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RELATÓRIO DESCRITIVO E SISTEMATIZAÇÃO DO DEBA- TE E PROPOSTAS A SEREM ENCAMINHADAS A abertura da Oficina foi feita por representan- tes de coletivos que representam assistentes sociais e psicólogos, tanto aqueles que atuam nos Tribunais de Justiça como o conjunto mais amplo das categorias. CRESS-MG, CRESS-PR, CRESS-MA, CRESS-RJ e Núcleo de Apoio Pro- fissional de Serviço Social e Psicologia do TJ-SP. Sob a coordenação de Maria Helena Correa (1ª Secretária da AASPTJ-SP e 2ªSecretária da Aasp Brasil), ouvimos as falas de: Dra. Elisabete Borgianni (presidente das AASPTJ-SP e Aasp Brasil): que agradeceu à APAMPESP pela cessão do espaço e a to- dos, pela presença. Esta Oficina se propõe a ser espaço das primeiras reflexões so- bre os artigos do CPC que trazem novas de- terminações para o trabalho profissional, seja como peritos ou assistentes técnicos. Dra. Sílvia Terra (assessora jurídica do CFESS, em substituição à conselheira Tânia Di- niz, presidente, que chegou em seguida): agra- deceu o convite da Associação, pontuando este momento como ímpar para a discussão e para o CFESS, pois, dentro da estrutura dos Conse- lhos, o CFESS é responsável pela normatiza- ção do trabalho profissional – e deve expedir uma norma que seja condizente com a realida- de. Segundo ela, ouvir a todos é de profunda re- levância para o CFESS, tendo em vista a inser- ção deles neste espaço sociojurídico. Pontuou, ainda que o Jurídico tem uma dimensão política. Clarice Metzner (CRESS-PR): agradeceu o convite, mencionando que todos os Es- tados estão passando pela discussão do novo CPC, e que este é momento de for- talecimento de articulações coletivas para o enfrentamento das novas demandas. Charles Toniolo de Souza (CRESS-RJ): Agradeceu e saudou os presentes, apontan- do este debate como bastante importante, pois vem na esteira de uma série de eventos, em função da brochura lançada pelo CFESS sobre o Serviço Social na área sociojurídica. Dra. Ana Maria Bertelli (CRESS-MG): Men- cionou que o CRESS-MG tem feito discus- sões sobre o novo CPC visando a mobilização da categoria para o enfrentamento político. Ana Cristina Marcondes de Moura (Núcleo de Apoio Profissional do TJ-SP): Agradeceu o convite e cumprimentou a todos. Falou da im- portância deste espaço, lembrando que o - cleo já fez uma primeira discussão. Pontuou a importância de refletirmos tendo em vista os impactos que já têm acontecido e apontando a necessidade de articulação de todas as en- tidades para o fortalecimento da discussão. Ana Paula Hachich de Souza (repre- sentante do CPR-SP, que também atua no TJ-SP): Agradeceu o convite e pon- tuou que o CRP vem debatendo este tema. Estava presente, ainda Lorena Alves Sil- va do CRESS-MA que, por um lapso, não participou desta mesa de Abertura. Dr. Luciano Alves, vice-presidente do CRESS-SP encaminhou email à Plenária justi- ficando sua ausência em virtude do convite ter sido remetido ao seu email pessoal e não ao email oficial do CRESS-SP o que levou a não inclusão entre seus compromissos de agenda. 1. OBJETIVO DA OFICINA Tendo em vista as modificações trazidas pelo Novo Código de Processo Civil já em vi- gor e suas expressivas repercussões no tra- balho de assistentes sociais e psicólogos que atuam no Sistema de Justiça a AASP- TJ-SP e a AASP Brasil organizaram esta Oficina tendo como finalidade iniciar o de- bate sobre este assunto propondo encami- nhamentos sugeridos a partir das discussões. 2. PROGRAMAÇÃO DESENVOLVIDA Mesa de Abertura [ AASPTJ-SP, AASPTJ Brasil, CFESS, CRP-SP, CRESS-RJ, CRESS- -PR, CRESS-MG, TJSP e Núcleo de Apoio Profissional de Serviço Social e Psicologia do TJ-SP]. Análise de Conjuntura [Dra. Elisa- bete Borgianni, Dra. Lilian Magda de Ma-

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RELATÓRIO DESCRITIVO E SISTEMATIZAÇÃO DO DEBA-TE E PROPOSTAS A SEREM ENCAMINHADAS

A abertura da Oficina foi feita por representan-tes de coletivos que representam assistentes sociais e psicólogos, tanto aqueles que atuam nos Tribunais de Justiça como o conjunto mais amplo das categorias. CRESS-MG, CRESS-PR, CRESS-MA, CRESS-RJ e Núcleo de Apoio Pro-fissional de Serviço Social e Psicologia do TJ-SP.

Sob a coordenação de Maria Helena Correa (1ª Secretária da AASPTJ-SP e 2ªSecretária da Aasp Brasil), ouvimos as falas de:

Dra. Elisabete Borgianni (presidente das AASPTJ-SP e Aasp Brasil): que agradeceu à APAMPESP pela cessão do espaço e a to-dos, pela presença. Esta Oficina se propõe a ser espaço das primeiras reflexões so-bre os artigos do CPC que trazem novas de-terminações para o trabalho profissional, seja como peritos ou assistentes técnicos.

Dra. Sílvia Terra (assessora jurídica do CFESS, em substituição à conselheira Tânia Di-niz, presidente, que chegou em seguida): agra-deceu o convite da Associação, pontuando este momento como ímpar para a discussão e para o CFESS, pois, dentro da estrutura dos Conse-lhos, o CFESS é responsável pela normatiza-ção do trabalho profissional – e deve expedir uma norma que seja condizente com a realida-de. Segundo ela, ouvir a todos é de profunda re-levância para o CFESS, tendo em vista a inser-ção deles neste espaço sociojurídico. Pontuou, ainda que o Jurídico tem uma dimensão política.

Clarice Metzner (CRESS-PR): agradeceu o convite, mencionando que todos os Es-tados estão passando pela discussão do novo CPC, e que este é momento de for-talecimento de articulações coletivas para o enfrentamento das novas demandas.

Charles Toniolo de Souza (CRESS-RJ): Agradeceu e saudou os presentes, apontan-do este debate como bastante importante, pois vem na esteira de uma série de eventos, em função da brochura lançada pelo CFESS sobre o Serviço Social na área sociojurídica.

Dra. Ana Maria Bertelli (CRESS-MG): Men-cionou que o CRESS-MG tem feito discus-sões sobre o novo CPC visando a mobilização da categoria para o enfrentamento político.

Ana Cristina Marcondes de Moura (Núcleo de Apoio Profissional do TJ-SP): Agradeceu o convite e cumprimentou a todos. Falou da im-portância deste espaço, lembrando que o Nú-cleo já fez uma primeira discussão. Pontuou a importância de refletirmos tendo em vista os impactos que já têm acontecido e apontando a necessidade de articulação de todas as en-tidades para o fortalecimento da discussão.

Ana Paula Hachich de Souza (repre-sentante do CPR-SP, que também atua no TJ-SP): Agradeceu o convite e pon-tuou que o CRP vem debatendo este tema.

Estava presente, ainda Lorena Alves Sil-va do CRESS-MA que, por um lapso, não participou desta mesa de Abertura.

Dr. Luciano Alves, vice-presidente do CRESS-SP encaminhou email à Plenária justi-ficando sua ausência em virtude do convite ter sido remetido ao seu email pessoal e não ao email oficial do CRESS-SP o que levou a não inclusão entre seus compromissos de agenda.

1. OBJETIVO DA OFICINATendo em vista as modificações trazidas

pelo Novo Código de Processo Civil já em vi-gor e suas expressivas repercussões no tra-balho de assistentes sociais e psicólogos que atuam no Sistema de Justiça a AASP-TJ-SP e a AASP Brasil organizaram esta Oficina tendo como finalidade iniciar o de-bate sobre este assunto propondo encami-nhamentos sugeridos a partir das discussões.

2. PROGRAMAÇÃO DESENVOLVIDA Mesa de Abertura [ AASPTJ-SP, AASPTJ

Brasil, CFESS, CRP-SP, CRESS-RJ, CRESS--PR, CRESS-MG, TJSP e Núcleo de Apoio Profissional de Serviço Social e Psicologia do TJ-SP]. Análise de Conjuntura [Dra. Elisa-bete Borgianni, Dra. Lilian Magda de Ma-

cedo, Dra. Sônia Guerra, Dr. Thiago Pugina].Fala de Especialistas [Dra. Leila Torraca

Brito, Dra. Eunice Fávero, Dra. Rita de Cás-sia Silva Oliveira, Dra. Sílvia Terra, Dra. Ana Maria Bertelli, Charles Toniolo de Souza]

Debate sobre o parágrafo 2º do arti-go 466 que prevê o acompanhamen-to do assistente técnico nas diligências e exames realizados pelo perito técnico.

Debate sobre os parágrafos 2º e 3º do artigo 464 que preveem a prova técnica simplificada.

Aprovação dos encaminhamen-tos sugeridos durante os debates.

FALA DOS ESPECILISTASLISTAS

Completando a abertura da Oficina, Dra. Elisabete Borgianni e Dra. Lílian Mag-da de Macedo (psicóloga, 2ª secretária da AASPTJ-SP) fizeram reflexões gerais vol-tadas para as duas categorias profissio-nais no que tange ao tema do novo CPC.

Dra. Elisabete Borgianni:Iniciou colocando que há diferenças entre as

Resoluções do CFESS e CFP (CFP veda a par-ticipação do assistente técnico nas diligências do perito, CFESS traz outras discussões). Pon-tuou que o que é comum quando atuamos como peritos/assistentes técnicos é a interface com o Direito e o universo jurídico no mundo capitalista

Baseando-se nas reflexões de Lukács, Vitor Sartori, Potyara Pereira, Renato de Paula, Iamamoto e Eunice Fávero, Bete apontou a necessidade de desmistificar o Estado e o Direito no universo burguês.

O que importa aos especialistas do Direito é fazer o processo andar, construir uma resposta jurídica. Precisamos ter um cuidado profissio-

nal para não reproduzir estas alienações. Assistentes sociais e psicólogos são cha-

mados a atuar, justamente para trazer ao Juí-zo as particularidades do “caso concreto” em “sua concretude” para que ele possa ser diri-mido jurídica e/ou judicialmente (seja na Vara de Família, na Infância, no criminal, onde for...).

E agora isso também se complexifica quan-do vemos que essa contradição aparece também quando o novo CPC determina que o assistente técnico pode acompanhar o tra-balho do perito, sem levar em consideração as particularidades das diferentes áreas do conhecimento, como por exemplo a diferen-ça entre a Engenharia e a Psicologia, en-tre as Ciências Contábeis e a Medicina etc.

Para o Direito e para o universo jurídico, todos os profissionais dessas áreas tão distintas po-dem ser peritos ou assistentes técnicos e são obrigados a seguir o mesmo Código de Processo.

Partindo do entendimento de que é comum às duas categorias quando atuam como peri-tos ou assistentes técnicos junto aos Tribunais, Defensorias e Ministério Público é a interface destes saberes e intervenções cotidianas com o Direito, as Leis e o universo jurídico, no in-terior do Estado capitalista, devemos lembrar, no entanto, que o Serviço Social e a Psicologia podem ter entendimentos e questionamentos diferentes sobre a questão do acompanhamen-to do assistente técnico às diligências do perito.

Sabendo-se que, num segundo momento desta mesa, Lílian Magda de Macedo apontaria uma reflexão na ótica da Psicologia, Bete apon-tou os desafios que estão postos ao assistente social que atua elaborando estudos sociais para

a instrução de processos, sentenças e decisões, seja como perito ou como assistente técnico. Nesta intencionali-dade, ela colocou algumas questões:

• qual seria o problema de rea-lizar as entrevistas tendo a presen-ça de um assistente técnico? Ou no acompanhamento das visitas, qual se-ria o problema? Ambos não têm que ter uma postura ética e respeitosa?

• Seria válido pensarmos as-sim ou esta é uma visão romântica?

A análise profissional será realizada com competência quanto mais conse-guirmos desmitificar as visões jurídicas

que nada mais são do que conflitos humanos. Cada um de nós, estejamos no papel de peri-

to ou de assistente técnico temos uma autono-mia relativa tanto em relação à instituição que é

nossa empregadora, como em relação ao advo-gado, que também pode ser nosso empregador.

Mas o que normalmente se aponta é que a relação com o advogado é mais comple-xa, pois ele não se interessaria por um estu-do que não trouxesse elementos para a sua defesa. Essa é uma das questões que preci-samos aprofundar. E será muito bom poder ouvir os colegas que atuam ou que já atua-ram como assistentes técnicos sobre isso.

O significado da discussão que iniciamos com esta Oficina

Essa oficina nos possibilitará avan-çar na reflexão dessas questões espe-cíficas que surgem nos espaços sócio ocupacionais que conformam a área socio-jurídica. Espaços em que as leis têm grande incidência, assim como os ritos processuais.

Segundo Bete, o que um assistente social formado na perspectiva da teoria social crí-tica tem a oferecer quando trabalha no inte-rior do universo jurídico ou na interface com ele, vai muito além daquilo que é esperado pela Justiça de um “perito” ou um de “assis-tente técnico”, pois pode e deve oferecer:

1. em primeiro lugar, a crítica ontológi-ca do Direito e do universo jurídico e a con-sequente mirada nas situações de fato, que imperam sobre qualquer Direito, e que po-dem estar obscurecidas pela aparência mis-tificadora que o Direito é capaz de projetar.

2. pode trazer à luz toda a complexidade de cada situação conflituosa que é levada à Justiça.

3. pode buscar a garantia de direi-tos de todos os envolvidos naquela dispu-ta jurídica, sem se render à força da me-diação do dinheiro que está patrocinando aquela sua intervenção (no caso dos assis-tentes técnicos), ou sem se escorar no poder de julgar que tem o juiz ( no caso dos peritos).

4. pode buscar desenvolver um tra-balho incessante para fazer diminuir a li-tigiosidade, a adversariedade , a violên-cia e as disputas mesquinhas entre as pessoas, famílias, cidadãos em geral, que vivem sob a alienação do mundo do capital

Questões para este debatea. Qual seria o problema de eu realizar as

entrevistas com as partes envolvidas no litígio tendo a presença do assistente técnico na mes-ma sala? Ou ainda de o colega assistente téc-nico acompanhar as visitas que preciso fazer?

b. Não se coloca para ambos os assis-

tentes sociais, seja para o perito ou para o assistente técnico a mesma exigência de um profundo conhecimento da realidade so-cial, suas determinações e contradições?

c. Ambos não têm que ter uma postu-ra ética e respeitosa tanto com relação às pessoas que estão sendo estudadas, bem como entre os profissionais ali envolvidos?

d. Não estamos ali, ambos, para compre-ender as determinações do conflito instaura-do e como melhor se pode garantir os direi-tos de cada um dos envolvidos, sejam eles vítimas, testemunhas, parentes, vizinhos etc.?

e. Não temos que ter ambos a clareza de que não estamos ali para acusar, para de-fender ou para julgar? E que esses são pa-peis de promotores, advogados ou juízes?

f. Não somos nós, assistentes sociais-- independentemente de estarmos ali investi-dos do papel de peritos ou assistentes téc-nicos--, quem elegemos as finalidades de nossas ações, as formas de conduzir nos-so exercício profissional no momento da co-lheita de elementos para nossos estudos?

g. Não seria esse tão somente um momen-to de acercamento da realidade, de conhecer as principais determinações da vida da pessoa que está sendo exposta ao Sistema de Justiça. A presença do assistente técnico não se daria ain-da em um momento de colheita dos elementos que depois serão submetidos à análise? E o mo-mento da análise, essa sim, deveria ocorrer em um momento só meu e só do assistente técnico?

h. Não aprendemos, todos nós, assistentes sociais, como bem coloca a profa. Eunice Fávero que a entrevista ou a visita domiciliar devem ser realizadas com profundo respeito ao entrevis-tado ou ao visitado, sendo fundamental que os profissionais garantam aos entrevistados a livre manifestação e o sigilo quanto às situações e fa-tos que o mesmo declare desejar que fiquem de conhecimento apenas dos assistentes sociais?

i. Seria válido então, imaginar que o Novo CPC, quando prevê o acompanhamento do as-sistente técnico ao trabalho do perito, se ambos são assistentes sociais, se ambos tiveram essa mesma formação e estão sob os mesmos pre-ceitos éticos de atuação, em tese, não deveria haver qualquer problema em o assistente técni-co acompanhar cada uma das ações do perito, durante a colheita de elementos para seu estu-do e posterior análise da situação. Seria válido pensarmos assim? Ou isso é uma quimera?

Dra. Lilian Magda de Macedo Parafraseando Brecht: “os que lutam toda a vida, esses são imprescindíveis”! Nossa luta

certamente não se inicia e nem tampouco finaliza nesta ação, mas prossegue com os

trabalhos hoje!A intenção da autora, nessa fala introdutória, foi

apresentar alguns apontamentos iniciais como elementos para as análises conjuntas sobre a prática da Psicologia no Judiciário na vigência do novo Código de Processo Civil (2015/2016). Certamente que apontamentos iniciais.

Anteriormente, destacou que, à luz da com-preensão societária e de sua organização apre-sentadas pelos conhecimentos do Serviço So-cial, podemos e até devemos nos perguntar: como se constitui o psiquismo nesta conjuntura?

As proposições de Vigotski e de autores de Psicologia russa apresentam uma proposta de análise do psiquismo como drama, já que constituído na realidade concreta desta socie-dade de classes, com elementos de mediação a partir de uma lógica dialética, que expres-sam e representam a realidade do seu tempo.

Destaco essa dimensão por adotá-la como perspectiva teórica que fundamen-ta minhas ações no âmbito profissional e científico, compreendendo o papel da cul-tura no desenvolvimento, na personalida-de individual e na formação da consciência.

Drama como modelo de organização da vida psíquica, com expressões e qualida-des diferentes em cada realidade concreta dos sujeitos, em cada individualidade: dra-ma da necessidade, drama da liberdade...

O que pressupõe analisarmos o conflito como dimensão imanente do humano, como universal, presente em qualquer organização societária, com expressões particulares e contingenciais.

Atribuirmos ao conflito não uma busca inces-sante para saná-lo, ao atingirmos um determi-nado equilíbrio ideal ou paraíso idílico, mas uma busca por compreendê-lo em seus multidetermi-nantes, para superá-lo em nome da ampliação da autonomia dos sujeitos, em nome da não crista-lização do drama, de sua não cronificação, em nome da emergência de novas qualida-des de conflitos, em movimento constante.

A escola de Vigotski concebe o psiquismo a partir da compreensão de um “homo du-plex”, totalidade que abarca sua dimensão

social e psicológica, cujo desenvolvimento acontece pelas vias da socialização rumo

à individualização, a partir das transformações das relações sociais em funções psicológicas.

Vigotski preocupava-se em encontrar uma via objetiva para voltar ao subjetivo, assim, com maior propriedade e metodologia científi-ca, abordar o desenvolvimento da consciência.

Ao mesmo tempo em que apresenta a con-figuração psíquica como drama, destaca que o homem é capaz de desenvolver fun-ções psíquicas superiores para determi-nar a si mesmo, não apenas sofrer determi-nações externas, mas autodeterminar-se! (Penso que isso é fundamental para nós!)

Evidente que esses são elementos bastante genéricos, motivo para nos dedicarmos em ou-tra oficina, valiosos para compreensão a par-tir de uma Psicologia concreta das famílias, mulheres, homens e crianças com os quais atuamos cotidianamente, já que esta escola teórica parte da constituição dos sujeitos em suas relações, a partir da intersubjetividade.

Destacou, ainda que essa matriz teórica vi-gotskiana sabedora que a mesma não se en-contra presente exatamente na atuação da Psi-cologia no Judiciário e, fundamentalmente, para salientar a diversidade de referenciais teórico--metodológicos e epistemológicos no interior da ciência psi, elemento importante para nos-so tema principal desta manhã: a relação entre profissionais quando atuam como assistentes técnicos e psicólogos/psicólogas judiciários.

O novo Código do Processo Civil, na avaliação da psicóloga Giselle Groeninga (2010, 2016), assistente técnica, apresenta novo paradigma ao valorizar dimensões subjetivas, afetivas e intersubjetivas, ao apontar críticas ao cartesia-nismo mente-corpo, indivíduo-família, ao desta-car a importância da interdisciplinariedade, na denominada “democracia do conhecimento”.

Apresenta ainda a valorização das “pe-rícias”, o que prefiro denominar de “es-tudos psicológicos”, na busca por não reproduzir práticas normatizadoras e patolo-gizantes historicamente definidoras das pe-rícias no âmbito do “controle das condutas”.

O novo CPC apresenta, portanto, uma res-posta jurídica à complexificação dos con-flitos societários: as relações familiares, entre homens e mulheres, as relações amo-rosas, entre adultos e crianças complexifi-caram-se, somos unânimes em constatar.

Como ciência, dispõe de métodos de in-vestigação, sendo o mais amplamente uti-lizado, certamente, a “entrevista psicoló-gica”, em especial no contexto judiciário.

Com objetivos e estruturação diversos da “oi-tiva”, a entrevista psicológica dependente es-truturalmente das condições objetivas em que é realizada; depende da linguagem; do estabe-lecimento de interação amistosa, de confiança entre os envolvidos; assim como dependente igualmente da defesa das prerrogativas éticas e do compromisso inconteste com os direitos hu-manos com o desenvolvimento e a autonomia ampliadas de cada criança, homem, mulher...

O entrevistado/a entrevistada é alguém que de-manda ou contesta uma possível demanda judi-cial; e a história de vida, que se desenvolve com relação a nós e diante de nós, é determinada pelas condições de produção da entrevista (Ortiz, 2012).

É possível, ao longo das entrevistas, traba-lhar as fantasias e as expectativas relativas aos lugares atribuídos pelas partes, às histó-rias singulares e às relações que precederam a abertura do processo judicial (Ortiz, 2012).

É possível construir uma intervenção que bus-que contribuir para a produção, pelas partes en-volvidas, de ressignificação dos conflitos familia-res e da própria demanda judicial (Ortiz, 2012).

Por tudo isso, é fundamental destacarmos a importância de uma entrevista reservada para garantia da fidedignidade à verdade subjetiva, a menos que se estabeleça como necessidade uma intervenção e/ou entrevista conjunta com o casal, por ex., o que certamente terá objetivos diversos a ser construído pelo profissional responsável.

Algumas dimensões essenciais garantem qualidade ao processo de trabalho e, portan-to, aos seus resultados e achados: o caráter reservado/a privacidade/o sigilo e a confiança.

Uma entrevista realizada conjuntamente entre assistente social e psicólogo/psicóloga deter-minam diferenças na análise da situação sub-jetiva, podendo ser utilizada para fins específi-cos, em minha concepção, e não como regra no processo de trabalho no interior do Judiciário.

Entrevista pressupõe olhar atendo ao não dito, às emoções, às expressões não verbais,

às hesitações, às ênfases, ao clima percepti-vo estabelecido na interação entre os envol-vidos, dai a defesa de condições especiais para exercê-la: a privacidade, em especial.

Que delicado é, por exemplo, a escuta de crianças por vários profissionais: qual es-pontaneidade é possível para seu relato?

Lilian faz este destaque para apontar que o tema da fidedignidade, confiabilidade, sigi-lo e reserva da entrevista psicológica não se caracteriza como contexto delicado apenas na interação entre profissional do Judiciário e assistente técnico, envolvendo, portanto, di-mensões relativas à técnica da ciência psi e seus achados cientificamente desenvolvidos.

A relação assistente técnico e psi judiciário apresenta especificidades, no entanto, deve respeitar, acima de tudo, a premissa do desen-volvimento humano, da ampliação da autonomia das pessoas, das prerrogativas éticas, podendo desenvolver-se em complementariedade, garan-tindo a riqueza da diversidade de olhares sobre o fenômeno, expressando diante do Judiciário a dimensão da complexidade do psiquismo, das relações humanas e da subjetividade, enrique-cendo o direito constitucional ao contraditório.

A prerrogativa acima, acrescida da compre-ensão do caráter particular da entrevista psico-lógica, pressupõe que o trabalho de assistente técnico e psi judiciário não necessariamente devem ocorrer simultaneamente, estando pre-sentes em uma mesma entrevista, por exem-plo, sem prejuízo ao diálogo e a construção de formatos variados de diálogos e trocas.

Documentos de nosso conselho de categoria (resoluções 08/2010 e 17/2012) e o comunicado 01/2008, produzido em parceria entre CRP-SP e o Núcleo de Apoio do S. Social e Psicologia do TJ-SP, destacam a importância da colabora-ção entre os profissionais, apontam que acom-panhar os estudos não necessariamente implica em estar presente no momento da entrevista, salientam os ganhos de intervenções conjuntas.

Em minha compreensão, me corrijam os ope-radores do Direito aqui presentes, o direito cons-titucional ao contraditório é enriquecido com a possibilidade de laudos de profissionais distin-tos a compor os autos, garantindo aspectos não abordados em uma ou outra análise, com possi-bilidade de ampliação das avaliações e oferta de um leque pretensamente mais completo do con-texto em cena, a fim de subsidiar decisões mais coerentes com a realidade, em especial se considerarmos a diversidade de abordagens

teóricas de que a Psicologia dispõe e a inexis-tência de verdade única no seio da ciência.

Evidente que os documentos, as leituras so-bre as realidades não necessariamente serão confluentes, concordantes; a premissa das contradições está presente, sem com isso im-plicar em hierarquia de saberes, hierarquia de práticas, hierarquia de abordagens cientí-ficas, desde que coerentes com os princípios técnico-metodológicos e éticos da profissão.

Assim, podemos destacar que a relação entre assistente técnico e psicólogo/psicóloga judici-ário pode se caracterizar como enriquecedora dos autos, enriquecedora do Direito a partir das contradições e complexidades expressas.

É essencial e urgente Rompermos com um possível clima adversarial presente nes-te debate: análise do psicólogo/psicóloga judiciário X análise do assistente técnico!

Esta compreensão adversarial é caracte-rística de uma sociedade disciplinar, contri-buímos com sua cristalização ao reprodu-zirmos esta prática em nossas interações.

Para tanto, urge mudarmos outra prática his-tórica no interior da atuação psi no Judiciário: o isolamento! Isolamento que se caracteriza como marca histórica da intervenção da Psi-cologia no Judiciário, distanciando-se da vida concreta, dos trabalhos e intervenções de va-riadas disciplinas nos equipamentos de garan-tia de direitos, reproduzindo análises por vezes moralizantes e patologizantes das dinâmicas subjetivas, cristalizando dramas, conflitos, e, com isso, sem nos darmos conta: contribuin-do para a perpetuação, nos comportamentos e consciências individuais, de variadas con-sequências da desigualdade social estrutural.

Por tudo isso, penso que podemos apon-tar para a importância de gestões coletivas oportunizadas pela AASPTJSP, pelo Siste-ma Conselho de Psicologia, pelo Núcleo de

Apoio ao Serviço Social e à Psicologia do TJSP, no sentido de que seja garantida a

especificidade das avaliações psicológicas.Que seja garantida a qualidade da entrevis-

ta psicológica: com respeito aos seus métodos científicos construídos ao longo da história; respeito à privacidade, às condições adequa-das de execução, sem prejuízo ao contraditó-rio, possibilitando-o ser qualificado a partir do aprimoramento das análises de assistentes técnicos em documentos presentes nos au-tos, com apresentação de questionamen-tos e de complementaridades aos estudos.

Dr. Thiago Pugina (assessor jurídico da AASP-TJ-SP):

Inicia sua fala, comparando os tex-tos legais de 1973 e 2015 no que se refe-re à questão do perito, do assistente téc-nico, como era a lei e como ela ficou.

Código de Processo Civil de 1973 – artigo 422: “O perito cumprirá escrupulosamente o encargo que lhe foi cometido, independente-mente de termo de compromisso. Os assis-tentes técnicos são de confiança da parte, não sujeitos a impedimento ou suspeição”.

Então era só isso que o CPC 1973 falava dos assistentes técnicos e peritos. “Os assis-tentes técnicos são de confiança da parte, não sujeitos a impedimento ou suspeição.”

Agora tem o CPC 2015, que diz em seu artigo 466 que

“O perito cumprirá escrupulosamente o encargo que lhe foi cometido, indepen-dentemente de termo de compromisso”.

§ 1º - “Os assistentes técnicos são de confiança da parte, não sujeitos a impedimento ou suspeição”.

Os caputs são semelhantes, a inovação está no parágrafo 2º do artigo 466 que diz: “O pe-

rito deve assegurar aos assistentes das partes o acesso e o acompanha-mento das diligências e dos exames que realizar, com prévia comunica-ção, comprovada nos autos, com an-tecedência mínima de 5 (cinco) dias.”

Ou seja, não apenas o Código deixou bem claro que deve ter o acompanhamen-to do assistente técnico nas diligências do perito, como responsabilizou o perito por assegurar o direito do assistente técnico.

Antes era uma simples frase dizendo que os assistentes técnicos era da confiança das par-tes, mas, agora não, agora são de confiança das partes, não estão sujeitos a impedimento ou suspensão, e agora e o perito judicial é a

quem cabe garantir o direito do assistente téc-nico, com prévia comunicação nos autos, as-segurando o acompanhamento nestes atos.

Dando continuidade, Dr. Thiago Pugi-na trouxe para nós o fato de que o Di-reito, ao longo do tempo, criou várias for-mas de interpretação do texto legal.

A interpretação a partir do método da hermenêutica é o que mais se aproxima no mundo inteiro por ser mais sistemático.

O que eu vou fazer? Vou inserir esta norma no contexto. Que contexto? De outras normas. Então, eu não vou analisar ela isoladamente.

Partindo desta premissa, de que o ope-rador do Direito vai analisar normas, con-frontando estas normas com outras normas para os costumes da sociedade, na doutri-na... e, sim, ele vai fazer uma análise técnica e isso significa que trás subsídios para a lei.

Pesquisando as jurisprudências a res-peito, o autor identificou duas relativas ao Tri-bunal de Justiça do Rio Grande do sul e que são antagônicas e trouxe-as como exemplos:

Primeira ementa: “Sendo a avaliação psi-cológica uma espécie do gênero perícia, nos termos do artigo 420 do CPC é pos-sível o acompanhamento por assisten-te técnico na formulação de quesitos”.

Neste caso, o tribunal considerou... o ope-rador de Direito considerou que a avalia-ção psicológica é espécie do gênero perícia.

Que avaliação é essa? Que tipo de en-tendimento é esse? Fica clara a interpre-tação da Norma que este juiz aplicou.

A segunda ementa trazida diz: “A função do assistente técnico não é fiscalizar o ato do peri-to social, mas subsidiar a parte com elementos técnicos que permitam compreender a extensão e o alcance da perícia levada a efeito. Nas perí-cias psicológicas e psiquiátricas, o exame é ato pessoal do perito e a presença do assistente téc-nico pode ser prejudicial às partes envolvidas”.

Estas duas jurisprudências, do mesmo ano [2013], emitidas com diferença de pou-cos meses, são absolutamente antagônicas.

Isso acontece no campo do Direito, por-que tem um espaço de interpretação.

Esse espaço de interpretação é que regula as relação na sociedade.

A presença do assistente técnico na pe-rícia está causando muita polêmica: mui-ta gente é contra. Algumas são a favor.

O CFP tem uma resolução 008 que veda... e o CFESS tem uma resolução

599 que veda a participação, mas re-gula esta relação entre profissionais.

Bom! Talvez aquele pequeno desencon-tro quando o Tribunal de Justiça considerou a avaliação psicológica uma espécie do gêne-ro perícia fosse diferente se ele tivesse aces-so a estas resoluções, dentro do processo.

Se você for fazer uma interpretação gra-matical do novo CPC, o assistente téc-nico e o perito devem estar lado a lado.

Eu não vou entrar na discussão da categoria se deve ou se não deve, sobre sigilo ou não sigilo porque isso não pertence ao Direito.

O que digo para vocês é que vocês acabaram de ver duas jurisprudências absolutamente antagô-nicas sobre o mesmo caso. E, eu afirmo que isso só acontece porque não tinha uma regulamen-tação para aquele operador do Direito aplicar.

É o que a Bete falou no começo da sua fala: o Direito começa lá no Legislativo e cria nor-mas homogêneas para todos... é impossível prever cada situação particular da socieda-de; cada relação particular da sociedade...

Aí é que o Direito vem se socor-rer do Serviço Social e da Psicologia...

Eu só queria terminar dizendo da importância de vocês construírem esse entendimento para dar subsídios ao Direito definir como deve se dar essa relação... sair da norma gramatical e, real-mente, a categoria dizer como nós vamos lidar com essa nova situação colocada pelo novo CPC.

Eu lembro que a lógica adversarial, que a Lilian lembrou é muito mais própria dos operadores de Direito do que da Psicologia e do Serviço Social.

Até academicamente a gente percebe isso... uma relação adversarial... que, ainda bem, está começando a ser desconstruída pela mediação introduzida pelo CPC de 2015.

Essa mediação é para dirimir os litígios, por-que a lógica adversarial já se viu que não deu certo. Ela sempre vai deixar uma das partes insatisfeita. É muito difícil que uma

decisão judicial satisfaça a todos. É muito difícil. O litígio começa na própria sociedade. A par-

te trás o litígio para o advogado que tem por obrigação defender os direitos do seu cliente.

E, agora, a gente está vendo um movimen-to contrário. Olha, gente, vamos começar o processo pela mediação. Então a lógica ad-versarial colocada no processo inteiro... não me parece correto começar a criar uma lógica adversarial no microssistema que é a perícia.

Acho que a categoria precisa discutir como vai ser esse relacionamento entre profissio-nais, se vai estar presente, não vai estar pre-sente... vai ter sigilo, não vai ter sigilo...vocês têm que discutir aberto, com a cabeça aberta e sem se policiar para evitar a lógica adversarial.

Dra. Sônia Guerra (assessora jurídica da AASPTJ-SP):

Dando sequência ao que o Dr. Thiago Pu-gina fala, vou enfocar um outro aspecto. O Núcleo de Apoio do Serviço Social e da Psi-cologia foi o primeiro a provocar essa discus-são e, na ocasião, fui convidada para – na condição de advogada – trazer as questões, as modificações que foram feitas no CPC.

Nós do Direito não temos como opinar sobre as mudanças; não somos julgadores. Somos estudiosos do Direito. Mas, em última instância, na minha avaliação, quem tomará as decisões serão os Conselhos, os próprios Conselhos e o próprio Tribunal de Justiça de São Paulo.

Eu acho importante fazer uma leitu-ra no âmbito do Direito, na questão do Di-reito, sobre o artigo 1º deste novo CPC.

Ele não está neste documento que vocês têm neste quadro comparativo, mas eu acho de grande importância a leitura, porque isso tem repercussão também no trabalho de vo-cês e é isso que se vai discutir a partir de hoje.

O artigo 1º do Código Civil diz o seguinte: “O processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores e as nor-mas fundamentais estabelecidos na Cons-tituição da República Federativa do Brasil, observando-se as disposições deste Código”.

Ou seja, é o primeiro artigo e aqui já diz como será interpretado, disciplinado e ordenado esse código.

Partindo daquela premissa que o Dr. Thiago Pu-gina levanta, cabe a vocês a decisão, a delibera-ção, e os encaminhamentos que a matéria pode

seguir porque o profissional do serviço social e da psicologia, ao atuarem como assistente

técnico, e o colega que também está ali, ele é regido por normas éticas e normas processuais.

Na minha perspectiva, na área do Di-reito, quem vai decidir a questão pos-ta em juízo vai ser o magistrado, não vai ser o Serviço Social e nem a Psicologia.

O trabalho realizado por vocês tem consequências tanto judiciais quan-do administrativas e quanto éticas.

Mas tem um limite que a demanda é trazida para que o Poder Judiciário decida sobre aquela causa.

Na verdade, ela vai ser avaliada sob o princípio da realidade do Direito, normas constitucionais, Código de Processo Civil. Ela não vai ser avalia-da sob a visão do Serviço Social e da Psicologia.

As duas profissões trazem subsídios para que o julgador a quem são direciona-das as provas, façam o julgamento do caso.

O Dr. Thiago Pugina trouxe duas decisões abso-lutamente antagônicas do Rio Grande do Sul. Nós já temos em São Paulo... não é que não fizemos...

Nós tínhamos apenas uma decisão do TJ--SP, e no momento, a maioria dos profissio-nais aqui presentes pertencem ao TJ-SP.

Nós tivemos um agravo de instrumen-to do Tribunal, reconhecendo a autonomia dos profissionais do Serviço Social e da Psi-cologia, sobre a não participação do as-sistente técnico no momento da avaliação.

O Tribunal reconhece, como não poderia ser, este caso – o trabalho deve ser, a com-petência do assistente técnico e a sua atua-ção no processo. Todavia, não neste momento em que o perito está fazendo o seu trabalho.

Trouxe aqui, como exemplos, duas ma-nifestações do TJ-SP que se contradizem.

O agravo de instrumento é de 29-9-2010. Esse agravo de 2010 afasta o assistente téc-nico do momento da avaliação. É favorável ao pleito que vocês, talvez, queiram levar adiante.

Este acórdão – é outro agravo de instru-mento – ele foi julgado no dia 5-3-2016.

Ambos são anteriores à publicação do Novo CPC.

Ele dá provimento ao recurso interposto pelo advogado para anular os laudos já pro-duzidos, dando-se prosseguimento à análise dos quesitos apresentados pelo assistente técnico e define que após a designação da data para nova entrevista deverá ser intima-da para, querendo, acompanhar a perícia.

Nesta caso aqui, trata-se de agravo de instru-mento, contra decisão em ação para decidir os critérios de visitação ao filho que deferiu o pedido do autor de nulidade dos laudos psicossociais, e de novo estudo com a genitora e o adolescente.

Alega-se neste caso que o pedido de anulação se deve porque não foi informado pelas designa-ções em juízo e tampouco foi aberto o prazo para formulação de quesitos pela assistente técnica.

Então, nós temos, no estado de São Paulo uma reprodução do que acontece no RS. Ora o Tribu-nal entende que é permitido, ora ele é negado.

Usando, de novo, a interpretação sistemáti-ca mencionada pelo Dr. Thiago Pugina, talvez, a gente pudesse, a partir de agora, dadas as informações trazidas por vocês, tentar con-vencer o Tribunal, ou apresentar ao Tribu-nal elementos que justifiquem uma ressalva da parte de vocês porque o CPC é genérico, ele se aplica a todas as formas de perícia.

Talvez se possa pensar em construir al-guma coisa no sentido de – nas ações de família, nas questões de família, o assun-to possa ser tratado de uma outra forma.

Eu confesso para vocês que, para mim, pessoalmente, embora o Tribunal possa até fazer essa situação, fazer esta ressalva...

Nenhuma destas portarias e reso-luções, nenhum modelo destes atos administrativos se sobrepõe à lei.

Então, entendam bem. Na minha posição de advogada, eu não posso fazer nada contra o que diz a lei. E, na minha formação, eu aprendi que existe uma hierarquia entre as normas e que nenhuma resolução ou portaria é superior à lei.

Então, não entendam como sugestão que se peça ao Tribunal que faça uma porta-ria, faça uma ressalva, porque a lei tem os seus requisitos para uma ação. Não vai ser a partir de uma portaria ou uma resolução que o Tribunal vai poder resolver isso da re-lação entre o assistente técnico e o perito.

É muito prazeroso trabalhar neste dia com vocês, mas eu gostaria muito que trabalhás-semos a partir de dados concretos para que a coisa não ficasse muita oposição sem fatos.

Quando vocês dizem assim: o assistente técnico pode criar problemas... mas quando vocês falam destes problemas... o que você trouxe? Você conversou com ele? Falou com ele e discutiu como seria o trabalho conjunto?

Ambos estão submetidos a um Códi-go de Ética. Você tentou um entendimen-to com ele, antes? Porque, às vezes, fica só ‘eu não quero’, sou contra isso”...

FALA DOS ESPECILISTASLISTAS

Dra.Leila Torraca Brito:Eu trouxe algumas questões para pensarmos. Uma interrogação muito presente é sobre

quem nós estamos chamando de perito? Quem nós estamos chamando de assistente técni-co? Quem pode estar ali com essa atribuição.

Observando o que o §1º do artigo 156 dis-põe “Os peritos serão nomeados entre os pro-fissionais legalmente habilitados e os órgãos técnicos ou científicos devidamente inscritos em cadastro mantido pelo tribunal ao qual o juiz está vinculado.” Nós já temos algu-mas questões diferentes do Código anterior.

Primeiro, a ideia de que órgãos técnicos e científicos também podem se cadastrar e in-dicar estes profissionais. Os profissionais devem estar devidamente cadastrados. Não é mais, como antigamente, que o juiz deter-minava uma perícia por alguém de sua con-fiança. Não! Este perito deve se cadastrar, e há toda uma regulamentação que está sen-do construída para este cadastro. A ideia é que seja feito um sorteio eletrônico, parecido com o que acontece com o exame para mo-toristas: você é sorteado para fazer o exame e é essa a ideia que surge neste momento.

Então, acho que temos algumas perguntas em relação a este artigo do CPC. O que seriam órgãos técnicos ou científicos? Porque, como o artigo diz, não temos mais só um perito cadastra-do. Um Órgão Técnico Científico pode se cadas-trar e aí, este órgão vai indicar os peritos. Mas, o que seriam órgãos técnicos e científicos? As-sociações de classe? Algumas ONGs? Não sei! Então, acho que esta é uma primeira questão.

O antigo Código de Processo Civil dizia que o perito deveria ser um profissional de nível superior. O atual código não traz essa exigência de nível superior. O que ele traz é a exigência da especialização. Deve ser um especialista na matéria. Buscando uma explicação sobre isso, o que en-

contrei foram muitas justificativas em relação a médicos peritos ou então à área contábil.

Então, às vezes, se numa perícia é neces-sário um neurologista, não basta ser médico. E apesar de o Código antigo mencionar a es-pecialização, muitas vezes o juiz não indicava um especialista, mas indicava um médico ge-neralista para uma causa que exigia um neu-rologista, por exemplo. Então, o Código atual não traz a exigência de nível universitário, mas traz a exigência de especialista na matéria.

O artigo 465 dispõe “perito especializado no objeto da perícia”.

Na nossa área, isso também, suscita in-terrogações: o que seria especializado na matéria? Nós sabemos que existem cur-sos de especialização muito breves, cursos à distância sobre determinadas matérias.

Uma situação onde exista, por exemplo, uma suspeita de violência contra a criança; um espe-cialista pode dizer “eu tenho cursos de violência contra a criança...” e, aí, seria mais especialis-ta do que outro que tenha curso de especiali-zação, por exemplo, em Psicologia Jurídica?

O que seria este especialista? É tam-bém uma outra questão além da defini-ção dos Órgãos Técnicos e Científicos.

O artigo 156 fala ainda desta formação de cadastro. Então, se a pessoa quer se habilitar para ser perita, obrigatoriamen-te ela tem que estar inscrita neste cadastro.

Pergunto: Os assistentes sociais e psicólogos que atuam nos tribu-nais, eles se inscrevem no cadastro?

Dra. Bete Borgianni – Não!Dra. Leila Torraca Brito – Nesta questão da

relação entre assistente técnico e perito, conforme já foi dito, nós temos esta Re-solução do CFP que diz que não deve haver atendimento em conjunto, e, ago-ra, o CPC fala desse acompanhamento.Encontrei, também, algumas interpreta-

ções sobre o acompanhamento. Alguns acham que o acompanhamen-_ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 1 Resolução CFP 008/2010, artigo 2º: “ o psi-

cólogo assistente técnico não deve estar pre-sente durante a realização dos procedimentos metodológicos que norteiam o atendimento do psicólogo perito e vice versa, para que não haja inter-ferência na dinâmica e qualidade do serviço realizado”.

2Novo CPC, artigo 466, § 2º: “ o perito deve asse-gurar aos assistentes das partes o acesso e o acom-

panhamento das diligências e dos exames que realizar, com prévia comunicação, comprovada nos autos, com antecedência mínima de 5 dias”.

to não significa, necessariamente, estar junto. Já encontrei esta interpretação, também. Que o acompanhamento poderia ser no sentido de o perito estar comunicando o que ele vai rea-lizar. Mas, não significaria a presença física de um assistente técnico. É uma interpretação.

Outra questão, que já foi falada aqui, do contraditório... muitos operadores do Direi-to respondem na hora que essa exigência do acompanhamento é para garantir esse contraditório. Outros dizem: não! Esse pe-dido de acompanhamento pode entrar em conflito com outros princípios, como por exemplo, o princípio do melhor interesse da criança, que está em nossa Carta Constitucional.

Então, acho que temos que perguntar: por que nós só conseguiríamos o contraditório se o perito e o assistente técnico estivessem jun-tos. Ou, se o assistente técnico estivesse junto?

Será que antes não havia contraditório? An-tes, o contraditório era feito a partir do traba-lho do perito. Então, o perito apresentava o seu trabalho, e aí o assistente técnico tinha toda a possibilidade de realizar este contraditório.

Mas, por que agora, para haver contraditó-rio, o profissional tem que estar ali presente? Acho que, talvez, tenha a ver com esse mo-mento contemporâneo que vivemos onde tudo fica muito no concreto. Vamos perdendo o que está na ordem do simbólico e vamos querendo tudo no concreto. No DSD argumenta-se que é preciso ver o que a criança está dizendo. Não adianta só o profissional estar realizando o seu trabalho, enviando o seu relatório. Acho que é um momento da concretude. Eu tenho que es-tar ali vendo, eu tenho que estar ali ouvindo.

Alguns psicólogos me disseram: olha, às vezes tem acontecido de o perito e o assistente técni-co não serem da mesma categoria profissional. Por quê? Como a exigência do Código é ser especialista no objeto da perícia... então a pes-soa se diz especialista, está regulamentada na profissão, mas ela é especialista, vamos dizer, em violência contra a criança, mas eles não são da mesma categoria profissional. E aí como fica a questão do sigilo, do impedimento profissio-

nal... não sendo da mesma categoria profissio-nal? Mas os dois são especialistas na matéria!

Outra questão em relação ao assistente téc-nico... é lógico que ele não tem que estar ali no litígio; não são profissionais que devam acolher essa lógica binária... não é perito de um lado, assistente técnico de outro... não é isso... Temos que tentar entender esse traba-lho, mas também, quero tentar pontuar aqui quais são as diversidades para que seja pos-sível pensar a necessidade de elaboração, ou não de alguns documentos e para quem nós vamos encaminhar estes documentos.

É para o Tribunal? É para a categoria? Para quem vamos encaminhar estes documentos?

Certamente, não é colocar o assistente téc-nico como alguém que vai dificultar o trabalho do perito, nem quem vai fiscalizar. Agora, esse litígio não deve acompanhar as categorias, mas nós sabemos que por vezes acontece sim.

Uma questão que alguns profissionais le-vantaram é que quando o artigo do CPC diz que o assistente técnico vai acompanhar o trabalho do perito, na verdade, o CPC está regulamentando o trabalho do perito. Ele está dizendo: olha, tudo o que o perito fizer, o as-sistente técnico deve acompanhar. E a gen-te interpreta este acompanhar como quiser.

Mas o contrário, não. O assistente técni-co pode continuar seus atendimentos, pode continuar sua investigação, porque essa obri-gatoriedade não é para o assistente técnico.

Isso, para alguns profissionais, traz uma di-ficuldade nesta proposta de trabalho conjunto porque eles argumentam que, quando conver-sam com o assistente técnico sobre como vão realizar aquele trabalho conjunto, alguns não querem e alegam “não estou aqui para fazer um trabalho conjunto. Estou aqui para acompa-nhar o seu trabalho. Depois, eu vou desenvolver como achar”. É lógico que isso gera questões.

O que eu estou trazendo são questões que coletei com algumas pessoas que estão na prática e que estão falando de certas dificul-dades que estão sentindo neste momento de tantas interpretações sobre este trabalho.

A tentativa de um trabalho conjunto pode ficar difícil.

Outra opinião é que... alguns anos atrás, um caso de família, que envolvia questões de ado-ção, e a perita e duas assistentes técnicas che-garam à conclusão de que seria bom um aten-dimento em conjunto. Mas isso partiu delas.

Eu lembro que quando li a Resolução 008 do CFP lembrei logo desse caso. Nos-sa, eu pensei, a Resolução está proibindo, mas naquele caso foi tão importante o aten-dimento conjunto: será que é para proibir? Quando a proposta parte dos profissionais é muito diferente dessa obrigação... são di-versas as interpretações que vão surgir daí.

É preciso pensar o que é importante re-gulamentar, nota técnica, resolução... e o que vai se deixar na definição de cada um.

Acho que é momento de estarmos pensando na questão porque vejo uma grande preocupa-ção dos peritos no sentido de que não há uma garantia de que vai ser possível o trabalho con-junto. Os assistentes técnicos dizem que estão ali para observar. Muitas vezes não é só obser-var. Até aonde vai a possibilidade de interferên-cia? E, aí, alguns peritos dizem: mesmo quan-do a gente conversa inicialmente, pede para eles não interferirem, a interferência acontece.

Quando acontece, a interferência dificulta, e muito, o trabalho que o perito estava tentando encaminhar. Ou, às vezes, há problemas tam-bém com determinadas conclusões a que o as-sistente técnico possa chegar, a partir de per-guntas que o perito fez. O assistente técnico, na sua avaliação vai escrever: o perito perguntou isso, mas por que ele perguntou isso, ou ele não informou que a pessoa respondeu aquilo? E, se eles não são da mesma categoria profissional, a obrigação de sigilo não é a mesma. Só estou pontuando algumas questões que as pesso-as estão apresentando dificuldades para lidar.

Pensando nesta atuação dos profissionais é importante refletir sobre um trabalho mais am-pliado. As referências técnicas sobre a atuação de psicólogos em Varas de Família, elaboradas pelo CREPOP já trazem que “o psicólogo não é um detetive que colhe depoimentos e elabo-ra relatórios meramente descritivos – fundados apena em relatos dos entrevistados” (p.38)

Como nós sabemos, não estamos ali com ob-jetivo único de coletar dados e sim para entender aquela dinâmica e neste entendimento levamos em consideração os silêncios, os não ditos, e tudo isso vai sendo interpretado pelo profissional. Quando um profissional de outra categoria está ali comigo, pode ter um entendimento bem di-verso daquele trabalho que eu estou realizando.

O Código de Ética fala da questão do sigi-lo, quando ele traz, no artigo 6º que “o psicólogo, no relacionamento com pro-

fissionais não psicólogos compartilhará so-mente informações relevantes para qua-lificar o serviço prestado, resguardando o caráter confidencial das comunicações...”

Como vou resguardar esse caráter con-fidencial quando o assistente técnico está ali, junto comigo, quando ele é de uma ou-tra área? Como eu vou garantir esse sigilo?

Alguns profissionais, especialmente aqueles que trabalham em Varas de Família, acham que a presença do assistente técnico das partes in-fluencia, sim, e muito o trabalho. Porque uma coisa é quando eu sei que estou ali na frente do perito, outra coisa é quando eu sei que o assis-tente da parte adversaria está ali presente e pode interpretar o que eu estou falando de uma forma distinta. Vai haver consequências. Alguns acham que vai restringir a possibilidade do trabalho.

Outra questão que precisamos ver é que o CPC diz que o laudo pericial deve con-ter “resposta conclusiva a todos os quesitos apresentados pelo juiz, pelas partes e pelo órgão do Ministério Público.” (artigo 473, in-ciso IV). Eles dizem que querem evitar res-postas sim, não, prejudicada. Eu acho que isso também suscita alguma discussão.

O que seria conclusiva? Entendo que conclusi-va só pode ser na área de conhecimento de cada um. Eu sou assistente social, tenho uma conclu-são na minha área; sou psicólogo, tenho uma con-clusão na minha área, e a sentença cabe ao juiz.

Outra questão sobre este lugar do psicólogo... nós estávamos falando do estudo psicológico, desse trabalho que não está restrito à perícia. Dra. Lílian Magda de Macedo falou também em possibilidades de um momento de intervenção.

Entendo o trabalho do psicólogo por aí. O tra-balho no tribunal possibilita sempre alguma in-tervenção e nosso código fala da importância da entrevista de devolução. Eu não estou ali só para colher dados da pessoa e depois di-zer, “olha, depois você vai saber o que o juiz determinou”. Não é isso! É obrigação realizar uma devolução a respeito do que coletei, do que eu entendi desse trabalho. Pode ser que toda esta dinâmica na presença de outros pro-fissionais acabe sendo um pouco mais difícil. No momento em que estou fazendo esta de-volução pode ser um momento de troca com o cliente. E estar com outras pessoas pode acabar inibindo a dinâmica deste trabalho.

Eu queria trazer, também, para vocês, uma resolução do CNJ.

Em março deste ano, 2016, o CNJ abriu con-sulta pública para alguns temas relacionados ao novo CPC. Essa consulta foi até abril des-te ano – não chegou a um mês – e em julho o CNJ emitiu a Resolução 233. Ela entra em vigor 90 dias após julho. Essa resolução “dis-põe sobre a criação de cadastro de profissio-nais e órgãos técnicos ou científicos no âm-bito da justiça de primeiro e segundo graus”.

Aquela ideia da necessidade do cadas-tro, então aquela exigência que o CPC traz, o CNJ está regulamentando como se da-ria este cadastro, esta inscrição... se fala em cadastramento eletrônico, sorteio...

Mas, no artigo 14, essa Resolução do CNJ dispõe: “ao detentor de cargo público no âm-bito do Poder Judiciário é vedado o exercício do encargo de perito, exceto nas hipóteses do art. 95,§ 3º,I do Código de Processo Civil.”

Sendo assim, aos psicólogos e assistentes so-ciais nos tribunais é vedado o encargo de perito.

Andreia Pequeno - No Rio de Janeiro, isso não é novidade. Lá no Rio já existe um cadas-tro de peritos há mais de ano. Sobretudo as Varas de Infância e Juventude da capital tra-balham com os profissionais do quadro – as-sistentes sociais e psicólogos – e trabalha com os peritos. Eles têm investido na questão da perícia porque virou uma espécie de projeto estratégico do CNJ a valorização da perícia.

No Rio de Janeiro, o que aconteceu, eles criaram um curso que já existia, mas foi re-gulamentado... então, regularmente, a gen-te tem um curso de formação de perito.

Não se trabalha, neste curso, nada de es-pecialidade do Serviço Social, da Psico-logia, nada disso. É um curso que vai tra-tar das questões de texto vinculadas ao âmbito jurídico: procedimentos, etapas, etc..

Esse curso custa em torno de oitocentos reais, sendo uma fonte de renda para o tribunal, e você só entra no cadastro depois que você faz esse curso.

Tem uma vara da infância que tem onze peritos. É mais que o quantitati-vo da equipe, e só no serviço social.

Dra. Bete Borgianni – a Dra. Sônia Guer-ra me passou o provimento do Conselho da Magistratura aqui de São Paulo que vai dis-por sobre este cadastro de peritos. (vide Pro-vimento CSM 2306 de 2015, em anexo).

Thais Felipe Souza dos Santos – Quero fazer um esclarecimento. Logo no início, que tinha a Vara de Menores, antes de começar a Vara da

Infância era assim: cada assistente social, pelo menos em São Paulo, lá nos anos 1970, 1960...

Se eu era assistente social da Vara de Família, eu podia trabalhar como perita porque eu era as-sistente social daquela Vara. Com a modificação da Vara em Infância e Juventude, isso acabou.

O que aconteceu: o assistente social foi ve-dado no sentido dele fazer um duplo trabalho.

Dra. Bete Borgianni – Vou falar uma coisa que se estiver equivocada, vocês me corrijam. É uma coisa que a Vilma Regina da Silva sempre diz:

Esse Banco de Peritos pode ser utiliza-do pelos juízes, sempre que estes entende-rem ser necessário uma análise mais apro-fundada do caso que está sendo julgado, ou seja, o juiz pode recorrer ao Banco de Peri-tos, caso entenda que o técnico que traba-lha para o juízo (ou seja, nós os concursa-dos) não tenhamos feito o estudo a contento.

Se tem uma questão a ser dirimida que ele entende que o assistente social concur-sado que é do Tribunal não conseguiu di-rimir, ele pode, neste Banco de Peritos, convocar um perito desses que conhe-ce mais do que aquele que está na Vara. É esse o sentido deste Banco que você entendeu, não é Vilma Regina da Silva?

Vilma Regina da Silva – complementan-do o que a Dra. Bete Borgianni falou aqui, mesmo antes do caso ser analisado pe-los Setores Técnicos ou Equipes Técnicas, o juiz pode convocar um perito no Banco de Peritos. Isso existe há muitos anos. Sempre há o provimento para constituição do cadas-tro de peritos. Não se trata de terceirização, é uma forma do juiz ter outras possibilidades

Dra. Leila Torraca Brito - Vou tentar con-cluir! Eu acho que esta discussão se os psi-cólogos e assistentes sociais que estão no quadro que são peritos ou não, é uma dis-cussão bastante antiga. O primeiro even-to que participei, aqui em São Paulo, acho que foi em 1989, já abordava esse assunto.

Nos diferentes estados do Brasil, é possí-vel observar que este trabalho e estas atri-buições são distintas. Eu sei que, aqui em São Paulo, essa questão da perícia é mui-to presente nos tribunais. Não é o caso de outros estados como Minas Gerais, como Rio onde isso se dá de uma outra maneira.

Depois dessa Resolução super recente do CNJ, que ainda nem entrou em vigor, estas interpretações, sobre quem é perito precisam, talvez, ser melhor discutidas e amadurecidas.

No Rio nós temos esta Consolidação da Coordenadoria Geral de Justiça do Es-tado do Rio que foi atualizada em 2016.

Essa consolidação traz as atribuições de todos os profissionais, inclusive do psicólogo. O psicó-logo como auxiliar do juízo, hierarquicamente su-bordinado ao Juiz de Direito, mas tecnicamente vinculado ao Serviço de Apoio aos Psicólogos.

No artigo 419 da citada Consolidação, temos a descrição das atribuições de assistentes sociais e psicólogos. Lá se observa, dentre outros, que cabe ao profissional de Psicologia desenvolver estudo psicológico em processos judiciais, utili-zando instrumental técnico próprio da Psicolo-gia; assessorar órgãos judiciais e administrati-vos, na esfera de sua competência profissional.

Aí, vem uma série de atribuições, po-rém não consta da Consolidação a pala-vra perícia, aliás, nunca constou desde que os psicólogos ingressaram no TJ-RJ.

Dra. Eunice Fávero: Algumas reflexões sobre dispositivos previs-

tos no novo Código de Processo Civil (CPC) - Lei Federal 13.105/2015, artigo 466, $ 2º: no qual consta que o “perito deve assegurar aos assistentes das partes o acesso e o acompa-nhamento das diligências e dos exames que realizar, com prévia comunicação, comprova-da nos autos, com antecedência mínima de 5 (cinco) dias.” [realizadas em intervenção, como parte do público presente, no even-to “O Novo CPC e o trabalho dos assistentes sociais e psicólogos no Sistema de Justiça”, promovido pela AASPTJ-SP, em 21.09.2016].

1. Apontamentos com base em parte de ex-posição realizada no CBAS/2016, na Plená-ria “O Serviço Social no sociojurídico: requisi-ções conservadoras e práticas de resistência”:

“A previsão da presença do ‘assistente das partes’, ou ‘assistente técnico’ durante os pro-cedimentos pertinentes à realização do estu-do social pelo profissional/assistente social da equipe do Judiciário [ou ‘perito do juízo’, como usualmente é nominado em São Paulo] é uma questão bastante complexa e polê-

mica no âmbito das relações humanos/sociais/profissionais e nos remete, de imediato, a ques-tões éticas. O assistente técnico via de regra é contratado por uma das ‘partes’ ou é designado pela Defensoria Pública (quando servidor desta instituição) também para subsidiar a defesa de uma ‘parte’. Se para o assistente social do Ju-diciário já é difícil o estabelecimento de víncu-los de confiança com os sujeitos envolvidos em ações judiciais – tendo em vista o curto espaço de tempo para realização do seu trabalho e o peso que sua atuação tem na decisão judicial - na medida em que o Juízo examinará o relató-rio ou laudo que apresenta como ‘prova pericial’ –, o que será dessa relação se esses sujeitos são acompanhados durante as entrevistas pelo assistente técnico, em tese com poderes para ‘defendê-lo’ de eventuais arbitrariedades? Ou de ‘protegê-lo/ auxiliá-lo no diálogo a ser rea-lizado? Se o assistente técnico é ‘profissional de confiança da parte’, está implícito que o as-sistente social perito não seria de confiança?

O assistente técnico poderá interferir no pro-cesso de entrevista se não estiver de acor-do com a postura adotada pelo assistente social perito? Manter o assistente técni-co acompanhando a entrevista com uma criança, idoso, adulto, geralmente envolvi-dos em situações complexas, não seria as-sumir que o Serviço Social está em sintonia com a posição ‘adversarial’ - presente via de regra nas ações judiciais – do ponto de vista da prática jurídica? Essa postura es-taria em sintonia com o projeto ético-político do Serviço Social? O disposto no CPC prevalece em relação ao Código de Ética Profissional?

Uma coisa é a atuação interdisciplinar/con-junta em atividades da execução de serviços vinculados a direitos sociais; outra é a ‘assis-tência técnica’ nas ações judiciais. Uma coisa é o assistente técnico da área da engenharia, por exemplo, acompanhar o trabalho do en-genheiro perito judicial. Outra é um assistente técnico acompanhar o ‘perito’ em ações que envolvem relações humano-sociais. Essas são apenas algumas das questões que se colo-cam, e que clamam pela urgente necessidade de aprofundamento desse debate pela catego-ria em conjunto com órgãos de representação profissional, e também com representações de outras áreas das ciências humanas/sociais”.

2. Apontamentos suscitados durante o evento promovido pela AASPTJ-SP:

“- A questão que se coloca não é a relação

entre os profissionais – peritos e assistentes técnicos. Eu, se atuando como perita, entende-ria perfeitamente que é importante estabelecer relações de diálogo, de troca com os assisten-tes técnicos (de todas as ‘partes’ envolvidas na ação judicial). Mas não é isso que está em questão. Se o assistente técnico comungar dos mesmos valores éticos profissionais que o perito (de acordo com os princípios éticos do Serviço Social na atualidade), certamente ele concluirá que não é adequado estar presente durante os procedimentos de realização do es-tudo/perícia social (como as entrevistas) – do ponto de vista da proteção de direitos dos su-jeitos envolvidos. Ou ambos, dependendo de cada situação, poderão até acordarem em que momento poderão estar juntos. Lembrando tam-bém que o atendimento conjunto demandaria um tempo de articulação e de estabelecimen-to de vínculos com os sujeitos, e de aceitação por parte deles, o que provavelmente foge da diretriz institucional/judiciária da ênfase na pro-dutividade/celeridade, cada vez mais presente.

- Importante a reflexão sobre: qual a inten-cionalidade do perito no trabalho que realiza? Qual a intencionalidade do assistente técni-co? Tanto dos que são contratados pela ‘par-te, por meio de defensores particulares como os que são servidores da Defensoria Pública?

- O defensor, ao interpretar a lei a favor da ‘par-te’ que representa, muito provavelmente não irá pedir impugnação do perito que não teve a par-ticipação do assistente técnico acompanhan-do-o ‘presencialmente’ ao realizar a perícia?

- Se a situação foi judicializada, já é adver-sarial. Para não chegar a essa situação, de-fender-se-á, então, a ‘mediação familiar’, ou ‘mediação de conflitos, anteriormente à ju-dicialização? E a ser realizada por quem?

- Proposta: realização de oficinas, organi-zadas por órgãos de representação das cate-gorias e também por instituições empregado-ras, com a participação de profissionais que atuam como ‘peritos’ em varas que envolvem (ou possam envolver) o trabalho do assisten-

te técnico, para que falem a partir de suas ex-periências cotidianas, do ‘concreto vivido’ e de suas análises a respeito - com assessoria/participação também de profissionais que es-tudam/pesquisam a ética e o trabalho profis-sional, bem como famílias, desenvolvimento infanto-juvenil, violência doméstica etc. - para análises da situação e novas sínteses, visan-do fundamentar possíveis encaminhamentos.

Obs.: A resolução CFESS 559/2009 (sus-pensa) dispõe sobre “a atuação do assis-tente social, inclusive na qualidade de perito judicial ou assistente técnico, quando convo-cado a prestar depoimento como testemunha, pela autoridade competente”, e não sobre o acompanhamento do assistente técnico nos procedimentos de realização da perícia. Dra. Rita de Cássia Silva Oliveira:Se soubesse que teria um momento de fala

poderia ter preparado algo bem na linha do cotidiano do chão profissional, de como vem se dando a escuta das pessoas em Varas de Família, tendo como questão algo tão precioso como o convívio com seu filho, com seu idoso ou com a pessoa que está sendo interditada.

Falo como assistente social que trabalha no TJ-SP há vinte e poucos anos e, em Varas de Família, há dez, e que demorou a constituir uma experiência mesmo, naquela perspectiva de transitar entre o cotidiano, a alienação e a reflexão. A primeira coisa que eu trago para reflexão seria o que nos diferencia - como assistente social e como psicólogo - em relação à temática do assistente técnico?

É a Psicologia que tem maior quan-tidade de processos com assistentes técnicos em relação ao Serviço Social. Por si, tal questão dá margem a uma am-pla reflexão que tem relação com a origem de cada profissão. Qual é nossa experiên-cia nessa relação com o assistente técnico?

Para exemplificar a pouca quantidade de pe-rícias sociais com a participação de assistente técnico, fizemos um breve levantamento: de três assistentes sociais aqui presentes, a primeira - com três anos de trabalho em Vara de Família - atuou em dois processos com assistentes téc-nicos; a segunda - também três anos- atuou em cinco; e eu - com dez anos - atuei em quatro.

Essa é uma questão que diferencia o assis-tente social e o psicólogo. Talvez por isso não tenhamos no Serviço Social regulamentação a respeito. (Aliás, aproveito para lamentar a au-

sência do Cress-SP nessa oficina). Diferente-mente da Psicologia que tem resoluções espe-cificas que recomendam a (não) participação do assistente técnico nas entrevistas psicológicas.

Nós temos um parecer de 1994 do Conselho Federal de Serviço Social, da Sylvia Terra, que fala sobre a não participação do advogado nas entrevistas sociais. Naquela época, tínhamos como questão, o embate do advogado querendo participar da entrevista daquele que ele repre-sentava. Entendo que é um excelente documen-to para amparar nosso embasamento contrário a participação do assistente técnico, pois esse parecer trata daquilo que temos em comum com a Psicologia e que foi bem ponderando por Eu-nice Fávero: a necessidade de estabelecer uma relação de confiança com o usuário, pautada na competência teórica e na ética profissional.

Isso é o que temos em comum com a Psi-cologia: o nosso trabalho é pautado num relacionamento com o usuário da justiça, competente teórica, técnica e eticamente.

Para o Serviço Social, ao longo desses dez anos, eu tive clareza de que é necessária uma abordagem distante daquela (linha pe-ricial) que só ouve, registra as informações que, por vezes, quando lidas geral surpre-sa para o usuário: ‘nossa, ela era tão sim-pática, não sabia que ela ia colocar isso!’

Teve um momento em que tirei como diretriz para o discernimento ético da minha atuação: Eu teria a coragem de ler esse relato para cada pessoa que eu atendi? Se não, é porque em al-gum momento feri a ética. A perspectiva da de-volutiva entra nessa linha, mas nem sempre é possível um momento específico, exclusivo para a devolutiva. Mas é importante desenvolver uma entrevista dialógica, em que a todo o momento você vai possibilitando reflexões e apontamen-tos que vão dando indicativos para que a pessoa não se surpreenda com o que vai estar escrito.

Eu prezo muito pela logica não adversarial. Em dado momento no Grupo de Trabalho do TJ-SP que tem discutido as questões profissionais de Vara de Família, me posicionei contunden-temente contrária à participação do assis-

tente técnico, mas isso não significa ser contra o trabalho da (o) colega profissional. Nos quatro processos que tive com assistente técnico hou-ve troca de ideias e até mesmo reunião prévia.

É tudo muito novo: não há clareza de qual é o papel do assistente técnico e do peri-to... não está dado. Tem se falado que o as-sistente técnico não fiscaliza o trabalho do perito, mas muitos têm essa noção. É pre-ciso que ocorram muitos debates sobre o pa-pel de cada um – do assistente social atuan-do como perito e como assistente técnico.

Ao longo de dez anos, tenho tido muitas in-quietações sobre as particularidades do Servi-ço Social em Varas de Família. Eu fiz o mes-trado e o doutorado com base em pesquisas de temáticas da Vara da Infância onde é muito clara nossa atuação nas expressões da ques-tão social, o que não se dá tão claramente nas demandas da Justiça de Família. Por isso, te-nho me voltado para pensar a identidade da profissão nesse espaço no Judiciário, visto que quase nada se tem escrito sobre isso, embora atuemos com tais demandas há várias décadas.

Como não temos a questão do assistente téc-nico muito clara, reforço a importância de acom-panharmos os debates feitos pela Psicologia e nesse sentido há o evento do CRP que está disponível no site, onde a defensora publica ressalta que o caminho para se contrapor à mu-dança do NCPC (em relação a participação do assistente técnico), seria, por meio do Legislati-vo para incluir na lei as nossas particularidades.

O que eu coloco como importante é quan-do você está atendendo um pai ou uma mãe, numa situação de alto litígio, é muito difícil ela confiar. Primeiro, porque ela já tem uma desconfiança sobre seu papel, pois ela sabe que esse saber tem um poder e, além disso, ela tem a preocupação com aquilo que você vai levar sobre ela para a parte contrária.

As crianças estão expostas a intenso sofri-mento porque muitas vezes lhes é demandado que escolham entre pai e mãe. Então esta é uma escuta delicada. A construção da confiança é muito delicada. É preciso explicar: eu vou ouvir um lado e vou ouvir o outro lado, mas saiba que nossa linha como profissional não pretende ex-por ninguém e nem acirrar conflitos, ao contrário.

A primeira coisa que eu coloco na minha de-fesa profissional é que, se tiver um assistente técnico de uma das partes, eu tenho no meu

Código de Ética, argumentos suficientes

para dizer que não é possível a participação do assistente técnico, ainda que o juiz determine isso. Se uma só das partes tem assistente téc-nico, o que eu devo fazer como assistente so-cial? Usuário, requerente ou requerido: você concorda com a participação deste assistente técnico na entrevista? Eu explico meu papel, explico o papel do assistente técnico... Você concorda com a presença dele? Não, eu não concordo! Se ele não concorda, eu não vou fa-zer meu trabalho com a discordância dele, eu não vou servir como veículo de violação de di-reitos postos desde 1993: a democratização das informações, a participação dos usuários nas decisões institucionais, a correlação de forças institucionais. Nesse caso o usuário tem que registrar sua discordância para apresentarmos no processo e prepararmos nossa justificativa.

Se o processo judicial só tem assistente téc-nico para um dos lados e ele quiser acom-panhar as entrevistas da parte contrária, eu não estou defendendo o processo con-traditório, eu estou acirrando um processo de desigualdade de gênero e de classe so-cial, que está posto nas relações familiares.

Estamos a todo o momento falando de as-sistente técnico, assistente social, psicó-logo, mas e o usuário da Justiça? Ele é o sujeito, ele deve ser ouvido a respeito da participação ou não do assistente técnico.

Dra. Sylvia Helena Terra: quem é o perito? Engloba os profissionais presentes nos qua-dros dos tribunais? Temos que esclarecer es-sas duas perguntas. O que é acompanhar? Maior demanda de processos éticos refere a laudos, pareceres e afins. O contraditório não se exerce no processo de construção da perícia, mas sim em momento posterior.

Dra. Ana Maria Bertelli: perito é aquele con-tratado (Resolução 84/2015 do TJ de MG), não é um funcionário efetivo do TJ. A escolha do perito é a critério do juiz. Existe uma tabela de pagamento para esse perito – R$ 230,00 por estudo social. Peritos trabalham por volume, pela quantidade de laudos. A perícia é uma das ações dos profissionais efetivos do Judiciário.

Dr. Thiago Pugina: Em SP os profissionais são considerados como peritos – normas e serviços da Corregedoria Geral de Justiça.

Silvia Chuari (assistente técnica – assistente social):

Mariana Garbim de Oliveira (assistente técni-ca - psicóloga):

Agradece o convite. Partilha com Rita as in-quietações quanto ao trabalho profissional nas Varas de Família. Levanta a questão da remu-neração para os assistentes técnicos e do pou-co cadastro de profissionais de Serviço Social. Posicionamento do assistente técnico depen-de da postura profissional e não, necessaria-mente, atende todas as questões dos clientes.

Responsabilização da parte no conflito fa-miliar; parcialidade como contratada da par-te e imparcialidade como aquela que de-fende o interesse da criança. Parcial por ter contato apenas como uma parte (a con-tratante). Traz relatos de experiências.

DEBATE SOBRE O PARÁGRAFO 2º DO ARTIGO 466 QUE PREVÊ O ACOM-PANHAMENTO DO ASSISTENTE TÉC-NICO NAS DILIGÊNCIAS E EXAMES

REALIZADOS PELO PERITO TÉCNICO

Charles Toniolo de Souza: Subsídios para atuação do Serviço Social no sociojurídico. O que estamos chamando de perícia? Na li-teratura do Serviço Social a perícia aparece associada ao estudo social, ao resultado do estudo social. Parece que essa Resolução do CNJ altera isso? O que é a perícia? A ideia de perícia vem das ciências exatas, que resulta em um laudo (inquestionável). Tem a impres-são que a gente traz essa lógica para dentro das nossas profissões, os laudos periciais não são absolutos. Todo laudo é passível de questionamento. O resultado da perícia tem elementos teóricos para fundamentar a análi-se daqueles fatos. Nenhum laudo é imparcial.

Dra. Ana Maria Bertelli: a questão de fundo é o desmonte das profissões nos TJ’s do país. O que se quer é extinguir os concursos públicos. Bancos de peritos: baixa qualidade de trabalho.

Alexandre L. de Moura: no Foro do Butantã os assistentes técnicos podem acompanhar as perícias. Por que a Resolução 008 do CFP caiu? O perito deve assegurar o acesso, o que significa? Se eu fizer a prévia comunicação eu já assegurei o acesso? Como eu posso cons-tranger um colega com uma normativa ética?

Dr. Thiago Pugina: não tem respostas exatas para todas as questões. A juíza fez uma visão

equivocada das normas, a Resolução do CFP não está suspensa/revogada automaticamen-te, em razão do CPC. O acompanhamento tem que levar em conta as regulamentações das categorias. Não há como dar respostas, pois há diferentes interpretações. O perito in-forma que tem a resolução, o assistente técni-co reconhece, o advogado entra com um pe-dido para que haja uma determinação judicial para entrada do assistente técnico na perícia.

Charles Toniolo de Souza: a resolu-ção do CFP fala do assistente técnico e o CPC fala do perito. Se assistente técni-co ele está infringindo a resolução do CFP.

Andreia Pequeno: a lei precisa ser lapidada. Qual é o significado desse “assegurar”? Preci-so mudar a minha agenda de trabalho por conta disso? Precisamos urgente estabelecer um diá-logo com o Legislativo e/ou com o CNJ para tra-zer estes questionamentos. A terceirização no TJ-RJ já é uma realidade, estão fazendo parte desta nova reconfiguração do trabalho. Concei-to que precisa ser olhado com cuidado “aten-dimento multidisciplinar” (Art. 694), precisamos explorar mais o texto da lei como um todo.

Thaís Felipe Silva dos Santos: autono-mia profissional, como fica? Como fica a relação profissional, tendo em vista as di-ferentes correntes profissionais? Como fica o sigilo na relação com o usuário?

Ana Paula Hachich de Souza(CRP): Para além da Resolução do CFP, qual a influencia que tem a presença do assistente técnico, considerando que o perito já tem uma representatividade?

Maria Arlinda Reis de Marques Freitas (Psicó-loga do TJ do Maranhão): Sugestão de reflexão – fazemos perícias ou estudos psicológicos?

Viviane Souza Duque Garcia: como te-mos tratado a garantia dos sujeitos do pro-cesso ao direito ao assistente técnico?

Clarice Metzner: qual a discussão do MP nes-se lugar? No momento não há nenhuma, pois a inserção profissional tem se dado, majoritaria-mente, na defesa dos direitos difusos e coleti-vos. Isso não quer dizer que estes temas não apareçam no MP, visto que têm aparecido algu-mas demandas para atuação como assistente técnico (destituição do poder familiar). MP-PR tem a postura de que se deve trabalhar com quesitação, pois já há uma série de elementos no processo que indicam a “conclusão” do caso.

Kelly H. Cunha Fonseca: No sistema prisional pode haver um assistente téc-

nico acompanhando o processo de ava-liação do profissional do sistema penal?

Dra. Bete Borgianni: MP e Defensoria é um trabalho muito novo, também são assis-tentes técnicos. Respondendo à pergunta da Kelly, acha que os assistentes técnicos do MP e Defensoria poderiam fazer esse papel.

Barbara Correia Marques: contextuali-za a inserção na Defensoria. Não atua no campo adversarial, é assistente social, pro-blematiza a avaliação no contexto da ga-rantia dos direitos, relatório avaliativo.

Andreia Pequeno: O que regula a atua-ção dentro do sistema penal não é o CPP?

Dra. Sonia Guerra: Código de Proces-so Civil trata de matéria diferente do pro-cesso penal. O Código de Processo Penal já previa a perícia e o assistente técnico. CPC não se aplica na execução penal.

Dra. Sylvia Helena Terra: alguns juí-zes podem utilizar o CPC por analogia.

DEBATE SOBRE OS PARÁ-GRAFOS 2º E 3º DO ARTIGO 464 QUE PREVEEM A PROVA

TÉCNICA SIMPLIFICADA

Dra. Leila Torraca Brito:Dra. Leila inicia este tópico citando o artigo

464 do novo CPC.O juiz poderá, em substituição à perí-

cia, determinar a produção de prova téc-nica simplificada, quando o ponto contro-vertido for de menor complexidade” ( § 2 ).

No mesmo artigo, o código também diz que “ a prova técnica simplificada consistirá apenas na inquirição de especialista, pelo juiz, sobre ponto controvertido da causa que demande es-pecial conhecimento científico ou técnico” (§ 3)

Acho que nós já conversamos uma discussão sobre o que seriam causas de menor complexida-de. Aí, a meu ver, vai depender do que o profissio-nal entende como menor complexidade ou não.

Então, uma primeira questão seria avaliar o que seria esta menor complexidade. Isso vai depender da avaliação do profissional.

A ideia que eu observei, de algumas pes-soas que escreveram sobre esse assunto são questões sempre mais relacionadas a outras áreas de conhecimento como enge-

nharia, ou até mesmo medicina. Se o juiz tem uma dúvida em uma determi-

nada situação. É uma questão bem pontual.E o que muitos dizem é que esta prova téc-

nica, quem vai avaliar se há complexida-de ou não é a pessoa que vai receber a de-manda, é o profissional que vai receber esta demanda. É ele quem vai dizer se ele pode ou não responder dessa maneira simplifica-da o que está sendo ali perguntado pelo juiz.

Outro ponto... alguns dizem, também, que não precisa ser em audiência. Então o juiz não pre-cisa chamar o profissional na audiência. Essa explicação é uma questão em relação ao que o código anterior explicitava. Porque o código anterior explicitava que deveria ser em audiên-cia. Então, para alguns profissionais, se o novo código não traz explicitamente que a explica-ção do especialista deveria ser em audiência, é porque o legislador quis retirar essa obrigação.

Pode ser um questionamento que o juiz faça ao profissional, mas que o profissional deve respon-der no processo, não precisando ser em audiência.

Dra. Bete Borgianni pede a intervenção da Dra. Sônia Guerra e do Dr. Thiago Pu-gina. Segundo a leitura feita pela Dra. Lei-la Torraca Brito a definição se uma causa é de maior ou menor complexidade cabe ao profissional e considera importante ouvir es-tes assessores jurídicos da AASP a respeito.

Um entendimento é que é sempre o juiz quem vai dizer se a causa é de menor complexidade, mas cabe ao profissional acatar isso ou não.

Dra. Sonia Guerra: Eu vou ler um artigo da lei, o artigo 464, § 2º: “de ofício ou a requerimento das partes, o juiz poderá, em substituição à pe-rícia, determinar a produção de prova técnica simplificada, quando o ponto controvertido for de menor complexidade”.

Então, a gente já sabe que tanto pode ser a pe-dido das partes como deliberação direta do juiz.

A prova é produzida para aclarar o conhecimen-to do juiz sobre a causa. Quando eu li: “de ofício ou a requerimento das partes, o juiz poderá...” isso, no meu entendimento, sem dúvida, cabe ao juiz determinar a prova técnica simplificada.

Já discutimos isso na Associação, e chega-mos a uma conclusão não muito consensu-al de que, se a prova é destinada ao juiz, se é o juiz quem vai determinar a sua produção, seja de ofício ou a pedido das partes, vai ca-ber ao profissional avaliar se, a partir da ava-liação prévia do juiz, o caso seria de me-nor complexidade, na avaliação do direito.

Só que quem vai fazer esta prova é o pro-

fissional do Serviço Social ou da Psicolo-gia. Então caberá a este profissional indi-car ao juiz se é caso de maior ou menor complexidade. Isso é possível realizar.

Na minha avaliação, pela experiência de trabalho com assistentes sociais e psi-cólogos, eu temo que isso acabe virando um substitutivo de laudos naquela pers-pectiva de produtividade de processos.

Porque, antes da mudança do CPC, na prá-tica, nós já tínhamos isso. O juiz convocava o profissional, a pretexto de dar uma decisão liminar: ele chamava o profissional e dizia – você tem dez minutos para avaliar essa si-tuação, porque eu vou precisar da resposta.

Isso é oficial e eles já faziam. Mi-nha preocupação é que ele chame, e ele tem, agora, a brecha para fazer isso.

A Leila falou se seria em audiência ou não. Na verdade, os CPCs anterior e atu-al preveem a oitiva do perito na audi-ência de instrução, na audiência final.

Leem o estudo, o laudo e no final, se hou-ver dúvidas, o juiz pode convocar o pro-fissional, o perito, para responder às per-guntas. Como já era no CPC anterior.

Aqui, me parece diferente: ela está no cur-so do processo. O processo tem uma inicial – alguém reclamando de alguém, um direito violado – o juiz vai seguir o rito processual, a parte vai apresentar sua contestação, vai ha-ver uma réplica de quem entrou... o contra-ditório é francamente estabelecido e abre--se a oportunidade de produção de provas.

É neste momento que surge a prova técni-ca simplificada. Porque a inicial já trás uma prova, mas o processo vai ter um momen-to próprio para fazer esta concretização.

É neste momento que o juiz vai dizer que, na opinião dele, pode haver um substitutivo do estudo por uma prova simplificada. Prova técnica simplificada. E ele vai jogar a bola pro profissional. E é o profissional quem vai dizer se cabe aqui uma prova técnica simplificada.

Nada impede que o juiz intime as partes para conversar com elas. Pode ser realizada uma audiência com essa única finalidade, de ouvir as duas partes. Essa prova técnica simplifica-da consistirá apenas na inquirição de espe-cialistas. Mesmo que seja simples inquirição de alguém especializado naquela matéria, é evidente que será necessária a presença de ambas as partes para garantir o contraditório.

Por isso é que não se trata de audiência final de instrução, mas de audiência intermediária para que o juiz possa fazer a produção dessa prova.

Andreia Pequeno: Eu fiquei com uma dúvida so-bre essa prova simplificada. Eu vou ser inquirida a respeito de uma situação que eu nem sei qual é?

Outra dúvida: no próprio caput do 464, quando o legislador vai falar: a prova pericial consiste em exame, vistoria ou avaliação. Aqui não está fa-lando nem de estudo social e nem de psicológico.

Então seria estudo social e não seria es-tudo psicológico? Essa é uma dúvida.

A outra é onde a gente busca os conceitos de exame, vistoria e avaliação.

Maria Arlinda Reis de Marques Freitas – Que-ro citar um exemplo. Na época, não usávamos este termo de prova técnica simplificada. O ad-vogado da parte – era um processo penal - o ra-paz cometeu um crime passional, e ele alegava que não estava bem com sua companheira e por isso matou. Mas ele amava muito aquela mulher. Não sabe por que matou, só sabe que acordou e estava num lugar estranho para ele, não se lembrou do fato, e disseram pra ele: você matou sua esposa. Estranha comunicação.

Ele não estava ensanguentado, porque tinham trocado a roupa dele, mas a rou-pa estava ensanguentada, e ele estava na casa de um tio, teria dormido lá. Teria ma-tado, na noite anterior e não se lembrava do fato. O advogado perguntou: pode al-guém matar outra pessoa e não se lembrar?

E, ele pediu um estudo psicológico da-quele caso. Depois que eu fiz o estudo é que vi que eu não precisava ter feito o es-tudo. Bastava ter respondido àquela ques-tão: pode alguém matar em surto? Pode!

Dra. Bete Borgianni: antes que a senhora res-ponda, deixe-me esclarecer. Nós, na Associa-ção, tivemos essa conversa pensando naquele outro artigo – 699 – que diz que toda vez que for causa de abuso ou alienação parental de criança ou adolescente que o juiz deverá cha-mar em sua sala o especialista no momento em que ele vai escutar a criança ou o adolescente.

A que conclusão nós chegamos? Como é que a gente pode se defender nessas situações?

E disse mais ainda. Eu posso chegar na sala do juiz, ou na tal prova técnica simplificada, quando ele me chama em inquirição, e ele vai me perguntar sobre aquele caso de abuso ou alienação. Ou um caso como esse que a Ar-linda está colocando (surto) e eu posso

dizer para ele: Excelência, eu conheço a ma-téria, conheço a alienação parental, conhe-ço o que é o abuso sexual; no caso dos psi-cólogos, eu conheço surto psicótico, mas não conheço este caso. Eu posso me pronunciar sobre a matéria, mas não sobre o caso. Acho que a nossa defesa, neste momento, é essa.

A gente sempre tem que responder isso. Não deixar de ir pra sala do juiz, mas diz isso – co-nheço a matéria, mas não conheço o caso. Precisaria fazer um estudo mais aprofundado.

Dra. Leila Torraca Brito:Só quero dar uma sequência a isso. Antes,

no Código anterior, era artigo 42, e ele dizia: “quando a natureza do fato o permitir, a pe-rícia poderá consistir apenas na inquirição pelo juiz do perito e dos assistentes, por oca-sião da audiência de instrução e julgamen-to a respeito das coisas que houverem in-formalmente examinado ou avaliado”. (§ 2º).

Agora, não traz mais a necessidade da au-diência. Então é aquela pergunta. Alguém pode matar uma pessoa em surto. Ela pode. Isso pode ir por escrito. Ela não precisa ser chamada para isso. Alguém pode? Alguém pode! Agora, essa pessoa pode? Não sei!

Só quem pode responder se ele pode ter feito isso é um estudo psicológico.

Quando o perito já vem trabalhando com o juiz, já conversou com ele a respeito e ele já sabe o que pode ou não ser respondi-do a partir de uma prova técnica simplificada.

Dr. Thiago Pugina: Só quero trazer uma reflexão sobre se é em audiência ou não.

O § 4º do artigo 464 diz o seguinte: “Du-rante a arguição, o especialista, que deverá ter formação acadêmica específica na área objeto de seu depoimento, poderá valer-se de qualquer recurso tecnológico de trans-missão de sons e imagens com fim de es-clarecer os pontos controvertidos da causa”.

O § 3º falava em inquirição, e o § 4º fala em arguição. Ou seja, estão presentes na au-diência. Na minha opinião, este técnico vai prestar estes esclarecimentos em audiência.

Uma outra reflexão que a gente poderia fazer é que, não necessariamente, o téc-nico vai ter um contato com a causa, por-que o artigo fala em substituição à perícia.

Me parece estranho que o juiz chame um técni-co para falar sobre um caso que ele não conhece.

É um constrangimento para o técnico e ele não tem como responder a nenhu-ma questão sobre o caso concreto.

Dra Sônia Guerra: Eu quero pegar um gan-cho na fala da Dra. Leila e do Dr. Tiago. Preci-samos refletir sobre a importância da conversa sensível. Muitos juízes não dão acesso a con-versas e diálogos, mas ela é muito importante diante de impasses como a gente estabeleceu no processo civil.

Importante que os profissionais tentassem conversar com ele como seria isso, qual o cami-nho a seguir enquanto Tribunal de Justiça para que os profissionais tivessem uma posição.

Por quê? Porque eu observei, no dia de hoje, por exemplo, que... com todo o respeito a vocês, é que vocês ainda es-tão submetidas a pensar no seu papel. O que eu sou: sou perito ou não sou perito?

É compreensível isso pela área que vocês atuam. Para mim, o Serviço Social e a Psico-logia têm formações diferentes que o Direito. Para esses profissionais, a linguagem jurídica é de difícil compreensão. E é compreensível, portanto, que haja esta dúvida quanto ao que eu sou. Se vocês tivessem o conhecimento do Direito, vocês viriam que o perito no pro-cesso judicial, para que o juiz possa prolatar sua sentença, ele vai produzir provas. Entre as modalidades de prova que são produzidas, tem a prova pericial. Por que o Tribunal con-trata estes profissionais? Qual é a finalida-de do trabalho deles? Fazer a prova pericial.

Discutiu-se durante muito tempo: es-tou lá para trazer provas? Estou lá para fa-zer uma avaliação social ou psicológica.

Todavia, seu trabalho vai ser utilizado como prova.

Então, se eu estou na função de produtor des-sa prova pericial, o Código Civil estabelece ao perito várias prerrogativas.

O que ele pode fazer? O próprio Tribunal de Justiça de São Paulo considera a equipe mul-tidisciplinar como peritos do juízo. Então, em São Paulo, não temos dúvidas que temos os profissionais de Serviço Social e de Psicolo-gia peritos. Dos outros estados, quando a Ar-linda, do Maranhão, fala “quem eu sou?” Eu responderia que, para mim, você é uma peri-ta também porque você está seguindo a nor-matização legal. O Código de Processo Ci-vil diz – quando você faz parte do Tribunal e você faz parte desta avaliação, o nome que você recebe, quando você faz isso é de perita.

Faz-se a distinção processual en-tre o perito e o assistente técnico. Am-bos têm que ser da mesma profissão.

Quero ainda responder à pergunta da An-dreia. A prova pericial consiste em exa-me, vistoria ou avaliação. O que é isso?

O que pede o processo? A perícia. Quem vai re-alizar a prova pericial? A equipe multidisciplinar.

Exame: ir a algum lugar. É a avaliação direta.A vistoria, geralmente, é feita em bens, mó-

veis e imóveis. E a avaliação é o trabalho técnico que vocês

fazem.

APROVAÇÃO DOS ENCAMINHA-MENTOS SUGERIDOS DURANTE OS

DEBATES

Dra. Bete Borgianni esclareceu que na ple-nária seriam lidas as anotações registradas durante as falas. Os participantes não preci-sam se ater a estes pontos, que devem servir apenas para ajudar a encaminhar a conversa.

Algumas das questões apontadas referem-se a alguns conceitos que precisam ser esclarecidos como subsídios para a atuação no sociojurídico:

1. O que estamos chamando de perí-cia? Na literatura do Serviço Social a perícia aparece associada ao estudo social, ao resul-tado do estudo social. Parece que essa Reso-lução do CNJ altera isso? O que é a perícia? A ideia de perícia vem das ciências exatas, que resulta em um laudo (inquestionável). Tem a impressão que a gente traz essa lógica para dentro das nossas profissões, os laudos peri-ciais não são absolutos. Todo laudo é passível de questionamento. O resultado da perícia tem elementos teóricos para fundamentar a análi-se daqueles fatos. Nenhum laudo é imparcial.

2. O perito deve assegurar o acesso, o que significa? Se eu fizer a prévia comunicação eu já assegurei o acesso? Como eu posso constran-ger um colega com uma normativa ética? Qual é o significado desse assegurar? Preciso mudar a minha agenda de trabalho por conta disso?

3. Quem somos nós: vários questionamen-tos sobre a identidade profissional.

4. Perícias psicológicas ou estu-dos psicológicos?

5. Perito e assistente técnico não se-rem da mesma categoria profissional, em decorrência da especialização – como fica a questão do sigilo? Não há uma garantia de que será possível um traba-lho conjunto entre perito e assistente técnico. A presença do assistente técni-co, para algumas interpretações, influen-

cia as oportunidades de trabalho do perito. O assistente técnico poderá intervir no processo de entrevista? A questão não é a relação entre os profissionais... qual é a intencionalidade de um trabalho do perito e do assistente técnico?

6. Como fica a contradição entre aquilo que foi estabelecido pela Resolução 008/2010 do CFP e o novo CPC?

Além de questões como as acima, foram feitas algumas sugestões de encaminhamento, a saber:

1. Realizar encontros e oficinas com profissionais que atuam nas Varas e discu-tir esse tema a partir da realidade concreta.

2. Precisamos urgente estabelecer um diálogo com o Legislativo e/ou com o CNJ para trazer estes questionamentos

3. As categorias que devem discutir como vai se dar a relação do assistente técnico e do perito.

Dra. Bete Borgianni – Alguém tem algum encaminhamento além destes ou quer se manifestar para dar mais conteúdo a elas?

Dra. Bete Borgianni– O que a gente mais está sentindo nos vários espaços ocupacionais de assistentes sociais e psicólogos, e tendo em vista a forma como as instituições estão traba-lhando... do ponto de vista do Tribunal, e não sei como isso está no MP e na Defensoria, mas a gente vê um trabalho eminentemente burocráti-co, baseado muito mais em responder logo aos protocolos, preencher alguns algoritmos que não necessariamente vão gerar uma conclusão, mas não trabalhando realmente nos casos. E, junto com isso, uma desfiguração, uma dege-neração das nossas atribuições profissionais.

Então, eu penso que qualquer encaminha-mento precisaria partir deste pressuposto para que tanto os conselhos profissionais, como as associações – nossos sujeitos coletivos, e pen-so também na ABEPSS, como seria importan-te incluir a ABEPSS neste debate; a Psicologia deve ter uma instância que cuida da formação... não sei como chama essa associação –

para que, urgentemente, também levemos para dentro destas instâncias formadoras a urgên-cia de capacitações permanentes e profundas sobre o exercício profissional nestes espaços.

A área sociojurídica é onde mais aparece esta necessidade. A Dra. Sônia Guerra colocou que a maioria dos processos éticos que aparecem nos Conselhos Profissionais são desta área.

E a gente sabe que só o processo ético não vai dar conta. Condenar o colega, julgá--lo, por atuação inadequada... não é isso. É outra instância jurídica que é o tribunal éti-co que a gente tem tomado cuidado para ela também não se transformar numa instância que só pune. Os assistentes sociais brasilei-ros tem isso muito claro, temos isso no nos-so DNA que a punição, por si só, não resolve.

O que a AASPTJ-SP e a AASP Brasil con-seguiram falar na mesa e entre nós é que tal-vez esteja se abrindo a necessidade urgente de processos de capacitação, que possamos até chamar de capacitação “de massa”; não é apenas este esforço hercúleo que a gente fez para estar levando para todos os lugares. Mas, hoje, a gente vai ter essa necessidade no Maranhão, vamos ter essa necessidade no Paraná, vamos ter essa necessidade no Rio de Janeiro. Porque isso está corroendo a nossa atuação profissional se o colega que foi inscrito, se ele se cadastrar nestes Bancos de Peritos; se ele vier a ser aceito totalmente cru, sem saber nada. Ele vai cair ali e vai fazer laudos muito frágeis, e aí ele vai sofrer, tam-bém, processos éticos e de todas as formas.

Então, talvez, precisemos ter claro como é necessário que a AASP Brasil, e a ABEPSS, a gente pensar urgentemente uma forma... eu fico pensando aqui num Ética e Movimen-to Ampliado. Um “Novo Movimento de Re-conceituação” para pensar a partir dessa for-ma de intervenção e dessa nova legislação.

Porque não é apenas essa, mas veio a Lei Maria da Penha, veio a lei do Idoso, a lei da alienação parental são leis que estão nos atingindo e nós não paramos o trem para di-zer o que nós estamos fazendo neste meio.

Isso que eu estou chamando de capacitação de massa é algo que atinja o colega, ou que está se inscrevendo no Banco de Peritos, ou aque-le que já é perito do Tribunal, ou aquele que é assistente técnico, seja no Ministério Público, na Defensoria ou trabalhando com advogados.

O que nos ocorreu, aqui na mesa, com as

duas associações, é que o grande investimento, além de ir pro CNJ, pro Legislativo e todas as propostas que agente puder tirar, precisamos urgentemente chegar no colega com informa-ções, com debate, com formação crítica e ética.

Dra. Sônia Guerra: Dentro do Direito, só se altera uma lei com uma nova lei. O CFESS, os Conselhos Federais, tem competência de pro-por um Projeto de Lei. A AASP Brasil também tem.

Enquanto aguardamos isso, e embora a Resolução 008/2010 do CFP esteja em vi-gência, ela é menor do que a lei. Enquan-to estes assuntos não se resolvem, a minha sugestão é um Projeto de Lei substitutivo.

Quando o CPC foi criado, ele é absoluta-mente impessoal e generalista. Ele não sabe das necessidades do trabalho de vocês.

Ontem, nós conversávamos e – da cabeça da Vilma Regina da Silva – falamos da possibilida-de de um PL, para acrescentar um parágrafo, fazendo uma ressalva: nas questões de família, a perícia social e a psicológica deverão obe-decer aquilo que estabelecem os conselhos.

Maria Arlinda Reis de Marques Frei-tas – O CRP do Maranhão já está se or-ganizando para propor algo semelhan-te. Sugestão, que a Aasp Brasil ajude a articular os demais estados para discussão con-junto desta proposta de construção de um PL.

Kely H. Cunha Fonseca– fala a respeito da necessidade de melhorar a comunicação.

Dra. Tânia Diniz – Algumas destas ques-tões já estão chegando no CFESS, e já temos pautado para discutir esta matéria na Comis-são de Ética e na Comissão de Fiscalização.

- AASP-Brasil fará um estudo preliminar so-bre a viabilidade deste anteprojeto de lei, so-cializando com os Conselhos Profissionais do Brasil e demais instituições (MP, Defensoria e TJ) o que pode ser proposto neste anteprojeto;

- AASP-Brasil proporá um processo de capa-citação, com consulta prévia dos Conselhos e demais atores;

EM SÍNTESE

LISTA DOS PARTICIPANTES

Adeildo Vila Nova da SilvaAlexandre Lara de MouraAna Carolina Rios LopesAna Carolina da Silva PaulaAna Carolina Martins de Souza FelippeAna Cristina M MouraAna Maria BertelliAna Paula Hachich de SouzaAndreia PequenoAndreza C.O.S. CalixtoAparecida Madalena da SilvaAparecida Tripoloni SouzaBárbara Canela MarquesBianca Ribeiro de SouzaBruna Cléa FerreiraCarmen LuciaCelia Laura TrentoCharles Toniolo de SouzaCíntia Aparecida da SilvaClara de Almeida Praxedes DanielClarice MetznerClaudia SuannesDanielle Pereira da CostaDomingas de Jesus VieiraDr. Thiago PuginaDra. Sonia Maria Guerra GarciaEdilene Aparecida Siqueira MoraesEdna Fernandes da Rocha LimaEduardo Campos Almeida NevesElaine S. dos SantosEliana de Oliveira SantosEliane Aparecida Fanta da PaixãoElisabete BorgianniEunice Teresinha FáveroFatima Elizere Zanoni MasteliniFernanda Tonus de M.F. de MendonçaGenecy Leite DuarteGislene R. Célia LauraGuilherme Luz FenerichHelena Cristina de Souza FigutiIvete Campelo SondiamJosiane MoraesJulia de Andrade Hage FialhoKely H. Cunha FonsecaLarissa Gomes Ornelas PedottLeila Torraca BritoLeticia Côrtes de SouzaLeyla Viviane Pinheiro Viegas DemuciLidiane Almeida DiasLilian Magda MacedoLorena Alves Silva

Luciana M DiasMaíla Rezende Vilela LuizMaria Arlinda Reis de Marques FreitasMaria de Lourdes Fontenele LuzMaria Elaine MartinsMaria Helena CorreaMaria Magdalena AlvesMariana Garbim de OliveiraMaricler RealMiriam C.B.C. VasconcelosNanci Adelina Rocha KurataNatacha de Oliveira SouzaPaula SilveiraPedro Henrique Justino da SilvaPriscila Gomes BarreiraRegiane OrtolomRita de Cássia Silva OliveiraRosemeire Freitas AssunçãoSilvia ChuairiSylvia Helena TerraTania Maria Ramos de GodoiThais Felipe Silva dos SantosVanessa Letícia RodriguesVera Lucia RochaVilma Regina da SilvaViviane de Souza CaroliViviane Souza Duque Garcia