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Reinventar a Democracia Artur Ferreira da Silva ([email protected])

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Reinventar a Democracia Artur Ferreira da Silva

([email protected])

A democracia é “o governo do povo, pelo povo e para o povo”

Lincoln, Discurso de Gettysburg, 1863

AFS – Reinventar a Democracia Congresso da Cidadania, 13-03-2015 2

“Congresso da Cidadania. Ruptura e Utopia para a Próxima Revolução Democrática”

• Maiores virtualidades - as palavras chave adequadas:

– Cidadania

– Ruptura

– Utopia

– (Próxima) Revolução

– Democracia

AFS – Reinventar a Democracia –

Congresso da Cidadania, 13-03-2015 3

“Congresso da Cidadania. Ruptura e Utopia para a Próxima Revolução Democrática” • Limitações e Sugestões para próximos Congressos

– Ultrapassar a estrutura de um Congresso tradicional, prevendo tempo suficiente para diálogos e debates aprofundados, preferencialmente em grupos menores, aumentando o networking e o aprofundamento dos temas.

– Deveria ser pois, não tanto um Congresso, mas assentar num novo paradigma de “Des-Congresso” (unconference), usando Espaço Aberto, preferencialmente em todo o 2º dia, mas, pelo menos, na tarde desse dia.

– Aliás, o tempo para debate é, neste caso, menor que o habitual, e centrado no fim do dia, quando muitos oradores e não oradores, terminada a sessão em que falaram (ou lhes interessava), já abandonaram a sala.

– Quando se informam antes os oradores para prepararem uma apresentação de 15 minutos e, poucos minutos antes da apresentação, muitos deles são informados que só terão 10 minutos, isso é o mesmo que um obstetra que diz a uma grávida que acompanhará a sua gravidez e o parto, desde que ela se “despache” e produza a criança em 6 meses…

– Pode pois perguntar-se se havia intenção que houvesse algum diálogo ou se a intenção da organização era mesmo de impedir o diálogo e apelar a oradores que viessem actuar como comparsas de um evento destinado aos principais oradores convidados, em especial aos da tarde do 2º dia, esses (e só esses, aliás) apresentados com biografia e tudo…

– Mas, nesse caso, onde está a “Ruptura”? E a Utopia? E a Revolução? E a Democracia? E mesmo a Cidadania? AFS – Reinventar a Democracia –

Congresso da Cidadania, 13-03-2015 4

PLANO • Duas observações prévias sobre este “Congresso da

Cidadania” (atrás)

• Notas sobre a história da Democracia

• Notas sobre o conceito de “Revolução”

• Um modelo de entendimento dos Posicionamentos Políticos assente em três eixos (e não apenas num)

• Pistas para uma reinvenção da democracia

• Conclusões

• Nota: Com a redução do tempo de apresentação de 15 para 10 minutos e a inexistência de um comando de transparentes à distância, estes transparentes não foram usados e foi feita uma “conversa com o público”, com o orador numa cadeira e fora do “púlpito”

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Notas sobre a história da Democracia (1) Plano deste ponto

• As Autocracias foram historicamente dominantes ao longo da história da humanidade

• Invenção da Democracia (e da política) – Grécia clássica (Atenas - séc. VI a V AC)

• Reinvenção da democracia pelos modernos (USA, França, etc. – séc. XVIII)

• Captura da democracia pelos interesses económicos e financeiros

• Necessidade da Reinvenção da Democracia para o século XXI

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Notas sobre a história da Democracia(2) • Invenção da Democracia – Grécia clássica ( Atenas – sécs.VI a V AC - Solon,

Clístenes, etc.) – Poder da Assembleia dos Cidadãos – democracia directa – Eleições por um ano ou escolha por sorteio – Limitada aos homens, livres e maiores de 21 anos (em certos períodos,

30 anos) • Reinvenção da democracia pelos modernos (USA, França, etc. – séc. XVIII)

– Fim do poder da realeza, da aristocracia e da Igreja – a República laica e cidadã

– Liberdade, Igualdade e Fraternidade, como ideais – Criação da Democracia Representativa – Extensão do direito de voto a todos os cidadãos, embora com

limitações, que foram sendo suprimidas ao longo dos séculos seguintes (Exs: 1 - abolição progressiva da escravatura; 2 - voto feminino – NZ – 1892; Reino Unido – 1928; Portugal – 1968) • Democracia e influência da cultura nacional e das condições iniciais de

nascimento nas democracias nacionais • Democracia representativa e positivismo do séc.. XVIII (o mundo como

“máquina”, com os seus “órgãos de comando e controlo”)

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Notas sobre a história da Democracia(3)

• A Captura da democracia pelos interesses económicos e financeiros – A democracia sempre esteve dependente dos interesses económicos

dominantes – A “revolução” (involução) de Thatcher, Reagan, Cavaco Silva, etc. – A captura dos partidos socialistas (a terceira via) pelo liberalismo (talvez

a maior “realização” de Thatcher, consta que terá dito a própria…) – A desigualdade dos rendimentos aumentou dramaticamente desde 1980

até 2010 (Piketty, no seu importante livro sobre a evolução do capital entre o séc. XVIII e o início do séc. XXI – ver, a título ilustrativo, os dois slides seguintes, em especial as mudanças entre 1980 e 2010)

– O conúbio generalizado dos partidos e governantes com os interesses económicos que lhes pagam as campanhas e lhes arranjam uns conselhos de administração depois (ou eles os arranjam para si…).

– O crescimento das mordomias auto-atribuídas e da corrupção • Na Europa – acresce a tudo isto a colonização dos países do sul pela

Alemanha e países do Norte

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Notas sobre a história da Democracia(4)

• Necessidade da Reinvenção da Democracia para o século XXI (ou 3ª invenção da democracia) – Uma democracia criada no séc. XVIII com uma base

nacional ainda se justifica no séc. XXI, num mundo globalizado, a que alguns chamam Sociedade da Informação (Bell), outros Sociedade em rede (Castells), entre muitas outras caracterizações?

– Tese: É necessária uma reinvenção da democracia – Tal reinvenção tem de tomar a forma de revolução, ou

seja, de mudança de regime, pois o actual está podre – Em que direcções? E como?

• Nota (a título de exemplo): Podia falar-se com igual propriedade da necessidade da “Reinvenção do Sistema de Aprendizagem” (e não apenas – nem principalmente - de “ensinagem”), que alguns precursores andam a realizar há décadas…

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Notas sobre o conceito de “Revolução” (1)

• O uso mais corrente é no contexto de “revoluções políticas” e de “tomada do poder”; também se usa quando não há movimento armado, mas há mudança de regime político, como nas “Primaveras árabes”

• No entanto, também usamos o termo revolução com outros sentidos, como em “revolução industrial”, ou em “revolução científica”, que o que têm em comum é uma mudança profunda dos modelos e paradigmas dominantes, de vida, num caso, e de compreensão do mundo, no outro

• E não a usamos noutros em que, possivelmente, ela teria aplicação e falamos da “reforma protestante” e não de “revolução protestante” para o que foi, possivelmente, a mais profunda mudança civilizacional no quadro da cristandade.

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Notas sobre o conceito de “Revolução” (2)

• Alberoni usa as expressões “estado nascente” e “metanoia” para caracterizar os movimentos que conduziram a mudanças civilizacionais profundas, indo deste as Revoluções políticas (americana, francesa, russa, etc.) a outros processos de transformação civilizacional profunda, como o cristianismo primitivo, a referida Reforma, ou o nascimento do islamismo.

• Falando das revoluções científicas, Khun usa preferencialmente a expressão “mudança de paradigma” e mostra que a ciência não evolui por novas descobertas que se somam ao que já se sabia, mas por novas concepções que negam (ou ultrapassam) os modelos (paradigmas) até aí aceites.

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Notas sobre o conceito de “Revolução” (3) • Prigogine achava que a revolução científica que ele próprio

protagonizara ao estudar os “fenómenos longe do estado de equilíbrio” (Teoria dos Caos - que aliás ele próprio também aplicou a alguns problemas sociais) era tão profunda que preferia usar a expressão “metamorfose da ciência”.

• No caso da física ou da química, com fenómenos que não mudam muito à nossa escala temporal, um novo paradigma resulta de olhar o real com uma perspectiva diferente (e, por vezes, com dimensões diferentes).

• Mas, nos domínios sociais, económicos e políticos acresce que a própria realidade muda ao longo de uma história de poucas centenas, ou mesmo dezenas, de anos. Há hoje dados que não existiam há 100 ou 150 anos, apenas porque esse anos não tinham ainda acontecido…

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Notas sobre o conceito de “Revolução” (4)

• Algumas revoluções científicas obrigaram a mudar as dimensões com as quais o fenómenos eram percebidos. Talvez o caso mais conhecido seja a ultrapassagem do modelo de Newton (mundo a 3 dimensões do espaço euclidiano (x,y,z), com o tempo considerado como independente delas), por Einstein, em que:

• A teoria da Relatividade restrita, usa um modelo do mundo a 4 dimensões (x,y,z,it), ainda euclidianas;

• A teoria da Relatividade Geral regressa a um mundo a 3 dimensões, mas agora riemannianas, e não euclidianas (por vezes chamadas “dimensões curvas”)

• Como é que é possível continuar a procurar entender a (muito mais complexa) realidade sócio política, com base num único eixo (esquerda-direita) criado artificialmente no processo da Revolução francesa?

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Um Modelo de Entendimento dos Posicionamentos Políticos (1) Qualquer pessoa ou partido político é identificado pela sua posição neste eixo

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Esquerda Direita

Um Modelo de Entendimento dos

Posicionamentos Políticos (2) - Ver

www.politicalcompass.org

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Esquerda Direita

Libertário

Autoritário

Um Modelo de Entendimento dos Posicionamentos Políticos (3)

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Direita Esquerda

Libertário

Autoritário

Ética (Incorruptível)

Corrupção (Corrupto ou Corruptor)

Notas sobre o “Eixo Ético” • Este eixo é, por si só, multidimensional. Optámos por concretizar

uma sua possível instanciação com os extremos “Incorruptível” e “Corrupto”, devido à sua importância e oportunidade. Mas poderiam ser feitas muitas outras instanciações, como por exemplo:

• “Dizer sempre a verdade” versus “usar a mentira como arma política” (ou “ser um mentiroso compulsivo”)

• “Ser tolerante e capaz de dialogar com pessoas com posições diversas” versus “ser dogmático, sectário e incapaz de ouvir o outro ou aprender com ele”

• “Ser, por sistema, transparente” versus “fazer política nas costas do povo”

• Note-se que estas alternativas (entre muitas mais que se poderiam referir) desqualificam, desde logo, não só muitos “partidos políticos”, mas também muitos “movimentos de cidadãos” (ou tal afirmados) dirigidos de forma sectária ou não transparente, p. ex.

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Pistas para a Reinvenção da Democracia (1) • Uma democracia de cidadãos, iguais entre si (incluindo na forma como

são tratados – acabar com a pirosice nacional dos tratamentos por Dr., Eng., Prof., etc., substituídas todas por “cidadã(o) Fulana(o)”),

• Uma democracia não submetida aos ditames das máquinas partidárias (e seus financiadores) e onde grupos de cidadãos (mesmo pequenos) se possam candidatar a todos os cargos elegíveis,

• Uma democracia participativa, onde os cidadãos sejam ouvidos em permanência,

• Uma democracia eticamente irrepreensível – que ponha fim à corrupção, e onde os crimes de corrupção praticados por titulares de cargos públicos NUNCA prescrevem,

• Uma democracia transparente e permanentemente auditável onde as mordomias e as cunhas não sejam toleradas;

• Uma democracia de “serviço público”, em que os eleitos sejam obrigados a assumir-se como “servidores do povo” e sejam revogáveis a todo o momento,

• Uma democracia solidária, onde o “fraternidade” tenha algum sentido!

• Em suma, uma democracia “viva”

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Pistas para a Reinvenção da Democracia (2)

• Criação/Dinamização de múltiplos projectos transformacionais e de movimentos de entreajuda ou protesto de carácter cívico

• Articulação (e sinergias) entre projectos, criando movimentos transformacionais metanoicos, de nível nacional e internacional

• Utilização preferencial de metodologias de reunião/facilitação assentes na auto-organização de grupos/projectos/comunidades e em lideres que “se apagam” (livro do Tao), como por exemplo a Open Space Technology (OST), de Harrison Owen

• Uso de plataformas colaborativas, segundo o modelo da Web 2.0, articuladas entre si.

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Pistas para a Reinvenção da Democracia (3)

A Crise pode ajudar!

• Vai impor um questionamento da democracia (dita) “representativa”, em favor de modelos participativos

• Vai implicar a redução de rivalidades desnecessárias em torno da reconquista da soberania nacional ameaçada de colonização

• Vai impor um novo modo de viver e de pensar, atento aos processos de transição, sustentabilidade e resiliência

• Não se pode fazer face à crise com modelos antigos, hierarquizados, de “comando e controlo”, mas com a compreensão dos sistemas complexos e caóticos, emergentes e auto-organizados

• Pode assentar nas características positivas da língua e da cultura nacionais, as quais devem ser respeitadas e defendidas

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Conclusões

• Em Portugal, como na Europa, e no Mundo, é hoje indispensável fazer uma Reinvenção da Democracia

• Tal reinvenção terá de assentar numa mudança profunda dos paradigmas pelos quais entendemos e vivemos a democracia, a cidadania, os posicionamentos políticos e as próprias revoluções

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Anexo para reflexão: Lao Tse, Tao Te King, Aforismo XVII O Mestre eminente é ignorado pelo povo.

Em seguida vem aquele que o povo ama e louva.

Depois aquele que teme.

Por fim, aquele que despreza.

Se o mestre não tem senão confiança limitada no seu povo

também este suspeitará dele.

O mestre eminente evita falar

E quando a sua obra está pronta e o seu esforço acabado

o povo diz: “Isto foi feito pelas nossas próprias mãos.”

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