representação geraldo da camino

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR PRESIDENTE DO E. TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL “Quero leis que governem os homens e não homens que governem as leis.” Honório Lemes (1864 1930), epitáfio do tropeiro da liberdade sob o tumulo no cemitério de Rosário do Sul RS. JOÃO LUIZ VARGAS, brasileiro, advogado inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil sob o n.º 25.782/ RS, em gozo dos seus Direitos Políticos, com escritório profissional sito na Rua dos Andradas n.º 1.001/ 1.804, bairro: centro histórico, cidade de Porto Alegre/ RS, vem, respeitosamente, à presença de V. Exa., apresentar: RECLAMAÇÃO DISCIPLINAR vem perante Vossa Excelência, com base no art.105, Parágrafo único, inciso II da Constituição Federal, Regimento Interno do Tribunal de Contas, em desfavor de: GERALDO DA CAMINHO, agente Político, membro do Ministério Público Especial atuante junto ao Tribunal de Contas, pelos fatos e fundamentos de direito que passa a expor: O comunicante, por ser egresso dessa colenda Casa, teve ciência da publicidade e indevida promoção pessoal ou presente publicitário dado ao representado, em nítida hipótese que em tese - conforta apuração de improbidade administrativa. Emérito Presidente, não é crível que a Revista Oficial do Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Sul Ano III Edição III NOV/ 2013 indevidamente autorize a publicidade oficial autopromocional ou I DA RESENHA FÁTICA E FUNDAMENTOS

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Page 1: Representação geraldo da camino

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR PRESIDENTE DO E. TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

“Quero leis que governem os homens e não

homens que governem as leis.” Honório Lemes

(1864 – 1930), epitáfio do tropeiro da liberdade

sob o tumulo no cemitério de Rosário do Sul RS.

JOÃO LUIZ VARGAS, brasileiro, advogado inscrito

na Ordem dos Advogados do Brasil sob o n.º 25.782/

RS, em gozo dos seus Direitos Políticos, com

escritório profissional sito na Rua dos Andradas n.º

1.001/ 1.804, bairro: centro histórico, cidade de Porto

Alegre/ RS, vem, respeitosamente, à presença de V.

Exa., apresentar:

RECLAMAÇÃO DISCIPLINAR vem perante Vossa

Excelência, com base no art.105, Parágrafo único,

inciso II da Constituição Federal, Regimento Interno

do Tribunal de Contas, em desfavor de:

GERALDO DA CAMINHO, agente Político, membro

do Ministério Público Especial atuante junto ao

Tribunal de Contas, pelos fatos e fundamentos de

direito que passa a expor:

O comunicante, por ser egresso dessa colenda Casa,

teve ciência da publicidade e indevida promoção pessoal ou presente

publicitário dado ao representado, em nítida hipótese que – em tese - conforta

apuração de improbidade administrativa.

Emérito Presidente, não é crível que a Revista Oficial

do Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Sul – Ano III – Edição III –

NOV/ 2013 indevidamente autorize a publicidade oficial autopromocional ou

I – DA RESENHA FÁTICA E FUNDAMENTOS

Page 2: Representação geraldo da camino

presente publicitário do agente público GERALDO DA CAMINO, ainda mais

quando se trata daquele que, ao menos por dever legal, deveria coibir as

infrações às regras, integrando o Ministério Público junto ao Tribunal de

Contas, não podendo se beneficiar de presente publicitário com dinheiro

público, enojando o requerente e a sociedade.

Basta simples leitura da publicação para se identificar

o excesso cometido, se sentindo o requerente lesado, enquanto cidadão, da

indevida promoção de agente público, o que é Constitucionalmente vedado,

sendo que o Erário foi inegavelmente prejudicado com nítida publicidade

autopromocional ou presente publicitário, ensejando a imediata instauração de

procedimento interno e restituição de valores ao Erário.

Se consigne: a publicidade oficial autopromocional do

agente público é expressamente vedada pela Constituição Federal em vigor,

que dispõe no §1º do inciso XXI de seu art. 37, que “A publicidade de atos,

programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter

caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo

constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção

pessoal de autoridades ou servidores públicos.” (grifos nossos).

Por sua vez, o §4º do mesmo inciso e artigo,

estabelece que “Os atos de improbidade administrativa importarão a

suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade

dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei,

sem prejuízo da ação penal cabível.”

Editada para atender o aludido comando

constitucional, dispondo sobre os atos de improbidade administrativa e suas

respectivas sanções, a Lei nº 8.429, de 2 de junho de 1992, de natureza civil e

caráter sancionatório, possibilita o enquadramento dos agentes públicos

responsáveis pela publicidade autopromocional nos seus dispositivos nas

seguintes hipóteses: a) de publicidade oficial autopromocional (art. 9º,

inciso XII); b) de presente publicitário (art. 9º, inciso I); e c) de publicidade

autopromocional com conteúdo oficial custeada com recursos do próprio

agente (art. 11, caput).

Page 3: Representação geraldo da camino

No caso em comento está flagrante o desrespeito à

Sociedade e à Carta Magna, ao passo que indevidamente se faz publicidade

autopromocional de agente público, o que merece ser apurado.

Veja-se que a Revista do Tribunal de Contas

(responsável pelo Julgamento das Contas Públicas) autorizou indevidamente a

promoção pessoal de agente público com o dinheiro público, mediante

presente publicitário.

Em casos semelhantes, mais propriamente aos

PREFEITOS, esta Corte tem determinado a restituição dos valores ao Erário,

como se identifica do Julgamento abaixo proferido (doc. anexo):

Item 8.3 – Despesas com publicidade que caracterizam promoção pessoal. Sugestão de débito de R$ 8.000,00. (...) No caso, a vinculação da despesa com publicidade permanece sendo com a publicação feita na edição Ano 1 – Nº 2, onde constam, além de notícias, fotos, entrevistas e referências elogiosas ao Gestor Municipal, e do trabalho desenvolvido, inclusive as ações sociais praticadas pela sua esposa. Não foram apresentadas provas incontestáveis que o valor pago foi somente para a divulgação do potencial turístico de Triunfo, veiculado na edição Ano 1 - Nº 7, como alegado em sede de esclarecimentos. Assim, impõe-se débito no valor de R$ 8.000,00, como sugerido pela Área Técnica e Agente Ministerial, porquanto foram utilizados recursos públicos para a promoção pessoal do Administrador, em ofensa ao § 1º do artigo 37 da Constituição Federal. (...) (Processo nº: 600-02.00/10-6. Data da Sessão: 24-01-2013 Órgão Julgador: Segunda Câmara. Relator: Conselheiro PEDRO FIGUEIREDO)

Como visto, em casos idênticos de indevida promoção

pessoal de agentes públicos se tem determinado a imposição de multa, sem

olvidar a ação por improbidade administrativa. Não é porque o beneficiado é

membro do Ministério Público que não se deve apurar a irregularidade.

Não se pode compactuar com a utilização leviana da

imprensa Oficial para se fazer promoção pessoal com dinheiro público. Está

evidente o excesso cometido, sendo que o requerente, enquanto cidadão, se

Page 4: Representação geraldo da camino

envergonha e requer restituição aos cofres públicos da publicidade promocional

do agente público, que justamente deveria coibir esse tipo de propaganda.

Está evidente que o agente público se aproveitou dos

seus contatos para dar publicidade pública de autopromoção ou de presente

publicitário, acrescentando o seu nome, a sua imagem ou qualquer símbolo

que o identifique pessoalmente, ao invés de tão-somente cumprir o disposto na

norma constitucional.

Indevidamente, o representado aproveita-se da

propaganda oficial, custeada pelo erário, para tirar proveito pessoal ilegal,

enriquecendo-se ilicitamente, porquanto deixou de pagar de seu bolso pela

autopromoção, aproveitando-se do exercício de cargo público.

À propósito, dispõe o inciso XII de seu art. 9º, que

constitui ato de improbidade administrativa que importa em enriquecimento

ilícito, “usar, em proveito próprio, bens, rendas, verbas ou valores integrantes

do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1º desta Lei”, dentre

as quais estão arrolados os órgão da “administração direta, indireta ou

fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito

Federal, dos Municípios, de Território, de empresa incorporada ao patrimônio

público ou de entidade para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou

concorra com mais de cinqüenta por cento do patrimônio ou da receita anual”.

Outrossim, mesmo quando veiculados pela

imprensa oficial a publicidade também tem os seus custos, a serem arcados

pelo erário, fato de não isenta o agente público de responsabilização na

seara da improbidade administrativa.

As empresas de publicidade, os órgãos de

imprensa e os seus dirigentes, por sua vez, têm o dever jurídico de recusar a

produção e a divulgação da propaganda oficial autopromocional, uma vez que,

se assim não o fizerem, estarão incorrendo nas mesmas sanções do agente

ímprobo, no que couber, diante do exposto no art. 3º da Lei nº8.429/92, pelo

fato de terem concorrido para a prática de improbidade administrativa, sendo a

presente representação em desfavor exclusivamente do membro do Ministério

Público Geraldo Da Camino.

Page 5: Representação geraldo da camino

O dispositivo ainda prevê as hipóteses de indução

e de beneficiamento sob qualquer forma direta ou indireta para o

enquadramento de estranhos ao serviço público nas disposições da LIA.

De qualquer modo, o agente público representado

autorizou o “presente publicitário”, aceitando que a sua publicidade auto-

promocional seja custeada por recursos privados de quem “tem interesse,

direto ou indireto, que possa ser atingido ou amparado por ação ou omissão

decorrente das atribuições do agente público” (inciso I, do art. 9º da Lei

nº8.429/92).

Para a caracterização do “presente” é preciso a

sua aceitação por parte do agente público ou de terceiros a ele vinculados, e

que seja ao menos razoável ao agente público perceber que o “ofertante” tem

qualquer interesse direto ou indireto, que possa ser atingido ou amparado por

ação ou omissão decorrente de suas atribuições.

O dispositivo busca coibir que o agente público

aproveite-se do cargo para barganhar favor, que pode ser o “presente”

publicitário (especialmente em ano eleitoral), em troca de determinado

benefício ao agente privado decorrente do exercício da função pública,

enriquecendo-se ilicitamente.

A publicidade oficial autopromocional do agente

público também infringe, concomitantemente, o art. 11, caput, da Lei

nº8.429/92, por violação ao princípio administrativo da impessoalidade, por cuja

estrita observância está obrigado a velar, no trato dos assuntos que lhe são

afetos (art. 4º), sendo ocorrente no caso em comento.

É que, como nos adverte FÁBIO MEDINA

OSÓRIO (in Improbidade Administrativa, 2ª ed. ampl. e atual., Porto Alegre:

Síntese, 1998, pp.192/193), a publicidade oficial deverá ter sempre caráter

educacional, informativo ou de orientação social, dela não podendo

constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção

pessoal de autoridades ou servidores públicos.

Coisa completamente diferente, segundo o nosso

entendimento, é a publicidade privada e autopromocional custeada pelo próprio

agente público e sem qualquer vinculação com a sua atividade oficial (sem

conteúdo oficial), na qual são enfatizados apenas aspectos de seu curriculum

Page 6: Representação geraldo da camino

vitae, como as suas virtudes como intelectual (publicações, premiações, títulos

universitários, etc), como artista, como atleta, os cargos de relevo ocupados

durante a sua vida, bem como o seu perfil como cidadão e pai de família, etc.

Sustenta ainda o brilhante publicista gaúcho que

no art. 11, caput, também está incursa a autoridade que se autopromove

através da publicidade oficial ainda quando o erário não tiver pago por ela. É

preciso verificar, contudo, no caso da publicidade ter sido custeada por terceiro,

se este tinha o “interesse, direto ou indireto, que possa ser atingido ou

amparado por ação ou omissào decorrente das atribuições do agente público”,

hipótese que caracterizaria o “presente” publicitário (inciso I do art. 9º).

O que se falar da publicação?! Quanto a pertinência e

relevância à Sociedade Gaúcha?! Está evidente o excesso e autopromoção ou

presente publicitário.

À propósito, a Lei da Improbidade Administrativa

prevê, no seu artigo 12, inciso I, como sanções aplicáveis às hipóteses de

publicidade oficial autopromocional(art. 9º, XII) e do presente publicitário (art.9º,

I), “perda dos bens e valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio,

ressarcimento integral do dano, quando houver, perda da função pública,

suspensão dos direitos políticos de oito a dez anos, pagamento de multa civil

de até três vezes o valor do acréscimo patrimonial e proibição de contratar com

o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta

ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja

sócio majoritário, pelo prazo de dez anos.”

Motivos pelos quais se oferta a presente

representação, para que surtam seus jurídicos e legais efeitos, condenando-se

o agente político que recebeu o presente publicitário ou se autopromoveu

restituir ao Erário os valores da publicação, em valores não inferiores à

R$20mil, como se identifica da iterativa jurisprudência desta Egrégia Casa.

Page 7: Representação geraldo da camino

ISSO POSTO, requer a esta Egrégia Corte sejam

apurados os fatos acima narrados, instaurando-se o competente processo legal

administrativo disciplinar para aplicação da penalidade cabível e prevista em lei

para a espécie, oficiando-se inclusive o Conselho Superior do Ministério

Público para que adote as medidas legais pertinentes, entre as quais ação de

improbidade administrativa.

Para demonstração do alegado, requer a produção

de todos os meios de prova em direito admitidos, em especial, a prova

documental anexa.

Termos em que, D. e A.,

E. Deferimento.

Porto Alegre, 03 de fevereiro de 2014.

Dr. João Luiz dos Santos Vargas OAB/RS 25.782

II – DOS PEDIDOS