raio-x, nº 3

16
O Jornal dos Estudantes de Medicina da UFES - Outubro/Novembro 2009 - Edição 3 O novo currículo médico da Ufes ainda gera dúvidas ENSAIO CLÍNICO Conheça a nova técnica de cirurgia bariátrica para o tratamento da obesidade ESPECIAL A história de médicos que sabem conciliar (e muito bem!) a profissão e os hobbies VERBORRAGIA A curiosa relação entre cientistas brasileiros, o prêmio Nobel e as promessas da medicina TRIUNFO DO ESPORTE O retorno do Intermed reascende o espírito esportivo dos alunos e mostra que é possível aliar competição e diversão HEMOCULTURA Músicas, shows, bandas, filmes, livros e sites estão entre as dicas culturais de RAIO-X Hucam é o mais novo canteiro de obras do campus de Maruípe Projeto de extensão da medicina recebe elogios no Cobem Estágios em prática médica fora do Brasil estão em alta

Upload: jornal-raio-x

Post on 25-Jul-2016

234 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

O Jornal dos Estudantes de Medicina da UFES. Edição 3: Out/Nov 2009

TRANSCRIPT

Page 1: Raio-X, nº 3

O Jornal dos Estudantes de Medicina da UFES - Outubro/Novembro 2009 - Edição 3

O novo currículo médico da Ufes ainda

gera dúvidas

ENSAIO CLÍNICOConheça a nova técnica de cirurgia bariátrica

para o tratamento da obesidade

ESPECIALA história de médicos que sabem conciliar

(e muito bem!) a profissão e os hobbies

VERBORRAGIAA curiosa relação entre cientistas brasileiros, o prêmio Nobel e as

promessas da medicina

TRIUNFO DO ESPORTEO retorno do Intermed reascende o espírito esportivo dos alunos e mostra que é possível aliar competição e diversão

HEMOCULTURAMúsicas, shows, bandas, filmes, livros e sites estão entre as dicas

culturais de RAIO-X

Hucam é o mais novo canteiro de obras do campus

de Maruípe

Projeto de extensão da

medicina recebe elogios no Cobem

Estágios em prática médica fora do Brasil estão em alta

Page 2: Raio-X, nº 3

EDITORIAL

EXPEDIENTE

Editor Wagner Knoblauch Equipe Wagner Knoblauch Gustavo FranklinMarcelo CorassaVictor CobeJequélie CássiaConstance Dell`SantoRodrigo Miranda

ColaboradorJorge Lellis - jornalista da Ufes

Crédito das fotosArquivo e Internet

DiagramaçãoWagner Knoblauch

ImpressãoGráfica UFES

Tiragem500 exemplares

Contato [email protected] Tel.: (27) 8153-3178

Esta é a terceira e última edição de RAIO-X deste ano. Após vitórias, conquistas, dificuldades, atrasos e tropeços, fechamos 2009 com saldo posi-tivo. O curso de medicina da Ufes não contava com um jornal próprio de circulação contínua e relati-vamente fixa há muito tempo. E não é para menos: fazer um jornal exige tempo, dedicação e muito trabalho. E o RAIO-X renasceu com um proposta ousada e inovadora. A edição e a diagramação buscam respeitar as regras do melhores manuais de jornalismo da atuali-dade, preocupação que não existia antes – e que raramente se faz presente em uma publicação confeccionada por quem não é da área de comunicação. Aliar as técni-cas jornalísticas aos temas médicos

permite uma abordagem diferenciada do nos-so cotidiano, uma vez que, em linhas gerais, o RAIO-X é feito por alunos e para os alunos. O planejamento das edições de 2010 já começou. Contamos agora com uma equipe editorial maior. E uma das metas do ano que vem é fazer com que o jornal esteja cada vez mais perto do acadêmico. RAIO-X quer abrir espaço para os comentários, sugestões, reclamações e críticas dos estudantes – sobre qualquer assunto. Nesta edição, nossa equipe se esforçou para trazer reportagens especiais e notícias de interesse do aluno de medicina da Ufes. O destaque do jornal é o Intermed, campeonato que agitou quase todas as turmas e retomou o espírito esportivo e competitivo dos acadêmicos.

Notícias acadêmicas em foco

O Diretório Acadêmi-co de Medicina da Ufes (DAMUFES) - Gestão 2009 finaliza o ano com bons resultados. Os obstácu-los ainda são muitos, mas os avanços também foram significativos. Neste ano, a informação circulou de forma extraordinária e o envolvimento dos acadêmi-cos surpreendeu até os mais experientes – com destaque para os alunos do Básico. Ainda no DA, quase todas as assessorias trabalharam muito para cumprir suas atribuições, mas outras, in-felizmente, por vários mo-tivos, deixaram a desejar.

Neste segundo semes-tre, em especial, o DA se mostrou ativo em di-versas esferas e assuntos acadêmicos. Em setembro, o Diretório promoveu um debate sobre a Reforma Curricular – e na ocasião ficou evidente que sobram dúvidas e preocupações. Em outubro, três eventos agitaram o campus: Jornada de Especialidades Médicas, CLEV CONVIDA e Hom-enagem ao Dia do Médico. Durante todo o ano, a Gestão 2009 insistiu na representação estudantil e na reavivação do espírito crítico, politico e ativo dos

INFORMES DAMUFESestudantes. E chegamos em novembro com boas notícias: pela primeira vez, faltou vaga e sobraram candidates na RE, e nos-sos acadêmicos lotaram as reuniões dos departamentos. E a militância estudantil não pode perder sua força e atividade. Por tudo isso, convidamos todos os alu-nos da medicina a participar de nossas reuniões sema-nais. Toda quarta-feira, as 12h30, as portas do DA es-tão abertas. Aqui a tribuna é libre e todos os alunos têm direito a voz. Participe!

Page 3: Raio-X, nº 3

MEDNEWS

Médicos têm novo Código de Ética A responsabilidade não presumida do médico, a proibição do uso do place-bo, maior participação dos pacientes no tratamento, melhor detalhamento sobre prontuário, a função de au-ditor e perito e a inclusão de questões como reprodução assistida e genoma humano foram as principais mu-danças incluídas no novo Código de Ética Médica (CEM), aprovado pelo Con-selho Federal de Medicina (CFM), em 29 de agosto. O texto amplia o conceito do exercício do ato médi-co, seja no atendimento, no ensino, na pesquisa, na gestão ou em qualquer outro ato advindo da Medicina. A revisão das normas que regem a conduta médi-ca levou em conta os atos passíveis de fiscalização e a abrangência do Código firmado em 8 de janeiro de 1988, que tornou mais claros itens polêmicos que apareciam timidamente no texto anterior, introduziu novos aspectos e trouxe ainda uma visão contem-porânea sobre temas que en-volvem tecnologia e ciência. As regras foram dis-cutidas por representantes dos CRMs, do CFM e de outras entidades médi-cas ao longo de dois anos.

Antes da homologação, o texto contou com aprov-ação da Assembleia da IV Conferência Nacional de Ética Médica (IV Conem). Durante o evento, realizado de 25 a 29 de agosto, os par-ticipantes reuniram-se em grupos de trabalho para de-bater pontos de vista e con-cluir as avaliações. O texto final contempla 25 princí-pios fundamentais, 10 nor-mas diceológicas (direitos dos médicos), 118 normas deontológicas (responsabi-lidade profissional, direitos humanos, relação com pa-cientes e familiares, doação e transplante de órgãos e tecidos, relação entre médi-cos, remuneração profis-sional, sigilo profissional, documentos médicos, au-ditoria e perícia médica, ensino e pesquisa médica e publicidade médica) e mais cinco disposições gerais. A transgressão das normas deontológicas sujeita os infratores às penas disci-plinares previstas em lei. O texto do Código pres-ervou o preâmbulo, com capítulos dirigidos aos princípios fundamentais, moral máxima em que estão inseridos princípios milena-res idealizados para a prática da medicina, e o direito dos médicos relativo ao exercí-

cio da cidadania do profis-sional. Por conter aspectos idealizados, ambos os capí-tulos não trazem artigos que possam ser aplicadas sanções obrigatórias, como acontece na parte deontológica, que expressa as obrigações de conduta pormenorizadas. Entre os princípios fun-damentais, houve mudança em relação ao tema Bioética, resultando num melhor en-tendimento sobre a respon-sabilidade social do médico, não só em relação aos co-legas e aos pacientes como também ao ecossistema. Já no capítulo que versa sobre os direitos, foram ressaltadas questões como salários jus-tos, condições dignas de tra-balho, defesa dos pacientes e sigilo profissional, direi-tos já garantidos, que sof-reram pequena ampliação. Na área deontológica, muitos artigos foram reescri-tos ou fundidos, para melhor compreensão. Entre os capí-tulos novos estão o de Cuida-dos Paliativos, que ampliou a autonomia dos pacientes terminais e crônicos e per-mitiu maior participação de-les no processo de diagnós-tico. O novo texto prevê que o paciente seja mais atuante na relação com o médico, discutindo com ele o pro-cedimento e consentindo

ou não com a investigação. A eutanásia continua sendo prática vedada aos médi-cos brasileiros, assim como qualquer outro procedi-mento que antecipe a morte. O Código incluirá ainda capítulo explicitando que a medicina não pode ser ex-ercida como comércio e que o médico não deve receber nenhum tipo de benefício de fabricante de equipamentos ou da indústria farmacêuti-ca, sendo vedada a obtenção de vantagem na comerciali-zação de órteses e próteses de qualquer natureza. O novo texto alerta também para o conflito de interesses, frisando que o paciente tem de estar em primeiro lugar. Com a incorporação de no-vas tecnologias, o CFM já havia estabelecido decisões genéricas sobre tecnociên-cia, reprodução assistida e terapia gênica em suas resoluções. O Código estabe-lece proibição, por exemplo, de qualquer modificação no genoma humano, uso de em-briões para alteração gênica, procriação com sexagem, implantação de múltiplos embriões e outros cuidados específicos para os médicos que atuam em reprodução assistida. (texto adapta-do do Jornal do Cremesp)

Na mesma semana em que se comemorou o Dia do Médico e exatamente no dia em que o DAMUFES hom-enageou a classe médica em um evento no auditório do Elefante Branco, em 21 de outubro, foi aprovado, na Câmara dos Deputados, em Brasília, o Ato Médico. Em um momento considerado histórico pelas lideranças médicas e políticas, e após sete anos de tramitação en-volvendo lutas, concessões e acordos, o projeto de lei

que regulamenta a medicina, o PL 7.703/2006, estabelece quais as atividades privativas e não privativas dos médicos. Assim, a medicina, única das 14 profissões de saúde não regulamentada, teve o seu reconhecimento social reiterado por meio da aprov-ação do projeto pelo Plenário da Câmara. A proposta ago-ra segue para referendo do Senado e, posteriormente, à sanção presidencial. No dia da votação, lideranças médicas do Con-

selho Federal de Medicina (CFM), Associação Médica Brasileira (AMB) e Feder-ação Nacional dos Médicos (Fenam) permaneceram firmes no Plenário da Casa esperando que a pauta fosse destrancada e o projeto en-trasse em apreciação em sessão extraordinária, que começou depois das 19 horas. O presidente do CFM, Roberto Luiz d’Avila, re-iterou diversas vezes du-rante a tramitação do pro-jeto que o senso comum e a

jurisprudência já entendem que compete ao médico o diagnóstico e tratamento das doenças, e que o projeto vem ratificar isso, respeitan-do a competências de cada uma das profissões da área de saúde. O texto do Ato Médico, no entanto, vem sendo duramente criticado por vários Conselhos, como Biomedicina e Psicologia, e nem mesmo entre os médi-cos há consenso absoluto.

Ato Médico obtém vitória em Brasília

Page 4: Raio-X, nº 3

ENSAIO CLÍNICO

Brasil e no mundo. Quando associada à colocação de material contensor ao redor do neoreservatório gástrico, é denominada operação de Fobi-Capella. A técnica é realizada em 75% dos casos, onde o estômago é gramp-eado e cerca de 10% dele é cortado, grampeado e iso-lado da parte restante, que é descartada. Essa parte, situada no ponto de menor elasticidade, é ligada ao in-testino, mas sem passar pelo duodeno. O obeso mórbido tem sua capacidade de in-gestão e absorção reduzidas e também há controle e/ou cura do DMT2, HAS, disli-pidemia, SM, esteatose hep-ática e da doença do refluxo

gastroesofágico, com mel-hora da qualidade de vida e redução da mortalidade. Por tudo isso, a DGA ainda é considerada o padrão-ouro por médicos e pacientes, apesar do conhecimento de uma série de complicações no pós-operatório, algumas de alto risco. Desse modo, já é crescente a utilização da gastrectomia vertical como procedimento bariátrico de-finitivo. No Brasil, a técnica ainda não é reconhecida pelo CFM, mas já recebeu o aval da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Me-tabólica. Na GVA não se al-tera o caminho seguido pe-los alimentos. Elimina-se a porção ociosa do estômago,

quase 80% do órgão, o que torna a cirurgia irreversível, e reduz a produção de gre-lina, que tem ação hormo-nal orexígena. Em razão da multiplicidade de riscos do método tradicional, a nova técnica está sendo recebida no meio científico como uma opção menos arriscada, já que a GVA retira uma porção menor do estômago e mantém todas as suas con-exões. Por estar em proc-esso de experimentação, a operação é recomendada so-mente para casos em que os pacientes são muito obesos ou possuem doenças como inflamações intestinais ou cirrose hepática, que tenham deficiências de cálcio e vita-

JORGE LELLISWAGNER KNOBLAUCH

A obesidade é uma doença multifatorial, com prevalência crescente, que acomete milhões de pessoas em todo o mundo. É fator de risco independente para o desenvolvimento de di-versas doenças associadas, como diabetes mellitus tipo 2 (DMT2), hipertensão arte-rial sistêmica (HAS), dislip-idemias, síndrome metabóli-ca (SM), esteatose hepática, doença do refluxo gastro-esofágico, colelitíase, dentre outras. A probabilidade de desenvolver doenças associ-adas aumenta muito no nível extremo da doença, a obesi-dade mórbida, caracterizada pela presença de índice de massa corporal (IMC) de 40 ou mais. Nesta condição, ocorre redução da expecta-tiva de vida de aproximada-mente 12 anos em relação a indivíduos de peso normal. O parágrafo acima abre a tese de doutorado defendida pelo professor do departa-mento de Clínica Cirúrgica da Ufes e médico do Hucam, Dr. Gustavo Peixoto Soares Miguel, no dia 24 de setem-bro, na Universidade Feder-al de São Paulo (Unifesp). O estudo, intitulado Resulta-dos da cirurgia bariátrica e metabólica: gastrectomia vertical versus gastroplastia vertical com derivação em Y - de - Roux. Ensaio clínico prospectivo, comparou duas técnicas de cirurgia bariátri-ca: gastroplastia vertical com derivação gástrica em Y-de-Roux (DGA) e gastrectomia vertical com anel (GVA). Das técnicas atuais, a DGA é a intervenção cirúr-gica mais realizada no

Nova técnica de cirurgia bariátrica é tema de pesquisa inédita no Hucam

Mais um procedimento no centro cirúrgico do Hucam, onde já foram realizadas em torno de 500 cirurgias bariátricas. Dr. Gustavo Peixoto (esquerda),

que desenvolveu toda a sua tese neste hospital, orienta os residentes.

Tese de doutorado do médico Gustavo Peixoto aponta a gastrectomia vertical como opção cirúrgica para o tratamento da obesidade

Page 5: Raio-X, nº 3

ENSAIO CLÍNICO

minas, ou para pessoas muito jovens ou muito idosas, que precisam receber todos os nutrientes. Anteriormente, esses pacientes eram excluí-dos do tratamento cirúrgico. Para realização do es-tudo, a equipe do profes-sor Gustavo operou 65 mulheres - 32 pela técnica derivação gástrica e 33 pela gastrectomia vertical. O tra-balho comparativo permitiu as seguintes conclusões: a GVA é adequada para o tratamento da obesidade mórbida e tão efetiva quanto à DGA em induzir perda ponderal e modificações favoráveis da composição corporal, um ano após a intervenção. A GVA deter-mina redução dos níveis plasmáticos de glicose, transaminases e do número de leucócitos; aumento dos níveis do colesterol-HDL e de albumina; melhora da in-tolerânica à glicose, DMT2, HAS, variáveis cardiorrespi-ratórias, esteatose hepática e da SM de forma tão efetiva quanto à DGA. Além disso,

a GVA acarreta redução dos níveis de colesterol-LDL e triglicerídios, mas de forma menos efetiva que a outra técnica. Ambas as oper-ações determinam redução dos níveis de hemoglobina, no entanto a DGA causa anemia com maior incidên-cia. Não houve diferença no surgimento de litíase biliar. E na GVA há aumento da prevalência de esofagite erosiva. O estudo também concluiu que a GVA não é mais segura que a DGA no seguimento de um ano. No

encerramento de sua tese, o Dr. Gustavo Peixoto afirma que ´´ a nova técnica deve ser considerada como a seg-unda opção para o tratamen-to cirúrgico da obesidade mórbida, logo após a oper-ação considerada por muitos como padrão-ouro, a DGA.`` A pesquisa foi realizada no Hucam, onde já foram feitas mais de 500 cirur-gias bariátricas. A tese do professor Gustavo, que es-tudou medicina na Ufes, foi aprovada por unanimi-dade e eleita para represen-

tar a Unifesp no prêmio da Fundação Peter Murányi, que é concedido às desco-bertas científicas que ben-eficiem o desenvolvimento e bem estar da população. A pesquisa está registrada no Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (FDA) e já foi apresentada em dois congressos internacionais e aceita para publicação em duas revistas de indexação internacional. E na literatura não-científica, o trabalho ganhou destaque na revista Veja e em jornais locais.

Dr. Gustavo Peixoto Soares Miguel é cirurgião do aparel-ho digestivo. Formado na Ufes em 1996, Gustavo, concluiu sua residência e o mestrado no Hospital do Servidor Público Estadual de SP e desenvolveu seu doutrado em técnica operatória na Unifesp. Hoje Dr. Gustavo Peixoto coorde-na o programa de cirurgia bariátrica do Hucam e tam-bém o programa de residên-cia médica de cirurgia do aparelho disgestivo do Hucam.

Duas técnicas, um único objetivo

Page 6: Raio-X, nº 3

JEQUÉLIE CÁSSIACONSTANCE DELL’SANTOVICTOR COBEWAGNER KNOBLAUCH

A Medicina é uma área em constante evolução e uma profissão altamente exigente. Ser médico requer disposição para se dedicar integralmente à medicina, por vezes abrindo mão de qualquer outra tarefa. Cer-to? Nem tanto. É cada vez mais comum encontrar bons médicos que aprenderam a dividir seu tempo e talento com outras paixões além da própria medicina. E o re-sultado é o melhor possível:

as atividades paralelas são extremamente benéficas e podem influenciar positi-vamente o trabalho médico quando bem administradas. Dr. Elton de Almeida Lucas é um excelente ex-emplo. O professor é bem conhecido dos acadêmicos da Ufes, sobretudo a partir do 5º período do curso, onde leciona anatomia patológica. Formou-se médico pela Ufes em 1976. Entrou no quadro de docentes da Universidade em 1977, mas entre 1978 e 1980 fez residência/mestra-do em anatomia patológica na UFF, e nesse período também ficou quatro me-ses no INCA. Voltou para Vitória assim que concluiu os estudos no Rio e desde

então leciona na graduação de medicina e trabalha no serviço de patologia do Hu-cam, onde também atuou efetivamente como médico no início de carreira. Dr. Elton já fez cursos em di-versas Universidades norte-americanas de ponta e sem-pre teve ´´uma queda`` pela dermatopatologia, especiali-dade em que hoje é recon-hecido internacionalmente. O que nem todos conhecem, no entanto, é o lado aventureiro do patologista. Dr. Elton tem uma lista de hobbies nada comuns, que inclui trilhas de jipe, viagens de carro, andar de moto, pilo-tar avião monomotor, andar e viajar de jet-ski, correr de kart e saltar de asa delta. Ele

aproveita os fins de semana e as férias para praticar a maioria dessas atividades. O médico tem muitas exper-iências interessantes –boas e ruins – e um conhecimento impressionante sobre cada uma de suas atividades. O professor Elton já fez muitas viagens e con-hece boa parte do mundo, incluindo vários estados do Brasil e ainda melhor o Espírito Santo. Já foi duas vezes de monomotor para os Estados Unidos. Hoje em dia não costuma mais se ar-riscar de asa delta, moto ou ultra leve, mas não esconde que adora uma aventura com uma boa dose de adren-alina. ´´Acompanhei dia desses o ronco dos motores no kartódromo e a emoção dos carros em alta veloci-dade``, relata o aventureiro. Motores, aliás, são a paixão do patologista. De todos os hobbies, é o carro que mais lhe atrai. Ele afirma que “viajar de carro é uma opor-tunidade que permite unir o prazer de dirigir com a pos-sibilidade de conhecer nov-os lugares e novas pessoas.” E foi exatamente isto que ele fez em uma de suas aventuras mais impres-

Conheça a história e os hobbies dos médicos.

O médico Elton Lucas adora uma boa aventura e é fissurado em motores, carros e velocidade. Na Nicarágua (foto), em sua última viagem, até um vulcão fez parte de seu percurso.

Adrenalina pura!Elton sempre viaja carac-terizado de brasileiro, com blusa ou boné verde e am-arelo. Até o carro recebe adesivos com as cores do Brasil. Ele adora essa in-teração com outros povos e novas culturas. Na foto, Elton se prepara para cru-zar a fronteira dos EUA com o México. Ao todo, fo-ram 14.500 km de Miami a Vitória, sempre de carro.

ALÉM DA MEDICINA ESPECIAL

Page 7: Raio-X, nº 3

ESPECIAL sionantes, no início deste ano. Junto com seu amigo advogado João Lobato, per-correu quase 14.500 km em 35 dias, de Miami a Vitória. Partiu de Vitória no dia 22 de janeiro e foi para os EUA. Lá , pegou seu carro e atravessou o país quase de uma costa à outra costa, do Atlântico ao Pacífico, com-pletando mais de 2 mil km rodados. Entrou no México e seguiu pela América Cen-tral, onde passou por todos os países. Ele ficou impres-sionado com as belezas nat-urais do México e teve que evitar a Cidade do México, pelo medo da violência. ´´O uso de armamento pesado pelo exército no meio da rua é comum na América Central``, enfatiza o médico. Dr. Elton acompanhou de muito perto uma perse-guição policial no Pan-amá, mas é bom frisar que o médico sempre pondera a relação riscos/benefícios para escolher qual cam-inho seguir. No Peru, único país estrangeiro do sul da América que visitou nesta viagem, conheceu diversas etnias e ficou encantado com a receptividade dos dif-erentes povos, e admirado com os quitutes que experi-mentou; alguns bons, outros nem tanto. Uma etnia em especial chamou a atenção pela rejeição às máquinas fotográficas. O médico fez quase 3 mil fotos da viagem. No retorno para casa, entrou no Brasil pela Amazônia, no estado do Acre, e passou por Rondônia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas e, enfim, chegou ao Esta-do, no dia 27 de fevereiro. E a aventura não para por aí: Dr. Elton já planeja per-correr de jipe, na companhia de amigos, a Transamazôni-ca, em 2010, fora do perío-do de chuvas. Os trajetos já estão sendo planejados e a viagem é aguardada com ansiedade. “Eu gosto muito de viajar”, afirma o médico. Certamente, grandes aven-turas ainda o aguardam em suas próximas viagens.

O médico Dan Men-donça, formado em 1981 na UFES, soube desde a in-fância que seria um artista. Desde os cinco anos de idade, quando ganhou de presente de sua tia materiais para pintar e a função de co-piar uma figura da capa da revista Seleções (tarefa que, aliás, realizou com sucesso), Dan demonstrou ter uma incrível habilidade com as artes. Mas foi também du-rante a infância que ele de-cidiu que seria médico, mo-tivado pela vontade de curar o avô que sofreu durante anos com uma cardiopatia. A doença do avô se mostrou tão influente na escolha de Dan que ele in-gressou na escola médica determinado a ser cardi-ologista. No Hospital das Clínicas, contudo, o serviço

de cardiologia não o atraiu a seguir esta carreira. Du-rante muito tempo, trabal-hou com o Dr. Fausto, na patologia. E foi realizando procedimentos em roedores que descobriu seu talento para micro cirurgias, que hoje exerce na especialidade de otorrinolaringologia. A capacidade de mudanças parece ser uma das maiores qualidades do médico, característica es-sencial para qualquer grande artista. “Ainda hoje não ten-ho certeza do que eu quero da minha vida. E essa con-stante mudança é que moti-va o meu trabalho e a minha criatividade”. E haja criativ-idade: a obra de Dan reúne desde desenhos e pinturas, passando por esculturas em aço inoxidável, madeira e ferro, instrumentos music-

ais e inclui ate instrumentos cirúrgicos que ele utiliza em seu trabalho médico, como laringoscópios e dissec-tores para timpanoplastia. Recentemente, o médico lançou o livro “Pés no chão, cabeça nas nu-vens”, que reúne muitas de suas obras. De acordo com Dr. Dan, a idéia do título sur-giu do seu próprio modo de vida. “A vida inteira eu tive a cabeça nas nuvens”, afir-ma. E garante que mesmo durante o curso de medici-na, ao contrário de muitos alunos que frequentemente dizem não ter tempo devido às exigências do curso, sem-pre tinha tempo para realizar suas atividades preferidas. “Eu desenhava, pintava, surfava e amava música”, diz o médico e artista. Dr. Dan e cat-egórico ao afirmar que é possível conciliar a medic-ina com outras atividades. “O importante na vida é não perder muito tempo”. Recado dado. Afinal, já afirmava, com conheci-mento de causa, o médico e artista português Abel Salazar: “quem só sabe me-dicina, nem medicina sabe.”

“Pés no chão, cabeça nas nuvens”

A arte de criarDan Mendonça decidiu ser artista e médico ainda na infância, mas hoje afirma não sab-er o que quer ser - e, no fundo, ele adora viv-er em constante mudança. As três obras de arte desta página, gentilmente cedidas pelo Dan representam uma pequena amostra de seu vasto acervo. E no livro Pés no chão, ca-beça nas nuvens o médico conta um pouco mais da trajetória do artista que sempre foi.

Page 8: Raio-X, nº 3

HEMOCULTURA

MARCELO CORASSA

Arnaldo Antunes é um cara multi-uso. Foi inte-grante do Titãs em sua pri-meira formação, fez parte do Tribalistas com a Marisa Monte e o Carlinhos Brown, tem 9 discos gravados, 14 livros escritos, é poeta, cronista, compositor... só não tem uma voz de clássica de cantor do American Idol. De qualquer forma, aparte a voz anasalada – que agrada bastante a muitos, inclusive a mim – Arnaldo Antunes é um fenômeno dentre a nova safra de artistas brasileiros. O estardalhaço decorre do lançamento de seu novo disco “Iê, iê, iê”. O novo trabalho de Arnaldo difere de seus dois últimos trabal-hos, o disco “Qualquer” e o DVD “Ao Vivo no Estúdio”

ARNALDO ANTUNES E SEU IÊ IÊ IÊsimples pano de fundo para a melodia. A grande diferença desse disco pros últimos tra-balhos do Arnaldo é que se alguém colocá-lo pra tocar numa festa, só vão reclamar de você, e não simplesmente atirar seu CD na sua cabeça e te expulsar da recinto. Mais comercial, mais popu-lar, seja como for, nem os fãs ardorosos do último tra-balho do músico nem os que desconhecem Arnaldo An-tunes vão desgostar do disco. Ah sim! Mantendo a tradição aqui da nossa seção, recomendo a todos os trabalhos anteriores de Arnaldo Antunes. Os dois últimos discos – “Saiba” e “Qualquer” – são fantásti-cos, e, não sei por que car-gas d’água, adorados pelos publicitários brasileiros.

(cujo áudio também está dis-ponível em CD), ambos re-alizados apenas com instru-mentos de cordas e piano, sem nenhum instrumento de percussão. De acordo com o próprio Arnaldo, o título do disco “Iê iê iê” foi decidido – ao contrário do que acon-tece geralmente em seus tra-balhos – antes da gravação. O próprio desejava fazer um disco mais dançante. Agora, os que acham que vão colocar o disco pra tocar e ouvir releituras de sucessos do Robertão estão enganados. A expressão títu-lo do disco apenas informa o retorno da percussão e de elementos musicais mais in-tensos dentro das canções. O elemento marcante de Arnaldo, contudo, continua o mesmo: a poesia. As letras são muito mais do que um

LongeArnaldo AntunesIê iê iê (2009)

onde é que eu fui parar?aonde é esse aqui?não dá mais pra voltarpor que eu fiquei tão longe?longe...

onde é esse lugar?aonde está você?não pega celulare a terra está tão longelonge...

não passa um carro sequertodo comércio fechounão tem satélite algum transmitindo notícias de onde eu estou

nenhum email chegounem o correio viráe eu entre quatro paredes sem porta ou janela pro tempo passar

dizem que a vida é assimcinco sentidos em mimdentro de um corpo fechado no vácuo de um quarto no espaço sem fim

aonde está você?por que é que você foi?não quero te esquecermas já fiquei tão longelonge...

não dá mais pra voltare eu nem me despedionde é que eu vim parar?por que eu fiquei tão longe?longe...

Valadão, Roger e Nanato, to-dos da turma 79 de medicina, é o trio que forma a banda Simpatomiméticos. Desde o ano passado, o grupo agita as festas e calouradas do campus, da me-dicina à terapia ocupacional. Os Simpato ganhou o festival Prato da Casa 2009 e gravou CD. E não deixe de conferir o video clip da canção Dia de RU no site Youtube.

Simpatomiméticos faz sucesso em calouradas da UfesMúsicasPega o meu plantão, Garota da Enfermagem, Hemilto Demais, Dia de RU, Calouro Burro, Pelve e Períneo, Biblioteca, Meu Jaleco Grudou em Mim, Quinto Período, Liga pra Mim, Penicilina, Eu, você e Anatomia, Eu vou tomar morfina

Sitewww.purevolume.com/simpatomimeticos

Page 9: Raio-X, nº 3

HEMOCULTURA

GUSTAVO FRANKLIN

Muito antes de escrever seu evangelho e o Livro de Atos, São Lucas (Lucano como é chamado no livro) estuda medicina e parte em viagem ao mundo buscando entender como Deus pode permitir tanta dor e sofrimento ao ser humano. A vida de Lucas, o único apóstolo que não con-heceu Jesus, é narrada de forma riquíssima no livro ‘‘Médico de Homens e de Almas’’. A autora Taylor Caldwel levou 46 anos, reunindo detalhes que culminaram num romance histórico incrível, que mostra toda a trajetória geográfica e todo o aprendizado espiritual de um dos mais interessantes personagens da história cristã.Quando seu amor de infância morre, Lucas se revolta contra Deus que, segundo ele, só trazia dor e sofrimento aos homens. Mas essa passa a ser sua grande motivação para o exercício da medicina. Enquanto aquele Deus desconhecido mandava a morte para as pessoas, Lucano lutaria para dar a vida. Lutaria

para tirá-las do sofrimento.Com o decorrer da leitura você é levado a sentir as dúvidas e certezas que envolvem o pro-tagonista até momento em que ele conhece a nova doutrina e vê seus questionamentos mais íntimos serem respondidos.É uma história fascinante, de um homem de verdade que sofreu muito e amou muito, teve muitas dúvidas e finalmente a certeza ab-soluta da fé. É, sem dúvida, uma leitura obrigatória para todo aquele que acredita que a medicina está muito além de técnicas e remédios pre-scritos. Vale a pena conferir!

São Lucas: Médico de Homens e de Almas

Do Sertanejo ao Rock e do Pop ao bregaGUSTAVO FRANKLIN

Certas coisas nunca mudam. Com a onda do ser-tanejo universitário, cada dia tem uma dupla nova aparecendo, enquanto outras três desaparecem num ciclo literalmente vicioso (vai tentar tirar a música da ca-beça depois, vicia mesmo!). Surfando na crista da maro-la, vem ao estado a dupla João Bosco e Vinícius (que

eu jurava que eles tocavam Bossa Nova), dia 7 no Pavil-hão de Carapina. Aproveit-ando a deixa, algo que não muda jamais: dia 28 vai ter Cláudia Leitte no Pavilhão e notem porque aquele corpo continua a embalar nossos sonhos juvenis. Para aque-les que preferem um bom e velho rock’n’roll vale a pena conferir o som da superban-da Them Crooked Strokes formada por Dave Grohl

(Foo Fighters e ex-Nirvana), Josh Homme (Queens of the Stone Age) e John Paul Jones (Led Zeppelin), que lançou a primeira música do disco de estréia na internet e está disponível no site do grupo (themcrookedvul-tures.com). Para quem ainda não teve oportunidade de assistir Michael Jackson no cinema, vai a dica do filme (This Is It!), que é uma lição de persistência, perseverân-

cia e, claro, de como não perder uma boa chance de lucrar com a morte do cara! No mais, mesmo que Tom Jobim continue a ser tema da novela das 8 e os irmãos Gallagher tenham final-mente acabado com o Oasis, fico feliz que certas coisas mudem de vez em quando. Pelo menos é o que eu es-pero toda vez que escuto Djavú por aí. Fico torcen-do para que mude o disco.

território hoje pertencente à Síria e que, na época, era um dos mais importantes cen-tros da civilização helênica na Ásia Menor. Viveu no século I d.C., desconhecendo-se a data do seu nascimento, assim como de sua morte. Não há provas documen-tais, porém há provas indire-tas de sua condição de médi-co. A principal delas nos foi legada por São Paulo, na epís-tola aos colossenses, quando se refere a "Lucas, o amado médico" (4.14). Foi grande amigo de São Paulo e, juntos, difundiram os ensinamen-tos de Jesus entre os gentios. A escolha de São Lucas como patrono dos médicos e do dia 18 de outubro como "dia dos médicos", é comum a muitos países, dentre os quais Portugal, França, Espanha, Itália, Bélgica, Polônia, In-glaterra, Argentina, Canadá e Estados Unidos. No Brasil acha-se definitivamente con-sagrado o dia 18 de outubro como "dia dos médicos".

CONSTANCE DELL’SANTO

O dia 18 de outubro foi es-colhido como "dia dos médi-cos" por ser o dia consagrado pela Igreja a São Lucas. Lucas foi um dos quatro evangelistas do Novo Testamento. Segun-do a tradição, São Lucas era médico, além de pintor, músi-co e historiador, e teria estu-dado medicina em Antioquia. São Lucas não era he-breu e sim gentio, como era chamado todo aquele que não professava a religião judaica. Não há dados precisos sobre a vida de S. Lucas. Segundo a tradição era natural de An-tioquia, cidade situada em

Page 10: Raio-X, nº 3

DIA A DIA

Em 2010/1: Reforma Curricular entra no Clínico e Internato ao mesmo tempoWAGNER KNOBLAUCH

O novo currículo médi-co da Ufes ainda é motivo de dúvidas e discussões. A reforma curricular publi-cada na edição anterior do RAIO-X sofreu alterações. Mais uma modificação foi acrescentada. E é bem provável que ela entre em vigor no início do próximo semestre. Trata-se da regu-lamentação do rodízio en-tre as 4 grandes áreas de

internato (clínica médica, clínica cirúrgica, pediatria e ginecologia e obstetrícia) no 10º e 11º períodos. A turma 77 já deve ingressar no novo esquema. Agora, os alunos se dividem em dois grupos e todos seguem a seguinte ordem curricu-lar: clínica médica e clínica cirúrgica no 10ºP e pediatria e GO no 11ºP. Antes, cada turma se dividia em 4 gru-pos e não havia definição de áreas por períodos. As

novas regras do internato deveriam ter sido implanta-das no início da reforma do currículo, em 2008, mas o Colegiado só conseguiu via-bilizar as mudanças agora. Além dessa novidade, a reforma, que hoje está no 4ºP, entra em 2010/1 no ciclo clínico, e a primeira alteração é a fusão das semios I e II com a criação da Semiologia Geral e Ra-diológica no 5ºP. Alunos e professores não escondem

´´Tudo começou em uma tarde das férias de julho de 2009. Estava eu conversando com amigos que fazem me-dicina fora do estado, mais especificamente na UFF, quando o assunto pendeu para ‘projetos de extensão’. Expliquei, então, sobre o CEPAS - Centro de Estudos e Pesquisa em Alternativas de Saúde, projeto do qual partic-ipo como monitor desde julho de 2008. Na conversa, con-cebi racionalmente aquilo que em minha mente era apenas intuitivo: a importância deste projeto em minha formação acadêmica e o valor dos ‘cui-dados primários’. Daí surgiu a idéia de levar isto para além da UFES e, quem sabe, para todo o Brasil. Um congresso parecia interessante, mas o

renomado ‘Congresso Bra-sileiro de Educação Médica - COBEM’, era simples-mente ideal. Foi quando me reuni com mais 5 colegas do projeto e, juntos, escreve-mos um resumo para en-viar à comissão do COBEM 2009. Resultado: foram centenas de resumos envia-dos na categoria ‘extensão universitária’, 84 apro-vados para apresentação em pôster e 14 aprovados para apresentação oral. O nosso resumo encaixou-se nesta última categoria! Como me propus a ser o apresentador, fui o único a ir ao COBEM, em Curit-iba, e lá estava eu, ao lado de alunos e professores de todo o Brasil. Apresenta-ram-se projetos da USP, UNESP, UFPA, UFRGS, UFAM, UFBA e outras, dentre estas, a UFES, rep-resentada pelo CEPAS. Foi lá, diante da platéia e da mesa avaliadora, que tive a certeza definitiva do valor do nosso trabalho. Foi una-nimidade a aprovação e muitos elogios foram feitos.Fiquei muito feliz pelo êxito da nossa Universidade, e ao mesmo tempo perplexo. O CEPAS existe há 20 anos e nunca ninguém teve a idéia de levá-lo ao COBEM. Ex-istem muitos outros projetos de extensão, ligas acadêmi-cas, monitorias e iniciações científicas na UFES, mas eu era o único representante da

nossa instituição lá. Por que? Teriam os nossos trabalhos aqui menor valor que aque-les realizados nos grandes centros? De certo, não! O que acontece é uma cultura de produção científica e apresentação em congressos ainda muito restrita, por uma dupla via: a falta de estímulo da instituição e a falta de von-tade dos acadêmicos. Von-tade muitos até tem, mas sem um devido direcionamento fica difícil. Senti muita falta de mais pessoas da UFES, expondo e explicando seus projetos para a comunidade médica/acadêmica brasileira e fiquei surpreso quando vi que, dentro das Coordenações Regionais Docentes e Dis-centes da ABEM (Associ-ação Brasileira de Educação Médica, organizadora do COBEM), os únicos represen-tantes do estado são alunos e professores do recém criado curso de medicina da Univix. Em suma, gostaria que de alguma forma este texto possa estimular àqueles que se dedi-cam a algum trabalho, seja na área do ensino, da pesquisa ou da extensão a buscar os meios de levar isto adiante, não ficando apenas dentro dos muros do campus, pois isso é não só uma realização pessoal (e ainda conta na prova de residência!), mas também im-portantíssimo para conceituar a nossa instituição e, conse-quentemente, a nós mesmos.``

Leonardo Tafarello

a ansiedade e preocupação. Ainda no clínico, as modi-ficações prometem, prin-cipalmente da turma 81 em diante, provocar sobre-posições de aulas teóricas e práticas, o que deve gerar confusão e trazer prejuízos ao ensino. A reforma ter-mina em 2011/2 e, com isso, o internato passa a ter, de fato, dois anos, com início no 9ºP, que fica apenas com os estágios em Medicina So-cial e Urgência/Emergência.

A UFES NO COBEMEntre os dias 17 a 20 de out-ubro aconteceu o 47º Con-gresso Brasileiro de Edu-cação Médica (COBEM), em Curitiba. O evento contou com diversas palestras, ativ-idades culturais, apresen-tação de trabalhos e até um concurso fotoliterário. Neste ano, a Ufes esteve represen-tada por apenas um aluno, Leonardo Tafarello, tur-ma 80, que levou ao Con-gresso um relato de ex-periência do Cepas. O projeto funciona na Serra há mais de 20 anos e hoje atende a quase mil famílias.Tafarello faz a seguir um depoimento sobre o evento e também uma crítica so-bre o envolvimento da Ufes, em especial dos acadêmi-cos de medicina, em ativi-dades extracurriculares.

Único da Ufes,Leonardo Tafarello

falou sobre o Cepas no Cobem, em Curitiba

Page 11: Raio-X, nº 3

DIA A DIA

Estágio internacional em alta na UfesDA EQUIPE CLEV A Coordenação de Es-tágios e Vivências (CLEV) do DAMUFES completa 5 anos de funcionamento em 2010 e já registra ótimos re-sultados: dez alunos da Ufes já fizeram intercâmbio, três estão com viagem marcada e quatro estudantes estrangei-ros foram recebidos aqui no campus, uma portuguesa, um italiano e duas alemãs. E pelo menos três outros estrangeiros devem che-

gar na Ufes nas próximas semanas. Os destinos dos acadêmicos da Ufes foram Israel, Protugal, Dinamarca, Suíça, Espanha, Hungria, Inglaterra, França e Suécia. Nossa CLEV é ligada a uma organização não gov-ernamental internacional que conecta a Ufes a Uni-versidades de todo o mun-do, abrindo as portas para estágios nas mais diversas áreas. Em setembro, ocor-reu o 2º CLEV CONVIDA,

ALUNO DATA PAÍS ÁREAEles já viajaram!

Antônio Alfim (T74) Agosto 2008 Israel PatologiaBeatriz Leão (T75) Agosto 2008 Portugal Medicina Interna

Carla Fanchiotti (T75) Agosto 2008 Dinamarca CardiologiaPaula Campos Perim (T76) Janeiro 2009 Suíça Medicina Interna

Toni Caus (T74) Abril 2009 Espanha DermatologiaLiliana Prata Souza (T73) Agosto 2009 Hungria Pediatria

Patrick Pertel Capatto (T76) Agosto 2009 Inglaterra CardiologiaÉvelyn Saiter Zambrama (T77) Agosto 2009 França Cirurgia Vascular

Luize Giuri Palaoro (T77) Agosto 2009 Portugal Medicina InternaRowena Siqueira Comério (T77) Agosto 2009 Suécia Cardiologia

Eles foram recebidos na UfesBibiana Barbieri Julho 2007 Portugal DIPGiacomo Avesani Abril 2008 Itália Cirurgia

Stefanie Rhein Agosto 2009 Alemanha NeurologiaValerie Laura Olívia Müller Setembro 2009 Alemanha Pediatria

evento que atraiu muitos acadêmicos e reuniu quase todos os alunos que já fiz-eram estágios fora do Brasil. A interação criou um am-biente perfeito para troca de informações e esclare-cimentos. Foi um sucesso! Todos os alunos podem fazer estágios internacion-ais (os nacionais continuam suspensos). Mas é preciso organização e planejamen-to. O edital 2009 já saiu e abre vagas para o período

abril/2010 a março/2011. Muita atenção aos prazos. Neste ano, os candidatos disputam com sua pontu-ação, baseada em atividades acadêmicas, por 215 vagas em mais de 40 países. Fique atento: para acumular pon-tos, envolva-se nas funções do DAMUFES, faça projetos de pesquisa e monitorias, receba alunos estrangeiros como anfitrião ou padrin-ho, entre outras atividades.

A Ufes recebeu neste segundo semestre duas estudantes alemãs pela CLEV do DAMUFES. Stefanie Rhein chegou ainda nas férias de julho em Vitória e fez estágio no ambulatório de neurologia durante todo o mês de agosto, onde recebeu preceptoria do Dr. Marcelo Muniz. Stefanie gostou do Brasil e até visitou o sul do país. Valerie Laura também é alemã e permaneceu na Ufes em setembro e outubro. Ela fez estágio no serviço de pediatria. As duas participaram do CLEV CONVIDA e de outros eventos acadêmicos, inclusive da calourada, e também conheceram as belezas naturais do Estado.

Page 12: Raio-X, nº 3

DIA A DIA

WAGNER KNOBLAUCHJORGE LELLIS

O diretor Superin-tendente do Hucam, Emílio Mameri Neto, participou mais uma vez da reunião se-manal do DAMUFES no dia 30 de setembro. Na ocasião, o diretor informou aos alu-nos que o hospital está com suas finanças totalmente equilibradas. Até o início do ano passado, o Hucam estava com uma dívida de R$ 6 milhões e um déficit mensal de R$ 800 mil. Hoje, tudo que o hospital compra é pago imediatamente, ga-rante o diretor. Com pouco mais de um ano a frente do Hucam, Mameri fez questão de enfatizar que entre as ações de sua administração estão algumas obras de grande relevância para toda

comunidade. Entre elas está a construção do novo Cen-tro Cirúrgico, praticamente pronto para uso, com sete salas. Hoje, as cinco salas de cirurgia possuem estrutura velha e defasada, e já existe um projeto para reforma do setor. E o Centro Obstétrico opera atualmente com mais duas salas, o que contribui para uma melhor utilização do Centro Cirúrgico Geral. As obras no 4º andar, iniciadas ano passado, estão praticamente concluídas e, por meio de um convênio com a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), serão com-pradas novas camas para o hospital e algumas serão reformadas. As atuais têm mais de 30 anos. O 4º andar é do setor de Clínica Médica e conta hoje com uma área de isolamento de contato,

com 11 leitos, e dez enfer-marias, com três leitos cada. E já existe um projeto para a reforma de todo o 2º piso, da Clínica Cirúrgica à Clínica Médica. A ideia é reestru-turar todas as enfermarias, recuperar o espaço físico e restaurar a fachada do hospi-tal. A previsão é que os tra-balhos comecem assim que o 4º andar estiver pronto. O diretor garantiu que o refeitório do hospital será totalmente restaurado com recursos próprios e os serviços começam ainda este ano. Além disso, o setor de Diagnóstico por Imagem deve passar por uma grande reforma, com ampliação do espaço físico. O projeto está praticamente concluído e a direção negocia parcerias com grandes empresas para viabilizar a obra. O novo

setor será equipado com um aparelho de ressonância magnética, o que faz do Hu-cam o primeiro hospital pú-blico do Estado a ter o equi-pamento. E ainda no térreo, a construção da UTI Coro-nariana, com recursos do governo estadual, deve sair do papel em poucos meses. Emílio Mameri informou ainda que os equipamentos do novo Instituto de Oftal-mologia, que já está sendo erguido em uma área ao lado dos ambulatórios, fo-ram licitados e comprados. A unidade vai contar com aparelhos de última geração e também com um Centro Cirúrgico próprio. E a con-strução do Instituto de Ne-frologia já está em processo de licitação, mas o início da obra segue sem previsão.

Com contas em dia, direção do Hucam aposta em novas obras

Desafio: faltam verba e funcionários O Hucam é o único hospital federal capixaba, atende exclusivamente pacientes do SUS e funciona hoje com cerca de 320 leitos. No entanto, segundo Emílio Mameri, o repasse do governo federal não cobre mais do que dois meses de gastos. As parcerias alternativas são, por isso, fundamentais. E em outubro, o Governo do Estado, por meio da Sesa, assinou mais um convênio com o Hospital das Clínicas. O secretário Anselmo Tozi e outras autoridades compareceram a uma solenidade no auditório do Elefante Branco para marcar a entrega de equipamentos ao Hospital, entre eles arco-cirúrgico e aparelhos de ultrassom e de Raio X, no valor estimado de R$ 1,59 milhão. Neste ano, a Sesa já aplicou R$ 1,75 milhão na manutenção de diversos serviços. Todavia, o Hucam está totalmente integrado à rede pública de saúde e sua importância para a população capixaba é inquestionável e, por tudo isso, o repasse do governo, sempre muito bem-vindo, deveria ser mais significativo. Um dos maiores problema que o hospital enfrenta é a falta de pessoal, que fica cada vez mais evidente com a ampliação física dos setores. Vários funcionários se aposentaram ou estão em processo de aposentadoria. A direção do Hucam e a Universidade não têm autono-mia de realizar concurso público para a contratação de novos profissionais. Só o MEC, com a autorização do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, tem essa competência. Mas há clara sinalização do governo federal em não abrir vagas. Os atritos entre os Min-istérios da Educação e Saúde para assumir e solucionar

a crise dos Hospitais Universitários (HUs) em todo o país gera, há anos, enorme desgaste político. Quem amarga o prejuízo, no entan-to, é quem está dentro do hospital, isto é, estudantes, médicos, en-fermeiros, outros profissionais da saúde e, obviamente, os pacientes. O fato é que não há um esforço coletivo que se empenhe na reestruturação das unidades. E o que se vê hoje é uma clara desvin-culação dos HUs das Universidades, orquestrada pelo próprio gov-erno. A crise da saúde e da educação já chegou às enfermarias e aos ambulatórios e a descaracterização do hospital-escola é evidente e, lamentavelmente, inevitável. No caso do Hucam, a Ufes deixa de ter total controle sobre a gestão hospitalar. Mas a direção do Hospital das Clínicas não pode assumir sozinha a responsabilidade de gerir todos os setores. O Hucam é público e o dever é coletivo. Chefes de serviço também precisam ser bons gestores. E quem utiliza o HU como campo de trabalho e estudo tem a obrigação moral de zelar pelo seu funciona-mento. A luta pelo resgate do Hucam, portanto, deve ser constante.

Page 13: Raio-X, nº 3

Atrasos, transtornos, confusão e polêmicas cercam as obras de ampliação do pa-vilhão de aulas teóricas Ele-fante Branco (EB). Quinze meses após o início dos trabalhos, não há previsão para a entrega do prédio. As obras começaram em agosto de 2008 e o projeto inicial não previa a interdição par-cial ou total do EB. As no-vas salas seriam erguidas ao redor e em cima da estrutura do prédio. Desentendimen-tos entre a Prefeitura de Vitória, que é a responsável pela construção, e a empre-iteira que toca os serviços

forçaram a paralisação dos trabalhos em novembro do ano passado. E, na ocasião, por motivos ainda não mui-to bem esclarecidos, talvez devido a um erro de cálculo, 7 das onze salas do EB fo-ram interditadas, e até hoje permanecem inacessíveis. Segundo a Secretaria Municipal de Obras de Vitória, a construção de um prédio com 8 salas de aula é uma contrapartida da PMV à cessão do terreno da Ufes, no campus de Goiabeiras, para a ampliação da Av. Fernando Ferrari. Todavia, a divulgação da recente notí-

cia que a PMV, pela primeira vez em 20 anos, deve quase R$ 20 milhões à indústria da construção civil trouxe uma onda de desânimo. A empre-iteira Brito Engenharia, que toca os serviços, também passa por dificuldades fi-nanceiras e tem baixo capi-tal de giro, por isso não con-segue manter um bom ritmo de obra – o que explica, em parte, o atraso, já que tudo deveria ter sido entregue em fevereiro deste ano. O barulho e a poeira que vêm do canteiro, o fe-chamento dos banheiros por mais de um mês, o trânsito

de caminhões e o remaneja-mento de aulas (até a cabine da biblioteca já foi usada como sala de aula), são al-guns dos transtornos enfren-tados há meses por quem es-tuda ou trabalho no campus de Maruípe. A PMV con-struiu quatro salas provisóri-as em agosto para desafogar o fluxo de alunos no EB. E a Ufes decidiu reformar a es-trutura interna do prédio du-rante as próximas férias. A previsão é de que até março de 2010, quatro das 7 salas bloqueadas sejam liberadas para uso. Haja paciência!

OBRA INTERMINÁVEL

circulação. Nesse ciclo vi-cioso de falta de educação, o livro é a vítima e o usuário é o vilão. O assunto é grave e exige a atenção de todos. Em Maruípe, a Biblioteca Biomédica envia pelo menos 10 livros para a restauração toda semana. O dinheiro gasto na recuperação das obras poderia ser mais bem investido. A destruição do acervo da Ufes é destaque de campanhas de conscienti-zação internas (que parecem não surtir efeito) e até já saiu na mídia. Em outubro, o Jornal Nacional trouxe a tona o descuido e desleixo dos usuários da Ufes. A vergonha agora é nacional.

Você fica irritado quando não consegue pegar um livro na biblioteca da Ufes porque não há exemplar disponível e a reserva está lotada? Pois saiba que quase 1% do material bibliográfico disponível nas seis unidades que compõe o Sistema Inte-grado de Bibliotecas da Ufes está fora de uso, aguardando restauração. Parece pouco, mas o livro que você procu-ra pode estar nesta lista, que enumera todos os itens sem condição de utiliza-ção porque foram depreda-dos por quem deveria zelar pelo bem público. Hoje, dos 235.236 títulos cadastrados, quase dois mil estão fora de

A falta de educação pode acabar com um dos maiores patrimônios da Ufes

Para 2010, foram abertas 65 vagas de Residência Médica distribuídas em 22 áreas no Hucam. O processo de seleção envolve teste obje-tivo, prova prática e análise de currículo. Veja as vagas: Clínica Médica (11); Cirur-gia Geral (8); Obstetrícia e Ginecologia (5); Pediatria (4); Anestesiologia (3); Pa-tologia (2); Infectologia (2); Oftalmologia (1); Dermato-logia (2); Radiologia e Di-agnóstico por Imagem (4); Urologia (3); Cirurgia Vas-cular (2); Gastroenterologia (1); Mastologia (2); Medici-na Intensiva (2); Cirurgia do Aparelho Digestivo (2); Re-umatologia (2); Nefrologia

(2); Cardiologia (2); Neona-tologia (3); Hepatologia (1); Ultra-sonografia em Ob-stetrícia e Ginecologia (2).

DoutoradoA 1ª turma de Doutorado em Doenças Infecciosas, reali-zado no Núcleo de Doenças Infecciosas, ingressa em 2010. São 6 vagas, em re-gime integral e com du-ração máxima de 48 meses. As linhas de pesquisa são: diagnóstico, clínica e ter-apêutica; imunologia, patogenia e biologia mo-lecular e epidemiologia das doenças infecciosas. A avaliação conta com prova de inglês, análise de cur-rículo e projeto de tese.

Chances na Residência Médica do Hucam e no Doutorado do NDI

Page 14: Raio-X, nº 3

RODRIGO MIRANDA

Aconteceu entre agosto e outubro deste semestre, mais uma edição do INTERMED, tradicional evento esportivo da Medicina UFES, que conta com a participação de dezenas de acadêmicos, de quase todos os períodos. Nesta edição, a modali-dade disputada foi o Futebol de Salão, e os jogos foram realizados nas manhãs dos domingos, na quadra exter-na do Colégio Renovação, em Jardim Camburi, com a presença de um árbitro da Federação Capixaba. O local foi gentilmente cedido pela diretora do colégio, Rafaela Muzi; todas as outras despe-sas inerentes à realização do evento foram bancadas por recursos dos próprios alunos, não tendo havido qualquer outro tipo de patrocínio ou contribuição de terceiros. A competição contou

com 10 times e 84 atletas, num total de 24 jogos dis-putados. O público presente pôde apreciar das mais belas jogadas e dribles descon-certantes às mais bisonhas pixotadas e “caneladas”, cometidas por indivíduos sem qualquer vestígio de talento esportivo. É tran-qüilizante saber, no entanto, que tais indivíduos foram, no auge da sabedoria di-vina, providos de alguma inteligência ou aptidão para os estudos, que os permitirá, no futuro, sobreviver por meio das artes médicas e a não depender de suas habili-dades futebolísticas para tal. A final foi simplesmente espetacular. A disputa ocor-reu no Sesi de Jardim da Penha. Em jogo repleto de grandes emoções, rivali-dade e ânimos exaltados, a turma 81 sagrou-se campeã, com vitória sobre a turma 75. O título foi decidido

nos pênaltis, após empate em 4x4, no tempo regula-mentar, com o time derro-tado tendo desperdiçado 2 cobranças, contra apenas 1 pelo time vencedor. A turma 76 conquistou o terceiro lu-gar, vencendo a turma 79. Eventos como o IN-TERMED desempenham um papel muito interessante no que tange à integração acadêmica. A correria do curso de Medicina muitas vezes dificulta a interação entre alunos de períodos diferentes, e esta é uma boa oportunidade de estabe-lecer esse tipo de contato, ainda que na condição de adversários. Outro ponto positivo versa a respeito da importância da prática de esportes na saúde de médi-cos e estudantes de Medic-ina. Soa como clichê, mas essa é uma realidade verda-deiramente preocupante: a saúde médica é frequente-

mente preterida em função de longas e estressantes jor-nadas de trabalho e estudos, configurando um sério prob-lema que merece destaque. A participação das tor-cidas foi o ponto negativo da competição. Foram poucos os torcedores que prestigia-ram os atletas e colegas que representaram suas respecti-vas turmas. É uma realidade decepcionante da Medicina UFES, e difere de outras escolas em que o esporte é verdadeiramente valorizado. Por fim, RAIO-X parabe-niza o acadêmico Márcio Rufino, turma 81 (5º perío-do), pela iniciativa e esforço na promoção do evento, que há mais de um ano não era realizado devido a dificul-dades organizacionais. O RAIO-X e o DAMUFES apóiam e incentivam esse tipo de iniciativa. E em 2010 tem mais esportes.

OS CAMPEÕES DO INTERMED

Page 15: Raio-X, nº 3

Nº DE JOGOS 24Nº DE ATLETAS 84

Nº DE TIMES 10Nº DE GOLS 198

MÉDIA FALTAS/JOGO 2,35CARTÕES AMARELOS 7

CARTÕES VERMELHOS 2

Classificação Pontos Jogos GM/GS Saldo1º - Turma 79 12 4 27/7 202º - Turma 76 9 4 14/9 53º - Turma 78 6 4 28/12 164º - Turma 83 3 4 5/14 -95º - Turma 85 0 4 9/41 -34

SEMIFINAISTurma 81 3 x 2 Turma 79Turma 75 7 x 1 Turma 76TERCEIRO LUGAR

Turma 76 5 x 4 Turma 79FINAL

Turma 81 4 x 4 Turma 75 ( PENALIDADES: 5x4 )

Classificação Pontos Jogos GM/GS Saldo1º - Turma 75 10 4 17/10 102º - Turma 81 7 4 27/11 163º - Turma 80 6 4 18/10 84º - Turma 82 3 4 15/17 -25º - Turma 84 0 4 8/39 -31

OS NÚMEROS DO CAMPEONATO

Grupo I - 1ª fase Grupo II - 1ª fase

ARTILHARIA CAIO CAIRES (81) 14 GOLS BRUNO GALVANI (79) THIAGO NEVES (76)

13 GOLS

VINÍCIUS (75) 11 GOLS

DADOS GERAIS

CENAS DO JOGO FINAL DO INTERMEDEmoção e rivalidade marcaram o jogo decisivo do Intermed, disputado na quadra do colégio Sesi na noite do dia 26 de outubro. Em mais de uma hora de passes e dribles, os jogadores das turmas 75 e 81 puderam demonstrar seus talentos e pontos fracos. A pequena, barulhenta e fiel torcida presente acompanhou tudo até o úl-timo pênalti cobrado, que definiu o resultado do campeonato. Márcio Rufino (acima no canto esquerdo) saiu duplamente vitorioso, pelo sucesso total de seu time e pela ousada iniciativa de organizar o Intermed em pleno 5º período. Caio Caires (acima no canto direito) marcou 14 gols ao todo e saiu com o troféu de artilheiro.

Page 16: Raio-X, nº 3

Nobel, Brasil e Medicina

GUSTAVO FRANKLIN

Em outubro, os gan-hadores do Prêmio Nobel fo-ram anunciados e brasileiros de todo o país aplaudiram pesquisadores e cientistas de cujos nomes nem consegui-mos pronunciar direito. Não que eu faça alguma questão de ver um Silva sendo lau-reado com o prêmio (ten-tem imaginar o Lula se de-bulhando em lágrimas ao receber o Nobel da Paz em Oslo), e tenho certeza de que a maioria estava mais preocupada se a Argentina ía ou não para a Copa, mas é que sempre me chamou a atenção para o fato de a Me-dicina aparecer como nossa maior chance no Prêmio. Nos dois últimos anos, foi noticiada a indicação do brasileiro Miguel Nicolelis para o Nobel de Medicina ou Fisiologia. O neuroci-entista paulistano é pioneiro nos estudos sobre cérebro e robótica e este ano foi recon-hecido internacionalmente pelo desenvolvimento de uma nova técnica cirúrgica baseada na estimulação elétrica da medula espinhal, que é um novo tratamento potencial para pacientes com Mal de Parkinson. Em 2008, o brasileiro conseguiu fazer com que a macaquin-ha Belle movimentasse um braço robô utilizando ap-enas a força do pensamen-to. Essas pesquisas sobre transmissão de ondas cer-ebrais foram listadas pelo Instituto Tecnológico de Massachusets (MIT) como uma das dez tecnologias que vão mudar o mundo. Muito antes de ser im-aginar essas técnicas mod-ernas, outros brasileiros se destacavam mundialmente pelos avanços na área da Medicina. Carlos Chagas

foi oficialmente indicado em 1913 e 1921 e, não se sabe por que, ficou sem o prêmio. Suas descobertas sobre a doença que ganhou o seu nome eram certamente dignas da maior honraria científica. Muitos outros já ganharam o prêmio por muito menos. E mais intri-gante se torna ao saber que em 1921, seu nome era certo como vencedor mas, curiosa-mente, o prêmio não foi con-cedido a ninguém naquele ano. Em 1948, o bioquímico Maurício Rocha e Silva, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, SP, examinando o sangue de pessoas que tinham sido picadas por jararacas, descobriu a bradicinina. Mas, nesse ano, o galar-doado foi o suíço Paul Her-mann Muller pelos estudos das propriedades do DDT. Agora, o mais inter-essante é saber que, na ver-dade, um brasileiro já gan-hou um Nobel de Medicina! Sim. Peter Brian Medawar, Prêmio Nobel de Medicina e

Fisiologia em 1960, era bra-sileiro, nascido no Hospital Santa Teresa, em Petrópolis, onde viveu até os 14 anos de idade. Como nunca ninguém ouviu falar nele? Muito sim-ples: filho de um libanês com uma inglesa, Peter es-tudou no Brasil até o Ensino Médio, quando foi mandado para concluir os estudos na Inglaterra. Alguns anos de-pois, Peter teria de voltar ao Brasil para prestar o serviço militar obrigatório. Decidido a não interromper suas pesquisas, pediu a seu pai que tentasse junto às au-toridades brasileiras torná-lo isento dessa obrigação para não perder a cidadania brasileira. Negado o pedido, e sem outra saída, o jovem pesquisador foi obrigado a tornar-se cidadão britânico. E, assim, ele deixou de ser brasileiro. Sua consagração veio pelas suas descobertas sobre a tolerância imunológ-ica adquirida. E, claro, de-pois disso o Brasil já tentou contestar a paternidade do Prêmio (mas já era tarde!).

Este ano, o Prêmio Nobel de Fisiologia e Me-dicina foi atribuído a três cientistas (uma autraliana, uma americana e um inglês) que mostraram como os cro-mossomos podem ser copia-dos integralmente durante a divisão das células e como estão protegidos contra a de-gradação. Os laureados com o Nobel mostraram que a solução pode ser encontrada nas extremidades dos cro-mossomas -- os telômeros -- e na enzima que as fabrica -- a telomerase. Elizabeth Blackburn, Jack Szostak e Carol Greider descobriram que uma única sequência de DNA nos telômeros im-pede os cromossomas de se degradarem e identificaram a telomerase, a enzima que produz o DNA dos telom-eros. Se os telômeros são encurtados, as células en-velhecem. Ao invés, se a atividade da telomerase é intensa, o comprimento dos telômeros é mantido e a se-nescência celular atrasada. É este o caso das células cancerosas. Certas doenças herdadas, pelo contrário, são caracterizadas por uma telomerase ineficaz, disso resultando células danifica-das. Vale destacar que essa pequisa sobre a ação da te-lomerase há anos se tornou concludente, mas só agora os cientistas receberam o prêmio. Por isso, há ainda a expectativa de que as técni-cas de Miguel Nicolelis, que é hoje um dos maiores ci-entistas do mundo, venham ainda a nos render o primei-ro Prêmio Nobel. E vocês vão concordar comigo, no fundo, no fundo, o difícil não é saber que o Brasil não tem Nobel, mas sim que a Argentina tem três.

VERBORRAGIA

Conheça as curiosidades da relação entre o prêmio científico mais cobiçado do mundo e as histórias de sucesso de cientistas brasileiros.

O neurocientista paulistano Miguel Nicolelis é pioneiro nos estudos sobre cérebro e robótica e a maior promessa do Brasil no Nobel de Medicina. Em 2008, o brasileiro con-seguiu fazer com que a macaquinha Belle movimentasse um braço robô utilizando apenas a força do pensamento.