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Fernando Pessoa Ortónimo Vertente Modernista – abrange vários “-ismos” de vanguarda, em poemas de grande liberdade formal e desarticulação sintáctica; vocabulário raro. Vertente Tradicional – poemas breves, rimados, de verso curto (2 a 7 sílabas; predomínio da métrica tradicional) e estrutura formal fixa (quadras ou quintilhas), com linguagem e sintaxe simples. Sinceridade/ Fingimento Poético Para Pessoa ortónimo, a poesia é um acto de fingimento. O poeta parte da realidade, mas distancia-se dela graças à dialéctica entre a razão (pensar) e sensibilidade (sentir), para elaborar intelectualmente a obra de arte. Assim, o poema apenas pode comunicar um sentimento fingido, pois a dor real (sentida) continua no sujeito que, por meio da escrita, tenta uma representação mental. Deste modo, “Fingir é conhecer-se” E a emoção do leitor? “Sinta quem lê.” O leitor não é capaz de sentir as emoções do poeta (nem a vivida nem a imaginada); a emoção que o poeta exprime artisticamente é um estímulo que provoca no leitor novos estados de alma. O mundo real é apenas um reflexo de um mundo ideal. Só o poeta pode contemplar essa coisa encoberta pelo “terraço” da vida, porque é capaz de libertar-se de um mundo que o prende e escrever usando só a imaginação em busca daquilo que é (saber existir) e seguro do que não é. A tarefa do poeta é essa viagem imaginária (logo, no

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Page 1: resumos

Fernando Pessoa Ortónimo

Vertente Modernista – abrange vários “-ismos” de vanguarda, em

poemas de grande liberdade formal e desarticulação sintáctica;

vocabulário raro.

Vertente Tradicional – poemas breves, rimados, de verso curto

(2 a 7 sílabas; predomínio da métrica tradicional) e estrutura formal

fixa (quadras ou quintilhas), com linguagem e sintaxe simples.

Sinceridade/ Fingimento Poético

Para Pessoa ortónimo, a poesia é um acto de fingimento. O poeta

parte da realidade, mas distancia-se dela graças à dialéctica entre a

razão (pensar) e sensibilidade (sentir), para elaborar intelectualmente

a obra de arte. Assim, o poema apenas pode comunicar um sentimento

fingido, pois a dor real (sentida) continua no sujeito que, por meio da

escrita, tenta uma representação mental.

Deste modo, “Fingir é conhecer-se”

E a emoção do leitor? “Sinta quem lê.” O leitor não é capaz de

sentir as emoções do poeta (nem a vivida nem a imaginada); a emoção

que o poeta exprime artisticamente é um estímulo que provoca no

leitor novos estados de alma.

O mundo real é apenas um reflexo de um mundo ideal. Só o poeta

pode contemplar essa coisa encoberta pelo “terraço” da vida, porque é

capaz de libertar-se de um mundo que o prende e escrever usando só

a imaginação em busca daquilo que é (saber existir) e seguro do que

não é. A tarefa do poeta é essa viagem imaginária (logo, no

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pensamento), esse pressentir da essência das coisas. Só a arte

permite aprender a sentir melhor, sabendo o que se sente e sentindo

de forma mais intensa. O poeta é, afinal, um simulador que pretende,

através da criação poética.

Ruptura e Continuidade

O Pessoa ortónimo escreveu poemas da lírica simples e

tradicional, muitas vezes marcada pelo desencanto e melancolia; fez

um aproveitamento cuidado de impressionismo e do simbolismo,

abrindo caminho ao modernismo, onde põe em destaque o vago, a

subtileza e a complexidade.

A Dor de Pensar

Fernando Pessoa sente-se condenado a ser lúcido, a ter de

pensar. Gostava, muitas vezes, de ter a inconsciência das coisas ou de

seres comuns que agem como uma pobre ceifeira. (“O que em mim

sente „stá pensando.”).

O ortónimo é obcecado pelo pensamento. Contudo, o pensamento

está na origem de ser incapaz de sentir intuitivamente, como quem

descobre o mundo sem preconceitos. Impedido de ser feliz, devido à

lucidez, procura a realização do paradoxo de ter uma consciência

inconsciente. Mas ao pensar sobre o pensamento, percebe o vazio que

não permite conciliar a consciência e a inconsciência.

Nostalgia da Infância

Em Fernando Pessoa ortónimo, a infância é entendida como um

tempo mítico do bem, da felicidade e da inconsciência. Nela

permanecem sempre vivos a família e os lugares, a segurança e o

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aconchego, entretanto perdidos pelo sujeito poético. A inconsciência

de que todo esse bem é irrecuperável, fá-lo sentir-se obsessivamente

nostálgico da infância, um tempo perdido que serve sobretudo para

acentuar a negatividade do presente. O profundo desencanto e a

angústia acompanham o sentido da brevidade da vida e da passagem

dos dias. Ao mesmo tempo que gostava de ter a infância das crianças

que brincam, sente a saudade de uma ternura que lhe passou ao lado.

Frequentemente, para Pessoa, o passado é um sonho inútil, pois

nada se concretizou, antes se traduziu numa desilusão.

Fragmentação do “eu”

O sujeito poético assume-se como uma espécie de palco por onde

desfilam diversas personagens, distintas e contraditórias. Incapaz de

se manter dentro dos limites de si próprio, o sujeito poético procura

observar o seu “eu”, ou seja, conhecer-se a si próprio, o que leva à

fragmentação e à consciência de que é capaz de viver apenas o

presente.

Questiona a sinceridade das emoções escritas nos seus textos,

porque não sente hoje da mesma forma que sentiu no passado, pois as

emoções, ao serem escritas e lidas, são intelectualizadas (“não sei

quantas almas tenho”).

Fernando Pessoa e Heterónimos

Fernando Pessoa

Ortónimo (“ele próprio”)

Mensagem (1934) Poesia do cancioneiro

Heterónimos: - Alberto Caeiro; - Ricardo Reis; - Álvaro de Campos

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Alberto Caeiro

Natureza (Bucolismo);

Dambulismo (anda pelo espaço da Natureza);

Poeta da simplicidade;

Escrita simples; privilegia o uso da comparação, a metáfora e do

polissíndeto (repetição do “e”);

Poeta anti-metafísico (recusa o pensamento);

Interpreta o mundo a partir dos sentidos;

Interessa-lhe a realidade imediata e o real objectivo que as

sensações lhe oferecem;

Uso do verso branco (sem rima), do versilibrismo (estrutura

métrica irregular) e da estrutura estrófica livre.

Alberto Caeiro apresenta-se como um simples “Guardador de

Rebanhos”, que só se importa em ver de forma objectiva e natural a

realidade com a qual contacta a todo o momento.

Poeta do olhar, procura ver as coisas como elas são, sem lhes

atribuir significados ou sentimentos humanos. Considera que “pensar é

estar doente dos olhos”, pois as coisas sãol como são. Recusa po

pensamento metafísico, afirmando que “pensar é não compreender”.

Caeiro constrói uma poesia das sensações, apreciando-as como

boas por serem naturais. Para este heterónimo, o penasamento apenas

falsifica o que os sentidos captam. É um sensacionista, que vive

aderindo espontaneamente às coisas, tais como são, e procura gozá-las

com despreocupada e alegre sensualidade.

Ricardo Reis

Contemplativo (observa);

Racional (conclui resignando-se);

Page 5: resumos

Clássico:

equilibrio

linguagem

forma

Horaciano

“aurea mediocritas”

“carpe diem”

ode

Pagão

Crença nos deuses/Fado (destino)

crença na presença divina das coisas

Estoico-epicurista

Estoicismo

o supremacia nos Deuses e no Fado

o aceitação voluntária das leis do universo (ilusão de

liberdade)

o ideal de apatia (indeferença)

Epicurismo

o procura a felicidade moderada (= ausência de

sofrimento)

o ideal de ataraxia (indiferença)

o “carpe diem”

Ricardo Reis é o poeta da serenidade epicurista, que aceita, com

calma lucidez, a relatividade e a fugacidade de todas as coisas.

A filosofia de vida de Ricardo Reis é a de um epicurismo triste,

pois defende o prazer do momento, o carpe diem, como caminho da

felicidade, mas sem ceder aos impulsos dos instintos.

Apesar deste prazer que procura e da felicidade que deseja

alcançar, considera que nunca se consegue a verdadeira calma e

tranquilidade, ou seja, a ataraxia. Sente que tem de viver em

conformidade com as leis do destino, indiferente à dor e ao

desprazer, numa verdadeira ilusão da felicidade.

Page 6: resumos

Ricardo Reis recorre à ode e a uma ordenação estética

marcadamente clássica.

Em Ricardo Reis há a apatia face ao mistério da vida mas também

se encontra o mundo das angústias que afecta Pessoa.

Álvaro de Campos

O mais moderno e multifacetado dos heterónimos. O filho

indisciplinado da sensação.

Três fases poéticas:

Decandentismo: o tédio, o cansaço e a necessidade de novas

sensações.

Futurismo e Sensacionismo: exaltação da força, da violência,

do excesso, da civilização moderna e da máquina e de sentir

tudo de todas as maneiras: “ode triunfal”.

Fase de Abulia: cansaço e tédio existencial em que o “eu” se

fragmenta, desenquadrado, incapaz de viver e sentir a vida e

dominado pelo vício de pensar, vê na infância o paraíso

perdido: “Aniversário” e “Lisbon Revisited”.

Álvaro de Campos surge quando “sente um impulso para escrever”.

Para Campos, a sensação é tudo, O sensacionismo torna a

sensação, a realidade da vida e da base da arte. Álvaro de Campos é

quem melhor procura o totalização das sensações, mas sobretudo das

percepções conforme as sente.

Em Campos, há a vontade de ultrapassar os limites das próprias

sensações, numa vertigem insaciável, que o leva a querer “ser toda a

gente em toda a parte”.

Mas, passada a fase eufórica, o desassossego de Campos leva-o a

revelar uma fase disfórica, a ponto de desejar a própria destruição.

Depois de exaltar a beleza e da força da máquina por oposição à

beleza tradicionalmente concebida, a poesia de Campos revela um

Page 7: resumos

pessimismo agónico, a dissolução do “eu”, a angústia existencial e uma

nostalgia da infância irremediavelmente perdida.

Versos Ilustrativos

Alberto Caeiro

Antimetafísica

(recusa do

pensamento)

“Eu não tenho

filosofia: tenho

sentidos”

Valorização da

Natureza

“Sou o Descobridor

da Natureza”

Sensacionismo

- visualismo

“ O meu olhar é

nítido como um

girassol”

Poeta da

realidade

imediata

(presente)

“Não quero incluir o

tempo no meu

esquema”

Deambulismo

“E ando pela mão

das estações”

Panteísmo

“E ando pela mão

das estações”

Ricardo Reis

Paganismo

(crença nos

deuses da

mitologia e no

Fado)

“Pagãos inocentes

da decadência”

Estoicismo

(aceitar

voluntariament

e as leis do

Fado)

“Nós, imitando os

Deuses/Tão pouco

livres”

“Só esta liberdade

nos concedem os

deuses: subtermo-

nos”

“Carpe Diem”

“Colhe/o dia porque

és ele”

“a confiança

mole/na hora

fugitiva”

Ideal de

ataraxia/apati

a

“Mais vale saber

passar

silenciosamente”

“O desejo de

indiferença”

Passagem do

tempo/a

morte

“Passamos como um

rio”

“a vida/passa e não

fica”

Álvaro de Campos

Page 8: resumos

Futurismo/mod

ernismo-

apologia da

civilização

moderna

“Ser completo como

uma máquina”

Sensacionismo

“Ah,não ser eu toda

a gente em toda a

parte!”

Nostalgia da

Infância

“No tempo em que

festejavam o dia

dos meus anos”

Dor de Pensar

“Tirem-me daqui a

metafísica”

“Não penses! Deixa

o pensar na cabeça”

Inutilidade

das sensações

“(...) nada sois que

eu me sinta”

Frustração/ne

gatividade/can

sanço

existencial

“Somam-se-me os

dias/serei velho

quando for”

“A única conclusão é

morrer”

Os Lusíadas e Mensagem

Camões, n‟ Os Lusíadas e Fernando Pessoa, na Mensagem, cantam,

em perspectivas diferentes, Portugal e a sua história, realçando a

expansão marítima e o alargamento da fé. Enquanto o primeiro celebra

o apogeu e pressente a decadência do Império, o segundo retorna às

origens e às descobertas marítimas, mas situa-se na fase terminal do

processo de dissolução do mesmo império.

Enquanto Camões nos dá conta do heroísmo que permitiu a

construção do império português, Fernando Pessoa procura libertar a

pátria de um passado que se desmoronou e encontrar um novo

heroísmo que exige grandeza de alma e capacidade de sonhar.

Classificação Literária

Obra épico – Lírica e simbólica

- parte de um núcleo de acontecimentos históricos;

- usa,por vezes, o tom sublime ou comovido da

epopeia.

Transfigura matéria histórica em símbolos que fecundam o presente, inventando o futuro (mitos que são ideais a seguir): o assunto não são os eventos

históricos, mas a essência de ser português.

Page 9: resumos

Estrutura da Obra

Mensagem

Portugal -» Mensagem (poemas produzidos de 1913 a 1914)

Estrutura: 44 poemas – organizados em três partes que

obedecem a uma estrutura simbólica:

I parte: Brasão: os fundadores do país -» nascimento da

pátria (de Ulisses ao início das Descobertas)

o Os Campos

o Os Castelos

o As Quinas

o A coroa

o O Timbre

II parte: Mar Português: época aurea das Descobertas

(o império material) -» vida/realização do país

III parte: O Encoberto: aponta para o presente de

desistência (o império desfez-se); prevê o Desejado que

instaurará o Quinto Império (o império

civilizacional/cultural)-» morte/renascimento da nação

o Os Símbolos

o Os Avisos

o Os Tempos

Os Lusíadas

Estrutura Interna

Proposiç

ão;

Invocaçã

o;

Dedicató

ria;

Narraçã

o.

Estrutura Externa

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Forma Narrativa;

Versos decessilábicos;

Rimas com esquema abababcc (rima cruzada nos seis primeiros

versos e emparelhada nos dois últimos);

Estâncias- oitavas;

Poema dividido em 10 cantos.

Planos

Plano da Viagem

A narração dos acontecimentos ocorridos durante a viagem

realizada entre Lisboa e Calecut

Plano da História de Portugal

Relato dos factos marcantes da História de Portugal

Plano da Mitologia

A mitologia permite e favorece a evolução da acção (os deuses

assumem-se, uns como adjuvantes, outros como aponentes dos

Portugueses) e constitui, por isso, a intriga da obra.

Plano do Poeta

Considerações e opiniões do autor expressos, nomeadamente, no

início e no fim dos cantos.

Proposição d’ Os Lusíadas – O Herói

Na “Proposição”, o poeta apresenta aqueles que serão os

protagonistas da sua epopeia, Assim, o herói inidividual d‟ Os Lusíadas

é Vasco da Gama, comandante da armada que realiza a viagem de

descoberta do caminho marítimo para a Índia. Contudo, Vasco da

Gama é paradigma de todo o povo português, já que Camões propõe

elogiar todos os navegadores, reis que dilataram a fé, conquistanto

territórios em África e na Ásia e todos os que imortalizaram, ficando

na memória dos homens pelos seus feitos grandiosos. Também o título

Page 11: resumos

aponta para esta colectividade: canta-se um herói colectivo, que é o

povo português, o qual se destacou peçp esforço e pela coragem que

superaram todos os heróis da antiguidade.

Reflexões do Poeta

Nos planos narrativos desta Epopeia, encontramos um plano que

se diz respeito às chamadas considerações pessoais do poeta. Estas

reflexões surgem ao longo da Narração, normalmente no final de cada

canto. Nestas estrofes, o poeta apresenta a sua perspectiva em

relação ao império português, que perdia o seu brilho e aos valores

dominantes do país.

Por um lado, refere os “grandes e gravíssimos perigos”, a

tormenta e dano do mar, a guerra e o engano em terra; por outro lado,

faz a apologia da expansão territorial para divulgar a fé cristã,

manifesta o seu patriotismo e exorta D. Sebastião a dar continuidade

à obra grandiosa do povo português.

Felizmente Há Luar! Felizmente Há Luar! recria em dois actos a tentativa frustrada

de revolta liberal de Outubro de 1817, reprimida pelo poder

absolutista do regime de Beresford e Miguel Forjaz, com o apoio da

igreja. Ao mesmo tempo, chama a atenção para as injustiças, a

repressão e as persiguições políticas no tempo de Salazar.

A acção de Felizmente Há Luar! centra-se na figura do General

Gomes Freire de Andrade e a sua execução, mostrando, ao mesmo

tempo, a resignação do povo, dominado pela miséria, pelo medo e pela

ignorância. O protagonista é construído através da esperança do povo,

das perseguições dos governantes e da revolta impotente da sua

mulher e dos seus amigos. Amado por uns, é odiado pelos que temem

perder o poder.

Page 12: resumos

Dentro dos princípios do teatro épico, Felizmente Há Luar! é um

drama narrativo que analisa criticamente a sociedade, apresentando a

realidade com o objectivo de levar o espectador a tomar a posição.

Com a denúncia do amibente político repressivo daquela época, tenta

provocar a reflexão sobre a opressão e a censura que se repete no

século XX.

Características do modo dramático

1. Texto Principal: constituído pelas falas das personagens

Diálogo

Monólogo

Aparte

2. Texto Secundário: é constituído pelas didascálias.

Estrutura da Obra

O texto organiza-se em dois actos (que não estão delimitados por

cenas):

Acto I- inclui acontecimentos que decorrem entre a

tentativa de evitar uma conspiração que se prepara e a

identificação de seu líder e a sua prisão.

Acto II- inclui acontecimentos que decorrem entre a

prisão do General e a sua execução.

Texto Secundário

A peça é rica em indicações cénicas. Estas didascálias assumem

duas funções essenciais:

Indicações em itálico, normalmente entre parenteses oferecem

marcações típicas das didascálias: tom de voz, movimentos

Page 13: resumos

cénicos das personagens, vestuário, efeitos de som e luz, entre

outros,

Notas à margem do texto principal: estas didascálias constituem

comentários do dramaturgo que interpretam/explicam as falas e

os comportamentos das personagens.

Paralelismo entre o Tempo da História (1817) e o Tempo da

Escrita (1961)

O dramaturgo recupera acontecimentos históricos passados

(revolta de 1817 que deu início às lutas liberais em Portugal) para

denunciar a situação social e política do seu próprio tempo (a crise dos

anos 60, durante a ditadura Salazarista, que culminará com o 25 de

Abril e o triunfo da Democracia). Sttau Monteiro pretende alertar os

seus contemporâneos para a ignorância, a miséria e a opressão,

incentivando-os a lutarem por uma sociedade mais justa e solidária

que permita uma verdadeira realização do Homem. Felizmente Há Luar! é, por isso, uma obra metafórica/alegórica.

Elementos Simbólicos

Paralelismo de construção do início dos dois actos:

Os dois actos deste texto dramático começam exactamente da

mesma forma, para sugerir que, após a prisão do General, a

situação do povo continua exactamente na mesma, se não mesmo

pior, pois com a prisão de Gomes Freire, o povo perde até a

esperança.

O título: Felizmente Há Luar! A expressão é primeiro usada por D. Miguel que, devido às

execuções prolongadas, se alegra por haver luar, de modo a

concretizar o castigo que acredita que purificará a sociedade e

irá dissuadir outros conspiradores. As mesmas palavras, são

depois usadas por Matilde e servem de estímulo para que o povo

Page 14: resumos

se revolte contra a tirania dos governantes; para Matilde os

heróis amedrontam os poderosos mas tornam-se uma espécie de

luz para que outros, seguindo-lhes o exemplo, lutem pela

liberdade. É de notar que neste texto a escuridão nunca é total,

porque pretende ensinar-se que há sempre esperança.

Caracterização de Personagens

General Gomes Freire de

Andrade

Esperança do povo;

Não aparece na peça, é só

uma invocação;

Soldado brilhante;

Luta pela liberdade;

Grão-mestre da Maçonaria

Portuguesa;

Lider carismático.

William Beresford

Poderoso;

Interesseiro;

Calculista;

Sarcástico e irracional;

Representante do poder

militar inglês em Portugal;

Odiava Portugal;

Pragmático;

Protestante;

Mau oficial.

D. Miguel Pereira Forjaz

Quer condenar inocentes

para evitar a revolução;

Prepotente;

Corrompido pelo poder;

Vingativo;

Visão estratégica do país;

Não é popular;

Representa a nobreza;

Primo do General Gomes

Freire.

Principal Sousa

Fanático;

Hipócrita;

Não tem valores épicos;

Representante do alto

clero;

Odeia os franceses;

Não gosta de Beresford;

Não gosta do povo devido à

sua posição social.

Matilde

Corajosa;

Romântica:

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Inconstante (mudanças de

humor);

Contra a injustiça:

Lutadora;

Meia idade;

Nasceu em Seia numa

família pobre;

Casada com o General;

Personalidade forte;

Mulher solitária.

Sousa Falcão

Não foi capaz de denfender

os seus ideais;

Amigo de Gomes Freire;

Tem como ideais “justiça” e

“liberdade”;

Está de luto pela execução

do General e por ele

próprio;

Crítico (autocritica-se);

Manuel

Denuncia a opressão;

Papel de impotência do

povo;

O mais consciente dos

populares;

Casado com Rita;

É pobre e vive

miseravelmente;

Crítico;

Irónico.

Vicente

Elemento do povo;

Falso;

Hipócrita;

Interesseiro;

Alpinista Social;

Cúmplice do conselho de

regência;

Delactor:

Pretende ser chefe de

polícia;

Revoltado por pertencer ao

povo;

Ambicioso;

Traidor do povo.

Os Símbolos

Saia Verde

A felicidade: a prenda compradas em Paris, com o dinheiro da

venda de duas medalhas do General.

Ao escolher aquela saia para esperar o General, destaca a

“alegria” do reencontro.

Page 16: resumos

O Título/a luz/a noite/o luar

O título surge por duas vezes ao longo da peça:

D. Miguel salienta o efeito dissuador que aquelas execuções

poderão exercer sobre todos os que discutem as ordens dos

governadores.

Na altura da execução, as últimas palavras de Matilde, são de

coragem e de estímulo para que o povo se revolte contra a tirania

dos governantes.

A Luz está associada à vida, à saúde, à felicidade, enquanto a

noite e as trevas se associam ao mal, à infelicidade, ao castigo, à

perdição e à morte.

A Lua, por estar privada de luz própria, na dependência do sol. A

lua, é símbolo de transformação e de crescimento.

A moeda de cinco réis

Símbolo de desrespeito (dos mais poderosos em relação aos mais

desfavorecidos) apresenta-se como represália, quase vingança, quando

Manuel nada Rita dar a moeda a Matilde.

Os Tambores

Símbolo da repressão, provocam o medo e prenunciam com

ambiência trágica da acção.

Memorial do Convento

Saramago, em Memorial do Convento, recorrea um momento da

História e, em forma de narração alegórica, propõe uma reflexão

sobre esses acontecimentos, sobre o comportamento e o destino

humano e sobre um mundo onde há a magia do inexplicável.

Romance histórico, mas também social e de espaço, este romance

articula o plano da História, com o plano da ficção e o plano fantástico.

Page 17: resumos

As vozes do narrador e das personagens proporcionam,

constantemente, uma análise crítica aos tempos representados e da

enunciação, mas, sobretudo, um comentário e uma crítica ao presente,

por onde passa também a História, permitindo confrontar o ser e o

tempo.

Título da Obra

Memorial do Convento aponta para o relato de acontecimentos

históricos relacionados com a construção de um convento (em Mafra),

recorrendo à memória do autor, com o objectivo de inscrever na

memória colectiva um período da nossa História e os heróis que

construiram um monumento que marcou essa época.

A obra é classificada como um romance, onde se aliam os factos

históricos, que podem ser comprovados pela visão oficial da História, à

ficção.

Acção/Estrutura

Memorial do Convento estrutura-se em 25 capítulos, não

numerados, que se organizam em vários planos narrativos: a promessa

do rei mandar construir um convento em Mafra, a construção desse

convento concretizada pelo povo, a construção de uma máquina

voadora que realizará o sonho de um padre de voar e a história de

amor entre um homem e uma mulher.

Pode-se considerar que as duas acções principais são aquelas que

giram em torno da construção do convento de Mafra e da relação

entre Baltasar e Blimunda; acrescenta-se ainda a narrativa da

construção da passarola que funciona como uma linha de acção

secundária.

Estrutura Circular da Obra/Dimensão Simbólica

Page 18: resumos

Memorial do Convento tem uma estrutura claramente circular. É

num auto-de-fé, que se realiza no Rossio, em Lisboa, que Blimunda

encontra pela primeira vez Baltasar. No final da narrativa repete o

percurso que fizera 28 anos antes reencontrando Baltasar (quando

passa por Lisboa pela 7ª vez, após 9 anos de procura) de novo num

auto-de-fé, no Rossio, no qual Sete-Sóis morre queimado na fogueira

da Inquisição.

Esta estrutura tem uma dimensão simbólica, ou seja, Blimunda

encontra o seu homem no momento em que perde a mãe e se torna

autónoma. No final da narrativa, ao separar-se de Blimunda, Baltasar

fragmenta a unidade representada por este par; Blimunda procura-o

durante 9anos, numa demanda que se assemelha a um período de

gestação, após a qual é restabelecida a unidade deste par, quando

Sete-Luas recolhe a vontade de Sete-Sóis, no momento em que este

morre porque a si e à terra pertence, parecendo iniciar outro ciclo de

vida.

O tema do amor

Em Memorial do Convento opõem-se dois tipos de amor: o amor

contractual entre o rei e a rainha e o amor verdadeiro entre Baltasar

e Blimunda. A relação entre o casal real tem como único objectivo dar

um herdeiro à coroa, não existindo qualquer envolvimento afectivo

entre ambos o que acaba por gerar frustração (as infidelidades do rei

e os sonhos da rainha com o seu cunhado). Os encontros entre o casal

real são cheios de protocolo, excesso de roupa, de criados, num

artificialismo que contraria um acto que deveria ser natural e

espontâneo.

Baltasar e Blimunda têm uma relação amorosa plena, cheia de

carícias, jogos eróticos, desinibições, transgredindo as regras sociais

da época. Vivem um amor natural e institivo, onde as palvras são

desnecessárias e o amor parece eterno.

Page 19: resumos

Categorias do Texto Narrativo

Acção

O rei D. João V, Baltasar e Blimunda e Bartolomeu Lourenço

protagonizam o romance.

A acção principal é a construção do Convento de Mafra. Situando-

se no século XVIII, encontra-se um entrelaçamento de dados

históricos, como o da promessa de D. João V de construir um convento

em Mafra e o do sofrimento do povo que nele trabalhou. Conhece-se a

situação económica e social do país, os autos-de-fé praticados pela

Inquisição, o sonho e a construção da passarola, as críticas ao

comportamento do clero e os casamentos dos príncipes.

Espaço

Os espaços físicos priveligiados pela acção são Lisboa e Mafra.

Entre vários lugares da capital ou dos arredores são referidos com

frequência o Terreiro do Paço, o Rossio, S.Sebastião da Pedreira,

Odivelas e Azeitão. Nas referências a Mafra, encontramos a Vela,

onde se constrói o Convento, Pêro Pinheiro, Serra Monte Junto e

outros locais.

O Alentejo surge como um espaço social importante, na medida

em que permite conhecer-se a miséria que então o povo passava.

Personagens

D. João V

É megalómano, infantil, devasso, libertino e ignorante, que não

hesita em utilizar o povo, o dinheiro e a posição social para satisfazer

os seus caprichos.

Anda preocupado com a falta de descendente, apesar de possuir

bastardos. Promete levantar um Convento em Mafra se tiver filhos da

Page 20: resumos

rainha, com quem tem relações para cumprimento do dever, em

encontros frios e programados.

Baltasar Sete-Sóis

Baltasar Mateus é, com Blimunda, uma das personagens mais

interessantes da obra.

Baltasar, depois de deixar o exército, por ficar maneta, chega a

Lisboa como pedinte. Conhece Blimunda, com quem partilhará a vida.

Vai ainda partilhar do sonho do padre Bartolomeu Lourenço, ajudando

a construir a passarola e participando no seu primeiro voo.

Blimunda Sete-Luas

Filha de Sebastiana Maria de Jesus, que fora, pela Inquisição,

condenada e degredada, por ser cristã-nova. Com capacidades de

vidente e possuidora de uma saberdoria muito própria.

Blimunda é uma estranha vidente que vê no interior dos corpos os

males que destroem a vida e consegue recolher as “vontades” que

permitirão o voo da passarola. Por amar Baltasar recusa usar a magia

para conhecer o sseu interior.

O poder de Blimunda permite ver o que está no mundo, as

verdades mais profundas que o sustentam.

Padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão

O sonho da passarola e a sua realidade apresentam o padre

Bartolomeu Lourenço como um homem que só conseguirá evitar a

Inquisição pela amizade que lhe tem o rei.

Ajudado por Baltasar e Blimunda, o padre Bartolomeu Lourenço

construiu a sua obra.

Foi forçado a fugir à Inquisição por possível adesão ao judaísmo

ou por se ter envolvido num caso de bruxaria. Morreu em Toledo.

Povo

O povo trabalhador construiu o convento de Mafra, à custa de

muitos sacrificios e mesmo de algumas mortes. Definido pelo seu

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trabalho, pela sua miséria física e moral, pela sua devoção, este povo

humilde surge como verdadeiro obreiro da realização do sonho de D.

João V.

Clero

A hipocrisia e a violência do clero revela-se em rituais que em vez

de elevarem o espírito acentuam a degradação moral e corrupção

religiosa (autos-de-fé, procissões da Páscoa e procissão do Corpo de

Deus).