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6455 O USO DE RECURSOS TECNOLÓGICOS NA FORMAÇÃO INICIAL DO PROFESSOR DE QUÍMICA Thaís Moreno Priolli [email protected] Elaine G. M. Furlan [email protected] Universidade Federal de São Carlos Eixo Temático 1: Formação inicial de professores de educação básica Introdução Na sociedade atual, está cada vez mais presente as Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) como, por exemplo, os computadores e celulares. Como parte do desenvolvimento da sociedade, as tecnologias devem ser incluídas na educação escolar e tal inserção exige uma preparação do profissional de educação em relação ao uso de tecnologias no ensino. O uso de tecnologias pode motivar e atrair o aluno ao aprendizado de conteúdos escolares, entretanto, de acordo com alguns autores tais como Ferreira (1998) e Lopes e colaboradores (2012) há o entendimento de que deve-se ter um pensamento crítico antes da utilização dos recursos tecnológicos no ensino. Para Ferreira (1998) a tecnologia é uma ferramenta que pode resolver parcialmente as dificuldades quando acompanhada de metodologias adequadas, ou seja, recursos tecnológicos sozinhos não solucionarão os problemas educacionais. Para Lopes e colaboradores (2012) a utilização da tecnologia no processo de ensino-aprendizagem deve levar em consideração critérios sobre recurso tecnológico ligados a engenharia de software e critérios pedagógicos e metodológicos. Uma ideia similar é colocada por Kenski (2003) que menciona que o objetivo da tecnologia é ser combinada com novas estratégias, proporcionando aprendizagem significativa aos alunos. Nessa linha, as propostas dos pesquisadores Eichler e Del Pino (2000) alertam que a combinação dos recursos tecnológicos de qualidade junto com profissionais bem preparados, poderá resultar em novas estratégias e metodologias de ensino e aprendizagem. Além do mais, segundo eles, o uso do software ou recursos tecnológicos devem estar integrados com o currículo. Neste sentido, é importante que os professores estejam aptos a relacionar as tecnologias de ensino com os conteúdos didáticos e que também estejam preparados para utilizá-las, pois são os docentes que irão explorar didaticamente e utilizar esses recursos. O professor deve intermediar a relação entre o conhecimento do aluno e o programa computacional, pois esses profissionais da educação conhecem as experiências, as facilidades e as dificuldades dos estudantes. Neste processo de ensino e aprendizagem no qual se tem a inserção de tecnologias, o contato pessoal

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O USO DE RECURSOS TECNOLÓGICOS NA FORMAÇÃO INICIAL DO

PROFESSOR DE QUÍMICA

Thaís Moreno [email protected]

Elaine G. M. [email protected]

Universidade Federal de São CarlosEixo Temático 1: Formação inicial de professores de educação básica

IntroduçãoNa sociedade atual, está cada vez mais presente as Tecnologias de Informação

e Comunicação (TICs) como, por exemplo, os computadores e celulares. Como parte

do desenvolvimento da sociedade, as tecnologias devem ser incluídas na educação

escolar e tal inserção exige uma preparação do profissional de educação em relação

ao uso de tecnologias no ensino. O uso de tecnologias pode motivar e atrair o aluno ao aprendizado de

conteúdos escolares, entretanto, de acordo com alguns autores tais como Ferreira

(1998) e Lopes e colaboradores (2012) há o entendimento de que deve-se ter um

pensamento crítico antes da utilização dos recursos tecnológicos no ensino. Para

Ferreira (1998) a tecnologia é uma ferramenta que pode resolver parcialmente as

dificuldades quando acompanhada de metodologias adequadas, ou seja, recursos

tecnológicos sozinhos não solucionarão os problemas educacionais. Para Lopes e

colaboradores (2012) a utilização da tecnologia no processo de ensino-aprendizagem

deve levar em consideração critérios sobre recurso tecnológico ligados a engenharia

de software e critérios pedagógicos e metodológicos. Uma ideia similar é colocada por

Kenski (2003) que menciona que o objetivo da tecnologia é ser combinada com novas

estratégias, proporcionando aprendizagem significativa aos alunos.

Nessa linha, as propostas dos pesquisadores Eichler e Del Pino (2000) alertam

que a combinação dos recursos tecnológicos de qualidade junto com profissionais

bem preparados, poderá resultar em novas estratégias e metodologias de ensino e

aprendizagem. Além do mais, segundo eles, o uso do software ou recursos

tecnológicos devem estar integrados com o currículo. Neste sentido, é importante que os professores estejam aptos a relacionar as

tecnologias de ensino com os conteúdos didáticos e que também estejam preparados

para utilizá-las, pois são os docentes que irão explorar didaticamente e utilizar esses

recursos. O professor deve intermediar a relação entre o conhecimento do aluno e o

programa computacional, pois esses profissionais da educação conhecem as

experiências, as facilidades e as dificuldades dos estudantes. Neste processo de

ensino e aprendizagem no qual se tem a inserção de tecnologias, o contato pessoal

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aluno/professor é relevante, pois o professor não irá somente auxiliar nas dificuldades

do processo de aprendizagem como também poderá estimular a curiosidade do aluno

(MOURA et al, 2012; FERREIRA,1998).Entretanto, de acordo com o estudo de Morais (2006), há muitas limitações

para a introdução das tecnologias no ensino. Uma delas é a escassez de softwares de

boa qualidade técnica e pedagógica; outro fator é a falta de preparação dos

professores para utilizar os recursos computacionais no ensino. Diversos pesquisadores indicam em seus trabalhos a falta de preparação do

professor para a utilização dos recursos computacionais no ensino (MORAIS, 2006;

EICHLER e DEL PINO, 2000; VALENTE, 1993). Existem muitas pesquisas sobre o uso

das TIC’s na educação e segundo Ferreira (1998), muitas delas comprovam que a

tecnologia pode auxiliar na aprendizagem, mas poucos professores fazem uso desses

recursos tecnológicos, pois não se sentem confortáveis em utilizá-los. Muitas vezes,

tal fato se justifica pela formação inicial dos professores e carência de formação

continuada que capacita o professor para utilizar tais recursos, além disso, há pouco

divulgação na área da educação de programas computacionais para aprendizagem. Eichler e Del Pino (2000) mencionam que os processos de formação

continuada e formação inicial não são simples, pois envolvem diversos conteúdos

específicos, princípios educacionais, metodologias de ensino, psicologias da

aprendizagem, uso e escolha de meios didáticos entre outros. Com relação à

formação inicial, é importante que os cursos de licenciaturas insiram o uso das TIC’s,

com a finalidade de formar professores que se sintam seguros com as tecnologias e

preparados para utilizá-la (RIBEIRO e GRECA, 2003). As habilidades dos professores

e futuros professores com recursos tecnológicos devem ser construída nos cursos de

formação, priorizando a inicial, razão pela qual Baptista e Santos Filho (2011) indicam

que é na universidade:(...) que o conhecimento é gerado e é lá o local mais adequado parase testar e divulgar os novos recursos educacionais que são gerados.Nesse sentido, a universidade deverá formar (...) profissionais que,além de ter um domínio aprimorado dos conceitos básicos deQuímica, estejam perfeitamente adaptados aos novos recursostecnológicos e as novas tecnologias aplicado no ensino (BAPTISTA eSANTOS FILHO, 2011, p.31).

Durante o uso do computador com os alunos podem surgir problemas, o que

reitera a importância da preparação do professor por meio de curso de formação na

área de informática em educação. Para Valente (1993), estes cursos devem

proporcionam momentos em que os professores ou os futuros professores vivenciem

situações de conflito (aluno-computador) tendo o apoio de profissionais mais

experientes (professores do curso). Assim, a partir de tais vivências o professor ou

futuro professor adquire mais domínio e experiência quanto ao uso do computador.

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A maior parte dos professores e futuros professores, não se sentem

preparados para utilizarem junto com os alunos as novas tecnologias. Ao conhecer os

benéficos e objetivos das tecnologias no ensino fica mais fácil a introdução dessas no

ambiente escolar, assim, para Pardal (2001) o investimento na formação dos

professores e de futuros professores é de grande importância para garantir as

transformações almejadas na área educacional. Atualmente, com as novas

tecnologias, as informações estão expostas a todos e o professor não é mais o “dono

do saber”, tal fato exige que a escola redefina seu projeto educativo e o professor

adquira novas funções. Além de transmissor de conhecimento, segundo Lèvy (1999), o

professor deve ser incentivador da inteligência, sua função é de acompanhamento e

da gestão das aprendizagens.Atualmente, muitos cursos de licenciatura passam por um processo de

reestruturação curricular, inserindo disciplinas que apoiam o uso das Tecnologias de

Informação Comunicação (TIC’s). Um exemplo é nos cursos de Licenciatura em

Química da Universidade Federal do Ceará (UFC) e da Universidade Federal de

Sergipe/Campus José Aloísio de Campos, nos quais foram inseridas a disciplina

“Ferramentas Computacionais para o Ensino de Química” (FCEQ). Tal disciplina tem

como objetivo capacitar o futuro professor de química para uso de ferramentas

tecnológicas. Para que os futuros professores utilizem as ferramentas computacionais

com os alunos da educação básica essa disciplina foi em conjunto com a disciplina de

estágio (JESUS et al.,2012; LIMA et al.,2012).Outro exemplo é a disciplina “Metodologia de Ensino Química via Telemática”

criada por pesquisadores do Laboratório de Pesquisa em Ensino de Química e

Tecnologia Educativas da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo

(FEUSP). Essa disciplina é oferecida pela Internet para licenciandos em Química de

diversas universidades pública brasileiras e, tem o objetivo de preparar os futuros

educadores para atuar nos ambientes virtuais de aprendizagem (BARBOSA e

GIORDAN, 2010).

DesenvolvimentoDiante do exposto sobre a preparação do futuro professor com relação ao uso

de recursos tecnológicos no ensino, esse trabalho teve como objetivo incentivar os

alunos do curso de Licenciatura em Química da Universidade Federal de São Carlos

(UFSCar), campus Araras, ao uso de software durante a disciplina de Estágio

Supervisionado em Química, desenvolvida em escolas públicas de ensino médio, além

de expor relatos de futuros professores sobre as dificuldades e os benéficos da

utilização do software com os alunos da educação básica, no sentido de contribuir

para a formação docente inicial desses licenciandos.

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De acordo com Carvalho (1987), “o estágio supervisionado deve ser uma das

atividades – sem dúvida alguma, a principal – dentro de um curso de Prática de

Ensino”, assim por meio dos estágios os futuros professores praticam o “ensinar” em

condições reais de uma sala de aula. Segundo Silva e Schnetzler (2008, p. 2175) “o

estágio supervisionado (...) compõe-se de uma interação constante entre o saber e o

fazer entre conhecimento acadêmico disciplinares”, além do futuro professor buscar

soluções diante dos problemas rotineiros do ambiente escolar. No curso de Licenciatura em Química da UFSCar, campus Araras/SP, os

estágios supervisionados são divididos em duas vertentes: uma disciplina de Estágio

Supervisionado em Ciência, realizada no ensino fundamental e três disciplinas de

Estágio Supervisionado em Química (1, 2 e 3), focalizando o ensino médio. Assim, buscando atingir o objetivo deste trabalho foi realizada uma palestra,

por uma das pesquisadoras deste trabalho, para os alunos da disciplina de Estágio

Supervisionado em Química 3, na qual a docente responsável é também pesquisadora

deste trabalho. No decorrer da palestra os futuros professores foram convidados a

utilizar um software educativo de química durante seu estágio obrigatório em uma

escola pública de nível médio, na cidade de Araras/SP. O software educativo sugerido

foi o “Virtual ChemLab”, um software de simulação de experimentos químicos com um

laboratório virtual de química no qual é possível realizar diversos experimentos. Uma

aluna da disciplina aceitou a proposta e, então, foi planejada uma aula utilizando o

“Virtual ChemLab”. Tal aula foi elaborada e discutida pelas pesquisadoras e

licencianda e, desenvolvida sob orientação e supervisão de, pelo menos uma das

pesquisadoras e da professora responsável pela disciplina de química da escola, que

acompanhava o estágio da licencianda. O tema dessa aula foi “Reação de combustão”, buscando a contextualização

do assunto foi proposto que se trabalhasse com dois combustíveis muito utilizados

atualmente: o octano (principal componente da gasolina) e o etanol. A

contextualização é importante no ensino de ciência, segundo Santos (2008), é

fundamental que ocorra a relação entre ciência e os problemas sociais, pois contribui

para a o desenvolvimento da capacidade de tomar de decisões.A aula, denominada “Combustão do etanol e octano”, foi aplicada cinco vezes,

sendo que cada aplicação era para uma turma diferente de alunos. As aulas ocorreram

na sala de informática da escola. A futura professora fez uma apresentação de slides

sobre o tema e sugeriu que os alunos respondessem a seguinte questão: “Entre os

combustíveis octano e etanol, qual deles é mais viável, levando em consideração a

produção de 1000kJ de energia?”. Para que essa questão fosse respondida, os alunos precisaram realizar os

experimentos de combustão do etanol e de combustão do octano no laboratório virtual

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“Virtual ChemLab”. Após os experimentos foi apresentada uma tabela com os dados

de calor de combustão, densidade e preço do combustível; com tais valores foi

possível que os alunos realizassem os cálculos, posteriormente foi feita uma

comparação dos valores do octano e etanol para que finalmente responderem à

questão inicialmente proposta. Por fim os alunos tiveram que responder um

questionário disponibilizado na Internet.Após as aplicações de “Combustão do etanol e octano” para os alunos do

ensino médio, a licencianda e professora de química responsável pela turma foram

convidadas a responder um questionário via Internet, com o objetivo de obter dados

sobre sua experiência em relação ao uso de computador e softwares educacionais no

ensino, proporcionando um processo de reflexão sobre as dificuldades e benefícios

desta proposta de ensino.O uso do computador e da Internet durante o período escolar é também

importante para os alunos, para aperfeiçoarem suas habilidades ou aprender a lidar

com esses recursos, como indicado pelo Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino

Médio (PCNEM) (Brasil, 2000). De acordo com DALLACOSTA e colaboradores (1998)

com a utilização desses recursos no ambiente escolar pode ocorrer uma preparação

dos alunos para o mercado de trabalho, no qual essas ferramentas são muito

utilizadas. Além disso, os alunos ampliam sua visão sobre a potencialidade da Internet

no ensino, muitos alunos da educação básica utilizam o computador e a Internet

somente como um meio de diversão e entretenimento.O uso da Internet como um instrumento no processo de aprendizagem vem

crescendo, atualmente na web é possível encontrar uma variedade de simulações,

vídeos, lista de discussões, tutoriais (SÁ FILHO; MACHADO, 2003). Um recurso

disponível na Internet interessante para professores ou pesquisadores são os

questionários ou formulários on-line, nesse caso as respostas são direcionadas para o

e-mail cadastrado da pessoa que elaborou o questionário, um exemplo é o “Formulário

Google”, um tipo desse recurso também foi utilizado nesta pesquisa. A licencianda em química e a professora responsável pela turma foram

convidadas a responder o questionário da pesquisa, mas como em um dos dias da

aplicação da aula “Combustão do etanol e octano” a professora responsável pela

turma faltou e havia uma professora substituta sob o comando da turma essa também

foi convidada a responder o questionário. A professora substituta estava cursando o

último semestre do curso de Licenciatura em Química da UFSCar- campus Araras. É

comum que os alunos de licenciatura antes de terminarem o curso atuarem como

professores, como mostrado na pesquisa de Melo (2007). Responderam ao

questionário a licencianda e a professora substituta e os dados serão apresentados a

seguir.

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Resultados e discussão

As duas primeiras aplicações da aula “Combustão do octano e etanol” foi no

período da tarde, privilegiando as salas de 1o. anos do ensino médio que a licencianda

desenvolvia as atividades de Estágio, as demais aplicações ocorrem para os alunos

do período da manhã. Antes das aulas foi necessário a instalação do software nos

computadores da escola e tal procedimento foi realizado anteriormente, no período da

manhã. No entanto, entre o período da manhã e o da tarde, os computadores foram

desligados, ocasionando o imprevisto dos programas serem desinstalados

automaticamente; isso ocorreu, pois, o sistema presente nos computadores da escola

não salva arquivos após o desligamento do computador. Assim, foi necessário que se

instalasse novamente o programa, que ocorreu durante a primeira aula do período da

tarde, evidenciado, assim, a primeira dificuldade, ou seja, a sintonia que é necessário

existir na escola entre funcionários, gestores e professores para não prejudicar o

planejamento da atividade.Outro desafio foi em relação ao pouco tempo que os computadores ficam

liberados para uso. Na afirmativa da futura professora observa-se tal fato: “os

computadores são liberados pelo monitor da sala (pessoa responsável pela sala de

informática) por um tempo determinado por ele (...) o tempo era muito curto para ser

usado em todas as salas”. Dadas essas circunstâncias, foi utilizado um tempo das

aulas para fazer o login dos computadores e abrir o software do laboratório virtual,

com isso ocorreu um pequeno atraso do cronograma da aula. Nesse caso, fica

novamente claro que deve existir a comunicação entre professor e demais

funcionários da escola, no caso o responsável pela sala de informática. Esse

profissional pode indicar como são feitos os procedimentos na sala de informática,

assim o professor durante o planejamento das aulas prevê melhor o tempo de

permanência dos alunos na sala de informática.Durante a primeira aplicação da “Combustão do etanol e octano” houve perda

de conexão com a Internet, tal problema foi citado pela licencianda: “(...) a Internet da

escola ter perdido o acesso...”. Para a instalação do “Virtual ChemLab” era necessário

o uso da Internet, mas para ser utilizado não é necessário a conexão com a Internet.

Como os softwares já estavam instalados os alunos conseguiram realizar a atividade

no “Virtual ChemLab” normalmente, porém, não foi possível que os alunos

respondessem as questões disponibilizadas no site; do computador central da sala de

informática da escola era transmitido os slides com o conteúdo sobre a aula e com as

questões que os alunos deveriam responder. Como para a apresentação de slides não

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havia necessidade da conexão com a Internet foi possível passar as questões para os

alunos oralmente e eles responderam as questões utilizando papel e lápis; no caso de

uma queda de energia elétrica os computadores seriam desligados e ficaria mais

complicado transmitir as questões para os alunos, nesse caso para os alunos

responderem as questões o professor deveria saber o que era proposto em cada uma

delas. O fato da queda da conexão da Internet e até mesmo a falta energia elétrica ou

outros problemas técnicos com o computador evidenciam que as atividades com

recursos tecnológicos são dependentes de fatores elétricos e técnicos, assim é

importante que o professor tenha um material extra no formato impresso, saiba o que

foi planejado e esteja preparado para conduzir a aula se algum problema ocorrer,

como aconteceu nesta pesquisa. Além disso, a professora substituta citou a dificuldade que os alunos tiveram

com o uso do software “ A principal dificuldade foi (o aluno) conseguir sozinho o

experimento (...)”. Os fatores que podem ter dificultado o uso do software foram o fato

dele ser uma ferramenta nova para os alunos, e principalmente em relação a forma

que foi apresentado o modo de como utiliza-lo. A apresentação de como usar o

software foi por meio de um vídeo demonstrativo, sendo assim, a professora relata que

poderia ser mais lenta a apresentação: “(...)o vídeo utilizado para explicar como iria

ser desenvolvida a atividade está um pouco rápido, talvez se diminuísse a velocidade

poderia ser mais fácil para os alunos entenderem”. Diante das dificuldades dos alunos

com o software, a licencianda e a professora substituta explicaram o funcionamento do

software para cada grupo de alunos no computador que eles estavam utilizando,

desse modo as explicações ficaram mais direcionadas ao objeto da atividade. Aqui,

novamente, evidencia-se a importância do planejamento, da reflexão e discussão

entre os envolvidos para garantir a melhoria da atividade. É importante ressaltar que antes da aplicação das aulas as discussões entre a

licencianda e as pesquisadoras proporcionaram o domínio do uso do software, assim

como, do conteúdo da aula. Portanto, com as explicações, orientações e adaptações

necessárias no desenvolvimento da aula os alunos conseguiram entender e realizaram

a atividade, tal fato é comprovado pela fala da professora substituta: “(...) primeiro

contato desses alunos com o programa, pois depois de um tempo eles acostumaram

com o funcionamento”. Percebe-se nessa fala também que os alunos não estão acostumados com uso

de software de química e que diante de uma nova ferramenta para os alunos é

importante que as explicações sejam bem detalhadas. É relevante citar também a

participação da professora substituta, que se mostrou disposta a auxiliar os alunos e

motivada pelo uso do software durante a aula.

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Pelas observações das pesquisadoras durante as aplicações e pelos relatos da

futura professora e professora substituta percebeu-se as dificuldades para a

introdução de atividades pedagógicas com recursos tecnológicos, mesmo quando as

aulas com recursos multimídia são planejadas adequadamente, no momento da

aplicação podem ocorrer imprevistos. Por isso é importante que o futuro professor

esteja seguro e preparado como citado anteriormente por Valente (1993).Apesar dos obstáculos encontrados, a futura professora e a professora

substituta mencionam fatores positivos sobre as aulas ministradas. A futura professora

coloca que “os alunos se interessam mais, afinal, faz parte do dia a dia deles usar o

computador”, o que indica que a aula promoveu a motivação ou o interesse dos alunos

do ensino médio. A professora substituta também percebeu o interesse dos alunos no

decorrer da aula: “(...) durante a realização da mesma (aula com uso de software),

vários alunos ficaram interessados no assunto”. Tal fato corrobora com a pesquisa de

Melo (2007) em que a maioria dos sujeitos de sua pesquisa (75%), estudantes de

licenciatura em química, concordam que o uso de software, como ferramenta

educacional, consegue motivar o aluno. Outra fala importante da licencianda foi “uma aula feita de forma diferente”,

entende-se que a aula foi diferente por conter apresentação de slides, ter atividade no

laboratório virtual e responder questões pelo computador, o que normalmente não

ocorre nas aulas em que se utilizam o quadro, giz, caderno e livros. Tal fato é

comprovado pela fala da professora substituta citada anteriormente visto que foi o

primeiro contato dos alunos com software educativo de químico.Outro ponto positivo da aula relatado pela licencianda foi a interação entre

aluno e software: “um laboratório virtual que os alunos podem interagir” e coloca

também: “(...) eles (alunos) conseguiram interagir e não apenas receber o conteúdo”.

Tais ideias são de acordo com as pesquisas de Souza e Merçon (2014) e Benite e

Benite (2008), que relatam que a junção dos recursos tecnológicos, como software,

com o ensino de química, pode promover um ensino mais dinâmico e agradável,

podendo ser trabalhado de forma interativa.Pelas respostas do questionário evidenciou que a futura professora e a

professora substituta nunca utilizaram software educativo. A futura professora somente

utilizou durante as aulas de estágios que foram em colaboração com as

pesquisadoras, como mencionado: “Utilizei o tempo todo, tanto os recursos visuais

quanto os tecnológicos(...)”. Já a professora substituta citou algumas situações na qual

utilizou a sala de informática com os alunos: “quando a utilizo geralmente é para os

alunos realizarem pesquisas(...) ou (...)acessarem vídeos sobre a matéria”. Pode-se

perceber, dessa forma, que os recursos tecnológicos e a sala de informática são

pouco utilizados durante aulas aplicadas por estagiários junto com os alunos e os

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computadores normalmente são utilizados somente para fazer pesquisa ou assistir

vídeos.Após a aplicação da aula “Combustão do etanol e do octano”, a licencianda

cogitou da possibilidade de uma outra aula com recursos multimídias ser elaborada e

aplicada com os alunos do Ensino Médio. Tal fato não era esperado pelas

pesquisadoras e, diante da atitude da futura professora, foi demonstrado o seu

interesse pelo uso dos recursos multimídia no ensino. O tema da próxima foi sugerido pela professora da turma e assim, foi

desenvolvida a aula “Polaridade das Moléculas”, com apresentação de slides sobre

eletronegatividade, polaridade, e ligação de moléculas. Para ilustrar o conteúdo, foi

utilizado um software de química o qual proporcionou simulações de moléculas

polares e apolares, sendo algumas em 3D. Dessa forma, entende-se que as aulas

com recursos multimídias despertaram o interesse da futura professora para uma

possibilidade de trabalho docente, além da parceria escola-universidade, explorando

as oportunidades da pesquisa no ensino.

Considerações finais

Em alguns cursos de licenciatura em química há ainda uma defasagem em

relação ao uso de metodologias com recursos tecnológicos, como uso de software,

durante os estágios de regência; tais recursos também são pouco utilizados pelos

professores da educação básica. Neste trabalho foi inserido o uso de ferramenta tecnológica na prática do futuro

professor de química. A licencianda que participou da pesquisa, foi orientada durante

seu estágio no sentido de prepara-la e incentiva-la na utilização do software educativo

de química. Após a aplicação das aulas de regência, percebeu-se alguns obstáculos

como instalação do software, tempo disponível para uso dos computadores, falta de

conexão com Internet e dificuldade dos alunos com relação ao uso do software. Diante

desse último obstáculo percebeu-se a importância da preparação do professor com

relação ao uso do software, pois durante a aula pode ocorrer dos alunos não

entenderem o uso do mesmo e será o professor que irá auxiliar no sentido de

direciona-lo ao objetivo da atividade. De modo geral, evidenciou-se que mesmo que as

aulas com recursos tecnológicos sendo planejadas podem ocorrer imprevistos, com a

falta de conexão da Internet, assim além de um bom planejamento da aula é

necessária uma boa preparação do futuro professor incluindo discussões e reflexões

sobre a prática docente junto com professionais mais experientes.Apesar de algumas dificuldades, a futura professora e a professora da

educação básica, que participaram da pesquisa, também citaram alguns benefícios da

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ferramenta no ensino de química, como motivação e interesse dos alunos, aula

diferenciada e interação do aluno com software. Esses são fatores importantes que

podem influenciar em uma boa compreensão do conteúdo escolar.Após a aula a licencianda ficou motivada em relação ao uso de tecnologia no

ensino, sugerindo que sua próxima aula de regência fosse com a utilização de

software. Desse modo, entende-se que por meio dessa vivência no estágio a futura

professora e a professora da educação básica conheceram novos recursos

tecnológicos que podem ser aplicadas no ensino mesmo diante de algumas

dificuldades encontradas no ambiente escolar. A experiência apresentada neste

trabalho mostrou que pode ocorrer mudanças nas grades curriculares do curso ou

iniciativas no interior das disciplinas dos cursos de licenciatura, relacionando ao uso de

metodologias com recursos tecnológicos e que tais mudanças podem ser bem vistas

pelos estudantes do curso, contribuindo para a formação dos futuros professores e

para a melhoria do ensino.

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