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•it/ Because my Brook isfluent Se o meu Riacho é fluente ç,, A word is dead „, 37 9^ Uma palavra morre ^^ ^g The Riddle we can guess OEnigma decifrado ^^ So proud she was to die Tanto orgulho em morrer 40 In this shortLife NestaVidatão breve 4, YesterdayisHistory Ontem é História jqj ^^ Mushroom is the ElfofPlants ior O Cogumelo —à Noite ,0, ^^ Ci5>«/(a? mortal lip divine ,^4 Se o lábio hábil a sílaba ,^. A Dimple in the Tomh Um Vão na Pedra Tumular 107 45 Fameisabee A Fama é uma abelha j BIBLIOGRAFIA BÁSICA DAS OBRAS DE EMILY DICKINSON ,,j fíT TH - p- TS í k.»/O Sor-' INTRODUÇÃO emily EIIIABETH DICKINSON nasceu tm Amhcrst, Massa- chusetts, am .= da d««mbro de .8,0, omorreu na mesma cidade em i; de maio de i88d, aos 55 anos. Morou sempre na casa paterna, levando uma vida de poucos incidentes e poucas relações de amixade. Conheceu, apenas b««men.e, akumas cidades próximas, como Washington, Fdadélfia, Boston, Cambridge. Tendo recebido educação puritana, fo. aluna da Academia de Amherst e, mais rarde entre . 847 e ,848, do seminário feminino de Mount Holyhoke (South Hadley), que abandonou depois de recusar-se publicamente adeclarar sua fé. Pode-se considerá-la uma autodidata em poesia, ainda que admitisse como preceptores dois amigos da família: um praticante do escritório de advocacia de seu pai, Benjamin Newron, com quem se correspondeu até que a morte o colhesse em . 85,, eo Rev. Charles Wadswotth, com o qual se avistou algumas vcxes e também trocou cartas. Por volta de ,8ío. em grande isolamento, iniciou a fase madura de sua poesia. Em rSóa. enviou quarto poemas aIhomas Higginson, critico literário do Atlmtk Monthly. que nao chegou àquela altura acompreender inteiramente a sua poe sia incapaa de enqu.dtá-1. nos cânones vigentes. Embora ... icebesse a originalidade da aurora, oandamento dos seus las lhe pareceu, então, -espasmodico", e seus versos, des- iiocma:

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•it/

Because my Brook isfluentSe omeu Riacho éfluente ç,,

A word is dead „,37 9^

Uma palavra morre ^^

g The Riddle we can guessOEnigma decifrado

^ Soproudshe was to dieTanto orgulho em morrer

40 In this shortLifeNestaVidatão breve

4, YesterdayisHistoryOntem é História jqj

^ Mushroom is the ElfofPlants — iorO Cogumelo —àNoite — ,0,

^^ Ci5>«/(a? mortal lip divine ,^4Se o lábio hábil a sílaba ,^.

ADimple in the TomhUm Vão na Pedra Tumular 107

45 FameisabeeA Fama é uma abelha j

BIBLIOGRAFIA BÁSICA DAS OBRAS

DEEMILY DICKINSON , , j

fíT TH -p- TS í k.»/O Sor-'

INTRODUÇÃO

emily EIIIABETH DICKINSON nasceu tm Amhcrst, Massa-chusetts, am .= da d««mbro de .8,0, omorreu na mesmacidade em i; de maio de i88d, aos 55 anos. Morou semprena casa paterna, levando uma vida de poucos incidentes epoucas relações de amixade. Conheceu, apenas b««men.e,akumas cidades próximas, como Washington, Fdadélfia,Boston, Cambridge. Tendo recebido educação puritana, fo.aluna da Academia de Amherst e, mais rarde entre .847 e,848, do seminário feminino de Mount Holyhoke (SouthHadley), que abandonou depois de recusar-se publicamenteadeclarar sua fé. Pode-se considerá-la uma autodidata empoesia, ainda que admitisse como preceptores dois amigosda família: um praticante do escritório de advocacia de seupai, Benjamin Newron, com quem se correspondeu até que amorte ocolhesse em .85,, eoRev. Charles Wadswotth, comoqual se avistou algumas vcxes etambém trocou cartas. Porvolta de ,8ío. em grande isolamento, iniciou afase madurade sua poesia. Em rSóa. enviou quarto poemas aIhomasHigginson, critico literário do Atlmtk Monthly. que naochegou àquela altura acompreender inteiramente asua poesia incapaa de enqu.dtá-1. nos cânones vigentes. Embora... icebesse aoriginalidade da aurora, oandamento dos seus

las lhe pareceu, então, -espasmodico", eseus versos, des-iiocma:

í.?

J!

controlados". Desencorajada apublicar pelo crítico, respondeu-lhe: "Sorrio quando sugere que eu protele a'publicação. Se eu conhecesse afama, eu não poderia fugir aela, senao aconhecesse, ela me perseguiria odia inteiro eeu perderia aaprovação de meu cachorro". Após longa correspondência, houve dois encontros pessoais que deixaram Higginsonainda mais perplexo ante apersonalidade extravagante eenigmáticade sua interlocutora.

Emily tinha 19 anos quando Poe (1809-1849) morreu.Não acusa influência deste. Whitman (1819-1892.), seu antí-poda, não chegou ainteressá-la, apesar de recomendado porHigginson. Vislumbra-se em seus textos algo de Emerson(1803-1881) —oEmerson mais contido de poemas curtos,como Brahma", edo seu transcendentalismo filosófico. Masela é mais radical e dissonante.

Pouco se sabe de suas leituras —Shakespeare, Keats eosseus contemporâneos Robert Browning (1812-1889) eEliza-beth Barreth Browning (i 806-1861) estão entre os raros poetas expressamente referidos em seus escritos. Sua poesia nãose parece com adeles. Emily criou am idioma poético próprioeantecipatório em termos de densidade léxica, economia deexpressão eliberdade sintática. Parece mais próxima das ousadias metafóricas dos poetas "metafísicos" ingleses, comoDonne, que ela certamente não leu. Utiliza, muitas vezes emcombinatórias novas, versos tradicionais, nos quais os seus estranhos tracejamentos gráficos introduzem recortes epausasinusitados, dando-lhes feição singular. "Seu desprezo por fórmulas aceitas ou por regularidades éincorrigível. Gramática,rima, metro —tudo o que se opurha ao seu pensamento ouliberdade de expressão era dispensado por ela", afirma ConradAiken, um dos primeiros areconhecerem sua relevância, num

Cm/íy DIckInson: Nâo sou ninguóm

«"'iT-XT- S-

' , -.>1 V t

artigo de 1914. Étal amockrnidade de sua linguagem que emnossos tempos podemos associá-la, sem esforço, àda tambémextraordinária poeta russa Marina Tzvietáieva (1891-1941).pefa dicção elíptica esincopada eaté pelas idiossincrasias dasua pontu^âo, mesmo que as duas se apartem pela naturezaàc seu pathos existencial edo contexto em que viveram. Linguagem densa esubstantiva, que transita sem transições doreal ao imaginário - os substantivos freqüentemente maius-culizados para acentuar asua dominância.

Tudo em Emily éparadoxo. "Mistura de puritana elivre-pensadora", anota Aiken. Cruzam-se em sua poesia os traçosde um panteísmo espiritualizado, de uma solidão solituora serena ora desesperada, ede uma visão abismai do universo edo ser humano. Micro emacrocosmo cqmp^t^sem aforismos poéticos. Da observação da natureza, em suasmáls humildes manifestações, ela consegue ascender às perguntas sem resposta da vida eda morte edo amor (ainda querecessivo e sublimado) em seus epigramas-enigmas conceituais. Temas que percorreram apoesia de todos os tempos,mas assimilados aqui num idioleto de rara beleza. Sua geografia imaginária não tem limites. Freqüenta os jardins domundo. De uma borboleta do Brasil pode chegar às estrelas.Do jardim aos céus. Do som ao sonho. Do cONcRETo aoeTERNO.

Aintegridade poética que acaracteriza assume radi-calismos extremos em textos como "Success is countedsweetest" / OSucesso émais doce (n^^s). "I'm Nobo y.Who are you?" /Não sou Ninguém! Quem évocê? (n^^ 11),"Publication is the Auction" / Publicar éoLeilão (n" i}):coerentes com oque ela afirmava em sua carta aHigginson,pleiteiam oanonimato, que sua grandeza, custosamente reco-

Introdução !-•

I

W,d,, acabana por tornar imposrivol. Não porso deixar drnfcndrr nin rom pessoano àversão de linhas como essas, que

me trazem àmente, de várias maneiras, ogrande poeta porru-

noyexros de Erosrrams _ sobre aFama Póstuma" {PM„ase etórnr), ou na sua "estética da abdicação", incluídaawacoiras do semi-hererônimo Bernardo Soares, onde se

po eencontrar: Toda vitória éuma grosseria" e"Vence sóquem nunca consegue^ Como sucedeu com Emily Dickinson,u,a poesra ele nao chegou aconhecer, amaior parte da obra

VilÓsT u fWi^dape.Pn.orre»,, como se sabe,Várms dos texto, da poeta norte-americana, que admiremmulcpla mrerpreração, podem ser lidos também alegórica-

Tsta rr u P"""' "•«•Poan.as,Assrm podemos entender arosa que se auroeonsrrói em "Asepal, peral and arhorn" /Sépala, pétalaeum espinho (n- z), oaereço que deixa "ma saudade de ametista" em "Iheld a/civelmmy fingers /Tive umaJóia nos meus dedos (n- 9), apérola aquemsepodechegarcom "táticasde G-emu,prari^ndo^-dre:mWe play ar Paste" / Lidamos com ojoio (n- ,z) ou arei

vindicação da forma em "Besr Wirchcrali is Geomerry" /AGeomeena eamaior Magia (n- „). "Beaury - be nor caused _

ra" r'r T" ^ •S), afirma apoe-••vAngeJuiL&kmis, que escreveu amesma coisa numa

de suas máximas espirituais; "Die Ros" isr ohn' Warumsie bluhet weil sie blühet, / Sie achft nicht ihrer selbsr,'frag niehr, „b man sie siher", que eu assim traduzi; "AoW ^ ^ """_quem.a ,e (em /zniuor GezvMmis, Editora Noa Noa, San-ta Cacarma, 1992),

fm/Zy Dickinson: Não sou ninguém

(^iTir ^ • tXd/Ci

Percebc-se, nítida, mesmo no tratamento dos temas maisabstratos, aemergência material da palavra-coisa, ol^^emal,^alpivei. Espiritual-espirituosa, Emily éexímia nos jogos vo-cabulares. Trouvailles, que brilham efluem, artísticas, não artificiais, desde os seus primeiros poemas. .Alguns exemplos. Jáno primeiro texto desta seleção, uma palavra se arma, quaserima arima, com osó acréscimo de um "s": "Iherc is awq^ /That bears^jwqrd". Uma palavra se abre, como um sabre —^ôcr^sãfélíTthTAlabaster Chambers" / Asalvo nos seusQuartos de Alabastro (n= 8), aduplicação de fonemas aos pares, na quinta linha da primeira estrofe {Rafier ofSatin —and RoofofStone!) eainversão fonêmica nas duas últimaslinhas da segunda estrofe, terminando com Soundless asdots —on aDisc ofSnow. De "Beauty —be not caused —Itis" (n'' 15): aseqüência quase-paronomastica: cause, chase,cease, creases, replicada em minha tradução como causa,cace-a, cessa, cresce". De "The Mushroom is the Elf ofPlants" / OCogumelo —ànoite —(n®^ 42): stop, spot. Procuro responder, o mais que posso, aessas provocações sonoras, compensando-as, aqui eali, em outras linhas. Dtpaste epearU")o\o" e"jóia" (n= 13). Para tanto, posso tomar alinha"I felt aFuneral in my Brain" (n"^ 10) esubstituir aaliteraçãopor uma quase-rima isomórfica, interecoante: Senti um Fé-retro em meu Cérebro', sem deslocar aacentuação basica dotexto de partida, emanter oclima emocional do texto permanecendo em sua área semântica. É um grande desafiopara o tradutor.

As últimas pesquisas apontam que Emily_yiujublicados,esparsa eàs vezes anonimamente, apena^dçz poemas. Sua numerosa produção só veio aser conhecida após amorte. Poder .se-ia dizer, com ela, que "não era ninguém", até aprimeira

introdução n

A

edição de sua obra, organizada em 1890, por Mabel LoomisTodd eT. W. Higginson, que se permitiram "corrigir" algumas das "inortodoxias" de seus poemas (alterações de rimas,métrica eaté metáforas). Seguiram-se algumas outras edições, que lhe aditaram outros tantos poemas, além de cartasda autora. Em 1945, apublicação de BoUs ofmelody, textosreunidos por Mabel Loomis Todd eMilicent Todd Bin-g am, acrescentou 668 poemas efragmentos aos já conhecidos, ficando assim praticamente mapeada toda aproduçãode Emily. Mas aprimeira edição crítica completa (1.775 poemas), organizada sistemática ecronologicamente por Tho-mas H. Johnson, só veio aocorrer em 1955. depois que o^ervo de sua obra foi transferido para aUniversidade deHarvard, em 1950. Johnson preservou sabiamente as excentricidades gráficas da poeta —as maiúsculas atribuídas acertas palavras eos traços ou travessões que interceptam os textos, em lugar da pontuação convencional, eque acenam compausas erecortes sintáticos significativos e imprevistos. Organizada pelo mesmo estudioso epor Theodora Ward, aepistolografia também mereceu extensa publicação em 1958.Coerentes com apersonalidade extravagante da poeta, ascartas lançam alguma luz sobre as amizades eos supostosamores platônicos de sua vida discreta emisteriosa, que continua adesafiar aimaginação de estudiosos epesquisadores.

Foi apartir da edição dos poemas coligidos por Johnsonque se deu propriamente a"rc-visão" definitiva euniversal deEmily Dicldnson eque ela passou apersonificar a"ur-Cinde-rela" da poesia moderna, segundo aexpressão com que asaudou opoeta ecrítico John Crowe Ranson, em 1956, em seuestudo "Emily Dickinson: apoet restored". Ela parece não tertido espaço no horizonte de referências do pro,e kinema que

I Emily Dickinson: Nâo sou ninguém

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protagonistas do Alto Modernismo, como Pound ou Eliot, buscavam nas primeiras décadas do século passado, embora sua concisão pudesse ter sido apreciada por eles sob aperspectiva doImagismo. Em compensação, uma leitora da qualidade da poetaMarianne Moore, admirada por ambos, já falava do rigorosoesplendor" de Emily Dickinson, numa carta de 1914- EtambémHart Grane a descobriria, dedicando-lhe um poema que saiupublicado em 1917. Vozes dissonantes, que antecederam demuito a"restauração" da imagem poética de Emily Dickinson.

Após arevelação eareavaliação trazidas pela edição deJohnson, onúmero de poemas foi ainda aumentado na ediçãocompleta de R. W. Franklin, publicada em 1999. num únicovolume, elevando-se a1.789 textos. Apartir das edições fac-similares lhe manuscript books e lhe master letters ofEmilyDickinson anteriormente publicadas, em 1981 e 1986, pelomesmo Franklin, apoeta Susan Fiowe, entusiasta de Emily,tern discutido os critérios utilizados pelos dois organizadoresnas edições padronizadas. Apesar de reconhecer aimportância do trabalho de Thomson ede Franklin, entende ela que aestrutura dos versos, cujas linhas aparecem quebradas irregularmente nos manuscritos, deveria ser preservada, como está,nas transcrições, assim como as variantes ecorreções, incluídas nas publicações completas universitárias, mas interpretadaseunificadas nas edições mais acessíveis. Embora dê margem acuriosas digressões, sua argumentação nãoé de todo convincente nem oferece solução prática, além de não ser respaldadapor Franklin, oscholar que divulgou os manuscritos de poemas ecartas de Emily. As idiossincrasias macrográficas deEmily Dickinson constituem mais um complicador da sua(St Ili ura enigmática, mas, em si mesmas, por mais interessan-II si|!ie sejam, não revelam coerência que justifique aaltera-

introduçõo I 15

í;

AK-

ção dos critérios prevalentes. No entanto, uma experiênciasignificativa foi feita no livro Open me carefully (Paris Press,Ashfield, Massachusetts, 1998), organizado por Ellen LouiscHart eMartha Nell Smith, contendo todas as cartas íntimasde Emily endereçadas aSusan Huttington Dickinson. Focalizando, com ousadia, orelacionamento passional, mesmo seplatônico, de Emily por sua amiga edepois cunhada, as organizadoras decidiram transcrever literalmente vários dos poemas cdas cartas que integram essa coletânea, pela primeiravez publicados como um todo. Embora reconhecendo que osmanuscritos não podem ser plenamente traduzidos em escritatipográfica, procuraram reproduzi-los com amáxima fidelidade, com seus cortes inusitados, determinados às vezes peloformato epelas dimensões do papel ou do material em que seinscrevem, com ênfase nos textos que aprópria Susan já identificava como letter-poems, poemas-cartas ou cartas-poemas.Oresultado desse verismo gráfico —que sugere poemas recortados segundo técnicas ultramodernistas —pareceu-meestimulante, embora discutível oentendimento de que "afusão de poesia eprosa, fazendo poemas de cartas ecartas depoemas, seja uma deliberada estratégia artística" que supostamente envolveria opróprio projeto gráfico dos textos. De todomodo, éuma abordagem instigante, que pode conviver com-plementarmente com areconstituição normatizada dos poemas de Emily, tais como os conhecemos nas edições habituais.

As edições de Johnson eFranklin, que consideraram asvariantes ese basearam principalmente em valores métricos,rítmicos erímicos para areconstituição eafixação dos textos, mantendo suas peculiaridades essenciais, são ainda asmais confiáveis eobjetivas. Para as minhas traduções adoteios textos edatas estabelecidos pelo primeiro.

EmilyDickinson: Nâo sou ninsuémi6|

o tradutor de poesia tem algo de um intérprete musicai,daqueles que voam livres e, imprevisíveis, fazem-nos ouvir denovo, como nunca ouvíramos, aobra do compositor. Deveser oquanto possível fiel aos significados —mais ao contextosemântico do que ao texto, quando não houver troca possívelsem perdas artísticas —, mas, acima de tudo, dar ao poemauma interpretação pregnante em seu idioma, corresponderaos seus achados estéticos eemocionais, surpreender-se esurpreender-nos de novo. "A técnica" —segundo Pound —oteste da sinceridade. Se atécnica for dispensável para dizeralguma coisa éporque essa coisa éde valor inferior". Mas apaixão éimprescindível. Omesmo Pound escreveu, certa vez,apropósito do Imagismo, que deve haver "intensa emoçãopara que apoesia se simplifique aesse ponto: "A austerida eou economia do discurso representa essa emoção intensa ese aemoção, aforça que funde, organiza, unifica, não está Ia,aobra se esboroa". Épreciso, além da técnica, uma identificação com otexto interpretado. Assumir-lhe, no transi(w), a"persona". Éarazão de querermos ouvir "Summertime comJanis Joplin ou as "Variações Goldberg" com Glenn Gould.Ouvi-las com eles não éo mesmo que ouvi-las com outros.Não tendo apretensão de acertar sempre, reivindico essa espécie de liberdade para as minhas interpretações tradutórias.Aliberdade da improvisação edo rubato. Como se. Comose opoeta tivesse de expressar-se originariamente - resolverseu enigma fundoformal —na língua de chegada. Para aspirar àesperança de que opoema originário continue originalem português. Sem presumir...

Augusto de CamposZ007

Introdução 17

•V

There isa word

Which bears a swordCan pierce anarmed manIthurls its barbedsyllablesAnd is mute ugainBut where itfellThe savedwilltellOnpatriotic day,Some epaulettedBrotherGave his breath away.

Wherever runs the breathless sun •Wherever roams the day —There is its noiseless onsetThere is its victory!Behold the keenest marksman!The most accomplishedshot!Timessublimest targetIs a soul "forgot!"

(c. i8s8)

Emily Dkkinson: Nõo sou ninguém

Ç (T íj-, G. i> I c /ct

Uma palavra se abreComo um sabre —

Pode ferir homens armadosCom sílabas de farpaDepois se cala —Mas onde ela caiu

Quem se salvou diráNo dia de desfileQue algum Irmão de armasParou de respirar.

Aonde vá o sol sem ar —

Por onde vague o dia —Láestáesse assalto mudo —Lá, a sua vitória!Observa o atirador arguto!

O tiromais perfeito!O alvo do Tempo

O mais sublime

É umser "ignoto!"

Augusto de Campos

Asepal, petal, anda thornUpon acommon summerss morn -Aflask ofDew ~ ABee or two ~ABreeze —acaper in the trees —AndVm a Rose!

(c. i8s8)

Emily DIckinson: Nãosou ninguém

tf S. !>

Sépala, pétala eum espinho —Nesta manhã radiosaGota de Orvaiho —Abelhas BrisaFolhas em remoinho —Sou uma Rosa!

Augusto de Campos

16 I

Ifrecollecting ivereforgetting,Then I remember not.

Andifforgetting, recollecting,How near I hadforgot.Andifto miss, were merry.And to mourn, weregay,How very hlithe thefingersThatgathered this, Today!

(c. lüsü)

£mlly DIckInson: Não sou ninguém

c rrxr

Se recordar fosse esquecer,

Eu não me lembraria.Se esquecer, recordar,Eu logo esqueceria.Se quem perde efelizEcontente équem chora,Q^e alegres são os dedosQue colhem isto, Agora!

Augusto de Campos Pi7

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2.8 1

s

Success is countedsweetestBy those who neersucceed.To comprehenda nectar

Requires sorest need.

Not one ofali thepurple Host^hotooktheFlagtodayCan tell the definitionSo clear ofVictory

Bshedefeated—dying —On whoseforbidden earlhe distam strains oftriumphBurstagonizedand clear!

(c. iSsç)

^mlty Dickinson: Não sou nlnsuém

€ IT Xr S" • T^x c fc"^

3

o Sucesso é mais doceAquem nunca sucede.Acompreensão donéctarRequer severa sede.

Ninguém da Hoste ignaraQi^e hoje desfila em GlóriaPode entender a claraDerrota da Vitória

Como esse — moribundo -Em cujo ouvido o escassoEco oco do triunfoPassacomo um fracasso!

Augusto de Campos 19

40

II

Im Nobody! JVho areyou?Areyou —Nobody — Too?Then there's apair ofus?Dont tell! they'dadvertise —you know!

How dreary —to be —Somebody!Howpublic —like a Frog —To tell ones name —the livelongJune —To anadmiringBog!

(c. iS6i)

Emily Dickinson: Nõo sou ninsuém

F TT 2J: B-

11

Não sou Ninguém! Quem évocê?Ninguém —Também?Então somos um par?Não conte! Podem espalhar!

Que triste —ser —Alguém!Que pública —aFamaDizer seu nome —como aRã —Para as palmas da Lama!

Augusto de Campos41

•* • J

46 1

14

Idiedfor Beauty —but was scAdjusted in the TombWhen One who diedfor Truth, was lainInanadjoining Roam —

He questioned softly "Why Ifailed"?For Beauty", I replied —

"And I for Truth —Tjemselfare OneWe Brethren, are" He said —

And so, as Kinsmen, met aNight —We talkedbetween theRoomsUntil the Moss had reached our lips —And covered up —our names —

(c. 1862)

i' SCarCe

Emily Dickinson: Nâo sou ninguém

P rrjT . T) iCi. >c i

14

Morri pela Beleza —eassim que no JazigoMeu Corpo foi fechado,Um outro Morto foi depositadoNum Túmulo contíguo —

"Por que morreu?" murmurou sua voz."Pela Beleza"— retruquei —

"Pois eu —pela Verdade —ÉoMesmo. NósSomos Irmãos. É uma sólei" —

Eassim Parentes pela Noite, sábiosConversamos a Sós —

Até que oMusgo encobriu nossos lábiosE — nomes — logo após

Augusto de Campos 47