etiologia e sensibilidade bacteriana de mastite …

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Arapongas 2020 PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU MESTRADO EM SAÚDE E PRODUÇÃO DE RUMINANTES NOME DO CURSO JOSIANE ITO ELEODORO ETIOLOGIA E SENSIBILIDADE BACTERIANA DE MASTITE SUBCLÍNICA BOVINA EM PROPRIEDADES DO NOROESTE E CENTRO-OCIDENTAL DO ESTADO DO PARANÁ

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Page 1: ETIOLOGIA E SENSIBILIDADE BACTERIANA DE MASTITE …

Arapongas 2020

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU MESTRADO EM SAÚDE E PRODUÇÃO DE RUMINANTES

NOME DO CURSO

JOSIANE ITO ELEODORO

ETIOLOGIA E SENSIBILIDADE BACTERIANA DE MASTITE SUBCLÍNICA BOVINA EM PROPRIEDADES DO NOROESTE

E CENTRO-OCIDENTAL DO ESTADO DO PARANÁ

Page 2: ETIOLOGIA E SENSIBILIDADE BACTERIANA DE MASTITE …

Arapongas 2020

ETIOLOGIA E SENSIBILIDADE BACTERIANA DE MASTITE SUBCLÍNICA BOVINA EM PROPRIEDADES DO NOROESTE

E CENTRO-OCIDENTAL DO ESTADO DO PARANÁ

JOSIANE ITO ELEODORO

Dissertação apresentada à UNOPAR, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Saúde e Produção de Ruminantes. Orientador: Prof. Dr. Rafael Fagnani

Page 3: ETIOLOGIA E SENSIBILIDADE BACTERIANA DE MASTITE …

Ficha catalográfica elaborada, com dados fornecidos pelo (a) autor (a) Biblioteca UNOPAR / Arapongas - Maria Luci Juliani Grano CRB – 9/776

ELEODORO, Josiane Ito. Etiologia e sensibilidade bacteriana de mastite subclínica bovina em propriedades do noroeste e centro-ocidental do estado do Paraná. Arapongas: UNOPAR, 2020. 72p. Orientador: FAGNANI, Rafael. Dissertação (Mestrado) UNOPAR - Medicina Veterinária - Saúde e Produção de Ruminantes, 2020. 1. Medicina Veterinária - Dissertação de mestrado - Unopar. 2. Saúde e Produção de Ruminantes. 3. Mastite Bovina. 4. Antibiograma. I.FAGNANI, Rafael. II. Titulo. CDU: 619:636

Maria Luci Juliani Grano: CRB – 9/776

Page 4: ETIOLOGIA E SENSIBILIDADE BACTERIANA DE MASTITE …

Arapongas, 06 de março de 2020.

Prof. Dr. Rafael Fagnani Universidade Pitágoras Unopar

Prof. Dr. Selwyn Arlington Headley Universidade Estadual de Londrina

Profª. Drª. Lucienne Garcia Pretto-Giordano Universidade Estadual de Londrina

JOSIANE ITO ELEODORO

ETIOLOGIA E SENSIBILIDADE BACTERIANA DE MASTITE SUBCLÍNICA BOVINA

EM PROPRIEDADES DO NOROESTE E CENTRO-OCIDENTAL DO ESTADO DO

PARANÁ

Dissertação apresentada à UNOPAR, no Mestrado em Saúde e Produção de

Ruminantes, área e concentração em Saúde Animal como requisito parcial para a

obtenção do título de Mestre conferida pela Banca Examinadora formada pelos

professores:

Page 5: ETIOLOGIA E SENSIBILIDADE BACTERIANA DE MASTITE …

Dedico à todos os meus familiares por terem

sido como fontes inspiradoras para mim.

Page 6: ETIOLOGIA E SENSIBILIDADE BACTERIANA DE MASTITE …

AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço à Deus, por ter me dado o dom da vida e

por me abençoar todos os dias com o seu amor infinito. Sem Ele nada disso seria

possível.

Agradeço à minha mãe Isabel, que tanto batalhou para me oferecer

uma educação de qualidade. Obrigada pelo seu grande amor e pelo apoio nas

minhas escolhas.

Agradeço ao meu pai José (in memoriam), que infelizmente não

pôde estar ao meu lado neste momento tão importante. Sua lembrança me inspira e

me faz persistir... Onde quer que esteja, sei que nunca deixou de me amar, nem de

confiar em mim.

Agradeço ao meu irmão Tiago e às minhas tias Adélia, Alice e

Helena, que sempre serão grandes exemplos de força, dignidade e caráter para

mim.

Agradeço ao meu namorado Erich, que muitas vezes abriu mão dos

seus compromissos para ficar ao meu lado, me apoiando e me ajudando. Obrigada

por todo amor, carinho, paciência e por estar sempre orando por mim.

Agradeço ao meu orientador Dr. Rafael Fagnani, por mais uma vez

terr me guiado com muita paciência na execução desse trabalho. Manifesto ainda

aqui a minha gratidão por ter compartilhado o seu tempo e a sua sabedoria. “Se

enxerguei mais longe, foi porque me apoiei em ombros de gigantes” (Isaac Newton).

Agradeço aos professores Lucienne Garcia Pretto-Giordano e

Selwyn Arlington Headley, por terem disponibilizado do seu tempo para participar da

banca examinadora da defesa.

Agradeço à UNOPAR, pelo excelente ambiente oferecido aos seus

alunos. Sou grata à cada membro do corpo docente e à administração dessa

instituição de ensino.

Agradeço à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

Superior (CAPES), pela concessão da bolsa PROSUP.

Agradeço à todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para a

realização desse trabalho. Deixo aqui о meu muito obrigada.

Page 7: ETIOLOGIA E SENSIBILIDADE BACTERIANA DE MASTITE …

“Que os vossos esforços desafiem as

impossibilidades. Lembrai-vos de que as

grandes coisas do homem foram

conquistadas do que parecia impossível.”

Charles Chaplin

Charles Chaplin

Page 8: ETIOLOGIA E SENSIBILIDADE BACTERIANA DE MASTITE …

ELEODORO, Josiane Ito. Etiologia e sensibilidade bacteriana de mastite subclínica bovina em propriedades do noroeste e centro-ocidental do estado do Paraná. 2020. 72p. Dissertação (Mestrado em Saúde e Produção de Ruminantes) - Universidade Pitágoras Unopar. Arapongas, 2020.

RESUMO

A mastite se caracteriza pela inflamação da glândula mamária, geralmente de

caráter infeccioso, sendo considerada a principal causa na redução da produção e

qualidade do leite, além de apresentar grandes riscos à saúde pública. Nesse

contexto, esse estudo teve como objetivo avaliar a etiologia e a sensibilidade aos

antimicrobianos de microrganismos isolados de amostras de leite oriundas de

diversas propriedades leiteiras comerciais das mesorregiões noroeste e centro-

ocidental do estado do Paraná. As amostras de leite foram coletadas a partir de

quartos mamários que apresentavam indicação de mastite subclínica. Foram

analisadas 360 amostras da mesorregião noroeste e 118 amostras do centro-

ocidental. Streptococcus mutans foi o microrganismo mais isolado nas amostras

oriundas do noroeste, totalizando 19,2% dos isolamentos. No centro-ocidental,

Streptococcus spp. foi identificado em 36,3% das amostras, totalizando a maior parte

das amostras. O antibiograma foi realizado pelo método de difusão de disco, sendo

testados os seguintes antibióticos: associação de Amoxicilina + Ácido Clavulânico

(AMC) com 30 μg/disco, associação de Gentamicina + Amoxicilina (GEN), e Ceftiofur

(CTF) com 30 μg/disco. Gentamicina + Amoxacilina foi o antimicrobiano mais efetivo

frente aos isolados testados no noroeste, com índice de sensibilidade de 85,4%. No

centro-ocidental, Ceftiofur foi o antimicrobiano mais efetivo, com índice de

sensibilidade de 90,6%. Os resultados evidenciaram a presença de bactérias

ambientais e contagiosas nos rebanhos estudados, alertando para os cuidados na

ordenha. As variações dos resultados de resistência entres os dois locais resultados

reforçam a necessidade da realização periódica de testes de sensibilidade in vitro.

Palavras-chave: antimicrobiano, antibiograma, glândula mamária, resistência bacteriana, saúde animal

Page 9: ETIOLOGIA E SENSIBILIDADE BACTERIANA DE MASTITE …

ELEODORO, Josiane Ito. Etiology and bacterial sensitivity of subclinical bovine mastitis in Northwestern and Western Center properties of the state of Paraná. 2020. 72p. Dissertação (Mestrado em Saúde e Produção de Ruminantes) - Universidade Pitágoras Unopar. Arapongas, 2020.

ABSTRACT

Mastitis is characterized by inflammation of the mammary gland, usually infectious,

being considered the main cause in reducing milk production and quality and,

consequently, significant economic losses. Administration of antimicrobial

intramammary drugs is the most frequently used method for treating bovine mastitis.

However, indiscriminate use of antibiotics can lead to the emergence of resistant

strains. In this context, this study aimed to evaluate the etiology and antimicrobial

susceptibility of microorganisms isolated from milk samples from various commercial

dairy properties in the Northwest and Western Center mesoregions of the state of

Paraná. Milk samples were collected from the fourth positive breast for the CMT test,

which indicated subclinical mastitis. Three hundred and sixty samples from the

Northwest mesoregion and one hundred and eighteen samples from the Western

Center were analyzed. Streptococcus mutans was the most isolated microorganism

in samples from the northwest, totaling 19.2% of the isolates. In the western center,

Streptococcus spp. was identified in 36.3% of the samples, totaling most of the

samples. The antibiogram was performed by the disc diffusion method, and the

following antibiotics were tested: Amoxicillin + Clavulanic Acid (AMC) at 30 μg/disc,

Gentamicin + Amoxicillin (GEN), and Ceftiofur (CTF) at 30 μg/disc. Gentamicin +

Amoxacillin was the most effective antimicrobial against the isolates tested in the

Northwest, with a sensitivity index of 85.4%. In the Western Center, Ceftiofur was the

most effective antimicrobial, with a sensitivity index of 90.6%. The results showed the

presence of environmental and contagious bacteria in the studied herds, alerting for

care in milking. The variations in the resistance results between the two locations

reinforce the need for periodic sensitivity testing in vitro.

Key-words: animal health, antibiogram, antimicrobial, bacterial resistance, mammary gland

Page 10: ETIOLOGIA E SENSIBILIDADE BACTERIANA DE MASTITE …

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Distribuição espacial dos municípios em que os rebanhos leiteiros foram

amostrados nas mesorregiões noroeste e centro-ocidental do estado do Paraná.....

.................................................................................................................................. 50

Figura 2. Diagrama de fluxo para identificação das espécies de Streptococcus spp.

.................................................................................................................................. 52

Figura 3. Diagrama de fluxo para identificação das espécies de Staphylococcus spp.

.................................................................................................................................. 52

Page 11: ETIOLOGIA E SENSIBILIDADE BACTERIANA DE MASTITE …

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Ocorrência de cepas bacterianas resistentes à diferentes princípios de

antimicrobianos* de acordo com artigos científicos publicados de 2010 a 2018* (n=

número total de cepas testadas) ............................................................................... 31

Tabela 2. Frequências absoluta e relativa quanto aos microrganismos isolados de

amostras de leite de bovinos com mastite subclínica no noroeste e centro-ocidental

do Paraná. ................................................................................................................. 55

Tabela 3. Frequências absoluta e relativa quanto aos microrganismos isolados de

amostras de leite de bovinos com mastite subclínica no noroeste e centro-ocidental

do Paraná. ................................................................................................................. 61

Tabela 4. Resultado do teste de sensibilidade in vitro para microrganismos isolados

de amostras leite de bovinos com mastite subclínica no centro-ocidental do Paraná.

.................................................................................................................................. 63

Tabela 5. Prevalência de resistência de microrganismos isolados de amostras de

leite com mastite subclínica para três princípios ativos agrupados conforme a região

de coleta. ................................................................................................................... 65

Page 12: ETIOLOGIA E SENSIBILIDADE BACTERIANA DE MASTITE …

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

mL

mm

μl

ºC

CCS

CMT

CCS/mL

AMC

GEN

CFT

CLSI

SCN

SCP

S. aureus

S. chromogenes

S. simulans

S. hyicus

S. intermedius

S. agalactiae

S. uberis

S. dysgalactiae

S. mitis

S. sanguis

S. mutans

E. coli

Mililitro

Milímetros

Microlitro

Graus centígrados

Contagem de células somáticas

California Mastitis Test

Contagem de células somáticas por mililitro

Amoxicilina + Ácido clavulânico

Gentamicina + Amoxicilina

Ceftiofur

Clinical and Laboratory Standards Institute

Staphylococcus coagulase negativa

Staphylococcus coagulase positiva

Staphylococcus aureus

Staphylococcus chromogenes

Staphylococcus simulans

Staphylococcus hyicus

Staphylococcus intermedius

Streptococcus agalactiae

Streptococcus uberis

Streptococcus dysgalactiae

Streptococcus mitis

Streptococcus sanguis

Streptococcus mutans

Escherichia coli

Page 13: ETIOLOGIA E SENSIBILIDADE BACTERIANA DE MASTITE …

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 14

2 JUSTIFICATIVA ..................................................................................................... 16

3 REVISÃO SISTEMÁTICA E METANÁLISE ........................................................... 17

3.1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 17

3.2 MATERIAL E MÉTODOS .................................................................................... 17

3.2.1 Planejamento .................................................................................................... 17

3.2.2 Objetivos ........................................................................................................... 17

3.2.3 Questões de pesquisa (escopo e especificidades) ........................................... 18

3.2.4 Estratégia de busca e seleção das fontes ........................................................ 18

3.2.5 Critérios de inclusão e exclusão dos trabalhos ................................................. 19

3.2.6 Condução do processo de seleção dos estudos .............................................. 20

3.2.7 Extração e análise dos resultados .................................................................... 20

3.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................... 21

3.3.1 Etiologia ............................................................................................................ 21

3.3.2 Resistência antimicrobiana ............................................................................... 28

3.4 CONCLUSÃO ...................................................................................................... 34

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 36

4 OBJETIVOS ........................................................................................................... 45

4.1 OBJETIVO GERAL .............................................................................................. 45

4.2 OBJETIVO ESPECÍFICOS .................................................................................. 45

ARTIGO CIENTÍFICO ............................................................................................... 46

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 48

MATERIAL E MÉTODOS ......................................................................................... 50

OBTENÇÃO DAS AMOSTRAS DE LEITE ................................................................ 50

ISOLAMENTO E IDENTIFICAÇÃO DOS MICRORGANISMOS ............................... 51

TESTE DE SENSIBILIDADE A ANTIMICROBIANOS (ANTIBIOGRAMA) ................ 52

ANÁLISE ESTATÍSTICA ........................................................................................... 53

RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................ 54

IDENTIFICAÇÃO DOS MICRORGANISMOS ........................................................... 55

SENSIBILIDADE E RESISTÊNCIA AOS ANTIMICROBIANOS ................................ 61

CONCLUSÃO ........................................................................................................... 66

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 67

Page 14: ETIOLOGIA E SENSIBILIDADE BACTERIANA DE MASTITE …

14

1 INTRODUÇÃO 1

O rebanho leiteiro ocupa uma posição de destaque dentro do 2

cenário econômico brasileiro, estando o leite presente entre os principais produtos 3

da agropecuária nacional. De fato, o agronegócio de leite e derivados desempenha 4

um papel relevante tanto no suprimento de alimentos quanto na questão social, com 5

a geração de emprego e renda para a população brasileira (ZOCCAL, 2017). 6

Considerado um dos alimentos in natura mais completos da natureza, o leite tem em 7

sua composição elementos nutritivos como proteínas, vitaminas, carboidratos, 8

gordura e sais minerais em quantidades consideráveis, sendo esses essenciais ao 9

crescimento e à manutenção de uma vida saudável (RIBEIRO et al., 2016). 10

Entretanto, a qualidade do produto in natura é influenciada por 11

diversas variáveis, destacando-se fatores zootécnicos associados ao manejo, 12

alimentação e potencial genético dos rebanhos e fatores relacionados à obtenção e 13

armazenagem do leite (SAAB et al., 2014). Uma das causas que exerce influência 14

extremamente prejudicial sobre a produção, composição e características físico-15

químicas do leite é a mastite, tornando essa doença economicamente desafiadora 16

para a bovinocultura leiteira. 17

A palavra mastite deriva do grego “mastos”, que remete à glândula 18

mamária, e o sufixo “ite” correspondente a inflamação, caracterizando-se assim pela 19

inflamação da glândula mamária (COSTA, 1998). Trata-se de uma doença 20

multifatorial que afeta a glândula mamária, sendo caracterizada por alterações 21

físicas, químicas e normalmente microbiológicas do leite. 22

A mastite é a infecção mais frequente dos animais destinados à 23

produção de leite e que mais onera a pecuária leiteira. Isso decorre do fato de que 24

as infecções intramamárias resultam em perdas econômicas significativas que estão 25

associadas com vários motivos, dentre eles a redução na produção de leite (mais de 26

70%), custo com tratamento e encargos médico veterinários (7%), descarte de leite 27

durante o período de tratamento (9%), aumento da mão-de-obra (1%) e o descarte 28

prematuro de animais (14%) (SHARMA et al., 2012). Além disso, existem perdas 29

para os laticínios, devido à queda na qualidade do produto final, diminuição no 30

rendimento industrial para a fabricação dos derivados e pelas alterações na 31

composição do leite mastítico. 32

A inflamação da glândula mamária pode ser causada por uma ampla 33

Page 15: ETIOLOGIA E SENSIBILIDADE BACTERIANA DE MASTITE …

15

variedade de microrganismos. Conforme Teixeira et al. (2014), sabe-se que existem 1

mais de 140 espécies microbianas que podem estar envolvidas com a mastite, 2

embora apenas um número relativamente pequeno seja responsável pela maioria 3

dos casos. Destacam-se Staphylococcus aureus, Streptococcus agalactiae, 4

Streptococcus dysgalactiae, Streptococcus uberis, Escherichia coli e 5

Corynecbaterium bovis. 6

Para diminuir os problemas acarretados pela mastite e prevenir 7

novas infecções, uma das práticas utilizadas nas propriedades leiteiras é o uso de 8

antibióticos, tanto no período de lactação (quando se faz necessário), tanto no 9

período seco. Assim como em humanos, o uso de antibióticos em gado leiteiro 10

beneficiou muito a saúde, bem-estar e produtividade. Contudo, seu uso não é isento 11

da possibilidade de consequências adversas, principalmente a aquisição de 12

resistência bacteriana. 13

Segundo Santos et al. (2006), a resistência bacteriana está 14

associada ao uso indiscriminado de antibióticos. Na prática, o fácil acesso aos 15

medicamentos possibilita que os mesmos sejam escolhidos de maneira incorreta, 16

muitas vezes ineficazes para o patógeno a ser combatido, resultando em resistência 17

aos mesmos (SOUZA et al., 2016). Cades et al. (2017) ressaltam ainda que o uso 18

incorreto e indiscriminado causa transtornos não somente aos animais, mas também 19

prejuízos ao produtor e até riscos para a saúde humana. 20

O aparecimento de cepas multirresistentes a antibióticos tem 21

dificultado o tratamento das mastites em vacas. Diante desse cenário e da grande 22

quantidade de patógenos envolvidos que podem causar a enfermidade, existe a 23

necessidade da realização periódica do diagnóstico microbiológico das mastites, 24

visto que este é capaz de gerar resultados rápidos e seguros na identificação dos 25

problemas que estão acometendo o rebanho. De acordo com Karach et al. (2015), o 26

isolamento e a identificação do agente contribui para a escolha mais adequada do 27

medicamento a ser utilizado na terapia, evitando assim a aquisição de resistência 28

bacteriana aos antibióticos. 29

Page 16: ETIOLOGIA E SENSIBILIDADE BACTERIANA DE MASTITE …

16

2 JUSTIFICATIVA 1

Assegurar a sanidade do rebanho e a produção de leite de alta 2

qualidade é objetivo primário de médicos veterinários e produtores de leite. Nesse 3

contexto, um grande desafio que envolve o rebanho leiteiro é o controle da mastite. 4

O uso indiscriminado de antibióticos na cadeia leiteira é um dos 5

principais fatores que contribuem para a resistência microbiana. Atualmente, a 6

aplicação desnecessária de antibióticos ocorre entre 30% a 50% dos casos de 7

mastite. A utilização indiscriminada de antibióticos, associada aos mecanismos de 8

resistência e a falta de exames de sensibilidade contribuem para que esta 9

enfermidade seja de difícil controle, causando grandes prejuízos aos produtores de 10

leite em todo o território nacional. 11

Uma estratégia importante para prevenir a resistência bacteriana é o 12

conhecimento de quais são os principais agentes envolvidos nas mastites e de suas 13

sensibilidades. O estudo da etiologia da mastite infecciosa merece atenção de vários 14

pesquisadores, visando a elaboração de estratégias efetivas de controle, uma vez 15

que o conhecimento dos microrganismos predominantes na etiologia dos casos de 16

mastite em um rebanho permite a detecção de pontos críticos na propriedade leiteira 17

que contribuem para a instalação e disseminação do processo infeccioso, 18

viabilizando dessa forma, a adoção de medidas específicas de controle que irão 19

reduzir a proliferação e a disseminação de cepas patogênicas que podem se tornar 20

altamente resistentes aos antibióticos. 21

Costa et al. (2013) apontaram que podem ocorrer variações nos 22

perfis de resistência dos isolados microbianos entre rebanhos e no próprio rebanho, 23

evidenciando a necessidade da realização de um monitoramento periódico do perfil 24

de sensibilidade dos diferentes microrganismos envolvidos na etiologia da mastite 25

bovina. 26

Diante desse cenário, a realização do projeto é justificada devido ao 27

fato de que fornecerá dados epidemiológicos para o melhor controle de uma das 28

principais patologias que prejudica a sanidade e a produtividade leiteira. Através dos 29

resultados, será possível construir um panorama epidemiológico sobre o cenário 30

etiológico e de sensibilidade antimicrobiana dos principais agentes causadores de 31

mastite, auxiliando a proporcionar bases para o tratamento adequado e prevenir a 32

resistência e cronicidade da afecção. 33

Page 17: ETIOLOGIA E SENSIBILIDADE BACTERIANA DE MASTITE …

17

3 REVISÃO SISTEMÁTICA E METANÁLISE 1

3.1 INTRODUÇÃO 2

Diferentemente das revisões de literatura tradicionais, a revisão 3

sistemática possui um método de pesquisa claro e rigoroso que procura identificar o 4

conhecimento científico em uma determinada área por meio da coleta, combinação e 5

avaliação crítica de descobertas de diversas abordagens anteriores já realizadas 6

(BIOLCHINI et al., 2005). Juntamente, torna-se possível a realização da metanálise 7

sobre os dados obtidos, esta que é a análise estatística dos resultados de estudos 8

independentes sobre uma mesma questão de pesquisa e que tem como objetivo 9

integrá-los, combinando e resumindo seus resultados. 10

Dentro desse contexto, o objetivo dessa revisão sistemática foi 11

investigar os agentes etiológicos mais frequentes associados como causa de mastite 12

subclínica em vacas em território nacional e analisar os relatos presentes na 13

literatura sobre a resistência antimicrobiana desses agentes. 14

3.2 MATERIAL E MÉTODOS 15

3.2.1 Planejamento 16

O planejamento da seguinte revisão sistemática e da metanálise foi 17

realizado de acordo com o modelo de protocolo apresentado por Biolchini et al., 18

(2005) e por Kitchenham (2004) com o auxílio do programa StArt e Biostat. Nesta 19

seção, serão apresentados os principais pontos do plano elaborado, sendo elas: o 20

objetivo da pesquisa, questões de pesquisa, estratégia adotada para utilizar as 21

fontes de pesquisa, critérios para seleção e exclusão de estudos e procedimento 22

para extração dos resultados para a análise estatística. 23

3.2.2 Objetivos 24

Identificar na literatura a existência de estudos primários que 25

identifiquem os agentes etiológicos mais frequentes associados como causa de 26

Page 18: ETIOLOGIA E SENSIBILIDADE BACTERIANA DE MASTITE …

18

mastite subclínica em vacas. Objetivou-se também analisar os relatos presentes na 1

literatura sobre a resistência antimicrobiana desses agentes para que fosse possível 2

traçar o perfil de resistência a antibióticos em casos de mastite em nível nacional. 3

3.2.3 Questões de pesquisa (escopo e especificidades) 4

a. O que há na literatura a respeito da etiologia e resistência antimicrobiana nas 5

mastites bovinas no Brasil? 6

7

b. Quais são os agentes etiológicos causadores de mastite subclínica em rebanhos 8

de bovinos leiteiros mais frequentes em território nacional? 9

10

c. Qual é o nível de resistência e de sensibilidade desses agentes diante dos 11

principais princípios ativos utilizados para o tratamento de mastites em território 12

nacional? 13

14

Controle: coleção de artigos e outros trabalhos levantados e relacionados em 15

revisões bibliográficas de monografias, dissertações de mestrado, teses de 16

doutorado e livros relacionados com o tema proposto. 17

População: bovinos leiteiros acometidos por mastite subclínica. 18

Resultados: visão da situação etiológica da mastite subclínica, bem como dos 19

aspectos relacionados à resistência e sensibilidade aos antibióticos no Brasil. 20

Aplicação: médicos veterinários e produtores de leite que estão inseridos no 21

cenário da produção leiteira brasileira. 22

3.2.4 Estratégia de busca e seleção das fontes 23

O método utilizado para a busca dos trabalhos e seleção de fontes é 24

descrito a seguir em tópicos que englobaram critério de seleção, palavras-chave, 25

data dos trabalhos, listagem das fontes e idiomas. 26

3.2.4.1 Critério de seleção 27

Foram selecionadas fontes que possuíam disponibilidade de 28

Page 19: ETIOLOGIA E SENSIBILIDADE BACTERIANA DE MASTITE …

19

consulta de artigos por meio eletrônico, preferencialmente bases de dados científicas 1

da área, e que dispusessem de mecanismos de busca por meio de palavras-chave. 2

Trabalhos disponíveis em outros locais, desde que atendessem aos requisitos dessa 3

Revisão Sistemática, também foram selecionados. 4

3.2.4.2 Palavras-chave 5

“Mastite subclínica”, “Subclinical mastitis”, “Etiologia”, “Etiology” 6

“Resistência antimicrobiana”, “Antimicrobial resistance”, “Antimicrobianos”, 7

“Antimicrobials”, “Mastite bovina”, “Bovine mastitis", “Staphylococcus”, 8

“Streptococcus”, “Corynebacterium”, “Glândula mamária”, “Mammary gland”, 9

“Infecção”, “Infection”, “Leite”, “Milk”. 10

3.2.4.3 Data dos trabalhos 11

Foram selecionados apenas artigos de periódicos ou anais de 12

eventos científicos da área publicados a partir do ano de 2009. 13

3.2.4.4 Listagem das fontes 14

SciELO (http://www.scielo.org/) 15

Portal Periódicos da Capes (http://novo.periodicos.capes.gov.br/) 16

Google Acadêmico (https://scholar.google.com.br/) 17

PubMed (https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/) 18

3.2.4.5 Idiomas 19

Português, por contemplar trabalhos realizados em território 20

nacional, e inglês, por ser considerado o idioma mais aceito internacionalmente para 21

redação de trabalhos científicos. 22

3.2.5 Critérios de inclusão e exclusão dos trabalhos 23

Para a seleção dos estudos, foram definidos critérios de inclusão e 24

exclusão. Esses critérios são definidos a seguir: 25

Page 20: ETIOLOGIA E SENSIBILIDADE BACTERIANA DE MASTITE …

20

3.2.5.1 Critérios de inclusão: 1

a) Estudos primários relacionados com o tema proposto e com disponibilidade de 2

consulta por meio eletrônico utilizando mecanismos de busca por meio de strings de 3

palavras-chave; 4

b) Estudos primários publicados a partir de 2009 e que já possuíam aprovação pela 5

comunidade científica; 6

c) Estudos primários que abordaram a espécie bovina; 7

d) Estudos primários que foram realizados apenas em território brasileiro. 8

3.2.5.2 Critérios de exclusão: 9

a) Estudos primários que não abordaram especificamente a etiologia e a 10

resistência/sensibilidade da mastite subclínica; 11

b) Estudos primários publicados fora do limite do período estabelecido; 12

c) Estudos primários que não abordaram a espécie bovina; 13

d) Estudos primários realizados fora do território brasileiro; 14

e) Estudos secundários. 15

3.2.6 Condução do processo de seleção dos estudos 16

Nesse processo, foram realizadas buscas através de strings 17

formuladas com as palavras-chaves nas fontes de pesquisa definidas. Em seguida, 18

foi realizada a leitura dos resumos dos trabalhos encontrados juntamente com uma 19

pré-avaliação, já baseada nos critérios de inclusão e exclusão para selecionar os 20

estudos que deveriam ser lidos integralmente. Os estudos selecionados foram lidos 21

na íntegra e avaliados rigorosamente de acordo com os mesmos critérios, sendo 22

considerados válidos ou inválidos para os objetivos desta Revisão Sistemática. O 23

estudo apenas foi selecionado se confirmada a sua relevância pelo revisor. 24

3.2.7 Extração e análise dos resultados 25

Após o processo de seleção, um formulário foi elaborado e 26

preenchido para possibilitar a coleta das informações relevantes de cada artigo, de 27

acordo com as questões de pesquisa definidas. A própria estrutura do formulário de 28

Page 21: ETIOLOGIA E SENSIBILIDADE BACTERIANA DE MASTITE …

21

coleta serviu como lista de verificação de informações que deveriam ser identificadas 1

nos trabalhos lidos. 2

Os dados obtidos foram tabulados e submetidos à análise estatística 3

descritiva de frequência absoluta e relativa para os achados microbiológicos através 4

do software MICROSOFT EXCEL® e ao teste de Qui-Quadrado combinado utilizando 5

o software BIOSTAT® para comparação das proporções da prevalência da 6

resistência em cada ano estudado. 7

3.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO 8

Nessa seção são apresentados os resultados obtidos com a 9

condução da revisão sistemática, de acordo com os objetivos e questões de 10

pesquisa propostos. 11

No total, 75 artigos foram recuperados das fontes de pesquisa 12

selecionadas. Esses estudos ocorreram entre 2009 e 2019 em vários lugares do 13

Brasil. Após a remoção de duplicatas, remanesceram 69 artigos únicos, dentro os 14

quais 56 artigos preencheram os critérios de seleção para inclusão e foram 15

selecionados para a extração de resultados da revisão sistemática. Do total de 16

artigos aceitos, 45 possuíam como objetivo classificar os agentes etiológicos mais 17

frequentes associados como causa de mastite subclínica em vacas e 27 relataram o 18

nível de prevalência de resistência e sensibilidade desses agentes aos diversos 19

antibióticos testados. 20

3.3.1 Etiologia 21

3.3.1.1 Staphylococcus spp. 22

Staphylococcus spp. foi descrito em todos os artigos dessa revisão, 23

sendo relatado em 39 (86,6%) estudos como o principal patógeno causador de 24

mastite. A prevalência do gênero Staphylococcus spp. variou de 9,30% a 91,0%, 25

sendo o maior valor resultante de um monitoramento de mastite em um rebanho 26

Jersey no sul do Rio Grande do Sul realizado por Kolling et al. (2012) no período de 27

janeiro a dezembro de 2011. Tomazi et al. (2017) com o objetivo de caracterizar o 28

perfil etiológico da doença em rebanhos leiteiros localizados nos estados de São 29

Paulo e Minas Gerais durante os anos de 2014 a 2016, analisaram 4214 amostras 30

Page 22: ETIOLOGIA E SENSIBILIDADE BACTERIANA DE MASTITE …

22

de leite no total e obtiveram a menor porcentagem de Staphylococcus spp. desse 1

estudo (9,09%). 2

Os estafilococos estão entre os patógenos mais frequentemente 3

isolados em casos de infecção intramamária dentro do rebanho leiteiro (PYÖRÄLÄ; 4

TAPONEN, 2009) e, consequentemente, são responsáveis pelas maiores perdas 5

econômicas diante dessa condição. De acordo com Franco e Landgraf (2003), os 6

estafilococos pertencem à família Staphylococcaceae, são cocos Gram-positivos, 7

anaeróbios facultativos, mesófilos, imóveis, com temperatura de crescimento entre 8

7,0 e 47,8ºC, estando entre 30,0 e 37,0ºC a temperatura ideal de crescimento. 9

Apresentam metabolismo fermentativo com produção de ácido e não de gás e são 10

catalase positivos. São bactérias formadoras de colônias circulares de 3 a 5 mm, 11

com superfície brilhante e pigmentação comumente amarelada (DEVRIESE et al., 12

1983), além de produzirem enterotoxinas entre 10 e 46ºC (PICCININI, 2012). 13

Além de ser responsável por grandes prejuízos econômicos à 14

pecuária leiteira, o gênero Staphylococcus possui cepas com alta resistência a 15

diversos antibióticos utilizados rotineiramente no tratamento da mastite, o que 16

contribui para sua persistência na glândula mamária. Ademais, microrganismos 17

desse gênero apresentam riscos à saúde pública, visto que são capazes de produzir 18

diversos fatores de virulência, principalmente levando em consideração a sua 19

capacidade de produção de enterotoxinas termoestáveis, uma vez que estas podem 20

estar presentes no leite, causando assim distúrbios alimentares nos consumidores 21

(VIÇOSA et al., 2010), e a capacidade da transferência dos genes de resistência aos 22

seres humanos (SILVA et al., 2018). 23

Mais de 50 espécies do gênero Staphylococcus spp. já foram 24

caracterizadas e grande parte é comensal da pele e mucosas de seres humanos e 25

animais, sendo encontrada nas mucosas do trato respiratório, urogenital e digestivo. 26

Tradicionalmente, os estafilococos são classificados em Staphylococcus coagulase 27

negativa (SCN), que geralmente compõem a microbiota natural dos seres humanos 28

e animais, e em Staphylococcus coagulase positiva (SCP), que apresentam maior 29

potencial patogênico. Essa classificação é fundamentada na habilidade ou não de 30

coagular plasma (SILVA et al., 2018). 31

O grupo dos SCN é composto por mais de 20 espécies, sendo que 32

as mais comuns são Staphylococcus epidermidis, S. chromogenes, S. simulans e 33

algumas cepas de S. hyicus (LANGONI et al., 2017). São agentes que habitam 34

Page 23: ETIOLOGIA E SENSIBILIDADE BACTERIANA DE MASTITE …

23

normalmente a pele de tetos e as mãos dos ordenhadores, sendo assim 1

considerados oportunistas, causando infecção via ascendente através do canal do 2

teto (TRINIDAD; NICKERSON; ALLEY, 1990). 3

A maior frequência de isolamentos de SCN está associado com 4

infecções subclínicas (SANTOS et al., 2011) e no início da lactação (GILLESPIE et 5

al., 2009). Devido a menor patogenicidade deste grupo, os SCN são considerados 6

como patógenos secundários. Entretanto, Langoni et al. (2017) destacam que é um 7

grupo que tem despertado o interesse de pesquisadores, visto que estão se 8

tornando patógenos emergentes, frequentemente encontrados em amostras de leite 9

de animais com mastite, capazes de ocasionar infecções moderadas persistentes, 10

com aumento da CCS excedendo de duas a três vezes em relação às glândulas 11

mamárias sadias e diminuição da qualidade do leite, representando perdas 12

econômicas significativas para os produtores (SILANIKOVE et al., 2014). 13

Nos quadros de mastite, os estafilococos coagulase positivas 14

apresentam maior importância clínica. As espécies que constituem o grupo SCP são 15

S. aureus e S. intermedius. 16

Dentre o grupo dos SCP, Staphylococcus aureus é a espécie que 17

merece destaque por ser um dos microrganismos mais frequentemente associados 18

às infecções intramamárias contagiosas de bovinos nos rebanhos mundiais e o 19

agente que isoladamente determina as maiores perdas na pecuária leiteira, 20

sobretudo é o agente de maior patogenicidade e contagiosidade dentro do gênero 21

dos Staphylococcus spp. (HOGEVEEN et al., 2011; CONTRERAS, RODRIGUEZ, 22

2011). Keefe (2012) destaca ainda que S. aureus podem estar relacionados como 23

causa de mastite subclínica, as quais normalmente tornam-se crônicas, com 24

consequente aumento variável de CCS. Entretanto, também são causadores de 25

mastite clínica, provocando manifestações clínicas agudas de moderadas a graves, 26

tais como a gangrena dos quartos mamários, que podem culminar com a morte do 27

animal. 28

Ribeiro et al. (2016) ressaltam ainda que o Staphylococcus aureus é 29

um agente de difícil tratamento devido à sua elevada resistência no úbere, a qual, 30

consequentemente, influencia na eficiência aos antibióticos que são administrados. 31

Isso ocorre devido à um mecanismo que o patógeno utiliza para invadir e colonizar a 32

glândula mamária do animal; o microrganismo invade a glândula mamária via canal 33

do teto e coloniza o epitélio do mesmo, fixando-se nas células epiteliais da glândula 34

Page 24: ETIOLOGIA E SENSIBILIDADE BACTERIANA DE MASTITE …

24

mamária e formandos os chamados “bolsões de bactérias”. Desse modo, as 1

glândulas infectadas diminuem a produção de leite devido à destruição permanente 2

do parênquima, originando áreas de fibrose e micro abscessos, que protegem o 3

agente dos mecanismos de defesa do animal, como a fagocitose pelos neutrófilos, e 4

dificultam a ação dos antibióticos. Além do mais, o “envelopamento” das bactérias 5

pode também levar a resultados falso-negativo em exames bacteriológicos, além de 6

favorecer as infecções de longa duração, com baixa taxa de cura e grande perda na 7

produção de leite. 8

3.3.1.2 Streptococcus spp 9

.

Strepetococcus spp. foi descrito em 37 artigos consultados nessa 10

revisão, totalizando 82,2%. Foi relatado em 3 (6,66%) estudos como o principal 11

patógeno causador de mastite. A prevalência do gênero Streptococcus spp. variou 12

de 0,36% a 48,0%. O maior valor encontrado foi resultante de uma avaliação dos 13

principais agentes causadores de mastite em propriedades leiteiras na região Oeste 14

do Paraná realizado por Lange et al. (2017) no período de setembro a dezembro de 15

2012. Martins et al. (2010), com o objetivo de verificar a prevalência e etiologia 16

infecciosa da mastite bovina em propriedades leiteiras da microrregião de Cuiabá, 17

estado de Mato Grosso, analisaram 279 amostras de leite no total e obtiveram a 18

menor porcentagem de Streptococcus spp. isolados desse estudo (0,36%). 19

Os estreptococos são considerados o segundo grupo de 20

microrganismos em importância na etiologia da mastite dos ruminantes, sendo 21

precedidos apenas pelo grupo dos estafilococos. Pertencem à família 22

Streptococaceae e são cocos Gram-positivos, geralmente dispostos aos pares ou 23

em cadeias de cocos, anaeróbios facultativos ou estritos, catalase negativos (BIER, 24

1990). 25

De acordo com Santos et al. (2007), na maioria dos rebanhos, S. 26

agalactiae, S. uberis e S. dysgalactiae, são as principais espécies isoladas. 27

Entretanto, tem sido reconhecido que o gênero Streptococcus spp. é composto por 28

pelo menos 50 espécies, que por sua vez incluem muitos patógenos tanto para o 29

homem quanto para animais domésticos (QUINN, et al., 2005). 30

As bactérias desse gênero são colonizadoras transitórias da pele e 31

residentes de mucosas, podendo ser isoladas como parte integrante da microbiota 32

Page 25: ETIOLOGIA E SENSIBILIDADE BACTERIANA DE MASTITE …

25

normal dos tratos respiratório, gastrointestinal e genital de várias espécies animais. 1

Os estreptococos que causam mastite bovina são classificados nos grupos dos 2

microrganismos contagiosos (S. agalactiae) e ambientais (demais espécies) 3

(DOUGLAS et al., 2000). 4

Como citado anteriormente, Streptococcus agalactiae é um 5

microrganismo contagioso, obrigatório da glândula mamária, responsável por causar 6

na maioria das vezes, mastites subclínicas que tendem à forma crônica. Sua 7

disseminação no rebanho ocorre principalmente no momento da ordenha realizada 8

sem higiene. As infecções intramamárias causadas por essa espécies, estão 9

geralmente associadas com elevadas contagens de células somáticas no leite do 10

tanque e contagem bacteriana total, além de decréscimo na quantidade e qualidade 11

do leite produzido pelo animal/rebanho infectado. Isolados de Streptococcus 12

agalactiae possuem características bioquímicas bem definidas, o que facilita sua 13

identificação empregando um pequeno número de testes. Produzem hemólise do 14

tipo beta, não hidrolisam a esculina e não crescem em presença de bile-esculina 15

(KILLIAN, 1998). 16

Streptococcus uberis é um importante agente de infecções 17

subclínicas e episódios clínicos de mastite bovina em todo o mundo. Possuem 18

grande importância como microrganismos associados ao ambiente, especialmente 19

em sistemas de confinamento, que empregam camas de palha, onde pode alcançar 20

altas concentrações (HILLERTON; BERRY, 2003). Apresentam hemólise do tipo 21

alfa, hidrolisam a esculina, porém não crescem em presença de bile-esculina 22

(KILLIAN, 1998). 23

Santos et al. (2007) ressaltam que Streptococcus dysgalactiae é um 24

dos patógenos mais comuns de mastite bovina, responsável por causar grandes 25

perdas econômicas. Essa espécie não é obrigatória da glândula mamária, podendo 26

sobreviver na boca, vagina e pele de animais saudáveis, bem como nas camas e 27

pastagens. Segundo Santos e Fonseca (2007), S. dysgalactiae pode ser isolado das 28

tonsilas e causar infecção dos tetos por lambedura, sendo este o provável motivo da 29

alta frequência de mastite em novilhas e vacas secas. 30

Outras espécies causadoras de mastite ambiental compõem o 31

gênero dos estreptococos, tais como S. mitis, S. sanguis e S. mutans, porém, em 32

frequências menores. O fato é que, além de exercerem um importante papel como 33

patógenos da mastite, os estreptococos contribuem para as altas contagens de 34

Page 26: ETIOLOGIA E SENSIBILIDADE BACTERIANA DE MASTITE …

26

bactérias do leite total de rebanhos. Além do mais, Hillerton e Berry (2003) 1

destacaram que os estreptococos ambientais podem ser responsáveis por até um 2

terço dos casos clínicos de mastite nos rebanhos onde os patógenos contagiosos já 3

foram controlados. 4

3.3.1.3 Corynebacterium spp. 5

Corynebacterium spp. foi descrito em 28 artigos consultados nessa 6

revisão, totalizando 62,2%. Foi relatado em 5 (11,1%) estudos como o segundo 7

principal patógeno causador de mastite. A prevalência do gênero Corynebacterium 8

spp. variou de 3,26% a 37,40%. O maior valor encontrado provém de um estudo 9

realizado por Ruiz et al. (2011) em 11 propriedades produtoras de leite bovino no 10

estado de Pernambuco. Castro et al. (2012), com o objetivo de verificar a 11

prevalência da mastite subclínica em municípios do estado do Rio de Janeiro, bem 12

como a etiologia da enfermidade, analisaram 75 amostras de leite no total e 13

obtiveram a menor porcentagem de Corynebacterium spp. isolados desse estudo 14

(3,26%). 15

O gênero Corynebacterium spp. é composto por 112 espécies, 16

entretanto, a espécie mais isolada em mastite bovina é a Corynebacterium bovis 17

(Karach et al., 2015). Bactérias pertencentes à essa espécie, são microrganismos 18

Gram-positivos, encontrados principalmente no interior da glândula mamária e no 19

ducto do teto. Possuem forma de bastonetes pleomórficos, aeróbios ou anaeróbios 20

facultativos, catalase positivos e fermentadores (BIER, 1990). 21

Possuem baixa patogenicidade e alta contagiosidade, com a 22

transmissão ocorrendo principalmente durante o momento da ordenha, sendo 23

classificados como causadores de mastite contagiosa. Segundo Santos e Fonseca 24

(2007), é detectado principalmente na forma subclínica da doença, o que de certa 25

forma garante proteção à glândula mamária contra outras células mais patogênica. 26

Watts (2000) destaca ainda que, frequentemente, as taxas de isolamento deste 27

patógeno são mais elevadas em rebanhos nos quais existem falhas com relação à 28

assepsia de tetos, principalmente no pós-dipping. 29

Page 27: ETIOLOGIA E SENSIBILIDADE BACTERIANA DE MASTITE …

27

3.3.1.4 Escherichia coli 1

Escherichia coli foi descrito em 21 artigos consultados nessa 2

revisão, totalizando 46,6%. A prevalência da espécie E. coli variou de 0,36% a 3

21,64%. O maior valor encontrado foi resultante da avaliação da etiologia infecciosa 4

da mastite bovina propriedades leiteiras do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do 5

Sul, conduzida por Jobim et al. (2010). Martins et al. (2010), com o objetivo de 6

verificar a prevalência e etiologia infecciosa da mastite bovina em propriedades 7

leiteiras da microrregião de Cuiabá, estado de Mato Grosso, analisaram 279 8

amostras de leite no total e obtiveram a menor porcentagem de E. coli isolados 9

desse estudo (0,36%). 10

Tomazi e Santos (2015) citam a E. Coli como o principal coliforme 11

(microrganismo ambiental) causador de mastite clínica, podendo variar de 12

sintomatologia leve (com sinais inflamatórios na glândula mamária) a aguda, com 13

sinais sistêmicos, como estase ruminal, desidratação, choque, podendo levar até a 14

morte do animal acometido. Apesar de causar mastite principalmente na sua forma 15

clínica, o microrganismo também tem sido investigado em casos de mastite 16

subclínica. 17

No geral, os coliformes são bactérias Gram-negativas que 18

normalmente habitam o solo e o intestino das vacas. Elas se acumulam e se 19

multiplicam no esterco e na cama. Coliformes podem causar mastite apenas se 20

partículas contaminadas do ambiente entrarem em contato com o úbere. São 21

geralmente infecções transitórias e associadas com quadros clínicos agudos ou 22

superagudos, que podem ser fatais. Um dado importante para se destacar é que, 23

segundo Santos e Fonseca (2007), as vacas mais susceptíveis à manifestação 24

severa de mastite por coliformes são aquelas mais velhas, no início de lactação e de 25

maiores produções. 26

3.3.1.5 Outros agentes etiológicos 27

Em 36 artigos foram descritos outros agentes etiológicos 28

relacionados com a mastite em bovinos não citados anteriormente. Esses relatos 29

incluíram: Candida spp., Micrococcus spp., Proteus spp., Alcaligenes faecalis, 30

Enterobacter aerogenes, Klebsiella spp., Citrobacter spp., Salmonella spp., Yersinia 31

Page 28: ETIOLOGIA E SENSIBILIDADE BACTERIANA DE MASTITE …

28

spp., Pseudomonas spp., Nocardia spp., Trueperella spp. e Serratia spp. 1

3.3.2 Resistência antimicrobiana 2

Os antibióticos foram introduzidos pela primeira vez na década de 3

1930 para tratar doenças infecciosas de seres humanos e animais, contribuindo 4

desse modo para melhorar a saúde humana e animal. O uso de antibióticos na 5

pecuária resultou em diversos benefícios, incluindo animais mais saudáveis e mais 6

produtivos, menor incidência de doenças e redução de índices de morbidade e 7

mortalidade associadas a doenças bacterianas. 8

Os medicamentos antimicrobianos são usados em fazendas 9

produtoras de leite para o tratamento de uma variedade de doenças que afetam as 10

vacas leiteiras, onde a mastite se destaca por ser uma das principais causas de uso 11

de antibióticos dentro das propriedades. Apesar de todos os benefícios desses 12

medicamentos, existe uma preocupação das perspectivas de saúde pública e de 13

segurança alimentar sobre os resíduos de antibióticos em alimentos destinados ao 14

consumo humano a partir de animais tratados com antibióticos e sobre o potencial 15

desenvolvimento e/ou transmissão de resistência antimicrobiana que possa impactar 16

o tratamento das doenças. 17

Portanto, o monitoramento da suscetibilidade antimicrobiana em 18

bactérias patogênicas e comensais em animais é recomendado pelo OIE (ACAR & 19

ROSTEL, 2001), o que torna possível gerar dados de importância para a terapêutica, 20

além de fornecer informações sobre possíveis tendências de resistência, auxiliando 21

em intervenções relacionadas ao uso de antimicrobianos. 22

No Brasil, ao contrário de outros países, mais de 20 princípios ativos 23

estão disponíveis comercialmente para tratamento da mastite (SANTOS e 24

FONSECA, 2007). Segundo Ribeiro (2008), os princípios ativos de antimicrobianos 25

mais utilizados pertencem às classes dos Beta-Lactâmicos (Penicilinas e 26

Cefalosporinas), Aminoglicosídeos e Tetraciclinas. Em um estudo realizado no Brasil 27

por Neto et al. (2015), foi observado que a classe dos Beta-Lactâmicos é a mais 28

difundida entre os antimicrobianos utilizados no tratamento de infecções em vacas 29

leiteiras na região sul do país, representando 38,22% do total de fármacos, seguido 30

da classe dos Aminoglicosídeos (25,19%), Tetraciclinas (15,41%), Macrolídeos 31

(7,59%) e Cefalosporinas (4,19%). 32

Page 29: ETIOLOGIA E SENSIBILIDADE BACTERIANA DE MASTITE …

29

Os resultados das proporções da prevalência da resistência de cada 1

ano estudado nessa revisão são apresentados na Tabela 1. Conforme observado, 2

Ampicilina, Eritromicina, Gentamicina, Penicilina e Tetraciclina foram os 3

antimicrobianos mais frequentemente testados nos estudos realizados durante o 4

período de 2010 a 2018. 5

A Penicilina pertence à classe dos antibióticos Beta-Lactâmicos. 6

Segundo Costa (2013), uma grande variedade de Beta-Lactâmicos é utilizada em 7

vacas leiteiras, estando as Penicilinas entre as mais empregadas no tratamento de 8

doenças em vacas em lactação, fazendo parte dos antimicrobianos mais utilizados 9

no tratamento da mastite subclínica na medicina veterinária (ZAFALON et al., 2009). 10

Entretanto, nos resultados obtidos, este medicamento apresentou baixa eficiência 11

com as maiores taxas de incidência de resistências encontradas, variando de 0,34 12

no ano de 2011 a 0,88 em 2017. Segundo Cazoto et al. (2011), a Penicilina e seus 13

derivados são usualmente recomendados para o tratamento da mastite bovina 14

causada por patógenos Gram-positivos. No entanto, os autores relatam que houve 15

um aumento mundial de S. aureus resistentes a esse antibiótico. Nos Estados 16

Unidos, mais de 70% dos isolados obtidos de mastite causada por S. aureus são 17

resistentes à penicilina, enquanto na Irlanda e, principalmente no Brasil, o nível de 18

resistência é de cerca de 85%. 19

Diversos estudos nacionais assimilam a predominância de 20

resistência à Penicilina como a principal consequência relacionada ao seu uso geral 21

em medicina veterinária e ao seu uso indiscriminado em todo o país (FERREIRA et 22

al., 2010; OLIVEIRA, et al., 2011; CHAGAS et al., 2012; SENHORELLO et al., 2013; 23

SOUZA et al., 2016; VESCO et al., 2017; FREITAS, et al., 2018). Países com uma 24

política de uso prudente de agentes antimicrobianos em práticas veterinárias tendem 25

a demonstrar níveis mais baixos de resistência em comparação com outros países. 26

No Brasil, por exemplo, não existe controle da venda e uso de antimicrobianos de 27

uso veterinário, o que permite a livre comercialização dessas drogas, inclusive sem 28

prescrição de médico veterinário. Isso contribui, seguramente, para o surgimento de 29

resistências, devido à escolha inadequada da droga, via de administração, dosagem 30

e duração do tratamento. Além disso, existe ainda a ação dos vendedores que 31

privilegiam a venda direta deste medicamento aos criadores em detrimento a outros. 32

Outra causa de predominância de resistência para as Penicilinas 33

está ligada à capacidade de bactérias do gênero Staphylococcus spp. de 34

Page 30: ETIOLOGIA E SENSIBILIDADE BACTERIANA DE MASTITE …

30

desenvolverem resistência à maioria dos antimicrobianos. A resistência aos Beta-1

Lactâmicos, como é o caso das Penicilinas, pode ocorrer por dois mecanismos 2

principais: através da produção de Beta-Lactamases, codificada pelo gene blaZ; e 3

pela alteração do sítio de ação do antimicrobiano, pela produção de uma proteína 4

ligante de penicilina modificada (PBP2a ou PBP2´) de baixa afinidade, codificada 5

pelo gene mecA (SOARES et al., 2012). O primeiro mecanismo ocorre através da 6

hidrólise enzimática pela ação da enzima Beta-Lactamase. De acordo com Nikaido 7

(2009), essas enzimas extracelulares, codificada pelo gene blaZ, clivam o anel beta-8

lactâmico dos Beta-Lactâmicos e degradam o antibiótico. Já o segundo mecanismo 9

de resistência, é pela aquisição do gene mecA, que confere resistência à meticilina, 10

e consequentemente, tornam os microrganismos intrinsecamente resistentes 11

também a outras drogas Beta-Lactâmicas, podendo apresentar resistência adicional 12

para Aminoglicosídeos, Macrolídeos, Tetraciclinas e Quinolonas (LEE, 2003). 13

Amicacina e Ceftiofur foram as drogas antimicrobianas que não 14

apresentaram variações significativas na prevalência da resistência dentro do 15

período de tempo avaliado. A resistência para Amicacina permaneceu em 0,04 16

durante os anos de 2015 e 2016. Para o Ceftiofur, os valores obtidos foram de 0,04 17

em 2010; 0,02 em 2011 e de 0,01 em 2015. 18

O Ceftiofur é um antimicrobiano pertencente à classe dos Beta-19

Lactâmicos (TAVARES, 1996), mais especificamente do grupo das Cefalosporinas 20

de terceira geração, de uso exclusivo em medicina veterinária. É um grupo que 21

apresenta espectro de ação notadamente maior diante de bactérias Gram-negativas 22

e menor atividade diante de Gram-positivas. Entretanto, o Ceftiofur aparece como 23

uma exceção, visto que apresenta boa efetividade contra bactérias Gram-positivas 24

(incluindo linhagens de S. aureus produtoras de beta-lactamases) (FREITAS et al., 25

2005). A administração intramamária do Ceftiofur é indicada para o tratamento da 26

mastite clínica e subclínica em vacas leiteiras em lactação, causadas principalmente 27

pelos gêneros Staphylococcus, Streptococcus e Corynebacterium. 28

Page 31: ETIOLOGIA E SENSIBILIDADE BACTERIANA DE MASTITE …

31

Tabela 1. Ocorrência de cepas bacterianas resistentes à diferentes princípios de antimicrobianos* de acordo com artigos 1

científicos publicados de 2010 a 2018* (n= número total de cepas testadas). (Continua). 2

3

2010

2011

2012

2013

2015

2016

2017

2018

Amica. - - - - 0,04a (n=69) 0,04a (n=56) - -

Amox. - - - 0,59a (n=453) - 0,71a (n=17) 0,05b (n=313) 0,50a (n=30)

Amp. 0,68de(n=289) 0,27ab(n=154) 0,78e (n=242) 0,68de (n=805) 0,47c (n=232) 0,67cde (n=39) 0,18a (n=313) 0,48bcd (n=62)

Bacit. 0,41b (n=188) - - 0,08a (n=194) - - 0,07a (n=846) -

Cefalex. - 0,00a (n=65) - 0,01a (n=453) - 0,13b (n=56) 0,74c (n=869) 0,19b (n=32)

Cefalot. 0,13b (n=188) 0,30b (n=50) 0,00a (n=83) 0,01a (n=546) 0,13b (n=153) - - -

Cefoper. 0,20a (n=101) - - 0,50b (n=352) - - - -

Ceftiofur 0,04a (n=101) 0,02a (n=65) - 0,01a (n=546) - - - -

Cloranf. 0,26b (n=188) - 0,14b (n=180) 0,05a (n=194) 0,00a (n=69) 0,25b (n=32) - -

Enroflox. 0,21b (n=101) 0,02a (n=66) 0,00a (n=83) 0,01a (n=453) - - 0,03a (n=36) 0,09a (n=32)

Eritrom. 0,25cd(n=227) 0,16bc(n=116) 0,08ab(n=197) 0,04a (n=275) 0,39d (n=163) 0,23abcd(n=26) 0,20bc(n=120) 0,72e (n=32)

Estrept. 0,68b (n=188) - - 0,12a (n=453) - 0,24a (n=46) - -

Gentam. 0,20d (n=101) 0,03ab(n=156) 0,06bc(n=242) 0,02a (n=805) - 0,16cd (n=92) 0,75e(n=2100) 0,87e (n=30)

Neom. 0,39b (n=101) 0,03a (n=118) - 0,03a (n=546) - 0,43b (n=56) 0,73c(n=1880) -

Page 32: ETIOLOGIA E SENSIBILIDADE BACTERIANA DE MASTITE …

32

Tabela 1. Ocorrência de cepas bacterianas resistentes à diferentes princípios de antimicrobianos* de acordo com artigos 1

científicos publicados de 2010 a 2018* (n= número total de cepas testadas). (Continuação). 2

Fonte: Autoria própria (2020). 3

*Dados referentes ao ano de 2014 e à associação Amoxacilina + A.C. foram omitidos devido a apenas uma entrada; 4

a, b, c, d, e: Proporções seguidas de letras iguais não diferiram pelo teste de qui quadrado combinado à 5% de significância. 5

Amica: Amicacina, Amox: Amoxacilina, Amp: Ampicilina, Bacit: Bacitracina, Cefalex: Cefalexina, Cefalot: Cefalotina, Cefoper: Cefoperazona, Cloranf: 6

Cloranfenicol, Enroflox: Enrofloxacina, Eritrom: Eritromicina, Estrept: Estreptomicina, Gentam: Gentamicina, Neom: Neomicina, Norflox: Norfloxacina, Oxac: 7

Oxaciclina, Penic: Penicilina, Rifamp: Rifampicina, Sulfatr: Sulfazotrim, Tetrac: Tetraciclina, Trimet: Trimetoprim, Vancom: Vancomicina. 8

2010

2011

2012

2013

2015

2016

2017

2018

Norflox. 0,26b (n=188) 0,07a (n=88) - 0,03a (n=282) - 0,12ab (n=26) - 0,09ab (n=32)

Oxac. 0,24b (n=328) 0,15b (n=114) 0,44c (n=339) 0,05a (n=453) 0,01a (n=69) 0,23bc (n=39)

Penic. 0,67b (n=328) 0,34a (n=115) 0,76b (n=369) 0,69b (n=805) 0,69b (n=153) 0,72b (n=102) 0,88c(n=1903) 0,61b (n=83)

Rifamp. 0,08b (n=227) - - 0,00a (n=259) 0,00a (n=69) 0,19b (n=26) - -

Sulfatr. 0,31c (n=227) - - 0,26bc (n=194) 0,00a (n=79) - - 0,09b (n=32)

Tetrac. 0,21a (n=39) 0,17a (n=153) 0,15a (n=369) 0,19a (n=805) 0,22a (n=232) 0,24a (n=88) 0,66b(n=2256) 0,26a (n=53)

Trimet. - - - - - 0,19a (n=26) 0,39b(n=2073) -

Vancom. 0,35c (n=227) - 0,19b (n=249) 0,05a (n=194) 0,04a (n=69) 0,15ab (n=26) - -

Page 33: ETIOLOGIA E SENSIBILIDADE BACTERIANA DE MASTITE …

33

Segundo Motta (2015), o grupo das Cefalosporina (principalmente 1

Cefoperazona, Cefalexina e Ceftiofur), se apresenta atualmente como um dos 2

principais grupos de antimicrobianos disponíveis comercialmente para a terapêutica 3

intramamária da mastite na lactação e/ou na secagem em animais de produção, com 4

alta efetividade e baixos índices de resistência bacteriana. Autores como Dias et al. 5

(2015) e Casanova et al. (2016), conduzindo estudos com o objetivo de investigar a 6

sensibilidade antimicrobiana frente à utilização do Ceftiofur, obtiveram bons 7

resultados de 98,5% e 96,5% dos isolados sensíveis a esse antibiótico, 8

corroborando com trecho anteriormente ressaltado por Motta (2015). Cabe ressaltar 9

que, no presente estudo, o maior valor obtido para a prevalência da resistência no 10

grupo das Cefalosporinas foi observado para a Cefalexina com 0,74, no ano de 11

2017. 12

Em relação à Amicacina, este é um antimicrobiano pertencente à 13

classe dos Aminoglicosídeos, juntamente com a Gentamicina, Neomicina e 14

Estreptomicina. Essa classe de antibióticos tem sido utilizada no tratamento de 15

mastite desde 1960 (WHITTEM; HANLON, 1997), e na maioria das vezes estão 16

combinados com os Beta-Lactâmicos. São amplamente utilizados no tratamento de 17

infecções bacterianas em bovinos leiteiros, como nos casos de mastites, atuando 18

sobre vários organismos Gram-positivos e alguns Gram-negativos. Entretanto, de 19

acordo com Júnior (2006), estão entre as drogas com o maior potencial tóxico, tendo 20

como efeitos colaterais a nefrotoxicidade e ototoxicidade. Contudo, ainda de acordo 21

com o autor, o grupo está este entre os medicamentos mais utilizados para 22

tratamento de mastite, sendo também encontrado associado aos Beta-Lactâmicos 23

na composição de muitos dos medicamentos disponíveis no comércio. 24

Nessa revisão, poucos foram os estudos que avaliaram a eficácia da 25

Amicacina sobre isolados de mastite bovina. Entretanto, autores como Júnior et al 26

(2015) e Souza et al. (2016), relataram porcentagens de sensibilidade dos isolados 27

de 92,3% e 96,0%, demonstrando assim a eficácia da Amicacina em seus 28

resultados. A escassez de trabalhos investigando o uso dessa droga antimicrobiana 29

pode estar relacionada ao fato de que, entre os Aminoglicosídeos utilizados na 30

medicina veterinária, mais especificamente no tratamento da mastite, destaca-se a 31

Gentamicina. 32

Cabe ressaltar que, dentre a classe dos Aminoglicosídeos, tanto 33

para a Neomicina quanto para a Gentamicina, ocorreram variações significativas nos 34

Page 34: ETIOLOGIA E SENSIBILIDADE BACTERIANA DE MASTITE …

34

últimos anos. Para a Neomicina, no ano de 2016 a 2017 foi observado um aumento 1

da resistência, com valores de 0,43 a 0,73, respectivamente. Não houveram dados 2

para a prevalência de resistência da neomicina no ano de 2018. No caso da 3

Gentamicina, os valores emergiram de 0,16 no ano de 2016 para 0,75 em 2017, 4

finalizando com 0,87 no ano de 2018. 5

Além da Gentamicina e Neomicina, o mesmo foi observado para a 6

Eritromicina. Esses foram os antimicrobianos que passaram a apresentar valores 7

crescentes de prevalência de resistência nos últimos dois anos estudados. Para a 8

eritromicina, a prevalência foi de 0,23 em 2016, reduzindo para 0,20 em 2017 e 9

atingindo 0,72 ano de 2018. 10

Diferentemente da Gentamicina e da Neomicina que pertencem à 11

classe dos Aminoglicosídeos, a Eritromicina é pertencente à classe dos Macrolídeos. 12

No Brasil, os antibióticos Macrolídeos estão disponíveis para o tratamento de 13

diversas infecções bacterianas agudas e crônicas em animais, incluindo casos de 14

mastite e com destaque para casos de Pneumonia (SANTOS et al, 2006). São ativos 15

principalmente contra bactérias Gram-positivas e moderados contra Gram-negativas. 16

Em medicina veterinária, os principais Macrolídeos de aplicação terapêutica são a 17

Eritromicina, Tilosina e Espiramicina. Diversos autores como, por exemplo, Krewer et 18

al. (2013) no estado da Bahia, Neres et al. (2015) em Sergipe e Ulsenheimer et al. 19

(2018) também no Rio Grande do Sul, relataram em seus estudos a porcentagem da 20

resistência dos isolados diante da Eritromicina, com valores em torno de 70,0%. 21

O aumento considerável da resistência aos três princípios ativos nos 22

últimos anos, pode estar ligada ao fato de que são antibióticos que passaram a ser 23

mais utilizados nos tratamentos de doenças bacterianas que acometem os bovinos 24

leiteiros, o que acaba contribuindo na pressão seletiva de microrganismos 25

resistentes aos mesmos. Além do mais, outras razões comuns podem justificar as 26

falhas da antibioticoterapia na mastite e levar ao aumento da resistência. Mota 27

(2015) cita como principais: distribuição inadequada do fármaco pelos fluidos e 28

tecidos da mama, ação reduzida no foco infeccioso e baixa sensibilidade do 29

microrganismo frente ao antimicrobiano. 30

3.4 CONCLUSÃO 31

Conclui-se que os microrganismos pertencentes ao gênero 32

Page 35: ETIOLOGIA E SENSIBILIDADE BACTERIANA DE MASTITE …

35

Staphylococcus spp. foram citados como os principais patógenos associados à 1

mastite subclínica no Brasil, seguidos dos gêneros Streptococcus spp., 2

Corynebacterium spp. e bactérias do grupo coliformes, mais especificamente 3

Escherichia coli. 4

Por ser o antimicrobiano mais utilizado no tratamento da mastite 5

subclínica na medicina veterinária, a Penicilina foi o antibiótico com a maior 6

prevalência da resistência. Faz-se necessário também um alerta constante quanto 7

ao uso da Eritromicina, Gentamicina e Neomicina, visto que são antimicrobianos 8

com ocorrência de resistência emergente, a qual pode levar ao comprometimento da 9

eficiência desses antimicrobianos no tratamento das mastites. 10

Vale ressaltar que uma forma de evitar a disseminação desta 11

resistência deve ser por meio da realização de testes de cultura e antibiograma, pois 12

estes auxiliam na identificação do agente e na escolha do tratamento correto, e 13

fornecem informações relevantes para a determinação de estratégias de manejo e 14

prevenção de novos casos. 15

Page 36: ETIOLOGIA E SENSIBILIDADE BACTERIANA DE MASTITE …

36

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12

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indicators of mammary gland functions and milk quality. Journal of Dairy Research, 14

v.81, p.358-363, 2014. 15

16

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Staphylococcus spp. resistentes à meticilina: revisão de literatura. Pesquisa 18

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20

SOARES, L.C.; PEREIRA, I.A.; PRIBUL, B.R. et al. Antimicrobial resistance and 21

detection of mecA and blaZ genes in coagulase-negative Staphylococcus isolated 22

from bovine mastitis. Pesquisa Veterinária Brasileira, v.32, n.8, p.692-696, 2012. 23

24

SOUZA, K.S.S.; DE MORAES OLIVEIRA, Y.C.; DUARTE, A.F.V. et al. Avaliação da 25

sensibilidade dos agentes etiológicos causadores da mastite subclínica a 26

antimicrobianos em vacas leiteiras. Caderno de Ciências Agrárias, v.8, n.2, p.83-27

89, 2016. 28

29

TAVARES, W. Manual de antibióticos e quimioterápicos anti-infecciosos. São 30

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32

TEIXEIRA, J.P.; SILVA, N.; FONSECA, L.M.; COSTA, G.M. Uso de PCR Duplex 33

para detecção dos genes femA e mecA e determinação da concentração inibitória 34

Page 43: ETIOLOGIA E SENSIBILIDADE BACTERIANA DE MASTITE …

43

mínima (CIM) em Staphylococcus aureus isolados de leite cru. Revista do Instituto 1

Adolfo Lutz, v.73, n.3. 2014. 2

3

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8

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clínica? 2015. Disponível em: <http://milkpoint.com.br/>. Acesso em: 24 jul. 2019. 10

11

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and teat canal colonization in umbred and primigravid dairy heifers. Journal of Dairy 13

Science, v.73, p.107-114, 1990. 14

15

ULSENHEIMER, B.C.; AMARANTE, G.M.; DA SILVA, L. S.; MARTINS, L.R.V. 16

Mastites causadas por streptococcus hycus sua ocorrência e perfil de sensibilidade 17

na região noroeste do estado do Rio Grande do Sul. Brazilian Journal of Animal 18

and Environmental Research, v.1, n.2, p.329-337, 2018. 19

20

VESCO, J.; SIEBEL, J. C.; SUZIN, G.O. et al. Monitoramento dos agentes 21

causadores de mastite e a susceptibilidade aos antimicrobianos. Expressa 22

Extensão, v.22, n.1, p.34-50. 23

24

VIÇOSA, G.N.; MORAES, P.M.; YAMAZI, A.K.; NERO, L.A. Enumeration of 25

coagulase and thermonuclease-positive Staphylococcus spp. in raw milk and fresh 26

soft cheese: An evaluation of Baird-Parker agar, Rabbit Plasma Fibrinogen agar and 27

the Petrifilm™ Staph Express count system. Food microbiology, v.27, n.4, p.447-28

452, 2010. 29

30

WATTS, J.L. Etiological agents of bovine mastitis. Veterinary microbiology, v.16, 31

p.41-66, 2000. 32

33

WHITTEM, T.; HANLON, D. Dihydrostreptomycin or streptomycin in combination with 34

Page 44: ETIOLOGIA E SENSIBILIDADE BACTERIANA DE MASTITE …

44

penicillin in dairy cattle therapeutics: a review general principles and mechanisms for 1

selected classes of antibiotics. In and re-analysis of published data, Part 1: Clinical 2

pharmacology. New Zealand Veterinay Journal, v.45, p.178-184, 1997. 3

4

ZAFALON, L.F.; ARCARO, J.R.P.; NADER FILHO, A. et al. Staphylococcus aureus 5

portadores de genes de toxinas isolados em amostras de diferentes fontes de 6

transmissão durante a ordenha. Revista do Instituto Adolfo Lutz, v.68, n.2, p.269-7

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9

ZOCCAL, R. A força do agro e do leite no Brasil. 2017. Disponível em: 10

<http://www.baldebranco.com.br/>. Acesso em: 02 jul. 2019. 11

Page 45: ETIOLOGIA E SENSIBILIDADE BACTERIANA DE MASTITE …

45

4 OBJETIVOS 1

4.1 OBJETIVO GERAL 2

Identificar a etiologia da mastite bovina subclínica e a sensibilidade 3

de seus agentes etiológicos aos antibióticos em propriedades leiteiras do estado do 4

Paraná. 5

6

4.2 OBJETIVO ESPECÍFICOS 7

Descrever os achados microbiológicos das amostras de leite através 8

de frequências absoluta e relativa. 9

Verificar a prevalência de resistência para diferentes antibióticos. 10

Comparar a prevalência de resistência dos isolados de acordo com a 11

mesorregião. 12

Determinar as possíveis bactérias associadas ao desenvolvimento 13

de mastite em bovinos. 14

Page 46: ETIOLOGIA E SENSIBILIDADE BACTERIANA DE MASTITE …

46

ARTIGO CIENTÍFICO 1

Etiologia e sensibilidade bacteriana de mastite subclínica bovina em 2

propriedades do noroeste e centro-ocidental do estado do Paraná 3

4

Resumo 5

6

A mastite se caracteriza pela inflamação da glândula mamária, geralmente de 7

caráter infeccioso, sendo considerada a principal causa na redução da produção e 8

qualidade do leite, além de apresentar grandes riscos à saúde pública. Nesse 9

contexto, esse estudo teve como objetivo avaliar a etiologia e a sensibilidade aos 10

antimicrobianos de microrganismos isolados de amostras de leite oriundas de 11

diversas propriedades leiteiras comerciais das mesorregiões noroeste e centro-12

ocidental do estado do Paraná. As amostras de leite foram coletadas a partir de 13

quartos mamários que apresentavam indicação de mastite subclínica. Foram 14

analisadas 360 amostras da mesorregião noroeste e 118 amostras do centro-15

ocidental. Streptococcus mutans foi o microrganismo mais isolado nas amostras 16

oriundas do noroeste, totalizando 19,2% dos isolamentos. No centro-ocidental, 17

Streptococcus spp. foi identificado em 36,3% das amostras, totalizando a maior parte 18

das amostras. O antibiograma foi realizado pelo método de difusão de disco, sendo 19

testados os seguintes antibióticos: associação de Amoxicilina + Ácido Clavulânico 20

(AMC) com 30 μg/disco, associação de Gentamicina + Amoxicilina (GEN), e Ceftiofur 21

(CTF) com 30 μg/disco. Gentamicina + Amoxacilina foi o antimicrobiano mais efetivo 22

frente aos isolados testados no noroeste, com índice de sensibilidade de 85,4%. No 23

centro-ocidental, Ceftiofur foi o antimicrobiano mais efetivo, com índice de 24

sensibilidade de 90,6%. Os resultados evidenciaram a presença de bactérias 25

ambientais e contagiosas nos rebanhos estudados, alertando para os cuidados na 26

ordenha. As variações dos resultados de resistência entres os dois locais resultados 27

reforçam a necessidade da realização periódica de testes de sensibilidade in vitro. 28

29

Palavras-chave: antimicrobiano, antibiograma, glândula mamária, resistência 30

bacteriana, sanidade animal 31

Page 47: ETIOLOGIA E SENSIBILIDADE BACTERIANA DE MASTITE …

47

Etiology and bacterial sensitivity of subclinical bovine mastitis in Northwestern 1

and Western Center properties of the state of Paraná 2

3

Abstract 4

5

Mastitis is characterized by inflammation of the mammary gland, usually infectious, 6

being considered the main cause in reducing milk production and quality and, 7

consequently, significant economic losses. Administration of antimicrobial 8

intramammary drugs is the most frequently used method for treating bovine mastitis. 9

However, indiscriminate use of antibiotics can lead to the emergence of resistant 10

strains. In this context, this study aimed to evaluate the etiology and antimicrobial 11

susceptibility of microorganisms isolated from milk samples from various commercial 12

dairy properties in the Northwest and Western Center mesoregions of the state of 13

Paraná. Milk samples were collected from the fourth positive breast for the CMT test, 14

which indicated subclinical mastitis. Three hundred and sixty samples from the 15

Northwest mesoregion and one hundred and eighteen samples from the Western 16

Center were analyzed. Streptococcus mutans was the most isolated microorganism 17

in samples from the northwest, totaling 19.2% of the isolates. In the western center, 18

Streptococcus spp. was identified in 36.3% of the samples, totaling most of the 19

samples. The antibiogram was performed by the disc diffusion method, and the 20

following antibiotics were tested: Amoxicillin + Clavulanic Acid (AMC) at 30 μg/disc, 21

Gentamicin + Amoxicillin (GEN), and Ceftiofur (CTF) at 30 μg/disc. Gentamicin + 22

Amoxacillin was the most effective antimicrobial against the isolates tested in the 23

Northwest, with a sensitivity index of 85.4%. In the Western Center, Ceftiofur was the 24

most effective antimicrobial, with a sensitivity index of 90.6%. The results showed the 25

presence of environmental and contagious bacteria in the studied herds, alerting for 26

care in milking. The variations in the resistance results between the two locations 27

reinforce the need for periodic sensitivity testing in vitro. 28

29

Key-words: animal health, antibiogram, antimicrobial, bacterial resistance, mammary 30

gland 31

Page 48: ETIOLOGIA E SENSIBILIDADE BACTERIANA DE MASTITE …

48

INTRODUÇÃO 1

A atividade da bovinocultura leiteira é um dos principais ramos de 2

produção animal do Brasil com importante participação na economia do país. Dentro 3

dessa atividade, a inflamação da glândula mamária ou mastite está entre as 4

principais doenças que comprometem a rentabilidade da pecuária de leite pelo fato 5

de levar a redução da produção e alterar a composição físico-química do leite, 6

causando grandes prejuízos aos produtores (KREWER et al., 2013). A doença 7

constitui ainda um risco a saúde pública, devido à veiculação de patógenos e suas 8

toxinas, ou pela presença de resíduos de antibióticos no leite (COSTA et al., 2013). 9

Além da sua importância em saúde pública, fatores como custos de 10

tratamento dos casos clínicos, descarte e morte prematura dos animais, somados 11

aos prejuízos da indústria por redução na qualidade e rendimento na fabricação de 12

derivados são responsáveis pelo elevado impacto econômico das mastites (BUENO 13

et al., 2002). 14

As bactérias são as principais causas de mastite e os patógenos 15

mais comuns envolvidos são aqueles pertencentes aos gêneros Staphylococcus, 16

Streptococus e Corynebacterium (MELLO et al., 2012). Por esse motivo, diversas 17

drogas antimicrobianas tem sido amplamente utilizadas para o tratamento e controle 18

da doença. No entanto, o uso incorreto e indiscriminado desses medicamentos tem 19

contribuído para a ocorrência de cepas bacterianas resistentes aos mesmos. 20

A resistência antimicrobiana não é um fenômeno recente, mas 21

atualmente é um problema de saúde que tem preocupado a todos. Por muitas 22

décadas, as bactérias geralmente envolvidas em infecções comuns sofreram uma 23

pressão artificial de seleção devido ao uso abusivo de antimicrobianos, o que 24

contribuiu para a persistência de populações de bactérias geneticamente 25

resistentes. 26

As informações sobre a ocorrência de resistência são necessárias 27

não apenas localmente, mas também regional e internacionalmente, para que seja 28

possível detectar variações que exijam estratégias de intervenção. Para atender a 29

esses requisitos, são necessários sistemas de monitoramento contínuo para verificar 30

mudanças na ocorrência de resistência, otimizando estratégias de tratamento e 31

controlando o aumento da resistência de microrganismos a antimicrobianos 32

(AARESTRUP, 2004). 33

Page 49: ETIOLOGIA E SENSIBILIDADE BACTERIANA DE MASTITE …

49

Nesse contexto, o objetivo desse trabalho foi avaliar os perfis 1

etiológicos e de suscetibilidade in vitro de cepas bacterianas isoladas de casos de 2

mastite subclínica em rebanhos leiteiros das mesorregiões noroeste e centro-3

ocidental do estado do Paraná, visando contribuir com o direcionamento para 4

medidas profiláticas e de controle específico para esses rebanhos. 5

Page 50: ETIOLOGIA E SENSIBILIDADE BACTERIANA DE MASTITE …

50

MATERIAL E MÉTODOS 1

Os procedimentos utilizados nesse estudo foram aprovados pelo Comitê de Ética 2 Para Uso de Animais (CEUA) da Universidade Pitágoras Unopar sob o protocolo 3 024/19. 4

OBTENÇÃO DAS AMOSTRAS DE LEITE 5

Para este estudo, foram coletadas amostras de leite de vacas em 6

lactação diagnosticadas com mastite subclínica oriundas de diversos rebanhos de 7

propriedades comerciais produtoras de leite localizadas nas mesorregiões noroeste 8

e centro-ocidental paranaense. Foram abrangidas propriedades dos municípios de 9

Tapejara, Umuarama, Tuneiras do Oeste, Santa Cruz de Monte Castelo, Santa 10

Isabel do Ivaí, Planaltina do Paraná, Cianorte, Querência do Norte, Loanda e 11

Amaporã, pertencentes ao noroeste; e dos municípios de Janiópolis, Goioerê e 12

Moreira Sales, pertencentes ao centro-ocidental (Figura 1). 13

14

15

16

Fonte: Autoria própria (2020). 17

Figura 1. Distribuição espacial dos municípios em que os rebanhos leiteiros foram

amostrados nas mesorregiões noroeste e centro-ocidental do estado do Paraná.

Page 51: ETIOLOGIA E SENSIBILIDADE BACTERIANA DE MASTITE …

51

As amostras de leite dos tetos foram colhidas de acordo com os 1

procedimentos recomendados por Oliver et al. (2004). Foram coletadas amostras de 2

aproximadamente 5 mL de leite de cada teto antes do início da ordenha. Estas 3

amostras foram acondicionadas em caixas isotérmicas com gelo e encaminhadas ao 4

laboratório de Microbiologia Veterinária da Universidade Pitágoras Unopar (campus 5

Arapongas). 6

ISOLAMENTO E IDENTIFICAÇÃO DOS MICRORGANISMOS 7

O isolamento foi realizado de acordo com a metodologia proposta 8

por Koneman et al. (2018). A identificação dos gêneros isolados foi realizada através 9

de estudo morfológico das colônias, bem como por verificação ao microscópio das 10

características tintoriais e da morfologia do agente corado pela técnica de Gram 11

conforme Quinn et al. (1994). 12

A confirmação dos gêneros e a determinação de espécies 13

resultaram de provas bioquímicas complementares empregadas conforme o Oliver et 14

al. (2004) e Quinn et al. (1994). As provas das séries bioquímicas permitiram 15

identificar as espécies das bactérias por características do seu metabolismo, como a 16

capacidade de degradar determinados substratos e produzir gases. Desse modo, 17

para a identificação das espécies dos isolados pertencentes ao gênero 18

Staphylococcus spp., foram realizadas apenas as provas bioquímicas da coagulase 19

e manitol. Para o gênero Streptococcus spp. foram realizados as provas de sorbitol, 20

manitol, arginina e esculina. É importante destacar que, para isolados do gênero 21

Streptococcus spp. que apresentaram hemólise do tipo beta, não foram realizados 22

testes bioquímicos e estes foram classificados diretamente como Streptococcus 23

agalactiae. Para os isolados pertencentes ao gênero Corynebacterium spp. não 24

foram realizados testes de identificação de espécie. 25

De acordo com os resultados, as espécies foram identificadas 26

seguindo o diagrama proposto por Koneman et al. (2018) (Figuras 2 e 3). 27

Page 52: ETIOLOGIA E SENSIBILIDADE BACTERIANA DE MASTITE …

52

1

Fonte: Adaptado de Koneman et al. (2018). 2

3

4

Fonte: Adaptado de Koneman et al. (2018). 5

TESTE DE SENSIBILIDADE A ANTIMICROBIANOS (ANTIBIOGRAMA) 6

Os isolados foram submetidos aos testes de sensibilidade in vitro a 7

partir da técnica de difusão em disco em placas de ágar Müeller-Hinton, seguindo os 8

padrões do Clinical and Laboratory Standards Institute (CLSI, 2018). Os 9

antimicrobianos testados nesse trabalho foram: associação de amoxicilina + ácido 10

Figura 2. Diagrama de fluxo para identificação das espécies de Streptococcus spp.

Figura 3. Diagrama de fluxo para identificação das espécies de Staphylococcus spp.

Page 53: ETIOLOGIA E SENSIBILIDADE BACTERIANA DE MASTITE …

53

clavulânico (AMC) com 30 μg/disco, associação de gentamicina + amoxicilina (GEN), 1

e ceftiofur (CTF) com 30 μg/disco. 2

Posteriormente, as placas foram incubadas em estufa por 24h a 3

37ºC. A leitura das zonas de inibição do crescimento microbiano foi realizada por 4

meio da medição dos halos, com o auxílio de um paquímetro. Para a interpretação 5

dos resultados, foi utilizada uma tabela contendo os limites de diâmetros dos halos 6

para cada antimicrobiano estabelecidos pelo CLSI (CLSI, 2018). Conforme os 7

resultados, os isolados foram divididos em duas categorias de cepas, sendo estas 8

sensíveis ou resistentes. 9

ANÁLISE ESTATÍSTICA 10

Os dados obtidos foram tabulados, tratados e submetidos à análise 11

estatística descritiva de frequência absoluta e relativa para os achados 12

microbiológicos e de resistência antimicrobiana através do software MICROSOFT 13

EXCEL®. 14

Após tabulados, os dados de resistência antimicrobiana das duas 15

mesorregiões foram submetidos ao teste de Qui-quadrado com significância de 5%, 16

com o auxílio do software STATISTICA®. 17

Para o cálculo da prevalência de resistência aos antimicrobianos, os 18

dados descritivos foram submetidos à seguinte fórmula: 19

20

Prevalência= ___número de cepas resistentes___ 21

número total de cepas testadas 22 S 23

Page 54: ETIOLOGIA E SENSIBILIDADE BACTERIANA DE MASTITE …

54

RESULTADOS E DISCUSSÃO 1

Foram analisadas 478 amostras de leite provenientes de bovinos 2

com mastite subclínica dos municípios pertencentes às mesorregiões noroeste e 3

centro-ocidental do estado do Paraná. Do total de amostras, 360 foram oriundas da 4

mesorregião noroeste e 118 da mesorregião centro-ocidental. 5

Os resultados dos exames microbiológicos das amostras estudadas 6

estão apresentados na Tabela 1 e 2. Na mesorregião noroeste, foram isolados 7

microrganismos em 63,6% (229/360) das amostras e em 36,4% (131/360) não houve 8

crescimento microbiano após o período de incubação. Quanto à mesorregião centro-9

ocidental, foram analisadas 118 amostras de leite, das quais 55,93% (66/118) 10

apresentaram crescimento bacteriológico e em 44,07% (52/118) não houve 11

crescimento microbiológico após a incubação. 12

13

Tabela 1. Frequências absoluta e relativa de amostras com e sem crescimento de 14

microrganismos isolados de amostras de leite de bovinos com mastite subclínica no 15

noroeste e centro-ocidental do Paraná. 16

Noroeste

Centro-Ocidental

Crescimento

Frequência absoluta

Frequência relativa (%)

Frequência absoluta

Frequência relativa (%)

Negativo 131 36,4 52 44,07

Positivo 229 63,6 66 55,93

Total 360 100 118 100

Fonte: Autoria própria (2020). 17

18

Aproximadamente 50,0% das culturas de mastites clínicas e 19

subclínicas podem apresentar resultados negativos (LANGONI et al., 2009). Esse 20

fato pode ser resultante do possível desaparecimento espontâneo do 21

microrganismo, destruição desse pelo processo inflamatório na glândula mamária ou 22

por resíduo de antibiótico, pela eliminação intermitente do agente em casos de 23

infecção crônica ou pela presença reduzida do agente no leite, o que dificulta o 24

crescimento in vitro em laboratório. Além disso, em alguns casos, torna-se 25

necessário a utilização de métodos especiais de cultura, visto que alguns patógenos 26

causadores de mastite exigem condições diferenciadas para a sua multiplicação e 27

identificação. 28

Page 55: ETIOLOGIA E SENSIBILIDADE BACTERIANA DE MASTITE …

55

IDENTIFICAÇÃO DOS MICRORGANISMOS 1

Streptococcus e Staphylococcus spp. foram os dois principais 2

gêneros isolados nas duas mesorregiões estudadas (Tabela 2). Os principais 3

patógenos contagiosos causadores de mastite em bovinos são aqueles pertencentes 4

a esses dois gêneros (MESQUITA, 2017). Esses microrganismos podem causar 5

tanto mastite contagiosa, como é o caso de Staphylococcus aureus e Streptococcus 6

agalactiae, quanto mastite ambiental, com destaque para as demais espécies de 7

Streptococcus spp., como S. uberis, S. dysgalactiae, S. bovis e S. parauberi. 8

9

Tabela 2. Frequências absoluta e relativa quanto aos microrganismos isolados de 10 amostras de leite de bovinos com mastite subclínica no noroeste e centro-ocidental 11 do Paraná. 12

Noroeste

Centro-Ocidental

Microrganismo

Frequência absoluta

Frequência relativa (%)

Frequência absoluta

Frequência relativa (%)

Streptococcus mutans 44 19,2 0 0

Streptococcus sanguis 42 18,3 0 0

Streptococcus uberis 32 14,0 5 7,5

Streptococcus mitis 9 4,0 0 0

Streptococcus sobrinus 7 3,0 0 0

Streptococcus agalactiae 1 0,4 0 0

Streptococcus spp. 0 0 24 36,3

Staphylococcus aureus 26 11,3 5 7,5

Staphylococcus epidermidis 9 4,0 2 3,0

Staphylococcus hyicus 5 2,1 0 0

Staphylococcus spp. 0 0 22 33,3

Bacillius spp. 19 8,2 3 4,5

Trueperella spp. 9 4,0 0 0

Corynebacterium spp. 3 1,3 4 6,0

Leveduras 1 0,4

0

0

Infecção mista

Strepto. spp.+ Staphylo. spp. 19 8,3 1 1,5 Strepto. spp.+ Staphylo. spp. + Corynebacterium spp. 1 0,4

0

0

Trueperella spp. + Strepto. spp. 2 0,9 0 0

Total 229 100 66 100

Fonte: Autoria própria (2020). 13

14

Neste estudo, é importante destacar a alta frequência de isolamento 15

Page 56: ETIOLOGIA E SENSIBILIDADE BACTERIANA DE MASTITE …

56

do gênero Streptococcus spp., uma vez que esta não é uma bactéria comumente 1

apontada como a principal e mais frequente causadora de mastite nos trabalhos de 2

levantamento dos patógenos causadores da doença. Em diversos outros estudos 3

realizados no Brasil, o gênero Staphylococcus spp. foi apontado como o principal 4

causador de mastite (OLIVEIRA et al, 2009; SANTOS et al, 2010; MENDONÇA et al, 5

2011; SOUZA et al, 2016; ZIMERMANN et al, 2017; VALMORBIDA et al, 2017). 6

Entretanto, Karach et al. (2016) avaliando a etiologia da mastite na 7

região sudoeste do Paraná e Tomazi et al. (2017) avaliando rebanhos de São Paulo 8

e Minas Gerais, obtiveram resultados que apontaram o gênero Streptococcus spp. 9

como o mais frequentemente observado, seguido pelo gênero Staphylococcus spp., 10

dados se assemelham aos obtidos no presente estudo. Em estudos realizados em 11

outros países, como o de Bradley et al. (2007) na Inglaterra e País de Gales, de 12

Verbek et al. (2014) na Bélgica e de Oliveira et al. (2013) nos Estados Unidos, todos 13

com o objetivo de identificar os patógenos associados à mastite em determinados 14

rebanhos desses locais, também obtiveram maiores frequências de isolamentos de 15

estreptococos quando comparados aos estafilococos. 16

A maior frequência nos isolamentos de bactérias do gênero 17

Streptococcus spp. nas duas mesorregiões do Paraná, diferentemente de outros 18

estudos citados anteriormente, sugere que um enfoque diferente na prevenção de 19

mastites é necessário para cada local (OLIVEIRA et al., 2013). 20

Segundo Wattiaux (1999), é importante ressaltar que dentre os 21

estreptococos, com exceção da espécie S. agalactiae, são bactérias que estão 22

presentes principalmente no local em que o animal vive, responsáveis por causar a 23

mastite ambiental. Desse modo, a alta taxa de isolamento deste gênero pode estar 24

relacionado com a presença de umidade e dejetos na sala de ordenha das 25

propriedades estudadas e também da escassez de práticas de antissepsia pré e pós 26

ordenha. 27

Além disso, durante o período seco, geralmente os animais 28

permanecem em locais úmidos e sujos, o que resulta em alto nível de exposição das 29

extremidades dos tetos aos patógenos do ambiente (GODDEN, 2004). Desse modo, 30

o manejo ambiental durante o período seco das vacas pode ter grande impacto na 31

incidência de mastite causada por patógenos ambientais na lactação subsequente 32

(BRADLEY; GREEN, 2000), fato esse que pode ter contribuído com os resultados 33

desse estudo. 34

Page 57: ETIOLOGIA E SENSIBILIDADE BACTERIANA DE MASTITE …

57

Considerando o gênero dos estreptococos, S. mutans foi a espécie 1

mais encontrada, com 19,2% (44/229) dos isolamentos no noroeste, seguido pelas 2

espécies S. sanguis com 18,3% (42/229) e S. uberis com 14,0% (32/229). Em 3

menores porcentagens, foram isoladas as espécies S. mitis com 4,0% (9/229), S. 4

sobrinus com 3,0% (7/229) e S. agalactiae com 0,4% (1/229) (Tabela 2). No centro-5

ocidental 7,5% (5/229) das amostras foram identificadas como pertencentes à 6

espécie S. uberis 7

Bramley et al. (1996) ressaltam que é fundamental identificar vacas 8

que apresentem glândula mamária infectada por S. agalactiae para que se possa 9

estabelecer medidas de controle, uma vez que dadas as características contagiosas 10

da disseminação e infecção, esse patógeno constitui importante fonte de infecção 11

dentro dos rebanhos. 12

O achado de 19,2% de Streptococcus mutans foi surpreendente, 13

uma vez que esta não é uma bactéria ambiental comum nos trabalhos de 14

levantamento dos patógenos causadores de mastite. Diferentemente desse, em 15

outros trabalhos como o conduzido por Tomazi et al. (2017) em São Paulo e Minas 16

Gerais, o principal patógeno ambiental encontrado foi o S. uberis, em 17,4% 17

(256/2212) das amostras que apresentaram crescimento microbiano. Resultado 18

semelhante foi obtido por Valmorbida et al. (2017), onde com o objetivo de 19

determinar a prevalência de agentes causadores de mastite em bovinos no centro-20

oeste de Santa Catarina, obtiveram a frequência de 21,7% (75/345) para esse 21

mesmo microrganismo. 22

O fato é que são microrganismos ambientais, o que sugere que os 23

maiores problemas são de ordem higiênica e de manejo no intervalo entre as 24

ordenhas. Além disso, a elevada quantidade de amostras com S. mutans pode ser 25

devido à ação do próprio homem que tem combatido os patógenos clássicos 26

causadores de mastite, permitindo que outros organismos se instalem e provoquem 27

doença. Segundo Bradley (2002), para o controle da mastite ambiental, são 28

necessárias medidas higiênico-sanitárias do ambiente dos animais. 29

Em relação ao gênero dos estafilococos, três espécies foram 30

encontradas nesse estudo. Staphylococcus aureus foi o patógeno mais observado 31

na região noroeste, com 4,0% (26/229) dos isolamentos, seguido por 32

Staphylococcus epidermidis com 22,5% (9/229) e Staphylococcys hyicus com 2,1% 33

(5/229). Na mesorregião centro-ocidental, em 33,3% (22/229) das amostras não foi 34

Page 58: ETIOLOGIA E SENSIBILIDADE BACTERIANA DE MASTITE …

58

possível realizar a identificação das espécies isoladas. Em 7,5% (5/229) das 1

amostras foram identificados microrganismos pertencentes à espécie 2

Staphylococcus aureus e em 3,0% (2/229) pertencentes à Staphylococcus 3

epidermidis (Tabela 2). 4

Embora muitos microrganismos possam acometer a região 5

intramamária causando infecção, o S. aureus é o principal agente etiológico 6

responsável pela mastite bovina crônica. A presença desse microrganismo nas 7

amostras de leite analisadas é condizente com a literatura e reflete a dificuldade em 8

controlá-lo. As taxas de isolamentos são variáveis de acordo com diferentes autores, 9

entretanto, o mesmo tem sido considerado como de maior significado nas infecções 10

do tipo contagiosa. Cunha et al. (2015) com o objetivo de identificar os agentes 11

etiológicos de mastite e determinar a prevalência da doença em rebanhos leiteiros 12

do município de Viçosa (MG), constataram a presença de Staphylococcus aureus 13

em 28,3% das amostras (110/388). Ao avaliar a ocorrência, etiologia infecciosa e os 14

fatores de risco associados à mastite em 16 propriedades leiteiras localizadas na 15

região de Marechal Cândido Rondon (PR), Jardim et al. (2014) obtiveram o 16

isolamento de 47,2% de S. aureus de 329 amostras testadas. Já Brito et al. (2014) 17

ao pesquisar a prevalência e a etiologia da mastite em bovinos da bacia leiteira da 18

Ilha de São Luís (MA) identificaram 14,46% (35/242) de isolados do microrganismo. 19

O isolamento de patógenos como S. aureus reforça a necessidade 20

da adoção de medidas de profilaxia e controle de mastite e boas práticas para 21

obtenção de ordenha higiênica, visto que a principal via de veiculação dessa 22

bactéria são as mãos dos ordenhadores, utensílios e equipamentos utilizados em 23

comum durante a ordenha. Além do mais, indica que dentro do rebanho existem 24

animais portadores de mastite, tornando os animais sadios susceptíveis a uma 25

possível contaminação por este microrganismo (RIBEIRO et al., 2014). 26

Staphylococcus coagulase negativo (SCN) tais como S. epidermidis 27

e S. hyicus são frequentemente isolados de rebanhos leiteiros e estão geralmente 28

associados a casos subclínicos ou clínicos de intensidade leve (OLIVEIRA et al. 29

2011). Santos et al. (2010), destacaram que SCN fazem parte de um grupo muito 30

heterogêneo de microrganismos, frequentemente encontrados no ambiente e 31

equipamentos dos estabelecimentos de ordenha. Embora as espécies de SCN 32

sejam menos virulentas que S. aureus, elas geralmente exibem maior resistência 33

antimicrobiana e frequentemente apresentam multirresistência aos antibióticos 34

Page 59: ETIOLOGIA E SENSIBILIDADE BACTERIANA DE MASTITE …

59

(BANSAL et al., 2015). 1

A frequência dos SCN nos diversos estudos pesquisados é bastante 2

variável. Martins et al. (2010) verificando a prevalência e etiologia infecciosa da 3

mastite bovina em propriedades leiteiras da microrregião de Cuiabá (MT), obtiveram 4

o resultado de apenas 0,7% de estafilococos coagulase negativo (2/279). 5

Diferentemente desse estudo, Brito et al. (2014) ao avaliarem a etiologia da mastite 6

em bovinos da bacia leiteira da Ilha de São Luís (MA), constaram a porcentagem de 7

26,8% (65/242) de SCN. 8

Outros gêneros de importância em quadros de mastite também 9

foram encontrados nesse estudo. Na mesorregião noroeste, em 4,0% (9/229) e em 10

1,3% (3/229) das amostras foi possível identificar os gêneros Trueperella spp. e 11

Corynebacterium spp., respectivamente. Leveduras também foram observadas, 12

entretanto em uma única amostra, totalizando 0,4% (1/229) (Tabela 2). 13

Diferentemente da mesorregião noroeste, no centro-ocidental não 14

foram observados isolamentos do gênero Trueperella spp. e de Leveduras, apenas 15

Corynebacterium spp. foi isolado em 6,0% (4/229) das amostras em sequência aos 16

estreptococos e estafilococos (Tabela 2). 17

Em estudos de prevalência em rebanhos de microrganismos 18

causadores de mastite, outro patógeno frequentemente isolado é o Corynebacterium 19

spp. Esse gênero é composto por 112 espécies, entretanto, a espécie mais isolada 20

em mastite bovina é a Corynebacterium bovis (KARACH et al., 2015), responsável 21

por causar mastite contagiosa nos rebanhos. 22

Filho et al. (2006) avaliando os principais agentes etiológicos 23

envolvidos com a mastite em 90 amostras de leite oriundas de uma propriedade na 24

cidade de Tamarana/PR, obtiveram a frequência de 6,6% (6/90) isolamentos de 25

Corynebacterium spp., assemelhando-se com os resultados encontrados no centro-26

ocidental. Oliveira et al. (2009) com o objetivo de determinar a ocorrência da mastite 27

bovina nos rebanhos dos Tabuleiros Costeiros de Sergipe, avaliando 433 28

microrganismos isolados de amostras de leite, obtiveram a porcentagem de 1,68% 29

(16/433) de Corynebacterium spp., resultado que se assemelha ao encontrado na 30

mesorregião noroeste desse estudo. 31

Em estudos conduzidos por outros autores como Martins et al. 32

(2010), Melo et al. (2013), Senhorelo et al. (2013), Jardim et al. (2014), Zimermann e 33

Araújo (2017) e por Assis et al. (2017), o isolamento de cepas de Corynebacterium 34

Page 60: ETIOLOGIA E SENSIBILIDADE BACTERIANA DE MASTITE …

60

spp. foi maior do que o encontrado nesse estudo, com valores que variaram de 1

10,2% a 27,6%. 2

Todos esses estudos demonstraram a presença de mastite 3

subclínica contagiosa no rebanho com o isolamento dessa bactéria das amostras 4

testadas. A propagação do Corynebacterium bovis é rápida durante a ordenha 5

quando não há antissepsia adequada dos tetos antes ou depois da ordenha. Por 6

esse motivo, pode ser considerado como indicador da eficiência dos procedimentos 7

de imersão dos tetos, sendo um valioso indicador dos procedimentos de desinfecção 8

nas ordenhas (RADOSTITS et al., 2002). Portanto, o isolamento deste agente pode 9

ser justificado pela ausência de medidas higiênico-sanitárias na ordenha dos 10

animais com mastite (VANDERLEI et al., 2011). 11

Dentre o gênero Trueperella spp., a espécie causadora de mastite 12

em vacas é a Trueperella pyogenes. São bactérias encontradas nas membranas 13

mucosas dos animais domésticos responsáveis por causar infecções mamárias 14

caracterizadas por processos purulentos de difícil tratamento, entretanto não são 15

microrganismos frequentemente isolados em casos de mastites nos diversos 16

estudos no Brasil. A frequência de 3,9% (9/229) desse microrganismo no noroeste 17

paranaense pode estar relacionado a falta de higienização na sala de ordenha, visto 18

que a infecção mamária por essa espécie é mais frequente em locais com excesso 19

de umidade, acúmulo de sujidades e matéria orgânica, particularmente no ambiente 20

da pré e pós ordenha (DOMINGUES et al., 2008), o que caracteriza o microrganismo 21

como agente ambiental na casuística da mastite bovina (RADOSTITS et al., 2007). 22

Ainda de acordo com Radostits et al. (2007), as mastites em vacas 23

por Trueperella pyogenes são popularmente reconhecidas como "mastite de verão", 24

em virtude da veiculação do agente para as vacas por moscas, cuja proliferação é 25

favorecida em períodos do ano com altas temperatura e pluviosidade. 26

Em 9,6% (22/229) das amostras do noroeste, ocorreram casos de 27

infecção mista, gerados pela associação de dois ou três agentes etiológicos 28

causadores de mastite. Em 8,3% (19/229) houve o crescimento de Streptococcus 29

spp. + Staphylococcus spp.; em 0,9% (2/229) foram isolados Trueperella spp. + 30

Streptococcus spp. e em 0,4% (1/229) das amostras constatou-se associação dos 31

três agentes etiológicos Streptococcus spp. + Staphylococcus spp. + 32

Corynebacterium spp. Em uma única amostra da mesorregião centro-ocidental foi 33

observado ocorrência de infecção mista, ocasionada pela associação de dois 34

Page 61: ETIOLOGIA E SENSIBILIDADE BACTERIANA DE MASTITE …

61

microrganismos, sendo estes Streptococcus spp. + Staphylococcus spp, totalizando 1

1,52% (1/66) (Tabela 2). 2

SENSIBILIDADE E RESISTÊNCIA AOS ANTIMICROBIANOS 3

Os resultados dos testes de sensibilidade in vitro a antimicrobianos 4

dos agentes isolados estão descritos nas Tabelas 3 e 4. 5

Considerando apenas a mesorregião noroeste, foram realizados 540 6

antibiogramas no total, sendo 181 amostras testadas para o Ceftiofur, 180 para a 7

Amoxicilina + Ácido Clavulânico e 179 para a associação de Gentamicina + 8

Amoxacilina (Tabela 3). 9

10

Tabela 3. Frequências absoluta e relativa quanto aos microrganismos isolados de 11

amostras de leite de bovinos com mastite subclínica no noroeste e centro-ocidental 12

do Paraná. 13

Fonte: Autoria própria (2020). 14

15

Conforme descrito, a associação de Gentamicina + Amoxacilina foi o 16

antimicrobiano mais efetivo frente aos isolados testados com o maior índice de 17

sensibilidade de 85,4% (153/179) e menor índice de resistência de 14,6% (26/179). 18

Ceftiofur foi o antimicrobiano que apresentou a maior taxa de resistência com 26,0% 19

(47/181) dos isolados resistentes ao princípio ativo, entretanto, uma alta 20

porcentagem dos isolados testados (74,0% - 134/181) foram sensíveis ao mesmo. 21

Os valores obtidos com a utilização de Amoxacilina + Ácido Clavulânico foram de 22

75,6% (136/180) dos isolados sensíveis ao antibiótico e de 24,4% (44/180) dos 23

isolados resistentes. 24

A associação de um Aminoglicosídeo com um Beta-Lactâmico, como 25

é o caso da associação de Gentamicina e Amoxicilina, tem por objetivo buscar a 26

ação sinérgica entre os mesmos e ampliar o espectro de ação. Uma característica 27

relevante dos Aminoglicosídeos é a sua capacidade de desenvolver atividade 28

Antimicrobiano

Amostras testadas

Sensíveis Sensíveis

(%)

Resistentes Resistentes

(%)

Ceftiofur 181 134 74,0 47 26,0 Amox. + A.C. 180 136 75,6 44 24,4 Genta + Amox 179 153 85,4 26 14,6

Total 540 423 117

Page 62: ETIOLOGIA E SENSIBILIDADE BACTERIANA DE MASTITE …

62

bactericida sinérgica em associação com outros agentes antimicrobianos, 1

nomeadamente aqueles que inibem a biossíntese da parede celular, como por 2

exemplo os antibióticos β-lactâmicos (VAKULENKO et al., 2003). De acordo com 3

Eliopoulos e Moellering (1996), este sinergismo que ocorre entre as duas classes de 4

antibióticos pode surgir como resultado de uma maior concentração intracelular de 5

Aminoglicosídeos provocada por uma maior permeabilidade das bactérias após o 6

efeito dos inibidores da síntese da parede celular. 7

Entretanto, Vakulenko et al. (2003) destacam que o efeito sinérgico 8

entre Aminoglicosídeos e antibióticos β-lactâmicos é claramente estabelecido para 9

os enterococos, porém o efeito é menos claro perante outros microrganismos. 10

Apesar de ter sido demonstrado este efeito sinérgico para algumas estirpes de 11

Staphylococcus spp., incluindo estirpes de Staphylococcus aureus resistentes à 12

meticilina (MRSA), e outros microrganismos, muitos desses microrganismos não 13

foram inibidos pela associação de antibióticos Aminoglicosídeos com inibidores da 14

parede celular. 15

No presente estudo, foi constatado que a ação sinérgica entre os 16

dois antibióticos foi a melhor opção de tratamento frente aos isolados da região 17

noroeste, demonstrando a viabilidade destes no tratamento das mastites, 18

ressaltando-se a melhor ação quando os dois princípios medicamentosos estão 19

associados por melhorar o espectro de ação, fato relevante por se tratar de uma 20

afecção de etiologia múltipla, com o envolvimento de microrganismos Gram positivos 21

e Gram negativos, muitas vezes com acentuado perfil de resistência. 22

Ceftiofur é um antimicrobiano pertencente à classe dos Beta-23

Lactâmicos (TAVARES, 1996), indicado para o tratamento da mastite clínica e 24

subclínica em vacas leiteiras em lactação, causada principalmente pelos gêneros 25

Staphylococcus, Streptococcus e Corynebacterium. Embora a taxa de resistência 26

encontrada nesse estudo não tenha sido tão elevada, Ceftiofur foi o antimicrobiano 27

menos efetivo frente aos isolados. Esse fato pode estar associado ao uso 28

indiscriminado e inadequado na prática veterinária, o que possibilita a seleção de 29

cepas resistentes e, pela presença da enzima Beta-Lactamase que consegue 30

romper o anel betalactâmico, uma estrutura molecular fundamental para a ação 31

deste antibiótico (SANTOS et al., 2007). 32

Motta (2015) em um estudo com o objetivo de investigar a eficácia 33

do Ceftiofur no tratamento em casos de mastite subclínica em propriedades leiteiras 34

Page 63: ETIOLOGIA E SENSIBILIDADE BACTERIANA DE MASTITE …

63

do município de Dois Vizinhos, região Sudoeste do Estado do Paraná, obteve 77,7% 1

de isolados sensíveis ao Ceftiofur e 23,0% distribuídos entre parcialmente sensíveis 2

e resistentes, estando esses resultados próximos aos encontrados nesse trabalho. 3

Em relação a mesorregião centro-ocidental, foram realizados 75 4

antibiogramas no total, sendo 32 amostras testadas para o Ceftiofur, 17 para a 5

Amoxicilina + Ácido Clavulânico e 26 para a associação de Gentamicina + 6

Amoxicilina (Tabela 4). 7

8

Tabela 4. Resultado do teste de sensibilidade in vitro para microrganismos isolados 9

de amostras leite de bovinos com mastite subclínica no centro-ocidental do Paraná. 10

Fonte: Autoria própria (2020). 11

12

Diferentemente do observado no noroeste, Ceftiofur foi o 13

antimicrobiano mais efetivo frente aos isolados testados, com índice de sensibilidade 14

de 90,7% (29/32) e de resistência de apenas 9,3% (3/32). A associação de 15

Gentamicina + Amoxicilina foi o antimicrobiano que apresentou a maior taxa de 16

resistência em todo o estudo, com 50,0% (13/26) dos isolados resistentes ao 17

princípio ativo, contrário ao resultado anteriormente observado na região noroeste 18

desse mesmo estudo, onde a associação desses dois antimicrobianos apresentou o 19

menor índice de resistência dos isolados. Os valores obtidos com a utilização de 20

Amoxacilina + Ácido Clavulânico foram de 76,4% (13/17) dos isolados sensíveis ao 21

antibiótico e de 23,6% (4/17) dos isolados resistentes. 22

É provável que nas propriedades avaliadas do centro-ocidental, 23

tanto a Gentamicina quanto a Amoxicilina tem sido utilizados com grande frequência 24

para tratar animais com mastite. Essa condição aliada ao uso não racional de 25

antimicrobianos em animais pode aumentar a pressão seletiva para linhagens 26

multirresistentes (GUIGUERE et al., 2010), em razão do uso contínuo de 27

antimicrobianos no tratamento por via intramamária, parenteral e/ou na profilaxia da 28

vaca seca (RIBEIRO, 2008). Este fato reflete ainda mais a importância dos exames 29

Antimicrobiano

Amostras testadas

Sensíveis

Sensíveis (%)

Resistentes

Resistentes (%)

Ceftiofur 32 29 90,7 3 9,3 Amox. + A.C. 17 13 76,4 4 23,6 Genta. + Amox 26 13 50,0 13 50,0

Total 75 55 20

Page 64: ETIOLOGIA E SENSIBILIDADE BACTERIANA DE MASTITE …

64

laboratoriais e como o uso indiscriminado de um determinado antibiótico seleciona 1

bactérias resistentes. 2

Os resultados obtidos nesta parte do estudo ressaltam a importância 3

da avaliação da sensibilidade antimicrobiana in vitro para cepas isoladas de casos 4

de mastite bovina antes da indicação do tratamento para os animais, em virtude de 5

que antibióticos associados, como a Gentamicina e Amoxicilina, que geralmente 6

apresentam alta eficácia, como visto na região anterior, podem apresentar-se 7

ineficazes, principalmente naquelas propriedades onde seu uso é frequente e 8

inadequado, aumentando os custos da produção. Além do mais, muitas vezes torna-9

se difícil predizer qual microrganismo vai ser influenciado por um determinado 10

antibiótico, visto que nem sempre ocorre a aquisição da resistência com o patógeno 11

que está sendo focado no tratamento. Guimarães et al. (2010) citam como exemplo 12

um caso ocorrido em humanos, onde foi constatada a aquisição da resistência de 13

enterococcus frente à vancomicina utilizada inicialmente para o tratamento do 14

patógeno Staphylococcus aureus resistente à meticilina. 15

Em ambas mesorregiões, a utilização da associação de Amoxicilina 16

com Ácido Clavulânico apresentou resultados de eficácia próximos. O Ácido 17

clavulânico é um fármaco utilizado associado à um antibiótico Beta-Lactâmico que 18

age inibindo a ação da enzima Beta-lactamase produzida pelo microrganismo, 19

responsável pela perda de ação dessa classe de antibiótico. A ação inibitória da 20

enzima pelo Ácido Clavulânico estende o espectro da Amoxicilina, abrangendo uma 21

variedade maior de microrganismos, inclusive aqueles resistentes a outros 22

antibióticos Beta-Lactâmicos (RADOSTITS et al., 2007). Aires (2010), com o objetivo 23

de identificar os perfis de sensibilidades para alguns antibióticos em fazendas 24

leiteiras de Portugal, obteve a porcentagem de 82,0% de isolados sensíveis a 25

Amoxicilina associada ao Ácido Clavulânico. Vasil (2009), avaliando a incidência e o 26

curso de mastite ambiental em 177 vacas leiteiras na Eslováquia, constatou que 27

todos os microrganismos testados foram sensíveis a Amoxicilina + Ácido 28

Clavulânico, obtendo a porcentagem de 100% de eficácia em seu estudo. Todos 29

esses resultados estão acima daqueles encontrados na presente pesquisa. 30

Considerando a disparidade de resultados entre as duas regiões, 31

indica que a provável utilização empírica e indiscriminada dos antibióticos esteja 32

contribuindo para o surgimento de diferentes linhagens resistentes de acordo com o 33

local e antimicrobianos utilizados, o que pode ser comprovado na Tabela 5. 34

Page 65: ETIOLOGIA E SENSIBILIDADE BACTERIANA DE MASTITE …

65

Tabela 5. Prevalência de resistência de microrganismos isolados de amostras de 1

leite com mastite subclínica para três princípios ativos agrupados conforme a região 2

de coleta. 3

Fonte: Autoria própria (2020). 4

5

A prevalência da resistência ao Ceftiofur e a Gentamicina associada 6

com a Amoxicilina diferiu (p<0,05) entre as duas mesorregiões. Esse resultado já era 7

esperado, visto que ocorreu uma notável inversão na eficiência das drogas 8

antimicrobianas nos resultados anteriores. Isso acontece devido ao fato de que o 9

uso dos princípios dos antibióticos utilizados tanto na terapia de vacas secas bem 10

como no tratamento de casos clínicos de mastite, diferem entre as propriedades e 11

entre regiões. Por outro lado, a grande diversidade de agentes etiológicos que 12

podem estar envolvidos com a mastite nos rebanhos, também pode influenciar 13

diretamente na prevalência da resistência. Bactérias como Staphylococcus aureus 14

que podem apresentar mecanismos de resistência frente aos antibióticos, são 15

caracterizadas por serem de difícil tratamento, influenciando negativamente na 16

eficiência aos antibióticos que são administrados. 17

Outros fatores in vivo também podem ser associados com a baixa 18

eficiência dos antimicrobianos utilizados, como por exemplo, a falha na distribuição 19

dos ativos dentro da glândula mamária, o estado fisiológico do animal e a 20

precocidade com que a terapêutica de tratamento é estabelecida (COSTA, et al., 21

2013). 22

Prevalência de resistência

Noroeste

Centro-Ocidental

p-valor

Ceftiofur 0,25b 0,09a 4,17 0,04 Amox. + A.C. 0,24a 0,23a 0,01 1,00 Genta. + Amox 0,14a 0,50b 18,55 0,00

Page 66: ETIOLOGIA E SENSIBILIDADE BACTERIANA DE MASTITE …

66

CONCLUSÃO 1

Os resultados obtidos contribuem para o esclarecimento dos 2

aspectos epidemiológicos dos patógenos e são importantes para amparar as ações 3

de monitoramento e direcionar as ações, buscando o controle da infecções 4

mamárias nas propriedades. Esses resultados evidenciaram a presença de bactérias 5

ambientais e contagiosas nos rebanhos estudados das duas regiões, alertando para 6

os cuidados antes, durante e após a ordenha. Ademais, houveram variações dos 7

resultados de resistência entres os dois locais, o que reforça a necessidade da 8

realização periódica de testes de sensibilidade in vitro, visto que podem ocorrer 9

mudanças no perfil de resistência entre os rebanhos, comprometendo assim o 10

tratamento do animal, bem como os programas de controle da mastite bovina. 11

Page 67: ETIOLOGIA E SENSIBILIDADE BACTERIANA DE MASTITE …

67

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