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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA RAFAELA LEITE MARÇAL Elaboração de uma bebida alcoólica lupulada e carbonatada a partir de arroz preto do tipo IAC-600 (Oryza sativa) Lorena, 2014

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA

RAFAELA LEITE MARÇAL

Elaboração de uma bebida alcoólica lupulada e carbonatada a partir de arroz

preto do tipo IAC-600 (Oryza sativa)

Lorena, 2014

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RAFAELA LEITE MARÇAL

Elaboração de uma bebida alcoólica lupulada e carbonatada a partir de arroz preto

do tipo IAC-600 (Oryza sativa)

Trabalho de Graduação apresentado à

Escola de Engenharia de Lorena da

Universidade de São Paulo para

obtenção do título de Engenheiro

Bioquímico.

Orientador: Prof. Dr. João Batista de

Almeida e Silva

Lorena, 2014

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AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR

QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO DE ESTUDO E

PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO Serviço de Biblioteca Escola de Engenharia de Lorena

Marçal, Rafaela Leite

Elaboração de uma bebida alcoólica lupulada e carbonatada a partir de

arroz preto do tipo IAC-600 (Oryza sativa)/ Rafaela Leite Marçal. - Lorena,

2014.

58p.

Monografia apresentada como requisito parcial para a conclusão do Curso

de Graduação de Engenharia Bioquímica - Escola de Engenharia de Lorena da

Universidade de São Paulo.

Orientador: João Batista de Almeida e Silva.

1. Arroz preto 2. Leveduras 3. Açúcar 4. Compostos fenólicos. I.Almeida

e Silva, João Batista, Orient.

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kokk

À Ana, Newton e Mariana,

minha família. Dedico.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço,

À Deus, por todas as oportunidades dadas.

Aos meus pais, pelos acertos, erros, pelo amor e dedicação às filhas. Por tudo!

À minha amada irmã, por não me deixar esquecer a coisa mais importante na vida, nossa

família.

Ao Prof. Dr. João Batista de Almeida e Silva, pelo apoio, instrução e oportunidade.

Ao meu amigo Orerves, pelo auxílio, socorro, paciência e por todos os conhecimentos

transmitidos durante a elaboração deste trabalho.

À todos os professores da Escola de Engenharia de Lorena e aos seus ensinamentos, pelo

conhecimento transmitido.

Aos amigos que fiz na Microcervejaria e no Probióticos: Waldir, Mateus, Aline, Ludmila,

Flávio, Cláudio e Daniel.

Aos queridos amigos que fiz em durante a graduação, pelo apoio intelectual e psicológico.

Ao meu querido amigo José Renato, pelo incentivo e apoio, por me fazer esquecer as

tristezas. Obrigada!

Aos meus amigos Maria Eulália e Ércio, pelo teto e atenção, sem eles não poderia

concluir esta etapa.

Agradeço ao Lucas pela amizade e ajuda.

Às minhas amigas e companheiras Bruna, Isabela e Lígia, pela paciência.

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RESUMO

MARÇAL, R. L.; Elaboração de uma bebida alcoólica lupulada e carbonatada a

partir de arroz preto do tipo IAC-600 (Oryza sativa). 2014. 58f. Trabalho de conclusão

de curso - Escola de Engenharia de Lorena da Universidade de São Paulo, Lorena, 2014.

Este trabalho teve por objetivo a utilização de quirera de arroz preto do tipo IAC-600

(Oryza sativa), na elaboração de uma bebida fermentada utilizando os mesmos

procedimentos empregados na elaboração de cervejas. Inicialmente foram feitos 5 ensaios,

para estudo do comportamento dos grãos de arroz quando submetidos ao tratamento

térmico para hidrólise enzimática por diferentes tempos e escalas, três ensaios com 2,5L e

dois com 10. Posteriormente, foi feito um ensaio em duplicata para avaliar o uso dos de

açúcares fermentescíveis, obtidos após a sacarificação completa do amido do arroz,

obtendo-se uma bebida fermentada e carbonatada com teor alcoólico de 3,0% (v/v). Os

ensaios em escala piloto foram feitos para obtenção de 100 litros de bebida. Foram

utilizados 26 kg de quirera de arroz hidrolisados com a enzima α-amilase, Thermamyl

120L. Os ensaios foram conduzidos na Planta Piloto da Escola de Engenharia de Lorena,

da Universidade de São Paulo. Os cálculos, considerando as perdas, rendimentos e

proporções de amido no arroz, levaram a resultados que proporcionaram obter um mosto

com 12°P de extrato original e uma perda significativa de 34,72% durante o processo. A

fermentação foi conduzida a 10°C por 7 dias e maturada a 0°C por 14 dias. A bebida

obtida contém teor alcoólico de 1,9% (v/v), 31,15g/L de açúcares redutores, 9,85% de

massa seca, pH 4,4 e coloração 18,6EBC. A produção desta bebida poderá ser tanto uma

alternativa para pessoas com intolerância a glúten (pela ausência de glúten no arroz),

quanto uma alternativa para o aproveitamento de quirera de arroz preto que não possui

valor no mercado.

Palavras-chave: Arroz preto. Amilase. Levedura. Açúcares. Compostos fenólicos

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ABSTRACT

MARÇAL, R. L. Preparation of a hoppy and carbonated alcoholic beverage from

black rice type IAC-600 (Oryza sativa). 2014. 58f. Undergraduate Work in Biochemical

Engineering – Escola de Engenharia de Lorena, Universidade de São Paulo, Lorena, 2014.

This study aimed to use black rice grits type IAC - 600 ( Oryza sativa ) for the preparation

of a fermented beverage using brewer techniques. Initially, five tests were made to study

the behavior of rice grains when subjected to heat treatment for enzymatic hydrolysis for

the evaluation of rice grains behavior when subjected to thermal treatment with enzymatic

hydrolysis with different times and scales, three with 2.5 L and two with 10L. Afterwards,

tests were made to evaluate the concentration of fermentable sugars achieved after the

complete saccharification of the rice’s starch, which fermentation generated a beverage

with an alcohol content of 3% (v/v). The tests in pilot scale were made to produce 100

liters of this beverage, using 26 kg of rice grits hydrolyzed by a commercial α-amilase,

Thermamyl 120L. These tests were conducted at the pilot plant of beverages in Escola de

Engenharia de Lorena. The calculation made, considering the losses, yields and the content

of starch in the rice, resulted in a 12°P original extract wort, and a significant loss of

34,72% throughout the process. Fermentation was conducted at 10°C for 7 days and

maturated at 0°C for 14 days. The finished beverage had an alcohol content of 1.9% (v / v),

31.15 g / L of reducing sugars, 9.85% dry weight, pH 4.4 and 18.6 EBC color. The

production of this beverage can be either an alternative as a gluten-free drink as well as a

feasible destination of black rice grits, which has no commercial value.

Keywords: Black Rice. Amylase. Yeast. Sugars. Phenolic Compounds.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Arroz preto (Oryza sativa) e Arroz Selvagem (Zizania sp.). ....................................... 20

Figura 2. Esquema representativo da via metabólica dos compostos fenólicos.......................... 22

Figura 3. Estrutura de uma molécula de amilose ........................................................................ 25

Figura 4. Estrutura de uma molécula de amilopectina ................................................................ 25

Figura 5. Metabolismo da glicose por S. cerevisiae. Fermentação alcoólica.............................. 32

Figura 6. Representação gráfica do tratamento térmico do arroz nos diferentes ensaios ........... 40

Figura 7. Teste de Iodo ................................................................................................................ 40

Figura 8. Representação gráfica do tratamento térmico do arroz na Planta Piloto ..................... 43

Figura 9. Gráfico de concentração de açúcares redutores pelo tempo de fermentação (consumo

de substrato). ........................................................................................................................ 47

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Composição nutricional, teor de compostos fenólicos e valor calórico de

diferentes tipos de arroz (base seca) .................................................................................... 20

Tabela 2. Enzimas derivadas de animais e plantas usadas na indústria alimentícia ............ 27

Tabela 3. Principais enzimas amilolíticas comerciais .......................................................... 29

Tabela 4. Composição química do lúpulo em flor ............................................................... 33

Tabela 5. Características físicas químicas da água do poço artesiano da EEL. ................... 36

Tabela 6. Relação massa de arroz e tempo de fervura durante o experimento para avaliação

de melhor condição de hidrólise. ......................................................................................... 39

Tabela 7. Relação massa arroz, tempo de fervura e tempo de exposição do amido à enzima

durante sacarificação ............................................................................................................ 46

Tabela 8. Média dos valores de concentração de açúcares redutores observados durante a

fermentação e de amino nitrogênio livre lidos no início e fim da fermentação. .................. 47

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 13

2. OBJETIVO ................................................................................................................... 15

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ..................................................................................... 17

3.1. Matérias Primas ..................................................................................................... 17

3.1.1. Água ............................................................................................................... 17

3.1.2. Arroz Preto ..................................................................................................... 18

3.1.3. Enzimas ................................................................................................................. 27

3.1.4. Levedura ........................................................................................................ 31

3.1.5. Lúpulo ............................................................................................................ 32

3.2. Processo Cervejeiro (Adaptado) ........................................................................... 34

4. MATERIAIS E MÉTODOS ......................................................................................... 36

4.1. Materiais ................................................................................................................ 36

4.1.1. Água ............................................................................................................... 36

4.1.2. Arroz .............................................................................................................. 37

4.1.3. Lúpulo ............................................................................................................ 37

4.1.4. Levedura ........................................................................................................ 37

4.1.5. Enzima ........................................................................................................... 37

4.2. Métodos ................................................................................................................. 38

4.2.1. Preparação da Água de Hidrólise ................................................................... 38

4.2.2. Moagem do arroz ........................................................................................... 38

4.2.3. Preparo do inoculo ......................................................................................... 38

4.2.4. Escala Laboratorial ........................................................................................ 39

4.2.5. Escala Piloto .................................................................................................. 41

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................. 46

5.1. Avaliação da melhor condição de hidrólise .......................................................... 46

5.2. Avaliação dos açúcares fermentescíveis do mosto ............................................... 46

5.3. Fermentação em escala piloto ............................................................................... 48

6. CONCLUSÃO .............................................................................................................. 50

BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................. 51

ANEXO A ............................................................................................................................ 55

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ooo

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13

1. INTRODUÇÃO

O arroz é um dos principais cereais nos países em desenvolvimento e uma

importante fonte de alimento básico de mais da metade da população mundial. Apesar de

amplamente consumido por arroz branco, há muitas cultivares especiais de arroz que

contêm cores (pigmentos), tais como arroz preto e arroz vermelho. O Sudeste da Ásia é a

principal área de produção agrícola desta cultura e habitantes desta região têm uma longa

história de consumo de arroz preto (HU, et al. 2003).

Cultivado na China há mais de quatro mil anos, com fama de produto afrodisíaco e

exótico, o arroz preto era chamado de “Arroz Proibido”, pois era consumido apenas pelo

Imperador, cabendo a seus súditos somente a produção dos grãos. A partir da década de 80,

a China intensificou o melhoramento para arroz preto e hoje existem mais de 50 variedades

modernas cultivadas naquele país. Este tipo especial de arroz tornou-se a sensação entre

chefs e gourmets, a começar pela cor – na verdade, lilás, que de tão forte se assemelha ao

preto -, com aroma leve de castanha e pelo sabor único. Depois de cozido, segundo opinião

de consultores gastronômicos, o grão de formato arredondado e curto fica “al dente” sem

perder a textura macia e permanece inteiro. Considerado uma iguaria na Europa e nos

Estados Unidos, o arroz preto demorou a chegar ao Brasil. As notícias desse grão

extremamente aromático, de sabor especial, ficaram restritas aos amantes da alta

gastronomia até 15 anos atrás, quando os primeiros pacotes passaram a ser encontrados em

lojas especializadas. No Brasil, a pesquisa teve início em 1994, desenvolvida pelos

pesquisadores do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), órgão da Secretaria de

Agricultura do Estado de São Paulo, para as características de solo e de clima paulista, e

batizado com o nome de IAC-600.

Comparado ao arroz polido e integral, o arroz preto possui mais proteínas e fibras,

dez vezes mais compostos fenólicos (antioxidantes), além de maciez, aroma e sabor

acastanhados, apresentando valor calórico inferior ao arroz branco. O arroz preto não

atinge a mesma produtividade obtida por variedades tradicionais, pois durante o

beneficiamento de seus grão - que é vendido apenas na qualidade gourmet - os produtores

observam perdas de 25 a 35% (GODOY 2005). Esses valores de produtividade reduzidos

são em parte pela formação de um subproduto, caracterizado por grãos partidos e

esfarelados, sem valor de mercado e descartados pelo produtor. Os grãos quebrados

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receberam, por sua vez, um olhar diferenciado por pesquisadores da Escola de Engenharia

de Lorena (EEL), como uma oportunidade para obtenção de uma bebida com sabor

diferenciado e tonalidade acastanhada - algo entre a cerveja “bock” e a puro malte -

buscando agregar valor ao produtor de arroz e oferecer uma nova opção de chope aos

apreciadores.

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15

2. OBJETIVO

Este trabalho tem por objetivo contribuir para o desenvolvimento de uma bebida alcoólica

fermentada e carbonatada de arroz preto da linhagem IAC-600, utilizando a tecnologia

empregada para produção de cervejas. Assim, dando continuidade aos trabalhos iniciados

na Escola de Engenharia de Lorena no beneficiamento do arroz preto para produção de

bebidas alcoólicas.

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17

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1. Matérias Primas

3.1.1. Água

A água é a matéria-prima mais importante na fabricação de bebidas, pois contribui

diretamente como um ingrediente. Assim sendo, as suas características físicas e químicas

serão de fundamental importância para obtenção de um produto de boa qualidade

(MADRID 1996)

A água utilizada no processo de fabricação de bebidas tem que ser potável, podendo

sofrer correções químicas de acordo com a sua composição. A sua importância é tanta que

ela é um dos fatores decisivos na escolha do local para a instalação de uma fábrica, pois

requer tratamento minucioso para que se enquadre nos parâmetros de qualidade

necessários para ser usada no processo, o que irá resultar em um aumento no custo do

produto final. Então é necessário que a fábrica esteja instalada próxima a uma fonte

abundante de água de boa qualidade (VENTURINI FILHO e CEREDA 2001)

No processo cervejeiro, podem ser usados dois tipos de água, a de superfície,

proveniente de rios e lagos, e a água subterrânea, proveniente de poços. As águas de

superfície estão sempre sujeitas a maiores variações na qualidade e na composição, devido

à exposição ao ambiente, poluição, contaminação por efluentes orgânicos e inorgânicos. As

águas subterrâneas apresentam melhor qualidade em relação à superficial, e por este

motivo são as mais utilizadas em cervejarias. Estas águas percolam através do solo e

apresentam menos partículas suspensas e menor chance de contaminação por

microrganismos (TAYLOR 2006).

Dependendo da origem da água, todas ou apenas algumas das seguintes operações são

efetuadas na planta:

- Aeração: oxidação para remover odores;

- Clarificação: adição de produtos químicos para a aglomeração ou coagulação de

material em suspensão, que será decantado ou filtrado;

- Filtração: remoção de sólidos em suspensão, filtrando-se sobre a areia;

- Cloração: para eliminação de microrganismos;

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18

- Desmineralização: para a remoção de sais em águas que contenham alto teor de sais

dissolvidos (MADRID 1996).

Um controle sobre o pH da água é fundamental, pois um pH alcalino poderá

ocasionar a dissolução de materiais existentes nos grãos, que são indesejáveis no

processamento. O ideal é que se tenha uma relação ácida facilitando a atividade

enzimática, com um consequente aumento no rendimento de açúcares fermentescíveis, e

um maior teor alcoólico.

Outro parâmetro primordial na qualidade da água é sua dureza, que se conceitua

como o teor de íons cálcio e magnésio presentes na água. Outros íons possivelmente

presentes em qualquer bebida apresentam influência direta na qualidade sensorial, fazendo

com que ela apresente gosto salgado, amargo, doce ou azedo, dependendo do íon e sua

concentração (TAYLOR 2006).

3.1.2. Arroz Preto

O arroz é uma importante cultura de cereal nos países em desenvolvimento e uma

importante fonte de alimento básico para mais da metade da população mundial. Embora o

arroz branco seja mais consumido (cerca de 85%), há muitas cultivares de arroz especiais

que contém pigmentação, como o arroz preto e vermelho . O Sudeste Asiático (20-28°

latitude) é a principal área de produção para esta safra agrícola, e seus habitantes têm longa

história de consumo de arroz preto.

Na medicina tradicional chinesa, o arroz pigmentado tem sido usado como alimento

nutritivo, fortalecendo a função renal, tratando anemia, promovendo a circulação

sanguínea, eliminando a estagnação do sangue, melhorando o fluxo sanguíneo, tratando

diabetes e melhorando a visão (Ma 2000). Publicações revelam propriedades

medicamentosas dessa variedade (ANDRADE 2007)

O arroz preto contém uma grande variedade de flavonas, taninos, compostos

fenólicos, esteróis, tocóis, γ-oryzanols, aminoácidos, e os óleos essenciais. (DENG, et al.

2013) As antocianinas, um grupo de flavonóides púrpura avermelhada, solúveis em água,

são tidos como os principais componentes funcionais do arroz pigmentado. O arroz preto e

vermelho tem sido usado como alimento funcional e seus extratos são também utilizados

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como corantes alimentares em pão, sorvete e licor, em substituição aos corantes artificiais.

(ZHANG, ZHANG e ZHANG 2010)

3.1.2.1. IAC 600 (Oryza sativa)

Em 1994 o Instituto Agronômico de Campinas iniciou um programa de

melhoramento genético com o objetivo de desenvolver variedades de arroz com tipos

especiais de grãos para atender a demanda de nichos de mercado destinados à culinária

mundial. Dentre esses novos produtos destacam-se aqueles com película colorida, caso

específico do arroz com película preta, tipo bem difundido na Europa e nos Estados

Unidos, oriundo da China, onde é produzido há mais de 4.000 anos.

A partir da década de 80, a China intensificou o melhoramento para arroz preto e

hoje existem mais de 50 variedades modernas cultivadas naquele país. Com as pesquisas

iniciadas em 1994, o Instituto Agronômico colocou à disposição dos orizicultores de São

Paulo, a IAC 600, primeira cultivar de arroz preto lançada no Brasil, para atender a

demanda da cadeia produtiva de arroz.

A cultivar IAC 600 originou-se de seleção massal realizada em 1994, em uma

população da variedade chinesa Wang Xue Ren apresentava segregação para várias

características agronômicas e culinárias.

Dessa seleção originaram aproximadamente 150 linhagens com diferentes tipos de

grãos, panículas e porte de planta, até que no ano agrícola de 1996/1997 a linhagem IAC

1762 apresentou boa estabilidade agronômica e com potencial produtivo adequado para o

padrão de tipos especiais, adaptando-se aos sistemas de plantio irrigado e terras altas com

irrigação suplementar.

Essa cultivar, IAC 600, é Oryza sativa, e não deve ser confundida com o chamado

arroz selvagem que é outra gramínea (Zizania sp.). Ambos podem ser vistos na Figura 1:

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20

Figura 1. Arroz preto (Oryza sativa) e Arroz Selvagem (Zizania sp.).

FONTE: Ruzene, s.d.

Testes de qualidade culinária realizados nos Estados Unidos revelaram um aroma

acastanhado e teor de compostos fenólicos altos, dando a essa linhagem características

específicas. A partir de 2001, iniciou-se a purificação de sementes e os experimentos

avançados nas regiões produtoras do Estado de São Paulo para estimar o Valor de Cultivo

e Uso (VCU).

A película que envolve o grão do arroz integral preto é rica em: hidratos de

carbono, óleos, proteínas, compostos fenólicos, fibras, cobalto, vitaminas: A, B1, B2, B6,

niacina, ácido nicotínico, ácido pantatênico, pró-vitaminas C e E. (RUZENE s.d.)

A Tabela 1 apresenta a composição centesimal do arroz preto IAC-600 em

comparação com arroz integral e arroz polido, segundo diferentes fontes.

.

Tabela 1. Composição nutricional, teor de compostos fenólicos e valor calórico de diferentes tipos de arroz

(base seca)

Componentes IAC 600** arroz

integral***

arroz

polido****

umidade (%)* 8,8 9,77 9,8

cinza (%) 1,3 1,1-1,7 0,3-0,9

gordura (%) 2,3 1,9-3,2 0,3-0,6

proteína bruta (%) 7,2 8,3-9,6 7,3-8,2

fibra (%) 3,78 0,7-1,1 0,2-0,6

carboidrato (%) 74,0 85-88 77-89

valor calórico (Kcal) 346,00 404,25 367,05

teor de aroma (ng/g

de 2-AP) 980 91,8 nd

compostos fenólicos

(mM trolox/g) 825 79 nd

Fonte: * IAC, 2004 ;** Ruzene, s.d; *** BASSINELO, et al., 2008

A variedade apresenta dez verse mais compostos fenólicos que o arroz integral.

Estudos recentes demonstraram que o arroz pigmentado tem uma vasta gama de atividades

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21

biológicas, incluindo a melhoria da anemia por deficiência de ferro do corpo, antioxidante,

anticancerígeno, antiesclerose, antialérgico. (DENG, et al. 2013)

3.1.2.2. Compostos fenólicos

Os compostos fenólicos fazem parte de uma classe de compostos que abrangem

uma grande diversidade de estruturas, simples e complexas, que apresentam pelo menos

um grupo fenol, sendo um grupo hidroxila em um anel aromático. Aproximadamente

10.000 compostos formam este grupo quimicamente heterogêneo de metabólitos vegetais

secundários. Os metabólitos secundários, embora não sejam imprescindíveis, contribuem

para o desenvolvimento de plantas, por favorecerem a adaptação das mesmas nas relações

planta-planta, planta-animal e planta-microrganismo. Estes metabólitos, por serem

bioativos, protegem contra a radiação ultravioleta e inibem a herbivoria, atraindo animais

dispersores de sementes, entre outras funções (TAIZ e ZEIGER 2004).

Apresentam ação antipatogênica e contribuem na pigmentação e são importantes

para o crescimento e reprodução dos vegetais. Nos alimentos proporcionam aroma, cor,

estabilidade oxidativa e adstringência. Estão presentes no grupo de antioxidantes naturais,

apresentando características antioxidantes por retardar ou inibir a oxidação de outras

moléculas, seja na iniciação ou na propagação das reações de oxidação em cadeia.

Os compostos fenólicos são biossintetizados através de diferentes rotas. As que

merecem mais destaque são a rota do ácido malônico, sendo a primeira rota a de maior

importância para o reino vegetal. A primeira rota realiza a conversão dos precursores de

carboidratos, resultantes da glicólise e da rota de pentose fosfato, em aminoácidos

aromáticos. Eles podem ser encontrados facilmente em plantas e correspondem a um grupo

com uma ampla variedade de fitoquímicos oriundos da tirosina e fenilalanina (SILVA

2013).

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Figura 2. Esquema representativo da via metabólica dos compostos fenólicos

FONTE: TAIZ e ZEIGER, 2004

Está bem documentado que o consumo de farelo de arroz pode produzir um efeito

hipocolesterolêmico, bem como a atividade antioxidante, atribuído, em grande parte, à

presença de c-orizanol e tocotrienóis. Alimentando arroz preto de roedores no lugar de

arroz branco resultou num aumento das concentrações de lipoproteínas de alta densidade

em coelhos hipercolesterolêmicos, o que correspondia a uma redução no tamanho das

lesões ateroscleróticas nos mesmos animais. Um relatório recente mostrou que a

suplementação de dietas aterogênicas com arroz preto pigmentado acarretou na redução de

stress oxidativo e inflamação, além de modulação de lesões ateroscleróticas em ratinhos

deficientes em apolipoproteína E. Estes resultados indicam que os compostos presentes no

arroz preto pigmentado e, ausentes em arroz branco, proporcionam proteção cardiovascular

em adição aos componentes solúveis em lipídios presentes no farelo de arroz. (HU, et al.

2003)

Os compostos fenólicos do arroz incluem derivados de ácidos benzóicos e

hidroxicinâmicos, principalmente o ácido ferúlico e diferulatos, e nos genótipos

pigmentados ainda são encontrados antocianinas e proantocianidinas (DENG, et al. 2013).

Nas culturas de arroz preto, pigmentos estão localizados na camada de aleurona, que é

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caracterizado como púrpura a cor preta escura e representa provavelmente uma mistura de

antocianinas (HU, et al. 2003), estes compostos fazem parte da família de flavonóides. Os

benefícios à saúde relacionados à ingestão de flavonóides estão ligados a duas

propriedades:

(i) inibição de certas enzimas tais como xantina oxidase e aldose redutase (AR). A AR

cataliza a redução do NADOH de vários açúcares, derivando compostos carbonil

para o respectivo açúcar (ex. sorbitol) que age contribuindo para complicações no

diabetes;

(ii) atividade antioxidante (ANDRADE 2007).

3.1.2.2.1. Influência dos compostos fenólicos na microbiota fermentativa

Alguns estudos encontrados na literatura demonstram, num meio de crescimento, a

atividade antimicrobiana obtida de diferentes extratos de compostos fenólicos, a partir de

produtos enológicos, tais como sementes de uva e vinhos tinto e branco, contra bactérias

patogênicas. Os compostos fenólicos contendo principalmente ácidos fenólicos têm sido

descritos por serem mais ativos contra bactérias do que contra leveduras, sugerindo que as

leveduras têm maior resistência à ação destes compostos (GARCÍA-RUIZ, et al. 2008)

Esses compostos bioativos com função antimicrobiana além de isentar resíduo de

antibióticos ou produtos químicos, não geram resistência às bactérias, não afetam a

levedura. Geralmente, é utilizado um único produto, podendo reduzir o consumo de ácido

sulfúrico. A toxicidade apresentada pelos antimicrobianos naturais sobre alguns

microrganismos pode ser atribuída à alta complexidade de sua formula química. Os

agrupamentos alcoóis, fenóis, ésteres, ácidos, aldeídos e terpeno podem explicar sua ação

bacteriostática e/ou bactericida (NOVACOSK e TORRES 2006)

Como mencionado anteriormente, a eficácia dos compostos fenólicos como agentes

antimicrobianos contra bactérias do ácido lático em vinhos, depende da estrutura do

composto e é dependente da dose. Em geral, o efeito antimicrobiano parece ocorrer em

doses mais elevadas do que aquelas geralmente encontradas em vinhos (GARCÍA-RUIZ,

et al. 2008).

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3.1.2.3. Amido

O amido é o produto final do processo fotossintético e constitui reserva de carbono

nas plantas. Sua formação ocorre devido à atividade combinatória de algumas enzimas,

tanto nas organelas fotossinteticamente aivas, onde o amido é uma reserva temporária,

quanto nos amiloplastos (órgãos de reserva).

O amido é a substância que proporciona de 70 a 80% das calorias consumidas pelos

seres humanos. As mais importantes fontes potenciais do amido são os grãos de cereais (40

a 90% do seu peso seco), legumes (30 a 70% do seu peso seco) e os tubérculos (65 a 85%

do seu peso seco). O amido, na natureza, é encontrado como grânulos ou grãos. Estes são

relativamente densos ou insolúveis e se hidratam deficientemente em água fria. As

matérias amiláceas e feculentas são fermentadas após uma hidrólise, denominada

sacarificação, através da qual o amido infermentescível é transformado em açúcares

fermentescíveis. Neste caso, amido pode ser facilmente hidrolisado usando enzimas

amilolíticas, sendo que essas enzimas podem ser facilmente produzidas por micro-

organismos. (RIBEIRO 2011)

3.1.2.3.1. Estrutura do amido

O amido é um polissacarídeo formado apenas por unidades de α-D-glicose,

podendo ser considerado uma homoglucana (ou homopolissacarídeo). O polímero se

apresenta na forma de grânulos com formato e tamanho diferentes dependendo da sua

fonte botânica. É composto basicamente por duas formas de macromoléculas: amilose e

amilopectina (BILIADERIS 1991), sendo que a maioria dos amidos contém

aproximadamente 25% de amilose (WURZBURG 1986).

A amilose (Figura 3) é uma molécula essencialmente linear formada por unidades

de D-glicose ligadas em α-(1→4), com um pequeno numero de ramificações, cerca de uma

em cada 180-320 unidades, ou 0,3 – 0,5% (BULÉON, et al. 1998) . A massa molar desse

polímero é variável conforme a fonte e as condições de processamento empregadas na

extração do amido, podendo conter de 200 a 2000 unidades de glicose. Em uma das

extremidades da cadeia polimérica a unidade terminal de glicose apresenta uma hidroxila

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primária e duas secundárias, assim como um grupamento aldeído redutor na forma de um

hemiacetal interno, sendo denominado de final redutor da molécula (WURZBURG 1986).

Figura 3. Estrutura de uma molécula de amilose

FONTE: Adaptada de ANDRADE, 2007

A amilopectina (Figura 4) é uma molécula ramificada formada por unidades D-glicose

ligadas em α-(1→4) com 5 a 6% de ligações α-(1→6) nos pontos de ramificação (BULÉON, et al.

1998). Apresentam o comprimento das ramificações variável, mais comum entre 20-30 unidades de

glicose (WURZBURG 1986). Em presença de iodo a amilopectina apresenta coloração

avermelhada e é estável em soluções aquosas diluídas.

Figura 4. Estrutura de uma molécula de amilopectina

FONTE: Adaptada de ANDRADE, 2007

As proporções das moléculas de amilose e amilopectina variam entre os amidos de

diferentes espécies vegetais e, mesmo entre amidos provenientes da mesma espécie,

variam de acordo com o grau de maturação das plantas e influem na viscosidade e no poder

de gelificação do amido (BOBBIO e BOBBIO 2003).

O amido representa aproximadamente 74% do arroz, em base seca, sendo os

produtos de sua hidrólise responsáveis pela grande parte do extrato do mosto.

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3.1.2.3.2. Gelificação do amido

O fenômeno de gelificação ou gelatinização do amido é extremamente importante

para vários alimentos. Os grânulos de amido são insolúveis em água abaixo da sua

temperatura de gelificação.Eles expandem um pouco em água fria (10-20%), devido à

difusão e absorção de água dentro das regiões amorfas, entretanto, esta expansão é

reversível pela secagem (BILIADERIS 1991). A água quando penetra nas áreas amorfas

do grânulo, forma ligações de hidrogênio com os grupos hidrófilos livres da molécula de

amido. Essas ligações são fracas, mas o número de ligações é tão alto que impede sua

dissolução. Quando o amido é aquecido progressivamente em presença de água, o grânulo

começa a se hidratar e inchar irreversivelmente. Este processo, associado à ruptura da

estrutura granular é chamado de gelificação. A gelificação é a perda da ordem molecular

no grânulo, associado a mudanças irreversíveis nas propriedades do amido, tais como,

absorção de água, inchaço granular, aumento da viscosidade da mistura e solubilização do

amido, entre outros. Este processo é o primeiro passo para a hidrólise, pois facilita a ação

das enzimas amilolíticas (BeMILLER e WHISTLER 2009).

A temperatura de gelificação é alterada pela razão amilose/amilopectina do amido,

o amido com baixo conteúdo de amilose tem menos regiões amorfas e mais cristalinas, o

que aumenta a temperatura de gelificação e a entalpia endotérmica.

O teor de amilose influencia não apenas a temperatura de gelificação, mas também

fornece informações sobre as mudanças que ocorrem durante o processo de cocção. O

arroz com alto teor de amilose, normalmente, apresenta grãos secos, soltos e com tendência

à retrogradação. Os tipos com baixo teor de amilose apresentam grãos macios e pegajosos

no cozimento. O arroz com teor intermediário apresenta grãos enxutos, soltos e macios,

mesmo após o resfriamento.

Nakazawa, et al. (1984) estudaram o comportamento da gelificação do amido de

arroz em diferentes proporções de água/arroz por Calorimetria Exploratória Diferencial

(DSC), e observaram que o aumento da temperatura de conclusão da gelificação (Tc) é

proporcional ao aumento da proporção de arroz. Segundo Santos (2011) o arroz preto IAC

600, à uma proporção arroz:água de 1:4 a tem uma Tc de 78,68°C.

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3.1.3. Enzimas

As enzimas são muitas vezes consideradas prejudiciais pela indústria de

processamento de alimentos, geralmente precisando ser destruídas por tratamento térmico.

O efeito negativo dessas enzimas se baseia nas alterações indesejáveis na textura, cor,

sabor, aroma e nas características nutricionais que podem ocorrer na colheita e

armazenamento de alguns alimentos. No entanto, a utilização de enzimas na fabricação de

cerveja, na elaboração do queijo, no amaciamento da carne, no cozimento e hidrólise de

proteínas é bem conhecida, tendo sido utilizado há muitos anos.

Enzimas são um grupo de substâncias orgânicas de natureza geralmente protéica

com atividade intra ou extracelular que têm funções catalisadoras de reações químicas que,

sem a sua presença, aconteceriam a uma velocidade demasiado baixa. A utilização de

enzimas em processos industriais pode muitas vezes eliminar a utilização de altas

temperaturas, solventes orgânicos e extremos de pH, enquanto que, ao mesmo tempo

proporcionam o aumento da especificidade da reação, a pureza do produto e reduz o

impacto ambiental (MARTÍNEZ 2014). Isso é alcançado através do abaixamento da

energia de ativação necessária para que se dê uma reação química, resultando no aumento

da velocidade da reação e possibilitando o metabolismo dos seres vivos. A capacidade

catalítica das enzimas as torna adequadas para aplicações industriais, sendo uma delas, na

indústria alimentícia.

As enzimas são denominadas de acordo com o substrato sobre o qual atuam, portanto,

o termo amilase indica a ação sobre o amido (AQUARONE, et al. 2001) . Destacam que as

enzimas podem ser obtidas de fontes animais (pancreatina, pepsina, renina, catalase), de

fontes vegetais (papaína, bromelina, ficina, amilases do malte) ou a partir de micro-

organismos.

Tabela 2. Enzimas derivadas de animais e plantas usadas na indústria alimentícia

Enzimas Origem Ação nos alimentos Aplicação em alimentos

α-amilase Semente de cereal e.g.

trigo, cevada

Goma hidrolisada de

oligossacarídeos Fabricação de pão

β-amilase Batata doce Goma hidrolisada de maltose Alta produção de xarope de malte

Papaína Látex da fruta de

mamão verde

Proteína hidrolisada em

alimentos e bebidas

Tenderização de carne, prevenção de

neblina em cerveja

Bromelina Suco do talo de

abacaxi

Proteína hidrolisada do músculo

e tecido músculo e tecido

conjuntivo

Tenderização de carne

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Ficina Látex do figo Idem a bromelina Idem a bromelina e a papaína mas não

usada extensamente devido ao custo

Tripsina Pâncreas bovino/suino Proteína alimentícia hidrolisada

Produção hidrolisada para condimentos

alimentícios (atualmente substituído por proteinases microbianas)

Quimosina Abomasso (bucho) de

bezerro kappa-caseína hidrolisada

Coagulação de leite na fabricação de

queijo

Pepsina Abomasso (bucho)

bovino

Idem a quimosina, porém com

mais caseína hidrolisada de

queijo

Normalmente presente com a

quimosina como parte do abomaso

(bucho)

Lipase/Esterase Garganta de cabra e

cordeiro; abomasso

Hidrólise de trigliverídeo

(gordura) (bucho de bezerro;

pâncreas de porco

Aroma em produtos de queijo;

modificação da função gordurosa por

interesterificação

Lipoxigenase Grão de soja Oxidação de ácidos grãos não saturados

Melhora da massa do pão em farinha

Lisozima Ovo de galinha

branco

Hidrólise de polissacarídeos da

parede de células bacteriana

Prevenção de defeitos no queijo por

esporos formados de bactérias

Lactose roxidase Soro de queijo;

colostro bovino

Oxidação do íon de tiocianato

para hipotiocianato bactericida Esterilização do leite frio

FONTE: Adaptada da Revista-fi (2011)

As enzimas responsáveis pela degradação do amido estão amplamente distribuídas na

natureza. A seguir são apresentadas as principais enzimas amilolíticas classificadas

brevemente conforme sua ação de acordo com SUMERLY, et al. (2003)

A α-amilse ou 1,4- α -D-glucano gluconoidrolase (EC 3.2.1.1)1 é uma endo-enzima

que cliva moléculas de amilose e amilopectina internamente, hidrolisando ligações α(1-4),

tranformando o amido em α-dextrinas de alto peso molecular. A α-amilse é considerada

uma enzima liquificante, porque reduz drasticamente a viscosidade de pastas gelificadas de

amido.

A β-amilase ou 1,4-a-D-glucano maltoidrolase (EC 3.2.1.2)1catalisa especificamente a

hidrolise de ligações glicosídicas α-(1-4) do amido, a partir de uma extremidade não

redutora (exo enzima) produzindo apenas maltose, açúcar composto de duas unidades de

glicose unidas por ligações α-(1-4), com apenas uma extremidade redutora. A ação da β-

amilase sobre a amilose produz apenas maltose. A β-amilase é considerada uma enzima

sacarificante porque produz açúcares de baixo peso molecular a partir do amido.

A ação conjunta de α e β-amilase sobre a amilopectina, com a impossibilidade de

hidrolisar as ligações α-(1-6), produz as dextrinas-limites, designação genérica para um

conjunto de dextrinas de diferentes pesos moleculares, nas quais todas as extremidades

possuem uma unidade de glicose, ou uma unidade de maltose ligada por ligações α(1-6).

1 IUBMB Enzyme Nomenclarute

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A glucoamilase ou glucan 1,4-α-glucosidase (EC 3.2.1.3)1 é uma enzima tanto

liquificante quanto sacarificante, que hidrolisa completamente o amido em glicose a partir

de uma extremidade redutora. É a única capaz de hidrolisar ao mesmo tempo as ligações

α(1-4) e α(1-6) do amido. O resultado da conversão enzimática do amido por glucoamilase

é a transformação total em unidades de glicose.

As principais enzimas amilolíticas comerciais e os microrganismos produtores, os

pontos de ataque durante a hidrólise e sua utilização estão apresentados na Tabela 3:

Tabela 3. Principais enzimas amilolíticas comerciais

Nome

Comercial Enzimas

Microrganismo

Produtor Ataque de Ligações Utilização

THERMAMYL

120L

α-amilase termo estável

Bacillus licheniformes

α-(1-4) da amilose e da amilopectina

Liquefação do amido e produção de maltodextrinas

BAN 120L α-amilase Bacillus

anmyloliquefaciens

α-(1-4) da amilose e

da amilopectina

Produção de

maltodextrinas

AMG 300L Amiloglicosidase Aspergillus niger α-(1-4) e α-(1-6) do

amido liquefeito

Sacarificação do amido na

produção de glicose

TERMOLASE α-amilase termo

estável

Bacillus

licheniformes

α-(1-4) da amilose e

da amilopectina

Produção de

maltodextrinas

PROLASE α-amilase Não informado Não informado Produção de maltodextrinas

PANZYN GA Amiloglicosidase Não informado Não informado Não informado

PANZYN FA

100 Amilses fúngicas Não informado Não informado

Produção de dextrinas e açúcares fermenteíveis

OPTITHERM

L-340

α-amilase termo

estável

Bacillus

licheniformes

α-(1-4) da amilose e

da amilopectina

Liquefação do amido e

produção de maltodextrinas

TENASE

L-680 α-amilase Bacillus subtilis

α-(1-4) da amilose e

da amilopectina

Liquefação do amido e

produção de maltodextrinas

OPTIDEX

L-300 Amiloglicosidase Aspergillus niger

α-(1-4) e α-(1-6) do

amido liquefeito

Sacarificação do amido na

produção de glicose

FUNGAMYL Sacarificante Aspergillus oryzae α-(1-4) da amilose e

da amilopectina

Produção de maltose,

maltotriose e glicose

FONTE: Adaptado de SUMERLY, et al. (2003)

3.1.3.1. Thermamyl

Thermamyl é um preparado enzimático líquido e concentrado, a base de α-amilase

termoestável procedente de fermentações a partir de uma cepa selecionada de Bacillus

licheniformis não patogênica. Estas enzimas são adequadas em hidrólise de amido

conduzida a temperaturas elevadas, por exemplo, para a liquefação de amido para a

produção de adoçantes, assim como na produção de bebidas alcoólicas e de cerveja. A

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enzima é subsequentemente purificada, concentrada, e formulada às características

desejadas pelo fabricante (MARTÍNEZ 2014).

A fonte resalta as condições desta enzima para trabalhar em temperaturas elevadas (90-

105° C2), ampla faixa de pH (6-8

2) e baixa concentração de Ca

++ no meio (30-60mg/kg

2)

(SUMERLY, et al. 2003). Na indústria de amido, a Termamyl é usada para liquefação

contínua de amido em equipamentos que operam em temperaturas de até 105-110°C,

demonstrando a capacidade desta enzima para agir em temperaturas altas. Na indústria do

álcool de cereais, a enzima é utilizada para a hidrólise do amido em um meio com baixa

concentração de Ca+, o que evita depois, possível problema de incrustação na coluna de

destilação. Na elaboração de cerveja, a Thermamyl é usada para liquefação de adjuntos.

Devido à estabilidade ao calor extremo da enzima, o programa de mosturação pode ser

simplificado, com a possibilidade de aumentar a proporção de adjuntos no processo

(MARTÍNEZ 2014).

Segundo SUMERLY (2003) tem-se para esta enzima as seguintes características:

Aplicações:

- Indústria alimentícia: açúcares, álcool, bebidas e cerveja;

- Indústria de fermentação: vitaminas, aminoácidos, antibióticos, etc;

- Indústria têxtil e adesivos.

Características:

- Aparência: Líquido não viscoso de grau alimentício;

- Cor: marrom escuro;

- Densidade: 1,2 g/mL.

Propriedades segundo o fornecedor:

- Atividade: 120 KNU / g (1 KNU: quantidade de enzimas que hidrolisa 5,26g de

amido por hora, avaliado pelo o método standard da Novozymes A/S).

Parâmetros ótimos:

- pH: 6 – 8.

- Temperatura: 90 - 105ºC.

- Cálcio: 30 – 60 mg/kg.

2 Parâmetros ótimos

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3.1.4. Levedura

As leveduras são organismos unicelulares pertencentes ao reino Fungi, que se

reproduzem vegetativamente por brotamento. O preparo do inoculo é feito a partir desses

micro-organismos, que irão fazer a fermentação.

Culturas selecionadas de Saccharomyces cerevisiae têm recebido atenção especial por

apresentarem qualidades, principalmente para elaboração de bebidas que normalmente não

estão presentes em outros processos de fermentação. Algumas características desejáveis

envolvem:

- rápida iniciação da fermentação;

- conversão eficiente de açúcares fermentescíveis a etanol;

- estabilidade genética durante vários ciclos contínuos;

- manutenção das células por todo o período de fermentação;

- tolerância ao etanol;

- viabilidade durante a estocagem;

- resistência ao dióxido de enxofre;

- formação de componentes do buquê;

- serem capazes de produzir um meio de fermentação livre de quantidades de

metabólitos indesejáveis responsáveis por sabores de enxofre, fenólicos ou de alcoóis

amílicos;

- ser facilmente removidas do meio de fermentação por floculação, centrifugação;

- ser suficientemente viáveis, e depois da recuperação possa ser re-inuculada no

mosto, apresentando um mínimo de autólise e um máximo de confiança.

As Saccharomyces apresentam algumas características indesejáveis, como sintetizar

derivados sulfitados ou mercaptanas, produzir excesso de acetaldeído, ácido acético e

alcoóis superiores, capacidade de formar espuma e produção de uréia, a qual pode ser

convertida a carbonato de etila, que tem ação tóxica ao organismo humano (VENTURINI

FILHO e CEREDA 2001).

O metabolismo das leveduras pode ser tanto respiratório quanto fermentativo (Figura

5), dependendo da presença ou ausência de O2. Quando na presença de oxigênio, a

levedura tende a respirar, metabolizando a glicose pela Via Glicolítica e, posteriormente,

oxidando o ácido pirúvico resultante pela via do ácido cítrico, gerando como subprodutos,

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CO2, H2O e energia suficiente para que a célula sobreviva e se divida. Em anaerobiose, a

célula metaboliza a glicose pela Via Glicolítica e oxida os produtos pela via fermentativa

alcoólica, gerando etanol, CO2 e energia o suficiente para sua sobrevivência.

Figura 5. Metabolismo da glicose por S. cerevisiae. Fermentação alcoólica.

FONTE: Adaptato de SANTOS (2011)

3.1.5. Lúpulo

O lúpulo (Humulus lupulus L.) é uma planta pertencente à familia Cannabinaceae,

que apesar do parentesco com a Cannabis, não contém substâncias alucinógenas. Tem

caráter dióico, ou seja, apresenta flores masculinas e femininas em indivíduos diferentes,

não havendo, assim, planta hermafrodita.

O interesse industrial recai sobre a planta feminina, mais precisamente sobre as

flores, na forma de cone, e seus frutos. Estas inflorescências são utilizadas na indústria

cervejeira para conferir amargor e aroma à cerveja, proveniente de óleos essenciais e

resinas amargas contidas nas glândulas de lupulina.

ALMEIDA E SILVA (2005) destaca como as substâncias mais importantes os

óleos essenciais, as resinas amargas, os polifenóis e as substâncias minerais. O autor

comenta que apesar de serem altamente voláteis, ocorrendo perdas de 96 a 98% no decorrer do

processo cervejeiro, os óleos essenciais conferem ao mosto e à cerveja o caráter aromático do

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lúpulo. Os polifenóis são ricos em substâncias tânicas, protetoras da cerveja. As resinas brandas do

lúpulo, representadas pelos α-ácidos ou pelas humulonas que após isomerização, tornan-se solúveis

e responsáveis pelo amargor. KROTTENTHALER, et al. (2009) destacam que em 2005, o lúpulo

era cultivado em mais de 50 países, mas o cultivo vem sendo reduzido devido à preferência do

ponto de vista global, de diminuição do amargor nas cervejas.

Tabela 4. Composição química do lúpulo em flor

CARACTERÍSTICAS PORCENTAGEM (%)

Resinas amargas totais 12 – 22

Proteínas 13 – 18

Celulose 10 – 17

Polifenóis 4 – 14

Umidade 10 – 12

Sais minerais 7 – 10

Açúcares 2 – 4

Lipídeos 2,3 – 3,0

Óleos essenciais 0,5 – 2,0

Aminoácidos 0,1 – 0,2

FONTE: ALMEIDA E SILVA (2005)

O nível de amargor da cerveja é medido em unidades internacionais de amargor

(IBU, International Biterness Unit). Muitas vezes, para simplificar se menciona

simplesmente como BU. O IBU é uma medida de concentração de iso-α-ácidos em partes

por milhão, ou seja um miligrama de iso-α–ácidos por litro de cerveja .A fonte comenta

alguns dos fatos que influenciam uma boa extração do lúpulo:

- tempo e a força da fervura. Quanto maior o tempo e a força, maior a possibilidade

de transformar os α-ácidos em isso-α-ácidos;

- forma de lúpulo utilizada. Podem ser utilizados pellets ou cones inteiros secos. É

mais fácil extrair os α-ácidos dos pellets porque se decompõem mais rápido.

- densidade do mosto na tina de fervura. Quanto mais elevada a densidade do

mosto, menor será a extração dos compostos do lúpulo.

- quantidade de lúpulo a utilizar. Quanto maior é a quantidade de lúpulo colocada

na fervura, menor será a transformação dos α-ácidos.

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3.2. Processo Cervejeiro (Adaptado)

O processo utilizado na confecção da bebida fermentada de arroz preto foi uma

adaptação do processo cervejeiro tradicional. Levando em consideração a ausência de

enzimas nos grãos de arroz, é utilizada uma enzima exógena termorresistente para a

sacarificação do amido.

a. Moagem do Grão: O arroz é enviado para os moinhos que possuem como função

promover uma diminuição dos grãos de arroz, promovendo a diminuição do

tamanho da partícula do amido, aumentando assim, ocasionando um aumento na

velocidade de hidrólise do amido.

b. Hidrólise Enzimática: Após ser moído o arroz é enviado até os tanques de

hidrólise, é misturado com água e submetido a aquecimento. É importante que a

temperatura ultrapasse 78°C pois esta é a temperatura de gelificação do arroz preto

IAC 600 (SANTOS 2011). É neste momento que será adicionada a enzima

amilolítica que fará liquificação e sacarificação do amido presente no grão.

c. Filtração de mosto: A mistura obtida, também chamada de mostura, atravessa um

sistema de filtros que tem por função separar mosto da mistura. Na torta formada

ainda existem frações de açucares que poderão ser utilizados na fermentação. Após

filtrada, a hidrólise passa a denominar-se mosto.

d. Fervura: Em seguida o mosto é adicionado a um tanque e recebe a adição de

lúpulo. A mistura é fervida por volta de 1 hora, é durante esse intervalo que ocorre

a extração e isomerização de alguns óleos essenciais extraídos do lúpulo.

e. Resfriamento: Após o processo de fervura, o mosto acrescido de lúpulo é resfriado

por trocadores de calor, com o objetivo de receber a levedura que irá promover a

fermentação.

f. Fermentação: Fase em que as leveduras irão consumir os açúcares fermentescíveis,

se reproduzir e produzir álcool e dióxido de carbono, além de alguns ésteres,

ácidos e alcoóis superiores que irão transmitir propriedades organolépticas à

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35

bebida. A fermentação ocorre em tanques fechados, revestidos por uma camisa

externa que permite a passagem de fluído refrigerante (mistura de água com

etanol), para manter o sistema na temperatura desejada, que pode variar de 10 a

25ºC de modo geral.

g. Maturação: Terminada a fermentação a bebida, é enviada aos tanques de maturação

onde é mantida por períodos variáveis a temperaturas de aproximadamente 0ºC. É

nessa fase que ocorre a sedimentação de partículas em suspensão e desencadeiam

reações de esterificação que irão produzir aromatizantes essenciais.

h. Filtração da bebida: Nessa etapa, é acrescido terra diatomácea à cerveja, com o

objetivo de remover as partículas em suspensão e adsorver as substâncias que

conferem coloração desagradável.

i. Acabamento: Após a filtração, a bebida passa por uma fase de acabamento onde irá

receber dióxido de carbono e outras substâncias que irão garantir a qualidade da

bebida e aumentar seu tempo de prateleira, como estabilizantes e antioxidantes.

j. Engarrafamento: Nessa etapa, a bebida acabada é engarrafada, recebendo garrafas

limpas com solução de Ácido Peracético 0,1%(v/v);

k. Pasteurização: O objetivo da pasteurização é eliminar alguns microrganismos que

irão prejudicar as características originais da bebida. Costuma ser realizada a

temperaturas por volta de 62ºC por 20 minutos, de modo que essa seja a

temperatura letal dos microrganismos em questão.

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4. MATERIAIS E MÉTODOS

4.1. Materiais

A fabricação da bebida fermentada e as análises físico-químicas foram realizadas

na Planta Piloto de Bebidas da Escola de Engenharia de Lorena da Universidade de São

Paulo. A Planta Piloto conta com uma microcervejaria, construída em aço inoxidável, pela

Harmo Darin (Mec Bier), empresa fabricante e fornecedora de equipamentos para cervejas

e microcervejarias, sediada na cidade de Pompéia/SP.

As matérias primas a serem utilizadas neste projeto, ordenadas de acordo à ordem

de maior quantidade, foram: água, arroz preto IAC 600 e lúpulo. Foi utilizado, como

inóculo, uma levedura S. cerevisiae de baixa fermentação e, como catalizador para as

reações de hidrólise, uma enzima α-amilase termoestável.

4.1.1. Água

A água utilizada nos experimentos foi procedente do poço artesiano localizado na

EEL. A Tabela 10 apresenta os resultados das análises da água feita de acordo com a

STANDARD METHODS e descrita por AIZEMBERG (2012):

Tabela 5. Características físicas químicas da água do poço artesiano da EEL.

CARACTERÍSTICAS RESULTADOS POSSÍVEL AFETAÇÃO

pH 6.66 Corrosão ou inibição das enzimas

Odor Poucos odores Defeito sensorial (olor)

Sabor Livre Defeito sensorial (teste)

Aspecto Limpo Defeito sensorial (visual)

Turbidez 0.54 UNT Defeito sensorial (visual)

Cor < 5 mg PI/L Defeito sensorial (visual)

Dureza total 26 mg/L Depende do tipo de cerveja a elaborar

Cloretos 1.2 mg/L Corrosão e sabor salgado

Nitratos 0.19 mg/L Câmbios na fermentação (elaboração e sensorial)

Ferro 0.055 mg/L Detecção sensorial (teste e turbidez)

Fonte: (AIZEMBERG 2012)

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4.1.2. Arroz

A quirera de arroz preto do tipo IAC-600, em sacos de 50 kg, com 13,9% de

umidade e 74% de rendimento, doado pelo IAC – Pólo regional de Pindamonhangaba/SP

4.1.3. Lúpulo

O lúpulo utilizado foi doado pela AmBev, unidade de JACAREI-SP. Foi utilizado

lúpulo em péletes da variedade amarga Zeus (11,9% alfas ácidos).

4.1.4. Levedura

Para o desenvolvimento do projeto foi utilizada uma estirpe de levedura S.

cerevisiae, denominada PPB-01 e classificada como levedura cervejeira, tipo lager ou

levedura de baixa fermentação. Em estudos, foi classificada como tolerante a alta

concentração de álcool e é ótima para a fermentação de mostos concentrados. (ABREU, et

al. 2004)

4.1.5. Enzima

E enzima utilizada durante todo o processo de hidrólise do amido foi a

THERMAMYL 120L, uma alfa amilase termorresistente cedida pelo Instituto de

Investigaciones para la Industria Alimenticia de Cuba.

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4.2. Métodos

O trabalho teve como objetivo a utilização de quirera de arroz preto do tipo IAC

600 na elaboração de uma bebida fermentada, lupulada e carbonatada, utilizando a

tecnologia do processo cervejeiro. A fabricação da bebida e as análises foram realizadas na

Planta Piloto de Bebidas da Escola de Engenharia de Lorena da Universidade de São

Paulo. A Planta Piloto conta com uma microcervejaria construída em aço inoxidável pela

Harmo Darin (Mec Bier), empresa fabricante e fornecedora de equipamentos para cervejas

e microcervejarias, com capacidade para elaborar 2hL de mosto.

4.2.1. Preparação da Água de Hidrólise

À água utilizada na hidrólise foram adicionados 1,26g CaCl2/kg de arroz para

tamponamento (ALMEIDA E SILVA 2005) e o pH ajustado até 5,5 com ácido lático 85%.

4.2.2. Moagem do arroz

O objetivo da moagem é expor o interior do grão e assim proporcionar seu contato

com água formando o mosto. No projeto, os equipamentos da microcervejaria utilizados

para obter o mosto incluem um moinho de rolo da Mec Bier (com distância de 0,7mm) e

um tanque de filtração.

4.2.3. Preparo do inoculo

O cultivo da levedura selecionada foi transferido de um tubo de ensaio para um

meio líquido e depois para outros meios líquidos aumentando a cada transferência o

volume de cultivo. O procedimento foi desenvolvido segundo a técnica de transferência

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asséptica descrita por Madigan et al. (2010), e o meio de cultura utilizado foi mosto puro

de arroz com uma concentração de 10°Brix, onde foi adicionado 5g/L de sacarose,

previamente esterilizado. As células foram cultivadas pelo método de inoculações

sucessivas em frascos Erlenmeyer de 100, 500, 1000 e 5000mL, e o volume de mosto em

cada caso foi o 50% da capacidade do envase. Em cada passo o meio foi mantido sob

agitação rotatória de 300rpm a 30˚C por um tempo mínimo de 24h, em uma incubadora

refrigerada marca CLENTEC.

4.2.4. Escala Laboratorial

4.2.4.1. Avaliação da melhor condição de hidrólise

Foi realizada uma avaliação da melhor condição de hidrólise, variando o tempo de

fervura para liquefação do amido e o tempo de exposição do arroz à enzima até a

sacarificação total. Todos os ensaios foram conduzidos em panelas de 5L e 15L em um

fogão a gás industrial.

Foram colocados no recipiente de hidrólise: água, arroz moído e uma alíquota da

solução de enzima para auxiliar na fervura da mistura; após a fervura foi colocado outra

alíquota de enzima e mantido a 90°C até sacarificação total. Os ensaios estão enumerados

na tabela abaixo, onde está representada a massa de arroz, volume de água, volume de

enzima antes e depois da fervura e tempo de fervura:

Tabela 6. Relação massa de arroz e tempo de fervura durante o experimento para avaliação de melhor

condição de hidrólise.

Ensaios marroz

(kg)

Vágua

(L)

Volume

enzima antes

(mL)

Volume

enzima depois

(mL)

Tempo de

fervura (h)

1 0,5 2,0 0,15 0,5 0,5

2 0,5 2,0 0,15 0,5 1

3 0,5 2,0 0,15 0,5 2

4 2,0 8,0 0,6 2,0 1

5 2,0 8,0 0,6 2,0 2

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40

Figura 6. Representação gráfica do tratamento térmico do arroz nos diferentes ensaios

O método de hidrólise utilizado foi o de somente uma rampa, onde a temperatura

foi aumentada até a fervura para liquefação do amido e mantida sob fervura durante o

tempo estipulado e, logo após o desligamento da fonte de calor, adicionado outra alíquota

de extrato enzimático para o início da sacarificação, mantendo a mistura a 90-95°C. O

parâmetro avaliado neste experimento foi o tempo de exposição da segunda alíquota de

enzima durante a sacarificação. Para confirmar a sacarificação foi usada uma solução de

iodo a 0,2N, de acordo com a Figura 7, onde confirma a completa hidrólise do amido, pela

ausência da coloração roxo-azulada característica da reação com a solução de iodo (em

temperatura ambiente).

Figura 7. Teste de Iodo

FONTE: ANDRADE (2007)

0 50 100 150 200 250 300

50

100

Te

mp

era

tura

(°C

)

tempo (min)

ensaios 3 e 5

ensaios 2 e 4

ensaio 1

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41

4.2.4.2. Avaliação dos açúcares fermentescíveis do mosto

Foram avaliadas as fermentações limites visando conhecer a porcentagem de

açúcares fermentescíveis, com estes dados foi possível o cálculo da quantidade de levedura

a ser inoculada na etapa. A relação de levedura/açúcares fermentescíveis utilizada foi de

0,1186g de levedura/1 g de açúcar fermentescível (CARRILLO, CARRILLO e

MARTÍNEZ 2011).

Os microrganismos utilizados na fermentação são estirpes de leveduras S.

cerevisiae, as que utilizam a via metabólica da fermentação alcoólica para ganhar energia,

transformando os açúcares do mosto em etanol e CO2. Além disso, durante o processo de

fermentação ocorre a formação de subprodutos que têm um efeito importante sobre o perfil

sensorial da bebida.

Foi realizado um ensaio (ensaio 5) de 3,0L por duplicata. Os fermentadores

utilizados foram feitos com garrafas PET de 3,5L, inoculados com cepas de PPB-01 e

incubados em geladeira a (10±1)°C durante uma semana; após este período, a temperatura

foi ajustada a (0±1)°C e mantida por duas semanas para maturação.

Durante o período da primeira fermentação foram coletadas amostras a cada 24h e

48h durante a maturação. Foi determinada a concentração de açúcares redutores (AR) de

acordo com MILLER (1959) para todas as amostras coletadas; a concentração de

nitrogênio amínico livre, FAN, (Free Amino Nitrogen) para as amostras do início e do fim

da fermentação, conforme EBC (2002); e para a bebida produzida foi determinado teor

alcoólico por destilação, segundo EBC (2004).

4.2.5. Escala Piloto

4.2.5.1. Cálculo das massas de arroz e lúpulo para volume e °Plato de mosto

Estimando a produção de 130L de mosto com 12°Plato e a produção de uma bebida

com 15IBU (ou BU) de amargor, fazendo algumas considerações de rendimento, realizou-

se os seguintes cálculos:

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42

a. Cálculo da massa de arroz:

extrato seco mosto

*12°P = 12,56kg/hl (dado retirado da tabela de Goldiner Et Klemann)

Logo:

amido

Assumindo que o grão de arroz tenha 74% de amido (massa seca) temos:

arroz

Considerando a eficiência entre hidrólise e filtração de 85%** temos:

arroz

**Esta eficiência foi determinada levando em consideração as perdas durante a

filtração, perdas que consistem no açúcar residual presente no bagaço.

A partir foi estipulado que para uma produção de 130L de mosto deveriam ser

utilizados 26kg de arroz e 104L de água (proporção ideal arroz:água é de 1:4 segundo

SANTO C. D. O. (2011).

b. Cálculo da massa de lúpulo

A unidade de amargor é tida como mg de iso-a-ácidos/L. Tendo como volume final

de mosto 140L e querendo 15IBU, temos que serão necessários 2100mg de isso-a ácidos;

considerando que o rendimento de extração é de 30% e a % de a-ácidos no lúpulo é de

11%, teremos como massa de lúpulo a ser usada igual a 63,6g.

4.2.5.2. Preparo do inoculo

O inoculo foi prepara de acordo com o item 4.2.3

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43

4.2.5.3. Preparo do mosto

Foram pesados 26 kg de arroz preto e moídos em moinho de rolos, com distância

de 0,7 mm entre os rolos. No tanque de mosturação, da marca Mec Bier, foram

adicionados o arroz e 104L de água ajustada como descrito no item 4.2.1. No início do

aquecimento adicionou-se 7,8mL do extrato enzimático Thermamyl 120L para ajudar na

fervura e liquefazer o amido, iniciando sua dextrinização e facilitando a fervura. Quando o

tanque atingiu 96°C (temperatura máxima atingida pelo equipamento) levou-se a mistura

fervendo durante uma hora, para liquefazer o máximo de amido. Após este tempo, foram

adicionados 26 mL de enzimas e, deixado sob 90°C durante 4 horas, mesmo não havendo

sacarificação total do amido, o experimento foi levado para a próxima etapa.

Figura 8. Representação gráfica do tratamento térmico do arroz na Planta Piloto

4.2.5.4. Filtração do mosto doce

O mosto preparado com arroz preto foi submetido à filtração em tanque de aço inox

com capacidade para 120L contendo: agitador, disco filtrante ranhurado Pak Screens,

bomba centrífuga e isolamento térmico. A camada filtrante, denominada “torta”, formada

pela massa não hidrolisada do arroz, foi lavada com 50 L (30L + 20L) de água a 78 °C.

0 100 200 300 400

40

50

60

70

80

90

100

Te

mp

era

tura

(°C

)

Tempo (min)

1ª aliquota de enzima

2ª aliquota de enzima

curva de mostura

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4.2.5.5. Fervura do Mosto

Posteriormente à fervura, mosto doce foi submetido à fervura em tanque de fervura

encamisado, com capacidade para 250 L, provido de aquecimento elétrico e isolamento

térmico, até que fosse corrigida a concentração de açúcares no mosto em 12 °P. Durante os

60 minutos de fervura foram adicionados 63,6 g de lúpulo em pellets.

Logo após a fervura, o mosto foi submetido à recirculação tangencial por cerca de

20 minutos para permitir a precipitação de proteínas e polifenóis. Durante este tempo, o

mosto foi resfriado por meio da troca da água da camisa por água fria corrente. O volume

recuperado desta etapa foi de 140L.

Após a recirculação, o mosto foi mantido em repouso por 24 horas, sob

resfriamento a 20°C. Ao final deste período, foi retirado o sedimento de proteínas e

polifenóis, denominado “trub”, e o mosto transferido para o tanque de fermentação.

4.2.5.6. Fermentação

Após o resfriamento e remoção do trub, foram recuperados 130L de mosto. A

fermentação foi conduzida em tanque de fermentação de 200 L, equipado com controlador

e indicador digital de temperatura e registro para retirada de amostra.

Depois da transferência do mosto para o fermentador, iniciou-se a aeração manual

do meio por recirculação durante 10 minutos. Após este tempo, foi adicionado o inóculo e

a temperatura regulada em 10°C. Foram retiradas amostras a cada 12horas e feitas

determinações dos teores de álcool e de extratos por meio do analisador de bebidas Anton

Paar, modelo Beer Analyzer 2 (como o equipamento está calibrado para análises de

cervejas Pilsen e não há padrão para a bebida em questão, ele só foi utilizado para

determinação do ponto final da fermentação).

Subsequente à constatação d o término da fermentação, o excesso de leveduras foi

retirado pelo fundo do fermentador e a temperatura ajustada em 0 °C para o início da

maturação, permanecendo assim por 14 dias.

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4.2.5.7. Filtração/Carbonatação/Pasteurização

Ao término da maturação, a bebida obtida foi filtrada em um filtro de platôs da Mec

Bier, tendo como auxiliar de filtração, terra perlítica Dicamex 427, sob pressão de 2

kgf/cm2. Depois de filtrada, a bebida foi armazenada em tanque para carbonatação que foi

feita com injeção de CO2 a 2 kgf/cm2 durante 3 dias. Feito isso, a bebida foi engarrafada

em garrafas âmbar limpas, esterilizadas com Ácido Peracético 0,1%v/v e pasteurizadas a

62°C por 20min.

4.2.5.8. Análises físico-químicas da bebida

Foram determinados: teor alcoólico por destilação (EBC, Beer 2004); pH, medido

no aparelho da marca Marconi, modelo MA-522; massa seca (LUTZ 2008) e coloração

EBC (EBC, Wort 2002).

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5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1. Avaliação da melhor condição de hidrólise

O tempo total de hidrólise foi determinado utilizando diferentes ensaios onde houve

variação dos tempos de fervura e da escala do processo. Os tempos para hidrólise total do

amido para cada ensaio pode ser observado na Tabela 7:

Tabela 7. Relação massa arroz, tempo de fervura e tempo de exposição do amido à enzima durante

sacarificação

Ensaios marroz (kg) Tempo de

fervura (h)

Tempo para

hidrólise total (h)

1 0,5 0,5 4

2 0,5 1 1,5

3 0,5 2 1,5

4 2 1 5

5 2 2 3

A partir dos resultados obtidos, pode ser visto a influência da fervura na liquefação,

havendo uma diminuição do tempo de exposição da enzima para sacarificação do amido;

isso se aconteceu porque utilizados grãos integrais quebrados3 ao invés de farinha,

necessitando de uma energia cinética maior, no caso a fervura, para um aumento da

pressão interna dos grãos de amido, os “explodindo”, facilitando a solubilização e posterior

quebra dos grânulos. Pôde-se também observar um aumento no tempo requerido para

hidrólise com aumento de escala; isso se deu pela dificuldade de homogeneização e de

manutenção da temperatura acima de 90°C.

5.2. Avaliação dos açúcares fermentescíveis do mosto

No ensaio para avaliação de açúcares fermentescíveis foi utilizado o método de

DNS, segundo Miller (1959), para análise de cada amostragem feita. O cálculo de açúcares

3 Não foi utilizado farinha pois se precisava da formação de uma torta filtrante após a mostura, presença de

farinha acarretaria no entupimento do tanque de filtração

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fermentescíveis é a diferença entre açúcares redutores (AR) contidos no início e no final da

fermentação.

Foi quantificada a concentração de amino nitrogênio livre (FAN), segundo EBC

(2002), do início e do final da fermentação. Verificação feita para avaliar a existência de

fontes de nitrogênio suficientes para fermentação total dos açúcares provenientes da

sacarificação, visto que não houve utilização de proteases, nem suplementação do mosto.

Avaliando a necessidade do emprego de etapa complementar à sacarificação

Tabela 8. Média dos valores de concentração de açúcares redutores observados durante a fermentação e de

amino nitrogênio livre lidos no início e fim da fermentação.

Tempo

(dias)

Concentração

de AR (g/L)

FAN

(mg/L)

0 57,96 29,32

1 53,2 -

2 49,45 -

3 47,35 -

4 43,85 -

5 40,65 -

6 37,12 -

7 35,11 -

8 33,57 -

10 32,4 -

12 32,02 -

14 30,51 -

16 27,56 -

18 27,01 -

20 26,51 -

21 27,14 9,35

Figura 9. Gráfico de concentração de açúcares redutores pelo tempo de fermentação (consumo de substrato).

0 5 10 15 20 25

25

30

35

40

45

50

55

60

Co

nce

ntr

açã

o d

e A

R (

g/L

)

Tempo (dias)

pontos experimentais

curva ajustada

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Analisando os dados foi verificado que, para as condições empregadas durante a

hidrólise do amido, foram liberados 29,32 mg/L de FAN. O FAN contido na mistura foi

suficiente para alimentação do metabolismo celular do agente fermentativo utilizado para

consumo de 30,82g/L de açúcares porém é inconclusivo para avaliar se o agente limitante

da fermentação é a quantidade de açúcares. Havendo a necessidade de outros ensaios com

suplementação de nitrogênio, seja ele com adição de uma protease (ex.: papaína), durante o

tratamento térmico dado ao arroz, ou agente de natureza química.

O teor alcoólico obtido a partir da fermentação foi quantificado por destilação,

segundo EBC (2002), foi de 3% (v/v). Durante a quantificação de alcoóis há recuperação

de alcoóis superiores, etanol e inferiores, não podendo utilizar este valor para cálculos de

rendimento da fermentação. Devido à falta de recursos para quantificação de açúcares e

etanol e impossibilidade de quantificação de células, devido à alta capacidade de

floculação da cepa utilizada e do meio não ser agitado para evitar aeração, não foram feitos

estudos da cinética de fermentação.

5.3. Fermentação em escala piloto

Considerando o valor calculado de açúcares consumidos no item 5.2 como açúcares

fermentescíveis totais recuperados no mosto, e o FAN recuperado durante a hidrólise como

suficiente para fermentação foi conduzida a produção da bebida em escala piloto.

No início da fermentação o mosto tinha concentrações de com 53,75g/L de AR e

32,92mg/L de FAN, no final, foi obtido um fermentado com 31,15g/L de AR e 10,54mg/L

de FAN. Houve uma queda significativa do pH, de 5,4 a 4,4, devido provavelmente à

produção de ácido, como previsto por ANDRADE (2007) e SANTOS (2011).

Observou-se a coloração do mosto e do fermentado, onde houve uma perda na

intensidade, sendo que a primeira foi roxa e a segunda avermelhada. Isso ocorre porque

diferentes linhagens de leveduras tem se mostrado capazes de adsorver antocianinas na

parede celular. O mecanismo envolve interações hidrofóbicas, considerando que

antocianinas com alto grau de metoxilação são mais propícias do que as hidroxiladas, além

de diferentes polaridades e porosidades da parede celular (MORATA, et al. 2003). Fato

que pode ser comprovado pela coloração da levedura que, após a fermentação, ficou lilás.

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No processo foi obtido 1hL de uma bebida com teor alcoólico de 1,9%

(v/v), pH4,4, coloração 18,6 unidades EBC ou 9,44ASBC, 9,85% de massa seca.

Sensorialmente pode-se dizer que a bebida carregou tanto sabor quanto odores

característicos do arroz preto e apresentou coloração avermelhada.

Com o término da produção da bebida pôde-se fazer o cálculo de rendimento desde

a moagem até a chegada do mosto no fermentador:

Onde,

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6. CONCLUSÃO

De acordo com os dados experimentais obtidos durante a realização deste trabalho

pôde-se avaliar as dificuldades encontradas durante a sacarificação do amido, onde a

fervura antes da hidrólise e a homogeneização do sistema são fundamentais para o

processo. É importante ressaltar que a não escolha de outros tipos de enzimas amilolíticas

no processo se deu para obtenção uma bebida final adocicada, podendo, assim, mascarar

sutilmente o sabor e odores acentuados e incomuns do produto final.

As limitações na hidrólise, as dificuldades encontradas durante a filtração do mosto

e a grande quantidade de trub retirados depois da fervura, justificam a perda de 34,72% no

processo. Perda que pode ser minimizada com a adição outra etapa de hidrólise utilizando

diferentes enzimas amilolíticas ou utilização de uma fonte alternativa de açúcares e a

adaptação do sistema de filtração do mosto, visto que o arroz cozido forma uma torta de

filtração pegajosa, dificultando a melhor recuperação dos açúcares.

A bebida produzida possui baixo teor alcoólico, 1,9%v/v, e é isenta de glúten,

fatores que a qualificam ideal para celíacos. O emprego deste processo poderá contribuir

para o desenvolvimento de uma tecnologia de produção de bebidas alcoólicas e aproveitar

as quireras de arroz que não possuem valor no mercado.

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ANEXO A

LAUDO DE ANÁLISE FÍSICO-QUÍMICA DO ARROZ INTEGRAL IAC 600

PRODUZIDO POR FRANCISCO RUZENE

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