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RELATÓRIO FINAL DO MONITORAMENTO DE ICTIOFAUNA E ICTIOPLÂNCTON NA UHE SÃO DOMINGOS - MS Janeiro de 2015.

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RELATÓRIO FINAL DO MONITORAMENTO DE

ICTIOFAUNA E ICTIOPLÂNCTON NA UHE

SÃO DOMINGOS - MS

Janeiro de 2015.

  

2  

SUMÁRIO

1 EQUIPE TÉCNICA ................................................................................................... 4 

2 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 5 

Ictiofauna ........................................................................................................................................... 5 

Ictioplâncton ...................................................................................................................................... 6 

2.1. OBJETIVO E METAS ............................................................................................................... 7 

3. MATERIAIS E MÉTODOS ...................................................................................... 8 

3.1. ÁREA DE ESTUDO .................................................................................................................. 8 

3.1.1. Descrição dos pontos ............................................................................................. 9 

3.2. COLETA E ANÁLISE ............................................................................................................. 16 

3.2.1. Período sazonal .................................................................................................... 16 

3.2.2. Análise das gônadas e dos estômagos ................................................................ 19 

3.2.3. Análise dos dados ................................................................................................ 21 

3.2.4 Coleta Ictioplâncton ............................................................................................... 23 

3.2.5. Processamento ..................................................................................................... 24 

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................. 24 

4.1. Composição da ictiofauna e ocorrência .................................................................. 24 

4.2. Riqueza de espécies ............................................................................................... 37 

4.3.  Índice de Diversidade .......................................................................................... 39 

4.4  . Índice de Equitabilidade ..................................................................................... 41 

4.5  . Capturas por equipamento de coleta ................................................................. 43 

4.6. Capturas por Equipamento de Coleta ..................................................................... 44 

4.7.  Captura por malha ............................................................................................... 45 

4.8  . Composição em função do porte de tamanho ................................................... 46 

4.9  .Índice de repleção estomacal ............................................................................. 48 

4.10  .Dieta e hábito alimentar ...................................................................................... 52 

4.11  .Capturas por Unidade de Esforço (CPUE) ......................................................... 58 

4.12  .Proporção sexual ................................................................................................ 60 

4.13  . Reprodução ....................................................................................................... 63 

4.14  . Estocagem ......................................................................................................... 66 

4.15  . Curva do coletor ................................................................................................ 67 

4.16  . Ictioplâncton ....................................................................................................... 67 

  

3  

5.  CONCLUSÕES .................................................................................................. 71 

6.  BIBLIOGRAFIA .................................................................................................. 77 

7.  RESPONSABILIDADE TÉCNICA ...................................................................... 79 

  

4  

1 EQUIPE TÉCNICA

Porto Alegre:

Gerente de Meio Ambiente: Eng.Flor. Edison Antonio Silva

Supervisora: Biól.Carla Belatrice Bolzan Carvalho

Coordenadora: Biól. Dra. Nicolle A.Pesoa.

Mato Grosso do Sul:

Coordenador Geral: Biól. Dr. Alexandre R. Cardoso

Coordenador de campo: Biól. Daniel Monteiro Sampaio

Ajudantes:

Bruno Klotzel (Biólogo – Ictiólogo)

Joaquim Pereira Bastos

Piloteiro: Emerson Martins

  

5  

2 INTRODUÇÃO

Ictiofauna

Mundialmente, aproximadamente 60% de todos os rios são influenciados por

barragens. Na região tropical, o represamento de rios para produção de energia

elétrica tem assumido grande importância (Pringle et al., 2000).

Em países com abundantes recursos hídricos, como o Brasil, a utilização

dos rios para esta função já representa uma das principais ameaças a conservação

da ictiofauna (Agostinho et al., 2007; Pelicice & Agostinho, 2008).

No Brasil, estimativas recentes calculam aproximadamente 700 barragens

(Agostinho et al. 2007), sendo quase 60% da capacidade hidrelétrica instalada no

Brasil estão alocadas na Bacia do Rio Paraná (Mac Caister, 2001).

Diversos autores (Agostinho et al., 1992; Tundisi, 1999; Henry, 1999; Tundisi

& Straskraba, 1999) afirmaram que a construção de reservatórios produz tanto

efeitos positivos como negativos. Como efeitos positivos são apontados à geração

de eletricidade, o abastecimento, a irrigação, a recreação, a pesca e a aquicultura;

por outro lado os efeitos negativos são refletidos na perda de biodiversidade, na

formação de barreiras impedindo a migração de peixes, na perda do fluxo gênico de

algumas espécies de peixes, principalmente as migradoras, na perda de fluxo de

água e de valores culturais, na redução da velocidade da água, na alteração das

características físicas e químicas da água, na perda de microhabitats e fontes de

alimento. Ainda são mencionadas a modificação da fauna, a destruição da

vegetação ripária e a introdução de espécies de outras bacias. Por consequência, o

efeito inevitável dos represamentos sobre a fauna e flora aquáticas é a mudança na

composição e abundância de espécies, com extrema proliferação de algumas e

redução ou mesmo eliminação de outras (Agostinho et al., 1999). O efeito da

implantação de reservatórios tem conduzido à homogeneização de habitats, e

consequentemente da fauna (Rahel 2002; Moyle & Mount, 2007), principalmente em

regiões onde o regime de vazões e sua variabilidade temporal são alterados de

forma significativa.

  

6  

Neste sentido, as atividades de monitoramento da ictiofauna e do

ictioplâncton na área de influência da UHE São Domingos, no rio Verde, entre os

municípios de Água Clara e Ribas do Rio Pardo, no Estado do Mato Grosso do Sul,

são de fundamental importância, pois permitem avaliar a fauna ocorrente à montante

e a jusante do reservatório. Além disso, os dados fornecerão informações capazes

de gerar comparações antes e após a implantação da UHE São Domingos.

Ictioplâncton

A reprodução de peixes é um elemento chave no ciclo da vida das espécies.

A permanência de uma espécie num ecossistema é definida pelo sucesso

reprodutivo. O resultado da seleção natural, agindo milhares de anos sobre as

espécies, resultou em estratégias adaptativas que maximizam a sobrevivência. Os

fatores ambientais são uma força principal neste processo.

Em espécies tropicais e subtropicais, o ritmo das secas e cheias influencia

fortemente a reprodução de peixes. Especialmente espécies de importância

pesqueira, na maioria espécies migradoras, dependem das cheias para o sucesso

reprodutivo (VAZZOLER et al. 1997). A migração inicia no início da época chuvosa,

o hidrógrafo crescente desencadeia a piracema.

Os níveis altos dos rios permitem a transposição de obstáculos naturais

como corredeiras em cachoeiras e de menor porte. Esta migração é um mecanismo

que diminui a competição intraespecífica, separando as áreas de forrageiro dos

adultos dos criadouros dos peixes juvenis. Portanto, contribui para a sobrevivência

da próxima geração.

A maioria das espécies migradoras de água doce são ovolíparos, ou seja,

lançam os gametas na água, onde ocorre a fecundação (NAKATANI et al. 2001). Os

ovos são carregados pela correnteza e levados para lagoas marginais ou outras

áreas lênticas. Aqui os ovos eclodem e as larvas iniciam o desenvolvimento.

Em cursos hídricos regulados por barragens, existem várias alterações que

interferem na reprodução de peixes migradores (BARLETTA et al. 2010). A

barragem regula as oscilações do hidrógrafo e ameniza a extensão das cheias. A

consequência é que as lagoas marginais recebem uma carga menor de água e a

área inundada diminui. Larvas e juvenis perdem uma parte de seus criadouros. A

barragem é um obstáculo físico para peixes, que pode impedir a transposição para

  

7  

os trechos montante da obra. O corpo do reservatório não é uma área apropriada

para a reprodução, que ocorre em trechos lóticos.

Desta forma, os trechos lóticos remanescentes à montante do reservatório e

afluentes em condições naturais são de maior importância para a manutenção das

populações, que dependem da correnteza para a reprodução. Estas áreas são áreas

chaves para a conservação.

2.1. OBJETIVO E METAS

O objetivo geral deste relatório é apresentar os resultados do monitoramento

da ictiofauna e ictioplâncton realizado pela Geocenter Consultoria e Projetos Ltda

iniciado em nov/2012 a out/2014 , atendendo as condicionantes do licenciamento

ambiental e compromissos assumidos junto ao IMASUL.

Os demais objetivos desse programa foram:

O monitoramento dos indicadores de composição, riqueza, diversidade,

equitabilidade, similaridade, análise estomacal, proporção sexual e estágio gonadal

das espécies que compõem a comunidade de peixes na fase de pré e pós-

enchimento do reservatório da UHE São Domingos;

A coleta do ictioplâncton e a identificação das áreas de reprodução,

dando ênfase ao estudo e à identificação de espécies migradoras;

Avaliar a necessidade de tanque de rede e de peixamento no

reservatório;

Propor readequação dos sítios caso seja necessário;

Avaliar os parâmetros empregados, índices analisados e a frequência

de amostragem.

  

8  

3. MATERIAIS E MÉTODOS

3.1. ÁREA DE ESTUDO

A bacia de drenagem do Rio Verde localiza-se na porção nordeste do

Estado de Mato Grosso do Sul e abrange as áreas dos municípios de Camapuã,

Costa Rica, Água Clara, Ribas do Rio Pardo, Brasilândia e Três Lagoas. Este rio era

um dos raros rios da bacia do alto Paraná livre de represamentos, a despeito de

suas águas predominantemente rápidas e agitadas, com muitas quedas e

corredeiras, que o tornam atrativo do ponto de vista energético.

A UHE São Domingos está localizada no rio Verde, entre os municípios de

Água Clara e Ribas do Rio Pardo, a cerca de 190 km da foz com o rio Paraná, nas

coordenadas 20º 05' de latitude sul e 53º 10' de longitude oeste, com uma área do

reservatório de 18,6 km2 e a área alagada de 17.7 km2. Para a consecução dos

objetivos propostos, foram estabelecidos 12 (doze) pontos de coleta (mapa em

anexo), sendo distribuído em pontos do Rio Verde, Rio São Domingos e Ribeirão

Araras (Tabela 1).

Tabela 1 - Localização dos pontos de coleta e tipo de monitoramento da fauna aquática, na área de Influência da UHE São Domingos (datum: SAD 69).

Ponto Rio Zona UTM Monitoramento

P1 Rio Verde 22k 267590 7784923 Ictiofauna e Ictioplâncton

P2 Rio Verde 22k 265113 7785548 Ictiofauna e Ictioplâncton

P3 Rio Verde 22k 272203 7779499 Ictiofauna e Ictioplâncton

P4 Rio Verde 22k 321029 7718723 Ictiofauna e Ictioplâncton

P8 Ribeirão Araras 22k 265499 7784923 Ictiofauna e Ictioplâncton

P9 Ribeirão Araras 22k 260599 7785504 Ictiofauna e Ictioplâncton

P10 Rio São Domingos 22k 271247 7781257 Ictiofauna e Ictioplâncton

P11 Rio São Domingos 22k 269802 7789241 Ictiofauna e Ictioplâncton

P12 Rio São Domingos 22k 271345 7793571 Ictiofauna e Ictioplâncton

P13 Rio Verde 22k 295578 7745902 Ictiofauna e Ictioplâncton

P14 Rio Verde 22k 271161 7781229 Ictiofauna e Ictioplâncton

P15 Rio Verde 22k 265516 7784873 Ictioplâncton

  

9  

3.1.1. Descrição dos pontos

Abaixo uma breve descrição dos pontos no período de pré e pós-enchimento do

reservatório da UHE São Domingos para o entendimento das mudanças e influência

sobre a ictiocenose.

Ponto 1 – Rio Verde – Jusante da Cachoeira Preta

Antes da formação do reservatório o rio, no ponto de coleta, apresentava

água transparente e fluxo rápido com corredeiras devido ao leito pedregoso e

arenoso, formando a Cachoeira Preta. Tanto a margem direita como a esquerda

possuía mata ciliar densa formada por arbustos e árvores.

Atrás da mata, em alguns pontos, a pecuária e monocultura eram

exploradas. Atualmente o local foi submerso pelo efeito do alagamento do

reservatório, sendo que a Cachoeira Preta não existe mais. O local apresenta águas

turvas e lênticas e muitas árvores com parte da copa inundada. (Figura 1)

Figura 1 - Vista parcial do ponto a jusante da Cachoeira Preta no rio Verde, com a

Cachoeira Preta à esquerda e já submersa a direita.

Ponto 2 – Rio Verde – Montante da Cachoeira Preta

Antes da formação do reservatório o rio, no ponto de coleta, apresentava

água transparente e fluxo rápido com corredeiras devido ao leito pedregoso e

arenoso. Tanto a margem direita como a esquerda possuía mata ciliar densa

formada por arbustos e árvores. Atrás da mata, em alguns pontos, a pecuária e

monocultura eram exploradas.

  

10  

Atualmente o local foi submerso pelo efeito do alagamento do reservatório.

O local apresenta águas turvas e lênticas e muitas árvores com parte da copa

inundada (Figura 2).

Figura 2 - Vista parcial do rio Verde a montante da Cachoeira Preta. À esquerda antes da

formação do reservatório e a direita já sobre influência do alague.

Ponto 3 – Rio Verde – A jusante da Cachoeira Branca

Antes da formação do reservatório o rio, no ponto de coleta, apresentava

águas transparentes e fluxo rápido com corredeiras devido ao leito pedregoso, em

alguns pontos do trecho pequenos remansos com o fundo arenoso.

Tanto a margem direita como a esquerda possuía mata ciliar densa formada

por arbustos e árvores.

Atualmente o fluxo d’água e o nível do rio são influenciados pelo vertedouro,

logo acima da Cachoeira Branca (Figura 3).

Figura 3 - Vista parcial do rio verde a jusante da Cachoeira Branca. Á esquerda sem o

vertedouro e a direita com o vertedouro em operação.

  

11  

Ponto 4 – Rio Verde a jusante de Água Clara

Ponto situado ao sul do município de Água Clara, onde o rio é mais

caudaloso. Nesse local, o rio Verde apresenta águas rápidas, leito com fundo

arenoso e pedregoso, e largura variando de 50 a 60 m.

Essa região é relativamente preservada, com presença de mata ciliar de

aproximadamente 15 m a partir do rio. Acima da faixa ciliar as atividades

predominantes são a pecuária e o reflorestamento. Este ponto não se modificou

estruturalmente, pois está fora da influência direta da UHE São Domingos (Figura 4).

Figura 4 - Vista parcial do rio Verde a jusante de Água Clara.

Ponto 8 – Ribeirão Araras – sítio na foz do ribeirão Araras

O ribeirão Araras é um rio relativamente estreito, e na região de sua foz ele

apresenta largura máxima aproximada de 10 metros. Caracterizava-se por fundo

arenoso, com alternância entre corredeiras e remansos. Em alguns locais a mata

ciliar de vegetação arbustiva nativa deu lugar à erosão, formando áreas de várzea

antes da sua desembocadura no rio Verde.

A atividade predominante em seu entorno é a pecuária extensiva.

Atualmente o nível de água está próximo às copas das árvores, influenciado pelo

alague do reservatório (Figura 5).

  

12  

Figura 5 - Vista parcial da foz do Ribeirão Araras com o rio Verde. Á esquerda antes do

alague e a direita com parte do local alagado.

Ponto 9 – Ribeirão Araras – sítio no Ribeirão dos Araras

Ponto localizado próximo a ponte do Ribeirão Araras. Ribeirão de águas

turvas e lóticas de fundo arenoso, onde a largura varia entre 5 e 7 m e a

profundidade de 0 a 0,60m.

Mata ciliar presente em ambas as margens com aproximadamente 10 m de

extensão, tendo no entorno grandes fazendas com a atividade de pecuária.

Atualmente, o trecho já sofre alterações no nível de água, atingindo a copa de boa

parte das árvores que permaneceram no local. Trechos mais à montante da ponte

não foram afetados (Figura 6).

 

Figura 6 - Vista parcial do Ribeirão Araras. Á esquerda antes do alague e a direita a área submersa pelo alagamento.

  

13  

Ponto 10 – Rio São Domingos – sítio na região da foz do rio São Domingos

Ponto localizado próximo à foz do rio São Domingos com o rio Verde. Rio de

águas turvas e rápidas com pequenas corredeiras formadas pelo fundo pedregoso e

arenoso, em alguns pontos pequenos remansos que servem de abrigo; largura

aproximada de 15 a 20 m.

Atualmente o local já está completamente inundado, com modificações totais

do leito do rio, apresentando águas lênticas e mornas; profundidade superior a 15m

e largura superior a 50m (Figura 7).

Figura 7 - Vista parcial da foz rio São Domingos com o rio Verde. Á esquerda antes do

alague e a direita com o alague praticamente completo.

Ponto 11 – Rio São Domingos – sítio no curso médio do rio São Domingos

Ponto localizado no curso médio do rio São Domingos. No ponto, o rio antes

do enchimento era constituído de corredeiras decorrente do fundo pedregoso e

arenoso, com a presença de abrigos nas margens pela presença de mata ciliar.

Atualmente, o local está praticamente inundado, com a modificação total do

leito do rio (Figura 8) onde permaneceram algumas árvores cujas copas estão sobre

a lâmina d’água.

  

14  

Figura 8 - Vista parcial do curso médio do rio São Domingos. Á esquerda antes do alague e a direita com alague quase que por completo

 

Ponto 12 – Rio São Domingos – sítio na região superior do rio São Domingos

No local de coleta, o rio possui em alguns trechos águas turbulentas

decorrentes do fundo pedregoso, formando corredeiras; e em outros ocorre

remansos com baixa profundidade (raso). Região com pequenas lagoas marginais

(áreas de várzeas), largura de 20 m e poucos locais de abrigos (Figura 9).

 

Figura 9 - Vista parcial do curso superior do rio São Domingos. Á esquerda antes do alague e a direita com alague praticamente completo.

Ponto 13 – Rio Verde – sítio a montante da cidade Água Clara

No local, o rio possui águas turbulentas decorrente do fundo arenoso e

pedregoso; e poucos remansos com abrigo. Mata ciliar em ambos os lados.

  

15  

O rio neste local é cercado por fazendas de pecuária extensiva. Este ponto

não se modificou estruturalmente, pois está fora da influência da UHE (Figura 10).

Figura 10 - Vista parcial do Rio Verde a montante de Água Clara. Á esquerda foto tirada em novembro de 2012 e à direita, foto registrada em janeiro de 2013.

Ponto 14 – Rio Verde – sítio próximo à confluência do rio São Domingos

O ponto de coleta P14 encontra-se próximo a confluência do rio Verde com o

rio São Domingos, tendo como característica águas rápidas com remansos, leito

com pedras e areia. Com evidência de mata ciliar em ambas as margens, possuindo

ainda alguns “paliteiros” de indivíduos de Buriti que não foram suprimidos (Figura

11).

 

Figura 11 - Vista parcial do reservatório, local de coleta para monitoramento - Ponto 14.  

  

16  

Ponto 15 – Rio Verde – sítio próximo à foz do Ribeirão Araras

O Ponto é localizado a montante da Cachoeira Preta, próximo à Foz do

Ribeirão Araras. Rio de águas turvas e rápidas com pequenas corredeiras formadas

pelo fundo pedregoso e arenoso, em alguns pontos pequenos remansos que servem

de abrigo; largura aproximada de 15 a 20 m. Local específico para coleta de

ictioplâncton. (Figura 12).

Atualmente o local já está completamente inundado, com modificações totais

do leito do rio, apresentando águas lênticas e mornas; profundidade superior a 15m

e largura superior a 50m.

 

Figura 12 - Coleta de ictioplâncton sendo realizada.  

3.2. COLETA E ANÁLISE

As atividades de monitoramento da comunidade de peixes iniciaram em

novembro de 2012 e se estenderam até outubro de 2013, sendo executadas coletas

mensalmente neste período; após este período elas foram realizadas

trimestralmente até outubro de 2014, conforme Subprograma de Monitoramento e

Pesquisa da Ictiofauna, aprovado pelo IMASUL.

3.2.1. Período sazonal

O período e a estação sazonal de cada campanha realizada durante todo o monitoramento segue na Tabela 2.

  

17  

Tabela 2 - Data das campanhas de ictiofauna na área de influência da UHE São Domingos, MS.

Etapas Campanha Período Estação sazonal

Etapa I

1ª Novembro de 2012 Primavera

2ª Dezembro de 2012 Verão

3ª Janeiro de 2013 Verão

4ª Fevereiro de 2013 Verão

5ª Março de 2013 Outono

6ª Abril de 2013 Outono

7ª Maio de 2013 Outono

8ª Junho de 2013 Inverno

Etapa II

9ª Julho de 2013 Inverno

10ª Agosto de 2013 Inverno

11ª Setembro de 2013 Primavera

12ª Outubro de 2013 Primavera

13ª Fevereiro de 2014 Verão

14ª Maio de 2014 Outono

15ª Julho de 2014 Inverno

16ª Outubro de 2014 Primavera

O enchimento do reservatório da UHE São Domingos iniciou em outubro de

2012 e finalizou em 10 de janeiro de 2013. Portanto, as duas primeiras campanhas

foram realizadas durante o enchimento do reservatório e as demais ocorreram na

fase pós-enchimento.

Para as técnicas de coleta e procedimentos de campo de captura da

ictiofauna foram usados métodos adequados empregados em pesquisa ictiológica,

visando minimizar o risco à vida dos peixes, pois alguns petrechos são mais

invasivos, podendo levar o animal ao óbito, como por exemplo, a pesca elétrica.

Desta forma, os petrechos de pesca utilizados foram: tarrafas, picarés, redes de

espera de malha simples e tresmalhos (feiticeiras), com auxilio de barco com piloto

(Figura 13).

Para avaliação do período reprodutivo das espécies, locais de desova e

desenvolvimento de larvas foram realizadas amostragens de ictioplâncton em onze

(11) sítios amostrais, selecionados para o monitoramento de comunidades de

peixes, e mais um (01) sítio localizado no rio Verde. Ver abaixo (itens 3.2.4 e 3.2.5).

  

18  

Figura 13 - Colocação de redes de espera no Ponto 4, Rio Verde.

Para a captura dos peixes foram utilizadas redes de espera de malha

simples de 2.4, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 12, 14 e 16 cm e tresmalhos (feiticeiras) de 6, 7

e 8 cm entre nós não adjacentes, com aproximadamente 1,5 metros de altura e 20

metros de comprimento, no rio Verde e reservatório, e de 10 metros nos tributários

(Araras e São Domingos).

Espinhéis foram utilizados no início dos monitoramentos, apenas na primeira

campanha, com 30 anzóis e eram colocados juntamente com as redes. Este

apetrecho não se mostrou efetivo para esta atividade, tanto em virtude do ambiente,

que se caracteriza por ter águas profundas, quanto pelo hábito dos peixes de grande

porte presentes neste rio. Em função disso, este apetrecho não foi mais utilizado.

As redes foram instaladas ao entardecer e retiradas na manhã seguinte,

sendo que o tempo de exposição era de aproximadamente 14 horas. As tarrafas de

malhas 4 e/ou 6 cm entre nós e 15 metros de roda (abertura) foram empregadas em

ambientes que permitiram o uso dessa arte de pesca (remansos). Já os arrastos de

10 metros de comprimento e 2 metros de altura coma malha de 5 mm foram

operados logo após o anoitecer em locais onde era possível o uso deste apetrecho

de pesca.

Em uma ficha de campo foram anotados os dados pertinentes à coleta,

como exemplo: número de ponto, local de coleta, coletores, coordenadas

  

19  

geográficas, aparelho de pesca, malha do artefato de pesca, duração da coleta,

hora, data, e por fim, um espaço para anotar dados sobre o local de coleta.

Os peixes capturados foram embalados em sacos plásticos perfurados e

etiquetados, sendo posteriormente fixados em solução de formol a 10% e

acondicionados em tambores de polietileno para transporte e posterior análise.

As espécies exóticas, quando capturadas, eram retiradas do ambiente

conforme Instrução Normativa IBAMA n.º 146/2007.

As espécies foram identificadas com o auxílio das seguintes obras: “Peixes

da planície de inundação do alto rio Paraná e áreas adjacentes” de Graça &

Pavanelli (2007), “Catálogo das espécies de peixes de água doce do Brasil” de

Buckup et al., (2007); “Check list of cat fishes” de Ferraris (2007); “Check list of the

fresh water fishes of south and central America” de Reis et al., (2003), literatura atual

e através de consultas ao “Catalog of Fishes” versão online de Eschmeyer & Fricke

(2011) para a confirmação da nomenclatura atual.

3.2.2. Análise das gônadas e dos estômagos

A análise das gônadas e dos estômagos foi realizada em todas as espécies

com o n ≥ 10 durante as coletas realizadas.

Os indivíduos “selecionados” foram medidos (comprimento padrão e total,

em centímetros), pesados (peso total, em gramas) e seccionados para a

identificação do sexo, estágio de maturação e retirada dos estômagos.

O teste do qui-quadrado (X2) foi usado para testar as diferenças na

proporção sexual entre machos e fêmeas.

Os estádios de maturação foram atribuídos macroscopicamente levando-se

em consideração as características das gônadas: turgidez, irrigação, coloração,

posição na cavidade abdominal e grau de visualização dos ovócitos (para as

fêmeas), onde:

Imaturos: indivíduos jovens.

  

20  

Maturação: onde os ovários são volumosos, aumento da vascularização e

com alguns ovócitos visíveis a olho nu, ocupando discreto volume da

cavidade celomática.

Reprodução: que pode ser dividida em:

Maduro: ovários amarelos, volume máximo, vascularização evidente,

ovócitos visíveis a olho nu, ocupando grande parte da cavidade celomática.

Semi-Esgotado: ovários hemorrágicos e flácidos, com raros ovócitos opacos

e visíveis a olho nu.

Repouso: ovários finos e transparentes, pequeno volume, contendo apenas

ovócitos jovens.

A determinação do grau de repleção dos estômagos foi realizada

macroscopicamente considerando os quatro diferentes graus de repleção (0 = vazio;

1 = parcialmente vazio; 2 = quase cheio e 3 = cheio).

As categorias tróficas das espécies com o n>10, conforme estabelecido na

especificação técnica, foram estabelecidas de acordo com o método de frequência

de ocorrência e volumétrico. O volume foi obtido pela compressão do material (itens

alimentares) com lâmina de vidro sobre a placa milimetrada até uma altura

conhecida (1 mm), e o volume convertido de milímetros para mililitros (1 mm3 =

0,001 mL) e para os itens maiores foi utilizada uma proveta graduada. Os itens

alimentares foram identificados utilizando-se Hahn, S. N. et. al.,1998. Demais

espécies (n<10) foram classificadas com base na literatura (Hahn, S. N. et. al.,1998)

e com auxílio de Baumgartner et. al., (2012) em oito categorias tróficas, sendo elas:

Herbívoras: peixes que consomem partes de vegetais superiores, tais

como, folhas, talos, sementes e frutos, ou algas filamentosas (Hahn, S. N. et.

al.,1998).

Detritívoras: peixes que consomem o alimento obtido em depósitos de

fundo, ingerindo grande quantidade de matéria orgânica vegetal.

Onívoras: peixes que consomem indistintamente desde algas

(unicelulares e filamentosas) até vegetais superiores e desde invertebrados até

peixes.

  

21  

Bentófagas: peixes que consomem o alimento no fundo, ingerindo junto

considerável quantidade de sedimento. Os itens predominantes são tecamebas,

rotíferos, nematóides, microcrustáceos, moluscos e pequenas larvas de insetos.

Insetívoras aquáticas: peixes que consomem, essencialmente, formas

larvais ou ninfas aquáticas e insetos, selecionando o alimento no substrato

(sedimento, troncos submersos, vegetação aquática), tendo como componentes

predominantes na dieta os quironomídeos, tricópteros e efemerópteros.

Insetívoras terrestres: peixes que consomem, essencialmente, insetos

terrestres em fase adulta, geralmente obtidos na superfície, destacando-se, entre

eles, efemerópteros recém emergidos, coleópteros e hemípteros.

Piscívoras: peixes que consomem outros peixes, inteiros ou em

pedaços, podendo complementar sua dieta com outros itens, geralmente insetos.

Iliófagas: peixes que ingerem grandes quantidades de lodo com

matéria orgânica em fase avançada de dissociação, juntamente com

microrganismos, a partir de depósitos de fundo sobre substratos verticais.

O Índice de Importância Alimentar (IAi) foi calculado para a ponderação dos

dados obtidos pelos métodos utilizados nas análises estomacais de acordo com a

equação:

Onde: Fi = frequência de ocorrência (%) de determinado item;

Vi = volume (%) de determinado item;

i = 1,2,...n = determinado item alimentar.

3.2.3. Análise dos dados

Os indicadores adotados para o monitoramento da comunidade de peixes

foram: riqueza, equitabilidade, diversidade, CPUE e similaridade.

Riqueza de Espécies

ED = Sobs + S1

(f-1/f)

IAi = Fi*Vi/∑( Fi*Vi)

  

22  

Onde: Sobs= número de espécies observadas; S1= número de espécies que está

presente somente em um agrupamento (espécie de um agrupamento) e f = o

número de agrupamento que contém iesima espécie de um agrupamento.

Índices de Equitabilidade J

Onde: H´ = Índice de Shannon Wiener; Hmax´= expressão: Hmax´ = Log s.

Índice de Diversidade de Shannon

Onde: pi= proporção da espécie em relação ao número total de espécies

encontradas nos levantamentos realizados.

Captura por unidade de esforço - CPUE

A captura por unidade de esforço (CPUE) em número de indivíduos (CPUEn

= no de ind./1000m2/24h) e de biomassa (CPUEb = g/1000m2/24h) são calculadas

para o uso das redes de malha simples e tresmalhos (feiticeiras).

β2-diversidade

A diversidade beta mede a mudança de espécies de um habitat para o outro

dentro de uma região.

A β2-diversidade foi estimada através da seguinte fórmula:

Onde:

γ = número total de espécies presente nas amostras que estão sendo comparadas

(riqueza regional).

α = número médio de espécies entre as amostras comparadas (riqueza média local).

H’ = - ∑ pi Log pi

J = H’/Hmax´

Β2 = y/α -1

  

23  

Índice de Similaridade

Para avaliar a similaridade entre os pontos foi calculado o Índice de

Similaridade de Sorensen.

Onde: IS = índice de similaridade; j = número de espécies em comum; a + b =

número de espécies em dois pontos.

A análise de agrupamento (clustering) foi elaborada pelo método Bray-Curtis

Cluster Analysis usando o programa BioDiversity profissional.

3.2.4 Coleta Ictioplâncton

As atividades de monitoramento de ictioplâncton iniciaram em novembro de

2012 e se estenderam até maio de 2013, retornando as atividades em novembro de

2013 até maio de 2014. As atividades eram executadas em um período de quatro a

cinco dias de campo, mensalmente dentro do período estipulado acima. Todas as

atividades foram realizadas conforme Projeto Executivo para Marcação e

Transposição das Espécies de Peixes Migradores aprovado pelo IMASUL.

O trabalho de monitoramento consistiu em coletar ovos e larvas de peixes

com uma rede de plâncton de 500µm e um fluxômetro acoplado para medição da

velocidade do rio (que dará a vazão do rio no ponto de amostragem) (Figura 14).

Figura 14 - Uso da rede de ictioplâncton, com fluxômetro acoplado para captura de ovos e

larvas de peixes e cálculo da vazão da água, no momento da coleta – leitura do fluxômetro  

IS = 2j/(a+b)

  

24  

3.2.5. Processamento

Foram avaliadas 12 amostras por campanha em frascos de 250 ml, que

foram devidamente etiquetados. A maioria dos frascos continha material vegetal

grosso como folhas e galhos. Num primeiro passo as partes mais grossas foram

eliminadas manualmente com pinças. O restante da amostra era passada por

peneiras de 5mm, removendo novamente os objetos mais grossos. Neste passo foi

substituído o formol por etanol 70%.

A triagem final foi efetuada manualmente sob estéreo lupa Zeiss Steml 2000

com câmara fotográfica acoplada. Os peixes encontrados foram medidos

(comprimento total) e fotografados.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1. Composição da ictiofauna e ocorrência

Na área de influência da UHE São Domingos, durante as dezesseis

campanhas realizadas no Rio Verde e seus afluentes, foram registradas 70 espécies

distribuídas em 18 famílias e cinco ordens, totalizando 2.071 indivíduos coletados.

A ordem com a maior riqueza de espécies foi os Characiformes (lambaris,

piaus, traíras) com 51.4% (36 spp.), seguido dos Siluriformes (bagres, cascudos)

com 31.4% (22 spp.), Perciformes (tucunarés, carás) com 8.5% (6 spp.),

Gymnotiformes (tuviras) com 7.1% (5 spp.), e Synbranchiformes (muçum) com 1.4%

(1 sp.) (Gráfico 1).

  

25  

 

Gráfico 1 - Número de espécies por ordens e por famílias registradas na área de influência da UHE São Domingos, MS.

Durante o monitoramento, as ordens mais representativas registradas na

região da UHE São Domingos foram os Characiformes, Siluriformes e Perciformes.

Esta situação é característica dos ecossistemas fluviais sul-americanos de acordo

com Agostinho et al. (1997), sendo que entre os Characiformes a família

Characidae, entre os Siluriformes a família Loricariidae e entre os Perciformes a

família Cichlidae são as mais numerosas, como também observado por diversos

autores (p. ex., Reis et al., 2003).

Conforme a lista das espécies registradas na área de influência da UHE São

Domingos, seis espécies encontram-se na lista das espécies ameaçadas de

extinção. São elas: Myloplus tiete (pacu-peva) e Brycon orbignyanus (piracanjuba),

consideradas ameaçadas de extinção na ictiofauna brasileira de acordo com o

ministério do Meio Ambiente (Rosa & Lima, 2008); Pseudoplatystoma corruscans

(pintado), M. tiete e Salminus hilarii (tabarana) com risco de ficarem ameaçadas num

futuro próximo; Pseudopimelodus mangurus e Salminus brasiliensis como espécies

0 10 20 30 40

Synbrachiformes

Gymnotiformes

Perciformes

Siluriformes

Characiformes

Número de Espécies

Ordens

0 5 10 15 20

Synbranchidae

Apteronotidae

Gymnotidae

Sternopygidae

Cichlidae

Pseudopimelodidae

Doradidae

Heptapteridae

Auchenipteridae

Pimelodidae

Loricariidae

Prochilodontidae

Curimatidae

Hemiodontidae

Acestrorhynchidae

Erythrinidae

Anostomidae

Characidae

Número de Espécies

Famílias

  

26  

vulneráveis, isto é, espécies sob o alto risco de extinção; e B. orbignyanus sob um

risco muito alto de extinção (Mikich & Bérnils, 2004).

A Cichla kelberi (tucunaré) foi a única espécie exótica capturada neste

monitoramento. O tucunaré é uma espécie de topo de cadeia alimentar, que

promove pressão de predação sobre as nativas (Agostinho et al., 2007). Além do

tucunaré, a tilápia (Tilapia rendalli) foi outro ciclídeos exótico capturado na área de

influência da UHE São Domingos durante o monitoramento de pré-enchimento

(novembro de 2010 a agosto de 2012). Provavelmente estas espécies foram

introduzidas com o desenvolvimento da piscicultura na região, ou escaparam de um

tanque de criação.

Durante as 16 campanhas realizadas, foram amostrados 2.071 indivíduos,

dos quais 580 indivíduos (28% do total) foram capturados a jusante do barramento

da UHE São Domingos, 536 indivíduos (28,88% do total) na área do reservatório e

955 indivíduos (46% do total) nos tributários São Domingos e Araras. Sendo assim,

notou-se que durante o monitoramento os tributários apresentaram o maior número

de indivíduos, o que demonstra a importância desses dentro da bacia hidrográfica.

As espécies mais representativas nas três microrregiões durante o

monitoramento foram: Hemiodus orthonops (20,3% - bananinha) e Astyanax

altiparanae (16,3% - lambari) a jusante do barramento; Astyanax altiparanae (29,2%

- lambari) e Leporinus elongatus (12,5% - piapara) no reservatório e Hoplias

malabaricus (12,5% - Lobó) e Prochilodus lineatus (13,9% - curimba) nos tributários.

No monitoramento entre novembro de 2010 a agosto de 2012, as espécies

mais representativas foram: Piabina argentea (57,8% = 6.703 indivíduos - lambari) e

Bryconamericus stramineus (14,3% = 1.659 indivíduos – lambari) a jusante da

Cachoeira Branca; B. stramineus (30,8% = 3.607 indivíduos) e Bryconamericus sp.1

(14,3% = 1.673 indivíduos - lambari) a montante da Cachoeira Branca e P. argentea

(16% = 1.582 indivíduos) e Astyanax aff. fasciatus (16% = 1.582 indivíduos –

lambari) nos tributários São Domingos e Araras.

No pré-enchimento (novembro de 2010 a agosto de 2012), somente as quatro

espécies de peixes mais representativas, todas de lambaris, (P. argentea, B.

stramineus, Bryconamericus sp. 1 e A. aff. fasciatus) somaram 8.362 indivíduos

capturados na área da usina. Das quatro espécies citadas mais representativas no

  

27  

pré-enchimento, somente 36 indivíduos de A. aff. altiparanae foram capturados

durante o monitoramento de pós-enchimento, e todos os exemplares foram

capturados com rede de espera.

Conforme o relatório final da equipe de Toledo, a grande maioria das espécies

citadas foi capturada durante os arrastos litorâneos realizados ao entardecer. Por

outro lado, no monitoramento de pós, evidenciamos o maior número de indivíduos

capturados de grande porte, por exemplo: P. lineatus (45 indivíduos no pré e 133

indivíduos no pós-enchimento) e H. malabaricus (45 indivíduos no pré e 157

indivíduos no pós-enchimento). Os valores das outras três espécies mais

representativas no monitoramento de pós-enchimento ficaram abaixo do pré, no

entanto, alguns desses valores são justificados pela presença do barramento, como

por exemplo, L. elongatus (318 indivíduos no pré e 236 indivíduos no pós-

enchimento) e H. orthonops (291 indivíduos no pré e 131 indivíduos no pós-

enchimento) e pelo esforço amostral da rede de arrasto, como por exemplo, A.

altiparanae (402 indivíduos no pré e 326 indivíduos no pós-enchimento).

Podemos perceber através desses resultados o número expressivo de H.

malabaricus (lobo, traíra) na área de estudo, principalmente nos tributários. Neste

relatório manteremos como Hoplias malabaricus até haver uma revisão taxonômica

do grupo malabaricus na bacia.

Durante o pré-enchimento, 81 exemplares de Hoplias (Hoplias sp. 1, Hoplias

sp. 2 e Hoplias sp. 3) foram capturados e no pós-enchimento 119 indivíduos foram

coletados nos tributários (75,7% dos indivíduos de Hoplias coletados na fase de pós-

enchimento). Esse número expressivo pode ser justificado pela disponibilidade de

alimento (lambaris e alevinos de peixe migradores) nos tributários como mencionado

por Apode et al., (2008), visto que, o número expressivo de Hoplias já ocorria antes

da formação do reservatório. Outro dado importante foi o grande número de

indivíduos capturados de P. lineatus (133 indivíduos) nos tributários durante a fase

de pós-enchimento, corroborando com a conclusão de Apode et al., (2008) que

aponta os tributários como local de recrutamento para espécies migradoras de

médio e grande porte.

O enquadramento taxonômico das espécies capturadas na área de influência

da Usina Hidrelétrica São Domingos segue a classificação baseada em Reis et al.

(2003) (Tabela 3).

  

28  

Tabela 3 - Enquadramento taxonômico das espécies e a frequência de captura das diferentes espécies nas 3 microrregiões da área de influência da UHE São Domingos,

durante o período de novembro de 2012 a outubro de 2014. Enquadramento Taxonômico Jusante Reservatório Tributários

n % n % n %

CHARACIFORMES

Curimatidae

Cyphocharax modestus (Fernández-Yépez,1948) 1 0,17 5 0,93 7 0,73

Prochilodontidae

Prochilodus lineatus (Valenciennes, 1836) 29 5,00 11 2,05 133 13,92

Anostomidae

Leporellus vittatus (Valenciennes, 1850) 5 0,86 2 0,37 1 0,10

Leporinus amblyrhynchus Garavello & Britski, 1987 3 0,31

Leporinus elongatus Valenciennes, 1850 77 13,27 67 12,5 119 12,42

Leporinus friderici (Bloch, 1794) 13 2,24 19 3,54 38 3,97

Leporinus lacustris Campus, 1945 18 1,88

Leporinus obtusidens (Valenciennes, 1836) 15 2,58 17 3,17 14 1,46

Leporinus octofasciatus Steindachner, 1915 4 0,68 3 0,55 7 0,73

Schizodon borelli (Boulenger, 1900) 57 9,82 2 0,37

Schizodon nasutus Kner, 1858 5 0,86

Crenuchidae

Characidium sp. 2 0,20

Hemiodontidae

Hemiodus orthonops Eigenmann & Kennedy, 1903 118 20,3 6 1,11 7 0,73

Characidae

Astyanax aff. fasciatus (Cuvier, 1819) 9 1,55 21 3,91 6 0,62

Astyanax altiparanae Garutti & Britskii, 2000 95 16,37 157 29,29 73 7,64

Astyanax sp. 2 0,34

Brycon orbignyanus (Valenciennes, 1850) 1 0,18

Galeocharax knerii (Steindachner, 1879) 8 1,34 4 0,74 2 0,20

Metynnis lippincottianus (Cope, 1870) 16 1,67

Moenkhausia aff. intermedia Eigenmann, 1908 63 6,59

Myloplus sp. 2 0,37

Myleus tiete (Eigenmann & Norris, 1900) 1 0,17 3 0,55 46 4,81

Mylossoma duriventre (Cuvier, 1818) 1 0,10

Oligosarcus pintoi Amaral Campos, 1945 1 0,17

Piaractus mesopotamicus (Holmberg, 1887) 3 0,51 1 0,18 3 0,31

Salminus brasiliensis (Cuvier, 1816) 4 0,74 10 1,04

Salminus hillari Valenciennes, 1850 1 0,18 8 0,83

Serrapinnus notomelas (Eigenmann, 1915) 19 1,98

Serrasalmus maculatus Kner, 1858 6 1,03 14 1,46

Serrasalmus marginatus Valenciennes, 1837 3 0,53 8 0,83

Acestrorhynchidae

Acestrorhynchus lacustris (Lütken, 1875) 45 7,75 65 12,12 105 10,99

Acestrorhynchus pantaneiro Menezes, 1992 12 1,25

Erythrinidae

Hoplerythrinus unitaeniatus (Agassiz, 1829) 3 0,31

Hoplias malabaricus (Bloch, 1794) 5 0,86 33 6,15 119 12,42

  

29  

Enquadramento Taxonômico Jusante Reservatório Tributários

n % n % n %

SILURIFORMES

Loricariidae

Hypostomus albopunctatus (Regan, 1908) 3 0,55

Hypostomus ancistroides (Ihering, 1911) 1 0,17

Hypostomus cf. strigaticeps (Regan, 1908) 1 0,17

Hypostomus cf. ternetzi (Boulenger, 1895) 1 0,18

Hypostomus cochliodon Kner, 1854 17 2,93 5 0,93

Hypostomus regani (Ihering, 1905) 11 1,98 36 6,71 17 1,78

Hypostomus sp. 1 0,17 1 0,18 6 0,62

Pterygoplichthys anisitsi Eignmann & Kennedy, 1903 1 0,10

Pseudopimelodidae

Pseudopimelodus maungurus (Valenciennes, 1835) 1 0,10

Heptapteridae

Pimelodella gracilis (Valenciennes, 1835) 1 0,17 1 0,18

Rhamdia quelen (Quoy & Gaimard, 1824) 1 0,18 4 0,41

Pimelodidae

Hemisorubim platyrhynchos (Valenciennes, 1840) 9 1,55

Pimelodus heraldoi Azpelicueta, 2001 5 0,93 3 0,31

Pimelodus maculatus La Cepède, 1803 3 0,53 1 0,18

Pimelodus ornatus Kner, 1858 1 0,17 1 0,18

Pseudoplatystoma corruscans (Spix & Agassiz, 1829) 3 0,53

Doradidae

Pterodoras granulosus (Valenciennes, 1821) 3 0,53

Rhinodoras dorbignyi (Kner, 1855) 3 0,53 36 6,71 6 0,62

Auchenipteridae

Auchenipterus osteomystax (Miranda-Ribeiro, 1918) 4 0,68

Parauchenipterus galeatus (Linnaeus, 1766) 2 0,34 1 0,10

Tatia neivai (Ihering, 1930) 1 0,18

Trachelyopterus sp. 2 0,37 16 1,67

GYMNOTIFORMES

Gymnotidae

Gymnotus paraguensis Albert & Crampton, 2003 1 0,18

Gymnotus sylvius Albert & Fernandes-Matioli, 1999 1 0,10

Sternopygidae

Eigenmannia trilineata López & Castello, 1966 2 0,37

Sternopygus macrurus (Bloch & Schneider, 1801) 0,37 1 0,10

Apteronotidae

Apteronotus sp. 1 0,18

SYNBRANCHIFORMES

Synbranchidae

Synbranchus marmoratus Bloch, 1795 1 0,10

PERCIFORMES

Cichlidae

Australoheros sp. 3 0,53

Cichla kelberi Kullander & Ferreira, 2006 1 0,17 8 0,83

  

30  

Enquadramento Taxonômico Jusante Reservatório Tributários

n % n % n %

Cichlasoma paranaense Kullander, 1983 2 0,20

Crenicichla britskii Kullander, 1982 1 0,10

Crenicichla haroldoi Luengo & Britski, 1979 2 0,20

Laetacara sp. 16 1,67

Total 580 100,00 536 100,00 955 100,00

A frequência de captura para os pontos situados a jusante do barramento

(Tabela 4), revelou que os pontos P03 e P13 apresentaram as maiores ocorrências

(344 indivíduos e 110 indivíduos, respectivamente), com destaque para as espécies

A. altiparanae (15,00% no P03 e 1,20% = no P13) e H. orthonops (9,82% no P03 e

6,72% no P13).

Comparando os dois monitoramentos, pré e pós-enchimento, verificamos que

a maior frequência de captura repetiu-se nos mesmos pontos, porém, as espécies

em destaque no pré-enchimento foram: B. stramineus (45,30% = 2.612 indivíduos no

P03 e 24,99% = 875 indivíduos no P13) e Bryconamericus sp. 1 (12,31% = 710

indivíduos no P03 e 20,13% = 705 indivíduos no P13), ambas as espécies de

pequeno porte (lambaris) capturadas apenas com arrasto litorâneo (picaré). Essas

duas espécies não foram capturadas durante o pós-enchimento.

Tabela 4 - Frequência de captura das 8 espécies de peixes mais abundantes e das 10 espécies migradoras de longa distância (*) nos pontos de coleta a jusante do barramento, área de

influência da UHE São Domingos, durante o período de novembro de 2012 a outubro de 2014. Espécies P03 P04 P13

n % n % n %

Acestrorhynchus lacustris 40 6,89 3 0,51 1 0,17

Astyanax aff. fasciatus 9 1,55

Astyanas altiparanae 87 15,00 1 0,17 7 1,20

Hemiodus orthonops 57 9,82 22 3,79 39 6,72

Hemisorubim platyrhynchos* 3 1,03 2 0,37 4 0,68

Hypostomus cochliodon 15 2,58 1 0,17 1 0,17

Hypostomus regani 6 1,03 1 0,17 4 0,68

Leporinus elongatus* 51 8,79 10 1,72 16 2,75

Leporinus friderici 6 1,03 2 0,34 5 0,86

Leporinus obtusidens* 15 2,58 6 1,03 11 1,98

Piaractus mesopotamicus* 4 0,68 1 0,17

Pimelodus maculatus* 3 0,53

Pimelodus ornatus* 1 0,17

Prochilodus lineatus* 26 4,48 1 0,17

Pseudoplatystoma corruscans* 1 0,17

Pterodoras granulosus* 2 0,34 2 0,34 1 0,17

  

31  

Espécies P03 P04 P13

n % n % n %

Schizodon borelli 14 2,41 23 3,96 20 3,44

Schizodon nasutus* 4 0,68 1 0,17

Total 344 75 110

A frequência de captura para os pontos situados a montante do barramento

(Tabela 5), revelou que os pontos P01 e P02 apresentaram as maiores ocorrências

(191 indivíduos e 185 indivíduos, respectivamente), com destaque para as espécies

A. altiparanae (14,17% no P01 e 10,63% = no P02) e L. elongatus (4,10% no P01 e

5,97% no P02).

Comparando os dois monitoramentos, pré e pós-enchimento, verificamos que

a maior frequência de captura repetiu-se nos mesmos pontos, porém, as espécies

em destaque no pré-enchimento foram: P. argentea (70,51% = 4.392 indivíduos no

P01 e 41,92% = 1.265 indivíduos no P02) e B. stramineus (7,58% = 472 indivíduos

no P01 e 23,62% = 713 indivíduos no P02), ambas as espécies de pequeno porte

(lambaris) capturadas apenas com arrasto litorâneo (picaré). Essas duas espécies

não foram capturadas durante o pós-enchimento.

Tabela 5 - Frequência de captura das 8 espécies de peixes mais abundantes e das 10 espécies migradoras de longa distância (*) nos pontos de coleta do reservatório, área de influência da

UHE São Domingos, durante o período de novembro de 2012 a outubro de 2014. Espécies P01 P02 P14

n % n % n %

Acestrorhynchus lacustris 31 5,78 18 3,35 16 2,98

Astyanax aff. fasciatus 5 0,93 13 2,42 3 0,55

Astyanas altiparanae 76 14,17 57 10,63 24 4,47

Brycon orbignyanus* 1 0,18

Hoplias malabaricus 14 2,61 7 1,30 12 2,23

Hypostomus regani 11 2,05 8 1,49 17 3,17

Leporinus elongatus* 22 4,10 32 5,97 13 2,42

Leporinus friderici 6 1,11 13 2,42

Leporinus obtusidens* 9 1,67 3 0,55 5 0,93

Piaractus mesopotamicus* 1 0,18 1 0,18

Pimelodus maculatus* 1 0,18

Pimelodus ornatus* 1 0,18

Pseudoplatystoma corruscans* 2 0,37

Prochilodus lineatus* 6 1,11 5 0,93

Rhinodoras dorbignyi 8 1,49 27 5,03 1 0,18

Salminus brasiliensis*

Salminus hillari* 1 0,18 4 0,74

Schizodon borelli 1 0,18 1 0,18

  

32  

Espécies P01 P02 P14

n % n % n %

Total 191 185 94

A frequência de captura para os pontos situados nos tributários (Tabela 6)

revelou que os pontos P08 e P09 apresentaram as maiores ocorrências (228

indivíduos e 188 indivíduos, respectivamente), com destaque para as espécies H.

malabaricus (1,78% no P08 e 6,28% = no P09) e P. lineatus (6,28% no P08 e 4,50%

no P09).

Durante a fase de pré-enchimento a maior frequência de captura ocorreu nos

pontos P11 (1.932 indivíduos) e P12 (5.600 indivíduos). As espécies em destaque

nesses pontos foram: P. argentea (14,13% = 237 indivíduos no P11 e 15,82% = 886

indivíduos no P12) e M. aff. intermedia (10,47% = 202 indivíduos no P11 e 12,48% =

699 indivíduos no P12), ambas as espécies de pequeno porte (lambaris) capturadas

apenas com arrasto litorâneo (picaré). Na fase de pós-enchimento 24 exemplares de

M. aff. intermedia foram coletados no P12 e P. argentea não foi capturada durante

esse monitoramento.

Tabela 6 - Frequência de captura das 8 espécies de peixes mais abundantes e das 6 espécies migradoras de longa distância (*) nos pontos de coleta dos tributários, área de influência da UHE São Domingos, durante o período de novembro de 2012 a outubro de

2014. Espécies P08 P09 P10 P11 P12

n % n % n % n % n %

Acestrorhynchus lacustris 30 3,14 19 1,98 11 1,15 33 3,45 12 1,25

Astyanas altiparanae 25 2,61 5 0,52 11 1,15 17 1,78 16 1,67

Hoplias malabaricus 17 1,78 60 6,28 10 1,04 18 1,88 14 1,46

Hypostomus regani 1 0,10 1 0,10 11 1,15 4 0,41

Leporinus elongatus* 29 3,03 28 2,93 11 1,15 34 3,56 17 1,78

Leporinus friderici 8 0,83 15 1,57 8 0,83 5 0,52 2 0,20

Leporinus lacustris 13 1,36 5 0,52

Leporinus obtusidens* 2 0,37 3 0,31 3 0,31 3 0,31

Moenkhausia aff. intermedia 39 4,08 24 2,51

Myleus tiete 4 0,41 8 0,83 2 0,20 14 1,46 17 1,78

Piaractus mesopotamicus* 1 0,10 2 0,20 1 0,10

Prochilodus lineatus* 60 6,28 43 4,50 8 0,83 13 1,36 9 0,94

Salminus brasiliensis* 5 0,52 2 0,20 3 0,31

Salminus hillari* 3 0,31 1 0,10 4 0,41

Total 228 188 82 144 122

  

33  

Durante as 16 campanhas realizadas nas etapas I (Tabela 7) e II (Tabela 8),

os meses com os maiores número de capturas foram novembro de 2012 na etapa I

(355 indivíduos) e julho de 2014 na etapa II (156 indivíduos). Na etapa I as espécies

mais abundantes foram A. altiparanae (37,46% – Nov/2012) e A. lacustris (22,01% -

Mai/2013) e na etapa II foram H. orthonops (31,08% – Ago/2013) e H. malabaricus

(20,45% - Set/2013).

Durante o pré-enchimento as espécies com maior abundância foram P.

argentea e B. stramineus, tanto na etapa I como na etapa II. Ambas as espécies não

foram capturadas durante o pós-enchimento. Como explicado acima, essas espécies

de peixes são de pequeno porte e podem ser capturados apenas pelo puçá ou pelo

picaré, apetrechos que apresentaram pouco esforço durante o pré-enchimento.

Conforme Baumgartner et. al., (2012) o elevado número de espécies forrageiras,

espécies de pequeno porte, foi corroborado pelo o uso do arrasto (picaré).

Para as espécies migradoras de longa distância, L. elongatus e P. lineatus

foram as que se destacaram ao longo das etapas I e II. De acordo com os resultados

de pré-enchimento as espécies migradoras de longa distância que apresentaram

maiores freqüências foram L. elongatus e S. brasiliensis, porém com um elevado

pico de P. lineatus durante os meses de outubro de 2011 e maio de 2012, dados que

confiram os resultados aqui apresentados.

Tabela 7- Número de indivíduos (n) e frequência de captura (%) das principais espécies de peixes (*migradoras de longa distância) na área de influência da UHE São Domingos,

durante a etapa I correspondente ao período de novembro de 2012 a junho de 2013. Espécies Nov/2012 Dez/2012 Jan/2013 Fev/2013 Mar/2013 Abril/2013 Mai/2013 Jun/2013

n % n % n % n % n % n % n % n %

A. lacustris 34 9,57 4 5,00 23 13,93 20 15,03 37 18,78 17 9,65 35 22,01 9 12,67

A. aff. fasciatus 12 3,38 1 1,25 1 0,60 7 2,26 5 2,53 5 2,84 1 0,62

A.altiparanae 133 37,46 2 2,50 22 13,30 28 21,05 27 13,70 35 19,88 33 20,75 7 9,85

B. orbignyanus* 1 0,28

H. orthonops 10 2,81 4 5,00 1 0,75 4 2,03 15 8,52 12 7,54 6 8,45

H. platyrhynchus* 4 1,12 2 1,01 1 0,56

H. malabaricus 1 0,28 4 5,00 7 4,24 5 3,75 16 8,12 9 5,11 10 6,28 4 5,63

H. regani 23 6,47 3 3,75 7 4,24 4 3,00 3 1,52 3 1,70 1 0,62 2 2,81

L. elongatus* 33 9,29 11 39 23,63 23 17,29 45 22,82 21 11,93 12 7,54 13 18,30

L. friderici 16 4,50 3 3,75 8 6,01 2 1,01 3 1,70 6 3,77 3 4,22

L. obtusidens* 13 3,66 6 7,50 10 6,06 4 3,00 8 4,06 2 1,13

M. tiete 3 0,84 2 2,50 4 2,42 6 3,40 12 7,54

P. mesopotamicus* 2 0,56 1 1,25 1 0,60 2 1,01

P. heraldoi* 2 2,50 1 0,60 1 0,50

P. maculatus* 2 1,13 1 1,40

  

34  

Espécies Nov/2012 Dez/2012 Jan/2013 Fev/2013 Mar/2013 Abril/2013 Mai/2013 Jun/2013

n % n % n % n % n % n % n % n %

P. ornatus* 1 0,28 1 0,50

P. lineatus* 6 1,69 2 2,50 4 2,42 12 9,02 15 7,61 19 10,79 19 11,94 7 9,85

P. corruscans 1 1,25 2 1,21

R. dorbingnyi 3 3,75 2 1,21 2 1,50 6 3,04 3 1,70

S. brasiliensis* 5 6,25 4 2,42 1 0,50 1 0,62 1 1,40

S. hillari* 1 0,75 1 0,50 2 1,13 1 0,62 2 2,81

S. borellii 19 5,35 6 7,50 9 5,45 9 6,76 6 3,04 2 1,13

S. nasutus 1 0,75 1 0,50 2 1,13

Demais espécies 32 9,01 19 23,75 29 17,57 8 6,01 14 7,10 29 16,47 16 10,06 16 22,53

Total 355 100 80 100 165 100 133 100 197 100 176 100 159 100 71 100

Tabela 8 - Número de indivíduos (n) e frequência de captura (%) das principais espécies de peixes (*migradoras de longa distância) na área de influência da UHE São Domingos,

durante a etapa II correspondente ao período de julho de 2013 a outubro de 2014. Espécies Jul/2013 Ago/2013 Set/2013 Out/2013 Jan/2014 Abril/2014 Jul/2014 Out/2014

n % n % n % n % n % n % n % n %

A. lacustris 13 17,56 5 6,75 1 2,27 5 7,14 8 14,81 2 1,73 2 1,34

A. aff. fasciatus 1 1,35 3 2,01

A.altiparanae 10 13,51 3 4,05 1 2,27 3 21,42 3 5,55 11 9,56 5 3,20 3 2,01

B. orbignyanus*

H. orthonops 16 21,62 23 31,08 2 4,54 10 14,28 4 3,47 6 3,84 18 12,08

H. platyrhynchus* 2 2,70

H. malabaricus 4 5,40 11 14,86 9 20,45 5 7,14 6 11,1 23 20,00 6 3,84 26 17,44

H. regani 3 4,05 3 4,05 2 2,70 2 3,70 8 5,36

L. elongatus* 8 10,80 5 6,7 10 27,72 8 11,42 10 12 10,43 4 2,56 9 6,04

L. friderici 4 4,05 5 6,75 4 9,09 1 0,86 5 3,20 10 6,71

L. obtusidens* 4 7,40 1 0,86 3 3,20 5 3,35

M. tiete 1 1,42 10 8,69 6 4,02

P. mesopotamicus* 1 1,35 1 2,27

P. heraldoi* 1 1,85 3 2,01

P. maculatus* 1 0,64

P. ornatus*

P. lineatus* 10 13,51 11 14,86 11 25,00 4 5,40 8 14,81 14 12,17 19 12,17 12 8,05

P. corruscans

R. dorbingnyi 2 3,70 1 0,64 26 17,44

S. brasiliensis* 2 4,54

S. hillari* 1 1,35 1 0,86

S. borellii 5 7,14 2 3,70 1 0,86

S. nasutus 1 1,42

Demais espécies 4 4,05 6 8,10 3 6,81 24 34,28 8 14,81 35 30,43 106 67,94 17 11,40

Total 74 100 74 100 44 100 70 100 54 100 115 100 156 100 149 100

O ranking de abundância das espécies (Gráfico 2) capturadas durante o pós-

enchimento para a área de influência da UHE São Domingos mostra uma

  

35  

superioridade para as espécies A. altiparanae, L. elongatus, A. lacustris, H.

malabaricus e H. orthonops. Todas essas espécies são de médio e grande porte,

com exceção de A. altiparanae. Já no pré-enchimento ocorreu o inverso, onde a

maioria das espécies que apresentaram os maiores índices de indivíduos

capturados é de pequeno porte, como por exemplo, P. argentea, B. stramineus e A.

aff. fasciatus. Novamente, esses valores do pré-enchimento são resultados do uso

da rede litorânea (picaré).

Gráfico 2 – Curva do ranking das espécies coletadas na área de influência da UHE São Domingos, durante o período de novembro de 2012 a outubro de 2014.

Para a diversidade β2-diversidade (Tabela 9), o padrão espacial manteve-se

um pouco acima do encontrado no pré-represamento (β2=0,61 no pré e β2=0,72 no

pós) demonstrando certa dissimilaridade entre as três microrregiões, isto é, valores

baixos β2-diversidade (próximo a 0) indicam maior similaridade na composição de

espécies. As maiores β2-diversidade durante o pós-represamento foram

encontradas entre o reservatório e tributários (β2=0,44) e entre jusante do

barramento e tributários (β2=0,41). O menor valor de β2-diversidade foi encontrado

entre jusante do barramento e reservatório (β2=0,36), indicando uma maior

similaridade entre estes dois ambientes. No pré-enchimento, o maior valor

  

36  

encontrado de β2 foi entre jusante da Cachoeira Branca (=jusante do barramento) e

tributários (β2=0,40), valor similar do pós-represamento (β2=0,41), e o menor foi

encontrado entre montante da Cachoeira Branca (=reservatório) e tributários

(β2=0,31), o inverso encontrado no pós-represamento (β2=0,44). A maior

dissimilaridade entre as espécies capturadas nos pontos entre o reservatório e

tributários é justificada pele tipo de ambiente, no reservatório um ambiente lêntico e

nos tributários lótico.

Tabela 9 - Valores de β2-diversidade entre as microrregiões da área de influência da UHE São Domingos, durante o período de novembro de 2012 a outubro de 2014.

Microrregiões β2-diversidade

Reservatório e tributários 0,44

Jusante do barramento e tributários 0,41

Jusante do barramento e reservatório 0,36

Jusante do barramento, reservatório e tributários 0,72

A partir das 70 espécies capturadas nas 11 unidades amostrais localizadas

dentro da área de influência UHE São Domingos durante o pós-enchimento foi

realizada uma análise de agrupamento utilizando o Índice de Similaridade Bray-

Curtis Analysis. Todos os grupos apresentaram similaridade superior a 50%,

indicando uma situação em que há um grande contingente de espécies comuns

entre estas unidades. O primeiro grupo formado entre os pontos 1, 2 e 3, e o

segundo entre os pontos 12, 11, 14, 10 e 8. Estes dois grupos formam um grande

grupo que apresentam uma maior afinidade com o ponto 9, os quais apresentam

uma maior similaridade com os pontos 4 e 13. Porém, esta situação provavelmente

mudará com o acréscimo de novas amostragens (Gráfico 3).

  

37  

Gráfico 3 - Agrupamento das onze unidades amostrais localizadas na área de influência

da UHE São Domingos, aplicados a similaridade de Bray-Curtis Analysis.

Comparando o dendrograma de similaridade do pré-enchimento com o de

pós percebemos que não ocorreram mudanças entre alguns grupos, como por

exemplo, o grupo que compreende os pontos 1 e 2, os pontos 10 e 14 e pontos 4 e

13. E o ponto 3, que fica abaixo da cachoeira branca, se manteve, assim como no

pré-enchimento, separado dos demais pontos localizados a jusante da cachoeira

branca (pontos 4 e 13). O que não era esperado com a formação do reservatório

como descreveu Baumgartner et. al., (2012).

4.2. Riqueza de espécies

Refere-se apenas ao número de espécies presente em uma determinada área definida.

Considerando as 11 UA (unidades amostrais), a riqueza média foi de 4.1

espécies e a amplitude de variação deste valor oscilou entre 0 (zero) (Pontos 8 e 9 –

Primavera de 2012; Ponto 9 – Verão de 2012; Pontos 2, 4 e 12 – Verão de 2013;

Pontos 4, 13 e 14 – Outono de 2013; Pontos 1, 2, 4, 10, 11, 13 e 14 – Inverno de

2013; Pontos 1, 2, 3, 10, 13 e 14 – Primavera 2013; Pontos 2 e 13 – Verão de 2014;

Pontos 3, 4 e 10 – Outono de 2014; Pontos 4 e 13 – Inverno de 2014; Ponto 4 –

Primavera de 2014) e 17 espécies (Ponto 3 – Outono de 2013) (Tabela 10; Gráfico

4).

  

38  

Tabela 10 - Valores médios, mínimos, máximos e variação de riqueza de espécies de peixes capturadas na área de influência da UHE São Domingos, MS. Valores extremos

estão em negrito na tabela. Local Média Mínimo Máximo Variação

Ponto 1 3.6 0 15 15

Ponto 2 3.8 0 14 14

Ponto 3 6.6 0 17 17

Ponto 4 2.2 0 10 10

Ponto 8 4.8 0 9 9

Ponto 9 5.5 0 14 14

Ponto 10 3.6 0 9 9

Ponto 11 4.5 0 13 13

Ponto 12 3.5 0 7 7

Ponto 13 3.4 0 12 12

Ponto 14 2.1 0 9 9

Gráfico 4 - Riqueza de espécies registradas na área de influência da UHE São Domingos

Os maiores valores de riqueza foram encontrados nos pontos localizados nos

tributários (46 spp.), no reservatório (40 spp.) e a jusante da cachoeira branca (39

spp.). No pré-enchimento, esta distribuição ocorreu à jusante da cachoeira branca

(75 spp.), nos tributários (54 spp.) e a montante da cachoeira branca (51 spp.),

respectivamente. Os valores de riqueza diminuíram nas três microrregiões durante o

monitoramento de pós-enchimento. Essa diminuição pode estar diretamente

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

Número de espécies

Riqueza de espécies 

P1

P2

P3

P4

P8

P9

P10

P11

P12

P13

P14

  

39  

relacionada ao tipo de apetrecho utilizado para a captura, como por exemplo, o

arrasto litorâneo que foi pouco aplicado durante o monitoramento de pós-

enchimento. Este tipo de apetrecho é fundamental para a captura de espécies de

pequeno porte, como por exemplo, B. stramineus, Bryconamericus sp.1, K.

moenkhausii, M. aff. intermédia, M. aff. sanctaefilonenae, Odontostilbe sp., P.

argêntea, R. descalvadensis, S. notomelas, Serrapinus sp.1, Serrapinus sp. 2, P.

australis, P. paulensis, P. oxyptera, Microlepidogaster sp., Rineloricaria sp., C.

iheringi, I. borodini, I. mirini, I. schubarti, P. tenebrosa, A. commbrae, C. aff. zebra e

Characidium sp. Dessas, apenas três espécies foram coletadas com o arrasto

litorâneo quando aplicado durante o pós-enchimento. Conforme Baumgartner et. al.,

(2012) a maior riqueza a jusante da cachoeira Branca deve-se ao fato da captura de

espécies forrageiras, espécies de pequeno porte, que foi corroborado pelo uso do

arrasto litorâneo (picaré). 

4.3. Índice de Diversidade

Destina-se a determinar a variabilidade de dados mesurados em escala

nominal, ou seja, a distribuição de observações entre categorias.

O índice de diversidade médio foi de 0.40 e a amplitude de variação deste

valor oscilou entre 0 (zero) (Pontos 8 e 9 – Primavera de 2012; Ponto 9 – Verão de

12; Pontos 2, 4 e 12 – Verão de 2013; Pontos 4, 13 e 14 – Outono de 2013; Pontos

1, 2, 4, 10, 11, 13 e 14 – Inverno de 2013; Pontos 1, 2, 3, 10, 13 e 14 – Primavera

2013; Pontos 2 e 13 – Verão de 2014; Pontos 3, 4 e 10 – Outono de 2014; Pontos 4

e 13 – Inverno de 2014; Pontos 4 e 14) e 0.98 (Ponto 13 - Primavera de 2012 e

Ponto 9 – Outono de 2014) (Tabela 11 – Gráfico 5).

Os maiores valores de diversidade no pré-enchimento foram encontrados nos

tributários (H´= 2,55), a jusante da cachoeira Branca (H´= 2,48) e a montante da

cachoeira Branca (H´= 1,76). Durante o pós-enchimento, a maior média de

diversidade foi encontrada nos tributários (H´ = 0,47) (P08+P09+P10+P11+P12),

seguida dos pontos a jusante do barramento (H´ = 0,37) (P03+P04 e P13) e da

média encontrada a montante do barramento (reservatório) (H` = 0,32)

(P01+P02+P14). Assim como na riqueza, os valores de diversidade diminuíram nas

  

40  

três microrregiões durante o monitoramento de pós-enchimento. A diminuição de

diversidade está diretamente relacionada à diminuição na captura de espécies.

Durante o pré-enchimento todos os apetrechos foram utilizados, capturando desta

forma tanto espécies de pequeno porte como de grande porte. As espécies menores

foram capturadas com puçás e arrastos litorâneos, e as maiores com rede de espera

e espinhéis. No pós-enchimento, o uso do apetrecho puçá e arrasto litorâneo foi

quase nulo, impossibilitando desta forma a captura de diversas espécies peixes de

pequeno porte, diminuído assim o índice de diversidade nestas três microrregiões

durante esta fase do rio. 

Tabela 11 - Valores médios, mínimos, máximos e variação do índice de diversidade de Shannon-Wiever das unidades amostrais na área de influência da UHE São Domingos,

MS. Valores extremos estão em negrito na tabela Local Média Mínimo Máximo Variação

Ponto 1 0.37 0 0.88 0.88

Ponto 2 0.38 0 0.82 0.82

Ponto 3 0.53 0 0.96 0.96

Ponto 4 0.24 0 0.83 0.83

Ponto 8 0.46 0 0.89 0.89

Ponto 9 0.58 0 0.98 0.98

Ponto 10 0.39 0 0.91 0.91

Ponto 11 0.52 0 0.89 0.89

Ponto 12 0.41 0 0.72 0.67

Ponto 13 0.36 0 0.98 0.98

Ponto 14 0.21 0 0.69 0.69

 

  

41  

 

Gráfico 5 – Índice de diversidade de Shannon-Wiener das unidades amostrais na área de influência da UHE São Domingos.

 

4.4 . Índice de Equitabilidade

A equidade evidencia a relação de proporção entre os indivíduos de

diferentes espécies de uma determinada área. Valores elevados de equidade

(máximo = 1) informam que a proporção está mais equilibrada ou equitativa e

valores baixos informam que há o domínio em número de indivíduos de poucas

espécies na comunidade local. A equidade evidencia situações em que algumas

espécies são favorecidas pelas condições locais e conseguem ter maiores

abundâncias em relação ao restante do conjunto da comunidade.

O valor do índice de equitabilidade médio foi de 0.58 e a amplitude de

variação deste valor oscilou entre -1 (Ponto 12 – Primavera de 2012; Ponto 8 –

Verão de 12; Pontos 4, 8, 11 e 14 – Verão de 2013; Ponto 12 – Outono de 2013;

Pontos 1 e 14 – Inverno de 2013; Pontos 1, 2, 10 e 11 – Primavera 2013; Pontos 2 e

14 - Verão de 2014; Ponto 12 – Outono de 2014; Pontos 4 e 13 – Inverno de 2014;

Ponto 14 – Primavera de 2014) e 1.00 (Ponto 1, 11 e 12 – Verão de 2012; Ponto 1 –

Verão de 2013; Ponto 2 – Outono 2013; Pontos 2, 10 e 11 – Inverno de 2013;

Pontos 12 e 14 – Verão de 2014) (Tabela 12; Gráfico 6).

0,00

0,20

0,40

0,60

0,80

1,00

1,20

Índice de diversidade de Shannon

P1

P2

P3

P4

P8

P9

P10

P11

P12

P13

P14

  

42  

Tabela 12 - Valores médios, mínimos, máximos e variação do índice de equitabilidade das unidades amostrais na área de influência da UHE São Domingos, MS. Valores extremos

estão em negrito na tabela Local Média Mínimo Máximo Variação

Ponto 1 0.57 -1 1.00 0

Ponto 2 0.57 -1 0.97 0.03

Ponto 3 0.56 0 0.92 0.92

Ponto 4 0.42 -1 0.96 - 0.04

Ponto 8 0.65 -1 0.94 -0.06

Ponto 9 0.73 0 0.94 0.94

Ponto 10 0.54 0 0.95 0.95

Ponto 11 0.77 -1 1.00 2.00

Ponto 12 0.62 -1 1.00 2.00

Ponto 13 0.57 0 0.97 0.97

Ponto 14 0.31 -1 1.00 2.00

De acordo com os dados de pré-enchimento, o índice de equitabilidade foi

superior nos tributários (média = 0,58), a jusante da Cachoeira Branca (média =

0,55) e a montante da Cachoeira Branca (média = 0,42). No pós-enchimento, a

média nos tributários (P08+P09+P10+P11+P12) foi de E = 0,66, um pouco acima do

que o encontrado no pré-enchimento, demonstrando um maior equilíbrio entre as

espécies existente neste biótopo. A jusante do barramento (P03+P04 e P13) a

média foi de E = 0,51, um pouco abaixo do que encontrado no pré-enchimento, no

entanto, nada que demonstre um domínio de certas espécies sobre outras. A

montante do barramento (reservatório) (P01+P02+P14) a média foi de E = 0,48, um

pouco acima do que foi encontrado no pré-enchimento, demonstrando um maior

equilíbrio entre as espécies do que foi encontrado antes do barramento, porém, este

valor pode mudar nos próximos monitoramentos. No reservatório, geralmente

algumas espécies, em especial as espécies forrageiras (Astyanax spp.,

Bryconamericus spp., Moenkhausia spp.), piscívoras (Hoplias spp., Acestrorhynchus

spp., Oligosarcus spp., Serrasalmus spp.) e iliófagas (Cyphocharax spp.) tendem a

aumentar muito em ambientes lênticos, diminuindo desta forma o valor da

equitabilidade neste biótopo.

  

43  

Gráfico 6 - índice de equitabilidade das unidades amostrais na área de influência da UHE São Domingos.

4.5 . Capturas por equipamento de coleta

A rede de espera e o picaré foram os apetrechos de captura usados para a

captura da comunidade de peixes na área de influência da UHE São Domingos. A

rede de espera foi responsável por 92.4% dos indivíduos (2012 indivíduos) e 92.5%

das espécies coletadas (67 spp.). Em contraste, o picaré apresentou baixos índices

de captura, tanto no número de indivíduos como no número de espécies (Gráfico 7).

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

Índice de equitabilidade

P1

P2

P3

P4

P8

P9

P10

P11

P12

P13

P14

  

44  

Gráfico 7 – Número de espécies e de indivíduos por aparelho de pesca na área de

influência da UHE São Domingos, MS.  

Os baixos valores obtidos pelo picaré (rede litorânea) não são justificados

pelo barramento. A única justificativa para estes valores tão baixos de captura por

este apetrecho, tanto de espécies como de indivíduos, é o baixo uso do mesmo

durante o monitoramento entre 2012 e 2014, em virtude da ineficiência deste,

conforme já foi demonstrado em tópicos anteriores.

4.6. Capturas por Equipamento de Coleta

As redes de espera de malha simples foram mais eficientes do que as

feiticeiras (tresmalhos) na captura dos peixes, tanto em número de espécies como

de indivíduos (Gráfico 8).

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

1600

1800

2000

Rede  Picaré

Espécies

Indivíduos

  

45  

Gráfico 8 - Número de espécies e de indivíduos capturados pelo tipo de rede na área de influência da UHE São Domingos, MS.

 

4.7. Captura por malha

As redes de espera de malha simples 4, 3, 5 e 2.4 cm foram as mais eficientes

na captura tanto de indivíduos como de táxons, respectivamente (Gráfico 9). As

redes do tipo tresmalhos (feiticeiras) mais eficientes na captura de indivíduos foram

as de malha 6, 7 e 8 cm, respectivamente. Na captura de táxons foram as feiticeiras

de malha 6, 8 e 7 cm, respectivamente (Gráfico 10).

Gráfico 9 - Número de espécies e de indivíduos capturados por malha de rede simples de pesca na área de influência da UHE São Domingos, MS.

 

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

Feiticeira Simples

Espécies

Indivíduos

0

50

100

150

200

250

300

350

20 29 36 26 18 17 15 11 18 12 5 12

144

326 335

167

5481 82

3151

28 1731

Espécie

Indivíduos

  

46  

Gráfico 10 - Número de espécies e de indivíduos capturados por rede de pesca do tipo tresmalhos na área de influência da UHE São Domingos, MS.

4.8 . Composição em função do porte de tamanho

A área em estudo foi composta por uma comunidade de peixes bem

equilibrada em relação ao porte. As espécies de pequeno porte (≤25 cm) resultaram

em 28 spp., seguidos das espécies de médio porte (26≥50 cm), com 26 espécies e

das espécies de grande porte (≥51 cm), com 16 spp., conforme demonstra o Gráfico

11 e a Tabela 13.

Gráfico 11 - Número de espécies e de indivíduos da ictiofauna por porte de tamanho

capturados na área de influência da UHE São Domingos, MS.

0

50

100

150

200

250

300

Malha 6 Malha 7 Malha 8

30 22 25

279

224

162Espécie

Indivíduos

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

Pequeno Médio Grande

28 26 16

611 615

845

Número

Porte de tamanho

Espécies

Indivíduos

  

47  

A presença de indivíduos jovens e adultos de algumas espécies sugere que

as diferentes fases de desenvolvimento estão presentes, possibilitando assim a

continuidade das espécies na área de influência da UHE São Domingos. Foram

coletados, por exemplo, indivíduos jovens de S. brasiliensis, P. lineatus, A.

altiparanae e Leporinus spp.

Tabela 13 - Variação do comprimento total (cm), porte, habitat e hábito alimentar das espécies coletadas no rio Verde e afluentes, na área de influência da UHE São Domingos.

Espécies Variação do comprimento Porte Habitat Hábito alimentar

Acestrorhynchus lacustres 14,0-29,0 Médio Todos Piscívoro

Acestrorhynchus pantaneiro 18,5-25,0 Médio Todos Piscívoro

Apteronotus sp. 23,0 Pequeno Rios e Lagos Insetívora aquática

Astyanax altiparanae 6,0-18,0 Pequeno Todos Herbívora

Astyanax cf.fasciatus 8,0-16,0 Pequeno Todos Herbívora

Astyanax sp. 9,0-10,0 Pequeno Todos Herbívora

Auchenipterus osteomystax 21,0-25,0 Médio Rios Insetívora aquática

Australoheros sp. 6,0-11,0 Pequeno Rios e lagos Insetívora aquática

Brycon orbygnianus 45,0 Grande Rios Onívora

Characidium sp. 3,0-3,5 Pequeno Rios Insetívora aquática

Cichla kelberi 34,0 Grande Rios e lagos Piscívora

Cichlasoma paranaense 8,0-11,5 Pequeno Rios e lagos Insetívora aquática

Crenicichla britskii 7,0 Pequeno Rios e lagos Insetívora aquática

Crenicichla haroldoi 4.5 Pequeno Rios e lagos Insetívora aquática

Cyphocharax modestus 11,5-15,0 Pequeno Rios e lagos Iliófaga

Eigenmannia trilineata 14,0-19,0 Pequeno Todos Insetívora aquática

Galeocharax knerii 11,0-26,0 Médio Rios e Lagos Piscívora

Gymnotus paraguensis 24,0 Médio Rios e Lagos Insetívora aquática

Gymnotus sylvius 21,0 Pequeno Rios e Lagos Insetívora aquática

Hemigrammus marginatus 3,0-3,5 Pequeno Todos Insetívora terrestre

Hemiodus orthonops 24,0-32,0 Médio Rios Onívora

Hemisorubim platyrhynchos 31,0-38,0 Grande Rios Piscívora

Hoplerythrinus unitaeniatus 17,0 Pequeno Rios e Lagos Piscívora

Hoplias intermedius 32,0 Médio Rios e Lagos Piscívora

Hoplias malabaricus 16,0-48 Grande Todos Piscívora

Hypostomus albopunctatus 19,0-25,0 Médio Rios Detritívora

Hypostomus ancistroides 11,5 Médio Rios Detritívora

Hypostomus cf.strigaticeps 25,0 Médio Rios Detritívora

Hypostomus cochliodon 22,5-27,0 Médio Rios Detritívora

Hypostomus regani 10,0-26,0 Médio Rios Detritívora

Hypostomus sp. 7,5-16,0 Médio Rios Detritívora

Hypostomus ternetzi 24,0 Médio Rios Detritívora

Laetacara sp. 1,0-4,5 Pequeno Rios e Lagos Insetívora aquática

Leporellus vittatus 15,0-17,0 Médio Rios Insetívora aquática

Leporinus amblyrhynchus 16,5 Pequeno Rios Herbívora

Leporinus elongatus 7,0-41,0 Grande Rios Herbívora

Leporinus friderici 16,0-38,0 Grande Rios Herbívora

Leporinus obtusidens 10,0-51,0 Grande Rios Herbívora

Leporinus octofasciatus 11,5-26,0 Médio Rios Herbívora

  

48  

Espécies Variação do comprimento Porte Habitat Hábito alimentar

Leporinus lacustris 11,5-14,0 Pequeno Rios Herbívora

Metynnis lippincottianus 11,5 Pequeno Rios e Lagos Herbívora

Moenklausia aff. intermedia 2,0-,3,5 Pequeno Rios Insetívora terrestre

Myloplus sp. 7,0-14,0 Pequeno Rios e Lagos Herbívora

Myloplus tiete 10,0-20,5 Médio Rios e Lagos Herbívora

Mylossoma duriventre 24,0 Médio Rios e Lagos Herbívora

Oligodarcus pintoi 22,0 Médio Rios e lagos Piscívora

Parauchenipterus galeatus 12,0-18,0 Pequeno Rios e Lagos Onívora

Piaractus mesopotamicus 24,0-30 Grande Rios e Lagos Herbívora

Pimelodella gracilis 14,0 Pequeno Rios Insetívora aquática

Pimelodus heraldoi 12,0-25,0 Pequeno Rios Onívora

Pimelodus maculatus 29,0-38,0 Médio Rios Onívora

Pimelodus ornatos 30,0 Médio Rios Onívora

Prochilodus lineatus 13,5-60,0 Grande Rios Iliófaga

Pseudopimelodus mangurus 12,5 Pequeno Rios Insetívora aquática

Pseudoplatystoma corruncans 48,0-94,0 Grande Rios Piscívora

Pterodotas granulosus 55,0-62,0 Grande Rios Onívora

Pterygoplichthys anisitsi 44,0 Grande Rios Detritívora

Rhamdia quelen 18,0-51,0 Grande Todos Bentófaga

Rhinodoras dorbignyi 9.5-16 Pequeno Rios e Lagos Bentófaga

Salminus brasiliensis 18,0-55,0 Grande Rios Piscívora

Salminus hilarii 26,0-33,0 Grande Rios Piscívora

Serrapinus notomelas 2,0-2,5 Pequeno Rios e lagos Herbívora

Schizodon borelli 27,0-41,0 Grande Rios Herbívora

Schizodon nasutus 26,0-31,0 Médio Rios Herbívora

Serrasalmus maculatus 13,0-23,0 Médio Rios e Lagos Piscívora

Serrasalmus marginatus 19,0-23,0 Médio Rios e Lagos Piscívora

Sternopygus macrurus 25,0 Médio Rios e Lagos Insetívora aquática

Synbranchus marmoratus 25,0 Médio Todos Insetívora aquática

Tatia neivai 8,0 Pequeno Rios Onívora

Trachelyopterus sp. 10,5-17,0 Pequeno Rios e Lagos Onívora

4.9 .Índice de repleção estomacal

Os estudos referentes ao hábito alimentar de peixes, é de extrema

importância, principalmente para a conservação em ambiente natural. A questão

fundamental diz respeito á flexibilidade observada à dieta de muitas espécies.

Devido principalmente a este fato, o estudo dos itens alimentares encontrados no

conteúdo estomacal de diferentes espécies da ictiofauna tem se tornado frequente e

de fundamental importância para conservação de diferentes espécies.

De acordo com diversos autores, os peixes podem ocupar vários níveis

tróficos dentro de um ecossistema, entretanto, a classificação dos mesmos em

categorias tróficas definidas tem sido dificultada em função da enorme variedade de

  

49  

espécies conhecidas, além do amplo espectro de itens alimentares ingeridos pelas

mesmas.

As espécies com estômagos retirados em condições para análise da dieta

(grau de repleção acima de um) durante as dezesseis campanhas foram:

Acestrorhynchus lacustres, Acestrorhynchus pantaneiro, Astyanax altiparanae,

Astyanax cf. fasciatus, Brycon orbygnianus, Cyphocharax modestus, Hemiodus

orthonops, Hemisorubim platyrhynchos, Hoplias malabaricus, Hypostomus regani,

Leporinus elongatus, Leporinus friderici, Leporinus obtusidens, Myloplus tiete,

Piaractus mesopotanicus, Pimelodus heraldoi, Prochilodus lineatus, Rhamdia

quelen, Salminus brasiliensis, Saminus hilarii, Schizodon borelli, Serrasalmus

maculatus e Trachelyopterus sp.

Analisando-se o conteúdo estomacal dos indivíduos capturados, foram

obtidos os resultados apresentados nas tabelas 14 a 19.

Tabela 14 - Ocupação do conteúdo estomacal ao volume total do estômago (Grau de repleção): 0=vazio; 1=parcialmente vazio; 2= quase cheio; 3=cheio.

Espécie Novembro de 2012 Dezembro de 2012 Janeiro de 2013

0 1 2 3 0 1 2 3 0 1 2 3

Acestrorhynchus lacustris 18 2 2 12 2

Astyanax altiparanae 15 7 5 1 7

Astyanax cf. fasciatus 3 2 1

Cyphocharax modestus 4

Galeocharax knerii 1

Hoplias malabaricus 6 3 1 1 1

Hemiodus orthonops 2 1 3

Hypostomus regani 5

Leporinus elongatus 6 2 1 3 2 5 2 1

Leporinus friderici 5 1 1 3

Leporinus obtusidens 9 1 2 3 1 1

Myloplus tiete 1

Piaractus mesopotanicus 1

Pimelodus heraldoi 1

Prochilodus lineatus 1 1 1 2 1

Salminus brasiliensis 1 1 1 3

Schizodon borelli 5

Trachelyopterus sp. 3 2 1

  

50  

É importante ressaltar que as espécies predadoras (piscívoras), quando

coletadas, na maioria das vezes, estavam com os estômagos vazios. As espécies

pertencentes a este grupo funcional ou guilda trófica costumam regurgitar o alimento

em situação de perigo.

Tabela 15 - Ocupação do conteúdo estomacal ao volume total do estômago (Grau de repleção): 0=vazio; 1=parcialmente vazio; 2= quase cheio; 3=cheio.

Espécie Fevereiro de 2013 Março de 2013 Abril de 2013

0 1 2 3 0 1 2 3 0 1 2 3

Acestrorhynchus lacustris 13 4 1 22 10

Acestrorhynchus pantaneiro 9 3 1

Astyanax altiparanae 5 16 6 3 1 8 4

Astyanax cf. fasciatus 1 5 1 1 1 3

Hemiodus orthonops 1 1 10 4

Hemisorubim platyrhynchos 2 1

Hoplias malabaricus 4 10 1 1 6

Hypostomus regani 2 2

Leporinus elongatus 5 1 7 1 3 3 1

Leporinus friderici 2 6 1 1 1 1

Leporinus obtusidens 2 2 3 1 1

Pimelodus maculatus 1 1

Prochilodus lineatus 3 11 16

Salminus brasiliensis 1

Schizodon borelli 6 1 1 2

Serrasalmus marginatus 1

Tabela 16 - Ocupação do conteúdo estomacal ao volume total do estômago (Grau de repleção): 0=vazio; 1=parcialmente vazio; 2= quase cheio; 3=cheio.

Espécie Maio de 2013 Junho de 2013 Julho de 2013

0 1 2 3 0 1 2 3 0 1 2 3

Acestrorhynchus lacustris 33 9 11 2

Acestrorhynchus pantaneiro 4 1 3 1

Astyanax altiparanae 12 6 1 1 9

Hemiodus orthonops 4 3 1 6 11 5

Hoplias malabaricus 9 4 4

Hypostomus regani 1 3 2

Leporinus elongatus 2 1 1 2 1 3 1

Leporinus friderici 3 3 2

Myloplus tiete 11

Prochilodus lineatus 1 6 1 1 5 10

Salminus brasiliensis 1 1

  

51  

Tabela 17 - Ocupação do conteúdo estomacal ao volume total do estômago (Grau de repleção): 0=vazio; 1=parcialmente vazio; 2= quase cheio; 3=cheio.

Espécie Agosto de 2013 Setembro de 2013 Outubro de 2013

0 1 2 3 0 1 2 3 0 1 2 3

Acestrorhynchus lacustris 5 1 4

Astyanax altiparanae 3 1 3

Hemiodus orthonops 1 14 8 2 1

Hemisorubimplatyrhynchos 1 1

Hoplias malabaricus 7 1 2 1 8 1 5

Hypostomus regani 1 1 1

Leporinus elongatus 1 2 1 1 2 1 1 2 2

Leporinus friderici 2 2 1 1 3

Myloplus tiete 1

Piaractus mesopotanicus 1

Prochilodus lineatus 11 11 1 2

Rhamdia quelen 1

Salminus brasiliensis 2

Salminus hilarii 1

Serrasalmus maculatus 2 1 1

Schizodon borelli 3 1

Tabela 18 - Ocupação do conteúdo estomacal ao volume total do estômago (Grau de repleção): 0=vazio; 1=parcialmente vazio; 2= quase cheio; 3=cheio.

Espécie Fevereiro de 2014 Maio de 2014

0 1 2 3 0 1 2 3

Acestrorhynchus lacustris 7 1 1

Astyanax altiparanae 2 4 7

Hemiodus orthonops 3 1

Hoplias malabaricus 6 11 5 2 3

Hypostomus regani 2

Leporinus elongatus 5 2 1 1 4 2

Myloplus tiete 2 1 1 3

Prochilodus lineatus 1 7 4 6

Salminus hilarii 1

Schizodon borelli 2 1

Serrasalmus maculatus 1 1 1

Tabela 19 - Ocupação do conteúdo estomacal ao volume total do estômago (Grau de

repleção): 0=vazio; 1=parcialmente vazio; 2= quase cheio; 3=cheio.

Espécie Julho de 2014 Outubro de 2014

0 1 2 3 0 1 2 3

Acestrorhynchus lacustris 2

Acestrorhynchus pantaneiro 2 1

Astyanax altiparanae 3 1 1 3

Astyanax cf. fasciatus 2 1

  

52  

Espécie Julho de 2014 Outubro de 2014

0 1 2 3 0 1 2 3

Cyphocharax modestus 2

Hemiodus orthonops 2 1 13 5

Hoplias malabaricus 3 1 1 25 1

Hypostomus regani 8

Leporinus elongatus 2 4 2

Leporinus frederice 2 1 8 1

Leporinus obtusidens 1 2 2

Myloplus tiete 1 1 3

Pimelodus heraldoi 2 1

Prochilodus lineatus 10 5

Trachelyopterus sp. 2 1

Conforme observado nas tabelas anteriores, verificou-se, para a maioria das

espécies, o predomínio de indivíduos com estômagos vazios (0), correspondendo a

70% (1a camp.), 35% (2a camp.), 54% (3a camp.), 50% (4a camp.), 59% (5a camp.),

54% (6a camp.), 52% (7a camp.), 43% (8a camp.), 27% (9a camp.), 42% (12a camp.) e

32.5% (13a camp.), 27.7% (14acamp.) e 34,4% (16acamp.)

4.10 .Dieta e hábito alimentar

Foram analisados 280 estômagos pertencentes a 28 espécies de peixes que

apresentaram o n>10, onde foram identificados os 10 principais recursos

alimentares. Baseado no índice de Importância Alimentar (IAi), verificou-se que o

vegetal foi o item principal na dieta de 11 espécies (A. altiparanae, A. cf. fasciatus, L.

elongatus, L. friderici, L. obtusidens, L. octofasciatus, L. lacustris, M. lippicottianus,

M. tiete, S. notonelas e S. borellii). Detritos foi o item mais importante para C.

modestus e P. lineatus. Detrito constituiu a base da dieta de H. cochliodon e H.

regani. Os insetos terrestres constituíram o principal item de M. aff. intermedia e

Trachelyopterus sp.. O principal alimento de Laetocara sp. são os insetos aquáticos,

juntamente com microcrustáceos. O item peixe é o principal alimento de A. lacustris,

A. pantaneiro, G. knerii, H. platyrhynchos, H. malabaricus, S. brasiliensis, S.

maculatus e S. marginatus. H. orthonops possui uma dieta constituída basicamente

de insetos terrestres, invertebrados, algas filamentosas e detritos. R. dorbignyi

ingeriram maior proporção de invertebrados (Tabela 20).

  

53  

Conforme os resultados de pré-enchimento, diversos alimentos fizeram parte

da dieta das espécies analisadas, porém, com predominância de vegetal, peixe e

insetos em geral (aquático e terrestre). No pós-enchimento não foi diferente, os

mesmos itens predominantes foram encontrados na maioria das espécies

analisadas, principalmente, o item vegetal que foi predominante para 10 spp.

(35,7%) e o peixe para 8 spp. (28,5%).

De acordo com a categoria trófica encontrada nas três microrregiões

(jusante do barramento, reservatório e tributários) o vegetal é o item alimentar mais

consumido nessas áreas durante o pós-enchimento. Essa conclusão é justificada

pelo número de espécies herbívoras capturadas nestas microrregiões, onde atingem

valores superiores às demais categorias.

De acordo com os resultados do pré-enchimento, o vegetal foi o principal

alimento consumido nos três biótopos, contribuindo com os resultados aqui

encontrados. O item peixe, no pós-echimento, foi o segundo recurso alimentar mais

consumido nos três biótopos, justificado pelo grande número de espécies piscívoras

encontradas nessas áreas. No pré-enchimento, conforme já mencionado acima,

esse item alimentar apresentou uma grande participação na dieta de muitas

espécies.

O menor valor foi encontrado a montante da Cachoeira Branca e o maior nos

tributários, o mesmo encontrado durante o pós-enchimento, analisando o número de

espécies de cada região. O item alimentar insetos (aquáticos e terrestres) foi o

terceiro mais consumido na área em estudo durante o pré-enchimento e pós-

enchimento. No pós-enchimento, esse recurso teve uma maior participação dos

insetos aquáticos, onde o número de espécies insetívoras aquáticas foi superior as

insetívoras terrestres. Na fase pré-enchimento, esse item alimentar (insetos) teve

maior participação dos insetos terrestres. Essa inversão do tipo do item alimentar

(insetos) é explicada pelo tipo de apetrecho utilizado durante a captura dos peixes,

pois no pré-enchimento, o arrasto litorâneo teve uma grande participação na captura

de espécies de pequeno porte (lambaris), sendo essas a maioria insetívoras

terrestres. Já durante o pós-enchimento, o arrasto litorâneo foi pouco utilizado,

diminuído desta forma a presença dessas espécies durante o monitoramento.

  

54  

No geral, a estrutura trófica da comunidade de peixes encontrada na área de

influência da UHE São Domingos não se modificou após a formação do lago.

Em ambos os monitoramentos, a estrutura trófica foi principalmente

composta de espécies herbívoras, piscívoras e insetívoras aquáticas ou terrestres.

No pós-enchimento, a comunidade de peixes da área de influência da UHE São

Domingos foi composta principalmente de espécies herbívoras (17 spp.), insetívoras

aquáticas (16 spp.) e piscívoras (14 spp.) (Gráfico 12).

Gráfico 12 - Número de espécies da ictiofauna por categoria trófica capturadas na área de influência da UHE São Domingos, MS.

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

2

8

17

2

16

3

8

14

Número de espécies

Categoria trófica

Tabela 20 - Índice de Importância Alimentar (IAi) dos itens utilizados pelas espécies de peixes analisadas na área de influência da UHE São Domingos, durante o período de novembro de 2012 a outubro de 2014. (Número de indivíduos (n), amplitude do comprimento padrão (Ls), e

proporção de itens na dieta de cada espécie. 1 = microcrustáceos, 2 = inseto aquático, 3 = inseto terrestre, 4 = outros invertebrados, 5 = peixes, 6 = alga unicelular, 7 = alga filamentosa, 8 = vegetal superior, 9 = detrito, 10 = sedimento

Espécies e Categorias Tróficas

Principais Recursos Alimentares

n Ls 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 HERBÍVORAS Astyanax altiparanae 10 10,0-14,0 7,9 15,5 1,2 75,4 Astyanax cf. fasciatus 10 8,0-13,0 8,9 25,6 1,7 63,8 Leporinus elongatus 10 10,0-36,0 100 Leporinus friderici 10 11,0-43,0 18,1 81,9 Leporinus obtusidens 10 13,0-42,0 100 Leporinus octofasciatus 10 9,0-30,0 100 Leporinus lacustris 10 12,0-24,0 100 Metinnis lippicottianus 10 6,5-12,0 4,8 95,2 Myloplus tiete 10 14,0-26,0 0.3 99.7 Serrapinus notonelas 10 1,5-2,5 2,4 58,3 30,1 9,2 Schizodon borellii 10 20,0-34,0 25.2 74.8 ILIÓFAGAS Cyphocharax modestus 10 9,0-13,0 14,1 14,0 28,4 43,5 Prochilodus lineatus 10 33,0-51,0 10,2 17,0 32,7 40,1 DETRITÍVORAS Hypostomus cochliodon 10 14,0-29,0 9,6 14,4 12,8 49,5 13,7 Hypostomus regani 10 10,0-21,0 11,1 13,9 12,6 58,9 3,5 INSETÍVORAS TERRESTRES Moenklausia aff. intermedia 10 2,0-3,0 4,8 15,8 79,4 Trachelyopterus sp. 10 8,5-13,0 50,5 20,8 28,7 INSETÍVORAS AQUÁTICAS Laetacara sp. 10 3,0-6,0 8,6 91,4 PISCÍVORAS Acestrorhynchus lacustres 10 20,0-28,0 100 Acestrorhynchus pantaneiro 10 18,0-26,0 100 Galeocharax knerii 10 14,0-22,0 100 Hemisorubim platyrhynchos 10 31,0-45,0 100 Hoplias malabaricus 10 21-50,0 100 Salminus brasiliensis 10 15,0-51,0 3,6 2,9 93,5 Serrasalmus maculatus 10 11,0-28,0 100 Serrasalmus marginatus 10 11,5-28,0 100 ONÍVORAS Hemiodus orthonops 10 20,0-33,0 12,6 34,7 31,3 21,4 BENTÓFAGAS Rhinodoras dorbignyi 10 8,0-13,5 9,7 90,3

4.11 .Capturas por Unidade de Esforço (CPUE)

As Capturas por Unidade de Esforço (CPUE) nos pontos amostrais foram

avaliadas com base em uma arte de pesca (redes de espera), onde tiveram

padronização do esforço amostral e foram aplicadas em todos os pontos de captura,

permitindo comparações espaço temporais. Os resultados das capturas com rede de

espera são expressos com base no número de indivíduos (CPUEn, ind./1000m2/24h)

e na biomassa (CPUEb, g/1000m2/24h).

A densidade de indivíduos apresentou variação, demonstrando maior

abundância nos pontos amostrais 1 e 2 na estação de primavera de 2012, e no

ponto 3 na estação de outono de 2013. A menor abundância ocorreu nos pontos 4 e

14 no verão de 2013, ponto 1 no inverno de 2013, pontos 2 e 10 na primavera de

2013 e ponto 1 na primavera de 2013, todos com um exemplar. Com exceção dos

pontos 1 e 11, ocorreram valores nulos em todos os demais pontos, e em diferentes

estações do ano (Gráficos 13 e 14).

O grande número de captura por unidade de esforço nos pontos 1 e 2 está

diretamente relacionado a captura de um elevado número de A. altiparanae nestes

dois pontos durante a campanha da primavera de 2012.

Durante o pré-enchimento os maiores valores ocorreram nos pontos 11, 4 e

13, e a menor ocorreu no ponto 10. Nesses pontos ocorreu uma grande captura de

L. friderici e S. borellii.

  

59  

Gráfico 13 - Captura por Unidade de Esforço com base no número de indivíduo (CPUEn)

por ponto amostral.

O ponto 2, na primavera de 2012, foi o que apresentou o maior valor de

biomassa (0,91 = 21.868,00g). Valor explicado pela captura de um grande número

de indivíduos de Leporinus spp. O menor índice de biomassa foi constatado no

ponto 8 no outono de 2014 (0,0016 = 39g) (Gráficos 13 e 14). Na soma da biomassa

o ponto 9 foi o que apresentou o maior valor 96,3 Kg*1000 m2 de rede -1* dia-1,

seguido do ponto 3 com 93,4 Kg*1000 m2 de rede -1* dia-1 e do ponto 8 com 74,6

Kg*1000 m2 de rede -1* dia-1. O menor valor de biomassa ocorreu no ponto 14 com

28,7 Kg*1000 m2 de rede -1* dia-1.

Durante o pré-enchimento os maiores valores foram encontrados nos pontos

13 (74,3 Kg*1000 m2 de rede -1* dia-1), ponto 4 (72,6 Kg*1000 m2 de rede -1* dia-1) e

ponto 3 (64,8 Kg*1000 m2 de rede -1* dia-1). Com exceção do ponto 3 que houve um

ganho de biomassa após o barramento, os outros dois pontos tiveram uma redução.

0

0,001

0,002

0,003

0,004

0,005

0,006

CPUEn

, ind./1000m

2/24h

Capturas por unidade de esforço

P1

P2

P3

P4

P8

P9

P10

P11

P12

P13

P14

  

60  

Gráfico 14 - Captura por Unidade de Esforço com base na biomassa do indivíduo (CPUEb) por ponto amostral

 

4.12 .Proporção sexual

Ao todo foram sexados 1022 indivíduos de 21 espécies. Deste total, 19

espécies tiveram representação dos dois sexos e duas espécies (P. heraldoi e P.

corruncans) tiveram representação de apenas um dos sexos (Tabela 21).

Para analisar estatisticamente a proporção sexual foram consideradas

somente aquelas espécies com um tamanho amostral igual ou superior a 10

indivíduos sexados. Este ponto de corte foi arbitrado em função de que amostras

pequenas são mais suscetíveis aos efeitos do acaso (erro de amostragem), podendo

resultar em proporções amostrais irreais entre machos e fêmeas.

A análise estatística da proporção sexual (qui-quadrado com correção da

Yates) indicou que das 13 espécies avaliadas (n≥10) nenhuma apresentou a

proporção sexual 1:1, duas apresentaram predomínio de machos e duas de fêmeas,

e uma não apresentou um número suficiente de machos e fêmeas para calcular o

qui-quadrado (x2) (Tabela 22).

0,10 

0,20 

0,30 

0,40 

0,50 

0,60 

0,70 

0,80 

0,90 

1,00 

CPUEb

, g/1000m

2/24h

Capturas por unidade de esforço

P1

P2

P3

P4

P8

P9

P10

P11

P12

P13

P14

  

61  

Tabela 21 - Número de machos e fêmeas das espécies coletadas na região do UHE São Domingos durante a primavera e verão de 2012, verão, outono, inverno e primavera de

2013, e verão, outono, inverno e primavera de 2014. M= machos, F= fêmeas, N = número total de indivíduos sexados.

Espécie 1a

camp. 2a

camp.3a

camp.4a

camp 5a

camp 6a

campM F M F M F M F M F M F

1 Acestrorhynchus lacustris 14 7 2 12 3 11 7 16 4 9 3

2 Acestrorhynchus pantaneiro 8 5

3 Astyanax altiparanae 8 19 4 4 11 10 6 4 15 4

4 Astyanax cf. fasciatus 2 4 3 3 2 2 2 3

5 Cyphocharax modestus 3 2

6 Galeocharax knerii 1

7 Hemiodus orthonops 1 6 2 1 1 2 2 3 11

8 Hemisorubim platyrhynchos 1 2 1

9 Hoplias malabaricus 4 6 1 1 2 2 3 8 4 2 4

10 Hypostomus regani 11 4 2 2

11 Leporinus elongatus 9 5 3 2 6 4 2 5 4 6 5 4

12 Leporinus friderici 3 5 2 1 4 4 1 3

13 Leporinus obtusidens 3 5 3 2 5 1 3 2 3 2

14 Myloplus tiete 1

15 Piaractus mesopotanicus 1

16 Pimelodus heraldoi 1

17 Prochilodus lineatus 4 1 1 1 2 4 1 2 1

18 Pseudoplastystoma corruncans 1 1

19 Salminus brasiliensis 1 2 3 1

20 Schizodon borelli 6 9 3 2 2 7 1 8 1 5 2

21 Trachelyopterus sp. 4 4

Tabela 21 - (continuação) - Número de machos e fêmeas das espécies coletadas na região do UHE São Domingos durante a primavera e verão de 2012, verão, outono, inverno e primavera de 2013, e verão, outono, inverno e primavera de 2014. M= machos, F= fêmeas, N = número

total de indivíduos sexados.

Espécie 7a

camp.8a

camp.9a

camp.10a

camp. 11a

camp. 12a

camp.M F M F M F M F M F M F

1 Acestrorhynchus lacustris 10 4 3 7 6 3 1 1 3 1

2 Acestrorhynchus pantaneiro 4 2 1 2 1

3 Astyanax altiparanae 15 5 6 1 1 9 3 1 1 2

4 Astyanax cf. fasciatus

5 Cyphocharax modestus

6 Galeocharax knerii

7 Hemiodus orthonops 9 2 4 3 13 7 16 1 1 1

8 Hemisorubim platyrhynchos 1 1

9 Hoplias malabaricus 5 2 2 2 2 6 5 7 2 3 2

  

62  

Espécie 7a

camp.8a

camp.9a

camp. 10a

camp. 11a

camp. 12a

camp.M F M F M F M F M F M F

10 Hypostomus regani 1 2 1 2

11 Leporinus elongatus 1 4 3 3 3 1 2 1 1 1

12 Leporinus friderici 4 1 1 1 1 3 4

13 Leporinus obtusidens

14 Myloplus tiete

15 Piaractus mesopotanicus 1 1

16 Pimelodus heraldoi

17 Prochilodus lineatus 4 2 4 1 2 2 1 1

18 Pseudoplastystoma corruncans

19 Salminus brasiliensis 1 1 1

20 Schizodon borelli 1 3

21 Trachelyopterus sp.

Tabela 21 - (continuação) - Número de machos e fêmeas das espécies coletadas na região do UHE São Domingos durante a primavera e verão de 2012, verão, outono, inverno e primavera de 2013, e verão, outono, inverno e primavera de 2014. M= machos, F= fêmeas, N = número

total de indivíduos sexados.

Espécie 13a

camp.14a

camp. 15a

camp.16a

camp. Total N

M F M F M F M F M F

1 Acestrorhynchus lacustris 5 3 1 1 1 103 42 145

2 Acestrorhynchus pantaneiro 1 2 14 12 26

3 Astyanax altiparanae 1 1 1 10 2 3 3 74 76 150

4 Astyanax cf. fasciatus 9 12 21

5 Cyphocharax modestus 3 2 5

6 Galeocharax knerii 1 2 1 1 1 5 3 8

7 Hemiodus orthonops 3 1 2 3 9 9 45 63 108

8 Hemisorubim platyrhynchos 5 1 6

9 Hoplias malabaricus 3 3 12 9 3 2 12 14 74 61 135

10 Hypostomus regani 1 1 5 3 22 13 35

11 Leporinus elongatus 8 1 3 1 1 56 42 98

12 Leporinus friderici 2 2 7 19 24 48

13 Leporinus obtusidens 1 2 1 13 20 33

14 Myloplus tiete 2 5 11 3 12

15 Piaractus mesopotanicus 2 1 3

16 Pimelodus heraldoi 2 2

17 Prochilodus lineatus 3 5 8 2 5 5 49 23 71

18 Pseudoplastystoma corruncans 2 2

19 Salminus brasiliensis 6 4 10

20 Schizodon borelli 2 1 16 37 53

21 Trachelyopterus sp. 5 6 11

  

63  

Tabela 22 - Proporção sexual de fêmeas e machos das espécies coletadas na área de influência da UHE São Domingos, MS. * maior proporção de machos; ** maior proporção

de fêmeas.

Espécie Machos Fêmeas Total Teste de Aderência

1 Acestrorhynchus lacustris 103 42 145 x2 = 25.662 p=<0.0001*

2 Acestrorhynchus pantaneiro 14 12 26 x2 =0.154, p=0.8445

3 Astyanax altiparanae 74 76 150 x2 =0.026, p=0.9349

4 Astyanax cf. fasciatus 9 12 21 x2 =0.19, p=0.6625

5 Cyphocharax modestus 3 2 5 Valor muito baixo para o x2

6 Hemiodus orthonops 45 63 108 x2 =2.676, p=0.1019**

7 Hoplias malabaricus 74 61 135 x2 =1.067, p=0.3017

8 Hypostomus regani 22 13 35 x2 =1.829, p=0.1763

9 Leporinus elongatus 52 46 98 x2 = 0,255, p=0.6135

10 Leporinus friderici 19 24 48 x2 = 0.372, p=0.5419

11 Leporinus obtusidens 13 20 33 x2 =1.091, p=0.2963

12 Prochilodus lineatus 49 23 71 x2 =8.681, p=0.0032*

13 Schizodon borelli 16 37 53 x2 =7.547, p=0.0060**

4.13 . Reprodução

De acordo com Vazzoler & Menezes (1992), Vazzoler (1996) e Azevedo

(2004), a maioria dos peixes de água doce neotropicais tem reprodução sazonal,

situada nos meses de primavera e verão, e o estabelecimento do período

reprodutivo poderia estar relacionado ao aumento, nesta época, da temperatura, da

pluviosidade, do foto período e da disponibilidade de alimento.

Das 501 fêmeas analisadas, 30 eram imaturas, 183 estavam em fase de

maturação (não reprodução), 201 estavam maduras ou semi esgotadas

(reprodução) e 87 estavam em repouso (Gráfico 15).

  

64  

Gráfico 15 – Fêmeas imaturas, em maturação, reprodutivas e em repouso das espécies

capturadas na área de influência da UHE São Domingos, MS.

Conforme o gráfico acima, na primavera de 2012 a maioria das fêmeas

capturadas estavam no estágio não reprodutivo (em maturação), porém, em

dezembro de 2012 esta frequência diminuiu, aumentando desta forma a frequência

de fêmeas no estágio reprodutivo (maduras ou semiesgotadas) no verão de 2013. Já

durante o verão 2013, a frequência de fêmeas no estágio em repouso aumentou,

indicando o início do término do ciclo reprodutivo, se intensificando na estação do

outono de 2013.

No inverno de 2013 um novo ciclo se inicia com a maior frequência de

fêmeas no estágio não reprodutivo (em maturação). No final do mês de agosto de

2013 (inverno de 2013) o número de fêmeas em repouso parece ser elevado para a

estação do ano, no entanto, todo este valor é resultado de quatro espécies (Hoplias

malabaricus, Hemiodus orthonops, Astyanax altiparanae e Acestrorhynchus

lacustris), sendo que 70% deste valor é representante de H. orthonops. Conforme

alguns autores (expl.. Flores & Hirt, 1999), H. orthonops inicia a sua desova no mês

de setembro e termina em dezembro, justificando o valor acima de fêmeas em

repouso, já que a campanha foi realizada no final de agosto.

Entre a primavera de 2013 e o inverno de 2014 a maioria das fêmeas

apresentava estágio gonadal em maturação, iniciando um novo pico de reprodução

para a maioria das espécies. Na primavera de 2014 partes das fêmeas já estão

maduras ou semi-esgotadas (reprodução) finalizando o ciclo reprodutivo.

0

5

10

15

20

25

30

35

40Número de fêmeas

Imaturo

Maturação

Reprodução

Repouso

  

65  

Sessenta exemplares imaturos e cinco fêmeas em fase de maturação ou

maduras de Prochilodus lineatus (Curimba) foram capturados entre fevereiro de

2013 a inverno de 2014 nos pontos 3, 8, 9, 10, 11 e 12, indicando que os grandes

migradores estão se reproduzindo a montante do barramento da UHE São

Domingos.

Conforme os dados coletados durante o pré-enchimento, as três

microrregiões apresentaram comportamento semelhante em relação ao estágio de

desenvolvimento gonadal, sendo que a jusante da Cachoeira Branca e tributários

houve um predomínio de indivíduos imaturos (30,60% e 30,50%, respectivamente) e

a montante da Cachoeira Branca (reservatório) os indivíduos em repouso (35,79%)

foram os mais frequentes. Nas três microrregiões foram registrados indivíduos com

gônadas em reprodução, evidenciando que essas regiões servem de locais de

reprodução dos peixes. O grande número de indivíduos imaturos deve-se ao fato

dos arrastos litorâneos capturarem muitos exemplares em fase juvenil.

Durante o pós-enchimento, somente 30 indivíduos imaturos coletados em

toda área de influência da UHE São Domingos foram analisados (0,59%) e

contabilizados. Conforme a metodologia aplicada somente as fêmeas foram

utilizadas na análise do estágio gonadal. Desses 30 indivíduos, um foi coletado a

jusante da barragem, 19 no reservatório e 10 nos tributários. O baixo número de

indivíduos imaturos deve-se ao pouco uso do arrasto litorâneo (picaré) durante o

monitoramento, como já mencionado em outros tópicos.

A jusante do barramento e nos tributários houve o predomínio de fêmeas em

repouso (39,79% e 40,50, respectivamente) e no reservatório o predomínio de

fêmeas em maturação (38,61%). Assim como no pré-enchimento, a presença de

fêmeas em reprodução (maduras e semi-esgotadas) foi constatada em todos os

pontos amostrados, evidenciando as três microrregiões como locais de reprodução.

A maior frequência de fêmeas em reprodução foi encontrada no reservatório

(38,54%), seguido de a jusante do barramento (22,99%) e dos tributários (21,60%).

  

66  

4.14 . Estocagem

O peixamento e o uso de tanques de rede são as formas mais usadas para

repor o estoque nativo, quando estes apresentarem problemas relacionados à

sobrepesca ou à insuficiência de áreas de desova. Geralmente estas duas práticas

funcionam para repor as espécies migradoras e de grande porte, espécies que são

alvos dos pescadores e que necessitam de áreas de desovas.

De acordo com os dados analisados, um grande número de espécies que se

enquadram neste perfil (migradora e grande porte) foi capturado a jusante do

barramento, o que já era esperado.

A montante do barramento, no reservatório e tributários, o número de captura

dessas espécies não foi diferente ao de jusante. A jusante foram pegos 278

indivíduos migradores e de grande porte, entre eles representantes de P. lineatus,

H. platyrhynchos, L. elongatus, L. frederici, L. obtusidens, P. corruncans e de outras

espécies. Nos tributários, esse número alcançou 360 indivíduos representantes de

12 spp., entre elas: L. elongatus, L. frederici, S, brasiliensis, P. lineatus, S. hilarii e

de outras espécies. Já no reservatório foi capturado um número inferior, o que já

era esperado devido à substituição de águas lóticas por lênticas. Foram capturados

136 indivíduos representantes de oito espécies, entre elas: P. lineatus, L. frederici,

L. elongatus, L. obtusidens e de outras espécies.

Em todas as três áreas foram coletadas fêmeas maduras, indicando que o

processo de reprodução não foi interrompido por essas espécies nesses biótopos.

Desta forma não indicamos no momento nenhuma forma de repovoamento na área

de influência da UHE São Domingos, porém, devemos lembrar que a maioria

dessas espécies, principalmente as de escamas, conseguia transpor a Cachoeira

Branca repovoando os sítios acima dela. Com a construção do barramento isto não

é mais possível diminuindo desta forma o número de indivíduos dessas espécies

acima do mesmo. No entanto, de forma a minimizar esse impacto, a Eletrosul vem

realizando a transposição dessas espécies para áreas do reservatório. Dessa

forma, a partir dessas conclusões, faz-se necessária a continuidade do

monitoramento a fim de monitorar essas espécies acima do barramento. Com o

  

67  

decorrer do tempo poderá haver diminuição nos estoques dessas espécies

podendo desta forma fazer o uso da necessidade dessas práticas (peixamento e

redes de tanque).

4.15 . Curva do coletor

Entre a primeira (primavera de 2012) e a décima quinta campanha (inverno

de 2014) foram registradas 67 espécies na área em estudo. Três espécies foram

adicionadas nesta última campanha (Gymnotus sylvius, Tatia neivai e Oligosarcus

pintoi), totalizando 70 espécies registradas até o momento na área da UHE São

Domingos (Gráfico 16).

Gráfico 16 – Número cumulativo de espécies - área de influência da UHE São Domingos,

MS.

4.16 . Ictioplâncton

Entre novembro de 2012 a maio de 2013, pós-enchimento, foram

capturados no total 26 indivíduos em sete campanhas de amostragem. Somente três

indivíduos são de espécies migradoras, todas as outras pertencem à fauna

residente. Entre novembro de 2013 e maio de 2014 somente três exemplares de

Crenicichla sp. (Juvenis) (espécie nativa e não migradora) foram capturados durante

o monitoramento (Tabela 23) (Figuras 15 a 22).

0

10

20

30

40

50

60

70

80

Número de espécies

  

68  

O estágio ontogenético que ocorreu em maior abundância foi o de ovos

(n=9), na coleta de Dezembro 2012.

As sete campanhas mensais durante e depois da época de reprodução

2012/13 mostrou uma ocorrência muito reduzida de ictioplâncton. Baumgartner et al.

(2012) capturaram 9.093 indivíduos da categoria de ictioplâncton entre outubro 2011

e fevereiro 2012 durante o pré-enchimento. A captura foi composta na maioria por

larvas (62,8%) seguidas por ovos (37,0%). Juvenis e adultos somaram apenas 0,2%

da abundância relativa.

A maior abundância de ictioplâncton ocorreu nos pontos de amostragem

jusante da cachoeira branca, como no estudo atual de 2012/13. Baumgartner et al.

(2012) capturaram seis espécies migratórias: Brycon orbignyanus, Salminus hilarii,

Salminus brasiliensis, Leporinus elongatus, Hemisorubim platyrhynchus e

Pseudoplatystoma corruscans. Todas estas espécies foram encontradas em estágio

avançado de maturação. Supostamente todas estão se reproduzindo na área da

influência da barragem, porém, jusante da cachoeira Branca, local da barragem.

Somente entre 2012 e 2013 foram capturadas larvas de espécies

migratórias (P. lineatus) a montante da barragem. O resultado encontrado durante

estas sete campanhas de monitoramento apresentou uma baixa atividade

reprodutiva de peixes migratórios à montante da barragem.

Para o próximo monitoramento recomenda-se a manutenção das

amostragens noturnas descritas em Baumgartner et al. (2012). Outros estudos

também demonstram a maior densidade de ictioplâncton em amostragens noturnas.

Hermes-Silva et al. (2009) encontraram as maiores densidades de ictioplâncton no

rio Uruguai as 21.00 e as 03.00 horas da madrugada.

Devido à baixa abundância de ovos e larvas não foi possível estabelecer

os locais de desova com os dados de pós-enchimento. No entanto, a maior

abundância de ictioplâncton ocorreu nos pontos de amostragem à jusante da

Cachoeira Branca, como já mencionado acima, indicando que a maioria das

espécies migradoras de peixes estão se reproduzindo na área da influência da

barragem, porém, jusante da Cachoeira Branca, local da barragem. Somente entre

  

69  

2012 e 2013 foram capturadas larvas de espécies migratórias (P. lineatus) a

montante da barragem (Tabela 19).

Segundo Simonson (1993), as espécies migradoras de longa distância desovam

em correnteza, que se posicionam acima dos locais usados como berçários. A prole

produzida deriva rio abaixo até atingirem as áreas berçários e/ou locais de

crescimento que podem ser vistos em duas escalas: como macrohábits (estuários,

poços, lagoas marginais, baías e ambientes de várzea), e como microhábitats (fundo

do rio e abrigos) onde completam seu desenvolvimento inicial.

De acordo com o mapa de amostragem de ictioplâncton, apenas os sítios a

jusante do barramento e o sítio 12 estão livres da influência do reservatório. Em

ambientes lêntico os ovos e as larvas ficam mais vulneráveis a predação por parte

de outras espécies. Essa condição pode ser uma das explicações da baixa

abundância de ovos e larvas durante o pós-represamento. Desta forma sugerimos a

mudança de um dos sítios de amostragens para fora da área de influência do

reservatório, onde as águas são lóticas, como exemplo o sítio 2 que pode ser

deslocado para a posição mais a montante do rio. Este ponto também servirá de

controle para os demais sítios que estão posicionados dentro do reservatório.

Tabela 23. Ovos e larvas capturados durante o monitoramento de ictioplâncton na área de influência da UHE São Domingos.

Ponto Espécie Comp (mm) Estágio Migrador

2

Hemigrammus marginatus 38 Adulto Não

Planaltina sp. 16 Juvenil Não

Crenicichla sp. - Juvenil Não

12

Tatia neivai 47 Adulto Não

Planaltina sp. 19 Juvenil Não

Planaltina sp. 15 Juvenil Não

15 Hemigrammus marginatus 34 Adulto Não

Apareiodon sp. 6 Larva Não

10

Prochilodus lineatus 12 Larva Sim

Prochilodus lineatus 12,5 Larva Sim

Cichlasoma paranaense 4 Larva Não

13

Tatia neivai 38 Adulto Não

Bryconamericus stramineus 3,1 Larva Não

Bryconamericus stramineus 3,3 Larva Não

Bryconamericus stramineus 3,4 Larva Não

Pseudoplatystoma corruscans 54 Larva Sim

Ovos 0,87 (s.d. 0,28) Ovo

  

70  

Ponto Espécie Comp (mm) Estágio Migrador

14 Crenicichla britskii 29 Juvenil Não

Crenicichla sp. 27 Juvenil Não

Figura 15 – Planaltina sp. Figura 16 – Hemigrammus marginatus

Figura 17 – Tatia neivai Figura 18 – Apareiodon sp.

Figura 19 – Bryconamericus stramineus Figura 20 – Prochilodus lineatus

 Figura 21 – Crenicichla britskii Figura 22 – Ovos de peixe

  

71  

5. CONCLUSÕES Entre novembro de 2012 a outubro de 2014 foram registradas 70 espécies

distribuídas em 18 famílias e cinco ordens, totalizando 2.071 indivíduos

coletados durante o monitoramento. A ordem com a maior riqueza de

espécies foi os Characiformes (lambaris, piaus, traíras) com 51.4% (36 spp.),

seguido dos Siluriformes (bagres, cascudos) com 31.4% (22 spp.),

Perciformes (tucunarés, carás) com 8.5% (6 spp.), Gymnotiformes (tuviras)

com 7.1% (5 spp.), e Synbranchiformes (muçum) com 1.4% (1 sp.);

Seis espécies encontram-se na lista das espécies ameaçadas de extinção.

São elas: Myloplus tiete (pacu-peva), Brycon orbignyanus (piracanjuba),

Pseudoplatystoma corruscans (pintado), Salminus hilarii (tabarana),

Pseudopimelodus mangurus (jauzinho) e Salminus brasiliensis (dourado).

Duas espécies exóticas foram capturadas na área da UHE São Domingos,

Cichla kelberi (Tucunaré) e Tilapia rendalli (Tilápia). Provavelmente estas

espécies foram introduzidas com o desenvolvimento da piscicultura na região,

ou escaparam de um tanque de criação.

Em relação à abundância de indivíduos. Foram capturados 580 indivíduos

(28% do total) a jusante do barramento da UHE São Domingos, 536

indivíduos (28,88% do total) na área do reservatório e 955 indivíduos (46% do

total) nos tributários São Domingos e Araras. Assim como no monitoramento

de pré-enchimento (novembro de 2010 a agosto de 2012) os tributários

apresentaram o maior número de indivíduos, o que demonstra a importância

desses dentro da bacia hidrológica.

As espécies mais representativas nas três microrregiões durante o

monitoramento foram: Hemiodus orthonops e Astyanax altiparanae a jusante

do barramento; Astyanax altiparanae e Leporinus elongatus no reservatório e

Hoplias malabaricus e Prochilodus lineatus nos tributários.

No monitoramento entre novembro de 2010 a agosto de 2012, as espécies

mais representativas foram: Piabina argentea e Bryconamericus stramineus a

jusante da Cachoeira Branca; B. stramineus e Bryconamericus sp.1 a

montante da Cachoeira Branca e P. argentea e Astyanax aff. fasciatus nos

tributários São Domingos e Araras. A partir desses resultados entendemos

que o apetrecho do tipo picaré não teve um esforço adequado durante o pós-

  

72  

enchimento, já que houve um número muito baixo de espécies e indivíduos de

pequeno porte capturados.

A frequência de captura para os pontos situados a jusante do barramento

destacou os pontos P03 e P13 com as maiores ocorrências, com destaque

para as espécies A. altiparanae e H. orthonops no ponto 13.

A frequência de captura para os pontos situados a montante do barramento

destacou os pontos P01 e P02 com as maiores ocorrências, com destaque

para as espécies A. altiparanae e L. elongatus.

A frequência de captura para os pontos situados nos tributários destacou os

pontos P08 e P09 com as maiores ocorrências, com destaque para as

espécies H. malabaricus e P. lineatus.

Durante as 16 campanhas realizadas nas etapas I e II, os meses com os

maiores números de capturas foram novembro de 2012 na etapa I (355

indivíduos) e julho de 2014 na etapa II (156 indivíduos). Na etapa I as

espécies mais abundantes foram A. altiparanae e A. lacustris e na etapa II

foram H. orthonops e H. malabaricus.

O ranking de abundância das espécies capturadas durante o pós-enchimento

para a área de influência da UHE São Domingos mostra uma superioridade

para as espécies A. altiparanae, L. elongatus, A. lacustris, H. malabaricus e H.

orthonops. Todas essas espécies são de médio e grande porte, com exceção

de A. altiparanae.

Para a diversidade β2-diversidade, o padrão espacial manteve-se o mesmo

encontrado no pré-represamento, um elevado valor de β2-diversidade

(β2=0,61 no pré e β2=0,72 no pós) demonstrando a grande dissimilaridade

entre as três microrregiões. As maiores β2-diversidade durante o pós-

represamento foram encontradas entre o reservatório e tributários (β2=0,44) e

entre a jusante do barramento e tributários (β2=0,41). O menor valor de β2-

diversidade foi encontrado entre a jusante do barramento e reservatório

(β2=0,36).

A partir das 70 espécies capturadas nas 11 unidades amostrais localizadas

dentro da área de influência da UHE São Domingos durante o pós-

enchimento foi realizada uma análise de agrupamento utilizando o Índice de

Similaridade Bray-Curtis Analysis. Todos os grupos apresentaram

  

73  

similaridade superior a 50%, indicando uma situação em que há um grande

contingente de espécies comuns entre estas unidades. O primeiro grupo

formado entre os pontos 1, 2 e 3, e o segundo entre os pontos 12, 11, 14, 10

e 8. Estes dois grupos formam um grande grupo que apresentam uma maior

afinidade com os pontos 9, dos quais apresentam uma maior similaridade

com os pontos 4 e 13. Porém, esta situação provavelmente mudará com o

acréscimo de novas amostragens.

A riqueza média foi de 4.1 espécies e a amplitude de variação deste valor

oscilou entre 0 (zero) e 17 espécies;

O índice de diversidade médio foi de 0.40 e a amplitude de variação deste

valor oscilou entre 0 (zero) e 0.98;

O valor do índice de equitabilidade médio foi de 0.58 e a amplitude de

variação deste valor oscilou entre -1 e 1.00;

As redes de espera de malha simples foram mais eficientes do que as

feiticeiras (tresmalhos) na captura dos peixes, tanto em número de espécies

como de indivíduos;

As redes de espera de malha simples 4, 3, 5 e 2.4 cm foram as mais

eficientes na captura tanto de indivíduos como de táxons. As redes do tipo

tresmalhos (feiticeiras) mais eficientes na captura de indivíduos foram as de

malha 6, 7 e 8 cm, respectivamente. Na captura de táxons foram as feiticeiras

de malha 6, 8 e 7 cm;

A área em estudo foi composta por uma comunidade de peixes bem

equilibrada em relação ao porte. As espécies de pequeno porte (≤25 cm)

resultaram em 28 spp., seguidas das espécies de médio porte (26 ≥ 50) (26

spp.) e de grande porte (≥51) com 16 spp.;

Na maioria das espécies houve o predomínio de indivíduos com estômagos

vazios (0), correspondendo a 70% (1a camp.), 35% (2a camp.), 54% (3a

camp.), 50% (4a camp.), 59% (5a camp.), 54% (6a camp.), 52% (7a camp.),

43% (8a camp.), 27% (9a camp.), 42% (12a camp.), 32.5% (13a camp.), 27.7%

(14a camp) e 34,4% (16a camp.);

O principal item alimentar na dieta das espécies durante o pós-enchimento foi

o vegetal, seguido do peixe e de insetos (aquáticos e terrestres). Esses

mesmos padrões de dieta foram encontrados no pré-enchimento;

  

74  

A comunidade de peixes foi composta principalmente de espécies herbívoras,

insetívoras aquáticas e piscívoras, respectivamente. As mesmas categorias

encontradas durante o pré-enchimento;

Através da CPUEn foi constatado que a densidade de indivíduos apresentou

variação, demonstrando maior abundância nos pontos amostrais 1 e 2 na

estação de primavera de 2012, e no ponto 3 no estação de outono de 2013. A

menor abundância ocorreu nos pontos 4 e 14 no verão de 2013, ponto 1 no

inverno de 2013, pontos 2 e 10 na primavera de 2013 e ponto 1 na primavera

de 2013, todos com um exemplar. Com exceção dos pontos 1 e 11,

ocorreram valores nulos em todos os demais pontos, e em diferentes

estações do ano;

Através da CPUEb foi constatado que o ponto 2 , na primavera de 2012,

apresentou o maior valor de biomassa (0,91 = 21.868,00g). Valor explicado

pela captura de um grande número de indivíduos de Leporinus spp. O menor

índice de biomassa foi constado no ponto 8 no outono de 2014 (0,0016 =

39g). Na soma da biomassa o ponto 9 foi o que apresentou o maior valor

96,3 Kg*1000 m2 de rede -1* dia-1, seguido do ponto 3 com 93,4 Kg*1000 m2

de rede -1* dia-1 e do ponto 8 com 74,6 Kg*1000 m2 de rede -1* dia-1. O menor

valor de biomassa ocorreu no ponto 14 com 28,7 Kg*1000 m2 de rede -1* dia-1.

Das 21 espécies, 19 espécies tiveram representação dos dois sexos e duas

espécies tiveram representação de apenas um dos sexos durante o

monitoramento de pós-enchimento;

A análise estatística da proporção sexual (qui-quadrado com correção da

Yates) indicou que das 13 espécies avaliadas (n≥10), nenhuma apresentou a

proporção sexual 1:1, duas apresentaram predomínio de machos e duas de

fêmeas, e uma não apresentou um número suficiente de machos e fêmeas

para calcular o qui-quadrado (x2);

Das 501 fêmeas analisadas, 30 eram imaturas, 183 estavam em fase de

maturação (não reprodução), 201 estavam maduras ou semi-esgotadas

(reprodução) e 87 estavam em repouso;

  

75  

Assim como no pré-enchimento, a presença de fêmeas em reprodução

(maduras e semi-esgotadas) foi constatada em todos os pontos amostrados,

evidenciando as três microrregiões como locais de reprodução;

Em todas as três áreas foram coletadas fêmeas maduras, indicando que o

processo de reprodução não foi interrompido por essas espécies nesses

biótopos. Desta forma não indicamos no momento nenhuma forma de

repovoamento na área de influência da UHE São Domingos, porém, devemos

lembrar que a maioria dessas espécies, principalmente as de escamas,

conseguiam transpor a Cachoeira Branca repovoando os sítios acima dela.

Com a construção do barramento isto não é mais possível diminuindo desta

forma o número de indivíduos dessas espécies acima do mesmo. No entanto,

de forma a minimizar esse impacto, a Eletrosul vem realizando a transposição

dessas espécies para áreas do reservatório. Dessa forma, a partir dessas

conclusões, faz-se necessária a continuidade do monitoramento a fim de

monitorar essas espécies acima do barramento.

Setenta espécies (70 spp.) foram capturadas na área da UHE São Domingos.

Durante o monitoramento de ictioplâncton foram capturados no total 29

indivíduos. Somente três indivíduos são de espécies migradoras, todas as

outras pertencem à fauna residente;

Devido à baixa abundância de ovos e larvas não foi possível estabelecer os

locais de desova com os dados de pós-enchimento. No entanto, de acordo

com os resultados de pré-enchimento a maior abundância de ictioplâncton

ocorreu nos pontos de amostragem a jusante da Cachoeira Branca,

caracterizando esse biótopo como local de desova;

É sugerida a mudança de um dos sítios de amostragens para fora da área de

influência do reservatório, onde as águas são lóticas. Este ponto servirá de

controle para os demais sítios que estão posicionados dentro do reservatório.

Todos os parâmetros e índices utilizados neste monitoramento, assim como a

frequência de amostragem, alcançaram os objetivos propostos aqui

sugeridos. No entanto, o emprego de certos apetrechos de pesca, como

exemplo, o puçá e o arrasto litorâneo não alcançaram resultados satisfatórios

devido há não utilização ou ao pouco uso desses aparelhos de pesca durante

  

76  

as campanhas, prejudicando de certa forma a comparação entre os dados de

pré e pós-enchimento.

 

  

77  

6. BIBLIOGRAFIA

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79  

7. RESPONSABILIDADE TÉCNICA

Este relatório foi elaborado pela coordenadora de campo e supervisora de

projeto, e conferido pelo coordenador geral do projeto.

Sendo o que tínhamos para o momento,

Atenciosamente,

Biól.Dra.Nicolle Albornoz Pesoa

Supervisora Projeto

CRBIO 28311-03

CTF IBAMA 244760

Coordenador Geral Projeto

CTF IBAMA - 3256460