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um reitor O Jornal dos Estudantes de Medicina da UFES Abr/Mai/Jun 2011 - Edição 9 Siga-nos! www.twitter.com/raiox_medufes Procura-se RAIO-X lançou edição especial dos 50 anos do curso de Medicina da Ufes na solenidade de abertura das comemorações do cinquentenário. J U B I L E U D E O U R O Após a renúncia de Rubens Rasseli, a composição das chapas se acelerou e, nos campi, o clima já é de campanha. O primeiro turno do pleito, que promete ser o mais disputado dos últimos anos, será dia 15 de setembro. O perfil e as ideias de quem quer comandar a Reitoria da Ufes Confira as propostas dos candidatos para o Hucam Guia especial para tirar suas dúvidas sobre o processo eleitoral Reitoráveis. Reinaldo, Antônio Carlos, Armando, Sônia, José Eduardo e Sebastião estão na disputa. ANAMNESE A carreira, as histórias, e os hobbies de Falqueto REPORTAGEM ESPECIAL. ELEIÇÃO PARA REITOR DA UFES POLÊMICA Faesa abre 6ª faculdade de Medicina do Estado em 2012 Senado veta estatal dos hospitais universitários MP 520/2010

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O Jornal dos Estudantes de Medicina da UFES. Edição 9: Abr/Mai/Jun 2011

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Page 1: Raio-X, nº 9

um reitor

O Jornal dos Estudantes de Medicina da UFES Abr/Mai/Jun 2011 - Edição 9 Siga-nos!www.twitter.com/raiox_medufes

Procura-se

RAIO-X lançou edição especial dos 50 anos do curso de Medicina da Ufes na solenidade de abertura das comemorações do cinquentenário.

J U B I L E UD E O U R O

Após a renúncia de Rubens Rasseli, a composição das chapas se acelerou e, nos campi, o clima já é de campanha. O primeiro turno do pleito, que promete ser o mais disputado dos últimos anos, será dia 15 de setembro.

O perfil e as ideias de quem

quer comandar a Reitoria da Ufes

Confira as propostas dos

candidatos para o Hucam

Guia especial para tirar suas dúvidas sobre o

processo eleitoral

Reitoráveis. Reinaldo, Antônio Carlos, Armando, Sônia, José Eduardo e Sebastião estão na disputa.

ANAMNESE

A carreira, as histórias, e os hobbies de Falqueto

REPORTAGEM ESPECIAL. ELEIÇÃO PARA REITOR DA UFES

POLÊMICA

Faesa abre 6ª faculdade de Medicina do Estado em 2012

Senado veta estatal dos hospitais universitários

MP 520/2010

Page 2: Raio-X, nº 9

•• A renúncia do então reitor Ru-bens Rasseli surpreendeu a co-munidade universitária e a socie-dade em geral. RAIO-X também foi pego de supresa. Após a notí-cia inusitada, porém, veio a onde de especulações sobre como e quando seria o processo de es-colha do novo reitor. Às pressas, as chapas começaram a se lan-çar pelos campi, provando que a disputa promete ser intensa, voto a voto. Isso é bom. Ganham os candidatos, os eleitores e a Ufes, porque a discussão em torno dos problemas universitários assume a importância que deveria ter sempre, mas que infelizmente é ignorada rotineiramente, por motivos diversos. Esta 9ª edição de RAIO-X traz seis páginas de reportagens especiais sobre o processo eleitoral para a escolha do reitor e vice. Os destaques de capa já anunciam o que o lei-tor encontrará no conteúdo do jornal: muita informação útil e prestação de serviço. Afinal, o posto máximo da Ufes entra em disputa de quatro em quatro anos e muitas são as dúvidas levanta-das por quem estuda ou trabalha nos campi. A próxima edição, em agosto, antes do pleito em setembro, também trará um ma-terial especial. Até lá, não deixe de ler a edição que você tem em mãos. Visite também nossa pá-gina no Facebook (http://migre.me/50zep) e siga-nos no Twitter (@raiox_medufes). Boa leitura!

EXPEDIENTE. RAIO-X é o Jornal dos Estudantes de Medicina da UFES. Publicação do Diretório Acadêmico de Medicina da Universidade Federal do Espírito Santo (DAMUFES).Editor Wagner Knoblauch (T80) Textos Aline Castelan (T84), Cássio Borghi (T86), Eduardo Pandini (T83), Gustavo Franklin (T83), Jequélie Cássia (T80), Leonardo Tafarello (T80), Pau-la Peçanha (T85), Victor Cobe (T80) e Wagner Knoblauch. Crédito das fotos Equipe RAIO-X, Arquivo e Internet. Diagramação Equipe RAIO-X Impressão Gráfica UFES Tiragem 500 exemplares Fale com o editor Tel.: (27) 8153-3178Email: [email protected]

•• Nosso curso comemora 50 anos, e vários são os exemplos de ex-alunos de sucesso, referên-cias nacionais e internacionais. O segredo: muita dedicação por parte dos alunos e uma sólida base de conhecimentos médi-cos, formada graças aos nossos professores. Entretanto, já faz algum tempo que se percebe que essa solidez já não é a mesma. Inúmeras são as falhas em uma etapa-chave do curso, justamen-te a que sustenta tudo o que está por vir: o Ciclo Básico. Passei pelos dois primeiros anos do curso com sérias dúvidas sobre a validade e utilidade de muito do que me foi ensinado. Tive ex-celentes professores, é verdade, mas outros deixaram diversas la-cunas em minha formação, algu-mas em matérias fundamentais. Um dos grandes motivos para a perda de qualidade é a falta de professores médicos. Outrora a grande maioria no básico, hoje são uma minguada parcela. Nem todos os professores médicos são bons, e o contrário também ocorre. Mas essa é a regra geral. A maioria dos docentes egressos de outros cursos na minha época não tinha conhecimento sólido em Medicina, e as coisas não me-lhoraram. Posso citar alguns tris-tes exemplos, como a professora de Embriologia que se limitava a ler (errado) o que estava escrito no livro; a professora de Gené-tica (especializada em golfinhos rotadores!) incapaz de entender os próprios slides, a professora de Imunologia que dava aulas vazias de quarenta minutos; o professor de Microbiologia que dava duas horas e meia de intro-dução e quinze minutos de maté-ria útil – transformando a maté-ria em uma das mais enfadonhas e odiadas do básico; os profes-sores da mesma Microbiologia que colocavam seus mestrandos para dar aula em seu lugar... Os exemplos são inúmeros! Em di-versas ocasiões, senti vergonha por meus colegas diante de pro-fessores pagos para fazer o que não sabiam: dar uma aula de-cente para alunos de Medicina. A distinção entre médicos e

EDUARDO PANDINI

Deficiências básicas

não-médicos é facilmente per-cebida nas aulas. Em sua grande maioria, os médicos focam o que é interessante para o estudante de Medicina saber: correlações clínicas, aspectos importantes para diagnóstico e fisiopatolo-gia... Detalhes moleculares e outras decorebas são deixados de lado. Em contraste, os não-médicos não têm vivência clí-nica e, com algumas exceções notáveis, não dão a menor im-portância para isso. Para muitos deles, principalmente os pesqui-sadores, o aluno deve sair da sala sabendo tudo para se destacar em qualquer laboratório. Como resultado, eles parecem dar aula para alunos de iniciação cientí-fica – ainda que quase ninguém acabe por se tornar pesquisador. O resto terá inúmeras deficiên-cias por ter aprendido detalhes irrelevantes em vez do que real-mente interessa, e não raro toma nojo pela pesquisa laboratorial. O cúmulo disso foi a declaração de um professor de Bioquímica, que disse que “é inadmissível que um médico não saiba cálcu-lo”. O inadmissível é um médico não saber Medicina – e a Bioquí-mica de hoje, desvirtuada, con-tribui para isso. À “síndrome da Iniciação Cien-tífica” soma-se o estereótipo do aluno de Medicina, falso mas di-fundido. Segundo ele, o estudan-te de Medicina é muito curioso e quer saber absolutamente tudo, nos mínimos detalhes. Nós, em geral, perguntamos e queremos nos aprofundar, mas desde que o assunto seja relevante. Não que-remos saber todas as subdivisões da proteína X e o que cada uma delas faz, queremos aprender aquilo que vai nos ajudar a tratar os pacientes! Por que é tão difí-cil entender isso?

Redação. Mande sua sugestão de reportagem, crítica ou comentário para [email protected] e ajude a fazer o jornal RAIO-X.

Há também a vontade de “mostrar serviço”: o professor não-médico pensa que só será respeitado se cobrar detalhes de rodapé em suas provas, por supor erroneamente que o médico as-sim o faz. A prática torna a carga horária inflada e cheia de con-teúdo irrelevante. O tempo que o aluno poderia ter a mais para estudar algo útil é tomado por aulas cansativas e que não acres-centam nada. As várias lacunas no conteúdo são preenchidas a duras penas no futuro, quando os alunos chegam ao Ciclo Clínico sem saber conteúdos básicos e precisam tirar o atraso. Nesse ambiente, os poucos médicos se destacam. Tornam-se modelos de conduta, e em mui-tos casos é graças a eles que os alunos não abandonam o curso. Afinal, a desilusão é grande. Depois de realizar o sonho de passar em Medicina, o estudante encara disciplinas que se asse-melham a uma verdadeira tortu-ra. Não era para ser assim. Bons médicos são aqueles que amam o que fazem, e o amor à Medici-na começa desde cedo – mas não é possível amar decoreba inútil e desestímulo. O que fazer para evitar essa proliferação de mestres e douto-res incapazes de dar uma aula que preste? Permitir que os residen-tes façam mestrado é interessan-te. Afinal, residência não conta pontos em currículo, e pouquís-simos são os médicos dispostos a engatar residência com pós-graduação. Outra solução seria dar à residência o mesmo status de mestrado ou doutorado – tam-bém é uma especialização, mais útil do que a de muitos “mes-tres” ou “doutores” que poluem o Básico com suas pseudo-aulas. É importante também fazer com que toda disciplina tenha pelo menos um (bom) médico, para que a matéria não perca seu foco e seu propósito: oferecer conhe-cimento que permitirá ao aluno compreender assuntos mais à frente. Sendo o Básico o alicer-ce para um curso de Medicina bem-feito, ele não pode ficar nas mãos de qualquer um.

Coluna VertebralA opinião de quem escreve o jornal

Caro LeitorA palavra do editor

“Depois de realizar o sonho de passar em Medicina, o estudante encara disciplinas que se assemelham a uma verdadeira tortura.”

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RAIO-X participa do Seminário Médico/Mídia

Estado GeralUm giro de notícias diversas

•• A importância da comunica-ção no setor de saúde e a relação de “amor e ódio” entre profissio-nais do jornalismo e da medicina estiveram no centro dos debates de todas as dez palestras minis-tradas no VI Seminário Nacional Médico/Mídia, realizado nos dias 27 e 28 de abril, no Rio de Janeiro. O evento reuniu jorna-listas e médicos de diversas regi-ões do país que discutiram, entre

outros assuntos, como fortalecer o relacionamento entre esses profissionais. Único capixaba no evento, o acadêmico Wagner Knoblauch, editor de RAIO-X, esteve no Rio representando a Assessoria de Comunicação do Diretório Acadêmico de Medicina da Ufes (DAMUFES), para acompanhar as palestras, estreitar contatos e trocar experiências com os pro-

fissionais das áreas de saúde e comunicação de todo o país. Entre os palestrantes, nomes consagrados do jornalismo e da medicina, tais como repórteres e produtores da TV Globo e de grandes jornais cariocas e repre-sentantes de diversas entidades médicas, principalmente sindi-catos. O evento, aberto oficialmente pelo presidente da FENAM (Fe-

Mestrado Médico•• O primeiro processo seletivo do curso de Mestrado Profissio-nal em Medicina está previsto para julho e o ingresso dos alu-nos deve ser no mês seguinte. A pós-graduação foi aprovada pela Capes em novembro de 2010 e apenas os médicos residentes do Hucam que tenham no máximo 18 meses para o término de sua residência médica podem parti-cipar da seleção. Além de exame de conhecimentos básicos em Medicina, o processo contará com desenvolvimento de plano de estudo, análise de currícu-lo, entrevista e prova de inglês. Serão oferecidas 20 vagas nas áreas onde há linhas de pesqui-sa no hospital: Clínica Médica, Cirurgia, Pediatria, Ginecologia/Obstetrícia, Anestesiologia, Pa-tologia e Radiologia.

Um Elefante incomoda muita gente...•• Após transtornos e 767 dias de atraso, a Prefeitura de Vitória (PMV) entregou em abril parte da obra do Elefante Branco, pavilhão de aulas teóricas do Centro de Ciências da Saúde. Até o fechamento desta edição, as cinco salas concluídas ainda não estavam em uso, por falta de carteiras e insulfilm nas janelas. A expectativa da Universi-dade é que a outra parte da obra – o que inclui a reforma das três salas atualmente interditadas – tenha início em breve (ou seja, tudo pode acontecer, inclusive nada!). De acordo com a dire-ção do CCS, a empreiteira que hoje toca os serviços iniciará a construção da outra metade do edifício, mas a finalização des-ta etapa (reforma de três salas e

Conferência de Saúde•• Acontece em novembro em Brasília a 14ª Conferência Na-cional de Saúde, com o tema “Todos usam o SUS! SUS na Seguridade Social, Política Pública, patrimônio do Povo Brasileiro”. O evento pretende discutir o acesso e acolhimento de qualidade no SUS, a política de saúde na seguridade social, a participação da comunidade e a gestão do SUS (financiamento, relação público-privado e ges-tão do sistema, do trabalho e da educação), entre outros temas. As etapas municipal e estadual ocorrem entre abril e outubro. Historicamente, as CNS, que acontecem de 1941, definiram boa parte dos rumos que a Saú-de tomou no Brasil. Para mais informações sobre a 14ª CNS acesse www.conselho.saude.gov.br/14cns.html.

deração Nacional dos Médicos), Cid Carvalhaes, pelo presidente do Conselho Federal de Medi-cina, Roberto D’Ávila, e pelo secretário de Comunicação da FENAM, Waldir Cardoso, con-tou com a participação de jorna-listas, médicos e estudantes de 17 estados. Milhares de pessoas acompanharam o evento ao vivo pela internet, de acordo com a organização.

construção de outras três) está na dependência de uma nova licita-ção, ainda sem previsão. Iniciada em agosto de 2008, a ampliação e reforma do Elefante Branco deveria ter sido concluí-da em 180 dias (março de 2009), segundo prazo estipulado pela própria administração munici-pal. A obra é de responsabilidade da Prefeitura de Vitória e é uma das contrapartidas à cessão do terreno da Ufes, em Goiabeiras, para a duplicação da Av. Fernan-do Ferrari. A empreiteira que as-sumiu incialmente os serviços, após bloquear 11 das sete salas, faliu. O canteiro de obras ficou parado por meses, para o desepe-ro de alunos e professores. A ca-pítulo atual dessa novela é dra-mático: nem a Ufes nem a PMV têm ideia de quando a obra – e o tormento – terão fim.

Esportes em alta•• A Assessoria de Desportos e Lazer do DAMUFES trabalha a todo vapor. O novo mascote do curso, o Agulhão (Marlin Azul, símbolo capixaba por ex-celência) é apresentado abaixo em primeira mão. E para pre-

miar o time campeão da Copa MedUfes 50 anos (em homena-gem ao Jubileu de Ouro), uma taça especial foi encomendada. Ela foi apresentada oficialmen-te em sessão solene na Assem-bleia Legislativa e está em ex-posição na sede do Diretório.

Prêmio. O aluno Pedro Dias e o ex-aluno Gelcílio Barros com a taça da Copa MedUfes 50 anos.

Disputa acirrada•• 719 candidatos disputaram em maio três vagas oferecidas para Medicina no processo seletivo de vagas surgidas da Ufes (trans-ferência, novo curso, remoção e reopção). A concorrência (239,6/vaga) superou em mais de três vezes o recorde do VestUfes 2011 (69,4/vaga). Para partici-par da seleção, no caso da trans-ferência, o candidato teve que comprovar ter cursado mais de 20% e menos de 60% da carga horária total do curso de origem. Neste ano, a prova de Medicina teve 50 questões objetivas (25 de anatomia e 25 de bioquími-ca). Os aprovados ingressarão já no próximo semestre. Em 2009, 242 alunos disputaram as duas vagas disponíveis e a prova con-tou com 20 questões objetivas, englobando todo o conteúdo mi-nistrado no ciclo básico.

Hucam internacional•• O Hucam está criando tradi-ção em receber alunos estran-geiros. Foram 19 gringos até o ano passado: 2007 (1), 2008 (1), 2009 (6) e 2010 (11). Neste ano já recebemos quatro e no mínimo mais 9 têm planos de passar por aqui. Os números provam que estamos preparados e dispostos a oferecer um ótimo estágio para acadêmicos internacionais. Este ano promete ser uma verdadeira torre de Babel com 4 poloneses, 2 sérvios, 2 italianos, 1 equato-riana e 1 francês. O portuñol não vai dar conta, mas nossos alunos já mostraram que sabem se virar em qualquer situação garantindo boas experiências e muito apren-dizado! Em 2011, serão 8 alu-nos da MedUfes decolando para Equador, Peru, França, Espanha e Inglaterra.

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•• Humilde, simples, competen-te, prestativo... Seja entre os alu-nos, colegas médicos ou pacien-tes, difícil encontrar alguém que aponte grandes defeitos ou des-fira críticas negativas a ele. Alo-ísio Falqueto é um dos profissio-nais mais admirados do campus, tanto como pessoa, quanto como médico e professor. Prova disso é a quantidade impressionante de turmas que já o homenagea-ram nas formaturas. Além de um currículo invejável na área de infectologia e de vasta experi-ência clínica, o mestre Falqueto, ex-aluno da 12ª turma do curso, também guarda um passado de histórias interessantes e curiosas com o movimento estudantil, já que presidiu o Diretório na déca-da de 70. Confira a entrevista:

Por que o senhor escolheu a Medicina? Foi uma decisão mi-nha, desde o científico (antigo ensino médio), pelo gosto das ciências e de lidar com o pacien-te. No colégio, meu teste voca-cional apontou Biologia e Me-dicina, praticamente empatados. Não houve influência da família. E antes mesmo de entrar o curso estava decidido que iria seguir a carreira do magistério. Sempre tive esse sonho e felizmente con-segui realizá-lo. Tive uma ótima formação no ensino secundário, fiz seis meses de cursinho depois de ter ficado dois anos no interior devido a uma situação financei-ra difícil. Foi uma surpresa, uma notícia bombástica quando apa-receu o resultado do vestibular, minha aprovação em primeiro lugar, principalmente porque eu era do interior, totalmente desco-nhecido em Vitória.

Mas logo no primeiro período veio uma nota nada agradá-vel... Foi na Histologia, no pri-meiro período. Houve uma ou duas notas acima de cinco, e o restante de zero a cinco e pouco. Tirei dois. O professor não devia estar em um dia bom. Chamou a atenção, porque a turma era boa e estudiosa. A experiência serviu de ensinamento para minha car-reira, apesar de, às vezes, não ser

muito exigente com os alunos. O professor nunca deve deses-timular o aluno, aplicar prova para avaliar o que ele deixou de aprender, e sim o que aprendeu e evoluiu. Você tem que dar con-dições para o aluno aprender, e não castigar por que ele não aprendeu.

Como o Sr. avalia o ensino e os alunos da UFES? O ensino pode melhorar mais, se integrar verdadeiramente o Básico e a Clínica. Sem bons professores que correlacionem matérias bá-sicas com as doenças, o aluno perde muito em interesse e deixa de aprender conhecimentos fun-damentais. E o médico faz essa integração mais facilmente. Se já viu o atendimento de doentes, a pessoa terá mais facilidade para ensinar no Básico aquilo que é a essência, para o aluno valorizar mais alguns pontos mais im-portantes na hora de lidar com

o paciente. Infelizmente, hoje temos pouquíssimos médicos no Básico, já que é financeiramen-te mais vantajoso para o médico trabalhar fora. Há outras falhas também, como a ausência de um “núcleo comum”, um ambulató-rio de clínica médica com todas as especialidades, oferecendo ao paciente uma consulta interdisci-plinar. Isso seria excelente para o serviço e para o aprendizado. Como muitos médicos vão tra-balhar no atendimento primário, o ensino só em um hospital terci-ário talvez não seja o ideal. Mas mesmo com todas as falhas e to-dos os problemas, a UFES forma bons médicos, como podemos constatar ano após ano nas pro-vas de residência de todo o Bra-sil. Isso é mérito principalmente dos nossos alunos, que em geral são muito bem servidos de co-nhecimento. Quanto ao compor-tamento com o paciente, alguns poucos pecam às vezes em como

se portar, conversando parale-lamente nos ambulatórios. Isso não é bom. É preciso primeira-mente conquistar a confiança do paciente. Ele vem em busca de solução para um problema e es-pera um profissional atencioso.

O Sr. teve uma grande partici-pação no movimento estudan-til e toda a sua graduação foi na época da ditadura militar. Quais eram as dificuldades enfrentadas naquela época? A grande dificuldade era ter a li-berdade tolhida. Não podíamos manifestar nosso pensamento e nossas ideias. Tudo era direcio-nado. Minha turma havia sido a primeira sob o sistema de crédi-tos, uma ideia maquiavélica para desmontar a liderança estudantil e que felizmente não funcionou. Só no primeiro ano haveria uma turma em que os alunos ficariam juntos. A partir do segundo perí-odo, os alunos optavam por di-ferentes disciplinas, e a turma se separava já naquele momento. E a convivência forma as lideran-ças. De uma turma que perma-nece seis anos junta surgem os líderes, aqueles que terão um papel importante na sociedade. Na época nós também não po-díamos nos manifestar ou fazer reuniões. Eu comecei a parti-cipar das reuniões do diretório acadêmico quando entrei na uni-versidade, e no segundo período ele foi fechado, vários membros foram presos, foram consumidos todos os mais de dois mil livros da biblioteca. Em 1975 tenta-mos resgatar os volumes, mas ninguém mais deu notícia do acervo que desapareceu, nem a Polícia Federal. Eu não cheguei a ser preso, mas duas vezes por mês tinha uma entrevista com o agente do Sistema Nacional de Informações para prestar contas e informar como estava a situ-ação, minha visão, os alunos e se havia algum tumulto. Havia pressão psicológica, mas não tortura. Já não era uma época tão agressiva. Na época do fecha-mento do diretório houve muita violência, prisões. Mas mesmo três anos depois, em 1975, ain-

Adorável mestre O professor Aloísio Falqueto é um dos médicos mais competentes e admirados da universidade. Nesta entrevista, ele fala de sua relação com o movimento estudantil, de sua paixão pela docência e revela seus hobbies preferidos.

ANAMNESE

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da havia aquele temor por parte dos colegas, as piadinhas com os “subversivos”, aqueles termos encucados pela ideia que vinha de cima. Quando reabrimos o diretório, as lideranças restan-tes na faculdade, o José Geraldo Mill, o Claudino, o prof. Thomaz Tommasi, precisavam escolher alguém dinâmico para reerguer o diretório, mas não impulsivo a ponto de bater de frente com os militares. Na época ainda vi-goravam o AI-5 e o Decreto-Lei 477, e se você desse um passo em falso podia ser preso a qual-quer momento. Então me convi-daram para ser candidato naque-la primeira eleição de reabertura do diretório. Ganhei a eleição, e assim iniciamos de novo as ati-vidades. Na época tivemos que reestruturar tudo, eles nos deram uma sala e eu mandei um ofício para o ministro da Educação ex-plicando toda a situação, daí con-seguimos tudo: mesa, cadeiras, máquina de datilografar. Mon-tamos toda a estrutura básica, mimeógrafo, e logo em seguida veio o jornalzinho. No início era muito difícil porque havia a ideia de que movimento estudantil era coisa de “subversivo”, e tivemos muito trabalho para mostrar que não, que era uma forma de fazer ressurgir lideranças. Se você não permite que as lideranças se ma-nifestem ainda na vida estudan-til, dificilmente isso ocorrerá de-pois. Hoje temos muito orgulho de ver nossos colegas de época, Lelo Coimbra, Anselmo Tozi, Fernando Herkenhoff, Claudi-no... Às vezes nós tínhamos que frear o Claudino porque ele que-ria bater de frente com a ditadu-ra. Lembro que eu falava “gente, eu estou com vocês, mas eu não posso deixar vocês saírem dando cabeçada porque senão eles vão fechar de novo, e aí é o fim do movimento estudantil”. Como o diretório englobava também a Odontologia e as Ciências Bioló-gicas, a reabertura foi importante para a integração, para não criar animosidade entre os estudantes. Depois de mim, veio um estu-dante da Odontologia. Depois cada curso teve seu próprio di-retório, mas no início essa união foi fundamental. Lá eu aprendi muita coisa, como fazer presta-ção de contas de verbas públicas federais, além da integração com os colegas.

Além de lutar contra a dita-dura e tentar atrair a atenção dos alunos, no que mais atua-va o Diretório? O esporte tinha

uma atuação muito importante dentro do Diretório Acadêmico. Era uma maneira de aproximar os alunos, por ser uma atividade sem partidos, sem ideias. Depois montamos um grupo de teatro comandado pelo Claudino, in-clusive com apresentações. Cria-mos também a Semana Científi-ca do Centro Biomédico, que teve algumas versões mas depois acabou se perdendo. Trazíamos professores de fora, tínhamos uma semana de palestras. Além de toda a questão do movimento estudantil, de reeducar as pes-soas para a participação na vida política, que eu considero fun-damental para o surgimento de novas lideranças.

O Sr. foi fundamental para o movimento estudantil, como o primeiro presidente do Di-retório Acadêmico depois da reabertura. Depois preferiu não seguir a carreira política? Eu nunca tive tendência para a política. Embora tenha minhas ideias, mais voltadas para o so-cialismo, nunca fui um militan-te ativo nem me filiei a nenhum partido. Isso é do próprio caráter. Os políticos são como os profes-sores, os jogadores de futebol, os pintores, os músicos: não são for-mados, simplesmente já nascem com o dom. Eu nunca tive essa vertente política, aqueles trejei-tos de político, sou fraco nessa parte. Desde o início defini que queria ser professor, e não políti-co. Mas sempre procurei partici-par e discutir ideias, porque isso é fundamental. Infelizmente no Brasil não temos partidos defini-dos, temos uma miscelânea que troca de camisa a cada dia, e a participação ativa na discussão política se torna difícil.

Paralelamente às atividades de professor, o Sr. trabalha com pesquisa. Por que motivo? É quase uma necessidade. No crescimento da carreira dentro da universidade, como profes-sor, há essa necessidade de se integrar as atividades de ensino, pesquisa e extensão. Concentrei-me em ensino e pesquisa, e mes-mo dentro da pesquisa meu per-fil não é de administrador, esse lado político do pesquisador que também é necessário. É mais de laboratório, de bancada. Quando terminei meu mestrado na UFRJ, defini que queria ir para uma instituição de pesquisa. Fui para a Fundação Oswaldo Cruz, que para mim é a casa mais represen-tativa da pesquisa no Brasil.

Como é o Aloísio Falqueto fora da Medicina? Sempre muito pacato, me integrando bem com todos os setores da sociedade, dos jovens aos mais antigos, dos mais humildes aos mais eruditos. Isso é importante na Medicina. Eu participava muito de ativi-dades esportivas, já fui goleiro de futebol de salão na época de estudante, mas parei há muitos anos. Fora isso, tenho meus hob-bies. Como capricho de fim-de-semana, tenho um laboratório de reprodução de orquídeas em Venda Nova. Tudo começou aqui, no fundo do quintal, mas a estrutura ganhou volume e de-pois que minha esposa se apo-sentou transferimos tudo para lá. Montamos uma equipe de sete pessoas, mas eu atuo mais como orientador, extrapolando para a Botânica o conhecimento ad-quirido em microbiologia e pes-quisa. É um capricho de fim-de-semana, eu passo as orientações e eles tocam o laboratório. Mexo um pouco com música, aprendi a tocar teclado no colégio inter-no, mas raramente toco alguma coisa. Nunca participei de apre-sentações nem nada do tipo. Aprecio boas músicas, do serta-nejo aos clássicos, independen-temente do estilo, desde que se-jam bem-feitas. Só não gosto de música pesada. Infelizmente leio muito pouco, alguns clássicos. Em literatura clássica sou muito limitado. Costumo ler muito so-bre Botânica, orquidofilia, e na área médica leio de tudo, não só Medicina Tropical mas em todas as especialidades.

O Sr. é muito querido pelos

alunos, homenageado sempre nas formaturas. A que o se-nhor atribui isso? Costumo di-zer sempre que a pessoa, na vida profissional, tem que fazer o que gosta. E é isso, eu faço o que gosto. Tive essa oportunidade. Infelizmente muitas pessoas não têm a chance de realizar seus so-nhos. Felizmente eu consegui. Desde o início quis ser profes-sor, e acho que por gostar do que faço tenho um bom desempenho. Tenho algumas falhas, nem sem-pre lembro dos nomes de todos. Também me acho muito permis-sivo, não cobro muito. Mesmo assim procuro sempre estimular o aluno, mostrar que o conteú-do ensinado é importante para a vida profissional. Eu tento fazer o melhor possível para ensinar, e com isso mais o bom convívio com os alunos talvez consiga a simpatia deles. Eles sentir-se va-lorizados. Mas a questão funda-mental, a essência do sucesso, é fazer o que gosta.

O Sr. se sente feliz e satisfeito hoje? Sem dúvida. Considero-me realizado dentro do que eu planejei e até onde quis chegar. Vendo retorno em como as pes-soas me julgam, acho que con-segui atender às expectativas dos alunos, dos colegas e dos outros professores. Nunca pensei em adquirir cargo administrativo na universidade. Eu simplesmente quis ser professor. É claro que ainda tenho muitos sonhos. En-quanto tiver saúde pretendo con-tinuar e contribuir para o cresci-mento da universidade. Eu tive a chance até mesmo de ir para o exterior, mas não quis. Deci-di começar uma estrutura nova aqui no Espírito Santo. Quando defendi minha tese no Instituto Oswaldo Cruz, meu coordena-dor me convidou para substituí-lo, mas eu recusei porque queria voltar para cá. Desde então par-ticipei aqui da implantação e do desenvolvimento de três cursos, Doenças Infecciosas, Saúde Co-letiva e Biologia Animal, todos eles hoje com pós-graduação, dois com doutorado. Até hoje integro o curso de Biologia Ani-mal como orientador da Ento-mologia. Pretendo continuar a contribuir com a graduação e a pós-graduação. Depois que os cabelos ficam brancos nós per-cebemos que temos experiência, traçamos uma linha diagnóstica e chegamos a um tratamento com mais facilidade. E por que parar se agora é o momento de transmitir os ensinamentos?

“Depois que os cabelos ficam

brancos percebemos que

temos experiência. E por que parar

se agora é o momento de transmitir os

ensinamentos?”

Page 6: Raio-X, nº 9

PROCURA-SEUM REITOREleição para reitoria em setembro deve ser a mais disputada dos últimos anos

•• Alunos, professores e servi-dores da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) irão às urnas em setembro para escolher o reitor e vice-reitor que coman-darão a universidade pelos pró-ximos quatro anos. A consulta pública, costumeiramente reali-zada em outubro, foi antecipada em virtude da renúncia do então reitor Rubens Rasseli, que com-pletaria oito anos no cargo em dezembro – e 16 anos na reito-ria (leia ao lado). Ele aceitou o convite para assumir a função de assessor especial da deputada fe-deral Rose de Freitas. A saída antecipada de Rasseli, anunciada em abril e confirmada com a publicação da exoneração do cargo em 17 de maio, pegou de surpresa a comunidade uni-

versitária, incluindo os profes-sores que já se preparavam para lançar as suas candidaturas. Até o fechamento desta edição, esta-vam confirmados seis pré-candi-datos na disputa pelo posto má-ximo da Ufes. Pelo calendário, a lista oficial de todas as chapas concorrentes será divulgada so-mente no início de agosto, mas o pleito deste ano já pode ser con-siderado o mais concorrido dos últimos tempos. A expectativa é que a participação da comunida-de, especialmente dos estudan-tes, seja muito mais represen-tativa que na eleição passada, quando apenas 20% dos votan-tes compareceram às urnas para confirmar a reeleição do único candidato, Rubens Rasseli. O período de propaganda elei-toral também só terá início em agosto, mas nos quatro campi o clima já é de campanha. Os pré-candidatos têm visitado os

centros e feito reuniões com os acadêmicos, professores e fun-cionários no intuito de apresentar suas propostas e construir de for-ma coletiva o plano de trabalho. O processo eleitoral, iniciado de forma inusitada com a re-núncia de Rubens Rasseli, ainda segue sob dúvidas e polêmicas. Pela lei, da exoneração à con-clusão da consulta pública, há o prazo de 60 dias. Ou seja, todo o processo deveria estar finalizado até o dia 17 de julho – exatamen-te no meio do período de férias. Entretanto, ao propor as regras, a comissão eleitoral mais que dobrou esse prazo, com o fim previsto para 13 de outubro. Em casos em que há tal dilatação, o governo federal pode nomear um reitor pro tempore, que pode ser o próprio vice-reitor, um pró-reitor ou o decano (docente com mais tempo de serviço). (Cássio Borghi e Wagner Knoblauch)

O que é a eleição? A cada qua-tro anos é realizada uma con-sulta pública nas universidades federais de todo o país para a escolha do próximo reitor. A universidade, porém, não elege o reitor diretamente. A partir de uma consulta pública à comuni-dade acadêmica, uma lista com três nomes (“a lista tríplice”) é encaminhada à Brasília. A partir desta lista o governo é que deci-de quem ocupará o cargo. Em ge-ral, o nome que encabeça a lista tríplice – o mais votado na con-sulta pública – é o indicado pelo governo para assumir a reitoria.

Quando será a eleição? A pes-quisa eleitoral acontece em se-tembro: dias 15 (1º turno) e 29 (2º turno), das 7h às 21h, nos quatro campi. Só haverá segun-do turno se nenhuma das chapas atingir mais da metade dos pon-tos obtidos pelos concorrentes. Disputarão o 2º turno apenas

as duas chapas que obtiverem o maior número de pontos.

Quem pode se candidatar? Apenas professores na ativa, com título de doutorado ou em um dos dois níveis mais elevados da carreira. A inscrição das cha-pas será entre 1º e 4 de agosto.

Quem pode votar? Alunos de graduação (presencial e a dis-tância), alunos de pós-graduação (mestrado, doutorado e residên-cia), professores e servidores técnico-administrativos. As se-ções terão lista de votantes. Os eleitores deverão apresentar do-cumento de identificação com foto.

O voto é obrigatório? Não. O voto é facultativo, e também di-reto, único e secreto.

A votação será eletrônica? Sim. A eleição será informatiza-

da, com o apoio do Tribunal Re-gional Eleitoral (TRE-ES).

Como será o peso dos votos? O voto é paritário, ou seja, tem o mesmo peso (um terço) para cada categoria (alunos, profes-sores e servidores).

Quando será a campanha? De 11 de agosto a 14 de setembro (para o 1º turno) e de 19 a 28 de setembro (2º turno).

Há limite de gastos com a cam-panha? Sim. Cada chapa poderá gastar, no máximo, 20 mil reais, incluindo despesas de qualquer natureza. Cada participante da pesquisa eleitoral poderá doar, no máximo, um salário mínimo (R$545,00). As chapas também deverão fazer prestação de con-tas, parcial e final.

O que é permitido na campa-nha? Debates temáticos entre os

candidatos (sob a coordenação da comissão eleitoral); discus-são com discentes, servidores e professores; produção de cartaz, jornal, faixa e adesivo (seguindo as regras); e propaganda virtual.

O que é proibido na campa-nha? Perturbar os trabalhos aca-dêmicos e administrativos nas dependências da universidade; prejudicar a higiene ou a estéti-ca nas dependências da Ufes (só poderão afixar cartazes e faixas em lugares previamente esta-belecidos pela comissão eleito-ral); promover inaugurações ou homenagens durante todo o pro-cesso eleitoral; utilizar recursos financeiros e/ou patrimoniais públicos; e utilizar recursos pri-vados de não-votantes.

Quando acaba o processo elei-toral? A última reunião do Co-légio Eleitoral está prevista para ocorrer no dia 13 de outubro.

Tire suas dúvidas sobre o processo de eleição do reitor e vice-reitor da Ufes para o quadriênio 2011-2015. PERGUNTAS&RESPOSTAS

Pela 1ª vez, aluno está no comando dacomissão eleitoral

•• O estudante do 9º período de Economia Vitor César Zil-le Noronha, 23 anos, foi eleito presidente da Comissão Coor-denadora da Pesquisa Eleitoral (CCPE) – cargo tradicional-mente ocupado pelos docen-tes. O fato é, provavelmente, inédito entre as universidades federais do país. Na Ufes, tam-bém é a primeira vez que tal comissão tem composição pa-ritária entre as três categorias, com 4 alunos, 4 professores e 4 servidores. A principal função da CCPE é formular as regras da consulta pública e submetê-las aos Conselhos Superiores (Curadores, Universitário e Ensino, Pesquisa e Extensão).

REPORTAGEM ESPECIAL

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Renúncia de Rubens Rasseli embaralha eleição

•• Em abril, a comunidade aca-dêmica da Ufes recebeu com surpresa a notícia de que Rubens Rasseli abandonaria o cargo de reitor para ocupar o cargo de assessor técnico especial da de-putada federal Rose de Freitas (PMDB) – atual vice-presidente da Câmara dos Deputados. Após a notícia, surgida inicialmente por rumores de bastidores, vie-ram as especulações sobre os motivos que o levaram a tal ato. Formado em Odontologia na Ufes em 1979, Rasseli logo in-tegrou o quadro dos docentes na Universidade como profes-sor no departamento de Prótese Dentária, no Centro de Ciências da Saúde (CCS). Além de le-cionar, acumulou vários cargos administrativos, dentre eles o de Superintendente do Instituto de Odontologia. Na reitoria, fo-ram quase 16 anos consecutivos: oito como vice e oito como rei-tor, sendo que o atual mandato iniciou-se em janeiro de 2008 e terminou no dia 17 de maio de 2011, quando foi publicada sua exoneração, cerca de oito meses antes do término deste mandato. A última grande deliberação de Rasseli como reitor foi presidir a

reunião dos Conselhos Superio-res no dia 6 de maio. Na pauta: organização da comissão eleito-ral. Pouco depois, divulgou uma carta à comunidade acadêmica na qual explica a sua renúncia e aponta algumas realizações na Universidade. Não há referência ao Hospital Universitário no do-cumento. Algumas especulações sur-giram na tentativa de explicar os reais motivos da renúncia de Rasseli. Em se tratando de um pleito que promete ser o mais disputado dos últimos anos, a saída antecipada do reitor pegou a todos de surpresa e acelerou a composição das chapas, prin-cipalmente as da oposição. Por serem desconhecidas por grande parte do eleitorado, elas foram obrigadas a intensificarem o marketing, que é a pedra funda-mental para se vencer qualquer eleição. Com todo o histórico de per-manência no poder, nada mais esperado para Rubens Rasseli, que não pode mais se candidatar à reitoria, que aceitar o convite de Rose de Freitas, independen-temente do status ou responsabi-lidade do cargo em Brasília. O

estranho é que Rose de Freitas é rival política de longa data de Paulo Hartung, mas este é um grande amigo de Rubens Ras-seli. Seria esse novo cargo um “estágio” para o seu lançamento como político? Segundo os cálculos, a per-manência de Rasseli na reito-ria garantiria o salário de reitor até dezembro, isto é, o salário de professor mais uma bônus de 40% ou uma gratificação de R$ 6.000,00. Como assessor técnico especial da Câmara dos Deputados, seriam cerca de R$ 12.000,00, por mais dois anos, quando acaba o mandato de Rose de Freitas. É certo que a renúncia macu-lará a carreira de Rasseli. A sua própria reeleição em 2007, que não contou com chapas de opo-sição, foi marcada por um certo apatismo – houve participação de menos de 20% dos votantes. Espera-se que a próxima eleição seja uma das mais atípicas e dis-putadas nos últimos tempos na Ufes e deve, por isso, ser obser-vada de perto, por todo o eleito-rado, com o máximo de atenção e preparo para outros imprevis-tos. (Victor Cobe)

“Temos como objetivo a construção de um novo

Hospital Universitário, que venha a ser uma unidade

de saúde moderna, eficien-te, e uma referência para

a população. Nossa meta é consolidar o Hucam como hospital-escola; torná-lo

mais importante na forma-ção acadêmica, e que ele

possa ampliar os serviços à população e se transformar em espaço privilegiado de

pesquisa”

Rubens Rasseli, no discurso de posse quando foi reeleito reitor, em 2008. Na carta de renúncia,

o Hucam sequer foi citado.

Ex-reitor antecipou saída do cargo de maior visibilidade na Ufes para ser assessor da deputada Rose de Freitas.

Prédio da Reitoria da Ufes, no campus de Goiabeiras.

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A visão dos candidatos sobre o Hucam

REINALDO CENTODUCATTE“Através do Hucam, a Ufes oferece parte im-portante do retorno dos investimentos públicos que recebe. Trabalharemos incansavelmente para que o Hucam se torne o melhor Hospital do Estado, consolidando-se como modelo no aten-dimento público em saúde. Da mesma forma, é urgente a reformulação das estruturas gerenciais e administrativas do Hucam devido às peculiari-dades quanto a questão do atendimento especí-fico e diferenciado da assessoria jurídica.”

SEBASTIÃO PIMENTEL “O Hucam é o maior e mais importante laborá-torório de prática de ensino dos cursos do CCS, além de representar uma das maiores inserções da Ufes na sociedade. Lamentamos o descaso e o abandono pelo qual o Hucam tem passado nos últimos anos. Lutar por melhorias na estrutura do Hucam significa aumentar leitos, melhorar a qualidade desse rico campo de aprendizado e, consequentemente, criar condições para a for-mação de melhores profissionais.”

JOSÉ EDUARDO PEZZOPANE“A Ufes precisa implementar uma política de impacto de gestão que articule sua estrutura multi-campi e reelabore as relações com o CCS. Nesse sentido, o Hucam é fundamental. É um hospital que precisa ser inserido na política pú-blica de saúde e formação médica interdiscipli-nar. O nosso hospital representa um patrimônio cultural e ativo dos profissionais que atuaram e atuam no seu dia-a-dia. Ele pertence à socieda-de capixaba.”

ANTÔNIO CARLOS MORAES “O Hucam é a estrutura administrativa de maior visibilidade social da Ufes. Em nosso planeja-mento estão ações de aproximação entre o coti-diano do Hucam e a formação acadêmica; ações políticas envolvendo as universidades federais contra a MP520; e ações de articulação política metropolitana de saúde para que o Hucam possa atender o público com serviço de qualidade e em tempo adequado, unindo-se aos prefeitos do Espírito Santo numa co-responsabilidade.”

SÔNIA DALCOMUNI“É central em nossa proposta eliminar o distan-ciamento Ufes-Hucam. Valorização e condições de trabalho decentes são duplamente essenciais. Diretor do hospital e reitoria da Ufes devem estabelecer negociações em níveis federal e lo-cal sempre juntos. Ufes sustentável pressupõe qualidade de vida, e o Hucam é nossa unidade avançada de ensino, pesquisa e extensão que mais diretamente cuida da vida, não tem como ser diferente: o Hucam é essencial à Ufes.”

ARMANDO BIONDO FILHO “Em nossa gestão daremos prioridade às rei-vindicações das categorias de classe (Sintufes e Adufes) visando manter o Hucam como uma unidade da Ufes integrado às políticas públicas de educação e saúde. Adequação da estrutura fí-sica para uma melhora dos equipamentos tecno-lógicos e capacitação dos profissionais da saúde para a utilização de ferramentas de gestão ge-rando melhorias nos procedimantos de normas e rotinas dos setores estão em nosso projeto.”

RAIO-X perguntou aos seis pré-candidatos à Reitoria da Ufes qual a importância do Hospital Universitário para a universidade e o espaço que ele terá em seu plano de trabalho. Veja as respostas:

RAIO-X realiza sabatina com reitoráveis em MaruípeNesta edição, antecipamos o perfil e as ideias de quem quer comandar a Reitoria da Ufes

•• A Ufes escolhe em setembro os nomes do reitor e vice-reitor para o quadriênio 2011-2015, quando acontece a consulta pú-blica à comunidade acadêmica. Na véspera do primeiro turno, RAIO-X realiza no campus de Maruípe uma sabatina com todos os candidatos com o objetivo de apresentar os planos de trabalho de forma clara. O debate repre-senta uma ótima oportunidade para que alunos, professores e servidores da universidade, es-pecialmente do Centro de Ciên-

cias da Saúde, conheçam melhor as propostas de quem almeja comandar a Ufes pelos próxi-mos quatro anos. A sabatina terá transmissão ao vivo pela internet e a data será definida até a pri-meira semana de agosto. Nesta edição, RAIO-X anteci-pa o perfil e as principais ideias dos seis pré-candidatos que assu-miram publicamente o desejo de disputar o pleito até o fechamen-to do jornal, no início de junho. O cenário tecido até o momento se apresenta da seguinte forma: três das seis chapas defendem ideias não tão divergentes daque-las da situação, ou seja, da atual gestão da Ufes. Um bom exem-

plo é o fato de que o vice-reitor do último mandato e reitor em exercício Reinaldo Centoducatte é um dos candidatos ao cargo de reitor. Além disso as chapas en-cabeçadas por Sebastião Pimen-tel e José Eduardo Pezzopane também se apresentam como si-tuacionistas, uma vez que ambos os candidatos eram pró-reitores da atual gestão. Mas se depender de números, a oposição não sai atrás. Os ide-ais oposicionistas também estão representados por três chapas, sendo que uma delas é liderada por uma mulher, fato inédito em toda a história da Ufes. Sô-nia Maria Dalcomuni pode ser a

primeira mulher reitora da nossa universidade. Além dela, Arman-do Biondo Filho e Antonio Car-los Moraes também mostram ao leitor de RAIO-X a que vieram apresentando projetos que pro-metem mudar para melhor os rumos da Ufes. Fato curioso é que quatro candidatos guardam, em seus currículos, alguma relação com as ciências exatas. Além de dois engenheiros também há um ba-charel em física e uma cientista econômica. Outro fato interes-sante, é que, entre os onze candi-datos a reitor e a vice-reitor, so-mente quatro não são graduados pela Ufes.

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• Diretora do Centro de Educa-ção desde • Doutora em Educação pela em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (2003); Mestre em Educação Especial pela Universidade Federal de São Carlos (1993); Graduada em Pedagogia pela Ufes (1989). • Professora do departamento de Teorias do Ensino e Práticas Educacionais desde 1994.

VICE Maria Aparecida Corrêa Barreto (Cida)

• Pró-reitor de Graduação da Ufes desde 2010. • Doutor em História Social pela Usp (2001); Mestre em Educação pela Ufes (1994); Bacharel em Museologia pela Ufrj (1981), Licenciado em História pela Ufes (1977).

• Professor da Ufes pelo De-partamento de História desde 1980. Leciona no Programa de Pós-graduação em História Social das Relações Políticas.• Foi Secretário de Produção e Difusão Cultural da Ufes entre 1996 e 2001.

Sebastião Pimentel • Vice-reitor desde 2004.• Doutor em Física pelo Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (2001); Mestre em Física pela Unicamp (1987); Graduado em Engenharia Elétrica pela Ufes (1979). • Professor da Ufes pelo depar-

tamento de Física desde 1979. Lecionou em muitas discipli-nas nos departamentos de Fí-sica, Ciências Biológicas, Quí-mica e de Engenharia Civil.• Foi diretor do Centro de Ci-ências Exatas (CCE) de 1996 a 2003.

Reinaldo Centoducatte

Por que decidiu se candidatar ao cargo de reitor da Ufes? É uma pré-candidatura colocada por um conjunto de professores, técnicos e alunos que acreditam na minha capacidade de geren-ciar a Ufes política e administra-tivamente, com a sua diversida-de, urgências e carências. O meu compromisso e o meu apreço pela comunidade universitária, aliados a minha carreira docen-te, me proporcionaram a experi-ência necessária para dirigir esta Instituição única e desafiadora. Por que acha que deve ser o novo reitor? Porque a Univer-sidade cresceu exponencialmen-te nos últimos anos e é preciso assegurar a consolidação desse processo de forma qualificada. E eu tenho convicção da minha capacidade para liderar uma boa equipe e junto com a comunida-

de universitária, de forma trans-parente e democrática, alcançar esse objetivo.

Se for o novo reitor, como será sua gestão? Pretende romper ou dar continuidade ao modelo atual? A minha gestão, se for o escolhido pela comunidade, as-sumirá o desafio de agregar qua-lidade e inovação tendo como fio condutor a permanente busca por resultados. Uma nova gestão sempre inicia a partir do legado da gestão anterior.

Se for o novo reitor, que legado gostaria de deixar no fim do mandato? Um legado calcado na excelência do ensino, da pes-quisa e da extensão, da inclusão e da assistência prestados pela Ufes à comunidade e uma efe-tiva inserção no processo de de-senvolvimento regional.

Por que decidiu se candidatar ao cargo de reitor da Ufes? A partir da vontade de um grupo de professores, técnicos e estu-dantes, das experiências admi-nistrativas anteriores e dos anos dedicados à Ufes, creio estar capacitado a discutir a situação de nossa Universidade. E junto à candidata a Vice-Reitora, Profª Glaucia, me sinto preparado para contribuir com o desenvolvi-mento da Ufes, principalmente, quanto à infra-estrutura, segu-rança e valorização dos servido-res da Ufes. Por que acha que deve ser o novo reitor? Depois da expan-são de prédios, equipamentos e pessoal chegou o momento de nos preocuparmos com a co-munidade universitária; e, jun-to com a Profª Glaucia, sei que estou preparado para conduzir a Ufes no caminho da gestão par-

ticipativa, da maturidade e do profissionalismo.Se for o novo reitor, como será sua gestão? Pretende romper ou dar continuidade ao modelo atual? É preciso avançar numa administração que junto com a comunidade planeje melhor suas ações para que estejam garanti-das as condições de funciona-mento dos diversos setores.

Se for o novo reitor, que lega-do gostaria de deixar no fim do mandato? Uma Universi-dade reconhecida pela grandeza na geração de conhecimentos e formação de recursos humanos, inserida no cenário nacional, fa-zendo jus a sua natureza de ser uma instituição federal, cujos esforços se pautem numa admi-nistração transparente que conte com pessoas mais satisfeitas e produtivas.

• Chefe do Departamento de Ciências Fisiológicas e repre-sentante do CCS no Conselho Superior de ensino e pesquisa da Ufes.• Doutora em Ciências Fisioló-gicas pela Ufes(1996); mestre em Fisiologia pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (1990); Enfermeira graduada pela Ufes(1987)

VICE Gláucia Rodrigues de Abreu

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Por que decidiu se candidatar ao cargo de reitor da Ufes? O esforço coletivo de construção da expansão universitária nos permitiu conhecer as vulnerabi-lidades e potencialidades da ins-tituição e estabelecer sintonias com pesquisadores, diretores, servidores e alunos movidos por uma dimensão de responsabili-dade ética de promover reformas estruturais na Universidade a fim de que ela e todos nós cum-pramos a nossa função estatutá-ria e social. Por que acha que deve ser o novo reitor? Nesses últimos de-zesseis anos pude observar e ex-perimentar o alívio, o prazer e o privilégio de ser professor, pes-quisador e gestor da instituição. Por outro lado, também pude avaliar o sentimento de impotên-cia quando nos deparamos com

problemas simples do cotidiano que podem ser resolvidos rapi-damente com boa gestão.

Se for o novo reitor, como será sua gestão? Pretende romper ou dar continuidade ao modelo atual? Há necessidade de rom-per com o modelo de gestão cen-tralizador em distribuição de re-cursos e nas tomadas de decisões e implementações de ações.

Se for o novo reitor, que lega-do gostaria de deixar no fim do mandato? Quero deixar uma Universidade prestigiada e sinto-nizada de forma produtiva com a comunidade acadêmica e socie-dade capixaba e que tenha supe-rado os desafios dos problemas cotidianos que tanto atrapalham e inviabilizam o bom desempe-nho das atividades fim e meio da Instituição.

Por que decidiu se candidatar ao cargo de reitora da Ufes? A candidatura é resultado de uma evolução natural construída ao longo de quase 26 anos de do-cência e experiência em gestão na Universidade, desenvolvendo atividades de ensino, pesquisa e de extensão de forma ininterrup-ta em todo este tempo. Por que acha que deve ser a nova reitora? Por está na hora de uma mulher com historia de trabalho e de competência assu-mir o cargo de Reitora da Ufes. Por compreender que a Ufes precisa de mudança em suas es-tratégias de gestão. A Ufes pode ir muito além. A reitoria da Ufes precisa exercer papel de prota-gonismo.

Se for a nova reitora, como será sua gestão? Pretende

romper ou dar continuidade ao modelo atual? Focaremos em uma gestão transparente, supra-partidária e norteada pelo mérito acadêmico e pela missão da Uni-versidade junto à sociedade. A nossa candidatura é de mudança de modelo. Pelo resgate do pro-tagonismo intelectual que uma Universidade precisa exercer.

Se for a nova reitora, que lega-do gostaria de deixar no fim do mandato? O legado de ter pro-movido um choque de confiança na comunidade acadêmica. O legado de uma Ufes bem cuida-dada, humanizada e mais próxi-ma e integrada à sociedade. Uma Ufes onde seu compromisso com a sustentasbilidade se faça sentir em todas as suas ações, no en-sino, pesquisa e extensão. Uma Ufes com direção, com rumo ex-plícito e integrado.

• Pró-Reitor de Planejamento e Desenvolvimento Institucio-nal desde 2008.• Interlocutor Institucional do Programa REUNI• Doutor em Ciência Flores-tal pela Universidade Federal de Viçosa (2001); Mestre em

Agronomia pela Universidade de São Paulo (1994); Gradu-ado em Engenharia Florestal pela Universidade Federal de Viçosa (1991).• Professor da Ufes desde 1994 pelo departamento de Enge-nharia Florestal.

José Eduardo Pezzopane• Chefe do Departamento de Gemologia desde 2009•Doutora em Economia pela University of Sussex-Inglaterra(1997); Mestre em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade pela Universida-de Federal Rural do Rio de

Janeiro (1990); Graduada em Ciências Econômicas pela Uni-versidade Federal do Espírito Santo (1981).• Ex-diretora do Centro de Ciências Jurídicas e Econômi-cas e professora da Ufes desde 1985.

Sônia Dalcomuni

• Diretor do Centro de Ciências Humanas e Naturais desde 2008• Doutor em Ciências da Reli-gião pela Universidade Metodis-ta de São Paulo (2005); • Especializado em Avaliação de Sistemas Educacionais pela Uni-versidade Federal do Espírito Santo (1987); • Graduado em Filosofia pela Faculdade Nossa Senhora Me-dianeira - São Paulo - (1976)

VICE Edebrande Cavalieri• Chefe do Departamento de Fí-sica• Pós-doutor em Física pelo Cen-tro Brasileiro de Pesquisas Físi-cas (2006); • Doutor em Física pelo Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (1999); • Mestre em Física pela Univer-sidade de São Paulo (1991); • Graduado em Física pela Uni-versidade de São Paulo (1989);

VICE Marcos Tadeu D’azeredo Orland

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Por que decidiu se candidatar ao cargo de reitor da Ufes? A nossa experiência acadêmica, científica e profissional aliado a princípios éticos, maturidade e humildade nos permitem ocupar esta posição. É uma alternativa de mudança para comunidade universitária escolher. Estamos democraticamente nos colocan-do à disposição da comunidade. Por que acha que deve ser o novo reitor? Porque acreditamos em uma Universidade democrática, so-cialmente integrada, moderna, renovada e inovadora, capaz de otimizar seus recursos para me-lhor servir à sociedade brasilei-ra. A mudança e alternância dos gestores são fundamentais para geração e implantação de novas idéias nos diferentes setores da Universidade.

Se for o novo reitor, como será sua gestão? Pretende romper ou dar continuidade ao mode-lo atual? Pretendemos romper com o modelo atual no sentido de planejar melhor com a par-ticipação efetiva da comunida-de universitária. Dentro de um planejamento de médio e longo prazo, realizando uma gestão democrática, transparente e des-centralizadora.

Se for o novo reitor, que legado gostaria de deixar no fim do mandato? Na forma de gestão democrática, transparente e descentralizadora, refletindo na relação gestor/ alu-no.Mudança na estrutura organi-zacional da instituição e fortale-cimento das representações de classe (DCE/DA/CA, Sintufes e Adufes).

• Professor do Departamento de Enganharia Civil• Doutor em Engenharia Civil pela Universitat Politècnica de Catalunya-Espanha(1995); • Mestre em Engenharia de Pro-dução pela Pontifícia Universi-dade Católica do Rio de Janeiro (1986); • Graduado em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Espírito Santo (1978).

VICE João Luiz Calmon Nogueira da Gama• O professor que disputará o processo eleitoral na condição de vice-reitor da chapa de An-tônio Carlos só será conhecido após a definição das regras e do calendário da eleição. Até o fe-chamento desta edição, no início de junho, o nome do candidato permanecia indefinido. A es-colha do vice depende de uma reunião entre os envolvidos na construção do projeto da chapa.

VICE Ainda não definido

• Professor do Departamen-to de Ginástica, do Centro de Desportos e Educação Física.• Doutor em Educação Físi-ca pela Universidade Gama Filho(2002); Mestre em Edu-cação Física pela Universidade Gama Filho(1996);

• Graduado em Educação Fí-sica pela Ufes• Professor da Ufes pelo Cen-tro de Educação Física desde 2006• Lecionou na Universidade Federal do Rio de Janeiro de 1996 a 2006.

Antônio Carlos Moraes• Diretor do Centro de Ciên-cias Exatas desde 2007• Doutor em Física pelo Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (2002); Mestre em Física pela Universidade Federal do Espí-rito Santo (1995); • Graduado em Bacharelado

Em Física pela Universida-de Federal do Rio de Janeiro (1976).• Foi chefe do departamento de Física de 2004 a 2007. • É professor da Ufes pelo de-partamento de Física desde 1979.

Armando Biondo Filho

Por que decidiu se candidatar ao cargo de reitor da Ufes? Mi-nha decisão partiu de duas moti-vações 1) do princípio da prática da política moderna que possui a participação como eixo; 2) mi-nha experiência na administra-ção me revelou uma chaga crô-nica dos velhos comportamentos políticos: a falta de projeto de universidade. Por que acha que deve ser o novo reitor? Quem teve essa avaliação foi o grupo que me convidou para encabeçar esse movimento. Vejo na UFES uma grande possibilidade de se tornar uma universidade de grande vi-sibilidade nacional e internacio-nal e isso só poderá acontecer se ela se modernizar em vários aspectos.

Se for o novo reitor, como será

sua gestão? Pretende romper ou dar continuidade ao mode-lo atual? Minha plataforma po-lítica é sustentada pela idéia da gestão participativa com fortale-cimento das decisões colegiadas. Pretendo romper com a centrali-zação do orçamento, com a cul-tura política de administrar sem projeto e com o atual modelo de distribuição de bolsas.

Se for o novo reitor, que lega-do gostaria de deixar no fim do mandato? Uma universidade moderna, bem planejada e mais próxima da sociedade capixaba; com mecanismos de participa-ção transparentes; com critérios bem definidos sobre distribuição de recursos a todos os seus seg-mentos; que veja seus estudantes com bom nível de circulação em níveis nacional e internacional; entre outras coisas.

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Entidades descartam provão•• As entidades representativas da classe médica a nível nacional – Conselho Federal de Medicina (CFM), Federação Nacional dos Médicos (FENAM) e Associação Médica Brasileira (AMB) – são contra o provão ou “exame de ordem”. Elas reprovam a aplica-ção de um teste para a avaliação dos alunos de medicina somente no fim da graduação, como faz a Ordem dos Advogados do Brasil. De acordo com o CFM, o exa-me único não avalia habilidades e competências, além de não ter respaldo científico. Pune os es-tudantes e não erradica as causas da falta de qualificação. “Somos contra o exame único, de final de curso”, disse o presidente do CFM, Roberto D’Ávila, em en-trevista ao RAIO-X. Esse posicionamento não con-diz, no entanto, com a pauta atu-almente em discussão no Con-selho Regional de Medicina do Estado (CRM-ES), que ainda es-tuda a possibilidade da implanta-ção de um provão para os médi-cos capixabas recém-formados. O projeto pretende atrelar a emissão da carteira profissional no Conselho à realização, e não necessariamente à aprovação no exame. “O objetivo da prova seria o de produzir um ranking de escolas médicas e apontar as deficiências na formação dos médicos capixabas”, explica o vice-presidente do CRM-ES, Oswaldo Pavan. A proposta pode entrar em vigor em 2012. A proposta em análise no CRM foi anunciada de forma equivo-cada pela mídia local, que des-tacou o caráter punitivo do teste, com possibilidade de retenção do registro profissional em caso de ausência ou reprovação no exame. Procurado pelo Diretório Acadêmico de Medicina da Ufes (DAMUFES), o Conselho des-mentiu o jornal. Diz a nota: “Não procede a informação veiculada na imprensa, de que a inscrição neste Conselho ficaria condicio-nada a aprovação do médico em uma espécie de prova, vez que não existe previsão legal por par-te do Governo Federal para essa conduta, existindo tal previsão apenas para a OAB”. Na opinião do vice-presidente, a prova deve servir de pré-requisito para o re-gistro profissional no Conselho.

A notícia do provão, publica-da em fevereiro pela imprensa local, reascendeu a polêmica em torno do assunto e esquentou o debate no meio acadêmico. Em menos de um mês, entre março e abril, duas reuniões da Regional Sudeste 1 da DENEM (Direção Nacional Executiva dos Estu-dantes de Medicina), que reúne as faculdades do Espírito Santo e Rio de Janeiro, foram realizadas em Vitória, na Univix e na Ufes. Dos longos e produtivos diá-logos travados pelos estudantes, não surgiu uma opinião unânime ou idéia consensual, mas grande parte dos discentes se mantém contrária ao “exame de ordem”, seguindo o posicionamento ofi-cial adotado pela DENEM. A maioria rechaça o modelo preco-nizado pelo Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cre-mesp), justamente por não con-cordar com o exame único no fim do curso e que avalia apenas o aluno, desconsiderando a res-ponsabilidade da escola na for-mação profissional do médico. O exame do Cremesp não tem a aprovação das entidades na-cionais, que defendem a realiza-ção de avaliações periódicas de aproveitamento dos cursos, co-nhecidas por teste do progresso. “As entidades rechaçam a idéia do exame único. O que se discu-te hoje é a melhor forma de apli-car a avaliação seriada, durante a graduação”, disse a RAIO-X o presidente da FENAM, Cid Carvalhaes. Em parceria com o MEC, as entidades pretendem construir um sistema de avalia-ção da instituição, do curso e do aluno, que considere o rendimen-to e o desempenho do aluno e as condições da competência do médico. (Wagner Knoblauch)

•• O movimento médico obteve liminar suspendendo a medida da Secretaria de Direito Eco-nômico (SDE), órgão do Mi-nistério da Justiça, que proibia as entidades médicas organizar paralisações para reivindicar reajuste nos honorários pagos pelos planos de saúde. Em sua decisão, o juiz Antô-nio Corrêa, da 9ª Vara Federal, em Brasília (DF), considerou o processo administrativo ins-taurado pela secretaria “vicia-do pelo abuso de poder, dada a ausência de competência para interferir nas relações dos mé-dicos com seus pacientes ou com planos de saúde”. A Justiça deixou claro que a SDE não tem competência sobre os médicos e suas entidades, pois não se tra-tam de empresas, mas, sim, de profissionais liberais e seus re-presentantes. Para o presidente do CFM, Roberto d’Avila, a decisão é vitoriosa para o médico e a ca-tegoria deve participar das ne-

gociações com as operadoras. “O Judiciário acolheu todos os argumentos que há muito de-fendemos. A saúde é mercado apenas para as empresas que trabalham no setor, não para os médicos”, afirmou. A crise jurídica teve início em 9 de maio, quando a SDE emitiu nota técnica com uma série de restrições ao movimento médi-co, em vista dos desdobramen-tos do movimento iniciado no dia 7 de abril. A SDE chegou a recomendar a condenação do CFM, da AMB e da FENAM por influenciar a categoria médica na adoção da Classificação Brasileira Hie-rarquizada de Procedimentos Médicos (CBHPM). A secreta-ria não sugeriu a proibição da negociação coletiva, mas enten-deu que a imposição da tabela desencadeou um movimento nacional de paralisações e des-credenciamentos em massa no sentido de forçar o reajuste de honorários médicos. (CFM)

Médicos derrubam decisão abusiva da SDE

CRM-ES quer aplicar “exame de ordem” aos egressos; CFM e FENAM defendem “teste do progresso”

“A Comissão de Ensino Médico é contra o

exame de final de curso, único. O aluno fica

dentro de uma escola, boa ou ruim, por seis anos, faz uma prova e não passa.

O que fazemos com ele? Quem era ruim, a escola ou ele?”

Roberto D’ÁvilaPresidente CFM

“O objetivo da prova, cujo modelo ainda não

está definido, é avaliar a qualidade do ensino e

detectar as deficiências na formação dos médicos. O projeto pode entrar em

vigor no ano que vem, mas a direção do Conselho não

tem posição unânime”

Oswaldo PavanVice-Presidente CRM-ES

“As entidades rechaçam a idéia do exame único.

O que se discute hoje é a melhor forma de aplicar a avaliação seriada, durante a graduação. Não defende-mos a expansão do exame do Cremesp mas reconhe-cemos o valor preocupante

dos resultados obtidos”

Cid CarvalhaesPresidente FENAM

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Com excesso de vagas, Estado terá 6ª escola médica•• Agora é certo: o estado terá sua sexta escola médica aberta no próximo ano. Desta vez, é a Faesa que se lança na empreita-da, somando suas vagas às 500 oferecidas por ano. Entretanto, de acordo com o Ministério da Educação (MEC), o estado de-veria ofertar, no máximo, 340 vagas anuais (veja ao lado). A abertura de mais um cur-so de Medicina no estado traz à tona o embate que vem sendo travado entre o governo e as ins-tituições médicas sobre a educa-ção médica e o número adequa-do de vagas e de profissionais no país. As lideranças políticas de-fendem enfaticamente o aumen-to do contingente de médicos como uma das soluções cruciais para melhoria do sistema de saú-de pública do país. Tal posição fica clara na fala recente do se-cretário Nacional de Atenção à Saúde, do Ministério da Saúde, Helvécio Magalhães: “Nós pre-cisamos dobrar o número de mé-dicos no Brasil”. A criação de novas escolas de medicina é endossada pela presi-dente Dilma Rousseff, que pediu ao MEC um estudo para identifi-car em quais estados a deficiên-cia de profissionais é mais aguda. Juntando-se ao coro, o médico e ex-ministro da Saúde Adib Jate-ne declarou que o número atual de médicos no país (347 mil) é insuficiente, devendo crescer até a marca de meio milhão de profissinais. Ainda que o pro-posto como ideal pela Organiza-ção Mundial de Saúde seja um profissional por mil habitantes, o ex-ministro explica que este índice reflete a necessidade an-terior aos anos 60, quando dois terços da população viviam no campo. Portanto, na opinião de Jatene, o país deveria elevar sua relação médico por mil habitan-tes (hoje em 1,73) a um índice comparável ao dos EUA (2,6) ou da Grã-Bretanha (2,3). O governo federal está convic-to de que faltam médicos no país e, por isso, planeja ampliar em 120 mil o número de formandos em Medicina no país até 2020. A meta de alcançar a taxa de 2,5

médicos por mil habitantes faz parte das diretrizes do Plano Na-cional de Educação Médica, que será lançado pelos ministérios da Educação e da Saúde em junho.Em consenso com esses proje-tos, há a expectativa da abertura de mais de 20 novas escolas em diversos estados até 2014. Opondo-se às medidas gover-namentais, está o Conselho Fe-deral de Medicina (CFM), que acredita que a abertura de no-vas escolas médicas representa não uma solução, mas um risco para a saúde da população. O CFM sustenta que a quantida-de de profissionais é suficiente e advoga que o ponto crucial da ineficácia da cobertura médi-ca no país está centrado na má distribuição dos profissionais no território brasileiro. A realidade é de uma concentração de 72% do contingente médico no Sul e Sudeste, de modo que, embora a média nacional de um médi-co por 578 habitantes, estados como Roraima tem índices que chegam a um médico por 10.306 habitantes. Na avaliação do Con-selho, “a duplicação do número de escolas médicas entre 2000 e 2010 não solucionou a má distri-buição dos médicos, mantendo a desassistência, inclusive nos grandes centros urbanos”. Em nota, o CFM alerta ainda que boa parte das escolas aber-tas na última década não têm condições de funcionamento, faltando-lhes conteúdo pedagó-gico qualificado e instalações adequadas. Não é raro que os ambulatórios e hospitais sejam precários e muitas vezes inexis-tentes. Na opinião do Conselho, o MEC tem buscado explicações simplistas para o problema da saúde pública no Brasil e, ao não cobrar a obediência às regras que autorizam o funcionamento das escolas, colabora com a abertura de cursos de forma indiscrimina-da e com a formação de médicos despreparados para atender a população. Tamanha aberração acadêmica configura uma amea-ça ao bom exercício do trabalho médico e da qualidade da assis-tência. (Paula Peçanha)

• O estado, que já tem 7,2 mil médicos ativos, terá mais uma escola médica em 2012. Somando 100 possíveis vagas ofertadas na Faesa às 500 já existentes - Ufes (80), Emescam (120), Unesc (100), Univix (80) e UVV (120) – o estado chega a 600 postos acadêmicos.

• Pelo MEC, o ideal é uma vaga de medicina para cada grupo de dez mil habitan-tes. Portanto, o estado teria necessidade de 340 vagas. Ou seja, mesmo sem a Faesa, já há um excesso de 160 vagas. Vitória é a capital com maior número de médi-cos por habitante no país.

• Do ano 2000 para cá foram criados 80 novos cursos (11 federais, 10 estaduais, 1 municipal e 58 privados). Em média, uma nova escola médica a cada 45 dias!

• Entre 2000 e 2009, a quantidade de profissionais de medicina aumentou 27%. No mesmo intervalo de tempo, a população brasileira cresceu aproxi-madamente 12%, segundo estimativas do IBGE.

• Hoje, são formados cerca de 16 mil médicos por ano no país em 180 escolas médicas (47 federais, 26 estaduais, 7 municipais e 100 privadas). O CFM julga o número suficiente. Com o Plano Nacional de Educação Médico, o governo federal pretende formar mais 4 mil novos médicos por ano, che-gando a uma taxa anual de 20 mil egressos. O objetivo é alcançar a taxa de 2,5 médicos por mil habitantes ante o índice atual de 1,73 profissional por mil pessoas.

Carreira de médico do SUS e serviço civil em discussão •• A criação de uma carreira de Estado para o médico é apontada pelo Conselho Federal de Medi-cina como a saída para vencer a forte desigualdade na distri-buição dos médicos no país. Na avaliação da entidade, essa so-lução traz embutida “oferta de honorários dignos e perspectivas de progressão funcional, além de garantir ao médico de áreas remotas condições de fazer diag-nósticos e tratamentos, com a garantia pelo Governo de infra-estrutura às comunidades (insta-lações, equipamentos e pessoal) para a realização do trabalho médico”. A proposta está em dis-cussão no Ministério da Saúde. “Alguns setores do Governo insistem em atribuir ao aumento do número de profissionais no país a solução para os problemas assistenciais. É preciso entender que um médico com um estetos-cópio nos rincões não é sinôni-mo de ampliação do acesso à as-sistência”, afirmou o presidente do CFM, Roberto d’Avila. Para o governo federal, tor-na-se cada vez mais paupável a proposta de implantação do serviço civil. Onze projetos de lei prevendo a fixação de recém-formados na região amazônica e nas periferias dos grandes cen-tros por um a dois anos já trami-tam na Câmara dos Deputados. Ainda não há consenso sobre a instituição do serviço comunitá-rio obrigatório ou voluntário que contaria ponto para todas as resi-dências médicas. O CFM é contra o projeto e defende apenas a carreira de Estado para resolver definiti-vamente a carência de médicos em áreas pobres e remotas. O governo, por sua vez, afirma que ao defender o serviço civil não descarta a criação da carreira de médico do SUS. “Não podemos pensar que uma estratégia única vá dar conta das diversas reali-dades do país”, disse o ministro da Saúde Alexandre Padilha.

Faesa vai abrir curso de Medicina em 2012; Governo defende que número de médicos no país é insuficiente.

Os números da Medicina

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Hucam pede socorro •• Aflitos, temerosos e desgas-tados, médicos, enfermeiros, professores, residentes, alunos e demais funcionários do Hospital Universitário Cassiano Antônio Maraes (Hucam) alertam: driblar a falta de profissionais e os leitos vazios para garantir assistência e ensino dignos, no cenário atual, é praticamente impossível. Na opinião das pessoas entrevista-das pelo jornal, se nenhuma ação efetiva for tomada já, a situação se agravará a ponto de inviabi-lizar todo o hospital. E não vai demorar muito. O Hucam tem hoje cerca de 126 leitos fechados – apenas 60% do total de 314 está em atividade. A reportagem chegou a este nú-mero por meio da informação de funcionários e da direção do hospital. É válido frisar que o cálculo considera tanto os leitos que foram fechados nos últimos anos – Clínica Médica, Cirúrgi-ca, Nefrologia, Urologia e UTI Neonatal – quanto os que nun-ca tiveram condições de entrar em funcionamento, mas que são contabilizados pelas estatísticas oficiais, como a UTI Pediátrica. Por não usar 40% de seus lei-tos, a lista de pedidos de interna-ção cresce a cada dia e a demora castiga justamente os pacientes mais necessitados, já que o Hu-

cam atende prioritariamente ca-sos muito graves. O problema também afeta diretamente alu-nos e residentes, prejudicando a formação prática desses profis-sionais, porque o número redu-zido de leitos abertos restringe o contato dos estudantes com os pacientes. A situação chegou a um ponto tão crítico que os coordenadores

estão preocupados com a viabi-lidade dos cursos de residência médica, porque a quantidade de pacientes e procedimentos caiu a patamares que já não atendem aos critérios estabelecidos pelo governo e pelas sociedades mé-dicas. Na avaliação dos profes-sores e chefes de serviços ouvi-dos por RAIO-X, parte das 23 especializações existentes hoje no Hucam corre risco de reduzir vagas, ser transferida de hospital ou até mesmo fechar. O número absurdo de leitos vazios no Hucam tem um só motivo: falta de funcionários. Esse déficit, evidente no coti-diano de quem estuda e trabalha na unidade, foi mensurado pelo Ministério Público Federal no estado (MPF/ES), entre 2008 e 2009, através de duas auditorias. Na avaliação do procurador An-dré Pimentel Filho, que ajuizou ação civil pública em fevereiro de 2009, há uma defasagem de 688 pessoas no quadro de recur-sos humanos do hospital, em 39 cargos, da assistência à área ad-ministrativa. RAIO-X atualizou esse número. Com base em da-dos oficiais, faltam atualmente em torno de 815 servidores. O hospital “aposentou” 130 traba-lhadores de janeiro de 2008 a maio último.

O número de leitos vazios cres-ce na mesma proporção que o déficit de funcionários. Na assis-tência, é a carência de profissio-nais de enfermagem, fundamen-tais na manutenção da dinâmica dos serviços, que mais assusta. Hoje, há aproximadamente 700 trabalhadores, entre enfermeiros, auxiliares e técnicos (isto é, 40% da força de trabalho do Hucam). Entretanto, nas contas do MPF, faltam 364 servidores, ou seja, esse número deveria ser 50% maior para garantir o funciona-mento mínimo. Já com relação aos médicos, seria preciso con-tratar mais 50 para que o quadro atual (cerca de 350) chegue a um nível satisfatório. Para piorar a situação, em março, a justiça decidiu manter a liminar impetrada pela Advoca-cia Geral da União que suspende o efeito da sentença favorável ao Hucam, proferida em outubro. Oriunda da ação do MPF/ES, a sentença obriga a União e a Ufes a abrir concurso para preencher 688 vagas no hospital. Todavia, enquanto o impasse não é so-lucionado, o déficit de funcio-nários só aumenta. Na prática, isso se traduz em leitos fecha-dos, pacientes sem atendimento e alunos com ensino deficitário. (Wagner Knoblauch)

Com um déficit de funcionários cada vez maior, cresce também número de leitos inativos.

Situação atual

126 leitos inativosApenas 188 leitos (60%) do total de 314 estão em funcionamento.

815 funcionários a menosÉ o déficit atual de recursos humanos. Em 2009, o MPF/ES apontou uma defasagem de 688 servidores federais.

50% servidores federaisMetade da força de trabalho do hospital é formada por cedidos de outros órgãos e terceirizados.

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Senado veta estatal dos hospitais universitários

Oposição impediu votação da MP 520/10; Governo vai reeditar texto ‘com urgência’

•• Em meio a divergências e pressão dos movimentos so-ciais, senadores da oposição, com o apoio de parlamentares da base governista, obstruíram a sessão deliberativa do dia 1º de junho e derrubaram a Me-dida Provisória 520/2010, que perdeu validade à meia-noite do dia seguinte. A MP autori-zava o Poder Executivo a criar a Empresa Brasileira de Servi-ços Hospitalares (Ebserh) para administrar os 46 hospitais universitários (HUs) federais e regularizar a contratação de pessoal desses órgãos. O governo federal pretende reeditar a MP. O Ministério da Educação enviará o texto fi-nal, que já havia sido aprovado pela Câmara dos Deputados, no formato de projeto de lei, em regime de urgência. Embora exista resistência para a criação da estatal, principalmente por parte dos trabalhadores, o go-verno já sinalizou em mais de uma ocasião que a Ebserh é a única proposta viável para re-solver definitivamente os maio-res gargalos que castigam essas instituições: déficit de recursos humanos, financiamento escas-so e gestão ineficiente. De acordo com o governo, o objetivo da MP, que foi edita-da pelo ex-presidente Lula em 31 de dezembro de 2010, não é resolver o problema da saúde pública do país, e sim resolver uma questão pontual: dar uma solução para os 26,5 mil fun-cionários terceirizados contra-tados precariamente pelos HUs. Segundo o Tribunal de Contas da União, esses trabalhadores prestam serviços sob diver-sos formatos (regime celetista, contratos de prestação de ser-viços, fundações, organizações sociais e outros vínculos precá-rios) e até sem vínculo empre-gatício. Para não paralisar os servi-ços, o texto aprovado na Câma-ra permite a contratação tempo-rária (máximo de 5 anos), em processo seletivo simplificado,

com base em análise curricular, nos primeiros 180 dias de fun-cionamento da Ebserh. Depois, os funcionários serão contra-tados por concurso público. Já os 53,5 mil servidores públicos que trabalham nos HUs federais poderão ser cedidos à nova em-presa, assegurados os direitos e vantagens que recebem no órgão de origem. Aqui está um dos principais focos de polêmica: a estatal é constituída sob a forma de sociedade anônima de direito privado, que vai contratar fun-cionários sob o regime da CLT – típico do setor privado. As competências da Ebserh são as mesmas dos HUs. Para os críticos, a empresa substitui-rá a gestão desses hospitais. O governo, entretanto, afirma que o objetivo é modernizar a gestão de recursos financeiros e huma-nos das instituições. Na opinião do ministro da Educação, Fer-nando Haddad, um dos maiores defensores da medida, o modelo de gestão dos hospitais universi-tários está em crise desde a déca-da de 80. Diz o ministro: “Há 30 anos os hospitais trabalham sem que ninguém os diga como eles deveriam se organizar, houve um jogo de empurra entre o MEC e o Ministério da Saúde.” O modelo de gestão do Hospi-tal das Clínicas de Porto Alegre, que é administrado por uma em-presa pública e serve à formação dos alunos de medicina da Uni-versidade Federal do RS, será o adotado pela Ebserh em todo o país. O formato é considerado modelo pelo MEC. No entanto, a estatal assumirá a gestão dos hospitais apenas se as universi-dades quiserem assinar com ela contratos nos quais devem cons-

tar metas de desempenho, indi-cadores e sistemática de acom-panhamento e avaliação. Outro ponto de discórdia se refere à assistência. Principais opositores à MP, os represen-tantes dos servidores das uni-versidades dizem que ela segue “um modelo de Estado baseado na lógica de mercado, o que não condiz com a saúde nem com a educação”. Eles temem que haja privatização dos serviços e be-nefícios aos usuários de planos de saúde. O governo rebate e afirma que todos os leitos geri-dos pela nova empresa deverão atender exclusivamente ao SUS. De acordo com o texto, as re-ceitas da nova empresa virão de dotação orçamentária da União, entre outros fundos. Os sindica-listas questionam a razão pela qual o governo federal afirma que tem recursos para essa re-estruturação dos HUs, mas não usa para atender já as institui-ções. Eles insistem na necessi-dade imediata de autorização de abertura de concurso público e liberação imediata de recursos. Além da Fasubra (Federação dos Sindicatos dos Trabalhado-res das Universidades Públicas Brasileiras), a DENEM (Dire-ção Executiva Nacional dos Es-tudantes de Medicina) também é contrária à criação da estatal. Na véspera da votação na Câ-mara dos Deputados, o PSDB ajuizou Ação Direta de Inconsti-tucionalidade, no Supremo Tri-bunal Federal, contra a Ebserh. O partido afirma que o objetivo da medida é claro: “permitir que a contratação de pessoal para os hospitais universitários escape à obrigatoriedade do concurso público”.

Residentes tentam garantir reajuste da bolsa-auxílio

•• A direção da Associação Na-cional dos Médicos Residentes (ANMR) convocou a categoria em todo o país para um movi-mento de pressão junto ao Go-verno Federal, para nova edição da Medida Provisória (MP) com mesmo teor da aprovada pela Câ-mara (MP 521/10) que assegu-rava o reajuste da bolsa-auxílio beneficiando mais de 20 mil mé-dicos residentes. A medida tam-bém disciplinava outros direitos como as licenças-maternidade e paternidade A MP que garantiu a eleva-ção de 22% no benefício, fruto da maior mobilização da história recente dos pós-graduandos, dei-xou de ter vigência à meia-noite de 2 de junho. Os senadores não votaram a prorrogação. “Se a medida não for reeditada perde-remos o reajuste”, alerta o presi-dente da ANMR, Victor Lima. A ANMR e as Associações Estaduais convocarão os resi-dentes para assembleias gerais extraordinárias, que debaterão as consequências do fato e as rea-ções em cada Estado. A bolsa era de R$ 1.916,05 (congelado des-de 2006) e passou a R$ 2.338,06 em 1º de janeiro deste ano. Segundo informações apura-das a Casa Civil já prepara novo projeto com mesmo teor da MP aprovada na Câmara, em caráter de urgência. A reedição do texto deve sair ainda em junho.

Alunos, professores e servidores da UFSC fazem abraço ao HU em protesto à criação da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares.

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•• O ápice das comemorações do cinquentenário do curso de Medicina da Ufes será no dia 17 de setembro, quando ocor-rerá o tão aguardado Baile de Gala. O objetivo do Diretó-rio Acadêmico, responsável pela programação do Jubileu de Ouro, é fazer da festa um grande, emocionante e histó-rico encontro dos alunos e ex-alunos, com a reunião de todas as turmas, além de familiares, amigos e autoridades. O evento terá caráter beneficente, com a arrecadação de verba em prol do Hospital Universitário (Hu-cam). Os ingressos serão ven-didos a partir de julho. As cinco décadas do curso serão festejadas em grande estilo em vários momentos no decorrer do ano. No campo esportivo, acontece o encerra-mento da Copa MedUfes 50

Memória. O diretor Affonso Bianco, três professores de anatomia e os alunos da Turma 1 da então Faculdade de Medicina do ES em 13 de abril de 1961, no primeiro dia aula, no Instituto Anatômico.

JUBILEU SOLENEDiretório abriu as comemorações do cinquentenário do curso de Medicina da Ufes com solenidade no

campus de Maruípe; Alunos da primeira turma se reencontram 50 anos após a abertura da Faculdade.

Durante almoço promovido em maio pelo Diretório Acadêmico, quatro ex-alunos da primeira turma, Luiz Cláudio Araújo, Celso Murad, Ed Moreira Lima e Paulo Faleiro, relembram fatos da época de Faculdade com as fotos que ilustram o livro “Escola de Medicina da UFES - 50 Anos de História”, escrito pelo também ex-aluno e atual diretor do Centro de Ciências da Saúde, Carlos Alberto Redins, e lançado oficialmente em solenidade realizada no campus de Maruípe.

SITE WWW.MEDICINAUFES50ANOS.COM

•• Num sábado ensolarado de maio, pouco mais de 50 anos após o primeiro encontro, os alu-nos da primeira turma de Medi-cina da UFES se reencontraram em Vitória para um agradável al-moço. Um reencontro marcado, sobretudo, pelo bom humor. Vindo de Belo Horizonte, Dr. Willy Pimentel foi o primeiro a chegar, admirado e agradecido pela oportunidade de relembrar a época do curso. Logo, chega-ram outros alunos, e o evento correu num clima agradável. Entre risos e conversas anima-das, revelações surpreendentes sobre a primeira turma. Como o dia em que, durante um churras-co, alguns alunos colocaram um comprimido de Lasix (furosemi-da, um diurético) na cerveja dos participantes. “Na nossa época, éramos muito mais moleques do que os alunos de hoje”, revelou Dr. Dalton Vassalo, após se lem-brar com detalhes de diversos episódios semelhantes de seu tempo de acadêmico. Os primeiros veteranos, no entanto, demonstraram que não vivem só na brincadeira: todos os que estavam presentes no evento, de certa forma, ainda estão envolvidos com a medici-na. Todos ainda na ativa. Dr. Ed Moreira Lima, o último a che-gar, desculpou-se: “Vim direto de um plantão”, mesmo motivo pelo qual Dra. Marisa Gonçalves não pode comparecer ao evento, organizado pelos alunos e suas famílias e com grande incentivo da Dra. Lilian Mazzei, também aluna da turma 1. E os plantões, a rotina médica, as escolhas da profissão, os rumos tomados por cada um, foram temas da con-versa durante horas. Uma seme-lhança impressionante com os assuntos que permeiam a rotina dos acadêmicos de Medicina da Ufes, 50 anos depois. Dr. Gelcilio, um dos mais empolgados, compareceu com a família, e compartilhou algumas de suas famosas piadas médicas, inclusive sobre pediatras, diver-tindo o colega pediatra Celso Murad. Histórias engraçadas também não faltaram no repertó-rio de Dr. Luiz Cláudio Araújo, mais conhecido como “Fubá”.

Histórias que misturam um pas-sado que, quando contado, não parece estar muito distante, um passado vivo na memória, re-lembrado com carinho pelos alu-nos da primeira turma e repleto de exemplos para as futuras ge-rações. No almoço, apenas sete dos 28 ex-alunos – oito destes já falecidos – estavam presentes. Espera-se um maior e ainda mais emocionante reencontro entre ex-alunos e ex-professores, além dos atuais, para o Baile de Gala em homenagem aos 50 anos do curso, em setembro. Dr. Paulo Faleiro de Melo fez questão de adquirir um exemplar do livro “Escola de Medicina da UFES - 50 Anos de História”, escrito pelo também ex-aluno e atual diretor do Centro de Ciências da Saúde, Carlos Alberto Redins, para manter vivas as lembranças de um tempo que não volta mais, mas que certamente será sempre reconhecido como um dos mais importantes para a história da medicina no Espírito Santo. (Jequélie Cássia)

anos em julho. Na área cientí-fica, está programado para 13 de agosto um Fórum Médico, que reunirá alunos, médicos, autoridades e representantes das entidades médicas locais e nacionais para debater temas que pautam o movimento estu-dantil e médico na atualidade. O Diretório abriu as come-morações dos 50 anos com uma solenidade no campus de Maruípe, no dia 13 de abril, data do aniversário do curso, quando ocorreu o 1º dia de aula da então Faculdade de Medici-na. Já no dia 13 de maio, foi a vez da Assembleia Legislativa do Estado homenagear o curso em sessão solene, por proposi-ção do médico e deputado Lu-cinado Rezende, ex-aluno da Ufes. Mais informações sobre o cronograma de eventos no site oficial.

Baila de Gala celebra Jubileu em setembro

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• Alunos e professores (1), atuais e antigos, entre eles o Prof. Dr. João Luiz Carneiro (2), participaram da sole-nidade organizada em abril pelo Diretório para marcar o início das comemorações dos 50 anos.

• Em sessão solene na Assem-bleia (3), Benito Zanadrea (com a edição especial do RAIO-X) com de Josenildo Zanandréa e Willy Pimentel, ambos da primeira turma.

• Calouros posam (4) ao lado seis ex-alunos da turma 1 e do Prof. Vitor Santos Neves.

• Marisa Gonçalves, Celso Murad e Dalton Vassalo (5) na sessão solene.

• Ed Moreira Lima, Willy Pimentel, Dalton Vassalo, Gelcílio Barros, Celso Mu-rad, Luiz Cláudio Araújo e Paulo Faleiro no almoço (6) promovido pelo Diretório.

• De jaleco, alunos prestigiaram a sessão solene realizada na Assembleia Legislativa (7) , proposta pelo deputado Luciano Rezende, pelos 50 anos do curso. O Diretório foi homenageado com uma bela placa e a acadêmica Marília Pessali (8) recebeu um buquê de rosas brancas em nome de todos os estudantes da Ufes.

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•• O ensino da Técnica Operató-ria (TO) é assunto recorrente em discussões entre acadêmicos de medicina. A disciplina representa o primeiro contato curricular dos alunos com o ambiente cirúrgi-co e seus procedimentos. É uma matéria muito importante na for-mação de uma parcela conside-rável de estudantes que querem seguir a carreira de Cirurgia, ou mesmo para aqueles que querem adquirir a prática de pequenos procedimentos que são impor-tantes em pronto-atendimentos, por exemplo. Há aproximada-mente um ano chegou ao fim o uso de cães vivos na TO. A práti-ca, conhecida como vivissecção, foi utilizada por décadas em nos-sa Universidade – e éramos uma das últimas a usá-la –, mas não faltam críticas favoráveis e con-trárias a sua utilização. Há séculos que a vivissecção tem sido praticada. René Des-cartes defendia a idéia de que animais são apenas seres meca-nicistas desprovidos de alma e insensíveis à dor e ao sofrimento. Atribui-se a Galeno o início do uso de animais em experimen-tações científicas e a William Harvey a sua prática sistemática, com seus estudos de fisiologia da circulação sanguínea. Da mesma forma, ainda no sé-culo XIX datam a criação das pri-meiras organizações protetoras dos animais, bem como de legis-lações específicas para a prática da vivissecção. No Brasil a pri-meira tentativa de regulamentar esta prática didático-científica veio com a Lei 6.638 de 1979, mas somente com a Lei de Cri-mes Ambientais (Lei 9.605 de 1998) houve uma complementa-ção da lei de vivissecção. RAIO-X entrevistou o profes-sor Jorge Chamon – cirurgião graduado na Ufes e coordenador da disciplina de TO – para enten-der a situação atual do ensino da sua matéria e obter a sua opinião sobre como deveria ser o modelo ideal estudo. Segundo o profes-sor, com o uso de cães na TO, os alunos que se dedicavam à matéria alcançavam os objetivos principais da disciplina: apren-der a manusear o instrumental, as técnicas de escovação e pa-ramentação, como se portar no centro cirúrgico, noções de anes-tesiologia (essas independentes

dos cães) e, principalmente, a realizar pequenos procedimen-tos cirúrgicos. Vale lembrar que Chamon sempre transferia para os alunos a responsabilidade de fazer ou não o curso prático da TO, ou seja, os colegas que não aceitavam as condições das au-las poderiam escolher aprender introdução à cirurgia somente pelo curso teórico, sem qualquer punição na avaliação. As prefeituras, cujos canis forneciam os animais, foram aos poucos proibidas pelas legisla-ções locais de enviá-los para a vivissecção. Além disso, as so-ciedades protetoras dos animais acionaram o IBAMA, que obri-gou a Universidade a pagar uma multa de cerca de R$10.000,00 pelo não cumprimento de algu-mas exigências nos cuidados com os cachorros. Isso levou os professores da Técnica Operató-ria a mudar totalmente o ensino prático da matéria. Atualmente, segundo Cha-mon, há o estudo por seminários dos procedimentos, que antes eram aprendidos nos cães, apre-sentados e discutidos pelos aca-dêmicos, além das tradicionais aulas teóricas. Paralelamente, os docentes levam os alunos para acompanhá-los em procedimen-tos reais nos centros cirúrgicos de hospitais da Grande Vitória, onde eles podem auxiliar os cirurgiões entrando no campo operatório. Ainda há a prática de suturas em animais, mas agora em peças anatômicas compradas em açougues pelos próprios alu-nos – bonecos, peles artificiais e instrumentos mais modernos são bastante dispendiosos tanto para o orçamento do departamento quanto para os alunos. Uma aná-

lise feita pelo professor conclui que os estudantes estão absor-vendo um bom conhecimento teórico dos assuntos abordados e freqüentando centros cirúrgicos reais de posse de maior conhe-cimento científico, porém sem a habilidade manual que antes era bem desenvolvida nas espécies vivas. O saldo é negativo para Chamon, que se mostra insatis-feito com o novo método. Uma pesquisa realizada por professores do departamento de Cirurgia da Faculdade de Medi-cina de Jundiaí estudou o ensi-no de introdução à cirurgia nos Estados Unidos e constatou que a maioria das Universidades não possui uma disciplina especí-fica de Técnica Operatória. Os acadêmicos americanos fazem

estágios de algumas semanas com imersão nas atividades de enfermaria, de ambulatório de cirurgia geral e centro cirúrgico. O objetivo é aprender a fazer anamnese e exame físico dire-cionados, interpretar exames de tratamento operatório e circular em ambiente cirúrgico. Algumas faculdades possuem laboratórios nos quais os alunos aprendem nós e suturas, em outras, estes fundamentos são desenvolvidos durante operações de cirurgia Muito embora toda discus-são sobre o uso da vivissecção e os seus efeitos afete bastante o curso prático da disciplina de TO, é certo que os acadêmicos interessados no aprendizado das técnicas cirúrgicas aproveitam ao máximo o conteúdo teórico e aplicam-no nas oportunidades de visita aos centros cirúrgicos e, principalmente nos serviços extra-curriculares, os quais de-senvolvem ainda mais as habili-dades manuais necessárias para qualquer cirurgião. Nesta linha de raciocínio, o professor Cha-mon reflete: “Existem inúmeros grandes cirurgiões que vieram de Escolas nas quais jamais um animal vivo participou da sua formação. Por que aqui na Ufes não se poderão continuar for-mando bons cirurgiões apenas porque não temos mais cães?”. (Victor Cobe)

O 1º contato com cirurgia

E o trauma?•• O ensino de atendimento ao trauma é de suma importância na formação acadêmica. Aci-dentes de trânsito, laborais ou mesmo domésticos represen-tam uma verdadeira epidemia com um impacto grande sobre os gastos com saúde. As es-colas médicas pouco ou nada atendem efetivamente à neces-sidade de formar clínicos ca-pazes de fazerem atendimento inicial básico aos traumatiza-dos. Nesse cenário, surgem as ligas acadêmicas relacionadas ao trauma, que suprem em parte a demanda de um públi-

co interessado em estudar os fenômenos, as conseqüências e o manejo de pacientes trau-matizados. No estado, as ligas que se relacionam ao trauma são a LAIT, LACATES e LOTES, que estão organizando o XIII Congresso Brasileiro das Ligas de Trauma, no mês de agosto em Vitória. Entre os palestran-tes estão Kenneth Mattox, co-autor do Sabiston e diversos li-vros de trauma; Raul Coimbra, chefe da divisão de trauma da Universidade da Califórnia; e Antonio Marttos, da Universi-dade de Miami.

As mudanças no ensino da disciplina de Técnica Operatória para os alunos do curso de Medicina da Ufes.

Prof. Chamon e alunos no

campo operatório

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Cuida de Mim Fernando Anitelli

Pra falar verdade, às vezes mintoTentando ser metade do inteiro

que eu sintoPra dizer às vezes que

às vezes não digoSou capaz de fazer da minha

briga meu abrigoTanto faz não satisfaz

o que precisoAlém do mais, quem busca

nunca é indecisoEu busquei quem sou;

Você, pra mim, mostrouQue eu não sou sozinho

nesse mundo.

Cuida de mim enquanto não esqueço de você

Cuida de mim enquanto finjo que sou quem eu queria ser.

Cuida de mim enquanto não me esqueço de você

Cuida de mim enquanto finjo, enquanto finjo, enquanto fujo.

Basta as penas que eu mesmo sinto de mim

Junto todas, crio asas, viro querubim

Sou da cor, do tom, sabor e som que quiser ouvir

Sou calor, clarão e escuridão que te faz dormir

Quero mais, quero a paz que me prometeu

Volto atrás, se voltar atrás assim como eu.

Cuida de mim enquanto não me esqueço de você

Cuida de mim enquanto finjo que sou quem eu queria ser.

Cuida de mim enquanto não me esqueço de você

Cuida de mim enquanto finjo, enquanto fujo, enquanto finjo.

HEMOCULTURA

Fernando Anitelli abandona a maquiagem em disco solo

•• O fundador e idealizador da trupe ‘‘O Teatro Mágico’’, lançou mês passado, o disco solo “As Claves da Gaveta’’, onde se despe do ar teatral de seus shows, e cria um espetáculo musical próprio. Fernando Anitelli, que além de cantor e compositor, também é ator, foi o responsável pela criação do projeto “O Teatro Mágico’’ há quase oito anos. Bem diferente do show de sons, imagens e performances do grupo, em ‘’As Claves da Gaveta’’ ele produz um cd bem mais intimista, mais trabalhado instrumentalmente e notadamente cheio de influências musicais. Em certas músicas como ‘‘Realejo’’ e ‘’Menina do Balaio’’ há um tom jazzista, onde se utiliza bastante piano e um marcante contra-baixo, bem diferente do violão de nylon e da mesclagem de sons d’ O Teatro.

Se, no entanto, Anitelli se afasta um pouco da excentricidade de sua já consagrada trupe, toda emoção e magia de sua poesia cantada continuam bastante presentes neste trabalho. Várias músicas já conhecidas foram relançadas, mas sob um roupante instrumental bem diferente. Em algumas a gente nota sua preocupação em não carregar demais a canção. Tanto que umas músicas tiveram um ar Pop meio simplista, que me decepcionou um pouco, mas com certeza foram exceções. Com certeza, é um trabalho bem diferente do que vinha realizando. Não é um show ou um espetáculo de atores e artistas circenses, qual as exibições do nada tradicional grupo (que continua a se apresentar). Ele deixa o ator de lado, e mostra apenas o talento musical que tem. Vale a pena conferir!

O disco pode ser baixado no site: www.tramavirtual.com.br

•• Outro grupo que surgiu (do nada, diga-se...), no já falecido mês, foi ‘‘A Banda Mais Bonita da Cidade’’ que, após bater recorde de vizualizações na rede com um vídeo da música Oração, conseguiu também o título de banda mais‘‘bonitinha’’da internet. Isso porque, com um som suave e inocente, quase que como feito por uma menina apaixonada no colegial, levou muito marmanjo a escutar os mesmos nove ou dez versinhos durante os seis

A Banda Mais ‘‘Bonitinha’’ da Internetminutos do vídeo que, tenho que admi-tir, é contagiante. O bem da verdade é que as músicas da banda curitibana soam bastante fami-liares, meio que copiadas de algum lu-gar, e são repletas de um bom-mocismo que chega a ser bem meloso. Mas, por incrível que pareça, as letras simples, e até sua poesia limitada fluem fácil, pa-recendo tão sincero e espontâneo, que vale a dica! Acesse: www.facebook.com/abandamaisbonitadacidade.

GUSTAVO FRANKLIN

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•• Homem, negro, 69 anos, ciclista vítima de atropelamento. Socor-rido pelo SAMU, desorientado, vomitando, com dor de cabeça. Vias aéreas pérvias, feridas corto-contusas em face, Glasgow 13. Feita imobilização em prancha longa, colar cervical, acesso venoso. Um familiar da vítima seguiu na ambulância. Vítima previamente hígida, abstêmio, sem doença neurológica de base. Hipótese Diagnóstica (HD): Bom atendimento pré-hospitalar. Na entrada do Hospital Público de Referência em Trauma foi exi-gido que o paciente aguardasse na fila de triagem. Os socorristas não acataram a ordem e forçaram a entrada. O cirurgião geral fez o pri-meiro atendimento com rapidez. Analgesia que acalmou o paciente, à inspeção e palpação descartou lesão de membros, abdome e tórax. Suturou as feridas de face e solicitou exame de Raio-X, parecer do neurocirurgião e ortopedista. HD: erro na recepção, eficiência do cirurgião geral. A maca em péssimo estado não permitia que uma pessoa sozinha a conduzisse. Um enfermeiro de boa vontade ajudou o familiar a “arrastar” a maca até a sala de radiologia. Onde aguardaram em fila. HD: Estrutura física precária. Após o exame, o familiar se desentendeu com o técnico de radiolo-gia por não conseguir ajuda para conduzir a maca. Houve princípio de tumulto, uma cadeira quebrada e muitos palavrões. Rapidamente apa-receu alguém para ajudar a “arrastar” a maca. Glasgow caiu para 10. Enfim, viu-se o aparato do Estado funcionar, chegaram dois PMs para conduzir o familiar para a delegacia pelo crime de dano ao pa-trimônio público. Os policiais chegaram primeiro que o atendimento

do ortopedista e neurocirurgião. O familiar argumentava com os policiais enquanto segurava a mão do doente, que se não contido arrancava os curativos e comia, de tão desorientado. Os PMs, sensibilizados, aguardaram o atendi-mento antes de conduzir o “criminoso”, que não escapou de prestar esclarecimentos na delegacia. HD: Não temos direitos, só deveres. Enfim, o atendimento: ortopedista “engoliu sapo” e sugeriu dar alta apesar de uma fratura de 15 cm no crânio. O neuro solicitou uma TC sem erguer os olhos ao doente, mas como o tomógrafo não funcionava teria que ser feita em outro hospital. O familiar resolveu removê-lo para um hospital particular. Começava aí outra luta, agora contra a tremenda burocracia. HD: Desastre completo. Esse paciente poderia ser qualquer um de nós, por que não? Antes de terminar esse caso, façamos um paralelo com o que se passou na cidade de Auburn, Nebraska, em 1976, quando o Dr. James Styner, um cirurgião ortopédico, sofreu um sério acidente aéreo com sua família. A aeronave que pilotava caiu em uma plantação de milho e sua esposa morreu no momento da colisão, três de seus quatro filhos

Caso Clínico: Aula prática de empatia

Verborragia publica artigos escritos pelos alunos de Medicina da Ufes. Mande seu texto para [email protected]

VERBORRAGIA por Filipe Barcelos acadêmico do 6º período

“Empatia, no contexto médico, remete à sensibilização do médico pelas mudanças sentidas e refletidas, momento a momento, pelo paciente.”

foram seriamente feridos. No pequeno hospital rural a sequência de atendimento foi desastrosa. Dr. Styner mesmo ferido coordenou o atendimento aos filhos e conseguiu fazer contato com um colega mé-dico que os removeu de helicóptero para um hospital em Lincoln. Indignado com a situação, Dr. Styner afirmou: “When I can provide better care in the field with limited resources than what my children and I received at the primary care facility, there is something wrong with the system and the system has to be changed”. A partir disso, mobilizou colegas e criaram um programa que otimizasse a aborda-gem ao trauma, o ATLS. Atualmente, no Brasil, temos muitos médicos certificados pelo ATLS atuando nos hospitais de trauma, porém há uma carência enor-me de infraestrutura e de equipe multiprofissional preparada, “there is something wrong with the system and the system has to be chan-ged”. E para mudar o sistema quem deveria ser o ciclista anônimo? Talvez um médico importante? O secretário de saúde? Governador? Ministro da Saúde? Ou em um sonho bom (Deus me perdoe) o Lula ou a Dilma? Porém, enquanto o sistema não muda, como nós, médicos e futuros médicos podemos fazer a diferença? TRATAMENTO: Conhecimento, Dedicação e Empatia em bollus. Precisamos buscar sempre a qualificação, o conhecimen-to e a primazia técnica. O caso do ciclista escancara um lado frá-gil do sistema de saúde e da formação médica. Porém, apontar os defeitos da administração pública facilita para nos distanciar do problema. O exercício de empatia forçada (inversão de pa-péis) do Dr. Styner o levou a revolucionar o atendimento ao trau-matizado. Precisaríamos passar por tragédias semelhantes para revolucionar, ao menos, o nosso comportamento médico? Voltando ao caso clínico, o ciclista foi transferido para um hospital particular de referência, teve inúmeras lesões cerebrais e se encontra hospitalizado em coma vigil há onze meses. Mas apesar de toda infraestrutura infelizmente persistem deficiências graves na relação médico-paciente, principalmente por falta de comunicação. Para piorar, há os que insistem em florear o prognóstico, transmitindo falsas esperanças, como se isso fosse mudar a gravidade do caso. De fato, é muito difícil falar da morte e do morrer, principalmente para quem a enxerga como derrota ou fim existencial. É difícil transpor essas subjetividades para letras acadêmicas e discuti-las na formação médica, mas isso se faz urgente. Talvez a empatia encontre seu signi-ficado mais compreensível na célebre frase de Ambroise Paré: “curar ocasionalmente, aliviar frequentemente e consolar sempre”. Empatia, no contexto médico, remete à sensibilização do médico pelas mudanças sentidas e refletidas, momento a momento, pelo paciente (Rogers). No filme “Um golpe do destino (The Doctor, 1991)” um cirurgião arrogante e onipotente descobre-se com câncer. Essa experiência lhe serve como reflexão sobre o sofrimento huma-no, a morte, a sua profissão e como é estar na condição de pacien-te. Entende afinal, que encontrar um significado para a própria vida seria mais importante do que necessariamente livrar-se do tumor. Curado, ele muda radicalmente seu comportamento frente ao doente e na tentativa de ensinar empatia aos seus alunos, interna-os como pacientes por um dia. Por que, talvez, só quem já esteve efetivamente do lado do paciente ou compartilhou da sua dor pode tornar-se um Médico de verdade. E se fosse com você, Doutor?