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REFORMAS ADMINISTRATIVAS E SUA CONTINUIDADE COM MUDANÇAS DE GOVERNOS: OS CASOS DA BAHIA E DE PERNAMBUCO Patrícia Laczynski Regina Silvia Pacheco

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REFORMAS ADMINISTRATIVAS E SUA

CONTINUIDADE COM MUDANÇAS DE GOVERNOS: OS CASOS DA BAHIA E DE PERNAMBUCO

Patrícia Laczynski Regina Silvia Pacheco

II Congresso Consad de Gestão Pública – Painel 60: Política e administração: continuidade e mudança dos governos

REFORMAS ADMINISTRATIVAS E SUA CONTINUIDADE COM MUDANÇAS DE

GOVERNOS: OS CASOS DA BAHIA E DE PERNAMBUCO

Patrícia Laczynski Regina Silvia Pacheco

RESUMO Desde as últimas eleições para governos estaduais, e a posse em 2007 dos governos eleitos, o tema da gestão pública ganhou destaque na agenda de políticas públicas. O presente texto aborda experiências de governos estaduais que vêm obtendo resultados na melhoria do desempenho da máquina governamental. Mais especificamente, interessa aqui discutir casos em que, apesar da mudança significativa de orientação política do governo eleito, vêm sendo desenvolvidas ações que apontam no sentido da continuidade das reformas administrativas iniciadas no governo anterior. Assim, são analisados os casos da Bahia e de Pernambuco. O tema da continuidade das reformas administrativas em governos de orientação política contrária, no Brasil, se destaca não só pela pouca atenção de pesquisadores, mas também por ser uma novidade em termos da cultura político-administrativa, cujos traços abrangem a descontinuidade e reversão de políticas como marco do calendário eleitoral. O texto pretende contribuir ao levantar pontos para reflexão e servir de estímulo para pesquisas mais aprofundadas sobre estes casos e sobre o tema em análise. Este trabalho apresenta as reformas administrativas durante as gestões de 2003-2006 no estado da Bahia, e 1999-2002 e 2003-2006 em Pernambuco. Em seguida, identifica e apresenta algumas ações que indicam a continuidade dos principais programas nos governos seguintes (desde 2007), embora sejam de posição partidária e até ideológica contrária aos governos que os antecederam. Três grupos de hipóteses são traçados. Em um primeiro plano, três hipóteses apontam o sucesso alcançado da NPG em escala nacional, uma vez que levantam o caráter inovador dos programas referentes às reformas administrativas; a consolidação destes programas e a pouca margem para um novo governo desmontá-los; e o fato do tema da NPG ter entrado na agenda nacional e ser consenso de que este modelo de gestão traz benefícios para a administração pública, independente da orientação ideológica do governo. Uma outra hipótese, considerada pouco plausível, embora levantada por um dos maiores especialistas no tema, refere-se ao fato de o governo federal implementar o Programa Nacional de Apoio à Modernização da Gestão e do Planejamento dos Estados (PNAGE), estimulando os governos estaduais que integram sua base aliada a também aprovar a modernização administrativa. Em terceiro lugar, é considerada uma contra-hipótese, que considera, ao final da análise empreendida, não estarmos diante de continuidade da reforma em governos de oposição, mas sim diante de meras ações, que não se constituem em política pública compatível com o ideário da NGP. A hipótese considerada mais plausível trata de estabelecer distinção entre ‘não reversão de ações’ e ‘continuidade da reforma’; não se apóia no pressuposto de que os princípios da Nova Gestão Pública tenham alcançado consenso e sucesso no Brasil.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO........................................................................................................... 03

1 NOVA GESTÃO PÚBLICA E GOVERNOS ESTADUAIS....................................... 05

2 BAHIA..................................................................................................................... 08

3 PERNAMBUCO...................................................................................................... 12

4 CONTINUIDADE X MUDANÇA POLÍTICA............................................................. 15

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................... 18

REFERÊNCIAS.......................................................................................................... 20

3

INTRODUÇÃO

Desde as últimas eleições para governos estaduais, e a posse em 2007

dos governos eleitos, o tema da gestão pública ganhou destaque na agenda de

políticas públicas, tendo mesmo sido alvo da disputa política, possivelmente pela

primeira vez no Brasil, durante a campanha que levou à reeleição do governador de

Minas Gerais. O tema da reforma administrativa já havia ingressado na agenda dos

governos subnacionais a partir do final dos anos 1990, sob o impulso da proposta

Bresser e para fazer frente ao imperativo do ajuste fiscal (Abrucio, 2005; Abrucio e

Gaetani, 2006). As análises, no entanto, centraram-se na esfera federal, via de regra

privilegiando o tema do fracasso das reformas. O presente texto abordará

experiências de governos estaduais que vêm obtendo resultados na melhoria do

desempenho da máquina governamental. Mais especificamente, interessa aqui

discutir casos em que, apesar da mudança significativa de orientação política do

governo eleito, vêm sendo desenvolvidas ações que apontam no sentido da

continuidade das reformas administrativas iniciadas no governo anterior. Assim,

serão analisados os casos da Bahia e de Pernambuco.

A continuidade do sentido das reformas em governos de orientação

política distinta ou oposta já tem sido constatada na literatura, a partir de

experiências de outros países (Ferlie et al., 1996; Bresser, 1998); tais análises

enfatizaram a inadequação das tentativas de identificar ao campo político

conservador as propostas de reforma empreendidas nas últimas décadas. Assim,

estudos apontaram que reformas iniciadas por governos conservadores tiveram

continuidade com governos progressistas (ou menos conservadores) que os

sucederam – mesmo com correção de alguns rumos, o sentido da reforma foi

mantido e em muitos casos aprofundado. Em outros casos, foi o analista que mudou

sua visão sobre as reformas em curso (Pollitt & Bouckaert, 2002).

No Brasil, o tema da continuidade das reformas administrativas em

governos de orientação política contrária se destaca não só pela pouca atenção de

pesquisadores, mas também por ser uma novidade em termos da cultura político-

administrativa, cujos traços abrangem a descontinuidade e reversão de políticas

como marco do calendário eleitoral. O presente texto buscará discutir o tema no

campo específico das políticas voltadas à melhoria da gestão pública.

4

A análise é exploratória, em parte pela dificuldade de levantamento de

dados. Não há registros na internet sobre o que as atuais gestões estão

promovendo em relação à modernização administrativa. Enquanto há relatórios de

gestão dos governos anteriores, foi necessário conseguir conversar com os gestores

atuais sobre o tema, para levantar informações sobre as ações em curso. Com

relação à Bahia, foi possível fazer algumas entrevistas. No caso de Pernambuco, no

entanto, foi mais difícil o acesso aos atuais responsáveis, resultando que as fontes

de informação, em sua maioria, foram obtidas com o gestor do governo anterior,

agora na qualidade de observador da atuação da presente administração 1.

Também não foi possível realizar pesquisa de campo, entrevistar os

gestores e servidores e conhecer in loco as secretarias e órgãos públicos envolvidos

com as reformas administrativas. No entanto, apesar dessas limitações, este texto

pretende contribuir ao levantar pontos para reflexão e servir de estímulo para

pesquisas mais aprofundadas sobre estes casos e sobre o tema em análise.

Este trabalho apresenta as reformas administrativas durante as gestões

de 2003-2006 no estado da Bahia, e 1999-2002 e 2003-2006 em Pernambuco. Em

seguida, identifica e apresenta algumas ações que indicam a continuidade dos

principais programas nos governos seguintes (desde 2007), embora sejam de

posição partidária e até ideológica contrária aos governos que os antecederam.

Os casos escolhidos se referem à Bahia e a Pernambuco, pois,

juntamente com Minas Gerais, talvez sejam os mais avançados no país, no que diz

respeito à modernização da gestão pública e porque, diferentemente de Minas

Gerais, houve alteração de governo, com a eleição de candidatos que faziam

oposição aos governadores anteriores.

As reformas baiana e pernambucana são apresentadas inseridas em um

quadro geral dos avanços da Nova Gestão Pública (NGP) nos estados brasileiros.

Com isso, ao final do trabalho, são levantadas algumas questões e hipóteses sobre

sua manutenção.

Além desta introdução e das considerações finais, o trabalho será assim

estruturado: II- a NGP e sua implementação pelos governos estaduais ; III e IV-

apresentação das reformas administrativas na Bahia e em Pernambuco; e V-

discussão sobre a continuidade das reformas.

5

1 NOVA GESTÃO PÚBLICA E GOVERNOS ESTADUAIS

O modelo da Nova Gestão Pública (NGP) ou New Public Managment

serviu de inspiração para diversas reformas administrativas no mundo, a partir do

final dos anos 1980 (em especial na década de 90)2. Seu conteúdo evoluiu ao longo

das mais de duas décadas de implementação, sendo intenso o debate a este

respeito, incluindo a questão sobre sua atualidade ou se seria já uma tendência

abandonada pelos reformadores3. Para fins deste trabalho, a NGP é enfocada como

o conjunto de mudanças na direção de aumentar a qualidade da gestão, por meio de

estabelecimento de metas, contratos de resultados e autonomia gerencial, além de

implantar avaliação de desempenho, desagregar as burocracias em agências que se

relacionam em bases contratuais, terceirizar serviços e reduzir custos.

No Brasil, o governo federal apresentou, em 1995, a proposta de reforma

administrativa sintetizada pelo Plano Diretor de Reforma do Aparelho do Estado,

documento elaborado pelo Ministério da Administração Federal e Reforma do

Estado, sob a liderança do Ministro Bresser Pereira. Um dos efeitos da reforma

federal foi a sua disseminação no âmbito dos governos estaduais, sem no entanto

delimitar as iniciativas que se seguiram. Segundo Abrucio e Gaetani (2006), os

governos estaduais inovaram no âmbito das políticas de gestão pública e de forma

autônoma em relação à União. De toda forma, houve antes outras iniciativas de

reforma empreendidas pelo governo federal4, mas quanto aos governos

subnacionais, foi somente a partir de 1995 que os estados se voltaram para a

modernização de sua gestão.

Embora a reforma administrativa federal tenha sido o estímulo inicial para

as reformas estaduais, os Governadores e suas equipes trabalharam de forma

independente, tendo se inspirado nas idéias do então Ministro Bresser Pereira, mas

também construído novas soluções. Ao modernizarem suas gestões, algumas vezes

atingiram resultados mais inovadores do que o governo federal. É claro que o

diálogo entre o governo federal e os estaduais foi muito intenso, o que ajudou ainda

mais os estados a modernizarem suas administrações – em especial em torno da

elaboração do PNAGE5 (Abrucio, 2005). Além disso, integrantes da equipe do MARE

que estavam à frente da reforma administrativa, com as mudanças de governo na

esfera federal, passaram a integrar ou liderar a reforma em gestões estaduais.

6

O entendimento desses movimentos estaduais a favor das reformas

administrativas demanda um esforço de contextualização. Segundo os autores,

cinco fatores impulsionaram as reformas na gestão pública no âmbito estadual: crise

financeira dos governos estaduais; propagação das idéias da NGP, pós-1995;

disseminação de boas práticas e inovações administrativas pelo Brasil;

fortalecimento de fóruns federativos interestaduais; e construção de rede entre

União e estados em prol do PNAGE (Abrucio e Gaetani, 2006).

O Brasil, ao longo dos anos 1990, passou por uma série de reformas,

muitas delas com impactos sobre os estados e municípios. A implementação do

FUNDEF, por exemplo, fortalecendo o que se pode chamar de um sistema público

integrado de financiamento da educação, teve impacto sobre os estados na medida

em que redirecionou recursos para o financiamento do ensino médio e fundamental

e definiu as atribuições e competências de estados e municípios em termos dos

referidos financiamentos. Outra reforma em termos de políticas públicas que indica o

fortalecimento de um sistema público foi a criação da Norma Operacional Básica

(NOB/96) no interior do Sistema Único de Saúde (SUS) e a criação do Piso de

Atenção Básica (PAB) como mecanismos, respectivamente, de regulação e de

financiamento de certos serviços de saúde básica, com impactos importantes sobre

estados e municípios. Ainda neste movimento de criação de instrumentos de

fortalecimento de sistemas integrados de políticas públicas, pode-se citar a

regulamentação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) e os mecanismos

de redistribuição de recursos do Fundo de Amparo do Trabalhador (FAT) para

financiar políticas de qualificação profissional de estados e municípios.

O movimento de reformas foi mais amplo e contundente no que dizia

respeito à política monetária e às finanças públicas. No que diz respeito à política

monetária, foi implantado o Plano Real que, ao estabilizar a moeda e, portanto,

repelir o fenômeno inflacionário, elimina a "nuvem de fumaça" que impedia toda e

qualquer forma de planejamento financeiro seja de empresas e famílias, seja do

governo; e exigiu novas formas de financiamento do governo para além do

financiamento por meio do "imposto inflacionário"6.

Com o fim da inflação, o governo perde essa fonte de financiamento e

precisa analisar com mais acuidade suas estruturas de receita e despesa. O que

ocorre, grosso modo, é que os governos, principalmente os governos estaduais,

perceberam que suas fontes de financiamento sem o "imposto inflacionário" eram

7

insuficientes para cobrir as despesas. Desse modo, foi mister criar mecanismos

institucionais para planejar, publicizar e restringir os gastos do governo. Teve origem

a elaboração da Lei de Responsabilidade Fiscal.

É, portanto, nesse contexto, de restrição às formas de financiamento, da

necessidade de planejamento, da reorganização das políticas públicas em sistemas

integrados, que os estados vêem-se compelidos a realizarem ajustes em suas

estruturas.

Por outro lado, com o processo de democratização dos anos 1980 e com

a promulgação da Constituição federal, em 1988, os municípios assumiram muitas

responsabilidades e atribuições, que obrigavam os estados a reverem seu próprio

papel. Ou seja, de executor de política pública, os estados passaram a

formuladores, coordenadores, articuladores e financiadores. No entanto, até hoje, os

estados procuram redefinir seu papel com relação às políticas públicas, uma vez que

a União também avançou no sentido de grande formuladora e coordenadora. Neste

sentido, as atividades-meio acabaram avançando, nas esferas estaduais de

governo, mais do que as atividades fim.

Além do mais, as idéias da NGP foram bastante propagadas no Brasil,

pós-1995. Em 2000, por exemplo, foi criado o Conselho Nacional de Secretários de

Estado da Administração (CONSAD) com os objetivos de trocar experiências e

buscar soluções criativas para o aperfeiçoamento da gestão pública no Brasil; em

2006, o CONSAD organizou um seminário onde as experiências estaduais foram

apresentadas e debatidas7 . Outro fórum para trocar experiência e discutir a gestão

pública, é o Centro Latino de Administración para el Desarrollo (CLAD)8.

Finalmente, e talvez com menos peso, o governo federal, entre 2003 e

2004, articulou o PNAGE, o que também estimulou os estados a atuarem para

melhoria de suas próprias gestões. Segundo Abrucio e Gaetani (2006), o PNAGE

representou consciência da importância de variáveis vinculadas ao planejamento,

aos recursos humanos, à interconexão com políticas públicas e ao atendimento dos

cidadãos.

8

2 BAHIA

Desde 1991 até 2006, o Estado da Bahia tem sido governado por

“carlistas”, ou seja, aliados de Antônio Carlos Magalhães. A começar pelo próprio,

que governou de 15 de março de 1991 a 2 de abril de 1994, os outros cinco

governadores que o sucederam eram seus aliados e, pelo menos na época em que

foram eleitos, integravam o PFL (Partido da Frente Liberal). Em 2006, foi eleito

Jaques Wagner, do PT (Partido dos Trabalhadores), representando vitória da

oposição. Para a política da Bahia, esta vitória significou uma grande ruptura com as

antigas gestões e uma mudança significativa no modo de governar o Estado.

Antônio Carlos Magalhães (PFL) 15 de março de 1991 1 de abril de 1994

Ruy Trindade 2 de abril de 1994 1 de maio de 1994

Antônio Imbassahy (PFL; hoje: PSDB) 2 de maio de 1994 31 de dezembro de 1994

Paulo Souto (PFL) 1 de janeiro de 1995 31 de dezembro de 1998

César Borges (PFL; hoje: PR) 1 de janeiro de 1999 5 de abril de 2002

Otto Alencar 6 de abril de 2002 31 de dezembro de 2002

Paulo Souto (PFL) 1 de janeiro de 2003 31 de dezembro de 2006

Jaques Wagner (PT) 1 de janeiro de 2007 atualidade

Governadores do Estado da Bahia: de 1991 a 2008 (início e término dos mandatos) Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Anexo:Lista_de_governadores_da_Bahia

Com relação à gestão pública, em 1991, o governo da Bahia já inovou

iniciando um trabalho de ajuste fiscal e criando o SAC – Sistema de Atendimento ao

Cidadão. Mesmo antes da discussão dos conceitos e das práticas vinculadas à NGP

no Brasil, a Bahia criou um rigoroso controle de seus gastos e melhorou o

atendimento à população, a partir da oferta de serviços públicos num mesmo local,

evitando a tradicional prática de o cidadão ter de se locomover de um local a outro

em busca dos serviços. O ajuste fiscal contemplou não somente o controle de

gastos, mas também a redução de despesas (com a extinção de 19 organismos e de

1.537 cargos em comissão) e a implantação do programa de privatizações.

O governador Paulo Souto (2003 a 2006), dando continuidade a várias

ações de melhoria da administração iniciadas pelos dois governos anteriores,

avançou ainda mais e implantou a Reforma Administrativa. Seus objetivos eram: “i)

restabelecimento das condições de governança e governabilidade; ii) adequação do

aparato administrativo e de suas práticas de gestão aos novos papéis da

9

administração pública; iii) construção de um modelo de Estado eficiente, moderno,

ágil e comprometido com os interesses do cidadão” (http://www.seplan.ba.gov.br/

relatórios de gestão).

Buscando adequar o aparato administrativo e suas práticas de gestão aos

novos papéis da administração pública e maiores investimentos no bem-estar da

população (principalmente na área social e no atendimento ao cidadão), o governo

estadual trabalhou quatro anos na modernização da máquina administrativa. No

campo dos recursos humanos, o Estado da Bahia investiu na modernização da

gestão de RH, a partir do uso de tecnologias da informação, na criação de carreiras

e de critérios para avaliação de resultados, promoção e premiação dos servidores,

no planejamento e dimensionamento do quadro de pessoal de acordo com a efetiva

necessidade das áreas (secretarias) e na capacitação dos servidores, por meio da

Universidade Corporativa do Estado da Bahia.

O governo do estado mudou seu papel com relação às compras públicas,

passando o órgão central de compras de executor a normatizador e

descentralizando a gestão e contratação de serviços. Além disso, o governo criou

um portal de compras eletrônicas, elaborou um guia de referência das contratações

de serviços no setor público e capacitou os servidores que atuavam nesta área.

O Probahia Digital foi o nome criado para o governo eletrônico, reunindo

ações de inclusão social, telecentros de acesso público gratuito e vários sítios

governamentais, como o portal do próprio governo, o portal do servidor e o portal de

compras eletrônicas. Os serviços de informática foram terceirizados sob novas

modalidades que tiram proveito da conectividade em rede.

O SAC – Serviço de Atendimento ao Cidadão, criado em 1991, possui

hoje mais de 20 postos na capital e interior, além de a criação do SAC Móvel e SAC

Saúde Móvel. Além disso, o governo baiano investiu na modernização da gestão dos

órgãos e entidades da administração pública estadual com o alcance de metas e

resultados e atendimento ao cliente-cidadão.

O governo da Bahia, na gestão do então governador Paulo Souto,

priorizou a gestão descentralizada, as parcerias com o setor privado, com o terceiro

setor e com organismos internacionais; assinou contratos de resultados com

Organizações Sociais, além de ter criado uma Agência Estadual de Regulação de

Serviços Públicos de Energia, Transportes e Comunicações da Bahia – a AGERBA.

10

Alguns aspectos permitem afirmar que a reforma baiana foi formulada e

planejada de forma estratégica. São eles: visão de longo prazo; monitoramento e

acompanhamento constante das ações; registro da experiência e de seus

resultados, por meio de relatórios (divulgados para o público em geral);

disseminação da experiência; um órgão responsável pela reforma (Secretaria de

Administração), com um secretário responsável pelas decisões tomadas e uma

equipe profissional dedicada ao tema; e capacitação profissional. Segundo Pacheco

(2004), estes são alguns elementos que configuram a existência de uma política

pública voltada à melhoria do funcionamento do aparelho do Estado.

A partir de 2007, com a gestão do atual Governador, Jaques Wagner,

houve mudanças na direção das Secretarias de Administração e de Planejamento e

as prioridades acabaram sendo outras. No entanto, os principais programas voltados

à reforma do Estado implementados na gestão anterior foram mantidos. Por

exemplo, o atual governo deu continuidade à capacitação dos servidores, ao

governo eletrônico, à parceria com a Fundação Luis Eduardo Magalhães (Centro de

Desenvolvimento e Modernização da Administração Pública) e à contratação de

Organizações Sociais para gerirem unidades nas áreas de saúde, educação,

tecnologia e agricultura.

Por outro lado, este governo tem prioridades distintas de seu antecessor.

A atual direção da Secretaria de Administração do Estado da Bahia concorda que as

gestões anteriores trabalharam e modernizaram a máquina, mas afirma que o

resultado alcançado foi o da estabilidade. Esta gestão definiu como missão

“caminhar da estabilidade ao desenvolvimento”. Neste sentido, uma das ações e

programas adotados foi o de melhoria da qualidade do gasto, entre outros. O

programa, denominado Compromisso Bahia, tem como objetivos o desenvolvimento

da cultura de responsabilidade dos servidores ao combate ao desperdício, o

monitoramento e avaliação do gasto por parte do governo e a orientação da

administração para a necessidade da reestruturação e aperfeiçoamento dos

processos. Entre alguns resultados apresentados, destaca-se a economia de R$ 11

milhões em serviços de comunicação e telecomunicação entre 2006 e 2007 e a

economia de R$ 2 milhões mensais da Secretaria de Educação em relação ao

contrato de limpeza. A estimativa total de economia que a Secretaria de

Administração tem até o ano de 2010 é de R$ 492 milhões.

11

A atual Secretaria de Administração afirma que suas ações não se

restringem à melhoria da qualidade do gasto, mas que este programa é o prioritário.

Embora seja o desenvolvimento o tema da missão da gestão, o programa

Compromisso Bahia volta para a primeira onda de reforma, ou seja, a economia e o

controle de gastos.

Em relação a algumas inovações, destaca-se a ação da Secretaria de dar

suporte técnico e financeiro para os municípios baianos para modernização dos

processos de planejamento e gestão. O projeto ainda está em fase de implantação e

consiste na estruturação de equipamentos e de pessoal, visando à implantação de

sistemas que viabilizem as gestões municipais. As parcerias deverão ser

consolidadas por meio de convênios de cooperação técnica, envolvendo os

governos federal, estadual e municipal.

Já a Secretaria de Planejamento tem como projeto prioritário o PPA

(Plano Plurianual) Participativo, uma espécie de planejamento territorial participativo.

Para isso, criou no Estado 26 Territórios de Identidade (TI), constituídos a partir da

especificidade dos arranjos sociais e locais de cada região. O PPA Participativo foi

elaborado e será acompanhado com a participação da sociedade civil de cada TI.

Embora as informações sobre a atual gestão tenham sido obtidas por

meio de entrevistas com diferentes gestores, não houve nenhum depoimento que

considerasse uma série de ações integradas que indicasse um programa de

modernização da administração. Também não há nenhum registro na página da

internet do governo baiano de uma estratégia administrativa que integrasse estas e

outras ações.

Em resumo, parece que a atual gestão tem se comprometido em dar

continuidade às ações do governo anterior, mas sem considerá-las uma política

pública mais ampla. Parece ainda que o atual governo tem inovado na relação com

a sociedade civil e com as comunidades de todo o estado, no sentido de construir de

forma participativa um planejamento de médio prazo. Fica ainda a dúvida de como a

atual gestão tem trabalhado a relação intergovernamental, uma vez que o

acompanhamento do PPA Participativo, segundo informação obtida com gestores da

própria Secretaria de Planejamento, é realizado por representantes da sociedade

civil e da Secretaria de Planejamento, sem participação das demais secretarias

estaduais.

12

3 PERNAMBUCO

A Reforma Administrativa em Pernambuco foi concebida em 1999,

quando se iniciou a gestão de Jarbas Vasconcelos (PMDB), reeleito em 2002,

seguindo mais quatro anos no poder. Em 2006, elegeu-se Eduardo Campos (PSB),

perdendo a eleição o ex-vice-governador e candidato de Jarbas Vasconcelos,

Mendonça Filho (PFL). Isto torna ainda mais sensível o tema da continuidade das

ações da reforma, pois, como exposto a seguir, havia sido colocada sob a

responsabilidade do vice-governador, derrotado nas urnas.

A reforma já era prioridade desde a época de transição de governo, em

1998. No primeiro ano de gestão, foi criada a Comissão Diretora da Reforma do

Estado sob coordenação do Vice-Governador Mendonça Filho e com participação de

alguns secretários de Estado. Além da reforma administrativa, o governo Jarbas

Vasconcelos implantou a reforma previdenciária. Ambas as reformas foram

induzidas pelas Emendas Constitucionais 19 e 20, de 19989, o que sinaliza a

importância da Reforma do Estado conduzida pelo então Ministro Bresser Pereira

como um estímulo aos estados para modernizarem suas próprias gestões.

Foi criada uma Secretaria Executiva ligada ao Vice-Governador e

renomeada a Secretaria de Administração e Reforma de Estado (antes era apenas

Secretaria de Administração). Os vetores da reforma abrangeram, de um lado, a

busca pelo equilíbrio fiscal, incluindo a privatização da Cia. de Eletricidade Estadual

em 2000 e a extinção das funções de empresas públicas; de outro, a modernização

da administração dos órgãos públicos que não foram privatizados, por meio do

planejamento estratégico e do PPA (Plano Plurianual), do contrato de gestão com

metas e indicadores e do estabelecimento de um ciclo de monitoramento (de quatro

em quatro meses). A reforma abrangeu também a aplicação de tecnologia da

informação – “governo digital”, e ainda um componente de alteração legal,

aprovando na Assembléia Legislativa as leis necessárias para referendar a reforma.

Outro componente importante da reforma foi o de recursos humanos:

foram criadas a carreira de gestor público, a remuneração variável e a eleição para

diretores de escolas da rede estadual com mandato (cada escola tem contrato de

gestão). Além disso, a Escola de Governo trouxe a proposta de imprimir uma nova

filosofia de gestão pública, formando gestores para melhorar o atendimento e

agilizar os trabalhos prestados aos cidadãos.

13

Uma das maiores inovações que a Reforma Administrativa no Estado

trouxe foi a gestão matricial, que permitiu uma maior interação entre as várias áreas

e secretarias – conforme representado no diagrama abaixo (Pernambuco, Governo

do Estado, 2003):

Este modelo funcionou a partir de uma coordenação estratégica do

governo, exercida por meio de um Conselho Deliberativo de Políticas e Gestão

Públicas, composto por três Câmaras (Político-Institucional; de Desenvolvimento

Econômico; e de Desenvolvimento Social), tendo o Núcleo de Deliberação

Estratégica de Governo a função de integrá-las. Este Núcleo tinha a participação

direta do governador e do vice-governador, e a participação de representantes das

três câmaras.

O modelo adotado permitiu um avanço enorme no que diz respeito às

relações intergovernamentais. Este continua sendo um dos maiores desafios dos

estados que pretendem modernizar as suas gestões; na maioria dos casos, as áreas

responsáveis pela reforma administrativa têm dificuldade de convencer as áreas-fim

a repensarem sua gestão, além de encontrarem fortes resistências em obter

informações e de integrá-las com as de outras áreas.

CÂMARA POLÍTICO-

CÂMARA DE DESENVOLVIMENTO

SOCIAL

Secretário de

Planejamento

Secretário de Cidadania e

Políticas Sociais

Secretário de Educação e

Cultura

Secretário de Saúde

Secretario de

Desenvolvimento Urbano; Secretario de Defesa Social.

CÂMARA DE DESENVOLVIMENTO

ECONÔMICO

Secretário de Planejamento

Secretário da Fazenda

Secretário de

Desenvolvimento

Econômico, Turismo e

Esportes

Secretário de Ciência,

Tecnologia e Meio

Ambiente;

Secretário de Produção Rural

Secretário de Infra-Estrutura

NÚCLEO DE DELIBERAÇAO -Governador

-Vice-Governador

-Representantes

das três Câmaras

Secretário de Planejamento

Secretário de Administração e

Reforma do Estado

Secretário da Fazenda

Gabinete Civil

Procuradoria Geral do Estado

Secretário-chefe da Assessoria

Especial

14

O estado de Pernambuco, na gestão Jarbas Vasconcelos, propôs uma

gestão integrada e matricial de resultados concretos. Além disso, foi possível

destacar alguns elementos que permitiram afirmar que estas duas gestões (1999-

2002 e 2003-2006) formularam e implementaram uma política pública para a

melhoria da gestão. Pode-se destacar: definição clara de impactos esperados; visão

de longo prazo; experimentação e diversidade; consideração das necessidades de

usuários diretos; monitoramento e avaliação das ações; um órgão responsável pela

reforma (Secretaria de Administração e Reforma do Estado), com um secretário

responsável pelas decisões tomadas e uma equipe profissional dedicada ao tema;

um fórum intergovernamental; e a divulgação e disseminação da experiência para o

público em geral e para outros governos – aspectos que configuram uma política

para a gestão (Pacheco, 2004).

Da mesma forma que na Bahia, o atual governo pernambucano, liderado

por Eduardo Campos, deu continuidade à Reforma Administrativa e manteve os

principais programas e serviços já implantados. Por exemplo, este governo ampliou

ainda mais o programa de PPP (Parcerias Público Privado) e deu continuidade à

modernização e informatização da máquina administrativa e do serviço público.

No entanto, assim como no caso do estado da Bahia, em Pernambuco, o

novo governo mudou as suas prioridades. A Secretaria de Administração e Reforma

do Estado voltou a ser simplesmente Secretaria de Administração e a Secretaria de

Planejamento se tornou Secretaria de Planejamento e Gestão. Enquanto a primeira

é responsável pela administração no que diz respeito à gestão de pessoal,

patrimônio, materiais, à tecnologia de informação, às compras públicas do Estado e,

também, à modernização e reforma administrativa do Estado, a Secretaria de

Planejamento e Gestão assume a tarefa do desenvolvimento do Estado,

planejamento governamental (inclusive PPA), descentralização das ações

governamentais e elaboração orçamentária.

A continuidade das ações iniciadas pelos governos anteriores é clara.

Não é claro, porém, o nível de prioridade em que se inserem essas ações. Qual a

prioridade das secretarias de Administração e de Planejamento? A reforma

administrativa continua sendo estratégia de governo?

15

4 CONTINUIDADE X MUDANÇA POLÍTICA

Foi visto que os atuais governos da Bahia e de Pernambuco deram

continuidade ao trabalho iniciado nas gestões anteriores no que diz respeito às

reformas administrativas, embora sejam de posição partidária e até ideológica

contrária aos governos que os antecederam.

Governos de orientações partidárias divergentes aos da gestão

antecessora costumam mudar e romper com as práticas anteriores. Estas rupturas

são, na sua maioria, resultado de uma visão de política e de gestão diferente, com

outros objetivos. Mas por que governos de partidos e projetos diferentes teriam

interesse em dar continuidade a estes processos?

Em primeiro lugar, para refletir sobre esta continuidade, é interessante

notar que estes programas e serviços são de áreas de atuação que mais avançaram

no conjunto dos estados. Ou seja, quando analisado o contexto nacional, sob a

perspectiva da gestão estadual, pode-se averiguar um avanço profundo na redução

de gastos e de custos (ajuste fiscal), na implementação do governo eletrônico, na

revisão dos processos de compras públicas, no aperfeiçoamento do fisco estadual,

na maior descentralização e desconcentração e na implantação de centros de

atendimento integrado, que se iniciou no começo da década de 90 na Bahia e em

São Paulo e hoje adotados em mais de 20 estados (Abrucio e Gaetani, 2006).

Seria viável para os atuais governos atuarem na contramão e

desmontarem programas que estão tendo sucesso e boa repercussão no país? Esta

pode ser uma primeira hipótese para o fato de as atuais gestões não terem alterado

e mesmo retrocedido no que já havia sido implantado.

Além disso, quando um governador assume a gestão de um Estado onde

foram implementadas ferramentas de tecnologia mais avançadas, mecanismos de

compras que geram redução de custos, políticas de recursos humanos que

envolvem mais os servidores e serviços menos burocratizados aos cidadãos, ele tem

pouca margem de manobra para retroceder.

Em outras palavras, seria muito difícil que os atuais governadores da

Bahia e de Pernambuco se manifestassem contra os programas já em

funcionamento, dado o amplo apoio que tais programas obtiveram e da visão

positiva da opinião pública ou de seus beneficiários diretos. O que eles poderiam

16

fazer é tentar inovar em algo diferente, não contemplado ainda nas gestões

anteriores.

Para acrescentar outra hipótese que torna o tema relevante e difícil de ser

rompido é o fato de que as reformas administrativas e a NGP entraram na agenda

nacional. Há uma intensa troca de experiência entre os gestores do governo federal

e dos governos estaduais sobre as práticas de gestão. Segundo Abrucio10, “policies

results politics”, ou seja, quando a política pública tem um nível de êxito grande,

acaba influenciando as prioridades dos políticos. Nesse contexto, pode-se afirmar

que este debate avançou e se desenvolveu de tal maneira que o tema do modelo

gerencial para a administração pública já está consolidado e é alvo de consenso. Ou

seja, a gestão com mais resultados, com menos custos e com mais envolvimento

dos servidores é de interesse de todos os partidos, sejam eles neoliberais,

socialdemocratas, trabalhistas ou socialistas11.

Outra hipótese, sugerida por Abrucio (idem), considera que os

governadores atuais, integrantes da base de apoio ao governo Lula, ao darem

continuidade às ações da reforma, estariam seguindo a mesma orientação do

governo federal. Segundo o entrevistado, o governo federal defende a modernização

administrativa, ao implementar o Programa Nacional de Apoio à Modernização da

Gestão e do Planejamento dos Estados (PNAGE), o que acabou estimulando

governos estaduais do mesmo partido ou da sua base de sustentação a investirem

nessa nova concepção da maneira de administrar. Aqui, no entanto, seria

necessário uma análise mais aprofundada das ações empreendidas pelo governo

federal na área da gestão pública; a partir das análises de Pacheco (2004), tal

hipótese não seria pertinente, já que a autora considera que o governo Lula não

apresentou propostas para a reforma ou modernização da gestão pública.

Finalmente, é importante discutir o que se quer com o termo continuidade.

É verdade que os programas e serviços não foram desmontados. Mas pode-se

afirmar que os atuais governos deram continuidade às Reformas Administrativas?

De fato, as ações de capacitação do servidor, gestão de recursos

humanos, compras eletrônicas, serviço de atendimento ao cidadão e outras foram

mantidas pelas atuais gestões. Mas, por outro lado, quando os governos anteriores

implementaram estas ações nos estados, o fizeram a partir de um planejamento

estratégico, que servia de base para as suas reformas administrativas. Os atuais

governos não têm a reforma administrativa em lugar de destaque em seus planos

17

estratégicos, embora mantenham os programas e serviços já implantados. Em

outras palavras, embora os programas pontuais venham tendo continuidade, as

estratégias de governo mudaram.

Enquanto os governos de Paulo Souto (Bahia) e de Jarbas Vasconcelos

(Pernambuco) priorizaram o tema da Reforma Administrativa, seus respectivos

sucessores Jaques Wagner e Eduardo Campos têm outras prioridades no campo da

administração e da gestão (planejamento participativo, planejamento territorial e

desenvolvimento estadual).

Esta mudança de enfoque não diminui a importância da reforma

administrativa, mas não coloca o conceito e as diretrizes da NGP como alvo de

governo. Os governos anteriores fizeram clara opção por implementar a

administração gerencial em seus estados; os atuais, apesar de dar sequência às

ações, não demonstram clara adesão e nem exercem advocacy pelos temas da

reforma gerencial. Assim, uma hipótese plausível poderia considerar que as ações

dos atuais governos baiano e pernambucano não se configuram como continuidade

da reforma: tais governos simplesmente “remam a favor da maré”.

18

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir das ações implementadas pelos governos da Bahia e de

Pernambuco, identificadas com as propostas da Nova Gestão Pública, este trabalho

buscou levantar algumas hipóteses para explicar por que este tema se mantém na

agenda de governos de partidos diferentes. Embora com estas ressalvas, foi

possível pensar algumas questões sobre a continuidade das reformas

administrativas.

Baseadas em literatura, mas também a partir da própria reflexão, foram

levantadas hipóteses que podem ser reagrupadas como segue:

� Um conjunto de três hipóteses não excludentes, apostando no sucesso

alcançado pela NGP em escala nacional, a saber:

� A continuidade dos programas implementados em gestões

anteriores foi estimulada pelo caráter inovador que eles têm em

âmbito nacional.

� Os atuais governos têm dificuldade em desmontar programas em

funcionamento e que já estejam consolidados.

� O tema da NGP entrou na agenda nacional e já é consenso,

independente da orientação ideológica do governo, de que este

modelo de gestão traz benefícios para a administração pública.

� Hipótese considerada pouco plausível, embora levantada por um dos

maiores especialistas no tema:

� O fato de o governo federal implementar o PNAGE estimula os

governos estaduais que integram sua base aliada a também aprovar

a modernização administrativa.

� Contra-hipótese, que considera, ao final da análise empreendida, não

estarmos diante de continuidade da reforma em governos de oposição,

mas sim diante de meras ações, que não se constituem em política

pública compatível com o ideário da NGP:

� Os atuais governos estaduais da Bahia e de Pernambuco deram

continuidade aos programas que nas gestões anteriores haviam sido

implantados dentro de um contexto de reforma administrativa. Mas

estes governos não têm a reforma administrativa como prioridade

estratégica e nem como tema de suas agendas governamentais; a

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continuidade se limita a programas e serviços pontuais. Em outras

palavras, não seria adequado considerar que há continuidade; mais

apropriado é entender as ações como prolongamento de iniciativas

anteriores, sem o caráter estratégico e sem adesão ao ideário da

NGP.

Cabe ressaltar que a contra-hipótese tem natureza distinta das anteriores,

ao não imputar aos governos de oposição uma adesão aos princípios da reforma

empreendida por seus antecessores, sob a marca da administração gerencial. A

explicação, neste caso, não abrangeria a suposição de que as propostas da NGP

conquistaram sucesso ou consenso. Nem a suposição de que o atual governo

federal seja promotor das idéias de reforma administrativa. Antes disso, enfatiza a

diferença entre ações esparsas e uma política abrangente para a gestão pública. E

deixa intactos os dilemas sobre como reformar o Estado brasileiro.

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REFERÊNCIAS

ABRUCIO, F. Reforma do Estado no federalismo brasileiro: a situação das administrações públicas estaduais. RAP – Revista de Administração Pública, n. 4. RJ: FGV, 2005. ABRUCIO, F.; GAETANI, F. Agenda, aprendizado e coalizão. In: Os avanços e as perspectivas da gestão pública estadual. São Paulo: Consad e Fundap, 2006. BARZELAY, M. Introduction: the process dynamics of public management policy-making. International Public Management Journal, 6(3): 251-81, 2003. BRASIL, Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado. Plano diretor da reforma do aparelho do Estado. Brasília: Presidência da República, 1995. BRESSER-PEREIRA, L. C. Reforma do Estado para a cidadania: a reforma gerencial brasileira na perspectiva internacional. São Paulo: Editora 34, Brasília: ENAP, 1998. CHRISTENSEN, T.; LAERGREID, P. (eds.). Transcending New Public Management. The Transformations of Public Sector Reforms. London: Ashgate, 2007. CONSAD; FUNDAP. Os avanços e as perspectivas da gestão pública estadual. Seminário. Brasília: Consad, São Paulo: Fundap, 2006. COSTA, V. M. F. A dinâmica institucional da reforma do Estado: um balanço do período FHC. In: ABRUCIO, F.; LOUREIRO, M. R. (orgs.) O Estado numa era de reformas: os anos FHC. Versão eletrônica: Brasília, SEGES-MP, 2002. FERLIE, E. et al. The new public management in action. Oxford: Oxford University Press. Publicado em português em 1999, A Nova Administração Pública em Ação. Brasília: ENAP, 1996. JANN, W.; REICHARD, C. Melhores práticas na modernização do Estado. Revista do Serviço Público, 53(3): 31-50, 2002. LAPSLEY, I. The NPM Agenda: Back to the Future. Financial Accountability and Management, 24(1): 77-96, February, 2008.

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PACHECO, R. Governo Lula: ausência de uma política para a gestão pública. Texto apresentado à 2004 IPMN Conference. International Public Management Network. Rio de Janeiro: EBAPE, 2004. PERNAMBUCO, Governo do Estado, Secretaria de Administração e Reforma do Estado. Reestruturação e modernização do aparelho do Estado em Pernambuco. Recife: Editora CEPE, 2003. POLLITT, C.; BOUCKAERT, G. Avaliando reformas da gestão pública: uma perspectiva internacional. Revista do Serviço Público, 53(3): 5-30, 2002. Sites: http://www.consad.org.br http://www.clad.org.ve Bahia: http://www.ba.gov.br http://www.bahia.ba.gov.br http://www.saeb.ba.gov.br http://www.seplan.ba.gov.br http://www.sac.ba.gov.br http://www.comprasnet.ba.gov.br http://www.portaldoservidor.ba.gov.br http://www.flem.org.br Pernambuco: http://www.pe.gov.br http://www.sare.pe.gov.br http://www.seplan.pe.gov.br http://www.redecompras.pe.gov.br ___________________________________________________________________

AUTORIA

Patrícia Laczynski – mestre e doutoranda em Administração Pública e Governo pela EAESP-FGV (Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getulio Vargas). Foi Secretária Adjunta de Desenvolvimento e Ação Regional e Diretora de Relações Internacionais da Prefeitura de Santo André (2005-2007). Doutoranda em Administração Pública e Governo pela EAESP-FGV (Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getulio Vargas).

Endereço eletrônico: [email protected] Regina Sílvia Pacheco – doutora pela Université de Paris XII. Presidente da Escola Nacional de Administração Pública (1995-2002), e integrante da equipe liderada por Luiz Carlos Bresser Pereira no Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado. Coordenadora Executiva do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, criado e presidido por Celso Daniel. Professora da Graduação, Mestrado e Doutorado em Administração Pública e Governo e coordenadora do Mestrado Profissional em Gestão e Políticas Públicas da EAESP-FGV (Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getulio Vargas).

Endereço eletrônico: [email protected]

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1 Foram realizadas entrevistas com os seguintes gestores: Manoel Vitório da Silva Filho, Secretário

de Administração do Estado da Bahia, entrevistado durante o I Congresso CONSAD de Gestão Pública, Brasília, DF, no dia 27 de maio de 2008; Mario Sebastião Nogueira de Freitas, Superintendente de Gestão e Avaliação em exercício, Secretaria do Planejamento da Bahia, por telefone, em abril de 2008; Palmiro Torres de Oliveira, Diretor de Planejamento Social, Superintendência de Planejamento Estratégico da Secretaria do Planejamento da Bahia, por telefone, em abril de 2008; Joaquim Castro de Oliveira, Secretário Adjunto de Administração e Reforma do Estado de Pernambuco – gestão 1999-2002 e Secretário Executivo de Modernização da Gestão e Governo Digital de Pernambuco – gestão 2003-2006, por telefone, em abril de 2008. Também foram entrevistados os pesquisadores Fernando Luiz Abrucio, Professor de Política e Administração Pública na Fundação Getulio Vargas (SP) e de Política Comparada na PUC (SP), em 9 de maio de 2008, e José Antônio Pinho, Professor da Faculdade de Administração da UFBA, por e-mail, em abril de 2008.

2 Para um balanço comparado das principais tendências de reforma do período, ver Jann e Reichard

(2002). 3 Lapsley (2008) e Christensen e Laergreid (eds., 2007) sintetizam o debate recente em torno do New

Public Management; o primeiro autor sumariza um conjunto de temas que continuam presentes na agenda dos governos reformadores, sustentando a tese de que o NPM ainda integra a esfera das políticas para a gestão pública.

4 O governo federal realizou três reformas administrativas ao longo do século XX: em 1936, 1967 e

1995. Para uma discussão mais aprofundada, ver Bresser-Pereira (1998). 5 PNAGE, Programa Nacional de Apoio à Modernização da Gestão e do Planejamento dos Estados

Brasileiro e do Distrito Federal, empréstimo de U$ 93 milhões do Banco Interamericano de Desenvolvimento para modernização da gestão nos estados e Distrito Federal, com contrapartida de U$ 62 milhões do Governo Brasileiro, por meio do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. A fase de diagnóstico e elaboração das propostas, nos anos de 2002-2004, representou intensa articulação entre o Ministério do Planejamento e os estados, por meio do CONSAD – Conselho Nacional dos Secretários de Estado da Administração.

6 Essa forma de financiamento nada mais era que um mecanismo de especulação financeira

realizada pelo próprio governo. Como os contratos tanto de aquisição de suprimentos quanto de trabalho (contrato trabalhista) são rígidos com quantias de pagamento previamente definidos, o governo podia financiá-los não apenas por meio das receitas correntes tradicionais advindas dos tributos, mas principalmente por meio do resultado financeiro advindo da aplicação dos recursos tributários. De tal modo que a receita tributária era aplicada em alguma carteira de investimento e os compromissos contratuais do governo eram pagos com o ganho das aplicações e não propriamente com as receitas tradicionais.

7 Desse seminário resultou o livro Os avanços e as perspectivas da Gestão Pública Estadual,

publicado pelo Consad e Fundap em 2006. Em maio de 2008, o CONSAD promoveu o I Congresso de Gestão Pública, realizado em Brasília com mais de 1.400 participantes, demonstrando o interesse que o tema desperta hoje junto às administrações estaduais no Brasil; um resumo dos trabalhos apresentados no Congresso está disponível em: http://www.consad.org.br/novo_site// index.php?option=com_content&task=view&id=246&Itemid=109.

8 Criado em 1972, o CLAD teve sua importância ampliada na segunda metade dos anos 1990,

quando foi presidido por Bresser Pereira, passando a constituir um importante espaço de debates por meio de seus congressos anuais. Ao mesmo tempo, o CLAD se tornou um dos espaços de disseminação das idéias da NGP na América Latina. Sua missão é: “promover el análisis y el intercambio de experiencias y conocimientos en torno a la reforma del Estado y la modernización de la Administración Pública, mediante la organización de reuniones internacionales especializadas, la publicación de obras, la prestación de servicios de documentación e información, la realización de estudios e investigaciones y la ejecución de actividades de cooperación técnica entre sus países miembros y proveniente de otras regiones” (http://www.clad.org.ve/elclad.htm).

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9 A EC 19/98 modifica o regime e dispõe sobre princípios e normas da Administração Pública,

servidores e agentes políticos, controle de despesas e finanças públicas e custeio de atividades a cargo do Distrito Federal e a EC 20/ 98 modifica o sistema de previdência social e estabelece normas de transição.

10 Estas opiniões foram emitidas, em entrevista realizada no dia 9 de maio de 2008. 11 A literatura conclui que governos com tendências ideológicas diferentes têm implementado

reformas administrativas em seus países. Para saber mais sobre experiências de reformas administrativas em países com governos de tendências políticas diferentes, ver Christensen e Laergreid (2007) e Barzelay (2003).