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    CARLOS MARCELO

    O F I LH O D AR E V O L U Ç Ã O

     

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         R     U     S     S     O

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    O FILHO DA REVOLUÇÃO

    CARLOS MARCELO

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    3RENATO RUSSO

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    Copyright © 2009, Carlos Marcelo Carvalho

    DIREÇÃO DE ARTE E DESIGN[Retina 78]

    ASSISTENTE DE DESIGNMaria de Fatima Fernandes

    COPIDESQUEJorge Amaral

    REVISÃORebeca Bolite

    PESQUISAFernanda PassarelliKlecius Henrique RibeiroTiago Bruno de Faria

    REVISÃO TÉCNICALuís Reznik

    PRODUÇÃO EDITORIALJuliana Romeiro

    A citação reproduzida na contracapa é um trecho doartigo “Rockeiros colonizados, mas atentos, conscientes”,assinado por Renato Russo e publicado no Jornal de Brasíliano dia 22 de abril de 1983.

    Dados Internacionais de Catalogação na Publicação[Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil]

    Este livro foi composto em em Adobe Garamond e impressopela Ediouro Gráfica sobre papel offset 120g para a Agir

    em maio de 2009.

    Todos os direitos reservados àAGIR EDITORA LTDA. – Uma empresa Ediouro Publicações S.A.Rua Nova Jerusalém, 345 – CEP 21042-235 – Bonsucesso – Rio de Janeiro – RJTel.: (21) 3882-8200 fax: (21) 3882-8212/8313

    M263R Marcelo, Carlos, 1970-

      Renato Russo : o filho da revolução / Carlos Marcelo. - Riode Janeiro : Agir, 2009.

    ISBN 978-85-220-0907-7 

    1. Russo, Renato, 1960-1996. 2. Músicos - Brasil - Biogra-fia. I. Título.

    09-1090. CDD: 927.8164  CDU: 929:78.067.26

    1960 - 1996

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    Para Carlos e Carmem, os primeiros 

     fornecedores de livros e lembranças.

    E para Tarcila, João Henrique, Maria Alice e Maria Isabel,que me fazem enxergar o tempo e o amor.

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    PRÓLOGO

    Brasília, junho de 1988

    Renato submerge.Deixa o corpo escorregar na banheira. Quilos de sal grosso foram adicionados à águaquente. Enfim, um momento de paz.Trancado no banheiro do apartamento onde morou por doze anos, ele não ouve otelefone tocar na sala. A irmã, Carmem Teresa, corre para atender. Uma voz mascu-lina grita do outro lado da linha:

    — A gente vai jogar uma bomba aí! Fala para o Renato Russo que ele vai morrer!

     Assustada, Carmem desliga e deixa o aparelho fora do gancho. Não adianta muito.Poucos minutos depois, o interfone toca na cozinha. Mais uma voz de homem, quetambém não se identifica:

    — O Renato Russo tá aí, né? Aquele filho-da-puta...

    Ela não deixa o agressor finalizar a frase. Desliga e vai para a sala conversar com Ana

    Paula, que preparou a água do banho, e Cynthia, outra amiga do irmão. Carmemvolta à cozinha e fala com o porteiro pelo interfone:

    — Pelo amor de Deus, não deixa ninguém subir!

    O irmão sai do banho. Está pálido, cabisbaixo. E, mais preocupante, monossilábico: jamais foi de usar poucas palavras.

    — Júnior, você quer comer alguma coisa?

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    — Não, eu vou deitar. Não quero falar com ninguém.

    Não se refugia no antigo quarto: há três anos, desde que ele foi morar na casa da avóno Rio de Janeiro, o cômodo virou uma saleta onde a mãe faz trabalhos manuais.

    Renato vai para a suíte dos pais, deita na cama de casal. Pega um lençol e cobre ocorpo, inclusive a cabeça. Dona Carminha e Seu Renato estão no Rio, no aparta-mento da Tijuca. Ligam para Brasília e falam com Carmem Teresa. Ainda não sabemdos detalhes, mas já sabem o que importa.

     A gente vai se divertir? Legal!!! Que país é este? Quem quer manter a ordem? Quem quercriar desordem? Quem é que usa drogas aqui? Capital brasileira do consumo de drogas,hein... E você quer ficar maluco, sem dinheiro e acha que tá tudo bem... Tá todo mundo

    se matando aqui na frente, ó!  Solta ele! Tu leva o microfone na cabeça, não tem que dar porrada, não!  Ê cidade babaca... It’s been a hard day’s night. Oh, a storm is threateningmy very life today, If I don’t get some shelter, oh yeah I’m gonna fade away. I think I’mdrowning, this sea is killing me… Da próxima vez, a gente vai acender as luzes e vaiembora!   Aqui tem segurança o suficiente para dar porrada em todo mundo, entendeu?  Quem foi o babaca que tacou? Qual é, não vai atingir a maioridade, não? Vai ficar semprenessa merda? É, a gente já está com a vida feita, trabalhou e conseguiu. Vai ficar tacandobombinha em Legião Urbana, meu irmão?  Stop! Somos tão jovens, tão jovens... Tem cer-tas coisas que não adianta fazer absolutamente nada. Se o barco está afundando, vamos

    afundar todos juntos. Eu sinto muito.

    Os pais querem que o filho volte o mais rápido possível para o Rio de Janeiro. Umdos companheiros de banda foi embora cedinho, pegou o primeiro vôo de domingo.Renato permanece. Tem medo de ser interpelado, xingado, ou mesmo agredido, nocaminho até o aeroporto. As horas passam e a tensão aumenta. Emissoras de rádioincitam os fãs a queimar discos (e são atendidas), o posto de gasolina em frente aoprédio da família Manfredini é pichado com a frase “Legião, não voltem mais”, as

    ameaças anônimas pelo telefone continuam, pessoas estranhas rondam a superqua-dra. Por enquanto, não há alternativa: em Brasília, o único lugar seguro para RenatoManfredini Júnior é dentro da própria casa.

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    — Eu quero saber — eu disse para o meu pai.— Pode ser perigoso — ele respondeu.

    E desliguei a televisão como se pronto para ouvir. Ele disse não. Ainda é cedo. E eu já tinha perdido a capacidade de chorar.

     Alguma coisa urgentemente, João Gilberto Noll

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    UM

    Brasília, março de 1973

    — Carmem Teresa, esse vai ser o meu quarto!

    O grito encerra qualquer eventual possibilidade de negociação fraterna: o segundodos quatro quartos do novo apartamento da família Manfredini já tem dono. Rena-to Manfredini Júnior chegou primeiro. Um ano e dez meses mais nova que o irmão,Carmem respira fundo e acata a decisão. Não é a primeira nem será a última vez.

     Afinal, durante boa parte da infância no Rio de Janeiro, bastavam alguns minutos de

    observação para se constatar quem era o dono da brincadeira. E pelo menos conti-nuaria a ter o próprio quarto como na casa da rua Maraú, na Ilha do Governador.

     A viagem Rio–Brasília, velha capital–nova capital, tinha sido cansativa, quase doisdias inteiros dentro do carro. O pernoite, já em Minas Gerais, bem desgastante:hotel horroroso, quase não deu para dormir. A recompensa veio no fim da tarde,a poucos minutos do destino final, quando o Corcel verde dos Manfredini entrouna parte sul do Plano Piloto e virou apenas um ponto móvel na imensidão do EixoRodoviário, avenida gigante com seis pistas asfaltadas, mais a faixa exclusiva para acomitiva do Presidente da República. Ao se deparar com o sol se escondendo por

    trás daqueles prédios baixos e do horizonte infinito, sem morros ou arranha-céuspara obstruir a visão, Maria do Carmo virou-se para o banco de trás:

    — Olha, Júnior, aqui é a Asa Sul!

     A mãe não escondia o deslumbramento com a cidade, ainda mais quando emoldu-rada pela explosão de cor do crepúsculo vermelho do Planalto Central. Para muitoscariocas, por sinal, aquele era o único espetáculo atraente de uma cidade marcadapela monótona onipresença do branco e cinza. Diziam que, confrontada com a

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    centenária exuberância do Rio de Janeiro, Brasília parecia uma menina de 13 anos:feições definidas logo ao nascer, corpo em fase de crescimento, temperamento in-definido. Para quem vê de longe, com distanciamento e sem afeto, apenas uma pré-adolescente desengonçada, sem personalidade e sem-graça.

    Decididamente não era o que achava a pernambucana Maria do Carmo Manfredini,conhecida entre os amigos pelo apelido de Carminha. Ainda em 1957, ao saber que opresidente Juscelino Kubitschek ordenara o início da construção no centro do país danova capital do Brasil, ficara exultante. Enamorou-se pelo desafio de começar a vidacom o marido em outra cidade. E se encantou com a idéia, tingida em tons místicos,de contribuir para o surgimento de uma nova civilização. “Formar uma família numlugar diferente assim vai ser muito bom”, pensou. Queria engravidar. E mais: queriaque o filho fosse o primeiro bebê nascido na capital. O primeiro cidadão brasiliense.

    • • •

     Apenas o primeiro desejo de Carminha foi atendido. E não de imediato. Doze anosmais velho e primo em segundo grau da esposa, Renato Manfredini não queria terfilhos. Já a mulher, mistura de sangue italiano e nordestino nas veias, instinto ma-ternal à flor da pele, sonhava com a casa cheia de crianças. A resistência do maridoacabou no dia que a mulher chegou perto dele e avisou:

    — Nós vamos fazer nosso filho hoje.

    E assim foi feito. Nove meses depois daquela noite de junho de 1959, no dia 27 demarço, Renato Manfredini Júnior nasceu às quatro da manhã na Clínica Santa Lúcia,bairro do Humaitá. Tendo como padrinhos os avós maternos José Mariano e Leon-tine Manfredini de Oliveira, o primogênito da família Manfredini foi batizado naIgreja dos Capuchinhos, a mesma na qual os pais tinham se casado três anos antes.Bebê tranqüilo, quase não chorava nem era de muitas aprontações. Deu os primeirospassos no Alto da Boa Vista, onde a família costumava passear nos fins de semana —foi lá também, quando ele confundiu vacas com árvores, que os pais descobriram a

    necessidade de o filho usar óculos. O nascimento de Carmem Teresa, em 1962, nãoarrefeceu o grude de mãe e filho: se ela ia ao banheiro, ele ficava na porta. Nas tardesde domingo, Júnior permanecia quietinho quando o pai ligava a vitrola para escutardiscos de música clássica ou de standards da música norte-americana, trazidos dosEstados Unidos. Pai bancário, mãe dona-de-casa, casal de filhos, casa própria, ca-chorro, praia (muito) de vez em quando... eis os Manfredini, típica família de classemédia carioca, no início dos anos 60.Mas Carminha não estava inteiramente satisfeita. A vontade de mudar para Brasília au-mentara em 1962, quando o casal passou um fim de semana no apartamento do primo

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     Admar, na Asa Sul. Ao final do passeio pelo recém-nascido Plano Piloto, Carminha vi-rou-se para o marido e sintetizou seu entusiasmo da mesma forma imperativa que seriautilizada pelo filho mais velho ao escolher o próprio quarto, onze anos depois:

    — Renato, quero criar as crianças aqui!

    O economista curitibano bem que tentou acatar de imediato o pedido da esposa.Técnico de destaque, Renato Manfredini trabalhava de segunda a sábado como as-sessor da presidência do Banco do Brasil, na rua Primeiro de Março, centro do Rio.Quando ouviu falar da nova capital pelos discursos de Juscelino Kubitschek, achouque, por conta da qualificação, teria chances de ser transferido logo na inauguração.Não deu certo. Em 1969, ao voltar do período de dois anos de estudos nos EstadosUnidos, tentou novamente. Dessa vez, a transferência estava praticamente certa;

    faltava apenas a assinatura do presidente do banco, mera formalidade. Feliz da vida,a esposa embalou os móveis e preparou a mudança.

    — Carminha, a gente não vai mais...

    — Mas por que, Renato?

    — Porque o cargo que eu ia ocupar foi preenchido pelo afilhado de um político.

    Somente em 1972, uma década depois do encantamento inicial da esposa, a transferênciafoi concretizada. Antes da mudança, Manfredini, como era conhecido no banco, fez cur-so de especialização na Inglaterra. A mulher se juntou a ele na parte final da temporada,com direito a uma esticada por outros países da Grã-Bretanha, depois Itália. Por doismeses, os meninos ficaram sob os cuidados dos avós maternos. Os avós paternos, Alber-to e Castorina Denebedito Manfredini, morreram antes de eles nascerem. Na volta daEuropa, muitos presentes: da Escócia, uma gaita de foles para o primogênito e uma saiakilt  para Carmem Teresa. Júnior também ganhou um moderníssimo carro acionado porcontrole remoto; Carmem, um boneco da moda, o barbudo Falcon, que o irmão logo

    pegou para brincar. Mas nem deu tempo de aproveitar os novos brinquedos nas ruas daIlha do Governador. Logo veio o aviso dos pais:

    — Agora, vamos terminar de arrumar as coisas e nos mudar para Brasília.

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    Em 1958, o país era pura euforia. Campeão mundial de futebol pela primeira vez,com a conquista da Copa da Suécia, o Brasil atravessava uma onda de otimismo

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    Com mais de cem entrevistas, incluindo depoimentos de Dado Villa-Lobos, Dinho Ouro-

    Preto, Fê e Flávio Lemos, Herbert Vianna, Marcelo Bonfá, Marcelo Rubens Paiva, Millôr Fer-nandes, Ney Matogrosso, Tony Bellotto e dezenas de amigos anônimos, o jornalista CarlosMarcelo narra a transformação do estudante Renato Manfredini Júnior no maior ídolo dorock brasileiro. A intensa vivência de Renato Russo na capital controlada pelos militares é,pela primeira vez, reconstituída em detalhes. Letras inéditas e documentos descobertospelo autor revelam ainda aspectos pouco conhecidos da trajetória do vocalista da LegiãoUrbana. Paixões, angústias, sonhos e confissões de um artista quando jovem.

    “Um diálogo rico entre a vida e a obra de um dos nossos maiores compositores e intér-pretes. Na figura multifacetada e inquieta de Renato Russo, a junção da trajetória deuma vida breve com o momento histórico nacional, sendo Brasília o epicentro do nosso

    impasse e da nossa perplexidade. Um belo livro, que traça o retrato de um tempo áspero,em que a revolta e a indignação davam o tom das ilusões perdidas de várias gerações.”

    MILTON HATOUM

    No início, queríamos fazer com que todos se tocassem de tudo, da situação geral, nãoaceitar de cara as ordens, as idéias e os esquemas. Fizemos isto de coração, e com ocoração falamos da nossa cidade, do mundo jovem e das nossas emoções.

    RENATO RUSSO, ABRIL DE 1983