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RELAÇÃO ENTRE AS DIMENSÕES DO CORAÇÃO, A MORFOMETRIA

TORÁCICA E AS ONDAS DO ECG EM CÃES

RELATIONSHIP BETWEEN HEART DIMENSIONS, THORACIC MORPHOMETRY

AND ECG WAVES IN DOGS

Maíra Prestes MARGARIDO1; Beatriz Kiihl ROQUE2; Amanda Maria PRADO1; Odair

Carlos CONFELLA JUNIOR3 e Deise Carla Almeida LEITE-DELLOVA4

1 Estudante de graduação de Medicina Veterinária, Universidade de São Paulo. 2 Aluna de pós-graduação em Biociência Animal. Universidade de São Paulo. [email protected] 3 Médico Veterinário do Centro de Diagnóstico por Imagem Veterinário – CEDIM VET 4 Professora do Departamento de Medicina Veterinária, Universidade de São Paulo.

Resumo:

O tamanho do coração, em relação ao porte do animal, é uma variável importante

que deve ser considerada durante a interpretação do eletrocardiograma (ECG). O

Vertebral Heart Size (VHS) é um dos mais utilizados para avaliação do tamanho do

coração. O VHS e a mensuração torácica podem fornecer informações relevantes no

momento da avaliação do ECG. O objetivo desse projeto foi estudar a relação entre

as ondas do ECG, o VHS e a morfometria torácica em cães. Foram avaliados 11

cães saudáveis, de ambos os sexos, entre 10 e 20 Kg de peso corporal, por meio do

ECG (N, 25 mm/s) e radiografias (projeções laterais direita, esquerda e ventrodorsal)

digitais. Nenhum cão apresentou alterações no ECG (no ritmo, duração e amplitude

das ondas). A relação entre a largura e a profundidade indicou que o tipo de tórax

mais frequente foi o intermediário. Os valores médios do VHS foram compatíveis

com as referências e iguais a 10,26 ± 0,49 (na lateral direita), 10,23 ± 0,45 (na lateral

esquerda) e 10,6 ± 0,65 (na ventrodorsal). Observou-se uma correlação entre o VHS

(na lateral direita e ventrodorsal) e a duração do QRS (+0,49 e +0,68,

respectivamente) e entre a profundidade do tórax e a duração do QRS (+0,68).

Esses resultados sugerem que a duração do QRS (em DII) pode ser influenciada

pelas dimensões cardíacas e a profundidade do tórax em cães.

Palavras-chave: tamanho do coração, ECG, VHS, cães.

Keywords: heart size, ECG, VHS, dogs.

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Anais do 38º CBA, 2017 - p.1148

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Introdução:

Nos cães, a grande variedade estrutural (representada por diferenças no

porte, na conformação torácica e no tamanho do coração) pode alterar o registro e a

interpretação do ECG, sem indicar, necessariamente, algum distúrbio cardíaco

(MAXIMOV e FOMINA, 2013). Nessa espécie, o aumento das dimensões das

câmaras cardíacas pode produzir a elevação da amplitude (em milivolts) e/ou da

duração (em segundos) das ondas do ECG, além dos valores de referência. A onda

P e o complexo QRS mais largos e amplos são sugestivos do aumento atrial e

ventricular, respectivamente (BIRKBECK et al., 2006; TILLEY, 2008).

As dimensões da cavidade torácica, assim como a avaliação da silhueta

cardíaca global podem ser realizadas por meio da radiografia torácica simples,

utilizando entre outros, o método Vertebral Heart Size (VHS), inicialmente descrito

por Buchanan e Bücheler (1995). Em cães, os valores normais do VHS estão entre

8,5 e 10,5 vértebras, na projeção lateral (WARE, 2015) e entre 8,7 e 11,7, na

projeção ventrodorsal (BUCHANAN e BÜCHELER, 1995).

Nakayama et al. (2001), observaram uma correlação positiva entre as

medidas do VHS e a duração da onda P e do complexo QRS em cães com

cardiomegalia induzida. Portanto, pode-se considerar que o VHS auxiliaria na

interpretação do ECG em cães, com diferentes portes e conformações torácicas.

A avaliação eletrocardiográfica e os valores do VHS para diferentes raças e

portes de cães são encontrados na literatura científica; entretanto, são poucas as

informações sobre a correlação destes parâmetros em cães saudáveis.

Metodologia e métodos:

Foram avaliados 11 cães hígidos (3 machos e 8 fêmeas), 1 com raça

(Australian Cattle Dog) e 10 sem raça definida, com valores médios de idade e peso

iguais a 3,6 ± 1,99 anos e 14,9 ± 3,18 Kg (protocolo CEUA nº 4226070416).

Para o registro das derivações frontais e precordiais do ECG (N, 25 mm/s),

utilizou-se o eletrocardiógrafo digital SE – ALFAMED®. A interpretação do traçado

foi feita pelo mesmo indivíduo, com o auxílio do software Smart ECG Viewer V2.42®.

As radiografias digitais (Autus ST FAWAE®, 630 Ma, 125 kV) foram utilizadas

para a mensuração da profundidade e largura do tórax dos cães. Na projeção lateral

direita, a profundidade do tórax foi mensurada, considerando a distância entre a

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Anais do 38º CBA, 2017 - p.1149

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borda cranial do processo xifoide e a borda ventral da coluna vertebral, traçando-se

uma linha perpendicular à coluna. Na projeção ventrodorsal, a largura do tórax

correspondeu à distância entre as bordas mediais das oitavas costelas, junto às

curvaturas mais laterais.

Para a mensuração do VHS (BUCHANAN e BÜCHELER, 1995) o eixo maior

e o eixo menor do coração foram determinados nas projeções laterais (direita e

esquerda) e ventrodorsal e depois reposicionados ao longo da coluna vertebral para

a obtenção do número de vértebras. O comprimento e a largura do coração (em

unidades de vértebra) foram, então, somados para o cálculo do VHS em todas as

projeções (CASTRO et al., 2011).

Os valores da amplitude e da duração das ondas do ECG, da profundidade e

da largura do tórax e do VHS foram submetidos à análise estatística descritiva. Os

valores médios (± desvio-padrão) foram comparados pelo teste de Bonferroni

(P<0,05). Para avaliar a correlação entre as medidas do ECG, da morfometria

torácica e do VHS de cada cão, calculou-se o coeficiente de Pearson.

Resultados e Discussão:

No ECG, os ritmos observados foram arritmia sinusal (64%) e sinusal (36%),

considerados normais para cães. Além disso, os demais parâmetros estavam em

conformidade com os valores de referências (TILLEY, 2008; WARE, 2015); portanto,

nenhum cão apresentou alterações que caracterizassem, por exemplo, arritmias

patológicas, bloqueios átrio ventriculares, ou ainda sugerissem o

aumento/sobrecarga das câmaras cardíacas.

A maioria dos cães avaliados (91%) apresentou o tórax do tipo intermediário

(entre profundo e largo), uma característica comum para cães saudáveis de

diferentes raças (PINTO e IWASAKI, 2004; CARDOSO et al., 2011).

Considerando os valores individuais do VHS, em 27% (na projeção lateral

direita), 18% (na projeção lateral esquerda) e 9% (na projeção ventrodorsal) dos

cães os resultados foram maiores do que as referências. No entanto, não existe um

consenso sobre os valores do VHS para todas as raças e conformações físicas

observadas nos cães.

Já os valores médios do VHS foram compatíveis com as referências e iguais

a 10,26 ± 0,49 (na projeção lateral direita), 10,23 ± 0,45 (na projeção lateral

esquerda) e 10,6 ± 0,65 (na projeção ventrodorsal) (BUCHANAN e BÜCHELER,

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1995; WARE, 2015). Não foram observadas diferenças entre os valores médios do

VHS nas três projeções, diferentemente do que foi relatado por Greco et al. (2008).

Assim como descrito por Castro et al. (2011), evidenciou-se a correlação

moderada e positiva entre o VHS (na projeção ventrodorsal) e o peso dos cães

(+0,44). A mesma correlação também foi observada entre: 1) VHS (nas projeções

lateral direita e ventrodorsal) e a duração do QRS (em DII) (+0,49; +0,68,

respectivamente), semelhante ao que foi relatado por Nakayama et al. (2001); 2)

VHS (na projeção lateral direita) e a profundidade do tórax (+0,40); 3) VHS (na

projeção ventrodorsal) e largura do tórax e o (+0,65); 4) profundidade do tórax e a

duração do QRS (em DII) (+0,68).

Conclusões:

Esses resultados sugerem que, em cães, quanto maior o peso corporal e as

dimensões do tórax (profundidade e largura do tórax), maior o VHS. Além disso, as

medidas do ECG (duração do QRS em DII) podem ser influenciadas pelas

dimensões cardíacas (determinadas pelo VHS) e a profundidade do tórax.

Referências:

BIRKBECK, J. P. et al. P-wave morphology correlation with left atrial volumes

assessed by 2-dimensional echocardiography. Journal of electrocardiology, v. 39, n.

2, p. 225-229, 2006.

BUCHANAN, J. W.; BÜCHELER, J. Vertebral scale system to measure canine heart

size in radiographs. Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 206,

n. 2, p. 194-199, 1995.

CARDOSO, M. J. et al. Mensuração do tamanho cardíaco pelo método VHS

(vertebral heart size) em cães sadios da raça American Pit Bull Terrier. Ciência

Rural, v. 41, n. 1, p. 127-131, 2011.

CASTRO, M. G. et al. Avaliação radiográfica da silhueta cardíaca pelo método

vertebral heart size em cães da raça Yorkshire Terrier clinicamente normais. Arquivo

Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v. 63, n. 4, p. 850-857, 2011.

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GRECO, A. et al. Effect of left vs. right recumbency on the vertebral heart score in

normal dogs. Veterinary Radiology & Ultrasound, v. 49, n. 5, p. 454-455, 2008.

MAXIMOV, V. I.; FOMINA, V. D. ECG characteristics in dogs of hunting breeds

(spaniels, terriers). Journal of Electrocardiology, v. 46, n. 4, p. e8, 2013.

NAKAYAMA, H. et al. Correlation of cardiac enlargement as assessed by vertebral

heart size and echocardiographic and electrocardiographic findings in dogs with

evolving cardiomegaly due to rapid ventricular pacing. Journal of Veterinary Internal

Medicine, v. 15, n. 3, p. 217-221, 2001.

PINTO, A. C. B. C. F.; IWASAKI, M. Avaliação radiográfica da silhueta cardíaca pelo

método de mensuração VHS (vertebral heart size) em cães da raça Poodle

clinicamente normais. Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science,

v. 41, p. 261-267, 2004.

TILLEY, L. P., et al. Manual of Canine and Feline Cardiology. 4 ed. Canada: Elsevier,

2008, 443p.

WARE, W. A. Testes Diagnósticos para o Sistema Cardiovascular. In: NELSON, R.

W. & COUTO, C.G. Medicina Interna de Pequenos Animais. Rio de Janeiro: Elsevier,

2015. p. 12-51.

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