relatÓrio de estÁgio supervisionado: anestesia … · consequências em seu sistema...
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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - UTP LICIANE FERRO STIVAL
RELATÓRIO DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO: ANESTESIA EM S ÍNDROME DO
ABDOMÊN AGUDO EM EQUINOS (CÓLICA)
CURITIBA
2016
LICIANE FERRO STIVAL
RELATÓRIO DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO: ANESTESIA EM S ÍNDROME DO
ABDOMÊN AGUDO EM EQUINOS (CÓLICA)
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado ao Curso de Graduação em
Medicina Veterinária da Faculdade de
Ciências Biológicas e da saúde da
Universidade Tuiuti do Paraná, como
requisito parcial para a obtenção do grau
de Médica Veterinária.
Orientador: Prof.: Dr.: Diogo da Motta
Ferreira
Orientador profissional: Dra.: Karina
Hufenüssler Leigue
CURITIBA
2016
Reitor
Prof. Luiz Guilherme Rangel Santos
Pró-Reitor Administrativo
Sr. Carlos Eduardo Rangel Santos
Pró-Reitora Acadêmica
Prof. Dra. Carmen Luiza da Silva
Pró-Reitor de Planejamento e Avaliação
Sr. Afonso Celso Rangel Santos
Diretor de Graduação
Prof. Dr. João Henrique Faryniuk
Coordenador do Curso de Medicina Veterinária
Prof. Dr, Welington Hartmann
CAMPUS: PROF. SYDNEI LIMA SANTOS
Rua: Sydnei A. Rangel Santos, 238 – Santo Inácio
CEP: 82010-330 – Curitiba – Paraná
Fone: (41) 3331-7700
APRESENTAÇÃO
Este Trabalho de Conclusão de Curso é constituído pelo relatório de estágio
curricular, realizado no Hospital Veterinário Luis Leigue localizado em Guaramirim -
SC, descrevendo procedimentos clínicos, cirúrgicos e anestésicos lá realizados no
período de 25 de julho de 2016 à 10 de outubro de 2016. Também contém uma
revisão literária sobre síndrome de abdômen agudo em equinos e protocolo
anestésico em cirurgia de síndrome do abdômen agudo. No estágio realizado foram
cumpridas 440 horas.
Dedico este trabalho a todos os animais,
seres que permitiram que eu entrasse no
mundo deles e mesmo sendo diferente
pude me sentir igual, seres que tem sua
forma especial de demonstrar o carinho e
lealdade, seres que nascem sabendo
amar. Mas dedico em especial ao cavalo,
um animal que ocupa um espaço especial
em minha vida, um animal que aos
poucos demostra sua confiança, e que me
traz alegria em todo tempo que posso
estar com eles, pois possuem o dom de
transformar dias simples em dias incríveis.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeço a Deus, que sempre iluminou meu caminho, colocou
nele dificuldades para que eu pudesse resolver e com elas poder aprender mais,
nada na vida acontece por acaso, e acredito que todas as oportunidades que tive
por ele foram dadas, bastou saber aproveitar.
Aos meus pais Sergio e Claudines, que em todos os momentos estavam ao
meu lado dando todo o apoio, que não me deixaram desistir e que sempre aceitaram
e concordaram com todas as minhas escolhas. Agradeço a eles também por muitas
vezes terem me mostrado qual é realmente o caminho a seguir.
Agradeço a minha irmã Jessica, meu sobrinho Luigi e todo resto de minha
família por estarem presentes em minha história e jornada, e terem sempre a
paciência em meus piores momentos e a alegria e companhia em nos melhores.
Aos meus avós Rosili, Alcides (in memoriam), Angelina, João (in memoriam)
que de alguma forma contribuíram para minha educação, o que muito influenciou em
minha formação de pessoa e profissional.
Ao meu orientador de estágio supervisionado Diogo da Motta Ferreira, um
grande mestre, um exemplo, que esteve sempre presente de alguma forma, e
dedicou seu tempo para ser meu orientador, acreditando em meu potencial.
Aos veterinários José Ronaldo Garotti, Waldívia Rispolli, Iury Ribeiro de
Paula, Gabriel Weiler, Nilson Ribas e aos proprietários do HV Luis Leuigue Maurício
Coelho Junior e Karina Hufenüssler Leigue veterinária orientadora de estágio, por
me darem oportunidades de estágio e por terem contribuído com meu aprendizado e
formação, amigos conquistados que mostraram como devo enfrentar dificuldades
que terei durante minha carreira e me encorajaram sempre para enfrentar as
mesmas.
Aos meus mestres, que sempre se esforçaram para dar as melhores aulas e
ao coordenador de curso Welinton Hartmann que sempre fez o possível para que o
curso de Graduação de Medicina Veterinária da UTP sempre tivesse melhoras, para
uma boa formação de seus alunos.
A todos os meus amigos, que sempre estiveram ao meu lado, trazendo
alegria em todos os momentos e força nos de fraqueza, sem eles a jornada teria
sido mais difícil e pesada.
E para finalizar agradeço aos animais, seres que dão sentido e alegria a vida
e que fizeram e sempre farão parte de minha caminhada, jornada e trabalho.
“Oração do cavalo
Ao meu amo, ofereço minha oração:
Dá-me comida e cuida de mim, e quando
a jornada terminar, dá-me abrigo, uma
cama limpa e seca e uma baia ampla para
descansar em conforto. Fala comigo, tua
voz muitas vezes significa para mim o
mesmo que as rédeas. Afaga-me às
vezes, para que te possa servir com mais
alegria e aprenda te amar. Não maltrates
a minha boca com o freio e não faças
correr ao subir um morro. Nunca – eu te
suplico – nunca me agridas ou espanques
quando não entender o que queres de
mim. Mas dá-me uma oportunidade de te
compreender. E quando não for obediente
ao teu comando, vê se algo está incorreto
nos meus arreios ou maltratando meus
pés. E finalmente, quando a minha
utilidade se acabar, não me deixes morrer
de frio ou à mingua, nem me vendas para
alguém cruel para ser lentamente
torturado ou morrer de fome. Mas
bondosamente meu amo, sacrifica-me tu
mesmo, e teu Deus te recompensará para
sempre. Não me julgues irreverente se te
peço isso, em nome daquele que também
nasceu num estábulo”
(Anônimo)
RESUMO
A síndrome do abdômen agudo (cólica) do equino tem se tornado cada vez mais
frequente, isso por mudanças de hábitos causados pela estabulação dos animais,
seu tempo de pastejo foi diminuído e excesso de concentrados foi adicionado em
sua dieta, outro fator importante é a falta de água e o estresse que faz com que o
animal acabe ingerindo corpos estranhos. Toda essa alteração pode causar graves
consequências em seu sistema gastrointestinal, muitas vezes precisando de cirurgia.
Todos os animais encaminhados para cirurgia devem passar por um exame clínico
pré-operatório e exames laboratoriais breves para que a escolha dos anestésicos
seja correta. Estes relatos de caso têm como objetivo geral avaliar o uso de um
protocolo anestésico correto em laparotomia exploratórias. Relata-se de dois casos
clínicos, um em que o animal chega ao hospital em pré-choque e teve que ser
estabilizado as pressas para que pudesse ser operado o mais rápido possível e
outro animal que chegou estável ao hospital, porém com muita dor. O protocolo
anestésico de ambos foi o mesmo, porém o animal mais crítico foi estabilizado, por
seu quadro respiratório estar com complicações foi mantido em ventilação mecânica.
Palavras – chave: cólica, protocolo anestésico, exame clínico.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
FIGURA 1: LATERAL DO HOSPITAL VETERINÁRIO LUIS LEIGUE.......................17
FIGURA 2: SALA DE EXAME CLÍNICO.....................................................................17
FIGURA 3: TRONCO INFRAVERMELHO.................................................................18
FIGURA 4: INTERNAMENTO....................................................................................18
FIGURA 5: PIQUETES...............................................................................................19
FIGURA 6: CENTRO CIRURGICO............................................................................19
FIGURA 7: SALA DE INDUÇÃO E RECUPERAÇÃO................................................20
FIGURA 8: LABORATÓRIO DE HEMATOLOGIA......................................................20
FIGURA 9: LABORATÓRIO PARASITOLÓGICO E MIBICROBIOLÓGICO E
LAVAGEM DE MATERIAL.........................................................................................21
FIGURA10: VISTA DORSAL EXTERNA DO ESTÔMAGO EQUINO........................27
FIGURA 11: LOCALIZAÇÃO DO INTESTINO EQUINO............................................28
FIGURA 12: REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DO INTESTINO EQUINO..........28
FIGURA 13: ANIMAL SENDO ESTABILIZADO.........................................................42
FIGURA 14: CECO REPLETO...................................................................................43
FIGURA 15: CECO ROMPIDO..................................................................................43
FIGURA 16: CONTEÚDO DE COMPACTAÇÃO COM SABLOSE............................44
FIGURA 17: INTERIOR DO CECO COM AREIA.......................................................44
FIGURA 19 : CAVALO SENDO LEVADO PARA MESA............................................45
FIGURA 20: PARTE DE DELGADO COM ESTRANGULAMENTO VASCULAR......46
FIGURA 21: PARTE DE ALÇA EM NECROSE RETIRADA......................................46
FIGURA 22: ANIMAL COM DESCONFORTO ABDOMINAL.....................................48
FIGURA 23: ALÇA COM ADERÊNCIA......................................................................49
LISTA DE TABELAS
TABELA1: CASOS ATENDIDOS NO HV LUIS LEIGUE DURANTE O PERÍODO DE
ESTÁGIO....................................................................................................................21
LISTA DE QUADRO
QUADRO 1: ANAMNESE REALIZADA NO EXAME CLÍNICO..................................30
QUADRO 2: PROCEDIMENTOS CLÍNICOS A SEREM REALIZADOS....................31
QUADRO 3: CLASSIFICAÇÃO DO ESTADO DE SAUDE SEGUNDO ASA.............37
LISTA DE GRÁFICOS
GRÁFICO 1: CASOS ATENDIDOS NO HV LUIS LEIGUE DURANTE O PERÍODO
DE ESTÁGIO..............................................................................................................24
LISTA DE ABREVIATURAS
AIVT – Anestesia intravenosa total
AIVP – Anestesia intravenosa parcial
BH – Brasileiro de Hipismo
CAM – Concentração alveolar mínima
EV – Endovenoso
g - Gramas
HV – Hospital Veterinário
IM – Intramuscular
Kg – Quilograma
mcg – Micrograma
mg – Miligramas
ml – Mililitro
mpm – Movimentos por minuto
bpm – Batimentos por minuto
MPA – Medicação pré-anestésica
SC – Subcutâneo
SNC – Sistema nervoso central
UI – Unidade iternacional
UTI – Unidade de tratamento intensivo
UTP – Universidade Tuiuti do Paraná
LISTA DE SÍMBOLOS
® - Marca registrada
% - Porcentagem
°C – Graus célsius
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO...........................................................................................14
2 DESCRIÇÃO DO LOCAL DE ESTÁGIO.................... ...............................15
2.1 HOSPITAL VETERINÁRIO LUIS LEUIGUE...............................................15
2.2 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS...............................................................21
2.3 PROTOCOLO ANESTÉSICO.....................................................................24
3 REVISÃO LITERÁRIA................................ ...............................................26
3.1 SÍNDROME DO ABDÔMEN AGUDO (CÓLICA)........................................26
3.1.1 ANATOMIA DO APARELHO DIGESTÓRIO..............................................26
3.1.2 IDENTIFICAÇÃO DA CÓLICA...................................................................29
3.1.3 AFECÇÕES GASTROENTÉRICAS...........................................................31
3.2 ANESTESIA................................................................................................35
3.2.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS.....................................................................35
3.2.2 AVALIAÇÃO E PREPARO DO PACIENTE...............................................36
3.2.3 ANESTÉSICOS UTILIZADOS....................................................................39
4 RELATOS DE CASOS................................. ..............................................41
4.1 COMPACTAÇÃO E ROMPIMENTO DE CECO.........................................41
4.2 TORÇÃO DE RAIZ DE MESENTÉRIO COM SOFRIMENTO DE ALÇA...45
5. DISCUSSÃO DE CASO CLÍNICO................. ............................................50
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS...................... .................................................53
ANEXOS....................................................................................................54
REFERÊNCIAS..........................................................................................55
14
INTRODUÇÃO
De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA)
na América Latina o Brasil é o país que tem o maior rebanho de equinos, sendo o
terceiro maior mundialmente. Com grande movimentação econômica e com muitas
oportunidades de emprego diretas e indiretas. (MAPA, 2016)
Com o aumento da produção de equinos no Brasil, sejam eles pra esportes
ou não, o mercado começou a exigir um melhor manejo, treinamento, instalações
alimentação e principalmente serviços veterinários mais especializados. Um bom
manejo alimentar do cavalo evita vários problemas entéricos. O estado de nutrição
geral do equino deve ser mantido, em caso de perda de peso deve-se investigar
uma doença intestinal crônica. Em algumas situações o animal deve ser submetido a
procedimento cirúrgico (SPEIRS et al, 1999) (HELLU, NETO e DUQUEet al, 2012).
O enriquecimento ambiental, estimulação de pastagem, enriquecimento
ambiental e tornar o ambiente do animal o mais possível com o natural podem
ajudar a evitar patologias em seu sistema gastrointestinal e melhorar seu bem estar,
evitando assim uma possível síndrome cólica. (GOLVEIA; NETTO; SILVA;
BRAGION et al, 2013)
Equinos com patogenias no trato gastro intestinal sofrem um desequilíbrio
ácido-básico, hidroeletrolítico e renal que acabam aumentando a dose de
anestésicos e de colapso circulatório durante a anestesia. Por consequência sérica
da hipoperfusão intestinal acorre a endotoxemia que é responsável por alterações
celulares e cardiovasculares. A cólica pode ocasionar distenção abdominal que
eleva a pressão abdominal provocando um colapso pulmonar, hipercapnia e
hipoxemia em animais a serem anestesiados. Sendo assim a avaliação e exames
pré-anestésicos são indispensáveis para a escolha de anestésicos e determinar a
escolha de fluidos para estabilização. (TRANQUILLI, THURMON e GRIMM et al,
2013).
Durante toda a anestesia deve-se pensar em possíveis manobras e
estratégias que poderão ser adotadas em caso de complicações, além de um bom
método de monitoração desse paciente. (TRANQUILLI, THURMON e GRIMM et al,
2013).
15
2. DESCRIÇÃO DO LOCAL DE ESTÁGIO
2.1 HOSPITAL VETERINÁRIO LUIS LEIGUE
O estágio curricular foi realizado no período do dia 25 de julho de 2016 até 10
de outubro de 2016. O Hospital Veterinário Luis Leigue localizado na rua Vereador
Cantalício E. Flores, S/N, bairro Rio Branco na cidade de Guaramirim, Santa
Catarina (segundo figura 1). O Hospital Veterinário Luis Leigue é uma instituição
particular, sendo assim há uma parceria entre veterinários e hospital, então todos os
animais são encaminhados ao hospital com indicação medico veterinária. O hospital
atende apenas equinos e possui atendimento 24 horas por dia contando com 3
médicos veterinários de prontidão, que revezam entre si para receber os casos,
sendo eles emergências ou não. O hospital ainda oferece serviços de cirurgia, UTI,
internamento, maternidade, odontologia, diagnóstico por imagem, serviços
ambulatoriais para emergências, cuidados preventivos e fisioterapia.
Os animais recebidos no hospital são encaminhados para a sala de exame
clinico (segundo figura 2), nela temos dois troncos de contenção, um com extensão
para ser usado por éguas com potros e outro com infravermelho utilizado em
procedimentos de fisioterapia (segundo figura 3). Nesse espaço são feitos os
primeiros exames clinico do animal e anamnese. A estrutura hospitalar ainda conta
com o galpão de internamento, onde ficam os animais após passarem pelo exame
clinico, consistindo em quatro baias de internamento comum, uma baia isolamento
para animais com temperamento mais agressivo com porta especial e uma baia UTI,
que se liga a sala de indução e recuperação do centro cirúrgico (segundo figura 4),
contendo nela piso emborrachado para evitar sujidades e oxigênio disponível, além
de um tronco de contenção para realização de curativos e medicação de animais e
lavador para banhos duchas, sendo assim o paciente não tem a necessidade de se
locomover por longo trajeto. Próximo ao internamento temos três piquetes que são
utilizados por animais que possam ou devam ter um momento de caminhada
(segundo figura 5).
A estrutura ainda contempla um centro cirúrgico com mesa de procedimento
própria para a espécie, tronco de contenção para procedimentos realizados com o
animal em estação, aparelho de anestesia inalatória (segundo figura 6), sala de
paramentação, sala de materiais estéreis, além da sala de indução e recuperação
equipada com talha elétrica, piso emborrachado para maior firmeza do animal e
16
colchões nas paredes para evitar que o animal sofra algum trauma no momento da
indução e sua recuperação, nessa sala há também uma saída de oxigênio caso seja
necessário o uso em indução e recuperação (segundo figura 7).
O hospital conta também com um amplo laboratório, onde são feitos exames
de controle dos animais internados e primeiros exames dos animais que chegam,
nele são realizados exames como hemograma, bioquímico, hemogasometria,
microbiológico, parasitológico entre outros. Anexado ao laboratório tem a sala da
lavagem e esterilização dos materiais cirúrgicos (segundo figuras 8 e 9). Todos os
ambientes do hospital são climatizados e as cocheiras têm ventiladores para o
melhor conforto do animal.
Como procedimento padrão no HV Luis Leigue o anestesista é um serviço
terceirizado. Esse anestesista tem seu procedimento padrão para cirurgias de
emergência ou eletiva, raramente alguns animais apresentam alguma alteração no
protocolo utilizado. O animais são primeiramente estabilizados se necessário, e
todos realizam hemograma, hemogasometria e bioquímico.
Os animais são monitorados durante a cirurgia, os parâmetros monitorados
são: frequência cardíaca, frequência respiratória, temperatura pela máquina. A
pressão sanguínea é sentida manualmente.
O protocolo utilizado é MPA com xilazina e detomiina, indução com Egg e
Propofol e manutenção com anestesia inalatória com isofluorano e endovenosa com
propofol diluído em Ringer com Lactato.
17
FIGURA 1: LATERAL DO HOSPITAL VETERINÁRIO LUIS LEIGUE
FIGURA 2: SALA DE EXAME CLÍNICO
18
FIGURA 3: TRONCO INFRAVERMELHO
FIGURA 4: INTERNAMENTO
19
FIGURA 5: PIQUETES
FIGURA 6: CENTRO CIRÚRGICO
20
FIGURA 7: SALA DE INDUÇÃO E RECUPERAÇÃO
FIGURA 8: LABORATÓRIO DE HEMATOLOGIA
21
FIGURA 9: LABORATÓRIO PARASITOLÓGICO E MICROBIOLÓGICO E
LAVAGEM DE MATERIAL
2.2 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS
É responsabilidade do estagiário, realizar exames clínicos dos animais
internados, anamnese dos animais que chegam, medicar seguindo as prescrições
deixadas juntamente com as fichas dos animais, fazer os curativos necessários,
realizarem os exames pedidos, os estagiários que ficam em internato realizam os
plantões noturnos para que os animais fiquem 24 horas em observação.
Dependendo do caso os animais tem seu exame clinico feito de hora em hora ou
com intervalo de mais tempo.
Tabela 1: Casos Atendidos No Hv Luis Leigue Durante O Período De Estágio
Procedimento Espécie Número de
animais
%
Babesiose Equina 3 2,02
Excisão de tumor de vulva Equina 1 0,67
Excisão de melanoma de terceira pálpebra Equina 1 0,67
Hiperadrenocorticismo (síndrome de cushing) Equina 1 0,67
22
Síndrome do mau ajustamento fetal Equina 1 0,67
Influenza Equina 27 18,24
Adenite (garrotilho) Equina 9 6,08
Colite Equina 5 3,37
Cólica por sobrecarga gástrica Equina 2 1,35
Torção em raiz de mesentério com sofrimento
de alça
Equina 1 0,67
Retroflexão e compactação Equina 1 0,67
Laceração de mucosa retal Equina 1 0,67
Peritonite pós laparotomia Equina 1 0,67
Laparotomia exploratória Equina 9 6,08
Ruptura de colón maior Equina 1 0,67
Compactação e ruptura de ceco Equina 1 0,67
Tratamento de feridas Equina 1 0,67
Sutura de laceração Equina 2 1,35
Astroscopia (lavagem articular curvilhão) Equina 1 0,67
Artroscopia (retirada de sesamóide) Equina 1 0,67
Artroscopia (lavagem articular de boleto e
retirada de corpo estranho)
Equina 1 0,67
Artroscopia (retirada de fragmento ósseo do
carpo)
Equina 1 0,67
Osteotomia do IV metatarsiano Equina 1 0,67
Miosite por aplicação errônea de fenilbutazona Equina 1 0,67
Ferrageamento corretivo Equina 1 0,67
Exame de claudicação Equina 25 16,89
Crioterapia na prevenção de laminite Equina 3 2,01
Crioterapia com pneumática (Game Ready®) Equina 4 2,70
Fratura exposta cominutiva de metacarpo Equina 1 0,67
Fratura de olécrano Equina 1 0,67
Perda de casco por ruptura de tendão nervos
e ligamentos
Equina 1 0,67
Ruptura do tendão comum do calcâneo Equina 1 0,67
Laceração reto vaginal Equina 1 0,67
Fistula reto vaginal Equina 1 0,67
Parto assistido Equina 1 0,67
Inseminação artificial Equina 20 13,51
23
Distocia Equina 1 0,67
Diarreia neonatal Equina 4 2,70
Hidranencefalia Equina 1 0,67
Necropsia Equina 4 2,70
Eutanásia Equina 4 2,70
TOTAL 148 100
24
GRÁFICO 1: CASOS ATENDIDOS NO HV LUIS LEIGUE DURANTE PERÍODO DE
ESTÁGIO
2.3 PROTOCOLO ANESTÉSICO
Como procedimento padrão no HV Luis Leigue o serviço de anestesiologia é
terceirizado. Esse anestesista tem seu procedimento padrão para cirurgias de
emergência ou eletiva, raramente alguns animais apresentam alguma alteração no
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
Doenças infeccisas e parasitárias
Neoplasias (tumores)
Doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas
Transtornos mentais e comportamentais
Doenças do aparelho respiratório
Doenças do aparelho digestivo
Doenças de pele e tecido subcutâneo
Doença do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo
Doenças do aparelho geniturinário
Cio, gestação, parto e puerpério
Afecções originadas no período perinatal (relacionada ao neonato)
Malformações congênitas, deformidades e anomalias cromossômicas
Outros casos
25
protocolo utilizado. Os animais são primeiramente estabilizados se necessário, e
todos realizam hemograma, hemogasometria e bioquímico.
Os animais são monitorados durante a cirurgia, os parâmetros monitorados
são: frequência cardíaca, frequência respiratória, temperatura pela máquina. A
pressão sanguínea é sentida digitalmente em artéria mandibular.
O protocolo utilizado é MPA com xilazina e detomidina, indução com Egg e
Propofol e manutenção com anestesia inalatória com isofluorano e endovenosa com
propofol diluído em Ringer com Lactato.
26
3.REVISÃO DE LITERATURA
3.1 SÍNDROME DO ABDÔMEN AGUDO (CÓLICA)
3.1.1. ANATOMIA DO APARELHO DIGESTÓRIO
O sistema digestório do equino inicia na cavidade oral e finaliza no ânus,
incluindo dentes, glândulas salivares, língua, esôfago, estômago e intestinos
(SPEIRS et al, 1999).
A boca é constituída por lábios que realizam a apreensão dos alimentos
sendo eles forragens ou concentrados. A língua, os dentes e as glândulas salivares
são órgãos acessórios, que também constituem a boca, os dentes realizam a
mastigação com auxilio da língua e umectação do alimento com auxilio da saliva
liberada pelas glândulas salivares, sendo como principal a parótida. Todo esse
processo tem a finalidade de reduzir o tamanho das partículas e umedece-las para
uma melhor digestão (THOMASSIAM et al, 2005).
O alimento que é deglutido passa então pelo esôfago, órgão que se estende
da faringe ao estômago, de tecido muscular liso que proporciona ondas peristálticas
e permite dilatação transversal do lúmen para a passagem e transporte do alimento
(THOMASSIAM et al, 2005) (FRANDSON, WILKE e FAILS et al, 2014).
O estômago (FIGURA 10) esta localizado caudal ao lado esquerdo do
diafragma, dividido em cárdia que é a entrada que se liga ao esôfago, fundo, corpo e
região pilórica que tem o musculo piloro esfincteriano que controla o esvaziamento
gástrico. O cárdia tem um espessamento do músculo chamado esfíncter cárdia
muito desenvolvido no equino que junto com seu formato curvado impossibilitam que
o equino vomite. A região esofágica é aglandular e a região pilórica é glandular,
essas são divididas pelo margo plicatus. A capacidade volumétrica do estômago é
relativamente pequena. Por se alimentar continuamente o estômago do cavalo
produz ácido clorídrico constante assim como demais componentes do suco gástrico
(THOMASSIAM et al, 2005) (FRANDSON, WILKE e FAILS et al, 2014).
27
FIGURA 10: VISTA DORSAL EXTERNA DO ESTÔMAGO EQUINO
FONTE: FRANDSON, WILKE e FAILS, 2014
O intestino do equino é dividido em intestino delgado e intestino grosso,
ampola retal e reto. O intestino delgado é subdividido em duodeno que se liga a
saída do estômago, jejuno e íleo, essa região é responsável pela digestão química
realizada pela ação do suco entérico, produzido pelas paredes, suco pancreático,
rico em fermentos e pela bile que emulsiona a gordura dos alimentos. O ceco é a
porção inicial do intestino grosso sendo a câmara de fermentação, nele a celulose é
desdobrada e se dá a ação bacteriana fornecendo os nutrientes essenciais, essa
digestão microbiana continua no restante no cólon , é principalmente na porção final,
que há a maior absorção de líquido isso faz com que a ingesta obtenha formato,
odor e consistência de fezes (THOMASSIAM et al, 2005).
28
FIGURA 11: LOCALIZAÇÃO DO INTESTINO EQUINO
FONTE: TUDOSOBRECAVALOS.COM/ALIMENTACAO_NUTRICAO.HTM
FIGURA 12: REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DO INTESTINO EQUINO
FONTE: DYCE et al. TRATADO DE ANATOMIA VETERINÁRIA
29
A repelação da ampola retal desencadeia um reflexo fisiológico que é a
defecação. Uma média de 90% do líquido extracelular do equino é absorvido no
processo de digestão desde o intestino delgado ate intestino grosso do animal
(THOMASSIAM et al, 2005).
3.1.2 IDENTIFICAÇÃO DA CÓLICA
Qualquer alteração no aparelho digestório no cavalo pode ser um fator de
indicio da cólica, tais como incapacidade de capturar, mastigar e deglutir o alimento,
distensão abdominal, má absorção, alteração no aspecto das fezes, dor, halitose e
estado nutricional do animal. Visualizando o animal pode-se avaliar seu estado
nutricional para o início de um exame físico geral. Esse exame físico geral consiste
em avaliar os lábios dentes e língua para saber se o animal está fazendo uma boa
apreensão, mastigação, deglutição e se consegue beber água. Também devem ser
observada as fezes do animal (SPEIRS et al, 1999).
O equino tem seu aparelho digestório anatômica e fisiologicamente preparado
para alimentação natural, ou seja, alimentação a base de volumoso (THOMASSIAM
et al, 2005). Pelo fato dos equinos possuírem um estômago relativamente pequeno,
ele armazena pouco alimento o que resulta em várias horas de pastejo. Equinos
selvagens passam 60% do seu tempo se alimentando, já os equinos estabulados
passam em média 15 % do seu tempo com alimento disponível e sua oferta de fibra
é menor (GOGLOUBEFF et al, 1993). A mudança feita pela domesticação do animal
incluiu em sua alimentação concentrados, grãos, diminuição de feno e forrageira
reduzindo o tempo de pastagem e de alimentação. Essa mudança de hábito
alimentar é responsável por alterações e afecções digestivas nos animais, tais
como: problemas dentários, aerofagia, estomatites, obstrução e ruptura de esôfago e
diarreias, sem considerar o aumento de nível de estresse que é outro fator
predisponente a cólica. (THOMASSIAM et al, 2005) (SPEIRS et al, 1999).
A identificação de um animal com cólica é simples, pois consiste em sinais
clássicos como inquietação, olhar para o flanco, cavar, coicear, deitar, rolar,
posturas anormais como sentar, sudorese regional ou difusa e posição para micção
e defecação improdutivas. O maior desafio é identificar de onde vem a dor
abdominal (THOMASSIAM et al, 2005).
Em todo atendimento para cólica deve ser realizado um exame clínico do
animal, o mais aconselhável é sempre perguntar ao tratador, pois o mesmo se
30
encontra maior parte de tempo com o animal e pode dar informações sobre sua
alimentação. Nesse exame deve conter qual manejo e histórico do animal com
anamnese e procedimento clínico, de acordo com tabelas 2 e 3. (TABELAS 2 E 3).
(THOMASSIAM et al, 2005).
QUADRO 1: ANAMNESE REALIZADA NO EXAME CLÍNICO
ANAMNESE
1 Tempo de inicio e evolução
2 Atitudes e comportamento
3 Características e grau de dor
4 Teve alguma crise anteriormente
5 Manejo e atividades
6 Alimentação
7 Características das fezes e urina e ultima vez que defecou e urinou
8 Ingestão de água ou alimento
9 Distenção abdominal
10 Refluxo nasal
11 Tratamentos realizados
QUADRO 2: PROCEDIMENTOS CLÍNICOS A SEREM REALIZADOS
PROCEDIMENTO CLÍNICO
1 Comportamento e atitude observada
2 Grau de dor (leve, moderada ou intensa) (contínua ou intermitente)
3 Distensão e tensão abdominal
4 Coloração de mucosas
5 Tempo de preenchimento capilar
6 Frequência cardíaca
7 Frequência respiratória
8 Frequência respiratória
31
9 Grau de desidratação
10 Auscultação de tórax e abdômen
11 Temperatura retal
12 Palpação retal e características de fezes
13 Refluxo e/ou conteúdo presente na sondagem nasogástrica
Se houver tempo e possibilidade pois muitas vezes o resultado demora a ficar
pronto ou a propriedade é distante, podem ser realizados outros exames como a
tiflocentese que deve ser realizada com um aumento em região do ceco,
paracentese realizada quando existe liquido livre em cavidade abdominal,
hemograma, bioquímico e hemogasometria.
3.1.3 AFECÇÕES GATROENTÉRICAS
As afecções gastroentéricas se dão por um de quatro motivos, sendo eles:
• Tensão excessiva no mesentério, seja ela por deslocamento, distenção de
alça ou massas;
• Distensão de paredes gástricas e/ ou intestinais por excesso de gases,
líquidos, conteúdos ou corpo estranho, que estimulas as terminações
nervosas localizadas na parede;
• Isquemia por encarceramento ou torção de intestino;
• Desenvolvimento de inflamações gástricas, intestinais e peritoneais.
(FIGUEIREDO et al, 2012)
As cólicas de origem gastrointestinais são as mais comum em equinos, porém
dores em outros órgãos ou sistemas abdominais podem levar ao desenvolvimento
de uma cólica falsa, quando a origem não está no trato gastro intestinal.
(LARANJEIRA et al, 2008)
Dentre os fatores gastroentéricos podemos citar:
• Dilatação gástrica: pode ser primária que é caracterizada por uma
grande quantidade de gases no estômago, excessiva ingestão de agua
e/ou alimentos. A dilatação secundária é resultante de processos
obstrutivo intraluminal do intestino delgado, produzindo refluxo. Em
dilatação primária o pH do conteúdo do estômago se torna acido e na
secundária se trorna básico;
32
• Sobrecarga e compactação do estômago: é o excesso de alimento
concentrado que fica parado no estômago, normalmente produzido por
dietas inadequadas;
• Ruptura gástrica: caso os fatores de dilatação, sobrecarga e
compactação não sejam resolvidos o estômago pode romper. Os
mesmos podem ser tratados com lavagem gástrica por sonda
nasogástrica, fluidoterapia para umedecimento desse conteúdo para
melhor digestão;
• Úlceras gastroduodenais: causada por falta de tratamento em dilatação
e sobrecarga com compactação, pois o conteúdo permanece por muito
tempo no estômago. Excesso de anti- inflamatórios pode ser outro
fator, pois ambos os fatores fazem com que o pH se torne mais ácido e
por retenção do conteúdo ácido e refluxo biliar;
• Cólica espasmódica: acomete qualquer região do intestino,
caracterizada por contrações intestinais e peristálticas aumentadas ou
com intervalos alterados;
• Duodeno-jejutine proximal acometendo principalmente cavalos adultos,
causando dor e depressão, causa lesões de mucosa do duodeno,
presença de líquidos e eletrólitos na luz do intestino resultando em
refluxo para o estômago causando distensão gástrica, a perfusão
capilar aumenta e o animal apresenta desidratação e conjuntivas
cianóticas, ocasionalmente o intestino grosso pode também estar
distendido por presença de líquidos;
• Obstruções do intestino: podem ocasionar estrangulamento vascular.
Sem comprometimento vascular tem –se compactação do íleo,
apresentando desconforto abdominal, rolamento, cavar e a dor é
intermitente, na auscultação percebe-se atonia do íleo, e os sinais de
discretos poder evoluir para graves por perda de líquidos ou eletrólitos.
A passagem da sonda nasogástrica é efetiva, estando as alças do
intestino repletas de líquidos e gases percebidos em palpação retal. O
íleo pode também sofrer compactação, causada normalmente pela alta
ingestão de capins muito fibrosos aglomerando e formando novelos.
Normalmente as afecções de íleo fazem com que apresente refluxo
33
marrom esverdeado na passagem de sonda nasogástrica. Cerca de 70
% dos animais podem morrer mesmo se submetidos a tratamento
cirúrgico por terem gravíssimas consequências cardiovasculares após
um estrangulamento por torção ou vólvulo, neurogênicas e toxêmicas.
Em cólon menor, ocorrem por corpos estranhos ou por excesso de
fibras, sendo que os corpos estranhos mais encontrados são sacarias,
fios e materiais oriundos de cochos ou partes de cocheiras e
enterólitos;
• Intussuscepção, torção, encarceramentos de mesentério, e
estrangulamento em anel inguinal, a principal causa são neurogênicas
como peristaltismo aumentado. Sua manifestação é desconforto
abdominal agudo com dor severa, por grande perda de líquidos e
desequilíbrio eletrolítico e ácido-base se instala uma intensa toxemia
apresentando conjuntivas congestas e cianose, o TPC aumentado e a
morte é rápida após os primeiros sinais clínicos. Nesses casos
normalmente não são encontradas fezes no reto e seu tratamento é
cirúrgico;
• O timpanismo acomete o ceco, é causado pela hiperfermentação
decorrente do desequilíbrio da flora, por excesso de antibióticos,
carboidratos ou alterações fisiológicas das válvulas, causando
desconforto abdominal discreto com distensão abdominal. O
tratamento consiste em tiflocentese para retirada do gás ali presente. O
cólon maior também pode sofrer o timpanismo por hiperfermentação
por superalimentação ou por redução do peristaltismo, as alças ficam
distendidas causando crise de desconforto abdominal;
• Compactação e sablose de cólon ou ceco : geralmente são
secundarias a compactação de cólon maior, se há um excesso de
conteúdo pode ocorrer a ruptura do ceco. A sablose é caracterizada
por presença de areia em conteúdo fecal ou de compactação;
• A intussuscepção de ceco é rara e pode se manifestar por inversão
ceco-cecal e ceco-cólica;
• O ceco pode também sofrer torção que é um processo de
estrangulamento vascular onde ele gira em torno de si mesmo
34
envolvendo porção inicial de cólon a evolução do quadro é grave e
muito rápida;
• Deslocamentos de cólon: geralmente são secundários a outras
afecções, clinicamente a gravidade está associada ao grau de
envolvimento do cólon, normalmente, o abdômen se encontra
abaulado. Esse deslocamento pode fazer com que o cólon fique
aprisionado no ligamento nefroesplenico, o tratamento definitivo para o
deslocamento é cirúrgico;
• Proctite: é a inflamação da mucosa do reto que pode reter fezes,
geralmente são secundárias a palpação retal abrupta, o desconforto é
leve, o diagnostico é feito por sinais clínicos, o tratamento da consiste
em aplicações de antiinflamatórios e retirada da sensação da dor;
• Prolapso de reto: pouco frequente e consiste em parte do reto
exteriorizado, por consequência de constipação ou diarreia crônica que
aumentam a pressão na ampola retal, o tratamento é a redução do
prolapso para o interior da pélvis, o reto pode também sofrer ruptura
sendo uma elevada porcentagem de morte, a principal causa de
rupturas são palpações e enemas, ruptura intraperitoneal desenvolve
severa peritonite.
Em geral todas as formas de cólica causam uma desidratação com aumento
de frequência cardíaca, frequência respiratória e TPC, as mucosas ficam congestas
ou cianóticas. A dor é compatível com a afecção e então os sinais de cavar dar coice
e rolar olhar para o flanco são variáveis. (THOMASSIAM et al, 2005) (CAMPELO e
PICCININ 2008)
3.2 ANESTESIA
3.2.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS
A anestesia deve ser sempre um processo reversível, alguns animais podem
não apresentar a resposta padrão ao anestésico, pois alguns fenômenos podem
alterar seu efeito, algumas variações de resposta do sistema nervoso central podem
estar relacionadas a atividade metabólica, existência de enfermidade ou afecção e
distribuição do anestésicos. Algumas variações biológicas podem alterar o
mecanismo de efeito dos anestésicos, grandes animais, animais desnutridos ou com
35
excesso de tecido adiposo tem uma baixa taxa metabólica o que resulta em menos
quantidade de anestésico utilizado. (TRANQUILLI, THURMON e GRIMM et al,
2013).
A anestesia geral deverá ser realizada com anestésicos que alcancem o
tecido nervoso cerebral e medular, porém os anestésicos não são totalmente
metabolizados nesses tecidos, sendo eliminados em pequenas quantidades em
fezes e urina e dispersando através da pele e mucosas, os agentes inalatórios são
os eliminados mais facilmente pelo corpo, os injetáveis realizam uma redistribuição
no organismo e fazem biotransformação hepática e principalmente renal. Após a
aplicação injetável o anestésico se mistura e dilui ao sangue que se torna o meio de
transporte e distribuição. As propriedades físico-química dos fármacos, suas
concentrações, pH variam a ligação com as proteínas. Depois da diluição ao
sangue, juntamente com a circulação o anestésico é distribuído pra compartimentos
e tecidos. Cada anestésico tem sua capacidade de atravessar barreiras do sangue e
cérebro essas são responsáveis pela sua ação, após a captação e distribuição pelos
tecidos inicia a eliminação desse fármaco que será feita pela distribuição através da
circulação sanguínea para os órgãos ricamente vascularizados capazes de realizar a
biotransformação ou excreção, sendo o fígado o principal responsável por essa
biotransformação e os rins pela excreção. (TRANQUILLI, THURMON e GRIMM et al,
2013).
O anestésico ideal é facilmente biotransformado, permite mudanças rápidas
de plano e não deprime função cardiopulmonar, porem nenhum anestésico possui
tantas qualidades, então a escolha do protocolo deve ser realizada de acordo com o
caso e exame clínico do animal. A perda de consciência é a principal definição da
anestesia geral, devendo causar inconsciência, insensibilidade a dor, relaxamento
muscular, ausência de resposta reflexa, para alcançar esses níveis a anestesia
causa uma depressão no sistema nervoso central, dividindo em vários estágios: o
primeiro estágio, do movimento involuntário, é o intervalo entre o início da
administração do agente indutor até a perda total de consciência. O segundo
estágio, de delírio ou movimento involuntário, inicia-se com a perda de consciência e
dura até o início da respiração padrão. O terceiro estágio é o da anestesia cirúrgica,
com perda total de consciência e reflexos. (TRANQUILLI, THURMON e GRIMM et
al, 2013).
36
O jejum é fundamental no pré-operatório, sendo aconselhadas em média 12
horas, evitando ruptura de estômago e bexiga por algum traumatismo durante
indução e recuperação. Segundo DOHERTY e VALVERDE 2014, alguns clínicos
questionam essas razões e muitos hospitais para equinos não submetem o paciente
ao jejum antes de cirurgia eletiva. Também existe a preocupação de que o jejum
possa aumentar o risco de íleo paralitico no pós-operatório, embora não exista
evidência que comprove esse fato (DOHERTY e VALVERDE et al, 2014).
É importante que seja colocado o cateter jugular antes da anestesia reduzindo
a possibilidade de injeção perivascular e para administrações de medicações em
situação de emergência. Também deve ser realizada a lavagem da cavidade oral
para retirada de restos de alimentos principalmente em casos que será feita
intubação endotraqueal. As ferraduras que se apresentam soltas devem ser
retiradas, as demais fica a critério do local para prevenir lesões nos animais.
(DOHERTY e VALVERDE et al, 2014).
Os grandes animais devem ser levados a uma sala de recuperação protegida
com colchões, sua cabeça e membros devem ficar apoiados em almofadas,
principalmente proeminências ósseas. A cabeça é a região mais sujeita a traumas
então deve estar bem protegida. Os cavalos que passaram por entubação
endotraqueal devem ser mantidos com a sonda ate que o seu reflexo de deglutição
retorne e ele tenha total controle sobre suas vias aéreas. Ao ter retorno completo
dos reflexos oculares o cavalo se torna capaz de levantar, ao levantar esses animais
necessitam de ajuda para se equilibrar sendo sustentados por cordas na cabeça e
cauda, em sua recuperação devem também ser protegidos de temperaturas
extremas. Se a recuperação for por tempo prolongado deve-se mudar o animal de
posição e decúbito e administras líquidos quentes por via endovenosa e sempre
monitorar os sinais vitais. Os equinos devem sempre ter uma atenção especial em
seu decúbito por peso excessivo e por não ser uma posição saudável.
(TRANQUILLI, THURMON e GRIMM et al, 2013).
3.2.2 AVALIAÇÃO DO PACIENTE
Antes de qualquer procedimento anestésico deve-se conhecer o histórico e
realizar exame clinico completo do animal, utilizando também exames
complementares, determinando a condição clínica do paciente, esse processo
chama-se avaliação pré-anestésica, que refere-se a condição total do paciente
37
incluindo grau de dor, estresse e funcionamento do organismo (TRANQUILLI,
THURMON e GRIMM et al, 2013).
Para complementação desse exame pré-anestésico é importante conhecer
os fatores de risco de uma anestesia e realizar exames complementares. Dentre
esses fatores de risco estão a idade, estado corpóreo, raça, procedimento, posição
do animal durante esse procedimento, duração da anestesia. O sistema da
American Society of Anesthesiologists (ASA) criou uma classificação de estado de
saúde do animal, descrita na TABELA 4.
QUADRO 3: CLASSIFICAÇÃO DO ESTADO SE SAÚDE SEGUNDO ASA
ASA 1 Animal sadio
ASA 2 Animal com doença sistêmica leve (anemia leve, leve obstrução recorrente das
vias aéreas)
ASA 3 Animal com doença sistêmica grave (grave obstrução recorrente das vias
aéreas)
ASA 4 Animal com grave doença sistêmica, a qual apresenta ameaça constante à
vida (ruptura de bexiga, acidente intestinal)
ASA 5 Animal moribundo, o qual não se espera que sobreviva mais de 24 horas
(potro com uroperitôneo e desequilíbrios metabólicos graves)
E A letra E é adicionada a cada classificação para indicar procedimentos de
emergência
Testes bioquímicos séricos são de extrema importância no pré-operatorio pois
pode identificar problemas que não são reconhecidos no exame físico, como
insuficiência renal e hepática. Nesses teses são mensurados:
• Creatinina cinase indicador de lesão muscular, liberada em ruptura de
miócitos. Responsável por catalisar a transferência de grupos fosfato de alta
energia do ATP para creatina durante exercício. Podendo estar levemente
elevada se o cavalo estiver rolando ou após transporte. Se o animal não tiver
passado por esses casos deve-se suspeitar de rabdomiólise ou miopatia por
armazenamento de polissacarídeos.
38
• Aspartato aminotransferase indicador de lesão muscular ou hepática, também
liberada pela ruptura de miócitos ou hepatócitos e está envolvida na
degradação de aminoácidos.
• Gamaglutamil Transferase: indicador específico de lesão hepática, liberada
após as células sofrerem estrese, por acumulo da bile e medicamentos que
aumentam a atividade sérica da gamaglutamil transferase. Pode ser intra-
hepática que acompanha doenças hepáticas crônicas, agudas e subagudas,
quando os hepatócitos incham e comprimem ductos biliares ou extra-hepática
quando o ducto biliar é acluído por colélitos prejudicando fluxo da bile por
inflamação da papila do ducto biliar. Equinos com presença de refluxo
gástrico por enterite também podem apresentar elevada gamaglutamil
transferase, pois a bile não é eliminada com a ingesta.
• Bilirrubina total indica disfunção hepática, hemólise ou redução na ingestão
de alimentos. Os eritrócitos velhos ou defeituosos são removidos da
circulação pelo baço e o heme é catabolizado a bilirrubina no interior do
macrófago. A bilirrubina total é dividida em bilirrubina indireta aumentada em
hemólise e por redução na alimentação e juntamente com bilirrubina direta
aumentadas em disfunção hepática e obstrução biliar.
• Ácidos biliares séricos indicam disfunção hepática, são removidos do sangue
pelos hepatócitos, de forma que os ácidos biliares séricos aumentem à
medida que a função hepática diminui.
• Nitrogênio uréico sanguíneo indica azotemia pré-renal, pós-renal e renal. É
sintetizado pelo fígado e excretado pelos rins. Se pré-renal é porque a taxa de
filtração glomerular se reduz em razão a diminuição de perfusão renal, em
desidratação, choque hipovolêmico. Se rena é quando a taxa de filtração
glomerular está baixa e o resultado é insuficiência renal aguda ou crônica. Se
pós-renal está associada a obstrução do trato urinário.
• Creatinina normalmente avaliada em conjunto com a uréia, sendo sintetizada
pela creatina por ação irreversível não enzimática e depois excretada pelos
rins. Filtrada livremente pelos glomérulos não é reabsorvida no interior dos
túbulos.
• Proteínas plasmáticas podem ser mensuradas em refratômetro ou por painel
bioquímico sérico.
39
• Albumina sintetizada pelo fígado apresenta em edema por hipoalbuminemia.
Há varias causas como baixa ingestão proteica, síntese reduzida do fígado,
catabolismo excessivo e perda de sangue.
• Globulinas são sintetizadas por várias células incluindo hepatócitos e
plasmocitos. A hiperglobulinemia pode estar associada a doença crônica e
presença de inflamação.
(DOHERTY e VALVERDE et al, 2014).
3.2.3 ANESTÉSICOS UTILIZADOS
Medicação pré-anestésica (MPA):
• xilazina e detomidina são alfa2-adrenérgicos são rapidamente distribuídos por
vasos e tecidos em especial no sistema nervoso central e biotransformados.
são agonistas de alfa2-adrenérgicos pré-sinapticos, ao serem estimulados não
permitem de norepinefrina inibindo o fluxo de íons Ca++ em membrana
neuronal tendo então efeito hipotensor e tranquilizante. Sua ação sobre o
SNC causa hipnose, sedação, relaxamento muscular, ataxia, analgesia,
depressão do centro vasomotor e aumento do tônus vagal, bradicardia,
aumento transitório de pressão arterial, aumento da pressão venosa central,
redução da frequenciarespiratória relaxando a musculatura do trato
respiratório supeior o que faz redução da CAM. Se utilizados como agentes
pré-anestésicos fazem uma analgesia e miorelaxamento potencializando os
efeitos dos anestésicos. (DOHERTY e VALVERDE et al, 2014) (SPINOSA,
GÓRNIAK e BERNARDI et al, 2014)
Anestésicos injetáveis:
• Propofol é um alquil-fenóis da família dos barbitúricos, em indução seu efeito
é potencializado com uma MPA realizada por alfa2-adrenérgicos. Pode ser
utilizado em manutenção de AIVT sozinho ou como componente e também
em AIVP. Não tem sido muito utilizado em equinos devido ao seu alto custo e
necessidade de altas doses. Causa uma hipotensão, pouca depressão direta
sobre o miocárdio, pouco toxico, é primeiramente metabolizado pelo fígado e
os metabólitos inativos são eliminados pela urina, sua analgesia é pouca por
isso é interessante seu uso ser associado a um bom analgésico. O propofol
pode potencializar o efeito sobre receptores acido gama-aminobútirico em
sinapses espinhas e supra-espinhais o que facilita a transmissão inibitória,
40
bloqueando os canais de Na+ e Cl-.(DOHERTY e VALVERDE et al, 2014)
(SPINOSA, GÓRNIAK e BERNARDI et al, 2014)
• EGG-PPU é um relaxante de ação central utilizado em equinos, produz um
ótimo miorrelaxamento não afetando o musculo diafragmático, porém sua
utilização sozinho não é indicada pois tem mínima propriedade sedativa e
analgésica, sua dose para imobilidade é alta. Sua recuperação é rápida e
segura o mesmo modo que a indução, os animais não produzem sinais de
ataxia e fraqueza. (HELLU, NETO e DUQUEet al, 2012).
Anestésicos inalatórios:
• Isofluorano é um importante anestésico inalatório, por sua biotransformação
ser baixa não causa dano celular nem toxicidade. Se associados a
anestésicos injetáveis reduzem a CAM, o uso de anestésicos inalatórios
permite que o plano anestésico seja modificado rapidamente, mas devem ser
utilizados com aparelhos que possa monitorar sua dose, é eliminado apenas
por vias aéreas sendo dependente de ventilação. Suas desvantagens são
poluição de centro cirúrgico, depressão cardiorrespiratória, com analgesia
mínima, sua recuperação é mais lenta que anestesias intrevenosas.
(DOHERTY e VALVERDE et al, 2014) (SPINOSA, GÓRNIAK e BERNARDI
et al, 2014)
4. RELATOS DE CASOS
4.1. COMPACTAÇÃO E ROMPIMENTO DE CECO
41
Um animal da raça gipsy de 3 anos com 390kg macho, foi encaminhado ao
hospital veterinário no dia 18 de outubro de 2016 após 4 horas de atendimento de
cólica, de acordo com seu histórico o animal apresentava uma diarreia crônica a
média de um ano tendo melhoras com o tratamento. Seu último episódio de diarreia
teria sido vinte dias antes da cólica. Dez dias antes do atendimento o animal passou
por procedimento odontológico desde então recusou o alimento ou comia pouco, sua
alimentação foi normalizada sete dias após. Os parâmetros durante o atendimento
na propriedade estavam alterados, temperatura 39.9°C , frequência respiratória 40
mpm , frequência cardíaca 96 bpm e TPC 3, mucosas cianóticas. Foi realizada a
sondagem nasogástrica para esvaziamento do estômago e aplicação de flunixina
meglumina EV na dose de 1.1 mg / Kg.
Chegando ao hospital foi identificado que o animal estava em pré-choque
apresentando mucosas muito cianóticas, aumento de frequência cardíaca e
respiratória, seus movimentos de locomoção eram extremamente restritos, sua
temperatura e TPC estavam aumentados, motilidade diminuída, pênis exposto e
também estava com coloração cianótico. Foi então iniciada a hidratação do animal e
administrada uma solução hipertônica de cloreto de sódio. Na sondagem
nasogástrica apresentou refluxo. Foi medicado com hidrocortisona IM na dose de
1.1 mg/kg, petidina IM na dose de 1.1 mg/kg, pois apresentava muita dor. Realizou
oxigenioterapia, fluidoterapia com 40 litros de ringer lactato e Equisedan® (xilazina)
EV na dose de 1.1 mg/kg. Os exames realizados foram hemograma, bioquímico,
homogasometria, ultrassonografia abdominal, urinálise, paracentese, palpação retal,
todos apresentaram alterações.
Na anestesia a MPA feita com xilazina EV na dose de 1.1 mg / kg, indução
com EGG (Éter Gliceril Guaiacol) EV na dose de 1.5 ml / kg e propofol EV na dose
de 2 mg/kg, sua manutenção foi feita com isofluorano inalatório fornecido entre 1.5 a
3.0%. O animal teve uma boa indução sem complicações, ao ser colocado na mesa
foi oxigenado e mantido em ventilação mecânica, pois estava com o diafragma muito
comprimido pela distensão das alças e sua oximetria mantinha em 62 a 68 % sendo
baixa, a temperatura 37,5°C e frequência cardíaca com média de 42 a 55 bpm
sempre normais, o pulso estava fraco e por isso foi administrado dobutamina EV
diluindo 250 mg em 500 ml de solução fisiológica e administrando 3 mcg / kg /
minuto o que aumentou seus parâmetros.
42
Ao acessar a cavidade abdominal uma grande quantidade de liquido
extravasou, acessando a cavidade foi identificada uma grande massa compactada
no ceco, as alças estavam muito sofridas e hipercoradas. Ao fazer a exposição do
ceco percebeu- se que estava rompido e o liquido que extravasou era uma peritonite
causada pelas fezes livres na cavidade, foi então realizada a eutanásia do animal na
mesa com cloreto de potássio EV. A massa presente no ceco tinha muita areia
juntamente com alimento. (FIGURAS 14 A 17)
FIGURA 13: ANIMAL SENDO ESTABILIZADO
FIGURA 14: CECO REPLETO
43
FIGURA 15: CECO ROMPIDO
44
FIGURA 16: CONTEÚDO DE COMPACTAÇÃO COM SABLOSE
FIGURA 17: INTERIOR DO CECO COM AREIA
4.2 TORÇÃO DE RAIZ DE MESENTÉRIO COM SOFRIMENTO DE ALÇA
45
Animal da raça BH de 12 anos com 567 kg macho foi encaminhado ao
Hospital Veterinário no dia 19 de setembro de 2016, após inicio de sintomas de
cólica sua proprietária e seu veterinário particular decidiram encaminhar o animal ao
hospital assim que teve seus primeiros sinais, o animal não foi sondado e nem
medicado na propriedade, treinou normalmente durante a tarde e a noite após o
trato, iniciou com os sintomas de cavar, olhar para o flanco, e rolar.
Chegando ao hospital foi passada a sonda nasogástrica para lavagem do
estômago, a qual foi produtiva e teve refluxo, foi realizado exame de hemograma,
bioquímico e hemogasometria como condiz o protocolo do hospital, porém todos
tiveram alterações. A frequência cardíaca com 72 bpm e frequência respiratória com
44mpm estavam aumentadas, TPC 2 segundos e temperatura 38,3°C estavam
normais, a motilidade de todos os quadrantes estava diminuída e o animal sentia dor
excessiva foi então administrado xilazina EV na dose de 1.1 mg / kg, após pouco
tempo o animal voltou a apresentar fortes dores. Na palpação retal e no exame
ultrassonográfico de abdômen não ficaram evidenciados grandes alterações, mas
pelo animal apresentar dores extremas a proprietária optou em realizar a
laparotomia exploratória. Antes da cirurgia o animal foi hidratado com 36 litros de
Ringer com lactato.
FIGURA 18 : CAVALO SENDO LEVADO PARA MESA
46
FIGURA 19: PARTE DE DELGADO COM ESTRANGULAMENTO VASCULAR
FIGURA 20: PARTE DE ALÇA EM NECROSE RETIRADA
Na anestesia a MPA feita com xilazina EV na dose de 1.1 mg / kg, associada
com detomidina EV na dose de 0.8 ml / 100 kg. Indução com EGG (Éter Gliceril
47
Guaiacol) EV na dose de 1,5 ml / kg e propofol EV na dose de 2 mg / kg, sua
manutenção foi feita com isofluorano inalatório na dose de 1.5 – 3.0%/animal. O
animal teve uma boa indução sem complicações, manteve seus parâmetros normais
durante a cirurgia com frequência cardíaca em 36 bpm, frequência respiratória em 4
mpm, TPC em 2 segundos temperatura 36,7°C, oximetria em 95% e sua
recuperação foi rápida.
Após a incisão as alças foram expostas e encontrou-se uma torção em raiz de
mesentério, essa torção dificultou a irrigação sanguínea de alça o que fez a necrose
de parte do intestino delgado sendo optado em realizar uma enteroanastomose, na
qual foi retirado 4 metros de alça de intestino delgado, ao detectar a necrose de alça
foi administrado por via EV vitamina E para evitar a síndrome de reperfusão.
No seu pós-operatório o animal foi medicado com Metronidazol por 10 dias
EV na dose de 15 mg / kg, Cloridrato de Ranitidina por 10 dias EV na dose de 2.0
mg / kg, flunixina meglumina por 10 dias EV na dose de 1.1 mg / Kg, heparina por 10
dias na SC na dose de 100 UI / kg, penicilina por 2 dias IM na dose de 1.0 ml / 20
kg quando parou a penicilina foi administrado o ceftiofur por 7 dias IM na dose de 1.5
ml / 50kg, Petidina por 5 dias EV na dose de 1.1 mg / kg, dimetilsulfóxido diluído em
Ringer com lactato por 3 dias EV na dose de 100.0 ml / animal quando parou o
Dimesol foi administrado Ornitil® diluído em Ringer com lactato por 3 dias EV na
dose de 30.0 ml / 10 kg. Após 3 dias da cirurgia o animal começou a apresentar
produção de refluxo em sondagem nasogástrica iniciou o tratamento com
matroclopramida por 4 dias IM, mas manteve e aumentou a produção de refluxo com
uma média de 10 – 15 litros a cada 3 horas, sua motilidade manteve diminuída então
foi realizado um exame de ultrassonografia abdominal e palpação retal os quais
constaram que o intestino delgado estava deslocado.
Após os exames foi decidido fazer mais uma laparotomia exploratória no
animal, realizada do dia 29 de setembro de 2016. O protocolo anestésico foi o
mesmo da cirurgia anterior, ao fazer a incisão e acessar a cavidade abdominal foi
constatado que o animal estava com aderência nas alças de intestino delgado, as
mesmas foram soltas e recolocadas em sua posição normal. No momento da sutura
foi deixado um dreno na cavidade abdominal para que pudesse ser feita a lavagem
peritoneal, essa lavagem foi realizada por 3 dias com heparina 10 ml e gentamicina
20ml diluídos em 15 litros de Ringer com lactato aquecido. Após os 3 dias foi
retirado o dreno
48
No segundo pós-operatório o animal foi medicado com heparina por 5 dias na
SC na dose de 100 UI / kg, matroclopramida por 2 dias IM, Metronidazol por 5 dias
EV na dose de 15 mg / kg, Ranitidina por 6 dias EV na dose de 2.0 mg / kg quando
parou a ranitidina iniciou o Omeprazol na dose de 20g / animal e Minoxel® (ceftiofur)
por 3 dias IM na dose de 1.5 ml / 50kg. Após isso o animal teve melhora, sem
produção de refluxo em sondagem nasogástrica, sua motilidade, frequência
cardíaca, frequência respiratória, TPC e temperatura mantiveram-se normais, como
o animal passou por episódio de cólica era dado uma atenção especial para seus
cascos e pulso periféricos para evitar e controlar uma possível lâminite secundária a
sobrecarga gástrica. .(FIGURAS 21 – 22)
FIGURA 21: ANIMAL COM DESCONFORTO ABDOMINAL
49
FIGURA 22: ALÇA COM ADERÊNCIA
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5. DISCUSSÃO DE CASO CLÍNICO
Ambos os casos são de animais com síndrome do abdômen agudo (cólica),
porém afecções e locais diferentes. Um com compactação de ceco por sablose com
rompimento de ceco e outro com torção em raiz de mesentério com provável inicio
por cólica espasmódica.
A compactação pode ocorrer em qualquer localização o sistema
gastrintestinal por acúmulo de ingesta desidratada, sendo ela a principal causa de
cólica de equinos. Normalmente acorre em regiões que o lúmem do intestino é
menor ou próximo a esfíncteres. Primeiramente tenta-se realizar o tratamento clínico
do animal (FERREIRA, PALHARES, MELO, GHELLER, BRAGA et al, 2009), como o
que foi realizado no animal do primeiro caso na propriedade. O tratamento clinico
consiste em reidratação para umedecimento da ingesta e suspensão da alimentação
para esvaziamento do intestino, se o tratamento clínico não é eficaz indica-se o
tratamento cirúrgico.(FERREIRA, PALHARES, MELO, GHELLER, BRAGA et al,
2009).
As compactações de ceco podem ocorrem por ingestão excessiva de
alimentos ou de corpos estranhos como areia fazendo a compactação por sablose.
A compactação de ceco pode ser percebida por palpação retal com aumento do
ceco, com a distensão excessiva esse ceco pode vir a romper (FERREIRA,
PALHARES, MELO, GHELLER, BRAGA et al, 2009). Como visto no primeiro relato,
o mesmo teve compactação do ceco por sablose, o acúmulo de areia fez com que o
conteúdo desidratado ficasse parado e o ceco com distensão com ponto de romper.
No segundo caso a torção do mesentério causou um estrangulamento
vascular. O intestino delgado pode ser estrangulado por vários motivos como
hérnias ou ate mesmo com torção do intestino ao redor do mesentério, a causa
dessa torção ainda não é conhecida sendo suspeita a infestação parasitária ou
mudanças na motilidade. (PEDROSA et al, 2008)
As maiorias das cólicas envolvem um grau de isquemia o que causa
letalidade. O processo de isquemia é o resultado de diminuição ou interrupção do
fluxo sanguíneo do intestino, esse processo de isquemia resulta em degradação
celular por acumulo de cálcio no interior da célula resultando em necrose do tecido.
(PEDROSA et al, 2008). O que ocorreu no cavalo do segundo caso, essa alça com
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necrose teve então que ser retirada pois no retorno de circulação dessas alças teria
um endotoxemia por síndrome de reperfusão.
A endotoxemia é muito comum em equinos com cólica por estar associada a
doenças inflamatórias ou isquemia intestinal. Essas endotoxinas são liberadas por
bactérias gram-negativas que morrem ou se multiplicam rapidamente. Processos
como isquemia intestinal ou inflamação provocam dano a barreira mucosa o que
permite a entrada de endotoxinas na circulação, por esse dano a barreira essas
endotoxinas também podem acessar a cavidade peritoneal o que estimula a síntese
de mediadores inflamatórios. (TRANQUILLI, THURMON e GRIMM et al, 2013).
A cólica equina causa distúrbios hidroeletrolíticos e acido-base com disfunção
pulmonar e cardíaca o que aumentam o risco de complicações os animais devem
ser avaliados e receber reposições necessárias antes de um procedimento.
(GUEDES; NATALINI, et al, 2002)
Os animais atendidos no HV Luis Leuigue, antes da decisão cirúrgica são
submetidos a exames e clínicos e laboratoriais para identificação desses distúrbios
além de todas as reposições necessárias, sendo a fluidoterapia a principal e inicial,
através dessa são administrados outros medicamentos para a estabilização do
paciente no pré-operatório.
A anestesia teve o mesmo protocolo em ambos os casos, porém o animal do
primeiro caso estava mais desestabilizado inicialmente para uma anestesia, pois
tinha se instalado uma peritonite além de seu diafragma estar comprimido por
excesso de distensão das alças.
Segundo GUEDES e NATALINI “A medicação pré-anestésica deve
proporcionar analgesia e sedação do animal. A xilazina e/ou butorfanol podem ser
utilizados com esse objetivo. A indução pode ser realizada com éter gliceril
guaiacolato e cetamina com ou sem diazepam, ou mesmo com cetamina e
diazepam pela via intravenosa. A manutenção anestésica deve ser feita
preferencialmente com isofluorano, mas o halotano também pode ser utilizado.
Manter ventilação pulmonar mecânica, com o animal recebendo oxigênio a 100%
durante todo o período cirúrgico e pós-operatório imediato. A recuperação deve ser
feita em ambiente escurecido e calmo, com forração e piso não escorregadio.
Analgesia e oxigenoterapia também são importantes nessa fase.” (GUEDES;
NATALINI, et al, 2002)
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O protocolo anestésico utilizado pelo médico veterinário contratado inicia com
medicação pré-anestesica com xilazina e/ou detomina para uma sedação e
analgesia do paciente. O que muda para o protocolo citado por GUEDES e
NATALINI é a indução, que é realizada com propofol, na maioria dos casos o
propofol é evitado pelo seu alto custo e grande utilização além de causar uma
depressão respiratória. Todos os animais recebem oxigênio a 100% nos
procedimentos cirúrgicos e isofluorano como anestesia inalatória de manutenção.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Todos os equinos estão sujeito a desenvolver problemas gastroentéricos, é
de responsabilidade do seu proprietário e veterinário manter um bom manejo
nutricional e de saúde, com monitoramento, exames clínicos para evitar qualquer
situação.
Em um atendimento de cólica é indispensável uma boa anamnese e exame
clínico do cavalo para a rápida identificação de cólica cirúrgica e diagnósticos
diferenciais. Para que o animal passe por um processo cirúrgico ele deve estar o
mais estabilizado possível.
No atendimento pré-cirúrgico é essencial um exame pré-anestésico e clínico,
juntamente com um histórico detalhado do animal, esse histórico se torna mais
completo se feito com uma pessoa que tenha o máximo de contato com cavalo,
podendo mensurar melhor seu grau de dor e desconforto. Essas informações
juntamente com exames laboratoriais são essenciais para uma boa escolha de
protocolo anestésico para o animal.
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ANEXOS
ANEXO 1: FICHA DE ANESTESIA UTILIZADA
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REFERÊNCIAS
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DOHERTY. T.; VALVERDE. A. Manual de Anestesia e analgesia em equinos. São
Paulo: roca, 2014.
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Cólicas por compactação em equinos: etiopatogenia, diagnóstico e tratamento;
impaction colics in the horse: etiopathogeny, diagnosis and treatment. Acta
Veterinária Brasilica, v.3, n.3, p117-126, 2009.
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GOLOUBEFF. B. Abdome agudo equino. São Paulo: Livraria Varela, 1993
GOLVEIA .Y. D. NETTO. A. G. SILVA. D. M. BRAGION. M de . L. L. Influência do
enriquecimento ambiental do tipo alimentar no comportamento e bem estar de
equinos. 5ª Jornada Científica e Tecnológica e 2º Simpósio de Pós-Graduação do
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GUEDES. A. G. P.; NATALINI. C. C.; Anestesia em equinos com síndrome cólica – Analise de 48 casos em revisão de literatura; Anesthesia in horses with colic syndrome – analysis of 48 cases and literature review. Cienc. Rural. Vol. 32. No.3. santa maria. Junho 2002.
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MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO.
http://www.agricultura.gov.br/animal/especies/equideos
PEDROSA. A. R. P. Á. de Á.; Cólicas em quinos: tratamento médico Vs cirúrgico – critérios de decisão. Universidade Técnica de Lisboa. Lisboa 2008.
SPEIRS V. C. Exame Clínico de Equinos. Porto Alegre: Artmed, 1999
SPINOSA H. de S.; GÓRNIAK S. L.; BERNARDI . M. M. Farmacologia Aplicada à
Medicina Veterinária. 5.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014.
THOMASSIAN A. Enfermidades dos Cavalos. 4.ed. São Paulo: Livraria Varela, 2005
TRANQUILLI. W. J.; THURMON J. C.; GRIMM K. A. Anestesiologia e Analgesia
Veterinária. 4.ed. São Paulo: Roca, 2013.