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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO RAQUEL FURTUNATO DA SILVA A PRESENÇA DO ALUNO NEGRO NO COLÉGIO LICEU CUIABANO: FORMANDOS DE 1945 CUIABÁ/MT 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

RAQUEL FURTUNATO DA SILVA

A PRESENÇA DO ALUNO NEGRO NO COLÉGIO LICEU CUIABANO:

FORMANDOS DE 1945

CUIABÁ/MT

2015

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RAQUEL FURTUNATO DA SILVA

A PRESENÇA DO ALUNO NEGRO NO COLÉGIO LICEU CUIABANO:

FORMANDOS DE 1945

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação

em Educação do Instituto de Educação da Universidade

Federal de Mato Grosso como requisito para a obtenção

do título de Mestre em Educação na Área de

Concentração Educação, Cultura e Sociedade, Linha de

Pesquisa Movimentos Sociais, Política e Educação

Popular.

Orientadora: Profa. Dra. Maria Lúcia Rodrigues Müller.

CUIABÁ/MT

2015

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Dados Internacionais de Catalogação na Fonte.

Ficha catalográfica elaborada automaticamente de acordo com os dados fornecidos pelo(a) autor(a).

Permitida a reprodução parcial ou total, desde que citada a fonte.

F992p Furtunato da Silva, Raquel.A presença do aluno negro no Colégio Liceu Cuiabano :

Formandos de 1945 / Raquel Furtunato da Silva. -- 2015130 f. : il. ; 30 cm.

Orientador: Maria Lúcia Rodrigues Müller.Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Mato Grosso,

Instituto de Educação, Programa de Pós-Graduação em Educação,Cuiabá, 2015.

Inclui bibliografia.

1. Educação. 2. Relações-Raciais. 3. Ensino Secundário. I.Título.

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DEDICATÓRIA

Primeiramente, agradeço ao meu bom Deus por ter me dado força e fôlego para finalizar o

Mestrado. À minha família, em especial à minha mãe, Silvani que, por mais longe que

estivesse, tornava-se presente em meus pensamentos pelas sábias palavras quando eu

pensava em desistir. Mãe, sem ela ao meu lado tudo ficaria muito mais difícil.

À minha avó, Cila, companheira e confidente. Senti saudades do aroma do café dela, das

tardes chuvosas, das conversas em frente a sua humilde casinha no interior de Rondônia.

Boas memórias dessa minha juventude marcada por muitos risos, choros e sonhos.

Ao Rômulo Roosevelt, esposo e companheiro de jornadas e madrugadas de estudos. Pai do

meu maior título: meu filho “Jorge”. A ele e a meu filho, dedico muito amor. Lembrem-se de

que não haverá obstáculo ou dificuldades quando existir o desejo de vencê-los.

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AGRADECIMENTOS

Não haveria como concluir este estudo sem a ajuda de muitos que, direta ou indiretamente,

colaboraram para a construção desta dissertação. A todos gratidão por estarem comigo

nesta e em outras conquistas que ainda estão por vir.

A fé em Deus fortaleceu minhas forças no momento que pensava em desistir. O desejo de

concluir esta pesquisa foi bem maior que qualquer obstáculo surgido durante esta

caminhada.

À minha orientadora Profa. Dra. Maria Lúcia Rodrigues Müller, meu sentimento a ela é de

gratidão e respeito. Agradeço pela acolhida tão carinhosa e por acreditar no meu potencial.

Por meio das orientações dela e do contato com suas produções acadêmicas, tornei-me mais

sensível às questões raciais e, aos poucos, e fui me tornando pesquisadora de escarafunchar

arquivos públicos. Por ela nutro admiração. Não tenho palavras para descrever o

sentimento que sinto. Nas minhas memórias, ela sempre estará presente como uma boa e

incansável orientadora, que acredita na verdade e na justiça. Obrigada pelo aprendizado.

Aos avaliadores da minha banca, Acildo Leite da Silva e Candida Soares da Costa meus

sinceros agradecimentos. Cada sugestão deles me oportunizou reflexões significativas.

À minha família cuiabana, essa que, ao longo de um ano, compartilhei madrugadas de

estudos. Valdeci Mendes e Késia Paz, amigos de uma incansável jornada de dedicação ao

mestrado. Irmãos de uma caminhada enriquecedora de conhecimento. Agradeço pela

oportunidade de aprender com eles que a vida precisa de mais sorriso.

Aos meus colaboradores: Almira Malhado, Doralice Praieiros e Edio Lotufo, sem eles nada

disso poderia ser concretizado. Agradeço por confiarem a mim suas memórias. Senti-me

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honrada em ouvi-las atenciosamente. Vi nos olhos de cada um deles o sentimento saudosista

que tem pela escola, Liceu Cuiabano, e pelos seus colegas da época. A história dessa terra

cuiabana se confunde com a história dessa centenária e imponente escola.

Agradeço à gestão da escola, Liceu Cuiabano, por não medir esforços em autorizar as visitas

ao acervo da instituição. Em especial, à senhora Maria, que, por longos meses, permitiu que

eu me tornasse sua companheira de trabalho naquele pequeno acervo. Agradeço pelo

cafezinho e pelas boas risadas.

Agradeço a Márdio Silva, Marcelo Velasco e Mônica Velasco por disponibilizarem

fotografias do seu pai, Márdio. Memórias da época que o formando estudava no Liceu

Cuiabano. A história dele entusiasma qualquer pessoa ao ouvi-la. Trajetória marcada por

luta e pela dedicação à família. Não foi por acaso que Márdio se tornou um professor

catedrático e admirado por todos que tiveram o privilégio de conhecê-lo.

À Vanda da Silva Franco e ao Maurício Vieira o sentimento é de respeito e gratidão por

compartilharem a história de vida de Joaquim Cruz, homem que tanto eles admiram e

amam. A eles, meus agradecimentos.

Fernando Agnelo, sem a ajuda dele não teria a oportunidade de conhecer a história de vida

da avó, Senhora Jair Agnelo. Mulher cuiabana, da terra, que muito fez para ajudar às

pessoas humildes. Respeitosamente, meu muito obrigado.

À Mariluci Castilho, agradeço por compartilhar histórias fantásticas do pai dela, Senhor Uir

Castilho. Experiência que levarei comigo até o dia em que puder viver neste mundo.

Ao Programa de Pós-Graduação em Educação de Cuiabá, meus agradecimentos, em especial

à Luisa Maria Teixeira Silva Santos e À Marisa Costa Voltarelli que sempre me acudiram nos

momentos de desespero.

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São tantos colaboradores que ficaria noites a fio a escrever, porém nada que eu registre irá

medir o tamanho da minha gratidão a todos eles. Assim, resumo:

Muito obrigado a todos.

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RESUMO

Esta pesquisa teve por objetivo identificar, por meio de fontes documentais, disponibilizadas

no arquivo da Escola, Liceu Cuiabano, informações sobre a presença de alunos negros nos

bancos escolares na década de 40. A investigação recaiu sobre a turma ingressante no ano de

1942 (os formandos de 1945), do curso Ginasial do Liceu Cuiabano. Essa turma foi a

primeira turma a se licenciar no novo prédio de ensino, instalado no ano de 1944. A pesquisa

é respaldada na perspectiva histórica cultural e teve como instrumentos metodológicos o

estudo documental das fontes, a pesquisa bibliográfica e as contribuições da memória

individual e coletiva. Os depoimentos das famílias dos alunos negros foram de suma

importância para compreender o período histórico vivido e o caminho percorrido por esses

alunos ao ingressarem na instituição e após sair dela ao lançar-se a vida, em melhores

condições.

Palavras-Chave: Educação. Relações Raciais. Ensino Secundário.

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ABSTRACT

The goal of the research was to identify, through documentary sources available in the school

archives of Liceu Cuiabano and in the Public Archives of Mato Grosso, information about the

presence of black students on school benches in the 1940s. We will limit it to the newcomer

high school class of 1942 (the graduates of 1945) of Liceu Cuiabano. This class was the first

one to graduate in the new school building, installed in 1944. The integration of black

students in public education of Mato Grosso is evident, however, it does not characterize the

school as a democratic institution or as anti-racist. The research is supported by the cultural-

historical perspective and, as methodology, it was held documentary and bibliographical

research and it also had contributions of individual and collective memory. The testimonies

of the families of black students were of paramount importance to understand how that

historical period was lived and the path taken by those students when they joined the

institution and when they left it to launch themselves in a life of better conditions.

Keywords: Education. EthnicRelations. SecondaryEducation.

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LISTA DE IMAGENS

FOTOGRAFIA Nº 1 Alguns alunos do Liceu Cuiabano - 4ª série do Curso

Ginasial - Formandos de 1945

FOTOGRAFIA Nº 2 Quadro de foto dos formandos de 1945-Liceu Cuiabano

FOTOGRAFIA Nº 3 Formandos do Liceu Cuiabano em 1948

FOTOGRAFIA Nº 4 Identificação por imagem dos formandos de 1945

FOTOGRAFIA Nº 5 Algumas alunas do Liceu Cuiabano-Formandas de 1945/ 2º

turma

FOTOGRAFIA Nº 6 Praça Alencastro

FOTOGRAFIA Nº 7 Presença de alunos negros na Escola Pública

FOTOGRAFIA Nº 8 Alunos da Escola de Aprendizes Artífices de Cuiabá

FOTOGRAFIA Nº 9 Professora, Maria Dimpina Lobo Duarte com seus alunos,

s/d

FOTOGRAFIA Nº 10 Professora, BernardinaRich

FOTOGRAFIA Nº 11 Ganha Tempo

FOTOGRAFIA Nº 12 Prédio dos Correios final do Séc. XIX

FOTOGRAFIA Nº 13 Palácio da Instrução em 1920

FOTOGRAFIA Nº 14 Colégio Estadual Mato Grosso - Professores do Liceu

Cuiabano

FOTOGRAFIA Nº 15 Liceu Cuiabano na década de 1940

FOTOGRAFIA Nº 16 Escola Estadual de I e II Graus Liceu Cuiabano de Arruda

Müller

FOTOGRAFIA Nº 17 Caderneta escolar do formando Márdio Silva

FOTOGRAFIA Nº 18 Jair Agnelo

FOTOGRAFIA Nº 19 Joaquim Augusto da Cruz – Em missão no Egito pelo

Exército

FOTOGRAFIA Nº 20 Márdio Silva - Rochedo, Mato Grosso do Sul em 1936

FOTOGRAFIA Nº 21 Márdio Silva em Campo Grande - MS em 1941

FOTOGRAFIA Nº 22 Márdio Silva, com o uniforme escolar da época na Praça do Porto,

ano de 1947

FOTOGRAFIA Nº 23 Márdio Silva, com os colegas da 3º turma da 4º série do Curso

Ginasial- Escola Estadual de Mato Grosso – o Liceu Cuiabano – ano de 1945

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FOTOGRAFIA Nº 24 Márdio Silva, com os colegas da 3º turma da 4º série do Curso

Ginasial – Escola Estadual de Mato Grosso – o Liceu Cuiabano ano de 1945

FOTOGRAFIA Nº 25 Colegas do Colégio Estadual – o Liceu Cuiabano em 1948

FOTOGRAFIA Nº 26 Alunos do Colégio Estadual de Mato Grosso – o Liceu Cuiabano

FOTOGRAFIA Nº 27 Márdio Silva, bacharel em Direito pela Universidade Federal de

Mato Grosso

FOTOGRAFIA Nº 28 Márdio Silva e Maria na cerimônia de seu casamento em 1957

FOTOGRAFIA Nº 29 Maria da Cruz

FOTOGRAFIA Nº 30 Uir Castilho em foto oficial da Policia Militar

FOTOGRAFIA Nº 31 Uir Castilho no jogo do Misto

FOTOGRAFIA Nº 32 Uir Castilho com os jogadores do Misto

FOTOGRAFIA Nº 33 Wilson Bruno

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LISTA DE TABELAS

TABELA Nº 1 Local de nascimento dos alunos negros, por Estado e município

TABELA Nº 2 Número de alunos por turma – formandos de 1945

TABELA Nº 3 Lista nominal dos alunos matriculados na 1º turma do Ensino Secundário do

Liceu Cuiabano

TABELA Nº 4 Lista nominal dos alunos matriculados na 2º turma do Ensino Secundário do

Liceu Cuiabano

TABELA Nº 5 Lista nominal dos alunos matriculados na 3º turma do Ensino Secundário do

Liceu Cuiabano

TABELA Nº 6 Distribuição dos colaboradores da pesquisa nas suas respectivas turmas

TABELA Nº 7 Liceus criados no período de 1825 a 1879

TABELA Nº 8 Disciplinas do curso Ginasial

LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO Nº 1 – Faixa etária dos formandos de 1945

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LISTA DE QUADROS

QUADRO Nº 1 - ficha de matrícula (1942-1946)

QUADRO Nº 2 - Portaria nº 2

QUADRO Nº 3 - Portaria s/n

QUADRO Nº 4 - Pontos de Português - 4º série - Curso Ginasial

QUADRO Nº 5 - Pontos de Latim - 4º série - Curso Ginasial

QUADRO Nº 6 - Pontos de Francês - 4º série - Curso Ginasial

QUADRO Nº 7 - Pontos de Inglês - 4º série - Curso Ginasial

QUADRO Nº 8 - Pontos de Matemática - 4º série - Curso Ginasial

QUADRO Nº 9 - Pontos de História do Brasil - 4º série - Curso Ginasial

QUADRO Nº 10 - Pontos de Geografia - 4º série - Curso Ginasial

QUADRO Nº 11 - Pontos de Ciências Naturais - 4º série - Curso Ginasial

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LISTA DE ABREVIATURAS

APMT Arquivo Público de Mato Grosso

AGMT ÁlbhumGraphico de Mato Grosso

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

MSE Ministério da Educação e Saúde

NEPRE Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Relações Raciais e Educação

UFMT Universidade Federal de Mato Grosso

UNIR Universidade Federal de Rondônia

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 17

CAPÍTULO I O CAMPO DE PESQUISA: ABORDAGEM METODOLÓGICA E FONTES............19

1.1 A ESCOLHA DA TURMA-FORMANDOS DE 1945 ...................................................22

1.2 CARACTERIZAÇÃO DA TURMA: 4º SÉRIE DO CURSO GINASIAL ................... 24

1.3 A FONTE DOCUMENTAL ........................................................................................... 30

CAPÍTULO II O PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO DA COR DOS FORMANDOS NEGROS DE 19452.......................................................................................................................................35 2.1 A COMPLEXA IDENTIFICAÇÃO RACIAL DOS FORMANDOS NEGROS ...........37

2.2 A PRESENÇA DOS FORMANDOS NEGROS NO LICEU CUIABANO: A MÉMORIA

VIVA.......................................................................................................................................45

CAPÍTULO III A PRESENÇA DO ALUNO NEGRO NAS ESCOLAS DE CUIABÁ ............................48

3.1 ASPECTOS HISTÓRICOS DOS LICEUS NO BRASIL ...............................................58

3.2 A HISTÓRIA DO LICEU CUIABANO ......................................................................... 63

CAPÍTULO IV LICEU CUIABANO E SEUS DIFERENTES ESPAÇOS DESABER ............................71

4.1 CULTURA ESCOLAR DO LICEU CUIABANO ..........................................................77

4.2 EXAMES DE ADMISSÃO ..............................................................................................81

4.3 DISCIPLINAS DO CURSO GINASIAL .........................................................................86

4.4 EDUCAÇÃO FISÍCA ......................................................................................................88

4.5 CARDENETA ESCOLAR................................................................................................91

4.6 EXAMES LICENÇA ........................................................................................................92

CAPÍTULO V BIOGRAFIA DOS ALUNOS NEGROS ...........................................................................100

5. 1 JAIR AGNELO...............................................................................................................100

5. 2 JOAQUIM AUGUSTO DA CRUZ ................................................................................102

5.3 MARDIO SILVA ............................................................................................................104

5. 4 MARIA RIBEIRO DA CRUZ .......................................................................................114

5. 5 UIR HEMÓGENES CASTILHO ...................................................................................115

5. 6 WILSON BRUNO ..........................................................................................................119

CONSIDERAÇÕES FINAIS ..............................................................................................120

REFERENCIA BIBLIOGRÁFICA ...................................................................................121

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INTRODUÇÃO

O objetivo desta dissertação é apresentar os achados que evidenciam a presença dos

alunos negros na Escola Liceu Cuiabano, durante a 2º República. Esse estudo delimitou a

pesquisa somente aos formandos de 1945. O interesse em buscar informações sobre a

presença do negro no Liceu Cuiabano surgiu durante o período de dois anos em que

permaneci em Cuiabá para realização do Mestrado no Programa de Pós-Graduação em

Educação da Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT.

Para a realização desta pesquisa acadêmica, a experiência de vida e a minha trajetória

acadêmica corroboraram significativamente no processo de reconstrução do meu EU interior.

A identidade foi constituída e pensada sob olhar do branco, quando, por mim mesma, não

sabia das minhas origens africanas. É no espaço acadêmico que me possibilitei como

pesquisadora a me questionar, a duvidar e problematizar questões que gerassem assuntos/

temas de debate e reflexão no campo da educação para as Relações Étnico-Raciais.

Nesse sentido, reconheço que o ofício do pesquisador oportuniza e problematiza uma

série de situações que envolvem o cotidiano e a sensibilidade desse sujeito que vai a campo,

que faz pesquisa científica. O ato de ensinar e de aprender é uma construção contínua que não

permiti o enclausuramento imagético das ideias. Foi, pois, no campo da pesquisa acadêmica

que me permiti explorar o campo macro e micro das trajetórias de vida ou biográficas, na sua

singularidade no uso dos diversos instrumentos teóricos e metodológicos das Ciências

Sociais.

Desde a minha graduação realizada na Universidade Federal de Rondônia - UNIR,

Campus de Ji-Paraná, venho acompanhando o enfrentamento das populações indígenas no

que diz respeito à garantia de seus direitos sociais para além de uma educação tradicional

como ainda vem ocorrendo em suas aldeias. As lideranças indígenas e sua comunidade

lutavam, e ainda continuam lutando, por uma educação bilíngue e intercultural que respeite

sua cultura e seus interesses coletivos. Resultado do trabalho árduo das lideranças indígenas

em parceria com os pesquisadores da UNIR foi à implantação do curso de Licenciatura em

Educação Básica Intercultural no ano de 2009.

Destaco a população indígena, por ser a região Norte, considerada pelos estudos do

IBGE/2010 o espaço territorial que concentra o maior número de populações indígenas do

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18

Brasil com aproximadamente 342 mil indígenas1. O Estado de Rondônia abriga 23 terras

indígenas com um número aproximadamente de 11 mil pessoas2. Outro dado importante é

que os resultados do último censo do ano de 2010 revelam que a maior parte da população

negra também se concentra na região Norte e Nordeste do Brasil. Dados esses na maioria das

vezes desconhecidos e não utilizados como instrumento didático para as discussões sobre a

condição social do negro que vive especificamente nesse Estado.

O Estado de Rondônia, onde nasci, é resultado do processo de miscigenação como

ocorreu no restante do País. A mistura de culturas e pessoas das mais diversas origens étnicas

está ali realizando e exercendo os mais diversos ofícios. Entretanto, percebe-se que, no

imaginário social, a tentativa de desconstruir ou desvincular os interesses das populações

indígenas e afro-brasileiras é diferente. Falar sobre a educação indígena e a educação escolar

indígena tem sido mais importante, no universo acadêmico do que falar sobre questões

étnicas, ou seja, alguns professores se negam a debater sobre a questão racial neste espaço

político e educativo que é a Universidade. Infelizmente ainda estudar, pesquisar a condição

social, humanística das pessoas afro-brasileiras é vista como uma questão marginalizada.

Propor-se a enveredar pelo campo da Educação e das Relações Raciais é um desafio,

ao qual me coloco na condição de aprendiz pesquisadora, porque ninguém por si só se torna

pesquisador de um dia para o outro. Pesquisar é um ofício que colabora com a ciência e a

experiência teórica faz do homem, embora sem resposta para tudo, capaz de buscar sempre

respostas para as inquietações suas e do mundo que o rodeia. Saliento que minha caminhada

acadêmica se dá num contexto regional singular e os estudos iniciais foram voltados para as

populações indígenas, mas com o mesmo olhar atento para os interesses das populações

consideradas minorias étnicas no Brasil: os indígenas, os negros, os quilombolas, e outros

grupos sociais discriminados. O conceito de minoria compreendido pelas Nações Unidas são

grupos distintos presentes dentro da população do Estado que possuem diversas

características étnicas, religiosas, linguísticas e que, por isso, são vítimas de discriminação3.

É, no campo de pesquisa e durante os estudos e diálogos sobre as questões étnicas

raciais, que compartilhei e busquei saberes e dizeres de como fazer pesquisa, pois toda e

1 Disponível em <http://www.brasil.gov.br/governo/2012/08/brasil-tem-quase-900-mil-indios-de-305-etnias-

e274-idiomas > Acesso: 28 jul. 2015. 2Projeto Pedagógico do Curso: em Licenciatura em Educação Básica Intercultural. Disponível em: <http://

www.deinter.unir.br/downloads/3824_77_ppp___licenciatura_educacao_basica_intercultural.pdf>. Acesso: 11 ago.2015. 3 MAIA, Luciano Mariz. Minorias: retrato do Brasil de hoje. Disponível em: <http://www.dhnet.org.br/

direitos/militantes/lucianomaia/luciano102.html>. Acesso: 05 ago. 2015.

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qualquer proposta de pesquisa precisa estar atenta às produções acadêmicas que já foram

realizadas sobre o sujeito do estudo, ou seja, o seu objeto.

No campo teórico, procurei fazer leituras de dissertações e teses com recorte racial

voltadas para o estudo das trajetórias de vida de docentes e alunos negros produzidos e

publicados na UFMT. As poucas pesquisas que dialogam com o sujeito deste estudo, o aluno

negro, estão vinculadas ao Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Relações Raciais e Educação

- NEPRE4, e a outros grupos de pesquisa da UFMT na área da História da Educação, os quais

dedicam seus esforços acadêmicos para evidenciar a presença do aluno negro nas escolas de

Cuiabá.

A minha inserção nas discussões sobre as Relações Raciais possibilitou pensar e

construir esta pesquisa. Embora poucas, as informações sobre a presença do aluno negro na

escola corroboraram para esta investigação. A escolha do lócus de pesquisa, o Liceu

Cuiabano, deveu-se ao meu enquietamento sobre a ideia de que essa escola só foi

freqüentada pela elite mato-grossense, em virtude da sua importância histórica para a

sociedade cuiabana. Essa instituição escolar foi criada durante o período do Brasil Império.

Observei que o Ensino Secundário foi criado para atender aos “bem nascidos” desde a

sua gênese, a elite. Entretanto observei que o acesso dos alunos negros ao Liceu Cuiabano

ocorreu desde os finais do século XIX, o que parece demonstrar que, de certo modo, os

alunos negros ingressaram nessa instituição por mérito próprio, numa escola conhecida por

sua imponência histórica e pelo ensino rigoroso.

Para realizar esta pesquisa, fiz uso de fontes documentais, localizadas no acervo do

Liceu Cuiabano. A entrevista não-dirigida proporcionou colher os depoimentos dos

colaboradores da pesquisa. Os aportes teóricos que ancoraram a metodologia foram os de

Santos(2013), Le Goff(2003),Queiroz(1988), cujas contribuições sobre a memória social,

trajetórias e biografias serviram como instrumento metodológico no campo da pesquisa.

Esta pesquisa dissertativa está organizada em cinco capítulos. No primeiro capítulo,

revelo como foi realizado o percurso metodológico para identificar quais foram os alunos

negros que se formaram no ano de 1945 no Liceu Cuiabano.

4 HACK, Lori. Trajetória de vida e estudo de alunos negros do ensino médio da cidade de Tapurah - MT.

Cuiabá, 2005. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade Federal de Mato

Grosso, Cuiabá. DE PAULA, Wiliam. Trajetórias profissionais de jovens egressos do Centro Federal de

Educação e Tecnologia de Cuiabá (1995-1999). 2007.95f. FERREIRA, Cleonice. História de vida de

professoras negras: trajetórias de sucesso. 2012.f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de

Educação, Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá.

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20

No segundo capítulo, descrevo como a complexa identificação racial foi realizada e

quais foram os formandos negros identificados como também os problemas enfrentados no

decorrer da pesquisa.

No terceiro capítulo, realizo uma breve revisão bibliográfica sobre a presença de

alunos negros nas escolas públicas de Cuiabá, cujo objetivo foi destacar a presença deles nos

bancos escolares. Traço também um percurso sobre a história dos liceus no Brasil e a história

da gênese do Liceu Cuiabano.

No quarto capítulo, tento trazer para o texto aspectos da cultura escolar do Liceu

Cuiabano, utilizando como subsídio documentos oficiais que tratavam dos modos como era

organizada ou pensada aquela escola, durante a década de 40.

No quinto e último capítulo, apresento a biografia dos alunos identificados como

negros, permitindo-me conhecer um pouco mais de sua trajetória de vida.

A presente pesquisa não tem a pretensão de esgotar as informações ou ser o único

trabalho acadêmico que destaque a presença do aluno negro em seus bancos escolares numa

escola de Ensino Secundário, mas sensibilizar os pesquisadores das diversas áreas do

conhecimento para investir em pesquisas acadêmicas que abordem questões sobre as relações

Étnico-Raciais.

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CAPÍTULO I

O CAMPO DE PESQUISA: ABORDAGEM METODOLÓGICA E FONTES

Fotografia nº 1 - Alguns alunos do Liceu Cuiabano - 4ª série do Curso Ginasial - Formandos de 1945

Nota: Acervo pessoal de, Marcelo Velasco, Cuiabá-MT.

O processo de escolarização do negro é uma temática ainda pouca abordada, porém, já

ocorre um grande esforço por parte dos pesquisadores negros e brancos em desvelar quais

foram os meios utilizados pela população afro-brasileira ao ingressar nos bancos escolares e

ascenderem socialmente, sobretudo em Mato Grosso, que se tem uma grande lacuna sobre a

necessidade de pesquisar sobre a educação do negro.

Em sendo assim, perfiz o caminho para conhecer a trajetória de vida dos formandos

negros com o propósito de colaborar com a existência de uma nova historiografia local e

desconstruir no imaginário social o negro na figura do escravo.Propus-me um estudo sobre o

ingresso de negros na escola secundária mais importante de Mato Grosso durante a primeira

década do século XX, acompanhando a trajetória e ascensão dos alunos negros em especial

os formandos de 1945.

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O artigo publicado pela pesquisadora Regina Pahin Pinto, no ano de 1987, como parte

do resultado do “Diagnóstico sobre a situação educacional dos negros (pretos e pardos) no

Estado de São Paulo”, reuniu um conjunto de bibliografias que sistematizou a situação

educacional do negro no Brasil. A autora destacoua dificuldade de obter informações sobre o

processo de escolarização do negro. Entretanto, essas mesmas implicações ainda são

enfrentadas por estudiosos das diversas áreas do conhecimento, os quais trabalham com

objetivo de recuperar a história do negro no campo da História da Educação.

A exiguidade de informação sobre a presença do negro na Escola Liceu Cuiabano na

década de 40 causa inquietação. As poucas fontes documentais existente no acervo da própria

Escola e no acervo público de Cuiabá são mínimas. Ao realizar uma busca no Google5 sobre

a presença do alunado negro no Liceu Cuiabano, somente foram assinalados nomes de alunos

não negros que galgaram posições de destaque no cenário local e nacional. Como, por

exemplo: Eurico Gaspar Dutra (ex-presidente da República), Marechal Cândido Mariano da

Silva Rondon, Professora Dunga Rodrigues, ex-governador Dante Martins Oliveira e outros.

Surge então o questionamento: Quais são os alunos negros que se formaram no Liceu

Cuiabano? Como foi sua trajetória de vida e escolar? Lembro que toda “investigação se inicia

por um problema com uma questão, com uma dúvida, com uma pergunta, articulada a

conhecimentos anteriores, mas que também podem demandar a criação de novos

referenciais” (MINAYO, 1994, p.18).

Por meio das leituras realizadas sobre a história mato-grossense, pareceu-me que um

grande esforço foi empreendido por uma parte da sociedade local em velar a contribuição do

negro no seu processo de colonização. A pesquisadora Adiléa Benedita Delamônica (2006,

p.20), em seu artigo “O AlbhumGraphico do Estado de Mato Grosso e as representações

sobre os trabalhadores negros”(1914-1920) salienta que “[...] a memória que alimenta a

identidade mato-grossense foi feita por intelectuais locais”. Na mesma perspectiva, Franco

(2007, p.37) é incisivo ao dizer que “a identidade mato-grossense foi consolidada pelas mãos

dos intelectuais mato-grossenses com objetivo de valorizar a memória histórica e regional”.

Um dos instrumentos de comunicação considerado na época valioso reuniu em seu

escopo um conjunto de imagens fotográficas o AlbhumGraphico do Estado de Matto Grosso

(AGMT). Esse álbum veio colaborar com a construção da identidade local. Delamônica

(2006, p.18) afirma que a elite mato-grossense utilizou esse álbum para construir suas

representações sociais sobre o seu povo e sua identidade.

5 Ferramenta de navegação da internet.

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O conjunto de imagens fotográficas reproduzida do Álbum teve como propósito

ilustrar as riquezas naturais. No álbum, é ilustrado o negro desenvolvendo diversas atividades

braçais, como também foi registrada a presença de alunos e professores negros nas escolas.

O Estado de Mato Grosso é constituído nos moldes da modernização numa visão

otimista. “Deste modo, lentamente foi sendo construída uma nova imagem do passado e do

futuro num movimento que buscava excluir qualquer permanência de uma memória negra”

na história do povo mato-grossense (DELAMÔNICA, 2006, p. 21).

No entanto, pesquisas acadêmicas vêm sendo realizadas com propósito de evidenciar a

presença do negro nas escolas de Cuiabá durante a Primeira República. A professora Maria

Lúcia Rodrigues Müller (2008) considera esse período de “efervescência das discussões

brasileiras sobre as raças como determinantes do sucesso ou do fracasso dos propósitos de

construção da nação [...]”. A pesquisadora também dá destaque à presença de alunos e

professores negros nos Estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Mato Grosso durante a

Primeira República. Esse trabalho foi síntese do seu doutoramento (defendida em 1998).

Pesquisas acadêmicas como a de Marques (2012) sobre o ensino profissionalizante,

traz para o conhecimento do leitor algumas escolas que foram criadas em Cuiabá com a

finalidade de instruir e ensinar algum ofício às crianças pobres, órfãs e desvalidas. A Escola

de Aprendizes e Artífices6, Lyceu Salesiano de Artes e Ofício São Gonçalo7 e o Arsenal de

Guerra8 e da Marinha de Mato Grosso foram instituições que dedicaram seus esforços para a

formação compulsória da força de trabalho. De acordo com a pesquisadora, foi possível

nessas instituições identificar a presença do aluno negro por meio das fotografias

reproduzidas do Álbum Gráfico do Estado de Mato Grosso (AGMT), e dos arquivos do

Colégio São Gonçalo, Casa do Barão de Melgaço, Museu da Imagem e Som de Cuiabá e

Arquivo Público do Estado de Mato Grosso.

6 A Escola Arsenal de Artífice foi inaugurada no dia 1º de janeiro de 1910 em Cuiabá com a presença de ilustres

autoridades locais. Essa Escola obtinha uma característica incomum, criou-se uma série de pré- requisitos para o

ingresso na instituição. Seus administradores exigiam [...] o requisito de bom comportamento dos candidatos

interessados a se profissionalizar (KUNZE, 2005, p.117 apud MARQUES,2012, p.65). 7 No ano de 1898, foram instaladas as primeiras oficinas profissionalizantes: o curso de alfaiataria, ferraria,

carpintaria e curtição do couro no Lyceu Salesiano de Artes e Ofício São Gonçalo em Cuiabá (MARQUES,

2012, p.67). 8 O Arsenal de Guerra foi instalado em Cuiabá no período Imperial no ano de 1832. O Arsenal permaneceu em

Cuiabá entre os anos de 1857 a 1878, logo após foi transferido para o município de Ladário. Uma das suas

finalidades era abastecer as tropas militares sediadas em Mato Grosso. Além de servir como abrigo e instituição

educacional para meninos pobres, órfãos e abandonados (CRUDO, 2005).

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A não inclusão da memória negra no imaginário social do mato-grossense deixa

resquícios dessa identidade 9 que parece permanecer estática e incompleta. A falta de

conhecimento por parte da sociedade local sobre a inserção desses alunos e professores

negros nas escolas públicas de Cuiabá corrobora para legimitar a ideia de que o negro não

frequentou esses espaços de saberes. No entanto, no decorrer da leitura desta pesquisa

dissertativa, evidenciarei a presença do negro nas escolas de Cuiabá, principalmente, na

escola liceista, o Liceu Cuiabano.

1.1 A ESCOLHA DA TURMA: OS FORMANDOS DE 1945

Com objetivo de delimitar o recorte temporal e definir os sujeitos da pesquisa, optei

por trabalhar com uma única turma do Ensino Secundário do Liceu Cuiabano: a 4º Série do

Curso Ginasial do ano de 1945. Com base em evidências documentais, essa foi a primeira

turma a se formar no novo prédio do Liceu Cuiabano inaugurado em 1944 em Cuiabá durante

o período estadonovista (1937-1945). Esse período da história do Brasil é marcado pelo

governo de Getúlio Dornelles Vargas, o qual realizou uma série de medidas econômicas

como também a criação de novas instituições que sustentou a base de seu governo (IANNI,

1977, p.14).

O recorte temporal do presente estudo, como anunciei, transcorre pela década de 40 do

século XX. O Estado Novo como é conhecido foi o apogeu das transformações mundiais.

Acreditaram que instalar um poder autoritário e centralizador tornaria o governo forte e com

credibilidade perante a população brasileira. Por fim, esse regime conheceu a sua derrocada

sob a influência da 2º Guerra Mundial que chegava ao seu fim no ano de 1945.

Na perspectiva de Romanelli (1986), é durante os anos de 1930 e 1940 do século XX

que o Brasil sofre com as transformações urbanísticas e com período positivo de expansão

industrial. Algumas regulamentações orgânicas deram um novo rumo à educação do País.

Naquela época, o ideal do branqueamento e a ideologia do mito da Democracia racial

passam a ser interpretada por um novo viés sociológico. Um grupo de pesquisadores da

Universidade de São Paulo desenvolve estudos sobre as Relações Raciais no Brasil. Dentre os

pesquisadores se destacaram: Florestan Fernandes, Octavio Ianni, Fernando Henrique

Cardoso, Roger Bastide e outros.

9 Stuart Hall (2006, p.38) destaca que a identidade é algo formado ao longo do tempo, por meio de processos

inconscientes. Ela permanece sempre incompleta, porém num processo contínuo de formulação.

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Para Maria Aparecida Silva Bento (2002, p.21), esses pesquisadores viam que os

problemas relacionados às questões raciais estavam coadunados a fenômenos estruturais

ligados à expansão do Brasil e as suas novas formas de organização de poder. “[...] eles

procuraram contextualizar a situação do trabalhador negro e iniciaram um processo de

desmistificação da ideologia da Democracia Racial brasileira”.

É durante a década de 40, do século XX, que Cuiabá inaugura várias repartições

públicas compreendidas como símbolo do progresso para os mato-grossenses. Maria

Auxiliadora de Freitas (2011, p.198) destaca que as mudanças ocorridas na cidade de Cuiabá

se iniciaram de forma lenta e contínua. A pequena cidade pacata se metamorfoseava com as

novas características culturais, sociais. Houve a necessidade de dividir o espaço com as novas

construções que iam surgindo em meio ao barulho das novas máquinas.

Segundo Ana Maria Rodrigues (1990), é sem dúvida que a década de 40 foi o marco

inicial para a nova vida intelectual e dinâmica que a cidade de Cuiabá estava sofrendo

durante a administração do interventor Júlio Müller (1937-1945), com o surgimento de novos

prédios públicos com características modernas.

A construção do novo prédio abarcou o conjunto de obras arquitetônicas realizadas na

capital mato-grossense. De acordo com a historiadora Elizabeth Madureira Siqueira (2002,

p.128), “uma grande artéria foi aberta sob a forma de avenida que tomou o nome de Getúlio

Vargas. Nela, foram erguidas construções modernas, como o Grande Hotel, o Cine Teatro

Cuiabá, o Liceu Cuiabano e muitas outras repartições públicas”.

O Liceu Cuiabano foi instalado no ano de 1880 pela Lei Provincial de nº 536 de 3

dezembro de 1879. Conforme Claudia Noemia Sousa10 “foi na manhã de 7 de março de 1880,

em cerimônia prestigiada por quatro bandas de músicas, que solenemente foi instalado no

prédio onde funciona o ‘Ganha Tempo’ o Liceu Cuiabano”11.

Mas foi durante o governo de Getúlio Vargas que o Liceu Cuiabano ganhou um novo

prédio moderno. Porém, no ato da inauguração, a escola secundária era denominada Colégio

Estadual de Mato Grosso, considerada uma das benemerências do Governo Júlio Müller

(FREITAS, 2011).

A escolha dessa turma como campo de investigação ressalta a importância dela em ser

o marco do desejo de se licenciar num novo prédio moderno que pudesse atender a todos os

10 Professora do Liceu Cuiabano e especialista em História do Brasil. 11 Citação retirada da Revista Liceu: educação, história e tradição da escola que se tornou um símbolo da

educação mato-grossense, janeiro, 2010. Edição Histórica – 130 anos.

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jovens mato-grossenses que estavam cursando o Ensino Secundário da época. Instituição

escolar considerada imponente e com métodos de ensino rigorosos.

1.2 CARACTERIZAÇÃO DA TURMA: 4º SÉRIE DO CURSO GINASIAL

Definido o objeto de investigação, os formandos de 1945, apresentarei aqui o perfil

desses alunos, agrupados por idade, local de origem e sexo. Para traçar esse perfil, baseei-me

nas informações contidas na Ficha de matrícula dos alunos do curso ginasial do Lyceu

Cuiabano 1942-1946, localizada no acervo da escola Liceu Cuiabano.

Essa fonte documental é um dos poucos documentos oficiais localizados sobre os

formandos de 1945. O acervo possui vários registros documentais desde o início do século

XX. Cito documentos que tive a oportunidade de manuseá-los, embora eu entenda que muitos

outros documentos datados de meados do século XIX podem estar ali em meio a tantas outras

fontes perdidas, extraviadas ou pela gravidade do tempo, danificadas.

A ficha de matrícula consultada é considerada documento escolar. Num grande livro,

organizado por ano, consta o registro de todos os alunos que frequentaram o Curso Ginasial.

Nele está registrado a filiação, município e estado de nascimento, a data de nascimento, a

residência o local onde a família residia no ato da matrícula, a série, antecedente escolar,

assinatura do aluno, secretário e diretor dando ciência à matrícula.

Foi possível verificar, por meio das fichas de matrículas, que alguns alunos da turma

de 1945 vieram transferidos de outros Ginásios para estudarem no Liceu Cuiabano. Não foi

localizado nenhum documento que justificasse a causa da transferência dos alunos. Mas, a

título de conhecimento, destaco os alunos: Benedito Bomdespacho Gaudiei Ley, transferido

do Ginásio São Gonçalo e Joaquim Lemos de Prado, transferido do Ginásio Osvaldo Cruz no

ano de 194512.

Na turma dos formandos de 1945, tinha um total de 126 alunos matriculados entre

homens e mulheres no Curso Ginasial. Os alunos eram divididos em três turmas, duas do

sexo feminino e uma do sexo masculino (Tabela 1). A separação dos alunos por sexo advinha

de uma premissa de cunho religioso. O historiador Boris Fausto (1995, p.339) “sob esse

aspecto, o pressuposto era que os meninos e meninas deveriam receber uma educação

diferente, pois destinavam-se a cumprir tarefas de diversas na esfera do trabalho e do lar”.

12 Livro de registro de matrícula dos alunos do curso ginasial do Colégio Estadual de Mato Grosso 1942-1946. Arquivo do Liceu Cuiabano, Cuiabá-MT, 2014.

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Tabela nº 1 - Número de alunos por turma - formandos de 1945

1º turma - 4º Série 2º turma - 4º Série 3º turma – 4º Série

Sexo feminino - 39 alunas Sexo feminino - 38 alunas Sexo masculino - 49 alunos

Número total de alunos matriculados: 126 alunos.

Nota: Tabela elaborada pela pesquisadora Raquel Furtunato da Silva. Cuiabá-MT, 2015.

A faixa etária dos formandos variava entre 14 a 32 anos. Conforme o gráfico que será

apresentado, a maioria dos formandos matriculados no ano de 1945 tinham 16 anos de idade.

Gráfico nº1 - Faixa etária dos formandos 194513

Nota:Gráfico elaborado pela pesquisadora Raquel Furtunato da Silva, Cuiabá-MT, 2015

A idade escolar dos discentes se concentrava entre dezesseis e dezessete anos. A Lei

Orgânica do Ensino Secundário de nº 4.244 de abril de 1942 organizou e orientou as

condições de acesso e permanência do aluno no Ensino Secundário. Para o candidato

ingressar na 1º série do Curso Ginasial deveria “ter pelo menos onze anos completos ou por

completar, até o dia 30 de junho”14. Houve também alunos que se formaram no Ensino

Secundário com vinte oito anos de idade. Em suas matrículas não há nenhuma recomendação

sobre o acesso tardio ao Curso Ginasial. Porém a Lei Orgânica do Ensino Secundário

13 Nota: Arquivo da Escola Liceu Cuiabano. Livro de registro de matrícula dos alunos do curso ginasial do Colégio Estadual de Mato-Grosso 1942-1946. 14 Art. 32, alínea (a)

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permitia a obtenção do certificado de Licença Ginasial aos alunos maiores de dezenove anos

que tivessem como comprovar a realização de seus estudos em escolas particulares do Ensino

Primário. Sobre a Lei Orgânica do Ensino Secundário de 1942, a professora Clarice Nunes

(2000, p.44) esclarece que essa Lei juntamente com outras “leis orgânicas regulou os ensinos:

industrial, comercial, agrícola e normal, reestruturou o Ensino Secundário num primeiro

ciclo, chamado de Ginásio (secundário, industrial, comercial e agrícola) e num segundo ciclo

subdividido em Clássico e Científico”.

Sobre o local de nascimento dos formandos de 1945 a maioria era natural do Estado

de Mato Grosso. Todavia, nos registros documentais, foram também identificados alunos do

Estado de São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Piauí e da Bahia. Uma aluna com

nacionalidade italiana esteve matriculada entre os formandos, a aluna Gilda Ricci. Conforme

a tabela apresentada, os formandos de 1945 eram distribuídos por estados e municípios da

seguinte maneira:

Tabela nº 2 – Local de nascimento dos formandos de 1945

Estados Municípios Quantidade de alunos

Mato Grosso Cáceres 2

Campo Grande 1

Cuiabá 84

Diamantino 2

Leveger 9

Paranaíba 1

Poconé 9

Rosário 1

São José dos Cocais 5

Santa Rita do Araguaia 1

Rio de Janeiro Rio de Janeiro 1

São Paulo Campinas 1

Birigui 1

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Nota: Tabela elaborada pela pesquisadora Raquel Furtunato da Silva. Cuiabá-MT, 2015.

Para que se possa visualizar melhor a distribuição desses alunos nas turmas, segue

abaixo a lista nominal (Tabela nº 3, nº 4 e nº 5) de todos os alunos matriculados nas três

turmas do Curso Ginasial do ano de 1945.

Tabela nº 3 - Lista nominal das alunas matriculadas na 1º turma - 4º Série do Curso Ginasial-

Ensino Secundário do Liceu Cuiabano - 1945

1- Avelina Nunes de Figueiredo

2- Anita Gomes de Oliveira

3- Antonieta Alves Corrêa

4- Arlete da Silva Teixeira

5- Arlete da Costa

6- Ana de Miranda

7- Alair Galvão

8- Alba Benedita Calhão

9- Antonieta Marques de Arruda

10- Benedita da Silva Eubank

11- Benedita de Lourdes Galvão Salgado

12- Beatriz Fontes Ribeiro

13- Deolinda Barata

14- Doralice de Matos Praieiros

15- Euridice Monteiro Costa

16-Ecilda Leite Salles

17-Eulina Benedita Guerra

18- Elmira da Veiga

19- Gilda Ricci

20- Ivone Lotufo

21- Irene de Souza Neves

22- Ivone Teresinha Bodstein

23- Josefina Paes de Barros

24- Josefina da Costa Leite

25- Jovalice Maria de Siqueira

26- Luizete Alves

Pernambuco - 1

Piauí - 1

Bahia Palmeiras 1

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27- LaisAddôr Granja

28- Lucia Cuiabano

29- Maria da Glória Corrêa Barbosa

30- Maria de Lourdes Campos

31- Maria de Lara Pinto

32- Margarida Maria de Figueiredo

33- Nely de Campos e Silva

34- Nazina Rachid Jaudy

35- Nilza da Silva Brandão

36- Oacy Fernandes de Queiroz

37- Olga Paes de Barros

38- Teresinha da Costa Latorraca

Nota: Arquivo da Escola Liceu Cuiabano. Livro de registro de matrícula dos alunos do curso ginasial do

Colégio Estadual de Mato Grosso 1942-1946

Tabela nº4 - Lista de nominal das alunas matriculadas na 2º turma - 4º Série do Curso

Ginasial-Ensino Secundário do Liceu Cuiabano- 1945

1- Avanildes Moreira da Silva

2- Almira de Faria Malhado

3- Adiles de Carvalho

4- Benedita Duarte de Souza

5- Benedita Trouy

6- Delze Maria das Neves

7- Daluza Teresinha Curvo Silva

8- Edna Pinheiro de Campos

9- Eremita Pulquério

10- Eunilce Rita de Brito

11- GeogertaStephan

12- Iracema Lopes Pereira

13- Joana do Espírito Santos

14- Josefina Ferreira da Costa

15- Joana Mirtes Lopes Gardés

16- Joana Pedroso

17- Jair Agnelo Ribeiro

18- Luzia Magalhães da Sena

19- Maria do Espirito Santo

20- Maria de Campos e Silva

21- Maria da Conceição Sempio

22- Maria Botelho de Campos

23- Maria da Costa Miranda

24- Maria de Araujo

25- Maria Ribeiro da Cruz

26- Maria de Lourdes Lemes

27- Maria Teixeira de Figueiredo

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28- Neusa Vanni Calmon

29- OzéliaAmorin de Souza

30- Olinda de Almeida

31- Odília Tocantins de Lara

32- Rosa Maciel Monteiro

33- Teresinha Nunes da Cunha

34-Teresinha de Jesus Bastos Jorge

35- Teresa Cristina Pereira da Silva

36- Vera Marques de Siqueira

37- Vanildes Pinto de Queiroz

38- Yeda da Glória Ramos

Nota: Arquivo da Escola Liceu Cuiabano. Livro de registro de matrícula dos alunos do curso ginasial do Colégio

Estadual de Mato- Grosso 1942-1946.

Tabela nº 5: Lista de nominal dos alunos matriculados na 3º turma - 4º Série do Curso

Ginasial-Ensino Secundário do Liceu Cuiabano - 1945

1- Augusto Cardoso

2- Ari Mesquita Bicudo

3- Aurelio Gomes

4- Antonio Manoel Bicudo

5- Armando Vitório

6- Alberto José Zaramella

7- Aroldo FanaiaTexeira

8- Artur Ferreira Coelho Filho

9- Airton Arruda

10- Abner de Gomes de Barros

11- AntonioCaporossi

12- Benigno Pereira de Souza

13- Benedito Sant” Ana Silva Freire

14- Benedito Bom Despacho GaudyeLey

15- Cleomedes da Costa Antunes

16- Domingos Sant” Ana de Miranda

17- Edio Lotufo

18- Edgar França

19- Ezequiel Malheiros

20- Fabiano Biancardini

21- Honorato José da Silva

22- Joaquim Augusto da Cruz

23- José Raymundo da Silva Filho

24- João Dias de Araújo

25- José Pedro Antunes Maciel

26- José da Costa Salles

27- José Corrêa de Almeida

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30

28- Jarbas Rondon

29- Jesus Aureo Lange Adrien

30- Julio Silva Pereira

31- João Teixeira Coelho

32- Joaquim Lemos dos Santos

33- João Batista de Almeida Lobo

34-Luiz Mario Bastos de Siqueira

35- Luiz Miguel Ahy

36- Lourival Coelho Barreto

37- Lincon de Paulo Corrêa

38-Mardio Silva

39-Miguel Melo

40-Mario Correia de Almeida

41-Mario Hilton Bodstein

42- Newton José da Silva Ponce

43- Nelson Pinheiro Strobel

44-Oscar Carmindo de Souza

45- Paulo Xavier

46- René Antunes Maciel

47-Waldo Olavarria Filho

48-Wuir de Castilho

49-Wilson de Souza Bruno

Nota: Arquivo da Escola Liceu Cuiabano. Livro de registro de matrícula dos alunos do Curso Ginasial do

Colégio Estadual de Mato Grosso 1942-1946.

1.3 A FONTE DOCUMENTAL

No campo da História, as fontes documentais são preciosos achados que permitem

compreender o passado. Para Marc Bloch, citado por Jacques Le Goff (2003, p.23-24), a

história deve ser como “ciência dos homens no tempo”. “A história permite compreender o

passado pelo presente, mas também compreender o ‘presente pelo passado’”. Os documentos,

no entanto, registram e armazenam informações que expressam a existência de um passado.

André Cellard (2008, p.296) entende como documento tudo que é vestígio do

passadonuma abordagem menos estrita devido à complexidade de definir o que é documento

no campo das Ciências Sociais. Porém, esclarecendo o que é documento, ele indica que são

todos os arquivos oficiais; anotações de observações; entrevistas; relatórios; cadernos de

campo; fotografias, tudo que possa servir de testemunho deve ser considerado como

documento ou fonte. A presença de fontes documentais nas instituições escolares subsidia um

grande número de documentos oficiais sobre o contexto educacional das escolas. Nelas se

encontram diversos tipos de fontes documentais de caráter administrativo, pedagógico e

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histórico que valorizam o uso dessas fontes na formulação de pesquisas acadêmicas que

permitem compreender a sua história, o seu ensino, a sua cultura escolar com objetivo de

colaborar com os estudos sobre a História da Educação.

Na perspectiva de Vasconcellos (1999), Bonato (2002) e Nora(1993), o arquivo

escolar pode ser compreendido como lugar que possui conjunto de documentos que transmite

informações sobre a trajetória de vida de seu titular. Documentos que recuperam a memória

acumulada durante décadas ou séculos, possibilitando refazer o pensar pedagógico do

cotidiano escolar. Os registros documentais utilizados na pesquisa como fichas de matrículas,

portarias, decretos-leis, boletim de frequência estão localizados no acervo do Liceu Cuiabano.

Optei por apreciar os documentos entre o período de 1941 a 1945, pois essa é a data

correspondente ao ingresso dos formandos no Curso Ginasial, e a saída deles culmina com a

finalização do Curso no ano de 1945. Não me limitarei somente a esse recorte temporal, mas

dele farei uso como referência cronológica.

No entanto, priorizarei como lócus de pesquisa o Liceu Cuiabano por ser uma escola

importante para a História da Educação mato-grossense, visto possuir um acervo riquíssimo

de fontes documentais ainda desconhecidas. Com o propósito de conhecer esse acervo,

permaneci realizando visitas de estudos diariamente durante o período de um ano na

instituição de ensino.

As visitas ocorreram, porque eu precisava consultar a única memória histórica

fotográfica dos formandos de 1945 que está exposta num quadro talhado em madeira no rol

do Anfiteatro do Liceu Cuiabano (Fotografia nº 2). Esse foi a princípio o único registro

fotográfico a que tive acesso. Abaixo de cada fotografia, tinha o nome do respectivo aluno.

Por diversas vezes, observei o quadro com a finalidade de saturar as dúvidas inerentes

à identificação por cor ou raça dos formandos negros, porque nas fichas de matrículas não

havia nenhuma informação sobre a identificação racial deles. Além dessa fonte, consultei

fontes documentais que pudessem disponibilizar informações sobre o cotidiano escolar da

época. O uso do arquivo pessoal foi um dos recursos explorado. Esse material possibilitou

complementar as informações concernentes aos formandos negros sobre a trajetória de vida

deles. Não é novidade que arquivos pessoais têm sido potencial instrumento de investigação e

interpretação da realidade social do indivíduo. A tendência em utilizar esse recurso vem

aumentando a cada dia no campo da pesquisa científica. É possível encontrar Acervos

Privados e de Famílias, disponíveis em instituições culturais, os quais enriquecem o conjunto

de fontes documentais ao ter em seu acervo esse tipo de fonte documental.

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Fotografia nº 2 - Quadro de foto dos formandos de 1945-Liceu Cuiabano

Nota: Acervo do Liceu Cuiabano, Cuiabá-MT, 2015.

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Tomei como exemplo a Casa Barão de Melgaço que, pelas informações prestadas por

Elizabeth Madureira Siqueira14, “[...] possui sob sua guarda inúmeros acervos desta natureza

[...] São os mesmos riquíssimos em informações que emolduram um contexto social mais

amplo propiciando, também, implementar a trama das micro relações familiares e

profissionais”.

Dos acervos das famílias dos formandos negros poucos foram os documentos

localizados. O conjunto de fontes documentais foram compostas por fotografias do período

escolar, de eventos profissionais, sociais e familiares. A família que possui o maior Acervo

Privado sobre a trajetória de vida de um dos formandos negros é a família Velasco. Aos

outros demais formandos negros poucas foram os documentos localizados. Muitos dos

documentos do Acervo da Família haviam-se perdido. No caso de dois formandos negros: a

aluna Maria Ribeiro da Cruz e o aluno Wilson de Souza Bruno nada foram localizados sobre

a sua trajetória de vida, nem ao menos o contato com suas famílias. Dessa maneira, recorro

ao pequeno acervo de fotografias das famílias. Por causa das poucas fontes documentais,

existente no acervo da escola Liceu Cuiabano que evidencie a presença do aluno negro nos

bancos escolares da década de 40, recorri à fotografia como prova da presença do aluno negro

na escola liceista.

O uso da fotografia foi pensada como instrumento de análise e percepção do passado.

Registro de momentos que foram congelados por meio da captação da imagem. Foi possível

reunir um número pequeno de fotografias do cotidiano escolar dos formandos,

disponibilizada pela Família Velasco. Nessas fotos, sempre há um número de 10 a 20 alunos

agrupados. Nas fotografias disponibilizadas, o formando negro, Márdio Silva, faz-se presente

em quase todas as imagens. O que me possibilita inferir que as fotografias foram tiradas com

amigos de turma em atividades escolares, pois todos estavam com o uniforme escolar. E sua

posição na fotografia era de destaque, sempre ao centro, bem vestido e apresentável.

Outras fotografias registraram momentos festivos como: casamentos, eventos sociais e

familiares e me foram disponibilizadas pela família dos outros formandos negros. Tirar

fotografias naquela época era muito difícil e era de um custo alto. O que as tornam raras por

sua importância histórica. A fotografia 15 era registrada em momentos de festividades,

reuniões ou em passeios realizados pelos alunos fora da escola.

14 SIQUEIRA, Elizabeth Madureira. Os Acervos Pessoais e de Família: novas possibilidades interpretativas

para a História da Educação (A experiência de Mato Grosso). Disponível em: <http://sbhe.org.br/

novo/congressos/cbhe3/Documentos/Individ/Eixo1/021.pdf>. Acesso em: 20 ago. 2015. 15 As fotografias serão apresentadas no corpo do texto dissertativo.

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Pesquisadores brasileiros das Ciências Sociais e Humanas começaram a utilizar a

fotografia como fonte documental a partir da década 80 e 90. “O texto escrito, juntamente

com o conjunto de iconografia possibilita o uso do diálogo de desenhos, gravuras, pinturas e

fotografias” (BIANCO, 1998, p.38). A fotografia é considerada por Boris Kossoy (2001,

p.25) uma invenção importante, pois, a partir dela, foi possível inovar a informação e o

conhecimento e utilizá-la como instrumento de apoio em pesquisas acadêmicas nos diversos

campos das ciências.

A fotografia surge no século XIX. No mundo, expandia-se o uso das máquinas, a

construção de estradas de ferro, telefone, telégrafos e muitas outras invenções que

transformaram a civilização ocidental. A invenção da fotografia proporcionou que o mundo

familiar fosse congelado em retratos. Paisagens, cidades urbanas, escolas, foram utilizadas

como moldes para apreensão e divulgação dos lugares e do conhecimento histórico

(KOSSOY, 2001).

Mauad (1996, p. 1) compartilha em uma das suas inserções pelo conhecimento

científico, o uso da fotografia como composição da história. Diz ela que “Através da imagem

é permitido lembrar a experiência vivida [...] a fotografia como uma mensagem que se

elabora”. Igualmente, Bela Feldman- Bianco (1998, p.22) diz que a “fotografia permite

pensar e apropriar do passado”.

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CAPÍTULO II

O PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO DA COR DOS FORMANDOS NEGROS DE

1945

Fotografia nº 3 – Formandos do Liceu Cuiabano em 1948

Nota: Acervo particular de Marcelo Velasco. Cuiabá/MT, 2015. O formando Márdio está na segunda fila à

esquerda da fotografia. Turma do Curso Científico.

Neste tópico, realizarei algumas reflexões sobre a questão da identificação racial,

entendida como ação complexa e arbitrária. O processo de tratamento da coleta dos dados

censitários é historicamente baseado numa ambígua identificação por questões fenotípicas

(cor da pele) e de origem no destaque à descendência. Essa ambiguidade de identificação

racial, observada e destacada nos Censos realizados nos períodos de 1872 a 1980, resulta da

complexidade da identificação racial até os dias atuais.

Identificar por cor ou raça uma pessoa é uma atividade bastante difícil. O processo de

coleta dos dados estatísticos é realizado por meio de instrumentos investigativos que

mensuram e quantificam o número de pessoas que se declaram pretas, brancas, pardas,

indígenas e amarelas. O órgão responsável por fazer essa classificação racial é conhecido por

Instituto Brasileiro Geográfico e Estatístico - IBGE.

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O surgimento do IBGE, durante a década de 30 do século XX, marca um novo

momento histórico referente à relação entre Estado e seus Territórios, fomentando estudos em

torno do levantamento de informações sobre os aspectos da vida nacional16 (PENHA, 1993).

O primeiro Censo Demográfico realizado no País em 1872 apresentou quatro

categorias de classificação racial como formas de respostas: branco, preto, pardo e caboclo. O

caboclo contabilizava a população indígena e seus descendentes (OSÓRIO, 2003, p.18).

Marcílio (1974) denomina esse Censo como proto-estatístico, porque nele há um grande

número de documentos oficiais (de paróquias) de qualidade, porém não esclarecem quais

foram os critérios no processo de coleta de dados. A autora ainda ressalta que parece ter

ocorrido um critério misto de fenótipo e descendência para caracterizar racialmente a

população brasileira da época.

O segundo censo de 1890 realizou a substituição do termo pardo pelo caboclo

permanecendo as três categorias (branco, preto, caboclo). Observei que os critérios de

classificação atendiam a dois quesitos: a cor do entrevistado e a sua descendência.

Os Censos de 1900 e 1920, realizados durante o século XX, não incluíram cor na sua

coleta. A justificativa se baseou nas dificuldades que os entrevistados tinham de se

identificarem racialmente pela cor e de declarar a sua origem.

No Censo de 1940, ocorre uma nova reformulação na denominação da categoria de

cor; sem fazer menção à raça, os critérios de categorização compreendiam: branco, preto e

amarelo. A cor amarela é para dar conta do período de imigração japonesa ocorrida entre os

anos de 1908 a 1930. Na perspectiva de Camargo, “a cor tornou-se o suporte para as

representações ambíguas que satisfaziam o ideário de nação que visava agregar e não

dividir”. Sobre o preenchimento do quesito, Camargo (2010, p.254) salienta que

A instrução para o preenchimento do quesito, em 1940, foi de que se considerassem

apenas três respostas mencionadas, lançado um (-) no espaço correspondente do

questionário em qualquer outro caso. Posteriormente o traço foi codificado como

categoria residual, parda, e foi destinado tanto para classificar os que utilizaram

outros termos de cor ou raça, quanto para os indígenas para quem não se

proporciona termo de identificação.

16 Para saber mais sobre a história da criação do IBGE, consultar Penha (1993).

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O Censo de 1950, de acordo com Piza e Rosemberg (1999, p.125-126), segue as

mesmas cores utilizadas no Censo de 1940. Nele incorporaram o grupo de pardos que se

declaravam sobre as muitas cores e origens que formavam o espetáculo das raças, termo esse

utilizado por Lilia Moritz Schwarczz17. O pardo incluía o índio, e os que se declaravam

mulatos, caboclos, cafuzos e outros. O Censo incluiu informações especiais sobre

fecundidade, mortalidade da população feminina e dados extensos sobre a cor da população.

Após a realização do Censo de 1950, o quesito cor foi coletado somente duas vezes,

no ano de 1960 e 1980. A informação sobre esses dados foram disponibilizados aos poucos à

população brasileira. Para explicar a causa dessa fragmentação, Piza e Rosemberg (1999,

p.126) argumentam que:

Esta pobreza de informações estatísticas, tanto em sua coleta quanto em sua

divulgação, tem sido denunciada como estratégia para jogar a questão racial no

limbo das discussões sobre as prioridades nacionais econômicas, políticas, sociais,

culturais e educacionais.

Em contrapartida os movimentos sociais de variados grupos se uniram com propósito

de analisar as relações raciais a partir dos dados macros sobre a caracterização demográfica

da população. A participação no mercado de trabalho, as taxas de natalidade, mortalidade,

trajetórias educacionais formaram um conjunto de necessidades que tiveram por intuito

promover políticas públicas voltadas para as populações vulneráveis do Brasil. Nesse sentido,

as perguntas sobre a identificação racial passaram a ser denominadas como raça ou cor, no

Censo 2010 (IBGE, 2011).

2.1 A COMPLEXA IDENTIFICAÇÃO RACIAL DOS FORMANDOS NEGROS

Como revela o tópico anterior, a identificação racial é interpretada como algo

complexo no campo das relações sociais. Atribuir cor a outra pessoa causa estranhamento e

ao mesmo tempo variações nas identificações ou categorizações de cor ou raça. Nessa etapa

da pesquisa, fiz uso do caderno de anotação, roteiro de entrevista, fotografias, e de um

gravador de voz. Os sujeitos envolvidos nessa atividade são formandos de 1945, no total são

17 SCHWARCZ, Lilia Moritz. O Espetáculo das Raças– cientistas, instituições e questão racial no Brasil

18701930. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.

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três (3) pessoas: duas do sexo feminino e uma do sexo masculino. Optei por ouvir somente

essas pessoas por causa da logística referente à localização. Todos os colaboradores residem

em Cuiabá, Mato Grosso. A questão do tempo foi forte delimitador dos sujeitos da pesquisa;

além disso, alguns alunos daquela época já são falecidos. Porém, esses três colaboradores

atenderam à necessidade do estudo. A Tabela 6 (abaixo) melhor esclarece a distribuição

desses formandos nas suas respectivas turmas.

Tabela nº 6 - Distribuição dos colaboradores da pesquisa nas suas respectivas turmas

1º Turma/4º série/ formanda de

1945

2º Turma/4º série/ formanda de

1945

3º Turma/ 4º série/ formando de

1945

Sexo: feminino

Total de alunos: 39

Formanda entrevistada

Doralice de Matos Praieiro

Sexo: feminino

Total de alunos: 38

Formanda entrevistada

Almira Malhado Paes de

Barros

Sexo: masculino

Total de alunos: 49

Formando entrevistado

Edio Lotufo

Nota: Tabela elaborada por Raquel Furtunato, Cuiabá-MT, 2015.

Esses três formandos de 1945 tiveram a sua disposição um conjunto de fotografias

(Fotografia nº 4) ampliadas de cada aluno de sua turma para realização da identificação racial.

Essas fotografias estão expostas num quadro no rol do anfiteatro da Escola Liceu Cuiabano.

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Fotografia nº 4 - Identificação por imagem dos formandos de 1945

Nota: Arquivo pessoal, Raquel Furtunato, Cuiabá-MT, 2015

Para chegar a esses formandos, fiz uso da lista nominal de matrículas. Pelo nome,

busquei na internet algumas informações que me pudessem ajudar na localização. Como por

exemplo: o telefone e endereço. Alguns problemas surgiram no percurso da atividade. Houve

a presença de vários nomes e sobrenomes idênticos na lista telefônica eletrônica que não

correspondia aos formandos de 1945. Iniciei a pesquisa investigativa e exploratória pela

primeira lista de matricula (1º turma da 4º série do Ensino Secundário). A primeira formanda

que consegui contactar foi Doralice de Matos Praieiros, que me recebeu em sua residência

em Cuiabá. No primeiro momento, dialogamos pelo telefone com a finalidade de explicar o

objetivo do projeto em consonância com sua aceitação em colaborar com a pesquisa. Durante

a entrevista, ela fez uma leitura fluída da lista de matrícula de 1945 das turmas: 1, 2 e 3,

indicando a possibilidade de quais formandos ainda estariam residindo na capital mato-

grossense, apesar do óbito da maioria.

Observei que a colaboradora se considera pertencer a uma das famílias tradicionais de

Cuiabá “família Praieiros”. Ela tem conhecimento de quais famílias esses formandos

pertenciam e onde poderiam ser localizados, constituindo uma teia de contatos entre seus

pares. Observei em sua fala “Esse é Edio Lotufo, ele é médico e está vivo até hoje, é

descendente de italiano”. A Senhora Doralice Praieiros me indicou o nome de Edio Lotufo e

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Almira Malhado Paes de Barros e disse que ele é um médico respeitadíssimo na capital

cuiabana, o que tornaria fácil localizá-lo. Nesse sentido, investi esforços para sua

localização. Minha última colaboradora, Almira Malhado Paes de Barros, formanda de 1945

da (2º turma4º série do Ensino Secundário), também residente na capital, Cuiabá, foi esposa,

companheira do catedrático professor de Língua Portuguesa e História do Brasil, o Senhor

Ranulpho Paes de Barros. Por longos anos, Ranulpho Paes de Barros foi professor do Liceu

Cuiabano.

Durante a coleta de dados, fiz uso de entrevistas, pois essa é considerada um dos

instrumentos de pesquisa mais utilizado nas Ciências Sociais, ao possibilitar o acesso a

realidades sociais e poder colocá-las a contra prova. (POUPART, 2012, p.215). Além disso,

esse instrumento de pesquisa dá base ao conteúdo material, haja vista que o entrevistado se

sente livre para abordar diversos assuntos que sua memória consegue resgatar por suas

lembranças.

Desenvolvi o roteiro da entrevista sob a perspectiva da História Oral, com finalidade

de adotar alguns procedimentos para execução. O roteiro serve para orientar o pesquisador

nas perguntas a serem realizadas, possibilitando ao entrevistado organizar da sua maneira os

eventos ocorridos sem precisar seguir de forma fixa o roteiro. O local da realização da

entrevista é definido pelo entrevistado ou entrevistada, com intuito de deixá-lo à vontade. De

antemão, é necessário negociar com entrevistado que tipo de instrumento de coleta de dados

será utilizado. Como também informá-lo sobre a assinatura do Termo de Livre

Consentimento Esclarecido para participação da Pesquisa. O roteiro de entrevista destaca

elementos importantes sobre a história de vida e a relação social dessa pessoa com o sujeito

de pesquisa. E foram esses passo que segui nesta investigação.

Durante o diálogo da entrevista, os formandos: Almira Malhado, Doralice Praieiros, e

Edio Lotufo não mostraram nenhuma dificuldade em identificar por cor ou raça os seus

colegas de turma. Foram objetivos no processo de identificação, justificado pelo exímio

número de alunos negros que frequentaram os bancos escolares do Liceu Cuiabano. Ao

apresentar o objetivo da pesquisa e solicitar a colaboração para identificação racial dos

formandos de 1945 por imagem, alguns já iam destacando quais eram os formandos negros

da sua turma. No verso das imagens tinha o registro do nome do formando, o que me

possibilitou confirmar as afirmações deles.

O Senhor Edio Lotufo iniciou a sua entrevista dando destaque à presença do aluno

negro Wilson Bruno sem mesmo ser mencionado. Destaco uma parte da fala do ex-formando.

Iniciando a entrevista peço a ele que faça a classificação racial dos seus colegas da época por

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cor ou raça, conforme as categorias definidas pelo IBGE atualmente. Antes mesmo de

concluir a fala ele já menciona: “tinha um que chamava Wilson Alves Pinto”. O aluno a que

ele se refere é Wilson Bruno, formando negro. Por que, embora se equivocando como

sobrenome do colega, o Senhor Edio logo se lembrou dele? Talvez porque Wilson Bruno seja

um dos pouquíssimos alunos negros da sua turma. Nos três depoimentos, observei que os

colaboradores sempre se reportavam às pessoas dando destaque ao status social delas e à

influência que elas tinham na sociedade mato-grossense. A descendência também era um

marcador forte na fala desses sujeitos, como também a variação na nomeação de cores no

processo de identificação racial. Essa caracterização pode ser percebida nestas falas sobre os

formandos de 1945:

Doralice de Matos Praieiros: (formanda da 1º turma/4º série/ 1945)

“____ Essa é Almira Malhado, esposa de Rapholfo Paes de Barros, reside em Cuiabá. Ela é

mãe de Antero Paes de Barros, é branca”.

“ _____ Essa é Arlete da Costa, já faleceu. Era morena, de cabelo crespo”

“____ Antonieta é branca”

“ ____ Essa é Alair Galvão. É o tipo cuiabano ...”

“____ Avanildes Moreira é branca”

“____ Essa é Beatriz, filha de um militar, ela é morena”

“____ Essa é Benedita Duarte, é esse tipo nem uma coisa e nem outra”.

“____ Teresinha Eubank, é branco”

“____Essa é Daluza, ela é branca”

“____Deolinda Barata, esse tipo, mais clara que você um pouco”

“ ___ Georgete Stepan, morreu faz tempo, é descendente de árabe. É branca” “___Gilda Ricci, ela é viva até hoje, branca, e italiana”

“___ Ione Lotufo é branca”

“ ____ Ivone Bodestein me lembro dela, ela foi casada com um farmacêutico, branca”

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“ ____ Jair Agnelo é de família cuiabana”

“ ___ Neves era bem morena”

“ ___ Josefina Paes de Barros está viva, ela tinha ido para o Rio de Janeiro”

“____ Jovalice Siqueira, cuiabana, branca de olhos verdes, e já morreu”

“_____ Lucia Cuiabano, minha amiga, ela já faleceu. Ela é morena bonita, essa pessoa cor da pele e

cor do cabelo”

“_____ Joana do espírito santo era um tipo cuiabano”

Almira Malhado Paes de Barros: (formanda da 2º turma/4º série/ 1945)

“ ___ Vera Siqueira, é branca”

“ ___Maria do Espirito Santo, parda”

“ ___ Maria Lara Pinto, branca”

“ ___ Oacy Queiros, parda”

“ ___ Josefina Paes de Barros, branca”

“ ___ Josefina Leite, branca”

“ ___ Lucia Cuiabano, branca”

“ ___ Jovalice Siqueira, branca”

“ ___LuizeteAlvez, branca” “ ___ Maria Cruz, preta”

“ ___ Odilia de Lara, branca”

“ ___ Olinda de Almeida”parda”

“ ___ Terezinha Latorraca, branca”

“ ___ Yeda Ramos, branca”

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“ ___ Luzia Sena, branca”

“ ___ Benedita Duarte, parda”

“ ___ Antonieta Corrêa, branca”

“ ___ Benedita Salgado, parda”

“ ___Jair Agnelo, preta”

“ ___ Joana do Espírito Santo, parda”

“ ___ Ione Lotufo, branca”

“ ___ Gilda Ricci, branca”

“ ___ Avanildes, branca”

“ ___ Beatriz Ribeiro, parda”

“ ___ Benedita Eubank, parda”

“ ___EmeritaPúlquerio, branca”

“ ___ Geogerta Stepan, branca”

“ ___ Maria Sempio, branca”

Edio Lotufo (formando da 3º turma/4º série/1945)

“_____ Esse é o Mario Bodstein ... Esse eu acho que está vivo. Irei perguntar a minha

esposa. Mas eu não tenho certeza. Ele é branco, descendente de alemães”.

““_____ Edio Lotufo: Esse não lembro!

“_____ René Maciel, não me lembro”

“_____ José Raimundo Filho, não me lembro”

“_____ Joaquim Cruz, ele é negro”

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“_____ João Batista de Almeida Lobo, não me lembro”

“_____ Esse é Jesus Adrien, já morreu tem mais de dez anos. Ele ficou doente metal, tinha um

quadro de esquizofrenia não cuidou da saúde”

“_____ Ezequiel Malheiros é branco e já faleceu, jogava futebol e foi deputado”.

“_____ Domingos Miranda, não me lembro”

“_____ Augusto Cardoso, era branco, e já morreu. Essa família era quatro homens e

somente um está vivo. O resto já morreu”

“_____Artur Coelho. Aqui está escrito moreno, mais moreno e mais o tipo. Ele é

branco”

“_____Ari Bicudo, lembro de Ari, depois que nos se formamos nunca mais eu o vi.

Informaram-me que ele foi trabalhar como piloto da FAB, ele é branco bem clarinho”

“_____ Biancardini, descendente de italino, Pierre Biancardini, já morreu. Pesco

muito com filho dele. Ele morreu com um tumor celebral, sei quem até operou ele no Rio de

Janeiro. Ele faleceu jovem ainda, com menos de quarenta anos”.

“_____ AntonioCaporosi, família muito grande aqui em Cuiabá. Iara sabe, irei

perguntar para ela. semivivo porque está deitado numa cama com mal de Alzaime, há

muitos anos”

“_____Wilson Bruno, eu acredito que ele era negro. Havia pouquíssimos alunos

negros na turma”.

“_____René Maciel, eu acho que ele já faleceu, ele é branco”

“_____ Paulo Xavier, não me lembro”

“_____Nelson Strobel, eu estou lembrando dele, é branco”

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“_____ Esse aqui deve ser Márdio Silva, ele era super inteligente. O filho dele é meu

amigo, já operei várias vezes. Ele era meu amigo. É negro”.

“_____ Luis Miguel Ay, já faleceu, com quadro de esquizofrenia”

“_____Lavarria, filho de chileno. Morreu a pouco tempo, de insuficiência renal. Ele

era um pouco mais velho do que eu”

“_____Airton Arruda, não me lembro”

“_____Abner Gomes, turma grande ein... é branco’

“_____Luiz Mario Bastos de Siqueira morreu há três anos moravam no Rio de Janeiro”

“_____ Esse era o Silva [Freire, já morreu não faz muito tempo. Ele era um poeta muito

famoso de Mato-Grosso. Esse aqui é pardo”

2.2 A PRESENÇA DOS FORMANDOS NEGROS NO LICEU CUIABANO: A MEMÓRIA

VIVA

A memória, revisitação do tempo no espaço. O passado sob o olhar e a fala do

OUTRO que viveu e que revive suas lembranças. Dessa maneira, fora realizado o exercício

da identificação por cor ou raça dos formandos de 1945. Ao total, foram identificados seis (6)

alunos negros. Sendo duas mulheres e quatro homens.

Alunos negros do Curso Ginasial/4º série/1945

Jair Agnelo

Maria Ribeiro da Cruz

Joaquim Augusto da Cruz

Márdio Silva

Uir Castilho

Wilson Bruno

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46

Sobre o conceito epistemológico da Memória, busquei referências em Santos (2013,

p.57). A autora destaca que os estudos sobre a Memória Coletiva ganhou expressividade a

partir da década de 80, abrindo um leque de discussões sobre seus fundamentos teóricos. Ela

tem sido utilizada para denunciar o “modelo de desenvolvimento excludente no que diz

respeito às populações indígenas e afrodescendentes”. Maurice Halbwachs, precursor dos

estudos sobre memória coletiva e grande discípulo de Émile Durkheim, considera os

contextos sociais e as construções coletivas de pessoas e grupos relacionados ao passado;

lugares, datas, palavras e formas de linguagem, seriam representações partilhadas por todos

aqueles que têm lembranças.

Para Jacques Le Goff (2003), a memória conserva certas informações, propriedade

que se refere a um conjunto de funções psíquicas que permite ao indivíduo atualizar

impressões ou informações passadas, ou reinterpretadas como passadas.

Santos (2013, p.63) diz que a “memória está ligada a acontecimentos a vida particular

e pública da pessoa”. O coletivo de memória conecta-se às lembranças de um determinado

grupo “os formandos de 1945” e os “familiares”.

Os formandos negros foram identificados nas segunda e terceira turmas do Ensino

Secundário da época. O uso da fotografia como fonte documental enriquece a maneira de

apreender o passado (FELDMAM-BIANCO, 1998). E é, pois, com esse pensamento que

busquei com os depoentes as lembranças guardadas em fotografias. Nesse sentido, apresento

a Fotografia (Fotografia nº 5), que compõe o acervo particular da família Agnelo. Na

imagem, registra-se as jovens liceistas em pose para foto, distribuídas em quatro fileiras.

Todas muito bem vestidas com seus uniformes escolares e sempre adornadas de algum

acessório feminino. Na primeira fileira (a esquerda) da fotografia, está sentada ao chão a

aluna negra, Maria Ribeiro da Cruz, e na terceira fileira quase ao meio da foto, localiza-se a

aluna negra, Jair Agnelo

.

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Fotografia nº 5. Algumas alunas do Liceu Cuiabano-Formandas de 1945/ 2º turma

Nota: Acervo particular de Fernando Agnelo, Cuiabá-MT, 2015.

Ao núcleo da família dos formandos negros me reservei a ouvir somente os filhos, os

netos e as esposas/esposos. Enfrentei problemas de diversas ordens, tais como: as poucas

informações sobre a história escolar dos formandos negros; os netos, os filhos apresentaram

dificuldades em relatar/ rememorar algum fato que o formando o havia reportado, e também

o silenciamento da memória.

A família do aluno Márdio Silva conserva em seu acervo particular um conjunto de

fotografias do pai em tempos áureos da juventude no Liceu Cuiabano. No acervo há, também,

livros da época de escola, as famosas coleções didáticas de inglês “Aprendendo Inglês”,

material importado de fora do Brasil e coleções americanas do “Reader Digest”. O contato

com as famílias e com o acervo fotográfico promoveu um dialogo entre memória e

lembranças. Isso foi possível por meio da entrevista não dirigida realizada com as famílias.

Os depoimentos coletados me possibilitaram identificar de forma sutil o preconceito

racial e de classe. A senhora Doralice de Matos Praieirosdiz não ter percebido a existência do

racismo, mas me relatou que havia uma diferença no acesso aos lugares de lazer da cidade. A

Praça Alencastro (Fotografia nº 6) era um lugar muito frequentado pela população cuiabana,

lugar de encontros. Nela reuniam-se as bandas musicais, os jovens, e as famílias cuiabanas. A

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depoente compara a Praça ao Shopping. Ao seu centro ficavam as pessoas com condições

socioeconômicas mais elevadas, enquanto que, no seu entorno, concentrava-se a população

pobre.

Para confirmar a fala da depoente, tomo as palavras de Freitas (2011, p.182):

Nessa Praça Alencastro, ou Jardim Alencastro, como era popularmente conhecido,

havia uma corrente que servia para separar a parte interna da Praça da parte de fora.

Era uma forma que utilizavam para separar as moças da alta sociedade que

circulavam, ao centro, das mais pobres ficavam do lado de fora, andando afastadas

delas para não se misturarem [...]

Fotografia nº 6. Praça Alencastro

Nota: Freitas (2011, p.182).

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É por meio da memória e das lembranças que um conjunto de informações foi

sistematizado para biografar a história de vida e escolar dos formandos negros do Liceu

Cuiabano. Isso só foi possível com a colaboração dos familiares dos formandos por meio de

entrevistas. Pelas declarações de óbito, verifiquei que os alunos identificados como “pretos”

todos faleceram. Na investigação de documentos, também, pude verificar que alguns alunos

“brancos” dessa turma ainda vivem. Os alunos que estão vivos encontram-se com

aproximadamente oitenta anos de idade ou mais, compartilham de sua experiência de vida e

tempos saudosistas da época que eram jovens liceista.

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CAPÍTULO III

A PRESENÇA DO ALUNO NEGRO NAS ESCOLAS DE CUIABÁ

Fotografia nº 7. Presença de alunos negros na Escola Pública

Nota: Miranda (2010, p.59), reproduzida do Álbum, 1914.

Desde o período Imperial já constava a presença de crianças negras nas escolas

públicas da capital, conforme demonstra estudos de Miranda (2010). Não era vedada a

entrada de crianças livres nos bancos escolares, e o motivo da sua ausência, na escola, devia-

se aos trabalhos exercidos nos becos e nas ruas para ajudar no sustento da família. Mas,

também, havia crianças e adultos que não frequentavam a escola, mas sabiam ler e escrever18.

De acordo com a pesquisadora, a hipótese considerada é que a maioria das crianças negras

livres tenha ficado sob a responsabilidade do Estado, sua educação e criação.

Miranda (2010, 57-58), após realizar a análise do Livro de matrícula dos professores

da instrução primária e secundária da Província de Mato Grosso (1886-1896), identificou a

presença de 18 alunos negros na 3º Escola do Sexo Masculin criada pela Lei Provincial de nº

4 de 27 de outubro de 1869, sob a administração do professor José Delfino da Silva, nomeado

na condição de efetivo em 1888. Também foram identificadas, alunas negras na 2º Escola de

18 Essa informação fora obtida por meio de dados já mensurados por Miranda (2010, p.49) em sua dissertação

utilizando como fonte documental dado censitário de 1872 elaborado por Peraro (2003).

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Instrução Primária do Sexo Feminino, criada pela Lei Provincial de nº 4 de 23 de maio de

1870. A professora responsável na época pela escola era Maria Ribeiro (interina), com 96

alunas matriculadas, sendo que 25 eram negras.

O pesquisador Marcus Vinícius Fonseca (2002, p.123) chega à conclusão de que criar

e educar eram palavras quase que sinônimas. Então pode-se inferir que à criança negra,

liberta na Província de Mato Grosso, foram oferecidas condições de serem educadas e

criadas, por meio do trabalho, pelo Estado ou pelos senhores de suas mães cativas, assim, “o

processo de formação do trabalhador escravo pode ser entendido como uma prática

educativa”. A educação e a criação se diferenciavam pelo nível de instrução:

[...] ligada à instrução, na qual a leitura e a escrita eram os elementos mais

valorizados. [...] distinção entre criação e educação estabelecia parâmetros para as

definições de quem deveria dar às crianças a instrução e quem estava resguardado

dessas obrigações. Pois, no sentido estrito do termo educação, tanto as crianças que

forem entregues ao Estado como as que foram retidas sob o domínio dos senhores

foram educadas, sendo que os modelos da educação é que passaram a comportar

algumas diferenças. [...] havia uma polarização entre criação e educação, onde

educadas eram somente as pessoas submetidas à instrução (MIRANDA 2010, p.29).

No entanto, durante a transição do Império para a República, discutia-se a importância

da escola como instituição que tiraria o homem da ignorância como também seria por meio

dela que se formariam os novos intelectuais e dirigentes do Brasil. Durante a Primeira

República, ocorre um momento de entusiasmo pedagógico e ideológico, nas primeiras três

décadas da implantação do novo regime. Alguns acontecimentos se integraram: a

Proclamação da República, momento decisivo que determinaria novas reformulações das

relações sociais, culturais e políticas; e a escolarização, como importante fator da aceleração

histórica, e suas novas reformas educacionais com o intuito de modificar o ensino e a cultura

das instituições escolares (NAGLE, 1976, p.100-101).

O ensino no período de 1872-1890 em Cuiabá correspondia a três modalidades:

público, privado e doméstico19, administrado por homens e mulheres. O universo da instrução

era permeado por tensões entre Estado e mestres. A educação, naquele período, recebia

ínfimos investimentos em material e infraestrutura, para desenvolver suas atividades.

19 Sobre as casas-escolas, consultar o artigo de PAIÃO, Ilza Dias. A casa-escola no cenário urbano de Cuiabá (1872-1890): limites, tensões e ambigüidades. Disponível em: <http://www.sbhe.org.br/novo/congressos/ cbhe3/Documentos/Individ/Eixo6/402.pdf>. Acesso: 09 fev. 2015.

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Algumas escolas particulares recebiam subsídios do governo como também ajuda dos pais

dos alunos ou eram mantidas pelos próprios professores20.

Miranda (2010, p.58) prova em seus achados que os alunos negros frequentaram as

escolas particulares de Cuiabá e que não necessariamente esses alunos eram pobres. Os

Jovens negros menos favorecidos foram encaminhados para a escola de Artífices, lugar onde

imprimia a disciplina e o ensino profissionalizante. Mas muitos dos jovens eram enviados à

instituição como forma de castigo devido ao mau comportamento. A pesquisadora evidencia

a presença de três alunos negros nos bancos escolares. Esses alunos tinham seus estudos

financiados pelo Estado de Mato Grosso: Manoel Peixoto, Benedicta da Costa e Joanna de

Souza. “Essa condição dava-se somente quando os pais ou tutores não tinham condições

financeiras para oferecer aos educandos os utensílios precisos”.

Situação essa peculiar, que foi rememorada por Fernando, neto de Jair Agnelo,

formanda negra. O pai de Jair Agnelo, Senhor José Agnello, aos dezessete anos, ficava

sozinho em sua residência, sua mãe, como de trabalhava fora de casa como cozinheira para o

governador da Província, precisava deixá-lo, para prover o sustento da família. Mas, na

ausência da mãe, José Agnello saía pela vizinhança para fazer as suas traquinagens de

adolescente. Diante dessa situação, ele foi denunciado pelos vizinhos pelo mau

comportamento à sua mãe. Sem saída, a mãe decidiu colocá-lo na Escola de Artífices para

ocupar o tempo e aprender algum ofício. Assim foi feito, José Agnello, ali permaneceu

durante alguns anos e somente saiu quando se se formou em música. Tornou-se um grande

musicista e precursor do ritmo dançante, o rasqueado, música considerada patrimônio

imaterial de Cuiabá21.

20 LOPES, Ivone Goulart; SÁ, Nicanor Palhares. Asilo Santa Rita de Cuiabá: releitura da práxis educativa feminina católica (1890-1930). Disponível em: <http://sbhe.org.br/novo/congressos/cbhe2/pdfs/Tema5/0505.pdf>. Acesso: 01 mar.2015. 21 Sobre a história de José Agnello, seu bisneto Fernando, compartilhou memórias da trajetória de vida da avó e

do seu bisavô, considerado um grande musicista de Cuiabá.

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Fotografia nº 8 - Alunos da Escola de Aprendizes Artífices de Cuiabá

Nota: Marques (2012, p.92), reproduzido do Álbum Graphico do Estado de Matto-Grosso (1914).

Já, no Colégio Liceu Cuiabano, há registro (documentos e relatos) de alunos negros

frequentando seus bancos escolares desde o final do século XIX. A professora, Maria

Dimpina Lobo Duarte (Fotografia nº9), é a prova dessa inserção na escola. Conforme registra

a sua biografia, constituída pelos seus familiares, ela nasceu em Cuiabá no dia 15 de maio de

1891, e faleceu em 10 de dezembro de 1966, aos 75 anos de idade. Ela foi a primeira aluna

negra a ingressar no Liceu Cuiabano, época em que somente aceitava rapazes. Bacharelou-se

em Ciências e Letras, com dezoito anos de idade. Fundou o Grêmio Literário Júlia Lopes, a

Revista Violeta e o Colégio São Luiz. Ela compôs o quadro do corpo docente da Escola

Modelo em 1911, na seção feminina, do 2º ano22. Após sua morte, colocaram o seu nome em

uma das escolas do Bairro Coxipó da Ponte, como homenagem aos trabalhos prestados à

sociedade cuiabana.

22 Ver mapeamento, realizado por Gomes (2009, p.54), apresentando a relação das professoras que atuaram na

Escola Modelo no ano de 1911.

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Fotografia nº 9 – Professora, Maria Dimpina Lobo Duarte com seus alunos, s/d

Nota: Müller, 2008, p.26.

Com a inserção de pessoas negras no magistério, caiam por terra as concepções

fundadas sobre a sua inferioridade moral e intelectual.

Pela teoria do branqueamento, era praticamente inaceitável que negros

conseguissem transpor as barreiras impostas pelas representações, segundo as quais

somente os brancos seriam aptos a transmitir conhecimentos através do ato de

educar. Por conta desses fatores, a ‘cor’ poderia ser clareada ou omitida (GOMES,

2009, p.35).

Essa situação pode ser constatada também com a presença da professora

BernardinaRich23 (Fotografia nº10), ex-aluna do Liceu Cuiabano, da Escola Normal. Gomes

(2009, p.32), ao pesquisar sobre a vida da professora, identificou, no recenseamento de 1890,

como sendo sua cor “parda”. Porém as fotografias denunciavam a sua origem africana

“evidenciando-a como uma pessoa fenotipicamente negra (cabelos, nariz, lábios e pele)”.

23 Sobre a biografia da professora BernadinaRich, consultar a Dissertação de Gomes (2009). Uma professora

negra em Cuiabá na Primeira República: limites e possibilidades.

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Fotografia nº 10 - Professora BernardinaRich

Nota:Gomes, 2009, p. 15. Imagem reproduzida da Revista A Violeta (1941).

Processo esse claro da Teoria do Branqueamento, as pessoas de cor que conquistasse

status social precisava se submeter as suas regras para serem toleradas, representações ligadas

às condições de lugar. Mattos (1998) explica que a pessoa, ao conquistar seu status de

homem livre, passava para o status de pardo.

Firmo Rodrigues (1969), escritor mato-grossense e ex-professor do Colégio Liceu

Cuiabano, escreveu em “Figuras e Coisas de Nossas Terras”, diversas crônicas sobre a vida

boêmia da população cuiabana. Rodrigues relata em pequenos trechos o desfecho dado a cada

colega de turma que concluiu com ele o Curso de Línguas e Ciências Preparatórias no

Colégio Liceu Cuiabano. Ao encontrar uma fotografia com dezenove alunos datada de 1888

na biblioteca do colégio, ali estava seu colega, Agostinho Lopes de Souza.

Agostinho Lopes de Souza era preto, paupérrimo e de uma educação invejável.

Sabia costurar e bordar. Muito bemquisto entre os alunos. Dedicou-se ao magistério

primário como professor público de escolas rurais. Morreu na maior pobreza

(RODRIGUES, 1969, p. 47).

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O professor Agostinho Lopes de Souza foi nomeado em 1899 reitor da Escola do

Sexo Masculino da vila do Livramento, conforme estava registrado no ofício encaminhado ao

Presidente do Estado, Antônio Leite Figueiredo24.

Brasileiro, 30 anos, preto, solteiro, católico. Morava sozinho numa residência ao

lado da Tesouraria da Fazenda, na Freguesia da Sé, na 1º quadra da rua do Coronel

Alencastro, n. 5 [...] Dedicou-se ao magistério, segundo ele, por não poder dar

vazão ao seu desejo de continuar a estudar. Antes de ser professor, foi aluno do

Curso de Línguas e Ciências Preparatórias do Liceu Cuiabano, junto com Firmo

Rodrigues no ano de 1888 (PAIÃO, s/d, p.6).25

O professor Agostinho Lopes de Souza, corresponde aos poucos professores do sexo

masculino que permaneceu no magistério no ensino das primeiras letras. Em 1892, as escolas

primárias de Mato Grosso eram compostas por 83,34% de seu corpo docente por mulheres.

Enquanto que o Ensino Secundário, entre os anos de 1890 a 1892 26 , era representado

exclusivamente por homens.

Os homens, que procuravam ingressar no magistério, não tinham a pretensão em dar

aula e sim conquistar o cargo de chefia ou direção. Mas, caso houvesse professores atuando

em sala de aula, esses procuravam o Ensino Secundário, o Colégio Liceu Cuiabano, deixando

o primário a cargo das professoras (GOMES, 2009, p.51).

Após os anos de 1890, já no final do século XIX, é constatada a pouca presença de

alunos negros matriculados no Liceu Cuiabano. Souza (2010), ao consultar o Resumo

nominal de faltas dos alunos matriculados no Liceu Cuiabano - maio de 1890, verificou

no registro somente um aluno negro matriculado.

A população de jovens negros residentes na cidade de Cuiabá, capital do Estado de

Mato Grosso, na Primeira República, foi marcada pela possibilidade mínima de

integração nas instituições de ensino, e, ao que conseguiram, faltaram condições

para ali se manterem, já que precisavam trabalhar para sobreviver. Ademais, pouca

ou nenhuma estratégia foi montada pelo governo local para garantir o acesso e a

permanência desses grupos nas escolas (SOUZA, 2010, p.54).

24 Disponível em: <http://gem.ufmt.br/gem/sistema/arquivos/28061204001800.pdf >. Acesso: 23 mar.2015. 25 PAIÃO, Ilza Dias. A casa-escola no urbano de Cuiabá (1872-1890): Limites, tensões e ambigüidades. Disponível em: <http://sbhe.org.br/novo/congressos/cbhe3/Documentos/Individ/Eixo6/402.pdf>. Acesso: 23

mar.2015. 26 Essas informações constituem-se como base da pesquisa dissertativa de Gomes (2009), que realizou um mapeamento por meio de fontes documentais disponibilizadas no Arquivo Público de Mato Grosso, registrando o número de professoras e professores que atuaram na instrução pública de Cuiabá, nas escolas particulares.

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Sobre o reduzido número de alunos negros matriculados, pode-se inferir que essa

ausência de alunos matriculados pode estar ligada também a problemas de ordem curricular

do Colégio Liceu Cuiabano desde 1884. Zanelli (2001), ao analisar o currículo da instituição

no período provincial constatou a fragilidade e a decadência do Colégio, consequência da

pouca frequência dos alunos nas disciplinas.

[...] as autoridades educacionais atribui à crise, pela falta de garantia dos exames na

Província como motivo, para o baixo número de matrículas, juntando-se a este

podemos identificar outros dois motivos. Primeiro o curso Normal não era mais

significativo para os alunos que buscavam o Liceu, pois, a partir de 1886, não há

alunos matriculados na disciplina de pedagogia e método, a qual era a única que

diferenciava o curso Normal do curso de Línguas e Ciências Preparatórias. Por

outro lado, as disciplinas de filosofia e retórica também não apresentaram

matriculas a partir de 1886, sendo elas suprimidas definitivamente do plano do

ensino do Liceu a partir de 1893. Enquanto essas disciplinas apresentavam um

número insuficiente de matriculas, a procura era visível nas disciplinas de línguas

modernas e das ciências naturais. Eram essas disciplinas exigidas como

preparatórias para os exames de novas carreiras profissionais que surgiram [...]

Essas carreiras, começam a surgir a partir do século XIX, ter preferência pelos

jovens, em detrimento da carreira de Direito [...] o número de alunos só aumenta

após o inicio do século XX com a equiparação do Colégio Liceu Cuiabano ao

Ginásio Nacional (Colégio de Pedro II) em 1905 (ZANELLI, 2001, p. 65-66).

A equiparação do Liceu Cuiabano ao Colégio de Pedro II, como se pode observar

elevou o número de alunos a procurar a instituição. O currículo da instituição foi

padronizado, podendo o aluno se preparar para ingressar em qualquer uma das faculdades do

Brasil. As poucas fontes documentais, também, podem ser consideradas como fator

proeminente na hora de constatar ou não a presença de alunos negros nos bancos escolares do

Colégio Liceu Cuiabano.

Veiga (2000, p.128) diz que a cultura escolar durante o século XX é influenciada pela

ideologia do branqueamento, racionalizando as práticas sociais sob o viés do discurso

eugênico. O objetivo dos Eugenistas era “melhorar” as características raciais da população

brasileira. “As teses higienistas e eugênicas buscaram construir outra organização da

população que superasse ou que resolvesse problemas de ordem racial, social e econômica”.

A única maneira de sanar essa doença era higienizar a população na perspectiva física e

mental. A escola, no entanto seria o local ideal para realizar tal tarefa. E o Colégio, Liceu

Cuiabano, como parte de um todo, insere-se nesse discurso ideológico.

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Com a inserção do novo regime centralizador no cenário político do País, observa-se a

expansão das escolas que vieram quebrar o sentido dualista do ensino, consubstanciado

durante décadas por dois sentidos. Conforme Romanelli (1986, p.64): “de um lado o Ensino

Primário, vinculado as escolas profissionais para os pobres e do outro, para os ricos, o Ensino

Secundário articulado ao Ensino Superior, para qual preparava para o ingresso”. Essa

expansão escolar se dá pela intensificação do processo de urbanização do País. A quebra do

sistema dualista teve como responsável as intensas pressões das classes sociais, ou seja, os

movimentos populares que reivindicavam o acesso à educação. Porém, “mesmo com o novo

regime implantado completamente numa autêntica revolução burguesa, o sistema educacional

brasileiro oscilou entre as novas exigências educacionais emergentes e a velha estrutura da

escola, fazendo expandir aceleradamente o ensino, mas o mesmo ensino vigente até 1930”

(ROMANELLI, 1986, p. 66-67).

É nesse contexto social e cultural que, durante o século XX, as classes sociais se

articularam para o acesso à educação. A população pobre e de cor se reuniu para pluralizar a

cultura e o potencial do negro como agente colonizador do Brasil. A população negra estava

comprometida em reivindicar e assegurar o acesso à educação aos seus filhos e filhas.

Promovendo e criando escolas por meio de diversas associações beneficentes.

O período de 1930 a 1945 é denominado por pesquisadores da área da educação e

história como 2º República. Octavio Ianni (1977) ressalta que os anos de 1930 a 1970 foi um

período marcado pelas transformações sociais, culturais e políticas, as quais atingiram a

estrutura organizativa do Estado brasileiro, deixando de existir o estado oligárquico para

atender à democracia que vinha deliberada pela expansão industrial, que ganhava ampla

hegemonia.

Nos anos de 1930 a 1945, Getúlio Vargas27 estava à frente da Presidência do Brasil.

Sobre as medidas adotadas em seu Governo, Ianni (1977) salienta que foi uma fase nova nas

27 “Getúlio Dornelles Vargas nasceu em São Borja, no Rio Grande do Sul, em 19 de abril de 1882, filho de Cândida Dornelles Vargas e Manuel do Nascimento Vargas. Sua família era politicamente importante na região,

situada na fronteira com a Argentina e palco de rumorosas lutas no século XIX [...]. Getúlio fez os estudos primários em sua cidade natal, e em 1897 seguiu para Ouro Preto, em Minas Gerais, onde estudavam seus irmãos mais velhos, a fim de fazer o curso de humanidades [...] Ingressou então na Faculdade de Direito de Porto Alegre, primeiro como ouvinte (1903), e em seguida como aluno regular, no segundo ano (1904) [...]. Em 1906 começou a trilhar o caminho da política ao ser escolhido orador na homenagem prestada pelos estudantes

ao presidente eleito Afonso Pena quando de sua visita a Porto Alegre. No ano seguinte, ingressou efetivamente na política partidária republicana – junto com toda uma geração de estudantes gaúchos que se notabilizaria na política nacional e que seria chamada de “geração de 1907” –, através do Bloco Acadêmico Castilhista, que

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relações do Estado e sistema político-econômico que buscou solucionar os problemas já

advindos antes da década de 30.

Uma junta militar governou o Rio de Janeiro de pleno direito durante dez dias, antes

de entregar finalmente o poder, em 3 de novembro, a Getúlio Vargas, o líder

incontestável do movimento de oposição [...] A mudança de liderança política,

resultante da ascensão de Vargas à presidência, tornou-se conhecida como a

Revolução de 30 [...] (SKIDMORE, 1982, p.25).

Então, em 1930, Getúlio Vargas assume a presidência do País provisoriamente após

liderar a Revolução de 30. No primeiro momento, ele permanece por quinze anos

(19301945), dividido em três períodos: o primeiro período, de 1930 a 1934, como chefe do

Governo Provisório; o segundo período, de 1934 a 1937, como presidente da República do

Governo Constitucional; no terceiro período de 1937 a 1945, como presidente ditador

enquanto durou o Estado Novo. Vargas ainda seria novamente eleito em 1950, governando o

País até o seu suicídio em 1954.

O Governo de Vargas é marcado por transformações importantes no setor educacional.

Filho (2005, p.2) elenca os principais acontecimentos dos anos de 1930 a 1937: a criação do

Ministério da Educação e saúde (MES); Reforma do Ensino Secundário e do Ensino Superior

(1931); Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova (1932); Constituição Federal de 1934; e

os Projetos de reforma educacional oriundos da sociedade civil. Estarei atenta somente à

reforma correlatada ao Ensino Secundário, tendo em vista a temática do trabalho acadêmico e

o interesse pelo segmento de ensino. No que se refere à Reforma do Ensino Secundário no

ano de 1931 pelo Decreto de nº 21.241 de 4 de abril de 1932, a reforma organizou o Ensino

Secundário.

Por final, o Ensino Secundário manteve seu caráter elitista. Os alunos que

frequentavam seus bancos escolares eram oriundos de camadas sociais mais favorecidas, com

rígidas avaliações e estudos. Dificultando o acesso das camadas populares pelo difícil

apoiou a candidatura de Carlos Barbosa Gonçalves ao Governo do Estado [...]. Em dezembro de 1907, formou-

se em Ciências Jurídicas e Sociais [...]. Em novembro de 1926, com a posse de Washington Luís na presidência da República, foi nomeado ministro da Fazenda [...]. Em 3 de novembro de 1930, Vargas, tomou posse como chefe do Governo Provisório da República. Chegava ao fim a Primeira República, e começava um novo período da história política brasileira, que foi chamado de República Nova. Era também o início da Era Vargas”

CPDOC – Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (2007, p.1-4, ).

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processo seletivo. Na segunda reforma do ensino, Gustavo Capanema 28 (1934-1942)

apresentou um conjunto de Leis Orgânicas, o Decreto-Lei de nº 4.244 de 9 de Abril de 1942.

Zotti (2004) salienta que a única diferença dessa reforma para a Reforma de Francisco

Campos é que o Ensino Secundário subdividiu o colegial em Clássico e Científico

permanecendo o ensino propedêutico semelhante à reforma anterior. Entretanto, a primeira

reforma acentuou o ensino das letras e a de Capanema ao estudo das ciências, porém, ambas

tinham o mesmo objetivo: preparar a elite para ingressar ao Ensino Superior.

Sobre o Decreto-Lei, Rocha (2010, p.41) chama atenção para dois tipos de

estabelecimento que surgiu: o Ginasial e o Colegial. “Nas instituições denominadas de

Ginásios seria oferecida o primeiro ciclo (elementos fundamentais) e nos estabelecimentos

denominados Colégios oferecer-se-ia, além do curso ginasial, o segundo ciclo (clássico ou

cientifico)”. Liceu Cuiabano foi então denominada e reconhecida na época como Colégio.

3.1 ASPECTOS HISTÓRICOS DOS LICEUS NO BRASIL

Antes de iniciar este breve tópico sobre os aspectos histórico dos Liceus no Brasil,

fazse necessário realizar uma síntese sobre a educação e suas transformações no período

colonial, imperial e república. O acesso à escola se tornou um instrumento de saber e poder

nas mãos dos mandatários, como também um lugar que reproduziu as desigualdades sociais,

raciais e de classe.

No período colonial (1500-1759), sobre a educação “a mentalidade iluminista se

manifesta julgando o processo colonizador brasileiro e seus principais agentes com o crivo de

recentes conquistas sociais. “O papel desbravador do bandeirante é reavaliado na perspectiva

da força do conquistador belicoso, sedento por riqueza, sobre a fraqueza e ingenuidade do

conquistado”. Nesse período, o Brasil Colônia pertencia à Portugal, nada poderia ser feito

28 Gustavo Capanema Filho nasceu em Pitangui (MG), em 1900. Formou-se pela Faculdade de Direito de Minas Gerais, em 1923. Em 1927, iniciou sua vida política ao se eleger vereador em sua cidade natal. Nas eleições presidenciais realizadas em março de 1930, apoiou a candidatura presidencial de Getúlio Vargas, lançada pela Aliança Liberal - coligação que reunia os líderes políticos de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraíba. Em

agosto de 1931, Capanema liderou a reação a um golpe deflagrado na capital mineira para afastar do governo Olegário Maciel.. O golpe, que contou com a participação de políticos mineiros descontentes com os rumos da política estadual, foi articulado pelo ministro Osvaldo Aranha e contou com a conivência do próprio presidente da República. Em setembro de 1933, com a morte de Olegário Maciel, Capanema assumiu interinamente a interventoria federal em Minas. Pleiteando, com o apoio do interventor gaúcho Flores da Cunha, a sua

efetivação no cargo. Capanema foi designado pelo presidente para dirigir o Ministério da Educação e Saúde. Nomeado em julho de 1934, permaneceria no cargo até o fim do Estado Novo, em outubro de 1945. Fonte: (Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. Documental - CPDOC).

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sem a aprovação da coroa portuguesa. Portanto, somente após 1549, que o Brasil

efetivamente passa a pertencer ao Império Português29 (COSTA, 2013, p.4-5).

No entanto, a educação foi designada aos jesuítas, que tinham como missão catequizar

os índios e os gentios. A Companhia de Jesus, criada no século XVI, por Ignácio Loyola, fez

lutar contra a heresia luterana e expandir a ortodoxia católica. Assim promoveram socializar

seus serviços por meio dos colégios30.

Os primeiros colégios secundários instalados no Brasil foram introduzidos pelos

jesuítas no período colonial, pelas ordens religiosas, como os franciscanos, carmelitas e

beneditos. O modelo de colégio criado no Brasil tem como referência a educação jesuíta

destinada aos filhos dos colonos e aos indígenas, ensino de caráter religioso que propunha

ensinar-lhes as primeiras letras (NUNES, 2000).

Clarice Nunes (2000, p.36) rememora os antecedentes dos colégios no Brasil. Segundo

ela, o colégio trouxe como símbolo o prestigio de ingressar nas universidades. “A origem do

colégio está nos pensionatos para bolsistas universitários fundados por alguns generosos

benfeitores. Os primeiros colégios datam do século XIII”. Com a expulsão dos Jesuítas pela

política pombalina com a independência do Brasil (1822), a educação passa a ser

responsabilidade do Estado e direito de todos os cidadãos.

A palavra, Liceio, Liceo ou Lício deram origem ao vocábulo Lyceu. Esses eram os

adjetivos devocionados ao deus Apolo na Grécia Antiga. Aristóteles foi o fundador do Lyceu,

sua própria escola, construída próxima a um bosque para cultuar o deus Apolo no ano de 384

a. C. Duas escolas de grande importância foram criadas na Atenas Clássica: a Academia de

Platão e o Lyceu de Aristóteles (FASSÒ, 1978, p. 60). O Lyceu então pode ser compreendido

como um lugar erudito, de formação intelectual, local onde somente os sábios poderiam

frequentar.

Os Liceus brasileiros incorporaram características especificas, conforme as demandas

sociais e culturais da época, sob a influência francesa e portuguesa. No século XIX, a

instrução secundária dos liceus era formada pelas disciplinas de latim, grego e retórico,

durante o governo de D. João VI em 1810 (FERRONATO, 2012, p.88).

29 Texto apresentado ao Grupo de pesquisadores sobre o tema “Educação, História e Cultura: Brasil, 15491759”, coordenado pelo professor José Maria de Paiva. 30 Fragmento retirado do prefácio elaborado pela professora e pesquisadora Julia Varela, no livro de DALLABRIDA, Norberto. A fabricação escolar das elites: o Ginásio Catarinense na Primeira República. Florianópolis, 2001.

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No início do século XIX, os portugueses, para suprir as carências oriundas do período

colonial, criaram diversas instituições de Ensino Superior com a finalidade de constituir

grupos profissionais capacitados para atender às exigências da coroa e formar o grupo

dirigente e intelectual do império (NASCIMENTO, s/d).

Conforme Peres (2005), a educação brasileira no Império tornou-se o modelo de

educação pública nacional. A educação se torna direito do homem e do cidadão. No entanto:

No entanto, “tornou-se necessário dotar o país com um sistema escolar de ensino

que correspondesse satisfatoriamente às exigências da nova ordem política,

habilitando o povo para o exercício do voto, para o cumprimento dos mandatos

eleitorais [...] e converteu-se na motivação principal dos grandes projetos de

reforma do ensino no decorrer do Império” (CARVALHO, 1972, p.2).

A sociedade imperial, de economia agroexportadora e escravista, criou, em todas as

províncias do império, liceus destinado aos filhos das classes mais privilegiadas

economicamente. O Liceu de Niterói foi o colégio criado, em 1847, dez anos depois do

Colégio Pedro II31 (NUNES, 2000, p.39).

Os Liceus Provinciais surgiram por meio do Ato adicional que buscou organizar o

Ensino Secundário no Brasil a partir das cadeiras avulsas existentes nas capitais provinciais:

O Ateneu do Rio Grande do Norte (1835), os Liceus da Bahia e da Paraíba em 183633.

No Brasil Imperial (1837), foram criados diversos Liceus provinciais com objetivo de

ministrar o Ensino Secundário. O órgão responsável por administrar e legislar a instrução

pública ficou a cargo da província, conforme as exigências da reforma constitucional de

1834. O Ensino Secundário foi um tipo de ensino de formação básica da elite;escola de

qualidade e referência acadêmica (HAIDAR, 1972).

Em 1834, após a publicação do Ato adicional, inúmeros estabelecimentos de ensino

liceal no Brasil foram surgindo conforme apresenta Ferronato (2012, p.89), numa tabela que

elaborou a partir de fontes disponibilizadas por Gondra e Scheneider (2011).

O Ensino Secundário tinha como característica preparar os jovens para o ingresso

nas universidades, os exames de admissão, conhecidos também por exames parcelados

31 O Colégio Pedro II foi criado em 02 de dezembro de 1837, a partir do Seminário de São Joaquim, na Corte. O

Imperial Colégio, como também ficou conhecido, criado durante a Regência, deveu-se principalmente à

iniciativa do Ministro Bernardo Pereira de Vasconcelos, juntamente com o então Regente Araújo Lima. O

discurso foi publicado no Anuário nº 1 do Colégio (FERRONATO, 2012, p.89). 33 (HAIDAR, 1972, p. 22).

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ou preparatórios, únicos canais de acesso para almejar uma vaga nas academias do

Império.

Os preparatórios mantiveram o caráter predominantemente humanístico e

literário que lhes fora conferido pelos primeiros estatutos dos cursos

superiores. A reforma no ensino na corte procurou de certo modo, incentivar

estudos mais completos, prevendo a concessão do grau de bacharel em letras

aos alunos aprovados em todas as matérias do curso do Colégio Pedro II

(HAIDAR, 1972 p.53).

Entretanto, os Liceus também enfrentaram momentos de decadência no que diz

respeito à qualidade de ensino e frequência. Uma das alternativas para amenizar tal situação

foi centralizar algumas ações no poder legislativo e executivo. Foram criados

estabelecimentos gerais nas capitais provinciais e a equiparação dos Liceus provinciais ao

Colégio Pedro II. “No caso particular do Ensino Secundário, a equiparação dos liceus

provinciais passou a ser apontada como o meio indireto de uniformizar os estudos

preparatórios em todo o país sem ferir os direitos constitucionais da assembléia legislativa

das províncias” (HAIDAR, 1972, p.27).

Tabela nº 7

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A decadência e a má qualidade do ensino levaram algumas Províncias a autorizar a

abertura de escolas particulares, multiplicando os estabelecimentos de ensino particulares,

sendo mantidos financeiramente pelos cofres provinciais.

Os alunos formados nos liceus provinciais que tinham o desejo de ingressarem nos

cursos superiores eram obrigados a realizar os exames preparatórios ou podiam solicitar

transferência ao Colégio Pedro II. No período do Império, o conjunto de aulas, no Liceu, não

passava de um coletivo de aulas avulsas sem nenhum caráter organizativo. Nesse sentido, a

partir do ano de 1837, começa a emergir discussões sobre a organização das instituições

liceistas com o desejo de “centralizar” e “descentralizar” o Ensino Secundário. “Na década de

1840, houve uma intensificação desse movimento, que apoiava o retorno de uma maior

centralização sob o discurso de garantir uma unidade nacional. Segundo o Visconde do

Uruguai, sem centralização não haveria Império” (FERRONATO, 2012, p.94).

Foi no segundo Império que o movimento de centralização teve maior legitimidade.

Era preciso erradicar os problemas do ensino, voltados para a falta de recursos financeiros,

professores e fragilidade no sistema de exames preparatórios, como também a expansão dos

exames a todas as capitais provinciais.

De acordo com Haidar (1972, p.56):

Nos anos seguintes atenuou-se um pouco o rigor e já em 1873 as bancas foram

pródigas, novamente, na distribuição dos certificados de aprovação.

Evidenciando a deficiência dos estudos secundários realizados

precipitadamente e sem qualquer método, na maior parte das vezes sob a

responsabilidade de mestres que simplesmente adestravam candidatos para

exames e os davam permaturamente por habilitados, cresciam ou minguavam

as reprovações segundo a maior ou menor severidade das provas.

O conjunto de propostas apresentadas pela Assembleia Geral por Francisco Ramiro

D”Assis abarcou: a ampliação dos “estabelecimentos gerais”, e a equiparação dos liceus

provinciais ao Colégio Pedro II.

Em 1854, surgem no âmago das discussões o projeto de Couto Ferraz32 (1854), por

meio de uma emenda constitucional, o Governo Imperial autorizou realizar reformas no

Ensino Primário e secundário na Corte e criar novos liceus externos no município do Rio de

Janeiro. Mais uma vez foi proposto o reconhecimento dos diplomas conferidos aos liceus

províncias. A aplicação da Lei teve repercussão nacional. Quase todas as províncias do País

32 Couto Ferraz foi Deputado da Província do Rio de Janeiro no Brasil Império.

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fizeram seguir a legislação. A inspetoria Geral da Instrução Primária e Secundária foi criada

na corte, órgão interligado ao Ministério do Império com a finalidade de orientar e fiscalizar

o ensino público e particular dos níveis: primários e médio da cidade do Rio de Janeiro e

estruturou os dois níveis de ensino-elementar e o superior. A instrução primária gratuita,

constitucionalmente prometida a todos e investiram esforços para o melhoramento do sistema

de preparação dos professores primários com as Escolas Normais (PERES, 2005, p. 10-11).

Outras reformas educacionais surgiram nos anos seguintes: A reforma de Leôncio

Carvalho modificou o Ensino Primário, secundário e superior da corte.

O Decreto, de 20 de abril de 1878, alterou a estrutura curricular do Colégio de Pedro

II, introduziu a freqüência livre e os exames vagos (parcelados) de preparatórios aos

cursos superiores e, também, isentaram os alunos acatólicos do estudo da religião,

modificando o juramento exigido para a concessão do bacharelado em letras, a fim

de torná-lo acessível aos bacharelandos acatólicos (PERES, 2005, p.15).

Mesmo com as alterações na letra da Lei, a situação educacional ainda era

preocupante. Poucos estabelecimentos foram criados nas capitais Provinciais e a sua clientela

era formada somente pela pequena burguesia e o patriciado rural, deixando de fora os pobres

e os escravos.

3.2 A HISTÓRIA DO ENSINO SECUNDÁRIO E DO LICEU CUIABANO

Para reconstituir de forma breve a história do Liceu Cuiabano tomei como base a

leitura da Dissertação de Zanelli (2001, p.1), A criação do Liceu Cuiabano na Província de

Mato Grosso: o curso de línguas e ciências preparatórias e a formação dos intelectuais. Único

trabalho acadêmico que se dedicou a recuperar a gênese do Colégio Liceu Cuiabano. Fontes

documentais trouxeram informações sobre o funcionamento e os mecanismos pedagógicos e

curriculares da instituição no período de 1836 e 1879, momento em que é instalado o Colégio

em Cuiabá. Ao realizar um levantamento bibliográfico referente ao Liceu Cuiabano

percebemos que a literatura regional não dispõe de nenhum trabalho especifico sobre essa

instituição. As referências bibliográficas regionais abordam aspectos sobre a educação no

aspecto da legislação e fatos no âmbito administrativo (ZANELLI, 2001).

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A literatura regional, utilizada no texto, vem auxiliar na construção do pensar essa

Instituição. A memória e as lembranças são conjuntos de sentimentos resgatados por ex-

alunos que deixaram crônicas sobre a vida cotidiana do Liceu Cuiabano. Essas crônicas,

embora os autores já estejam falecidos, são lidas com entusiasmos por eles terem registrado

as suas histórias e experiências.

As crônicas lidas foram escritas por Firmo Rodrigues em Gente e Coisas de Nossa

Terra, livro publicado em 1969. Numa das páginas do livro, precisamente nominada Liceistas

de meu tempo, traz saudosamente em poucas linhas a trajetória escolar de um grupo de

dezenove alunos que estudaram no imponente Colégio, no ano de 1888.

Maria de Arruda Müller e Dunga Rodrigues ambas escreveram o livro Cuiabá ao

longo de Cem anos, publicado em 1994. Essas mulheres compuseram a vanguarda da elite

intelectual feminina, testemunharam e participaram dos eventos mais refinados do meio

social. Sobre o Liceu Cuiabano, a jornalista e poetisa Maria de Arruda Müller dedicou em

algumas páginas uma crônica sobre o centenário de instalação dessa Instituição de ensino.

Ademais, algumas obras acadêmicas merecem ser destacadas por sua relevância ao

debruçarem sobre a história da educação do Estado de Mato Grosso, e sua capital, Cuiabá.

Dentre elas, destaco: Questões de Ensino, de Virgilio Correa Filho (1925); História do Ensino

em Mato Grosso, de Humberto Marcílio (1963); Um século de instrução púbica, de Gervásio

Leite (1970); Educação e história em Mato Grosso, de Gilberto Luis Alves (1984); e a última

publicação acadêmica, Luzes e sombras: modernidade e educação pública em Mato Grosso

(1870-1889) de Elizabeth Madureira Siqueira (2000).

Esses livros trazem em seu escopo uma riqueza de informações históricas sobre a

origem do ensino em Mato Grosso e suas ideias de modernização, sendo a escola responsável

por tirar a população da ignorância e inseri-la no mundo da luz.

A história da criação do Liceu Cuiabano dialoga com os anseios e desejos da elite

local, primado por uma educação que viesse corroborar tanto na formação intelectual dos

jovens futuros dirigentes do País, quanto criar um espaço próprio que abrigasse os jovens

liceistas.

O acesso ao Ensino Secundário remonta aos tempos de capitania, constituída por

algumas aulas régias e fragmentadas, conforme preconizava as reformas pombalinas. De

acordo com Alves (1984), criaram-se muitas aulas na Província de Mato Grosso, mas a maior

parte delas foram desativadas. Em 1828, funcionavam em Cuiabá e Diamantino duas aulas de

Gramática Latina.

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No período colonial, há registros de que o primeiro Bacharel mato-grossense a deixar

a província para estudar na Universidade de Coimbra foi o Dr. Prudêncio Giraldes Tavares da

Veiga Cabral33, nascido em Cuiabá no dia 22 de abril de 180034.

No Brasil Império, o esforço fora maior, quanto à necessidade de criar novos

estabelecimentos de Ensino Secundário que viesse manter a ordem e integridade da

monarquia. Medidas foram realizadas com intuito de descentralizar o Ensino Secundário e

distribuir as responsabilidades quanto às obrigatoriedades para as Províncias em legislar

sobre a instrução pública, de acordo com a reforma constitucional de 1834 (HAIDAR, 1972,

p.17).

Para alguns historiadores, o Ato Adicional de 1834 fez somente desorganizar a

instrução elementar no Império. Cada Província procurou organizar o seu ensino de sua

maneira. A tese de doutoramento de Castanha (2007) desmistificou esse olhar negativo sobre

o conjunto de leis que foram articuladas e aplicadas nas províncias. Destacou as ações que

visou organizar a instrução elementar e fiscalizar o trabalho dos professores com as

experiências advindas das Escolas Normais.

O Ensino Secundário, em Cuiabá originou-se de uma estrutura simples, tinha somente

um professor que ministrava as aulas e organizava os dados referentes à matricula e ao

progresso do aluno conforme as exigências da província. Os poucos alunos que frequentavam

as aulas eram jovens com idade de 12 a 20 anos do sexo masculino. Não havia uma

frequência regular, pois isso dependia das condições econômicas do aluno. A metodologia

das aulas se pautava a comentários orais e à tradução de grandes obras, método individual e

memorizativo, o mais conhecido decoreba. Essas aulas eram ministradas na casa dos

professores ou em casas alugadas, os quais recebiam um ordenado ínfimo pelo trabalho

realizado.

Somente no ano de 1836, que a Assembleia Legislativa da província aprova o Projeto

de Lei nº 2, com objetivo de reunir as aulas do Ensino Secundário em um único edifício,

criando dessa forma um Liceu Provincial. O Art.4 ressalta “que logo que seja possível

aproveitar o edifico público o governo provincial dará as providências necessárias para que

nele se estabeleça os cômodos precisos para as aulas públicas [...]35”.

33 O mato-grossense obteve o reconhecimento de doutor, pelo decreto de 16 de setembro de 1834 (ZANELLI,

2001, p.33). 34 MESQUITA, José de – Gente e Coisa de Antanho - Cadernos Cuiabanos nº 4- Os primeiros bacharéis

MatoGrossense. 35 Cópia do Projeto – Assembléia Legislativa Provincial de Mato Grosso-paço da Assembléia Provincial, 10 de

dezembro de 1836. APMT – CAIXA 1836- aprovado em 22 de dezembro de 1836.

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Várias foram as tentativas do governo em reunir em um só local as aulas avulsas do

Ensino Secundário. Mas muitas das leis criadas não chegaram a nem sair do papel.

Consideradas por alguns como supérfluas por não haver número de alunos escritos

suficientemente para dar continuidade à disciplina. Ou porque o Seminário Episcopal da

Conceição tinha em seu plano de ensino a mesma cadeira. Assim, o inspetor Joaquim Gaudie

Ley comunica ao presidente da província:

Existem criadas em toda Província duas cadeiras de gramática latina, sendo uma na

capital regida pelo Cônego Manoel Pereira Mendes, que leciona 20 alunos, dos

quais aprendem ao mesmo tempo francês e outra em Poconé vaga a mais de um ano.

Continuo a pensar como expresso no meu último relatório que, a conservação da

cadeira da capital é supérflua, visto haver no Seminário, semelhantes cadeiras

(MARCÍLIO, 1963, p.39).

O Seminário Episcopal da Conceição, criado pelo Decreto nº 2.245, 15 de setembro de

1858, de caráter particular e religioso, recebeu expressivas contribuições dos cofres públicos

para a sua edificação e manutenção. A escola foi responsável pela formação dos jovens

intelectuais mato-grossenses. “representantes da igreja católica, propõe a criação de um

estabelecimento de Ensino Secundário. Pelo Decreto Imperial de 13 de fevereiro de 1853,

foram criadas as primeiras cadeiras no estabelecimento de ensino” (ZANELLI, 2001).

Em meados do século XIX, a igreja católica passa a controlar o Ensino Secundário na

Província36 (SIQUEIRA, 2002, p.181). Não agradando à elite dirigente provincial os mandos

e controle da igreja ao Ensino Secundário “[...] os dirigentes oficiais tinham como objetivo

contra atacar o monopólio da igreja, fortalecendo a ideia de criação de uma instituição de

ensino secundária pública e fugir do currículo com bases religiosas” (ZANELLI, 2001, p.45).

Um novo regulamento orgânico da instrução pública da Província oficializa o grande

projeto educacional para Mato Grosso. Cria-se o Curso Normal e o Preparatório. A Escola

Normal é criada em 9 de julho de 1874, com finalidade de formar alunos para exercer o

magistério. O currículo foi organizado em três anos. As cadeiras: Matemática, História e

Geografia são transferidas do Seminário Episcopal para a Escola Normal, que a partir de

1978 também começa a realizar os exames preparatórios37.

36 ZANELLI, 2001, p.43. 37 ZANELLI, 2001, p.46

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De acordo, Siqueira (2002), foi a partir da década de 80 que as discussões sobre a

obrigatoriedade e liberdade do ensino se revestiram de ideologias positivistas. Com base em

três proposituras: a obrigatoriedade do Ensino Primário, a liberdade de ensino e a criação do

primeiro estabelecimento de ensino público secundário da província. Nesse conjunto,

constitui-se a Reforma Educacional consolidada pelo Barão de Maracaju.

Para Leite (1970, p.68), a Reforma Educacional de Maracaju foi audaciosa e

imprópria ao tempo. Porém, apresentou uma melhoria “Pena que a metade das coisas

regulamentadas não passasse do papel, mas, diga-se de passagem, a reforma que o

regulamento propôs deixou convicção de que maior era o interesse do tempo pela causa do

ensino”. O presidente da Província, João José Pedrosa, criou as bases do Liceu Cuiabano com

a promulgação da Lei de nº 536 de 3 dezembro de 1879, sendo inaugurado somente em 1880

(SIQUEIRA, 2002).

No ato da instalação do Liceu Cuiabano, o Diretor Geral da Instrução Primária e

Secundário de Mato Grosso, Dormevil José dos Santos Malhados, discursou sobre a

importância da criação do Liceu Cuiabano para a população cuiabana.

Acaba de ser instalado o Liceu Cuiabano; mais um foco de luz abriu-se aos jovens e

esperançosos [...] a instrução Srs, é a base da ilustração de um país, ela é a alavanca

poderosa do progresso das Nações, porque obriga o homem ao cumprimento do

dever, e do dever fielmente cumprido abre o espírito à verdade, visto como ambos

são da mesma família, imutáveis, universais e eternos [...] (SIQUEIRA E SÁ, 2001,

p.19-20).

O discurso proferido por Dormevil José Santos Malhados deixa claro que a instalação

do Liceu Cuiabano vinha a se concretizar devido à lacuna que advinha na instrução pública

direcionada ao nível secundário. Muitos dos jovens mato-grossenses que quisessem dar

continuidade aos seus estudos precisavam procurar outras capitais provinciais para residir

como: Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador e Recife.

Porém, era dispendioso estudar fora da Província, sendo possível, apenas as classes

mais favorecidas da sociedade mato-grossense, composta por proprietários de terras,

oficiais militares, profissionais liberais e comerciantes. Por outro lado, grande parte

da população era constituída por uma população de livres pobres. Para esses alunos

pobres, que não tiveram a mesma oportunidade de continuar os estudos, restava

apenas a evasão das aulas (ZANELLI, 2001, p.37).

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Nos escritos de Siqueira (2002), a liberdade de ensino ganhava uma conotação

democrática sendo ela responsável pela expansão da instrução popular. Tendo a instrução

como elemento nivelador e homogeneizador da sociedade, como explicar as diferenças de

classe existente, deixando de fora a população pobre e de cor? “O grande argumento,

utilizado na década de 80 do século XIX em Mato Grosso, tinha por base não os

condicionantes econômicos, de raça ou classe, mas sim a palavra mágica que justificara os

desníveis instrucionais: a aptidão”.

Elevar o progresso da Província de Mato Grosso consistia em tira-la da condição de

barbárie oferecendo a ela instrução e prosperidade para que os povos pudessem ser

civilizados. As escolas foram concebidas como templo de luz e símbolo de modernidade. No

discurso de Manuel Maria Metelo38, a criação de um curso secundário diminuiria a lacuna

que separava a Província Mato-grossense dos grandes centros, deixando de ser considerada

atrasada (SIQUEIRA, 2002).

Então, o novo estabelecimento de Ensino Secundário foi composto por dois cursos: o

Normal e o de Línguas e Ciências Preparatórias. O primeiro Curso teve como objetivo

preparar professores e professoras para exercer o magistério do Ensino Primário; e o segundo

habilitar os aspirantes para a matrícula nos cursos superiores. “O curso de Línguas e Ciências

Preparatórias tinha como finalidade preparar os jovens que desejavam as carreiras liberais,

oferecidas pala faculdade de Direito, Medicina, Engenharia e a carreira militar e o Estado

tinha como preocupação a gestação de sua elite intelectual e dirigente provincial [...]”

(ZANELLI, 2001, p.49).

É preciso elucidar que a implantação do Liceu na Província de Mato Grosso ocorreu

de forma lenta, justificada pelos regulamentos oficiais, pela falta de recursos financeiros.

Como também o Brasil Imperial sofria com a má qualidade do Ensino Secundário em todo o

território, duas soluções de cunho centralizador foram propostas: “a criação de

estabelecimentos gerais nas Províncias e a equiparação dos Liceus Provinciais ao Colégio de

Pedro II, com intuito de adotar o seu currículo e plano de estudos (HAIDAR, 1972).

No caso especial do Ensino Secundário, a equiparação dos liceus provinciais, pedida

pelos projetos, apresentava-se como fórmula capaz de promover o reerguimento do

Ensino Secundário provincial, conciliando, de modo satisfatório a ambas as partes e

38 Artigos, programas e discursos relativos ao ato de instalação do Liceu Cuiabano criado pela Lei Provincial nº

536 de 3 dezembro de 1879. Discurso pronunciado por Manuel Maria Metelo, p. 27-28.

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aos interesses, do ensino, a interferência do Centro e a autonomia das províncias

(HAIDAR, 1972, p.35).

Com a equiparação do Liceu Cuiabano ao Colégio de Pedro II, os exames

preparatórios eram realizados conforme o seu programa de ensino e exigências. O governo

federal exerce controle e fiscalização sobre o Ensino Secundário e mais particularmente sobre

os exames preparatórios (ZANELLI, 2001, p.71).

Desde então:

Os preparatórios mantiveram o caráter predominantemente humanístico e literário

que lhes fora conferido pelos primeiros estatutos dos cursos superiores. A reforma

do ensino na Côrte procurou, de certo modo, incentivar os estudos mais completos,

prevendo em todas as matérias do curso de estudos do Colégio de Pedro II. Tal

promessa, contudo, não poderia seduzir àqueles cujo objetivo último era o ingresso

nas Faculdades: os exames gerais, pedindo uma formação básica limitada às

matérias preparatórias fixadas nos Estatutos, representavam a indiscutivelmente o

caminho mais fácil e rápido de chegar às Academias (HAIDAR, 1972, p.53).

Sobre o aspecto curricular do Liceu Cuiabano:

Podemos observar por meio dos requerimentos de matriculas, assinados pelos pais

dos alunos, alguns aspectos do que vinha ser o ensino, do Liceu Cuiabano. Como no

resto do país, o Ensino Secundário no Liceu também era concluído parceladamente

e cumulativamente, ou seja, como um curso preparatório, este tinha as mesmas

características dos cursos preparatórios criados no inicio do século XIX, ou seja,

tanta as matriculas como os exames anuais eram realizadas por disciplinas

(ZANELLI, 2001, p.64).

Os primeiros cientistas mato-grossenses surgem no campo político-administrativo da

burocracia provincial atuando em vários setores públicos, ocupando diversas secretarias e

cargos. O primeiro corpo docente do Liceu Cuiabano foi constituído por: Dormevil dos

Santos Malhado, José Magno da Silva Pereira, Belarmino Augusto de Mendonça Lobo,

Antonio Corrêa da Costa, João Pedro Gardés, Antonio Pereira Catilina da Silva e José

Estevão Corrêa39

39Zanelli, 2001.

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Para exercer a função de professor no Liceu Cuiabano, era preciso prestar concurso

público. Essas provas eram orais e escritas, produzidas pela comissão examinadora composta

pelo Diretor Geral da Instrução e três examinadores indicado pelo presidente da Província.

Esses examinadores portavam de curso superior e tinham como função fiscalizar e executar

os exames no processo seletivo.

O Regulamento da Instrução pública de 4 de março de 1880, no Artigo 81, destaca: Só

poderão candidatar-se optar ao magistério público os cidadãos brasileiros que provarem os

seguintes requisitos:1º maioridade legal;2º Moralidade;3º Isenção de Culpa;4º Capacidade

profissional. Se submetido ao regulamento e aprovação na prova escrita e oral, o candidato

estaria apto a ser professor da imponente Escola Liceu Cuiabano.

Ao final do século XIX e às vésperas da República, o Liceu Cuiabano era tido como

um marco nas instituições escolares. Ele passou por algumas modificações quanto a sua

estrutura curricular e à cultura escolar até a Segunda República tomando outros rumos e (re)

significações quanto ao seu papel de difusor do conhecimento na sociedade mato-grossense.

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CAPÍTULO IV

LICEU CUIABANO E SEUS DIFERENTES ESPAÇOS DE SABER

Várias foram às transformações culturais, sociais e arquitetônicas que o Colégio Liceu

Cuiabano, ao longo dos seus cento e trinta e seis anos de história, sofreu. Na década de 40, o

Estado de Mato Grosso vivenciou uma onda de projetos que objetivava elevar o processo de

modernização do Estado e sua capital, Cuiabá.

As cidades foram invadidas por novas concepções ideológicas que defendiam a

importância do progresso e da ciência, fazendo entender que as cidades precisavam

apresentar aquilo que tinham de mais moderno e tecnológico.

É, na década de 40, que um conjunto de edificações foi construído, conhecido como

Obras Oficiais, modificando a paisagem urbana de Cuiabá. Essa modificação no contexto

arquitetônico e paisagístico consequentemente desencadeou uma ruptura no estilo de vida da

sociedade cuiabana.

Neste tópico, tecerei breves considerações sobre as alterações no nome de escola

secundária, para que se possa compreender a dinâmica cultural e social em que esse colégio

esteve imerso.

Os edifícios arquitetônicos mais importantes são aqueles prédios considerados pela

população ou por um coletivo como marca do progresso econômico, social e cultural num

determinado período histórico. Para que isso seja realmente endossado, é preciso que

pesquisas acadêmicas exponham seus resultados sobre a temática. Isso ocorre quando se faz

uma breve pesquisa nas plataformas de teses e dissertações das Universidades Federais do

País e se observae que há um número significativo de pesquisas nessa área do conhecimento

envolvendo a discussão sobre arquitetura escolar.

A exemplo de pesquisas que analisou edifícios durante o período estadonovista na

grande São Paulo, Marcel Oliveira (2008) faz esse encaminhamento em sua dissertação,

propondo analisar cinco edifícios40 públicos da capital São Paulo, elencados por ele como

referências na produção artística e ideológica da época.

40 O Estádio Municipal, o Túnel do Trianon, a Biblioteca Municipal, a Ponte das Bandeiras, e o Viaduto do

Chá. 43 Formou-se na Universidade Politécnica do Rio do Janeiro, chegou a Cuiabá em novembro de 1938, aos

27 anos de idade.

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Marcel Oliveira (2008) afirma que, durante a década de 30 e 40, no que diz respeito às

obras públicas, elas tiveram uma funcionalidade e objetivo que eram atender às exigências

ideológicas do Governo de Getulio Vargas, as quais trouxeram uma série de modificações no

aparelho governamental. Seria esse momento, tempo de reflexão, apropriação e execução da

arquitetura moderna no Brasil. Então vários foram os arquitetos e intelectuais que pensaram a

forma e a linguagem dos edifícios que seriam construídos durante o período estadonovista.

No Governo de Vargas, houve dubiedade em relação às vertentes arquitetônicas

“Balançava-se entre a modernidade de vanguarda, o Art”Déco ainda que ambos

convergissem para o funcionalismo, utilitarismo e estandardização [...]” (OLIVEIRA,2008,

p.21) e também o neocolonial, intensamente empregado nas curvas e formas das residências

de São Paulo e edifícios públicos durante a década de 20 e 30. Resultando em múltiplos

estilos arquitetônicos durante o período de 1930 a 1945 que corroborou na inserção da

arquitetura moderna no

Brasil.

Oliveira (2008) diz que “Getulio Vargas balançou entre o modernismo numa tentativa

de racionalizar e modernizar o aparelho estatal via arquitetura, as correntes e estilos

pitorescos, que por sua vez, são explicados pelos ideais nacionalistas e simpatia do Estado

com o nazi-fascismo” (2008, p.27). É a partir da década de 1940 que a cidade de Cuiabá, no

Governo de Júlio S. Müller, sai da condição de cidade pacata para assumir a sua nova

identidade moderna, inserida no discurso do progresso. “[...] a capital de Mato Grosso recebe

significativas alterações em seu espaço, com a construção de grandes prédios oficiais e novos

arrumamentos. É nesse espaço da cidade que os símbolos do progresso foram sendo

assentados” (FREITAS, 2011, p.199).

Para Castor (2013, p.180), o Governo de Getúlio Vargas transformou Mato-Grosso

em palco de um intenso programa de integração econômica entre territórios brasileiro,

denominado “Marcha para o Oeste”. O responsável pela qualidade técnica e construção dos

edifícios oficiais foi o engenheiro carioca Cássio Veiga de Sá43.

Fazendo uma digressão ao passado com a finalidade de situar as mudanças que

ocorreram no nome da escola e de seus edifícios. Inicio nos anos de 1880, data da instalação

do primitivo Lyceu de Línguas e Sciência, o Lyceu Cuiabano.

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A sua primeira sede foi localizada no casarão “Ganha Tempo”, localizado na Praça do

Ipiranga.

Fotografia nº 11. Ganha Tempo

Nota: Disponível em: <http://www.tvcidadeverde.com.br/conteudo/show/secao/37/materia/9058>. Acesso: 10

fev.2015

A sua inauguração foi marcada por um importante evento ocorrido em Cuiabá,

MatoGrosso, reunindo a população cuiabana e os seus principais mestres e propositores que

discursaram como, por exemplo o Diretor Geral da Instrução Pública Primária e Secundária

de Mato Grosso, o Dormevil José dos Santos Malhado. Ele disse “Acaba de ser instalado o

Liceu Cuiabano; mais um foco de luz abriu-se aos jovens e esperançosos propugnadores da

grandeza futura de sua província natal” (SIQUEIRA E SÁ, 2001, p.19).

No final do século XIX, o Liceu Cuiabano foi transferido para a sua segunda sede, o

prédio da Diretoria Geral da Instrução Pública, local onde funcionavam os Correios e os

Telégrafos permanecendo até 1914.

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Fotografia nº 12 - Prédio dos Correios final do Séc. XIX

Nota: Disponível em: <http://aterramediadeclaudia.blogspot.com.br/2012/05/2-predio-do-liceucuiabano.html>.

Acesso: 10 fev.2015

Em 1914, é inaugurado o Palácio da Instrução (Fotografia nº 13), transfere-se

para ali o Liceu Cuiabano no ano de 1939. No mesmo prédio, estava anexada a Escola

Normal. Época que o Curso Ginasial era feito em cinco anos. O prédio atendia ao

moderno estilo do Neoclassicismo.

O prédio escolar possuía 38 salas, das quais 32 para as necessidades escolares, 4

destinadas aos gabinetes sanitários e toaletes, uma ocupada pelo embasamento

da escada principal [...] A parte superior era ocupada pela Escola Normal e pelo

Liceu Cuiabano e a parte térrea pela Escola Modelo (POEBEL e SILVA, 2006,

p.125).

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Fotografia nº 13 - Palácio da Instrução em 1920

Nota: Disponível em: <http://mestreaquiles.blogspot.com.br/2011/10/fotos-de-cuiaba-3out3011.html>. Acesso:

10 fev. 2015.

Em 1930, um relatório é encaminhado pelo professor e diretor do Liceu Cuiabano,

Isác Póvoas ao representante do setor de Justiça e Finanças do Governo do Estado, o Major

João Cunha, colocando-no a par das condições atuais da instituição naquele período, que

sofria com a falta de infraestrutura física, falta de materiais didáticos e imobiliários.

O diretor solicita um edifício que abrigasse somente o Liceu Cuiabano, pois o número

de alunos matriculados na instituição era bastante expressivo, e ainda ela teria que dividir o

prédio (Palácio da Instrução) com a Escola Normal.

[...] O Lyceu Cuiabano ocupa pela manhã, toda a parte superior do edifício,

sendo forçado a comprimir todo o seu expoente lectivo e diário, até as 12

horas, por quanto, dessa hora em diante começa a funcionar a Escola Normal,

que por sua vez ocupa toda a sua parte superior. Chegou-se hoje a tal situação

de aperturas que torna-se impossível dois estabelecimentos funcionarem no

mesmo edifício [...].41

41Relátorio de 1930. Localizado no Arquivo Público de Mato Grosso – APMG.

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O Liceu Cuiabano passou por algumas mudanças nominais. O Interventor Federal

disponibiliza-se de grande autonomia para aplicar e revogar leis e decretos a qualquer

momento. Em 1942, o Liceu Cuiabano, passa a se denominar Colégio Cuiabano 42 . No

próximo ano, seu nome é modificado para Colégio Estadual Mato Grosso (Fotografia nº

14)43.

Fotografia nº 14 - Colégio Estadual Mato Grosso - Professores do Liceu Cuiabano

Nota: Arquivo pessoal, Marcelo Velasco, Cuiabá/ MT, 2015.

Vários foram os lugares que receberam os jovens liceistas, entretantoocorreu sempre

uma preocupação por parte das autoridades locais em construir um lugar próprio que fosse

sede da escola, porque, desde a sua formação, dividia seu espaço físico com outras

instituições escolares.

Esse desejo de reaver um espaço para o Liceu Cuiabano pode ser materializado e

concretizado durante a década de 40, no Governo Júlio S. Müller. O prédio da escola é

localizado no ponto mais elevado da Avenida Getúlio Vargas e é considerado, de acordo com

Castor (2013, p.192), uma das quatorze obras oficiais mais cara.

Inaugurada no ano de 1944, o Liceu Cuiabano ocupa um quarteirão em frente à Praça

42 Decreto de nº 100, 27 de maio de 1942. 43 Decreto de nº 143, 10 de março de 1943.

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General Mallet. Sua planta tem formato de “E”, entretanto, infelizmente com a característica

do amplo terreno, não permite apreciar a simetria arquitetônica do prédio. No espaço externo

da Escola, o restante do terreno foi projetado para um grande setor esportivo. Nela já foram

realizadas diversas partidas futebolísticas.

Fotografia nº 15 - Liceu Cuiabano na década de 1940

Fonte: Internet44·. Nesta época o Liceu Cuiabano era denominado Escola Estadual de Mato Grosso

44 Disponível em <http://www.rdnews.com.br/blog/pagina/page=1&query_string=blog-do-

romilson/resgatehistorico/&pagepageTotal=11675>. Acesso: 10 fev. 2015.

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Fotografia nº 16 - Escola Estadual de I e II Graus Liceu Cuiabano de Arruda Müller

Nota: Disponível em <http://aterramediadeclaudia.blogspot.com.br/2012/12/4-predio-do-liceucuiabano.html>. Acesso: 10 fev. 2015

No ano de 1976, novamente o nome do Liceu Cuiabano modifica-se para Escola

Estadual de 1º e 2º Graus Liceu Cuiabano45. Após três anos, em 1979, outra mudança no

nome para Escola Liceu Cuiabano46. Para homenagear a professora Maria de Arruda Müller,

o nome da escola novamente fora modificado, anexando o nome da escritora e poetisa. Essa

mudança ocorre no ano de 1998, sendo o nome assim organizado “Escola Estadual de I e II

graus Liceu Cuiabano de Arruda Müller”. Atualmente permanece o mesmo nome com a

supressão do I e II graus47.

As mudanças ocorridas na estrutura física do Liceu Cuiabano buscaram projetar o que

havia de mais moderno no projeto arquitetônico da época. Os estabelecimentos de ensino

concretizaram através de seus prédios, o discursos simbólicos presentes nos governos da

Província até chegar à República as suas reivindicações políticas e ideológicas (AL ASSAL,

2009).

45 Decreto de nº 480 de 29 de março de 1976. 46 Decreto de nº 1752 de 13 de março de 1979. 47 Decreto de nº 1826 de 11 de outubro de 2000.

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4.1 CULTURA ESCOLAR DO LICEU CUIABANO

A cultura escolar tem sido objeto de estudo em diversas pesquisas acadêmicas no

Brasil, promovendo um diálogo entre a escola e sua produção cultural. Trazer alguns

elementos internos da escola possibilita interpretar as instituições de ensino. Nesse caso

específico, a referência deste meu estudo tem como lugar de produção cultural o Colégio

Liceu Cuiabano.

Os estudos voltados para interpretar os elementos internos da escola são

compreendidos como cultura escolar, resultado do fenômeno denominado Nova Sociologia

da Educação (NSE). Esse movimento se originou na Inglaterra na década de 70, tendo como

seu precursor Willard Waller, que dedicou seus esforços a estudar o contexto interior da

escola. Não somente esse pesquisador, mas Dominique Julia (2001), André Chervel (1977),

Jean Claude Forquin (1992) e AntonioVinãoFrago (1995) realizaram reflexões importantes

sobre o conceito de cultura escolar.

No Brasil, durante a década de 50, pesquisadores como Cândido (1979), sinalizava

para a observância da dinâmica das instituições escolares que apresentavam características

singulares, peculiares e únicas na maneira de tratar e dialogar com seu público no contexto

social e cultural. Isso fez com que se percebesse a instituição independente da outra, como

um organismo próprio.

Entretanto, de acordo com Vidal et.al (2004, p.141), na década de 70, também ocorreu

um movimento emergente que “entreteceu à preocupação crescente com a tópica da cultura,

disseminada inicialmente no seio de uma intelectualidade marxista, que cada vez mais se

interrogava sobre as práticas culturais como constitutivas da sociedade e não somente como

produtos das relações socioeconômicas”.

Na perspectiva de Dominique Julia (2001, p.1) a cultura escolar é vista como um

conjunto de normas que definem o conhecimento que irá ser ensinado, as condutas e o

conjunto de práticas que permitem a transmissão desses conhecimentos como a incorporação

dos comportamentos. Essa prática é muito bem representada pelas penalidades que foram

sancionadas e aplicadas aos alunos do Liceu Cuiabano quanto à indisciplina48.

A cultura escolar muito se diz do modo como o Colégio Liceu Cuiabano se organizou

e para quem ela foi planejada. Isso reflete na organização e na relação social dos indivíduos.

Exemplo disso é a disposição ou a distribuição das disciplinas e da carga horária, que

48 Decreto-Lei de nº 283 de 10 de junho de 1939.

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provavelmente impossibilitava, na maioria das vezes, o ingresso do aluno negro pobre na

instituição.

O exercício em pesquisar sobre as práticas escolares internamente propõe

aproximação do sujeito e ação dos mecanismos escolares, sendo entendido como um recurso

etnográfico de pesquisa com a finalidade de tentar registrar de forma sequencial ou circular

como era organizada a instituição escolar.

Para alguns historiadores, a cultura escolar é entendida como categoria de análise e

campo de investigação. Como também é uma fronteira do conhecimento de

interdisciplinaridade que subsidia as discussões do processo educativo do exercício do

ensinar. Isso ocorre frequentemente nos trabalhos acadêmicos com recorte histórico cultural,

os quais privilegiam as fontes documentais, a narrativa historiográfica e as instituições de

arquivamento que visa “acolher, preservar e socializar a documentação localizada (VIDAL,

et.al, 2004, p.142).

Portanto, o conceito de Cultura Escolar apreende de várias interpretações ligadas ao

processo educativo e às práticas culturais criadas pelos seus sujeitos. Para Dominique Julia

(2001, p.10-11), as práticas escolares são constituídas dentro da escola.

[...] a cultura escolar como um conjunto de normas que definem conhecimento a

ensinar e condutas a inculcar, e um conjunto de práticas coordenadas a finalidades

que podem variar segundo as épocas (finalidades religiosas, sociológicas ou

simplesmente de socialização.

Nesse sentido, essa autora alerta também sobre as poucas fontes documentais

disponíveis que se tornam uma pedra no sapato dos pesquisadores. Por que as práticas

culturais constituídas tendem a não deixar vestígios com o passar do tempo? É preciso que o

pesquisador seja sensível ao seu campo de investigação. Em alguns momentos, ele terá de

fazer do “graveto uma flecha”, ou seja, das poucas informações colhidas no campo da

investigação fazer com que elas se tornem grandes e significativas. É o que ocorre nesta

pesquisa de mestrado. Das exíguas documentações, informações sobre normas disciplinares,

frequência, desempenho escolar, boletim e outros, possibilitou realizar uma escrita circular

com a finalidade de apontar e registrar alguns aspectos das práticas culturais do Colégio

Liceu Cuiabano durante a década de 40.

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Para Chervel (1977), a cultura escolar deve ser considerada na sua amplitude, uma

rede de diálogo entre disciplinas, práticas docentes e saberes coletivos. Especificamente no

seu campo de pesquisa “disciplinas escolares” ela pode desempenhar um papel importante na

história da educação e na história cultural. As práticas escolares se tornam culturas que, por

sua vez, insere-se no seio da sociedade, com isso ela molda e modifica a cultura. Ele critica o

papel da escola, ainda compreendida como único espaço de produção do conhecimento.

Numa outra perspectiva teórica, Forquin (1992, p.33-34) interpreta a cultura escolar,

como uma cultura secundarista que deriva de diversos instrumentos que possam caracterizar a

escola. Essa caracterização ou desenho da escola é pensada a partir de um conjunto de

documentos oficiais da instituição, os quais podem ser transportados para as normas,

programas de ensino, manuais, materiais didáticos, exercícios, notas, recompensas e sanções.

ViñaoFrago (1995, p.2-3) diz que a cultura escolar é “um conjunto de teorias e idéias,

princípios, normas, pautas, rituais, hábitos e práticas – formas de pensar, mentalidades e

comportamento sedimentado ao longo do tempo em formas de tradições e regras impostas”.

Na suas singularidades e frentes teóricas, esses autores aqui citados brevemente

compartilham de um mesmo pensamento de que a cultura escolar é o resultado de ações e

práticas culturais realizadas dentro da escola, e fora o que influencia a maneira de pensar de

uma determinada sociedade.

Essa interpretação hermenêutica corrobora para pensar como era o Colégio Liceu

Cuiabano durante a década de 40, como eram as práticas culturais constituídas dentro do seu

espaço escolar.

No ano de 1942, novas reformas educacionais surgiram na administração do Ministro

da Educação, Gustavo Capanema. Diversos regulamentos foram elaborados desde 1942 a

1946 constituindo o conjunto de Leis Orgânicas do Ensino Secundário. Filho (2005, p.132),

ao citar Nunes, aponta que um dos aspectos positivos dessa nova reforma foi a redução do

Curso Ginasial, de seis anos para quatro anos e o interesse dado ao ensino de História e de

Geografia do Brasil e da América.

O Ensino Secundário, oferecido no Liceu Cuiabano, de caráter público na década de

40, fora organizado pela Lei Orgânica de 1942 e por regimentos internos destinados a

organizar a vida escolar e também o regime disciplinar. Esses regimentos eram expedidos por

meio de Leis, Portarias ou Decreto-Lei sancionado pelo Diretor, Inspetor da Instrução, ou

caso necessário, o Interventor Federal.

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A finalidade do Ensino Secundário era formar cidadãos e “elevar a formação espiritual

dos adolescentes, a consciência patriótica e a consciência humanística” conforme o Artigo 1º

do Decreto Lei nº 4.244, de 9 abril de 1942.

No Ensino Secundário havia dois ciclos: o Curso Ginasial, com duração de quatro

anos e o Curso Clássico e Científico, ambos com duração de três anos. Além do Curso

Normal e dos cursos profissionalizantes, com objetivo de preparar os alunos para o mercado

de trabalho.

Os alunos poderiam fazer a opção em somente cursar o Ginasial ou escolher entre o

Curso Clássico e Científico. Como ocorreram com os formandos de 1945, muitos dos alunos

que concluíram o Ginasial optaram por estudar no Científico no ano subsequente. Das três

turmas, somente um total de oitenta e seis alunos foram matriculados no Científico no Liceu

Cuiabano. O que demonstra um grande interesse pelo Curso, que encaminhava os alunos para

as profissões liberais (Direito, Medicina, Odontologia, Farmácia ou Engenharia).

Chagas, citado por Palma Filho (2005), afirma a preferência dos alunos pelo

Cientifico, visto este como currículo mais adequado que prepara para qualquer tipo de

vestibular. Foi localizada na lista de matriculas do Cientifico o nome de todos os alunos

negros identificados na pesquisa. O que deixa claro o interesse desses alunos em se preparar

para os vestibulares do País e galgar profissões antes ocupadas somente pelos não negros.

Nunes (2000, p.36 -37) reconhece o Ensino Secundário como o segundo segmento de

Ensino Fundamental, conhecido como Ensino Médio. Por ventura, a história do Ensino

Secundário se inicia com a participação dos Jesuítas no processo de catequização e

escolarização na sociedade colonial brasileira. Tendo como resultado, as primeiras

experiências em território brasileiro, o surgimento dos colégios de Ensino Secundário, como

produto da Companhia de Jesus no Brasil. “Que significou, sobretudo, a introdução de uma

cultura letrada num ambiente que predominava a oralidade”. Como várias outras reformas

educacionais sucederam durante o período imperial e republicano no país, tentando inovar as

práticas de ensino e suas concepções ideológicas.

Na perspectiva de Anísio Teixeira, a escola secundária não deixou de ser uma escola

preparatória para ter acesso ao Ensino Superior. Ela atendia a uma clientela específica e

determinada. Tipo de ensino de formação básica para a elite (FILHO, 2005)

Portanto, a Lei Orgânica do Ensino Secundário de 1942 regulamentou o ensino

industrial, comercial, agrícola e normal, reestruturando o Ensino Secundário no primeiro

ciclo chamado de Ginásio e, no segundo ciclo, subdividido em Clássico e Científico. “O

ensino secundário até a promulgação das Diretrizes e bases da Educação Nacional em 1961

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transformou-se num curso de cultura geral e de cultura humanística, com o mesmo sistema de

provas e exames previstos na legislação anterior até a década de 50 e 60 do século XX”

(NUNES, 2000, p.44).

4.2 EXAMES DE ADMISSÃO

O exame de admissão ao ginásio tem sido objeto de pesquisa em produções

acadêmicas durante os últimos anos. Desperta aos estudiosos pesquisadores como o exame se

tornou uma marca no processo seletivo para o ingresso no curso ginasial, restringindo a

entrada da grande parte da população brasileira aos bancos escolares e principalmente ao

Ensino Superior.

Estudos como os de Aksenen (2013) sobre o funcionamento e o papel dos exames de

admissão ao ginásio no contexto regional paraense durante a Era Vargas permite

compreender quais foram as mudanças significativas em âmbito educacional dada ao acesso

ao Ensino Secundário e o significado da educação no período em que o País vivia uma

transição urbana e industrial provocada a partir de 1930.

Os exames de admissão, conhecidos como exames preparatórios, de madureza, vêm

desde o período Imperial sendo um instrumento seletivo com a finalidade de medir o

conhecimento intelectual do candidato. Eles foram considerados parte de uma política de

ingresso ao Colégio de Pedro II desde 1870, pelo Decreto nº 4.468 de 1º de fevereiro

(AKSENEN, 2013, p. 14).

Durante o Império, conforme Haidar (1972, p.53), os exames preparatórios

mantiveram o caráter predominantemente humanístico e literário, sendo esse o único modo

de acesso aos cursos superiores, promovendo e incentivando os estudos mais completos e a

concessão do diploma de bacharel em Letras aos alunos aprovados em todas as disciplinas do

curso de estudo no Colégio de Pedro II.

Portanto, já o Regulamento do Liceu Cuiabano dos anos de 1903, 1916 e 1926 traz em

seu texto as finalidades e o modo de como serão realizados os exames de admissão. Para

análise de como a instituição de ensino foi constituída, apreendi o último regulamento do ano

de 1926. Como também outras fontes documentais (Decretos-Leis, Leis e Relatórios) que se

fazem necessário para pensar a cultura escolar desse espaço de saber.

A Lei Orgânica de Ensino Secundário de 1942 também se constitui como instrumento

de consulta para o cruzamento de informações sobre o processo de admissão, exames e

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matrícula. Visto que o estabelecimento de Ensino Secundário exercia sua autonomia na

elaboração de seus próprios regimentos internos, destinados a definir de modo especial e

singular a vida escolar e o seu regime disciplinar.

Para que os candidatos fossem admitidos no curso era preciso satisfazer as condições

determinadas pelo próprio Regulamento e pela Lei Orgânica de Ensino Secundário (1942).

No requisito para admissão aos cursos, o Art 31 e 32 da Lei Orgânica explicitam:

Art. 31. O Candidato a matricula na primeira série de qualquer dos cursos do que

trata esta lei, deverá apresentar provas de não ser portador de doença contagiosa e

de estar vacinado.

Art.32. O candidato a matricula no curso ginasial deverá ainda satisfazer as

seguintes condições:

a) ter pelo menos onze anos, completos ou por completar, até o dia 30 de junho;

b) ter recebido satisfatória educação primária;

c) ter revelado, em exames de admissão, aptidão intelectual para os estudos

secundários.

Além de atender às exigências descritas no Artigo 31 e 32 da Lei Orgânica do Ensino

Secundário, o regulamento do Liceu Cuiabano de 1926 ressalta no Art.22 que a inscrição para

os exames de admissão deverá ser requerida ao diretor do estabelecimento, pelo pai, tutor, ou

educador do candidato.

Na década de 30, era muito comum que os exames de admissão, conhecidos por

cursos preparatórios para o ingresso no Liceu Cuiabano, fossem realizados em escolas

particulares no município de Cuiabá, Mato Grosso.

Octayde Jorge da Silva, formando da turma de 1941 relata:

Saltei direto, da metade do 4º ano para o que se chamava de “Exames de

Admissão”. Eram cursos preparatórios para o ingresso no desejado Liceu. Tais

cursos tinham a duração da disponibilidade do aluno. Poderia ser feito em um mês

ou num ano. Deles o de maior fama era o dirigido pelo Prof. Isaac Póvoas e sua

filha Lélia, que preparava meninos e meninas para a realização dos exames de

admissão ao “Liceu Cuiabano”. Havia outros como os da profª Amelinha Lobo,

dona Bebé, esposa do Prof. Francisco Mendes e do meu tio Franklin Cassiano.

Contudo, o que inspirava certo temor e certo orgulho por pertencer a eles era a do

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Prof. Isaac Póvoas. Neste, havia a célebre palmatória [...] Centenário do Liceu

Cuiabano (1879-1979) 49.

O uso da palmatória como correção disciplinar era comum na época, mesmo sendo

essa prática proibida desde 1827, na província de Mato Grosso, as leis eram burladas. Havia

contradições por parte dos professores e pais em usar ou não o castigo físico. Segundo a Lei

Provincial nº 8 de 3 de julho de 1876, foi permitido o uso de forma moderada da palmatória

aos alunos rebeldes e turbulentos, devida às inúmeras reclamações do professorado e da

família que viam como positivo o uso do castigo físico.

Siqueira e Sá50 (2001, p.4), ao ter acesso aos poucos documentos que trataram do uso

dos castigos físicos em Mato Grosso, afirmou que “a força da lei não fora suficiente para

abolir procedimentos tão arraigados historicamente, o que gerou intenso debate, variadas

práticas e diferentes entendimentos sobre essa questão”. Após a aprovação da Reforma de

Ensino de Cardoso Junior, foi localizado o primeiro processo disciplinar contra o professor,

Egídio Bueno Mamoré, por ter castigado o filho do Inspetor Geral das Aulas, o médico Dr.

Augusto Novis.

Octayde Jorge da Silva relata que o uso da palmatória nos cursos preparatórios de

admissão tinha como caráter destacar o rigoroso método disciplinar. O castigo físico fora

compreendido na época como mecanismo capaz de “endireitar, regenerar e civilizar as

crianças e também os adultos”, importante elemento no processo de formação do moderno

cidadão brasileiro.

Voltando aos exames de admissão, a depoente formada em 1945 evidencia como esses

exames eram rigorosos, e como os alunos saiam do Ensino Primário despreparados para lidar

com essa nova ordem de seleção e conteúdos no curso ginasial.

A admissão era feito na escola particular Irmãs Figueiredo. Era um ano letivo de

março a novembro e dezembro era a prova. Os alunos ao entrar no ginasial

ficavam assustados com a rigorosidade da admissão. Para realizar o curso de

admissão os alunos ficavam em turmas mistas. (Doralice Praieiro, Entrevista: 07

out. 2015)

49 Pequeno opúsculo que reuni relatos de ex-alunos da escola sobre o período escolar. Centenário do Liceu

Cuiabano 1879-1979. Acervo da Escola Liceu Cuiabano. 50Modernidade e castigos escolares: oscilando entre os costumes e a legislação (o caso da província de

Mato Grosso). Disponível em: <http://www.histedbr.fe.unicamp.br/navegando/artigos_pdf/Nicanor_Palhares_

Sa_artigo.pdf>. Acesso: 01 abril2015.

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Os exames de admissão eram ofertados em duas épocas (dezembro e fevereiro). Após

a aprovação no exame, era realizada a matrícula durante a primeira quinzena de março para

alunos regulares e ouvintes do curso Ginasial. Nas fichas de matriculas dos alunos,

constavam: nome, filiação, naturalidade, data de nascimento, residência e antecedentes. Na

falta do pai ou da mãe, no documento oficial ficava sem preencher. No item, antecedentes era

feita alguma observação sobre o aluno, caso ele fosse transferido de outro estabelecimento de

Ensino Secundário ou se houvesse sido repetente. O aluno assinava e também o secretário

responsável pela matrícula51.

Quadro nº 1 - Ficha de matricula (1942-1946)

Nome: Joaquim Augusto da Cruz

Estado: Mato Grosso

Cidade: Cuiabá

Pai: Joaquim Augusto da Cruz

Mãe: Enestina dos Prazeres da Cruz

Data de nascimento: 30 de janeiro 1926

Antecedente: ------------------------

Nota: Acervo Liceu Cuiabano, Livro de registro de matricula dos alunos do curso ginasial do Lyceu Cuiabano

1942-1946.

Na Lei Orgânica do Ensino Secundário no Capítulo VII, Artigo 35, sobre a matrícula,

o candidato deveria ter satisfeito as condições de admissão, ter sido aprovado para ingressar

na primeira série do curso ginasial. Caso o ingresso do candidato fosse para os estudos do

segundo ciclo (Clássico ou Científico), ele deveria declarar sua opção. Caso a opção recaísse

sobre o Curso Clássico, deveria o candidato escolher o currículo com os estudos da língua

grega ou sem. “Se a opção recair sobre o curso clássico com grego, deverá o candidato

escolher, dentre as duas línguas vivas estrangeiras do curso ginasial, aquela cujo estudo,

queira intensificar”. Ao concluir o curso do segundo ciclo, a Lei Orgânica assegurava aos

alunos o acesso às faculdades de Filosofia no Brasil.

Quanto à gratuidade de ensino, era preciso pagar taxa de matrícula e taxas para a

realização dos exames parciais. Na ausência do não pagamento da taxa o aluno ficaria

impossibilitado de realizar o exame. Assim, registra-se na Portaria de nº 2, pelo Diretor da

época Jecy Jacob.

51 O secretario que ficou responsável pelas matrículas dos formandos de 1945 foi o senhor Alberto Divino Silva.

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Quadro nº 2 - Portaria de nº 2

O Diretor do Colégio Estadual de Mato Grosso faz cientes os senhores aluno deste

colégio que de acordo com a ordem superior nenhum aluno poderá fazer prova parcial

sem estar em dia com o pagamento de suas mensalidades. Cumpra-se e registra-se

Diretoria do Colégio Estadual de Mato Grosso, 29 de maio de 1944

O Diretor

J. Jacob

Nota: Acervo Liceu Cuiabano, Livro de Portarias (1926-1945)

A Constituição brasileira de 1946 determinava no Artigo 168, que o Ensino Primário

fosse gratuito a todos, porém o Ensino Secundário seria gratuito àqueles que comprovassem

carência de recursos. Situação essa que já era cuidada, desde os anos 30, pelo Interventor

Federal de Mato Grosso, o Bacharel, Júlio Strubing Müller55 que, por meio do Decreto-Lei de

nº 254, de 15 de março de 1939, Art 1º, decretou: Ficam dispensados das taxas de matrículas

os filhos de operários pobres, nos estabelecimento de Ensino Secundário fundamentar e

complementar mantidos pelo Estado.

Com a promulgação desse decreto, os poucos alunos pobres, filhos de operários que

frequentaram os bancos escolares deram continuidade aos seus estudos. Contudo, não foi

possível identificar nas matrículas ou num outro documento oficial quem foram os alunos

subsidiados por esse Decreto no Liceu Cuiabano. Com a matrícula realizada, a lista nominal

dos alunos era publicada nos principais Jornais de circulação de Cuiabá da década de 40, O

Mato Grosso e A Cruz.

A conclusão do curso Ginasial conferia aos alunos o certificado de bacharéis em

Ciências e Letras. Assim eram chamados os formandos do Liceu Cuiabano. A formatura dos

alunos era considerada evento de grande imponência, para a sociedade cuiabana. Esse tipo de

evento era notícia nos principais jornais de circulação de Cuiabá. Um ritual a cada findar de

ano, com a presença de personalidades ilustres, como a do Interventor, Secretário, em trajes

de gala no baile de formatura. Com direito a valsa de despedida.

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4.3 DISCIPLINAS DO CURSO GINASIAL

Na Lei Orgânica do Ensino Secundário, – o Capítulo I que se refere ao Curso Ginasial

dispõe de treze disciplinas:

Tabela nº 8 - Disciplinas do curso Ginasial

Português

Latim

Francês

Inglês

Ciências naturais

Matemática

História Geral

História do Brasil

Geografia Geral

Geografia do Brasil

Trabalhos manuais

Desenho

Canto Orfeônico

Nota: Tabela elaborada pela pesquisadora Raquel Furtunato Da Silva, 2015.

Nos documentos oficias do Liceu Cuiabano, eram ofertadas somente dez disciplinas.

Os conteúdos de História Geral foram aglutinados com os de História do Brasil, tornando-se

uma só disciplina, como aconteceu também com a Geografia Geral e Geografia do Brasil.

Conforme o parágrafo 2 do Artigo 24, da Lei Orgânica do Ensino Secundário, a formação da

consciência patriótica fez uso dos estudos históricos e geográficos correlatos as disciplinas de

História do Brasil e Geografia do Brasil, como os estudos dos problemas vitais do Brasil.

Todavia, o programa de ensino do Liceu Cuiabano, conforme apresenta o regulamento

de 1926, era elaborado e organizado pelos professores das suas respectivas cadeiras e sendo

devidamente aprovados pela congregação. Para tal fiscalização, era designada uma comissão

especial para executar as atividades. O professor, que não apresentasse o seu programa de

ensino, a congregação adotaria o modelo do Colégio de Pedro II.

A educação ministrada no Liceu Cuiabano atendia os preceitos e desejos do Governo

de Vargas e consistia em formar cidadãos que atendessem às necessidades individuais, como

a capacidade de iniciativa e decisão. Essa formação não se limitava a um único momento ou

disciplina. A educação cívica e moral transpunham qualquer credo e crença. Era perceptível

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sua presença nas atividades de educação física, canto, festa cívica, desfile de colégios e

disciplinas, como também no regimento disciplinar da instituição.

As atividades cívicas que os alunos do Liceu Cuiabano participavam eram registradas

por meio de portarias52 publicadas pelo diretor do estabelecimento de ensino da época. Eram

assinalados elogios pelo comportamento e disciplina durante a realização do evento cívico e

exaltava o sentimento patriótico que deveria alimentar a alma de cada aluno.

Quadro nº 3 – Portaria s/n

O Diretor do Liceu Cuiabano usando das atribuições que lhe confere o regulamento em seu

vigor, satisfeito pela maneira brilhante como que se portaram os alunos deste Lyceu na festa

cívica de 13 corrente consigna-lhe nesta portaria um voto de elogio pela disciplina com que

se conduziram, expoente da compreensão do papel que deverão desempenhar no futuro,

como responsáveis pela grandeza da sua pátria.

Cumpra-se e comunique-se Directoria do Lyceu Cuiabano, 15 de maio de 1937 O Diretor

Nota: Acervo Liceu Cuiabano. Livro de portaria do Lyceu Cuiabano 1926-1945.

A aluna formada no ano de 1945 relata como era realizada a aula prática de canto

orfeônico. As canções escolhidas tinham sentido patriótico. As aulas práticas de canto fora

uma disciplina obrigatória nos estabelecimentos de Ensino Secundário para alunos do curso

Ginasial, Clássico e Científico.

Dona Zulmira Canavarro 53 , professora de canto do Liceu Cuiabano, descia e

ficava no piano para ensinar as músicas. Porque na época nos formamos no ano

que terminou a 2º Guerra Mundial em 1945. Então aprendemos a cantar aquele

hino do Visionário com ela (Doralice Praieiro, Entrevista: 07 out. 2015)

O cotidiano social da sociedade era marcado pela religião e pelo civismo. Como disse

uma cuiabana da elite local à professora, Maria de Arruda Müller (1994, p.69):

52 Fonte: Livro de Portarias (1926-1945). Arquivo Liceu Cuiabano. 53 Para saber mais sobre Zulmira Canavarro, consultar a dissertação: SILVA, Viviane Gonçalves da. Zulmira

D`Andrade Canavarros: uma mulher sem fronteiras na Cuiabá da primeira metade do século XX.

(Dissertação). Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT, 2007.

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A vida social da cuiabania foi marcada por festas litúrgicas e cívicas que eram

comemoradas na data da magna nacionalidade, com paradas magníficas que tomaram

parte os desfiles de colégios, corporações militares e outras entidades, com grande

assistência popular” assim é rememorada por Maria de Arruda Müller o cotidiano

social da sociedade cuiabana.

4.4 EDUCAÇÃO FISÍCA

A obrigatoriedade da Educação Física nas escolas durante a Segunda República é

efetivada pelas reformas de 1931 e 1942, durante o Governo de Getúlio Vargas. Tais

reformas levaram o nome de seus propositores: Reforma Campos e Reforma Capanema.

Compartilhando das ideias de Corrêa (s/d, p.2), a Educação Física foi contemplada na

legislação educacional, sendo o primeiro instrumento a legitimar a obrigatoriedade dessa

atividade nos programas escolares do Ensino Secundário em todo Brasil, visto que elas

também tiveram presentes noutros segmentos de ensino.

Schwarcz, citado por Pinho (2007, p.29), confirma que a Educação Física no Brasil se

originou dos ideais eugênicos de regeneração e embranquecimento da raça. A prática do

exercício físico poderia melhorar a população e promover uma educação física, moral e

eugênica.

Mas o Ensino Secundário fora privilegiado pelas reformas por ser considerada pelo

Ministro da Educação e Saúde Pública de 1931 como um dos ramos do ensino mais

importante, nele formava os jovens para dirigir o País e ocupar os cargos mais notáveis do

setor público. A ocorrência dos dispositivos foi alargada durante o período em que o

significado da educação passava por um processo de ressignificação, que objetivava moldar a

sociedade tendo como via a escola para realizar tal tarefa.

A escola como a principal difusora dos ideais nacionalistas, morais e eugênico,

executou seu papel conforme a premissa de Getúlio Vargas que investiu esforços para

constituir uma nação próspera e saudável, de acordo com os princípios do saneamento social

previstos na Reforma Campos e na Reforma Capanema (CORRÊA, s/dp.3).

Em meados de 1930, o Presidente da República Getúlio Vargas, na chefia do governo

provisório, cria o Ministério da Educação e Saúde (MES) para realizar o exercício de sanear

moral e fisicamente a sociedade brasileira, ações essas que foram planejadas em seu projeto

de governo “Programa de Reconstrução Nacional”.

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A Reforma de Campos foi considerada a primeira reforma educacional a ressaltar a

obrigatoriedade da educação física escolar no nível Ensino Secundário e para os outros níveis

de ensino durante todo ano letivo.

Já, na Reforma de Capanema, durante os anos de 1942 Vargas governava de forma

centralizadora o Brasil, outros dispositivos foram criados para melhor tratar das questões

sobre educação e, principalmente, sobre a educação física escolar. Goulart (1990) destaca o

sentido e sentimento patriótico, nacionalista e autoritário dado a essa época patriotismo é

levado ao extremo como forma de garantir a adesão da população, especialmente da

juventude masculina, no projeto de defesa da Nação.

No Artigo 19, Da Educação Física, no Capítulo IV, da Lei Orgânica de Ensino

Secundário, “a educação física constituíra, nos estabelecimentos de Ensino Secundário, uma

prática educativa obrigatória para todos os alunos até a idade de vinte e um anos”. Antes de

ocorrer à reformulação do ensino, no ano de 1940, surge uma Portaria Ministerial54 que torna

a frequência obrigatória nas aulas de Educação Física, especificando o mínimo de aulas a

serem assistidas durante o ano escolar, como também a pena do aluno ficar impossibilitado

de fazer o exame final de qualquer disciplina.

Além das penas que ficariam os alunos submetidos, era preciso estar também

devidamente uniformizados para realizar os exercícios de Educação Física. Assim decreta a

portaria,59 sancionada pelo diretor do Liceu Cuiabano, no ano de 1940, que as alunas

deveriam usar calção dentro de um prazo de 5 dias.

Ao observar os regulamentos de 1903, 191655 e 192656 sobre o exercício da Educação

Física no Liceu Cuiabano, constatei a não existência da Disciplina no regulamento de 1903.

Ao contrário do regulamento de 1916, o exercício da Educação Física é conhecido por outra

denominação Ginástica, Disciplina do quadro de programas da instituição de ensino que

“visava apenas estimular os estudantes” a realizar os exercícios que eram designados por um

único professor. As notas obtidas na Disciplina tinham caráter somente de promoção, não

influenciando na passagem do aluno para o próximo ano. No regulamento 1926, a Ginástica

não é considerada “disciplina de curso, mas exercício higiênico a que são obrigados os

54 Artigo 1 da Portaria Ministerial nº. 14 de 26 de janeiro de 1940 (NÓBREGA, 1952, p. 377) 59 Livro de Portarias (1926-1941). Acervo do Liceu Cuiabano. 55 Sobre o exercício da Ginástica, ver os artigos 73, 132 e 186 do Regulamento de 1916 do Liceu Cuiabano.

Arquivo Público de Mato Grosso. 56 Sobre o exercício da Ginástica, ver os artigos 88, 250 e 253 do Regulamento de 1926 do Liceu Cuiabano.

Arquivo Público de Mato Grosso.

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alunos” não havendo exames para tais atividades. Era dedicado aos exercícios o mínimo de 3

horas de aulas em cada série do Curso Ginasial.

Na discussão de Santos e Sá,57 em artigo, faz menção à presença da Educação Física

(Ginástica) na Reforma Educacional de 1910 no Estado de Mato Grosso, ambos relacionados

à presença nas práticas e concepções eugênicas. O objetivo das concepções eugênicas

fundadas pelos cientistas da época era formar cidadãos sadios, vigorosos, capazes de

representar o seu País. Essas concepções tendiam a inferiorizar o negro, colocando o branco

como a raça superior na pirâmide como caracteriza a fábulas das três raças, de Damatta

(1987).

Essas concepções eurocêntricas herdadas da elite dominante brasileira é produto do

descontentamento e do sentimento da inferiorização alimentado por uma pseudociência

constituída por cientistas que por aqui estiveram como Agazzis e Gobineau. Na intervenção

desses autores, o racismo apodera do imaginário social brasileiro. Na perspectiva de

Kabengele Munanga 58 (2000), o Racismo é um fenômeno criado com a finalidade de

hierarquizar as raças em relação aos seus aspectos físicos, intelectual, moral e cultural. A

pessoa racista classifica ou hierarquiza no seu imaginário quais são os grupos sociais,

considerados por ele, inferior por meio das características intelectuais e morais.

Portanto, Corrêa (s/d, p.12) considera a Educação Física escolar dos anos 30 e 40 de

cunho sanitarista e patriótico. Na Reforma do Ensino contemplada por Campos, o Ensino

Secundário obedecia aos preceitos sanitaristas, decorrente do projeto de assepsia social. Na

Reforma Capanema, a educação era voltada para o patriotismo, reforma que ressaltou a

Educação Física como prática educativa, corroborando para o adestramento físico dos

rapazes, preparando-os para defender a pátria. A educação física escolar para as mulheres se

diferenciava e era realizada separadamente da dos meninos. A prática e o exercício da

Educação Física escolar responderam aos desejos do Estado em preparar uma nação saudável

e em capacitá-la para os mais diversos serviços.

57 SANTOS, Edmar Joaquim dos; SÁ, Nicanor Palhares. Da eugenia à ginástica: do séc.XIX à reforma

educacional de 1910 em Mato Grosso. Disponível em: <http://www.ufmt.br/revista/arquivo/rev14/da_ eugenia_.html > Acesso: 01 abril 2015. 58 MUNANGA, Kanbegele. Uma abordagem conceitual das noções de raça, racismo, identidade e etnia. Disponível em: http://www.uff.br/penesb/images/publicacoes/PENESB%2010.pdf . Acesso: 02 abril 2015.

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4.5 CARDENETA ESCOLAR

A caderneta escolar (Fotografia nº 17) constituiu uma espécie de diário escolar, com a

finalidade de registrar o histórico escolar do aluno com informações desde o seu ingresso até

a conclusão do Curso com a expedição do certificado. O uso da caderneta foi uma das

maneiras de fiscalizar e de disciplinar os alunos. Como destaca a professora e historiadora

Cláudia,59 em seu blog, a caderneta escolar era carimbada durante a entrada e saída, uma

espécie de controle de frequência.

Fotografia nº 17 - Caderneta escolar do formando Márdio Silva

Nota: Acervo pessoal, Márdio Filho, Cuiabá/MT, 2015.

59Ex- aluna e professora do Liceu Cuiabano escreve em seu blog fatos importantes sobre o Liceu Cuiabano, no

período da década de 70 em que foi aluna naquele estabelecimento de ensino. Consultar: Disponível em

<http://aterramediadeclaudia.blogspot.com.br/2012/05/1-predio-do-liceu-cuiabano.html> Acesso: 11 abril 2015.

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92

4.6 OS EXAMES DE LICENÇA

O Ensino Secundário é marcado por uma série de exames que limitava o ingresso dos

candidatos ao Curso Ginasial. Além dos exames de admissão, era preciso realizar outros

exames durante o Curso: Exame de Suficiência e Licença, conforme as exigências da Lei

Orgânica de Ensino Secundário de 1942.

Para Minhoto (2008, p.3), o exame teve como objetivo “explicito regular a progressão

escolar dos alunos em termos de mérito, buscando qualificar o Ensino Secundário”.

No Capítulo XIV, Dos Exames de Suficiência, os quais tinham como finalidade

promover um aluno de qualquer série para promoção imediata e habilitar o aluno, que

estivesse no quarto ano do Curso Ginasial, para prestar o Exame de Licença. Os exames

correspondiam a cada disciplina do Curso Ginasial em provas orais e escritas, exceto as

Disciplinas de Desenho, Trabalhos Manuais e Ccanto Orfeônico que eram provas práticas.

Os exames eram realizados por meio de provas parciais: “as provas parciais versarão sobre a

matéria ensinada até uma semana antes da realização de cada uma, e a prova final sobre toda

matéria ensinada durante o ano todo”60.

Cada série do Curso Ginasial versava sobre conteúdos diferentes na relação de pontos

para a 1º prova parcial. Documentos oficiais, localizados no arquivo do Liceu Cuiabano,

registram a extensa relação dos conteúdos a serem cobrados nos exames como a data e o

nome do professor responsável pela disciplina e a assinatura do inspetor federal, conforme é

apresentado abaixo às Disciplinas: Português, Latim, Francês, Inglês, Matemática, História

do Brasil, Geografia do Brasil, Ciências naturais e os conteúdos cobrados na quarta série,

último ano do Curso Ginasial.

Quadro nº 4 - Pontos de Português – 4º série – Curso Ginasial

Curso Ginasial

Pontos de Português para a 1º Prova Parcial

4º série

1) Figuras de metaplasmo: próstese, epêntese e paragoge. Redação. Análise Lógica.

2) Aférese, síncope e apócope. Redação. Análise lógica.

60 Sobre a prova parcial, o parágrafo 1, 2 e 3 do Artigo 49 destacam que as provas serão prestadas diante da

figura de um professor na sala de aula, e que essas provas seriam aplicadas em junho e outubro do respectivo

ano. Sobre a prova final, era realizada oralmente, sob a organização e fiscalização de uma banca examinadora.

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3) Crase, assimilação e dissimilação. Redação. Análise lógica.

4) Vocalização, consonantização e abrandamento. Redação. Análise lógica.

5) Nazalação, desnassalação e metátese. Redação. Análise lógica.

6) Aparelho fonador. Vogais primárias e secundárias. Redação. Análise lógica.

7) Diferença entre vogais e consoantes. Classificação das vogais. Redação. Análise lógica.

8) Consoantes: línguo-dentais, fricativas e líquidas. Redação. Análise lógica

9) Consoantes: bi-lábiais,lábios- dentais e molhadas. Redação. Análise lógica.

10) Classificar as consoantes: ch, j, q, g, m, n; quanto aos que entram na sua formação,

quanto à maneira de sair o ar, quanto a vibração das cordas vocais. Redação. Análise Lógica.

Cuiabá, 12 de Junho de 1945

Profª Guilhermina de Figueiredo

Nota: Acervo Liceu Cuiabano. Livros de registros dos pontos organizados para 4º prova parcial/Liceu Cuiabano

1942

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94

Quadro nº 5 - Pontos de Latim – 4º série – Curso Ginasial

Colégio Estadual de Mato Grosso

Curso Ginasial

Pontos de Latim para a 1º Prova Parcial

4º série

a-Declinação: 1ª, 3ª 3 4ª. b- Conjugação “Possun”. Semântica. c Comentário: Frases. a-Declinação:

3ª, 4ª e 5ª. b-Conjugação: “ Compostos de Esse”. Estudo da Semântica. c.Comentários: Trechos

escolhidos.

a-Declinação: 2ª, 3ª e 4ª. b- Conjugação “Posse”. Semântica e suas figuras. c- Comentários: Trechos.

a-Declinação:5ª, 4ª e 3ª. b- Conjugação: “ Compostos de Esse”. Semântica. c-Comentários: Trechos.

a- Declinação:3ª e 4ª. b-Conjugação: “Possum” Estudo da Semântica. c- Comentário: Frases.

a- Declinação: 2ª, 3ª e 4ª. b-Conjugação: “Posse”. Semântica e suas figuras. c- Comentários: Trechos

escolhidos.

a-Declinação: 1ª, 3ª e 4ª. b-Conjugação: “ Composto de Esse”. Estudo da semântica. c- comentários:

Frases. a- Declinação: 5ª, 3ª e 4ª. b-Conjugação: Verbo “Possum”. Semântica. c-Comentário. Frases.

a- Declinação: 1ª, 3ª e 4ª. b-Conjugação; “ Composto de “Esse”. Estudo da Semântica. c-

Comentários: Trechos escolhidos. a-Declinação:2ª, 4ª e 3ª. b-Conjugação: Verbo “Posse”. Semânticas

e suas figuras. cComentários: Frases escolhidas

Cuiabá, 11 de Junho de 1945

Prof. Sebastião de Arruda Figueiredo

Quadro nº 6- Pontos de Francês – 4º série – Curso Ginasial

Colégio Estadual de Mato Grosso

Curso Ginasial

Pontos de Francês para a 1º Prova Parcial

4º série

a- Artigos. b-Verbos chanter e faire. c-Exercícios. a-Formação do feminino dos

substantivos. b-Verbos se redefinir. c-Exercícios. a-Formaçao do feminino dos adjetivos.

b-Verbos comprendrecevoir. c-Exercícios. a-Concordância nominal. b- Verbos croire e

périr. c- Exercícios. a- Concordância dos particípios. b- Verbos perdre e entendro. c-

Exercícios.

Pronomes relativos. b-Verbos démodre e aller. c- Exercícios.

a- Emprego dos pronomes relativos. b-Verbos mettre e abou. c-Exercícios. a-

Colocação dos pronomes relativos. b-Verbos sortir. c- Exercícios.

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a- Formação do Plural dos substantivos. b-Verbos savoir. c- Exercícios. a-

Formação do Plural dos adjetivos. b- Verbos partir. c- Exercícios.

Cuiabá, 12 de Junho de 1945.

Prof.Crescencio Monteiro da Silva

Nota: Acervo Liceu Cuiabano. Livros de registros dos pontos organizados para 4º prova parcial/Liceu Cuiabano

1942

Quadro nº 7 – Pontos de Inglês – 4º série – Curso Ginasial

Colégio Estadual de Mato Grosso

Curso Ginasial Pontos de Inglês para a 1º Prova Parcial 4º

série a- Substantivos. b- Verbos tozet na forma interrogativa. c-( WasYonant) Correções de frases. a- Plural

dos substantivos. b- Verbos tozrow na forma afirmativa. c- Correções de frases.

a- Formação do Plural dos substantivos terminados em ch. b-V toget na forma afirmativa.c- Correções

de frases.

Formação do plural dos substantivos terminados em f e Fe. b-Verbo toplant na forma interrogativa. c-

Correções de Frases.

Formação da 3ª pessoa do presente indicativo dos verbos em Y. b- Verbo tofall na forma

interrogativa. c- Correções de Frases.

Forma contrata dos verbos. b- Verbos tocarry na forma afirmativa-c-Correções de frases. Formação da

3ª pessoa do singular do presente do indicativo verbos terminados em z, ch, x, SS e o. b-Formação do

plural substantivos terminados em f e Fe.c- Correções de frases.

a-Forma contrata de expressões verbais. b- Verbo to look na forma negativa. c- Correções de frases.

a- Formação da 3ª pessoa do singular do presente do indicativo verbos terminados em y. b- Verbo

tozrow na forma afirmativa. c- Correções de frases.

a- Formação irregular do plural dos substantivos. b- Conjugação do Verbo toget na forma negativa. c-

Correções de frases.

Cuiabá, 20 de junho de 1945

ProfªYara Pinheiro

Nota: Acervo Liceu Cuiabano. Livros de registros dos pontos organizados para 4º prova parcial/Liceu Cuiabano

1942

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Quadro nº 8 - Pontos de Matemática – 4º série – Curso Ginasial

Curso Ginasial

Pontos de Matemática para a 1º Prova Parcial

4º série

Variável: definição. Resolução de um sistema de duas equações: método de adição: Gráfico.

Constante: definição e classificação. Resolução de um sistema de duas equações: método de

comparação. Gráfico.

Solução de um sistema de equações: definição. Resolução de um sistema de duas equações:

método de substituição. Gráfico.

Equações simultâneas: definição. Resolução de um sistema de suas equações literais.

Gráfico.

Sistemas de equações: definição. Resolução de um sistema de duas equações. Método de

adição. Gráfico.

Sistema linear: definição. Resolução de um sistema de duas equações. Método duas

equações. Gráfico.

Sistema equivalente: definição. Resolução de um sistema de duas equações literais. Gráfico.

Solução de um sistema de duas equações: definição. Resolução de um sistema de equações.

Método de substituição. Gráfico.

Sistema de equações: definição. Resolução de um sistema de duas equações: método de

adição. Gráfico.

O grau de um sistema de equações: definição. Resolução de um sistema de duas equações

literais. Gráfico.

Cuiabá, 11 de Junho de 1945

Profª Ana Leite de Figueiredo

Nota: Acervo Liceu Cuiabano. Livros de registros dos pontos organizados para 4º prova parcial/Liceu Cuiabano

1942

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Quadro nº 9 – Pontos de História do Brasil – 4º série – Curso Ginasial

Colégio Estadual de Mato Grosso

Curso Ginasial

Pontos de História do Brasil para a 1º Prova Parcial

4ºsérie

Inicio de Govêrno. Em que dia a Banda Oriental fora incorporada ao Brasil. Proclamação de

maioridade de D. Pedro II.

Guerra da Independência. Libertação da Cisplatina e Baia. Confederação do Equador. Quais

os membros da Regência permanente trina.

Causas da abdicação de D. Pedro I. Revoluções no período regencial. O reconhecimento da

Independência.

Partidos políticos das regências. Causas da Guerra Farroupilha. A carta outorgada.

A Constituinte. Revoluções Sabinada e Balaiada. Proclamação da maioridade de D. Pedro II.

Causas da Revolução Pernambucana e a atitude do presidente. Regência de Feijo. A

imprensa nas lutas políticas no Primeiro Império.

Efeito da morte de D. Pedro na situação política. Demissão de Feijó e sua causa. Sofrimentos

do Brasil na Guerra Cisplatina e sua perda.

Viagem de D. Pedro a Minas e a S. Paulo. Causas da perturbação da Regência de Feijó.

Perda da Cisplatina.

experiência democrática do período regencial.

Guerra Cisplatina. Causas que ocorreram para a Proclamação da Maioridade de D. Pedro.

Revoluções do Período Regencial.

Cuiabá, 11 de Junho de 1945

a)Profª Dulce Botelho de Campos

Nota: Acervo Liceu Cuiabano. Livros de registros dos pontos organizados para 4º prova parcial/Liceu Cuiabano

1942

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Quadro nº 10 - Pontos de Geografia – 4º série – Curso Ginasial

Colégio Estadual de Mato Grosso

Curso Ginasial

Pontos de Geografia do Brasil para a 1º Prova Parcial

4º série

Região natural. Limites da Região Norte. O rio Amazonas.

As regiões brasileiras. Aspecto geral da região norte. As serras maranhenses.

A divisão atual do Brasil em regiões naturais. O litoral da região norte. Os territórios federais.

A ilha de Marajó. A região norte: divisões. Os recursos econômicos da região norte.

A região nordeste: divisão. Meios de comunicação da região norte. Os lagos da região nordeste.

O comércio da região norte. Os limites da região nordeste. O planalto da Borborena.

Aspecto geral da região nordeste: o rio Paranaíba. Os recursos minerais da região norte. Os acidentes

do litoral da região nordestino: as dunas, as barreiras e os recifes. As serras do nordeste. O estuário do

rio Amazonas.

Os acidentes do litoral da região nordeste. O rio S. Francisco. As vias férreas da região norte.

Cuiabá, 11 de junho de 1945

ProfªAmelia de Arruda Alves

Nota: Acervo Liceu Cuiabano. Livros de registros dos pontos organizados para 4º prova parcial/Liceu Cuiabano

1942.

Quadro nº 11 – Ciências Naturais – 4º série – Curso Ginasial

Colégio Estadual de Mato Grosso

Curso Ginasial

Pontos de Ciências Naturais para a 1º Prova Parcial

4º série

Definir matéria, substância e corpo. Estados de agregação das substâncias. Mecânica:

definição e divisão. Problemas.

Propriedades gerais da matéria. Estados de agregação segundo a variabilidade de volume.

Classificação dos movimentos. Problema.

Descontinuidade da matéria. Fusão. Prova experimental de impenetrabilidade. Problema.

Divisibilidade da matéria. Fusão. Prova experimental da impenetrabilidade. Problema.

Cristais e corpos amorfos. Solidificação. Solução saturada definição e experiência.

Problema.

Iaotropia e anisotropia. Vaporização: definição e divisão. classificação das soluções.

Problema.

Sistemas cristalinos. Experiências de Franklin. Destilação. Prob.

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Liquefação. Definir: móvel, trajetória, velocidade, movimento relativo e absoluto. Soluções

moleculares e iônicas. Problemas.

Sublimação. Solução. Definir: movimento retilíneo, de rotação de translação e simultâneo.

Problema.

Fenômenos que acompanham as dissoluções de substancias sólidas nos solventes líquidos.

Cristalização: definição e divisão. Dissoluções e reações. Problema.

Cuiabá, 15 de junho de 1945

Prof. André Sarmento Bianco

Nota: Acervo Liceu Cuiabano. Livros de registros dos pontos organizados para 4º prova parcial/Liceu Cuiabano

1942

Conforme é apresentado a lista de pontos é extensa, ressaltando os conteúdos mais

importantes a serem abordados nas provas parciais sob a perspectiva do professor responsável

pela matéria. Sobre os conteúdos, considera-se que já haviam sido discutidos em sala de aula,

visto que, mesmo aqueles conteúdos abordados durante uma semana antes da aplicação da

prova, também poderiam ser cobrados no exame.

As Disciplinas de Desenho, Trabalhos Manuais e Canto Orfeônico eram realizados

somente por provas práticas. A prova final consistia na presença de uma banca examinadora

para avaliação feita por um exame oral das disciplinas. Dezembro e fevereiro eram os meses

da primeira e segunda época dos exames finais. No Artigo 51 da Lei Orgânica do Ensino

Secundário, considerava-se habilitado para realizar o exame de suficiência o aluno que não

tivesse faltado a 30% das aulas dadas nas Disciplinas e nas atividades de Educação Física,

como também em cada disciplina tivesse nota final quatro pelo menos e obtivesse, no

conjunto das disciplinas, a nota global cinco. Caso essas exigências não fossem atendidas,

esse aluno ficaria impossibilitado de realizar os exames.

Os Exames de Licença foram uma espécie de exame final que consistia em aferir os

conhecimentos do aluno na conclusão do primeiro e segundo ciclo do Ensino Secundário. Os

exames de licença ginasial, assim denominados pelo Art.56, do Capítulo XV, da Lei

Orgânica do Ensino Secundário, abrangiam todas as disciplinas menos a de Filosofia que

fazia parte do currículo do Curso Clássico. O Artigo 61 salienta que os exames eram

realizados durante os meses de dezembro e janeiro, e podiam ser realizados em qualquer

estabelecimento de Ensino Secundário, equiparado ou reconhecido perante a uma banca

examinadora designada pela direção.

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CAPÍTULO V

BIOGRAFIA DOS ALUNOS NEGROS

5.1 JAIR AGNELO

Nasceu em Cuiabá, Mato Grosso, em 17 de junho de 1926. Filha de José Agnello

Ribeiro e Ernestina Agnelo, tiveram dezesseis filhos e todos já faleceram. De família humilde

e pobre, o pai de Jair Agnelo, o Senhor José Agnelo, estudou na Escola de Artífices de

Cuiabá, sua mãe (avó de Jair Agnelo) o colocou na instituição devido às reclamações da

vizinhança por suas brincadeiras e estripulias na rua. A mãe, como trabalhava de cozinheira

na casa do governador da época, achou melhor deixá-lo na Instituição. Seu pai era um

homem desconhecido por ele. Saiu da Escola de Artífices com uma profissão, músico. O

Senhor Agnelo Ribeiro, seu pai, fora o precursor do ritmo rasqueado em Cuiabá, tornando o

ritmo dançante referência na cultura local.

Jair Agnelo, sua filha, não casou por questões pessoais. Conforme relata seu neto, ela

preferiu fazer carreira, estudar e cuidar da família, porém criou sua filha adotiva, desde

criança, até chegar à idade adulta e seu neto. Sua filha adotiva se casou e deixou com Jair

Agnelo o filho, que permaneceu ao seu lado até o seu falecimento. Estudou no Liceu

Cuiabano, cursando o Ensino Secundário entre 1942 e 1945 e na Escola Técnica de Cuiabá.

Trabalhou na saúde pública, mas fez carreira na Assembléia Legislativa do Estado de Mato

Grosso, em Cuiabá exercendo o cargo de Taquigrafa. Faleceu aos oitenta e nove anos em

novembro de dois mil e treze.

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101

Fotografia nº 18 - Jair Agnelo

Nota: Acervo pessoal de Fernando Agnelo, Cuiabá-MT, 2015.

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5.2 JOAQUIM AUGUSTO DA CRUZ

Natural de Cuiabá, capital de Mato Grosso, nasceu em 30 de janeiro de 1926. Filho de

Joaquim Augusto da Cruz e Enestina dos Prazeres da Cruz. Joaquim Augusto da Cruz tinha

mais dois irmãos: Ana da Cruz e Miguel Augusto da Cruz. Logo eles ficaram órfãos de pai e

mãe. Primeiro, o pai faleceu e a mãe ficou com os três filhos. Mas a mãe, ao falecer, deixou

as três crianças sozinhas. Sua vizinha Dona Ediburca pegou as crianças para criar levando-as

para a sua residência. Permaneceu com a Dona Ediburca, Joaquim e Ana, o irmão Miguel não

quis ficar com ela, portanto, foi criado numa família tradicional de Cuiabá, a família

“Tenuta”.

Dona Ediburca possuía hábitos estranhos, mascava fumo e bebia muito. Nas

atividades domésticas, tanto Ana e Joaquim colaboravam. Para ajudar no sustento da casa,

Dona Ediburca fazia bolinhos de arroz, comida típica da região e fritava peixe para vender no

cais do Porto. Todos os dias logo, pelas três da madrugada, Joaquim Cruz acordava para

acender o fogo, para torrar o café e realizar o trajeto de sua casa até o porto da cidade. Muitas

vezes esse trajeto era feito também por charrete. Era preciso retornar para casa com todos os

produtos vendidos, caso contrário seria castigado.

Após chegar do trabalho de engraxate, pegava seu caderno feito com papel machê e

com cola de arroz, e ia para a escola, Liceu Cuiabano, onde cursava o Ginasial entre 1942 e

1945. O tempo que tinha para estudar era somente quando estava em sala de aula. Joaquim

também foi engraxate. Antes de falecer ainda guardava em sua residência, em Brasília, a

caixa de engraxate. Seu irmão Miguel, quando vinha visitá-lo, trazia de casa vários cadernos

e lápis de boa qualidade.

Na sua formatura, Joaquim Cruz não pôde comparecer no salão de festa, no Clube

Feminino, pois não tinha trajes apropriados para uma noite de gala. Dona Ediburca o colocou

na frente do Clube para vender peixe frito à alta sociedade mato-grossense que comparecia

para prestigiar o evento. Situação que marcou a sua vida. A senhora que o criou não fizera

nenhum esforço para Joaquim Cruz participar do Baile. Como relata sua sobrinha, Dona

Ediburca recebeu por anos a pensão de morte que era por direito dos jovens: Joaquim, Ana e

Miguel.

Logo que finalizou o curso, Joaquim Cruz decidiu servir o exército no Rio de Janeiro.

Na ida para o Rio de Janeiro, permaneceu em um navio durante uma semana a pão e água,

pois não tinha dinheiro. Ao chegar, alistou-se no exército. Sua moradia era o quartel, Joaquim

Cruz tirava os serviços dos colegas para ter um lugar onde dormir. Quando estava fora do

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103

quartel, ficava por perto procurando um local para passar a noite. Nesse período, conheceu

sua esposa, que também tinha uma vida sofrida, empregada doméstica e branca, trabalhava

em frente ao quartel. Joaquim Cruz casou-se e teve quatro filhos: Ana, Regina, Rita e

Augusto. Joaquim Cruz fora remanejado para trabalhar em Brasília, lá estabeleceu com sua

família e viajou pelo mundo. Alcançou o posto de Major e se aposentou pelo exército.

Deixou os filhos todos formados. Uma filha se graduou em medicina e agronomia; a segunda

filha em odontologia e o filho em Direito. Joaquim Cruz faleceu há 15 anos deixando muitas

saudades.

Fotografia nº 19 - Joaquim Augusto da Cruz – Em missão no Egito pelo Exército

Nota:Acervo pessoal de Maurício, Cuiabá-MT, 2015.

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104

5.3 MÁRDIO SILVA

Natural de Palmares, Bahia, nasceu no dia 18 de setembro de 1925. Filho de

Marcelino José da Silva e Emydia Maria de Brito, que emigraram para o Estado de Mato

Grosso em 1934, passando os primeiros anos de sua juventude em vários locais do Sul,

Estado hoje, conhecido por Mato Grosso do Sul. Seus pais exerciam atividades no garimpo.

Origem de família humilde e pobre, sua mãe chega a Cuiabá e deixa Márdio morando com

parentes para continuar a trabalhar na região de garimpo, Poxérou. Seu pai, Marcelino,

faleceu ainda no Estado da Bahia deixando e esposa e filhos. Márdio foi criado pelo irmão,

Leôncio.

Interessado pelos estudos, tornou-se um autodidata nato, aprendendo inglês e latim

ouvindo a rádio da BBC de Londres, mas depois teve como professor Willian Ramaje. O seu

material didático era importado da Inglaterra, conhecido por “Ensinando inglês”. Cursou

Ginasial e Científico no Colégio Estadual de Mato Grosso, o atual Liceu Cuiabano, nos anos

de 1942 e 1948. Márdio via na escola uma possibilidade de ascender socialmente. Cursou a

faculdade de Direito do Rio de Janeiro até o 3º ano, tendo posteriormente, concluído o curso

de Direito na Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT, na primeira turma, e se formou

em 1961. Casou-se com Maria da Conceição Velasco e Silva, no dia 30 de janeiro de 1958.

Teve quatro filhos: Márdio Silva Júnior, Mônica Maria Velasco e Silva, Marcelo Cêsar

Velasco e Silva e Magna Lorena Velasco e Silva.

Tornou-se professor do Magistério no Colégio Estadual de Mato Grosso em 1949,

ministrou as Disciplinas de Desenho e de Português. Desde 1960, era professor catedrático da

Cadeira de Desenho da referida Escola. De 1957 a 1978, exerceu suas atividades de docente

na Escola Técnica Federal de Mato Grosso, permanecendo ali até a sua aposentadoria.

Também realizou outras atividades fora do campo educacional, como fotografo, no Studio

Mitú em 1947; projetista e desenhista de mais de quatrocentos projetos arquitetônicos

construídos em Cuiabá sob a direção do engenheiro José Garcia Neto, dentre esses, destaco:

Delegacia fiscal, Hospital Geral, Educandário dos Menores (hoje o 5º BEC), canalização da

prainha, construção de pontes e outros.

Organizou a festividade de comemoração dos cem anos do Liceu Cuiabano, prestando

homenagens àqueles que já frequentaram seus bancos escolares e que fizeram parte de seu

corpo docente. Uma reportagem foi realizada dando destaque ao aniversário do Liceu

Cuiabano, tendo como seu interlocutor o professor Márdio Silva. Várias foram às

homenagens prestadas a ele, pelo trabalho prestado na sociedade cuiabana, dentre as

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homenagens, cito: uma placa de prata gravada os seguintes dizeres: Ao professor Márdio

Silva, lição viva e permanente de integridade moral, de amor ao trabalho e de dedicação a

esta casa o reconhecimento da Escola Técnica Federal de Mato Grosso (21/10/1979); a

medalha de mérito educacional de “Nilo Peçanha” em 1981. Recebeu o título de “Cidadão

Cuiabano” em 05 de dezembro de 1984. Faleceu em 21 de maio de 1985 devido a um

aneurisma. Toda a sociedade cuiabana compareceu no seu velório que comoveu a todos os

amigos e familiares por sua partida.

Fotografia nº 20 - Família de Márdio Silva

Nota: Acervo pessoal, Marcelo Velasco, Cuiabá/MT, 2015.

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Fotografia nº 21 - Márdio Silva - Rochedo, Mato Grosso do Sul em 1936

Nota: Acervo pessoal, Marcelo Velasco, Cuiabá/MT, 2015.

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Fotografia nº 22 – Márdio Silva em Campo Grande - MS em 1941

Nota: Acervo pessoal, Marcelo Velasco, Cuiabá/MT, 2015.

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Fotografia nº 23 - Márdio Silva, com o uniforme escolar da época na Praça do Porto, ano de

1947

Nota:Acervo pessoal, Marcelo Velasco, Cuiabá/MT, 2015.

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Fotografia nº 24 - Márdio Silva, com os colegas da 3º turma da 4º série do Curso Ginasial-

Escola Estadual de Mato Grosso – o Liceu Cuiabano – ano de 1945

Nota:Acervo pessoal, Marcelo Velasco, Cuiabá/MT, 2015.

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110

Fotografia nº 25 – Colegas do Colégio Estadual – o Liceu Cuiabano em 1948

Nota:Acervo pessoal, Marcelo Velasco, Cuiabá/MT, 2015.

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Fotografia nº 26 - Alunos do Colégio Estadual de Mato Grosso - o Liceu Cuiabano

Nota: Acervo pessoal, Marcelo Velasco, Cuiabá/MT, 2015.

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Fotografia nº 27 – Márdio Silva, bacharel em Direito pela Universidade Federal de Mato

Grosso-UFMT

Nota: Acervo pessoal, Marcelo Velasco, Cuiabá/MT, 2015.

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Fotografia nº 28- Márdio Silva e Maria na cerimônia do seu casamento em 1957

Nota: Acervo pessoal, Marcelo Velasco, Cuiabá/MT, 2015.

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5.4 MARIA RIBEIRO DA CRUZ

Fotografia nº 29 - Maria Ribeiro da Cruz

Nota:Acervo fotográfico do Liceu Cuiabano, Cuiabá-MT, 2015.

Nasceu em Leveger, no Estado de Mato Grosso, no dia 18 de outubro de 1926. Filha

de Bartolomeu Ribeiro da Cruz.

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115

5.5 UIR HEMÓGENES CASTILHO

Nasceu em Cuiabá, em 19 de Abril de 1925. Filho de Izidora Siqueira Castilho e

Pedro Damião Castilho, residentes em Cuiabá, Mato Grosso. Seu núcleo familiar era

composto por cinco irmãos61, sendo uma mulher e quatro homens. Descendente de negros,

sua mãe era uma negra forte e robusta de lábios grandes, semelhante ao povo da Comunidade

Mata Cavalo, assim relata sua filha Mariluci, residente em Cuiabá.

Uir Hemógenes Castilho foi o primeiro Oficial Tenente da Policia Militar de Mato

Grosso, ingressou na 2º turma no ano de 1954 para formação de oficiais62. O Estado de Mato

Grosso o honrou com o mérito esportivo pela notoriedade de seus serviços prestados à

sociedade cuiabana no esporte em cenário estadual e nacional no ano de 2011. Ele exerceu

algumas funções no campo futebolístico como árbitro de futebol, e atuou no campo como

jogador do Misto. Casou-se com Adélia Marina Barbosa Castilho68 no dia 18 de julho de

1949. Teve com ela cinco filhos: Adeir, Ademir, Edson, Uirdes, Gilmar e Mariluci. Os filhos

não deram continuidade aos estudos, frequentaram a escola, sabem ler e escrever. Mariluci

também frequentou o banco escolar do Liceu Cuiabano durante dois anos, mas, como

reprovou duas vezes, não pode permanecer na escola. Após algum tempo, já adulta,

frequentou o ensino supletivo destinado para Jovens e Adultos (EJA). Ela é costureira e

trabalha numa sorveteria próxima a sua residência. Os irmãos exercem a profissão de

motorista e guarda de condomínio. O pai, Uir Castilho, faleceu em junho de 1966.

61 Afonso, Dunga, Uraci, Ito e Zeferino. 62 Gonçalves (2009) em sua dissertação O Centro de instrução militar de Mato Grosso: o processo de

criação e desativação do centro de curso de formação de oficias (1952-1960) destaca o ano de ingresso que

o aspirante Uir Castilho inicia o curso de formação de oficiais.

.

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116

Fotografia 30 - Uir Castilho em foto oficial da Policia Militar

Nota: Acervo Pessoal, Mariluci Castilho, Cuiabá-MT, 2015.

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117

Fotografia nº 31- Uir Castilho no jogo do Misto

Nota: Arquivo Pessoal, de Mariluci Castilho, Cuiabá-MT, 2015.

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118

Fotografia nº 32 – Uir Castilho com os jogadores do Misto

Nota: Acervo pessoal Mariluci Castilho, Cuiabá/MT, 2015.

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119

5.6 WILSON BRUNO

Fotografia nº 33 - Wilson Bruno

Nota:Acervo fotográfico do Liceu Cuiabano, Cuiabá-MT, 2015.

Nasceu em Cuiabá, Estado de Mato Grosso no dia 16 de Julho de 1928. Filho de

Persílio de Souza Bruno e Maria da Glória Bruno.

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120

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao percorrer o caminho da pesquisa, foi possível atender o objetivo deste estudo, qual

seja: identificar a presença de alunos negros no Colégio Liceu Cuiabano - os formandos de

1945. Antes de iniciar a pesquisa, acreditava que a clientela escolar era frequentada somente

pela elite branca mato-grossense, principalmente em períodos passados.

A falta de informações e as poucas fontes documentais, existentes no acervo do Liceu

Cuiabano e no Arquivo Público de Mato Grosso, colaboram com o pressuposto de que aquele

Colégio não era ocupado por jovens negros. Outra situação é a inexistência de pesquisas

acadêmicas que evidencie a presença de alunos negros naquele ambiente escolar.

Outra dificuldade foi trazer para a pesquisa a participação das famílias. Alguns

membros da família dos alunos negros não consideraram a importância do resgate da

memória do seu ente querido. Como também ocorreu o estranhamento de alguns

colaboradores com o objetivo da pesquisa, que foi identificar quais eram os alunos negros

que formaram no Liceu Cuiabano no ano de 1945.

A invisibilidade do negro na sociedade brasileira alimenta a Teoria do Branqueamento

e faz com que os sujeitos socializem a ideia da Democracia Racial. Esta pesquisa mostrou

que, nos anos de 1940, a Escola teve como alunos um grupo de estudantes negros. Foi

possível verificar que eles eram oriundos de famílias humildes, que certamente se esforçaram

muito para que eles estudassem e permanecessem no Colégio Liceu Cuiabano.

A pesquisa também revela que o nível de instrução dos membros familiares variavam,

alguns sabiam ler e escrever, e outros não. Entretanto, verifiquei que a situação de pobreza

não foi um fator determinante para que essas famílias não investissem na educação de seus

filhos. Ao contrario, essas famílias viam na educação a possibilidade de ascensão social.

Esses alunos eram naturais de Cuiabá e municípios circunvizinhos e de outros estados.

O Colégio Liceu Cuiabano, naquela época, era procurado por famílias de diversas

localidades que tinham interesse de matricular seus filhos, e a matrícula só era feita após eles

serem aprovados por um rigoroso exame de admissão. A trajetória escolar era satisfatória,

atingindo as médias das disciplinas do currículo e a frequência. Ao obter o diploma do Liceu

Cuiabano, os alunos negros puderam galgar status sociais.

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