resenha a luta por uma concepção social da língua
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Sociolinguística: uma introdução critica Vol.02, 12/2004.
Resenhado por José Roberto Pinto (Universidade Geraldo Di Biase)
CALVET, Louis-Jean. Tradução de Marcos Marcionilo. Sociolinguística: uma introdução
crítica. São Paulo: Parábola Editorial, 2002.
INTRODUÇÃO
Sociolinguística: uma introdução crítica. A obra de Louis-Jean Calvet1 tem por objetivo
apresentar os princípios básicos da teoria Sociolinguística. O livro se inicia com uma
apresentação do pesquisador Marcos Bagno2. Nela, resalta a importância da publicação para o
meio acadêmico, principalmente os relacionados ao estudo de línguas. Na introdução, o autor
da obra em questão deixa claro que a linguística surgiu com o desejo de Saussure3 em criar
um modelo, a língua, a partir dos atos de fala. Além de destacar as diversas correntes
filosóficas a respeito dos fenômenos da língua e a sociolinguística. O autor deixa evidente a
importância de se considerar nos estudos linguísticos a afirmação de William Labov4 de que,
se a língua é um fato social, a linguística então só pode ser uma ciência social. Finaliza essa
parte ao dizer que a Sociolinguística floresce, multiplica suas abordagens e terrenos. Para
Jean, o seu livrinho ocupa-se de trazer um pouco de ordem a essa profusão. Essa abundância,
evidentemente, remete às muitas vertentes filosóficas dos estudos linguísticos. O livro, com
176 páginas, está dividido em seis capítulos – organizados em tópicos bem generosos em suas
explicações. Também destacamos uma parte dedicada à conclusão; bibliografia; guia de
leitura; glossário e índice de nomes.
1 Nascido na Tunísia, Louis-Jean Calvet é doutor em linguística pela Sorbonne, doutor em letras e ciências humanas pela Universidade de Paris. É professor da Sorbonne (Université René Descartes), onde ensinou sociolinguística até 1999. Atualmente é professor na Universidade de Provence (Aix-Marseille ). No Brasil, ele publicou Sociolinguística — uma introdução crítica (Parábola Editorial, 2002)2 Marcos Bagno é professor da Universidade de Brasília (UnB). Escritor, poeta e tradutor, se dedica à pesquisa e à ação no campo da educação linguística, com interesse particular no impacto da sociolinguística sobre o ensino.3 Linguista suíço (26/11/1857-22/2/1913). Antecipa os princípios da ciência linguística do século XX com sua análise sobre a estrutura da linguagem. Suas ideias estão expostas no livro Curso de Linguística Geral (1916), organizado por Charles Bally, Albert Sechehaye e Albert Riedlinger, com base nas anotações de aulas feitas pelos alunos de Saussure. A obra apresenta a teoria do signo linguístico, resultante da combinação entre um significante (o componente sonoro) e um significado (o conceito). Morre em Genebra.4 William Labov [*1927] é professor de linguística na University of Pennsylvania. Desenvolve pesquisas nas áreas de sociolinguística, variação e mudança linguísticas e dialetologia. Suas obras incluem Padrões sociolinguísticos (Parábola Editorial, 2008[1972]); Fundamentos para uma teoria da mudança linguística (Parábola Editorial, 2006[1969]); Language in the Inner City (1972); Principles of Linguistic Change (1994). É diretor do Atlas of North American English, coeditor de Language Variation and Change, presidiu a Linguistic Society of America (1979) e é membro da National Academy of Science.
José Roberto Pinto - Rio de Janeiro, 24 de Março de 2013 E-mail [email protected]
Sociolinguística: uma introdução critica Vol.02, 12/2004.
Resenhado por José Roberto Pinto (Universidade Geraldo Di Biase)
CALVET, Louis-Jean. Tradução de Marcos Marcionilo. Sociolinguística: uma introdução
crítica. São Paulo: Parábola Editorial, 2002.
A parte que faz a apresentação da obra registra a importância de ser uma literatura de estudo e
pesquisa e em sua introdução, o autor revela que a Linguística nasceu das ideias do
pesquisador franco-suíço Ferdinand de Saussure.
RESENHA
Como havíamos dito anteriormente, o livro de Calvet se organiza em seis
capítulos, dos quais, o capítulo primeiro é alvo de nosso trabalho.
O capítulo primeiro da obra de Jean Calvet tem como título principal “A luta por
uma concepção social da língua” e é ordenado em cinco tópicos finalizados por uma
conclusão que encerra o capítulo.
No primeiro tópico, intitulado “Saussure/Meillet: a origem do conflito” busca-se
distinguir concepções conflitantes entre ambos. Para Meillet, o caráter social da língua a
inclui como um fato social e o filia às concepções do sociólogo Émile Durkhein. Para Jean
Calvet, Saussure e Meillet se distinguem quando este considera o caráter social da língua, e
sua obra converge para uma abordagem interna e de uma abordagem externa dos fatos da
língua e de uma abordagem sincrônica e diacrônica desses mesmos fatos. Quando Saussure
opõe linguistica interna e linguistica externa, aquele as associa. Meillet se vê em conflito entre
fato social e o sistema que tudo contém: para ele não se chega a compreender os fatos da
língua sem fazer referência à diacronia, à historia. Enquanto Saussure busca elaborar um
modelo abstrato da língua. “por ser a língua um fato social resulta que a linguistica é uma
ciência social, e o único elemento variável ao qual se pode recorrer para dar conta da variação
linguistica é a mudança social” diz Meillet. Assim, segundo tais ideias se aproximam em
muito das concepções de William Labov.
O próximo item, “As posições marxistas acerca da língua”, revela-nos à língua
como instrumento de poder e sempre marcada pela divisão da sociedade em classes. Em
estudos realizados por Lafargue5 encontramos a primeira tentativa de uma análise sociológica
da linguagem. Das maiores discussões nesse item, o pensamento de Nicolai Marr parece
5 Lafargue, Paul. L.J.Calvet, Marxisme ET linguistique.Paris, Payot, 1977,p.144.
José Roberto Pinto - Rio de Janeiro, 24 de Março de 2013 E-mail [email protected]
Sociolinguística: uma introdução critica Vol.02, 12/2004.
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CALVET, Louis-Jean. Tradução de Marcos Marcionilo. Sociolinguística: uma introdução
crítica. São Paulo: Parábola Editorial, 2002.
permear a historia linguistica na URSS. O pensamento de Marr preconizava uma língua única
com a ideia de que as línguas refletem a luta de classe e que o advento mundial do socialismo
pudesse provocar o aparecimento de uma única língua. Calvet encerra esta parte do capitulo I
(um), afirmando que a história linguistica na União Soviética só fez recuar o ponto de vista
sociológico na linguística e que não pode haver sociolinguística sem sociologia.
No item três do capitulo I(um), “Bernstein e as deficiências linguística”, a
situação sociológica dos falantes, que fora a miúdo vista no marxismo, será exposta por Basil
Bernstein de forma a dar início à outras concepções linguísticas. Em certo sentido, ao criar os
conceitos de código restrito e elaborado, em referência às classes dos meios desfavorecidos e
das classes favorecidas, mostra origem no pensamento das formas de solidariedade
distinguidas por Durkhein. Jean Calvet esclarece nesse item a importância de Basil na
história da sociolinguística, quando diz ser o pesquisador o catalisador de uma aceleração
rumo a uma concepção social da língua.
O item quatro (4), “William Bright: uma tentativa de síntese”, mostra uma
tentativa de se definir sociolinguística. Mas Bright, entendendo linguística como relações
entre linguagem e sociedade, deixa uma concepção vaga, e esclarece que a sociolinguística
tem por tarefa revelar que a variação ou a diversidade não é livre, mas correlata às diferenças
sociais sistemáticas6. O pesquisador estabelece algumas dimensões para a sociolinguística, e a
interação em pelo menos duas dessas dimensões revela-se o objeto de estudo da
sociolinguística. Para ele, os fatores condicionantes da diversidade linguistica estão na
identidade social do falante, a identidade social do destinatário e o contexto. Tais fatores, traz
a ideia básica da teoria da comunicação e, permite à Bright a partir de quatro dimensões
definir os fatores que condicionam a diversidade linguistica. As dimensões são: - a oposição
sincronia/diacronia; - os usos linguísticos e as crenças a respeito dos usos; - a extensão da diversidade, como
uma tríplice classificação: diferença multidialetal, multilingual ou multissocietal; - as aplicações da
sociolinguística, com mais uma classificação em três partes: a sociolinguística como diagnóstico de estruturas
sociais, como estudo do fator sócio-histórico e como auxílio ao planejamento. Assim, com este
pensamento, o pesquisador entrevê a sociolinguística anexa à linguistica, sociologia e
6 William Bright (org), Sociolinguistics, Proceedings of the UCLA. 1966,p.11
José Roberto Pinto - Rio de Janeiro, 24 de Março de 2013 E-mail [email protected]
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CALVET, Louis-Jean. Tradução de Marcos Marcionilo. Sociolinguística: uma introdução
crítica. São Paulo: Parábola Editorial, 2002.
antropologia. Tal pensamento de subordinação, aos poucos tende a desaparecer na obra de
Labov.
É no item cinco (5), “Labov: a sociolinguística é a linguistica que Jean Calvet
deixa claro o que distingue Labov dos demais pesquisadores da língua. Mesmo que Meillet
tenha levado a sério a definição da língua como fato social, este somente trabalhou com
línguas mortas. Labov por outro lado, trabalhou continuamente com situações
contemporâneas concretas. Seu trabalho resultará mais tarde na corrente filosófica
“linguistica variacionista”. O laço que une Labov à Meillet é a concepção da “evolução da
linguagem no seio do contexto social formado pela comunidade linguistica”. A diferença
entre linguistica e sociolinguística não existe, mesmo quando a sociolinguística leva em conta
o aspecto social das línguas. Por outros termos, a sociolinguística é a linguistica.
Finalizando o capitulo I (um), item seis (6), intitulado “conclusão”, Louis-Jean
Calvet revela que os anos de 1970, ao eclodir uma infinidade de publicações resaltando a
sociolinguística. – vão constituir uma virada para que a sociolinguística seja vista
efetivamente como uma ciência linguistica a promover uma concepção social da língua.
O livro como um todo, de aspecto didático, proporciona uma leitura intuitiva e
instrutiva, agradável e reveladora para os leitores havidos pesquisadores dos fenômenos
linguísticos. Desenvolvendo-se, de maneira geral, com clareza e objetividade traz
considerações importantes na apresentação feita por Marcos Bagno, quando afirma ser o livro
a primeira publicação de introdução à sociolinguística e um instrumento de denuncia contra a
concepção de língua como instrumento de dominação e de exclusão social.
O capitulo resenhado, “A luta por uma concepção social da língua”, é fonte
importante de informação para pesquisadores da língua e busca formar o entendimento de que
a língua sendo um fato social só pode ser considerada heterogênea em suas manifestações
dentro dos variados contextos sócias de realização.
O valor da obra não pode ser avaliado por uma simples resenha do primeiro
capitulo, mas, como conhecedor da obra, posso garantir a excepcionalidade do livro de Louis-
Jean Calvet, por nos conceder literatura de tão grande valor para os estudantes, professores e
pesquisadores da língua. Sendo assim, recomendo a todos esta magnífica obra.
José Roberto Pinto - Rio de Janeiro, 24 de Março de 2013 E-mail [email protected]