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EXAMES DE MADUREZA EM MATO GROSSO: REGISTROS DA DÉCADA DE 1930 Kleberson Rodrigo Vasconcelos de Oliveira – UFMT 161 Márcia dos Santos Ferreira – UFMT 162 GT 3 - Instituições, culturas e práticas escolares Agência de fomento: CAPES Resumo: O exame de madureza no Brasil foi criado no século XIX pelo Decreto 981/1890, e buscava, pela sua proposta inicial, atender a um público que, por diferentes motivos, não havia concluído os estudos em instituições regulares de ensino e que almejava galgar patamares mais elevados de escolaridade. O exame surgiu concomitantemente à reforma Benjamim Constant, com o propósito de que os estudantes nele aprovados pudessem se candidatar a vagas em cursos superiores. Este trabalho é parte de uma pesquisa de mestrado em Educação, ainda em andamento, que busca compreender, a partir da análise documental que registra a realização do exame, sua organização e implantação em Mato Grosso, focalizando nos processos de expansão de sua oferta e diversificação da população que o procurava. Em Mato Grosso, os exames de madureza começaram a ser aplicados em 1935 e expandindo a outras partes do estado posteriormente. O objetivo desta comunicação é identificar algumas características das pessoas que procuraram os primeiros exames de madureza realizados em Mato Grosso, nos anos de 1935 a 1940. A metodologia adotada foi a coleta de documentos, que compreendeu busca, seleção e registro de fontes, como atas e legislações educacionais, para posterior interpretação. As atas dos exames de madureza foram localizadas no acervo digital do Centro Memória Viva – MT e pertencem à Secretaria Estadual de Educação. Os resultados parciais indicam que as pessoas que participaram dos primeiros exames pertenciam a famílias tradicionais mato-grossenses, apresentando altos índices de aprovação, fato as caracteriza como um grupo que havia realizado estudos fora de instituições oficiais de ensino e que pleiteavam certificação para dar continuidade aos estudos em nível superior ou habilitação e/ou para obtenção de reconhecimento social. 161 Pedagogo pela Universidade Federal de Mato Grosso (2015), mestrando em Educação pela mesma universidade. É integrante do Grupo de Pesquisa História da Educação e Memória GEM/UFMT. Email: [email protected] 162 Doutorado em Educação pela Universidade de São Paulo, professora associada da Universidade Federal de Mato Grosso. Credenciada no Programa de Pós-Graduação em Educação da UFMT. Email: [email protected] 426 III EHECO – CatalãoGO, Agosto de 2015

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EXAMES DE MADUREZA EM MATO GROSSO: REGISTROS DA DÉCADA DE1930

Kleberson Rodrigo Vasconcelos de Oliveira – UFMT161

Márcia dos Santos Ferreira – UFMT162

GT 3 - Instituições, culturas e práticas escolaresAgência de fomento: CAPES

Resumo: O exame de madureza no Brasil foi criado no século XIX pelo Decreto 981/1890, ebuscava, pela sua proposta inicial, atender a um público que, por diferentes motivos, nãohavia concluído os estudos em instituições regulares de ensino e que almejava galgarpatamares mais elevados de escolaridade. O exame surgiu concomitantemente à reformaBenjamim Constant, com o propósito de que os estudantes nele aprovados pudessem secandidatar a vagas em cursos superiores. Este trabalho é parte de uma pesquisa de mestradoem Educação, ainda em andamento, que busca compreender, a partir da análise documentalque registra a realização do exame, sua organização e implantação em Mato Grosso,focalizando nos processos de expansão de sua oferta e diversificação da população que oprocurava. Em Mato Grosso, os exames de madureza começaram a ser aplicados em 1935 eexpandindo a outras partes do estado posteriormente. O objetivo desta comunicação éidentificar algumas características das pessoas que procuraram os primeiros exames demadureza realizados em Mato Grosso, nos anos de 1935 a 1940. A metodologia adotada foi acoleta de documentos, que compreendeu busca, seleção e registro de fontes, como atas elegislações educacionais, para posterior interpretação. As atas dos exames de madureza foramlocalizadas no acervo digital do Centro Memória Viva – MT e pertencem à SecretariaEstadual de Educação. Os resultados parciais indicam que as pessoas que participaram dosprimeiros exames pertenciam a famílias tradicionais mato-grossenses, apresentando altosíndices de aprovação, fato as caracteriza como um grupo que havia realizado estudos fora deinstituições oficiais de ensino e que pleiteavam certificação para dar continuidade aos estudosem nível superior ou habilitação e/ou para obtenção de reconhecimento social.

161 Pedagogo pela Universidade Federal de Mato Grosso (2015), mestrando em Educaçãopela mesma universidade. É integrante do Grupo de Pesquisa História da Educação eMemória GEM/UFMT. Email: [email protected]

162 Doutorado em Educação pela Universidade de São Paulo, professora associada daUniversidade Federal de Mato Grosso. Credenciada no Programa de Pós-Graduação emEducação da UFMT. Email: [email protected]

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Palavras-Chave: Exames de Madureza. Liceu Cuiabano. Mato Grosso.

Introdução

Implantado no século XIX pelo Decreto 981/1890, o exame de madureza buscava

atender a uma parcela da população que, por diferentes motivos, não havia concluído os seus

estudos em instituições regulares de ensino e que pretendia atingir um nível mais elevado de

escolaridade. Surge com a reforma Benjamim Constant, com o propósito inicial de que os

estudantes nele aprovados obtivessem certificação para se candidatar ao ingresso em cursos

superiores.

Esta pesquisa se configura como parte inicial dos estudos que integram a realização

de uma dissertação de mestrado em educação, cujo objetivo é compreender, a partir da análise

documental que registra a realização do exame de madureza em Mato Grosso, sua

organização e implantação neste estado, focalizando nos processos de expansão de sua oferta

e diversificação da população que o procurava. Em Mato Grosso, os exames de madureza

começaram a ser aplicados em 1935, apenas no Liceu Cuiabano e, posteriormente, se

expandiram para outras partes do estado, até sua incorporação ao Exame Supletivo, em 1971.

O foco, nesta comunicação, é apresentar algumas características das pessoas que

procuraram os primeiros exames de madureza realizados em Mato Grosso durante a década de

1930, mais especificamente, entre 1935, ano do primeiro registro encontrado neste estado, e o

ano de 1940.

Uma hipótese apresentada é que o exame, pelas exigências que colocava aos

candidatos, foi concebido para atender às necessidades de certificação de uma parcela da

população que havia estudado por conta própria, ou fora de instituições oficiais de ensino, e

que precisava das “credenciais” para dar continuidade aos seus estudos em nível superior, em

uma época em que, mesmo os membros das camadas médias ou superiores economicamente,

não encontravam a oferta de cursos regulares que atendessem às suas expectativas. Outra

hipótese também levantada é a de que os exames de madureza seriam procurados por aqueles

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que buscavam reconhecimento social de seus conhecimentos, mesmo que não estivessem

interessados em cursar o ensino superior.

Ao levantar alguns pontos para reflexão, a pesquisa se direciona por um objetivo geral

voltado à compreensão do processo de implantação e organização dos exames de madureza

em Mato Grosso, e também sua incorporação no Sistema Supletivo de ensino, em 1971. Para

tentar contemplar esse objetivo geral, a pesquisa se apoia em alguns objetivos específicos

apontados abaixo:

1) Interpretar o contexto histórico, político e educacional do Brasil e de Mato Grosso

que propiciou a criação dos exames de madurezas no país e neste estado;

2) Avaliar a criação e a implantação do exame de madureza em Mato Grosso e suas

prerrogativas para atendimento às pessoas acima de 15 e maiores de 18 anos;

3) Contextualizar a transformação do exame de madureza em exames supletivos nos

anos de 1970.

Um trabalho importante para o desenvolvimento desta pesquisa foi a dissertação

intitulada “O Exame de Madureza no Sistema de Ensino Brasileiro”, escrita por Josélia

Saraiva Castro, em 1973, defendida pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

Nela, Josélia apresenta um estudo sobre o exame de madureza e seu percurso histórico no

cenário educacional brasileiro.

O Decreto 981/1890, que aprovou a instrução primária e secundária no Brasil, o

Decreto 139/1903, que regulamentou o ensino no Colégio Liceu Cuiabano, juntamente com o

Artigo 100, do Decreto 21.241/1932, que consolidou as disposições sobre a organização do

ensino secundário, são estudados neste trabalho. Estes decretos apresentam direcionamentos e

condutas de implantação do exame, o primeiro e o terceiro voltados ao cenário nacional, e o

segundo focalizando as particularidades somente no âmbito estadual mato-grossense.

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Entende-se que a criação deste exame no Brasil e sua realização em vários estados da

federação, inclusive em Mato Grosso, são expressão de um processo em que o Estado

brasileiro assume oficialmente a tarefa educacional, entendida como um problema nacional a

ser enfrentado, sobretudo a partir da Proclamação da República, e, mais especificamente, ao

longo do processo de centralização política instaurado pela Revolução de 1930 (NAGLE,

2001). Nesse processo, o Estado se voltou ao estabelecimento de normas legais e

procedimentos que passaram a orientar a organização dos diversos níveis de ensino,

certificação de processos formativos, além da própria formação de professores e

profissionalização de sua atuação, entre outros (NÓVOA, 1999). A instauração dos exames de

madureza no Brasil insere-se nesse processo.

A pesquisa encontra-se situada no campo da historiografia, ao se utilizar de análises de

fontes documentais como atas dos exames de madureza e legislações educacionais,

disponíveis no Arquivo Público de Mato Grosso (APMT), acervo da Secretaria do Estado de

Mato Grosso, antiga Coordenadoria de Exame Supletivo do estado e no Arquivo da Casa

Barão de Melgaço (ACBM). O acervo das atas dos exames de madureza realizados em Mato

Grosso pertence à Secretaria de Estado da Educação (SEDUC/MT) e foi digitalizado pelo

Centro Memória Viva-MT, sob orientação da Profa. Dra. Elizabeth Madureira Siqueira.

Sobre a historiografia, Nunes (2011, p. 16) afirma que esta se constitui em uma

construção “[...] feita sempre em diálogo com as incertezas, dúvidas e lapsos, que serão

preenchidos pelo pesquisador por meio do acesso às fontes e também da sua criatividade e

imaginação”. A autora acrescenta ainda que:

O confronto com o documento é mediado pelo tempo, objeto central para o estudodo homem e das sociedades; assim, as pesquisas científicas quando se apresentam aopúblico leitor revelam-se como obras prontas, sem lacunas ou silêncios e escondemno discurso todas as fraquezas e dificuldades que levaram à realização dainvestigação. O sujeito por trás da sua elaboração torna-se oculto, independente dasua linha de estudos e dos seus recortes temáticos, espaciais e temporais (NUNES,2011, p. 16).

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Sobre a pesquisa historiográfica, Pimentel (2001, p. 192) acrescenta que este tipo de

abordagem “[...] constitui-se em evidências coordenadas e interpretadas, exigindo do

pesquisador o trabalho de suplantar sua própria contemporaneidade sem deixar-se cair,

entretanto, num historicismo que se traduziria em anacronismo, numa interpretação errônea,

distorcida do passado”.

Dessa forma, entende-se que ao se analisar os documentos, uma das fontes principais

de pesquisa do historiador, é necessário levar em consideração as conjunturas do passado e o

lugar em que esse documento foi produzido. Assim, pode-se compreender que “cada fonte

tem uma maneira peculiar de tratar a Educação, dado o objetivo (a mensagem veiculada por)

cada uma delas e, levando em conta o momento histórico em que foram produzidas” (FARIA

FILHO e CALDEIRA, 2002, p. 3).

Os exames de madureza no Brasil

Criado em 1890, e somente em 1909 atingindo todo o território nacional (CASTRO,

1973), os exames de madureza davam direito ao ingresso no ensino superior e eram

oferecidos por estabelecimentos de ensino secundários. Conforme o Decreto 981/1890:

Art.38 A approvação no exame de madureza do Gymnasio Nacional dará direito amatricula em qualquer dos cursos superiores de caracter federal na Republica; ocandidato que nelle obtiver pelo menos dous terços de notas –plenamente-, seráconferido o titulo de Bacharel em sciencias e lettras.

Paragrapho único. Quando qualquer dos Estados da Republica houver organisadoestabelecimentos de ensino secundário integral segundo o plano do GymnasioNacional, darão os seus exames de madureza os mesmos direitos a esta matriculanos cursos superiores.

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Os exames seguem os direcionamentos do Colégio Dom Pedro II, instituição de

ensino que servia como modelo educacional no Curso Secundário nesse período. Na Reforma

Benjamim Constant, o exame assume duas finalidades, segundo Castro (1973, p.14):

O “Exame de Madureza”, proposto pela reforma, tinha dupla finalidade: política,como instrumento através do qual o Governo Federal exercia uma ação direta noensino secundário do país, mediante a equiparação dos estabelecimentos estaduais eparticulares ao Colégio Pedro II; pedagógico, sendo o Exame de Madureza ocoroamento do curso integral de estudo, mediante o qual o aluno recebia o grau debacharel, Benjamin Constant pretendeu dar ao ensino secundário um caráterformativo, cumprindo os sete anos do curso integral, o aluno submeter-se-ia aoExame de Madureza que tinha caráter de conclusão de curso e era pré-requisito paramatrícula no curso superior.

O exame verifica se os estudantes possuíam a “cultura intelectual” necessária para

aprovação, uma “maturidade intelectual”, por isso as questões das provas eram em um nível

de complexidade que requeria conhecimentos sistematizados para serem resolvidas. Ainda no

Decreto 981, Artigo 33, ficam explícitas as seguintes prerrogativas para as provas do exame

de madureza:

a) de sufficiencia, para as materias que teem de ser continuadas no anno seguinte;estes exames constarão simplesmente de provas oraes;

b) finaes, para as materias que houverem sido concluidas; estes constarão de provasescriptas e oraes, havendo tambem prova pratica para as cadeiras seguintes: physicae chimica; meteorologia, mineralogia e geologia; biologia; geographia; desenho,musica e gymnastica.

c) de madureza, prestado no fim do curso integral e destinado a verificar si oalumno tem a cultura intellectual necessária.

As questões para o exame de madureza eram questões sobre temas variados, queabrangiam assuntos importantes relativos às diversas disciplinas ofertadas pela escola. Estasquestões seriam propostas pela congregação do Colégio Pedro II e submetidas à aprovação doconselho diretor.

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Para a prova escrita, o aluno dispunha de cinco horas para realização do exame e

deveria ter como requisito para aprovação, média superior a 7.0 (sete).

O artigo 39 do Decreto 981 trás esclarecimentos quanto aos alunos que estariam aptos

a prestar o exame, e como o aluno deveria proceder para realizar o exame quando ele não

fosse aluno regular da instituição de ensino que oferecia o exame, e também informações

quanto à comissão julgadora responsável pela aplicação do exame:

Art. 39. Ao exame de madureza do Gymnasio Nacional serão annualmenteadmittidos, conjunctamente com os alumnos do estabelecimento, quaesquercandidatos, munidos do certificado de estudos primarios do 1º gráo, que tiveremrecebido instrucção em estabelecimentos particulares ou no seio da familia, epretenderem a acquisição do certificado de exames secundarios ou a do titulo debacharel.

§ 1º Os examinandos estranhos ao Gymnasio, a que se refere este artigo, pagarão noacto da inscripção uma taxa de 5$ por cada secção, a cujo exame desejaremsubmetter-se.

§ 2º No regulamento do Gymnasio Nacional se especificarão os pormenores desteprocesso de exames e arbitrar-se-ha uma gratificação para os lentes examinadoresobrigados a semelhante serviço

§ 3º Cada commissão julgadora destes exames de madureza, compor-se-ha de setemembros: dous lentes do Gymnasio Nacional, dous professores particulares, douslentes de cursos superiores, e o reitor do Gymnasio ou outro membro do conselhodirector como presidente.

§ 4º O inspector geral, ouvido o conselho director, organizará annualmente esubmeterá á approvação do Governo as sete commissões julgadoras do exame demadureza.

Com o movimento de renovação pedagógica e o Manifesto dos Pioneiros da Escola

Nova, de 1932, o exame teve uma modificação de caráter qualitativo e passou a ter como

público alvo os adultos que sentiam a necessidade de voltar à escola para completar os

estudos regulares.

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Como este trabalho é circunscrito à década de 1930, o exame se configura em Mato

Grosso sob influência da Reforma Francisco Campos. Nas palavras de Menezes e Santos

(2002), a Reforma se configurou como:

[...] primeira reforma educacional de caráter nacional, realizada no início da EraVargas (1930-1945), sob o comando do ministro da educação e saúde FranciscoCampos. Essa reforma, de 1931, foi marcada pela articulação junto aos ideários dogoverno autoritário de Getúlio Vargas e seu projeto político ideológico, implantadosob a ditadura conhecida como “Estado Novo”. Dentre algumas medidas da Reforma Francisco Campos, estava a criação doConselho Nacional de Educação e organização do ensino secundário e comercial.Este último foi destinado à "formação do homem para todos os grandes setores daatividade nacional", construindo no seu espírito todo um "sistema de hábitos,atitudes e comportamentos." Dessa forma, Francisco Campos havia dividido o cursosecundário em dois ciclos de cinco e dois anos, respectivamente, o primeirofundamental, e o segundo complementar, orientado para as diferentes opções decarreira universitária. A lei de 1931 previa, ainda, a criação de um sistema nacionalde inspeção do ensino secundário, a ser feito por uma rede de inspetores regionais.As universidades também sofreram uma nova orientação, voltada para a pesquisa,difusão da cultura e maior autonomia administrativa e pedagógica.

A Reforma Francisco Campos, portanto, exprime o caráter centralizador e nacional da

política que o Governo Vargas imprimia à educação. Mais especificamente, em relação ao

ensino secundário, ele passou a ser organizado em dois ciclos, agora de 5, denominado de

“fundamental”, e de 2 anos, chamado de “complementar”, voltados às grandes áreas do

conhecimento em que se dividiam os estudos superiores.

Na Reforma Francisco Campos, observa-se que o ensino público passava a voltar-se

ao atendimento das demandas colocadas pelos processos de industrialização e urbanização.

Castro (1973, p. 25) esclarece essa preocupação quando afirma que:

Simultaneamente, os líderes políticos estavam atentos para os problemas sociaisresultantes do fenômeno de industrialização e urbanização. Uma expansãoquantitativa de ensino se tornou um imperativo. Expansão que deveria atender nãosó a falta normal de escolaridade mas também aqueles que, depois de adultos,sentiam a necessidade de voltar a escola. [...] Como não havia escolas noturnassuficientes para o atendimento, Francisco Campos introduziu na reforma um tipo deexame para as pessoas que não pudessem seguir o curso fundamental regular.

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Nesse contexto educacional, o Decreto 21.241/1932, que consolida as disposições

sobre a organização do ensino secundário e dá outras providências, em seu Artigo 100,

introduz modificações na situação até então existente, trazendo desde a idade mínima

comprovada para participação do exame, como as matérias avaliativas que teriam que ser do

programa do ensino secundário, indicação de prova oral escrita e prático-oral (Desenho),

esclarecimentos quanto à validade do exame e considerações quanto à aprovação.

Sobre os objetivos do exame – habilitação na 3ª e, posteriormente, da 4ª e 5ª séries do

ensino secundário - e idade mínima de realização – 18 anos –, o Decreto afirma:

Art. 100. Enquanto não forem em número suficiente os cursos noturnos de ensinosecundário sob o regime de inspeção, será facultado requerer e prestar exames dehabilitação na 3ª série e, em épocas posteriores, sucessivamente, os de habilitação na4ª e na 5ª séries do curso fundamental ao candidato que apresentar os seguintesdocumentos:l. Certidão, provando a idade mínima de 18 anos, para a inscrição nos exames da 3ªsérie.II. Recibo de pagamento das taxas de exame.III. E, para a inscrição nos exames da 4ª ou da 5ª séries, certificado de habilitação nasérie procedente, obtido nos termos deste artigo e de seus parágrafos.

Sobre a realização no Colégio Pedro II e estabelecimentos equiparados:

§ 1º Os exames de que trata este artigo deverão ser requeridos na segunda quinzenade janeiro e serão prestados, em fevereiro, no Colégio Pedro II e emestabelecimentos de ensino secundário equiparados.

Sobre as matérias focalizadas, relativas ao ensino secundário, e forma de aplicação das

provas:

§ 2º Os exames versarão sobre toda a matéria constante dos programas expedidospara o ensino secundário e relativos às tres primeiras séries, para a habilitação na 3ªsérie, e às duas últimas, respectivamente, para a habilitação na 4ª série e na 5ª sériedo curso fundamental. § 3º Os exames constarão para cada disciplina, de prova escrita e prova oral ouprático-oral, conforme a natureza da disciplina, salvo o de Desenho, que constará deuma prova gráfica.

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Sobre as penalidades àqueles que prestarem exames simultaneamente em mais de um

estabelecimento:

§ 4º Serão nulos os exames prestados pelo mesmo candidato, na mesma época, emmais de um estabelecimento de ensino, ficando ainda o infrator deste dispositivosujeito à penalidade de não poder increverse em exames na época imediata.

Sobre a constituição das bancas examinadoras:

§ 5º A constituição das bancas examinadoras, o arrolamento das provas escritas, oseu julgamento e o das provas orais ou prático-orais obedecerão, no que lhes foraplicavel, ao disposto nos artigos 38, 39 e 40 deste decreto. § 6º Na constituição das bancas examinadoras não poderão figurara professores quemantenham cursos ou estabelecimentos de ensino, lecionem particularmente ouexerçam atividade didática em estabelecimento de ensino não oficiais, sendo nulosem qualquer tempo os exames prestados com infração deste dispositivo.

Sobre a aprovação dos candidatos:

§ 7º Será considerado aprovado o candidato que obtiver, alem da nota trinta, nomínimo, na prova gráfica de Desenho e como média aritmética das notas da provaescrita e da prova oral, ou prático-oral, em cada uma das demais disciplinas, médiaaritmética igual ou superior a cinquenta no conjunto das disciplinas. § 8º Ao candidato inhabilitado nos exames de qualquer série será permitido, naépoca seguinte, renovar mais uma vez inscrição nos exames da série em que nãolograra aprovação. § 9º Os candidatos aprovados na 5ª série, para a matrícula nos institutos de ensinosuperior, ficarão obrigados à frequência e às demais exigências estabelecidas para ocurso complementar respectivo.

A partir de 1932, com a aprovação do Artigo 100, do Decreto 21.241, as pessoas com

mais de 18 anos que não seguiram o ensino regular passaram a poder, através de exames,

obter habilitação para a 3ª série do ensino secundário e, depois disso, em anos sucessivos,

alcançar as aprovações para a 4ª e 5ª séries, para somente então ingressarem no curso

complementar correspondente ao curso superior que desejassem realizar.

Castro (1973, p. 30) esclarece, ainda, que o currículo do exame abrangia todas as

disciplinas do ensino regular, sendo “bastante pesado e enciclopédico”.

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Os exames de madureza no Liceu Cuiabano, em Mato Grosso

A proposta inicial do exame de madureza também encontrou expressão no contexto

educacional de Mato Grosso. O exame de madureza implantado no sistema educacional

brasileiro se efetiva em Mato Grosso somente no ano 1935, no Colégio Liceu Cuiabano, e

seguia as mesmas diretrizes do Colégio Pedro II, do Rio de Janeiro.

Chamado de “Lyceu de Linguas e Sciencias”, o Colégio se tornou um marco na

história das instituições escolares em Mato Grosso, sendo o primeiro estabelecimento público

secundário composto de dois cursos, o Normal e o de Línguas e Ciências Preparatórias. Sobre

a sua instalação do Liceu, Rocha (2011, p. 4) ressalta que esta se deu em “[...] 07 de março de

1880, no edifício ocupado pelo Batalhão da Polícia”. Do prédio localizado na Praça Ipiranga,

o Liceu passou para outro endereço na Praça da República, até ocupar, a partir de 1914, o

Palácio da Instrução e, em 1946, ganhar prédio próprio, recebendo a denominação de Colégio

Estadual de Mato Grosso, localizado na Avenida Getúlio Vargas, entre as avenidas Presidente

Marques e São Sebastião.

O Regulamento do Liceu Cuiabano, de 1903 (Decreto 139), equipara-o ao Ginásio

Nacional do Rio de Janeiro, autorizado pelo Presidente do Estado de Mato Grosso, Coronel

Antônio Pedro Alves de Barros. Assim, o Liceu possuía os requisitos para a aplicação do

exame de madureza em Mato Grosso.

Na Seção II do Decreto 139/1903, nos artigos 27 ao 37, estão os Regulamentos sobre

os exames de madureza no Liceu Cuiabano, encontrando os direcionamentos das provas

escritas e orais.

No artigo 29, § 1°, observa-se que a prova escrita ou gráfica será comum à turma que

se constituirá de acordo com a capacidade do local e as conveniências de fiscalização, e

deveriam ter no máximo a duração de 5 horas para cada sessão línguas vivas, línguas mortas,

matemática elementar e desenho, e quanto à aplicação das provas orais seguiam as seguintes

determinações, seguindo o Decreto 139 de 1903, Artigo 29°, no seu inciso segundo:

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Figura 1: Ata do exame de madureza 1935 Fonte: Arquivo CMV/MT

O primeiro registro em ata da aplicação do exame é de 1935, e, a partir desse ano, as

atas seguem com registro anuais sem interrupções até 1940. Em 1935, somente três pessoas se

submeteram ao exame na 3ª série do curso fundamental, e todos conseguiram aprovação, com

média final entre as somas das disciplinas próxima a 8, indicando uma boa preparação dos

participantes.

Na 3ª série, os alunos foram avaliados ano em 11 disciplinas, Português, Matemática,

Geografia, História Universal, Física, Química, Música, História Natural, Desenho, Inglês e

Francês. Estas disciplinas correspondiam ao preconizado no Artigo 100. O sobrenome dos

participes do exame sugere que eles pertenciam a famílias tradicionais de Mato Grosso.

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Em 1936, 10 pessoas se submeteram ao exame, 7 para 3ª série e 3 para 4ª série (os

mesmos candidatos que haviam se submetido ao exame para 3ª série no ano anterior), e as

notas continuaram acima da média, 7,8 na 3ª e 9,2 na 4ª. Diferentemente das disciplinas

avaliadas na 3ª série, na 4ª série, as disciplinas Música e História Universal são suprimidas e

História da Civilização e Latim são inseridas no exame, conforme exigia o Artigo 100.

Em 1937, o número de partícipes subiu para 14 alunos avaliados, 4 pessoas avaliadas

na 3ª, 7 pessoas na 4ª e 3 na 5ª. A média final na 3ª ficou em 6,6; e na 4ª série ficou em 8,0;

fechando com a média na 5ª em 7,8.

Em 1938, 9 pessoas se submeteram ao exame: 3 pessoas para 3ª serie, 2 pessoas para

4ª série e 4 pessoas para 5ª série. A média apresentou queda considerável ficando

respectivamente em 5,1; 5,3; e 5,0. Nesse ano, todos os participantes foram reprovados no

exame por não conseguirem média igual ou superior a 7, com relação ao primeiro ano de

aplicação, foram encontradas as atas com o registro impressos de cada disciplina realizada por

cada um dos participantes, apresentando informações sobre as provas orais e escritas,

totalizando 100 atas.

No ano de 1939, 9 pessoas se submeteram: 8 para 3ª série com média final em 5,7, e

somente 1 para 4ª série com média final em 7. Nesse ano, 4 alunos foram aprovados e 6

reprovados, e dentre os 4 reprovados, 2 deles constam como desistentes e nem chegaram ao

final do processo avaliativo.

No último ano de interpretação das atas para este trabalho, 1940, somente 1 aluno se

submeteu ao exame na 5ª série e obteve aprovação com média final 8.

Esse processo de descrição mostra a quantidade e diversidade de dados a serem

tratados. Nota-se, também, que alguns participantes se submeteram aos exames em anos

sucessivos em séries diferentes fazendo-se cumprir o Artigo 100, do Decreto 21.241/1932,

buscando terminar curso fundamental, do ensino secundário, para fazer os dois anos

complementares, buscando acesso no ensino superior.

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Abaixo, através das interpretações das atas, construímos quadros de acompanhamento

do exame de madureza, trazemos esse quadro organizado por sexo, aprovação e desistência no

exame em seu respectivo ano.

Ano 3º Série

1935Homens Mulheres Aprovados Reprovados Desistentes

2 1 3 0 0

Quadro 1 – Acompanhamento do ano de 1935

Fonte: Elaborado por Kleberson. R. V. de Oliveira a partir de informações das atas de realização dos exames (CMV-MT, 1935)

Ano 3º Série

1936

Homens Mulheres Aprovados Reprovados Desistentes

4 3 7 0 0

4º Série

Homens Mulheres Aprovados Reprovados Desistentes

2 1 3 0 0

Quadro 2 – Acompanhamento do ano de 1936

Fonte: Elaborado por Kleberson R. V. de Oliveira a partir de informações das atas de realização dos exames (CMV-MT, 1936)

Ano 3º Série

1937 Homens Mulheres Aprovados Reprovados Desistentes

441

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4 0 1 3 0

4º Série

Homens Mulheres Aprovados Reprovados Desistentes

4 3 6 1 0

5º Série

Homens Mulheres Aprovados Reprovados Desistentes

2 1 3 0 0

Quadro 3 – Acompanhamento do ano de 1937

Fonte: Elaborado por Kleberson R. V. de Oliveira a partir de informações das atas de realização dos exames (CMV-MT, 1937)

Ano 3º Série

1938

Homens Mulheres Aprovados Reprovados Desistentes

3 0 0 3 0

4º Série

Homens Mulheres Aprovados Reprovados Desistentes

2 0 0 2 0

5º Série

Homens Mulheres Aprovados Reprovados Desistentes

2 2 0 4 0

Quadro 4 – Acompanhamento do ano de 1938

Fonte: Elaborado por Kleberson R. V. de Oliveira a partir de informações das atas de realização dos exames (CMV-MT, 1938

Ano 3º Série

1939 Homens Mulheres Aprovados Reprovados Desistentes

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5 3 0 8 2

4º Série

Homens Mulheres Aprovados Reprovados Desistentes

0 1 1 0 0

Quadro 5 – Acompanhamento do ano de 1939

Fonte: Elaborado por Kleberson R. V. de Oliveira a partir de informações das atas de realização dos exames (CMV-MT, 1939)

Ano 5º Série

1940Homens Mulheres Aprovados Reprovados Desistentes

0 1 1 0 0

Quadro 6 – Acompanhamento do ano de 1940

Fonte: Elaborado por Kleberson R. V. de Oliveira a partir de informações das atas de realização dos exames (CMV-MT, 1940)

Os quadros acima permitem, entre outras coisas, a percepção da dinâmica de

oferecimento dos exames e a demanda por eles existente, a partir das normas estabelecidas

pelo Artigo 100, do Decreto21. 241/1932.

Considerações finais

Os exames de madureza permearam e se adaptaram a diversas reformas educacionais

no Brasil, até ser integrado aos exames de Supletivo. Em Mato Grosso, o Liceu Cuiabano, foi

a primeira instituição de Ensino Secundário responsável por realizar esses exames ao longo da

década de 1930.

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Ao interpretarmos as atas, notamos que o Liceu seguiu as normas do Artigo 100,

respeitando as disciplinas preconizadas e a dinâmica de funcionamento sugerida, que exigia a

realização do exame de cada série em anos sucessivos até a autorização para ingresso no curso

complementar de dois anos (para os quais não havia exames) e posterior acesso ao ensino

superior.Nota-se, também, que a maioria dos candidatos era do sexo masculino. Josélia Saraiva

Castro, em sua dissertação sobre o tema, afirma que não havia obtido dados sobre a procura e

resultado dos exames orientados pelo Artigo 100, em São Paulo e Rio de Janeiro. Conforme a

autora: “não foi possível conseguir dados sobre a procura e o resultado dos exames do Art.

100” (CASTRO, 1973, p. 31).Neste trabalho, a partir da documentação pesquisada, conseguimos realizar essa

aproximação. Percebemos que o exame teve uma demanda em Cuiabá e que foi realizado

sucessivamente ao longo dos anos pelos candidatos que almejavam a continuidade dos

estudos e, para isso, submeteram-se aos exames de 3ª, 4ª e 5ª séries do curso fundamental do

ensino secundário.Além disso, Castro (1973, p. 31) afirma: “diante da extensão e do rigor dos mesmos

[exames], somente pessoas dotadas intelectualmente teriam chance de gozar deste dispositivo

legal que lhes concedia o certificado da conclusão do curso fundamental para prosseguimento

do curso complementar” (CASTRO, 1973, p. 31).Acreditamos que essa afirmação também se aplica aos estudantes mato-grossenses

que, tendo completado 18 anos, procuravam os exames como forma de certificação de estudos

realizados em outros espaços, que não os estabelecimentos oficiais de ensino.Como essa interpretação inicial obteve-se um material rico e diversificado, ficando

algumas informações que precisam ser entendidas como, por exemplo, a queda das notas, o

aumento no número de candidatos, entre outros.

Referências bibliográficas

CASTRO, Josélia Saraiva. O exame de madureza no sistema de ensino brasileiro.Dissertação de mestrado. Rio de Janeiro: PUC-Pontifícia Universidade Católica do Rio deJaneiro, 1973.

BRASIL. Decreto n. 981/1890. Regulamento da Instrução Primária e Secundária do DistritoFederal. Disponível em

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