raio-x, nº 12

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O Jornal dos Estudantes de Medicina da UFES Edição 12 www.damufes.com/raiox MAIS MÉDICOS O programa do governo deu o que falar ANAMNESE Dr. Délio conta um pouco da sua história JAYME A nova cara do internato em emergência CAMPEÕES Ufes campeã da série B no OREM 2013 Enquanto os alunos foram às ruas... As obras mal saíram do lugar Manifestações dos acadêmicos e obras intermináveis marcaram 2013.

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O Jornal dos Estudantes de Medicina da UFES. Edição 12: Jan/Fev 2014

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O Jornal dos Estudantes de Medicina da UFES Edição 12

www.damufes.com/raiox

MAIS MÉDICOSO programa do governo deu o que falar

ANAMNESEDr. Délio conta um pouco da sua história

JAYMEA nova cara do internato em emergência

CAMPEÕESUfes campeã da série B no OREM 2013

Enquanto os alunos foram às ruas...

As obras mal saíram do lugar

Manifestações dos acadêmicos e obras intermináveis marcaram 2013.

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Caro LeitorA palavra do editor

COLUNA VERTEBRALA opinião de quem escreve o jornal

1. A sua disciplina é a úni-ca que importa. Nenhum aluno precisa estudar as outras disciplinas, porque elas são fáceis ou irrele-vantes. O dia de estudos deles é todo seu, portan-to encha todos de matéria que eles vão dar conta.2. Apareça para dar aula no dia em que quiser, na hora em que quiser. Falte sem avisar previamente. Afinal de contas, nenhum aluno seu tem outro com-promisso além de vir assis-tir à sua aula, e todos eles esperarão alegremente a sua chegada.3. Seu laboratório é mais importante do que sua aula. Se os seus ratinhos de laboratório estiverem deprimidos, ou suas dro-sófilas tiverem problemas conjugais, você pode dei-xar de lado sua aula para atender a esses compro-missos mais nobres. E não precisa avisar.4. Repita sempre, para toda turma, que ela é a pior que você já teve.5. A sua área de pesqui-sa/superespecialização é mais importante do que qualquer outra coisa, e não importa quantas au-las sobre outros assuntos você tenha que excluir do cronograma, você deve dar um curso completo so-bre a sua área de pesqui-sa – mesmo que ela não tenha nada a ver com o que os seus alunos deve-riam saber. Isso te ajudará a esconder dos alunos o fato de que, a não ser esse tópico, você não sabe ab-

solutamente nada sobre a disciplina que resolveu mi-nistrar.6. Recomende que seus alunos matem as aulas que eles consideram inú-teis. Mas não se esqueça de que essa regra não se aplica às suas aulas7. Dê suas aulas usando Powerpoint, de preferência com slides cheios de tex-to monótono e mal escrito – certifique-se de que há mais de uma centena de-les, no mínimo. Leia-os em voz alta, e com a voz mais monótona possível. Apa-gue todas as luzes.8. Fale mais rápido do que os alunos são capazes de anotar.9. Diga que enviará o ar-quivo do Powerpoint com a aula por e-mail e que os alunos não precisam ano-tar. Não cumpra a promes-sa. 10. Cuide bem do seu pro-jetor de slides. Ele é mais importante do que seu cé-rebro.11. Enrole. Enrole bastan-te. Encha suas aulas de frases vazias, a ponto de fazer com que os alunos pensem que poderia ser melhor se eles tivessem ficado em casa dormindo. Mas fique tranquilo: os alu-nos não pensam nisso.12. Se os alunos começa-rem a matar suas aulas inexplicavelmente, não pense que o problema é com a qualidade delas. Apenas desconte na mé-dia final dos faltosos, ou crie uma atividade valendo

nota em toda aula.13. Quando um aluno per-guntar algo que você não souber, diga que há um sli-de mais para frente expli-cando claramente a ques-tão. Continue a aula até o fim e vá embora sem des-pertar suspeitas.14. Finja que ensina, e seus alunos fingirão que aprendem. É infalível.15. Utilize as provas como instrumento de punição sempre que a turma, ou mesmo um único aluno, fi-zer algo que te desagradar. Se o mundo não é justo, por que você teria que ser?16. Evite critérios objetivos na hora de dar nota para seus alunos. Dê sua nota de acordo com a cara de-les e favoreça o puxa-sa-quismo sempre que puder.17. Vida particular e pro-fissional são uma coisa só. Brigou com a esposa? Desconte nos alunos. Seu projeto de pesquisa não foi aprovado? Desconte nos alunos. Seu cachorro mor-reu? Desconte nos alunos.18. Depois de um semes-tre certificando-se de que seus alunos comeram o pão que o diabo amassou, diga que estão todos apro-vados. Eles não se lembra-rão de que não aprende-ram absolutamente nada de útil com você, e talvez façam até uma festinha.

Como ser um mau professor universitáriopor Eduardo Toffoli Pandini

EXPEDIENTE:RAIO-X é o Jornal dos Estudan-tes do Diretório Acadêmico de Medicina da Universidade Federal do Espírito Santo (DAMUFES).Editor Paulo Victor Ferreira MaiEquipe Eduardo Pandini, Raquel Monico, Cassio Borghi, Hana Higa, Paula Peçanha, Érico Induzzi, Juliana Akemi, Aryellen Costa e Thaísa Malbar.Diagramação LF DiagramaçãoImpressão Gráfica UFESTiragem 450 exemplaresContato [email protected] www.damufes.br/raiox

2013 e suas mu-dançasCom o início de 2014, quem olha para trás vê que as coisas estão um tanto diferentes. No nosso campus, algumas obras foram finalizadas e ou-tras tantas tiveram início. A comunidade acadêmica se uniu em manifestações por melhorias no nosso curso e na saúde pública. A EBSERH assumiu a di-reção do Hospital Univer-sitário. E os médicos de Cuba chegaram aos mon-tes. Nesta primeira edição de 2014, buscamos abor-dar os principais aconteci-mentos do ano passado, em que o jornal não teve nenhuma edição, e trazer ao nosso leitor uma visão geral dos fatos. Nesse meio tempo o RAIO X também passou por mudanças. Com a formatura da turma 80, nos despedimos do en-tão editor, Wagner Kno-blauch, responsável pela reativação do Jornal em 2009. Levamos um tempo para “pegar no tranco”, mas a edição que o leitor tem em mãos é resultado da dedicação dessa nova equipe, que começa 2014 cheia de boas ideias.

Boa leitura!

Confira o texto completo na página do Jornal RAIO X no Facebook!

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ESTADO GERALUm giro de notícias diversas

ASSINADO OCONTRATO COM A EBSERHFoi assinado no dia 15 de abril o contrato de adesão do Hospital Universitário Cassiano Antônio de Mora-es à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EB-SERH). O documento pode ser visualizado na íntegra na página oficial da em-presa (www.ebserh.mec.gov.br).

DOUTORADO NA DIRETORIA DO HUCAMO Conselho Universitário aprovou no dia 10 de ju-nho uma resolução que exige, entre outros pré--requisitos, a titulação de doutor para a ocupação do cargo de Diretor Superin-tendente do Hucam. Seu ocupante será indicado à Ebserh pelo reitor da Uni-versidade, Reinaldo Cen-toducatte. O Damufes se posicionou publicamente contra a medida.

CÂNCER – É LEIEntrou em vigor a lei fede-ral que estabelece um pra-zo máximo de 60 dias para

que pessoas com câncer iniciem o tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Durante esse pe-ríodo, contado a partir da confirmação do diagnós-tico e da inclusão dessas informações no prontuário médico, os pacientes de-vem passar por cirurgia ou iniciar as sessões terapêu-ticas, conforme a indica-ção de cada caso.

ROYALTIES PARA A SAÚDEA presidente Dilma apro-vou o projeto de lei que determina que 25% dos royalties do petróleo se-jam aplicados na saúde pública. Os recursos serão aplicados progressivamen-te - 75% dos valores para a educação e 25% para a saúde. O primeiro repasse, de R$ 770 milhões, deverá ser feito ainda em 2013; chegando a R$ 19,96 bi-lhões, em 2022; e ao total de R$ 112,25 bilhões, em dez anos.

CÂNCER – ESTI-MATIVA 2014O Ministério da Saúde di-vulgou estimativa de que deverão surgir 576.580

casos de câncer no Brasil, em 2014, o que representa um aumento de 11% em relação à previsão nacio-nal para 2012. A previsão é que 68,8 mil homens ve-nham a desenvolver o cân-cer de próstata, o segun-do tipo mais frequente da doença no segmento mas-culino. Entre a população feminina, o mesmo ocorre com o câncer de mama, que deverá acometer 57,1 mil mulheres.

UFES SOLIDÁRIAApós as chuvas que causa-ram destruição no estado no final do ano passado, a administração central da Ufes e o Diretório Central dos Estudantes (DCE) ini-ciaram a Campanha Ufes Solidária, com o objetivo de arrecadar e distribuir donativos para as famílias atingidas. No total, foram encami-nhadas mais de 100 mil to-neladas de alimentos e 30 mil litros de água mineral aos municípios capixabas, além de roupas e produtos de higiene. Diversos vo-luntários participaram da campanha, incluindo alu-nos, professores e servido-res da universidade.

MAIS UM HOSPI-TAL NA GRANDE VITÓRIACariacica vai receber um grande hospital público. Antiga reivindicação dos moradores, afinal a cidade é a única na Grande Vitória que não possui uma unida-de desse porte, o hospital contará com mais de 200 leitos. O projeto de cons-trução será iniciado em 2014 quando as negocia-ções de desapropriação do local já estiverem concluí-das.

PROCESSO SELE-TIVOA CCV divulgou a relação candidato/vaga no proces-so seletivo 2014. No curso de Medicina, o mais con-corrido, a razão é de 97,22 para os não optantes. Fo-ram utilizadas as notas das provas objetivas do Enem 2013 para a 1ª etapa do processo seletivo. As pro-vas da 2ª etapa foram re-alizadas nos dias 19, 20 e 21 de janeiro e o resultado final está previsto para o dia 8 de março.

por Érico Induzzi Borges e Paulo Victor Ferreira Mai

CEMESAconteceu nos dias 7 e 8 de junho o IV Congresso dos Estudantes de Medici-na do Espírito Santo (CE-MES), organizado pelas turmas 82 e 84. Com o tema “Urgências e Emer-gências em Clínica Médi-ca”, o evento foi realizado no Teatro Universitário e contou com a participa-ção de grandes nomes da medicina capixaba e bra-

sileira, como o Dr. Celmo Celeno Porto. Aproximadamente 350 acadêmicos estiveram presentes.Segundo Heluy Correia, uma das organizadoras, o evento não terio sido um sucesso sem o auxílio do Dr. Eurico de Aguiar Sch-midt, que, além de incen-tivador e anfitrião, possibi-litou a articulação com os palestrantes.

Dr. Eurico em sua palestra durante o IV CEMES.

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ANAMNESEUm bate-papo com os mestres

Entre risos e choros, Dr. DélioDélio Delmaestro, 74 anos. Pai de quatro filhos. Faixa preta de judô, violonista profissional e um dos pioneiros da dermatologia no Espírito Santo. Simpático e emotivo, contou a RAIO-X fatos que marcaram sua trajetória na medicina e na vida pessoal.

Graduado em 1964 pela Faculdade Nacional de Medicina da extinta Uni-versidade do Brasil, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Dr. Délio iniciou a residência em dermatologia no mes-mo ano, no serviço de dermatologia do catedrá-tico Dr. Francisco Eduardo Rabelo, chefiado pelo Dr. Silvio Fraga. Neste servi-ço, trabalhou com grandes nomes da cirurgia plástica, incluindo o renomado Dr. Pitangui.

“Sou loucamente apaixonado pela medicina”

Durante o segundo ano de residência fez um curso de Medicina Desportiva du-rante a noite para se sus-tentar. Mesmo que sua fa-mília tivesse recursos para mantê-lo no Rio de Janei-ro, procurou sempre viver às suas próprias custas. Além da Medicina Despor-tiva, dava aulas para jo-vens pré-vestibulandos e já foi músico profissional para complementar a renda. To-cava violão. A banda, cha-mada “Doutores e Música”, se apresentava aos sába-dos na noite carioca, após um árduo dia de plantões. “Se eu tivesse que reco-meçar na idade que tenho,

faria vestibular e começa-ria tudo de novo. Sou lou-camente apaixonado pela medicina”, enfatizou.

Raio-X: Por que esco-lheu a dermatologia?Dr. Délio: Quando fiz clí-nica médica na graduação, comecei a gostar da Reu-matologia e principalmente de lidar com as doenças do colágeno, mas para isso eu precisaria da dermatologia. Então conheci o Dr. Antô-nio de Souza Marques, que trabalhava com o Dr. Silvio Fraga e ele me apoiou para me especializar em derma-tologia.

RX: Dr. Luis Argolo es-creveu um artigo para os “Anais Brasileiros de Dermatologia” e ele cita o nome do senhor como “motor da Dermatolo-gia no Espírito Santo”. Que dificuldades o se-nhor encontrou por ser um dos pioneiros da es-pecialidade no Estado?D: Não encontrei obstácu-los, porque, quando voltei para Vitória, vim conversar com o Dr. Luiz Buaiz, que hoje é inclusive padrinho de um dos meus filhos, e ele era um entusiasta da dermatologia no Estado. Mesmo sendo muito novo, ele já me colocou para ser diretor do Serviço Estadual de Lepra. Fiz cursos, revolucionei o Serviço Estadual de Le-

pra que estava parado. Fui indicado para dirigir o Centro de Saúde e nes-se meio tempo entrei no Hospital Estadual Infantil Nossa Senhora da Glória (HEINSG) de Vitória traba-lhando como dermatolo-gista. Sempre contei com a ajuda de muitos colegas, e em pouco tempo me tornei diretor do HEINSG. Nessa mesma época fui ao Congresso Brasileiro de Dermatologia, em Porto Alegre, para representar o Espírito Santo. Fui eleito vice-presidente da SBD e ofereci o Estado para sediar o evento que aconteceria em 1973. Quiseram me im-pedir de trazer o congresso para o Espírito Santo por-que disseram que eu era muito novo. Mesmo assim assumi a responsabilidade e o congresso aconteceu em Guarapari, sendo que o evento contou inclusive com um cadáver, usado na apresentação de um dos casos clínicos, e com palestrantes do México e dos Estados Unidos. Foi uma verdadeira revolução no Congresso Brasileiro de Dermatologia, que foi con-siderado como o início da explosão da especialidade no ES.

RX: Quando começa a sua história na UFES?D: Comecei a dar aulas para o curso de Educação Física, porque eu tinha o

curso de Medicina Despor-tiva e isso me valeu para colocar um pé dentro da universidade. Algum tempo depois, houve uma rees-truturação na universidade e todos os médicos foram transferidos para o Centro Biomédico, então coloquei o segundo pé onde eu que-ria, mas fiquei na moita. O Dr. Vitor Murad, chefe do Departamento de Clínica Médica me convidou para atuar como dermatologis-ta, e em menos de um ano assumi o cargo de chefia do departamento. Aprovei-tando essa maré de sorte, fui conversar com o reitor da universidade para pedir a instalação de um serviço de dermatologia. Criei qua-tro equipes de trabalho, além das enfermarias res-ponsáveis pelo diagnóstico e tratamento de tuberculo-se, blastomicose, leishma-niose e hanseníase, junto com os médicos das Doen-ças Infecto-parasitárias.

RX: Qual a sua opinião sobre o fato de que é preciso ter mestrado e doutorado para ser di-retor do Hospital Uni-versitário?D: Quando vejo esse em-pecilho para ser diretor de um hospital, que é um car-go que deveria ser ocupado de forma democrática, vejo isso como uma agressão à democracia e à Constiuição Brasileira. E se me pergun-

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tarem se tenho doutorado, eu digo: não! Porque eu-quero poder me olhar no espelho e poder dizer que eu jamais saí para fazer Mestrado ou Doutorado de fim de semana como mui-tos fazem. Na minha vi-são, cursos de pós-gradu-ação em Medicina devem ser feitos com dedicação exclusiva e em tempo in-tegral. Como eu não podia deixar de trabalhar para me dedicar a isso, não o fiz. Quando se começa a li-mitar uma eleição, fere-se a democracia. RX: O que acha des-se “frisson” que tem se espalhado no meio acadêmico de que é preciso publicar artigos científicos a qualquer custo?D: Uma merda! Uma mer-da! Acho que as pesso-as que fazem coisas para aparecer, perdem a ra-zão. Eu acho que temos que fazer as coisas com o coração, pensando em ajudar alguém com aqui-lo, e aprendi isso tocando violão. Na banda, a gente sabia que para aglutinar, tinha que dar chance para todo mundo.

RX: O senhor tem um vínculo muito estrei-to com seus pacientes e, quem observa seus atendimentos, tem a

sensação de que são amigos. Qual o segre-do para se estabelecer uma relação de tama-nha seriedade, mas com tanta descontra-ção?D: Quando chego e vejo os pacientes na sala de espera, sei que muitos de-les acordaram uma, duas horas da manhã para es-tarem aqui. Então a pri-meira coisa que eu faço é brincar com eles, faço todo mundo rir para des-contraí-los. O médico tem que ter respeito pelo do-ente, tem que dar atenção ao doente e tem que ofe-recer uma boa medicina para o doente. Todos eles, por mais pobres e infelizes que sejam, querem falar e ser ouvidos. É como se a gente fosse o conselheiro Acácio [personagem de Eça de Queirós que falava a favor da sã moral e dos bons costumes].

RX: Quando se depa-ra com grandes desa-fios da medicina, o que pesa mais na hora de desvendá-los? O co-nhecimento teórico ou a experiência prática?D: Olha, eu diria que é pre-ciso não impor limites na vida prática de vocês. Cor-ram atrás. Se coloquem na posição de que não existe ninguém mais sabido do que nós. Você tem que cor-

rer atrás e querer fazer. Eu deixei de publicar algumas coisas que eu tenho certe-za de que eu fui o primei-ro a descrever, como por exemplo, as alterações de pele causadas por Pseu-domonas, que apresentei num congresso, mas não publiquei. Mais tarde pu-blicaram esses achados e não levei o nome por isso. Mas não estou preocupa-do, fico feliz de ter colabo-rado de alguma forma.

RX: Se não fosse médi-co, o que seria?D: Médico. Minhas opções eram: motorista, porque meu pai tinha uma em-presa de ônibus; piloto de avião, porque eu já tinha o curso de aviação e então eu só teria que entrar para a aeronáutica; e jogador de futebol, que eu sempre gostei. Todavia, sempre quis ser médico, apesar de quando mais novo ter medo de sangue e de ce-mitério. Mas descobri que já não tinha mais medo, quando um dia eu estava almoçando ao lado de uma caixa de ossos, estudando anatomia.

RX: Sendo dermatolo-gista, o senhor cuida da própria pele?D: Não, sou muito relaxa-do. (risos)

RX: Quais as qualida-des que um bom médi-co deve ter?D: Primeiro ele tem que gostar da profissão. Se-gundo, tem que respeitar o doente. E terceiro, tem que se colocar à disposição do paciente, dar seu nú-mero de celular, da casa, o que for preciso para aten-der o paciente.

RX: E os seus hobbies?D: Judô, futebol, violão e pesca.

RX: Existe algum sonho que ainda não realizou?D: Sou um cara feliz e já atingi todos os meus obje-tivos. Talvez o meu sonho seria que mesmo passan-do dessa para uma me-lhor, eu pudesse ver que a medicina mudou. Que a mentalidade dos meus co-legas tenha mudado, que eles não pensem só em di-nheiro, que eles respeitem o doente e que as autori-dades respeitem a saúde.

RX: O senhor pode dei-xar algumas palavras àqueles que concluí-ram a graduação e ago-ra vão iniciar sua vida como médicos?D: Tenha fé. Acredite que você é capaz e se valorize. Tenha respeito, bom cará-ter e dignidade.

por Cássio Borghi

Dr. Délio em seu con-sultório no serviço de

dermatologia do Hucam

FOTO: RAIO-X

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PRONTO-SOCORRO O Pronto-socorro do Hos-pital Universitário foi mo-dificado para possibilitar o aumento do número de lei-tos de UTI, mas, enquanto a obra não era concluída, deixou de receber os pa-cientes. Essa adequação teve início em 9 de feve-reiro de 2012 e tinha um prazo inicial de 180 dias para ser finalizada e um orçamento de 375 mil re-ais. Em meados de 2013, com a obra ainda em an-damento, RAIO-X conver-sou com o então diretor superintendente do hos-pital. A explicação para o atraso, segundo o Dr. Emí-lio Mameri, estava no fato de que a empresa que ga-nhou a licitação não cum-priu com o acordo firmado e houve a necessidade de se realizar um distrato ju-dicial, o que atrasou o an-damento da obra.Após a saída da empresa, a segunda colocada na li-citação aceitou assumir a reforma e foi ela que lhe deu prosseguimento desde então, sendo essa transição mais um motivo para o atraso. Com o pron-

to-socorro fechado além do previsto, foi necessário criar uma alternativa que minimizasse o impacto da obra na formação acadê-mica. Para isso, os inter-nos do curso de Medicina foram deslocados para outros hospitais e para as clínicas médica e cirúrgica, mas nessas enfermarias não há atendimento de ne-nhuma demanda espontâ-nea, apenas de pacientes encaminhados de outros locais. Dessa forma, além da população, os acadêmi-cos também tiveram preju-ízos durante a reforma do pronto-socorro. Após o término da obra, mais motivos para polê-mica: a reinauguração do PS, que ocorreu no dia 5 de novembro, não foi se-guida de sua real abertu-ra, que só aconteceu cerca de duas semanas depois. Além disso, o PS do Hu-cam continua funcionando nos moldes de “pronto-so-corro referenciado” e não de “portas abertas”, o que exige que os alunos do curso de Medicina também frequentem hospitais es-taduais. Por outro lado, o

Hospital das Clínicas conta agora com um pronto-so-corro ampliado, com 5 no-vos leitos, totalizando 22, e passa a ser referência em atendimento de urgência e emergência nas áreas car-diovascular e de abdômen agudo não traumático da Grande Vitória.

CENTRO CIRÚRGICONo centro cirúrgico o ritmo é lento. Três novas salas de cirurgia estão sendo construídas e contabili-zarão, após o término da ampliação, um total de

dez. No entanto, segundo o atual diretor superinten-dente do Hucam, Luiz Al-berto Sobral Vieira Junior, uma modificação da Reso-lução de Diretoria Colegia-da (RDC) da Anvisa, que regulamenta as instala-ções em serviços de saú-de, tornou necessária uma adequação no sistema de refrigeração do centro ci-rúrgico. Apesar de estar em fase de acabamento, a reforma encontra-se para-lisada até a realização de nova licitação, o que deve ocorrer em breve.

As obras intermináveis do CCS

Pronto-socorro, Elefante Branco, Restaurante Universitário... Obras por todo lado no campus de Maruípe.

FOTOS: RAIO-X

Novos leitos no pronto-socorro do HUCAM, reinaugurado no dia 05 de novembro em cerimômia que contou com a presença do governador Renato Casagrande.

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INSTITUTO DE OFTALMOLOGIAA construção do Instituto de Oftalmologia, prédio monumental sendo cons-truído nas proximidades do SAME, é outra obra que já sofreu diversos contra-tempos desde o seu início, em 2009. Com área de aproximadamente 3000 m² e orçada em cerca de cinco milhões de reais, a construção encontra-se atualmente com o “esque-leto” finalizado, mas tam-bém está parada. Segundo Sobral, os recursos para o término da obra, que se encontra em fase de lici-tação, já foram liberados. A expectativa é que o Ins-tituto esteja finalizado em 2015.

O NOVO RUNa área do ciclo básico, a obra mais aguardada era o novo Restaurante Universi-tário. Recentemente aber-to para almoço e orçado em cerca de 1,7 milhão de reais, o espaço conta ago-ra com 1145,93 m² e um ambiente mais agradável. O início da construção se deu em março de 2012 e o prazo inicial era de um ano. No entanto, a inauguração do novo RU foi adiada di-versas vezes. Em março

de 2013, um ano após seu início, a promessa era que a obra fosse concluída até agosto, previsão que mais uma vez se mostrou incor-reta. Funcionando desde o dia 22 de janeiro deste ano, alguns detalhes ain-da não foram finalizados, como o elevador para de-ficientes e o paisagismo da área externa. Além disso, a promessa de almoçar em pratos só se cumpriu no primeiro dia de funciona-mento. A máquina de lavar pratos ainda não foi insta-lada e os famosos bande-jões voltaram a fazer parte da realidade dos frequen-tadores do restaurante.Apesar desses problemas, as filas do novo RU, ain-da bastante longas, fluem mais rapidamente. Os usu-ários agora também usu-freum do sistema de auto--serviço, como já é feito no restaurante do campus de Goiabeiras. Além disso, o espaço está mais amplo e ventilado e há a promessa de iniciar em breve a ofer-ta de jantar. Segundo a Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas e Assistência Es-tudantil (Progepaes), que coordena o funcionamento dos restaurantes universi-tários, isso deve ocorrer já no próximo período letivo.

TÉCNICA OPERATÓRIAOutras obras em anda-mento comprometem di-retamente as atividades acadêmicas. Uma delas foi a reforma do espaço de aulas da disciplina de Técnica Operatória, que foi ampliado e adequado para obedecer os padrões de qualidade exigidos. Faltando poucos detalhes para a finalização da obra, a empresa responsável de-cretou falência. A direção do CCS solicitou auxílio à Prefeitura Universitária para terminar a reforma, que recentemente recebeu os últimos acabamentos e está pronta para ser utili-zada pelos acadêmicos, in-clusive com um boneco de habilidades já adquirido.

A NOVELA ELEFANTE BRANCOO principal exemplo de transtorno é a interminá-vel reforma e ampliação do Elefante Branco. Os trabalhos tiveram início em um acordo firmado entre a Universidade e a Prefeitura de Vitória, que se comprometeu a realizar algumas obras nos campi da Ufes em troca de par-te do terreno do campus de Goiabeiras, cedido pela Universidade para amplia-

ção da avenida Fernando Ferrari. A lei municipal que firma esse compromisso data de 2006 (Lei munici-pal nº 6549/2006). Desde então, a obra passou por altos e baixos, chegando a ficar parada por longos períodos. Durante a parali-sação mais recente, diver-sos suportes de madeira foram deixados no pavi-mento inferior do prédio, comprometendo o uso do auditório e dos banheiros, além da circulação de pes-soas. Atualmente em fase final, a reforma acontece em boa velocidade, mas não sem causar prejuízos. Segundo professores e alunos, o barulho da obra atrapalha o bom anda-mento das aulas. De acordo com a vice-dire-tora do CCS, Liliana Apare-cida Pimenta de Barros, a Prefeitura de Vitória deve entregar a obra até o fi-nal de fevereiro, depois de uma vistoria conjunta com o fiscal da universi-dade. Após a ampliação, o prédio passa a contar com novas salas de aula e ba-nheiros para atender o nú-mero crescente de alunos do CCS.

por Paulo Victor Ferreira Mai e Raquel Monico Cavedo

ELEFANTE BRANCO: Suportes de madeira foram deixados por vários meses no corredor do prédio.

Previsão de término: feverei-ro de 2014

INSTITUTO DE OFTALMO-LOGIA: A obra faraônica encontra-se atualmente paralisada.

Previsão de término: 2015

CENTRO CIRÚRGICO: Entulhos ocupam o centro ci-rúrgico enquanto a obra não é finalizada.

Previsão de término: ainda sem previsão

RESTAURANTE UNIVER-SITÁRIO: Já em funcionamento, mas ainda recebe acabamentos.

Funcionando desde o dia 22/01/2013

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PS do Hucam reabre como unidade referenciadaOs pacientes são encaminhados após contato prévio com o hospital.

O acolhimento com clas-sificação de risco nos ser-viços de urgência e emer-gência é fundamental para priorizar o atendimento e salvar vidas. Ou seja, a triagem do pronto-socor-ro não serve para atrasar a consulta, pelo contrá-rio. Quando realizada de forma correta, é extre-mamente útil para definir quem precisa ser atendido logo, quem pode aguardar mais um pouco e até quem

deveria ser encaminhado ao posto de saúde. São as famosas pulseirinhas ver-melha, laranja, amarela, verde e azul do Protocolo de Manchester, em ordem decrescente de gravidade. O problema é que a clas-sificação verde (pouco ur-gente, que pode aguardar até 2h pelo atendimento, mas que poderia ter re-corrido à unidade básica de saúde) representa, sem surpresas, a grande maio-

ria do público que lota as emergências. Com isso, a demora no atendimento às vezes passa o limite de 2 horas, sem dúvida, até pelo volume de pacientes com problemas “pouco urgen-tes” e até “não urgentes” (azul). Mas não faz senti-do, por exemplo, atender primeiro uma criança com resfriado comum, sem ne-nhum indício de gravida-de, ao invés de outra com febre acima de 39 graus,

mesmo que aquela esteja aguardando há mais de uma hora. Parece óbvio, não? Na prática, contudo, não é tão simples. Como a população geral desco-nhece o sistema, e busca atendimento imediato, in-dependente da causa, o resultado é um só: mui-ta confusão! No entanto, apesar de tudo, quem re-almente precisa, é atendi-do, no menor tempo e da melhor forma possível.

OPINIÃO: a classificação de riscopor Wagner Knoblauch

Reinaugurado no dia 05 de novembro de 2013, após um longo período de refor-ma, o pronto-socorro do Hospital Universitário Cas-siano Antônio Moraes vol-tou a funcionar no modelo de PS referenciado.Pactuado com as Prefeitu-ras de Vitória e da Serra, o pronto-socorro é refe-rência em infarto agudo do miocárdio e em abdo-me agudo não traumático na Grande Vitória. Os pa-cientes chegam à unidade encaminhados dos pronto atendimentos ou hospitais de origem por meio de contato prévio. Mas isso não significa que um paciente que chegue ao PS por conta própria não seja atendido. De acordo com o enfermeiro Iran Bitencourt, pacientes de demanda espontânea são categorizados pelo sistema de classificação

de risco. As pulseiras co-loridas têm o objetivo de priorizar o atendimento conforme a gravidade (leia mais abaixo). Por se tratar de um nível de complexi-dade terciário, no PS do hospital universitário são atendidos apenas aqueles casos classificados como amarelos (urgentes), la-ranjas (muito urgentes) ou vermelhos (emergências). Os demais são referen-ciados para outros postos de atenção à saúde, como PA’s e unidades de saúde.Em dezembro do ano pas-sado, 391 pacientes foram classificados, sendo 11 vermelhos, 52 laranjas, 156 amarelos, 118 verdes, 14 azuis e 20 brancos. Segundo o enfermeiro Iran, a grande vantagem de um pronto-socorro re-ferenciado é que não há mais pacientes nos cor-redores. Todos são aten-

didos dignamente e da forma mais rápida e orga-nizada possível. No entanto, o sistema de referenciamento divide opiniões. Para a maioria dos acadêmicos, esse mo-delo não atende de forma plena a graduação, uma vez que a maior parte dos pacientes que chegam foi previamente encaminha-da ao hospital. Perde-se assim uma significativa parcela da demanda de um pronto-socorro de por-tas abertas. Segundo Luiz Henrique Libardi Silva, que fez o internato em emer-gência no novo PS, a ro-tatividade tem sido baixa e muitos pacientes ficam internados por longos pe-ríodos, dando ao pronto--socorro um ar de unidade semi-intensiva.

por Paulo Victor Ferreira Mai

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Um bom estágio em Urgência e Emergência parece um quesito bási-co para formação acadêmica de um médico, no entanto, durante algum tempo, os alunos do curso de medi-cina da UFES deixaram de ter uma formação de qualidade nesta área. Em geral, confiamos na nossa cons-trução acadêmica, temos uma certa segurança garantida pela tradição, pelos ex-alunos que hoje conhece-mos como profissionais e pelos re-sultados nas provas de residência médica. Porém, é preciso confessar que muitas vezes nos perguntamos: será que no final dá certo mesmo? Além da constante sensação de estar intelectualmente ou emocionalmente aquém do que o “ser médico” exige, também colocamos repetidas vezes em questão a qualidade da nossa instituição e da nossa organização acadêmica. Para que estejamos preparados para o grande dia, desejaríamos ter em mãos e em mente o máximo de de-talhes e o famoso diferencial. Mas sendo realista, poderíamos traçar uma lista de habilidades e dentre elas estaria a experiência em pron-to-socorro e traumatologia. Afinal, o “primeiro socorro” é responsabilida-de de qualquer médico em diversas situações e não há recém-formado que não conheça um plantão de fim de semana. Desde 2006, contanto, o pronto so-corro do HUCAM passou a ser um pronto-socorro referenciado. Ou seja, um cidadão qualquer não po-deria mais sair da sua casa em meio a um mal estar e bater à porta do HUCAM. Tornou-se necessário refe-renciá-lo após um primeiro atendi-mento em outras estruturas da rede municipal e estadual de saúde. E foi assim que os alunos de medicina da UFES perderam muitas oportunida-des de aprender sobre o primeiro diagnóstico. Cinco anos mais tar-de, por ocasião de uma reforma, o

pronto-socorro fechou de vez suas portas, e assim permaneceu durante tempo muito maior do que o previs-to. E nós alunos, por mais inexpe-rientes, estávamos certo de estar em falta com parte muito importante de nossa formação.

“Nosso novo estágio em Urgência e Emergência tem nos proporcionado o desafio do primeiro aten-dimento.”

Estamos agora em 2013 e o Pronto -Socorro do HUCAM foi reaberto há pouco mais de um mês, mais uma vez, referenciado. Contando apenas com esse modelo de PS, urgência e emergência continuariam “desinseri-dos” do nosso currículo.Surgiu entre os alunos um ânimo de reivindicação que chegou ao nos-so colegiado na mesma época em que o estado inaugurava o Hospital Estadual Jayme dos Santos Neves (HEJSN). As relações do curso de medicina da UFES com o HEJSN co-meçaram através das residências em Cirurgia Geral e Clínica Médica, que também precisavam de um pronto--socorro de portas abertas para se adequar às exigências do MEC. En-tão, através do mesmo convênio com o estado que nos mantinha no Hospital São Lucas, conseguimos um espaço no mais novo hospital do Espírito Santo. E foi assim que os alunos do nono período se viram atendendo traumas, entrando em cirurgias de emergência e diagnos-ticando foco de sepse em velhinhos com rebaixamento de consciência. No “Jayme”, fazemos rodízio entre a “porta” (primeiro atendimento) da Cirúrgica e da Clínica, passamos pela sala de pequenos procedimentos ci-rúrgicos e pelas salas vermelha, la-ranja e amarela (cuidados graduados de acordo com a gravidade). Sutu-

ras, paracenteses, punções venosas profundas e intubações passaram a fazer parte do nosso dia-a-dia, ten-do como meta alcançar domínio de suas técnicas e suas adequadas in-dicações.De fato, temos a impressão de estar vivendo algo inédito e fundamental! Nosso novo estágio em Urgência e Emergência tem nos proporcionado o desafio do primeiro atendimento, que deixa muito claro o quanto nos-sos conhecimentos ainda precisam ser sedimentados para formar uma verdadeira conduta médica. Estar fora do ambiente acadêmico, inseri-dos em um ambiente repleto de pro-fissionais recém-formados, nos tira das “caixinhas dos especialistas” e mostra a dificuldade de agir correta-mente e agir rápido tendo em mãos “apenas” os conhecimentos básicos de cada área apresentados na facul-dade, um pouco de experiência pes-soal, alguns guidelines e aplicativos do iPhone. Por fim, a vivência de um pronto--socorro na periferia da Região Me-tropolitana nos coloca face a face com a tarefa de ser médico em um contexto onde a maior doença é a enfermidade social. Onde a etiologia principal é a violência que traz cente-nas de PAFs (perfuração por arma de fogo) e espancamentos em dezenas de PNIs (pessoa não identificada). Onde o CTI está cheio de jovens, negros, sem nenhuma outra história patológica pregressa a não ser um envolvimento “com o que não devia”. Aprender a acolher e confortar esse tipo de paciente e as suas famílias faz parte da construção de um bom médico brasileiro – infelizmente. Um médico que enxerga além do hospital e que se sensibiliza com o grave es-tado geral da sociedade. Um doutor que abre mão do preconceito e dá o melhor de si àquele que a desordem social quase eliminou.

RELATO DE CASOHistórias do que acontece na graduação

Pronto! O socorro chegou...por Paula Peçanha

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Não é de hoje que se ou-vem nos corredores do campus Maruípe, entre os alunos de Medicina, recla-mações diversas sobre o curso e sobre as condições do hospital universitário. Desde o Básico e suas dis-ciplinas desvirtuadas da prática clínica até o inter-nato e suas dificuldades advindas de um hospital que sofre com escassez de recursos, as queixas são muitas. Refletindo esses e outros tantos problemas, o curso de Medicina da UFES recebeu no ano passado a nota 3 segundo o ENADE, que classifica os cursos de 1 a 5. Foi a nota mais bai-xa que a Medicina UFES já recebeu, pouco acima do nível que requer interven-ção federal. Como se não bastassem os problemas da universi-dade, os ânimos dos estu-dantes tinham mais moti-vos para se exaltar, graças às medidas autoritárias e polêmicas tomadas pelo governo federal na área da Saúde para ganhar popu-laridade após os protestos de junho, e também às constantes tentativas das esferas locais de se apro-veitar politicamente do

HUCAM sem resolver seus problemas mais urgentes.O foco de insatisfação en-tre os estudantes de Me-dicina surgiu entre aqueles que cursam o internato – e convivem diariamente com os problemas do hospital. A administração atual do HUCAM, pela EBSERH, ain-da se encontra em um tur-bulento processo de tran-sição que dura meses e luta com dificuldade contra uma série de problemas estruturais e financeiros que herdou. A falta cons-tante de medicamentos e insumos básicos e as defi-ciências no quadro de fun-cionários, que obrigam o interno a realizar serviços não relacionados com seus objetivos acadêmicos, são anteriores a ela. No en-tanto, existe o temor por parte dos alunos de que as atividades acadêmicas e de preceptoria fiquem em segundo plano diante de outras tantas questões sob a nova administração. Paralelamente, em novem-bro ocorreu a cerimônia de reabertura do Pronto--Socorro do HUCAM, que contou com a presença de diversas autoridades políti-cas locais.

O fato de a reabertura propriamente dita não ter ocorrido imediatamente após o evento somou-se à persistência da falta de medicamentos e insumos apesar de toda a celebra-ção política, gerando mais insatisfação entre os in-ternos. Não muito tempo depois, o reitor da UFES sinalizava positivamente para a ampliação de 50% no número de vagas para o curso de Medicina – em um hospital cuja estrutura mal comporta os acadêmi-cos que estão nela hoje.Diante de tudo isso, a no-tícia de que os internos do HUCAM não teriam mais direito a almoço no hos-pital foi recebida com re-volta. A administração do HUCAM alega que, com o

início da reforma no refei-tório do hospital, as refei-ções deveriam a partir de então ser compradas. A licitação excluiria os inter-nos, já que a lei só ampa-ra residentes, funcionários e acompanhantes. A eles restaria o Restaurante Uni-versitário com sua fila qui-lométrica. No entanto, os estagiários afirmam que suas atividades vesperti-nas se tornariam inviáveis sem o almoço no hospital, e que mesmo sem o am-paro legal o hospital sem-pre permitiu aos internos o uso do refeitório. Foram tentadas negociações, mas o impasse persiste. A proibição das refeições no hospital levou os inter-nos a deflagrar uma para-lisação de três dias a partir de 11/11 e foi o estopim para um protesto ainda maior. Em assembleia, alu-nos de todos os períodos levantaram reivindicações a ser levadas à direção do HUCAM, ao Colegiado e à Reitoria. Além disso, os estudantes da Medicina se uniram aos da Odontologia, também profundamente insatisfei-tos com as deficiências es-truturais e de recursos, em

MARUÍPEEM POLVOROSAManifestações por melhorias no curso de Medicina e na saúde pública eclodiram na Ufes em 2013.

FIQUE POR DENTRO

Veja a pauta de rei-vindicações da mobili-zação do curso de Medi-cina, confeccionada pelo DAMUFES, na página do Jornal RAIO-X no Face-book:

facebook.com/raiox.ufes

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uma situação bastante si-milar à da Medicina (os estudantes de Odontologia da UFES registraram ima-gens de suas instalações na página do Facebook Odonto Realidade).Unidos pelos mesmos pro-blemas, alunos dos dois cursos saíram em passeata a partir de Maruípe até a Reitoria, no campus Goia-beiras. O protesto, realizado no dia 13 de novembro, con-tou com mais de quinhen-tos manifestantes carre-gando cartazes e faixas com reclamações diversas. Ao chegar à Reitoria, dez representantes dos alunos (cinco de cada curso) reu-niram-se com o reitor para expor as respectivas pau-tas de reivindicações.A pauta de reivindicações era extensa. Na Medici-na, um dos temas fazia referência às medidas ou-torgadas pela Reitoria da Universidade que se re-

fletiam direta e negativa-mente sobre a qualidade de ensino e aprendizagem dos acadêmicos. A amplia-ção de 80 para 120 vagas no curso de Medicina sem melhoria adequada e pro-porcional da estrutura físi-ca, como a criação de sa-las de aula e a expansão dos laboratórios, acentua a limitação do aprendiza-do e afunda ainda mais a qualidade do profissional formado. E isto tende a se agravar caso o estudante não seja inserido na rea-lidade médica acadêmica. Além da reitoria, a pauta contemplou os problemas e conflitos existentes no Hospital Universitário, tra-zendo à tona os problemas existentes no ensino práti-co e os déficits de recursos humanos do hospital. Não se sabe qual rumo será seguido durante a transição de gestão e ins-talação da administração da EBSERH, mas esse,

talvez, seja o maior temor dos acadêmicos, receosos de que, no contexto do Hospital-Escola, o ensino seja colocado em segundo plano comprometendo di-retamente a formação mé-dica dos alunos. Referente ao Hucam ainda, a pauta contempla outros vinte e dois tópicos específicos de reivindicações. Uma delas é a situação de os internos realizarem cotidianamen-te atividades que não são suas funções e que não contribuem para torná-los profissionais da saúde de excelência, como é espe-rado pela sociedade. Além disso, questionam as obras prolongadas e inacabáveis nos pavimentos do hos-pital e dos ambulatórios, que têm dificultado o aten-dimento médico à popula-ção e o ensino. A ausência de interligação entre os laboratórios de urgência e de rotina foi outro ponto abordado. Devido a essa

desestruturação os alunos relatam que exercem fun-ções que não contribuem para o crescimento acadê-mico e denunciam o lento serviço de assistência. As reclamações se esten-deram também ao Cen-tro de Ciências da Saúde (CCS) acerca da infraes-trutura, acessibilidade e segurança do Centro. Esta última foi a mais criticada. Mesmo não havendo cur-so noturno, muitos alunos mantêm estágios no perío-do da noite no hospital du-rante os dois últimos anos do curso de medicina, e, por isso, transitam pelo campus à noite ficando ex-postos à insegurança jun-to aos outros profissionais que também trabalham no local e alunos de outros períodos que têm suas aulas estendidas além do horário oficial da Prograd. Outro problema antigo, porém, não menos impor-tante, também relatado foi

Acadêmicos de Medicina e Odontologia lotaram as escadas do Teatro Universi-tário, em Goiabeiras.

FOTO: RAIO-X

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a situação carencial da bi-blioteca, que já não aten-de adequadamente ao contingente estudantil do Centro, necessitando de uma ampliação ou criação de nova biblioteca setorial no Centro. Um ponto im-portante que chamou a atenção foi a solicitação de um centro de habilidades, atualmente inexistente no Campus. Trata-se de local específico para realização

de um programa de capa-citação para habilidades clínicas, visando ao exer-cício qualificado da profis-são.A ausência de uma sala com materiais que simu-lem um ambiente hospita-lar e situações específicas para atendimento emer-gencial influi negativamen-te no processo de forma-ção médica, e foi alvo de duras críticas. Nota-se

também alguns pontos de pauta sobre a necessidade de formular ementas que direcionem mais o curso ao ensino médico e fazer com que tais ementas te-nham continuidade. Nesse aspecto chama a atenção uma questão que já é de conhecimento de todos: o isolamento do ciclo básico. Além de desengajado do contexto clínico, esse ciclo também é desengajado dos outros ciclos. Esse foi um dos pontos ressalta-dos pelo INEP na avaliação que rendeu nota 3 ao cur-so de Medicina (leia mais ao lado) e faz com que os alunos inseridos nesse contexto sintam-se deses-timulados com o curso e perguntem-se se realmen-te fazem medicina em cer-tas ocasiões. Um ponto que se relaciona a essa discussão é o de re-estruturação do currículo do curso. Além das maté-rias relevantes que não são contempladas e as incoe-rências do currículo vigen-te, ainda é possível citar as matérias extensas que são abordadas de modo rápi-do, e as matérias com pro-gramas curtos, mas tempo de aula abundante, que inflam desnecessariamen-te as horas-aula do horá-rio individual. Sobre essa questão, é digno de nota que o Núcleo Docente Estruturante (NDE) já ini-ciou suas atividades, sob a presidência da Dra. Maria Carmen Silva Santos, do departamento de Patolo-gia. O NDE é co-respon-sável pela elaboração, im-plementação, atualização e consolidação do Projeto Pedagógico do Curso, bem como estuda as carências apresentadas pela gradu-ação. Voltando a chamar a aten-ção para o estopim da

polvorosa, ou seja, a proi-bição do almoço aos inter-nos, recentemente foi per-mitido o fornecimento de alimentação apenas aos internos plantonistas e aos que exercem atividades vespertinas. Ainda assim, os acadêmicos relatam que tem faltado comida, inclusive nos fins-de-se-mana, quando o movimen-to no hospital é reduzido.

O curso de Medi-cina da UFES re-cebeu nota 3 no ENADE. Foi a nota mais baixa até hoje, pouco acima do nível que re-quer intervenção federal.

Por outro lado, é impor-tante mencionar que o Di-retório Acadêmico vem, a exemplo do que tem acon-tecido no NDE, dialogando com os responsáveis para que se chegue a uma solu-ção que seja palpável e sa-tisfatória. Tem-se realizado reuniões com o Colegiado, com a direção do Centro e com a direção do HUCAM, visando ao bom andamen-to do curso e a uma edu-cação e um atendimento de saúde de qualidade.

por Eduardo Toffoli Pandini, Raquel Monico Cavedo e Juliana Akemi Funabashi

Acadêmicos de Odontologia também participaram da mani-festação. Na foto, cadeiras odontológicas quebradas e trata-das como entulho no campus.

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Este assunto foi discuti-do nas reuniões do DA-MUFES. Até o final de fevereiro, elas ocorrerão todas as terças-feiras, às 12:30. Participe!

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Medicina recebe nota 3 em avaliação do INEPAinda em 2012, a estrutura organizacional do curso foi avaliada pelo INEP. A nota foi a mais baixa até então.

No período de 23 a 26 de abril de 2012, uma co-missão composta por dois avaliadores do INEP visi-tou as instalações do Cen-tro de Ciências da Saúde para analisar o curso de Medicina da Ufes. Durante esses quatro dias, quatro dimensões do curso foram avaliadas: (1) organização didático-pedagógica, (2) corpo docente e tutorial, (3) infraestrutura e (4) requisitos legais e norma-tivos. Cada dimensão era composta por indicadores que recebiam notas de 1 a 5. No final, a média das notas formou o conceito de cada uma das dimen-sões, que receberam tam-bém algumas considera-ções dos avaliadores.

O RELATÓRIODentre os muitos indica-dores avaliados, “apoio ao discente” e “laboratório de habilidades” merecem destaque pois receberam a nota mínima, contribuin-do para a queda do con-ceito do curso de Medici-na. O apoio ao discente diz respeito a programas de apoio extraclasse e psico-pedagógico, de atividades de nivelamento e extracur-riculares e de participação em centros acadêmicos e em intercâmbios. Recebem conceito 1 neste indicador os cursos que não têm es-ses programas previstos

ou implantados. Já o la-boratório de habilidades é obrigatório para cursos de Medicina. Quando o curso não dispõe de laboratórios com equipamentos e ins-trumentos em quantidade e diversidade para a ca-pacitação dos estudantes, ele recebe conceito 1.Em suas considerações, os avaliadores criticaram al-guns pontos que também são condenados pela co-munidade acadêmica. So-bre a organização didático--pedagógica do curso, por exemplo, relataram que “se observa na prática um curso tradicional, enclau-surado em ciclos básico, clínico e profissionalizante, superdimensionado nas disciplinas básicas, com predomínio de atividades teóricas e inserção tardia no sistema de saúde”.

NDEPara tentar resolver esses e outros problemas citados no relatório, o Núcleo Do-cente Estruturante (NDE), que é uma exigência do INEP, foi reformulado e tem realizado reuniões pe-riódicas. No dia 21 de no-vembro de 2013 o núcleo teve sua primeira reunião, na qual foram apresenta-dos os problemas do cur-so. Segundo Renan Torres, representante discente no NDE, haverá workshops com professores de outras

faculdades com experiên-cia em reformulação de currículos. O primeiro será sobre o ciclo básico, consi-derado o mais crítico pelo núcleo. A instalação do laboratório de habilidades foi discutida já no primeiro encontro e muitos requisi-tos já foram preenchidos, havendo inclusive uma área física praticamente

definida. De forma geral, o NDE tem por objetivo es-tudar e propor mudanças no curso de acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais. Essas mudan-ças serão então levadas ao Colegiado de curso para aprovação e posterior exe-cução.

por Paulo Victor Ferreira Mai

POR QUE NOTA 3?Veja alguns dos quesitos que receberam as maiores e as menores notas na avaliação feita pelo INEP.

MENORES NOTAS:Apoio ao discente 1Laboratórios de habilidades 1Perfil profissional do egresso 2Estrutura curricular 2Metodologia 2Produção científica, cultural, artística ou tecnológica

2

Núcleo de apoio pedagógico e experiência docente

2

MAIORES NOTAS:Estágio curricular supervisionado 4Atividades complementares 4Número de vagas 4Laboratórios de ensino 4Comitê de ética em pesquisa 4Titulação do corpo docente do curso 5Experiência profissional do corpo docente 5Periódicos especializados 5

Veja a avaliação completa na página do RAIO X no Facebook: facebook.com/raiox.ufes

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Para suprir a falta de as-sistência médica no país, o Governo anunciou a “im-portação” de médicos es-trangeiros. A justificativa para tal iniciativa é que o Brasil teria hoje um défcit desses profissionais. O número de médicos por mil habitantes no Brasil é de 1,8, número inferior a outros países da América Latina como a Argentina (3,2) e México (2). A idéia da proposta é se igualar ao Reino Unido, onde há também um sistema de saúde público de caráter universal. Portanto, o Bra-sil precisaria ter hoje, mais 168.424 médicos. Vale res-saltar que o financiamento público em saúde no Reino Unido é de cerca de 84%, aproximadamente o dobro dos tímidos 44% do Esta-do brasileiro. Fato este que explicaria, além do núme-ro de médicos, a excelente qualidade do sistema de saúde daquele país.Segundo a presidente Dil-ma, a proposta da “im-portação” (veja a seguir) é uma ação emergencial

Em todas as edi-ções realizadas em anos ante-riores, a taxa de aprovação no RE-VALIDA não pas-sou dos 10%.

frente à dificuldade de en-contrar médicos em núme-ro suficiente e que estejam dispostos a se instalarem no interior do país e nas periferias das grandes ci-dades. Ela afirma ainda que isso não é uma ação isolada, sendo que inves-timentos devem ser am-pliados para a melhoria da infraestrutura do SUS. Também outras medidas, como a ampliação das vagas de graduação em medicina e da residência médica e o PROVAB, estão sendo implementados em ação conjunta.

SOBRE A VALIDAÇÃO DE DIPLOMASO REVALIDA – Exame Na-cional de Revalidação de Diplomas Médicos expedi-dos por Universidades Es-trangeiras – foi instituído em 2011, após a realiza-ção de um Projeto Piloto em 2010.O exame é aplicado pelo Instituto Nacional de Estu-dos e Pesquisas Educacio-nais Anísio Teixeira (Inep), em colaboração com a subcomissão de revalida-ção de diplomas médicos, da qual participam repre-sentantes dos Ministérios da Saúde, Educação e Relações exteriores e da Associação Nacional dos Dirigentes de Instituições Federais do Ensino Supe-rior (Andifes).O REVALIDA é realizado em duas etapas, sendo a primeira constituída de prova teórica e a segunda, de prova prática de habi-lidades clínicas. A avalia-ção é feita com base nas diretrizes curriculares na-cionais do curso de medi-cina no Brasil e abrange

as cinco grandes áreas de exercício profissional: Ci-rurgia, Medicina de Família e Comunidade, Pediatria, Ginecologia/Obstetrícia e Clínica Médica.Antes da implementação do REVALIDA, que teve como intenção unificar o processo de avaliação, os alunos formados em medi-cina em universidades de outros países precisavam revalidar seus diplomas em alguma instituição pú-blica de ensino superior. Tal avaliação não era pa-dronizada em todo terri-tório nacional e cada ins-tiuição adotava critérios e procedimentos próprios.

O REVALIDA É JUSTO?Em todas as edições reali-zadas em anos anteriores, a taxa de aprovação não passou dos 10%.O REVALIDA vem receben-do algumas críticas devido ao formato e à duração das provas, consideradas exaustivas pelos candida-tos. Além disso, algumas questões parecem exigir conhecimentos de nível de

RETROSPECTIVA Mais Médicos e RevalidaO anúncio da vinda de médicos estrangeiros sem revalidação de diplomas causou tumulto na comunidade médica.

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especialização e não de graduação. Por outro lado, o sistema unificado de revalidação é conside-rado superior ao esque-ma anterior, em que cada universidade avaliava os candidatos de acordo com os critérios da própria ins-tituição. Em relação aos conteúdos abordados, as entidades médicas são en-fáticas em defender que o exame é formado por questões básicas para o exercício da medicina no país. O consenso é de que uma preparação intensiva para o REVALIDA é essen-cial para a aprovação.

MAIS MÉDICOSO REVALIDA foi criado em 2011, mas se tornou co-nhecido da população em geral apenas em 2013, após a criação do Progra-ma Mais Médicos. Institu-ído pela medida provisória Nº 621, de 8 de julho de 2013, e pela lei Nº 12.871, de 22 de outubro de 2013, o Mais Médicos deve tra-zer até o final do ano um total de aproximadamente 6.600 profissionais cuba-nos ao Brasil, segundo da-dos divulgados pelo Minis-tério da Saúde.Após chegarem ao Brasil, os médicos do Programa passam por um curso de especialização da atenção básica, de acolhimento e avaliação, com duração de três semanas e que terá foco na organização e fun-cionamento do SUS e na língua portuguesa. Vitória foi uma das capitais que receberam profissionais cubanos, vistos nos corre-dores do Elefante Branco, no CCS, durante a realiza-ção do curso de especiali-zação na Ufes, que acon-teceu em novembro.No entanto, o Mais Médi-cos não teve, desde a sua

criação, o apoio das enti-dades médicas brasileiras. Após o anúncio da MP que instituiu o programa, o Conselho Federal de Me-dicina (CFM) publicou nota de repúdio à importação de médicos cubanos. O principal argumento con-tra a atuação desses pro-fissionais é a não obriga-toriedade de revalidação de diplomas. No entanto, segundo o governo fe-deral, o REVALIDA só se aplica para o trabalho mé-dico de estrangeiro no país por tempo indeterminado. Como os profissionais de Cuba terão sua atuação limitada inicialmente a 3 anos, a revalidação de di-ploma não seria necessá-ria. O CFM, por sua vez, rebate: “promover a vinda de médicos cubanos sem a devida revalidação de seus diplomas e sem com-provar domínio do idioma português, desrespeita a legislação, fere os direitos humanos e coloca em risco a saúde dos brasileiros”.A discordância entre os conselhos de medicina e o governo federal continuou, sendo que em setembro alguns CRMs, inclusive o capixaba, se posicionaram no sentido de negar o re-gistro para estrangeiros do Programa Mais Médicos. Atualmente, a responsa-bilidade de emitir os regis-tros dos profissionais es-trangeiros é do Ministério da Saúde, sendo que a fis-calização continua a cargo dos Conselhos Regionais de Medicina.

por Hana Higa ePaulo Victor Ferreira Mai

O QUE É O PROGRAMA MAIS MÉDICOS?A iniciativa faz parte de um amplo pacto de melhoria do atendimento aos usuários do Sistema Único de Saú-de (SUS), com objetivo de acelerar os investimentos em infraestrutura nos hospitais e unidades de saúde e ampliar o número de médicos nas regiões carentes do país, como os municípios do interior e as periferias das grandes cidades. A iniciativa prevê ainda a expansão do número de vagas de medicina e de residência, o aprimoramento da formação médica no Brasil e a cha-mada imediata de médicos com foco nos municípios de maior vulnerabilidade social e Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI).

O QUE DIZ O CRM-ESAconteceu no dia 25 de junho, na sede do CRM-ES, uma reunião com alguns representantes da comuni-dade acadêmica de medicina, a diretoria do CRM-ES e médicos que atuam no estado para a discutir a vinda de médicos estrangeiros para o Brasil.Durante a reunião, o presidente do CRM-ES, Aloísio Faria de Souza, afirmou veementemente que o CRM--ES é contra a vinda de médicos sem os meios legais pelos quais todos os profissionais estrangeiros devem passar. E caso haja profissionais atuando sem a devi-da revalidação do diploma, o próprio Conselho entrará com uma ação judicial para impedi-los. Em julho, a classe médica capixaba, acompanhando a mobilização nacional da categoria, foi às ruas em protesto (foto) à falta de investimentos na saúde, à importação de médicos estrangeiros sem a revalidação de diploma e ao veto de artigos na Lei do Ato Médico. O ato reuniu centenas de médicos e estudantes de medicina, além de contar com o apoio da população.

Médicos e acadêmicos de Medicina saem do CRM em pas-seata até a Assembleia Legislativa.

FOTO: DIVULGAÇÃO

Dê sua sugestão para a equipe do jornal RAIO X. Envie um e-mail para [email protected]

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Recentemente, Ana Vega Carreiro de Freitas, aca-dêmica no nono período de Medicina, viajou para a cidade de Glasgow, na Escócia, pelo programa Ci-ência Sem Fronteiras. Lá conheceu o blog da Dra. Lara Devgan, que estudou na universidade de Yale, foi treinada na escola mé-dica de Johns Hopkins e fez residência em cirurgia plástica e reconstrutiva no New York Presbyterian Hospital. Dra. Lara permi-tiu a publicação de um de seus textos, que o leitor de RAIO X confere abaixo:---

Quando iniciei minha re-sidência em cirurgia, meu residente-chefe me disse algumas palavras mági-cas: “Sempre que algo de ruim acontecer, mantenha a calma e diga : ‘Eu assu-mo total responsabilidade. Isso não vai acontecer no-vamente.’”Como uma jovem cirurgiã que ainda estava na “base da cadeia alimentar“, es-sas palavras eram o meu mantra para os momentos em que cabeças estavam prestes a rolar. Naqueles primeiros dias da minha carreira cirúrgica, eu esta-va apenas tentando ficar bem com todos. A cirurgia é um campo tradicional, hierárquico; e agir na de-fensiva ou culpar alguém - com ou sem justificativa - é um erro de principiante.No começo, eu usei o “mantra da responsabi-lidade“, principalmen-te para acalmar ânimos. Numa noite, bem tarde, um cirurgião de transplan-tes me puxou para a sala de abastecimento a fim de

me criticar. Alguns exames de sangue de um paciente transplantado estavam fal-tando. Ele me questionou: “Onde estavam?” Pensei em dizer-lhe toda a histó-ria: “Eu pedi os exames, o técnico colheu o sangue e enviou-o para o laborató-rio, e de alguma forma o tubo de ensaio desapare-ceu.” Pensei em dizer que estava arrependida.Ao invés disso, respirei fundo e disse: “Eu assu-mo total responsabilidade. Isso não vai acontecer no-vamente.“ A raiva dele foi extinta temporariamente. Então, eu mesma coletei o sangue do paciente, entre-guei pessoalmente o tubo de ensaio ao laboratório, e esperei para que os re-sultados fossem impressos antes que eu retornasse às enfermarias.Este mesmo cenário re-petiu-se mais e mais em meus primeiros meses como cirurgiã júnior: a pa-ciente que acidentalmente comeu um lanche antes de ser conduzida à sala de cirurgia, e o procedimento foi cancelado; a radiogra-fia de tórax que eu pedi não foi feita; os resultados de uma cultura que não apareceram nos registros do computador... O hospi-tal é um lugar imperfeito, e existem buracos no sis-tema. Uma vez ou outra, eu assumiria toda a res-ponsabilidade por coisas que, em algum nível, não tinham nada a ver comigo. Eu não queria estar sujeita à ira de fogo dos cirurgiões mais experientes.Com o tempo, porém, uma coisa engraçada aconte-ceu. Depois de repetir o mantra da responsabili-

dade tantas vezes, eu o havia internalizado. Eu re-almente acreditava nisso. Quando alguma coisa dava errado com um de meus pacientes - se era culpa dele , minha culpa, ou de outra pessoa - sempre era minha responsabilidade. Afinal, quando uma pes-soa confia a vida dela em você, o encargo também para em você.Milhares de pessoas são necessárias para fazer um hospital moderno funcio-nar, mas se você é o mé-dico responsável pelos cui-dados de alguém, você é o responsável por ela. [...]A verdade é que em cirur-gia, coisas ruins podem acontecer. Um paciente pode ter uma reação alér-gica a um antibiótico, um médico pode deixar de diagnosticar um câncer atéque ele já tenha se disse-minado, um cirurgião pode lesar um vaso sanguíneo durante uma operação. Médicos cometem erros, e os pacientes podem ficar doentes ou morrerem por causa do que fazemos ou do que deixamos de fazer. É esta realidade sem ador-nos que faz o mantra da responsabilidade ser tão importante nesta profis-são.Responsabilidade é o cer-ne do que significa ser um cirurgião, e é esta a razão pela qual nós temos con-ferências “de morbidade e mortalidade“. As M&M, como são carinhosamente conhecidas, são análises confidenciais e em grupo de complicações e erros médicos, que ocorrem em quase todos os Depar-tamentos de Cirurgia do mundo. Se um paciente

teve um problema, o cirur-gião expõe o caso diante de seus colegas médicos e explica o que aconteceu: “Isto é o que deu errado. E é isso que todos nós po-demos fazer para garantir que isso nunca aconteça novamente”. [...]Agora que sou uma cirur-giã experiente, ensino aos médicos mais jovens o mesmo mantra que apren-di há muitos anos. O que começa como um slogan, de alguma forma, conver-te-se num senso de ma-turidade que lhes torna cirurgiões com compaixão pelos seus pacientes. Ao ensinar os formandos o script para se tornarem lí-deres responsáveis, forne-cemos-lhes a estrutura, os comportamentos, e as pa-lavras que os transformam em profissionais capazes de entender a seriedade de seus trabalhos.Recentemente assisti a uma M&M. Um cirurgião que estava há apenas al-guns anos na prática clí-nica discutiu sobre uma cirurgia que ele havia can-celado no último minuto, porque a pressão arterial do paciente estava bastan-te elevada.“É sua responsabilidade monitorar a pressão ar-terial com antecedência“, disse do fundo da sala um cirurgião sênior. “É claro”, disse o jovem cirurgião, de maneira sincera. “Tudo é minha responsabilidade.“

Tradução por Ana Vega Carrei-ro de Freitas. Publicado com

permissão da autora.

Tudo é minha culpa: como um cirurgião pede perdãopor Dra. Lara Devgan

Confira: laradevganmd.com/blog

Page 17: Raio-X, nº 12

Novos ingressantesEm maio deste ano, o cur-so de Medicina da UFES recebeu a turma 92 e em outubro foi a vez de dar as boas-vindas à turma 93. Como ocorre semes-tralmente, os eventos de recepção dos ingressantes se deram com palestras de professores e de ex--alunos, apresentação do campus e das instalações do hospital. Durante as vi-sitas, chamou atenção dos novos alunos a quantidade de prédios em obras em todo o campus, destacan-do-se o novo Restaurante Universitário, o Elefante Branco e o Centro Cirúrgi-co do HUCAM.No primeiro semestre, o tradicional churrasco de recepção dos calouros foi um sucesso. Em contra-partida, devido às obras no DAMUFES, ainda não foi possível realizar o chur-rasco da turma 93.As aulas de ambas as turmas iniciaram-se tar-diamente, em virtude da

greve de professores e funcionários ocorrida ain-da em 2012. Mesmo mais de um ano após a parali-sação, os novos acadêmi-cos ainda sofrem com os seus efeitos: “Com esse tempo a mais fora da sala de aula, perdemos o ritmo de estudo. As matérias são difíceis, e é complicado sa-ber como estudar. Mas co-meçar uma nova etapa da vida é emocionante’’, rela-

tou Clarissa Carlini, da tur-ma 92, a respeito da expe-riência no período anterior.Com pouco tempo de con-tato com o curso, os alu-nos do primeiro período de Medicina estão em proces-so de adaptação, sempre na tentativa de conciliar a dedicação aos estudos e os momentos de lazer. Nessa busca, eventos or-ganizados para descontrair o pesado ritmo imposto

pela faculdade sempre reúnem bom número de calouros, a exemplo do tradicional trote. Além dis-so, a calourada da turma 92 (MedFest) foi aberta ao público e reuniu calouros, veteranos e convidados no Álvares Cabral, contando com show do grupo Sam-baAdm, dentre outros.

por Thaísa Malbar Rodrigues

MEDICINA SOCIALA coluna social do Jornal RAIO-X

Turma 93 durante a tradicional palestra do Dr. Paulo Merçon.

Campeões das OREMDo dia 11 ao dia 15 de outubro ocorreram as Olimpíadas Regionais dos Estudantes de Medicina (OREM) de 2013 na cidade de Vassouras, no estado do Rio de Janeiro. Neste ano, a UFES alcançou o 1º lugar da série B. Fomos o 1º lugar nas modalidades de vôlei masculino, nata-ção masculino, handebol feminino e basquete fe-minino, além de 2º e 3º

lugar em outras modalida-des, ganhando com uma diferença de 42 pontos em relação ao segundo co-locado geral. Já na série A, os destaques foram as universidades da capital carioca UFRJ, UERJ e UNI-RIO que obtiveram, res-pectivamente, o 1º, o 2º e o 3º lugar. Dentre as grandes torci-das cariocas, a UFES teve o apoio da UFF. A campeã Melhor Torcida das OREM 2013 nos emprestou sua animação e sua bateria em

alguns jogos como o cabo de guerra e a natação. Os shows desse ano fica-ram por conta de atrações nacionais como Mc Korin-ga, O Rappa, Detonautas e, na festa à fantasia, Va-leska Popozuda. Atrações menores e Djs também animaram o evento todas as noites. Na última noite, aconteceu a festa Sunset, finalizando o OREM com o anúncio dos ganhadores e com uma surpreendente chuva de espuma ao fim da noite.

Os estudantes da UFES fi-caram alocados na Univer-sidade Severino Sombra (USS) junto com outras universidades do Rio e do Espírito Santo. O OREM é um dos encon-tros entre estudantes de medicina promovidos pela regional Sudeste-1 da Di-reção Executiva Nacional dos Estudantes de Me-dicina (DENEM), da qual fazem parte o estado do Espírito Santo e do Rio de Janeiro.

por Aryellen Costa Lebarch

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O IMPERADOR DE TODOS OS MALES

Sério candidato a melhor

obra de temática médica dos últimos anos, este li-vro faz jus ao que preten-de ser: “uma biografia do câncer”. O oncologista Si-ddharta Mukherjee narra a contínua batalha que vem se desenrolando através dos séculos para entender e derrotar essa doença tão assustadora e tão miste-riosa. Uma história cheia de su-cessos e reveses, espe-ranças e frustrações, pe-quenos e grandes heróis, homens corajosos (ou lou-cos?) surgindo com ten-

tativas desesperadas de derrotar a doença usando doses cada vez mais tóxi-cas de quimioterápicos ou realizando cirurgias cada vez mais mutilantes. Uma história que está longe de acabar e que, no fim, se confunde com a história da Medicina.O autor joga luz sobre um dos aspectos mais assom-brosos do câncer: ele faz parte de nós, surge a par-tir de nós, os genes que dão origem a ele são os mesmos que nos tornam o que somos e, assim como

nós, ele também deseja ser imortal.Transitando entre cirurgia, clínica e biologia molecular e escrito com uma lingua-gem simples e capaz de ser perfeitamente entendi-da pelos leigos sem fazer com que os entendidos se sintam na escola primária, esse livro é indispensável para quem quer entender um pouco mais o câncer, a Medicina e o próprio ser humano.

por Eduardo Toffoli Pandini

HEMOCULTURA

Medufes da Depressão

“Medufes da Depressão” é uma comunidade no Facebook ativa desde 31 de março de 2013. Sob a descrição, “A dura vida de quem quer ser médico es-tudando na UFES. Esta é uma página de humor. Se você se sentiu ofendido, vá fazer seus castigos ou ler sobre as drosófilas.”, a página, de forma muito bem humorada, ironiza o dia-a-dia dos nossos aca-dêmicos. Dá enfoque aos principais eventos que marcam os períodos, às

características inesquecí-veis dos professores, aos perrengues típicos da vida de estudante e, é claro, faz críticas a coisas absur-das que presenciamos no campus. Veja um pouco do conteúdo:

Manual MedUFES da Depressão - Como re-conhecer um calouro:Calouros usam branco com frequência. Caminham sempre em bandos, man-tendo um estado de espíri-to que mistura deslumbra-

mento com angústia. Os dedos das mãos são des-camados pelo formol. Co-mumente possuem proble-mas de coluna, causados pelo peso do Moore car-regado nos braços dentro do ônibus, em pé. Entre os seus hábitos mais comuns, está o de ficar decoran-do origens e inserções de centenas de músculos dos braços e das pernas que depois nunca mais lembra-rão que existem.

por Juliana Akemi Funabashi

Casa de Bamba:

Samba de raiz ao vivo, boa comida, ambiente boêmio e um bar inteiro cantando junto. Quem sente falta de um lugar assim em Vi-tória ainda não conheceu a Casa de Bamba. Localizado na Rua Gama Rosa, 154, próximo à Rua Sete, no Centro, o lugar conta com apresentações

de excelentes bandas e não perde em nada para os bares da boemia ca-rioca! Nas quartas-feiras o bar e restaurante abre para happy hour a partir de 18h, com música ao vivo e dose dupla de cho-pp até 2Oh. Confira o site oficial da Casa: www.ca-sadebamba.com.

por Thaísa Malbar Rodrigues

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PRESCRIÇÃO LITERÁRIA

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HEMOCULTURA

BIUTIFUL, de Alejan-dro Gonzáles Iñárritu

Um homem em conflito, que tenta conciliar a pa-ternidade, a esposa bipo-lar, os dons mediúnicos, os imigrantes em trabalho es-cravo, os negócios ilegais... e um câncer terminal. Essa é a história de Uxbal, que se passa no “lado B” da conhecida cidade de Bar-celona, onde tudo parece ocorrer da maneira mais incorreta possível. Ao re-sumir a história, parece uma tragédia excessiva. E realmente é. Em muitos momentos, o expectador pode se sentir sufocado com tanto sofrimento. Mas a trajetória do homem que luta para deixar algum le-gado para os seus filhos faz da narrativa digna do título do filme. Sem contar com a brilhante atuação do Javier Barden, que sou-be interpretar com maes-tria toda a complexidade do personagem principal. Vale a pena reparar nos reflexos do Uxbal nos es-pelhos e vidros durante todo o filme...

por Hana Higa

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ÃOCÉU

Céu é uma cantora brasilei-ra de MPB. Música popular brasileira, no seu sentido mais amplo possível, pois a sua característica mais marcante é a mistura inu-sitada de vários gêneros em um estilo único, que a fez uma das cantoras/compositoras estrangeiras mais vendidas na Europa e EUA.Entre os vários ingredien-tes do grande caldeirão de referências da cantora, es-tão: samba, reggae, R&B, jazz, hip-hop e até mesmo o brega. O resultado pode ser conferido nos três ál-buns lançados até ago-ra: CéU (2005), Vagarosa (2009) e Caravana Sereia Bloom (2012).Entre os vários shows ofe-recidos pela prefeitura mu-nicipal de Vitória na come-moração dos 461 anos da cidade, em 2012, a Céu fez uma lindíssima apresen-tação na Estação Porto. Quem teve a oportunidade

de comparecer pôde per-ceber que a voz doce e a irreverência da cantora so-madas aos excelentes mú-sicos que a acompanham funcionam muito bem ao

vivo.Dicas de músicas para co-meçar a escutar: “Lenda”, “Cangote” e “Retrovisor”.

por Hana Higa

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VERBORRAGIA

Um dos pilares da universidade, a biblioteca de qualida-de permite ao leitor-aluno ampliar seu horizonte, expan-dindo tanto seu conhecimento técnico quanto cultural. “Sua biblioteca é o seu retrato.” E não há lugar que eu conheça onde a citação do escritor inglês Holbrook Jack-son seja mais aplicável do que na nossa biblioteca. A Biblioteca Setorial do Centro de Ciências da Saúde da UFES é uma vergonha. O que dizer de uma administração que posterga o come-ço das obras de reforma após uma greve de 179 dias? Que tipo de servidores ameaçam fechar as portas por-que faltou água no bebedouro? Onde estão os cursos destinados aos calouros de como usar a biblioteca ou o acesso ao portal de periódicos da CAPES? O que dizer da falta de livros para atender a demanda dos alunos? Num lugar onde o silêncio deveria imperar, seus próprios cuidadores são os primeiros a quebrá-lo. Tenho colegas, que, de tão indignados com a falta de educação dos que ali trabalham, preferem sair do campus de Maruípe e ir estudar em outras bibliotecas da Grande Vitória. A biblioteca também não atende aos alunos que gostariam de lá permanecer para estudar até mais tarde. Isso por-que, apesar de o horário de abertura frequentemente se dar alguns minutos após as sete da manhã, o horário de fechamento é britânico: às sete da noite.

“A nossa biblioteca reflete a impor-tância que seus funcionários, nos-sos administradores e até os próprios alunos dão à educação: é o retra-to da incompetência e do descaso.”

Infelizmente, o problema não se resume aos funcioná-rios. Os próprios alunos que utilizam a biblioteca para estudar muitas vezes desrespeitam as regras. Além dis-so, há uma sala de cópias no primeiro andar que por vezes se assemelha a um baile funk. Música alta é co-locada sem qualquer pudor, o fato de se estar em uma biblioteca não parece contar em nada. Não seria uma instituição de ensino superior um lugar onde o famoso “shh!” da bibliotecária seria dispensável? Mas lamenta-velmente até mesmo a solicitação de silêncio tem que

vir de uma minoria de alunos que quer de fato estudar, porque os bibliotecários e bolsistas dedicam seus dias ao Facebook. Praticamente não descem espontaneamente, mas apenas quando solicitados e com uma expressão facial de desgosto por ter que sair do “Face” por alguns segundos. Criou-se a cultura de que, aparentemente, conversar na biblioteca é normal.O desinteresse pela educação aqui é demonstrado ainda por instâncias superiores. A administração da biblioteca é ligada diretamente à direção do Centro. Uma sala do andar inferior encontrou-se indisponível para uso du-rante semanas em semestres passados pois ninguém trocou uma lâmpada que havia queimado! Eu estudava religiosamente nessa sala, mas tenho que ser sincero em admitir que não sei mais qual é seu estado. Isso porque desisti da esperança de tê-la de volta há algum tempo. É praticamente impossível concentrar-se num texto quando os ventiladores do segundo andar são mais barulhentos do que os carros que passam pela Ma-rechal Campos.E por falar na direção do centro, o maior absurdo que já presenciei foi a autorização por parte desta para uma festa comemorativa de fim de ano num dia letivo como qualquer outro. Raciocinaram que a confecção de um cartaz, impresso no mesmo dia e fixado na porta, seria o suficiente para justificar o fechamento da biblioteca sem aviso prévio. Enquanto os servidores da biblioteca e de outras esferas da universidade bebiam e dançavam em pleno “estacionamento do NDI” embalados pela música ao vivo, vários alunos desciam, incrédulos, a escada-ria da biblioteca com as portas fechadas. Já ao lado da festa, três salas do Elefante Branco eram ocupadas por alunos que relutavam para, simplesmente, poder ouvir seus professores. A música estava muito alta. Numa sexta-feira. À tarde. Em uma Universidade (!?).Recentemente, para a instalação do “detector de livros” (muito bonito por sinal, com um design bastante mo-derno, pago com dinheiro público), a biblioteca também foi fechada por meio expediente em uma sexta-feira. Mais uma vez, sem qualquer aviso prévio, deixando ao relento alunos que haviam agendado suas atividades bi-bliotecárias.Lastimavelmente, a nossa biblioteca é isso. Ela reflete a importância que seus funcionários, nossos adminis-tradores e até os próprios alunos dão à educação: é o retrato da incompetência e do descaso.

A seção Verborragia publica artigos escritos pelos alunos e ex-alunos de Medicina da Ufes.

O Retratopor Renan Torres e Leon Pinheiro