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Susana Margarida Matos Correia Regulação do apetite e o papel da farmacologia Universidade Fernando Pessoa Faculdade de Ciências da Saúde Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas Porto, 2012

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  • Susana Margarida Matos Correia

    Regulao do apetite e o papel da

    farmacologia

    Universidade Fernando Pessoa Faculdade de Cincias da Sade

    Mestrado Integrado em Cincias Farmacuticas

    Porto, 2012

  • Regulao do apetite e o papel da farmacologia

    2

  • Regulao do apetite e o papel da farmacologia

    3

    Susana Margarida Matos Correia

    Regulao do apetite e o papel da

    farmacologia

    Universidade Fernando Pessoa Faculdade de Cincias da Sade

    Mestrado Integrado em Cincias Farmacuticas

    Porto, 2012

  • Regulao do apetite e o papel da farmacologia

    4

    Susana Margarida Matos Correia

    Regulao do apetite e o papel da farmacologia

    Declaro que o presente trabalho foi realizado na ntegra por mim, exceto

    onde indicado por referncia no texto.

    Aluna:

    Trabalho apresentado Universidade Fernando Pessoa

    como parte dos requisitos para obteno do grau

    de mestre em Cincias Farmacuticas

  • Regulao do apetite e o papel da farmacologia

    i

    Sumrio

    A necessidade da compreenso dos sistemas fisiolgicos que regulam o apetite

    aumentou consideravelmente na ltima dcada, sendo que os mecanismos de controlo

    do apetite tm sido estudados, focando principalmente as funes hipotalmicas,

    regulando o aspeto metablico da alimentao.

    Os sistemas de controlo do apetite esto muito mais voltados para o armazenamento

    energtico do que para a perda de peso, pois sabe-se quais as dificuldades em perder

    peso e como o crebro cognitivo vence o crebro metablico.

    Por vezes, os problemas na regulao do apetite podem dar origem a patologias

    associadas aos distrbios alimentares, tais como a obesidade, a anorexia e a bulimia.

    Para tal, necessrio adotar-se mudanas no estilo de vida, podendo ser necessrio

    recorrer ao auxlio de tratamento farmacolgico (frmacos estimuladores do apetite ou

    inibidores do apetite).

    Para uma melhor compreenso destes aspetos, aplicou-se um inqurito a 50 utentes de

    uma farmcia, composto por uma srie de perguntas referentes aos dados scio-

    demogrficos dos utentes, bem como da sua composio corporal, dos seus dados

    clnicos, dos hbitos alimentares, dos hbitos de sono e dos hbitos da prtica de

    exerccio fsico (variveis explicativas), de modo a correlaciona-las com a dificuldade

    na regulao do apetite e a utilizao de frmacos para tal (variveis resposta).

    A amostra constituda por 70% (35) mulheres e 30% (15) homens, possuam idades

    entre os 25 e os 87 anos, sendo que 20 pessoas demonstraram ter problemas em regular

    o seu apetite, dos quais apenas 7 admitiram tomar medicao para o efeito.

    Atravs da interpretao e anlise dos dados colhidos, efetuou-se um teste de correlao

    de Pearson, demonstrando que somente existia uma correlao linear positiva entre a

    dificuldade na regulao do apetite e o ndice de massa corporal. Tal facto, poder estar

    relacionado com os resultados obtidos para o IMC mdio amostral, indicando que a

    amostra possua excesso de peso.

  • Regulao do apetite e o papel da farmacologia

    ii

    Os resultados obtidos evidenciam esse acontecimento, pois tendo em ateno que o

    IMC para o qual se considera um individuo com excesso de peso maior que 25 e

    menor que 30 kg/m2, verificou-se que 40 % dos inquiridos tinham excesso de peso,

    sendo que 32 % apresentavam um IMC normal (>18,5

  • Regulao do apetite e o papel da farmacologia

    iii

    Abstract

    The necessity in comprehending the physiological systems that regulate the appetite has

    increased considerably during the last decade, while the mechanisms of appetite control

    have been studied, focusing mainly on the hypothalamus functions, regulating the

    metabolic aspect of the diet.

    The systems of appetite control are much more inclined to the storage of energy rather

    than to the loss of weight, as the difficulties in losing weight are well known and how

    the cognitive brain wins over the metabolic brain.

    Sometimes the problems with the adjustment of the appetite may lead to pathologies

    associated to eating disorders, such as obesity, anorexia and bulimia. For this, it is

    necessary to adopt changes in ones lifestyle, as it may be necessary to turn to

    pharmacologic treatment (pharmaceutical stimulators of the appetite or appetite

    inhibitors).

    For a better understanding of these aspects, an inquiry was applied to 50 users of a

    pharmacy, consisting of a series of questions referring to the socio-demographic data of

    the users, as well as their body composition, their clinical data, their eating habits, their

    sleeping habits and their habits regarding practising physical exercise (explainable

    variables), in order to correlate them with the difficulty in the adjustment of their

    appetite and the utilization of pharmaceuticals for such (variable answers).

    The sample is constituted by 70% (35) women and 30% (15) men, with ages between

    25 and 87; as 20 of these people demonstrated having problems with adjusting their

    appetite, of which 7 admitted taking medication for the effect.

    Via the interpretation and analysis of the data gathered, the Pearson product-moment

    correlation test was performed demonstrating that there was only a positive linear

    correlation relative to the difficulty in adjusting the appetite and the body mass index.

    This factor may be related to the results obtained for the medium sampling BMI,

    indicating that the sample is overweight.

  • Regulao do apetite e o papel da farmacologia

    iv

    The results gathered show this occurrence, whereas we take into account that the BMI

    that is used for an individual which is overweight is over 25 and less than 30 kg/m2, we

    can verify that 40% of the people polled were overweight; as in 32% presented a normal

    BMI (>18,5

  • Regulao do apetite e o papel da farmacologia

    v

    Agradecimentos

    Agradeo, primeiramente, minha famlia pelo incentivo, carinho, amor, companhia e

    apoio prestados durante este longo percurso. Assim, gostaria de deixar uma especial

    palavra de apreo aos meus pais, minha irm Patrcia, ao meu irmo Paulo, ao meu

    namorado Jorge, aos meus tios, e primos que me ajudaram, de uma maneira ou de outra,

    a desenvolver este trabalho.

    Gostaria de agradecer a todos os professores e colegas de curso, que de alguma forma,

    contriburam para concretizar este trabalho e Universidade Fernando Pessoa, assim

    como ao diretor tcnico da Farmcia Unio, Dr. Paulo Srgio Martins Nogueira, Dra.

    Ana cristina Martins Nogueira, sem esquecer todos os funcionrios e utentes, que

    cooperaram na realizao desta dissertao.

    Por fim, um agradecimento especial Orientadora Prof Doutora Raquel Silva, que pelo

    seu espirito de profissionalismo foi capaz de me fazer ultrapassar determinadas lacunas,

    pelas sugestes e criticas que foram uma ajuda valiosa na concretizao deste trabalho.

  • Regulao do apetite e o papel da farmacologia

    vi

    ndice

    Sumrio.I

    Abstract..III

    Agradecimentos...V

    ndice de figurasIX

    ndice de quadros...X

    Abreviaturas.....XV

    Parte I: Introduo..1

    Parte II: Desenvolvimento..4

    2.1. Principais circuitos envolvidos no controlo do apetite...4

    2.2. Mecanismos biolgicos associados ao controlo do apetite5

    2.2.1. Mecanismos cognitivos5

    2.2.2. Mecanismos metablicos..........................6

    2.3. Mecanismo metablico do controlo do apetite...8

    2.3.1. Hormonas e neurotransmissores..8

    2.4. Exerccio fsico.13

    2.5. Sono e a atividade hormonal (leptina e grelina)...15

    2.6. Patologias associadas regulao do apetite18

    2.6.1. Obesidade...18

    2.6.2 Anorexia..22

  • Regulao do apetite e o papel da farmacologia

    vii

    2.6.3. Bulimia...23

    2.6.4. Diabetes mellitus tipo II.24

    2.7. Frmacos estimulantes do apetite.26

    2.7.1.Acetato de megestrol..27

    2.7.2. Prednisolona e dexametasona27

    2.7.3. Tetrahidrocanabinol (THC)...28

    2.8. Frmacos inibidores do apetite.28

    2.8.1. Orlistato (Alli)29

    2.8.2. BioActivo Slim Duo..30

    2.8.3. Obesimede Forte31

    Parte III Metodologia.33

    3.1. Desenho do estudo33

    3.2. Amostra e processo de amostragem.33

    3.3. Instrumento de recolha de dados..34

    3.4. Mtodos34

    3.5. Tratamento de dados.34

    Parte IV Apresentao e discusso dos resultados..36

    4.1. Dados scio-demogrficos (N=50)...36

    4.2. Dados clnicos da amostra (N=50)...39

    4.3. Avaliao corporal da amostra (N=50)41

    4.4. Parmetros bioqumicos da amostra (N=50)....44

  • Regulao do apetite e o papel da farmacologia

    viii

    4.5. Hbitos de sono da amostra (N=50).50

    4.6. Hbitos alimentares (N=50)..53

    4.7. Correlao entre a regulao do apetite e os dados scio-demogrficos (N=50).60

    4.8. Correlao entre a regulao do apetite e o ndice de massa corporal (IMC)

    (N=50).............................................................................................................................61

    4.9. Correlao entre a regulao do apetite e os dados clnicos (N=50)62

    4.10. Correlao entre a regulao do apetite e os hbitos alimentares (N=50)..65

    4.11. Correlao entre a regulao do apetite e os hbitos de sono (N=50)68

    4.12. Correlao entre a regulao do apetite e os hbitos da prtica de exerccio fsico

    (N=50).69

    Parte V Concluses.70

    Parte VI Bibliografia..71

    Anexos.79

  • Regulao do apetite e o papel da farmacologia

    ix

    ndice de figuras

    Figura 1 - Regulaes endcrinas do hipotlamo (adaptado de Brando, 2010).4

    Figura 2 - Mecanismos hormonais e neuronais envolvidos na regulao do apetite

    (adaptado de Diamiani et al., 2010)..7

    Figura 3 - Estrutura da leptina (Ferreira, 2008)....8

    Figura 4 - Estrutura da grelina (Ferreira, 2008).10

    Figura 5 - Relao entre os efeitos da diminuio do tempo de sono e a regulao do

    apetite (adaptado de Brito e Gibbert, 2011)17

    Figura 6 - Mecanismo de ao do orlistato (Alli) (adaptado de GlaxoSmithKline,

    S/D)..29

  • Regulao do apetite e o papel da farmacologia

    x

    ndice de Quadros

    Quadro 1 - Principais sinalizadores do apetite (adaptado de Damiani et al, 2010)...12

    Quadro 2 - Frequncia sexo da amostra (N=50)36

    Quadro 3 - Idade dos inquiridos (N=50)36

    Quadro 4 - Idade dos inquiridos de acordo com o gnero (N=50).37

    Quadro 5 - Habilitaes Literrias dos inquiridos (N=50).37

    Quadro 6 - Habilitaes dos inquiridos de acordo com o gnero (N=50)..38

    Quadro 7 - Profisso dos inquiridos (N=50)..38

    Quadro 8 - Dificuldade na regulao do apetite dos inquiridos (N=50)40

    Quadro 9 - Dificuldade na regulao do apetite dos inquiridos segundo o gnero

    (N=50).40

    Quadro 10 - Uso de medicao para reduzir o apetite (N=50)...41

    Quadro 11- Uso de um suplemento vitamnico/mineral por parte dos inquiridos

    (N=50).41

    Quadro 12 - Mdia (desvio padro), mnimo e mximo relativos ao IMC dos inquiridos

    (N=50).41

    Quadro 13 IMC (ndice de massa corporal) segundo o gnero

    (N=50).42

    Quadro 14 - Teste t ao IMC amostral tendo como valor mdio de comparao o IMC

    em Portugal ( 25 kg/m2) (N=50)43

    Quadro 15 - Teste t ao IMC amostral tendo como valor mdio de comparao o IMC a

    partir do qual se considera um individuo obeso ( 30 kg/m2) (N=50)43

  • Regulao do apetite e o papel da farmacologia

    xi

    Quadro 16 - Mdia (desvio padro), mnimo e mximo relativos aos valores de presso

    arterial sistlica e diastlica, glicemia, colesterol total e triglicerdeos

    (N=50).44

    Quadro 17 - Mdia (desvio padro), mnimo e mximo relativos aos valores de presso

    arterial sistlica e diastlica, glicemia, colesterol total e triglicerdeos para mulheres

    (N=35).45

    Quadro 18 - Mdia (desvio padro), mnimo e mximo relativos aos valores de presso

    arterial sistlica e diastlica, glicemia, colesterol total e triglicerdeos para homens

    (N=15).46

    Quadro 19 - Teste t Presso arterial sistlica mdia amostral tendo como valor mdio

    de comparao a presso arterial sistlica 130 mmHg (N=50)47

    Quadro 20 - Teste t presso arterial diastlica mdia amostral tendo como valor

    mdio de comparao a presso diastlica 85 mmHg (N=50).47

    Quadro 21 - Teste t glicemia mdia amostral tendo como valor mdio de comparao

    a glicemia mnima em Portugal (110 mg.dl-1

    ) (N=50)48

    Quadro 22 - Teste t ao colesterol mdio amostral tendo como valor mdio de

    comparao o colesterol mnimo para um risco moderado em Portugal (190 mg.dl-1

    )

    (N=50).49

    Quadro 23 - Teste t aos triglicerdeos mdio amostral tendo como valor mdio de

    comparao os nveis mnimos em Portugal (150 mg.dl-1

    ) (N=50)49

    Quadro 24 - Dados acerca dos problemas de sono referidos pelos inquiridos

    (N=50).50

    Quadro 25 - Dados acerca dos problemas de sono referidos pelos inquiridos segundo o

    gnero (N=50)51

  • Regulao do apetite e o papel da farmacologia

    xii

    Quadro 26 - Hbitos de sono dos inquiridos semana e ao fim de semana

    (N=50).52

    Quadro 27 - Teste t ao nmero de horas de sono semanal tendo como valor mdio de

    comparao 8h (N=50)53

    Quadro 28 - Teste t ao nmero de horas de sono ao fim de semana tendo como valor

    mdio de comparao 8h (N=50)53

    Quadro 29 - Dados acerca dos hbitos alimentares da ingesto de legumes por semana

    (N=50).54

    Quadro 30 - Dados acerca dos hbitos alimentares da ingesto de fruta por semana

    (N=50).55

    Quadro 31 - Dados acerca dos hbitos alimentares da ingesto de carne por semana

    (N=50).55

    Quadro 32 - Dados acerca dos hbitos alimentares da ingesto de peixe por semana

    (N=50).56

    Quadro 33 - Dados acerca dos hbitos alimentares da ingesto de alimentos ricos em

    gordura por semana (N=50)56

    Quadro 34 - Dados acerca dos hbitos alimentares da ingesto de alimentos ricos em

    acar por semana (N=50)...57

    Quadro 35 - Dados acerca dos hbitos alimentares da ingesto de bebidas alcolicas

    (N=50).57

    Quadro 36 - Dados acerca dos hbitos alimentares da ingesto de caf

    (N=50).................58

    Quadro 37 - Dados acerca dos hbitos de exerccio fsico dos inquiridos

    (N=50).....58

    Quadro 38 - Dados acerca da durao habitual da prtica de exerccio fsico dos

    inquiridos (N=50)59

  • Regulao do apetite e o papel da farmacologia

    xiii

    Quadro 39 - Dados acerca do nmero de vezes que os inquiridos praticam exerccio

    fsico por semana (N=50)60

    Quadro 40 - Coeficiente de correlao de Pearson entre os problemas de regulao do

    apetite e o gnero (N=50)61

    Quadro 41 - Coeficiente de correlao de Pearson entre os problemas de regulao do

    apetite e a idade (N=50)...61

    Quadro 42 - Coeficiente de correlao de Pearson entre os problemas de regulao do

    apetite e o IMC (N=50)...62

    Quadro 43 - Coeficiente de correlao de Pearson entre os problemas de regulao do

    apetite e a presso arterial (N=50)...63

    Quadro 44 - Coeficiente de correlao de Pearson entre os problemas de regulao do

    apetite e os nveis de glicemia (N=50)64

    Quadro 45 - Coeficiente de correlao de Pearson entre os problemas de regulao do

    apetite e os nveis de colesterol (N=50)...64

    Quadro 46 - Coeficiente de correlao de Pearson entre os problemas de regulao do

    apetite e os nveis de triglicerdeos (N=50).65

    Quadro 47 - Coeficiente de correlao de Pearson entre os problemas de regulao do

    apetite e a ingesto de alimentos ricos em gordura (N=50)66

    Quadro 48 - Coeficiente de correlao de Pearson entre os problemas de regulao do

    apetite e a ingesto de alimentos ricos em acar (N=50)......66

    Quadro 49 - Coeficiente de correlao de Pearson entre os problemas de regulao do

    apetite e a ingesto frequente de caf (N=50).67

    Quadro 50 - Coeficiente de correlao de Pearson entre os problemas de regulao do

    apetite e a ingesto frequente de bebidas alcolicas (N=50)...67

    Quadro 51 - Coeficiente de correlao de Pearson entre os problemas de regulao do

    apetite e os hbitos de sono semana (N=50).68

  • Regulao do apetite e o papel da farmacologia

    xiv

    Quadro 52 - Coeficiente de correlao de Pearson entre os problemas de regulao do

    apetite e os hbitos de sono ao fim de semana (N=50)69

    Quadro 53 - Coeficiente de correlao de Pearson entre os problemas de regulao do

    apetite e os hbitos da prtica de exerccio fsico (N=50)69

  • Regulao do apetite e o papel da farmacologia

    xv

    Abreviaturas

    A

    AgRP: Peptdeo Agouti.

    Alfa-MSH: Hormona estimuladora dos melancitos tipo alfa.

    ARC: Ncleo arqueado.

    C

    CART: Transcrito relacionado cocana e anfetamina.

    CRH: Hormona libertadora de corticotropina.

    G

    GHS-R: Hormona de crescimento.

    GLP-1: Glucagon-like peptide 1.

    H

    HgA1C: Hemoglobina glicosilada.

    I

    IL-1: Interleucina 1.

    IL-6: Interleucina 6.

    IMC: ndice de Massa Corporal.

    M

    MC3R: Melanocortina recetor 3.

    MC4R: Melanocortina recetor 4.

  • Regulao do apetite e o papel da farmacologia

    xvi

    N

    NPY: Neuropeptdeo Y.

    O

    OMS: Organizao Mundial da Sade.

    P

    POMC: Pr-Opiomelanocortina.

    PVN: Ncleo paraventricular.

    S

    SNC: Sistema Nervoso Central.

    T

    THC: Tetrahidrocanabinol.

    TNF-: Factor Necrose Tumoral alfa.

    V

    VMH: Ncleo Ventro-medial.

  • Regulao do apetite e o papel da farmacologia

    1

    I. Introduo

    O presente estudo teve como principal objetivo identificar os mecanismos fisiolgicos

    de regulao do apetite, bem como os frmacos que podero ser utilizados no seu

    controlo e avaliar de que forma os indivduos controlam o seu apetite.

    Pretende-se tambm reconhecer a importncia da sociedade atual em construir hbitos

    alimentares saudveis, bem como evitar fatores determinantes que levam a uma

    desregulao do apetite, assim como identificar os fatores que influenciam a regulao

    do apetite e reconhecer as patologias associadas.

    A dieta de diferentes indivduos ou populaes reflete, em geral, a poca e a situao

    econmica em que se vivem. So inmeras as razes que envolvem a escolha de

    alimentos, entretanto estas escolhas so permeadas pelo poder aquisitivo dos segmentos

    sociais e por oscilaes entre aquilo que ditado pela cultura e aquilo que entendido

    como saudvel. Os hbitos alimentares baseiam-se inicialmente, na disponibilidade

    alimentar, na economia e em significados que cada pessoa confere aos alimentos

    (Fernandes, 2008).

    recente a transio em massa das populaes para zonas urbanas em detrimento das

    regies rurais, sendo evidente a transio de hbitos alimentares. Hoje em dia, esses

    hbitos no vm sendo seguidos pelas famlias da sociedade atual devido a um crescente

    processo de industrializao que vm proporcionando avanos na economia mundial,

    trazendo mudanas profundas na alimentao (Fernandes, 2008).

    Alm de uma estabilidade econmica proporcionada pelo processo de urbanizao e

    industrializao, a aceitao e o ingresso da mulher no mercado de trabalho, a evoluo

    das formas de distribuio dos alimentos e do marketing, alm de outros fatores,

    contriburam para uma grande mudana nos padres alimentares da populao. Por sua

    vez, estes esto relacionados com hbitos de vida no saudveis (Dunn et al., 2011;

    Fernandes, 2008; Thbaud-Mony e Oliveira, 1996).

  • Regulao do apetite e o papel da farmacologia

    2

    Com as refeies feitas fora do mbito alimentar, isto com a diminuio das refeies

    preparadas em casa, com todo o tempo que isso implica, com a procura diria de

    produtos frescos e em horrios definidos, deu origem a refeies dependentes duma

    restaurao coletiva, com um reduzido perodo de tempo destinado a estas, muitas vezes

    descontextualizadas do social e familiar, tornando-se assim frequente o consumo de

    alimentos de alta densidade calrica. Assim, as refeies tradicionais foram sendo

    substitudas por refeies mais prticas e rpidas, sendo cada vez mais procurados

    alimentos calricos e saborosos, procurando o mnimo prazer numa refeio (Calhau et

    al., 2011).

    implementado assim um novo sistema de alimentao, o fast food que entra em

    sintonia com as novas exigncias da sociedade. A alimentao fast food passa a

    caracterizar a modernidade, pois adapta-se s circunstncias que a mundialidade impe

    (Dunn et al, 2011; Ortigoza, 1997).

    Por sua vez, o consumo de grandes quantidades de gordura mostra uma crescente taxa

    da obesidade, agravando-se assim as taxas de morbilidade e mortalidade em todo o

    mundo (Bryant e Dundes, 2008).

    A regulao do apetite tambm influenciada pelo stress, sendo que vrios estudos

    demonstraram que este afeta a sade no apenas atravs de processos fisiolgicos

    diretos, mas tambm atravs de mudanas em alguns comportamentos, tais como na

    escolha e na ingesto de alimentos (Hepworth et al, 2010; Wallis e Hetherington, 2009;

    Zellner et al, 2007).

    Estudos indicam que as pessoas aumentam a ingesto de alimentos, aumentando

    tambm o consumo de gorduras quando esto sob o efeito do stress (Wallis e

    Hetherington, 2009). Existem evidncias da existncia de uma relao entre o stress e a

    obesidade, sendo este um fator de risco geral para esta patologia (Hepworth et al, 2010).

    O nmero de horas de sono outro dos fatores que afeta a regulao do apetite. A

    reduo nas horas de sono tornou-se um hbito comum na atualidade, guiada pelas

    exigncias e oportunidades da sociedade moderna (Gibbert e Brito, 2011).

    Os distrbios provocados pelas alteraes nos horrios de sono podem desencadear

    alteraes nas relaes entre as hormonas reguladoras do apetite, resultando num

  • Regulao do apetite e o papel da farmacologia

    3

    aumento do ndice de massa corporal e, por consequente, na obesidade (Gibbert e Brito,

    2011).

    Dada a atual prevalncia de doenas e morbilidades associadas nutrio, necessrio

    mudar os hbitos alimentares na populao, bem como a prtica de exerccio fsico, de

    forma a desenvolver intervenes comportamentais eficazes para melhorar a qualidade

    de vida (Riet et al, 2011).

  • Regulao do apetite e o papel da farmacologia

    4

    II. Desenvolvimento

    2.1. Principais circuitos envolvidos no controlo do apetite

    O controlo da ingesto de nutrientes e o decorrente estado de equilbrio homeosttico

    dependem de uma srie de sinais perifricos que atuam diretamente sobre o sistema

    nervoso central, levando a respostas adaptativas apropriadas. A ingesto alimentar e o

    gasto energtico so controlados por sistemas neurais complexos e redundantes,

    recebendo sinais aferentes, desde o sistema digestivo, passando pelo tecido adiposo

    chegando s estruturas centrais (Figura_1 - Damiani et al., 2010).

    Figura 1 - Regulaes endcrinas do hipotlamo (adaptado de Brando, 2010)

    No crebro, as trs maiores reas do controlo do apetite so o tronco enceflico, o

    hipotlamo (centro integrador) e crtex (ncleos de base, insulina e sistema lmbico).

    Primeiramente, ocorre a interpretao nutricional no tronco enceflico, que recebe

    informao proveniente das papilas gustativas, do aparelho olfativo e do trato

    gastrointestinal. Consequentemente, aps a chegada desta informao, a maquinaria

  • Regulao do apetite e o papel da farmacologia

    5

    oromotora (presente nos ncleos do tronco enceflico) ativada e ocorre a ingesto do

    alimento (Damiani et al., 2010).

    Posteriormente, no hipotlamo, mais propriamente o ncleo arqueado recebe estmulos

    provenientes de outras partes do crebro e de outros rgos. No ARC existem dois

    grupos de neurnios, os estimuladores e os inibidores do apetite, que recebem estmulos

    dos diversos rgos, tais como, visuais, olfativos, auditivos, gastrointestinais,

    hormonais, entre outros. Posteriormente, aps a chegada da informao so enviados

    sinais qumicos que controlam o apetite e a saciedade (Neto e Pareja, 2006).

    Por sua vez, o sistema crtico-lmbico permite-nos interagir com o ambiente que

    oferece o alimento, incluindo a procura do alimento e a sua ingesto, tendo em conta a

    experincia e a disponibilidade. A viso, o sabor e a palatabilidade de alimentos j

    familiares contam nessas escolhas. Assim, a influncia lmbica maior que a

    necessidade metablica do alimento, como abordaremos mais frente.

    2.2. Mecanismos biolgicos associados ao controlo do apetite

    De acordo com Damiani et al., (2010) o controlo do apetite tem sido estudado com base

    em dois mecanismos que se encontram correlacionados, sendo estes os mecanismos

    metablicos e os cognitivos.

    2.2.1. Mecanismos cognitivos

    O controlo do apetite no apenas um processo metablico coordenado somente pelo

    sistema nervoso central, sendo que os processos cognitivos e emocionais para o

    equilbrio energtico no podem ser desprezados.

    de salientar que o mecanismo cognitivo est relacionado com o facto de ingerir mais

    alimentos aps uma refeio em que o individuo fica saciado, ou seja, os neurnios

    supressores do apetite recebem a informao de que no necessrio ingerir mais

    alimentos, porm h sempre lugar para uma sobremesa aliciante. Neste processo as

    estruturas crtico-lmbicas ganham um papel importante, uma vez que envolvem a

    cognio, a recompensa e a emoo.

    Assim, o sistema de recompensa passa a ser o nosso alvo, visto que este consegue

    manipular o nosso comportamento alimentar. Deste modo ingerimos alimentos por

  • Regulao do apetite e o papel da farmacologia

    6

    desejo (ingesto de alimentos em abundncia) e no pela sua necessidade metablica

    (Diamiani et al., 2010).

    2.2.2. Mecanismos metablicos

    Das necessidades energticas de cada individuo surgem os mecanismos metablicos,

    que so regulados pelo SNC e funcionam como receo do sinal-integrao-sada do

    sinal (Figura 2). No que diz respeito receo dos sinais, tomamos como exemplo a

    observao do alimento, bem como o seu odor, aspeto e paladar, sendo estas

    caractersticas fundamentais para a ingesto dos alimentos.

    No processo de integrao, os estmulos acima referidos so transmitidos por meio de

    recetores, que por sua vez so enviados ao crebro. Assim sendo, os estmulos so

    integrados ocorrendo o sinal para a posterior ingesto dos alimentos. Mais

    especificamente, poderemos dizer que a informao transmitida por diferentes rgos

    atravs de hormonas que se ligam aos recetores dos neurnios estimuladores ou

    inibidores do apetite, de modo a obter um equilbrio energtico (Diamiani et al., 2010).

    Perante estes aspetos, o controlo do apetite envolve uma comunicao entre os rgos

    perifricos e o SNC. Esta comunicao envolve duas grandes categorias. Uma

    compreende os sinais gerados durante as refeies que causam saciedade, sendo que a

    colecistoquinina (hormona da saciedade) representa um papel importante. Esta

    produzida pelo estmago e pelo duodeno na presena de gorduras e protenas da

    alimentao, que por sua vez, ativa os nervos sensitivos ao nvel do estmago e do

    duodeno, enviando um sinal de saciedade que transmitido pelo nervo vago (Woods e

    D`Alessio, 2008; Biesalski e Grimm, 2007; Douglas, 2002).

    Por outro lado, a comunicao citada acima poder ocorrer tambm por via hormonal.

    Esta via envolve hormonas tais como a insulina e a leptina, que so produzidas num

    rgo especfico, transportadas atravs da corrente sangunea onde se ligam

    posteriormente a recetores especficos do rgo-alvo, de forma a criar um equilbrio

    energtico (Woods e D`Alessio, 2008).

    O hipotlamo, especialmente o ncleo arqueado (ARC), tem um papel central na

    integrao de sinais que regulam o apetite. Este recebe informaes provenientes de

    rgos perifricos, mediadas por hormonas circulantes e metablitos, assim como por

  • Regulao do apetite e o papel da farmacologia

    7

    vias neurais procedentes do tronco cerebral. O ARC tambm influenciado por sinais

    provenientes dos ncleos laterais e paraventriculares do hipotlamo (Figura 2) (Damiani

    et al., 2010; Wynne et al., 2005).

    Por sua vez, como referido anteriormente, o ncleo arqueado possui dois conjuntos de

    neurnios interrelacionados, sendo que um destes induz efeitos orexignicos,

    estimuladores do apetite e outro induz efeitos anorexignicos, inibidores do apetite.

    (Sam et al., 2011; Sousa et al., 2009).

    Figura 2 Mecanismos hormonais e neuronais envolvidos na regulao do apetite

    (adaptado de Diamiani et al., 2010)

    De acordo com a figura acima, os sinais de entrada fornecem informao acerca do

    nutriente ingerido, do nvel energtico num determinado momento e da quantidade de

    nutrientes presentes na corrente sangunea. Desta forma, a libertao de substncias

    qumicas para a corrente sangunea permite regular o apetite.

  • Regulao do apetite e o papel da farmacologia

    8

    2.3. Mecanismo metablico de controlo do apetite

    2.3.1. Hormonas e neurotransmissores

    No quadro 1 possvel observar as principais hormonas e neurotransmissores

    envolvidos no mecanismo do controlo do apetite, uma vez que este est dependente da

    produo, da circulao e da ligao especfica destas substncias qumicas. Contudo, a

    leptina, a grelina e a insulina representam as principais hormonas envolvidas neste

    mecanismo.

    A leptina foi descoberta em Dezembro de 1994 no laboratrio do cientista Jeffrey

    Friedman da Universidade Rockefeller em Nova Iorque. O seu nome derivada da

    palavra grega leptos, que significa magro, uma vez que se verificou que a sua

    administrao a animais experimentais reduzia a massa gorda (Sousa et al., 2009;

    Ferreira, 2008; Lewandowski, 2006).

    A leptina uma protena com 167 aminocidos, possui uma estrutura terciria com um

    conjunto de quatro hlices (Figura 2). Esta produzida predominantemente, mas no

    exclusivamente, pelo tecido adiposo branco e posteriormente lanada na corrente

    sangunea (Quadro 1). (Wilasco, 2010; Sousa et al., 2009; Ferreira, 2008; Urtado et al.,

    2008; Biesalski, 2007 ; Lewandowski, 2006).

    Figura 3 - Estrutura da leptina (Ferreira, 2008).

    A taxa de produo da leptina est relacionada com a quantidade de tecido adiposo. Esta

    hormona circula no plasma em quantidades proporcionais quantidade de tecido

    adiposo, e o tamanho do parece ser o maior determinante para a sntese de leptina.

    Inversamente, uma perda rpida de massa gorda leva a uma inibio da secreo de

    leptina e consequentemente aumenta o apetite e diminui o gasto energtico. Desta

  • Regulao do apetite e o papel da farmacologia

    9

    forma, as concentraes de leptina aumentam com a sobrealimentao e diminuem em

    situaes de fome (Sousa et al., 2009).

    Adicionalmente, a concentrao de leptina no plasma est sujeita a uma grande

    variabilidade individual que independente da quantidade de massa gorda. Fatores

    como a idade, o gnero, a prtica de exerccio fsico, a ingesto calrica e o ndice de

    massa corporal (IMC) influenciam as concentraes de leptina (Sousa et al., 2009).

    Em situaes de stress, como jejum prolongado e exerccio fsico intenso, provocam

    uma diminuio dos nveis circulantes de leptina. Assim, altos nveis de leptina

    reduzem a ingesto alimentar enquanto que baixos nveis induzem hiperfagia. Porm, os

    indivduos obesos apresentam nveis plasmticos de leptina elevados, ao contrrio dos

    indivduos magros. Relativamente ao gnero, as mulheres possuem maior concentrao

    de leptina do que os homens (Wilasco, 2010).

    No que diz respeito, ao comportamento alimentar, perodos curtos (12h) ou longos (2 ou

    8 semanas) de sobrealimentao levam a um aumento da expresso de leptina no

    adipcito e da leptina circulante (Sousa et al., 2009).

    Esta hormona controla a ingesto e o consumo de energia pela regulao de vrios

    fatores de saciedade no hipotlamo, tais como o neuropeptdeo Y ou o peptdeo

    glucagon-like (GLP 1) (Sousa et al., 2009; Biesalski, 2007). A leptina informa o crebro

    da presena de um excesso de tecido adiposo, induzindo o bloqueio do neuropeptdeo

    Y, suprimindo o apetite. Quando as reservas de gordura se encontram baixas, a queda da

    leptina estimula a produo de NPY, com o aumento do apetite (Damiani et al., 2010).

    A grelina foi descoberta em 1999 por Kojima e colaboradores durante pesquisas para

    um secretagogo endgeno da hormona de crescimento. um polipeptdeo de 28

    aminocidos, um agonista endgeno da hormona de crescimento (GHS-R) e um

    potente fator orexgeno, realizando uma ligao entre o trato gastrointestinal e o crebro

    (Quadro 1) (Brando, 2010; Urtado, 2008; Cheik, 2005; Ganong, 2006; Stanley et al.,

    2005; Wynne et al., 2005).

  • Regulao do apetite e o papel da farmacologia

    10

    Figura 4 - Estrutura da grelina (Ferreira, 2008)

    O nome grelina origina-se da palavra ghre, que correspondente, em ingls, palavra

    grow, que significa crescimento. Ghre (grow hormone release) descreve uma das

    principais funes deste peptdeo, responsvel pelo aumento da secreo da hormona de

    crescimento. A produo gstrica desta hormona regulada atravs de fatores

    nutricionais e hormonais (Ferreira, 2008; Cheik, 2005).

    Sabe-se que concentraes significantes desta substncia so encontradas no intestino

    delgado e grosso, nas clulas das ilhotas pancreticas, nos rins, na placenta, na

    hipfise e em neurnios do ncleo arqueado do hipotlamo (Cheik, 2005).

    Esta produzida principalmente pelas clulas endcrinas do estmago, duodeno e uma

    srie de estruturas cerebrais, e um dos mais importantes sinalizadores para o incio da

    ingesto alimentar. A sua concentrao mantm-se alta nos perodos de jejum e nos

    perodos que antecedem as refeies, caindo imediatamente aps a alimentao, o que

    tambm sugere um controle neural (Damiani et al., 2010; Wynne et al., 2005). A grelina

    para alm de aumentar o apetite, tambm estimula as secrees digestivas e a motilidade

    gstrica (Brando, 2010).

    A sua concentrao plasmtica encontra-se diminuda aps refeies ricas em hidratos

    de carbono, concomitantemente com a elevao da insulina plasmtica. Por outro lado,

    nveis plasmticos aumentados de grelina aps refeies ricas em protenas animais e

    lpidos esto associados ao pequeno aumento da insulina plasmtica (Ferreira, 2008).

  • Regulao do apetite e o papel da farmacologia

    11

    A insulina produzida pelas clulas do pncreas e o primeiro sinal de adiposidade a

    ser descrito, sendo a sua concentrao srica proporcional adiposidade. Com o seu

    efeito anablico, a insulina aumenta a captao de glicose, e a queda da glicemia um

    estmulo para o aumento do apetite (Quadro 1) (Stanley et al., 2005; Halpern et al.,

    2004).

    Por outro lado, estudos demonstraram que a insulina tem uma funo essencial no

    sistema nervoso central (SNC) para estimular a saciedade, aumentar o gasto energtico

    e regular a ao da leptina. A insulina interfere ainda com a secreo de entero-

    hormonas como o glucagon-like-peptide (GLP-1), que atua inibindo o esvaziamento

    gstrico, promovendo assim uma sensao de saciedade prolongada (Halpern et al.,

    2004).

    Alm disso, importante tambm salientar que a insulina tem um efeito perifrico,

    aumentando a captao de glicose e lpidos, levando queda de glicemia e

    consequente fome, alm de favorecer o aumento das reservas de gordura,

    respetivamente (Halpern et al., 2004).

    A insulina, assim como a leptina, est correlacionada a longo prazo com o balano de

    energia. No entanto, ao contrrio dos nveis de leptina, que so insensveis ingesto de

    alimentos, a secreo de insulina aumenta rapidamente aps uma refeio. Existem

    evidncias considerveis de que a insulina age como um sinal anorexgeno no sistema

    nervoso central, diminuindo a ingesto e o peso corporal (Stanley et al., 2005; Wynne et

    al., 2005).

    Os recetores de insulina so amplamente distribudos no crebro, em maiores

    concentraes no bulbo olfatrio e no hipotlamo. Dentro do hipotlamo, h uma

    expresso de recetores de insulina no ARC elevada. Isto consistente na hiptese de

    que a insulina age nos ncleos perifricos do hipotlamo para controlar a homeostase

    energtica (Wynne et al., 2005).

  • Regulao do apetite e o papel da farmacologia

    12

    Quadro 1- Principais sinalizadores do apetite (adaptado de Damiani et al, 2010)

    Sinalizador Produzido principalmente Ao

    Grelina Estmago e hipotlamo Orexgena

    Pepetdeo Y leo e Clon Anorexgena

    Leptina Adipcitos e Estmago Anorexgena

    Insulina Pncreas Anorexgena

    AgRP Hipotlamo Orexgena

    CART Hipotlamo Anorexgena

    POMC Hipotlamo Anorexgena

    MSH Hipfise Anorexgena

    GLP-1 leo, Clon e Reto Anorexgena

    Os neurotransmissores, bem como as hormonas, so fundamentais na regulao do

    apetite. Dentro destes, encontra-se o neuropeptdeo Y (NPY) e a protena relacionada

    com o gene Agouti.AgRP.

    Os neuropeptdeos estimuladores do apetite, orexgenos, so o NPY e o AgRP, sendo a

    hormona alfa-melancita estimuladora (-MSH) e o transcrito relacionado cocana e

    anfetamina (CART) os neuropeptdeos inibidores do apetite ou anorexgenos (Quadro

    1) (Sam et al.,2011; Sousa et al., 2009; Neto e Pareja, 2006; Wynne et al.,2005).

    O neuropeptdeo Y um peptdeo de 36 aminocidos e um dos neurotransmissores

    mais abundantes no sistema nervoso central, sendo o ARC um dos locais principais da

    sua expresso (Lewandowski, 2006; Stanley et al., 2005; Wynne et al., 2005). Este

    representa um dos mais potentes agentes orexignicos conhecidos. A libertao de NPY

    aumenta com o jejum e diminui aps a realimentao (Stanley et al., 2005).

  • Regulao do apetite e o papel da farmacologia

    13

    O NPY atua diretamente no ncleo paraventricular (PVN), levando a um aumento do

    apetite e uma inibio da atividade do sistema nervoso simptico, favorecendo assim

    um ganho ponderal. Por sua vez, o AgRP atua indiretamente bloqueando os recetores

    melanocrticos tipo 4 (MC4R), sendo estes recetores supressores do apetite no PVN

    (Sam et al., 2011; Sousa et al., 2009; Neto e Pareja, 2006; Wynne et al., 2005;).

    O circuito supressor do apetite inclui o transcrito relacionado cocana e anfetamina

    CART, que sintetizado por neurnios ARC e do PVN e, essencialmente a

    propiomelanocortina POMC, que precursora das melanocortinas, designadamente da

    hormona estimuladora dos melancitos tipo (-MSH). Esta atua principalmente

    atravs dos MC4R, de uma forma menos proeminente, atravs dos MC3R, inibindo o

    apetite (Quadro 1) (Sam et al., 2011; Sousa et al., 2009; Urtado et al., 2008; Neto e

    Pareja, 2006; Wynne et al., 2005;).

    O CART foi descoberto em 1998 e atua como um anorexgeno, sendo que a sua

    expresso gnica, no ncleo arqueado, diminui durante o jejum e aumenta aps a

    administrao de leptina (Lewandowski, 2006).

    2.4. Exerccio fsico

    A importncia do exerccio fsico na regulao do apetite, balano energtico e peso

    corporal tm sido amplamente reconhecida, sendo este em conjunto com uma dieta

    equilibrada a base para uma vida saudvel.

    Segundo Fogeholm e Kukkonen-Harjula (2000), as pessoas que realizam uma atividade

    fsica regular moderada exibem um menor ganho de peso e uma menor ocorrncia de

    sobrepeso e obesidade. Estima-se que cerca de trinta minutos dirios de exerccio fsico

    de intensidade moderada seja o adequado para um individuo manter um peso saudvel,

    sem dispensar obviamente de uma dieta equilibrada. Contudo, de forma a prevenir um

    aumento do peso em indivduos adultos aconselhvel a prtica de atividade fsica de

    cerca de uma hora. No caso de uma pessoa com excesso de peso ou obesa, essa durao

    estende-se a noventa minutos para garantir assim um decrscimo no peso.

  • Regulao do apetite e o papel da farmacologia

    14

    Contudo, analisando vrios estudos realizados, estes apresentam resultados divergentes.

    Tal facto, poder dever-se prtica de atividade fsica num plano de exerccio

    moderado a intenso a longo prazo e tambm ao facto do tempo dirio recomendado para

    realizar a atividade fsica, ser insuficiente para determinados indivduos perderem peso

    (Saris et al., 2003).

    de referir, tambm, que o exerccio fsico altera as concentraes das principais

    hormonas (leptina, insulina e grelina) que regulam o balano energtico, ocorrendo

    assim um balano energtico negativo e consequentemente um aumento do apetite. Uma

    nica sesso de exerccio fsico pode modificar os nveis de algumas destas hormonas,

    desde que haja intensidade e/ou durao suficientes (Becker, 2010).

    Relativamente leptina, os efeitos da atividade fsica sobre esta hormona ainda no so

    muito claros, uma vez que existem muitas contradies na literatura. So vrios os

    estudos sobre o efeito da prtica aguda e da prtica crnica de exerccio fsico sobre os

    nveis de leptina, tanto em seres humanos como em outros animais.

    Analisando vrios estudos, a reduo dos nveis de leptina parece ocorrer aps algumas

    horas e/ou dias da prtica de atividade fsica prolongada, ou ainda, consecutivamente a

    uma sesso prolongada de exerccio fsico. Porm, uma atividade fsica de curta durao

    no afeta os nveis de leptina (Prado et al., 2008; Benatti e Juniior, 2007; Mota e

    Zanesco, 2007).

    Adicionalmente, diversos estudos demonstraram tambm que os nveis plasmticos de

    leptina no se alteram com a prtica aguda de exerccio fsico, em atletas ou no atletas.

    A ausncia de alteraes na concentrao de leptina pode estar relacionada com o tempo

    da colheita da amostra aps a sesso de exerccio fsico. Ou seja, dado que a leptina est

    envolvida no controlo do equilbrio energtico do organismo a longo prazo, poderia ser

    necessrio um tempo maior para a colheita, para que as modificaes fossem realmente

    notadas em resposta atividade fsica. Contudo, a prtica de exerccio fsico continuada

    de curta durao, demonstra uma reduo dos nveis de leptina (Mota e Zanesco, 2007).

    No entanto, estudos realizados por vrios autores mostram nveis de leptina reduzidos

    em alguns casos e noutros inalterados, com uma atividade fsica prolongada e de longa

    durao (Prado et al., 2008; Benatti e Juniior, 2007; Mota e Zanesco, 2007).

  • Regulao do apetite e o papel da farmacologia

    15

    Hormonas, tais como, a adiponectina e a grelina, tambm foram estudadas por vrios

    autores. A adiponectina uma hormona produzida pelos adipcitos e pelo trato

    intestinal e exerce efeitos sobre processos metablicos, assim como homeostase

    energtica e metabolismo da glicose e dos lpidos. Alguns autores, demonstraram que os

    efeitos benficos do exerccio fsico (aumento da sensibilidade insulina, melhoria da

    aptido fsica e reduo do peso corporal), poderiam aumentar os nveis de adiponectina

    em repouso, contudo os estudos at agora realizados no so conclusivos relativamente

    a esta matria.

    Desta forma, a relao desta hormona com o exerccio fsico ainda no est

    devidamente esclarecida, uma vez que vrios estudos realizados apresentam dados

    controversos (Prado et al., 2008).

    No que diz respeito grelina, vrios estudos demonstram que os seus nveis plasmticos

    no se alteram com a atividade fsica. No entanto, os estudos que avaliam o efeito do

    exerccio fsico e os nveis de grelina ainda so muito escassos, pelo que no se pode

    afirmar se existem ou no benefcios (Prado et al., 2008; Mota e Zanesco, 2007).

    Tendo em conta tudo isto, embora os efeitos das hormonas com a prtica de exerccio

    fsico no estejam totalmente esclarecidos, os resultados parecem evidenciar que a

    prtica de exerccio fsico altera os mecanismos fisiolgicos envolvidos no controlo do

    apetite (Martins et al., 2008).

    2.5. Sono e a atividade hormonal (leptina e grelina)

    A reduo do tempo de sono tornou-se um hbito comum na atualidade, guiada pelas

    exigncias da sociedade moderna, tornando-se assim um fator predisponente para o

    aumento do peso corporal.

    Podemos considerar um perodo mdio de sono total normal oito horas por noite.

    Porm, esta evidncia no garante que indivduos que durmam por um perodo superior,

    com hbitos de vida no saudveis, estejam livres de se tornarem obesas.

    Uma relao entre o sono e a ingesto alimentar tem sido considerada por diversos

    estudos atuais. No entanto, os mecanismos que esto na base desta associao ainda no

    esto totalmente esclarecidos, sabe-se apenas que os distrbios provocados pelas

  • Regulao do apetite e o papel da farmacologia

    16

    alteraes nos horrios de sono/viglia influenciam o apetite, a saciedade e, por sua vez,

    a ingesto alimentar, favorecendo o aumento do peso corporal.

    A diminuio do tempo de sono promove alteraes fisiolgicas na libertao das

    hormonas reguladoras do apetite (grelina e leptina) capazes de aumentar a ingesto

    calrica e consequentemente um aumento do ndice de massa corporal. Adicionalmente,

    a perda de sono pode resultar em cansao, diminuindo assim o nvel de atividade fsica.

    Estudos recentes mostraram que a reduo do tempo total de sono est associada a dois

    comportamentos endcrinos paralelos capazes de alterar significativamente a ingesto

    alimentar: a diminuio da hormona anorexigna (leptina) e o aumento da hormona

    orexgena (grelina), resultando, assim no aumento da fome e da ingesto alimentar

    (Figura_ 5 - Brito e Gibbert, 2011; Ferreira, 2008; Smaldone et al., 2007).

    No entanto, este um tema que precisa de ser muito aprofundado, para que se possa

    perceber como que a secreo dessas hormonas influenciada pela supresso do sono,

    bem como quais os mecanismos exatos pelos quais o sono pode promover alteraes

    hormonais (Brito e Gibbert, 2011).

  • Regulao do apetite e o papel da farmacologia

    17

    Figura 5 Relao entre os efeitos da diminuio do tempo de sono e a regulao do

    apetite (adaptado de Brito e Gibbert, 2011).

  • Regulao do apetite e o papel da farmacologia

    18

    2.6. Patologias associadas regulao do apetite

    2.6.1. Obesidade

    A obesidade a acumulao excessiva de gordura no organismo, sendo esta considerada

    uma doena crnica. O ganho de peso excessivo ocorre quando a quantidade de energia

    consumida, atravs dos alimentos, maior do que a energia gasta pelo organismo

    (Correia et al., 2011; Duarte e Silva, 2010; Martnez-Aguilar et al., 2010; Ferreira,

    2008).

    A alimentao inadequada, caracterizada pelo consumo excessivo de acares simples e

    gorduras, associada insuficiente ingesto de frutas e hortalias, contribui diretamente

    para o ganho de peso. As causas dietticas da obesidade so complexas e ainda pouco

    estudadas, no entanto acredita-se que mudanas no padro alimentar, como maior

    consumo de refeies fora de casa, aumento do consumo de bebidas aucaradas,

    consumo de pores de alimentos cada vez maiores e a frequncia das refeies foram

    decisivas para a instalao da epidemia desta patologia (Enes e Slater, 2010).

    Esta doena est inter-relacionada direta ou indiretamente com algumas patologias que

    contribuem para a morbilidade e mortalidade, tais como dislipidemias, doenas

    cardiovasculares, diabetes mellitus tipo II e alguns tipos de cancro (Correia et al., 2011;

    Duarte e Silva, 2010; Martnez-Aguilar et al., 2010).

    O diagnstico da obesidade realizado a partir do parmetro estipulado pela

    Organizao Mundial da Sade, o IMC (ndice de massa corporal), obtido a partir da

    relao entre o peso corporal (kg) e a estatura (m)2. Atravs deste parmetro, so

    considerados obesos os indivduos se o seu valor de IMC for igual ou superior a 30

    kg/m2

    (WHO, 2012).

    Adicionalmente, existe uma boa correlao entre o IMC e a percentagem de gordura

    corporal, sendo que a percentagem de gordura maior nas mulheres do que nos homens.

    Este fato deve-se ao excesso de gordura corporal que usualmente distribuda como

    gordura subcutnea e principalmente perifrica nas mulheres (coxas, ndegas, peitos),

    enquanto que nos homens, ocorre um excesso de armazenamento de gordura corporal na

    cavidade abdominal (Lewandowski, 2006).

  • Regulao do apetite e o papel da farmacologia

    19

    As crescentes taxas de prevalncia da obesidade, registradas no mundo desenvolvido e

    em desenvolvimento, tm caracterizado esta condio como um grave problema de

    sade pblica, sendo reconhecida desde 1998 pela Organizao Mundial da Sade como

    uma epidemia global (Martnez-Aguilar et al., 2010).

    Na populao adulta, a obesidade aumenta o risco de doena e de morte, enquanto na

    populao jovem esse evento converte-se num problema que poder causar profundas

    repercusses na sade pblica (Enes e Slater, 2010).

    A crescente prevalncia desta patologia em idades cada vez mais precoces tem

    despertado a preocupao de pesquisadores e de profissionais na rea da sade, no que

    diz respeito s morbalidades associadas, tais como hipertenso arterial, dislipidemias,

    diabetes tipo 2, distrbios na esfera emocional, alm de comprometer a postura e causar

    alteraes no aparelho locomotor. (Duarte e Silva, 2010; Enes e Slater, 2010).

    No perodo da adolescncia, alm das transformaes fisiolgicas, o individuo sofre

    tambm mudanas psicossociais, o que contribui para a vulnerabilidade caracterstica

    deste grupo populacional. Os adolescentes podem ser considerados como um grupo de

    risco nutricional, devido inadequao da sua dieta decorrente do aumento das

    necessidades energticas e de nutrientes para atender ao crescimento (Enes e Slater,

    2010).

    Segundo autores importante consolidar os hbitos alimentares e hbitos de vida

    saudveis na adolescncia, uma vez que nessa fase que esses hbitos so estabelecidos

    e muitas vezes mantidos na vida adulta. Os efeitos da obesidade em idade precoce

    podero ser notados ainda a longo prazo, tendo sido relatado na literatura um aumento

    do risco de mortalidade, nomeadamente por doena coronria, nos adultos que foram

    obesos durante a infncia e a adolescncia (Enes e Slater, 2010).

    Alm da doena, o problema do peso excessivo traz prejuzos para a qualidade de vida,

    com a limitao da prtica de atividades fsicas, e para a sade mental, favorecendo a

    insatisfao com a imagem corporal que, por sua vez, implica uma reduo da auto-

    estima, ansiedade e depresso (Correia et al., 2011; Martnez-Aguilar et al., 2010).

    A sua etiologia no de fcil identificao, dado que a mesma caracterizada como

    uma doena multifactorial, isto , diversos fatores esto envolvidos na sua gnese,

  • Regulao do apetite e o papel da farmacologia

    20

    incluindo fatores genticos, psicolgicos, metablicos, biolgicos, comportamentais e

    ambientais (Enes e Slater, 2010; Ferreira, 2008).

    A epidemia da obesidade no est restrita a uma determinada raa, etnia ou grupo

    socioeconmico. Apesar dos indivduos com excesso de peso serem, frequentemente,

    considerados pessoas com distrbios do comportamento ou da personalidade, h fatores

    que desempenham um papel critico no desenvolvimento desta patologia, quer pela

    gentica, quer pela suscetibilidade metablica (Ferreira, 2008).

    Os fatores mais estudados da obesidade so os biolgicos relacionados com o estilo de

    vida, nomeadamente no que diz respeito ao binmio dieta a atividade fsica. Tais

    investigaes concentram-se nas questes relacionadas com o aporte energtico da dieta

    e na reduo da prtica de atividade fsica com a incorporao do sedentarismo,

    configurando o chamado estilo de vida ocidental contemporneo (Wanderley e Ferreira,

    2010).

    Para alm dos comportamentos sedentrios, a idade, a etnia e o sexo, as condies

    mdicas, tais como doenas hereditrias raras e desordens endcrinas, como por

    exemplo hipotiroidismo so tambm fatores que contribuem para o risco de obesidade

    (Ferreira, 2008).

    Segundo alguns autores (Wardenrley e Ferreira, 2010) existe uma forte influncia

    gentica no desenvolvimento desta doena. Como mencionado acima, desordens

    endcrinas como o hipotiroidismo e problemas no hipotlamo, tais como alteraes no

    metabolismo de corticosterides, hipogonadismo em homens e ovariectomia em

    mulheres, entre outras podem conduzir obesidade.

    O peso corporal regulado por uma interao complexa entre hormonas e

    neuropeptdeos, atravs do controlo de ncleos hipotalmicos, assim mutaes nos

    genes de hormonas e nos seus recetores, tm sido associadas a esta patologia.

    Como referido anteriormente, a leptina uma hormona secretada pelo tecido adiposo

    subcutneo em resposta ao armazenamento de gordura ou ao excesso da ingesto

    alimentar, sendo um marcador importante da quantidade de tecido adiposo. Esta, reduz

    o apetite por inibir a formao de neuropeptdeos relacionados com o apetite, como o

    neuropeptdeo Y, e por promover um aumento da expresso de neuropeptdeos

  • Regulao do apetite e o papel da farmacologia

    21

    anorexgenos, como o -MSH e o CRH. Desta forma, a deficincia congnita desta

    hormona responsvel por 1 a 2% dos casos de obesidade (Wandenrley e Ferreira,

    2010; Korner e Aronne, 2003).

    Outros fatores envolvidos na gnese da obesidade so a grelina e o neuropeptdeo Y,

    que como j foi referido so substncias envolvidas no controlo da ingesto alimentar.

    O neuropeptdeo Y sintetizado no SNC e estimula a ingesto. A reduo dos nveis de

    insulina e leptina ativam os neurnios produtores de NPY no hipotlamo, e a leptina

    inibe a sua sntese. A grelina uma hormona gastrointestinal estimuladora do apetite e

    faz parte dos sistemas de regulao do peso corporal, sendo que a sua produo

    excessiva pode levar obesidade (Wandenrley e Ferreira, 2010).

    Assim sendo, alteraes no controlo da libertao destas e de outras substncias

    envolvidas na regulao do balano energtico, provocam disfunes nos sistemas de

    regulao do peso corporal, podendo levar ao aparecimento desta patologia

    (Wandenrley e Ferreira, 2010).

    A obesidade deve ser reconhecida como uma enfermidade e tratada como tal. Assim,

    existem trs principais abordagens para o tratamento, o comportamental (no

    farmacolgico), o farmacolgico e o cirrgico (Nonino-Borges et al., 2006).

    O tratamento no farmacolgico o tratamento mais utilizado, que inclui a prtica de

    exerccio fsico e mudanas dos hbitos alimentares, bem como realizar refeies sem

    pressa e em ambientes tranquilos, evitar associar emoes com a ingesto alimentar,

    mastigar bem os alimentos, e principalmente diminuir o consumo de gorduras. A

    atividade fsica facilita o controlo do peso em conjunto com hbitos alimentares

    saudveis (Nonino-Borges et al., 2006).

    O tratamento farmacolgico deve servir apenas como auxlio ao tratamento diettico e

    no como uma estrutura fundamental para o tratamento da obesidade. Geralmente, os

    frmacos reduzem cerca de 10% do peso, aproximadamente, ao fim de 6 meses e

    mantm essa reduo com o continuar do tratamento. Quando o frmaco interrompido,

    o peso recupera-se rapidamente (Nonino-Borges et al., 2006).

  • Regulao do apetite e o papel da farmacologia

    22

    2.6.2. Anorexia

    A anorexia nervosa um grave distrbio mental, muitas vezes persistente, com elevada

    taxa de mortalidade. Esta caracterizada por perda de peso, perda do desejo de comer, o

    medo de ganhar peso, distoro da imagem corporal, e a negao das consequncias

    fsicas decorrentes da reduo drstica da ingesto de alimentos (Benedetta et al., 2011;

    Jappe et al., 2011).

    Como citado anteriormente, esta patologia desencadeia-se na grande maioria dos casos

    aps uma determinao em restringir os alimentos mais calricos e com o objetivo de

    reduzir o peso corporal numa fase em que o corpo reconhecido como insatisfatrio e

    em que este passa a ser intermedirio para a necessria afirmao de si prprio em

    relao ao mundo que os rodeiam (Brando, 2011).

    Embora o termo anorexia signifique perda de apetite, estes doentes tm apetite mas

    doentiamente evitam comer sempre que podem ou comem o menos possvel. Como

    mantm a fome e permanecem muito tempo a comer pouco, a vontade de comer pode

    ser to forte que podem acabar por comer mais do que considerado aceitvel.

    Entretanto, sentem-se mal por terem comido e alguns doentes provocam o vmito ou

    usam laxantes ou outras medidas, como praticar exerccio fsico em demasia (Brando,

    2011).

    Estes doentes apresentam tambm uma perturbao da auto-anlise, uma viso

    distorcida do seu prprio corpo, o que induz um sofrimento persistente e que se

    repercute na vida social, desvalorizam-se, limitam o contacto com amigos e isolam-se.

    H doentes que mantm um padro alimentar persistentemente restritivo e outros

    doentes que alternam comportamentos purgativos (Brando, 2011).

    Atualmente existem dois tipos de anorexia nervosa, a do tipo restritivo e a do tipo

    purgativo. No tipo restritivo prevalecem comportamentos voltados ao controlo da

    ingesto alimentar, como refeies restritivas (refeies hipocalricas, de baixo teor

    lipdico e hipoproticas) e uma diminuio do nmero de refeies dirias. Na anorexia

    do tipo purgativo prevalecem comportamentos tais como, vmitos, diarreia decorrente

    do uso de laxantes, uso/abuso de inibidores do apetite e laxantes, prtica de exerccio

  • Regulao do apetite e o papel da farmacologia

    23

    fsico excessivo, alm dos comportamentos restritivos que tambm podem estar

    presentes (Fleitlich et al., 2000).

    Dado que a anorexia nervosa uma doena que causa repercusses graves, o tratamento

    deve ser precocemente iniciado e deve conter um programa intensivo e abrangente. O

    tratamento nutricional passa por restabelecer funes fisiolgicas normais, promovendo

    um ganho gradual de peso, bem como instrumentalizar o paciente para a adoo de

    hbitos nutricionais saudveis (Fleitlich et al., 2000).

    O tratamento farmacolgico tem um papel mais pequeno no tratamento desta patologia,

    so utilizados psicofrmacos, como estimulantes do apetite, neurolpticos,

    antidepressivos, vitaminas, ferro, zinco e outras formas de suplementao de sais

    minerais (Fleitlich et al., 2000).

    2.6.3. Bulimia

    A bulimia nervosa caracterizada pela grande ingesto de alimentos de forma rpida e

    intensa associada a uma sensao de perda de controlo, nomeadamente os chamados

    episdios bulmicos (Faris et al., 2008). Aps esta ingesto, h uma necessidade de

    eliminar o excesso de calorias ingeridas atravs de jejuns prolongados, vmitos auto-

    induzidos, uso de laxantes e diurticos ou a prtica excessiva de exerccio fsico (Faria e

    Shinohara, 1998).

    Esta doena surge habitualmente na adolescncia, por volta dos 20 anos, em idades mais

    tardias do que as idades em que se inicia a anorexia nervosa, e com uma prevalncia

    superior da anorexia (Brando, 2011).

    Os indivduos que sofrem este transtorno conseguem esconder o problema, uma vez que

    realizam rituais de comer compulsivo seguido de eliminao, e tambm pelo facto

    de manterem o seu peso normal ou um pouco acima do normal (Brando, 2011).

    As pessoas com bulimia nervosa, bem como das que padecem de anorexia, tambm se

    sentem gordas, podendo no estar, e preocupam-se de modo doentio com o seu peso e a

    sua imagem corporal. Muitos doentes com esta patologia esforam-se muito por fazer

    dieta, mas comem demasiado e sofrem por no controlar estes comportamentos

    (Brando, 2011).

  • Regulao do apetite e o papel da farmacologia

    24

    semelhana do que acontece na anorexia nervosa, esta patologia pode ser classificada

    em dois subtipos, o tipo purgativo e o no-purgativo. No tipo purgativo o individuo

    provoca regularmente o vmito, recorrendo utilizao de laxantes e diurticos em

    excesso. No tipo no-purgativo o individuo utiliza comportamentos compensatrios

    inapropriados, tais como jejum prolongado e exerccio fsico excessivo (Santos et al.,

    2010).

    Como referido acima, estes comportamentos podem passar despercebidos para a famlia

    durante muito tempo, o que determina um atraso no diagnstico e uma maior

    dificuldade para o tratamento (Brando, 2011).

    O tratamento nutricional da bulimia nervosa tem como objetivos diminuir as

    compulses, minimizar as restries alimentares, estabelecer um padro regular de

    refeies, incrementar a variedade de alimentos consumidos, corrigir deficincias

    nutricionais e estabelecer prticas de alimentao saudveis (Latterza et al., 2004).

    No que diz respeito ao tratamento farmacolgico, so utilizados antidepressivos, que

    reduzem a frequncia dos episdios bulmicos e dos vmitos, alm de atuarem em

    sintomas ansiosos e depressivos, quando presentes (Waller, 2005).

    2.6.4. Diabetes mellitus tipo II

    A diabetes, tambm conhecida por diabetes mellitus, uma doena crnica definida

    como um grupo de doenas do metabolismo, que pode ter varias causas e que

    caracterizado pelo aumento da glicose no sangue, acompanhado de uma alterao do

    metabolismo dos hidratos de carbono, das gorduras e das protenas. Na base destas

    alteraes esto anomalias na secreo pancretica de insulina, na sua aco ou em

    ambas (Medina, 2011). Os efeitos do diabetes mellitus incluem danos a longo prazo,

    disfuno e falncia de vrios rgos (WHO, 2012).

    Esta patologia constitui um grave problema de sade pblica pela sua alta frequncia na

    populao, pelas suas complicaes, mortalidade, altos custos financeiros e sociais

    envolvidos no tratamento e deteriorao significativa da qualidade de vida (Pres et al

    2006).

  • Regulao do apetite e o papel da farmacologia

    25

    Existem dois tipos principais de diabetes, a diabetes tipo 1 e a diabetes tipo 2, sendo que

    a ltima constitui uma maior importncia neste estudo. A diabetes tipo 1 resulta da

    destruio das clulas pancreticas produtoras de insulina (clulas beta), o que implica

    deficincia absoluta de insulina. uma doena auto-imune, desenvolve-se geralmente

    na infncia e na adolescncia e os pacientes necessitam de injees de insulina ao longo

    da vida para a sua sobrevivncia (WHO, 2012; Medina, 2011; Yokota et al., 2005).

    A diabetes tipo 2 resulta de uma diminuio progressiva da secreo de insulina

    associada a um estado de resistncia insulina (insulinorresistncia) (Raalte e Diamant,

    2011). Geralmente desenvolve-se em idades adultas e est a aumentar em crianas e

    adolescentes. Este tipo de diabetes a mais prevalente, que representa 90% dos casos

    diabticos em todo o mundo (WHO, 2012; Medina, 2011).

    Esta patologia est relacionada, sobretudo, com os estilos de vida moderna, constitudos

    por uma ingesto exagerada de calorias e uma vida sedentria (a maior parte destes

    doentes tem excesso de peso) (Medina, 2011). Esta, ocorre mais frequentemente em

    indivduos obesos, com hipertenso arterial e com dislipidemia (WHO, 2012).

    A diabetes tipo 2 tem uma evoluo mais lenta, muitas vezes quase sem sintomas ou

    com alguns, no valorizados pelo individuo. Um aumento da frequncia urinria

    (poliria), a sensao de sede (polidipsia), a sensao de fome (polifagia), a perda de

    peso inexplicvel, dormncia nas extremidades, dores nos ps, viso turva, infees

    recorrentes ou graves e a perda de conscincia ou coma so os sintomas desta patologia

    (WHO, 2012).

    No individuo no-diabtico, a glicose no sangue varia entre 70 e 80 mg/dl e no

    ultrapassa os 100 mg/dl, em jejum. Num perodo aps a refeio, o valor de glicose no

    sangue deve ser inferior a 140 mg/dl. Existem alguns critrios para o diagnstico desta

    doena, sendo eles referidos abaixo.

    Um dos critrios de diagnstico quando uma pessoa tem sintomas de diabetes e o

    valor da glicose no sangue (colheita a qualquer hora do dia) superior ou igual a 200

    mg/dl. Quando o valor da glicose em jejum superior ou igual a 126 mg/dl, quando

    numa prova de tolerncia glicose (ingesto de um copo de gua com 75g de glicose), o

    valor da glicose na colheita duas horas aps o incio da prova for superior ou igual a 200

  • Regulao do apetite e o papel da farmacologia

    26

    mg/dl e um valor de hemoglobina (HgA1C) superior ou igual a 6,5 % so tambm

    critrios de diagnstico na diabetes (Medina, 2011).

    A hiperglicemia, as suas consequncias metablicas, a hipertenso arterial, a alterao

    das gorduras do sangue, a tendncia para trombose e outras alteraes que se podem

    associar so responsveis pelo desenvolvimento das complicaes vasculares e/ou

    neurolgicas desta patologia.

    No que diz respeito ao tratamento, este tem como principal objetivo aliviar os sintomas

    e prevenir o aparecimento de complicaes, visando nveis normais de glicose no

    sangue. Uma vez que, este tipo de diabetes aparece sobretudo em indivduos com

    excesso de peso, a adoo de um regime alimentar e a prtica de exerccio fsico

    desempenham um papel fundamental no tratamento. Posteriormente, para manter o

    estado metablico normal ter, na maior parte dos casos, que iniciar tratamento com

    medicamentos orais (sulfonilureias, agonistas do GLP-1, biguanidas entre outros), uma

    combinao de medicamentos orais e insulina, ou s com insulina (WHO, 2012;

    Medina, 2011).

    Outras categorias da diabetes incluem a diabetes gestacional, sendo um estado de

    hiperglicemia que se desenvolve durante a gravidez e outros tipos especficos de

    diabetes devido a outras causas, tais como defeitos genticos na funo das clulas beta,

    anomalias genticas na aco da insulina, doenas do pncreas excrino e induzida por

    frmacos ou agentes qumicos (tratamento da sida ou aps transplante de rgos)

    (WHO, 2012; Medina, 2011).

    2.7. Frmacos estimulantes do apetite

    Os frmacos estimulantes do apetite so tambm conhecidos como frmacos orexgenos

    e estes esto indicados em patologias como a anorexia, a caquexia, so utilizados em

    acompanhamentos de tratamentos de quimioterapia/radioterapia e em utentes que

    apresentem uma perda de peso acentuada, nomeadamente em internamentos (Waitzberg

    et al, 2004).

    Os estimulantes de apetite mais estudados atualmente so os agentes progestacionais, ou

    seja, os derivados sintticos da hormona progesterona, nomeadamente o acetato de

  • Regulao do apetite e o papel da farmacologia

    27

    megestrol. Outra linha de frmacos mais estudados so os corticoesterides (Silva,

    2006; Yeh e Schuster, 2006).

    2.7.1. Acetato de megestrol

    O acetato de megestrol pode induzir o apetite por estimulao do neuropeptdeo Y

    (NPY) no hipotlamo, atravs da modulao do canal de clcio presente no ncleo

    ventro-medial (VMH) do hipotlamo, conhecido como o centro da saciedade. Outra

    forma de atuao pela inibio da atividade das citocinas pr-inflamatrias como a

    interleucina 1 (IL-1), a interleucina 6 (IL-6) e o fator de necrose tumoral- (TNF-).

    Vrios estudos demonstraram uma diminuio dos nveis sricos destas citocinas em

    pacientes com cancro aps o tratamento com este frmaco (Yeh e Schuster, 2006).

    Estudos realizados em pacientes com cancro, comparando frmacos progestacionais

    com placebo, concluram que o acetato de megestrol numa dosagem tima equivalente a

    800 mg/dia, promoveu o aumento significativo do apetite, uma maior ingesto de

    calorias, bem como um ganho de peso corporal associado a uma sensao de bem-estar

    (Campos, 2003).

    Contudo, o acetato de megestrol pode induzir raramente fenmenos tromboemblicos,

    sangramento uterino espontneo, edema perifrico, hiperglicemia, hipertenso,

    supresso e insuficincia adrenal (se o tratamento for interrompido bruscamente).

    Embora os pacientes raramente tenham de interromper o uso deste frmaco devido aos

    seus efeitos adversos, este medicamento est contra-indicado em caso de doenas

    tromboemblica/trombtica, em cardiopatias e em pessoas com risco de reteno

    hdrica (Campos, 2003).

    2.7.2. Prednisolona e dexametasona

    A Prednisolona e a dexametasona so frmacos derivados dos corticosterides. Estes,

    tm sido alvo de vrios estudos demonstrando que o tratamento com prednisolona (dose

    15 mg/dia) em conjunto com a dexametasona (dose 3 a 6 mg/dia) tem promovido o

    aumento do apetite, em relao ao placebo (Campos, 2003).

    O mecanismo de ao dos glicocorticides sobre o apetite est relacionado com a

    inibio da sntese e/ou libertao das citocinas pr-inflamatrias, como o fator de

  • Regulao do apetite e o papel da farmacologia

    28

    necrose tumoral- (TNF-) e a interleucina 1 (IL-1), que diminuem a ingesto alimentar

    diretamente ou atravs de mediadores anorexgenos, como a leptina e a serotonina

    (Castejn et al., 2010; Campos, 2003).

    A utilizao deste tipo de frmacos provoca alguns efeitos secundrios, tais como

    hipertenso, hipertrigliceridemia, hiperglicemia, alopecia, edema, e quando utilizados

    em grandes doses pode levar ao aparecimento da sndrome de Cushing. Alm destes

    efeitos, pode provocar um efeito imunossupressor, indesejvel em pacientes com cancro

    (Castejn et al., 2010).

    2.7.3. Tetrahidrocanabinol (THC)

    O tetrahidrocanabinol o princpio ativo dos agentes canabinides (marijuana e seus

    derivados) e encontrado sinteticamente na forma de Dronabinol. Este frmaco, ao

    contrrio dos citados acima, utilizado como tratamento de segunda linha (Campos,

    2003).

    A melhoria do humor, a estimulao do apetite e o ganho de peso so efeitos positivos

    do uso de canabinides. Estes, atuam nos recetores da endorfina, inibindo a sntese de

    prostaglandina ou inibindo a secreo de interleucina 1 (IL-1). Os efeitos secundrios

    mais comuns so a euforia, confuso mental e sonolncia (Castejn et al., 2010; Silva,

    2006; Campos, 2003).

    2.8. Frmacos inibidores do apetite

    A crescente preocupao com a sade, a procura de bem-estar e o culto da beleza tm

    dado lugar cada vez mais ao aparecimento e procura de frmacos inibidores do apetite

    (frmacos anorexgenos). Por outro lado, patologias como a obesidade, deve ser

    reconhecida como uma enfermidade e tratada como tal. Os pacientes devem

    compreender que a perda de peso muito mais do que uma medida cosmtica e visa

    reduo da morbidade e mortalidade associadas obesidade (Nonino-Borges et al.,

    2006).

    A farmacoterapia para a perda de peso s recomendada para doentes obesos que no

    conseguem uma perda de peso atravs da dieta e da atividade fsica e com IMC 30

    Kg/m2 ou IMC 27 Kg/m2 associados a fatores de risco (Gonalves, 2011).

  • Regulao do apetite e o papel da farmacologia

    29

    2.8.1. Orlistato (Alli)

    O orlistato, mais conhecido como Alli, um anlogo mais estvel e parcialmente

    hidrolisado da lipstatina (tetrahidrolipstatina), um inibidor irreversvel da lpase

    pancretica. Este, um composto lipoflico que exerce a sua atividade no lmen do

    estmago e do intestino delgado atravs do estabelecimento de uma ligao covalente

    ao local ativo das lpases gstrica e pancretica. Consequentemente, as enzimas

    referidas so inativadas, impedindo a hidrlise dos triacilglicerois, provenientes dos

    alimentos, em cidos gordos livres e monoacilglicerois. Uma vez que os triacilglicerois

    no digeridos no so absorvidos, estes so posteriormente excretados pelas fezes. Por

    sua vez, ocorre um dfice calrico e um efeito positivo na perda de peso (Figura 6)

    (Gonalves, 2011; Mancini e Halpern, 2006).

    Figura 6 Mecanismo de ao do orlistato (Alli) (adaptado de GlaxoSmithKline, S/D)

    Assim, o orlistato produz uma reduo na absoro intestinal de gorduras da dieta em

    cerca de 30%, podendo promover a perda de peso, a manuteno da perda de peso a

    longo prazo e impedir a sua recuperao em pacientes obesos em conjunto com uma

    dieta de restrio calrica (Gonalves, 2011).

    Este frmaco, no tem uma atividade sistmica e no apresenta qualquer efeito sobre os

    circuitos neuronais do controlo do apetite. Porm, o efeito farmacolgico do orlistato

    estimula a longo prazo a um consumo de alimentos com menor teor em gordura

    (Mancini e Halpern, 2006).

  • Regulao do apetite e o papel da farmacologia

    30

    Neff e Aronne (2007) realizaram uma reviso de ensaios clnicos randomizados

    demonstrando que o orlistato uma terapia eficaz coadjuvante da perda de peso, alm

    de apresentar uma reduo dos nveis de triacilglicerois e do colesterol LDL. Outros

    estudos sugerem, tambm, que este frmaco melhora a tolerncia oral glicose e

    diminui a presso arterial.

    No que diz respeito aos efeitos secundrios, apesar do orlistato ser um princpio ativo

    relativamente seguro, este pode desencadear efeitos gastrointestinais resultantes da

    deficiente absoro de gorduras. Sintomas, tais como, fezes lquidas gordurosas,

    diarreia, flatulncia, dor e distenso abdominal, dispepsia e incontinncia anal so

    evidentes aps uma refeio rica em gorduras. Ansiedade, diverticulose, reaes de

    hipersensibilidade, bolhas na pele, colelitase e sangramento rectal so outros efeitos

    secundrios descritos (Gonalves, 2011; GlaxoSmithKline, S/D).

    O Alli (cpsulas de 60 mg) o primeiro e nico medicamento para perder peso sem

    prescrio mdica, aprovado na Unio Europeia. Este, utilizado para o tratamento de

    doentes obesos ou com excesso de peso com um IMC 28 Kg/m2. A dose recomendada

    de uma cpsula de 60 mg trs vezes por dia, durante ou at uma hora depois da

    refeio. Este frmaco est contra indicado em pacientes com hipersensibilidade

    substncia ativa ou a qualquer outro excipiente, em pacientes que tomam

    concomitantemente ciclosporina, varfarina ou outros anticoagulantes orais, em pacientes

    com sndrome de m absoro crnica ou colestase, assim como em mulheres grvidas

    ou a amamentar (GlaxoSmithKline, S/D).

    2.8.2. BioActivo Slim Duo

    O Bioactivo Slim Duo um suplemento que ajuda a melhorar a relao

    gordura/msculo, alm de promover uma manuteno da massa muscular. Este,

    constitudo por carnipure, ch verde e CLA (cido linoleico conjugado), sendo assim

    considerado um frmaco 100 % natural (BioActivo Slim Duo, 2012).

    As substncias ativas citadas acima, estimulam o processo de combusto de gordura,

    promovendo assim a queima dos depsitos de gordura desagradveis e pouco saudveis.

    Simultaneamente, este suplemento ajuda a prevenir a acumulao de gordura nas clulas

    gordas (BioActivo Slim Duo, 2012).

  • Regulao do apetite e o papel da farmacologia

    31

    Ao contrrio da maior parte dos frmacos usados para emagrecer, este tem um efeito de

    24 horas. As substncias ativas (carnipure, ch verde, CLA) apresentam um efeito de

    manuteno do metabolismo corporal da gordura, sendo que os estudos demonstraram

    que uma das substncias (CLA) atua durante a noite (BioActivo Slim Duo, 2012).

    O ch verde aumenta a oxidao da gordura quando tomado refeio em mais de 30%,

    uma vez que este estimula o metabolismo heptico, inibe a ao das lpases e estimula a

    termognese. A Carnipure atua transportando a gordura at s mitocndrias das clulas,

    melhorando a oxidao da gordura fornecendo mais energia (Teixeira, 2009).

    O CLA (cido linoleico conjugado) diminui a adiposidade, pois promove a apoptose dos

    adipcitos e diminui a absoro dos triacilglicerois. Outros estudos indicam tambm

    que esta substncia diminui a percentagem de gordura corporal pelo aumento do gasto

    energtico e promove o aumento da oxidao de gordura (Close et al., 2007).

    Como referido acima, o CLA atua durante a noite, sendo que os estudos referem que

    este promove a combusto de cerca de 13 % da gordura durante o sono (Close et al.,

    2007).

    2.8.3. Obesimed Forte

    O Obesimed Forte ao contrrio dos frmacos citados acima no queima calorias, mas

    facilita a tarefa de manter o apetite sob controlo e ajuda a diminuir as doses de

    alimentos ingeridos durantes as refeies. Assim, o doente passa a comer menos e deixa

    de sentir fome mais rapidamente e durante perodos de tempo mais longos.

    Este frmaco constitudo por uma combinao de polissacardeos Omtec 19 e

    OmtecX, sendo considerados como uma mistura de fibras com elevada viscosidade e

    solubilidade. Estas atuam de forma sinergtica e atingem uma viscosidade e expanso

    por meio do uso de gua, trs vezes superior mesma quantidade quando comparadas

    com fibras normais. Desta forma, formada uma matriz em gel de elevada viscosidade

    no estmago, criando uma sensao de saciedade com uma refeio mais pequena e o

    atraso da digesto. Estes polissacardeos so especialmente eficazes na diminuio do

    apetite, na reduo dos nveis de colesterol e na promoo de um equilbrio dos nveis

    de acar no sangue.

  • Regulao do apetite e o papel da farmacologia

    32

    Vrios estudos realizados concluram que existe uma ligao entre os nveis de acar

    no sangue e o apetite. Os nveis de acar no sangue variam ao longo do dia e como tal,

    ocorre uma maior ou menor sensao de fome que pode conduzir a um excesso de peso,

    uma vez que um baixo teor de acar no sangue aumenta o apetite. O acar no sangue

    importante para a sade e para tal necessrio manter a quantidade de glucose

    suficiente para dispormos de energia e mantermos as funes fsicas. Caso o nvel de

    acar no sangue seja insuficiente, o crebro assume uma situao de emergncia e

    cria a sensao de fome. Atravs da ingesto de alimentos, o organismo reage de modo

    a que os nveis de glucose atinjam o equilbrio, pelo menos, at que a prxima quebra

    de glucose ative mais uma vez o apetite. Assim sendo, todas as pessoas que sofrem de

    um desequilbrio do teor de acar no sangue dificilmente deixam de comer em demasia

    e consequentemente ocorre a ingesto de um nmero indesejado de calorias. Desta

    forma, o Obesimed Forte corrige os hbitos alimentares, regulando o apetite ao evitar

    quebras acentuadas do teor de glicose no sangue e ao atrasar o processo digestivo.

    O Obesimed Forte est indicado para adultos com um excesso de peso superior a10 kg

    ou mais ou com um IMC28. A dose recomendada de 1 a 2 cpsulas trs vezes ao dia

    antes de cada refeio com pelo menos um copo de gua. Este frmaco est

    contraindicado em mulheres grvidas ou a amamentar, no caso de doentes diabticos

    importante que estes monitorizem os nveis de acar no sangue corretamente, uma vez

    que o Obesimed Forte reduz o nvel de glicose no sangue. O Obesimed Forte no deve

    ser utilizado por pessoas que sejam sensveis a um ou mais ingredientes, que sofram de

    distrbios gastrointestinais e em doentes com histria de estenose esofgica ou

    anormalidades pr-existentes intestinais. Relativamente aos efeitos secundrios,

    comum a ocorrncia de fezes finas ou soltas, diarreia leve, refluxo esofgico, flatulncia

    e obstipao (Obesimed Forte, 2012).

  • Regulao do apetite e o papel da farmacologia

    33

    Parte III. Metodologia

    3.1. Desenho de estudo

    Face contextualizao desenvolvida precedentemente e explicitao do problema,

    possvel formular as seguintes hipteses de trabalho:

    Hiptese 1: Os dados scio-demogrficos e a regulao do apetite esto

    correlacionados;

    Hiptese 2: O ndice de massa corporal e a regulao do apetite esto correlacionados;

    Hiptese 3: A presso arterial, a glicemia, o colesterol e os triglicerdeos e a regulao

    do apetite esto correlacionados;

    Hiptese 4: Os frmacos estimuladores e inibidores do apetite e a regulao do apetite

    esto correlacionados;

    Hiptese 5: Os hbitos alimentares e a regulao do apetite esto correlacionados;

    Hiptese 6: Os hbitos de sono e a regulao do apetite esto correlacionados;

    Hiptese 7: A prtica de exerccio fsico e a regulao do apetite esto correlacionados;

    3.2. Amostra e processo de amostragem

    A amostra utilizada no presente estudo era composta por 50 elementos, onde consta

    uma seleo aleatria de indivduos, do gnero masculino e feminino, que se

    deslocaram Farmcia Unio (Talhadas Sever do Vouga) para a medio de alguns

    parmetros, nomeadamente tenso arterial, colesterol total e triglicerdeos. Todos os

    participantes mostraram-se disponveis e aderiram voluntariamente ao estudo.

    Acerca das finalidades do estudo decorrente poder acrescentar-se que os participantes

    foram devidamente informados e esclarecidos, onde forneceram consentimento

    informado para a participao no mesmo. Adicionalmente, os questionrios foram

    entregues aos indivduos e posteriormente procedeu-se sua recolha.

  • Regulao do apetite e o papel da farmacologia

    34

    3.3. Instrumentos de recolha de dados

    Neste contexto, foi aplicado um questionrio de forma a avaliar os seguintes aspetos:

    dados scio-demogrficos e clnicos, avaliao corporal geral, hbitos de sono, bem

    como, hbitos alimentares e a prtica de exerccio fsico.

    3.4. Mtodos

    Com o propsito de analisar possveis problemas com a regulao do apetite foi

    estudado um grupo de variveis resposta (variveis dependentes), de forma a

    compreender a sua variao ou frequncia. Ser tambm analisado um conjunto de

    variveis explicativas (variveis independentes).

    Para efetuar a anlise dos resultados sero apresentados, quadros de frequncia, bem

    como quadros com a mdia, mnimo, mximo e desvio padro para cada uma das

    variveis. Adicionalmente sero tambm apresentados grficos que demonstram tanto

    quanto possvel, os princpios bsicos da fidelidade e validade dos resultados.

    Posteriormente, sero efetuados testes de comparao de mdias (teste t bilateral), assim

    como testes de correlao, ambos com um nvel de significncia de 5%.

    Para tal, usaram-se como valores padro de IMCmdio Portugal 25 kg.m2

    (WHO, 2012),

    IMCmdio Obeso 30 kg.m2

    (WHO, 2012), Presso arterial sistlica 130 mmHg

    (Santos et al., 2005), Presso arterial diastlica 85 mmHg (Santos et al., 2005),

    Colesterolmdio Portugal = 190 mg.dl-1

    (Bermudez e Mendes, 2010), Glicemiamdia

    Portugal 110 mg.dl-1 (Santos et al., 2005), Triglicerdeosmdio Portugal 150 mg.dl-1

    (Santos et al., 2005), N medio horas de sono = 8h (Time Health, 2008).

    3.5. Tratamento dos dados

    As variveis resposta utilizadas neste estudo foram a dificuldade da regulao do apetite

    e a utilizao de frmacos para este efeito. Por sua vez, as variveis explicativas foram o

    sexo, a idade, a profisso, as habilitaes literrias, o IMC, os dados clnicos (Presso

    arterial, glicemia, colesterol e triglicerdeos), os hbitos alimentares, os hbitos de sono

    e os hbitos da prtica de exerccio fsico.

    Por sua vez, foram realizados testes t de maneira a comparar as diferenas entre as

    mdias e os ndices de correlao foram avaliados de acordo com o coeficiente de

  • Regulao do apetite e o papel da farmacologia

    35

    correlao de Spearman. Para ambos os testes, utilizou-se um nvel de significncia de

    5%. O instrumento de tratamento de dados estatsticos utilizado foi o SPSS, verso 20

    para Windows.

  • Regulao do apetite e o papel da farmacologia

    36

    Parte IV: Apresentao e discusso

    dos resultados

    4.1. Dados scio-demogrficos (N=50)

    Relativamente ao gnero, pudemos observar no quadro 2 que a amostra era constituda

    por 50 inquiridos, sendo esta composta por 70 % (35) de mulheres e por 30 % (15) de

    homens.

    Quadro 2 - Frequncia sexo da amostra (N=50)

    Varivel: Sexo N %

    F 35 70,0

    M 15 30,0

    No que concerne s idades dos participantes estas variaram entre os 25 e os 87 anos,

    sendo a mdia das idades igual a 54,40 (15,56) (Quadro 3).

    Quadro 3 - Idade dos inquiridos (N=50)

    Varivel: Idade N %

    25-40 12 24,0

    41-55 14 28,0

    56-70 15 30,0

    71-87 9 18,0

    Como se pode verificar no quadro 4, a amostra era constituda maioritariamente por

    mulheres entre os 25 e os 55 anos, enquanto os homens apresentaram na sua maioria

    idades superiores, entre os 56 e os 70 anos.

  • Regulao do apetite e o papel da farmacologia

    37

    Quadro 4 - Idade dos inquiridos de acordo com o gnero (N=50)

    Varivel: Idade Mulheres

    N(%)

    Homens

    N (%)

    25-40 10 (28,57) 2 (13,33)

    41-55 10 (28,57) 4 (26,67)

    56-70 9 (25,71) 6 (40,0)

    71-87 6 (17,14) 3 (20,0)

    No que diz respeito s habilitaes literrias (Quadro 5), podemos constatar que a

    maioria da populao (56%) possui apenas o 1 ciclo (4 classe). Esta percentagem

    relativamente elevada vulgar, uma vez que Portugal considerado, segundo vrios

    estudos atuais, dos pases com maiores carncias na educao, sendo que em 2005 as

    habilitaes literrias em indivduos de idades compreendidas entre os 25 e os 64 anos,

    o 9 ano foi a escolaridade mxima atingida em trs quartos das pessoas (Candeias e

    Simes, 1999).

    Quadro 5 - Habilitaes Literrias dos inquiridos (N=50)

    Segundo os dados apresentados abaixo (quadro 6), os nveis de escolaridade elevam-se

    nas mulheres, porm 51,4 % destas possuem apenas o 1 ciclo. Relativamente aos

    homens, estes apresentam