raio-x, nº 4

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DIA A DIA Elefante Branco Longe do fim, obra completa um ano de atraso. Construtora que tocava os serviços faliu no fim do ano passado e tudo foi paralisado, de novo. O Jornal dos Estudantes de Medicina da UFES - Março/Abril 2010 - Edição 4 VIAGENS EM DEFESA DA VIDA LUTA CONTRA O CÂNCER DE PELE Com a participação de acadêmicos, projeto da Ufes leva informação, prevenção, consultas e cirurgias a pacientes do interior capixaba. MEDICINA PARA TODOS Em cada missão, membros da ONG Médicos Sem Fronteiras não enxergam limites para levar ajuda humanitária a quem precisa. DIA A DIA Ato Médico Após sete anos de tramitação, projeto de lei que que define as atividades privativas dos médicos será votado no Senado. ANAMNESE Paulo Merçon Professor de patologia concede entrevista e fala sobre temas delicados e questões polêmicas na medicina, na Ufes e no Hucam. HEMOCULTURA Grupo Saudarte Com muita criatividade, grupo da UFF sobe aos palcos e usa a arte para transmitir temas de saúde e qualidade de vida a todo tipo de público. RAIO-X conta a história de médicos que deixam consultórios e hospitais em Vitória e viajam para atender centenas de pacientes no interior do Estado e até fora do país Currículo médico em transição Neste ano, onda de alterações deve atingir metade do curso, e o Internato já mudou. Estágio fora do Brasil Inscrições batem recorde em 2009; dica é investir em atividades extracurriculares.

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O Jornal dos Estudantes de Medicina da UFES. Edição 4: Mar/Abr 2010

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Page 1: Raio-X, nº 4

DIA A DIA

Elefante Branco

Longe do fim, obra completa um ano de atraso.

Construtora que tocava os serviços faliu no fim

do ano passado e tudo foi paralisado, de novo.

O Jornal dos Estudantes de Medicina da UFES - Março/Abril 2010 - Edição 4

VIAGENS EM DEFESA DA VIDA

LUTA CONTRA O CÂNCER DE PELECom a participação de acadêmicos, projeto da Ufes leva informação, prevenção, consultas e cirurgias a pacientes do interior capixaba.

MEDICINA PARA TODOSEm cada missão, membros da ONG Médicos Sem Fronteiras não enxergam limites para levar ajuda humanitária a quem precisa.

DIA A DIA

Ato Médico

Após sete anos de tramitação, projeto de lei que que define as

atividades privativas dos médicos será votado

no Senado.

ANAMNESE

Paulo Merçon

Professor de patologia concede entrevista e fala

sobre temas delicados e questões polêmicas na medicina, na Ufes

e no Hucam.

HEMOCULTURA

Grupo Saudarte

Com muita criatividade, grupo da UFF sobe aos palcos e usa a arte para

transmitir temas de saúde e qualidade de vida a todo

tipo de público.

RAIO-X conta a história de médicos que deixam consultórios e hospitais em Vitória e viajam para atender centenas de pacientes no interior do Estado e até fora do país

Currículo médico em transição

Neste ano, onda de alterações deve atingir metade do curso, e o Internato já mudou.

Estágio fora do Brasil

Inscrições batem recorde em 2009; dica

é investir em atividades extracurriculares.

Page 2: Raio-X, nº 4

Editorial

EXPEDIENTE. RAIO-X O Jornal dos Estudantes de Medicina da UFES. Publicação do Diretório Acadêmico de Medicina da UFES. Editor Wagner Knoblauch Textos e Revisão Wagner Knoblauch, Leonardo Tafarello, Victor Cobe, Jequélie Cássia, Constance Dell’Santo Colaboração Jorge Lellis (jornalista) Crédito das fotos Equipe RAIO-X, Arquivo e Internet Diagramação Equipe RAIO-X Impressão Gráfica UFES Tira-gem 500 exemplares Mande sua sugestão [email protected] Fale com o editor (27) 8153-3178 - [email protected]

O aluno e a notícia: do campus para o jornal Esta é a edição número 4 de RAIO-X, a primeira de 2010, e que é lançada exatamente um ano após a edição de reativação do jornal, em março do ano pas-sado. RAIO-X mantém firme o objetivo de levar informação útil aos leitores, especialmente aos

estudantes de medicina da Ufes e, para tanto, conta com a cola-boração e participação de todos os acadêmicos. O sucesso do jornal depende dos alunos. Um dos destaques desta edição, por exemplo, é um projeto da Ufes que, há mais de 20 anos, conta

com o trabalhos dos acadêmicos para levar atendimento médico ao interior capixaba. RAIO-X “pegou carona” com os nossos alunos e registrou um mutirão de dermatologia no distrito de Parajú. Não deixe de conferir também a reportagem especial

sobre a organização Médicos Sem Fronteiras. Conversamos com o único médico capixaba, ex-aluno da Ufes, membro da ONG. Em Hemocultura, descu-bra a história do grupo de teatro Saudarte, da UFF. O jornal está imperdível. Não deixe de ler!

A gestão 2009 encerra o man-dato com um saldo positivo. Com algumas exceções, as as-sessorias trabalharam intensa-mente em prol dos acadêmicos e o reconhecimento de tanto esforço ficou cada vez mais visível no decorrer das reuni-ões semanais do Diretório, às quartas-feiras. No início das férias, época de pouco movi-mento no campus, o DA e os alunos surpreenderam a todos com a enorme mobilização em torno do abaixo-assinado contra a possível saída do Dr. Marcelo Muniz, por questões judiciais. Do Básico ao Inter-nato, nenhuma turma esteve alheia ao processo. O episó-dio revelou que o movimento estudantil da medicina, apesar de menos ativo se comparado aos anos áureos da luta acadê-mica, nunca deixou de existir. Este Diretório, todavia, tem a ciência que muitos de seus alu-

GESTÃO 2010Coordenação Geral Wagner San-tos Knoblauch (80) Secretaria Geral Adeílson Moreira Júnior (81), Ronaldo de Oliveira Junior (85) e Lorenzo Sanson Lani (81) Tesouraria e Patrimônio Miguel Gagno Nunes (81) Assessoria de Extensão e In-tercâmbio Adeílson Moreira Júnior (81), Marília Pessali (80), Márcio Ru-ffino (81) e Paula Peçanha (85) Assessoria de Representação Estudantil Victor Machezi Cobe (80) e Alexandre Neves Furtado (83) Assessoria Científica Bruna de Jesus Lima (80), Bruna Ferraço Maria-nelli (80), Ronaldo de Oliveira Junior (85), Miguel Gagno Nunes (81), Alana Parteli (81) , Renann Nunes Pirola (81), Paulo Henrique G. Pereira (84), Luisa Cardoso Silva (85), Bárbara Dan Mene-zes (79) e Alexandre Neves Furtado (83) Assessoria de Apoio Acadê-mico Lorenzo Sanson Lani (81), Jussara da Silva de Oliveira (80), Ana Vega Carreiro de Freitas (84), Lara Pignaton Perim (84), Bárbara Dan Menezes (79), Gustavo Leite Franklin (83), Renan Rosetti Muniz (83), La-rissa de Oliveira Nogueira (80) e Ronald Ernesto Cagliari Costa (81) Assessoria de Cultura e Even-tos Gustavo Leite Franklin (83), Renan Rosetti Muniz (83), Breno Pinheiro Rossoni (82), Ivan Nogueira (82), Nar-jara Tiburtino Aloquio (82), Lara Pigna-ton Perim (84), Daniel Ribeiro da Rocha (82) e Felipe da Fonseca Potratz (82)Assessoria de Desportos e La-zer Leandro Cetto Spadette (78), Gabriel Francisco Pena Vila Lima (78), Bárbara De Angeli (78), Luiz Renato Agrizzi De Angeli (78), Márcio Ruffino (81), Ro-drigo Miranda Vieira (80), Caio Caíres Moreira (81), Larissa de Oliveira No-gueira (80) e Luana Gaburro Alves (79) Assessoria de Comunicação Wagner Santos Knoblauch (80), Le-onardo Tafarello (80), Gustavo Leite Franklin (83), Marcelo Corassa (78), Jequélie Cássia Gomes Duarte (80), Constance Dell´Santo Vieira Schuwartz (80), Victor Marchezi Cobe (80), Lu-ana Gaburro Alves (80), Luiz Renato Agrizzi De Angeli (79), Ivan Noguei-ra (82), Rodrigo Miranda Vieira (80) e Ronald Ernesto Cagliari Costa (81) Assessoria de Informática Ga-briela Pessotti (79), Michel Amorim Gon-çalves (80) e Fellipe Bravim Catelan (83)

nos desconhecem o real poten-cial e a força que a mobiliza-ção estudantil possui dentro da Universidade - e fora dela. E a gestão 2010, que toma posse neste mês, dará continuidade às lutas iniciadas ano passa-do e, além de fomentar a livre circulação da informação, por meio deste jornal, promete não ficar apática frente aos acon-tecimentos que ocorrem na Ufes, especialmente no cam-pus de Maruípe. Os trabalhos dentro das assessorias da ges-tão 2010 já estão a todo vapor (alguns colegas trabalharam nas férias!) e o DAMUFES se coloca a disposição de todos no que se refere às atividades acadêmicas. Bom ano letivo a todos!

TODA 4ªFEIRA 12h30

REUNIÃO DAMUFESPARTICIPE!

DENEM 2010

A gestão 2010 da Denem (Dire-ção Executiva Nacional dos Es-tudantes de Medicina) foi eleita durante o XXII Congresso Bra-sileiro dos Estudantes de Me-dicina (Cobrem), na cidade de Natal (RN), em janeiro. O even-to ocorreu no Centro Acadêmi-co de Medicina Nelson Chaves (Caneca) e o tema central foi “Saúde e Educação em Tempos de Crise – Reconstruindo Ban-deiras”. A sede administrativa 2010 está centrada no Diretório Acadêmico Nilo Cairo (DANC) da Universidade Federal do Pa-raná, onde estudam o coordena-dor geral, o de finanças e o de comunicação. A coordenação das 8 regionais que cobrem o país também mudou e a Sudeste 1, que contempla os acadêmicos cariocas e capixabas, está agora sob a direção de quatro escolas: FMP, UGF, UNIGRANRIO e UERJ. O fortalecimento do mo-vimento estudantil da medicina, a nível nacional, é a principal bandeira da nova sede da De-nem. E de norte a sul do país, os alunos mostram que estão ligados na realidade nacional. Em Brasília, por exemplo, o DCE da UnB, que conta com a participação ativa de estudantes de medicina, é um dos maiores defensores do movimento Fora Arruda, que exige o impeach-ment que todos os políticos en-volvidos no escândalo do men-salão do Democratas, incluindo o governador do Distrito Fede-ral José Roberto Arruda. Acom-panhe as notícias da mobililação em prol do fim da corrupção no site www.foraarruda.com.

INFORMES DAMUFES

Quer enviar sugestão de reportagem, comentar alguma matéria, emitir sua opinião, fazer críticas ou denunciar irregularidades? Mande um email e

participe do jornal. RAIO-X está a serviço dos acadêmicos. Aqui o aluno faz a notícia.

[email protected]

Page 3: Raio-X, nº 4

Com descontração e boicote, Enade 2009 é reprovado pelos alunos da Ufes estudantes deveriam ter feito o Enade 2007. Felizmente, todos já estão em situação regular – e não correm o risco de não co-lar grau. Se tudo correr bem, a medicina será avaliada este ano, conforme cronograma do MEC. No curso de Direito a prova vi-rou motivo de protesto e muitos aderiram ao boicote. Em todo o país, especialistas e a imprensa criticaram duramente o exame. Das 10 questões da prova de

O Enade 2009, que mais parecia um panfleto do governo Lula, trouxe surpresa e protes-to à Ufes. Por desorganização, o Colegiado de Medicina só ficou sabendo que 81 alunos teriam que fazer a prova a duas semanas do teste. A convoca-ção surpresa desagradou, mas no dia da prova o clima era de descontração. O exame não serviu para avaliação, apenas para regularização, já que tais

Tramita na Câmara dos De-putados um projeto de lei que assegura a prestação de serviço militar por médicos, dentistas, farmacêuticos e veterinários após a conclusão da faculdade. A proposta vale para os profis-sionais que tenham sido dispen-sados das Forças Armadas em razão de seu curso e prevê que a dispensa precisa ser revalidada assim que concluírem a gradua-ção. Nesse momento, as Forças Armadas vão avaliar a eventual necessidade de incorporação ao serviço militar obrigatório, que poderá aguardar a conclusão de residência médica ou de pós-gra-duação. Atualmente, há brechas

legais que permitem a liberação dos recém formados e o proje-to visa eliminar ambigüidades jurídicas e amenizar a carên-cia de profissionais, sobretudo médicos, nas Forças Armadas. O Conselho Federal de Me-dicina apóia o texto, contudo, alerta para a necessidade da presença de preceptores, prin-cipalmente em regiões remotas, para garantir o bom exercício da medicina. Outra preocupa-ção é a falta de infraestrutura dos locais de atendimento, já que o sucesso do trabalho dos médicos nestes locais depende da disponibilização de equi-pamentos, medicamentos, in-

formação geral, comuns a todos os alunos das 23 áreas testadas pelo MEC, quatro eram propa-ganda escancarada do governo federal. Os alunos em situação irregular (10% entre 1 milhão de convocados), incluindo os de medicina da Ufes, só fizeram essa parte do teste. Cada cur-so teve 30 questões específicas. Já foram descartadas 54 questões do Enade 2009 (7% do total), maior número desde que

o exame foi criado, em 2004. As perguntas tinham falhas como respostas duplas ou erradas. Agora, o governo estuda assu-mir a elaboração das questões. A empresa Consulplan levou R$ 29,8 milhões para elaborar, imprimir e aplicar o exame. Tropeços em avaliações como o Enade e o Enem, fizeram com que, no final de 2009, o então presidente do Inep, Reynaldo Fernandes, deixasse o cargo.

As novas normas éticas da medicina entrarão em vigor em 13 de abril de 2010. O novo Có-digo de Ética Médica foi apro-vado em setembro, após dois anos de debates e a análise de mais de 2,5 mil sugestões. O documento traz a atualização das normas e princípios éticos da medicina, considerando os avanços e conquistas resultan-tes das transformações sociais, técnicas e científicas ocorridas desde a publicação do Código atual, de 1988. A Comissão Na-cional de Revisão do Código,

sumos e suporte logístico. Os defensores do projeto também temem que o serviço médico militar se torne uma solução definitiva para a cobertura nos vazios assistenciais, com a inte-riorização da medicina. Apesar de polêmico, o projeto tramita em caráter conclusivo e deve ser aprovado no plenário da Câ-mara com certa tranquilidade.

Serviço civilO texto de um outro proje-to de lei que também tramita na Câmara dos Deputados diz que estudantes de medicina e odontologia formados por uni-versidades públicas deverão

ser obrigados a prestar serviços gratuitos em comunidades ca-rentes após a conclusão do cur-so. Para o relator da sugestão, o deputado Lincoln Portela (PR-MG), o investimento público na formação de estudantes deve ser recompensado com a prestação de serviços, desenvolvidos em turnos de meio expediente, nas unidades de saúde municipais por um ano. Ao ingressar no curso, de acordo com Portela, o estudante deveria assinar ter-mo de compromisso que obriga a prestação de serviços comu-nitários com previsão de mul-ta caso haja descumprimento.

instituída em 2007, seria de-sarticulada em dezembro, mas continuará ativa, pela necessi-dade de atualização constante das normas éticas da atividade.

Confira algumas mudanças:Autonomia do pacienteComo era: na maioria dos casos a palavra final era sempre do médico.Como será: o médico deverá respeitar a vontade do doente, exceto quando houver risco de morte iminente.Rotina de trabalhoComo era: o texto anterior não

Novo Código de Ética Médica entra em vigor em abril

Serviço militar obrigatório para médicos MEDNEWS

tinha uma parte que tratasse es-pecificamente desse ponto.Como será: os médicos não de-vem se submeter à pressão de hospitais e clínicas para atender maior número de pacientes por jornada.PublicidadeComo era: esse assunto era tra-tado de modo menos enfático.Como será: os médicos não po-derão vender medicamentos nem ganhar comissão da indústria por produtos que recomendar.Patrocínio em eventosComo era: não existia regula-

ção sobre esse ponto.Como será: em palestras e tra-balhos científicos, os médicos precisam deixar claro que são patrocinados.Avanços tecnológicosComo era: o assunto era tratado, mas de modo menos enfático.Como será: ficam proibidas a criação de embriões para pes-quisa e a escolha do sexo do bebê nas clínicas de reprodução.O CFM distribuirá o novo Có-digo aos médicos. Veja a íntegra do texto em www.crm-es.org.br

Page 4: Raio-X, nº 4

Era impossível não se contagiar, não desejar imitar os melhores, ser como os

mestres. Depois do terceiro período, começaram a me chamar de “filho do Fausto”

Por que o senhor escolheu ser médico? Eu não diria que decidi, que foi uma escolha de momento. Eu acho que a esco-lha foi surgindo, de estímulos oriundos de pequenas vivências, de sonhos, de acontecimentos e de oportunidades. Mas o que foi determinante nessa decisão fi-cou claro, ao longo da vida. Ela resultou da expectativa da famí-lia. Tanto a família do meu pai como a família da minha mãe eram de classe média rural em-pobrecida com a desvalorização da cultura do café. A família da minha mãe estava convencida que só pelo estudo alguém po-deria melhorar de vida. E isso me foi incutido, sobretudo pela minha mãe, Dona Aldy, profes-sora primária. Então, dedicar-me a uma atividade intelectual não foi exatamente uma esco-lha. Não me lembro de ter se-quer pensado em me dedicar a coisa alguma que não envolves-se muito estudo. Eu sempre me saí bem nos estudos, desde o primário (que hoje corresponde aos 4 primeiros anos do ensino fundamental) e isso criou uma expectativa do tipo “esse meni-

no deveria estudar medicina ou engenharia”, as profissões mais valorizadas na época. E assim foi. Escolher medicina me pa-receu natural. Eu estou sendo sincero, tentando responder à sua pergunta, sobre o que pe-sou na minha escolha. O valor da medicina como instrumento para ajudar o próximo foi uma compreensão tardia, quando já estava na Ufes.

Sua relação com os alunos é um tanto peculiar. Por que de-cidiu seguir carreira acadêmi-ca em patologia na Ufes? Não sei o que você quer dizer com “relação peculiar”. Por isso, vou deixar este de lado e tentar responder aos outros aspectos. Porque a Ufes é fácil de respon-der. Como disse, minha família era de classe média pobre, de modo que ou era a Ufes ou não era nada. Eu nem me inscrevi para fazer a prova da Emescam. Não houve outra opção. Uma vez na UFES, três vivências se impuseram, de imediato e toma-ram conta da minha vida. Em primeiro lugar, a “dureza”, a dificuldade do estudo, as provas difíceis, o medo de não passar, enfim, esse infame estresse que nos impomos. Depois, o exem-plo de bons médicos e bons pro-fessores. Não eram todos, claro. Não eram nem a maioria. Mas era impossível não se contagiar, não desejar imitar os melhores, não desejar ser como os mestres. Depois do terceiro período, co-meçaram a me chamar de “filho do Fausto”. Mas muitos outros me influenciaram. Eu não vou nem tentar listá-los, com medo de esquecer alguém, porque isso seria imperdoável. Como dizia, o exemplo foi “brutal”, arrasador. Com estes mestres eu percebi que eu também poderia ter o inefável prazer de fazer bem feito, de diagnosticar, de ensinar, de entender o normal e o patológico, a doença. Enfim, de saber, não tudo mas quase tudo (risos). E a importância do entendimento, muito mais do que a ciência ou a técnica, para ajudar o paciente. Por último, o contraste entre ambos: entre a possibilidade de entender e de atuar e a triste realidade. E olha que era um contraste personifi-

cado em funcionários, colegas, professores, pacientes. De um lado o que podia ser sabido e feito, de outro o sofrimento do paciente, a coisa feita por fazer, sem prazer. Eu hoje penso, às vezes, que isso, esse amor do conhecimento, é uma forma de loucura ou como se diz vulgar-mente, “uma cachaça”. Não dá para largar, tendo começado. Que fantástica escola! Como disse, e repito, que a compre-ensão da medicina como um instrumento para fazer o bem veio depois. A motivação mais forte foi esse desejo de entender a doença, vendo ela mesma, no paciente e no espécime. E ter com quem conversar sobre isso. (Eu, hoje, sinto falta, na mesma Ufes). Repare, então, que isso me orientou, me dirigiu e, natu-ralmente, eu escolhi a patologia. Agora, quanto à carreira acadê-mica, há um problema. Minha carreira não é acadêmica, no sentido comum desse termo. Eu não tenho dedicação exclusiva. Minha atividade médica, tan-

to no serviço público como na atividade privada é tão impor-tante quanto a de professor. Isso é uma carreira acadêmica? Eu gosto de pensar que tenho uma verdadeira carreira acadêmica, de estudo, de ensino, de refle-xão. Mas não me vejo como um membro da academia. Agora que começo a envelhecer, ainda menos.

Qual sua avaliação sobre o ensino médico oferecido na Ufes? Eu acho que temos uma incrível tradição de bom ensino. Ensino de medicina como deve ser: pacientes, médicos e alunos. Pouca coisa mais é necessária. E os resultados estão aí: nossos alunos se sobressaem, sempre se sobressaíram. Nunca me pareceu que as más condições, equipamentos, financiamentos, mesmo hoje, fossem um grande impedimento. Atualmente, eu acho que o ensino está péssimo. E isso por duas razões, porque o ensino e o aprendizado depende só disso. Primeira: os professo-

ANAMNESE

Paulo Merçon conta tudoPaulo Roberto Merçon de Vargas, 53 anos, graduou-se em medicina pela Ufes em 1980. No ano seguinte, ingres-sou no quadro clínico do ser-viço de patologia do Hucam e, em 1982, iniciou a carreira de docente no departamento de patologia da Ufes. Nasceu no interior do Estado e veio para Vitória aos 15 anos e, desde então, dedica-se ao trabalho e aos estudos, e quase nunca tira férias. Casado e com duas filhas, o professor sempre fez questão de enfatizar que, apesar dos dois vínculos com a Universidade, não trabalha em regime de dedicação exclu-siva. Merçon cursou o último ano do internato na UFF, com concentração em patologia, e fez doutorado e pós-doutorado na mesma área, mas não tem residência médica. Além da medicina, conheceu a paixão pela leitura “só de clássicos” quando ainda era criança e, por email, concedeu a seguin-te entrevista ao RAIO-X.

Page 5: Raio-X, nº 4

Encontro entre grandes patologistas na UfesOs médicos Fausto Edmundo Lima Pereira, Geraldo Brasileiro Filho e Paulo Roberto Merçon de Vargas participaram em setembro da banca de um concurso do departamento de patologia da Ufes. Dr. Geraldo é, inclu-sive, o autor do livro de patologia adotado no 3º período de medicina (e o prof. Fausto é um dos colaboradores) e veio da UFMG a convite da Ufes. Ficou pouco menos de 48h em Vitória, mas o suficiente para RAIO-X registrar o encontro histórico entre os grandes nomes da patologia.

res afastaram-se do Hucam e os alunos parecem preocupados demais com outras coisas. Os pacientes, os ambulatórios e o hospital estão no mesmo lugar. Mas onde estão os professores? As razões para este afastamen-to e a solução para o problema são conhecidas, mas não cabem nesta entrevista. Desejo lem-brar, apenas, que, em minha opinião, o ensino não passa por modificar o currículo, nem por nenhuma inovação técnica de ensino. O aprendizado passa pelo objeto do estudo (o pa-ciente), os livros, um professor que goste de ensinar e um aluno que queira aprender. Segunda: um aluno que queira e possa se dedicar ao estudo. Eu acho que, hoje, o aluno ou não quer tan-to o conhecimento ou não tem tempo para estudar ou posterga o momento de se dedicar. Que tempo o aluno tem para estu-dar? Com atividades que so-mam 40 horas semanais, quan-do o aluno estudará? À noite? Porque estudar medicina é você com o paciente e com o livro; o professor só deveria entrar depois do estudo individual. E o internato de dois anos? Nem pensar, neste tempo o aluno es-tudará para passar na prova de residência. Então, resumindo, os professores foram afastados por razões de mercado, mas não falemos disso, nesse momento. E o aluno postergou seu estudo para a residência.Repare que, em nenhum momento, apontei culpados. Ou melhor, culpado, porque é um só: o estado buro-crata e intrometido que preten-de saber como eu devo ensinar patologia.

Na sua opinião, por que os hospitais universitários, in-cluindo o Hucam, nunca su-peram por completo o declí-nio e a precariedade? Este é um problema para o qual todo mundo sabe a resposta, mas que ninguém sequer a menciona. Porque passa pela política. Do governo, do MEC, da medici-na, da universidade. E eu me refiro à política do mercado, do mercado profissional e do mercado universitário, porque se trata disso mesmo. Delongar-me nesta resposta pode prestar-se a mal entendidos, mas não me furto de tocar no âmago da questão. Basta lembrar apenas um fato, um fato escamoteado em toda discussão sobre o tema, quando há discussão. Por que

um professor de medicina deve-ria prestar assistência médica, se o entendimento da maioria é que professor universitário é para dar aulas e dedicar-se à “geração do saber”? Como se pudesse haver conhecimento dissociado do seu objeto! Eu prevejo um futuro aterrorizante: o Hucam poderá se tornar ape-nas um dos hospitais do SUS. E atrelado à política estadual.

Por que a saúde pública, na sua visão, está em crise? E poderia ser diferente? Onde a saúde pública não está em cri-se? Quando a saúde pública não esteve em crise? Na verdade, eu acho que até pode haver um lugar para uma saúde pública, mas a saúde que interessa ao paciente é a sua própria saúde, a saúde do indivíduo. Eu acho que há pouca atenção e pouca responsabilização do paciente pela sua saúde. Nesse contexto, é natural que apareçam os inter-

mediários, o estado e os planos de saúde oferecendo-se para cuidar da saúde do povo. Eu aprendi com Frank Oppenhei-mer, um médico alemão do sé-culo XIX, que entre paciente e médico não cabe intermediário. Que tem isso a ver com a crise? Ora, a crise é só para os direta-mente envolvidos com a saúde, o paciente e o seu médico. Para os intermediários não há crise. A saúde é um grande negócio para o estado e para os convê-nios. Quer descobrir isso? Per-gunte-se quem ganha dinheiro com a saúde? Como se diz em inglês: follow the money. Siga o dinheiro e encontrará a res-posta. Por exemplo, quanto do orçamento é efetivamente em-pregado no cuidado direto com o paciente? Comprar ambulân-cias superfaturadas não é um escândalo tão grande. Um gran-de escândalo é comprar ambu-lâncias e levar os pacientes para um hospital terciário em outro

Atualmente, acho que o ensino está péssimo. Os

professores afastaram-se do Hucam e os alunos parecem preocupados

demais com outras coi-sas. Os pacientes, os

ambulatórios e o hospital estão no mesmo lugar.

Mas onde estão os professores?

Por que um professor de medicina deveria prestar assistência, se o entendi-mento da maioria é que professor universitário é para dar aulas e dedicar-se à “geração do saber”?

Eu prevejo um futuro aterrorizante: o Hucam poderá se tornar apenas

um dos hospitais do SUS. E atrelado à política

estadual.

município (como o Hucam) sem o correspondente repasse de re-cursos. Por que um médico ou um enfermeiro não pode traba-lhar e viver decentemente com apenas um trabalho de 40 horas semanais? É simples: o dinheiro fica com o intermediário. Resu-mindo, a crise é culpa da socia-lização da medicina. Assistam “As invasões bárbaras” e “A era da inocência” de Denis Arcand e vejam como vai a medicina no paraíso socialista canadense.

O que tem a dizer sobre a mo-bilização dos estudantes? E dos médicos? Eu não gosto do que vejo. Atuar politicamente requer conhecimento, definição ideológica, respeito pela demo-cracia e, sobretudo, disposição para uma infindável discussão. Eu não vejo isso. Experimente expressar clara, direta e fran-camente uma opinião! Há uma comoção! Um disse-me-disse. Há ameaça de processo! Uma tentativa de calar. Mas nunca uma discussão. Diz-se da minha geração, que cresceu sob a dita-dura, que não aprendeu a parti-cipar, a fazer política. Mas não vejo diferença com o pessoal de hoje. É política no pior sentido da palavra, um jogo em que o objetivo parece ser apenas calar o adversário e ganhar no gri-to pequenas vantagens. Como, aliás, no cenário nacional. E isso, conduzido por quem não fez o dever de casa. Todos têm opinião e dão opinião. Mas não estudaram. Alguns exemplos provocativos: O que resultou da mobilização contra a abertura de novas faculdades de medici-na? Outro exemplo: Por que os estudantes se mobilizam apenas quanto a notas e aprovações? Por que não há uma mobilização contra a mudança no currículo? Ou a favor? Acho melhor parar por aqui. Há sempre o perigo de um processo ou de mandarem me matar!

Hoje se considera um médico realizado e satisfeito? O que ainda deseja realizar ou ob-ter? No sentido que consegui o necessário entendimento para atuar, sim, me considero plena-mente realizado e satisfeito. E também como professor. Não desejo realizar ou obter mais nada, só mais do mesmo. É uma imensa satisfação ter aprendido a ver, como ensinou Nicolau de Cusa. “Ver é saborear, procurar, ter misericórdia e atuar”.

Page 6: Raio-X, nº 4

ESPECIAL

LUTA CONTRA O CÂNCER DE PELE NO INTERIOR CAPIXABA

Projeto da Ufes leva prevenção, consultas e cirurgias a pacientes de 11 municípios do interior capixaba há mais de 20 anos. RAIO-X viajou junto com a equipe de saúde e acompanhou um mutirão de dermatologia em Parajú, distrito de Domingos Martins.

Diariamente, centenas de pessoas circulam pelo campus de Maruípe, onde está localizado o Hospital das Clínicas. E boa parte dos pacientes atendidos no Hucam, em todas as espe-cialidades, reside em mu-nicípios distantes da Gran-de Vitória. Prova disso é o grande número de veículos de prefeituras do interior capixaba que podem ser vistos nas dependências do campus, principalmen-te ao lado do Hemoes. E essa realidade se re-pete nos consultórios do serviço de dermatologia do Hucam. Segundo a chefe do setor, dra Lúcia Martins, pelo menos meta-de dos pacientes recebidos na dermatologia, todos os dias, moram em municí-pios do interior. E a expli-cação é simples: o atendi-mento médico-hospitalar fora da região metropoli-tana e de outros centros de referência aqui do Estado carece de profissionais qualificados, infraestrutu-ra e recursos, o que obriga a migração desses pacien-tes para a capital. Ainda segundo dra Lúcia Martins, psoríase, hanseníase, acne, eczema tópico e de contato, lesões pré-neoplásicas e câncer de pele são as doenças mais vistas nas consultas dermatológicas realizadas no Hucam. E foram justa-mente essas duas últimas

entidades, acometendo a pele clara e desprotegida dos lavradores pomeranos, que motivaram a criação de um programa de via-gens de assistência der-matológica a pacientes do interior capixaba.

Projeto da UfesO Programa de Assistên-cia Dermatológica aos Lavradores Pomeranos no Espírito Santo, conhe-cido no meio acadêmico como viagens da dermato, é, na verdade, um projeto de extensão permanente da Ufes. Com 22 anos de atuação, o projeto consis-te em uma parceria entre a Universidade, a Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil, por meio do Albergue Martim Lutero, a Secretaria de Es-tado da Saúde e as prefei-turas municipais das loca-lidades beneficiadas.

O simpático casal de agricultores Janila Schultz , 63 anos, e Arthur Schultz, 68, mora em Santa Maria de Jetibá e chegou as 5h45 em Parajú. Depois da consulta, Janila e Arthur aprenderam como usar corretamente o protetor solar e evitar o câncer de pele.

Desde a sua criação, o projeto percorre 11 mu-nicípios do interior capi-xaba, em viagens men-sais, sempre nos finais de semana. A cada viagem, cerca de 50 profissionais, entre médicos, enfermei-ros, acadêmicos, técnicos de enfermagem e equipe de saúde local, trabalham na assistência e conscien-tização da população so-bre os riscos da exposição excessiva ao sol. O foco, portanto, é a prevenção, o diagnóstico e o tratamento precoce do câncer de pele. E por conta da pele clara e das atividades no campo, o público alvo é o grupo de pomeranos que vive no Estado.

Na práticaNo ano passado, o progra-ma realizou dez viagens e atendeu mais de 3,6 mil pessoas. Em novembro

último, RAIO-X acompa-nhou a visita do projeto a Parajú, distrito de Domin-gos Martins, na região ser-rana do Estado. A reporta-gem partiu as 5h da manhã do Hucam, no mesmo ôni-bus que levou os acadêmi-cos de medicina da Ufes. Ao chegar em Parajú, por volta das 7h, pelo menos 50 pessoas já aguardavam o início dos atendimentos. Como não há comunidade luterana fixa no local, todo o trabalho foi desenvolvido nas dependências da única Igreja Católica do distrito. Enquanto a equipe mé-dica se acomodava para mais um fim de semana de muito serviço (consultas e cirurgias ocorrem durante todo o sábado e até as 12h de domingo), RAIO-X conversou com alguns pa-cientes e ouviu diversas histórias. Mas todos con-cordavam em um ponto: eram gratos pela dedica-ção dos profissionais que se deslocavam de longe para atendê-los. Com a humildade visível na fala e nas roupas e os anos de trabalho duro na lavoura estampados no rosto, eles não poupavam elogios aos médicos, enfermeiros e até estudantes. Na outra ponta, o es-forço de toda a equipe para atender a todos da melhor forma possível era notá-vel. A dinâmica funciona da seguinte maneira: 15

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alunos fazem a primeira consulta, colhem os dados e realizam o exame físico dermatológico. Também é função dos acadêmicos passar orientações gerais sobre a maneira correta de se expor ao sol. A todo momento, os monitores, que são alunos com muitas viagens no currículo e certa experiência em dermatolo-gia, ficam a disposição para sanar eventuais dúvidas. Três médicos derma-tologistas fazem a triagem final de todos os pacientes, e realizam discussão de caso com os alunos. Quan-do não se trata de câncer de pele ou lesão suspeita, o paciente é liberado e leva para casa orientação útil, um encaminhamento mé-dico e/ou medicamentos, se necessários. Quando há o diagnóstico de lesões

Em Parajú, aluno atende mais uma paciente em sua primeira viagem pelo projeto (esquerda). Os mais experientes realizam pequenos procedi-mentos, sob a supervisão do dr. Luis Fernando (de branco, à direita). O ato cirúrgico virou atração na TV Gazeta, que também divulgou o mutirão.

pré-neoplásicas ou neoplá-sicas, o tratamento é feito logo em seguida. Utiliza-se a crioterapia (nitrogê-nio líquido a temperaturas baixíssimas) para lesões mais simples e a exérese cirúrgica para as lesões mais complexas. Todos os pacientes realizam biópsia e o material é analisado posteriormente em Vitória para confirmação diagnós-tica. Todos os procedimen-tos cirúrgicos também são realizados pelos acadêmi-cos, sob a supervisão de dois cirurgiões plásticos. Em um só dia, portan-to, o paciente passa por avaliação clínica e, de-pendendo do caso, já faz uma pequena cirurgia e sai curado. Nas situações con-sideradas graves, o doente é encaminhado para acom-panhamento médico em

Vitória. Para os pacientes, uma chance única de se consultar com um derma-tologista, especialista raro no interior. Para os acadê-micos, uma oportunidade de vivenciar na prática os conceitos de semiologia, relação médico-paciente e, ainda, clínica médica, com enfoque dermatológico. A equipe também con-ta com os trabalhos de enfermeiros, além de aca-dêmicos e técnicos de en-fermagem. Um médico sanitarista anota os dados para análise estatística e a equipe de saúde local atua em quase todas as etapas. Em Parajú, os 465 atendi-mentos aconteceram em clima de tranquilidade e organização. (com reporta-gem de Wagner Knoblauch, que viajou à Parajú a convite do projeto)

Governo fala em corte de gastosNo momento de renovação anual do programa, no fim do ano passado, o governo do Estado sinalizou, pela primeira vez em mais de 20 anos de existência do projeto, que pode deixar de financiar as viagens. Para este ano, felizmente, o cronograma elaborado pela Igreja Luterana está mantido – e a primeira viagem ocorre em março, para Itaguaçu. É grande a preocupação da equi-pe de saúde que atende os pacientes do interior, so-bretudo os alunos da Ufes, porque, hoje, o governo custeia a maior parte dos gastos. Para os acadêmicos, o melhor a fazer é conti-nuar demonstrando enor-me interesse pelo projeto.

Inca: 119 mil casos de câncer de pele no país em 2010 Segundo dados do Ins-tituto Nacional de Câncer (Inca), a neoplasia de maior incidência é a de pele, do tipo não-melanoma, corres-pondendo, em média, a cer-ca de 25% de todos os tu-mores malignos registrados no Brasil. A Organização Mundial da Saúde estima que anualmente ocorram cerca de 132 mil casos no-vos desse câncer no mundo e, em termos de prevalên-

cia, seja cerca de 2,5%. Ainda segundo o Inca, dois em cada mil brasileiros terão algum tipo de câncer em 2010. A estimativa é que surjam 489.270 novos casos, 9.340 só no Espí-rito Santo. No país, 23% (119.780) devem ser neo-plasias de pele. O Estado deve registrar 2.110 casos (22,6% do total estadual). Registros do Inca apon-tam que, todos os anos, 45

mil brasileiros morrem de-vido ao vários tipos de cân-cer. São 23 pessoas a cada hora. As neoplasias da pele, porém, quando detectadas precocemente, apresentam altos percentuais de cura. Os tipos não-melanoma (ba-socelular e espinocelular) representam mais de 90% dos casos e têm letalidade baixa. O melanoma, apesar de ser extremamente agres-sivo, tem baixa incidência e

o prognóstico pode ser con-siderado bom se detectado nos estádios iniciais. A maioria dos cânce-res de pele ocorre devido à exposição excessiva ao sol. A Sociedade Americana de Câncer estimou que, em 2007, mais de um milhão de casos dos tipos não-me-lanoma e cerca de 60 mil casos de melanoma esta-riam associados à radiação ultravioleta.

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O projeto Assistência Dermatológica aos Lavra-dores Pomeranos no Espí-rito Santo teve início em 27 de setembro de 1987, sob a coordenação do der-matologista e então pro-fessor da Ufes Carlos Cley Coelho. Ainda na década de 80, no serviço de der-matologia do Hucam, Dr. Cley vinha observando a crescente freqüência de ca-sos de câncer de pele entre os lavradores pomeranos de vários municípios capi-xabas. Esses agricultores de origem européia não possuíam conhecimento nem assistência médica que lhes permitisse a pre-venção de doenças der-

matológicas causadas pela exposição excessiva ao sol numa pele clara e pouco protegida. Como essa população reside no interior, e sem-pre enfrentou dificuldades para buscar auxílio mé-dico em Vitória, surgiu a necessidade e oportunida-de para a criação do pro-jeto, em parceria com o Albergue Martim Lutero (ligado à Igreja Evangéli-ca de Confissão Luterana do Brasil), que desde 1984 presta serviço de apoio aos membros que precisam de cuidados médicos. O projeto visa a preven-ção, o diagnóstico e trata-mento precoce do câncer

de pele. Desde o início, médicos, enfermeiros e acadêmicos percorrem 11 municípios do inte-rior capixaba, em viagens mensais, sempre aos fins de semana, totalizando, em média, 11 viagens por ano. Às consultas derma-tológicas, somaram-se as intervenções cirúrgicas, em 1988, sob a coordena-ção do cirurgião plástico Luis Fernando Soares de Barros, que até hoje parti-cipa ativamente dos aten-dimentos. E além da Ufes e da Igreja Luterana, há também a importante par-ticipação da Secretaria de Estado da Saúde e das pre-feituras municipais.

EQUIPE3 dermatologistas2 cirurgiões plásticos1 médico sanitarista3 enfermeiros3 alunos de enfermagem2 técnicos de enfermagem26 alunos demedicinaMotoristasEquipe de saúde local

Parceria pioneira que deu certo

SAIBA MAIS

PARAJÚConsultas: 465Eletrocauterizações: 45Criocauterização: 198Biópsias / Cirurgias: 68

BALANÇO 2009Consultas: 3.639Eletrocauterizações: 408Criocauterização: 2.672Biópsias /Cirurgias: 750

ESPECIAL

Quase todo o trabalho desen-volvido nas viagens de assis-tência a pacientes do interior fica a cargo de alunos da Ufes. Os acadêmicos de medicina se reunem semanalmente no ser-viço de dermatologia, as terças-feiras. A presença no ambula-tório, aliás, é um dos critérios para a seleção dos voluntários, que tem sido concorridíssima nos últimos meses. Para viajar e atuar nas consultas é preci-so ter cursado semiologia. E para atuar na equipe de cirurgia plástica é necessário ter partici-pado de no mínimo 4 viagens.

Prevenção sobre rodas no litoral Com cobertura simultânea em 23 estados, a Sociedade Brasileira de Dermatologia lançou a 11ª edição da Cam-panha Nacional de Preven-ção ao Câncer da Pele em 5 de dezembro de 2009 com a meta de realizar mais de 50 mil consultas em um único dia e conquistar do Guin-ness World Records o recor-de de maior campanha mé-dica do mundo. E a grande inovação é o inédito Tour de Prevenção. De dezembro a fevereiro, um caminhão vo-lante percorreu cerca de 10 mil quilômetros do litoral brasileiro, parou em 13 ci-dades e também passou por Vitória e Vila Velha no início de janeiro. O caminhão con-tava com dois consultórios e diversas equipes volun-tárias de dermatologistas.

Os monitores Mayara Entringer, Rafael Maffei e Luciana Patricio auxiliaram os outros 15 alunos de medicina que atendiam os pa-cientes em Parajú. Os três já cursam o internato e têm muitas viagens da dermato no currículo. E durante as consultas, nos casos consi-derados mais simples, uma acadêmica utilizava nitrogênio líquido sobre as lesões - é a crioterapia, que elimina células neoplásicas.

As viagens em números

AGENDA 2010Março. Palmeira de Santa Joana - ItaguaçuAbril. Serra Pelada - Afonso CláudioMaio. São João do GarrafãoJunho. Vila ValérioJulho. Laginha - PancasAgosto. Crisciúma - Laranja da TerraSetembro. Baixo GuanduOutubro. Vila PavãoNovembro. Domingos MartinsDezembro. Santa Maria de Jetibá

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O Hucam é o único hospital ca-pixaba federal e deve ser muito beneficiado com o Rehuf. Hoje, grande parte do orçamento do hospital é financiado por meio de parcerias com o governo es-tadual. E o descaso do governo federal, que vigorou por anos, trouxe conseqüências negativas para o atendimento à população. O fato mais recente ocorreu no final de 2009, quando 85 fun-cionários cedidos pela Secreta-ria de Estado da Saúde foram afastados do Hucam, por moti-vos jurídicos. Essa defasagem foi sentida em vários setores, especialmente na UTI Neona-tal (Utin) e na maternidade de alto risco, onde houve redução do número de leitos – o Hucam é referência no Estado para ca-sos de gestantes e bebês de alto risco. A Utin perdeu metade das vagas e a superlotação obrigou o fechamento da maternidade. Segundo apuração de RAIO-X, sem leitos disponíveis, alguns recém nascidos permaneciam na sala de parto e outros eram transferidos. A situação é crítica porque existe um déficit de lei-tos de Utin em todo o Estado, in-clusive em clínicas particulares.

DIA A DIAGoverno socorre Hospitais Universitários O governo federal assi-nou em janeiro o decreto que institui o Programa Nacional de Reestrutura-ção dos Hospitais Univer-sitários Federais (Rehuf), atendendo a uma antiga reivindicação da Andifes (Associação Nacional dos Dirigentes das Institui-ções Federais de Ensino Superior) e da Abrahue (Associação Brasileira de Hospitais Universitários e de Ensino). O Rehuf pre-vê condições materiais e institucionais para que os Hospitais Universitários (HUs) possam cumprir plenamente suas funções de ensino, pesquisa, exten-são, e de atenção especiali-zada e referência em alta e média complexidade para a rede pública do Sistema Único de Saúde (SUS). Outro ganho importante está instrumentalizado em uma Portaria Interministe-rial, assinada pelos minis-tros de Estado da Saúde, do Planejamento, Orçamento e Gestão, da Educação e da Ciência e Tecnologia, instituindo Comissão Inte-rinstitucional com o obje-tivo de avaliar e diagnos-ticar a atual situação dos HUs, visando reorientar e/ou formular a política na-cional para o setor. O Rehuf traz uma ca-racterização dos HUs, que foram divididos em quatro portes, de acordo com suas complexidades, seguindo metodologia semelhante à do Ministério da Saúde. Segundo o diagnóstico, atualmente os HUs con-gregam cerca de 5.800 do-centes e aproximadamente 72 mil alunos. O diagnós-tico contabilizou, ainda, 1.124 leitos atualmente desativados, devido à fal-

ta de pessoal nos HUs. De acordo com o levantamen-to, a “necessidade emer-gencial” é de 5443 vagas para servidores.

Verba. O MEC conta com uma Diretoria de Hospitais Universitários e Residên-cias em Saúde, responsável pela execução do Rehuf, e elaborou um plano de re-estruturação para os 46 HUs federais que, juntos, têm, atualmente, 10% dos seus leitos desativados e precisam contratar 5 mil profissionais em caráter emergencial. O governo vai pedir empréstimo de US$ 420 milhões ao Ban-co Mundial para revitali-zar os hospitais, e parte do dinheiro deve ser liberada ainda este ano. O projeto prevê, ainda, contrapartida de mais de US$ 3 bilhões do MEC, aplicados de for-ma gradual. A verba será utilizada principalmente na reforma dos hospitais e na compra de novos equi-pamentos. Em 2008, as dí-vidas das 46 unidades so-maram R$ 235 milhões. E em alguns estados, como é caso do Espírito Santo, o único hospital que funcio-na 100% pelo SUS e aten-de as grandes demandas é o universitário.

Lutas e vitórias na Residência Médica

Em meio a denúncias e po-lêmicas, a Associação Nacio-nal dos Médicos Residentes (ANMR) elegeu nova diretoria para gestão 2009/2010 em de-zembro durante o 43º Congres-so Nacional de Médicos Resi-dentes, em Brasília. O grupo eleito quer aproximar a ANMR dos residentes, já que apenas SP, PE, PR, SC e DF contam com associações estaduais. Para tanto, durante o Congresso, foi lançada a “Campanha Nacional de Valorização da Residência Médica e dos Médicos Residen-tes”, que tem como principais reivindicações: aumento do va-lor da bolsa-residente, definição de uma data-base para reajuste anual, instituição de 13ª bolsa (Gratificação Natalina) e exten-são da licença maternidade para 6 meses. A boa notícia é que já tramita na Câmara um projeto de lei, do deputado Arlindo Chi-naglia (PT-SP), que assegura ao médico residente o pagamento de uma bolsa extra semelhante ao 13º salário. O benefício de-verá ter por base o valor da bol-sa do mês de dezembro de cada ano.

Mais vagasO Pró-Residência (Programa Nacional de Apoio à Formação de Médicos Especialistas em Áreas Estratégicas), lançado pelos Ministérios da Educação e Saúde em outubro, abriu 788 novas vagas para todo o país com ingresso em 2010, e 61% foram destinadas às regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, a maioria para Anestesiologia, Psiquiatria, Medicina Intensiva e Neonatologia. Além de per-mitir a formação de profissio-nais mais qualificados em áreas estratégicas, o Pró-Residência visa uma melhor distribuição de especialistas pelo país. Até en-tão, o credenciamento de novas vagas era orientado, sobretudo, pelas vocações acadêmicas das instituições, deixando de consi-derar as necessidades do siste-ma de saúde. O programa sele-cionará projetos para a oferta de mais mil bolsas, com início em 2011, sendo que 50 vagas serão destinadas para a área de trans-plantes.

Residência MultiprofissionalA primeira turma do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde do Hucam começa suas atividades em março. Fo-ram abertas 12 vagas nas áreas de Enfermagem, Farmácia, Nu-trição, Odontologia e Serviço Social. A área de concentração será a Atenção à Saúde Cardio-vascular, por meio de atividades teóricas e práticas. A residência terá duração de dois anos.

Hucam. Com a redução de leitos na Utin, uma das enfermarias virou depósito

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Atividades privativas dos médicos- formulação do diagnóstico nosológico e respectiva prescrição terapêutica;- indicação e execução de cirurgia e prescrição dos cuidados médicos pré e pós-operatórios;- indicação e execução de proce-dimentos invasivos, sejam diag-nósticos, terapêuticos ou estéticos, incluindo os acessos vasculares pro-fundos, as biópsias e as endoscopias;- intubação traqueal;- coordenação da estratégia ven-tilatória inicial para a ventilação mecânica invasiva, bem como as mudanças necessárias diante das intercorrências clínicas e do pro-grama de interrupção da ventilação mecânica invasiva, incluindo a desintubação traqueal;- execução da sedação profunda, bloqueios anestésicos e anestesia geral;- emissão de laudo dos exames

endoscópicos e de imagem e dos procedimentos diagnósticos invasivos;- emissão dos diagnósticos anato-mopatológicos e citopatológicos;- indicação do uso de órteses e próteses, exceto as órteses de uso temporário;- prescrição de órteses e próteses oftalmológicas;- determinação do prognóstico relativo ao diagnóstico nosológico;- indicação de internação e alta médica nos serviços de atenção à saúde;- realização de perícia médica e exames médico-legais, excetuados os exames laboratoriais de análises clínicas, toxicológicas, genéticas e de biologia molecular;- atestação médica de condições de saúde, deficiência e doença;- atestação do óbito.- direção e chefia de serviços médicos;- perícia e auditoria médicas, coor-

Ato Médico mais perto de virar leiApós 7 anos de tramitação, projeto que regulamenta a medicina passa pela Câmara e chega

ao Senado. Entidades médicas acreditam que o texto vira lei até o fim de novembro.

DIA A DIA

MOBILIZAÇÃOEm Brasília, médicos vestem avental cirúrgico e lotam plenário da Câmara.

denação e supervisão vinculadas, de forma imediata e direta, às atividades privativas de médico;- ensino de disciplinas especifica-mente médicas;- coordenação dos cursos de gradu-ação em medicina, dos programas de residência médica e dos cursos de pós-graduação específicos para médicos;- atestado de óbito; atestado de condições de saúde, doença e possíveis sequelas.

Não privativas- diagnósticos psicológico, nutricional e sócioambiental, e as avaliações comportamental e das capacidades mental, sensorial, perceptocognitiva e psicomotora- aplicação de injeções subcutâne-as, intradérmicas, intramusculares e intravenosas, de acordo com a prescrição médica;- cateterização nasofaringeana, oro-traqueal, esofágica, gástrica, enteral,

anal, vesical, e venosa periférica, de acordo com a prescrição médica;- aspiração nasofaringeana ou orotraqueal;- punções venosa e arterial perifé-ricas, de acordo com a prescrição médica;- realização de curativo com des-bridamento até o limite do tecido subcutâneo, sem a necessidade de tratamento cirúrgico;- atendimento à pessoa sob risco de morte iminente;- a realização dos exames citopato-lógicos e seus respectivos laudos;- a coleta de material biológico para realização de análises clínico-laboratoriais;- procedimentos realizados através de orifícios naturais em estruturas anatômicas visando a recuperação físico-funcional e não comprome-tendo a estrutura celular e tecidual;- a direção administrativa de servi-ços de saúde não constitui função privativa de médico.

O momento foi histórico. Após sete anos de tramita-ção, envolvendo lutas e acor-dos, o plenário da Câmara dos Deputados aprovou, por unanimidade, em 21 de ou-tubro último, o projeto de lei que regulamenta a medicina. O Ato Médico, como é co-nhecido, define as atividades privativas do médico e indica as que podem ser comparti-lhadas com profissionais de outras categorias. Para as entidades médi-cas, a grande preocupação é esclarecer dúvidas e evitar possíveis confusões. O tex-to aprovado em Brasília não elimina a possibilidade do trabalho multiprofissional e

respeita o espaço de cada ca-tegoria, previsto em suas res-pectivas regulamentações, quando definiram o escopo de suas atuações. O projeto, portanto, não impede que os profissionais participem das ações de promoção da saú-de, prevenção de doenças e reabilitação dos enfermos e pessoas com deficiências. Para o presidente do Conselho Federal de Medi-cina (CFM), Roberto Luiz d’Avila, o senso comum e a jurisprudência já entendem que compete ao médico o diagnóstico e o tratamento das doenças. E é isso que o projeto vem ratificar, respei-tando as competências de

cada uma das outras 13 pro-fissões da área de saúde. As-sim, a medicina, a única ain-da não regulamentada, teve o seu reconhecimento social reiterado pelos deputados federais. “A sociedade sabe que quem faz o diagnóstico de doenças e tratamento são os médicos. Qualquer cida-dão vai ao posto de saúde ou paga uma consulta para um médico fazer o diagnóstico de sua doença e dar sua re-ceita”, ressalta d’Avila. O histórico de mobilização em defesa do Ato Médico já atravessa quase uma década. Foram realizados centenas de encontros, visitas e reuniões com representantes da socie-

dade, profissionais, gestores e parlamentares. Um dos pontos altos nesta trajetória aconteceu em junho de 2006 quando um abaixo-assinado com 1,5 milhão de nomes foi entregue em Brasília. (veja linha do tempo ao lado). Agora, o projeto retorna ao Senado. Como o texto sofreu modificações, os senadores irão votá-lo novamente, po-rém não podem mais fazer emendas. Em seguida, o pro-jeto segue para sanção presi-dencial. A previsão inicial é que esteja aprovado até o fim de novembro. Isto é, o Ato Médico pode virar lei ainda este ano. (com informações do CFM e da AMB)

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LINHA DO TEMPOAté sua aprovação na Câmara, a lei do Ato Médico percorreu um longo caminho. Foram 7 anos de tramitação, centenas de reuniões, inúmeros acordos e 1,5 milhão de assinaturas de apoio popular à proposta. Confira alguns dos principais momentos dessa tra-jetória, que continua no Senado.

23/10/2001 O CFM aprova a Re-solução 1.627/01 sobre o Ato Mé-dico, que vai dar origem ao projeto de lei.27/02/2002 O senador Geraldo Al-thoff (PFL-SC) apresenta o projeto de lei que regulamenta a medicina no país.24/10/2002 No II Encontro Na-cional dos Conselhos de Medicina, em Brasília, foi criada a Comissão Nacional em Defesa do Ato Médi-co, com integrantes do CFM, AMB e Fenam.07/11/2003 O parecer CFM 54/03 reforça: diagnóstico e tratamento de doenças são atribuições exclusi-vas do médico.28/03/2005 A Corte Especial do Tribunal Regional Federal da 1ª Região deu provimento ao recursodo CFM contra liminar que con-feriu aos enfermeiros o direito de diagnosticar e prescrever medica-mentos.10/02/2005 Parecer da Procurado-ria Geral de Pernambuco, diz que os optometristas não podem fazer exames de vista, como pretendia o Conselho Regional da categoria.10/11/2006 O Cremerj determina, através da Resolução 213, o uso da palavra “médico”, ao invés de “doutor”, no crachá de identifica-ção dos graduados em medicina.28/06/2006 As entidades médicas entregam 1,5 milhão de assinaturas de apoio à regulamentação da me-dicina para a Presidência do Sena-do e líderes partidários.21/12/2006 O projeto chega à Câmara dos Deputados como PL 7.703/06.16/08/2007 A Comissão em De-fesa do Ato Médico e as entidades dos profissionais de tatuageme piercings fecham acordo e deci-dem atuar em conjunto pela regu-lamentação imediata de suas pro-fissões.17/12/2008 A Comissão de Se-guridade Social e Família rejeita proposta que permite aos fisiote-rapeutas e terapeutas ocupacionais realizar exames clínicos e radioló-gicos e encaminhar pacientes.17/09/2009 O plenário aprova re-querimento do deputado Ronaldo Caiado (DEM–GO) de pedido de urgência para o projeto.21/10/2009 O PL 7.003/06 é apro-vado por unanimidade no plenário da Câmara.29/10/2009 A matéria retorna ao Senado Federal.

Em defesa do SUS, médicos lutam por novo piso salarial e melhores condições de trabalho A Comissão Nacional Pró-SUS, que agrega as três entidades médicas nacionais – Conselho Federal de Me-dicina (CFM), Associação Médica Brasileira (AMB) e Federação Nacional dos Mé-dicos (Fenam), irá reforçar este ano as lutas empreen-didas pelo grupo em 2009. Os médicos reivindicam a implantação da Classifica-ção Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos (CBHPM) no Sistema Único de Saúde (SUS), regulamen-tação da Emenda Constitu-cional 29 (EC29), Plano de Carreira Médica e novo piso salarial. Além desses temas, a luta para que a medicina seja reconhecida como car-reira de estado deverá ser um dos itens de maior relevo na agenda das entidades médi-cas em 2010. Os deputados Ronaldo Caiado (DEM/GO) e Eleu-ses Paiva (DEM/SP) criaram uma Proposta de Emenda à Constituição Federal que visa estabelecer diretrizes para a organização da car-reira de médico de Estado. A

proposta prevê a equiparação dos salários dos médicos aos subsídios de juízes e promo-tores. Os autores pedem que a medicina seja exercida por ocupantes de cargos efeti-vos, cujo ingresso na carreira se dê mediante concurso pú-blico de provas e títulos, no serviço público federal, esta-dual e municipal. A emenda também estipula a ascensão funcional do médico de Es-tado, de acordo com critérios de merecimento e antiguida-de e remuneração inicial em R$ 15.187,00, com reajuste anuais. Para o setor privado, um projeto de lei em tramita-ção no Congresso estipula o salário mínimo do médico e odontólogo em R$ 7 mil para uma carga de 20h semanais, o que eleva em 82% o piso atual. Para o CFM, a melhora dos serviços de saúde no pais só será resolvida com a valo-rização do trabalho médico. Segundo o presidente da en-tidade, Roberto Luiz d’Avila, “a profissão médica se en-contra desvalorizada, com baixos salários e condições

inadequadas para seu exercí-cio. As contratações ocorrem a título precário. Para resol-ver esses e outros problemas, propomos a criação de uma carreira de estado dentro do SUS, similar à do Judiciá-rio”. Dados de um levanta-mento divulgado pelo Insti-tuto de Pesquisas Datafolha em dezembro, e amplamente utilizados pelo CFM, reve-lam que a maioria dos brasi-leiros (27%) elegeu a saúde o principal problema do país hoje. Violência, segurança e polícia ficaram em segundo na lista (16%). A Comissão Nacional Pró-SUS avalia que o Sistema precisaria de R$ 15 bilhões a mais por ano para suprir as necessidades mínimas da po-pulação. A EC29, em trami-tação no Congresso, prevê a criação da Contribuição So-cial para a Saúde (CSS), que incidirá sobre as movimenta-ções financeiras. A estimati-va é arrecadar R$ 12 bilhões anuais com a contribuição, que seriam destinados exclu-sivamente a ações e serviços públicos da área.

O Conselho Regional de Medicina do Es-tado do Rio de Janeiro (Cremerj) lançou a campanha “Quanto vale o médico?” para estimular discussões e fortalecer iniciati-vas e soluções para esta questão. A popu-lação cresce, a violência urbana aumenta e a estrutura de saúde do Rio encontra-se estagnada. Segundo o CRM carioca, mé-dicos sem condições de trabalho e salários decentes têm queda brutal em seus níveis de qualidade de vida. Isso compromete o serviço de saúde do Estado e a população sai tão desrespeitada quanto o médico. O objetivo da campanha é a valorização do médico e de suas condições de trabalho, através da união de forças entre entida-des médicas e sociedade civil. RAIO-X reforça o convite feito pelo Cremerj: Faça esta pergunta a você mesmo e passe adiante, para amigos, familiares, colegas.

DIA A DIA

62%Este é o percentual da população que se diz fa-vorável ao Ato Médico.

O número foi constatado em enquete promovida pela Agên-cia Senado. A pesquisa ficou disponível por todo o mês de dezembro no site do Senado Federal e recebeu 545.625 vo-tos. A enquete foi a que mais recebeu votos dos internautas

desde maio de 2009, quando esse tipo de consulta começou a ser feito pela Agência Sena-do e pela Secretaria de Pesqui-sa e Opinião Pública (Sepop). O projeto de lei que define as atividades privativas dos mé-dicos será votado no Senado.

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Currículo em transiçãoColegiado surpreende e recepciona internosPela primeira vez em anos, o Colegiado recepcionou os alunos de internato, do 9º ao 12º período. Com a presença do coordenador do Colegia-do, Dr. Décio Cunha, o even-to ocorreu na manhã do dia 4 de janeiro, primeiro dia útil do ano, e marcou o início das atividades letivas dos acadê-micos que cursam o último ciclo da graduação. O audi-tório do Elefante Branco fi-cou lotado – estima-se uma freqüência em torno de 75%, de um total aproximado de 160 estudantes. Na ocasião, foram passados alguns infor-mes gerais, mas a grande sur-presa foi o anúncio do novo coordenador do Internato de Clínica Médica: Dr. Marcos Daniel assumiu no lugar da Dra. Valéria Valim, que ini-ciou e vinha conduzindo a polêmica reestruturação do Internato desde que entrou na Ufes, em meados de 2009. Após a recepção do Cole-giado, a Comissão de Con-trole de Infecção Hospitalar (CCIH) do Hucam ministrou um curso básico de biosegu-rança aos internos.

turma 82, na linha de frente da Reforma, será novamen-te provada. Internato. Sem dúvida, este é o grande foco de alte-rações neste ano, com des-taque para a Clínica Médica (CM). No semestre passa-do, o Colegiado foi palco de diversas reuniões, algumas bastante acaloradas, onde inúmeras propostas foram discutidas. E uma parte desse pacote de mudanças para reestruturação do In-ternato já está em vigor. A primeira medida anun-ciada foi a fixação das qua-tro grandes áreas (Clínica Médica, Clínica Cirúrgica, Pediatria e Ginecologia/Obstetrícia) entre o 10º e o 11º períodos. Agora, o aca-dêmico que sai do 9º cursa obrigatoriamente Clínica Médica e Clínica Cirúrgica no 10º. Apesar de ter sido considerada positiva, a me-dida prejudica diretamente os alunos que cursam pe-diatria e ginecologia/obste-trícia em 2010/1 (partes das turmas 75 e 76), porque os setores contam com a me-tade do número de internos que normalmente atuam

O ano de 2010 será mar-cado por muitas modifica-ções no currículo do curso de Medicina da Ufes. Seis dos 12 períodos da gradu-ação irão passar por algum tipo de mudança – apenas o ciclo Básico (os quatro primeiros períodos) deve ser poupado. No entanto, apesar do notável esforço de alguns docentes, o visí-vel despreparo do Colegia-do e a falta de informações concretas sobre essa onda de alterações preocupam os acadêmicos. A Reforma Curricular, ini-ciada em 2008, no 1º perí-odo, chega ao ciclo clínico neste semestre, com a fusão das disciplinas semiologia I e II no 5º período. Nessa fase do curso, essa é a única mudança prevista neste se-mestre. No entanto, desde o debate promovido pelo DAMUFES em setembro do ano passado, o assun-to predomina nas salas de reuniões e nas rodas de conversa dos estudantes, devido ao grande impacto que tal modificação deve causar em um dos períodos mais difíceis do curso. E a

nos serviços. Mas a modificação que causou mais polêmica foi a reforma do internato de CM, tanto o obrigatório, no 10º, quanto o opcional, no12º. As propostas foram planejadas pela professora Valéria Valim para ajustar o estágio médico, mas divi-diram opiniões e agitaram o campus no final do se-mestre passado. O internato obrigatório de CM mudou pouco, mas já reduziu horas livres dos internos. Ape-sar do nome, o opcional de CM conta com etapas obrigatórias, como reuni-ões científicas e estágio no pronto-socorro e CTI. Com muitos médicos de férias e alguns serviços parados, o mês de janeiro foi conside-rado pouco produtivo pelos estudantes, e muito do que foi proposto ainda não saiu do papel. O currículo está em tran-sição e são muitas as mu-danças. RAIO-X enumerou as principais alterações no quadro ao lado, e as classi-ficou em três categorias, no intuito de tornar a apresen-tação mais didática.

DIA A DIA

Metade do curso deve passar por mudanças em 2010, incluindo todo o Internato

Geriatria é disciplina obrigatóriaProjeto do senador José Agripi-no (DEM-RN) determina a in-clusão obrigatória da cadeira de geriatria no currículo das esco-las médicas, com carga horária não inferior a 120 horas. Ape-sar do rápido crescimento na população idosa, a assistência é inadequada nos serviços de saúde por conta da insuficiente formação de médicos especia-listas. O Brasil conta hoje com cerca de 542 geriatras, mas 250 estão concentrados em São Pau-lo. Por ano, apenas 68 vagas de residência médica em geriatria são oferecidas em todo o país.

UFF. O internato dura dois anos, mas apenas metade é obriga-tório. No opcional, cada aluno monta sua grade de especialida-des, tendo que cumprir 2 meses de psiquiatria e com direito a 2 meses de férias, após o término do ano obrigatório.

USP. O internato é de 2 anos, sem estágios opcionais. No 5º ano, os alunos rodam por clíni-ca médica, moléstias infeccio-sas, psiquiatria, dermatologia, pediatria, cirurgia geral, cirur-gia do aparelho digestivo e GO, além de outros cursos comple-mentares como medicina legal

e bioética clínica. No 6º ano, os alunos passam novamente por clínica médica, cirurgia e obstetrícia, além de estágios em urgência/emergência no pronto-socorro (cirurgia, clínica, obste-trícia, neuro, pediatria e cardio) e, ainda, neonatologia e medici-na preventiva.

UNIRIO. O internato dura 1 ano e meio (3 últimos períodos) e é totalmente obrigatório. Os alunos rodam na GO e cirurgia (3 meses cada) no 10º, pela clí-nica médica (6 meses) no 11º e fazem pediatria e posto de saú-de (3 meses cada) no 12º.

Polêmica na carga horária do internatoA carga horária do internato vi-rou guerra judicial em algumas escolas médicas. Os estudantes denunciam que alguns cursos aplicam carga excessiva, com até 60h semanais. Os estágios nos hospitais não podem ter mais do que 40h semanais, e o que passa disso já pode ser enquadrado na legislação tra-balhista, com todos os direitos e deveres. Muitos defendem o internato remunerado. Os mé-dicos cumprem jornadas exaus-tivas de trabalho, que as vezes chegam a 100h semanais, desde a graduação.

Como é o internato em outras escolas médicas

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DIA A DIAVeja o que muda em 2010

Departamento de Clínica Médica completa 45 anosO departamento de Clínica Mé-dica do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da Ufes comple-tou 45 anos em 2009 em grande estilo. Em dezembro último, o departamento lembrou a data com uma homenagem aos pro-fessores. O evento reuniu cer-

ca de 40 docentes no auditório do CCS, entre aposentados, mestres ainda na ativa e recém concursados. Também estavam presentes o diretor do CCS, Carlos Alberto Redins, o dire-tor superintendente do Hucam, Emílio Mameri, e alunos do Di-

retório. Houve o descerramento da placa comemorativa, cons-tando a relação nominal dos 63 docentes da Clínica Médica e a abertura da galeria de fotos dos professores que exerceram a chefia do departamento, que hoje é ocupada por Vitor Buaiz.

O que muda em 2010/1- criação da semiologia geral e radiológica no 5º período; antes havia semio I no 5º e semio II no 6º. Da turma 82 em diante, todos estão totalmente dentro do novo currículo.- internato em clínica mé-dica (CM) e clínica cirúrgi-ca (CC) ficam fixos no 10º período; pediatria (PED) e ginecologia/obstetrícia (GO), no 11º. Antes havia rodízio aleatório entre as 4 áreas nesses dois períodos. E todos passam a ser conta-bilizados em semanas (12), não mais em dias (90). - internato obrigatório em CM: rodízio nas enfer-marias pela manhã e nos ambulatórios, de tarde. Os horários livres foram reduzidos.- internato opcional em CM (12ºP) continua divi-dido em 3 bimestres, mas agora há obrigatoriedades.

Os alunos passam 2 meses no PS e na UTI, 2 meses na Clínica Geral (reuniões científicas e ambulatórios) e 2 meses em até duas especialidades de livre escolha. Nesse período, em especial, os que optaram por demato, neuro ou radio ficam até 4 meses no setor de escolha, e o restante entre PS e UTI.

- internatos opcionais fora da CM e os realizados fora da Ufes, têm duração de até 6 meses e os alunos ficam proibidos de passar no PS e na UTI, por falta de vagas no rodízio. - internato começa no 1º dia útil do ano e prevê 15 dias de folga a cada 12 semanas de atividades, en-tre o 9º e o 12º. Antes não havia férias. - internato terá prova (teórica e/ou prática) em todas as áreas. A presença também valerá nota. Antes não havia teste em alguns estágios.

Com seis anos de duração (12 períodos), o curso de Medicina da Ufes é dividi-do em três ciclos de dois anos: Básico (1º ao 4º), Clínico (5º ao 8º) e Internato (9º ao 12º). Neste ano, duas grandes frentes de modificações prometem mudar a dinâmica do curso: a Reforma Curricular e a reestruturação do Internato.

Novo São Lucas não fica pronto em 2010

O novo Hospital São Lucas (HSL) não ficará pronto em setembro de 2010 – promessa inicial do governo. A previsão era que a urgência do HSL fosse transferida para o Hospital da Polícia Militar (HPM) em se-tembro de 2009, mas as adapta-ções necessárias no hospital dos militares não ficaram prontas. O atraso deve-se aos imprevistos durante as obras de reparo na infraestrutura do HPM, segundo o secretário estadual de Saúde, Anselmo Tozi. As obras de adaptação co-meçaram em julho e o orçamen-to já saltou de R$ 1,8 milhão para R$ 5,4 milhões, incluindo adaptações no Hospital Adau-to Botelho, que deve receber a enfermaria psiquiátrica do São Lucas durante as obras e uma ala com leitos de alta qualida-de de cuidados crônicos. Serão transferidos para o HPM, entre outros serviços, a ortopedia, a neurologia, e a cirurgia vascu-lar (4 salas cirúrgicas, 76 leitos gerais, 26 de UTI e duas alas de pronto-socorro). O HSL vai ocupar um dos prontos-atendi-mentos do HPM - hoje fechado - e três das seis salas de cirur-gia. Um espaço não usado, com 24 quartos, vai servir como en-fermaria e pós-operatório. Um centro de leitos semi-intensivos também passará a ser utilizado pelo São Lucas. Só depois da transferência será possível esti-mar quando a obra de ampliação do HSL será concluída. O novo São Lucas terá o dobro do tamanho original e o número de leitos vai passar de 161 para 234 (45 só de UTI). Todo o espaço no térreo será destinado ao pronto-socorro, com recepção, triagem e clas-sificação de risco. O 1º pavi-mento abrigará leitos de UTI. O Centro Cirúrgico ocupará o 2º pavimento e vai ganhar novas quatro salas. Já o 3º pavimento será composto por mais leitos de UTI e semi-intensivos e o 4º pavimento, a área técnica. Um terreno em anexo será usado para a construção de um heli-ponto. Além das intervenções físicas, diversos equipamentos serão adquiridos para reestrutu-rar o HSL.

O que muda em 2010/2- remanejamento da Medi-cina Legal do 7º para o 6º período.- extinção da Prática Hos-pitalar e criação da Clínica Médica I, a ser ministrada no 6º período.

O que pode mudar - inserção de três meses de estágio em clínica médica, de caráter obrigatório, no internato opcional.- extinção de superespecia-lidades e subáreas opcio-nais no 12º. - desmembramento do internato de urgência/emergência (metade do novo 9ºP) em três ciclos de um mês cada: estágio no São Lucas, plantão no pronto-socorro do Hucam e plantão na UTI/Hucam. - internatos de CM, obri-gatório e opcional, devem passar sucessivas reestrutu-rações a cada período.

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JANEIRO

2009JANEIRO

2010

UM ANO DE ATRASO Cercada de polêmicas, atrasos e transtornos, a obra de ampliação do pavilhão de aulas teóricas Elefante Branco (EB), no campus de Maruípe da Ufes, completa 20 meses de andamento em março deste ano. No início dos trabalhos, em agosto de 2008, a prefeitura de Vitó-ria (PMV), responsável pelo custeio, prometeu entregar o prédio pronto em 180 dias. Ou seja, as novas salas de aula já deveriam estar em funcionamento desde feve-reiro do ano passado. Após significativo avanço na execução dos trabalhos, a obra sofreu novo abalo e pa-

Jul/08. A dois meses das eleições municipais e antes de dar início à obra, a prefeitura foi rápida em cercar o canteiro com tapumes de madeira repletos de slogans do governo. Em outubro, João Coser (PT) foi reeleito com folga nas urnas.Ago/08. Empreiteira inicia os trabalhos. Segundo a Secretaria Municipal de Obras de Vitória, a construção de um prédio com 8 salas é uma contrapartida da PMV à cessão do terreno da Ufes, em Goiabeiras, para a amplia-ção da Av. Fernando Ferrari. Os trabalhos estão orçados em R$ 810.835,65 e são tocados pela Brito Engenharia.Nov/08. Sete das 11 salas do EB são interditadas, contrariando o projeto inicial, que não previa a interdição parcial ou total do pré-dio. As novas salas seriam ergui-das ao redor e em cima da estru-

tura antiga, já que o objetivo era evitar qualquer bloqueio das salas já existentes. Dez/08. A obra foi paralisada com a alegação de erro de cálculo e falta do projeto final da obra. Jan/09. RAIO-X teve acesso ao canteiro e às salas bloqueadas, com estacas de madeira por todos os lados.Fev/09. Termina o prazo de 180 dias estipulado pela PMV para entrega da obra. Mar/09. Com o início do ano leti-vo e a obra parada, os alunos são remanejados dentro do campus para evitar perda de aulas por fal-ta de salas. Até as cabines de es-tudo da biblioteca são utilizadas como salas de aula. Mar/09. O projeto da PMV che-ga, enfim, ao canteiro, depois do prazo estipulado pela própria pre-feitura para o término da obra. Os trabalhos recomeçam.

Mai/09. A obra ganha ritmo e alguns avanços são notados. O novo EB começa a ser delineado. Jun/09. Os banheiros do EB são interditados e ficam fechados por mais de um mês. O estacionamen-to em frente ao prédio também foi parcialmente bloqueado em vários momentos para não atrapa-lhar os serviços de concretagem.Jul/09. Pressionada, PMV cons-trói 4 salas provisórias no térreo do prédio localizado ao lado da Biblioteca, no intuito de desafo-gar o fluxo de alunos no EB. Out/09. João Coser admite que, pela primeira vez em 20 anos, a PMV deve quase R$ 20 milhões à indústria da construção civil e culpa a crise econômica mun-dial. A dívida explica o atraso em quase todas as obras tocadas pela prefeitura. Nov/09. Com avanços em apenas um lado do EB, a interdição das

sete salas completa um ano sem nenhuma mudança. Em 2009, o auditório do prédio foi utilizado todos os dias como sala de aula. Dez/09. É anunciada a falência da empreiteira Brito Engenharia, que tocava os serviços desde o início. A obra é novamente paralisada.Jan/10. Prefeitura inicia reforma de quatro das 7 salas bloqueadas há mais de um ano e promete abrir nova licitação para contra-tar empresa que terminará a obra. RAIO-X visita o canteiro e regis-tra o mesmo cenário de jan/09: salas de aula inacessíveis. Fev/10. O prazo de término com-pleta um ano de atraso. Até o fe-chamento desta edição, na véspe-ra do Carnaval, a conclusão dos trabalhos é um mistério. Apesar dos avanços, ainda há muito o que fazer. A prefeitura limpa o cantei-ro e refaz o cercado da construção com material mais resistente.

A cronologia do descaso

rou. A empreiteira que tocava os serviços decretou falência no fim do ano passado. Se-gundo RAIO-X apurou, a pa-ralisação foi motivada basi-camente por dois motivos. A empreiteira era uma empresa de pequeno porte e com ca-pital de giro reduzido – o que explica, em parte, porque a obra quase sempre esteve a passos de tartaruga. Além disso, a prefeitura admitiu que, em 2009, não honrou com boa parte dos compro-missos financeiros assumi-dos com diversas construto-ras, o que gerou uma dívida que chega a R$ 20 milhões. Para a obra do EB, essa com-

binação foi um golpe duro. O prédio original também levou anos para ser erguido. Hoje, no entanto, o termo Elefante Branco, na Ufes, não se refere mais a uma constru-ção inútil ou faraônica. Mui-to pelo contrário. Trata-se do principal pavilhão de aulas teóricas da área clínica do campus. Alunos de medicina de todos os períodos utilizam as salas para aulas e reuniões juntamente com estudantes de outros cursos. Mas há uma boa notícia: durante as férias, a PMV reformou quatro das 7 salas que estavam bloquea-das desde novembro de 2008. A medida deve evitar perda

de aulas por falta de salas, já que o campus abriu quatro novas graduações, duas ano passado e mais duas agora. O auditório do EB e até cabines da biblioteca foram utilizados como salas de aula em 2009. No início de fevereiro, a PMV limpou o canteiro e trocou os tapumes de ma-deira por placas de alumínio, ao redor da construção. Uma nova licitação será aberta para a contratação de uma empresa que finalizará os trabalhos, mas o prazo para a conclusão da obra perma-nece indefinido. A aflição de alunos e professores ainda está longe do fim.

Obra do Elefante Branco ficaria pronta em 180 dias, mas já são 20 meses de andamento.

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A bola vai rolar em 2010...

DIA A DIA

“Docete Omnes Gentes: A Academia vai ao samba”Universidade Federal,Tu és da sabedoriaManancial de energia,Fonte natural, Facho de luzQue me conduzPelas veredas do mundo real.Para buscar o saber,Brilhar e vencer, No meu ideal,Deste sentido à minha vidaNessa corrida profissional.Na engenharia - construí,No campo do direito - me formei,Salvei vidas - na medicina,Nas letras me realizei.No planetário viajei até a lua,Brinquei com as estrelas, cons-telações... Com lunetas, explorei outros planetasPerdidos nas imensidões.As formaturas no teatro, sensacio-nais, Revelando lideranças nacio-nais, Exatas, humanas... atividade literária... Tem samba de raiz na Rádio Universitária.O meu cantar vai ecoar,Quanta alegria!Passei no vestibular,Hoje tem Chegou na academia

A turma 74, que colou grau no fim do ano passado, deu um show de aprovações nas provas de residência médica. Segundo apurou RAIO-X, quase todos os alunos que disputaram uma vaga passaram em pelo menos um concurso. Das 28 aprova-ções, 18 foram nas disputadís-

Professores e pesquisadores da Ufes e de outras universidades brasileiras e estrangeiras – entre elas Harvard e a Brookhaven National Laboratory & Affilia-te, ambas dos Estados Unidos – estarão reunidos em Vitória, nos dias 16 e 17 de março de 2010, para participar do I Simpósio Internacional sobre Córtex Pré-Frontal. Os especialistas participarão de debates sobre memória, transtorno bipolar e de déficit de atenção, dependência a drogas e outros temas relacio-nados a essa área do cérebro, o córtex pré-frontal, que ajudarão

simas escolas paulistas, tais como USP, UNIFESP, IAMSPE (hospital do servidor público), UNESP e Santa Casa, além do SUS-SP. Mais de dez estudantes passaram na prova do Hucam, em Clínica Médica, Cirurgia Geral, Dermatologia e Aneste-siologia. A turma também ob-

teve vitória na UFMG, UFG, Santa Casa (BH), Emescam, Santa Rita, HINSG (hospital in-fantil de Vitória), entre outros. Muitos acumularam entre 3 a 5 aprovações! Os alunos da Ufes provaram mais uma vez que têm capacidade para disputar e conquistar uma vaga nos pro-

gramas de residência médica mais concorridos do país.CRM. Um aluno da turma 74 também é o responsável pelo registro de número 10.000 no CRM-ES. Segundo o Conselho, há 10.103 médicos registrados no Estado, sendo que 6.819 es-tão na ativa.

Show de aprovações nas provas de residência médica

nas pesquisas de neurociência. O evento está sendo organizado pelo Laboratório de Ciências Cognitivas e Neuropsicofarma-cologia, do departamento de Ciências Cognitivas, ligado ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Fisiológicas da Ufes, e tem o apoio do Núcleo de Apoio Sócio-Cognitivo do Espírito Santo (Nasces). Mais informa-ções sobre inscrições, valores e local do evento pelo email [email protected], no te-lefone (27) 9748-5500 e no blog www.labccnpf.blogspot.com

Evento internacional debate temas de neurociências em Vitória

Crispim fala sobre malária na França

O médico e professor da Ufes Crispim Cerutti Júnior participa nos próximos dias 24 a 26 de março de um Simpósio Inter-nacional sobre HIV e Doenças Infecciosas Emergentes, em Marselha, na França. Crispim apresentará uma síntese dos resultados da linha de pesquisa sobre malária residual de Mata Atlântica, desenvolvida pelo grupo de Medicina Tropical da Ufes. Os pesquisadores acredi-tam que a malária local seja uma zoonose. Conheça as linhas de pesquisa do grupo no site www.ccs.ufes.br/medicinatropical.

Ufes desfila no Sambão do PovoPrimeira escola de samba a pi-sar no Sambão do Povo no Car-naval de 2010, a Chegou o Que Faltava levou para a avenida a Ufes. Entre as alas que pas-saram pela pista, homenagens aos cursos que a universidade oferece. A escola encantou o público com a participação de um menino que representava, na comissão de frente, o sonho de entrar na Ufes. Com a ajuda dos acadêmicos, a agremiação desfilou com quatro carros ale-góricos, 14 alas e cerca de 1200 componentes.

Alunos animam Natal do CepasO Natal das crianças atendidas pelo Cepas (Centro de Estu-dos e Pesquisas em Alternativas de Saúde) foi mais divertido ano passado, graças aos alunos de medicina da Ufes que atuam como monitores do projeto. Sob a coordenação do professor Pedro Fortes, o Cepas existe há mais de 20 anos e hoje contem-pla cerca de mil famílias. Os acadêmicos visitam o projeto no 2º período e realizam visitas domiciliares aos sábados. No Natal de 2009, o Papai Noel da vez foi o aluno Diego Nava, turma 80. Congresso. Em outubro, o Cepas foi um dos destaques da 47ª edição do Cobem (Congresso Brasileiro de Educação Médica), em Curitiba. A iniciativa de enviar um resumo sobre o projeto partiu de um grupo de monitores. Concorrendo com centenas de outros textos, o resumo do Cepas foi aprovado pela comis-são do Cobem na categoria extensão universitária e o aluno Leonardo Tafarello, único representante discente da Ufes no Congresso, fez a apresentação do Cepas.

Com 80 atletas, 10 times e 24 jogos, a edição 2009/2 do IN-TERMED provou que o espírito esportivo dos alunos foi reacen-dido. A cada rodada, um show de futebol com os mais impor-

tantes ingredientes: rivalidade, habilidade (por parte de alguns, pelo menos) e raça. E as expec-tativas para as competições des-te ano são as melhores possíveis, promessa de grandes emoções e

disputas acirradíssimas. Além dos rapazes, as alunas garantem que disputarão o torneio numa edição especial. O INTERMED 2010 vem com tudo! Memória. Nos últimos anos, temos observado um interessan-te processo de resgate esportivo na Medicina/Ufes. É o resgate de uma tradição. Tradição no-tavelmente vitoriosa, por sinal. Há tempos não éramos tão bem representados como agora, em competições internas e regio-nais. Em 2009, nossos atletas se destacaram no OREM, INTER-MED, na Copa UFES de Futsal e Copa UFES de Handebol. RAIO-X deseja um ótimo ano esportivo a todos!

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ESPECIAL

NOBRE MISSÃO

Conheça a história do único médico capixaba membro da ONG Médicos Sem Fronteiras Morar mais de seis meses no coração da África, com recursos escassos, sem o menor conforto, longe da família, dos amigos, da internet e do celular. Ou, ainda, passar quase um mês na Indonésia, exatamente após o terremoto que abalou a região, destruiu cidades e matou milha-res de pessoas. Você se imagina em uma dessas situações? Pois o médico Robson Tardin viven-ciou as duas experiências. E tudo isso em 2009. Ex-aluno de medicina da Ufes (turma 68), Robson Tardin, 28 anos, é hoje o único médico capixaba membro da organi-zação internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF). Ele está na ONG há um ano e meio, já participou de duas missões e passou quase oito meses fora do país em 2009, entre a Europa, África e Ásia. Um currículo e tanto para um profissional que concluiu a graduação há apenas três anos. Entre um atendimento e ou-tro, inclusive de pacientes gra-ves, no pronto-socorro do hos-

pital São Lucas, Robson Tardin recebeu RAIO-X no consultório de Clínica Médica, já perto de completar exatas 30 horas de trabalho ininterrupto em três hospitais. “Isso é loucura, e não costumo fazer sempre”, confes-sa. Capixaba de Colatina, Ro-bson também é plantonista dos hospitais Meridional e Evangé-lico, e nunca pensou em fazer residência médica. Mudou-se para Vitória aos 15 anos e não teve dúvidas em optar por medicina no vestibu-lar da Ufes. Robson ouviu falar pela primeira vez sobre Mé-dicos Sem Fronteiras quando ainda estudava no ensino médio e se apaixonou pelo trabalho da organização. Em agosto de 2008, ele enviou currículo ao escritório brasileiro de MSF, no Rio, e enfrentou o processo de seleção, com entrevistas, testes e simulações. Semanas depois, obteve o tão sonhado título de membro da ONG e se tornou, enfim, um “médico sem frontei-ras”. Nos dois meses seguintes, Robson fez o curso de formação promovido por MSF na Europa, e no início do ano passado já se preparava para sua primeira missão, na África. “Tem uns que querem ter carro importa-do, consultório em bairro nobre, roupas da última moda e outros preferem ter casa simples e viajar

o mundo. Eu sempre curti essa coisa de viajar, conhecer pes-soas e novas culturas”, explica. Gostar de medicina de urgên-cia e emergência, principalmen-te em contextos complicados, é item obrigatório para entrar no MSF. “Gosto dessa rotina de pronto-socorro e de lidar com pacientes críticos. Por isso digo que não tenho desejo de fazer residência, porque não me vejo trabalhando, por exemplo, den-tro de um consultório. Fiz cur-sos em urgência e emergência e tenho a experiência prática. E, no meu caso, está de bom tama-nho”, pondera. África. Robson passou 7 me-ses na República Democrática do Congo, de janeiro até o iní-cio de agosto de 2009. O MSF mantém uma missão perma-nente no local (Pool d’Urgence Congo) que presta todo tipo de auxílio à população, sobretudo médico-hospitalar, no intuito de driblar a miséria e minimizar a desnutrição infantil, entre ou-tras ações. Foi o seu primeiro trabalho como médico do MSF. “A primeira missão é sempre a mais difícil. Você demora uns 3 a 4 meses para entender a dinâ-mica dos trabalhos”. Robson explica que não é fá-cil trabalhar em uma realida-de totalmente diferente da que está acostumado. “Congo é um

país enorme e onde acontece de tudo. A figura do Estado parece não existir. É um caldeirão de epidemias, guerra civil, cam-po minado e densas florestas”. Para o jovem médico, a missão foi desgastante, mas a experiên-cia pessoal e profissional com-pensa o sacrifício. Indonésia. Entre a ligação do escritório do MSF e o embarque no aeroporto de Vitória foram pouco mais de 24 horas. Essa corrida contra o relógio ocor-reu em outubro, dias depois do terremoto de 7,6 graus na escala Richter que devastou a Indoné-sia. Robson só teve tempo de preparar uma mala com duas calças, cinco camisas, material de higiene, alguns livros e um caderno para anotações. Nos 21 dias que permaneceu na região, Robson se desdobrou para aten-der as vítimas da tragédia, em Jacarta e em Padang. No entan-to, diferentemente do que a mí-dia divulgou, Robson não atuou na retirada das vítimas dos es-combros. “Não sou bombeiro, sou médico. Atuei no atendi-mento às vítimas nos 5 hospitais montados pelo MSF”. Robson foi o único médico bra-sileiro nessa missão, mas conta que no acampamento dos mem-bros do MSF havia pessoas de pelo menos dez nacionalidades distintas. Contudo, foi o idioma

ÁfricaRobson Tardin (em pé, à esquerda) em

sua primeira missão como membro do Médicos Sem Fronteiras

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Sem FronteirasO médico Robson

Tardin participou de duas missões em 2009

Médicos Sem Fronteiras é uma organização médico-humanitária internacional, in-dependente e comprometida em levar ajuda às vítimas de conflitos, catástrofes naturais, epidemias, negligência e des-nutrição, independentemente de interesses políticos, raça, credo ou nacionalidade. Também é missão de MSF tornar públicas as situações enfrentadas pelas populações atendidas. A orga-nização foi criada em 1971 por um grupo de jovens médicos e jornalistas que, em sua maioria,

Civis atacados, bombarde-ados e impedidos de receber ajuda no Paquistão, Somália, Iêmen, Sri Lanka, Afeganistão e República Democrática do Congo, junto com a estagnação do financiamento para o trata-mento de HIV/Aids e a contínua negligência de outras doenças estão entre as piores emergên-cias registradas em 2009. Os dados fazem parte do 12º rela-tório “Top Ten” das Crises Hu-manitárias mais negligenciadas pela mídia, divulgado por MSF desde 1998, quando uma crise alimentar devastou o sul do Su-dão e foi imensamente ignora-da pela mídia americana. Para

o presidente Internacional de MSF, Christophe Fournier, “não há dúvidas de que os civis estão sendo cada vez mais vitimiza-dos e impedidos de ter acesso à assistência capaz de salvar suas vidas, e isso tem sido feito deli-beradamente e com freqüência. Os enormes esforços devotados à pandemia H1N1 em países em desenvolvimento ilustram a capacidade de resposta para ameaças de saúde global quan-do existe vontade política. In-felizmente, não conseguimos obter o mesmo compromisso para combater doenças que ma-tam milhares de pessoas a cada ano”.

tinham trabalhado como volun-tários em Biafra, região da Ni-géria, que, no final dos anos 60, estava sendo destruída por uma guerra civil brutal. O sentimento de frustração desse grupo frente à apatia mundial e a vontade de assistir às populações mais necessitadas de modo rápido e eficiente deram origem a MSF. A primeira intervenção foi na Nicarágua, em 1972, após um terremoto que devastou o país. Hoje, MSF conta com cerca de 22 mil profissionais em mais de 70 países.

Ajuda bloqueada e doenças negligenciadas

MSF chega a quem precisa em qualquer lugar do planeta

da população local o principal obstáculo no trabalho dos médi-cos. “Na Indonésia, a língua foi o maior fator limitante. Só algu-mas pessoas falavam inglês, a maioria falava um dialeto local dificílimo. A comunicação com os pacientes era mínima. Até a conversa entre os médicos da região era complicada”, conta. Além disso, o médico enfrentou as adversidades inerentes a uma catástrofe. “O que mais choca nos desastres naturais é o cená-rio de destruição geral e as pes-soas mutiladas, principalmente as crianças”.MSF. Robson pretende ficar em Vitória até o final do ano que vem e já negou duas ofertas de trabalho, na Colômbia e no Hai-ti. “Pra quem é de família abas-tada é fácil ficar viajando pelo mundo. Mas pra quem veio de família simples e está começan-do a carreira agora, do zero, fica difícil encarar missões muito longas. O salário do MSF é sufi-ciente para viajar, viver e permi-te apenas algumas regalias. Mas não dá pra juntar dinheiro. Por isso, voltar da missão é sempre complicado. Não há emprego imediato, e é preciso sobrevi-ver”, explica. Robson conta que muitos médicos entram no MSF e, após um ou duas missões, de-cidem fazer uma pausa para for-talecer a carreira e as finanças. É o que ele faz hoje. Com a vida estruturada, Robson pretende se lançar novamente nas missões, preferencialmente nas de curto e médio prazo. A ONG contem-pla um plano de carreira, onde, a cada 12 meses, o membro sobe uma categoria e o salário aumenta. “É um estímulo que visa à permanência dos bons profissionais dentro da organi-zação”, comenta Robson. E para aqueles que sonham em ser membros do MSF, Robson dá um conselho: “O real traba-lho das ONGs de alcance inter-nacional é extremamente detur-pado para a maioria dos jovens, que enxergam mais a aventura do que os desafios. Você pode até imaginar o que é ir para um país em condições adversas, mas só indo lá para entender a realidade. Mas é preciso ter o perfil certo, senão vai atrapalhar mais do que ajudar. Já vi muita gente desistindo da missão nos primeiros dias, porque além de atender os pacientes, é preciso fazer relatórios, seguir regras e cumprir deveres. MSF não é in-tercâmbio”.

Com hospitais em ruínas, MSF atende as vitimas em tendas nas ruas do Haiti

O terremoto de 7 graus na escala Richter que devastou o Haiti no dia 12 de janeiro também destruiu os três hospitais erguidos pela ONG Médicos Sem Fronteiras no país - uma maternidade, um cen-tro de traumatologia e um pronto-socorro. Oito dos 12 hospitais do país viraram ruínas. Os primeiros atendimentos às vítimas foram improvisados em tendas monta-das nas ruas, entre os escombros. A ONG atendeu mais de mil pes-soas nas primeiras 24 horas após a tragédia. MSF já atuava no Hai-ti desde 2001 e mantinha cerca de 800 funcionários na região e, em menos de três dias, enviou um hospital de campanha com duas salas de operações, cirurgiões e anestesistas, além de 80 voluntá-rios para agilizar os atendimentos. Diante do colapso do sistema de saúde, a ONG afirmou nunca ter visto tantos ferimentos tão graves quanto os registrados no país. Pas-sados 24 dias do terremoto, MSF atendeu mais de 11 mil pessoas e realizou 1.320 cirurgias. Para res-ponder à gravidade da catástrofe, mais de 200 profissionais foram enviados para o país. Hoje, as equipes contam com 1.480 pro-fissionais (1.120 haitianos e 360 estrangeiros). Já foram enviados mais de 940 toneladas de material médico e hospitalar, além de um hospital inflável, em 31 aviões. E as equipes especializadas rea-lizam procedimentos obstetrícios, diálise para vítimas da síndrome do esmagamento e cuidados pós-operatório.Ajuda. O governo brasileiro, além de enviar mantimentos, equipamentos e pessoal espe-cializado em resgate, está mo-bilizando grupos de voluntários de hospitais e da sociedade civil para ajudar no atendimento das milhares de vítimas. As equipes, de 50 a 100 profissionais, devem ficar no país por cerca de 15 dias, e também atuam na reorganiza-ção da rede de atendimento local. Como a situação ainda é crítica, o desgaste obriga a rotatividade de pessoas. O CFM se colocou à disposição do Exército brasileiro para ajudar no socorro às vítimas da tragédia e o CRM-PE arreca-dou, em apenas três dias, 23 to-neladas de alimentos. A Direção Executiva Nacional dos Estudan-tes de Medicina (Denem) abriu cadastro em busca de alunos vo-luntários dispostos a trabalhar no Haiti e já se prepara para enviar as primeiras equipes. A ficha está no site www.denem.org.br.

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SAIBA MAISOs estágios internacionais con-sistem em uma parceria entre a DENEM (Direção Executiva Nacional dos Estudantes de Medicina) e a IFMSA (Inter-national Federation of Medical Student`s Association) e são re-alizados em mais de 40 países.

Entre 2005 e 2007, 3 alunos da Ufes fizeram estágio nacional, mas a nova lei dos estágios for-çou a paralisação desse tipo de intercâmbio por tempo indeter-minado.

Entre agosto de 2008 e janei-ro de 2010, 12 alunos da Ufes concluíram estágio internacio-nal, em especialidades e países diversos. A Ufes já recebeu 23 alunos (16 nacionais e 7 de fora do país).

Quer viajar? Fique atento ao edital, divulgado sempre no segundo semestre, e confira as dicas para acumular pontos:

- Ser Anfitrião/Padrinho- Atividades extracurriculares (monitoria, extensão, ligas aca-dêmicas, estágios extracurricula-res, projeto de pesquisa/iniciação científica, cursos de ligas, jorna-das, simpósios e congressos)- Participação no DA (gestão ou rede de apoio)- Representação estudantil em departamentos, conselhos e co-legiado- Publicação de trabalho em re-vista científica- Publicação ou apresentação em congressos, jornadas e simpósios- Participação em fóruns e even-tos da DENEM- Atuar em eventos esportivos do DA

Custo inicial: 120 euros, além das passagens de ida e volta. O estágio dura de 3 a 4 semanas e o aluno tem direito à acomoda-ção e a duas refeições diárias. E sempre há um padrinho (aluno) que atua como guia acadêmico e turístico.

SELECIONADOS PARA ESTÁGIO INTERNACIONALALUNO TURMA PAÍS PONTOS

Murilo Oliveira Hosken Jr. 77 Inglaterra 1.669Lorena Pinheiro Figueiredo 76 Chile 1.054Rayani Maria P. Moreira 79 Portugal 949Raphaella Amorim Pagotto 79 Itália 886Marcela Alice Reis Ferreira 77 Suécia 648Marcelo Petrocchi Corassa 78 Hungria 624Bárbara Dan Menezes 79 México 574Mônica Matos C. Rodrigues 79 Sudão 229

MEDICINA FORA DO PAÍS

O edital 2009 abriu 215 vagas em 47 países para estágios no período de abril de 2010 a março de 2011.

No total, 45 escolas médicas inscreveram 595 estudantes em todo o país. Além da Ufes, outras 13 instituições envia-ram 20 inscrições ou mais.

A grande novidade do edital 2009 foi o número máximo de países que cada aluno podia optar, que saltou de três para 10.

A Clev/Ufes inscreveu 20 aca-dêmicos, sendo que oito foram selecionados na primeira con-vocatória.

Países mais concorridos (aci-ma de 700 pontos): Alemanha,

Quer fazer estágio internacional em prática médica? Informe-se e confira as dicas. A Coordenação Local de Estágios e Vivências (Clev) do Diretório Acadê-mico de Medicina da Ufes trabalhou intensamente no segundo semestre do ano passado e registrou um número recorde de inscri-ções para estágios interna-cionais em prática médica, 20 ao todo. O edital 2009 foi divulgado com muito atraso e os prazos aperta-dos forçaram uma corrida contra o relógio para que todos os documentos exi-gidos fossem analisados e enviados a tempo. E o resultado da primeira con-vocatória, divulgado em dezembro, foi positivo: oito alunos foram selecio-nados. E os outros 12 po-dem entrar na seleção nas próximas convocatórias. A Ufes conquistou, ainda, o 1º lugar geral na pontu-ação: Murilo Hosken fez 1.669 pontos. Ele também ficou no topo da lista no edital 2008, quando conta-bilizou 1.267 pontos, mas preferiu realizar agora o sonho de estagiar na In-glaterra.

Áustria, Canadá, Espanha, França, Inglaterra, Itália, No-ruega e Portugal.

Países menos concorridos (abaixo de 400 pontos): Ar-mênia, Azerbaijão, Bahrain, Colômbia, Equador, El Sal-vador, Gana, Kwait, Sudão e Tunísia.

A Líbia foi o único país que não teve nenhum aluno ins-crito. Havia uma vaga dispo-nível.

O México foi o país com o maior número de vagas, 20 ao todo.

Na classificação geral, apenas 17 estudantes somaram mais de mil pontos, e dois são da Ufes.

FIQUE POR DENTRO

A suíça Débora Vizenti-ni, ao centro, registrou o último dia de seu estágio no serviço de pediatria do Hucam, no início de de-zembro, ao lado de parte da equipe Clev/Ufes (da esquerda para direita, Lorena Pinheiro, Marília Pessali, Paula Peçanha, Daniela Alves e Larissa Sanglard). Além da Débo-ra, a Ufes já recebeu ou-tros seis estrangeiros em vários setores do hospital. Só em janeiro deste ano,

duas estudantes, uma do México e outra do Chile, estagiaram no Hucam, em cirurgia e pneumologia, respectivamente. A Clev/Ufes completa cinco anos em 2010 e mantém firme o objetivo de promover estágios médicos. A equi-pe trabalha em prol dos acadêmicos e está sempre pronta para sanar dúvi-das e dar esclarecimen-tos a qualquer momento. Anote o email: [email protected]

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Ele estudou cardiologia em Londres

Com o relógio mais famoso do mundo, Big Ben, ao fundo, Pa-trick Pertel Capatto, turma 76, mostra um dos pontos turísticos da cidade que o acolheu por um mês, em agosto do ano passado. Graças ao programa de estágios internacionais promovidos pela Clev/Ufes, Patrick concretizou o sonho de estudar cardiologia na Inglaterra. Veja o depoimento.

A história começa em setembro de 2008, com a publicação do edital de estágios internacionais, e a largada da corrida contra o tempo em bus-ca de certificados perdidos e toda e qualquer fonte de pontos (primeiro conselho: a quem deseja se inscre-ver, esteja ciente com antecedência de todos os critérios de pontuação e mantenha sempre documentação e certificados atualizados). Após a maratona, o mais difícil: escolher o destino. Ou melhor, nem tão difícil assim. Sempre desejei ir à Europa, mais especificamente à Inglaterra, e conhecer o famigerado sistema de saúde inglês, dito como o melhor do mundo. Mas, ciente da alta concor-rência, temia que minha pontuação fosse insuficiente. Estava decidido a deixar os planos um tanto quan-to “utópicos” de lado e fazer uma escolha mais conservadora até que, no último momento, ao preencher a documentação, recebi um conselho precioso de alguém da Clev: “esco-lha o que realmente você quer”. E assim fiz, meio a contragosto. Mal sabia eu que um ano depois embar-caria para Londres, e descobriria que, além de mim, havia mais 3 estagiárias brasileiras, sendo que uma delas foi escolhida por sorteio de uma vaga remanescente, oriunda da falta de candidatos à Inglaterra em sua universidade, os quais cer-tamente pensavam como eu (Se-gundo e mais importante conselho: independente da sua pontuação, sempre coloque como primeira opção o país que realmente dese-ja. Nunca subestime seus pontos). O resultado mostrou que utopias podem se concretizar. Definido o hospital para o qual havia sido aceito, passei a manter contato por e-mail com os estudantes ingleses, membros da comissão de estágios, sempre muito prestativos. Envia-ram questionários de saúde a serem preenchidos, e também exigiram al-gumas comprovações de imunidade e vacinas, mas foram bastante flexí-veis com os prazos, ao contrário do “rigor inglês” que esperava.Dentro da história. Estagiei no “The London Chest Hospital”, um dos hospitais-escola da “Barts and The London School of Medicine and Dentistry”, que conta com mais dois hospitais-escola. Um deles é o “St. Bartholomew’s Hospital”, conhecido como “Barts”, fundado em 1123 (isso mesmo, século XII), que é o hospital em funcionamento mais antigo da Inglaterra, e um dos mais antigos do mundo. Lá esteve

Sir William Harvey, descobridor e descritor do sistema circulató-rio humano. O outro, “The Royal London Hospital”, foi fundado em 1740, e por lá estiveram James Pa-rkinson (sim, o descritor da doença de Parkinson), John Down (descre-veu a Síndrome de Down) e Tho-mas Addison (descreveu a doença de Addison), além de muitos outros médicos e pacientes mundialmente conhecidos. Com vários serviços de referência, este é considerado o melhor hospital-escola da Inglater-ra. Todas as vítimas do atentado ao metrô de Londres, em 2006 foram encaminhadas à emergência deste hospital, cuja equipe se vangloria por ter a melhor taxa de sucesso do mundo em intubação de uma vítima no local de um acidente (99%). Estágio. O “The London Chest Hospital”, onde fiz estágio em cardiologia, foi fundado em 1848, e abriga setores de Cardiologia e Pneumologia, com um centro de referência em atendimento ao in-farto agudo do miocárdio, além de protocolos experimentais de tra-tamento com implante de células-tronco miocárdicas. Também é re-ferência em pesquisa e tratamento de tuberculose (sim, ela existe em Londres!), desde os primórdios da descoberta do M. tuberculosis pelo alemão Robert Koch (na universi-dade Humboldt, em Berlim), com quem a equipe deste hospital tra-balhou em conjunto logo após esta revolução. Toda a minha apreensão e receio em relação ao modo como os médicos me receberiam não de-moraram a desaparecer. A temida frieza inglesa existe, mas em escala bem menor do que eu esperava, e acompanhada por níveis impres-sionantes de educação e cortesia. Como fui muitíssimo bem recebi-do, e meu supervisor me deu aval para me inserir em qualquer setor do hospital (bastava ter cara-de-pau para adentrar e me apresentar citan-do o seu nome como meu supervi-

sor, muito respeitado), logo no 2º dia me apresentei a uma residente de pneumologia, que me autorizou a acompanhá-la no ambulatório, ainda que meio arredia. Eis que o último paciente do dia era um bra-sileiro. Imediatamente deixei de ser um intruso e me tornei peça-chave na consulta, já que ele não tinha muita habilidade com o inglês, e eu traduzi algumas das suas queixas. Quando ele mostrou um exame, realizado no Brasil, e abri para tra-duzir os resultados, vi o endereço da clínica: Vila Velha! Era coin-cidência demais! Tal episódio me rendeu cumprimentos simpáticos da residente pelos corredores, mas infelizmente não tive mais tempo de aceitar o convite para retornar ao seu ambulatório. O sistema de saúde inglês (NHS - National He-alth System), implantado na década de 1940, abrange mais de 90% dos hospitais ingleses, e é algo incom-parável a qualquer sistema brasilei-ro. A melhor maneira de descrevê-lo sucintamente seria: um “SUS” onde tudo de fato funciona, com a maior competência, os melhores médicos do país, hospitais com infraestrutu-ra, porém sem luxo, ostentação, ou gastos desnecessários, e o melhor que a medicina de última geração tem a oferecer, quando o pacien-te precisar, para todos, sem custo algum além dos impostos, e sem esperas. Simples assim. E ao con-trário do que esperava, tive liberda-de para examinar e conversar com alguns pacientes. Não pude atender pacientes sozinho, da mesma for-ma que não é permitido a nenhum estudante inglês. Mas os médicos, muito solícitos, indicavam pacien-tes interessantes nas enfermarias e consultas, e discutiam os casos, o que me fez aprender demais. Tam-bém pude participar como auxiliar em uma cirurgia cardíaca.Turismo. Londres é uma completa megalópole, cosmopolita ao extre-mo, com uma diversidade incompa-

rável, em todos os sentidos. Como disse um técnico da hemodinâmica, num dos debates meio filosóficos que travávamos entre cada proce-dimento, “Londres não pertence à Inglaterra. Londres pertence ao mundo.” É o que se constata em alguns minutos de caminhada pelas ruas, durante uma viagem curta de metrô e observando os pacientes in-ternados. O leste de Londres, área assistida por estes hospitais, possui 2 milhões de habitantes e é a região com a maior diversidade étnica e cultural do mundo. Fiquei hospeda-do em uma república de estudantes de medicina, que não eram da co-missão de estágio, mas que foram imensamente receptivos. Hospitali-dade impecável. Os anfitriões, res-ponsáveis pela comissão de estágio, também foram excelentes. Como estavam em plenas férias de ve-rão, elaboraram uma programação social extremamente diversificada (pubs, bares, boates, festas caseiras, teatros, museus, passeios turísticos, viagens ao interior: Cambridge e Liverpool), além de nos auxiliar em todas as questões relativas ao está-gio. Como estava numa república, não recebi refeição, mas sim uma ajuda de custo de 100 libras, con-forme foi prometido.Viagem. Viajar, por si só, é muito bom. Viajar para um outro país, para outros países, é melhor ainda. Mas tive muito mais do que isso. O turismo e vivência de outras cultu-ras e línguas se aliou à experiência de ter mergulhado integralmente em todos os aspectos de uma outra realidade na qual se exerce a ciên-cia e a arte da medicina, com todas as suas inerentes variáveis e dispa-ridades, mas exatamente os mes-mos princípios e a mesma essência ”universais”, nada distantes do que aprende-se por aqui, que me permi-tiram agregar valores de formação médica e humana de uma forma marcante. Esta sim, é a melhor for-ma possível de viajar.

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“Se você quer sossego nessa vida

O seu ponto de partida é saber envelhecer

Pra não sofrer de osteoporose

A estrutura do seu osso tem que se fortalecer Deixa a vida te levar (vai nadar, correr)

Deixa a vida te levar (vai subir, descer)

Deixa a vida te levar (vai dançar, mexer)

Pra não ter osteoporose exercício é pra fazer”

Estas estrofes pareceram-lhe estranhamente fami-liares? Pois é isso mesmo. Trata-se de trecho da letra de “Osteoporose”, paró-dia de “Deixa a vida me levar” entoada com muito bom humor, no campus de Goiabeiras da Ufes, pelos integrantes do Projeto Sau-darte, em novembro último, no dia de encerramento da I Semana da Saúde, organi-

HEMOCULTURA

Arte e saúde no palco

zada e realizada pelo DCE da Ufes e pela Secretaria de Assuntos Comunitários. O Saudarte existe há dois anos e é um projeto de extensão da Universi-dade Federal Fluminense (UFF). Consiste numa par-ceria entre o Departamento de Assuntos Comunitários e o Departamento de Fi-siologia e Farmacologia da UFF. É composto por 14 acadêmicos de três cursos, medicina, enfermagem e teatro. O projeto está sob a coordenação do cardio-logista Sidnei Amin e da professora de fisiologia Bernadete Amin, ambos da Federal Fluminense. Os alunos criam paródias coletivamente a partir de te-mas relacionados à saúde e à qualidade de vida, sob a orientação do docente, que atua como facilitador. Ela-boram, então, uma lingua-gem audio-visual-corporal, por meio de coreografias,

arranjos musicais, indu-mentária, canto, criação de folders, web-arte e arte di-gital. Dessa forma, todos vi-venciam o processo de cria-ção e aprendem a utilizar os recursos disponíveis e a buscar outros, que possibi-litarão enriquecer o proces-so de ensino-aprendizado. A partir daí, os alunos ensaiam e fazem apresen-tações, na forma de um “show” lúdico, para a co-munidade acadêmica, em congressos, simpósios e seminários científicos, e para a comunidade em ge-ral, em colégios, escolas e espaços públicos, asso-ciações, casas de cultura, entre outros, onde a infor-mação é transmitida de for-ma leve, divertida e aces-sível ao público ouvinte. Tendo em mente os ali-cerces da “Extensão Uni-versitária”, que funciona como uma via de duas mãos, em que a Universi-

dade leva conhecimentos e/ou assistência à comunida-de, e recebe dela influxos positivos de retroalimenta-ção, pareceu-nos que esta forma de interação artística e lúdica é de grande valia para abordagem de temá-ticas complexas como He-patites, Tuberculose, Oste-oporose, Diabetes e outros, perante a comunidade. Para se ter uma ideia, so-mente no segundo semestre de 2009, o grupo encantou plateias em Curitiba, Flo-rianópolis, Uberlândia e Vitória, além de inúmeras outras apresentações no Rio de Janeiro. Vale lembrar que, além de bancar as via-gens, a UFF ainda fornece bolsa para a grande maioria dos integrantes do grupo. É, parece que há locais em que a Universidade ain-da acredita e investe pesado no potencial dos alunos e na extensão. (com reporta-gem de Leonardo Tafarello)

Em apresentação na Ufes, o grupo Saudarte, da UFF, mistura criatividade e bom humor no show de paródias

Com coreografias, arranjos musicais, web-arte, indumentária, canto, folders e até arte digital, grupo Saudarte mescla arte e saúde e leva aos palcos de todo o país shows com muita

informação e cultura. RAIO-X acompanhou a apresentação do grupo na Ufes em novembro.