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Queridos fiéis, Ainda não começámos com as obras na nova igreja. O arranque não é tão fácil e depende de factores nos quais manda o padre superior. Um dos factores é o dinheiro. Deixem-me aproveitar para vos informar sobre alguns pormenores que se refe- rem ao dinheiro. Gostaria de vos explicar como os montantes entram e saem na Fraternidade em Portugal. Não o faço para pedir dinheiro, porque sei muito bem, que uma grande parte dos fiéis que frequentam as nossas missas, não têm mui- to à sua disposição; antes falo para saberdes mais ou menos, qual é a situação económica, pois ela também influi sem dúvida nas obras a realizar no armazém. Com respeito a estas obras, quer dizer à futura igreja que comprámos há um ano, devo dizer-vos que houve uns donativos, muito poucos, mas bons, que no entan- to, apesar da generosidade destas pessoas, não constituem senão uma gota do que faria falta. Mais pessoas deveriam decidir-se a darem alguma ajuda. Mas isto é um assunto que pelo menos não toca o nervo da vida da Tradição em Portugal; se não começarmos as obras agora, começaremos mais tarde. Outra coisa, mais concreta e imediata é o seguinte: Para dizê-lo numa palavra, as despesas com o apostolado da Fraternidade em Portugal são maiores do que as ajudas que entram. Isto acontece sem culpa da Fraternidade. Pode pensar-se que a razão está relacionada com o custo das via- gens entre Portugal e Espanha; mas estas viagens são um assunto, ao qual não podemos fazer alguma mudança; os superiores da Casa Geral decidiram assim. Não vale a pena, por esta razão ficarem perturbados. . A sua posição deve-se ao facto de a quantidade de fiéis em Portugal não justificar a permanência de dois Sacerdotes. Deixem-me, então, explicar um pouco a situação económica. Com as viagens de carro em Portugal, quer dizer aos sítios da missa, gasta-se por mês pouco menos de 200,- €, incluindo portagem a Fátima (mínimo três vezes ida e volta) e com- bustível; com as viagens em avião, que são três (idas e voltas) por mês, gasta-se quase 300,- € (um voo ida e volta custa menos de 100,- €, mas quando há coisas especiais, sobe a meio do mês); a deslocação mensal em comboio custa 70,- € (Porto ida e volta uma vez, e Madrid aeroporto a casa); depois há um seguro que custa 56 € por mês; as despesas com água, gás, luz e telefone pelas casas em Fátima e em Lisboa é de 240,- € (em Fátima não há despesas com gás, nem com telefone), e ainda 100,- € pela revista “Semper” todos os três meses. Além disso houve nestes cinco meses reparações em Fátima no valor de 750,- € (o valor real foi mais alto, mas alguém ajudou) e duas reparações do carro no valor total

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Queridos fiéis,

Ainda não começámos com as obras na nova igreja. O arranque não é tão fácil e depende de factores nos quais manda o padre superior. Um dos factores é o dinheiro.

Deixem-me aproveitar para vos informar sobre alguns pormenores que se refe-rem ao dinheiro. Gostaria de vos explicar como os montantes entram e saem na Fraternidade em Portugal. Não o faço para pedir dinheiro, porque sei muito bem, que uma grande parte dos fiéis que frequentam as nossas missas, não têm mui-to à sua disposição; antes falo para saberdes mais ou menos, qual é a situação económica, pois ela também influi sem dúvida nas obras a realizar no armazém. Com respeito a estas obras, quer dizer à futura igreja que comprámos há um ano, devo dizer-vos que houve uns donativos, muito poucos, mas bons, que no entan-to, apesar da generosidade destas pessoas, não constituem senão uma gota do que faria falta. Mais pessoas deveriam decidir-se a darem alguma ajuda.

Mas isto é um assunto que pelo menos não toca o nervo da vida da Tradição em Portugal; se não começarmos as obras agora, começaremos mais tarde. Outra coisa, mais concreta e imediata é o seguinte:

Para dizê-lo numa palavra, as despesas com o apostolado da Fraternidade em Portugal são maiores do que as ajudas que entram. Isto acontece sem culpa da Fraternidade. Pode pensar-se que a razão está relacionada com o custo das via-gens entre Portugal e Espanha; mas estas viagens são um assunto, ao qual não podemos fazer alguma mudança; os superiores da Casa Geral decidiram assim. Não vale a pena, por esta razão ficarem perturbados. . A sua posição deve-se ao facto de a quantidade de fiéis em Portugal não justificar a permanência de dois Sacerdotes.

Deixem-me, então, explicar um pouco a situação económica. Com as viagens de carro em Portugal, quer dizer aos sítios da missa, gasta-se por mês pouco menos de 200,- €, incluindo portagem a Fátima (mínimo três vezes ida e volta) e com-bustível; com as viagens em avião, que são três (idas e voltas) por mês, gasta-se quase 300,- € (um voo ida e volta custa menos de 100,- €, mas quando há coisas especiais, sobe a meio do mês); a deslocação mensal em comboio custa 70,- € (Porto ida e volta uma vez, e Madrid aeroporto a casa); depois há um seguro que custa 56 € por mês; as despesas com água, gás, luz e telefone pelas casas em Fátima e em Lisboa é de 240,- € (em Fátima não há despesas com gás, nem com telefone), e ainda 100,- € pela revista “Semper” todos os três meses. Além disso houve nestes cinco meses reparações em Fátima no valor de 750,- € (o valor real foi mais alto, mas alguém ajudou) e duas reparações do carro no valor total

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de quase 700,- €. Todos os gastos, nos últimos cinco meses, ficaram em pouco menos de 7.000,- €. O dinheiro que entrou naquele período foi menos de 3000,- €. Este valor resultou das colectas dominicais, da assinatura da Semper (ainda não pagam todos os assinantes que são trinta) e de alguns donativos (mas em valor relativamente baixo). Às vezes acontece uma “correcção” da situação por um donativo bastante grande, devido à generosidade extraordinária de algum Fiel, como aconteceu no fim do ano passado, dando alguém 2000,- € de uma vez. Agradecemos por uma tal ajuda!

Graças à generosidade, sobretudo de alguns que deram grandíssimas ajudas, desde o princípio da Fraternidade em Portugal, foi possível comprar um edifício, o tal armazém. Como os Fiéis sabem, os sacerdotes procuraram durante anos comprar uma igreja ou infra-estrutura que pudesse ser transformada em cape-la. De momento temos o que é possível. Porque é que foi tão difícil? Porque o montante de dinheiro poupado não permitiu facilmente comprar qualquer coisa. Várias pessoas disseram nos anos antecedentes à compra, que agora estamos numa altura propícia e que é agora muito fácil comprar uma igreja. Assim disse-ram, mas estavam enganados! Não era “muito fácil”! Só se tivéssemos duas vezes mais, então teria sido “muito fácil”.

Do dinheiro poupado ficou um resto depois da compra. Este “resto” está agora a ser “comido” da maneira que acima descrevi. Como já disse: não vou pedir mais dinheiro aos Fiéis de Portugal. Mas queria que soubessem desta situação. Pesso-almente, não sei o que é que acontecerá quando a reserva estiver a zero. Esta si-tuação, graças a Deus, neste momento não é ainda iminente, mas devemos lem-brar-nos que desejamos fazer obras de construção na futura igreja. Uns dizem: “quando o dinheiro já não chegar, então o sacerdote já não irá a Espanha”. Não sei se têm razão, ou se antes a consequência não será outra. Esperemos que não.

Queridos, para que a minha palavra não seja somente sobre o “mamon”, per-mito-me lembrar que o mês de Maio é o mês de Maria e o mês de Junho está dedicado ao Sagrado Coração de Jesus. Este presente número da Semper já não chegará às vossas mãos nos dias de Maio, mas pelo menos em Junho convém lembrarmo-nos do Amor Divino que se dirige à humanidade! É um belo costume rezar todos os dias a Ladainha do Sagrado Coração neste mês . Cremos nesta Caridade Divina, como também São Paulo e monsenhor Lefebvre disseram “cre-didimus caritati”. O Sagrado Coração é rico para os que O invocam!

Que Deus vos abençoe,

padre Anselmo

Desenvolvimento ou contradi-ções?

AoCatólicoconvenientementeinfor-mado,ecommais forterazãoaosa-cerdote, ao religioso, impõe-se hojeaescolhaseguinte:ouresistirànovacorrenteeclesialeentãosertaxadoderebeliãoàautoridadeou,adaptando-seaestaorientaçãonegaripso factoainfalibilidadedaIgreja,queatéoVati-canoIIemlugarde“guardar,transmi-tireexplicarfielmenteodepósitodaFé” (Primeiro Concílio do Vaticano)teriaduranteumtãograndenúmerodeséculosignorado,erradoejurado,sem saber o que ela devia crer” (SãoVicentedeLérins,“Commonitorium”).

Aadaptaçãoànovaorientaçãoeclesialésemdúvidanenhumamaiscómodaànaturezahumanaqueodeiaoesforçoealuta,maséocaminhomaisdirectoparaaapostasiaeestáigualmenteemoposiçãoaomaiselementarbomsen-so.Admitindoqueascontradiçõesac-tuaiscomoquesemprefoicrido,en-sinadoeportantopostoempráticanaIgreja,venhadestamesmaIgreja,porquêsedeveriaprestar féhojeaumainstituição que se enganou ontem epoderiaentãoenganar-seaindahoje?

EstesmesmosinovadoresqueimpõeassuasinovaçõesemnomedaIgrejaparecemressentir-sedopesodecisivodestaobjeçãoeporissoafirmamque

as novidades actuais “se inscrevemnaúnicaTradiçãoda Igreja” (cardealRatzinger), como sendo desenvolvi-mentos da única e imutável verda-de. Mas não basta afirmar que umanovidade se inscreve na Tradição daIgreja;énecessárioqueelaseinscre-va realmente e isto é evidentementeimpossível quando estas novidadesdevemabertamentechocar-secomaTradição. A menos que se queira re-nunciaràlógica,comoseuprincípiode não contradição e às declaraçõessolenesdoprimeiroConcíliodogmá-ticodoVaticanosobreaimutabilida-desubstancialdaTradição(Dz�800),incorrendonaexcomunhãodocânoncorrespondente (Dz �8�8). Na reali-dade,aúnicaeimutávelVerdadenãosepodedesenvolver,eportantopro-gredir,comojamaisprogrediuduran-tedoismilanos,pormeiodecontra-dições. As contradições doutrináriasnaIgrejasempreforamdenominadaserros ou heresias, elas não podemserpropagadascomosendoprogres-so e desenvolvimentos doutrinais anão ser no triunfo actual da heresiamodernista, cujaessência reside jus-tamente na consideração de que “na tradição, tudo é relativo e sujeito às mu-danças”(SãoPioX,“Alocuçãoconsis-torial”,A.A.S.,t.40,�907,p.��68).

Portanto, às almas rectas, às quais a“perversão modernista da inteligên-

Odeverderesistir

Artigo do jornal Sim Sim Não Não,Janeirode1993

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cia”(MarceldeCorte)aindanãotirouo“medodacontradição”(R.Amerio),impõe-se o dever de resistir à novaorientação eclesial porque ela está,em todos os domínios, em contradi-çãocomopassadodaIgreja.

A arma dos inovadores

Para evitar ou ao menos conter estaresistência, os autores e partidáriosdestareviravoltamodernistanaIgrejarecorreram a numerosos meios, massobretudoàarmadaobediência.

Mas então levantam-se três pergun-tas:

�.Obediênciaaquê?,��.Queobediên-cia?,�.Obediênciaaquem?

Obediência a quê?

Desde o Concílio, a Igreja não deumais uma ordem que tenha carac-terísticas próprias duma ordem demodoquesesaibacomexatidão:qualéoobjetodestaordemeseolegisla-dortemvontadedeobrigar.

A própria reforma litúrgica, que foidurantelongotempoopontonevrál-gicodoconflito,nãoteveumarealecorrecta promulgação jurídica, se écerto que a promulgação duma novaleidevaserfeita“de tal modo que reve-le a vontade do legislador de estabelecer a lei, e que ele coloque a comunidade em condições de conhecê-la”(RobertiPala-zzini,“DicionáriodeTeologiaMoral”,verbete:promulgaçãodaLei).Ora,opróprioCardealBugnini,factotumdareforma, tratando da “obrigação do

[novo] missal” nos demonstra quenãoéjamaisoportunoresponderaospedidos instantes dos Bispos parauma declaração oficial. Quando, àinstância de D. Sustar, Secretário doConselho das Conferências Episco-paisEuropeias,aCongregaçãoparaoCultoelaborouumarespostaeasub-meteu ao Secretário de Estado, esterespondeua�5deOutubrode�97�(prot.no.��4�874):“Dada a delicadeza do assunto, objecto de polémica, parece oportuno que Vossa Excelência respon-da àquela que vos escreveu de maneira pessoal por uma carta não oficial sem número de protocolo”:“Queira-se escla-recer o problema sem ofender ninguém”,escreveD.Bugnini.

Emseguida,emfacedasdificuldadescriadasporcertosgrupos,aosBisposlocais, a Sagrada Congregação paraocultopropôso recursoàComissãoparaainterpretaçãoexactadosDocu-mentos do Concílio, mas a �0 de ju-nhode�974(no.��589��)aSecretariade Estado repelia a proposição pelarazão textual que uma resposta fa-vorávelàreformateriasidoencaradacomo“um acto odioso nas relações com a tradição litúrgica”.“Ainda uma vez se queria evitar ofender alguém”,comentaD. Bugnini (A. Bugnini, “A Reforma“A ReformaLitúrgica”, �948-�975). Maneira in-crível de promulgar uma reforma (equereforma):nemavontadedolegis-ladordeobrigarfoijamaisnotificada,nemacomunidadefoipostaemcon-diçõesdeconhecerestavontadesemequívocopossível.

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E não apenas no domínio litúrgico,masemtodososdomíniosoreformis-moprogrediu“mais por silêncio calcu-lado e por omissões”doqueporordensexplícitas(Pe.Calmel,O.P.)segundoatácticaprópriadosmodernistas(cf.S.Pio X, “Pascendi”). Obediência a quêentão?Obediênciaaumanovaorien-taçãoeclesial impostade facto,atra-vésdeindicaçõessempreinsuficientespara justificar qualquer reação, massempre suficientes para promover oaniquilamento da tradição em todosos domínios. Na prática, jamais seimpôsexplicitamenteaocatólico,emnomedaobediência,umanegaçãodasuaprópriafé(casoemqueeleestariaemcondiçõesdeavaliaroalcancedaobediênciaquelheeraexigidaeteriasido colocado em circunstâncias quemotivariamasuanecessáriarecusa).Masfoi-lheimpostaeéimpostaumanova orientação eclesial que, impli-candoanegaçãodetudooqueaIgrejaensinouefezsobreabasedestesprin-cípiosdoutrináriosatéoVaticanoII,conduzdirectamenteàapostasia.

Que Obediência?

Na ausência de ordem que tenha ascaracterísticas que deve ter toda or-dem, não se pode falar de obediên-cia no sentido próprio. Mas quandose quer falar também de obediência,como de facto se fala, a contradiçãoentreanovacorrenteeclesialeaanti-gaétãoevidente(impõe-sehojeoquesedeploravaontemevice-versa)quesepedeaoscatólicosumaobediência

ilimitada quanto ao objecto e cegaquantoaograu.Ora,aobediênciaili-mitada—amoralcatólicano-loensi-na—sóaDeussedeve,senhorsupre-modetodosedetudo,aopassoqueaobediênciaquesedeveaoshomens,inclusiveaoPapa—élimitada:

�.Pelodireitodivino,naturaleposi-tivo;

��.Portodaautoridadesuperior;

�.Pelamatériasubtraídaaoseupoder(cf. “Enciclopédia Católica”, verbete:obediência e Roberti Palazzini, “Di-cionáriodeTeologiaMoral”,verbete:obediência).

Assim,oPapa,sóouemConcílio,nãopode contradizer o que está contidoexplicita ou implicitamente na Divi-naRevelação,porqueaautoridadedoPapanestecasoélimitadapelodireitodivino.Elenãopodesozinho,mesmoemConcíliocomosBispos,contradi-zeroquejáfoidefinidooudadocomocertoporseuspredecessoresouoquefoi sempre e universalmente crido eensinadonaIgreja.Comefeito,istoéuma matéria subtraída ao seu podereaopoderdoConcílio,oqual,nestedomínio,podeexercerumjulgamen-to confirmativo, jamais dubitativo,exactamentecomoumjuizquenotri-bunaltemopoderdeaplicaralei,masnão de discuti-la (cf. “Dicionário deTeologiaCatólica”,verbete:ConcílioTIII,col.665).Efinalmente,domesmomodoquenãosedeveobediênciaaosbisposcontraoPapa,porqueaauto-ridade do Papa é superior à dos Bis-

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pos, deve-se ainda menos obedecerao Papa contra Nosso Senhor JesusCristo,porqueaautoridadedeCristosuperaefundamentaaautoridadedoPapa.

Conclusão:opróprioPapanãotemopoderdeexigirdoscatólicosestaobe-diênciasemlimitesqueseexigedeleshojeemnomedoConcílioVaticanoII:ninguém, e ainda menos a autorida-deinstituídaporDeus,podeimporaapostasia,sejaelapráticaouteórica.

Amoralcatólica,ademais,ensinaqueaobediênciacegaque“crê firmemente sem examinar o objeto [da ordem]” (L.Billot, S.J., “De Ecclesia”, T. XVII), édevidasomenteaDeuseaoMagisté-rioinfalíveldaIgreja,oqualnãoestáde nenhum modo implicado nem nanovaorientaçãoeclesial,nemmesmonoConcílio.

Porconseguinte,ninguém,nemmes-mo o Papa, tem o poder de exigirdos católicos a obediência cega (semexame do objeto) que se exige hojedeles em nome do Concílio pastoralVaticano II, como se se tratasse deum super-Concílio, para falar comoo Cardeal Ratzinger, ou então dumConcílio não apenas infalível (o queelenãoé),masmesmotendoodireitodecontradizer(oqueéilícitomesmoparaosconcíliosdogmáticos)aSagra-daEscritura,oMagistério constanteda Igreja, todos os Papas e todos osConcíliosdogmáticosemconjunto.

Obediência a quem?

A pergunta não é de todo estranha,se pensarmos que a autoridade deinstituiçãodivinana Igrejaestáhojeparalisada por uma falsa colegialida-dequereduziuaautoridadedoPapaaumpapelderepresentação,esubme-teuaautoridadededireitodivinodosbispos às Conferências episcopais,deinstituiçãohumana.Elafezassimdestas duas autoridades o disfarcedosneo-modernistasque,atravésdosdiferentes órgãos colegiais, exercemhojeopoderefetivonaIgreja.

Atácticaprópriadosmodernistasdeseinfiltraremportodaaparteedesemanterem ocultos o mais possível,encontrouumaaplicaçãonogovernopós-conciliar da Igreja, ainda maisdoquenosdocumentosdoConcílio.Nestes documentos o modernismoestá presente por toda a parte, masestá também cuidadosamente es-condido pela presença de fórmulasirrepreensíveis, que contrabalançamasfórmulas inquietantes(domesmomodoque,inversamente,textosirre-preensíveisestãoàsvezesneutraliza-dosporumasimplesnota).De igualmaneira,nopós-concílio,osneo-mo-dernistaslegislamemtodososdomí-nios,massoba coberturadaautori-dadelegítima.

Segue-seque,emrealidade,ocatólicoque,comoédeseudeverdeconsciên-cia,resisteànovaorientaçãoeclesial,resistenãoàautoridadelegítima,masao poder oculto que a suplantou e a

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manipula. E pouco importa que estatransferênciailegítimadaautoridadeparaosórgãoscolegiaissejaalcançadacom o acordo, mais ou menos cons-ciente,dosdetentoresdaautoridadelegítimadivinamenteinstituída:“não está no poder do homem renunciar a um direito divino”(PioIX,“Quartussupravigesimum”).

O dever

Entreaquelesquenãoestãodeacordo,noseuíntimo,comanovaorientaçãoeclesial e que não se sentem obriga-dosaobedecer-lhe,muitosjustificaminércia e passividade repetindo parasieparaoutrosque“portae inferi non praevalebunt” (as portas do infernonãoprevalecerãoabsolutamentecon-traela.Mt.�6,�8):aindefectibilidadefoiprometidaàIgrejaeistohojedis-pensaria de resistir ou de combateraos que trabalham por destruí-la dedentro(poissetratarealmentedisto,dadoquenãosepodecompreenderaauto destruição da Igreja no sentidopróprio,umavezqueaIgreja,mesmoquandoseusministrosamaltratam,ésempre a esposa fiel do Verbo Encar-nado). Entretanto eles não pensamqueaindefectibilidadefoiprometidajustamenteàIgrejaenãoaoshomens(daIgreja),nemmesmoapresençadaIgrejaemtaloutalpartedomundo.AhistóriadaIgrejaestáaíparaatestá-lo:o“nãoprevalecerão”nãoimpediuque a África católica fosse apagadapela invasãomuçulmana;nãosalvoudocismaasjágloriosasigrejasorien-

tais,não impediuquea Inglaterra,aSuécia,aSuíça,osPaísesBaixos,Ale-manha e outras nações européias jácatólicas tombassem com a pseudo-reforma protestante no cisma e naheresia. Porque se é verdade que “asportasdoinfernonãoprevalecerão”equeapromessadeDeusnãopodedei-xarderealizar-se“isto não significa que a promessa se deva entender no sentido fatalista e que os membros da Igreja, em particular os sacerdotes, devam deixar a Deus apenas o cuidado de manter e de guardar a Igreja, sua Fé e seus costumes. Mesmo aqui Deus se serve das causas segundas. A Igreja universal é segura-mente sustentada e guardada por Deus, mas a vida e a duração das igrejas parti-culares dependem, em grande parte, da cooperação dos fiéis. Partes importantes da Igreja se perderam por culpa dos fiéis e mais ainda por culpa dos sacerdotes”(Bartmann, “Dogmática”, V. II, pg.449).

Daíodeverque,hoje, incumbeato-dos sobretudo ao clero e aos religio-sos,masigualmenteaossimplesfiéis,deresistirànovacorrenteeclesial.

Que resistência?

A resistência que exigem as circuns-tâncias actuais é uma resistência ex-terna e interna. Recusar o compro-missocomanovaorientaçãoeclesial,conservaraféeaspráticasrecebidaspelaIgrejaantesdacriseactual,mani-festarabertamenteseuprópriodesa-cordo,testemunhar,emsuma,suafi-delidadeàféCatólicaenãodeixarque

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osdemolidores,nointeriordaIgreja,tenhamaconsciênciatranquila:tudoissoéoquechamamosresistênciaex-terna. A que denominamos resistên-ciainternanecessitadeumraciocíniomaislongo.

Dia ��� de dezembro de �99�� foi ooitavoaniversáriodofalecimentodoPadreFranciscoMariaPutti,quefun-dou o periódico Si Si No No para re-confortaroshesitanteseosisolados,para despertar os adormecidos, paraser uma repreensão pública aos de-molidoresda Igrejaepararelembrarà autoridade a gravidade da crise daIgreja.Emsuafévivaelenãocessouja-maisdeseespantarcomaindiferençadetantos“bons”sobretudoministrosde Deus e membros da hierarquia, erepetiaquesetodosaquelesqueesta-vamemcondiçõesdeavaliaradesas-trosarealidade,tivessemencontradocoragem de manifestar sem temor asuaprópriadesaprovação,oneo-mo-dernismo jamais teria triunfado naSantaIgrejadeDeus.Infelizmente,adesforra modernista surpreendeu omundocatólico—clero, religiososeleigos—nummomentodegrandíssi-mafraquezaespiritual.Opós-Concí-liofezrealmentedesabarnumerosasfachadas, há muito mantidas em pésomente graças aos esforços tenazesegenerososdosPontíficesRomanos,desgraçadamente não secundadospelosprópriosmembrosdoepiscopa-do que desobedecem assaz frequen-temente. Basta-nos relembrar aqui“esta resistência, muitas vezes passiva

mas real” oposta às disposições anti-modernistasdeSãoPioX,nãoapenaspelosmodernistas e seus simpatizantes,mastambémporeminentescardeais;resistênciapostaàsclarasedocumen-tada na causa da canonização destegrandePontífice(cf.Beatificationis et canonizationis servi Dei Pii Papae dis-quisitio circa quadam objectiones modi agendi servi Dei respicientes in moder-nismi debellatione,Typis polyglottis Va-ticanis,�950,p.59).

“Existe uma escola[naIgreja],escreviaentão o cardeal de Lai, que encoraja e defende o princípio das idéias largas, do mínimo a crer e a fazer, escola que de degrau em degrau desce ao puro racio-nalismo, ao cepticismo e ao panteísmo”(ibi.,pg.65).Eraaescoladoscatóli-cospoluídospeloliberalismo“escola”quetriunfounoConcílioVaticanoII.Comesta luzcompreende-seasigni-ficaçãoetodaagravidadedosapelosinsistentes à oração e à penitênciaquedesdecercadedoisséculosaSan-tíssima Virgem dirigiu a um mundocatólicodispostoausufruirdasvan-tagens materiais da religião cristã,massempremaishostilàsexigênciasdaFéquemandaamaraDeussobretodasascoisaseatépelosacrifíciodesimesmo.

Se inimigos exteriores e traidoresinternos da Igreja foram os princi-pais responsáveis pelo desastre pós-conciliar, este desastre foi contudolongamente preparado e em seguidapossibilitadoporumgrandenúmero

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desacerdotesedereligiososespiritu-almente negligentes e ociosos. Estesacreditavamterfeitobastanteaosal-varosantuáriodesuaprópriaalmadaprofanaçãototal.Estaresponsabilida-defoiigualmentepartilhadaporumagrande massa de leigos descuidadosde espantosa e culpável ignorância ealheiosaoesforçoacépticoqueimpõeavidacristãmesmonãoconsagrada.Um semelhante mundo católico, sa-tisfeito com pertencer de um modopuramenteexteriorà Igreja,nãopo-deriaencontrarestasgraçasextraor-dinárias de luz e de força requeridapela urgência extraordinária dumataquedesencadeadocontraaFéemNomedaautoridadeedaobediênciaaumConcílioecumênico.

Entretanto,tudoconcorreparaobemdaquelesquetendemparaDeuscomum coração sincero, mesmo aquiloque,comoaactualcriseeclesial,pare-ciamenosfavorávelàvidaespiritual.Defato,aactualcrisedaIgreja,paraquemquercompreendê-la,éumape-loaabandonartodaapresunçãopelaqualsediriaqueofactodepertencerà Igreja pudesse salvar sem uma Févivida e conhecida. “Endireitai vossos caminhos e vossas obras e eu estarei con-vosco neste lugar. Não vos fieis absoluta-mente em palavras mentirosas”“Aí está o santuário de Yahvé. Eu vou tratar este templo que traz o meu nome e no qual vós colocais vossa confiança, e este lugar que eu dei a vós e a vossos pais, como eu tratei a Silo [o qual não foi salvo da des-truição apesar de ter obrigado durante

muito tempo a Arca do Senhor]” (Jr.7,�-4e�4).

O remédio, portanto, deve atingir araizdomal:aausênciadefévivaani-mada por uma fervorosa caridade, eportantoaausênciadeespíritosobre-natural,foramascausasprofundasdacriseactualeporconseguinte,name-dida em que cada um se esforça porreadiquirirouaumentaremsiestafévivaeesteespíritosobrenatural,nes-tamesmamedidaterádadosuamaisvaliosa contribuição à superação dacrise. É a este compromisso pessoale interior que chamamos resistênciainterna.Odesertodaféemquevivehojeocatólico,tornamaisárduo,masnãoimpossível,estecompromisso.Ésemprepossível,defacto,retornaraoluminosoMagistérioopostoaoserrosmodernospelosPontíficesRomanos,dePioIXaPioXII,ésemprepossívelprocuraroufrequentar,ouaomenosmanter-seemcontactocomestesoá-sisdefévivaedeespíritosobrenatu-ralquesãoosprioradosdeSuaExce-lênciaDomMarcelLefebvre.Enfim,ésemprepossívelparatodos,portodaapartee sempre, rezar.Esteesforçoque nas circunstâncias actuais, nãopodedeixardeseimpor,serátambémuma forma de reparação que atrairásobrenós,sobreaIgreja,sobreasal-mas,amisericórdiadeDeus.“Ipse cas-tigavit nos propter iniquitates nostras et Ipse salvabit nos propter misericordiam suam”.Elenoscastigouporcausadenossas iniqüidadesenossalvaráporcausadesuamisericórdia(Tb.��,5).

�0

Amortificação,assimcomoahumil-dade,estabelecidasdeummodoper-manentenavidareligiosapelapráti-ca dos três conselhos evangélicos depobreza, castidade e obediência, sãocoisastãocontráriasaoespíritomun-danoqueesteseesforçarásemprepornegar-lhes a necessidade. O natura-lismo prático sempre renascente sobuma outra forma — que se chame“americanismo” quer “modernismo”—depreciasempreamortificaçãoecomelaosvotosreligiososnosquaispretendevernãoumnascimentoparauma vida nova mas um entrave aobemquecadaumdevefazeremtornodesi.

Porque,dizem,falartantoemmorti-ficaçãoseoCristianismoéumadou-trina de vida? Ou tanto de renúnciaseoCristianismodeveassimilartodaatividade humana em lugar de des-truí-las?OufalartantodeobediênciaseoEvangelhoéumadoutrinadeli-bertação? Tais virtudes passivas nãotêm maior importância senão paraespíritosnegativos,incapazesdeem-preender qualquer coisa e que nãotêmsenãoaforçadainércia.

Porque,acrescentam,depreciarnos-saatividadenatural?Nossanaturezanãoéboa?NãovemdeDeus?NãoseinclinaaamarseuAutormaisdoqueasimesmaeacimadetudo?Nossaspaixõesouemoções, istoé,osdiver-

sosmovimentosdenossasensibilida-de,desejoouaversão,alegriaoutris-teza,etc.,nãosão,dopontodevistamoral,nemboasnemmás,sósetor-namboasoumás conformea inten-ção de nossa vontade que consentenelas,desperta-as,modera-asounãoasmodera.Eentãonãoháquemor-tifica-las, cumpre apenas regula-las,são forças a utilizar, não a destruir.Não é este o ensinamento de SantoTomás,tãodiferente,acrescentam,dode tantos outros autores espirituais,notadamentedoautorda“Imitação”�.III,c.54,ondeeletrata“dosdiversosmovimentosdanaturezaedagraça”emtermostaisquefazempensarna-quelesqueusarãomais tardeos jan-senistas?

Porque,continuaonaturalismoprá-tico a dizer, combater tanto o julga-mentopróprio,avontadeprópria?Élançar-nosnoescrúpuloepôr-nosemestado de servidão que destrói todaespontaneidade.

Porque condenar a vida do mundo,umavezqueénomundoqueaPro-vidêncianoscolocounãoparaocom-bater mas para melhora-lo? O valordavidareligiosasemedeporsuain-fluênciasocialeparaexercerestain-fluênciaelanãodevesercoibidaporestas preocupações excessivas de re-núncia,mortificação,humildade,obe-diência.Eladeve,aocontrário,deixar

Análiseda“Nova”Religião*

Garrigou-Lagrange, O. P.

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sedesenvolveraomáximooespíritode iniciativa, todasasaspiraçõesna-turaisquenospermitirãocompreen-derasalmasdonossotempoeentraremcontatocomestemundoquenósnão devemos desprezar mas tornarmelhor.

Nestas objeções formuladas no fi-nal do século passado pelo chamado“americanismo”,retomadaspelo“mo-dernismo”,averdadeestáhabilmentemisturadacomafalsificação.Chegamaté a invocar a autoridade de SantoTomás.

Pelo fato de que as emoções ou mo-vimentosdasensibilidade,queSantoTomás chama paixões, são forças autilizar e não destruir; pelo fato dequecumpreregula-lasenãomata-las,não se deve esquecer que estas pai-xões, quando não estão muito bemdisciplinadas pela temperança, pelodesapego, pela castidade, pela força,pela paciência, pela humildade, peladoçura,pelajustiça,pelaobediênciaepelasoutravirtudes,animadastodaspelacaridade,tornam-seasraízesdeuma multidão de defeitos ou vícios.Asvirtudes,querteologais,quercar-dinais,etambémasquesevinculama estas, devem quase sempre, evitardois vícios contrários; ora, esses ví-ciosesuasconseqüênciasquesubsis-tememnósdevemsernãosomentevelados,reguladosoumoderadosmasextirpados.Paraseverqualé,segun-doSantoTomás,opapeldamortifica-çãoinspiradapelavirtudedapenitên-

ciaemespíritodereparação,bastariaenumerarosvíciosdosquaiseletrataemsuaSumaTeológica,IIa.,IIae.:ossetepecadoscapitaisquenascemdastrês concuspicências e que têm cadaum seis ou sete filhos muitas vezespioresqueospaisqueosengendram.Estaterrívelprogenituradospecadoscapitais, tal como descrita por San-to Gregório Magno, conta mais de40 vícios que, felizmente, ao menosnãosãoconexoscomoocorrecomasvirtudes, porque o reino do mal nãopoderiaserunocomooreinodobemumavezqueelesedistanciadaunida-de. A matéria para mortificação estáesparsa de um lado e de outro, mashélas,elanãofaltadigamoquedisse-remosamantesdo“caminhocurtoefácil”parairaDeus.

O naturalismo prático também re-pete, muitas vezes, este princípio deSanto Tomás: “A graça não destrói anaturezamasaaperfeiçoa”.Tambémdizemqueosmovimentodanaturezanãosãotãodesregradoscomoafirmaoautorda“Imitação”equeéprecisooplenodesenvolvimentodanaturezasobagraça.Comofaltaaíoverdadei-roespíritodefé,falseia-seoprincípiode Santo Tomás que se invoca. Ele,Santo Tomás, fala de “natureza” nosentido metafísico da palavra e nãono seu sentido ascético, isto é, faladanaturezahumanacomotal,aquelaquecorrespondeàdefiniçãoabstratadoqueéumhomem,portantofaladanaturezanoqueelatemdeessenciale boa, obra de Deus que deve ser, é

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claro, aperfeiçoada pela graça e nãodestruída por ela. Ele não trata aquidanaturezahumanaenquantodeca-ída e ferida, como ela está, de fato,concretamente, depois do pecado deAdão,deformadapornossoegoísmoàsvezesinconscientequesemisturaamuitosdosnossosatos.Ora,édessanaturezaferida,cujosferimentoscus-tam a cicatrizar, que falam as obrasascéticasemísticascomoa“Imitação”eelasnãofazemoutracoisasenãore-dizeroquetambémensinaSantoTo-másarespeitodasseqüelasdopecadooriginaledenossospecadospessoais(Ia.,IIa.,q.85-86).

Estas conseqüências do pecado, en-quanto representam uma desordem,devemserdestruídas,evidentemente.Eestadestruiçãoéobradagraçaquenãosomentenoselevamas tambémnoscura,“gratia sanans et elevans”.

Um excelente mestre de noviços di-zia a um jovem aturdido que repe-tiaoprincípio“agraçanãodestróianatureza” que “Não somente não adestróimasareconstitui,restaura-a,destruindo os germes de morte quenela estão e, em seguida, ela a aper-feiçoa tanto mais quanto aquela sa-lutar destruição foi radical, como omostra a vida dos santos”. É neles enão alhures que é preciso ver o quedevesero“plenodesenvolvimentodanaturezasobagraça”paranãofalseartal desenvolvimento completamen-te,destruindonaturezaegraçasobopretextodenãodestruirnada.

O equívoco mais ou menos desejadoe mantido pela morna mediocridadea respeito das diversas acepções dapalavra “natureza” não tarda a ma-nifestarsuasdesastrosasconseqüên-cias. A árvore se julga pelos frutos.Querendo muito agradar o mundo,estesapóstolosdenovotipo,emlugarde converter, saem convertidos porele. Vimo-los, primeiro, ignorar asconseqüências do pecado original. Aouvi-los,ohomemnascebom,comodiziam, os pelagianos e depois deleJean Jacques Rousseau. Vimo-los,depois, esquecer a gravidade infinitadopecadomortal,comoofensafeitaaDeus.Elesnãomaisoconsideraramsenão pelo lado humano e exterior,pelo mal que ele nos causa visivel-mentenavidapresente.Daíempar-ticulardesdenharamagravidadedospecados do espírito: incredulidade,presunção, orgulho e as desordensquesãosuas conseqüências.Emter-ceirolugarepelamesmarazãodesde-nharam a elevação infinita de nossofimsobrenatural;aoinvésdefalardavisãobeatíficaedavidadaeternidadepuseram-se a falar de um vago idealmoral,tingidodereligião,ondedesa-pareceuaoposiçãoradicalentreocéueoinferno.

Enfim,emquartolugar,osescritoresprincipais, tornou manifesto o seuprincípio: o naturalismo prático ou,o que é o mesmo, a negação práticadosobrenatural,princípioqueàsve-zesseconfessasobaseguinteforma:“Amortificaçãonãoédaessênciado

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Cristianismo”.

É claro que estas invenções mais oumenoshabilmenteexpostasnãotêmnenhumarelaçãocomavidaeadou-trinadeNossoSenhoredosSantos.OSalvadornãodesceuàterraparafa-zer uma obra humana de filantropiamasumaobradivinadecaridade.Elea realizou falando aos homens maisdos seus deveres que de seus direi-tos, dizendo-lhes da necessidade demorrercompletamenteparaopecadoparareceberemabundânciaumavidaequislhestestemunharseuamoratémorrersobreacruzpararesgatá-los.Os santos seguiram-nO, estão todosmarcados com a efígie de Jesus cru-cificado, todos amaram a mortifica-çãoeacruz,tantoossantosdaIgrejaprimitivacomoosprimeirosmártirescomo os da Idade Média, como umSão Bernardo, um São Domingos,

um São Francisco de Assis ou aque-lesmaisrecentescomoumSãoBentoJoséLabreouoSantoCuraD’Ars.

É que Nosso Senhor havia dito “di-rigindo-se a todos”; “Se alguém quer vir após mim que renuncie a si mesmo, tome cada dia sua cruz e siga-me. Porque aquele que quiser salvar sua vida, perde-la-á e aquele que perder sua vida por mi-nha causa, salva-la-á. De que serve ao homem ganhar o universo se se perde a si mesmo?”(Luc. IX, ���).(Luc.IX,���).

(extr. de L’Amour de Dieu e la Croix de Jesus, vol. I, pág. 286, Ed. du Cerf. Tra-Tra-dução: PERMANÊNCIA)

[*][N.daP.]Otítulodestaspáginas,tiradasdaobradeGarrigou-Lagrange,édenossaautoria.Julgamosque,em-bora escritas em �9��8, permanecemimpressionantes por sua actualidadeevigor.

Expostaanaturezadavidacristãeasua perfeição, resta-nos examinar sehá para nós verdadeira obrigação deprogredir nesta vida, ou se não bas-ta guardá-la preciosamente como seguarda um tesouro. Para respondercom mais precisão, examinaremos

estaquestãorelativamenteatrêsca-tegoriasdepessoas:�°ossimplesfi-éisoucristãos;��°osreligiosos;�°ossacerdotes, insistindo neste últimoponto,porcausadofimespecialquenospropomos.

Da obrigação de tender à perfeição[�]

Adolph Tanquerey

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ART. I Da obrigação que têm os cristãos de tender à perfeição

Exporemos:�°aobrigaçãoemsimes-ma; ��° os motivos que tornam estedevermaisfácil.

§ I. Da obrigação propriamente dita

Emmatériatãodelicadaimportausarda maior exatidão possível. É certoque é necessário e suficiente morreremestadodegraça,parasersalvo;pa-rece,pois,quenãohaveráparaosfiéisoutraobrigaçãoestritamaisqueadeconservaroestadodegraça.Mas,pre-cisamente,aquestãoésabersepodealguémconservarportemponotávelo estado de graça, sem se esforçarpara fazer progressos. Ora, a autori-dadeearazãoiluminadapelafémos-tram-nosque,noestadodenaturezadecaída, ninguém pode permanecermuitotemponoestadodegraça,semfazeresforçosparaprogredirnavidaespiritual,epraticardevezemquan-doalgunsdosconselhosevangélicos.

I.Oargumentodeautoridade

�° A Sagrada Escritura não trata di-rectamente esta questão: depois deassentadooprincípiogeraldadistin-çãoentreospreceitoseosconselhos,nãodizgeralmenteoquenasexorta-çõesdeNossoSenhorJesusCristo,éobrigatórioounão.Masinsistetantona santidade que convém aos cris-tãos, põe-nos diante dos olhos umidealtãoalgodeperfeição,pregatãoabertamente a todos a necessidadedaabnegaçãoedacaridade,elemen-

tosessenciaisdaperfeição,que,paraqualquerespíritoimparcial,seinfereaconvicçãodeque,parasalvaraalma,énecessário,emcertosmomentosfa-zermaisdoqueoestritamenteman-dado,e,porconsequência,esforçar-seporprogredir.

A) Assim, Nosso Senhor apresenta-nos como ideal de santidade a mes-ma perfeição do nosso Pai celestial:“SedeperfeitoscomovossoPaiceles-te é perfeito: Estote ergo vos perfecti, sicut et Pater vester coelestis perfectus est”[��];assimpois,todososquetêma Deus por Pai, devem-se aproximardaperfeiçãodivina;oquenãosepodeevidentementefazersemalgumpro-gresso. E, em última análise, todo osermão do monte não é mais que ocomentário,odesenvolvimentodesteideal. — o caminho para isso é o daabnegação,daimitaçãodeNossoSe-nhorJesusCristoedoamordeDeus:“Se alguém vem a mim, e não odeia(istoé,nãosacrifica)oseupai,asuamãe,asuamulher,osseusfilhos,osseus irmãos e até mesmo a sua pró-priavida,nãopodesermeudiscípulo:Si quis venit ad me, et non odit patrem suum et matrem et uxorem et filios et fratres, adhuc autem et animam suam, non potest meus esse discipulus” [�].Énecessário,pois,emcertoscasos,pre-ferirDeuseasuavontadeaoamordeseus pais, de sua mulher, de seus fi-lhos, de sua própria vida e sacrificartudo,paraseguiraJesus:oquesupõecoragemheróica,quenãosepossuiránomomentocrítico,seaalmasenão

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foipreparandoparaissopormeiodesacrifícios de superrogação. Não hádúvidaqueestecaminhoéestreitoedificultoso,emuitopoucososeguem;mas Jesus quer que se façam sériosesforçosparaentrarpelaportaestrei-ta “Contendite intrare per angustam portam” [4]. Não será isto reclamarquetendamosàperfeição?

B)OsApóstolosnãousamdelingua-gem diversa; S. Paulo lembra muitasvezes aos fiéis que foram escolhidospara serem santos: “ut essemus sanc-ti et immaculati in conspectu eius in caritate” [5]: o que certamente nãopodem fazer, sem se despojarem dohomem velho e revestirem do novo,isto é, sem mortificarem as tendên-cias da natureza perversa e sem seesmerarem em reproduzir as virtu-des de Jesus Cristo. Ora isso é lhesimpossível,ajuntaSãoPaulo,semseesforçarem por chegar “à medida docompleto crescimento da plenitudedeCristo,donec ocurramus omnes... in virum perfectum, in mensuram aetatis plenitudinis Christi” [6]; o que querdizer que estando incorporados emCristo, somos seu complemento, ea nós nos cumpre pelo progresso naimitação das suas virtudes, fazê-locrescer, completá-lo. São Pedro quertambém que todos os seus discípu-lossejamsantoscomoaquelequeoschamouàsalvação:“secundum eum qui vocavit vos Sanctum et ipsi in omni con-versatione sancti sitis” [7]. Podem-noacasoser,senãoprogridemnapráticadasvirtudescristãs?SãoJoão,noúl-

timocapítulodoApocalipse,convidaos justos a não cessarem de praticarajustiçaeossantosasantificarem-seaindamais:“Qui iustus est, iustificetur adhuc, et sanctus sanctificetur adhuc”[8].

C)Éistomesmooquese infereain-dadanaturezadavidacristãque,nodizerdeNossoSenhorJesusCristoedeseusdiscípulos,éumcombate,emque a vigilância e a oração, a morti-ficaçãoeoexercíciopositivodasvir-tudes são necessários para alcançaravitória:“Vigiaieorai,paranãoen-trardes em tentação: vigilate et orate ut non intretis in tentationem” [9]...Tendo de lutar não somente contraa carne e o sangue, isto é, contra atríplice concupiscência, senão aindacontraosdemôniosqueaatiçamemnós, necessitamos de nos armar es-piritualmente e combater com valor.Ora,numalutaprolongada,aderrotaé quase fatal para quem se conservaunicamente na defensiva; é mister,pois,recorreraoscontra-ataques,istoé,apráticadasvirtudes,àvigilância,àmortificação,aoespíritodaféecon-fiança.

É esta exactamente a conclusão quetira São Paulo, quando, depois dehaver descrito a luta que temos desustentar, declara que devemos es-tararmadosdospésàcabeça,comoosoldado romano, os rins cingidos daverdade,revestidosdacouraçadajus-tiça,eassandáliasnospés,prontosaanunciar o Evangelho da paz, com o

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escudo da fé, o capacete da salvaçãoeaespadadoEspírito:State ergo suc-cinti lumbos vestros in veritate, et induti loricam iustitae, et calceati pedes in pra-eparatione evangelii pacis; in omnibus sumentes scutum fidei... et galeam saluis assumite et salutis assumite et gladium Spiritu”[�0]...Ecomistonosmostraque, para triunfar dos nossos adver-sários,énecessáriofazermaisdoqueoestritamenteprescrito.

��°ATradiçãoconfirmaestadoutrina.QuandoosSantosPadresqueremin-sistirsobreanecessidadedaperfeiçãodetodos,dizem-nosquenocaminhoqueconduzaDeuseàsalvação,nãose pode ficar estacionário: é forçosoavançarourecuar:“in via Dei non pro-gredi, regredi est”.

Assim, Santo Agostinho, fazendonotarqueacaridadeéactiva,adver-te-nosquenãodevemospararnoca-minho,precisamenteporque,pararérecuar: retro redit qui ad ea revolvitur unde iam necesserat”[��],eoseuad-versário, Pelágio, admitia o mesmoprincípio;taléasuaevidência!Eoúl-timodosPadres,SãoBernardo,expõeesta doutrina de forma empolgan-te. “Não queres progredir? — Não—Queresentãorecuar?—Demodonenhum. — Que queres então? —Queroviverdetalmaneiraquefiquenopontoaondecheguei...—Quereso impossível, pois que neste mundonadapermanecenomesmoestado...”[���]. E noutra parte acrescenta: “Éabsolutamente necessário subir ou

descer; sese tentaparar, cai-se infa-livelmente” [��].EassimoPapaPioXI,nasuaEncíclicade��6deJaneirode�9���,sobreSãoFranciscodeSales,declaraperemptoriamentequetodososcristãos,semexceção,têmobriga-çãodetenderàsantidade”[�4].

II.Oargumentodarazão

Arazãofundamental,pelaqualnosénecessária tender à perfeição, é semdúvida a que nos dão os Santos Pa-dres.

�°Todaavida,sendocomoéummo-vimento,éessencialmenteprogressi-va, neste sentido que, quando cessade crescer, começa a enfraquecer. Earazãodistoéquehá,emtodooservivo, forças de desagregação que, senão são neutralizadas, acabam porproduziradoençaeamorte.Omes-mosepassaemnossavidaespiritual:aoladodastendênciasquenoslevamparaobem,háoutras,muitoactivas,quenosarrastamparaomal;paraascombater, o único meio eficaz é au-mentaremnósasforçasvivas,istoé,oamordeDeuseasvirtudescristãs;então as tendências más vão enfra-quecendo.

Mas, se deixamos de fazer esforçospor avançar, os nossos vícios acor-dam, retomam forças, atacam-noscom mais viveza e frequência; e, senão despertamos do nosso torporchegaomomentoemque,decapitu-laçãoemcapitulação,caímosnopeca-domortal.[�5]Éesta,infelizmente,ahistóriademuitasalmas,comobemo

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sabemosdirectoresexperimentados.

Uma comparação no-lo fará compre-ender. Para alcançarmos a salvação,temosquevencerumacorrentemaisoumenosviolenta,adasnossaspai-xões desordenadas, que nos levamparaomal.Enquantofizermosesforçoparaimpeliranossabarcaparaafren-te,conseguiremossubiracorrenteouaomenoscontrabalançá-la;nodiaemquecessarmosderemar,seremosar-rastadospelacorrente,erecuaremosparaoOceano,ondenosesperamastempestades,istoé,astentaçõesgra-vesetalvezquedaslamentáveis.

��°Hápreceitosgravesquenãosepo-dem observar em certos momentossenão por meio de actos heróicos.Ora, em conformidade com as leispsicológicas, ninguém é geralmentecapaz de praticar actos heróicos, senãosefoiantecipadamentepreparan-do para isso com alguns sacrifícios,ou,poroutros termos, comactosdemortificação. Para tornarmos estaverdademaistangível,demosalgunsexemplos. Tomemos o preceito dacastidade, e vejamos o que ele exigede esforços generosos, por vezes he-róicos,paraserguardadotodaavida.Atéocasamento(emuitosjovensnãosecasamantesdos��8ou�0anos),éacontinênciaabsolutaqueénecessáriopraticar sob pena de pecado mortal.Ora, as tentações graves começamparaquasetodoscomosanosdapu-berdade,àsvezesantes;paralhesre-sistir vitoriosamente, é preciso orar,

abster-sedeleituras,representações,ou relações perigosas, penitenciar-sedas menores capitulações e aprovei-tar-sedosseusdesfalecimentos,paraselevantarimediataegenerosamente,etudoistoduranteumlongoperíododavida.Nãosupõeacasotudoistoes-forços mais que ordinários, algumasobras de super rogação? Contraídoque for o matrimonio, ninguém ficaaoabrigodastentaçõesgraves.Hápe-ríodosemqueéforçapraticaracon-tinênciaconjugal;ora,paraofazer,épreciso coragem heróica, que não seadquiresenãocomolongohábitodamortificaçãodoprazersensual,epeloexercícioconstantedaoração.

Tomem-seagoraasleisdajustiçanastransacções financeiras, comerciais eindustriais, e reflicta-se no sem-nú-merodeocasiões,queseapresentam,deaviolar,nadificuldadedepraticarahonradezperfeitanummeioemqueaconcorrênciaeacobiçafazemsubirospreçosalémdoslimitespermitidos,ever-se-áque,paraumhomemperma-necersimplesmentehonrado,precisadumasomadeesforçosedeabnega-çãomaisqueordinária.Seráporven-tura capaz desses esforços quem seacostumou a não respeitar mais queasprescriçõesgraves,quemsepermi-tiucomasuaconsciênciapactuações,a princípio leves, depois mais sériaseporfimperturbadoras?Paraevitaresseperigo,nãoseránecessáriofazerumpoucomaisdoqueéestritamen-temandado,afimdequeavontade,fortificada por estes atos generosos,

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tenhavigorsuficienteparanãosedei-xararrastaraactosdeinjustiça?

Verifica-se, pois, de todos os ladosestaleimoralqueparanãocairempe-cado,énecessárioevitaroperigopormeiodeactosgenerosos,quenãosãodirectamenteobjectodepreceito.Poroutrostermos,paraacertarnoalvo,émister fazer a pontaria mais alto; e,paranãoperderagraça,énecessáriofortificar a vontade contra as tenta-ções perigosas por meio de obras desuper-rogaçao,numapalavra,aspiraraumacertaperfeição.

§ II. Dos motivos que tornam este dever mais fácil

Os numerosos motivos, que podemlevar os simples fiéis a tender à per-feição, reduzem-se a três principais:�°obemdaprópriaalma;��°aglóriadeDeus;�°aedificaçãodopróximo.

�° O bem da própria alma é, antes detudo,asegurançadasalvação,amul-tiplicação dos méritos, e por fim asalegriasdaconsciência.

A)Agrandeobraquetemosdelevaracabonaterra,aobranecessária,e,a bem dizer, a única necessária, é asalvação da nossa alma. Se a salvar-mos, ainda quando percamos todosos bens da terra, parentes, amigos,reputação, riqueza, tudo fica salvo;nocéuencontraremos,centuplicado,tudoquantoperdemos,eparatodaaeternidade. Ora, o meio mais eficazpara assegurar a salvação da alma, étenderàperfeição,cadaumsegundo

oseuestado;quantomaisofazemos,com discrição e constância, tantomaisnosafastamos,porissomesmo,dopecadomortal,únicaforçaquenospode condenar. E na verdade, é evi-denteque,quandoalguémseesforçasinceramenteporseiraperfeiçoando,desviaporissomesmoasocasiõesdepecado, fortificaavontadecontraassurpresasqueoespiam,e,chegadoomomento da tentação, a vontade, jáaguerridapeloesforçoparaconseguira perfeição, acostumada a orar paraasseguraragraçadeDeus,repelecomhorroropensamentodopecadograve:potius mori quam foedari.Quem,pelocontrário,sepermiteasimesmotudooquenãoéfaltagraveexpõe-seacair,quandoseapresentarumaviolentaelongatentação:habituadoacederaoprazer em coisas menos graves, é derecearque,arrastadopelapaixão,ter-mine por sucumbir, como o homemque vai costeando continuamente oabismoacabaporsedespenhar.

ParanãocorrermosperigodeofenderaDeusgravemente,omelhormeioéafastar-nosdasbordasdoprecipício,fazendo mais do que é preceituado,esforçando-nos por avançar para aperfeição; quanto mais a ela tender-mos com prudência e humildade,tantomaissegurateremosasalvaçãoeterna.

B) Por esse meio aumentam-se tam-bém cada dia os graus de graça ha-bitualquesepossuemeosdeglóriaa que se tem direito. Vimos, efecti-

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vamente, que todo o esforço sobre-natural, que por Deus faz uma almaem estado de graça lhe granjeia umaumento de méritos. Quem não seimportadaperfeiçãoecumpreoseudever com mais ou menos desleixo,poucos merecimentos adquire, comodissemos,n°��4.Quemtende,porém,à perfeição e se esforça por avançar,alcançalargacópiademerecimentos.Assim,cadadiaaumentaocapitaldegraçaedeglória;osseusdiasdemé-ritos: cada esforço tem como recom-pensaumaumentodegraçanaterraemaistardeumpesoimensodeglória,“aeternumgloriaepondusoperaturinnobis”[�6].

C) Se se quer prelibar um pouco defelicidade na terra, nada melhor queapiedadeque,comodizSãoPaulo,“é útil para tudo e tem promessas para a vida presente e futura: pietas autem ad omnia utilis est, promissionem habens vitae quae nunc est et futurae”[�7].

Apazdaalma,aalegriadaboacons-ciência, a felicidade de estar unido aDeus, de progredir em seu amor dechegaramaiorintimidadecomNossoSenhorJesusCristo,taissãoalgumasdasrecompensascomqueDeusfavo-recedesdeagoraosseusfiéisservos,no meio das suas provações, com aesperança tão confortada da eternafelicidade.

��°A glória de Deus.Nadamaisnobreque procurá-la, nada mais justo, senos lembrarmos do que Deus fez enãocessadefazerpornós.Ora,uma

alma perfeita dá mais glória a Deusquemilalmasvulgaresporquemulti-plica de dia para dia os seus atos deamor, reconhecimento e reparação,orienta nesse sentido a sua vida in-teirapelooferecimentomuitasvezesrenovadodassuasacçõesordinárias,eassimglorificaaDeus,demanhãatéanoite.

�° A edificação do próximo. Para fazerbemàrodadenós,converteralgunspecadores ou incrédulos e confirmarno bem as almas vacilantes, não hánadamaiseficazqueosesforçosqueseempregaparamelhorviveroCris-tianismo: quanto a mediocridade davida atrai sobre a religião as críticados incrédulos, tanto a verdadeirasantidadeexcitaasuaadmiraçãoparacomumareligiãoqueécapazdepro-duzirtaisefeitos:Épelofrutoqueseconheceaárvore:“exfructibuseorumcognoscetiseos”[�8].Amelhorapo-logética é a do exemplo, quando selhesabe juntarapráticadetodososdeveressociais.Eétambémumexce-lenteestímuloparaosmedíocres,queadormeciamnaindolência,seospro-gressos das almas fervorosas os nãoviessemarrancardoseutorpor.

Muitas almas hoje em dia são aces-síveis a este motivo: neste século deproselitismo,osleigoscompreendemmelhorqueoutroraanecessidadededefenderepropagarafépelapalavraepeloexemplo.Competeaossacerdotesfavorecerestemovimento,formandoàsuarodaumescoldecristãosesfor-

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çados que, não contentes duma vidamedíocre e vulgar, se esmerem poravançarcadadianocumprimentodetodososseusdeveres,deveresreligio-sos em primeiro lugar, mas tambémdeveres cívicos e sociais. Serão exce-

lentescolaboradoresque,penetrandoemmeiospoucoacessíveisareligiososesacerdotes,osauxiliarãoeficazmen-tenoexercíciodoapostolado.

Adolph Tanquerey, A Vida Espiritual Ex-plicada e Comentada, cap. IV, art. I

Notas:

ÁlvarezdePaz,op.cit.L. IV-V; Le Gaudier, P. III, sect. I, c. VII-X; Scaramelli, GuideL.IV-V;LeGaudier,P.III,sect.I,c.VII-X;Scaramelli,Guideascétique, Traité I, art. II; Ribet, Ascétique, ch. VII-IX; Ighina, op. cit., Introd.,XX-XXX.Mt.5,48.Lc.�4,��6-��7;cf.Mt.�0,�7-�8.Lc.��,��4;Mt.7,��-�4.Ef.�,4.Ef.4,�0-�6Lertodoessepasso.IPd�,�5.Ap.����,��.Mt.��6,4�.Ef.6,�4-�7.SermoCLXIXn.�8.Epist.CCLIVadabbatemSuarinum,n.4.Epist.XCIadabatesSuessionecongregatos,n.�.“Necveroquisquamputetadpaucosquosdamlectissimosidpertinere,ceterisqueininferiorequodamvirtutisgradulicereconsistere.Tenenturenimhaclegeom-nes,nulloexcepto”.(A.A.S.XV,50).Éestaadoutrinacomumdosteólogos,queassimresumeSuarez, De Religione,t.IV,L.I,c.4,n.���:“Vixpotestmoralitercontingereuthomoetiamsaecularishabbeat firmum propositum nunquam peccandi mortaliter, quin consequenternonnulaoperasupererogationisfaciat,ethabeatformalevelvirtualepropositumillafaciendi”.IICor.4,�7.ITim.4,8.Mt.7,��0.

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�6.�7.�8.

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Anti-Cristo

Instrução pastoral do Cardeal Pio - Qua-resma 1863

Anticristo,oquenegaqueJesussejaDeus;anticristo,oquenegaqueJesusseja homem; anticristo, o que negaqueJesussejahomemeDeusaomes-motempo.

Umanticristo,nosdizSãoJoão,negaoPai,poisnegandooPainegaoFilho:Hic est antichristus qui negat Patrem et filium(IJo.��,����).Defato,nãoháanticristianismo mais radical do queaquele que nega a divindade em suaraiz, em seu princípio. Como o Cris-to seria Deus se Deus não existisse?Ora,negaroserdivino,asubstânciadivina, a personalidade divina e in-troduzir não sei que outra teodiceiaéprovadequesuprimemarealidade,substituindo-a por abstrações e so-nhos que flutuam entre o ateísmo eopanteísmoouquenãotêmsentidoalgum.Eisosistemacapitaldaatualsituaçãointelectual;eisoensinamen-toqueencheoslivroseinspiraasli-ções de toda uma escola, abundanteepoderosa.Diantedetaisdoutrinas,“só tenho uma coisa a dizer-vos: cuidado com o anticristo”:Unum moneo: cavete antechristum.

São João continua: “Todo aquele que nega o Filho, também não reconhece o Pai. O que crê no Filho de Deus, tem em si o testemunho de Deus. O que não crê no Filho, torna Deus mentiroso, porque não crê no testemunho que Deus deu de

seu Filho. Aquele que tem o Filho tem a vida; aquele que não tem o Filho, não tem a vida”(IJo.��,���;5,�0-���).“Mui-tos sedutores se têm levantado no mun-do, que não confessam que Jesus Cristo tenha vindo em carne; quem faz isso é um sedutor e um anticristo”: “Qui non confiteur Christum in carne venisse, hic est seductor et antichristum”(IIJo.7).Ora,seossenhoresescutaremoquesedizhojeeseleremoqueseescre-ve atualmente, descobrirão ou queo personagem histórico Jesus nemchegou a existir (ao menos como érepresentadonosEvangelhos)ouquefoi um desses tipos que manifestoumaisfortementeoidealdesabedoria,de razão,deperfeiçãoequeconven-cionou-sedenominar“Deus”.JamaisadmitirãoqueoFilhodeMariasejaoFilhodeDeus feitohomem,oVerbofeitocarne,aqueleemqueresidecor-poralmenteaplenitudedadivindade(Col.��,9),e,paraconcluirdefinitiva-mente,oHomem-Deus.Aterrorizadocomtaisblasfêmias,quesãoaprópriainversãodosímbolocristão,“só tenho uma coisa a dizer-vos: cuidado com o anticristo”:“Unum moneo: cavete ante-christum”.

Quediriaeuainda?Anticristo,oquenegaomilagre,oqueensinaqueomi-lagrenãotemlugarpossívelnatramadascoisashumanas.Cristo,aindaquesuas palavras tivessem um tom quemerecesse credibilidade, só estabe-leceu sua divindade pelo argumento

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decisivo do milagre. Ele deu a seusapóstolos, como meio de persuasãoeconquista,opoderdeoperarmila-gres.Suavindaaomundoemcarne,auniãoentreanaturezahumanaeanaturezadivinaemumaúnicapessoaéomilagreporexcelência.Suprimiromilagre é suprimir toda a ordem so-brenaturalecristã.Aquirepito:“Cui-dado com o anticristo”: “Unum moneo: cavete antechristum”.

Anti-Cristo,aquelequenegaa reve-lação divina das Escrituras: pois sãoos profetas divinamente inspiradasquenosanunciaramoCristo.SãoosEvangelhosditadospeloEspíritoSan-to,assimcomoosatoseascartasdosApóstolosquenos fazemconheceraCristo. Podemos alegar as própriaspalavrasdeSantoHilário:“Quem quer que negue o Cristo tal como foi anuncia-do pelos Apóstolos, este é um anticris-to”: “Quisquis enim Christum, qualis ab apostolis est praedicatus, negavit, antichristum est”. Se os senhores ou-virem negar os livros santos, se suaautoridadefordesprezadacomosim-plesconcepçãoeinvençãodoespíritohumano,“tenho um conselho a dar: cui-dado com o anticristo”: “Unum moneo: cavete antechristum”.

Anti-Cristo,aquelequenegaainsti-tuiçãodivinaamissãodivinadaIgre-ja,poisaconclusão,afinalizaçãodasobras, dos sofrimentos e da mortedeJesusCristofoiafundaçãodesuaIgreja.“Cristo amou a Igreja e por ela se entregou a si mesmo, para a santificar,

purificando-a no batismo da água pela palavra da vida, para apresentar a si mesmo esta Igreja gloriosa, sem mácula, sem ruga, mas santa e imaculada” (Ef.5.��5-��7). Ora, se a Igreja não pos-sui um caráter sobrenatural, se elaé somente uma instituição terrena,um dos estabelecimentos religiososdestinadosadesempenharumpapelmaisoumenos longonoseiodahu-manidade,umasociedadeexpostaàsvicissitudese falhasdascoisasdessemundo, uma escola mais ou menosrespeitável de filosofia e filantropia,numapalavra,sea Igrejanãoédivi-na,équeCristo,seufundador,nãoéDeus.Rejeitar adivindade da obraérejeitaradivindadedoautor: “Tenho sempre a mesma recomendação a dar: cuidado com o anticristo”: “Unum mo-neo: cavete antechristum”.

Anticristo, aquele que nega a su-prema e indefectível autoridade dePedro. Na verdade, Jesus Cristo, de-poisdeterolhadonosolhosdesseho-mem,disse-lhe:“Simão, filho de João, tu serás chamado Cefas que quer dizer Pedro” (Jo. �, 4��); “e sobre esta pedra Eu edificarei a minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão sobre ela. Dar-te-ei as chaves do reino dos céus; e tudo o que desatares sobre a terra, será desatado nos céus”(Mt.�6,�8-�9).EomesmoJesuslhedisseainda:“Simão, Simão, eis que Satanás te reclamou com instância para te joeirar como trigo; mas eu roguei por ti, para que tua fé não fal-te; e tu, uma vez convertido, confirma os teus irmãos”(Lc.����,��-���).Seessas

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palavrasdeJesusCristonãofizeramdePedroofundamentoinabaláveldaIgreja,arochaimutáveldaverdade,ooráculoinfalíveldafé,éporquequemas pronunciou não tinha o poder detorna-laseficazes.FerirPedroéferiracabeçaviva,ochefeinvisíveldaIgrejacristãquenelereviveesubsiste.“Cla-mo ainda: cuidado com o anticristo”:“Unum moneo: cavete antichristum”.

Anticristo, aquele que nega ou des-prezaosacerdotecristão.JesusCris-toressuscitadodisseaseusapóstolos:“Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio” (Jo. ��0, ���). “Foi-me dado todo o poder no céu e na terra. Ide, pois, ensinai a todas as gentes, batizando-as em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-as observar todas as coisas que vos mandei; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consuma-ção dos séculos”(Mt.��8,�8-��0).Seospoderes assim conferidos por Jesusnão são os plenos poderes de ensi-naraverdadeemnomedeDeuspelapregação,deadministraragraçadossacramentos,develarpelaobservân-ciadospreceitosdivinospelogovernoeclesiásticoese,noexercíciodeseuspoderes,osacerdóciocristãonãoforsustentado por uma assistência con-tínua e uma presença quotidiana deCristo, aqui ainda, deve-se admitirque Cristo falou mais do que podiafazer. Consequentemente, ele não éDeus. O Senhor disse aos próprioslevitas da antiga lei: “Não toqueis os meus ungidos” (I Par. �6, ����), e disseaosministrosdanova lei: “O que vos

recebe, a Mim recebe; e o que Me recebe, recebe Aquele que Me enviou”(Mt.�0,40);sabendodisso,quandovejoalín-guademeupaíssedepravaratéche-garatransformaemtítulodeinsultoe desdém essa primícia sacerdotal erealchamadaclericatura,equeovo-cabuláriotinhasidopormuitotemposinônimodesaberedeinstrução,mesintotomadodeimensapiedadeporumageraçãocujaprópriaelitesucum-be a tal baixeza e se mostra culpadadetalesquecimentoedesrespeitoemrelaçãoaoquetodosospovostiveramde mais sagrado. E “repito sempre a mesma lição: cuidado com o anticristo: unum moneo: cavete antichristum”.

Anticristo, aquele que nega a supe-rioridade dos tempos e países cris-tãossobreos temposepaíses infiéisouidólatras.SeJesusCristo,quenosiluminouquandoestávamosnastre-vas e nas sombras da morte, e deuaomundootesourodaverdadeedagraça, não enriqueceu o mundo combenssuperioresaospossuídosnoseiodo paganismo, [e falo até mesmo domundosocialepolítico]équeaobrado Cristo não é uma obra divina.Alémdisso:seoEvangelhoquesalvaoshomenséimpotenteparafornecerosprincípiosdoverdadeiroprogressodospovos;sealuzrevelada,proveito-saaos indivíduoséprejudicialàsso-ciedades,etalvezatéparaasfamílias,éprejudicialeinaceitávelparaascida-deseosimpérios;emoutrostermos,seJesusCristo,queosprofetaspro-meterameaquemoPaideuasnações

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como herança, só pode exercer seupoder sobre elas em seu detrimentoeparasuainfelicidadetemporal,temde se concluir que Jesus Cristo nãoé Deus. Porque nem em Sua pessoanem no exercício dos Seus direitos,Jesus Cristo pode ser dividido, dis-solvido,fracionado.Nele,adistinçãodasnaturezasedasoperaçõesnuncapoderáseraseparação,aoposição.Odivinonãopodeserantipáticoaohu-mano, nem o humano ao divino. Aocontrário,eleéapaz,aaproximação,areconciliação,éotraçodeunião“que faz de duas coisas, uma”: “ipse est pax nostra qui fecit utraque unum” (Ef. ��,�4).Por issoSãoJoãonosdiz: “todo espírito que divide Jesus não é de Deus; mas este é um anticristo do qual vós ou-vistes que vem, e agora está já no mun-do”.“Et omnis spiritus qui sivit Jesum, ex Deo non est; et hic est antichristum de quo audistis quoniam venit, et nunc jam in mundo est”(IJo.4,�).Quandoouçoentãocertosruídosquesurgem,certosaforismosqueprevalecemcommaiorfrequênciadiaadiaeseintro-duzem no coração das sociedades,dissolvendo-assobaaçãodaqueleporquem o mundo há de perecer, “lanço um grito de alarme: cuidado com o anti-cristo”:“unum moneo: cavete antichris-tum”.

Poderíamos,carosirmãos,nosesten-dersobreosdetalhesdoserrosquesepropagamacadadiaemnossoredor,que constituem o que poderíamoschamar anticristianismo. O que dis-semos é mais do que suficiente para

excitaremnósavigilânciaedescon-fiança de qualquer doutrina que nãoprocedadaIgreja(...).

Permaneçamos firmes na fé antigae invariável da Santa Igreja; “sejam homens e não crianças flutuantes, e le-vadas, ao sabor de todo vento de dou-trina, pela malignidade dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro”(Ef. 4, �4). O divino Salvador disse,profetizando os tempos de ruína deJerusalém:“Mas ai das mulheres grávi-das e das que tiverem crianças de peito naqueles dias!”(Mt.��4,�9).SantoHi-lárionosexplicaessapassagem:“Nos dias difíceis e de tempestade da Igreja, ai das almas minadas pela incerteza e nas quais a fé e a piedade estiverem ain-da em estado embrionário ou ainda na infância. Umas, surpreendidas no emba-raço de suas incertezas e atrasadas por causa das irresoluções de seu espírito constantemente irrequieto, estarão mui-to pesadas para escapar às perseguições do anticristo. Outras, tendo apenas de-gustado os mistério da fé em embebidas somente de uma fraca dose de ciência divina, não terão força suficiente e ha-bilidade necessário para resistir a tão grandes assaltos” (Comment. In Mat.��5.6).Éesseopesoedebilitaçãodasalmas que hão de tornar os últimostempos tão perniciosos, propícios atantasquedas.

Poroutrolado,SantoAgostinhores-saltaoquantoessesdiasdeprovaçõesserão favoráveis ao embelezamentoe crescimento do mérito das almas

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fieis. Comentando a passagem doApocalipse: “depois disso é necessário que o demônio seja solto por um pouco de tempo”(Ap.��0,�),osantodoutornosmostraqueodemônionuncaestápresodemaneiraabsolutaduranteavida da Igreja militante. Entretanto,eleficafrequentementepresonosen-tidodequenãolheépermitidoutili-zarsuaforçatodanemtodososseusartifíciosparaseduziroshomens.

A enfermidade do grande número étalque,seeletivesseesseplenopoderaolongodetodososséculos,muitasalmas com que Deus quer aumentarepovoarsuaIgrejaseriamdesviadasda verdadeira crença ou tornar-se-iam apóstatas: isso Deus não quersuportar. Eis porque o demônio ficaparcialmente atado. Porém, por ou-tro lado, se ele nunca fosse solto, opoderdesuamalíciaseriamenosco-nhecido;apaciênciadaCidadeSantamenosexercidaecompreenderíamosmenosoimensofrutoqueoTodoPo-derososoubetirardaimensaforçadomal.OSenhor entãodesatá-lo-áporumtempoafimdemostraraenergiacomaqualacidadedeDeusvencerátãohorríveladversário,paraagrandeglóriadeseuredentor,deseuauxílio,de seu libertador. E o santo doutorchega a dizer a seus contemporâne-os:“Quanto a nós, irmãos, quem somos e que mérito possuímos em comparação aos santos e fiéis de então? Porque, para prova-los, o inimigo que nós já temos tanta dificuldade em combater e vencer atado, estará desatado”.

Coragem,meuscarosirmãos.Quantomaisareligiãoéatacada,aIgrejaopri-midaportodososlados,quantomaisasdoutrinaserrôneasedeperversãomoral invadem os discursos, livros eteatroseenchematodaaatmosferacom seus miasmas pestilentos, maispossível será adquirir grandeza, per-feiçãoeméritodiantedeDeus,senãonos deixarmos abalar em nenhumade nossas convicções e permanecer-mos fiéis ao Senhor Jesus, coisa emquemuitosoutrosfalharametiverama desgraça de abandona-Lo. Não vosdeixaiseduzirpelaforçaenúmerodosperversos,nempelasaparentesvitó-rias dos adversários de Jesus Cristo.Estáescritoqueosmauseosseduto-resfarãoaterraprogredir;progressonomal,progressonadestruição,pro-gressonadesordem:proficient in pejus“irão de mal a pior”(IITim.�,��).Mastambémestáescritoqueessetipodesucessonuncadurarápormuitotem-po.Oshomensqueresistemàverda-de,pessoascorrompidasemseuespí-ritoeréprobossoboolhardafénãotardarãoaseconvencerdessaloucurajuntamentecomseusseguidoresnes-savia.

Perseverai na fé, caríssimos irmãos;perseveraitambémnasobras,sobre-tudo nas obras de caridade. É umadoutrinaconstanteequenãodeveserabandonadaanenhumpreço:aquelesquecrêememDeussãoosquetomamafrentedasboasobras:ahumanida-de, e principalmente, a humanidadesofredoraencontrarásempreconsolo

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dessemodo.Nãoouvimosdizertam-bém,quenessesúltimosdias,aesmo-la feita por sentimento sobrenaturale segundo as tradições da piedadecristãnãoterálugarnoseiodenossassociedadesequeseu“seloeclesiásti-co”seráumaofensaàdignidadedosnecessitados que se tenta aliviar? Onaturalismo, o ardor que põe na se-cularização de tudo, entende que fa-zerobeméobrapuramentehumana,profana e não tem nada em comumcomaordemdagraçaedasalvação.Propósitoexecrável,esepudesseche-gar a desencorajar a caridade cristãe sacerdotal, conseguiria neutralizaras mais oportunas fontes de alívio

dos infelizes.Ah!Euvosdiriaainda:“cuidado com o anticristo”: “unum mo-neo: cavete antichristum”.Mastenhamos olhos sempre fixos em Cristo; nomeninoJesusdoestábulodeBelém;nooperário-DeusdoateliêdeNazaré;naqueleque,sendoricopornaturezafez-sepobreparanosenriquecercomsuahumilhação;naquelequeseráumdianossojuiz,eque,emconsideraçãocomessamultidãodeoperáriosindi-genteseprivadosdetrabalhoqueterásidoaliviadaporamoraEle,nosfarápossuir o reino que seu Pai nos pre-parou.

(RevistaSim Sim Não NãoN°�46Ja-neiro-Fevereirode��006)

ComodiziaD.Lefebvre,éodatenta-tivadoConcílioVaticanoIIderecon-ciliaraIgrejacomarevolução,decon-ciliar a doutrina da Fé com os errosliberais.IssoéoqueopróprioBentoXVIdisse,emNovembrode�984,nasuaentrevistaaVittorioMessori:«oproblema dos anos �960 (logo, o doConcílio) era a aquisição dos valoresmais bem amadurecidos de dois sé-culos de cultura liberal. Esses são osvaloresque,sebemnascidosforadaIgreja, podem encontrar o seu lugar,

uma vez purificados e corrigidos, nasua visão de mundo. E isso é o quesetemfeito».EssaéaobradoConcí-lio:umaconciliaçãoimpossível.“Queconciliaçãopodehaverentrealuzeastrevas?”,dizoApóstolo,“queacordoentreCristoeBelial?”(IICorVI,�5).A manifestação emblemática dessaconciliaçãoéaDeclaraçãosobrea li-berdadereligiosa.NolugardaverdadedeCristoedoSeureinosocialsobreas nações, o concílio coloca a pessoahumana,asuaconsciênciaeasuali-

A“nova”religião

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AFé,ouéíntegra,ounãoexiste

Se alguém não crê em [algum] qual-querartigooupontodanossasantaFéCatólica,ouadvertidamenteduvi-daserverdade,consentindoempen-sarqueécoisaquepodeser,ounãoser, assim: neste caso a fé com quecrêosoutrospontosouartigos,nãoéverdadeiraesobrenatural,senãoumasombra e semelhança dela, porquepelasuainfidelidadeselhedestruiuaFé divina; e é claro que se crera nosmais artigos pelo motivo que devecrer(queéaveracidadedeDeus,eaSua revelação declarada pela autori-dade da Igreja), esse mesmo motivooobrigaraacrertodosinteiramente,pois Deus, que revelou uns, reveloutambémosoutros,eaIgreja,queen-sinaaqueles,ensinatambémestes.

PeloqueoheregequeconfessaaDeusUnoeTrino,enegaapresençarealdeCristonaEucaristia,denenhumdes-

tespontostemféverdadeira,porque(comoemsemelhantecasodisseSãoJerónimo) no primeiro caso fez doEvangelho de Cristo, evangelho dohomem; no segundo, fez do Evange-lhodeCristo,evangelhododemónio(Incap.IadGalat.V.II).

Esta é a nobreza, a excelência da FéCatólica,cujaluzseparececomadosolhos: se picamos estes, ainda quenão seja mais que com a ponta deumaagulhaemqualquerpartedeles,todaasua luzse turba,eficamosàsescuras.

SeofendemosaFé,aindaquesejaemsóponto,ecomumasódúvidacon-sentida com advertência, toda a sualuzseperde,eficamosnastrevasdainfidelidade.

Pe. Manuel Bernardes (1644-1710). Luz e Calor. Parte I, doutrina IV, n. 1

berdade.Issoéafamosa“mudançadeparadigma”queconfessavaoCardealColombo nos anos �980. O culto dohomemquesefezDeussubstituiuocultodeDeusquese fezhomem(cf.Paulo VI, discurso de encerramentodoConcílio,7dedezembrode�965).Trata-sedeumanovareligiãoque já

não é a religião católica. Não quere-mosnenhumcompromissocomessareligião,nenhumriscodecorrupção,nem mesmo qualquer aparência deconciliação.

D. Tissier de Mallerais, Revista RIVA-ROL, 13 de Junho de 2012

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Asantidadedosanjos

Abbé François Chautard

Onossovelhocatecismo,nasua lin-guagemclaraeacessível,fala-nosdossantos anjos. Então é porque eles osãomesmo.Mascomo?

ComexcepçãodoArcanjoSãoMiguel,cujo famoso grito (Quem é comoDeus)) preenche o Céu com um ecodehumildade,pondodeparteosar-canjosSãoGabrieleSãoRafael,cujasmissõesterrestresilustramasuaper-feitaobediência,bemcomooseures-peitoparacomDeusNossoSenhorea Virgem Maria, estamos no direitodenosinterrogarsobreanaturezadasantidadedosanjos.

Porque,afinaldecontas,elesnãotêm,comonós,delutarcontraumanatu-rezarebelde,umcorpopesado,eumasériedepaixões,quenosesforçamosporcanalizaremvezdedominar.

Na realidade, e de uma maneira se-melhante à do homem, a santidadeangélicavemdagrandezadasuacari-dadeedoseuestadodegraça.Quantomaiselevadoestáumanjonoestadodegraça,maiseleésanto,emaisasuafelicidadecelesteégrande.Issoequi-valeadizerqueasantidadedumanjodependedodominicialdaGraça.

Este grau é ele próprio dependenteda posição mais ou menos elevadadoanjonanaturezaangélica.Aocon-

tráriodoshomens,quesãotodosdamesma espécie, cada anjo constituiuma espécie diferente, mais ou me-nos perfeita, isto é, dotada de umainteligênciamaisoumenospoderosa,bem como de uma vontade mais oumenosfirme.

Por outras palavras, a hierarquia so-brenatural dos santos anjos funda-menta-se na hierarquia natural. Oque é radicalmente diferente do quesepassacomoshomens.Noprimeirograu da hierarquia dos homens san-tos,tantopodemosencontrargrandesgénioscomohomensparticularmentepoucodotados.Encontramosgrandesinteligências como as de São TomásdeAquino,deSantoAgostinho,edetantos outros santos doutores, masencontramostambémumgrandenú-mero de pessoas ignorantes. SantoAfonsoMariadeLigóriocitanoseuli-vro“AsGlóriasdeMaria”,umcristãoparticularmente limitado do pontodevistaintelectual,queapenassabiarecitar a Ave-Maria, mas que o faziacomo um santo. Santa Bernadettenão foi, certamente, um doutor daIgreja,masmesmoassimelabrilhoucomoumastroceleste.

Um único acto, uma única eternida-de.

Eistonãoéaúnicadiferença.Aocon-

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trário dos homens cuja santidade éfrequentementeofrutodumamulti-tudedeboasacções,porvezescomre-viravoltaspassageiras,oanjo,esse,foicomumúnicoactoquedecidiudasuaeternidade.Ainteligênciaeavontadeangélicasãodeumatalperfeição,queum anjo jamais poderia voltar atrásdeumadecisãotomadacomperfeitoconhecimentodecausa.Nelenãoháhesitações,nãohátentativas,nãohápaixões.Neletudoéclaroeadecisãonummomentotomadaéirreversível.

Istopodesurpreender-nos-talcomoanossamaneirademudarfrequente-mentedeopiniãocomoumcata-ven-to, poderia surpreendê-los também,se estes não tivessem um conheci-mentoprecisodanossanatureza...Noentanto,sepensarmosnestesassun-tos, veremos que também o homemtomadecisõescomconhecimentodecausa, que irão orientar toda a suavida. Tais são as decisões acerca doseuestadodevida,quersejaparacon-traircompromissos,ouinfelizmente,paravoltaratrás.Ohomemécapaz,tanto para o bem, como para o mal,detomardecisõesqueirãoterreper-cussõessobretodaasuavida,esobretoda a sua eternidade. E é precisa-mentenessepontoqueosanjosnosdãoumexemploqueébem-vindo.

Numsó instante,umaúnicaboade-cisão, orientou os santos anjos paratoda a eternidade. O nosso compro-missoparaseguirJesusCristodeveriaprocedercomumafirmezasemelhan-

te.Infelizmentenemsempreéesseocaso.«Sabendoque,tendoCristores-suscitadodeentreosmortos, jánãomorre, nem a morte terá sobre elemais domínio; Porque quando a elemorrerpelopecado,elemorreuumasóvez;masquantoaoviver,viveparaDeus. Assim também vós conside-rai que estais certamente mortos aopecado, porém vivos para Deus, emNosso Senhor Jesus Cristo.» Assimse lamenta São Paulo (Rom 6, 9-��)acerca dos cristãos que caem no pe-cadomortalparaselevantaremantesdetornaracairparadenovovoltaralevantar-se.

Esta força de decisão do acto angé-lico acompanha-se inevitavelmen-te de uma perfeita pureza do dom ena recusa do pecado. Vemos muitasvezes na pureza do acto angélico ainexistência de todo o desejo carnal.É verdade, mas essa pureza deve serentendida num sentido mais lato. ÉapurezadasuainteligênciaqueolhaparaDeusnatransparênciacristalinadeumespíritointeiramenteabertoàRevelaçãoDivina.ÉapurezadeumavontadequeseuneaDeussempedirnadaparasimesmaesemnenhumapretensãoaqualquermotivoindignode Deus. É a pureza de todo um serinteiramenteentregueàgraçadivinamediante um dom total e exemplar.Esta é também uma útil lição que oexemplodossantosanjosnospropor-ciona.

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Oadvogadododiaboouasantidadedoshomens

Abbé François Chautard

Como todos sabemos, esta persona-gem desempenha um papel ingrato,masdamáximaimportâncianopro-cessodacanonização.

Oadvogadododiaboéaquelehomemencarregado de denunciar na vida eprocedimentos dum servo de Deus,tudoaquiloquepoderiaimpedirasuaelevação à categoria de Bem-aventu-rado.Alémdasuafunçãodeacusador,este homem desempenha um papelfulcral que é o de vigiar para que acanonização decorra com seriedadee portanto com a devida credibilida-de.ÉumpoucocomooSãoTomédoEvangelho,quequerverparaquerer.Numapalavra,éatestemunhaautori-zadadaheroicidadedasvirtudes.

Este papel desagradável, mas indis-pensável,foiesquecidoporumacertahagiografia bem-intencionada, massemgrandeespíritocrítico.Pintandoos santos segundo a sua imaginaçãobeata, fazem deles retratos idílicos.Odramaéqueassimserepresentamossantosmaisperfeitosdoquesão,mais angélicos do que humanos, emaisadmiráveisdoqueimitáveis.

Alémdeatentaràverdadedosfactoséaprópriarazãodacanonizaçãodossantosqueéassimdeturpadaistoé;omodelodesantidadequeossantosnosdeveriamfacultar.Maisainda,éaprópria credibilidade da Santa Igreja

edosseusjulgamentosquesofrecomestacredulidade.

Por isso, desejaríamos aqui tomar,porumavez,opapeldeadvogadododiaboeassimrelembrarasfraquezasdossantosnãoparadiminuirassuasvirtudesquenãosepodemnegar,masparacorrigirumjulgamentoàsvezeserrado.

Hásantosquecometerammortifica-çõesassustadoras.Outrosfizerampe-nitênciasmaissuportáveis.Hásantosdotados, outros menos. Há santosperfeitamenteequilibrados,háoutrosquenãoosãodetodo…(�)Hásantosbelos, há outros que a natureza nãofavoreceu…

Do santo genial ao santo menos bem provido

Quando lemos a vida de um santocomo João Bosco, não podemos dei-xardesentiradmiraçãopelastãonu-merosasqualidadesreunidasnumsóhomem:erapregadorduranteodiaeduranteanoiteescritor,fazendotudocomumardorinfatigáveleumtalen-to inegável.Deumainteligênciafinaeprofunda,eraumpedagogodotadode um notável pragmatismo. Isso sósemfalarnosmúltiplosofíciosmanu-aisquedominavaequesabiaensinaraosseusrapazes.

Á vontade com os pequenos, não se

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sentiaincomodadonomeiodosgran-desdomundoedaIgrejaqueosolici-tavam, como Leão XIII que lhe pedeconselhos.Homemdeletras,homemprático,eleguardaumasimplicidadeencantadora, ao mesmo tempo quepossuíaumcarácterdechefecujaau-toridadenãoeracontestada.

Todosossantosnãosãocomoele.OsantoPedroCelestinoV,Papade5deJulhoa��deDezembrode���94,foieleito pelos cardeais quando era umsimples monge. Fora escolhido pelasua santidade, mas este bom mongefoi um Papa bastante discutível. Eletinhaaptidãoparaserummonge,nãoparaserPapa.Nãovaleapenaescan-dalizarmo-noscomisso.Deusnãoes-peraqueosseussantossejammestresna arte de governar os outros, massimmestresagovernarasuaprópriavida,oquejáémuito.

Oseusucessor,BonifácioVIII,muitomenossanto,masbemmelhorchefe,foiumdosPapasdosquaisaIgrejasepode vangloriar quanto aos seus en-sinamentosedecisões.ComojádiziaSãoTomásdeAquino:”Nãoseesperaqueaquelequedeveescolheroupor-virànominaçãodeumbispoescolhao melhor quanto à caridade, mas omelhorquantoaogovernodaIgreja,istoé,queestesejacapazdeaorga-nizar, de a defender e de a governarpacificamente.”(��)

Hádiversasespéciesdedonsespiri-tuais, de ministérios e de operações,comodizSãoPauloem�Cor.���,4-�0.

Nada impede portanto que um sejamaisaptoaoserviçodegovernarsemserexcelentenasantidade.Naordemnaturalporémnãoéassimpoisoqueésuperiorpelasuanaturezaéporissomesmomaisaptoadirigirosseusin-feriores.”(�)

São Pedro-Celestino V era suficientehumildee lúcidoacercadasuacapa-cidadepolíticaparaterasabedoriadesedemitir.Novamentesimplesmon-ge,assimviveueassimmorreu.

Tudoistoparadizerqueasantidadenãoégarantiadetalentosnaturais.Asantidadenãoexcluinemoerronemos defeitos naturais. (4) Não iremospoisjulgarseveramenteumsanto-ouo próximo- por lhe faltar capacida-dedejulgamento,dehabilidadeoudebomsenso.

Do santo clássico ao santo barro-co.

É difícil de ser um santo mais “clás-sico”quePioX.Neletudoémedida,ordem, ponderação. A sua palavra ésempre adequada, as suas decisõessãoperfeitas,o seuexterior impecá-vel, as suas penitências impossíveisdeimitar.

Nãooveremoscederaummovimen-todecólerasemquesejajustificadoenãoosurpreendemosaaceitarqual-quer guloseima sem que a caridadeestejaenvolvida.

MuitomaisbarrocoéosantodoRe-nascimento Italiano: São Filipe deNéry. Místico de primeira ordem,

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incansável fazedor de milagres, estesantoétambémumpândegoincorri-gíveldeprimeiracategoria.Asparti-dassucedem-seaolongodasuavidaqueémaisparecidacomumapeçadeteatrodoquecomumahagiografiadevitral. Pois não o vimos pedir a suaeminênciaocardealBaronius,océle-brehistoriador,parapassearumgatoemRomasóparaohumilhar?Mesmosendoumescândaloparaasbeatasdesacristia,estesantoestánosaltares.

Neletudoécontraste.Mesmoosseusmilagres. Sobretudo os seus mila-gres.Nãoéeleoúnicosantonoqualoardordasuacaridadeprovocouumafastamentodascostelaspróximasdocoraçãocomoseconstatoudepoisdasuamorte?(5)

Acrescentemosqueesteamigodosé-rioenãomenossantoCarlosBorro-meu, aborreceu este último pela suaconstante versatilidade (5) É bemverdadequeoEspíritosopraquandoquereondequer…

Outrossantosháquealémdenãote-remgrandesqualidadesnaturaistam-bém não usufruem de um equilíbrioperfeito.Teremosentãoatemeridadede dizer que são Jerónimo, o santobatalhador e de uma tenacidade atodaaprova,trabalhadorinfatigável,admirávelpenitente, caiuemcólerasincompreensíveis que só se podemexplicarporumtemperamentoexces-sivamenteirritável?

SantoAgostinho,elepróprioumadassuasvítimasespantadaseinocentes,

poderia tê-lo certamente feito, nãofaltandoporissonemàcaridadenemàverdade.

Damesmamaneira,semteratençãoàcanonizaçãodeumsantocomoSãoLuísMariadeGrignondeMontfortedoseuinsubstituívelapostolado,nãonosatreveríamosacondenarosseussuperiores que o julgaram com des-confiançaequesósepodiaminterro-garsobreasreacçõessurpreendentesqueoEspíritoSantodeveriaaprovei-tar.

Será isso uma razão para criticar asdecisõesdaIgreja?Pararetirarapal-maaestesgloriososvencedores?

Demaneiranenhuma.

Estesdefeitosdetemperamento,estafaltadeumperfeitoequilíbrionãosãoobstáculosparaagraçatoda-podero-sadeDeusqueseridosjulgamentosdoshomens.

Deveríamosnósaocontráriodeclararperfeitamente moderados os julga-mentosimpetuososdeSãoJerónimoou os curiosos comportamentos desãoLuís-MariaGrignondeMonfortecondenarosseussuperiores?Tambémnão.Estesdoissantosforamsimples-mente santificados com a naturezaqueDeus lhesdeu.Oqueé,verdadesejadita,bastanteencorajador.

Umas fraquezas bem desculpáveis

Enfim, se admitirmos que os santospodemestardesprovidosdetodasasqualidades do mundo, será mais di-

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fíciladmitirqueelespossamcederaqualquer fraqueza puramente huma-naenofinaldecontas,tãofacilmentedesculpável.

SetomarmosocasodeSãoGregórioo Magno, Papa extraordinário, re-formador da Igreja, poderemos en-contrar escrito por ele, reprimendasduras e veementes que indicam umtemperamentocoléricoeumcarácterirascível.MassepensarmosqueestePapa exercia o seu pontificado sobcondições pavorosas, com a ameaçaconstanteepróximadeBárbarossan-guinários, no meio de um clero malformado, às vezes escandaloso, cominferiores de boa vontade mas compoucahabilidade:senoslembrarmosqueeledeviaatenderavariadíssimascoisas ao mesmo tempo, que tinhaumaúlceradeestômagodequeigno-ramossefoiacausaouaconsequên-cia da sua irritabilidade, deveremosreconhecer sem dificuldade que eletem o direito à nossa misericórdia equenãolheiríamosrecusaraauréolaportãopoucacoisa.

SãoFranciscoXavier“tornou-senumsantomuitogrande,maspermaneceuatéaofimumhomemtãoapaixonadoquantoobstinado,capazpormomen-tos de violentas cóleras e de bruscasdecisõesdeautocrata;masestasesca-padelasdanaturezanãooimpediramde estar entre os seres mais cordiaiseamáveisqueonossotristeplanetajamaisconheceu.”(6)

Estas fraquezas não nos devem sur-

preender. Deus as deixa a estes ser-vidores para nos mostrar que a san-tidadeperfeitasóexistenoCéuequedevemos saber distinguir entre umavontade determinada a fazer o mal,nemquesejaporumapequenacoisasemimportância,eumavontadeapa-nhadadesurpresaeenvolvidacomosem querer por um temperamentofervoroso ou por qualquer outra cir-cunstância. Isto leva-nos também auma certa moderação quando julga-mososnossospróximos.Seossantosguardaram algumas fraquezas, nãodevemosnós,oprimironossopróxi-mo por alguma falta, talvez superfi-cial.

Um pouco de humor

Tambémnãodeveríamosimaginarossantossemqualquerhumor,imobili-zadoscomosefossemestátuasgregas.SãoJoãodaCruz,grandemístico,eraoprimeiroasaberbrincar:«Umavezumreligiosoatrabiliáriorecusou-seacomer carne porque esperava que oseuenfermeirolhopedissecommaisinsistência,maseste,quetambémti-nha sido dispensado da abstinência,comeu-a toda. O Santo muito diver-tido disse ao enfermeiro para fazersempre assim pois era o melhor re-médio para curar este género de do-entes.»(7).

Ásvezesohumordossantosémaismordaz ainda, como nesta carta desantaTeresadeÁvila:«Dizemqueopadre Maldonado foi nomeado Vicá-rio Provincial, deve ser sem dúvida,

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porqueeleémaisdotadoqueosou-trosparafazermártires.Todaacida-deestáescandalizada.”(8)

A natureza da santidade humana

A santidade humana escapa ao jul-gamentohumanoqueé tãorápidoaelevaraocéu-santosúbito–comoaatirarparaoinferno.AsuadefiniçãotalcomoadeclaraçãodasantidadedeumapessoarelevamdojuízodaSan-taMadre Igrejaquesebaseianaau-tentificaçãodivinamanifestadapelosverdadeiros milagres depois de devi-damenteexaminados.

Emqueéqueconsisteasantidade?

Asantidadeconsistenaperfeitauniãosobrenatural com Deus, na medidaem que esta união pode ser perfeitacánaterra.

Estaascensãodaalmafoimuitobemdescrita e analisada pelos grandesmísticos como santa Teresa de Ávilae São João da Cruz. Esta união comDeus não deve absolutamente serconfundida com manifestações aces-sórias tais como a levitação, o domdaslágrimasouqualqueroutrocaris-maindependentedasantidade.

Como o relembrava energicamentesantaTeresadeÁvila,“Éevidentequea soberana consolação não consistenas consolações sensíveis interiores,nem nos sublimes arrebatamentos,nem nas visões, nem no espírito deprofecia. Ela consiste a tornar a suavontade tão conforme à vontade deDeus que a partir do momento que

compreendemos que ele quer umacoisa, nós nos agarramos a ela comtodaanossavontade;consisteemre-ceberenfim,comigualalegria,oqueédoceeoqueéamargo,logoquesa-bemosquetaléoprazerdesuaMa-jestade»(9). Éporissoqueoexameda santidade de uma pessoa tem avernãocomanaturezadauniãoqueélargamenteinacessível,massobreapráticadasvirtudesheróicas,queéosinalindubitáveldessauniãojáqueapráticaheróicadasvirtudeséimpos-sívelsemestaunião.

A missão da Igreja consiste então adebruçar-se sobre a prática destasvirtudes. Primeiro sobre as virtudesteológicas(Fé,EsperançaeCaridade)comassuas«filhas»(Justiça,Tempe-rança,Castidade,Paciência,Humilda-de…).Esseestudotema inestimávelvantagemderealçarasdiferentesfa-cetasdossantosededaraoshomensum exemplo concreto e visível paraestudar.

«A vida dos santos apresenta-nos oCatolicismo em acção. Não é maisuma teoria: vemos que é possível, evemo-lograçasaosexemplosmaisbe-los,maisatractivos,osmelhoresparaimpressionar o espírito e o coração.Eis os santos de Deus; eles viveram,foramhomenscomonós;eisassuasobrasaindavivas;eisoqueDeusdeuaomundopelas suasmãos.Deve-selerasvidasdossantos.»(�0)

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Notas

«Muitaspersonagenspersonagensvirtuosas,atémesmosantos,foramafligidos,maisoumenosgravemente,porproblemasdoforopsíquico».Louis Jugnet,LouisJugnet,Ru-dolf Allers ou o anti-Freud.EdiçõesduCèdre�950-p.�0�II.II�85,�,cII.II�85,�,ad�Nósdistinguimosaquiosdefeitosnaturaisdosdefeitosmorais;osprimeirosen-tendem-secomodefeitosnãoculpáveis,osoutrosbaseiam-sesobrelacunasculpá-veis.Serpoucoespeculativooufeiosãodefeitosnaturaisnãoculpáveis.Inversa-mente,serpreguiçosonoestudo,oumentirososãodefeitosmorais.Evice-versa:«Noseuzelodevorador,SãoCarlosBorromeu,quedeveriafaleceraos46anos,não tinhaemgrandeconsideraçãoosdireitosdasoutraspessoas.EleatormentavaSãoFilipedeNeryporestelhenãoenviarbastantesoratorianosparaMilão,equandoFilipesedesculpoupornãolhecederoseubraçodireito,FrancescoMariaTarugi,eleacusou-odeseregoísta,deserdesobediente,edeterfaltadezelopelaglóriadeDeus.SãoFilipeenviou-lheumarespostaindignada;mas não temos a certeza se ele chegou a enviar uma primeira redacção da suacartaporserdemasiadoexplosiva:«Vósacusais-medenãosermortificado,por-queeumerecuseiavoscederoPadreBaronius,maseuestouconvencido,evósdeixar-me-eisconfessarcomtodaafranqueza,quesoisvósquetendesmaisfaltadedesprendimentodoqueeu.MuitagentevosdizamesmacoisacomoosbisposdeRiminiedeVercelli,ediz-semaisaindaquevósnãoestaislámuitoisentoderoubosmanifestos.Quandovós lançaisovossoolharsobreumhomemválido,imediatamentetrataisdeo levarparaMilão.Vóssoisumladrãodesábiosedesantosestranhamenteaudacioso.ComodizoProvérbio,vósdespojaisumaltarparaornamentaroutro».PadreJamesBrodrick, RobertoBellarmino,DescléeDeBrouwer,�96�,pp.48-49.PadreJamesBrodrick,São Francisco Xavier,DescléeDeBrouwer,p.50.Alonso,citadoporChandebois,Retrato de São João da Cruz,Grasset,�947,pp.�8�-�84;citadopeloPadreBrunodeSantaMaria,SãoJoãodaCruz,DescléeDeBrou-wer,�96�,p.�����.CartadeSantaTeresadeÁvilaaFilipeII;citadapeloPadreBrunodeJesusMaria,São João da Cruz,DescléedeBrouwer,�96�,p.�89.SantaTeresadeÁvila,As Fundações,ch.5De Templo Salomonis, liber,c.XIX.-Pat.Lat,.t.XC,col.788DomdeMonléon,Os instrumentos da perfeição,cahiersscivias,p.��88.

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��.�.4.

5.

6.7.

8.

9.10.

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AdeslealdadesupremaparacomDeuséaheresia!

Éopecadodospecados,amaisrepug-nante das coisas que Deus reprovaneste mundo enfermo. No entanto,quãopoucoentendemosdesuaodio-sidadeexcessiva!Éapoluiçãodaver-dadedeDeus,oqueéapiordetodasas impurezas. Porém, como somosquaseindiferentesaela!Nósafitamosepermanecemoscalmos.Encostamosnelaenãotrememos.Misturamo-noscomseusfautoresenãotemosmedo.Nósavemostocarascoisassantasenão percebemos o sacrilégio; inala-mosseuodorenãomostramosqual-quersinaldedetestaçãooudesgosto.

Algunsdenósafetamostersuaami-zade;ealgunsatébuscamatenuarasculpasdela.NósnãoamamosaDeusobastanteparatermosraivapelagló-ria d’Ele.Não amamos os homens obastanteparasermoscaridosamentesincerospelasalmasdeles.Tendoper-didootato,opaladar,avisãoetodosos sentidos das coisas celestiais, so-moscapazesdearmartendanomeiodessapragaodienta,emtranquilidadeimperturbável,reconciliadoscomsuarepulsividade,enãosemdeclaraçõesem que nos gabamos de admiraçãoliberal, talvez até com uma demons-traçãosolícitadesimpatiastolerantes[porseusfautores].Porqueestamostão, tãoabaixodossantosantigos,emesmodosapóstolosmodernosdes-tesúltimostempos,naabundânciadenossasconversões?Porquenãotemos

aantigafirmeza!Falta-nosovelhoes-píritodaIgreja,ovelhogênioeclesiás-tico.Nossacaridadeéinsincera,poisnãoésevera;enãoépersuasiva,poiséinsincera.Carecemosdedevoçãopelaverdadecomoverdade,comoverdadedeDeus.Nossozelopelasalmasédé-bil,poisnãotemoszelopelahonradeDeus.Agimos como se Deus ficasselisonjeado com conversões, ao invésdeseremalmasquetremem,resgata-das por um excesso de misericórdia.Dizemos aos homens meia-verdade,a metade que calha melhor à nossaprópriapusilanimidadeeaosprecon-ceitosdeles;edepoisnosadmiramosdetãopoucosseconverterem,eque,desses poucos, tantos apostatem.Somostãofracosapontodenossur-preendermosdequenossameia-ver-dadenãotevetantosucessoquantoaverdadeinteiradeDeus.Ondenãoháódioàheresia,nãohásantidade.Umhomem,quepoderiaserumapóstolo,torna-seumaúlceranaIgreja porfal-tadejustaindignação.

(Pe.FrederickWilliamFABER[�8�4-�86�], The Precious Blood, or: ThePriceofOurSalvation[OPreciosíssi-moSangue,ou:OPreçodeNossaSal-vação],�860,pp.��4-��6)

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PrivilégioSabatino

Em que consiste o privilégio sabati-no?

Existeumagravediscrepânciaentreoquehojeestáescritonalgunsdevocio-náriosefolhetospiedosos(designadosporpagelas),eoqueaIgrejadetermi-nouemtempospassadosequeaindaseencontramregistosemalgunsca-tecismos e livros de devoção Maria-na. Refiro-me às seguintes questões:primeira,seaalmasaidopurgatórionoprimeirosábadoaseguiràmorte�ou num sábado, não necessariamen-te a seguir ao falecimento; segunda,quais os dias de abstinência e jejumdeterminados. Deixarei para o fim aquestãorelacionadacomacomutaçãodasobrigações.

O primeiro documento que refere aaparição da Bem-aventurada VirgemMariaaS.SimãoStockdatadoanode�4�0 aproximadamente; é chamadode«Viridarium»doPriorGeralCarme-litaJoãoGrossi��.Entreoanoemquese terá dado a visão (���5�) e a data� Cf. Como se pode ler em «Escapulário do Carmo», Editorial A.O., Braga, 2ª Ed. 2010 (Pe. Fernando Leite), p. 14: “No ano 1322 teria o Pontífice publicado uma Bula em que manifestava que a Virgem Santíssima lhe pro-metera levar para o Céu, no sábado seguinte à morte, a quem cumprisse estas condições: 1. Guardar castidade, segundo o seu estado; 2. Rezar o Ofício Menor da Virgem Santíssima; 3. Jejuar às quartas e sábados”. O mesmo é afirmado na Pagela «O Escapulário do Car-mo», Ed. Cavaleiro da Imaculada, Porto, s/d.� Cf. Daniel a S. Virg. �aria, Speculum�aria, Speculum Carmelitarum I. Antverpia 1680, p. 131.

acima,ahistórianãoapresentadocu-mentoalgumquerelateocaso.

O«privilégio sabatino»,foidadoaco-nhecer ao mundo cristão pela BulaSacratissimo uti culmine de S.S. PapaJoãoXXII(���7)�.

QuedisseaSSmaVirgemMariaaS.Si-mãoStock?Disse:[��05]«Recebe meu filho este Escapulário de tua ordem como sinal distintivo da minha confraria e pe-nhor do privilégio que consegui para ti e os filhos do Carmelo. Aquele que morrer revestido deste hábito, será preservado das chamas eternas; é sinal de salvação, um penhor de paz e de aliança eterna».4

Qual é a promessa feita pela SSmaVirgemMariaaS.S.PapaJoãoXXII:[��07]«A SSma Virgem Maria prometeu a este pontífice que, todos os sábados, des-ceria ao purgatório para livrar as almas dos que tivessem trazido o Escapulário até à morte: é o que se chama indulgên-� Cf. Carmelita Balduíno Laersius (+1483) apud Pe. Zimmermann na sua colecção de documentos referentes à Ordem do Carmo (Monumenta histórica Carmelitana I 356-363). Lê-se em Explicação do Catecismo de Nossa Senhora, Livraria Francisco Alves, Rio de Janeiro, 1915, p. 311-312, a confirmação das promessas feitas a S. Simão, 70 anos atrás, numa aparição a S.S. Papa João XXII (vide [603] e [604]). � Cf. A devoção à S.S.ma Virgem Maria, Livraria Paulo de Azevedo, Rio de Janeiro, s/d, p. 57. Concordância com Explicação do Catecismo de Nossa Senhora (1917), vide [610], p. 314.

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cia» sabatina».5

Alémdacondiçãoacimareferida(mor-rer revestido deste hábito),aIgrejaesta-beleceuqueosfiéisdevem:[��08]«1º guardar a castidade conforme o estado; 2º rezar o ofício Parvo da SSma Virgem, conforme o breviário romano, ou rezar o grande ofício canónico».Eainda,«os que não sabem ler, podem lucrar indul-gência sabatina, mas com a condição de não omitirem nenhum dos jejuns prescri-tos pela Igreja, e guardarem a abstinên-cia na quarta-feira e no sábado, excepto no dia de Natal, quando cai nesses dias. Os religiosos carmelitas e certos padres, especialmente autorizados pelo papa ou pelo Geral dos Carmelitas, podem co-mutar em outras orações a recitação do ofício da SSma Virgem e a abstinência da quarta-feira e do sábado».6

O«privilégio sabatino»foiconfirmadoporváriosPapas,taiscomoAlexandreV (�409),ClementeVII (�5�0),Pau-loIII(�5�4),PioIV(�56�),SãoPioV(�566),GregórioXIII(�577),PauloV(�6��),UrbanoVIII(�6��8),Clemen-teX(�67�),InocêncioXI(�678),SãoPioX(�906),PioXI(�9����)ePioXII(�950).

Observe-se, porém, que o privilégioda boa morte (a primeira das duaspromessas: livre do fogo do inferno)jamaispoderáserentendidoemsen-tidomecânico,comoseousodoesca-pulário, independentemente da vidamoraldocristão,fossesuficientepara� Cf. Ibidem, p. 57.� Cf. Ibidem , p. 57.

garantirasalvaçãoeterna.Não;opor-tador do escapulário deverá cultivarasvirtudescristãsparaqueaditain-sígnialhepossavalercomopenhordeespecialtuteladeMariaSSmanahorada morte. Foi o que S.S. Papa LeãoXIII quis inculcar, quando, ao apro-varoOfíciodeS.SimãoStockparaoscatólicosingleses,mandouinserirnorespectivotextoumapalavraquenãose achava no original apresentado aS.Santidade:«Todo aquele que morrer piedosamente trajando esse hábito, não sofrerá as chamas do inferno».

As boas disposições espirituais sãotambémexigidasporumcomentáriodoprivilégio,comentárioeste,atribu-ídoaS.SimãoStock:

«Conservando, meus irmãos, esta pala-vra em vossos corações, esforçai-vos por assegurar vossa eleição mediante boas obras e por jamais desfalecer; vigiai em ação de graças por tão grande benefí-cio; orai incessantemente a fim de que a promessa a mim comunicada se cumpra para a glória da SS. Trindade, e da Vir-gem sempre bendita»�.

Notocanteaosegundoprivilégio(saí-dadopurgatório),devem-seobservaros termosprecisossegundoosquaisaSantaSésetemreferidoaele.UmdecretodoS.Oficiodatadode�5defevereiro de �6�5 (sob o Papa PauloV) e renovado pela S. CongregaçãodasIndulgênciasa�ºdedezembrode�885 assinalaaatitude definitiva do � Cf. Bento XIV, De festis B. V. c. VI § § 7-8.

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magistériodaIgrejasobreoassunto:admite que a SSma Virgem Maria co-brirá com a sua protecção materna,principalmentenosábado,diaconsa-gradoaoseuculto,asalmasdaquelesque na terra tiverem sido seus fiéisservos.

A4dejulhode�908,aS.CongregaçãoaprovouumaSúmuladeindulgênciase privilégios concedidos à ConfrariadoEscapuláriodoCarmo,emqueselêverbalmenteoseguinte:

«O privilégio comumente chamado sabatino, de João XXII, aprovado e confirmado por Clemente VII, Ex cle-mentis, aos 12 de aposto de 1530, por Pio V, Superna dispositione, aos 18 do fevereiro de 1566, por Gregório XIII, Ut Laudes, aos 18 de setembro de 15��, e por outros, assim como pelo decreto da S. Inquisição Romana sob Paulo V, aos 20 de janeiro de 1613, declara: ‘É per-mitido aos Padres Carmelitas pregar que os fiéis podem admitir a piedosa crença no auxilio concedido após a morte aos Religiosos e confrades da Associação de Nossa Senhora do Monte Carmelo’. Com efeito, é permitido crer que a SSma Vir-gem socorra às almas dos Religiosos e confrades falecidos em estado de graça, contanto que tenham:

1. trazido durante a vida o escapulário,

2. guardado a castidade do seu estado e

3. recitado o Oficio Parvo da Virgem ou, se não sabem ler,

4. observado os jejuns da Igreja e praticado a abstinência de car-

ne às quartas e sábados, a menos que a festa de Natal caia num desses dias.

As orações contínuas de Maria, seus piedosos sufrágios, seus méritos e sua especial protecção lhes são assegurados após a morte, principalmente no sábado, que é o dia consagrado pela Igreja à SSma Virgem».

Pode-seentãoconcluiroseguinte:

• não se pode afirmar que a li-bertação do purgatório possa ocorrer no primeiro sábado após a morte. Ten-do o magistério preferido a fórmula mais geral: «especial protecção (…) principalmente no sábado» - não es-pecifica, portanto, que é o sábado ime-diato ao falecimento;

• No que diz respeito às comu-tações que o Sacerdote pode realizar, fica claro que se «podem comutar em outras orações a recitação do ofício da SSma Virgem e a abstinência da quarta-feira e do sábado».8

� Cf. Ibidem , p. 57.

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