raio-x, nº 8

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Quem paga as contas do Hemoes? O Jornal dos Estudantes de Medicina da UFES Jan/Fev/Mar 2011 - Edição 8 Siga-nos! www.twitter.com/raiox_medufes Hucam: a cada 5 leitos, dois estão sem pacientes UTIN, Urologia, Clínica Médica, Maternidade, Nefrologia e Cirúrgica são os serviços mais atingidos. JUBILEU DE OURO RAIO-X lança em abril edição especial dos 50 anos do curso de Medicina da Ufes Estágio Internacional Desde 2008, Diretório já enviou 16 alunos e recebeu 24 gringos para fazer estágio em prática médica. Jaleco, esteto, bisturi, salto alto e batom! O número de mulheres na medicina aumenta a cada ano; no Estado, já são mais de 2,7 mil médicas. Hospital está com 132 leitos desativados (40%) e amarga um déficit de quase 700 funcionários. O Governo do Estado? A Ufes? A Prefeitura de Vitória? Não. É o Hucam. Veja detalhes dessa história absurda. Entrevista Especial Dra Vera Lúcia fala sobre carreira, vida pessoal, hobbies, moda, política, aposentadoria, sonhos e muito mais. EXAME DE ORDEM. RECÉM-FORMADOS TERÃO DE FAZER PROVÃO DO CRM-ES. Será preciso acertar 60% da prova para ter direito ao registro profissional; Conselho quer aplicar teste piloto em dezembro. União aciona a justiça, suspende sentença e Ufes fica impedida de contratar servidores para o Hucam. Governo cria estatal para resolver crise dos hospitais universitários federais; trabalhadores são contra. Leitos vazios prejudicam a assistência e o ensino; estudantes e residentes ficam sem pacientes. O 1º dia de aula dos 28 alunos da Turma 1 ocorreu em 13 de abril de 1961; Diretório prepara Baile de Gala para o 2º semestre

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O Jornal dos Estudantes de Medicina da UFES. Edição 8: Jan/Fev/Mar 2011

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Page 1: Raio-X, nº 8

Quem paga as contas do Hemoes?

O Jornal dos Estudantes de Medicina da UFES Jan/Fev/Mar 2011 - Edição 8 Siga-nos!www.twitter.com/raiox_medufes

Hucam: a cada 5 leitos, dois estão sem pacientes

UTIN, Urologia, Clínica Médica, Maternidade,

Nefrologia e Cirúrgica são os serviços mais atingidos.

JUBILEU DE OURO RAIO-X lança em abril edição especial dos 50 anos do curso de Medicina da Ufes

Estágio Internacional

Desde 2008, Diretório já enviou 16 alunos e recebeu 24 gringos

para fazer estágio em prática médica.

Jaleco, esteto, bisturi, salto alto e batom!O número de mulheres na medicina aumenta a cada ano; no Estado, já são mais de 2,7 mil médicas.

Hospital está com 132 leitos desativados (40%) e amarga um déficit de quase 700 funcionários.

O Governo do Estado? A Ufes? A Prefeitura de Vitória? Não. É o Hucam. Veja detalhes dessa história absurda.

Entrevista Especial

Dra Vera Lúcia fala sobre carreira, vida

pessoal, hobbies, moda, política, aposentadoria,

sonhos e muito mais.

EXAME DE ORDEM. RECÉM-FORMADOS TERÃO DE FAZER PROVÃO DO CRM-ES.Será preciso acertar 60% da prova para ter direito ao registro profissional; Conselho quer aplicar teste piloto em dezembro.

União aciona a justiça, suspende sentença e Ufes fica impedida de contratar servidores para o Hucam.

Governo cria estatal para resolver crise dos hospitais

universitários federais; trabalhadores são contra.

Leitos vazios prejudicam a assistência e o ensino; estudantes e residentes ficam sem pacientes.

O 1º dia de aula dos 28 alunos da Turma 1 ocorreu em 13 de abril de 1961; Diretório prepara Baile de Gala para o 2º semestre

Page 2: Raio-X, nº 8

•• É inegável que o hospital-escola ainda é o local ideal para aprender medicina. Na Ufes, po-rém, os alunos e residentes que utilizam o Hucam como campo de ensino estão enfrentando a pior de todas as dificuldades: a falta de pacientes. Os leitos va-zios nas enfermarias – hoje, na assustadora marca de 132 – re-fletem diretamente um gargalo que atinge o Hucam e outros 45 hospitais universitários federais: o déficit de recursos humanos. A explicação é simples: a União deixou de repor o quadro de pes-soal. Trata-se de uma situação antiga. Um verdadeiro descaso, portanto. E as conseqüências tornam-se cada vez maiores com o passar dos anos, tanto para a assistência, quanto para o en-sino. Nos últimos meses, os re-pórteres de RAIO-X visitaram todos os setores do hospital-es-cola da Ufes, analisaram tabelas e relatórios oficiais, ouviram os diretores da instituição e colhe-ram a opinião e as impressões de alunos, residentes, médicos, enfermeiros, técnicos e demais funcionários, além dos próprios pacientes, no intuito de produzir e apresentar um panorama real do Hucam. O resultado dessa grande apuração culminou em uma reportagem especial de 4 páginas, onde RAIO-X vai além da notícia e contextualiza os fa-tos, com informações relevantes e úteis. Boa leitura!

EXPEDIENTE. RAIO-X é o Jornal dos Estudantes de Medicina da UFES. Publicação do Diretório Acadêmico de Medicina da Universidade Federal do Espírito Santo (DAMUFES).Editor Wagner Knoblauch (T80) Textos Aline Castelan (T84), Cássio Borghi (T86), Eduardo Pandini (T83), Gustavo Franklin (T83), Jequélie Cássia (T80), Leonardo Tafarello (T80), Pau-la Peçanha (T85), Victor Cobe (T80) e Wagner Knoblauch. Crédito das fotos Equipe RAIO-X, Arquivo e Internet. Diagramação Equipe RAIO-X Impressão Gráfica UFES Tiragem 500 exemplares Fale com o editor Tel.: (27) 8153-3178Email: [email protected]

“É preciso que os médicos estejam conscientes de que eles não são donos do doente, mas servos do doente. Assim, uma das condições essenciais para o exercício da medicina é a humil-dade. Por isso a classe médica tem de estar atenta. Os médicos não estão imunes a deformações de caráter” Quem faz o alerta não é um colega médico, mas o escritor Rubem Alves. É fato que a afir-mação soa como lugar-comum, mais uma das afirmativas idea-listas - ou realistas? - a respei-to do sacerdócio médico, mais ainda se tiver sido proferida por causa de uma decepção pós-atendimento médico, o que real-mente ocorreu. Ainda assim, é possível refle-tir e encontrar exemplos de que o lugar-comum da afirmação é, exatamente, devido à usualida-de de situações que levam, com razão, a críticas e decepções por parte dos pacientes e da socieda-de em geral. Basta abrir o jornal de hoje, ou assistir aos telejornais – não se esqueça, obviamente de subtrair o provável sensa-cionalismo tão habitual quando o protagonista do noticiário é o médico. Ou, alternativamente, fazer uma rápida pesquisa sobre as últimas denúncias feitas ao CRM. A escolha da medicina como profissão carrega consigo esse porém do constante julgamento alheio. “Já não pertencerás a ti mesmo...” é um dentre os inúme-ros alertas inclusos nos famosos ‘Conselhos de Esculápio’, que também faz questão de lembrar que “julgar-te-ão não pela tua ciência, mas por casualidades do destino”. Em um dos textos atri-buídos a Hipócrates, após discor-rer sobre as virtudes apropriadas para o médico que incluem dis-posição, sensatez, boa reputação e honestidade, o pai da Medicina revela: “pois acontece que essas coisas são tidas por agradáveis pelos doentes, e é preciso ter isso em vista”. É inegável, pois, a necessi-dade de obedecer à máxima que afirma que “o médico tem que ter postura e compostura”. Fato

JEQUÉLIE CÁSSIA

Eis a questão

é que alcançar “postura e com-postura” pode ser um exercício voluntário, consciente e metó-dico. Na contingência da lida médica, é natural e automático assumir disposições que reflitam autoconfiança por vezes exage-rada, alta resolutividade como objetivo máximo, e domínio in-questionável das decisões. Re-petidas, tais disposições podem gradualmente levar à falta de humildade e, em nível máximo e, consequentemente, mais di-ficilmente reversível, à trágica dificuldade de julgamento pró-prio ou de aceitar o julgamento alheio como pretexto para refle-xão sobre limitações e busca de mudança. Ainda que haja senti-do no explorado jargão “caráter vem de berço”, as “deformações de caráter”, tal como a excelên-cia, também são alcançadas por força do hábito. Daí a necessidade de sobre-avisos ocasionais, como o profe-rido por Rubem Alves, mesmo que soem como clichês. No extremo oposto, encontra-se a humildade desmedida ou, caso prefira em outros termos, humilhação consentida, com perdão do exagero e, por isso, resguarde as devidas proporções. Outro escritor, Edilson Pinto, desta vez um colega médico, desabafa: “A nossa profissão há muito se encontra cega (...) Se hoje, somos mal remunerados, trabalhando em condições desu-

Redação. Mande sua sugestão de reportagem, crítica ou comentário para [email protected] e ajude a fazer o jornal RAIO-X.

manas, enfrentando uma enxur-rada de processos na justiça civil e nos próprios Conselhos Regio-nais de Medicina, sem termos uma lei ainda que regulamente a profissão médica, etc. etc. tudo isso, é culpa única e exclusiva-mente nossa.” Um observador atento ques-tionaria, pois, dizem as boas línguas, o médico está entre as primeiras colocações no ranking de “profissionais que mais recla-mam”. Lanço o desafio: em seus próximos plantões ou no consul-tório, ou mesmo durante as au-las, observe seu colega médico ou ‘quase médico’, e até mesmo a si próprio. Reclamam(os) das condições, da remuneração insu-ficiente, do ambiente de trabalho, do paciente, da carga horária ex-cessiva. Pura retórica, se estiver correta a premissa de que “in-satisfações verdadeiras trazem consigo atitudes para modificá-las.” Isso posto, concluir que a classe médica em geral vive em profundo conformismo – substi-tuto adequado para humilhação consentida – é uma questão de lógica. Mais uma vez, subtraia as desnecessárias e infundadas exaltações sensacionalistas e as dignas exceções bem intencio-nadas e eficazes e surgirá, em preto-e-branco, o retrato com-pleto: conformismo e resignação em níveis distintos permeando a classe médica. Combinados às indesejáveis “deformidades de caráter” já citadas, podem implicar num resultado antagô-nico à humildade e extremamen-te perigoso, especialmente se disseminado em grande escala: arrogância (que, não por acaso, rima com ignorância, sinônimo de desconhecimento). O eterno drama de Hamlet, “Ser ou não ser?” não é a ques-tão. (In)felizmente, a solução não se encontra em um dos dois distantes - mas não tão distintos - pólos maniqueístas. O desafio é aprender a transitar entre ambas as possibilidades, alcançando o aclamado equilíbrio entre a ina-balável certeza do ser e a anula-ção opcional do não ser. Discernimento. Eis aí, por-tanto, a nossa grande questão.

Coluna VertebralA opinião de quem escreve o jornal

Caro LeitorA palavra do editor

“O eterno drama de Hamlet, “Ser ou não ser?”

não é a questão.(In)felizmente, a solução

não se encontra em um dos dois distantes,

mas não tão distintos, pólos maniqueístas.

O desafio é aprender a transitar entre ambas as

possibilidades, alcançando o aclamado equilíbrio

entre a inabalável certeza do ser e a anulação

opcional do não ser”

Page 3: Raio-X, nº 8

Mestrado para residentes na Ufes

DAMUFESO espaço do Diretório

Estado GeralUm giro pelas notícias do campus

•• Os médicos residentes do Hospital Universitário poderão cursar duas pós-graduações ao mesmo tempo. É que a Capes (Coordenação de Aperfeiçoa-mento de Pessoal de Nível Su-perior) aprovou, em novembro do ano passado, o mestrado em Medicina, na categoria mestrado profissional associado a progra-mas de residência em saúde. Segundo RAIO-X apurou, o curso oferecerá cerca de 20 va-gas e terá duração média de 18 meses, mas os residentes não receberão uma bolsa-auxílio ex-

tra. Todos os programas de resi-dência médica do Hucam serão contemplados e a ideia é fazer com que o residente conclua a residência e o mestrado juntos. As regras da nova pós-gradua-ção, que será coordenada por um colegiado de professores titula-dos, ainda não foram definidas. O mestrado ainda depende de aprovação no Conselho Depar-tamental do Centro de Ciências da Saúde, além do Conselho de Ensino Pesquisa e Extensão e do Conselho Universitário. A expectativa é que o edital seja

publicado ainda no primeiro se-mestre deste ano. O mestrado profissional foi re-conhecido pela Capes em 1998, mas, na área de saúde, surgiu há apenas dois anos. No que se re-fere à titulação, o mestrado pro-fissional tem o mesmo peso que o tradicional – o mestrado aca-dêmico. Na Ufes, além de Me-dicina, a Capes também aprovou o curso na área de Enfermagem. Ao todo, a Universidade conta com aproximadamente 60 cursos de pós-graduação, entre mestra-dos e doutorados.

Diplomas mais seguros•• Após RAIO-X denunciar a venda de diplomas de medicina falsificados, a Ufes mudou as re-gras de emissão dos documentos e reforçou o esquema de segu-rança. Agora, os certificados de graduação e de pós-graduação são confeccionados e impressos na gráfica da Universidade. An-tes, os serviços estavam a cargo de uma empresa paulista. A grá-fica da Ufes ganhou uma área reservada, um computador sem conexão de rede e uma máquina impressora de última geração só para a produção dos canudos. Em 2010, foram feitos cerca de 800 diplomas, inclusive os do curso de Medicina. Em maio do ano passado, a reportagem de RAIO-X negociou, pela inter-net, a compra de diplomas mé-dicos falsos. Os preços variavam de R$ 2,5 mil a R$ 90 mil. Um dos vigaristas chegou a oferecer certificados da Ufes.

Briga pela reitoria•• Uma representante do Centro de Ciências da Saúde deve entrar na disputa pela Reitoria da Ufes. A professora Gláucia Rodrigues de Abreu, atual chefe do depar-tamento de Ciências Fisiológi-cas, é cotada como candidata a vice-reitora na chapa que tem o professor Sebastião Pimentel Franco, atual pró-reitor de gra-duação, como candidato a reitor. A expectativa é que os nomes se-jam oficializados até o fim deste semestre. A eleição para o cargo máximo da Ufes ocorre em ou-tubro e a corrida pelos votos já conta com pelo menos outras três chapas.

Descaso municipal, vergonha federal•• Como se não bastasse o caos gerado pela obra de am-pliação do Elefante Branco (pavilhão de aulas teóricas do Centro de Ciências da Saúde da Ufes), que se arrasta desde agosto de 2008, alunos e pro-fessores também passam sede. O único bebedouro bom, fun-ciona muito mal. Sobre o em-preendimento, a prefeitura de Vitória avisou que vai concluir parte dos trabalhos em março. As três salas que estão interdi-tadas desde dezembro de 2008 vão continuar nessa situação até que uma nova licitação seja feita. É sempre reforçar que a construção de novas sa-las no Elefante Branco é uma contrapartida da prefeitura à cessão do terreno da Ufes no campus de Goiabeiras para a duplicação da Av. Fernando Ferrari. O prazo inicial, de 180 dias, já foi dilatado tantas vezes, e por tantos motivos, que é difícil acreditar que tudo fique pronto até julho de 2011 - o novo prazo!

Biblioteca fechada •• A única biblioteca do campus de Maruípe fechou as portas por mais de um mês nas férias, prejudicando alunos e residen-tes. O empréstimo de livros foi interrompido no fim de 2010 e normalizado no dia 7 de feve-reiro. Ela já funciona em horário mais curto (7h-19h) que a Cen-tral (7h-21h), em Goiabeiras. A Ufes admite que foi obrigada a dar férias coletivas aos poucos funcionários do setor para evitar tropeços durante as aulas, como ocorreu no ano passado, quando as portas foram fechadas as 14h por falta de pessoal.

Papai Noel no Hucam

•• Pela 11ª vez seguida, o clínico geral Eurico de Aguiar Schmidt trocou o jaleco branco pelo ver-melho e distribuiu balas, presen-tes, sorrisos e muita alegria na véspera do Natal aos pacientes, acompanhantes e funcionários de todos os setores do Hucam. Ao som de violões e um coral de jovens, Papai Noel distribuiu mais de 200 presentes. A ação foi organizada pela SAHUCAM (Sociedade dos Amigos do Hu-cam) e é fruto do trabalho de vo-luntários.

COORDENAÇÃO GERALAdeilson Moreira Júnior (t.81)Renan Rosetti Muniz (t.83)SECRETARIA GERALLarissa de Oliveira Nogueira (t.80)SECRETARIALarissa Carvalho Fraga (t.87)Giliarde César (t.86)Sérgio Ricardo S. Claudino (t.85)TESOURARIAMariana Dardengo Borges (t.86)INFORMÁTICATéo Murta Tedesco (t.81)Leonardo Chamovitz (t.83)Fellipe Bravim Catelan (t.83)Emanuel Nunes Azevedo (t.83)COMUNICAÇÃOWagner Santos Knoblauch (t.80)Victor Marchezi Cobe (t.80)Eduardo Toffoli Pandini (t.83)Jequélie Cássia G. Duarte (t.80)Gustavo Leite Franklin (t.83)Cássio Louzada Borghi (t.86)Paula Peçanha (t.85)Aline Castelan (t.84)Leonardo Tafarelo (t.80)Michel Amorim (t.80)REPRESENTAÇÃO ESTUDANTILAlexandre Neves Furtado (t.83)Ana Vega Carreiro de Freitas (t. 84)CIENTÍFICAPaulo Henrique G. Pereira (t.84)Ronaldo de Oliveira Júnior (t.86)Luisa Cardoso Silva (t.85)Filipe Lugon Moulin Lima (t.83)Sara dos Santos Jorge (t.86)DESPORTOS E LAZERPedro Luiz Silva Dias (t.81)Thalita Vervloet Gomes (t. 86)Davi Marcos Brandão (t. 85)Lissa Severo Sakugawa (t.82)COORDENÇÃO LOCAL DE ESTÁGIOS E VIVÊNCIASMarília Pessali (t.80)Paula Peçanha (t.85)Larissa Sanglard (t.85)Daniella Nemer (t.85)Gabriella Della Santa (t.85)CULTURA E EVENTOSGustavo Leite Franklin (t.83)Ana Vega Carreiro de Freitas (t.84)Lara Pignaton Perim (t.84)Pâmella Chiabai (t.83)Ynara Olivier Silva (t. 83)Clarice Teixeira Araújo (t.83)Isac Borges Lacerda (t.83)Silas Rubens Hermisdorff (t.87)REDE DE APOIOEduardo Toffoli Pandini (t.83)Giselle Ronacher P. Silva (t.86)Miguel Gagno Nunes (t.81)Alana Parteli (t.81)Igor de Castro Moraes (t.79)Ana Paula Trevizani Dalmaso (t.83)Lorenzo Sanson Lani (t.81)Pedro F. Iguatemy Lopes (t.87)Jovarci Motta (t.83)Pedro Evandro N. Ferreira (t.83)Bruna Lima Silva Merlo (t.86)

Conheça os alunos que compõe a nova gestão do Diretório Aca-dêmico de Medicina da Ufes.

Gestão 2011 - Padrão Ouro

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•• Óculos de grau no rosto, ócu-los de sol na cabeça, brincos, colares e pulseiras marcantes, batom de cor viva e voz firme. A descrição da neurologista Vera Lúcia Ferreira Vieira é incon-fundível e incomparável. Profes-sora da Ufes pelo departamento de Clínica Médica desde 1979, Dra Vera é uma das profissionais mais admiradas pelo alunos, seja pela excelência clínica, pelo es-tilo excêntrico ou por ambos. A fama chegou na internet: os acadêmicos criaram uma comu-nidade para a médica no Orkut (“Fãs da Dra Vera”). A profes-sora, que hoje chefia o serviço de Neurologia do Hucam, nu-tre verdadeira devoção pelo o que faz, e decifrar diagnósticos complexos é a sua maior paixão. Natural de Castelo, no interior capixaba, Dra Vera graduou-se pela primeira turma da Emes-cam em 1973 e fez residência em neurologia no Instituto Deo-lindo Couto (UFRJ). Ela, no en-tanto, prefere não falar sua idade e não pensa em aposentadoria: “Ainda tenho muita vitalidade”. Dra Vera falou a RAIO-X em seu consultório particular em Vitória.

Por que escolheu ser médica? Por paixão. Também fiz neurolo-gia por paixão, e por achar que é a área mais difícil da medicina. Decidi ser neurologista quando cursava semiologia, no 3º ano da faculdade. Vi um paciente com paraplegia espasmódica sifilítica de Erb e me apaixonei pela área. Foi meu primeiro caso de neuro-sífilis.

Se não fosse médica, seria o que? Pianista. Tenho frustração por não saber tocar piano. Ouço muito música clássica, concer-tos. Se não desse, gostaria de ter um restaurante, porque gosto de cozinhar, e faço isso bem. Aos

domingos, gosto de cozinhar ou-vindo música clássica no volume máximo e tomando um vinho.

A Sra. cozinha para quem? Cozinho para mim. É uma ati-vidade que me dá prazer, me re-laxa. Gosto de elaborar pratos e receber amigos, parentes. Gosto de ver a casa cheia, porque sou de uma família grande, tenho oito irmãos.

Mas hoje a Sra. mora sozinha? Moro sozinha, mas não necessa-riamente estou só.

Por que optou por não se ca-sar? Nunca tive tempo para pen-sar em casamento. Nunca quis dividir a minha vida com nin-guém, não há espaço. Não me vejo pegando chinelo ou escova de dente de marido. Não tenho paciência para fazer isso (risos). Não quer dizer que eu não pos-sa gostar de alguém, de ter um companheiro, mas cada um na sua casa.

Mas nunca houve cobrança por parte da família? Nunca me preocupei com casamento

e minha mãe nunca me cobrou. Sempre fui muito exigente e se-letista, nunca quis qualquer um. Até já fui noiva de um médico neurologista nordestino, há mui-to tempo. Não daria certo de jei-to nenhum e graças a Deus que não deu. Os temperamentos e culturas eram diferentes. Mas hoje não me faz falta, porque me sinto bem solteira. Estou bem re-solvida e feliz.

Em relação aos hobbies, além de cozinhar e ouvir músicas, o que mais gosta de fazer? Gosto de ler. Tiro a manhã de domin-go para ler o jornal Folha de S. Paulo. Gosto de ler o caderno de política, principalmente os colunistas Elio Gaspari, Clóvis Rossi e Jânio de Freitas. Acom-panho tudo na política porque fui do movimento estudantil, participei da JEC (Juventude Es-tudantil Católica), na década de 1960. O foco desse grupo estava nas políticas sociais. Acabei me afastando porque não dava para conciliar com a medicina. O gos-to pela política veio por influên-cia de meu tio Milton Meireles, que era comunista em Cacho-eiro de Itapemirim. Ele era um intelectual, não tinha filhos, e conversava comigo e com meus irmãos sobre política e as injus-tiças sociais. Também nos dava muitos livros. Havia uma biblio-teca enorme na minha casa, que minha mãe queimou e enterrou quando estourou o golpe militar de 1964. Uma das minhas irmãs era bastante envolvida no movi-mento estudantil. Eu não tinha tempo para isso, mas o gosto pela política surgiu porque tí-nhamos um ideal de querer um mundo mais justo.

É filiada a algum partido po-lítico? Não suporto a política de hoje. Só gosto de acompanhar. Não existe político honesto. Cite

A Vera que poucos conhecem

A neurologista e professora Vera Lúcia Ferreira Vieira é reconhecida pela sua competência técnica e o gosto pela resolução de casos clínicos, mas nesta entrevista ela conta o que só parentes e amigos mais próximos sabem: opção política, preferência por não casar, principais hobbies, moda e aposentadoria.

Dra Vera: estilo inconfundível e incomparável.

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um no Brasil? Não tem. Por que José Sarney é o presidente do Se-nado? Ele está lá há 50 anos, faz favores há 50 anos e ninguém o põe para fora, não é cassado. Os políticos são todos iguais, só mudam os nomes. A situação se repete a nível estadual: não há oposição ao governo do Estado. Sem oposição, a liberdade fica cerceada.

Em quem a Sra. votou para presidente nas eleições do ano passado? Votei em Dilma. O Serra seria muito pior para a classe trabalhadora e haveria mais encargos e impostos. Ele não fez um bom governo em São Paulo. A proposta da Dilma era melhor. Votei no candidato “me-nos pior”, porque ela caiu de pa-ra-queda, foi fabricada por Lula. Aliás, ele é um grande líder, um fenômeno no país, um cara inteligentíssimo, que fez muita bobagem e também muitas coi-sas certas. Hoje, os pobres pelo menos comem. Na saúde houve melhoras, mas ainda está muito deficiente. E para governador? Votei em Casagrande porque ele é da minha cidade. A candida-tura dele foi, inclusive, imposta por Lula. Espero que ele ajude o Estado.

Como a Sra. avalia o movi-mento médico? A classe médica é muito desunida. A maioria não luta pelos seus ideais. O médi-co ganha mal e se vende barato, porque precisa sustentar a famí-lia. Vejo isso na neurologia: para garantir o sustento do lar, alguns dos meus colegas dependem dos

planos de saúde, que pagam uma miséria.

Ainda sobre o seus hobbies, a Sra. assiste a filmes? Costuma ir ao cinema? Gosto de filmes e vou ao cinema, sim. Minha família tem um lado intelectual forte. Uma das minhas irmãs foi professora de dança moderna, morou fora do país e exerceu forte influência sobre os mem-bros da família. Tenho um irmão que hoje mora em São Paulo que também tem ligação com cultu-ra. Gosto de ir ao cinema, mas não tenho muito tempo. Que tipo de filmes mais gosta? Filmes de arte. Também vejo drama e suspense, mas não cos-tumo ver filmes nacionais.

Do últimos filmes que assistiu, qual recomendaria? O argenti-no “O Segredo dos Seus Olhos”, que até ganhou o Oscar (de me-lhor filme estrangeiro em 2010). É um filme espetacular.

Também gosta de ver filmes na TV? Raramente. Assisto espor-tes na televisão, principalmente futebol. Sou fluminense doente. Minha família toda torce para fluminense. Não perco nenhum jogo.

Médicos receitam alimentação balanceada e exercícios físicos aos seus pacientes. A Sra. co-loca os conselhos em prática? Sim. Por exemplo: Eu amo car-ne, mas raramente como, porque sei que faz mal. Também não como doces. Minha alimentação é muito saudável. Em relação à atividade física, ando todos os

dias no calçadão. Sabe-se hoje que hipertensão, diabetes e dis-lipidemia representam um cân-cer endotelial. Cuido de minha saúde e faço check-up periodi-camente, incluindo mamografia, ultrasom de tireóide e carótidas e perfil bioquímico.

A Sra se considera uma mu-lher vaidosa? Sou vaidosa, gosto de estar bem arrumada, de abusar dos acessórios. No Rio, quando ainda era residente, pas-sava sombra nos olhos às 7h da manhã e era chamada de perua por uma professora.

E as roupas? Eu escolho as mi-nhas roupas, sem me preocupar com a opinião alheia. O que im-porta é a minha opinião. Nunca dei importância ao que os outros falam.

Gosta de viajar? Adoro viajar. Já estive em quase todos os es-tados brasileiros e também nos Estados Unidos e em vários pa-íses europeus. No Brasil, ainda não fui a Fernando de Noronha e tenho vontade de conhecer. No exterior, Milão é meu destino preferido, mas também gosto de Berlim, Praga e outras cidades européias.

A Sra. tem vontade de morar fora do país? Se fosse jovem não moraria no Brasil, porque aqui falta respeito e educação, e as pessoas estão agressivas, mal humoradas, depressivas, impacientes. Sinto isso no con-sultório, e até no trânsito, cada vez mais. Lá fora isso também existe, mas em proporção bem menor. Eu gosto de Vitória, mas

não é fácil viver aqui. Já recebi inúmeros convites para trabalhar em outros Estados e até fora do país, mas recusei todos.

Do que a Sra. tem medo? Te-nho pânico de avião. Também tenho medo da violência urbana, porque a insegurança é brutal. E tenho, ainda, outro temor: doen-ças infecto-contagiosas. Morro de medo de pegar hepatite, tu-berculose. Já peguei escabiose no Hucam. Por isso, também evito fazer procedimentos, para não ter contato com o sangue dos doentes.

A Sra. está se preparando para se aposentar? Um dia terei que sair de cena, mas ainda tenho muita vitalidade, garra e vontade de trabalhar. Por enquanto, não penso em aposentadoria. Tenho uma vida ativa e mais pique do que muitos jovens. Gosto do que faço. Na medicina, o segredo é gostar do que faz e fazer bem, com uma boa dose de humanida-de para atender as pessoas.

Hoje, qual seu maior sonho? Quero colocar no Hucam um eletroneuromiógrafo (que per-mite diagnosticar doenças rela-cionadas às disfunções dos ner-vos periféricos e músculos), com a ajuda de alguns empresários, para oferecer um atendimento ainda melhor. A neurologia do Estado evoluiu muito e posso me orgulhar de ter feito uma es-cola na Ufes, onde formaram-se profissionais altamente qualifi-cados. Não tenho a menor dúvi-da que a neurologia capixaba é de ponta, e hoje não deve nada a São Paulo.

Em seu consultório, Dra Vera Lúcia coleciona livros e porta-retratos.

“Um dia terei que sair de cena, mas ainda tenho muita vitalidade, garra e vontade de trabalhar. Não penso em aposentadoria. Tenho mais pique do que muitos jovens”

Page 6: Raio-X, nº 8

Hucam tem atualmente 132 leitos inativos (40%) e acumula um déficit de quase 700 funcionários.

Um hospital vazio

OS SETORES MAIS CRÍTICOSNos últimos meses, RAIO-X visitou todos os serviços do Hucame ouviu a opinião dos médicos, enfermeiros, técnicos, alunos e residentes, e também colheu a visão dos diretores da unidade. Eis um panorama real dos setores com a situação mais delicada.

•• Em um sistema de saúde su-perlotado, um hospital repleto de leitos vazios. A situação do Hospital Universitário Cassia-no Antônio Moraes (Hucam) é paradoxal. Apesar de tratar-se do maior complexo hospitalar capixaba (em número de aten-dimentos), único hospital-escola federal do Estado, voltado ex-clusivamente ao Sistema Único de Saúde (SUS) e referência em diversos serviços de média e alta complexidade, o Hucam opera atualmente com apenas 60% de sua capacidade de internação. Do total de 314 leitos, 132 es-tão vazios. A média é ainda mais assustadora: a cada cinco leitos, dois estão sem pacientes. A ina-tividade atinge todos os seto-res, mas em alguns locais (veja abaixo) a situação é tão crítica que os chefes de serviço já não veem outra saída senão a de fe-char as portas. No fim de feve-reiro, por exemplo, a Urologia foi obrigada a fechar 14 dos 25 leitos. Já no ínicio de março, a Maternidade, que atende casos de alto risco, fechou metade das vagas (9). Até parte dos 75 leitos novos adquiridos pela SOBEM-HU (Sociedade Beneficente de Assistência ao Hospital Univer-sitário) com a verba arrecadada de um jantar-leilão estão desati-vados no momento. O déficit de funcionários é apontado como o principal cul-pado por esse cenário. Os nú-meros dão a real dimensão do problema, que não é recente nem

UTI NEONATAL

• Está com 10 dos 24 leitos fechados há um ano, incluindo a enfermaria Canguru (para bebês graves mas que não precisam de cuidados intensivos).

MATERNIDADE

• Fehou metade dos 18 leitos no início de março.

BANCO DE LEITE

• Falta motorista para buscar as doações nas casas das mães. Com estoques quase vazios, o setor corre o risco de fechar.

ESPECIAL HUCAM

exclusivo do Hucam. De acordo com os dados oficiais (tabela ao lado), metade dos cerca de 1800 profissionais que atuam no hospital não é servidor federal. Em tese, todos deveriam ser, já que se trata de uma unidade da União. Na prática, entretanto, o hospital agrega profissionais de oito vínculos diferentes. Os ter-ceirizados, o que inclui os traba-lhadores da limpeza, da cozinha e os anestesistas, por exemplo, já somam perto de 30% do quadro de pessoal. Déficit - Para o Ministério Públi-co Federal no Estado (MPF/ES), o Hucam deveria ter mais 688 funcionários públicos em 39 áre-as, entre eles 364 profissionais de enfermagem (283 técnicos, 25 auxiliares e 56 enfermeiros) e 50 médicos. A abertura dos con-cursos está nas mãos da justiça (leia mais na próxima página). A constatação do MPF é a mes-ma de quem estuda e trabalha no local. “O hospital evoluiu, mas continua com o mesmo quadro de funcionários de 15 anos atrás. A falta de pessoal, e não de ver-bas, é o maior desafio”, opina o diretor superintendente do Hu-

cam, Emílio Mameri. O descaso do governo federal, que é o responsável pela auto-rização dos concursos públicos mas não cumpre devidamen-te com o seu papel há anos, só foi minimizado em meados de 2010, quando foi ampliada a au-tonomia universitária. Um dos decretos assinados pelo então presidente Lula permite que as universidades federais façam a substituição automática de ser-vidores, sem a necessidade de liberação por parte do governo. A medida vale para os casos em que houver vacância de cargos a partir de exonerações, apo-sentadorias e falecimentos, por exemplo, da mesma forma como ocorre para a contratação de pro-fessores. Dessa maneira, espera-se que o déficit de pessoal do Hucam pare de aumentar. A direção busca alternativas para aliviar a defasagem de re-cursos humanos e, por isso, quer estimular o trabalho voluntário, que tem força no Hucam, redu-zindo a burocracia e oferecendo regalias. Além disso, as parce-rias que o hospital mantém há anos com o governo do Estado e as administrações municipais, e que são fundamentais para a manutenção de vários setores, também devem ganhar mais atenção. Com o intuito de inau-gurar e ampliar serviços, a dire-ção negocia a cessão de mais de 560 servidores da Secretaria de Estado da Saúde para atuar em diversas áreas. (Wagner Knoblauch)

Casagrande assume dívida de Coser e mantém PS aberto •• A Unidade de Emergência do Hucam (pronto-socorro e UTI) entrou em 2011 sob a ameaça de fechar as portas em fevereiro, conforme RAIO-X adiantou na última edição. A partir de março, porém, o contrato que disponibiliza 120 funcionários para o setor será financiado pelo governo do Estado, e não mais pela prefei-tura de Vitória, de João Coser, que alegou estar sem recursos. O governador Renato Casa-grande assumiu, ao menos pelos próximos seis meses, o convênio que era mantido pela PMV há anos.

CLÍNICA MÉDICA

• São 78 leitos nos dois anda-res do setor, mas a capacidade máxima é de 42 vagas. As reformas recentes ampliaram o serviço, mas a falta de técnicos de enfermagem impõe restrições na ocupação dos leitos.

CLÍNICA CIRÚRGICA

• Apenas metade do serviço funciona atualmente. Há um ano, cada uma das duas alas, masculina e feminina, contava com 21 leitos. Hoje, o setor só comporta 21 pacientes e uma das alas continua desativada.

NEFROLOGIA

• A carência de funcionários é tamanha que apenas 4 dos 12 leitos estão em atividade. É um dos setores que enfrenta o risco de fechar as portas. Os trans-plantes ainda estão mantidos.

UROLOGIA

• O local tem 31 leitos, mas seis são ocupados pela Cirurgia Cardíaca. Dos 25 restantes, apenas 11 continuam em funcionamento desde o fim de fevereiro. A demanda de pacientes é alta mas o quadro de funcionários é restrito.

Desperdício

132leitos inativosApenas 182 leitos (60%) de um total de 314 cadastrados estão em funcionamento.

Convênio: Casagrande e Mameri

Page 7: Raio-X, nº 8

Leitos inativos: prejuízo para alunos e residentes

internos de medicina e apenas 4 pacientes”, conta o residente Eduardo Bellido. O curioso é que, provavelmente, cada lei-to vazio traz mais prejuízos ao SUS e à população que o salário de um técnico de enfermagem, profissional essencial para a ma-nutenção integral do setor. Em uma visão mais ampla, também há prejuízos em longo prazo. “O hospital universitário é um espaço estratégico para o desenvolvimento nacional, por-que o profissional formado por essas entidades é aquele que vai atender no SUS no futuro”, pon-dera o diretor superintendente do hospital-escola da Unifesp, José Roberto Ferraro. Sem leitos nas enfermarias, há maior permanência no pronto-socorro de pacientes que preci-sam de internação. A superlota-ção acarreta possivelmente piora na qualidade da assistência pres-tada, já que não há macas sufi-cientes para todos, por exemplo. O pronto-socorro do Hucam é referência para a maioria dos casos graves que chegam dos pronto-atendimentos de Vitória e, por isso, ocorre a sobrecarga de doentes nos PAs. (Wagner Knoblauch, Eduardo Pandini e Leonardo Tafarello)

Os números do Hucam

314 leitosÉ a capacidade máxima do hospi-tal, mas atualmente apenas 182 lei-tos estão em funcionamento e 132 estão inativos.

1.792 funcionáriosÉ o quadro total, incluindo os 342 profissionais cedidos de outros órgãos e os 498 terceirizados. Ao todo, são 948 servidores.

8.041 cirurgiasÉ o total de cirurgias realizadas no ano passado. Destas, 1.980 (24%) foram de alta complexidade.

167.621 consultas

É o número de consultas médicas realizadas nos seis ambulatórios durante o ano passado.

5.277 urgências É a quantidade de atendimentos de urgência feitos no pronto-socorro durante o ano passado.

8.766 internações É a quantidade de internações fei-tas em 2010 nos vários setores.

384.281 análises

É o número de exames laborato-riais realizados em 2010.

21.776 exames É a quantidade de exames de ima-gem feitos no ano passado, in-cluindo raio-x, ultrassonografia, mamografia, tomografia e ecocar-diograma.

Fonte: direção Hucam

Ensino

460alunos e residentesÉ o número de estudantes de medicina e residentes que têm atividades no Hucam.

•• A escassez de recursos hu-manos prejudica diretamente a assistência e o ensino, já que o Hucam é um hospital-escola re-ferência em média e alta comple-xidade, e cria situações contradi-tórias. Após reformas recentes, o setor de Clínica Médica (no 2º e 4º andares), por exemplo, dobrou o número de leitos, vol-tando à capacidade total de 78 vagas. Atualmente, no entanto, o serviço comporta, no máxi-mo, 42 pacientes. A conclusão é simples: 36 pacientes deixam de receber atendimento. E quem perde não é só a população, mas também os alunos e residentes, que deixam de aprender. Atualmente, cerca de 320 alu-nos de oito períodos da gradua-ção de medicina e aproximada-mente 140 médicos residentes em 23 áreas distintas realizam atividades de ensino no hospital, sem contar os alunos de enferma-gem e o pessoal da recém-criada residência multiprofissional.Esse contingente enorme de pro-fissionais da saúde em formação necessita de pacientes para de-senvolver o seu aprendizado. No aspecto acadêmico, a res-trição de leitos gera prejuízo por diminuir a qualidade da forma-ção dos profissionais, tendo em

vista o caráter essencialmente prático do ensino da medicina e das outras áreas da saúde. A ca-pacidade reduzida de internações reduz, inevitavelmente, o conta-to do aluno com o paciente. Ministradas no 5º período, as aulas práticas de semiologia, onde se aprende a examinar o paciente, já estão sendo cons-tantemente interrompidas por médicos e residentes em visitas de serviço que ocorrem normal-mente no hospital – fato raro quando havia menos leitos ina-tivos, porque o aluno facilmente encontrava outro paciente. A falta de funcionários e o excesso de leitos vazios têm produzido situações absurdas. “Lembro que participei de uma visita na Nefrologia onde havia três médicos assistentes, dois residentes de nefrologia, dois residentes de clínica médica, 5

No fim de fevereiro, o serviço de Urologia foi obrigado a fechar 14 dos 25 leitos.A permanência de apenas onze vagas desagradou os residentes.

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•• Prestes a descer a rampa do Planalto, o ex-presidente Lula assinou, no dia 31 de dezembro, a Medida Provisória (MP) 520, que cria a EBSERH (Empresa Brasileira de Serviços Hospitala-res. A estatal nasce como alterna-tiva para resolver problemas na contratação de trabalhadores em hospitais universitários (HUs) federais do país. Além disso, a empresa terá como finalidade a prestação de serviços gratuitos de assistência médico-hospitalar e laboratorial à comunidade no âmbito do SUS. A urgência da MP foi justifi-cada pela necessidade de resol-ver o impasse dos terceirizados, visto que o Tribunal de Contas da União (TCU) determinava a regularização da situação até o fim de 2010. Isto é, os hospitais teriam que demitir mais de 20 mil trabalhadores de saúde em todo o país que foram terceiriza-dos de forma irregular. Os tercei-rizados que trabalham no Hucam (ao todo, 498) estão em situação regular, de acordo com a direção. Em 2006, após um acordo entre o TCU e o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, foi estipulado o prazo de quatro anos para que todos os postos de trabalho irregulares dos HUs fossem preenchidos por

Hospitais Universitários

46 hospitais É o número de hospitais univer-sitários federias no país, ligados a 32 universidade em 11 Estados. Representam apenas 2% dos cerca de 7 mil hospitais brasileiros. O Hucam é o único hospital-escola federal do Espírito Santo.

75 mil alunosOs HUs são responsáveis pela for-mação de mais de 70 mil estudan-tes e 5 mil residentes.

20 milhões de procedimentosEm 2008, as unidades de ensino federais foram responsáveis por mais de 20 milhões de procedi-mentos médicos de média e alta complexidade e mais de 1 milhão de atendimentos emergenciais.

25% dos leitos de UTI Um quarto dos leitos de terapia in-tensiva do país estão em HUs.

37% dos transplantes Dois em cada cinco transplantes de alta complexidade no país são realizados em HUs.

1.500 leitos desativados

Desde 2008, mais de 300 leitos fo-ram fechados e o total já chega a 1.500, segundo o MEC.

70 mil funcionários É o quadro de pessoal que atua nos 46 HUs. No entanto, apenas 59% são vinculados ao Ministé-rio da Educação. Os demais são terceirizados, celetistas, cedidos por outros órgãos ou autônomos. Existem pelo menos 5 regimes de contratação diferentes em cada hospital.

7,6 mil em déficit de servidores É o tamanho da deficiência de re-cursos humanos.

R$ 220 milhões

A rede de hospitais federais opera com um déficit anual de R$ 220 milhões.

Governo cria estatal para solucionar crise dos HUs

concursados. O problema é que os hospitais não têm autonomia para abrir concursos públicos e contratar pessoal permanente, o que os obriga a manter em seu quadro trabalhadores irregulares. Para piorar a situação, a maioria dos HUs não obteve autorização da União para abrir as seleções públicas nos últimos anos. A criação da estatal foi recebi-da com desconfiança pelos pro-fissionais ligados aos HUs. Em janeiro, o Conselho Nacional de Saúde emitiu moção de repú-dio à MP 520/2010. Em nota, a FASUBRA (Federação dos Sin-dicatos dos Trabalhadores das Universidades Públicas Brasilei-ras) também se posicionou con-tra a medida. Para fugir da esta-tal, os servidores que atuam no Hucam estudam a possibilidade de realizar um remanejamento em massa, para setores sem rela-ção com o hospital. A MP 520/2010 é uma con-sequência direta do Programa Nacional de Reestruturação dos Hospitais Universitários Fede-rais (Rehuf), criado em 2010, e cujas maiores metas são reestru-turar o quadro de pessoal, melho-rar o financiamento, gestão e es-trutura física dessas instituições, além de recuperar e modernizar seu parque tecnológico.

Hucam receberá R$ 5 milhões•• O Hucam receberá ainda no primeiro semestre deste ano aproximadamente R$ 5,1 mi-lhões do Ministério da Saúde. O repasse, previsto desde o ano passado, foi autorizado no fim de fevereiro. Ao todo, o gover-no liberou R$ 200 milhões para a reestruturação e revitalização de 45 hospitais universitários federais em todo o país. A verba será repassada aos Estados e municípios em três parcelas – de março até maio – por meio do Fundo Nacional de Saúde (FNS) e dentro do Programa Nacional de Rees-truturação dos Hospitais Uni-versitários Federais (Rehuf). Os valores serão incorporados aos contratos de metas estabe-lecidos entre as secretarias es-taduais e municipais de saúde com os respectivos gestores das unidades beneficiadas. Com esta parcela, a União totaliza um investimento de R$ 300 milhões para estes hos-pitais, cuja primeira parte do pacote de recursos foi enviada no segundo semestre do último ano. Na ocasião, o Hucam re-cebeu quase R$ 2,6 milhões.

Milésimo transplante renal intervivos do ES ocorreu no Hucam em dezembro.HUs fazem 11% de todos os transplantes do país e 37% das operações de alta complexidade.

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União aciona justiça e mantém déficit de servidores no hospital

2007 – Greve e confusão• A Ufes parou em 2007. A greve, liderada pelo Sintufes (Sindicato dos Trabalhadores na Ufes), atin-giu o Hucam e revoltou alunos, residentes e médicos, porque vários serviços foram paralisados e a população ficou sem aten-dimento. O hospital só reabriu quando a justiça determinou o fim da paralisação.

• Entre as reivindicações dos grevistas estavam o déficit de fun-cionários e o excesso de demanda. O Sintufes acionou o MPF/ES, denunciando as precárias condi-ções de atendimento à população, relacionadas à falta de concursos públicos e de investimentos por parte do governo.

• João Batista Pozatto concluiu oito anos à frente do Hucam em 2007 deixando uma herança maldita: uma dívida de mais de R$ 4 milhões e um déficit mensal em torno de R$ 600 mil. Devendo salários e rescisões de contrato, a Sahucam (Sociedade dos Amigos do Hucam), que mantinha um convênio com a Prefeitura de Vitória e funcionários em vários setores, faliu.

• Nessa época, a defasagem de recursos humanos era calculada em 180 funcionários e o hospital já gastava 40% do custeio com terceirizados. Ao sair da direção, Pozatto teve que explicar a crise financeira na justiça.

2008 – Renúncia e crise

• Após grande campanha, Gerson Marino foi eleito o novo diretor com folga nas urnas. Ao tomar pé da real situação do hospital,

Justiça suspendeu o efeito da sentença favorável ao Hucam, a pedido da União; decisão cabe recurso.

ESPECIAL HUCAM

Marino disparou: “Deparei com situações crônicas e insolúveis”. A gestão durou 67 dias.

• A renúncia, em 17 de março de 2008, foi o estopim para a crise. Horas antes da demissão, Marino reuniu funcionários e alunos para debater os problemas do hospital e não poupou críticas à Ufes e à Sesa. No discurso, um misto de frustração e descontentamento. O então diretor clínico Marcelo Guerzet assumiu interinamente o posto.

• Um dia após a saída de Marino, o então vice-governador Ricardo Ferraço e o então secretário de Saúde Anselmo Tozi estiveram no Hucam (foto). O governo estadual realocou servidores para evitar o fechamento de alguns setores, especialmente a Urologia, e prometeu rever o contrato de metas. O hospital quase fechou as portas.

• Em abril, o MPF/ES requisitou uma auditoria em caráter de urgência. A Sesa também realizou uma auditoria no hospital. No mês seguinte, Emílio Mameri assumiu a direção.

2009 – MPF/ES em ação• Com base nas auditorias reali-zadas no hospital, o procurador

André Pimentel Filho ajuizou em fevereiro uma ação civil pública. Ele constatou que a paralisa-ção de alguns setores se devia a um déficit de 688 servidores no Hucam. Após reviravoltas, o pro-cesso chegou ao TRF da 2ª Região para julgamento.

• Na ação, o procurador foi en-fático: “O Hucam sempre fica à mercê de soluções paliativas que duram somente até a eclosão da próxima crise. (...) Os recursos estadual e municipal são des-viados para a manutenção de um hospital federal. (...) O fato é que a União vem se omitindo gravemente no enfrentamento do problema”

• Em um ano e meio de gestão, Emílio Mameri conseguiu quitar as dívidas, eliminar o déficit men-sal e aumentar o aporte de ver-bas. Mas a defasagem de pessoal continuou crescendo. E o número de leitos desativados também.

2010 – Nas mãos da justiça • Em outubro, a Justiça Federal

determinou que a Ufes realizasse concurso público para a contra-tação de 688 funcionários para o Hucam. Os editais deveriam ser divulgados em 90 dias e todos os profissionais teriam que estar concursados até 31 de dezembro de 2011.

• Ao tomar ciência da decisão, a Ufes avisou que iria acatar a de-terminação, mas antes esperaria um posicionamento de Brasília. A União, por sua vez, além de recorrer da decisão, ingressou com uma ação na justiça para suspender o efeito da sentença.

2011 – Reviravolta e dúvida

• A justiça negou todos os recur-sos da União, mas concedeu o efeito suspensivo da sentença. O MPF/ES está de mãos atadas. O processo tramita do TRF da 2ª Região. O futuro é incerto. A única certeza é que o déficit de servidores já fechou mais de 100 leitos.

Entenda a reviravolta judicial Greve, renúncia, crise, justiça: veja a cronologia dos fatos mais importantes ocorridos no Hucam nos últimos anos.

•• A Justiça Federal acatou um pedido da Advocacia Geral da União (AGU) e suspendeu o efeito da setença que obrigaria a União e a Ufes a realizar concur-so para preenchimento de 688 vagas no Hucam. O Ministério Público Federal no Estado (MPF/ES) havia ajui-zado ação civil pública para que a Ufes fizesse contratação de pessoal necessário para a reati-vação dos serviços do hospital (veja cronologia).

A decisão foi revertida depois que a Procuradoria Regional da União na 2ª Região constatou que o cumprimento imediato da decisão causaria grave lesão à ordem pública. Em outubro de 2010, a Justiça Federal determinou que a Ufes realizasse concurso público para a contratação de 688 funcio-nários para o Hucam. As vagas estão distribuídas em 39 cargos, entre eles 364 profissionais de enfermagem (283 técnicos, 25

auxiliares e 56 enfermeiros) e 50 médicos. Os editais deveriam ser divulgados em 90 dias e todos os profissionais teriam que estar concursados até 31 de dezembro deste ano. Na opinião dos advogados da União, além de inconstitu-cional, a realização de um con-curso público para provimento de quase 700 cargos em 90 dias era inviável. A Justiça seguiu o entendimento da AGU e suspen-deu o efeito da sentença. Além

de entrar com um processo para impedir as contratações, a União também recorreu da primeira decisão judicial, mas não obteve êxito. O efeito suspensivo da sen-tença é passível de recurso, já que se trata de uma decisão provisória. No entanto, apenas o TRF da 2ª Região pode tentar reverter a situação em favor do Hucam. Mas até o fechamento desta edição isso não havia ocor-rido. (Wagner Knoblauch)

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Hucam gastou 25 milhões com despesas do campus As contas de água, luz e telefone de parte do campus de Maruípe são pagas com dinheiro do hospital. •• O Hucam gastou, nos últimos 11 anos, mais de R$ 25 milhões com o pagamento das contas de água, luz e telefone de parte do campus de Maruípe, onde es-tão a Unidade Hospitalar e os Ambulatórios. Nesse período, o Hospital Universitário acumulou um rombo mensal de aproxima-damente R$ 190 mil. Os dados são de um levantamento prepa-rado pela direção do Hucam, ao qual RAIO-X teve acesso, e em-basam um documento encami-nhado ao Centro de Ciências da Saúde (CCS) e à Reitoria. De acordo com a direção, o Hucam arca com as despesas de água, luz e telefone de todos os prédios da parte alta do campus, tomando a Avenida Marechal Campos como limite. Ao todo, são mais de 10 imóveis, entre eles o Instituto de Odontologia, a Caixa Econômica Federal, o Elefante Branco, o Departamen-to de Enfermagem, a Biblioteca, a Administração Central do CCS (antigo CBM) e o NDI (Núcleo de Doenças Infecciosas). Até o Hemoes (Centro de He-moterapia e Hematologia do Espírito Santo), que é de respon-sabilidade do Estado e foi dupli-cado recentemente, é custeado pelo hospital. A unidade abriga equipamentos e máquinas com alto gasto de energia elétrica. Apenas a área conhecida como Básico, onde fica o Restaurante Universitário (RU) e o Anatô-mico, não está incluída no rol de gastos. A fatura é emitida se-paradamente e quem arca com a cobrança é o Centro. Prejuízo - O desvio de uma fra-ção do orçamento do Hospital Universitário para o pagamento de dívidas impróprias penaliza o funcionamento da unidade. Na avaliação da direção, o montante de R$ 25 milhões - que represen-ta quase 60% do orçamento total em 2010 - poderia ter sido em-pregado, por exemplo, na com-pra de equipamentos e na ma-nutenção das instalações físicas, especialmente dos Ambulatórios. O hospital-escola é um órgão suplementar da Ufes e tem uma planilha orçamentária própria. A

R$ 25.223.819,91•• É o valor exato do rombo acu-mulado pelo Hucam, entre 2000 e 2010, com o pagamento das dívidas de parte do campus de Maruípe da Ufes, de acordo com a direção do hospital. Só com a conta de energia elétrica foram gastos cerca de R$ 14,5 milhões.

R$ 190 mil •• É quanto o Hucam perdeu por mês no período. Para se ter uma ideia do prejuízo, o custo da manutenção predial gira em torno de R$ 100 mil. Até as dívidas do Hemoes, que é do Estado, são pagas com verba do hospital.

ESPECIAL HUCAM

Ministério da Saúde mantém hospital-escola

As finanças doHucam em 2010

R$ 42,5 milhõesÉ o valor total da receita do hos-pital, oriunda dos cofres federais e estaduais, em 2010.

R$ 38,5 milhõesÉ quanto o Ministério da Saúde injetou no Hucam (mais de 90% do total).

R$ 3 milhõesÉ o valor total liberado pelo Minis-tério da Educação para o hospital.

R$ 1 milhão

É quanto a Secretaria de Estado da Saúde liberou para o Hucam. A verba se refere à folha de paga-mentos de 2009.

R$ 2,25 milhõesÉ o valor que a Sesa deixou de enviar ano passado. No dia 31 de dezembro, o Estado liberou R$ 750 mil da folha de pagamentos de 2010. Pelo acordo, o repasse anual é de R$ 3 milhões.

Reitoria não repassa ao Hucam uma quantia mensal para cobrir, ou ao menos quitar parcialmen-te, o valor referente às contas de água, luz e telefone do campus de Maruípe. Para a direção, a responsabilidade dessas despe-sas, com exceção do Hemoes, é da Universidade, uma vez que o

hospital é o laboratório de ensino para as aulas práticas - obrigató-rias, de acordo com as Diretrizes Curriculares - dos cursos de Me-dicina e Enfermagem da Ufes. A Reitoria e a direção do CCS alegam que não têm recursos para assumir o valor integral da dívida. Segundo RAIO-X

apurou, a Administração Cen-tral pretende arcar, progressiva-mente, com apenas parte dessas contas, já a partir deste ano. No entanto, sobram dúvidas a res-peito do ressarcimento do rombo milionário acumulado pelo hos-pital nos últimos anos. (Wagner Knoblauch)

•• O orçamento global do Hucam em 2010 foi da ordem de R$ 42,5 milhões. RAIO-X chegou a este valor com base em informações repassadas pela direção (box ao lado). A análise dos números re-vela uma situação curiosa e pre-ocupante: o Ministério da Saúde repassa cerca de 90% da verba de custeio do Hucam ante uma parcela nove vezes menor do Ministério da Educação. O financiamento dos hospitais universitários federais é compar-tilhado entre as áreas de Saúde e da Educação, em um sistema de pactuação que inclui ainda o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. O “jogo de empurra” da União penaliza as unidades, porque, na prática, os hospitais são remunerados pe-los serviços que prestam ao SUS e, dependendo de cada região e universidade, recebem comple-mentos para manutenção. Ocorre que os hospitais univer-sitários, referências em atendi-mentos de média e alta comple-

xidade, também atuam em duas outras frentes: ensino e pesqui-sa. A manutenção da estrutura é cara e, além disso, se gasta mais insumos já que muitos alunos e residentes precisam participar das atividades. Dessa forma, um hospital-escola tem gastos até 40% superiores aos de uma uni-dade normal. O dinheiro repassado pelo go-verno federal é, portanto, insufi-ciente. Estima-se que a rede de hospitais federais opere com um déficit anual de R$ 220 milhões, prejudicando diretamente o en-sino. O Hucam desfruta hoje de certa estabilidade financeira, mas também recorre às “esmolas” do governo estadual e das prefeitu-ras para aumentar as receitas. Há um acordo com a Secretaria de Estado da Saúde, por exemplo, que prevê a destinação de R$ 250 mil por mês para cobrir pro-cedimentos não contemplados na tabela do SUS. Em 2010, no entanto, a Sesa deixou de repas-sar 75% desse montante.

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Governo quer aprovar serviço civil obrigatório para médicos e dentistasAlexandre Padilha defende o serviço comunitário de caráter compulsório para médicos recém-formados

•• Você, médico recém-graduado, aceitaria trabalhar por um ano, em meio expediente, sem ga-nhar nada e longe de casa? Essa proposta, hoje atrativa a poucos, pode virar lei. É que o ministro da Saúde Alexandre Padilha, falando em nome da presidente Dilma Rousseff, pediu o apoio de parlamentares na aprovação de medidas do setor em tramita-ção no Congresso – e entre elas está o polêmico projeto que exi-ge que médicos recém-formados em escola pública dediquem par-te de seu tempo ao SUS. Segundo RAIO-X apurou, o serviço comunitário compulsório é tema de pelo menos oito pro-jetos de lei (veja ao lado). Com o apelo de Dilma e Padilha, a proposta deve ser aprovada com facilidade, já que a bancada go-vernista é maioria no Congresso. O serviço civil obrigatório para médicos e odontólogos recém-formados consta no texto do Projeto de Lei 6050/2009, em tramitação na Câmara dos Depu-tados. Com apenas dois artigos, o projeto diz que “formandos em universidades e instituições de ensino superior públicas nas áreas de Medicina e Odontologia estão obrigados a prestar serviço comunitário compulsório pelo prazo de um ano após a conclu-são do curso”. O texto diz, ainda, que as atividades, não remunera-das, terão carga horária de meio expediente e serão exercidas em unidades de saúde municipais. Para assegurar o cumprimento do serviço civil, o projeto prevê que, ao ingressar nas instituições de ensino, o estudante assinará um termo de compromisso as-sumindo a ciência das condições de prestação do serviço e de que o não cumprimento implicará “sanções pecuniárias”. Há outro projeto semelhante, porém mais amplo, que obriga os estudantes de 9 áreas da Saú-de, que concluírem a graduação em instituições de ensino cus-teadas por recursos públicos, a prestarem serviços remunerados em comunidades carentes. Em 2007, o então ministro

PL-2.598/2007 - “Obriga os estu-dantes de Medicina, Odontologia, Enfermagem, Farmácia, Nutrição, Fonoaudiologia, Fisioterapia, Psi-cologia e Terapia Ocupacional, que concluírem a graduação em instituições públicas de ensino ou em qualquer instituição de ensino, desde que custeados por recursos públicos, a prestarem serviços re-munerados em comunidades caren-tes de profissionais em suas respec-tivas áreas de formação”

PL-3.265/2008 - “Constitui banco de profissionais que concluíram a graduação em instituições públicas de ensino ou em qualquer institui-ção de ensino, para serviços remu-nerados em comunidades carentes de profissionais em suas respecti-vas áreas de formação”

PL-6.050/2009 - “Dispõe sobre o serviço comunitário compulsório para formandos em Medicina e Odontologia em universidades pú-blicas”

PL-6.103/2009 - “Dispõe sobre a obrigatoriedade, para os médicos formados por Universidades públi-cas, em prestar serviços nos hospi-tais municipais, nos termos em que determina”

José Gomes Temporão (Saúde) já defendia que médicos for-mados em instituições públicas passassem um período de sua vida profissional em locais mais afastados do País, no intuito de combater a falta de médicos em regiões pobres e afastadas. As entidades médicas nacio-nais (CFM, AMB e FENAM) reprovam a obrigatoriedade do serviço civil para recém-forma-dos porque, na prática, os pro-fissionais seriam enviados para cidades consideradas de grande interesse público, como forma de reduzir a carência de médicos em áreas remotas. Para resolver a carência de médicos no interior do País, as entidades médicas propõem a implantação da Carreira de Mé-dico no SUS - atualmente sob os cuidados de um grupo de traba-lho do Ministério da Saúde. Na avaliação das entidades, a implantação da Carreira de Mé-dico no SUS atua não só como alternativa para a má distribui-ção de profissionais no País, como também “em contraponto às equivocadas propostas de ser-viço civil obrigatório e de reva-lidação automática de diplomas estrangeiros”. (Wagner Knoblauch)

PL-6.482/2009 - “Dispõe sobre a obrigatoriedade dos profissionais egressos de universidades públicas de ensino prestar serviços à admi-nistração pública por período deter-minado”

PL-6.550/2009 - “Torna obrigató-ria aos médicos graduados em ins-tituições de ensino superior publica a atuação profissional em programa federal de atenção básica à saúde”

PL-7694/2010 - “Institui o Pro-grama Compromisso Social de prestação de serviço, a ser realiza-do através de alunos dos cursos de graduação das universidades públi-cas”

PL-7988/2010 - “Dispõe sobre o serviço civil ao aluno que ingressar em instituições Publicas de Ensino Superior”

Os 8 Projetos de Lei que preveem serviço civil obrigatório

“Há um conjunto de mudanças propostas para propiciar que médicos formados em escolas públicas se comprometam, pelo menos por um período da sua vida, ao SUS e à atenção primária à saúde. Quem vai disputar uma residência, uma especialização na área pública, se comprometa certo período, durante a própria residência, para que parte da residência ocorra dentro da atenção primária à saúde”Alexandre Padilha ministro da Saúde, para deputados e senadores em fevereiro.

Sem brecha: serviço militar obrigatório para médicos

Nova lei acaba com brecha legal que permitia questionar convocação pós-formatura

•• O ex-presidente Lula fechou a brecha legal que permitia aos médicos questionarem na Justiça a convocação para o serviço mi-litar depois da formatura, sob o argumento de que o jovem já te-ria sido dispensado aos 18 anos. Com a publicação da Lei 12.336/10, em outubro, somen-te quem já é graduado e possui Certificado de Dispensação da Corporação, continua podendo fazer valer tal direito mediante processo individual. Quem se formou depois de 27/10/2010, está sujeito ao chamado do Exército. Mesmo dispensados, os profissionais poderão ser convocados para o serviço militar após o término

da faculdade, da residência ou da pós-graduação. A partir deste ano, aliás, to-dos os formandos do sexo mas-culino deverão se apresentar às Forças Armadas, por meio do preenchimento de uma ficha no início do ano na própria facul-dade. O serviço militar é facul-tativo para as mulheres. As entidades médicas apoiam a obrigatoriedade, mas temem que o serviço médico militar se torne uma solução definitiva para os vazios assistenciais, com a interiorização da medicina. Hoje, a prestação de serviço militar é obrigatória aos estu-dantes matriculados nos cursos de graduação em Medicina, Farmácia, Odontologia e Ve-terinária, de acordo com a Lei 5.292, de 8 de junho de 1967. (Com informações do SIMERS)

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Médicos reivindicam...

FINANCIAMENTO DA SAÚDE PÚBLICARegulamentação da Emenda Constitucional 29, que prevê pisos de investimento para mu-nicipíos, Estados e União.

GESTÃO Qualificação e profissionali-zação da gestão pública dos estabelecimentos hospitalares, serviços, unidades de saúde e demais instâncias de gestão do SUS. Ampliação do acesso dos usuários e melhoria da condi-ções de traballho dos médicos e profissionais de saúde. Imple-mentação das centrais de regu-lação para o efetivo funciona-mento da rede assistencial.

ATO MÉDICO Aprovação do Projeto de Lei de Regulamentação da Medicina, em tramitação no Senado.

CARREIRA NO SUS Continuidade do Grupo de Tra-balho do Ministério da Saúde que elaborou a “Carreira espe-cial para fixação de profissio-nais de saúde em áreas de difícil acesso e/ou provimento no âm-bito do Sistema Único de Saú-de”. Implantação da Carreira de Médico no SUS como alterna-tiva para a má distribuição de profissionais no País em contra-

ponto às equivocadas propostas de serviço civil obrigatório e de revalidação automática de diplomas estrangeiros. Amplia-ção da proposta de Carreira de Médico para a Atenção Primá-ria e para os quadros do Progra-ma Saúde da Família.

TRABALHO MÉDICO Adoção do Plano de Car-gos, Carreiras e Vencimentos (PCCV) elaborado pelas entida-des médicas. Adoção pelo SUS dos parâmetros de remuneração da Classificação Brasileira Hie-rarquizada de Procedimentos Médicos (CBHPM). Reajuste dos valores e adequação da Ta-bela SUS. Fim da precarização, da terceirização e da contração temporária de médicos no SUS.

SAÚDE SUPLEMENTARAtuação da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS)na regulamentação da relação entre os médicos e os planos de saúde, o que inclui a definição de crité-rios e periodicidade de reajuste dos honorários. Indicação dos novos diretores da ANS com-prometidos com o interesse pú-blico, sem conflitos de interesse.

FORMAÇÃO MÉDICA Aprofundar a parceria das enti-dades médicas com o governo,

•• Os médicos brasileiros es-tão preocupados com os rumos da Saúde e insatisfeitos com os baixos salários e as péssimas condições de trabalho. Por isso, profissionais de todo o país que prestam serviços para operado-ras de planos de saúde decidiram paralisar suas atividades em 7 de abril, data em que se comemora o Dia Mundial da Saúde. Con-sultas, cirurgias e procedimentos eletivos serão suspensos nessa data. A categoria vai promover o Dia Nacional de Paralisação por melhorias nas condições de relacionamento entre os planos e os médicos. No Estado, os profissionais prometem aderir à greve. As entidades médicas capixabas (CRM, Simes e Ames) se reu-nirão para definir a logística da paralisação. “Os médicos não vão atender. Vamos acompanhar o movimento nacional”, afirma o presidente da Associação Mé-dica do Espírito Santo, Antônio Carlos Paula de Resende. Ginecologistas, anestesistas, cirurgiões vasculares, ortope-distas, urologistas e pediatras já estão mobilizados e ameaçam deflagrar greve nacional da es-pecialidade, caso não surtam efeito as negociações em curso. Em janeiro, 127 pediatras ca-pixabas pediram demissão em massa dos hospitais do Estado, mas o governo abriu espaço para mais negociação.

visando limitar a abertura de novas escolas médicas. Esfor-ço conjunto para a garantia de um ensino de qualidade, por meio de avaliações ao longo e ao final do curso, levando ao fechamento e/ou diminuição do número de vagas nas escolas deficitárias.

SALÁRIO MÍNIMO Aprovação do Projeto de Lei 3.734/2008, que altera o salário mínimo profissional dos médi-cos da rede privada.

REVALIDAÇÃO DE DIPLOMA Manutenção da sistemática atu-al de revalidação de diplomas de médicos estrangeiros e brasi-leiros formados no exterior, por meio de exame unificado nacio-nal. Participação das entidades médicas na avaliação do proje-to iniciado em 2010, visando o aprimoramento do exame.

RESIDÊNCIA MÉDICA Ampliação de vagas e valoriza-ção da Residência Médica com a meta de uma vaga de Residên-cia para cada egresso dos cursos de Medicina. Participação das entidades médicas na definição da ampliação de vagas nas es-pecialidades, em sintonia com as necessidades do País.

As reivindicações da categoria A lista foi elaborada pelas entidades médicas nacionais

... e decidem entrar em GREVE no dia 7 de abril

Mobilização reuniu cerca de 300 lideranças médicas nas ruas de Brasília no dia 26 de outubro

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Ato Médico no SenadoMédicos tentaram aprovar projeto no fim de 2010, mas categorias da saúde barraram votação.

•• O Projeto de Lei que define as atividades privativas dos médi-cos e as que podem ser realiza-das pelos outros 13 profissionais da área de saúde tramita na Co-missão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado Federal. Aprovado na Câmara dos De-putados em outubro de 2009 após sete anos de tramitação, o Ato Médico pretende reforçar uma das maiores bandeiras do Conselho Federal de Medicina:

o diagnóstico e tratamento de doenças são atribuições exclusi-vas do médico. No fim de 2010, o impasse en-tre os médicos e os outros pro-fissionais de saúde se acentuou. As entidades médicas tentaram colocar o Ato Médico na pauta do plenário do Senado Federal, em regime de urgência. A mano-bra não surtiu efeito, porque as outras entidades da área de saú-de convenceram o presidente do Senado, José Sarney, que o texto

precisava de ajustes. Sarney, por sua vez, descartou a urgência de-vido à “complexidade do assunto e a falta de consenso”. Diante de tantas dúvidas, a única certeza, agora, é que o projeto vai passar por mais audiências públicas. O projeto que regulamen-ta a medicina está longe de ser consenso entre as categorias de saúde. De acordo com os re-presentantes das áreas de saúde contrários ao Ato Médico, o tex-to não respeita os princípios do

Sistema Único de Saúde e fere o modelo de saúde multiprofissio-nal. Eles, ainda, acrescentam que “é evidente o interesse coorpora-tivo dos médicos por reserva de mercado, desconsiderando a tra-jetória das demais profissões que constituem o cenário da saúde na ótica do SUS”. Para os médicos, o proje-to não elimina a possibilidade do trabalho multiprofissional e respeita o espaço de cada ca-tegoria, previsto em suas res-pectivas regulamentações. A medicina é a mais antiga pro-fissão da área de saúde, mas a única ainda não regulamentada no Brasil. (Wagner Knoblauch)

Provão para recém-formados Novos médicos capixabas vão ter de fazer um exame para poder retirar o registro. Nota de corte será de 60%. •• A partir deste ano, os médicos capixabas recém-graduados vão ter de fazer um exame para po-der retirar o registro profissional e atender pacientes. A medida é do Conselho Regional de Medi-cina do Estado (CRM-ES) e vem sendo debatida pelo Conselho Federal desde o ano passado. A intenção é avaliar o conheci-mento dos novos médicos e ve-rificar se eles estão preparados para o mercado de trabalho. O Conselho alega que está preocupado com a qualidade do atendimento médico oferecido pelos recém-formados capixa-bas. “Queremos zelar pelo bom desempenho ético da profissão”, destaca o vice-presidente do CRM-ES, Oswaldo Pavan. Hoje, cerca de 300 profissio-nais se formam por ano no Es-tado. A partir do ano que vem, serão aproximadamente 500, das cinco escolas (Ufes, Emescam, Unesc, Univix e UVV). Existe a expectativa de abertura de mais um curso na capital, oferecido pela Faesa. Vitória é atualmente a capital com o maior número de médicos por habitantes. A ideia é que a prova, que terá questões discursivas e objetivas, seja um pré-requisito para tirar o registro. Quem não fizer o exame ou reprovar não terá o registro. A nota de corte será de 60%. O modelo do exame ainda está sendo discutido. “É possível que esse projeto piloto, que será fei-to em dezembro, seja em caráter de reprovação, negando o regis-tro médico”, explicou Oswaldo Pavan. (Wagner Knoblauch, Eduardo Pandini, Cássio Borghi e Aline Castelan)

Entidade nacional de alunos é contra “exame de ordem”

•• A DENEM (Direção Execu-tiva Nacional dos Estudantes de Medicina) e a ABEM (Asso-ciação Brasileira de Educação Médica) são contra a realização do “Exame de Ordem”, como é denominado o provão no meio estudantil, pela semelhança com o teste aplicado pela OAB. A entidade estudantil também defende o boicote a qualquer tipo

• O exame será aplicado aos recém-formados a partir deste ano e terá caráter obrigatório.

• O projeto piloto, que será feito em dezembro, já terá caráter de reprovação. A nota de corte será de 60%.

• A prova atuará como pré-requisito para a retirada

Ufes teve 100% de aprovação no primeiro exame

•• O CRM-ES já aplicou o Exa-me de Egressos duas vezes no Estado. As provas não tiveram caráter obrigatório e punitivo. A primeira experiência ocorreu em 2007 e contou com a partici-pação de 78 dos 160 formandos da Ufes e da Emescam. O per-centual de acertos foi de 87,15% (Ufes) e 76,95% (Emescam) e

todos foram aprovados, pois o corte era de 60%. Um recém-formado da Ufes acertou todas as 120 questões da prova. Em 2008, 64 formandos se submeteram à avaliação. Mais uma vez, todos foram aprovados.Os dois testes foram elaborados pela Fundação Carlos Chagas, a mesma que prepara o Exame de Egressos para o Conselho Re-gional de Medicina de São Paulo (CREMESP). O CRM capixaba foi o primeiro a replicar o exame paulista e, agora, também deve

ser o primeiro a tornar a prova obrigatória e pré-requisito para registro profissional. O CREMESP aplica anual-mente, desde 2005, o Exame de Egressos aos sextanistas. Alu-nos da Ufscar, Unicamp e USP, entre outras, boicotam a avalia-ção, que não é obrigatória nem punitiva. O exame possui duas etapas, com questões objetivas e práticas simuladas em compu-tador. Em 2010, 68% dos alunos foram reprovados, superando a marca de 2008 (61%).

do registro médico no CRM e será repetida a cada seis meses a partir de 2012.

• Quem não fizer o exame ou reprovar não terá o registro, que é indispensável para o exercício profissional.

• A prova terá cerca de 50 ques-tões objetivas e 10 discursivas.

• O conteúdo abordará áreas básicas de pediatria, ortopedia, ginecologia, obstetrícia, cirurgia geral, clínica médica, saúde pública, saúde mental, bioética e ciências básicas.

• A resolução com as regras e os prazos do Exame de Egressos deve ser publicada até maio pelo CRM-ES.

de prova que avalie unicamente o aluno ignorando a responsabi-lidade das escolas médicas em sua formação. A DENEM inda-ga: “O que acontecerá com os estudantes que forem reprova-dos nesse exame: voltarão para o internato, entrarão num cursinho 100% teórico ou praticarão o exercício ilegal da medicina?” O Conselho Federal de Me-dicina também é contra o exame único, como o adotado pelo CRE-MESP, mas defende a avaliação seriada dos estudantes, com um teste no fim de cada ano da gra-

duação. Na opinião do CFM, a estrutura dos curso também precisa ser avaliada, não só os alunos, como ocorre atualmente. A obrigatoriedade do exame para recém-formados pode virar lei em todo o país, pois é conte-údo de pelo menos três Projetos de Lei que tramitam no Con-gresso Nacional e que defendem também a retenção do registro no CRM em caso de reprovação na avaliação. Diminuir a ocorrência de erros provocados por profis-sionais despreparados é um dos objetivos desses projetos.

Como será o provão Tire suas dúvidas sobre o Exame de Egressos e se prepare para a prova

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Em meio a transtornos, reforma do currículo entra no último ano•• A tão polêmica e problemática Reforma Curricular (RC), apro-vada pelo Colegiado de Medi-cina da Ufes em 2007 e iniciada no semestre letivo 2008/1, chega ao fim neste ano. No entanto, as últimas modificações na grade de disciplinas (veja ao lado) não são simples e prometem tumul-tuar ainda mais a vida dos aca-dêmicos. Entre algumas das modifica-ções trazidas pela RC, no ciclo Básico (1º ao 4º períodos), está o remanejamento das Epidemio-logias entre os três primeiros períodos e a criação da discipli-na Sistema de Saúde. No ciclo Clínico, ocorreu a temida fusão das Semiologias I e II (antes ministradas no 5º e 6ºP, respec-tivamente) em Semiologia Geral e Radiológica (5ºP). Mas é en-tre o 6º e o 9º períodos que se concentram as alterações mais complexas, com a sobreposição de matérias. Entre os muitos percalços, al-guns alunos da turma 82 (atual 7ºP) que, no período passado, assistiram a algumas aulas jun-tos à turma 81 (atual 8ºP), dis-seram que as matrículas para as disciplinas de Clínica Médica II e Clínica Cirúrgica II, agora am-bas ministradas no 7º período, ainda não foram disponibiliza-das no Portal do Aluno, no site da Ufes. Mais uma vez, segundo RAIO-X apurou, a desorganiza-ção interna falou mais alto. No semestre passado, a desordem foi tamanha e irritou tanto os alu-nos que houve até protesto dos

estudantes da 81 e 82 em uma das reuniões do departamento de Clínica Médica. Além disso, os acadêmicos da 82 depararam-se com um para-doxo no período passado: eles tiveram o primeiro contato com procedimentos cirúrgicos na Clí-nica Cirúrgica I (Técnica Ope-ratória) e pouco tempo depois encontraram-se envolvidos na Cirurgia Plástica, uma subespe-cialidade oferecida pela discipli-na de Medicina Especializada I. Apesar do desconforto inicial, os professores souberam ministrar a disciplina com enfoque mais generalista. Apesar de parecer, a RC não veio, a princípio, criar proble-mas. E sua conclusão, sobre-tudo, consolidará o objetivo principal de uma exigência feita pelo MEC: estender a duração do internato de um ano e meio para 2 anos. Até o final de 2011, como vem ocorrendo há anos, os acadêmicos do 9ºP estarão inse-ridos numa espécie de internato parcial, uma vez que cursarão disciplinas ambulatoriais mes-cladas aos internatos em Urgên-cias e em Medicina Social. Já a partir de 2012, o internato será integral, sem disciplinas. A Reforma Curricular está che-gando ao fim, mas será que ao final de 2011 a casa estará real-mente pronta para o devido usu-fruto dos alunos? Ou será que o fantasma da desorganização continuará espalhando poeira pelos corredores da universida-de? (Cássio Borghi)

Novo Currículo Médico da Ufes1ºP: Anatomia I, Biologia Celular/Tecidos, Embriologia e Ecossitema 2ºP: Bioquímica/Biofísica, Anatomia II, Histo B e Sistema de Saúde 3ºP: Genética Humana, Fisiologia, Epidemiologia I, Patologia Geral e Imunologia4ºP: Farmacologia I, Epidemiologia II, Microbiologia e Parasitologia5ºP: Semiologia Geral e Radiológica, Relação Médico-Paciente e Anatomia/Fisiologia Patológicas6ºP: Clínica Médica I (cardio, pneumo e gastro), Clínica Cirúrgica I (Técnica Operatória), Farmacologia II, Medicina Legal e Medicina Especializada I (ortopedia e cirurgia plástica) 7ºP: Clínica Médica II (hemato, dermato, DIP e nefro), Clínica Cirúrgica II, Pediatria I e Ginecologia/Obstetrícia I 8ºP: Clínica Médica III (endócrino, neuro e psiquiatria), Clínica Cirúrgica III, Pediatria II, GO II e Medicina Especializada II (oftalmo e otorrino) 9ºP: Internato de Medicina Social e Internato em Urgência10ºP: Internato em Clínica Médica e em Clínica Cirúrgica11ºP: Internato em Pediatria e em Ginecologia/Obstetrícia12ºP: Internato Opcional

2008: Remanejamento da Epi-demiologia entre os 3 primeiros períodos; Criação da matéria Sistema de Saúde no 2ºP.

2010/1: Criação da Semiolo-gia Geral e Radiológica no 5ºP, com a fusão das Semiologias I e II.

2010/2: Extinção da matéria Prática Hospitalar; Remaneja-mento da Medicina Legal do 6ºP para o 7ºP; Criação da dis-ciplina Clínica Médica I no 6ºP; Criação da Medicina Especiali-zada I no 6ºP.

2011/1: Remanejamento da Clínica Médica II do 8ºP para o 7ºP; Remanejamento da Gi-necologia/Obstetrícia I do 8ºP para o 7ºP. As turmas 81 e 82 farão, mais uma vez, disciplinas juntas.

2011/2: Remanejamento da Clí-nica Médica III (apenas Neuro-logia e Psiquiatria) do 9ºP para o 8ºP; Remanejamento da Gi-necologia/Obstetrícia II do 9ºP para o 8ºP; Criação da Medicina Especializada II no 8ºP. As tur-mas 81 e 82 cursarão matérias juntas, pela última vez.

Um currículo em transição Confira o que já mudou na grade de disciplinas e as modificações previstas para este ano

Iniciada em 2008, a Reforma Curricular promete alterar a estrutura de três períodos até o fim do ano.

Calouros. Alunos reunidos na porta do prédio da Fisiologia, em um dos momentos do 1º dia da Visita, organizada pelo Diretório Acadêmico. Os estudantes conferiram palestras e fizeram um tour pelo campus, pelos ambulatórios e pelo hospital nos dias 24 e 25 de fevereiro. A Turma 88 ingressa no período 2011/1 com uma estatística curiosa: tem três vezes mais mulheres do que homens!

Os calouros da Medicina. A Turma 88 está no campus!

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O perfil dos inscritos e aprovadosDos 681 inscritos, havia 113 ex-alunos da Ufes. No resultado final, dos 66 aprovados, 40 são da Ufes.

As 23 especialidades oferecidas no Hucam

Vagas Inscritos Total / Ufes

Concorrência1ª etapa

Aprovados 2ª etapaTotal / Ufes

Concorrência 2ª etapa

Aprovados FinalTotal / Ufes / Outros

Anestesiologia 3 45 – 9 15 11 – 6 3,6 3 – 3 – 0 Cardiologia 2 7 – 3 3,5 6 – 3 3 2 – 2 – 0

Cirurgia do Aparelho Digestivo 2 11 – 2 5,5 6 – 1 3 2 – 0 – 2Cirurgia Geral 8 105 – 12 13,12 28 – 6 3,5 8 – 3 – 5

Cirurgia Vascular 2 9 – 3 4,5 6 – 3 3 2 – 2 – 0 Clínica Médica 10 155 – 24 15,5 30 – 11 3 10 – 7 – 3 Dermatologia 2 61 – 10 30,5 10 – 5 5 2 – 2 – 0

Gastroenterologia 2 7 – 1 3,5 6 – 1 3 2 – 1 – 1 Hepatologia 1 2 – 0 2 1 – 0 1 1 – 0 – 1 Infectologia 2 12 – 2 6 6 – 2 3 2 – 1 – 1 Mastologia 2 6 – 2 3 6 – 2 3 2 – 2 – 0

Medicina Intensiva 2 5 – 3 2,5 3 – 2 1,5 2 – 1 – 1 Nefrologia 2 5 – 3 2,5 5 – 3 2,5 2 – 2 – 0

Neonatologia 3 6 – 1 2 6 – 1 2 3 – 1 – 2 Obstetrícia e Ginecologia 5 40 – 4 8 15 – 3 3 5 – 3 – 2

Oftalmologia 3 36 – 7 12 9 – 4 3 3 – 3 – 0 Patologia 1 2 – 2 2 2 – 2 2 1 – 1 – 0 Pediatria 4 38 – 6 9,5 14 – 6 3,5 4 – 2 – 2

Radiologia e Diagnóstico por Imagem 4 100 – 13 25 12 – 3 3 4 – 1 – 3 Reumatologia 2 7 – 2 3,5 6 – 2 3 2 – 2 – 0

Transplante de Fígado 1 1 – 0 1 1 – 0 1 1 – 0 – 1 Ultra-sonografia em G.O. 1 4 – 1 4 2 – 1 2 1 – 1 – 0

Urologia 2 17 – 3 8,5 7 – 2 3,5 2 – 0 – 2 Total 66 681 – 113 - 198 – 69 - 66 – 40 – 26

Ex-alunos da Ufes dominam residência médica do Hucam•• Alunos formados em Medicina na Ufes conquistaram 40 das 66 vagas (60% do total) do último concurso de Residência Médica do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da Ufes, com ingresso no Hucam em 2011. O processo de seleção do ano passado teve a participação de 113 ex-alunos da Ufes, que dis-putaram vagas em 21 das 23 es-pecialidades oferecidas nos ser-viços do Hospital Universitário (veja tabela abaixo). Por ano, aproximadamente 80 médicos colam grau pela Universidade. Os dados fazem parte de um le-vantamento preparado pela Co-reme (Comissão de Residência Médica) do CCS, publicado com exclusidade por RAIO-X. Os médicos formados pela Ufes conquistaram não só a maio-ria das vagas, como também o topo do ranking, garantindo 16 primeiros lugares. Em 9 áreas, incluindo as mais concorridas, todos os aprovados são da Ufes.

• O processo de seleção envolve duas etapas. A 1ª fase vale 50% da nota final e consiste numa prova de múltipla escolha. A 2ª fase engloba a prova prática (40% da nota) e análise de cur-rículo (10% da nota).

• O concurso do ano passado teve recorde de inscrições: 681. Havia candidatos de 23 Estados e 61 escolas médicas diferentes.

• Do total de inscritos, 113 eram da Ufes, 162 da Emescam, 40 da Unesc e os outros 366 eram de escolas de fora do Estado, principalmente do RJ e de MG.

Por dentro da Residência Médica• 198 candidatos passaram para a 2ª etapa do processo de seleção, de 22 escolas médicas distintas.

• Dos aprovados para a 2ª etapa, 69 eram da Ufes, 54 da Emes-cam, 5 da Unesc e os outros 70 candidatos eram de 19 escolas médicas diferentes.

• Dos 66 aprovados, 40 se for-maram na Ufes. Os outros 26 aprovados são de 10 escolas mé-dicas diferentes: Emescam (11), Unesc (1), FMC/RJ (6), UNIFE-SO/RJ (2), UFF (1), UNIGRAN-RIO (1), UNIG/RJ (1), PUC-PR (1), UFPR (1) e UFJF (1).

Fonte: Comissão de Residência Médica do Centro de Ciências da Saúde da Ufes

O desempenho dos ex-alunos da Ufes

113É o total de inscritos graduados pela Ufes, no concurso de 2010.

69É o total de ex-alunos da Ufes que passaram para a 2ª etapa.

40É o total de ex-alunos aprovados, em 19 áreas do Hucam.

Com recorde de inscritos, 681 ao todo, o concurso teve candi-datos de 23 Estados, das cinco regiões brasileiras. Ao todo, havia formandos de 61 escolas médicas diferentes, entre facul-dades privadas e públicas. Aproximadamente 46% (315) dos inscritos na seleção são ex-alunos de uma das três escolas médicas do Estado (Ufes, Emes-cam e Unesc). As outras duas faculdades capixabas (Univix e UVV) ainda não formaram a pri-meira turma. Entre os aprovados para a se-gunda etapa do concurso, cerca de 35% eram estudantes oriun-dos da Ufes. Os números do concurso cres-cem a cada ano. Em 2009, foram registradas em torno de 500 ins-crições. De acordo com infor-mações da Coreme, há oito anos, quando o Hucam oferecia apenas cinco programas de residência, a média de inscritos era quase sete vezes menor.

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GRINGOS NO HUCAM•• Somente nos dois primeiros meses do ano, o Hucam recebeu cinco intercambistas gringos. Do Peru, vieram Javier Ernesto Dueñas Quispe e Raul Anhua-man Nhique, que estagiaram na Pediatria. Do Chile, Felipe Al-berto da Costa Llanos, 21 anos, da Universidade de Chile, Maria Soledad Infante Lima (Sole) , 21 anos e Trinidad Fernandez Santa Cruz (Trini), 21 anos, ambas da Universidade del Desarollo. Os chilenos estagiaram no serviço de Gastroenterologia durante quatro semanas. Eles, que come-çam neste semestre o quarto ano de Medicina em suas faculdades, já decidiram que serão clínicos e acreditam que aprenderam muito no hospital-escola da Ufes. Os estudantes relataram que a qualidade das intalações e do serviço do Hucam são muito se-melhantes a de seus hospitais no Chile. O tratamento dado pelo médico ao paciente, segundo os estagiários, também é igual, as-sim como as responsabilidades dos internos no atendimento. No entanto, ressaltaram algu-mas diferenças no curso de Me-dicina. A primeira delas é que lá a graduação exige 7 anos de estudos, sendo dois anos no ci-clo básico, três no clínico e dois anos no internato. Ao fim da fa-culdade, todos os formandos de-vem ser avaliados em um exame para obter o título de médicos, o que é muito similar ao proje-to que está sendo discutido no Brasil visando uma espécie de “prova da ordem” também para Medicina. No Chile, tanto a seleção para ingresso na faculdade quanto para residência é feita através de uma prova única aplicada para todos os alunos. A Prueba de Selectión Universitária, que corresponde ao nosso vestibular, é a mesma para todos os cursos, havendo apenas pesos diferentes entre as matérias. Como já era de se esperar, entre as diversas car-reiras, a pontuação mais alta exi-gida é para aqueles que desejam cursar Medicina. No caso da residência, é feita uma prova nacional – o Examen Médico Nacional – a qual se so-mam as notas obtidas durante o curso. As especializações mais concorridas são aquelas que não

exigem uma primeira residência de três anos de clínica médica (pré-requisito), como Dermato-logia, Oncologia, Oftalmologia e Otorrinolaringologia, além da própria Clínica Médica. Quanto ao internato, também há diferenças. Aqui, cada inter-no é responsável por um ou dois pacientes e, por isso, conhece muito bem a história e a doença deles, porém, quanto aos outros pacientes da enfermaria, apenas ouve sobre seus casos na visita mas não os estuda. “No Chile, o esquema de trabalho não é tão individualizado e sim dividido em pequenas equipes, sendo que a equipe como um todo é respon-sável por dez pacientes. Assim, todos os internos têm oportuni-dade de conhecer e estudar cada um dos dez casos. Isso permite ao estudante formar um conhe-cimento mais amplo durante seu período de internato”, destaca a aluna Sole. Já Trini foi surpreendida pela baixa quantidade de enfermeiros e técnicos de enfermagem em nosso hospital, comparado ao que é comum no Chile. As alu-nas acreditam que o tempo das consultas é melhor aproveitado quando outros profissionais da equipe de saúde já realizam, por exemplo, a aferição da pressão durante a espera do paciente pelo atendimento, deixando o médico mais disponível para co-lher a história clínica e realizar a anamnese e o exame físico. Felipe achou surpreendente que as doenças infecto-parasi-

tárias sejam tão frequentes aqui. “Uma médica me disse que a estrongiloidose é muito comum na região, no entanto, no Chile, é extramamente rara, assim como outras doenças causadas por parasitas e infecções”, aponta o estudante. No Chile, as melhores faculda-des de Medicina estão na capital Santiago, entre as quais, as mais concorridas são a Universidad de Chile e a Universidad Católica. Chama atenção o fato de que o hospital da Universidade Católi-ca está totalmente submetido aos princípios da Igreja, o que fica evidente na ausência de ênfase no tratamento da AIDS no hos-pital e na defesa da abstinência e da escolha de um único parceiro como único método de preven-ção do contágio pelo HIV. Tanto as universidades públi-cas quanto as privadas cobram mensalidade, sendo o valor de 8.000 dólares nas estatais e 12.000 dólares nas particulares. Felipe lamenta: “O Chile é um país muito neoliberal, onde tudo é privatizado e é preciso pagar muito caro por todos os serviços, inclusive por educação e saúde”. O problema é solucionado para alguns alunos através de bolsas oferecidas pelo governo ou pelo sistema de crédito, no qual o aluno pagará o Estado durante a atuação profissional. Sole, Trini e Felipe regressaram ao Chile satisfeitos com o apren-dizado e bem bronzeados após os fins de semana de verão no Brasil. (Paula Peçanha)

Hospital recebeu cinco estudantes estrangeiros - três do Chile e dois do Peru - só este ano. Ao todo, já foram 24 visitas.

No Brasil

No exterior

24gringos no hospitalÉ o número de estudantes estrangeiros recebidos no Hucam desde 2008, pela Coordenação Local de Es-tágios e Vivências (Clev) do Diretório Acadêmico. Só nos últimos doze meses, o hos-pital recebeu 16 gringos, de 12 nacionalidades diferentes. O serviços mais procurados foram Pediatria, Cirurgia Geral e Infectologia, mas outros seis setores também já abriram as portas para os alunos de fora.

16alunos no exteriorÉ o número de alunos de Medicina da Ufes que já fizeram estágio internacional em prática médica desde 2008. Os destinos foram diversos: Portugal, Israel, Dinamar-ca, Itália, França, Hungria, Suécia, Inglaterra, Espa-nha, Suíça e Gana. Entre os serviços mais buscados estão Cardiologia e Clínica Médica. Só em 2011, pelo menos outros seis acadêmicos devem cruzar a fronteira, rumo à Europa e a países vizinhos da América.

Com jaleco e estetoscópio, os chilenos Felipe Llanos, Maria Soledad e Trinidad Fernandez estagiaram no serviço de Gastroenterologia do Hucam no mês de janeiro. Alunos da MedUfes atuaram como padrinhos.

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De Maruípe para GanaMônica Rodrigues é a primeira aluna de Medicina da Ufes a fazer estágio na África.

•• A um ano e meio da formatura, a acadêmica de Medicina da Tur-ma 79 (atual 10º período) Mô-nica Matos Correia Rodrigues, 25 anos, viveu por um mês uma experiência inesquecível. Ela realizou em janeiro um estágio em prática médica no continente africano – é a primeira a visitar a região entre os 16 alunos da Ufes que já fizeram intercâmbio internacional. Mônica ficou hos-pedada na cidade de Acra, capi-tal de Gana. Mônica destaca as vantagens que uma viagem como essa pro-porciona: “Quebramos conceitos e barreiras, criamos uma nova visão sobre pessoas e coisas e adquirimos maior capacidade de adaptação e maior flexibilida-de”. Localizado no oeste africa-no, Gana é, assim como a maio-ria dos países da região, marcado pela pobreza. Para a estudante, a falta de es-trutura atrapalha, mas não com-promete o aprendizado. “Talvez o estágio não proporcione o aprendizado de conteúdo em me-dicina, mas o aprender a ser mé-dico, sem dúvida. Acredito que o médico precisa ser compassivo. Sei que pra isso não é necessário ir tão longe, mas o fato de você estar em um ambiente diferente do seu com pessoas completa-mente diferentes, te proporcio-na um enorme amadurecimento pessoal.” Uma das cenas que surpreen-deu a aluna ocorreu no serviço

de Ginecologia e Obstetrícia. Lá, é comum os médicos ausculta-rem os batimentos cardíacos do feto utilizando o estetoscópio de Pinard. No Brasil, a prática está desuso há anos e a maioria dos alunos sequer conhece o apare-lho. Apesar da pouca tecnologia, segundo Mônica, o sistema de saúde de Gana é um dos mais fortes do continente africano. Entre as principais dificuldades enfrentadas, a acadêmica desta-ca a língua. “A maior dificulda-de foi a comunicação, porque eu não falo inglês fluentemente.

E, apesar de a língua oficial de Gana ser o inglês, o sotaque de-les é bastante diferente. Até os outros intercambistas que esta-vam lá no mesmo período que eu disseram também ter tido al-guma dificuldade para entendê-los”, explica. O intercâmbio foi realizado através da Coordenação Local de Estágios e Vivências (Clev) do Diretório Acadêmico. Ou-tros seis alunos também devem cruzar a fronteira ainda este ano, para a Europa e países vizinhos da América. (Wagner Knoblauch)

Além de acompanhar o atendimento médico, Mônica fez turismo pelos safáris e praias de Gana com intercambistas de outros países e alunos locais.

Fique por dentro!

EXTERIOR • Os estágios internacionais em prática e pesquisa médica são realizados através da Co-ordenação Local de Estágios e Vivências (Clev) do Dire-tório Acadêmico e consistem em uma parceria entre a DENEM (Direção Nacional Executiva dos Estudantes de Medicina) e a IFMSA (Fede-ração Internacional das As-sociações dos Estudantes de Medicina).

NACIONAL• Entre 2005 e 2007, a Ufes re-cebeu e enviou muitos alunos de Medicina para fazer está-gio interestadual. Mas essa modalidade está suspensa desde a publicação da nova lei de estágio no Brasil.

PAÍSES• O último edital de seleção abriu 221 vagas de estágio em 49 países no período de abril de 2011 a março do ano que vem. Ao todo, 359 alunos, de todo o país, inscreveram-se. Na 1ª convocatória, 10 dos 12 estudantes da Ufes inscritos foram selecionados. Seis deles devem viajar ainda este ano.

PONTUAÇÃO• É preciso acumular pontos para concorrer às vagas de estágio. O edital - divulgado sempre no 2º semestre - deta-lha os 14 critérios de pontu-ação, como atividades extra-curriculares e participação no movimento estudantil. Na seleção do ano passado, ape-nas 15 alunos em todo o país somaram mais de mil pontos, sendo que dois deles são da Ufes.

ESTÁGIO• O custo inicial do estágio gira em torno de 170 euros, além das passagens de ida e volta. Geralmente, o estu-dante fica 4 semanas fora de casa. Além de acomodação e duas refeições, o intercambis-ta também tem direito a um guia acadêmicos e turístico - um aluno que acompanha o estagiário.

Saiba mais: www.clevufes.weebly.com

Fale com a CLEV: [email protected]

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•• É cada vez mais comum en-contrar a presença feminina no universo médico – algo inco-mum há décadas atrás. Esta re-lação, entretanto, começou há muito mais tempo. A habilidade médica feminina esteve presente desde o Egito antigo, onde exer-ciam especialmente a função obstétrica, e possuíam acesso às Escolas de Medicina e Institutos Médicos. No Brasil, esse acesso só foi possível muitos anos depois, e com muitas dificuldades. Só a partir de 1879 foi facultado às mulheres o acesso ao Ensino Su-perior, em locais separados aos dos homens. Foi dessa forma que estudou a primeira médica formada no país, Rita Lobato Velho Lopes. Porém, apesar do crescimento da atividade profissional femini-na ser relativamente recente, as mulheres já alcançaram níveis de excelência e técnica semelhantes aos dos profissionais homens. Dra. Themis Reverbel de Sil-veira, médica especialista em gastropediatria e genética for-mada pela UFRGS confessa que, “atualmente, quando entro em sala de aula, até me dá cer-ta emoção ver que mais de 50% dos alunos são meninas”. Na época em que se formou, década de 60, eram apenas cinco ou seis por turma. O mesmo ocorreu na UFES. A primeira turma de medicina, cujo ingresso na faculdade está completando 50 anos em 2011, contava com apenas três mulhe-res na turma. A turma 88, últi-ma a ingressar na faculdade, é formada por aproximadamente 70% de meninas. De 2000 a 2009, a proporção de profissionais do sexo femi-nino no universo de médicos registrados no Brasil subiu qua-se quatro pontos percentuais – de 35,5% para 39%. Os dados são do último levantamento do Conselho Federal de Medicina (CFM), divulgado em abril de 2010, que comprova a tendência de aumento no número de mu-lheres na medicina O Conselho Regional de Me-dicina de São Paulo (Cremesp) registra, desde 2006, inscrição de novas médicas acima dos ho-mens. O aumento significativo de

inscrição de mulheres, contudo, ocorre desde a década de 1980. Esse crescimento coincide com o aumento da participação feminina em todo o mercado de trabalho. De maneira lenta, mas constante e progressiva, a mu-lher deixou de ser apenas parte da família para cumprir jorna-da dupla. Haveria, entretanto, alguma diferença nas aptidões profissionais entre mulheres e homens? A resposta é negativa, segundo a médica neurocientista italiana Marina Bentivoglio: “na-turalmente, nos trabalhos em que massa muscular é importante, os homens podem ter um desempe-nho melhor. Mas, do ponto de vista do cérebro, não creio que existam trabalhos mais adequa-dos para homens ou mulheres”. A despeito disso, existe uma grande discrepância na escolha da especialidade médica entre homens e mulheres. Em Ortope-dia e Traumatologia e em Uro-logia, os homens prevalecem em número até 10 vezes maior que as mulheres. No entanto, as mu-lheres têm larga vantagem em Pediatria e Dermatologia, onde são, proporcionalmente, cerca de quatro vezes mais numero-sas que os homens. As mulheres também são minoria em Medici-na Legal e Medicina Esportiva, dentre outras especialidades. De acordo com a professo-ra da Ufes e oftalmologista Dra. Diuzete Pavan, “a tendência é que a medicina seja dominada ainda mais pelas mulheres, já que estas predominam em nú-mero na sociedade.” Esta relação entre mulheres e medicina foi o que motivou a

criação da Associação Brasileira de Mulheres Médicas, fundada em 1960 tendo como um dos objetivos estimular o acesso das mulheres às ciências médicas. De lá pra cá, novos desafios foram apresentados à população médica feminina, especialmente a baixa representatividade fe-minina na composição das en-tidades médicas. Diante disso, em setembro de 2010 ocorreu em Recife o I Encontro Nacio-nal de Mulheres das Entidades Médicas, com o fim de “deba-ter questões específicas do gê-nero no exercício da profissão e, também, a inserção nas lutas da categoria dentro da política médica e nacional”. Foram dis-cutidos temas como vulnerabili-dade e discriminação de gênero, salário e condições de trabalho, violência, legislação e direitos da mulher e a imperiosidade da ação política. Uma conclusão importante após os evento é a de que exis-tem peculiaridades no mercado de trabalho para a mulher médi-ca e dificuldades de progressão nos estudos de pós-graduação, por ter mais incumbências em outras esferas. Em tempos passados, ser médica era um grande desafio. Hoje, apesar da mudança no ce-nário, os desafios são outros. No entanto, boa parte das necessida-des atuais já foram percebidas há séculos pelas médicas do antigo Egito: “uma medicina holística, a importância das mulheres como exemplo histórico na igualdade de gênero e oportunidades que foram cerceadas nas civilizações ocidentais.” (Jequélie Cássia)

Mães, esposas, amigas e médicas. As mulheres estão cada vez mais presentes na medicina, em todas as áreas.

ELAS SÃO MAIORIA

Alunas, residentes, médicas: o número de mulheres nas escolas de medicina aumenta a cada ano.

Médicas!

• No Estado, há 2.784 médicas, de um total de 7.288 profissionais ativos. Na década de 70, havia somente 25 médicas.

• Na Ufes, a 1ª turma do curso de Medicina ingressou em 1961 com apenas três alunas, entre 28 no total. A turma que ingressa neste semestre tem 30 meninas e 10 rapazes.

• Em todo o país, o número de médicas subiu de 35,5% para 39%, de 2000 a 2009, segundo números do CFM.

• Livros: Mulheres e Médicas - As Pioneiras da Medicina (Josette Dall’Alva Santucci); A História da Associação Brasileira de Mulheres Médicas (Jocelyne Levy Rosenberg e Francy Reis da Silva Patrício).

• A Associação Brasileira de Mulheres Médicas foi criada em 1960. Visite o site: www.abm.buscario.com.br

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Óleo de Lorenzo (1992) História verídica sobre a luta dos pais de Loren-zo para reverter sua rara Adrenoleucodistrofia. Sem receber resultados satisfatórios e apoio da comunidade médico-cien-tífica, Augusto e Michaela Odone elucidam parte da bioquímica e a fisiopato-logia associada à doença, propondo uma terapia com a ingestão de uma mistura de dois óleos. A interpre-tação de Nick Nolte e a de Susan Sarandon são magníficas. Sem abusar de apelações dramáticas o filme é equilibrado, in-tenso e honesto, tudo isso acompanhado de uma tri-lha sonora clássica que se encaixa com perfeição ao enredo. Por curiosidade, Lorenzo Odone morreu em 2008, um dia após completar 30 anos. Sua expectativa de vida após o diagnóstico (seis anos) era de apenas 2 anos de vida.

Something The Lord Made (2006) Divulgado no Brasil com o título de “Quase Deu-ses” narra a história real de Vivien Thomas (Tho-mas Def), homem negro e marceneiro habilidoso que perde suas economias com as quais pagaria sua sonhada faculdade de me-dicina. Ele, então, passa a trabalhar de faxineiro para o cirurgião Alfred Blalock, interpretado por Alan Rickman (mais co-nhecido pelo seu Snape de Harry Potter) que percebe sua disposição e o torna seu ajudante. Os dois de-senvolvem uma técnica cirúrgica para a Tetralo-gia de Fallot. A temática principal do filme é o pre-conceito, tanto o precon-ceito racial, muito intenso na sociedade americana na época (1930), quanto pelo fato de Vivien não ser médico e não receber o merecido crédito pela sua colaboração.

Requien for a Dream (2000) O segundo filme de Aro-nofsky, conhecido pelo recente “Cisne Negro”, baseia-se no vício em drogas (lícitas e ilícitas) para desenvolver sua nar-rativa. A mãe versus o vício em anfetamínicos emagrecedores (com o objetivo de caber em um vestido antigo e aparecer em um programa de te-levisão) e o filho viciado em heroína. Um filme re-alista, porém sem se pri-var da arte dramática para relatar como a droga des-trói a vida de uma pessoa. Interpretações mais que relevantes, enredo bem trabalhado e filmado com inovação e equilíbrio, tri-lha sonora épica de Clint Mansell que maximiza o efeito dramático e se en-caixa com perfeição. Um dos melhores filmes de nossa época; lindo e per-turbador...

The Doctor (1991) Aqui no Brasil conhe-cido pelo horrível título de “Golpe do Destino”, é uma história do clássico médico arrogante que não consegue enxergar o pa-ciente além de sua doença (muito mais interessante aqui que na aula de Re-lação Médico-Paciente), até que descobre que tem câncer. Previsivelmente ele passa a ser tratado por uma médica idêntica a ele, o que o faz reavaliar toda sua prática e investir um pouco mais na huma-nidade. A interpretação é interessante, o enredo bem previsível principal-mente para nós estudan-tes, mas vale assistir já que essa é uma discussão corriqueira na faculdade e já desinteressante para a maioria, e nada melhor que um filme para nos fa-zer pensar com mais cria-tividade.

Wit (2001) Filme para a televisão dis-tribuído no Brasil com o título de “Uma Lição de Vida”. narra a luta de Vivian Bearing (Emma Thompson) contra o câncer. Vivian é uma professora de Litera-tura Inglesa arrogante e so-litária que dedica sua vida ao trabalho, sobretudo aos quase incompreensíveis so-netos de John Donne. Tudo muda com o diagnóstico de câncer ovariano avançado. Durante o filme ela passa a refletir sobre a sua vida, sobre o tratamento e o tra-balho dos profissionais que a auxiliam. A vida, o arre-pendimento e até mesmo o direito de querer morrer alimentam as reflexões. Emma Thompson investe em uma interpretação pro-funda e forte, consegue con-ceber o câncer quase como outro personagem, o seu antagonista. Poucas atrizes conseguem dominar nossa atenção apenas com o olhar, as palavras e até mesmo o silêncio. Definitivamente merece nosso tempo.

Medicina nos filmesRONALD CAGLIARICOLABORAÇÃO ESPECIAL •• Temas associados à medicina e saúde são corriqueiros em pro-duções cinematográficas; a curiosidade humana pelo corpo, o so-frimento e a morte faz desses filmes um prato cheio para a indústria do cinema e televisão, que a cada dia investe mais em produções

desse tipo. Para nós, estudantes de medicina, grande parte se torna enfadonho por tratar de nosso dia-a-dia, mas sempre há filmes que se superam nessa temática, não apenas por falarem de medicina e saúde, mas aperfeiçoarem isso com bons roteiros, enredos e interpre-tações. Esses cinco filmes que indico investem nisso com maestria e merecem a nossa atenção.

HEMOCULTURAAs obras do médico e escritor Moacyr Scliar

•• No último 27 de fevereiro, Moacyr Scliar faleceu no Hospital das Clínicas de Porto Alegre, aos 73 anos. Ele havia sofrido um AVC em janeiro. O que poucos sabem é que o grande escritor brasileiro era também médico sanitarista e pro-fessor da Universidade Federal do RS. Seu primeiro livro, Histórias de um Médico em Formação, foi

publicado em 1962, ano em que se formou médico pela UFRGS. Como médico, foi chefe da equi-pe de Educação em Saúde da Se-cretaria de Saúde do RS e diretor do Departamento de Saúde Pública. Cursou Medicina Comunitária em Israel e fez doutorado em Saúde Pú-blica pela Escola Nacional de Saúde Pública. Como escritor, publicou mais de 80 livros: romances, crônicas, contos, literatura infantil, além de

escrever artigos para a Folha de S. Paulo. Conquistou uma cadeira na Academia Brasileira de Letras e três prêmios Jabutis. Teve suas obras publicadas em mais de 20 países. Scliar foi um dos gênios da literatura brasileira, e mais um grande médico-escritor. Deixa saudade e o consolo na certeza de que “o ninho poderá ficar um tanto vazio, mas a verdade é que outro ninho surge, não raro vários deles” (Moacyr Scliar).

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•• Os Hospitais Universitários Federais são um dos maiores desafios a serem enfrentados quando falamos de saúde pública em nível hos-pitalar. Não bastasse o papel que esses hospitais assumiram na rede SUS, sendo unidades de média e alta complexidade e, portanto, refe-rências estaduais para praticamente todos os tipos de tratamento, os HUs apresentam já no seu nome a sua complexidade para resolução de problemas, afinal, são um problema, digamos, interministerial. A questão é fácil de ser entendida, afinal, quando pensamos em hospitais somos levados a pensar automaticamente em Minis-tério da Saúde, mas quando o hospital em questão é um hospital-escola, uma autarquia de uma Universidade Federal, uma unidade de formação profissional em nível superior, somos, em seguida, levados a pensar no Ministério da Educação. Acho que dá pra começar a ima-ginar aonde isso vai parar, não é mesmo?! Já dizia um ditado popular que “cachorro que tem muito dono morre de fome”. Dessa forma, ainda que exista no papel uma teórica divisão do que deve ser custeado e mantido por cada um dos ministérios, o “jogo de empurra” se mistura à burocracia e à morosidade que, infelizmente, são típicas dos nossos órgãos públicos e, então, tudo fica engessado. É claro que a generalização não é possível, afinal, conseguimos encontrar por aí HUs que são tidos como modelos de gestão, como, por exemplo, o Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Acontece que em assunto tão importante a exceção deveria ser regra, pois quando instituições assim não funcionam uma parcela importante da população brasileira que depende única e exclusiva-mente desses serviços para cuidar da sua saúde se vê órfã de um Governo que tanto se lembra dela com a cobrança de taxas das mais diversas, fruto de um sistema tributário caduco e que urge por mu-

danças. O fato é que quando vemos que a atual Presidenta do Brasil e o valente e exemplar ex-vice-presidente procuraram o Hospital Sírio Libanês (excelência em quase tudo que existe no mundo da medici-na) para obterem um tipo de tratamento que o Governo não disponi-biliza no SUS só podemos ser levados a duas reações. Uma seria a de aceitar que é assim que as coisas funcionam e que esse é o já sabido lado sombrio das injustiças do sistema capitalista; a outra seria, além de aceitar esse fato, nos incomodar e, no mínimo, nos questionar o motivo de tamanho descaso da classe política com a saúde pública do nosso país. É interessante pensar que os membros do nosso poder le-gislativo são eleitos como representantes do povo, assim como o executivo, mas praticamente não usam nenhum dos serviços que o “povão” faz uso. Alguns (poucos) talvez já tenham freqüentado filas do SUS e tenham sofrido com a falta de material adequado, com as condições de infra-estrutura precárias e o déficit de funcionários, mas, infelizmente, parecem não se lembrar tanto assim dessa época, talvez seja um período que queiram apagar das suas memórias tanto quanto gostam de se lembrar dele ao escreverem as suas biografias (valorizando como alguém tão humilde chegou tão longe). Como seriam os nossos hospitais e unidades de saúde se cada uma dessas pessoas quando em exercício de mandato fosse obrigada a ser atendida pelo SUS?! Ainda que a idéia pareça fora de propósito, penso que seriam bem melhores, pois o pavor dos nossos ilustres representantes de um dia parar nas mãos do sistema de saúde, por eles gerido, como se encontra hoje em dia parece ser grande, tan-

Até quando?

Verborragia publica artigos escritos pelos alunos de Medicina da Ufes. Mande seu texto para [email protected]

VERBORRAGIA por Murilo Hosken acadêmico da turma 77 (12º período)

“Para alguns é muito fácil ser indiferente, afinal é confortável fingir que o problema não é da nossa conta. Eu também acho que dê muito menos trabalho entrar no Hospital, escolher um paciente para aprender semiologia e fechar os olhos para os leitos vazios que estão logo ao lado.

to que o Senado Federal possui um “plano de saúde” acordado com o Sírio Libanês que cobre até ex-senadores e familiares, caminho que também está prestes a ser seguido pela Câmara dos Deputados. A saúde pública no Brasil é uma questão de difícil solução e, trazendo para a nossa realidade, o fato é que estamos assistindo a cada dia a instalação do caos no HUCAM. São leitos fechados por falta de funcionários, um pronto-socorro transformado em unidade referenciada de emergência (que em nada atende a formação que se espera de nós), falta de equipamento básico para suporte clínico aos pacientes nos leitos que estão em funcionamento e vidas perdidas aparentemente em vão. Podemos optar por sentar e ficar discutindo por meses se os problemas são relacionados a uma crise de custeio ou de gestão, mas ainda que essa discussão seja importante, ela não trará de imediato as respostas nem as soluções que precisamos. Não podemos assistir a tudo isso parados. Acredito que nós sejamos parte importante na busca de soluções para os problemas que se apresen-tam para o nosso Hospital. Nós conhecemos o problema melhor do que muitas das autoridades que fingem não saber, mas até quando vamos esperar?! A participação dos alunos é ponto fundamental na resolu-ção dessas carências. Ou será que quando pensamos em ser médicos abrimos mão de nos preocupar com a sociedade que nos circunda e resolvemos nos preocupar somente com a nossa formação acadêmi-ca?! Para alguns é muito fácil ser indiferente, afinal é confortável fingir que o problema não é da nossa conta. Eu também acho que dê muito menos trabalho entrar no Hospital, escolher um paciente para aprender semiologia e fechar os olhos para os leitos vazios que estão logo ao lado. Acontece que saber que muitos são os que precisam daquele leito e não podem ser internados porque o Hospital não tem funcionários para fazer com que a sua capacidade máxima de leitos seja utilizada e, simplesmente, virar as costas porque a sua aula de semiologia já acabou e não contempla tal discussão é triste vindo de pessoas que optaram por seguir essa profissão. Saio hoje da Universidade com a certeza de ter feito bas-tante para tentar ajudar, espero poder voltar um dia como parte da solução, mas antes disso espero que os que chegam não deixem o problema de lado. E isso não se resume aos problemas do Hospital. É algo que se estende aos problemas que temos nos departamentos e colegiado de curso, aos professores (e não são todos!) que prefe-rem assumir cargos de serviços que, muitas vezes, nem existem para abater na sua carga horária, assim como as aberrações do nosso cur-rículo frente à formação que o MEC preconiza para o nosso curso. O fato é que passar seis anos da sua vida dentro de uma Instituição como essa e ser passivo a tudo isso é, no mínimo, decepcionante. Talvez sozinhos nós sejamos pequenos demais para bater de frente com os gigantes que realmente podem transformar essa reali-dade, mas quem disse que estamos sozinhos?! Estou certo que somos um grupo forte e que tem identidade, o nosso Diretório Acadêmico não existe para oferecer ar-condicionado aos que passam calor no verão capixaba, mas para ser sede de debate e transformação daquilo que desejamos mudar. Resta a cada um de nós decidir se prefere fingir que o problema não é da sua conta e torcer para que nenhum familiar nosso dependa um dia dessa estrutura caótica ou nos mover e buscar a solução. Estejam certos de que, mais do que a sociedade em si espera de nós, acredito que ser parte da mudança estando no lugar privilegiado que estamos é o que os nossos pais esperam da gente e, no fundo, é o que nós mesmos esperamos da pessoa que queremos ser. Agora, até quando vamos esperar?! Vamos mais uma vez nos encher de inspiração e vontade ao ler um texto de jornal e ver que não estamos sozinhos e... continuar parados?! Enfiar o RAIO-X na mochila e deixar, mais uma vez, o problema para outra pessoa?! E se vamos continuar sentados sem fazer nada, só me resta perguntar... até quando?!