recursos tecnolÓgicos na aprendizagem do … · de suas necessidades, como adaptação do material...

20

Upload: duongdien

Post on 08-Nov-2018

216 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

RECURSOS TECNOLÓGICOS NA APRENDIZAGEM DO ALUNO COM BAIXA

VISÃO

Autor: Dulcélia Meneguete1

Orientador: Paulo Ricardo Ross²

RESUMO

Este artigo, produzido como trabalho final do PDE-2010/2012, tem como objetivo subsidiar os professores do Centro de Reeducação Visual sobre a utilização das Tecnologias da Informação e da Comunicação, no processo educacional dos alunos, com baixa visão associado à significação da Tecnologia assistiva e como meio que os instrumentalizem para a formação de sujeitos emancipados academicamente e, consequentemente, socialmente. Destaca-se nesse estudo uma reflexão realizada com os professores Itinerantes do Centro de Reeducação Visual sobre a importância das tecnologias em sala de aula, bem como o interesse dos professores a se adaptarem à nova realidade educacional para integrar os recursos tecnológicos, como o computador e a internet. Utilizaram-se como referencial os conceitos de mediação na abordagem educacional de Feuerstein e a teoria histórico-cultural de Vygotsky. Conta também com algumas das reflexões oriundas da interação com os professores participantes do grupo de trabalho em rede, os quais apresentaram suas considerações sobre o mesmo. A possibilidade de uma integração das tecnologias à educação requer uma nova postura que levará o professor a rever sua prática em sala de aula, adequando os vários meios de informação à metodologia utilizada.

Palavras-chave: Deficiência visual; Recursos tecnológicos; Inclusão.

____________

¹ Professora da rede pública do Estado do Paraná, com licenciatura em Estudos Sociais (Geografia) e

Pós- Graduação em Educação Especial. Atua na reeducação visual, Curitiba-PR.

² Professor Dr. Paulo Ricardo Ross, Universidade Federal do Paraná.

1. INTRODUÇÃO

Este artigo, elaborado a partir do trabalho de pesquisa tendo como

fundamentação os conceitos de Mediação na abordagem educacional de Feuerstein

e a Teoria Histórico-Cultural de Vygotsky, pretende oferecer contribuições para a

formação de professores sobre os recursos e tecnologias que ampliam as

capacidades de aprendizagem dos alunos com baixa visão.

No decorrer da pesquisa, são discutidas experiências pedagógicas partindo

do pressuposto que inclusão só se faz mediante um novo pensar e agir de uma

escola comprometida com a diversidade e flexibilidade.

Portanto, o objetivo deste trabalho é subsidiar os professores, em particular,

aqueles da Reeducação visual sobre a utilização das Tecnologias da Informação e da

Comunicação (TIC), no processo educacional dos alunos com baixa visão.

Segundo Ross & Urbanek (2010, p.52) as mudanças provocadas com a

inclusão escolar e social da pessoa com deficiência produzem benefícios no âmbito

das atitudes, nas políticas públicas, nas inovações tecnológicas, nos processos de

gestão, nas concepções do mundo, no conhecimento do tempo, do ambiente e do ser

humano.

Continuando com o pensamento dos autores, [...] o professor manifesta

sempre atitudes encorajadora, proativa, positiva, seu comprometimento com a ética,

com a justiça e com o direito à autoria da diversidade de cada um.

A TA representa uma estratégia de agregação de valor ao exercício da

condição humana. De posse da TA adequada, a pessoa com ou sem deficiência

apropria-se de novo valor estético, um novo poder intelectual, econômico, social e

cultural.

2. Refletindo sobre o uso das TICs na aprendizagem do aluno com baixa visão

A evolução da história levou a humanidade a criar acordos humanitários de

respeito e compreensão de todas as raças e credos, assim também o paradigma está

alicerçado na concepção dos direitos humanos.

A sociedade contemporânea busca meios para assimilar o conceito da

diversidade, com fins de minimizar os efeitos das segregações e discriminações aos

sujeitos que fogem dos padrões determinados pelos meios de produções

globalizados e competitivos. Estas intenções estão impressas nos documentos

internacionais como na Declaração dos direitos humanos de 1947.

Nos meios educacionais elucidam-se os princípios da Educação Inclusiva,

no Brasil eclode na década de 1990, reafirmando na Lei de Diretrizes e Bases (LDB)

nº 9394 de 1996, que determina o direito à educação de todos, independentemente

das condições que se apresentem no mesmo espaço escolar.

Quando pensamos na escola inclusiva que se busca construir, cada vez

mais reconhecemos a necessidade de se analisar como vem se processando a

formação dos professores e dos demais profissionais da educação, percebendo não

apenas uma perspectiva teórico-prática, mas também no tocante a atitudes e

disposições para com a diversidade dos alunos (MANZINI, 2006, p.20).

As tecnologias fizeram a humanidade entrar na era da comunicação

universal, abolindo as distâncias. As informações mais atualizadas podem ser postas

ao dispor de qualquer pessoa, em qualquer parte do mundo, em um tempo real,

permitindo não só, emitir e receber informações. Mas também dialogar, discutir e

transmitir conhecimentos.

Além de a tecnologia permitir a apropriação da realidade, do conhecimento,

a pessoa também pode tomar consciência de si. Sob este aspecto a escola inclusiva

não exclui os alunos com ou sem dificuldade, mas se mostra aberta à diversidade, a

flexibilidade das propostas curriculares, respeitando às habilidades e necessidades

dos alunos.

2.1. O que são recursos tecnológicos?

Um dia tivemos a pedra, depois os objetos confeccionados com essa

matéria prima; muitos séculos depois com a Revolução Industrial, tivemos a presença

da máquina e, posteriormente pelo caminho da máquina fomos encontrando toda a

constatação de um novo mundo marcada pela era da tecnologia.

Na verdade, a tecnologia assinala a presença de duas categorias

percebidas de forma muito ampla e generalizada, que são o tempo, o espaço e a

relação do homem para viver e conviver com essas categorias vai exigir uma nova

formação que seja fundamentada no conhecimento, na reflexão e na ação

(GRINSPUN, 1999, p.15).

Vivemos na era da tecnologia, desde a mais simples até as mais

complexas. No nosso dia-a-dia nos deparamos com inúmeras tecnologias, sendo

essas um caderno, um lápis, um celular, uma câmera, uma televisão, ou um

computador, na elaboração de todos estes produtos foram usadas alta tecnologia,

que nos proporcionam contato com as demais pessoas em qualquer lugar.

Assim, na perspectiva de uma educação inclusiva faz-se necessário que os

recursos tecnológicos sejam utilizados como ferramentas de aprendizagem onde as

pessoas com deficiência visual construam seu conhecimento.

São vários os equipamentos e materiais didáticos existentes para facilitar o

processo ensino-aprendizagem das pessoas com deficiência visual tais como,

bengala, materiais didáticos ampliados, impressão em braille, lupas, telescópios,

teclados especiais, softwares com acessibilidade e CD digital.

3. Tecnologia Assistiva

Tecnologia Assistiva (TA) é um termo ainda novo, utilizado para identificar

todo o arsenal de recursos e serviços que contribuem para proporcionar ou ampliar

habilidades funcionais de pessoas com deficiência e consequentemente promover

vida independente e inclusão social e educacional.

Na perspectiva da educação inclusiva, a TA é voltada a favorecer a

participação do aluno com deficiência nas diversas atividades do cotidiano escolar,

vinculados aos objetivos educacionais comuns. São exemplos de TA na escola, os

materiais escolares e pedagógicos acessíveis a comunicação alternativa, os recursos

de acessibilidade, o mobiliário que atenda às necessidades posturais, entre outros.

A TA deve ser então entendida como um auxílio que promoverá a ampliação

de uma habilidade funcional deficitária ou possibilitará a realização da função

desejada e que se encontra impedida por circunstância de deficiência ou pelo

envelhecimento.

No caso do aluno com baixa visão, o uso da TA não significa apenas a

garantia da possibilidade individual de enxergar. É mais do que isto, o uso de lupas,

telescópios, do computador e da internet ampliam as capacidades de acesso ao

conhecimento, ao mundo da cultura e ao exercício da condição de sujeito.

Tomando um sentido mais amplo percebemos que, a evolução tecnológica

caminha na direção de facilitar o cotidiano. Utilizamos constantemente ferramentas

que foram desenvolvidas para favorecer e simplificar as atividades diárias, como os

talheres, canetas, computadores, controle remoto, automóveis, telefones, celulares,

relógios e outros.

3.1. Conceito brasileiro

Em 16 de novembro de 2006, a Secretária Especial dos Direitos Humanos

da Presidência da República (SEDH/PR), através da portaria nº 142, instituiu o

Comitê de Ajudas Técnicas (CAT), que reúne um grupo de especialistas brasileiros e

representantes de órgãos governamentais, em uma agenda de trabalho.

O CAT tem como objetivos principais apresentar propostas de políticas

governamentais e parcerias entre sociedade civil e órgãos públicos referentes a área

de TA; estruturar as diretrizes da área de conhecimento; realizar levantamento dos

recursos humanos que atualmente trabalham com o tema; detectar os centros

regionais de referência, objetivando a formação de rede nacional integrada; estimular

nas esferas federal, estadual e municipal a criação de centros de referência; propor a

criação de cursos na área de TA, bem como o desenvolvimento de outras ações com

o objetivo de formar recursos humanos qualificados e propor a elaboração de estudos

e pesquisas.

O conceito proposto no documento “Empowering users through assistive

technology” (EUSTAT), elaborado por uma comissão de países da União Européia

traz incorporado ao conceito da TA as varias ações em favor da funcionalidade das

pessoas com deficiência afirmando “em primeiro lugar, o termo tecnologia não indica

apenas objetos físicos, como dispositivos ou equipamento, mas antes se refere mais

genericamente a produtos, contextos organizacionais ou modos de agir, que

encerram uma série de princípios e componentes técnicos.” (EUROPEAN

COMMISSION, 1998).

Já os documentos de legislação nos Estados Unidos apresentam a TA

como recursos e serviços sendo que “Recursos são todo e qualquer item,

equipamento ou parte dele, produto ou sistema fabricado em série ou sobmedida

utilizada para aumentar, manter ou melhorar as capacidades funcionais das pessoas

com deficiência. Serviços são definidos como aqueles que auxiliam diretamente uma

pessoa com deficiência a selecionar, comprar ou usar um recurso”. (ADA American

with Disabilities ACT 1994).

3.2. Recursos de acessibilidade ao computador

O desempenho acadêmico do aluno com baixa visão depende da satisfação

de suas necessidades, como adaptação do material didático, desde a ampliação até

os recursos tecnológicos, o computador, livros digitalizados, internet, programas de

fala e outros.

O uso de ferramentas computacionais dentro de um processo de

aprendizagem vem a somar com a inclusão do aluno com baixa visão, pois

possibilitam a comunicação, a pesquisa e o aceso ao conhecimento.

São exemplos de equipamentos de entrada os teclados modificados, os

teclados virtuais com varredura, mouses especiais e acionadores diversos, softwares

de reconhecimento de voz, ponteiras de cabeça por luz entre outros. Como

equipamentos de saída, pode-se citar a síntese de voz, monitores especiais, os

softwares leitores de texto (OCR), impressoras braile e linha braile.

De acordo com a atual perspectiva inclusiva, o ambiente escolar é que

precisa se transformar para receber os alunos. O objetivo é atender à diversidade

que há nas escolas, não só pela inclusão, mas para nos levar a refletir a nossa

prática cotidiana.

Segundo Ross & Urbanek (2010, p.67), pensar assim representa uma

grande mudança, não só nas estruturas de ensino, mas em toda sociedade, significa

ainda, mudar posturas para combater o preconceito e a exclusão de todos os grupos

marginalizados, inclusive entre as próprias pessoas com deficiência. Os autores

destacam o direito do aluno, de expressar seus desejos com relação à sua educação,

que possibilite atingir e manter um nível de aprendizagem adequado dentro de suas

necessidades.

A escola inclusiva não exclui os alunos com ou sem dificuldades, mas se

mostra aberta à diversidade, a flexibilidade das propostas curriculares, respeitando às

habilidades e necessidades dos alunos.

A proposta do uso do computador para os alunos com deficiência visual,

torna-se viável, as escolas na sua maioria possuem um laboratório de informática,

precisamos de capacitação para que o professor possa conhecer e utilizar como

recurso para o aprendizado do aluno.

Com os avanços da informática, vem sendo produzidos instrumentos

softwares que permitem que pessoas cegas e pessoas com baixa visão, possam

utilizar um computador e consiga desempenhar uma série de tarefas, adquirindo

certo grau de independência, autonomia pessoal, social, intelectual e econômica.

A facilidade de comunicação gerada pela Internet nos leva a rever o preparo

das nossas aulas, bem como os conteúdos a serem abordados. Buscando adequar

às tecnologias, linguagens, necessidades e capacidades de cada um dos alunos.

A formação da criança e jovem cego são muito prejudicados por falta de

acesso a recursos, tecnologia e cultura. Nas classes comuns os livros são impressos

no sistema comum. Nessas circunstâncias, o aluno pode utilizar a tecnologia Braille

para copiar e fazer seus trabalhos escolares. Entretanto esse fato esbarra na

importante questão em que poucos professores conhecem o braille; Sem o apoio de

pessoas que disponham a ler os livros impressos comuns, o aluno com deficiência

ficará restrito à informação verbal transmitida pelo professor.

Mediado pelo professor as TA podem conferir aos alunos com baixa visão

poder de acesso amplo ao conhecimento, poder de interação e de interpretação do

cotidiano, sentimento de pertencimento e tomada de consciência das próprias

capacidades.

Segundo Vygotsky (apud MANZINI, 2006, p.99) a deficiência deve ser

considerada a partir de três pontos fundamentais, a começar pela própria concepção

de deficiência, que, conforme assevera é algo determinado pelo caráter biológico e

social do defeito. Em segundo lugar, o conceito de compensação social, por fim, o

trabalho relacionado à educação de sujeitos com deficiência. O caráter biológico,

conforme o autor corresponderia à deficiência em si mesma (a cegueira, a surdez, a

deficiência motora). Segundo o autor, se uma criança com deficiência visual puder

dispor de uma condição educacional adequada, notadamente nas etapas iniciais de

sua formação, isso ampliará, de forma significativa, as possibilidades de obter

sucesso, seja em termos sociais, intelectuais ou profissionais.

Segundo Meier & Garcia (2007, p.144), é importante que as situações de

aprendizagem sejam relevantes e interessantes para os sujeitos. O significado cria

uma nova dimensão para o ato de aprender, levando a um envolvimento ativo e

emocional no desenvolvimento da tarefa. Mais que tudo é preciso que a criança ou o

adolescente aprenda a buscar significado naquilo que faz.

3.3. Programas mais difundidos no Brasil

As mudanças provocadas com a inclusão escolar e social produzem

benefícios, nas inovações tecnológicas. Isto significa que a dificuldade para se

beneficiar do conhecimento, dos saberes e valores sociais não se localizam na

pessoa, mas no modo como se organizam a escola e a sociedade. Assim, se as

condições estruturais forem adaptadas, então, a pessoa com deficiência visual, tem

plena oportunidade para garantir sua independência e autonomia.

Na medida em que os computadores com softwares de fala forem colocados

à disposição de pessoas com deficiência visual, sua condição de cegueira deixa de

ser impeditiva para obter o acesso à educação e ao trabalho (ROSS, 2010, p.72).

3.3.1 DOSVOX

O DOSVOX é um sistema operacional desenvolvido pelo Núcleo de

Computação Eletrônica da Universidade Federal do Rio de Janeiro vem nos últimos

anos se dedicando à criação de um sistema de computação destinado a atender aos

deficientes visuais. Possui um conjunto de ferramentas e aplicativos próprios além de

agenda, chat e jogos interativos. Pode ser obtido gratuitamente por meio de

“download” a partir do site do projeto DOSVOX.

O sistema conversa com o deficiente visual em Português, sem sotaque,

senso que a síntese de textos pode ser configurada para outros idiomas e dá a ele

muitas facilidades, como um sistema de gerência de arquivos adequado ao uso por

deficiente visual, editor e leitor de textos, impressor a tinta e em Braille, ampliador de

telas para visão subnormal, diversos jogos. Todo acesso é feito pelo teclado, e o

sistema de seleção por menus conduz o deficiente a uma operação com muito menos

erros.

O subprojeto do DOSVOX que teve mais impacto foi o de acesso a Internet.

Para a pessoa cega, a comunicação pela Internet é especialmente importante, essa

ferramenta permite o acesso às últimas tendências e descobertas, com isso os

nossos alunos com deficiência visual, ficam no mesmo patamar dos alunos ditos

normais.

Borges (1996), afirma que os professores poderiam produzir programas

simples para os deficientes visuais, com o uso de ferramentas simples (muitas delas

disponíveis junto com o sistema DOSVOX), mas não existe formação para tal nos

cursos de pedagogia.

Desta forma, somos levados a afirmar que infelizmente o número e crianças

que podem ter acesso a todo potencial desta tecnologia é pequeno. O autor destaca

a importância do ensino em preparar a pessoa para o trabalho. No caso do deficiente

visual, existem diversas funções em que o computador pode ser um meio efetivo de

obter emprego.

3.3.2. NVDA

Através de voz sintética, o NVDA (Acesso não virtual ao ambiente de

trabalho), permite que usuários cegos ou com deficiência visual possam acessar e

interagir com o sistema operacional Windows e vários outros aplicativos.

O NVDA foi iniciado em meados de 2006, pelo jovem australiano Michael

Curran, que cursava o segundo ano de bacharelado em Ciências da Computação,

sendo que há muito tempo ele já percebera as dificuldades das pessoas com

deficiência visual em relação ao alto custo financeiro desses produtos, a insatisfação

com alguns detalhes desses softwares e o principal problema para ele, envolvia os

aspectos morais e éticos.

Michael relata: “não é justo que as pessoas cegas tenham de providenciar

sozinhos os meios necessários a arcar por si só com os custos das soluções

assistivas, para dispor de acesso às mesmas informações que as demais pessoas

dispõem proporcionadas pela tecnologia”. Em razão de tudo isso, resolveu

abandonar por completo a faculdade de Ciência da Computação e dedicar-se a um

projeto capaz de solucionar esses e outros problemas de quem necessita trabalhar

em sistemas Windows.

Para atingir esses objetivos, Michael estabeleceu alguns princípios básicos

a serem seguidos:

O leitor deve ser gratuito, com finalidade de facilitar a disponibilidade do mesmo

e o acesso de qualquer pessoa aos mesmos sistemas dos demais leitores de tela

sem custos adicionais.

O leitor deve ser licenciado de modo que qualquer pessoa possa contribuir para

a melhoria e aperfeiçoamento deste, como adaptá-lo a necessidades específicas e

redistribuí-lo se for o caso.

O leitor deve sempre permanecer aberto a novas ideias, sugestões e

experimentos provindos de todas as partes do mundo.

O leitor deve, na medida do possível, seguir um “design” de fácil entendimento.

É importante que pessoas em qualquer lugar do mundo, não importando

seu idioma, tenham o mesmo acesso às tecnologias. Até o presente momento, o

NVDA foi introduzido para mais de 20 idiomas, incluindo: Português Brasileiro.

Além de proporcionar suas mensagens e interface em vários idiomas, o

NVDA também possibilita ao usuário fazer a leitura de conteúdos em qualquer

idioma, contando que eles tenham um sintetizador de voz capaz de falar aquele

idioma em particular. O NVDA é equipado com o eSpeak, um sintetizador de voz

gratuito, de código aberto e multi-idiomas. Além disso, também pode usar as

ferramentas de voz SAAP14 e SAP15, bem como o sintetizador de voz Audiologic.

O NVDA é coberto pela GNU (Licença Pública Geral – Versão 2). Sendo

que, é liberado para compartilhar ou modificar este software da maneira que desejar

contanto que distribua a licença juntamente com o software original quanto às cópias

modificadas, e também a qualquer outro software que utilize código retirado deste

software.

3.3.4. ORCA

Hoje, uma pessoa cega tem acesso ao Linux e suas ferramentas, através de

um leitor de telas chamado ORCA. Ele roda em qualquer distribuição Linux que tenha

a interface gráfica Gnome, e algumas distribuições, como Ubuntu. O ORCA dá

autonomia para que a pessoa cega possa executar tarefas desde as mais básicas,

assim como as mais avançadas, como navegar na internet, ouvir rádio online, editor

de áudio, receber, ler e enviar e-mails, abrir, ler e editar documentos e planilhas,

trabalhos com bancos de dados, criar páginas da web, utilizar Messenger, ler

arquivos PDF, ouvir os mais variados formatos de áudio, assistir filmes no

computador.

A disponibilidade de um computador ou laptop é bastante útil para que o

aluno possa usar estes recursos em sala de aula. O professor deve providenciar a

digitalização do texto para que o aluno possa acompanhar a aula. Dessa forma, os

recursos de acessibilidade devem ser assegurados para que o aluno com baixa visão

possa participar das aulas com autonomia.

3.3.5. Virtual vision

É um leitor de tela, disponível em Português. É um software brasileiro

desenvolvido pela Micropower, em São Paulo, concebido para operar com os

utilitários e as ferramentas do ambiente Windows. É distribuído gratuitamente pela

Fundação Bradesco e Banco Real para usuários cegos.

3.3.6 JAWS

É um software desenvolvido nos Estados Unidos e mundialmente conhecido

como o leitor de tela mais completo e avançado. Possui uma ampla gama de

recursos e ferramentas com tradução para diversos idiomas, inclusive para o

português. O programa tem a capacidade de ler certos recursos de páginas de

internet que outros programas do gênero não têm.

3.3.7. Livro digital falado

É um programa de “Livros acessíveis a alunos com deficiência visual”, em

parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o Ministério da

Educação desenvolveu uma ferramenta de produção de livro digital falado (BRASIL,

2004).

O novo padrão de livros digitais que integra recursos de leitura visual,

sincronizada a narração em áudio, inclui navegabilidade plena, além de dar ao

usuário a possibilidade de alterações no texto, navegar pelo documento de forma

suave mantendo o sincronismo entre a voz e o texto escrito. Os alunos com

deficiência visual ou cegueira terão acesso gratuito a qualquer livro ou documento a

partir da nova tecnologia que, transforma texto escrito em áudio gratuitamente no

portal do MEC. A ferramenta Mecdaisy é compatível com os sistemas Windows e

Linux.

O Ministério da Educação amplia o apoio aos sistemas de ensino para

tornar disponíveis recursos de TA nas escolas e cumpre o disposto no artigo 58 do

Decreto nº 5.296/2004, que estabelece “o poder público adotará mecanismos de

incentivo para tornar disponíveis em meio magnético, em formato de texto, as obras

publicadas no país”.

Precisamos somar competências, produzir tecnologia, aplicá-la à educação,

à reabilitação, mas com propósitos muito bem definidos e a partir de princípios que

recusam toda e qualquer forma de exclusão social e toda e qualquer atitude que

discrimine e segregue as pessoas, mesmo em se tratando das situações mais

cruciais de apoio às suas necessidades (MANTOAN, 2000 p.60).

Segundo Kalinke (2003, p.15), na escola essa nova realidade faz com que

nossos alunos estejam cada vez mais informados, atualizados e participantes, sendo

que, o professor precisa estar envolvido nessa tecnologia e preparado para captar as

necessidades de seus alunos.

A utilização da Internet permite a interação, seja entre alunos ou

professores, e o acesso direto a diversos dados, produzindo assim conhecimento

numa dimensão mais interdisciplinar ao currículo.

O uso dos recursos e das tecnologias deve fazer parte constante nas

práticas pedagógicas, para que haja uma inclusão verdadeira onde seja respeitado o

princípio de “equidade”.

4. METODOLOGIA

A intervenção resultante dos estudos e pesquisas ocorreu na Reeducação

Visual, com a participação de 15 professores com duração de trinta e duas horas,

divididas em oito encontros de quatro horas destinadas às atividades propostas, além

das palestras contamos com a presença de profissionais das áreas. Os encontros

realizaram-se as sextas-feiras, durante o horário de estudo dos professores.

A fim de possibilitar uma reflexão sobre a Inclusão do aluno com deficiência

visual, foram apresentados relatos de experiências com alunos no ensino regular, e a

insegurança dos professores em relação como trabalhar com o aluno com baixa

visão.

Este artigo conta também com algumas das reflexões oriundas da interação

com os professores participantes do grupo de trabalho em rede sobre as

possibilidades do trabalho com o aluno com baixa visão e o uso das tecnologias.

No 1º encontro os professores refletiram sobre as políticas de inclusão e

acessibilidade, a formação dos professores, as atitudes e disposições para com a

diversidade dos alunos e a necessidade dos profissionais da educação de se

capacitarem para atender às “diferenças”.

No 2º encontro apresento uma reflexão sobre a deficiência e a proposta de

inclusão educacional. Destaca-se a importância da tecnologia, bem como o interesse

dos professores a se adaptarem à nova realidade educacional. A possibilidade de

uma integração das tecnologias à educação requer uma nova postura que levará o

professor a rever sua prática em sala de aula, adequando os vários meios de

informação à metodologia utilizada. Analisamos a importância do professor itinerante

como suporte ao professor de classe comum.

No 3º encontro apresento uma proposta do uso do computador para os

alunos com baixa visão “acessibilidade digital”. Não basta substituir o caderno, o

quadro de giz pelo computador, isto seria uma mudança ainda analógica. É preciso

diferentes formas de acesso à internet, a sites acessíveis e metodologia adequada à

interação de todas as pessoas com e sem deficiência. Refletimos sobre as

dificuldades dos deficientes visuais no ambiente escolar. Apresento alguns relatos de

alunos cegos e com baixa visão, inseridos na classe comum.

No 4º encontro apresento alguns recursos de acessibilidade, sugestões de

sites de acessibilidade e informações referentes aos recursos que eles oferecem ao

deficiente visual.

No 5º encontro contamos com a presença da psicóloga e palestrante Maria

Eliza discutindo sobre “afetividade e relacionamento”. Todos os professores

envolvidos no projeto de intervenção participaram de forma prazerosa, com várias

dinâmicas e relatos das nossas experiências durante o serviço itinerante, em relação

ao nosso aluno com baixa visão.

No segundo momento, refletimos sobre a deficiência visual e a proposta de

inclusão educacional. As pessoas com deficiência tornam-se mais participativas e

inclusas na escola, no trabalho quando compartilham das adequações tecnológicas,

curriculares, avaliativas, metodológicas e outras.

No 6º encontro contamos com a presença do professor Ricardo José Lima

do DEEIN (Departamento de Educação Especial e Inclusão), abordando o tema:

“Tecnologias Assistivas”.

No 7º encontro, apresento uma reflexão: Na medida em que os

computadores com softwares de fala forem colocados à disposição de pessoas com

deficiência visual, sua condição de cegueira deixa de ser impeditiva para obter o

acesso à educação e ao trabalho. Ross (2010, p.72). Apresento também alguns

programas leitores de tela, como o DOSVOX, NVDA, ORCA, virtual vision, JAWS,

livro digital falado.

No último encontro, foi solicitado aos professores que respondessem a um

questionário de avaliação, com o objetivo de verificar os conhecimentos adquiridos

durante os encontros propostos. A avaliação do grupo foi positiva, pois, trouxe

informações novas e importantes sobre as ferramentas de acessibilidade digital.

5. RESULTADOS

Com o advento dos computadores, a sociedade passou a conhecer uma

nova realidade que, sistematicamente, vem alternando os hábitos e costumes dos

indivíduos.

A influência dos computadores nos meios de produção e comunicação, bem

como na aquisição do conhecimento têm sido tão marcante que já não deixa espaço

para a sua não utilização pela sociedade.

Faz-se necessário citar alguns aspectos considerados relevantes,

concluídos pelos professores do Centro de Reeducação visual, diante da execução

deste trabalho:

1- Como é o contato com o professor especializado?

2- A escola está tendo condições em seus laboratórios de informática adaptar os

programas como os leitores de tela com síntese de voz, que possibilitem a

navegação na internet entre outros?

3- Essas ferramentas estão disponíveis no âmbito do sistema escolar?

4- Como favorecer a participação do aluno com baixa visão nas atividades escolares?

5- Como a Internet pode ser integrada a prática pedagógica favorecendo a

autonomia, a aprendizagem e o exercício da condição de sujeito?

6- O professor conhece esses recursos tecnológicos?

7- O professor está sendo capacitado para trabalhar com essas ferramentas?

Não basta matricular o aluno cego ou com baixa visual no ensino regular

dizendo que está incluído, se não lhe forem oferecidos, igualdade de condições de

aprendizagem e acesso aos conteúdos em sua integridade. O aluno com baixa visão

não difere dos demais alunos, mas precisa de algumas adaptações, no sistema de

ensino, que promova o desenvolvimento pleno de suas potencialidades.

Tomando como ponto de partida a inclusão, é necessário que o professor

esteja em busca constante de novas tecnologias a ser utilizadas como ferramentas, a

favor da aprendizagem dos alunos com ou sem deficiência. Educar para incluir

significa adequar as mediações às capacidades de cada um.

5.1. Participação dos professores no grupo de trabalho em rede (GTR)

Durante o GTR, realizado de forma virtual, os professores da rede estiveram

conectados a execução de atividades de formação continuada acerca do meu

objetivo de estudo no PDE.

Neste momento os professores puderam sugerir discutir e incrementar

sugestões, relacionadas à Inclusão dos alunos com baixa visual e o uso das

tecnologias, como uma das ferramentas para o processo de ensino-aprendizagem.

No final das atividades, os professores compartilham, com suas

experiências relacionadas ao processo de aprendizagem e relatam suas experiências

e vivências.

A utilização de novas ferramentas transforma os alunos em agentes críticos,

capazes, questionadores de um mundo qualitativamente melhor para todos, porém as

atividades propostas devem ser planejadas que exijam pesquisas, reflexões, estudos

voltados para adquirir assim um bom aproveitamento das tecnologias.

O computador por si não dá conta, é preciso que o professor esteja

capacitado para as mudanças de paradigmas, que inclui o respeito às diferenças e

desenvolvimento de potencialidades inerentes a qualquer ser humano. Com o uso do

computador estas possibilidades de acesso ao conhecimento só aumentam. Faltam

apenas políticas para melhorar o acesso destes alunos a esses recursos.

Os alunos com deficiência visual não são os únicos a se beneficiar com os

procedimentos pedagógicos que favoreçam sua aprendizagem e sua interação social

(ROSS, 2010).

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A elaboração deste artigo deu-me a possibilidade de ler e refletir sobre a

importância das novas tecnologias para as pessoas com deficiência visual. Portanto,

a escola inclusiva é aquela que concebe e põe em prática um currículo que tenha

como princípio o compromisso com a formação integral do aluno.

Os alunos com ou sem deficiência tornam-se mais participativos e inclusos

na escola, no trabalho quando compartilham das adequações tecnológicas,

curriculares, avaliativas, metodológicas e outras.

Diante dos paradigmas educacionais, precisamos refletir sobre algumas das

práticas pedagógicas que, historicamente, tem sido construída na educação da

pessoa cega ou com baixa visão. O aluno já não se limita apenas a ler em Braille,

para sua educação é necessário disponibilizar softwares, computador e outros

recursos que propiciem acesso mais amplo ao conhecimento.

A proposta do uso do computador para os alunos com deficiência visual,

torna-se viável, pois as escolas em sua maioria possuem um laboratório de

informática. É necessário capacitação para que, o professor adquira conhecimento

aplicando assim no aprendizado do aluno.

Na escola inclusiva os alunos aprendem participando, não é apenas a

presença física que conta, mas sentirem-se pertencentes à instituição e ao grupo de

tal maneira que o sentimento de pertencimento por parte do aluno e de

responsabilidade por parte da escola seja mútuo. O educando não é uma parte do

todo, mas compõe o todo (ROSS & URBANEK, 2010, p.69).

É nesse contexto de ideias que a escola deve identificar a melhor forma de

atender às necessidades educacionais de seus alunos, em seu processo de

aprender, com os auxílios ópticos necessários e usando a tecnologia como uma das

ferramentas dentro do processo de aprendizagem.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÀFICAS

BERSCH, R. Introdução à Tecnologia Assistiva. (CEDI) - Centro Especializado em Desenvolvimento Infantil- Porto Alegre-RS: 2008.

BORGES, J.A. DOSVOX - Uma nova realidade educacional para Deficientes visuais. Disponível em www.intervox.nce.ufrj/dosvox/textos/artfoz.doc. >Acesso em 30/11/2010.

BORGES, J.A. Um novo acesso dos cegos à cultura e ao trabalho. Revista Benjamin Constant, n.3, 1996. Disponível em www.freedomscientific.com> Acesso em 04/O5/2011.

BORGES, J.A. Projeto DOSVOX – Núcleo de Computação Eletrônica- Universidade Federal do Rio de Janeiro. Disponível em http://intervox.nce.ufrj.br/dosvox. Acesso em: 31/07/2011

BRASIL. Ministério da Educação/Secretaria de educação Especial. Projeto MEC DAISY. Disponível em http://intervox.nce.ufrj.br/mecdaisisy/index.htm. Acesso em 04/O5/2010

BRASIL. Ministério da Educação/Secretaria de educação Especial. Ensaios pedagógicos: construindo escolas inclusivas. Brasília: MEC/SEESP, 2005.

BRASIL. Política Nacional de Educação especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília: MEC/SEESP, 2008.

CORDE. Ata VII- Reunião do Comitê de Ajudas Técnicas. Disponível em www.portal.mj.gov.br/corde. Acesso em 18/04/2011

DECRETO Nº 3298/99. Disponível em www.portal.mec.gov.br. Acesso em 31/07/2011.

GRINSPUN, M.P.S.Z. Educação Tecnológica. São Paulo: Cortez, 1999.

KALINKE, M.A. Internet na educação. Curitiba: Chain, p.15, 2003.

LIPER, C. Programas para Deficiente Visual. Disponível no site www.cezarliper.com.br/LinkDefiFisiCeProgram.asp > Acesso em 17/03/2011.

MANTOAN, M.T.E. Considerações sobre o uso da tecnologia na educação/reabilitação de pessoas com deficiência. In: Espaço informativo técnico-científico, Rio de Janeiro: INES, n.13, p 55-60, 2000.

MANZINI, E.D. Inclusão e Acessibilidade. Marília: ABPEE, 2006. .

MEIER, M; GARCIA, S. Mediação da aprendizagem: contribuições de Feuerstein e de Vygotsky. Curitiba: Edição do Autor, 2007.

NVDA: Guia do Usuário Original no menu: Ajuda do NVDA. Traduzido e adaptado por: NAPNE/SIEP- Campus Bento Gonçalves- 2009. Disponível em www.nvda-project.org/ > Acesso em 18/004/2011.

NVDA- Software livre –Leitor de tela para Windows. Disponível em www.bengalalegal.com. Acesso em 18/04/2011.

ROSS, P.; URBANEK, D. Educação Inclusiva. Curitiba: Editora Fael, 2010.

ROSS, P.; URBANEK, D. Cadernos de Educação Inclusiva. PROGRAD UFPR- Curitiba, 2010.

VYGOTSKY, L.V. A formação social da mente: O desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. 2. Ed. São Paulo: Martins, 1988.

VYGOTSKY, L.V. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins, 1987.