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2 » Infor Leite Mastite e reprodução, qual a relação? Conhecida como uma das doenças que mais causa prejuízos na atividade leiteira, a mastite não afeta somente o aparelho mamário e a qualidade do leite, mas também o desempenho reprodutivo da fazenda. Aqui, destacamos como a mastite, tanto clínica como subclínica, pode reduzir a fertilidade das vacas leiteiras e causar outros problemas à reprodução. QUALIDADE DO LEITE

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Mastite e reprodução,qual a relação?

Conhecida como uma das doenças que mais causa prejuízos na atividade leiteira, a mastite não afeta somente o aparelho mamário e a qualidade do

leite, mas também o desempenho reprodutivo da fazenda. Aqui, destacamos como a mastite, tanto clínica como subclínica, pode reduzir a fertilidade das

vacas leiteiras e causar outros problemas à reprodução.

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A produtividade da vaca leiteira tem aumentado de forma dramática nas últimas décadas, fato que constantemente tem sido asso-ciado ao melhoramento genético

das raças, maior adequação da nutrição e sanidade, assim como de outros fatores de manejo. Se por um lado as vacas estão cada vez mais produtivas, também é igualmente conhecido que estes animais apresentam piora do desempenho reprodutivo e maio-res problemas de saúde, o que pode levar ao aumento da taxa de descarte e redução da vida produtiva.

Um dos grandes desafios da vaca leitei-ra é conciliar, durante o início da lactação, a elevada produção de leite e o baixo consumo de alimentos. Essa situação gera um balanço negativo de energia, cujas consequências são o risco de ocorrência de doenças associa-das ao início da lactação, como a mastite, a retenção de placenta, os cistos ovarianos e as alterações metabólicas como acidose e ceto-se. Por outro lado, em uma propriedade lei-teira, muitos esforços são realizados para que se consiga obter um parto por vaca ao ano, já que a eficiência produtiva de uma explora-ção leiteira é extremamente dependente da eficiência reprodutiva.

Tem se tornado um jargão dizer que a mastite é uma das doenças que mais causa prejuízos na atividade leiteira antes da por-teira. Isso é facilmente percebido pelos pro-dutores e técnicos, pois alguns prejuízos são evidentes e inquestionáveis, como as perdas de produção em razão de mastite clínica e subclínica, o descarte do leite com resíduos de antibiótico, o custo de medicamentos e o descarte de vacas com mastite crônica. Além destes prejuízos, mais recentemente, muitos produtores têm se deparado no final do mês com as perdas de bonificação ou mesmo de descontos no preço do leite em razão de con-tagem de células somáticas (CCS) elevada.

Estes custos são evidentes, pois o pro-dutor percebe imediatamente o prejuízo. No entanto, a ocorrência de mastite pode acarretar outras perdas que não são facil-mente percebidas, como aquelas ligadas à redução de fertilidade e do desempenho reprodutivo.

EFEITO NEGATIVO NA REPRODUÇÃOOs primeiros estudos sobre o tema foram

realizados na década de 1990 e desde então diversos resultados de pesquisa indicam de forma sistemática o efeito negativo da masti-te sobre a reprodução.

Quando uma vaca apresenta um caso clí-nico de mastite entre a primeira inseminação

artificial e a confirmação da prenhez, ocorre aumento do período de serviço e do núme-ro de serviços por concepção, em relação a vacas que não apresentam mastite clínica neste período. Alguns estudos indicam que existem efeitos negativos da mastite clínica sobre a função ovariana, o que poderia levar a alterações no intervalo entre cios e redução da duração da fase luteínica do ciclo estral, resultando assim em luteólise prematura. Diversas causas podem estar associadas ao efeito negativo da mastite clínica causa-da por microrganismos Gram-negativos. A endotoxina produzida por estes microrga-nismos pode induzir a luteólise e dificultar a concepção, causando morte embrionária precoce. Além disso, durante a mastite ocorre intensa liberação de substâncias como cito-quinas e interleucinas, as quais podem atin-gir o sistema nervoso central e, consequen-temente, afetar tanto a forma de liberação quanto as concentrações de diversos hor-mônios que controlam a função reprodutiva.

PRE JUÍZOS De maneira similar ao que ocorre com

a mastite clínica, a ocorrência de mastite subclínica no início da lactação também acarreta prejuízos sobre o desempenho reprodutivo. Embora o mecanismo exato para explicar estas perdas não seja conhe-cido até o momento, diversas hipóteses já foram levantadas. A mastite subclínica pode alterar os padrões hormonais e o desenvol-vimento folicular, uma vez que a inflamação da glândula mamária estimula a liberação de substâncias inibidoras de receptores dos hormônios reprodutivos, como FSH e LH. Além disso, sabe-se que a elevação da tem-peratura corpórea do animal pode induzir ao aumento da morte embrionária.

Além dos prejuízos causados isolada-mente pela mastite, quando ocorre asso-ciação entre a mastite e outras doenças do início da lactação há perdas consideráveis sobre o desempenho reprodutivo. Um estu-do recente apontou que vacas acometidas por mastite e outras doenças (ovário císti-

co, retenção de placenta, deslocamento de abomaso, cetose, febre do leite, metrite e piometra) apresentaram maior período de serviço e maior número de coberturas por concepção, em relação às vacas sadias, o que demonstra o efeito negativo da mastite sobre a reprodução.

O tipo de agente causador de mastite parece não interferir de forma significativa nos prejuízos causados pela mastite sobre o desempenho reprodutivo. Considerando os dois principais grupos de agentes cau-sadores (Gram-negativo e Gram-positivo), em ambos os casos ocorrem efeitos nega-tivos sobre a reprodução. Tanto animais com mastite clínica quanto aqueles com mastite subclínica antes do primeiro ser-viço apresentam aumento do número de dias para o primeiro serviço e do número de dias vazios, em relação aos animais sadios. Os animais que apresentam mastite após o primeiro serviço não sofrem alterações do desempenho reprodutivo, embora para os animais com mastite clínica entre o primeiro serviço e a concepção verifica-se aumento do número de dias vazios e do número de serviços por concepção.

Desta forma, podemos concluir que mastite, tanto na forma clínica quanto sub-clínica, afeta negativamente o desempenho reprodutivo, e que estas perdas devem ser consideradas juntamente com os demais prejuízos econômicos como, diminuição da produção e alteração da composição do leite, custos de tratamentos, descarte do leite, custos de reposição de animais des-cartados e custos com veterinário.

Animais que apresentam

mastite subclínica seguida por

casos de mastite clínica foram

os que apresentaram as perdas

mais elevadas no desempenho

reprodutivo.