relatório trabalho de campo integrado

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Universidade Federal do Pará Instituto de Filosofia e Ciências Humanas Faculdade de Geografia e Cartografia Disciplina: Trabalho de campo integrado RELATÓRIO DE TRABALHO DE CAMPO Relatório de trabalho de campo valido como requisito da disciplina trabalho de campo integrado orientado pelos professores Dr° João Nahum e Ms. Jovenildo Cardoso. BELÉM 2013

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Page 1: Relatório Trabalho de Campo Integrado

Universidade Federal do Pará

Instituto de Filosofia e Ciências Humanas

Faculdade de Geografia e Cartografia

Disciplina: Trabalho de campo integrado

RELATÓRIO DE TRABALHO DE CAMPO

Relatório de trabalho de campo valido

como requisito da disciplina trabalho

de campo integrado orientado pelos

professores Dr° João Nahum e Ms.

Jovenildo Cardoso.

BELÉM

2013

Page 2: Relatório Trabalho de Campo Integrado

Universidade Federal do Pará

Instituto de Filosofia e Ciências Humanas

Faculdade de Geografia e Cartografia

Disciplina: Trabalho de campo integrado

ALESSANDRA DE FREITAS FARIAS

ALEX MARIANO SOUSA DO VALE

ANA CLAUDIA PORTAL ALVEZ

ANDERSON VIEIRA DE SENA

ANTÔNIO EDUARDO GOMES MONTEIRO

AYMEE AZEVEDO RODRIGUES

BIANCA BEATE HILDEGARD MOCKE

BRUNA LETICIA ROSARIO DOS SANTOS

BRUNA MARCELA DA COSTA E SILVA

BRUNO PENA VIEIRA

CAROLINE DA COSTA E SILVA

CHARLES PAES SILVA

CIBELE SANTOS CORDEIRO

DANILO TORRES FERRAZ

ELAÍNA MONTEIRO FERREIRA CUNHA

ELIVELTON DOS SANTOS SOUSA

EVALDO DOS SANTOS FERRE

FELIPE DOS SANTOS COELHO

FELIPE LUAN CASTRO DA COSTA

FLAVIA NASCIMENTO FONTENELE

GEORGE WAYDSON GOMES

GEYSA LUNARA LEÃO

HERBERT LUIS ALFAIA DE SOUZA

JOELSON DA SILVA NASCIMENTO

LAÍS TAYNÁ CARVALHO DE ARAUJO

LEON DE SOUZA FERREIRA

MARIA DO CARMO AZEVEDO DE SOUZA

MARCIO BRUNO DE SOUZA SOARES

MAYARA CRISTINA PEREIRA MARIANO

PEDRO GABRIEL BARATA MONTEIRO

RODRIGO SARAIVA DA SILVA

TANIZY ELIANHY BARATA PEREIRA

THALINE TRINDADE SILVA

VITOR KENNEDY PEREIRA FARIAS

BELÉM

2013

Page 3: Relatório Trabalho de Campo Integrado

CAMINHOS PARA A PLANTAÇÃO DO DENDÊ NA CIDADE DE TOMÉ-AÇÚ:

experiências e vivências de um trabalho de campo.

Introdução

O trabalho de campo na ciência geográfica é uma ferramenta formidável, pois

permite a relação entre teoria e prática, fornecendo ao pesquisador uma experiência que

consideramos indispensável: o contato direto com o objeto de estudo. Este contato propicia

a percepção e a vivência do que foi estudado em sala de aula.

Trata-se, portanto, de uma experiência rica que, conforme afirma Alentejano e

Rocha-Leão (2006) vêm acompanhando a Geografia desde sua sistematização enquanto

ciência. Da sistematização da Geografia enquanto ciência até meados do século XX, o

trabalho de campo orientava-se na observação e na descrição dos fenômenos nas

paisagens, resultado, portanto numa prática descritiva. Com o advento da Geografia

Crítica, o trabalho de campo, além da observação, perpassa também pela interpretação e

compreensão.

Assim, tendo em vista a importância do trabalho de campo na Geografia, foi

realizado, no dia 01 e 02 de agosto de 2013, Trabalho de Campo Integrado na cidade de

Tomé-Açú. A atividade foi orientada pelo Prof. Dr. João Santos Nahum e Prof. Ms.

Jovenildo Cardoso Rodrigues, responsáveis respectivamente pelas disciplinas Geografia

Agrárias e Geografia Regional do Brasil. Nesta atividade prática, participaram os alunos do

5º período do curso de Geografia da Universidade Federal do Pará. O objetivo do trabalho

foi conhecer a monocultura do Dendê no município de Tomé-açu analisando as relações

sociais, econômicas e culturais que se dão com a produção agrícola local.

A fim de alcançar esses objetivos, foi organizado um roteiro de trabalho de campo

contendo as principais atividades realizadas durante o trajeto, sendo instituída como

metodologias a observação, anotações de campo, coleta de dado por meio de visitas

guiadas, registro fotográfico e relato de pesquisa em grupo. Nas visitas guiadas, tivemos o

auxilio da Professora Célia que discorreu sobre o processo de urbanização e produção do

espaço urbano do município de Tomé-açu, utilizando como exemplo o bairro da Portelinha

que teve a ocupação iniciada em 2007 por moradores e que foi loteada pelo falecido

vereador Raimundo Sampaio para adquirir votos para a sua eleição, a professora Célia

também nos guiou em uma visita ao museu da imigração japonesa que mostra como foi a

ocupação das áreas do município pelos japoneses e mostra também elementos da cultura

japonesa, do cotidiano e economia desse povo no município, contamos também com o

Page 4: Relatório Trabalho de Campo Integrado

auxilio da Dona Adriana ex-moradora do assentamento que nos guiou na visita ao

assentamento Miritipitanga onde tivemos a oportunidade de conversar com os agricultores

do assentamento e entender como eles estão envolvidos na monocultura do Dendê e na

visita a empresa biopalma tivemos o auxílios do engenheiro florestal da empresa.

Figura 01 – Tomé-açú(PA): Iconografia da professora Célia do município de Tomé-açu falando sobre processos

socioespaciais e da formação de áreas de ocupações espontâneas que derivaram de alguns processos históricos

sociais na cidade.

Fonte: SILVA, R. S., ago/2013

Desse modo, o trabalho de campo realizado permitiu para os discentes o

enriquecimento do conteúdo estudado em sala e, além disso, vivências e experiências de

fundamental importância para o entendimento das questões sociais, econômicas, culturais

que envolvem a monocultura do Dendê.

Experiências e vivências no assentamento Miritipitanga

No dia 01 o grupo visitou o assentamento Miritipitanga, essa visita foi guiada pela

Senhora Adriana ex-moradora do assentamento, que nos forneceu informações sobre o

assentamento, de acordo com a Srª Adriana o assentamento foi criado em 1995 na fazenda

do mesmo nome que foi abandonada pelo seu proprietário e considerada terra devoluta. No

assentamento moravam 96 famílias que receberam 1lote cada, equivalente a 5 hectares por

família. Vários projetos foram implantados no Assentamento Miritipitanga. O primeiro

deles foi o Projeto Fomento que ajudava com maquinários, depois foi o projeto de

Habitação, posteriormente o de Pimenta do reino e de Reflorestamento. Atualmente moram

no assentamento entre 76-80 famílias mais alguns agregados e pelo menos 21 famílias

estão no projeto do dendê cuidando de 10 hectares para a produção agrícola, 50% para a

Page 5: Relatório Trabalho de Campo Integrado

monocultura do dendê e 50% para a produção de outras culturas como açaí, pimenta do

reino, mandioca. A entrevistada Adriana nos informou também que “a agricultura familiar

não tinha mais valor” eles produziam, mas, tinham dificuldades pra vender seus produtos.

Esse foi um dos motivos que levou as famílias a aderirem o projeto do dendê da Biopalma.

Figura 02 – Tomé-açú(PA): Iconografia feita na comunidade agrícola do Miritipitanga, em entrevista com a

agricultora familiar ADRIANA EVANGELISTA MORAES na qual ela discorreu sobre a implantação da

monocultura do dendê nas comunidades e quais impactos essa implantação trouxe para a mudança do gênero

de vida daquela localidade, mostrando seus benefícios e prejuízos aos moradores de lá.

Fonte: SILVA, R. S., ago/2013

A relação dos agricultores com a Biopalma no projeto do dendê acontece da

seguinte maneira: Por meio de uma palestra a empresa convida os agricultores para

participar do projeto de dendê e o sindicado dos trabalhadores rurais prepara toda a

documentação do agricultor para viabilizar o financiamento junto ao banco. A empresa

financia a limpeza da área, o marco, a plantação, adubo e assistência técnica, além de uma

ajuda de custo no valor de R$ 500 mensais. Em contrapartida, os agricultores tem que

cumprir algumas obrigações contratuais como vender a produção para a empresa durante a

duração de um contrato de 25 anos, o processo de plantio até a colheita dura 3 anos e a

colheita é feita de 12 em 12 dias.

Através das entrevistas com os agricultores percebemos que a monocultura do

dendê apresenta vantagens e dificuldades. Em entrevista com o agricultor Paulo Vidal, ele

nos afirmou que optou pelo dendê por que diziam que era bom, mas não o agradou, sua

plantação foi queimada e só lhe restaram 600 pés. Outra dificuldade está relacionada a

manutenção do plantio porque estão plantando na mesma área uma leguminosa de nome

“puerará” que causa muita coceira, então a coroa da arvore tem que ser feita com trator que

geralmente é alugado.

Page 6: Relatório Trabalho de Campo Integrado

Figura 03 – Tomé-açú(PA): Iconografia do PAULO VIDALna comunidade agrícola doMiritipitangano qual

ele fala quais impactos ele sofreu com a implantação da monocultura do dendê em sua propriedade e quais as

expectativas dele em relação ao dendê dentro de suas terras.

Fonte: SILVA, R. S., ago/2013

O contrato do Sr. Paulo com a empresa é de 14 anos, ele trabalha com um filho no

dendezal e algumas vezes contratam trator para fazer a coroa. Já na agricultura familiar

eles continuaram plantando mandioca, pimenta, açaí e cacau, algumas vezes contratam

trabalhadores diaristas pra ajudar no roçado, eles dividem o tempo para trabalhar na

agricultura familiar e no dendezal. A vida financeira da família do Sr. Paulo não melhorou,

a renda familiar é proveniente da venda de produtos da agricultura e mais R$ 500 mensais

de ajuda de custo que a Biopalma repassa a eles.

Em outras entrevistas que fizemos percebemos essas vantagens e dificuldades,

entrevistamos a família do Sr. Francisco Luiz Carneiro dos Santos e sua esposa Carliane

Souza Andrade. Ele trabalha no terreno do sogro de 25 hectares e plantou dendê em 10

hectares, que equivale a 1430 pés. Decidiu plantar dendê pela vida prolongada e alta

produtividade do dendê que nos primeiros anos é de 3ton/hec e depois pode chegar há 15

ton/hec, e também porque o terreno é muito úmido e por isso improdutivo para o plantio da

mandioca. A família do Sr. Luiz deixou de cultivar outras culturas (pimenta e mandioca

que produziam antes) para se dedicar ao dendê, ele trabalha sozinho no dendezal e diz não

ter tempo de trabalhar no roçado. A Senhora Carliane nos informou que agora eles têm que

comprar tudo o que antes eles produziam (feijão, arroz, farinha). Ela avalia que até o

momento a vida da família não melhorou, mas esperam que no futuro melhore, o Sr. Luiz

nos disse que pensa em voltar a produzir a cultura familiar.

Page 7: Relatório Trabalho de Campo Integrado

Figura 04 - Tomé-açú(PA): Iconografia do Sr. FRANCISCO LUIZ CARNEIRO DOS SANTOS da

comunidade agrícola do Miritipitanga na qual ele fala sobre a mudança do valor da terra, deixando de ser

uma mercadoria de valor de uso para se tornar valor de troca e no que isso vai implicar no modo de vida

deles.

Fonte: SILVA, R. S., ago/2013

Já o agricultor Raimundo Nonato da Silva trabalhava na roça e cultivava

mandioca a pimenta e avalia que sua vida melhorou 50% com o projeto do dendê. Ele faz

uma roça de mandioca por ano, trabalha numa horta e em 10 hectares de dendê. Quando

perguntado se a produção do dendê esta ameaçando a agricultura familiar, Seu Raimundo

Nonato disse agora não está afetando, mas no futuro sim. Ele relatou também a dificuldade

em trabalhar com dendê, tem que limpar no tempo certo.

Figura 05 – Tomé-açu(PA): Iconografia do quinto entrevistado RAIMUNDO NONATO DA SILVA no qual

ele se diz muito satisfeito com a monocultura do dendê, pois a partir dela aumentará seus rendimentos e o

possibilitará ter um maior poder de consumo no qual ele não tinha acesso antes, isso evidencia mais uma vez

a inversão do valor de uso pelo valor de troca dentro da comunidade agrícola.

Fonte: SILVA, R. S., ago/2013

Page 8: Relatório Trabalho de Campo Integrado

Visitando a Empresa Biopalma: experiências com o processo empresarial do dendê e sua

relação com a agricultura familiar

A empresa Biopalma da Amazônia SA, empresa da Vale em sociedade com o

Grupo MSP, é dedicada a extração do óleo de palma derivado do dendê. Ela possui 52 mil

hectares de plantações da palma distribuídas em alguns municípios sendo 70% propriedade

da empresa e 30% (destinados) a agricultores familiares. A produção da Biopalma é

dividida em pólos que servem para sistematizar a produção, os pólos são: Tome-açú, Moju

e Vera Cruz (Acará). O objetivo da empresa é produzir o biodiesel original do óleo da

palma almejando alcançar através de seu projeto o consumo de 20% de biodiesel de

combustível, ou seja, a cada 100 litros consumidos pela empresa seriam 20 litros de

biodiesel usados em outros empreendimentos da Vale. A cidade de Tomé-açú possui hoje

11.795 hectares de plantio, alguns com divisas com o município do Acará.

Page 9: Relatório Trabalho de Campo Integrado

Figura 06 – Tomé-açu(PA): Iconografia do Engenheiro José falando sobre as informações relacionadas a

produção, circulação e cultivo da monocultura do dendê na biopalma, mostrando suas particularidades.

Fonte: SILVA, R. S., ago/2013

Fomos recebidos no segundo dia de Trabalho de Campo Integrado na empresa

Biopalma por alguns funcionários, eles nos deram válidas informações sobre a produção e

a relação da empresa com a agricultura familiar da cidade de Tomé-açú, de inicio

soubemos que a empresa tem como objetivo alcançar a meta de 60 mil hectares próprios e

20 mil hectares de plantio pela agricultura familiar, este indicativo corrobora com a política

de segurança da empresa e sua estrutura física. A agrovila da Biopalma é estruturada com

escritório, ambulatório, refeitório, alojamento e unidade extratora.

No pólo em que visitamos 1.100 trabalhadores moradores da região prestam

serviços para a empresa, sendo a maioria, trabalhadores de nível de escolaridade baixo,

treinados para o trabalho direto nas plantações. Segundo informações obtidas em entrevista

com o engenheiro florestal José da agrovila, a empresa Biopalma possui parceria com

sindicatos e associações, estas que estão presentes nas cidades e auxiliam os agricultores

familiares e oferece o auxilio possível aos mesmos na expectativa de estabelecer boa

relação com os envolvidos com agricultura familiar. A empresa faz a implantação do

projeto e por aí é feito o contrato com média de 25 anos, podendo ou não haver a

renovação. A empresa garante comprar o plantio desses agricultores, mas não

necessariamente estes vendem para a Biopalma. Isso depende dos objetivos da família. Os

agricultores recebem a visita da assistência técnica e são orientados até a fase do plantio e

manutenção. Quanto a colheita os agricultores recebem assistência e técnicas de corte da

própria Biopalma.

Page 10: Relatório Trabalho de Campo Integrado

A biopalma produz dendê, mas deixa o agricultor livre para plantar outras culturas

(mandioca, açaí, farinha, pimenta do reino), sendo o dendê só mais uma fonte de renda. O

objetivo é manter a mão de obra familiar, e a própria família (filhos e irmãos) cuida da

produção, mas em algum momento o agricultor pode contratar para acelerar algum

processo e também permitir que ele faça outras atividades. Há também o que eles chamam

de mutirão, onde alguns agricultores se reúnem e buscam se ajudar. Alguns possuem

somente a força braçal e outros possuem algum tipo de maquinário (trator, roçadeira,

carretinha).

Figura 06 – Tomé-açu(PA): Iconografia tirada da plantação da monocultura do dendê dentro da empresa

biopalma.

Fonte: SILVA, R. S., ago/2013

A empresa encontra algumas dificuldades como a resistência dos trabalhadores

em utilizar as técnicas e equipamentos que ela pede, pois os agricultores conhecem suas

próprias técnicas. Porém o que apenas é exigido pela empresa é que os trabalhadores

devem usar os equipamentos de proteção individual. E a legalização fundiária de pequenos

agricultores que também já fazem parte de outros programas e que estão endividados, isso

dificulta bastante. E a questão da própria degradação. Além do fato de que muitos

agricultores não tem na propriedade a quantidade exigida por lei de reserva.

Para a empresa, portanto, é benefício ter o agricultor próximo para próprio

acompanhamento. Quanto mais rápido processar o dendê é melhor a qualidade.

Page 11: Relatório Trabalho de Campo Integrado

Considerações Finais

Colocar em prioridades os novos desafios da ciência geográfica, em que a

dinâmica do processo de construção do espaço é constante e sofrem as mais variadas

modificações ao longo do tempo, da história, os seus conceitos e categorias investigados

dentro de uma realidade que é mutável, transformante, dinâmica e que de conta de

responder as questões bem mais complexas, hibridas e heterogêneas. Fazendo análises

sobre a realidade, sobre o espaço socialmente construído.

O território nasce com uma dupla conotação material e simbólica, relação de

poder, mas não apenas ao tradicional poder político, e sim poder no sentido mais concreto,

de dominação, funcional e quanto ao poder no sentido mais simbólico, de apropriação,

carregando as marcas do vivido, do valor de uso, de identidade, cultural, de representação.

O território imaterial pertence ao mundo das ideias, das intencionalidades que

coordena e organiza o mundo material, transformando coisas e produzindo objetos na

produção do espaço e do território, por isso os conflitos, as contradições quanto ao

reconhecimento, não de uma visão, um único caminho como a ciência tentar colocar uma

singularidade, se impor diante dos os conhecimentos, mas sim que existe pluralidade e

diversidade e não uma hierarquia das experiências humanas, no campo da politica esses

embates são ainda mais fortes e mais complexos, pois os processos são seletivos e

desiguais.

Temos temporalidades diferentes com a chegada da Empresa Bio Palma, “Vale”,

nessa região, aonde os contrastes vão se firmando, a construção do território é,

contraditoriamente o desenvolvimento desigual, simultâneo combinado, ou seja,

valorização, produção e reprodução ampliada do capital.

A plantação de monocultura define e caracteriza o campo, transformando a terra

num mar de dendê é a territorialização do capital monopolista na agricultura, é a

homogeneização de uma única agricultura, é o tempo do capital, do relógio, da

produtividade, da eficiência, da funcionalidade exigidas pela competitividade do mercado,

commodities.

A empresa se expande e adquire novas terras, para a produção do dendê,

transformando e reordenando uma nova dinâmica na região, montando toda uma logística

de produção, de técnicas, aperfeiçoamentos ( adubos e técnicos em solo ) e fluxos,

mobilidade da produção, e apenas contrata os trabalhadores como assalariados, em épocas

que a sua mão de obra é mais exigida no plantio e na colheita, que possuem pouca

qualificação, não ocorre o desenvolvimento social.

Page 12: Relatório Trabalho de Campo Integrado

Os processos de produção acabam se confundindo, mas em outro momento temos

a subordinação da produção camponesa, é a monopolização do território pelo capital. As

agriculturas plurais, a agricultura familiar e o território como símbolo, e prática da

existência da vida e do seu lócus de reprodução social. Acabam sendo condicionados pelo

capital a uma racionalidade da produção da eficiência, marginalizando as práticas

tradicionais da agricultura familiar e do camponês.

Como funciona essa racionalidade que é imposta pela Empresa Bio-Palma para os

pequenos agricultores são feitos contratos que variam entre 15 e 25 anos, onde os

plantadores ficam obrigados a produzir o dendê em parte das suas terras, recebem ajuda de

custo, de técnicos, adubos e a garantia que a sua produção vai ser comprada pela empresa,

com o preço sendo estabelecido pela cotação do dólar, sofrendo variações, que dificultam

para o agricultor saber o preço da sua produção. A cultura do dendê praticamente

impossibilita outras atividades, pois necessita de muita energia para a concretização de

todo o processo produtivo, acarretando em grandes dificuldades para a agricultura

tradicional e para as multiculturas, é a substituição do valor de uso, do lugar da

apropriação, da identidade com o território para a funcionalidade do lugar, o que acaba

sendo percebido como uma amarra, onde o capital se apropria da renda da terra camponesa

e do seu trabalho.

O espaço é socialmente construído, possuindo uma grande complexidade de

agentes sociais, e uma dinâmica em intenso processo de movimento, transformações,

rugosidades e permanências aparentes.

Percebemos uma nova reordenação do espaço, focada em uma agricultura

singular, monocultura em detrimentos as outras multiculturas, sendo que a plantação de

dendê possibilita a atração de animais que buscam se alimentar, quando essa questão foi

levantada gerou algumas inquietações, pois a mucura que serve de alimento para cobras

principalmente as peçonhentas vem em busca do fruto do dendê, logo acaba atraindo

cobras perigosas para a plantação, não que neste lugar seja o seu habitar natural, pois o

espaço dessa reprodução foi socialmente construindo, implicando em várias problemáticas,

como a questão da segurança dos trabalhadores e dos agricultores dentro dessas áreas do

dendê, gerando muitos questionamentos sobre esse tipo de produção.

A geografia faz parte de todo esse processo e possui uma importante contribuição

para a construção do conhecimento, para a análise do espaço, de uma essência

epistemológica que priorize as praticas dos sujeitos sociais, e que a pluralidade e a

diversidade sejam questões fundamentais como forma de interpretação da realidade e dos

Page 13: Relatório Trabalho de Campo Integrado

seus agentes que a produzem e a edificam. Sendo em minha opinião a inserção da política

e o seu reconhecimento indispensável para a formação da cidadania da população, da

afirmação de uma sociedade participativa, de uma nação.

Anexo 01: Multimídia com fotografias da atividade de campo do dia 01 e 02 na cidade

de Tomé-açú.