podem ou no favorecer as trocas comerciais atravs de: - controlo dos meios de comunicao (como as vias frreas e ainda as vias martimas como o

    Estreito de Gibraltar, o Canal do Suez, o Canal do Panam, etc.) - embarcos econmicos/boicotes - acordos econmicos internacionais - aplicao ou no de taxas alfandegrias - condomnios econmicos - partilha de influncias

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  • SENTIMENTO NACIONAL a manifestao de emoes e ideias comuns no seio de uma comunidade com membros que possuem interesses e tradies comuns e que esto dispostos a sacrificar os interesses individuais em favor dos comuns em caso de conflito com comunidades vizinhas.

    Para existir uma nao necessria a partilha de:- territrio - raa - lngua

    - recordaes histricas/tradies - religio - civilizao intelectual

    No existe o determinismo da monarquia, j que os polticos recebem influncias do meio ambiente, da cultura religio e ideologia (foras profundas). O estadista tambm age sobre estas foras profundas, uma vez que tem de pensar a mdio e longo prazo e decidir de forma a preservar a soberania, independncia e integridade territorial do Estado.

    A I Guerra Mundial foi de grande importncia, uma vez que influenciou todo o mundo e levou a grandes transformaes polticas, econmicas e sociais. Os Tratados de Paz de Versalhes foram responsveis pela reorganizao poltica da Europa, em 1919 (embora o Congresso de Viena, no incio do sculo anterior, j tenha desempenhado um papel fulcral nesta rea). Com o final da guerra, do-se grandes alteraes no mapa poltico da Europa, com a reorganizao de fronteiras, surgimento de novos pases e extino dos grandes imprios, por exemplo. Contudo, estas medidas que pretendiam pr em prtica os princpios liberais e acabar com os regimes autocrticos no foram bem sucedidas uma vez que no se configurou a Nao ao Estado aquando a formao dos limites territoriais fazendo assim que surgissem minorias ticas (povos que foram separado das suas Naes e que no se identificam com o seu Estado). A I Guerra Mundial foi desastrosa, especialmente para a Europa. As suas indstrias e infra-estruturas foram arrasadas, uma vez que a Guerra deu-se maioritariamente em solo europeu. Para alm disso, com as mortes durante a Guerra, a Europa encontrava-se numa crise demogrfica profunda com milhes de mortos e de invlidos, o que fez com que houvesse um decrscimo na mo-de-obra, agravando assim a crise econmica. Tambm as colnias acabaram por se envolver na Guerra, ao acorrerem em defesa das metrpoles, o que vai fomentar o seu desejo de auto-determinao ao verificarem a incapacidade dos seus colonizadores em protegerem-nos. Aps o terminal do conflito, constata-se que a Europa, que era at ento uma superpotncia detentora da hegemonia a todos os nveis, comea a registar um declnio cada vez mais acentuado, sendo que ao mesmo tempo se d a ascenso dos EUA. A I Guerra mundial influenciou ainda a Revolta Bolchevique (1917) na Rssia, que levou queda do czarismo e instituio de um regime socialista (marxismo) que viria a durar at ao final da Guerra Fria e desmembramento da URSS - 1991).

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  • Antecedentes da I Guerra Mundial

    A poca que antecedeu a I Guerra Mundial foi aparentemente pacfica. A Gr-Bretanha e a Frana eram detentoras de grandes imprios coloniais, enquanto que a Alemanha se afirmava como uma grande potncia industrial. Este perodo (1830-1914) tinha certas caratersticas alheias ao progresso poltico, social e intelectual vivido neste perodo. Sendo uma poca de democracia, foi tambm de imperialismo. As verbas militares e navais aumentaram exponencialmente, o nacionalismo agressivo e belicoso alastrou-se como uma peste.

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    - rivalidade industrial, econmica e comercial entre a Gr-Bretanha e Alemanha - os Franceses encontravam-se alarmados com a expanso industrial alem (devido a

    terem sido despojados de extensos depsitos de ferro e carvo da Lorena, que tinham passado a contribuir para o crescimento industrial alemo)

    - a ambio russa em obter o controlo da Constantinopla e de outras pores de territrio turco, que entrava em conflito com os planos dos Alemes e Austracos, que queriam para si o imprio otomano como um paraso de privilgios comerciais.

    - rivalidade entre a ustria e a Rssia na obteno do monoplio comercial dos reinos balcnicos da Srvia, da Romnia, da Bulgria e da Grcia, sendo que a ustria queria evitar que estes pases cassem na rbita russa, ao mesmo tempo que a Rssia desejava estender o seu poder a todos os eslavos da Europa Oriental

    - agudo antagonismo econmico entre a Alemanha e a Frana relativamente explorao de Marrocos

    - pan-eslavismo: teoria de que todos os eslavos da Europa Oriental constituram uma grande famlia, argumentando-se de que a Rssia deveria ser protetora e guia das suas pequenas irms dos Balcs.

    - nacionalismo francs, sendo que os franceses desejavam vingana pela derrota sofrida na guerra franco-prussiana, preocupando-se em reaver a Alscia e a Lorena.

    - imperialismo alemo: intolerncia para com outras naes e a crena no direito alemo de dominar os vizinhos mais fracos, pelo que uma expanso da Alemanha pela Europa e a consolidao de um grande imprio colonial afirmavam-se como objetivos fulcrais.

    A situao na Europa estava longe de ser pacfica, pelo que ela se encontrava divida em dois blocos de alianas.

    Trplice Aliana Trplice Entente (constituda por acordos bilaterais)

    Alemanha Imprio Austro-Hngaro

    (Itlia)

    FranaGr-Bretanha

    Rssia(Itlia)

    O nacionalismo dos tipos que foram descritos seria suficiente para mergulhar um nmero considervel de naes europeias na guerra, mas o conflito dificilmente teria assumido as propores que assumiu se no fosse o sistema de alianas mltiplas. Durante 1905 e 1913 ocorreram ainda uma srie de crises internacionais que deixaram um legado de suspeita e ressentimento, lanando ainda a luz sobre as verdadeiras simpatias das grandes potncias. Evidenciou-se durante a crise marroquina que a Gr-Bretanha reconhecia uma comunho de interesses com a Frana. Do mesmo modo, a atitude assumida pela Itlia mostrou que esse pas estava longe de ser um membro seguro da Trplice aliana.

  • Estavam assim reunidas todas as condies necessrias para o incio da I Guerra Mundial. O assassinato do arquiduque Franz Ferdinand em Sarajevo, causa imediata da guerra, acabou por ser o pretexto necessrio. A 28 de julho de 1914, a ustria declara guerra Srvia. A 1 de agosto decretada mobilidade geral em Frana e na Alemanha. A I Guerra Mundial atingiu todos os pases, com exceo da Espanha, Sua e Pases Baixos. O cessar-fogo deu-se a 11 de novembro de 1918, com o assinar do Armistcio. No entanto, s em 1919 que so assinados os Tratados de Paz em Versalhes. Este conflito global teve efeitos decisivos nas RI, alterando por completo alguns pilares da sociedade contempornea e acelerando alguns processos j em cursos. O mundo jamais voltaria a ser igual.

    A articulao do sistema internacional no Ps-I Guerra Mundial

    O fim dos confrontos foi precedido por consideraes sobre como seria o Mundo no ps-guerra e nas estratgias para o reorganizar (o futuro das colnias dos pases vencidos, a definio de fronteiras, segurana coletiva, processos de desarmamento, restabelecimento das RI, etc.). Os objetivos passavam, j nesta altura, pelo estabelecimento da paz mundial e criao de um entendimento entre os Aliados, o que demonstra uma preocupao, no s em acabar a guerra, mas tambm em preparar a paz. Aquando a realizao dos tratados de paz, existia o receio de que a paz fosse um desejo unilateral, assim como os esforos necessrios para a manter, pelo que havia a necessidade urgente de estabelecer um sistema internacional que evitasse o novo conflito (sendo neste contexto que surge a SDN).

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    O Presidente W. Wilson, no seu discurso a 8 de janeiro de 1918 no Congresso dos EUA, apresentou os seus famosos 14 pontos - segundo ele, as medidas necessrias para reconstruo europeia aps a I Guerra Mundial. O seu objetivo era a manuteno da paz, a criao de uma organizao supranacional, a igualdade entre os povos, o fim do colonialismo etc. Esta filosofia ficaria conhecida como o idealismo americano.

    Os 14 Pontos do Presidente Wilson eram: 1. Abolio da diplomacia secreta 2. Liberdade dos mares 3. Eliminao das barreiras econmicas entre as naes 4. Limitao dos armamentos nacionais ao nvel mnimo compatvel com a segurana 5. Redefinio da poltica colonialista, tendo em conta os interesses dos povos

    colonizados 6. Retirada dos exrcitos de ocupao da Rssia 7. Restaurao da independncia da Blgica 8. Restituio da Alscia-Lorena Frana 9. Reformulao das fronteiras italianas 10. Desenvolvimento autnomo dos povos das ustria e Hungria 11. Restaurao da Romnia, Srvia e Montenegro, com acesso ao mar para a Srvia 12. Desenvolvimento autnomo do povo da Turquia e abertura permanente dos estreitos

    que ligam o Mar Negro ao Mediterrneo 13. Independncia da Polnia 14. Criao de uma liga de naes, uma organizao internacional que fosse capaz de

    manter a paz, evitar conflitos, promover a cooperao entre as naes e manter o status quo do ps- guerra (---- neste contexto que surge a Sociedade das Naes).

  • O desacordo entre a Gr-Bretanha e a Frana

    As duas potncias mais interessadas na manuteno da paz (a Gr-Bretanha e a Frana) no conseguiam chegar a um acordo quanto s orientaes polticas que cumpria seguir. A nica coisa que os unia era a convenincia de impedir o alastramento do bolchevismo (que se tinha consolidado na Rssia, levando sada desta da guerra). Obcecados pelo receio de que a Alemanha recuperasse as foras e procurasse vingar-se da sua derrota, os franceses punham todo o empenho na execuo rgida das condies impostas pelos tratado. Interessavam-se mais pela segurana da sua nao (que passava por pactos com outros pases para alm da SDN) do que pela recuperao econmica. J a poltica da Gr-Bretanha foi quase o oposto a esta. Separados do resto da Europa pelo Canal da Mancha, os ingleses no se sentiam levados a preocupar-se tanto com a segurana nacional. Alis, como uma nao de comerciantes, tinham um interesse vital pela recuperao econmica do continente. A Alemanha fora um dos melhores parceiros econmicos da Gr-Bretanha antes da guerra. Assim, h medida que o desemprego subia, o governo britnica virava-se para uma poltica de reconciliao com a sua ex-inimiga. A Gr-Bretanha interessava-se tambm em restabelecer o velho sistema de equilbrio de poder. Uma Alemanha forte tornava-se pois necessria para refrear as ambies da Frana e ao mesmo tempo tornar-se um obstculo mar crescente do comunismo. A influncia da Revoluo Bolchevique (1917) na Europa

    Com a Revoluo de Outubro (novembro de 1917), na qual o governo provisrio (que havia sido instaurado com a Revoluo de Fevereiro, derrubando a autocracia do czar Nicolau II) foi deposto, iniciou-se um governo socialista na Rssia que teve grandes repercusses na Europa. Registou-se, em vrios pases, a tentativa de implementar regimes comunistas (expanso da mar vermelha) .

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    A sensibilidade realista da organizao de uma nova ordem internacional levou aproximao das teses americanas. Desta forma, David Lloyd George exprimiu os objetivos britnicos como sendo o estabelecimento de uma organizao mundial que promovesse a limitao do armamento e atenuasse as relaes conflituosas entre os Estados.

    Durante a I Guerra Mundial, a Frana fora dos pases que mais fora atingida pelo conflito. Havendo j sofrido derrotas frente Prssia, com o final da guerra, a Frana tinha, naturalmente, como objetivo principal a manuteno da segurana do seu territrio (e das suas possesses ultramarinas) e o controlo de uma possvel tentativa de vingana por parte da Alemanha.

    O governo francs considerava que a SDN deveria ser uma autoridade prtica, vigorosa e armada. Ainda com o intuito de defender os interessas da Frana, foi aprovado o Projeto Siderrgico Francs que pretendia abstrair metade do potencial energtico da Alemanha. Com isto, a Alemanha veria o seu potencial econmico e siderrgico reduzido a favor da Frana.

    O principal objetivo da Itlia era a obteno de territrios integrao no seu pas de partes que pertenciam ustria e Hungria. Era uma pretenso que chocava com o princpio das nacionalidades, e acabou por no ser satisfeita.

  • Revoluo Espartaquista (Alemanha, 1918-1919)

    A derrota na guerra, a enorme recesso econmica, o desemprego, a inflao e as duras condies impostas pelo Tratado de Versalhes faziam com que se vivesse um clima de descontentamento na Alemanha. O caos social e politico favoreceu os movimentos comunistas. Em 1915, forma-se a Liga Espartaquista, dirigida por Karl Liebknecht e Rosa Luxemburgo, que pretendia derrubar o governo e iniciar um regime similar ao russo. No entanto, em 1919, os seus lderes foram assassinados e estabeleceu-se a Repblica de Weimar, que duraria at 1933, com a chegada de Hitler ao poder.

    Repblica de Radomir (Bulgria, 1918)

    A Repblica de Radomir foi um levante militar que teve lugar na Bulgria e que tinha como objetivo instaurar um governo socialista, acabando com a monarquia. Acabou por fracassar.

    Repblica Sovitica da Hungria (Maro/Agosto 1919)

    Em Maro de 1919, o Partido Comunista Hngaro (liderado por Bela Kun) juntou-se ao Partido Social Democrata Hngaro e proclamou a Repblica Sovitica, que tomou medidas semelhantes quelas adotadas por Lenina na Rssia. Este perodo socialista chegaria ao fim em 1919, com a abolio do Partido Comunista e a restaurao da monarquia. A ameaa revolucionria foi uma das principais preocupaes no ps-I Guerra Mundial, colocando o mundo ocidental num estado permanente de desconfiana e insegurana. A ameaa bolchevique acabaria por favorecer

    O Sistema Internacional Ps-I Guerra Mundial

    Trs dos principais objetivos do ps-I Guerra Mundial eram: - estabelecimento de um novo sistema internacional com base em princpios liberais e

    democrticos; - direito autodeterminao dos povos; - criao de uma organizao supranacional.

    O princpio da auto-determinao dos povos e a questo das minorias

    Durante a I Guerra Mundial registou-se o despertar de uma nova conscincia nas provncias ultramarinas e o surgimento da consequente aspirao independncia. No entanto, no se pode dizer que este seja um fenmeno exclusivo do ps-I Guerra Mundial - o processo de descolonizao iniciou-se com a Declarao da Independncia dos EUA (1776) e prolongou-se at 1975. tambm neste perodo que as minorias comeam a querer fazer ouvir a sua voz, reclamando por autonomia. Isto acontecia porque a definio das fronteiras europeias no ps-Guerra no tivera em conta a questo das nacionalidades, o que dera origem a vrios estados multinacionais (Estado Nao):

    - desejo de independncia da Polnia; - dissoluo do Imprio Austro-Hngaro e ascenso do primeiro presidente da Repblica da

    Checoslovquia; - o pacto celebrado entre os diplomatas srvios, croatas e eslovenos com a Srvia levou

    formao de uma monarquia constitucional parlamentar (reino da Jugoslvia) - um Estado (no uma Nao) composto por muitos povos diferentes, que apenas se manteve unido at morte do Marechal Tiro, caminhando aps isso para a desagregao.

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  • A Conferncia de Paris e os tratados do ps-guerra

    A Primeira Guerra Mundial teve uma grande influncia nas relaes internacionais, dando inicio sociedade internacional contempornea. Desta forma, certos historiadores consideram que o sculo XIX poltico se estende de 1815 (Congresso de Viena) at 1918 (incio da I Guerra), tais foram as alteraes provocadas por estes dois acontecimentos. Ao longo do ano de 1918, realizaram-se vrios armistcios (cessar-fogo, interromper dos conflitos armados), como o caso do Armistcio de Mudro entre a Turquia e os Aliados e o de Rethondes entre os EUA e o Imprio Alemo. Este ltimo, assinado a 11 de novembro de 1918, foi o que ps, de facto, fim s hostilidades. Aps o trmino do conflito seguiram-se, naturalmente, vrias tentativas para restabelecer a ordem internacional. A Conferncia de Paz de Paris foi responsvel pelo desenho de um novo sistema internacional com um novo equilbrio capaz de garantir a convivncia pacfica entre os povos. O Tratado de Versalhes ilustra a necessidade de resolver, com algum urgncia, certos problemas que assolavam a Europa. Assim, algumas das mais importantes medidas nela descritas eram:

    - reconstruo da Europa; - criao de um novo mapa poltico; - reviso das fronteiras (no ps-Guerra procedeu-se maior reviso de fronteiras deste 1815

    fim do imprio napolenico e realizao do Congresso de Viena); - deciso sobre o futuro das possesses alems; - deciso sobre o destino dos territrios do imprio otomano

    O Tratado de Versalhes, que declarou a Alemanha como a culpada da guerra, imps-lhe pesadas condies que fizeram com que este documento (em cuja redao os pases vencidos no participaram) ficasse conhecido, pelos alemes, como diktat. Viu-se amputada de solo, a sua populao dividida, perdeu todas as suas colnias, a frota de guerra, parte da frota mercante, as minas de carvo do Sarre (para a Frana) e foi obrigada a reparar financeiramente os prejuzos causados pela guerra (sendo que as maiores indemnizaes eram devidas Gr-Bretanha e Frana). Para alm destas perdas geogrficas e econmicas, os Aliados entenderam ferir o orgulho alemo, aniquilando a sua capacidade militar.

    A geografia poltica aps a I Guerra Mundial - da Europa dos imprios Europa dos Estados

    nesta altura que se d o fim do equilbrio de poder de Vestflia. A I Guerra Mundial terminou com a vitria das democracias do Ocidente europeu sobre os velhos imprios da Europa Central e de Leste e o Imprio Otomano: - O velho Imprio Russo, em consequncia da Revoluo Socialista de 1917, retirou-se do conflito com

    cujos motivos deixou de se identificar e deu lugar a uma nova unidade geopoltica republicana de partido nico, a URSS, com considerveis prejuzos territoriais. Os outros imprios foram desmembrados em consequncia dos acordos de paz, em 1918.

    - O Imprio Alemo abandonou territrios que passaram a integrar a Polnia e perdeu definitivamente as ricas regies da Alscia e da Lorena que regressaram soberania francesa. Limitado no seu espao, o velho imprio deu lugar a uma nova Alemanha que ps fim monarquia e instaurou a repblica.

    - O Imprio Austro-hngaro foi desmembrado, nascendo os novos estados da ustria, Hungria e antiga Checoslovquia. Outros territrios foram integrados nas fronteiras da Itlia, da Romnia, da antiga Jugoslvia, que se constitua como novo pas independente, e da Polnia geograficamente reconstituda.

    - O Imprio Otomano viu o seu espao reduzido atual Turquia depois de perder vastos domnios espalhados por todo o Mdio Oriente, onde nasceram novos estados: Iraque (que se manteve sob

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  • influncia britnica), a Sria e o Lbano (protetorados da Frana), Transjordnia, Palestina e Egipto (sobre tutela britnica) e a Pennsula Arbica viu surgir o reino independente da Arbia Saudita.

    Entretanto, outros estados unilateralmente independentes viram a sua luta reconhecida pela comunidade internacional e passaram a afirmar-se como estados de pleno direito. Na sua grande maioria, os novos estados constituram-se como repblicas parlamentares, assentes no sufrgio universal e na democracia representativa, consolidando o triunfo da democracia liberal no Leste e Sul da Europa.

    Os acontecimentos da I Guerra Mundial e do perodo que se lhe seguiu influenciaram, inevitavelmente, as dcadas posteriores, criando condies propcias ao incio da II Guerra Mundial, so vrios os autores que defendem que, no espao de tempo que engloba as duas guerras mundiais e o espao de tempo entre elas, a Europa foi palco de uma Guerra Civil Europeia, uma crise a todos os nveis que se iniciaria com o final do primeiro grande conflito. O perodo de intervalo entre os dois conflitos pode dividir-se em dois - aquele que vai de 1919 a 1929 e o outro que se estende at 1939.

    PERODO ENTRE 1919 E 1929

    - Os principais objetivos so: encontrar a to desejada prosperidade e vencer a crise econmico-social que atormentava a Europa;

    - nesta altura que se destacam no panorama internacional potncias no-europeias, como os EUA, a Rssia e o Japo. Regista-se uma concentrao de grandes empresas e um novo mtodo de organizao de trabalho, mais produtivo.

    - Apesar desta poca ser conhecida como Os Gloriosos anos 20, a verdade que, logo em 1920/21 se registou uma crise de superproduo americana, devido diminuio do poder de compra dos europeus. Assim sendo, as trocas entre os EUA e as potncias europeias ficam seriamente afetadas e o governo americano decide regressar poltica protecionista (contrariando o princpio de Wilson: abolio das barreiras econmicas entre os pases).

    , assim, um perodo de prosperidade relativa e frgil, que ilustra as dificuldades de recuperao do consumo e a fraqueza do sistema monetrio.

    A Sociedade das Naes e a nova ordem mundial

    No ltimo dos 14 pontos que serviram de base s negociaes de paz, propostos pelo presidente Wilson, era feito um apelo formao de uma organizao geral das naes que tivesse por objetivo assegurar as garantias mtuas de independncia poltica e integridade territorial tanto aos pequenos como aos grandes estados. A organizao proposta pelo presidente dos EUA concretizou-se, ainda em 1919, com a formao da Sociedade das Naes a SDN. A organizao tinha como objetivo fundamental desenvolver a cooperao entre as naes e garantir a paz e a segurana. Para isso, os pases comprometiam-se a manter as relaes francas e abertas fundadas na justia e na honra e a salvaguardar a paz pela subordinao rigorosa das suas relaes s prescries do Direito Internacional. Em conformidade, eventuais conflitos que surgissem entre as partes contratantes eram resolvidos pela arbitragem de um rgo judicial o Tribunal Permanente de Justia Internacional. Para salvaguarda daqueles princpios, eram previstas medidas tendentes ao desarmamento, era claramente expressa a obrigao de os estados-membros respeitarem a integridade territorial e a independncia recproca. Para o Estado que infringisse qualquer dos princpios acordados eram

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  • definidas sanes a aplicar. Finalmente, era tambm acordado que a agresso a um dos pases membros obrigava os outros a intervir na defesa do pas agredido.

    O fracasso da SDN

    A ordem internacional sada da Conferncia de Paz e traduzida nos vrios tratados assinados no favoreceu o sucesso poltico da SDN:

    - a paz entre vencedores e vencidos no foi tratada. Os tratados foram ditados (impostos) pelos pases vencedores aos pases vencidos que nem sequer participaram na elaborao dos textos. Desta forma, o fim da I Guerra Mundial mais no trouxe Europa do que a afirmao prepotente e humilhante dos pases vencedores sobre os pases vencidos;

    - entre os vencedores, sobressaram as tradicionais rivalidades interrompidas durante o conflito motivadas pelas ambies hegemnicas;

    - a distribuio das reparaes de guerra gerou descontentamento entre alguns dos pases participantes no conflito que se consideravam secundarizados nos seus interesses;

    - outros sentiram-se frustrados nos interesses geoestratgicos que tinham motivado a sua interveno ao lado dos Aliados.

    - na redefinio das fronteiras, a questo das minorias nacionais no foi devidamente considerada. Por interesses particulares de quem decidia, uma multiplicidade de povos ficou espalhada por vrios dos novos pases sem respeito pela sua identidade tnica e cultural. Outros povos decidiram abandonar as suas reas de residncias e deslocaram- se para os seus novos estados, dando origem a uma das mais violentas movimentaes de povos da Histria;

    - para complicar mais o sucesso poltico da SDN, os EUA que a inspiraram, descontentes com as pretenses hegemnicas das potncias europeias e com o facto de os vencedores reconstrurem as suas economias custa da asfixia dos vencidos, acabaram por nunca a integrar.

    - outra das falhas da SDN foi a ausncia da URSS, que fez com que as decises polticas destinadas a reorganizar a Europa fossem tomadas sem consultar a Rssia, mesmo que implicassem uma definio de fronteiras do interesse do seu governo.

    Assim, a ordem internacional definida pela SDN saa claramente ameaada pela prpria associao de pases que a instituam. Para alm disso, a inexistncia de um exrcito prprio da SDN levou impotncia desta perante vrios conflitos que foram surgindo na Europa. A sua autoridade foi ridicularizada quando os italianos bombardearam a ilha de Corfu. No se apresenta como um organismo universal ( pois como j vimos deixa de fora 3 pases que teriam um papel importante a desempenhar no seu mbito). Desta foram, este no se transforma numa organizao supranacional, mas sim a uma organizao de Estados maioritariamente europeus. Contudo, apesar de todas as fragilidades da SDN, que a impediram de cumprir os objetivos para os quais tinha sido criada, esta teve tambm os seus xitos, na medida em que sob os seus auspcios foram resolvidos vrios problemas que poderiam ter-se revelado bem mais explosivos sem a sua interveno. (ex: questo da Alta Silsia, disputada entre polacos e alemes).

    A economia internacional

    As repercusses econmicas da guerra tinham sido muito diferentes nas vrias partes do mundo os pases europeus encontravam-se muito debilitados, enquanto que os no-europeus tinham prosperado (ex: Japo e a ndia). Enquanto que os campos agrcolas europeus se encontravam, na sua grande maioria, abandonados, uma vez que a mo de obra fora desviada para os exrcitos, a produo de carne sul americana, australiana e neozelandesa e de cereais norte americanos para alimentar os Aliados, aumentara estrondosamente. O desemprego assolava a Europa, especialmente entre os soldados que regressavam da guerra. Para alm disso, uma inflao galopante dificultava imenso a vida das classes mdias. As primeiras

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  • tentativas de os regimes lidarem com estes problemas chegaram mesmo a piorar a situao. As novas naes empenharam-se em proteger as suas economias recorrendo a taxas aduaneiras e restries cambiais. As naes maiores tentaram recuperar as suas indstrias, enfraquecidas, atravs de medidas protecionistas. No entanto, a inflao desvalorizara at as moedas mais slidas. Para alm disso, a Alemanha tinha ainda o fardo das indemnizaes de guerra para pagar. Este problema foi parcialmente resolvido com os emprstimos concedidos pelos EUA Alemanha para que esta pudesse pagar as suas dvidas Gr-Bretanha e a Frana (e estes, por sua vez, aos EUA). A I Guerra Mundial acabaria por originar a decadncia da Europa que, durante sculos, detivera a hegemonia, e a ascenso da potncia americana. De todas as democracias nenhuma teve uma histria to variada entre as duas guerras como os EUA. J em 1914, os EUA afirmavam-se como a nao mais rica e poderosa do Mundo. Enquanto os pases da Europa se digladiavam nos campos de batalha, os americanos afirmavam-se como a maior potncia industrial, graas a um mercado interno gigantesco e tambm uma agricultura em expanso. Isto s fora possvel porque a guerra no se tinha dado em solo americano, mas sim em solo europeu. A I Guerra Mundial tambm os havia tornado um grande exportador de matrias- primas, alimentos e armas para os Aliados (seu principal cliente). At ao incio do conflito, a Gr-Bretanha, a Frana e a Alemanha eram os exportadores e os EUA os importadores. No entanto, aps a I Guerra Mundial, a situao inverteu-se. Esperava-se que as indemnizaes de guerra ajudassem os Aliados a liquidar as suas dvidas aos EUA, mas o seu endividamento tinha aumentado muito com novos emprstimos, a meio da dcada de 1920. Tudo isso contribua para uma poca de poder e prosperidade nos EUA. verdade que foi interrompida pela forte depresso de 1920-1921, mas esse pequeno contratempo no tardou a passar e a marcha para a frente prosseguiu. De 1922 a 1929 os EUA gozaram do padro mais alto de vida do mundo. O consumismo foi incentivado e existia um clima de otimismo e confiana no capitalismo liberal foram os felizes anos 20. Assim, os EUA assumiram um papel decisivo no mundo ps-guerra mostrando que a poca de hegemonia europeia terminara. No obstante, a prosperidade dos EUA no ps-guerra apresentava-se como artificialmente construda, no sendo completamente segura, tal como veio mostrar, um pouco mais tarde com a Grande Depresso que se viveu por todo o mundo.

    O desanuviamento do perodo 1924-1929

    O perodo de desanuviamento (1924-1929), foi marcado por vrias conquistas positivas (aparente estabilidade das relaes internacionais):

    - Condies econmicas e polticas mais favorveis - Conferncia de Londres os franceses aceitam a retirada das suas tropas do Rur; capitais

    estrangeiros so aplicados na Alemanha; desenvolvimento das indstrias alems - pagamento das reparaes da guerra segundo o que se acordara no Plano Dawes

    - Pacto Renano (1925) assegura a manuteno do status quo: estabelece as fronteiras Frana/Alemanha, Frana/Blgica; a Frana toma conscincia de que no pode usar a fora contra a Alemanha

    - Em 1926, a Alemanha integra a SDN, o que desperta a convico de que esta est controlada e a paz e a segurana internacionais asseguradas.

    - Pacto Briand-Kellog (1928) estabelecido entre a Frana e os EUA estabelece a renncia geral guerra. Foi assinado por cerca de 60 naes e constituiu o apogeu da corrente pacifista (foi um dos sucessos da SDN).

    - Acordos de Haias traou-se o Plano Young: novo projeto de reparaes; estabelecimento das quantias das reparaes da guerra; o evacuao da Rennia; perspetivas positivas de uma conciliao franco-alem (to difcil devido hostilidade francesa)

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  • Os limites da prosperidade dos anos 20

    Apesar de o perodo que se seguira I Guerra Mundial ser conhecido como os Gloriosos Anos 20, a verdade que esta foi uma poca marcada por uma prosperidade relativa e frgil, que ilustra as dificuldades de recuperao do nvel de consumo anterior ao incio do conflito e as fraquezas do sistema monetrio. Na verdade, o recuo e posterior recuperao da atividade industrial, o desemprego e a instabilidade dos preos comprometeram a explorao da vitria pelos Aliados e o ressurgimento dos pases vencidos ou dependentes.

    PERODO ENTRE 1929 E 1939

    Ultrapassadas as dificuldades do ps-guerra, tudo apontava para o arranque de uma era de prosperidade para a economia americana e de rpida recuperao dos pases europeus destrudos pelo conflito. Nada talvez contribui mais para a anarquia internacional entre as duas guerras do que a incapacidade do mundo se refazer da Grande Depresso. A espiral de deflao parecia quase no ter fim. Esta crise inicia-se com o Crash da Bolsa de Wall Street, naquela que ficou conhecida como a Quinta Feira Negra, em 1929. No entanto, j tinha havido alguns indcios de que uma crise estava iminente: em 1927, tinha-se j registado a inflexo da Bolsa da Alemanha, e em 1929 das Bolsas de Paris e Londres. Para alm disso, em 1928, nos EUA, d-se um recuo nos lucros da Indstria Automvel. Isto levara a uma Grande Depresso e a um ciclo de crise vicioso. A dependncia da economia europeia em relao americana fez com que a crise se alastrasse para a Europa. A crise mundializou-se, visto as colnias e os pases subdesenvolvidos estarem por sua vez dependentes da Europa e dos EUA pois as grandes potncias deixaram de importar os seus produtos.

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    - desemprego; - irregularidades no crescimento industrial e disparidades na melhoria do rendimento nacional; - crise econmica de 1920/21; - invaso de Rur pela Frana; - problema das reparaes de guerra; - aumento da dependncia diplomtica, financeira e econmica dos pases; - rivalidades entre as potncias; - aumento demogrfico explosivo, com paralelo esgotamento das possibilidades de emigrao para a Amrica

    do Norte, causando uma sobrecarga. Nos pases essencialmente agrcolas, o excesso demogrfico travava a expanso de um mercado industrial, acentuando o aumento do desemprego e os riscos de destabilizao social e poltica;

    - inflao galopante que afeta banos e rendeiros; - o reconhecimento do salrio mnimo no acompanhado por um crescimento proporcional da

    produtividade.

    Assim, os anos que precederam a crise de 1929 acabam por ilustrar, no s a recusa dos Europeus em aceitarem o declnio, mas tambm a iluso de uma prosperidade inquebrvel que

    estava, na verdade, quase a deteriorar-se.

  • A falncia das democracias e a expanso dos regimes totalitrios

    A condenao da diplomacia secreta e o pacifismo contribuem para a implantao de uma democracia internacional. A desintegrao dos imprios centrais abre igualmente caminho instaurao de regimes democrticos. Nas suas estruturas internas, os Estados registam transformaes semelhantes, com a extenso do direito de sufrgio e a atribuio de um novo papel mulher. No entanto, a I Guerra Mundial suscitou tambm movimentos contrrios. A revoluo sovitica e a sua consolidao transformaram a Rssia num plo de oposio ao liberalismo. Assim, o fim da guerra marcou, simultaneamente, o incio da crise das democracias. Os regimes totalitrios vo comear a ganhar popularidade junto das populaes, especialmente nos pases com bases democrticas mais frgeis. Esta tendncia vai ganhar ainda mais fora aps a crise de 1929. A crise econmica e financeira que se iniciou em 1929, a ameaa comunista e as consequncias ainda presentes da I Guerra Mundial originaram uma regresso do demoliberalismo que se havia estabelecido na Europa e a um avano dos regimes totalitrios de direita. A falncia dos mecanismos de segurana coletiva e o fim do equilbrio que se tomava como garantido, que levou a um perodo de grande instabilidade, foi ilustrada com a invaso da Manchria por parte do Japo. Esta potncia extraeuropeia, que nos anos 20 se parecia encaminhar para uma democracia e ter adotado uma poltica externa no conflituosa, adota de sbito uma posio de fora e invade esta regio da China para obter matrias primas e ter um mercado seguro para escoar os seus produtos. Esta atitude expansionista valeu-lhe a expulso da Sociedade das Naes em 1933, o que acabou por abalar a j frgil organizao. Ao mesmo tempo, a Alemanha procedia ao seu rearmamento. Em dezembro de 1933, Hitler comunica a deciso de aumentar o nmero de homens do exrcito indo contra as imposies de Versalhes. Anteriormente, j se havia retirado da Conferncia de Desarmamento e da Sociedade das Naes. As condies difceis que a Alemanha atravessava revelaram-se convenientes para Hitler e os restantes nazis ganhando-lhes um elevado nmero de lugares no Reichstag. Esta adeso deve-se ao facto de o nazismo prometer responder ao desejo dos alemes de resolver os problemas econmicos que se sobrepusesse aos interesses particulares. Para alm disto, muitos cidados sentiam impacincia perante o governo anterior incompetente e instvel que no conseguiu evitar o colapso econmico. O ressentimento contra as duras condies do Tratado de Versalhes era geral. Queriam evitar o comunismo. Hitler chega assim ao poder do partido nico, tomando posse como Chanceler. Quando, no ano seguinte, o presidente Hindenburg morreu, Hitler acumulou os cargos de chanceler e de presidente e este tornou-se o lder absoluto da Alemanha o Fhrer. Termina assim a Repblica de Weimar e a Alemanha tornou-se um Estado unipartidrio, totalitrio e autoritrio caracterizado pela

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    - deflao astronmica; - falncia dos bancos; - abrandamento das trocas comerciais internacionais: reduo das exportaes e, consequentemente, das

    importaes; - reforo do protecionismo americano; - adoo de polticas fortemente protecionistas; - reduo do valor de produo do comrcio internacional; - diminuio dos emprstimos e consequente decrscimo do consumo; - reduo dos crditos; - quebra abruta da produo industrial; - falncia das empresas; - desemprego generalizado; - misria; - aumento das dvidas externas.

  • violncia, uso da fora, nacionalismo exacerbado, obedincia e propaganda/culto ao chefe, mobilizao das massas, racismo (com perseguio feroz aos judeus) e uma poltica expansionista, em busca do to desejado espao vital (Lebensraum). Os regimes de direito de cariz autoritrio estabeleceram-se, tendo por base mais ou menos os mesmos ideais, um pouco por toda a Europa, especialmente nos pases de fracas razes democrticas, como o caso de Espanha (General Franco), Portugal (Salazar), Itlia (Mussolini), Polnia (Pilsdusky), Romnia, ustria, etc. Analisando o caso Italiano, a Itlia antes do Fascismo, vivia uma crise da democracia parlamentar e uma crise econmica. H ainda um descontentamento com as reparaes de guerra e a forma como as indemnizaes tinham sido divididas entre os aliados depois da primeira guerra, sendo que a Itlia recebeu apenas uma pequena poro destas, para alm de no lhe ter sido reconhecido o direito sobre territrios que lhe tinham sido prometidos pela Trplice Entente. Benito Mussolini funda em 1921 o Partido Nacional Fascista que rapidamente ganhou muita adeso. Em 1924, dois anos aps a Marcha Sobre Roma, o Partido Nacional Fascista obtm maioria absoluta nas eleies, anos antes de Hitler chegar ao poder na Alemanha.

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    - Pacto germano-polaco de no agresso: - este pacto foi celebrado no s devido a uma semelhana ideolgica dos regimes, mas tambm

    porque a Polnia se opunha fortemente a Moscovo, devido parte do pas que ficara sob domnio do czar russo;

    - um dos objetivos desta aliana era afastar a Polnia da Frana. - Primeira tentativa de Anschluss (ligao entre a Alemanha e a ustria). Esta falhou devido ao envio de

    tropas italianas para junto da fronteira entre os dois pases, o que fez Hitler recuar. - Aproximao entre a Frana e a URSS (esta aceite na SDN);

    - Mussolini invade a Etipia. A ao da SDN mostrou-se pouco eficaz num - primeiro momento, imps sanes de cariz econmico, atravs de um embargo; no entanto, acabou por levantar as sanes e aceitar a situao etope.

    - Maro: Hitler desafia o Tratado de Versalhes com a militarizao da Rennia - Julho: Comea a Guerra Civil Espanhola, que adquiriu um cariz internacional. Hitler e Mussolini

    apoiaram as foras nacionalistas fascistas, lideradas por Franco contra a Repblica Espanhola, apoiada pela Unio Sovitica. As potncias europeias serviram-se da participao no conflito para testar novas armas e mtodos de combate que viriam a usar na II Guerra Mundial.

    - Outubro: A Alemanha e a Frana formam o Eixo Roma-Berlim. - Novembro: O Eixo Roma-Berlim complementado pela assinatura do Pacto Anti-Kommintern.

    - Japo invade a China

    - Maro: a Alemanha anexa a ustria - No se deparando com nenhuma reao significativa por parte da Frana e da Gr-Bretanha, Hitler

    sentiu-se encorajado a continuar com a conquista do espao vital entre as comunidades germanfonas.

    - Meses depois: Alemanha anexa os Sudetas (parte da Checoslovquia muito desenvolvida), onde viviam 3 milhes de alemes. Com a tomada do resto do territrio, a Checoslovquia tornou-se um estado fantoche, liderado por um apoiante incondicional de Hitler e da ideologia nazi.

    - Setembro: realizao da Conferncia de Munique, que contou com a presena dos representantes da Gr-Bretanha, Frana, Alemanha e Itlia. Hitler adotou uma atitude aparentemente conciliadora e as outras potncia.

  • Em Setembro de 1939, a Europa tornou a mergulhar no abismo. A paz de 1919-1920 mostrara no passar de um armistcio e milhes de pessoas viram-se envolvidas num conflito cujo horror superava tudo quanto se havia presenciado antes. Existem duas causas imediatas que conduziram deflagrao da II Guerra Mundial. A primeira foi o desmembramento, levado a efeito por Hitler, do que restava da Checoslovquia, em maro de 1939. Esse ato, uma violao flagrante do Acordo de Munique, indicava claramente que as ambies nazis no se limitavam aquisio de territrios habitados por minorias alems, mas incluam um programa muito mais vasto de expanso. Perante tal panorama, uma aliana militar entre a Gr-Bretanha e a Frana formada estes comprometiam-se a prestar auxlio militar a qualquer nao ameaa pelas ambies de Hitler e, especialmente, Polnia, no caso de uma agresso sua independncia. Outra causa imediata da II Guerra Mundial foi o Pacto Nazi-Sovitico. Este apresentava-se como um pacto de no agresso e neutralidade com a durao de cinco anos. Mediante esse acordo, Hitler separava a URSS das potncias ocidentais e impedia que ela lhes prestasse auxlio. Assim, tinha a certeza de poder atacar agora a Polnia sem temer as consequncias, pois a Gr-Bretanha e a Frana estariam praticamente incapacitadas de a ajudar. Aps a assinatura do pacto, as relaes entre a Alemanha e a Polnia no tardaram a alcanar o ponto crtico e o Fhrer anuncia que as operaes militares contra a Polnia haviam comeado, na manh de 1 de setembro de 1939. Honrando a promessa que haviam feito, a Frana e a Gr-Bretanha declararam a guerra, dando assim incio ao segundo grande conflito mundial, que s terminaria em 1945. Com isto se verifica que os objetivos traados em 1919 acabaram por no se realizar faltavam as vontades polticas e os meios necessrios para estabelecer a paz duradoura que se pretendia.

    O perodo entre 1944 e 1945 e a reformulao do quadro poltico mundial

    Com o fim da Guerra, so duas as novas potncias emergentes. A ocidente, os EUA que, mais uma vez, tiveram um papel fulcral na inverso da evoluo do conflito, a partir de 1942. A leste, a URSS, cuja importncia militar na derrocada dos exrcitos do Eixo assumiu tambm importncia relevante. Se os feitos militares do Exrcito Vermelho conferiram legitimidade a Estaline para expandir a revoluo socialista para as reas libertadas da ocupao nazi pelos seus exrcitos, os EUA h muito que no viam com bons olhos o crescimento militar da URSS e no estavam dispostos a assistir passivamente ao seu avano geopoltico, abandonando o isolacionismo do perodo que se seguiu I Guerra Mundial.

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    - Maro: a Albnia tornou-se um protetorado italiano, o que afetou o equilbrio europeu. No mesmo ms, a Bomia e a Morvia ficam sob a alada alem esta foi a primeira extenso hitleriana a territrios onde no havia uma etnia alem. Esta atitude provocou uma inverso nos sentimentos britnicos, sendo que Londres, juntamente com Paris comearam a preparar-se para uma guerra. Ambos deram garantias de proteo, em caso de agresso, Romnia e Polnia.

    - Numa primeira fase, os polacos mantiveram-se intransigentes na recusa de foras soviticas no seu territrio. No entanto, quando a Alemanha abdicou dos acordos que assinara com a Polnia, esta consentiu que os franceses e os britnicos tentassem obter o apoio sovitico contra Hitler.

    - 1 de Setembro de 1939, a Alemanha invade a Polnia. Honrando a promessa que tinham feito, a Frana e a Gr-Bretanha declaram a guerra, dando assim incio II Guerra Mundial, que s terminaria em 1945.

  • CONFERNCIAS DE PAZ

    A reconstruo da Europa j vinha a ser preparada desde os ltimos anos da guerra, uma vez que j se previa a vitria aliada. As sucessivas conferncias, realizadas medida que a derrota do Eixo se ia confirmando como uma questo de tempo, apesar dos acordos conseguidos no conseguiam esconder a diviso do mundo em reas de influncias antagnicas, tanto quanto o eram os interesses geoestratgicos e polticos de americanos e soviticos, nesta altura ainda aliados. A capitulao alem e a tenso crescente entre russos e anglo-saxnicos

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    Na Conferncia de Teero (1943), decidiu-se o desembarque das tropas aliadas na Normandia, o chamado dia D que iniciaria o final da guerra. Para alm disso, nesta reunio que se aborda o assunto de um futuro desmembramento da Alemanha. Decidem-se ainda as fronteiras da Polnia e comea a debater-se sobre a necessidade de criar uma organizao internacional que assegure a paz.

    Numa altura em que j se dava como iminente o fim da guerra no Ocidente, realizou-se em Ialta a mais importante de todas as cimeiras pelos reflexos que as suas concluses tiveram na definio da nova ordem internacional. Esta reuniu os trs grandes Estaline (URSS), Churchill (Gr-Bretanha) e Roosevelt (EUA), que procuravam estabelecer o futuro do mundo e sobretudo da Europa aps o final da guerra. Estes chegaram a acordo sobre questes importantes como: - a diviso da Alemanha em quatro zonas de ocupao, tuteladas administrativamente

    pelos comandos militares dos EUA, da Gr-Bretanha, da URSS e da Frana, sob coordenao de um Conselho de Controlo constitudo pelos respetivos comandantes-em-chefe. As duas partes seriam separadas pelo Muro de Berlim. A Alemanha perde a sua soberania e extingue-se como sujeito de Direito Internacional.

    - a realizao de uma conferncia em So Francisco para aprovar a Carta das Naes Unidas, tendo em vista a futura Organizao das Naes Unidas, cujas diretrizes essenciais foram logo delineadas;

    - a fixao das fronteiras da Polnia com integrao na URSS de territrios a leste, conforme reclamava Estaline;

    - a redefinio das fronteiras dos territrios ocupados pelos exrcitos nazis, em consequncia da sua libertao;

    - celebrao de eleies livres nos estados subtrados ocupao nazi, supervisionadas pelas potncias vencedoras (criao Declarao Sobre a Europa Libertada)

    - a diviso da Coreia em duas zonas de influncia o Norte, da URSS, e o Sul, dos EUA;

    - promessa da URSS em intervir no Japo - a insistncia americana numa participao russa prendia-se com a incerteza sobre se a bomba atmica, preparada em segredo, estaria pronta a tempo; e tambm com o interesse de ver o mximo de vidas americanas poupadas.

    Estaline acabou por ser o grande vencedor desta conferncia, apesar das foras ocidentais terem conseguido integrar tambm a Frana na partilha da Alemanha como forma de enfraquecer a influncia da URSS. Com efeito, enquanto as democracias ocidentais se viam em dificuldades na resposta militar ltima reao alem, o exrcito sovitico vinha impondo pesadas derrotas aos exrcitos nazis e avanava pelos territrios ocupados a leste. Fala-se em vencedores e vencidos porque a Conferncia de Ialta confirmou tambm as iniludveis divises ideolgicas que caracterizam as foras aliadas e respetivos interesses geoestratgicos opostos.

  • A 7 de maio de 1945 foi assinada a capitulao/rendio incondicional da Alemanha. No dia seguinte, uma cerimnia teve lugar em Berlim e a guerra deu-se como terminada em territrios europeus. Por outro lado, o otimismo do presidente Roosevelt sobre a possibilidade de uma aproximao duradoura entre russos e anglo-saxnicos, aps a Conferncia de Ialta, foi rapidamente desmentido pelos acontecimentos. Estaline avanava na Europa e a Rssia tornava-se ainda mais inflexvel no plano diplomtico (em Bucareste foi exigido ao rei a substituio do governo por um com bases comunistas indo assim contra a Declarao sobre a Europa Libertada estabelecida em Ialta). Para alm desta situao, na Polnia, Molotov recusava substituir o governo comunista por um governo de coligao e aceitava, quanto muito, alarg-lo. Assim, a tenso j era grande antes da morte de Roosevelt, e viria a agravar com a mudana do presidente dos EUA e a atitude mais intransigente de Truman.

    As bombas atmicas e a capitulao japonesa

    Enquanto na Europa se tratava do problema da paz, a guerra prosseguia contra o Japo. No entanto, os japoneses estavam j bastante enfraquecidos e sabiam-no, pelo que preferiam optar por uma capitulao prxima, na tentativa de salvaguardarem algum do poderio que lhes restava. Os chefes dos governos norte-americano, britnico e chins lanaram uma proclamao conjunta apelando ao Japo para que se rendesse a fim de evitar a sua destruio. Passaram-se alguns dias sem que o governo de Tquio respondesse, mas uma srie de acontecimentos que se seguiram levou os governantes do Japo a mudar de ideias:

    - autoridades navais dos EUA anunciaram que tinham conseguido minar todo os portos japoneses, isolando assim o pas das fontes externas de abastecimento;

    - a 6 de agosto de 1945 foi lanada uma bomba atmica em Hiroshima; - a 8 de agosto a URSS entrou na guerra, com o propsito declarado de abreviar as hostilidades e

    facilitar a restaurao da paz universal (parece certo, todavia, que os soviticos no foram menos influenciados pelo desejo de recuperar a sua posio no Extremo Oriente, perdida para os japoneses na guerra de 1904/05);

    - a 9 de agosto foi lanada uma segunda bomba atmica em Nagasaki.

    Perante tal cenrio, o governo japons props-se aceitar o ultimato de rendio, mas apresentou uma condio - a manuteno do imperador no poder. Em forma de resposta, os Aliados disseram que o imperador tinha de renunciar ao estatuto de divindade e colocar-se sob o controlo das potncias aliadas. Teria tambm de ordenar a todas as foras militares japoneses que parassem as

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    Realizou-se logo a seguir capitulao da Alemanha, com o objetivo de obter novos avanos no caminho de uma paz duradoura. As divergncias de interesses acabam por interferir na tentativa de consenso sobre solues definitivas para os pases vencedores, pelo que apenas se conseguiu a confirmao das deliberaes tomadas em Ialta. As decises tomadas foram: - a desnazificao da Alemanha, com extino do partido nazi e julgamento dos

    criminosos de guerra; - a desmilitarizao e consequente destruio das indstrias blicas que tinham

    suportado o nazismo; - definio do valor das indemnizaes de guerra a pagar aos Aliados; - a confirmao de novas fronteiras e a redefinio do mapa poltico da Europa,

    sobretudo da Europa Central e de Leste, a benefcio para a URSS. - a criao de um Conselho de Ministros dos Negcios Estrangeiros, composto por

    ministros dos EUA, Gr-Bretanha, Unio Sovitica, Frana e China. Os seus principais objetivos eram a elaborao de tratados de paz e a resoluo das questes territoriais pendentes.

  • operaes e entregassem as armas. Os prisioneiros de guerra deveriam ser libertados. A 14 de agosto, o Japo aceitou estas condies e Mikado ordenou um cessar-fogo. A 2 de setembro, os delegados japoneses assinaram a capitulao incondicional, colocando fim Guerra. O Japo foi ocupado pelos EUA e o seu sistema poltico transitou para uma democracia.

    A reorganizao poltica no ps-II Guerra Mundial

    Com o final da II Guerra Mundial, deu-se a reformulao do quadro poltico mundial. O movimento que se iniciara com o primeiro conflito, de declnio da Europa, ganhou fora aps 1945. O Velho Continente, humilhado e devastado, no tinha condies para exercer o papel de centro do mundo, pelo que se assiste a uma transferncia de poder para as potncias extra-europeias (URSS e EUA). Os pases que antes de 1914 disputavam a supremacia Frana e Inglaterra perdem os seus imprios coloniais e so remetidos para o estatuto de estados mdios, apesar de terem sado vencedores da guerra. A Alemanha, retalhada e em runas, perdera o seu poder. Em 1946, Churchill diz que uma cortina de ferro tinha tombado sobre o continente europeu, dividindo-a em duas.

    Esta clara diviso da Europa acaba por reforar a desconfiana relativamente s posies de Estaline sobre a evoluo poltica dos pases de Leste e o consequente endurecimento de posies dos dois blocos geopolticos em que o mundo se apresentava dividido. Com o decorrer do tempo, estender-se- aos restantes continentes, j no quadro da Guerra Fria. Estamos no incio do mundo bipolarizado. As democracias populares foram os regimes comunistas que se instalaram na Europa a partir de 1948 nas repblicas da Europa de Leste, que tinham sido ocupadas pelo Exrcito Vermelho aps a II Guerra Mundial. Sob a influncia de Estaliste, estes pases adotaram regimes comunistas que se aproximavam do da URSS, tendo como principais caratersticas:

    - a existncia do partido nico - a coletivizao da terra

    - economia planificada - perseguio e eliminao de qualquer

    dissidncia

    A instalao definitiva das democracias populares no Leste deu-se com um golpe de estado, conhecido como o Golpe de Praga na Checoslovquia (nico pas democrtico no Leste nessa altura), que tinha um governo de coligao entre comunistas e no-comunistas. Esta atitude desagradou profundamente aos ocidentais, que viam na Checoslovquia uma possvel ponte entre o ocidente e o oriente. A rpida expanso das democracias populares foi contra aquilo que ficara acordado na Conferncia de Ialta, sobre a realizao de eleies livres nos pases de leste e a no interveno das potncias na formao dos seus governos. As democracias populares durariam at 1991, com o desmembramento da URSS.

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    Ocidente Europa Atlntica

    EUA capitalismo

    LesteEuropa de Leste

    URSScomunismo

    uma Europa destruda, reconstruda graas s ajudas econmicas dos EUA, em cuja esfera de

    influncia acabar por cair

    uma Europa tambm destruda, liberta da ocupao nazi graas ao do Exrcito

    Vermelho e onde governos comunistas pr-soviticos ascendam ao poder

  • Fundao e objetivos A preservao da paz e a promoo da cooperao entre todos os povos foi um dos objetivos de todas as cimeiras realizadas pelos Aliados. Estes objetivos foram confirmados na Conferncia de Ialta e tiveram concretizao na Conferncia de So Francisco, ainda em 1945, com a assinatura da Carta das Naes Unidas por 51 pases envolvidos na guerra contra o Eixo. Na sequncia deste acordo, surgiu, no ano seguinte, a Organizao das Naes Unidas, com sede em Nova Iorque. Trata-se de uma instituio que surge com o esprito da Sociedade das Naes e que tem como objetivo fundamental manter a paz mundial pela resoluo dos conflitos sua nascena, com recurso a uma intensa atividade diplomtica. Outros dos importantes objetivos da ONU foi a promoo da cooperao entre todos os pases membros, em todos os domnios, como forma de evitar desequilbrios e de, assim, erradicar todos os fatores de crise econmico-social que pudessem degenerar em conflito poltico-militar, nacional ou internacional. Organismos Os seus orgos mais importantes seriam:

    - uma Assembleia Geral, organismo central onde tm assento todos os pases membros e onde so debatidas as questes internacionais, cuja gravidade suscita essa discusso, e onde so aprovadas as resolues da ONU;

    - um Conselho de Segurana, instituio vocacionada para tratar as crises que ponham em causa a paz e a segurana internacional. constitudo por 5 membros permanentes EUA, Rssia, Frana, Reino Unido e China e 10 membros no permanentes, eleitos pela Assembleia Geral, por um perodo de dois anos. Na sua interveno como mediador dos conflitos, emite recomendaes no sentido de evitar o seu desenvolvimento. Em situaes mais complexas, decreta sanes de vrios tipos, onde se destacam as sanes econmicas e, aprova, em ltimo caso, a interveno das foras militares da ONU. Os cinco membros permanentes tm direito de veto sobre as deliberaes da Assembleia Geral e a execuo das suas resolues necessita da aprovao por nove membros, desde que nenhum dos membros permanentes exera o direito de veto.

    Alm destes organismos, constituem tambm instituies especializadas:

    - o Conselho de Tutela, que exerce a tutela administrativa dos territrios submetidos autoridade direta da ONU, tendo em vista a promoo do seu desenvolvimento socioeconmico e a criao de condies para a sua autodeterminao e independncia. Desde 1994 que a ONU deixou de ter sob tutela qualquer territrio, pelo que este organismo deixou de funcionar permanentemente, devendo ser convocado se novas circunstncias o exigirem;

    - o Tribunal Internacional de Justia, encarregado de estabelecer os princpios do direito internacional e de julgar as situaes de violao aos acordos assumidos pelos estados-membros;

    - o Conselho Econmico-Social coordena vrias instituies especializadas, s quais incumbe a promoo do bem- estar econmico e social dos estados-membros, como forma de promover a paz e a segurana internacionais. So as instituies especializadas que intervm na denncia e resoluo de problemas ligados alimentao e agricultura (FAO), sade das populaes (OMS), organizao do trabalho (OIT), educao, cincia e cultura (UNESCO), ajuda financeira (FMI), organizao das telecomunicaes (UIT), defesa dos direitos da criana

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  • (UNICEF), reconstruo e desenvolvimento de zonas carenciadas (BIRD Banco Mundial), organizao do comrcio internacional (GATT-OMC), entre outras de menor destaque.

    Paralelamente, a ONU conta com a importante atividade das Organizaes No-Governamentais (ONG), que ultimamente tm desenvolvido uma relevante ao na tentativa de resolver problemas originados no subdesenvolvimento de pases do Terceiro Mundo e na promoo da dignidade humana. Para o efeito, a Assembleia-Geral, sob o impacto das atrocidades cometidas durante a guerra e assumindo uma feio profundamente humanista, aprovou a Declarao Universal dos Direitos do Homem com o objetivo de defender e promover os direitos e as liberdades da pessoa humana no mundo inteiro.

    Crticas

    A ONU tem sido, ao longo dos anos, alvo de crticas, por no ter conseguido resolver alguns conflitos aps 1945. -lhe tambm apontado o facto de o Conselho de Segurana, com os seus membros permanentes com direito de veto, acentuar a supremacia das grandes potncias que podem influenciar a realizao de certas aes de acordo com os seus prprios interesses. No entanto, a ONU tem desempenhado um papel muito importante na mediao de certos conflitos internacionais e na defesa do Direito Internacional.

    Conceito de Guerra Fria Designou-se por Guerra Fria ao ambiente de tenso que caracterizou as relaes entre os governos americano e sovitico, desde o final da II Guerra Mundial, em 1945, at dissoluo da URSS, em 1991 quando ocorre o desaparecimento poltico e territorial da URSS, com a autonomia dos Estados que dela faziam parte. O mundo vai ser dominado por um sistema bipolar onde existia tambm um ator global a ONU que atenuava a tenso existente entre as duas grandes potncias. Com a derrota do Eixo, imediatamente vieram ao de cima os antagonismos ideolgicos que tinham sido esquecidos durante a guerra contra o nazi-fascismo e prontamente patenteados nas diferentes propostas polticas e econmicas defendidas por americanos e soviticos na definio da nova ordem geopoltica:

    - os EUA defendiam um regime poltico democrtico-liberal e uma economia inspirada no modelo capitalista;

    - a URSS defendia um regime socialista de centralismo democrtico e uma economia coletivizada e planificada.

    A ruptura da aliana acabou por se confirmar com o desenvolvimento dos primeiros focos de tenso gerados nas ambies expansionistas da URSS nos estados do Leste da Europa e na resposta americana, visando a conteno desse expansionismo e o reforo da sua posio, no Ocidente. Tratou-se de uma guerra fria pois foi um conflito no-blico, que no originou um conflito generalizado com recurso a armas (os contendores abstiveram-se de recorrer diretamente s armas quentes). A Guerra Fria teve por base questes ideolgicas, polticas, econmicas, sociais e psicolgicas. Subsistia uma poltica de riscos calculados, caraterizada por:

    - Conteno do adversrio (exibiam o seu imenso potencial militar, cada vez mais sofisticado). - Dissuaso (medo de um confronto nuclear); - Persuaso (propaganda ideolgica e factores psicolgicos); - Subverso (eliminar movimentos polticos contrrios);

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  • - Espionagem (necessidade de conhecer atempadamente as intenes do adversrio, atravs da KGB e da CIA);

    - Fomento de conflitos localizados (ex. Vietname e Coreia do Norte).

    Assim sendo, o final da II Guerra Mundial no significou o trmino dos conflitos na Europa. Nos anos que se seguiram, registaram-se guerras nacionais, civis, de classes, raas e religio. Este perodo ficou tambm marcado por uma srie de novas dinmicas:

    - desvalorizao/encurtamento das distncias;

    - meios de comunicao ao servio dos interesses polticos;

    - aumento demogrfico;

    - revoluo cientfica e tecnolgica; deteriorao ambiental;

    - acentuao do eixo Norte-Sul, de caractersticas econmicas e sociais (para alm do Este-Oeste, de cariz poltico e ideolgico.

    Numa fase inicial da Guerra Fria, os conflitos entre as duas grandes potncias mantiveram-se no continente europeu. No entanto, acabou por se alargar ao resto do mundo. Para o desenvolvimento da Guerra Fria contriburam fatores como: mudanas nas cpulas de poder das superpotncias, controlo das foras polticas sobre os militares e a percepo que cada uma das potncias tinha do adversrio, o que as levava a tomar medidas para aumentar a sua fora e influncia. A Guerra Fria durou at 1989 (quedo do muro de Berlim)/1991 (quando Gorbatchev anunciou o final-poltico, jurdico, territorial e internacional da URSS). Estaline contribuiu para o acentuar do clima de tenso entre os dois blocos, ao levar a cabo uma severa expanso na tentativa de se apoderar do maior nmero de territrios possvel. Uma vez que a URSS apesar de ter sado vencedora da II Guerra Mundial se encontrava bastante debilitada, era natural que se procurasse fortalecer ao atrair para a sua rea de influncia, os pases de leste (indo assim contra o que ficara decidido nos acordos de Potsdam).

    O mundo capitalista e o mundo comunista

    A doutrina Truman e o Plano Marshall Em 1947, perante as presses soviticas sobre a Turquia e sobre a Grcia, o presidente americano Truman no tem qualquer dvida em afirmar a necessidade de adotar uma poltica de conteno do avano comunista. Apela ao Ocidente para a luta contra o que considerou ser o totalitarismo sovitico e comprometeu-se a prestar auxlio a todos os estados cuja liberdade fosse ameaada por foras externas. Era a doutrina Truman que institucionalizava os EUA como bastio das democracias ocidentais. Acreditando que a rpida recuperao econmica da Europa inviabilizaria a expanso comunista para ocidente e reforaria a presena americana no Velho Continente, o governo americano, na pessoa do Secretrio de Estado George Marshall, no mbito da doutrina Truman, props um amplo programa de ajuda econmica e tcnica aos pases europeus destrudos pela guerra, no sentido de relanar imediatamente as suas economias e criar condies para a estabilidade poltica. Conhecido por Plano Marshall, este Plano de Reconstruo Europeia era extensvel tambm a pases do bloco comunista, que sob presso da URSS o recusaram. Consideravam os soviticos, num claro ambiente de Guerra Fria, que o plano proposto no era mais do que uma manobra para os EUA imporem a sua hegemonia no continente europeu. Efetivamente, o Plano Marshall, entre outras condies que beneficiaram os interesses geoestratgicos americanos nos pases contemplados e respetivas reas coloniais, foi oferecido sob condio de os estados beneficirios aceitarem o controlo e fiscalizao das suas economias por parte

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  • das autoridades americanas e de criarem um organismo de coordenao da ajuda financeira prestada e das relaes econmicas entre si estabelecidas. Em 1948, a Europa Ocidental criou a OECE (Organizao Europeia de Cooperao Econmica) destinada a aplicar a ajuda do Plano Marshall. Foi a primeira organizao europeia de cooperao e serviu para impulsionar o movimento europesta.

    A criao da NATO

    Em Abril de 1949, as potncias ocidentais assinaram um tratado que estabelecia uma nova aliana a Organizao do Tratado do Atlntico Norte (NATO). Era composta por 10 pases europeus, os EUA e o Canad e tinha um cariz essencialmente defensivo, assegurando a defesa mtua de qualquer membro que fosse atacado (os EUA afastam-se assim das suas tradies isolacionistas).

    A doutrina Jdanov, o Plano Molotov e a COMINFORM

    Perante a Doutrina Truman, os soviticos imediatamente respondem com a Doutrina Jdanov, que consolidava, sem qualquer reserva, a diviso do mundo em dois campos opostos: um imperialista, tutelado pelos EUA e o outro democrtico e anti-imperialista, tutelado pela URSS, e advogava o direito extenso da influncia comunista at ao centro da Europa pela transformao dos pases vizinhos, libertados da dominao nazi por ao do Exrcito Vermelho, em satlites polticos da URSS. Era o incio da Guerra Fria que marcaria a consolidao de um mundo bipolar o mundo capitalista e o mundo comunista. O plano americano de ajuda ao Ocidente europeu constituiu argumento para Estaline adotar a mesma atitude relativamente aos pases submetidos sua influncia. Com efeito, a confirmao do ambiente de Guerra Fria pela intensificao da influncia sovitica nos pases de Leste, acabou por ser a grande consequncia da interveno americana nas economias da Europa ocidental. Como resposta ao Plano Marshall, surge o Plano Molotov que era um programa de ajuda econmica a todos os pases comunistas. formado o COMECON (Council for Mutual Economic), que tencionava, semelhana da OECE, fazer a coordenao dos planos econmicos dos pases membros e da ajuda financeira da URSS aos seus aliados. A URSS exerceu tambm uma forte influncia poltica, atravs do COMINFORM (Comunist Information Burau), uma organizao internacional dos partidos comunistas dos vrios pases integrantes do bloco socialista; O COMINFORM, o COMECON e, mais tarde, o Pacto de Varsvia acabaram por ser os principais instrumentos de dominao dos pases da cortina de ferro (com a exceo da Jugoslvia, que se afastaria da orientao estalinista em 1948). Estes pases tinham passado pela mais violenta dominao nazi-fascista e a reao foi dirigida por fortes movimentos de inspirao comunista apoiados pelo Exrcito Vermelho. Porm, na sequncia das conferncias de paz, praticamente todos os pases do Leste tinham aderido ao modelo parlamentar de tipo ocidental, em que os partidos comunistas, apesar de fortes, eram minoritrios. Neste quadro, Jdanov impe nos pases de Leste a ruptura com o imperialismo ocidental pela instituio das democracias populares com recurso fora. Assim os partidos comunistas foram-se impondo gradualmente no domnio dos aparelhos de Estado, transformando as democracias liberais em democracias de tipo sovitico.

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  • O Pacto de Varsvia

    Em 1955 foi criado o Pacto de Varsvia (em resposta NATO), que tinha como objetivo a cooperao militar entre a Unio Sovitica e as democracias populares. Para alm disso, tinha a funo de reprimir qualquer movimento anticomunista nos pases da esfera de influncia sovitica.

    A PRIMEIRA FASE DA GUERRA FRIA (1947/53)

    A questo alem e a corrida formao de alianas militares

    Em 1948-49, o ambiente de Guerra Fria entre os dois blocos geopolticos esteve na iminncia de provocar a primeira situao de conflito militar. Das diferentes estratgias para a reconstruo da Alemanha, resultou a unificao administrativa e monetrias das zonas ocupadas por americanos, ingleses e franceses e a atribuio de avultadas ajudas financeiras. Pretendiam as potncias democrticas edificar uma Alemanha ocidental rica e capaz de se reafirmar honrosamente entre as naes livres e pacficas, em oposio a uma Alemanha de Leste cada vez mais ruralizada e pobre, em virtude do desmantelamento do seu setor industrial. Estaline interpretou a poltica ocidental como um afrontamento e acusou os antigos aliados de pretenderem criar um bastio do capitalismo s portas do mundo socialista. Em retaliao, decretou o bloqueio zona ocidental da cidade de Berlim, encravada na parte alem submetida administrao sovitica, nos termos de os acordos de Potsdam. Perante a impossibilidade dos pases ocidentais contactarem por terra com as partes da cidade de Berlim por si tuteladas, foi organizada uma ponte area que fez chegar todo o gnero de produtos, numa manifestao de firmeza e de grande poder tecnolgico dos EUA. Estaline acabou a levantar o bloqueio sem incidentes de carcter militar, mas dele resultou uma grave crise poltica que:

    - culminou com a diviso da Alemanha em dois Estados Repblica Federal Alem (ocidente, na esfera liberal capitalista) e a Repblica Democrtica Alem (leste, na esfera socialista sovitica);

    - clarificou as posies expansionistas, americana e sovitica, e os seus objetivos hegemnicos na constituio de reas de influncia na Europa e, em fases posteriores, em todo o Globo;

    - originou uma intensa corrida aos armamentos.

    Corrida armamentista e os avanos espaciais

    Em Setembro de 1949, a URSS realiza a sua primeira exploso nuclear, equiparando-se assim aos Estados Unidos. Isto marca o incio da corrida aos armamentos e do perodo de dissuaso. Uma expresso explica muito bem este perodo: a existncia da Paz Armada. As duas potncias envolveram-se numa corrida armamentista, espalhando exrcitos e armamentos em seus territrios e nos pases aliados. Enquanto houvesse um equilbrio blico entre as duas potncias, a paz estaria garantida, pois haveria o medo do ataque inimigo. Nesta poca, formaram-se dois blocos militares, cujo objetivo era defender os interesses militares dos pases membros. A NATO era liderada pelos Estados Unidos e tinha as suas bases principalmente na Europa Ocidental. O Pacto de Varsvia era comandado pela URSS e defendia militarmente os pases socialistas. Os EUA e a URSS travaram, tambm, uma disputa muito grande no que se refere aos avanos espaciais. Ambos corriam para tentar atingir objetivos significativos nesta rea. Isso ocorria, pois havia uma certa disputa entre as potncias, com o objetivo de mostrar para o mundo qual era o sistema mais avanado. No ano de 1957, a URSS lana o foguete Sputnik com um co dentro, o primeiro ser vivo a ir para o espao. Doze anos depois, em 1969, o mundo todo pode acompanhar pela televiso a chegada do homem a lua, com a misso espacial norte-americana.

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  • Expansionismo sovitico na sia

    sob inspirao marxista que, a partir de 1945, decorrem no continente asitico, dois processos polticos de importantes repercusses: a formao da Repblica Popular da China e a independncia da Indochina. Foi o apoio da URSS que contribuiu para o arranque da revoluo que culminou na proclamao da Repblica Popular da China em 1 de outubro de 1949. Assim, apesar das importantes desinteligncias com as orientaes polticas assumidas por Mao Ts-Tung, a partir de 1958, a URSS pde contar com uma importante colaborao a oriente, na luta contra o imperialismo americano. A URSS est tambm presente na formao e fortalecimento dos partidos comunistas que iro encabear os complicados processos de libertao dos pases da Indochina.

    Guerra da Coreia (1950/53)

    No seguimento das conferncias de paz, a Coreia, aps a evacuao dos japoneses, ficou dividida numa zona de influncia sovitica, a norte, e noutra de influncia americana, a sul. Fortalecidos com a vitria de Mao Ts-Tung, na China, em 1949, os norte-coreanos tentam a unificao do pas, em 1950, violando a linha de separao. Quando as tropas americanas e soviticas deixaram a pennsula, as tropas norte-coreanas invadiram o sul (em 1950), com o apoio de Estaline. O presidente Truman encarou esta ao como uma ameaa e uma tentativa de Estaline levar o comunismo a todos os pontos do globo. Como resposta, enviou, em nome da ONU, tropas para se oporem ao ataque norte-coreano, iniciando-se, tambm, bombardeamentos sobre as tropas norte-coreanas imediatamente apoiadas por um exrcito sino-sovitico. A Guerra da Coreia terminou em 1953, com a assinatura do Armistcio e a diviso definitiva do pas na Coreia do Norte (Repblica Popular da Coreia) e na Coreia do Sul (Repblica Democrtica da Coreia). Ainda hoje, tantos anos depois, se verificam tenses polticas elevadas entre as duas Coreias (em parte, pois apenas um armistcio fora assinado, no existindo nenhum tratado de paz assinado entre as duas zonas). A Guerra da Coreia foi o primeiro conflito direto entre as duas grandes potncias durante o perodo da Guerra Fria, tendo grandes consequncias. Ao interferirem na guerra, os EUA afirmaram o seu papel como defensores da liberdade e da democracia a nvel mundial, sendo que a partir de ento foram aumentando as suas intervenes, especialmente na sia. Com a guerra, foram tambm crescendo os sentimentos anti-comunistas nos ocidentais. Da mesma forma, o conflito contribuiu para o desenvolvimento das indstrias militares dos EUA e da URSS. O perodo entre 1950 e 1957 ficou conhecido entre os historiadores como terror vermelho ou caa s bruxas (aluso Idade Mdia), devido ao medo do expansionismo sovitico e a feroz expresso do mesmo. Nos EUA, o general McCarthy levou a cabo violentas perseguies aos comunistas, usando como desculpa o zelo pela segurana do pas, tendo ficado este perodo tambm conhecido por Macartismo.

    A SEGUNDA FASE DA GUERRA FRIA: COEXISTNCIA PACFICA (1953/60)

    O termo coexistncia pacfica foi adotado pelo lder sovitico Nikita Kruschev para se referir s relaes que manteria no futuro com os EUA. Esta doutrina , evidentemente, encarada de forma distinta pelos dois blocos o ocidental considera que se estendeu de 1955 a 1962 enquanto que o sovitico considera que durou at 1984. Esta doutrina foi adotada nos pases soviticos e afirmava que a URSS poderia coexistir pacificamente com os EUA, uma vez que o comunismo e o capitalismo no eram antagnicos. Este perodo da poltica internacional iniciou-se com a morte de Estaline, em 1953 e a subida ao poder de Kruschev. Este novo lder desencadeou um processo de abertura, amenizando o rigor da

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  • censura, reduzindo o poder da poltica poltica, reabilitando presos polticos e fechando diversos campos de trabalhos forados. Este processo foi denominado degelo e destalinizao. Isto acabaria por influenciar outros pases, que tentaram vrias vezes se libertar da influncia sovitica. Por outro lado, esta poltica possibilitou tambm uma aproximao entre os lderes da URSS e dos EUA. Kruschev chegou mesmo a reunir-se com os presidentes americanos (com Eisenhower e, mais tarde, com Kennedy). Esta pacificao das relaes entre os EUA e a URSS deu grandes esperanas sobre o fim dos conflitos e o estabelecimento da paz mundial. No entanto, esta situao de estabilidade estava prestes a ser interrompida.

    A TERCEIRA FASE DA GUERRA FRIA: RECRUDESCIMENTO DA TENSO (1960/64)

    Em 1960, os russos abatem um avio de espionagem americana que os sobrevoava. Com isto, h um recrudescimento da tenso entre as duas potncias e, consequentemente, o fracasso de algumas das negociaes. No ano de 1961, ocorreu o episdio da Baa dos Porcos, em Cuba, onde os EUA tentaram acabar com o golpe revolucionrio de Fidel de Castro e Che Guevarra e onde foram facilmente derrotados. Perante a humilhao, os americanos resolveram aumentar o seu poderio militar e tornar mais rgida a sua posio quanto ao problema de Berlim. Como resposta, a URSS levou a cabo o processo de construo do Muro de Berlim, que dividiu a Alemanha em RDA e RFA. Por fim, em 1962, ocorreu a crise dos msseis em Cuba.

    O caso cubano

    Em 1 de janeiro de 1959, em Cuba, um grupo de revolucionrios, sob comando de Fidel Castro e de Che Guevara, leva a efeito um ato revolucionrio que culminou na deposio do ditador pr-americano Fulgncio Batista e na constituio de um governo revolucionrio de tendncias socialistas. Ainda que, de incio, os revolucionrios no assumissem um claro relacionamento com Moscovo e no pretendessem hostilizar os Estados Unidos, as relaes agravaram-se medida que Cuba se aproximou comercial e militarmente da URSS e deu incio nacionalizao das principais empresas americanas sediadas na ilha. O governo americano passa a apoiar sem reservas os opositores de Fidel Castro refugiados na Florida e organiza o desembarque na Baa dos Porcos de um contingente de anti-castristas treinado e armado pelo exrcito americano. Perante o falhano dos apoios internos, o golpe fracassou e os invasores foram feitos prisioneiros. Em resposta, a URSS fez deslocar para a ilha rampas de lanamento de msseis nucleares com poder de alcance capaz de atingir solo americano. Descobertas em outubro de 1962 pela aviao americana, so denunciadas como uma provocao e uma agresso paz e estabilidade mundial, o que no impediu que Kruschev continuasse a armar Cuba com potencial atmico, mediante o argumento de que se tratava apenas de msseis defensivos. O governo americano passa ento a exigir a retirada dos msseis soviticos colocando o mundo perante a iminncia de um conflito entre as duas potncias. Numa resposta positiva s exigncias americanas, o presidente sovitico comeou por ordenar a inverso de marcha de mais um carregamento nuclear que se dirigia a Cuba e iniciou o desmantelamento das bases militares. Por seu lado, o governo americano suspendeu o bloqueio entretanto imposto ilha e prometeu respeitar o governo revolucionrio. A soluo da crise de Cuba no deixou de confirmar a ilha como um bastio do comunismo internacional s portas de Washington e ponto de partida das grandes investidas soviticas dos anos 70 em apoio dos movimentos revolucionrios na Amrica Latina, com os casos da Bolvia, Colmbia, Peru e, sobretudo, das guerrilhas marxistas da Guatemala, El Salvador e Nicargua, aproveitando um momento de relativo apagamento americano em consequncia do seu fracasso no Vietname e da crise econmica do capitalismo ocidental. tambm de Cuba que irradia a influncia sovitica para o continente africano.

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  • A QUARTA FASE DA GUERRA FRIA: ESTAGNAO DTENTE (1964/81)

    A fase da estagnao (ou dtente) foi o perodo da Guerra Fria (e, mais especificamente, da Unio Sovitica), que se iniciou em 1964 com Leonild Brejnev. Foi neste perodo que a URSS atingiu o seu auge geopoltico. Apesar de Brejnev ter celebrado alguns acordos com os EUA, levou a cabo uma poltica neoestalinista, agressiva, expansionista, autoritria e repressiva, cultivando o culto da personalidade. Durante esta fase, tanto os EUA como a URSS patrocinaram guerrilhas e golpes de estado um pouco por todo o mundo, procurando atrair pases para a sua rea de influncia (ex: Guerra do Vietname) tambm neste perodo que os pases da esfera sovitica se comeam a querer libertar da influncia de Moscovo. Em 1968, comea a Primavera de Praga, com a chegada do reformista eslovaco Alexander Dubcek ao poder. Esta revoluo tinha como objetivos a descentralizao da economia, a democratizao, a liberdade de imprensa e de expresso e uma maior valorizao dos Direitos Humanos. Dubcek dividiu tambm o pas em duas repblicas separadas Repblica Checa e Eslovquia. No entanto, as reformas no foram bem recebidas pelos soviticos, que enviaram as tropas do Pacto de Varsvia para invadir o pas, em Agosto de 1968. A invaso durou at 1990 e aps a libertao, grande parte das reformas introduzidas por Dubcek foram abolidas e regressou-se a um sistema de partido nico com defesa de ideais comunistas que vigorava antes da revoluo de 1968. Nas esferas econmica e social, este perodo ficou marcado pela estagnao.

    A Guerra do Vietname (1955/75)

    Ao contrrio do que defendem alguns autores, os conflitos da Guerra Fria no terminaram com o final da crise dos msseis de Cuba. Por outro lado, alastram os conflitos, o que demonstra o processo de mundializao da Guerra Fria deixa de estar apenas centrada na Europa, embora no chegue a ser um conflito generalizado. A Guerra do Vietname decorreu entre 1955 e 1975 e ops o Vietname do Sul (Repblica do Vietname, apoiada pelos EUA) ao Vietname do Norte (apoiado pela Frente Nacional para a Libertao do Vietname e pela URSS e pela China). Em 1965, os EUA enviaram tropas para sustentar o governo do Vietname do Sul, liderado por Ngo-Din-Diem. A guerra do Vietname, extremamente violenta, foi o maior conflito em que os EUA se viram envolvidos e causou um impacto profundo na sua sociedade. O interesse dos americanos era, no s fazer frente ao regime comunista, mas tambm zelar pelos seus interesses estratgicos. Em 1973, realizam-se os Acordos de Paz de Paris, que causaram a retirada das tropas americanas do pas. No entanto, a guerra continuou entre o Norte e o Sul at 1975, com a invaso e a ocupao comunista de Saigon (capital do Vietname do Sul). O pas ento reunificado e continuou com um regime comunista.

    A LTIMA FASE DA GUERRA FRIA (1981/91)

    A ltima fase da Guerra Fria iniciou-se com a eleio de Ronald Reagan para a presidncia dos Estados Unidos em 1981 e a subida ao poder de Gorbatchev, na URSS, em 1985.

    A Guerra do Afeganisto (1979/89)

    Esta guerra foi um perodo de conflito civil na nao afeg marcada pelo envolvimento militar direto da Unio Sovitica, de 1979 a 1989. Travada no contexto de Guerra Fria, as foras soviticas lutaram ao lado das tropas do governo marxista da Repblica Democrtica do Afeganisto contra

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