resenha crítica do livro o que é direito

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  • 7/28/2019 Resenha crtica do livro O que Direito

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    DIREITO E LEI necessrio dizer que as palavras lei e direito possuem significados diferentes. Tanto que osautores ingleses e americanos falam em Rightpara Direito e lawpara lei.Numa anlise sociolgica, a lei emana do Estado para satisfazer os interesses das classes

    dominantes. Estas comandam o processo econmico, na qualidade de proprietrios dos meiosde produo. O Direito assim tratado como o reflexo dos fatores reais de poder.

    O Estado tenta nos passar a idia que no h nada acima do que est codificado (legislado).

    No h contradies e todo o poder atende o povo. Nem numa legislao socialista atransformao social est completa, pois carecem de autenticidade e adequao jurdica.Desde j surge a indagao central do livro: o que o Direito? E para tal questo no h umaresposta. O Direito no algo acabado e nem mesmo perfeito, porque provm da sociedadeque est em constante mutao.

    IDEOLOGIAS JURDICAS

    Inicialmente denota-se o significado da palavra ideologia empregada no texto, como o conjuntode idias duma pessoa ou grupo, o fundamento de suas opinies. So reunidas em trscategorias: ideologia como crena; ideologia como falsa conscincia e ideologia comoinstituio.A ideologia como crena no se faz referncia especial s crenas religiosas. H diferenaentre crenas e idias. Ortega considerava idias como algo que adquirimos com o estudo esenso crtico. J as crenas representam opinies pr-fabricadas, que no vm com o contatocom a sociedade. Enfim, nem toda crena ideologia, mas toda ideologia se manifesta comocrena.A ideologia como falsa crena representada em exemplos como o do racista que prega asuperioridade de uma raa em funo de outra, do machista que se acha melhor em tudo que a

    mulher. Desta forma deforma elementos da realidade. Ela cega parte da inteligncia, para forjaruma imagem que lhes seja mais favorvel.

    O marxismo props a explicao das origens da ideologia relacionada com os interesses econvenincias dos que controlam a vida social. Da ideologia se resulta uma espcie demaniquesmo, de um lado os bons e dos outros os maus. A formao ideolgica oriunda dascontradies da estrutura scio-econmica.

    Assim as idias aceitas podem mudar conforme a classe que esteja no poder. Tanto que aburguesia de outrora defensora do direito natural, foi somente alcanar o que pretendia quepassou a defender o positivismo jurdico. A histria comprova: as idias guiam massas,distorcem a realidade, tudo para alcanar tais objetivos. Mas segundo Adam Schaff, a verdade apenas um limite ideal, como uma srie matemtica, um limite que efetivamente vai recuando

    cada vez mais medida que avanamos. E tudo isso conjuntamente com o poder das leistornam esse Estado de Direito uma verdadeira mentira, porque legitimam algo usado para adominao.

    Principais modelos de ideologia jurdicaAs ideologias situam-se entre o direito natural (jusnaturalismo) e o direito positivo (positivismo)e merecem destaque. Este preconizando a ordem estabelecida e aquele como uma ordemjusta. O homem com o ser social, que vive em comunidade, necessrio que exista algumpara dizer o que lcito ou ilcito. Para o positivista a ordem a justia.O jusnaturalismo como uma ideologia mais antiga, acredita que as normas devem provir de

    algum padro superior. Ele no cria uma superao do positivismo e sim uma contradio. O

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    Jusnaturalismo afirma que existe um Direito natural, baseado em princpios invariantes,imortais e constantes, que deveria sobrepor-se ao Direito positivoDe modo, as normas impem padres de conduta, com ameaa de sanes organizadassendo assim o mago do Direito positivo. O Direito um sistema de normas. So destacadasvrias espcies de positivismo: positivista legalista (d a lei completa superioridade);

    positivismo historicista (mergulha nas normas jurdicas no escritas, dos mores, dos costumesda classe dominante, caso da common law). Cabe ressaltar que o direito aparece ento comouma forma de controle social. Assim as regras tais estabelecidas s podem ser alteradassegundo as vontades ditadas por essa classe dominante. Todas as diversas formas depositivismo tm como ponto de partida que a lei e o Estado.

    Somente o Estado detm o poder exclusivo de criar leis para manter tal ordem. Este tem opoder de organizao alm da neutralidade afirmada por Kelsen. Outro mimo da ideologiapositivista a segurana jurdica por ela criada.O direito natural tambm possui espcies: o direito natural cosmolgico o direito comoresultado da natureza, no cosmos (universo); o direito natural teolgico (direito que predominouna Idade Mdia e deduzia a vontade de Deus). Tal direito estruturou a aristocracia feudal. A

    burguesia contestou tal forma aristocrtica e trouxe o jusnaturalismo antropolgico, mas s foialcanar o poder que se bandeou para o lado positivista, a fim de garantir suas conquistasformalmente atravs da Revoluo Francesa.

    As ideologias refletem certas caractersticas do Direito, embora deformadas. Os positivistasconservam o Direito como a ordem social estabelecida pelas classes dominantes. J osjusnaturalistas insistem num critrio de avaliao de normas: a justia social.S a dialtica poderia unificar o discurso da positividade e Justia, da elaborao de normas ede sua legitimidade, assim o Direito positivo no deve ser apoiado por complementos do DireitoNatural.

    SOCIOLOGIA E DIREITO

    No se refere sociologia burguesa de Comte, mas sociologia histrica de Marx e Engels. Asociologia a disciplina mediadora da ordem e dos fatos sociais. As abordagens histrica esociolgica so complementares. (...) toda Histria realmente cientfica Histria social; e todasociologia realmente cientfica Sociologia Histrica. (p.71)O Direito para a sociologia ento, nada mais que a integrao do fenmeno jurdico na vidasocial. Podemos falar em Sociologia do Direito e em Sociologia Jurdica. Enquanto aquelaretrata e estuda a base social de um direito especfico esta examina o Direito em geral comoelemento do processo sociolgico em qualquer estrutura. As duas formas realizam umintercmbio. A sociologia do direito no estudo de casos particulares de casos sociolgicos e asociologia jurdica versando sobre um aspecto jurdico na vida social. De forma geral servemcomo intrpretes das ideologias presentes.

    O pensamento sociolgico define duas correntes: a da "estabilidade, harmonia e consenso" e ada "mudana, conflito e coao".A primeira explica a raiz social dos positivismos jurdicos. Basicamente, o espao social,composto por relaes estveis de grupos social tendendo harmonia, produz costumes quelevaro as normas sociais consensuais e legtimas; estas normas do origem ao Estado queefetua o controle social, aceitando somente as mudanas dentro das regras que ele mesmocria. Mas isso somente traz a legitimao das instituies que positivam tais ordenamentos.Assim acredita-se que qualquer tipo de mudana social limitada e controlada. O direitopositivo torna-se o intocvel. Tudo isso faz com que contribua-se para o domnio burgus. ummodelo conservador.

    Segundo o modelo sociolgico da mudana o espao social ocupado por uma srie de

    grupos em conflito, o que torna o padro da norma impossvel porque esses grupos tendem aengendrar a supremacia dos seus valores. Isso torna precria a legitimidade da norma. O

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    Estado, neste contexto, ambguo, agindo, num sistema indefinido, de forma repressivaexercendo o controle social dominante. o modelo do pequeno burgus. Haveria um Direitoalm do modelo estatal (organizao social), haveria o direito expresso nas contra-instituies.

    A DIALTICA SOCIAL DE DIREITO

    Existe uma sociedade internacional e tambm nela uma dialtica. Sua infra-estrutura scio-econmica baseia-se nas reas de influncia. A sociedade internacional estava dividida entrecapitalistas, socialistas e no-alinhados. Havia uma coexistncia pacfica. Esta infra-estruturainternacional, ao contrrio das nacionais, heterognea, pois cada pas possui o seu modo deproduo especfico. J nas sociedades nacionais aparecem o domnio classista e as divisesde grupos (sejam eles tnicos, religiosos, sexuais).A luta de classes movimenta a dialtica social. As sociedades so compostas por forascentrfugas, que buscam a mudana (disperso), e foras centrpetas, responsveis pelamanuteno (coeso). Desta forma as lutas entre as classes sociais provocam a existnciadestas foras. Desta forma o autor prope um modelo dialtico que explica o comportamentoda sociedade englobando a existncia de foras contrrias.

    A base (infra-estrutura) est sob o domnio da burguesia, dos detentores dos meios deproduo. A partir de ento, eles dominam os meios de comunicao, invocando princpiosideolgicos que refletem na superestrutura, no Direito com rtulo de cultura, para atender osanseios dessa mesma classe. No mais, utiliza-se de um sistema de representao quelegitimam o que fazem ou deixam de fazer. No h mudana, porque essa base burguesa quecomanda as regras do jogo. A massa passiva de controle.

    Essa luta para impedir tal crculo vicioso tem raiz internacional. O direito entre naes tende aficar preso ao sistema de foras dominantes, porque se sabe que h explorao em razo deoutros, mas mudar quem manda no depende dos oprimidos. Pois, em cada nao dosmilhares de oprimidos, h tambm aqueles que se sujeitam as regras dos dominadores, o quedispersa o esprito de revoluo. Mesmo numa sociedade socialista no so suprimidas as

    classes. Quando se fala em Direito e Antidireito no se referem a duas entidades abstratas,mas sim ao processo dialtico.Paralelamente a essa organizao social, surge tambm uma sociedade desorganizada(exercendo uma atividade anmica, os espoliados e oprimidos criam as suas prpriasinstituies, mores, costumes e normas) assim as normas da cultura dominante no imperamefetivamente, criando-se a partir de ento um sistema ilegtimo, tal como o poder paralelo dasfavelas. O que tudo isso pode acarretar? A reforma ou a revoluo.Desde o estudo do homem como um ser social at a passagem pelos contratualistas e depoispor Marx uma coisa fica claro em comum dentre tais pensadores: a liberdade essncia dohomem. A partir de ento buscou-se sempre um direito que atendesse aos interesses cada vezmaiores para manter tais liberdades. Esquece-se de que nem todos so iguais e para acalentar

    as massas foi criada uma igualdade formal, baseada num papel.LYRA FILHO, Roberto. O que Direito. Editora Brasiliense: So Paulo, 1982.Disponvel em http://www.investidura.com.br/biblioteca-

    juridica/resenhas/filosofiadodireito/295-resenhaoqueedto